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C asa
F OG
amília Oliveira Guimarães
Renato Barroso
História
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Estamos num solar do século XVIII, casa de origem de uma família nobre,
que se estrutura a partir de um longo corpo baixo em que ressaltam duas
características principais: a hierarquização dos pisos — o térreo para servi-
ços, apenas com portas simples, e o primeiro piso para a residência da famí-
lia, por isso chamado andar nobre, rasgado por janelas de sacada; e a mar-
cação do centro da fachada pela inserção do portal encimado pela pedra
de armas, destaque reforçado por uma maior altura da linha do telhado.
OG
Árvore genealógica
Família Oliveira Guimarães
Dom Dona
Luiz de Alarcão Francisca de Alarcão
Durante o percurso de visita que nela foi, agora, organizado, é possível per-
cecionar essa dicotomia, à medida que se percorrem as salas e quartos onde
habitavam os fidalgos e os alojamentos ocupados pelos empregados domés-
ticos, assim como os espaços de apoio à atividade agrícola.
A sala de estar exibe o modo como era obtido o conforto para acolher os donos da casa e os seus con-
vidados, distribuídos por diversos canapés e banquetas de assento, enquanto que soalho e paredes se
revestem de tapete e tapeçarias que mais facilmente retinham o calor liberto pela elegante braseira aí
colocada, tornando a grande sala mais aprazível mesmo durante os húmidos invernos.
Em frente ao pequeno corredor que liga com a cozinha e seus anexos situa-se a casa de jantar, mobi-
lada com mesa central e diversos louceiros. O alto relógio de pendulo destaca-se entre uma miríade
de objetos de loiça, candelabros de prata, caixas de laca chinesa, entre tantos outros materiais, teste-
munhos da passagem do tempo, formando uma coleção enriquecida gradualmente pelos sucessivos
proprietários ao longo de mais de dois séculos.
Na soberba biblioteca, uma parcela do acervo reflete a profissão jurídica da linhagem masculina her-
deira do solar, todos eles juízes (sequência curiosamente invertida na atual herdeira, jurista como sua
mãe, mas desposando um juiz). Contando com 1640 livros, todos eles encadernados, datando o mais
antigo de 1561, e com vários exemplares dos séculos XVII e XVIII, nela se destacam (além das consa-
gradas ao direito) obras de religião, filosofia, história e literatura, portuguesa e estrangeira, principal-
mente francesa, de autores como Dumas, Balzac, Victor Hugo e Ponson du Terrail.
Como era comum nestes vastos domicílios, as damas da casa tinham um espaço seu, mais íntimo e
reservado, onde podiam conversar dos assuntos de organização e cuidado da vida doméstica e dos
filhos, e entreter-se em conversas distendidas por meio de bordados que executavam com a mestria
que exibia a sua requintada educação, expressa nesses louvores. Com mobília de estilo Arte Nova, é
uma pequena saleta de tons rosados, muito acolhedora, onde retratos da linhagem feminina e peque-
nas tapeçarias, entre vários artefactos pessoais, compõe a decoração.
Os quartos, apesar das suas mobílias de estilos, com camas de bilros, armários de boa lavra de mar-
cenaria artística, arcas de pele bem tratada ou cuidadas madeiras, e apesar de alguns possuírem boas
dimensões, são claro indício de que o essencial da vida da casa não passava por eles, quase exclusiva-
mente confinados à primordial função de acolher o descanso noturno.
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Nestas, e noutras divisões, a Casa guarda um conjunto vasto de objetos e de memórias das diversas
gerações que nela viveram, permitindo revisitar o passado e com ele interagir, num circuito de visita
pleno de motivos de interesse.
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Catálogo
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Contador da Índia
Mobiliário (séc. XVII)
Móvel contador (dito da Índia), possui tampa vertical,
com diversos corpos de gavetas, preenchidos com amplos
motivos decorativos e lavrados dourados. Apresenta nichos
com figuração e quadros profusamente pintados em estilo
miniaturista.
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Papeleira miniatura
Mobiliário (séc. XVIII)
Papeleira em vinhático, corpo de três gavetas de
bojo saliente (a superior de menor dimensão, devi-
do às traves que apoiam o tampo rebatível. Escani-
nhos e segredos de frente recortada. Pés em bola
achatada. Estes exemplares de pequenas dimensões
eram muitas vezes peças de mostruário.
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Licoreiro
Objeto utilitário (final do séc. XIX)
(medidas máxs.: comp. 60; larg. 32; alt. 40 cm)
Caixa de madeira cujo formato é resultado da
adaptação à função, sendo singela por dentro
( dois compartimentos abertos, destinados, res-
petivamente, a garrafas e copos) é no exterior
de profusos detalhes que ela adquire graciosi-
dade e destaque: orlas
pregueadas com talhas de latão, efeitos decora-
tivos adicionais no mesmo pregueado, e dupla
fechadura com espelhos de elaboradas volutas
a que acresce o formato trapezoide da parte
recuada deste contentor.
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Tabuleiro de chá
Objeto utilitário (finais do séc. XIX)
Tabuleiro de chá, lavrado e colorido em laca, tem como
motivo decorativo central a cerimónia ritual japonesa do chá.
As figuras estão dispostas num pátio rodeado de espécimes da
flora local. O tabuleiro tem formato retangular, sem linhas direi-
tas, alternando côncavos e convexos suaves, em efeito ondeado,
apresentando friso decorado com motivos fito e zoomórficos
(dedicado este a insetos) em todo o perímetro.
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«Carro de bois»
Escultura (séc. XIX)
Sobre uma base retangular simulando
um terreno, Teixeira Lopes (1837-1918),
que era natural do vale do Douro e,
portanto, teria visto a cena que retratou Camilo Castelo Branco
aqui inúmeras vezes, lavrou (em argila)
Escultura (1948)
dois homens conduzindo um carro de
De autoria de Alípio Brandão (1902-1965),
bois, que puxam uma carreta com uma
pipa de vinho do Porto. O persona- esta peça de madeira entalhada representa a
gem da frente (sem a vara já) tange figura de Camilo Castelo Branco, apresentado
os animais, o outro ajuda ao esforço, frontalmente de pé, envergando casaca pelo
tentando manter a pipa estável. joelho e cartola. A figura apoia-se numa bengala
e usa o monóculo que era característico a este
escritor. O tratamento plástico da figura exibe
traços caricaturais.
Jarro Antropomórfico
Cerâmica artística (final do séc. XIX –
início do séc. XX)
Sobre base circular verde, a figura mas-
culina e barriguda da autoria de Alves
Cunha (1856-1947) apresenta-se de pé,
vestindo traje de cores fortes. A pega
deste contentor de forma humanizada,
colocada nas costas, é formada por
Luís de Oliveira Guimarães
uma longa trança de cabelo. Este tipo
Escultura (meados do séc. XX)
de peça, em cerâmica policromada inte-
De expressão sorridente, mão na cintura
grando o catálogo da chamada «loiça
e com um livro (ou pasta) sob o braço
das Caldas», baseada em personagens
direito, Luís Oliveira Guimarães é apresen-
caricaturais ou castiços, era comum
tado – nesta peça em madeira entalhada
na época.
da autoria de Alípio Brandão (1902-1965) –
frontalmente, de pé, vestindo fato e gravata.
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Retrato de Homem
Pintura óleo sobre tela (1821)
Retrato de homem jovem, de
farto bigode, em meio corpo, de
pé e posição frontal. Veste farda
escura, de gola e punhos dourados
e faixa vermelha à cintura. Entre as
condecorações que exibe, contam-se
a Cruz de Malta e a Cruz de Cristo.
Nas costas da tela, tem a data e a
assinatura do seu autor Arcângelo
Foschini (1771 – 1834).
Retrato de Senhora
Pintura óleo sobre tela (finais do séc. XVIII)
Figuração de senhora a meio corpo e posição frontal.
Fundo neutro emoldurado por cortina avermelhada,
a personagem encosta-se a uma mesa, em cujo tampo
se encontram as luvas que agarra com uma das mãos.
Veste traje de época, com adornos indicadores de bom
estatuto social. Segundo a tradição familiar representará
Dª Aldonça de Figueiredo Deus-Dará, integrando a
linha genealógica dos Oliveira Guimarães.
Retrato de Freira
Pintura, óleo sobre tele (séc. XVIII)
Retrato de freira, personagem feminino que integra a linhagem
genealógica da família, e que a tradição coloca como tendo
professado votos no convento do Lorvão. De boa mão, o retrato
mostra a figura nos trajos religiosos da Ordem de Cister (o mos-
teiro tornou-se feminino em 1206); a mão direita aponta para uma
taça com flores, certamente uma referência aos votos de pureza
feitos; o rolo (de pergaminho?) que segura com a mão esquerda
(em cujo pulso está enrolado um rosário, simbolizando a devoção)
poderá ser um elemento simbólico das tradições medievais
copistas de Lorvão.
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Óculos de bronze
Objeto utilitário (séc. XIX)
Óculos de bronze que pertenciam
a João Anselmo de Sequeira, sogro
de Adelaide Sequeira (avó de Maria
Adelaide de Matos Sequeira. De muito
pequena dimensão (e sem apoios
salientes para o nariz), o modo arcaico
do seu uso pode ser observado no
retrato deste juiz, que está exposto no
salão desta casa.
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Relógio de bolso
Joalharia (início do séc. XX)
Relógio de bolso, da marca «Longines», montado em caixa dourada, de fundo liso (tampa desapare-
cida). O mostrador, clássico branco com numerais a preto, tem inscrito um segundo cronógrafo, apenas
para os segundos. Botão de corda saliente, montado na argola semiesférica do relógio, na qual está ligada
a corrente para o prender ao vestuário (geralmente, colete com bolso); a corrente apresenta elos muito
elaborados, com haste múltipla e elemento central com nervuras circulares salientes. Todos estes detalhes,
incluindo um 2º mostrador, aumentam o requinte deste objeto que, por estar continuadamente a ser
visto por outros que não o seu proprietário, se constituía numa afirmação quotidiana de estatuto social e
económico.
Cigarreira
Joalharia (início do séc. XX)
Cigarreira lavrada, de caixa de bordos curvos, com fecho de encaixe e batente, sendo a união das duas
peças executada por dobradiça encastrada. A tampa apresenta registos lisos e 7 repuxados/ lavrados,
alternadamente, sendo estes decorados com motivos vegetalistas em banda, ladeados de friso nervurado.
No canto direito, medalhão ovalado com monograma (“S”, “H”).
Corta-pavios
Joalharia (finais do séc. XIX)
Base em barcarola (de fundo liso e abas nervuradas, com efeitos fitomórficos, e remate ondeado (integral),
estando assente em quatro pés esferoides. Dentro desta, está colocado o corta-pavios, tesoura ornamental,
de caixa semiesférica ondeada (semicilíndrica), lisa nas laterais. A tesoura tem olhais amplos e as hastes
nervuradas, geminadas com a barcarola. Os pés deste (suposto) objeto utilitário são em “lágrima”.
Anel
Joalharia (década de 1940)
Anel de aro em ouro e prata, com frontal em motivo floral. Nas pétalas, estão incrustados brilhantes e na
“corola” uma safira. Pertenceu originalmente a Maria Adelaide Matos Sequeira de Oliveira Guimarães,
que é representada com ele no dedo anelar no desenho desta coleção que a retrata (ver pág. 32 deste
roteiro).
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Braseira
Metalurgia artística (séc. XIX)
Braseira em metal com panela de forma troncocónica e bordo superior plano e saliente, assente em 3
pernas curvas; tampa de forma semiesférica achatada, com pega no topo. Decorada com elementos
zoomórficos, tem as pernas ligadas por grinaldas. A tampa tem o bojo vazado (para deixar sair o calor),
sendo as incisões verticais intercaladas por losangos vazados, decorados com elementos vegetalistas.
Fogão a lenha
Objeto utilitário (inícios do séc. XX)
Incluído nos inúmeros objetos utilitários resultantes do elevado domínio e uso metalúrgico do ferro
fundido, estes grandes fogões a lenha representaram um grande avanço no «despacho de serviço» das
cozinhas, em particular nas grandes casas de muitos residentes e convivas como esta onde este exemplar
pode ser visto. Além da fornalha embutida (que concentrava o calor, acelerando a preparação de alimen-
tos) possuía depósitos de água numa das laterais, fornecendo-a, a ferver, em permanência, auxiliando por
isso, em muito, na lavagem de apetrechos e loiças.
Tachos de cozinha
Objetos utilitários (início do séc. XX)
As vastas casas solarengas não podiam dispensar (pelo grande número
de residentes e convidados) conjuntos de grandes tachos, panelas,
alguidares e outros contentores no serviço das suas igualmente impressio-
nantes cozinhas. Nesta, o trem de objetos antigos, em latão e ligas com
cobre é um notável conjunto que testemunha, ainda, esses dias de maior
azáfama.
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Objetos utilitários
(inícios do séc. XX)
Cadernos de notas e binóculos “de ópera” – estes
adereços femininos destinavam-se a uso em ocasiões
sociais (espetáculos, bailes, saraus, etc.), sendo por
isso de requintada decoração. Na sua elaboração
eram usadas matérias nobres, como no caso destes,
incluindo marfim, madrepérola, esmaltes coloridos,
cristal de rocha…
Lamparina
Metalurgia artística (finais do séc. XIX)
Esta lamparina de ornamentos elaborados, assento
em base circular, com pendente torcido espiralado
até ao «contentor» do combustível. Este tem a forma
de um grifo, animal mitológico, em curiosa e muito
bem detalhada representação zoomórfica. Por cima,
uma cartela de contornos muito recortados, em técnica
de repuxado, figurando outro destes “animais”. No
topo da coluna (em tubo liso) a argola de suspensão,
composta de dois peixes afrontados (em círculo).
Livro antigo
Impresso (in 8º) (1561)
Frontispício (com ex-libris de temática
mitológica e morfologia classicista, ao
gosto renascentista) do exemplar mais
antigo do notável espólio bibliográfico
recolhido na sala-biblioteca da casa.
Trata-se da «Primeira parte do Prontuá-
rio das Medalhas dos Insignes varões…»,
uma coletânea de laudas biográficas da
autoria de Juan Martin Cordero, escrito
em castelhano, e editado em Lyon
(França) por Guillermo Rouillio.
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