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30/01/2020 A origem e a evolução de uma teoria científica | Nexo Jornal

COLUNA

ALICIA
KOWALTOWSKI

(/colunistas/autor/Alicia-
Kowaltowski1)

A origem e a evolução
de uma teoria científica
29 de jan de 2020

TEMAS

CIÊNCIA E SAÚDE (/TEMA/CIÊNCIA_E_SAÚDE)

Estabelecer uma hipótese envolve muito trabalho,


interação, contribuição e reconhecimento da comunidade
de cientistas

Em 1961, o bioquímico Peter Mitchell revolucionou a área de metabolismo


quando propôs a hipótese quimiosmótica para explicar como nossas células
geram energia para funcionar. Resumidamente, estava sugerindo que as
mitocôndrias, a parte das células que produz essa energia, agiam de modo
muito semelhante a baterias (/colunistas/2020/Recarregando-as-nossas-
baterias-internas-as-mitocôndrias) , promovendo um fluxo de elétrons
associado à separação de polos negativos e positivos. A hipótese de Mitchell
não era um “chute”, mas sim uma explicação bem embasada, mas ainda
passível de comprovação, para explicar observações anteriores. Como toda
hipótese científica, era testável, e poderia se provar verdadeira ou falsa.

Essa hipótese específica não foi bem aceita de imediato na comunidade


científica. Vários outros pesquisadores da época lançaram outras hipóteses
que pareciam mais prováveis, ou pelo menos mais palatáveis, para explicar
como as mitocôndrias funcionam e geram energia. Mas, aos poucos,
enquanto testavam sem muito sucesso as diversas hipóteses, a opinião da
maior parte da comunidade científica foi mudando. A hipótese
quimiosmótica ganhou bastante força por causa do biólogo de plantas André
Jagendorf, um aliado improvável, que demonstrou experimentalmente que
cloroplastos, que geram energia para plantas, funcionam como previsto por
Mitchell. Inspirados por Jagendorf, Mitchell e Jennifer Moyle, sua
colaboradora de longa data, desenharam experimentos que demonstraram
que as mitocôndrias de fato usavam a separação de cargas positivas e
negativas como fonte de energia. Vários outros pesquisadores posteriormente
adicionaram a esses achados, e assim se construiu uma forte sustentação à
ideia.

Quando Mitchell recebeu o Prêmio Nobel em Química


(https://www.nobelprize.org/prizes/chemistry/1978/summary/) em 1978,
foi laureado não pela hipótese, e sim pela teoria quimiosmótica. Em conversa
casual, uma “teoria” pode parecer algo pouco fundamentado, como uma
simples noção, não muito diferente de uma hipótese. Mas na ciência, teorias
são algo muito diferente. Teorias científicas diferem de hipóteses porque são
explicações para fenômenos observados que já foram amplamente testados, e
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são muito bem embasadas. Estabelecer uma teoria científica requer extenso
trabalho, muita comprovação, e, acima de tudo, uma abundância de
convencimento para obter consenso da maioria da comunidade científica.

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30/01/2020 A origem e a evolução de uma teoria científica | Nexo Jornal

A CIÊNCIA NÃO É DOGMÁTICA, E PORTANTO QUALQUER


HIPÓTESE CIENTÍFICA PODE SER DERRUBADA POR
CIÊNCIA DE MELHOR QUALIDADE. COM A AQUISIÇÃO DE
NOVO CONHECIMENTO, ELAS PODEM MUDAR,
MOLDANDO-SE E CRESCENDO COM NOVOS ACHADOS E
EVIDÊNCIAS

Muito se fala do biólogo e geólogo Charles Darwin e sua teoria da evolução


das espécies por meio da seleção natural. Darwin publicou o livro que
detalhadamente discute o conceito de seleção natural (“A origem das espécies
por meio de seleção natural: ou a preservação das raças favorecidas na luta
pela vida”) em 1859, décadas após a viagem no veleiro HMS Beagle, iniciada
em 1831. Nessa viagem, ele fez observações fundamentais que inspiraram o
conceito de seleção natural. O longo tempo de trabalho nesse conceito
científico dá a impressão de que Darwin passou mais de 20 anos recluso
matutando suas ideias e escrevendo esse único livro. Já ouvi, inclusive, a
brincadeira entre cientistas atuais de que Darwin seria considerado
improdutivo cientificamente, pelos critérios de hoje.

A realidade é o completo oposto: Darwin teve uma produtividade científica


extremamente rica. Ao voltar da viagem, publicou uma extensa coleção de
livros descrevendo minuciosamente as observações geográficas e biológicas
que fez ao redor do mundo. Realizou também muitos experimentos para
testar suas ideias (incluindo no seu próprio jardim
(https://www.darwinproject.ac.uk/sites/default/files/learning_resources/Ex
periments%20Activity%203.pdf) ), apresentou mais de uma centena de
trabalhos em reuniões de sociedades científicas, e trocou inúmeras
correspondências com seus pares cientistas, debatendo e polindo as ideias
que apresentaria no seu livro icônico. O seu trabalho incansável continuou
após a publicação da sua obra mais conhecida, e envolveu a elaboração de
vários outros livros que apoiam a sua hipótese para explicar a origem das
espécies. Dentre eles, destaca-se uma observação detalhada de como nós,
humanos, propositadamente mudamos espécies domesticadas
(https://www.gutenberg.org/files/24923/24923-h/24923-h.htm) , uma
demonstração que características podem ser selecionadas por pressões do
ambiente. Transformar a hipótese da seleção natural na teoria da origem das
espécies por seleção natural envolveu muito trabalho, além de muita
interação, contribuição, e reconhecimento de outros cientistas.

A ciência não é dogmática, e portanto qualquer hipótese científica pode ser


derrubada por ciência de melhor qualidade. No caso de teorias científicas,
porém, é raro que isso aconteça, justamente porque construir uma teoria
requer muita sustentação e comprovação anterior. Isso não significa, no
entanto, que teorias científicas são inalteráveis. Com a aquisição de novo
conhecimento, elas podem mudar, moldando-se e crescendo com novos
achados e evidências. Teorias científicas evoluem.

Temos hoje traçadas, uma por uma, as mutações dos genes


(https://www.nature.com/articles/nature14181) que levaram às mudanças de
formato dos bicos dos tentilhões de Darwin, os pássaros que lhe causaram
tanta fascinação quando ele visitou as ilhas Galápagos, e que participaram da
origem da teoria da seleção natural, inspirando-o a pensar sobre o
mecanismo que leva a essas alterações. Essas evidências genéticas se somam
a muitos outros achados sobre a nossa natureza que corroboram a existência
de seleção natural em evolução. De fato, não existe contraponto científico a
essa ideia – a teoria da evolução das espécies pela seleção natural é tão
fundamental à biologia moderna que é impossível estudar ou ensinar essa
área sem incluí-la. Gosto de acreditar que Darwin ficaria maravilhado ao ver
em que a sua teoria evolutiva evoluiu.

Alicia Kowaltowski é médica formada pela Unicamp, com


doutorado em ciências médicas. Atua como cientista na área de
Metabolismo Energético. É professora titular do Departamento
de Bioquímica, Instituto de Química da USP, membro da
Academia BrasileiraEste
de éCiências
seu últimoeconteúdo
da Academia demês.
gratuito do Ciências do
Estado de São Paulo. É autora de mais de 150 artigos científicos

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especializados, além do livro de divulgação Científica “O que é
Metabolismo: como nossos corpos transformam o que comemos
no que somos”. Escreve quinzenalmente às quintas-feiras.

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