Edição Lisboa • Ano XXX • n.º 10.

872 • 1,30€ • Quinta-feira, 30 de Janeiro de 2020 • Director: Manuel Carvalho Adjuntos: Amílcar Correia, Ana Sá Lopes, David Pontes, Tiago Luz Pedro Directora de Arte: Sónia Matos

Ana Catarina Saúde pública

Novo coronavírus:
Mendes do laboratório
ao terreno, enquanto
PS e PSD a epidemia cresce
têm de ter Portugueses
“pontos retirados de Wuhan
não vão ser obrigados
de encontro” ao isolamento
Po
Política, 14/15 Ciência, 28 a 30
HENRY NICHOLLS/REUTERS

“Brexit”
A Europa
perdeu a face
de Janus que
contempla
o mundo
Parlamento vai
ser mais pequeno
e polarizado
Londres e os 27
a caminho
de um novo ciclo
económico em
que todos perdem
Destaque, 2 a 8

Advogados não relatam suspeitas

de branqueamento de capitais
Advogados têm obrigação legal de reportar casos de lavagem de dinheiro, mas, nos últimos três anos, apenas
foram feitas “quatro ou cinco” participações, num universo de mais de 30 mil proÄssionais Sociedade, 20

Há oito anos que Louçã: Teixeira HOJE Trump enterrou

um juiz vive em dos Santos não Colecção a criação de um
casa arrestada pode continuar Blueberry possível Estado
no caso BPN no EuroBic 10.º álbum palestiniano
— Dust Por +
Desembargador reside há Francisco Louçã diz que O “plano” dos EUA abre
oito anos numa vivenda que Luanda Leaks atrapalha 7,90€ caminho à anexação de
o Estado arrestou p18/19 o Banco de Portugal p24/25 partes da Cisjordânia p31 ISNN-0872-1548

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2 • Público • Quinta-feira, 30 de Janeiro de 2020
DESTAQUE
“BREXIT”
A Europa perdeu
a face de Janus
que contempla
o mundo
Quando amanhã a União se vir amputada do Reino Unido,
as consequências irão muito além do tamanho relativo
do seu PIB e da sua população ou até do seu exército.
Nenhum desaÄo será mais fácil de enfrentar
Teresa de Sousa
“E
m 2050, o Reino Unido
será a maior potência
europeia do ponto de
vista da população, da
economia e da capaci-
dade militar.” O então
primeiro-ministro David Cameron,
ainda antes de ter desencadeado o
maior choque geopolítico da Europa
do pós-guerra e do seu próprio país,
resumia em boa medida a imagem
que hoje domina os espíritos de
ambos os lados da Mancha. Faltam
trinta anos para o meio do século,
mas a União Europeia (UE) perde uma
das suas três principais potências, 66
milhões de habitantes, 15% do seu
PIB, um dos dois únicos países com
uma capacidade militar e nuclear
considerável.
Não é coisa pouca. Mas não é suÆ#
ciente para avaliar o impacto que a
saída do Reino Unido terá na UE, nem
as suas consequências de longo pra-
zo. O líder do grupo Renasce do Par-
lamento Europeu classiÆcou o
momento de “erro histórico”, tanto
mais trágico quanto acontece preci-
samente no momento em que o ape-
lo a uma “Europa geopolítica” é mais
forte e em que o Velho Continente se
encontra, provavelmente, diante do
mais sério desaÆo à sua própria exis-
tência como actor relevante do siste-
ma internacional.
Ursula von der Leyen anunciou a
sua intenção de constituir uma
Comissão “geopolítica” — orientada
pela relação da Europa com o mundo
e capaz de acompanhar a sua vertigi-
nosa transformação. “The pond” (o
charco), a forma como muitos britâ-
nicos ainda hoje se referem ao Atlân-
tico, nunca pareceu tão largo, graças
a Donald Trump e à sua política exter-
na errática, na qual não cabe o con-
ceito de alianças permanentes.
A saída do Reino Unido começa por
afectar os equilíbrios de poder inter-
nos da própria UE, alterando, pela
segunda vez em menos de 30 anos,
as condições geopolíticas em que
assenta a integração. O primeiro cho-
que aconteceu em 1989 com a queda
do Muro de Berlim e o Æm da Ordem
de Ialta. Nessa altura, a França e o
Reino Unido, as mais velhas nações
europeias que nasceram da mesma
História de guerras, de rivalidades e
de alianças que duraram séculos,
viram emergir de novo uma grande
Alemanha no centro do continente.
Se a integração europeia nasceu
para pôr termo às ambições hegemó-
nicas da Alemanha e às guerras suces-
sivas com a França, a presença do
Reino Unido (desde 1973) foi a garan-
tia adicional que haveria um novo
“triângulo político” para equilibrar a
Europa, que se tornou mais impor-
tante a cada novo alargamento. Foi
igualmente a garantia de que a Euro-
pa se manteria Æel à aliança com a
América — o que foi fácil enquanto a
União Soviética constituiu uma amea-
ça existencial, mas se tornou mais
controverso quando essa ameaça
desapareceu, o continente se reuni-
Æcou e os europeus chegaram a
sonhar transformar-se numa “super-
potência” capaz de contrariar a hiper-
potência americana — a não-América
(ou a anti-América como a nova iden-
tidade europeia). Tudo isso Æcou para
trás, graças ao Reino Unido, mas tam-
bém aos países europeus de matriz
euro-atlântica — histórica ou política
—, como Portugal ou a Dinamarca, a
Itália ou a própria Holanda. Foi o tem-
po em que, no debate europeu, se
confrontaram as suas duas grandes
O ‘Brexit’
legitimou o ódio
infundado
ao imigrante
Rita Araújo
Designer freelancer,
vive há 8 anos no Reino Unido
correntes que Bruxelas designava por
“europeístas” versus “atlantistas” ou,
na terminologia bastante mais apro-
priada de Timothy Garton Ash, “euro-
gaullistas” e “euro-atlantistas”.
Esta divergência acabou por ser
superada, graças à entrada em cena
de Tony Blair (1997), que conjugou de
uma forma positiva a velha dicotomia
britânica entre América e Europa — as
duas faces de Janus — com a sua teoria
do “país ponte” entre as duas mar-
gens do Atlântico e o seu propósito de
colocar o seu país onde merecia estar:
no centro das decisões europeias. A
“ponte” pareceu ruir com o Iraque
(2003), quando Dominique Strauss-
Kahn anunciava que a “nação euro-
peia” tinha nascido nas gigantescas
manifestações contra a guerra (esque-
cendo-se que as houve também gigan-
tescas em S. Francisco ou em Nova
Iorque e que oito países da União
subscreveram uma carta de apoio aos
EUA, tentando impedir que a aliança
rompesse). Num abrir e fechar de
olhos, a Europa caiu em si, superou a
crise iraquiana, deÆniu a sua própria

estratégia de segurança na qual a rela-
ção transatlântica era a pedra angular.
A eleição de Obama fez o resto.
Mitos e realidades
É preciso dar um passo atrás para
desfazer um dos mitos mais constan-
tes do debate europeu: o mito de que
as Ilhas Britânicas são uma espécie de
extensão da América, destinada a
“minar” a integração europeia ou,
pelo menos, a travá-la. “Vamos dar
um Sim massivo à Europa”, apelava
Margaret Thatcher durante a campa-
nha para o referendo de 1975, convo-
cado por um Governo do Labour para
ratiÆcar o Tratado de Adesão de 1973.
A Dama de Ferro, que nunca pensou
retirar o seu país da Comunidade,
acabou por ser “apunhalada” pelos
seus pares conservadores, quando
consideraram que sua “guerra” com
Bruxelas tinha ido longe demais. John
Major reparou os estragos e negociou
Maastricht, o tratado fundador da
União. Os tories passaram os dez anos
seguintes a digladiar-se sobre a Euro-
pa, o que os impediu de regressar ao
poder. O destino a que parecem ago-
ra votados os trabalhistas.
“O que faria Churchill?” A pergun-
ta persegue todos os moradores do
número 10 de Downing Street, seja
qual for a sua cor política, embora
cada um se sentisse livre de adaptar
a resposta aos seus interesses ou, pelo
menos, aos seus desejos. Em 1940,
Churchill acreditou que poderia con-
ter a barbárie hitleriana com a ajuda
da França. Propôs a Paris uma união
política franco-britânica. Não contou
que a França caísse tão depressa e se
rendesse tão facilmente. Foi então
que se virou para a América.
Os Estados Unidos retiraram da
guerra sobre o seu papel no mundo
conclusões opostas às de Grande
Guerra, a primeira das quais foi tomar
do Reino Unido o ceptro imperial,
mesmo que para construir um “impé-
rio” muito diferente. Foi uma estraté-
gia friamente delineada. Leiam-se as
memórias de Dean Acheson, a que o
secretário de Estado de Truman cha-
mou “Present at the Criation”. Em
1962, falando aos cadetes de West
HENRY NICHOLLS/REUTERS
Point , lembrou-lhes: “A Grã-Bretanha
perdeu um império e ainda não
encontrou um papel.” E continuou:
“A tentativa de desempenhar um
papel de potência separado da Euro-
pa, assente na ‘special relationship’
com os EUA e de ser a cabeça de uma
Commonwealth que não tem estru-
tura política nem unidade — esse
papel está quase a esgotar-se.” Nesse
mesmo ano, Harold Macmilland
entregava em Bruxelas o pedido de
adesão à Comunidade Europeia. De
Gaulle vetou-o até abandonar o Eli-
seu, em 1969.
Churchill, sendo acima de tudo um
homem do Império, teve a preocupa-
ção de salvar a Europa da irrelevância.
Foi ele que obrigou Roosevelt a aceitar
a França à mesa dos vencedores. Foi
ele quem, no famoso discurso de Foul-
ton (1946), anunciou o que seria o
futuro da Europa, dividida por uma
“cortina de ferro”. Foi ele quem defen-
deu em Zurique, um ano depois, uma
aliança entre a França e a Alemanha
a partir da qual seria possível uniÆcar
a metade ocidental da Europa e c
Público • Quinta-feira, 30 de Janeiro de 2020 • 3
“Por agora, não sentimos nada.
Preocupante é como a economia irá
reagir”
José Brandão da Silva
Ver mais testemunhos de portugueses em:
www.publico.pt/p3/portugueses-no-reino-unido-brexit
O dia em que o “Brexit” passou
o ponto de não retorno
Rita Siza, Bruxelas
F
oi uma das mais emocionantes
sessões plenárias da história
do Parlamento Europeu, não
porque o desfecho da votação
fosse inesperado ou imprevisí-
vel, mas porque depois de
ouvidos todos os intervenientes no
debate e contados os votos, o “Bre-
xit” passou o ponto de não retorno.
Com 621 votos a favor, 49 contra e 13
abstenções, os eurodeputados ratiÆ#
caram o acordo de saída do Reino
Unido da União Europeia, pondo ter-
mo a um processo inédito na história
do projecto europeu — até aqui, o
bloco foi sendo fortalecido com a adi-
ção de novos membros; agora vê-se
diminuído com a saída de um dos
seus mais poderosos elementos.
Entre os eurodeputados britânicos,
as reacções dividiram-se entre a exul-
tação do sempre controverso Nigel
Farage e os seus correligionários do
Partido do Brexit, e a tristeza e melan-
colia dos restantes, todos eles incon-
formados defensores do projecto
europeu. “Unidos na diversidade,
1973-2020”, diziam os cachecóis que
envergaram quase todo o dia, e que,
nalguns casos, se revelaram muito
úteis para aparar as lágrimas de uma
despedida dolorosa. Mal foi anuncia-
do o resultado, os parlamentares
irromperam num coro espontâneo a
cantar o Auld Lang Syne.
Numa intervenção no plenário
antes da votação, a líder do executivo
comunitário quis prestar tributo aos
antigos dirigentes e milhares de fun-
cionários europeus do Reino Unido,
“que ajudaram a construir as institui-
ções europeias e dedicaram a sua vida
e as suas carreiras à União Europeia”.
“Nunca deixarão de fazer parte da
nossa família”, agradeceu Ursula von
der Leyen, que deixou também pala-
vras de “gratidão” e de “respeito” aos
eurodeputados britânicos que leva-
ram por diante os seus mandatos no
rescaldo do referendo de 2016.
Minutos mais tarde, a líder do gru-
po dos Socialistas & Democratas,
Iratxe García, evocava a memória de
Jo Cox, a candidata trabalhista assas-
sinada em campanha. “Continuare-
mos a lutar pela Europa que ela mor-
reu a defender”, prometeu.
Pelo seu lado, a presidente da
Comissão Europeia garantiu que Bru-
xelas permanecerá em estado de vigi-
lância máxima em relação à imple-
mentação do acordo de saída. “Esse
foi só o primeiro passo”, lembrou.
Uma segunda fase, mais complexa,
vai iniciar-se: “A partir de agora é tudo
sobre a relação futura”, observou.
“Para ser clara, o que quero e espe-
ro é que a União Europeia e o Reino
Unido continuem a ser bons amigos e
parceiros”, declarou. Para isso, Bru-
xelas está preparada para oferecer um
acordo comercial “único” de zero quo-
tas e zero tarifas para os bens produ-
zidos no Reino Unido. Mas, avisou de
seguida, isso exigiria que Londres se
comprometesse a manter os standards
europeus. “A precondição é o respeito
O Parlamento
Europeu
ratificou
o acordo por
621 votos a favor,
49 contra
e 13 abstenções
pelo level playing Æeld [as mesmas
regras]. Não vamos expor as nossas
empresas à concorrência desleal.”
O acordo do “Brexit” já tem as assi-
naturas dos presidentes da Comissão
e do Conselho Europeu, bem como
do primeiro-ministro britânico, Boris
Johnson. O formulário do divórcio
também já mereceu a rubrica do
secretário dos Negócios Estrangeiros,
Dominic Raab. Depois do “carimbo”
do Parlamento Europeu, será conÆr-
mado hoje pelos restantes 27 Estados-
membros, num procedimento por
escrito que põe Æm a todas as forma-
lidades jurídicas e políticas.
Assim, no último minuto de ama-
nhã, 31 de Janeiro, completa-se o
processo do Artigo 50.º: o Reino Uni-
do deixa de ser membro da União
Europeia.
rsiza@publico.pt
4 • Público • Quinta-feira, 30 de Janeiro de 2020

DESTAQUE
Reacção de

“BREXIT”
deputado
europeu à
saída do Reino
Unido da
União
Europeia

impedir a guerra. Foi ele quem pri- resolve abandonar o barco. A União

meiro compreendeu que era necessá-
ria a presença dos EUA no território
europeu para garantir essa unidade.
No Congresso da Haia, começou assim
o seu discurso: “Prenez garde! Je vai
vous parler en français.”
É uma potência europeia que sai da
União. Não é um “Cavalo de Tróia”
dos americanos.
O Parlamento
Æcará mais voltada para dentro de si
própria e menos capaz de encontrar
o seu “interesse comum”.
Nos dois domínios hoje fundamen-
tais (mais o euro) para o futuro — a
política externa e a defesa — a perda
ainda é maior. E, ao contrário do que
dizem os velhos “europeístas ideo-
Europeu pós-

O mito do travão
O segundo mito da saída britânica é
aquele que está contido numa frase
do eurodeputado francês Alain
Lamassoure no Monde: “Desde 1973,
os britânicos comportam-se como
permanentes desordeiros. O ‘Brexit’
acaba com o travão à Europa.” Será,
porventura, a maior das ilusões. É
verdade que Londres foi a areia na
engrenagem de algumas decisões
europeias — às vezes com um resulta-
do negativo. Mas a saída do Reino
Unido apenas agrava — ou, no melhor
dos cenários, não resolve — os dramas
existenciais que hoje a UE vive.
Se tudo aproxima as duas velhas
nações europeias que gostam de se
olhar como “irmãs-inimigas”, quase
tudo separa os dois grandes países
continentais que são a pedra angular
da integração europeia. Até 1989, a
lógicos”, não facilitará o entendi-
mento entre Paris e Berlim. Três
exemplos: a relação com a Rússia, o
-“Brexit” vai ser
alargamento aos Balcãs Ocidentais,
as relações com os EUA. Macron lan-
çou a sua estratégia de aproximação
à Rússia (a sombra de De Gaulle tam-
mais pequeno —
bém habita o Palácio do Eliseu);
Merkel põe como condição a resolu-
ção do conÇito ucraniano. A chance-
ler reaÆrmou o seu compromisso
e mais polarizado
com o alargamento à Albânia e à
Macedónia do Norte; o Presidente
quer travá-lo até que sejam deÆnidos
novos critérios. Merkel não enfatiza A bancada da extrema-direita vai
a importância vital da NATO para a
segurança europeia; Macron decla- crescer, os grupos moderados vão ter
rou-a em “morte cerebral”. “O Reino
Unido não é a explicação para a recu-
de mudar as suas tácticas para garantir
sa de Merkel de criar um orçamento que constroem maiorias
para a zona euro ou para a incapaci-
dade dos políticos alemães de quadro que decorre do ‘Brexit’” o PS “São deputados muito completos,
esquerda ou de direita para confron- Rita Siza, Bruxelas vai tornar-se uma força “ainda mais que conhecem muito bem os dossiers
tar os eleitores com a incómoda ver- relevante no conjunto do grupo socia- técnicos, têm grande visão política e

equação política era relativamente
simples: a França liderava e a Alema-
nha seguia (e pagava). A reuniÆcação
e o renascimento de uma Alemanha
inteiramente soberana alteraram pro-
fundamente os anteriores equilíbrios
de poder. Emmanuel Macron chegou
ao Eliseu anunciando que a França
“está de regresso”, para tentar reocu-
par o seu papel de liderança numa
grande Europa que deixou de ser “o
prolongamento da França” para ser
muito mais diversa na sua geograÆa,
na sua história e nos seus interesses.
A Alemanha ainda hoje anda à procu-
ra do seu novo lugar no mundo.
A crise Ænanceira e a crise do euro,
apesar de parcialmente superada,
não diminui os riscos de fragmenta-
ção. A vaga de nacionalismos que
varre a Europa é hoje, provavelmen-
te, a maior ameaça à sua sobrevivên-
cia. A Comunidade nasceu para lhe
pôr Æm, construindo-se acima da His-
tória e da geopolítica. A História e a
geopolítica regressaram em força.
Tudo se complica quando um país
que abria a Europa ao mundo, que
ajudava a reequilibrar a relação fran-
co-alemã e a exprimir os interesses
dos países da sua margem atlântica
dade segundo a qual eles são os gran-
des ganhadores da integração euro-
peia”, escreveu Philip Stephens no
Financial Times.
No domínio da Defesa, as perdas
são ainda mais evidentes. “A saída do
Reino Unido tira à UE uma das suas
duas potências militares capazes de
pensar e de operar à escala global”,
escreve Tim Oliver da London School
of Economics. Pode a Alemanha
preencher o vazio? Ninguém tem ilu-
sões, muito menos a própria Alema-
nha. É esta realidade que explica a
insistência francesa na criação de um
Conselho de Segurança Europeu fora
dos tratados, no qual os britânicos
teriam lugar ou a sua Iniciativa Euro-
peia destinada a unir os países com
vontade de reforçar a sua cooperação
militar — até agora, 14 incluindo o Rei-
no Unido.
A saída de um Estado membro da
UE seria sempre um momento de
ruptura e de viragem. A saída de um
Estado-membro como o Reino Unido
no momento em que faria mais falta
é um erro histórico de enorme
dimensão.
teresa.de.sousa@publico.pt
C
om a partida dos membros do
Partido Trabalhista britânico,
os nove eurodeputados do PS
ganham uma nova proemi-
nência política dentro do gru-
po dos Socialistas & Democra-
tas no Parlamento Europeu. Após o
“Brexit”, os portugueses tornam-se a
quarta maior delegação nacional
(atrás, respectivamente, da espanhola,
alemã e romena) e vêem reforçada a
sua capacidade de inÇuência política
— mas esse “proveito” não serve de
consolo a Pedro Silva Pereira, que con-
tinua sem conseguir vislumbrar nada
de positivo na saída do Reino Unido da
União Europeia.
“O ‘Brexit’ é sempre mau: é um pre-
juízo para o Reino Unido e para a
União Europeia e para a nossa capaci-
dade de conjuntamente enfrentarmos
os problemas globais. É uma página
muito triste na história da Europa, mas
é a decisão dos britânicos”, considera
o eurodeputado que foi o autor do
relatório sobre a nova arquitectura do
Parlamento Europeu com a saída do
Reino Unido.
Eleito vice-presidente do Parlamen-
to no arranque da legislatura, Silva
Pereira reconhece que “com o novo
lista” (que vai perder dez dos seus
actuais membros, eleitos pelo Partido
Trabalhista).
“O importante é ter aqui uma
inÇuência acrescida, desde logo nas
posições que precisam de ser concer-
tadas entre os partidos de vários países
dentro da própria família socialista”,
aÆrma o eurodeputado, que revela
que os eleitos do PS deverão gastar o
seu novo capital interno em matérias
como a promoção da prosperidade e
redução das desigualdades e em res-
postas para “os desaÆos modernos da
transição energética e combate às alte-
rações climáticas”.
De todas as instituições europeias,
o Parlamento Europeu será aquela em
que o efeito do “Brexit” se vai sentir
de forma mais imediata e aguda. No
dia 31 de Janeiro, chega abruptamente
ao Æm o mandato dos 73 eurodeputa-
dos britânicos eleitos em Maio do ano
passado, e também o contrato dos
seus assistentes. A actividade parla-
mentar — e a vida do Parlamento Euro-
peu — vai inevitavelmente ressentir-se.
“Em geral, a qualidade dos deputados
britânicos era muito grande, bastante
acima da média”, resume o social-de-
mocrata Paulo Rangel.
performance mediática. Nos debates
e nas negociações eram uma mais-va-
lia e faziam escola até para outros cole-
gas que não têm a mesma tradição
política e retórica”, considera.
Hemiciclo reduz-se
No dia 1 de Fevereiro o hemiciclo
europeu vai reduzir-se dos actuais 751
para 705 lugares. Para acomodar a
saída dos 73 membros do Reino Uni-
dos, foi concebida uma fórmula que
prevê a redistribuição de 27 assentos
por 14 países que estavam subrepre-
O PE é a instituição
europeia em que o
efeito do “Brexit” se
vai sentir de forma
mais imediata e
aguda. Chega ao fim
o mandato dos 73
eurodeputados
britânicos

sentados em relação à sua população
(Áustria, Dinamarca, Eslováquia,
Espanha, Estónia, Finlândia, França,
Hungria, Holanda, Irlanda, Itália,
Polónia, Roménia e Suécia). Como
aconteceu após a votação de Maio,
cabe às autoridades eleitorais dos
respectivos Estados-membros notiÆ#
car o Parlamento Europeu sobre os
novos eurodeputados eleitos, que
serão formalmente empossados na
próxima sessão plenária em Estras-
burgo, a 11 de Fevereiro.
Os restantes 46 lugares serão man-
tidos de “reserva” para futuros alar-
gamentos da UE — serão ocupados
apenas depois de assinada a adesão
de novos Estados-membros, um pro-
cesso que não se prevê que venha a
completar-se nos próximos anos.
A “debandada” britânica será
menos evidente no lado da Comissão
e do Conselho, em que a permanên-
cia de todos os funcionários com pas-
saporte do Reino Unido foi assegura-
da, e em que a presença dos diploma-
tas e governantes do Reino Unido nas
reuniões políticas semanais já há
alguns meses se vinha reduzindo ao
mínimo essencial. E como o Governo
de Londres nunca nomeou um comis-
sário para integrar o colégio dirigido
por Ursula von der Leyen (o que lhe
valeu um processo de infracção que
agora será arquivado), a líder do exe-
cutivo comunitário nem vai ter de
“remodelar” a sua equipa ou modiÆ#
car o seu método de trabalho.
Realinhamento e vazio
Mais do que a reconÆguração institu-
cional, o impacto mais sério do “Bre-
xit” no Parlamento Europeu é de
ordem política. A saída dos britânicos
e a entrada de novos eleitos vai pro-
vocar um realinhamento das banca-
das, com o dominante Partido Popu-
lar Europeu a consolidar a sua maio-
ria e a extrema-direita a engrossar
Æleiras, à custa da redução do núme-
ro de centristas e moderados.
No deve e haver, o “Brexit” penali-
za sobretudo os grupos dos socialis-
tas, liberais e Verdes que, ao lado do
PPE, constituíram a grande coligação
que elegeu a presidente da Comissão
e aprovou o seu programa político.
As três bancadas emagrecem em con-
junto, com a perda de 38 deputados
britânicos. Na redistribuição de luga-
res, apenas conseguem recuperar 14
desses assentos perdidos: é a maior
bancada parlamentar, do PPE, que
não continha qualquer britânico, que
mais beneÆcia desse exercício pós-
“Brexit”, com a incorporação de cin-
co novos elementos da Espanha, Itá-
lia, Irlanda, Eslováquia e Estónia.
YVES HERMAN/EPA
Em termos nominais, a bancada
dos não-inscritos é a mais “prejudica-
da”, uma vez que foi nesse grupo de
desalinhados que se sentaram os 27
membros eleitos pelo Partido do Bre-
xit nos últimos cinco meses. Mas
ontem nenhum dos restantes euro-
deputados expressou a sua pena por
essa perda.
O grupo liberal Renovar a Europa é
aquele em que o vazio do “Brexit”
será mais notado, com a saída de 17
eurodeputados britânicos. Os Verdes
perdem 11 eleitos do Reino Unido — e,
em consequência, perdem a sua posi-
ção como a quarta maior força políti-
ca no Parlamento Europeu. O grupo
ecologista deverá conquistar quatro
novos membros após a redistribuição
dos lugares britânicos, mas a bancada
diminui de 74 para 67 e vê-se ultrapas-
sada pelo grupo Identidade e Demo-
cracia, que reúne os partidos da extre-
ma-direita. O ID, que conseguiu cons-
truir um grupo de 73 eurodeputados,
vai ser reforçado com três novos
membros: um do Rassemblement
Nacional de França, outro da Liga de
Itália e outro do Partido da Liberdade
do holandês Geert Wilders.
O novo desenho do Parlamento e a
recalibragem do peso relativo de cada
bancada vão levar a uma mudança no
pensamento e organização táctica
Público • Quinta-feira, 30 de Janeiro de 2020 • 5
dos maiores grupos, para que ainda
seja possível formar maiorias sem
recorrer aos votos dos extremos (ao
Dada toda a contrário da extrema-direita, a extre-
ma-esquerda saiu mais enfraquecida
incerteza em volta do “Brexit”, com a bancada reduzida
do ‘Brexit’, cheguei a 40 membros).
Já foi possível detectar alguns
a considerar sair sinais, por exemplo, na reacção bas-
tante mais “suave” à decisão, anun-
do país. Não por ter ciada pelo presidente do Partido
Popular Europeu, Donald Tusk, de
medo de ficar sem prolongar por mais um ano a suspen-
emprego, mas por são do partido Fidesz do primeiro-
ministro húngaro, Viktor Orbán. No
estar, de certa pós-“Brexit” esse impasse torna-se
mais tolerável para os principais
forma, incrédula defensores dos procedimentos contra
a Hungria, uma vez que a eventual
(…). Por não querer expulsão do Fidesz do PPE levaria
esperar que Orbán a negociar com a direita con-
servadora eurocéptica a criação de
políticos decidam um novo grupo parlamentar — o cená-
rio prevê uma “evolução” do grupo
o meu futuro, dos Conservadores e Renovadores
Europeus, dominado pelos polacos
decidi tornar-me do PiS, aos quais se juntariam os elei-
cidadã inglesa, tos do Fidesz, e alguns membros do
ID, como os deputados da Liga do
tendo, portanto, italiano Matteo Salvini, ou do Alterna-
tiva para a Alemanha. A acontecer,
dupla esse novo grupo poderia converter-se
na terceira maior bancada, à frente
nacionalidade. dos liberais, que até agora estiveram
Mais vale jogar na dianteira da oposição a Orbán.
Ao PÚBLICO Pedro Silva Pereira
pelo seguro desvalorizou o risco de uma maior
polarização e combate político no
Cláudia Machado Parlamento Europeu após o “Brexit”.
Economista, vive há sete anos “Não creio que exista uma alteração
no Reino Unido substancial dos equilíbrios políticos.
Haverá uma mudança que tem sim-
bolismo político, visto que a bancada
da extrema-direita vai ultrapassar os
Uma das Verdes e tornar-se a quarta força polí-
‘pequenas’ coisas tica no Parlamento Europeu”, reco-
nheceu. Considerou, porém, que
que me afectam “essa é uma pequena variação em
número de lugares” e que não resul-
desde já é que não tará numa importância ou expressão
acrescida da extrema-direita.
posso trazer a “No essencial, os equilíbrios políti-
cos mantêm-se e exigem aquilo de
minha mãe para que sempre dependeu a construção
viver comigo; europeia: compromisso político. Será
um erro, no momento do ‘Brexit’,
ela tem 77 anos que a Europa não perceba que preci-
sa de fazer mais para estar à altura das
Pedro Santos expectativas dos cidadãos. Só isso
Arquitecto, vive há 26 anos permite responder aos nacionalismos
no Reino Unido e aos populismos que ameaçam o
projecto europeu”, concluiu.
rsiza@publico.pt
6 • Público • Quinta-feira, 30 de Janeiro de 2020
DESTAQUE
“BREXIT”
Londres e os 27 a caminho de um novo ciclo
económico em que “todos perdem”
De fora dos acordos comerciais e sem acesso ao mercado único, Londres parece ter mais a perder
na economia do que a União. Mas, na contagem dos efeitos, ninguém ganha, diz um estudo comparativo
Pedro Crisóstomo
e Luís Villalobos
C
onsumado o divórcio entre o
Reino Unido e a União Euro-
peia (UE), as empresas britâ-
nicas e continentais entram
agora na antecâmara do
“Brexit” real. O verdadeiro
teste acontecerá dentro de alguns
meses, quando terminar o período
de transição, pois, para já, prevale-
cem as regras que existem hoje, desde
as importações às exportações, pas-
sando pela legislação e movimentos
de capitais.
A partir daí, nada será como dantes
e, numa perspectiva económica,
antevêem analistas, ninguém Æcará a
ganhar. Numa frase, “todos perdem,
mas o Reino Unido perde mais”, eis
como quatro investigadores do Peter-
son Institute for International Econo-
mics (PIIE) resumiram os efeitos eco-
nómicos do “Brexit”.
Durante a fase de transição que se
inicia a 1 de Fevereiro, as regras da UE
vão continuar a aplicar-se no Reino
Unido. São 11 meses — para já, até 31
de Dezembro — em que as empresas
poderão preparar-se para a mudança,
enquanto os 27 negoceiam com Boris
Johnson um acordo de comércio livre
aprofundado que Bruxelas antecipa
desde já que demorará mais tempo a
ser concluído. E, independentemen-
te do que daí resultar, “é impossível
que um outro acordo União Europeia-
Reino Unido consiga replicar o actual
nível de integração” alcançado pelo
mercado único, antecipavam os qua-
tro investigadores do PIIE, um think
tank sediado em Washington, numa
análise de Março de 2019.
Todas as alternativas, diziam,
“implicam aumentos de custos nas
transacções” relativamente ao comér-
cio, investimento, capitais e movi-
“O nível de antipatia por tudo o que se
relaciona com a União Europeia chega
a atingir proporções preocupantes”
Pedro Jarnalo
Professor, vive há 14 anos no Reino Unido
mento de pessoas. Mas medir a Divórcio com uma factura milionária mais no próprio mercado único e
dimensão das consequências depen-
Sectores mais expostos ao “Brexit” Maior parte do saldo negativo
têm, à partida, menos barreiras do
derá também tipo de relacionamento
que vier a ser acordado. Em 12 estu- Em milhões de euros é com países da UE
que Londres nas transacções com
esses países terceiros, graças aos acor-
Valor de bens em mil milhões
dos avaliados pelo PIIE, a maioria dos.
de euros. Dados de Janeiro
apontava para descidas de 1,2% a Automóveis 38.200
a Novembro de 2019 Uma “nova Londres”
4,5% no produto interno bruto (PIB)
do Reino Unido, assumindo ainda um Têxtil e vestuário 3300 UE Fora da UE Como as empresas europeias estão
cenário de hard-“Brexit” (ou metade fortemente ligadas ao mercado inter-
Porco 2100 570,5
disso num cenário de soft). no, “um efeito negativo num ponto
382,6 288,6
da cadeia de valor repercute-se em
Pagar mais 5000 milhões Aves 818 204,1 toda a cadeia de valor, o que leva a
281,9
Assim que terminar o período de 178,5 Saldo que não seja verdadeira a percepção
Queijo 625 Exportações Importações -103,4
transição, as empresas europeias de que só afecta os países europeus
poderão enfrentar restrições de aces- -84,5 mais próximo geograÆcamente do
Carne bovina 429
so quando acabar essa fase relativa- -187,9 Reino Unido”, notava o Fórum para
mente a autorizações, quotas ou Manteiga 353 a Competitividade numa nota publi-
requisitos locais. As exportações pas- Moeda única tem-se valorizado cada no Ænal do último ano.
sam a estar sujeitas aos direitos adua- Cerâmica 268 face à libra Mesmo para as empresas europeias
neiros previstos pela Organização sem relação comercial com o Reino
Açúcar 207 1
Mundial do Comércio (OMC) e, num Unido, o “Brexit” poderá ter algumas
cenário extremo em que as negocia- Referendo do "Brexit" implicações indirectas se os fornece-
ções para o novo acordo falhem, a Pneus e jantes 19 0,765 dores, os distribuidores ou os clientes
exportação de produtos europeus tiverem relações directas. Também é
enfrentaria custos adicionais de pelo Artigos domésticos 158 expectável que se assista a uma des-
menos 5000 milhões de euros, calcu- cida do investimento directo estran-
la a agência Bloomberg. Um custo
Cacau 130 0.8
0,776 0,847 geiro. Londres, praça Ænanceira por
idêntico ao de um “Brexit” abrupto. excelência, vê a capital holandesa
Óleos e gorduras 122
Dos 301,2 mil milhões de euros em tentar absorver empresas estabeleci-
bens exportados pelos 27 países para Fertilizantes 116 das na City. Não por acaso, a revista
o Reino Unido em 2018, cerca de 47,3 Fortune anunciava em Novembro:
mil milhões corresponderiam a mer- Outros 384 “Amesterdão é a nova Londres.”
cadorias abrangidas por novas tarifas. 0,6 Um estudo coordenado pelo Banco
A Alemanha, a Bélgica, a Espanha, a TOTAL 47.300 01 Jan. 23 Jun. 28 Jan. de Inglaterra calculava em Agosto que
2015 2016 2020
Holanda, a França, a Itália e a Irlanda o “Brexit” já provocou uma descida
Fonte: Bloomberg; Reuters; Eurostat PÚBLICO
seriam os mais afectados, tendo em de 11% no investimento face ao que
conta o grau de integração e os secto- teria ocorrido na ausência do “sim”
res de actividade mais expostos: ven-
da de veículos automóveis, têxteis e Banco de Inglaterra investigadores, essas análises partiam
de “pressupostos irreais”).
(ou do próprio referendo). O estudo
diz que, ao contrário de outros cho-
roupa, porco, aves ou queijo. Portugal
veria serem afectadas exportações na
diz que o grau de O mais gravoso será para o Reino
Unido, país fortemente importador,
ques com graus de incerteza disrup-
tivos — o choque petrolífero de 1973,
ordem dos 661,9 milhões de euros. incerteza tem sido que, além de perder o acesso prefe-
rencial ao mercado único, também
as guerras do Golfo, o 11 de Setembro
ou o colapso do Lehman Brothers —,
Efeitos em cadeia mais duradouro e Æcará de fora dos acordos comerciais o efeito do “Brexit” mostrou ser mais
Nos 12 estudos que o PIIE analisou, a
maioria mostra que tanto a UE como complexo do que o da União e terá de os negociar com
países terceiros. Em contraponto,
duradouro e com um grau de comple-
xidade maior.
o Reino Unido Æcarão a perder (só
dois apontam vantagens para a eco- de outros choques explicavam, as empresas europeias
poderão contornar a redução do pedro.crisostomo@publico.pt
nomia britânica, mas, diziam os comércio porque poderão vender luis.villalobos@publico.pt
altice-empresas.pt

A agricultura tem tudo

para ser um bom negócio
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Empresas que mudam o mundo

8 • Público • Quinta-feira, 30 de Janeiro de 2020
DESTAQUE
“BREXIT”
Os usos da vertigem
Opinião
Carlos Gaspar
N
o dia 8 de Novembro de
2016, o embaixador da
França em Washington,
Gérard Araud, não resistiu
a enviar um tweet que
resume melhor do que
qualquer despacho diplomático o
signiÆcado dessa data fatídica:
“Depois do ‘Brexit’, depois de
Trump, tudo é possível: um mundo
está a desmoronar-se diante dos
nossos olhos. Vertigem!”.
Com efeito, o referendo sobre a
saída da Grã-Bretanha da União
Europeia e a eleição do Presidente
Donald Trump marcam uma
viragem radical na política
europeia e ocidental que torna
obrigatória uma revisão das
prioridades estratégicas de todos
os Estados — pequenos ou grandes,
atlânticos ou continentais — da
NATO e da União Europeia.
Desde logo, a derrota de Hillary
Clinton comprometeu a mediação
norte-americana entre Londres e
Bruxelas, indispensável para
evitar a crise prolongada e os
sucessivos bloqueios que
dominaram as conversações entre
o Reino Unido e a União Europeia.
Pelo contrário, Donald Trump, o
primeiro Presidente dos Estados
Unidos que considera a União
Europeia como um adversário
hostil, defendeu um acordo
alternativo entre Londres e
Washington para dividir os aliados
europeus num momento crítico.
Por outro lado, Trump quis pôr
em causa a vinculação dos Estados
Unidos à clausula de defesa
colectiva da NATO. Nesse contexto,
pela primeira vez, os aliados
europeus deixaram de poder
contar incondicionalmente com a
garantia estratégica
norte-americana. Nesse quadro
“Nada temo e julgo que o próximo passo
será a reintegração das ilhas no continente.
Até lá, vemos a História acontecer “
Anabela Ferreira
Cuidadora, vive há três anos no Reino Unido
YVES HERMAN/REUTERS
inédito de incerteza, que justiÆca a
frase do Presidente Emmanuel
Macron sobre a “morte cerebral”
da NATO, as potências europeias
têm de preparar um dissuasor
alternativo que possa garantir a
defesa da Europa.
Por último, a chanceler Angela
Merkel, para lá de constatar que os
aliados europeus já não podem
contar com os Estados Unidos
como no passado, escolheu o
imobilismo como a melhor
resposta à mudança dos equilíbrios
na União Europeia e na NATO. A
Alemanha está refém dos hábitos
de dependência económica e
militar dos Estados Unidos e não
consegue ir mais longe do que a
defesa retórica do statu quo: a sua
“Aliança para o Multilateralismo” é
um sinal de impotência política.
O retraimento norte-americano,
a saída britânica e a paralisia alemã
criam um impasse perigoso para
todos os Estados da NATO e da
União Europeia, que reclama uma
estratégia alternativa: a França e o
Reino Unido são indispensáveis
para a deÆnir.
A convergência necessária entre
França e o Reino Unido é ditada suas capacidades estratégicas e Alemanha. Bem entendido, para Naturalmente, Portugal tem o
pelas novas circunstâncias. Em militares tornam-se decisivas na Portugal a dupla Æliação na NATO e seu lugar nessa coligação dos
primeiro lugar, sem o Reino política europeia. Em quarto na União Europeia é essencial e a Estados históricos, ao lado da
Unido, a Alemanha pode impor a lugar, a restauração da Entente possibilidade de ser obrigado a França e do Reino Unido, da
sua hegemonia na Europa Cordiale abre caminho a uma nova escolher entre a dimensão atlântica Espanha, da Holanda ou da
continental e subalternizar a divisão do trabalho entre a França e a dimensão europeia da sua Suécia, unidos pela prudência e
França: em alternativa, Paris e a Alemanha, assente no política externa é um pesadelo. pelo interesse comum em
precisa de fortalecer os seus laços reconhecimento de que, na O novo “partido atlântico” só preservar a comunidade
com Londres no quadro da NATO ausência da garantia incondicional pode existir se a França e o Reino transatlântica, enquadrar a
para contrabalançar Berlim na dos Estados Unidos, as Unido o quiserem formar, mas as potência central e consolidar a
União Europeia. Em segundo responsabilidades de defesa são duas grandes potências europeias integração europeia e ocidental.
lugar, se o Reino Unido não quiser tão importantes como as precisam de aliados. Os seus Pelo contrário, Portugal não tem
passar a ser um “junior partner” responsabilidades económicas melhores aliados são os outros um lugar digno da sua história na
dos Estados Unidos, precisa de para a União Europeia. Estados históricos europeus, que periferia de um império
uma segunda “relação especial” Portugal antecipou essa têm séculos de existência como federativo, numa União Europeia
com a França para garantir a sua mudança estratégica desde 2017, Estados independentes e uma que quer ser uma “Grande Suíça”
posição como uma potência quando os responsáveis políticos longa experiência da diplomacia e neutral e equidistante dos Estados
relevante na política europeia. Em passaram a defender a formação da política internacional, Unidos, da China e da Rússia.
terceiro lugar, a França e o Reino de um “partido atlântico” na necessárias para reordenar o Resignado, Peter Sloterdijk
Unido, as duas potências política europeia, para responder à espaço atlântico, incluindo o defende que “a mediocridade
nucleares europeias, são as únicas saída do Reino Unido — o mais Atlântico Sul, a África e a América salvará a Europa”. Pelo contrário,
que podem dar forma a um velho aliado na mais antiga das Latina, e estruturar as novas só o bom uso da vertigem pode
dissuasor europeu com um alianças — e conter os perigos da parcerias com as potências salvar a Europa.
mínimo de credibilidade e, “continentalização” da União asiáticas que podem alargar a
perante a incerteza sobre o futuro Europeia — uma forma elegante de aliança das democracias na defesa Instituto português de relações
da política norte-americana, as referir o peso excessivo da da ordem liberal. internacionais (IPRI-UNL)
10 • Público • Quinta-feira, 30 de Janeiro de 2020

ESPAÇO PÚBLICO
O melhor jogador da Liga portuguesa de
futebol vai tentar ser feliz no Manchester
United, e não deve existir um sportinguista
que não veja a sua saída como uma grande perda
mas, ao mesmo tempo, não se sinta agradecido pelo
seu comportamento após o ataque à Academia de
Alcochete. Os 55 milhões que o United paga não são
os mais de 120 milhões que o Atlético de Madrid
pagou por João Félix. O United ficou a ganhar: Bruno
Bruno Fernandes é mais fiável. (Págs. 44/45) J.J.M.
O número um do ténis mundial foi eliminado
do primeiro grande torneio do ano, ao perder
no Open da Austrália com Dominic Thiem,
que pela primeira vez marca presença numa
meia-final de um Grand Slam disputado em
hardcourt. A vitória do austríaco foi alcançada num
jogo de grande equilíbrio. Foi a primeira vez que
Thiem ganhou a Rafael Nadal num major — ele ou
Alexander Zverev vão estrear-se na final do Open da
Rafael Nadal Austrália. (Pág. 47) J.J.M.

Venezuela, a amarga herança de um ditador ignóbil

Fundo Monetário Internacional que
apontam para uma redução de 20%
da população e uma quebra no
rendimento nacional medido pelo PIB
de 65% em apenas cinco anos vão
Manuel Carvalho muito para lá da ideia de ruína que
Editorial poderíamos ter projectado. O que está
Venezuela, que desde 2013 viu a sua
riqueza reduzir-se em dois terços,
nem foi Çagelada pelo clima nem
perturbada pela guerra. A sua
destruição e a condenação de todo um
povo à miséria Æzeram-se sob a égide
de um tirano dissimulado sob as
sanções acabarão por penalizar os que
já hoje mais sofrem. Havendo petróleo
na equação, haverá sempre uma
Rússia, uma China ou um Donald
Trump a quebrar consensos. Havendo
palavras de ordem contra a América
ou contra o capitalismo, haverá

C
ada dia que passa sem se falar no
drama humano dos
venezuelanos é um dia de
cumplicidade com um dos mais
abjectos regimes do nosso
tempo. Já sabíamos das sistemáticas
violações das regras democráticas e
do Estado de direito, já sabíamos do
êxodo de milhões de venezuelanos
para os países vizinhos e, sim,
também já sabíamos que a maioria da
população sobrevivia em condições de
vida miseráveis. Mas, apesar de todo
esse conhecimento, as revelações do
a acontecer na Venezuela é um crime
hediondo perpetrado por um regime
odioso liderado por um dos mais
ignóbeis líderes do mundo
contemporâneo.
Perante um retrato assim tão
avassalador, deixa de ser possível
qualquer tipo de condescendência ou
qualquer esforço de compreensão
sobre Nicolás Maduro e os seus
sequazes. O que aconteceu, melhor, o
que está a acontecer na Venezuela só
tem paralelo em regiões devastadas
por desastres naturais ou em países
arrasados por uma guerra. Mas a
bandeiras de um socialismo
anunciado como libertador e sob a
égide de um líder, Simón Bolívar,
venerado como um herói. Uma das
mais colossais mentiras do nosso
tempo.
Depois de décadas de corrupção, de
desigualdade e violência social e
económica, a Venezuela desfaz-se
perante os nossos olhos pela
determinação de um ditador e da sua
clientela corrupta. Não é fácil
derrubar um líder e um regime assim.
Todas as pressões diplomáticas estão
condenadas ao desdém. Todas as
sempre políticos ou intelectuais
patéticos a defender Nicolás Maduro e
a apontar o dedo aos que
supostamente o obrigaram a condenar
o seu povo a uma intolerável miséria.
Entre os extremos da cegueira
ideológica, sobram ainda assim todos
os que, da esquerda ou da direita, não
se resignam a um suposto fatalismo do
drama venezuelano. Deixar de o
recordar e denunciar a cada passo é
fazer o jogo que mais interessa ao
cruel ditador de Caracas.
manuel.carvalho@publico.pt

As cartas destinadas a esta secção
devem indicar o nome e a morada
do autor, bem como um número
telefónico de contacto. O PÚBLICO
reserva-se o direito de seleccionar e
eventualmente reduzir os textos não
solicitados e não prestará
informação postal sobre eles.
Email: cartasdirector@publico.pt
Telefone: 210 111 000
CARTAS AO DIRECTOR
O dinheiro não
tem cheiro
Há quem diga que sim, há quem
diga que não, mas poucos serão os
que apuram o olfacto quando as
notas passam à frente do nariz… e
poucos se preocuparam com o
“eventual” cheiro do dinheiro de
Isabel dos Santos. Agora, com
escândalo declarado, vemos uma
precipitação que recorda a imagem
dos ratos a fugirem do navio.
Veremos no futuro, caso apareçam
por aí outras notas com perfume
duvidoso, como estará a
sensibilidade dos narizes. Há outro
ridículo, que é o carácter único e
excepcional atribuído ao
fenómeno, como se este súbito
cordão sanitário desse uma boa
consciência, se bem que tardia, e
mais vale tarde do que nunca…
Não! O que a família Dos Santos fez
ao longo de décadas em Angola não
é único daquela família nem
daquele país. Não faltam por esse
mundo fora, belas capitais
europeias incluídas, transacções e
negócios relevantes com notas de
cheiro suspeito. Por outro lado, e
mais importante, escala e
contextos diversos, compras com
dinheiro derivado de governação
desonesta… não faltam, mesmo
com origem neste nosso querido
país. Vamos escandalizar-nos com
isso também? É possível?
Carlos J. F. Sampaio, Esposende
O silêncio de Rui Tavares
O comentador do PÚBLICO Rui
Tavares, que prometeu comentar
sobre o seu partido após aquele
congresso que o levou a um silêncio
ensurdecedor, tem, nas últimas
semanas, escrito sobre tudo e sobre
todos, inclusive criticado os outros
partidos da nossa praça. Sobre o
Livre é que ainda não tivemos o
prazer de ler o que pensa e sobre o
imbróglio que por lá vai. Estranho
também que assinava as suas
crónicas como fundador do Livre,
passando agora a ser só historiador.
Acho que para o tema da seriedade
estamos conversados.
Paulo Cunha, Lisboa
Cláudia Simões
Já praticamente se disse tudo a
respeito do comportamento de
agentes da PSP em relação a
Cláudia Simões. Gostava, porém,
de salientar alguns aspectos menos
explorados. Sendo difícil de
“engolir” a hipótese de queda,
também a de emprego da violência
necessária (contraditória com
aquela, por admitir o que a
primeira parece excluir: o uso de
violência) me parece de afastar.
Não creio que fosse preciso vários
agentes ofenderem corporalmente
daquela forma uma mulher para
dominarem a alegada resistência
que ela terá oposto à detenção,
mesmo que ela tivesse reagido com
dentadas. Os agentes presentes
manietá-la-iam com toda a
facilidade. E resta saber se as
mordeduras da mulher não
conÆgurariam, elas próprias, uma
resistência legítima à violência
inadmissível (verbal e física) que
estaria a sofrer, como referiu. Por
outro lado, a minha já longa
experiência de tribunais diz-me
que há uma tendência de certos
agentes da polícia para abusarem
da força de que dispõem e, ainda
por cima, encobrirem a sua
actuação com a imputação às suas
vítimas dos crimes de resistência e
coacção sobre funcionário. As
provas que geralmente oferecem
em tribunal são testemunhos de
outros agentes, em defesa
corporativa, que devem ser
relativizados por quem julga, mas
que, muitas vezes, não são.
António Costa, Porto
 Público • Quinta-feira, 30 de Janeiro de 2020 • 11

A opinião publicada no jornal respeita a norma ortográfica escolhida pelos autores

O deputado do Chega vai estar hoje na
posição incómoda (será?) de ouvir os seus
pares discutirem um voto de condenação
às suas declarações racistas sobre a deputada do
Livre, Joacine Katar Moreira. Com tudo o que
aconteceu entretanto, é fácil esquecer, mas André
Ventura, que agora se senta à direita do CDS,
ainda há menos de três anos concorria a uma
câmara com o apoio do Partido Social-Democrata.
André Ventura (Pág. 16) S.S.
A crise política está instalada na Catalunha e
o último episódio aconteceu na
segunda-feira, quando o presidente da mesa
Roger Torrent quis executar a ordem da Junta
Eleitoral Central, retirando o mandato de deputado a
Torra, presidente do governo catalão. Ontem, Torra,
que foi condenado por desobediência, disse que
perdeu a confiança na ERC, à qual pertence Torrent,
e que vai convocar eleições. Na Catalunha, já não há
Quim Torra unidade entre os independentistas. (Pág. 33) J.J.M.

ESCRITO NA PEDRA
Rasga este poema depois de o leres/ E depois espalha
Em primei-
os bocados/ Pelo vasto mundo/ Ou então na tua rua,
vai à aldeia, à praia,/ Atira-o ao mar, deita-o ao lixo,/ ra mão
Para que venha o vento, o sol, a chuva, os homens do lixo,/
Acabar com ele de vez./ Passado um dia,/ Sai de casa
e procura/ Encontrá-lo de novo.
Manuel Resende (1948-2020), poeta e tradutor

SEM COMENTÁRIOS SOLDADOS ISRAELITAS OBSERVAM MANIFESTANTES PALESTINIANOS A REZAR

A
Miguel Esteves Cardoso
Ainda ontem
ALAA BADARNEH/EPA

cho que aprendi mais em

EM PUBLICO.PT
O mapa do contágio
do coronavírus
Como é que a nova ameaça à saúde
pública mundial se está a espalhar pelo
planeta? Uma infografia interactiva mapeia
as rotas do surto publico.pt/multimedia
Na Ucrânia, há quem tenha
um tubarão de estimação
Ou um orangotango, ou uma raposa.
Oleksandr Rupeta fotografou os mais
invulgares animais de estimação do país. E
os seus donos publico.pt/p3
Queixas contra ginásios
aumentaram 64%
Frequenta o ginásio? Tem razões de
queixa? Não está sozinho. Débitos directos
e fidelizações são os principais motivos de
reclamação publico.pt/impar
Manchester, na minha primeira
semana na universidade, do que
alguma vez aprendi antes de ir
para lá.
Talvez a coisa mais importante
que me ensinaram foi a não
perder tempo com a bibliograÆa
secundária. Isto é: todos os livros
e artigos sobre a bibliograÆa
primária, constituída pelos livros escritos
pelos autores mais importantes.
Parece coisa pouca mas, a julgar pelos
hábitos que perduram no meio académico
português, não é. Primeiro lê-se Marx, Freud,
Wittgenstein, seja quem for. Só depois é que
se lêem os autores que escreveram sobre
Marx, Freud, Wittgenstein, seja quem for.
A primeira coisa que se descobre é que os
autores sobre os quais mais se escreve são
muito mais fáceis de ler — mais originais,
inesperados, profundos, estimulantes, férteis
— do que aqueles que os comentam.
A segunda coisa que se descobre, uma vez
lida a obra de um autor, é que os
comentadores são irredimivelmente parciais
e enviesados. Aquilo que os motiva é diferente
e menos interessante.
Perder tempo com críticos e comentadores
é uma delícia — mas é uma delícia muito
aumentada pelo conhecimento em primeira
mão dos autores comentados.
Não interessam tanto quanto se diz nem a
época nem a língua original. É libertador ler
os originais, é excitante, puxa por nós da
melhor maneira, leva-nos a pensar por nós
próprios.
Quem é que pode gostar mais de ler alguém
a escrever sobre Kafka do que ler Kafka? Só
quem está enganado e foi enganado, por
quem existe para o enganar.
Comentar é responder. E a pergunta, qual
era?
12 • Público • Quinta-feira, 30 de Janeiro de 2020
ESPAÇO PÚBLICO
Regresso do Brasil
António Pinto Ribeiro
Regresso do Brasil com a
forte sensação de ter
deixado um país doente
N
para cuja doença o país não
estava preparado
a segunda-feira, dia 20 de
Janeiro, foi o dia de S. Sebastião,
mártir cristão adoptado pelo Rio
de Janeiro como seu padroeiro.
Quem terá tido a ideia não
imaginaria até que ponto esta
adopção era uma profecia para
os tempos de hoje, em que a
cidade se tornou numa das mais
martirizadas do Brasil.
Conhecemos bem a história da desigualdade
social e dos sobressaltos pelos quais o Rio
passou desde a sua fundação. Mas nada de
tão grave tinha acontecido nas décadas
recentes tão é visível no imediato: o lixo
acumulando-se nos canteiros, as centenas de
sem-abrigo deitados à noite nos passeios, as
ruas esburacadas, a suspeição de que um
assalto aconteça a cada momento e até a
água da rede pública está agora
contaminada, obrigando os cariocas que
tinham acesso à rede — porque há centenas
de milhares que nunca tiveram — a ferver
água, açambarcar garrafões, pedir água
emprestada aos vizinhos.
Tudo isto não estava predestinado à
cidade; uma das mais belas cidades do
mundo com as suas casas no meio da Çoresta
tropical, a arquitectura inventiva, uma
cidade de encantamento onde bastava
caminhar pelas ruas para sentir a
sensualidade no ar, ser informal no vestir e
rigoroso na cadência musical. E hoje tudo
isto está suspenso por incompetência dos
governantes — da cidade, do Estado, do país
—, da sua impreparação, do analfabetismo
cultural, do fanatismo religioso, de um
enorme desprezo pelos cidadãos e do
racismo nas suas múltiplas formas.
Regresso do Brasil com a forte sensação de
ter deixado um país doente para cuja doença
o país não estava preparado, não conhecia
esta epidemia que atinge os corpos — o social
e o de cada um —, não previa os seus efeitos
na população, cujo diagnóstico ainda é difícil
de fazer porque os instrumentos de análise
que possuímos são inadequados a esta
epidemia. Podem avançar-se muitas
hipóteses, mas a forma gelatinosa como a
doença se propagou escapa às terapias
conhecidas, mesmo aquelas que surtiram
algum efeito nas ditaduras.
Sim, há indicadores imediatos que ajudam
a esclarecer como um grupo de revanchistas,
SERGIO MORAES/REUTERS
Muitos antes de mim já se pronunciaram
sobre esta doença, mas não basta Æcar por
esta tentativa de explicação e, menos ainda,
pelos comentários no Facebook e nas redes
sociais, que funcionam a maioria das vezes
como “Æo de terra” da tristeza ou da
amargura pessoal. É importante partilhar,
mas mais importante é deixar essa
trincheira do desabafo e ir mais além. Que
fazer? Desconstruir a propaganda das
múltiplas instâncias do Governo recorrendo
a factos, revelando situações concretas —
como, aliás, já o fazem certos meios de
comunicação como o Intercept e outros, ou
comentadores extraordinários como Eliane
Brum. Mas é imperativo que seja uma
actividade diária, uma oposição diária,
evitando reacções imediatas e pouco
fundamentadas a partir de argumentos e
provas sólidas. Esta é a oposição necessária,
diária, que envolva todas as pessoas de bem
e, depois, há que as difundir por uma
população mais vasta fazendo crescer os
auditórios.
Nas semanas que antecederam a segunda
volta das eleições foram muitos e muitas os
que se foram para as ruas para “virar o voto”
a favor do candidato Fernando Haddad.
Sabe-se que o resultado das eleições não foi
o que estas pessoas desejavam, mas a sua
acção foi uma prova fundamental de quanto
é importante ir para a rua desconstruir a
propaganda continuada do outro candidato
e da sua máquina eleitoral. E são essas
pessoas que aÆrmam ter encontrado nesse
impreparados, narcisistas a um nível invejosas e complexadas, para quem são ‘falar’ em linguagem acessível, e recorrendo
patológico invulgar, iletrados cultural e sempre os outros os responsáveis pelas suas mais uma vez a factos, números e dados, a
socialmente, tomaram o poder na base da vidas desinteressantes. estratégia eÆcaz para desconstruir o logro e
mentira e tendo como aliados outro bando Mas isto é apenas uma das justiÆcações as contradições.
de obcecados com a acumulação para a expressão de tanto ódio e tanto rancor Pois é tempo de voltar a esta estratégia de
desenfreada de onde predomina o ódio contra todos os que “virar” (ainda que não haja eleições no
riqueza, com a são diferentes deles. E sabemos como a imediato; haverá para o ano as municipais),
retenção doentia de linguagem rigorosa, identiÆcar e saber o mas “virar” a representação verdadeira da
dinheiro e de poder nome próprio do mal, é um passo importante realidade, não na próxima semana, não só
sobre os outros, sob para o dominar. Como por exemplo é dever nas próximas semanas, mas nos próximos
Pois é tempo de o disfarce da chamar nova escravatura à forma como meses, anos, sempre que seja necessário. E,
voltar a esta liberdade
económica. Doentes,
dezenas de igrejas evangélicas criaram em
milhões de brasileiros a sua dependência
juntamente com este trabalho diário, é
imperativo viver, ler, ler muito, fazer teatro e
estratégia de eles propagam e psicológica e material e lhes retiraram a teatros e ir às rodas de samba e cantar,
‘virar’, mas contagiam os
milhões de pessoas
liberdade de escolher, como os têm reclusos
pela chantagem e pelo controlo de cada um e
dançar, homenagear os heróis populares
brasileiros e a enorme cultura política que o
‘virar’ a de bem que se das suas famílias. Não apareceu do nada, samba tem.
representação encontram confusos, estava latente no machismo comum, na Nesse mesmo dia de S. Sebastião, ao Æm
impotentes, que não obesidade sexista do macho, nas da tarde, na Rua do Ouvidor, o Æzeram
verdadeira da encontraram ainda o manifestações de ódio que rejeitavam o centenas de pessoas com um piano de
realidade, nome para a coisa e processo das quotas étnicas no acesso à cauda, todas as percussões, as vozes e os
sempre que essa coisa é
demolidora. O
educação ou à administração pública; era
evidente no modo como no Brasil muitos dos
corpos. E isto não é retórica nem Ægura de
estilo. É, no imediato, um modo de evitar
seja necessário ressentimento é uma seus militares eram nostálgicos do regime que a doença se propague e, até, de a
dessas maleitas que ditatorial. E como a leviandade com que estancar.
os atinge, esse foram escritos num passado recente muitos
sentimento que editoriais nos media brasileiros Investigador e programador cultural
Freud faria equivaler desconsideraram e nunca Æzeram a avaliação do projecto “Memoirs” no Centro
à cobardia moral, dos terrores da ditadura e assim a de Estudos Sociais da Universidade
presente em pessoas branquearam. de Coimbra

Auschwitz:
único e realizável
2 S
Manuel Loff
7 de janeiro de 1945, meio-dia.
Quatro soldados soviéticos a cavalo
chegam a Auschwitz. Foram
precisos dias de combate e muitos
mortos para conseguir a libertação
dos três campos (Auschwitz-1,
Birkenau e Monowitz) e dos vários
subcampos de trabalho escravo em
seu redor. Primo Levi, então com 24
anos, viu-os “aproximar-se do
arame farpado, detiveram-se, trocando
palavras breves e tímidas, lançando olhares
trespassados por um estranho embaraço, para
observar os cadáveres decompostos, os
barracões arruinados, e os poucos vivos”. “[Os
soldados] pareciam sufocados, não somente
por piedade, mas por uma confusa reserva que
selava as suas bocas e subjugava os seus olhos
perante os cadáveres dispersos (...) e nós, os
raros sobreviventes. Era a mesma vergonha
que bem conhecíamos, que nos esmagava após
as seleções [de prisioneiros para as câmaras de
gás], e todas as vezes que devíamos assistir ou
suportar um ultraje.” (Primo Levi, A Trégua,
1963)
Foi há 75 anos. Adaptado em 1939 como
campo de concentração, depois, uma vez
instalada a capacidade de gasear e incinerar
industrialmente (1942), em campo de
extermínio, em Auschwitz terão morrido no
mínimo 1,1 milhão de pessoas (o próprio
Eichmann julgava que 2,5 milhões!), 960 mil
das quais judeus, 21 mil ciganos. Em todo o
Holocausto, os nazis terão assassinado 5,2
milhões de judeus e (o número ainda hoje está
por estabelecer) entre 250 mil e 1,5 milhões de
ciganos. Entre vítimas, perpetradores e
cúmplices, Auschwitz envolveu toda a Europa:
os nazis gasearam prisioneiros de guerra
soviéticos, judeus e ciganos alemães,
austríacos, checos, polacos, eslovacos, croatas,
holandeses, franceses, belgas, gregos, italianos,
húngaros. Quem à chegada não era selecionado
diretamente para a morte, partilhava trabalho
escravo com os prisioneiros políticos e os
homossexuais até que a exaustão física os
levasse ao estado de muçulmanos, nome que os
prisioneiros davam àqueles cuja vida perdia
utilidade para os carcereiros e que, por isso,
eram também gaseados. A marca da natureza
industrial, moderna, do processo operado por
um Estado fascista que mobilizou ciência e
tecnologia para organizar assassinato em
massa e desaparecimento de prova, fez com
que em Auschwitz, como “em nenhum outro
lugar ou momento, se assisti[sse] a um
fenómeno tão imprevisto e tão complexo:
nunca tantas vidas humanas foram apagadas
em tão pouco tempo, e com uma tão lúcida
combinação de engenho tecnológico, de
fanatismo e de crueldade” (Primo Levi, Os
Afogados e os Sobreviventes, 1986).
Público • Quinta-feira, 30 de Janeiro de 2020 • 13
ESPAÇO PÚBLICO
A indispensável
dupla estratégia
Ali, como em Hiroxima, chegou-se a um A primeira destas estratégias consiste em
ponto sem retorno: um tão terrível grau de J.-M. Nobre-Correia sair do tradicional posicionamento dito
violência e de destruição de vidas humanas “nacional” que é de facto, antes do mais,
garantiu que ambos tenham sido fenómenos abemos hoje bem porque é que a centro-norte litoral, para não dizer mesmo
únicos na história e lugares universais de imprensa em Portugal foi sempre lisboeta ou portuense. Ir à conquista dos
memória, mas inscreveu-os deÆnitivamente na fraca em relação à congénere de leitores “do interior”, que (como provam as
lista de possibilidades reais. Aqueles que optam outros países da Europa ocidental. vendas em banca) recusam largamente um
por uma espécie de abordagem religiosa do Porque bastante mais tardia do conteúdo atual que não lhes diz respeito.
Holocausto, na qual as vítimas aparecem que a dos países pioneiros em Criar para isso edições digitais
descritas como mártires do mal absoluto (como matéria de mensários, de locais-regionais, reforçando fortemente as
apurou Giorgio Agamben) e os sobreviventes semanários ou de diários. Porque componentes informativa e publicitária
como quase-santos, tratam da “unicidade (real) confrontada com um próprias a estas edições. Como fazem, por
da Shoah, não como uma análise histórica analfabetismo de 82,4% em 1878 e exemplo, os italianos Corriere della Sera e La
(fundada sobre a razão), mas como uma que ultrapassa ainda os 20% em 1970, Repubblica.
espécie de identidade eletiva destinada a dar quando havia populações totalmente A segunda estratégia, sobretudo para a
corpo a uma identidade judaica imaginária” alfabetizadas em Æns do século XVII na imprensa “de referência”, consiste em ir à
(Georges Bensoussan). Alemanha, por exemplo. Porque a conquista de um leitorado à escala planetária
Ora, em vez de irracionalizarmos o distribuição deparava com a falta de — criando de preferência edições digitais para
Holocausto como se ele fosse produto de uma comunicações fáceis com “o interior”, não a América, a África e a Ásia-Oceânica, onde
maldade extrema ou de um momento de sendo as publicações postas à venda em vivem tantos lusófonos.; propondo-lhes
insanidade política, o que precisamos é de todas as localidades. Porque, fora da área também uma informação e uma publicidade
sobre ele fazermos “uma reÇexão política que costeira de Braga a Lisboa, as tipograÆas especíÆcas; propondo-lhes, em todo o caso,
procure abarcar o conjunto da humanidade”. capazes de produzir diários ou periódicos de uma informação de origem europeia sobre
Ao falarmos de racismo, e do antissemitismo e uma certa importância praticamente não Portugal e o mundo, e sobretudo sobre uma
da ciganofobia em particular, falamos de todas existiam. Porque a grande maioria da União Europeia que, apesar de tudo, conta
as formas de racismo; população vivia numa economia de cada vez mais a nível internacional. É isso que
ao estudarmos a subsistência e o jornal era então um produto fazem, segundo
Shoah (o genocídio de luxo. modelos diferentes,
judeu) e a Porajmos (o Quando os grandes diários de Æns do o espanhol El País e o
genocídio cigano), século XIX e princípios do século XX, que francês Le Monde,
Olhemos para estudamos todos os eram o Diário de Notícias e O Século, atingiam por exemplo. Numa
nós próprios, 75
genocídios, a sua
génese social e
tiragens de 80 mil exemplares, em França,
que publicava então os maiores diários
Os obstáculos perspetiva, aliás,
mais alargada, não é
anos depois de política e o caldo de europeus, Le Petit Journal e Le Petit Parisien, ao desen- chocante que tenha
Auschwitz. E
cultura racista que os ultrapassavam já, um e outro, o milhão. O volvimento da sido El País a lançar
produz — o mesmo que, mesmo ponderando tais números em em 26 de novembro
não caldo, função das demograÆas, dá uma ideia mais imprensa em de 2013 uma edição
pretendamos inevitavelmente, em precisa da modéstia da imprensa portuguesa. Portugal diária digital em
que, por come-
que começámos a
afundar-nos neste
A estas fragilidades congénitas vêm depois
juntar-se três situações que refrearão
desapareceram. português destinada
ao Brasil?!
morarmos mais novo século. fortemente o seu desenvolvimento: a Há agora que Para sair da
este
Ao estudarmos
Auschwitz como
instabilidade crónica da Primeira República,
a repressão obscurantista do Estado Novo e a
definir novas miséria que é
historicamente a
aniversário, crime de Estado, de destruição de quase todas as velhas ambições sua, e que é cada vez
um Estado que reuniu instituições da imprensa nacional no início da mais a sua
aprendemos as as condições Segunda República, logo a seguir à Revolução atualidade, a
ões devidas
lições materiais e políticas dos Cravos. imprensa portuguesa
para o praticar, Porém, as infra-estruturas do país e a tem de deixar de
comecemos por própria sociedade evoluíram olhar unicamente
estudar a consideravelmente nos últimos 40 anos — para o seu umbigo.
securitização das enquanto, durante este mesmo tempo, as Tem de deixar de
minorias étnicas e a tecnologias de informação e de comunicação pensar tomando como referência o que foi
sua exclusão da foram objeto de uma autêntica revolução. feito no país num passado mais ou menos
comunidade dos cidadãos, tomando todos e Isso quer dizer que os obstáculos ao recente. E de tomar como exemplo
cada um dos seus membros como um perigo desenvolvimento da imprensa em Portugal individualidades que, de facto, raramente
para a sociedade, condições sem as quais os desapareceram. Resta a tradicional falta de ultrapassaram uma dimensão paroquial. Há
genocídios praticados pelos nazis e pelos seus hábitos de leitura por parte dos cidadãos. que se inspirar no que de melhor se faz nesta
colaboradores não teriam sido possíveis. E Mas resta também a devida adequação das Europa de que queremos fazer parte, o que
depois olhemos para nós próprios, 75 anos estratégias de desenvolvimento das empresas só realmente conseguiremos se dispusermos
depois de Auschwitz. E não pretendamos que, às novas potencialidades tecnológicas. de uma imprensa de nível europeu…
por comemorarmos mais este aniversário, Estratégias que — para além do reforço do
aprendemos as lições devidas. conteúdo, em termos quantitativos como Professor emérito de Informação e
qualitativos — têm de aÆrmar-se em dois Comunicação da Université Libre de
Historiador. Escreve quinzenalmente à sentidos aparentemente opostos, mas Bruxelles; autor do livro Média,
quinta-feira igualmente indispensáveis. Informação e Democracia (Almedina)
14 • Público • Quinta-feira, 30 de Janeiro de 2020
POLÍTICA
“Tem mesmo de haver pontos
de encontro com o PSD”
Ana Catarina Mendes É uma optimista.
No Änal das suas primeiras jornadas
como líder da bancada do PS diz que vai
dialogar e conseguir acordos, quer à sua
esquerda, quer com o PSD
Entrevista
Luciano Alvarez
Ana Catarina Mendes encerrou
ontem, em Setúbal, as suas
primeiras jornadas parlamentares
enquanto líder da bancada
socialista. Dois dias de trabalho
em que Rui Rio e as propostas de
alteração do PSD ao Orçamento
do Estado de 2020 estiveram
sempre debaixo de fogo.
Contudo, a dirigente socialista
acredita que, assim que o PSD
esteja estabilizado — “estabilizado
que esteja o PSD e a sua vida
interna” — vai haver dialogo com
os sociais-democratas e vai ter de
“haver pontos de encontro” entre
os dois partidos ao longo da
legislatura. É mesmo peremptória
quando aÆrma que eles “têm
mesmo de existir”.
Mas o PS quer diálogo com
todos os partidos, especialmente
com aqueles que apoiaram o
Governo na anterior legislatura, a
que se junta agora o PAN. Também
à sua esquerda, a optimista Ana
Catarina Mendes acha que é
possível haver diálogo para um
caminho paralelo, apesar das
muitas críticas que estes partidos
têm feito ao Governo. “Vamos
conseguir encontrar caminhos
que não coloquem em causa o que
iniciámos há quatro anos”, aÆrma.
Mais conÆante ainda está no
cumprimento do mandato até ao
Æm da legislatura por parte do
Governo.
Nestas jornadas parlamentares
alertou os deputados do PS
para uma legislatura que
traz novos desafios,
nomeadamente porque há três
novos partidos na Assembleia
da República. Vai ser uma
legislatura complicada para a
bancada socialista?
Vai ser uma legislatura mais
exigente, mas também para o
país, para a democracia e para a
instituição parlamentar. Temos
três novos partidos, há um
discurso que se vai radicalizando
a cada dia que passa e o PS tem
uma responsabilidade histórica
na construção da democracia e
em manter a estabilidade política
e social que prometeu aos
portugueses.
Mas também promete ser mais
complicada porque, nesta
legislatura, o PS e o Governo
não têm qualquer acordo com
os partidos à sua esquerda...
No fundo, continua a haver um
diálogo construtivo entre os
parceiros que apoiaram o
Governo na anterior legislatura, a
que se soma o PAN. Por isso,
aquilo que se espera é que o
caminho que iniciámos há quatro
anos não seja desvirtuado nesta
legislatura em função da
geometria parlamentar, mas que
conÇuamos de novo em nome
dos interesses dos portugueses.
Algumas das críticas mais
duras têm sido feitas
precisamente pelos antigos
parceiros. Está mesmo
esperançada que seja possível
fazer esse caminho paralelo
nesta legislatura?
Estou esperançada que sim.
Tenho a expectativa de que seja duramente criticados, esse diferentes, mas muito próximas.
possível fazer esse caminho. Sou diálogo com o PSD pode não Seja nas questões europeias, seja
uma optimista por natureza e ser fácil... nas questões internacionais e até
tenho a expectativa de que vamos O dr. Rui Rio, neste Orçamento do nas questões estruturantes do
conseguir encontrar caminhos Estado, apresentou-se com um país.
que não coloquem em causa o
que iniciámos há quatro anos. Os
O Parlamento é o conjunto de propostas avulsas,
impreparadas e sem as contas
Foi também muito
peremptória quando disse que
portugueses pediram isso nas espaço ideal para feitas. Isso não signiÆca que daqui o Governo vai cumprir esta
eleições e o PS respeitará o voto
dos portugueses.
encontrar para a frente, estabilizado que
esteja o PSD e a sua vida interna,
legislatura até ao fim. Num
mandato que admite poder ser
Afirmou também, em Setúbal, capacidade de não haja pontos de encontro. E mais complicado, esse
que o PS está disponível para
falar com todos os partidos e
diálogo em tem mesmo de haver pontos de
encontro com o PSD. Em
objectivo será fácil de
cumprir?
conseguir acordos pontuais. O algumas matérias, democracia, eles têm de existir e Estou absolutamente conÆante
PSD está incluído nesse
pacote?
em relação às o Parlamento é o espaço ideal
para encontrar capacidade de
em que esta legislatura é para
cumprir até ao Æm. Os
Sim. quais nós sabemos diálogo em algumas matérias, em portugueses exigem estabilidade
Depois destas jornadas
parlamentares, em que o PSD
que o PSD esteve relação às quais nós sabemos que
o PSD esteve sempre com o PS,
política e o PS fará tudo o que for
necessário e esteja ao seu alcance
e o seu presidente foram sempre com o PS ou que estivemos com posições para garantir essa estabilidade e

ANDRÉ KOSTERS/LUSA
os quatro anos da legislatura.
Mudando de assunto: o PS
deverá ter um candidato
presidencial?
Ainda estamos muito a tempo
dessa decisão. Os órgãos próprios
do partido vão tomar a decisão e
falaremos, a seu tempo, dessa
matéria. Hoje, o que me interessa
é dizer nestas jornadas
parlamentares que queremos
uma legislatura de quatro anos,
estamos a trabalhar para isso.
Temos uma agenda progressista,
vamos aprofundá-la e o grupo
parlamentar do Partido Socialista
está pronto para o combate
político.
lalvarez@publico.pt
Retirada
candidatura ao PS
de Guimarães
O
deputado Luís Soares vai
concorrer sozinho às
eleições para a concelhia
do PS de Guimarães. O
seu adversário, Paulo Freitas do
Amaral, retirou a candidatura
na terça-feira, depois de a
comissão distrital de jurisdição
ter apontado falhas ao seu
processo de candidatura.
“Foi muito sacrifício para
nada. Levei um ano a preparar
a candidatura e agora a
jurisdição alega existirem
irregularidades no processo”,
queixou-se Freitas do Amaral
ao PÚBLICO. O até agora
candidato, que é secretário na
Santa Casa da Misericórdia de
Guimarães, revelou que a
jurisdição o ameaçou com um
“processo de suspensão de
militante” caso insistisse na
candidatura, uma vez que a
mesma continha assinaturas
de militantes inscritos há
menos de seis meses. Freitas
do Amaral até admite que
possa haver “alguns” casos
desses, mas contrapõe que
apresentou um “número [de
assinaturas] bem superior” ao
recomendado (61).
O presidente da comissão
distrital de jurisdição do PS,
Alexandre Maciel, tem uma
versão diferente. “O partido
recebeu cinco denúncias por
escrito de pessoas que
afastaram qualquer
participação, negando ter
assinado declarações de
aceitação da candidatura de
Paulo Freitas do Amaral”,
afirmou ao PÚBLICO,
acrescentando que “houve
quem declarasse que as
assinaturas foram falsificadas”
e que as pessoas em causa
solicitaram cópias para agirem
judicialmente. Maciel
confirmou que o partido abriu
um” processo de inquérito
para averiguar eventuais “actos
ilícitos”, o qual pode originar
“sanções disciplinares”. M.G.
Público • Quinta-feira, 30 de Janeiro de 2020 • 15
Nos últimos quatro anos,
o
o PS reduziu o custo
%
da electricidade 8%
António Costa
Primeiro-ministro
IVA da electricidade: Costa e Bloco divergem
absoluta e que “não pode pretender das propostas do PSD e do PCP para
Luciano Alvarez
negociar com base na chantagem e a redução do IVA da electricidade
na intransigência”. A negociação “é para 6% já este ano. “Não havendo
António Costa admitiu ontem baixar uma necessidade para qualquer qualquer garantia ou uma negocia-
o IVA na electricidade, mas não Governo que não tem maioria abso- ção a esse respeito, o Bloco quer
como o PSD quer, de uma forma luta”, vincou. deixar claro que irá aprovar as pro-
generalizada. “A redução acrítica do “Como toda a gente sabe, menos postas que sugerem uma redução
IVA, de uma forma generalizada o PSD, não é possível alterar o IVA do IVA da electricidade”, anunciou
para tudo e para todos, é, em pri- em função da natureza do consumi- Mariana Mortágua. Apesar disso,
meiro lugar, socialmente injusta e dor”, disse Costa. “Não há um IVA aÆrmou que o BE não irá “alinhar
é, sobretudo, irresponsável do pon- para uns e um IVA para outros. Esse em joguinhos políticos”. Em causa
to de vista ambiental”, aÆrmou o não é um critério aceite pela legisla- estarão as declarações do deputado
primeiro-ministro, em Setúbal. O ção comunitária”, acrescentou. do PSD Duarte Pacheco que garan-
Bloco de Esquerda reagiu horas Em São Bento, o Bloco não se tiu que, “sem qualquer contrapar-
depois, no Parlamento, lembrando mostrou sensível a este argumentá- tida, a proposta do PSD não será
a Costa que o PS não tem maioria rio e anunciou que vai votar a favor votada”. com Liliana Borges
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16 • Público • Quinta-feira, 30 de Janeiro de 2020
POLÍTICA
BE pressiona partidos e Ferro
a condenarem formalmente
racismo de André Ventura
Parlamento
Maria Lopes
BE leva texto do voto de
condenação à conferência
de líderes em que hoje se
estreiam os deputados do
Chega, IL e Livre
O Bloco de Esquerda quer que os
restantes partidos com assento par-
lamentar e até o próprio presidente
da Assembleia da República se unam
para condenar as aÆrmações de
André Ventura sobre Joacine Katar
Moreira. Depois de na terça-feira ter
prometido um voto de condenação
no Parlamento e de apelar a que
outros partidos se juntem, o líder da
bancada bloquista leva hoje o assun-
to à conferência de líderes, incluindo
o texto do voto que estava a ultimar
ontem à tarde. E espera sair de lá
com apoio para o texto, que poderá
ser votado no plenário de dia 6,
depois do Orçamento.
Para já, não parece haver disponi-
bilidade para um texto conjunto, que
seria bem mais simbólico por repre-
sentar a maioria do Parlamento,
como os bloquistas gostariam. É que
pelo menos o PS também já anun-
ciou que tenciona apresentar um
texto próprio — a menos que Ferro
Rodrigues consiga convencer o PS a
alinhar num voto conjunto.
Ao PÚBLICO, o vice-presidente da
bancada social-democrata Carlos
Peixoto vincou que o PSD “condena
qualquer expressão que incentive ao
ódio ou ao racismo”, mas espera
para ler os textos dos votos antes de
decidir se os apoia ou não, salientan-
do que há ocasiões em que a parte
conclusiva é “seca e directa”, mas o
texto dos considerandos versa outros
objectivos.
Na mesma linha, os Verdes conde-
naram, em comunicado, as aÆrma-
ções de André Ventura a quem acu-
sam de fomentar “posições xenófo-
bas”, mas dizem ser preciso
“conhecer e analisar primeiro o con-
teúdo” do voto. E vão mais longe:
manifestam “sérias e fundadas dúvi-
das sobre o contributo dessas inicia-
tivas no propósito de aÆrmar uma
sociedade onde todos têm lugar,
iguais nos seus direitos”, ou se, pelo
contrário, contribuem para “alimen-
tar e dar espaço a ideias ou a forças
políticas que não convivem de forma
Comentário de Ventura está no centro das críticas dos partidos
confortável como o nosso quadro
constitucional”, nomeadamente
com o princípio da igualdade.
Por coincidência, esta será tam-
bém a primeira conferência de líde-
res que contará com a participação
dos três deputados únicos, que
foram convocados por Ferro Rodri-
gues porque a reunião será essencial-
mente de agendamentos para as
semanas seguintes à votação Ænal do
Orçamento. O que signiÆca que o
tema da polémica sobre o comentá-
rio de Ventura, que sugeriu que Joa-
cine Katar Moreira é que devia ser
“devolvida ao seu país de origem”
em vez de propor que Portugal
devolva às ex-colónias património
cultural que de lá trouxe, vai ser dis-
cutido com os dois deputados pre-
sentes em volta da enorme mesa
disposta em quadrado na sala D.
Maria.
Ficar pelo caminho
O PÚBLICO questionou os diferentes
partidos sobre o futuro da proposta
do Livre e concluiu que é quase cer-
to que ela Æque pelo caminho.
Para já, os partidos resguardam-se
na resposta de que ainda estão a ana-
lisar as mais de 1200 alterações ao
Orçamento do Estado para 2020 e
asseguram que ainda nem leram o
texto apresentado por Joacine Katar
Moreira, mas o entusiasmo pela pro-
posta é fraco.
A líder parlamentar do PS já aÆr-
mou que não lhe parece que seja
uma medida que o seu partido venha
a aprovar.
O deputado Paulo Rios de Oliveira,
que é o coordenador do PSD na
NUNO FERREIRA SANTOS
comissão de Cultura, disse ao PÚBLI-
CO que nem sequer conhece ainda o
teor da proposta. Mas, a nível pes-
soal, tem dúvidas sobre o princípio
que está na base da medida do Livre.
“Quantos acertos do curso da Histó-
ria ao longo dos séculos terão de ser
feitos para todos os países que se
sentirem roubados ou espoliados
serem ressarcidos? Podemos entrar
numa espiral que não tem mais Æm”,
considera o social-democrata.
Chega e Iniciativa Liberal estão
contra a medida.
Já Inês Sousa Real, a líder parla-
mentar do PAN, partido que incluíra
no seu programa eleitoral a realiza-
ção do levantamento do património
cultural das ex-colónias existente em
território português, aÆrma que o
PAN vai votar a proposta do Livre
ponto por ponto. Irá abster-se no
ponto que propõe a criação de uma
comissão multidisciplinar com a mis-
são de “forjar directivas didácticas
para a recontextualização das colec-
ções dos museus e monumentos
nacionais” e irá votar a favor do
segundo ponto que prevê a criação
de um grupo de trabalho encarregue
de fazer o levantamento.
O PCP ainda está a analisar as pro-
postas e não se pronuncia sobre
nenhuma em particular.
Embora não queira revelar o sen-
tido de voto, o Bloco de Esquerda
salienta que esta é uma “discussão
muito importante que está a aconte-
cer” em diversos países e “não há
como evitar o debate” também em
Portugal.
maria.lopes@publico.pt
Manuel Monteiro
recusa “tabus”
e põe-se fora da corrida
às presidenciais
Partidos
Antigo líder centrista era
apontado como um
provável candidato a
Belém. A sua refiliação no
CDS ainda não foi aprovada
O ex-líder do CDS Manuel Monteiro
recusa-se a alimentar tabus e afasta
qualquer cenário de uma eventual
candidatura às eleições para a Pre-
sidência da República, em 2021.
“Não gosto de tabus”, aÆrmou, com
um sorriso, Manuel Monteiro à
Lusa, garantindo que, para ele, uma
candidatura a Belém “é um não-as-
sunto” e que “merece uma resposta
clara e inequívoca”: um “não”.
“É um assunto que acaba sem ter
começado”, garantiu ainda o antigo
presidente dos centristas que, ape-
sar de estar à espera da conclusão
do seu processo de reÆliação,
apoiou as ideias do candidato que
venceu o congresso de Aveiro, no
último domingo, Francisco Rodri-
gues dos Santos.
Dentro do CDS, e antes do concla-
ve, Abel Matos Santos, da Tendência
Esperança em Movimento (TEM),
aÆrmou-se, numa entrevista à Lusa,
contra o apoio do partido a uma
eventual recandidatura de Marcelo
Rebelo de Sousa às eleições presi-
denciais em 2021, embora nada
tenha dito sobre Monteiro.
O novo líder dos centristas, no
seu discurso de vitória, não se refe-
riu uma só vez às presidenciais e,
No interior do CDS, Monteiro
é visto como presidenciável
anteontem, à saída do Palácio de
Belém, onde a nova direcção do
partido foi recebida por Marcelo
Rebelo de Sousa, limitou-se a dizer
que a iniciativa de um eventual
apoio ao actual Presidente não
deverá partir do CDS, dado que as
candidaturas presidenciais têm raiz
numa vontade do próprio que não
foi transmitida [ao CDS]”. “Vamos
escutar primeiro qual é a vontade
do nosso Presidente da República,
depois reuniremos os órgãos pró-
prios do partido, onde faremos uma
avaliação”, assumiu.
Antes e depois do congresso, diri-
gentes nacionais ouvidos pela Lusa
admitem que a questão presidencial
é, internamente, “muito sensível”,
referindo que um dos nomes possí-
veis da área da direita para esta elei-
ção — que depende da vontade pró-
pria do candidato — seria o do ex-
líder do partido Manuel Monteiro.
No Ænal de Outubro, a direcção de
Assunção Cristas optou por não
decidir até ao congresso de Janeiro
a reÆliação no CDS do ex-líder, que
deixou o partido em 1998 para fun-
dar a Nova Democracia (ND).
Após uma progressiva reaproxi-
mação, Manuel Monteiro participou
em várias iniciativas do CDS, a con-
vite da TEM, no ano passado. Em
Setembro, entregou a Æcha de reÆ#
liação na concelhia da Póvoa de
Varzim, distrito do Porto, que apro-
vou a sua inscrição. A direcção deci-
diu nada decidir, o que foi conside-
rado um “acto censório” que “não
cabe num partido que se diz plura-
lista e democrático”, como aÆrmou
Abel Matos Santos em Outubro.
Os cinco candidatos à liderança,
incluindo o vencedor, mostraram-se
favoráveis ao regresso de Manuel
Monteiro. “Não tenho arrependi-
mentos permanentes com a histó-
ria, por isso, este é o momento de
o partido se reconciliar com todos
os seus ex-presidentes, com Freitas
do Amaral, com Adriano Moreira,
com Manuel Monteiro, com Ribeiro
e Castro, com Assunção Cristas”,
disse o actual líder, no Ænal do
congresso do partido. “Vamos tra-
balhar com todos os militantes
e simpatizantes do CDS para que
cada um de vós possa regressar a
esta que é a vossa casa”, acrescen-
tou, numa declaração que foi enten-
dida como um sinal de que vai agi-
lizar a reÆliação de Manuel Montei-
ro. PÚBLICO/Lusa

Nem tudo o que
cresce é ouro!
Opinião
Carlos J. Pereira
A direita, e alguns dos seus
comentadores, na falta de
melhores argumentos, tem trazido
para a discussão o tema do
crescimento económico do país e,
principalmente, a ideia de que,
apesar de tudo, Portugal cresce
menos que o grupo dos países da
coesão. Nesta tentativa de
desvalorizar três anos de
crescimento económico acima da
média da UE, o PSD, e o resto da
companhia, não conta a história
completa e escolhe cirurgicamente
argumentos (apenas) para
poderem ir a jogo no debate
político, depois de anos (perdidos)
a bater na tecla de que “o diabo” ia
comprometer os resultados
previstos pelo Governo.
Desprezar o crescimento
extraordinário e, sobretudo, o
crescimento sustentado (porque
está baseado no dinamismo das
exportações e no investimento
privado), tendo em conta as
condições do país, é um misto de
contradição, pelo modelo
económico baseado na procura
externa e investimento,
abundantemente defendido por
estes partidos, e de enviesamento
rudimentar da nossa realidade,
mas, sobretudo, do nosso ponto de
partida.
É verdade que em 2018 a média
do crescimento dos 16 países da
coesão foi de 3,9% e Portugal
cresceu 2,4%. Mas este não é um
cenário novo: foi sempre assim
desde 2011, Portugal cresceu sempre
abaixo da média do crescimento dos
países de coesão. Entre 2011 e 2018 a
média de crescimento dos países de
coesão foi de 2,4%, já Portugal
cresceu 0,4%.
Mas em que circunstâncias
ocorreu este crescimento? No nosso
país, apesar do esforço de redução
da dívida da anterior legislatura e de
o orçamento de 2020 impor um
caminho robusto, através de um
histórico excedente orçamental, a
dívida em relação ao PIB ainda está
muito acima do desejado e do
necessário. Na análise da década, os
países da coesão apresentam uma
dívida média de 64% do PIB e
Portugal de 127%. Não é um
pormenor insigniÆcante.
Se analisarmos as razões do
crescimento da quase totalidade
destes países, compreendemos que
ali o investimento público assumiu
uma grande expressão, puxando
pelo crescimento económico numa
lógica keynesiana pura e dura.
Sabemos que não foi uma opção do
nosso país evitar um choque de
investimento público. Foi apenas a
construção de um caminho que
garantia a consolidação das contas
públicas. Os resultados são, porém,
incontestáveis: a devolução de
rendimentos, mas também um
modelo sustentável de crescimento
económico, conforme, aliás,
propagava a direita vezes sem
Portugal tem
baseado o seu
dinamismo
nas exportações
e no investimento
privado
conta. É por isso que, em Portugal,
o investimento público em
percentagem do PIB foi em toda a
década de 2,2%, enquanto a média
do investimento público em
percentagem do PIB nos países da
coesão foi de 3,9% entre 2011 e 2018.
Estes valores representam
praticamente o dobro do
investimento público do nosso país,
permitindo taxas de crescimento
económico acima dos 3% “apenas”
pela injeção maciça de dinheiro dos
contribuintes e, aqui sim, com carga
Æscal pesada. Portanto, está fácil de
observar que se trata de
crescimentos muito menos
sustentáveis do que o de Portugal,
que, nos últimos anos, tem baseado
o seu dinamismo nas exportações e
no investimento privado.
O labirinto de contradições de
alguns partidos exige que
expliquem direitinho o caminho
que propõem, porque os seus
argumentos levam a uma equação
de solução sofrível.
Vice-presidente do grupo
parlamentar do PS
Breves
Parlamento
Castração química
para pedófilos é
inconstitucional
O Conselho Superior da
Magistratura (CSM) concluiu
que a proposta do partido
Chega de castrar
quimicamente pedófilos viola
dois artigos da Constituição
da República Portuguesa,
segundo noticiou a TSF. A
conclusão está no parecer que
o CSM enviou ao Parlamento,
no qual se admite que a
implementação de tal medida
pode resultar em “tratamento
desumano e cruel”.
OE 2020
Mesa nacional do BE
reúne-se para decidir
voto final global
A mesa nacional do BE, órgão
máximo entre convenções,
reúne-se no domingo para
debater o posicionamento do
partido na votação final global
do Orçamento do Estado (OE)
para 2020. Fonte oficial do BE
adiantou à agência Lusa que
esta reunião “debaterá, entre
outros assuntos, a situação
política e o OE”. Os deputados
bloquistas avançaram com
duas centenas de propostas
de alteração.
Assembleia
Livre e Joacine não se
entendem sobre
convocatória
Os desentendimentos entre a
direcção do Livre e a sua
deputada continuam. Ontem,
os dois lados emitiram versões
diferentes sobre a convocação
da deputada para a assembleia
de amanhã, sobre a retirada de
confiança política a Joacine
Katar Moreira. A direcção Livre
garante que Joacine foi
convocada por e-mail, o
gabinete da deputada nega.
Público • Quinta-feira, 30 de Janeiro de 2020 • 17
Adão Silva substitui
Rui Rio na liderança
da bancada do PSD
Partidos
Margarida Gomes
No CDS, Cecília Meireles,
que o novo líder gostaria
de manter na liderança
do grupo parlamentar,
pode estar de saída
O deputado Adão Silva, primeiro-vice-
-presidente do grupo parlamentar do
PSD, deverá ser a escolha do líder do
partido para dirigir a bancada social-de-
mocrata nos próximos anos, substituin-
do Rui Rio, que deverá deixar o cargo
após o debate do Orçamento.
Rui Rio sempre disse ter a intenção de
dirigir a bancada apenas até ao congres-
so de Fevereiro, por não querer que
aconteça a um futuro líder o que lhe
aconteceu a si, quando há dois anos afas-
tou Hugo Soares do cargo após assumir
a direcção do partido.
Ao assumir as rédeas do grupo parla-
mentar, Rio manteve Adão Silva, eleito
por Bragança, como primeiro-vice-pre-
sidente. Agora que foi reeleito líder do
PSD, Rio deverá indicar o seu braço-di-
reito na AR para lhe suceder.
As eleições para a bancada só vão ser
marcadas dias depois do congresso de
Viana do Castelo, onde serão escolhidos
os novos órgãos do partido. Rui Rio vai
fazer algumas mudanças nos dirigentes
nacionais até porque os desaÆos que
tem pela frente neste novo mandato são
diferentes. Nomes da actual direcção,
como David Justino, Salvador Malheiro,
José Silvano, José Manuel Boleeiro, deve-
rão ser reconduzidos.
Lisboa e Porto
SALDOS
Outono/Inverno
LISBOA: de 1 a 8 de Fevereiro
PORTO: de 1 a 10 de Fevereiro
www.rosaeteixeira.pt
POLÍTICA
Quem parece estar de saída é Elina
Fraga, vice-presidente, uma aposta pes-
soal de Rui Rio que foi polémica desde o
início. O Expresso revelava no sábado
que a continuidade da deputada e vice-
-presidente Isabel Meireles também não
estava garantida. Meireles garantiu que
não colocou o lugar à disposição, assu-
mindo a vontade de continuar para
experimentar a sensação de ser “vice”
“em paz”, depois de dois anos difíceis.
Também o grupo parlamentar do
CDS vai a votos em breve. O sucessor de
Assunção Cristas assegura que está a
contar com Cecília Meireles. “Só não
continuará como líder da bancada par-
lamentar se entender que esse não é o
caminho que melhor servirá o seu con-
forto político nesta fase. ConÆo inteira-
mente na Cecília Meireles, é uma bri-
lhante parlamentar, mas deixá-la-ei à
vontade”, declarou Francisco Rodrigues
dos Santos em entrevista à Antena 1.
O presidente do partido e a deputada
do CDS conversaram na segunda-feira
sobre a liderança da bancada, mas há
um pacto de silêncio entre os dois sobre
o assunto. Apesar de Rodrigues dos San-
tos querer manter Cecília Meireles, não
é garantido que a deputada queira.
Apoiante do derrotado João Almeida, a
líder do grupo parlamentar não abre o
jogo para dizer se se mantém disponível
para permanecer naquelas funções,
remetendo a discussão para depois.
Até à votação Ænal do Orçamento, a 6
de Fevereiro, não há condições para
resolver o assunto, mas Cecília Meireles
estará “empenhada em que haja uma
suave transição institucional”.
mgomes@publico.pt
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18 • Público • Quinta-feira, 30 de Janeiro de 2020
SOCIEDADE
Casa que juiz habita foi arrestada
no caso BPN e está sem licença
Pedro Mourão diz que tem contrato
de arrendamento, mas que está em nome
do seu irmão e não revela valor da renda.
Moradia não tem licença de utilização
Justiça
Sónia Trigueirão
A casa onde há oito anos vive o juiz-
desembargador Pedro Mourão, actual
vogal da Comissão Nacional de Pro-
tecção de Dados (CNPD) e membro
da Comissão de Acesso aos Documen-
tos Administrativos (CADA), tem cave,
rés-do-chão, primeiro andar, logra-
douro, uma piscina e ainda um enor-
me rol de problemas e de questões
por explicar. A moradia unifamiliar
não tem licença de utilização. Mas,
apesar dessa omissão, o juiz diz ter
um contrato de arrendamento em
nome do irmão mais velho, que não
mostrou nem revelou o valor da ren-
da. E está arrestada no âmbito de um
processo do BPN, em que o Estado
reclama ao empresário Carlos Mar-
ques, o seu proprietário, mais de 104
milhões de euros.
Ainda que haja milhares de domi-
cílios sem licença de utilização emiti-
da, ela é legalmente exigida para fins
habitacionais, venda ou arrendamen-
tos. A existência ou não desta licença
é, segundo a lei, da responsabilidade
do proprietário da casa. Ora, a mora-
dia onde o juiz habita continua sem
ter essa licença, apesar de já estar
construída desde 2008. Uma lacuna
devidamente comprovada ao PÚBLI-
CO pelos serviços da Divisão de Ges-
tão Urbanística da Câmara Municipal
de Oeiras, que conÆrmam a necessi-
dade de existência de uma licença de
utilização para poder ser habitada e
até para lhe ser atribuído um número
de polícia. De acordo com os mesmos
serviços, em Junho de 2015 decorreu
um processo de notiÆcação sobre
essa matéria.
Na altura, e na sequência de um
pedido de licenciamento para as cha-
pas metálicas entretanto colocadas
sobre os muros da habitação, o servi-
ço camarário avisou os donos da obra
que não “era possível” esse licencia-
mento. Porquê? Porque os proprietá-
rios deviam “proceder ao pedido de
autorização de utilização com a apre-
sentação das respectivas telas Ænais”.
O que não se veio a veriÆcar até aos
dias de hoje. A moradia continua sem
licença de utilização, mas as chapas
metálicas opacas e verdes continuam
lá, o que, de acordo com os serviços,
contribui para uma “inadequada ima-
gem urbana e numa descaracteriza-
ção da frente de rua, comprometendo
pela sua aparência a estética da
povoação e a sua adequada inserção
no ambiente urbano”.
A licença de utilização não serve
apenas para que os proprietários pos-
sam fazer obras. De acordo com o
advogado Paulo Edson Cunha, “a
licença de utilização é pedida quando
se conclui uma operação urbanística
e atesta que a referida obra cumpre
todos os requisitos legais para ser
habitada”. Segundo o mesmo advo-
gado, o artigo 98.º do Regime Jurídico
da Urbanização e EdiÆcação (RJUE),
explicita que, “sem prejuízo da res-
ponsabilidade civil, criminal ou dis-
ciplinar, são puníveis como contra-
ordenação: a ocupação de edifícios
ou suas fracções autónomas sem
autorização de utilização ou em desa-
cordo com o uso Æxado no respectivo
alvará ou na admissão de comunica-
ção prévia, salvo se estes não tiverem
sido emitidos no prazo legal por
razões exclusivamente imputáveis à
câmara municipal (…)”.
Mas há uma outra consequência
que não bate certo com o contrato de O juiz-desembargador Pedro Mourão, fotografado à porta da casa arrestada num processo do BPN, quando fo
arrendamento que o juiz e o empre-
sário dizem existir com o irmão mais seguinte disse que tinha falado com Sobre como tinha o irmão tomado
velho de Pedro Mourão. “Esta mesma o seu advogado e que, aÆnal, não ia conhecimento daquela casa e se era
licença é obrigatória, por exemplo, prestar declarações nem mostrar um subarrendamento, o magistrado
quando se quer vender um imóvel ou nada. “Apenas posso dizer que a casa disse que a casa era de um amigo seu
registar nas Finanças um contrato de está legal”, disse. e que não se tratava de um subarren-
arrendamento”, acrescenta Paulo A casa está Questionado sobre se podia dizer damento. “Há uma pessoa das
Edson Cunha. Como não há licença, qual o valor da renda que recebia do minhas relações de amizade [Carlos
Æca sem se saber como é que o con- arrestada e vou ter juiz, o proprietário aÆrmou: “Não, Marques] que de facto está ligada a
trato de arrendamento foi registado que sair. não vou dizer.” Já Pedro Mourão essa empresa [a moradia está em
nas Finanças. sobre o valor da renda alega que nome da empresa Espaço Curvo] e
O PÚBLICO não conseguiu aceder Naturalmente, é “normalmente” faz contas com o falei com ele dizendo que precisava
a cópias do contrato, nem junto do uma questão irmão. Perante a insistência do de uma casa”. Pedro Mourão subli-
juiz, nem do proprietário. Na segun- PÚBLICO, disse apenas: “Pago, sei nhou que esta conversa sobre a
da-feira, Carlos Marques, o proprie- perfeitamente que pago muito. Mas é como lhe necessidade de uma casa foi num
tário, prontiÆcou-se a esclarecer transitória digo...” Além disso, também garante momento particular da sua vida e
tudo no dia seguinte, inclusive o fac- que, quando foi viver para a mora- explicou que conhece o empresário
to de a moradia ainda não ter a licen- Pedro Mourão dia, o empresário o avisou do arres- desde o tempo em que andavam
ça de habitação. Porém, no dia Juiz-desembargador to no âmbito do caso BPN. “juntos de moto na Avenida de Roma,

oi interpelado pelo PÚBLICO
em Lisboa”. “É uma amizade que
vem de há muitos anos”, aÆrmou,
acrescentando: “Falei com ele como
falei com outras pessoas, a dizer que
tinha este problema”, disse.
“Questão transitória”
Para lá da falta de licenciamento e da
incertezas sobre o contrato de arren-
damento, há uma terceira sombra
sobre a casa do juiz: o seu arresto, no
âmbito do processo de dívidas ao
BPN. Questionado sobre se morar
numa casa nestas circunstâncias não
lhe fazia confusão e se não colocava
em causa a sua idoneidade, uma vez
que é juiz, disse apenas: “Não tem
nada de mais. Precisamente, porque
DANIEL ROCHA
é uma situação que de hoje para
amanhã batem-me à porta. A casa
está arrestada e vou ter que sair.
Naturalmente, é uma questão per-
feitamente transitória.” Certo é que
nas declarações de rendimentos (a
última é de 2017), que tem de apre-
sentar no Tribunal Constitucional
por exercer funções na CNPD e na
CADA, o juiz declara que tem duas
casas, uma na zona de Santiago do
Cacém, distrito de Setúbal, e outra
em Carnide, Lisboa. E dá a morada
desta última como a sua residência
e não a de Queijas.
De acordo com os documentos da
Conservatória do Registo Predial de
Oeiras, a moradia foi arrestada a 15 de
Os juízes estão sujeitos a um conjunto
junto
de obrigações quer pela lei quer por
ores
princípios éticos que são superiores
aos de qualquer cidadão
Manuel Ramos Soares
Presidente da Associação Sindical dos Juízes Portugueses
Junho de 2011 e ainda assim se man-
tém. No processo do BPN, cujo julga-
mento está a decorrer, a Parvalorem,
empresa criada para Æcar com os acti-
vos tóxicos do antigo BPN, que foi
nacionalizado em 2008 e entretanto
extinto, pede uma indemnização de
104 milhões de euros contra Carlos
Marques e a sua empresa Espaço Cur-
vo, no pressuposto de que as garan-
tias que apresentou para os emprés-
timos, junto do BPN, eram insuÆcien-
tes e nunca tencionou pagá-los.
Pressupostos que o empresário,
arguido no processo, contesta. Alega
que os créditos do BPN Æcaram devi-
damente garantidos, uma vez que
todos os terrenos que pertenciam às
sociedades em causa passaram a inte-
grar os activos da Parvalorem e ainda
refere o risco inerente à actividade
bancária. Quanto ao pedido de
indemnização, Carlos Marques alega
que foi feito fora do prazo e que os
imóveis arrestados neste processo —
entre eles a moradia onde vive o juiz
Pedro Mourão — “cobrem os alegados
prejuízos”.
No âmbito da investigação a este
caso, Carlos Marques chegou a ser
detido a 30 de Outubro de 2010, ten-
do Æcado em prisão preventiva e pas-
sado em Fevereiro seguinte para casa,
com pulseira electrónica. Em Julho
de 2011, o Tribunal da Relação liber-
tou-o da prisão domiciliária.
Este processo demorou anos a che-
gar à barra dos tribunais. Em 2016,
depois de seis anos a investigar, o
Ministério Público decidiu arquivar
o caso, mas a Parvalorem tentou
reverter a decisão, pedindo a abertu-
ra da instrução do processo para
tentar responsabilizar Carlos Mar-
ques. Porém, a juíza de instrução
também se pronunciou pela inexis-
tência de indícios suÆcientes de prá-
ticas criminosas.
A Parvalorem não se conformou e
recorreu para o Tribunal da Relação
de Lisboa que, no Verão de 2018, lhe
deu razão, mandando julgar por Æm
o empresário. Os juízes não só falam
em indícios de uma “fraude gigantes-
ca”, como apontam para a possibili-
dade de Oliveira Costa e o genro
terem agido “em conluio com o argui-
do”. Mas é tarde de mais para imputar
responsabilidades ao ex-presidente
do BPN. Apenas Carlos Marques e a
empresa Espaço Curvo estão em jul-
gamento.
sonia.trigueirao@publico.pt
Público • Quinta-feira, 30 de Janeiro de 2020 • 19
es
Compra vivenda e falha
declaração ao Constitucional
Sónia Trigueirão
Pedro Mourão comprou uma viven-
da, na zona de Sintra, no dia 22 de
Maio de 2017, e não a declarou ao
Tribunal Constitucional. Como foi
nomeado em comissão de serviço
pelo Conselho Superior de Magistra-
tura (CSM) para o lugar de vogal da
Comissão Nacional de Protecção de
Dados (CNPD) em 2016, no ano
seguinte foi nomeado em represen-
tação desta entidade, para a Comis-
são de Acesso aos Documentos
Administrativos (CADA), e teve de
fazer as respectivas declarações de
rendimentos.
Na última, que foi entregue em
Abril de 2017, foi chamado a detalhar
a tipologia e o valor patrimonial dos
dois imóveis que declarou. Declarou
um apartamento na zona de Santiago
do Cacém, distrito de Setúbal, e outro
em Carnide, Lisboa, apenas. Essa
correcção à declaração foi feita em 12
de Junho de 2017. E nela não consta
a moradia adquirida em Maio.
Confrontado pelo PÚBLICO na
segunda-feira, o juiz desembargador
disse que foi por “manifesto lapso”
que “se esqueceu” de acrescentar
essa casa à sua declaração de rendi-
mentos. Acresce que, os titulares de
cargos públicos também têm de dis-
criminar as contas bancárias, even-
tuais poupanças e heranças.
O juiz comprou a casa, que custou
170 mil euros, recorrendo a um
empréstimo de cem mil euros da
CGD. Questionado sobre o facto de
não haver registo dos 70 mil euros
nas declarações de rendimentos,
disse que tinham sido herança pela
morte dos pais. O PÚBLICO apurou
que Pedro Mourão foi no dia seguin-
te, terça-feira, ao TC entregar uma
correcção à sua declaração de 2017.
Na correcção, consultada pelo
PÚBLICO, o magistrado diz que se
trata de um aditamento e declara a
compra, assim como o empréstimo,
e justiÆca os 70 mil euros como
“resultado de poupanças de cerca de
40 anos de trabalho”. Além disso,
acrescenta que essa casa de Sintra
será a sua habitação própria e onde
terá o seu domicílio Æscal a partir do
próximo Verão, uma vez que estão a
ser concluídas obras e que estas têm
sido feitas “conforme as suas dispo-
nibilidades Ænanceiras”.
O MP, ao qual cabe a Æscalização
das declarações, conÆrmou ao
PÚBLICO que tem de haver actuali-
zação das mesmas “se houver um
acréscimo patrimonial efectivo que
altere o valor declarado, em valor
superior a 50 salários mínimos men-
sais”. E têm de ser declarados “ren-
dimentos brutos, elementos do activo
patrimonial, passivo e cargos
sociais”.
Contactado para esclarecer se há
motivo para algum motivo de actua-
ção, tendo em conta os factos (falha
na declaração de rendimentos e habi-
tar numa casa cujo pagamento da
renda não esclarece), o Conselho
Superior da Magistratura explicou
que “não competia ao CSM efectuar
o controlo das declarações de rendi-
mentos dos senhores juízes, uma vez
que ainda não está em vigor o Código
de Conduta previsto no Estatuto dos
Magistrados Judiciais, em vigor desde
o passado dia 2 de Janeiro de 2020
(estão ainda a decorrer prazos para
a sua concretização)”. O CSM alega
ainda que o juiz “está em comissão
de serviço, desde Julho de 2016, na
CNPD, como vogal em regime de
exclusividade, não exercendo, por-
tanto, funções jurisdicionais”.
Para o presidente da Associação
Sindical dos Juízes Portugueses
(ASJP), Manuel Ramos Soares, “os
juízes estão sujeitos a um conjunto
de obrigações quer pela lei quer por
princípios éticos que são superiores
aos de qualquer cidadão”.
Para o presidente da ASJP, os juí-
zes estão sujeitos a um escrutínio
maior quer a nível proÆssional quer
pessoal, e se existirem indícios de
qualquer comportamento incorrec-
to devem ser investigados para se
apurar factos e as autoridades com-
petentes actuarem. “Isso é essencial
porque a conÆança na justiça é um
valor muito frágil que deve ser pro-
tegido”, aÆrmou.
20 • Público • Quinta-feira, 30 de Janeiro de 2020
SOCIEDADE
Advogados quase não reportam
suspeitas de “lavagem” de dinheiro
Obrigação legal existe há vários anos no âmbito do combate ao branqueamento de capitais, mas, nos últimos
três anos, houve apenas “quatro ou cinco participações” feitas pelos mais de 30 mil advogados existentes
Justiça
Mariana Oliveira
Apesar de os advogados estarem há
vários anos obrigados por lei a repor-
tarem operações suspeitas de lava-
gem de dinheiro, praticamente não
existem participações feitas por estes
proÆssionais da Justiça no âmbito do
combate ao branqueamento de capi-
tais. Isso mesmo conÆrmaram ao
PÚBLICO o actual e o anterior basto-
nários dos Advogados.
O caso Luanda Leaks pôs na ordem
do dia a discussão sobre o papel dos
advogados e dos consultores no ale-
gado enriquecimento ilícito de Isabel
dos Santos, Ælha do anterior Presi-
dente de Angola, conhecida como a
mulher mais rica de África, com uma
fortuna avaliada em dois mil milhões
de euros. Tem sido amplamente
divulgado, por exemplo, que várias
consultoras internacionais e algumas
sociedades de advogados prestaram
serviços à Sonangol, aceitando ser
pagos através de várias sociedades
offshore, uma sediada em Malta (a
Wise Intelligence Solutions) e outra
no Dubai (Matter Business Solutions),
sem qualquer actividade efectiva e
relativamente às quais existem fortes
suspeitas de terem sido usadas por
Isabel dos Santos e pessoas próximas
destas para desviar milhões de dóla-
res da petrolífera estatal angolana.
O ex-líder da Ordem dos Advogados
Guilherme Figueiredo precisou que
durante os três anos do seu mandato,
que terminou este mês, recebeu “qua-
tro ou cinco” participações neste
âmbito, tendo optado por não reen-
viar apenas uma delas para o Depar-
tamento Central de Investigação e
Acção Penal (DCIAP) e para a PJ, com-
petentes para analisar estes alertas. Já
o actual bastonário, Menezes Leitão,
garante que desde que tomou posse,
há duas semanas, não recebeu qual-
quer reporte.
A lei de branqueamento que está
em vigor desde Setembro de 2017 — e
que resulta da transposição de uma
directiva comunitária — é a primeira
que fala especiÆcamente na obrigação
de os advogados reportarem situações
“sempre que saibam, suspeitem ou
tenham razões suÆcientes para sus-
A última versão da lei do branqueamento de capitais está em vigor desde 2017
DIREITO DE RESPOSTA
“VdA também foi vítima de ataque informático,
mas não apresentou queixa”
A VdA esclarece que a notícia de
hoje [ontem] do PÚBLICO “VdA
também foi vítima de ataque
informático, mas não apresentou
queixa” é incorreta e
profundamente enganadora. Faz
referência a uma situação de
hacking ocorrida há mais de dois
anos, não havendo, como admite a
própria notícia, qualquer
evidência de ligação ao Luanda
Leaks.
A situação em causa,
absolutamente circunscrita a um
caso especíÆco e sem relevância
material, foi resolvida em conjunto
com o cliente em causa. Em caso
algum Æcou comprometida
qualquer outra informação sobre
quaisquer outros assuntos ou
clientes.
A ocorrência está a ser
investigada pelas autoridades e não
depende de queixa.
A tentativa editorial de ligação
deste caso, antigo, ao Luanda Leaks
induz os leitores em erro e resulta
numa manifesta manipulação da
informação.
A VdA trabalhou na
reestruturação do setor dos
petróleos em Angola, em conjunto
com as mais prestigiadas
consultoras globais, tendo
prestado serviços estritamente
jurídicos e circunscritos a esse
âmbito.
Vasco Vieira de Almeida, cuja
fotograÆa acompanhava o artigo, é
sócio fundador da VdA, não
desempenhando há longos anos
qualquer função executiva na
Ærma.
VdA
DADO RUVIC/REUTERS
peitar que certos fundos ou outros
bens, independentemente do mon-
tante ou valor envolvido, provêm de
actividades criminosas ou estão rela-
cionados com o Ænanciamento do
terrorismo”. O diploma — Lei 83/2017
— tem um artigo destinado aos advo-
gados que dita as excepções em que
devido ao dever de sigilo estes não
estão obrigados a comunicar as suas
suspeitas. Isso acontece “sempre que
actuem no decurso da apreciação da
situação jurídica de cliente ou no
âmbito da defesa ou representação
desse cliente em processos”.
O advogado José António Barreiros,
que esteve nos últimos largos meses
a preparar um regulamento da Ordem
sobre esta matéria, em parceria com
o DCIAP (então gerido por Amadeu
Guerra), explica que a obrigação de
comunicar operações abarca, por
exemplo, a celebração de contratos
suspeitos, a constituição de socieda-
des que podem ter sido usadas para
“lavar” dinheiro ou a realização de
escrituras que suscitem dúvidas. E
nota que o anterior conselho geral da
Ordem teve uma particular preocu-
pação com esta matéria, tendo feito
acções de formações e debates sobre
este tema sensível, que provoca uma
reacção negativa em muitos dos 30
mil advogados existentes no país, que
consideram que a lei põe em causa
um dos principais deveres de um
advogado, o sigilo proÆssional a que
está obrigado.
Em Junho do ano passado, depois
de ter sido aprovado pelo conselho
geral da Ordem, a proposta de regu-
lamento foi levada por Guilherme
Figueiredo à assembleia geral, aca-
bando por ser retirada na sequência
de uma alegada irregularidade na
notiÆcação do encontro, que foi sus-
citada pelo então presidente do Con-
selho Superior da Ordem, Menezes
Leitão, actual bastonário.
Curioso é que então Menezes Lei-
tão criticou que o regulamento fosse
levado à assembleia geral, conside-
rando que esta é uma matéria da
competência do conselho geral. No
entanto, contactado ontem pelo
PÚBLICO, o actual bastonário garan-
te que está “preocupado” com os
factos relatados nos últimas semanas
e espera conseguir levar uma propos-
ta de regulamento à próxima assem-
bleia geral da Ordem, que deverá
ocorrer em Ænal de Março.
A futura lei de protecção de denun-
ciantes não abrangerá directamente
Rui Pinto, autor do Football Leaks,
Luanda Leaks e um dos denunciantes
envolvidos nos Malta Files. A directiva
europeia aprovada no Parlamento
Europeu em Abril de 2019 foi a pri-
meira a nível europeu a criar canais
de denúncia seguros para os whistle-
blowers, defendendo-os de retaliações
resultantes destas revelações. Contu-
do, esta regulação — que tem de ser
transposta por cada país para se tor-
nar obrigatória nesse território — apli-
ca-se aos denunciantes que tenham
obtido infracções em “contexto pro-
Æssional”, algo que, no caso de Rui
Pinto, não se veriÆca. A ex-eurodepu-
tada Ana Gomes foi uma das mais
activas na aprovação desta directiva
de protecção, lamentando, ao PÚBLI-
CO, que não tenha sido possível
abranger todos os denunciantes. com
Miguel Dantas
mariana.oliveira@publico.pt

Marroquinos que
chegaram em Dezembro
“não apresentaram
fundamento” para asilo
Algarve
Joana Gorjão Henriques
Os 11 jovens que
desembarcaram ontem
no Algarve eram da mesma
cidade que os oito que
desembarcaram antes
O ministro da Administração Inter-
na, Eduardo Cabrita, aÆrmou ontem,
em Tavira, que está a decorrer uma
audição aos 11 marroquinos que che-
garam à ilha da Armona, em Olhão,
sem autorização de residência, para
avaliar o quadro jurídico em que se
podem enquadrar.
Em comunicado, o SEF adiantou
depois que “Portugal vai apreciar o
pedido de protecção internacional
feito pelos 11 cidadãos marroqui-
nos” que seriam transferidos “para
Lisboa” tendo sido acautelado alo-
jamento.
“Ao abrigo do quadro de protec-
ção internacional aplicado em
outros casos de cidadãos estrangei-
ros resgatados no Mediterrâneo,
será registado o pedido de conces-
são do estatuto e providenciada
documentação que comprova o
período de análise do mesmo. Essa
documentação permite que, duran-
te esse período, lhes possa ser garan-
tida assistência médica, educação,
alojamento e meios de subsistên-
cia”, diz o SEF.
Mas, em relação aos oito marro-
quinos que em Dezembro desembar-
caram em Monte Gordo, a poucos
quilómetros dali, deu a entender
que o asilo está afastado: “Não está
terminada a avaliação. Entendemos
que não faz nenhum sentido relati-
vamente a um país amigo como Mar-
rocos a concessão de estatuto de
asilo para o qual não foi apresentado
nenhum fundamento adequado.
Mas em qualquer caso serão avalia-
das várias alternativas, designada-
mente a possibilidade de concessão
de autorização de residência.”
Eduardo Cabrita afastou, por agora,
a hipótese de haver uma “rota” de
imigração ilegal ou um “efeito cha-
mada”. “É de todo prematuro. Tive-
mos dezenas de chegadas a Espanha
e não podemos, relativamente a
estes 19, nestes dois meses, extrair
qualquer conclusão”, aÆrmou.
Na altura, no dia a seguir a chega-
rem em Dezembro, os marroquinos
foram transportados para o Conse-
lho Português para os Refugiados
(CPR) depois de terem solicitado o
estatuto de protecção internacional.
O SEF esteve, entretanto, a entrevis-
tar os oito jovens com idades entre
os 16 e 20 anos, que disseram ser de
El Jadida, a mesma cidade dos 11
marroquinos que chegaram na
madrugada de ontem a Olhão e têm
idades entre os 20 e os 30 anos.
O ministro diz que está em diálogo
com as autoridades espanholas e
marroquinas e que irá em breve ter
um encontro com o seu homólogo
marroquino com quem irá debater
este tema. “Seguiremos, relativa-
mente a fenómenos que têm dimen-
são pontual, os mesmos padrões de
estrito respeito pela legalidade e a
aplicação de padrões humanitários”,
vincou.
Os 11 cidadãos interceptados numa
embarcação de madeira são do sexo
masculino. Três foram encaminha-
dos para o hospital de Faro, um com
“um traumatismo ligeiro no joelho”
e os outros dois com dores abdomi-
nais provavelmente causadas pelos
enjoos de terem estado em alto mar.
O barco onde vieram encontra-se no
porto de Olhão, tem cerca de seis
metros de comprimento, e um
motor de 15 cavalos, disse fonte da
Polícia Marítima ao PÚBLICO. Os
homens relataram que estiveram
cinco dias no mar e que se alimenta-
ram de frutos secos, biscoitos e água
— a bordo ainda tinham combustível
de reserva e um motor suplente.
jgh@publico.pt
O primeiro grupo de jovens
chegou em Dezembro
Esquema de sobrefacturação era praticado na Força Aérea
Messes da Marinha e
do Exército ficaram
por investigar
Justiça
Ana Henriques
Principal suspeito de
corrupção nas cantinas da
Força Aérea fala pela
primeira vez para
proclamar inocência
Por mais de uma vez, o arguido de
patente mais alta no processo de cor-
rupção nas messes da Força Aérea,
o major-general Milhais de Carvalho,
elogiou ontem a qualidade da comi-
da servida por este ramo das Forças
Armadas nas suas unidades, por
comparação com a das suas congé-
neres da Marinha e do Exército. O
discurso gastronómico parecia qua-
se deslocado da sala de audiências
do tribunal de Sintra, onde está a ser
julgado um caso de corrupção:
“Sempre se comeu bem na Força
Aérea. Para mim, a alimentação era
motivo de orgulho.”
Foi preciso esperar por mais umas
horas de interrogatório para o gene-
ral, sentado no banco dos réus com
outras quase sete dezenas de argui-
dos, entre civis e militares, chegar ao
que queria efectivamente dizer com
as suas apreciações: que não perce-
bia por que razão as messes da Mari-
nha e do Exército não tinham tam-
bém sido investigadas pelas autori-
dades, apesar de qualquer um destes
ramos das Forças Armadas gastar
mais dinheiro com a alimentação nos
quartéis e servir, apesar disso, refei-
ções de pior qualidade.
Em causa neste julgamento está um
Público • Quinta-feira, 30 de Janeiro de 2020 • 21
ENRIC VIVES-RUBIO
esquema de sobrefacturação que
seria levado a cabo há muitos anos
em praticamente todas as messes
das bases da Força Aérea. Conluiadas
com os militares, as empresas forne-
cedoras de bens alimentares cobra-
vam à Força Aérea quantidades de
géneros superiores às que efectiva-
mente lhe entregavam. O lucro era
depois repartido entre os empresá-
rios e os homens da Força Aérea, que
receberiam destes fornecedores
dinheiro em envelopes. No topo des-
ta rede criminosa estaria o general
Milhais de Carvalho, hoje já na reser-
va. Até ontem tinha-se sempre reme-
tido ao silêncio.
Falou agora pela primeira vez: “Nego
completamente as acusações que me
são feitas. Nunca fui corrupto, nunca
falsifiquei documentos e muito
menos fui líder de um grupo de ban-
didos.” Milhais de Carvalho esteve à
frente da Direcção de Abastecimen-
to e Transportes da Força Aérea
entre 2011 e 2016. Um subordinado
seu, o capitão Luís Oliveira, também
arguido neste processo, contou em
tribunal há um ano como eram
repartidos os lucros: “Um terço para
o senhor general, um terço para o
tenente-coronel Alcides Fernandes,
um sexto para mim e outro sexto
para um coronel”. Às patentes mais
baixas envolvidas também recebiam
alguns proventos. “Na Força Aérea
dávamos alimentação com mais qua-
lidade do que os outros ramos das
Forças Armadas, e a um custo mais
baixo”, insistiu ontem Milhais de
Carvalho.
ana.henriques@publico.pt
SOCIEDADE
Médicos
acusam
ministra
de inacção
Agressões no SNS
Ana Maia
Fórum Médico vai pedir
reuniões a comissões
parlamentares, ao
primeiro-ministro e ao
Presidente da República
Todas as associações representantes
de médicos, que estiveram reunidas
ontem no Fórum Médico, em Lisboa,
decidiram que vão responsabilizar,
em termos jurídicos e em termos
públicos, a ministra da Saúde por
inacção por todos os casos de violên-
cia que ocorram no Serviço Nacional
de Saúde (SNS) contra médicos. Res-
ponsabilidade jurídica que o basto-
nário explicou que passará por avan-
çar com acções jurídicas por inac-
ção.
Ficou também acordado que o
Fórum Médico vai pedir reuniões
com carácter de urgência às comis-
sões parlamentares da Saúde e dos
Assuntos Constitucionais, aos líderes
parlamentares dos vários partidos,
ao primeiro-ministro e ao Presiden-
te da República, a quem entregarão
um conjunto de “propostas concre-
tas e fortes recomendações no sen-
tido de prevenir, proteger e julgar os
casos de violência”. Recomendam
também a todos os médicos “que
não aceitem e denunciem as situa-
ções de falta de segurança clínica e
física” ao bastonário da Ordem dos
Médicos e às administrações das uni-
dades em que trabalham.
No Ænal do encontro, na sede da
Ordem dos Médicos em Lisboa e
juntou pela primeira todas as orga-
nizações representes de médicos, o
bastonário criticou a falta de acção
do Governo contra as agressões
sobre proÆssionais de saúde. A
começar pela ministra da Saúde,
que Miguel Guimarães disse “não
estar a fazer nada para tentar pre-
venir estas situações, para proteger
as pessoas que estão a dar o seu
melhor a servir a causa pública”.
Entre as medidas decididas no
Fórum Médico está a de “exigir ao
Governo o cumprimento dos prin-
cípios e das suas obrigações legais
em matéria de segurança no traba-
lho, designadamente garantida por
agentes de autoridade pública”.
amaia@publico.pt
22 • Público • Quinta-feira, 30 de Janeiro de 2020

LOCAL
Em Alqueva já não há mosquitos
esmagados contra os pára-brisas
Inúmeras espécies de aves, répteis, anfíbios e peixes comem insectos. Se esta fonte de alimento
desaparecer, como já está a acontecer, morrerão de fome e o impacto nos ecossistemas será dramático
MIGUEL MANSO

Alentejo
Carlos Dias
Se houvesse dúvidas sobre o impacto
das monoculturas intensivas e
superintensivas na biodiversidade do
Alentejo irrigado por Alqueva,
Domingos Borralho, reformado e
natural de Serpa, desfê-las com uma
simples e óbvia observação: “Até dei-
xámos de ter mosquitos nos pára-bri-
sas dos carros.” Na concentração que
o PCP realizou no passado sábado
junto à Barragem do Enxoé sobre
estas culturas, e depois de outros
lavrarem o seu protesto contra a pro-
liferação de olival e amendoal, pediu
para deixar o seu testemunho. E
recordou como, há meia dúzia de
anos, conduzir à noite no interior
alentejano deixava os vidros dos car-
ros pejados do mais variado tipo de
insectos. O PÚBLICO perguntou a
vários dos presentes se conÆrmavam
a constatação de Domingos Borralho
e foram unânimes as expressões de
concordância.
Para o senso comum, o que antes
era um incómodo, sobretudo nas noi-
tes de Verão, é agora uma preocupa-
ção ambiental que se estende a outras
zonas do globo. No mesmo meridiano,
de Greenwich mas mais a norte, no
Reino Unido, o professor Dave Goul-
son, da Universidade de Sussex, no
comentário que fez ao jornal inglês
The Guardian sobre a drástica redução Os químicos usados na agricultura intensiva são apontados como os responsáveis pelo desaparecimento dos insectos
de insectos, disse que já tinha chegado
à mesma conclusão em 2018. No Verão trial “campos nus tratados com ferti- Uma análise publicada na revista ter caça e já não vêm. Qualquer dia Barragem do Enxoé, que “as preo-
daquele ano percorreu o território lizantes sintéticos e pesticidas”. O seu internacional Biological Conserva- desaparecemos nós.” cupações da população são as preo-
francês na expectativa de que os desaparecimento parece ter começa- tion, dedicada às ciências da conser- João Dias, do PCP, reforçou a preo- cupações da câmara”. O autarca
vidros da sua viatura Æcassem cober- do no início do século XX, para se vação, descreve como a agricultura cupação de Domingos Borralho, dan- lamentou que as normas que o
tos de insectos por todo o lado. “Curio- acelerar nas décadas de 1950 e 1960 intensiva, através do uso maciço de do conta que “todos os dias saem uma município aprovou para protecção
samente, nunca tive de parar para os e atingir “proporções alarmantes” pesticidas, “é a principal causa do média de quatro pessoas para fora da dos cidadãos, com a criação de uma
limpar”, disse Goulson, frisando que nas últimas duas décadas, assinala. desaparecimento dos insectos” e, região” e que os pequenos agriculto- faixa de protecção de 500 metros
se trata de um exemplo concreto, O mundo cientíÆco tem realçado por consequência, do alimento de res “abandonam as suas terras, ali- junto dos aglomerados urbanos
“mesmo que anedótico, do desequilí- a importância que os insectos voa- muitas espécies. “Se essa fonte de mentando desta forma a concentra- onde não deviam ser plantadas cul-
brio ambiental que se deve à intensi- dores têm nas funções ecológicas: alimento for retirada, todos esses ção fundiária” e o aumento das áreas turas intensivas e superintensivas,
Æcação de práticas agrícolas”. moscas, mariposas e borboletas são animais morrerão de fome”, acres- afectas às culturas intensivas. “Todos “não [estejam] a ser cumpridas”. Há
Outro investigador no Departa- tão importantes quanto as abelhas centa Sánchez-Bayo. os dias assistimos ao aparecimento de olivais plantados “praticamente
mento de Ciências Vegetais e Alimen- para muitas plantas com Çor, incluin- mais plantações de olival” e à “trans- dentro de localidades” de Serpa.
tares da Universidade de Sydney, na do algumas culturas. Fornecem “Já não temos Åores” Æguração radical da paisagem do Também as populações das aldeias
Austrália, Francisco Sánchez-Bayo alimento para muitas espécies de O cidadão de Serpa descreve o impac- Alentejo com efeitos dramáticos na de Beja, Ferreira do Alentejo e Aljus-
conÆrmou ao diário inglês que “a pássaros, morcegos, alguns mamífe- to da nova realidade agrícola no espa- vida das pessoas, que perderam qua- trel se queixam de situações análo-
principal causa do declínio dos insec- ros, peixes, répteis e anfíbios, e tam- ço rural onde vive: “Já não temos as lidade de vida”, denunciou o deputa- gas. “Até o Plano de Ordenamento
tos reside na eliminação de todas as bém são predadores e decomposito- Çores do campo e até os animais se do comunista. da Barragem do Enxoé [em Vale de
árvores e arbustos” para que Æquem res, controlando pragas e asseguran- vão embora por não terem onde se O vice-presidente da Câmara de Vargo] já está a ser violado”, acen-
ao dispor de uma agricultura indus- do o equilíbrio ambiental. alimentar. Os caçadores deixaram de Serpa, Carlos Alves, vincou, junto à tuou o autarca.

Alentejo constrói ETAR
que falta para deixar
de despejar esgotos
no estuário do Sado
Comporta
Francisco Alves Rito
Sistema de tratamento com
um investimento de 2,9
milhões, na Comporta, fica
concluído em Fevereiro
de 2021
O último ponto de despejo directo de
esgotos no estuário do Sado, que ain-
da está activo na margem do lado do
Alentejo, tem os dias contados. Com
a assinatura do contrato de emprei-
tada para a Estação de Tratamento de
Águas Residuais (ETAR) da Compor-
ta, começou ontem a construção do
“coração do sistema” que vai acabar
com o despejo de resíduos no rio, que
dura há décadas.
Além da ETAR, que custa 1,9
milhões de euros, o investimento
inclui uma estação elevatória, em
construção desde Novembro, pelo
que o conjunto do sistema ascende
a um total de 2,9 milhões de euros,
co-Ænanciados por fundos comuni-
tários.
As obras devem estar prontas em
Fevereiro de 2021, seguindo-se um
período experimental de um ano,
para testes de funcionamento.
Trata-se, segundo a presidente da
Junta de Freguesia da Comporta, da
“obra mais desejada” pela população
local há muitos anos. “Os resíduos
estão a desaguar no rio e isso afecta o
estuário, a reserva natural e a pesca”,
disse Deolinda Florêncio.
“Os eÇuentes são despejados
actualmente para o estuário do Sado
sem qualquer tratamento”, explicou
o vice-presidente da Águas do Alen-
tejo. João Silva Costa reconhece que
“não estão a ser cumpridas” as nor-
mas legais ambientais.
A localidade, do concelho de Alcá-
cer do Sal, fortemente piscatória, tem
uma população de 600 residentes
mas, nos meses de Verão, o turismo
quase quadruplica o número de pes-
soas.
Para o presidente da Câmara de
Alcácer do sal, a construção do siste-
ma de tratamento é muito urgente.
“Esta zona é altamente sensível e
ambientalmente exigente pelo que
era urgentíssimo construir esta
ETAR”, aÆrmou Vítor Proença, que
pediu ao construtor que dê pressa
máxima ao trabalho.
O autarca defendeu que “o turis-
mo [na Comporta] é muito importan-
te, mas primeiro está a natureza”.
O sistema de tratamento de águas
residuais da Comporta é uma obra da
Águas Públicas do Alentejo (AGPA),
empresa pública detida pelo Estado
em parceria com 20 municípios alen-
tejanos.
No momento em que a empresa
completa dez anos de existência, o
presidente da AGPA elogia os resul-
tados obtidos por esta parceria. Em
dez anos foram investidos 140
milhões de euros em sistemas de
captação e abastecimento de água
em alta e estações de tratamento de
águas residuais, sendo 110 milhões
de fundos comunitários e criados 120
postos de trabalho em emprego
directo.
Segundo o presidente da empresa,
dois terços do plano inicial de inves-
timento em infra-estruturas nestes 20
municípios do Alentejo estão concre-
tizados.
“É um percurso assinalável até por-
que foi feito num período de excep-
ção”, disse Francisco Narciso, referin-
do-se à crise económica que o país
viveu recentemente.
O autarca de Alcácer do Sal, que
preside também à Comunidade Inter-
municipal do Alentejo Litoral
(CIMAL), destaca igualmente a utili-
dade do sistema. “A Águas do Alente-
jo tem proporcionado grandes inves-
timentos no Alentejo. Sozinhos, os
municípios não conseguiriam atingir
nem metade dos 140 milhões já inves-
tidos”, disse Vítor Proença.
Há anos que as populações
exigem a ETAR
A junta diz que árvores estavam doentes e serão substituídas
Abate de 27 árvores
nos Olivais alvo
de queixa na justiça
Lisboa
Cristiana Faria Moreira
Plataforma em Defesa das
Árvores enviou uma queixa
ao Ministério Público.
Junta de freguesia diz que
árvores estão em risco
Há uma semana começou o abate de
árvores no jardim Maria de Lourdes
Sá Teixeira na freguesia dos Olivais,
em Lisboa. Os trabalhos, da respon-
sabilidade da junta de freguesia, apa-
nharam os moradores de surpresa,
já que estes dizem não ter sido infor-
mados atempadamente sobre a sua
remoção. A Plataforma em Defesa
das Árvores acabou mesmo por apre-
sentar na terça-feira uma queixa jun-
to do Ministério Público (MP), na qual
dá nota de que este procedimento da
junta de freguesia poderá ser “ilegal”.
A junta garante, por sua vez, que “os
avisos legais foram feitos dentro dos
timings regulamentares”.
Em causa estará o abate de 27
choupos, com cerca de 40 anos e
com copas de grande dimensão. A
plataforma escreve que não foi “cum-
prido de nenhuma forma o estabele-
cido no ponto 5.º do despacho
60/P/2012 que determina os proce-
dimentos para remoção de árvores,
nomeadamente no que diz respeito
aos meios e prazos para informar os
moradores”. Ora, o despacho diz a
este respeito que as comunicações
devem ser feitas “com, pelo menos,
15 dias de antecedência relativamen-
te à data prevista para a remoção,
Público • Quinta-feira, 30 de Janeiro de 2020 • 23
DR
salvo em situações de comprovada
urgência em que esteja em causa
perigo para a segurança de pessoas
e bens”.
Entretanto, um grupo de 11 mora-
dores dos Olivais acabou por escrever
também ao vereador da Estrutura
Verde, José Sá Fernandes, ao presi-
dente da câmara, Fernando Medina,
à provedora de Justiça, Maria Lúcia
Amaral, e à junta de freguesia, a pedir
esclarecimentos sobre o abate das 27
árvores, bem como os planos de rear-
borização previstos para o local.
Ao PÚBLICO, a presidente da junta
de freguesia garantiu que a informa-
ção foi divulgada atempadamente. A
avaliação técnica do estado Ætossani-
tário do arvoredo, que é da respon-
sabilidade da câmara, e a consequen-
te decisão pelo abate, foram publica-
das no site do município a 27 de
Dezembro e, nas instalações da junta,
o aviso foi aÆxado a 10 de Janeiro.
Rute Lima notou que as árvores
identiÆcadas para abate estão “em
perigo iminente de queda” e que a
junta está a “salvaguardar a integri-
dade física de pessoas e de bens
materiais”. “É uma avaliação que
pode ser feita a olho nu”, disse a
autarca, frisando que as árvores aba-
tidas estão “ocas” por dentro.
Segundo Rute Lima, o jardim será
replantado com áceres e lódãos, “já
com alguma dimensão”, e “em núme-
ro superior aos das remoções em
dobro ou até em triplo”. Esta tarefa
estará a cargo da câmara municipal.
As 27 árvores deverão ser removidas
até ao Ænal de Março.
cristiana.moreira@publico.pt
LOCAL
“As estátuas
são para estar
no espaço
público”
Estação do Rossio
João Pedro Pincha
Em causa está a
estátua de D. Sebastião
colocada à entrada da
estação e que caiu por
causa de um turista
A estátua de D. Sebastião deve voltar
ao seu nicho na estação do Rossio
“com a maior brevidade possível”,
pediu ontem a Câmara de Lisboa
através de uma moção apresentada
pelo CDS e apoiada por todos os
vereadores.
A figura do rei desapareceu
abruptamente da estação ferroviá-
ria em 2016, depois de um jovem
se ter empoleirado nela para tirar
uma selfie. A Infra-Estruturas
de Portugal, que gere o edifício,
disse em 2017 que ia proceder
à recuperação da estátua para ela
voltar ao seu local de origem, mas
até agora o nicho permanece
vazio.
Na semana passada, um grupo de
pessoas fez um protesto colocando
cartazes na estação a pedir o regres-
so da estátua. Foi lançada ao mesmo
tempo uma petição pública online
que alcançou até agora 517 assina-
turas.
Na apresentação da moção, João
Gonçalves Pereira, vereador do
CDS, pôs a hipótese de ser colocada
uma réplica na estação, Æcando a
original resguardada, “à semelhan-
ça do que sucedeu com o monu-
mento a Eça de Queirós, no Largo
Barão de Quintela (o original, alvo
de constantes actos de vandalismo,
encontra-se desde 2001 no Museu
da Cidade).”
O presidente da câmara munici-
pal, no entanto, não concorda. “As
estátuas são para estar no espaço
público na versão original”, defen-
deu Fernando Medina, acompa-
nhando a iniciativa centrista.
O PÚBLICO procurou saber junto
da Infra-Estruturas de Portugal na
semana passada em que ponto esta-
va a prometida recuperação da está-
tua, mas o organismo público não
respondeu. Ontem, ao Observador,
a empresa respondeu que o D.
Sebastião original vai Æcar em “lugar
seguro” dentro da estação.
joao.pincha@publico.pt
24 • Público • Quinta-feira, 30 de Janeiro de 2020
ECONOMIA
“O Banco de Portugal deve ser
profundamente reestruturado”
Francisco Louçã O conselheiro de
Estado defende que Teixeira dos Santos
seja afastado do EuroBic e diz-se
“chocado” com a inacção do Äsco
português perante o Football Leaks
Hora da Verdade
Helena Pereira e Eunice
Lourenço (Renascença)
É membro do conselho consultivo
do Banco de Portugal,
ex-coordenador do BE e co-autor do
livro Os Novos Donos Angolanos de
Portugal. Em entrevista que pode
ouvir hoje às 13h na Renascença,
Francisco Louçã critica duramente
Carlos Costa e Teixeira dos Santos e
aponta o dedo ao poder político que
criou “um biombo” em torno dos
negócios de Isabel dos Santos.
Tem criticado o beneplácito do
poder político nos últimos anos
em relação a Isabel dos Santos.
Coloca ao mesmo nível o
Governo de Passos Coelho e de
António Costa, ou faz alguma
diferenciação?
O sistema político português, na
maioria dos seus partidos, foi
conivente por proximidade
ideológica, no caso do PCP, e por
entusiasmo nos negócios, no caso
do PS (que tinha o MPLA como
vice-presidente da Internacional
Socialista), no caso do PSD (há
muito tempo que Morais Sarmento
era um dos oradores nos congressos
do MPLA) e mais recentemente o
CDS. Mas os governos
comportaram-se com intensidades
variadas. O Governo de José
Sócrates, com Teixeira dos Santos,
foi quem impulsionou a venda de
parte da Galp ao consórcio Américo
Amorim/Isabel dos Santos. Mais
tarde, o Governo Passos Coelho faz
as privatizações que permitem o
reforço ou a entrada de capitais
angolanos na banca portuguesa.
Recentemente, António Costa,
pressionado pelo BCE para haver a
separação no BPI entre os interesses
do BPI e a sua participação
angolana no BFA, favoreceu uma
entrada de Isabel dos Santos no
BCP, que não veio a concretizar-se.
Essa ligação a Angola foi mais
ditada por necessidade
económica ou por simpatia
política?
É muito difícil pôr só a simpatia
política nisto. Max Weber dizia que
“os mercados não conhecem a
moral”. Creio que os governos
portugueses movem-se pouco por
simpatias [políticas], mas por
grandes interesses económicos.
Também se movem pouco pela
moral?
Absolutamente nada! Isso é
totalmente indiferente. Era
cristalinamente óbvio que o poder
Ænanceiro de Isabel dos Santos e da
Sonangol era dinheiro manchado
pela apropriação indevida. Nada
justiÆca ou permite amnistiar o
biombo que foi construído para
Ængir que estes capitais angolanos
não eram o resultado do roubo à
população angolana.
Escreveu um livro em 2014 em
que falava da “reciclagem” da
riqueza da família “reinante” em
Angola. Agora fala-se mesmo
numa espécie de lavandaria
portuguesa. Quem é que falhou
na fiscalização?
Sim. Portugal foi uma lavandaria políticos, alguns deles por interesse regras elementares na veriÆcação
destes recursos angolanos de que a próprio de carreira, outros pela sua de transferências como aquelas que
família Eduardo dos Santos e a visão perante estes capitais, atingiu terão sido feitas para o Dubai é uma
oligarquia à sua volta se um nível de degradação... Teixeira penalização que cai sobre o banco e
apropriavam. Não houve nenhuma dos Santos, que foi o ministro das sobre a sua administração e pela
deÆciência na regulação. A A PJ tem uma Finanças que nacionalizou o BPN, qual Teixeira dos Santos tem de
regulação nunca quis ter qualquer foi também quem assinou com a responder.
interferência nessas matérias, chafarica para troika um compromisso da sua Mas o BdP ainda não agiu.
porque a deliberação era uma combater o crime venda em poucos meses, que é Não é evidente se agiu ou não. Não
deliberação política, uma escolha concretizado pelo Governo de há é ainda consequências públicas
estratégica do país. Houve uma económico Passos Coelho. E, quando o BPN é de ter agido. Tem de tomar posição
escolha deliberada de facilitar a absorvido pelo BIC, torna-se sobre esse tipo de transferências e
entrada. presidente do EuroBic. Esta deve fazê-lo antes da nova
De fechar os olhos? Os governos proximidade é intensíssima. assembleia geral de accionistas do
Abrir os olhos! Eles sabiam portugueses Como é possível que Teixeira dos EuroBic, que será em Março. O
perfeitamente. Foi uma escolha Santos permaneça ainda como mandato de Teixeira dos Santos
deliberada. Que Durão Barroso vá movem-se presidente do EuroBic? terminou em Dezembro, foi
ao casamento de uma alta Ægura do absolutamente O Luanda Leaks foi revelado há prolongando até à primeira
regime angolano, que um apenas dez dias. O banco esteve à assembleia geral. É impossível que
ex-ministro dos Negócios nada pela moral beira do colapso nas horas continue.
Estrangeiros declare que José seguintes a estas revelações. Este silêncio do BdP sobre o
Eduardo dos Santos é o novo Procurou proteger-se, rompendo EuroBic deixa os cidadãos
Mandela de África... O grau de relações comerciais e Isabel dos tranquilos?
subserviência e degradação e de Santos foi forçada a vender a sua O BdP está muito atrapalhado. Em
submissão destes responsáveis parte. Que não tenha cumprido vários casos, percebeu-se que o BdP

DANIEL ROCHA
não agiu, agiu mal ou não soube
responder perante as informações
que já lhe tinham chegado. Reagiu
tarde no caso BPN, no BCP, no BES
e, no caso do EuroBic. Há um
relatório de 2015 que assinala
algumas das deÆciências que se
vieram a agravar e há uma
inspecção desde Outubro que
deveria ter sinalizado o risco deste
tipo de operações [transferências
para o Dubai] que ocorreram no dia
em que Isabel dos Santos é demitida
da Sonangol. O BdP não agiu no
caso do EuroBic e o BdP e outras
autoridades que deviam vigiar as
grandes transferências de fundos...
... a unidade anticorrupção da
PJ.
A PJ tem, para o combate ao crime
económico, uma chafarica. Não
tem a estrutura nem a capacidade
de investigação que devia ter. Não
está ao nível da complexidade
destes fenómenos em que todos os
dias se inventam novos
mecanismos e novos produtos
Ænanceiros e formas de
transferência de capitais. Enquanto
não se reconstituir aquilo que era a
norma de grande parte do séc. XX —
o Estado receber um reporte e ter a
capacidade de agir perante a
suspeita de qualquer movimento de
transferência internacional de
capitais que possa ser produto de
um crime —, haverá sempre meios
para se desenvolverem casos como
os que estamos a perceber com os
Luanda Leaks.
Ainda sobre o BdP: é um
problema de filosofia ou da
pessoa, Carlos Costa?
Carlos Costa tem uma longa
experiência no BdP. Teve
suÆcientes contextos em que
veriÆcou a insuÆciência, a
incapacidade, ou os erros
estruturais do mecanismo de
regulação. A responsabilidade
deve-lhe ser assacada. O BdP
mudou alguns procedimentos nos
dois últimos anos, mas não há,
hoje, no BdP, no Ministério das
Finanças ou na PJ um conjunto de
estruturas suÆcientemente
adequado para responder ao crime
Ænanceiro. Estão a anos-luz da
soÆsticação, velocidade e
complexidade do tipo de apoios
que tem o crime Ænanceiro. O BdP
deve ser profundamente
reestruturado para poder ter a
resposta para esta ameaça.
Rui Pinto é o quê: um justiceiro,
um criminoso, um herói?
Nem um herói, nem um vilão.
SimpliÆcá-lo a categorias morais é
excessivo. É um hacker que
divulgou informações substanciais
e decisivas para a veriÆcação
judicial e democrática no caso de
Angola. Já o tinha feito no caso do
futebol e isso é um serviço à
democracia. Será julgado por
acusações de ter entrado em
correspondência privada, que
prezo muito. Choca-me que o Æsco
português, ao contrário do Æsco
espanhol, não tenha usado
informações disponíveis
publicamente para obrigar
jogadores, treinadores e agentes do
futebol a responder perante os seus
crimes Æscais. Se a informação é
pública, nenhuma autoridade pode
ignorá-la.
helena.pereira@publico.pt
Candidatura presidencial de Ana Gomes
seria “um oportunismo”
Ana Gomes seria uma boa
candidata às presidenciais para
unir a esquerda?
Ana Gomes tem denunciado desde
há muito tempo alguns crimes
Ænanceiros. Tenho muito apreço
por isso. Mas ainda estamos a um
ano das eleições presidenciais. A
conexão entre uma coisa e outra
seria oportunismo de circunstância
e deve ser evitado. Percebo que
aqui há um problema especial para
o PS. Sendo um segredo de
polichinelo que o PS assentaria com
a recandidatura de Marcelo Rebelo
de Sousa, isso [eventual
candidatura de Ana Gomes] cria
um incómodo em alguns sectores
do PS. Ela disse que não seria
candidata, sugeriu até um
candidato, Sampaio da Nóvoa.
Se Ana Gomes fosse candidata,
poderia apoiá-la?
É um cenário que não existe. Não
sei o que o BE deÆnirá, mas no
campo político do BE há
obviamente candidaturas muito
fortes. Marisa Matias foi a terceira
candidata mais votada, a mulher
mais votada até agora. É uma Ægura
extraordinária na capacidade de
juntar, de representar desde os
cuidadores informais à luta contra a
precariedade. Quando olhamos
para o futuro da política
portuguesa, esta espécie de
indeÆnição que foi provocada pelo
PS ao ter acabado com a
“geringonça” convidará a que haja
respostas novas, capacidade de
mostrar os caminhos que a
esquerda deve seguir no futuro
para se constituir como uma
alternativa para o dia-a-dia.
O que está a dizer é que, com o
fim da “geringonça”, a última
coisa que deveria acontecer nas
presidenciais seria uma união
das esquerdas?
Uma união das esquerdas seria
interessantíssimo, mas o PS divide,
impediu a continuação da
“geringonça”, não será um agente
de união, é um agente de divisão.
Há uma desilusão muito grande de
todas as pessoas nos vários pólos da
Público • Quinta-feira, 30 de Janeiro de 2020 • 25
esquerda sobre esta corrida para a
maioria absoluta e uma espécie de
rancor que o PS tem demonstrado
depois disso por não a ter obtido e
que condiciona, afunila muito o
leque da possibilidade de
discussões.
Em relação ao OE, o PS deu
sinais de querer agradar à
esquerda com alterações aos
vistos gold e ao eldorado fiscal.
São sinais suficientes ou ainda
não chega?
O problema do Governo neste OE —
não só por não o ter querido
negociar com os antigos parceiros —
é estar hoje mais dominado pela
tensão interna entre São Bento e o
Terreiro do Paço, o que paralisa a
sua capacidade de negociar. Se um
[António Costa] quer vender o
Novo Banco, o preço que isso
implica para o ministro das
Finanças é o Æm do superavit com o
qual Mário Centeno, ao despedir-se
do Governo no próximo Verão,
quer consagrar o seu período.
Dá por assente que Centeno se
despede do Governo?
Absolutamente.
E será um bom governador do
BdP?
Isso depende do que ele cumprir
no BdP. Logo veremos.
Tem perfil?
Sim. Tem perÆl e capacidade e
parece ter vontade. Em todo o caso,
esta tensão [entre Costa e Centeno]
parece estar a paralisar a
capacidade de negociação do OE. A
O Governo de
Costa conforta
os corações de
esquerda para
depois confortar
as carteiras
de direita
Leia a entrevista na íntegra em
www.publico.pt
decisão de ter um superavit tomada
por efeitos publicitários europeus
leva a decisões muitos absurdas
como adiar um pequenino
aumento das pensões mais baixas
para Agosto, não aceitar a redução
do IVA da electricidade. O Governo
tem dado alguns sinais estranhos.
Para surpresa, fez propostas
diferentes através do grupo
parlamentar do PS do que aquilo
que tinha acordado em matérias
que estavam deÆnidas e bem
delimitadas com os partidos da
esquerda. Se isso representa uma
mera encenação ou uma tentativa
de recuar sobre estes acordos...
Pode dar um exemplo?
As bolsas de estudo para os
estudantes no ensino superior. O
caso mais preocupante será o
adiamento para Agosto da subida
de dez euros das pensões que não
foi ponto acordado com nenhum
dos partidos de esquerda que
negociaram com o Governo.
Como vê o facto de o Governo ir
lançar novos concursos para
novas PPP [parcerias
público-privadas] nos hospitais
de Cascais e Loures depois de ter
aprovado com o BE uma nova lei
de bases da saúde?
Não há surpresa nenhuma. A
surpresa é o Governo fazer uma
exibição comunicacional do Æm de
contratos que tinham chegado ao
Æm sugerindo que eles não iriam
continuar quando para o Governo
já era muito evidente um novo
concurso, o que até pode querer
dizer as mesmas empresas. Não sei
se o Governo se quer separar da
Fosun em Loures. Já veremos se
não serão exactamente as mesmas
empresas. Todo este jogo para
ganhar durante um dia uma
atenção comunicacional que
conforta os corações de esquerda
para depois lançar um concurso
para confortar as carteiras de
direita é uma forma de gerir as
coisas públicas encantadora na sua
imaginação mas muito pouco
condizente com o que deve ser a
coerência na acção pública.
26 • Público • Quinta-feira, 30 de Janeiro de 2020

ECONOMIA

Fisco condenado pela terceira vez

a devolver parte do ISV cobrado
Mais uma decisão, mais uma derrota. Estado português terá de restituir 804,78 euros, mais juros
indemnizatórios, a contribuinte que, em 2019, importou de França quatro carros usados
NELSON GARRIDO

Automóveis
Victor Ferreira
A Autoridade Tributária (AT) voltou
a ser condenada a devolver parte do
Imposto sobre Veículos (ISV) que
cobrou por carros usados importa-
dos. É a terceira decisão desfavorável
para o Estado, que está a tentar
ganhar no Tribunal Constitucional as
causas que tem perdido na justiça e
na Europa.
A condenação é de segunda-feira,
28 de Janeiro. O caso envolve um con-
tribuinte da Mealhada, distrito de
Aveiro, que é importador de automó-
veis usados. A sentença assinada pela
juíza Marisa Almeida Araújo, do Cen-
tro de Arbitragem Administrativa
(CAAD) de Lisboa, diz que este con-
tribuinte tem direito a reaver parte do
ISV relativo a quatro carros usados
que importou de França em 2019. São
dois Renault Kadjar, um Audi A3 e um
BMW 116. Os veículos tinham, à data
da importação, entre dois e cinco
anos de vida. E, em termos de uso,
registavam entre 63 mil e 126 mil qui- de 2019, levantou um processo de Porém, em matéria de ISV (tal
lómetros.
No momento da legalização, o Æsco
Juíza: tratado sobrepõe-se à lei infracção, que culminou em Novem-
bro com um parecer fundamentado,
como antes no IUC), a Æscalidade está
transformada num caso de justiça,

reduziu o valor do ISV na componen-
te da cilindrada, pelo número de anos
que os carros já tinham. O “desconto”
variou entre os 28% e os 43%.
Porém, manteve o imposto na com-
ponente ambiental (referente às emis-
sões de CO2), ignorando que se trata
de veículos já com algum tempo de
vida. O resultado disso, como conclui
a juíza, é que “à revelia do disposto
na legislação europeia, Portugal dei-
xou de considerar as percentagens de
redução de ISV” na componente
ambiental.
Esta fórmula de cálculo já foi posta
em causa em dois processos de 2019.
No primeiro, em Maio, o Æsco teve de
restituir 417,80 euros — e já os pagou.
No segundo, em Novembro, que ain-
da não transitou em julgado, a AT foi
condenada a devolver 2930 euros. O
advogado dos três casos foi sempre o
mesmo, Paulo Carido, que tem outros
processos pendentes, tanto no CAAD
como em tribunais administrativos e
Æscais.
Também a Comissão Europeia cen-
sura o Estado português. Em Janeiro
A
razão destas derrotas é
sempre a mesma: juízes
e Comissão Europeia
entendem que o Artigo
11.º do Código do ISV, que fixa
a fórmula de cálculo actual,
viola o Artigo 110.º do Tratado
de Funcionamento da UE, que
proíbe qualquer
Estado-membro da UE de
discriminar fiscalmente um
bem com base na sua
proveniência geográfica.
No mais recente acórdão,
a juíza destaca que as leis
nacionais não se podem
sobrepor aos tratados
internacionais, sendo estes
“fonte imediata de direitos
e obrigações” e que “são
superiores hierarquicamente”
face “à lei ordinária”. Mas,
até agora, o Governo não
mexeu na lei.
Poderia tê-lo feito na
proposta de Orçamento do
Estado para 2020, mas não
o fez, ignorando tribunais
e ignorando o parecer
fundamentado de Bruxelas.
O argumento é a primazia da
defesa do ambiente. Uma
premissa que já foi rejeitada por
todas as instâncias.
Em Dezembro, o secretário de
Estado dos Assuntos Fiscais,
António Mendonça Mendes,
disse ao PÚBLICO que o
Governo “não se conforma”
com o entendimento seguido
por Bruxelas e pelos tribunais
arbitrais.
Resumindo: há três processos
decididos por três juízes
diferentes, e sempre para
o mesmo lado, a favor do
contribuinte. Há outros na
calha. E a Comissão Europeia
analisa neste momento novas
alegações de Lisboa, para
decidir se avança para o
Tribunal de Justiça. V.F.
em que recusa a defesa do Governo
de Lisboa. “Isto tem sido uma longa
discussão com Portugal. Andamos
nisto há anos”, declarou na altura
Vanessa Mock, porta-voz da Comissão
Europeia para assuntos Æscais. “Não
temos chegado a lado nenhum, a
posição portuguesa (...) prejudica
pequenas e médias empresas, impor-
tadores de veículos e os próprios con-
sumidores.”
A Æscalidade automóvel tem um
peso relevante nas receitas do Estado.
Contas divulgadas ontem pela Asso-
ciação Nacional das Empresas do
Comércio e da Reparação Automóvel
(ANECRA) mostram que, em 2019, o
Estado arrecadou 46 mil milhões de
euros em impostos, dos quais 4646
milhões (cerca de 10%) vêm do sector
automóvel (ISV, IUC e ISP). As receitas
de ISV desceram 5,2%, reÇectindo a
quebra nas vendas de carros; o IUC
aumentou 8,8%, traduzindo o aumen-
to do parque automóvel em uso; e o
ISP, que incide sobre os combustíveis,
aumentou 7%, atingindo o maior
valor de sempre (3516 milhões).
desde as alterações feitas pelo primei-
ro Governo de António Costa, em
2017. Nessa altura, como recorda a
sentença agora proferida, Portugal foi
forçado pela União Europeia a mudar
a forma como depreciava o valor dos
veículos usados. O Æsco passou então
a contar todos os anos de vida do car-
ro, ao contrário da prática anterior.
Porém, a equipa das Finanças, já
então liderada pelo actual ministro
Mário Centeno, excluiu nessa altura
a depreciação sobre a componente
de CO2. O que signiÆca que o ISV devi-
do por um carro usado era superior
a um carro igual mas novo, mesmo
quando o usado e o novo emitem a
mesma quantidade de CO2.
O processo decidido esta semana
envolve quatro carros com emissões
de CO2 relativamente baixas e, por
isso, o valor do imposto a devolver
também é relativamente pequeno.
No total, o contribuinte tem direito
a 804,78 euros, mais juros indemni-
zatórios.
voferreira@publico.pt.pt

Queda do desemprego
em modo de pausa durante
o ano passado
Desemprego
Sérgio Aníbal
Pela primeira vez desde
2013, a taxa de desemprego
não registou em Novembro
uma descida face ao
período homólogo anterior
O Governo prevê uma continuação
da redução do desemprego este ano,
e a Comissão Europeia e o FMI con-
cordam, mas os dados oÆciais reve-
lados pelo INE mostram que a ten-
dência de redução acentuada do
desemprego que se registava já desde
meados de 2013 chegou em 2019 a
um impasse.
No passado mês de Novembro,
pela primeira vez desde Julho de
2013, a variação da taxa de desem-
prego face ao período homólogo
anterior não foi negativa, o que signi-
Æca que nos 12 meses anteriores —
entre Novembro de 2018 e Novem-
bro de 2019 — não se registou uma
melhoria deste indicador.
De acordo com os dados publicados
esta quarta-feira pelo Instituto Nacio-
nal de Estatística, a taxa de desempre-
go mensal foi, em Novembro, de 6,8%,
mais 0,3 pontos do que os 6,5% de
Outubro e exactamente o mesmo
valor registado em Novembro de 2018.
Para Dezembro, os dados ainda pro-
visórios do INE (e que, por isso,
podem vir a ser revistos), apontam
para uma nova subida do indicador
para 7,1%, mais 0,3 pontos do que o
mês anterior e mais 0,2 pontos do
que o período homólogo anterior.
Estes dados não são ajustados no
que diz respeito à sazonalidade (tal
como acontece com a taxa de desem-
prego trimestral publicada pelo INE).
Nos dados ajustados da sazonalida-
de, contudo, a tendência é exacta-
mente a mesma. Em Novembro, a
taxa de desemprego subiu 0,2 pon-
tos face a Outubro, para 6,7%, tendo
Æcado a um nível idêntico ao de
Novembro do ano anterior. Para
Dezembro, a primeira estimativa do
INE é de 6,9%.
“Parece já se ter atingido o ponto
mais alto da redução de desempre-
go”, aÆrma o professor da Universi-
dade do Minho João Cerejeira. “A
taxa de desemprego já se mantém
aos níveis actuais há quase um ano,
o que revela que, aparentemente,
está a ser difícil ir mais longe”, assi-
Executivo estima que a taxa de desemprego passe de 7% em 2018 para 6,4% em 2019 e 6,1% em 2020
nala o especialista em Economia do diversos países europeus”.
Trabalho, assinalando que, “se Æcar- Em 2002, antes de o país entrar
mos nestes níveis de desemprego,
acima de 6%, Æcamos com um valor
num longo período de 11 anos de
progressiva subida da taxa de
que é mais alto do que aquele que desemprego (que chegou a atingir
Portugal conseguiu atingir no pas-
sado e é mais alto do que a taxa de
um máximo de 17,4%), a taxa de
desemprego em Portugal estava na
desemprego que se veriÆca em casa dos 5%. Agora, depois de uma
forte descida iniciada em meados de
2013, o máximo que se conseguiu
Desemprego estagnado
foi colocar este indicador um pouco
Taxa de desemprego abaixo dos 7%.
(ajustada de sazonalidade) “É um sinal de que existe um
20 desemprego estrutural relativamen-
te elevado, algo que se pode dever,
17,4 por exemplo, a desajustamentos
entre as qualiÆcações que o merca-
15 do de trabalho precisa e aquelas que
estão disponíveis ou ao facto de os
salários oferecidos Æcarem abaixo
10 do salário de reserva [o salário mais
baixo ao qual um trabalhador esta-
6,9 ria disposto a aceitar um determina-
5,6 do tipo de trabalho]. Para contra-
riarmos esta estagnação da taxa de
desemprego acima dos 6%, será
possivelmente necessária a aplica-
ção de políticas que contrariem
0
estes efeitos”, diz João Cerejeira.
Jan. Jan. Dez.
Este economista assinala, contu-
1999 2013 2019*
do, a existência de sinais positivos
*Valor provisório
noutros indicadores do mercado de
Fonte: INE PÚBLICO trabalho, nomeadamente o facto de
Público • Quinta-feira, 30 de Janeiro de 2020 • 27
BARBARA RAQUEL MOREIRA
se poder estar a veriÆcar “um
aumento da produtividade”, que
acontece também numa altura em
que o ritmo de crescimento dos
salários dá, Ænalmente, sinais de
acelerar.
Do lado do Governo, nas previ-
sões feitas no Orçamento do Estado,
mantém-se o optimismo relativa-
mente ao retomar de uma tendência
de descida do desemprego em 2020.
O executivo estima (com dados
baseados na taxa trimestral, que é
calculada autonomamente da taxa
mensal) que a taxa de desemprego
no total de 2019 passa dos 7% de
2018 para 6,4% e, depois, para 6,1%
em 2020.
As previsões das instituições inter-
nacionais ainda são mais optimistas.
A Comissão Europeia espera uma
taxa de 6,3% em 2019 e 5,9% em
2020 e o Fundo Monetário Interna-
cional (FMI) 6,1% em 2019 e 5,6% em
2020. Estas instituições foram, num
passado recente, surpreendidas
pela descida muito rápida do desem-
prego registada em Portugal e agora
parecem ter readaptado os seus
modelos de previsão a uma tendên-
cia mais favorável.
sergio.anibal@publico.pt
ECONOMIA
Breves
Media
Accionistas da Prisa
aprovam venda da
Media Capital à Cofina
Foi ontem aprovada pelos
accionistas da Prisa, em
Madrid, “a operação de
alienação, pela Promotora de
Informaciones [Prisa] SA, de
100% do capital social da
Vertix, SGPS, SA, à entidade
Cofina SGPS SA”, o que
implica “a transmissão directa
de 94,69% do capital do grupo
Media Capital SGPS SA”, dona
do canal de televisão TVI. O
valor acordado conhecido,
revisto em baixa em
Dezembro, é de 123,28
milhões de euros, “assumindo
um enterprise value [valor da
empresa] de 205.000.000
euros”, menos 50 milhões do
que em Setembro. A Cofina é
dona do Correio da Manhã, do
Jornal de Negócios e do
Record, entre outros títulos.
Telecomunicações
União Europeia
recusa banir chinesa
Huawei do 5G
O plano de segurança da União
Europeia (UE) para a quinta
geração móvel (5G) reconhece
que há riscos acrescidos de
interferência de países
extra-UE, ou de agentes que
actuam em nome desses
governos, mas o documento
ontem divulgado em Bruxelas
mantém em aberto o mercado
europeu a todas as empresas
fornecedoras. Ou seja, à
semelhança do que anunciou
na segunda-feira o Reino Unido,
a UE não tenciona banir
empresas sob suspeita — como
a chinesa Huawei, que é um dos
maiores fornecedores mundiais
de tecnologia para operadores
de telecomunicações. “Não
visamos qualquer país ou
empresa específica”, sublinhou
a comissária Margrethe
Vestager, vice-presidente da
Comissão.
28 • Público • Quinta-feira, 30 de Janeiro de 2020
CIÊNCIA
Coronavírus: do laboratório ao
terreno, enquanto o surto cresce
O número de infecções pelo novo
coronavírus que surgiu em Dezembro na
China já ultrapassou os casos reportados
em 2003 durante a SARS, mas, para já,
a taxa de mortalidade é inferior
Epidemia
Andrea Cunha Freitas
A Organização Mundial de Saúde
(OMS) vai reunir-se hoje para, pela
terceira vez no período de uma sema-
na, decidir se classiÆca como emer-
gência global de saúde pública o sur-
to de coronavírus que surgiu em
Dezembro na cidade chinesa de
Wuhan e já soma 132 vítimas mortais
e mais de 6000 casos de infecção.
Enquanto as autoridades de saúde de
vários países se preparam para res-
ponder a esta epidemia, os cientistas
desdobram-se em esforços para saber
mais sobre o novo vírus. Entre os
vários avanços, destacam-se dois
estudos clínicos que já foram publi-
cados na revista The Lancet e o anún-
cio de uma equipa de investigadores
em Melbourne, na Austrália, que
garante que conseguiu “produzir” o
novo vírus em cultura de células.
Ontem, o responsável pelas situa-
ções de emergência na OMS, Michael
Ryan, assegurou aos jornalistas que a
China está a adoptar “medidas
extraordinárias para enfrentar um
desaÆo extraordinário”. Segundo
adiantou, a epidemia continua cen-
trada, sobretudo, na cidade de Wuhan
e na província de Hubei, mas a situa-
ção (actualizada hora a hora) pode
mudar. A maioria das pessoas infec-
tadas apenas estará a manifestar sin-
tomas ligeiros e, por enquanto, a
estimativa da taxa de morte é inferior
a 3%. No surto da síndrome respira-
tória aguda grave (SARS), em 2003,
foi de 10%.
Apesar deste cenário, o vírus pare-
ce estar a espalhar-se para outros
países, tendo sido registado esta
semana o primeiro caso de transmis-
são entre humanos na Europa, na
Alemanha. Ontem, o coronavírus já
tinha sido detectado em 15 países,
ainda que 99% dos casos de infecção
conÆrmadas se encontrem na China.
A viagem do novo coronavírus (2019-
nCoV) para fora da China terá sido
uma das razões para a reunião do
comité de especialistas que foi con-
vocada para hoje pelo director-geral
da OMS, Tedros Adhanom Ghebreye-
sus.
É preciso reagir ao problema de
saúde pública com medidas de con-
tenção e, ao mesmo tempo, acelerar
também os esforços para compreen-
der o novo coronavírus que ainda tem
muitas facetas desconhecidas. Do
mesmo lado, estão as autoridades de
saúde pública e equipas de cientistas
em todo o mundo, numa corrida con-
tra o tempo para responder ao cres-
cente número de pessoas infectadas
com o novo coronavírus.
Os primeiros relatórios com dados
clínicos sobre os doentes infectados
na China já estão disponíveis online e
acessíveis a todos os investigadores.
Os dados sobre os primeiros doentes
infectados foram publicados na revis-
ta The Lancet em dois artigos separa-
dos. Resumidamente, os dois estudos
concluem que este novo vírus causa
sintomas semelhantes aos relatados
com a SARS e conÆrmam que o 2019-
nCoV pode transmitir-se entre pes-
soas infectadas e entre cidades.
Assim, um dos estudos revela que
os sintomas entre os primeiros 41 clínicos divulgados na The Lancet Austrália, com o anúncio da primeira cientistas na China reclamaram ter
casos do novo coronavírus e a SARS parecem colocar em causa a hipótese equipa fora da China a revelar que foi feito o mesmo. No entanto, ainda não
são semelhantes, e o outro, publicado avançada inicialmente sobre a origem capaz de (re)criar o novo coronavírus terão partilhado as suas amostras
ao mesmo tempo, relata a transmis- deste vírus no mercado de Wuhan no laboratório, em cultura de células, com investigadores de outros países.
são de pessoa a pessoa e a dissemina- (com animais vivos). Isto porque, num passo que pode ser extrema- No início do mês de Janeiro, a China
ção entre cidades do novo coronaví- entre os 41 casos analisados num dos mente importante para testar even- partilhou com a comunidade interna-
rus em seis membros da mesma trabalhos, 13 não tinham qualquer tuais tratamentos e também para cional de cientistas a primeira sequên-
família. ligação ao mercado, já encerrado. apurar as técnicas de diagnóstico. De cia do genoma do vírus.
Analisando os dados clínicos reuni- acordo com uma notícia da Nature, a As amostras de vírus vão ajudar os
Mercado não é a fonte? dos, Daniel Lucey (especialista em equipa do Instituto para a Infecção e cientistas a desenvolver testes que
Estes relatórios clínicos envolvem um doenças infecciosas na Universidade Imunidade Peter Doherty, em Mel- podem detectar células do sistema
pequeno número de doentes, mas de Georgetown, nos EUA) defende bourne, terá isolado o vírus do pri- imunitário (anticorpos) especíÆcos
são importantes porque ambos subli- que “antes de o vírus sair do mercado meiro caso de infecção conÆrmado para melhorar os diagnósticos, o que
nham a possibilidade de aumentar as de Wuhan, ele entrou no mercado” na Austrália, a 25 de Janeiro. Os inves- pode ser particularmente útil nos
hipóteses de conter a infecção 2019- de alguma forma ainda desconheci- tigadores vão partilhar estas amos- casos assintomáticos ou com sinto-
nCoV através de uma “vigilância cui- da. Os investigadores que comentam tras com outras equipas de cientistas mas muito ligeiros. Por outro lado,
dadosa, rastreio activo de contactos os artigos agora publicados lembram que estão a trabalhar com a OMS. “Há também vão servir para investigar o
e investigações robustas para desco- ainda que os documentos oÆciais ape- algumas coisas que são muito mais comportamento do vírus e, claro,
brir os hospedeiros do vírus entre nas aÆrmaram que “a maioria” dos fácies de fazer quando temos o vírus”, testar eventuais tratamentos.
animais e as vias de transmissão para casos tinha o mercado como fonte. constatou Mike Catton, um dos ele- Os cientistas estão a avançar, mas o
os seres humanos”. Mas isso não signiÆca todos os casos, mentos da equipa na Austrália. vírus também está. Nos últimos dias,
Numa notícia publicada no site da notam. Aparentemente, os investigadores as autoridades de saúde de vários paí-
revista Science são citados especialis- Outra das novidades na investiga- em Melbourne não foram os primei- ses foram pressionadas a reagir rapi-
tas que constatam que estes estudos ção do novo vírus surgiu ontem na ros a “fabricar” o vírus porque outros damente e a tomar decisões difíceis

JEROME FAVRE/EPA
perante um problema de saúde públi-
ca que está a mudar dia após dia e
com muita informação incompleta ou
desconhecida. Sob o princípio da pre-
caução, muitos países estão a optar
por fazer regressar os cidadãos que
estão na China e a colocá-los em iso-
lamento durante alguns dias para
evitar a transmissão do vírus.
Depois de França e do Reino Unido,
entre outros, Espanha foi um dos paí-
ses que anunciaram ontem que vai
colocar os cidadãos retirados da Chi-
na em “quarentena”. As autoridades
de saúde em Portugal mantêm a posi-
ção de analisar caso a caso a situação
clínica dos portugueses que chega-
rem da China até ao Ænal desta sema-
na e decidir as necessárias medidas
de tratamento e/ou isolamento que
tudo indica que sejam cumpridas
voluntariamente.
acfreitas@publico.pt
“Prefiro ficar em quarentena num hospital” “Estamos a lidar com a
O relato de um português na cidade de Wuhan
R
etidos há vários dias em
Wuhan, cidade chinesa de
11 milhões de habitantes
onde eclodiu o surto do
novo coronavírus, os
portugueses que querem
regressar não verão qualquer
problema em permanecer em
isolamento em casa ou em
quarentena cá, se tal se revelar
necessário, acredita Luís
Estanislau, treinador adjunto do
Hubei Chufeng Heli, um clube
da segunda liga chinesa de
futebol. Serão 12 num conjunto
de duas dezenas que vivem em
Wuhan os que pretendem
embarcar no voo de regresso,
disse ao PÚBLICO o treinador de
futebol, que vive há cerca de
um ano em Wuhan. Os restantes
portugueses não querem voltar,
para já. Mas os portugueses em
Wuhan não foram ainda
informados da data de regresso.
Foi só ontem que receberam
uma mensagem da embaixada a
garantir que “o processo de
evacuação será o mais rápido
possível, que já têm informação
sobre os voos, mas apenas
comunicarão todos os
pormenores sobre o
repatriamento amanhã [hoje],
após uma série de reuniões
ainda em curso”, adiantou
ntou Luís
Estanislau.
O PÚBLICO soube,
entretanto, junto de um m
responsável do Governo rno
que o plano passa porr
assegurarem o seu
regresso no segundo
voo fretado pela União o
Europeia para este efeito
eito
que se deverá realizar a
partir de amanhã, desde de
que não tenham sinaiss de
infecção pelo
coronavírus, e em
conjunto com cidadãos os
de outras nacionalidades,
des,
nomeadamente
espanhóis e alemães. No
primeiro aparelho, que e
partiu ontem para a
China, regressarão 250 0
franceses. Luís Estanislau critica
só a forma como o
repatriamento está a ser
idealizado, depois de numa
primeira fase o Governo ter dito
que tencionava fretar um avião
para ir buscar os portugueses à
China: “Mas depois o que fez foi
perguntar aos outros países se
queriam fretar aviões em
conjunto. O problema é se
poderá haver passageiros
infectados.” Quanto à
possibilidade de um isolamento
total em Portugal durante o
período de incubação de 14
dias, o treinador não vê
qualquer inconveniente. “Pelo
contrário. Se me garantirem que
os exames à chegada serão
suficientes e que não estou
infectado, não me importo de
ficar em isolamento em casa.
Agora, se isso não acontecer, é
melhor ficar num hospital
durante o período de
quarentena. E creio que todos
os outros são desta opinião. Até
porque todos temos avós e
parentes em situação de saúde
mais débeis e não queremos
que fiquem doentes. Prefiro
ficar em quarentena num
hospital, não quero pôr em risco
a minha família”, enfatizou o
treinador, que está há sete dias
fechado em casa, depois de
sid encerradas todas
terem sido
as ligaçõ
ligações aéreas,
ferrov
ferroviárias e terrestres da
cida
cidade. A viver mesmo
no ccentro de Wuhan, Luís
Esta
Estanislau só saiu de
nov — “e foi num pé e
novo
no
vir noutro” — para
comp água. Os
comprar
habita
habitantes de Wuhan
conti
continuam em pânico,
depo dos primeiros dias
depois
c
de caos? “É difícil
perc
perceber o que está a
aco
acontecer. Não há
ning
ninguém na rua, a cidade
est parada, não há
está
ser
serviços públicos a
fun
funcionar, não há nada.”
Ale
Alexandra Campos
Público • Quinta-feira, 30 de Janeiro de 2020 • 29
[Este coronavírus] não é
surpreendente. Aliás, este
é um fenómeno recorrente
Filipe Froes
Médico pneumologista
imprevisibilidade da evolução
do novo coronavírus”
Entrevista
Teresa Sofia Serafim
Filipe Froes Médico
resume o que já se sabe
sobre o novo coronavírus,
as incógnitas e que medidas
deverão ser aplicadas
O médico pneumologista Filipe
Froes é o representante da Ordem
dos Médicos para as questões
ligadas ao novo coronavírus. O
coordenador da Unidade de
Cuidados Intensivos
Médico-Cirúrgicos do Hospital
Pulido Valente, em Lisboa, realça
que, embora haja ainda muito por
saber sobre este vírus, este surto
deve ser abordado nem com
alarmismos nem com indiferença.
Mas tem uma certeza: o risco deste
tipo de surtos será permanente
para a humanidade.
Este vírus surpreendeu o
mundo. Ele é, de facto,
surpreendente?
Não é surpreendente. Aliás, este é
um fenómeno recorrente. Só nos
últimos 20 anos, o mesmo já
aconteceu com a família deste
vírus duas vezes: em 2002 com o
SARS-CoV e em 2012 com o
MERS-CoV. Ciclicamente, há vírus
que conseguem atravessar a
barreira das espécies, ou seja,
saem de uma espécie animal e
conseguem passar para a espécie
humana, causando doenças.
Agora, temos a capacidade de
detectar isto com mais frequência
e acompanhar à escala global.
O que é que já se sabe sobre este
novo coronavírus?
Provavelmente, o hospedeiro
principal será o morcego e terá ou
não existido um hospedeiro
intermediário que permitiu a
passagem para o ser humano.
Também sabemos que tem uma
sequência de genes entre 70% a
80% semelhante ao do SARS-CoV.
O período de incubação pode ir até
aos 14 dias. Embora, de acordo
com os dados disponibilizados,
afecte mais adultos e o género
masculino, há dados que provam
já causou doença em todos os
grupos etários.
O que caracteriza estes quadros
clínicos? Segundo dados publicados
na revista The Lancet, uma grande
maioria tem febre alta, seguida de
tosse seca. Alguns dos doentes
evoluem para falta de ar e outras
diÆculdades respiratórias.
Ainda não sabemos muita
informação nem se isto se aplica a
populações diferentes da China.
VeriÆcámos que só há mortalidade
e casos graves na China. Até à data,
nenhum dos casos na Europa, nos
EUA e no Canadá é grave nem
ninguém faleceu. O SARS-CoV teve
uma taxa de mortalidade de 10%,
que é muito signiÆcativa. Até agora,
a do novo coronavírus é de 3 ou 4%.
A maioria das estirpes de
coronavírus circula entre
animais e não chega a infectar
os humanos. O que terá
acontecido aqui?
Aconteceu o que é normal na
natureza: houve um vírus que
conseguiu encontrar uma chave
para se ligar a um receptor
humano. Se houver situações de
grande proximidade com animais
— provavelmente de animais
doentes —, isso permitirá a
inalação de uma grande carga viral
do animal para o humano e
criam-se condições para que o
vírus se replique. Como é um vírus
completamente novo para o
humano, tem a capacidade de
desencadear doenças.
A virulência associada à
diversidade entre espécies animais
faz com que, pelo menos no início,
o vírus seja mais difícil de se
transmitir entre humanos. À
medida que se vai adaptando,
transmite-se mais, mas vai
perdendo algumas características
que o diferenciam em relação ao
vírus que tinha [inicialmente]
infectado os humanos. c
30 • Público • Quinta-feira, 30 de Janeiro de 2020
CIÊNCIA
Geralmente, o processo de
adaptação de um vírus que passa
do mundo animal para os humanos
percorre este caminho. Mas há
sempre imprevisibilidade e a sua
evolução só poderá ser
documentada no Ænal. Neste
momento, estamos a lidar com uma
situação de imprevisibilidade da
evolução do novo coronavírus.
Quais as razões para este surto
ter surgido na China?
A China representa uma fatia
populacional enorme com
diferentes grupos populacionais.
Os hábitos alimentares incluem a
ingestão de muitos animais
diferentes e mercados onde é
possível vender e adquirir animais
vivos. Tudo isto proporciona
situações de maior proximidade e
de risco de exposição que não se
veriÆcam noutros países.
Como está a ocorrer a
transmissão entre humanos?
Por agora, está conÆrmado que
existe transmissão eÆcaz entre
humanos e que, nalguns casos,
isso aconteceu antes de as pessoas
apresentarem sintomas.
Que células afecta?
As células do aparelho
respiratório. O principal elemento
de ligação para entrar nas células
é, provavelmente, um receptor
chamado ACE2, que é mais
predominante no aparelho
respiratório inferior. Isto poderá
explicar o maior número de casos
de pneumonias e de formas graves
que possam ocorrer [porém, com
menor facilidade de transmissão].
Não sabemos se haverá outro
receptor.
Este vírus é mesmo mais
infeccioso do que o SARS-CoV?
Neste momento, não sei se temos
conhecimentos que nos permitam
dizer isso. Ainda nem sabemos o
número real de pessoas infectadas
nem toda a dimensão do problema
na China. Relativamente ao
número de casos da China, há um
número pouco signiÆcativo de
casos na Europa, nos EUA ou no
Canadá. Se fosse muito infeccioso,
era previsível que acontecesse
nestes países o que aconteceu com
o SARS-CoV, em que houve um
surto enorme no Canadá.
Em que fase pode ser mais
contagioso?
Provavelmente, deve ser entre o
10.º e o 12.º dia.
Há pessoas que podem ter
maior capacidade de contágio?
No SARS-CoV, houve pessoas que
tinham a particularidade de poder
transmitir o vírus com maior
quantidade viral: eram os
superdisseminadores. Isso ainda
não está documentado no novo
coronavírus, mas poderá explicar
que algumas pessoas possam ter
tido maior capacidade de infectar
outras e em períodos
pré-sintomáticos. Pode ter sido o
que se passou na Alemanha: uma
superdisseminadora [chinesa] teve
uma reunião no dia 21 [com a
pessoa que infectou] e começou a
ter sintomas no dia 23. As pessoas
infectadas na Alemanha
começaram a queixar-se no dia 27
e 28. Tudo isto precisa de ser
analisado. Acho importante
estarmos a olhar para o que se
passa na China, mas a situação na
Alemanha será importante em
termos de conhecimento.
A China tem sido elogiada pela
rapidez da sequenciação do
genoma e pela transparência
dos dados. Aprendeu com o
SARS-CoV?
Os elogios prendem-se com o que
aconteceu precisamente no
passado com o SARS, em que
houve censura e bloqueio de
O mais útil seria uma vacina
para uma parte comum
destes vírus, de maneira
a evitar estes surtos no futuro
Filipe Froes
Médico pneumologista
informação. A China até aprendeu
uma coisa simples: nenhum país
isolado tem capacidade para lidar
com um surto a esta escala.
A Organização Mundial da
Saúde (OMS) tem-se mostrado
relutante em declarar
emergência global de saúde
pública. Porquê?
A OMS está a avaliar muito bem o
que se passa para tomar a decisão
mais adequada em termos de
benefício para controlo do surto e
de minimização dos prejuízos que
essas medidas possam ter. Declarar
emergência global tem implicações
muito grandes em termos de
restrições de viagens ou de
comércio. A OMS tem de ponderar
de acordo com o conhecimento e a
gravidade da situação.
Mas será inevitável?
O que acontecerá é imprevisível
devido à evolução do vírus e do
comportamento das pessoas. Há
diferentes níveis de risco. O risco
de um país com voos directos e
mais próximo da China é diferente
do de um país que não os tenham.
Qual o risco em Portugal?
Não é nulo. Vivemos num mundo
global e pode haver algum caso.
Temos de estar preparados para o
detectar precocemente e
minimizar o risco de transmissão.
DANIEL ROCHA
Estamos preparados?
Em teoria, estamos sempre
preparados. Na prática, só o
saberemos quando tivermos um
caso.
O que tem achado das medidas
da China, como as quarentenas?
É preciso ter mais informação. A
China está a mostrar uma grande
intenção em tentar controlar o
surto.
E quanto ao repatriamento dos
portugueses em Wuhan e do
não isolamento compulsivo?
Quando os portugueses chegarem
e de acordo com o conhecimento
que se tiver na altura, serão
adaptadas as medidas necessárias.
Aquilo que agora nos pode parecer
insuÆciente poderá ser adequado
ou inadequado com o que se
souber na altura.
Que medidas deverão ser ainda
aplicadas?
As medidas mais importantes
serão o desenvolvimento de
fármacos especíÆcos e de uma
vacina. Nos fármacos especíÆcos,
estão-se a aplicar alguns com
experiência nos doentes com
infecção pelo VIH. Provavelmente,
até terão a ser experimentados
outros.
Algumas linhas de investigação da
vacina retomaram os trabalhos
feitos para o SARS-CoV. O mais útil
seria uma vacina para uma parte
comum destes vírus, de maneira a
evitar estes surtos no futuro.
Como estão a ser tratados os
doentes?
Com a terapêutica de suporte de
órgão. Aquilo que fazemos é
manter a homeostasia do doente,
muitas vezes através de fármacos
ou dispositivos que asseguram a
função do órgão, de maneira a dar
tempo para o organismo
recuperar. Se houver um fármaco
especíÆco, teremos a vida mais
facilitada.
É assim que serão tratados
possíveis doentes em Portugal?
Neste momento, o que está
disponível em Portugal são
unidades de cuidados intensivos
com terapêutica de suporte de
órgão e isolamento, para evitar o
risco de transmissão.
Como pode a ciência
preparar-nos para estes surtos?
Pensa-se que entre dois a três
microorganismos por ano
emergem ou reemergem com
capacidade de causar doenças nos
humanos. Agora temos meios que
nos permitem detectar com mais
frequência esses episódios e
acompanhá-los à escala global. No
caso da Legionella, em que os
primeiros casos surgiram em 1975,
só se identiÆcou a bactéria quase
um ano depois. Agora tivemos a
capacidade de detectar o vírus e de
sequenciá-lo em semanas. Tudo o
que for feito em termos de
melhoria dos métodos de
diagnóstico, de monitorização e de
actuação vai permitir-nos detectar
mais situações destas.
Como pode travar-se este vírus?
O risco de infecções por
microorganismos antigos
emergentes ou reemergentes é
perpétuo. Este será um risco
permanente para a humanidade.
Agora temos é uma maior
capacidade de caracterizar [os
vírus]. De vez em quando, os
microorganismos têm a
capacidade de provocar doenças
por mecanismo de novidade,
emergência ou reemergência.
Temos de nos habituar e perceber
que isto pode acontecer, sem
alarmismo nem indiferença, mas
com actuação e conhecimento.
teresa.serafim@publico.pt

Trump enterra a política
americana dos “dois Estados”
O famoso “acordo do século”, que viabilizaria um Estado palestiniano e encerraria o conÅito israelo-árabe, é
qualiÄcado pela Economist como o “Roubo do Século”. Consagra as anexações israelitas. Eternizará o conÅito
Médio Oriente
Jorge Almeida Fernandes
O “plano Trump”, para resolver o
conÇito israelo-árabe, foi anunciado
com pompa em Washington, na ter-
ça-feira. De facto, abre o caminho à
anexação por Israel de largas partes
da Cisjordânia, incluindo todo o Vale
do Jordão. O Estado palestiniano seria
uma soma de “bantustões” ligados
por pontes ou túneis. É o Æm da “solu-
ção dois Estados”.
O plano foi apresentado pelo Pre-
sidente Donald Trump ao primeiro-
ministro israelita, Benjamin Netanya-
hu (Bibi), na presença de três embai-
xadores árabes: de Omã, Bahrein e
Emirados Árabes Unidos. Trump
garantiu que Jerusalém será a capital
“indivisível” de Israel. Mas, enquanto
Presidente a quem todas as contradi-
ções são perdoadas, prometeu tam-
bém que o futuro Estado palestiniano
teria a capital situada algures em Jeru-
salém Oriental. E recordou aos pales-
tinianos que “esta poderá ser a sua
última oportunidade”.
Antes de passar aos efeitos políti-
cos, convém lembrar que os dois
líderes trocaram favores. Bibi está a
braços com a Justiça. E numa difícil
situação perante as eleições de 2 de
Março, as terceiras em menos de um
ano. Admite-se que, já no próximo
Conselho de Ministros, no domingo,
tente declarar a soberania de Israel
sobre os territórios, passo prévio
para a anexação. Há dúvidas jurídi-
cas. Seria a derradeira cartada elei-
toral para encostar à parede o seu
concorrente, general Benny Gantz,
que também se encontrou na véspe-
ra com Trump. O precipitado anún-
cio do plano, a um mês das eleições,
não deixa dúvidas.
Também Trump conta capitalizar
o gesto, não tanto a propósito do
impeachment em curso, mas na vital
mobilização do voto dos cristãos
evangélicos nas presidenciais de
Novembro.
Duplicidade árabe
O presidente palestiniano, Mahmoud
Abbas, denunciou o plano como
“conspiração entre os Estados Uni-
dos e Israel” e jurou que “Jerusalém
Público • Quinta-feira, 30 de Janeiro de 2020 • 31
Plano de Trump para não está à venda”. A analista palesti-
Israel e Palestina niana Diana Buttu prevenia ontem
Territórios destinados
no diário israelita Haaretz: “O plano
é uma receita para a guerra, não para
aos palestinianos a paz.”
Colonatos israelitas A reacção mais dura veio de Amã.
A Jordânia, antiga soberana dos terri-
tórios, não aprecia ver os israelitas na
Cisjordânia sua fronteira, criando um foco de agi-
tação e desestabilização. Não pode
Telavive também ceder no controlo dos Luga-
res Santos de Jerusalém. Exige nego-
ciações com base nas fronteiras de
Rio 1967. Outra reacção severa foi a da
Jordão
Mar Mediterrâneo Turquia: “Este é um plano de anexa-
ção para destruir a solução ‘dois Esta-
Ramallah
dos’ e usurpar territórios palestinia-
nos. Jerusalém é a nossa linha verme-
Jerusalém lha”, frisa o comunicado do Ministério
dos Negócios Estrangeiros turco.
ISRAEL
Resume o analista
Mar Ilan Berman: “[O
Hebron Morto
GAZA plano] muda as
Túnel
Cisjordânia-Gaza realidades no
terreno de uma
Fronteiras de 1967
reconhecidas pela JORDÂNIA forma que torna
comunidade internacional muito difícil voltar
atrás.” Para salvar
Zona industrial
EGIPTO
Bibi, Trump
25km
enterrou três
Zona residencial e agrícola
décadas de política
Fonte: Governo dos EUA e Btselem.org PÚBLICO
americana
IBRAHEEM ABU MUSTAFA/REUTERS
Em compensação, os aliados regio-
nais dos EUA, Arábia Saudita, Egipto,
Qatar e Emirados Árabes Unidos, sau-
daram o plano Trump. ConÆrmam o
que há muito se sabe: a causa palesti-
niana deixou de ser um ponto de
honra na política das potências ára-
bes e a questão iraniana reforçou essa
marginalização.
Particularmente hipócrita é a posi-
ção dos sauditas. Anuncia o Governo
de Riad: “O Reino aprecia os esforços
do Presidente Trump para encontrar
um plano de paz global entre as par-
tes palestiniana e israelita.” Ao mes-
mo tempo, o príncipe regente, Bin
Salman, enviou uma calorosa mensa-
gem a Abbas: “A nossa posição sobre
Os protestos foram imediatos nos territórios palestinianos a questão palestiniana não mudou, e
MUNDO
todos os árabes estão convosco.” Isto
é: todos se farão representar no
“funeral” da causa palestiniana.
Mudança de era
Sucessivos presidentes americanos
elaboraram ou patrocinaram planos
para alcançar um acordo de paz na
base da solução “dois Estados”. Com
nuances diferentes, foi a doutrina
diplomática de Washington para a
região. O plano Trump, gizado por seu
genro Jareed Kushner, encerra uma
era diplomática. Resume a Economist:
“Se Israel anexar grandes partes da
Cisjordânia, será completamente
impossível aos palestinianos estabe-
lecer um Estado viável. A solução ‘dois
Estados’, elaborada por décadas de
peace-making americano, há muito
que se tornou num sonho murcho;
terá sido Ænalmente sepultado.”
O plano Trump não dará lugar a
quaisquer conversações. Apresenta-
do como um plano “ganhador-ganha-
dor”, é absolutamente inaceitável
para os palestinianos. Noutras cir-
cunstâncias seria mais um plano
nado-morto. É em parte verdade mas
também, e sobretudo, um tremendo
engano. A iniciativa Trump muda
radicalmente o tabuleiro. Se Israel
tem construído a sua expansão atra-
vés dos célebres “factos consuma-
dos”, emerge agora uma espécie de
“superfacto consumado”, decretado
por Trump. Enquanto potência, reco-
nhece antecipadamente a política de
anexação.
Nada será como dantes. A América
desempenha um papel central no
conÇito. Declara ao diário Politico,
um alto funcionário: “No contexto
político americano, a infeliz realidade
é que o plano Trump moldará as per-
cepções domésticas sobre o que é
possível fazer. Em matéria de refugia-
dos, Jerusalém ou fronteiras, será
muito difícil a um futuro Presidente
apoiar propostas mais aceitáveis
pelos palestinianos.” Resume o ana-
lista conservador Ilan Berman: “[O
plano] muda as realidades no terre-
no de uma forma que torna muito
difícil voltar atrás.” Em suma: para
salvar Bibi, Trump enterrou três
décadas de política americana.
jafernandes@publico.pt
32 • Público • Quinta-feira, 30 de Janeiro de 2020
MUNDO
BBC
News vai
despedir 450
trabalhadores
Media
Directora diz que a estação
“tem de se focar no digital”.
E é preciso cortar mais
80 milhões de libras no
orçamento anual até 2022
A BBC News, a divisão de notícias da
cadeia pública britânica, anunciou
ontem o despedimento de 450 pes-
soas, como parte de um plano para
cortar 80 milhões de libras (95
milhões de euros) em despesas até
2022.
Em declarações ao site da BBC, a
directora da BBC News, Fran
Unsworth, disse que a empresa “tem
de se afastar dos meios tradicionais
de difusão e de se focar no digital”.
A BBC News emprega 6000 pes-
soas, incluindo 1700 fora do território
do Reino Unido — entre eles, 250 cor-
respondentes no estrangeiro e dele-
gações em 50 países. Depois dos des-
pedimentos, o orçamento anual da
BBC News será de 480 milhões de
libras (567 milhões de euros).
“A BBC tem de se ajustar aos dife-
rentes usos das audiências. Temos de
remodelar a BBC News. Estamos a
gastar de mais na difusão linear e de
menos no digital”, disse Unsworth.
Em 2016, a empresa-mãe anunciou
um corte de 800 milhões de libras
(945 milhões de euros), 10% dos quais
diziam respeito à BBC News.
Um dos objectivos da direcção é
diminuir o que diz ser a “duplicação”
de notícias, usando o mesmo trabalho
para todos os programas. Uma
mudança que vai também afectar o
número de notícias cobertas.
“Estes cortes fazem parte de uma
ameaça existencial contra a BBC, e
são uma consequência directa do
último acordo desastroso com o
Governo”, disse Michelle Stanistreet,
directora do Sindicato Nacional de
Jornalistas do Reino Unido.
O editor da secção de Media da BBC
News, Amol Rajan, explicou os des-
pedimentos com três factores: o cor-
te imposto em 2016, que só foi cum-
prido em 50%; a falta de ligação a
uma parte da população britânica,
“em particular às pessoas de contex-
tos mais pobres em termos socioeco-
nómicos e aos menores de 35 anos”;
e o “ataque político sem precedentes”
contra a taxa de licença do grupo, que
constitui 75% das receitas da BBC.
A insatisfação nos EUA cresceu cerca de 25 pontos em 15 anos
Democracia: nunca
o mundo esteve tão
insatisfeito com ela
Estudo
“As instituições
democráticas têm falhado
na resposta a algumas das
maiores crises da nossa era”,
dizem os investigadores
A insatisfação com a democracia nos
países mais desenvolvidos, em par-
ticular nos Estados Unidos e no Rei-
no Unido, nunca foi tão grande como
agora, segundo uma investigação da
Universidade de Cambridge conhe-
cida ontem.
O trabalho da universidade britâ-
nica é apresentado como o mais
abrangente de sempre sobre o senti-
mento em relação à democracia
como sistema político, feito em 154
países num total de quatro milhões
de pessoas. “Um pouco por todo o
mundo, há um mal-estar geral em
relação à democracia”, disse à BBC
o autor do relatório, o investigador
Roberto Foa.
“Constatámos que esta insatisfa-
ção com a democracia cresceu ao
longo do tempo e está a atingir o
nível mais alto de sempre, em parti-
cular nos países desenvolvidos”,
disse o investigador.
Segundo o estudo do Centro para
o Futuro da Democracia de Cambrid-
ge, a insatisfação com a democracia
no mundo cresceu de 48% em 1995
para 58% em 2019.
Mas quando se olha para o aumen-
to da insatisfação nos Estados Unidos
e no Reino Unido, os valores são ain-
da maiores. Em relação aos países
JOSHUA ROBERTS/REUTERS
mais desenvolvidos, há estudos que
remontam à década de 1970, pelo
que o desenho traçado permite
acompanhar as alterações à medida
que foram acontecendo as grandes
transformações das últimas décadas
— a da queda União Soviética, a crise
Ænanceira internacional de 2007-
2008 ou o “Brexit”, por exemplo.
Nos EUA, o nível de satisfação com
a democracia chegou aos 75% entre
1995 e 2005, o que coincidiu com o
Æm da Guerra Fria. Na última década,
principalmente após a crise Ænancei-
ra, a satisfação caiu para menos de
50% — uma queda dramática supe-
rior a 25 pontos percentuais.
No caso do Reino Unido, a satisfa-
ção com a democracia manteve-se
em níveis muito elevados desde a
década de 1970 até poucos anos
depois da entrada no século XXI (em
2005, os níveis de insatisfação não
passavam dos 33%). A partir de mea-
dos da década de 2000, os níveis de
insatisfação cresceram, acompa-
nhando a crise Ænanceira, mas tam-
bém o escândalo das despesas parla-
mentares no país (em 2019, antes das
eleições gerais, o nível de insatisfação
com a democracia era de 61%).
O estudo da Universidade de Cam-
bridge sugere que, para além do
“choque económico global” de
2008, também o aumento da entra-
da de migrantes e refugiados na
Europa, em 2015, contribuiu para a
insatisfação com a democracia —
reÇectindo “falhanços de política
externa”. “Se a conÆança na demo-
cracia tem diminuído, é porque as
instituições democráticas têm falha-
do”, disse Foa.
Republicanos tentam
manter união para encerrar
julgamento do Presidente
esta semana
EUA
Alexandre Martins
Senadores decidem se
chamam testemunhas.
Para isso, pelo menos
quatro republicanos têm
de votar a favor
Com o julgamento do Presidente dos
Estados Unidos, Donald Trump, a
entrar numa importante fase de per-
guntas às equipas de acusação e de
defesa, todos os olhos estão postos no
dia de amanhã, quando os senadores
vão decidir se precisam de ouvir tes-
temunhas, ou se avançam logo para
a votação Ænal.
Na terça-feira, os advogados da
Casa Branca concluíram a apresenta-
ção dos seus argumentos contra a
destituição de Trump, que está a ser
julgado no Senado por abuso de
poder e obstrução do Congresso.
E a defesa de Trump não podia ser
mais directa, como indica o facto de
os advogados da Casa Branca só terem
usado 11 das 24 horas a que tinham
direito. Antes deles, na semana pas-
sada, a equipa de acusação usou 23
horas espalhadas por três dias.
Para a defesa do Presidente norte-
americano, a questão que foi posta
perante os senadores é simples de
resolver e resume-se em dois pontos:
não foram apresentadas provas de
que o Presidente Trump reteve o
envio de 391 milhões de dólares em
ajuda militar à Ucrânia em troca de
informações que prejudicassem o seu
A defesa de Trump diz que não
foram apresentadas provas
adversário político Joe Biden, do Par-
tido Democrata; mesmo que tivessem
sido apresentadas provas de uma tro-
ca de favores, o Presidente não mere-
ceria ser destituído por isso.
“Reverter o resultado da última
eleição, e interferir na próxima, cau-
saria um dano permanente ao povo
dos Estados Unidos e ao nosso grande
país”, disse na terça-feira o advogado
principal da Casa Branca, Pat Cipol-
lone, no Ænal da apresentação dos
argumentos da defesa.
“O Senado não pode permitir que
isso aconteça. Isto tem de acabar ago-
ra, o mais rapidamente possível.”
A urgência da defesa do Presidente
em pôr Æm ao julgamento esta sema-
na foi reforçada nos últimos dias, com
a divulgação, pelo New York Times, de
passagens de um livro (ainda não
publicado) escrito por John Bolton,
antigo conselheiro de Segurança
Nacional que esteve na Casa Branca
até Setembro.
No livro, Bolton diz que ouviu da
boca do próprio Presidente a conÆr-
mação de que o congelamento da
ajuda militar à Ucrânia teve mesmo
como contrapartida a obtenção de
informações negativas sobre Joe
Biden — o que contradiz a base da
defesa de Trump. O Partido Democra-
ta exige, com a intimação de Bolton,
que este diga no Senado, sob jura-
mento, o que escreveu.
Hoje, os senadores democratas e
republicanos vão poder fazer pergun-
tas às equipas de acusação e de defe-
sa. Esta nova fase divide-se em duas
sessões de oito horas. Segundo as
regras do Senado, as perguntas têm
de ser feitas. O juiz John G. Roberts,
que preside ao julgamento, vai ler as
perguntas, uma a uma (no julgamen-
to de Bill Clinton, em 1999, foram
feitas mais de 100), e depois cada
equipa tem cinco minutos para res-
ponder a cada uma delas. Só depois
desta fase, amanhã, é que chega o
momento decisivo sobre a possível
intimação de testemunhas.
O líder do Partido Republicano no
Senado, Mitch McConnell, disse que
ainda não tinha os votos suÆcientes
para travar a chamada de testemu-
nhas, mas é possível que isso aconte-
ça até amanhã. Em causa está um
pequeno grupo de senadores repu-
blicanos — quatro ou cinco — que quer
esperar pelo Æm das perguntas e res-
postas para tomar uma decisão.
alexandre.martins@publico.pt

Crise política na Catalunha por
desavenças entre os partidos
independentistas no Governo
Espanha
António Rodrigues
Quim Torra diz que perdeu
confiança na ERC e que vai
marcar eleições. Data será
conhecida após aprovado o
orçamento catalão
O presidente do governo catalão
informou ontem que perdeu a con-
Æança política na Esquerda Republi-
cana da Catalunha (ERC) e, por isso,
vai convocar novas eleições assim
que estiver aprovado o orçamento no
parlamento regional. “A legislatura
não tem mais percurso político a
fazer, se não há unidade”, aÆrmou
Quim Torra, sublinhando que a mes-
ma chegou “ao Æm”.
O chefe do executivo não vai já
convocar o sufrágio, esperando pri-
meiro que os deputados aprovem o
orçamento e só depois, provavel-
mente no Ænal de Março, princípio
de Abril, revelará a data das eleições
antecipadas.
A notícia não surpreendeu depois
do que aconteceu na segunda-feira,
ao retomar os trabalhos a mesa do
parlamento. O presidente da mesa,
Roger Torrent (ERC), quis executar a
ordem da Junta Eleitoral Central
( JEC), conÆrmada pelo Supremo Tri-
bunal, retirando o mandato de depu-
tado a Torra, e este recusou. Torrent
adiantou, então, que o voto do presi-
dente catalão não seria contabilizado,
o que levou o Juntos pela Catalunha
( JxC) a não participar nas votações.
“Na segunda-feira não se respeitou
o consenso independentista”, disse
o chefe do executivo catalão, numa
declaração institucional, e “permi-
tiu-se que um órgão incompetente
[a JEC] me deixasse sem o mandato
de deputado.”
“O governo não pode funcionar
sem unidade e partilha de estratégia
e lealdade entre os seus parceiros.
Desprotegeu-se a instituição da pre-
sidência, despindo-a da sua condição
de deputado. E isso põe em risco, de
forma permanente, o governo da
Catalunha”, explicou Torra.
A posição avançada por Torra apa-
nhou a ERC de surpresa, aÆrma o La
Vanguardia, salientando que a direc-
ção dos republicanos só se apercebeu
da situação na terça-feira à noite,
quando viu na agenda de ontem a
declaração institucional de Torra
Quim Torra: “A legislatura não tem percurso político se não há unidade”
marcada para as 12h (menos uma em nhol, Pedro Sánchez, no dia 6, por se
Portugal continental). tratar de uma vontade sobre a qual
“Num governo de coligação, as há um “consenso estratégico” entre
decisões devem ser tomadas de as duas principais forças do indepen-
maneira consensual”, advertiram dentismo catalão.
membros da direcção da ERC, cita-
dos pelo La Vanguardia. “Se o presi- Palavra ao Supremo
dente toma uma decisão unilateral, A decisão de Quim Torra poderá vir
a ERC sente-se livre para tomar as a ser esvaziada, se o Supremo Tribu-
suas próprias decisões”, referiram as nal espanhol decidir do seu impedi-
mesmas fontes. mento para continuar a exercer o
Mais tarde, reagindo em comuni- cargo, por ter sido condenado a ano
cado, o partido foi comedido na e meio de inelegibilidade por deso-
apreciação do gesto, aÆrmando até bediência, ao recusar-se a retirar dos
que partilha as “conclusões princi- edifícios públicos os laços amarelos
pais do presidente”, no sentido de que simbolizam o pedido de liberta-
que é preciso aprovar o orçamento ção dos presos do referendo e da
para depois haver uma nova maioria declaração unilateral de independên-
que o execute. cia. O chefe do governo regional ain-
Em tom conciliatório, os republi- da não apresentou o recurso da sen-
canos aproveitaram para felicitar o tença, cujo prazo se esgota no dia 3
presidente catalão por manter a reu- de Fevereiro.
nião com o primeiro-ministro espa- O presidente do Partido Popular,
Pablo Casado, anunciou que o seu
partido recorrerá à mesa do parla-
“O executivo terá mento, se Torra não deixar a lideran-
de dialogar com ça do executivo regional, por consi-
derar que estamos perante um caso
quem estiver”, de “usurpação de cargo público”.
disse o vice- Para o líder da oposição, “Torra já
não é presidente da Generalitat, de
-primeiro-ministro acordo com o estatuto da Catalu-
Pablo Iglesias nha”; por isso, pede ao Governo
Público • Quinta-feira, 30 de Janeiro de 2020 • 33
QUIQUE GARCIA/EPA
espanhol “que vele pelo cumprimen-
to da legalidade” ou “agirá legalmen-
te” contra Pedro Sánchez, por “cum-
plicidade”.
María Jesús Montero, a porta-voz
do executivo de coligação entre os
socialistas (PSOE) e o Unidas Pode-
mos, reiterou que a reunião entre
Sánchez e Torra se mantém para 6 de
Fevereiro e que o Governo de Madrid
continua a considerá-lo como presi-
dente do governo da Catalunha.
O vice-primeiro-ministro e líder do
Podemos, Pablo Iglesias, aÆrmou,
por seu lado, que “se houver eleições
na Catalunha, se calhar haverá outro
ou outra presidente, mas o executivo
terá de dialogar com quem estiver.
Não poderá escolher; às vezes, é mais
fácil e outras mais difícil”, acrescen-
tou, citado pelo El País.
Carlos Carrissoza, líder do Cida-
dãos na Catalunha, o partido com
mais deputados no parlamento regio-
nal, perguntou ao primeiro-ministro
porque “deixa que seja o separatismo
a marcar os tempos”, instigando Sán-
chez a activar os mecanismos do Arti-
go 155.º da Constituição, que suspen-
de a autonomia catalã, demitindo
Torra e convocando eleições.
antonio.rodrigues@publico.pt
MUNDO
Venezuela
perdeu
dois terços
da riqueza
América Latina
António Rodrigues
O PIB do país diminuiu 35%
em 2019 . A migração para
os países vizinhos deverá
superar as seis milhões de
pessoas em 2020
A crise económica e política na
Venezuela está a estrangular o cres-
cimento do país que desde 2013 já
viu o seu produto interno bruto
(PIB) descer 65%, de acordo com os
números do Fundo Monetário Inter-
nacional (FMI). Só em 2019, a eco-
nomia venezuelana encolheu 35%.
Para termos um exemplo compará-
vel, a crise económica grega levou
à redução de um quarto do PIB em
seis anos (2008-2013).
“É muito difícil imaginar um país
que possa continuar a cair a taxas
anuais de 35%”, disse o director
para o hemisfério ocidental do FMI,
na apresentação do quadro macroe-
conómico regional. “Os modelos
tendem a apontar para uma estabi-
lização, mas não a uma recupera-
ção”, explicou Alejandro Werner.
“Estas tendências deverão conti-
nuar em 2020, embora a menor
ritmo”. Para 2020, a previsão é que
a economia desça outros 10% e mais
5% em 2021.
“A grave crise humanitária provo-
cou uma das maiores crises migra-
tórias da história e prevê-se que em
2020 a migração para os países vizi-
nhos supere os seis milhões de pes-
soas, quer dizer, 20% por cento da
população”, refere Werner.
Dependente do petróleo, a eco-
nomia venezuelana sofre a má ges-
tão da companhia petrolífera estatal
(PDVSA), a falta de investimento
num sector que precisa de muita
injecção de capital para manter a
produção e as sanções impostas
pelos EUA, principal comprador do
crude da Venezuela (quatro em cada
dez barris). “Todos os anos pensa-
mos que a queda da produção de
petróleo será menor que a do ano
em curso”, disse Werner e este ano
haverá “uma certa estabilização,
sim, mas a níveis muito baixos”. O
que permitiu ao FMI rever as suas
previsões e a Venezuela não está a
caminho “da maior hiperinÇação da
história”, mas, “apenas” para uma
hiperinÇação.
34 • Público • Quinta-feira, 30 de Janeiro de 2020
CULTURA
Pianos siameses e Chaplin na
dança sonhada de Tânia Carvalho
Onironauta, em estreia hoje na
Culturgest, passará em Fevereiro e Março
pelo Guidance, pelo Teatro Campo
Alegre e pelo Teatro Viriato
Teatro
Gonçalo Frota,
em Marselha
Estão dois pianos num palco pratica-
mente despido. Colocados frente a
frente, como se fossem não tanto um
espelho, mas pianos siameses. Um
deles está ocupado por alguém de
cabelos compridos, vestido branco
batido e gasto, de costas para o públi-
co. Toca alguns compassos de música
identiÆcável com Chopin, pára e toma
algumas notas na partitura. A atenção
de uma Ægura que se adivinhará ser a
de Tânia Carvalho, coreógrafa que há
muito traz pianos para as suas cria-
ções, será desviada no momento em
que um ser agachado invade o palco,
como se fosse um bicho rastejante
saído do escuro numa estranheza de
aparição fugaz, para logo depois ver-
mos uma segunda Ægura de cabelos
compridos e vestido branco mancha-
do e inquietante, avançando a passo
lento até ao piano vazio. AÆnal, esta,
sim, é Tânia Carvalho, enÆm sentada
de frente para oseu gémeo André San-
tos e para o público. E os dois desa-
tam na interpretação de uma peça
minimal-repetitiva (ao jeito de Philip
Glass) em uníssono, como se dessem
início a um concerto e não a um
espectáculo de dança.
É o primeiro indício do quanto Oni-
ronauta, a nova criação que Tânia
Carvalho estreia na Culturgest (Lis-
boa, de hoje a 2 de Fevereiro) e depois
leva ao Guidance (Guimarães, 6 de
Fevereiro), ao Teatro do Campo Ale-
gre (Porto, 6 e 7 de Março) e ao Teatro
Viriato (Viseu, 13 de Março) é uma
peça inÆltrada pela música. Mas as
notas suspendem-se pouco depois,
quando o bailarino Luís Guerra irrom-
pe pelo palco e, num grito, obriga ao
silêncio. É tempo de, à segunda ten-
tativa, todo o elenco (Guerra, Bruno
Senune, Catarina Carvalho, Cláudio
Vieira, Filipe Baracho, Marta Cerquei-
ra e Vânia Doutel Vaz), manco ou
simplesmente vagaroso, reclamar o
palco e começar o seu próprio unís-
sono. Dão início a uma longa frase
coreográÆca que, como percebere-
mos ao longo da hora seguinte, há-de
ser cortada, transmitida de corpo
para corpo, partida em bocados, reto-
mada em pontos distintos e compos-
ta por uma série de linguagens dife-
rentes. Foi por aqui que começou
Onironauta, explica Tânia Carvalho
ao PÚBLICO no auditório da KLAP –
Maison pour la Danse, em Marselha,
onde a peça teve estreia mundial há
uma semana.
“O meu ponto de partida foi uma
frase que queria que fosse longa e
atravessasse várias zonas diferen-
tes”, explica. “E foi exactamente isso
que Æz. Durante duas residências de
15 dias, acompanhada pelo Luís
Guerra, criei essa frase que tem 14
minutos. Quis fazer uma frase para
ver o que saía, em que estivesse ape-
nas a trabalhar movimento e a pen-
sar as características que o movimen-
to já transporta, próprias ou da His-
tória da dança, mas também da
mímica, por exemplo. Uma frase que
falasse sozinha, mas que falasse
várias línguas.”
E é essa frase que vemos plantada
nas mais variadas situações, isolada
para criar efeitos especíÆcos — como
a parte mais consagrada à mímica,
responsável pelo segmento mais
humorístico da peça —, mas também
provocando esta leitura irresistível de
uma pulsão colectiva que se desmem-
bra para se transformar em discurso sono como pequenos desfasamentos que se foi sedimentando a permeabi-
pessoal e, neste caso, transmissível. que se assemelham a um eco que lidade aos sonhos. “Esse tema foi-me
“A frase é feita do princípio ao Æm”, vemos multiplicar-se à nossa frente. surgindo”, recorda. “Tenho andado
esclarece a coreógrafa, “mas em E neste movimento, de alguma circu- a escrever os meus sonhos porque
modo estafeta.” Depois de se entre- laridade, acaba por dar-se uma sen- gosto de relê-los de vez em quando.
garem a essa complexa sequência que Os onironautas sação de entorpecimento, de hipnó- Depois, descobri um livro que falava
sabem intimamente de cor, os sete tico abandono dos sentidos, como se de onironautas, comecei a ler e per-
intérpretes a ela regressam, muitas não são os fôssemos transportados para dentro cebi que também já tive essas expe-
vezes quando se aproximam dos bailarinos nem sou de um sonho. riências de acordar nos sonhos ou de
outros e têm de identiÆcar o ponto voltar aos sonhos e tomar decisões. E
em que se encontra para lhe dar con- eu. É a peça, como Sonho e criação pensei que isto é muito parecido, na
tinuidade. se fosse uma A referência aos sonhos deve-se tanto verdade, com a criação — ao mesmo
Escrito assim, pode parecer com- a esses gestos colectivos quanto às tempo que é solitário, estamos sozi-
plicado. Mas em palco Onironauta personagem. É ela frequentes irrupções de surrealismo nhos e tudo o que existe somos nós
desenvolve-se com uma Çuidez per- que ganha pela peça e à assumida inspiração de que estamos a imaginar. Todas as per-
feita, numa composição que tanto Tânia Carvalho num mundo onírico. sonagens somos nós.”
envolve encontros como desencon- controlo Já depois de ter Ænalizado a frase que Onironauta, esclareça-se, é o termo
tros mais ou menos pronunciados, Tânia Carvalho passou para os corpos do elenco, cunhado para aqueles que, dentro
tanto procurando momentos de unís- Coreógrafa houve um período de seis meses em dos seus sonhos, são capazes de con-

trolar os acontecimentos e até de
regressar ao mesmo sonho, já depois
de acordarem e voltarem a dormir.
Onironauta, a peça de Tânia Carva-
lho, lida com essa mesma questão do
controlo. Porque se é a coreógrafa
que dirige as suas criações, há tam-
bém uma dimensão de vida própria
que lhe escapa. Da mesma forma que
o seu Ælme Um Saco e Uma Pedra era
“uma peça de dança que decide tor-
nar-se cinema e saltar para o ecrã”,
também esta é “uma peça que está a
ter um sonho e acaba por tomar con-
ta daquilo que acontece” em palco.
“Os onironautas não são os bailarinos
nem sou eu”, esclarece. “Onironauta
é a peça, como se fosse uma persona-
gem. É ela que ganha controlo.”
Público • Quinta-feira, 30 de Janeiro de 2020 • 35
Esta é uma peça
infiltrada pela
música. Diz a
coreógrafa: “Fiz a
música muito a
partir de
imagens, são
quase desenhos
que estou a fazer”
RUI PALMA
As poucas deslocações que obser-
vamos a Tânia Carvalho e a André
Santos, quase sempre entregues à
interpretação musical a dois pianos
que escutamos de forma contínua ao
longo da peça, acontecem com uma
cadência e uma inexpressividade
sonâmbulas. EnÆados nos vestidos
manchados de vermelho parecem,
aÆnal, personagens vindas de pesade-
los e com um halo terroríÆco — algo
que, não sendo intencional, agrada à
coreógrafa. “As manchas”, explica,
“apareceram porque queria usar o
cliché das roupas de dança e os sonhos
têm sempre alguns clichés. Mas
depois, como acontece nos sonhos,
as coisas estão um pouco desconcha-
vadas ou fora do sítio, daí que os ves-
Um programa
do Público PODCASTS
com o apoio:
p
tidos brancos surjam manchados,
porque está tudo baralhado.”
Também a música que Tânia e André
despejam sobre as teclas dos pianos
adquire, por vezes, um tom fantasma-
górico. São notas em atropelo que, na
verdade, correspondem a esquemas
semelhantes àqueles que Tânia Carva-
lho desenha quando compõe as
sequências de movimentos das suas
peças. “Também Æz a música muito a
partir de imagens, são quase desenhos
que estou a fazer”, diz. “É possível que
não se note, mas são desenhos das
teclas. Claro que o som é importante e
estava a ouvir, mas concentrei-me mui-
to nas formas.” As imagens enformam
os sons também nos momentos em Uma viagem
que a música se torna mais humorísti-
ca, lembrando os Ælmes mudos de
Chaplin, sugerida por “imagens de
sonora às
sonhos em que uma pessoa tenta cor-
rer e não consegue, Æca presa”.
memórias
Sem domínio
Talvez de uma maneira mais Ça-
da cidade
grante do que lhe é habitual, Oniro-
nauta expõe o humor que Tânia
Carvalho garante estar presente em
todas as suas obras. Mesmo que não
provoque gargalhadas, o recurso a
clichés é muitas vezes feito com um
sorriso a pender-lhe da boca e, a
título de exemplo, a coreógrafa cita
S, a sua criação para a Companhia
Nacional de Bailado em que um gru-
po de bailarinos modernos se depa-
rava com uma falange de intérpretes
clássicas sem conseguir vê-las. Em
Onironauta, ainda assim, há mudas
de roupa realizadas atabalhoada-
mente, em andamento, sapatilhas
que voam de súbito para o centro
do palco, desorientações dos baila-
rinos quando a música se cala ou
uma secção de mímica inspirada em
Étienne Decroux em que os intér-
pretes se enganam e um corpo em
queda é puxado de volta à forma-
ção. Como ouvir e subscrever os podcasts do Público:
São exemplos daquilo que é mais
fascinante em Onironauta: uma enor- 1 | Abra a sua app de podcasts
me riqueza de elementos montados IOS: App pré-instalada com o nome Podcasts;
a partir de uma mesma frase posta Android: Descarregue uma app na Playstore;
em marcha, quebrada e reimaginada, Computador: No site em publico.pt/podcasts
desaÆando nexos. E diante da qual é 2 | Procure por “Público” ou pelo programa que quer ouvir (ex.: P24)
imprescindível abandonarmo-nos e
3 | Subscreva para ouvir em primeira mão os novos episódios
prescindirmos de qualquer tipo de
domínio. Para ver de olhos abertos,
mas como se estivessem fechados.
Disponível no
O PÚBLICO viajou a convite
da Culturgest e do Teatro
Municipal do Porto
36 • Público • Quinta-feira, 30 de Janeiro de 2020
CULTURA
A fulgurante consagração tardia
de um grande poeta e tradutor
Manuel Resende 1948-2020 A publicação da sua Poesia Reunida na Cotovia, em 2018, revelou a muitos
leitores um dos segredos mais bem guardados da lírica portuguesa contemporânea
Obituário
Luís Miguel Queirós
O poeta e tradutor Manuel Resende
morreu ontem no Hospital Garcia
de Orta em Almada. Tinha 71 anos
e deixa uma obra poética tão breve
quanto notável e um importante
corpo de traduções, dos poetas
gregos KaváÆs e Elytis a
Shakespeare, Henry James, Lewis
Carroll ou Beckett. Ficará em
câmara-ardente a partir das 17h de
amanhã no Centro Funerário de S.
João de Deus, em Lisboa, onde às
14h de sábado terá lugar uma
homenagem. O funeral sairá para o
Cemitério dos Olivais, onde o
corpo será cremado.
Nascido no Porto em 1948,
estreou-se como poeta com
Natureza Morta com Desodorizante,
editado em 1983 na colecção Plural,
da Imprensa Nacional/Casa da
Moeda, e só voltou a publicar poesia
14 anos mais tarde, quando saiu na
&etc o livro Em qualquer Lugar. E
foram precisos outros sete anos
para reunir mais um conjunto de
poemas em O Mundo Clamoroso,
ainda (Angelus Novus, 2004). Estes
intervalos ajudam a explicar, a par
de uma absoluta indisponibilidade
para se autopromover, que a edição
da sua Poesia Reunida na Cotovia,
em 2018, tenha praticamente sido
recebida como a revelação de um
notável poeta inédito.
Mas Resende era há muito não só
uma voz deveras singular na poesia
portuguesa como foi deixando, com
idêntica discrição, um corpo de
traduções que o coloca entre os
grandes tradutores literários
portugueses. A par das suas
traduções, vertidas directamente
do grego, de Odysséas Elytis
(Louvada Seja, Assírio & Alvim,
2004) ou KaváÆs 145 Poemas de
Konstantinos Kaváfis (Flop, 2017), o
percurso de Manuel Resende como
tradutor, iniciado ainda nos anos
1970, foi englobando, entre muitos
outros, Shakespeare, Henry James,
Lewis Carroll, Samuel Beckett ou
Yukio Mishima, e ainda pensadores
como Theodor W. Adorno ou Peter
Sloterdijk. Um ofício das horas
vagas, enquanto trabalhava como
jornalista no JN, e depois como
tradutor no Conselho Europeu,
onde Æcou até se reformar.
Licenciado em Engenharia, que
nunca praticou, integrou os
movimentos de contestação ao
regime. Muito marcado pelo Maio
de 68, como sublinhou por ocasião
do lançamento da sua Poesia
Reunida — notando que a
publicação do volume coincidia
com o seu 70.º aniversário e com os
50 anos da revolta estudantil
parisiense —, Manuel Resende foi
um dos responsáveis, no Porto,
pelos Grupos de Acção Comunista,
tendo estado depois na fundação da
Liga Comunista Internacionalista.
É nestes meios que conhece um
amigo para a vida, o poeta Manuel
António Pina, que frequentava,
como ele, o café onde se reuniam as
várias correntes da juventude
contestatária portuense, o Âncora
d’Ouro. E quem privou com Pina
sabe que não havia talvez ninguém
de quem este falasse com tanta
admiração — e não menos isenta
por ser fraterna — do que de Manuel
Resende. Às vezes até exageraria
um bocadinho, como quando
garantia, para ilustrar o prodigioso
dom para as línguas que o amigo
efectivamente tinha, que este
aprendera alemão a ler O Capital de
Marx com um dicionário.
Já após o 25 de Abril, Resende fez
parte do grupo que lançou os SUV —
Soldados Unidos Vencerão — e
esteve no centro de um dos
episódios mais insólitos do PREC,
quando um grupo de soldados
ocupou o Regimento de Artilharia
da Serra do Pilar (RASP).
No Ænal dos anos 1970, entra por
concurso no JN, onde já se
encontrava o seu amigo Pina, e
onde permanecerá até meados dos
anos 1980, quando se tornou
tradutor do Conselho Europeu.
O conturbado período do pós-25
de Abril comparece no seu livro de
estreia, onde se encontra, por
exemplo, um extenso e notável
poema intitulado Entre Abril e Junho
de 1974. Mas a política está nesta
poesia como estão outras
dimensões da realidade pública e
privada, não há aqui o menor
resquício dessa espécie de
desatempado segundo
DANIEL ROCHA
neo-realismo que marcou alguma
da pior lírica do período. “(…) Eu
vivi oito dias no meio da porcaria/
Vendo passar os rapazes dos
sindicatos/ A malta proletária e
grandes mulheres operárias em
camionetas de excursão vindas dos
arredores/ Ou em carros de
camaradas/ (Havia também um
pouco de sexo cheirando no ar:
sexo simbólico, claro, pois tudo são
símbolos)/ E não pude ser aqueles
que passavam/ E não passei,
saudando os soldados que ali
estávamos, saudando/ A queda
dum regime odiado”, escreve
Resende, com o irónico eco
pessoano a lembrar que esta obra
está encharcada de citações da
tradição literária, mas também de
referências da cultura popular, da
música ao cinema.
Distracção crítica
Se Manuel Resende só voltou a
publicar poesia em 1997, foi
traduzindo com regularidade,
sobretudo a partir de meados dos
anos 1980, quando saem títulos
como O Tumulto das Ondas, de
Mishima, Os Manuscritos de Jeffrey
Aspern, de Henry James, ou A Caça
ao Snark, de Lewis Carroll. Nos
últimos anos andava a traduzir
para a Relógio d’Água as obras do
Ælósofo alemão Peter Sloterdijk.
Como poeta, regressa em 1997 com
Qualquer Lugar, um livro cheio de
lugares — do Porto a Sarajevo ou à
bombardeada Dubrovnik —, mas
também de pessoas: Alexandre, o
Grande, D. Francisco de Almeida, Van
Gogh, KaváÆs, Jorge de Sena. E em
2004 sai O Mundo Clamoroso, ainda.
Basta o breve poema de abertura, Sai
de casa, para se Æcar com uma ideia
da qualidade geral deste livro: “Rasga
este poema depois de o leres/ E
depois espalha os bocados/ Pelo
vasto mundo/ Ou então na tua rua,
vai à aldeia, à praia,/ Atira-o ao mar,
deita-o ao lixo,/ Para que venha o
vento, o sol, a chuva, os homens do
lixo,/ Acabar com ele de vez./
Passado um dia,/ Sai de casa e
procura/ Encontrá-lo de novo.”
Mas é só com Poesia Reunida que
Manuel Resende subitamente se
torna, aos 70 anos, um poeta
conhecido e consensualmente
admirado. Um fenómeno que
António Guerreiro resume bem na
sua crítica ao livro, publicada no
Ípsilon: “Poesia Reunida traz para o
centro da poesia portuguesa
contemporânea uma obra
obrigatória relativamente à qual
houve uma grande distracção
critica.” Além dos três livros
anteriores, o volume da Cotovia,
que fecha com um excelente
posfácio de Osvaldo Silvestre, inclui
poemas recentes atribuídos a um
pseudónimo Ænlandês, Mika
Ahtisaari, e alguns inéditos e
esparsos, entre os quais um belo
poema dedicado à poetisa a
tradutora Margarida Vale de Gato: A
alma gémea o corpo gémeo.
Se se pudesse resumir alguém em
meia dúzia de palavras, talvez estas
que lhe dedicou no Facebook o seu
ex-correligionário Francisco Louçã
lhe façam a justiça possível.
“Encantador” e “culto como
poucos”, Manuel Resende, escreveu
o fundador do BE, “era amado pelos
seus camaradas e amigos”.
lmqueiros@publico.pt

Reichardt, Ferrara,
Hong, Petzold…
Berlim 2020 refresca
a competição
Cinema
Jorge Mourinha
A 70.ª edição do festival
alemão traz autores
de renome a estrearem-se…
e sem “filmes Netflix”
Kelly Reichardt, Abel Ferrara, Chris-
tian Petzold, Hong Song-soo, Philippe
Garrel, Rithy Panh, Tsai Ming-Liang
— e ainda nem chegámos à metade da
competição oÆcial do 70.º festival de
Berlim, anunciada ontem. São 16
estreias mundiais e duas estreias
internacionais que vêm rejuvenescer
a competição oÆcial do festival, que
decorrerá de 20 de Fevereiro a 1 de
Março, sob a nova direcção de Mariet-
te Rissenbaek e Carlo Chatrian. Ber-
lim anunciou igualmente a única
produção americana de peso no pro-
grama — ‘Bora Lá, a nova animação
dos estúdios Pixar, que terá estreia
mundial fora de concurso e chegará
às salas portuguesas a 5 de Março.
A competição 2020 inclui cineas-
tas de nome que são estreantes — a
americana Kelly Reichardt (Wendy &
Lucy, O Atalho) com o seu novo Ælme
First Cow, vindo de Sundance; o vete-
rano francês Philippe Garrel com Le
Sel des Larmes; o cambojano Rithy
Panh (A Imagem Que Falta), com Irra-
diés, o único documentário no festi-
val; ou o iraniano Mohammad Rasou-
lof, com There Is No Evil.
Ao seu lado, repetentes no festival:
o alemão Christian Petzold (Barbara,
Phoenix), com Undine, de novo com
a dupla de actores de Em Trânsito,
Paula Beer e Franz Rogowski; o
coreano Hong Sangsoo com The
Woman Who Ran; Abel Ferrara, com
Siberia, com o cúmplice de sempre
Willem Dafoe; ou o malaio-taiwanês
Tsai Ming-Liang, com Days, a sua
primeira longa de Æcção desde Cães
de Palha.
A própria cidade de Berlim estará
no centro de algumas das escolhas,
a começar por uma adaptação con-
temporânea do clássico de Alfred
Döblin Berlin Alexanderplatz, dirigi-
da por Burhan Qurhami e com o
luso-guineense Welket Bungué no
papel principal, e passando por My
Little Sister, produção suíça de
Stéphanie Chuat e Véronique
Reymond ambientada na cena tea-
tral berlinense, com Nina Hoss e Lars
Eidinger.
A habitual dimensão “empenha-
da” do concurso está mais diluída,
embora não totalmente ausente. Car-
lo Chatrian apontou os casos da
entrada brasileira Todos os Mortos de
Caetano Gotardo e Marco Dutra,
sobre as sequelas da escravatura, ou
de Never Rarely Sometimes Always, da
americana Eliza Hittman, que disse
ser um modelo de um novo possível
cinema feminista.
O que a selecção conÆrma é a von-
tade de recolocar a competição de
Berlim no mesmo patamar de Can-
nes e Locarno, e o desejo de recen-
trar o festival em visões de autores.
Um exemplo-limite será a atenção
dada ao projecto multimédia do rus-
so Ilya Khrzanovsky DAU que, depois
de quase 15 anos de trabalho, foi
revelado ao público em 2019. Berlim
apresentará a concurso a longa, DAU.
Natasha, com o documentário DAU.
Degeneratsia a ser mostrado na sec-
ção Berlinale Special.
A selecção competitiva incluirá
ainda Eèacer l’historique da dupla
franco-belga Benoît Delépine/Gusta-
ve Kervern, El Prófugo da argentina
Natalia Meta, Favolacce dos irmãos
italianos Damiano e Fabio d’Inno-
cenzo, The Roads not Taken da britâ-
nica Sally Potter, com Javier Bardem
e Elle Fanning, e Volevo Nascondermi
do italiano Giorgio Diritti.
Carlo Chatrian aÆrmou que
nenhum dos 18 Ælmes previstos para
a competição foi produzido por ou
para serviços de streaming. “Acredi-
tamos na experiência de ver um Æl-
me em sala,” disse, sublinhando que
desde o princípio Æcou decidido que
os Ælmes em competição teriam de
estar disponíveis para distribuição
em sala.
Undine, de Christian Petzold
Ressuscitou como morreu:
como fraude. E ainda há quem
lhe chame vocabulário
Em Público
Nuno Pacheco
Esteve catorze dias morto e
ressuscitou milagrosamente em
quatro horas. Bastou um texto (a
crónica anterior a esta) para
acordar as hostes do Instituto
Internacional da Língua
Portuguesa (IILP), que se
apressaram a devolver à vida o
chamado Vocabulário Ortográfico
Comum da Língua Portuguesa (dito
VOC), instrumento oÆcial do
Acordo OrtográÆco de 1990 (AO).
Seria hipócrita desejar-lhe bom
regresso, dada a sua absoluta
inutilidade, mas a ressurreição
permite voltar a um tema antigo: o
VOC ressuscitou como morreu,
como fraude. Acusação grave? Não.
Grave é que haja quem acredite na
sua utilidade e, pior, quem assim o
mantenha.
Vamos por partes. O Acordo
OrtográÆco previa um Vocabulário
OrtográÆco Comum que deveria
conter os vocábulos de todos os
países envolvidos. Era a
“uniÆcação” tão apregoada pelos
seus arautos. Porém, em vez disso,
o IILP pôs-se a coligir “vocabulários
nacionais”: Brasil, Portugal, Cabo
Verde, Moçambique (que não
ratiÆcou o AO, note-se) e
Timor-Leste. Falta Angola,
Guiné-Bissau (que não ratiÆcaram) e
São Tomé e Príncipe (que ratiÆcou).
A par destes, há o Vocabulário
OrtográÆco Comum da Língua
Portuguesa, soma de todos.
O problema é que são todos
praticamente iguais, construídos a
partir de uma única base. O que até
podia ser assumido, mas não é. Cada
vocabulário nacional surge com
nomes diferentes, coordenadores
diferentes e edições diferentes. Um
logro absoluto. Sem querer maçar
os leitores, aqui Æcam as 100
primeiras palavras e as últimas 50
palavras dos vocabulários nacionais.
Que são as mesmíssimas em todos
eles, sem qualquer variação. À
frente da cada uma, vão, abreviadas,
as respectivas classiÆcações ali
descritas: adjectivo (a), advérbio
(ad) substantivo masculino (m) e
Público • Quinta-feira, 30 de Janeiro de 2020 • 37
feminino (f), verbo (v), nome
próprio (np), interjeição (int):
“a (determinante), a (preposição),
aabora (f), aacheniano (m),
aacheniano (a), aal (m), aal (f),
aalclim (m), aalcuabe (m), aaleniano
(a), aaleniano (m), aaleniense (a),
aaleniense (m), aaleniense (f),
aalénio (m), aalênio (a), aalense (a),
aalense (m), aaná (a), aaná (m), aaná
(f), aaquenense (a), aaqueniano (a),
aaqueniano (m), aaquênio (a),
aaquênio (m), aardvark (m), aardwolf
(m), aariano (a), aariano (m), aarita
(f), aarite (f), aarónico (a), aarónida
(a), aarónida (m), aarónida (f),
aaronita (m), aaronita (a), aaronita
(f), aaru (m), aasto (m), ãatá (f),
aavora (f), aba (m), aba (f), ababá
(m), ababá (f), ababá (a), ababadado
(a), ababadar (v), ababaia (f),
ababalhado (a), ababalhar (v),
ababalho (m), ababalidade (f),
ababaloalô (m), ababangai (m),
ababé (m), ababelação (f),
ababelado (a), ababelador (a),
ababelante (a), ababelar (v),
ababelável (a), ababil (m), ababone
(f), ababoni (m), ababosação (f),
Grave é que haja
quem acredite
na utilidade deste
vocabulário
e, pior, quem assim
o mantenha
ababosado (a), ababosador (a),
ababosamento (m), ababosante (a),
ababosar (v), ababosável (a),
ababroar (v), ababuá (a), ababuí (m),
abacá (m), abacado (m), abacaí (m),
abaçaí (m), abacalhoadamente (ad),
abacalhoado (a), abacalhoar (v),
abacamartado (a), abaçanado (a),
abaçanar (v), abacanto (m), Abação
de São Tomé (np), Abação e
Gémeos (np), abacar (a), abacar
(m), abacar (f), abacaro (a), Abaças
(nome próprio), abacatada (f),
abacataia (f), abacatal (m), abacate
(a) e abacate (m).”
E, a fechar, todas estas: “zuraco
(m), zuranti (m), zuraque (m),
zurazo (a), zurazo (m), zurbada (f),
zurca (f), zureta (m), zureta (f),
CULTURA
zureta (a), Zurique (nome próprio),
zuriquenha (f), zuriquenho (a),
zuriquenho (m), zuriquense (m),
zuriquense (f), zuriquense (a),
zurpa (f), zurpilhado (a), zurpilhar
(v), zurra (f), zurrada (f), zurrado
(a), zurrador (a), zurrador (m),
Zurral (np), Zurrão (np), zurrapa (f),
zurrar (v), zurraria (f), zurre –
interjeição, zurreira (f), Zurrigueira
(np), zurro (m), zuruó (a), zurvada
(f), zurvanada (f), zurza (f),
zurzidela (f), zurzido (a), zurzidor
(a), zurzidor (m), zurzidora (f),
zurzidura (f), zurzir (v), zus –
interjeição, zus-catatrus (m),
zus-catatrus (int), zuzara (f) e
Zuzarte (np).”
No do Brasil, e apenas neste, o
primeiro “aalénio” surge
(naturalmente) como “aalênio”, e
esta é a única diferença; mas nos
restantes países o segundo
manteve-se “aalênio”; já em
“aaquênio” é a variante brasileira
que surge em todos os vocabulários
nacionais, quando deveria ser
grafada “aaquénio”, ao menos em
Portugal. Outras bizarrias: para
encher, constam dos vocabulários
todas as entradas que integram a
Toponímia (que está, aliás, num
Æcheiro à parte no sítio do VOC), o
que dá entradas como estas:
“Abação e Gémeos”, “Aldoar, Foz do
Douro e Nevogilde” (novas
freguesias, resultantes da fusão de
2013) e “Zona Industrial do Porto
Alto da Estrada Nacional Cento e
Dezoito” (há, pasme-se!, 85 zonas
industriais assim descritas, pelo
nome completo, iguais em todos os
vocabulários, apesar de serem
sediadas em Portugal — mesmo no
de Timor-Leste, que até há um ano
tinha apenas uma fábrica!). Quem
diz zonas industriais, diz aeroportos
ou aldeamentos. Tudo serve para
encher. Por exemplo, se
procuramos por “ônibus” (que
surge como “ônibus” no do Brasil e
“ónibus” nos restantes), a
informação nas fontes do
vocabulário do Brasil é esta:
“Corpus Brasileiro: alta”. Mas se um
português ou um timorense forem
procurar “ónibus” nos seus
vocabulários, a informação nas
“fontes” é: “Corpus Moçambicano:
baixa”. Tem isto o mínimo nexo?
Para a semana há mais.
Jornalista. Escreve à quinta-feira
nuno.pacheco@publico.pt
38 • Público • Quinta-feira, 30 de Janeiro de 2020

CLASSIFICADOS Edif. Diogo Cão, Doca de Alcântara Norte, Tel. 21 011 10 10/20 Fax 21 011 10 30
1350-352 Lisboa
pequenosa@publico.pt
De seg a sex das 09H às 19H
Sábado 11H às 17H

CONSELHO DIRETIVO CONSELHO DIRETIVO CONSELHO DIRETIVO

AVISO AVISO AVISO

Encerramento administrativo de um estabelecimento de apoio social sem denominação
O Conselho Diretivo do Instituto da Segurança Social, IP, ordenou o encerramento administrativo
imediato de um estabelecimento de apoio social sem denominação, com as seguintes características:
yexerce a atividade de Estrutura Residencial para Pessoas Idosas;
ycom fins lucrativos;
ynão estando licenciado;
yfunciona sob a propriedade de Tânia Vanessa Domingues Pato;
yestá instalado em Rua das Escolas, n.º 17 - Portomar - Mira
Defesa dos direitos e da qualidade de vida dos utentes
O Conselho Diretivo do Instituto da Segurança Social, IP ordenou o encerramento através da Deli-
beração n.º 270/2019, de 19 de dezembro de 2019, porque o estabelecimento estava em atividade
com deficiências graves nas condições de instalação, segurança, funcionamento, salubridade, hi-
giene e conforto, representando um perigo potencial para os direitos dos utentes e a sua qualidade
de vida.
Consequências do incumprimento da deliberação
Caso o estabelecimento seja reaberto ou a atividade de apoio social continue de forma ilegal, o/a
responsável será sujeito/a a procedimento criminal pelo crime de desobediência.
Este aviso deve estar afixado durante 30 dias
Quem impedir a sua afixação será sujeito a procedimento criminal pelo crime de resistência ou
coação sobre funcionário. Quem o remover deliberadamente antes do fim do prazo de 30 dias será
sujeito a procedimento criminal pelo crime de arrancamento, destruição ou alteração de editais.
Lisboa, 19 de dezembro de 2019
Rui Fiolhais - Presidente do Conselho Diretivo
Encerramento administrativo de um estabelecimento de apoio social, sem denominação
O Conselho Diretivo do Instituto da Segurança Social, IP, ordenou o encerramento administrativo
imediato de um estabelecimento de apoio social sem denominação, com as seguintes características:
yexerce a atividade de Estrutura Residencial para Pessoas Idosas;
ycom fins lucrativos;
ynão estando licenciado;
yfunciona sob a direção e responsabilidade de Carlos Manuel dos Santos Garcia;
yestá instalado em Estrada de Alvor Sítio do Pinheiro, Casa n.º 1, 8500-071 Alvor.
Defesa dos direitos e da qualidade de vida dos utentes
O Conselho Diretivo do Instituto da Segurança Social, IP ordenou o encerramento através da Deli-
beração n.º 273/2019, de 19 de dezembro de 2019, porque o estabelecimento estava em atividade
com deficiências graves nas condições de instalação, segurança, funcionamento, salubridade, hi-
giene e conforto, representando um perigo potencial para os direitos dos utentes e a sua qualidade
de vida.
Consequências do incumprimento da deliberação
Caso o estabelecimento seja reaberto ou a atividade de apoio social continue de forma ilegal, o/a
responsável será sujeito/a a procedimento criminal pelo crime de desobediência.
Este aviso deve estar afixado durante 30 dias
Quem impedir a sua afixação será sujeito a procedimento criminal pelo crime de resistência ou
coação sobre funcionário. Quem o remover deliberadamente antes do fim do prazo de 30 dias será
sujeito a procedimento criminal pelo crime de arrancamento, destruição ou alteração de editais.
Lisboa, 19 de dezembro de 2019
Rui Fiolhais - O Presidente
Encerramento administrativo imediato e urgente de um estabelecimento
de apoio social em denominação
O Conselho Diretivo do Instituto da Segurança Social, IP, confirmou o encerramento administrativo imediato e
urgente de um estabelecimento de apoio social sem denominação, com as seguintes características:
yexercia a atividade de Estrutura Residencial para Pessoas Idosas;
ycom fins lucrativos;
ynão estando licenciado;
yfuncionava sob a direção e responsabilidade de Alda Branca de Jesus Lopes;
yestava instalado em Rua de Santa Maria, n.º 14, Malhapão, 3770-058 Oiã (concelho de Oliveira do Bairro e
distrito de Aveiro).
Defesa dos direitos e da qualidade de vida dos utentes
O Conselho Diretivo do Instituto da Segurança Social, IP, confirmou o encerramento através da Deliberação
n.º 276/2019, de 19 de dezembro de 2019, que ratificou o despacho de 27/11/2019, do diretor da Unidade
de Fiscalização do Centro. Esta deliberação foi tomada porque o estabelecimento estava em atividade com
deficiências graves nas condições de instalação, segurança, funcionamento, salubridade, higiene e conforto,
representando um perigo atual e eminente para os direitos dos utentes e a sua qualidade de vida.
Consequências do incumprimento da deliberação
Caso o estabelecimento seja reaberto ou a atividade de apoio social continue de forma ilegal, o/a responsável
será sujeito/a a procedimento criminal pelo crime de desobediência.
Este aviso deve estar afixado durante 30 dias
Quem impedir a sua afixação será sujeito a procedimento criminal pelo crime de resistência ou coação sobre
funcionário. Quem o remover deliberadamente antes do fim do prazo de 30 dias será sujeito a procedimento
criminal pelo crime de arrancamento, destruição ou alteração de editais.
Lisboa, 19 de dezembro de 2019
Rui Fiolhais - Presidente

TRIBUNAL JUDICIAL TRIBUNAL JUDICIAL Conselho de Deontologia do Porto TRIBUNAL JUDICIAL

DA COMARCA
DE LISBOA OESTE
Juízo Local Cível de Oeiras - Juiz 1
Agrupamento de Escolas de Cister - Alcobaça Processo: 309/20.7T8OER
ANÚNCIO
Sede: Escola Secundária D. Inês de Castro
Acompanhamento de Maior
Requerente: Ministério Público
AVISO Requerida: Elisangela Jorge Pinto
Semedo
Faz-se saber que foi distribuído
2 Assistentes Operacionais a tempo parcial neste tribunal, o processo de
Acompanhamento de Maior em
Procedimento concursal comum de recrutamento para ocupação que é requerida/beneficiária Eli-
de dois postos de trabalho em regime de contrato de trabalho em
sangela Jorge Pinto Semedo,
funções públicas a termo resolutivo certo, a tempo parcial, para a filha de Vitorino Pinto Semedo e
de Maria Jorge Varela Dias, titular
carreira e categoria de assistente operacional, publicado no DR N.º
do cartão de residência com o n.º
19, de 28 de Janeiro - II Série. 137204, nascida a 25.08.1999,
com domicílio: Av. Gaspar Corte
Local de trabalho: escolas pertencentes ao Agrupamento de Escolas Real, N.º 5, 3.º Esq.º, 2740-234
de Cister - Alcobaça. Porto Salvo, em que foi requerida
a aplicação da medida de acom-
Funções a desempenhar: prestação de serviços / tarefas - serviço de
panhamento de representação
limpeza e vigilância/acompanhamento de crianças. geral, com dispensa de consti-
tuição de conselho de família, li-
Duração do contrato de trabalho: Ano letivo 2019/2020 - até ao dia 19
mitação do direito de casar ou de
de junho de 2020. constituir situações de união de
Horário semanal: 17 horas 30 minutos semanais, a 3 horas e 30 facto, de perfilhar ou de adoptar,
de se deslocar no país ou no es-
minutos /dia. (2 postos de trabalho). trangeiro, de fixar residência e de
Remuneração ilíquida/hora: 3,67€ / hora, a que se acresce o valor do testar e indicada para Acompa-
nhante Maria Jorge Varela Dias,
subsídio de alimentação (4,77€/dia).
nascida em 09.01.1981, residente
Observações: Este concurso servirá também para a satisfação de na Av.ª Gaspar Corte Real n.º 5,
outras necessidades de postos de trabalho em funções similares que 3.º esq.º, 2740-234 Porto Salvo.
venham a ser postas a concurso no presente ano letivo. N/ Referência: 123474300
Oeiras, 24-01-2020.
Os interessados podem apresentar as candidaturas, pessoalmente ou A Juíza de Direito
por correio, até 10/02/2020 nos Serviços Administrativos da Escola, Dr.ª Ausenda Brás Moreira Pires
sede, Rua Costa Veiga, 2460-028 Alcobaça. A Oficial de Justiça
Carla Isabel O. Cesário
O Diretor, Gaspar da Silva Ferrnandes Vaz Público, 30/01/2020
Fundada em 1988 pelo Professor Doutor Carlos Garcia, a Associação Portuguesa de Familiares e Amigos
de Doentes de Alzheimer - Alzheimer Portugal é uma Instituição Particular de Solidariedade Social. É a
única organização em Portugal, de âmbito nacional, especificamente constituída para promover a qualidade
de vida das pessoas com demência e dos seus familiares e cuidadores. Tem cerca de dez mil associados em
todo o país.
Oferece Informação sobre a doença, Formação para cuidadores formais e informais, Apoio domiciliário,
Apoio Social e Psicológico e Consultas Médicas da Especialidade.
Como membro da Alzheimer Europe, a Alzheimer Portugal participa ativamente no movimento mundial e
DA COMARCA
DE LISBOA
Juízo Local Cível do Seixal - Juiz 1
Processo: 1774/19.0T8SXL
ANÚNCIO
Acompanhamento de Maior
Requerente: Ministério Público
Acompanhado: Bruno Sérgio Oliveira
Martins
Faz-se saber que, nos autos de Acompa-
nhamento do Maior acima identificado,
por sentença já transitada em julgado,
e em que é beneficiário Bruno Sérgio
Oliveira Martins, nascido em 26-02-1983,
filho(a) de António Jorge Garcia Martins
e de Maria de Fátima Contramestre de
Oliveira Martins, com domicílio na Av.ª
Carlos de Oliveira, n.º 53-A, Quinta da
Boa Hora, 2840-728 Arrentela, foi decre-
tado o seu acompanhamento, mediante
aplicação da(s) medida(s) de represen-
tação geral e de administração ordinária
dos bens imóveis, dos bens móveis e do
rendimento mensal do/a beneficiário/a,
incluindo a satisfação dos seus encargos,
tornada(s) necessária(s) desde 26 de Fe-
vereiro de 2001;
Foi nomeada, como acompanhante(s)
do/a beneficiário/a, a sua mãe, Maria de
Fátima Contramestre de Oliveira Martins,
ao/à(s) qual(ais) foram atribuídos poderes
gerais de representação geral e de ad-
ministração ordinária dos bens imóveis,
dos bens móveis e do rendimento mensal
do/a beneficiário/a, incluindo a satisfação
dos seus encargos;
Determinada que a(s) medida(s) de
acompanhamento em vigor será(ão) re-
vista(s) com a periodicidade de 5 (cinco)
em 5 (cinco) anos;
Não foi designado, por ora, o conselho
de família.
N/ Referência: 393913166
Seixal, 28-01-2020.
A Juíza de Direito
Laura Maria Dias Godinho Ribeiro Rações
O Oficial de Justiça
José Pires
Público, 30/01/2020
Praça da República, 210 - 4050-498 Porto
Telefone: 222 074 578 - Fax 222 074 574
DA COMARCA
E-mail:secretaria.deontologia.hp@cdp.oa.pt DE LISBOA OESTE REPÚBLICA
Juízo Local Cível de Mafra
FEDERATIVA DO BRASIL
EDITAL Processo: 720/19.6TMFR
Consulado-Geral do Brasil em Lisboa
ANÚNCIO
FRANCISCO VELLOZO FERREIRA, Presidente do Conselho de De- Acompanhamento de Maior
EDITAL DE CASAMENTO
Vera Lúcia Espírito Santo Cardoso, Vi-
ontologia do Porto da Ordem dos Advogados Portugueses, em cumpri- Requerente: Ministério Público
ce-Cônsul do Brasil em Lisboa, usando
mento do disposto nos artigos 142.º e 174.º do Estatuto da Ordem dos
Advogados em vigor, aprovado pela Lei 145/2015, de 9 de setembro;
Acompanhado: João Augusto
Gonçalves
das atribuições que lhe confere o art.º
18 da Lei de Introdução ao Código Civil,
A Juíza de Direito Paula Ferreira faz saber que pretendem casar Gabriela
Faz saber publicamente que, por Acórdão do Conselho de Deontologia Pinto, faz saber que foi distribuí- Araujo Goldim, natural de Porto Alegre,
do Porto de 12 de julho de 2019, foi aplicada ao Sr. Dr. António Car- do neste tribunal, o processo de Rio Grande do Sul, Brasil, nascida a
los Almeida de Matos Torres, que também usa o nome abreviado de Acompanhamento de Maior, em 23/03/1986, residente e domiciliada na
António Carlos Matos, portador da cédula profissional n.º 4252P com que é requerido João Augusto Av. 23 de Julho, n.º 392, 1.º - Laranjeiro,
Gonçalves, nascido a 8/8/1970, Almada, Portugal, Código Postal: 2810-
domicílio profissional na Av. António Feijó, Prédio Avenida, Lj. A 5, Cv, 292, nesta jurisdição consular, filha de
em Ponte de Lima, a pena disciplinar de Suspensão, pelo período natural de Angola, filho de Ma- Roger Goldim e de Ana Claudete Araujo
nuel Augusto Gonçalves e de Goldim e Bruna Luiza Rocha Alves, natu-
de 10 (dez) meses por violação dos deveres previstos nos artigos 88.º
Luzia Gueve, com domicílio na ral de Porto Alegre, Rio Grande do Sul,
e 91.º/e do Estatuto da Ordem dos Advogados e dos artigos 37.º/2/a Rua Santa Casa da Misericórdia, Brasil, nascida a 27/06/1992, residente
e 39.º/1 do Regulamento de Inscrição de Advogados e Advogados N.º 5, 2640-528 Mafra, com vista e domiciliada na Av. 23 de Julho, n.º
Estagiários. a serem definidas medidas de 392, 1.º - Laranjeiro, Almada, Portugal,
acompanhamento e representa- Código Postal: 2810-292, nesta jurisdi-
Nos termos do artigo 173.º/1 do Estatuto da Ordem dos Advogados, ção consular, filha de Jorge Luiz Soares
ção geral de sua pessoa.
o cumprimento da presente pena teve início no dia 20 de dezembro Alves e de Rosangela da Silva Rocha
N/ Referência: 123541659
de 2019, uma vez que a decisão constitui caso resolvido desde 9 de Apresentaram os documentos exigidos
Mafra, 28-01-2020 pelo Art.º 1.525 do Código Civil.
setembro de 2019. Se alguém souber de algum impedimen-
A Juíza de Direito
Porto, 17 de janeiro de 2020. to, oponha-o na forma da Lei. Lavrado o
Paula Ferreira Pinto presente para ser afixado em lugar visível
O Oficial de Justiça da Chancelaria deste Consulado-Geral.
Francisco Vellozo Ferreira Margarida Santos
Alberto Ribeiro Karina Codeço Barone
Presidente do Conselho de Deontologia do Porto Diretora de Serviços Público, 30/01/2020 Oficial de Registro Civil “ad-hoc”
TRIBUNAL JUDICIAL TRIBUNAL JUDICIAL TRIBUNAL JUDICIAL TRIBUNAL JUDICIAL
DA COMARCA DA COMARCA DA COMARCA DA COMARCA
DE LISBOA OESTE DE LISBOA OESTE DE LISBOA OESTE DE LISBOA OESTE
Juízo Local Cível de Mafra
Juízo Local Cível de Mafra Juízo Local Cível de Mafra Juízo Local Cível de Mafra
Processo: 658/19.7T8MFR Processo: 651/19.0T8MFR Processo: 671/19.4T8MFR Processo: 673/19.0T8MFR
ANÚNCIO
ANÚNCIO ANÚNCIO ANÚNCIO Acompanhamento de Maior
Acompanhamento de Maior Acompanhamento de Maior Acompanhamento de Maior Requerente: Ministério Público
Requerente: Ministério Público Requerente: Ministério Público Requerente: Ministério Público Beneficiária: Maria de Lurdes da
Acompanhada: Maria Lourença Beneficiária: Helena Oliveira Soa- Requerida: Hortense dos Santos Cunha Marques
Costa Mateus res de Almeida Pessoa Mendes A Juíza de Direito Paula Ferreira
A Juíza de Direito, Paula Ferreira A Juíza de Direito, Paula Ferreira A Juíza de Direito, Paula Ferreira Pinto, faz saber que foi distribuí-
Pinto, faz saber que foi distribuí- Pinto, faz saber que foi distribuí- Pinto, faz saber que foi distribuí- do neste tribunal, o processo de
do neste tribunal, o processo do neste tribunal, o processo de do neste tribunal, o processo de
de Acompanhamento de Maior, Acompanhamento de Maior, em
Acompanhamento de Maior, em Acompanhamento de Maior, em que é requerido Maria de Lurdes
em que é requerida Maria Lou- que é Beneficiária Helena Oliveira que é requerida Hortense dos
rença Costa Mateus, nascida a da Cunha Marques, nascida a
Soares de Almeida, nascida em 01- Santos Pessoa Mendes, nascida
15/08/1920, natural da freguesia da 2/4/1965, filha de António Montei-
05-1973, natural de Angola, filha de a 28/03/1928, natural de Lisboa, fi-
Sé, concelho de Portalegre, filha de ro Marques e de Aida Ribeiro da
Luís Soares de Almeida e de Alice lha de José Pessoa e de Aida dos
Carlos Alberto da Costa e de Maria
Lourença da Costa, com domicílio da Silva Oliveira, com domicílio na Santos Pessoa, com domicílio na Cunha Marques, com domicílio
na Obra Social do Pousal, E.N. 8
no Largo de N.ª Senhora do Li- Obra Social do Pousal, Casa do Rua de Palhais, n.º 27, 2640-068
vramento, n.º 1, 2665-015 Azueira, Moinho - Pousal, 2665-000 Malvei- Ericeira, com vista a serem defini- - Pousal, 2665-000 Malveira, com
com vista a serem definidas medi- ra, com vista a serem definidas me- das medidas de acompanhamen- vista a serem definidas medidas
das de acompanhamento e repre- didas de acompanhamento e re- to e representação geral de sua de acompanhamento e de repre-
sentação geral de sua pessoa. presentação geral de sua pessoa. pessoa e gestão de bens. sentação geral de sua pessoa.
N/ Referência: 123520467 N/ Referência: 123539877 N/ Referência: 123520677 N/ Referência: 123540244
Lisboa, 27-01-2020. Lisboa, 28-01-2020. Lisboa, 27-01-2020. Mafra, 28-01-2020
A Juíza de Direito A Juíza de Direito A Juíza de Direito A Juíza de Direito
Paula Ferreira Pinto Paula Ferreira Pinto Paula Ferreira Pinto Paula Ferreira Pinto
O Oficial de Justiça O Oficial de Justiça O Oficial de Justiça O Oficial de Justiça
Alberto Ribeiro Alberto Ribeiro Alberto Ribeiro Alberto Ribeiro
Público, 30/01/2020 Público, 30/01/2020 Público, 30/01/2020 Público, 30/01/2020

europeu sobre as demências, procurando reunir e divulgar os conhecimentos mais recentes sobre a Doença
de Alzheimer, promovendo o seu estudo, a investigação das suas causas, efeitos, profilaxia e tratamentos.
Contactos
Sede: Av. de Ceuta Norte, Lote 15, Piso 3, Quinta do Loureiro, 1300-125 Lisboa - Tel.: 21 361 04 60/8 - E-mail: geral@alzheimerportugal.org
Centro de Dia Prof. Dr. Carlos Garcia: Av. de Ceuta Norte, Lote 1, Loja 1 e 2 - Quinta do Loureiro, 1350-410 Lisboa - Tel.: 21 360 93 00
Lar, Centro de Dia e Apoio Domiciliário «Casa do Alecrim»: Rua Joaquim Miguel Serra Moura, n.º 256 - Alapraia, 2765-029 Estoril
Tel. 214 525 145 - E-mail: casadoalecrim@alzheimerportugal.org
Delegação Norte: Centro de Dia “Memória de Mim” - Rua do Farol Nascente, n.º 47A R/C, 4455-301 Lavra
Tel. 229 260 912 | 226 066 863 - E-mail: geral.norte@alzheimerportugal.org
Delegação Centro: Urb. Casal Galego - Rua Raul Testa Fortunato n.º 17, 3100-523 Pombal - Tel. 236 219 469 - E-mail: geral.centro@alzheimerportugal.org
OFEREÇA
Delegação da Madeira: Avenida do Colégio Militar, Complexo Habitacional da Nazaré, Cave do Bloco 21 - Sala E, 9000-135 FUNCHAL
Tel. 291 772 021 - E-mail: geral.madeira@alzheimerportugal.org
Núcleo do Ribatejo: R. Dom Gonçalo da Silveira n.º 31-A, 2080-114 Almeirim - Tel. 24 300 00 87 - E-mail: geral.ribatejo@alzheimerportugal.org
FILMES & SÉRIES
Núcleo de Aveiro: Santa Casa da Misericórdia de Aveiro - Complexo Social da Quinta da Moita - Oliveirinha, 3810 Aveiro
Tel. 23 494 04 80 - E-mail: geral.aveiro@alzheimeportugal.org MAIS INFORMAÇÕES: loja.publico.pt | 210 111 010
 Público ClassiÄcados • Quinta-feira, 30 de Janeiro de 2020 • 39

Contratação de Pessoal Docente

(M/F)

1 – Ref.ª CD-CTTI-03-ARH/2020 - Doutor Paulo Jorge dos Santos Gonçal- Contratação de Serviços Médicos em regime
ves Ferreira, Professor Catedrático e Reitor da Universidade de Aveiro, faz de Prestação de Serviços
saber que, pelo prazo de trinta dias úteis contados do dia útil imediato àque- O Centro Hospitalar Universitário do Algarve, E.P.E. está a contratar Médicos para as se-
le em que o presente anúncio for publicitado, se encontra aberto concurso guintes áreas/especialidades:
documental, de âmbito internacional, para recrutamento de 2 (dois) postos A – Especialidade de Anatomia Patológica, Cardiologia, Cardiologia Pediátrica, Cirurgia
de trabalho de Professor Auxiliar, para a área disciplinar de Ciências e Tec- Pediátrica, Dermatologia, Endocrinologia-Nutrição, Estomatologia, Imunoalergologia, Me-
nologias da Comunicação, subárea de Tecnologias da Comunicação, para o dicina no Trabalho, Medicina Geral e Familiar, Nefrologia, Neonatologia, Neurocirurgia,
Departamento de Comunicação e Arte da Universidade de Aveiro, em regime Neurologia, Oncologia Médica, Psiquiatria, Reumatologia.
de contrato de trabalho por tempo indeterminado, ao abrigo do Código do B – Especialidade de Anestesiologia, Cirurgia Geral, Ginecologia/Obstetrícia, Medicina In-
Trabalho e do Regulamento sobre Regime das carreiras próprias do pessoal terna, Oftalmologia, Ortopedia, Pediatria, Psiquiatria Pediátrica, Radiologia, Urologia.
docente em regime de direito privado da Universidade de Aveiro e respetiva C - Médico Clínico Geral (médico não especialista).
contratação (Regulamento n.º 384/2014, de 26 de agosto). Requisitos e Perfil de Competências:
2 - O requerimento de candidatura deverá ser elaborado nos termos do edi- • Inscrição na Ordem dos Médicos Portuguesa e especialidade reconhecida ou em proces-
tal antes referido, publicitado no seguinte endereço eletrónico: https://www. so de reconhecimento pela Ordem dos Médicos Portuguesa.
ua.pt/sgrhf/PageText.aspx?id=15031. • Facilidade de utilização de aplicações informáticas.
3 - O prazo de candidaturas é de 30 dias úteis, contados a partir da data da • Disponibilidade para trabalhar por turnos.
publicação do presente anúncio. • Capacidade de comunicação e de relacionamento interpessoal.
O que Oferecemos:
Aveiro, em 18 de dezembro de 2019 • Contrato de prestação de Serviços a vigorar no ano de 2020;
O Reitor, Prof. Doutor Paulo Jorge dos Santos Gonçalves Ferreira • Valor hora definido no Despacho n.º 3027/2018 conjugado com o Despacho nº
6658-A/2019:
o A – 39,00 euros (alínea b) do nº 9 B - 3027/2018)
o B – 42,21 euros (alínea b) do nº 9 B - 3027/2018 + 6658-A/2019)
LEILÃO ELETRÓNICO o C – 27,50 euros (alínea a) do nº 9 - 3027/2018)
Início: 30/01/2020 às 11h00 | Fim: 28/02/2020 às 12h00 Documentos a apresentar:
• Curriculum Vitae.
Imóvel para habitação e garagem | Participações Sociais | Direitos | Vila Nova de Poiares • Fotocópia da Cédula Profissional ou documento provisório.
Por determinação do Exmo. Sr. Administrador Judicial, procede-se à venda dos bens referenciados, na modalidade de Leilão Eletrónico, integrantes da Massa Insolvente:
Insolvência de José Luís Sérgio Soares e Maria do Céu Simões Feteira • Fotocópia do Diploma de Licenciatura com a classificação final.
Proc. nº 4104/19.8T8CBR - Tribunal Judicial da Comarca de Coimbra, Juízo de Comércio de Coimbra - Juiz 2 Envio de Candidaturas:
Verba 2: Fração autónoma, designada pela letra "O", correspondente ao rés do chão, lado direito, Edifício dois, destinada a habitação, tipologia T3. Área bruta privativa:119 m2. Os(as) interessados(as) devem enviar a sua candidatura, bem como os documentos acima
Área dependente:18 m2. Inscrita na matriz predial urbana com o art.º 4739. Descrita na CRP de Vila Nova de Poiares sob a descrição 1679-O/Vila Nova de Poiares.
Ónus de arrendamento com renda mensal no valor de 250,00€.
referidos para o email recursoshumanos@chalgarve.min-saude.pt, com o assunto “Con- Ano: 2018
Localização: Rua Casal do Jardim, Edifício 2, lugar do Entroncamento, 3350 - 087 Vila Nova de Poiares (junto à Óptica Jasmim). tratação de Prestação de Serviços Médicos”, indicando a área/especialidade para a qual Região:
se candidatam.
Valor base: 68.000,00€ (sessenta e oito mil euros)
Verba 3: Fração autónoma, designada pela letra "S", correspondente a cave posterior, Edifício dois, destinada a garagem identificada com o n.º 7 a segunda a contar do poente.
Área bruta privativa: 22 m2. Inscrita na matriz predial urbana com o art.º 4000. Descrita na CRP de Vila Nova de Poiares sob a descrição 3770-S/Vila Nova de Poiares.
Localização: Rua Casal do Jardim, Edifício 2, lugar do Entroncamento, 3350 - 087 Vila Nova de Poiares (junto à Óptica Jasmim).
O prazo para a receção das candidaturas é de 5 (cinco) dias úteis, a contar do dia seguinte
ao da data de publicação do presente aviso.
9,85€
disponível
Vinhos Verdes
Castas:
Valor base: 3.000,00€ (três mil euros) A Diretora do Serviço de Aprovisionamento em 100% Alvarinho
Verba 4: Quota detida por José Luís Sérgio Soares (NIF 193 877 252) na sociedade J. Soares & Filhos, Lda. NIPC 503 103 497, no valor nominal de 50.000,00€ (cinquenta mil
Catarina Martins
euros), representativa de 20% do capital social da mencionada sociedade.
29 de janeiro de 2020
loja.publico.pt Álcool: 13,5%
Valor base: 5.000,00€ (cinco mil euros)
Verba 5: Direito e ação da insolvente Maria do Céu Simões Feteira à herança aberta e indivisa por óbito de Daniel Eduardo Carvalho Feteira NIF de herança: 744 343 321, na Servir a: 12-15˚C
proporção de 3/56, sobre diversos bens imóveis, sitos na freguesia de São Miguel de Poiares, concelho de Vila Nova de Poiares e distrito de Coimbra.
Valor base: 10.000,00€ (dez mil euros) Acompanha
Visitas: Por marcação prévia bem com:
Regulamento / Condições de Venda
1. O Leilão é público, devendo os interessados efetuar previamente o registo na plataforma, www.leiloexpert.pt, processo através do qual qualquer pessoa, singular ou coletiva, queijos, peixes
se pode inscrever e participar, de acordo com as condições aplicáveis. O registo constitui requisito prévio à participação. e algumas carnes,
2. Aos interessados será concedido acesso à plataforma, na qual ficará como utilizador certificado, devendo registar-se através do portal, seguindo os passos aí indicados.
3. Os bens são vendidos no estado físico e jurídico em que se encontram. pratos de arroz
4. Terminado o prazo de licitações, será o proponente de maior valor notificado para, no prazo de 5 dias, apresentar cheque caução no valor de 20% do valor proposto, à ordem
da 0DVVD,QVROYHQWHGH-RVp/XtV6pUJLR6RDUHVH0DULDGR&pX6LP}HV)HWHLUD para validação da respetiva licitação. e cozinhados
5. Após a adjudicação: a) O cheque caução será depositado na conta da Massa Insolvente, a título de sinal e princípio de pagamento, sendo o remanescente pago no ato da
de forno
escritura pública, mediante cheque bancário ou visado; b) O adquirente terá de proceder ao pagamento imediato da comissão de 5% sobre os imóveis e os direitos e 10% sobre
as participações sociais, acrescida de IVA, à taxa legal em vigor, referente ao pagamento dos serviços prestados pela Leiloexpert, Lda.
Extrato do regulamento: Não dispensa a consulta das restantes condições de venda disponíveis em www.leiloexpert.pt.
AVISO
Rua de S. Pedro, n.º 41 - Guarda Nova
2430-162 Marinha Grande
www.leiloexpert.pt | www.leiloexpert-vendas.pt
Procedimento Concursal para Provimento do
Cargo de Dirigente Intermédio de Grau 2 para o
Vinha A
Antiga
i Alvarinho,
Al
Email : geral@leiloexpert.pt
Contactos : 244 838 127 / 967 257 029 / 967 626 816 / 961 445 566 Departamento de Assessoria Jurídica dos Ser- um vinho que
viços da Presidência do Instituto Politécnico de harmoniza consigo
Lisboa
Fechamos esta Garrafeira com o Vinha Antiga Alvarinho,
um vinho fermentado e estagiado em barricas
Nos termos do n.º 2, do artigo 21.º, da Lei n.º
de carvalho francês que expressa as características mais
2/2004 de 15 de janeiro, na redação dada pela Lei
genuínas da casta Alvarinho. Prestígio, elegância,
MUNICÍPIO DE OVAR nº 128/2015 de 3 de setembro, e na sequência de frescura e complexidade, são uma constante que
despacho autorizador do Presidente do Instituto
AVISO Politécnico de Lisboa (IPL) de 31.10.2019, torna-
acompanha o aroma e sabor deste vinho.
Junte-se à prova e saboreie alguns dos
2.ª Alteração ao Plano de Pormenor da Zona Envolvente ao Núcleo Escolar a
Norte de Ovar -se público que foi publicado na 2ª Série do Diá- melhores néctares portugueses
Salvador Malheiro Ferreira da Silva, Presidente da Câmara Municipal de Ovar, torna rio da República nº 20 de 29 de janeiro, o Aviso selecionados pelo Painel Nacional
público, nos termos do disposto do n.º 1 do artigo 76.º, conjugado com o artigo
118.º do Regime Jurídico dos Instrumentos de Gestão Territorial, publicado pelo nº 1557/2020 relativo à abertura do procedimento de Avaliação de Vinhos
Decreto-Lei n.º 80/2015 de 14 de maio, que a Câmara Municipal de Ovar, na sua concursal para provimento do cargo de direção
reunião pública realizada a 21 de novembro de 2019, deliberou, por unanimidade,
desencadear o início do procedimento referente à 2.ª alteração ao Plano de intermédia de 2.º grau, para o Departamento de
Pormenor da Zona Envolvente ao Núcleo Escolar a Norte de Ovar, prevendo-se Assessoria Jurídica dos Serviços da Presidência, o
para a sua elaboração o prazo de 6 meses. Encomende
Foi igualmente deliberado não sujeitar a elaboração da citada alteração a Avaliação qual se encontra publicitado durante dez dias úteis também em:
Ambiental Estratégica, nos termos do disposto nos n.ºs 1 e 2 do artigo 78.º do loja.publico.pt
Decreto-Lei n.º 80/2015, de 14 de maio, conjugado com Decreto-Lei n.º 232/2007,
na bolsa de emprego público (BEP), a contar do coleccoes@publico.pt
de 15 de junho, alterado pelo Decreto-Lei n.º 58/2011, de 4 de maio. dia útil seguinte à publicação do Aviso em Diário 808 200 095
Esta alteração incidirá exclusivamente na alteração dos usos a propor para as da República.
Parcelas D102 e D107, ou seja, essencialmente de equipamentos para habitação,
comércio e serviços, no sentido de adequação das propostas à procura local.
Para efeitos do disposto no n.º 2 do artigo 88.º do Decreto-Lei n.º 80/2015 de 14 A indicação dos respetivos requisitos de provimen-
de maio, decorrerá um período de participação pública pelo prazo de 15 dias úteis, to, do perfil exigido, da composição do júri e dos
contados a partir do quinto dia da data da publicação do presente aviso no Diário
da República, durante o qual, qualquer interessado poderá formular sugestões ou métodos de seleção, constam da publicitação na
apresentar informações, sobre quaisquer questões que possam ser consideradas BEP com a refª OE202001/1074 e do aviso integral
no âmbito do respetivo procedimento de elaboração.
As sugestões ou informações deverão ser apresentadas por escrito e dirigidas ao que se encontra igualmente disponível no sítio ele-
Exmo. Sr. Presidente da Câmara Municipal, com referência expressa do assunto, em trónico do IPL, www.ipl.pt.
documento identificado com nome e morada, através do seguinte endereço: Praça
EM
da República 3880-141 Ovar ou através de correio eletrónico: gapresidencia@cm- PARCERIA
ovar.pt. Lisboa, 29 de janeiro de 2020. COM: Painel Nacional de Avaliação de Vinhos

Mais se informa que os Termos de Referência e Oportunidade da proposta de

Alteração, bem como a justificação para a não sujeição do plano a Avaliação
Colecção de 7 vinhos. PVP unit.: variável. Preço total da colecção: 71€.
Ambiental Estratégica, encontram-se disponíveis para consulta na Divisão de O Presidente do IPL Periodicidade semanal ao sábado. De 23 de Novembro de 2019 a
Urbanismo e Planeamento e no site institucional do município em www.cm-ovar.pt.
Ovar, 04 de dezembro de 2019 Professor Doutor Elmano da Fonseca Margato 4 de Janeiro de 2020. Limitado ao stock existente. É proibida a venda
de álcool a menores de 16 anos. Seja responsável, beba com moderação
O Presidente da Câmara Municipal de Ovar - Salvador Malheiro Ferreira da Silva
40 • Público • Quinta-feira, 30 de Janeiro de 2020
SAIR
CINEMA
Lisboa
Cinema City Alvalade
Av. de Roma, nº 100. T. 218413040
Dor e Glória M16. 13h20; Parasitas M14.
21h30; Vitalina Varela M12. 20h30; Uma
Vida Escondida M14. 15h35; 1917 13h30,
16h, 18h30, 21h; Bombshell - O
Escndalo M12. 13h, 15h10, 17h20; J’accuse -
O Oficial e o Espião M12.
19h; Mulherzinhas M12. 13h10, 15h55,
18h40, 21h25
Cinema Ideal
Rua do Loreto, 15/17. T. 210998295
Parasitas M14. 21h15; 1917 14h15; J’accuse -
O Oficial e o Espião M12. 16h20; Para
Sama 18h45;
CinemaCity Campo Pequeno
Centro Lazer Campo Pequeno. T. 217981420
Knives Out: Todos São Suspeitos M12.
21h40; Star Wars: Episódio IX - A Ascensão
de Skywalker M12. 16h10; Armados em
Espiões M6. 13h45, 16h (V.P./2D); Cats M12.
19h40; O Caso de Richard Jewell M12.
21h50; The Grudge: Maldição M16.
00h25; As Aventuras do Dr. Dolittle M6.
13h10, 15h20, 17h30 (V.P./2D), 19h40 (V.
O./2D); Bad Boys Para Sempre M14. 13h35,
21h40, 00h20; Tudo Pela Justiça M12.
00h25; A Princesa e o Dragão M6. 13h30 (V.
P./2D); 1917 13h25, 15h55, 17h20, 18h40,
19h10, 21h10, 21h55, 23h50; Bombshell - O
Escndalo M12. 13h30, 15h40, 17h50, 20h,
22h10, 00h20; Mosley e a Cidade
Secreta M6. 15h15 (V.P./2D); Jojo
Rabbit M12. 13h15, 15h25, 17h35, 19h45,
21h50, 00h10; Mulherzinhas M12. 13h15,
16h, 19h, 21h30, 00h15
Cinemas Nos Alvaláxia
Estádio José Alvalade, Cpo Grande. T. 16996
Calafrio M14. 14h05, 16h25, 18h40,
21h; Joker M14. 13h10, 16h10, 21h35; Knives
Out: Todos São Suspeitos M12. 15h40,
18h30, 21h20; Jumanji: O Nível
Seguinte M12. 13h15, 16h, 18h45,
21h30; Star Wars: Episódio IX - A Ascensão
de Skywalker M12. 14h40, 20h30; Bad Boys
Para Sempre M14. 13h10, 16h, 18h45,
21h30; Tudo Pela Justiça M12. 14h, 17h,
20h55; 1917 13h15, 15h55, 18h35,
21h15; Bombshell - O Escndalo M12. 13h20,
15h50, 18h25, 21h25; Mosley e a Cidade
Secreta M6. 13h25 (V.P./2D); J’accuse - O
Oficial e o Espião M12. 13h55, 17h05,
20h40; Um Casamento a Mais M14.
18h20; Jojo Rabbit M12. 13h30, 16h05,
18h50, 21h40; Mulherzinhas M12. 14h10,
17h10, 21h05; Cidade Sob Ameaça M14.
19h05
Cinemas Nos Amoreiras
Av. Eng. Duarte Pacheco. T. 16996
Parasitas M14. 18h; Que Mal Fiz Eu a Deus
Agora? M12. 13h, 15h20, 21h, 23h50 ; O
Caso de Richard Jewell M12. 14h20, 20h40,
23h40; A Despedida M12.
17h20; 1917 12h50, 15h30, 18h30, 21h30,
00h10; Bombshell - O Escndalo M12. 13h10,
15h40, 18h20, 21h40, 00h20; J’accuse - O
Oficial e o Espião M12. 14h, 17h, 21h10,
24h; Jojo Rabbit M12. 13h20, 16h, 18h40,
21h20, 23h55; Mulherzinhas M12. 13h30,
16h30, 20h50, 23h50
Cinemas Nos Colombo
Av. Lusíada. T. 16996
Calafrio M14. 13h30, 16h05, 18h20, 22h,
00h25; Era Uma Vez em... Hollywood M16.
17h50; Star Wars: Episódio IX - A Ascensão
de Skywalker M12. 20h30, 23h40; Bad Boys
Para Sempre M14. 13h, 15h50, 18h40, 21h30,
00h20; 1917 12h50, 15h30, 18h10, 21h,
23h50; Bombshell - O Escndalo M12. 13h25,
16h10, 18h50, 21h50, 00h30; Mosley e a
Cidade Secreta M6. 13h10, 15h40, 18h (V.
P./2D); O Filme do Bruno Aleixo M14. 13h05,
15h20, 21h20, 24h; Jojo Rabbit M12. 12h40,
15h10, 17h40, 21h10,
00h05; Mulherzinhas M12. 12h30, 15h35,
18h35, 21h35, 00h35; 1917 Sala IMAX ?
13h20, 16h, 19h, 21h40, 00h15
Cinemas Nos Vasco da Gama
Parque das Nações. T. 16996
Joker M14. 18h20; Star Wars: Episódio IX - A
Ascensão de Skywalker M12. 21h50; Bad
Boys Para Sempre M14. 12h50, 15h40,
18h30, 21h20, 00h10; 1917 13h10, 16h,
18h50, 21h40, 00h30; Bombshell - O
Escndalo M12. 13h20, 15h50, 18h50, 21h10,
23h50; Mosley e a Cidade Secreta M6.
13h40, 16h20, 18h40 (V.P./2D); Jojo
Rabbit M12. 13h, 16h30, 19h, 21h30,
00h20; Mulherzinhas M12. 13h30, 16h40,
21h, 24h
Nimas
Av. 5 Outubro, 42B. T. 213574362
1917 14h30; J’accuse - O Oficial e o
Espião M12. 12h, 16h45,
22h; Mulherzinhas M12. 19h15;
UCI Cinemas - El Corte Inglés
Av. Ant. Aug. Aguiar, 31. T. 213801400
Calafrio M14. 14h, 16h30, 19h, 21h30,
24h; Era Uma Vez em... Hollywood M16.
18h; Joker M14. 13h15, 18h50; Parasitas M14.
18h30, 21h20, 00h10; Knives Out: Todos
São Suspeitos M12. 16h45, 21h35,
00h15; Star Wars: Episódio IX - A Ascensão
de Skywalker M12. 18h45; Mr. Jones - A
Verdade da Mentira 14h05, 16h40, 19h15,
21h55, 00h30; O Caso de Richard
Jewell M12. 13h20, 16h05, 21h50, 00h30; A
Despedida M12. 14h20, 19h25; As
Aventuras do Dr. Dolittle M6. 13h45, 16h15
(V.P./2D); Bad Boys Para Sempre M14.
16h10, 21h25, 00h10; Tudo Pela Justiça M12.
18h50, 21h40, 00h30; Uma Vida
Escondida M14. 14h15, 21h25; 1917 13h30,
16h20, 19h, 21h50, 00h25; Bombshell - O
Escndalo M12. 14h10, 16h35, 19h05, 21h30,
00h05; Mosley e a Cidade Secreta M6.
13h35, 16h (V.P./2D); O Filme do Bruno
Aleixo M14. 13h40, 16h20, 19h, 21h15,
23h40; J’accuse - O Oficial e o Espião M12.
13h20, 16h05, 18h50, 21h35, 00h20; Jojo
Rabbit M12. 13h50, 16h25, 19h, 21h40,
00h05; Mulherzinhas M12. 13h25, 16h10,
18h55, 21h40, 00h25
Almada
Cinemas Nos Almada Fórum
Estr. Caminho Municipal, 1011 - Vale de
Mourelos. T. 16996
Calafrio M14. 12h45, 15h15, 17h30, 19h45,
22h, 00h25; Era Uma Vez em...
Hollywood M16. 17h; Joker M14.
19h; Parasitas M14. 20h50, 23h45; Jumanji:
O Nível Seguinte M12. 13h15, 16h05, 18h50,
21h35, 00h25; Star Wars: Episódio IX - A
Ascensão de Skywalker M12. 13h, 16h15,
20h30, 23h50; Bad Boys Para Sempre M14.
12h50, 15h40, 18h40, 21h30, 00h20; Tudo
Pela Justiça M12. 13h50, 20h40,
23h40; 1917 12h40, 15h30, 18h15, 21h,
23h50; Bombshell - O Escndalo M12. 13h10,
15h50, 18h35, 21h10, 00h10; Mosley e a
Cidade Secreta M6. 13h30, 15h55, 18h25 (V.
P./2D); O Filme do Bruno Aleixo M14. 13h40,
16h20, 21h55, 00h15; J’accuse - O Oficial e o
Espião M12. 12h30, 15h35, 18h30, 21h40,
24h; Um Casamento a Mais M14. 13h50,
16h40, 19h15; Jojo Rabbit M12. 13h20,
16h10, 18h45, 21h20,
00h30; Mulherzinhas M12. 12h20, 15h20,
18h20, 21h15, 00h15; Cidade Sob
Ameaça M14. 21h50, 00h05; 1917 Sala 4DX
- 14h, 16h30, 19h10, 21h45, 00h15
Amadora
CinemaCity Alegro Alfragide
C.C. Alegro Alfragide. T. 214221030
Frozen II - O Reino do Gelo M6. 13h30,
15h35 (V.P./2D); Knives Out: Todos São
Suspeitos M12. 21h30; Jumanji: O Nível
Seguinte M12. 13h10, 15h45, 00h15; Star
Wars: Episódio IX - A Ascensão de
Skywalker M12. 13h, 15h50, 18h40,
21h30; Armados em Espiões M6. 19h25 (V.
P./2D); O Caso de Richard Jewell M12.
00h20; The Grudge: Maldição M16.
00h25; As Aventuras do Dr. Dolittle M6.
Em estreia
lazer@publico.pt
Calafrio
De Floria Sigismondi. Com
Mackenzie Davis, Finn
Wolfhard, Brooklynn Prince,
Mark Huberman. EUA. 2019.
m. Drama, Terror. M14.
Kate é contratada como
preceptora de Flora e Miles,
sobrinhos órfãos de um
homem abastado. Apesar de
todo o seu empenho em criar
laços com as crianças, Kate
sente que algo de estranho se
passa... Até perceber que a
casa é assombrada.
J’accuse - O Oficial e o
Espião
De Roman Polanski. Com
Jean Dujardin, Louis Garrel,
Emmanuelle Seigner. ITA/
FRA. 2019. 132m. Drama,
Thriller, Histórico. M12.
Paris, 1894. Alfred Dreyfus,
oÆcial francês de origem judia,
é acusado de espionagem e
condenado a prisão perpétua
na Ilha do Diabo (Guiana
Francesa). Intrigado com a
forma como o processo
decorreu, o coronel Georges
Picquart decide investigar o
caso, descobrindo que, tal
como suspeitava, os
documentos incriminatórios
tinham sido falsiÆcados.
Jojo Rabbit
De Taika Waititi. Com Roman
Griffin Davis, Thomasin
McKenzie, Scarlett
Mulherzinhas
Johansson, Taika Waititi,
Sam Rockwell. EUA/Nova
Zelândia/República Checa.
2019. 108m. Guerra,
Comédia Dramática. M12.
A acção decorre na Alemanha,
durante Segunda Grande
Guerra. Jojo, de dez anos, é
um fervoroso adepto do
nazismo. Tendo Adolf Hitler
como ídolo e amigo
imaginário, mal pode esperar
para se tornar membro da
Juventude Hitleriana. Mas, um
dia, conhece uma rapariga
judia que a mãe mantém
escondida no sótão de sua
casa.
Mulherzinhas
De Greta Gerwig. Com
Saoirse Ronan, Emma
Watson, Timothée Chalamet,
Florence Pugh, Eliza
Scanlen, Laura Dern, James
Norton, Meryl Streep, Louis
Garrel, Chris Cooper. EUA.
2019. 134m. Drama,
Romance. M12.
As “Mulherzinhas“ desta
história são Jo, Meg, Beth e
Amy. A mãe, Marmee, Æca
com a responsabilidade de as
educar quando o marido parte
para combater na Guerra Civil
Americana. Juntamente com a
tia March, vai acompanhá-las
na sua entrada para a vida
adulta, numa das épocas mais
complexas da história dos
Estados Unidos da América.
15h20, 17h30, 00h30 (V.P./2D), 13h20,
19h40 (V.O./2D); Bad Boys Para
Sempre M14. 13h20, 15h55, 18h50, 21h25,
21h40, 24h; Tudo Pela Justiça M12. 21h,
23h55 ; 1917 13h30, 16h, 17h50, 18h30, 19h,
21h10, 21h55, 23h50, 00h25; Bombshell - O
Escndalo M12. 13h20, 15h30, 17h40, 19h50,
22h; Mosley e a Cidade Secreta M6. 13h10,
15h15, 17h20 (V.P./2D); Jojo Rabbit M12.
13h15, 15h25, 17h35, 19h45, 21h50,
00h10; Mulherzinhas M12. 13h25, 16h10,
19h05, 21h35, 00h20
UCI Ubbo
C.C. da Amadora, Estrada Nacional 249/1,
Venteira.
Calafrio M14. 14h15, 16h50, 19h20,
21h55; Frozen II - O Reino do Gelo M6.
13h40, 16h05 (V.P./2D); Jumanji: O Nível
Seguinte M12. 19h10, 21h40; Armados em
Espiões M6. 13h50, 16h20 (V.P./2D); As
Aventuras do Dr. Dolittle M6. 14h, 16h25 (V.
P./2D), 18h55, 21h15 (V.O./2D); Bad Boys Para
Sempre M14. 13h40, 16h20, 19h05,
21h45; Tudo Pela Justiça M12. 18h35,
21h25; 1917 13h30, 16h25, 18h55,
21h30; Bombshell - O Escndalo M12. 14h,
16h40, 19h10, 21h40; Mosley e a Cidade
Secreta M6. 14h10, 16h35 (V.P./2D); O Filme
do Bruno Aleixo M14. 13h45, 16h15, 19h10,
21h50; Jojo Rabbit M12. 13h50, 16h35,
19h05, 21h35; Mulherzinhas M12. 13h30,
16h15, 19h, 21h50; Cidade Sob
Ameaça M14. 19h05, 21h20
Cascais
O Cinema da Villa - Cascais
Avenida Dom Pedro I, Lote 1/2 (CascaisVilla
Shopping Center). T. 215887311
Parasitas M14. 13h20, 16h, 18h40,
21h20; 1917 14h15, 16h40, 19h05,
21h30; Bombshell - O Escndalo M12. 14h45,
17h, 19h15, 21h30; J’accuse - O Oficial e o
Espião M12. 13h20, 16h, 18h40,
21h20; Mulherzinhas M12. 13h20, 16h,
18h40, 21h20
Carcavelos
Atlntida-Cine
R. Dr. Manuel Arriaga, Centro Comercial
de Carcavelos. T. 214565653
1917 15h30, 21h30; Mulherzinhas M12.
15h30, 21h30
Oeiras
Cinemas Nos Oeiras Parque
C. C. Oeirashopping. T. 16996
Bad Boys Para Sempre M14. 13h, 15h40,
18h40, 21h30, 00h25; 1917 13h10, 15h50,
18h30, 21h10, 24h; Bombshell - O
Escndalo M12. 20h50, 23h30; Mosley e a
Cidade Secreta M6. 13h, 15h30, 17h50 (V.
P./2D); J’accuse - O Oficial e o Espião M12.
12h30, 15h10, 18h, 21h, 23h50; Jojo
Rabbit M12. 13h20, 16h, 18h45, 21h40,
00h10; Mulherzinhas M12. 12h40, 15h25,
18h20, 21h20, 00h20
Faro
Cinemas Nos Fórum Algarve
C. C. Fórum Algarve. T. 289887212
Parasitas M14. 18h40 ; Bad Boys Para
Sempre M14. 13h05, 15h50, 18h30, 21h20,
00h05 ; 1917 12h55, 15h40, 18h50, 21h30,
00h10 ; Bombshell - O Escndalo M12.
21h40, 00h15; Mosley e a Cidade
Secreta M6. 13h15, 16h (V.P./2D); J’accuse -
O Oficial e o Espião M12. 12h30, 15h20,
18h10, 21h, 23h5; Mulherzinhas M12. 12h40,
15h30, 18h20, 21h10, 24h
Albufeira
Cineplace - AlgarveShopping
Estrada Nacional 125 - Vale Verde.
Calafrio M14. 15h50, 17h50, 19h50,
21h50; Frozen II - O Reino do Gelo M6. 15h

(V.P./2D); Jumanji: O Nível Seguinte M12.
18h50, 21h20; Armados em Espiões M6.
16h40 (V.P./2D); As Aventuras do Dr.
Dolittle M6. 16h20 (V.P./2D), 18h50(V.
O./2D); Bad Boys Para Sempre M14. 16h30,
19h, 21h30; Tudo Pela Justiça M12.
21h10; 1917 16h30, 19h, 21h30; Bombshell -
O Escndalo M12. 17h10, 19h25,
21h40; Mosley e a Cidade Secreta M6.
15h20, 17h30, 19h40 (V.P./2D); Jojo
Rabbit M12. 17h, 19h20,
21h40; Mulherzinhas M12. 15h40, 18h30,
21h20; Cidade Sob Ameaça M14. 21h50
Portimão
Algarcine - Cinemas de Portimão
Av. Miguel Bombarda. T. 282411888
1917 14h30, 16h45, 19h, 21h30; Bombshell -
O Escndalo M12. 14h30, 19h; J’accuse - O
Oficial e o Espião M12. 16h30, 21h30
TEATRO
Lisboa
A Barraca
Largo de Santos, 2. T. 213965360
A Torre de Babel Comp.: A Barraca. Enc.
Hélder Mateus da Costa. Com Maria do Céu
Guerra, Patricia Frazão, Rita Soares, Sónia
Barradas, Teresa Mello Sampayo, Adérito
Lopes, João Maria Pinto, Ruben Garcia,
Samuel Moura, Sérgio Moras. A partir de
16/1. 5ª a Sáb às 21h30. Dom às 17h. M/12.
Duração: 2h.
Chapitô
R. Costa do Castelo, 1/7. T. 218855550
Napoleão ou o Complexo de Épico Comp.:
Companhia do Chapitô. Enc. Cláudia Nóvoa
e José C. Garcia. Com Jorge Cruz, Susana
Nunes e Tiago Viegas. De 30/1 a 15/3. 5ª a
Dom às 22h.
Teatro da Politécnica
Rua da Escola Politécnica, 56. T. 961960281
A Máquina Hamlet Comp.: Artistas Unidos.
Enc. Jorge Silva Melo. Com Américo Silva,
André Loubet, Hugo Tourita, Inês Pereira,
João Estima, João Madeira, João Pedro
Mamede e José Vargas. De 15/1 a 22/2. 3ª e
4ª às 19h. 5ª e 6ª às 21h. Sáb às 16h e 21h.
Teatro do Bairro
Rua Luz Soriano, 63 (Bairro Alto). T.
213473358
Hamlet Enc. Luís Moreira. De 8/1 a 2/2. 4ª a
Sáb às 21h30. Dom às 17h. M/14. Duração:
2h.
Teatro Meridional
Rua do Açúcar, 64 (Poço do Bispo). T.
218689245
Ca_Minho Comp.: Teatro Meridional e
Comédias do Minho. Enc. Miguel Seabra. De
9/1 a 2/2. 4ª a Sáb às 21h30. Dom às 16h.
Teatro Municipal São Luiz
Rua António Maria Cardoso, 38. T.
213257650
Um Plano do Labirinto Comp.: Companhia
João Garcia Miguel. Enc. João Garcia
Miguel. Com Sara Ribeiro, Paulo Mota, João
Lagarto. De 23/1 a 2/2. 5ª a Dom às 19h. M/12.
Duração: 1h20.
Almada
Teatro Municipal Joaquim Benite
Avenida Professor Egas Moniz. T. 212739360
Viagem de Inverno Comp.: Companhia de
Teatro de Almada. Enc. Nuno Carinhas. Com
Ana Cris, Flávia Gusmão, Teresa Gafeira. De
24/1 a 23/2. 5ª a Sáb às 21h. Dom às 17h.
M/14. Duração: 1h45.
Seixal
Fórum Cultural do Seixal
Quinta dos Franceses. T. 210976100
Sonho de Uma Noite de Verão Comp.:
Teatro da Terra. Enc. Maria João Luís. De 23/1
a 1/2. 5ª a Sáb às 21h30. M/6. Duração:
1h50.
EXPOSIÇÕES
Lisboa
Cisterna Galeria de Arte
Rua António Maria Cardoso, 27-29. T.
916295156
Aos Meus Amores 2.0 De Álvaro Rosendo.
De 11/1 a 29/2. 3ª a Sáb das 11h às 19h.
Galeria Filomena Soares
Rua da Manutenção, 80. T. 218624122
Dan’s World De Dan Graham. A partir de
24/3. 3ª a 5ª das 10h às 19h (encerra em
Agosto). Instalação permanente.
Museu de Lisboa - Palácio Pimenta
Campo Grande, 245. T. 217513200
Lisboa 1755. A Cidade à Beira do
Terramoto - Reconstituição virtual da
Lisboa pré-pombalina A partir de 25/11.
3ª a Dom das 10h às 18h (encerra 1 Janeiro,
1 Maio e 24, 25 e 31 Dezembro).
Documental, Outros.
Permanente. Qualquer Coisa de
Intermédio De Catarina Botelho. De 19/1 a
19/4. 3ª a 6ª das 14h30 às 19h. Sáb e Dom
das 10h às 13h e das 14h às 18h (Pavilhão
Branco).
Museu Nacional de História Natural e da
Ciência
Rua da Escola Politécnica, 58/60. T.
213921800
2.ª Exposição de Fotografia em História
Natural e Ciência De 12/1 a 1/4. 3ª a 6ª das
10h às 17h. Sáb e Dom das 11h às 18h.
Fotografia. A Aventura da Terra: um
Planeta em Evolução A partir de 19/11. 3ª
a 6ª das 10h às 17h (última admissão às
16h). Sáb e Dom das 11h às 18h (última
admissão às 17h). Ciência, Outros. Entre
Dinossáurios De 17/1 a 31/12. 3ª a 6ª das
10h às 17h. Sáb e Dom das 11h às 18h.
Ciência. Jóias da Terra - O Minério da
Panasqueira A partir de 1/8. 3ª a 6ª das
10h às 17h. Sáb e Dom das 11h às 18h.
Ciência.
Perve Galeria
Rua das Escolas Gerais, 17/19/23. T.
218822607
Figueiredo Sobral - Retrospectiva de Um
Mestre De Figueiredo Sobral. De 17/12 a
29/2. 3ª a Sáb das 14h às 20h. Gravura,
escultura.
PORTA 14 calçada do correio velho
Calçada do Correio Velho, 10-14. T. 0
1838 Que de Mots Pour si Peu des Choses
De Jorge Queiroz. De 9/1 a 9/2. 2ª a 6ª das
11h às 19h.
Teatro Taborda
Rua da Costa do Castelo, 75. T. 218854190
Garagem 30 Anos: Impressões Digitais
De Teatro da Garagem. De 30/1 a 26/7. 3ª
a Dom das 17h às 23h. Instalação.
Algés
Centro de Arte Manuel de Brito - Palácio
dos Anjos
Alameda Hermano Patrone - Palácio dos
Anjos. T. 214111400
Picasso. Mestre Universal De Pablo
Picasso. De 25/1 a 30/4. 3ª a 6ª das 10h às
18h. Sáb e Dom das 12h às 18h (excepto
feriados). Pintura, cermica, desenho.
Almada
Casa da Cerca - Centro de Arte
Contempornea
Rua da Cerca (Almada Velha). T.
212724950
A Linha em Chamas De Esther Ferrer,
Gego, Helena Almeida, Kazuko Miyamoto,
Lourdes Castro, Mira Schendel e Joana
Escoval. De 16/11 a 16/2. 3ª a Dom das 10h
às 18h. Big Bang Boom! Da Criação do
Universo à Origem da Vida De Margarida
Botelho. De 15/12 a 1/3. 3ª a Dom das 10h
às 18h.
Lagos
Centro Cultural de Lagos
R. Lançarote de Freitas, 7. T. 282770450
Azul Branco Verde Negro De Ana
Carvalho. De 25/1 a 18/4. 3ª a Sáb das 10h
às 18h. Pintura, desenho. Spaces in
Between De Kerstin Wagner. De 25/1 a
18/4. 3ª a Sáb das 10h às 18h. Pintura.
Mora
Fluviário de Mora
Parque Ecológico do Gameiro - Apartado
35. T. 266448130
Biodiversidade dos Rios Portugueses A
partir de 22/3. Todos os dias das 10h às
19h (horário de Verão), das 10h às 17h
(horário de Inverno). Ciência, Outros.
Exposição Permanente. Biotério A partir
de 11/9. Todos os dias das 10h às 19h
(Horário de Verão), das 10h às 17h
(Horário de Inverno). Biologia, Outros.
Museu Interactivo do Megalitismo
Rua da Estação. T. 266439070
Luz - Arqueologia nos Novos Caminhos
da Água De 22/9 a 4/2. 3ª a 6ª das 10h às
17h. Sáb, Dom e feriados das 10h às 12h e
das 13h30 às 19h (a partir de Outubro, de
3ª a Dom, das 10h às 17h). Arqueologia.
Pirescoxe
Galeria Municipal do Castelo de
Pirescouxe
Público • Quinta-feira, 30 de Janeiro de 2020 • 41
Urbanização do Castelo de Pirescouxe. T.
219599458
Olhares pela História A partir de 25/1. 3ª a
Sáb das 10h às 12h e das 13h às 18h.
Documental. Exposição permanente.
Redondo
Museu do Barro
Alameda de Santo António. T. 266989216
Museu do Barro - Exposição Permanente
A partir de 14/2. 3ª a Dom das 10h às 13h e
das 14h às 19h (encerra dias 1 Janeiro, Dom
de Páscoa, 1 Maio e 25 Dezembro?).
Objectos. Exposição Permanente.
Setúbal
Parque do Bonfim
Av. Alexandre Herculano / Av. 22 de
Dezembro.
A Alquimia da Cermica De Nikolay
Amzov. A partir de 19/6. Todos os dias.
Cermica.
Vila Nova da Barquinha
Vila Nova da Barquinha
Parque de Escultura Contempornea
Almourol De ngela Ferreira, Alberto
Carneiro, Cristina Ataíde, Carlos Nogueira,
Fernanda Fragateiro, Joana Vasconcelos,
José Pedro Croft, Pedro Cabrita Reis, Rui
Chafes, Zulmiro Carvalho, Xana. A partir
de 6/7. Todos os dias. Escultura.
MÚSICA
Lisboa
Fundação e Museu Calouste Gulbenkian
Avenida de Berna, 45A. T. 217823000
Alexei Volodin e Orquestra Gulbenkian
Maestro Jaime Martín. De 29/1 a 30/1. 4ª
às 19h. 5ª às 21h.
Hot Clube de Portugal
Praça da Alegria, 48. T. 213619740
Omniae Ensemble De 30/1 a 1/2. 5ª a Sáb
às 22h30 e 24h.
Lux Frágil
Av. Infante D. Henrique - Armazém A (Cais
da Pedra a Santa Apolónia). T. 218820890
Aldina Duarte Dia 30/1 às 23h.
Apresentação de “Roubados”. Jeff Mills
Dia 30/1 às 23h45.
Sabotage Club
Rua de São Paulo, 16. T. 213470235
Pista + Algumacena Dia 30/1 às 22h30.
Teatro do Bairro Alto
Rua Tenente Raúl Cascais, 1A. T.
218758000
Contagious Dia 30/1 às 21h30.
Leiria
Leiria
Chico Bernardes Dia 30/1 às 22h (no Atlas
Hostel).
Teatro José Lúcio da Silva
Avenida Heróis de Angola. T. 244834117
Mão Morta Dia 30/1 às 21h30.
Apresentação de “No Fim Era o Frio”.
DANÇA
Lisboa
Culturgest
Rua Arco do Cego - Edifício Sede da CGD.
T. 217905155
Onironauta Coreog. Tnia Carvalho. De
30/1 a 2/2. 5ª e 6ª às 21h. Sáb às 19h. Dom
às 17h. M/6. Duração: 1h.
Rua das Gaivotas 6
Rua das Gaivotas, 6. T. 210962355
2 É Ímpar Coreog. Dally Schwarz e Marcos
Aganju. De 30/1 a 1/2. 5ª a Sáb às 21h30.
M/6. Duração: 40m.
SAIR
FARMÁCIAS
Lisboa/Serviço Permanente
Lemos (Olivais Sul) - Rua Cidade da Beira, 46 - C -
Tel. 218531692 Romano Baptista (Junto à Av. de
Berlim) - Rua Passos Manuel, 6-10 - Tel.
213570593 Rualto Lda. (Camolide - Águas Livres)
- Rua do Alto do Carvalhão, 5 A/B - Tel. 213851721
Cais do Sodré - Terminal Fluvial Cais Sodré, R.
Cintura do Porto de Lisboa - Tel. 213469120
Outras Localidades/Serviço Permanente
Abrantes - Silva Tavares (Alferrarede) Alandroal -
Santiago Maior, Alandroalense Albufeira -
Albufeira Alcácer do Sal - Alcacerense Alcanena
- Correia Pinto Alcobaça - Magalhães Alcochete
- Nunes, Póvoas (Samouco) Alenquer - Varela
Aljustrel - Pereira Almada - Almofariz (Monte da
Caparica) Almeirim - Barreto do Carmo
Almodôvar - Ramos Alpiarça - Leitão Alter do
Chão - Alter, Portugal (Chança) Alvaiázere -
Ferreira da Gama, Castro Machado (Alvorge),
Pacheco Pereira (Cabaços), Anubis (Maçãs D.
Maria) Alvito - Nobre Sobrinho Amadora - Vidal
Reis, Confiança da Venteira (Venteira) Ansião -
Medeiros (Avelar), Rego (Chão de Couce), Pires
(Santiago da Guarda) Arraiolos - Misericórdia
Arronches - Batista, Esperança (Esperança/
Arronches) Arruda dos Vinhos - Da Misericórdia
Avis - Nova de Aviz Azambuja - Nova, Peralta
(Alcoentre), Ferreira Camilo (Manique do
Intendente) Barrancos - Barranquense Batalha -
Ferraz, Silva Fernandes (Golpilheira) Beja -
Silveira Suc. Belmonte - Costa, Central (Caria)
Benavente - Batista Bombarral - Miguel Borba -
Carvalho Cortes Cadaval - Central Caldas da
Rainha - Central Campo Maior - Campo Maior
Cartaxo - Central do Cartaxo Cascais - Alvide
(Alvide), Vilar (Carcavelos), Primavera (Parede)
Castelo Branco - Reis Castelo de Vide -
Freixedas Castro Verde - Alentejana Chamusca -
Joaquim Maria Cabeça Constância - Vila Farma
Constância, Carrasqueira (Montalvo) Coruche -
Higiene Covilhã - Pedroso Cuba - Da
Misericórdia Elvas - Lux Entroncamento -
António Lucas Estremoz - Costa Évora - Avó Faro
- Almeida, Da Penha Ferreira do Alentejo - Singa
Ferreira do Zêzere - Graciosa, Soeiro, Moderna
(Frazoeira/Ferreira do Zezere) Figueiró dos
Vinhos - Campos (Aguda), Vidigal Fronteira - Vaz
(Cabeço de Vide) Fundão - Vitória Gavião -
Mendes (Belver), Gavião Golegã - Salgado
Grândola - Costa Idanha-a-Nova - Andrade
(Idanha A Nova) Lagoa - Vieira Santos
(Estombar), Amparo Lagoa Loulé - Nobre Passos
(Almancil), Chagas, Maria Paula (Quarteira)
Loures - Tojal, Lourenço (Sacavém) Lourinhã -
Quintans (Foz do Sousa), Liberal (Reguengo
Grande) Mação - Catarino Mafra - Medeiros
(Fânzeres), Nogueira (Venda do Pinheiro)
Marinha Grande - Sta. Isabel Marvão - Roque
Pinto Mértola - Pancada Monchique - Higya
Monforte - Jardim Montemor-o-Novo - Freitas
(Lavre/Montemor-O-Novo) Montijo - Higiene
Mora - Canelas Pais (Cabeção), Falcão, Central
(Pavia) Moura - Ferreira da Costa Mourão -
Central Nazaré - Ascenso, Maria Orlanda (Sitio
da Nazaré) Nisa - Ferreira Pinto Óbidos - Vital
(Amoreira/Óbidos), Senhora da Ajuda (Gaeiras),
Oliveira Odivelas - Leitão Ribeiro, Nova (Olival
Basto) Oleiros - Martins Gonçalves (Estreito -
Oleiros), Garcia Guerra, Xavier Gomes
(Orvalho-Oleiros) Olhão - Avenida Ourém -
Leitão Ourique - Nova (Garvão), Ouriquense
Pedrógão Grande - Baeta Rebelo Penamacor -
Melo Peniche - Higiénica Pombal - Vilhena Ponte
de Sor - Sousa Portalegre - Portalegrense Portel
- Fialho Portimão - Central Porto de Mós - Lopes
Proença-a-Nova - Roda, Daniel de Matos
(Sobreira Formosa) Redondo - Xavier da Cunha
Reguengos de Monsaraz - Paulitos Rio Maior -
Central Salvaterra de Magos - Martins Santarém
- Confiança Santiago do Cacém - Jerónimo São
Brás de Alportel - São Brás Sardoal - Passarinho
Serpa - Serpa Jardim Sertã - Farinha (Cernache
do Bonjardim), Confiança Sesimbra - de Santana
(Santana) Setúbal - Normal do Sul, Rodrigues
Ferreira Silves - Ass. Soc. Mutuos João de Deus
Sines - Atlântico, Monteiro Telhada (Porto Covo)
Sintra - Ouressa, Araújo e Sá (Cacém de Cima),
Domus Massamá (Massamá) Sobral Monte
Agraço - Costa Sousel - Mendes Dordio (Cano),
Andrade Tavira - Félix Franco Tomar - Dos Olivais
Torres Novas - Central Torres Vedras - Simões
Vendas Novas - Santos Monteiro Viana do
Alentejo - Nova Vidigueira - Pulido Suc. Vila de
Rei - Silva Domingos Vila Franca de Xira -
Raposo, Silva Carvalho Vila Nova da Barquinha -
Tente (Atalaia), Carvalho (Praia do Ribatejo),
Barquinha Vila Real de Santo António - Carmo
Vila Velha de Rodão - Pinto Vila Viçosa - Duarte
Alvito - Baronia Ansião - Moniz Nogueira Oeiras -
Talaíde (Talaíde) Redondo - Alentejo
42 • Público • Quinta-feira, 30 de Janeiro de 2020
FICAR
CINEMA
Mundo Jurássico: Reino Caído
TVCine Top, 21h30
Quinta aventura da saga baseada
nos livros de Michael Crichton.
Depois de um terrível incidente, a
ilha de Nublar é agora uma zona
abandonada, onde imperam as
implacáveis leis da natureza e os
dinossauros lutam pela
sobrevivência. Até que os cientistas
descobrem que o grande vulcão da
ilha está prestes a entrar em
erupção. Agora, têm pela frente
uma difícil decisão: regressar ao
local e salvar os animais de uma
segunda extinção, ou deixar a
natureza seguir o seu curso. Com
Chris Pratt, Bryce Dallas Howard,
Rafe Spall, Justice Smith e Daniella
Pineda.
Reprisal: Contra-Ataque
Cinemundo, 21h
Jacob é um gerente de banco
atormentado por um violento
assalto que presenciou e que
resultou na morte de um de seus
colegas de trabalho. Percebendo
que as autoridades ainda o vêem
como um dos presumíveis
culpados, decide encontrar o
verdadeiro criminoso e limpar o
seu nome. É então que, quase por
acaso, se junta a James, um vizinho
que em tempos pertenceu às
forças policiais. Mas quando a
mulher e Ælha de Jacob são
raptadas pelo mesmo assaltante,
as coisas Æcam fora de controlo.
Com Bruce Willis, Frank Grillo,
Johnathon Schaech e Olivia Culpo.
Texas Chainsaw: O Massacre
Hollywood, 23h35
Um Ælme de terror — o sétimo da
saga O Massacre do Texas — com
realização de John Luessenhop.
Em 1974, a polícia foi enviada para
a remota quinta de Thomas
Hewitt, ex-empregado num
matadouro em Travis County, no
Texas. O que eles encontraram
chocou e horrorizou os Estados
Unidos. A polícia e o FBI
declararam ter apanhado o
assassino e encerraram
abruptamente o caso. Mas uma das
coisas que não foram divulgadas
na altura é que houve uma
sobrevivente: Heather Miller
(Alexandra Daddario), uma bebé
que foi encontrada e secretamente
entregue para adopção. Até que,
ao ser notiÆcada como herdeira de
uma propriedade no Texas, se
apercebe de que tinha um passado
diferente do que sempre supôs. E a
rapariga vai descobrir, da pior
maneira possível, toda a verdade
sobre o seu passado maldito e por
que todos a quiseram proteger da
verdade.
Televisão
lazer@publico.pt
RTP 1
6.30 Bom Dia Portugal 10.00 Praça da
Alegria 13.00 Jornal da Tarde 14.10
Bem-Vindos a Beirais 15.03 A Nossa
Tarde 17.30 Portugal em Directo 18.53
Factura da Sorte 19.08 O Preço Certo
19.59 Telejornal 21.00 Linha da Frente:
E Deus Criou a Mulher...Ou Talvez Não
21.44 Joker 22.40 5 Para a Meia-Noite
0.41 O Corvo Arrivista 1.47 Faz Faísca
2.41 O Sábio 3.28 Televendas
RTP 2
6.32 Repórter África - 2.ª Edição 7.00
Espaço Zig Zag 10.58 Faça Chuva Faça
Sol 11.30 Viagens de Comboio 12.16 O
Regresso de Lucas 13.03 Os Daltons
13.18 O Amanhecer dos Croods 13.41
O Carlos Escolhe 13.52 Folha de Sala
14.00 Sociedade Civil: Autismo 15.03
A Fé dos Homens 15.36 Biosfera 16.08
A Mulher que Ama as Girafas 16.59
Espaço Zig Zag 21.01 Mighty Mustangs
21.30 Jornal 2 22.04 Folha de Sala
22.11 Gigantes 23.02 A Verdadeira
Guerra dos Tronos 23.58 Cinemax 1.02
Eurodeputados 1.32 Sociedade Civil
2.34 Universidade Aberta 2.54
Euronews 4.58 Aqui Tão Longe
SIC
6.00 Edição da Manhã 9.15 Alô
Portugal 10.15 O Programa da Cristina
13.00 Primeiro Jornal 14.45 Amor
Maior 16.15 Júlia - Emoções Fortes
18.15 Amor À Vida 19.10 Amigos
Improváveis 19.57 Jornal da Noite
21.30 Nazaré 22.40 Terra Brava 23.20
A Dona do Pedaço 0.25 Passadeira
Vermelha 2.00 Amigos Improváveis
2.45 O Carro do Ano 2020 3.00
Mentes Criminosas 3.45 Televendas
TVI
6.00 1ª Hora 7.00 Diário da Manhã
10.14 Você na TV! 13.00 Jornal da Uma
14.45 Belmonte 15.42 Doce Tentação
16.15 A Tarde é Sua 19.13 Ver p’ra crer
19.57 Jornal das 8 21.55 Na Corda
Bamba 23.00 Prisioneira 23.45 Mais
Transferências 0.45 Urgências de
Chicago 1.30 Autores - Gonçalo M.
Tavares 2.30 Mundo ao Contrário 3.00
Louco Amor 3.30 Apanha se Puderes
TVCINE TOP
11.55 Asiáticos Doidos e Ricos 13.55
Parque das Maravilhas (VP) 15.25
Os mais vistos da TV
Terça-feira, 28
Nazaré
% Aud. Share
SIC 15,5 29,5
Terra Brava SIC 13,1 29,7
Jornal da Noite SIC 12,8 25,3
O Preço Certo RTP1 10,8 24,7
Telejornal RTP1 10,0 20,0
FONTE: CAEM
Aquaman 17.45 Correio de Droga
19.40 Ralph Vs Internet (VO) 21.30
Mundo Jurássico: Reino Caído 23.35
Feliz Dia Para Morrer 2 1.15 Deadpool 2
3.15 O Filme Lego 2 (VO) 5.00 The Nun
- A Freira Maldita
FOX MOVIES
10.26 Dragão: A Vida de Bruce Lee
12.26 Decisão Crítica 14.29 Perigo no
Oceano 16.04 Olho por Olho (1981)
17.45 Furacão no Asfalto 19.15 O
Fugitivo 21.15 Primeiro Golpe 22.34
Força Delta 0.33 Força Destruidora
1.57 Cyborg 3.15 Desaparecido em
Combate 2
CANAL HOLLYWOOD
10.50 São Jorge 12.45 Ao Ritmo do Hip
Hop 2 14.20 The Giver - O Dador de
Memórias 15.55 Imperador 17.40
Justiça 19.30 Joy 21.30 Esquecido
23.35 Texas Chainsaw: O Massacre
1.10 Ficheiros Secretos: Quero
Acreditar 2.55 Get Rich or Die Tryin’ -
Vencer ou Morrer
AXN
13.39 Mentes Criminosas 14.27
Transformers - Retaliação 16.56 Nascer
para Morrer 18.45 Investigação
Criminal 20.25 Investigação Criminal
21.15 The Blacklist 22.05 Investigação
Criminal 22.57 Carter 23.49 Red 2 -
Ainda Mais Perigosos 1.47
Transformers: Era da Extinção 4.32
Arma Mortífera
AXN BLACK
14.06 Hancock 15.39 Fargo 17.19 Mr.
Deeds 18.55 Karate Kid (2010) 21.14
Noé 23.31 Em Busca da Felicidade
(2006) 1.30 Underworld: O Despertar
2.56 Godzilla (1998) 5.10 Ghost Rider
AXN WHITE
13.10 O Mentalista 13.55 Sete Vidas
15.55 Erin Brockovich 17.45 O
Mentalista 19.15 A Teoria do Big Bang
21.24 O Peso da Verdade 22.09 O
Grande Ano 23.47 Sahara 1.47 O Peso
da Verdade 3.17 The Catch
FOX
10.02 Hawai Força Especial 11.34
Chicago P.D. 14.33 Investigação
RTP1 13,1
RTP2 1,3
SIC 22,4
TVI
13,6
Cabo
36,6
Criminal: Los Angeles 16.03 Hawai
Força Especial 17.30 C.S.I. Miami 18.58
Investigação Criminal: Los Angeles
20.32 Hawai Força Especial 23.02
Investigação Criminal: Los Angeles
2.55 C.S.I. Miami
FOX LIFE
10.13 Cradle Robber 11.42 Anatomia de
Grey 13.10 9-1-1 13.54 Chicago Med
14.38 Framed by My Fiancé 16.03 The
Wrong Daughter 17.36 I Am Elizabeth
Smart 19.05 Lei & Ordem: Unidade
Especial 20.42 9-1-1 21.28 Chicago
Med 22.20 New Amsterdam 23.10
Febre de Sábado à Noite 1.20 Oscar
Pistorius: Blade Runner Killer 2.49 Lei &
Ordem: Unidade Especial 4.16 9-1-1
4.57 Chicago Med
DISNEY
15.00 A Irmã do Meio 15.48 A Raven
Voltou 16.36 Coop & Cami 17.25
Phineas e Ferb 17.47 Star Contra as
Forças do Mal 18.35 Os Green na
Cidade Grande 19.20 Gravity Falls
20.06 Miraculous - As Aventuras de
Ladybug 20.55 Acampamento
Kikiwaka 21.45 Coop & Cami
DISCOVERY
17.30 A Minha Família Vive no Alasca
19.15 Desmontar a História 21.00
Irmãos Diesel 2.15 Desmontando o
Cosmos 3.00 Já Estavas Avisado! 4.30
Guerra de Propriedades 5.00 Negócio
Fechado 5.25 Fast N’ Loud
HISTÓRIA
17.20 Forjado no Fogo 1.05 A Maldição
do Ouro dos Confederados 2.30
Alienígenas 4.37 A Maldição do Ouro
dos Ouro dos Confederados
ODISSEIA
17.28 América do Norte Vista do Céu:
Cidades 24H 18.20 Resgate na Praia
19.05 Aviões SOS Viral 19.51 Fora de
Controlo 20.41 O Túnel de São Gotardo
21.39 Memphis Belle: Avião de
Combate 22.30 Fora de Controlo
23.28 A Lua: Caminho Para o Universo
0.21 Memphis Belle: Avião de Combate
1.13 Fora de Controlo 2.11 A Lua:
Caminho Para o Universo 3.05 Aviões
SOS Viral 3.51 Resgate na Praia 4.46
The Explorers: Inventário do Planeta
DOCUMENTÁRIOS
Mayday, Desastres Aéreos
National Geographic, 22h10
A verdade dos desastres aéreos
mais lendários. Hoje, em Descida
Gelada, a história do acidente do
voo 5428 da SOL Airlines que, com
destino a Comodora, na costa da
Patagónia, se despenhou num
deserto remoto. Todos a bordo
tiveram morte instantânea.
A Verdadeira Guerra dos Tronos
RTP2, 23h02
Último episódio. Da Guerra dos
Cem Anos ao Renascimento, uma
série documental que narra os
jogos de poder que colocaram em
confronto famílias poderosas,
mostrando como a sede do poder
e as rivalidades desenharam o
mapa da Europa.
INFORMAÇÃO
Linha da Frente: E Deus Criou
a Mulher... Ou talvez não
RTP1, 21h
O peso das religiões e o impacte
das decisões dos homens no
condicionamento do papel das
mulheres até aos dias de hoje. Em
pleno século XXI, o tema da
igualdade de género está longe de
deixar de ser notícia. Para
entendermos como é um assunto
vivo, a reportagem junta duas
mulheres com culturas, religiões e
origens diferentes — uma nascida
num berço islâmico e outra no seio
de uma família católica. Um
trabalho de Mafalda Gameiro.
TALK-SHOW
5 para a Meia-Noite
RTP1, 22h40
Filomena Cautela e Inês Lopes
Gonçalves animam um programa
com uma ecléctica escolha de
convidados: ao conselheiro de
Estado Marques Mendes junta-se
Ágata, um nome incontornável da
música popular portuguesa, e
Favela Lacroix, drag queen
revelação.
INFANTIL
Pai Natal & Co. (V. Port.)
TVCine Edition, 12h25
Durante todo o mês de Dezembro,
o Pai Natal e os seus 92 mil amigos
elfos apressam-se a fabricar
presentes para todas as crianças
do mundo. Este ano, porém, uma
grande tragédia abate-se sobre
eles. A três dias do Natal, todos os
elfos se constipam e Æcam
incapazes de fazer seja o que for...
 Público • Quinta-feira, 30 de Janeiro de 2020 • 43

JOGOS

CRUZADAS 10.872 TEMPO PARA HOJE

HORIZONTAIS: 1 - Entrada. No qual romano de forma oval. Sexta nota
lugar. 2 - Asseado. Vento quente e musical. 4 - Sociedade Portuguesa de
abafadiço que sopra do Sul. Autores (sigla). Tosquiador. 5 - Militar
3 - Símbolo de miliampere. Que tem sem graduação. 6 - Seixo boleado Viana do Bragança
algas. 4 - Eia! (interj.). Senhora de pelas águas (regional). Recanto ou Castelo 8º 11º
alguma coisa. Computador Pessoal. enseada na costa do mar. 7 - Que 12º 15º
Braga
5 - Relatado. Preposição designativa produz som. Existe. 8 - Atreve-se a.
11º 15º Vila Real
de falta. 6 - Codorniz. 7 - Andar de um Extrema alvura (fig.). 9 - Partícula de
edifício. Orçamento do Estado. negação. Sociedade Anónima. Número 9º 13º
13º Porto
8 - Fímbria. Deslocam-se no ar. que é, universalmente, considerado o 12º 14º
9 - Preposição que designa posse. símbolo do equilíbrio cósmico. 10 -
Viseu
Numerário. 10 - Crivo. Entre nós. República Dominicana (domínio de
8º 12º Guarda
Um certo. 11 - O tesouro público. Internet). Parlamento Europeu. Não 2-3m Aveiro
Esposa do filho. continuar. 11 - Auge, clímax. Peça 6º 10º
13º 17º Penhas
metálica, espiralada, helicoidal,
Douradas
dotada de elasticidade.
Coimbra 3º 10º
VERTICAIS: 1 - Soro branco que
escorre do queijo apertado no cincho. Depois do problema 12º 15º
Castelo
Saco de pele para transporte de resolvido encontre o provérbio Branco
líquidos. 2 - Azul, uma das cores nele inscrito (7 palavras). Leiria 10º 13º
básicas da tricromia. Prender. 3 - 12º 16º
Preposição que indica lugar. Escudo
Santarém
Solução do problema anterior: Portalegre
12º 17º
HORIZONTAIS: 1 - Clima. Casto. 2 - Rama. Dilui. 3 - Uvaça. Avena. 4 - Zagaia. 8º 12º
Atol. 5 - Renovado. 6 - Melado. OS. 7 - Mg. Tato. Suã. 8 - Aula. Arauto. 9 - Ria. Lisboa
Aradar. 10 - Raiar. Ridor. 11 - Aragem. Rosa. 13º 17º
VERTICAIS: 1 - Cruz. Amarra. 2 - Lavar. Guiar. 3 - Imagem. Laia. 4 - Maçaneta.
Ag. 5 - Aiola. Are. 6 - Avatar. 7 - CIA. Adorar. 8 - Alvado. Adir. 9 - Sueto. Suado. Setúbal
10 - Tino. OUTROS. 11 - Alusão. Ra. 11º 18º Évora
TÍTULO DA OBRA: Os Outros. 8º 16º
AMANHÃ

15º Beja
Sines
BRIDGE SUDOKU 13º 17º
8º 17º

Dador: Norte guida destrunfou, bateu mais alguns Problema 2,5-3-5

Vul: NS trunfos como que para “brincar um bo-
cadinho” e, por fim, bateu o Rei de paus.
9518 Sagres
Pode-se imaginar a cara com que ficou, Dificuldade: 12º 18º
Faro
NORTE 11º 18º
Ƅ 10984 quando Oeste não assistiu… Fácil
“Que azar, parceiro, os paus estavam 16º
Ɔ AJ9
4-0!” 1-2m
ƇA
ƅ A10642 Até hoje não se conhece o paradeiro do
jogador que estava em Norte…
Açores
Corvo
Afinal de contas, tudo que havia a fazer
Graciosa
era: baldar um pau sobre o Ás de ouros! Terceira
OESTE ESTE Solução do Flores
Depois de tirar duas voltas de trunfo S. Jorge 17º 19º
Ƅ 72 Ƅ- problema 9516 16º 19º
joga os paus e, se de facto se constatar
Ɔ K7642 Ɔ Q105 15º
a distribuição 4-0, corta a quarta volta 17º Pico
Ƈ KQJ1074 Ƈ 986532
do naipe na mão, volta ao morto e balda
ƅ- ƅ J987 Faial
2-2,5m
a copa na quinta carta de paus do mor-
to. 17º 19º
2-2,5m S. Miguel
Era tão simples…
SUL 17º 19º
Ƅ AKQJ653 Ponta
Ɔ 83 17º Delgada
Considere o seguinte leilão:
Ƈ- 1,5-2m
ƅ KQ53
Oeste Norte Este Sul
Madeira Sta Maria

?
Porto Santo
Problema
13º 19º
Oeste Norte Este Sul
Qual a sua abertura? 9519 19º
1ƅ passo 2Ƅ1
ƄQ109 ƆAQ105 ƇA9 ƅQ1086 Dificuldade:
2ST2 3Ƅ 5 Ƈ3 passo4 Muito difícil Funchal
passo 5Ɔ5 passo 7Ƅ 1-1,5m
Resposta: Abra num pau. Embora tenha 1-1,5m 15º 21º
Todos passam 19º
na mão excelentes cartas intermédias,
as três Damas podem não funcionar. No
Leilão: Qualquer forma de bridge. 1. Mão for- Sol Lua Crescente
processo de avaliação de pontos de
te com um naipe de espadas independente. Nascente 7h45
honra (4321) os ases e os reis são avalia-
2. Bicolor ouros-copas. 3. Excelente barra- Poente 17h55
dos por baixo, ao contrário das damas e Solução do 2 Fev. 01h42
gem. 4. Forcing. 5.Controlo a copas
dos valetes que estão sobrevalorizados. problema 9517
Tendo dois ases e dois reis, considere
Carteio: Saída: KƇ. Qual o seu plano de
sempre abrir num trunfo, mas não com Marés
jogo?
damas ou valetes.
Solução: Tape as cartas de Este-Oeste e Leixões Cascais Faro
tente ganhar o grande cheleme. Tenha
cuidado, o leilão dos adversários deixa Preia-mar 06h02 3,1 05h38 3,1 05h42 3,0
adivinhar que existem distribuições lou- 18h23 2,8 18h00 2,9 18h00 2,8
cas!
Numa mesa de partida livre, o declaran- Baixa-mar 12h14 1,0 11h48 1,1 11h37 1,0
te não perdeu tempo e baldou logo a 00h24* 1,1 23h57 1,3 23h45 1,1
sua copa perdente, provocando assim João Fanha/Pedro Morbey
uma diferença de 2310 pontos! De se- (bridgepublico@gmail.com) © Alastair Chisholm 2008 and www.indigopuzzles.com Fonte: www.AccuWeather.com *de amanhã
44 • Público • Quinta-feira, 30 de Janeiro de 2020

DESPORTO
Como será a vida do Sporting sem
Bruno Fernandes? Mais difícil
Foi contratado por Bruno de Carvalho,
resgatado por Sousa Cintra e vendido
por Frederico Varandas. Deixa Alvalade
após duas épocas e meia, 63 golos,
52 assistências e 55 milhões de euros
Futebol
Marco Vaza
Quando chegou ao Sporting no
Verão de 2017, Bruno Fernandes
apresentou-se com um objectivo
que parecia ambicioso, mas que o
tempo provaria ser modesto. “Que-
ro ultrapassar o número máximo de
golos que já atingi numa época.”
Tinha marcado cinco golos na época
anterior pela Sampdória, a quem os
“leões” tinham pago 8,5 milhões
pelo promissor mas ainda relativa-
mente desconhecido médio inter-
nacional português nas selecções
jovens — esse recorde de cinco golos
caiu em pouco mais de um mês de
Sporting. Duas épocas e meia depois
dessa declaração de intenções, Bru-
no Fernandes será jogador do Man-
chester United, que por ele pagou
no imediato 55 milhões, podendo
este valor crescer até aos 80 milhões
dependendo da concretização de
vários objectivos individuais e colec-
tivos, alguns deles mais fáceis de
concretizar do que outros.
Era um negócio anunciado há
vários meses que foi sendo dado ora
como fechado, ora como abortado,
mas que se concretizou no antepe-
núltimo dia do mercado de Inverno,
uma inevitabilidade feita em partes
iguais da vontade do jogador em ir
para a Premier League e as necessi-
gueses e do campeonato português
— os 126 milhões que o Atlético
Madrid pagou por João Félix lideram
ambas as listas.
O Sporting Æcará com cerca de 33
milhões em caixa dos 55 milhões
que o United pagou — o restante será
para compromissos bancários (10,77
milhões), mecanismo de solidarie-
dade (os “leões” pagam metade dos
2,75 milhões devidos a Boavista, Pas-
teleira, Novara e Udinese), percen-
tagem a pagar à Sampdória (4,6
milhões) e comissões a intermediá-
rios (5,5 milhões) — mas irá perder o
seu melhor jogador das últimas épo-
cas. Nas duas temporadas e meia,
Bruno Fernandes marcou 63 golos e
fez 52 assistências, sempre com uma
inÇuência crescente nos “leões” — só
nesta época, entre golos e assistên-
cias, esteve em 29 dos 48 marcados
pelo Sporting. Mas o seu estatuto vai
para lá dos números. Foi Æcando
enquanto outros iam partindo, sem-
pre com as costas largas para supor-
tar uma equipa em crise de resulta-
dos, capitão e líder num clube em
permanente turbulência.
Um clube, três presidentes
“As palavras são poucas para aquilo
que passei aqui. Foram momentos
muito importantes que marcaram a
minha carreira. Não é nada fácil. Pas-
sei por coisas boas, outras negativas.
Aquilo que vou guardar são as coisas
Benfica empresta Fejsa e Nuno Santos

dades urgentes de tesouraria por
parte do Sporting. Bruno Fernandes
será o sexto jogador português da
história do Manchester United,
depois de Cristiano Ronaldo, Nani,
Bebé, Joel Pereira e Diogo Dalot, e o
quarto que faz rota Alvalade-Old
Traèord (CR7, Nani e Marcos Rojo
foram os anteriores).
É, para já, a maior transferência
do futebol mundial nesta janela de
transferências, para além de ser a
maior transferência da história do
Sporting (ultrapassa os 40 milhões
de João Mário para o Inter em 2016)
e entrar para o top das maiores
transferências de jogadores portu-
positivas, quero que as pessoas se
lembrem de mim pelo positivo e irei
lembrar-me sempre do Sporting pelo
positivo”, disse o médio de 25 anos
à televisão do clube. Visivelmente
emocionado e com lágrimas nos
olhos, Bruno Fernandes disse que foi
sempre bem recebido no Sporting.
“Não sou ‘leão’ desde o berço, mas
serei a partir de agora”, referiu ainda
Bruno Fernandes, que prometeu “a
seu tempo” uma despedida para os
sportinguistas saberem o que lhe ia
“no coração”.
Bruno Fernandes esteve duas épo-
cas e meia em Alvalade e conheceu
três presidentes: Bruno de Carvalho,
A
pouco mais de 48 horas do
fecho da janela de
transferências de Janeiro,
vários clubes aproveitam
para fazer os últimos ajustes nos
seus plantéis. Sem a pompa do
negócio de Bruno Fernandes,
outras pequenas transferências
animaram o dia de ontem.
Fejsa realizou exames
médicos em Espanha e ao final
do dia foi oficializado o
empréstimo do médio sérvio
pelo Benfica ao Alavés.
Igualmente cedido pelos
“encarnados” foi Nuno Santos: o
jovem, de 20 anos, vai jogar até
ao final da época no Moreirense.
Com várias mudanças em
perspectiva está o Sp. Braga. Os
vencedores da Taça da Liga
confirmaram as saídas do
avançado egípcio Hassan
(Olympiacos) e do defesa
brasileiro Pablo Santos (Rubin
Kazan), ambos por empréstimo.
Quem continua a reforçar-se é o
Famalicão. Desta vez, os
minhotos anunciaram a chegada
de Ryan Teague, médio de 18
anos que alinhava no Sydney FC,
clube da primeira divisão da
Austrália.
Ainda em Portugal, o
avançado Denilson trocou o
Tondela pelo Paços de Ferreira,
enquanto o Boavista transferiu
Rafael Costa para o Damak FC,
clube saudita.
No mercado internacional,
destaque para a chegada de um
reforço importante para José
Mourinho: o extremo Steven
Bergwijn, de 22 anos, trocou o
PSV pelo Tottenham.

Bruno
Fernandes foi
o jogador mais
influente do
Sporting nas
últimas duas
épocas, tendo
sido escolhido
para capitão
de equipa
que o contratou em 2017; Sousa Cin-
tra, que o resgatou em Julho de 2018
do grupo dos “rescisores” após o
ataque à Academia de Alcochete;
Frederico Varandas, que o vendeu
ao Manchester United. Conheceu
ainda mais treinadores, de Jorge
Jesus, que chamou a si o mérito da
contratação — “Era um jogador de
qualidade e pedi para o contratar”
—, a Jorge Silas, que chegou a descre-
vê-lo como alguém que vale por três
— “Para encontrarmos um substituto
para o Bruno, precisamos de três
jogadores: um que marque golos
como ele, um que organize como
ele, um que defenda como ele.”
Essa é agora a grande questão no
Sporting: quem (ou quais) vai (vão)
fazer de Bruno Fernandes? Será difí-
ANTONIO COTRIM/LUSA
cil uma solução interna para funcio-
nar no imediato. Talvez Luciano
Vietto possa ocupar o lugar de Bru-
no quando recuperar da lesão (ain-
da nos tempos de Marcel Keizer, o
argentino parecia ter sido contrata-
do para cobrir saída de Bruno no
Verão passado), talvez Wendel pos-
sa assumir esse papel, mas nenhum
deles consegue reunir todas as
características do agora ex-capitão,
ou Francisco Geraldes, cujo Æm do
empréstimo ao AEK e regresso a
Alvalade foi anunciado no mesmo
dia da venda de Bruno. O Sporting
também poderá ir ao mercado rein-
vestir parte do dinheiro que ganhou
num jogador de características
semelhantes, mas, com tão pouco
tempo para manobrar nesta janela
de transferências, diÆcilmente esse
negócio acontecerá antes do próxi-
mo Verão.
Pode também já ter identiÆcado
na sua formação algum jogador com
traços de Bruno, mas algo parece
mais que certo. Não havendo
nenhum Bruno Fernandes 2.0 na
calha, a resposta terá de ser colecti-
va, e o Sporting não tem sido pro-
priamente um modelo de estabilida-
de, mesmo que Silas, o terceiro trei-
nador da época, tenha feito alguns
avanços nesse sentido com um plan-
tel pouco abundante em termos de
opções. Só que, sem Bruno Fernan-
des a partir de agora, o Sporting tem
ainda menos argumentos para lutar
pelo que ainda lhe resta esta época:
tentar o segundo lugar no campeo-
nato (tem 16 jornadas para recuperar
12 pontos) e ir o mais longe possível
na Liga Europa. A outra hipótese é:
minimizar os estragos até ao Ænal da
época e começar outra vez do zero
em 2020-21.
De jacto rumo a Manchester
A meio da tarde, Bruno Fernandes
seguiu de jacto particular rumo a
Manchester, acompanhado da famí-
lia e dos agentes, deixando para trás
um clube em crise com destino a
outro clube que não estará muito
melhor (mas que tem mais dinhei-
ro). Old Traèord, conhecido como
o Teatro dos Sonhos, será a sua nova
casa, mas os “red devils” estão longe
de ser uma equipa de sonho. Desde
que Alex Ferguson se reformou com
um título de campeão em 2013, o
United tem perdido terreno para a
concorrência, sendo o seu melhor
resultado na Premier League um
segundo lugar em 2018 com José
Mourinho.
Na presente temporada, o United
segue em quinto lugar, a 36 pontos
do líder Liverpool, para além de ter
perdido, há muito, o estatuto de
melhor equipa de Manchester para
o City. Ole Gunnar Solskjaer é um
treinador contestado, tal como Ed
Woodward tem sido no seu papel de
vice-presidente dos “red devils”, ao
ponto de a sua casa ter sido vanda-
lizada por adeptos do próprio clube,
descontentes com a política despor-
tiva seguida. Tal como em Alvalade,
também em Old Traèord Bruno Fer-
nandes terá a oportunidade de ser
o salvador.
mvaza@publico.pt
Público • Quinta-feira, 30 de Janeiro de 2020 • 45
Espero que o
andes
Bruno Fernandes
traga muito
a
a esta equipa
Ole Gunnar Solskjaerr
Treinador do Manchester
ster United
Em que é que os “leões”
gastam o dinheiro
das grandes vendas?
Diogo Cardoso Oliveira
Vender bem, gastar com cabeça. Tem
sido esta a premissa aplicada pelo
Sporting no binómio vendas-compras
nos mercados de transferências. Não
fazendo frequentemente vendas aci-
ma dos 40 milhões de euros, como é
a de Bruno Fernandes, conÆrmada
ontem, os “leões” têm feito, na última
década, alguns negócios chorudos.
Olhando para as transferências aci-
ma dos dez milhões de euros há um
dado evidente: geralmente, o dinhei-
ro recebido não é investido em “tru-
tas”. O clube “leonino” tem optado,
por outro lado, por aplicar o dinheiro
das grandes vendas em vários joga-
dores, mais “baratos”, em vez de
gastar em menos jogadores, mas mais
caros. Isto, claro está, olhando apenas
para o reforço do plantel, pois parte
dos valores embolsados com as trans-
ferências foi utilizado para satisfazer
necessidades de tesouraria.
As vendas de Bruma (13M) e Marcos
Rojo (20M), ainda antes de 2015, e de
Gelson (22,5M), Raphinha (20M) e
Thierry Correia (12M), já em 2019, são
os exemplos mais claros desta política
— entraram, fruto da maquia destes
negócios, jogadores como Héldon,
Shikabala, Jonathan Silva, Slavchev,
Bas Dost
Paulo Oliveira, Fredy Montero, Oriol
Rosell, Naby Sarr, Tanaka, Vietto,
Camacho, Rosier, Eduardo ou Jesé —
todos eles a preços relativamente
acessíveis (Vietto fugirá um pouco
mais, chegando à casa dos sete
milhões de euros).
Caso semelhante, mas com algu-
mas particularidades, é o das vendas
pós-ataque a Alcochete. Após as res-
cisões unilaterais de Gelson Martins,
William Carvalho e Rui Patrício, os
“leões” tiveram de negociar, mais
tarde, os valores a receber pelos joga-
dores. O primeiro a ter valor deÆnido
foi William (20M), que permitiu a
compra de Raphinha, Diaby, Bruno
Gaspar e Gudelj, nenhum deles tendo
sido um investimento volumoso.
Mais tarde, o acordo por Patrício
(18M) permitiu atacar, no mercado de
Inverno, jogadores como Doumbia,
Borja, Ilori, Renan ou Luiz Phellype.
Uma vez mais, manteve-se a premis-
sa: comprar vários jogadores “bara-
tos”, em vez de apostar em “trutas”.
E a própria venda de Bruno Fer-
nandes pode ser vista numa lógica
semelhante, já que os “leões” terão
usado a conÆança nesse negócio para
comprar Sporar em antecipação –
custou “apenas” seis milhões de
euros, o que poderá permitir ao clu-
be ainda ter alguma “folga” Ænancei-
ra para olhar para o próximo merca-
do de Verão.
As excepções a esta estratégia
ocorreram em 16/17 e 17/18. Com as
vendas de João Mário (40M) e Slima-
ni (30,5M), primeiro, e Adrien Silva
(24,5) e Rúben Semedo (14M), depois,
o Sporting foi mais audaz na aborda-
gem ao mercado.
Foi já a pensar nas saídas de João
Mário e Slimani que foram gastos
quase 12 milhões de euros em Bas
Dost e foi também dessa forma que,
no ano seguinte, as vendas de Adrien
e Semedo permitiram “caçar” Bruno
Fernandes e Acuña, cada um por
cerca de 10 milhões de euros. Excep-
ções a uma regra quase sempre
seguida em Alvalade.
diogo.oliveira@publico.pt
 PATROCÍNIO

Portugal...
e agora?
Após uma “década perdida” por causa da estagnação económica
e de dificuldades financeiras que resultaram na ajuda da troika em 2011,
Portugal foi capaz de resistir a um processo de ajustamento e ganhar músculo
para uma recuperação no final da década. A combinação de resiliência social
com estabilidade política revelou uma sociedade mais cosmopolita
e qualificada e uma série de instituições capazes de produzir novas formas
de capital social para o futuro. Entre esse passado penoso e a luz
de optimismo que se abriu, sobra a ideia de que o país está numa fase
de transição entre um passado duro e um futuro mais esperançoso.
Uma série de entrevistas para pensar os desafios do país
a curto prazo. Conversas para reflectir sobre
o Portugal que vem aí
 Público • Quinta-feira, 30 de Janeiro de 2020 • 47

DESPORTO
HUGO DELGADO/LUSA

Liverpool Chegou a vez CLASSIFICAÇÕES

continua de Thiem I LIGA

o passeio no e Zverev Jornada 18

Tondela-V. Setúbal
Famalicão-Santa Clara
0-3
0-1

campeonato na Austrália Belenenses SAD-Portimonense

Paços de Ferreira-Benfica
Desp. Aves-Boavista
2-1
0-2
0-1
V. Guimarães-Rio Ave 1-2
Sporting-Marítimo 1-0
FC Porto-Gil Vicente 2-1
Moreirense-Sp. Braga 1-2

Futebol internacional Ténis J V E D M-S P

David Andrade Pedro Keul 1. Benfica

2. FC Porto
18 17
18 14
0 1 44-6
2 2 37-12
51
44
3. Sporting 18 10 2 6 29-20 32
As jornadas vão passando e o passeio Rafael Nadal e Stan 4. Famalicão 18 9 4 5 31-27 31
do Liverpool na Premier League tam- 5. Sp. Braga 18 9 3 6 29-21 30
Wawrinka foram afastados 6. Rio Ave 18 8 4 6 22-18 28
bém. Os “reds” foram ontem até Lon-
dres cumprir um jogo em atraso da nos quartos-de-final do 7. V. Guimarães 18 6 7 5 26-20 25
8. V. Setúbal 18 6 7 5 13-16 25
18.ª jornada do campeonato e saíram O Sp. Braga falhou muitos golos mas venceu o Moreirense primeiro torneio do Grand 9. Gil Vicente 18 5 7 6 18-19 22
do Estádio Olímpico com a 24.ª vitó- Slam do ano 10. Boavista 18 5 7 6 14-17 22

Sp. Braga está

ria em 25 rondas. Frente ao West 11. Tondela 18 5 5 8 17-24 20
12. Marítimo 18 4 8 6 17-25 20
Ham, que ainda não venceu em 2020 Se para Alexander Zverev, a presença
13. Santa Clara 18 5 5 8 12-20 20
na Premier League, Salah e Oxlade- nas meias-Ænais do Open da Austrália 14. Moreirense 18 4 6 8 22-27 18
Chamberlain fizeram os golos da
equipa de Jurgen Kloop.
Já são 19 pontos de avanço e um
a dois passos é um feito inédito no seu percurso em
torneios do Grand Slam, já Dominic
Thiem registou duas grandes marcas
15. Belenenses SAD
16. Paços de Ferreira
17. Portimonense
18 5
18 4
18 2
3 10 14-32
4 10 11-24
8 8 13-26
18
16
14

impensável rácio de 97,2% de pontos
em disputa conquistados. Após pou-
par titulares no domingo no empate
contra o Shrewsbury, do terceiro
escalão inglês, em jogo da Taça da
Inglaterra, Kloop utilizou as princi-
pais armas e não deu hipóteses ao
West Ham, que ofereceu pouca répli-
ca — nenhum remate à baliza e 28%
de posse de bola na primeira parte.
Na Taça da Liga inglesa houve novo
derby de Manchester onde ninguém
terá Æcado satisfeito: o City por ter
perdido; o United por ter sido elimi-
nado. Ainda sem Bruno Fernandes,
o United conseguiu vencer no Etihad,
por 1-0 (golo de Matic), mas os “red
devils” foram eliminados — tinham
sido derrotados na primeira mão em
Old Traèord, por 3-1. O City, que teve
Cancelo e Bernardo Silva no “onze”,
vai defrontar na Ænal o Aston Villa.
Em Espanha, o Valência esteve qua-
se a passar do 8 para o 80 em quatro
dias. Após derrotar o Barcelona para
o campeonato, os valencianos, com
Thierry Correia a titular, apenas con-
seguiram afastar o Leonesa da Taça
do Rei no desempates por grandes
penalidades. Para o Real Madrid, a
qualiÆcação para os “quartos” foi bem
fácil: goleada por 4-0, em Saragoça.
Na Taça de França, a surpresa che-
gou da cidade de Epinal, onde o clube
local, do quarto escalão francês, eli-
minou o Lille (2-1), que contou com
Tiago Djaló e Xeka no “onze” — Rena-
to Sanches entrou na segunda parte.
Com Mbappé, Neymar e Dí Maria de
folga, o PSG deixou pelo caminho o
Pau FC (2-0), que tinha afastado na
ronda anterior o Bordéus, de Paulo
Sousa. Em Marselha, Villas Boas regres-
sou aos triunfos. Os marselheses vol-
taram a jogar no Vélodrome, onde
derrotaram o Estrasburgo, por 3-1.
dandrade@publico.pt
do pódio da Liga
18. Desp. Aves 18 3 0 15 19-34 9
pessoais: derrotou Rafael Nadal num
Próxima jornada Benfica-Belenenses SAD,
major e está pela primeira vez numa Rio Ave-Famalicão, Portimonense-Tondela, V.
meia-Ænal do um Grand Slam dispu- Setúbal-FC Porto, Santa Clara-Paços de Ferreira,
Marítimo-Desp. Aves, Gil Vicente-Moreirense,
tado em hardcourt. Thiem, duas vezes Sp. Braga-Sporting, Boavista-V. Guimarães
Ænalista em Roland Garros, ou Zverev,
II LIGA
que traiu Pasinato num ligeiro desvio. o sub-23 há mais tempo no top-10, um
Futebol Depois, Trincão serviu Rui Fonte para deles irá estrear-se na Ænal do Open
Jornada 17
Desp. Chaves-Nacional 0-2
Augusto Bernardino o segundo golo dos bracarenses que, australiano. Cova da Piedade-Mafra
Oliveirense-Varzim
1-1
4-0
desta vez, não precisaram de esperar “Para realmente quebrarmos uma Casa Pia-Farense 0-2
Bracarenses somam sétima pelo último fôlego para resolver a barreira, um jogador jovem tem que Ac. Viseu-Penafiel 1-0
questão, como sucedeu na Ænal da ganhar um Grand Slam. Sim, um de Leixões-Académica 1-1
vitória consecutiva, FC Porto B-Sp. Covilhã 4-2
Taça da Liga perante o FC Porto. nós vais estar na Ænal, mas ainda falta Vilafranquense-Feirense 1-1
recuperando o quinto Os locais ainda tentaram recom- muito. Na outra meia-Ænal, estão dois Estoril-Benfica B 1-0
lugar, já com Famalicão por-se, mas só a ineÆcácia de Rui Fon- do Big-3”, lembrou Thiem (5.º),
J V E D M-S P
e Sporting na mira te, Murilo e Wilson Eduardo, e a aten- depois de vencer o número um mun- 1. Farense 18 12 1 5 24-16 37
ção e elasticidade de Pasinato, adia- dial, por 7-6 (7/3), 7-6 (7/4), 4-6 e 7-6 2. Nacional 18 10 6 2 24-12 36
Depois da descarga de adrenalina ram a sentença que um golo do (8/6). O austríaco de 26 anos igualou 3. Mafra 18 8 7 3 29-20 31
provocada pela conquista da Taça da ex-”guerreiro” Rosic, à entrada dos Nadal na intensidade, agressividade, 4. Sp. Covilhã 18 8 4 6 27-21 28
5. Estoril 18 9 1 8 25-20 28
Liga, Rúben Amorim temia uma últimos 20 minutos, e um falhanço energia e determinação e soube mos- 6. Desp. Chaves 18 8 3 7 21-20 27
admissível quebra de rendimento do milimétrico de Fábio Abreu, ao cair trar-se igualmente forte no plano 7. Ac. Viseu 18 7 6 5 17-17 27
Sporting de Braga em Moreira de do pano, ousaram questionar. mental, após falhar a oportunidade 8. Varzim 18 7 6 5 24-25 27
Cónegos, mas tal não sucedeu e os de fechar o encontro mais cedo, 9. Académica 18 7 4 7 27-23 25
10. Leixões 18 6 7 5 20-19 25
bracarenses derrotaram o Moreiren- augusto.bernardino@publico.pt quando serviu, a 5-4, no quarto set. 11. Feirense 18 5 9 4 19-16 24
se por 2-1. Durante a tarde, Zverev (7.º) derro- 11. Penafiel 18 6 6 6 19-16 24
Frente a um opositor que teve tou também um veterano e campeão 13. Oliveirense 18 6 4 8 25-24 22
(como Amorim fez questão de subli- Moreirense 1 do Grand Slam, Stan Wawrinka (15.º). 14. Benfica B 18 5 6 7 23-25 21
Rosic 72’ 15. FC Porto B 18 5 6 7 25-28 21
nhar) tempo de sobra para dedicar-se Ao ceder o set inicial, o alemão de 22
16. Vilafranquense 18 4 6 8 22-29 18
de corpo e alma a um jogo que pode- anos chegou a pensar que este iria ser 17. Cova da Piedade 18 3 3 12 13-32 12
ria determinar a primeira vitória do Sp. Braga 2 o 19.º torneio do Grand Slam sem 18. Casa Pia 18 2 3 13 14-35 9
Trincão 8’, Rui Fonte 10’
técnico Ricardo Soares, o novo “cen- conseguir aceder às meias-Ænais, mas Próxima jornada Académica-Ac. Viseu,
turião” de Braga preparou um “onze” reencontrou o serviço a tempo de Farense-Estoril, Mafra-Desp. Chaves,
Penafiel-Casa Pia, Nacional-Leixões, Varzim-FC
alternativo, a que subtraiu alguns dos Estádio Comendador Joaquim Almeida eliminar o campeão de 2014, por 1-6, Porto B, Feirense-Cova da Piedade, Benfica
mais temíveis “guerreiros”: como Freitas, em Moreira de Cónegos 6-3, 6-4 e 6-2. B-Vilafranquense, Sp. Covilhã-Oliveirense
Paulinho, Ricardo Horta, Galeno e Espectadores 1711 Durante a madrugada em Portugal,
Sequeira... Fransérgio nem sequer realizaram-se as meias-Ænais femini- MELHORES MARCADORES
constava dos planos iniciais. Moreirense Pasinato, João Aurélio, nas: Ashleigh Barty-SoÆa Kenin e I Liga 12 golos Pizzi (Benfica)
Iago, Rosic a16’, Abdu, Filipe Soares
A conÆança inabalável dos “arse- a56’, Mané, Alex Soares (Luiz Simona Halep-Garbiñe Muguruza.
nalistas”, escorada em seis vitórias Henrique, 87’ a90’), Luís Machado Nos dois derradeiros “quartos”,
(Bilel, 64’), Fábio Abreu, Pedro Nuno
consecutivas — cinco sob o comando (Djavan, 87’). Treinador Ricardo Halep (3.ª) venceu a estoniana Anett
do novo “timoneiro” — acabou por Soares Kontaveit (31.ª), com um duplo 6-1,
ser fatal para os “cónegos”, que, em em 53 minutos.
Sp. Braga Matheus, Wallace, Bruno
apenas dez minutos, viram esfumar- Viana, Raúl Silva a51’ (David Carmo, Cm igual determinação, Muguruza
se praticamente todas as probabilida- 68’ a71’), Esgaio, Palhinha, João Novais (32.ª) derrotou Anastasia Pavlyu-
a90+8’, Trincão (Ricardo Horta, 70’),
des de repetirem a proeza de há um Wilson Eduardo a57’, Rui Fonte, Murilo chenkova (30.ª), por 7-5, 6-3, para
ano. Primeiro, Trincão surgiu em (Sequeira, 85’). Treinador Rúben atingir pela primeira vez uma meia-
zona franca, após transição falhada Amorim Ænal do Grand Slam em hardcourts.
pelo Moreirense, para inaugurar o Árbitro Manuel Mota (AF Braga)
marcador, com a conivência de Iago, pkeul@publico.pt
Quinta-feira, 30 de Janeiro de 2020

BARTOON LUÍS AFONSO

O RESPEITINHO NÃO É BONITO

José Miguel Júdice e Isabel dos Santos

FERNANDO VELUDO/NFACTOS
família não ter sido devidamente tiradas que tais, foram apenas uma
paga depois de expropriada” e manifestação de sonsice travestida
recordava que ele tinha classiÆcado de ponderação. Em Portugal, a
Zeinal Bava, Henrique Granadeiro prudência e a defesa da presunção
e Ricardo Salgado como de inocência aumentam
“excelentes proÆssionais em exponencialmente com a
João Miguel Tavares

N
qualquer parte do mundo”. Vistas
a esta distância, tais declarações
o longínquo mês de envelheceram especialmente mal.
Novembro de 2014, lá vão Mas na altura elas já me pareciam
mais de cinco anos, escrevi tão absurdas que não resisti a
neste jornal um artigo escrever uma frase maldosa: “José
intitulado “A nova brigada Miguel Júdice é José Miguel Júdice,
do reumático”, em que só comparável à forma como
criticava três senadores do regime Daniel Proença de Carvalho é
que se atiravam de unhas e dentes Daniel Proença de Carvalho.”
ao Governo de Passos Coelho, A frase era também injusta. José
apesar de oriundos da área do PSD. Miguel Júdice e Proença de
A minha tese (que ainda subscrevo) Carvalho não merecem, apesar de
é a de que os seus protestos tudo, ser postos ao mesmo nível, e
advinham de a crise ter chegado Júdice acusou o toque. Não gostou
aos ricos (o BES e a PT tinham-se da comparação, conversámos
desmoronado) e das diÆculdades pessoalmente sobre isso, e Æquei
que estavam a sentir para convencido de que tinha alguma
inÇuenciar o poder político. “Esta razão no seu desgosto. Contudo,
Æquei também convencido de que
nova brigada do reumático”,
escrevi, tem “uma enorme havia nele alguma vaidade e uma
tendência para confundir os certa tendência para envergar
interesses de Portugal com os seus
próprios interesses e a manutenção
vestes lustrais em ambientes pouco
limpos, como se se achasse
dos seus privilégios.” milagrosamente imune à poeira e
Um dos três senadores era José aos detritos. Aí nós divergimos: não
Miguel Júdice. Nesse texto, há milagres. Não é possível
criticava-o por ter dito que boa classiÆcar Salgado e companhia
parte dos problemas do Grupo como “excelentes proÆssionais” e
Espírito Santo resultavam “de a não pagar por isso. Tal como não é
proximidade entre comentadores e
comentados.
Irritante, por outro lado, porque
aquela postura faz mal ao país.
Júdice detesta a expressão
“advogado de negócios”, mas a
reputação que a expressão ganhou
não é imerecida. Em vez de ensaiar
um equilibrismo impossível,
tentando defender Isabel dos
Santos, ao mesmo tempo que Ængia
desconhecer as origens do seu
dinheiro, teria sido bem mais
interessante ouvir José Miguel
possível ter Isabel dos Santos como Júdice defender corajosamente o
cliente e não pagar um preço direito dos grandes escritórios a
reputacional quando o seu império serem consultores de regimes
desaba de forma estrondosa. Não é cleptocráticos, sejam angolanos,
possível, e ainda bem. chineses ou venezuelanos. Haverá
Não é possível ter Isabel Ouvir José Miguel Júdice falar
sobre Isabel dos Santos no seu
com certeza argumentos para isso
(“o dinheiro não tem cheiro”,
dos Santos como cliente espaço de comentário na SIC diziam os romanos e diz o Æsco),
e não pagar um preço Notícias foi duplamente irritante.
Irritante, por um lado, porque ele
Júdice deve tê-los na ponta da
língua, e evitava-se assim a visão
reputacional quando o seu desmereceu a sua própria deprimente de um homem muito
império desaba de forma inteligência. “Estamos ainda longe esperto a fazer-se passar por muito
de saber tudo”; “era prudente que lerdo.
estrondosa. Não é houvesse mais prudência”; “não
possível, e ainda bem podemos olhar para o passado com Jornalista
os olhos do presente”; e outras jmtavares@outlook.com

Esta informação não dispensa a

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