Documenti di Didattica
Documenti di Professioni
Documenti di Cultura
O título deste artigo é de certa forma, enganoso, pois, falando estritamente, não
existe tal coisa como uma história da tensão. Tensão é uma forma de doença, e as doenças
como tais, estão além do âmbito da história. Não existe, por exemplo, tal coisa como dor de
estômago medieval, nem uma infecção focal especificamente neolítica nem uma neuralgia
caracteristicamente Vitoriana, ou ainda uma epilepsia do “New Deal”. Até onde diz respeito
ao paciente, os sintomas de sua doença são uma experiência inteiramente pessoal – uma
experiência para a qual são totalmente irrelevantes a vida pública das nações, os fatos
registrados nas manchetes ou comentados nas revistas científicas e resenhas literárias. A
política, a cultura, o andamento da civilização, todas as maravilhas da natureza, todos os
triunfos da arte, da ciência e da tecnologia – são coisas que só importam aos sadios, e não
ao doente. Os doentes se importam apenas com suas misérias e dores pessoais, apenas com
o que ocorre dentro das quatro paredes do “quarto da doença”. Para eles, o infinito universo
se reduziu quase a um ponto. Nada resta dele, a não ser seus próprios sofrimentos, suas
próprias mentes atormentadas ou confusas. A doença como uma experiência real é mais ou
menos completamente independente de tempo e espaço. Conseqüentemente, não é possível
uma história da doença como experiência; só pode existir uma história da medicina – em
outras palavras, uma história das teorias sobre a natureza das doenças e das receitas
empregadas, em diferentes épocas, para seu tratamento, juntamente com a história das
formas pelas quais as sociedades organizadas têm reagido aos problemas de doenças dentro
da comunidade.
Embora a tensão, como doença psicossomática, não possua história, ao menos
algumas de suas causas são de domínio público e podem tornar-se objeto de um estudo
histórico. O mesmo se aplica aos procedimentos consagrados por várias sociedades para a
prevenção e alívio da tensão. O assunto é vasto, meu espaço é limitado e minha ignorância
é enciclopédica. Portanto, não pretendo comentar todos os fatores históricos associados à
tensão, mas me limitarei àqueles que são mais maleáveis, e ao mesmo tempo, mais
relevantes aos problemas com que nos defrontamos hoje em dia.
Permitam-me começar com aquilo que não discutirei. Não comentarei, exceto
incidentalmente, as causas históricas da tensão. Isto implicaria a discussão de dois temas
vastos e complexos – a transformação dos padrões culturais e as relações subsistentes entre
uma determinada cultura e os indivíduos que hão crescido dentro dela. Mesmo correndo o
risco de indulgir naqueles Pecados Originais do intelecto, a supersimplificação e a
superabstração, permitam-me resumir todo este tema em uma grande e abrangente
generalização. A tensão, eu diria, surge em pessoas que, por alguma debilidade congênita
ou adquirida, são incapazes de assimilar certas situações angustiantes. Estas situações são
produzidas por um conflito – entre, por um lado os impulsos fundamentais de auto-
1
Este artigo é baseado num discurso feito por ocasião da Conferência sobre Meprobamato e outros agentes
utilizados em distúrbios mentais, na Academia de Ciências de Nova Iorque em 18 de outubro de 1956 e
publicado na revista The Scientific Monthly em julho de 1957.
afirmação e sexo, e por outro lado o impulso igualmente fundamental de gregariedade. O
impulso gregário é canalizado pela sociedade, consagrado pela tradição, e racionalizado em
termos de religião e filosofia; o que acarreta a intromissão de fatores históricos numa
situação, a qual, entre animais, seria simplesmente biológica. O transtorno de tensão parece
ter ocorrido em todas as condições culturais - em culturas de vergonha como em culturas de
culpa, em culturas primitivas não menos que em culturas altamente desenvolvidas – e
mecanismos fundamentalmente similares para aliviar a tensão têm sido desenvolvidos em
todas as sociedades das quais temos algum conhecimento. É com estes mecanismos para o
alívio da tensão que me preocuparei neste artigo.
“Seu Eu Suado”2
Intoxicar-se de rebanho
Soluções Parciais