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UNIDADE TEMÁTICA 2

Exemplo de exegese de unidade poética completa


ênfase na comparação de versões e significado de uma palavra
A posição divina a respeito da morte dos seus fiéis: o problema da interpretação e
tradução do Salmo 116.15.61

TEXTO BASE 2

A POSIÇÃO DIVINA A RESPEITO DA MORTE DOS SEUS FIÉIS

O problema da interpretação e tradução do Salmo 116.15

INTRODUÇÃO
Aqueles que têm trabalhado na área pastoral, aplicando os ensinos bíblicos para
as ocasiões do dia a dia, têm boas possibilidades de se confrontarem com uma
interpretação popular do Salmo 116.15 que mostra Deus como alguém que se agrada da
morte de seus fiéis. Muitas mensagens, por exemplo, em funerais, consolam os
enlutados com esta leitura e interpretação. Isto com base em versões bíblicas bem
conhecidas do povo, que apresentam o texto com, no mínimo, uma palavra ambígua
para traduzir o hebraico yāqār (rq;y;) que é o adjetivo traduzido, normalmente, por

"precioso/a".
O problema é tão claro entre os leitores não acostumados com as técnicas de
exegese e interpretação que a Sociedade Bíblica do Brasil disponibiliza um artigo para
explicar a razão da diferença de tradução deste versículo entre a Nova Tradução na
Linguagem de Hoje e as versões de Ferreira de Almeida publicadas por ela (SBB
Suporte, 2015).
O problema é antigo, tanto é assim que Mc Nair, em uma publicação brasileira
de 1949 já afirmava que os expositores explicavam o significado deste versículo de

61
GUSSO, Antônio Renato. A posição divina a respeito da morte dos seus fiéis: o problema da
interpretação e tradução do Salmo 116.15. In: GUSSO, Antônio Renato; KUNZ, Claiton André.
(organizadores). Nas entrelinhas do texto bíblico: exercícios de leitura e interpretação. Curitiba: Núcleo
de Publicações FABAPAR, 2016. p.9-22.
muitas maneiras, mas não de forma convincente. Diante disso, ele procura apresentar a
interpretação dele mesmo, com base em autoridades no assunto, daquela época (p.307).
Buscando esclarecer a necessidade de uma tradução que não seja dúbia para o
leitor comum, acostumado, muitas vezes a decorar versículos sem levar em conta o
contexto, este texto apresenta algumas possibilidades lexicais para a tradução de yāqār
(rq;y;), algumas das versões diferentes em português, a contextualização do versículo e

uma palavra conclusiva. Quanto às transliterações do hebraico utilizadas no trabalho,


seguem as sugestões da "Gramática Instrumental do Hebraico", publicada por Edições
Vida Nova (Gusso, 2008).

1. ALGUMAS POSSIBILIDADES LEXICAIS


As palavras possuem tantos significados quantos os contextos lhes atribuem. Por
isso, é impossível que um dicionário apresente uma relação completa de todos eles.
Tratando-se de uma língua antiga, no caso o hebraico do Antigo Testamento, onde não
há mais a possibilidade de surgir uma nova palavra, ainda é possível, com muito
esforço, fazer relações dos usos utilizados no conjunto. Contudo, isto não dispensa do
tradutor uma atenção especial ao escolher a palavra na língua receptora que representará
a original. É trabalho difícil e, muitas vezes, enganoso.
Assim, neste ponto, serão vistos alguns dos significados propostos para a
palavra, para que depois possa ser escolhida a melhor dentro do contexto do Salmo 116.
Acir Raymann, componente de um grupo de exegetas muito respeitado no
Brasil, junto com este grupo, apresentou como possibilidades de tradução para yāqār
(rq;y;), os adjetivos "raro, precioso, caro, de valor, nobre" (1989, p.93).

William L. Holladay, de acordo com a tradução brasileira de seu "Léxico


Hebraico e Aramaico do Antigo Testamento", vertido do inglês americano, separou
como sugestões de possibilidades, em termos gerais, para a tradução de yāqār (rq;y); as

seguintes palavras: 1) raro/rara, para a qual citou como referência 1Sm 3.1, que aparece
no texto bíblico com a explicação de que as visões naquele tempo não eram frequentes
(ARA), o que explica a opção por "rara", mas, também 2Sm 12.30, texto que descreve o
tipo de pedras da coroa de determinado rei, do que se interpreta como preciosa; 2) De
grande valor, valioso/a, para o que citou Sl 36.8, que na ARA (Versão de Almeida
Revista e Atualizada) foi traduzida por "delícias", Pv 3.15, na ARA traduzida como
"preciosa", falando da sabedoria descrita como "Mais preciosa é do que pérolas", e,
ainda, Jó 31.26, texto que faz referência ao esplendor da lua; e 3) Nobre, tomando como
base Jeremias 15.19, onde a ARA apresenta um contraste entre "precioso e vil" (2010,
p.201).
Plampin simplificou utilizando apenas uma palavra portuguesa para traduzir
yāqār (rq;y;). Utilizou como base os mesmos textos que Holladay havia usado,62 com a

inclusão de apenas mais um, que foi o de 1Rs 10.2, referência a pedras preciosas. Com
base neles apresentou como possibilidade apenas o termo "precioso" (1997, p.155).
Em especial para este artigo talvez seja os significados que John E. Hartley
apresenta para a palavra yāqār. Como ele escreve para um dicionário teológico, vai
mais longe do que os outros autores citados até aqui. Ele apresenta significados e os
comenta. Em sua explicação a respeito de yāqār (rq;y;), entre vários textos citados e

comentados, ele também cita o próprio Salmo 116.15, dizendo que entre as várias coisas
consideradas preciosas, como a sabedoria, a bondade de Deus, os lábios instruídos, e
outros significados, está a morte dos santos aos olhos de Deus (1998, p.652). Mais
adiante, Hartley, tratando diretamente do valor da vida diz: "No AT a vida é encarada
como tendo grande valor. Davi não quis matar Saul mesmo quando esteve em posição
de superioridade, pois considerou preciosa a vida do rei (1Sm 26.8-11, 21; 2Rs 1.13s.).
Uma mulher adúltera causa enormes danos porque quer se assenhorar daquilo que o
homem tem de mais precioso, a sua vida (Pv 6.26). Deus também protege e livra o seu
povo da opressão porque considera precioso o seu sangue (Sl 72.14)" - (1998, p.653).
Como se percebe, as possibilidades são muitas, mas, no geral, apontam para um
sentido bom, positivo.

2. ALGUMAS VERSÕES DIFERENTES PARA O PORTUGUÊS


Já foram vistas algumas possibilidades de tradução, todas positivas, mas agora
serão apresentadas algumas versões deste texto bíblico para que se verifique como foi
traduzida a palavra yāqār (rq;y;), antes de decidir qual utilizar ou "criar", pois esta

possibilidade não está descartada para representá-la em português. Para fins didáticos as
versões serão divididas em positivas e negativas. Ou seja, versões que podem dar a
entender que Deus se alegra com a morte de seus fiéis e versões que podem dar a
entender que Deus sofre com ela.

62
A versão original de Holladay, em inglês, é de 1988. O trabalho de Plampin é de 1997.
2.1. Versões Positivas (Deus gosta da morte de seus fiéis)
Aqui serão apresentadas algumas versões e, logo abaixo delas, breves comentários a
respeito delas em relação ao significado de yāqār (rq;y); . Neste caso apontando para

algo que dá a entender que Deus gosta da morte dos fieis.

"Preciosa (yāqār - rq;y;) é aos olhos do SENHOR a morte dos seus santos". (ARA)

A versão chamada de Almeida Revista e Atualizada é uma das mais populares


no Brasil. Inclusive, ela é muito utilizada para a leitura pública nos cultos. Assim, a
contribuição dela para a crença popular, quase uma doutrina, a respeito do prazer de
Deus com a morte dos seus fiéis, em grande parte, vem dela, com base neste versículo.
Muitos leitores têm entendido "preciosa" como apontando para algo que Deus gosta,
que lhe dá prazer. Inclusive, assim foi o que entendeu a equipe de editores da Edição
Vida Nova, ao prepararem as notas que foram colocadas na ARA ao produzirem a
conhecida "A Bíblia Vida Nova". A nota de rodapé foi redigida assim: "Para nós, a
morte parece ser uma tragédia; para Deus é mais do que a promoção de um dos Seus
servos para a glória eterna (Fp 1:21)" - (1995). Ainda que os editores não tenham dito
que Deus gosta da morte dos fiéis, a explicação no rodapé parte deste entendimento.
Inclusive, a utilização de Filipenses 1.21 para dar base ao argumento, texto que destaca
que o morrer é lucro, mostra que eles interpretaram o texto do Antigo Testamento à luz
do Novo Testamento, desconsiderando o contexto veterotestamentário do Salmo 116.

"É valiosa (yāqār - rq;y;) aos olhos de Iahweh a morte dos seus fiéis". (BJ)

A Bíblia de Jerusalém (BJ) em português traduziu yāqār (rq;y;) por "valiosa",

mas percebeu a necessidade de esclarecer a tradução e explicou em nota que a morte é


valiosa porque romperia a relação existente entre Iahweh e os fiéis. Ao mesmo tempo,
menciona que as versões que optam pela tradução "preciosa", na verdade, interpretaram
o texto de acordo com o dogma da ressurreição. Ao que parece a própria equipe da BJ
faz esta opção, pois, neste contexto as palavras "valiosa" e "preciosa" não diferem em
muito.
"Preciosa (yāqār - rq;y;) é, a Seus olhos, a morte de Seus devotos". (Gorodovits e

Fridlin, 2006)

A versão produzida por David Gorodovits e Jairo Fridlin, ainda que leve o nome
de Bíblia Hebraica, na verdade é uma tradução do tanak (˚nt)63 para o português, em

sua ordem canônica, realizada por judeus. Em sua página a respeito da bibliografia
consultada pode ser encontrada a versão bíblica de João Ferreira de Almeida da
Imprensa Bíblica Brasileira, de 1979 (Gorodovits e Fridlin, 2006, p.8), a qual também
utilizou como tradução para yāqār (rq;y;) a palavra "preciosa".

"Dolorosa aos olhos de Jeová É a morte dos que lhe são leais." (TNMBS)

A tradução oficial das testemunhas de Jeová, a "Tradução do Novo Mundo da


Bíblia Sagrada", em sua versão on-line, na revisão de 2015, optou por traduzir
yāqār (rq;y;) como "dolorosa". Contudo, resolveu colocar em nota de rodapé que

literalmente o significado dela seria "preciosa". Desta forma, acaba levando o


leitor à confusão. Pois se o literal, o qual está no rodapé, a palavra deve ser
"preciosa", por qual motivo deveria permanecer no texto a tradução dolorosa, a
qual parece negar a afirmação literal? (2015).

2.2. Versões Negativas (Deus não gosta da morte de seus fiéis)


Semelhante ao ponto anterior, aqui serão apresentadas algumas versões e, logo em
seguida, comentários abreviados a respeito delas em relação ao significado de yāqār
(rq;y;). Agora apontando para algo que dá a entender que Deus não gosta da morte dos

seus fieis nem permite que ela ocorra com facilidade.

"É penoso para o Senhor ver morrer os seus fiéis" (Ave Maria)

A Bíblia Sagrada da Editora Ave Maria apresenta numeração dupla para este salmo,
assim como para outros. Portanto, o texto pode ser identificado como Salmo 115.6 ou
Salmo 116.15, seguindo neste segundo caso a numeração utilizada no atual Texto

6363
O tanak (˚nt) contém todos os livros do Antigo Testamento que aparecem como a primeira parte da
Bíblia Protestante, apenas em ordem diferente.
Hebraico. Ela não é uma versão feita diretamente das línguas originais, hebraico, grego
e aramaico, mas de uma tradução francesa feita destas línguas, como bem se destaca em
seu prólogo à tradução, escrita em 1959. Seja como for, seus tradutores entenderam e
expressaram que Deus não gosta da morte dos seus fieis, pelo contrário, a morte destes
lhe é "penosa" (1993).

"A vida (māwet - tw,m;) dos seus seguidores é preciosa (yāqār - rq;y;) aos olhos do

SENHOR". (AS21)

A versão Almeida Século 21 preservou a palavra portuguesa "preciosa" para o


termo hebraico yāqār (rq;y;), mas sentiu a necessidade de traduzir māwet (tw,m;),

normalmente entendido como morte, pela palavra "vida" em português. Assim, fugiu do
problema causado com uma, mas caiu em outra dificuldade, ainda que dê bom sentido
no contexto. Talvez esta troca de "morte" para "vida" tenha sido influenciada por Artur
Weiser, que ao comentar o Salmo 116.15, explicou que o orante oferecia um sacrifício
ao Deus fiel e amoroso, para o qual "a vida de seus fiéis é demais preciosa para ele
abandoná-los" (1994, p.559). Ou, quem sabe, tenham ido buscar em uma fonte ainda
mais distante, como João Calvino, que ao comentar o versículo disse que percebia nele
que as "vidas" dos servos de Deus são preciosas aos seus olhos (2009, p.146).

"É custosa (yāqār - rq;y;) aos olhos de Javé a morte dos seus fiéis". (BP)

Esta versão, conhecida como Bíblia Pastoral, diz em nota que "a menção da
morte indica que o agradecimento foi feito após a cura de uma doença grave". Também
interpreta morte, por vida, dizendo que "a vida de cada pessoa é valiosa para Deus".

"O SENHOR vê com pesar (yāqār) a morte de seus fiéis". (NVI)

"O SENHOR Deus sente pesar (yāqār) quando vê morrerem os que são fiéis a ele".
(NTLH)

A Nova Versão Internacional (NVI), assim como a Nova Tradução na


Linguagem de Hoje (NTLH), deixando de lado a tradução formal e utilizando uma
tradução dinâmica, optaram traduzir yāqār (rq;y;) por "pesar". A Bíblia de estudos da

NTLH, em seu breve comentário a respeito deste versículo, procura dar base para a
tradução diferente das mais antigas da própria Sociedade Bíblica do Brasil. Faz isto
citando Ezequiel 33.11, onde, na mesma versão, está escrito: "Diga-lhes que juro pela
minha vida que eu, o SENHOR Deus, não me alegro com a morte de um pecador. Eu
gostaria que ele parasse de fazer o mal e vivesse. Povo de Israel, pare de fazer o mal.
Por que é que vocês estão querendo morrer?". O comentarista, claramente combatendo a
ideia de que Deus se alegra com a morte do fiel, defende que Deus não se alegra com a
morte do pecador, e muito menos com a morte dos fiéis, pois, para Ele, a vida destes lhe
é preciosa, como também assevera o Salmo 72.14, o qual diz: "Ele os livra da
exploração e da violência; a vida deles é preciosa (yāqār - rq;y;) para ele" (NTLH).

3. INTERPRETAÇÕES DIFERENTES DO TEXTO

No ponto anterior foram vistas algumas versões bíblicas que podem dar margem à
basicamente duas formas de interpretação do texto em foco. Agora, buscando entender o
problema e encontrar as soluções, nesta parte do artigo serão abordadas, também de
forma abreviada, apenas a título de exemplos, interpretações diferentes a respeito, não
apresentadas pelas versões, mas por comentaristas e intérpretes das versões.

3.1. Interpretações que entendem que Deus gosta da morte de seus fiéis

Champlin afirma que este versículo (Sl 116.15) é um dos mais citados de todo o
Livro de Salmos, e que ele é utilizado com muita frequência em funerais. Partindo do
princípio que Deus gosta da morte de seus fiéis, este autor apresenta uma lista de
possíveis significados para a palavra hebraica yāqār (rq;y;), quais sejam: brilhante, clara,

excelente, valiosa e preciosa. Mas levanta uma pergunta e procura responder em quatro
pontos. A pergunta foi em termos de esclarecer, afinal, em que sentido Deus poderia
considerar a morte de seus fiéis como preciosa (2001, p.2425). Para responder em que
sentido a morte pode ser preciosa, disse o seguinte:

O Eterno zela para que seus santos não sejam entregues à


morte quando seus inimigos atacam. Isto é, eles não
sofrerão morte violenta ou prematura. 'Eles não serão
entregues à morte' (Fausset, in loc.) Compare-se este
versículo com Sal. 77.14. A morte deles deve ser valiosa
aos olhos do Eterno, não uma coisa trivial, forçada por
inimigos ou por uma doença absurda que remove a pessoa
antes de sua missão ser completada." (Champlin, 2001,
p.2425)

Se Champlin tivesse parado na afirmação acima os leitores achariam que ele


estava dizendo que, em última análise Deus não gosta da morte dos seus fiéis, ou seus
santos, como ele chama, acompanhando algumas versões. Mas ele foi adiante e
apresentou outros três pontos que apontam para, exatamente, o contrário: Deus gosta da
morte de seus santos. Ele diz assim em um dos pontos: "A morte é valiosa quando coroa
uma vida de propósito e espiritualidade, como o triunfo final. 'Ele fez o que devia ter
feito, sem exceção, e agora descansa de seus labores.' Este tipo de morte é preciosa, e
nela não há remorso algum" (2001, p.2425).
Continuando a ignorar o contexto do próprio salmo e, mesmo, o contexto
histórico e teológico do Antigo Testamento, com base em doutrinas teológicas do Novo
Testamento, em outro de seus pontos Champlin afirma:

Uma morte é valiosa quando completa uma vida


valiosa. Uma morte pode ser vazia quando termina
uma vida vazia e sem propósitos. Claro, Deus é o
Deus da oportunidade, que continua depois do
sepulcro; portanto, uma vida vazia aqui poderá ser,
afinal, anulada com uma vida de valor além do
sepulcro (ver I Ped. 4.6). (2001, p.2425)

E para concluir seu arrazoado tentando explicar como é que a morte é preciosa para
Deus, Champlim ainda diz, em mais um ponto explicativo, quando é que a morte passa
a ser preciosa aos olhos de Deus:

Quando a morte for a porta da vida eterna, então,


obviamente, é preciosa porque introduz a alma às
riquezas da salvação da vida imortal. Note-se aqui
que é a morte dos 'santos' que é preciosa, e isto
implica que a santidade triunfa na vida além da
morte biológica, transformando a pessoa à imagem
divina. Nesta transformação, há participação na
vida e na imagem de Deus (o Pai), através do Filho
(Rom. 8.29; II Cor. 3.18; II Ped. 1.4). (2001,
p.2425)
É claro que se autores bem conhecidos do povo como Champlim vão por estes
caminhos os intérpretes populares mais ainda. O exemplo que segue foi tirado da
internet onde se encontram muitas interpretações parecidas. No texto do Blog "archote -
Luz Diária", está o seguinte:

Parece um contra-senso a morte ser uma bênção, no


entanto é esta a mensagem de Deus - "Preciosa é, à vista
do Senhor, a morte dos Seus santos" (Salmo 116:15) e
"Bem-aventurados (felizes, muito felizes) os mortos que,
desde agora, morrem no Senhor... para que descansem dos
seus trabalhos e as suas obras os sigam" (Apocalipse
14:13).

Mas isto é mesmo assim, porque a morte para o


salvo por Jesus não é a mesma coisa que a morte para o
ímpio em sua incredulidade. As pessoas que morrem
crentes em Jesus mudam desta terra para o Paraíso de
Deus, como o ladrão da cruz (Lucas 23:43), como o
Lázaro da parábola (Lucas 16:22), como Estevão, o
primeiro mártir da fé cristã (Actos 7:58-60). Os crentes
morrem no corpo e são levados pelos anjos para o céu
(Lucas 16:22), enquanto os ímpios morrem no corpo e
acordam nos tormentos do inferno (Lucas 16:22b-24).

Por isto, preciosa é a morte dos santos (salvos) à


vista do Senhor. Deixaram seus tormentos e trabalhos para
irem receber o prémio dos vencedores com Cristo, para
irem ao encontro do seu Senhor e Salvador.64

Como se vê, o autor desconsiderou completamente o contexto do Salmo,


partindo para uma interpretação à luz do Novo Testamento.

Isto que foi dito acima não é novidade. Na verdade, Agostinho já havia feito
algo semelhante ao comparar a morte dos fiéis no texto aqui analisado como sendo uma
possibilidade de imitação da morte de Cristo. Para ele, pregando neste salmo, Jesus
derramou o seu sangue para que os fieis não hesitem em de derramar o seu próprio
sangue pelo Senhor, ainda que em proveito próprio. Assim, deixa o leitor entender que
Deus gosta da morte de seus fiéis, dentro deste contexto de martírio cristão.65 O
problema é que o salmo é de época muito anterior ao cristianismo.

3.2. Interpretações que entendem que Deus não gosta da morte de seus fiéis

64
http://archote.blogs.sapo.pt/322467.html - Texto datada de 05 de setembro de 2009, consultado em
05/09/15, 12h03.
65
AGOSTINHO, Santo. Comentário aos Salmos. São Paulo: Paulus, 1998, p.353-354.
Derek Kidner ao interpretar o texto optou por mostrar que a interpretação melhor aponta
para aquela que mostra que Deus não gosta da morte de seus santos. Contudo, mesmo
entendendo que é assim, também não desprezou completamente a opção de Deus gostar
dela, pois o termo pode ser entendido como 'altamente estimada' ou, ainda, 'custosa'.
Assim, preferiu dizer, com base no v.3, o qual aponta para o livramento da morte, que o
sentido mais provável é o que mostra que a morte dos fiéis é custosa a Deus (1992,
p.425).

Como defende Tate este é um salmo de gratidão, no qual o adorador canta diante da
congregação (vs. 18 e 19), em forma de testemunho, que Iavé ouviu as suas orações e
como o livrou da morte (vs. 3-11). O que faz em uma composição que pode ser dividida
em duas partes (1-9 e 10-19), encerrada por altos brados de louvor pela ação salvadora
de Iavé. Quanto ao v. 15, especificamente, destacando a palavra analisada neste artigo,
ele cita a tradução tradicional inglesa precius (preciosa), mas sente que deve explicá-la,
e assim explica em termos que apontam para o significado de "precioso", mas como
algo que traz preocupação e tristeza para Iavé (1994, p.508).

Alonso Schökel é muito claro ao optar por uma interpretação que mostra Deus
indignado com a morte daqueles que lhe são fiéis. Tanto é assim que ele, antes de
comentar o versículo, ao apresentar o Salmo todo em versão própria, o traduziu da
seguinte maneira: "O Senhor faz pagar cara a morte de seus leais".66 Já no comentário
ele destaca o grande valor da vida humana conforme o que se encontra em outros
salmos e textos do Antigo Testamento. Depois disso levanta uma pergunta hipotética
que estaria sendo feita no texto do Salmo 116.15, algo como: Quanto vale a vida
daqueles que são fiéis a Deus e quanto ele pagaria para salvar a vida deles? E, na
sequência responde: "A taxa de Deus é muito alta se se trata de seus leais, entre os quais
se inclui o orante"67 deste salmo. Para encerrar sua explanação, em um ponto que ele
chama de "transposição cristã", o que também poderia ser chamado de aplicação,
Alonso emite a seguinte avaliação do Salmo 116 como um todo: "Um salmo que trata
da vida que vence a morte, de como Deus estima a vida de seus leais".68

66
ALONSO SCHÖKEL, Luis. Salmos II: salmos 73-150. São Paulo: Paulus, 1998, p.1397.
67
ALONSO SCHÖKEL, Luis. Salmos II: salmos 73-150. São Paulo: Paulus, 1998, p.1403-1404.
68
ALONSO SCHÖKEL, Luis. Salmos II: salmos 73-150. São Paulo: Paulus, 1998, p.1404.
Assim, como se percebe neste ponto, existem traduções e interpretações bem diferentes
deste texto, entre intérpretes conceituados bem como populares. Desta forma, no
próximo item, será analisado o contexto, para que este lance mais alguma luz no texto
em pauta.

4. A CONTEXTUALIZAÇÃO DO VERSÍCULO

O contexto do versículo é o próprio Salmo, a unidade completa. Assim, uma divisão do


texto em partes pode apresentar uma visão contextual geral e ajudar na opção de
tradução. Ela pode ser esboçada assim, por exemplo, em frases retiradas da ARA:
1) "Amo o SENHOR..." (v.1);
2) Os laços da morte me cercaram (v.3);
3) "invoquei o nome do SENHOR..." (v.4);
4) "...ele me salvou..." (v.6);
5) "...o SENHOR tem sido generoso para comigo..." (v.7);
6) "Pois livraste da morte a minha alma..." (v.8);
7) "Que darei ao SENHOR por todos os seus benefícios..." (v.12);
8) Preciosa é...a morte...(v.15);
9) "...quebraste as minhas cadeias..." (v.16);
10) "Oferecer-te-ei sacrifícios..." (v.17);
11) "Cumprirei os meus votos...Aleluia!" (18-19).

Com certeza, nesta rápida visão contextual fica clara a incoerência de se


entender a palavra "preciosa" no v.15 como algo que descreve Deus como alguém que
gosta da morte de seus santos, dentre eles o salmista que foi salvo da morte e, por isso,
canta alegremente comemorando a sua salvação.69

Willmington, apresenta um esboço deste salmo destacando duas partes


principais e algumas subdivisões, como segue:

I. O QUE DEUS FAZ PELO SALMISTA (116.1-11)


A. Ele ouve suas orações (116.1-2, 4-7).

6969
GUSSO, Antônio Renato. Os Livros Poéticos e os de Sabedoria: Introdução fundamental e auxílios
para a interpretação. Curitiba: A. D. Santos Editora, 2012. p.67-68.
B. Ele o salva da morte (116.3, 8-11).

II. O QUE O SALMISTA FAZ POR DEUS (116.12-19)


A. Ele louva o Senhor por salvá-lo (116.13).
B. Ele cumpre suas promessas (116.14-15, 18-19).
C. Ele o serve fielmente (116.12-16).
D. Ele oferece sacrifícios de gratidão e invoca o nome do Senhor (116.17).
(2001, p.282).

Aqui neste esboço também fica claro que o salmista está grato por ter sido salvo.
Inclusive, o v.15, o qual tem causado algum problema na interpretação, está como base
para mostrar que o salmista cumpre suas promessas, isto porque resistiu à crise que o
havia acometido.

CONCLUSÃO
Não se pode dizer que as versões que dão margem para uma interpretação
positiva (que Deus gosta da morte de seus fiéis) estejam completamente erradas na
tradução do termo yāqār. Afinal, no geral, a palavra yāqār tem significado positivo.
Também, mesmo que se utilize uma palavra positiva para a tradução, como "preciosa",
o contexto, apresentando o livramento do fiel, mostra claramente que a morte deve ser
entendida como preciosa a ponto de Deus não deixar que ela ocorra com facilidade. É
simples deduzir: Ora, se Deus gosta da morte do fiel porque razão não o deixou morrer?
A fraqueza mesmo destas traduções, talvez seja não levar em consideração o fato da
prática da leitura de versículos fora de contextos. Isto também deve ser levado em conta
na hora da tradução.
Assim, conclui-se que as versões que apontam para uma forma negativa de Deus
ver a morte de seus fiéis, se encaixa melhor com o significado original do texto. Este
sentido pode ser bem transmitido por traduções dinâmicas, como as da NVI e NTLH,
conforme citadas acima, mas também em traduções formais, desde que se escolha uma
palavra adequada, como fez a Edição Pastoral ao optar pela palavra "custosa" como
tradução de yāqār (rq;y;). Ainda, dentro do contexto, que aponta para o desgosto de

Deus com a morte e não o prazer, fica como sugestão a tradução de yāqār (rq;y); pela
palavra "dolorosa". Então, uma boa possibilidade de tradução formal poderia ser: É
dolorosa (yāqār -rq;y;) aos olhos de Iavé a morte dos seus santos.

REFERÊNCIAS
A Bíblia Vida Nova. Editor responsável: Russell P. Shedd; Tradução em português por
João Ferreira de Almeida. Edição revisada e atualizada no Brasil. São Paulo: Vida
Nova; Brasília: Sociedade Bíblica do Brasil, 1995.

AGOSTINHO, Santo. Comentário aos Salmos. São Paulo: Paulus, 1998.

ALONSO SCHÖKEL, Luis. Salmos II: salmos 73-150. São Paulo: Paulus, 1998.

Bíblia de Estudo NTLH. Barueri, SP: Sociedade Bíblica do Brasil, 2005.

Bíblia on-line. Tradução do novo mundo da Bíblia Sagrada. Revisão de 2015.


http://www.jw.org/pt/publicacoes/biblia/nwt/livros/salmos/116/. Consultado em
11/05/2015, 1h56.

Bíblia Sagrada: A Bíblia de Jerusalém, nova edição, revista. 2ª. impr. São Paulo:
Paulinas, 1985.

Bíblia Sagrada: Almeida Século 21. 2 ed. Revisada e atualizada com o novo acordo
ortográfico. São Paulo: Edições Vida Nova, 2010.

Bíblia Sagrada: Edição Pastoral. São Paulo: Paulus, 1990.

Bíblia Sagrada: Nova Versão Internacional \ Bíblia; [traduzido pela Comissão de


Tradução da Sociedade Bíblica Internacional]. - São Paulo: Editora Vida, 2001.

Bíblia Sagrada. Tradução dos originais mediante a versão dos Monges de Maredsous
(Bélgica) pelo Centro Bíblico Católico. 88ª ed. Revista por Frei José Pedreira de Castro,
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