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Como lidar com a solidão

by Isadora Mendes Março 26, 2019 1 1422

Quando imaginamos uma vida fora do Brasil, muitas vezes idealizamos a sensação de liberdade. De caminhar
por ruas estreitas, de perambular por aí ao som de música clássica, de conviver com paisagens históricas, de
conhecer novas pessoas e se envolver em coisas diferentes. Sem dúvida, sair de casa é uma grande
oportunidade de se reinventar e aproveitar mil novas experiências, mas desfrutar dessa liberdade é trilhar um
caminho solitário e por vezes sentir-se sozinho. No entanto, por mais aterrorizante que o sentimento de solidão
possa ser, não há nada mais libertador do que passar por ele.

Lembro que o meu primeiro choque com essa sensação aconteceu na primeira vez que saí de casa. Ia realizar
o sonho de estudar fora por um ano e me despedi sem choro – eu só queria ir logo e começar meu tal sonho de
liberdade adolescente. Aterrissei num aeroporto com centenas de pessoas que se atravessavam e precisava
procurar a minha nova família, que na minha cabeça estaria me esperando com balões, um sorriso no rosto e um
abraço pronto.

No fim, só encontrei uma senhorinha da agência, que me guiou até o lugar de retirar bagagem e pediu que
esperasse que a família ia se atrasar. Enquanto ela ficou no seu canto digitando naquele celular high tech da
época, eu fui, sozinha, esperar minhas malas. Foi ali, de pé, olhando pra esteira e praquele painel de chegadas,
que eu me dei conta do que seria tudo aquilo. Não haveriam balões, nem confetes, nem Roy Orbinson cantando
“Pretty Woman”, nem minha família por perto, eram só eu e minhas malas dali pra frente. Toda minha bolha de
liberdade tinha se estourado e eu fiquei ali, imóvel, como se eu tivesse me esvaziado por inteira.

Alguns anos depois, aterrissei eu, de novo, num aeroporto estranho no meio do leste europeu. Já vacinada
contra os efeitos da distância, pensei que aqui me encaixaria. Dois anos e meio depois, posso dizer que minha
vida aqui é feita de despedidas e muito mais solitária do que era no Brasil – e essa frase pode parecer um tanto
quanto melancólica mas, na verdade, não é. Eu aprendi isso exatamente passando por alguns momentos de
solidão.

Você pode até vir acompanhado de família e amigos, mas, não tem como escapar, a experiência no exterior é
uma jornada que vai exigir esforços todos seus. A primeira etapa é conquistar sua própria independência.
Aprendemos a cuidar das nossas coisas e criamos nossa própria maneira para lidar com responsabilidades.
Depois vem o sentimento de estranheza com o novo grupo de pessoas que você passa a conviver. Aquelas mil
etapas para conquistar a intimidade e amizade de alguém. Por mais que você esteja bem inserido, tem coisas que
você só encontra nas pessoas que você deixou no Brasil e isso te traz uma saudade enorme.

E aí chega um certo dia que vem um sentimento ruim, uma agonia. De se ver desencaixado, desconectado do
resto. De sentir que você é apenas um estrangeiro. De se questionar se seus amigos e família estão melhores
sem você, se você talvez não virou apenas uma mera imagem distante pra eles. Sentir-se meio isolado, um certo
cansaço em tentar criar laços significativos com estranhos. Ou uma culpa por ter ido embora. De questionar se
realmente é aquilo que você sempre quis. Se você realmente conquistou tudo aquilo que queria ou se é capaz de
seguir os planos que traçou. Se todo esse distanciamento vale a pena.
Esse sentimento é ainda intensificado quando você não tem o amparo maternal de casa. Sabemos dos mil
efeitos psicológicos positivos de se estar em companhia da família, dos amigos. Fazer parte de um grupo faz bem
tanto fisicamente quanto pra alma. Por outro lado, pouco se discute a questão da solidão, sempre a enxergamos
como sinônimo de abandono ou isolamento, quando esquecemos que ela é o próprio preço da liberdade que
muitos tanto almejam.

Por mais angustiante que ela seja, evitá-la é simplesmente negar a natureza humana – principalmente a de um
estrangeiro – deixando-se consumir pelas frustrações cotidianas da vida. É querer glamourizar a vida do brasileiro
no exterior, esquecendo que por trás das fotos bonitas, há um ser humano diante de mil desafios, pois seja numa
ilha paradisíaca croata ou num café em Paris, sentir-se só é quase inevitável. Por isso, a verdade é que você se
torna autêntico no momento em que aprende a lidar, da sua própria maneira, com isso.

Há algumas semanas, me despedi de uma amiga-irmã com quem eu fui inseparável nesses anos. Os bons
amigos que fiz aqui, se mudaram pra outras cidades. Perdi a formatura dos meus melhores amigos no Brasil e
hoje já acumulo três natais distantes. Me questionei umas quinhentas vezes se tudo isso vale a pena.
Independente da resposta que eu encontrei, só foi diante dessas situações que eu me ensinei que solidão não é
necessariamente sinal de abandono, mas sim uma chance de aprender a ser apoio em si mesmo.

Comecei a perceber que, no Brasil, apesar de ser independente, eu dependia de momentos sociais para me
sentir bem, dos domingos em família, dos bares no final de semana. Dependia emocionalmente de outros pra
resolver meus próprios problemas e, quando esses se ausentavam, sentia uma sensação de abandono, quando,
na verdade, eu é que tinha abandonado a pessoa que estaria ali sempre – eu mesma.

É assim, quando não há um colo familiar por perto, que você ganha a oportunidade de compreender que é
inteiramente responsável pela própria reconstrução pois, no fim, é só você que resta. Sem plateia, sem glamour –
parte só de você criar seus próprios mecanismos para se restabelecer.

Apesar de eu, hoje, não viver um dia sem enviar mil mensagens de áudios à minha família e amigos, eu
aprecio demais os momentos que posso vagar por aí, comer meu prato preferido no restaurante polonês que
cheira a gordura, assistir a vídeos aleatórios do Youtube, analisar as pessoas do ônibus e tentar criar uma história
pra elas, tomar chimarrão do lado da janela, escutar pagode com a neve caindo, levar uma hora pra me arrumar
pra ir no mercado, pensar nos mil lugares que tenho que conhecer, os mil livros que tenho que ler, as mil histórias
que ainda tenho que ouvir.

Li esses dias uma frase que dizia que a liberdade é uma descoberta solitária – e nada mais verdade. Como
comentou Rubem Alves, a liberdade é amedrontadora pois, ao mesmo tempo que sonhamos em voar, tememos o
incerto. No entanto, para voar, é preciso amar esse vazio – o voo só acontece assim…

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