Sei sulla pagina 1di 67

1

UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO


NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
CURSO DE FORMAÇÃO GESTÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS EM GÊNERO E
RAÇA (GPP-GER).
POLO HUMBERTO DE CAMPOS

ADOMAIR DA SILVA
(ADOMAIR O. OGUNBIYI)

RACISMO, DISCRIMINAÇÃO E PRECONCEITO RACIAIS: definir é preciso:


pressupostos epistemológicos de base para a elaboração de políticas
públicas em Gênero e Raça

Humberto de Campos
2013
2

ADOMAIR DA SILVA
(ADOMAIR O. OGUNBIYI)

RACISMO, DISCRIMINAÇÃO E PRECONCEITO RACIAIS: definir é preciso:


pressupostos epistemológicos de base para a elaboração de Políticas
Públicas em Gênero e Raça

Trabalho de conclusão de curso apresentado à


Coordenação do Curso de Especialização em Gestão
de Políticas Públicas em Gênero e Raça da
Universidade Federal do Maranhão, como requisito
para obtenção do Grau de Especialista.

Orientador: Prof. Ms. Paulo Sergio Castro Pereira

Humberto de Campos
2013
3

Silva, Adomair da (Ogunbiyi, Adomair O.)

RACISMO, discriminação e preconceito raciais: definir é preciso:


pressupostos epistemológicos de base para a elaboração de políticas
públicas em gênero e raça/Adomair da Silva (Adomair O. Ogunbiyi). _
São Luís, 2013.

67 f. : Il.

Impresso por computador (fotocópia)

Orientador: Prof. Ms. Paulo Sergio Castro Pereira

Monografia (Especialização) – Curso de Especialização em Gestão de


Políticas Públicas em Gênero e Raça), Universidade Federal do
Maranhão, 2013.

1. Racismo 2. Discriminação Racial 3. Preconceito Racial 4.


Políticas Públicas – Gênero e raça 5. Movimento negro I.
Título

CDU 323.1 : 305


4

ADOMAIR DA SILVA
(ADOMAIR O. OGUNBIYI)

RACISMO, DISCRIMINAÇÃO E PRECONCEITO RACIAIS: definir é preciso:


pressupostos epistemológicos de base para a elaboração de Políticas
Públicas em Gênero e Raça

Trabalho de conclusão de curso apresentado a


Coordenação do Curso de Especialização em Gestão
de Políticas Públicas em Gênero e Raça da
Universidade Federal do Maranhão, como requisito
para obtenção do Grau de Especialista.

Orientador: Prof. Ms. Paulo Sergio Castro Pereira

Aprovado em / /

BANCA EXAMINADORA

___________________________________

Prof. Ms. Sergio Castro Pereira


Universidade Federal do Maranhão

_____________________________________

Profª. Ms. Raimunda Nonata da Silva Machado

______________________________________

Profª. Drª. Sirlene Mota Pinheiro


5

RESUMO

Analise de políticas públicas de gênero e etnia, relativas à população afro-brasileira e a


formação de lideranças multiplicadoras(es) sobre o significado de: Direitos Humanos,
Movimento Negro (histórico), Questão Étnico-Racial (conceitos e definições sobre o que
é racismo e suas manifestações: preconceito e discriminação raciais), Questão de
Gênero e Questão Geracional. O empoderamento de lideranças quilombolas. Exercício
da cidadania baseado nas ações previstas no Plano Nacional de Promoção da Igualdade
Racial (PLANAPIR) e no Plano Nacional de Políticas para as Mulheres.

Palavras-chave: Direitos Humanos. Movimento Negro. Questão étnico-racial. Racismo.


Preconceito Racial. Discriminação Racial. Políticas Públicas. Gênero.
Raça
6

ABSTRACT

Public policy analysis of gender and ethnicity, relating to Afro-Brazilian population and
leadership training multipliers about the meaning of Human Rights, the black movement
(history), ethnic and Racial Issue (concepts and definitions about what is racism and its
manifestations: prejudice and racial discrimination), gender and Generational Issue. The
leadership empowerment quilombolas. Exercise of citizenship based on the actions
foreseen in the National Plan for the promotion of Racial Equality (PLANAPIR) and the
National Plan of policies for women.

Keywords: Human Rights. The black movement. Ethnic and Racial Issue. Racism. Racial

Prejudice. Racial Discrimination. Public Policies. Genus. Race


7

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ............................................................................08

2 PRESSUPOSTOS EPISTEMOLÓGICOS: base para a


elaboração de políticas públicas em Gênero e Raça..................09

3 ATER QUILOMBOLA: uma experiência em


gênero e raça.............................................................................16

3.1 Do planejado nas Ramadas......................................................17

4 NEGRITUDE COMO SUPORTE TEÓRICO....................................26

5 O QUE É RACISMO ? ................................................................28

5.1 Estudos de Casos......................................................................33

6 O QUE É DISCRIMINAÇÃO RACIAL?..........................................36

6.1 Estudo de Caso.........................................................................37

7 O QUE É PRECONCEITO RACIAL ...............................................39

7.1 Estudos de Casos......................................................................39

8 PODE O/A NEGRO/A E/OU AFRO-BRASILEIRO/A


SER RACISTA? ...........................................................................44

8.1 Estudo de Casos........................................................................48

9 O(A) NEGRO(A) PODE TER PRECONCEITO E DISCRIMINAR


RACIALMENTE OUTRO(A) DE SUA PRÓPRIA
RAÇA/ETNIA...............................................................................50

9.1 Estudo de Casos.........................................................................51

10 SOBRE A LEI CAÓ – LEI Nº 7716/89...........................................57

11 O ESTATUTO DA IGUALDADE RACIAL (LEI Nº 12.188/10)........61

12 CONCLUSÃO..............................................................................62

REFERÊNCIAS..............................................................................64
8

1 INTRODUÇÃO

Tendo em vista as políticas públicas, na seara Federal, específicas, através


do Serviço de Assistência Técnica para Comunidades Quilombolas no Território da
Cidadania Vale do Itapecuru urgem atividades que suscitem reflexões acerca dos
direitos humanos, do movimento negro e das questões étnico-raciais. Por outro lado, as
comunidades quilombolas carecem de conhecimentos sobre como acessar políticas
públicas garantidas constitucionalmente para que se desenvolvam.
Dentro dos fundamentos teóricos, orientações e procedimentos
metodológicos contidos na construção de uma Pedagogia de ATER, a qual está
consubstanciada na Política Nacional de ATER (Pnater), em conformidade com a Lei
12.188, de 11 de janeiro de 2010, o projeto propõe-se como uma ferramenta para
propiciar um modelo de desenvolvimento sustentável para o meio rural.
Para além de propiciar o exercício de direitos e difundir os princípios do
Serviço de Assistência Técnica e Extensão Rural (ATER) propõe-se, também, em
fortalecer a cidadania, considerando diferenças de Gênero, Geração e Etnia e as
orientações do Plano Nacional de Promoção da Igualdade Racial (Lei 6.872, de
04/06/2009) do II Plano Nacional de Políticas para as Mulheres.
O presente trabalho, fruto do Plano de Ação do curso de Gestão de Política
de Gênero e Raça, analisa as políticas públicas de gênero e etnia, relativas à população
afro-brasileira e a necessária formação de lideranças multiplicadoras(es) sobre o
significado de: Direitos Humanos, Movimento Negro (histórico), Questão Étnico-Racial
(conceitos e definições sobre o que é racismo e suas manifestações: preconceito e
discriminação raciais), e Questão de Gênero. O empoderamento de lideranças
quilombolas perpassa pelo exercício da cidadania baseado nas ações previstas no Plano
Nacional de Promoção da Igualdade Racial (PLANAPIR) e no Plano Nacional de Políticas
para as Mulheres os quais carecem destes pressupostos epistemológicos como base na
elaboração e implementação de políticas púbicas.
9

2 PRESSUPOSTOS EPISTEMOLÓGICOS: base para a elaboração de políticas


públicas em Gênero e Raça

O Serviço de Assistência Técnica e Extensão Rural para Comunidade


Quilombolas no Território da Cidadania do Vale do Itapecuru (ATER Quilombola)
encontra-se no bojo da Política Nacional de Ater (Pnater). Cuja base teórica tem fulcro
na Lei Federal de 11 de janeiros de 2000 – Lei nº 12.188, e, tem expresso em seus
princípios e diretrizes conceitos de uma pedagogia dialógica e participativa (BRASIL,
2010, p. 07).
Conforme o proposto pela Pnater, ou seja:

um modelo de desenvolvimento sustentável para o meio rural,


ancorado num conjunto de princípios que qualificam a ação
extensionista e o serviço de assistência técnica e extensão rural
prestado às(aos) agricultoras(es) familiares e suas formas de
organização. Dentre eles, destaca-se o princípio norteador desta
proposta: “Adoção de metodologia participativa, com enfoque
multidisciplinar, interdisciplinar e intercultural, buscando a construção
da cidadania e a democratização da política pública” (Lei nº 12.188 de
11 de janeiro de 2010).

Baseado em uma proposta de educação emancipadora onde o enfoque é


deslocado do individual para o social, político e ideológico. A educação emancipadora
é uma educação contra as outras concepções que, por adotarem a concepção liberal,
focada no indivíduo, são promotoras das desigualdades, da dependência, da
passividade, da impotência, da obediência (BRASIL, 2012, p. 19).
Neste sentido, o presente trabalho, denominado Racismo, Discriminação e
Preconceito Raciais: definir é preciso – Pressupostos epistemológicos de base para a
elaboração de políticas públicas de Gênero e Raça fundamentou-se em um referencial
teórico composto de um conjunto de estudos sistematizados e formulados por
especialistas, estudiosos(as) e teóricos(as) da educação e em torno da identidade
étnico-racial (Negritude) pois, se coaduna com a educação emancipadora uma vez que
pretendeu, através de oficinas “não [...] convencer a(o) educanda(o), mas de vencer com
10

ela(e), construir junto uma sociedade justa e igualitária, despida de desigualdades de


gênero e raça.
Vasto referencial teórico, marcos legal e eventos históricos respaldam o
presente trabalho como exemplo a Declaração Universal dos Direitos Humanos,
instituída pela ONU em de 10 de dezembro de 1948, e adotada pela Assembleia Geral
das Nações Unidas através da Resolução, n. 217. Como Estado-Membro da Organização
das Nações Unidas (ONU), o Brasil é signatário, desde 1948, dessa importante e histórica
Declaração que contém 30 artigos, nos quais estão elencados o ideal comum a ser
atingido por todos os povos e todas as nações, com o objetivo de:

Que cada indivíduo e cada órgão da sociedade, tendo sempre em


mente esta Declaração, se esforcem, através do ensino e da educação,
em promover o respeito a esses direitos e liberdades e, pela adoção
de medidas progressivas de caráter nacional e internacional, em
assegurar o seu reconhecimento e a sua observância universais e
efetivos, tanto entre os povos dos próprios Estados-membros quanto
entre os povos dos territórios sob sua jurisdição (INSTRUMENTOS
INTERNACIONAIS DE PROTEÇÃO AOS DIREITOS HUMANOS, 2001).

Na Declaração Universal dos Direitos Humanos os Estados-Membros das


Nações Unidas reafirmaram, na Carta da ONU, “sua fé nos direitos humanos
fundamentais, na dignidade e no valor do ser humano e na igualdade de direitos entre
homens e mulheres, e que decidiram promover o progresso social e melhores condições
de vida em uma liberdade mais ampla”.
Em seu artigo primeiro encontra-se o quanto segue:

Artigo 1. Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade


e direitos. São dotados de razão e consciência e devem agir em relação
uns aos outros com espírito de fraternidade.

Localiza-se explicitado o ideário de igualdade no artigo 7 da Declaração


Universal dos Direitos Humanos que afirma:

Todos são iguais perante a lei e tem direito, sem qualquer distinção, a
igual proteção da lei. Todos têm direito a igual proteção contra
qualquer discriminação que viole a presente Declaração e contra
qualquer incitamento a tal discriminação.
11

Seguindo, encontra-se no Artigo 23:

1. Toda pessoa tem direito ao trabalho, à livre escolha de emprego, a


condições justas e favoráveis de trabalho e à proteção contra o
desemprego.
2. Todo ser humano, sem qualquer distinção, tem direito a igual
remuneração por igual trabalho.
3. Toda pessoa que trabalha tem direito a uma remuneração justa e
satisfatória, que lhe assegure, assim como à sua família, uma
existência compatível com a dignidade humana, e a que se
acrescentarão, se necessário, outros meios de proteção social.

Fazem parte, ainda, do rol dos marcos legal a:

- Declaração sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Racial,


da qual o Brasil é signatário desde 20 de novembro de 1963 e, a Convenção
Internacional sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação
Racial, de 20 de dezembro de 1965 (DPI/858);
- A Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação
contra as Mulheres – CEDAW, em 1979, O Estado brasileiro ratificou a
Convenção da Mulher em 1984, a qual prevê nos artigos 1 e 2 , o que segue:

Artículo 1
A los efectos de la presente Convención, la expresión "discriminación
contra la mujer" denotará toda distinción, exclusión a restricción
basada en el sexo que tenga por objeto o por resultado menoscabar o
anular el reconocimiento, goce o ejercicio por la mujer,
independientemente de su estado civil, sobre la base de la igualdad
del hombre y la mujer, de los derechos humanos y las libertades
fundamentales en las esferas política, económica, social, cultural y civil
o en cualquier otra esfera.

Artículo 2
Los Estados Partes condenan la discriminación contra la mujer en
todas sus formas, convienen en seguir, por todos los medios
apropiados y sin dilaciones, una política encaminada a eliminar la
discriminación contra la mujer y, con tal objeto, se comprometen a:
a) Consagrar, si aún no lo han hecho, en sus constituciones nacionales
y en cualquier otra legislación apropiada el principio de la igualdad del
hombre y de la mujer y asegurar por ley u otros medios apropiados la
realización práctica de ese principio;
12

b) Adoptar medidas adecuadas, legislativas y de otro carácter, con las


sanciones correspondientes, que prohíban toda discriminación contra
la mujer;
c) Establecer la protección jurídica de los derechos de la mujer sobre
una base
de igualdad con los del hombre y garantizar, por conducto de los
tribunales nacionales o competentes y de otras instituciones públicas,
la protección efectiva de la mujer contra todo acto de discriminación;
d) Abstenerse de incurrir en todo acto a práctica de discriminación
contra la mujer y velar porque las autoridades e instituciones públicas
actúen de conformidad con esta obligación;
e) Tomar todas las medidas apropiadas para eliminar la discriminación
contra la mujer practicada por cualesquiera personas, organizaciones
o empresas;
f) Adaptar todos las medidas adecuadas, incluso de carácter
legislativo, para modificar o derogar leyes, reglamentos, usos y
prácticas que constituyan discriminación contra la mujer;
g) Derogar todas las disposiciones penales nacionales que constituyan
discriminación contra la mujer (CONVENCIÓN SOBRE LA ELIMINACIÓN
DE TODAS LAS FORMAS DE DISCRIMINACIÓN CONTRA LA MUJER,
1979)

- A Convenção Nacional do Negro pela Constituinte, de 26 e 27 de agosto de


1986, em Brasília, elencava inúmeras reivindicações do Movimento Negro
relativas aos direitos das populações negras nos mais diversos campos da
atividade humana;
- A Constituição Federal de 1988 em seu artigo Art. 5º prevê que:

“Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,


garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança
e à propriedade”; e no inciso XLII prevê que a prática do racismo
constitui crime inafiançável e imprescritível, sujeito à pena de
reclusão, nos termos da lei (BRASIL, 1988)

- A Lei Caó (Deputado Federal Carlos Alberto de Oliveira), Lei 7716/89, que
pune os Crimes de Racismo, fruto das reivindicações históricas do
Movimento Negro;
- A Convenção 169 da OIT, de 7 de junho de 1989, que prevê:

Que [...] em princípio sua abrangência é definida para os povos


indígenas e quilombolas, ambos reconhecidos como minorias étnicas
do Estado brasileiro na mesma Constituição Federal de 1988. Estes
13

aparentemente são os principais sujeitos de direito aos quais o Estado


brasileiro reconhece a aplicação da Convenção OIT 169.
Com relação ao reconhecimento de povos quilombolas como povos
tribais, existe jurisprudência nacional reconhecendo a aplicação da
Convenção 169 da OIT para quilombolas na sua qualidade de povos
tribais:
“não pode o Estado negligenciar a proteção constitucionalmente eleita
como um dos objetivos fundamentais da Republica Federativa do
Brasil, qual seja, “promover o bem de todos, sem preconceitos de
origem, raça, sexo, identidade e quaisquer formas de discriminação”
(CF/88, art.3o, IV), incluindo, assim, as comunidades remanescentes de
quilombos (…) conforme destacado pelo ilustre Representante
Ministerial em seu Parecer, pelo Estado Brasileiro estou confirmando
seu entendimento em estabelecer políticas públicas voltadas ao
combate à discriminação dos modos de vida tradicionais dos povos
indígenas e tribais, quando da edição do Decreto Legislativo No
143/2002, ratificando a Convenção nº 169 da OIT, que dispõe em seu
art. 14 que “deverão ser reconhecidos os direitos de propriedade e
posse dos povos em questão sobre as terras que tradicionalmente
ocupam”.

- A Marcha Zumbi dos Palmares contra o Racismo, pela Cidadania e a Vida,


de 20 de novembro de 1995, realizada em Brasília, na qual participaram
organizações e/ou entidades do movimento negro, organizações não
governamentais e congêneres ligadas às igrejas, partidos políticos,
sindicatos, movimentos sindicais, núcleos de estudos de universidades
públicas comprometidas com a questão étnico-racial;
- A Lei 10.639/03 que obriga o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e
Africana, o Parecer do Conselho Nacional de Educação/ Conselho Pleno -
CNE/CP 03/2004 e a Resolução CNE/CP 01/2004 são instrumentos legais que
orientam as instituições educacionais quanto as suas atribuições; e,
- O Estatuto da Igualdade Racial, Lei 12.288, de 20 de julho de 2010 em seu
artigo 1º, prevê que esta Lei institui o Estatuto da Igualdade Racial,
destinado a garantir à população negra a efetivação da igualdade de
oportunidades, a defesa dos direitos étnicos individuais, coletivos e difusos
e o combate à discriminação e às demais formas de intolerância étnica. E,
em seu parágrafo único, para efeito deste Estatuto, considera que:

I - discriminação racial ou étnico-racial: toda distinção, exclusão,


restrição ou preferência baseada em raça, cor, descendência ou
14

origem nacional ou étnica que tenha por objeto anular ou restringir o


reconhecimento, gozo ou exercício, em igualdade de condições, de
direitos humanos e liberdades fundamentais nos campos político,
econômico, social, cultural ou em qualquer outro campo da vida
pública ou privada;
II - desigualdade racial: toda situação injustificada de diferenciação de
acesso e fruição de bens, serviços e oportunidades, nas esferas pública
e privada, em virtude de raça, cor, descendência ou origem nacional
ou étnica;
III - desigualdade de gênero e raça: assimetria existente no âmbito da
sociedade que acentua a distância social entre mulheres negras e os
demais segmentos sociais;
IV - população negra: o conjunto de pessoas que se autodeclaram
pretas e pardas, conforme o quesito cor ou raça usado pela Fundação
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), ou que adotam
autodefinição análoga;
V - políticas públicas: as ações, iniciativas e programas adotados pelo
Estado no cumprimento de suas atribuições institucionais;
VI - ações afirmativas: os programas e medidas especiais adotados
pelo Estado e pela iniciativa privada para a correção das desigualdades
raciais e para a promoção da igualdade de oportunidades (BRASIL,
2011).

Inúmeros livros, estudos e artigos têm abordado o racismo e o que


entendemos por sequelas emanadas do mesmo, ou seja, a discriminação e o
preconceito raciais. E, salvo alguns/algumas poucos,(as) autores(as) 1 que introduzem
essa discussão conseguem demonstrar as causas e os efeitos e por vezes enfocam,
acanhadamente, aquelas definições e/ou conceitos de maneira a dirimir
questionamentos existentes nos mais variáveis níveis sobre o que é:
a) Racismo;
b) Discriminação Racial; e
c) Preconceito Racial.
Em consequência da ausência de trabalhos, com enfoque didático-
pedagógico neste âmbito, temos nos deparado com interrogações e afirmações do tipo:
“Pode o(a) negro(a) e/ou afro-brasileiro(a) ser racista” ou ainda, “o(a) negro(a) tem
preconceito e discrimina racialmente outro(a) de sua própria raça/etnia. Numa
tentativa de explicitar estes pontos e consequente elucidação do que compreendemos

1
Adota-se a preocupação com a dimensão de gênero da linguagem verbal para, criticamente, libertar
nosso texto do “[...] monopólio masculino da língua e produção do conhecimento” conforme posição de
Peter McLaren (1997) e Guacira Lopes Louro (1999), entre inúmeros(as) autores(as).
15

ser um desvio e/ou uma visão equivocada quanto aos reais significados de racismo,
discriminação e preconceito raciais, elaboramos o presente trabalho objetivando
contribuir no processo do fortalecimento da consciência negra tão necessária para se
reagir à violência racial, a qual ao longo dos séculos vem de forma genocida,
massacrando negras(os), desde África até toda sua Diáspora.
16

3 ATER QUILOMBOLA: UMA EXPERIÊNCIA EM GÊNERO E RAÇA

A ATER QUILOMBOLA é um projeto que prevê quatro etapas, a saber:


- Diagnóstico participativo com as comunidades quilombolas;
- Formação em políticas públicas;
- Elaboração dos Planos de Desenvolvimento dos Serviços de ATER;
- Monitoramento das atividades do projeto.
Portanto, é uma construção, logo a formulação das políticas públicas que se
apresentam como necessárias, foram formuladas pelas comunidades.
Neste sentido, carece-se de permear a aplicação e ações com a definição de
Racismo, Discriminação e Preconceito Raciais em todas as fases de pré-formulação em
qualquer política pública junto as comunidade quilombolas.
Tal constatação advém do diagnóstico preliminar efetuado junto às
comunidades quilombolas no Território da Cidadania Vale do Itapecuru, onde se
verificou a ausência da aplicabilidade das políticas públicas, tais como: Lei 10.639/03
que estabelece o ensino da História de África e da Cultura Afro-brasileira nos sistemas
de ensino; do Programa Brasil Quilombola; da homologação e consequente
implementação das Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Escolar
Quilombola, como modalidade da educação básica; na Assistência Técnica e Extensão
Rural para Comunidade Quilombolas – ATER QUILOMBOLA; e, por fim, o Estatuto da
Igualdade Racial (Lei 12.288/10).
O enfoque propugnado entende-se, possibilitaria às comunidades uma visão
mais ampla para a construção e formulação de propostas na elaboração um Plano de
Inclusão das Famílias Quilombolas para o acesso as políticas públicas. As políticas
públicas elencadas poderiam dar conta de demandas objetivas, contudo, como as
comunidades são carentes de informações e conhecimentos para que elas
compreendam as nuances subjetivas do racismo e suas manifestações e possam
formular ações, cobrar políticas públicas estagnadas pela burocracia e a falta de vontade
política estatal. Assim sendo, acredita-se que somente com um estudo crítico dos
princípios, hipóteses e resultados das ciências já constituídas se poderiam formular
políticas públicas de gênero e raça para atender, não somente as populações que
17

compõem as comunidades quilombolas, como também aquelas que atentem para a


diversidade étnico-racial, no Brasil.

3.1 Do planejado nas Ramadas2

Conforme previsto no projeto originário, procurou-se cumprir o


cronograma. Realizaram-se oficinas nas Comunidades Quilombolas no Território do
Vale Cidadania com todas as comunidades quilombolas e cumprindo o roteiro, foram
executadas as seguintes atividades:
- Formação em políticas públicas;
- Elaboração dos planos de desenvolvimento dos serviços de ATER;
- Monitoramento das atividades do projeto.
As comunidades remanescentes de quilombos atendidas, inseridas no
Território Rural do Vale do Itapecuru no estado do Maranhão, são:

Tabela 1: Comunidades Remanescentes de Quilombos atendidas


Municípios Comunidades Quantidade
de famílias atendidas
Anajatuba . Queluz . 30
Itapecuru Mirim . Ipiranga da Carmina . 52
. Juçaral / Santa Helena . 30
. Mata São Benedito . 35
. Pequi/ Santa Maria Pretos . 352
. Santa Maria dos Pinheiros . 21
. Santa Rosa . 175
Vargem Grande . São Francisco Malaquias . 30

Tabela 1: Comunidades Remanescentes de Quilombos atendidas

Depreendeu-se, nas oficinas, que as demandas em termos de políticas


públicas para as comunidades acima apresentadas eram semelhantes, ou seja: falta de

2
Casa de festa e de reuniões onde a comunidade costuma tomar decisões.
18

estradas e pontes em condições para acesso às comunidades; falta de água; falta de


assessoria e assistência técnica e extensão rural; ausência de creches; falta de escolas3
para atender as crianças do ensino fundamental nas próprias comunidades; falta de
transporte para alunas(os) que estudam fora da comunidade; onde existem escolas, as
mesmas funcionam de modo precário, instalações precárias e sem condições higiênicas,
falta de condições e materiais de trabalho; as(os) professoras(es) não tem formação em
educação quilombola; falta de merenda e material escolar.
Objetivando ilustrar melhor as condições de vida da maioria das
comunidades quilombolas apresentamos a seguir, como exemplo, a Comunidade
Juçaral/Santa Helena, titulada em 28 de novembro de 2006.

Infraestrutura Física, Social e Econômica

O conjunto de serviços da comunidade Juçaral/ Santa Helena apresenta-se


com aquelas precariedades inerentes a ausência de políticas públicas. O mal estado das
estradas e a ausência de pontes impedem o transito/comunicação com as demais
comunidades, principalmente em período de chuvas, quando elas tornam-se
intransitáveis, mesmo de motocicleta.

Foto 1: A melhor parte da estrada Fonte: do autor

3
Somente uma comunidade, Santa Joana, no território de Santa Maria dos Pretos, contava com escola
que oferecia condições ideias para receber condignamente alunas(os) e professoras(es). No entanto,
nesta escola a água utilizada é salobra.
19

O abastecimento de água, na comunidade é realizado através de um único


posto artesiano, o qual consegue dar conta das necessidades das(os) moradoras(os) e
carece de qualidade pois é salobra.

Foto 2: Poço artesiano e caixa d’água Fonte: do autor

Através de convênio entre a Funasa e Prefeitura de Itapecuru a comunidade


foi contemplada por “Kits Sanitários”.

Foto 3: Kit sanitário Fonte: do autor


20

Tabela 2: Saúde e Saneamento


Quantidade de postos de saúde Não existe posto na comunidade
Atendimento
.Como, quando, onde e .O atendimento é realizado na Unidade
quando. de Saúde da comunidade de Bacabal,
.Distância distante 2 quilômetros de Santa Helena,
.Dias de Atendimento de difícil acesso. Os atendimentos em
.Quantidade de vezes as Leite (9 km) têm de ser marcados. Em
pessoas visitam o médico Presidente Vargas (15 km).
por ano .Os atendimentos são realizados duas
vezes por semana.
.Os idosos são atendidos de 2 em 2
meses. As gestantes 1 vez por mês.
Quando estão doentes quais os meios .Chás de: casca de laranja, Vik, Hortelã,
que utilizam para se curar e que tipo Titoco, Cararuca.
(Qualidade da água (qual a origem, .Boa qualidade. Existem caixas d’água
existem caixas d’água, cacimbas, filtros). em todas as casas. A água é canalizada.
Quantidade de pessoas que procuram o .Não existem rezadeiras e parteiras na
atendimento médico. Rezadeiras, comunidade, os partos são feitos
parteiras, benzedeiras, uso de ervas). somente em hospital.

.O senhor Nemésio Silva Almeida, 60


anos de idade, é o benzedor da
comunidade.
Coleta de lixo (onde são destinados, os .Recolhidos e queimados.
orgânicos e inorgânicos).

Tabela 2: Saúde e Saneamento

A Comunidade de Juçaral/Santa Helena tem na produção da farinha a


principal fonte de recursos. Produzem-na para o consumo e parte dela é vendida.

Foto 4: Casa de Farinha Fonte: do autor


21

A comunidade conta com 13 pessoas com 61 anos de idade; 30 crianças de


0 a 6 anos; 36 crianças de 7 a 14 anos, estas estão estudando o Ensino Fundamental (1º
ao 9º ano). Os jovens estão no Ensino Médio. Adultos e idosas(os) perfazem 80% das
pessoas que só sabem escrever o nome, poucas estudaram a “4ª Série”. Destas apenas
8 estudaram o ensino médio e encontram-se na faixa de 21 a 30 anos de idade. Entre
analfabetas(os) existem 10 pessoas na faixa de idade de 41 a 61 anos de idade.

Foto 5: Escola da Comunidade Fonte: do autor


22

A estrutura educacional da Comunidade de Juçaral/Santa Helena apresenta


aspectos que são demonstrados nas tabelas abaixo:

Tabela 3: Estrutura educacional


Localização da escola* Na comunidade
Acesso A pé
Turnos de funcionamento 1 turno (matutino)
Modalidades
Educação Infantil Funciona atendendo 14 alunas(os)
Ensino Fundamental** Até 5º ano (atendidas/os na comunidade)
Ensino Médio 10 alunas(os) atendidos, também, na
Comunidade de Leite.
Quantidade de salas 1 (em taipa, chão de terra)
Sistema de ensino Multisseriado atendendo
Com que idade inicia as matrículas 3 anos
Transporte Utilizado para chegar à escola Não há necessidade
Disciplinas ministradas LP,MTM,Ciências, Geo, Hist, Ed. Física,
Educação Religiosa e Filosofia.
Existe uma disciplina específica para a Textos e projetos
realidade rural?
Existe uma disciplina específica para a Textos e projetos
realidade quilombola?
Condições de trabalho das(os) Péssimas
professoras(es) e alunas(os)
Qual é a formação das(os) professoras(es) Letras e pós graduação em LP e Literatura
Onde residem: no município ou fora No quilombo de Santa Helena/Juçaral
São concursadas(os) Contratada. Fez seletivo que é válido por
três anos
Que tipo de livros utilizam Didáticos e paradidáticos
Merenda escolar É para 20 dias, mas só dá para 10 dias.
Tabela 3: Estrutura educacional da comunidade

(*) O projeto de Escola Quilombola foi aprovado pela Fundação Palmares, contudo, o mesmo, segundo
informação das(os) membros da comunidade, encontra-se engavetado há 4 anos, pela prefeitura que tem
problemas na documentação.

(**) Da 6º a 9º ano, do ensino fundamental as(os) 17 alunas(os) são atendidas(os) na Escola Municipal
Coronel José Firmino Gomes, situada no Povoado de Leite, (9k distante de Santa Helena).
Transportadas(os) por uma Kombi alugada pela prefeitura.
23

A distribuição das alunas e alunos, por sexo, apresentou-se de acordo com a


Tabela 4:

Tabela 4: Distribuição das(os) alunas(os) por sexo


Série Quantidade
Feminino Masculino
Anos Iniciais 7 3
Anos finais 10 7
Educação Infantil 4 9
Ensino Médio 6 4
Total 27 23
Tabela 4: Distribuição das(s) Alunas(os) por sexo . Obs.: dados relativos a 2011.

Quanto a escolaridade das(os) moradoras(es) detectou-se o que consta na


Tabela 5:

Tabela 5: Escolaridade das (os) moradoras(es)


Faixa Analfabeto Escolaridade Ensino Ensino Total
Etária Ed. Ens. Médio Superior
Infantil Fundamental
Até 06 10 14 24
7 a 10 3 11 14
11 a 14 -- -- -- 10 10
15 a 17 -- 1 1
18 a 24 1 5 6
25 a 40 1 2 2 5
Mais de 4 4
40
Total 19 14 11 18 2 64
Tabela 5: Escolaridade das(os) moradoras(es)

A demonstração apresentada é uma amostra da situação na qual se


encontra a maioria das comunidades quilombolas, particularmente, no estado do
Maranhão.
A ausência de políticas públicas considerando como conceito aquele que e
Freitas (2010) cunhou sendo Estado Social, ou seja:

quando o Estado, instigado pela pressão das massas confere os


direitos do trabalho, da previdência, da educação, de saúde, intervém
na economia como distribuidor, dita o salário, manipula a moeda,
regula os preços etc., em suma, estende sua influência a quase todos
24

os domínios que antes pertenciam, em grande parte, à área de


iniciativa individual.

Compreendendo-se, neste contexto, que o Estado Social pode representar


“efetivamente uma transformação superestrutural do Estado liberal”, na busca de
sobrepujar “a contradição entre a igualdade política e a desigualdade social” (FREITAS,
2010).
A Constituição Brasileira de 1988, também conhecida como Constituição
Cidadã, vai expressar o resultado da mobilização da sociedade organizada e das lutas
populares na busca da cidadania ao estabelecer direitos sociais de caráter universal. De
acordo com Silse Lemos (2010) “a promulgação da LOAS - Lei Orgânica da Assistência
Social, a LOS – Lei Orgânica da Saúde e a nova LDB – Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional, por exemplo, vislumbram a possibilidade de ampliar direitos antes
negados” (DRAIBE, 1999 apud LEMOS, 2010). E, seguindo sua explanação, Silse Lemos
(2010) revela que “para assegurar a afirmação dos direitos requer-se a participação da
sociedade tanto na esfera reivindicatória quanto na de controle social”. Para isso, os
instrumentos de participação popular como conferências, fóruns, conselhos devem,
efetivamente, constituírem-se em espaços privilegiados de ações direcionadas às
definições das políticas públicas (RAICHELIS; WANDERLEY, 2000, p.10 apud OGUNBIYI,
2010).
Historicamente, no Brasil, as políticas públicas são orientadas pela ótica
economicista, com destaque privilegiado das políticas econômicas em detrimento das
políticas sociais situadas num plano secundário e subordinado. Mantém-se o aspecto
fragmentado, localista, compensatório, ou seja, as políticas públicas não são resolutivas,
não atuam na erradicação dos problemas sociais e não asseguram ganhos permanentes
para a sociedade. O seu caráter preponderante é o de constituir resultados paliativos.
Embora contabilizados os avanços na esfera das políticas públicas como
conquistas da sociedade tem-se a considerar os desafios que se apresentam, pela via da
reestruturação produtiva, da financeirização da economia, da internacionalização dos
mercados, enfim, das sucessivas crises do capital. Em nome dos efeitos desses
elementos na sociedade capitalista o Estado foi impelido a minimizar sua esfera de
responsabilidades. Para se fazer frente a esse quadro é imperioso que gestoras(es),
25

profissionais e população invistam no conhecimento da configuração e das


competências das políticas públicas, como meio de instrumentalização para fazer-se
frente aos recuos/obstáculos no campo da disputa, orientando-se o fortalecimento da
garantia de direitos (idem).
No caso, específico das comunidades quilombolas, que herdaram
historicamente, as mazelas oriundas do período escravagista, para além de sua
participação tanto na esfera reivindicatória, quanto na de controle social requer-se
adicionar aos pressupostos epistemológicos de base para a elaboração de políticas
públicas em gênero e raça a emergência introduzir um trabalho com a identidade étnico-
racial, a negritude, destas populações resgatando fatores históricos, sociológicos,
antropológicos, econômicos, culturais, espirituais aliados ao desenvolvimento de
fatores resilientes (autonomia, criatividade, autoestima e humor), da população alvo.
Entende-se que não há como suscitar o envolvimento das populações negras
existentes nestas comunidades quilombolas sem que estes aspectos sejam enfocados
de maneira séria e responsável.
Da experiência vivenciada, depreende-se que as iniciativas governamentais,
quer sejam, federais e estaduais, quer sejam, municipais, devem prever a formação,
capacitação e/ou nivelamento das equipes contratadas das cooperativas ou ONG’s que
assumirem tais Chamadas Públicas. Aqueles (as) que irão trabalhar com as populações
quilombolas necessitam ter explicito categorias, tais como: Identidade Étnico-Racial
(Negritude), Racismo, Discriminação Racial, Preconceito Racial, Machismo, Homofobia,
Desigualdade Étnico-Racial, Políticas Públicas, Ações Afirmativas, etc.
26

4 NEGRITUDE COMO SUPORTE TEÓRICO

Foram utilizadas, no presente trabalho, questões referentes à identidade


étnico/racial, baseada na Negritude:

Tabela 7: Identidade Étnico-Racial – Negritude


Definição Indicadores
. É a valorização plena, com orgulho Reconhece-se como negro/a;
da condição do/a negro/a e/ou afro- Valoriza/gosta de seus traços
brasileiro em dizer de cabeça erguida: Sou fisionômicos, cabelo, etc. ligados à sua
Negro/a. origem;
. É a capacidade de ser fiel numa Identifica-se com negros/as dos
ligação com a terra-mãe, África, cuja mais diversos tipos;
herança deve custe o que custar, demandar Têm prazer de brincar com
prioridade. bonecas/os negros/as;
. É a capacidade de ter um Busca heróis/heroínas, ídolos
sentimento de solidariedade que liga negros/as; e,
secretamente a todos/as os/as
irmãos/irmãs no mundo, que leva a ajudá- Aprecia, respeita ou participa de
los/as a preservar nossa identidade comum. manifestações culturais e religiosas de
. É a capacidade de reverter o origens africanas.
sentido pejorativo da palavra negro para
dela extrair um sentido positivo.
Tabela 7: Quadro conceitual formulado, em 1998, por Adomair O. Ogunbiyi, com base no conceito de Negritude criado por Aimée
Césaire, Léon Dumas e Léopold Senghor, e utilizado no Projeto Auto-Estima das Crianças Negras, parceira FUNAC/Bernard van leer
Foundation, em Alcântara (Castelo) e Viana (S. Cristóvão), de 1998 a 2000.

A utilização de identidade étnico-racial como marco conceitual/suporte


perpassa por levar em consideração as especificidades das populações negras e/ou afro-
brasileiras, ou seja: por sofrerem agudamente as mazelas provocadas pelo racismo e
suas manifestações preconceituosas e discriminatórias. A negritude pressupõe a
identidade, a fidelidade e a solidariedade, que segundo Aimée Césaire, requisitos estes
solapados histórica e psicologicamente das populações negras. Historicamente é a
educação formal, através da escola que, centrada em valores simbólicos e fatos étno-
eurocêntricos, omite a participação, a contribuição, a luta e a resistência negra em todos
os campos da atividade humana, uma vez que a historiografia oficial, também não as
contempla. Assim com a educação informal, através da família, que massacrada por um
processo de aculturação, assimila/introjeta como boa a história do outro em detrimento
da sua que é sempre negada, deturpada e/ou estereotipada negativamente. E,
27

psicologicamente, por meio da alienação a qual foi e é submetida, a população negra,


que esvaziada do seu “eu sou” procura e projeta-se em valores alheios assumindo,
assim, um complexo de inferioridade. A negritude, enquanto identidade étnico-racial
resgata estes valores espoliados (OGUNBIYI, 2004, p.10). Porém, a aplicação da
Metodologia, mesmo sendo específica, levará em conta a transversalidade com temas
recorrentes, tais como: Gênero, Resiliência 4 (autoestima, autonomia, criatividade e
humor).
O projeto realizou-se, quanto aos fins: de forma intervencionista,
objetivando contribuir na transformação na realidade estudada; e, quanto aos meios:
através de um estudo de caso, portanto, se enquadra no tipo descritivo - que possibilita
observar, registrar, analisar e correlacionar fatos ou fenômenos e apresentação de
síntese dos resultados dela aferidos.

4
Este vocábulo tem origem, conforme o “Dicionário Básico Latín-Español/Español-Latín”, Barcelona,
1982, no termo resilio que significa voltar atrás, voltar de salto, ressaltar. O termo foi adaptado para as
ciências sociais para caracterizar aquelas pessoas que, apesar de nascerem e viverem em situações de
alto risco, se desenvolvem psicologicamente sãs e exitosas. (Rutter, 1993). Provavelmente a resiliência,
enquanto realidade humana seja tão antiga como a própria humanidade. Afinal de contas, tem sido a
única forma de sobrevivência para os pobres e oprimidos. Neste rol, logicamente, estão incluídas as
populações não-brancas, às quais não foi dada outra alternativa senão dar prova de resiliência. A
Resiliência tem como variáveis: Autoestima - É a valoração que as pessoas têm de si (sentimentos e idéias)
a partir de seu auto conhecimento e com influência das relações pessoais/meio físico e sócio cultural. A
auto-estima é um componente basicamente emocional e valorativo, muito importante na formação da
personalidade e está diretamente ligada ao auto-conceito. Auto-Conceito é a imagem que a pessoa tem
de si (como percebe suas capacidades, habilidades, qualidades e limitações) e a Auto-Estima é o valor que
a pessoa faz desta imagem; Autonomia - É definida como a capacidade da pessoa (criança, adolescente,
adulto/a) de decidir e realizar independentemente ações em consonância com suas intenções e
possibilidades; Criatividade - É a capacidade para transformar/construir palavras, objetos e ações, em algo
inovador e/ou da maneira de maneira inovadora em relação aos padrões de referência de seu grupo; e,
Humor - É uma capacidade manifestada por palavras, expressões corporais e faciais que contém
elementos incongruentes e hilariantes com efeito tranquilizador e prazeroso para si e os/as outras/os
(Ogunbiyi, 2004, p. 11).
28

5 O QUE É RACISMO?

[...] para se combater uma ideia é necessário que todos, ou larga maioria, compreendam como
e porque a ideia é errada.
SAMORA MACHEL

O racismo na sociedade moderna tornou-se uma prática abrangente e


diversificada “em formas de negar a dignidade, a igualdade e o respeito à pessoa
humana”. “E para justificá-lo várias teses foram criadas com o objetivo de provar a
inferioridade do negro”. Um dos iniciadores do racismo, Joseph Arthur de Gobineau, já
se fundamentava na análise comparada do cérebro para afirmar que “o huroniano5 não
poderia conter, nem mesmo em germe, um espírito parecido com o do europeu”
(MEMMI, 1984, p. 12).
Outros como, Paul Pierre Broca (1824-80), neurocientista; Linneu, nascido
Karl von Linné (1707-78), considerado o pai da taxonomia moderna; Comte Buffon,
naturalista francês nascido George Louis Leclerc (1707-88); e Francis Galton (1882-
1911), antropologista criador da Teoria da Eugenia, não estão isentos de preconceitos
que preparam o caminho para o racismo pretensamente científico, que se apoia
também na autoridade do darwinismo social (OLIVEIRA, 2003, p. 55-69).
Segundo Alberto Memmi (1984), “no final do século XIX, a Europa culta está
convencida de que o gênero humano se divide em raças superiores e raças inferiores”.
As ideias daqueles cientistas influenciaram sobremaneira a intelligentsia
brasileira a ponto de surgirem formulações tais como:

Uma das soluções sugeridas para ser adotada foi definida pelo Dr.
Renato Kehl, presidente da Comissão Central Brasileira de Eugenia e
membro do Conselho Executivo da Liga Brasileira de Higiene Mental,
foi baseada na tese de Galton: reduzir ou eliminar [...] os subnormais
e anormais [...] promover a união conjugal dos eugenizados.
Dentre as aberrações encontramos um modelo nazista de Ernani
Lopes que reivindicava: a) Tribunais de eugenia, para estabelecer
quem tem o direito a filhos. Polícia do sexo. O Estado determina quem
pode e deve gerar descendência. b) Reforma eugênica dos salários. Os

5
Indivíduo dos huronianos, povo “indígena” que pertencia à confederação de etnias ligadas à família
iroquesa, e que habitava a região entre os lagos Horun, Erié e Ontário.
29

brancos devem ganhar mais do que os negros e outras raças inferiores


(AKCELRUD, 1984, p. 9; OLIVEIRA, 2003, p. 76-83).

Entretanto, sabemos que “as teorias racistas não podem alicerçar-se em


bases científicas” e para tanto a UNESCO organizou em Atenas, na primavera de 1981,
um simpósio onde representantes de várias disciplinas puderam expor os mais recentes
progressos alcançados pela ciência neste campo. Vinte e dois cientistas debateram em
torno dos seguintes temas: Genética e Racismo; Psicologia, Neurobiologia e Racismo;
Sociologia e Racismo; Antropologia; Etnologia e Racismo; História, Pré-História e
Racismo. Aprovaram um documento reprovando aquelas teses criadas para justificar
cientificamente o racismo (JACQUARD, p. 25, 1984). Todavia, apesar de sabermos que
estas teses são, hoje, condenadas, ainda vivemos sobre seus espectros.
Os efeitos do racismo criam controvérsias principalmente quando os setores
afetados tentam dar uma resposta à opressão e exploração impostas.
Por outro lado existe, também, a dificuldade destes segmentos formularem
sua consciência racial dada a falta de elementos básicos que vão desde o conhecimento
de sua história até a definição exata do que vem ser racismo, discriminação e
preconceito raciais.
Tal desconhecimento inibe a indignação necessária para o negro forjar a
unificação na luta contra a opressão e exploração, pois os equívocos de interpretação
nos deixam na dúvida de estarmos assumindo a postura do opressor, refreando assim
nossa organização para por fim ao racismo considerado como Crime de Lesa
Humanidade.
Segundo a Declaração sobre a Raça e Preconceitos Raciais (UNESCO, Paris,
setembro de 1967): “O racismo tem raízes históricas. Não se trata de um fenômeno
universal. Em várias sociedades e culturas contemporâneas sua presença é inexpressiva
e houve longos períodos históricos isentos de qualquer manifestação racista”.
Muitas formas de racismo advieram das condições criadas pela conquista,
da tentativa de justificar a escravidão, e, também, das relações coloniais.
A sociedade brasileira tem uma conformação multirracial e pluricultural a
partir das contribuições dos povos autóctones - os donos da terra -, dos “colonizadores”
portugueses e concomitantemente dos povos africanos que, raptados, foram colocados
na condição de escravizados neste país continente.
30

Essa história todos nós conhecemos e bem.


Hoje, porém, havemos de entender que a sociedade brasileira é controlada
por um sistema dominador dos meios de produção social, ou seja, da educação, da
habitação, da saúde, da indústria, do comércio, dos latifúndios, dos meios de
comunicação etc., com formas modernas, dentro da dominação capitalista, de dominar
e justificar a opressão e a exploração.
Este sistema é controlado pelas classes dominantes, - as elites – as quais
pensam a sociedade brasileira dentro do ponto de vista étno-eurocêntrico, portanto,
como branca, européia e cristã. Neste prisma, ignorando os demais segmentos, emana
a afirmação da superioridade racial branca sobre os não-brancos.
Pode-se concluir, em rápida análise, que a racialização, da sociedade
brasileira, tem seu nascedouro nesta visão de mundo que permeia as classes
dominantes, e não na “onda negra” contemporânea temida por uma insignificante
parcela de “iluminadas/os” que pretendem a continuidade somente de políticas
públicas universalistas que, vem atravessando séculos, e, em pleno século XXI, não
conseguem retirar da situação de desigualdade grande parcela da população brasileira,
onde negras/os são a maioria.
Rafael Guerreiro Osório, em No Brasil: um balanço das teorias enfatiza que:

É fato conhecido no panorama das desigualdades brasileiras que há


uma desigualdade racial considerável no país. [...] negros, têm menos
que a metade da renda domiciliar per capita de brancos. Trata-se de
uma desigualdade particularmente detestável dado que, como tem
sido destacado em inúmeros estudos, parte significativa dela não é
atribuível a nenhuma medida de mérito ou esforço, sendo puramente
resultado de discriminações passadas ou presentes. A pobreza é
predominantemente negra e a riqueza é predominantemente branca
(OSÓRIO apud THEODORO, 2008, p.124).

Quanto às políticas universalistas, recorremos às assertivas de Osório que


revela:
[...] a força e o mérito dessas proposições de combate ao racismo
institucional e, mais especificamente, de ações afirmativas, não devem
significar um deslocamento das ações universais como estratégia
central da intervenção pública na vida social. Ao contrário, é
necessário reconhecer seu papel como instrumento de importantes
melhorias nas condições de vida da população brasileira, inclusive da
31

população negra. Contudo, dado os fatores históricos e os


constrangimentos raciais que ainda hoje operam no país, as políticas
universais têm se revelado insuficientes face ao objetivo de enfrentar
a discriminação e desigualdade racial. A presença do racismo, do
preconceito e da discriminação racial como práticas sociais, [...]
representam um obstáculo à redução daquelas desigualdades,
obstáculo este que só poderá ser vencido com a mobilização de
esforços de cunho específico. Assim, a implementação de políticas
públicas específicas, capazes de dar respostas mais eficientes frente
ao grave quadro de desigualdades raciais existente em nossa
sociedade, apresenta-se como uma exigência incontornável na
construção de um país com maior justiça social (OSÓRIO apud
THEODORO, 2008, p.138).

Desta feita, se recorrer-se às definições sobre o significado do racismo


constatar-se-á o que se segue:
a) “Racismo é valorização generalizada e definitiva de diferenças reais e
imaginárias, em proveito do acusador em detrimento de sua vítima, a fim de
justificar uma agressão” (MEMMI, Alberto apud Encyclopedia
Universalis/UNESCO);
b) “Sistema que afirma a superioridade racial de um grupo sobre outros, pregando,
em particular, o confinamento dos inferiores numa parte do país (segregação racial)
[...]”(Dicionário Petit Larousse apud RUFINO, p. 10, 1991);
c) “Doutrina que afirma a superioridade de certas raças” (Novo Dicionário - Aurélio
Buarque de Holanda Ferreira, 1989, p. 1443);
d) “Toda teoria que leve a admitir, nos grupos raciais ou étnicos, qualquer
superioridade ou inferioridade intrínseca capaz de atribuir a alguns o direito de
dominar ou eliminar outros, pretensamente inferiores e que leve a fundamentar
julgamentos de valor em alguma diferença racial” (DECLARAÇÃO SOBRE RAÇA E
PRECONCEITOS RACIAIS / 1978, adotada na 20ª sessão da Conferência Geral da
UNESCO).
No ano 1986, com a criação do Setor de Relações do Trabalho, do Conselho
de Participação e Desenvolvimento da Comunidade Negra, em São Paulo, iniciou-se,
embrionariamente, uma discussão acerca do Racismo Institucional entre as(os)
membros do grupo juntamente com professores da PUC. Naquele período tentávamos,
no Brasil, os primeiros passos de um esboço do conceito que hoje está consagrado
como:
32

O Racismo Institucional é o fracasso das instituições e organizações em


prover um serviço profissional e adequado às pessoas em virtude de
sua cor, cultura, origem racial ou étnica. Manifesta-se em normas,
práticas e comportamentos discriminatórios adotados no cotidiano de
trabalho resultantes da ignorância, da falta de atenção, do preconceito
ou de estereótipos racistas. Em qualquer situação, o racismo
institucional sempre coloca pessoas de grupos raciais ou étnicos
discriminados em situação de desvantagem no acesso a benefícios
gerados pelo Estado e por demais instituições organizadas
(CASHMORE, 2000; PNUD, 2011).

Outra modalidade de racismo vem sendo difundida, mais precisamente no


século XXI, qual seja, o Racismo Ambiental:

“racismo ambiental” se refere a qualquer política, prática ou diretiva


que afete ou prejudique, de formas diferentes, voluntária ou
involuntariamente, a pessoas, grupos ou comunidades por motivos de
raça ou cor. Esta ideia se associa com políticas públicas e práticas
industriais encaminhadas a favorecer as empresas impondo altos
custos às pessoas de cor. As instituições governamentais, jurídicas,
econômicas, políticas e militares reforçam o racismo ambiental e
influem na utilização local da terra, na aplicação de normas ambientais
no estabelecimento de instalações industriais e, de forma particular,
os lugares onde moram, trabalham e têm o seu lazer as pessoas de cor
(BULLARD, 2005; CASHMORE, 2000).

Ao analisar as definições supracitadas poder-se-ia questionar, sem sombra


de dúvidas aqueles que em delírio, quase paranoico, ousam verberar contra a reação e
organização da população negra imbuída do intuito de combater sua opressão e
exploração (socioeconômica e políticocultural).
Michael W. Apple, em “Consumindo o outro: branquidade, educação e
batatas fritas” assinala, baseando-se no que Antonio Gramsci lembrava, que “a
dominação racial, de gênero e de classe é legitimada através da criação do senso
comum, por meio do conhecimento” (APPLE, 2002, apud COSTA, p. 39, 2002, grifo
nosso).
E, ainda se levarmos em consideração que a população afro-brasileira,
maioria populacional, contudo, não é representada nos espaços de poder, portanto, não
é e nem controla o sistema.
33

“A teoria dos direitos humanos assegura àqueles que são vítimas de uma
opressão o direito de liquidar com ela”, neste sentido, nada mais legitimo que a
organização das populações negras no combate à sua exploração e opressão.

5.1 Estudos de Casos

Uma das confusões geradas pelo desconhecimento do conceito de racismo


causa os seguintes pronunciamentos de lideranças negras:
a) “Nós não somos racistas, pois pode sair no bloco quem quiser. Existem blocos
que não permitem que o branco participe”. João Jorge dos Santos Rodrigues,
Presidente do Bloco Afro Olodum,6 no Programa “Clodovil Abre Jogo”, em 1993, na
TV - Manchete - Canal 9.
b) “O Ilê Aiye7 é o mais antigo e mais importante bloco. Criado em 74, conta com
400 pessoas negras na sua direção. Talvez por isso dizem que somos racistas”.
Vovô, Antônio Carlos dos Santos, Presidente do Bloco Afro Ilê Aiye durante a
programação do Carnaval de 1993, em entrevista ao Clodovil, na TV Manchete -
Canal 9.
No primeiro caso, observamos uma preocupação de defesa, pois parecer
“racista” é prejudicial, individual e coletivamente, jogando inconsequentemente a
pecha aos “Blocos que não permitem que o branco participe”.
Quanto ao segundo caso, a fala, reflete uma justificativa através da
“formação do bloco”, porém, sem rebater a insinuação do entrevistador.
Esses dois pronunciamentos, num meio de comunicação, tão poderoso
como a televisão, sem se explicar os fatores históricos causadores/propulsores da
formação dos blocos afros, na Bahia, que criaram uma alternativa de lazer para a
população negra excluída, também, no carnaval, deixam de contribuir para a

6
O Bloco Afro Olodum, foi criando em 25.04.1979, na cidade Salvador, Bahia.
7
Vovô (Antonio Carlos dos Santos) afirma “na Bahia, nós conseguimos que branco no Ilê Aiyê, só
convidado”. Prática X Produção – Uma reflexão sobre os estudos da cultura negra no Brasil hoje. ASESP –
Associação dos Sociólogos do Estado de São Paulo, p. 91, 1983.
34

conscientização da sociedade brasileira quanto as mazelas do racismo. Por outro lado,


denotam um desconhecimento sobre o que é racismo.
Em artigo intitulado “Um Farrakhan tupiniquim8”, na seção Opinião, caderno
1, página 2, da Folha de São Paulo, no dia 15 de novembro de 1995, o articulista Josias
de Souza insinua que “Pelé está mais Farrakhan, o líder negro racista, do que para Luther
King” devido manifestações, do então ministro dos esportes, sobre a questão da
ausência do “voto negro” no negro e seu apoio à Marcha Zumbi dos Palmares contra o
Racismo, pela Cidadania e a Vida. Para melhor entendermos o assunto, apresentamos
algumas partes do teor do texto publicado:

Yes, nós temos o nosso Louis Farrakhan. A pretexto de adular os


organizadores de uma marcha de negros a Brasília, o ministro Pelé
produziu ontem algumas das frases mais racistas de que se tem
notícia. Ele comentava a ausência de negros no Congresso. Disse: “O
negro no Brasil não vota no negro”. Em seguida, deu a entender que o
Saara de crioulos9 no Parlamento não é de todo ruim. [...].

O articulista assumiu uma postura de “escrevinhador mequetrefe ao


externar a subjetividade de sua ignorância sobre um assunto que domina 10”. Insinuar
que “Pelé está mais para Farrakhan, o líder negro racista do que Luther King” é ignorar
o verdadeiro significado do conceito. Racismo é um sistema que afirma a superioridade
de uma raça sobre outra, logo tal rótulo não cabe a Louis Farrakhan11 e muito menos a
Pelé, uma vez que nem um nem outro compõe tal sistema. Um e outro estão sim,
trabalhando em um princípio de isonomia, para derrubar ‘toda teoria que leve a admitir,
nos grupos raciais ou étnicos, qualquer superioridade ou inferioridade intrínseca, capaz
de atribuir a alguns o direito de dominar ou eliminar outros pretensamente inferiores’,
segundo apregoa a Declaração Sobre Raça e Preconceitos Raciais, adotada na 20ª Sessão
da Conferência Geral da UNESCO, em 1978. Quanto à realização da ‘Marcha a Brasília’,

8
O direito de resposta foi concedido pelo Ombudsman da Folha de São Paulo, Marcelo Leite, e publicado
no Painel do Leitor, Caderno 1, página 3, no dia 19 de novembro de 1995.
9
Termo pejorativo utilizado a princípio para designar espanhóis que não pertenciam à corte,
particularmente, nascidos nas Américas. Posteriormente, o termo foi repassado aos portugueses e,
finalmente, foi impingido aos povos negros, no Brasil.
10
Enunciado parcial do Direito de Resposta. Texto disponível em:
http://quexting.di.fc.ul.pt/teste/folha95/FSP.951119.txt - 250k
11
Louis Farrakhan é o atual líder do grupo negro estadunidense Nation of Islam.
35

tem-se o fato concreto da quebra-de-braço encetada pelo movimento negro e outras


formas organizativas para reivindicar modificações na situação da população negra e/ou
afro-brasileira, base da construção do país, porém alijada e marginalizada dos benefícios
socioeconômicos e político-culturais (OGUNBIYI, 2011, p. 25-37).
Um outro aspecto interessante neste mar de confusões surge de leituras,
onde renomados escritores podem nos induzir a erros de análise, como o que se segue:

c) Embora acredite numa unidade final, que juntaria todos os


oprimidos no mesmo combate, Sartre pensa que ela deveria ser
precedida por um momento de separação ou de negatividade, que
seria o racismo anti-racista contido na negritude (MUNANGA, p. 53,
1986).

12
Quando Sartre dizia “racismo anti-racista” subliminarmente estava
afirmando a criação de um racismo para se combater outro. Esta assertiva é consciente/
inconscientemente uma excrescência, haja vista que ignora o conceito de racismo. E, ao
mesmo tempo, poder ser considerada uma assertiva quase criminosa, pois reproduz um
pensamento errado e politicamente incorreto. Racismo é um “sistema que afirma
superioridade de uma raça sobre outra”, e na negritude13 está expressa um resgate de
identidade/consciência/dignidade suprimidos ao povo negro/africano, desde África até
toda a sua Diáspora.

12
Jean-Paul Sartre (1905-1980) filósofo francês, autor do livro Reflexões sobre o Racismo.
13
Em 1936, Aimé Césaire define-a “como uma revolução na linguagem, na literatura que permitia reverter
o sentido pejorativo da palavra negro para dele extrair um sentido positivo” (BERND, 1984, p. 14).
36

6 O QUE É DISCRIMINAÇÃO RACIAL?

Compilando dados acerca do significado de discriminação racial


encontramos na “Convenção Internacional sobre a Eliminação de todas as formas de
Discriminação Racial”, adotada pelo Brasil, em 21/12/1965, o que se segue:

Discriminação Racial é qualquer distinção, exclusão, restrição ou


preferência baseadas em raça, cor, descendência ou origem étnica,
que tem por objetivo ou efeito anular ou restringir o reconhecimento,
gozo ou exercício num mesmo plano (em igualdade de condições) de
direitos humanos e liberdade fundamentais no domínio político,
econômico, social, cultural ou em qualquer outro domínio da vida
pública.

Consta da Convenção Internacional sobre a Eliminação de Todas as Formas


de Discriminação Racial, conforme a Resolução 2106 (xx) da Assembléia das Nações
Unidas, Parte I, Artigo I, Item 4 de 21/12/1965, aprovada pelo Decreto Legislativo nº. 23,
de 21/06/1967, o que se segue:

Não serão consideradas discriminação racial as medidas especiais


tomadas com o único objetivo de assegurar progresso adequado de
certos grupos raciais ou étnicos, ou de indivíduos que necessitem da
aprovação que possa ser necessária para proporcionar a tais grupos ou
indivíduos igual gozo ou exercício de direitos humanos e liberdades
fundamentais, contanto que, tais medidas não conduzam, em
consequência, à manutenção de direitos separados para diferentes
grupos raciais e não prossigam após terem sido alcançados os seus
objetivos (Convenção promulgada pelo Decreto nº 65.810, em
08/12/69 - D.O. 10/12/69, p. 237).

Quem controla os meios de produção social como a comunicação, educação,


grandes bancos, grandes indústrias, grandes comércios, agricultura, grandes redes
prestadoras de serviços, a indústria da habitação, entre outros, detém o poder e tem a
possibilidade de distinguir, excluir, restringir e/ou ter preferências. No Brasil, o poder é
controlado por uma classe dominante composta por brancos e é quem pode discriminar
racialmente o negro.
37

6.1 Estudo de Caso14:

Oscar Amaral Neto15, 17 anos, negro, bem despigmentado, adotado por uma
família de “brancos” desde seu nascimento, constantemente, era ofendido por adultos
e crianças (incitadas pelos pais), inconformados com sua presença num conjunto de
prédios residenciais, no bairro Baeta Neves, em São Bernardo do Campo. O casal que o
adotou, ainda nos primeiros dias de vida, não conseguia ter filhos, e não percebeu que
Oscar era negro, dada sua despigmentação nos primeiros dias de vida. Contudo, o casal
criou-o de maneira igual ao irmão e a irmã que nasceram anos após sua adoção. Os/as
discriminadores/as, terroristamente, faziam direta e indiretamente ameaças por
telefone e chegaram ao absurdo de enviar carta anônima com letras recortadas de
jornais, onde havia os seguintes dizeres:

“Mulher branca continua com a fera negra:


Não perca tempo para retirada ou vai agora aprender!
ou viva tempos de terror.
Até”.

Neste caso localizamos os elementos basilares da discriminação racial, ou


seja: o jovem é distinguido e restringido por sua origem étnico/racial, pois é negro e vive
em um espaço “branco”. Antonio Sérgio A. Guimarães (2008) recorrendo a Gordon
Allport (1954) diz que a discriminação – sem dar-lhe a conotação étnico-racial – é um
“comportamento que procura impedir os membros de um determinado grupo usufruir
certos tipos de empregos, área residenciais, direitos políticos, oportunidades
educacionais ou recreativas, igrejas, hospitais, ou algum tipo de privilégio social”
(GUIMARÃES, 2008, p. 49).

14
Os estudos de Caso apresentados são retratos de fatos vivenciados/presenciados/compilados pelo
autor para demonstrar como se dão as relações étnico-raciais, no Brasil, e, tem como objetivo demonstrar
como são extemporâneos.
15
Caso registrado através do Boletim de Ocorrência nº. 993/93, no 1º Distrito Policial de São Bernardo do
Campo, São Paulo, no dia 10/02/93, apresentado e acompanhado pelo MNU/SBC. Publicado no Diário do
Grande ABC nos dias 11 e 12 de Fevereiro de 1993; noticiado na Rádio CBN, no dia 12/02/93 e no Jornal
Record / Regional, em 13/02/93.
38

Tais restrições têm como finalidade a anulação do exercício (em igualdade


de condições) de direitos humanos e liberdades fundamentais (de habitação e de ir e
vir) no domínio social e público. Isto sem aprofundarmos nos direitos previstos no
Estatuto da Criança, do Jovem e Adolescente.
Outra análise, que cabe ao ocorrido é a ausência de preocupação da mãe e
do pai adotivos de André em prepará-lo para “sobreviver” numa sociedade hostil a
“negros que não sabem o seu lugar”. Acreditaram que o carinho, as mesmas
oportunidades proporcionadas aos demais, o filho e a filha biológicos que tiveram, após
a adoção de André, assim com o aconchego familiar bastavam. A dura e cruel lição
mostrou que não.
39

7 O QUE É PRECONCEITO RACIAL ?

Dentre as definições sobre o que é preconceito racial encontramos as


seguintes:

Uma atitude negativa adotada por um grupo ou por uma pessoa, em


relação a um grupo ou outra pessoa, baseada num processo de
comparação social, segundo o qual o grupo de indivíduos julgador é
considerado como ponto positivo de referência.
James M. Jones

Preconceito racial é uma atitude social propagada entre o público por


uma classe exploradora com o propósito de estigmatizar algum grupo
como inferior, de maneira que a exploração do grupo ou mesmo seus
recursos possa justificar.
Oliver Cromwell Cox

Com base nas conceituações acerca do que é preconceito racial acima


visualiza-se que no Brasil o grupo de indivíduos julgador e que se considera e é
considerado como ponto positivo de referência é não-negro. E, em outras palavras, é “o
branco, como povo, proprietário exclusivo do lugar de referência, a partir do qual o
negro será definido e se autodefinirá” (SANTOS, 1983, p. 26).
Portanto, as atitudes negativas e sociais adotadas e propagadas entre o
público provêm deste grupo ou de pessoas que têm seus interesses aliados a essa classe
exploradora - por conseguinte – composta por brancos.

7.1 Estudos de Casos

A partir de dísticos tais como: “um branco correndo é atleta, um negro


correndo é ladrão”, detectamos o preconceito racial. Passando pelo que ainda existe
nos conteúdos dos livros didáticos onde os personagens negros não têm nomes e sim
apelidos, caracterizados sempre com lábios carnudos e avermelhados, cabelos crespos
e frequentemente em funções/ocupações vistas como “subalternas”, “submissas” etc. -
se homens. Ou, com lenços na cabeça, como babá, faxineira ou cozinheira, tendo, além
daqueles traços reservados aos homens negros, saliências calipígias e seios
40

proeminentes, para as mulheres negras. Essas imagens são reproduzidas, também, nos
meios de comunicação (TV, Cinema, Revistas e Jornais) que procuram mostrar o negro
como sinônimo de: “trombadão”, bêbado, indolente e “macumbeiro”, etc.
A utilização desses e outros estereótipos estabelecem a “atitude negativa
adotada por uma pessoa ou um grupo de indivíduos” que se consideram como ponto
positivo de comparação visando inferiorizar-nos para justificar a exploração e opressão.
Ilustrando, apresentamos alguns casos:
1) Em 12/01/1989, O Jornal Notícias Populares, em sua página de número 7,
registrava, através de uma matéria assinada por Sônia Abrão, o seguinte:

Foto. 6 Fonte: do autor

“Xuxa chama negro de macaquinho e ameaça levar pito”.


“A apresentadora Xuxa pisou feio na bola ao chamar um garoto negro
de “macaquinho” e isto irritou profundamente líderes de movimentos
contra o racismo em várias cidades do país. Em Brasília, a indignação
chegou a tal ponto que a coordenadora do Movimento Negro
Unificado - MNU, Jacira da Silva, ameaça processar a “Rainha dos
Baixinhos”.

2) O Diário Popular, de 13/10/1992, na página 9, registra, através da coluna


do jornalista Mauro Santayana, intitulada “Preto e Branca”, um desagravo à
população negra pela infeliz frase de Xuxa que ao ser homenageada por sua
terra natal, uma pequena cidade do Rio Grande do Sul, quando afirma que
graças a ela “o mundo pode deixar de pensar que o Brasil é um país só de
negros e “mulatos”16. Na ocasião o constrangimento foi visível entre os

16
Termo extremamente pejorativo que significa “cruzamento de mula com cavalo ou jumento com égua”
que traduzimos em cruzamento de raça superior com raça inferior, logo a origem etimológica da palavra
é racista e ofende negras(os) menos pigmentadas(os) conscientes de sua negritude (JESUS, 1993).
41

que se encontravam a seu lado, como Renato Aragão, e mais ainda ao seu
companheiro, Antônio Carlos Bernardes Gomes, o Mussum (1941 - 1994).
3) O jornalista Antônio Stélio, em sua coluna na Gazeta Ilustrada, do Rio
Branco, Acre, no dia 23/08/1991, teve, conforme têm inúmeros racistas de
plantão, a infeliz idéia de em matéria denominada “Aperto anti-racista - O
Preto”, reproduzir frases e dísticos que denotavam e conotavam
preconceito racial, como:
“Qual a diferença entre o preto e o câncer?
- O câncer evolui".
O Movimento Negro Unificado – MNU, de Brasília e Movimento dos Direitos
Humanos de Rio Branco entraram com um processo contra o jornalista.
4) Na folha de São Paulo, de 17.10.94, Folhateen, caderno 6, página 4,
encontramos outra pérola do preconceito racial nos quadrinhos “Los 3
Amigos”- Banco Nacional de Mulheres de Marisales, assinado por Angeli,
Laerte, Glauco e Adão. Alguns dos chargistas citados são notórios por suas
posições de vanguarda, no período da ditadura militar, contudo, escorregam
quando a questão do “humor” deprecia a raça negra. Aqui localizamos a
“indignação narcísica” termo cunhado pela doutora em psicologia social
Maria Aparecida Silva Bento (2002, p. 29).
Este tipo de “humor” é desqualificado, também, pela Resiliência que
entende como indicador de humor “a capacidade manifestada por palavras,
expressões corporais e faciais, entre outras, que contém elementos
incongruentes e hilariantes com efeito tranquilizador e prazeroso para si e
os/as outras/os” (OGUNBIYI, 2004, grifo nosso).
42

Foto: 7 Fonte: do autor

Na sequência: um dos “3 Amigos”, o primeiro da fila de um caixa automático, digita


um botão e, no quadro seguinte, salta sobre suas mãos uma mulher branca e nua;
o segundo faz sua operação e mergulha sobre seus braços uma mulher, também
branca, também nua. O terceiro faz a mesma operação e cai-lhe sobre os braços
um negro, maior do que ele, dizendo a seguinte frase: “Saldo Negativo, bêibe [...]”.
No primeiro caso o preconceito racial se caracteriza pela frase
“macaquinho” uma das muitas formas de tentar inferiorizar o negro. No segundo caso
sobressai à preocupação preconceituosa em relação ao modo da raça negra ser, pois
acha que o Brasil é visto lá fora como sendo um país “só de negros [...]”. Isto quando a
mídia pensa-se branca para brancos, haja vista que as “paquitas” da tal apresentadora,
no período, eram sempre todas brancas (louras ou alouradas).
O caso número 3, assim como o número 4, ratificam a pobreza de espírito
profissional que permeia o anedotário, as piadas, chiste etc., quer seja nos programas
humorísticos de rádio e televisões brasileiras, quer seja na mídia impressa em geral, os
quais produzem e reproduzem o discurso viciado “adotado pela grande imprensa”
escrita, falada, televisiva etc. que não vêem mal na propagação destas “atitudes
negativas entre o público”. Alguns setores reclamam “o direito da liberdade de
imprensa” e/ou “direito de expressão” para continuar afetando a dignidade humana.
43

Os estragos psicológicos causados a gerações e gerações de crianças,


jovens, adolescentes e adultos negros pela propagação deste tipo de “humor” são
incomensuráveis. Por outro lado, não contribui em nada para relações interpessoais
sadias, humanizadas e respeitosas entre negras/os e não-negras/os.
Entrementes, encontramos a organização de outros segmentos aliados
atuando contra tais desmandos. A “Campanha Quem Financia a Baixaria é Contra a
Cidadania” em conjunto com a Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara
dos Deputados, em Brasília, divulgou recentemente a 16ª Lista dos programas de TV que
ferem a dignidade humana, nela estavam relacionadas 874 denúncias17.

17Foram apuradas 874 denúncias dos telespectadores desde outubro do ano de 2008, seja pelo site
www.eticanatv.org.br, ou pelo Disque Câmara (0800 619 619).
44

8 PODE O/A NEGRO/A E/OU AFRO-BRASILEIRO/A SER RACISTA?

Se ao esmurrarmos uma rocha e, em consequência disto, quebramos a mão, a agressora não


será a rocha.
Baba Agba

É pensamento comum a afirmação de que o negro e/ou afro-brasileiro pode


ser racista. E na sociedade brasileira obtemos esse tipo de ideia através da absorção de
comentários que formam a opinião da maioria de um grupo, por tradição e emitimos
julgamentos superficiais supondo que conhecemos a verdade. Perdoável seria se tal
pensamento permeasse uma minoria desinformada, no entanto, ele alcança áreas que
envolvem escritores/as famosos/as, historiadores/as, sociólogos/as, antropólogos/as,
advogados/as, juristas, jornalistas, sindicalistas etc., o que agrava a questão.
Ellis Cashmore (2000), diz que:

A reação negra ao racismo [...] assume várias formas; aceitar as


categorias raciais e articulá-las de modo imitar [...] o branco é apenas
uma delas. Chamar isso de racismo invertido não parece servir às
aspirações analíticas. O termo sugere erroneamente que o racismo,
nos dias atuais, pode ser estudado por meio da avaliação de crenças,
sem a cuidadosa consideração das experiências históricas
amplamente diferentes dos grupos envolvidos (CASHMORE, 2000, p.
475).

Nas divagações científicas (filosóficas, sociológicas e antropológicas)


existentes assim como, em entrevistas, reportagens escritas, radiofônicas e televisivas
observamos, constantemente, aberrações quando tocam na definição sobre o racismo
causando dúvidas e em consequência gerando interpretações, esdrúxulas, as quais se
desviam do seu real significado. Entendemos que estas análises partem sempre do viés
étno-eurocêntrico, portanto, por mais avançadas que aparentem carecem da
“neutralidade científica” tão propagada. Logo, tendem a não expor tanto os opressores,
minimizando-lhes a culpa e, por vezes, jogando-a sobre os ombros dos povos oprimidos
quando estes reagem ao ônus de um racismo que o negro não inventou.
James M. Lawler, em “Inteligência, Hereditariedade e Racismo”, afirma que:
45

O racismo é com excessiva frequência visto como pura questão de


psicologia e de atitudes individuais, ao mesmo tempo que se passa por
alto a discriminação na vida real que origina essa psicologia. Quando
os negros lutam contra este sistema de exploração especial diz-se que
se trata de discriminação ao contrário.
Ver as coisas a esta luz é um efeito da visão distorcida causada pelo
racismo.
O racismo é uma instituição socioeconômica e, ao mesmo tempo, um
sistema de idéias que justifica esta instituição e impede as pessoas de
ver a sua verdadeira natureza.
A ideologia racista, [...] consiste em lançar as culpas para a vítima
(LAWLER, p.225, 1981).

Como exemplo desta visão distorcida encontramos as ilações de Pierre-


André Taguieff, filósofo e cientista político francês do Centro Nacional de Pesquisas
Científicas (CNRS), um dos mais respeitados da atualidade, que afirma:

Nos Estados Unidos, a questão negra está integrada na realidade


americana, quer dizer, existe uma tradição organizada de autodefesa
do afro-americano e uma ideologia de identidade chamada negritude.
O racismo branco se afronta com organizações racistas anti-brancos,
que pregam um apartheid (TAGUIEFF, p. 67, 1983).

Ora, sabemos de quem parte tais elucubrações e têm em geral um perfil


identificável: ou são aqueles(as) “aliados(as)” preocupados em conter a reação dos
setores oprimidos; ou daqueles “negros(as)”, que devido a tendência ao alacroismo 18 ou
não, que tentam justificar, consciente/inconscientemente, seu “rabo preso”; e, ainda
daqueles(as) comprometidos(as) com o sistema.
Como exemplos mais recentes, encontramos, no Brasil, as(os) intituladas(os)
“113 Cidadãos Anti-Racistas Contra as Leis Raciais”. Composto por um grupo de
intelectuais, sindicalistas, empresários(as) e ativistas dos chamados “braços marrons”
de partidos políticos, que querem ser identificados como movimento negro, e que em
documento pede a suspensão do sistema de cotas para negros nas universidades e do
programa ProUni.

18
Descaracterização através da perda de cor até ficar branco.
46

As(os) intelectuais deste grupo, muito provavelmente são bisnetas(os),


netas(os), filhas(os) daquelas(es) que, em sua maioria se beneficiaram vantagens de um
sistema escravagista e/ou do processo de imigração para uma colonização que as(os)
financiava. Outras(os) são herdeiras(os) daquelas benesses e, ainda, acumulam fazeres
como “negrólogas(os)” que sempre escreveram/escrevem livros,
ministraram/ministram aulas, conferências, seminários, palestras, oficinas, etc. sobre o
povo negro e não pretendem perder o filão para “onda” de intelectuais negras(os), que
como sujeitas(os) de sua própria história poderão fazer o novo porvir, em todas as áreas
do conhecimento humano.
Propagam, as(os) “113” e demais apaniguadas(os), erroneamente, que as
entidades e/ou organizações do movimento negro e demais formas organizativas, que
combatem desigualdades raciais que historicamente se abatem sobre a população
negra, de praticarem o racialismo19, isto, como sinônimo de racismo, ou seja, a forma
atualizada do falacioso “racismo às avessas”.
Sindicalistas, que fazem parte dos(as) “113” são aqueles(as) que
defasados(as) atuam sob um paradigma no qual vêem somente a luta de classes ou
talvez nem saibam o que ela significa. Lutam contra a maré. O Movimento Sindical
brasileiro, em sua maioria, já superou esta visão estreita/canhestra.
Empresárias(os) negras(os), deste mesmo grupo, atuam na lógica do
capitalismo. Têm seus interesses anexados às classes dominantes, logo, dentro de suas
visões obtusas não conseguem e/ou não querem perceber as nuanças do racismo numa
sociedade capitalista dependente, da qual elas/eles só obtém a rebarba. E, para isto
Neusa Santos Souza, em Tornar-se Negro, nos explica: “a história da ascensão social do
negro brasileiro e, assim a história de sua assimilação são padrões brancos de relações
sociais” (1983, p. 23).
Como as(os) ativistas do “movimento negro” entendemos que são, dentre
muitas(os), aquelas(es) que, tardia e muitas vezes de maneira oportunista, surgiram de
inúmeras formas organizativas quando da “descoberta” de apoios financeiros de
instituições nacionais e internacionais para ações políticas de combate ao racismo. Daí
surge a maioria das “ONGs”- Organizações não-Governamentais. Ou do resultado de

19
Filosofia social, biológica e cultural, uma atitude ou/e um sistema social que propõe a existência, o
respeito e a preservação de todas as raças.
47

formulações reivindicadas pelo movimento negro como a instituição dos Conselhos do


Negro, Coordenações, Assessorias por parte de alguns governos municipais e estaduais.
Núcleos e “movimentos negros” dos partidos políticos; Pastoral Negra nas igrejas;
NEABs (Núcleos de Estudos Afro-Brasileiros, das universidades federais) e por fim os
grupos e núcleos em setores do movimento sindical ligados às inúmeras centrais
sindicais, que talvez nunca tenham “pisado na lama”, ou seja, trilhado as periferias, as
favelas, os morros, as palafitas, as comunidades quilombolas (urbanas ou rurais) como
fazem as/os militantes do Movimento Negro, para, juntos, organizar e tentar resgatar a
identidade étnico-racial e desenvolver os fatores resilientes (autoestima, autonomia,
criatividade e humor) do povo negro. Quiçá, não tenham abandonado suas próprias
origens.
Numa leitura superficial, do exemplo acima, detectamos o quanto segue:

a) que o termo “racismo branco” pressupõe a existência de um “racismo negro”. O


racismo é um “sistema que afirma a superioridade racial de um grupo sobre
outros”. O negro, no Brasil, não é e nem faz parte do sistema, portanto, quando
reage não está sendo racista, mas sim resgatando sua dignidade estraçalhada.
b) que a frase “organizações racistas anti-branco, que pregam o apartheid” é infeliz,
pois há a necessidade do oprimido se organizar para combater sua opressão, direito
líquido e certo referendado pela Teoria dos Direitos Humanos, por outro lado,
temos o direito de eleger nossos(as) próprios(as) aliados(as). Apartheid é
uma criação do homem branco, institucionalizado em 1948, cujas bases racistas
expropriaram os direitos mais elementares do povo negro, na África do Sul, e existe
no Brasil de forma “disfarçada”, não “institucionalizada oficialmente”, porém, atua
de forma muito eficiente.

A manipulação da definição do que é racismo, conforme observamos leva


muitos(as) a cometerem equívocos que vão desde impingir erroneamente àqueles(as)
que são subjugados(as) uma responsabilidade não sua, até a introjeção por parte
daqueles(as) que são vítimas, de atributos alheios. Por exemplo: “Eu sou racista”,
quando se assumem negros(a) na luta contra o racismo - para mostrarem-se “radicais”.
Isto ocorre com as/os que estão mal informadas(os), as(os) neófitas(os), e inclusive com
militantes antigos em organizações do movimento negro, que não trabalham a
48

formação política de seus(suas) membros. Permeia ainda alguns/algumas militantes


políticos de esquerda para os(as) quais Lélia Gonzalez (1982) em “Lugar de Negro” dizia
que:

Quanto aos aspectos negativos, deixando de lado o já tradicional


“racismo às avessas” de que somos acusados sempre que nós, negros,
partimos para a denúncia do racismo e da discriminação, pintaram
outras acusações com as de divisionistas, revanchistas etc. e tal,
provenientes de certos setores de esquerda, além daquela de
subversão, tão cara ao regime.

8.1 Estudo de Caso

Nós apresentamos a outra face tantas vezes que agora nada mais resta que possamos oferecer.
Oliver Tambo

Marcelo Rubens Paiva, em sua coluna, na Folha de São Paulo, no dia


06/02/95, página 2, do caderno 6, intitulada “Virar racista por aqui, é muito fácil”, faz,
entre outras afirmações as que se seguem:

Eu não sou racista [...] Mas desde que vim para cá, sinto no ar um
movimento constante para me tornar racista. E quem me empurra
para este buraco é a maioria dos negros americanos; aqueles que não
cumprimentam brancos, não falam com brancos, evitam o contato,
não olham na cara e não respondem às perguntas.

Todos nós sabemos que Marcelo Rubens Paiva é “branco brasileiro” e


conforme dizia o Professor Oracy Nogueira: “No Brasil se tem preconceito de ter
preconceito”, logo se tem, também, vergonha de se ser racista. Quando alguém de
origem étnico/racial branca-européia, pertencente a uma classe média alta, tradicional,
diz que não é racista, logo desconfiemos, pois, de forma análoga, seria dificílimo a um
homem afirmar-se não-machista numa sociedade machista e patriarcal. Portanto, será
difícil e quase impossível um branco não ser racista numa sociedade forjada em bases
racista e escravagista.
O negro brasileiro, em sua maioria, dada a sua história, ainda hoje procura
agradar “branco brasileiro” no afã de conseguir migalhas de atenção e reconhecimento.
Já o negro e/ou africano-americano, em grande maioria, por sua história, sabe e conhece
49

o branco. Por isso, não procura no outro, no branco, sua autoestima e autoconfiança.
Esta independência, autonomia e altivez incomodam os “brancos brasileiros” mal
acostumados por serem paparicados por muitos(as) negros(as) e/ou afro-brasileiros(as).
Portanto, não serão os africano-americanos que irão empurrar o Marcelo Rubens Paiva
a se tornar racista, suas matérias para a Folha de São Paulo, principalmente as dos dias
07 de novembro de 1994 e em 06 de fevereiro de 1995, externam a subjetividade de
suas manifestações, haja vista que negam inclusive o direito aos povos historicamente
oprimidos e explorados de reagirem. E, neste caso não cumprimentar, não falar, evitar
o contato, não olhar na cara e não responder perguntas de um branco é direito de
toda/o e qualquer negra/o consciente e isto não o torna “racista”.
50

9 O(A) NEGRO(A) PODE TER PRECONCEITO E DISCRIMINAR RACIALMENTE OUTRO(A)


DE SUA PRÓPRIA RAÇA/ETNIA

O pior crime que o branco cometeu foi ter-nos ensinado a odiarmo-nos.


Malcolm X

Reportando-nos às definições/conceitos apresentados nas páginas


anteriores, as quais enfocam o que é discriminação e preconceito raciais, observamos
sem titubear quanto a impossibilidade do(a) negro(a) e/ou afrobrasileiro a encetá-los
às pessoas do seu próprio grupo. Tais manifestações, haja vista que na sociedade
brasileira por mais fragmentada que esteja através da dissimulação eufemística de
“pardo(a)” que pode significar ausência de cor ou “branco sujo”, conforme as edições
mais antigas do Dicionário Aurélio; “mulato(a)”, termo extremamente pejorativo pois
vem de “Mú”, Muares, Mula mais o sufixo ato/a, e mais, fruto do cruzamento de cavalo
com mula ou jumento com égua; moreno(a) termo muito utilizado na região nordeste
do país, para designar negros(as), ignorando que uma pessoa morena é caracterizada
pela cor branca e cabelos pretos; a população negra não é considerada o ponto positivo
de referência20 e muito menos pertence a “uma classe exploradora que propaga uma
atitude social entre o público com o propósito de estigmatizar algum grupo inferior”
com o fito de “justificar uma exploração e de seus recursos”.
O preconceito enquanto “um conceito ou opinião formada
antecipadamente, sem maior ponderação ou conhecimento dos fatos”, permeia a
sociedade logo a população negra, neste contexto, vê-se envolvida pelo massacre
ideológico étno-eurocêntrico, absorvendo valores do outro (o branco) e em
consequência, muitas vezes, projetando-os contra pessoas de seu próprio grupo.
Porém, esta agressão, que deve ser também veementemente condenada, não é um
preconceito racial, em toda a sua concepção, e, sim o preconceito como uma “idéia
preconcebida”, tal como não “não vi, não conheci e não gostei”. Isto com agravante de
que quando um(a) negro(a) reproduz os estereótipos e estigmas preconceituosos o faz

20
Segundo Neusa Santos Souza, em Tornar-se Negro, é do “branco, proprietário do lugar de referência, a
partir do qual o negro será definido e se autodefinirá” (1983, p. 26).
51

como alienado(a) uma vez que utiliza como ponto positivo de referência os valores do
sistema, das classes dominantes.
A discriminação, no Brasil, também é passível de ocorrer no mesmo grupo
étnico-racial como consequência daqueles valores introjetados, do outro (o branco),
com relação aos seus afins, mesmo assim não há possibilidade de existir discriminação
racial ipso facto, já que as restrições, exclusão ou preferências que tem como objetivo
ou efeito anular o reconhecimento, gozo ou exercício de direitos humanos e liberdades
fundamentais no domínio político, econômico, social, cultural ou em qualquer outro
domínio da vida pública, são herança da sociedade escravocrata para manutenção da
hegemonia branca, nas relações inter-raciais. O negro, alienado, fruto de uma sociedade
doente, só reproduz o que as classes dominantes – o sistema – produzem. Sistema este
ao qual ele não pertence e, principalmente, porque não há a delimitação de grupos
étnicos e etnias entre negros, na sociedade brasileira.

9.1 Estudo de Caso

Preconceito
1) A letra da música “Fricote”21, de autoria de Paulinho Camafeu, cantada
por Luiz Caldas, ambos negros despigmentados, tocada de norte a sul do Brasil, tem
todo um conteúdo repleto de estereótipos racista e machista. Sua veiculação
reproduziu e ratificou o senso comum, ou seja, o “modo de pensar espontâneo, sem
rigor crítico, sem demonstração da verdade de nossos conceitos”, entretanto tal música
foi criada e cantada por negros(as) que introjetaram os estigmas e estereótipos
preconceituosos contra a sua raça/etnia, assim como contra as mulheres, senão
vejamos alguns trechos:

21
A Professora Drª. Maria de Lourdes Teodoro aborda com propriedade a questão da identidade negra
em seu livro “Fricote - Swing”, editado em 1986 - Editora Thesaurus.
52

Fricote: “Nega do cabelo duro,


que não gosta de pentear.
Quando passa na baixa do tubo,
o negão começa a gritar.
Pega ela aí, pega ela aí.
Prá quê?
Prá passar batom.
De que cor?
De violeta, na boca e na bochecha”.

Em primeiro lugar a raça/etnia negra pode ter o cabelo crespo ou não. Isto
vai depender da região de origem em África, na Austrália ou ainda, no Brasil, do grau de
mistura. A letra da música reproduz também o estereótipo de que negro ou negra são
desleixados, pois “não gosta de pentear” o cabelo, o que é uma inverdade. Penteamos,
trançamos, fazemos “dreads”, etc.

Foto: 8 Fonte: do autor Foto: 9 Fonte: do autor


53

Foto: 10 Fonte: do autor Foto: 11 Fonte: Olarewaju O. Ogunbiyi

Na letra da música o “cabelo duro” pode ser interpretado como “cabelo


ruim22”, no pensamento/entendimento do senso comum.
O cantor e sua música ficaram no ostracismo durante longos anos, talvez, aí
resida a maior penalização que poderia recair sobre a pratica de tal ato.

2) Em 1996, o mundo musical e assaltado por mais uma letra recheada de


estereótipos e estigmas contra o povo negro e, particularmente, contra a mulher negra:
“Veja os Cabelos Dela”. Outra vez, o autor é negro, despigmentado, mas é negro. O
cantor, humorista e, hoje, deputado federal tem como nome artístico: Tiririca.
Observemos alguns trechos da música:

“veja veja veja


os cabelos dela
parece bombril
de ariar panela
[...]
mas seus cabelos
não tem jeito não

22
A mestra em educação Ilma Fátima de Jesus costuma brincar com suas/seus interlocutoras/es
perguntando-lhes: “O que meu cabelo fez de mal para vocês chamá-lo de ruim”.
54

a sua catinga
quase me desmaiou
olha não aguento
o grande seu fedor
[...]
essa nega fede!
fede de lascar
bicha fedorenta
fede mais
que um gambá.

Mais uma vez a grita de setores do movimento negro, ONGs de mulheres


negras e inúmeras formas organizativas se fez ouvir. O caso teve repercussão nacional.
A gravadora foi processada e discos foram recolhidos. E, conforme afirmou o músico e
cantor Chico Cesar, na ocasião: “[...] ofensa basta” (1996). Sugeria inclusive “O boicote
[...] O piquete [...] A vaia”.
Os casos citados são exemplares para explicitar o processo de alienação no
qual milhões de negras(os), das mais variadas tonalidades de cor, se encontram.
Versando sobre esta questão Jurandir Freire Costa (1983, p. 2-3) nos revela
que:

A violência racista [...] exerce-se, antes de mais nada, pela impiedosa


tendência, a destruir a identidade do sujeito negro, este, através da
internalização compulsória e brutal de um Ideal de Ego branco, é
obrigado a formular para si um projeto identificatório incompatível
com as propriedades biológicas do seu corpo. Entre o Ego e seu Ideal
cria-se um fosso que o sujeito negro tenta transpor, às custas de sua
possibilidade de felicidade, quando não de seu equilíbrio psíquico
(COSTA apud SANTOS, 1983, p. 2-3).

Neste sentido, podemos aferir que os dois casos se enquadram no “do mito
negro construído a expensas de uma desvalorização sistemática dos atributos físicos do
sujeito negro”. E, parafraseando, Freire Costa, é com desprezo, deboche, vergonha ou
hostilidade que os autores/cantores referem-se ao “cabelo duro” da “nega que não
gosta de pentear”, ao “negão” que “começa a gritar”, ao “cabelo dela que parece
55

Bombril”, da “catinga”, da “bicha fedorenta como um gambá” (COSTA apud SANTOS,


1983, p. 5-6).
Finalizando, encontramos as afirmações Neusa Santos Souza, que ajuda-nos
a refletir: “o irracional, o feio, o ruim, o sujo [...] são as principais figuras representativas
do mito negro” e, arrematando, diz: “o negro acreditou no conto, no mito, e passou a
ver-se com os olhos e falar a linguagem do dominador” (SANTOS, 1983, p.27 e 30).
Neste sentido, as praticas apresentadas são condenáveis, desumanas e
devem ser combatidas com muita veemência sem, contudo, serem entendidas como
preconceito racial, na acepção do conceito.

Discriminação
1) Depoimento: Maria José Silva

“No prédio onde trabalho a entrada para as trabalhadoras domésticas


era impedida no elevador social e só era permitida no elevador de
serviço que ficava do outro lado e o aviso era que as empregadas
deviam entrar pela entrada de serviço onde se encontrava o elevador
de serviço, senão os patrões iriam pagar multa. Então eu disse para o
porteiro, que era também negro, que se eu não pudesse entrar pelo
elevador social meu patrão iria ficar sem comida em casa por que eu
não iria trabalhar. Eles se reuniram e mudaram a norma do
condomínio” (OGUNBIYI, COSTA, JESUS, 2009, p. 36. grifos nossos,
acrescidos com a confirmação e autorização da depoente).

Conforme a “Convenção Internacional sobre a Eliminação de todas as formas


de Discriminação Racial”, adotada pelo Brasil, em 21/12/1965, Discriminação Racial é
qualquer distinção, exclusão, restrição ou preferência baseadas em raça, cor,
descendência ou origem étnica, que tem por objetivo ou efeito anular ou restringir o
reconhecimento, gozo ou exercício num mesmo plano (em igualdade de condições) de
direitos humanos e liberdade fundamentais no domínio político, econômico, social,
cultural ou em qualquer outro domínio da vida pública.
Neste sentido, entende-se, que quem controla os meios de produção social
como a comunicação, educação, grandes bancos, grandes indústrias, grandes
comércios, agricultura, grandes redes prestadoras de serviços, a indústria da habitação,
entre outros, detém o poder e tem a possibilidade de distinguir, excluir, restringir e/ou
56

ter preferências. Assim, no Brasil, o poder é controlado por uma classe dominante
composta por brancos e é quem pode discriminar racialmente o negro.
Em consequência disto porteiros, seguranças, vigias,
recrutadoras(es)/selecionadores(as) de pessoal negras(os) podem até reproduzir
comportamentos discriminadores devido sua posição de submissão/obediência a
comandos de síndicos, chefias, gerencias, etc. que representam e detém o poder
recusar, negar ou impedir acesso, ingresso, atendimento, etc. Estes(as) agentes
reproduzem a discriminação manifesta através do racismo contido na instituição.
57

10 SOBRE A LEI CAÓ – LEI Nº 7716/89

A legislação brasileira no tocante a punição de manifestações do racismo: o


preconceito e a discriminação raciais tem seu marco na chamada Lei 1.390, de 3 de julho
de 1951, conhecida como Afonso Arinos, a qual incluía entre as contravenções penais a
prática de atos resultantes de preconceito de raça ou de cor. Dada a iniquidade da lei
que não considerava como crime a ofensa ao povo negro o Movimento Negro Unificado
– MNU, criado em 18 de junho de 1978, fez seu enterro simbólico no ano 1979, no Largo
São Francisco, em frente da Faculdade de Direito de São Paulo.
Em a Lei 7.437, de 20 de dezembro de 1985, revoga a Afonso Arinos,
entretanto não alterou o espírito da lei, que continuou considerando os crimes oriundos
do racismo como contravenção penal. Isto apesar de começar a vigorar, na sociedade
brasileira os novos ares da abertura democrática. Antes, na ditadura militar, as forças
políticas nem se cogitavam colocar em prática o acordo contido na Convenção
Internacional sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Racial, firmado
em 1965 e ratificado pelo Brasil, no ano de 1968.
Na Convenção Nacional do Negro Pela Constituinte, em Brasília, no ano de
1986, o Movimento Negro Unificado – MNU e todo um conjunto de entidades e/ou
organizações negras representando os vários estados brasileiros apresentam inúmeras
reivindicações para a formulação da Nova Constituição e, dentre elas, constava a
criminalização do racismo.
Com a nova Carta Magna, nos anos de 1988, no seu artigo 5º, inciso XLII, o
racismo passa a considerado como Crime.
A Lei Nº 7.716/89, de autoria do Deputado Federal Carlos Alberto de
Oliveira, conhecido com CAÓ, regulamentava o artigo 5º, da Constituição Federal,
fatiada por diversos vetos, a lei não definia e/ou conceituava o que era racismo. E, antes
das diversas alterações sofridas, versava mais sobre a discriminação do que acerca do
preconceito racial, apesar do subtítulo definir os crimes resultantes de preconceito de
raça e cor, senão vejamos:

LEI Nº 7.716, DE 5 DE JANEIRO DE 1989


Define os crimes resultantes de preconceito de raça ou de cor
58

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, faço saber que o Congresso Nacional decreta e


eu sanciono a seguinte Lei:
Art. 1º Serão punidos, na forma desta Lei, os crimes resultantes de
preconceitos de raça ou de cor.
Art. 1º Serão punidos, na forma desta Lei, os crimes resultantes de
discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional.
(Redação dada pela Lei nº 9.459, de 15/05/97)
Art. 2º (Vetado).
Art. 3º Impedir ou obstar o acesso de alguém, devidamente habilitado, a
qualquer cargo da Administração Direta ou Indireta, bem como das concessionárias
de serviços públicos.
Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem, por motivo de discriminação
de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional, obstar a promoção funcional.
(Incluído pela Lei nº 12.288, de 2010)
Pena: reclusão de dois a cinco anos.
Art. 4º Negar ou obstar emprego em empresa privada.
§ 1o Incorre na mesma pena quem, por motivo de discriminação de raça ou de
cor ou práticas resultantes do preconceito de descendência ou origem nacional ou
étnica: (Incluído pela Lei nº 12.288, de 2010)
I - deixar de conceder os equipamentos necessários ao empregado em
igualdade de condições com os demais trabalhadores; (Incluído pela Lei nº 12.288,
de 2010)
II - impedir a ascensão funcional do empregado ou obstar outra forma de
benefício profissional; (Incluído pela Lei nº 12.288, de 2010)
III - proporcionar ao empregado tratamento diferenciado no ambiente de
trabalho, especialmente quanto ao salário. (Incluído pela Lei nº 12.288, de 2010)
§ 2o Ficará sujeito às penas de multa e de prestação de serviços à comunidade,
incluindo atividades de promoção da igualdade racial, quem, em anúncios ou
qualquer outra forma de recrutamento de trabalhadores, exigir aspectos de
aparência próprios de raça ou etnia para emprego cujas atividades não justifiquem
essas exigências.
Pena: reclusão de dois a cinco anos.
Art. 5º Recusar ou impedir acesso a estabelecimento comercial, negando-se a
servir, atender ou receber cliente ou comprador.
Pena: reclusão de um a três anos.
Art. 6º Recusar, negar ou impedir a inscrição ou ingresso de aluno em
estabelecimento de ensino público ou privado de qualquer grau.
Pena: reclusão de três a cinco anos.
Parágrafo único. Se o crime for praticado contra menor de dezoito anos a pena
é agravada de 1/3 (um terço).
Art. 7º Impedir o acesso ou recusar hospedagem em hotel, pensão, estalagem,
ou qualquer estabelecimento similar.
Pena: reclusão de três a cinco anos.
Art. 8º Impedir o acesso ou recusar atendimento em restaurantes, bares,
confeitarias, ou locais semelhantes abertos ao público.
Pena: reclusão de um a três anos.
Art. 9º Impedir o acesso ou recusar atendimento em estabelecimentos
esportivos, casas de diversões, ou clubes sociais abertos ao público.
Pena: reclusão de um a três anos.
Art. 10. Impedir o acesso ou recusar atendimento em salões de cabeleireiros,
barbearias, termas ou casas de massagem ou estabelecimento com as mesmas
finalidades.
59

Pena: reclusão de um a três anos.


Art. 11. Impedir o acesso às entradas sociais em edifícios públicos ou
residenciais e elevadores ou escada de acesso aos mesmos:
Pena: reclusão de um a três anos.
Art. 12. Impedir o acesso ou uso de transportes públicos, como aviões, navios
barcas, barcos, ônibus, trens, metrô ou qualquer outro meio de transporte
concedido.
Pena: reclusão de um a três anos.
Art. 13. Impedir ou obstar o acesso de alguém ao serviço em qualquer ramo
das Forças Armadas.
Pena: reclusão de dois a quatro anos.
Art. 14. Impedir ou obstar, por qualquer meio ou forma, o casamento ou
convivência familiar e social.
Pena: reclusão de dois a quatro anos.
Art. 15. (Vetado).
Art. 16. Constitui efeito da condenação a perda do cargo ou função pública,
para o servidor público, e a suspensão do funcionamento do estabelecimento
particular por prazo não superior a três meses.
Art. 17. (Vetado).
Art. 18. Os efeitos de que tratam os arts. 16 e 17 desta Lei não são automáticos,
devendo ser motivadamente declarados na sentença.
Art. 19. (Vetado).
Art. 20. Praticar, induzir ou incitar, pelos meios de comunicação social ou por
publicação de qualquer natureza, a discriminação ou preconceito de raça, por
religião, etnia ou procedência nacional. (Artigo incluído pela Lei nº 8.081, de
21.9.1990)
Pena: reclusão de dois a cinco anos.
§ 1º Incorre na mesma pena quem fabricar, comercializar, distribuir ou veicular
símbolos, emblemas, ornamentos, distintivos ou propaganda que utilizem a cruz
suástica ou gamada, para fins de divulgação do nazismo. (Parágrafo incluído pela
Lei nº 8.882, de 3.6.1994)
§ 2º Poderá o juiz determinar, ouvido o Ministério Público ou a pedido deste,
ainda antes do inquérito policial, sob pena de desobediência:(Parágrafo
renumerado pela Lei nº 8.882, de 3.6.1994)
I - o recolhimento imediato ou a busca e apreensão dos exemplares do material
respectivo;
II - a cessação das respectivas transmissões radiofônicas ou televisivas.
§ 3º Constitui efeito da condenação, após o trânsito em julgado da decisão, a
destruição do material apreendido. (Parágrafo renumerado pela Lei nº 8.882, de
3.6.1994)
Art. 20. Praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito de raça, cor,
etnia, religião ou procedência nacional. (Redação dada pela Lei nº 9.459, de
15/05/97)
Pena: reclusão de um a três anos e multa.
§ 1º Fabricar, comercializar, distribuir ou veicular símbolos, emblemas,
ornamentos, distintivos ou propaganda que utilizem a cruz suástica ou gamada,
para fins de divulgação do nazismo. (Redação dada pela Lei nº 9.459, de 15/05/97)
Pena: reclusão de dois a cinco anos e multa.
§ 2º Se qualquer dos crimes previstos no caput é cometido por intermédio dos
meios de comunicação social ou publicação de qualquer natureza: (Redação dada
pela Lei nº 9.459, de 15/05/97)
Pena: reclusão de dois a cinco anos e multa.
60

§ 3º No caso do parágrafo anterior, o juiz poderá determinar, ouvido o


Ministério Público ou a pedido deste, ainda antes do inquérito policial, sob pena de
desobediência: (Redação dada pela Lei nº 9.459, de 15/05/97)
I - o recolhimento imediato ou a busca e apreensão dos exemplares do material
respectivo;
II - a cessação das respectivas transmissões radiofônicas ou televisivas.
III - a interdição das respectivas mensagens ou páginas de informação na rede
mundial de computadores. (Incluído pela Lei nº 12.288, de 2010)
§ 4º Na hipótese do § 2º, constitui efeito da condenação, após o trânsito em
julgado da decisão, a destruição do material apreendido. (Parágrafo incluído pela
Lei nº 9.459, de 15/05/97)
Art. 21. Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação. (Renumerado pela
Lei nº 8.081, de 21.9.1990)
Art. 22. Revogam-se as disposições em contrário. (Renumerado pela Lei nº
8.081, de 21.9.1990)
Brasília, 5 de janeiro de 1989; 168º da Independência e 101º da República.
JOSÉ SARNEY
Paulo Brossard
Este texto não substitui o publicado no D.O.U de 6.1.1989.
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil/Leis/L7716.htm. Acessado em:
18.03.2011.

Cotejando a lei observa-se que ela está aquém do desejado, pois carece de
tipificação, fora dos marcos neoliberais, quanto aos conceitos de racismo, discriminação
racial, preconceito racial e, o pior ainda é, que impõe à vítima o ônus da prova.
Urge um trabalho pertinaz na busca de obtenção de espaços no poder, para
que alcancemos as reais condições e assim garantirmos com que leis contra o racismo e
suas manifestações: o preconceito e a discriminação raciais tenham eficácia e atinjam
suas finalidades.
61

11 ESTATUTO DA IGUALDADE RACIAL (LEI Nº 12.288/2010)

O novo Estatuto, da maneira que foi aprovado, não atende a necessidade da


população negra, uma que “não é incisivo e deixa em aberto algumas questões que
cabem ao Estado resolver, ficando só na proposição”. A maior crítica do Movimento
Negro Unificado - MNU recai sobre a falta de um fundo para o atendimento das políticas
públicas. As comunidades remanescentes de quilombo ficaram sem a definição de seus
territórios. As cotas raciais, que só recentemente foi considerada constitucional, e
inclusão de atores negros na TV e no cinema foram retiradas do texto original (PULSAR
BRASIL, 2009).
Entretanto, o Estatuto da Igualdade Racial, Lei nº 12.288, de julho de 2010,
tenta expressar as legítimas demandas da população negra urdidas, durante décadas,
no seio do movimento negro.
O Estatuto da Igualdade Racial altera as Leis nºs. 7.716, de 5 de janeiro de
1989, 9.029, de 13 de abril de 1995, 7.347, de 24 de julho de 1985, e 10.778, de 24 de
novembro de 2003. Destinado a garantir à população negra a efetivação da igualdade
de oportunidades, a defesa dos direitos étnicos individuais, coletivos e difusos e o
combate à discriminação e às demais formas desrespeito étnico, define/tipifica o que é:
discriminação racial, desigualdade racial, desigualdade de gênero e raça, população
negra, políticas públicas, e, ações afirmativas.
Em seus 65 artigos define entre os direitos fundamentais: o direito à saúde;
à educação, à cultura, ao esporte e ao lazer; à liberdade de consciência e de crença e ao
livre exercício dos cultos religiosos; do acesso à terra e à moradia adequada; do trabalho;
dos meios de comunicação. Institui, ainda, o Sistema Nacional de Promoção da
Igualdade Racial (SINAPIR).
62

12 CONCLUSÃO

Acredita-se que, o serviço de assistência técnica para Comunidades


Quilombolas, observados os pressupostos epistemológicos apresentados neste trabalho
venha contribuir sobremaneira nas atividades que suscitem reflexões sobre os direitos
humanos, o movimento negro e como se dão as questões étnico-raciais, na sociedade
brasileira. Entende-se que sem este tipo de reflexão torna quase impossível que as
políticas públicas consigam ter o alcance desejado.
São inúmeros os fatores que impossibilitam o sucesso das políticas públicas,
particularmente, as destinadas a atender demandas históricas como as das
Comunidades Quilombolas. Senão vejamos o Decreto 4.884, de 20 de novembro de
2003, que regulamenta o procedimento para identificação, reconhecimento,
delimitação, demarcação e titulação das terras ocupadas por remanescentes das
comunidades dos quilombos de que trata o artigo 68, do Ato das Disposições
Constitucionais Transitórias vem sofrendo, ao longo dos anos, um boicote por parte da
bancada ruralista que através do Partido da Frente Liberal (PFL), atual Democrata (DEM),
que protocolou no Supremo Tribunal Federal (STF) Ação Direta de Inconstitucionalidade
(ADIN), sob o nº 3239/04 questionando sua constitucionalidade com base nos critérios
para a regulamentação das terras sem o amparo de uma lei a qual foi distribuída
(COELHO, 2012).
O julgamento do Decreto teve inicio no dia 18 de abril de 2012, no Supremo
Tribunal Federal e foi suspenso com pedido de vista da ministra Rosa Weber. Referida
ação, pois, pende de julgamento deixando os quilombolas em estado de maior
apreensão, desgaste e insegurança jurídica.
Tal indefinição acarreta emperra a agilização com maior alcance das políticas
públicas para atender as comunidade quilombolas. A não titulação dos territórios
quilombolas continua promovendo a falta de saneamento básico e de acesso a outras
políticas públicas, ocasionando insegurança nas comunidades, agravando as situações
de vulnerabilidade quanto à alimentação, moradia, saúde, educação, trabalho, geração
de renda, transporte, etc., ou seja, deixando os quilombos à margem das garantias
constitucionais e dos direitos humanos fundamentais.
63

Para além destes entraves encontram-se aqueles que dificultam a


operacionalização das ações das organizações e/ou cooperativas atuantes nas
Chamadas Públicas de ATER, tais como: descontinuidade no envio de recursos
financeiros, greves de servidoras(es) do Instituto Nacional de Colonização e Reforma
Agrária (INCRA), e do Ministério do Desenvolvimento Agrário.
Entrementes os fundamentos teóricos, orientações e procedimentos
metodológicos contidos na construção de uma Pedagogia de ATER, a qual está
consubstanciada na Política Nacional de ATER (Pnater), em conformidade com a Lei
12.188, de 11 de janeiro de 2010, que considera as orientações do Plano Nacional de
Promoção da Igualdade Racial (Lei 6.872, de 04/06/2009) do II Plano Nacional de
Políticas para as Mulheres aquelas(es) quem trabalham na ponta dos serviços de
assistência técnica, em sua grande maioria, são carentes da sensibilidade e de um
“repertório interno”, ou seja, formação para lidar com questões ligadas a especificidade
das populações negras e, particularmente, com quilombolas.
Propiciar o exercício de direitos, difundir os princípios do Serviço de
Assistência Técnica e Extensão Rural (ATER) e fortalecer a cidadania considerando
diferenças de Gênero, Geração e Etnia requer um esforço extraordinário para a
capacitação, formação e nivelamento das equipes que estarão realizando, operando as
políticas de ATER. E, é nesta modalidade que devem se situar os pressupostos
epistemológicos de base para a elaboração de políticas públicas em Gênero e Raça. Sem
os quais acredita-se, não haverá mudança de paradigmas.
O presente trabalho visou analisar as políticas públicas de gênero e etnia,
relativas à população afro-brasileira e a necessária formação de lideranças
multiplicadoras(es) sobre o significado de: Direitos Humanos, Movimento Negro
(histórico), Questão Étnico-Racial (conceitos e definições sobre o que é racismo e suas
manifestações: preconceito e discriminação raciais), e Questão de Gênero.
Acreditamos que o combate ao racismo e suas manifestações
discriminatórias e preconceituosas será mais contundente quando tivermos a segurança
e o domínio sobre tais conceitos. Por fim, o presente trabalho tem o fito de contribuir
para o processo de reconstrução de uma sociedade humanitária, solidária e socialista
onde o racismo e suas manifestações não tenham lugar.
64

REFERÊNCIAS

BRASIL. Legislação Federal. 1969 - pág. 2547.

AKCELRUD, Isaac. Ideologia racista num país mestiço - Um projeto do fascismo


dependente no Brasil getuliano. São Paulo: Folhetim - Folha de São Paulo, p.9, nº 414 -
23/12/84.

AZEVEDO, Eliane. Raça: conceito e preconceito. São Paulo: Ática, 1990.

BENTO, Maria Aparecida Silva. CARONE, Iray. (Orgs.). Psicologia social do racismo:
Estudos sobre branquitude no brasil. Petrópolis: Vozes, 2002.

BERND, Zilá. A questão da negritude. São Paulo: Brasiliense, 1984.

BULLARD Robert. Ética e racismo ambiental. Disponível em:


http://ambientes.ambientebrasil.com.br/educacao/textos_educativos/etica_e_racism
o_ambiental.html . Acesso em 31.03.2012.

CASHMORE, Ellis. Dicionário de relações étnicas e raciais. São Paulo: Summus, 2000.

COELHO, Oswaldo. Garantia do direito de titulação das terras ancestrais aos


quilombolas. Paper apresentado NA FACULDADE DE CIENCIAS ECONOMICAS DA UFPA -
WORKSHOP SOBRE O “PROJETO VERDES OLEOS DA AMAZÔNIA”, em 19.09.2012.

CONVENÇÃO 169 DA OIT. Disponível em:


http://www.socioambiental.org/inst/esp/consulta_previa/?q=convencao-169-da-oit-
no-brasil#obrigatoriedade. Acesso em 04.11.2012.

CONVENCIÓN SOBRE LA ELIMINACIÓN DE TODAS LAS FORMAS DE DISCRIMINACIÓN


CONTRA LA MUJER. Disponível em:
http://www.un.org/womenwatch/daw/cedaw/text/sconvention.htm. Acesso em
04.11.2012.

COSTA, Marisa Vorraber. (Org.). Escola básica na virada do século, cultura, política e
currículo. 3. ed. São Paulo. Editora Cortez, 2002.

COX, Oliver Cromwell. Caste, Class and Race, a study in social dynamics. N.Y, Monthy
Review Press, 1959.

DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS. Disponível em:


http://unesdoc.unesco.org/images/0013/001394/139423por.pdf . Acesso em
27.09.2012.
65

DECRETO 4.887 DE 20 DE NOVEMBRO DE 20.11.2003. Disponível em:


http://www.palmares.gov.br/wp-content/uploads/2010/11/legis09.pdf. Acesso em:
27.09.2012.

ESTATUTO DA IGUALDADE RACIAL. Disponível em:


http://bd.camara.gov.br/bd/bitstream/handle/bdcamara/4303/estatuto_igualdade_ra
cial.pdf?sequence=1 . Acesso em: 27.09.2012.

FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo Dicionário da Língua Portuguesa. 2. ed.


Ver. Aum. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1989.

FREIRE-MAIA, Newton. Brasil: laboratório racial. Petrópolis, RJ: Vozes, 1973.

GONZALEZ, Lélia. HASENBALG, Carlos. Lugar de Negro. Rio de Janeiro: Marco Zero, 1982.

GUIMARÃES, Antonio Sérgio Alfredo. Preconceito racial: modos, Temas e Tempos. São
Paulo: Cortez, 2008

HEILBORM, Maria Luiza. ARAÚJO, Leila. BARRETO, Andréia. (Orgs). Gestão de Políticas
Públicas em Gênero e Raça / GPP. Rio de Janeiro: CEPESC; Brasília: Secretaria de
Políticas para Mulheres, 2011.

JACQUARD, Albert. Racismo e Ciência: os mitos no microscópio. O Correio da UNESCO,


janeiro/84, ano 12, nº. 1, p. 25.

JONES, James M. Preconceito e racismo. Reading, MA: Editora Addison Wesley, 1972.

KRIUKOV, Mikhail V. Origens das Idéias Racistas. Rio de Janeiro: O Correio da UNESCO,
janeiro/84, ano 12, nº. 1, p. 6.

LAWLER, James M. Inteligência, Hereditariedade e Racismo. Lisboa: Editoria Caminho,


1981.

LEMOS, Silse Teixeira de Freitas. Considerações sobre o surgimento e o percurso das


Políticas Públicas no cenário internacional e Brasileiro. Texto complementar para o
Curso Gestão Pública Municipal. São Luís: UFMA/NEAD, 2010. 9 p.

LOURO, Guacira Lopes. O CORPO EDUCADO: Pedagogias da Sexualidade. Disponível em:


http://www.ufscar.br/cis/wp-content/uploads/Guacira-Lopes-Louro-O-Corpo-
Educado-pdf-rev.pdf. Acesso em 16.10.2011.

MACLAREN, Peter. Multiculturalismo Crítico. São Paulo: Cortez, 1997.

_____. A vida nas escolas: Uma introdução à pedagogia crítica nos fundamentos da
educação. 2. ed. Porto Alegro: Artes Médicas, 1997.
66

MEMMI, Albert. O Racismo no Mundo Contemporâneo: “Nós” e “eles”. Rio de Janeiro:


O Correio da UNESCO, janeiro/84, ano 12, nº. 1, p. 11.

Movimento Negro critica o novo Estatuto da Igualdade Racial. Disponível em:


http://www.brasil.agenciapulsar.org/nota.php?id=5031. Acesso em: 27.09.2012.

MUNANGA, Kabengele. Negritude - Usos e Costumes. São Paulo: Ática, 1986.

OGUNBIYI, Adomair O. Agenda Cultural Afro-Brasileira 1888-1988. Secretaria de Estado


da Cultura, São Paulo, 1988.

______. Políticas públicas e gestão democrática e participativa: estudo de caso sobre


o conselho municipal das populações afrodescendentes – COMAFRO (2004-2008). São
Luís: UFMA. Trabalho de Conclusão de Curso (Pós-Graduação) Universidade Federal do
Maranhão, Especialização Em Gestão Pública Municipal, 2011.

OGUNBIYI, Adomair O. COSTA, Maria Isabel Castro. JESUS, Ilma Fátima de. (Orgs.). 20
anos do SINDOMÉSTICO no Maranhão: A luta pela conquista da cidadania e dos direitos
trabalhistas. São Luís: Faculdade Santa Fé, 2009.

OLIVEIRA, Fátima. Saúde da população negra: Brasil ano 2001. Brasília: Organização
Pan-Americana da Saúde, 2003.

PNUD – Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento. Disponível em:


http://www.pnud.org.br/projetos/pobreza_desigualdade/visualiza.php?id07=235 .
Acesso em: 31.03.2011.

Prática X Produção – Uma reflexão sobre os estudos da cultura negra no Brasil hoje.
São Paulo: ASESP – Associação dos Sociólogos do Estado de São Paulo, 1983.

SALLES, Helena da Motta. Gestão democrática e participativa. Florianópolis:


Departamento de Ciências da Administração / UFSC; [Brasília]: CAPES: UAB, 2010. 110
p.

SAMPAIO, Elias de Oliveira. Racismo Institucional. Disponível em:


http://www3.ucdb.br/mestrados/RevistaInteracoes/n6_elias_olveira.pdf. Acesso em
31.03.2011.

SANTOS, Joel Rufino dos. O que é racismo. São Paulo: Brasiliense, 1991.

SILVA, Martiniano J. Racismo à brasileira: raízes históricas: um novo nível de reflexão


sobre a história social do Brasil. São Paulo: Anita, 1995.

SILVÉRIO, Valter Roberto. Ação Afirmativa e o combate ao racismo institucional no


Brasil. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/cp/n117/15560.pdf. Acesso em:
31.03.2011.
67

SOUZA, Neusa Santos. Tornar-se Negro. 2. ed. Rio de Janeiro: Graal, 1983.

TAGUIEFF, Pierre-André. Uma Corrida Inglória. São Paulo: Abril. Super Interessante -
março/93.

TEODORO, Maria de Lourdes. Fricote: Swing: ensaio sócio-antropológico em ritmo de


jazz. Brasília: Thesaurus 1986.

THEODORO, Mário. (org.). As políticas públicas e a desigualdade racial no Brasil: 120


anos após a abolição. Brasília: IPEA, 2008.

Potrebbero piacerti anche