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ISSN 2178-2245
UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ESTUDOS FRONTEIRIÇOS
CÂMPUS DO PANTANAL
Reitor
Marcelo Augusto Santos Turine
Vice-Reitora
Camila Celeste Brandão Ferreira Ítavo
Comissão Organizadora
Nacional
Adriana Dorfman - Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Aguinaldo Silva - Universidade Federal do Mato Grosso do Sul
Alberto Hernández Hernández - El Colegio de la Frontera Norte, México
Alessandra Rufino Santos - Universidade Federal de Roraima
Alexandre Cougo de Cougo - Universidade Federal do Mato Grosso do Sul
Alfredo Ricardo Silva Lopes - Universidade Federal do Mato Grosso do Sul
Aline de Lima Rodrigues - Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Campus Litoral Norte
Ana Carolina Pontes Costa - Universidade Federal do Mato Grosso do Sul
Ana Paula Correia de Araujo - Universidade Federal do Mato Grosso do Sul
Antonio Firmino de Oliveira Neto - Universidade Federal do Mato Grosso do Sul
Beatriz Lima de Paula Silva - Universidade Federal do Mato Grosso do Sul
Beatriz Rosália Gomes Xavier Flandoli - Universidade Federal do Mato Grosso do Sul
Camilo Pereira Carneiro Filho - Universidade Federal da Grande Dourados
Carlo Henrique Golin - Universidade Federal do Mato Grosso do Sul
Cláudia Araújo de Lima - Universidade Federal do Mato Grosso do Sul
Divino Marcos de Sena - Universidade Federal do Mato Grosso do Sul
Douglas Josiel Voks - Universidade Federal do Mato Grosso do Sul
Edelir Salomão Garcia - Universidade Federal do Mato Grosso do Sul
Edgar Aparecido da Costa - Universidade Federal do Mato Grosso do Sul
Elisa Pinheiro de Freitas - Universidade Federal do Mato Grosso do Sul
Elisangela Martins da Silva Costa – Instituto Federal do Mato Grosso do Sul
Erik Luca de Mello - Universidade Federal do Mato Grosso do Sul
Fabiano Quadros Rückert - Universidade Federal do Mato Grosso do Sul
Fernando Thiago - Universidade Federal do Mato Grosso do Sul
Gicelma da Fonseca Chacarosqui Torchi - Universidade Federal da Grande Dourados
Gislene Aparecida dos Santos - Universidade de São Paulo
Gleicy Denise Vasques Moreira Santos - Universidade Federal do Mato Grosso do Sul
Gustavo de Souza Preussler - Universidade Federal da Grande Dourados
Gutemberg de Vilhena Silva - Universidade Federal do Amapá
Jones Dari Goettert - Universidade Federal da Grande Dourados
Karla Maria Muller - Unbral Fronteiras/Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Leticia Parente Ribeiro - Universidade Federal do Rio de Janeiro
Liana Amin Lima da Silva - Universidade Federal da Grande Dourados
Lício Caetano do Rego Monteiro - Universidade Federal Fluminense
Lisandra Pereira Lamoso - Universidade Federal da Grande Dourados
Luciana Escalante Pereira - Universidade Federal do Mato Grosso do Sul
Lucilene Machado Garcia Arf - Universidade Federal do Mato Grosso do Sul
Luis Paulo Batista da Silva – Universidade Federal da Bahia
Luiz Fabio Silva Paiva – Universidade Estadual do Ceará
Mara Aline Santos Ribeiro - Universidade Federal do Mato Grosso do Sul
Marcia Regina do Nascimento Sambugari - Universidade Federal do Mato Grosso do Sul
Marco Aurélio Oliveira Machado - Universidade Federal do Mato Grosso do Sul
Marcos Aurélio Matos Lemões - Universidade Federal de Pelotas
Marcos Leandro Mondardo -Universidade Federal da Grande Dourados
Maristela Ferrari - Universidade Estadual do Oeste do Paraná
Milton Augusto Pasquotto Mariani - Universidade Federal do Mato Grosso do Sul
Natalina Sierra Assêncio Costa - Universidade Estadual do Mato Grosso do Sul
Nathalia Monseff Junqueira - Universidade Federal do Mato Grosso do Sul
Rauer Rodrigues - Universidade Federal do Mato Grosso do Sul
Rebeca Steiman - Grupo Retis/Universidade Federal do Rio de Janeiro
Regina Baruki-Fonseca - Universidade Federal do Mato Grosso do Sul
Rogers Barros de Paula - Universidade Federal do Mato Grosso do Sul
Rosângela Villa da Silva - Universidade Federal do Mato Grosso do Sul
Silvia Beatriz Serra Baruki - Universidade Federal do Mato Grosso do Sul
Tomaz Espósito Neto - Universidade Federal da Grande Dourados
Valéria Peron de Souza Pinto - Universidade Federal do Mato Grosso do Sul
Vanessa Catherina Neumann Figueiredo - Universidade Federal do Mato Grosso do Sul
Vera Lucia Spacil Raddatz - Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande
do Sul
Waldson Luciano Correa Diniz - Universidade Federal do Mato Grosso do Sul
Internacional
Bianca de Marchi Moyano - Universidad Mayor de San Andrés, Bolívia
Carlos Piñones Rivera - Universidad Arturo Pratt, Chile
Cristian Ovando Santana - Universidad Arturo Pratt, Chile
Frédéric Lasserre - Université Laval, Canadá
Haroldo Dilla Alfonso - Universidad Arturo Pratt, Chile
Inês Gusman -Universidad de Santiago de Compostela, Espanha
Marcela Tapia Ladino Universidad Arturo Pratt, Chile
Sergio Peña Medina - El Colegio de la Frontera Norte, México
Yenny Vega Cárdenas - Université de Montréal, Canadá
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Anais do VII SEF (Seminário Internacional de Estudos Fronteiriços). Corumbá:
Universidade Federal do Mato Grosso do Sul; Programa de Pós-Graduação Estudos
Fronteiriços, 2019. ISSN 2178-2245 (Anais). 986 p.
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Realização
Apoio
VII Seminário Internacional de Estudos Fronteiriços - 2019
Programação
16:00h -
Intervalo Cultural / Sessão de Pôsteres
16:30h
Mesa 1 Mesa 3
Fronteiras comparadas: a Desafios para a gestão
experiência latino- pública nas fronteiras Sessão de documentários
americana Over the Wall
Edgar Aparecido da Costa de Luis Mercado
16:30h -
Bianca de Marchi Moyano (UFMS) El Colef
18:30h
(UCB, Bolívia) Maristela Ferrari
Gutemberg Vilhena Silva (Unioeste) Inter-Amazônias – uma
(UNIFAP) Inês Gusman (USC, fronteira Musical
Haroldo Dilla Alfonso Espanha) de Clicia di Micelli
(INTE, Chile) Camilo Pereira Carneiro UNIFAP
Filho (UFGD)
18:30h –
Solenidade de Abertura Intervalo Cultural Intervalo Cultural
19:30h
Apresentação
Outro fator relevante a apontar é que quase 75% dos trabalhos não contaram
com nenhum financiamento (Figura 4). A despeito das dificuldades, muitos autores
enviaram trabalhos e a maior parte esteve presente no evento nesta edição. Fontes
de financiamento dedicadas aos estudos fronteiriços devem ser concebidas para
que as pesquisas neste campo avancem.
Abstract: This article is the result of a field work carried out by the group of masters
and doctoral students of the PPGG - Postgraduate Program in Geography of UFGD -
Federal University of Grande Dourados, during the discipline "Special Topics in
Geography", taught by Prof. Dr. Jones Dari Goettert. In this field lesson, interviews
were conducted with residents of the so-called "faixa livre" which is a neutral zone on
the border between Brazil and Paraguay in the southern state of Mato Grosso do Sul.
The particularity of this place and the people living there shows how the border is a
place where relationships occur in a unique way, and despite being a contradictory
place and with various problems, it is also a place of unique multiplicities,
knowledges and experiences.
Key words: border, faixa livre, multiplicity.
Graduado em Geografia pela Universidade Federal da Grande Dourados. E-mail:
leomaruchi06@hotmail.com
Graduada em Geografia pela Universidade Federal da Grande Dourados. E-mail:
lidcris_@hotmail.com
livre", que es una zona neutra en la frontera entre Brasil y Paraguay en el sur del
estado de Mato Grosso do Sul. La particularidad de ese lugar y de las personas que
allí viven muestra como la frontera es un lugar en que las relaciones se dan de
manera única, y que a pesar de ser un lugar contradictorio y con diversos
problemas, también es un lugar de multiplicidades, saberes y vivencias únicas.
Palabras clave: frontera, faixa livre, multiplicidade.
Fernanda Paraguassu
Abstract: This article analyzes the tendency to humanize the theme of refuge in
today's society through the narrative used by mainstream media from the photo of
the boy Aylan Kurdi, who drowned in 2015 while trying to escape the Syrian conflict.
Why was this photo chosen to print the cover of newspapers and generated
worldwide commotion, becoming emblematic of the plight of refugees? The selection
of the sufferer in the public sphere, the social elaboration of responsibility and the
construction of solidarity for the awakening of compassion, considering the cultural
values and the new language of the social in postmodernity will be contemplated
here. Next, the challenge of addressing the fatigue of compassion will be addressed
in a context in which the morality and competence of the state agents are central to
contemporary politics. The reference will be the argument developed by the French
anthropologist Didier Fassin in Humanitarian Reason – the moral history of the
present.
Key words: humanization, compassion, refugees, language, child.
Introdução
Em setembro de 2015, a foto de um menino deitado numa praia da Turquia
estampou a capa dos principais jornais de diversos países da Europa e das
Américas, espalhou-se pelas redes sociais e tornou-se emblemática da situação das
crianças refugiadas no mundo contemporâneo. Aylan Kurdi, de três anos de idade,
estava de bruços na areia, perto do mar, com camiseta vermelha, short azul e
sapatos pretos... morto. Tentou fugir do conflito na Síria com a família num bote, que
afundou próximo à península de Bodrum, um balneário com resorts de luxo, a
caminho da ilha de Kós, na Grécia, destino buscado por milhares de refugiados que
tentam chegar à Europa.
Vítima, vergonha, tragédia, catástrofe, horror e crise foram algumas das
palavras que ocuparam as manchetes daquele dia junto com a foto do menino, para
demonstrar a complexidade sobre questões do deslocamento forçado de pessoas
que fogem de perseguições e guerras. Em eventos catastróficos como esse, cujas
imagens são divulgadas pela mídia e se disseminam pelo mundo através da internet,
o humanitarismo tornou-se familiar, como defende o atropólogo francês Didier
Fassin, em Humanitarian Reason – a moral history of the present.
Para Fassin, o sofrimento do refugiado e da vítima do desastre não é
simplesmente o produto do infortúnio, é também a manifestação da injustiça. E a
razão humanitária, ao instituir a equivalência de vidas e a equivalência de
sofrimento, permite-nos continuar acreditando – contrariamente à evidência cotidiana
das realidades que encontramos – nesse conceito de humanidade que pressupõe
que todos os seres humanos são de igual valor, porque pertencem a uma
comunidade moral. Assim, “o governo humanitário tem um poder salutar para nós
porque, salvando vidas, salva algo da nossa ideia de nós mesmos e porque, ao
aliviar o sofrimento, também alivia o fardo dessa ordem mundial desigual” (FASSIN,
2014, p. 252).
nua após o bombardeio em 1972. Mas por que a foto de Aylan Kurdi, que morreu
afogado junto com outras 15 pessoas que viajavam no mesmo bote, chamou tanta
atenção em meio a inúmeras outras imagens de vítimas das tragédias atuais? O
objetivo deste trabalho é propor uma reflexão sobre o motivo que levou a foto de
Aylan ser escolhida para estar na capa dos jornais, no contexto da razão
humanitária. E como interpretar o vínculo entre o acontecimento e a audiência, com
o sentimento de compaixão despertado por essa imagem?
Essas são algumas questões que permeiam o trabalho sobre a tendência de
humanização do tema do refúgio na sociedade atual. A metodologia será a análise
de discurso de manchetes de jornais do Brasil e do exterior publicadas no dia 3 de
setembro de 2015 para identificar a seleção de quem sofre no espaço público, a
elaboração social da responsabilidade e a construção da solidariedade pelo
despertar da compaixão. Será considerado ainda o desafio de enfrentar a fadiga da
compaixão num contexto em que a moralidade e a competência dos agentes do
Estado são centrais na política contemporânea. Como referência, será usada a
argumentação desenvolvida por Fassin.
na América do Norte no fim do século XIX, com uma legislação contra maus-tratos
de crianças e com a disseminação gradual da proteção infantil. Após a Segunda
Guerra Mundial, a criação do Unicef em 1946 foi considerada outro avanço, assim
como a Declaração sobre os Direitos da Criança em 1959, e mais tarde e a
Convenção sobre os Direitos da Criança em 1989.
Esse desenvolvimento se assemelhava a uma mobilização crescente de
organizações não-governamentais sobre as questões de abuso infantil a partir dos
anos 1970, do trabalho infantil na década de 1980, e pedofilia e incesto a partir de
1990.
não passa. Ainda assim, o pai do menino se agarrou à esperança de que a morte
de seu filho mudasse o mundo, para, um ano depois, admitir que nada mudou:
“Todo mundo queria fazer alguma coisa. A foto do meu filho morto comoveu o
mundo, mas as pessoas continuam morrendo e ninguém faz nada.”
que ainda pode ser viável e a expectativa de que a solidariedade possa ter poderes
redentores (FASSIN, 2011). E assim, por mais efêmera que seja a consciência para
a solidariedade, o humanitarismo não deixa de ter a capacidade de tornar ilusórias
as contradições do nosso mundo, deixando uma sensação de que as injustiças
podem ser suportáveis.
Considerações finais
A economia moral que define o escopo da biopolítica contemporânea, quando
esta governa as vidas dos indesejados, oscila entre sentimentos de comiseração e
preocupação com a ordem, entre uma política de piedade e políticas de controle.
A presença dos refugiados é inquietante porque revela a persistência da vida
nas sociedades contemporâneas. Sem direitos humanos, podem apenas clamar por
permanecerem vivos. Assim, o humanitário separado do político leva a uma
reprodução do isolamento, sob o qual se baseia a soberania.
O que falta ao governo humanitário é que, além de considerar a vida como
sagrada e valorizar o sofrimento, deve reconhecer o outro como um rosto. E isso
significa também reconhecer um direito além de qualquer obrigação, inclusive de
sujeição às condições impostas.
Ao escolher a foto do menino como emblemática da situação dos refugiados,
a mídia dá uma ênfase afetiva às crianças como vítimas e arrisca afastá-las da
realidade social em que vivem. A emoção acaba por poupar a urgência por medidas
concretas, já que torna os julgamentos morais menos certos e as soluções menos
homogêneas. A mobilização emocional é frágil e ambígua. A criança que pede
refúgio, sozinha ou acompanhada, acaba correndo o risco de tornar-se um fardo
para a sociedade.
É possível afirmar que a foto de Aylan Kurdi ficou para a história. A imagem é
uma das que parecem surgir do inconsciente coletivo da sociedade contemporânea
quando se trata do tema dos refugiados. O que podemos fazer com isso é o desafio
que temos pela frente. É tempo de avaliar com mais profundidade as perdas e os
ganhos de se usar o sofrimento para falar de desigualdade, de reificar crianças em
tragédias que também atingem adultos “indesejáveis”.
Ainda assim, fotos como essas continuam sendo um convite para um trabalho
de consciência, que vai além de olhar as vítimas e enxergar apenas as diferenças.
Metro (Inglaterra): Europe could not save him (A Europa não poderia salvá-lo)
The Guardian (Inglaterra): “The schocking, cruel reality of Europe’s refugee crisis” (A
realidade cruel e chocante da crise dos refugiados na Europa)
The Independent (Inglaterra): “Somebody’s child” (A criança de alguém)
The Times (Inglaterra): “Europe divided: Political leaders paralysed by crisis over migrant
quotas; Bodies of infants washed up on beaches” (Europa dividida: líderes políticos
paralisados pela crise sobre cotas de imigrantes; corpos de bebês levados pelas praias)
La Stampa (Itália): “La spiaggia su cui muore l’Europa” (A praia em que a Europa morre)
Expressen (Suécia): “Europa räddade inte Aylan, 3” (A Europa não salvou Aylan, 3)
Gulf News (Emirados Árabes): “Humanity washed ashore” (Humanidade lavada em terra)
Haber Ekspres (Turquia): “Iyi bak avrupa!” (Boa olhada na Europa!)
Milliyet (Turquia): “Utan Dünya!” (Fique envergonhado, mundo)
Trouw (Holanda): “Dit is Aylan Kurdi. Hij is drie jaar geworden” (Este é o Aylan Kurdi. Ele tem
três anos de idade)
Referências:
Corpo de criança refugiada afogada aparece em praia de resort turco. UOL. 2 set.
2015. Disponível em: https://noticias.uol.com.br/internacional/ultimas-
noticias/2015/09/02/corpo-de-crianca-refugiada-afogada-aparece-em-praia-de-resort-
turco.htm Última consulta em: 1 maio 2019.
CRUZ, Juan. Uma criança é o mundo inteiro. El País. 2 set. 2015. Disponível em:
https://brasil.elpais.com/brasil/2015/09/02/internacional/1441216415_550941.html.
Última consulta em: 27 jun. 2019.
KENNICOTT, Philip. Há quem culpe pai e filha por seu afogamento. The
Washington Post, O Estado de S. Paulo. 27 jun. 2019. Disponível em:
https://internacional.estadao.com.br/noticias/geral,artigo-ha-quem-culpe-pai-e-filha-
por-seu-afogamento,70002892466. Último acesso em: 27 jun. 2019.
LAURENT, Olivier. What the Image of Aylan Kurdi Says About the Power of
Photography. Time. 4 set. 2015. Disponível em: http://time.com/4022765/aylan-
kurdi-photo/ Última consulta em: 1/5/2019.
Por que publicamos a imagem do menino sírio afogado?. UOL. 2 set. 2015.
Disponível em: https://noticias.uol.com.br/internacional/ultimas-
noticias/2015/09/02/por-que-publicamos-a-imagem-do-menino-sirio-afogado.htm
Última consulta em: 1 maio 2019.
Que a imagem sirva para evitar novas mortes, diz fotógrafa que clicou pai e filha
afogados em fronteira. G1. 27 jul. 2019. Disponível em:
https://g1.globo.com/mundo/noticia/2019/06/27/que-a-imagem-sirva-para-evitar-
novas-mortes-diz-fotografa-que-clicou-pai-e-filha-afogados-em-fronteira.ghtml.
Última consulta em: 27 jul. 2019.
Abstract: The history of cities is filled with invisible social actors. Throughout Oral
History it is sought to problematize this geographic space breaking with the current
historical narrative as well as inserting the poor worker, most of times black or an
Indian descendant into the historical plot. The study of the wagon conductors provide
a number of reflections towards day-to-day life and to the ways on how the
relationships are organized between the different sectors of production. Therefore, it
collaborates to elucidate the value of this work, apparently marginal, as well as it
explains how these workers think about themselves and about their occupation.
Key Words: Wagon conductors, Oral History, Work.
1
Docente do Curso de História do Campus do Pantanal da UFMS. E-mail: waldson.diniz@ufms.br.
Abstract: This study emerges to discuss the frontier body of exteriority, different from
the body already imposed as ours divided between reason and emotion and which
insistently wants to remain universal. Thus, the research is established through a
critical-biographical border reading (Nolasco, 2015) of the body from an epistemology
of difference in MS. For this, we will use the epistemic frontier body to think of other
bodies that we also want to discuss, such as those from abroad, the docile, the
borders, etc. Considering these discussions traversed by other bodies to think of the
body as concepts of a cultural episteme. Among the theorists that support the
adopted methodology, stand out the critics, such as Walter Mignolo, Ramón
Grosfoguel, Edgar Nolasco, Jacques Derrida, Marcos Antonio Bessa-Oliveira, among
others. With a critical eye on our (bio) locus sul Mato Grosso, we hope to break
through epistemological boundaries that still establish body boundaries in the
epistemic practices of the state.
Key-words: Epistemic body; Border; Border biographical criticism.
1
Mestranda do Programa de pós-graduação em Mestrado de Estudos de linguagens- Universidade
Federal de Mato Grosso do Sul- Email: marina.m.noronha@gmail.com
Introdução
Neste instante, esteja você onde estiver, há uma casa com seu
nome. Você é o único proprietário, mas faz tempo que perdeu
as chaves. Por isso, fica de fora, só vendo a fachada. Não
chega a morar nela. Em casa, teto que abriga suas mais
recônditas e reprimidas lembranças, é o seu corpo
THÈRÉSE. O corpo tem suas razões, p. 11
encena na cultura/local. Logo, o corpo nesta pesquisa vem atravessado por uma
epistemologia outra que privilegia sobremaneira a diferença descolonial dos corpos
na cultura. Desse modo, almejamos, por fim, que o corpo epistêmico perseguido por
nós no decorrer da pesquisa ao final trans-borde para além dos limites, da cultura e
da própria noção de corpo agrilhoado na/pela sociedade.
O que deve haver é uma crítica periférica, subalterna por excelência, cujo
pensamento liminar reverta a subalternização dos saberes e a colonialidade
do poder, crítica que proponha um novo modo de pensar no qual as
dicotomias sejam extintas em prol de uma outra episteme que se articule
para além da diferença colonial moderna. (NOLASCO, 2013, p. 87).
Compete à crítica que opta pela opção descolonial exumar essas memórias
e histórias esquecidas e reinseri-las no debate contemporâneo, respeitando
seus lugares e corpos nos quais elas vivem, bem como também não querer
tirá-las de sua condição de exterioridade e querer analisá-las à luz da razão
universal (interioridade do pensamento ocidental). (NOLASCO, 2013, p.
117-118)
Com base nos estudos aqui arrolados acerca da memória subalterna e do
corpo epistêmico, entre outros conceitos descoloniais, queremos nos valer de um
conhecimento outro ligado a “[...] histórias locais e memórias locais subalternas que
caíram no esquecimento por conta ou de memórias estatais ou de memórias
itinerantes vindas dos grandes centros” (NOLASCO, 2013, p. 135). As memórias
subalternas trazem arquivadas em seus “corpos” lembranças, histórias e “marcas”
(DERRIDA) da diferença: estes carregam em seus próprios corpos memórias
detentoras de saberes. Dessa perspectiva, os corpos da diferença colonial vão
contra as memórias cristalizadas advindas dos centros hegemônicos que insistem
em anular corpos para o fortalecimento de um saber universal.
Referências
BESSA-OLIVEIRA, Marcos Antônio. “O corpo que habito: esse não é o corpo da sala
de aula, dos museus, nem o corpo da academia!” In: Acervo do autor. Campo
Grande, MS, 2017, p. 1-15. (Texto no prelo).
NOLASCO, Edgar César. Perto do coração selbaje da crítica fronteiriza. São Carlos.
SP: Pedro & João Editores, 2013. 170 p.
Resumo: A partir de trabalho empírico nas cidades de Puerto Iguazú, Foz do Iguaçu
e Ciudad del Este, buscaremos discutir os trânsitos e contatos entre alteridades na
Tríplice Fronteira entre Argentina, Brasil e Paraguai, com o objetivo de constatar
processos cotidianos de transfronteirização que se expressam em diferentes objetos
e ações. A transfronteirização é aqui entendida enquanto um processo, dialógico e
conflitivo, que denota a presença das diferenças em permanente negociação,
interpretação e ressignificação mútuas que se revelam nas diversas interações que
envolvem linguagens, comidas, comércio, hábitos, entre outras práticas cotidianas
em que se constroem hibridismos. Nisso, temos que considerar o papel do atual
contexto da globalização que difunde uma multiplicidade de elementos e signos, e
de como estes se territorializam na dinâmica fronteiriça local, fazendo da reprodução
da fronteira um processo multiescalar.
Palavras-chave: Fronteira; Cultura; Cartografias; Transfronteirização; Identidade.
Abstract: In order to discuss the transits and contacts between alterities in the Triple
Border between Argentina, Brazil and Paraguay, we will build a reflection based in
empirical research in the cities of Puerto Iguazú, Foz do Iguaçu and Ciudad del Este,
with the objective of verifying daily processes of transfrontierization that express
themselves in different objects and actions. Transfrontierization is understood here
as a dialogic and conflictive process, which denotes the presence of differences in
permanent negotiation, interpretation and mutual resignification that are revealed in
the various interactions involving languages, food, commerce, habits, among other
daily practices in which hybridity is built. In this, we must consider the role of the
current context of globalization that diffuses a multiplicity of elements and signs, and
how they are territorialized in the local border dynamics, making the reproduction of
the border a multiscale process.
Key-words: Border; Culture; Cartographies; Cross-border; Identity.
Graduado em Geografia (Bacharelado) pela Universidade Federal da Integração Latino-Americana
(UNILA), mestre em Geografia pela Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD), e doutorando
em Geografia pela Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD). E-mail:
luiz.felipe.r@outlook.com
Graduada em Geografia (Bacharelado) pela Universidade Federal da Integração Latino-Americana
(UNILA) e mestranda em Geografia pela Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD). E-mail:
dalila.tavares@hotmail.com
Abstract: This paper intends to understand how the journalistic articles that the
national and local media have produced regarding the issue of Venezuelan migrants
coming to Brazil have had repercussions on the construction of stereotypical images
about migrants. The observational study charted 5 journals of different sizes and
analyzed them according to guides for communicators who advise on issues
involving the migrant theme. The results demonstrate the need to discuss how the
media, and especially the press, report on migration and migrant issues.
Key words: Venezuela, Brazil, Migration, Media, Human Rights.
Resúmen: Este trabajo busca compreender de qué forma los artículos periodísticos
que los medios de comunicación nacional y local han producido referente a los
temas de los imigrantes Venezolanos que vienen para Brasil, há repercutido en la
construcción de imágenes esteriotipadas respecto de los imigrantes. El estudio de
observación mapeó 5 periódicos de diferentes alcances y los analisó de acuerdo con
guías para comunicadores que orientan sobre estúdios que envuelven temáticas de
imigrantes. Los resultados demuestran la necesidad de discutir cómo los medios de
comunicación, y especialmente la prensa, informan sobre la migración y los
problemas de los imigrantes.
Palabras clave: Venezuela, Brasil Migración, Medios, Derechos humanos.
Graduada em Direito pelo Centro de Ensino Superior do Amapá. Mestranda do Programa de Pòs-
Graduação em Estudos de Fronteira da Universidade Federal do Amapá. Email:
vilmaragomes.vg@gmail.com
Doutora em Ciência Política. Professora Adjunta da Universidade Federal do Amapá. Email:
camilarisso@yahoo.com.br. Orcid: https://orcid.org/0000-0003-1054-9753
Introdução
A proposta dessa pesquisa, ainda em fase inicial, é fazer uma análise sobre a
influência da cobertura midiática nacional e local sobre a construção da imagem do
migrante venezuelano no contexto brasileiro, em vista do recente crescimento na
migração destes para o Brasil.
A compreensão dos diferentes atores transformadores da realidade político
territorial dos países e suas regiões é de extrema relevância para o estudo das
relações internacionais que se estabelecem no campo da geopolítica, das
intervenções nacionais, conflitos, arranjos e decisões políticas. Entre estes atores
surge a mídia, em especial a imprensa escrita, nesse caso, com o importante papel
de influenciadora da opinião pública, capaz de trazer visibilidade aos diferentes
sujeitos do processo, contribuir para efetivação e garantia de políticas públicas e
reforço na construção de uma sociedade justa e que valorize os direitos humanos.
A mídia tem relevante papel na sociedade, e até hoje tornou-se capaz de não
apenas influenciar ideias, mas ser instrumento de participação no controle público do
Estado, e mesmo ser parte como autora do processo de desenvolvimento que o
Estado é responsável, pois traz a público conhecimentos necessários para que o
debate político e social no interior da sociedade funcione como veículo de controle
social.
Como objetivo geral desta pesquisa, buscaremos analisar a presença de
algumas construções de sentido referentes a migração de venezuelanos na região
de fronteira entre Venezuela e Roraima, propostas no jornalismo impresso brasileiro,
no ano de 2016.
A presente pesquisa se propõe a refletir sobre a seguinte problemática: como
se caracteriza as matérias jornalísticas que a mídia nacional tem produzido referente
a temática dos imigrantes venezuelanos que vem para o Brasil? Partimos do
pressuposto de que tais matérias refletem o contexto de violação de direitos
humanos que tais migrantes têm enfrentado em sua inserção na sociedade.
Appadurai (1996) conclui que cultura como substantivo pode remeter a algo
físico, biologismos, e desta forma remeter a raça, mas o cultural apresentado como
adjetivo, transporta-nos para o reino das diferenças, contrastes e comparações. A
característica principal do termo cultura seria então o conceito de diferença, e este
termo tem como principal virtude, uma heurística útil “capaz de destacar pontos de
semelhança e contraste entre qualquer tipo de categorias: classes, gêneros, papéis,
grupos e nações” (p. 25-27).
A cultura “é uma dimensão penetrante do discurso humano que explora a
diferença para gerar diversas concepções da identidade de grupo”, uma definição
mais perto de etnia (ideia de identidade de grupo generalizada), e não simplesmente
a posse de atributos, mas a consciência deles e a sua naturalização como
essenciais a identidade de grupo. (Appadurai, 1996, p. 27)
As definições apresentadas por Appadurai e outros autores como Stuart Hall
nos mostram diferentes conceitos de cultura. Entre tantos conceitos, o que se
percebe é que há uma diferença significativa entre compreender cultura a partir de
um conjunto especifico de “características convergentes” de um grupo, ou analisá-la
sobre a ótica de um conjunto de diferenças e semelhanças que também podem
representar uma única cultura.
Isto posto, acredita-se que é relevante analisar sob ótica das características
semelhantes que unem um grupo, pois nos aproximamos de uma política de
identidade construída e incentivada por instituições como o Estado, dentro de um
contexto político-econômico que busca a sua afirmação como nação.
Segundo Stuart Hall (2006) a lealdade e a identificação, que antes eram
dadas as tribos, religiões e regiões, hoje foram transferidas à cultura nacional. As
diferenças regionais e étnicas foram subordinadas às culturas nacionais, compostas
de símbolos e representações, tratando-se de um discurso que modifica tanto as
ações quanto a noção que temos de nós mesmos:
As culturas nacionais ao produzir sentidos sobre a “nação”, sentidos com os
quais podemos nos identificar, constroem identidades. Estes sentidos estão
contidos nas estórias que são contadas sobre a nação, memórias que
conectam seu presente com seu passado, e imagens que dela são
construídas. (Hall, 2006, p.51).
Ser cidadão de uma determinada nação é pertencer a uma cultura específica,
um idioma, uma fronteira geográfica, características que vão compor uma
enunciação em torno de um Estado, uma nação. O Estado-nação europeu, por
exemplo, é um produto cultural, sendo que a unificação em torno de um território,
regras, leis e acessos, costurados por uma única cultura constituem “a base do
sentimento de pertencimento a uma nação”, e as narrativas em torno do estado-
nação proporcionam e exacerbam o sentimento de superioridade e estigmatização
na forma do nacionalismo (Szanforlin, 2011, p.40).
Neste contexto, nasce o culturalismo como uma “política de identidade
mobilizada ao nível do Estado-nação”, usado para designar uma característica dos
movimentos que envolvem “identidades em construção consciente”. No período
moderno foi utilizado por Estados interessados em agrupar suas diversidades
étnicas em grupos fixos e fechados, muitas vezes mobilizados a força ou
conscientemente segundo critérios identitários (Appadurai, 1992, p. 29).
Este Estado se consagra pela capacidade de síntese, de aglutinar diferenças
entre a diversas comunidades encontradas e espalhadas por um território. Surge
então a ideia de nacionalismo como a radicalização desse sentimento de unidade e
que se propõe a fechar os olhos para as diferenças internas e se armar contra as
externas, contra a quebra da harmonia, que precisa sempre ser renovada
(Szanforlin, 2011).
O sentimento de pertencimento a uma nação é o combustível que alimenta o
nacionalismo. O Estado-nação se legitima como a expressão da cultura de um povo,
Nos Estados Unidos e nos mais ou menos dez países mais ricos do mundo,
globalização é decerto um jargão positivo para as elites corporativas e seus
aliados políticos. Para migrantes, pessoas de cor e outros marginais (o
chamado sul dentro do norte), porém, é uma fonte de preocupação quanto à
inclusão, empregos e marginalização mais profunda. [...]. Nos demais
países do mundo, os subdesenvolvidos e os verdadeiramente carentes,
existe uma dupla angústia: medo de inclusão, em termos draconianos, e
medo de exclusão, pois esta parece ser a exclusão da própria história.
(Appadurai, 1996, p. 35)
A globalização reconhecidamente tem seus paradoxos em relação aos seus
resultados na sociedade. Em relação à condição dos migrantes é notório que muitos
enfrentam grandes dificuldades em seu processo de saída de seu local de origem, e
inserção no país de destino, todas estas mobilidades de entrada e saída tem
influencias da globalização, tanto através do estímulo da integração global, quanto
na disseminação de informações estereotipantes e algumas vezes até equivocadas
em seus conceitos a respeito dos migrantes que se tornam internacionais.
Sayad afirma que a imigração condena a dupla contradição, trata-se um uma
condição provisória que se gosta de prolongar ou, um estado duradouro com um
intenso sentimento de provisoriedade. Ao mesmo tempo a uma dupla interpretação,
a forma quase definitiva com que se reveste, apenas levando em conta seu caráter
eminentemente provisório, de direito; insiste-se em desmentir o estado oficial do
imigrante como provisória, e este instala-se cada vez mais na sua condição de
imigrante, “tudo acontece como se a imigração precisasse para se perpetuar e
reproduzir, ignorar a si mesma e ser ignorada enquanto provisória, e ao mesmo
tempo, não se confessar enquanto transplante definitivo” (1998, p. 45-46).
São os próprios migrantes que tendo entrado em uma sociedade em que se
sentem hostilizados, precisam convencer a si mesmos que esta condição é
provisória, ela não poderia ser “aquela antinonímia insuportável”, uma situação
provisória, mas que se dá objetivamente de forma definitiva. A própria sociedade de
imigração que estipula um estatuto que o instala com provisório, nega-lhe a uma
presença reconhecida como permanente, ou seja, que exista de outra forma que não
na modalidade do provisório contínuo e de outra forma que não na modalidade de
uma presença apenas tolerada (Sayad, 1998).
Segundo Szanforlin (2011):
Podemos afirmar que, em sua generalidade, as tentativas de compreensão
dos motivos que caracterizam a migração se situam, sobretudo, no âmbito
econômico. Falta de trabalho, ou falta de perspectiva de trabalho e a busca
por aprimoramento das condições materiais, catástrofes naturais, guerras, e
sua conseqüente desestabilização do modo habitual de vida, mudanças
contextuais no modo de produção, como o início da urbanização e do
Os dados foram levantados através dos acervos presentes nos sites dos
respectivos jornais, a partir da pesquisa das palavras-chaves “Venezuela”,
“venezuelano” ou “venezuelana”, alterando de acordo com o jornal pesquisado. A
partir da palavra, a pesquisa era refinada pelo período janeiro a dezembro de 2016,
e apenas selecionadas aquelas que tinham as palavras-chaves em seus títulos.
A partir do Guia das Migrações Transnacionais e Diversidade Cultural para
Comunicadores – Migrantes no Brasil, desenvolvido por Denise Cogo e Maria Badet,
e também do Guia para Comunicadores, de autoria do Instituto Migrações e Direitos
Humanos, ACNUR, MIGRAMUNDO e FICAS, termos como migrante, imigrante,
migração ilegal, refugiados, crise migratória, crise de refugiados e estrangeiro foram
tabulados e analisados por meio da frequência absoluta, ou seja, existência/
inexistência.
De acordo com o levantamento realizado foram encontrados no Jornal “O
Estado de S. Paulo”, edição Brasil, acervo digital, no período de janeiro a dezembro
de 2016, 874 ocorrências com o termo “Venezuela”, nos quais 9 reportagens
abordaram a temática dos migrantes nas fronteiras. No acervo digital do jornal
“Folha de S. Paulo” foi operado o mesmo filtro de pesquisa aplicado anteriormente
com o resultado de 1.938 aparições. Dentre estes, 180 foram selecionados para
análise mais detalhada e 4 apresentaram a temática específica relativa à migração
na fronteira, justificado pelo fato das demais notícias, em sua maioria, abordarem a
conjuntura político e econômico da Venezuela.
O Jornal “O Globo”, em seu acervo digital, apresentou 1.053 páginas com o
termo “Venezuela” para o mesmo período, dos quais 4 foram separados para análise
por abordarem a temática de migrantes na fronteira. Os demais dados coletados em
sua maioria abordavam também assuntos mais genéricos sobre a condição político-
econômica daquele país, além de outras informações como esportivas e de
entretenimento.
No jornal “Folha de Boa Vista”, em sua edição “Folha Digital” foram filtrados
95 achados no período estipulado para a pesquisa em que constava o termo
“Venezuela”. De tais edições, haviam algumas repetições na mesma página, essas
descartadas, e das que foram encontradas 61 notícias foram efetivamente
analisadas.
A pesquisa realizada no portal “G1RORAIMA” foi feita através do site de
pesquisa www.google.com, pesquisa avançada, devido o próprio site não fornecer
Jornais Totais
G1 Roraima 31
O Globo 4
Folha de São Paulo 4
ESTADÃO 9
Folha de Boa Vista 61
Fonte: Gomes (2019).
Com base na tabela acima é possível avaliar que os termos mais presentes
nas notícias veiculadas a respeito dos migrantes venezuelanos são “crise”,
Referências
VAN DIJK, Teun. Análisis del discurso del racismo. Crítica y emancipación, v. 3, p.
65-94, 2010.
Resumo: Este trabalho tem como objetivo uma leitura da obra ‘Si me permiten
hablar...’ testimonio de Domitila, una mujer de las minas de Bolivia (1999) transcrito
e organizado pela brasileira Moema Viezzer a partir do conceito de fronteira. Para a
leitura, me utilizo de uma metodologia bibliográfica pautada na Crítica biográfica
fronteiriça, um estudo centrado nos Estudos Pós-coloniais e Crítico-biográficos.
Assim, a partir de minha condição de sujeito que escreve e vive na fronteira
proponho fazer uma leitura outra do testemunho de Domitila Chungara, que
contemple meu bios e lócus permitido por meio da Crítica biográfica fronteiriça.
Ademais, procuro estabelecer interrelações entre o meu bios e o de Domitila, desde
nossos discursos de sujeitos da exterioridade, além de pensar e escrever a partir de
loci subalternos eu na/da fronteira-sul do Brasil e Domitila Chungara de um
acampamento mineiro na Bolívia.
Palavras-Chave: Domitila Chungara, Si me permiten hablar, Fronteira,
Exterioridade.
Abstract: This paper aims at a reading of the work ‘Si me permiten hablar...’
testimonio de Domitila, una mujer de las minas de Bolivia (1999) transcribed and
organized by the Brazilian writter Moema Viezzer from the concept of border. For
reading, I use a bibliographic methodology based on Crítica Biográfica Fronteiriça, a
study centered on Postcolonial Studies and Critical-biographical Studies. Thus, from
my condition as a subject who writes and lives on the border, I propose to take
another reading of Domitila Chungara's testimony, which contemplates my bios and
locus allowed through the border biographical critique. In addition, I seek to establish
interrelationships between my bios and Domitila's, since our speeches on the
condition of subjects of exteriority besides thinking and writing from subaltern loci in/
of southern border of Brazil and Domitila Chungara from a camp miner in Bolivia.
Key Words: Domitila Chungara, Si me permiten hablar, Border, Exteriority.
Mestranda do Programa de Pós-graduação Mestrado em Estudos de Linguagens – UFMS – E-mail:
juhguzman@gmail.com
Resumo: Este trabalho propõe expor a literatura existente sobre os Índios Guató que
vivem na região da fronteira do Brasil com a Bolívia, delineando um caminho desde
as primeiras descobertas retratadas por Hércules Florence, no século XIX; as
realizadas pelo etnólogo alemão Max Schimidt, no início do século XX; a história de
“extinção” e “redescoberta” do povo guató; seu modo de vida; a linguagem poética
de Manoel de Barros e a cinematográfica por Pizzini (2004) no filme “500 Almas”,
chegando às representações dos dias atuais, buscando trazer uma reflexão sobre a
literatura indígena, como forma de conhecimento, compreensão, valorização,
construção e fortalecimento da cultura e identidade do índio Guató.
Palavras-chave: Guató; Fronteira, Línguas Indígenas; Cultura; Literatura
Abstract: This paper proposes to expose the existing literature on the Guató Indians
living in the border region of Brazil with Bolivia, outlining a path from the first
discoveries portrayed by Hercules Florence in the 19th century; those made by the
German ethnologist Max Schimidt in the early twentieth century; the story of
“extinction” and “rediscovery” of the guató people; your way of life; the poetic
language of Manoel de Barros and the cinematic language by Pizzini (2004) in the
movie “500 Souls”, to the present day representations, seeking to bring a reflection
on indigenous literature, as a form of knowledge, understanding, appreciation,
construction and strengthening of the culture and identity of the Indian Guató.
Key-words: Guató; Border, Indigenous Languages; Culture; Literature
Resúmen: Este trabajo tiene como objetivo exponer la literatura existente sobre los
indios Guató que viven en la región fronteriza de Brasil con Bolivia, delineando un
camino desde los primeros descubrimientos retratados por Hércules Florencia en el
siglo XIX; los realizados por el etnólogo alemán Max Schimidt a principios del siglo
XX; la historia de "extinción" y "redescubrimiento" del pueblo guató; tu forma de vida;
el lenguaje poético y cinematográfico de Manoel de Barros de Pizzini (2004) en la
película "500 almas", hasta a las representaciones de hoy en día, buscando traer
una reflexión sobre la literatura indígena, como una forma de conocimiento,
comprensión, apreciación, construcción y fortalecimiento de la cultura e identidad del
indio Guató.
Palabras clave: Guató; Fronteras, lenguas indígenas; Cultura; Literatura
1
Doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Linguística e Língua Portuguesa da Faculdade de
Ciências e Letras – Câmpus de Araraquara - Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita
Filho”/ UNESP. Bolsista CAPES. Graduada em Letras com habilitação em português/inglês pela
Universidade Federal de Mato Grosso do Sul–Câmpus do Pantanal. Mestre em Estudos Fronteiriços
pelo Programa de Pós-Graduação de Estudos Fronteiriços da Universidade Federal de Mato Grosso
do Sul–Câmpus do Pantanal. Com experiência em Estudos Fronteiriços, ênfase na Educação
Intercultural e fatores culturais-Identitários, nas escolas de fronteira Brasil x Bolívia. Atua em
pesquisas sobre Revitalização Linguística, Documentação e Estudos do Léxico.
Introdução
A população indígena brasileira de acordo com dados da Secretaria Especial
de Saúde Indígena (SESAI, 2019) é de 818 mil, sendo 732.262 indígenas
distribuídos em 5.614 aldeias, e 274 falantes de línguas diversas, distribuídos em
688 terras indígenas (60,4 % regularizadas), os quais ocupam 12,6% do território
brasileiro.
O estado de Mato Grosso do Sul possui a segunda maior população indígena
do país e crescimento de 42% em 10 anos, ficando apenas atrás do Amazonas, o
qual 183 mil são declaradas indígenas. Esses dados foram atualizados no ano de
2016 e são referentes ao censo demográfico de 2010, realizado pelo Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A Fundação Nacional do Índio (FUNAI)
reconhece que no estado do Mato Grosso do Sul encontram-se sete etnias: guarani,
terena, kadiwéu, guató, ofayé, kinikinawa e atikum.
Este trabalho propõe descrever a literatura existente sobre os índios Guató
que vivem na Aldeia Uberaba, localizada na região do alto pantanal na Ilha Ínsua, no
estado de Mato Grosso do Sul, fronteira do Brasil com a Bolívia e, delinear um
caminho desde as primeiras descobertas retratadas pelo pintor francês Hércules
Florence no século XIX; as realizadas pelo etnólogo alemão Max Schimidt, no início
do século XX; a história de “extinção” e “redescoberta” do povo guató; seu modo de
vida; a linguagem poética de Manoel de Barros e a cinematográfica por Pizzini
(2004) no filme “500 Almas”, chegando às representações dos dias atuais, buscando
trazer uma reflexão sobre a literatura indígena como forma de conhecimento,
compreensão, valorização, construção e fortalecimento da cultura e identidade do
índio Guató.
O povo Guató, em sua maioria, encontra-se no estado de Mato Grosso do Sul
na Terra Indígena Guató, e uma pequena parte em Mato Grosso, na Baía Guató,
terra declarada Indígena. Conforme dados da SIASI/SESAI (2014) os dois estados
possuem o número total de 419 índios. São conhecidos na literatura como índios
canoeiros do Pantanal, pois constroem suas canoas e saem para pescar e caçar,
possuindo tais habilidades desde crianças, tendo como cenário para sua
sobrevivência as águas do Pantanal. Se concentram entre as lagoas Uberaba e
Gaíva, no Pantanal sul-mato-grossense, podendo estar também na Bolívia e em
outras cidades da região. A Aldeia Uberaba, está situada na Ilha Ínsua, banhada
pelas lagoas Uberaba, Gaíva (ou Gaíba) e Rio Paraguai. A Ilha é conhecida também
por Bela Vista do Norte e, está localizada a aproximadamente 350 km do município
de Corumbá-MS, na região de divisa entre os estados de Mato Grosso e Mato
Grosso do Sul, fronteira com a Bolívia.
No estado do Mato Grosso não existem falantes da língua. Os dois últimos
falantes da língua Guató se encontram na região do Pantanal: Eufrásia Ferreira e
Vicente Manoel. Eufrásia vive no município de Corumbá, em Mato Grosso do Sul, na
fronteira do Brasil com a Bolívia, e Vicente Manoel vive na região da Barra de São
Lourenço, parte baixa da planície pantaneira, aproximadamente 300 km da cidade
de Corumbá2.
As primeiras informações dos índios Guató na literatura foram feitas no século
XIX, por viajantes e cronistas. Foram contatados pela primeira vez por Martinez
Deirada, em 1543, no antigo Mato Grosso e entre Uberaba e Gaíva na cidade de
Corumbá. O primeiro encontro foi registrado por Álvar Nuñes Cabeza de Vaca em
1555, e Díaz Guzman (s/d) os localizou na Baía de Cáceres entre Puerto Suárez, na
Bolívia, e em Corumbá, no Brasil, também no século XVI.
De 1825 a 1829 aconteceu a Expedição Langsdorff, comandada pelo Cônsul
e Barão Russo Georg Heinrich Von Langsdorff, tendo o desenhista e pioneiro da
fotografia franco-brasileiro Hércules Florence como integrante da expedição, o qual
registrou belíssimos e memoráveis desenhos dos Guató no século XIX. A expedição
teve duas partes, na segunda parte, em 1826, passou além de outros lugares pela
cidade de Corumbá-MS e seguiram para Cuiabá-MT, localizando os Guató vivendo
às margens dos rios Paraguai e São Lourenço. Langsdorff registrou em seus diários
todos os acontecimentos ocorridos na expedição, e por anos esses escritos
estiveram desaparecidos, sendo no ano de 1930 encontrados na Rússia. Desse
modo, todos os conhecimentos sobre a Expedição Langsdorff tinham o diário de
Hercules Florence como única publicação.
Florence (1876), em suas anotações diárias, descreveu que havia
aproximadamente trezentos índios Guató na região do Alto Paraguai, porém, sem
2
Corumbá, é a terceira cidade mais populosa do estado de Mato Grosso do Sul, localiza-se na região
Centro-Oeste do Brasil, à margem direita do Rio Paraguai, no Pantanal Sul-Mato-Grossense, sendo a
última cidade brasileira da região, fazendo divisa com a Bolívia. É conhecida por Cidade Branca e
como Capital do Pantanal.
acesso à lagoa Gaíva não tinha como calcular o número exato e acreditava que
poderiam existir aproximadamente dois mil índios. Descreveu o dia a dia dos Guató,
relatando a colheita de arroz selvagem, as famílias Guató em canoas navegando no
Pantanal, nos seus hábitos alimentares e diários como: caça, pesca, e agricultura
com plantações de milho e algumas raízes.
Castelnau, em 1845, refez os caminhos da Expedição de Langsdorff,
registrando as habilidades dos índios canoeiros e retratando-os em seus desenhos,
revelando suas peculiaridades como o casamento poligâmico entre os índios Guató
naquela época. Descreveu características físicas dos índios revelando que
possuíam aspecto caucasiano e traços exatos, perfeitos. Em 1851, escreveu o
vocabulário de variadas línguas indígenas, incluindo a língua Guató e, registrou
uma lista de 164 palavras.
Apesar, dos primeiros apontamentos da língua guató terem sido realizados
por Castelnau em 1851, foi o alemão e etnólogo Max Schmidt quem desenvolveu as
primeiras pesquisas sobre o povo e a língua guató, as quais tiveram publicações em
espanhol e alemão.
Max Schmidt, no século XIX, cumpriu a maior expedição etnográfica, com a
realização de estudos na região do Pantanal sobre o povo indígena Guató, sua
história, seus costumes e sua língua, em três expedições. A primeira foi em 1901, o
qual fez um mapeamento das famílias e apontou quarenta e seis índios Guató na
Ilha Ínsua. Elaborou um vocabulário da língua com 507 palavras monossilábicas, 39
frases relacionadas à fauna e flora, aos verbos, e outros elementos que faziam parte
da vida cotidiana dos índios Guató, além de apresentar uma descrição sobre
padrões silábicos, como explica Postigo (2004). Em 1910 realizou a segunda
expedição, e em 1928 sua terceira e última expedição, identificando famílias Guató
que moravam às margens do rio Paraguai, e registrando dados que resultaram em
mais uma lista de palavras e frases que se encontram em Schmidt (1942b). Os
registros feitos por Schmidt são considerados e estudados muito até os dias atuais,
a fazer referência à obra Estudos de Etnologia Brasileira, publicada em 1942.
A primeira tradução do livro de Schmidt (1905) foi realizada por Catharina
Baratz Cannabrava (Schmidt 1942a), e Balykova (2018) apresentou uma tradução
do capítulo 9 sobre a língua Guató, apontando a necessidade de uma nova
tradução, pois na tradução anterior de acordo com a autora, constam algumas
inconsistências relacionadas à tradução.
Quirino”, e como completa o autor, caso ocorra a morte do líder quem assume é seu
descendente. Essas habitações foram descritas pelos viajantes e cronistas como
lugares rústicos.
Como apresenta Martinelli (2012), a casa tradicional é feita de madeira
coberta com acuri e entrelaçadas com variados tipos de cipó, e as que serviam
como acolhimentos provisórios são construídos com madeira de menor qualidade, e
algumas casas de pau-a-pique, com madeiras na vertical fixadas ao solo, com
bambu amarrada com cipó e preenchida com barro.
O modo de sobrevivência Guató é a caça, que utiliza espingarda, e a pesca,
com arco e flecha; a coleta de arroz selvagem colhido no período de cheia do
Pantanal; a agricultura, principalmente o acuri que serve para a confecção de
utensílios, como fruto na alimentação e cobertura das casas; e o cultivo do milho,
mandioca, abóbora, banana, algodão, cana-de-açúcar, fumo, entre outros, como cita
Martinelli (2012). O ciclo da lua é estimado, e existem luas favoráveis para cada
afazer, sendo também verificada a ação do vento, essencialmente na época de
caça.
Oliveira (1995) evidencia que a cultura material está fundamentalmente ligada
a sobrevivência dos Guató, como a confecção de arco e flecha, zagaias, remos e
zingas (utilizada em lugares de pouca profundidade), porrete para pesca, objetos
confeccionados em madeira, cerâmica (principalmente panelas pequenas, pratos,
bilhas d’água), couro, trançados (atividade masculina, com palha da palmeira acuri)
e tecelagem. O autor relata que as festas são regadas de vinho de palmeira de
acuri, o qual é denominado chicha, e cururu como dança típica acompanhado de
viola de cocho e do caracaxá.
Conforme relata Oliveira (1995), os mortos eram enterrados em valas
estendidas sobre uma esteira, e o luto era limitado apenas às mulheres, que com a
morte do marido cortavam o cabelo bem curto, e a de um filho o corte era feito pela
metade.
A canoa é o principal meio de transporte dos índios Guató, sendo construída
com madeira apropriada, geralmente cambará, tendo a proa uma forma cônica e a
popa mais larga servindo de assento, sendo utilizados remos grandes com
aproximadamente dois metros e meio, como descrito por Schmidt (1942).
Considerações finais
Assim, esse “passeio” pela literatura Guató traz uma aproximação sobre os
modos de expressão indígena, como forma de conhecimento, compreensão e
valorização da cultura do outro, e contribui para criação de uma consciência com
mais e maior responsabilidade, transformando não apenas a si próprio, mas todo o
meio em que se vive. Valorizar uma cultura é preservar a língua e com ela toda
história de vida de um povo.
Referências
BARROS, Manoel. "O livro das ignorãças", 2ª ed., Rio de Janeiro: Civilização
Brasileira.1994.
CASTELNAU, Francis de. Langue des guatos (Rio Paraguay). In: BERTHAND, Chez
P. Expédition dans les parties centrales de l'Amerique du Sud, de Rio de Janeiro
a Lima, et de Lima au Para. Histoire Du Voyage. Tomo V. Paris: Libraire-Éditeur,
1851.
OLIVEIRA, Jorge Eremites de & ARAÚJO, Rose Mary P. de. Diagnóstico sócio-
ambiental da área indígena Guató (Ilha Ínsua) - relatório de viagem de campo
(9pp.). Dourados/Corumbá-MS: UFMS-CEUD/ ECOA-CAAP, 1997b.
PALÁCIO, Adair Pimentel. Aspects of the morphology of Guató. In: Elson, B.F.
Language in global perspective. Dallas, 1986.
PALÁCIO, Adair Pimentel. Guató: uma língua redescoberta. Ciência Hoje. Vol.5, n.
29, p. 74-75, 1987.
SCHMIDT, Max. Reisen in Matto Grosso im Jahre 1910. In: ZE 44/1: 130-174,
1912.
_______. Die Guató und ihr Gebiet: Ethnologische und archäologische Ergebnisse
der Expedition zum Caracara Fluß im Mato Grosso. In: Baesslerarchiv 4/6: 251-283,
1914.
SILVA, Dayane de Pontes . O Guató como língua tonal: uma análise acústica de
pares opositivos. Rio de Janeiro, 36f. 2018.
Resumo: Este trabalho tem por objetivo (re)ler o romance Mil rosas roubadas (2014)
de Silviano Santiago a partir, essencialmente, do conceito de memória não enquanto
lembrança, mas como esquecimento. Para isso, me utilizo de uma metodologia
eminentemente bibliográfica assentada na Crítica biográfica fronteiriça que, em
linhas gerais, congrega tanto os Estudos Pós-coloniais quanto os Crítico-biográficos.
Proponho, nesse sentido, trabalhar as discussões memorialísticas com base não no
ato de lembrar, mas no de esquecer ao passo que me valho das minhas/nossas Mil
rosas roubadas para ilustrar as reflexões corroboradas. Ademais, procuro
estabelecer interrelações entre o meu bios e o de Silviano na medida em erigimos
nossos discursos atravessados por uma condição homo-biográfica da exterioridade
além de, sobretudo, pensarmos e escre(vi)vermos a partir de loci subalternos e
marginalizados: o Brasil, a fronteira-sul e as Minas Gerais
Palavras-chave: Silviano Santiago; Mil rosas roubadas; Crítica biográfica fronteiriça;
Memória; Exterioridade.
Abstract: This work aims to (re)read Silviano Santiago's novel Mil rosas roubadas
(2014) based, essentially, on the concept of memory not as a remind, but as
forgetfulness. For this, I use an eminently bibliographical methodology based on the
Frontier biographical critique, which, in general terms, brings together both
Postcolonial Studies and Critical-biographical. I propose, in this sense, to work on
memorialist discussions based not on the act of remembering, but on forgetting,
while I use my/our Mil rosas roubadas to illustrate the corroborated reflections.
Moreover, I try to establish interrelations between my bios and that of Silviano insofar
as we erect our discourses crossed by a homo-biográfica condition of the exteriority
beyond, above all, to think and to escre(vi)ver from subaltern and marginalized loci:
Brazil, the southern border and Minas Gerais.
Key-words: Silviano Santiago; Mil rosas roubadas; Frontier biographical critique;
Memory; Exteriority.
Mestrando em Estudos de Linguagens pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, UFMS,
pedro_alvesdemedeiros@hotmail.com.
acto de recordar, sino en olvidar, mientras uso mis/ nuestras Mil rosas roubadas para
ilustrar las reflexiones corroboradas. Además, trato de establecer interrelaciones
entre mi bios y el de Silviano en la medida en que erigimos nuestros discursos
atravesados por una condición homo-biográfica de la exterioridad más allá, sobre
todo, de pensar y de escre(vi)ver desde loci subalternos y marginados: Brasil, la
frontera sur y Minas Gerais.
Palabras clave: Silviano Santiago; Mil rosas roubadas; Critica biografica fronteriça.
Memoria; Exterioridad.
Resumo: Este artigo tem por objetivo propor um estudo sobre as línguas presentes
na região fronteiriça compreendida entre Corumbá - Brasil e Puerto Quijarro -
Bolívia. Tem como ponto de partida o estudo das línguas presentes na região e
como cenário a fronteira, território este que recebe um fluxo intenso de migrações.
Esses movimentos humanos permitem que as línguas que não são originárias do
lugar se instalem no espaço fronteiriço com seus componentes culturais e sociais,
propiciando a interação e encontro de diversas tradições e construção de novas
identidades no entre-lugar, o que permite refletir conceitos, competências, e explicar
o lugar geograficamente fronteiriço com todas suas singularidades. Para a
construção deste estudo investigativo utilizou-se a metodologia de pesquisa
documental de campo e entrevistas a colaboradores locais.
Palavras-chave: fronteira Brasil-Bolívia; entre-lugar; línguas na fronteira; identidade;
imbricamento cultural.
Abstract: This article aims to propose a study on the languages present in the
border region between Corumbá - Brazil and Puerto Quijarro - Bolivia. Have as a
starting point the study of the languages present in the region, and as backdrop the
border as a territory that receives an intense flow of migrations. These human
movements allow the languages that are not Originating from the place to settle in
the border space In the border space with its cultural and social components,
enabling the interaction and encounter of different Traditions and the construction of
new identities in the between-place, that allow to reflect concepts, competences, and
to explain the geographically border place with all its singularities. For the
construction of this investigative study we used the methodology of documentary field
research and interviews with local collaborators.
Key words: Brazil-Bolivia border; between-place; languages at the border; identity;
cultural imbrication.
Resumen: Este artículo tiene como objetivo proponer un estudio sobre las lenguas
presentes en la región fronteriza entre Corumbá - Brasil y Puerto Quijarro - Bolivia.
Tiene como punto de partida el estudio de las lenguas presentes en la región y como
1
Graduada em Letras. Mestranda do programa de Mestrado em Estudos Fronteiriços- CPAN/UFMS.
E-mail: mariana.conde.777@hotmail.com
2
Graduada em Letras. Mestra em Estudos literários - Universidade Federal de Mato Grosso do Sul –
UFMS. Doutora em Teoria Literária pela UNESP/São José do Rio Preto. Professora Adjunta da
Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, atuando no Programa de Pós-Graduação Mestrado em
Estudos Fronteiriços - MEF. E-mail: lucilenemachado@terra.com.br
Introdução
Quando se fala de espaço fronteiriço, deve-se considerar sob que significado
se usa o seu conceito. Por um lado, existe a perspectiva da fronteira como uma
delimitação jurídico-política, que se refere à mesma como um marco territorial
limitado ao Estado-nação. Por outro, pode-se ver o espaço fronteiriço como uma
dimensão cultural que é construída socialmente. Estudar esta zona incute
compreensões diversas, pois, está associada à noção de limite, barreira ou marcos
de divisão, impossibilitando a compreensão de sua abrangência, dinâmica,
significados, porosidade e, ao mesmo tempo, complexidade.
O imbricamento cultural é construído dia a dia nesta fronteira Brasil-Bolívia.
No lado brasileiro estão localizadas as cidades de Corumbá e Ladário, situadas ao
extremo oeste do estado de Mato Grosso do Sul, distanciando-se da capital do
estado pouco mais de quatrocentos quilômetros. No lado boliviano, pouco mais de
cinco quilômetros das cidades brasileiras, estão as cidades de Puerto Quijarro e
Puerto Suárez, situadas na província Germán Busch, no extremo oriente do
Departamento3 de Santa Cruz de la Sierra.
Este contexto sociocultural propicia a interação e encontro de diversas
culturas, bem como a construção de novas identidades nesse entre-lugar, já que se
diferencia do restante do estado e implementa uma fronteira imaginária, também
com o território regional onde Corumbá está inserida. Em se tratando de linguagem,
essa faixa territorial proporciona uma efervescência de trocas que incluem
português, espanhol, línguas indígenas e línguas faladas por imigrantes que
Neste estudo consideramos que o Departamento equivale a estado, embora tenha suas
3
singularidades.
As línguas no entre-lugar
A linguagem é inseparável do homem e o segue em todos os seus atos, por
meio dela, os sujeitos se identificam com seus semelhantes, constroem suas
culturas, tornando-se um refúgio do próprio pensamento. A língua deixa de ser
somente um meio de comunicação e passa a ser um instrumento de construção
cultural e identificação, que engloba princípios, valores, normas, saberes e
conhecimento, sistemas de comunicação, entre outros âmbitos da vida social. o
instrumento pelo qual o homem modela o seu pensamento, seus sentimentos, suas
emoções, seus esforços, além de sua vontade e ações. Pela linguagem, ele
influencia e é influenciado, é marca de sua personalidade, da nação e do lugar onde
reside.
A coexistência de línguas em um mesmo território é uma realidade que faz
parte da maioria das comunidades do mundo. Cada vez mais tem-se estudos
dedicados ao contato entre elas, devido em parte ao aumento das comunicações
entre as pessoas, o que facilita a coexistência de culturas, raças e línguas de
origens diferentes. Tal fato oferece complexas e diversas situações de contato de
uso de uma, duas ou mais línguas, destacando-se mais nas regiões de fronteira.
Para García Marcos (1999) o contato entre línguas não é um fenômeno individual,
senão social, tornando-se um lugar propício para observar as relações entre língua e
sociedade, principalmente quando se trata de grupos étnicos ou sociais que dividem
o mesmo espaço geográfico e político, inter-relacionando-se e, tendo na língua sua
identidade.
A convivência de sociedades e de línguas dão lugar a fenômenos que afetam
a todos os níveis linguísticos, desde os mais superficiais aos mais complexos,
podendo ocorrer o contato linguístico entre línguas de prestígio semelhante, línguas
nativas ou como resultado da migração. Sturza (2016) diz que por meio do contato
das línguas, os sujeitos que habitam as fronteiras se significam na e pela língua,
seja esta diferente ou semelhante. Louis Hjelmslev em Prolegômenos de uma teoria
da linguagem assegura que:
O linguista deve se interessar tanto pelas semelhanças como pelas
diferenças das línguas; esses são dois aspectos complementares do
mesmo fenômeno. A semelhança entre as línguas reside no próprio
4
Dados retirados do site: https://indigenas.ibge.gov.br/estudos-especiais-3/o-brasil-indigena/lingua-
falada. Acesso em: 12 de jul. de 2019.
5
Dados retirados do site: https://cidades.ibge.gov.br/brasil/ms/corumba. Acesso em: 20 de abr. de
2019.
6
No original: “Son idiomas oficiales del Estado el castellano y todos los idiomas de las naciones y
pueblos indígena originario campesinos, que son el aymara, araona, baure, bésiro, canichana,
cavineño, cayubaba, chácobo, chimán, ese ejja, guaraní, guarasu’we, guarayu, itonama, leco,
machajuyai kallawaya, machineri, maropa, mojeño-trinitario, mojeño-ignaciano, moré, mosetén,
movima, pacawara, puquina, quechua, sirionó, tacana, tapiete, toromona, uru-chipaya, weenhayek,
yaminawa, yuki, yuracaré y zamuco. (2009)
outras línguas minoritárias estão distribuídas, em sua maioria, nas terras baixas da
Bolívia, sendo difícil determinar com precisão o número de pessoas falantes dessas
línguas.
Conforme dados do Censo Nacional de Población y Vivienda (INE, 2012), os
três idiomas mais falados do país são de fato o castelhano, o quechua e o aimará,
que juntos representam quase 94% dos habitantes do país. Os registros dos
entrevistados neste censo, na área rural e urbana concluíram, que o castelhano é
utilizado por 69,4% dos habitantes da Bolívia e o quechua por 17,1%. O aimará
ficou como o terceiro idioma oficial mais utilizado no país com 10,7% de falantes, o
guarani com 0,5% e os resto dos outros idiomas com 0,2 %. Ainda de acordo com o
Censo, os idiomas principais falados pela população de seis anos ou mais, no
Departamento de Santa Cruz de la Sierra, na ordem decrescente são: castelhano,
quechua, aimará, guarani, guarayu, bésiro e zamuco. (INE, 2012).
Ao realizar as leituras do Censo (INE, 2012), observa-se que a migração
interna ao Departamento de Santa Cruz foi de 2,2 % chegando a ser o segundo
departamento que mais recebeu migrantes, ficando atrás apenas de Pando com
14%, ambos localizados em região de fronteira. Duas de cada cem pessoas que
residem atualmente na cidade, nos últimos cinco anos, viviam em outros lugares da
Bolívia. Essas pessoas que migraram internamente, acabaram se dispersando nas
quinze províncias do Departamento. De acordo com o Atlas sociolinguístico de
povos indígenas em América Latina (2009), esse processo migratório interno se deu
principalmente a partir dos anos 90, com um grande fluxo da população andina vindo
em direção às terras tropicais de colonização.
Conforme o Plano Estadual de Desenvolvimento de Santa Cruz de la Sierra
7
(2015) e o Plano Territorial de Desenvolvimento Integral de Santa Cruz de la Sierra
– PTDI (2016) 8 , há cinco povos que estão fixados no Departamento que são:
guarayo, mojeño, chiquitano, ayoreo e guarani. Dentre eles, dois estão localizados
na Província German Bush onde está localizada a cidade de Puerto Quijarro, que
são os chiquitanos e os ayoreos.
Os chiquitanos, povo indígena que habita a região da Gran Chiquitania,
grupo mais numeroso e estendido no território do Departamento, ocupam a maior
7
No original: “Plan Departamental de Desarrollo de Santa Cruz de la Sierra”
8
No original: Plan Territorial de Desarrollo Integral - PTDI
9
No original: Confederación Nacional de Nacionalidades Indígenas y Originarias de Bolivia - CNNIOB.
10
Retirado do Site: https://www.educa.com.bo/etnias/los-ayoreos. Acesso em: 23 de jun. de 2019.
11
No original: Plan de Ocupación Territorial del Departamento Autónomo de Santa Cruz de La Sierra
12
No original: Plan de Desarrollo Municipal – PDM
13
No original: Plan Territorial de Desarrollo Integral -PTDI
Considerações finais
Conforme foi visto ao longo deste trabalho, nesta região fronteiriça
compreendida entre Corumbá/BR e Puerto Quijarro/BO constatou-se que há uma
pluralidade de línguas, resultado da presença de povos nativos, migrantes e
imigrantes que constituem este espaço sociolinguísticamente complexo e peculiar.
Os habitantes desta fronteira estampam traços próprios que os caracterizam
nesses espaços compartilhados e de interação, e as mesmas línguas que os
aproximam também os distinguem. Foi constatado que os povos que vieram para
esta região, seja na cidade de Corumbá ou Puerto Quijarro, trouxeram consigo suas
bagagens cultuais que se acabam se mesclando com a local formando a identidade
fronteiriça. Tal deslocamento geográfico contribui de forma acentuada para o cenário
sociolinguísticamente complexo desta fronteira.
Esse contato diário com o “outro” estabelece relações distintas, tendo as
línguas que circulam na região como fortes elementos constituintes, criando as
situações de plurilinguismo nas zonas limítrofes.
Referências
GUHL, Ernesto. Las fronteras políticas y los limites naturales. Bogotá, Fondo
FEN Colombia, 1991.
OLIVEIRA, Marco Aurélio Machado de. & CAMPOS, Davi Lopes. Migrantes,
fronteira, comércio e religião: termos para a fé. Albuquerque – revista de história.
vol. 6, n. 12. jul.-dez./2014, p. 87-105.
Doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Federal da Grande
Dourados, geise_sara@hotmail.com.
Introdução
O município de Corumbá fica localizado na porção oeste de Mato Grosso do
Sul. Entre a morraria do Urucum, ao sul; a margem direita do Rio Paraguai, ao norte;
tendo como enclave territorial o município de Ladário e fronteira com a Bolívia.
Corumbá faz fronteira, mais propriamente com Arroyo Concepcón, distrito de Puerto
Quijarro, na província de German Bush, do departamento de Santa Cruz, ou seja,
Corumbá/Puerto Quijarro são cidades-gêmeas.
Oliveira (2008) considera um caso de semi-conurbação devido ao fato dos
municípios não serem ligados de forma contigua. Diferente de Costa, que não
considera a fronteira Corumbá/Puerto Quijarro uma conurbação.
Não se trata de uma conurbação fronteiriça, pois não existe uma
continuidade urbana, ou seja, o formato de um único (aparente) sítio
urbano. [...] Suas interações fronteiriças são intensas, porém nem tanto
quanto cidades conurbadas como Ponta Porã (Brasil)/Pero Juan Caballero
(Paraguai) ou Santana do Livramento (Brasil)/Rivera (Uruguai) [...] (2012, p.
25-26).
Costa (2015) em seu trabalho intitulado “Os bolivianos em Corumbá-MS:
conflitos e relações de poder na fronteira” narra sobre algumas discordâncias e
disputas entre os fronteiriços e o desinteresse do Estado em urbanizar a divisa entre
Corumbá a Puerto Quijarro. Isso ocorre, segundo o autor, porque os terrenos estão
na maioria em áreas militares ou estatais e as últimas construções na linha de
fronteira de Corumbá são o Clube Recreativo de Subtenentes, Sargentos (Cresse),
Receita Federal e a Polícia Federal. O que impossibilitaria o processo de
conurbação entre Corumbá a Puerto Quijarro.
Justificativa
A história da Virgem de Copacabana1 narra à devoção de um descendente
inca, catequisado pela igreja católica espanhola, Francisco Tito Yupanqui. Os
relatos narram que ele queria que a imagem de Nossa Senhora estivesse no altar da
Capela de Copacabana. A primeira escultura teria ficado feia, mas Yupanqui
estudou as técnicas de arte sacra e escultura e reproduziu uma imagem de Nossa
Senhora da Candelária, que acabou sendo adotada pela sua cidade, com seu
próprio nome: Copacabana.
A fama milagrosa da Virgem de Copacabana se espalhou pela América,
dando nome para um dos bairros e praia mais conhecidos do Brasil e do mundo,
Copacabana:
A primeira versão faz referencia à língua quichua, falada no antigo Império
Inca. [...] significa “lugar luminoso”, “praia azul” ou “mirante do azul”.
Outra hipótese diz que o termo é de origem aimara, língua que era falada na
Bolívia. O significado é “vista do lago”. Na Bolívia, Copacabana é o nome
dado a uma cidade situada às margens do Lago Titicaca, fundada sobre um
antigo local de culto inca. Ha relatos de que nesse local, antes da chegada
dos colonizadores espanhóis, ocorria o culto a uma divindade chamada
Kopakawana. Essa divindade protegeria o casamento e a fertilidade das
mulheres.
No século XVII, comerciantes bolivianos e peruanos de prata [...] trouxeram
uma réplica da imagem de Nossa Senhora de Copacabana para a praia do
Rio de Janeiro. Sobre um rochedo, construíram uma capela em
homenagem à santa. (DIARIO DO RIO DE JANEIRO, 2016).
Tanto no caso brasileiro, como no boliviano, é possível perceber o caráter
simbólico atribuído à celebração da Virgem de Copacabana. Os desfiles, missas e
celebrações iniciam em Corumbá, atravessam a fronteira e continuam em Puerto
1
Texto retirado da História da Virgem de Copacabana. Disponível em:
<https://cruzterrasanta.com.br/historia-de-nossa-senhora-de-copacabana/31/102/#c>. Acesso em 08
out. 2018.
2
Em diálogo (01 de outubro de 2018) com servidor da Fundação de Cultura de Corumbá, José
Gilberto Rozisca, o mesmo relata que as celebrações as santas fazem parte do calendário de
eventos, porém não recebem aporte financeiro, como ocorre no São João, por exemplo.
3
Casa religiosa de matriz afro-brasileira.
4
Entrevista (20 de maio de 2018) concedida pelos/as festeiros/as de São João, pesquisa, em
andamento realizada para o IPHAN, por pesquisadores da UFMS/UFGD.
5
Antigamente era realizada na Igreja Nossa Senhora da Candelária e atualmente na igreja Nossa
Senhora Auxiliadora.
Metodologia
A metodologia a ser utilizada, é aqui compreendida como: descritiva e
explicativa que acontecerá num cenário heterogêneo, a zona de fronteira, que
abrange Corumbá e Puerto Quijarro. Milton Santos (2012 p. 18) menciona que
“descrição e explicação são inseparáveis. O que deve estar no alicerce da descrição
é a vontade de explicação, que supõe a existência prévia de um sistema”.
Através dessa abordagem, será buscada a forma como esses grupos
(bolivianos e brasileiros) vivenciam as celebrações religiosas e, de forma especial, a
devoção à Virgem de Copacabana. Para além, de como os atores as vivenciam,
através de um processo performático (LANGDON, 1996). Dessa forma,
compreender a teia de significados nos quais esses grupos se compreendem e
celebram (GEERTZ, 2008).
Para realização deste estudo será desenvolvida uma pesquisa de cunho
qualitativa. Segundo Minayo (1994) a pesquisa qualitativa não se baseia em critérios
numéricos. Para tal, será realizada uma observação de campo, da referida
celebração à Virgem de Copacabana, desde as suas preparações, perpassando
pelas celebrações e pós-celebrações. Nesse período serão colhidas as percepções
dos atores dessa manifestação religiosa, através de entrevistas. Para além serão
analisados registros imagéticos, já existentes, como também os produzidos pela
pesquisa.
Quanto à pesquisa de campo, se recorrerá a “descrição densa”, constituindo-
se junto das vivências da pesquisa, campo e teoria. Assim,
[...] praticar a etnografia é estabelecer relações, selecionar informantes,
transcrever textos, levantar genealogias, mapear campos, manter um diário,
e assim por diante. Mas não são essas coisas, as técnicas e os processos
determinados, que definem o empreendimento.
O que o define é o tipo de esforço intelectual que ele representa: um risco
elaborado para uma "descrição densa", tomando emprestada uma noção de
Gilbert Ryle (GEERTZ, 2008, p. 4).
Ainda sobre “descrição densa”, Maria Geralda Almeida argumenta que:
Considerações preliminares
A presente pesquisa encontra-se em fase inicial, ocorrendo revisões
bibliográficas sobre os conceitos e temas aqui propostos, que buscam a
compreensão de como os territórios6 da celebração à Virgem de Copacabana,
contribuem nas relações socioculturais, compostas de aproximações e afastamentos
entre brasileiros e bolivianos, na fronteira entre Corumbá-BR e Puerto Quijarro-BO.
Para isso, o “descer a campo” (WINKIN, 1998) no dia da festividade, fora o
caminho para a primeira observação dos ritos de devoção e celebração à Virgem.
Isso ocorreu na primeira semana de agosto de 2019, quando é comemorada a
independência da Bolívia e celebração à Virgem.
O boliviano Limbert Escarela Mendonza assumiu a celebração na semana
anterior a festividade, devido a problemas particulares do possível pasante7 deste
ano.
A ritualística iniciou com uma missa no lado brasileiro, no Santuário Nossa
Senhora Auxiliadora8. A missa foi celebrada no dia 06 de agosto as 14:00 horas,
pelos padres Jacinto Ortiz9 e Marco Aurélio10.
6
Para isso, propomos analisar os territórios de cunho simbólico-culturais (BONNEMAISON, 1999;
HAESBAERT, 2006), os territórios religiosos (ROSENDAHL, 2005) e territórios de trânsito
(MONDARDO, 2018).
7
O passante é o devoto responsável pela organização da celebração.
8
A missa em anos anteriores acontecia na igreja Nossa Senhora da Candelária. Em virtude de uma
reforma, nos últimos dois anos a missa de celebração á Virgem de Copacabana foi transferida para a
referida igreja.
9
Boliviano, Padre na Igreja Imaculada Conceição, do distrito de Albuquerque.
10
Responsável pela Pastoral do Imigrante, na Igreja Nossa Senhora de Fátima.
Referências
Sites consultados
Talini Rodrigues
Rafael Oliveira Fonseca
Graduada em Odontologia pela Universidade Federal Fluminense (UFF), mestranda em Estudo
Fronteiriço pela Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (PPGEF/CPAN/UFMS). E-mail:
talinirodrigues@id.uff.br
Graduado, Mestre e Doutor em Geografia pela Universidade de São Paulo (USP). Docente da
Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS) e do Programa de Pós-Graduação em
Estudos Fronteiriços da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (PPGEF/UFMS). E-mail:
rafaelfonseca@uems.br
the ACS always seek to welcome, guide and help foreigners in accessing SUS in a
way that guarantees life and health.
Key-words: Foreign; Community Health Agent; Single Health System; Corumbá;
Border.
Introdução
O Agente Comunitário de Saúde (ACS) é uma profissão instituída em 2002
através de Lei Federal1 , sendo o âmbito de atuação exclusiva do Sistema Único de
Saúde (SUS) , regido pelo Programa de Agentes Comunitários de Saúde (PACS) e
seguindo as normas e diretrizes da Política Nacional de Atenção Básica (PNAB)
(BRASIL, 2002), logo, pode ser compreendido como um instrumento de política
pública.
O profissional ACS caracteriza-se pela atuação na prevenção de doenças e
promoção da saúde por meio de atividades domiciliares ou comunitárias, individuais
ou coletivas, desenvolvidas conforme as diretrizes da PNAB e do SUS, sob
supervisão do gestor local deste.
Além disso, para exercer a função de ACS, o indivíduo precisa preencher três
requisitos: residir na área da comunidade em que atuar; ter concluído com
aproveitamento curso de qualificação básica para a formação de Agente
Comunitário de Saúde e ter concluído o ensino fundamental (BRASIL, 2002).
1
Profissão criada pela Lei Federal nº 10.507, de 10 de julho de 2002 (BRASIL, 2002), revogada pela
Lei Federal nº 11.350, de 5 de outubro de 2006 (BRASIL, 2006a), em vigor.
Resultados e discussões
Antes de discutirmos sobre a atuação do ACS na área de fronteira, faz-se
necessário entender um pouco sobre as políticas públicas e Programas estatais que
regulamentam e influenciam no cotidiano desta profissão.
Para compreender com mais exatidão o que seria uma política pública,
podemos recorrer inicialmente à língua inglesa na definição do termo “política”, pois
o conceito de política pública tradicional foi no passado amplamente debatido na
literatura anglófona (Public Policy). Ao buscarmos a tradução do termo “política” da
língua inglesa para a língua portuguesa, temos, em geral, as seguintes
denominações: 1. Politics. 2. Policy (OXFORD, 2009).
Contudo, na língua inglesa Politics e Policy não são sinônimos. Politics é
definido como ‘’as atividades associadas com a governança de um país ou área,
especialmente o debate entre as partes que têm poder”. Enquanto que Policy é
compreendido como “curso ou princípio de ação adotado ou proposto por uma
organização ou indivíduo. As atividades associadas com a governança de um país
ou área (OXFORD, 2009).
Assim, de acordo com as duas definições do temo “Política”’ existente na
língua inglesa, verifica-se que o conceito da palavra “Policy” é o que se encaixa ao
sentido da palavra “Política” quando nos referimos a Política Pública, logo em inglês
Public Policy.
A origem da área de conhecimento da política pública surgiu como área de
conhecimento e disciplina acadêmicas primeiramente nos Estados Unidos,
rompendo com uma tradição europeia, que focava na análise do Estado e suas
instituições, direcionando, assim, o estudo de políticas públicas para as ações dos
governos (SOUZA,2006).
Logo, a análise de política pública pode ser concebida a partir de:
[...] uma teoria geral da política pública implica a busca de sintetizar
teorias construídas no campo da sociologia, da ciência política e da
economia. As políticas públicas repercutem na economia e nas
sociedades, daí por que qualquer teoria da política pública precisa
também explicar as inter-relações entre Estado, política, economia e
sociedade. Tal é também a razão pela qual pesquisadores de tantas
2
Definido por meios dos artigos nº 196 e nº 198 da Constituição Federal de 1988 (BRASIL, 1998).
(ACS). Este Programa revela o trabalho em saúde com enfoque na família, não mais
no indivíduo isolado, de modo preventivo e assistencialista, a fim de entender melhor
o processo de saúde e doença na comunidade (VIANA, POZ, 2005).
Adiante dentro da Atenção Básica, houve a criação do Programa de Saúde da
Família (PSF) em 1994 que trouxe consigo a proposta de reorganização e
municipalização do SUS. Logo mais, em 1998, o PSF foi extinto e surgiu a
“Estratégia de Saúde da Família” (BRASIL, 1998).
Quanto a PNAB (Política Nacional de Atenção Básica), esta surgiu em 2006
por meio de uma Portaria do Ministério da Saúde (2006b) que estabeleceu a revisão
de diretrizes e normas para a organização da Atenção Básica para o Programa
Saúde da Família (PSF) e para o Programa Agentes Comunitários de Saúde
(PACS). Esta política passou a guiar as ações da atenção básica em saúde
passando por novas publicações com adaptações em 2012 e 2017 (BRASIL, 2006b,
2012, 2017b).
Assim, pode-se dizer que dentre as políticas de saúde existentes no Brasil, a
mais importante e conhecida é o próprio Sistema Único de Saúde (SUS) além da
Política Nacional de Atenção Básica (PNAB), como já mencionados. Dessa forma, o
Programa de Agentes Comunitários de Saúde (PACS), a ESF (Estratégia de Saúde
da Família), dentre outros, se coloca como instrumentos fundamentais para garantir
sua consolidação e cumprimento de seus objetivos.
Nesse contexto, entende-se que Sistema Único de Saúde (SUS), como um
instrumento de política pública deve ser construído através da constante
participação da comunidade junto ao Poder Público adequando funções, metas,
dentre outros elementos necessário ao seu melhor desempenho junto à saúde da
população brasileira. Cenário que se torna mais complexo em uma região
transfronteiriça.
Logo, em relação ao conceito de fronteira, este remete ao latim front, in front,
ou seja, às margens. Foucher (1992) afirma que a origem do nome fronteira deriva
de front, la ligne de front, ou seja, da guerra. Esta última derivação resultado de uma
construção histórica que associa a fronteira a divisão de soberanias, disputa de
poder, defesa do território nacional, limite das leis do Estado (NOGUEIRA,2007).
A criação de uma faixa de fronteira, no Brasil estabelecida atualmente em
150km de largura paralela à linha divisória terrestre do território nacional, foi
motivada por ser esta uma área estratégica para a segurança nacional (BRASIL,
1979), resultante desta ideia de fronteira como sendo uma peça fundamental para a
defesa, com características de imposição de barreiras às ameaças externas e
estabelecimento de limites nas relações com os países vizinhos (GADELHA,
COSTA, 2007).
Entretanto, atualmente a finalidade do Estado não é mais a conquista de
território, nem a colonização, sendo preconizado a construção de Estados de direito
democrático, social e ambiental no âmbito interno e Estados abertos, amigáveis e
cooperadores no plano externo (CANOTILHO, 2003)
Para mais, com a globalização, a mobilidade do homem se tornou mais
comum. Considerando o fato de ser uma fronteira, esse fluxo é ainda mais intenso
(BRANCO, TORROTENGUY, 2013). Este fato ocorre principalmente em cidades
gêmeas que são definidas (BRASIL, 2014) como:
[...] municípios cortados pela linha de fronteira, seja essa seca ou fluvial,
articulada ou não por obra de infraestrutura, que apresentem grande
potencial de integração econômica e cultural, podendo ou não apresentar
uma conurbação ou semi-conurbação com uma localidade do país vizinho,
assim como manifestações "condensadas" dos problemas característicos da
fronteira, que aí adquirem maior densidade, com efeitos diretos sobre o
desenvolvimento regional e a cidadania (BRASIL, 2014).
Neste contexto, a cidade de Corumbá – Brasil e Puerto Quijarro – Bolívia são
consideradas cidades gêmeas e a dinâmica de relação entre elas faz com que elas
tenham um grande potencial de integração econômica e cultural. Vale ressaltar que
as cidades de Puerto Suárez – Bolívia e Ladário/MS, por conta da proximidade
geográfica também participam de todo esse contexto relacional (Figura 1) (BRASIL,
2014).
Considerações finais
Com base na discussão desenvolvida neste trabalho, verifica-se que no
Brasil, em relação ao atendimento à saúde, os estrangeiros devem ser tratados com
a mesma atenção dada aos cidadãos nativos, afinal, o Estado deve garantir a essas
pessoas o direito à vida e à saúde, como no caso de regiões de fronteira como
Corumbá/MS em que há um consequente fluxo internacional e, consequentemente,
a busca por serviços públicos de saúde por não-brasileiros.
Porém, verifica-se que apesar da legislação vigente, ainda existem problemas
ligados ao atendimento ao estrangeiro na área da saúde pública, no âmbito do SUS,
relacionados, por exemplo, a não regularização desses indivíduos perante a Polícia
Federal, acarretando, por vezes, no impedimento da emissão do Cartão do SUS,
que dá direito ao atendimento desde a Atenção Básica até procedimentos de alta
complexidade. Além de situações mais complexas que envolvem desde a
falsificação ideológica (uso de documento de brasileiros por eles para cadastrar no
SUS), desrespeito por parte de profissionais da saúde ao estrangeiro e dificuldades
na comunicação por conta das diferenças nos idiomas.
Apesar de todas as situações relatas, o fato é que o estrangeiro regularizado
na Polícia Federal, e que, portanto, possuidor de um RNM (Registro Nacional
Migratório), junto a outros documentos como comprovante de residência e CPF, é
capaz de conseguir realizar o seu cadastro no sistema público de saúde brasileiro e
3
Informação fornecida pelo Setor de Imigração da Polícia Federal de Corumbá/MS e pelo Setor de
cadastramento do Cartão SUS da Prefeitura de Ladário/MS.
4
Idem 3
obter o Cartão do SUS. Dessa maneira, este estrangeiro tem garantia ao todos os
serviços de saúde ofertados pelo sistema, tendo direito, assim, a um atendimento
em nível integral.
Neste contexto, a atuação do Agente Comunitário de Saúde se torna mais
complexa, mas ainda mais vital, pois é fundamental no auxílio ao atendimento em
saúde dos estrangeiros desde o acolhimento deste indivíduo, orientando o mesmo
sobre questões legais (como fazer sua regularização na Polícia Federal para obter o
cartão do SUS) e realizando a entrada e assistência em saúde em um primeiro
momento do estrangeiro na Unidade Básica de Saúde (BRASIL, 2017b). É uma
orientação que extrapola por vezes aspectos de saúde abordando elementos
relacionados a legalidade do processo de migração.
Dessa forma, o Agente Comunitário de Saúde deve orientar o estrangeiro
nestes processos e em quaisquer outros como de caráter político, econômico,
cultural, etc. Sua função junto ao estrangeiro é dar a assistência em saúde
necessária para a garantia do direito à saúde deste indivíduo e toda sua família em
solo brasileiro.
Por isso, concluímos que apesar do cenário complexo, os ACSs buscam
sempre acolher, orientar e ajudar os estrangeiros no acesso aos SUS de forma que
eles tenham a garantia à vida e à saúde. Tendo um papel fundamental, fazendo
muitas vezes a primeira interligação entre o paciente estrangeiro e a respectiva
equipe de saúde responsável.
Referências
CHIESA, A.M.; FRACOLLI, L.A. O trabalho dos agentes comunitários de saúde nas
grandes cidades: análise do seu potencial na perspectiva da promoção da saúde.
Rev. Bras. Saúde Fam., v. 2, p. 42-49. 2004.
MARTES A.C.B; FALEIROS, S.M. Acesso dos imigrantes bolivianos aos serviços
públicos de saúde na cidade de São Paulo. Saúde Soc. 22(2), p.351-64. 2013.
Abstract: The research presents the issue related to indigenous identity, focusing on
the essentially political dimension of an ethnic recognition in which it addresses the
boundaries to be crossed in the current context, related to cultural aspects. The
proposal is to promote a reflection regarding the struggles of the Guarani and Kaiowá
people in Mato Grosso do Sul in defense of their lands, and to point out the need to
consider that indigenous people have autonomy in their social and cultural
organization. In the first moment we will try to consider the concept of frontier and
culture, then, the ethnic identity in the context of the law.
Keywords: Indigenous; Identity; Cultural borders; Right.
Graduada em Letras pela Faculdade Integrada de Naviraí - FINAV. Mestra em Integração
Contemporânea da América Latina, pela Universidade Federal da Integração Latino-Americana -
UNILA. Doutoranda em História na Universidade Federal da Grande Dourados - UFGD. E-mail
Joselainesilva_9@hotmail.com
Introdução
O presente artigo ampara-se em contribuições bibliográficas, trazendo
elementos que contribuem com o tema: Povos indígena no Brasil: Identidade e
culturas entre fronteiras. Nesse intuito, parto do ponto das caravelas, no qual iniciou-
se um processo de grandes transformações na vida dos ameríndios. O homem
denominado como “bom selvagem” conhecido como nativo cujos primeiros contatos
pressupunham uma aproximação pacífica na forma de troca de presentes e
alimentos. Foram acusados de não serem civilizados e não terem alma, iniciando a
exploração e catequização obrigatória nas tribos, onde seguiu um extenso período
de conflitos, lutas e resistências. Por muitos anos, o olhar das ciências sociais e
humanas sobre a questão indígena, percorreu a discussão em torno das
possibilidades de assimilação cultural, dos conflitos territoriais e principalmente da
posse da terra. Em conjunto com essas questões, surgem discussões referentes aos
processos culturais, a língua, as relações produzidas em regiões próximas ou
vizinhas. O contato do homem indígena com o homem branco.
Inicialmente refletimos as palavras do autor Guarani-Kaiowá Tonico Benites
(2012), esclarecendo que os nativos são celebrados desde o período imperial como
modelos éticos e estéticos acompanhando o processo de construção da identidade
nacional. Na República, políticas paternalistas e tutelares com serviços estatais
específicas criados para exercer a tutela. Estas situações deram origem aos
processos reivindicatórios dos territórios ancestrais dos povos Guarani e Kaiowá no
Mato Grosso do Sul cujos inúmeros conflitos fundiários têm envolvido suas vidas em
um processo de disputa por recursos naturais.
Em relação ao assunto, é necessário ressaltar o tempo histórico no qual o
artigo está sendo produzido, meio aos turbulentos ataques aos direitos indígenas.
Recentemente vivenciamos grandes ataques em relação aos direitos conquistados
através da Constituição Federal de 1988. Tomamos portanto a história presente em
nosso dia-a-dia, nos alertando para a condição de sujeitos históricos no qual o ponto
referente as fronteiras culturais, possui significado amplo e relaciona-se à
compreensão do conceito de fronteira e cultura.
Nessa perspectiva buscamos considerar o conceito de fronteira e de cultura
no qual antropólogos e historiadores manifestam interesse por essa área do
conhecimento. A expressão cultura, possui um extenso percurso nas ciências
humanas, sociais e jurídicas. Desse modo, adotamos por cultura na interpretação de
Santos (2006) todos os aspectos de uma realidade social, pois diz respeito a tudo
aquilo que caracteriza a existência social de um povo de uma nação ou de grupos
no interior de uma sociedade. Compreendemos que a cultura diz respeito à
humanidade como um todo e ao mesmo tempo a cada um dos povos. “Cada
realidade cultural tem sua lógica interna, a qual devemos procurar conhecer para
que faça sentido as suas práticas, costumes, concepções e as transformações pelas
quais estas passam.” (SANTOS, 2006, p.8).
Cabe ressaltar, em relação à cultura Guarani, que faz parte da mesma os
valores, costumes, crenças e práticas que compõem o modo de vida da
comunidade. A educação Guarani é o ñande reko1 produzido dentro da tekoha2 que
mantém a tradição cultural através da oralidade e da memória viva dos Guarani.
Averiguamos o termo fronteira, abordada com Pesavento (2002) na qual a
autora conclui que fronteiras antes de serem marcos físicos ou naturais, são
sobretudo simbólicas. “São marcos, que guiam a percepção da realidade.
Capacidade mágica de representar o mundo por um mundo paralelo de sinais por
meio do qual os homens percebem e qualificam a si próprios, ao corpo social, ao
espaço e ao próprio tempo”. (PESAVENTO, 2002, p. 35).
A partir dessas considerações, a expressão fronteiras culturais pode ser
entendida como uma realidade transcendente, acima da geopolítica e que contempla
o caráter plural do termo cultura. Logo, a fronteira cultural afirma na verdade um ato
de conhecimento, como todo poder simbólico. Nesse contexto, diversos fatores tem
demarcado as fronteiras, possibilitando repensar na revisão dos valores que movem
a sociedade como um todo e a inserção do indígena, já que a fronteira é uma zona
de articulação entre diferentes culturas, etnias, povos e modos de vida que deseja e
enseja o contato. A sua riqueza consiste em possibilitar os processos de
intercâmbios entre os homens e o meio em que vivem.
Nessa perspectiva, o trabalho propõe uma discussão sobre o exercício
jurídico das políticas direcionadas para a auto identificação da identidade dos povos
indígenas no Brasil, partindo da realidade de que, no referido país, a autonomia
1
Ñande reko diz respeito ao modo de ser, o modo de viver dos Guarani, que está relacionado ao
comportamento, a língua, a religião e a organização social. (SILVA, 2016)
2
O tekoha é entendido pelos Guarani como aldeia, lugar onde realizam seu modo de ser “teko”: a
cosmovisão, a cultura, os costumes e “há”: espaço onde se realiza o teko. “Seu território, o solo que
se pisa, é o tekoha, o lugar físico, o espaço geográfico onde os Guarani são o que são, onde se
movem e onde existem” (SILVA, 2016,p.12, apud AZEVEDO, et al. 2008, p.7)
desses grupos étnicos não estão sendo cumpridas, de modo que infringe o que
determina a Constituição Federal de 1988 e a Convenção nº164, da Organização
Internacional do Trabalho (OIT), política essa de âmbito internacional.
Observando de que modo o Estado reconhece a democracia representativa
e participativa do povo, a proposta é promover uma reflexão e apontar a
necessidade de considerar que os povos indígenas no Brasil tenham autonomia
para a organização das suas comunidades, a resolução de conflitos de acordo com
seus valores culturais. O reconhecimento do direito à sua identidade, visa o
cumprimento das leis, de modo que não permaneçam apenas em normas estatais e
em um poder centralizado. A pesquisa está organizada em três tópicos do qual
procede a presente introdução abordando o assunto referente as fronteiras culturais;
o segundo uma análise sobre o conceito de identidade étnica; e no terceiro a
reflexão sobre o reconhecimento ao Direito étnico, territórios e leis estatais.
étnicos, e o processo de interação cultural, que no caso dos indígenas culminou com
a garantia de direitos a partir da década de 80.
3
Esta Lei regula a situação jurídica dos índios ou silvícolas e das comunidades indígenas, com o
propósito de preservar a sua cultura e integrá-los, progressiva e harmoniosamente, à comunhão
nacional.
identidade de tais povos, mas na prática, é apresentada outra realidade, uma vez
que há um ataque a esses direitos em todo o território brasileiro.
[...] a questão indígena tem sido omitida, mascarada, como uma clara opção
do Estado, e vem se repetindo desde a época da colonização. E o Poder
Judiciário, que seria o responsável pela aplicação e fiscalização desses
direitos tem grande parcela de culpa na situação, seja pela dificuldade de se
chegar até ele, seja pelas deficiências do próprio corpo que se encontra
despreparado e desconhecedor das questões indígenas, seja pela falta de
vias processuais adequadas (SIQUEIRA & MACHADO, 2009 p. 27).
Exemplo desse descaso e agressão, na tentativa de destruir a construção
identitária desses povos é o que acontece com os índios no Mato Grosso do Sul,
como relata o Relatório dos Direitos Humanos a terra, Território e Alimentação “a
difícil situação dos indígenas no Mato Grosso do Sul se insere num cenário nacional
de expropriação territorial. Inclusive é um processo que percorre toda a América
Latina, numa disputa por recursos naturais” (Relatório, 2014, p. 11).
Observar os conflitos entre Estado e indígenas é constatar a multiplicidade
das relações de poder que advém do reconhecimento da realidade complexa, e de
que esta realidade é produto de um mundo em que “o fim do colonialismo não
acarretou o fim da colonialidade enquanto relação social, enquanto mentalidade e
forma de sociabilidade autoritária e discriminatória” (SANTOS, 2001, p. 8). Diante
desse entendimento, compreendemos que não se trata apenas de lutar por
efetividade de direitos, uma vez que é muito mais que incorporar a dimensão cultural
ao Estado há a necessidade de revê-lo. Assim, no discurso eurocêntrico não se
reconhece que a diferença cultural indígena pressupõe formas diferenciadas de crer,
de produzir e transmitir o saber que é comum ao seu povo.
Atualmente o Estado do Mato Grosso do Sul, possui a segunda maior
população indígena do país. Nesse mesmo Estado tem ocorrido constantes conflitos
territoriais em relação da posse das terras indígenas. Segundo Cavalcante (2014), a
situação atualmente vivenciada pelos Guarani e Kaiowá no Mato Grosso do Sul em
relação aos seus direitos territoriais, são verdadeiramente preocupantes pois vivem
sob ameaças.
A respeito do assunto, Silva (2016) esclarece que mesmo os Guarani
estando na região desde os primeiros contatos com os colonizadores, ainda na
época das encomendas espanholas e reduções jesuítas, atualmente ocorre
situações de violência, por conta das reivindicações e retomadas de terras
ancestrais.
Considerações finais
No Brasil, o indígena passou a ser reconhecido como uma categoria
etnicamente diferenciada sendo um desafio ao Estado garantir o direito desses
povos. Atualmente a emergência étnica tem uma relação direta com a política
estatal. Além de reconhecer aos índios o direito à diferença, o que rompeu – na
letra da lei – com a tradição assimilacionista do indigenismo brasileiro, o texto da
Constituição Federal de 1988, trouxe mudanças importantes no que diz respeito aos
direitos territoriais indígenas. A principal delas foi o reconhecimento da
“originalidade” do direito dos índios às terras de ocupação tradicional, o que ampliou
a compreensão do que vinha a ser terra indígena.
A cultura da população indígena está vinculada a vida com a comunidade e
com a terra, mas não como posse individual e sim meio de sobrevivência coletiva.
Entendem que a terra não os pertence, e sim eles são os que pertencem a terra. A
falta de compreensão, desse universo, fez com que desde o período da colonização
esses grupos sofressem com o desrespeito, humilhações e desvalorização de sua
cultura. No entanto, muitos mantiveram-se perseverantes nas lutas pelo direito à
língua, à terra, à autodeterminação e à preservação de sua identidade. Esse direito
refere-se além do territorial e cultural, a outros conexos, como o direito à vida,
liberdade, religião, saúde, família, educação e moradia.
Examinando a legislação a respeito do assunto, verifica-se que nas últimas
décadas ocorreram avanços consideráveis tanto a nível nacional quanto
internacional nas leis direcionadas aos povos indígenas, e apresentam-se como um
avanço no campo teórico, mas na prática, tais leis nem sempre são efetivadas. Fica
evidente que o aparato jurídico precisa ser cumprido plenamente, já que não é
apenas uma questão de obter direitos, mas uma melhor interpretação e aplicação
dos mesmos, visto que, a questão indígena ainda é desvalorizada e desrespeitada.
Nesse cenário, é preciso compreender o modo como a questão indígena vem
sendo abordada nos processos políticos recentes e assim, romper com as
fronteiras do Estado-Nação, entendendo que os Guarani- Kaiowá em sua
organização propõe um modo de vida e política própria.
Juntamente com as leis e o direito à terra, está a questão primordial que é
compreendermos como os povos originários tem sido representados e permanecem
no imaginário da sociedade nacional, bem como nos espaços educacionais. É
fundamental que seja superada a perspectiva eurocêntrica e seja contata a história
indígena do tempo presente, bem como seus conhecimentos e saberes.
De forma alguma o assunto se esgota aqui, mas permite abrir novas
possibilidades de análises, relacionadas ao tema, envolvendo a questão da
autogestão, que implicaria uma reavaliação do reconhecimento da identidade dos
indígenas. No âmbito geral da sociedade brasileira, salta aos olhos a questão do
reconhecimento dos direitos atribuídos a grupos etnicamente diferenciados,
inseridos em um contexto social pluriétnicos.
Referências
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cultura – v. 4, n. 7, p. 197-212, jan./jun. 2005.
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http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L3071.htm
BRASIL. Constituição Federal de 1988 - Artigo 215. Brasília DF. Brasil, 2013
BRASIL. Decreto Legislativo Nº 143, de 2002, Brasília, DF, 2002. – Disponível em:
http://www2.camara.leg.br/legin/fed/decleg/2002/decretolegislativo-143-20-junho-
2002-458771-convencao-1-pl.html -
KAUSS, Vera Lucia Teixeira; SOUZA Marcos Teixeira de. Nus de Estoicismo: Para
além de uma Visão Eurocêntrica sobre os Indígenas. Porto Alegre. Unigranrio.
Espaço Ameríndio jul./dez v. 5, n. 3, p. 85-97, 2011.
SANTOS, Jose Luiz dos. O que e Cultura. 6. Ed. São Paulo: Editora Brasiliense,
2006.
SILVA, Giovani José da; COSTA, Anna Maria Ribeiro F. M. da. Histórias e culturas
indígenas na educação Básica. 1ed. – Belo Horizonte. Autêntica editora, 2018.
SILVA, Joselaine Dias de Lima. Ñande reko arandu dos guarani- ñandeva da
tekoha Sombrerito: a educação indígena na perspectiva intercultural.
THOMPSON, John B. Ideologia e cultura moderna: teoria social crítica na era dos
meios de comunicação de massa. Rio de Janeiro, Vozes, 1995.
VERAS, Marcos Flávio Portela; BRITO, Vanderli Guimarães de. A identidade étnica: a
dimensão política de um processo de reconhecimento. Revista de Antropologia –
Ano 4 – Volume 5. Maio, 2012.
Nutricionista. Mestranda em Estudos Fronteiriços - UFMS/Campus Pantanal. E-mail:
bfa.climaco@gmail.com
Engenharia Cartográfica. Doutora em Geociências e Meio Ambiente - UFMS/Campus do Pantanal.
E-mail: beatrizlpaula@gmail.com
enable riverside dwellers in the Pantanal to build healthier eating habits within their
environmental and socioeconomic context.
Keywords: Border; Pantanal; Riverine; Food frequency; Nutritional status.
Introdução
O rio Paraguai tem nascente em território brasileiro com uma região
hidrográfica que abrange uma área de drenagem de 1.095.000km², sendo 33% em
território no Brasil e o restante na Bolívia, Paraguai e Argentina; e apresenta-se
como uma bacia transfronteiriça. A Região Hidrográfica do Paraguai corresponde no
lado brasileiro, a uma área de 362.259 km², sendo 52% no Mato Grosso e 48% no
Mato Grosso do Sul. Cerca de 1,9 milhão de pessoas vivem na região, sendo 15,3%
em áreas não urbanas (CALHEIROS; OLIVEIRA, 2010).
De acordo com Almeida e Silva (2011) os ribeirinhos apresentam total
dependência e identificação com o rio, pois é por meio dele que se garante a
provisão humana, desde a lavagem da roupa e utensílios, higiene pessoal à
sobrevivência e atividade econômica: à coleta de isca e pesca. Os autores ainda
relatam que a fachada das casas é construída de frente para o rio porque é nele
onde se desenrola a vida pública e se estabelecem as relações sociais.
Estudos que avaliaram o cotidiano e modo de vida de famílias ribeirinhas do
Pantanal Sul-Mato-Grossense revelaram uma vida ‘’sofrida’’, cheia de
vulnerabilidades: precárias condições de moradia, de trabalho, baixa escolaridade,
renda familiar insuficiente, indisponibilidade de serviços públicos básicos na região,
Metodologia
Trata-se de um estudo piloto descritivo, realizado com ribeirinhos de ambos
os sexos, com idade igual ou superior a 5 anos de idade, residentes em uma
comunidade tradicional localizada no Pantanal Sul-Mato-Grossense, na faixa de
fronteira, entre Brasil e Bolívia. Foram convidados a participar pelo menos um
integrante adulto de cada família. Os indivíduos com idade inferior a 5 anos de
Fonte: World Health Organization (WHO, 1995); Organización Panamericana de la Salud (OPAS,
2002).
Resultados
Participaram do estudo 26 ribeirinhos, integrantes de nove famílias, sendo 10
(38,5%) do sexo feminino e 16 (61,5%) do sexo masculino. E, desse total, 13
(50,0%) eram crianças e adolescentes; 12 (46,2 %) adultos; e um (3,8%) idoso
(Tabela 01). A idade mínima e máxima entre os participantes foi de 6,5 e 66,4 anos
de idade, respectivamente, com uma média de 24 ± 14,8 anos. O número médio de
pessoas que moram na casa da família foi de 5,6 ± 2,2 integrantes, sendo composta
por pai, mãe, filhos (as), esposo (a) e irmãos. Foi verificado que 7 (63,6%)
participantes possuíam filhos, com média de 4,6 ± 3,9 filhos por família.
A aquisição de alimentos da zona urbana é realizada pela maioria das
famílias num intervalo de 60 dias, o menor e maior valor gasto com a compra dos
gêneros alimentícios nesse período foi de R$ 350,00 e R$ 1000,00 reais,
respectivamente.
Tabela 01. Número total dos ribeirinhos participantes por sexo e fase de vida.
Corumbá, 2019.
Sexo T F M
n (%) n (%) n (%)
Total 26 (100) 10 (38,5) 16 (61,5)
Crianças e Adolescentes 13 (50) 5 (38,5) 8 (61,5)
Adultos 12 (46,2) 5 (41,7) 7 (58,3)
Idosos 1 (3,8) 0 1 (100)
T= total de participantes; F= Sexo Feminino; M=Sexo Masculino.
Risco Metabólico
pela CC (cm)
Sem Risco 8 (72,7) 78,1 ± 9,1 1 (25) 70 7 (100) 79,2 ± 9,2
Com Risco 3 (27,3) 109 ± 24,5 3 (75) 109 ± 24,5 0 0
T = total de participantes; ME = média; DP = desvio padrão; F = Sexo Feminino; M = Sexo Masculino.
E/I(cm)
Baixa 1 (7,7) 154 0 0 1 (12,5) 154
Adequada 12 (92,3) 153,6 ± 15,7 5 (100) 153 ± 18,3 7 (87,5) 155 ± 14,9
TOTAL: 13 ribeirinhos
n= número de participantes.
Discussão
São poucos os estudos referentes ao estado nutricional e consumo alimentar
de famílias ribeirinhas especialmente do Pantanal Sul-Mato-Grossense. O presente
trabalho permitiu identificar maior prevalência de excesso de peso e risco de
doenças metabólicas pela CC entre as mulheres, resultado semelhante ao estudo
realizado com outras populações ribeirinhas no Brasil (BEZERRA et al., 2018). No
estudo de Mariosa et al. (2018) também foi verificado que os ribeirinhos do sexo
feminino, com idade acima de 40 anos, apresentaram maior risco para o
desenvolvimento de Hipertensão Arterial Sistêmica.
Em relação ao consumo alimentar, apesar de todos os ribeirinhos adultos
terem relatado o cultivo e disponibilidade de alguns legumes, vegetais e frutas na
propriedade, a frequência de consumo desses alimentos foi inferior a 3 vezes na
semana. O estudo de Costa et al. (2016) realizado em outra comunidade ribeirinha
Conclusão
A maioria dos ribeirinhos avaliados, residentes no Pantanal-Sul-
Matogrossense, apresentou o estado nutricional adequado, no entanto foi prevalente
o excesso de peso e risco metabólico entre as mulheres. Assim como o histórico
familiar de doenças crônicas não transmissíveis na comunidade. Um alerta, pois o
peso acima do recomendado também foi identificado entre as crianças e
adolescentes integrantes das famílias diagnosticadas. Em contra partida também
foram identificados ribeirinhos com baixo peso, integrantes de uma mesma família.
Foi verificado que o consumo semanal de legumes e vegetais foi muito pouco
e insuficiente. As frutas frescas consumidas na semana são frutas da época, e se
depende não apenas da sazonalidade desses alimentos, mas das condições
climáticas no pantanal para usufruí-las.
Referências
Graduada em Psicologia. Universidade Federal do Mato Grosso do Sul. E-mail:
isabelafberno@gmail.com
Graduado em Enfermagem, mestre em Estudos Fronteiriços. Marinha do Brasil. E-mail:
enf.infecto.j@gmail.com
Graduada em Psicologia, mestre em Sociologia, doutora em Saúde Coletiva. Universidade Federal
do Mato Grosso do Sul. E-mail: vanessa.figueiredo@ufms.br
urgency of carrying out more research that can contribute to the development of and
maintenance of the quality of life of these professionals.
Key- words: military personnel, mental health, border, armed forces,
psychodynamics of work.
Introdução
O atual cenário político nas américas coloca em primeiro plano a questão da
Segurança Nacional nas fronteiras territoriais, evidenciando tanto no Brasil quanto
nos Estados Unidos a adoção de políticas externas calcadas na ideologia
armamentista, pronta a acionar as forças armadas no caso de conflitos em suas
fronteiras com a Venezuela e com o México, respectivamente. Atualmente, o Brasil
possui um contingente operacional de segurança na faixa de fronteira de 87
organizações militares (OMS) do exército, 14 OMS da marinha e 38 OMS da
aeronáutica (NUNES, 2018; BRASIL, 2012 ) para cobrir um território de
aproximadamente 17.000 km.
No que tange à fronteira Brasil-Bolívia, a sua extensão de 3.423 km envolve
quatro estados, estando delimitado o Mato Grosso do Sul pelos municípios
brasileiros de Corumbá e Ladário, localizados no Pantanal Sul, e a Bolívia pelas
cidades de Puerto Quijarro e Puerto Suarez (FIGUEIREDO; COSTA; PAULA; 2011).
Por sua vez, as forças armadas que atuam na região são referentes ao Comando do
6º Distrito Naval (Marinha do Brasil) de Ladário, ao Comando da 18º Brigada de
Infantaria de Fronteira e ao 17º Batalhão de Fronteira (Exército Brasileiro) de
Corumbá, sendo que até julho de 2019 duas operações tinham sido noticiadas e
executadas na região.
Em fevereiro, sob a coordenação do 6° Distrito Naval e com o apoio de vários
órgãos da região, a Marinha do Brasil (MB) e o Exército Brasileiro (EB) iniciaram a
Operação Ágata VIII na fronteira de Corumbá com a Bolívia, com o intuito de
aumentar e intensificar as fiscalizações de combate e repressão aos delitos
transfronteiriços, como o tráfico de pessoas, drogas, armas e munições, evasão de
divisas, além dos crimes ambientais. (CABRAL, 2019). Já em maio de 2019 foi
noticiado o alcance da operação Ágatha Pantanal VIII, por meio da qual foram
realizadas 1.270 vistorias em veículos terrestres e embarcações fluviais em
Corumbá, Bodoquena, Ladário e Porto Murtinho, cidades do estado de Mato Grosso
do Sul, abrangendo aproximadamente 750 km de linha de fronteira. A operação
contou com a participação de cerca de dois mil militares da MB, do EB e de agentes
dos Órgãos de Segurança Pública e Fiscalização (CABRAL, 2019).
Conforme Gonzaga (2019), entre 12 e 22 de março de 2019 ocorreu em
Cáceres (MT) a operação Celeiro IV. Bem diferente do que a MB e o Corpo de
Fuzileiros Navais (CFN) estavam habituados a realizar, o treinamento efetuado em
uma área ribeirinha simulava uma operação de infiltração, utilizando aviões de
ataque e helicópteros da MB que apoiavam as tropas do CFN, embora a missão da
tropa nesses locais fosse a de proteger as instalações fluviais da Marinha, por meio
de pequenas unidades de fuzileiros em alguns rios de fronteira. Apesar do Brasil não
possuir nenhum tipo de problema com os países fronteiriços demarcados por
grandes rios ou mesmo pelo Pantanal (Argentina, Paraguai e Bolívia), para Gonzaga
(2019) o treinamento realizado provavelmente teria como alvo a Venezuela, cuja
fronteira é banhada por vários rios. Ainda, sobre tal acontecimento, a MB emitiu um
comunicado pronunciando que o referido treinamento estaria visando a operações
de infiltração e resgate de tropas, assim como atuação em casos de evacuação aero
médicas. O portal defesanet (2019) também notificou a operação Celeiro IV,
afirmando que na data de 22 de março de 2019 um ataque noturno realizado a alvos
terrestres teria ocorrido em pleno Pantanal Sul, próximo da fronteira do Brasil com a
Bolívia.
As atividades de Segurança Nacional nas fronteiras brasileiras são fonte de
pressão por treinamento, gerando tensão e apreensão diante dos riscos pessoais,
fatores estressores e sobrecarga vivenciada na efetivação das atividades
Metodologia
Foi realizada uma revisão integrativa da literatura sem corte temporal, o que
permitiu verificar o volume de produção e reconhecer os pesquisadores em
determinado assunto. Este método de pesquisa proporciona o aprimoramento e
atualização profissional.
Fonte: Diagrama produzido pelos autores para descrever a coleta dos artigos na base de dados.
Resultados e Discussão
Estudar a
prevalência de
Prevalência de Transtorno Mental e
transtorno mental Comportamental em Psicologia:
LIMA, F. P; Estudo
e comportamental Policiais Militares em Ciência e
BLANCK, V. epidemiológico
em policias Licença para Polícia Profissão,
L. G; descritivo de
militares/SC, em Tratamento de Militar Brasília, v.35,
MENEGON, corte
licença para Saúde (LTS), da n.3, p.824-
F. A. transversal.
tratamento de região metropolitana 840, 2015.
saúde de Florianópolis/SC,
casos notificados
pela Junta Médica.
Investigar os dados
sobre as relações
entre a organização
do trabalho da Estudo de
Soc. São
O processo de Polícia Militar e a caráter
SILVA, M. B. Paulo, São
trabalho do militar Saúde Mental de qualitativo do Polícia
da; VIEIRA, Paulo, v.17, n.
estadual e as seus profissionais tipo Militar
S. B. 4, p.161-170,
saúde mental quando no exercício exploratório-
2008.
de sua atividade fim descritivo
(policiamento
ostensivo) na cidade
de João Pessoa-PB
Uso de tabaco e
álcool, Analisar as
comportamento frequências de uso
sexual e de tabaco e álcool,
transtornos comportamento São Paulo
PEREZ, A. Estudantes
mentais comuns sexual e transtornos Estudo Med J, São
de M.; militares da
entre estudantes mentais comuns observacional, Paulo, v.133,
BENSEÑOR, Academia
militares na entre estudantes transversal n.3, p.235-
I.M. de Polícia
Academia de militares de acordo 244, 2015.
Polícia, São com gênero, ano,
Paulo, Brasil. Um grau e a duração da
estudo vida militar.
transversal
Fatores Identificar a
AZEVEDO, Rev. bras.
associados ao prevalência do uso
D. S. da S. Pesquisa Epidemiol,
uso de de ansiolíticos e
de; LIMA, E. transversal de Bombeiros Rio
medicamentos conhecer os fatores
de P.; base militares Grande, v.22,
ansiolíticos entre associados ao
ASSUNÇÃO, censitária E190021, jul.
bombeiros consumo em
A. da A. 2019.
militares bombeiros militares.
Estimar a
Prevalência de Jovens
prevalência de
transtornos brasileiros
transtornos mentais Ciência &
mentais comuns recém-
comuns (TMC) e Saúde
em jovens MARTINS, Estudo de incorporado
identificar os fatores Coletiva, Rio
brasileiros recém- L.C.X.; desenho s ao
a estes associados de Janeiro,
incorporados ao KUHN, L. seccional serviço
em jovens brasileiros v.18, n.6, p.
Serviço Militar militar
recém-incorporados 1809-1816,
Obrigatório e obrigatório:
ao serviço militar 2013.
fatores os recrutas.
obrigatório: os
associados
recrutas.
Investigar o papel
das crenças de auto-
Auto-eficácia
eficácia como Cad. Saúde
como mediadora Cadetes
mediadora da Pública, Rio
da relação entre o SOUZA, L. militares da
relação entre o bem- Pesquisa de Janeiro, v.
bem-estar A. S. de. et polícia e
estar subjetivo e quantitativa 30 n.11, p.
subjetivo e saúde al. dos
saúde geral de 2309-2319,
geral de cadetes bombeiros.
cadetes militares 2014.
militares
(polícia e
bombeiros).
Fatores Analisa quanti-
Estudar a qualidade Cad. Saúde
associados ao tativamente de
de vida e as Pública, Rio
sofrimento parte dos
SOUZA, E. condições de saúde Polícia de Janeiro,
psíquico de dados de uma
R. de, et al. e de trabalho dos militar v.28, n.7,
policiais militares pesquisa de
policiais militares do p.1297-1311,
da cidade do Rio corte
Rio de Janeiro 2012.
de Janeiro, Brasil. transversal
Fonte: Produzido pelos autores a partir dos dados coletados dos artigos selecionados na busca
eletrônica.
Souza et al. (2012), o estudo constatou que fatores como capacidade de reagir a
situações difíceis, grau de satisfação com a vida, comprometimento da saúde física
e mental, carga excessiva de trabalho, exposição constante ao estresse e a
vitimização propiciam o desenvolvimento de sofrimento psíquico nos policiais
militares do Rio de Janeiro.
Considerando a teoria da PDT, observa-se que os resultados encontrados
pelas pesquisas acima mencionadas corroboram com a afirmativa de Dejours (2015)
de que a primeira vítima do sistema não é o aparelho psíquico; mas, sim, o corpo
dócil e disciplinado, entregue às dificuldades inerentes à atividade laborativa, visto
que quatro estudos constataram ocorrência do uso de tabagismo, etilismo e
ansiolíticos como forma de ´anestesiar´ e ´não pensar´ no cotidiano laboral. Pensar e
discorrer sobre esse silenciar do trabalhador é importante, porque ele representa
estratégias e mecanismos de defesa utilizadas, como a virilidade, pelos
trabalhadores para conseguir continuar seu ofício. Porém, a instalação dessas
estratégias coletivas pode decorrer em doenças, na propulsão de patologias sociais
(sobrecarga, servidão voluntária e assédio moral) e na anestesia do sofrimento ético,
o que acaba por comprometer ainda mais a saúde mental.
A maior parte das pesquisas ponderou sobre transtorno mental e
comportamental e transtorno mental comum e não buscou discorrer sobre a
subjetividade afetada, atendo-se à definição psicopatológica, somente mencionando
a relação dos coletivos ocupacionais com quadros subclínicos de ansiedade,
depressão e estresse. Porém, o uso de ansiolíticos, de tabaco e álcool não pode ser
dissociado da vivência em uma cultura organizacional que propaga a negação do
adoecimento e o presenteísmo a qualquer preço, observáveis no uso sem prescrição
de receitas de ansiolíticos ou na cultura de encorajamento do uso de álcool.
Considerações finais
Como demonstrado pelo resultado da pesquisa, a organização do trabalho
dos militares propicia o desenvolvimento de patologias como: transtornos neuróticos
relacionados ao estresse e somatoformes, psicossomáticos, do humor, depressivos,
de ansiedade, mentais e comportamentais relacionados ao uso de álcool,
relacionados ao tabaco e relacionados a sedativos, hipnóticos ou ansiolíticos.
De acordo com a PDT, o trabalho sempre é permeado pelo sofrimento, já que
nenhuma previsão contempla o real (LANCMAN; SZNELWAR, 2011), entretanto, a
Referências
MARTINS, L.C.X; LOPES, C.S. Military hierarchy, job, stress and mental health in
peacetime. Occupational Medicine, Universidade de Oxford, Reino Unido, v.62,
n.3, p.182-187, apr., 2012.
MENDES, A.M. Desejar, Falar, Trabalhar. Porto Alegre: Editora Fi, 2018.
https://ipea.gov.br/agencia/images/stories/PDFs/livros/livros/181112_fronteiras_do_b
rasil_volume1_cap03.pdf. Acesso em: 18/07/2019.
Resumo: A fronteira do Brasil com o Paraguai (Ponta Porã e Pedro Juan Caballero)
abriga sites de notícias que expressam as marcas fronteiriças mais viscerais: tensão,
conflito, contradição, improviso, amadorismo e narrativa do grotesco, mas também
cooperação, mescla social e cultural, intercâmbio informacional e esforço para
informar a qualquer custo. Dessa leitura inicial parte este trabalho, resultado de uma
pesquisa de campo em âmbito de mestrado que buscou compreender alguns
aspectos operacionais e editoriais desses veículos, tais como estrutura, modelos
empresariais e métodos de trabalho no contexto local e transnacional.
Palavras-chave: Jornalismo online, sites de notícias, imprensa fronteiriça, fronteiras
transnacionais, Brasil-Paraguai.
Abstract: The Brazil-Paraguay border (Ponta Porã and Pedro Juan Caballero) hosts
news sites which express the most visceral borderer marks: tension, conflict,
contradiction, improvisation, amateurism and grotesque narrative, but also
cooperation, social and cultural mixture, informational exchange and effort to inform
at any cost. This paper arises from such initial view, as a result of field research for a
master degree that sought to understand some operational and editorial aspects of
that border media, such as structure, business models and working methods in the
local and transnational context.
Key-words: Online journalism, news sites, border press, transnational borders,
Brazil-Paraguay.
Resumen: La frontera de Brasil con Paraguay (Ponta Porã y Pedro Juan Caballero)
alberga sitios de noticias que expresan las marcas de frontera más viscerales:
tensión, conflicto, contradicción, improvisación, amateurismo y narrativa de lo
grotesca, pero también la cooperación, la mezcla social y cultural, el intercambio de
información y el esfuerzo para informar a cualquier costo. Desde esta lectura inicial,
este trabajo es el resultado de una investigación de campo de maestría que intentó
comprender algunos aspectos operacionales y editoriales de estos medios
fronterizos, como la estructura, los modelos de negocios y los métodos de trabajo en
el contexto local y transnacional.
Palabras clave: Periodismo online, sitios de noticias, prensa fronteriza, fronteras
transnacionales, Brasil-Paraguay.
Doutorando do Programa de Pós-graduação em Comunicação da Universidade Federal do Rio
Grande do Sul (PPGCOM-UFRGS); integrante da Pesquisa Unbral Fronteiras, do Grupo de Pesquisa
Espaço, Fronteira, Informação e Tecnologia (GREFIT) e do Projeto de Extensão “Em dia com a
Pesquisa” (UFRGS); jornalista e mestre em Comunicação pela Universidade Federal de Mato Grosso
do Sul (UFMS). E-mail: gesiel.pro@gmail.com.
Abstract: This article deals with the experience of the undergraduate teaching
internship I in which classes of Political Geography were taught for the first semester
of the International Relations course. The study plan we prepared included exercises,
debates on the proposed themes and exposure of relevant aspects for the deepening
of the fundamental concepts that provide the theoretical support for geopolitics and
Graduado bacharel e licenciada em Geografia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul
(UFRGS). Mestre e doutoranda em análise territorial pela mesma universidade. E-mail:
janart@terra.com.br
Graduada licenciada e bacharel em Geografia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul
(UFRGS). Mestre e doutoranda em ensino de Geografia pela mesma universidade. Mestre em
Educação ao ar livre pelas Universidades de Marburg (Alemanha), de Cumbria (Reino Unido). Mestre
pela Escola Norueguesa de Esportes (Noruega). E-mail: geografia.paola@gmail.com
Introdução
A disciplina do Estágio docência em graduação I, realizado na Universidade
Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), no curso de pós-graduação em Geografia.
Por meio da disciplina de Geografia Política no primeiro semestre de 2019. Esse
destina-se ao desenvolvimento do pós-graduando nas práticas pedagógicas no
escopo do ensino no âmbito das geociências, análise territorial e socioeconômicas
relacionadas às ciências da Terra.
Objetivos
Apresentar a experiência do Estágio Docência em graduação I, destacando a
importância do ensino do pensamento em Geografia Política e Geopolítica, visando:
Metodologia
A metodologia deste trabalho visa a apresentação dos passos que deram
origem a esse artigo. O propósito de difundir o conhecimento dos conceitos
fundantes do pensamento geográfico e produzir uma discussão para além da sala
de aula. Compartilhar a metodologia aplicada e fazer reverberar impressões desse
campo de pesquisa, pouco difundido, que é a escrita acadêmica e científica, a partir
das trocas e experiências adquiridas nas práticas de aula.
Para compor esse artigo, partimos do plano de aulas que foi ministrada no
Estágio Docência em Graduação I, das aulas aplicadas nos dias 14/05, 21/05, 11/06
e 18/06 de 2019. E dos resultados obtidos a partir das aulas expositivas, dos
debates e respostas aos questionários e avaliação final.
O levantamento bibliográfico e a escolha das obras contaram com o auxílio da
titular desta disciplina professora Drª. Adriana Dorfman, que colaborou para a
elaboração do plano técnico e no refinamento dos textos selecionados. Partimos do
propósito de que trabalharíamos com alguns textos clássicos de base conceitual e
estrutural. Mas também, quisemos apresentar um olhar mais contemporâneo às
temáticas a macroestrutura do Estado-nação com foco nas relações internacionais.
Destacando as dinâmicas em redes tendo como exemplo: as diferentes
formas e usos de novas tecnologias, comunicação e a emergência de um
capitalismo informacional globalizado. Os textos forneceram embasamento teórico e
suporte na elaboração dos exercícios de debates. Além de operar como facilitadores
na escrita dos apontamentos pelos alunos.
Segmentadas em momentos de explanação e discussão sobre os principais
conhecimentos compartilhados, as aulas são uma proposta de construção coletiva,
por meio das análises sobre os conceitos de Estado e Fronteira, sua relevância para
as práticas políticas locais e globais na atualidade. Assim como, nas perspectivas
para o desenvolvimento da fronteira com o apoio do Estado no papel de um
interlocutor nas relações internacionais.
Entre uma das práticas aplicadas está a discussão das múltiplas faces da
fronteira, na visão de diferentes autores. A fim de propiciar aos alunos elementos
teóricos para a análise de questões socioespaciais relacionadas a essas
perspectivas epistemológicas.
Essas aulas culminaram com uma atividade prática, elaborada a partir do
trabalho de Sylvie Considère e de Fabienne Leloup com título Comment interroger la
frontière par les répresentations sociales (2017), com o tema das paisagens
fronteiriças na contemporaneidade utiliza imagens de fronteiras.
Nesse os alunos responderam sobre as suas impressões sobre os aspectos
estruturais, geopolíticos, sociais da fronteira. Desta forma, foi possível detectar como
esses percebem a fronteira, assim como seu nível de aproximação, interesse e
conhecimento sobre o tema, no caso questionamos sobre a fronteira Brasil /
Paraguai; traremos de forma mais detalhada nos resultados obtidos deste artigo. O
intuito era propiciar aos alunos um entendimento mais abrangente o papel do Estado
e do quanto esse influenciou na formação de limites territoriais, que por vezes são
confundidos com a ideia de fronteira.
No entanto, entendemos que a paisagem de fronteira está mais associada a
espaços de trocas, de vivências, de experiências e de alteridade. Como forma de
avaliação foram aplicados questionários sobre a temática da fronteira, registros em
apontamentos referente à formação dos Estados modernos e debates em aula sobre
as dinâmicas das redes e dos processos estruturantes da geopolítica no contexto
das relações internacionais.
Ao final do semestre foi aplicada uma avaliação individual, na qual os alunos
responderam a prova dissertativa sobre os temas trabalhados em aula.
Com sete questionários sobre fronteiras da turma de 1º semestre do curso de
Relações Internacionais, aplicamos o mesmo exercício em 14 alunos do 8º semestre
de Geografia, para verificar se haveria alguma discrepância em suas respostas.
Dadas as características das turmas de cursos e períodos distintos as respostas dos
alunos de Geografia tenderiam a ser mais coesas e concisas, ainda que às duas
turmas foi apresentado o mesmo referencial teórico.
Nesse sentido, entende-se que os alunos das duas turmas, ainda que em
momentos distintos, tiveram a oportunidade de ter contato com uma discussão
teórica e conceitual sobre o tema proposto na atividade.
Materiais e Métodos.
Considerando o contexto das práticas apresentadas e o referencial teórico
construído com os alunos, foram aplicadas atividades que permitiram identificar as
construções realizadas pelos discentes na disciplina e possíveis representações
sociais desses sujeitos. As atividades propostas foram fundamentadas nas
metodologias desenvolvidas por Considère e Leloup (2017), como já indicado
anteriormente.
Dialogamos também com o conceito de representações sociais pensado por
Guareschi (2005), que nos traz que as representações sociais buscam superar
dicotomias entre o individual e o coletivo, entre o objetivo e o subjetivo, dessa forma,
temos presente a ideia de que esse conceito estabelece uma linha muito tênue entre
construções individuais e coletivas. Nos parece necessário destacar que os
exercícios a seguir são bastante diretos e que não permitem uma clareza no que
define as representações sociais dos grupos presentes.
No entanto, pensamos que é um aprendizado inicial para identificar
indicativos dessas representações e que em outros momentos nos permitirá
estabelecer distintas metodologias para trabalhar com os grupos. E também pensar
novas práticas docentes para a temática. A seguir apresentamos alguns aspectos
relevantes dos conteúdos das atividades realizadas.
Após as aulas expositiva-dialogadas foram entregues atividades que os
alunos deveriam preencherem, os enunciados orientavam os alunos que estes
escolhessem, entre as imagens na sequência (Figura 1), aquela que no
entendimento deles melhor caracterizaria a ideia de fronteira justificando sua
escolha. Por meio da seguinte pergunta: “4. Questões: Escolha a (s) foto (s) que
você acha que representam a fronteira e explique o porquê 1.”.
1
Sylvie Considère (University of Artois) and Fabienne Leloup (UCLouvain). How teaching the border studies at
the University? Some experiences at the Franco-Belgian border (2017).[Tradução nossa].
Fonte: CONSIDÈRE, Sylvie; LELOUP, Fabienne. Comment interroger la frontière par les
répresentations sociales (2017).
Fonte: CONSIDÈRE, Sylvie; LELOUP, Fabienne. Comment interroger la frontière par les
répresentations sociales (2017).
aquelas formadas a partir das informações que nos chegam por meio de terceiros e
de conceitos prontos.
Entendemos que, este está carregado de um sistema de representações
sociais. As atividades descritas foram aplicadas com duas turmas diferentes, uma do
1º semestre do curso de Relações Internacionais e uma do 8º semestre de
Geografia. Ao analisar o conteúdo produzido pelos alunos, podemos observar
alguns aspectos relevantes. Na pergunta “Qual a sua própria definição de Fronteira?
” As respostas foram contabilizadas através da ferramenta de WordCloud, do
website Mentimenter (Figuras 3 e 4).
Identificamos diferentes graus de compreensão de conceitos estruturantes da
Geografia (e também da Geopolítica). Nos alunos de 8º semestre do curso de
Geografia percebemos que conceitos como Região, Território e Estado foram muito
mais prevalentes nas respostas dos alunos.
Já para a turma do 1º semestre de Relações Internacionais, notamos que os
conceitos geográficos são empregados, seguidamente, como sinônimos e não com
o significado que realmente se aplica. De modo que, num contexto Geopolítico, os
alunos querem expressar a ideia de uma área, mas usam termos como território,
região, lugar, país como se não tivessem semânticas diferentes.
Fonte: WordCloud, do website Mentimenter. Elaboração: Janaina Teixeira & Paola Pereira, 2019.
Fonte: WordCloud, do website Mentimenter. Elaboração: Janaina Teixeira & Paola Pereira, 2019.
Fonte: WordCloud, do website Mentimenter. Elaboração: Janaina Teixeira & Paola Pereira, 2019.
Internacionais.
Fonte: WordCloud, do website Mentimenter. Elaboração: Janaina Teixeira & Paola Pereira, 2019.
por meio de vieses muito distintos, com uma série de anteparos culturais, que
alteram seus contornos e remetem ao imaginário para suprir as lacunas dos
elementos, que nos escapam devido a essas barreiras/ resistências entrepostas por
nós mesmos.
Como forma de receber um feed back sobre as aulas elaboramos uma
pequena enquete com o formato de pesquisa de opinião para identificarmos o nível
de aprendizado e relevância do conteúdo abordado nas aulas e o grau de relevância
para seu aprendizado. Por meio da seguinte enquete:
Considerações Finais
Entendemos que as aulas presenciais contribuem para o debate e às trocas
de ideias sobre os temas fronteira, transfronteiridades, formação dos Estados
Nacionais e o sistema de redes no contexto do ensino da geopolítica mundial.
Ambas as turmas apresentam conhecimento oriundo das mídias de comunicação,
mas, principalmente, das redes sociais.
Os exercícios são importantes, pois trazem informações acerca dos seus
entendimentos sobre os distintos e complexos processos que envolvem o conceito
de fronteira, que está fortemente associado à ideia de Estado e território com o
pressuposto de posse e, sobretudo; como exercício de controle e domínio. Nesse
sentido, foram constantes as citações tais como: limite, delimitar, separar territórios,
áreas, países vizinhos.
A experiência de aplicar essa atividade a dois grupos com graus de
conhecimento distintos, ressalta a necessidade de trabalhar esses conceitos em
seus diversos aspectos. E em toda a construção teórica desses alunos, no sentido
de capacitá-los para argumentar e interpretar essa temática com maior apropriação
intelectual.
Percebemos, que além da bibliografia apresentada, são necessários mais
exercícios variados para que os alunos possam fazer definições conceituais mais
consistentes e mais bem embasadas a partir do seu conhecimento adquirido
associado a suas representações geoespaciais próprias.
Nos perguntamos de que forma os alunos poderiam apresentar noções mais
claras dos conceitos trabalhos? Como trabalhar para que as representações sociais
das regiões de fronteira sejam repensadas e retrabalhadas. Entendemos que o
conceito de representações sociais é algo muito profundo na compreensão dos
REFERÊNCIAS
CASTRO, Iná Elias de. O poder e o poder político como problemas. Cap. 3. In.
Geografia e Política: território, escalas de análise e instituições. 2ª ed. - Rio de
Janeiro: Bertrand Brasil, 2009.
Resumo: Este artigo busca analisar como ocorrem as representações sociais dos
surdos, desde a sua visibilidade até o reconhecimento da Libras, a construção de
sua identidade e cultura. A discussão se faz em torno de uma fronteira, que não se
limita ao físico, territorial, mas principalmente por ser simbólica, estereotipada pelos
ouvintes. Apontaremos ainda, como é importante o sujeito se reconhecer como
agente de suas representações sociais e participante dos segmentos sociais em que
está envolvido. A metodologia constitui-se de uma revisão da bibliografia acerca do
tema discutido, que corrobora as construções teóricas presentes neste artigo, com a
finalidade de apresentar como os surdos resistem ao longo dos anos, conquistam
seus espaços e adquirem o direito à comunicação através de sua língua.
Palavras-chave: Fronteira; Surdos; Representações sociais; Libras; Visibilidade.
Abstract: This article seeks to analyze how social representations by deaf people
occur, from their visibility to the acknowledgement of Libras, the construction of their
identity and culture. The discussion is developed on a border, which is not limited to
physical or territorial aspects, but mainly to be symbolic, stereotyped by listeners. It
will be also pointed out how important it is for the subject to recognize him/herself as
an agent of his/her social representations and a participant of the social segments in
which he/she is involved. The methodology is constituted of a bibliographical review
on the topic discussed, which corroborates the theoretical constructs in this article, in
order to present how deaf people resist over the years, conquer their spaces and
acquire the right to communication through their language.
Key-words: Border; Deaf people; Social representations; Libras; Visibility.
Resúmen: Este artículo busca analizar cómo ocurren las representaciones sociales
de los sordos, desde su visibilidad hasta el reconocimiento de la Libras, la
construcción de su identidad y cultura. La discusión se hace alrededor de una
Graduada em Letras/Libras – UFGD; Mestranda em Estudos Culturais pela Universidade Federal de
Mato Grosso do Sul (Campus de Aquidauana/UFMS). E-mail: katyroberta@gmail.com
Professor do Campus de Aquidauana da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul - UFMS e
docente permanente dos programas de pós-graduação em Estudos Fronteiriços (Campus do
Pantanal/UFMS) e Estudos Culturais (Campus de Aquidauana/UFMS). E-mail:
firmino.oliveiraneto@gmail.com
***Graduado em Turismo – Faculdades Integradas Curitiba (2002); Mestrado e Doutorado em
Geografia pela UFPR. Docente da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (CPAQ/UFMS). E-
mail: izac.bonfim@ufms.br
Introdução
Como objetivo principal deste artigo, analisam-se as questões relacionadas às
representações dos surdos, tendo como ponto de partida a relação entre as
fronteiras e seus diferentes sentidos. No caso dos surdos, será destacada como
fronteira a língua de sinais, que por vezes é incompreendida no processo de relação
entre surdos e ouvintes. A língua de sinais é reconhecida e compreendida como
língua natural utilizada pelas comunidades surdas por todo o planeta (QUADROS;
KARNOPP, 2004).
A fronteira e os sujeitos
Falar de fronteira perpassa a discussão entre limites, demarcações e
diferenças. Para Souza (2014, p. 476), ao discutir este conceito é necessário ir além
do dicionário e pressupor um espaço cultural e social, de sujeitos que se constroem
em suas relações. Por séculos, e mesmo atualmente, as discussões sobre este mote
vêm se aprimorando no sentido de esclarecer sobre o espaço da fronteira como
meio de diferenciação territorial e temporal; mas além disso, a fronteira ser
entendida em diversos sentidos.
[...] estar no front é uma alternativa, uma escolha, mas também uma falta de
opção, uma violência. Se por um lado, revela uma potência, uma condição
de possibilidade, uma vida nova, um devir criança, um devir animal e um
devir louco, por outro, evidencia a maneira colonial de tratar essa população
em muitos gradientes de normatividade que transforma a condição de
diferença numa profunda desigualdade.
O embate entre os sujeitos surdos e ouvintes se estabelece a partir de
relações sociais, começando pelo respeito da língua daqueles. Gesser (2009)
destaca que na década de 1960 foi conferido à língua de sinais o status linguístico e
ainda hoje, continuamos a afirmar e reafirmar essa legitimidade, principalmente no
Brasil, que teve a Libras reconhecida no ano de 2002.
O fato de afirmar e reafirmar a língua dos surdos vai além disso, uma vez que
na sociedade contemporânea as fronteiras que separam as pessoas, atravessam o
sujeito produtor de seus discursos, que realizam suas experiências por meio de
contatos com seus pares. De acordo com o ponto de vista de Brah (2006, p. 360), a
“experiência é um processo de significação que é a condição mesma para a
constituição daquilo a que chamamos de realidade”.
Uma das situações mais traumáticas que podemos elencar sobre esse grupo
é o processo de normalização com a “cura” da surdez. Como comenta Gesser
(2012, p. 84) “[...] os surdos eram todos vistos como débeis mentais, criminosos,
loucos, [...] os sinais eram tidos como formas obscenas e pecaminosas.” Diante
dessa ideologia e reforçando a relação de poder e exclusão social, onde a grande
maioria dos ouvintes não conhece a língua de sinais. Por isso, a Libras foi
considerada por tantos anos como mímica, gestos, entre outras formas
preconceituosas no uso da comunicação.
Para Geertz (2012, p. 4) a cultura ainda pode ser uma vertente para a criação
de novas ideias, atos, emoções e valores, a partir das ações do grupo que a cerca.
Dessa forma, é possível compreender a existência de uma cultura surda, onde são
compartilhadas língua, experiência visual, tradução cultural, entre outros meios que
fundamentam as relações entre os sujeitos surdos.
Para entendermos melhor a cultura surda, Strobel (2016, p.29), esclarece que
ela também pode ser compreendida como “o jeito de o sujeito surdo entender o
mundo e de modificá-lo a fim de torná-lo acessível e habitável, ajustando as suas
percepções visuais”. É importante destacar que a cultura surda se entrelaça aos que
compartilham de um interesse comum, seja por normas, comportamentos e valores.
Com isso, a busca por espaços e por representatividade se faz mais forte,
como cita Hartog (2004, p.23), “a fronteira se encontra no próprio movimento de
Deste modo, para Sarlo (2016) a relação de ideologias transmitidas por essas
tecnologias e meios de comunicação em massa atribuem representações e sentidos
para suas significações, reforçando aspectos culturias que se encontram com os
pensamentos e as ações dos sujeitos.
Além dos artefatos utilizados para a comunicação dos surdos, nos indagamos
como eles tem acesso nos espaços sociais comuns, como em congressos,
faculdades, shows, teatros, bares, igrejas, cinemas, julgamentos, entre outros.
Alguns desses casos contam com a presença de tradutores intérpretes de Libras.
1
Artefatos não se refere apenas a materialismos culturais, mas se refere àquilo que na cultura constitui
produções do sujeito que tem seu próprio modo de ser, ver, entender e transformar o mundo (Strobel, 2016).
Considerações finais
O homem é um ser de relações intersubjetivas, sociais e históricas, sendo
construído e extremamente influenciado pela sua trajetória histórico-cultural, mas
não incapaz de desenvolver seus próprios discursos. A partir das discussões
apresentadas, é possível perceber que, ao longo dos anos, os sujeitos surdos,
diante da subalternização imposta pelos ouvintes, criaram maneiras de poderem ser
vistos e ouvidos pela sociedade nas diferentes partes do mundo.
Referências
SPIVAK, Gayatri. Pode o subalterno falar? Trad. Sandra Regina Goular Almeida,
Marcos Pereira Feitosa, André Pereira Feitosa. Belo Horizonte: UFMG, 2010.
Resumo: O presente artigo tem por finalidade, com foco no ensino médio, na faixa
de fronteira do estado de Mato Grosso do Sul (MS), apresentar uma proposta de
implementação do Ensino à Distância (EAD), aos moldes do Sistema Colégio Militar
do Brasil (SCMB), aos civis da área em questão. Nessas condições, o referencial no
MS é o Colégio Militar de Campo Grande (CMCG), pois dentre as escolas 100
primeiras colocadas do MS, apenas 32 públicas foram destacadas pela média dos
seus alunos no Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM), ficando o CMCG em
primeiro lugar. Tal fato atesta que o foco dos investimentos educacionais deve ser
voltado para o interior (com destaque para os municípios fronteiriços), de forma que
prosperem aos moldes da capital. Com isso, o resultado esperado, através do EAD,
busca aproximar a qualidade do ensino da faixa de fronteira ao da capital, Campo
Grande.
Palavras-chave: Ensino Público, Educação à Distância, Sistema Colégio Militar do
Brasil, Fronteira sul-mato-grossense.
Abstract: This article aims, focusing on high school, in the border strip of the state of
Mato Grosso do Sul (MS), to present a proposal for the implementation of distance
learning (EAD), in line with the Brazilian Military College System (SCMB) for civilians
in the area concerned. In these conditions, reference in MS is the Campo Grande
Military College (CMCG), because among the first 100 schools of the MS, only 32
public were highlighted by the average of their students in the National High School
Exam (ENEM), leaving the CMCG in first place. This fact testifies that the focus of
educational investments should be directed towards the interior (with emphasis on
the border municipalities), so that they thrive in the way of the capital. With this, the
expected result, through Distance Learnig (EAD), seeks to approximate the quality of
teaching in the border area to that of the capital, Campo Grande.
Especialista em Ciências Militares e mestrando do Programa de Pós-Graduação em Estudos
Fronteiriços (PPGEF) da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) – Campus do
Pantanal (CPAN). E-mail: efg983@gmail.com.
Docente e pesquisadora do Curso de Geografia e do Programa de Pós-Graduação em Estudos
Fronteiriços (PPGEF) da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) – Campus do
Pantanal (CPAN). E-mail: elisa.freitas@ufms.br.
Introdução
Quando falamos no estado do MS, de imediato pensamos em exuberantes
paisagens pantaneiras, ecoturismo e lazer. Contudo, não só em dicionários da
língua portuguesa que a palavra “educação” vem antes de “lazer”, mas também em
nossa Constituição Cidadã, de 1988:
Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho,
a moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a previdência social, a
proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na
forma desta Constituição. (BRASIL, 1988)
os seus limites territoriais, não definem o potencial brasileiro como Nação. Os seus
recursos naturais e a infraestrutura turística não se bastam para o atual
desenvolvimento imposto à Região. Em termos de investimento, a cidade de Bonito
e seu turismo sustentável são priorizados em políticas governamentais, deixando em
segundo plano outras áreas, conforme segue: “A cidade recebe há 11 anos,
consecutivos, prêmios como melhor destino sustentável do Brasil.” (ASA, 2013)
Por outro lado, o planejamento estadual deve priorizar a temática
educacional, segundo um ex-governador do MS destaca:
Fundamentos do EAD
O EAD vem sendo praticada há anos ao redor do mundo. Diversas gerações
e teorias trazem definições abrangentes sobre esta forma de ensino. Nesse sentido,
o EAD pode ser híbrida, empregando paralelamente ensino presencial e atividades à
distância. Em termos práticos, o EAD busca a autonomia do aluno em escolher os
seus horários e locais de estudo, adequando sua rotina e sua disponibilidade de
tempo ao conteúdo a ser estudado. Então, segundo Gazetta (2015, pág. 09),
Educação a Distância pode ser definida da seguinte forma:
O EaD tem sido definida como instrução através de mídias impressas e
meios de comunicação. Os termos amplos incluem aprendizagem a
distância, aprendizagem aberta, aprendizagem em rede, aprendizagem
flexível, aprendizagem distribuída e aprendizagem conectada. Tem como
característica a apresentação de estratégias híbridas, podendo combinar
atividades à distância e presenciais. A partir de Keegan (1986), González
(2005, pág. 33) costuma identificar o EaD a partir de três elementos: 1.
Professor e aluno estão separados no espaço e/ou tempo; 2. O controle do
aprendizado é realizado mais intensamente pelo aluno do que pelo instrutor
(professor/tutor) distante no espaço; 3. A comunicação entre alunos e
professores é mediada por documentos impressos ou alguma forma de
tecnologia.
Segundo bem salienta Gazetta (2015, pág. 17): “a geração atual tem como
jargão anytime, anyhere, ou seja: a qualquer tempo, em qualquer lugar”. Como
resultado, cresce de relevância a interação entre os atores do EAD: o aluno, o
professor e o tutor.
1
No Brasil, o EAD surgiu com cursos de qualificação profissional. O registro
mais remoto data de 1904, com um anúncio nos classificados do Jornal do
Brasil de um curso de datilografia (para usar máquinas de escrever) por
correspondência. Na década de 1920, o Brasil já contava com os primeiros
cursos transmitidos pelas ondas do rádio, a novidade tecnológica da época.
Os estudantes utilizavam material impresso para aprender Português,
Francês e temas relacionados à radiodifusão. Nas décadas de 1940 e 1950
começaram os cursos mais formais, sobre temas profissionalizantes,
liderados pelo Instituto Monitor, depois pelo Instituto Universal Brasileiro e
pela Universidade do Ar, patrocinada pelo SENAC e pelo SESC. Até hoje
algumas dessas instituições permanecem ligadas à formação profissional
através de cursos a distância.
4
Público-Alvo: Filhos e dependentes de militares das Forças Armadas
Brasileiras, com idade entre 10 e 17 anos, que estejam cursando, em
caráter regular, do 6º Ano do Ensino Fundamental ao 3º Ano do Ensino
Médio, cujos responsáveis estejam servindo em áreas pioneiras da
Amazônia ou no Exterior.
Assim sendo, como fator motivador aos pais e alunos que ingressam no
SCMB, as médias dos Colégios Militares, anualmente, são as mais destacadas no
ensino público federal, no ENEM.
Em 2012:
5
Em 2012, 11.239 escolas e 683.389 estudantes participaram do exame,
com destaque para 06 (seis) colégios militares que apresentaram média
geral nas provas objetivas (nas áreas das linguagens, na Matemática, nas
ciências da natureza e nas humanas) dentre as 20 melhores escolas
públicas do país.
6
No dia 26 de novembro, o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas
Educacionais Anísio Teixeira (INEP) divulgou o ranking de classificação das
escolas no Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) 2012 e, mais uma
vez, o Colégio Militar de Santa Maria (CMSM) foi destaque. O Colégio
passou da 18ª posição para a 8ª, envolvendo as escolas públicas no Rio
Grande do Sul. Esse resultado é muito comemorado, pois representa um
salto de 20 pontos que alavancou o Colégio da 5ª para a 3ª posição no
âmbito das escolas públicas, em comparação com o resultado alcançado
em 2011.
Em 2013:
Em 2013, 14.715 escolas participaram do exame. Dentro do SCMB, dois
Colégios Militares constam da lista das cem melhores do país, entre escolas
da rede pública e privada: Juiz de Fora e Belo Horizonte. No âmbito das
escolas públicas, os Colégios Militares de Juiz de Fora, Belo Horizonte,
Porto Alegre e Salvador apresentaram média geral entre as 20 melhores do
país. Os Colégios Militares de Curitiba, Campo Grande, Fortaleza, Brasília e
Manaus obtiveram o 1º lugar dentre as escolas públicas de seus estados.
1.745 1.497 248 11 9 2 368 315 53 925 737 188 441 436 5
Fonte: Disponível em: <http://www.sed.ms.gov.br/numero-de-escolas-de-mato-grosso-do-sul/>. Acesso
em 12 de julho de 2019
Desta maneira, para que a dinâmica de ensino exposta seja fator de sucesso
no ensino público, é necessário o comprometimento do Diretor de ensino da Escola,
devendo: “Acompanhar o desenvolvimento do curso e o desempenho do aluno por
meio de informações prestadas pelo Coordenador e orientador designado”; do
Coordenador Pedagógico, “Recebendo as publicações, provas e outros documentos,
acusando o recebimento e distribuindo ao orientador.”; do Orientador, como: “O
responsável, perante a escola, pela condução das atividades administrativas e
pedagógicas”; do Tutor, que é “O professor que atua na tutoria de educação a
distância”; e do Pai responsável, através do incentivo e estímulo ao jovem nas
ocasiões em que a sua autonomia requerer maior dedicação e organização para
atingir os objetivos impostos pelos professores.
Considerações Finais
De forma efetiva, foi evidenciada a gradual diferença de rendimento escolar,
conforme o ENEM, do SCMB e das Escolas do MS. Foi destacado que o CMCG
figurou como a 5ª melhor Escola Pública, no resultado por escolas de “grande porte”
e “muito alto” nível socioeconômico, do ENEM 201517. Destas, 14 estão na faixa de
fronteira18, de acordo com o Programa de Promoção do Desenvolvimento da Faixa
de Fronteira, e serviram para compor este estudo.
Verificou-se que o EAD no Brasil surgiu no início do século XX e, atualmente,
encontra-se em plena difusão. Nesse sentido, o trinômio aluno-professor-tutor impõe
uma mútua relação para maior aproveitamento e rendimento escolar, com desta
para a aprendizagem colaborativa. Tal fato, na atual era digital, em que combinamos
Referências
OLIVEIRA, Tito C. M. (org). Território sem limite. Campo Grande, MS: Ed UFMS,
2005.
ROCHA, Leonardo. Pedrossian afirma que educação ainda deve ser prioridade
em MS. 08 de agosto de 2014. Disponível em: <https://w
ww.campograndenews.com.br/politica/pedrossian-afirma-que-educacao-ainda-deve-
ser-prioridade-em-ms>. Acesso em: 29 de junho de 2019.
SOUZA, Gabriela Menezes de. Sistema Colégio Militar Do Brasil (SCMB): Uma
Referência De Gestão Educacional da Rede Federal de Ensino Brasileira.
Disponível em: <http://www.anpae.org.br/IBERO_AMERICANO_IV/GT1/GT1_
Comunicacao/GabrielaMenezesdeSouza_GT1_Integral.pdf>. Acesso em: 30 de
junho de 2019.
Abstract: This article approaches bilingualism in the education of the deaf in Brazil -
Bolivia border. Despite the historical advances in the education of deaf people
regarding the recognition and valorization of sign language and the adoption of
bilingual linguistic politics, we have observed aspects not yet effective in bilingual
education. This study intends to analyze the formal context of acquisition of the Sign
Language and Portuguese Language as the second Language in the schools of
Corumbá. It is a bibliographic and documentary study where we will discuss the
categories Bilingualism, Border, Deafness and Sign Language.
Keywords: Bilingualism - Frontier - Sign Language – Deafness.
Graduada em Pedagogia, especialista em Tradução Interpretação e Docência em Libras. Professora
Formadora da Coordenadoria Regional de Ensino de Corumbá e Ladário. E-mail:
lineiseamarilio@yahoo.com.br
Graduada em Pedagogia, especialista em Processos Educacionais na Saúde com ênfase em
Tecnologias. Mestre e Doutora em Saúde Pública. Professora da Universidade Federal de Mato
Grosso do Sul –Campus do Pantanal no Programa de Pós-Graduação em Educação – Área de
Concentração: Educação Social. Coordenadora e Pesquisadora do Núcleo de Estudos e Pesquisas
Interdisciplinares em Políticas Públicas, Direitos Humanos, Gênero, Vulnerabilidades e Violências –
NEPI/ Pantanal. E-mail: claudia.araujolima@gmail.com
Introdução
Historicamente o bilinguismo na educação de surdos surgiu em oposição às
filosofias Oralista e de Comunicação Total nas décadas de 1960 e 1970, onde a
primeira tentava impor a comunicação oral às pessoas surdas e a segunda era uma
mistura de ambas, ou seja, da fala e dos sinais. Estas filosofias representaram o
pensamento da maioria ouvinte, e a concepção clínico-terapêutica da surdez que
efetivamente, não atenderam às especificidades das pessoas surdas ocasionando-
lhes inúmeros atrasos no seu desenvolvimento.
A adoção do bilinguismo na década de 1980 no Brasil, foi decorrente da
organização e luta da comunidade surda que não aceitou que a educação de surdos
fosse parte da política da Educação Inclusiva, passando a exigir o reconhecimento
da língua de sinais, a valorização da cultura e identidade surda.
Pesquisas linguísticas como a de Ferreira-Brito (1993), contribuíram
significativamente para a valorização da língua de sinais para a comunicação entre
pessoas surdas e ouvintes assim como para a valorização da cultura e da identidade
surda.
A Lei 10436/2002, conhecida popularmente como Lei de Libras, oficializou a
língua de sinais no Brasil e o Decreto Nº 5626/2005, regulamentou esta lei e apontou
caminhos para a efetivação da política bilíngue, na medida em que definiu
atribuições às instituições de ensino pertencentes às três esferas governamentais,
no que diz respeito à formação de professores bilíngues; profissionais
especializados entre os quais tradutores intérpretes de libras e instrutores surdos;
Atendimento Especializado aos estudantes surdos com a oferta da Língua de Sinais
como língua de instrução, e da Língua Portuguesa escrita na modalidade de
segunda língua nas instituições de ensino desde os níveis mais elementares.
O Relatório sobre a Política Linguística de Educação Bilíngue – Língua
Brasileira de Sinais e Língua Portuguesa (BRASIL, 2014) também corroborou na
definição dessa política linguística reiterando as estratégias e ações necessárias
para a sua efetivação no que diz respeito à valorização da língua da identidade
Metodologia
Esta pesquisa utilizou ferramentas pesquisa documental e bibliográfica.
Conforme Reis (2016, p.60) a análise documental representa uma fonte natural de
informação, que pode ser revisado pelo pesquisador dando mais estabilidade aos
estudos. É uma pesquisa qualitativa e exploratória, onde além da pesquisa
documental foi feita uma análise bibliográfica de artigos e dissertações que abordam
a temática sobre o bilinguismo na base de dados Scielo e Redalyc.
desenvolve, a sua identidade, isto significa que os cultivos que fazemos são
coletivos e não isolados”.
Para o espaço da fronteira Brasil-Bolívia que nesse ponto, direciono o olhar,
considerando que as relações aqui existentes, são de proximidade em diversos
espaços, o que caracteriza a própria ambiguidade que o conceito de fronteira traz
em si. Apesar da divisão territorial entre os países é observado que existe uma
aproximação entre os integrantes da comunidade surda. A fronteira, portanto, é
contraditória na medida em que aproxima e separa.
A afirmação de Costa & Oliveira (2012), onde a fronteira é de fato, vivida por
seus habitantes como um espaço contínuo de tráfego de pessoas, mercadorias,
conhecimentos e tradições, ou seja, são coletividades que se vinculam através da
linha divisória entre os países, contextualiza esse aspecto.
Isso se evidencia nos indivíduos pertencentes à comunidade surda da região
de fronteira que constantemente adentram o território brasileiro e boliviano, de
acordo com a necessidade e interesses comuns: frequentar escolas, trabalho, lazer,
convivência com os seus pares.
Na fronteira Brasil-Bolívia, faz parte do cotidiano do aluno boliviano estudar
em escolas brasileiras principalmente pela existência do Acordo Bilateral entre o
Governo da República Federativa do Brasil e o Governo da Republica da Bolívia,
aprovada internamente pelo Decreto Legislativo n. 64, de 18 de abril de 2006, e
promulgado pelo Decreto n.64, de 18 de abril de 2006, e promulgado pelo Decreto n.
6737, de 12 de janeiro de 2009, estabeleceu as normas para:
“permissão de residência, estudo e trabalho a nacionais fronteiriços
brasileiros e bolivianos” e que permite em seu art. 1º, “o ingresso,
residência, estudo, trabalho, previdência social e concessão de documento
especial de fronteiriço a estrangeiros residentes em localidades fronteiriças”.
O documento necessário para o ingresso e permanência legal de bolivianos
no Brasil é conhecido como “documento especial fronteiriço”, que propicia a
figura legal do “cidadão fronteiriço” e possibilita que ele estude e/ ou
trabalhe na cidade de Corumbá, no Brasil.
Considerações finais
Podemos considerar que as escolas do lado brasileiro da fronteira Brasil-
Bolívia acolhem estudantes surdos e ouvintes brasileiros e bolivianos. A relação
histórica de proximidade entre estes países também assegurada legalmente e está
evidenciada nos diversos contextos sociais do espaço da fronteira.
Inserido no contexto educacional, o estudante surdo residente em Puerto
Quijarro, que frequenta o AEE, adquire a Língua Brasileira de Sinais e a Língua
Portuguesa escrita na modalidade segunda língua, apesar da Lengua de Señas
Boliviana (LSB) ser instituída no país vizinho.
Apesar dos avanços históricos na educação de surdos e da legalização da
proposta bilingue no Brasil há quase quatro décadas, ainda encontramos aspectos
não efetivados.
Na fronteira Brasil-Bolívia ainda não observamos a atuação efetiva do
professor surdo no serviço especializado - AEE, mesmo que legalmente este
Referências
LODI, Ana Claudia Balieiro. Educação bilíngue para surdos e inclusão segundo a
Política Nacional de Educação Especial e o Decreto nº 5.626/05. Educação e
Pesquisa, São Paulo, v. 39, n. 1, p. 49 - 63, jan./mar. 2013 Disponível em :
.www.scielo.br/pdf/ep/v39n1/v39n1a04.pdf Acesso em : 31 Jul. 2019.
QUADROS. Ronice Müller de. Idéias para ensinar português para alunos surdos
/ Ronice Muller Quadros, Magali L. P. Schmiedt. – Brasília : MEC, SEESP, 2006. 120
p. Disponível em : http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/port_surdos.pdf
Acesso em 29 Jul. 2019.
SÁ, Nídia de. Surdos: Qual escola?/ Nídia de Sá. – Manaus: Editora Valer e Educar,
2001.
Graduanda do sexto semestre do Curso de Letras na Universidade Federal do Mato Grosso do Sul
(UFMS), graduada em Direito pelo Centro Universitário Nossa Senhora do Patrocínio (CEUNSP). E-
mail: basacademica@gmail.com
Graduado em Letras pela Universidade Federal do Mato Grosso do Sul, mestre em Teoria da
Literatura pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), doutor em Literatura Comparada pela
Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), professor dos cursos de Graduação e Pós-
Graduação nível Mestrado da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS). E-mail:
ecnolasco@uol.com.br
Introdução
A proposta do presente trabalho é demonstrar a relevância de Clarice
Lispector enquanto intelectual cujo direito faz parte do bios, uma vez que a escritora
ingressou no Curso de Direito da Universidade do Brasil (atual Universidade Federal
do Rio de Janeiro) em 1939. Durante a graduação, demonstrou interesse especial
pelo direito penal (GOTLIB, 1995), tendo publicado, nesse período, o ensaio
“Observações sobre o direito de punir” (1941).
Por meio dela, produções não consideradas como literatura, como a cultura
de massa e as biografias, são trazidas para a discussão, uma vez que a pós
modernidade é marcada pela “[...] democratização dos discursos e a quebra dos
limites entre a chamada alta literatura e a cultura de massa”. (SOUZA, 2002, p. 112),
deixando os valores fechados adotados pela crítica literária tradicional.
Por fim, alguns dos teóricos e biógrafos que dialogam com a epistemologia
adotada são: Walter Mignolo (2013; 2015), Edgar Cézar Nolasco (2013), Eneida
Maria de Souza (2002), Silviano Santiago (2014) e Nádia Batella Gotlib (1995).
Dentre as obras norteadoras da pesquisa estão: CADERNOS DE ESTUDOS
CULTURAIS, Crítica cult (2002), Habitar la frontera (2015) e Clarice: uma vida que
se conta (1995)
1
[…] La diferencia colonial actúa convirtiendo las diferencias en valores y estableciendo una jerarquía
de seres humanos, ontológicamente y epistémicamente. (Tradução nossa)
Durante o terceiro ano da graduação, Lispector percebe que não se daria bem
com papeis, todavia, conclui o curso, e alguns anos mais tarde (na década de 50)
cola grau, pois uma de suas amigas a acusou de ser uma pessoa que inicia várias
coisas, mas não termina nenhuma. Embora tenha dito em entrevista que a faculdade
não a ajudara sequer a resolver questões de direitos autorais este período faz parte
de seu bios e de sua formação enquanto intelectual
[...] Minha opção pela vida inclui como condição pensar melhor o outro, a
vida desse outro, passando, como condição necessária, por nós mesmos,
os pesquisadores envolvidos na ação. Desse modo vamos desbaratando
um cientificismo estéril que ainda grassa nos modelos de pesquisa
acadêmica, e fazendo se levantar, por conseguinte, uma pesquisa que, nas
palavras de Mignolo, não ignora mas preza a vida. (NOLASCO, 2018, p.
16).
Optamos por utilizar, como base para a discussão proposta, o ensaio
“Observações sobre o direito de punir”, pois nele Clarice tece argumentos com o
intuito de justificar a inexistência de um direito de punir, efetuando uma breve
recapitulação do que fora a origem desse direito e, em seguida, tecendo uma crítica
em relação à suposta imparcialidade dos aplicadores e executores da punição
advinda do Estado, em outras palavras, a escritora discorda com as regras que nos
foram impostas.
direito das questões humanas, por vezes, tomadas como subjetivas em um mundo
dominado pelo projeto moderno.
[...] Um povo faminto não tem forças para reivindicar direitos morais e
intelectuais. [...] A subalternização de saberes impulsionada pelo projeto
cultural moderno limitou a capacidade das pessoas no que se refere à
compreensão de que o pouco que se tinha não era suficiente. Por isso, a
cronista engajada provoca a consciência do leitor de modo tímido, mas
ousado, no sentido de fazê-lo reconhecer-se como parte deste constructo.
[...] O que vincula humaniza, e o que humaniza sugere a ruptura com a
subalternização de conhecimento e reconhece a diferença [...]. (ALVES,
2002, p. 96-97)
A fim de contemplar o olhar humanizador da intelectual, a crítica biográfica
possibilita, igualmente, “[...] a reconstituição de ambientes literários e da vida
intelectual do escritor, sua linhagem e a sua inserção na poética e no pensamento
cultural da época”. (SOUZA, 2002, p. 112), nesse sentido, o período vivenciado na
faculdade, que passou quase despercebida pela academia e pela crítica, é aqui
resgatado e entrelaçado ao bios clariciano. Assim, a estudante inicia seu primeiro
texto jurídico defendendo:
[...] uma vez que todos estavam em condições mais ou menos iguais, difícil
seria a defesa, para manter a inviolabilidade das leis fizeram titular do direito
toda a coletividade, adversário forte; [...] Atualmente, em verdade, não é de
punir que se tem direito, mas de se defender, de impedir, de lutar.
(LISPECTOR, 2005, p. 47)
O problema no quadro apresentado reside no seguinte fato: em um país como
o nosso, no qual a cultura do nepotismo, da concentração do poder aquisitivo nas
mãos de poucos e com os legisladores e aplicadores da lei em situação econômico
social inversa à população carcerária, como pode o apenado defender-se?
Considerações finais
2
[…] una desobediencia epistémica y política que consiste en apropiarse de la modernidad europea al
tiempo que se habita en la casa de la colonialidad. De esa experiencia, la experiencia de habitar la
exterioridad o sea la casa de la colonialidad, surge la epistemología y el pensamiento de fronteras.
(Tradução nossa)
[...]
- Desculpe mas acho que não sou muito gente.
- Mas todo mundo é gente, Meu Deus!
- É que não me habituei.
LISPECTOR, 1999, p. 48.
Com base no exposto verifica-se a pertinência e a contemporaneidade da
experiência de Clarice Lispector enquanto estudante de direito tendo em vista sua
capacidade de manter “[...] fixo o olhar no seu tempo, para nele perceber não as
luzes, mas o escuro.” (AGAMBEM, 2009, p. 63). A estudante percebeu o que poucos
conseguiram, qual seja, a ineficácia da pena. Ela o faz não de forma a tornar os
crimes ainda mais indefensáveis pelos apenados, mas no sentido de elaborar uma
pena capaz de reintegrar o detento à convivência cotidiana.
Assim como Macabéa não se habituou a ser gente, como muitos daqueles
que carregam a alcunha de marginais, desacostumados ao convívio fora dos muros
das prisões (alguns detentos passam décadas vivendo nos presídios), também não
se habituaram. Estes reincidem, uma vez que se sentem incapazes de viver junto à
sociedade e ao Estado que lhe impuseram a pena. Algumas vezes, ocorre a
sensação de incapacidade de realocar-se profissionalmente, temendo um novo
julgamento, desta vez por meio dos antecedentes criminais solicitados pelos
empregadores.
Referências
MIGNOLO, Walter. Who speaks for the “human” in human rights? In: CADERNOS
DE ESTUDOS CULTURAIS: subalternidade. V.3, n.5. Campo Grande: Editora
UFMS, 2011, p. 157-173.
MONTERO, Teresa; MANZO; Lícia Manzo. Outros escritos: Clarice Lispector. Rio
de Janeiro: Rocco, 2005.
SOUZA, Eneida Maria de. Crítica cult. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2002.
SOUZA, Eneida Maria de. Janelas indiscretas: ensaios de crítica biográfica. Belo
Horizonte: UFMG, 2011.
Abstract: The Southern Cone region of Latin America is strategic for agriculture, one
of the pillars of Brazilian and neighboring countries economy, which can face the
same production challenges. Thus, the need to generate information and
technologies for the farming sector is always urgent. Public institutions for agricultural
research have such duty and play a key role in technology transferring, using the
promotion of events as one of the strategies to do so. This paper is the result of a
brief survey about events held by the Brazilian Agricultural Research Agency
Mestranda no Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade Federal do Rio
Grande do Sul (PPGCOM/UFRGS); Relações Públicas, especialista em Gestão estratégica da
Comunicação Organizacional e em Administração de Marketing pela Universidade Estadual de
Londrina. Membro do Programa de Extensão “Em dia com a pesquisa” (UFRGS). Analista de
Comunicação da Embrapa Soja. E-mail: deavilardo@gmail.com.
Doutora em Ciências da Comunicação; Mestre em Comunicação; Relações Públicas, Jornalista e
Publicitária. Professora pesquisadora do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da
Universidade Federal do Rio Grande do Sul (PPGCOM/UFRGS); Coordenadora da pesquisa “Mídia e
Fronteiras: cartografia dos estudos no Brasil”; Vice-coordenadora da Pesquisa “Unbral Fronteiras -
Portal de Acesso Aberto das Universidades Brasileiras sobre Limites e Fronteiras”; Membro dos
Grupos de Pesquisa no CNPq “Espaço, fronteira, informação e tecnologia”, “Comunicação e práticas
culturais”, e “História da Comunicação”; Coordenadora do Programa de Extensão Em dia com a
pesquisa (PPGCOM/UFRGS); Assessora Ad Hoc do CNPq e da CAPES. E-mail: kmmuller@ufrgs.br.
Thaís Leobeth
Karla Maria Müller
Graduada em Jornalismo, mestra em Comunicação e Informação, doutoranda em Comunicação e
Informação. Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Bolsista Capes. E-mail:
thaisleobeth@gmail.com
Graduada em Relações Públicas, Jornalismo e Publicidade e Propaganda, mestra em
Comunicação, doutora em Ciências da Comunicação. Universidade Federal do Rio Grande do Sul. E-
mail: kmmuller@ufrgs.br
1
A pesquisa completa pode ser conferida na dissertação intitulada “O rural na mídia impressa local
fronteiriça: diferentes formas de abordagem”, de Thaís Leobeth (2018), produzida no Programa de
Pós-Graduação em Comunicação e Informação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
Disponível em: https://lume.ufrgs.br/handle/10183/173162.
Resúmen: Este artículo propone reflejar la literatura como un medio para acercarse
a las culturas que circulan en el territorio fronterizo de Brasil-Bolivia, cómo se ve la
frontera y cómo sentirse parte de ella. El uso de la literatura sirve tanto para enseñar
a leer y escribir como para formar un individuo cultural. Para dar apoyo teórico a este
estudio, elegimos algunos conceptos esenciales sobre territorio, territorialidad y
frontera de autores como Raffesttin (1993), Saquet (2007) Nogueira (2007) e Guhl
Graduada em Pedagogia, Mestranda do Mestrado em Estudos Fronteiriços-MEF da Universidade
Federal de Mato Grosso do Sul. E-mail: tarissa_jr_rodrigues@hotmail.com.
Graduada em Letras, Mestra em Letras, Doutora em Teoria Literária pela UNESP/São José do Rio
Preto. Professora da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, atuando no Programa de Pós-
Graduação Mestrado em Estudos Fronteiriços-MEF. E-mail: lucilenemachado@terra.com.br.
*
Professor da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul. E-mail: tito.machado@ufms.br
Professor da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul. E-mail: paulo.esselin@gmail.com
frontera entre Brasil y Bolivia y contextualizar las relaciones cotidianas que afectan la
conurbación fronteriza, bajo la consideración metodológica de la clase de
historiografía y territorio de la ciencia de la geografía. Forma parte del proyecto
"Polos geográficos de conexiones" con financiación de Fundect y CNPq para 2016.
Palabras clave: Brazil-Bolivia border, Frontier conurbation, Integration.
Abstract: This paper presents the initial discussions that approach the application of
language teaching and learning methodologies in a border school context. The
teaching practices observed in the Spanish language internship, carried out by
students of the course of Letters of UFMS / Campus do Pantanal in municipal
schools of Corumbá-MS show the recurrence of conceptions of both the situation and
use of languages in circulation in this area, as well as the process teaching and
learning, based on paradigms considered “traditional”. The proposal is to develop
studies that propose a reconceptualization of the methodologies in use by language
teachers, considering the decolonial perspective from the reflections of internal
colonialism (CUSICANQUI, 2010). The applied methodology is from Action Research
(THIOLLENT, 2009).
Key-words: Border, Methodologies for language teaching and learning, Decoloniality
Graduada em Letras português-espanhol. Professora concursada da SEMED – Corumbá/MS. E-
mail: janeteisis@hotmail.com
Graduada em Letras, mestre em Educação, doutora em Educação. Professora adjunta do curso de
Letras português-espanhol CPAN/UFMS. E-mail: suzanamancilla@yahoo.es
Resumen: este trabajo presenta las discusiones iniciales que abordan la aplicación
de metodologías de enseñanza y aprendizaje de lenguas en contexto escolar de
frontera. Las prácticas docentes que se observaron durante la realización de las
pasantías del curso de Letras de la UFMS/Campus del Pantanal en escuelas
públicas de Corumbá-MS evidencian la recurrencia de concepciones tanto de la
situación y uso de las lenguas en circulación en ese ámbito, como del proceso de
enseñanza y aprendizaje de estas, pautados en paradigmas considerados
“tradicionales”. La propuesta es desarrollar estudios que tengan en vista una
reconceptualización de las metodologías en uso por los docentes en el área de
lenguas, mediante el uso de la Investigación-Acción y considerando la perspectiva
decolonial a partir de las reflexiones del colonialismo interno (CUSICANQUI, 2010).
Palabras clave: Frontera, Metodologías de enseñanza y aprendizaje de lenguas.
Decolonialidad.
Introdução
Localizado no município de Corumbá – estado de Mato Grosso do Sul – o
Campus do Pantanal (CPAN) da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul
(UFMS) inaugurou em 2007 o curso de Letras com habilitação em português e
espanhol. A formação de professores nessa língua estrangeira (ou segunda língua)
nesse centro previa atender as disposições da Lei Federal 11.161/2005 que tratava
da oferta do ensino de espanhol na educação básica e a formação de corpo
docente para atender tal medida.
A condição fronteiriça de Corumbá já havia promovido o Decreto da Lei
Municipal nº 1.322 de 1993 que orientava o ensino de espanhol no sistema
educativo de Corumbá, disposição que não teve uma implementação efetiva,
porquanto, tendo sido realizadas consultas aos pais no momento da matrícula dos
seus filhos, estes se mostraram contrários à aprendizagem de espanhol como
língua estrangeira, preferindo manter a língua inglesa1.
No período em que a primeira turma dos discentes de Letras precisou
cumprir o estágio obrigatório supervisionado em língua espanhola, três escolas
estaduais ofertavam o espanhol como língua estrangeira moderna (LEM). Os
alunos que não conseguiram realizar o estágio nessas escolas, cumpriram essa
disciplina obrigatória na forma de projetos, oferecidos no contraturno das aulas
regulares, com a participação voluntária dos alunos.
1
Esta informação, obtida em conversa informal, foi contestada por alguns pais que manifestaram não
ter sido consultados quanto à possibilidade dos seus filhos estudarem espanhol. Não encontramos
registros que formalizem essa situação relatada por informantes voluntariamente.
2
Seguimos a denominação de “espanhol língua estrangeira” (ELE), conforme é designada nas
instituições escolares, entretanto, consideramos o status linguístico do espanhol em Corumbá, está
na ordem de uma segunda língua ou L2, vista a presença de falantes de espanhol, em sua grande
maioria bolivianos, que transitam especialmente na área urbana do município, uma vez que não é
raro escutar essa língua em diversos lugares públicos.
3
Embora o PPP assinale Puerto Suárez, como a localidade da qual são oriundos os alunos, na
prática constata-se que estes são, na sua maioria, procedentes de Puerto Quijarro, município
localizado na linha de fronteira do lado boliviano.
4
Informação obtida na secretaria da escola.
5
No prelo.
6
Traduzido na televisão brasileira por Chaves.
daquele, isto é, para adentrar nos estudos culturais, linguísticos, identitários, torna-
se necessário pensar em perspectivas decoloniais que envolvam a intraculturalidade
e a interculturalidade como práticas (RIVERA CUSICANQUI, 2010, p. 62):
No puede haber un discurso de la descolonización, una teoría de la
descolonización, sin una práctica descolonizadora. El discurso del
multiculturalismo y el discurso de la hibridez son lecturas esencialistas e
historicistas de la cuestión indígena, que no tocan los temas de fondo de la
descolonización; antes bien, encubren y renuevan prácticas efectivas de
colonización y subalternización.
A perspectiva decolonial que se propõe neste trabalho implica em pensar em
práticas didáticas que impulsionem mudanças entre os atores sociais na escola e
entre os professores em formação, que ampliem as formas de conceber e
experimentar o contexto que os acolhe.
Vivenciar um contexto plurilíngue pode induzir a pensar em um ordenamento
linguístico, recurso existente ao longo do tempo que outorga e retira importância às
línguas em uso em determinado cenário. É plausível associar políticas linguísticas à
formação de professores de línguas e ao uso de metodologias aplicadas ao ensino
destas? No próximo item busca-se refletir sobre esses três aspectos.
7
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2017/Lei/L13415.htm
nos anos iniciais do ensino fundamental. Esse novo campo de trabalho exigiu uma
reorganização nas disciplinas do Curso de Letras a serem ofertadas para atender a
demanda local. Assim, a identidade do Curso que estava em processo inicial de
construção, passou por uma reconfiguração ao incluir a disciplina de Prática de
ensino de espanhol para anos iniciais, objetivando formar docentes sensíveis à
docência com esse público infantil.
A medida que os discentes desenvolviam o estágio de Língua Espanhola I,
em algumas escolas emergiram questões relacionadas ao contexto escolar,
constatou-se um número significativo de alunos de origem boliviana – falantes de
espanhol e em alguns casos de outras línguas nativas como o quéchua, aimará e
guarani, entre outras – que frequentavam as escolas de Corumbá9, tal situação
plurilinguística y pluricultural também foi relatada pelos docentes de espanhol.
Essa nova conjuntura conduz a um reposicionamento das práticas
tradicionais, em que se requer repensa-las na perspectiva das práticas didático-
pedagógicas decoloniais, isto é, fora dos padrões tradicionais já pré-estabelecidos
e que não respondem às peculiaridades dos contextos socioculturais complexos.
Na perspectiva da aprendizagem de línguas, Almeida Filho (1993, p. 13)
define cultura de aprender como:
[...] maneiras de estudar e de se preparar para o uso da língua-alvo
consideradas como ‘normais’ pelo aluno, e típicas da sua região, etnia,
classe social e grupo familiar, restrito em alguns casos, transmitidas como
tradição, através do tempo, uma forma naturalizada, subconsciente e
implícita. (Com destaque no original)
No cenário em que se encontra o CAIC, é relevante considerar que a LEM
alvo é constituída essencialmente pelas variedades do espanhol boliviano, entre as
quais se destacam o espanhol dos vales e o espanhol andino e o espanhol camba,
esse último com significativos acréscimos das migrações internas em direção
especialmente a Santa Cruz de la Sierra e às fronteiras bolivianas com o Brasil 10.
8
Com a publicação da Lei Nº 2282 de 20 de dezembro de 2012 foi instituido o Plano Municipal de
políticas para a promoção da igualdade racial em Corumbá, em cujo artigo 20 efetiva-se a adoção do
espanhol como segundo idioma nessa fronteira com a Bolívia e o Paraguai. Disponível em:
https://leismunicipais.com.br/a/ms/c/corumba/lei-ordinaria/2012/228/2282/lei-ordinaria-n-2282-2012-
institui-o-plano-municipal-de-politicas-de-promocao-da-igualdade-racial. Acesso em: 8 jun. 2019.
9
Mais detalhes em: https://www.campograndenews.com.br/cidades/interior/para-dar-escola-a-659-
bolivianos-corumba-gasta-rs-1-4-milhao-por-ano. Acesso em: 9 jun. 2019.
10
Segundo os dados da migração interna no último Censo boliviano de 2012, Santa Cruz de la Sierra
é o município receptor com maior saldo positivo. Puerto Quijarro recebe em números absolutos, 6.428
migrantes, dos quais 3.977 são procedentes do mesmo departamento, enquanto 2.451 procedem de
outros departamentos. Esses números são indícios de que a diversidade social presente na fronteira
conta com um quantitativo considerável de migrantes procedentes de outros lugares, com outras
Seguimentos
variedades de espanhol na conformação do espanhol falado nesse espaço fronteiriço. Disponível em:
http://www.udape.gob.bo/portales_html/docsociales/migra.pdf. Acesso em 18 jun. 2019.
Referências
Solène Marié*
Abstract: Border studies literature points out that, despite their multidisciplinarity as
research objects, borders are studied within distinct disciplines; using a range of
concepts and methodologies; and reaching various conclusions as to the
determinants of border processes. Furthermore, literature is based on individual case
studies and the production on Northern borders is greater than that on Southern
borders. Based on this and focusing specifically on academic production at the
crossroads of the themes of borders and culture, our aim is to answer the following
questions: What are the main features of this production in each language? Are there
actual differences in volume, approaches and objects? Is there a relation between
certain concepts and disciplines or research agendas? In order to answer these
questions, this bibliography was extracted from the Web of Science database. It was
analysed and presented as network data maps produced with VOSviewer.
Keywords: Borders, culture, bibliometric analysis, networks, concepts
Introduction
One of the difficulties which border scholars face is the diversity of possible
approaches to their object of study and the profoundly interdisciplinary nature of
border scholarship: it spans geography, history, economy, anthropology, ethnology,
political science, law, psychology, sociology and other social sciences (NEWMAN;
PAASI, 1998).
As pointed out by Pesavento (own translation, p. 36):
There is, without a doubt, a tendency towards thinking about borders based
on a conception which is built on territoriality and unfolds in politics. In this
understanding, a border is, above all, the closure of a space, the delimitation
of a territory, the establishment of a surface area. Essentially, a border is a
mark which sets a limit and separates and points to socialised meanings of
recognition. Based on this, we can see that even in the sense of an
approach based on territoriality and geopolitics, the concept of border
already moves over to the realms of the symbolic construction of belonging
which we call identity and which corresponds to an imaginary framework
i
which is defined by difference.
We can therefore see how various outlooks are cast on borders and how they
are intrinsically multi-faceted research objects.
Beyond the diversity of disciplines within which borders are studied
(NEWMAN; PAASI, 1998; STAUDT, 2017; KOLOSSOV; SCOTT, 2013); scholars
use different definitions, perspectives and methodologies (PAASI, 2011); and reach
different conclusions as to the determinants of border processes (BRUNET-JAILLY,
2005) and cross-border integration. Culturally embedded explanations by
geographers and historians emphasise the role of local communities; political
scientists insist on the role of institutions; and rationalist explanations developed by
economists identify economic processes as fundamental, linked to the structural role
of the border as a divider between two markets. Yet other explanations emphasise
the role of language and ethnicity, the role of local actors, of central governments and
of religion (BRUNET-JAILLY, 2010).
Some theorists attempt to create models (for example: BRUNET-JAILLY,
2004; BRUNET-JAILLY, 2005), others border theories (for example: NEWMAN,
2003), whilst others argue that theorisation is impossible (for example: AGNEW,
2006 apud PAASI, 2013) or that it should not focus on borders but rather on
boundary producing practices (for example: Ó TUATHAIL; DARBY, 1998; PAASI,
2011).
As pointed out by Paasi (2013), scholars seem to be “travelling forward in
different trains”. According to a study conducted by Pisani, Reyes and García Jr, of
all articles published in the Journal of Borderlands Studiesii between its creation in
1986 and 2008, 13% of all published articles and 44.9% of all multi-authored works
derived from multidisciplinary research teamsiii. This percent is relatively low given
that this journal explicitly states its multidisciplinary orientation since its creation.
Beyond the limits linked to discipline-specific explanations and to divergences
in approaches, border literature is often the result of single-case empirical studies
conducted in research centres situated in the North. Pisani, Reyes and Garcia’s
study shows that 72.7% of the articles included in the study had been written by
researchers based in North America (USA and Canada) and 18.5% in Europe iv. This
leaves 8.4% of the publications for other parts of the world v. Scholarship from Latin-
America originates exclusively from Mexico, with 4.7% and Venezuela, with 0.4%
(PISANI; REYES; GARCÍA JR, 2009).
As the study of borders relies on case studies and “many topics do not lend
themselves to random samples (i.e., informality), the lack of generalizable research is
a weakness” (PISANI; REYES; GARCÍA JR, 2009, p. 12). Amongst the publications
included in the aforementioned study, approximately half can be categorized as
applied research whilst one quarter is conceptual/theorizing and the rest presents a
mix of both (PISANI; REYES; GARCÍA JR, 2009). This shows the preponderance of
an applied approach within the field.
More specifically, “research in border studies has relied mainly on
generalisations from cases in the US-Mexico borderlands” (STAUDT, 2017, p. XXV).
As it is the border which has traditionally been the most studied and therefore has
many university departments specialised in the theme, publications on borders
originate mainly from that region – the first nine universities which contributed the
most to the Journal of Borderlands Studies in 2008 were from that region-vi
(BRUNET-JAILLY, 2010). Consequently, border models and general border
scholarship tend to be greatly influenced by the specific configuration of that border.
This has various consequences (STAUDT, 2017). Firstly, these studies lack
generalisability. Secondly, research tends to assume that the State is strong. Thirdly,
it tends to assume that borders will develop towards integration. Fourthly, the lack of
studies conducted in other border regions leads to a lack of views from Southern
borders and a lack of cross-regional analysis. As pointed out by Staudt (2017, p. 9).,
“It is […] extremely important that we become aware of borders in other world
regions, comparing their similarities and differences”.
This statement, coming from English-language scholar and book, points
towards an apparent lack of studies coming from academic centers others than North
America and Europe and a possible lack of dialogue between scholars. Thinking
about this issue from a South American viewpoint, it appears that even compared to
other regions in the South, the literature on Southern American borders is scarce.
Works in English language focusing on rarely studied or Southern borders include
few examples from this region (STAUDT, 2017; ALPER; BRUNET‐JAILLY, 2008).
Summing up, there have been few theoretical propositions to date which
would bring together discipline-specific knowledge and explanations as well as think
about how concepts could travel from one field of study to another.
Rather than exploring the field of border studies as a whole, we will
concentrate our analysis on academic production on a specific subject: the
crossroads of borders and culture. This will enable us to explore its caracteristics in
more depth and detail.
Based on these observations, our aim in this article is to tackle the following
questions: What characterizes the production on this subjectvii in each language? Are
there real, demonstrated differences in volume and approaches/objects? Are some
concepts used more in one language or another? What questions does this pose in
terms of translation? Furthermore, what is the significance of the subject in
International Relations compared to other disciplines? What are the hubs for this
research object?
Methodology
Israel 48 1.1
Belgium 45 1.0
Argentina 44 1.0
Austria 42 1.0
Chile 42 1.0
Norway 39 0.9
Switzerland 34 0.8
Denmark 33 0.8
Portugal 33 0.8
South Korea 33 0.8
Colombia 30 0.7
Hungary 30 0.7
Croatia 29 0.7
Estonia 28 0.6
India 27 0.6
New Zealand 26 0.6
Ukraine 26 0.6
Taiwan 24 0.6
Lithuania 23 0.5
Ireland 22 0.5
Singapore 22 0.5
Bulgaria 21 0.5
Slovakia 20 0.5
Thailand 19 0.4
Greece 17 0.4
Iran 17 0.4
Japan 17 0.4
Malaysia 15 0.3
Firstly, these results confirm the preponderance of the USA as the first
producer of research on the subject, with nearly 22% of academic production. All the
other countries have a production which is below 10%, amongst others 8.2% for the
United Kingdom, 6.3% for Russia, 4.7% for Germany, 4.6% for Canada, 3.5% for
China.
Polish 22 0.5
Romanian 21 0.5
Slovak 18 0.4
Chinese 15 0.3
Lithuanian 12 0.3
Estonian 8 0.2
Dutch 7 0.2
Swedish 7 0.2
Ukrainian 6 0.1
Hungarian 5 0.1
Serbian 4 0.1
Bulgarian 3 0.1
Malay 3 0.1
Catalan 2 0.0
Norwegian 2 0.0
Afrikaans 1 0.0
Arabic 1 0.0
Source: Produced by the author with data collected on Web of Science
This third figure details the number of publications at the crossroads of the
subject of culture and of borders, between 1994 and 2018. It demonstrates a relative
stability in amount of publications between 1994 and 2004, with only slight increases
and decreases. Between 2005 and 2014, there was a steady increase in publications
year after year, followed by a strong increase of 64% between 2014 and 2015. Since
then, the level of publications demonstrates only slight variations. It appears that the
subject gained significant interest in 2015 and is relatively new as a field of research:
before that year, the number of publications per year had never exceeded 600.
[1] 7 records (0.161%) do not contain data in the field being analysed.
Source: Produced by the author with data collected on Web of Science
This graph represents the main organisations to which the authors of the
production corresponding to our criteria are attached. Though the data is not usable
for detailed analysis as all the organisations are not isolated based on the same
criteria (some are universities, some are groups, some are national research
systems), the above graph does in any case corroborate the fact that universities
from border cities, regions and states are significantly represented. 10 of the
organisations included in the graph correspond to this criteria: University of California
System; University of Texas System; California State University System; University of
Toronto, University of British Columbia; Pennsylvia Commonwealth System of Higher
Education; State University of New York System; University of Texas El Paso;
University of Primorska, University of Tartu; University of Texas Austin; University of
Wisconsin System.
One first comment which can be made upon visualising this network generally
is that within the three most visible labels on the map, only one of the two keywords
included in our original bibliographic search is present: it is the keyword “culture”. The
keyword “border” does not seem to display as many links. Along with the keyword
“culture”, the other two most visible keywords are “migration” and “identity”. The
importance of this second keyword may demonstrate a strong relatedness between
research on culture and on identity within this bibliography, possibly due to the use of
an anthropological conception of culture.
Thereafter, we conducted visualisations of isolated keywords linked to three
groups of keywords: those linked to culture, those linked to borders and those linked
to cooperation.
keyword “frontier” also displays links with the keyword “identity” whilst the keyword
“boundary” displays links with the keyword “culture”. The keyword “border” displays
links with both “culture” and “identity”. In terms of disciplinary uses, the keyword
“boundary” displays links with the keywords “political geography” and
“transnationalism”, which seems to suggest a use in the field of political geography.
The term borderland displays an apparent link to economics. The keyword border,
though it is potentially linked to various fields of research, displays explicit links only
with the discipline of geography, present as a keyword, as well the keyword
“cartography”.
Concluding remarks
The main strength of bibliometric network visualisations is that they provide a
relatively easy way of processing large amounts of bibliographic data and of
presenting it visually. Its main purpose is thereafter to provide a clear visual
representation which highlights the core characteristics of the data. However, this
type of process relies on simplification and thus on loss of context and depth of
analysis. It therefore has to be used with the conscience of the strengths and
weaknesses of the tool and in combination with interpretation and judgement (VAN
ECK; WALTMAN, 2014). In this study, the aim was to verify a number of statements
made in existing literature and to gain clarity regarding the structuring of a field of
research through the medium of visual representation. Bibliometric network analysis
was combined with a previous brief exposition of literature and of pure exported
bibliometric data in order to attempt to draw a panorama of academic production at
the crossroads of the study of borders and culture.
References
NEWMAN, David. Boundaries. In: AGNEW, J.; MITCHELL, K.; TOAL, G. [eds]. A
Companion to Political Geography. Oxford: Blackwell. 2003.
NEWMAN, D.; PAASI, A. Fences and neighbours in the postmodern world : boundary
narratives in political geography. Progress in Human Geography, v. 22, n. 2, p.
186–207, 1998.
PAASI, Anssi. A border theory: an unattainable dream or a realistic aim for border
scholars? In WASTL-WALTER, Doris The Ashgate Research Companion to
Border Studies. Farnham: Ashgate. 2011.
PAASI, A. Borders. In: DODDS, K.; KUUS, M.; SHARP, J. (Ed.). The Ashgate
Research Companion to Critical Geopolitics. Burlington: Ashgate, 2013. 548p.
PISANI, M. J.; REYES, J. C.; GARCÍA JR, B. G. Looking back twenty ‐ three years:
An analysis of contributors and contributions to the. v. 1, n. 1, 2009.
VAN ECK, N. J.; WALTMAN, L. Visualizing Bibliometric Networks. In: DING, Y.;
ROUSSEAU, R.; WOLFRAM, D. (Ed.). Measuring Scholarly Impact: Methods and
practice. [s.l: s.n.]p. 285–320.
STAUDT, Kathleen. Border Politics in a Global Era. Lanham: Rowman & Littlefield.
2017.
VAN ECK, N. J.; WALTMAN, L. Manual for VOSviewer version 1.6.11. Leiden:
Univeristeit Leiden, 2019. Disponível em:
<http://www.vosviewer.com/documentation/Manual_VOSviewer_1.6.1.pdf>.
* Graduada em Gestão Cultural, mestre em Gestão Cultural e Produção para as Artes Cênicas,
doutoranda em Relações Internacionais na Universidade de Brasília. E-mail:
solene.marie@gmail.com
i
“Há, sem dúvida, uma tendência para pensar as fronteiras a partir de uma concepção que se ancora
na territorialidade e se desdobra no político. Neste sentido, a fronteira é, sobretudo, encerramento de
um espaço, delimitação de um território, fixação de uma superfície. Em suma, a fronteira é um marco
que limita e separa e que aponta sentidos socializados de reconhecimento. Com isso podemos ver
que, mesmo nesta dimensão de abordagem fixada pela territorialidade e pela geopolítica, o conceito
de fronteira já avança para os domínios daquela construção simbólica de pertencimento a que
chamamos identidade e que corresponde a um marco de referência imaginária que se define pela
diferença.”
ii
The journal of Borderlands Studies, linked to the Association of Borderlands Studies, is not the only
journal with publications on border-related issues. But this study is mentioned here as the journal is a
leader in the field which, as well as focusing specifically on border issues, has existed for long enough
to provide for a structured analysis. Furthermore, this existing study constitutes a source of structured
and substantive bibliometric data which is relevant to our aim in this paper.
iii
This second figure is calculated excluding the undefined group.
iv
The figures included in this paragraph are adjusted appearances: “adjusted for the number of co-
authors, assigning full credit for single-authorship (1) and partial credit for co-authorship (0.5≤ x) […]
Author appearances [were adjusted] to reflect the number of contributing authors, where 2 authors =
0.5, three co-authors = 0.33, four co-authors = 0.25, and five co-authors = 0.2." (PISANI; REYES;
GARCÍA JR, 2009, p. 5)
v
0.4% of publications have an “unspecified” geographic origin.
vi
1- University of Texas – El Paso; 2- University of Arizona; 3- New Mexico State University; 4- San
Diego State University; 5- University of Texas – Pan American; 6- University of San Diego; 7- Texas
A&M International University; 8- University of North Texas; 9- El Colegio de la Frontera Norte –
Tijuana.
vii
Henceforth referring to the production which is at the crossroads of the subject of borders and of the
subject of culture
viii
Bibliometric network analysis software created by the Centre for Science and Technology Studies
(CWTS) of Leiden University
ix
The terms used in this article, for purposes of coherence, follow those used by the creators of the
VOSviewer software (VAN ECK; WALTMAN, 2019)
x
On the 24.07.2019
xi
Science Citation Index Expanded (SCI-EXPANDED. 1945 to present); Social Sciences Citation
Index (SSCI. 1956 to present); Arts & Humanities Citation Index (A&HCI. 1975 to present);
Conference Proceedings Citation Index- Science (CPCI-S. 1990 to present); Conference Proceedings
Citation Index- Social Science & Humanities (CPCI-SSH. 1990 to present); Emerging Sources Citation
Index (ESCI. 2015 to present)
xii
culture, cultures and cultural, border, borders, borderlanders
xiii
Query conducted on the 28.07.2019
Abstract: From the inquiry on the counter-mapping processes in the Chodoy Lof
Mapu and the Waorani Map projects, an analysis is carried out in relation to the
appropriation of cartographic techniques and modes of representation. Based on the
above, the idea of cartographic anthropophagy is proposed: an operation that
produces visual evidence of other territorial understandings and logics, which are
registered under official codes in order to consolidate the claim of their territories.
Key-words: Cartography, Dispositive, Anthropophagy.
1
Diseñadora Gráfica, Universidad de Chile; cursando Magister en Arte, Pensamiento y Cultura
Latinoamericanos, Universidad de Santiago de Chile. E-mail: katsmoron@gmail.com
Abstract: This paper analyzes the relationship between economic and social
development and free education, within the scope of the Federal Institute of
Education, Science and Technology of Mato Grosso do Sul, the frontier campuses -
Corumbá and Ponta Porã. We sought to identify the contributions of these two units,
“technical schools”, in favor of local and regional development, specifically the
borders belonging to the northwest and southwest of the state of Mato Grosso do
Graduado em Matemática - UFMS, mestre em Estudos Fronteiriços – UFMS. Instituto Federal de
Educação, Ciência e Tecnologia de Mato Grosso do Sul. E-mail: wanderson.batista@ifms.edu.br
Graduada em Geografia - UFMS, mestre em Educação - UFMS, doutora em Geografia –
UNICAMP. Universidade Federal de Mato Grosso do Sul. E-mail: mara_aline@yahoo.com.br
Sul. The IFMS is the only federal public institution with supply characteristics. high
school integrated to the professional with Campis based in these municipalities. Its
structuring axis is the provision of training for the local productive arrangement. Our
study was the course through the Institutional trajectory of these two Campuses in
order to analyze the execution of educational activities offered to students residing in
the conurbation formed by the cities of Corumbá-Ladário-Puerto Quijarro and Ponta
Porã-Pedro Juan. Our analyzes indicate that the trajectory goes through the
alignment of institutional instruments such as the Institutional Development Plan -
PDI, to the implementation of courses aimed at the needs of the border population.
Competence attributed to the Federal Institute for being the only federal public
institution of Vocational and Technological Education, whose mission is to meet local
demands with flexibility of its action plan (PDI) updated every five years. Constituting
itself with a proposal of differentiated educational organization, in line with the
aspirations of the local communities, bordering and contributing greatly to the
economic and social development.
Key words: local development, professional education, frontier.
*
Professora Adjunta curso de Letras/CPAN e no Programa de Mestrado Estudos Fronteiriço.
Mestra em Estudos Literários/UFMS e doutora em Teoria da Literatura/UNESP.
Adriana Dorfman
Edgar Garcia Velozo
Luísa Amato Caye
Resumo: O presente texto apresenta uma prática voltada à propiciar aos alunos de
graduação experiências de pesquisa e aprendizagem sobre processos fronteiriços.
Duas disciplinas, ministradas simultaneamente na Universidade Federal do Rio
Grande do Sul (Brasil) e na State University of Arizona (Estados Unidos) trabalharam
na construção de análise comparativa de paisagens transfronteiriças em Aceguá,
BR/ Acegua, UY e Nogales, MX/ Nogales, US. Combinando uma matriz de
observação transfronteiriça sistemática, teorias geográficas sobre a paisagem e
sobre o espaço, diretrizes foram estabelecidas para descrever a paisagem sócio-
espacial transfronteiriça em seus domínios, como forma, função, estrutura e
dinâmica. Com tais dados, os estudantes construíram relatórios integrando fotos,
entrevistas e a descrição de cada domínio, aliados a percepções sobre a interação
transfronteiriça. O relatório final da turma contribuiu para a produção do presente
trabalho. A avaliação desta experiência foi muito positiva, na medida em que
proporcionou o amadurecimento da metodologia e a iniciação de pesquisadores
através de uma experiência de comparações cruzadas.
Palavras-chave: Cidades-gêmeas. Educação. Fronteira. Paisagem Transfronteiriça.
Metodologia.
Doutora em Geografia e Professora associada do Departamento de Geografia da Universidade
Federal do Rio Grande do Sul, Professora permanente do Programa de Pós-Graduação em
Geografia/UFRGS. E-mail: adriana.dorfman@ufrgs.br
Acadêmico de Geografia, UFRGS, edgar.velozo@ufrgs.br
Acadêmica de Geografia, UFRGS, luisa.caye@ufrgs.br
Apresentação
A proposta deste estudo transfronteiriço comparativo foi idealizada pelos
Professores Adriana Dorfman (Universidade Federal do Rio Grande do Sul, UFRGS)
e Francisco Lara-Valencia (Arizona State University, ASU), com o intuito de
apresentar aos estudantes da graduação formas de pesquisar a fronteira e de
aproximarem-se de suas complexidades, através da análise da paisagem
transfronteiriça.
Para realizar este estudo se fez necessário estabelecer uma metodologia
compreensiva que partiu de uma exposição sobre Estudos Fronteiriços para os
alunos, apresentando exemplos próximos aos estudantes da UFRGS e da ASU,
nesse caso, as cidades-gêmeas de Aceguá, BR/ Aceguá, UY e Nogales, MX/
Nogales, US. Com base nisso, se deu início à construção da análise comparativa
entre esses dois ambientes fronteiriços e se fez uso de dois recursos procedimentais
para realizar observações em campo, sendo eles a Matriz de Observação
Sistemática estruturada pelo Prof. Francisco Lara (2018) e o Manual de Leitura de
Paisagem elaborado pelos Professores Roberto Verdum e Luiz Fernando Mazzini
Fontoura (2009).
Figura 1: Matriz de observação sistemática para Aceguá, BR/ Acegua, UY. Elaboração de Dorfman,
Caye e Velozo sobre proposta de Lara-Valencia, 2018.
Figura 2: Matriz de observação sistemática de Nogales, MX/ Nogales, US. Elaboração de Dorfman,
Caye e Velozo sobre proposta de Lara-Valencia, 2018.
permitindo realizar comparações entre ambos pares de cidades com base na visita
virtual. No início de novembro de 2018, os professores deram aulas via Skype,
trocando as turmas. Apesar das questões de fuso horário, a apresentação das
cidades-gêmeas próximas dos professores para alunos distantes provocou enorme
interesse nos alunos e facilitou a exploração de semelhanças e diferenças entre
Ambas Aceguás e Ambos Nogales.
Com base na matriz de observação sistemática dos domínios da paisagem
sócio-espacial transfronteiriça, foram organizadas as atividades e responsabilidades
da turma de Geografias Descoloniais para o trabalho de campo a ser realizado em
Ambas Aceguás. Tal procedimento foi também realizado pelo Professor Francisco
Lara-Valencia nos Estados Unidos, com a turma da disciplina Borders in Motion, pois
ambas disciplinas previam trabalho de campo em seus planos de ensino.
O uso do trabalho de campo como metodologia de ensino aplica-se
contemporaneamente a algumas áreas da ciência, tais como a Antropologia e a
Geografia, que buscam a observação e a análise de objetos situados
geograficamente fora do espaço das bibliotecas e salas de aula. Os estudos
antropológicos, assim como os estudos geográficos do século XIX, baseavam-se na
leitura de relatos de viajantes, missionários, navegadores ou de expedições
científicas. Sendo assim, seus conhecimentos restringiam-se à visão de terceiros
sobre o espaço analisado. Os antropólogos, conhecidos como antropólogos de
gabinete, produziam seus estudos sem contato direto com o objeto de pesquisa
(LIFSCHITZ; NEVES,2011).
O trabalho de campo passa a se tornar uma prática para esses pesquisadores
no final do século XIX, a partir do momento em que se percebe que o próprio
pesquisador deve atuar ativamente na pesquisa através da observação direta. Essa
prática constitui o método etnográfico, para antropólogos, e é base da identidade
também de geógrafos, pois assume-se que o conhecimento geográfico se diferencia
dos demais pela multidisciplinaridade que o mesmo exige com leitura do espaço,
que tem como método de investigação o trabalho de campo. Nas palavras de Pierre
George:
A coleta de dados atrai o geógrafo para o campo – e para os quadros
metodológicos das ciências de análise que dizem respeito ao meio natural e
aos fatos humanos. Vê-se ela compelida a assumir as funções do geólogo,
do petrógrafo, do pedólogo, botânico, do climatólogo, do hidrólogo, assim
como as do demógrafo, do etnólogo, do sociólogo, do agrônomo, do
Considerações Finais
As atividades anteriores, durante e posteriores ao trabalho de campo foram
marcadas por diversas discussões, a fim de encontrar os melhores caminhos para o
desenvolvimento do trabalho. Todos esses momentos tiveram um importante papel
no processo de organizar e construir um projeto de pesquisa em cidades-gêmeas
como estratégia de ensino, com a finalidade de aproximar a realidade fronteiriça dos
estudantes, assim enriquecendo o processo de aprendizagem.
A estratégia utilizada pareceu eficaz, na medida que os alunos foram capazes
de escrever e construir relatórios que, além das descrições objetivas dos locais
visitados, contavam com diversas percepções sobre a paisagem transfronteiriça,
contribuindo para o debate e análise de ambientes fronteiriços.
A elaboração dos relatórios motivou a continuidade das pesquisas, lançando-
se mão de bibliografia e de material documental. Assim, verificou-se que a cidade de
Aceguá (BR) apresenta, de acordo com o censo de 2010 do IBGE, 4.394 habitantes,
sendo em sua maioria moradores da parte rural, enquanto Aceguá (UY) possui
menos de 2.000 habitantes. Ambas são cidades pequenas localizadas distantes dos
grandes centro urbanos, assim como de suas respectivas capitais, Porto Alegre e
Montevidéu. Localizam-se dentro do território definido como faixa de fronteira e por
se situar em áreas periféricas dos Estados nacionais, fogem do destino das
tradicionais políticas de desenvolvimento destinadas ao centros urbanos centrais.
Considerou-se que a geminação entre Ambas Aceguás promove fluxos
intensos de pessoas e mercadorias. As pessoas atravessam de um lado para o
outro diariamente e também podem utilizar dos serviços públicos dos dois Estados,
como é o caso das escolas em que há tanto crianças brasileiras quanto uruguaias. A
partir da experiência em campo pode-se constatar que as dinâmicas diárias da
população exigem acordos de cooperação entre as entidades locais. A integração ao
nível local cabe aos atores efetivamente participantes nas políticas diárias de
desenvolvimento regional, como prefeituras, associações, departamentos de polícia,
etc.
No Brasil, principalmente na parte sul, a região fronteiriça apresenta um alto
grau de integração entre as populações vizinhas. A integração apresenta-se de
forma orgânica, através da convivência diária entre uruguaios e brasileiros, que a
partir do compartilhamento de aspectos culturais, políticos e econômicos,
desenvolvem identidades culturais próprias, diferentes daquelas identificadas dentro
de áreas mais centrais nos Estados.
O roteiro de análise desenvolvido pelos professores Roberto Verdum e Luiz
Fernando Mazzini Fontoura fornece suporte para a leitura de paisagem, que ao ser
agregado aos esquemas de análise transfronteiriça do prof. Francisco Lara-
Valencia, gera um protocolo de análise de paisagem transfronteiriça, neste caso
com foco em Aceguá-Aceguá, que integrou os quatro aspectos para análise da
paisagem: forma, função estrutura e dinâmica. A leitura do clássico de Milton Santos
permitiu aprofundar a compreensão dos processos e de sua dialética. Dessa forma,
aspectos específicos para essa escala de análise foram observados e analisados,
podendo tipificar e especificar os processos e dinâmicas em ação nessa região de
fronteira.
As experiências vividas em Ambas Aceguás e as conclusões a que se chega
após sua discussão pode ser entendida como um estudo de caso, mas seu sentido
foi aprofundado a partir da comparação com Ambos Nogales. Assim, foi possível
constatar as diferentes visibilidades dos atores que animam essa paisagem,
tomando em consideração suas materializações na área urbana de Ambas Aceguás.
Referências bibliográficas
Abstract: This article is related to the Unbral Fronteiras Project and has a
quantitative approach. The main objective is to characterize the journals publication
on Border Studies, highlighting the diversity of themes. Extractions of bibliographic
data in Unbral Fronteiras Portal allowed the analysis of the journals and keywords
belonging to the Border thematic. The articles belong to five journals: Revista
Geopantanal, Geographia (UFF), Confins (Paris), Tempo da Ciência and Boletim
Gaúcho de Geografia. It was observed that some subjects are present in all journals
examined, such as the keywords "Brasil", "Território" (territory) and "Identidade"
(identity), while others appear on a specific journal. Interdisciplinarity in Border
Graduando em Geografia - Bacharelado (UFRGS), atualmente é bolsista de iniciação científica no
projeto Unbral Fronteiras - Portal de Acesso Aberto das Universidades Brasileiras sobre Fronteiras e
Limites.
Graduanda em Geografia - Bacharelado (UFRGS), atualmente é bolsista de iniciação científica no
projeto Unbral Fronteiras - Portal de Acesso Aberto das Universidades Brasileiras sobre Fronteiras e
Limites.
Doutor em Ciências da Computação (UFRGS). Atualmente é professor associado do
Departamento de Ciência da Informação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
Studies was evident, as well as the importance of dossiers in academic research and
the chronological evolution of the most frequent subjects.
Keywords: Border Studies; territory; culture; education; identity; Amazon;
bibliometric analysis.
Resumo: Este artigo tem como objetivo analisar a construção de novas identidades
e práticas de sociabilidade nos ciberespaços, em especial acerca da necessidade de
o corpo físico estar presente (ou não) para interagir com as outras pessoas. Para a
execução do estudo adotou-se a pesquisa exploratória com resenhas de literatura
sobre o tema, encontradas na Biblioteca da Municipal de Corumbá/MS e nas
dissertações do Programa de Pós-Graduação em Estudos Fronteiriços, área de
concentração ocupação e identidade fronteiriça, do Campus Pantanal da
Universidade Federal de Mato Grosso do Sul. Foi possível concluir que, apesar das
interações ocorrerem em ambiente virtual, o corpo ainda está sempre nos processos
comunicacionais e continua sendo um elemento fundamental na sociabilidade
humana, pois é ele quem expressa desejo, emoções, afetações e sentimentos.
Palavras-chave: corpo, ciberespaço, sociabilidade, comunicação virtual, internet.
Abstract: This paper aims aims to analyze the construction of new identities and
sociability practices in cyberspace, especially about if is necessary the physical body
to be present (or not) to interact with other people. For the execution of the study it
was adopted the exploratory research with reviews of literature on the subject, found
in the Municipal Library of Corumbá / MS and in the dissertations of the Postgraduate
Program in Border Studies, area of concentration occupation and border identity, of
the Pantanal Campus of the Federal University of Mato Grosso do Sul. It was
concluded that, although interactions occur in a virtual environment, the body is still
always in the communicational processes and remains a fundamental element in
human sociability, because it expresses desire, emotions, affectations and feelings.
Key-words: body, cyberspace, sociability, virtual communication, internet.
Graduada em Direito pela Universidade de Vila Velha/ES, especialista em Direito Processual e
Material do Trabalho e mestranda no Mestrado de Estudos Fronteiriços pela Universidade Federal de
Mato Grosso do Sul – Campus Pantanal. Email: renatadoyle@hotmail.com
Graduado em Licenciatura Plena em História pela Universidade Católica Dom Bosco, mestrado em
História pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, doutorado em História pela
Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul e Pós Doutorado pela Universidade de São
Paulo (2009). Email: paulo.esselin@gmail.com
Introdução
O objetivo deste trabalho é analisar a construção de novas identidades e de
novas práticas de sociabilidade nos ciberespaços e a necessidade da materialização
do corpo no ciberespaço, para não ser mais uma fronteira identitária.
Para nos aproximar desse debate, vamos analisar a mudança do ser humano
com relação às novas formações sobrevinda desse processo e a resignificação da
identidade do corpo como reconhecimento da condição humana, situando-o (ou não)
no universo virtual.
A metodologia utilizada consiste em um debate acadêmico, com resenha de
literatura sobre o tema, que busca apresentar resposta ao questionamento acerca
da necessidade de representação do corpo nos processos comunicacionais e de
interações de qualquer natureza.
Vivemos tempos de mudança. Nossa relação com o mundo mudou. Antes, ela
era local-local. Agora é local-global. Aliás, um dos atrativos da internet é justamente
isso: permitir que as interações se desenvolvam sem o corpo físico e sem encontrar
empecilhos e fronteiras geográficas. As pessoas podem estar em toda parte sem
sair do lugar. Há facilidade em interagir com outras pessoas sem sair de casa e sem
barreiras geográficas e sociais (WERTEIM, 1999).
Dentre outros conhecimentos epistemológicos, o surgimento dessas
tecnologias – em especial a internet que possibilitou a comunicação à distância-,
provoca uma telepresença que tenta nos fazer perder definitivamente o próprio
corpo em proveito do amor desmesurado pelo corpo virtual, pela imaterialidade.
Desta forma, quando se trata de utilização dos novos espaços virtuais de
interconexões sociais, vemos que os chamados ciberespaços estão nos processos
comunicacionais e nas interações mais frequentes.
Compreendemos espaços virtuais como aquele que possui a finalidade de
comunicação, incluindo tanto os sujeitos, quanto as instituições que participam da
extensa - em latim), o corpo, e uma “coisa pensante” (res cogitans), o espírito. Essa
visão dualista tradicional, que afirma que o espírito comanda o corpo e lhe dá vida,
tem sido reformulada através das novas possibilidades de comunicação e interação
social no mundo (BRETON, 2003, p. 42).
Dentre elas, podemos destacar os ciberespaços, onde há ausência de
expressões corporais e representação de novas identidades, considerados, até
então, de suma importância no processo de comunicação e sociabilidade entre os
indivíduos.
A respeito do tema, o filósofo francês Merlau- Ponty chama a atenção quando
traz como ponto de partida o "corpo próprio", reconhecendo não apenas uma coisa,
um objeto potencial de estudo para a ciência, mas também uma condição
permanente da experiência, que é constituinte da abertura perceptiva para o mundo
e seu investimento. Ele então enfatiza que há uma consciência e um corpo, e que a
análise dessa percepção deve ser levada em conta (MELEAU-PONTY, 1994, p.
100).
Sobre corporeidade, Ponty salienta:
[...] o corpo do ser humano não é um simples corpo, mas sim um corpo
humano o qual só pode ser compreendido a partir de sua integração na
estrutura global, no mundo. [...] O mundo não é aquilo que eu penso, mas
aquilo que eu vivo; que estou aberto ao mundo, comunico-me
indubitavelmente com ele, mas não o possui, ele é inesgotável (MERLEAU-
PONTY, 1994, p. 92).
Portanto, pode-se dizer que mesmo no ambiente virtual, este corpo continua
sendo representado nos processos comunicacionais e identitários e deve ser
pensado como elemento fundamental nas interações de qualquer natureza
(MOREIRA, 2006, p. 58).
Virtual é o espaço, mas não necessariamente a sociabilidade criada nos
ciberespaços.
Por mais que os ciberespaços tenham se tornado, subitamente famoso pela
capacidade de resignificar a identidade e dar privacidade aos internautas se assim
desejarem (possibilidade o anonimato como implicações da ausência do corpo), bem
como não possuir fronteiras físicas e geográficas, ele continua baseando-se na
presença física, expressões de emoções e sentimentos por quem está do outro lado
da tela (CRUZ, 2001, p.51).
Assim, em que pese a reformulação desses novos meios de comunicação e
sociabilidade seja um caminho sem volta, e em franca evolução, temos que o corpo
virtual não se opõe ao real e pouco tem a ver com o falso, o ilusório ou o imaginário,
e sim favorecer a experimentação do anonimato ou outras identidades.
Conclusão
Em meio aos mistérios e estudos que circundam a conduta e identidade do
corpo, somos chamados, todos os dias, às alegrias ou as enfermidades da
corporeidade, e por mais que entendamos, não somos capazes de identificar quais
são as forças que geram e sustentam as energias básicas da manutenção da vida.
Além disso, o homem é portador de uma memória, espécie de consciência
congelada, provinda com ele de outro lugar. Hoje, esse lugar novo o obriga a um
novo aprendizado e uma nova formulação de integração, identidade e sociabilidade.
Assim, mesmo estando em um ambiente desmaterializado, sem fronteiras e
desprovido de corpo físico, como os ciberespaços, o corpo está sempre presente no
processo comunicacional e está do outro lado da tela interagindo, sentindo,
afetando-se e emocionando-se.
Diante das reflexões realizadas, podemos considerar que a partir do
ciberespaço, o corpo humano de superação de sua própria história teve
significativas modificações de identidade, que ocorreram na forma de o homem se
colocar e agir no mundo, não se reduzindo mais ao ambiente ao vivo.
Referências
ESPINOSA, B., Ética, trad. Tomaz Tadeu. Belo Horizonte: Autêntica, 2007.
MCDOUGALL, Joyce et al. Corpo e História. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2001.
A FRONTEIRA NO CORPO
The Border in the Body
La Frontera en el Cuerpo
Diego Aparecido Cafola
Abstract: In a society built by gender binary (male / female) the elements that
identify each other are disparate. The transvestite is not within this binary norm, as
her body has both male and female characteristics. Not conforming to the norm, the
transvestite is in the place of this binary. Our goal is to reflect what are the tensions
that are made explicit in the discourses of the "bixa travesty", Linn da Quebrada. In
this sense, the reflections on frontier also participate in our reflections on the body to
understand the place of this non-hegemonic body. For this we conducted
bibliographic research in the platforms CAPES, Scielo and the Instituto de Estudos
de Gênero (IEG, UFSC). As well as documentary survey in newspapers, magazines
and youtube, after the release of her album Pajubá in 2017, when she gains visibility.
Key words: Gender, place, travesty.
Discente do Curso de Letras/Inglês pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Campus
Aquidauana (UFMS/CPAQ). Bolsista no Programa de pós-graduação em Estudos Culturais (PPGCult)
pela mesma instituição. Orientado pelo professor Dr. Miguel Rodrigues de Sousa Neto. O presente
trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior –
Brasil (CAPES).
Resumo: Nosso trabalho fez uma leitura da figura do “Capitão” enquanto código
cultural nas aldeias Jaguapiru e Bororó localizadas em Dourados- Mato Grosso do
Sul. Traçamos um breve panorama histórico sobre o locus em estudo: a investigação
da liderança indígena designada de “Capitão” como um processo de transformação
de não-cultura para cultura, sob a ótica da Semiótica da Cultura (referencial teórico
construído por estudiosos da antiga União Soviética, denominados de Escola de
Tártu-Moscou/ETM), nas comunidades indígenas Jaguapiru e Bororó e apontamos
como a constituição da cultura é um processo sistêmico, transformação do não texto
em informação codificada.
Palavras-chaves: fronteira; cultura; semiótica; indígena.
Resumen: Nuestro trabajo hace una lectura de la figura del "Capitán" como un
código cultural en las aldeas de Jaguapiru y Bororó umbicados en Dourados - Mato
Grosso do Sul. Hacemos una breve síntesen histórica del lugar en estudio. La
investigación del líder indígena denominado "Capitán" como un proceso de
transformación de la no cultura a la cultura, desde la perspectiva de la Semiótica de
la Cultura - marco teórico construido por estudiosos de la antigua Unión Soviética
(Escuela Tartu-Moscú/ETM), en las comunidades indígenas de Jaguapiru y Bororó y
señalar cómo la constitución de la cultura es un proceso sistémico, transformación
no textual en información codificada.
Palabras-claves: frontera; cultura semiótica; indígena
Possui graduação em Direito, Especialização Latu Sensu em Direito, Graduação em Letras,
Mestrado em Linguística e Mestranda em Fronteiras e Direitos Humanos da Faculdade de Direito e
Relações Internacionais-UFGD. lubersil@hotmail.com
Possui graduação em Licenciatura em Letras Português Literatura Brasileira, mestrado em Estudos
Literários, doutorado em Comunicação e Semiótica. Atualmente é professora - dedicação exclusiva
da Universidade Federal da Grande Dourados. gicelmatorchi@ufgd.edu.br
Considerações Iniciais
A fronteira se caracteriza por ser uma zona heterogênea, peculiar, ímpar e
única (PEREIRA, 2014), onde podemos encontrar duas ou mais línguas convivendo
em um mesmo espaço. De acordo com Sturza:
[...] a fronteira assume sentidos contraditórios, que se definem não só pelos
limites geográficos como também pelo conteúdo social. [...] na base de todo
conceito de fronteira, está a sua natureza constituída, antes de tudo, pela
latência de contato – contato de territórios, contato de pessoas, contato de
línguas. (2006, p.19)
Silva também traz uma concepção de fronteira dizendo que:
Uma fronteira representa muito mais do que uma mera divisão e unificação
dos pontos diversos. Vai além do limite geográfico. É um campo de
diversidades. É o encontro com o “diferente” físico e social. E é nesse
espaço que as relações se formam e se deformam. Completam-se e dão
forma à diversidade, à cultura. Por meio de amizades e companheirismo
formam-se famílias, amigos e irmãos. (2011, p. 63)
Na linha desse pensamento acrescenta Luce:
Singular forma de expressão das relações de poder que se estabeleceram
em determinado território. A fronteira divide ou une-os povos, as nações e
as culturas. Fronteira, melhor, fronteiras: os rios, as montanhas, os muros; e
as pontes, os túneis e as estradas. A fronteira codificada: o ponto de
contato, a linha demarcatória, o espaço comum. Nas fronteiras, as línguas e
as linguagens, que nos distanciam e aproximam, nos constituem
simbolicamente em peculiar identidade (LUCE, 2014, p. 02)
Para Bhabha (1998, p. 19) “uma fronteira não é o ponto onde algo termina,
mas, como os gregos reconheceram, a fronteira é o ponto a partir do qual algo
começa a se fazer presente”. Lótman (1996) apresenta a fronteira como uma zona
irregular, complexa e mestiça, um espaço de trânsito e fluidez. É o espaço das
diferenças, do entrelugar, onde tudo se mistura e se mescla. Para Lótman, ainda, a
fronteira é como uma semiosfera, um espaço importante e necessário para que a
linguagem e a cultura possam existir, evoluir e funcionar. Neste sentido Machado
completa dizendo que:
Nesse espaço, natureza e cultura vivem uma relação de
complementariedade, alterando completamente o conceito de fronteira. Em
vez de linha demarcatória e divisória, fronteira designa aquele segmento de
espaço onde os limites se confundem, adquirindo a função de filtro (2003, p.
163-164)
Como podemos perceber não há como pensar na fronteira apenas como uma
linha ou faixa demarcatória que indica onde um país com sua língua, cultura e
tradições termina e outro começa. Fronteira é muito mais que isto, é o entrelaçar de
línguas e culturas, mesclando o que está posto, transformando em mestiço algo que
“aparentemente” era puro ao mesmo tempo em que preserva os traços de cada
língua e de cada cultura. O conceito de Fronteira está ligado ao espaço da
semiosfera, “[...] o espaço semiótico necessário para a existência e funcionamento
da linguagem e da cultura com sua diversidade de códigos. [...] A semiosfera diz
respeito à diversidade, condição para o desenvolvimento da cultura” (MACHADO,
2003, p. 164)
Semiosfera é onde as semioses entre línguas e culturas coexistem e
coevoluem filtrando e adaptando essas relações. Na visão de Chacarosqui-Torchi
semiosfera:
(...) é um espaço semiótico, dentro do qual se realizam os processos
comunicativos e a produção de novas informações. É impossível haver
semiose fora da semiosfera. O conceito de semiosfera corresponde,
portanto, a conexão de sistemas e geração de novos textos. Trata-se de um
espaço que possibilita a realização dos processos comunicativos e a
produção de novas informações, funcionando como um conjunto de
diferentes textos e linguagens (Chacarosqui-Torchi, 2008, p. 7).
Diante deste cenário único, mestiço, intercultural é que tomamos como base
teórica para esta pesquisa a semiótica da cultura por acreditar que é a teoria que
melhor explica essas relações fronteiriças onde ela procura “entender a
comunicação como sistema semiótico e a cultura como um conjunto unificado de
sistemas, ou melhor, como um grande texto” (MACHADO, 2003, p. 164 – 165).
Os estudos voltados para a cultura enquanto sistemas de signos nasceram
dentro do Departamento da Universidade de Tártu, Estônia nos anos 60 dando
origem a Escola Tártu-Moscou tendo como grande nome Yuri Lótman. A semiótica
da cultura surgiu da necessidade em tentar compreender os problemas da
linguagem “não como uma teoria geral dos signos e das significações, mas como
uma teoria de caráter aplicado voltada para o estudo das mediações ocorridas entre
fenômenos diversificados” (MACHADO, p. 25). Um exemplo disso seria estudar o
cinema enquanto linguagem.
Desta forma a Escola de Tartu-Moscou se constituiu como um espaço de
discussões entre pesquisadores que procuravam compreender o papel da cultura na
linguagem, ou seja, a linguagem nas suas várias manifestações culturais. Na
Ainda
há índios.
(Gilberto Mendonça Teles)
boa e de bela simplicidade” / “a arrandar o leito das pedras”, como diz Gilberto
Mendonça Teles, na Liturgia mítica de retorno à sua terra prometida, ao seu tekohá1
Ainda há índios que movimentam num gesto de epifania os enredos sublimes
do bem. Isto se entende pela leitura dos signos de um vigor secreto - talvez a fé –
que é um dos motores do estar vivo. Talvez as colorações étnicas do Brasil, pois
somam 896,9 mil pessoas, de 305 etnias, que falam 274 línguas indígenas,
segundo dados do Censo 2010. Os não índios cresceram 19, 7 % e os indígenas
elevaram-se em 139% (BRASIL, 2012). Pois como pode seres que fazem parte de
uma semiosfera distinta conseguirem sobreviver a tantas traduções? Eis o manifesto
do rito mágico da natureza humana e da vida, a expandir-se na aura invisível de
uma busca pelo tempo perdido, de um longo caminho, o caminho do tekohá. Um
tekohá, transformado, revelado, mestiço. Tão humano quanto divino, mas
impenetrável se usarmos apenas a lente iluminada da racionalidade não índia.
Ainda há índios que a todo dia bradam pelas ruas de Dourados - Mato
Grosso do Sul: tem pão velho? Tem alguma coisa para dar? Ainda há índios, estima-
se em torno de 13 mil, na Reserva indígena de Dourados, nas Aldeias Jaguapiru, e
Bororó, que constitui uma organização social indígena colocada às margens da
sociedade. Ainda há índios, aldeados, favelados, ou disposto em guetos? Ao discutir
as guetificações, Wacquant (2008) afirma que que o gueto é artefato orgânico da
estrutura de arrumação do lixo em que os pobres não são mais úteis como ‘exército
de reserva de produção’ e se tornam, desta forma, consumidores incapazes, ou seja
inúteis. Solidifica-se um depreciamento dessas localidades, desses guetos, ou
dessas aldeias, somada à degradação de classe e da etnicidade que maculam seus
habitantes, com consequências próprias, diversas dos traços tribais, orais ou
corporais que colaboram veementemente para espiral da desagregação social,
cultural e do desprestígio simbólico.
O processo de aldeamento
Cada tribo que nós aldeamos é uma tribo
que degradamos, é a que por fim
destruímos. Se a natureza moral de um
povo fosse como uma tira de papel, onde se
escreve quanto nos vem à cabeça, então
seria tão fácil mudar-lhes os costumes,
1
Para eles, o Tekohá tem características físicas geográficas específicas. Não é qualquer terra. Ele se apresenta nitidamente
no espaço físico, é limitado por colinas, matas e campos. É algo divino, oferecido pelo Deus criador somente para eles
(LIMBERTI, 2009, p. 23).
2
Oficializada em 11 de outubro de 1977 pela Lei Complementar nº 31, sancionada pelo então presidente da República Ernesto
Geisel, a divisão de Mato Grosso e criação de Mato Grosso do Sul (GALVÃO, 2018).
3
O Serviço de Proteção aos Índios e Localização dos Trabalhadores Nacionais (SPILTN, a partir de 1918 apenas SPI) foi
criado, a 20 de junho de 1910, pelo Decreto nº 8.072, tendo por objetivo prestar assistência a todos os índios do território
nacional (BRAND, 2004).
(2015), é a única reconhecida por essa instituição. Tem como função articular,
coordenar e controlar a população de cada aldeia. Era escolhido pelos agentes
estatais (SPI e a sucessora FUNAI) e investidos de autoridade em ato com a
presença dos moradores da respectiva aldeia que iria liderar. Possui, também, poder
coercitivo que era exercido pelas polícias indígena (BRAND, 2004).
Desta forma a palavra e a figura do “Capitão” (legi-signo que deriva do latim,
passando ao baixo latim de caput a capitanis, ou o chefe ou o que comanda), não
existiam para os indígenas enquanto informação processada. A partir do momento
em que criaram a figura do “Capitão”, culturalizaram enquanto informação
sistematizada e com isso instituíram, também, a transformação do locus enunciativo,
num processo de filtragem, ou seja, houve uma modelização, uma gramaticalidade
como fenômeno organizador da linguagem e da cultura. Desta forma, houve a
semioticização, transformação do não texto em informação codificada. Ou seja, o
código “capitão”, que os indígenas não conheciam, passou a ser conhecido e a fazer
parte do seu mundo cotidiano, apesar da resistência inicial. Iremos passo a passo
descrever esse processo.
Feitas essas considerações acerca do locus passaremos às análises da
liderança imposta pela SPI, com amparo no arcabouço teórico da semiótica da
cultura.
p. 185). Isto porque o tekoha, unidade sociológica que pode reunir várias famílias
extensas, articula-se em torno da figura de um prestigiado líder político e/ou religioso
que por sua vez tem a capacidade de aglomerar em torno de si um significativo
número de núcleos residenciais de parentelas (PEREIRA, 2004).
Desta forma evidenciamos que a figura do “capitão”, inclusive codificado em
língua portuguesa, "capitão" vem do latim "caput" (cabeça) e foi usado desde a
Idade Média como a designação geral de chefe, sobretudo no âmbito militar. Não
fazia parte do grupo social dos indígenas que tinham nas figuras do Cacique e do
pajé a representação simbólica de lideranças. Tendo em mente que “não existe
nada morto de uma maneira absoluta: cada sentido terá sua festa de ressurreição”
(BAKHTIN, 1982 apud MACHADO, 2003, p. 161), pois uma cultura, assim como
suas manifestações não se encerram numa época precisa muito menos na
contemporaneidade que a potencializou temos que as lideranças indígenas apesar
de passarem por transformações culturais não abandonaram completamente suas
raízes ancestrais, tais como suas línguas naturais, ou seja, sistemas modelizantes
primários (as línguas indígenas vivas), que como exemplo de resistência
comprovam essa afirmação.
Em princípio o “capitão era designado ou pelo SPI ou depois pela FUNAI.
Consta que na atualidade a FUNAI4 não é mais a encarregada de nomear capitão
para aldeia. Essa proibição adveio através da portaria 491 deste órgão (BRASIL,
2008). Essa mudança decorreu das fortes resistências dos povos indígenas que não
reconheciam essa forma de comando por ser imposto e se chocar com a antiga
forma de liderança indígena. No entanto, eles não aboliram a figura do “capitão” e
sim resignificaram, pois hoje a escolha do capitão se dá através de eleições. Quando
um capitão é eleito este se dirige à FUNAI e a outros órgãos públicos em com intuito
de obter o reconhecimento por partes destas entidades (CAVALCANTE, 2015).
A comunidade, apesar de superada a nomeação compulsória dessa
liderança, a incorporou e a transformou, pois, o líder surge após um procedimento
eletivo comum nos processos de escolhas de representantes da cultura não-
indígena. Se cultura é memória do patrimônio vivencial da coletividade é um também
4
A Fundação Nacional do Índio – FUNAI é o órgão indigenista oficial do Estado brasileiro. Criada por meio da
Lei nº 5.371, de 5 de dezembro de 1967, vinculada ao Ministério da Justiça, é a coordenadora e principal
executora da política indigenista do Governo Federal. Sua missão institucional é proteger e promover os direitos
dos povos indígenas no Brasil (BRASIL, 1967).
5
Modelizar traduz, portanto, um esforço de compreensão da signicidade dos objetos culturais. Modelizar é
semioticizar (MACHADO, 2003, p. 163).
Considerações em processo
O lugar de qual partimos e mencionamos na epígrafe, nas palavras de Torchi
(2014) é um lugar de trânsito, lugar onde assim como se cruza a rua, se cruza a
linguagem e as culturas, são sujeitos embrenhados por essa mobilidade cultural, são
frutos de uma “cultura mosaica”. Logo, suas configurações encontram em constante
construções e reconfigurações.
É imprescindível mencionar a importância dos povos indígenas à cultura
brasileira, e especial à sul-mato-grossense. Disto emergiu a necessidade de
compreendermos os processos de transformação (de codificação) pelos quais
passam esses povos. Além disso, é salutar mencionar que é singular da cultura
Guarani/Kaiowá o surgimento de novas lideranças, assim como o é nas maiorias das
culturas existentes, configurando uma cultura dinâmica. Possuem a capacidade de
se transformar e se recriar fabricando novos conceitos formando novas memórias
coletivas. Sendo então portadoras de ‘inteligência coletiva’ que vai se moldando ao
ir e vir das dificuldades que lhes são impostas.
A codificação como mecanismo de geração de significado está imersa no
espaço cultural definido como semiosfera e suas semiosferas interiores (ou
subsemiosferas), específicas e particulares, como comunicação da cultura se
manifesta nas mais diversas representações dos grupos sociais, aqui no caso, nos
grupos sociais mestiços da cultura sul-mato-grossense analisamos o caso do código
“capitão” que inserido nesse espaço fronteiriço e cultural, na semiosfera sul-mato-
grossense que culturalizado, semiotizado, codificado na semiosfera e/ou sub-
semiosferas das aldeias indígenas a figura do “capitão” se abriu a nossa leitura
como uma das possibilidades de análise, em processo de travessia, colhida no fulgor
de uma visão inicial de leitura na linha da Semiótica da Cultura, que permanece
disponível e atenta ao outro, através de lógicas singulares, de realização e variação,
flutuantes e mestiças, que se inscrevem nos modos de organização do pensamento
e da leitura.
REFERÊNCIAS
CAVACANTE, Thiago Leandro Vieira. Lideranças indígenas e a luta pela terra como
expressão de organização sociopolítica Guarani e Kaiowá. Espaço Ameríndio. Porto
Alegre, v. 9, n. 1, p. 182-205, jan./jun. 2015. Disponível em:
seer.ufrgs.br/index.php/EspacoAmerindio/article/download/54382/34214. Acesso em
24 fev. 2019.
ISNARD, Ireno. Não dá mais para ser o que era antes. In: MEIHY, José Carlos Sebe
Bom. Canto de Morte Kaiowá: História oral de vida. São Paulo: Edições Loyola,
1991.
STURZA, E. R., Línguas de fronteira e política de línguas: uma história das ideias
linguísticas, Tese de Doutorado, Universidade Estadual de Campinas, Instituto de
Estudos da Linguagem. Campinas, SP, 2006.
1
Graduanda em Letras Português/Espanhol 8º semestre pela UFMS. Participante do Grupo de
Pesquisa Núcleo de Estudos Culturais Comparados – NECC – CNPq/UFMS. E-mail:
nathalia.f.soares@hotmail.com
2
Doutor em Literatura Comparada pela Universidade Federal de Minas Gerais (2003), professor da
UFMS,e Coordenador do Grupo de Pesquisa Núcleo de Estudos Culturais Comparados – NECC –
CNPq/UFMS e Pesquisador-visitante e Associado do PACC-UFRJ.E-mail: ecnolasco@uol.com.br
articulating ideas from / about marginalities. In this sense, we will use an eminently
bibliographical methodology based on the biographical border criticism engendered,
among others, by critics such as Walter Mignolo and Edgar Cézar Nolasco, with
exteriority and epistemic disobedience, Eneida Maria de Souza and Jacques Derrida
with friendship, memory and archive and Edward W Said with the concept of
intellectual. Therefore, in the wake of the theoretical framework, we intend to
delineate a biographical essay of the intellectual from its marginal intellectual Project.
Key words: Border, Border biographical criticism, culture.
Introdução
estou atrás
do despojamento mais inteiro
da simplicidade mais erma
da palavra mais recém-nascida
do inteiro mais despojado
do ermo mais simples
do nascimento a mais da palavra
CESAR. Estou atrás, p. 69.
Resultados e discussão
Ana Cristina dá o impulso desta procura, pois nos aproxima do fio biográfico
de uma das mais importantes intelectuais brasileiras e permite chegar às dobras e
desdobras dos seus caminhos e referências, compreender seus interesses, suas
escolhas, tramar uma identidade, mesmo que ela se desvencilhe e fuja em seguida.
No interior desse panorama, relacionam os vários lugares pelos quais essa viajante
passou e vem passando até hoje, as paixões, as amizades, o posicionamento
ideológico, que a fazem mulher, mãe, professora, intelectual e muito mais.
A leitura a qual ensejamos aqui se baseia em uma posição teórica que vai em
busca de (re)fazer os caminhos enunciativos do texto autobiográfico da autora
supracitada, em diálogo com nosso arquivo pessoal que emerge da exterioridade
mais precisamente alocada na fronteira-sul.
Para um discurso crítico que se situa nas fronteiras dos saberes críticos
conceitos dos centros como os que postulo aqui, saber que tal articulação
periférica deve passar por fora de qualquer dualidade crítica redutora é tão
importante quanto reconhecer que o surgimento e a articulação de uma
crítica pós-colonial na fronteira passa pelas “sensibilisades locales”
(MIGNOLO) ou sensibilidades biográficas de todos os envolvidos na ação.
Foi por priorizar isso que procurei agregar, ao recorte epistemológico pós-
colonial, uma abordagem crítica biográfica brasilera (Souza), bem como não
descartar a importância de uma delimitação territorial: a fronteira-Sul, de
onde erijo meu discurso, tem de fazer toda a diferença na articulação
epistemológica defendida. (NOLASCO, 2013, p. 15-16).
As áreas do conhecimento intelectual que emergem das margens e fronteiras
do país ainda sofrem um preconceito por parte da visada clássica proporcionada
pelo projeto moderno, ao estudarmos uma autora como Heloísa Buarque de
Hollanda aquilatados em uma opção descolonial a qual contempla as diferenças e
diversalidades culturais, revelamos nossas sensibilidades locais, o nosso eu que
habita a fronteira, exposto por Eneida Maria de Souza (2000):
Considerações finais
Referências:
ACHUGAR, Hugo. Planetas sem Boca. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2006.
HOLLANDA, Heloisa Buarque de. Cultura como recurso. Salvador: Ed. Secretária
de cultura do Estado da Bahia, Fundação Pedro Calmon, 2012.
SOUZA, Eneida Maria de. Crítica cult. 1. ed. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2007.
SOUZA, Eneida Maria de. Teorizar é metaforizar. In: CECHINEL, André (org.). O
lugar da teoria literária. 1. ed. Criciúma: Ediunesc, 2016, p. 217-224.
Resumo: Esta pesquisa teve como objetivo levantar e discutir as ações educativas
para saúde e segurança do trabalho, realizadas pelo Cerest (Centro de Referência
em Saúde do Trabalhador) de Corumbá-MS. O Cerest tem a finalidade de promover
ações que tragam melhoria das condições do trabalho e qualidade de vida dos
trabalhadores, tais ações ocorrem por meio da promoção, prevenção e vigilância dos
ambientes de trabalho. Foi realizada uma pesquisa qualitativa, descritiva, utilizando
a técnica de análise documental. A amostra consistiu dos arquivos e relatórios
elaborados pelo Cerest. Quanto aos resultados das ações, todos os relatórios
apontam a importância das ações educativas para a emancipação dos trabalhadores
frente aos problemas com segurança e saúde no trabalho. Mostra também que há
retorno por parte dos trabalhadores em melhorias implantadas nos ambientes de
trabalho após as inspeções, fiscalizações e/ou palestras.
Palavras Chave: Segurança do trabalho; Saúde no Trabalho; Educação para saúde
e segurança no trabalho.
Abstract: This research aimed to raise and discuss the educational actions for
health and safety at work, carried out by Cerest (Center of Reference in Worker's
Health) of Corumbá/MS/Brazil. The Cerest have the purpose of promoting actions
that bring improvement of working conditions and quality of life of workers, such
actions occur through the promotion, prevention and surveillance of work
environments. A qualitative, descriptive research was carried out using the
documentary analysis technique. The sample consisted of files and reports prepared
by Cerest. As for the results of the actions, all the reports point out the importance of
educational actions for the emancipation of workers in the face of problems with
safety and health at work. It also shows that there is a return on the part of the
workers in improvements implemented in the work environments after the inspections
and/or lectures.
Keywords: Workplace safety; Occupational Health; Education for health and safety
at work.
Resumen: Esta investigación tenía como objetivo plantear y discutir las acciones
educativas para la salud y seguridad del trabajo, realizadas por Cerest (Centro de
Referencia en la Salud del Trabajador) de Corumbá/MS/Brasil. Cerest tiene el
Graduado em Administração pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul e Técnico em
Segurança do Trabalho do Centro de Referência em Saúde do Trabalhador. E-mail:
dalton.seg_trab@hotmail.com
Professor Adjunto da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul. E-mail: fernando.t@ufms.br
Introdução
O Centro de Referência em Saúde do Trabalhador – Cerest, vem realizando
atividades de prevenção e fiscalização em empresas e demais organizações, com
vistas a promoção da saúde dos trabalhadores. Estas atividades são realizadas por
meio das denominadas “buscas ativas”, que são ações de investigação junto aos
trabalhadores acidentados e/ou doentes em função do trabalho. Observa-se que os
acidentes ocorrem com muita frequência no município de Corumbá-MS e região.
Diante das notificações verificadas no Cerest e os relatos dos trabalhadores
contadas nas fichas de notificações, percebe-se que a grande maioria desses casos
poderiam ter sido evitadas se houvesse sensibilização tanto dos empregadores
quanto dos empregados.
Segundo Sampaio (1998), a utilização de ações de prevenções dos riscos e a
disponibilização de informações e treinamentos das pessoas são relacionados a
redução significativa dos acidentes. Para Melo (2001), é necessário que se integre
os projetos de segurança no trabalho aos projetos operacionais das organizações.
A Administração é uma aliada indispensável na Segurança do Trabalho, pois,
propicia a gestão dos funcionários principalmente quanto ao treinamento, ferramenta
fundamental dentro das organizações que tem por objetivo esclarecer, e capacitar os
colaboradores.
Informar os trabalhadores sobre os riscos a que eles estão expostos em seus
respectivos ambientes de trabalho, as consequências de tais riscos para a sua
saúde e integridade física, bem como para sociedade e as maneiras de se prevenir
de tais riscos é uma ação preventiva que a legislação trabalhista pertinente exige
que sejam desenvolvidas pelas organizações/empresas.
Fundamentação Teórica
A segurança no trabalho é uma área que proporciona benefícios em todos os
setores da sociedade, pois, trabalha com prevenção e isso evita tanto prejuízos
particulares (acidentes e doenças ou óbito), quanto prejuízos coletivos, o aumento
de dependentes do INSS, hospitais superlotados, deficiência de mão de obra,
indenizações trabalhistas, acidentes ambientais e outros.
A educação no trabalho é poderosa ferramenta que, se bem empregada,
insere na organização todo o conhecimento necessário para que os funcionários,
independente do cargo que ocupem: diretor-presidente ou auxiliar de serviços
gerais, tenham condições de identificar os riscos presentes nas atividades laborais e
a forma de neutralizar/eliminar tais riscos no âmbito de sua atribuição.
Para isso a Educação no trabalho precisa estar abastecida de uma rotina de
treinamentos, palestras, capacitações e cursos que enriqueçam o capital intelectual
da empresa e se possível até implantar uma cultura organizacional com ênfase em
SSMAQ (Saúde, Segurança, Meio Ambiente e Qualidade).
Dessa forma todos ganhariam, uma vez que as ações educativas deixariam
de ser corretivas, pois as empresas só fazem ações após as ocorrências de
acidentes, e passariam ser em sua grande maioria de caráter preventivo.
Após verificado os fundamentos teóricos sobre Segurança e Saúde do
Trabalho utilizados nesta pesquisa, a próxima seção versará sobre o tema Educação
no Trabalho, proporcionando vislumbrar o principal tema objeto desta pesquisa.
Educação no trabalho
O trabalho “é a condição indispensável da existência do homem, uma
necessidade eterna, o mediador da circulação material entre o homem e a natureza”
(MARX apud RIBEIRO, 2009, p. 50).
O trabalho pode ser emancipador, mas pode também ser um instrumento que
submete e até mesmo escraviza o ser humano. O trabalho pode ser responsável por
gerar prazer para alguns, mas também pode ser responsável por gerar pesadelo e
sofrimento para outros. E tudo isso independentemente da qualidade do trabalho ou
mesmo do seu valor social.
De maneira geral, entendemos a educação como uma ação humana
intencional com o objetivo de transmitir um conjunto específico de conhecimentos a
indivíduos que supostamente não os têm (RIBEIRO, 2009, p. 49).
De acordo com Paulo Freire “a educação tem caráter permanente. Não há
seres educados e não educados, estamos todos nos educando. Existem graus de
educação, mas estes não são absolutos” (OLIVEIRA, 2009).
Ademais, o entendimento dos modos de vida dos vários e diferentes grupos
sociais como fatores associados à qualidade de vida, especialmente no
âmbito de específicas áreas geográficas, demandam uma maior integração
e rearticulação entre a educação e saúde e as estratégias da promoção da
saúde com esforços multidisciplinares e multissetoriais (PEREIRA apud
FAGUNDES; OLIVEIRA, 2001, p. 122).
Assim, Educação em Saúde do Trabalhador é entendida como a construção
partilhada de saberes e práticas, pela comunicação/interação entre usuários e
servidores acerca do processo saúde/doença do trabalhador, objetivando “preparar
pessoas, em diferentes contextos socioculturais, para serem capazes de maneira
consciente de decidir as suas ações, em direção a uma melhor saúde pessoal,
familiar e coletiva” (PEREIRA, 1995 apud FAGUNDES; OLIVEIRA, 2001, p. 125).
A modalidade de ensino que mais surte efeito quando se trata de ações
educativas em empresas é a modalidade não formal, pois, ela se dirige a um público
Metodologia
A pesquisa utilizada foi do tipo qualitativa e descritiva a qual abordou um
estudo de atividades realizadas no Cerest, a respeito das ações educativas bem
como seus resultados.
A pesquisa qualitativa permite analisar dados com maior profundidade, sem
utilizar-se de tratamentos estatísticos, apoiando-se em documentos, como atas,
relatórios, documentos etc. (CRESWELL, 2010).
A pesquisa documental corrobora com o método utilizado neste trabalho, para
tal foram utilizados relatórios elaborados a partir de fiscalizações realizadas pelo
órgão que contém dados que são mantidos em sigilo e só foram liberados para
pesquisa pela coordenação do Cerest desde que não fosse revelado nenhum nome
nem de pessoas nem de empresas.
Em relação à utilização da pesquisa descritiva,
As pesquisas descritivas são, juntamente com as exploratórias, as
que habitualmente realizam os pesquisadores sociais preocupados
com a atuação prática. São também as mais solicitadas por
organizações como instituições educacionais, empresas comerciais,
partidos políticos etc. (GIL, 2008, p. 28).
Justamente a descrição que busca os resultados da sinergia entre teoria e
práticas educativas em saúde e segurança que o Cerest promove a comunidade
trabalhadora e as empresas, possibilitando associar o conhecimento a realidade do
trabalho e suas vantagens.
Com bases em artigos e livros citados na fundamentação teórica, que
demonstram a eficiência da educação como princípio emancipador na transmissão
de conhecimentos, em questão de saúde e segurança do trabalho.
A pesquisa documental foram relatórios elaborados pelo Cerest que
continham casos de agravos acidentes e ou doenças que vieram acometer os
trabalhadores. E para a melhora desse quadro apenas as ações educativas que
surtem e efeitos.
De acordo com Gil (1999) a pesquisa documental permite investigar
informações escritas sem tratamentos analíticos. Para tanto, a amostra de dados
coletados foi referente aos documentos e relatórios de atividades do Cerest no ano
2019, em especial o relatório quadrimestral de atividades.
Resultados
Contextualização da organização
O Centro de Referência Regional em Saúde do Trabalhador que tem por
finalidade congregar/unificar os esforços dos principais executores com interface na
saúde do trabalhador, tendo como objetivo atuar prevenindo, controlando e
enfrentando, de forma estratégica, integrada e eficiente os problemas de saúde
coletiva como as mortes, acidentes e doenças relacionados com o trabalho.
De acordo com o artigo 7º da 2.728, de 11 de novembro de 2009, expedida
pelo Gabinete do Ministério da Saúde, que Dispõe sobre a Rede Nacional de
Atenção Integral à Saúde do Trabalhador: “o CEREST tem por função dar subsídio
técnico para o SUS, nas ações de promoção, prevenção, vigilância, diagnóstico,
tratamento, e reabilitação em saúde dos trabalhadores urbanos e rurais”.
Cabe ao Cerest promover a integração da rede de serviços do SUS assim
como suas vigilâncias e gestão, na incorporação da Saúde do Trabalhador em sua
atuação rotineira. Suas atribuições incluem apoiar investigações de maior
complexidade, assessorar a realização de convênios de cooperação técnica,
subsidiar a formulação de políticas públicas, fortalecerem a articulação entre a
atenção básica, de média e alta complexidade para identificar e atender acidentes e
agravos relacionados ao trabalho, em especial, mas não exclusivamente, aqueles
contidos na lista de Doenças Relacionadas ao Trabalho ou de notificação
compulsória.
No Estado de Mato Grosso do Sul o Cerest está dividido em estadual com
sede em Campo Grande, e os regionais que estão nas cidades de Corumbá e
Dourados sendo que estes últimos atendem as cidades próximas denominadas de
microrregiões.
A administração deste órgão compete à prefeitura local, sendo que quem
transfere essa responsabilidade é o Cerest estadual.
É fundamental que se tenha definida as estratégias de ações realizadas pela
equipe para que todos os casos de acidentes/doenças que chegam ao Cerest
tenham tratativa de forma eficiente sem que uma equipe atrapalhe o trabalho da
outra. Nesse caso, o uso dos recursos tais como veículo e data show, deve ser
avisado com antecedência para que haja a programação das respectivas atividades.
Estas atividades consistem em inspeções/palestras nas organizações,
apuração de denúncias, realização de busca ativas, elaboração de relatórios em
função das inspeções etc.
O Cerest não possui poder de punir, quando encontra irregularidades durante
as fiscalizações, a equipe elabora um relatório e encaminha para a gerência e esta,
por sua vez, encaminha a Agência do Ministério do Trabalho local que, se julgar
necessário, aciona o Ministério Público do Trabalho.
O que o Cerest pode conceder dependendo da situação é o TAC, Termo de
Ajuste de Conduta, que é uma notificação com prazo que varia de quinze a trinta
dias para que a empresa fiscalizada se adéque ao que estiver estipulado na
notificação.
O Cerest aqui em Corumbá surgiu em 2004 inicialmente como NUREST
(Núcleo de Saúde do trabalhador), administrado pela Prefeitura Municipal,
funcionava em uma sala no Posto de Saúde da Ladeira, este situado na Ladeira
Cunha e Cruz na área central da cidade.
Posteriormente em 2007 passou de Núcleo a Centro de Referência em Saúde
do Trabalhador criado pela Portaria Ministerial 1.679/2002, que tem por finalidade
ampliar a Rede Nacional de Atenção à Saúde dos Trabalhadores (RENAST) esta
criada pela Portaria 2.728/2009, citada anteriormente, integrando os serviços do
Sistema Único de Saúde (SUS), voltados a Assistência e a Vigilância, com sede
própria.
Desde então, vem passando por várias gestões, sempre auxiliando tanto
empresas como trabalhadores, levando ações que envolvam a conscientização de
ambos na questão da saúde laboral, a identificação e prevenção dos riscos no
trabalho, trabalho infantil, assédio moral, os direitos que amparam os trabalhadores,
caminhadas em dias alusivos ao trabalho e todo conhecimento que os profissionais
do Cerest recebem em capacitações, cursos, encontros, congressos e outros, são
utilizados em suas ações.
Atualmente o Cerest, por meio das suas ações nas empresas, vem fazendo o
mapeamento do parque industrial da cidade, no que toca à saúde e segurança ao
trabalhador, desta forma, as futuras ações de sensibilização ficarão mais práticas,
pois, será possível ter a informação atualizada das atividades por região da cidade,
por função e outros.
A rotina do Cerest se baseia em receber os comunicados da Rede Sentinela,
que são órgãos responsáveis por fazer a triagem dos casos de acidentes/doenças
relacionadas ao trabalho, sendo estas: Pronto Socorro, Unidades de Pronto
Atendimentos (Upa), Hospitais, Centro Especializado em Reabilitação (Cer),
Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae), Centros de Atenção
Psicossociais (Caps), Fisioterapia Municipal, Ambulatório Municipal e Postos de
Saúde.
A partir destes, o Cerest realiza as buscas ativas, gerando um relatório que é
lançada no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan), interligado ao
Cerest estadual, e este, ao Ministério da Saúde.
Os problemas de saúde e segurança que o Cerest atua são denominados de
Agravos de Notificação Compulsória estabelecidos pelo Sinan, sendo:
1. Perda Auditiva Induzida por Ruído
2. Dermatoses Ocupacionais
3. Pneumoconioses
4. Ler-Dort
5. Câncer Relacionado ao Trabalho
6. Acidente de Trabalho com Exposição à Material Biológico
7. Transtornos Mentais Relacionados ao Trabalho
8. Acidente de Trabalho Fatal
9. Acidente de Trabalho com Mutilações
10. Acidente de Trabalho em Crianças e Adolescentes
11. Intoxicação Exógena
O rol de serviços executados pelo Cerest é:
1. Atendimento e orientação ao público
2. Recebimento de notificações da rede sentinela
3. Realização de busca ativas
4. Alimentação do sistema Sinam com o resultado das buscas ativas
5. Visitas e inspeções/fiscalizações nas empresas
6. Palestras nas empresas e órgãos públicos
7. Eventos como caminhadas em datas alusivas à saúde e segurança do
trabalho
Cerest, ou as ações educativas desenvolvidas por este órgão têm surtido efeito
positivo na conscientização tanto das empresas quanto dos empregados e ambos
cumpridos de forma consciente as suas respectivas obrigações de segurança
quando da execução das atividades.
Outro serviço é atender trabalhadores que vão ao Cerest em busca de
informações, estes são recepcionados por qualquer funcionário e imediatamente
encaminhados ao técnico de segurança do trabalho, que atende estas pessoas e
registra em livro de ata as informações pertinentes, tais como: a atividade que
desempenham; a empresa que trabalham; o fato ocorrido se acidente ou doença
profissional ou do trabalho ou transtorno mental, as condições de trabalho e o
responsável pela empresa, posteriormente os encaminha a (o) médico (a) ou
psicóloga, diante do diagnóstico se confirmado, o trabalhador é notificado
imediatamente na ficha do Sinam e tais informações são levadas ao coordenador e
este junto com a equipe define as ações a serem tomadas em relação ao caso.
Em seguida o Cerest entra em contato com a empresa explica a atuação do
mesmo, expõe a situação, houve a versão da empresa, realiza
inspeção/fiscalização, elabora um relatório com base no que é encontrado e oferece
os serviços de atendimento médico, psicológico e de fisioterapia além de palestras
pertinente a questão envolvida, sejam estas, saúde e segurança do trabalho,
assédio moral, assédio sexual, trabalho infantil, ergonomia, riscos no ambiente de
trabalho, medidas preventivas contra acidentes e doenças e outros.
Para que estas ações ocorram é fundamental o planejamento por parte de
todos da equipe, pois, devido à demanda em uma semana tem que atender até três
empresas e mais a rotina de atendimento no prédio do Cerest.
No caso dos transtornos mentais os dados não são exatos, pois, neste tipo de
agravo ocorre a subnotificação, uma vez que é de conhecimento deste órgão, muitos
casos, em que os pacientes buscam ou são encaminhados para tratamento
particular e isso não chega ao conhecimento deste órgão.
Outra importante atividade executada pelo órgão é o matriciamento. Trata-se
da capacitação de unidades de saúde de Corumbá e Ladário para que estas
unidades possam adequadamente identificar e notificar sobre vítimas de acidentes
ou doenças do trabalho, desta forma a rede sentinela fica ampliada. Este, porém, é
considerado um trabalho desafiante pela equipe do Cerest, pois, são muitas as
unidades a serem capacitadas.
Considerações Finais
Como observação geral deste trabalho a ponderação maior é que a questão
da segurança e saúde do trabalhador, em se falando em região (Corumbá e
Ladário), não é levada a critérios de preocupação como deveria por parte das
empresas, isso independente do porte destas.
Por mais que se tenha avanços nas tecnologias na área da prevenção
observa-se também o descaso até mesmo entre autônomos. A razão demonstra que
o caminho mais lógico para que se tenha êxito na redução de acidentes e doenças
do trabalho é a educação somada à experimentação, a teórica seguida da prática no
ambiente de trabalho.
Neste ponto, é necessário empenhar todo o esforço possível por parte das
organizações e o comprometimento dos colaboradores em querer realmente que a
segurança do trabalho funcione, proporcionando a ambos, benefícios, tais como
aumento do lucro, redução de perda tempo e perda de mão de obra e qualidade de
vida para os funcionários.
Referências
BORGES, Luiz Henrique; KIEFER, Célia. A teoria dos conteúdos críticos e sociais e
psicodrama: uma articulação possível para a educação em saúde do trabalhador. In:
GIL, Antônio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. 5ed. São Paulo:
Atlas, 1999.
Abstract: The article presents the evolution of relations between Brazil and
Paraguay focusing on the formation of the border line and border area (frontier)
between what is now the state of “Mato Grosso do Sul” in Brazil and Paraguay, and
aims to demonstrate that such relations increase gradually and continuously in each
historic period, with borders playing a prime role. Each section is equivalent to a
representative, defining historic period that shaped the events and dynamics
occurring there. Interaction between the two countries ranged from an initial hostile
stage, with territorial dispute strategies, passing to colonization, and now are, since
the end of Stroessner era and the advent of Mercosur, governed by neoliberal logic
Especialista em Construção Civil e Bacharel em Arquitetura e Urbanismo. Professor do curso de
Arquitetura e Urbanismo no câmpus Jardim do Instituto Federal de Mato Grosso do Sul. Mestrando do
Programa de Pós-Graduação em Fronteiras e Direitos Humanos da UFGD. E-mail:
arqrobsonfilho@gmail.com
Doutor em Geografia. Professor Visitante do Programa de Pós-Graduação em Fronteiras e Direitos
Humanos da UFGD. E-mail: camilofilho@ufgd.edu.br
Doutor em Geografia. Professor do Programa de Pós-Graduação em Fronteiras e Direitos
Humanos da UFGD. E-mail: tito.ufms@gmail.com
Corumbá/MS, Brasil. 7 a 9 de outubro de 2019. ISSN . 2178-2245
376
Resumo: A Venezuela durante boa parte do século XX era atrativa e chegou a ser
um local de recebimento de migrantes. Não obstante, na segunda década do século
XXI teve seu perfil migratório totalmente revertido por conta de uma crise econômica
causada pela falência na politica venezuelana. A diáspora venezuelana apresenta a
uma dinâmica única onde observa-se a fluidez e a imprevisibilidade das rotas.
Observou-se a tentativa por parte do Estado de inviabilizar a integração local que
seria a alternativa douradora proposta, optando-se pela interiorização deste grupo
que primeiramente foram reconhecidos como acolhidos humanitários temporários,
mas essa definição para o ACNUR não seria a mais adequada aos migrantes
venezuelanos, pois eles são refugiados que se deslocam devido a grave e
generalizada crise econômica. O presente trabalho consiste em uma pesquisa
interdisciplinar, sob a ótica das Relações Internacionais e do Direito, com a
abordagem hipotético-dedutiva através da analise bibliográfica e documental.
Palavras-Chaves: Venezuelanos; Refugiados; ACNUR; CONARE; Acolhida.
Abstract: Venezuela for much of the twentieth century was attractive and became a
place of reception for migrants. Nevertheless, in the second decade of the 21st
century its migratory profile was completely reversed due to an economic crisis
caused by the failure of Venezuelan politics. The Venezuelan Diaspora presents a
unique dynamic where the fluidity and unpredictability of the routes are observed.
The attempt was made by the State to make local integration unfeasible, which would
be the proposed gilding alternative, opting for the interiorization of this group that
were first recognized as temporary humanitarian welcome, but this definition for
1
Mestranda em Fronteiras e Direitos Humanos na Universidade Federal da Grande Dourados.
Bacharela em Direito pelo Centro Universitário da Grande Dourados (2018). Conselheiro local e
Tutora do Curso de Português para Estrangeiros (Nível A1) - AFS Intercultura Brasil. Colaboradora da
Cátedra Sérgio Vieira de Mello (CSVM) vinculada a Faculdade de Direito e Relações Internacionais
da UFGD. E-mail: franciellevascottofolle@hotmail.com.
Mestranda no Programa de Pós-Graduação stricto sensu em Fronteiras e Direitos Humanos da
2
UNHCR would not be the most appropriate for migrants. Venezuelans, as they are
refugees who move due to the severe and widespread economic crisis. The present
work consists of an interdisciplinary research, from the perspective of International
Relations and Law, with the hypothetical-deductive approach through bibliographical
and documentary analysis.
Keywords: Venezuelans; Refugees; UNHCR; CONARE; Welcomed.
Resumen: Venezuela durante gran parte del siglo XX fue atractiva y se convirtió en
un lugar de recepción para los migrantes. Sin embargo, en la segunda década del
siglo XXI su perfil migratorio se revirtió por completo debido a una crisis económica
causada por el fracaso de la política venezolana. La diáspora venezolana presenta
una dinámica única donde se observa la fluidez e imprevisibilidad de las rutas. El
Estado intentó hacer la integración local inviable, que sería la alternativa dorada
propuesta, y la interiorización de este grupo se reconoció por primera vez como
bienvenida humanitaria temporal, pero esta definición de ACNUR no sería la más
apropiada para los migrantes. Venezolanos, ya que son refugiados que se mudan
debido a la grave y generalizada crisis económica. El presente trabajo consiste en
una investigación interdisciplinaria, desde la perspectiva de las Relaciones
Internacionales y el Derecho, con el enfoque hipotético-deductivo a través del
análisis bibliográfico y documental.
Palabras llave: Venezolanos; Refugiados; ACNUR CONARE; Bienvenido.
Resumo: O permanente quadro de pobreza estrutural vigente no Haiti fez com que
milhões de haitianos buscassem na migração alternativas para a melhoria das
condições de vida. A partir de 2010, alguns países da América do Sul passaram a
fazer parte dos destinos dos migrantes haitianos que, por meio de redes sociais,
conectam os vários espaços dessa antiga e intensa mobilidade. Entretanto, as
respostas à migração haitiana na América do Sul tem sido a implementação de
políticas restritivas por parte dos governos dos países de destino e de trânsito.
Diante disso, o presente artigo objetiva analisar a recente mobilidade internacional
de haitianos que abandonam o Chile e ingressam de maneira indocumentada no
Brasil através do município de Corumbá, no estado do Mato Grosso do Sul.
Palavras-chave: Haitianos; Migração indocumentada; Chile; Bolívia; Fronteira.
Abstract: The permanent framework of structural poverty in Haiti has led millions of
Haitians to seek alternatives to improving living conditions in migration. As of 2010,
some South American countries have become part of the destiny of Haitian migrants
who, through social networks, connect the various spaces of this ancient and intense
mobility. However, the responses to Haitian migration in South America have been
the implementation of restrictive policies by the governments of countries of
destination and transit. Therefore, the present article aims to analyze the recent
international mobility of Haitians who leave Chile and enter undocumented in Brazil
through the municipality of Corumbá, in the state of Mato Grosso do Sul.
Key words: Haitians; Undocumented migration; Chile; Bolivia; Border.
Professor do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Piauí e doutorando em
Geografia pela Universidade Federal da Grande Dourados. E-mail: alexdias@ifpi.edu.br
1
Mestre em Desenvolvimento Local. Graduada em Geografia (UEMS) e em Direito (UCDB).
Professora da Educação Básica e Advogada. E-mail: oshiro.gabriela@hotmail.com
2
Bacharel em Direito pela Universidade Católica Dom Bosco. E-mail: livio_garcia@hotmail.com
3
Bacharel em direito, doutorando em Direito (USP), mestre em Desenvolvimento Local (UCDB),
especialização em Direito Processual Civil (INPG), professor de Direito (UEMS). Email:
professor.lucioflavio@gmail.com
Abstract: Since the dawn of humanity, the situation of refugees has been a tragic
phenomenon that plagues human existence. There are many reasons that involve
such a problem: race, belief, political opinion, among others. Today, such flows have
intensified so much that the UN indicates that since World War II there have not been
so many displaced people around the world. Thus, the present study aims to present
general data on international immigration in Brazil, focusing on three of the main
refugee groups, which have entered the Brazilian territory in greater numbers,
namely: Bolivians, Venezuelans and Haitians. This is a qualitative research and
literature review. It is understood that merely granting refugee status does not heal
the violence, xenophobia, unemployment and murders of which these peoples have
been victims.
Key words: Refugees; Brazilian State; human rights.
Introdução
Neste sentido, o presente estudo tem por intuito apresentar dados gerais
sobre a imigração internacional no Brasil, de grupos de pessoas em busca de
condições de vida mais digna, trabalho e renda para sobrevivência pessoal e
familiar, melhores condições humanas do que possuem em seus países de origem,
principalmente, com foco em três dos principais grupos de refugiados, que tem
adentrado em maior número, pelas fronteiras, ao território brasileiro, que são:
bolivianos, venezuelanos e haitianos.
No presente século, mais uma vez a questão dos refugiados está em voga,
haja vista o aumento de conflitos no Oriente Médio e a migração de fugitivos de
governos opressores e de verdadeiras guerras aumentaram. Juntamente com o
fluxo de pessoas, houve o aumento do medo e preconceito destes novos habitantes,
como por exemplo, em relação a população mulçumana.
Nota-se que no passado, entre 1998 e 2011, o Brasil não era o destino
preferencial entre os refugiados, pois os números caíram para 180 solicitações de
refúgio no último ano. Em 2012 esse quadro começa a mudar tendo em vista a
quantidade de sírios que adentraram o país em fuga da guerra civil que assola o
país. Apenas em fevereiro de 2015 foram mais de 7 mil concessões a pessoas de
mais de 80 nacionalidades diferentes. E a curva crescente continua pois em julho de
2016 foram cerca de 25 mil pedidos que chegaram até o CONARE e estima-se que
existam em torno de 30 mil haitianos vivendo no Brasil.
país como se fossem, ou seja, solicitando refúgio e o CONARE acaba por conceder
o refúgio.
Bolivianos
São eles jovens de ambos os sexos, em sua maioria solteiros que se atraem
por oportunidades de empregos oferecidos por coreanos, brasileiros e até mesmo
outros bolivianos que já se encontram estabelecidos. O setor têxtil é o que mais
emprega essas pessoas que se atraem por promessas de salário, alimentação e
moradia melhores do que encontram em seu país de origem. As entradas para o
Brasil são pelas fronteiras de Corumbá- MS, Cáceres – MT e Guarajá Mirim – RO.
Buscando criar uma rede de auxílio aos imigrantes bolivianos e evitar que se
mantenham nessas condições, no ano de 2012 foi criada a Cooperativa de
Empreendedores Bolivianos e Imigrantes em Vestuários e Confecções. Desde então
o governo vem trabalhando juntamente com a Cooperativa e já libertou mais de 90
pessoas desses trabalhos abusivos. Hoje ocupam outras funções como por exemplo
a construção civil e serviços gerais.
A luta desse povo no Brasil segue contra o discurso de ódio, contra o racismo
e xenofobia que já fez e ainda faz muitas vítimas. São conhecidos como “ladrões de
emprego” e tachados de trazerem drogas para o país. Ao lado deles nessa batalha
estão o governo do estado de São Paulo com suas políticas públicas de
conscientização, o CONARE e os direitos humanos.
Venezuelanos
A pesquisa foi feita com 650 venezuelanos em Roraima – estado que faz
fronteira com o país latino-maericano. A metodologia foi preparada pelo
Observatório das Migrações Internacionais (OBMigra) e a execução foi da
Cátedra Sérgio Vieira de Melo, da Universidade Federal de Roraima.
Entre os entrevistados, 82% eram classificados como refugiados. A maioria,
segundo a pasta é formada por homens jovens, com idades entre 20 e 39
anos. Entre os refugiados, 77% apontam que deixaram a Venezuela por
causa da crise econômica e política que afeta o país (MARQUES, 2017,
s.p.).
A situação econômica gerou um caos tão grande que falta a essas pessoas
recursos alimentício básicos como leite, farinha, ovos, papel higiênico, sabão entre
outros. Assim a população não encontra outra saída além de se evadir do país e a
fronteira seca que o país faz com o Brasil muito auxilia na trajetória de saída.
Haitianos
É sabido que no ano de 2010, o Haiti sofreu uma catástrofe natural, um abalo
sísmico de proporções inestimáveis. A população foi quase toda “devastada”, um
impacto inestimável para a população haitiana.
O Brasil nesse quadro desenvolve um papel social acolhedor para com essas
pessoas oferecendo asilo, por esse motivo os haitianos possuem um tipo de visto
diferenciado, sendo este o visto humanitário.
imigração para o Brasil foi o terremoto ocorrido em 2010 de grau 7,3 na escala
Richter.
A cada vez que novos desafios são lançados pelo direito internacional o
conceito de refugiado é questionado tendo em vista a grande massa de pessoas que
vem se deslocando ao redor do mundo, seja por questões de caos político,
catástrofes naturais ou razões particulares de migração que por muitas vezes fazem
com que essas pessoas não se enquadrem no conceito formal de refugiado, mas
são orientadas a solicitar refúgio para que recebam as benesses desta classe.
Fica claro que o conceito de refugiado não pode ser algo estático e deve ser
flexibilizado a medida que a realidade atual vai mudando, pois se assim não for e
considerando a evolução histórico-cultural e social chegara o momento que esse
conceito se tornará obsoleto e inutilizado ou utilizado de forma errada.
9.474/97, o Estatuto dos Refugiados. Faz-se mister mencionar que para a maioria
dos autores, dentre eles Almeida (2001), a legislação brasileira é uma das mais
“avançadas e generosas” do continente americano, sobretudo, no que diz respeito
ao Direito Internacional dos Refugiados, uma vez que amplia o conceito de
refugiado, no artigo 1º, inciso III, da Lei nº 9.474/97: “Será reconhecido como
refugiado todo indivíduo que: [...] III – devido à grave e generalizada violação de
direitos humanos, é obrigado a deixar seu país de nacionalidade para buscar refúgio
em outro país”.
4
“Qualidade intrínseca e distintiva de cada ser humano que o faz merecedor do mesmo respeito e
consideração por parte do Estado e da comunidade, implicando, neste sentido, um complexo de
direitos e deveres fundamentais que assegurem a pessoa tanto contra todo e qualquer ato de cunho
degradante e desumano, como venham a lhe garantir as condições existenciais mínimas para uma
vida saudável, além de propiciar e promover sua participação ativa e co-responsável nos destinos da
própria existência e da vida em comunhão com os demais seres humanos.” (SARLET, 2002, p. 62).
5
“Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios
e do Distrito Federal, constituise em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: (...) III -
a dignidade da pessoa humana;” (BRASIL, 1988)
Considerações Finais
Porém, por outro lado, essa legislação peca no sentido de garantir a inserção
dessas pessoas na sociedade e no mercado de trabalho o que leva muitos deles a
aceitarem trabalhos abusivos e se sujeitarem a viver em condições análogas a de
escravos como acontece com os bolivianos que entram pelo estado de Mato Grosso
do Sul e dirigem-se até São Paulo para trabalhar em empresas de tecelagem e por
não terem moradia na cidade aceitam morar no emprego e receber menos devido
aos descontos de agua, luz e aluguel das máquinas de costura. O que sobra é tão
pouco que não conseguem sair desse ciclo.
É possível notar que existe grande união entre os refugiados e que aqueles já
estão no país busca criar mecanismos para auxiliar os recém-chegados. Exemplo
disso é a criação da Cooperativa de Empreendedores Bolivianos e Imigrantes em
Vestuários e Confecções, no ano de 2012 que foi instituída com o objetivo de livrar
os refugiados bolivianos das condições abusivas de trabalho supracitadas.
A maior crítica que se encontra neste tema é que por mais que exista uma lei
específica que abrange os refugiados, o Brasil precisa urgentemente aprimorar suas
políticas públicas e sociais para resolver este problema que só vem aumentando
junto com a quantidade de pessoas que vem buscar refúgio.
Referências
BISERRA, Vitor Florêncio Ramos. Atual Situação dos Refugiados no Brasil. 2016.
66 fls. Trabalho de Conclusão de Curso. Centro Universitário Tabosa de Almeida,
Caruaru. Disponível em:
<http://repositorio.asces.edu.br/bitstream/123456789/679/1/TCC%20-
%20Direito%20dos%20Refugiados%20no%20Brasil%20%281%29.pdf>. Acesso em:
05 fev. 2018.
Resumo: Este artigo tem por objetivo demonstrar as formas como mulheres
imigrantes em fronteira se articulam e desenvolvem meios de sobrevivência. Isso,
desde redes familiares a relações de vizinhança. Nossa pesquisa foi realizada no
Bairro Popular Nova, em Corumbá, MS, na fronteira Brasil-Bolívia. Fizemos uso de
procedimentos metodológicos que pudessem dar conta de uma realidade que as
fontes documentais tradicionalmente utilizadas, como protocolos, ofícios, jornais,
etc., não atingem. Assim, o uso de uma abrangente revisão bibliográfica, bem como
a aplicação de técnicas da História Oral, nos possibilitou verificar o quanto essas
imigrantes tiveram a fronteira como espaço de socializações, conflitos e,
principalmente através das práticas do comércio, garantias de suas sobrevivências e
de seus familiares.
Palavras-chave: Fronteira; Feminização da imigração; solidariedade; Corumbá;
sobrevivência.
Abstract: This article aims to demonstrate the ways immigrant women on borders
articulate themselves and develop livelihood. That going from family networks to
neighborhood relations. Our research was executed in the Popular Nova
neighborhood area, in the city of Corumbá, MS, located at the Brazil-Bolivia border.
We used methodological procedures that could handle a reality where the
traditionally used documentary sources such as protocols, office notes, newspapers,
etc., could not reach. Thus, the use of a vast bibliographical review in addition to the
employment of Oral History techniques, made it possible for us to verify how much
these immigrants have had the border as a space of socialization, conflicts and,
primarily through commerce practice, guaranties of their survival as well as their
families.
Key words: Border; feminization of Immigration; Solidarity; Corumbá; Survival.
Docente na Graduação e no Programa de Pós-Graduação Mestrado em Estudos Fronteiriços
CPAN/UFMS. Doutor em História Social, E-mail: marco.cpan@gmail.com
Docente dos Programas de Pós-Graduação em: Administração, Ciências Contábeis e Estudos
Fronteiriços na Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, E-mail: miltmari@terra.com.br
Professora de História da Rede Pública de Ensino Estadual, Mestre em Estudos Fronteiriços,
CPAN/UFMS, E-mail: jessicaoliveira.hist@gmail.com
Corumbá/MS, Brasil. 7 a 9 de outubro de 2019. ISSN . 2178-2245
399
Resumen: Este artículo tiene como objetivo demostrar las formas en que las
mujeres inmigrantes fronterizas se articulan y desarrollan medios de vida. Esto,
desde redes familiares hasta relaciones vecinales. Nuestra investigación se realizó
en el Bairro Popular Nova, en Corumbá, MS, en la frontera entre Brasil y Bolivia.
Hicimos uso de procedimientos metodológicos que podrían dar cuenta de una
realidad que las fuentes documentales utilizadas tradicionalmente, como protocolos,
manualidades, periódicos, etc., no alcanzan. Por lo tanto, el uso de una revisión
bibliográfica exhaustiva, así como la aplicación de técnicas de historia oral, nos
permitió verificar cuánto estos inmigrantes tenían la frontera como un espacio de
socialización, conflicto y, principalmente a través de prácticas comerciales, garantías
de su supervivencia y de los miembros de tu familia.
Palabras Clave: Frontera; feminización de la inmigración; Solidaridad; Corumbá;
supervivencia.
Introdução
Este artigo tem por objetivo demonstrar as formas como mulheres imigrantes
em fronteira se articulam e desenvolvem meios de sobrevivência. Isso, desde redes
familiares a relações de vizinhança. Nossa pesquisa foi realizada no Bairro Popular
Nova, em Corumbá, MS, na fronteira Brasil-Bolívia. Fizemos uso de procedimentos
metodológicos que pudessem dar conta de uma realidade que as fontes
documentais tradicionalmente utilizadas, como protocolos, ofícios, jornais, etc., não
atingem. Assim, o uso de uma abrangente revisão bibliográfica, bem como a
aplicação de técnicas da História Oral, nos possibilitou verificar o quanto essas
imigrantes tiveram a fronteira como espaço de socializações, conflitos e,
principalmente através das práticas do comércio, garantias de suas sobrevivências e
de seus familiares.
espaços mais tensos em todo o processo migratório, pois esses grupos se deparam
com os impasses de autorização de ingresso, intrínsecos ao seu movimento.
de vista administrativo com impacto nas formas como as sociedades desses lugares
pensam e reagem a esse fenômeno.
Conforme nos ensinou Sayad, o espaço percorrido pelo imigrante deve ser
estudado de maneira que o compreenda de maneira interdisciplinar e epistemológica
(SAYAD, 1998). Desta forma, buscaremos entender o bairro Popular Nova a partir
de um prisma histórico da presença de bolivianos em Corumbá e na fronteira a qual
pertence. As dinâmicas demográficas, as nuanças políticas de ambos os países, as
De acordo com nossa pesquisa foi possível constatar que esse Bairro foi
criado ao final dos anos 1960, quando a cidade experimentava um importante ciclo
em sua economia. Tratava-se de um processo de industrialização que conduziu
Corumbá a ter: siderúrgica, fábrica de cimentos, cervejaria, moinho de trigo,
curtume, sapataria, fábrica de sorvete, fiação, marmorarias, suína de pasteurização
de leite, dentre outras As indústrias de moinho de trigo, fiação, curtume e siderurgia
eram empreendimentos cujos sócios majoritários eram imigrantes, sírios e libaneses
(OLIVEIRA, 2001). Porém, é necessário retroceder no tempo para compreender a
importância daquele momento, bem como o aumento dos fluxos migratórios advindo
da Bolívia. Podemos compreender que os anos 1940 e 1950 trouxeram as marcas
de muitas novidades nos campos econômicos e demográficos de Corumbá e da
fronteira em estudo. Neste período, uma parcela de sua classe média, proporcionou
o mais importante processo de industrialização da história daquela cidade. Uma
parte dessas atividades era decorrente do extrativismo das operações na morraria
do Urucum, rica em minério de ferro, enquanto que outras eram fruto de importação
de trigo e algodão da Argentina. Em ambos os casos, as atividades econômicas
foram, substancialmente, alteradas naquelas décadas.
época. Duas moradoras nos deram seus depoimentos, onde constatamos que os
bolivianos estiveram presentes na formação do Bairro desde o princípio. Dona P.
nos disse que chegou ao Popular Nova em 1967, quando recebeu um lote do
Prefeito, que ela afirma não se lembrar do nome, onde ela e seu marido construíram
uma pequena casa e começaram a comercializar frutos de sua pequena horta nas
feiras e nas ruas do centro da cidade. Conta que, ao mesmo tempo em que sua
família, outros bolivianos também mudaram para aquele bairro, onde puderam
construir relevantes elos de solidariedade de vizinhança, que pudemos constatar
existir inclusive entre seus descendentes.
Isso ficou bastante evidente na fala de N.G., 34 anos, nascida em Sucre, que
se dirigiu àquela fronteira juntamente com seu esposo. A migração dessa família
Corumbá/MS, Brasil. 7 a 9 de outubro de 2019. ISSN . 2178-2245
408
teve como elo de rede os convites feitos por uma prima dela que vivia em Corumbá.
De forma muito parecida D.J., 63 anos, nascida em Santa Cruz de la Sierra, conta
que sua ida para a fronteira em estudo ocorreu por decisão de seus pais, em uma
tentativa de melhorar as condições financeiras, que estavam bastante precárias.
orgulho de ter tido “coragem para enfrentar a realidade”. O abandono familiar é outro
traço bastante importante nas trajetórias dessas imigrantes bolivianas em Corumbá,
que fora assinalado por Loio (2018) de forma muito semelhante à história de vida de
S.M., pois tal ruptura não implicou em passividade perante as dificuldades
decorrentes. O abandono do marido, também, não afetou a estabilidade do processo
migratório, notadamente com perspectivas temporais mais largas nas mulheres do
que nos homens, conforme tem salientado o Professor Marco Aurélio Machado de
Oliveira em diversas palestras e cursos no âmbito do Circuito Imigrante e do
Mestrado em Estudos Fronteiriços/UFMS.
Puerto Quijarro e trabalha em uma loja naquele Bairro. Considera sua rotina como
bastante exaustiva, tendo que dormir tarde e acordar cedo, todavia, com a
satisfação expressa na frase “não tenho patrão, sou a própria patroa”.
conseguiu montar seu salão de beleza e inserir seus filhos no mesmo ramo. Em
ambas imigrantes as diferenças culturais lhes impuseram graus de dificuldades
maioires para melhor assimilação do espaço em que estava sendo inserida.
Outro exemplo que se encaixa bem nessa perspectiva é o de F.V., que narrou
suas dificuldades associadas ao preconceito que experimentou quando relacionado
às suas atividades. Ela citou o exemplo de quando nega vender “fiado”, a resposta
dos brasileiros costuma ser: “quem essa boliviana pensa que é?” esse tipo de
conduta, por parte de brasileiros em Corumbá, foi analisado por Costa (2015) que
elucidou se tratar de uma assimetria de poder, onde podemos identificar uma ideia
de “superioridade-inferioridade” expressa em discursos e nas práticas do lado
brasileiro. Isto estrutura também a “[...] construção de preconceitos e de dominação
simbólica dos bolivianos, assim como determina as possibilidades de acesso ao
trabalho formal e aos direitos” (COSTA, 2005, p. 37). Entendemos que o processo
de assimilação cultural demanda níveis de internalização de valores, costumes e
outros traços culturais que levam os indivíduos a assimilarem novos
comportamentos (APPEL-SILVA; WENDT; ARGIMON, 2010). Associado a isso,
essas migrantes trouxeram valores e traços culturais que estão cristalizados, como o
casamento, por exemplo.
Considerações Finais
No que diz respeito aos procedimentos para a coleta de dados, importante
grifar que realizamos entrevistas com essas mulheres bolivianas durante o
desenvolvimento de suas atividades comerciais, independente do dia da semana. A
REFERÊNCIAS
BETTS, A.; BLOOM, L.; KAPLAN, J.; OMATA, N. Refuged Economies: forced
displacement and development. Oxford, United Kingdom, Oxford University Press,
2017.
TRUZZI, O. “Redes em Processos Migratórios”. In: Tempo Social v. 20, n. 01, 2008,
pp. 199-218.
Aline Kammer
Maristela Ferrari
Resumo: Este trabalho tem por objetivo analisar quais os fatores que contribuíram
para o surgimento de relações transfronteiriças num segmento da zona da fronteira
brasileiro-paraguaia, formado pelos municípios de Pato Bragado (Paraná - BR) e
Nueva Esperanza (Dept. de Canindeyú - PY). A análise, parte do ano de 1982,
notadamente ano da formação do Reservatório da Usina Hidrelétrica de Itaipu
quando se observa a emergência de interações transfronteiriças entre os dois
municípios. O método de pesquisa adotado foi o qualitativo e a metodologia
consistiu em leituras teóricas sobre zona de fronteira, redes e fluxos, além de
pesquisa de campo com entrevistas aos moradores de Pato Bragado e Nueva
Esperanza. Nele evidenciamos que as redes de interação transfronteiriças são
recentes e se devem, sobretudo, as profundas mudanças ocorridas na região, com a
formação do Lago de Itaipu, também nominado de reservatório da Hidrelétrica de
Itaipu sobre o rio Paraná. Tal fato, modificou inclusive a característica do limite
internacional, de limite obstáculo tornou-se permeável e contribuiu para o
desenvolvimento de práticas sócio espaciais transfronteiriças cotidianas que lá
ocorrem à revelia dos dois Estados nacionais, pois o ponto de passagem entre os
dois territórios não foi legalizado entre Brasil e Paraguay.
Palavras-chave: Zona de fronteira, redes de interações transfronteiriças, Pato
Bragado, Nueva Esperanza.
Abstract: This paper aims to analyze the factors that contributed to the emergence
of cross-border relations in a segment of the Brazilian-Paraguayan border zone,
formed by the municipalities of Pato Bragado (Paraná - BR) and Nueva Esperanza-
(Dept. de Canindeyú - PY). The analysis begins in 1982, notably the year of the
Esse trabalho faz parte de pesquisa de mestrado em andamento, financiada pela CAPES
(Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) no PPGG da UNIOESTE campus
Marechal Cândido Rondon (PR), sob Orientação da Prof.ª Drª Maristela Ferrari. O mesmo está
vinculado ao Grupo de Estudos sobre Fronteira, Território e Ambiente (GEFTA).
Graduada em Geografia. Bolsista da CAPES, Mestranda do PPG em Geografia da UNIOESTE-
Universidade Estadual do Oeste do Paraná/Campus Marechal Cândido Rondon. E-mail:
alinealinekammer@outlook.com
Doutora em Geografia. Professora do Programa de Pós-Graduação em Geografia da UNIOESTE-
Universidade Estadual do Oeste do Paraná/Campus Marechal Cândido Rondon. E-mail:
maristela7ferrari@gmail.com
formation of the Itaipu Hydroelectric Power Plant Reservoir when the emergence of
cross-border interactions between the two municipalities is observed. The research
method adopted was qualitative and the methodology consisted of theoretical
readings about, border zone, networks and flows, as well as field research with
interviews with residents of Pato Bragado and Nueva Esperanza. It shows that the
transboundary interaction networks are recent and due, above all, to the profound
changes that occurred in the region, with the formation of Itaipu Lake, also called the
Itaipu Hydroelectric Reservoir over the Paraná River. This fact, even modified the
characteristic of the international boundary, of obstacle boundary became permeable
and contributed to the development of daily cross-border socio-spatial practices that
occur there in the absence of the two national states, because the crossing point
between the two territories was not. legalized between Brazil and Paraguay
Key words: Border Area, networks of cross-border interactions, Pato Bragado,
Nueva Esperanza.
Resumen: Este artículo tiene como objetivo analizar los factores que contribuyeron
al surgimiento de las relaciones transfronterizas en un segmento de la zona
fronteriza paraguayo-brasileña, formado por los municipios de Pato Bragado (Paraná
- BR) y Nueva Esperanza- (Departamento de Canindeyú - PY). El análisis comienza
en 1982, especialmente el año de la formación del embalse de la central
hidroeléctrica de Itaipú, cuando se observa la aparición de interacciones
transfronterizas entre los dos municipios. El método de investigación adoptado fue
cualitativo y la metodología consistió en lecturas teóricas sobre zona fronteriza,
redes y flujos, así como investigación de campo con entrevistas con residentes de
Pato Bragado y Nueva Esperanza. Muestra que las redes de interacción
transfronterizas son recientes y se deben, sobre todo, a los profundos cambios que
ocurrieron en la región, con la formación del lago Itaipu, también llamado embalse
hidroeléctrico de Itaipu sobre el río Paraná. Este hecho, incluso modificó la
característica de la frontera internacional, de la barrera del obstáculo se volvió
permeable y contribuyó al desarrollo de prácticas socioespaciales transfronterizas
diarias que ocurren allí en ausencia de los dos estados nacionales, porque el punto
de cruce entre los dos territorios no lo era. legalizado entre Brasil y Paraguay.
Palabras clave: Zona Fronteriza, redes de interacciones fronterizas, Pato Bragado,
Nueva Esperanza.
Abstract: The present paper will use the deductive method with exploratory
research, documentary and descriptive bibliography aims to bring an analysis of the
right to development of the immigrant before the perspective of the international
instruments, of the declaration of the right to development of the United Nations
Mestre em Direito pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul. Advogado e voluntário do
Serviço Pastoral do Migrante em Campo Grande/MS. E-mail: luizrosadocosta@gmail.com.
Graduada em Direito pelas Faculdades Toledo de Araçatuba. Mestranda no Programa de Pós-
Graduação em Direitos Humanos pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, advogada
Previdenciarista, mediadora e professora universitária da Universidade Católica Dom Bosco de
Campo Grande (MS). E-mail: t.garcez@uol.com.br
Organization and of the current Brazilian legal system and if this right is being carried
out, protected and guaranteed by them. The identification of the position of the
Brazilian State vis-à-vis the immigrant in terms of economic and social development
in relation to it or to the State that receives it is sought as a result of the investigation.
Economic and social development is a fundamental element for the effectiveness of
the immigrant's human rights and their integration and contribution to the country.
Keywords: international migrations; Right to development; Human rights; Migration
Law.
Introdução
As migrações internacionais são uma das dimensões mais importantes e
visíveis do processo de globalização na última metade do século XIX e início do
século XX, tendo o Brasil soidp destino de milhares de imigrantes. Os fluxos
migratórios para o Brasil, no decorrer dos séculos XX e início do século XXI
amenizaram, mas não cessaram. Embora atualmente os imigrantes no Brasil
correspondam a uma pequena parcela da população brasileira, possuem atuação
considerável e requerem ações de acolhida e integração que devem ser
asseguradas não só pela lei, mas principalmente por políticas públicas e medidas
condizentes ao desenvolvimento e tratamento equitativo com os nacionais.
A internacionalização é um fato no horizonte cultural, linguístico, social e
econômico, e possibilita oportunidades para o Brasil se beneficiar do
multiculturalismo e da diversidade, entretanto, muitas vezes, este imigrante, que
também favorece o desenvolvimento do país, apresenta dificuldades para usufruir de
seus direitos assegurados por diversos tratados e documentos de direitos humanos
que o Brasil se tornou parte, pela Constituição Federal e pela Lei 13.445/2017 (Lei
de Migração).
O presente trabalho usará o método dedutivo com pesquisa exploratória,
bibliográfica documental e descritiva visando a trazer uma análise do direito ao
desenvolvimento do imigrante diante da perspectiva dos instrumentos internacionais,
de direitos humanos e da declaração do direito ao desenvolvimento da Organização
das Nações Unidas e do ordenamento jurídico brasileiro atual que trata da política
migratória para migrantes, principalmente a Lei 13.445/2017, para verificar se as
normas vigentes no ordenamento jurídico brasileiro são adequadas ao exercício do
direito ao desenvolvimento dos imigrantes que chegam ao Brasil.
Migração e cidadania
Como já mencionado, a migração não é algo novo, mas uma característica de
todas as sociedades em todas as partes do mundo e também em todos os
momentos da história. Apesar disso, na sociedade brasileira encontra-se certa
aversão ao estrangeiro que aparentemente é tratado de maneira cordial, mas
dificilmente recebe suficiente para alcançar o êxito no processo de assimilação
cultural, pois há uma dificuldade enorme dos estrangeiros obterem integração social
e acesso aos direitos humanos fundamentais, como está preconizado na Carta
Constitucional Brasileira (PACÍFICO, 2017).
O processo de globalização e a constante imigração propiciaram profundas
transformações nas relações entre indivíduos e Estado, especialmente no campo
Neste sentido, cf. DUPAS, 2018; VEDOVATO, 2018 e; AMARAL; COSTA, 2017.
1
digno de proteção a partir do ponto de vista dos direitos fundamentais como ,por
exemplo, a dignidade, a liberdade, a família e a propriedade.
São diversas as formas de viabilizar a proteção, como a proteção por meio de
normas de direito penal, de responsabilidade civil, de direito processual, por meio de
atos administrativos e por meios de ações fáticas.
Considerações finais
Almejou-se como resultado da pesquisa a identificação da postura do Estado
brasileiro frente ao imigrante no que tange ao desenvolvimento econômico e social
seja em relação a este ou ao Estado que o acolhe. O desenvolvimento econômico e
social coloca-se como elemento fundamental para efetivação dos direitos humanos
do imigrante e sua integração e contribuição ao país.
Em razão do princípio de respeito à dignidade da pessoa humana e dos
instrumentos internacionais de proteção de Direitos Humanos, toda pessoa deve ter
seus direitos respeitados pelo simples fato de pertencer à humanidade,
independentemente de qualquer outra circunstância, assim os Estados, a partir da
vigência do sistema internacional de proteção aos Internacional de Direitos
Humanos, embora possam no exercício da soberania fixar suas políticas migratórias,
não podem condicionar à regularidade migratória o gozo de Direitos Humanos
fundamentais como o da igualdade, acesso à justiça e não-discriminação.
No Brasil. A nova Lei de Migração, por seu turno, ao mudar o paradigma do
estrangeiro para o imigrante e prever a regularização documental como princípio da
política migratória brasileira, além de reconhecer a migração como tema precípuo de
Direitos Humanos e não mais de segurança nacional, trata o migrante como sujeito
de direitos que decorrem de sua natureza humana e não estão sujeitos à residência
legal ou à cidadania para serem reconhecidos, o que consolida uma cultura de
acolhimento afim a um país construído por braços imigrantes, como foi o Brasil.
Referências
AMARAL, Ana Paula Martins; COSTA, Luiz Rosado. A (não) criminalização das
migrações e políticas migratórias no Brasil: do Estatuto do Estrangeiro À Nova Lei de
Migração. Justiça do Direito, v.31, n.2, 2017.
BOBBIO, Norberto. A era dos Direitos. Nova ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004.
SILVA, César Augusto S. da. A política migratória brasileira para refugiados (1998-
2014). Curitiba: Íthala, 2015.
Abstract: Actually we are questioned about the migratory flows, especially when
they are so close to our daily lives. The flows of people passing through the city of
Corumbá carry precious information to study migration. There can still be much to
discover about the region regarding migration. But the objective of this study is to
investigate the reflexes of the foreign policy adopted in the administration of
Juscelino Kubitschek that inferred in the flows of international migration to the city of
Corumbá, being consequence of the public policy adopted in his government. The
research has social character, because it brings contributions of the history of the
city, it has a descriptive nature, because it presents the foreign policy adopted in the
mentioned government, as well as it makes use of bibliographic material. It is
believed that the government plan, although accidentally, caused the reorientation of
the international migratory flow to the Corumbá region.
Graduada em Relações Internacionais pela Universidade Federal da Grande Dourados, mestranda
em Estudos fronteiriços pela Universidade Federal do Mato Grosso do Sul. E-mail:
thais.alpires@gmail.com
Graduada em Pedagogia pelo Centro Universitário de Brasília, Mestre em Saúde Pública pela
Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca/Fundação Oswaldo Cruz, e Doutora em Ciências na
Área de Saúde Pública, pela Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca/ Fundação Oswaldo
Cruz. E-mail: claudia.araujolima@gmail.com
Introdução
A migração é um termo que engloba uma ampla variedade de movimentos
ligados a questões de política, economia, cultura e identidade, que podem conectar
pessoas de diferentes classes, regiões e países. A migração permite mudanças
positivas tanto para quem migrar, quanto para o país ou região que recebe essas
pessoas, entretanto, as oportunidades que atraem o movimento forjam vidas de
forma significativas, em busca de segurança (INTERNATIONAL ORGANIZATION
FOR MIGRATION — IOM; 2017, p.1). Temos visto nos últimos anos o deslocamento
de pessoas motivadas pelos conflitos, perseguição ou crise ambiental. De acordo
com relatório anual, Tendências Globais, divulgado pela ACNUR (Agência da ONU
para Refugiados) em junho de 2018, já são 68,5 milhões de pessoas deslocadas
pelo mundo, entre esse número, 16,2 milhões se deslocaram repetidamente.
No contexto atual, acompanhamos pelas mídias e canais de comunicação, o
crescente número de pessoas deslocadas, e a guerra é o principal fator. Embora a
migração tenha ganhado maior visibilidade, devido aos fatores da guerra ou crises,
ela não se limita a essas questões, a mobilidade pode ser voluntária em busca de
uma oportunidade de emprego, para estudos, para reencontro da família. É um
processo comum e continuo que já deveria ter sido aceito pela sociedade, contudo,
as ressalvas apresentadas pelos países que se recusam a receber os migrantes, o
preconceito e uso inadequado das mídias, torna a mobilidade humana uma fonte de
insegurança no cenário internacional (COSTA; REUSCH, p.278, 2016).
O movimento migratório está em constante mudança de volume, direção e
composição, isto, resulta na necessidade de estudos contínuos acerca da temática.
Para analisar atuais fluxos de pessoas pelo mundo, é necessário o estudo dos
antecedentes, que possam ser a fonte de explicação das correntes migratórias pela
América do Sul, pois, assim, é possível compreender como a cidade de Corumbá,
Mato Grosso do Sul, no Brasil, se alimentou de um intenso fluxo migratório, como a
migração interna, e principalmente a internacional, as quais foram essenciais para
dinamização do local.
A cidade de Corumbá, localizada na fronteira com a Bolívia é o nosso objeto
de estudo, e neste artigo propomos que a política pública infere nas decisões
externas, porque estão interligadas, e que as mesmas podem interferir em diversos
processos, como a migração, mesmo que não seja o objetivo. Para isso utilizamos a
metodologia de revisão bibliográfica, com auxílio de periódicos e livros sobre política
pública e política externa, bem como artigos e revistas sobre migrações na região
fronteiriça, Corumbá — Puerto Quijarro.
O presente estudo trabalhou com o recorte temporal do governo de Juscelino
Kubistchek, devido a sua política de fortalecimento das fronteiras, aderindo projetos
nos setores de comunicação e transporte, que foram essenciais para deslocamentos
intensivos de trabalhadores brasileiros e estrangeiros para a cidade de Corumbá,
resultando na dinamização da localidade. Além disso, apresentaremos como a
política de fortalecimento da fronteira inferiu na política externa do governo, o qual
após o esfriamento na relação Brasil — EUA passou a estabelecer novas parcerias,
o que possibilitou o protagonismo do Brasil na América do Sul.
Justifica-se a relevância acadêmica, posto que os estudos sobre fronteiras no
Mato Grosso do Sul são ainda insuficientes, isto porque, somente em 1990
iniciaram-se os estudos sobre esse campo, e ainda assim, são tratados por áreas
clássicas como História, Geografia e Antropologia, por isso, requer o olhar de
outros espaços de estudo.
Política Externa
Segundo Arenal (1990) a Política Externa deve ser entendida como estudo da
Considerações finais
Através desta analise verificamos que inferência que a política pública gerou
sobre a política externa no governo de Juscelino Kubitschek foi o desejo pelo
desenvolvimento do país, o povoamento das regiões fronteiriças, a independência
de importações, problemas internos, que o Brasil queria resolver, e, encontrou
Referências
FIGUEIRA, Ariane Roder. O que é Política Externa. In: FIGUEIRA, Ariane Roder.
Introdução à análise de política externa. São Paulo: Saraiva, 2011. Cap. 1.
GALERANI, Kleber A. Política Externa do governo Juscelino Kubitschek: a Operação
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https://www.migrante.org.br/refugiados-e-refugiadas/migracoes-internacionais-
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SILVA, Dinair Andrade da.. O Brasil nas migrações internacionais. In: SARAIVA,
J. F.S.; CERVO,A. L. (orgs.). O crescimento das Relações Internacionais no Brasil.
Brasília: Instituto Brasileiro de Relações Internacionais (IBRI), 2005.
SOUSA, Pedro Ponte e. A política externa como política pública? diálogos entre
estudos políticos e estudos internacionais. Revista Eletrônica de Ciência Política,
vol. 5, n. 2, 2014. ISSN 2236-451X
1
Docente na Graduação e no Programa de Pós-Graduação Mestrado em Estudos Fronteiriços
CPAN/UFMS. Doutor em História Social, E-mail: marco.cpan@gmail.com
2
Assistente Social na Secretaria Municipal de Assistência Social em Corumbá, MS/Brasil. Mestranda
em Estudos Fronteiriços CPAN/UFMS, E-mail: renatamiceno@bol.com.br
3
Professora e Gestora na Secretaria Municipal de Ensino em Corumbá, MS/Brasil. Mestranda em
Estudos Fronteiriços CPAN/UFMS, E-mail belaguilar_90@hotmail.com
Mestre em Direito pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul. E-mail:
luizrosadocosta@gmail.com
Graduando em Direito pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul. E-mail:
duroo2008@hotmail.com
Graduada em Direito pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul. E-mail:
liviaanjos13@gmail.com
Abstract: This paper discuss the reflections obtained from the fieldwork a land
struggle camp located on the Brazil-Paraguay International Line, in the county of
Mundo Novo. Our observations came from a field methodology that sought a direct
dialogue with the residents, seeking to understand the personal and collective
struggles, their trajectories/life histories and their daily life, besides the difficulties this
territory. During the research we found an internal division bettyeen about 60
families, mainly related to nationalities: brazilian, paraguayan and “brasiguaios”. The
instrumentalization of this research through Fieldwork has enabled us to perceive a
complex space, disputed by different forces of society and facing internal and
external problems, to seek their resilience and acquire ownership of your lot. Finally,
the fieldwork allowed us to understand the processes of inequality and exclusion in
the camp itself, creating alterity between families.
Key words: Border, territory, capitalism, identity, inequality.
Resumen: Este artículo discute las reflexiones obtenidas del trabajo de campo en
un campamento de lucha por la tierra ubicado en la Línea Internacional Brasil-
*Graduação em Geografia – Universidade Federal da Grande Dourados.Acadêmica de Mestrado em Geografia -
Universidade Federal da Grande Dourados.E-mail: kamila_agro@hotmail.com
**Graduação em Geografia – Universidade Federal da Grande Dourados.Acadêmico de Mestrado em Geografia -
Universidade Federal da Grande Dourados.E-mail: matheusmirabi@gmail.com
***Doutorado em Geografia pela UNESP – Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho.
E-mail: alexandrevieira@ufgd.edu.br
Resume: Border studies allow us to understand that there are borders with greater
fluidity, others have been historically extinct and some are positioned as areas of
war, for example. In this sense, the aim of this paper is to analyze the observations
made about the situation of Guarani Kaiowá Indians in Dourados-MS, as well as
about the border between Brazil and Paraguay as contact areas that play the
subjects and border situations. Thus, the methodological approach adopted was the
qualitative method, producing a survey of the theoretical framework on the subject;
description of the field observations and allusion to the informal conversation records
of the border subjects. Thus, it should be noted that although there are government
policies that attempt to delimit, mark, separate and / or inhibit land and border issues,
the complexities present in these entanglements and intertwining of subjects and
border situations are remarkable.
Key-words: Border; Guarani Kaiowá; Brazil; Paraguay; Subjects.
Resúmen: Los estudios fronterizos nos permiten comprender que existen fronteras
con mayor fluidez, otras se han extinguido históricamente y algunas están
posicionadas como zonas de guerra, por ejemplo. En este sentido, el objetivo de
este trabajo es analizar las observaciones realizadas sobre la situación de los indios
guaraníes kaiowá en Dourados-MS, así como sobre la frontera entre Brasil y
Doutoranda pelo Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Federal da Grande
Dourados (UFGD). Bolsista CAPES. E-mail: midiane.scarabeli@yahoo.com.br
Mestranda pelo Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Federal da Grande
Dourados (UFGD). E-mail: mirellalacerda@gmail.com
Paraguay como áreas de contacto que juegan los temas y las situaciones
fronterizas. Así, el enfoque metodológico adoptado fue el método cualitativo,
produciendo una encuesta del marco teórico sobre el tema; Descripción de las
observaciones de campo y alusión a los registros informales de conversación de los
sujetos fronterizos. Por lo tanto, debe tenerse en cuenta que, aunque existen
políticas gubernamentales que intentan delimitar, marcar, separar y / o inhibir los
problemas de tierras y fronteras, las complejidades presentes en estos enredos y
entrelazamientos de sujetos y situaciones fronterizas son notables.
Palabras clave: Frontera; Guarani kaiowá; Brasil; Paraguay; Asignaturas.
Introdução
O conceito de fronteira, assim como outras abordagens de estudos, perpassa
por constantes reformulações e interpretações ao longo da história do pensamento
geográfico e de outras ciências. Sendo assim, pode-se dizer que o entendimento
sobre fronteira está relacionado aos aspectos socioespaciais, sociopolíticos,
socioculturais, socioeconômicos, socioambientais, entre outras ligações.
Neste sentido, as fronteiras são importante objeto de estudo principalmente
no que se refere às intensas trocas, movimentos e comunicações entre os sujeitos
que habitam nas proximidades das linhas de fronteira. Deste modo, mesmo que
houver políticas de governos que tentem delimitar, marcar, separar ou/e inibir
questões de terras e fronteiras, é notável a fluidez, complexidades e variáveis que
são características presentes dessas situações de fronteira.
Sendo assim, algumas fronteiras se apresentam com maior fluidez, outras
foram extintas historicamente e mais algumas se posicionaram como áreas de
guerras, por exemplo. Assim, temos uma diversidade de fronteiras e que
representam características distintas, instáveis e cambiantes.
Na América, por exemplo, a fronteira mais emblemática pode-se dizer que é
entre os Estados Unidos da América e o México. Destarte, diante das diferenças
econômicas existentes entre ambos os países, é muito comum que os mexicanos
tenham interesse em atravessar a fronteira de maneira muito arriscada, já que a
travessia de imigração envolve questões governamentais burocráticas e limitadoras.
Embora apresente outras características, o muro da Cisjordânia em
construção por Israel, também representa uma barreira física para evitar a travessia
de pessoas. Neste sentido, afirma-se que do lado palestino a fronteira nada mais é
que a forma como as autoridades israelenses tornaram concretas a dominação de
poder e de apreender seus territórios, além de manter segregadas as raças.
Metodologia
O percurso metodológico utilizado neste trabalho foi o método qualitativo de
análise, sendo utilizado as seguintes estratégias de investigação: levantamento e
análise do referencial teórico sobre o tema; descrição das observações, anotações
dos trabalhos de campo e alusão aos registros das conversas informais que
realizamos com os sujeitos fronteiriços.
Como este trabalho seguirá a ordem cronológica dos trabalhos de campo
realizados, ressalta-se que entre os dias vinte e três e vinte e seis de outubro de
dois mil e dezoito, na Faculdade Intercultural Indígena – FAIND da Universidade
federal da Grande Dourados – UFGD, aconteceram aulas teóricas com o professor
Jones Dari Goettert da UFGD e as professoras Maristela Ferrari da UNIOESTE e
Anne-Laure Amilhat-Szary da Université Grenoble-Alpes (França). Assim, no dia
Neste sentido, após conversas com os indígenas foi possível perceber que
para eles a terra satisfaz as necessidades da coletividade, por isso em seus diálogos
não há menção que seja favorável a privatização das terras.
Em relação ao município brasileiro de Ponta Porã, a localização é no
sudoeste do estado do Mato Grosso do Sul. O seu surgimento está ligado à
exploração da Erva-Mate e as paradas que os carreteiros faziam em Ponta Porã
para posteriormente prosseguir com os itinerários pela estrada. Neste sentido, por
volta do ano de 1891, o empresário Tomás Laranjeira foi responsável por explorar a
erva na região e exportá-la principalmente para a Argentinai.
Anteriormente à Guerra da Tríplice Aliança, os índios das etnias Kaiowá e
Nhandeva habitavam a área que hoje corresponde o município de Ponta Porã e ao
sul do estado. Após o final da guerra o município de Ponta Porã passou a pertencer
ao Brasil posterior às diversas reivindicações por disputas territoriais.
Ponta Porã faz limite a leste com os municípios de Dourados e Maracaju, a
sul com Aral Moreira e Laguna Carapã; a norte com Antônio João, Jardim, Bela Vista
e Guia Lopes da Laguna e a oeste com Pedro Juan Caballero (Paraguai). O
município se emancipou de Nioaque através do Decreto N° 617, do dia 18 de julho
de 1912. A população é estimada em aproximadamente 90.000 habitantes
(IBGE,2010) e a economia é baseada principalmente em atividades agropecuárias,
exploração da madeira, comércio e outros serviços. ii
preço para aquisição das mercadorias. Dessa forma, mesmo em pouco tempo de
observação foi possível notar que naquela fronteira o limite estabelecido para
delimitar as porções do estado-nação é apenas um detalhe.
Dessa maneira, pode-se perceber que o ir e o vir não impede que as pessoas
estabeleçam relações de trocas, que os fluxos de mercadoria, capital e transportes
sejam constantes e aleatórios. Verifica-se que a língua de espanhol ou português é
compreensível em ambos locais, até porque em muitas lojas das duas cidades há
alto índice de pessoas que são nascidas em um país e trabalha no outro. Com
ressalvas à língua guarani, que mesmo com as proximidades territoriais, ainda
assim, é minimamente fluente entre os brasileiros, sendo mais comum entre os
povos da etnia guarani e pelos paraguaios.
Assim sendo, os moradores de ambos os países criam novas formas de
integração e nos leva a entender que estão inseridos em fronteiras vibrantes,
conforme afirma o autor:
Os habitantes desses espaços não se sentem constrangidos em criar
capilaridades nas suas trocas e relações, pelo fato de serem componentes
de nações distintas. Indiferentes a isso, interagem e constroem espaços
próprios comuns[...] São nessas áreas que se reforçam as identidades e se
produzem novos pertencimentos com mais força e propriedade. A
permeabilidade está profundamente enraizada movendo restrições,
formatando movimentos de pertencimento e práticas compartilhadas
(OLIVEIRA, 2015, p. 247-248).
Portanto, as situações de fronteiras seguem reinventando novas
oportunidades para ambos os lados e favorece uma dinâmica própria do local, o que
beneficia a população principalmente no que se refere às oportunidades de trabalho
e consumo de mercadorias de diferentes países. Neste sentido, a autora afirma que:
Observamos que em todas las fronteras contemporáneas formas y
funciones se diversificam a medida que se van dissociando. Como lugar de
control y de protección de la identidade nacional, por ejemplo, la frontera se
reviste de formas reticulares con nodos discretos, obedecendo a métricas
topológicas. Las líneas convencionales que delineaban los Estados se vem
reemplazados por objetos espacialies complejos. Ya no es posible decir que
algunas se cierran cuando otras se abren: em cada punto de uma frontera,
ocurren fenómenos concomitantes e contradictorios (SZARY, 2013, p. 11).
Sendo assim, pode-se afirmar que não há limites entre fronteiras desse tipo,
pois as pessoas não se intimidam ou até mesmo, em muitos casos, não percebem o
limite político estabelecido entre os países devido ao cotidiano misto e híbrido.
Com relação ao município brasileiro de Mundo Novo pertencente ao estado
do Mato Grosso do Sul e faz fronteira com uma cidade chamada Salto del Guairá
que pertence ao Paraguai, é válido informar que o trabalho de campo proporcionou
uma visita às famílias que estão assentadas no lado brasileiro da linha de fronteira.
Neste sentido, o que mais impressionou pelas falas das famílias que pudemos
dialogar foi a expressão de medo com o novo governo federal, assim como pode-se
observar no relato da entrevistada: “Tenho medo do pior. Temo que esse novo
governo queira nos tirar dessa terra.”
Quando lhe foi perguntada porque temia o novo governo, ela afirmou que
durante a campanha do presidente eleito, ele discursou sobre destruir os direitos à
terra para as pessoas assentadas, como também afirmou em campanha que os
movimentos sociais promovidos pelos Sem Terra seriam extintos.
Considerações finais
Em escala global é possível perceber os conflitos fronteiriços, sendo que
alguns apresentam problemas mais intensos em relação à mobilidade de imigrantes
e outras apresentam maior fluidez no que diz respeito à entrada e saída de pessoas,
por exemplo.
Com relação ao município de Dourados percebe-se uma fronteira diferente
daquela entre o Brasil e o Paraguai. Os indígenas que habitam a reserva -
considerada uma das maiores do país - vivem simbolicamente à margem da
população não indígena. Nota-se que poucos habitam os centros urbanos da cidade,
além de percebemos que há poucos indígenas em circulação na área comercial e
trabalhadores formais no município. Deste modo, em nosso breve diálogo com os
indígenas e professores, ouvimos relatos que, em muitos casos, são considerados
intrusos e provocadores de um mal-estar social, como se não fossem cidadãos
brasileiros, contudo, considerados marginalizados e oportunistas. Neste sentido, é
notável a falta de conhecimento e aprofundamento dos saberes históricos e culturais
indígenas. Há falta de empatia, de leituras, de conhecimento e memória histórica por
parte de muitos cidadãos brasileiros e governantes deste país.
No caso específico das fronteiras visitadas no trabalho de campo que foram
em Ponta Porã e Pedro Juan Caballero; Mundo Novo e Salto del Guairá; Foz do
Iguaçu e Salto del Este é possível perceber que essas fronteiras entre o Brasil e o
Paraguai são muito porosas, possibilitando trocas, conflitos, movimentos diversos de
atividades econômicas, culturais, políticas e entre outros. Além disso, foram
realizadas visitas que destacam a história das fronteiras desses países como é o
Referências Bibliográficas
______. Para além das linhas coloridas e pontilhadas - reflexões para uma
tipologia das relações de fronteira. Revista Anpege. V.11, n. 15, jan-jun. p. 233-
256. 2015.
SZARY, Anne Laure Amilhat et al. Artista passa-paredes? In: Boletim Gaúcho de
Geografia. Porto Alegre, RS V. 42, n. 2, maio. p. 412-43
i
Dados disponíveis em: <https://camarapontapora.ms.gov.br/>. Acesso em: maio. 2019.
ii
Dados disponíveis em: <https://pontapora.ms.gov.br/v2/>. Acesso em: maio. 2018.
Resumo: Grande parte dos fluxos transfronteiriços Foz do Iguaçu (Brasil) – Ciudad
del Este (Paraguai) ocorre em razão das transações comerciais que são possíveis
na cidade paraguaia, pra onde diariamente milhares de brasileiros se dirigem,
buscando produtos diversos a preços inferiores aos praticados no Brasil, seja para
uso pessoal ou para revenda posterior com margem de lucro, que pode ser
significativa. Dessa forma, tomamos como objetivo, aparando-nos em diversas
perspectivas sobre o conceito de fronteira, discorrer sobre o significado de cruzar a
fronteira internacional com o objetivo principal de fazer compras.
Metodologicamente, amparamo-nos em pesquisas bibliográficas, documentais e
pesquisas de campo. O aporte bibliográfico e as observações realizadas em campo
possibilitaram aferir que, nos tempos atuais, cruzar a fronteira entre as duas cidades
simboliza, para muitos sujeitos, adentrar o “paraíso do consumo”.
Palavras-chave: Fronteira, Consumo, Paraíso.
Abstract: Most cross-border flows between Foz do Iguaçu (Brazil) and Ciudad del
Este (Paraguay) occur due to the duty-free zone installed in the Paraguayan city,
where thousands of Brazilians go daily, to buy different products at lower prices
either for personal use or for subsequent resale with profit (which can be significant).
Therefore, we take as an objective, taking a different perspective on the concept of
border, to discuss the meaning of crossing the international border, from the
perspective of consumption. Methodologically, we rely on bibliographic research and
field research. The bibliographic contribution and the observations made in the field,
allowed us to state that currently, to cross the border between the two cities,
symbolizes to go into the “paradise of consumption” for many people.
Key-words: Border, Consumption, Paradise.
Graduado em Geografia – Universidade Estadual Paulista (UNESP), mestre em Geografia –
Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), doutorando em Geografia (Universidade
Federal da Grande Dourados (UFGD). E-mail: mgl.geopp@gmail.com
Introdução
No momento atual da história, não muito distantes da “sociedade 5.0”, a alta
tecnologia que remete à filmes de ficção científica é cada vez mais concretamente
imaginável, a humanidade está cada vez mais conectada e parece não haver limites
para o desenvolvimento tecnológico, sobretudo o que se relaciona à tecnologia da
informação (GLADDEN, 2019). Vivemos “tempos líquidos”, onde nada é feito pra
durar e a velocidade de transformações socioespaciais é constante em nossas vidas
cotidianas (BAUMAN, 2007).
Na atualidade, as aspirações e os anseios humanos de consumo apresentam-
se de certa forma mundialmente padronizados, na convergência da obsolescência
programada e do consumismo exacerbado. A espécie humana busca satisfação,
contentamento e alegria efêmera por meio da posse/consumo de produtos diversos
criados, propagandeados e disseminados em escala global, por meio de redes
densas e complexas (HARVEY, 1992; SANTOS, 2002; HAESBAERT, 2004;
BAUMAN, 2007; GOETTERT, 2017; LIMA, 2018; GLADDEN, 2019).
Desde o surgimento das cidades, 3500 anos antes de Cristo, o comércio é
uma atividade humana de primeira importância. Agora, neste início de milênio,
testemunhamos que o comércio atingiu um avançado estágio de desenvolvimento.
Nesse panorama, observamos que a busca por objetos dotados de funcionalidades,
ou providos de valores simbólicos e, claro, a vantagem econômica de adquiri-los,
despendendo menores somas monetárias, favorece o movimento/trânsito/fluxo de
enorme número de sujeitos, em locais específicos mundo afora (BAUMAN, 2007;
ENDLICH, 2010; SPOSITO; GÓES, 2013; PINKER, 2018).
Nesse sentido, sabemos que, desde a década de 1990, diferentes locais, na
fronteira Brasil – Paraguai, têm sido receptores de fluxos de sujeitos que se
deslocam até a fronteira com o objetivo primordial de fazer compras, seja de
produtos para uso próprio, seja para revenda, que, posteriormente, pode render
lucros consideráveis (RABOSSI, 2004).
Ao longo da extensa fronteira entre os dois países (1.366 quilômetros), há
diferentes contextos socioespaciais que expõem os sujeitos que lá habitam, ou que
por lá transitam, a diferentes experiências fronteiriças (MARTINS, 1997;
ALBUQUERQUE, 2010; POLON, 2014; GOETTERT, 2017).
Tomamos como exemplo a fronteira internacional Ponta-Porã (MS) – Pedro
Juan Caballero, que é uma fronteira seca, isso é, não há nenhum corpo de água
separando uma cidade da outra. Nesse local da fronteira Brasil – Paraguai (Figura
1), é possível cruzar de um lado para o outro quantas vezes o sujeito desejar, sem
nenhuma forma de controle, já que basta atravessar o canteiro central de uma
avenida, que tem um lado no Brasil e outro no Paraguai (ALBUQUERQUE, 2010;
GOETTERT, 2017).
Assim, observamos que a fronteira Ponta Porã – Pedro Juan Caballero é uma
fronteira “porosa”, tendo em vista a conurbação entre as duas cidades e a falta de
controle de trânsito de pessoas entre uma cidade e outra, logo, entre um país e
outro, seja a pé, ou de automóvel. No que se refere ao controle de acesso ao
território brasileiro de mercadorias adquiridas no comércio do lado paraguaio da
fronteira, notamos que ele é inexistente (RABOSSI, 2004; ALBUQUERQUE, 2010;
POLON, 2014; GOETTERT, 2017).
Diferentemente, mais ao sul, no estado do Paraná, na fronteira Foz do Iguaçu
– Ciudad del Este, o trânsito entre Brasil e Paraguai tem controle mínimo, e implica
cruzar os 500 metros da Ponte da Amizade sobre as caudalosas águas do
Procedimentos metodológicos
O paraíso do consumo
limite, logo, a face territorial é, per se, a mais visível e relatável (MARTINS, 1997;
ELIAS; SCOTSON, 2000; ALBUQUERQUE, 2010; GOETTERT, 2017).
Salientamos, entretanto, que à parte da concepção mais generalizadamente
disseminada de fronteira como local de separação (limite territorial), temos a
fronteira também como local de integração e interação, local de trânsito, de trocas
materiais e simbólicas, de contato entre “gentes” e culturas. Nessa perspectiva, a
fronteira é “lugar privilegiado” pra “observação sociológica”, é onde podemos
observar como as sociedades se formam e se reproduzem (MARTINS, 1997;
RABOSSI, 2010; ALBUQUERQUE, 2010; GOETTERT, 2017).
Na fronteira internacional Foz do Iguaçu – Ciudad del Este, o que podemos
amplamente observar é que o ato de cruzar a fronteira de um país
socioeconomicamente mais desenvolvido (Brasil) para outro menos desenvolvido
(Paraguai) (Tabela 1) significa, de forma contraditória, chance de progredir,
prosperar, economizar e acumular capital, caso o objetivo do sujeito seja fazer
compras, para consumo próprio, ou para revenda posterior com margem de lucro em
território brasileiro.
ida ao Paraguai para compras e, ainda, roteiros unicamente de compras, nos quais
Foz do Iguaçu exerce apenas função de lugar de passagem e pernoite (CLIFFORD,
2000; RABOSSI, 2004; POLON, 2014) (Figura 4).
Desde 2014, a economia brasileira tem passado por um dos mais turbulentos
períodos de sua história. O período de crise econômica tem se estendido por seis
anos, com raros sinais de recuperação, ou com recuperação irrisória, como em 2017
e 2018, anos em que a economia nacional cresceu 1% (DOWBOR, 2017;
CARVALHO, 2018; OLIVEIRA, 2018).
Na época em que este texto foi escrito, fim do primeiro semestre de 2019, o
Brasil havia registrado oficialmente: primeiro trimestre de retração econômica (0,1%)
e segundo trimestre de crescimento (0,4%), evitando, assim, por pouco, o estado de
recessão. Neste prisma, elucidamos que é considerada recessão, o período de ao
menos dois trimestres seguidos de queda econômica.
A economia brasileira patina, e os períodos de crescimento são sempre
irrisórios, como já apontamos, de maneira que há estimativas, de que no atual ritmo,
a renda per capita brasileira só retomará ao patamar de 2011 em 2028 (HESSEL,
2019). Além disso, a taxa de desemprego no Brasil (13%) é atualmente, quase o
Corumbá/MS, Brasil. 7 a 9 de outubro de 2019. ISSN . 2178-2245
373
10,00%
7,53%
8,00%
6,00%
3,97%
4,00% 3,00%
1,92%
2,00% 0,50% 1,06% 1,12%
0,00%
-2,00%
-4,00%
-3,55%-3,31%
-6,00%
2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018
Fonte: BANCO MUNDIAL, 2019. Elaborado pelo autor, 2019.
os produtos que compra pra revender são, na maioria das vezes, oriundos do
comércio popular de rua, embora haja, também, sacoleiros que compram e
revendem produtos de maior valor agregado em suas cidades de origem, como:
roupas, cosméticos e eletrônicos de grife.
O fenômeno dos sacoleiros, a partir da década de 1990, suscitou a origem e a
disseminação de dois tipos de negócios distintos. São distintos, mas igualmente
relacionados às compras realizadas em Ciudad del Este: a) as lojas de R$ 1,99 –
que se disseminaram amplamente – comercializando um sem fim de bugigangas
pelo preço de R$ 1,99; b) por outro lado, surgiram, também pequenas butiques,
onde os sacoleiros vendem – principalmente – roupas, cosméticos e eletrônicos de
grife, expandindo o negócio dentro das possibilidades, tendo em vista que são
produtos de maior valor, logo, com público consumidor em potencial diminuto, se
posto em comparação com o público consumidor de lojas de R$ 1,99 (RABOSSI,
2004; POLON, 2014).
Considerações finais
Referências
HESSEL, R. No ritmo atual, Brasil só deve recuperar em 2028 a renda per capita
de 2011. 2019. Disponível em: <
https://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/economia/2019/05/29/internas_eco
nomia,758294/brasil-deve-recuperar-renda-per-capita-de-2011-so-em-2028.shtml>
Acesso em: 11 jun. 2019.
OLIVEIRA, F. de. Brasil: uma biografia não autorizada. São Paulo: Boitempo, 2018.
RABOSSI, F. Nas ruas de Ciudad del Este: vidas e vendas num mercado de
fronteira. 2004. Tese (Doutorado em Antropologia Social) – Universidade Federal do
Rio de Janeiro – UFRJ, Rio de Janeiro, 2004.
Abstract: The objective of this paper is to understand the flow of Brazilian students
to the universities located in the city of Pedro Juan Caballero, and from this search to
identify which are the agents, motivations, conflicts and the effects of this flow in the
conjuncture of this border city, as well like, from its Brazilian twin city, Ponta Pora,
and region. As methodology we used statistical data and information collected in
Possui Graduação em Ciências Econômicas (Bacharelado) pela Universidade Federal de Mato
Grosso do Sul (UFMS). É Mestre em Desenvolvimento Regional e Sistemas Produtivos pela
Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UFGD). Atualmente é Doutoranda em Geografia na
Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD). E-mail de contato: gycvera@gmail.com
Possui Graduação em Geografia (Licenciatura) pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul
(UFMS-CPAN). É Mestre em Estudos Fronteiriços pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul
(UFMS-CPAN). Atualmente é Doutorando em Geografia na Universidade Federal da Grande
Dourados (UFGD). E-mail de contato: kukielgeografia@gmail.com
Possui Graduação em Geografia (Bacharelado) pela Universidade Federal da Integração Latino-
Americana (UNILA). É Mestre em Geografia pela Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD).
Atualmente é Doutorando em Geografia na Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD).E-
mail: luiz.felipe.r@outlook.com
Corumbá/MS, Brasil. 7 a 9 de outubro de 2019. ISSN . 2178-2245
382
Introdução
Metodologia
A metodologia utilizada no artigo foi pesquisa bibliográfica específica sobre a
temática de fronteira e o espaço compreendido pelas cidades gêmeas de Pedro
Juan Caballero (PY) e Ponta Porã (BR). Utilizou-se base de dados secundários de
órgãos oficiais do governo paraguaio como a Dirección General de Estadísticas,
Encuestasy Censo (DGEEC), Encuesta Permanente de Hogares (EPH) e o Censo
Estabelecimentos Econômicos
4500
4000 3.868
3500 3.346
3000
2500
2000 1.841
1.661
1500
1000
540 485
500
0
Indústria Comércio Serviços
Amambay PJC
focam no estudo do idioma guarani. A Universidad del Norte foi a primeira a abrir os
cursos relacionados à área da saúde e especificamente o curso de medicina na
cidade de Pedro Juan Caballero. A Figura 3 apresenta a Uninorte.
1
As mensalidades na Universidade Central del Paraguay variam de R$900,00 a R$1.545,00 (podem
sofrer variações de acordo com o câmbio, cotação utilizada R$1,00 = G$1.650), a faculdade trabalha
com o sistema de desconto de 10% para o pagamento até o dia 10 de cada mês, são 12
mensalidades por ano.
Muy buena para la ciudad por que dan muchas fuentes de trabajo. La
expansión de las universidades genera una fuente de trabajo para docentes,
médicos, limpiadoras, albañiles, alquiler de viviendas, restaurantes, nos
beneficia a todos, a muchos profesionales de distintas áreas. (Entrevista
realizada com moradora, SS de 40 anos, na cidade de Pedro Juan
Caballero em dezembro/2017)
Considerações Finais
Na cidade paraguaia de Pedro Juan Caballero, tem-se constatado uma
expansão de universidades privadas que ofertam cursos de Medicina voltados para
o atendimentoda demanda proporcionada por brasileiros. Como verificado, nos
dados coletados nesta pesquisa, teve-se que de 80% a 90% dos alunos dos cursos
de medicina nas faculdades paraguaias são freqüentados por acadêmicos de
nacionalidade brasileira. Esses alunos são atraídos principalmente pelo fato de que
Corumbá/MS, Brasil. 7 a 9 de outubro de 2019. ISSN . 2178-2245
398
não precisam passar por um processo seletivo para ingressarem no curso e também
devido ao fato de que o preço das mensalidades é menor quando comparado
aospreços praticadosnas instituições privadas de ensino superior que estão
localizadas no Brasil.
Desse modo, os cursos ofertados terminam por apresentarem suas grades
curriculares às necessidades de avaliação e revalidação de diploma que os
brasileiros são obrigados a realizar para exercerem a profissão no Brasil. Assim,
essas universidades se instalam nas cidades paraguaias que fazem fronteira com o
Brasil e, de preferência, próximas ao limite internacional para facilitar a mobilidade
dos alunos entre o lado brasileiro e paraguaio da fronteira.
Como foi possível constatar nas entrevistas e em notícias, esse fluxo de
estudantes brasileiros para as universidades paraguaias constituiu-se em um
impulsionadorda economia local, sobretudo, nos ramos comerciais, imobiliários e da
construção civil. A vinda desses alunos acaba fomentando o surgimento de
estabelecimentos voltados ao consumo e lazer dos jovens, e aquecendo o setor
imobiliário, uma vez que os estudantes vindos de fora procuram alojamentos para se
estabelecer durante a formação acadêmica. A estadia dos estudantes de medicina
na área de fronteira exerce um efeito atrativo para com seus familiares e amigas (os)
que passam a visitá-los e aproveitam a vinda para fazer as compras na cidade
fronteiriça de Pedro Juan Caballero. Tais incrementos nos setores comerciais e de
serviços, além de beneficiar a cidade-gêmea Ponta Porã, fortalece também a
polarização de comércios e serviços na capital do Departamento de Amambay, em
relação aos demais municípios de tal Departamento.
Agradecimentos:
Os autores agradecem à CAPES pela concessão de Bolsa a nível de
Doutorado.
Referências
G1. Brasileiros fazem fila para tentar vaga em faculdade de medicina em cidade
paraguaia vizinha a MS. Disponível em:https://g1.globo.com/ms/mato-grosso-do-
sul/noticia/brasileiros-fazem-fila-para-tentar-vaga-em-faculdade-de-medicina-no-
paraguai-em-cidade-vizinha-a-ms.ghtml . Acesso em:30/12/2017.
Administradora e Mestra em Desenvolvimento Regional e de Sistemas Produtivos. UEMS Ponta
Porã-MS. E-mail: alinerobles.brito@gmail.com
Professor do CEDEPLAR/UFMG e do PPGDRS/UEMS e bolsista produtividade do CNPQ (nível 2).
E-mail: fabriciomissio@gmail.com
Introdução
A questão ambiental ganhou crescente relevância no âmbito das relações
internacionais em razão da existência de uma inevitável interdependência ecológica
que está diretamente relacionada ao desenvolvimento das nações.
Nesse contexto e em meio a globalização, os países buscam alternativas
sustentáveis para gerir seu território e seus recursos naturais de maneira
responsável e condizente com os fundamentos do Direito Internacional Ambiental i.
Todavia, essas alternativas não são facilmente implementadas, pois cada país
possui autonomia para estabelecer suas próprias políticas e ferramentas de gestão.
Além disso, as tratativas ambientais adotadas internamente pelos distintos países
relacionam-se diretamente com seus aspectos estruturais e, estes últimos, variam
conforme a realidade e a dinâmica econômica, social e cultural vivenciada em cada
um deles.
Alguns fatores da degradação ambiental são resultantes das decisões de
produção e de consumo. Essas decisões podem ocasionar o esgotamento dos
recursos naturais e afetar a qualidade de vida das sociedades, pois o meio ambiente
tem o papel de ser o provedor de recursos para a produção de bens e serviços e ao
mesmo tempo o receptor dos resíduos resultantes do processo econômico.
A preservação ambiental é uma responsabilidade de todos e, por isso, a
educação ambiental tem papel de destaque na sociedade contemporânea. É
fundamental, portanto, considerar a existência de vários interlocutores e
participantes sociais que precisam ser orientados acerca da temática ambiental por
meio da disseminação de práticas educativas que reforcem a corresponsabilidade e
os valores éticos em todos os níveis e esferas sociais.
As ações adotadas pelo poder público assumem grande relevância pois ele é
um dos principais responsáveis pela implementação de formas de regulação e
práticas eficientes de gestão ambiental. São exemplos as ações e políticas que
limitam e/ou monitoram a utilização desenfreada dos recursos naturais em seus
projetos de desenvolvimento econômico ou o direcionamento de práticas
educacionais à população a fim de conscientizar e minimizar a degradação
ambiental.
Logo, é possível adotar medidas para facilitar a gestão adequada dos
Resíduos Sólidos Urbanos (RSU)ii. Estas medidas podem trazer inúmeros benefícios
para a sociedade seja na geração de empregos, na preservação do meio ambiente
ou na minimização de outros problemas, como àqueles voltados ao saneamento
básico e a saúde pública (ABRELPE, 2017).
Não obstante, os problemas ambientais relacionados à inadequada gestão ou
gerenciamentoiii de resíduos sólidos tendem-se a se agravar em cidades fronteiriças
diante de diversos impasses que interferem nessa cadeia de descarte, do reuso e do
reaproveitamento de resíduos. Estes impasses vão desde a discordância entre
aspectos jurídico-administrativos até questões relacionadas a geopolítica
internacional ou a características socioculturais.
Cidades ou municípiosiv fronteiriços podem ser considerados como duas
amplas franjas territoriais que compartilham uma mesma linha, geográfica e política,
e convivem populações com particularidades próprias, distintas entre si e incomuns
à outras partes do território nacional (SARQUIS, 1996 apud MULLER, 2005).
Machado (2005) afirma que a posição geográfica singular destes territórios e sua
proximidade à linha-limite da divisão dos estados soberanos impõe a necessidade
de uma constante e complexa busca pela adaptação de um equilíbrio local nas
relações de poder e na atuação de ambos Estados. A autora enfatiza que “conceber
políticas públicas dirigidas às fronteiras internacionais é problemático por envolver
interesses, elementos espaciais e legislações de países distintos” (p. 259).
Portanto, a localização geográfica destes espaços torna as relações com a
vizinhança internacional intensas e complexas. Em razão disso, estas cidades se
tornam espaços propícios para relações urbanas incomuns em diferentes aspectos
Por outro lado, salienta-se que, por meio da recente Resolução nº 304/2019
publicada no dia 06/06/2019, a SEAM estabeleceu um guia com metodologias
aplicavéis para a realização de estudos de caracterização dos RSU no Paraguai. Ou
seja, compreende-se que é fundamental oferecer informações para construir
inventários sobre os resíduos sólidos, como também para a elaboração dos planos
nacionais e municipais e, assim, desenvolver ações que melhorem a gestão dos
resíduos sólidos no âmbito interno (SEAM, 2019).
Com relação à disposição final dos RSU é importante frisar que a SEAM
estabeleceu, via Resolução nº 282 no dia 4 de junho de 2004, os critérios para a
seleção de áreas e especificações técnicas para a disposição final de resíduos
sólidos. Um outro aspecto identificado é que, apesar de algumas informações
indicarem a existência de aterros sanitários em alguns municípios paraguaios (em
fase de execução ou em planejamento) licenciados pela SEAM, não foram
encontrados dados oficiais com informações atualizadas sobre a operação, a
capacidade e a situação em que os mesmos se encontram.
As análises de Moreira (2011) com base em informações oriundas de
organizações internacionais (como o BID) sugerem que a situação da disposição
final dos RSU no país continua crítica e alarmante, pois cerca de 72% do total dos
Corumbá/MS, Brasil. 7 a 9 de outubro de 2019. ISSN 2178-2245
412
resíduos sólidos ainda são dispostos em lixões a céu aberto; 24% em aterros
controlados; e, apenas 4% em aterros sanitários.
Em síntese, percebe-se que apesar de avanços pontuais importantes da
última década, a gestão e o gerenciamento dos RSU no Paraguai ainda é reduzida,
em grande parte inconsistente e com pouca efetividade. Portanto, pode-se afirmar
que a inexistência de um Plano Nacional de Gestão de Resíduos Sólidos fazem com
que os municípios paraguaios acabem atuando sem normativas e diretrizes gerais.
Isso, evidentemente, afeta o monitoramento ambiental. Ou seja, o escasso
planejamento e fiscalização da esfera nacional podem estar contribuindo para o alto
índice de descarte inadequado dos RSU.
Tavares, Morra e Merlo (2004) enfatizam que essa responsabilidade
municipal não significa necessariamente que esse ente federativo deva operar todo
o processo e manejo dos resíduos sólidos. Ou seja, podem ser firmados contratos
de concessões via licitações transparentes para o setor privado (empresas e
cooperativas), principalmente no que se refere aos serviços de coleta e disposição
final. Entretanto, os autores sugerem que os municípios precisam ter a
responsabilidade de gerenciar, arredacar recursos (via cobrança de taxas sob os
serviços), monitorar e realizar o pagamento dos serviços às empresas tercerizadas.
Quanto às atribuições dos governos departamentais e nacional, seria
fundamental melhorar a coordenação das ações ligadas à regulação e as exigências
legais para “pressionar” os municípios a implementarem as orientações previstas em
lei. Porém, primeiramente, os departamentos e o governo central precisam articular
estratégias para formular e implementar políticas em níveis macros para subsidiar os
planejamentos municipais. Isso poderia acontecer por meio da formação de uma
Reitoria para o Sistema de Manejo de Resíduos Sólidos, que seria administrada pela
SEAM e outros ministérios correlacionados (TAVARES; MORRA; MERLO, 2004).
A análise recente apresentada no Plan Nacional de Desarrollo Paraguay 2030
(PND) mostra certa preocupação do poder nacional com relação à situação crítica
dos RSU no país. Nele costata-se que não há uma coordenação efetiva no setor
responsável pela formulação de planos, programas e projetos destinados ao manejo
dos RSU tanto em nível nacional como departamental e municipal. Ademais, um
alinhamento de objetivos internamente poderia oferecer suporte para resolver
problemas (sanitários e ambientais) gerados pelos resíduos. O PND 2030 apresenta
uma estratégia específica aos RSU, traçando objetivos e metas a serem cumpridas
pelo país nos próximos anos para o “melhoramento do acesso e das condições de
moradia e hábitat, dos serviços básicos, saneamento, provisão de água, qualidade
do ar, solo e tratamento de resíduos” (PARAGUAY, 2014, p. 48).
Não obstante, além dos poucos progressos e da falta de efetividade nas
ações no âmbito político e institucional interno voltado à gestão dos RSU, o mesmo
não traz ações especificas às cidades fronteiriças. A Lei nº 3.956/2009
(especificamente nos art. 27 e 28) aborda sobre a questão da entrada e saída de
resíduos sólidos no país e impõe algumas restrições quanto à importação e à
exportação de resíduos sólidos, além de incumbir à SEAM de analisar e autorizar
casos excepcionais (PARAGUAY, 2009). Porém, apesar dessa normativa apontar
uma preocupação inicial à respeito da transfronteiricidade dos resíduos em gerais,
ela não trata da gestão compartilhada de RSU em áreas de fronteira.
Por fim, ressalta-se que o Paraguai também assinou a Convenção de Basileia
em 1989 (regulamentada pela Lei nº 567 de 1/06/95) bem como o Acordo-Quadro
sobre o Meio Ambiente do MERCOSUL (promulgado pela Lei nº 2.068/2003) que
determinaram premissas semelhantes com àquelas definidas pelo Brasil, ao proibir
expressamente o transporte internacional de resíduos e fomentar à cooperação
internacional para a preservação ambiental (PARAGUAY, 1995; 2003).
Apesar de nenhuma dessas duas tratativas abordarem diretamente a
problemática acerca da gestão de RSU em cidades da fronteira, o fato do Paraguai
fazer parte prospecta que, assim como o Brasil, ele estimula relações diplomáticas
para a proteção de seu território e recursos naturais. Contudo, isso não revela uma
preocupação consolidada com o inevitável compartilhamento territorial.
Legendas: RCC=Resíduos de Construção Civil/ RSS: Resíduos de Serviços de Saúde/ AM: Animais
Mortos/ RV: Resíduos Volumosos.
Fonte: IBAM/BID (2014, p. 41).
Segala et. al. (2015) enfatizam que este estudo demonstrou que gerir os RSU
em cidades fronteiriças é algo possível e factível e que, além de solucionar os
problemas ambientais com os descartes inadequados (e até mesmo ilegais), isso
possibilitaria uma maior integração econômica e social fomentando ainda a
cooperação internacional. Os autores salientam que a implantação do CTRS
implicaria no consentimento dos órgãos administrativos e responsáveis, nos âmbitos
estaduais e nacionais de cada país, e seguiria moldes jurídicos parecidos com
àqueles definidos na Itaipu Binacional.
Considerações Finais
Neste artigo, mostramos as dificuldades associadas a gestão dos resíduos
sólidos em cidades fronteiriças do Brasil e do Paraguai. Para tanto, apresentamos
dados e informações que permitiram a construção do panorama político/normativo
da gestão dos RSU em cada um dos países, tanto àqueles direcionados ao âmbito
interno como para as áreas de fronteira.
Todavia, a indissociabilidade do meio ambiente e a condição internacional
somadas à mobilidade transfronteiriça de recursos e de pessoas, exigem que os
Referências
ABENTE, D. The War of the Triple Alliance: Three Explanatory Model. Latin
American Research Review. (Vol. 22, No. 2, p. 47-69) 1987. Disponível em:
http://www.jstor.org/stable/2503485> Acesso em 16/06/2017.
em: <http://www.seam.gov.py/dirección-general/dirección-general-de-control-de-la-
calidad-ambiental-y-de-los-recursos-naturales> Acesso em 25/07/2018.
i
Dado o escopo deste trabalho, optou-se por não se empreender uma análise mais aprofundada da
abordagem jurídica internacional ambiental. Porém, cabe destacar que foi a partir da Declaração de
Estocolmo em 1972, que o Direito Internacional Ambiental começou a ser delineado de forma mais
enfática, onde foram estabelecidos princípios norteadores para as relações dos países em torno da
importância da temática ambiental na sociedade internacional (GUERRA, 2007).
ii
Não faz parte do escopo deste estudo abordar amplamente os aspectos conceituais e as
classificações acerca da temática dos Resíduos Sólidos, pois o principal intuito aqui volta-se para
analisar as implicações da ausência de uma gestão integrada de resíduos sólidos em cidades
fronteiriças. Assim, salienta-se que o termo resíduos sólidos faz referência nesses estudo aos
resíduos de origem urbana, que incluem: i) os domésticos, aqueles gerados pelas residências; ii) os
comerciais, que são produzidos em escritórios, lojas, hotéis, supermercados, ou seja, atividades com
fins comerciais; e, e) os de serviços, que são oriundo da limpeza pública urbana, varrição das vias
públicas, limpezas de galerias, terrenos, podas, capinação, praias, feiras, etc. (SCHALCH et. al,
2002).
iii
É fundamental diferenciar aqui também “gestão” e “gerenciamento” de resíduos sólidos. O primeiro
termo volta-se ao conjunto de ações direcionadas na busca de soluções para os problemas com o
descarte dos resíduos sólidos nas diferentes dimensões (políticas, econômicas, ambientais, culturais
e sociais), enquanto o segundo trata do conjunto de ações, diretas ou indiretas, para coleta,
transporte, transbordo, tratamento e disposição final dos resíduos. Ou seja, apesar de um
complementar o outro, eles possuem distintas implicações: um direciona-se nas resoluções de âmbito
político-institucional e o outro focaliza esforços aos termos técnicos (ROMANI; SEGALA, 2014).
Considerando abordar especificamente uma perspectiva mais ampla – a política, neste trabalho o
termo “gestão” será utilizado.
iv
Entende-se como cidade o espaço urbano do município, enquanto este último refere-se à unidade
política administrativa. Chama-se a atenção para o fato de que, embora em uma abordagem territorial
essas definições sejam relevantes para entender o espaço limite que está sendo analisado, neste
trabalho, cidades e municípios serão considerados como sinônimos.
v
Entre algumas dessas situações pode-se destacar três grandes acontecimentos: a Guerra da
Tríplice Aliança (ABENTE, 1987; DORARIOTO, 2012), e as construções da Ponte Internacional da
Amizade (GUIMARÃES; SOUZA, 2010) e da Usina Hidrelétrica Binacional de Itaipu (ITAIPU, 2019).
vi
Estes podem ser entendidos como um método que utiliza os princípios da engenharia (como a
impermeabilização do solo, cercamento, ausência de catadores, sistema de drenagem de gases,
águas pluviais e lixiviado) a fim de minimizar os danos ambientais e à saúde pública. O método
consiste em “confinar os resíduos e rejeitos à menor área possível e reduzi-los ao menor volume
permissível, cobrindo-o com uma camada de terra na conclusão de cada jornada de trabalho, ou a
intervalos menores, se necessário” (BRASIL, 2012, p. 15).
vii
Estas outras duas formas de disposição final de resíduos são aplicadas no país, porém, são
consideradas inadequadas. No aterro controlado, o único cuidado realizado é o recobrimento da
massa de resíduos e rejeitos com terra; e, no lixão, o descarte ocorre no solo diretamente sem
qualquer técnica ou medida de controle (BRASIL, 2012).
viii
Os resíduos perigosos: são considerados como aqueles que, em razão de suas características de
inflamabilidade, corrosividade, reatividade, toxicidade, patogenicidade, carcinogenicidade,
teratogenicidade e mutagenicidade, apresentam significativo risco à saúde pública ou à qualidade
ambiental, de acordo com lei, regulamento ou norma técnica (BRASIL, 2010).
Recentemente a SEAM passou a ser chamado Ministerio del Ambiente y Desarrollo Sostenible
ix
(MADES).
Graduado em Ciências Biológicas, Bacharel em Direito e mestrando em Estudos Fronteiriços pela
UFMS-Campus do Pantanal. Técnico de Laboratório de Botânica da UFMS-Campus do Pantanal.
E-mail: fernando.almeida@ufms.br
Graduada em Gestão Ambiental, mestre e doutora em Tecnologias Ambientais pela Universidade
Federal de Mato Grosso do Sul. Docente do Programa de Pós-graduação em Estudos
Fronteiriços/UFMS – Campus do Pantanal. E-mail: l.escalante.pereira@gmail.com
Introdução
O Direito Ambiental é um ramo do direito público que os interesses que
defende não pertencem à categoria do interesse público muito menos privado. Cuida
sim, de interesse de cada um e, ao mesmo tempo, a todos, conhecido como
transindividual ou metaindividual (SIRVINSKAS, 2012); seria um Direito “horizontal”,
que cobre os diferentes ramos do Direito (Privado, Público e Internacional), e um
Direito de “interações”, que tende a penetrar em todos os setores do Direito para
neles introduzir a ideia ambiental (PRIEUR et al,1984). Segundo Sirvinskas (2012), é
a ciência jurídica que estuda, analisa e discute as questões e os problemas
ambientais e sua relação com o ser humano, tendo por finalidade a proteção do
meio ambiente e a melhoria das condições de vida no planeta.
Em relação ao Direito comparado, não há um consenso na doutrina sobre a
sua definição. Para uma parcela da comunidade científica, trata-se de uma Ciência e
para a outra parcela é apenas um método de pesquisa. Cappelletti (2007), o
conceitua como:
[...] um método (de comparação jurídica e não direito que compara,
segundo a terminologia alemã, mais apropriada); é, em suma, uma maneira
de analisar o direito de dois ou mais sistemas jurídicos diversos: assim,
existe aquele que podemos chamar de ‘micro-comparação’, quando a
comparação é feita no âmbito de ordenamentos que pertencem a mesma
família jurídica (por exemplo, Itália e França) e a ‘macro-comparação’, se a
análise comparativa se conduz sobre duas ou mais famílias jurídicas, por
Ressalta-se que vários países que adotam o Civil Law, utilizam o Direito
Comparado para instituir normas em seu ordenamento jurídico, não só na área
ambiental como em outros ramos. Entretanto, a sua utilização é fundamental quando
estamos diante de uma situação em comum, como um bioma transfronteiriço, onde
a gestão ambiental individualizada pode não resultar na preservação de recursos
naturais importantes para a população dos países envolvidos.
A Lei 6.634/79 define como a faixa de fronteira a área interna de 150 km de
largura paralela à linha divisória terrestre do território nacional com os países
vizinhos. O Brasil possui 15.735 km de fronteira terrestre, o que corresponde a 68%
de toda a extensão dos limites territoriais brasileiros, ficando em contato com dez
outras nações sul-americanas, exceto Chile e Equador.
Para Foucher (1991) a palavra fronteira “é um substantivo derivado da palavra
front, ou frente, demonstrando, assim, a sua origem militar, pois no período medieval
era utilizada para designar aqueles que estavam na vanguarda das tropas
combatentes”.
Metodologia
As técnicas adotadas na pesquisa foram da Informetria e da Cienciometria e
em virtude da área de interesse, foi selecionada a plataforma Unbral Fronteiras –
Portal de Acesso Aberto das Universidades Brasileiras sobre Limites e Fronteiras –
como objeto de busca de dados.
Esta base de dados reúne, organiza e dá visibilidade às produções
acadêmicas sobre as fronteiras brasileiras, o que facilita a revisão bibliográfica, a
análise quantitativa e qualitativa dos pesquisadores que pretendem realizar estudos
sobre essa temática, pois todo o seu conteúdo é disponibilizado online, de maneira
gratuita e transparente (DORFMAN et al., 2016).
Para pesquisa na base Unbral foram utilizadas, a princípio, as seguintes
palavras-chaves: Direito Ambiental, Legislação Ambiental Comparada e Direito
Ambiental Internacional (os mesmos termos foram utilizados em espanhol e inglês).
O uso das seguintes palavras-chaves teve o intuito de alcançar pesquisas com
temática direta ou indiretamente relacionadas a Direito Ambiental em área de
fronteira.
Foram classificados como estudos de relação direta àqueles que possuem como
objeto de estudo comparar legislações ou a política/gestão ambiental de mais de um
país; e como relação Indireta àqueles que possuem como objeto de análise o
“Direito ambiental internacional” ou o “estudo de um recurso ambiental fronteiriço”,
ou seja, não realiza a comparação de leis e/ou política ambiental. Após a
classificação entre relação direta e indireta, foram extraídas as seguintes
informações dos trabalhos para tabulação: Título, Assunto, Abrangência, Ano de
publicação, Local de origem e tipo de publicação (tese, dissertação, monografia e
artigo).
Resultados
O levantamento realizado encontrou, utilizando as três palavras-chaves, 29
estudos relacionados à temática, sendo que 17 foram classificados como
Diretamente e 12 como Indiretamente relacionados (Figura 1).
17 Direta
Indiretamente
3 3
2 2
1 1 1
0 0 0 0
2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015
O direito da integração e os
reflexos na concepção de
estado-nação. A
Indireta América do Sul Recife, PE 2002
supranacionalidade normativa da
integração regional e um novo
conceito de soberania nacional
Águas transfronteiriças
Hungria e São Paulo,
superficiais: O caso da bacia do Direta 2005
Eslováquia SP
rio Danúbio
Cooperação penal
transfronteiriça nos processos de
Santa Maria,
integração: Perspectivas de um Direta América do Sul 2007
RS
novo paradigma para a
preservação do meio ambiente
Cobrança pelo uso dos recursos
hídricos do Aquífero Guarani
pelos países integrantes do Santa Maria,
Indireta América do Sul 2008
Mercosul a partir da Legislação RS
Brasileira
Cooperação internacional e
Brasil, Bolívia e São Paulo,
gestão transfronteiriça da água Direta 2009
Peru SP
na Amazônia
Formação e estruturação de um
Brasil, Argentina e
regime ambiental internacional Direta Santos, SP 2011
Uruguai
na Bacia do Prata
A produção da natureza na
fronteira do Brasil com o Brasil, Paraguai, Dourados,
Indireta 2012
Paraguai. O Pantanal e o Chaco: Bolívia e Argentina MS
Unidade e diversidade
A estruturação das vigilâncias
sanitárias brasileira e uruguaia: Sant'Ana do
Um estudo de caso de Sant'Ana Indireta Brasil e Uruguai Livramento, 2012
do Livramento e Rivera RS
A construção da concepção de
natureza na fronteira de Ponta
Dourados,
Porã/BR - Pedro Juan Direta Brasil e Paraguai 2012
MS
Caballero/PY e a produção do
urbano
Considerações geopolíticas
Cor Ucr Ind Chn Corumbá,
sobre as fronteiras Indireta 2013
Egy Isr USA Mex MS
contemporâneas
O direito internacional e o
São Paulo,
movimento transfronteiriço dos Indireta Mundial 2014
SP
transgênicos
Políticas públicas ambientais:
uma perspectiva comparada na Dourados,
Direta Brasil e Paraguai 2014
fronteira Sul - matogrossense MS
Brasil-Paraguai
As regulamentações ambientais
redefinindo a geografia da
Brasil, Chile e Porto Alegre,
produção: Estudo de caso da Direta 2014
Uruguai RS
produção de celulose no Cone
Sul
Regime internacional de
mudanças climáticas: ações
climáticas e paradiplomacia Indireta Brasil/Mundo Santos, SP 2015
ambiental do estado de São
Paulo.
3 1
3 Direto
4
1
9 2 Indiretos
3 3
Locais de origem, destaques para: Brasil, Mato Grosso do Sul, São Paulo, Paraná,
Dourados, Santa Maria e Corumbá (Figura 4).
Fonte: Elaborado com Wordclouds.com por Fernando Lara a partir dos dados Assuntos e Local,
disponíveis na Tabela 2 desta pesquisa.
Considerações Finais
Analisando o resultado da pesquisa, conclui-se que o termo Direito Ambiental
entre os pesquisados, apesar de genérico, é o mais adequado para pesquisa na
base de dados UNBRAL, pois foi o que mais gerou resultados sobre a temática (24).
Há que ressaltar que 93% dos estudos encontrados estão em português, o
que demonstra uma limitação da base de dados sobre estudos realizados em outros
países e idiomas.
Observou-se que, apesar de não estar próximo a limites territoriais com outros
países, o estado de São Paulo é o que há maior produção de trabalhos. Entretanto,
se levarmos em consideração os trabalhos desenvolvidos em estados limítrofes com
outros países (Mato Grosso do Sul, Paraná e Rio Grande do Sul), constata-se uma
preocupação pelos respectivos grupos de pesquisa com as questões ambientais que
ultrapassam os limites territoriais (16 estudos dos 29, representando 55%).
Verifica-se a partir de 2012 uma constância na produção de estudos
relacionados à temática. Assim, considerando a extensão de fronteira seca do Brasil
que é de quase 17.000 km (IBGE, 2018) e que nessa extensão há biomas que
Corumbá/MS, Brasil. 7 a 9 de outubro de 2019. ISSN . 2178-2245
435
Referências
DAVID, René. Traité Elementaire du Droit Civil Comparé. Paris, Libraire Générale
de Droit et Jurisprudence, 1950.
OLIVEIRA, T.C.M. Para além das linhas coloridas ou pontilhadas – Reflexões para
uma tipologia das relações fronteiriças. Revista da Associação Nacional de Pós-
graduação e Pesquisa em Geografia (Anpege). p. 233-256, V. 11, n.15, jan-jun,
2015.
PRIEUR, Michel, GUY, Claude Henriot. Droit de l’environnement. Paris: Dalloz, 1984
Abstract: This study reveals the performance of the social work professional, on the
Brazil / Bolivia border, between the cities of Corumbá and Puerto Quijarro, with the
population in a condition of economic vulnerability that seeks social assistance in the
Corumbá City Hall, and has as its general objective. “Know the limits and possibilities
of the professional practice of social workers in a border region”. Therefore, the
methodological path relies on bibliographic survey and semi-structured interviews
analyzed in the light of Social Work and interdisciplinarity. Considering that the
research project is ongoing, the results are still preliminary.
Keywords: Border, Social Worker, Immigrant.
Graduada em Serviço Social – Universidade Federal Fluminense - UFF, mestranda do Programa de
Pós Graduação em Estudos Fronteiriços – Universidade Federal de Mato Grosso do Sul – UFMS.
Assistente Social da Prefeitura Municipal de Corumbá. E-mail: natalia_buginga@hotmail.com
Graduada em Geografia – Universidade Federal de Mato Grosso do Sul - UFMS, mestre em
Educação – Universidade Federal de Mato Grosso do Sul - UFMS, doutora em Geografia –
Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP. Docente da Universidade Federal de Mato Grosso
do Sul – UFMS. E-mail: mara_aline@yahoo.com.br
Introdução
O tema aqui proposto enseja reflexões e está situado em torno da demanda
apresentada ao Serviço Social por usuários não residentes no Brasil, requerentes de
acesso às ações e serviços públicos da assistência social na cidade de Corumbá
localizada em região fronteiriça do Brasil com a Bolívia.
Considerações finais
A concepção de fronteira como um lugar prenhe de contrastes e contradições,
eleva a importância da atuação do/a assistente social a partir do olhar para além de
uma linha limítrofe entre Estados Nações com constituições próprias.
Referências
FOUCHER, Michel. Obsessão por fronteiras. São Paulo: Radical Livros, 2009.
GIL, A.C. Métodos e técnicas de pesquisa social. São Paulo: Atlas, 1999.
LOPES, Rodolfo Soares Ribeiro. Direito Internacional Público à luz dos Direitos
Humanos e Jurisprudência. Salvador: Ed. Juspodvm. 2018.
RAFFESTIN, Claude. Por uma geografia do poder. São Paulo: Ed. Ática, 1993.
i
ARTICULO 5º. Los Estados deben reconocer a los extranjeros domiciliados o transeuntes en su
territorio todas las garantías individuales que reconocen a favor de sus propios nacionales y el goce
de los derechos civiles esenciales, sin perjuicio, en cuanto concierne a los extranjeros, de las
prescripciones legales relativas a la extención y modalidades del ejercicio de dichos derechos y
garantías.
Inês Gusman
Juan Manuel Trillo Santamaría
Rubén Camilo Lois González
Mestre em Planificação e Gestão do Desenvolvimento. Universidade de Santiago de Compostela. E-
mail: ines.gusman@gmail.com
Doutor em Humanidades. Universidade de Santiago de Compostela. E-mail:
juanmanuel.trillo@usc.es
Doutor em Geografia. Universidade de Santiago de Compostela. E-mail: rubencamilo.lois@usc.es
Introdução
A consolidação do projeto europeu, e a sua forte aposta na cooperação
transfronteiriça permitiu criar novas territorialidades. Contudo, pôs também em
evidência as dificuldades em compatibilizar modelos políticos territoriais de Estados
diferentes. O caso de Portugal e Espanha é paradigmático: o peso simbólico e
político que a fronteira teve, sobretudo até aos anos 80 do século XX, não impediu
que, durante as últimas três décadas, fossem surgindo estruturas de cooperação
transfronteiriça a diferentes escalas. No entanto, as diferenças entre os mapas
políticos dos dois Estados têm colocado entraves à cooperação (LOIS GONZÁLEZ
et al., 2019). Na escala regional, se por um lado em Portugal segue um modelo
administrativo fortemente centralizado na sua capital, Lisboa, onde só as ilhas da
Madeira e dos Açores beneficiam de uma autonomia regional, o Estado espanhol
conta, desde 1978, com estruturas sub-estatais, as Comunidades Autónomas (CAs),
com amplos poderes legislativos, executivos e judiciais. Na escala local, os
municípios portugueses contam com muito mais poder e autonomia que os
espanhóis. Ao nível supralocal a cooperação faz-se entre as Comunidades
Intermunicipais (CIMs) do lado português e as províncias do lado espanhol, que são
Tal como acontece com as restantes CCDR, a CCDRN não é uma estrutura
eleita pela população, não tem representação no Comité das Regiões Europeias e é
fortemente dependente do poder da administração central (SYRETT; SILVA, 2001).
No entanto, pelo facto de nortearem atualmente os investimentos dos Fundos
Europeus de Coesão e Competitividade, têm vindo a ganhar força institucional.
Estes estímulos europeus permitiram às CCDR combater muitas das limitações
impostas pela organização territorial de Portugal, ainda que este tipo de estruturas
continue a atuar com falta de reconhecimento e legitimidade política e administrativa
(ANTUNES; MAGONE, 2018). No entanto, o enquadramento europeu permitiu que
estas infraestruturas passassem a ser também agentes com protagonismo na
cooperação transfronteiriça.
Norte de Portugal 3 3
Douro 11
Tâmega e Sousa 1
Ave 3
Terras de Trás-os-Montes 3 2
Área Metropolitana do Porto 4
Cávado 7
Alto Tâmega 8
Alto Minho 62 1
Considerações finais
Ao longo desta contribuição pudemos observar como dentro de um continente
marcado por várias fronteiras estatais, como é o europeu, e entre dois Estados onde
Referências
BAUM, M.; FREIRE, A.. Political Parties, Cleavage Structures and Referendum
Voting: Electoral Behaviour in the Portuguese Regionalization Referendum of 1998.
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https://data.dre.pt/eli/lei/50/2018/08/16/p/dre/pt/html. Acesso em: 10 abr. 2019
Abstract: This article analyzes the U.S.-Mexico border in its spatial and scalar
reconfiguration in regards to the Southern Border Comprehensive Plan (SBCP) to
control undocumented migration to the north. The key argument is that SBCP in fact
converted Mexico’s southern border into a U.S. extra-territorial border to control
migration. The main conclusion is that borders as containers are limited to control
undocumented migration because the socioeconomic processes are fluid and
operate as networks.
Key Words: Frontier sur, Undocumented Migration, Spatial Reconfiguration,
Treatment of personas, Illicit Economies.
Licenciatura en historia de la UNAM, maestría en relaciones internacionales e Doctor en
planificación urbana por The Florida State University (FSU). Pertenece al sistema nacional de
investigadores (SNI) nivel 2. Es profesor-investigador en El Colef. E-mail: spena@colef.mx
Maestro en desarrollo regional por el Colegio de la Frontera Norte, además es doctor en Planeación
Urbana y Regional por la Universidad del Sur de California. Investigador en la Dirección General
Regional Noroeste de El Colef en Ciudad Juárez. Pertenece al Sistema Nacional de Investigadores en
la categoría de Nivel I. E-mail: cfuentes@colef.mx
Resumo: Neste artigo analisa-se algumas das dinâmicas geográficas que se dão
em torno da fronteira Brasil-Paraguai e Brasil-Bolívia. Escolheu-se o espetáculo
como categoria de análise para compreender as geografias que ai se produzem. A
reflexão apresentada neste artigo tem base empírica, é fruto de pesquisa de campo
realizada, nos meses de outubro/novembro de 2018 em algumas áreas limites entre
Brasil e Paraguai e da vivência cotidiana na fronteira Brasil-Bolívia. Com base nesta
análise percebe-se que este debate é intenso e constante na geografia e a
discussão em torno do mesmo se dá com enfoques diferenciados. Nesse artigo
consideramos que a espetacularização que acontece nas fronteiras é provocada
pela atividade do turismo que além de consumidora é produtora de espaço. A
globalização produziu tanto a fronteira quanto o espetáculo e indissociável deste
processo a sociedade do espetáculo, imprescindível para o consumo.
Palavras-Chave: Fronteira; Espetacularização; Consumo; Brasil; Paraguai; Bolívia.
Abstract: This article analyses some of the geographical dynamics around the
Brazil-Paraguay and Brazil-Bolivia frontiers. The spectacle was chosen as a category
of analysis to understand the geographies that occur there. The reflection presented
in this article has an empirical basis, is the result of field research conducted in
October / November 2018 in some border areas between Brazil and Paraguay and
daily living on the Brazil-Bolivia border. Based on this analysis, one can see that this
debate is intense and constant in geography, and the discussion around it takes
place with different approaches. In this article we consider that the spectacularization
that happens in the borders is provoked by the activity of the tourism that, besides
being a consumer, is a producer of space. Globalization has produced both the
frontier and the spectacle and inseparable from this process the society of the
spectacle, essential for consumption.
Keywords: Border; Spectacularization; Consumption; Brazil; Paraguay; Bolivia.
Resumen: Este artículo analiza algunas de las dinámicas geográficas en torno a las
fronteras Brasil-Paraguay y Brasil-Bolivia. El espectáculo fue elegido como una
categoría de análisis para entender las geografías que ocurren allí. La reflexión
presentada en este artículo tiene una base empírica, es el resultado de una
Graduada em Geografia FCT/UNESP - Presidente Prudente/SP; Mestrado em Educação pela
FCH/UFMS Campo grande e Doutoranda em Geografia pelo Programa de pós-Graduação em
Geografia - "Produção do espaço regional e Fronteira" - da Universidade Federal da Grande
Dourados - FCH/UFGD/ Dourados-MS. Docente do Curso de Geografia na graduação, no
CPAN/UFMS - Universidade Federal do Mato Grosso do Sul - UFMS. e-mail:
cristinalanza13@hotmail.com
Introdução
que vemos na fronteira entre Brasil (Corumbá/MS) e Bolívia (Puerto Suarez), aqui
não há divulgação do comércio boliviano de forma alguma, nem na estrada que liga
a Capital do Estado de Mato Grosso do Sul a Corumbá, tão pouco na estrada já
próxima da fronteira não existe sequer um outdoor ou placa divulgando o mundo das
compras de importados que há do outro lado do limite fronteiriço. A comparação leva
à indignação, que motiva entender porque nesta fronteira o espetáculo, através da
propagando dos produtos importados não acontecem. Quando são indagados os
empresários do comércio boliviano, sobre a ausência de propaganda dos
estabelecimentos de comércio, dizem não haver necessidade.
O mesmo espetáculo das fronteiras paraguaias, em relação ao comércio,
não acontece na fronteira com a Bolívia, aliás o espetáculo acontece sim, mas o
foco da sedução não são as lojas de importados, o produto oferecido, ao longo de
toda estrada, são as belezas do Pantanal, o espetáculo que se apresenta aqui
vende o consumo do lazer. Tal fato pode ser constatado quando verifica-se que os
outdoors, placas e folhetos de propagandas se estendem ao longo da estrada que
leva a Corumbá, colocam sempre o Pantanal como atrativo, seja pela pesca ou
contemplação de suas belezas naturais, assim o espetáculo aqui se desenha, mas
com outro foco, que leva a compra de lazer; e o comércio de produtos importados é
uma conseqüência da viagem a esta fronteira onde o Pantanal faz o espetáculo.
Figura 2 - Rodovia Ramão Gomez que liga Brasil (Corumbá) - Bolívia (Puerto
Quijarro). Ao fundo Receita Federal do Brasil
do turista que vem para contemplá-lo. Estes turistas compram pacotes de viagem
ao Pantanal onde as empresas já incluem o roteiro de compras na Bolívia, ou seja, o
consumidor, do comércio dos importados que estão na Bolívia, a maioria vem
atraído pelo espetáculo produzido em torno do Pantanal. Existe um "acordo de
cavalheiros" entre alguns empresários do turismo e proprietários de shoppings na
Bolívia, que garante que o turista de pesca ou lazer façam suas compras de
importados.
Os hotéis existentes em Corumbá, em sua maioria, ao recepcionar o turista
informam os passeios e dentre eles estão as compras na Bolívia. Existem hotéis que
trazem o artesanato boliviano para ser vendido em suas instalações cedendo
espaço para os bolivianos se instalarem e exporem seus produtos, fazendo assim a
propagando do país vizinho.
Desta forma, o turismo de pesca e contemplação do Pantanal garantem o
espetáculo nesta fronteira e asseguram que o turismo de compras seja uma opção a
mais, diferente dos turistas que vão as fronteiras paraguaias em questão, vão
exclusivamente para comprar.
Enquanto nas rodovias que dão acesso às fronteiras paraguaias a viagem se
torna turismo, o turismo de compras, produzido pela exposição das propagandas
propiciando se vivenciar o consumo através da imagem; na rodovia que dá acesso a
Bolívia o turista contempla a exuberância da natureza do Pantanal, não deixando em
hipótese alguma de ser consumidor, mas atraído, na maioria das vezes, a esta
fronteira por outro espetáculo que não o exclusivamente do mundo das compras,
porque aqui existe outra mercadoria oferecida, o Pantanal.
A atividade turística produz o espaço fundamentado na satisfação dos desejos dos
turistas, é uma atividade que produz territórios diferentes em diferentes locais e deve
sempre levar em consideração as especificidades do desejo, atendendo as necessidades
dos turistas, no caso do Pantanal deve-se levar em consideração a aptidão natural do local
para o turismo de pesca e contemplação.
Se nas fronteiras em questão, tanto as paraguaias quanto a boliviana, o
espetáculo se mostra de maneiras diferentes, isto se deve ao fato de que as
relações estabelecidas pelo turismo passam fundamentalmente pelo consumo.
Assim o produto que melhor satisfaz os desejos dos turistas que vão a procura
destas fronteiras se tornam o carro chefe do espetáculo de cada uma. E ao
consumidor cabe procurar o que lhe convém e comprar de acordo com seu poder
aquisitivo.
Nas fronteiras paraguaias as barracas da feira, as lojas especializadas em
produtos importados e os grandes shoppings fazem o espetáculo, que em uma
mescla de imagens, com suas majestosas propagandas, aparecem como um
verdadeiro Édemiii. Esta dinâmica, típica de território de fronteira, propicia uma
interação entre as relações de trabalho e a reconstrução identitária, onde as
diferenças são os elementos originais na construção de uma nova identidade que se
faz e refaz todos os dias. Para Goettert (2017):
Em território de fronteira [...], concomitante ao movimento da força de
trabalho, também se dá o movimento de identificação [...] que no real se
processam simultaneamente. [...] o processo de construção identitário na
fronteira está profundamente assentado em bases territoriais,
especialmente nas escalas local e nacional[...] (GOETTERT, 2017 p. 20).
Considerações Finais
Referências bibliográficas
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RAFFESTIN, Claude. Por uma geografia do poder. São Paulo: Editora Ática, 1993.
Abstract: The present research deals with the transformations in the landscape:
dynamics, form, function and structure and how they concretize the dynamics of the
borders. To achieve this, we will improve our theoretical framework, theoretical
methodological framework. We will make field trips and consultations to the local
collection and to the Portal Fronteiras Fronteiras, we will analyze images,
photographs of the area of studies, listing the landscape elements, coming from the
present social processes. We selected a study site in the frontier region between
Pedro Juan Caballero (PY) and Ponta Porã (BR), because it is a region of great flow
of people and circulation of goods and services, where interventions occurred in the
urban layout for the landscape projects, due to local and extra-local economic
policies. The landscape bordering on its innovations and rugosidades, its uses and
distinctions, becomes unique. It stands out from its own potentialities and relevance
for the deepening of international relations as a multicultural pole.
Key-words: Border, Transformations in landscape, Transboundary.
Graduado em Licenciatura e Bacharelado em Geografia (UFRGS), mestre em Geografia,
doutoranda em análise territorial pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). E-mail
janart@terra.com.br
contributes diffusely and collectively to the economic and social development of the
region, irrigating resources in the most diverse segments, in relevant social projects
and in the fiscalizer support of activities that can bring environmental damages.
Keywords: Border, Brazilian Navy. Corumbá and Ladário, budget, bidding,
environment.
Introdução
Este ensaio tem como objetivo geral levar ao conhecimento da sociedade em
geral e do meio acadêmico a importância da presença da Marinha do Brasil na
fronteira oeste do país, especificamente, para os municípios de Corumbá e Ladário,
localizados no estado do Mato Grosso do Sul e como juridicamente, de forma
específica, contribui para o seu desenvolvimento econômico e social, através de
questões orçamentárias e financeiras, alinhadas aos atos e fatos administrativos
acessórios à execução cotidiana dos mesmos, além de abordar as missões de
ordem humanitária e projetos sociais empreendidos pela instituição, com vistas s
fortalecer a consciência marítima na consciência coletiva das populações das
regiões apreciadas.
Como metodologia adotada, utilizou-se de pesquisa aplicada a fim de geração
de conhecimentos em fontes documentais, com ênfase em documentos públicos
extraídos dos mais diversos Sistemas corporativos da União.
No tocante aos impostos será tratado de forma especial o Imposto Sobre
Serviços de Qualquer Natureza, ISSQN, que por intermédio de suas retenções irriga
Art. 142 As Forças Armadas, constituídas pela Marinha, pelo Exército e pela
Aeronáutica (..)
§ 1º Lei complementar estabelecerá as normas gerais a serem adotadas na
organização, no preparo e no emprego das Forças Armadas. (BRASIL.
1988, p. 87)
A Marinha adensará sua presença nas vias navegáveis das duas grandes
bacias fluviais, a do Amazonas e a do Paraguai-Paraná, empregando tanto
navios-patrulha como navios-transporte, ambos guarnecidos por
helicópteros, adaptados ao regime das águas. (BRASIL, 2012, p. 71)
Tabela 02. Análise da Marinha como fonte pagadora de salários aos militares e
servidores civis residentes nos municípios de Ladário e Corumbá nos anos de 2014
a 2016.
ANO MILITARES DA ATIVA SERVIDORES CIVIS
2014 153.426.762,55 3.420.948,98
2015 172.612.217,71 3.112.856.64
2016 171.921.409,11 4.281.846,24
2017 203.193.427,95 4.238.524,59
2018 202.085.625,67 3.145.784,94
TOTAL 903.239.442,99 18.200.024,75
TOTAL GERAL 921.439.467,74
Fonte: Sistema de Pagamento da Marinha, SISPAG-2, Relatório Estatístico da Divisão de Pagamento
do Centro de Intendência da Marinha em Ladário, CeIMLa.
1
RCT – Receitas; DPS –Despesas; PD - Produto
o
Art. 3 Para os efeitos desta Lei, considera-se agricultor familiar e
empreendedor familiar rural aquele que pratica atividades no meio rural,
atendendo, simultaneamente, aos seguintes requisitos:
I - não detenha, a qualquer título, área maior do que 4 (quatro) módulos
fiscais;
II - utilize predominantemente mão-de-obra da própria família nas atividades
econômicas do seu estabelecimento ou empreendimento;
III - tenha percentual mínimo da renda familiar originada de atividades
econômicas do seu estabelecimento ou empreendimento, na forma definida
pelo Poder Executivo IV - dirija seu estabelecimento ou empreendimento
com sua família. (BRASIL, 2006, p. indeterminada)
Licitações Sustentáveis
O Centro de Intendência da Marinha em Ladário (CeIMLa) exerce a atividade
de Unidade Centralizadora na região do Mato Grosso do Sul, sob a jurisdição do
2
M – Município; L –Ladário; C – Corumbá; T - Total
A proteção ambiental
A proteção do meio ambiente, segundo imperativo constitucional, cabe a
União, assim sendo, a representatividade do Estado na região estudada se faz
necessária.
O Pantanal Matogrossense, uma das maiores áreas alagadas continuas do
planeta, considerado patrimônio nacional pela Carta Magna nacional e reserva da
Biosfera e Patrimônio Natural da Humanidade pela UNESCO, demanda grandes
responsabilidades para sua proteção e conservação.
Cabe-nos, no entanto, definir alguns conceitos e imperativos legais que
versam sobre o assunto e legitimam a ação da marinha brasileira na conservação e
preservação deste patrimônio nacional.Alude a Constituição em seu artigo 225:
3
Os dados poderão ser requeridos de acordo com a Lei nº 12.527 de 18 de novembro de 2011 que
o o
Regula o acesso a informações previsto no inciso XXXIII do art. 5 , no inciso II do § 3 do art. 37 e no
o o
§ 2 do art. 216 da Constituição Federal; altera a Lei n 8.112, de 11 de dezembro de 1990; revoga a
o o
Lei n 11.111, de 5 de maio de 2005, e dispositivos da Lei n 8.159, de 8 de janeiro de 1991; e dá
outras providências, junto ao Grupamento de Fuzileiros Navais de Ladário, UASG 786200.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O desenvolvimento do presente estudo possibilitou uma análise de como a
presença histórica da marinha brasileira contribui, juridicamente, com o
desenvolvimento econômico, social e proteção ambiental dos municípios de
Corumbá e Ladário, tendo em vista as análises dos documentos públicos
decorrentes dos sistemas corporativos pertencentes ao Governo Federal.As
comparações de ordem econômicas entre as expensas orçamentárias do poder
naval em relação aos municípios em estudo trazem uma visão objetiva da proporção
dessa relação. O poder aquisitivo anual da folha de pagamento é outra maneira de
se retratar a contribuição e o impacto econômico positivo no comércio local, evento
esse cíclico e permanente. A argüição das iniciativas em detrimento das pequenas e
microempresas é fundamental para o desenvolvimento desses entes, focados nas
Corumbá/MS, Brasil. 7 a 9 de outubro de 2019. ISSN . 2178-2245
516
Referências
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2006/Lei/L11326.htm. Acesso
em: 17 mar. 2019.
Graduado em Geografia, mestre em Geografia Humana. Professor do Instituto Federal de
Educação, Ciência e Tecnologia de Rondônia. E-mail: fabio.brito@ifro.edu.br
Graduado em Filosofia, mestre em Educação Escolar. Professor do Instituto Federal de Educação,
Ciência e Tecnologia de Rondônia. E-mail: decio.marques@ifro.edu.br
Bolsista do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Aluna do
Curso Técnico em Manutenção e Suporte em Informática Integrado ao Ensino Médio no Instituto
Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Rondônia. E-mail: edwardaojopi@gmail.com
Resumo: Esta pesquisa teve como objetivo levantar e discutir as ações educativas
para saúde e segurança do trabalho, realizadas pelo Cerest (Centro de Referência
em Saúde do Trabalhador) de Corumbá-MS. O Cerest tem a finalidade de promover
ações que tragam melhoria das condições do trabalho e qualidade de vida dos
trabalhadores, tais ações ocorrem por meio da promoção, prevenção e vigilância dos
ambientes de trabalho. Foi realizada uma pesquisa qualitativa, descritiva, utilizando
a técnica de análise documental. A amostra consistiu dos arquivos e relatórios
elaborados pelo Cerest. Quanto aos resultados das ações, todos os relatórios
apontam a importância das ações educativas para a emancipação dos trabalhadores
frente aos problemas com segurança e saúde no trabalho. Mostra também que há
retorno por parte dos trabalhadores em melhorias implantadas nos ambientes de
trabalho após as inspeções, fiscalizações e/ou palestras.
Palavras Chave: Segurança do trabalho; Saúde no Trabalho; Educação para saúde
e segurança no trabalho.
Abstract: This research aimed to raise and discuss the educational actions for
health and safety at work, carried out by Cerest (Center of Reference in Worker's
Health) of Corumbá/MS/Brazil. The Cerest have the purpose of promoting actions
that bring improvement of working conditions and quality of life of workers, such
actions occur through the promotion, prevention and surveillance of work
environments. A qualitative, descriptive research was carried out using the
documentary analysis technique. The sample consisted of files and reports prepared
by Cerest. As for the results of the actions, all the reports point out the importance of
educational actions for the emancipation of workers in the face of problems with
safety and health at work. It also shows that there is a return on the part of the
workers in improvements implemented in the work environments after the inspections
and/or lectures.
Keywords: Workplace safety; Occupational Health; Education for health and safety
at work.
Graduado em Administração pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul e Técnico em
Segurança do Trabalho do Centro de Referência em Saúde do Trabalhador. E-mail:
dalton.seg_trab@hotmail.com
Professor Adjunto da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul. E-mail: fernando.t@ufms.br
Resumen: Esta investigación tenía como objetivo plantear y discutir las acciones
educativas para la salud y seguridad del trabajo, realizadas por Cerest (Centro de
Referencia en la Salud del Trabajador) de Corumbá/MS/Brasil. Cerest tiene el
propósito de promover acciones que mejoren las condiciones de trabajo y la calidad
de vida de los trabajadores, acciones que se realizan por médio de la promoción,
prevención y vigilancia de los entornos laborales. Se realizó una investigación
cualitativa y descriptiva utilizando la técnica de análisis documental. La muestra
consistió en archivos e informes preparados por Cerest. En cuanto a los resultados:
todos los informes señalan la importancia de las acciones educativas para la
emancipación de los trabajadores frente a los problemas de seguridad y salud en el
trabajo. También muestra que hay un retorno por parte de los trabajadores en las
mejoras implementadas en los entornos de trabajo después de las inspecciones y/o
conferencias.
Palabras clave: Seguridad laboral; Salud ocupacional; Educación para la salud y
seguridad en el trabajo.
Introdução
O Centro de Referência em Saúde do Trabalhador – Cerest, vem realizando
atividades de prevenção e fiscalização em empresas e demais organizações, com
vistas a promoção da saúde dos trabalhadores. Estas atividades são realizadas por
meio das denominadas “buscas ativas”, que são ações de investigação junto aos
trabalhadores acidentados e/ou doentes em função do trabalho. Observa-se que os
acidentes ocorrem com muita frequência no município de Corumbá-MS e região.
Diante das notificações verificadas no Cerest e os relatos dos trabalhadores
contadas nas fichas de notificações, percebe-se que a grande maioria desses casos
poderiam ter sido evitadas se houvesse sensibilização tanto dos empregadores
quanto dos empregados.
Segundo Sampaio (1998), a utilização de ações de prevenções dos riscos e a
disponibilização de informações e treinamentos das pessoas são relacionados a
redução significativa dos acidentes. Para Melo (2001), é necessário que se integre
os projetos de segurança no trabalho aos projetos operacionais das organizações.
A Administração é uma aliada indispensável na Segurança do Trabalho, pois,
propicia a gestão dos funcionários principalmente quanto ao treinamento, ferramenta
fundamental dentro das organizações que tem por objetivo esclarecer, e capacitar os
colaboradores.
Informar os trabalhadores sobre os riscos a que eles estão expostos em seus
respectivos ambientes de trabalho, as consequências de tais riscos para a sua
saúde e integridade física, bem como para sociedade e as maneiras de se prevenir
de tais riscos é uma ação preventiva que a legislação trabalhista pertinente exige
que sejam desenvolvidas pelas organizações/empresas.
É de fundamental importância que a equipe do Cerest esteja atenta quanto à
ocorrência de trabalho escravo na região, especialmente por Corumbá situar-se em
região de fronteira. Esta situação pode incorrer no ingresso de pessoas oriundas de
outros países, fato este recorrente, podendo despertar o interesse de empregadores
oportunistas por mão de obra barata.
Além disso, pode-se inferir até mesmo que estrangeiros se submetam a
condições trabalhistas análogas à escravidão, como por exemplo trabalhar em troca
de comida e local para dormir, muitas vezes sem as mínimas condições de higiene e
conforto.
Existem ocorrências de fiscalização por parte do Cerest em que trabalhadores
bolivianos estiveram trabalhando sem qualquer atribuição regulamentada pela
legislação trabalhista brasileira, tais como: EPI’s sem condições de uso, falta de
EPI’s adequados para vazamento de produto químico (amônia), condições
desfavoráveis para alimentação e permanência dos trabalhadores e ausência de
registro como contrato de trabalho ou carteira assinada, etc.
De acordo com Patarra et al. (2013), estes trabalhadores são cobertos pela
denominada Lei dos Estrangeiros (Lei Federal 6.915/1980). Observa-se que esta
serviu apenas para uma parte mínima dos trabalhadores, possui contradições em
relação aos direitos humanos e do trabalho, considerando acordos junto à
Organização Internacional do Trabalho, o qual estabelece que os estrangeiros
devem ser tratados de forma igualitária (PATARRA et al., 2013; AMARAL, 2017).
Outro aspecto importante são os gastos públicos relacionados aos acidentes e
doenças. Como exemplo, a Lesão por Esforço Repetitivo - LER/DORT, na gerência
do INSS de Campo Grande/MS, administradora das agências dos municípios da
região leste, norte e oeste de Mato Grosso do Sul, foram registrados 1.354 casos
desde janeiro de 2017 a janeiro de 2019.
Em média cada paciente teve o benefício concedido no valor de R$ 1.283,93
reais por um período de três meses (média do período de afastamento), totalizando
mais de cinco milhões de reais.
Considerando que as atividades de educação são relevantes na prevenção
dos acidentes de trabalho, esta pesquisa tem como objetivo analisar as ações
educativas realizadas pelo Cerest nas empresas dos municípios de Corumbá e
Fundamentação Teórica
A segurança no trabalho é uma área que proporciona benefícios em todos os
setores da sociedade, pois, trabalha com prevenção e isso evita tanto prejuízos
particulares (acidentes e doenças ou óbito), quanto prejuízos coletivos, o aumento
de dependentes do INSS, hospitais superlotados, deficiência de mão de obra,
indenizações trabalhistas, acidentes ambientais e outros.
A educação no trabalho é poderosa ferramenta que, se bem empregada,
insere na organização todo o conhecimento necessário para que os funcionários,
independente do cargo que ocupem: diretor-presidente ou auxiliar de serviços
gerais, tenham condições de identificar os riscos presentes nas atividades laborais e
a forma de neutralizar/eliminar tais riscos no âmbito de sua atribuição.
Para isso a Educação no trabalho precisa estar abastecida de uma rotina de
treinamentos, palestras, capacitações e cursos que enriqueçam o capital intelectual
Dessa forma todos ganhariam, uma vez que as ações educativas deixariam
de ser corretivas, pois as empresas só fazem ações após as ocorrências de
acidentes, e passariam ser em sua grande maioria de caráter preventivo.
Após verificado os fundamentos teóricos sobre Segurança e Saúde do
Trabalho utilizados nesta pesquisa, a próxima seção versará sobre o tema Educação
no Trabalho, proporcionando vislumbrar o principal tema objeto desta pesquisa.
Educação no trabalho
O trabalho “é a condição indispensável da existência do homem, uma
necessidade eterna, o mediador da circulação material entre o homem e a natureza”
(MARX apud RIBEIRO, 2009, p. 50).
O trabalho pode ser emancipador, mas pode também ser um instrumento que
submete e até mesmo escraviza o ser humano. O trabalho pode ser responsável por
gerar prazer para alguns, mas também pode ser responsável por gerar pesadelo e
sofrimento para outros. E tudo isso independentemente da qualidade do trabalho ou
mesmo do seu valor social.
De maneira geral, entendemos a educação como uma ação humana
intencional com o objetivo de transmitir um conjunto específico de conhecimentos a
indivíduos que supostamente não os têm (RIBEIRO, 2009, p. 49).
De acordo com Paulo Freire “a educação tem caráter permanente. Não há
seres educados e não educados, estamos todos nos educando. Existem graus de
educação, mas estes não são absolutos” (OLIVEIRA, 2009).
Ademais, o entendimento dos modos de vida dos vários e diferentes grupos
sociais como fatores associados à qualidade de vida, especialmente no
âmbito de específicas áreas geográficas, demandam uma maior integração
e rearticulação entre a educação e saúde e as estratégias da promoção da
saúde com esforços multidisciplinares e multissetoriais (PEREIRA apud
FAGUNDES; OLIVEIRA, 2001, p. 122).
Assim, Educação em Saúde do Trabalhador é entendida como a construção
partilhada de saberes e práticas, pela comunicação/interação entre usuários e
servidores acerca do processo saúde/doença do trabalhador, objetivando “preparar
pessoas, em diferentes contextos socioculturais, para serem capazes de maneira
consciente de decidir as suas ações, em direção a uma melhor saúde pessoal,
familiar e coletiva” (PEREIRA, 1995 apud FAGUNDES; OLIVEIRA, 2001, p. 125).
A modalidade de ensino que mais surte efeito quando se trata de ações
educativas em empresas é a modalidade não formal, pois, ela se dirige a um público
Metodologia
A pesquisa utilizada foi do tipo qualitativa e descritiva a qual abordou um
estudo de atividades realizadas no Cerest, a respeito das ações educativas bem
como seus resultados.
A pesquisa qualitativa permite analisar dados com maior profundidade, sem
utilizar-se de tratamentos estatísticos, apoiando-se em documentos, como atas,
relatórios, documentos etc. (CRESWELL, 2010).
A pesquisa documental corrobora com o método utilizado neste trabalho, para
tal foram utilizados relatórios elaborados a partir de fiscalizações realizadas pelo
órgão que contém dados que são mantidos em sigilo e só foram liberados para
pesquisa pela coordenação do Cerest desde que não fosse revelado nenhum nome
nem de pessoas nem de empresas.
Em relação à utilização da pesquisa descritiva,
As pesquisas descritivas são, juntamente com as exploratórias, as
que habitualmente realizam os pesquisadores sociais preocupados
com a atuação prática. São também as mais solicitadas por
organizações como instituições educacionais, empresas comerciais,
partidos políticos etc. (GIL, 2008, p. 28).
Justamente a descrição que busca os resultados da sinergia entre teoria e
práticas educativas em saúde e segurança que o Cerest promove a comunidade
trabalhadora e as empresas, possibilitando associar o conhecimento a realidade do
trabalho e suas vantagens.
Com bases em artigos e livros citados na fundamentação teórica, que
demonstram a eficiência da educação como princípio emancipador na transmissão
de conhecimentos, em questão de saúde e segurança do trabalho.
A pesquisa documental foram relatórios elaborados pelo Cerest que
continham casos de agravos acidentes e ou doenças que vieram acometer os
trabalhadores. E para a melhora desse quadro apenas as ações educativas que
surtem e efeitos.
De acordo com Gil (1999) a pesquisa documental permite investigar
informações escritas sem tratamentos analíticos. Para tanto, a amostra de dados
coletados foi referente aos documentos e relatórios de atividades do Cerest no ano
2019, em especial o relatório quadrimestral de atividades.
Resultados
Contextualização da organização
O Centro de Referência Regional em Saúde do Trabalhador que tem por
finalidade congregar/unificar os esforços dos principais executores com interface na
saúde do trabalhador, tendo como objetivo atuar prevenindo, controlando e
enfrentando, de forma estratégica, integrada e eficiente os problemas de saúde
coletiva como as mortes, acidentes e doenças relacionados com o trabalho.
De acordo com o artigo 7º da 2.728, de 11 de novembro de 2009, expedida
pelo Gabinete do Ministério da Saúde, que Dispõe sobre a Rede Nacional de
Atenção Integral à Saúde do Trabalhador: “o CEREST tem por função dar subsídio
técnico para o SUS, nas ações de promoção, prevenção, vigilância, diagnóstico,
tratamento, e reabilitação em saúde dos trabalhadores urbanos e rurais”.
Cabe ao Cerest promover a integração da rede de serviços do SUS assim
como suas vigilâncias e gestão, na incorporação da Saúde do Trabalhador em sua
atuação rotineira. Suas atribuições incluem apoiar investigações de maior
complexidade, assessorar a realização de convênios de cooperação técnica,
subsidiar a formulação de políticas públicas, fortalecerem a articulação entre a
atenção básica, de média e alta complexidade para identificar e atender acidentes e
agravos relacionados ao trabalho, em especial, mas não exclusivamente, aqueles
contidos na lista de Doenças Relacionadas ao Trabalho ou de notificação
compulsória.
No Estado de Mato Grosso do Sul o Cerest está dividido em estadual com
sede em Campo Grande, e os regionais que estão nas cidades de Corumbá e
Dourados sendo que estes últimos atendem as cidades próximas denominadas de
microrregiões.
A administração deste órgão compete à prefeitura local, sendo que quem
transfere essa responsabilidade é o Cerest estadual.
É fundamental que se tenha definida as estratégias de ações realizadas pela
equipe para que todos os casos de acidentes/doenças que chegam ao Cerest
tenham tratativa de forma eficiente sem que uma equipe atrapalhe o trabalho da
outra. Nesse caso, o uso dos recursos tais como veículo e data show, deve ser
avisado com antecedência para que haja a programação das respectivas atividades.
Estas atividades consistem em inspeções/palestras nas organizações,
apuração de denúncias, realização de busca ativas, elaboração de relatórios em
função das inspeções etc.
O Cerest não possui poder de punir, quando encontra irregularidades durante
as fiscalizações, a equipe elabora um relatório e encaminha para a gerência e esta,
por sua vez, encaminha a Agência do Ministério do Trabalho local que, se julgar
necessário, aciona o Ministério Público do Trabalho.
O que o Cerest pode conceder dependendo da situação é o TAC, Termo de
Ajuste de Conduta, que é uma notificação com prazo que varia de quinze a trinta
dias para que a empresa fiscalizada se adéque ao que estiver estipulado na
notificação.
O Cerest aqui em Corumbá surgiu em 2004 inicialmente como NUREST
(Núcleo de Saúde do trabalhador), administrado pela Prefeitura Municipal,
funcionava em uma sala no Posto de Saúde da Ladeira, este situado na Ladeira
Cunha e Cruz na área central da cidade.
Posteriormente em 2007 passou de Núcleo a Centro de Referência em Saúde
do Trabalhador criado pela Portaria Ministerial 1.679/2002, que tem por finalidade
ampliar a Rede Nacional de Atenção à Saúde dos Trabalhadores (RENAST) esta
criada pela Portaria 2.728/2009, citada anteriormente, integrando os serviços do
Sistema Único de Saúde (SUS), voltados a Assistência e a Vigilância, com sede
própria.
Desde então, vem passando por várias gestões, sempre auxiliando tanto
empresas como trabalhadores, levando ações que envolvam a conscientização de
ambos na questão da saúde laboral, a identificação e prevenção dos riscos no
trabalho, trabalho infantil, assédio moral, os direitos que amparam os trabalhadores,
caminhadas em dias alusivos ao trabalho e todo conhecimento que os profissionais
do Cerest recebem em capacitações, cursos, encontros, congressos e outros, são
utilizados em suas ações.
Atualmente o Cerest, por meio das suas ações nas empresas, vem fazendo o
mapeamento do parque industrial da cidade, no que toca à saúde e segurança ao
trabalhador, desta forma, as futuras ações de sensibilização ficarão mais práticas,
pois, será possível ter a informação atualizada das atividades por região da cidade,
por função e outros.
A rotina do Cerest se baseia em receber os comunicados da Rede Sentinela,
que são órgãos responsáveis por fazer a triagem dos casos de acidentes/doenças
relacionadas ao trabalho, sendo estas: Pronto Socorro, Unidades de Pronto
Atendimentos (Upa), Hospitais, Centro Especializado em Reabilitação (Cer),
Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae), Centros de Atenção
Psicossociais (Caps), Fisioterapia Municipal, Ambulatório Municipal e Postos de
Saúde.
A partir destes, o Cerest realiza as buscas ativas, gerando um relatório que é
lançada no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan), interligado ao
Cerest estadual, e este, ao Ministério da Saúde.
Os problemas de saúde e segurança que o Cerest atua são denominados de
Agravos de Notificação Compulsória estabelecidos pelo Sinan, sendo:
1. Perda Auditiva Induzida por Ruído
2. Dermatoses Ocupacionais
3. Pneumoconioses
4. Ler-Dort
5. Câncer Relacionado ao Trabalho
6. Acidente de Trabalho com Exposição à Material Biológico
7. Transtornos Mentais Relacionados ao Trabalho
8. Acidente de Trabalho Fatal
9. Acidente de Trabalho com Mutilações
10. Acidente de Trabalho em Crianças e Adolescentes
11. Intoxicação Exógena
O rol de serviços executados pelo Cerest é:
1. Atendimento e orientação ao público
2. Recebimento de notificações da rede sentinela
3. Realização de busca ativas
4. Alimentação do sistema Sinam com o resultado das buscas ativas
5. Visitas e inspeções/fiscalizações nas empresas
6. Palestras nas empresas e órgãos públicos
7. Eventos como caminhadas em datas alusivas à saúde e segurança do
trabalho
Cerest, ou as ações educativas desenvolvidas por este órgão têm surtido efeito
positivo na conscientização tanto das empresas quanto dos empregados e ambos
cumpridos de forma consciente as suas respectivas obrigações de segurança
quando da execução das atividades.
Outro serviço é atender trabalhadores que vão ao Cerest em busca de
informações, estes são recepcionados por qualquer funcionário e imediatamente
encaminhados ao técnico de segurança do trabalho, que atende estas pessoas e
registra em livro de ata as informações pertinentes, tais como: a atividade que
desempenham; a empresa que trabalham; o fato ocorrido se acidente ou doença
profissional ou do trabalho ou transtorno mental, as condições de trabalho e o
responsável pela empresa, posteriormente os encaminha a (o) médico (a) ou
psicóloga, diante do diagnóstico se confirmado, o trabalhador é notificado
imediatamente na ficha do Sinam e tais informações são levadas ao coordenador e
este junto com a equipe define as ações a serem tomadas em relação ao caso.
Em seguida o Cerest entra em contato com a empresa explica a atuação do
mesmo, expõe a situação, houve a versão da empresa, realiza
inspeção/fiscalização, elabora um relatório com base no que é encontrado e oferece
os serviços de atendimento médico, psicológico e de fisioterapia além de palestras
pertinente a questão envolvida, sejam estas, saúde e segurança do trabalho,
assédio moral, assédio sexual, trabalho infantil, ergonomia, riscos no ambiente de
trabalho, medidas preventivas contra acidentes e doenças e outros.
Para que estas ações ocorram é fundamental o planejamento por parte de
todos da equipe, pois, devido à demanda em uma semana tem que atender até três
empresas e mais a rotina de atendimento no prédio do Cerest.
No caso dos transtornos mentais os dados não são exatos, pois, neste tipo de
agravo ocorre a subnotificação, uma vez que é de conhecimento deste órgão, muitos
casos, em que os pacientes buscam ou são encaminhados para tratamento
particular e isso não chega ao conhecimento deste órgão.
Outra importante atividade executada pelo órgão é o matriciamento. Trata-se
da capacitação de unidades de saúde de Corumbá e Ladário para que estas
unidades possam adequadamente identificar e notificar sobre vítimas de acidentes
ou doenças do trabalho, desta forma a rede sentinela fica ampliada. Este, porém, é
considerado um trabalho desafiante pela equipe do Cerest, pois, são muitas as
unidades a serem capacitadas.
Considerações Finais
Como observação geral deste trabalho a ponderação maior é que a questão
da segurança e saúde do trabalhador, em se falando em região (Corumbá e
Ladário), não é levada a critérios de preocupação como deveria por parte das
empresas, isso independente do porte destas.
Por mais que se tenha avanços nas tecnologias na área da prevenção
observa-se também o descaso até mesmo entre autônomos. A razão demonstra que
o caminho mais lógico para que se tenha êxito na redução de acidentes e doenças
do trabalho é a educação somada à experimentação, a teórica seguida da prática no
ambiente de trabalho.
Neste ponto, é necessário empenhar todo o esforço possível por parte das
organizações e o comprometimento dos colaboradores em querer realmente que a
segurança do trabalho funcione, proporcionando a ambos, benefícios, tais como
aumento do lucro, redução de perda tempo e perda de mão de obra e qualidade de
vida para os funcionários.
Referências
BORGES, Luiz Henrique; KIEFER, Célia. A teoria dos conteúdos críticos e sociais e
psicodrama: uma articulação possível para a educação em saúde do trabalhador. In:
GIL, Antônio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. 5ed. São Paulo:
Atlas, 1999.
Abstract: In Brazil, Free Trade Areas (a term that in Brazilian legislation corresponds
to free zones) are present in strategic geographic regions, being created in order to
strengthen and intensify economic and industrial development. In this sense, and
against the background of Law 533/2015, which proposes the creation of a Free
Trade Area in the municipality of Corumbá/MS, this research seeks to analyze the
impacts arising from the possible creation of a free zone in the aforementioned
municipality, taking into account regional dynamics and the existing economic
environment. Starting from an interdisciplinary approach, the present work seeks to
understand if the Free Trade Areas project would have elements capable of
promoting and boosting the economic development of the region. In addition to the
theoretical and bibliographic framework, the article is based on interviews and field
work.
Keywords: Free Trade Area; economic development; borders.
Resumen: En Brasil, las Áreas de Libre Comercio (un término que en la legislación
brasileña corresponde a zonas francas) están presentes en regiones geográficas
Graduado em Relações Internacionais (UFGD) e mestrando em Fronteiras e Direitos Humanos –
PPGFDH/UFGD. E-mail: paulocsantosm@hotmail.com
Graduado em Relações Internacionais (PUC/SP), mestrado em História (PUC/SP) e doutor em
Ciências Sociais – PUC/SP. E-mail: tomazneto@ufgd.edu.br
Introdução
O município de Corumbá, localizado no Arco Central da faixa de fronteira do
Brasil, passou por um período de forte crescimento entre meados do século XIX e
início do século XX com a exploração da navegação no Rio Paraguai. Na atualidade,
a região se destaca por suas reservas de minério de ferro e manganês, bem como
pela diversidade turística por conta do Pantanal sul-mato-grossense e ainda pelo
comércio de fronteira que movimenta a economia local, que envolve também as
cidades de Ladário, do lado brasileiro, e de Puerto Quijarro e Puerto Suárez, do lado
boliviano.
Nos últimos anos, o Projeto de Lei 533/2015, que prevê a instalação de uma
Área de Livre Comércio (ALC1) no município, trouxe à tona o debate acerca das
potencialidades e dos impactos socioeconômicos que serão causados pelo mesmo.
Nesse sentido, o presente trabalho consiste em uma análise interdisciplinar, sob a
ótica do Direito, da Geografia Política e das Relações Internacionais, acerca do
tema.
Inicialmente, será apresentado um levantamento de informações e dados
sobre o município de Corumbá, evidenciando sua localização geográfica, o
desenvolvimento econômico da cidade ao longo dos anos, bem como a sua
importância para a integração com outros municípios no âmbito da fronteira. Serão
abordados elementos factuais referentes ao processo histórico de desenvolvimento,
à cooperação transfronteiriça e à integração regional.
Em seguida, o texto trará aspectos pontuais dos conceitos de Áreas de Livre
Comércio no intuito de estabelecer correlações de entendimento e dar maior clareza
1
Área de Livre Comércio.
ao tema. Por fim, será abordado o Projeto de Lei 533/2015 com seus principais
pontos e seu andamento. O que será fundamental para a reflexão acerca dos
impactos positivos e negativos advindos do referido projeto.
O presente trabalho tem como objetivo aferir até que ponto a estratégia de
desenvolvimento baseado em isenção fiscal e na atração de empresas por meio de
regimes tributários diferenciados resultaria em efeitos positivos e alteraria a
realidade de Corumbá. Trata-se de uma pesquisa qualitativa, básica, de cunho
exploratório, pautada em análise documental e bibliográfica, enriquecida com
cartografia produzida pelo autor.
2
O território do município de Corumbá também faz fronteira com o Paraguai, embora não haja aglomeração
urbana nesse caso, em nenhum dos lados.
Balassa (1961) faz uso do conceito de Zona de Livre Comércio atribuído pelo
G.A.T.T.3, que a define como sendo:
A free-trade area shall be understood to mean a group of two or more
customs territories in which the duties and other restrictive regulations of
commerce (except, where necessary, those permitted under Articles XI, XII,
XIII, XIV, XV and XX) are eliminated on substantially all the trade between
the constituent territories in products originating in such territories. (G.A.T.T.
1986. P. 43)
Ainda, para o autor, a diferença entre uma Zona de Livre Comércio e uma
União Aduaneira reside no fato de que os benefícios, legislações e restrições
existentes em uma Zona de Livre Comércio envolvem apenas os países membros,
sem ser aplicada a países terceiros uma vez que uma União requer a existência de
politicas comerciais comuns envolvendo os países não membros da Zona
(BALASSA, 1986, p. 110).
Existem outros blocos econômicos no mundo, como por exemplo, no contente
americano podemos destacar o North American Free Trade Agreement (NAFTA),
assinado em 1994 envolvendo os Estados Unidos, Canada e México e o Mercado
Comum do Sul (MERCOSUL) no qual fazem parte o Brasil, Argentina, Paraguai,
Uruguai e a Venezuela. Ainda, é importante ressaltar a existência da Organização
para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) envolvendo mais de
35 países bem como a Organização Mundial do Comércio (OMC) que possui mais
de 150 países membros.
Para Brum (1993):
Uma zona de livre comércio é formada por um conjunto de países vizinhos
que se agrupam para eliminar as barreiras aduaneiras comerciais entre
eles. Mas a mesma pode não se resumir a apenas isso. No caso de uma
união aduaneira, os países-membros unificam também suas políticas
comerciais, colocando em prática uma tarifa exterior comum para suas
trocas com o resto do Mundo (BRUM, 1993, p.97).
3
GATT – O acrônimo “GATT” significa “Acordo Geral sobre Tarifas e Comércio”. É um acordo entre Estados
objetivando eliminar a discriminação e reduzir tarifas e outras barreiras ao comércio de bens. Comércio de bens
– O GATT estava originalmente, e continua até hoje, relacionado apenas ao comércio de bens, apesar de seus
princípios fundamentais aplicarem-se atualmente também ao comércio de serviços e aos direitos de propriedade
intelectual, tal como tratados no Acordo Geral sobre Comércio de Serviços e no Acordo TRIPS,
respectivamente. O GATT é um acordo da OMC que trata exclusivamente do comércio de bens, mas não é o
único. Todos os acordos constantes do Anexo 1 A do Acordo de Marrakesh que estabeleceu a Organização
Mundial do Comércio (doravante “Acordo da OMC”) relacionam-se a aspectos ou setores específicos do
comércio de bens.(G.A.T.T. 2003. 85p.) Disponível em: https://unctad.org/pt/docs/edmmisc232add33_pt.pdf.
Acesso em: 17 jun. 2019.
4
Artigo Nº 48 do Decreto-Lei Nº 288, de 28 de fevereiro de 1967 revoga a Lei nº 3.173, de 6 de junho de 1957 e
o Decreto nº 47.757, de 2 de fevereiro de 1960 que a regulamenta.
5
Mais conhecida como Special Economic Zones (SEZ) pela literatura internacional (JUNIOR, 2015).
Com isso, qualquer produto a ser produzido nessas áreas, referindo-se a suas
matérias primas, produtos intermediários e embalagens utilizadas na
industrialização, estaria dentro dos benefícios relacionados à isenção dos impostos
mencionados. Porém, tais benefícios fiscais, conforme consta na proposta de lei,
excluem alguns produtos como armas e munições, veículos de passageiros - exceto
6
Ver anexo I – resposta completa do questionário recebida por e-mail pela Chefe de Gabinete Ariskelma
Phelippe do parlamentar, Exmo. Senhor Dagoberto Nogueira Filho.
vez maior de dependência boliviana frente aos produtos, mão de obra, trabalho,
melhores condições de vida, etc., do lado brasileiro, o que poderia provocar uma
evasão dos brasileiros e bolivianos residentes em território boliviano em direção ao
Brasil.
Além do mais, projetos como esses devem ser minuciosamente estruturados,
com previsões dos resultados e impactos que podem vir a ocasionar a região.
Nesse sentido, deve sempre levar em consideração os pormenores e as
características da região tentando se aproximar à realidade do munícipio de
Corumbá, sempre levando em consideração os problemas recorrentes em outras
ALC já implantadas no Brasil.
Considerações finais
Diante das informações apresentadas, fica claro que Corumbá é uma cidade
de grande importância para as cidades ao seu redor. O desenvolvimento do
município ao longo dos anos foi acompanhado pelas cidades de Ladário, do lado
brasileiro, e por Puerto Suárez e Puerto Quijarro, do lado boliviano. As relações que
unem os municípios se refletem na relação diária desenvolvida pela população que
ali se localiza. Trocas comerciais, casamentos entre brasileiros e bolivianos,
festivais, uso de hospitais e demais serviços à população são apenas alguns dos
diversos exemplos que impulsionam e intensificam cada vez mais as relações dos
dois lados da fronteira.
A concepção do projeto de lei, além de procurar promover o desenvolvimento
econômico e regional do município de Corumbá, esbarra em questões práticas que
envolvem a própria integração e as relações das cidades no âmbito da fronteira. A
priori, uma ALC voltada para impulsionar o desenvolvimento econômico e industrial
de Corumbá pode se algo benéfico. Contudo, fica evidente que as relações entre os
municípios na fronteira sofreram certos impactos, que vão desde a comercialização
de produtos entre ambas as cidades da fronteira ou até mesmo na inversão de
fluxos de compras.
Claro que não se pode afirmar que a criação de uma Área de Livre Comércio
vai acabar com as relações e a integração entre brasileiros e bolivianos. Contudo,
uma vez que o projeto de lei é voltado única e exclusivamente para o
desenvolvimento de um dos lados, fica claro que essas relações vão sofrer impactos
Referências bibliográficas
Resumo: Este trabalho tem por objetivo apresentar algumas reflexões sobre a
experiência de compra da agricultura familiar pela Marinha do Brasil na fronteira
Brasil-Bolívia. Utiliza-se de pesquisa bibliográfica, documental e participante como
procedimento metodológico. Observou-se, a partir de 2015, que a BFLa passou a
adquirir gêneros da agricultura familiar dos municípios de Ladário e Corumbá, em
função da entrada em vigor do Decreto nº 8.473/2015, que obriga os órgãos e
entidades da administração pública federal a destinar 30% do total de recursos no
exercício financeiro à aquisição de gêneros alimentícios da agricultura familiar. O
6ºDN consome, em média, dez toneladas de alimentos da agricultura familiar por
ano, podendo ampliar esse quantitativo. Há pouca participação dos agricultores nas
chamadas públicas realizadas, carecendo de novas estratégias para ampliar a
participação de um maior número de famílias camponesas.
Palavras-chave: Compras públicas, Fronteira, Marinha do Brasil.
Abstract: This paper aims to present some reflections about the experience of
trading in familiar farming by the Brazilian Navy at Brazil-Bolivia border. Bibliographic
and participatory research are used as a methodological procedure. It was observed,
from 2015 onwards, that BFLa started acquiring goods of family farming in the cities
of Ladário and Corumbá, due to the coming into force of Decree No. 8.473, which
obliges the organs and entities of the Federal public administration to allocate 30% of
the total resources in the financial year to the acquisition of goods from family
farming. The 6th ND consumes, on average, ten tonnes of feeds from family farming
per year, which could be increased. There is a small participation of farmers in the
public calls made, lacking new strategies to increase the participation of a larger
number of peasant families.
Key-words: Public procurement, Border, Brazilian Navy.
Resúmen: Este trabajo tiene como objetivo presentar algunas reflexiones sobre la
experiencia de compra de la agricultura familiar por parte de la Armada brasileña en
la frontera entre Brasil y Bolivia. La investigación bibliográfica, documental y
participativa se utiliza como procedimiento metodológico. A partir de 2015, se
Graduado em Ciências Navais pela Escola Naval; Especialista em Gestão Pública, pela UFRJ; e
aluno do Mestrado em Estudos Fronteiriços, pela UFMS. E-mail: leoaraujo.asp@gmail.com
Graduado, Mestre e Doutor em Geografia, professor do curso de Geografia e do Mestrado em
Estudos Fronteiriços do Câmpus do Pantanal, UFMS, E-mail: edgarac10@gmail.com
Introdução
Fronteiras são espaços geográficos que incitam, sem dúvida alguma, o
interesse das forças armadas, pois se tratam de porções territoriais da nação que
instigam a necessidade de proteção da soberania nacional. Mesmo em tempos de
paz não se pode perder de vista o controle de quem entra e de quem sai do país. A
presença militar, por si só, é como uma demonstração da presença do Estado no
controle do território.
A Marinha do Brasil está presente na fronteira Brasil-Bolívia, em Ladário, na
porção Oeste do estado de Mato Grosso do Sul, com o sexto Distrito Naval (6ºDN).
Sua presença, não somente representa garantias para a soberania nacional, mas
também um elemento fundamental para o desenvolvimento territorial local. O 6ºDN
reúne um efetivo de 2109 militares. São pessoas que recebem seus salários e
gastam, ao menos parte dele, no comércio de Corumbá e Ladário. Além disso, esse
quantitativo de pessoal remete a elaboração de uma logística de alimentação.
No ano de 2015, com vistas a fortalecer o Programa de Aquisição de
Alimentos (PAA), entra em vigor o Decreto nº 8.473. O referido decreto estabelece
no §1º do art. 1º, no âmbito da administração pública federal, um percentual mínimo
destinado à aquisição de gêneros alimentícios de agricultores familiares, conforme
segue:
§ 1º Do total de recursos destinados no exercício financeiro à aquisição de
gêneros alimentícios pelos órgãos e entidades de que trata o caput, pelo
menos 30% (trinta por cento) deverão ser destinados à aquisição de
produtos de agricultores familiares e suas organizações, empreendedores
familiares rurais e demais beneficiários que se enquadrem na Lei nº 11.326,
de 2006, e que tenham a Declaração de Aptidão ao Pronaf – DAP (BRASIL,
2015).
[...] a princípio, parecia não haver falta de oficiais para a nova Marinha: 160
tinham se estabelecido no Brasil desde 1808, mas a maioria era de
portugueses, e tornou-se necessário verificar primeiro sua lealdade. Com
esta finalidade Cunha Moreira estabeleceu uma comissão, em 5 de
dezembro de 1822, para perguntar a cada oficial se ele desejava servir ao
Brasil ou voltar para Portugal. Ficou logo claro que a grande maioria aderia
à causa brasileira, e quando foram retirados os nomes dos mais velhos e
dos incapazes, restou um total de 94.
Naquele período, torna-se relevante pontuar a importância de Cuiabá nos
planos do governo. Cuiabá era o centro da província de Mato Grosso desde 1820,
sua única entrada e saída para todas as relações comerciais, militares e
administrativas e com acesso por terra e pelos rios a todo o interior, inclusive as
fortificações localizadas nos limites de seu território (MAMIGONIAN, 1986).
Em 1825 cria-se o Arsenal da Marinha de Mato Grosso, cujo objetivo era“
guarnecer e proteger a livre navegação dos rios de Mato Grosso, construir e
consertar canoas e embarcações para o transporte e comunicação entre Cuiabá e
os presídios da fronteira” (MELLO, 2009, p.116). Naquele momento, houve a
necessidade de reunir no Arsenal, trabalhadores que atuassem como carpinteiros,
operários e serventes (MELLO, 2009).
Mello (2009) sugere dúvidas em relação ao local mais apropriado para a
instalação do Arsenal e das barcas canhoneiras, cuja ordem de construção fora
determinada pelo Imperador. Para ele, o então presidente da província, José
Saturnino, buscava informações a respeito do melhor local para instalar o Arsenal de
Marinha. Foram consultados os comandantes militares da província, mas não houve
concordância sobre o lugar mais adequado – Cuiabá ou Vila Maria (MELLO, 2009).
Já naquela época a escolha da então capital apresentava diversas
contestações que, por razões diversas, não prevaleceram e Cuiabá foi escolhida
para sediar o Arsenal. Dentre essas críticas estão a ausência de materiais
fundamentais para composição da infraestrutura das construções navais (MELLO,
2009).
Mello (2009, p. 150) destaca, ainda, que: “nas informações prestadas ao titular
da Pasta da Marinha, observa que no período das secas as barcas dificilmente
poderiam sair do porto e consequentemente não cumpririam as funções para as
quais seriam construídas – defesa do Rio Paraguai”.
Após a instalação do Arsenal no Porto de Cuiabá os problemas se agravaram
e dificultaram a operação do mesmo. Segundo Mello (2009, p. 151), diante das
várias dificuldades enfrentadas, o então Comandante das Barcas Canhoneiras,
A BFLa
De acordo com o site da Marinha do Brasil (2019a):
Em 1862, o Ministro da Marinha, Joaquim Raimundo de Lamare, determinou
a instalação de um novo Arsenal à jusante do canal do Tamengo e, em 14
de março de 1873, o Capitão-de-Fragata Manoel Ricardo da Cunha Couto
lançou a pedra fundamental do Arsenal de Marinha do Ladário, tendo
concluído sua instalação no final de 1874. Pelo Decreto n.º 38.101, de 18 de
outubro de 1955, passou a denominar-se Base Fluvial de Ladário,
extinguindo também, o Arsenal de Marinha de Ladário.
A BFLa possui a missão de prover o apoio logístico, tanto às organizações
terrestres, como aos navios, sediados ou em trânsito, no âmbito do Sexto Distrito
Naval, a fim de contribuir para o aprestamento dos meios navais da Marinha do
Brasil.
Ao longo dos anos a BFLa aumentou sobremaneira a sua capacidade de
apoiar as demais Organizações Militares (OM) subordinadas ao 6º DN. Atualmente é
a OM que centraliza a confecção de todas as refeições das OM de terra e, por
vezes, também apoia os navios nesse sentido.
Tudo isso demanda um planejamento complexo que leva em conta as
dificuldades logísticas decorrentes do isolamento geográfico dos grandes centros
janeiro de 2019. Isto implicou em duas consequências diretas: a primeira diz respeito
ao limite anual de compra por agricultor familiar que é de R$ 20.000,00, com base
no Art.3º da Resolução Grupo Gestor PAA n° 73/2015.
Art. 3º As aquisições de alimentos, no âmbito da modalidade Compra
Institucional, serão realizadas com dispensa do procedimento licitatório,
desde que, cumulativamente, sejam atendidas as seguintes exigências:
III - sejam respeitados os seguintes valores máximos anuais para
aquisições de alimentos, por órgão comprador: a) R$ 20.000,00 (vinte mil
reais) por unidade familiar; e b) R$ 6.000.000,00 (seis milhões de reais) por
organização fornecedora, respeitados os limites por unidade familiar
(BRASIL, 2015).
Cabe observar que a agricultora participante do processo esgotou sua cota
ainda no primeiro semestre. Caso existissem outros agricultores homologados no
processo o montante adquirido poderia ser maior. A outra consequência, portanto,
foi que não houve oferta para 15 itens demandados na chamada pública no primeiro
semestre de 2019 (Tabela 1).
mais expressivo para este quadro as frutas. Nota-se que há uma possibilidade de
diversificação dos cardápios e ampliação das compras ao incluir os novos itens.
Banana da Terra
Banana Maçã
Banana Nanica
Coco Verde
Fruta do conde
Goiaba
Laranja
Limão
Mamão Formosa
Mamão Papaya
Manga
Maracujá
Melancia
Melão
Poncã
Legenda
Produção em maior
escala
Neap, 2019.
Produção em menor
escala
Produção improvável
Fonte: NEAP (Acervo do Núcleo), adaptado pelos autores.
Considerações finais
O presente artigo teve como objetivo fazer algumas reflexões sobre a
experiência de compra de gêneros da agricultura familiar da Base Fluvial de Ladário,
responsável pelas aquisições de gêneros e confecção das refeições no âmbito do
6ºDN, de modo a buscar um melhor entendimento das estratégias comerciais
utilizadas na fronteira Brasil-Bolívia. Esta compreensão é importante para o
Referências
MAX, Cláudio Zarate; OLIVEIRA, Tito Carlos Machado de. As relações de troca em
região de fronteira: uma proposta metodológica sob a ótica convencionalista.
Geosul, v. 24, n. 47, p. 7-27, 2009.
Resumo: A fronteira entre Brasil e Bolívia é marcada por uma diversidade de níveis
de intercâmbios, em especial em núcleos urbanos que se articulam através do limite
internacional. Tendo em vista estas relações, a título de cooperação na região, os
dois países firmaram, em 2004, um acordo que garante uma série de direitos
relativos a residência, estudo e trabalho às suas populações fronteiriças e reconhece
alguns núcleos urbanos como “localidades fronteiriças vinculadas”. Considerando o
seu alcance geográfico e o seu reconhecimento pela legislação de ambos os países,
esta medida de cooperação é analisada neste trabalho como uma norma que se
relaciona ao uso do território e indica para uma maior porosidade na fronteira.
Palavras-chave: Fronteira, território usado, Brasil, Bolívia, localidades fronteiriças
vinculadas.
Abstract: The borderlands between Brazil and Bolivia are marked by diverse
exchanges levels, especially in urban centers articulated through the international
border. In view of these relations, as a cooperation initiative in the region, both
countries signed an agreement in 2004 that ensures a series of residence, study and
work rights for their border populations and recognizes any urban centers as "related
border localities". Considering its geographical scope and its recognition by both
countries’ laws, this cooperation measure is analyzed in this paper as a rule related
to the using territory that indicates for a greater porosity in the borderlands.
Key-words: borderlands, using territory, Brazil, Bolivia, related border localities.
Resumen: La frontera entre Brasil y Bolivia está marcada por una diversidad de
niveles de intercambios, en especial en núcleos urbanos que se articulan a través
del límite internacional. En vista de estas relaciones, a modo de cooperación en la
región, ambos países firmaron en 2004 un acuerdo que garantiza una serie de
derechos relativos a residencia, estudio y trabajo a sus poblaciones fronterizas y
reconoce algunos núcleos urbanos como "localidades fronterizas vinculadas".
Considerando su alcance geográfico y su reconocimiento por la legislación de los
dos países, en este trabajo se analiza esta medida de cooperación como una norma
Doutorando em Geografia pela Universidade de Brasília. E-mail: andrevfr@gmail.com
Doutora em planejamento urbano e ambiental (FAU-USP). Professora titular da Universidade de
Brasília. E-mail: rtlia@solar.com.br
que se relaciona con el uso del territorio e indica para una mayor porosidad en la
frontera.
Palabras clave: frontera, territorio usado, Brasil, Bolivia, localidades fronterizas
vinculadas.
Abstract: This paper aims to analyze the dynamics and spatiality of free markets at
the borders between Brazil-Bolivia and Brazil-Paraguay, in the municipalities of
Corumbá, Ladário and Ponta Porã, both in the state of Mato Grosso do Sul, Brasil
and the city of Pedro Juan Caballero at the Amambay Department, Paraguay. As
methodological procedure we used bibliographic and documentary research,
cartography and conversations directed with agents participating in this research.
The results indicate that these fairs located in the border cities represent meeting
places and exchanges, where various products are marketed with highlights for
vegetables, clothes, clothes and typical foods. It was found that the frontier is present
Possui Graduação em Geografia (Licenciatura) pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul
(UFMS-CPAN). É Mestre em Estudos Fronteiriços pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul
(UFMS-CPAN). Atualmente é Doutorando em Geografia na Universidade Federal da Grande
Dourados (UFGD). E-mail de contato: kukielgeografia@gmail.com
Possui Graduação em Ciências Econômicas (Bacharelado) pela Universidade Federal de Mato
Grosso do Sul (UFMS). É Mestre em Desenvolvimento Regional e Sistemas Produtivos pela
Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UFGD). Atualmente é Doutoranda em Geografia na
Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD). E-mail de contato: gycvera@gmail.com
Possui Graduação em Geografia (Licenciatura) pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul
(UFMS-CPAN). Atualmente é acadêmica do programa de pós-graduação em Geografia, nível
mestrado, da Universidade Federal da Grande Dourados. E-mail de contato:
ericasantos566@gmail.com
in the way these products are acquired and circulate in this space or even when they
occur under the supervision of public institutions.
Key-words: Free fair, Border, Trade.
Agradecimentos
Os autores agradecem a CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de
Pessoal de Nível Superior) pela Bolsa de Estudos no nível de Doutorado.
Edison Di Fabio1
Alberto Feiden2
Edgar Aparecido da Costa3
Resumo: Este trabalho tem por objetivo apresentar algumas reflexões sobre o
comércio de hortaliças na fronteira Brasil-Bolívia. Utiliza-se de pesquisa bibliográfica
como procedimento metodológico. Observou-se que os espaços fronteiriços são
palcos de diversas tramas territoriais. O comércio de hortaliças é dominado pelos
bolivianos nas cidades brasileiras de Corumbá e Ladário. São territorialidades
elaboradas a partir da experimentação, simultânea e cotidiana, de distintos
territórios.
Palavras-chave: Agroecologia, Cidades-gêmeas, Comércio fronteiriço, Fronteira,
Território.
Resúmen: Este trabajo tiene como objetivo presentar algunas reflexiones sobre el
comercio de vegetal en la frontera Brasil-Bolivia. Uso de la investigación bibliográfica
como un procedimiento metodológico. Se observó que los espacios de frontera son
de varias parcelas territoriales. El comercio vegetal está dominado por los bolivianos
en las ciudades brasileñas de Corumbá y Ladário. Son elaborados territorialidades
de experimentación, simultáneos y distintos territorios, todos los días.
Palabras clave: Agroecología, Ciudades gemelas, Comercio fronterizo, Frontera,
Territorio.
Introdução
Os espaços fronteiriços são complexos e envolvem, pelo menos, dois
territórios, onde são conformadas estruturas econômicas, jurídicas, socioculturais,
1
Graduado em Ciências Contábeis, mestre em Estudos Fronteiriços. Professor da Universidade
Federal de Mato Grosso do Sul/Campus do Pantanal. E-mail: edison.fabio@ufms.br.
2
Graduado em Agronomia, Engenheiro Agrônomo, Mestre e Doutor em Agronomia. Embrapa
Pantanal. E-mail: afeiden@yahoo.com.br.
3
Graduado, Mestre e Doutor em Geografia. Professor da Universidade Federal de Mato Grosso do
Sul/Campus do Pantanal. E-mail: edgarac10@gmail.com.
Fronteiras e limites
O limite é uma linha divisória, não habitada, diferente de fronteira que ocupa
uma área, uma zona que pode ser habitada, escassamente habitada, densamente
povoada e desenvolver atividades de intercambio muito intensas, inclusive de um
modo atípico à sombra de contrabando (MARTIN, 1997, p. 47).
De acordo com Machado (1998), a palavra limite é de origem latina e foi
criada para designar o fim daquilo que mantém coesa uma unidade político-
territorial, ou seja, sua ligação interna.
Steiman e Machado (2002) aponta que Brigham4 já postulava, em 1919, com
respeito ao limite territorial, que se tratava de uma organização evolutivo-civilizatório,
incipiente em uma fase primitiva, onde linhas não existiam. E que, numa fase
seguinte, apresentava uma transição com demarcações volúveis, mas que
4
Brigham, A. P. Principles in the determination of boundaries. Geographical Review, 7 (4): 201-19, 1919.
envolviam o planeta e, por fim, uma terceira fase em que as linhas se fixaram, sem
outra relevância, senão para interesse administrativo. Evidente que se trata de uma
lógica positivista e difícil de sustentar em face de dinâmica das fronteiras, ainda, nos
tempos atuais.
O limite jurídico estatal é mantido e criado por um governo central, intangível
ao senso comum, não tendo vida própria, não está ligada a presença de pessoas,
sendo manipulado por uma legislação nacional e internacional, distante dos desejos
das pessoas que habitam as adjacências (MACHADO, 1998).
Apesar da aparência ultrapassada, à primeira vista sem efeito sobre o dia a
dia, os limites internacionais continuam marcando tanto diferenças legais como o
princípio da identidade territorial, e a separação entre “nacionais” e “não nacionais”,
através de impedimentos jurídicos, políticos, ideológicos (RAFFESTIN, 1993).
Conforme define Machado (1998), o limite torna se um obstáculo de
separação, pois divide unidades políticas soberanas e mantêm um obstáculo fixo,
não importando a presença de certos fatores comuns, físico-geográficos ou culturais,
sendo suas forças convergidas para dentro devido legislação soberana.
Steiman e Machado (2002) indicam que os limites internacionais constituem
um obstáculo e um entrave à liberdade individual e coletiva. Martin (1997, p. 47) já
havia dito que, por esse motivo, para os Estados “não deve haver uma zona
ambígua, mas perenes, para impedir que haja adversidades entre os fronteiriços”.
De qualquer forma, as áreas de fronteira estão formalmente excluídas da
possibilidade de normatização pelos Estados vizinhos pelo papel separador dos
limites políticos. Desprovidos de órgãos institucionais para operacionaliza-la, a
cooperação entre países vizinhos em espaços de fronteira tem sido, muito mais,
feita de uma maneira informal através de acordos tácitos entre as autoridades locais
dos territórios subnacionais dos países fronteiriços (STEIMAN, MACHADO, 2002).
Conforme Machado (1998, 2002, p. 8), “esse processo é indicativo de que,
mais do que uma perda de função dos limites e fronteiras internacionais, o que está
ocorrendo é uma mutação da perspectiva do Estado em relação ao seu papel”.
Baseando-se nesses referenciais é possível apontar que o limite é baseado
na linha divisória estabelecida politicamente e identifica os atores tanto de um lado
como do outro da linha, de acordo com suas características territoriais.
70.000
54.347
60.000
45.280
50.000
31.646
40.000
30.000
20.000
10.000
0
2015 2016 2017 2018
ANOS
Fonte: PNAE e PAA Ladário, NEAP, feira UFMS adaptado pelos autores.
Considerações finais
Pode-se considerar, a partir dessas reflexões sobre a comercialização de
hortaliças na fronteira estudada, que prevalecem os produtos ofertados pelos
bolivianos nas feiras das cidades de Corumbá e Ladário, mesmo que os vendedores
não sejam os produtores. São verdadeiramente comerciantes de feiras. Por outro
lado, nota-se a presença de pequenos grupos de agricultores brasileiros, que em
sua maioria são os que cultivam os produtos e trazem o excedente para ser escoado
nas feiras. A pequena presença dos mesmos nas feiras de Corumbá se deve a
alegação do custo de transporte em relação ao volume de produtos oferecidos para
venda.
Referências
BRASIL. Lei 10.696, 02 de julho de 2003, cria no art. 19o Programa Nacional de
Aquisição de Alimentos (PAA), regulamentado pelo Decreto 7.775 de 03 de julho
de 2.012. Brasília-DF: Casa Civil, 2003.
ESPIRITO SANTO, Anderson Luís do; COSTA, Edgar Aparecido da; BENEDETTI,
Alejandro Gabriel. A feira livre de Corumbá/MS na fronteira Brasil-Bolívia. Bol.
geogr., Maringá: v. 35, n. 3, p. 93-108, 2017.
OLIVEIRA, Tito Carlos Machado de et al. Cidades de fronteiras e a rede urbana. In:
Dinâmica urbano-regional: rede urbana e suas interfaces. Brasília-DF: Ipea Cap.
4.p. 79-96, 2011.
RAFFESTIN, Claude. Por uma Geografia do poder. São Paulo: Editora Atlas S.A,
SOUZA, Marcelo Jose Lopes de. O território: sobre espaço e poder, autonomia e
desenvolvimento. In. CASTRO, I. E., GOMES, P. C. C.; CORREA, R. L. (Org.).
Geografia, conceitos e temas. Rio de Janeiro: BCD União de Editoras S.A., 2000.
Abstract: This study reveals the performance of the social work professional, on the
Brazil / Bolivia border, between the cities of Corumbá and Puerto Quijarro, with the
population in a condition of economic vulnerability that seeks social assistance in the
Corumbá City Hall, and has as its general objective. “Know the limits and possibilities
of the professional practice of social workers in a border region”. Therefore, the
methodological path relies on bibliographic survey and semi-structured interviews
analyzed in the light of Social Work and interdisciplinarity. Considering that the
research project is ongoing, the results are still preliminary.
Key words: Border, Social Worker, Immigrant.
Graduada em Serviço Social – Universidade Federal Fluminense - UFF, mestranda do Programa de
Pós Graduação em Estudos Fronteiriços – Universidade Federal de Mato Grosso do Sul – UFMS.
Assistente Social da Prefeitura Municipal de Corumbá. E-mail: natalia_buginga@hotmail.com
Graduada em Geografia – Universidade Federal de Mato Grosso do Sul - UFMS, mestre em
Educação – Universidade Federal de Mato Grosso do Sul - UFMS, doutora em Geografia –
Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP. Docente da Universidade Federal de Mato Grosso
do Sul – UFMS. E-mail: mara_aline@yahoo.com.br
Abstract: This paper aims to characterize the vegetable trade made by Bolivian
fairers at the Saturday free fair in the city of Ladário, on the Brazil-Bolivia border.
Field research is used with the observation technique, using the field diary as a tool.
Asymmetries between the twin cities Ladário, Corumbá, Puerto Quijarro and Puerto
Suárez have been observed to induce commercial and cultural interactions.
Commercial strategies based on complementarities are noted.
Key-words: Border, Complementarities, Territoriality.
Graduado em Ciências Navais pela Escola Naval; Especialista em Gestão Pública, pela UFRJ; e
aluno do Mestrado em Estudos Fronteiriços, pela UFMS. E-mail: leoaraujo.asp@gmail.com
Graduada em Geografia, bolsista Pibic, Câmpus do Pantanal, UFMS. E-mail:
elisangelasouzacunha@gmail.com
Graduado, Mestre e Doutor em Geografia, professor do curso de Geografia e do Mestrado em
Estudos Fronteiriços do Câmpus do Pantanal, UFMS, E-mail: edgarac10@gmail.com
Abstract: The purpose of this study is to analyze the relevant aspects of the
influence of public prosecution in the implementation of public policies at the border,
especially in the specific areas of health and social assistance, observing the
relevance of the Judiciary as a filter of possible excesses and guarantor of the
necessary balance between the powers of the Republic.
Key-words: Policies Public, Border, Activism, Powers.
Introdução
O presente trabalho tem por escopo analisar os aspectos relevantes da
influência do ativismo do Ministério Público na realização de políticas públicas, em
especial nas áreas específicas de saúde e assistência social na região de fronteira.
Graduado em Direito pela UCDB, Mestrando em Estudos Fronteiriços pela UFMS, Procurador do
Município de Corumbá-MS, Professor do Curso de Direito da FSST, email: alcindovallejr@gmail.com
Graduada em Direito pela UCDB e em Ciências Econômicas pela UFMS, Mestre em Agronegócio
pela UFMS, Doutora em Desenvolvimento Regional pela UNISC, Professora Adjunta da UFMS. E-
mail: gleicyvasques@gmail.com
Considerações finais
Com muita propriedade assevera Secchi (2010), que além do conhecimento
sobre restrições legais e financeiras para a ação pública, o analista de políticas
públicas deve ser capaz de entender o que levou um problema público a aparecer, a
ganhar relevância no seio de uma comunidade política, quais as soluções e
alternativas existem para mitigar ou extinguir tal problema, por que tais soluções
ainda não foram implementadas, quais são os obstáculos para a efetivação de
certas medidas, quais são as possibilidades para que certas medidas tragam os
resultados esperados, como avaliar os impactos de uma política pública.
Soma-se a isso a difícil realidade dos municípios de fronteira, que enfrentam a
dura realidade da fronteira com escassez de recursos públicos, contrariando
frontalmente os princípios destacados no art. 4º da Constituição Federal da
República, que em seu inciso II, prevê a prevalência dos direitos humanos, no seu
inciso IX, prevê a cooperação entre os povos para o progresso da humanidade.
Sendo assim, ninguém melhor que a própria administração pública defina as
políticas públicas que serão adotadas como prioritárias no respectivo ente público,
observando-se com a maior cautela possível e com o conhecimento dos limites
orçamentários e legais os ciclos básicos de desenvolvimento das políticas públicas,
em especial as de saúde e assistência social, devendo desenvolvê-las no interesse
geral da população, enfrentando adequadamente todos os problemas públicos que
afetam aquela comunidade fronteiriça .
A intervenção do Ministério Público nas ações da administração pública deve
se restringir a situações excepcionalíssimas, sob pena de ofender o princípio
constitucional da separação dos poderes, repisando-se que cabe tão-somente ao
poder judiciário a relevante missão de regular a atuação do Ministério Público, de
forma a filtrar todas as pretensões exageradas e infundadas, que muitas vezes
inviabilizam e causam severos desequilíbrios no orçamento previamente fixado para
a administração pública nos seus respectivos entes federados.
Referências
Abstract: It can be observed that the retail commerce of the border cities of
Corumbá and Ladário, on the Brazilian side, and of Puerto Quijarro and Puerto
Suarez, on the Bolivian side, have a high degree of complementarity, because,
among other reasons, they share the same consumer market. The aim of this paper
Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Estudos Fronteiriços/ Universidade Federal de Mato
Grosso do Sul - Corumbá-MS (Email: vjbdasilva@gmail.com )
is to show how frontier agents, faced with state impositions that hinder consolidated
frontier experiences, seek alternatives to guarantee their subsistence, even if such
practices escape the notion of legality that is currently instituted. To this end, we
focus on the gasoline trade, which has been heavily regulated in the last decade.
Interviews were conducted with informants who work, know or consume clandestine
gasoline. It has been found that frontier agents use their social relationships allied to
inventive strategies to circumvent repression and secure their economic advantage.
Key Words: Border, Complementarity, Clandestinity, Trade, Fuels
Introdução
Este estudo, além desta breve introdução, está dividido em seis partes. Nas
duas seções iniciais, são discutidos os conceitos de fluxos, mobilidades,
complementaridade funcional, legalidade e clandestinidade em regiões de fronteira.
Na terceira, expõem-se os procedimentos metodológicos usados na pesquisa. Na
quarta, explicitam-se as razões por que o núcleo urbano formado pelas cidades de
Corumbá, Ladário, Puerto Quijarro e Puerto Suarez pode ser considerado uma área
em estado de complementaridade funcional. Na quinta, demonstram-se as
estratégias dos fronteiriços para perpetuar suas estratégias de sobrevivência por
meio da venda clandestina de gasolina, de um lado, e para manter as vantagens
econômicas possibilitadas pela fluidez da fronteira, do outro. Na última parte,
formulam-se algumas considerações sobre o ambiente fronteiriço em tela.
Machado (2005), por sua vez, ao discorrer sobre os fatores que influem na
evolução urbana das cidades-gêmeas de fronteira, reforça que os diversos fluxos
que acontecem na fronteira podem decorrer das assimetrias existentes no espaço
fronteiriço. Tais assimetrias podem indicar diferentes graus de desenvolvimento
econômicos entre os países limítrofes, tipos diferentes de economia regional e
dinâmicas distintas de povoamento fronteiriço.
estatutos legais, o mercado de trabalho deslizaria para além dos limites territoriais
para atender as urgências dos agentes econômicos. Os consumidores fronteiriços
alimentam o comércio deslocando-se de um lado a outro para adquirir mercadorias,
serviços e intercambiar moedas, desviando-se dos rigores burocráticos para
satisfazer suas necessidades básicas. Essa organicidade das fronteiras além de
abrir espaço para pequenos desvios, muitas vezes ocasionados por
desconhecimento das leis, também pode possibilitar a realização de atos de ilicitude
de toda sorte, perpetradas por pessoas comuns ou mesmo por grandes redes
criminosas transnacionais.
Metodologia
Além das entrevistas acima mencionadas, o autor fez notas dos relatos que
ouviu de duas pessoas que trabalham diretamente com a venda clandestina de
gasolina. Esses informantes-chave, nascidos e criados na região de fronteira em
questão, tinham conhecimento da evolução do comércio da gasolina e, embora não
vivessem exclusivamente do comércio da gasolina, complementam suas rendas com
o negócio. Segundo eles, há pessoas na fronteira cuja fonte de renda baseia-se
quase que exclusivamente na atividade.
alcançado a cidade fronteiriça apenas no início dos anos 1950, a via férrea já ligava
o interior de São Paulo a Campo Grande desde a década de 1910, dando a esta
cidade maior relevância comercial e política, pois de lá parte considerável dos
produtos eram redistribuídos comercialmente. (SILVA, 2012, apud KUKIEL, COSTA
E BENEDETTI, 2015).
De acordo com Moreno (2007), até maio de 2006, o modelo adotado para
importação, exploração e comercialização de hidrocarbonetos e seus derivados na
Bolívia baseava-se em contratos de risco compartilhado, adjudicados por meio de
licitação internacional, com o propósito de minimizar custos e aumentar a
competitividade dos negócios bolivianos perante a iniciativa privada. Assim, não
havia restrições para que veículos com placa estrangeira adquirissem os produtos
sem intermediários.
$2,00
$1,50
$1,00
$0,50
$-
Jul-04
Jul-07
Jul-14
Jun-10
Jun-17
Apr-09
Nov-09
Apr-16
Nov-16
Aug-01
Mar-02
May-03
Dec-03
Feb-05
May-06
Dec-06
Feb-08
Sep-08
May-13
Aug-11
Mar-12
Dec-13
Feb-15
Sep-15
Aug-18
Mar-19
Jan-11
Jan-18
Oct-02
Oct-05
Oct-12
CORUMBÁ-MS BOLÍVIA
Considerações finais
BIBLIOGRAFIA
BCO CENTRAL DO
BRASIL.https://www4.bcb.gov.br/pec/taxas/port/ptaxnpesq.asp?frame=1
Graduada em Ciência da Computação, mestre em Educação, doutora em Educação. Professora
adjunta na UFMS/CPAN. E-mail: barbara.barros@ufms.
Graduada em Psicologia, mestre em Sociologia, doutor em Saúde Coletiva. Professora Associada
na UFMS. E-mail: vanessa.figueiredo@ufms.br
Graduado em Psicologia, mestre em Psicologia, doutor em Psicologia, Ciência e Profissão.
Professor Associado na UFMS. E-mail: luis.galvao@ufms.br
fueron apuntados como factores de apoyo e incentivo. Los estudiantes con baja
calidad motivacional quejaron-se de las escuelas secundarias con insuficiente
calidad, dificultad para estudiar y organizar el tiempo. La investigación recomienda a
las instituciones universitarias estudios sobre factores motivadores, apoyo en el
desarrollo de técnicas de estudio y monitoreo de las tasas de abandono.
Palabras clave: Frontera, Motivación, Evasión, Licenciaturas, Campus Pantanal.
Introdução
Nas duas últimas décadas, o processo de democratização do acesso ao
ensino superior ampliou o número de matrículas por meio de programas
educacionais como o Fundo de Financiamento Estudantil (FIES), o Programa de
Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais
(REUNI), a Lei de Cotas e o Programa Universidade para Todos (BROCCO, 2017).
Entre estes programas, o REUNI _ instituído pelo Decreto Presidencial n.
6.096/2007 _ objetivou a redução das desigualdades sociais, em relação ao acesso
e à permanência nesse nível de ensino. A pretensão do governo era elevar o
número de jovens matriculados no ensino superior, aumentar a taxa de conclusão
média em cursos de graduação para 90%, combater a evasão, e obter a relação de
um professor para 18 alunos nas graduações presenciais (LIMA; MACHADO, 2016).
Tabela 01: Evolução da taxa de evasão nos cursos da UFMS - CPAN, 2012 a
2016, segundo curso e grau acadêmico (em %)
Curso Grau acadêmico 2012 2013 2014 2015 2016
Administração Bacharelado 32,52 30,63 28,30 47,40 23,85
Ciências Biológicas Licenciatura 22,73 15,38 27,10 39,78 22,97
Ciências Contábeis Bacharelado 34,90 36,73 40,85 41,54 54,67
Direito Bacharelado 30,25 24,84 18,82 22,04 26,90
Educação Física Licenciatura 17,29 14,91 8,78 26,85 21,97
Geografia Licenciatura 35,63 57,47 46,77 42,86 44,74
História Licenciatura 27,55 43,96 43,48 51,67 55,77
Letras – Port.e Espanhol Licenciatura 29,63 24,69 23,53 31,75 31,15
Letras – Port. e Inglês Licenciatura 38,10 33,33 37,36 53,54 24,71
Matemática Licenciatura 32,26 31,87 30,61 38,61 25,58
Pedagogia Licenciatura 20,31 21,85 17,80 24,27 13,89
Psicologia Bacharelado 21,14 14,41 20,00 31,15 15,38
Sistemas de Informação Bacharelado 49,32 34,48 40,00 36,36 45,63
Fonte: Elaboração própria a partir dos microdados da Educação Superior (MEC/INEP)
Se, como afirmam Ryan e Deci (2000), o ser humano é motivado e curioso
desde o nascimento; o quê, então, ocorreria com a qualidade motivacional dos
estudantes com o passar dos anos? Que fatores envolvidos no contexto educacional
poderiam promover ou afetar a motivação? Essas são questões de interesse para a
Teoria da Autodeterminação, para que “professores, pais e outros socializadores
possam auxiliar os estudantes a internalizar a responsabilidade e o senso de valores
para objetivos extrínsecos” (RYAN; DECI, 2000, p. 3)
[...] há fortes evidências, nos dias atuais de que a profissão docente vive
uma crise sem precedentes na história do nosso ensino, uma crise
estrutural, conforme foi dito anteriormente. A despeito da grande
diversidade de condições da oferta e demanda por escolarização, tanto no
que se refere à condição docente quanto á condição discente, produto da
diferenciação sociocultural e das desigualdades socioeconômicas, essa
crise atravessa a estrutura da pirâmide escolar de alto a baixo, não apenas
no Brasil, mas em várias partes do mundo. (ARANHA; SOUZA, 2013, p. 78)
A pesquisa teve início com sua aprovação no Comitê de Ética da PUC, sob o
CAAE n. 2017-35. Após autorização institucional, foram feitas reuniões com os
coordenadores dos cursos para apresentação do projeto de pesquisa e obtenção da
autorização para entrada da pesquisadora nas salas de aula. Os participantes
responderam ao questionário no laboratório de informática, após a autorização do
professor e mediante assinatura do termo de consentimento livre e esclarecido. Os
alunos foram informados do objetivo do estudo, lhes foi assegurado o sigilo das
informações e a liberdade de não participarem. Foram obtidos dados de 32 turmas,
duas turmas para cada curso de licenciatura, em dois momentos: final de 2017 e
início de 2018.
1
Ciências Biológicas, Educação Física, Geografia, História, Letras – Português e Espanhol, Letras –
Português e Inglês, Matemática e Pedagogia
Corumbá/MS, Brasil. 7 a 9 de outubro de 2019. ISSN . 2178-2245
639
Resultados
que para Santos (2013) “o nível de escolaridade dos pais é a variável que mais
influencia o desempenho escolar e a decisão de investimento em educação” (p. 64).
Concordo
Concordo
totalment
totalment
em parte
em parte
Discordo
Discordo
Discordo
grande
grande
Neutro
parte
parte
em
em
e
Tabela 07: Motivação – itens sobre motivação extrínseca por reg. identificada
Motivação extrínseca por regulação identificada (em %)
DT DGP DP N CP CGP CT
“Venho à universidade porque a frequência nas
4 2,7 5,1 8 20 24 36,3
aulas é necessária para a aprendizagem”
“Por que acho que a cobrança de presença é
necessária para que os alunos levem o curso a 9,1 6,7 6,1 9,9 30,4 12,8 25,1
sério”
Total 6,6 4,7 5,6 8,9 25,2 18,4 30,7
Tabela 08: Motivação – itens sobre motivação extrínseca por reg. integrada
Motivação extrínseca por regulação integrada (em %)
DT DGP DP N CP CGP CT
“Porque a educação é um privilégio” 4,3 1,1 1,9 8,0 16,5 18,9 49,3
“Porque o acesso ao conhecimento se dá na
3,7 4,3 8,5 7,5 29,6 29,3 17,1
universidade”
“Porque estudar amplia os horizontes” 0,0 0,8 0,0 4,8 9,1 17,3 67,7
“Venho à univ. porque é isso que escolhi para
1,6 0,0 2,1 5,3 12,5 17,9 60,3
mim”
Total 2,4 1,6 3,1 6,4 16,9 20,9 64,8
Fonte: Elaboração da autora
Discussão
Os resultados apontam a motivação influenciada positivamente por um maior
conhecimento do curso e da área, bom relacionamento com professores, apoio da
família, aquisição de conhecimento, didática do professor e aulas práticas.
Muitos estudantes que ingressaram por gostarem da área relataram que sua
motivação aumentou após conhecerem melhor o curso e descobrirem suas
ramificações, indicando a importância da maior divulgação dos cursos ofertados no
noturnos e que exigem uma grande carga de leitura, a necessidade dos estudantes
de trabalhar e estudar dificulta sobremaneira a conclusão do curso.
A dificuldade relatada quanto à didática dos professores pode ser um
problema pontual com alguns docentes, mas também pode decorrer de ensino
médio insuficiente para acompanhamento das aulas. Outro problema que pode
provocar a desistência dos estudantes é a pouca quantidade de cursos presenciais
oferecidos na cidade, o que pode levar ao ingresso em um curso que apesar de ser
da mesma área de conhecimento, não seja desejado pelo estudante.
Considerações Finais
O CPAN possui estudantes motivados que acabam sendo levados a
abandonar o curso por questões contrárias à sua vontade. Os fatores que podem
estar provocando a recorrente evasão no CPAN passam por questões financeiras,
dificuldades de acompanhar o estudo por base insuficiente, falta de métodos de
estudo aprofundados, problemas na organização do tempo e necessidade de
melhores técnicas de ensino por parte dos professores.
Agradecimento
À FUNDECT, pelo apoio financeiro.
Referências
ARANHA, A. V. S.; SOUZA, J. V. A. de. As licenciaturas na atualidade: nova crise?
Educar em Revista, n. 50, p. 69-86, 2013.
ORSINI, C.; EVANS, P.; JEREZ, O. How to encourage intrinsic motivation in the
clinical teaching environment?: a systematic review from the self-determination
theory. J Educ Eval Health Prof – Publicado online em 8/Abr. 2015.
RYAN, R. M.; DECI, E. L. Intrinsic and extrinsic motivations: classic definitions and
new directions. Contemporary Educational Psychology, n. 25, p. 54-67, 2000.
Graduado em geografia, mestre em geografia. NIFFAM/SEPLANCTI. E-mail:
anascimento@seplancti.am.gov.br
Pós-doutora em Geografia Urbana e Econômica. NIFFAM/SEPLANCTI. E-mail:
tschor@seplancti.am.gov.br
Graduada em Relações Internacionais. NIFFAM/SEPLANCTI. E-mail:
nfigueira@seplancti.am.gov.br
carry out a spatial and demographic analysis of urban interacões, flow and fix, in the
municipalities that belong to the Fronteira area not Amazonas.
Key-words: Border Strip, demographics, urban network, basic sanitation, electricity,
inequality, cultural and environmental diversity and indigenous lands, Amazonas.
Introdução
A faixa de fronteira é considerada área indispensável à segurança
nacional e definida pela Lei nº 6.634, de 2 de maio de 1979. Definida como faixa
interna de cento e cinqüenta (150) quilômetros de largura, paralela à linha
divisória terrestre do território nacional. Com uma área total de 1.415.611,46 Km 2,
equivalente a 16,6 % da área do país (IBGE, 2018).
No estado do Amazonas conforme o IBGE (2018), a faixa de Fronteira é
composta por 19 Municípios. Considerando que o critério adotado é inclusão da
área total ou parcial desses municípios localizados na Faixa de Fronteira.
A Comissão para o Desenvolvimento e Integração da Faixa de Fronteira,
juntamente com o Grupo Retis (2002) consideraram que os dois municípios
(Envira e Pauini) que não possuem suas áreas total ou parcialmente localizadas
na Faixa de Fronteira também fazem parte do Grupo de Municípios (Figura 1) que
compõem a referida faixa, por motivos de estarem na zona de Fronteira e terem
uma relação mais direta com a faixa fronteiriça.
Ao todo 8 Municípios estão na linha de fronteira (Figura 1), 3 na bacia do
Rio Negro: Barcelos, Santa Isabel do Rio Negro e São Gabriel da Cachoeira. E o
Metodologia
Para a confecção desse estudo utilizamos dados do censo populacional de
2010 e estimativas da população do ano de 2018 (IBGE, 2011 e 2019), e os dados
do censo agropécuario de 2017 (IBGE, 2018). Os dados utilizados na elaboração
dos mapas são oriundos da base cartográfica continuo do IBGE (2017), e do censo
agropécuario de 2017. As informações relacionadas a Faixa de Fronteira são
oriundas do IBGE (2018) e do Grupo Retis.
Atualmente segundo Butel (2016) a rede urbana na Amazônia já não pode ser
considerada simplória e dendrítica, deve ser pensada como urbana complexa. As
pesquisas de Schor & Oliveira (2011) contribuíram para uma melhor compreensão
dessa complexidade, possibilitando um entendimento não só de cada cidade em si,
mas suas inter-relações com um conjunto, evitando conceitos como "cidades-polo"
ou outras formas de hierarquia urbana.
Segundo Schor & Oliveira (2011) a rede urbana do Rio Solimões possui uma
dinâmica local e infraestrutura urbana precária, permanecendo distante da inserção
na dinâmica de desenvolvimento regional e nacional, sendo considerada como uma
rede urbana "fechada", no sentido de que o fluxo de mercadorias e pessoas se dá
majoritariamente via fluvial e interna ao Estado do Amazonas.
Conforme os referidos autores, entende-se a idéia de "fechado" como algo
descritivo e comparativo, pois sem dúvida a rede urbana mencionada mantém
vínculos importantes com os países vizinhos, nesse caso Colômbia e Peru, porém
ao mesmo tempo tem vínculos mais restritos com o restante do Brasil.
Os estudos oriundos das pesquisas desenvolvidas por Schor & Oliveira
(2011) contribuíram muito para um aproximação da realidade da complexa rede
urbana do Rio Solimões, sendo crucial para compreensão de uma das áreas mais
importantes da Faixa de Fronteira do Estado do Amazonas, o alto curso do Rio
Solimões, onde estão situadas as cidades gêmeas Tabatinga/Brasil e
Letícia/Colômbia.
Uma valiosa contribuição de Bitoun (2017) é a citação dos dados do Cnefe
(Cadastro Nacional de Endereços para Fins Estatísticos), principalmente os setores
censitários de código de situação 8 (Aglomerados rurais isolados), além da utilização
de imagens de satélites, estas iniciativas podem dar visibilidade ao que está
invisível.
E foi justamente o que fizemos em prática nesse estudo preliminar,
conseguimos acessar duas bases de informações (Aglomerados rurais isolados e
Localidades visitadas no censo agropecuário 2017) (Figuras 5 e 6). Estas
informações podem ser utilizadas para visualizarmos a dinâmica de ocupações, e
com isso adequar as políticas públicas à imensa diversidade dessa região.
É impressionante observar como são ocupadas estas regiões na Faixa de
Fronteira, com destaque para as calhas dos Rios Negro, Solimões, Juruá e Purus.
Considerações Finais
Esse esforço inicial é um primeiro passo de muitos outros que estão por vim.
É uma primeira visão e serve de provocação para continuarmos os avanços no
entendimento dessa região tão distante do próprio País. Estamos trabalhando para
contribuir de forma mais efetiva com o Ministério de Integração Nacional.
A Faixa de Fronteira do Estado do Amazonas possuí uma geografia
complexa, sem estradas, somente rios que conectam as áreas remotas as cidades
mais próximas, com poucas interações com os países vizinhos e uma significante
diversidade cultural, uma grande extensão da faixa fronteiriça é composta de Terras
Indígenas. A realidade do aumento populacional nos centros urbanos dos Municípios
que compõe a Faixa de Fronteira, evidencia a falta de políticas públicas para lidar
com o êxodo rural, que em grande parte ocorre pela carência de oportunidades de
emprego e pelas dificuldades da região.
Referências
Abstract: This article deals with a research carried out by the Civil Police of Mato
Grosso do Sul, in Corumbá and Ladário (MS) bordering Bolivia, implemented by the
Laboratory of Border Studies. The objective was to demonstrate how criminals has
adapted their criminal actions using the same virtual tools adopted by security forces.
Such tools, once adapted, interfere with the routines of security actions in Brazil -
Bolivia border, “The Great Corumbá”. Our studies were conducted from a
methodological option that would lead to a two-way analysis: The first was supported
by police actions and observations, based on the science of possible illicit existing at
the border. The second consisted of a literature review on the theme investigated.
The actions of the public security forces have achieved important results, however, it
requires institutional reorganizations.
Keywords: Border, Civil Police, WhatsApp, Time, Space.
Graduado em Direito CPAN/UFMS, Mestre em Estudos Fronteiriços CPAN/UFMS, Professor do
Curso de Direito da Faculdade Salesiana de Santa Teresa (FSST), Investigador de Polícia Judiciária
SEJUSP/MS. E-mail manixgoncalves@gmail.com.
Graduado em Educação Física UNICAMP, Mestre em Educação CPAN/UFMS, Coordenador do
Curso de Pedagogia da Faculdade Salesiana de Santa Teresa (FSST), Investigador de Polícia
Judiciária SEJUSP/MS. E-mail: fsst.pedagogia@steresa.org.br .
Graduado em Direito UFGD, Mestre em Estudos Fronteiriços CPAN/UFMS, Professor do Curso de
Direito da Faculdade Salesiana de Santa Teresa (FSST). E-mail luizgonzagajunior@hotmail.com
Introdução
Esse artigo emerge a partir do resultado de dois anos de uma pesquisa
desenvolvida no âmbito da Polícia Civil do estado do Mato Grosso do Sul (MS), em
Corumbá e Ladário, fronteira com a Bolívia, que está ladeada por Puerto Quijaro e
Puerto Suárez. Calha destacar que esta análise é um seguimento do estudo
realizado por Santos, Curto e Oliveira (2017), onde foi demonstrado como o uso da
ferramenta virtual adaptada ao ambiente policial pode mitigar tempo versus espaço,
no combate aos crimes transfronteiriços. No entanto, no decorrer deste presente
estudo foi percebida a utilização do mesmo expediente (uso das ferramentas
virtuais, dentre elas, o do aplicativo Whatsapp) pelo crime organizado, agora com fito
de assegurar a execução dos ilícitos desenvolvidos no espaço transfronteiriços, em
especial, os crimes de roubo de caminhões com retenção da vítima (art.157 §2º V do
Código Penal). A partir deste inusitado aspecto, o objetivo deste estudo foi identificar
como as ferramentas virtuais estariam sendo utilizadas pelo crime organizado em
face às modificações realizadas na atuação das forças de segurança na fronteira da
“Grande Corumbá”.
Diante do exposto, a metodologia constituiu-se em dois procedimentos. O
primeiro se esteou em ações e observações policiais, embasadas na ciência de
possível ilícito existente no limite fronteiriço. O segundo consistiu em uma revisão
bibliográfica a respeito da temática investigada, levando em consideração as mais
diversas bases de consulta, como: plataforma Scielo, periódico CAPES, Google
Diante do exposto, este estudo analisou o novo modus operandi utilizado pelo
crime organizado nos ilícitos transfronteiriços e, desta forma, elegemos um caso
ocorrido em Corumbá, no mês de maio de 2019, envolvendo uma carreta roubada
no estado de Mato Grosso, onde a vítima era mantida em cárcere privado na cidade
de Várzea Grande – MT.
fronteira era mitigado pela resposta rápida das forças de segurança através de
ferramenta virtual WhatsApp. Agora, este estudo aponta que os criminosos utilizam
da ferramenta virtual para garantir que as forças de segurança não tenham
conhecimento do crime, percorrendo um longo percurso de espaço em um tempo
considerável, com o mesmo objetivo delituoso de cruzar a fronteira e levar o objeto
subtraído ao país vizinho.
1
Dirección de Investigación y Prevención de Robo de Vehículos (Diprove)
Considerações
Conforme demonstrado as ferramentas virtuais estão abertas ao público
usuário de plataformas digitais e, neste contexto, oferecem a todos os seus adeptos
o mesmo instrumento, devendo o poder público, neste caso, as forças de segurança
pública, acompanhar a evolução tecnológica no sentido de aprimoramento de ação
ao enfrentamento de crimes que se utilizam destas ferramentas. As ações de
segurança pública dos mais diversos órgãos, correm sérios riscos de ficarem
prejudicadas se houver a desconsideração da utilização destas tecnologias.
Nossos estudos demonstram que a mobilidade criminosa, nos traz a
percepção de que a cada ato no combate ao crime, impulsiona também,
adequações nas ações criminosas. Os órgãos de segurança pública na fronteira,
uma vez presente, deveriam “trocar mais informações”, como fora a experiência da
Polícia Civil com a Receita Federal, visando mitigar o delito de roubo de caminhões.
Desta forma, nos lançamos a um questionamento crucial, que nos indica
necessidade de futuros estudos: Os órgãos de segurança pública e seus agentes,
trocam poucas informações por falta de integração entre os órgãos, por negligenciá-
las, ou por terem a perspectiva de que cada órgão limita-se a sua função em seu
território?
Referências Bibliográficas
GALVÃO, Fernando . Direito Penal: parte geral -5 ed.rev.atual.e ampl- São Paulo:
Saraiva, 2013
JESUS, Damásio E. de. Direito Penal. Parte Especial 2ºVol. 13º ed., São Paulo:
Saraiva, 1991.
i
Polígono que envolve as quatro cidades (Corumbá, Ladário, Puerto Quijarro e Puerto Suarez), tendo
Corumbá uma função centralizadora dos acontecimentos nesta região.
Resumo: O comércio de gás boliviano para o Brasil teve início na década de 1990,
com o advento do GASBOL e um dos tratados em vigor tem como prazo final
dezembro de 2019. Mudanças importantes sobre o mercado nacional de gás são
sinalizadas pelo o atual governo brasileiro e este fator pode gerar grandes impactos
nos novos acordos bilaterais a serem firmados para os próximos anos. O objetivo
deste trabalho é compreender a lógica de cooperação e interdependência
historicamente estabelecida entre Brasil-Bolívia na questão do gás, e apresentar as
perspectivas futuras desta relação. Trata-se de uma pesquisa qualitativa, de cunho
exploratório, pautada em análise bibliográfica e documental a qual contou com as
contribuições de Keohane e Nye sobre a “interdependência complexa” nas relações
internacionais.
Palavras-chave: GASBOL, Brasil, Bolívia, Teoria da Interdependência Complexa.
Abstract: The Bolivian gas trade to Brazil began in the 1990s, with the advent of
GASBOL and one of the treaties has as deadline December 2019. Significant
changes in the national gas market are signaled by the current Brazilian government
and this factor may have large impacts on new bilateral agreements to be signed for
the coming years. The aim of this paper is to understand the logic of cooperation and
interdependence historically established between Brazil-Bolivia in the gas issue, and
to present the future perspectives of this relationship. This is a qualitative, exploratory
research, based on bibliographic and documentary analysis, which counted on the
contributions of Keohane and Nye on the “complex interdependence” in international
relations.
Key words: GASBOL, Brazil, Bolivia, Theory of Complex Interdependence.
Bacharel em Relações Internacionais, Mestranda em Fronteiras e Direitos Humanos da Faculdade
de Direito e Relações Internacionais- Universidade Federal da Grande Dourados. E-mail:
adrianasantoscorrea03@gmail.com
Bacharel em Relações Internacionais, Mestranda em Fronteiras e Direitos Humanos da Faculdade
de Direito e Relações Internacionais- Universidade Federal da Grande Dourados. E-mail:
brrunaleticia@hotmail.com
Resumo: a pergunta deste artigo é: por que Brasil e Paraguai não cooperam com o
intuito de integrar suas fronteiras, principalmente, no campo da segurança
fronteiriça? A hipótese desse artigo é que políticas para as fronteiras mais próximas
ao paradigma realista, principalmente no campo da segurança, para as fronteiras
dificulta, senão impede, a cooperação e a integração das fronteiras. O argumento
em torno da hipótese e da resposta da pergunta levantada considera a interação
entre o âmbito doméstico e externo. O método utilizado é o método comparado, o
que faz com que esse artigo também pertença ao campo da Política Comparada, já
que esse é um campo definido por seu método.
Palavras-chave: Fronteiras; Brasil; Paraguai; Segurança; Defesa; Política
Comparada.
Abstract: The question of this article is: why Brazil and Paraguay do not cooperate
in order to integrate their borders, especially in the field of border security? The
hypothesis of this paper is that border policies closer to the realistic paradigm,
especially in the field of security, for borders make it difficult, if not preclude,
cooperation and integration of borders. The argument around the hypothesis and the
answer to the question raised considers the interaction between the domestic and
external spheres. The method used is the comparative method, which makes this
article also belong to the Comparative Policy field, since this is a field defined by its
method.
Keywords: Borders; Brazil; Paraguay; Security; Defense; Comparative Policy.
Resumen: La pregunta de este artículo es: ¿Por qué Brasil y Paraguay no cooperan
para integrar sus fronteras, especialmente en el campo de la seguridad fronteriza?
La hipótesis de este documento es que las políticas fronterizas más cercanas al
paradigma realista para las fronteras, especialmente en el campo de la seguridad,
dificultan la cooperación e integración en las fronteras. El argumento en torno a la
hipótesis y la respuesta a la pregunta planteada considera la interacción entre las
esferas doméstica y externa. El método utilizado es el método comparativo, lo que
hace que este artículo también pertenezca al campo Política comparativa, ya que
este es un campo definido por su método.
Palabras clave: Frontera; Brasil; Paraguay; Seguridad; Defensa; Política
Comparative.
Mestre em Política Internacional pela Universidade de Brasília (UnB); doutorando em Relações
Internacionais pela UnB; Professor voluntário na UnB; Coordenador de pesquisa e pesquisador do
Grupo de Estudos e Pesquisas em Segurança Internacional da UnB (mauriciodfgo@gmail.com).
https://orcid.org/0000-0003-3524-3574
Abstract: This paper surveys the issues that differentiate the boundaries between
the cities of Tijuana and San Diego and between Ponta Pora and Pedro Juan
Caballero, as well as verifying the changes that have occurred to the present day.
For this, a theoretical survey was made that seeks to explain that the concrete
boundaries are not like those delimited in the maps, but, besides, they present a
certain fluidity, demonstrating wide possibilities. As a result, issues pertaining to the
US-Mexico border are reported in the text, from the history of the population's
migration from England to North America to the analysis of NAFTA as an agreement
between both countries. Also, there is a historical survey of Brazil and Paraguay,
especially with regard to the Triple Alliance War, the development of the Matte
Laranjeira Company and the interaction issues that are developed in the cities.
Key words: Border; Brazil and Paraguay; United States and Mexico.
Resúmen: Este documento analiza los problemas que diferencian las fronteras entre
las ciudades de Tijuana y San Diego y entre Ponta Pora y Pedro Juan Caballero, y
también verifica los cambios que se han producido hasta el día de hoy. Para esto, se
Mestranda pelo Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Federal da Grande
Dourados (UFGD). E-mail: mirellalacerda@gmail.com
Doutoranda pelo Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Federal da Grande
Dourados (UFGD). Bolsista CAPES. E-mail: midiane.scarabeli@yahoo.com.br
realizó una encuesta teórica que busca explicar que los límites concretos no son
como los delimitados en los mapas, pero, además, presentan cierta fluidez, lo que
demuestra amplias posibilidades. Como resultado, los problemas relacionados con
la frontera entre Estados Unidos y México se informan en el texto, desde la historia
de la migración de la población de Inglaterra a América del Norte hasta el análisis
del TLCAN como un acuerdo entre ambos países. Además, hay una encuesta
histórica de Brasil y Paraguay, especialmente con respecto a la Guerra de la Triple
Alianza, el desarrollo de la Compañía Matte Orange y los problemas de interacción
que se desarrollan en las ciudades.
Palabras clave: Frontera; Brasil y Paraguay; Estados Unidos y México.
Introdução
As discussões sobre fronteiras têm tomado ampla relevância e abordagens
teórico-metodológicas mundialmente, principalmente em virtude dos grandes
acontecimentos das últimas décadas, dos quais podem ser citados: a queda do
Muro de Berlim, construído para separar a parte ocidental da parte oriental; o conflito
árabe-israelense; construção de muros e cercas nas cidades espanholas Ceuta e
Melila para conter a onda migratória advinda do continente africano.
No Brasil, assim como em outras partes do mundo, há situações em que
despertam o interesse pelo estudo de fronteiras, como é possível perceber entre os
conflitos de demarcação de terras entre indígenas e ruralistas brasileiros; e o mais
recente caso da hipótese que ocorreu sobre o fechamento das fronteiras entre Brasil
e Venezuela.
Como é possível perceber, a questão é complexa e exige um esforço para
estudar detalhadamente as particularidades de cada região fronteiriça, pois cada
uma possui características próprias no que tange a lidar com estas questões.
Igualmente como outros conceitos da Geografia estão em constante processo de
revisão conceitual, a fronteira ao longo dos estudos entre metodologia e análise
teórica vem tomando diferentes interpretações em virtude das suas novas
configurações. Observa-se que ela se transforma porque adquire uma nova
interpretação que considera a população que está no seu entorno e as trocas
sociais, superando sua configuração limitada, estática e organizada político e
administrativamente. As fronteiras avançam, superam limites, movimentam,
expandem, definem e redefinem identidades e interage os agentes nos seus
espaços.
1
Conceito marxista fundamental que considera a relação entre as forças produtivas e as instâncias
políticas, jurídicas, entre outras.
diversos autores vêm empreendendo esforços para dinamizar o seu sentido, dando-
lhe fluidez, desmistificando o seu caráter permanente, mas fazendo surgir a
construção da fronteira a partir do sentido que a população vive no seu entorno a
constrói, movimenta e transforma.
Metodologia
O presente texto foi construído a partir dos estudos e discussões realizados
na disciplina “fronteira, interculturalidade e processos educativos” no curso de Pós-
Graduação em Geografia da UFGD e faz um levantamento de questões que
diferenciam as fronteiras entre as cidades de Tijuana e San Diego e entre Ponta
Porã e Pedro Juan Caballero, além de verificar as mudanças que ocorreram desde a
limitação dessas fronteiras até os dias atuais.
Para tanto, foi feito um levantamento teórico que busca explicar que as
fronteiras concretas não são como as delimitadas nos mapas, mas, para além disso,
apresentam uma certa fluidez, demonstrando amplas possibilidades. Primeiramente,
são relatadas no texto as questões pertinentes à fronteira Estados Unidos e México,
desde a história da migração da população da Inglaterra para a América do Norte
até a análise do Nafta como acordo entre ambos os países.
Assim também, há um levantamento histórico do Brasil e do Paraguai,
principalmente no que se refere à Guerra da Tríplice Aliança, o desenvolvimento da
Companhia Matte Laranjeira e as questões de interação que são desenvolvidas nas
cidades.
como uma atividade ilícita contribui para o aumento da violência da região. Nesse
sentido, o Brasil investe na proteção das fronteiras, embora não seja um número
suficiente para controlar essa área que muito intensamente passa drogas para o
lado brasileiro da fronteira. O comércio de entorpecentes somente nessa área
contribui com o movimento de grande parcela de bilhões de dólares (MELO, 2016).
Diferentemente da fronteira norte americana e mexicana anteriormente
analisada, na área entre o Brasil e o Paraguai não existe separação entre os dois
países com a construção de um muro. É facultado aos cidadãos o direito de ir e vir,
desde que não estejam contribuindo com atividades ilícitas na região.
Considerações finais
No mundo todo se observa tensões em relações a áreas de fronteiras, umas
mais conflituosas que outras, algumas mais integradas que outras. Ao longo desse
trabalho, houve um empenho em mostrar as diferenças e semelhanças existentes
entre as fronteiras entre Pedro Juan Caballero (PY) e Ponta Porã (BR) e de Tijuana
(MX) e San Diego (US). Sendo assim, foi necessário trazer ao texto um
levantamento histórico sobre as duas áreas de fronteiras para perceber se a
construção histórica foi fundamental para a identificação das interações entre
ambas.
Os Estados Unidos e o México embora tenham relações comerciais e acordos
assinados, são visíveis as diferenciações entre os dois países no que tange a
questão fronteiriça de San Diego e Tijuana. Em virtude das diferenças econômicas e
sociais, ocorreu uma intensa migração do lado mexicano para o lado estadunidense,
por isso, muitos foram os investimentos empreendidos pelo lado americano para
conter a massa. Nessa fronteira, não há intenção de integrar os dois lados, embora
ambos tenham necessidade de estabelecer relação com a outra parte como para a
obtenção de mão de obra pouco qualificada; a importação e exportação de produtos
comerciais; a exploração de minérios e a implantação de indústrias maquiladoras.
O lado mexicano ainda é visto com o olhar preconceituoso e xenofóbico do
americano, além de ser considerado como perigoso e destruidor da paz. Mesmo
aqueles que adentram de maneira legal em solo americano, é possível que encontre
dificuldades de se integrar totalmente em virtude de o país, mais intensivamente
nesse último governo, incentivar sempre uma política anti-imigração.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
SILVA, Rafael Henrique Teixeira da; BENATTI, Camila da. Reflexões sobre a
fronteira entre o México e os Estados Unidos da América: o caso de Tijuana –
San Diego. Revista Geonordeste. São Cristovão, n.3, ago./dez. 2014 p. 97-113.
Abstract: The present work aims to analyze how the illegal trade cross-border
networks are structured in the Brazilian-Paraguayan border between the extreme
west of the State of Paraná bordering the Departments of Alto Paraná and
Canindeyú. To achieve the proposed objective, the methodology consisted of
theoretical-bibliographic survey and field research. Such a border segment has long
been cited as one of the most problematic in South America, due to the increasing
intensification of illegal networks of all kinds. Although it is difficult to indicate
quantitative data, according to estimates, Brazil fails to raise 130 billion reais per year
due to illegal trade. In this sense, the work reveals that such a border segment has
been characterizing as a geographical space of tension between national state
control bodies and criminal organizations that conduct illegal trade activities and that
Graduado em Administração, Aluno do Programa de Pós-graduação em Geografia, nível Mestrado,
pela UNIOESTE (Universidade Estadual do Oeste do Paraná), campus Marechal Cândido Rondon –
PR, e-mail: alan.schons@hotmail.com
Graduada, Mestre e Doutora em Geografia. Professora do Programa de Pós-Graduação em
Geografia da UNIOESTE (Universidade do Oeste do Paraná), campus Marechal Cândido Rondon -
PR E-mail: maristela7ferrari@gmail.com.
go beyond the border zone scale and articulate with other scales such as
international and / or transnational.
Key words: Border Zone; Illegal networks; West Of Paraná With Canindeyú And Alto
Paraná.
Resumen: Este documento tiene como objetivo analizar cómo se estructuran las
redes transfronterizas de comercio ilegal en la frontera brasileño-paraguaya entre el
extremo oeste del Estado de Paraná, que limita con los departamentos de Alto
Paraná y Canindeyú. Para lograr el objetivo propuesto, la metodología consistió en
encuestas teórico-bibliográficas e investigaciones de campo. Tal segmento fronterizo
ha sido citado durante mucho tiempo como uno de los más problemáticos en
América del Sur, debido a la creciente intensificación de las redes ilegales de todo
tipo. Aunque es difícil indicar datos cuantitativos, según las estimaciones, Brasil no
recauda 130 mil millones de reales por año debido al comercio ilegal. En este
sentido, el trabajo revela que dicho segmento fronterizo se ha caracterizado como un
espacio geográfico de tensión entre las agencias nacionales de control estatal y las
organizaciones criminales que controlan las actividades comerciales ilegales y que
van más allá de la escala de la zona fronteriza y se articulan con otras escalas como
internacional y / o transnacional.
Palabras clave: zona fronteriza; Redes ilegales; Al oeste del Paraná con Canindeyú;
Alto Paraná.
Introdução
As redes de comércio ilegais ao longo de toda fronteira do Brasil e Paraguai
são antigas, mas no segmento fronteiriço compreendido entre a região geográfica do
extremo oeste do Estado do Paraná (BR) limítrofe aos Departamentos de Alto
Paraná e Canindeyú (região oriental do Paraguai) parecem ter aumentado
significativamente após obras binacionais entre os dois países, como a construção
da Ponte da Amizade (1965) (ligando Paraná a Ciudad Del Este - Departamento Alto
Paraná), a formação do Lago da hidrelétrica de Itaipu sobre o rio Paraná (1982),
obra que favoreceu a navegação, a construção da Ponte Ayrton Sena, em 1998,
ligando Paraná ao Mato Grosso do Sul. Além de tais obras, o advento do
MERCOSUL (1995) também parece ter contribuído para a porosidade fronteiriça e
por consequência o crescimento de atividades de comércio ilegais. O comércio ilegal
tem aumentado significativamente desde as últimas décadas do século XX e vem
contribuído para que tal segmento fronteiriço seja apontado como um dos mais
problemáticos da América do Sul, pois está inserido na lógica das redes de comércio
ilegais e do crime organizado que não se restringe a escala local e regional, envolve
a escala nacional e também escalas transcontinentais.
Por comércio ilegal entendemos aqui todas as atividades que não respeitam
as leis territoriais, não pagam impostos e fogem da fiscalização aduaneira, trata-se,
portanto, de um espaço onde os crimes tributários são constantes. Dentre os
produtos e mercadorias que mais circulam ilegalmente do Paraguai para o interior do
território brasileiro destaca-se: armas de fogo, drogas (maconha, cocaína, cigarros e
entorpecentes diversos), veneno para o controle de pragas agrícolas, eletrônicos
(computadores, iPAD, tablets, celulares, câmeras fotográficas, filmadoras, drones),
roupas, perfumes, bolsas, brinquedos, medicamentos, dentre outros. Grande parte
daqueles produtos e mercadorias são oriundos de outras escalas internacionais, de
países da Ásia, Europa e América do norte. Muitos produtos e mercadorias que
chegam a Ciudad Del Este e Salto Del Guairá, (cidades da zona de fronteira aqui
analisada), tem como destino o Brasil por meio de redes ilegais.
Embora seja difícil indicar dados quantitativos, segundo notícias divulgadas
pelos jornais da região oeste do Paraná (2018), o Brasil deixa de arrecadar 130
bilhões de reais, por ano, devido ao comércio ilegal. Na zona de fronteira aqui
analisada, o limite territorial entre os dois países é extremamente poroso,
característica que tem facilitado inúmeras atividades de comércio ilegal entre
Paraguai e Brasil. Não obstante, as redes técnicas (telefonia e internet) facilitam a
comunicação de atores fronteiriços brasileiro-paraguaios na organização de
esquemas para burlar a fiscalização e as normas territoriais, visando introduzir
produtos e mercadorias num ou noutro território através do chamado comércio ilegal.
O objetivo deste trabalho é analisar como se estruturam/organizam as redes
transfronteiriças de comércio ilegal no segmento da fronteira brasileiro-paraguaia
compreendida entre a região geográfica do extremo oeste do Estado do Paraná (BR)
limítrofe aos Departamentos de Alto Paraná e Canindeyú (região oriental do
Paraguai). Para consecução do objetivo proposto, a metodologia consistiu em
levantamento teórico-bibliográfico dando ênfase aos conceitos de zona de fronteira e
redes ilegais e pesquisa de campo com organismos de controles na região de
fronteira tanto do Brasil quanto do Paraguai. O trabalho foi dividido em duas partes:
a primeira analisa como o conceito rede pode auxiliar na análise do comércio ilegal
transfronteiriço. A segunda parte do trabalho analisa como se estruturam as redes
transfronteiriças do comércio ilegal e quais suas escalas de atuação. Finalizamos o
trabalho argumentando que o comércio ilícito não fere apenas as leis territoriais,
penaliza sociedades, gera problemas de saúde pública, promove territorialidades
sem leis e por consequência contribui para o aumento da violência urbana não
apenas em cidades fronteiriças, mas igualmente em cidades de outras escalas
territoriais.
A rede como conceito teórico e instrumento metodológico para análise de
atividades ilegais transfronteiriças
Refletir sobre redes de comércio ilegal em zona de fronteira requer pensar em
vários conceitos, dentre os quais território, Estado, política, fronteira, zona de
fronteira e rede, além de outros, conceitos que podem auxiliar na análise da
problemática, mas neste trabalho, damos ênfase ao conceito de rede, pois as
atividades de comércio ilegal na zona de fronteira brasileiro-paraguaia compreendida
entre a região geográfica do extremo oeste do Estado do Paraná (BR) limítrofe aos
Departamentos de Alto Paraná e Canindeyú (região oriental do Paraguai) é uma
região de conectividade de lugares e de atores que transportam produtos e
mercadorias de natureza diversa por meio de organizações em rede. Segundo Dias
(2005), uma das propriedades da rede é a conectividade, isto é, conecta lugares e
pessoas. De acordo com Santos (1999) a rede não é somente técnica ela é também
social, já que é pensada, desenhada e modificada por atores e suas conexões.
Corrêa (2014) contribui com o debate sobre rede, notadamente rede geográfica.
Para ele “rede geográfica é um conjunto de localizações geográficas interconectadas
entre si por certo número de ligações”. Assim, toda rede prioriza
mobilidade/circulação e a fluidez/fluxos por onde circulam bens materiais ou
imateriais, (DIAS 2005). Neste sentido, o conceito de rede ajuda a compreender as
articulações transfronteirças de comércio ilegal ou redes de comércio ilegais. Mas
qual a noção de redes ilegais? Haesbaert e Porto-Gonçalves (2006) respondem:
Redes ilegais – são espaços reticulares comandados por grupos e
entidades não reconhecidas legalmente pela sociedade e que, embora
intimamente articuladas a economia e ao sistema político dominante (como
o caso das redes do narcotráfico), não partilham da maior parte das regras
formalmente instituídas. (HAESBAERT e PORTO-GONÇALVES, 2006, p.
150).
1
Descaminho são pontos de passagem de um território ao outro que não são habilitados ao comércio
internacional entre os dois países, mas que são frequentemente criados e utilizados para atividades ilegais por
onde circulam bens e mercadorias com intuito de fugir da fiscalização dos Estados-nacionais.
2
Ressalta-se que tal conexão, também é estabelecida através da Ponte Ayrton Senna, que conecta os Estados do
Paraná com Mato Grosso do Sul, sendo intensamente utilizada para acessar Salto Del Guairá a partir do Estado
do Paraná.
3
Conexão internacional realizada por meio de Balsas de transporte
4
Conexão internacional fixa, por meio da Ponte Internacional da Amizade – recentemente Brasil e Paraguai
firmaram acordo por meio da Itaipu Binacional, para a construção da segunda ponte.
Fonte: Fornecido por: DORECKI , 2018 – CAPGEO-PR. Organizado pelo autor, 2019.
5
5
Major da Polícia Militar do Estado do Paraná, então Comandante do BPFRON (Batalhão de Polícia de
Fronteira).
Fonte: IRF de Foz do Iguaçu (2018), organizado pelo autor a apartir da pesquisa de campo.
7
Inseticida de ação lenta, o qual permite que o inseto retorne à sua colônia e infecte os demais membros com
uma taxa de sucesso de cerca de 95% para alguns tipos de insetos.
Mas é importante enfatizar que os atores de redes ilegais não são apenas da
zona de fronteira, existem atores de outras escalas que atuam tanto em redes
comercias e organizações formais e informais, mas que sem os atores da escala
local a rede poderia não se estruturar. Costa (2012) adverte que existem aqueles
que cometem um crime tido como “mais simples” – não se refere à tipificação penal,
também aqueles que adquirem produtos para a comercialização no Brasil, que não
representa grandes vultos – contudo, não se pode olvidar a prática de crimes mais
gravosos, envolvendo, inclusive, facções criminosas. Nesse sentido, o autor aponta
ramificações do CV (Comando Vermelho), com sede no Estado do Rio de Janeiro e
o PCC (Primeiro Comando da Capital), com sede no Estado de São Paulo, dentre
outras organizações que atuam na fronteira do brasil com o Paraguai. Tais facções
criminosas seriam as responsáveis, por exemplo, em introduzir armas sofisticadas
em território nacional. Essas armas abasteceriam as demandas para o exercício do
domínio territorial exercido nas favelas do Rio de Janeiro, para a prática de roubo a
bancos, empresas de valores e carros-fortes. Além das redes de tráfico de drogas,
tráfico de armas, existe inumeráveis outras modalidades criminosas como a
sonegação/evasão fiscal, da falsificação/pirataria, a prostituição, o tráfico de
pessoas, o tráfico de órgãos humanos, dentre outras ilegalidades. As atividades
ilegais envolvem distintas escalas, tanto geográficas como hierárquicas, e seu
funcionamento depende, fundamentalmente, da colaboração de inúmeros atores.
Em regiões de fronteira, é bastante comum as atividades econômicas ilegais,
envolvem autoridades e atores locais que auxiliam na passagem das ilegalidades
pela fronteira, confrontando constantemente as leis territoriais. É importante destacar
entre muitas ilegalidades, há constante prática de roubo a veículos – especialmente
caminhonetes – as quais servem tanto para o transporte das ilegalidades mas
igualmente como moeda de troca por mercadorias, drogas 8, entre outros ilícitos no
Paraguai. Nesse sentido, há quadrilhas especializadas a roubo de veículos e uma
articulada rede de adulteração veicular, mobilizada a partir das redes ilegais
transfronteiriças.
A problemática revela que os limites territoriais entre os dois Estados-
nacionais estão permeados por diversas redes (materiais e simbólicas) e poderes
8
Interceptação telefônica realizada por agentes públicas de segurança, com autorização judicial, dão conta de
que um líder do PCC preso na região, estimula os integrantes da facção criminosa a praticarem roubo a veículos,
com intuito de trocar por drogas no lado paraguaio, e que isso seria um “ouro”, porque é uma maneira muito
fácil de se ganhar dinheiro.
Considerações finais
Buscou-se no presente trabalho, a apresentação tanto de conceitos
geográficos que auxiliam na compreensão dos elementos analisados. Desse modo,
com uma pesquisa de campo, mesmo que elementar, podemos constatar que a
fronteira é extremamente porosa. Essa porosidade, resulta em inúmeras práticas
ilegais, as quais o Estado-nacional não consegue realizar o controle de maneira
eficiente. Entre os elementos demonstrados, procuramos nos concentrar no debate
da porosidade fronteiriça, além das ilegalidades debatidas exaustivamente no
tocante a Foz do Iguaçu com Ciudad del Este e Guaíra com Salto del Guairá. Desse
modo, podemos evidenciar no presente trabalho, que as redes ilegais
transfronteiriças são estabelecidas em diversos pontos, as quais mobilizam diversas
escalas, inclusive intercontinental. As redes ilegais desse modo, são evidenciadas
ao longo de toda a extensão do lago internacional de Itaipu, em que o crime
organizado, está articulado de maneira bastante flexível. Essas redes ilegais,
possuem caráter intermodal, pois articulam os meios terrestre – fluvial – terrestre,
não sendo descartadas outras maneiras de articulação. Ainda que o Estado tenha
desprendido inúmeros esforços para fazer o enfrentamento por meio da repressão,
os quais demandam grandes aportes financeiros, essas redes ainda assim,
continuam a existir. Essa sobrevivência das redes, se dá ao fato de que as
condições (vantagens obtidas através das diferenças entre os Estados-nacionais),
9
Segundo levantamento realizado em 2018, estimava-se a época, que o valor da aquisição do maço de cigarros
no Paraguai é de R$0,50, o custo médio para a realização do contrabando, chega a R$ 1,50 o maço para o
contrabandista, que o vende a R$ 2,50/R$3,00 para o comércio, que o revende por cerca de R$ 3,50/4,00. Esses
custos e preço médio de revenda, dependem da rigidez da fiscalização das autoridades brasileiras, se os
contrabandistas tiverem maiores prejuízos, tanto com as apreensões dos veículos e mercadoria, como a
fiscalização de modo a impedir que os fluxos se estabeleçam.
Referências
COSTA, Renatho. Era uma vez na fronteira: o mito da zona “fora da lei”?. In.
BENTO, Fábio Régio (Org.). Fronteiras em Movimento. Jundiaí – SP: Paco Editorial,
2012, p. 31-44.
DIAS, Leila Christina. Os sentidos da rede: notas para discussão. In: DIAS, Leila
Cristina; SILVEIRA, R. L. L da. Redes, sociedades e territórios. Santa Cruz do Sul:
EDUNISC, 2005.
Thomás TEIXEIRA
Adriana DORFMAN
Doutorando do Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Federal do Rio Grande
do Sul, tmsnery@gmail.com
Professora associada do Depto. de Geografia e professora permanente do Programa de Pós-
Graduação em Geografia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, adriana.dorfman@ufrgs.br
Abstract: The spread of xenophobic insults is not new in Brazil. However, due to the
current political situation and the increasing use of social networks as a platform for
debate, it is observed that profanity against another person due to their ethnic origin
has become commonplace, without due protection of the State. And in the city of
Corumbá-MS, the border between Brazil and Bolivia, the panorama of the
proliferation of racist comments against immigrants in social networks has been
following the same pace of growth as in other regions of the country. Thus, using
print's from the city's main shopping and sales page, the present paper seeks to
demonstrate that biased manifestations, especially on the page of the Trocas &
Trocas Group, reverberate without any kind of sanction by the Government.
Keywords: Insults, borderline, xenophobic, racist, immigrants.
1
Mestrando do Programa de Pós-Graduação de Estudos Fronteiriços na UFMS- Campus Pantanal,
Corumbá. Especialista em Direito Processual- PUC Minas. Bacharel em Direito pela UFMS- Câmpus-
Corumbá. E-mail: antoniorcj89@gmail.com
2
Professora Adjunta da UFMS. Doutora em Desenvolvimento Regional na UNISC. E-
mail:gleycevasques@gmail.com
otras regiones del país. Por lo tanto, utilizando impresiones de la página principal de
compras y ventas de la ciudad, el presente documento busca demostrar que las
manifestaciones sesgadas, especialmente en la página del Grupo Trocas &
Exchanges, repercuten sin ningún tipo de sanción por parte del Gobierno.
Palabras clave: Insultos, frontera, xenófobos, racistas, inmigrantes.
Introdução
O contexto atual político fez transparecer o tratamento pouco amistoso
ofertado a grupos de imigrantes. Nas redes sociais, tornou-se comum observar
inúmeros insultos de cunho xenofóbico contra estrangeiros que provém de países
que estão em instabilidade econômica e política e que procuram no Brasil um refúgio
para amenizar suas mazelas.
Também, na cidade de Corumbá, as manifestações mais exacerbadas contra
migrantes acabaram alcançando a internet. Diante do fenômeno da reprodução de
ofensas preconceituosos nesta porção da fronteira, é mister entender a motivação
das demonstrações de repulsa e execração contra a população de estrangeiros que
advém da Bolívia.
A palavra xenofobia tem origem grega, sendo originalmente formada pela
aglutinação dos vocábulos xénos, significando “estranho, estrangeiro” (CEGALLA,
2018, p.406) e da palavra phóbos, que representava “medo doentio ou exagerado,
pavor, aversão” (CEGALLA, 2018, p.179). Atualmente sua compreensão evoca a
profunda rejeição e medo de um determinado grupo de estrangeiros, passando a ser
uma das principais fontes de racismo (ALBUQUERQUE, 2016). Ainda, conforme
narra o autor
A xenofobia implica uma delimitação espacial, uma territorialidade, uma
comunidade, em que se estabelece um dentro e um fora, uma
interioridade e uma exterioridade, tanto material quanto simbólico, tanto
territorial quanto cultural, fazendo daquele que vem de fora desse
território ou dessa cultura um estranho ao qual se recusa, se rejeita com
maior ou menor intensidade. A xenofobia pode se manifestar de
diferentes maneiras, desde como uma simples recusa de aproximação,
convivência ou contato com o estrangeiro até através de atitudes
extremadas de agressão e tentativa de eliminação física ou simbólica do
ser estranho. (ALBUQUERQUE, 2016, p. 10)
De fato, a xenofobia cristaliza o sentimento de sobreposição de uma cultura
considerada “civilizada” em detrimento a cultura do estrangeiro. Surge, então, uma
relação baseada no desrespeito, que acaba fomentando a violência e o racismo. O
modus operandi do xenófobo é o menosprezo daquele que veio de fora, e como
narra Strauss, “Chegam muitas vezes a privar o estrangeiro deste último degrau de
Metodologia
Este trabalho foi concebido através de uma revisão bibliográfica narrativa,
tendo por base a interpretação e análise de conteúdos elaborados anteriormente e
que visam proporcionar ao leitor a possibilidade de adquirir uma nova base de
conhecimentos sobre um determinado tema, tendo por composição, principalmente,
livros e artigos científicos (GIL, 2007; ROTHER, 2007).
Para tanto, partiu-se do objeto deste artigo e de princípios do constitucionais e
infralegais, bem como das diferentes teorias e conhecimentos que compõem esta
perspectiva. Ademais, listou-se os autores e as publicações que reúnem
informações pertinentes ao tema, os quais estão voltados para as áreas de
Imigração, Direitos Humanos e Direito Penal.
As principais bibliografias e documentos jurídicos elencados para análise e
elaboração deste texto, foram: Declaração Universal dos Direitos Humanos de
(1948); Constituição Federal da República Federativa Brasileira (1988); Lei de
Migração (2017); Estatuto do Estrangeiro (1980); Código Penal (1944); faz parte
também do rol de bibliografias os livros “Código Penal Comentado” (2017) do jurista
Rogério Greco; “Xenofobia: Medo e Rejeição ao Estrangeiro” de Durval Muniz de
Albuquerque Junior; “Discutindo Identidades” de Célia Toledo Lucena e Neusa Maria
Mendes Gusmão; “Imigrantes no Brasil- Proteção Direitos Humanos e Perspectivas
Político-Jurídicas” de Giuliana Redin e Luís Augusto Bittencourt Minchola;
“Combates à Xenofobia, ao Racismo e à Intolerância” de Paulo Daniel Farah;
“Imagens e Esteriótipos da Sociedade Portuguesa sobre a Comunidade Chinesa”
de Ana Matias.
Resultados da Pesquisa
Para compreender como o fenômeno da xenofobia afeta os migrantes no
país, é necessário analisar alguns dados. Segundo a ONU (2017), atualmente no
Brasil, existem cerca de 713 mil estrangeiros (2017, p.1), ou seja, apenas 0,3% da
população do Brasil é estrangeira. Um número bem abaixo se comparado a média
dos países vizinhos, como Argentina que tem 4,8% (2017, p.1) de sua população
composta por imigrantes, ou o Uruguai, que tem cerca de 2,1% (2017, p.1) de
estrangeiros residindo no país. Destaca-se que, dentro deste número, segundo a
Secretaria Nacional de Justiça (2017), no Brasil, cerca de 33.886 pessoas são
refugiadas (BRASIL, p.9), sendo a maioria, cerca de 17.865, composta por
venezuelanos (BRASIL, p.9).
Embora a quantidade de imigrantes residindo no país seja relativamente
baixa, o brasileiro tem uma percepção bem maior desse número. Segundo o instituto
IPSOS (2018), o imaginário coletivo é de que existiriam cerca de 30% de imigrantes
no país. De fato, é um número 100 vezes menor.
A compreensão incorreta de que há “muitos imigrantes” no país, influenciou
de forma negativa uma consulta pública do Senado Federal (2017) sobre a nova lei
dos migrantes (Lei 13445/2017), a qual, além de se adequar a Constituição Federal,
facilitou a entrada de estrangeiros. Ocorre que mais de 60% dos votantes (7.848 de
um total de 9.523) foram contra o novo texto legal.
Outra consequência desta falsa percepção de excesso de estrangeiros no
país é a concepção de que imigrantes estariam invadindo o Brasil para a prática de
delitos. Dessa forma, observa-se o surgimento de discursos preconceituosos e
agressivos objetivando “defender a nação”, como narra Farah (2017, p.3)
vender esfihas e doces típicos. “O nosso país tá sendo invadido por esses
homens bombas, que matam crianças”, afirma o agressor.
Apesar de não ficar claro sobre que produção o autor alega não existir na
Bolívia, verifica-se que ele demonstra um desconhecimento sobre o crescimento
econômico do país vizinho. Em 2017, ano da postagem, a Bolívia cresceu 4.3% em
seu PIB, tornando-se o Estado que mais cresceu na américa do sul (BBC, 2017 s/p).
Enquanto isso, no mesmo período, o Brasil havia crescido somente 1,0% (IBGE, p.4)
Já em outra postagem do mesmo grupo de vendas, uma pessoa reclama
sobre a presença de comerciantes bolivianos na cidade. Em tom ameaçador o autor
ainda diz que a “generosidade” do povo brasileiro poderia acabar em um
determinado momento. Em resposta, um seguidor da página acusa os bolivianos de
ocupar o sistema de saúde.
Sobre a presença de bolivianos no comércio, vale ressaltar que, atualmente, a
economia local está atrelada ao poder de compra de migrantes do país vizinho. Se
antes, a moeda brasileira gozava de uma valorização maior que a peso boliviano,
hoje, em meio a um período de crise, o fluxo de consumidores provenientes da
Bolívia deu sobrevida ao varejo. Destaca-se a reportagem do jornal Correio do
Estado (2019) sobre a vinda de bolivianos para comprar produtos no brasil
O empresário e presidente da Federação das Associações Empresariais do
Estado (Faems), Alfredo Zamlutti, afirma que o comércio de Corumbá
estaria falido sem o boliviano. Presidente da associação comercial local por
11 anos, ele estima que 70% do giro financeiro se deve ao consumidor
Considerações finais
Embora o Brasil seja signatário de Tratados Sobre Direitos Humanos e tanto
Constituição Federal quanto normas infraconstitucionais protejam os estrangeiros de
discriminações e preconceitos, fica latente que a violação de direitos ainda é
banalizada nas redes sociais, em especial na cidade de Corumbá.
Após uma rápida pesquisa na principal página de compras e vendas da
cidade, é possível ver inúmeras postagens ofensivas a estrangeiros provenientes da
Bolívia. Inclusive, algumas publicações que datam de anos anteriores, ainda
continuam disponíveis para leitura. Fica evidente a inércia de membros do Poder
Público, destacando-se o Ministério Público, em face dos fatos tipificados como
racismo na maior página de Corumbá.
É necessário que os agentes do Estado exerçam seu mumus fiscalizatório, de
forma que publicações como as dos print’s que fazem parte do presente trabalho
sejam retiradas de forma imediata. Somente através de uma sanção com viés
punitivo-pedagógico, poder-se-á vislumbrar que a população se conscientize que
xenofobia é crime.
Além disso, é importante destacar que o Brasil é composto por uma
amálgama de pessoas provenientes de todos os continentes do mundo. A
construção do país não foi fomentada somente por um grupo social. E, nesta porção
da fronteira não seria diferente. Assim, é necessário que quaisquer manifestações
preconceituosas deixem de passar incólume, de forma que a origem de todos seja
devidamente respeitada.
Referências
BBC. Como a Bolívia se tornou o país que mais cresce na América do Sul.
Acesso em 01/08/2019. Disponível em
https://www.bbc.com/portuguese/internacional-41753995.
BRASIL. Recurso em Sentido Estrito. Rel. Min. Felix Ficher, 5ª Turma. Disponível
em https://jus.com.br/artigos/52141. Acesso em 01/08/2019.
GIL, Antonio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. 4.ed. São Paulo.
Editora Atlas, 2007.
1
Mestrando em Estudos Fronteiriços pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul. Especialista
em Gestão Judiciária – Ênfase em Direito pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul.
Graduado em Direito (2014) pela Universidade Anhanguera e Administração (2009) pela
Universidade Federal de Mato Grosso do Sul. Atualmente é Analista Judiciário e Assessor Jurídico do
Tribunal de Justiça do Estado de Mato Grosso do Sul. Tem experiência na área de Direito, com
ênfase em Direito Constitucional, Direito Internacional e Direitos Humanos. Contato:
mateus.adv88@gmail.com
2
Doutora (2013) em Geografia pela Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP e Mestre
(1998) em Educação pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul. Possui graduação em
Licenciatura e Bacharelado em Geografia pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (1994).
Atualmente é professora-adjunta da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul. Pesquisadora nas
áreas de Geografia, Geografia Cultural, Turismo, Educação, Território, Paisagem. Contato:
mara_aline@hotmail.com
3
Doutor (2019) e Mestre (2014) em Ciências Criminais pela Pontifícia Universidade Católica do Rio
Grande do Sul (PUCRS) com pesquisa na área de Cooperação Jurídica Internacional em matéria
penal no MERCOSUL. Graduação em Direito (2011) pela Universidade Católica Dom Bosco (UCDB).
Tem experiência na área do Direito, com ênfase em Direito Processual Penal, Direito Penal, Direito
Internacional Público, Cooperação Jurídica Internacional, Direito da Integração e Direito Comparado.
Contato: caiquerg@hotmail.com
confronting trafficking in persons for the purpose of sexual exploitation on the Brazil-
Bolivia border”, with the purpose of developing a work that serves as a parameter
and encourages further discussions on the subject. public policies to protect victims,
punish those responsible and curb the practice of criminal offenses. Therefore, the
method of application is supported by legislative studies, theoretically referenced in
the legal sciences, permeated by interdisciplinary knowledge involving history,
anthropology, sociology and geography.
Keywords:border; international traffic of people; public policies; human rights.
Abstract: Faced with the configuration of instability of the international order among
countries and increasingly organized crimes, we can see that there are no barriers or
borders between nations for illicit activities. The importance of border and defense
policies for better relations with neighboring countries and the importance of
discussing problems, the form of cooperation and integration for the implementation
of strategic actions. The article discusses the Federal Government's role in the
challenges posed by the international border situation in South America, describes
the National Defense Policy, National Defense Strategy and Defense White Paper
under the aegis of the Ministry of Defense. It also works to foster dialogue and
discussion of issues related to Security and Defense; exchanging experiences
Mestranda em Estudos Fronteiriços, Universidade Federal de Mato Grosso do Sul.
Email:silvanadovalleleone@hotmail.com
Docente e pesquisadora na Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) Campus Pantanal (CPAN),
lecionando no Curso de Geografia e no Mestrado em Estudos Fronteiriços. Pós-Doutorado na Universidade de
São Paulo (USP), Doutora em Geografia Humana pela Universidade de São Paulo (USP). Email:
elisa.freitas@ufms.br
Introdução
O presente artigo tem como objeto de estudo as políticas governamentais de
fronteiras e a política de Defesa frente aos desafios impostos pela conjuntura
internacional fronteiriças. O Governo Federal e as Forças Armadas (FA) entendem
que o assunto não deve ser restrito aos militares, deve ser preocupação de toda
sociedade brasileira. A iniciativa atende a definição de ações conjuntas, com
discussões e debates no nível político e acadêmico que aprofunde as capacidades e
competências entre as partes em prol do desenvolvimento do País.
O objetivo geral é analisar as características das fronteiras brasileiras,
apresentar um breve histórico da atuação dos governos federais entre os anos de
1985 e 2017, entender a configuração das Políticas Governamentais de Fronteiras
frente à conjuntura internacional e problemas nacionais e estudar o papel da Política
de Defesa sob a égide do Ministério da Defesa e à luz da Política Nacional de
Defesa, Estratégia de Defesa Nacional e Livro Branco de Defesa Nacional.
Metodologia
A pesquisa bibliográfica foi realizada através de artigos, revistas e sítios da
internet, com o objetivo de levantar dados e informações relevantes a respeito dos
conceitos relacionados a Fronteira, Segurança Pública e Defesa Nacional.
aproximadamente 950 mil km² e representa 17% da Amazônia. (COSTA, 2017, pag.
112 – 123).
Durante o governo do Presidente Michael Temer (2016-2018) foi promulgado
o Decreto 8903 (2016) que instituiu o Programa de Proteção Integrada de Fronteiras
(PPIF) para o fortalecimento da prevenção, do controle, da fiscalização e da
repressão aos delitos transfronteiriços. O projeto tinha como diretriz atuar de forma
integrada e coordenada como os órgãos de segurança pública, de inteligência, da
Secretaria da Receita Federal do Brasil do Ministério da Fazenda e do Estado-Maior
Conjunto das Forças Armadas e cooperar e integrar com os países vizinhos.
O PPIF surgiu com propósito de promover ações conjuntas de integração
federativa da União com os Estados e Municípios situados na faixa de fronteira; com
os órgãos de segurança pública, federais e estaduais, da Secretaria da Receita
Federal do Brasil e do Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas, compartilhar
informações e ferramentas entre os órgãos e implementar projetos estruturantes
para o fortalecimento da presença estatal na região de fronteira. Cabe salientar, que
não foi sozinho que o Governo Brasileiro chegou a conclusão da importância de
atuar em ações integradas e transparentes para tomada de decisão de políticas
públicas visando o combate de crimes organizados.
O Tribunal de Contas da União (TCU), realizou auditoria em 2015, por meio
do Acórdão 2252/2015-Plenário, para avaliar aspectos de governança no
fortalecimento da faixa de fronteira e identificou a inexistência de política nacional de
fronteira integradora de todos os entes, que identificasse responsabilidades para
atuação integrada entre os diversos órgãos públicos. Outro ponto importante durante
o governo Temer foi a criação da Comissão Permanente para o Desenvolvimento e
a Integração da Faixa de Fronteira com indicadores objetivos que permitam avaliar a
efetividade das ações previstas no plano estratégico das fronteiras, unindo a Defesa,
Segurança Pública e Receita Federal com a definição de funções e identificação de
responsabilidades.Neste período houve cortou pela metade investimento em
monitoramento de fronteiras. E o projeto estratégico SISFRON, que o Exército
concebeu para defender a fronteira do país e auxiliar na criminalidade na região de
fronteiras sofre um grande corte.
Segundo Medeiros Filho (2014) no que concerne a proteção das fronteiras, o
Brasil tem ampliado suas concepções de políticas de Segurança e Defesa com
por meio das ações de controle do espaço aéreo brasileiro, contra todos os tipos de
tráfego aéreo ilícito, com ênfase nos envolvidos no tráfico de drogas, armas,
munições e passageiros ilegais, agindo em operação combinada com organismos de
fiscalização competentes.
Um outro exemplo da atuação das FA na GLO foi a garantia da segurança da
população no complexo do Alemão, na cidade do Rio de Janeiro, em 2010 em que
foi constituída uma Força de Pacificação no âmbito do Comando Militar do Leste do
Exército nas Unidades de Polícia Pacificadora (UPP), com ações coordenadas entre
o Exército, a Marinha e a Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro, após atos
praticados pelo Crime organizado, além da realização de ações cívico-sociais
(ACISO) para melhorar a qualidade de vida dos moradores residentes na
comunidade. (LBDN, 2012, p.166).
A Operação Ágata é outro exemplo de emprego de tropa Federal na GLO e
da Ordem na faixa de fronteira, elaborada dentro da concepção do Plano Estratégico
de Fronteiras (PEF). (LBDN,2012, p.167).
A PND (2012) é um documento essencial condicionante do mais alto nível de
planejamento de ações destinada à Defesa que pressupõe ser inseparável do
desenvolvimento do país e que deve interessar a toda sociedade brasileira, tanto no
momento de escolher prioridades e estratégias, quanto no acompanhamento e na
avaliação da ação política.
Dentre os Objetivos Nacionais de Defesa estão a garantia da integridade
territorial, a defesa dos interesses nacionais e as pessoas, os bens e os recursos
brasileiros no exterior, a inserção do Brasil em processos decisórios internacionais, a
manutenção das Forças Armadas operando de forma conjunta e adequadamente
desdobradas no território nacional e principalmente a conscientização da sociedade
brasileira da importância dos assuntos de defesa do País.
Iniciativas importantes como a PND (2012) busca a contínua interação com
demais políticas governamentais, dentre elas a Estratégia Nacional de Defesa e o
Livro Branco de Defesa Nacional com vistas ao fortalecimento estratégico da Defesa
Nacional.
Ao tratar agora especificamente, sobre a Estratégia Nacional de Defesa
(2012) que é inseparável de estratégia nacional de desenvolvimento, fica evidente
que o fato do Brasil não ter participado de guerras relevantes, torna-se difícil
Considerações Finais
Conclui-se que há muito o que fazer para o enfrentamento dos desafios
presentes nas questões fronteiriças brasileiras e que a descontinuidade no processo
de consolidação e desenvolvimento, das políticas públicas de Fronteira, Segurança
e Defesa Nacional carecem não somente de aporte financeiro como de apoio
institucional e que problema está em fomentar o diálogo com a sociedade brasileira,
não somente em ações que dizem respeito à Soberania Nacional, mas também na
relevância de entender, participar e defender o tema Segurança Pública, Defesa
Nacional e Fronteira com foco em melhorar a gestão das políticas públicas.
A publicação do Livro Branco de Defesa permite que todos conheçam os
aspectos conjunturais políticos, econômicos e sociais que poderão afetar a
Referências bibliográficas
BORBA, Vanderlei. Fronteiras e Faixas de Fronteiras: Expansionismos, Limites e
Defesa. In: Historiae. Rio Grande, v.4, n.2, pp. 59-78, 2013.
NEVES, Alex Jorge das; COSTA, Maurício Kenyatta Barros da. "A “11ª” diretriz da
política externa brasileira: as fronteiras e o Itamaraty. Mundorama - Revista de
Divulgação Científica em Relações Internacionais, [acessado em 17/06/2016].
Disponível em:<http://www.mundorama.net/2016/06/17/a-11a-diretriz-da-politica-
externa-brasileira-asfronteiras-e-o-itamaraty/>. Acesso em: 10 mai. 2019.
Resumo: Após 1870, o Estado procurou estar mais presente no sul de Mato Grosso.
Na fronteira com a Bolívia ocorreram diversas iniciativas voltadas para promover a
defesa, manter o controle e a fiscalização do território. A criação da Delegacia de
Polícia e a necessidade de construir uma Cadeia Pública estiveram ligadas a esses
interesses. O objetivo deste texto é discutir o papel e a situação da Polícia e da
Cadeia na região no final do período imperial.
Palavras-chave: Brasil Império, Instituições públicas, Controle social.
Abstract: After 1870, the state sought to be more present in southern Mato Grosso.
On the Bolivian border there were several initiatives aimed at promoting defense,
maintaining control and surveillance of the territory. The creation of the police station
and the need to build a Public Prison were linked to these interests. The purpose of
this text is to discuss the role and situation of the police and jail in the region at the
end of the imperial period.
Key-words: Brazil Empire, Public institutions, Social control
Resumen: Después de 1870, el estado buscó estar más presente en el sur de Mato
Grosso. En la frontera boliviana hubo varias iniciativas destinadas a promover la
defensa, mantener el control y la vigilancia del territorio. La creación de la estación
de policía y la necesidad de construir una cárcel pública estaban vinculadas a estos
intereses. El propósito de este texto es discutir el papel y la situación de la Policía y
la Cadena en la región al final del período imperial.
Palabras clave: Imperio de Brasil, Instituciones publicas, Control social
Introdução
A segurança e a tranquilidade pública são algumas das preocupações mais
frequentes de autoridades e governos em faixas de fronteiras geopolíticas.
Historicamente, essas regiões foram alvos, ainda que de forma frágil e deficitária, de
políticas de povoamento, de tentativas de controle de estados, de fiscalização dos
moradores e de suas atividades etc. Na fronteira do Brasil com a Bolívia não foi
Doutor em História, professor da UFMS/CPAN. E-mail: divinosena@yahoo.com.br /
divino.sena@ufms.br
região do Império com outras áreas, colaborando para seu aumento e diversidade
populacional. A proximidade com a Bolívia permitiu a frequente convivência,
circulação e instalação de indivíduos daquele país. A área de fronteira caminhava
para uma pluralidade populacional antes jamais vivenciada.
Com o porto aberto à navegação estrangeira, Corumbá foi o destino de
nacionais e pessoas de outros países. Em 1872, foi contabilizado 3.361 habitantes
(3.086 livres e 275 escravizados) (DIRETORIA GERAL DE ESTATÍSTICA, 1874). A
grande maioria dos(as) brasileiros(as) era procedente do próprio território mato-
grossense, mas não faltaram pessoas de quase todas as províncias do Império. Já
os estrangeiros eram de diversas nacionalidades (espanhóis, ingleses, alemães,
bolivianos, franceses, suíços, austríacos, africanos (livres e escravizados), etc.). Os
argentinos, italianos e portugueses estavam entre os de maior quantidade, mas não
superavam a presença de paraguaios que, após o término da Guerra e da
reabertura da navegação, imigraram para Mato Grosso. Maria Adenir Peraro (2001)
argumenta que essa imigração foi principalmente de mulheres paraguaias,
empurradas pela crise que ocorreu em seu país após o conflito.
A presença de estrangeiros de variados países fez de Corumbá um núcleo
urbano cosmopolita, percebida dessa forma pelos próprios contemporâneos. A
população era formada por pessoas com diferentes tons de cor de pele. Mulheres e
homens brancos, pretos (livres e escravos), indígenas e mestiços (livres e escravos)
caracterizavam os perfis da região, que não destoava do país e do cenário mato-
grossense como um todo, igualmente ocupado por diferentes particularidades físicas
e misturas de cores,1 o que nos permite imaginar a riqueza e diversidade de práticas
culturais e de formas de relações sociais que a fronteira do Império com a Bolívia
vivenciava.
Desse modo, Corumbá, nos seus primeiros anos depois da Guerra, possuía
uma população heterogênea que se avultou nos anos seguintes. O censo de 1890
contabilizou 9.870 pessoas para o município (sendo 8.414 para a paróquia de Santa
Cruz e 1.456 para a de S. José de Herculânea). A paróquia de Santa Cruz de
Corumbá estava entre uma das mais populosas do estado de Mato Grosso, abaixo
apenas das paróquias do Senhor Bom Jesus (14.507) em Cuiabá e a de São
Gonçalo de Pedro 2º (9.278) que pertencia ao município de igual nome. Ela possuía
1 Sobre os perfis e a mestiçagem da população de Mato Grosso no século XVIII, ver Silva (1995), e
na primeira metade da centúria seguinte, ver Sena (2013).
A polícia em Corumbá
De maneira geral, a polícia nos anos 1870 tinha por competência vigiar,
reprimir, quantificar, manter a ordem e a segurança, investigar crimes e coletar
informações (MACHADO FILHO, 2003). Anterior à Guerra, essa instituição esteve
presente em Corumbá na subdelegacia de polícia, que foi reinstalada depois do
conflito. Após a restauração e efetiva instalação do município e criação do seu foro
civil, foi criada, por Ato do Presidente da Província de 23 de janeiro de 1873, a
Delegacia de Polícia (RPP. José de Miranda da Silva Reis, 3/5/1873). Foi nomeado
para servir como delegado o “cidadão” Antonio Joaquim da Rocha, e como
suplentes os “cidadãos” João Poupino de Caldas, Randolpho Olegario de Figueiredo
e Miguel Henriques de Carvalho que, assim como Antonio Joaquim da Rocha,
integravam as elites locais e ocuparam outros cargos públicos em Corumbá, como o
de vereança, por exemplo (SENA, 2017).
No mesmo ano, a divisão policial do município de Corumbá foi alterada. Por
Ato do Presidente da Província de 11 de agosto de 1873, foi criada a subdelegacia
de polícia de São Lourenço que, com as de Corumbá e Coxim (ou São José de
Herculânea), ficaram vinculadas à Delegacia de Polícia da vila de Corumbá. Essa
criação ocorreu a partir de uma orientação do chefe de polícia (autoridade maior da
polícia na província) ao presidente de província sobre a necessidade da criação “de
um novo distrito de polícia na margem esquerda do rio São Lourenço e lugares
adjacentes, com sua sede nessa margem”, para que conseguisse “não só sindicar
de vários atentados que já ali se tem dado em diversos pontos, como também evitar
e prevenir outros que possam reproduzir-se”. Para isso, ficaram alterados os limites
da subdelegacia da vila de Corumbá, e os do novo distrito foram os seguintes:
O rio Piquiri, pela margem esquerda, desde a barra do Correntes até sua
confluência com o S. Loureço. / S. Lourenço abaixo, pela margem
esquerda, até a sua foz no rio Paraguai, compreendendo a ilha do Sará. /
Paraguai abaixo, pela margem esquerda até a boca superior do Paraguai-
mirim, compreendendo os Dourados [Destacamento Militar], na margem
direita do mesmo Paraguai e território adjacente, entre as lagoas Mandioré
e Gaíba. / Paraguai-mirim, pela margem esquerda, até o braço do Taquari
denominado – Corixo grande – que desagua no dito Paraguai-mirim, abaixo
da sua boca superior. / Corixo grande acima, pela margem direita, até o
Taquari. / Taquari acima, pela margem direita, desde o dito braço até o
ponto por onde passa a linha divisória da Freguesia Herculânea com a de
Santa Cruz de Corumbá. / A dita linha, pelo lado esquerdo, até a
confluência dos rios Piquiri e Correntes, fechando o perímetro (RPP. José
de Miranda da Silva Reis, 3/5/1874, p. 8).
Dessa forma, a Delegacia de Polícia de Corumbá até o final de 1873 estava
formada por três subdelegacias, a de Corumbá, Coxim (S. José de Herculânea de
Taquari) e a de São Lourenço. No ano seguinte, novas subdelegacias foram criadas,
alterando a divisão policial de outros municípios, sendo um deles na parte sul da
província (RPP. José de Miranda da Silva Reis, 3/5/1874, p. 9-10). Em 1876, foi
criada e instalada a subdelegacia e o distrito de Ladário, vinculados à Delegacia de
Corumbá.
Assim como os limites das outras subdelegacias e de vários municípios da
província, as subdelegacias de Corumbá foram demarcadas tendo como referências
balizas naturais como rios, morros, margens etc. Essas raias serviam para
estabelecer a área de cada repartição e definir a jurisdição de autoridades, e
resultaram de iniciativas de esquadrinhamento do Estado com relação ao território e
à sua população. As autoridades, nas suas áreas de atuação, além de procurarem
promover a organização, o funcionamento da máquina estatal e a “tranquilidade
pública”, forneceriam informações em forma de relatórios ao executivo provincial que
depois repassava ao legislativo da província.
O Estado não permitiria, mesmo apenas oficialmente, que outras ações
colocassem em risco a sua legitimidade como o responsável pela organização,
disciplina e segurança dos espaços e dos indivíduos. Para tal, viu-se na
necessidade de ampliar a polícia para outros pontos da província que por muito
tempo, desde o início da colonização do século XVIII, não receberam a devida
atenção. Nessas áreas já estavam presentes núcleo populacionais não indígenas
que precisavam ser vigiados de forma que seus moradores soubessem que, apesar
de distantes, o Estado fazia-se presente.
2 Cabe ressaltar a importância da estatística nesse processo. Ela revela que “a população tem uma
regularidade própria: número de mortos, de doentes, regularidade de acidentes, etc.; a estatística
revela também que a população tem características próprias e que seus fenômenos são irredutíveis
aos da família: as grandes epidemias, a mortalidade endêmica, a espiral do trabalho e da riqueza,
etc.; revela finalmente que através de seus deslocamentos, de sua atividade, a população produz
efeitos econômicos específicos. Permitindo quantificar os fenômenos próprios à população [...]”
(FOUCAULT, 2009, p. 290).
periódico contra aquela autoridade, já que conflitos entre pessoas das elites locais
se faziam presentes em diferentes contextos e instituições públicas (SENA, 2017).
Mas, ao mesmo tempo, não desconsidero a existência de abusos por parte dos
inspetores de quarteirão e antigos parceiros do delegado, que poderiam utilizar da
posição de policiais para excederem contra seus rivais. Conforme destaca
Rosemberg (2008), a polícia do século XIX serviu, em muitos momentos, de
extensão do poder dominante.
Abuso de poder por parte de policiais não era incomum no período. Oswaldo
Machado Filho identificou em Cuiabá abuso de homens que trabalhavam no
policiamento e os seus despreparos para o exercício das funções. A polícia não
pretendia colocar “qualquer indivíduo” para reprimir ações criminosas, mas nem
sempre essa função atraía pessoas “idôneas” para o cargo. Na perspectiva da
polícia, “as corporações estavam repletas de indivíduos sem os preceitos morais
necessários para exercerem a autoridade e que só serviam para espalhar o contágio
entre outros praças e soldados” (MACHADO FILHO, 2003, p. 319). Situação
semelhante foi observada por Rosemberg (2008) na composição da polícia de São
Paulo e por Cotta (2009) na Corte imperial, onde os policiais eram provenientes ou
estavam em constante contato com as comunidades locais, que eram alvos
preferidos das ações da polícia.
Por conta desses e outros empecilhos, a polícia em Mato Grosso
[...] por se constituir em uma instituição estratégica para o processo de
consolidação da sociedade disciplinar no mundo moderno, não estava
plenamente preparada para enfrentar as inúmeras dificuldades interpostas
ao seu pleno exercício. Inúmeros crimes, como roubos e homicídios
permaneciam envoltos em mistério, principalmente os planejados e
perpetrados por tocaias “perfeitas”, que não deixavam rastros (MACHADO
FILHO, 2003, p. 340).
Em Corumbá, a polícia não destoava da corporação presente em Cuiabá. Nas
últimas décadas do século XIX, essa força era reduzida, despreparada e composta
por “cidadãos” que eram caracterizados, pela autoridade que os nomeavam, como
pessoas “idôneas” e preocupadas com a segurança da localidade. Para conseguir
atuar como policial o homem deveria fazer parte ou começar a integrar o círculo
relacional do delegado de polícia.
A polícia com tais características perseguiu e puniu rivais pessoais ou das
pessoas com quem mantinha relações. Ela também reprimia ou procurava conter
aqueles que fugiam à lógica de vida ansiada pelas autoridades locais e ao padrão de
vida e de comportamento pertencente à modernidade. Desse modo, trabalhadores
4 Segundo o Regulamento Nº 120 de 1842, a inspeção das prisões das províncias pertencia aos
chefes de polícia que seriam auxiliados pelos delegados e subdelegados de polícia dos outros termos
(municípios). Nessas inspeções deveriam ser examinados se os presos estavam bem classificados,
se recebiam boa alimentação, se as prisões se conservavam asseadas e se os regulamentos eram
observados (Art. 144 e 150. BRAZIL. Regulamento Nº 120, de 31 de janeiro de 1842).
construção de uma casa para a Cadeia Pública. Essa solicitação foi aceita e a
Assembleia Legislativa aprovou a construção da Cadeia (Livro Cópias de relatórios
da Câmara... 1875 a 1888).
A Câmara solicitou ao engenheiro municipal, Joaquim da Gama Lobo d’Eça,
para fazer a planta da prisão, que depois de aprovada pela presidência da província
foi lançado edital público para recebimento de lances de arrematação. Em 21 de
abril de 1877, foi aceita a proposta do italiano Ferdinando Sanclemente, proprietário
e residente na Vila, por ser “a que mais se acomodava aos interesses da Fazenda
Municipal”, pelo preço de 8:500$000 réis, e seria executada conforme a planta e o
contrato elaborado, sob a supervisão do engenheiro municipal (Livro Contractos
Diversos de 1874 a 1885).
A obra deveria ficar concluída em três meses, a contar da data em que a
Câmara comunicasse ao arrematante sobre a aprovação do contrato pela
Presidência da Província. O serviço só seria aceito depois de comprovada a
execução da planta e todas as condições descritas no contrato. Finalizada a
construção, o arrematante ficaria responsável, durante um ano, a contar da data da
entrega e aceitação da obra, pela solidez e boas condições do edifício, fazendo
nesse período todos os reparos e reconstruções que fossem reclamados pelo
engenheiro encarregado da fiscalização (Livro Contractos Diversos de 1874 a 1885).
A obra foi entregue pelo arrematante em novembro de 1877 e recebida pelo
engenheiro da Câmara por estar em conformidade com as condições da planta e
contrato. Por ausência de verba autorizada, ela estava sem alguns utensílios e
outros objetos indispensáveis ao provimento de água, asseio e limpeza para a
acomodação e serviço dos presos, mas, mesmo assim, seu novo edifício foi
disponibilizado aos juízes de direito e municipal para o fim a que se destinava (Ofício
da Câmara Municipal de Corumbá ao Juiz de Direito Dr. José Joaquim Ramos
Ferreira e ao Juiz Municipal José Maria Metello, 20/11/1877).
Se a nova Cadeia foi construída para melhor acondicionar os presos em
instalação mais apropriada e salubre, parece que esse objetivo não foi alcançado
plenamente. Em menos de quatro anos de funcionamento, já eram apontados
problemas nas suas dependências. Em março de 1881, a Câmara Municipal
ressaltou que a Cadeia Pública era “extremamente insuficiente para comportar os
presos que desumanamente são conservados dentro dela”. O edifício possuía três
salas com suas respectivas portas e claros (espécie de janela) quase junto ao teto e
gradeados, o que dificultava a circulação de ar. Uma das salas era reservada aos
presos de correção, na outra ficavam os soldados da guarda, pois não tinha cômodo
para eles, e na terceira sala ficavam os presos sentenciados e por sentenciar, onde
exalava “um cheiro tão desagradável e insalubre” que tinha “sido causa de contínuos
casos de febres e outras enfermidades”. Por isso, a municipalidade solicitou a
construção de mais salas, que seria uma “providência verdadeiramente
humanitária”, “um ato de caridade” (Livro Cópias de relatórios da Câmara... 1875 a
1888).
Nos meses seguintes a situação pareceu piorar. Em outubro de 1881, o 1º
cirurgião do Exército, Jayme Alvares Guimarães, e o delegado de polícia, Antonio
José Carlos de Miranda, foram à Cadeia para examinar diversos presos que
estavam doentes, reparando que as prisões eram anti-higiênicas e propícias para o
desenvolvimento de alguma epidemia no grande número de presos que lá existia.
Por isso, requisitou que alguns melhoramentos deveriam ser realizados para o bem
da salubridade, tais como a necessidade de caiar suas paredes que estavam
nimiamente sujas, e ladrilhar o pavimento de um dos seus compartimentos. A falta
de asseio nas paredes e o pó que continuamente se levantava do chão eram, na
análise do médico, prejudiciais à saúde dos presos.5
Em 1882, foi firmado um contrato para a ampliação da Cadeia, com a
construção de mais um cômodo que abrigaria o corpo da guarda, e procurava sanar
o problema de superlotação e asseio (Livro Contractos Diversos de 1874 a 1885).
Contudo, as dificuldades continuaram.
Durante os últimos anos do Império, ocorreram reiteradas solicitações do
carcereiro (encarregado direto da Cadeia), do delegado de polícia e de médicos à
Câmara Municipal, e desta ao presidente de província e à Assembleia Provincial
para a melhoria da prisão, aquisição de mobílias, consertos e reparos. Em 29 de
setembro de 1889, o 1º suplente do delegado de polícia, Francisco José de Salles,
em exercício do cargo, descreveu problemas semelhantes dos anos anteriores.
Naquele dia ele visitou a Cadeia Pública e encontrou “tal estado de desasseio e até
falta de luzes para os presos”, situação que não poderia continuar. Observou que as
5 Conferir os seguintes documentos: Ofício do Delegado de Polícia Antonio José Carlos de Miranda
ao 1º Cirurgião do Exército Dr. Jayme Alvares Guimarães, 5/10/1881; Ofício do 1º Cirurgião do
Exército Jayme Alvares Guimarães ao Delegado de Polícia Antonio José Carlos de Miranda,
7/10/1881; Ofício do Delegado de Polícia Antonio José Carlos de Miranda à Câmara Municipal,
8/10/1881.
Considerações finais
É perceptível o interesse estatal em mostrar-se mais presente no sul de Mato
Grosso. Se anterior à Guerra do Paraguai contra a Tríplice Aliança eram poucas as
instituições públicas, depois do conflito e da reabertura da navegação no rio
Paraguai essa situação começou a mudar. A projeção de Corumbá no cenário
provincial fez dela o principal núcleo urbano naquela parte da província e, ao mesmo
tempo, ocorreram propostas/iniciativas para promover a sua defesa, manter o
controle, a fiscalização e implantar o (re)ordenamento do seu território. Por isso a
criação da Delegacia de Polícia e a necessidade de existir uma Cadeia Pública.
A Polícia, mantida pelos cofres provinciais, e a Cadeia, sob a
responsabilidade tanto da província quanto da municipalidade, funcionaram nas
últimas décadas do século XIX com deficiências e sem atingirem consideravelmente
os objetivos a que se destinavam. O interesse era manter mais organizada e com
menos problemas a faixa de fronteira do lado brasileiro, retirando pessoas que
“colocavam em risco” a segurança e a tranquilidade pública. Mas faltaram recursos
materiais e humanos para a Polícia e a Cadeia funcionarem conforme os padrões
modernos do momento.
Geralmente, era na parcela mais baixa da população que estavam os homens
e mulheres perseguidos pelo sistema. De diferentes naturalidades e nacionalidades
eram os presos e as presas da Cadeia de Corumbá. Todavia, os jornais noticiavam
com maior frequência a prisão de brasileiros(as) pobres e estrangeiros(as)
bolivianos(as) e paraguaios(as). Essas pessoas eram retiradas do convívio social e
do seu círculo relacional para serem colocadas em espaços apertados, quentes,
insalubres e propícios para o surgimento e a proliferação de enfermidades.
Nesse ambiente estava um pouco da diversidade populacional que a fronteira
do Império com a Bolívia passou a ter naquele período. É possível imaginar a
Cadeia Pública também como um espaço que promoveu relações de sociabilidades.
Nela existiu convivência, interação, desavenças e amizades entre pessoas de
diferentes procedências. Na cadeia se encontravam amigos e companheiros de
trabalho, assim como pessoas nem tanto afeiçoadas ou que nunca tinham se
relacionado.
Referências
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(Org.). Domínios da História: Ensaios de Teoria e Metodologia. Rio de Janeiro:
Campus, 1997. p. 45-59.
Ofício da Câmara Municipal de Corumbá ao Juiz de Direito Dr. José Joaquim Ramos
Ferreira e ao Juiz Municipal José Maria Metello, 20/11/1877. Livro Cópia de ofícios.
1874 a 1881. Caixa s/nº. Arquivo da Câmara Municipal de Corumbá (ACMC).
RÉMOND, René (Org.). Por uma história política. Tradução de Dora Rocha. 2. ed.
Rio de Janeiro: Ed. FGV, 2003.
SENA, Divino Marcos de. A Guarda Nacional e as elites na fronteira com a Bolívia
no final do Império. In: Anais do V Congresso Internacional sobre História
Regional: A Guerra da Tríplice Aliança contra o Paraguai na visão dos historiadores
sul mato-grossenses e paraguaios. Aquidauna: UFMS, 2019, p. 419-435. Disponível
em: https://congressohistoriacpaq.ufms.br/anais/. Acesso em: julho de 2019.
Nations High Commissioner for Refugees. Finally, we will make a brief case study of
the work of the International Federation of the Red Cross in Venezuela.
Key words: International Humanitarian Law, International Refugee Law, UNHCR,
ICRC, Venezuela.
Abstract: The migrant has been placed in a position of extreme vulnerability within
the destination countries, which results in serious violations of their rights. The
situation is partly due to the lack of effective protection of the rights of this group by
states, as migrants have been given unequal legal treatment to that accorded to
nationals. Other unfavorable facts contribute to this scenario, such as xenophobia,
lack of assistance, fear, etc. The gravity of the situation is clear, as the abuses
suffered by migrants include trafficking in persons, sexual exploitation, slave labor
and others, which even occur in states that are signatories to protective treaties of
these persons. This paper, therefore, aims to analyze the relationship between
migrations stimulated by globalization and violations of migrants rights, taking as a
compass human rights. As for the methodology adopted for the demonstration of the
general objective, the investigation is: regarding the objective, exploratory and
descriptive; as for science, it is theoretical; as to nature, a summary of the subject;
regarding the procedure, bibliographic and, finally, regarding the approach,
qualitative.
Key words: Human rights. Globalization. Migration. Violations. Migrant.
Bacharel em Direito, e-mail: alexmaciel93@gmail.com
Introdução
Nos últimos anos, os processos migratórios, principalmente no âmbito
internacional, têm gerado importantes debates e uma vasta produção acadêmica na
área das ciências sociais, uma vez que se trata de um tema amplo e com muitas
questões ainda não exploradas.
Para o Direito, em especial, o tema é de grande importância, uma vez que as
migrações internacionais apresentam faces diametralmente opostas: ao mesmo
tempo em que se mostram como um campo intercâmbio de experiências culturais,
também criam as condições ideais para que ocorram violações dos direitos básicos
da pessoa humana.
Os reflexos causados pela globalização afetam o planeta de um modo sem
precedentes. A globalização possibilitou a criação uma rede de relações entre as
mais diferentes nações do globo, criando uma inter-relação entre diferentes povos, o
que gerou um constante e intenso fluxo de troca entre as mais diversas partes do
planeta, sejam elas de caráter econômico, social, cultural, político, científico, etc.
Com o aumento da facilidade de se obter informações sobre diferentes
lugares, a globalização acabou por promover o deslocamento populacional,
sobretudo de pessoas originárias de países subdesenvolvidos para países, em sua
maior parte, do continente Europeu, em busca, via de regra, de melhores condições
positivos, no campo dos direitos fundamentais ela tem cultivado o terreno ideal para
que ocorram diversas relativizações desses direitos.
No o segundo, denominado “migrações e violações de direitos”, se tratará do
que chamamos neste trabalho de “face cruel da migração”, no qual serão analisadas
algumas das violações mais comuns aos direitos dos estrangeiros durante os
processos migratórios, e reforçando-se a ideia da necessidade da compreensão do
tema à luz dos direitos humanos, em virtude de tais práticas serem extremamente
nocivas ao princípio já consolidado de respeito à dignidade da pessoa humana.
Dessa forma, em uma acepção geral, a Migração pode ser entendida como
todo e qualquer deslocamento de determinada população, independentemente do
seu tamanho e sua composição, de um território para outro, dentro ou fora de um
país, e independente das suas causas.
As migrações podem ser analisadas levando-se em consideração diversos
fatores, tais como motivação, situação política e jurídica dos migrantes, quantidade
de pessoas que formam esse deslocamento, organização espacial da região no qual
ocorrem, etc. Vejamos dois deles:
Em relação ao fator geográfico, as migrações podem ocorrer entre duas
regiões dentro de um mesmo território soberano, pertencentes, assim, a um mesmo
estado nacional, ou entre dois países autônomos. Além disso, em relação ao fato
impulsionador desse fenômeno, podem ter como motivação os mais diversos
fatores, como: econômicos, políticos, bélicos, catástrofes naturais, entre outros.
Analisaremos no presente trabalho apenas as migrações internacionais, ou
seja, aquelas que ocorrem em virtude do deslocamento humano de um território
pertencente à um país a outro Estado nacional. Dessa forma, deixaremos de lado os
demais tipos de migrações, em razão de não satisfazerem a delimitação
metodológica escolhida por nós para o presente estudo.
Sobre os traços distintivos das migrações internacionais Rosana Reis Rocha
analisa que:
A característica fundamental que distingue as migrações internacionais de
outros tipos de migração é, portanto, que elas implicam uma mudança do
indivíduo entre duas entidades, entre dois sistemas políticos diferentes.
Nesse sentido, pode-se afirmar que as migrações internacionais são não
apenas um fenômeno social, mas também inerentemente político, “que
advém da organização do mundo num conjunto de Estados soberanos
mutuamente exclusivos, comumente chamado de sistema westphaliano”
(REIS ROCHA, 2004, p. 49).
1
Termo pelo qual são conhecidos os traficantes de pessoas que cobram valores para fazer o
transporte de migrantes irregulares para dentro da fronteira de países.
81. Existem muitas pessoas pobres na Bolívia, os quais têm poucas outras
opções além de trabalhar em oficinas têxteis. Em muitos casos,
trabalhadores escravos consideram trabalhar em oficinas têxteis melhor do
que a vida em seu país de origem. Migrantes bolivianos também não sabem
falar a língua, por isso encontram-se totalmente dependentes de seus
empregadores para alimentos, acomodações, tratamentos médicos, etc.
(BRASIL, 2010).
Esses são somente alguns dos muitos exemplos que podem ser trazidos para
ilustrar a situação de vulnerabilidade na qual se encontram os migrantes em um país
estranho.
O medo daquilo que “diferente”, “do outro” sempre foram os combustíveis
necessários para a violação de direitos humanos, e atos de segregação e
intolerância. As maiores atrocidades cometidas ao longo da história da humanidade
foram motivadas pelas ideias de superioridade e de intolerância. No caso das
migrações a recíproca é verdadeira.
Evidencia-se, então, a necessidade de que os migrantes recebam uma maior
atenção por parte do Estado, devendo a eles ser garantida uma maior proteção, em
razão de sua situação de extrema fragilidade em relação aos nacionais e ao próprio
poder público.
Analisar o fenômeno migratório à luz dos direitos humanos fundamentais é
entender a imperiosidade de se garantir a esse grupo social direitos mínimos que
possam dar a eles uma vida digna, e, também, impedir a submissão dessas pessoas
à outras consequências ainda mais perversas que podem surgir da migração, tais
como o tráfico de pessoas, tráficos de órgãos, e exploração sexual de mulheres e
crianças, etc.
A situação de vulnerabilidade do migrante em território estrangeiro, somadas
às atuais práticas dos Estados nacionais para coibir a entrada ilegal em seu
território, seja por meio do controle de suas fronteiras, seja pela implementação de
medidas restritivas de certos direitos dos migrantes em sua legislação, ou pelas
frequentes manifestações de intolerância dos originários do país contra os
migrantes, tem se apresentado como férteis terrenos para que se propaguem
violações de direitos fundamentais essenciais a manutenção da dignidade da
pessoa humana.
Portanto, é fácil compreender a relevância da problemática analisada no
presente tópico. Os fatores acima elencados - intolerância, diferenciação no
Considerações Finais
As reflexões feitas nesse trabalho acerca do fenômeno migratório apontam
para a necessidade da criação de normas jurídicas que tragam uma proteção mais
efetiva aos direitos dos migrantes, tanto na comunidade internacional quanto no
âmbito interno dos Estados.
Os migrantes, ao longo das décadas, têm sofrido violações de direitos básicos
- tráfico de pessoas e de órgãos, exploração sexual, trabalho escravo, e outros -, e
embora existam vários direitos assegurados em documentos internacionais, esses
carecem de uma regulamentação jurídica no plano interno dos Estados, para que se
possa assegurar de modo material (e não apenas formal) uma igualdade de
garantias entre os nacionais de um determinado país e estrangeiros.
Esse processo somente será possível por meio da criação de mecanismos
previstos nas legislações internas dos Estados capazes de possibilitar maior nível de
paridade entre diversos grupos sociais inseridos em um território soberano. Portanto,
faz-se necessária a observância, pelas legislações nacionais de princípios básicos
dos ideais de justiça igualitária e igualdade material historicamente concebidos,
sendo necessária, então, uma participação mais efetiva dos Estados nacionais nas
discussões e nas promoções de políticas estatais capazes de diminuir as
desigualdades existentes, e punir e fiscalizar violações de direitos dos migrantes.
Nesse sentido, é possível afirmar que para direitos elencados como
indispensáveis a uma existência digna do ser humano sejam protegidos são
necessários instrumentos que possibilitam o exercício pleno desses direitos pelos
seus destinatários.
Nesse cenário, então, surge a necessidade do ser humano ser compreendido
como “cidadão universal”, e não mais como pertencente a um único Estado. Nesse
sentido, as entidades internacionais, que antes se preocupavam em elaborar normas
gerais de tutela a direitos básicos de certos grupos sociais, passaram a conclamar
Referências
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do Estrangeiro ao Sistema único de Saúde: um olhar para as fronteiras do
Mato Grosso do Sul. Campo Grande: Ed. UFMS, 2013.
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BIVAR, Vanessa dos Santos Bodstein (Org.). As fronteiras em perspectiva
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PÉREZ LUÑO, Artonio Enrique; CASCAJO CASTRO, José; CASTRO CID, Benito
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SARLET, Ingo Wolfgang. A eficácia dos direitos fundamentais. Uma teoria geral
dos direitos fundamentais na perspectiva constitucional. 11. ed. rev. atual. Porto
Alegre: Ed. Livraria do Advogado, 2012. E-book.
Resumo: Este artigo tem como objetivo apresentar o projeto de pesquisa oriundo do
estágio pós-doutoral do autor, realizado no Departamento de Geografia da
Universidade Federal do Rio de Janeiro. O título do trabalho enfatiza um conceito
específico de “Entorno Estratégico”, que dialoga principalmente com as áreas da
Geografia e dos Estudos Estratégicos. Nosso campo de estudo é a região
setentrional situada no Estado do Amapá, apresentando o problema da governança
ambiental nas últimas duas décadas. Assim, ao considerar o “Entorno Estratégico”
brasileiro, procura-se avaliar as correlações de governança ambiental exercida pelos
diversos atores institucionais que atuam na faixa de fronteira do Norte do Estado do
Amapá, particularmente entre 1997 e 2017. Esse projeto de pesquisa foi aprovado
em maio de 2019 e recebe o apoio institucional e financeiro da Coordenação de
Aperfeiçoamento do Pessoal do Ensino Superior (CAPES).
Palavras-chave: Governança, Entorno estratégico, Amapá.
Abstract: This article aims to present the research project from the postdoctoral
internship of the author, held in the Department of Geography of the Federal
University of Rio de Janeiro. The title of the paper emphasizes the specific concept of
"Strategic Environment", which dialogues mainly with the areas of Geography and
Strategic Studies. Our field of study is the northern region located in the State of
Amapá, focusing on the problem of environmental governance in the last two
decades. Thus, when considering the Brazilian "Strategic Environment", it is sought
to evaluate the environmental governance correlations exerted by the various
institutional actors that operate in the northern border of the State of Amapá,
particularly between 1997 and 2017. This research project was approved in May
2019 and receives institutional and financial support from the Coordination of
Improvement of Higher Education Personnel (CAPES).
Palavras-chave: Governance, Strategic Environment, Amapá.
Departamento de Geografia – Universidade Federal do Rio de Janeiro. Pós-doutorando em
Geografia na Universidade Federal do Rio de Janeiro. Doutorado em Ciência Política pela
Universidade Federal Fluminense em cotutela na Université Paris III Sorbonne-Nouvelle. Mestrado
em Estudos Estratégicos da Segurança e da Defesa pela Universidade Federal Fluminense. Formado
em Ciência Política pela Université de Versailles Saint-Quentin-en-Yvelines. E-mail:
miguel.dhenin@gmail.com
Introdução
1
Gostaria de agradecer a colaboração dos colegas do curso de Relações Internacionais da
Universidade Federal do Amapá (UNIFAP) e da Universidade Federal Fluminense (UFF), que, através
de suas releituras críticas, contribuíram para a elaboração final desse projeto de pesquisa submetida
à banca avaliadora do PPGG. Aproveito também para agradecer a oportunidade para apresentar
esse trabalho no VII Seminário de Estudos Fronteiriços, realizado na Universidade Federal do Mato
Grosso (UFMT), Campus Pantanal, entre 7 e 9 de outubro de 2019 na cidade de Corumbá.
UFRJ é um critério central na escolha do candidato para realizar seu estágio pós-
doutoral no Grupo de Pesquisa RETIS. Um aspecto fundamental do projeto de
pesquisa diz respeito ao seu caráter pluridisciplinar, verdadeiro marco metodológico,
que procura incentivar um diálogo teórico e prático entre diversas áreas de estudos
que, quando confrontadas com o empirismo de um trabalho de pesquisa de campo,
oferecem resultados de pesquisas promissores e inovadores, como de fato ocorreu
utilizando-se de conceitos da Geografia e da Ciência Política na tese de doutorado
do candidato, intitulada “Transformações do Exército Brasileiro na faixa de fronteira:
a atuação dos pelotões especiais de fronteira no Estado do Acre e no Estado de
Roraima (1990-2015)” (DHENIN, 2017).
Contextualização
Objetivos de pesquisa
Justificativa
Esse trabalho encontra sua pertinência por apresentar uma proposta inédita,
entre as abordagens sobre o Entorno Estratégico brasileiro e a governança
ambiental, num contexto amazônico e em particular no caso amapaense. A
presença de manganês em grande quantidade tornou a região do norte amapaense
atraente para o capital internacional. Assim, podemos considerar que essa região
não é periférica, mas parte de um entorno estratégico nacional. O Decreto-Lei
assinado em 13 de setembro de 1946 (Lei n. 9858/46) transformou a região em
reservas estratégicas nacionais. A perspectiva de Superti e Porto (2012) dando
Metodologia de pesquisa
Considerações finais
Referências bibliográficas
SILVA, G. V. Cross-border disputes in the Guiana Shield: Old and New Geopolitical
Issues. In: L’ Espace Politique, pp.1-27, 2017.
Abstract: From 2011, the policies of the Brazilian federal government prioritized
again the traditional concern with security and defense of the borders. The initiatives
created thereafter carried out operations such as Ágata, created to combat crime at
the borders of the country. Severely impacted by the activities of criminal
organizations, that promote illicit acts like drug trafficking, arms trafficking and human
trafficking, in addition to smuggling and illegal mining, Brazil's west frontier, more
precisely the borders with Paraguay and Bolivia, reflect a scenario marked by the
great difficulty of control and surveillance by the Brazilian State. Thus, focusing on
public policies for the border zone, this paper aims to analyze the specific situation of
the Brazilian west frontier, in the area corresponding to the Central Arch of the
country's border strip and evaluate the effectiveness of current security and defense
policies and their potential in transforming the border reality.
Key-words: West Frontier. Safety. Defense. Central Arch.
Doutor em Geografia (UFRGS), professor visitante no programa de pós-graduação em Fronteiras e
Direitos Humanos (UFGD). E-mail: pereiracarneiro.camilo@gmail.com
Mestranda no programa de pós-graduação em Fronteiras e Direitos Humanos (UFGD). E-mail:
lisacamara@outlook.com
Mestranda no programa de pós-graduação em Fronteiras e Direitos Humanos (UFGD). E-mail:
brrunaleticia@hotmail.com
Resúmen: A partir de 2011, las políticas del gobierno federal brasileño para las
fronteras volvieron a priorizar la preocupación tradicional con la seguridad y la
defensa. Las iniciativas creadas posteriormente llevaron a cabo operaciones como
Ágata, creada para combatir el crimen en las fronteras del país. Gravemente
afectado por las actividades de las organizaciones criminales, que promueven actos
ilícitos como el tráfico de drogas, el tráfico de armas y el tráfico de personas, además
del contrabando y la minería ilegal, La frontera oeste de Brasil, más precisamente
las fronteras con Paraguay y Bolivia, reflejan un escenario marcado por la gran
dificultad de control y vigilancia por parte del Estado brasileño. Por lo tanto,
centrándose en las políticas públicas para la zona fronteriza, el presente trabajo
tiene como objetivo analizar la situación específica de la frontera oeste de Brasil, en
el área correspondiente al Arco Central de la franja fronteriza del país y evaluar la
efectividad de las políticas actuales de seguridad y defensa y su potencial para
transformar la realidad fronteriza.
Palabras clave: Frontera Oeste. Seguridad. Defensa. Arco Central.
Abstract: In the present work, we will seek to address the labor rights of the
foreigner, which falls within the legal figure of the frontier resident. The frontier
resident, under the law 13.4450/2017, is that citizen of a frontier country, who resides
in a bordering municipality in Brazil and here carries out certain activities of which the
work is highlighted. The research assumes that, if inserting into the multifaceted
contexts of the frontier, there is still a zone of shadows as to the rights and
guarantees in labor matters conferred upon them, not only by the legal novelty of the
figure, but also by the high number of frontier workers who are irregular. To this end,
it was sought through a broad discussion resulting from the bibliographical, legislative
and jurisprudential survey, analyzing the way in which the figure of frontier resident is
* Graduando em Direito pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS). E-mail:
joaoaquino.direito@gmail.com.
** Graduado em Direito pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), especialista em
Direito Constitucional pela Universidade Cândido Mendes, especialista em Psicologia Jurídica pelo
Instituto Leonardo da Vinci, mestrando pelo Programa de Pós-Graduação em Direitos Humanos da
UFMS. E-mail: diniz.fab@gmail.com.
Graduado em Direito pela Universidade Federal do Pará (UFPA), especialista em Direito Tributário
pela Universidade para o Desenvolvimento do Estado e da Região do Pantanal (UNIDERP), mestre
em Planejamento e Desenvolvimento pela UFPA, doutorando em Planejamento do Desenvolvimento,
pela UFPA. E-mail: mozart.silveira@yahoo.com.br.
part of the Brazilian legal order, comparing systematically the constitutional and
Juslabor.
Key-words: Frontier Resident; Labour Law; Migration Law; Frontier Worker; Border.
Introdução
A Lei 13.445 de 2017 reformou a forma jurídica de inserção do migrante no
território brasileiro. Em que pese faticamente os problemas sejam os mesmos, a
novel legislação logrou êxito ao estabelecer que, guardada as devidas proporções,
os imigrantes possuem os mesmos direitos e garantias dos cidadãos naturais do
país onde se inserem, não havendo guarida nas normas internas ou internacionais
que consubstanciem entendimento em sentido contrário.
Partindo desse pressuposto, buscando resguardar os direitos dos indivíduos
de países fronteiriços, mais especificamente em municípios limítrofes, e que
desenvolvem atividades entre o Brasil e o seu país de origem, a Lei de Migração
criou a figura do residente fronteiriço. O residente fronteiriço é aquele que, embora
possua residência habitual no país vizinho, circula livremente pela linha tênue que
são as fronteiras politicamente estabelecidas.
Destaca-se que parte considerável desse contingente de residentes
fronteiriços é de trabalhadores que, no movimento migratório pendular, circundam
entre esses municípios, para o desenvolvimento e atividades laborais, seja de forma
autônoma ou subordinada ao empregador em uma relação de trabalho, seja ela
legalmente registrada ou não.
Vê-se que nas zonas de contato entre os países são diversas as análises que
podem ser feitas, já que o espaço onde se desenvolve concentra uma série de
relações que se instauram em variados níveis, quer seja entre Estados, particulares
e inclusive em relações indivíduo-Estado.
O lance é que a rapidez dos acontecimentos, promovidos em especial pelo
frenesi das transações comerciais do período atual, conforma profundas
transformações sociais, econômicas e territoriais em todos os lugares. Mas
na fronteira, os acontecimentos se sucedem em um ambiente com
coerência espacial e lógica própria, admissível à condição multiforme do
território, obrigando a se revisarem as chaves interpretativas aplicadas a
outros lugares. (OLIVEIRA, 2015).
Nada mais lógico do que terem tratamento jurídico que reconheça essa
realidade diferenciada das outras regiões dos países vizinhos
Nesse sentido, percebe-se que as indagações quanto ao problema da
pesquisa não são puramente por ser a legislação migratória recente, mas sim
porque a organização do labor na fronteira é desenvolvido em termos específicos.
No aspecto do Direito do Trabalho, na fronteira existe um limiar muito
complexo de ser abordado naquilo que tange a relação de trabalho, sendo difícil
identificar se o labor exercido se identifica como irregular ou apenas está sendo
exercida a liberdade laboral do indivíduo.
A ausência de clareza legislativa e governamental muitas vezes abre espaço
para que o fronteiriço seja colocado em uma situação de fragilidade, sendo,
portanto, uma possível vítima de exploração.
Em aspectos sociais, lato sensu, existe um processo de exclusão muito
grande na região e esta reflete o isolamento de determinados indivíduos ou grupos,
sendo um claro exemplo o residente fronteiriço.
A situação marginal em que vivem simboliza não apenas o limite geográfico
da faixa de fronteira, mas também a invisibilidade perante a atuação estatal,
dada a relevância predominante dos grandes centros, da preferência
cosmopolita do Estado. “A separação espacial que produz um confinamento
forçado tem sido ao longo dos séculos uma forma quase visceral e instintiva
de reagir a toda diferença e particularmente à diferença que não podia ser
acomodada nem se desejava acomodar [...]”, (CORDAZZO; PREUSSLER,
2018 apud Bauman, 1999).
Outrossim, ao considerarmos tal tema é necessário que se parta de um
postulado, qual seja: o trabalho é um fator de relevância nas relações humanas e
sociais, sendo fruto destas e, por conseguinte, fica constantemente sujeito a
alterações em seu desenvolvimento, mormente se alteram as percepções existentes
na organização social.
O trabalhador fronteiriço, assim como os demais, está sujeito as
transformações que ocorrem no mundo, isto porque os fatores políticos e
econômicos alteram sobremaneira a forma como este desenvolve suas atividades e
se movimenta no território. A afetação desses trabalhadores é cada vez mais
profunda e desequilibrada, já que em razão da globalização, os fatores que
influenciam o modus operandi da fronteira restam incertos e podem se alterar em
qualquer momento.
Ocorre, no entanto, que em relação aos trabalhadores do restante do país, o
fronteiriço este se encontra numa situação menos privilegiada, restando alheio as
decisões de seu futuro como força de trabalho e ser humano. A sua localização
da CLT e 4º, 5º, 15, 30, 48, 97 e seguintes da Lei nº 6.815/80 - Estatuto do
Estrangeiro). Trata-se de típico trabalho proibido, circunstância que não
pode obstar a inerente proteção dos Direitos Sociais Trabalhistas, aplicáveis
independentemente da nacionalidade ou regularidade imigratória do
indivíduo (arts. 1º, III, 3º, IV, 6º e 7º da Carta da Republica), conforme
assentado em diversas normas internacionais aderidas pelo Brasil, tais
como a Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948), o Pacto
Internacional sobre Direitos Civis e Políticos (1966) e a Convenção
Americana sobre Direitos Humanos (Pacto São José da Costa Rica - 1969).
O Acordo sobre Residência para Nacionais dos Estados Partes do
MERCOSUL (2002) é expresso em prescrever que "As partes
estabelecerão mecanismos de cooperação permanentes tendentes a
impedir o emprego ilegal dos imigrantes no território da outra, (...) [os quais]
não afetarão os direitos que correspondam aos trabalhadores imigrantes,
como consequência dos trabalhos realizados nestas condições" (art. 10,
caput e b). Precedentes do C. TST. Reconhece-se, incidentalmente, o
vínculo empregatício apenas para fins de proteção trabalhista, sem efeitos
previdenciários, mesmo porque o estrangeiro irregular não detém identidade
nacional válida e, muito menos, CTPS. (BRASIL, Tribunal Regional do
Trabalho da 2ª Região - RO: 1553620115020 SP 20130015834, Relator:
José Ruffolo, Data de Julgamento: 07/05/2013, 5ª TURMA, Data de
Publicação: 16/05/2013).
Conclusão
A Constituição Federal de 1988 é bem clara ao estabelecer que um dos
princípios fundantes do Estado Democrático de Direito brasileiro é a dignidade da
pessoa humana, sendo a pedra de torque para ações de todos os poderes e
instâncias. Procurando atender as necessidades de muitos estrangeiros, frente a
irregularidade e a natureza do Estatuto do Estrangeiro, promulgou-se a Lei
13.445/2017 que criou a figura do residente fronteiriço.
Trata-se de grande avanço na medida em que garante a esses indivíduos,
vítimas de exclusão a garantia a direitos mínimos e já lhe dirigidos há muito, mas
negligenciados pelo Estado brasileiro.
Embora seja exitosa, a Lei da Migração por si só não é suficiente, persistindo
a zona de penumbra e incertezas que marca os fronteiriços, em especial os
trabalhadores. Por mais que, como visto, seja possível, por meio de uma
interpretação sistemática, dotar os trabalhadores fronteiriços de todos os direitos de
igual forma aos nacionais, não é a melhor resposta à problemática, visto que
persiste a situação de invisibilidade e a condição de fragilidade.
Referências
OLIVEIRA, Tito Carlos Machado. Para Além das Linhas Coloridas ou Pontilhadas –
Reflexões para uma Tipologia das Relações Fronteiriças. Revista da Anpege, [s.l.],
v. 11, n. 15, p.233-256, 2015. Disponível em:
http://ojs.ufgd.edu.br/index.php/anpege/article/view/6454. Acesso em: 18 ago. 2019.
Abstract: During the period on which Uruguay was adopting a new national drug
policy, this work aimed at analyzing the criminal drug offence cases that were upheld
on the Brazilian judicial docket of the criminal courts that have jurisdiction over the
Brazilian side of the border, to understand the dynamics of usage, trafficking and
repression of the drug markets, as well as the possible impacts that the new policy
may produce.
Key words: national drug policy, criminal cases, criminal drug.
Introdução
Graduado em Direito, mestre em Direito Civil, doutor em Fundamentos da Experiência Jurídica.
Técnico de Planejamento e Pesquisa no Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, Pesquisador do
International Policy Centre for Inclusive Growth e Professor do Programa de Pós-Graduação em
Direito da Universidade Positivo. E-mail: alexandre.cunha@ipea.gov.br.
Graduada em Ciência Política e Mestre em Direitos Humanos. Professora da Escola de Direito e
Ciências Sociais e Coordenadora Executiva do Centro de Pesquisa Jurídica e Social da Universidade
Positivo. E-mail: olivia.pessoa@up.edu.br.
Em 2006, o Brasil aprovou uma nova Lei de Drogas (Lei federal n. 11.343/06),
em substituição à anterior Lei de Tóxicos (Lei federal n. 6.368/76). A nova legislação
instituiu uma política nacional sobre drogas, baseada em preceitos de prevenção
social, além de avançar significativamente na distinção do tratamento penal
reservado a usuários e traficantes. Segundo BARBOSA (2017), o objetivo seria
deslocar a regulação estatal do uso de drogas da esfera penal à saúde pública.
Segundo o artigo 28 da nova lei, “quem adquirir, guardar, tiver em depósito,
transportar ou trouxer consigo, para consumo pessoal, drogas sem autorização ou
em desacordo com a determinação legal ou regulamentar” não está sujeito a penas
de prisão, mas apenas de advertência, prestação de serviços comunitários ou de
caráter educativo. Já o artigo 33 estabelece que o ato de “importar, exportar,
remeter, preparar, produzir, fabricar, adquirir, vender, expor à venda, oferecer, ter
em depósito, transportar, trazer consigo, guardar, prescrever, ministrar, entregar a
consumo ou fornecer drogas, ainda que gratuitamente, sem autorização ou em
desacordo com determinação legal ou regulamentar” encontra-se sujeito à pena de
reclusão, por cinco a quinze anos, além de multa, de 500 a 1.500 dias-multa.
Ser tipificado como usuário ou traficante, portanto, acarreta uma diferença
brutal no tratamento penal. Entretanto, a distinção legal entre as duas categorias é
bastante imprecisa. Algumas ações, tais como as de guardar, ter em depósito,
transportar ou trazer consigo substâncias entorpecentes são comuns aos dois tipos
penais. A diferença estaria apenas na destinação que o agente poderia dar à droga.
Nos termos do artigo 28, parágrafo 2o, “para determinar se a droga destinava-se a
consumo pessoal, o juiz atenderá à natureza e à quantidade da substância
apreendida, ao local e às condições em que se desenvolveu a ação, às
circunstâncias sociais e pessoais, bem como à conduta e aos antecedentes do
agente”. Logo, a distinção baseia-se em um conjunto de condições subjetivas e
discricionárias, potencialmente arbitrárias, totalmente dependentes da convicção do
juiz, do Ministério Público e do testemunho dos policiais responsáveis pela
apreensão e senhores de seu contexto. Além disso, ao invocar a necessidade de
analisar fatores tais como o local em que ocorreu a apreensão, as circunstâncias
sociais, pessoais e os antecedentes do agente, a Lei de Drogas abre caminho para
que estigmas de gênero, cor, comportamento, classe ou origem social possam
impactar sobre a decisão judicial.
Por essas e outras razões, uma séria de autores, tais como BOITEUX (2006),
defendem que a nova Lei de Drogas é um retrocesso travestido de avanço. Para
esses autores, os danos potencialmente resultantes da interpretação arbitrária e
discricionária do artigo 28 justificariam a manutenção da Lei de Tóxicos, já que na
situação anterior os eventuais usuários encontravam-se submetidos ao rito
sumaríssimo do juizado especial criminal, em virtude do qual muito provavelmente já
não seriam presos. Ao reforçar o abismo entre usuários e traficantes de drogas sem
fixar critérios objetivos, o peso da nova legislação acabaria por recair especialmente
sobre os pequenos traficantes, ou usuários que traficam para manter o próprio
consumo, que constituem o cerne dos cidadãos normalmente selecionados pelo
sistema de justiça criminal para cumprirem pena por delitos de drogas. Ainda
segundo essa mesma autora, a submissão desses pequenos traficantes a longas
penas de prisão em regime fechado ainda teria o dom de afastá-los definitivamente
do convívio familiar, aproximando-os de facções criminosas e submetendo-os a
novos estigmas, humilhações e violências. Em virtude desse risco, muitos países
fixam cláusulas de barreira, ou quantidades mínimas de drogas em posse do agente
necessárias para caracterizar o crime de tráfico de drogas, com o objetivo de
diminuir o grau de subjetividade e discricionariedade do juízo (CARVALHO, 2010).
De fato, desde a entrada em vigor da nova legislação, a quantidade de
cidadãos presos, processados e condenados por tráfico de drogas vem crescendo
muito acima da taxa geral de encarceramento. Segundo o Departamento
Penitenciário Nacional (INFOPEN, 2014), em 2005 a população prisional brasileira
era de 361 mil pessoas, das quais 15%, ou 54 mil, encontravam-se reclusas por
delitos de drogas. Em 2014, para uma população prisional de 607 mil pessoas, os
reclusos por delitos de drogas eram 28%, ou 170 mil. O número de “traficantes de
drogas” recolhidos ao sistema penitenciário brasileiro em 2014 era idêntico ao
número total de presos que se encontravam detidos no ano de 1997.
Esse crescimento exponencial no número de “traficantes de drogas”
cumprindo pena de prisão poderia ter um conjunto de explicações. Primeiramente,
seria possível imaginar que tenha havido um aumento dramático na eficiência do
sistema de justiça criminal, dentro do paradigma da guerra às drogas, e que a maior
parte dos traficantes brasileiros tenha sido processada e presa. Afinal, é difícil
acreditar que em algum momento tenhamos chegado a ter mais do que um
traficante de drogas para cada mil e duzentos cidadãos brasileiros. Sendo assim, o
2. Metodologia
A pesquisa produziu dados a partir do conjunto de ações criminais por uso,
porte, tráfico e associação para o tráfico de entorpecentes, processadas e julgadas
na Justiça Estadual, nas comarcas de Quaraí, Santana do Livramento, Jaguarão e
Santa Vitória do Palmar, no período compreendido entre 1 o de janeiro de 2014 e 31
de dezembro de 2016. Igualmente, produziram-se dados sobre as ações criminais
processadas e julgadas na Justiça Federal de Santana do Livramento, as quais são
em pequeno número e não comportam tratamento quantitativo, razão pela qual
encontram-se excluídas da presente análise.
Assim sendo, tem-se que a pesquisa produziu dados apenas sobre as quatro
cidades-foco do referido Plano de Monitoramento (CUNHA et al., 2017), excluindo-
se os municípios sob jurisdição das demais comarcas que compõem a região de
fronteira: Uruguaiana, Dom Pedrito, Bagé e Herval. Logo, a população recebeu um
recorte geográfico mas, dentro desse universo selecionado, a estratégia de
produção de dados é de tipo censitário. Todas as ações criminais por condutas
tipificadas nos artigos 28, 33, 34, 35, 36 e 37 da Lei de Drogas, concluídas nessas
comarcas, dentro do período indicado, foram objeto de análise. Os dados foram
coletados por meio de um instrumento de coleta de dados estruturado, aplicado
pessoalmente pelos dois coautores do presente trabalho, diretamente a partir dos
autos findos dos processos físicos, disponibilizados em cartório pelos juízes titulares
das respectivas varas judiciais em que tramitaram.
1
Posição na ocupação de empregado, trabalhador em reparação e manutenção mecânica,
ferramenteiro e operador de centro de usinagem; trabalhador de semi-rotina na operação de
instalações químicas, petroquímicas e de geração e distribuição de energia; trabalhador de semi-
rotina em serviços administrativos, comércio e vendas; trabalhador de rotina na operação de
máquinas e montagem na indústria; trabalhador de rotina em serviços administrativos, comércio e
vendas.
2
Posição na ocupação de empregado, trabalhador com tarefas de trabalho bastante elementares na
indústria e nos serviços, como ajudantes de obras, trabalhadores elementares na manutenção de vias
públicas, faxineiros, lixeiros e carregadores de carga; trabalhadores manuais agrícolas, garimpeiros e
salineiros, exclusive os trabalhadores na mecanização agrícola, florestal e drenagem.
3
Posição na ocupação de conta própria e empreendimento ou titular sem a posse de nenhuma das
seguintes condições: estabelecimento (loja, oficina, fábrica, escritório, banca de jornal ou quiosque),
veículo automotor (taxi, caminhão, van) usado para o trabalho ou ocupação qualificada no emprego
principal; posição na ocupação de trabalhador na produção do próprio consumo; posição na
ocupação de trabalhador na construção para o próprio uso.
4
Posição na ocupação de empregado, empregado qualificado de acordo com o grupo ocupacional,
abarcando os técnicos de nível médio nas diversas áreas, professores de nível médio ou formação
superior no ensino infantil, fundamental e profissional, professores em educação física e educação
especial.
5
Posição na ocupação de empregado, especialista de acordo com o grupo ocupacional, incluindo as
profissões credenciadas, as profissões de menor poder profissional e os professores do ensino médio
e profissional com formação superior.
Campana 2
NA 2
Total 100
Elaboração: DIEST/IPEA
Muito embora trate-se de uma região de fronteira, 82% dos casos dizem
respeito a tráfico para consumo local, em 3% dos casos trata-se de tráfico para
consumo em presídio e em 5% dos casos há algum indício de que a atividade
poderia ter ramificações transnacionais, em especial na rota Brasil/Uruguai.
Ocorrendo uma prisão em flagrante, em regra o trabalho desenvolvido pela
polícia restringe-se à tomada do depoimento do réu e das autoridades policiais
responsáveis por sua detenção. Em apenas 28% dos casos encontra-se presente o
depoimento de alguma testemunha que não seja um policial e a quantidade de
processos nos quais há menção a alguma outra diligência investigatória é de apenas
23%. Entretanto, em apenas 3% dos casos há registro de ofensa à integridade física
do réu.
Em 48% dos casos o réu se faz acompanhar por advogado durante o
inquérito policial, mas em 40% não há qualquer assistência jurídica. Em regra, essa
tarefa é desempenhada por advogados privados, atuando a defensoria pública em
apenas 3% dos casos.
Pena Tempo
Média 2061
Mediana 1965
Valor mínimo 600
Valor máximo 3750
Elaboração: DIEST/IPEA
Conclusões
No presente momento, a pesquisa encontra-se na etapa de exploração e
cruzamento dos dados apresentados acima com outras bases disponíveis.
Preliminarmente, a análise dos dados aponta para a comprovação da hipótese de
que o comportamento do sistema de justiça criminal brasileiro na repressão aos
delitos de drogas nas comarcas da fronteira brasileira com o Uruguai, em que pesem
Referências
BARRETO NETO, H., Monica Neves Aguiar da SILVA, and Wilson ENGELMANN.
"Padrões de uso de drogas, vulnerabilidade e autonomia: uma análise jurídico-
bioética sobre o art. 28, caput, da lei n. 11.343/2006." Biodireito. XXII Congresso
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CALDAS, 2017.
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Castro, Helena Salim de. "O conselho sul-americano sobre o problema mundial
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Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, 2013.
KARAM, Maria Lucia. Direitos Humanos, laço social e drogas: por uma política
solidária com o sofrimento humano. Conferência na abertura do VII Seminário
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Direitos Humanos do Conselho Federal de Psicologia (CFP) – Brasília-DF –
novembro 2011.
PESSALACIA, Juliana Dias Reis, Elen Soraia de Menezes, and Dinéia Massuia. "A
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RONZANI, Telmo M., and Daniela C. Belchior MOTA. "Políticas de saúde para a
atenção integral a usuários de drogas." AG Andrade (Coor.). Integração de
competências no desempenho da atividade judiciária com usuários e dependentes
de drogas (2011): 251-270.
Abstract: The guiding theme of this work is agroecology in the border space. The
objective was to survey the perceptions that the administrative technicians of IFMS
Campus Corumbá have about the agroecology fair that takes place in the institutional
space. To this end, we sought to gather border considerations through bibliographic
research. A primary data survey was also carried out with a questionnaire as an
instrument, which was applied to the technicians present at the institution, being
answered by 20 people. The interest in acquiring agroecological products was
observed as a way to obtain a higher quality diet.
Key-words: Agroecology, IFMS, Border.
Licenciada em Geografia, Mestranda em Estudos Fronteiriços, UFMS. Técnica Administrativa do
IFMS Campus Corumbá. E-mail: marianeleticia@yahoo.com.br
Doutor em Geografia, professor do curso de Geografia e do Programa de Pós-graduação em
Estudos
Fronteiriços do Câmpus do Pantanal. UFMS. E-mail: edgarac10@gmail.com
Abstract: This article discusses the impact of mining in the traditional community of
Antonio Maria Coelho, in the city of Corumbá, Pantanal region, located in the state of
Mato Grosso do Sul. From the community reports, it is evident that from the great
growth of the mining in the region in recent years, it has suffered from a number of
problems as a result of mining companies exploiting the region's natural resources.
The loss of land and territorial domain, caused problems such as air and water
pollution, diminished fauna and flora, and health problems, among others, that
became a challenge for the community, and in the midst of all this seeks to resist and
reinvent itself in order to continue existing. Therefore, in this article, we will point out
aspects of how mining emerged in the region and how it affects the community, while
also seeking to understand how the community has been resisting all these
problems.
Mestre em Sociologia pela Universidade Federal da Grande Dourados. E-mail:
sandraprocopio@hotmail.com
Graduado em Geografia pela Universidade Federal da Grande Dourados. E-mail:
leomaruchi06@hotmail.com
Introdução
Este breve texto tem por objetivo fazer alguns apontamentos sobre a questão
da mineração em Corumbá, especialmente no que tange aos impactos causados na
Comunidade Tradicional Antônio Maria Coelho que foram relatados a partir de uma
roda de conversa e diálogo com moradores da comunidade1. O interesse em
compreender a extensão dos impactos causados na região, foi despertado a partir
da visita de campo, tendo em vista este ser um tema bastante atual para as
questões de pesquisa agrária, considerando também a necessidade de ampliar os
estudos geográficos sobre o tema de mineração no Brasil. Devido a isto, o foco
deste artigo será o relato e discussão dos conflitos entre a comunidade rural Antônio
Maria Coelho e as mineradoras instaladas na região, mas também buscaremos
entender quais são os impactos na comunidade e as alternativas que estão sendo
tomadas para tentarem contornar estes problemas.
Vale ainda ressaltar, que discutir os impactos das mineradoras é um tema que
se torna necessário, devido principalmente aos desastres em Mariana-MG
(05/11/2015) que matou 19 e impactou mais de 2 milhões de pessoas, e em
Brumadinho-MG (25/01/2019), que matou 272 pessoas (oficialmente) e impactou
1
Visita de Campo como parte da disciplina “Movimentos Sociais do Campo e Conflitos Agrários”, do Professor
João Edmilson Fabrini, através do Programa de Pós Graduação em Geografia, da Faculdade de Ciências
Humanas, na UFGD.
2
Título: “Comunidade de Corumbá-MS, enfrenta escassez de água causada por mineração e siderurgia”.
3
O termo “veio d àgua, utilizado pelos moradores, refere-se à um vazamento de grandes proporções.
fauna, eles contam que houve redução de animais que utilizavam para alimentos e
que ajudavam equilibrar o ecossistema. Observou-se aborto e má formação de fetos
em diversos animais, segundo os moradores.
Em relação à saúde, relatam que o uso de carvão na siderurgia, tem trazido
diariamente imensas nuvens de pó que atingem toda a comunidade. Desde que este
fato teve início, a comunidade se vê invadida por doenças que até então eram
desconhecidas, como os problemas de pneumonia e outros relacionados ao sistema
respiratório. Eles contam que nunca tinham perdido pessoas jovens para doenças
como pneumonia, pois tradicionalmente, “aqui se morre de velho”, segundo
moradores.
Ainda foi relatado que ao longo dos anos, a poluição dos resíduos da
mineração, além de trazer danos para a saúde humana e animal, fez com que o solo
fértil se tornasse inviável para a produção de alimentos, impossibilitando o plantio
para a subsistência, pois o solo criou e absorveu uma capa de resíduos tóxicos.
Desta forma, a comunidade se tornou refém dos produtos alimentícios externos, nos
mercados na cidade, o que aprofunda seu processo de perda de autonomia do
território e consequente empobrecimento. Isso também condiciona o condiciona ao
trabalho fora das unidades familiares, pois para comprar, tem que conseguir dinheiro
fora da comunidade. No ano de 2008, os pesquisadores da Embrapa realizaram um
importante estudo diagnosticando que 100% das famílias possuíam quintais
produtivos, com destaque para pomar (100%), seguida de lavoura (50%), onde o
principal produto era mandioca (93%), seguida de feijão, milho, batata doce e
abóbora. As sementes em geral trocadas ou doadas vinham da própria comunidade.
A equipe constatou um processo baseado nos princípios agroecológicos.
Esse aspecto chama muito a atenção, porque parte da comunidade já não
consegue mais produzir alimentos para o autoconsumo, haja vista o problema da má
qualidade das terras, o pó preto sobre as plantações, a baixa fertilidade dos solos, a
falta de água para os seres humanos e as plantas, após a chegada da empresa.
Não estranhemos, pois, que a insegurança alimentar mantenha fortes
relações com um sistema agrário/agrícola que visa a mercantilização
generalizada como o que vem caracterizando o período neoliberal
(PORTOGONÇALVES, 2004, p. 6).
Segundo a comunidade, as empresas empregam alguns trabalhadores do
local nos trabalhos considerados “mais pesados”. Os postos de trabalhos mais
sofisticados e que pagam melhores salários, são destinados às pessoas de fora da
4
www.topmidianews.com.br/interior/em-caso-de-chuva-intensa-barragem-em-corumba-pode-causar-danos-
ao-pantanal/43038
médico durante um dia da semana, mas também há semanas que ele não aparece
por lá.
Vale destacar que a comunidade também apresenta dificuldades em se
organizar devido ao fato de não ser reconhecida como uma comunidade tradicional
quilombola, a falta de documentação dificulta o reconhecimento de uma data de
início da comunidade, o que gera um não reconhecimento do Estado quanto a sua
identidade.
A saída que a comunidade tem encontrado atualmente para resistir a tantos
problemas vem do cultivo de uma fruta altamente nutritiva e que gera vários
derivados, chamada bocaiuva. Com o cultivo desta fruta a comunidade tem
conseguido uma renda extra para as famílias, que em sua maioria vivem do trabalho
nas indústrias e mineradoras.
Sobre a bocaiuva cultivada no local, há vários estudos e artigos,
especialmente elaborados pelos pesquisadores da Embrapa. Esta planta alimentícia
é considerada muito resistente, além de abundante no local. A comunidade relatou
que tinha uma anciã que fazia o processamento, que a mesma morreu há dois anos,
e repassou os conhecimentos para a geração atual. Na época, o produto
processado por ela era vendido no comercio local sem identidade e origem, como se
fosse de outras pessoas. Então, com o apoio de uma ONG e da Embrapa, tiveram
apoio e hoje produzem sucos, geleias, doces, farinhas, óleos, sorvetes (Foto 4) e
também artesanatos com as folhas da bocaiúva, tudo feito numa pequena
agroindústria local. Esses produtos são comercializados com selo social da
comunidade, o que gera pequena renda alternativa para as famílias viverem um
pouco melhor.
Considerações finais
Este breve relato de parte da realidade dos moradores da Comunidade
Tradicional Antônio Maria Coelho, nos remete às recentes tragédias de Mariana
(2015), e Brumadinho (2019). De forma assustadora, é possível analisar e fazer
paralelos sobre o conjunto de impactos que poderão ocorrer, caso alguma das
barragens se rompa na região, com o agravante de que a região em questão está
situada dentro do bioma Pantanal, considerado um dos santuários mais importantes
do mundo, no que diz respeito à exuberância da flora e da fauna, além de ser abrigo
para várias comunidades e seus povos tradicionais, indígenas, ribeirinhos,
pescadores, e das águas que ultrapassam os limites brasileiros, onde um acidente
poderia causar danos irreversíveis, que jamais poderão ser compensados
financeiramente. Vários analistas consideram que em relação à Brumadinho, “não foi
acidente, foi crime, foi previsto”. Perguntamo-nos, preliminarmente: “Vale a pena ter
essa empresa com o risco de contaminar todo o bioma Pantanal? Quais os custos
que podemos sofrer? Qual o lucro e para onde ele vai? Quem responderá pela
morte do Pantanal e de tantas comunidades ribeirinhas?”
A chegada dos empreendimentos de mineração, só trouxe problemas à
comunidade. Ocasionou perdas enormes da qualidade dos seus recursos naturais
que lhes garantiam uma boa qualidade de vida, consequentemente também perda
da capacidade econômica local de produzir para seu auto consumo, diminuição das
suas áreas de lazer, colocou em risco seu patrimônio familiar que é seu cemitério
entre outros, perderam-se vidas pelo aumento dos problemas de saúde, viu-se
fragmentada pela perda de seus familiares que foram afugentados, entre outros
enormes dilemas, causada pelo confisco de seu território e pela exploração
desenfreada.
Vimos diariamente nos jornais brasileiros, tragédias5 que afetam
comunidades, dizimam modos de vida, alteram cursos da natureza, impactam
diretamente na saúde das pessoas. Este pequeno extrato da vida na comunidade,
apenas nos dá mostras do modelo de produção capitalista em seu grau agudo de
aprofundamento das imensas desigualdades sociais, levando às imensas parcelas
de populações a serem penalizadas cada vez mais na perda da autodeterminação
de seus territórios e na pobreza.
Estamos vendo diante de nossos olhos, que a expansão da concentração de
capital de todas as formas, e na outra ponta, a defesa dos bens comuns em nosso
país, tem sido inclusive responsável pelo maior número de mortes de defensores
ativistas dos direitos humanos e ambientais. São vários aspectos que deixam em
aberto a necessidade de se fazer um alerta mais contundente sobre o caso de
Corumbá. A falta de informações precisas, a falta de acesso à relatórios, de
fiscalização adequada pelos respectivos órgãos responsáveis, tudo isso colabora
para ausência de participação popular na tomada de decisões importantes sobre a
segurança dos moradores e do bioma Pantanal.
Apesar dos diversos problemas enfrentados, sejam eles causados pelas
mineradoras, pela ausência do Estado ou pelos próprios problemas internos, a
comunidade Antônio Maria Coelho resiste e busca aos poucos se reinventar para
5
https://g1.globo.com/ro/ariquemes-e-vale-do-javari/noticia/2019/03/30/cerca-de-5-familias-estao-isoladas-
apos-rompimento-de-barragem-em-machadinho-doeste-ro.ghtml
Referências
Sites:
Resumo: O presente artigo visa analisar aspectos de uma possível solução para a
disposição de resíduos sólidos na fronteira Brasil – Bolívia, haja vista, a dificuldade
enfrentada pelo município de Corumbá em estabelecer arranjo intermunicipal,
considerando apenas os municípios brasileiros. Em uma análise além do limite
fronteiriço, vislumbra-se como potencialmente possível a implantação de aterro
sanitário em conjunto com a cidade fronteiriça da Bolívia, Puerto Quijarro. Tal
realização auxiliará Corumbá e Ladário na consecução do estabelecido pela Política
Nacional de Resíduos Sólidos – PERS e concomitantemente poderá desenvolver a
gestão de resíduos do país vizinho, ao menos na cidade fronteiriça.
Palavras-chave: Meio Ambiente; Resíduos Sólidos; Fronteira; Aterro Sanitário;
Cooperação.
Abstract: The present article aims to analyze aspects of a possible solid waste
disposal solution in the Brazil - Bolivia border, given the difficulty faced by the
Municipality of Corumbá in establishing an intermunicipal arrangement, considering
only the Brazilian municipalities. In an analysis beyond the borderline, it is possible to
envisage the implantation of a sanitary landfill in conjunction with the border city of
Bolivia, Puerto Quijarro. Such an accomplishment will help Corumbá and Ladário in
achieving the National Solid Waste Policy - NSWP and concomitantly can develop
the waste management of the neighboring country, at least in the border city.
Keywords: Environment; Solid Waste; Border; Sanitary Landfill; Cooperation.
Bacharel em Segurança Pública pela Academia Policial Militar do Guatupê (2011), Especialista em
Gestão, Licenciamento e Auditoria Ambiental pela Universidade Norte do Paraná (2018), Mestrando
em Estudos Fronteiriços pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul. E-mail:
diegofms.ferreira@gmail.com
Introdução
Desde a Revolução Industrial e a consequente formação dos grandes centros
urbanos há a concentração de resíduos sólidos nas cidades, de tal sorte que chega
a níveis alarmantes, tendo o tema se destacado nas últimas décadas.
Tal preocupação resultou em várias ações para debater a respeito do tema,
inclusive na formação de políticas públicas e legislações para traçar as diretrizes a
serem seguidas pelo poder público e a população como um todo
Não obstante todo o esforço envidado, as diretrizes traçadas e as soluções
apontadas ainda não foram atingidas em sua plenitude. Dentre as várias dificuldades
apontadas estão a viabilidade técnica, jurídica e principalmente financeira, o que faz
com que alternativas sejam buscadas para uma gestão mais eficaz do manejo de
resíduos sólidos:
O objetivo deste trabalho é analisar aspectos de implantação de um aterro
sanitário binacional para a disposição de resíduos sólidos na fronteira Brasil –
Bolívia, região de Corumbá. O referido objetivo será alcançado pela persecução dos
seguintes objetivos específicos: Demonstrar as dificuldades encontradas pelos
municípios de Corumbá e Ladário para atendimento ao disposto na Política Nacional
de Resíduos Sólidos – PERS no tocante à gestão de resíduos sólidos; demonstrar
as dificuldades encontradas pelo município de Puerto Quijarro na gestão de seus
resíduos sólidos; analisar os aspectos de uma possível gestão conjunta de resíduos
sólidos.
Metodologia
Foi utilizado o método de pesquisa bibliográfica, a fim de embasar os
argumentos apresentados, bem como servir de consulta às informações necessárias
para melhor compreensão dos objetivos do presente artigo. Pela bibliografia
consultada é possível constatar o quão importante é a aproximação das cidades
fronteiriças objeto do presente trabalho para uma gestão mais eficiente, devido às
distâncias em que tais cidades se encontram, bem como as demais dificuldades por
elas enfrentadas e que serão tratadas nos tópicos seguintes.
A partir das fontes consultadas fica evidente que algumas das dificuldades
são comuns às cidades fronteiriças em questão, fato que tornaria mais eficiente uma
gestão desenvolvida de forma conjunta. Além disso também é possível perceber que
Resultados da pesquisa
Sobre a gestão de resíduos sólidos.
No que concerne à gestão de resíduos, o tema tem se mostrado como
prioridade em escala global, pois após a revolução industrial – com o incremento da
população urbana e concomitante êxodo rural -, os conglomerados urbanos
passaram a ter como um problema o destino final do lixo gerado por seus
habitantes, chegando a nível de urgência a partir da década de 90, como se pode
observar a seguir:
Em escala global, o tema resíduos sólidos tem se mostrado prioritário desde
a Conferência Rio 92, tanto nos países ricos quanto nos mais pobres, por
contribuir direta ou indiretamente com o aquecimento global e as mudanças
do clima. Desde a Rio 92, incorporaram-se novas prioridades à gestão
sustentável de resíduos sólidos que representaram uma mudança
paradigmática, que tem direcionado a atuação dos governos, da sociedade
e da indústria. Incluem-se nessas prioridades a redução de resíduos nas
fontes geradoras e a redução da disposição final no solo, a maximização do
reaproveitamento, da coleta seletiva e da reciclagem com inclusão
socioprodutiva de catadores e participação da sociedade, a compostagem e
a recuperação de energia (Jacobi, 2011).
Outros fatores importantes também contribuíram para que o debate sobre o
destino e a própria gestão do lixo fosse um tema em destaque, como por exemplo a
ampliação dos direitos humanos, o que atinge diretamente a questão dos catadores
de lixo, fazendo com que vários setores da sociedade expressassem sua
preocupação, das mais variadas formas, como pode ser notado no documentário
“Ilha das Flores”, de 1989.
Não podemos deixar de mencionar também a cultura consumista,
principalmente se aliada aos produtos advindos da inovação tecnológica. “Além do
expressivo crescimento da geração desses resíduos, observam-se, ainda, ao longo
dos últimos anos, mudanças significativas em sua composição e características e o
aumento de sua periculosidade” (OMS, 2010; EPA, 2010). A evolução tecnológica
possibilitou o acesso a produtos cada vez mais elaborados, com materiais de outro
nível de sofisticação, tornando necessária maior atenção e adequação ao descarte
de tais materiais, devido aos riscos de maiores danos à saúde humana e ao meio
ambiente.
uma prática ilegal, cujos efeitos negativos não são controláveis, com o passar do
tempo terá custos cada vez mais elevados para adoção de medidas de controle e
remediação” (Abrelpe, 2014).
Mas, a problemática da disposição inadequada de resíduos sólidos vai muito
além dos aspectos de contaminação do solo, águas subterrâneas e superficiais e da
proliferação de doenças. A pesquisa realizada pelo IBGE (2008), concluiu que
30,7% dos municípios brasileiros sofrem com inundações causadas por lançamento
inadequado de resíduos sólidos em vias, ruas, avenidas e mananciais superficiais.
Por isso, dada sua importância e urgência, este diploma normativo
estabeleceu prazo inicialmente até 2014 para que os entes federados
estabelecessem seus Planos Integrados de Gestão de Resíduos Sólidos. Entretanto,
contrariando ambientalistas e alguns especialistas, o prazo para adequação
segundo a referida lei foi dilatado mais de uma vez, sob os mais variados
argumentos, desde falta de disponibilidade técnica e financeira até distribuição de
competências, pois há quem defenda que os municípios não poderiam arcar
sozinhos com um problema que é de todos. “O cenário atual se apresenta de forma
crítica, já que 60% dos municípios adotam soluções inadequadas para disposição
dos resíduos sólidos urbanos” Matos (2012).
Neste sentido, é importante ressaltar que a PNRS almeja, de forma
audaciosa, a readequação dos rejeitos urbanos, substituindo todos os lixões e
aterros controlados por aterros sanitários. O custo para tal substituição, divulgado na
maioria das mídias, é estimado em torno de R$ 11 bilhões de reais. Segundo o
governo, tal orçamento é previsto, mas é provável que municípios pequenos tenham
dificuldade para conseguir esse financiamento principalmente pela deficiência
técnica e administrativa do quadro funcional, o que enseja a formação de consórcios
para que municípios próximos uns dos outros possam dividir os custos de
implantação e operação de seus aterros sanitários.
Inclusive no levantamento elaborado pelo Tribunal de Contas de MS em 2016,
são constatadas as enormes dificuldades enfrentadas pelos municípios, sobretudo
os menores, em se enquadrarem ao que determina a PNRS. O levantamento
corrobora ainda a situação em que se encontram os municípios brasileiros, no
aspecto de gerenciamento de resíduos sólidos urbanos, que é bastante precária,
apesar de todos os esforços dos organismos nacionais e internacionais para buscar
fontes alternativas, bem como para dispor a seu favor recursos para os
investimentos necessários (IEAMA/TCE-MS, 2016).
No estado de Mato Grosso do Sul a situação não é diferente. Na esmagadora
maioria dos municípios, o destino final dos resíduos sólidos urbanos é o lixão a céu
aberto (IEAMA/TCE-MS, 2016).
Dessa forma, explanado brevemente o panorama mundial e nacional, e
considerando o não cumprimento do prazo definido pela PNRS, além de que muitos
municípios não têm políticas públicas para a adequada destinação de seus resíduos
sólidos, será iniciada a abordagem à gestão de resíduos sólidos no município de
Corumbá - MS.
O município de Corumbá
O Município de Corumbá – MS possui atualmente área total de 64.960,863
Km², segundo a Embrapa Monitoramento por Satélite. Desse total, apenas 21,57
Km² são área urbana e o restante, área rural. A população do Município soma
aproximadamente 110.000 habitantes. Há de se ressaltar que Corumbá está inserida
em área de fronteira com os países Paraguai e Bolívia, além de fazer divisa com o
Estado de Mato Grosso e os municípios de Aquidauana, Miranda, Sonora, Coxim e
Rio Verde de Mato Grosso. Ademais o município de Ladário está inserido na região
de Corumbá, contando com 342,509 Km² e população aproximada de 20.000
habitantes.
No turismo, a região se destaca no cenário nacional, precipuamente pelo
turismo de pesca, haja vista a rica hidrografia, constituída principalmente pelo Rio
Paraguai - certamente um dos rios mais importantes do país -, o qual, pelo Canal do
Tamengo, oferece à Bolívia o único acesso ao mar. Além disso, a maior parte do
Pantanal - protegido constitucionalmente e considerado Patrimônio Natural Mundial
e Reserva da Biosfera – encontra-se inserta no município de Corumbá. Todo esse
cenário faz com que a região alcance números significativos, como
aproximadamente 60 mil turistas no ano de 2017. Ressalta-se que a característica
por muitos atribuída ao Pantanal de santuário ecológico torna a preocupação com o
meio ambiente ainda maior, o que consequentemente, transfere grande parte dessa
preocupação ao município de Corumbá.
O município de Ladário
Como ressaltado no tópico anterior, Ladário encontra-se inserido no município
de Corumbá, sendo que inclusive as cidades são consideradas, de maneira informal,
uma área conurbada, haja vista a pequena distância entre seus centros de
aproximadamente 06 (seis) quilômetros.
Essa peculiaridade faz com que muitas ações sejam desenvolvidas em
conjunto e quando não, um município acaba tendo interferências pela ação do
vizinho, principalmente no que tange a meio ambiente, por exemplo: lei de proibição
do dourado. Em Corumbá a pesca, transporte e comercialização do dourado já era
proibida, ao contrário de Ladário, onde tal vedação não existia, até o advento da
proibição em nível estadual. Dessa forma, era possível pescar e até comercializar a
referida espécie no município de Ladário, entretanto o transporte restava
impossibilitado, pois para se sair de Ladário e chegar a outro destino é preciso
passar por Corumbá, onde a legislação já vedava o transporte de tal pescado. Outro
exemplo importante para o presente estudo é a destinação do lixo produzido em
ambas as cidades, fato que inevitavelmente teve como consequência o consórcio
entre Corumbá e Ladário para a implantação de um único aterro sanitário.
para o aterro sanitário que atenderá ao consórcio, haja vista ser essa sua
proporcionalidade de material a ser aterrado ao longo do Plano Estadual de
Resíduos Sólidos – PERS. Por conseguinte, à Corumbá incumbiria 84,30% do
montante a ser investido, levando-se em conta sua geração de resíduos frente ao
total produzido por ambos os municípios participantes do arranjo proposto e
apresentando pelo IMASUL.
Fonte: Plano Estadual de Resíduos Sólidos de Mato Grosso do Sul. Disponível em:
http://www.imasul.ms.gov.br/wpcontent/uploads/sites/74/2017/04/APRESENTACAO_VERSAO_PREL
IMINAR_PERS-MS.pdf
Mercosul e Unasul
O Mercado Comum do Sul – MERCOSUL, seguiu os moldes do Mercado
Comum Europeu, sendo firmado em 26 de março de 1991, em Assunción, no
Paraguai, pelo Tratado de Assunção. Dentre os vários objetivos do MERCOSUL, há
também o compromisso de harmonizar legislações nas áreas pertinentes, inclusive
no que tange à proteção do meio ambiente e ao desenvolvimento sustentável.
A União de Nações Sul-Americanas é formada pelos doze países sul-
americanos e tem dentre seus objetivos a integração de seus países membros, nos
mais diversos campos: social, econômico, político, cultural, formando uma
comunidade sul-americana de nações. Foi estabelecida em 23 de maio de 2008, em
Brasília, Brasil.
A questão jurídica.
É necessário um estudo mais aprofundado especificamente sobre a questão
jurídica, devido ao envolvimento de temas como meio ambiente e fronteira.
Entretanto, será necessário, para o alcance do proposto no presente trabalho, a
celebração de um acordo de cooperação técnica internacional que verse sobre a
gestão compartilhada de resíduos sólidos na fronteira em questão. Na persecução
desse objetivo, tratados internacionais como o Mercosul e Unasul, acima
mencionados são imprescindíveis para demonstrar a necessidade de integração
entre os países signatários.
Conclusão
Pelo presente artigo é possível evidenciar a dificuldade que Corumbá possui
para a gestão de resíduos sólidos e consequentemente para a implantação de seu
aterro sanitário, diante dos outros municípios, de acordo com o Plano Estadual de
Resíduos Sólidos – PERS, pois o município mais próximo é Miranda – a mais de 200
km de distância – e Ladário, que na verdade trata-se de um enclave geográfico.
Entretanto, também fica latente que o município boliviano próximo a Corumbá,
Puerto Quijarro, também não consegue atingir o preconizado pela legislação
boliviana, apresentando dificuldades na gestão de seus resíduos, muitas delas
comuns às de Corumbá.
Referências
ILHA das Flores, Direção: Jorge Furtado, Brasil, 1999. Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=KAzhAXjUG28
INE - Instituto nacional de estadística. Notas de prensa 2017. JUN 2017. Disponível
em: <https://www.ine.gob.bo/index.php/prensa/notas-de-prensa/item/569-puerto-
quijarro-cuenta-con-aproximadamente-19-000-habitantes-a-2017>.
OMS – Organização Mundial da Saúde. The World Health Report 2007 – A safer
future: global public health security in the 21st. century. Acesso em: 3 set. 2010.
Abstract: The cities of Corumbá, Ladário, Puerto Quijarro and Puerto Suárez are
located in the dry border zone between Brazil and Bolivia, a limit established only by
an imaginary barrier between the two countries. These limits, however, do not
prevent population mobility beyond the established limit. Social, economic and
cultural relations in these border regions are particular and dynamic, reflecting the
way in which border societies appropriate space. Thus, this paper aims to analyze
the evolution of land use and land cover in the border region between the
municipalities of Corumbá, Ladário, Puerto Quijarro and Puerto Suárez between
1987 and 2018. To this end, an object-oriented digital classification process was
carried out. eCognition® 9.2 software, with thematic classes agriculture, built-up
area, mining area, continental water bodies, pastures, flooded grassland and natural
vegetation.
Graduado em Geografia UFMS/CPAN, Mestrando em Geografia UFMS/CPTL. Bolsista de Mestrado.
E-mail: edson_r_silva@yahoo.com
Graduado em Geografia UNESP-Presidente Prudente, Mestre em Geografia UFMS/CPTL,
Doutorando em Geografia UFMS/CPTL. Bolsista de Doutorado . E-mail: e.vick@hotmail.com
Graduada em Geografia UFMS/CPAN, Mestre em Estudos Fronteiriços UFMS/CPAN. Docente na
UFMS/CPAN. E-mail: tayrine.fonseca@hotmail.com
Introdução
O Brasil é o maior país da América do Sul, possuindo uma extensão territorial
de aproximadamente 8.510.820 Km2. Esse território é tão vasto que dentre os doze
países que compõem a América do Sul, nove fazem fronteira com o Brasil, com
exceção de Chile e Equador. Como parte integrante deste continente, a Bolívia
constitui um desses países, desenvolvendo uma ampla linha fronteiriça com o Brasil
medida em aproximadamente 3.423 km de extensão, no qual engloba os Estados de
Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Rondônia e o Acre.
A região fronteiriça entre o Brasil e a Bolívia, localizada no Noroeste do
Estado de Mato Grosso do Sul, entre as cidades de Corumbá e Puerto Quijarro,
representa a área de estudo do presente trabalho. A fronteira entre a Bolívia e o
Brasil nessa localidade é caracterizada por ser uma fronteira seca, ou seja, o que
estabelece o limite fronteiriço entre essas duas cidades é apenas uma barreira
imaginária interposta entre os dois territórios. Neste contexto, Oliveira e Costa
(2012), apontam que “o marco mais visível e simbólico dos limites da fronteira de
Corumbá/Brasil está na aduana da Receita Federal, onde raramente ocorrem
operações de fiscalização”.
Machado (2000), destaca que, esses limites não impedem que ocorra a
movimentação, por parte da população, para além do limite que foi estabelecido, e
isso muitas vezes acaba gerando situações de conflito. O conflito começa a ter
maior intensificação a partir do momento em que o outro território se sente
ameaçado, principalmente quando essa ameaça está diretamente ligada à questão
Materiais e Métodos
Localizada na região Noroeste de Mato Grosso do Sul (Figura 1), às margens
da bacia sedimentar do Pantanal, a região fronteiriça analisada neste estudo
engloba a totalidade das áreas urbanas e parte das áreas rurais dos municípios de
Corumbá e Ladário em território brasileiro e Puerto Quijarro e Puerto Suárez em
área de estudo
permitindo assim, uma maior gama de atributos que auxiliem na classificação, não
ficando refém apenas da informação espectral dos objetos. O emprego deste
classificador é capaz de obter bons resultados utilizando-se de imagens da série
Landsat – TM (SMITS, et al. 1999). Desta forma, o Quadro 1 apresenta os
paramentos utilizados ao classificador NN.
A escolha das classes temáticas para o mapeamento de uso e cobertura da
terra segui o proposto pelo Manual Técnico de Uso da Terra (IBGE, 2013), inserindo
apenas uma classe não identificada pelo citado manual: a vegetação campestre
alagada. Assim, adotou-se as seguintes classes: agricultura, área construída, área
de mineração, corpos de águas continentais, pastagem, vegetação campestre
alagada e vegetação natural.
Resultados e Discussões
No ano de 1987 identificou-se cinco das classes temáticas de uso e cobertura
da terra definidas originalmente, são elas: área construída, corpos de água
continentais, pastagem, vegetação campestre alagada e vegetação natural. A área
construída, entendida como o conjunto das áreas edificadas, resultado do
mapeamento das manchas urbanas dos quatro municípios, ocupava uma área de
aproximadamente 23,43 km², isto é, 3,31% do total. Deste valor, 16,8 km² referem-se
a área urbana de Corumbá e 1,69 km² a Ladário, enquanto pelo lado boliviano
Puerto Suárez possuira 3,56 km² a área de urbana e Puerto Quijarro 1,38 km².
Ainda em 1987, as pastagens ocupavam 97,53 km² da área de estudo
(13,79%), distribuídas sobretudo ao largo dos municípios de Ladário e Corumbá,
principalmente nas proximidades de ambas áreas urbanas. As demais pastagens
localizadas em território brasileiro espacializam-se às proximidades de estradas
vicinais que ligavam as supracitadas áreas urbanas com suas áreas rurais
adjacentes. Em território boliviano, as pastagens além de ocuparem uma área
pela área rural de Corumbá. O mapeamento de uso e cobertura da terra para o ano
de 2018 pode ser visualizado na Figura 3.
Figu
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–
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2018
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es não identificadas no mapeamento de 1987 foram identificadas em 2018, são elas
as áreas de mineração e agricultura. A mineração registrou área de 0,55 km²
(0,08%), referindo-se à mina “Lajinha” em Ladário e a “Corcal’ em Corumbá, ambas
voltadas à extração de rochas calcáreas para a produção industrial e construção
civil, respectivamente. A agricultura, ocupou área de 1,5 km² (0,21%), encontrado
em um fragmento localizado nas proximidades da área urbana de Puerto Suárez, em
território boliviano. Em relação às terras baixas da planície pantaneira, há uma
relativa manutenção dos índices de área ocupada por vegetação campestre
alagada, calculada em 164,35 km² (23,24%), e dos corpos de águas continentais,
medidos em 57,52 km² (8,13%).
Evolução Populacional
Municípios 2000 2001 2010 2012 2015 2018
Considerações finais
Fazendo-se uso das técnicas de geoprocessamento foi possível identificar as
alterações no uso e cobertura da terra para a região fronteiriça dos municípios de
Corumbá e Ladário em território brasileiro e Puerto Suárez e Puerto Quijarro em
território boliviano. Identificou-se que houve acentuada expansão das áreas urbanas
dos quatros municípios combinados. As áreas urbanas que ocupavam 23,43 km² em
1987 saltaram para 46,26 km² em 2018, representando um aumento de 97,43% ao
longo de 31 anos. Identificou-se também a expansão das pastagens destinadas a
produção pecuária, visto que em 1987 esta ocupava uma área de 97,53 km²,
enquanto em 2018 este índice saltou a 115,38 km², um aumento de 18,30%. Por
outro lado, as áreas cobertas por vegetação natural retraíram-se aproximadamente
12,15%, caindo de 366,11 km² em 1987 para 321,63 km² em 2018.
Assim, percebe-se o potencial das técnicas de geoprocessamento para os
estudos ambientais, sociais e de planejamento e ordenamento territorial,
oportunizando um conjunto de ferramentas para solucionar situações antes
dificultosas, como o mapeamento de uso e cobertura da Terra no passado. Destaca-
se também que este estudo é um primeiro passo na compreensão das alterações no
Agradecimentos
O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – Brasil (CAPES) – Código de
Financiamento 001. Os autores agradecem ainda a Universidade Federal de Mato
Grosso do Sul, campus de Três Lagoas (UFMS-CPTL) pelo apoio institucional.
Referências
DRONOVA, I.; GONG, P.; WANG, L. Object-based analysis and change detection if
major wetland cover types and their classification uncertainty during the low water
period at Poyang Lake, China. Remote Sensing of Environment, v. 115, n. 12, p.
3220-3236, 2011.
INE. Instituto Nacional de Estadística. Banco de Datos - Censos. Disponível em: <
http://censosbolivia.ine.gob.bo/webine/>. Acesso em Agosto de 2019b.
OLIVEIRA, G.F; COSTA, G.V.L da. Redes Ilegais e Trabalho Ilícito: Comércio de
Drogas na Região de Fronteira de Corumbá/Brasil - Puerto Quijarro/Bolívia. Boletim
Gaúcho de Geografia, Porto Alegre, maio, 2012.
Abstract The Paraguay-Paraná Waterway is one of the most important river routes
of integration in South America and a vector of socioeconomic development in the
region. It traveled through five countries (Brazil, Bolivia, Paraguay, Argentina and
Uruguay) and its use was regulated by the Santa Cruz de La Sierra Agreement,
which enshrines, among others, the principles of free transit and freedom of
navigation. This agreement allows the sharing of territory and water by the
signatories, resulting in some conflicts. In this conflictive scenario, the environmental
issue is highlighted. The Brazilian legislation is very strict with the protection of the
environment and establishes various instruments and procedures aimed at
environmental preservation in the scope of potentially polluting economic activities.
Among these, environmental management deserves special mention. The objective
of this study was to analyze, from objective criteria, the environmental management
efficiency of Brazilian shipping companies and the national ports operating on the
Paraguay-Paraná Waterway.
Key words: Environmental Management; Border; Paraguay-Paraná Waterway.
Graduado em Física pela Universidade Federal do Ceará- UFC; Pós-Graduado em Regulação de
Serviços Públicos pela Fundação Getúlio Vargas – FGV; Mestrando do Programa de Pós-Graduação
em Estudos Fronteiriços da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul – Campus do Pantanal.
Contato: sarisosrs@gmail.com;
Professor Doutor em Geociências e Meio Ambiente. Universidade Federal de Mato Grosso do Sul –
Programa de Pós-Graduação em Estudos Fronteiriços, Campus do Pantanal. Contato:
aguinaldo.silva@ufms.br.
Abstract: This paper aims to describe and understand the Pantanal territory, to
characterize its residents, the labor activities performed there. Having as
methodological procedure the description of experiences, experiences and
perceptions, from the participant research. It is a floodplain of approximately 220
thousand km², subdivided into 11 regions, Nhecolândia being the most central of
them, and consequently the most isolated. The region is characterized by the period
of flood and drought. As work activities we have the pawn, the "oldest" worker, the
fisherman who today acts more as a fishing guide or pilot leading amateur fishermen
to places where there is fish and more recently the tourism worker.
Keyword: pantanal sul mato-grossense, way of life, perceptions
1
Bacharel e Licenciada em Geografia pela Universidade Federal da Grande Dourados (MS), Mestre
em Geografia pela Universidade Federal de Rondônia (RO), Doutoranda em Ensino de Ciências pela
Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (MS), membra do Grupo de Pesquisa LEA – Laboratório
Multidisciplinar de Ensino e Aprendizagem, Bolsista CAPES, jujugeografando@gmail.com
2
Professora associada III do curso de Geografia (licenciatura e bacharelado) e do Programa de Pós-
Graduação em Geografia da UFMS, professora do Programa de Pós-Graduação Mestrado e
Doutorado em Geografia e Programa de Pós-Graduação Doutorado em Ensino de Ciências da
Universidade Federal do Mato Grosso do Sul, patriciaufmsgeografia@gmail.com
Introdução
a dezembro); cheia (de janeiro a março); vazante (de abril a junho); e, estiagem (de
julho a setembro). Este ciclo corresponde a renovação da vida pantaneira. Já a
Embrapa, inclui a sub-região do Jacadigo.
O ciclo das águas, a distância das cidades e outros fatores determinantes,
ditam o modo e o ritmo de vida do pantaneiro. A partir da vivência, de observações e
percepções nos propomos como objetivo a descrever de forma sucinta o modo de
vida dessa gente.
Vargas (2006) define a planície, nomeada de “Pantanal Mato-grossense” à
partir da Constituição Federal de 1988, como a maior extensão de terras alagáveis
contínuas do planeta. Essa planície, segundo a referida autora (2006, p. 31),
“distribui-se pelos estados de Mato Grosso do Sul e Mato Grosso, em território
brasileiro, além de uma parcela menor que se estende em áreas da chamada região
do Chaco paraguaio-boliviano”.
Figura 01
Sub-regiões do Pantanal
homem pantaneiro aprendeu ao longo dos séculos, a fazer suas próprias previsões,
alicerçadas na interpretação dos fenômenos naturais” (NOGUEIRA, 2002, p. 31).
Os primeiros bovinos introduzidos no Brasil durante a colonização portuguesa
foram usados como fonte de alimentação e animais de tração nas áreas rurais
durante quase três séculos. A intensificação da pecuária na região do então Mato
Grosso representou a ampliação da presença do trabalhador remunerado nas
fazendas. O crescimento do rebanho necessita até hoje de manejo, enquanto que a
venda do gado quase sempre requer o trabalho das comitivas para fazer o
transporte dos animais das fazendas onde os caminhões que transportam gado não
chegam. Porém, ainda há comitivas, pois, dependendo da distância e do rebanho,
seriam necessários muitos caminhões, contudo, o custo x benefício da comitiva
ainda é levado em conta pelo fazendeiro.
Para cumprir as marchas, os peões suportam todas as variações climáticas
enfrentando chuva, frio, vento, poeira, além dos obstáculos naturais como corixos,
baías, rios, campos abertos, campos sujos e as barreiras introduzidas pelo homem
como estradas asfaltadas e porteiras (BARROS NETTO, 1979).
Procedimentos metodológicos
Não se aprende, senhor, na fantasia,
sonhando, imaginando ou estudando,
senão vendo, tratando, pelejando...
Camões, Os Lusíadas
trabalham no campo, em regiões muitas vezes inóspitas ou tendo contato com essa
gente e seus filhos na cidade, nos faz levar em consideração o quão pouco a
Ciência dá voz a esses sujeitos.
Por termos morado nessa região, acompanhamos o dia a dia de
trabalhadores no território pantaneiro vivenciando seu modo de vida. Trabalhamos
em um hotel a beira do rio Miranda, acompanhamos peões em uma comitiva, assim
como o dia de um piloteiro de barco. Como a pesquisa participante visa a
participação ativa do pesquisador, esses meses de imersão no pantanal nos
proporcionaram experiências e vivências ímpares. Gil (1989) caracteriza a pesquisa
participante “pela interação entre pesquisadores e membros das situações
investigadas”.
Dentro do universo do “homem” pantaneiro, o modo de vida se torna um
conceito chave no estudo desses sujeitos, onde se tem a apropriação do território
perpassando pela manutenção do modo de vida. A priori, compreendemos o
território como tradicional, analisado teoricamente como uma categoria de análise e
resultado da ação antrópica através de Raffestein (1993), como domínio territorial
por parte de uma nação e construção de novas territorialidades. Já Gottmann (1975
apud SILVEIRA, 2008, p. 02), “propne entender el territorio como uma porción del
espaço geográfico o como uma extension de uma jurisdicción de gobierno”.
Partindo de uma ótica de resgate histórico, o conceito “modo de vida” foi
incorporado a Geografia à partir dos estudos monográficos de La Blache em que
este autor apresenta a noção de gênero de vida, na Geografia Humana,
compreendido como “o conjunto de relações, costumes e técnicas que o homem
desenvolve a partir de sua relação com o meio” (VIDAL DE LA BLACHE, 1911a e
1911b).
Sobre a questão do modo de vida no campo, Marques (1994, p. 04) traz uma
definição que nos proporciona um aporte teórico do modo de vida camponês, onde:
O modo de vida camponês é formado por um conjunto de relações
familiares e de vizinhança, formas de organização da produção imediata,
condições materiais de vida e de trabalho, relações políticas e religiosas.
Tais relações se apoiam num sistema de valores que lhes dá sentido
Contudo, o modo de vida reaparece no pantanal não apenas como trabalho e
“condições materiais de vida”, mas também como relações sociais, políticas,
religiosas e de valores recriados pelo modo de produção capitalista, incorporados ao
modo de vida nas fazendas e pousadas.
Percepções
O modo de vida campestre do “homem” pantaneiro se constitui com base na
produção do território. A exuberância da imensidão da planície, sobretudo para o
sujeito chegante, cuja percepção daquele território é densamente impactada pela
pecuária, assim como também marca, decisivamente, o modo de vida daquela
sociedade. Do mesmo modo que os rios, baias e salinas que integram a bacia
hidrográfica do pantanal também são elementos do modo de vida daquela gente,
considerando a imensidão da planície pantaneira, de sua importância geográfica,
histórica, econômica, social e cultural dos estudos em Geografia, imprescindíveis
para a compreensão da lógica da transformação dos ideais, dos produtos
determinantes do perfil geográfico de investigação científica.
Pudemos verificar in loco que em muitos locais as acomodações são
precárias, a alimentação deixa a desejar. Em algumas fazendas, em relação a
moradia e alimentação, a “divisão” é feita se o peão é casado ou não, se este for
casado e estiver com a família residindo na fazenda, este terá uma casa separada e
afastada do galpão dos solteiros, os casados realizam suas refeições em suas
residências e os solteiros em uma cantina onde há o desconto de um certo valor em
seu salário. Observamos que muitas vezes a cantina é gerida pela esposa do
capataz da fazenda, sendo esta também funcionária da fazenda.
Nem todos os estabelecimentos sejam hotéis ou pousadas e fazendas
assinam a carteira de trabalho. Nos hotéis e pousadas, os trabalhadores recebem
por diária e em absolutamente todos, questões básicas são cobradas, como
exemplo, temos o acesso a interne que para os hóspedes é liberado e para os
funcionários é cobrado uma taxa mensal. Quando moramos lá (2016), a diária do
trabalhado em um hotel era de R$ 40,00 e o valor cobrado para acesso à internet
Percepções em imagens
Imagem 01
Vista panorâmica do alojamento dos funcionários de um hotel no Passo do Lontra, em condições
precárias, suspenso em palafitas muitas vezes podres, neste caso em específico, observa-se uma
lona para proteger de goteiras, o que durante o dia cria uma espécie de sauna, quando chove ou
venta faz muito barulho, Pantanal do Miranda
Imagem 02
Alojamento feminino dos funcionários de um hotel no Passo do Lontra, a manutenção deveria ser
constante após os períodos de cheia, observa-se que não há forro e nem local para os funcionários
armazenarem seus pertences, Pantanal do Miranda
Imagem 03
Cavalos sendo arreados para um passeio com turistas, esta fazenda fica a 25 km do Pantanal do
Miranda, o deslocamento dos turistas até a fazenda é feito em carro aberto onde o turista já vai
contemplando e fotografando a natureza, Pantanal do Abobral
Imagem 04
Turistas em passeio à cavalo, em período de cheia, guiado por um guia que conhece a região e
dependendo da época do ano, acompanhado por um peão que conhece bem a região, Pantanal do
Abobral
Imagem 05
Criação de búfalos em fazenda onde do leite se faz queijo e alguns animais são abatidos de tempos
em tempos para fornecer carne aos funcionários, sendo revezado o abete de um bubalino e de um
bovino, a carne é vendida por um preço abaixo do preço de mercado, Pantanal do Abobral
Imagem 06
Em uma fazenda de engorda de gado, onde é administrada como uma empresa agropecuária, possui
uma dinâmica onde os peões sempre vão a campo em dupla e utilizam sempre um rádio PABX para
comunicação, Pantanal do Abobral
Imagem 07
Guia de pesca ou piloteiro que conduz os turistas/pescadores ao longo do rio Miranda ou rio
Vermelho. Hoje, é mais viável pilotar que pescar e vender.
Imagem 09
Ponte por onde passavam as comitivas em contraste com a ponte de concreto. Hoje a ponte de
madeira é utilizada como passarela para moradores que moram na outra margem do rio, por
pescadores e como atração turística
Imagem 10
Comitiva no Pantanal da Nhecolândia, a região mais central do Pantanal onde o solo arenoso impede
a entrada de caminhão boiadeiro fazendo com que a comitiva seja a melhor forma de conduzir o gado
Imagem 11
Preparação de uma refeição de uma comitiva, Pantanal da Nhecolândia, em época de seca é mais
fácil fazer o fogo no chão e encontrar lenha. Na época da chuva, os peões podem ficar dias sem
comer, pois, o cozinheiro não encontra local seco para fazer o fogo. Atualmente, nas comitivas mais
estruturadas, o cozinheiro leva um fogareiro.
Imagem 12
Recolhimento da boiada e contagem para o pouso da comitiva, Pantanal da Nhecolândia
Reflexões inacabadas
Referências
ARAÚJO, Ana Paula Correia de; BICALHO, Ana Maria de Souza M.; VARGAS, Icléia
Albuquerque de. Dinâmica do espaço rural do Pantanal de Mato Grosso do Sul no
processo de expansão capitalista. In: SILVA, Edima Aranha; ALMEIDA, Rosemeire
Aparecida de; (org.). Territórios e territorialidades no Mato Grosso do Sul. São
Paulo, SP: Outras Expressões, 2011.
GIL, Antônio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. 6. ed. São Paulo:
Atlas, 1989.
______. Pantanal, homem e cultura. Campo Grande, MS: Ed. UFMS, 2002.
RAFFESTIN, C. Por uma geografia do poder. São Paulo, SP: Ática. 1993.
______. Les genres de vie dans la géographie humaine – deuxiéme article. Annales
de Géographie, v. 20, n. 112, p. p. 289 – 304, 1911b.
Especialista em Gestão Universitária (2019), Graduado em Licenciatura Plena em Ciências
Biológicas (2012) e Bacharelado em Jornalismo (2018) pela Universidade do Estado de Mato Grosso.
Atualmente, ocupa o cargo de Agente Universitário no quadro de carreira dos Profissionais Técnicos
do Ensino Superior e é Membro do grupo de pesquisa COMUNICAÇÃO, CULTURA E SOCIEDADE
na Universidade do Estado de Mato Grosso. E-mail: boldrinijs@hotmail.com
Doutor em Administração pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul (2017), Mestre em
Ciências Ambientais pela Universidade do Estado de Mato Grosso (2011), possui especialização
(pós-graduação Lato Sensu) em Gestão Pública pela Universidade do Estado de Mato Grosso (2013)
e em Magistério do Ensino Superior pelo Instituto Brasileiro de Pós-Graduação e Extensão (2004) e
graduação em Administração pela Unifimes (2003). Atualmente é Professor da Educação Superior do
Campus do Pantanal da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul. Atua nos seguintes temas:
Gestão Pública, Gestão de Pessoas e Gestão do Agronegócio. E-mail: fernando.t@ufms.br
Graduada em Gestão Ambiental e discente do Curso de Geografia da Universidade Estadual de
Mato Grosso do Sul – Unidade de Jardim. E-mail: camfernanda1@gmail.com
Doutora em Geografia Humana e docente do Curso de Geografia da Universidade Estadual de
Mato Grosso do Sul – Unidade de Jardim. E-mail: julianaluquez@gmail.com
Introdução
A fronteira quando relacionada a limites territoriais restringe-se à uma
acepção empobrecida e apreende apenas sua dimensão militar e estatal, no
entanto, a intensa mobilidade populacional e a ativação de fluxos diversos nessa
área delineiam uma nova configuração nos espaços fronteiriços, tornando-os uma
pluralidade no contexto econômico, jurídico, político e cultural (ALBUQUERQUE,
2009).
Oeyen (2011, p. 11-12) afirma que “as fronteiras se distinguem por serem
espaços particularmente sensíveis, com uma natureza e uma dinâmica própria
que as revela como laboratórios ou lugares privilegiados de estudo”. Nesse
sentido, as fronteiras são vistas como ambiente sensível. Tomemos o ambiente
fronteiriço no qual se desenvolveu Porto Murtinho: fronteira marcada pelo leito do
Rio Paraguai. Essa especificidade proporcionou o desenvolvimento da prática da
1
Também conhecida como Rota de Integração Latino-Americana (RILA), tem como objetivo
diminuir o percurso de exportações e importações para a Ásia e América do Norte, cortando a
América do Sul saindo do Brasil, indo em direção ao Paraguai e Argentina até aos portos do Chile.
Figura 3. (A) Construção histórica “Castelinho”, datada de 1914; (B) Museu Dom Jaime Anibal
Barrera; (C) Edifício Jorge Abrão construído entre 1920 e 1922, cedido para o funcionamento da
Prefeitura Municipal; (D) “Trenzinho”, representação simbólica do ciclo da erva-mate; (E)
“Chalaneiro”, monumento que homenageia os heróis do rio; (E) Praça Kadiwéu, reverência aos
índios Kadiwéus por terem lutado em defesa ao território murtinhense. Fonte: Prefeitura Municipal
de Porto Murtinho. Acervo: Fundação Neotrópica do Brasil. Crédito: Fernanda Cano de Andrade
Marques.
Atrativos Naturais
Figura 4. (G) Carandás (Corpernicia alba) no pôr do sol às margens do rio Paraguai; (H) Barqueiro
atravessando o rio no barco à remo; (I) Observadores de aves no dique que separa a área urbana
do Rio Paraguai; (J) Anu-branco (Guira guira); (K) Cardeal (Paroaria coronata); (L) Periquito-de-
encontro-amarelo (Brotogeris chiriri). Acervo: Fundação Neotrópica do Brasil. Créditos: Fernanda
Cano de Andrade Marques.
Conclusão
Por meio da aplicação da Matriz SWOT para levantamento do potencial do
ecoturismo em Porto Murtinho (MS), comprova-se que de fato a área de estudo
possui enorme potencial para tal. Contudo, o ecoturismo em Porto Murtinho há de
ser planejado em bases sustentáveis a fim de promover a otimização de seus
benefícios e oportunidades ao mesmo tempo que seus riscos (fraquezas e
ameaças) possam ser mitigados.
Murtinho pode ser visto como uma forma de conservação. Além disso, o
desenvolvimento do ecoturismo no espaço fronteiriço de Porto Murtinho,
concomitantemente à conservação, poderá oportunizar atividades econômicas no
contexto local e regional. Se por um lado, o ecoturismo proporciona algum
aspecto de desenvolvimento local ou regional; por outro lado, o uso do território
em seu todo não deve ser negligenciado considerando esse fim (WEARING e
NEIL, 2001; CRUZ, 2005). Esses são desafios à implantação de políticas públicas
voltadas à atividade turística na faixa de fronteira: conservar os biomas do
Pantanal e do Cerrado e promover o desenvolvimento socioeconômico nas
comunidades fronteiriças.
Referências
CRUZ, Rita de Cássia Ariza da. Políticas públicas de turismo no Brasil: território
usado, território negligenciado. Geosul, v.20, n.40, 2005. Disponível em:
https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/207941/mod_resource/content/1/Artigo%2
0CRUZ.pdf> Acesso em: 22 de jul. 2019.
<https://periodicos.ufsc.br/index.php/biotemas/article/view/21936/19896>. Acesso
em: 14 jul. 2019. doi: https://doi.org/10.5007/%x.
Graduada em Engenharia Agronômica e Geografia. Mestranda em Estudos Fronteiriços. UFMS-
Cpan. E-mail: iannalouise@hotmail.com
Graduado, mestre e doutor em Geografia. Professor da Universidade Federal de Mato Grosso do
Sul. E-mail: edgarac10@gmail.com
Abstract: This work aims to identify and understand the spatial and social
arrangement of the Pantanal and its relationship with fishing and sexual tourism that
occur in the Pantanal waters of Corumbá/MS. As methodological procedure we used
online interviews with call girls who perform such activity in the city of Corumbá-MS
and bibliographical research related to the theme. The focus of these women is on
the upper middle-class actors, or tourists and people with high local purchasing
power. Paradise places like the Pantanal create a scenario for the practice of sex
tourism, where tourists seek tranquility and contact with nature for the practice of
leisure and pleasure.
Key words: Border, Tourism, Pantanal, Sex tourism, Corumbá/MS.
Graduada em Geografia (Licenciatura) pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Campus
do Pantanal. Atualmente é acadêmica do programa de pós-graduação em Geografia, nível mestrado,
da Universidade Federal da Grande Dourados. E-mail de contato: ericasantos566@gmail.com
Graduado em Geografia (Licenciatura) pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Campus
do Pantanal. É Mestre em Estudos Fronteiriços pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul,
Campus do Pantanal. Atualmente é acadêmico do programa de pós-graduação em Geografia, nível
doutorado, da Universidade Federal da Grande Dourados. E-mail de contato:
kukielgeografia@gmail.com
Abstract: This paper aims to identify the relevance of the Border Region in the
Amazon Region Protected Areas Program (ARPA) and in the performance (its type
and its spatial distribution) of the three major international conservation NGOs: World
Wide Fund for Nature (WWF), Conservation International (CI) and The Nature
Conservancy (TNC) in the program's conservation units (UCs). ARPA was chosen
because it was identified as the main protected area conservation strategy in the
Brazilian Amazon. The methodology consists of the analysis of the types of actions
and spatial distributions of these actors according to a classification developed
throughout the research and also the intersection of this distribution with other
geographical aspects of the territory, such as the location of the indigenous lands.
The results pointed to the relevance of the Border Region both within the program
and in the choices of action made by the analyzed NGOs.
Graduando em Licenciatura em Geografia; Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ; e-mail:
cassiodosul@gmail.com
(UC) del programa. Se eligió ARPA porque se identificó como la principal estrategia
de conservación de áreas protegidas en la Amazonía brasileña. La metodología
consiste en el análisis de los tipos de acciones y distribuciones espaciales de estos
actores de acuerdo con una clasificación desarrollada a lo largo de la investigación y
también la intersección de esta distribución con otros aspectos geográficos del
territorio, como la ubicación de las tierras indígenas. Los resultados señalaron la
relevancia de la Región Fronteriza tanto para lo programa como para las opciones
de acción de las ONGs analizadas.
Introdução
Ao longo das últimas décadas, várias organizações conservacionistas
internacionais têm ativamente promovido e financiado a criação e a consolidação de
unidades de conservação (UCs) na Amazônia Brasileira e em sua faixa de fronteira
com os países vizinhos (Steiman, 2008). Trabalhos anteriores realizados por outros
integrantes do grupo Retis levantaram algumas das incidências geográficas da
atuação das três principais ONGs conservacionistas internacionais na região –
World Wild Fund for Nature (WWF), Conservation International (CI) e The Nature
Conservancy (TNC).
Este trabalho pretende identificar a relevância da faixa de fronteira no
Programa ARPA e na atuação (seu tipo e sua distribuição espacial) das três grandes
ONGs conservacionistas internacionais: WWF, CI e TNC nas UCs do programa. A
pesquisa ainda não possui elementos suficientes de análise para poder explicar o
motivo pelos quais as ONGs escolheram atuar em determinadas UCs em detrimento
de outras.
Lançado em 2002, o programa ARPA é o maior programa de conservação de
florestas tropicais do planeta, ele visa fortalecer o Sistema Nacional de unidades de
conservação (SNUC), através do aperfeiçoamento da gestão e da consolidação de
tais áreas na Amazônia Brasileira. O programa é dividido em três fases: a primeira
perdurou entre 2002-2010, a segunda entre 2010-2017 e a terceira, que começou
em 2014 deverá ser finalizada em 2039 (ARPA, 2019).
O ARPA é um programa do Governo Federal, coordenado pelo Ministério do
Meio Ambiente, cujo gerenciamento financeiro está a cargo do Fundo Brasileiro para
a Biodiversidade (FUNBIO). O programa é financiado por quatro grandes doadores
desde a primeira fase: o Global Environment Facility (GEF) – um fundo do Banco
Mundial utilizando para financiar projetos ambientais pelo mundo; o governo Alemão
através de seu Banco de Desenvolvimento da Alemanha (KfW); a rede WWF através
inaugurando a fase I, que se estendeu até 2010; a fase II se estendeu até 2017;
atualmente estamos no início da fase III, o que ajuda a explicar a menor quantidade
de UCs criadas se comparada às outras fases. A fase III será a mais longa, com
previsão de término em 2039. (ARPA, 2019)
Fonte: Histórico Criação Fases I, II, III (ARPA,2019), IBGE, DNIT, MMA e Grupo Retis UFRJ. Org.
Cassio do Sul Gonçalves, 2019.
Fonte: Histórico Criação Fases I, II, III (ARPA,2019), IBGE e Grupo Retis UFRJ. Org. Cassio do Sul
Gonçalves, 2019.
Conforme as figuras 1 e 2, a incidência espacial das UCs na fase I apresenta
um padrão espacial difuso pelo território da Amazônia Legal, sendo a escolha de
localização relacionada à conectividade com UCs fora do ARPA e com terras
indígenas (TIs), com a finalidade de contribuir para a formação de mosaicos de
unidades de conservação. As fases II e III possuem um padrão similar, seguindo a
mesma orientação.
Reserva
43 18 41,9 12.706.610 6.939.352 54,6
Uso Sustentável Extrativista
Proteção Integral
Estação Ecológica 14 6 42,9 8 4 50
Reserva Biológica 10 5 50 5 3 60
Subtotal 57 31 54,4 28 14 50
Das 117 UCs do Programa ARPA, 54 possuíram pelo menos uma ONG
atuando em seu território, em uma ou mais das categorias de atuação da tabela 3.
Isso demonstra que as ONGs, principalmente a WWF e a CI (ver figura 3, tabela 4 e
5), somadas, atuaram até então em quase metade dessas UCs. A WWF é uma das
principais doadoras do Programa ARPA, o que pode ajudar a explicar a sua maior
atuação. Mas a participação da CI não é pequena, principalmente na faixa de
fronteira (ver tabela 5).
Abaixo (tabela 3) tem-se as categorias de atuação para cada ONG, através
de uma classificação desenvolvida especificamente para este trabalho. Três tipos de
categorias de atuação foram desenvolvidas para destrinchar as diferentes formas de
atuar que as ONGs possuem no território das unidades de conservação (UCs).
Tabela 3: Atuação das três ONGs nas unidades de conservação do Programa ARPA por categoria de
atuação.
Fonte: Histórico Criação Fases I, II, III (ARPA,2019); relatórios anuais das ONGs; notícias de mídia
regional e nacional; site oficial das ONGs; planos de Manejo das UCs. Org. Cassio do Sul Gonçalves,
2019.
Tabela 4: Atuação da World Wild Fund for Nature (WWF) nas unidades de conservação do Programa
ARPA por grupo e categoria do Sistema Nacional de unidades de conservação (SNUC)
Categoria Número de UCs (em Nº de UCs Área de UCs (em Área de
Grupo
no SNUC unidades) na Faixa hectares) UCs na
Reserva
14 8 57,1 6.524.709 4.657.726 71,4
Uso Sustentável Extrativista
Reserva
Uso Sustentável 2 2 100 959.409 959.409 100
Extrativista
Tabela 7: Atuação da The Nature Conservancy (TNC) nas unidades de conservação do Programa
ARPA por grupo e categoria do Sistema Nacional de unidades de conservação (SNUC)
Número de UCs (em Nº de UCs Área de UCs (em Área de
unidades) na Faixa hectares) UCs na
Categoria
Grupo Apenas de Apenas Faixa de
no SNUC Amazônia Amazônia
Faixa de Fronteira Faixa de Fronteira
Brasileira Brasileira
Fronteira (%) Fronteira (%)
Reserva
2 1 50 754.617 407.755 54
Biológica
Parque
2 1 50 1.170.148 819.908 70,1
Nacional
Proteção Integral
Parque
2 0 0 248.860 0 0
Estadual
Estação
1 1 100 77.794 77.794 100
Ecológica
Reserva
0 0 0 0 0 0
Uso Sustentável Extrativista
RDS 0 0 0 0 0 0
TOTAL 7 3 42,9 2.251.418 1.305.457 58
Fonte: Histórico Criação Fases I, II, III (ARPA,2019); relatórios anuais da TNC, disponíveis em: <
https://www.tnc.org.br/conecte-se/comunicacao/relatorios/>; notícias de mídia regional e nacional;
planos de Manejo das UCs, disponíveis em: < https://uc.socioambiental.org/>. Org. Cassio do Sul
Gonçalves, 2019.
Fonte: Histórico Criação Fases I, II, III (ARPA,2019); relatórios anuais das ONGs; notícias de mídia
regional e nacional; site oficial das ONGs; Planos de Manejo das UCs, disponíveis em: <
https://uc.socioambiental.org/>; IBGE, e Grupo Retis UFRJ. Org. Cassio do Sul Gonçalves, 2019.
Considerações Finais
A análise da incidência espacial da atuação das três grandes ONGs
conservacionistas internacionais permitiu observar a importância relativa da faixa de
fronteira no âmbito do programa ARPA. Praticamente em todas as unidades de
conservação analisadas a faixa de fronteira ganhou destaque. Essas escolhas
locacionais podem ser explicadas em parte pela relevância em área e número das
UCs da faixa de fronteira, assim como nos incentivos recentes, inclusive no que
concerne a recursos financeiro, às iniciativas de conservação transfronteiriça no
âmbito dos sistemas internacionais (Steiman, 2008). Os próximos passos dessa
pesquisa pretendem abarcar as outras áreas protegidas da Amazônia, para
descobrir se há uma preferência destas ONGs pela atuação nas UCs do ARPA ou
se sua atuação está disseminada por todas as UCs da Amazônia.
Referências Bibliográficas
Abstract: This paper aims to identify the relevance of the Border Region in the
Amazon Region Protected Areas Program (ARPA) and in the performance (its type
and its spatial distribution) of the three major international conservation NGOs: World
Wide Fund for Nature (WWF), Conservation International (CI) and The Nature
Conservancy (TNC) in the program's conservation units (UCs). ARPA was chosen
because it was identified as the main protected area conservation strategy in the
Brazilian Amazon. The methodology consists of the analysis of the types of actions
and spatial distributions of these actors according to a classification developed
throughout the research and also the intersection of this distribution with other
geographical aspects of the territory, such as the location of the indigenous lands.
The results pointed to the relevance of the Border Region both within the program
and in the choices of action made by the analyzed NGOs.
Graduando em Licenciatura em Geografia; Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ; e-mail:
cassiodosul@gmail.com
Introdução
Ao longo das últimas décadas, várias organizações conservacionistas
internacionais têm ativamente promovido e financiado a criação e a consolidação de
unidades de conservação (UCs) na Amazônia Brasileira e em sua faixa de fronteira
com os países vizinhos (Steiman, 2008). Trabalhos anteriores realizados por outros
integrantes do grupo Retis levantaram algumas das incidências geográficas da
atuação das três principais ONGs conservacionistas internacionais na região –
World Wild Fund for Nature (WWF), Conservation International (CI) e The Nature
Conservancy (TNC).
Este trabalho pretende identificar a relevância da faixa de fronteira no
Programa ARPA e na atuação (seu tipo e sua distribuição espacial) das três grandes
ONGs conservacionistas internacionais: WWF, CI e TNC nas UCs do programa. A
pesquisa ainda não possui elementos suficientes de análise para poder explicar o
motivo pelos quais as ONGs escolheram atuar em determinadas UCs em detrimento
de outras.
Lançado em 2002, o programa ARPA é o maior programa de conservação de
florestas tropicais do planeta, ele visa fortalecer o Sistema Nacional de unidades de
conservação (SNUC), através do aperfeiçoamento da gestão e da consolidação de
tais áreas na Amazônia Brasileira. O programa é dividido em três fases: a primeira
perdurou entre 2002-2010, a segunda entre 2010-2017 e a terceira, que começou
em 2014 deverá ser finalizada em 2039 (ARPA, 2019).
O ARPA é um programa do Governo Federal, coordenado pelo Ministério do
Meio Ambiente, cujo gerenciamento financeiro está a cargo do Fundo Brasileiro para
a Biodiversidade (FUNBIO). O programa é financiado por quatro grandes doadores
desde a primeira fase: o Global Environment Facility (GEF) – um fundo do Banco
Fonte: Histórico Criação Fases I, II, III (ARPA,2019), IBGE, DNIT, MMA e Grupo Retis UFRJ. Org.
Cassio do Sul Gonçalves, 2019.
Fonte: Histórico Criação Fases I, II, III (ARPA,2019), IBGE e Grupo Retis UFRJ. Org. Cassio do Sul
Gonçalves, 2019.
Reserva
43 18 41,9 12.706.610 6.939.352 54,6
Uso Sustentável Extrativista
Reserva Biológica 10 5 50 5 3 60
Subtotal 57 31 54,4 28 14 50
Das 117 UCs do Programa ARPA, 54 possuíram pelo menos uma ONG
atuando em seu território, em uma ou mais das categorias de atuação da tabela 3.
Isso demonstra que as ONGs, principalmente a WWF e a CI (ver figura 3, tabela 4 e
5), somadas, atuaram até então em quase metade dessas UCs. A WWF é uma das
principais doadoras do Programa ARPA, o que pode ajudar a explicar a sua maior
atuação. Mas a participação da CI não é pequena, principalmente na faixa de
fronteira (ver tabela 5).
Abaixo (tabela 3) tem-se as categorias de atuação para cada ONG, através de uma
classificação desenvolvida especificamente para este trabalho. Três tipos de
categorias de atuação foram desenvolvidas para destrinchar as diferentes formas de
atuar que as ONGs possuem no território das unidades de conservação (UCs).
Tabela 3: Atuação das três ONGs nas unidades de conservação do Programa ARPA por categoria de
atuação.
Veremos abaixo, para cada uma das ONGs, a atuação por grupo e categoria
de UC do SNUC. Começaremos por ordem de grandeza, iniciando com a WWF e
terminando com a TNC.
Tabela 4: Atuação da World Wild Fund for Nature (WWF) nas unidades de conservação do Programa
ARPA por grupo e categoria do Sistema Nacional de unidades de conservação (SNUC)
Reserva
14 8 57,1 6.524.709 4.657.726 71,4
Uso Sustentável Extrativista
Reserva
2 2 100 959.409 959.409 100
Uso Sustentável Extrativista
Tabela 7: Atuação da The Nature Conservancy (TNC) nas unidades de conservação do Programa
ARPA por grupo e categoria do Sistema Nacional de unidades de conservação (SNUC)
Reserva
0 0 0 0 0 0
Uso Sustentável Extrativista
RDS 0 0 0 0 0 0
TOTAL 7 3 42,9 2.251.418 1.305.457 58
Fonte: Histórico Criação Fases I, II, III (ARPA,2019); relatórios anuais da TNC, disponíveis em: <
https://www.tnc.org.br/conecte-se/comunicacao/relatorios/>; notícias de mídia regional e nacional;
Considerações Finais
Abstract: Based on the tension between the political frontier and the conservation of
shared ecosystems between two or more countries, we aim to highlight and discuss
the political-territorial nature of an environmentalist NGO's role in border UCs in
Brazil. The selection of WWF Brazil is due to its great relevance in the field of
conservation in the national scenario, being the Acre-Purus region one of its priority
areas. For this, we will use several sources, such as: management plan of some Pas;
information extracted from NGO reports and publications; institutional sites such as
the Chico Mendes Institute for Biodiversity Conservation, the Socio-Environmental
Institute and the Ministry of the Environment; and regional and national media news
on virtual portals. Finally, we intend to emphasize that the knowledge produced by
political geography is essential for the real understanding of environmental
conservation processes.
Key-words: Border, Environmental conservation, Political geography, NGO,
Protected area.
Graduado em Geografia, mestrando em Geografia, ambos pela Universidade Federal do Rio de
Janeiro. E-mail: riandequeiroz@gmail.com
Graduando em Geografia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. E-mail:
rhuansartore@gmail.com
Introdução
O movimento conservacionista, se apoiando em uma perspectiva
hiperglobalista, não raramente adota a suposição de existência de um mundo sem
fronteira ao argumentar que a distribuição dos ecossistemas mais vulneráveis não
respeitaria os limites internacionais estabelecidos sociopoliticamente, podendo, na
verdade, estes se tornarem um obstáculo para a conservação (STEIMAN 2008,
2011). Surgiria, dessa forma, a necessidade da participação de atores infra e
supranacionais para minimizarem tal efeito, sendo capazes de lidar com a
problemática ambiental sem serem circunscritos ou limitados pelos limites territoriais
do Estado Nação.
Nesse sentido, as grandes Organizações Não Governamentais (ONGs)
ambientalistas assumiriam considerável importância nesse contexto, por uma série
de motivos: o relativo recuo do Estado, o aprofundamento das demandas sociais, o
ganho de relevância da escala local e suas dimensões, assim como ONGs deterem
capacidade de relacionar diferentes Estados e organismos internacionais com esta
escala, como apontados por Lená (1997) e a capacidade de fornecer educação,
pesquisa e inovações tecnológicas, construir alianças estratégicas, articular as
necessidades dos usuários de recursos e até de formular políticas ambientais,
segundo Hall (1997).
Orientada por essa forma de entender o papel das ONGs na tensão existente
entre conservação e limites internacionais, a problemática do presente estudo parte
da premissa de que toda e qualquer discussão sobre conservação ambiental tem de
de gestão transfronteiriça por parte, também, dessas ONGs (IRVING, 2004; CUNHA,
2017).
Diante de tudo isso, temos como objetivo buscar entender a dimensão
político-territorial da atuação de uma ONG ambientalista em UCs fronteiriças no
Brasil (no caso, as ações do WWF Brasili em UCs do Acre), por meio de sua
influência na elaboração de planos de manejo, da escala de ação e parcerias
firmadas e da abrangência e amplitude territorial de suas ações. A seleção por esse
estudo de caso se deve a dois fatores, sobretudo: a organização ser uma das
maiores e mais significativas ONGs ambientalistas do país e pesquisas anteriores
evidenciarem que há uma forte convergência de empreendimentos
conservacionistas levados a cabo por ela no Acre (CUNHA, 2017 - figura 1).
Ano de criação Unidades da federação/ departamento País Área (ha) Plano de manejo
Parque Estadual Chandless 2004 Acre Brasil 695.303 2011
Parque Nacional Alto Purus 2004 Ucayali e Madre de Díos Peru 2.510.694 2005
Reserva Comunal Purus 2004 Ucayali e Madre de Díos Peru 202.033 2005
Estação Ecológica do Rio Acre 1981 Acre Brasil 77.500 2010
Fonte: STEIMAN, 2008
Por outro lado, o emprego dos valores da ONG não se dá apenas sobre o
território, mas também através do tempo, com a reprodução da orientação
conservacionista presente no documento nas fases seguintes do projeto. Podemos,
portanto, dizer que a ação do WWF Brasil na prática forjou, ao captar recursos e, ele
mesmo, fornecer o aparato técnico-científico e humano para a realização das
pesquisas, uma espécie de gestão ambiental própria, se forem tomadas como
referência as características elementares de negociação visando a tomada de
decisões e a prática política do planejamento, como propõe Pires do Rio e Galvão
(1996).
E esta visão particular de gestão ambiental parece estar mesmo diretamente
atrelada à escolha das unidades receptoras das intervenções da ONG. O WWF
Brasil lidera o Consórcio Amazoniar, grupo formado em 2003 por outras
organizações ambientalistasii que tem como propósito autodeclarado conservar as
florestas naturais e a biodiversidade e beneficiar as comunidades tradicionais do
sudoeste da Amazônia. Durante sua primeira fase, intitulada Conexão entre as
comunidades das florestas e áreas protegidas para o desenvolvimento sustentável
do sudoeste da Amazônia brasileira, entre os anos de 2003 e 2007, o grupo contou
com o apoio da Agência de Cooperação para o Desenvolvimento Internacional do
Governo dos EUA (USAID).
A área de atuação do Consórcio abrangia boa parte das UCs do Acre, entre
elas a ESEC Rio Acre, cujo plano de manejo começa a ser desenvolvido em 2005
com influência do WWF Brasil, e o PES Chandless, criado em 2004, ambos com
participação imprescindível do WWF Brasil. Ambos os casos parecem ter sido
resultado do eixo de ação de políticas de planejamento e gestão territorial, uma
proposta inovadora e ousada que buscava criar e desenvolver mecanismos de
governança territorial capazes de integrar terras indígenas e unidades de
conservação num extenso mosaico de áreas protegidas com rebatimento nos lados
peruano e boliviano da fronteira. O estímulo e patrocínio de planos de manejo para
UCs componentes desse mosaico parecem estar na esteira de um processo mais
largo e abrangente defendido e liderado pela ONG: uma agenda ambientalista capaz
diversas. Não obstante, isso não significou fuga da esfera estatal e nem maior
melhor atendimento das reivindicações da escala local (figuras 3 e 4). Por exemplo,
a ONG é um dos principais parceiros do governo federal no Programa de Áreas
Protegidas da Amazônia - o ARPA. Considerado o maior programa de conservação
de florestas tropicais do mundo, foi criado com a intenção de fortalecer e expandir o
SNUC na Amazônia e proteger seis milhões de hectares. O WWF Brasil apoia
técnica e financeiramente o programa, auxilia na supervisão do ARPA e presta
cooperação técnica na execução das ações, estando presente desde sua primeira
fase (2003-2009), na qual doou 11,5 milhões de dólares. Na prática, se estabelece
uma relação de interesse e mútua dependência: o Estado consegue ter acesso aos
volumosos financiamentos internacionais e faz uso da capacidade técnica e de
conhecimento da ONG que, por sua vez, se projeta e consolida sua posição de
destaque, amplia sua capacidade de mobilização e articulação no campo
conservacionista e recebe consentimento do Estado para atuar sobre aquelas UCs,
disseminando seus conceitos e práticas conservacionistas em ampla escala. Assim
como outras ONGs, mostra alto poder de percolação no território e habilidade para
desviar de entraves burocráticos (MEDEIROS, 2003), porém acaba utilizando
mecanismos institucionais construídos e utilizados pelo próprio Estado para levar
finalizar seus objetivos.
De fato, há uma leve preferência por parcerias oriundas da sociedade civil.
Porém predomina a internacionalização da ação, significando que comunidades e
demais ONGs locais podem não ser parceiros em potencial e ficam à margem do
processo.
Figura 3. Setor de origem dos parceiros nos projetos e escala de ação dos
parceiros não governamentais.
Órgão
multilateral
3
6
Não
governamental
Governamental 2
12
10 3
1
Fonte: organizado pelo autor a partir de levantamento de documentos institucionais e da mídia, 2017.
Nacional Regional
6 3
Local
5
6
Internacional
1
10
WWF Brasil firmou parceria com SOS Amazônia, SEMA, SEFE, PGE e ICMBio; já o
WWF Peru se alinhou a ONGs como Pronaturaleza e Ecopurus. Em ambos os lados
também colaboraram a USAID e o BID, grandes parceiros financeiros da ONG e
defensores de uma visão transfronteiriça da Amazônia, aplicando no local especifico
desse complexo de áreas protegidas transfronteiriças visão orientada pela
abordagem de uma gestão circunscrita à bacia do rio Purus, cujas nascentes são
presentes no território peruano e corre em direção a Amazônia brasileira.
Cabe ressaltar que nenhuma ONG tem respaldo e autoridade suficiente para,
sozinha, promover a criação de uma APT, sendo de total responsabilidade dos
Estados nacionais a decisão por implantá-la. No caso do Alto Purus, formal e
oficialmente não existe nenhuma APT, porém, na prática, funciona dessa forma uma
vez que compartilham valores, fontes de financiamento, apoiadores, diretrizes de
conservação, práticas de manejo e gestão ambiental, entre outros elementos.
Agindo exatamente no limite não circunscrito aos limites territoriais de fronteira
estabelecidos pelos estados, uma ONG como o WWF goza de mobilidade capaz de
fazer com que UCs separadas pelo limite internacional, mas que compartilhem as
mesmas características biofísicas e ecológicas, possam ser subordinadas a uma
mesma gestão conservacionista. Embora as ONGs defendam, idealmente, que uma
gestão transfronteiriça seria tanto mais útil quanto reduzisse os atritos entre o “meio
físico” e o “meio político” causado pela existência de fronteira política separando
ecossistemas, na prática pode-se perceber o aparecimento de outros conflitos e
sobreposição de camadas de disputa territoriais. Por exemplo, os planos de manejo
de ESEC Rio Acre e PES Chandless prescrevem decisões como vigilância e
fiscalização para tentar barrar a “utilização predatória dos recursos naturais” (WWF
BRASIL et al, encarte I, 2010, p. 1.8) por famílias oriundas de Santa Rosa e do
projeto de assentamento implantado no mesmo município no limite oeste do parque,
assim como os indígenas originados de “comunidades nativas situadas do outro lado
da fronteira” (idem).
Por fim, defendemos aqui que na fronteira, por meio dos projetos
transfronteiriços e das relações mantidas com ONGs do outro lado, podemos
observar a faceta mais expressiva de um projeto de construir territórios voltados para
a conservação. O WWF Brasil tem sua própria visão territorial da quando elabora
projetos pensados "de cima para baixo", sem, necessariamente, ter relação com as
ONGs locais e firmar alianças com os governos, nacionais ou internacionais,
Considerações finais
Buscou-se destacar aqui o caráter político-territorial da atuação do WWF
Brasil em UCs próximas ou tangentes ao limite internacional com o Peru.
Evidenciamos o envolvimento na confecção de documentos gestores e orientadores
de práticas de conservação; as parcerias estratégicas (ora sendo financiador e
executor de projetos oriundos do governo, ora se alinhando a grandes fundos de
financiamento e ONGs internacionais); a articulação entre o pretender da agenda
conservacionista global e a excepcionalidade das áreas alvo dos projetos; e o
exercício de pressão sobre agenda política ambiental, engendrando campanhas e
apoiando técnica e financeiramente a criação de UCs em territórios já
precedentemente destinado a formar um complexo de áreas protegidas do lado
brasileiro, de forma a se justapor com a do lado peruano como principais elementos
para sustentar essa colocação.
Não vemos maneira de tratar e discutir seriamente a temática de conservação
ambiental sem utilizar, ou ao menos perpassar, por elementos caros e
tradicionalmente trabalhados pela geografia política, como conflitos territoriais e
relações de poder, articulação entre escalas, relação entre atores e seus interesses,
aspectos demográficos e populacionais, entre outros. Fazer uso dessas ferramentas
conceituais e teóricas é útil para dar conta da complexidade da temática que
embora, no senso comum, tenha no meio biofísico e ecológico seu objeto, não deve
ser reduzida de nenhuma forma a apenas a eles. Antes, na verdade, exige um olhar
multidisciplinar e dinâmico capa de abarcar as intrínsecas e intrincadas relações
mantidas entre aquilo reconhecido como fenômeno “natural” e aquilo definido como
fenômeno “social”. Reconhecer o valor da biodiversidade, e se esforçar para
conservá-la, é necessário; porém, entender os mecanismos de financiamento, os
atores e agentes envolvidos na empreitada, os interesses expostos e latentes, as
Referências
BRASIL. Lei nº 9985, de 18 de julho de 2000. Regulamenta o art. 225, § 1o, incisos
I, II, III e VII da Constituição Federal, institui o Sistema Nacional de Unidades de
Conservação da Natureza e dá outras providências. Disponível em <
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9985.htm>. Acesso em junho/2016.
WWF Brasil, SOS Amazônia, ICMBio. Plano de manejo da estação ecológica. Rio
Acre. Brasília. 2010.
i
O WWF Brasil (Fundo Mundial para a Natureza) é uma organização não governamental brasileira
fundada em agosto de 1996. Constituída como uma associação sem fins lucrativos e organização da
sociedade civil autônoma tem por objetivo principal a conservação ambiental dos ecossistemas
existentes no país. Compõe a Rede WWF que, junto à The Nature Conservancy e à Conservation
Internacional, é considerada como uma das três maiores ONGs ambientalistas mundiais.
ii
Este grupo é formado pelo SOS Amazônia, Conselho Brasileiro de Manejo Florestal (FSC-Brasil),
Associação de Defesa Etno-Ambiental (Kanindé) e Centro de Trabalhadores da Amazônia (CTA).
Todas as informações presentes no artigo foram tiradas do encarte do Consórcio, disponibilizado
em:http://d3nehc6yl9qzo4.cloudfront.net/downloads/revista_amazoniar_jul_07_por.pdf, acesso em
26/06/2019.
iii
Com apoio do Banco de Desenvolvimento da Alemanha – KfW e Fundação Gordon and Betty
Moore.
iv
Esse complexo é formado pelas UCs Parque Estadual do Chandless, Reserva Extrativista
Cazumbá-Iracema, Floresta Nacional Macauã, Estação Ecológica Rio Acre, Reserva Extrativista
Chico Mendes e as Terras Indígenas Mamoadate, Cabeceira do Rio Acre, Alto Purus e Riozinho da
Liberdade, pelo lado brasileiro; e pelo Parque Nacional Alto Purus, Reserva Comunal Purus, Parque
Nacional Manu e o Santuário Nacional Megantoni do lado peruano, segundo a autora.
v
Por meio do programa de Desenvolvimento Sustentável do Estado do Acre.
Resumo: Este artigo tem como objetivo identificar os processos erosivos ocorridos
na região sul de Mato Grosso do Sul (MS), nos municípios Deodápolis, Glória de
Dourados, Ivinhema, Jateí, Novo Horizonte do Sul e Vicentina, com base em
trabalhos desenvolvidos anteriormente nestes municípios. Relacionar os processos
erosivos ocorridos na área às praticas de uso e ocupação da terra que ocorreram
com o processo de colonização desencadeado pela CAND (Colônia Agrícola
Nacional de Dourados) em 1950 e a SOMECO (Sociedade de Melhoramentos e
Colonização) em 1957. Desde seu início esse processo provocou o desmatamento
e ocupação de Áreas de Preservação Permanente – APP. Condições climáticas com
chuvas concentradas contribuíram para a formação de processo erosivo abrindo
ravinas e voçorocas. Predomina na região o Latossolo Vermelho Distrófico de
textura arenosa com alta susceptibilidade a erosão. Verificou-se em trabalho de
campo que os processos erosivos em curso não vêm sendo tratado de forma
adequada pelas autoridades.
Palavras-chave: Processos Erosivos, Degradação Ambiental, Impactos Ambientais,
CAND (Colônia Agrícola Nacional de Dourados), Áreas de Preservação Permanente
– APP.
Abstract: This article aims to identify the erosive processes that occurred in the
southern region of Mato Grosso do Sul (MS), in the municipalities of Deodápolis,
Gloria de Dourados, Ivinhema, Jateí, Novo Horizonte do Sul and Vicentina, based on
previous work in these municipalities. To relate the erosive processes that occurred
in the area to land use and occupation practices that occurred with the colonization
process triggered by the CAND (National Agricultural Colony of Dourados) in 1950
and the SOMECO (Society for Improvements and Colonization) in 1957. Since its
inception This process caused the deforestation and occupation of Permanent
Preservation Areas - APP. Climatic conditions with concentrated rainfall contributed
to the formation of erosive process opening ravines and gullies. The dystrophic Red
Latosol with sandy texture with high susceptibility to erosion predominates in the
region. In the fieldwork it was found that erosion processes in progress have not
been adequately addressed by the authorities.
Mestrando em Geografia (UFGD/FCH) e-mail: cleitoncabelo1@hotmail.com
** Profº Dr. em Geografia (UFGD/FCH) e-mail: pedrolima@ufgd.edu.br
Doutorando em Geografia (UFGD/FCH) e-mail: cleiton.geografo@yahoo.com.br
Resúmen: Este artículo tiene como objetivo identificar los procesos erosivos que
ocurrieron en la región sur de Mato Grosso do Sul (MS), en los municipios de
Deodápolis, Gloria de Dourados, Ivinhema, Jateí, Novo Horizonte do Sul y Vicentina,
con base a trabajos previos en estos municípios. Relacionar los procesos erosivos
que ocurrieron en el área con el uso de la tierra y las prácticas de ocupación que
ocurrieron con el proceso de colonización desencadenado por la CAND (Colonia
Agrícola Nacional de Dourados) en 1950 y la SOMECO (Sociedad de Mejoras y
Colonización) en 1957. Desde su inicio Este proceso provocó la deforestación y la
ocupación de las Áreas de Preservación Permanente - APP. Las condiciones
climáticas con precipitaciones concentradas contribuyeron a la formación de
procesos erosivos que abren barrancos y barrancos. El Latosol rojo distrófico con
textura arenosa con alta susceptibilidad a la erosión predomina en la región. En el
trabajo de campo se descubrió que las autoridades no habían abordado
adecuadamente los procesos de erosión en curso.
Palabras clave: Procesos erosivos; Degradación ambiental; Impactos ambientales;
CAND (Colonia Agrícola Nacional de Dourados); Áreas de preservación permanente
- APP.
Introdução
A região do sul em questão, apresenta uma série de fatores que contribuem
para os processos erosivos, entre eles a composição do solo, sendo o Latossolo
Vermelho Distrófico (LDv) o tipo de solo predominante desta região que apresenta
textura arenosa e o clima com chuvas concentradas no verão. A retirada da
cobertura vegetal agrava o processo de erosão, e o assoreamento, dos cursos
d‘água.
Os processos erosivos ocorridos na região sul de Mato Grosso do Sul, nos
municípios de Angélica, Deodápolis, Glória de Dourados, Jateí, e Vicentina foi uma
consequência do processo de colonização iniciado com a criação da CAND em 1943
e a sua efetiva implantação a partir de 1949 e que teve prosseguimento com a
Sociedade de Melhoramentos e Colonização – SOMECO nos casos dos municípios
de Ivinhema e Novo Horizonte do Sul (LIMA, 2006). Esse processo de colonização
provocou o desmatamento e a ocupação inadequada da terra que anteriormente
possuía uma grande área de Floresta Tropica.
Em seguida começam a surgir os primeiros espaços voltados à agricultura
pecuária e núcleos urbanos, até mesmo as áreas que eram protegidas por leis
Nos dias atuais e, no caso da erosão dos solos a ação antrópica é a mais
significativa, pois a ocupação desordenada do solo, com desmatamentos
indiscriminados, queimadas e extração mineral altera drasticamente suas
propriedades em muitos casos de forma irreversível.
Metodologia
O desenvolvimento do artigo se concretizou, em primeiro lugar, por uma
revisão bibliográfica ampla, buscando base cientifica para a sua elaboração, dessa
forma, organizamos questões pertinentes aos processos erosivos e suas
consequências com finalidade de entender a problemática do tema.
Entre os principais temas, foi abordado previamente o estudo sobre os
seguintes aspectos: embasamento geológico, relevo, solo, clima e vegetação e,
aspectos históricos da formação dos municípios relacionando a ação antrópica com
os fenômenos naturais existentes na região, buscando compreender alguns fatores
que contribuem para os processos erosivos existentes.
Em um segundo momento, foram realizados trabalho de campo na área em
estudo onde adquirimos os registros fotográficos aéreos com altura máxima de 120
metros, utilizando o drone DJI Spark, este equipamento possui câmera com
resolução máxima de 1920 × 1080, também fizemos uso de fotografias terrestres,
procurando mostrar a real situação de alguns dos processos erosivos atuantes,
tendo como objetivo a exposição da problemática em questão, ressaltando os
principais impactos ambientais existentes.
O presente artigo permitindo a interação dos pesquisadores entre a teoria e a
prática, facilitando dessa forma o entendimento da realidade existente, possibilitando
através de análises obter resultados consistentes no que se refere aos processos
erosivos da área em questão.
Resultados e discussão
Processos históricos da formação dos munícípios
O processo histórico da formação dos municípios da área de estudo iniciou-se
com a implantação da CAND - Colônia Agrícola Nacional de Dourados, com exceção
de Ivinhema e Novo Horizonte do Sul desmembrado deste que mais tarde tiveram
como origem a colonização desenvolvida pela a Sociedade de Melhoramentos e
Colonização - SOMECO.
Durante o processo de colonização começaram a surgir às primeiras vilas,
que em seguida foram emancipadas, tornaram-se cidades, esse processo ocorreu
As matas foram cedendo lugar à agricultura, estas por sua vez, realizadas
de forma intensiva no município, promoveu alterações na paisagem natural,
tanto no solo que passou a ser utilizado para o cultivo, como para a
vegetação nativa, que desapareceu em algumas áreas e em outras resta
pequenas proporções cedendo lugar aos cultivos agrícolas e à formação de
pastagens.
1
São estradas vicinais na CAND, que é composta de um travessão principal formando uma
rodovia e vinte e seis linhas transversais em forma de estrada vicinal. Estas linhas em relação ao
travessão estão dispostas no sentido leste-oeste por isso o termo nascente poente. O travessão está
no sentido norte-sul.
Considerações finais
Com base em pesquisa bibliográfica, pode-se inferir que os processos
erosivos nos municípios estudados foram intensificados a partir de sua colonização.
Tais práticas deixaram consequências irreversíveis até os dias atuais, com o
assoreamento de córregos, rios e nascentes. Com verificação em campo realizada
na área de estudo constata-se que os processos erosivos têm provocado grande
impacto ambiental, com prejuízo acentuado principalmente para o solo e os cursos
d´água.
Nos municípios em questão percebe-se que o poder público e a sociedade
em geral têm responsabilidade pelos processos erosivos em curso, sendo que a
ocupação desordenada da terra ocorreu sem o devido cuidado de ambas as partes,
tais como a abertura de loteamentos sem planejamento adequado e os
desmatamentos excessivo em áreas rurais que ocorreram no passado e continuam
a ocorrer.
Assim, consideramos que a sociedade deve estar atenta a degradação
ambiental, pois se observa mudanças consideráveis em um curto espaço de tempo,
principalmente nos leitos de córregos e rios, onde em alguns casos afeta de forma
significativa a vida aquática. Políticas de conscientização da população sobre a
importância e a preservação do meio ambiente, seria a forma mais eficaz para a
recuperação e a prevenção de áreas propicias a processos erosivos.
Referências