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Fernando Gabeira responde a questões sobre a

maconha em livro
Segue um artigo extraído do site da Folha, sobre o livro do
Fernando Gabeira que fala da Maconhae o primeiro capítulo deste
livro:

http://www1.folha.uol.com.br/folha/equilibrio/noticias/ult263u4313
.shtml

Fernando Gabeira responde a questões sobre a maconha em


livro

da Folha Online

Muito mais que apenas apresentar os prós e contras acerca da


maconha, o livro "A Maconha", da coleção "Folha Explica", procura
entender os motivos pelos quais se ataca ou se defende um hábito
disseminado pelo mundo inteiro.

Fernando Gabeira assina livro que explica o que é a maconha

No livro, cujo primeiro capítulo pode ser lido abaixo, Fernando


Gabeira discute também o papel social que a planta desempenhou
na escravidão e seu uso em rituais religiosos na selva amazônica.
Em linhas gerais, o livro responde às perguntas mais frequentes
recolhidas por Gabeira nos debates que participou em torno da
elaboração da política nacional de drogas. "As pessoas querem
saber, por exemplo, se a maconha é uma escada para outras
drogas, se provoca dependência física e psíquica, se causa perda
de neurônios e da memória, e se tem poder medicinal", diz
Gabeira.
Pessoalmente, Gabeira defende a legalização da maconha e seu
uso industrial mais amplo possível. "São 350 subprodutos
derivados da canabis", diz. A atual política nacional de drogas não
separa a maconha de outras drogas. Pela lei, o usuário não é preso,
mas arca com penas alternativas e multas.
Como o nome indica, a série "Folha Explica" ambiciona explicar os
assuntos tratados e fazê-lo em um contexto brasileiro: cada livro
oferece ao leitor condições não só para que fique bem informado,
mas para que possa refletir sobre o tema, de uma perspectiva atual
e consciente das circunstâncias do país.
"A Maconha"
Autor: Fernando Gabeira
Editora: Publifolha
Páginas: 80
Quanto: R$ 17,90
Onde comprar: nas principais livrarias, pelo telefone 0800-140090
ou pelo site da Publifolha
Dizer "maconha" é espalhar um rastro de discórdia. Há quem afirme
que ela destrói o cérebro e conduz ao crime. Há quem, como o
escritor Carl Sagan, a considere maravilhosa. Há os que duvidam,
os que ignoram, os que pesquisam e chegam a resultados
frontalmente antagônicos.
Nos primeiros meses de 2000, cientistas da Califórnia chegaram à
conclusão de que maconha dá câncer e cientistas ingleses
concluíram que maconha cura câncer(1) .
Enterrada num velho túmulo chinês, em forma de sementes na
tanga dos escravos negros ou de tecido no corpo de uma garota
egípcia, a maconha aparece em toda parte, mas ainda assim não há
acordo sobre ela. Há quem ache que surgiu há 8 mil anos; a revista
espanhola Cañamo (2) garante que foi há 5 mil. Talvez não seja
possível definir precisamente quando a maconha entrou na história
da humanidade; mas pode-se acreditar que tenha surgido há
muitos séculos, embora reconhecendo que em 3 mil anos de
imprecisão fumam-se milhões de baseados.
Em 525 d.C., as autoridades resolveram fazer grandes fogueiras
públicas da maconha no Cairo. Em 1999, autoridades brasileiras
queimaram toneladas de maconha diante das câmeras de TV. Isso
dá idéia de como é antiga esta ambivalência diante de uma planta:
uns querendo destruí-la, outros querendo cultivá-la. Do ponto de
vista da maconha, a humanidade deve parecer muito louca.
Se a Cannabis sativa fosse uma família, teria dois filhos. São
irmãos de sangue, com a diferença de que num deles os exames
detectam níveis mais altos de THC --o tetraidrocanabinol. O
cânhamo, que entra na produção de 20 mil produtos importantes
para a humanidade, tem um nível de THC inferior a 3%. A partir
daí, entra em cena sua irmã, a maconha, que produz toneladas de
bons e maus sonhos, com um teor de THC em torno de 6%. Na
maioria dos países, a plantação de cânhamo e de maconha é
igualmente proibida, um irmão pagando pelo outro, o cordeiro pelo
lobo.
Pensar que é ilegal plantar cânhamo nos Estados Unidos e que a
Constituição dos Estados Unidos foi escrita em papel de cânhamo
ajuda pelo menos a entender as grandes fogueiras que se fazem
periodicamente para destruir a canábis. Já foi assim com os livros,
com a diferença de que naquela época se queria matar a cultura e
na nossa querem matar uma planta --sem perceber que se trata,
também, de uma cultura, e não só de uma espécie vegetal que se
possa levar à extinção.
Nem sempre cânhamo e maconha foram proibidos numa mesma
época. No princípio do século 20, famílias norte-americanas se
dedicavam à cultura do cânhamo; ainda encontramos cortinas de
cânhamo no Nordeste brasileiro, e há referência de uma colônia
agrícola no Rio do Grande Sul dedicada à sua produção. (3)
O cânhamo foi pego nessa fábula do lobo e do cordeiro quase no
meio do século, a partir da década de 30. Dois fatores econômicos
e sociais devem ser levados em conta para essa inflexão histórica.
De um lado, a crise econômica; de outro, a presença crescente de
imigrantes mexicanos nos EUA, o que ofereceu ao magnata da
imprensa William Randolph Hearst a chance de estabelecer uma
relação entre os perigos da alteração da consciência e os do
excesso de mão-de-obra. Foi ele quem cunhou a palavra
marijuana, associando o medo de uma droga ao medo dos
imigrantes que cruzavam a fronteira.
Como sugere Jack Herer, no clássico The Emperor Wears No
Clothes, (4) essa campanha contra a maconha pode ser vista de
outro ângulo: o da guerra da indústria química e petrolífera contra
o cânhamo. De fato, essa tese se fortalece com o exemplo de
Henry Ford, que construiu um carro de fibra de cânhamo e iria
movê-lo com combustível tirado da semente do próprio cânhamo.
Era compreensível o embaraço que significava a existência de um
versátil recurso renovável, quando se preparava a arrancada do
petróleo como um produto estratégico para a humanidade.
O avanço da maconha sobre a juventude dos anos 60 teve peso na
determinação de mantê-la proibida, mas também de impedir que o
cânhamo saísse da marginalidade econômica a que foi relegado.
Esse período marca uma espécie de encontro da maconha com a
classe média, e observa-se uma mudança pendular naqueles que a
atacavam. Antes dos 60, os ataques concentravam-se na influência
da maconha entre os pobres e negros, abrindo-se com isso uma
linha de pesquisa sobre o elo entre consumo e criminalidade. Uma
linha bastante previsível, uma vez que não era difícil encontrar
vestígios do consumo de droga entre os pobres, que além disso
estavam desempregados e viviam uma atmosfera de desagregação
familiar --enfim, um conjunto de variáveis que persiste até hoje,
em muitos pontos do planeta.
A ascensão social da maconha implicou numa guinada, pois era
descrita como uma droga que impulsiona o crime e agora se
tornava um fator de apatia e desmotivação. Grandes dirigentes
mundiais, como Bill Clinton (que "não tragou") e Fernando
Henrique (que não gostou), confessaram ter experimentado a
planta. As atenuantes que apresentam servem para mostrar como
se toleram os excessos de uma época, desde que desvencilhados
deles para cumprir as funções sociais.
As teses de que a maconha contribui para desmotivar as pessoas
foram contestadas por pesquisas. Mais uma vez, observando
pessoas num contexto cheio de variáveis complexas, chega-se a
conclusões opostas. O Grande Livro da Cannabis, de Rowan
Robinson, (5) cita um trabalho feito na Jamaica, demonstrando
que filhos de mães que fumam maconha têm um desempenho
melhor em dez das 14 características definidas na pesquisa, tais
como vivacidade, robustez e orientação.
Num livro de defesa da maconha, Marijuana not Guilty as Charged
(6), David R. Ford cita o caso de um jovem trabalhador que era
extremamente produtivo e deixou de sê-lo quando parou de fumar.
Não confiar cegamente em pesquisas vale tanto para as que são
contra quanto para as que são a favor. Resta a observação pessoal
como um ponto de referência. Os efeitos mais comuns --
relaxamento, alteração do humor, redução da agressividade-- nos
autorizam a afirmar que a maconha leva a um estado
contemplativo. Independentemente da presença de espiritualidade,
é uma experiência humana para muitos indispensável.
Há gente, no entanto, que fuma o mesmo baseado diante do
mesmo pôr-do-sol e reclama que nada de novo acontece. A
maconha em si não é a resposta para isso. Ela tem de ser
procurada no cotidiano da pessoa, em como enfrenta seus
desafios, como capitula ou avança em suas decisões íntimas.
É compreensível que se tome a maconha como um sujeito com
responsabilidade própria, capaz de ser julgado por seus atos ou
contra quem devemos fazer uma guerra. A maconha tem mil e uma
utilidades. A milésima primeira é, precisamente, servir de bode
expiatório para nossas dificuldades de encarar o real.
Essa busca de estabelecer a linha divisória entre a maconha e as
pessoas, tentando evitar que uma substitua as outras, tornou-se
mais desafiadora a partir de 1992. Nesse ano, o cientista William
Davane identificou um neurotransmissor com as características dos
canabinóides, produzido pelo cérebro e dotado de efeitos idênticos
aos do THC. Rigorosamente, se reduzimos a maconha ao seu efeito
psicoativo, como fazem os seus adversários, pode-se afirmar que
todos têm um pouco de maconha na cabeça, independentemente
de fumarem ou não. (7)
A escolha do nome do neurotransmissor descoberto por Davane
pode nos levar mais longe: anandamite, da palavra em sânscrito
ananda, que significa êxtase. Já se pode dizer que existe uma
concentração de receptores de canabinóides nas áreas do cérebro
dedicadas a certos processos mentais, como memória, cognição e
criatividade.
Uma descoberta desse tipo pode ser integrada aos estudos sobre
maconha e espiritualidade, uma vez que a relação entre plantas e
consciência religiosa é tão profunda que alguns autores radicais
afirmam que sem plantas alucinógenas não teria emergido o
sentimento místico.
É razoável admitir que os seres humanos tenham escolhido o
segredo das plantas como uma das maneiras auxiliares de explorar
o mistério divino. Elas vivem enraizadas na terra e se alimentam
dos céus. Obras que traçam a história da planta, como o Grande
Livro da Cannabis, (8) já mencionado, localizam a presença da
maconha nas principais religiões antigas, ora utilizada
secretamente por sacerdotes que temem sua difusão entre as
massas, ora como um instrumento ao alcance de todos os
seguidores.
As referências mais antigas da relação entre maconha e religião se
encontram na Índia. Na religião hindu, a maconha está associada a
Shiva, a mais paradoxal e completa figura de trindade. Shiva teria
brigado com a família e estaria vagando nos campos quando, para
buscar abrigo do sol, parou sob uma planta de canábis, esmagou
suas folhas e comeu. Um documento colonial inglês sobre a
maconha na Índia (Relatório da Comissão Indiana Para Drogas do
Cânhamo) (9) afirma que a crença hindu era de que aquele que
bebe bangue (o nome da canábis) bebe Shiva. "A alma em que o
espírito do bangue encontra morada desliza para um oceano do
Ser, livre do extenuante círculo de matéria em que se cegou."
O mesmo documento, um apêndice do relatório escrito por J.M.
Campbell, adverte os colonizadores: "Proibir ou mesmo restringir
seriamente o uso de uma erva tão benigna quanto o cânhamo
causaria sofrimento e irritação generalizados e, para amplos grupos
de ascetas venerandos, uma cólera profundamente arraigada. Seria
roubar do povo um consolo no desconforto, uma cura na doença,
um guardião cuja compassiva proteção os livra de ataques de
influências malignas e cujo grande poder faz do devoto um
vitorioso, superando os demônios da fome e da sede, do pânico, do
medo, do feitiço de Maia ou da matéria e da loucura, capaz de
meditar em paz no Eterno, até que o Eterno, possuindo-o corpo e
alma, o liberte da obsessão do eu e o receba no oceano do Ser".
Essas crenças o devoto maometano partilha plenamente. Como seu
irmão hindu, o faquir muçulmano reverencia o bangue como aquele
que prolonga a vida, que liberta das cadeias do eu. O bangue traz a
união com o Espírito Divino. Tomamos bangue, e o mistério "Eu sou
Ele" fica claro. "Tão grande resultado, tão minúsculo pecado."
Para quem não se interessa por termos como espírito divino,
oceano do Ser, feitiço de Maia e outras expressões da religião
oriental, abre-se um outro caminho fascinante: o de comparar
Shiva e a canábis e constatar que, às vezes, parecem feitos um
para o outro. Wendy Doniger escreveu um longo ensaio mostrando
que se tratava de uma divindade ao mesmo tempo erótica e
ascética, combinando duas pulsões essenciais e antagônicas no ser
humano. (10) As inúmeras versões do mito de Shiva servem para
confirmar sua imprevisibilidade. Em quase todas as imagens que
aparece, está com o pênis ereto. Alguns de seus seguidores vêem
nisso um sintoma de pureza, pois a ereção indica que ele não
verteu seu sêmen sagrado. Em certos momentos, entretanto,
aparece dizendo que busca uma parceira que se entregue à
meditação, como um grande mestre, mas que seja amante lasciva
na cama do casal.
Essa ambivalência divina parece ter sido transmitida à maconha.
Ela é acusada por seus adversários de reduzir a performance sexual
e por seus defensores de ser uma erva afrodisíaca. Qualquer
cientista sensato trabalharia a hipótese de que a maconha é
inócua, logo pode ser considerada ora afrodisíaca, ora redutora,
dependendo da vontade do observador.
Há, no entanto, um certo consenso de que a maconha retarda o
orgasmo, e nesse ponto ela se mostra digna de sua associação
mítica com Shiva. Muitos religiosos que seguem a linha kundalini
da ioga, utilizando ou não a canábis, transformam o sexo numa
relação ritual e longa, que às vezes dura todo um dia. Alguns pura
e simplesmente retardam o orgasmo por horas. Outros negam o
orgasmo como objetivo final e o substituem por uma sensação de
unidade com o outro. Em ambos os casos, podemos imaginar Shiva
com seu pênis ereto e lembrar a ambivalência da cultura hindu,
para a qual a ereção simboliza também a castidade.
O objetivo deste livro é apresentar os debates mundiais,
conclusivos ou não, sobre a canábis, respondendo às principais
perguntas surgidas nas dezenas de encontros realizados para tratar
do tema em universidades e escolas secundárias do Brasil. No
primeiro capítulo, mostra-se como a maconha inspirou inúmeros
mitos, alguns deles em contradição com os dados apresentados
pela experiência científica. No segundo, tenta-se apresentar um
histórico da visão brasileira sobre a maconha, sua chegada ao país
e seu uso entre os setores populares do Nordeste. Num terceiro
momento, busca-se situar a discussão política, procurando mostrar
o que há de comum e singular na experiência dos grupos que lutam
pela reforma da legislação proibitiva da canábis. Finalmente, um
esforço mais árduo ainda, o de tentar descrever o efeito psíquico da
maconha, através de fragmentos de escritores e registros de
cientistas e pesquisadores.
1 "Maconha Pode Combater Câncer no Cérebro". O Globo, 29 fev.
2000.
2 Gaspar Fraga, Cañamo Especial 2000 - www.canamo.net
3 "Escravos Plantavam Maconha no RS em 1788". Zero Hora, 23
jun. 1996.
4 Jack Herer, The Emperor Wears No Clothes. San Francisco: Hemp
Publishing, 1993.
5 Rowan Robinson, O Grande Livro da Cannabis. Rio de Janeiro:
Zahar, 1999.
6 David R. Ford, Marijuana not Guilty as Charged. San Francisco:
Good Press, 1997; p. 119.
7 Robinson, op. cit., p. 47.
8 Idem.
9 Idem, p. 55.
10 Wendy Doniger, Asceticism and Eroticism in the Mythology of
Siva. London: Oxford University Press, 1981.

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