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Ficha Catalográfica elaborada pela UNITINS.

Bibliotecária – Rozangela Martins da Silva CRB2/1019

Fundação Universidade do Tocantins (UNITINS)


F981p Administração / Fundação Universidade do Tocantins; EADCON.
Palmas: Editora Educon, 2008.
544 p.: il.

Nota: Caderno de Conteúdo e Atividades 2º período de


­Administração (apostila)

1. Administradores – Formação. 2. Administração – Estudo e Ensino.


I. EADCON. II. Título.

CDD 378
22. ed.
Direitos desta edição reservados a UNITINS.
É proibida a reprodução total ou parcial desta obra sem autorização expressa da UNITINS.

FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE DO TOCANTINS


Reitor
Humberto Luiz Falcão Coelho
Vice-Reitor
Lívio William Reis de Carvalho
Pró-Reitor de Graduação
Galileu Marcos Guarenghi
Pró-Reitor de Pós-Graduação e Extensão
Claudemir Andreaci
Pró-Reitora de Pesquisa
Antônia Custódia Pedreira
Pró-Reitora de Administração e Finanças
Maria Valdênia Rodrigues Noleto
Diretor de EaD e Tecnologias Educacionais
Marcelo Liberato
Coordenador Pedagógico
Geraldo da Silva Gomes
Coordenador do Curso
André Pugliese da Silva
Sumário
Teoria e Gestão das Organizações..................................................................5

Aula 1 – Administração e Contexto Organizacional................................................... 11

Aula 2 – Estrutura organizacional............................................................................. 23

Aula 3 – Processo decisório..................................................................................... 39

Aula 4 – Organizações de aprendizado................................................................... 45

Aula 5 – O Modelo Japonês de Administração e a Gestão da Qualidade..................... 53

Aula 6 – Grandes áreas: gestão de pessoas e marketing............................................ 69

Aula 7 – Grandes áreas: produção e finanças........................................................... 79

Metodologia da Ciência e da Pesquisa..........................................................91

Aula 1 – O conhecimento e suas principais modalidades............................................ 97

Aula 2 – O conhecimento científico e o método....................................................... 103

Aula 3 – Pós-modernidade e conhecimento: a interdisciplinaridade e a


multirreferencialidade.............................................................................. 117

Aula 4 – A pesquisa científica:conceitos e modalidades............................................ 123

Aula 5 – Tipos de registro e apresentação de trabalhos acadêmicos ......................... 137

Aula 6 – O projeto de pesquisa: normas de elaboração .......................................... 155

Aula 7 – Artigo e TCC: normas de elaboração........................................................ 163

Matemática Aplicada..................................................................................179

Aula 1 – Operações fundamentais e cálculo algébrico.............................................. 185

Aula 2 – Regra de três, porcentagem e função do primeiro grau................................ 195

Aula 3 – Função e equação do segundo grau, função exponencial e logarítmica......... 211

Aula 4 – Progressões aritméticas e geométricas, demanda e oferta de mercado.......... 225


Aula 5 – Preço de equilíbrio, receita total, custo total e ponto de nivelamento.............. 233

Aula 6 – Lucro total, estudo dos limites de funções e derivada................................... 239

Aula 7 – Máximos e mínimos de funções e estudo das integrais................................. 255

Tecnologia da Informação e da Comunicação..............................................263

Aula 1 – Fundamentos de sistemas de informação.................................................... 269

Aula 2 – Fundamentos de computação.................................................................... 283

Aula 3 – Redes e Telecomunicações........................................................................ 291

Aula 4 – Gestão da Tecnologia da Informação........................................................ 305

Aula 5 – Gestão do conhecimento.......................................................................... 315

Aula 6 – Downsizing e Reengenharia..................................................................... 323

Aula 7 – Gestão de Projetos.................................................................................. 333

Psicologia Organizacional...........................................................................355

Aula 1 – A Psicologia e sua evolução como ciência.................................................. 361

Aula 2 – Psicologia Aplicada às Organizações........................................................ 375

Aula 3 – O significado e re-significado do trabalho para o Homem............................ 385

Aula 4 – O comportamento organizacional e o seu contexto..................................... 393

Aula 5 – Motivação, atitudes e liderança: fatores influenciadores do


comportamento organizacional................................................................. 403

Aula 6 – O adoecer no trabalho e os conflitos organizacionais................................. 417

Aula 7 – Eficiência interpessoal no ambiente organizacional..................................... 437

Direito Comercial e Societário......................................................................447

Aula 1 – O que é Direito Comercial?...................................................................... 453

Aula 2 – Das espécies de sociedade comercial........................................................ 465

Aula 3 – Da sociedade anônima e da sociedade limitada......................................... 473

Aula 4 – Da Teoria Geral dos Contratos e dos Contratos em Espécie.......................... 489

Aula 5 – Dos Títulos de Crédito.............................................................................. 509

Aula 6 – Da Propriedade Industrial......................................................................... 523

Aula 7 – Da atividade econômica à luz da Constituição Federal................................ 535


EQUIPE UNITINS

Organização de Conteúdos Acadêmicos


1ª versão: Jonas Roberto Berger
André Pugliese da Silva
2ª versão: André Pugliese da Silva

Coordenação Editorial
Maria Lourdes F. G. Aires

Assessoria Editorial
Marinalva do Rêgo Barros Silva

Assessoria Produção Gráfica


Katia Gomes da Silva

Revisão Didático-Pedagógica
Marinalva do Rêgo Barros Silva

Revisão Lingüístico-Textual
Marinalva do Rêgo Barros Silva

Revisão Digital
Helena Carolina Costa e Lima Prestes

Projeto Gráfico
Douglas Donizeti Soares
Irenides Teixeira
Katia Gomes da Silva

Ilustração
Geuvar S. de Oliveira

Capa
Igor Flávio Souza

Equipe Fael
Créditos

Coordenação Editorial
Leociléa Aparecida Vieira

Assessoria Editorial
William Marlos da Costa

Revisão
Juliana Camargo Horning
Lisiane Marcele dos Santos

Programação Visual e Diagramação


Denise Pires Pierin
Kátia Cristina Oliveira dos Santos
Rodrigo Santos
Sandro Niemicz
William Marlos da Costa
Caro estudante,
seja bem-vindo a mais um semestre de nosso curso. Espero que o primeiro
semestre tenha sido muito proveitoso e que tenha ficado um gostinho de quero
mais. Estudaremos aqui a administração e seu contexto atual, as funções da
administração e do administrador contemporâneo e também falaremos das
habilidades necessárias a uma gestão eficaz.
Como estamos ainda no início de nossa construção, conheceremos
as bases da administração e sua estrutura, pois somente um bom alicerce

Apresentação
garante que o prédio cresça com segurança, certo? Estudaremos questões
fundamentais aos nossos dias: centralização e descentralização. O que
fazer? Que decisão tomar? Vamos ver, vamos ver.
Falando em decisão, estudaremos o escopo do processo decisório nas
organizações, reconhecendo o ambiente e as necessidades nele inseridas.
Ainda nas abordagens contemporâneas, conheceremos o conceito e as aplica-
ções das organizações de aprendizagem, e no final você deve se responder:
será que a minha é assim? Será que pode se transformar em uma?
Nossa viagem é longa, e atravessamos o planeta para chegarmos ao Japão
e conhecermos o modelo japonês de administração, estudando e entendendo
suas raízes históricas e as influências geradas em toda a indústria ocidental.
Nessa aula, vamos fazer uma reflexão confuciana: tudo o que ouço, esqueço;
tudo o que vejo lembro; tudo o que faço, aprendo. O que isso quer dizer? Vamos
conhecer algumas ferramentas que nos auxiliarão no dia-a-dia, vamos colocar a
mão na massa, implementando mudanças possíveis em nossas organizações.
Por fim, vamos mergulhar nas quatro grandes áreas da empresa –
Gestão de Pessoas, Marketing, Produção e Finanças, conhecendo, de forma
detalhada, as ações e tarefas desenvolvidas, as particularidades e termos
que envolvem cada uma delas.
Um forte abraço
Prof. André Pugliese
EMENTA
Administração e o contexto organizacional. Estrutura organizacional.
Funções administrativas. A dinâmica do processo decisório. Tendências em
administração.

OBJETIVOS
Plano de Ensino

• Conhecer a administração em seu contexto atual, e as estruturas


organizacionais.
• Entender o escopo do processo decisório nas organizações e o
processo de aprendizagem nas organizações.
• Analisar o modelo japonês de administração, identificando a sua
influência em termos globais.
• Conhecer as quatro grandes áreas da empresa: gestão de pessoas,
marketing, produção e finanças.

CONTEÚDO PROGRAMÁTICO
• Administração e contexto organizacional
• Estrutura organizacional
• Processo decisório
• Organizações de aprendizagem
• Modelo japonês de administração e gestão da qualidade
• Grandes áreas da empresa: gestão de pessoas, marketing,
produção e finanças
BIBLIOGRAFIA BÁSICA
DRUCKER, Peter F. Profissão de Administrador. São Paulo: Thomson Learning,
2001.
MAXIMIANO, Antonio Cesar Amaru. Teoria geral da administração: da escola cien-
tífica à competitividade na economia globalizada. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2000.
TANURE, Betânia. Estratégia e Gestão Empresarial: construindo empresas brasi-
leiras. São Paulo: Campus, 2004.

BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR
DRUCKER, Peter F. Prática da Administração de Empresas. São Paulo: Thomson
Learning, 2003.
OLIVEIRA, Djalma de P. R. de. Excelência na Administração Estratégica. 4. ed.
São Paulo: Atlas, 1999.

uNITINS • ADMINISTRAÇÃO • 2º PERÍODO  9


Aula 1 • TEORIA E GESTÃO DAS ORGANIZAÇÕES

Aula 1
Administração e Contexto
Organizacional

Objetivos
Esperamos que, ao final desta aula, você seja capaz de:
• reconhecer os diferentes níveis da organização;
• compreender a importância da eficiência e da eficácia para as organi-
zações, e as suas diferenças.

Pré-requisitos
Para que você compreenda bem o conteúdo dessa aula, é importante relembrar
os princípios da Administração Científica e da Teoria Clássica da Administração,
bem como os diferentes níveis hierárquicos visualizados nas organizações. Esse
conteúdo foi abordado na disciplina Teoria Geral da Administração.

Introdução
Vou pedir permissão e perguntar: você já sabe, efetivamente, por que esco-
lheu estudar Administração? Se você ainda não sabe bem, não se preocupe,
pois o objetivo desta disciplina é justamente levá-lo a um melhor entendimento
da profissão que resolveu abraçar.
De forma bem generalista, podemos dizer que o objetivo de qualquer pessoa que
escolha a Administração como profissão é melhorar o desempenho de organizações,
e, conseqüentemente, seus resultados. Mas como poderia fazer isso? Melhorando os
processos da organização, seu modus operandi. Vamos clarear isso?
Você já foi mal atendido em uma loja, já demorou para conseguir um docu-
mento em uma repartição pública, já comprou um produto que não correspondeu às
expectativas? Certamente que sim, e vou parar por aqui para você não se lembrar
das empresas com as quais tais episódios aconteceram e ficar nervoso, ok?
Historicamente, a Administração é abordada como um conjunto de funções,
uma série de papéis e aplicação de habilidades específicas. Todas elas estão rela-
cionadas ao comportamento do administrador e são dependentes uma das outras.
Teoricamente, como vimos desde o início de nosso curso, elas fundamentam o

uNITINS • ADMINISTRAÇÃO • 2º PERÍODO  11


Aula 1 • TEORIA E GESTÃO DAS ORGANIZAÇÕES

exercício de nossa função, mas é necessário que observemos bem o contexto das
organizações, pois esses papéis têm se transformado nos últimos tempos.
Segundo Silva (2001, p. 5), “uma teoria é um conjunto de conceito de idéias
que explica e prediz fenômenos sociais e físicos”.
Mas será que a prática da Administração tem muito a ver com suas teorias?
Por que tanta teoria é sempre uma pergunta recorrente, mas as teorias consti-
tuem-se a base do entendimento e do alicerce do desenvolvimento de nossas
ações, de nossas decisões. Vamos ler mais sobre isso?

1.1 Teoria + Prática


Comumente vemos o seguinte paradoxo: teoria versus prática, certo? Nosso
objetivo aqui, como o próprio nome da disciplina sugere, é abordar as teorias,
relacionando-as à prática da administração, ressaltando a importância do conhe-
cimento teórico da administração, para o entendimento situacional e contextual
das organizações.
Algumas das teorias estudadas até aqui foram desenvolvidas a partir da obser-
vação de aspectos relativos à gestão das organizações, advindas da experiência
e do desenvolvimento de ações práticas. Por outro lado, temos também teorias que
se desenvolveram a partir de métodos científicos, o que lhes confere um caráter
mais adequado, em termos da consideração da Ciência da Administração.
A partir da implementação de novas teorias, o profissional poderá identificar
novas perspectivas de observação, propondo, inclusive, novas formas de se pesquisar
um objeto, levando a novos conhecimentos que enriqueçam os já existentes.
A figura a seguir representa a fusão e o relacionamento entre as teorias e a
prática administrativa. Veja como fica claro!

Figura 1: Teorias e prática administrativa

Fonte: adaptado de Silva (2001, p. 5).

12  2º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • UNITINS


Aula 1 • TEORIA E GESTÃO DAS ORGANIZAÇÕES

1.2 Conceitos de Administração


É sempre importante conhecermos, de modo aprofundado, conceitos que
nos sejam basilares, certo? Nesse sentido, vamos conceituar Administração?
Segundo Silva (2001), a administração é relacionada com o alcance de
objetivos, por meio do esforço de outras pessoas. Simples, mas objetiva. Para
ajudar nossa conceituação, vejamos a contribuição de grandes estudiosos da
ciência, relacionado-as às escolas (teorias) correspondentes:
• Escola Funcional (Abordagem Clássica) – segundo Terry, citado por Silva
(2001), administração é um processo distinto, que consiste no planeja-
mento, organização, atuação e controle, para determinar e alcançar os
objetivos da organização, pelo uso de pessoas e recursos.
• Escola das Relações Humanas (Abordagem Humanística) – para Appley,
citado por Silva (2001), administração é o alcance de resultados, por
meio dos esforços de outras pessoas.
• Escola da Tomada de Decisão – de acordo com Drucker, citado por
Silva (2001), administração é, simplesmente, o processo de tomada de
decisão e o controle sobre as ações dos indivíduos, para o expresso
propósito de alcance de metas pré-determinadas.
Ainda segundo Silva (2001, p. 6), a partir das muitas definições possí-
veis – respeitando-se a questão temporal da análise – é possível a definição
do seguinte conceito: “Administração é um conjunto de atividades dirigidas à
utilização eficiente e eficaz dos recursos, para alcançar um ou mais objetivos ou
metas organizacionais”.
Graficamente, a definição pode ser assim demonstrada:

Fonte: adaptado de Silva (2001, p. 7).

uNITINS • ADMINISTRAÇÃO • 2º PERÍODO  13


Aula 1 • TEORIA E GESTÃO DAS ORGANIZAÇÕES

1.3 Aspectos atemporais da administração


Em qualquer atividade estruturada, a administração se faz presente, inde-
pendentemente do caráter e dos objetivos da organização. Sob este prisma,
podemos afirmar que, em qualquer nível da organização (assunto que aborda-
remos com maior profundidade a seguir), temos processos de gestão.
Para essa análise, não há necessidade de nos preocuparmos com o momento,
ou seja, o tempo em que ela ocorre. Qualquer organização, em sua essência,
possui as seguintes características em relação às atividades administrativas,
segundo Silva (2001):
a) a administração é propositada: complementação de atividades com outras
pessoas e por elas, com o uso adequado dos recursos disponíveis;
b) a administração é concernente com idéias, coisas e pessoas: orientação
de metas e foco na ação para alcance dos resultados administrativos/
gerenciais;
c) a administração é processo social: processo em que as ações adminis-
trativas são principalmente atinentes às relações entre as pessoas;
d) a administração é uma força coordenada: coordenação de esforços de
empregados, cada um com seus próprios valores e aspirações, em um
programa organizacional;
e) a administração é concernente com esforços de equipe: o alcance de
certos objetivos é mais fácil por uma equipe do que por um indivíduo
trabalhando sozinho;
f) a administração é uma atividade: que exige discernimento, para distinção
dos conhecimentos e habilidades exigidas para o seu desempenho;
g) a administração é um processo composto: pelas funções (planejamento,
organização, direção e controle) que não podem ser desempenhadas
de maneira independente, pois a realização de uma delas interfere
nas demais;
h) a administração age como força criativa e revigorante na organização:
o resultado da atividade, em algumas situações, é maior do que a soma
total dos esforços colocados pelo grupo; esta sinergia, em resumo, provê
a vida da organização;
i) a administração é uma disciplina dinâmica: as funções administrativas são
orientadas para o crescimento organizacional, não sendo passivas, mas de
comportamento ajustável e adaptável às necessidades desse crescimento;
j) a administração é intangível: é uma força invisível, cuja presença é
evidenciada pelos resultados dos seus esforços, que são, por exemplo,
ordenação, saídas adequadas de trabalho, clima de trabalho satisfa-
tório, satisfação pessoal dos funcionários, etc.

14  2º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • UNITINS


Aula 1 • TEORIA E GESTÃO DAS ORGANIZAÇÕES

1.4 Princípios da administração


Um princípio nada mais é do que uma base de conhecimento que indica e
explica os resultados, a partir da aplicação de determinado princípio. Segundo
Silva (2001, p. 8), princípio é “uma afirmativa básica ou uma verdade funda-
mental que provê entendimento e orientação ao pensamento e à prática, na
tomada de decisões”.
Na administração, os princípios ajudam o gestor a pensar e agir sobre
um determinado problema, sobre uma determinada questão. Segundo Massie,
citado por Silva (2001), os princípios são considerados aproximações da gene-
ralização, a partir da experiência, não sendo, portanto, um conjunto de regras
rígidas e inflexíveis. Para Massie, os princípios são:
a) dinâmicos: são flexíveis por natureza e estão continuamento mudando;
b) generalizações: não podem ser estabelecidos tão rigorosamente como
os das ciências físicas: seres humanos se comportam mais erraticamente
do que fenômenos físicos;
c) relativos: são relativos e não leis absolutas que possam ser aplicadas
cegamente em todas as situações;
d) inexatos: são relacionados ao caos e procuram trazer ordem a ele, regu-
lando o comportamento humano em qualquer situação;
e) universais: a maioria dos princípios administrativos pode ser aplicado
em qualquer tipo de organização.
Segundo Terry, citado por Silva (2001), a utilidade dos princípios se baseia
na premissa de que eles provêem conduta eficiente. A partir da aplicação dos
princípios da administração, erros básicos e problemas comuns podem ser
evitados e/ou devidamente resolvidos pelos gestores.
Sendo assim, será que você, ao aplicar os princípios da administração,
poderá ajudar a sua organização no desenvolvimento das atividades, pode
conduzi-la rumo ao sucesso? Claro que sim, e por isso aproveito, mais uma vez,
para elogiar a sua escolha pela carreira da Administração.
De acordo com Terry, citado por Silva (2001), os princípios ajudam as orga-
nizações a:
a) aumentar a eficiência: os princípios ajudam no pensamento e nas ações;
b) cristalizar a natureza da administração: os princípios consolidam o sempre
crescente conhecimento e pensamento no campo da administração;
c) melhorar a pesquisa em administração: a administração trata com seres
humanos, cujo comportamento é bastante imprevisível, e os princípios
ajudam pela generalização dos testes de comportamento, entendendo e
predizendo as ocorrências futuras;
d) alcançar metas sociais: os princípios administrativos desempenham um papel
importante na melhoria da qualidade e do padrão de vida das pessoas.

uNITINS • ADMINISTRAÇÃO • 2º PERÍODO  15


Aula 1 • TEORIA E GESTÃO DAS ORGANIZAÇÕES

Você lembra quem foi o estudioso da administração (que não era adminis-
trador) que primeiro definiu os princípios de nossa ciência? Quem respondeu
Fayol acertou, parabéns! Ele foi realmente o primeiro a definir princípios para
a administração, bem como as funções básicas da empresa e do administrador
(planejamento, organizacão, coordenação, comando e controle). Por acaso,
esse é o nosso próximo assunto.

1.5 Funções da administração


As funções da administração são as atividades básicas a serem desempenhadas
pelos administradores, para que a organização possa alcançar os objetivos propostos.
Eu sei que não seria necessário, mas vamos relembrar?
• Planejamento: função responsável pela determinação dos objetivos/
metas que direcionarão a organização para o futuro, bem como os
recursos necessários para a sua consecussão.
• Organização: função no qual são designadas as tarefas, seus processos e a
ligação entre as diversas atividades dos departamentos e da organização.
• Direção: função responsável pela influência necessária, para que as
pessoas possam desempenhar seus papéis com a máxima eficácia,
energia, motivação e comprometimento.
• Controle: função que se encarrega da comparação entre o que foi plane-
jado e os resultados efetivamente alcançados.
• Reafirmo que não era preciso lembrá-los, mas, em todo caso, vamos ler
mais um pouco?
Planejamento
• Estabelecer objetivos e missão
• Examinar alternativas
• Determinar as necesidades de recursos
• Criar estratégias para o alcance de objetivos
Organização
• Desenhar cargos e tarefas específicas
• Criar estrutura organizacional
• Definir posições de staff
• Coordenar as atividades de trabalho
• Estabelecer políticas e procedimentos
• Definir a alocação de recursos
Direção
• Conduzir e motivar os colaboradores
• Estabelecer comunicação com a equipe

16  2º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • UNITINS


Aula 1 • TEORIA E GESTÃO DAS ORGANIZAÇÕES

• Apresentar solução para os conflitos


• Gerenciar mudanças
Controle
• Medir o desempenho
• Estabelecer comparação do desempenho com os padrões
• Tomar decisões para a melhoria do desempenho

1.6 Os níveis da administração


Embora todos os administradores devam executar as quatro funções descritas
acima (planejamento, organização, direção e controle), não necessariamente encon-
tram-se nos mesmos níveis na organização. Sim, é sobre isso que vamos falar agora.
A organização divide-se em três níveis, que aqui vamos chamar de Nível
Operacional, Nível Tático ou Gerencial e Nível Estratégico. Apesar de muitos
questionamentos e de análises diferenciadas, utiliza-se comumente o desenho de
uma pirâmide para a alocação dos níveis da organização. Você pode usá-la para
descrever qualquer organização. Observe a figura a seguir:

Vamos detalhá-los para entendê-los melhor?


Nível Estratégico: correspondente à alta administração, à cúpula da empresa.
É importante pensarmos que em seu escopo encontram-se as decisões de
longo prazo da organização, havendo, também, a necessidade de um enten-
dimento macro sobre seus processos e atividades. Nela, estão os dirigentes e
diretores da organização.
Nível Tático: correspondente à média administração, tem em seus escopo o
desenvolvimento gerencial da organização, a coordenação das atividades e
importante elo de ligação entre as decisões de nível estratégico e as ações
operacionais. Nesse nível encontram-se os gerentes.
Nível Operacional: correspondente ao nível de supervisão da organização,
tendo em seu escopo decisões de implementação imediata, de curto prazo.
Neste nível, são geridos os processos produtivos das organizações.Aqui,
temos os supervisores, que administram a execução das tarefas.

uNITINS • ADMINISTRAÇÃO • 2º PERÍODO  17


Aula 1 • TEORIA E GESTÃO DAS ORGANIZAÇÕES

É importante lembrarmos um quadro que estudamos em nossa disciplina de


Teoria Geral da Administração, chamado A proporcionalidade das funções admi-
nistrativas. Nele, Fayol descreve, que à medida que o administrador ascende
nos níveis da organização, passa a desenvolver, de forma mais aprofundada,
suas funções básicas - no caso da Teoria de Fayol - planejar, organizar, coor-
denar, comandar e controlar, lembra-se? Tenho certeza de que você também se
lembra das habilidades necessárias aos administradores, certo? Pois agora rela-
cionaremos as habilidades (conceituais, humanas e técnicas) com os respectivos
níveis da organização. Vamos ver?

1.7 Habilidades e níveis da organização


Ter habilidade é fundamental para o desempenho de qualquer atividade,
certo? Pensando na complexidade da vida contemporânea, sobretudo no que
diz respeito à vida das organizações, é imprescindível que o administrador as
possua, e mais do que isso, as aplique.
Segundo Silva (2001), habilidades são as destrezas específicas para trans-
formar conhecimento em ação, que resulte no desempenho desejado para o
alcance dos objetivos.
Já falamos sobre o paradoxo teoria e prática, e agora reforçamos tais
conceitos com a inserção das habilidades em relação aos níveis da organi-
zação; por esse motivo, os administradores devem desenvolver o conhecimento
aplicado a cada uma das habilidades - conceitual, humana e técnica.
Vejamos essa correlação no quadro a seguir:

Níveis administrativos Habilidades

Estratégico Conceituais

Tático Humanas

Operacional Técnicas

Fonte: adaptado de Silva (2001, p. 15).

Hellriegel e Slocum Jr, citados por Silva (2001), sugerem o estudo de outras
habilidades gerenciais, além das acima mencionadas, e que estão intrinseca-
mente ligadas às necessidades de nosso tempo:
• habilidades de comunicação – relacionadas ao recebimento e envio de
informações, pensamentos, sentimentos e atitudes;
• habilidades de pensamento crítico – relacionadas à consideração meticu-
losa das implicações de todos os elementos conhecidos de um problema.

18  2º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • UNITINS


Aula 1 • TEORIA E GESTÃO DAS ORGANIZAÇÕES

A partir do uso de tais habilidades, o comportamento do administrador é


influenciado pelo papel que desempenha. Vamos entender isso melhor?

1.8 Papéis administrativos


Segundo Silva (2001, p. 16), “papéis são os conjuntos de expectativas de
comportamento de um administrador, em situações específicas”.
Para Mintzberg, citado por Silva (2001), de um administrador se espera o
desempenho de dez papéis, agrupados em três categorias, que são:
a) papéis interpessoais: aqueles desempenhados para o relacionamento e
interação com outras pessoas. São três os papéis interpessoais:
• chefe: em que o administrador se coloca como um representante da
organização no que se refere aos princípios, missão, objetivos;
• líder: em que o administrador contrata, motiva os funcionários e
trata do processo comportamental da equipe;
• de ligação: em que o administrador se envolve no tratamento com
pessoas de fora da organização de modo regular, para alcance dos
objetivos organizacionais;
b) papéis informacionais: aqueles desempenhados ao trocar e processar
informações. Também são três os papéis informacionais que o adminis-
trador deve desempenhar:
• monitor: em que o administrador acompanha ativamente o ambiente
para obter informações que sejam relevantes para o desempenho
da organização;
• disseminador: em que as informações importantes, colhidas do
ambiente, são transmitidas às pessoas adequadas da organização;
• interlocutor: em que as informações de alta significância (e/ou
respostas) são dadas em nome da empresa;
c) papéis decisoriais: aqueles desempenhos quando os adminstradores
tomam decisões. São quatro os papéis decisoriais:
• empreendedor: em que o administrador procura por oportunidades
de que a organização possa se valer e toma ação para isto;
• solucionador de conflitos: em que o administrador resolve conflitos
internos ou externos à organização;
• alocador de recursos: em que o administrador determina como
os recursos (dinheiro, equipamentos, instalações e recursos) serão
distribuídos entre as várias áreas da organização;
• negociador: em que o administrador se ocupa em operar acordos e
contratos no melhor interesse da organização, por causa das infor-
mações e autoridade necessárias para tal;

uNITINS • ADMINISTRAÇÃO • 2º PERÍODO  19


Aula 1 • TEORIA E GESTÃO DAS ORGANIZAÇÕES

Para poder cumprir todos esses papéis, é preciso que o administrador reúna
uma série de competências. Vamos identificar algumas delas? Vamos em frente!

1.9 Competências dos administradores


Em toda e qualquer carreira profissional, exige-se que os indivíduos possuam
determinadas competências, que, teoricamente, indicam a sua qualificação.
No caso específico de nossa formação, as competências configuram-se como
exigências que extrapolam as funções de planejamento, organização, direção
e controle.
Segundo Hellriegel, citado por Silva (2001), uma competência administra-
tiva é um conjunto de conhecimentos, habilidades, comportamentos e atitudes
de que uma pessoa necessita, para ser eficaz em um vasto campo de funções
administrativas, em vários tipos de organizações.
A American Assembly of Collegiate Schools of Business (AACSB), citada
por Silva (2001), lista algumas competências necessárias ao administrador
contemporâneo:
• liderança: habilidade em influenciar outros a realizar tarefas;
• auto-objetividade: habilidade em avaliar a si mesmo realisticamente;
• flexibilidade comportamental: habilidade em modificar o comporta-
mento pessoal para alcançar uma meta;
• comunicação escrita: habilidade em expressar-se claramente por escrito;
• comunicação verbal: habilidade em expressar claramente idéias em
apresentações orais;
• impacto pessoal: habilidade em criar uma boa impressão e instigar
confiança;
• resistência ao stress: habilidade em realizar tarefas sob condições
estressantes;
• tolerância na incerteza: habilidade em produzir em situações adversas.
A competência do administrador pode levá-lo a uma maior ou menor efici-
ência, a uma maior ou menor eficácia em suas atividades. Vamos ver a diferença
entre eficiência e eficácia? Vamos lá!

1.10 Eficiência e eficácia


Não basta ser eficiente. É preciso que sejamos eficientes e eficazes, bem
como nossas organizações. E o que significa isso? Vamos entender melhor?
Em uma visão geral, podemos dizer que eficiência é fazer certo alguma
coisa, e eficácia é fazer de maneira correta, a coisa certa.

20  2º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • UNITINS


Aula 1 • TEORIA E GESTÃO DAS ORGANIZAÇÕES

Parece estranho, mas pense bem. Não dá para se fazer bem feito a coisa
errada? Claro que sim. Por isso, reiteramos que é possível ser eficiente sem
que sejamos eficazes, mas é impossível a eficácia sem eficiência. Vejamos um
quadro com alguns elementos de diferenciação:

Figura 5: Diferenças entre eficiência e eficácia

Fonte: adaptado de Chiavenato (2003, p. 156).

Segundo Silva (2001), a eficácia de uma empresa depende, basicamente,


de dois aspectos:
a) da capacidade de identificar as oportunidades e necessidades do
ambiente;
b) da flexibilidade e adaptabilidade, objetivando o aproveitamento dessas
oportunidades e necessidades do ambiente.
Está pronto para ser eficaz?
Pois é nesse sentido que construiremos nossa relação no segundo semestre,
buscando, a partir da observação de aspectos teóricos e práticos da adminis-
tração, o desenvolvimento das competências necessárias ao melhor exercício
possível da profissão.

Síntese da aula
Nessa primeira aula, você reforçou o conceito de administração, ampliando
a análise em termos de funções, níveis e contexto organizacionais. Analisamos
as competências necessárias aos gestores contemporâneos e as diferenças entre
eficiência e eficácia. Vimos o quanto é imortante sermos eficientes, e como ser
eficaz, nos dias de hoje, é imprescindível.

uNITINS • ADMINISTRAÇÃO • 2º PERÍODO  21


Aula 1 • TEORIA E GESTÃO DAS ORGANIZAÇÕES

Atividades

1. Com base em nossos estudos sobre os diferentes níveis hierárquicos, identi-


fique a seguir.
a) Corresponde à alta administração, à cúpula da empresa. É importante
pensarmos que em seu escopo encontram-se as decisões de longo prazo
da organização. (Nível ____________).
b) Corresponde à média administração, tem em seu escopo o desenvol-
vimento gerencial da organização e a coordenação das atividades.
(Nível ____________).
c) Corresponde ao nível de supervisão da organização, tendo em
seu escopo decisões de implementação imediata, de curto prazo.
(Nível ____________).

2. A partir de nossas observações sobre eficiência e eficácia, temos a


seguinte proposição: é possível ser eficiente sem ser eficaz, mas é impos-
sível ser eficaz sem ser eficiente. Você concorda com ela? Por quê? O
assunto será abordado em nossas listas de discussão no Ambiente Virtual
de Aprendizagem – AVA.

Comentário das atividades


Na atividade um, o objetivo é que reconheçamos as diferenças enconstradas
em cada um dos níveis da organização. Sendo assim, na primeira lacuna, você
deverá preencher nível estratégico; na segunda, nível tático; e na terceira, opera-
cional. Na atividade dois, é importante que você entenda que a assertiva está
correta, pois a eficiência está relacionada à correção na execução de alguma
tarefa, não necessariamente à escolha da tarefa mais correta.

Referências
CHIAVENATO, Idalberto. Introdução à Teoria Geral da Administração. Rio de
Janeiro: Elsevier, 2003.
SILVA, Reinaldo Oliveira da. Teorias da Administração. São Paulo: Pioneira
Thomson Learning, 2001.

Na próxima aula
Na próxima aula, conheceremos como se forma a estrutra da organização,
seus aspectos formais e a diferença entre as estrutras organizacionais. Vamos ter
a oportunidade de saber se nossa organização está adaptada aos desafios do
terceiro milênio. Ficou curioso? Já vamos iniciar!

22  2º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • UNITINS


Aula 2 • TEORIA E GESTÃO DAS ORGANIZAÇÕES

Aula 2
Estrutura organizacional

Objetivos
Esperamos que, ao final desta aula, você seja capaz de:
• compreender as diferenças entre organizações com gestão centralizada
e descentralizada;
• identificar as diferenças entre as estruturas de organizações mecanis-
ticas e orgânicas.

Pré-requisitos
Para que você compreenda bem o conteúdo dessa aula, é importante relem-
brar alguns conceitos estudados na unidade anterior, bem como as caracterís-
ticas da Burocracia, conteúdo também abordado na disciplina Teoria Geral da
Administração. Por fim, é importante que você tenha em mente, de forma clara,
as diferenças entre as organizações mecanísticas e orgânicas, que vimos na
Teoria Contingencial. Bom estudo!

Introdução
O ambiente exerce influência nas organizações, independente de seu tamanho,
atividade, objetivos e missão. Essa influência tanto pode ser positiva, vestindo-se
de oportunidade, quanto negativa, mostrando-se uma iminente ameaça.

As organizações não são, portanto, afetadas da mesma forma, nem


tampouco pode considerar-se estável e manter-se em uma posição de conforto
em relação às mutações do ambiente, e essas mudanças exigem que gestores
estejam sempre atentos, para, a partir de informações que indiquem necessi-
dades mais ou menos urgentes de transformação, possa tomar as decisões mais
acertadas, mais eficazes.

Todas as organizações possuem uma estrutura, mesmo que não a perceba,


não a entenda, e deve moldá-la para enfrentar as mudanças no ambiente, cada
vez complexo e dinâmico.

uNITINS • ADMINISTRAÇÃO • 2º PERÍODO  23


Aula 2 • TEORIA E GESTÃO DAS ORGANIZAÇÕES

Segundo Silva (2001), a estrutura organizacional é definida como um


sistema de suporte de relacionamentos consistentes entre as várias posições,
dentro de uma organização.
Segundo o dicionário Houaiss, estrutura significa organização, disposição e
ordem dos elementos essenciais que compõem um corpo (concreto ou abstrato),
como o de um edifício, do corpo humano, de uma organização, etc.
Começaremos falando sobre a parte formal da organização e suas principais
características. Penso que estamos estruturados para continuar, certo? Vamos lá!

2.1 A organização formal


A organização nada mais é do que um conjunto de funções estabelecidas
hierarquicamente, com o objetivo de produzir, com eficácia, bens e serviços.
Segundo Chiavenato (2003) e outros autores, os princípios fundamentais da
organização formal são:
a) divisão do trabalho: é a decomposição de uma tarefa em uma série
de pequenas tarefas, tendo como objetivo a padronização e a simpli-
ficação das atividades, a melhoria do trabalho, a partir da departa-
mentalização (assunto para daqui a pouco), o aumento da eficiência e,
conseqüente, redução de custos;
b) especialização: a especialização é decorrente do princípio da divisão
do trabalho, pois cada órgão, cargo ou indivíduo passa a ter funções
específicas;
c) hierarquia: outra decorrência da divisão do trabalho e, consequentemente,
da especialização. Com a óbvia necessidade da assunção do comando
por alguém, cria-se, automaticamente, a noção de hierarquia. A hierar-
quia divide a organização em níveis de autoridade, e a estrutura formal
apresenta uma cadeia de níveis hierárquicos que se sobrepõem. Lembra-se
da pirâmide? É a sua melhor representação. A autoridade se disitingue,
segundo Daft, citado por Chiavenato (2003), por três características:
• autoridade é alocada em posições da organização e não em
pessoas: os administradores têm autoridade devido às posições
que ocupam. Outros administradores nas mesmas posições têm a
mesma autoridade;
• autoridade é aceita pelos subordinados: a autoridade é aceita pela
crença em que os que comandam possuem, com legitimidade, o
direito de dar ordens e esperar por seu cumprimento;
• autoridade flui abaixo por meio da hierarquia verticalizada: a auto-
ridade flui do topo até a base da organização (top down), e as posi-
ções localizadas acima têm mais autoridade dos que as inferiores.

24  2º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • UNITINS


Aula 2 • TEORIA E GESTÃO DAS ORGANIZAÇÕES

Se a autoridade é o direito de mandar, a responsabilidade configura-se


como a outra face. É o dever de desempenhar a atividade para a qual o
indivíduo foi designado. Quanto mais autoridade, mais responsabilidade.
É comum ouvirmos que a responsabilidade é delegada, mas, na prática,
o que ocorre é a delegação da autoridade. Mas o que é delegar?
Chiavenato (2003) nos ensina que delegação é o processo de transferir
autoridade e responsabilidade para posições inferiores na hierarquia.
Horton, citado por Chiavenato (2003), considera que as técnicas de
delegação de autoridade são:
• delegar a tarefa inteira;
• delegar à pessoa certa;
• delegar responsabilidade e autoridade;
• proporcionar informação adequada;
• manter retroação;
• avaliar e recompensar o desempenho;
d) amplitude administrativa: a distribuição de autoridade e responsabili-
dade gera a análise da amplitude administrativa. A amplitude adminis-
trativa, que também podemos chamar de amplitude de comando, indica
o número de subordinados que um administrador pode manter sob seu
comando, ou seja, que pode supervisionar. Quanto maior esse número,
maior a sua amplitude de comando. É importante citarmos que quanto
mais aproximamos a base organização de sua alta administração,
maiores as chances de manutenção de uma comunicação eficaz. Vamos
entender melhor visualizando as figuras seguintes?

Figura 1: Amplitude administrativa


Organização
alongada

Organização
achatada

uNITINS • ADMINISTRAÇÃO • 2º PERÍODO  25


Aula 2 • TEORIA E GESTÃO DAS ORGANIZAÇÕES

As figuras nos ajudarão no próximo assunto. Vamos falar sobre departa-


mentalização. Sua organização, ou as que você visita como cliente não pussui
departamentos? É isso.
Vamos em frente!

2.2 Departamentalização
Segundo Faria (2002), departamentalização é o processo de estabelecer
unidades compostas de grupos, com funções relacionadas. Cada agrupamento
é atribuído a um chefe, com autoridade para dirigi-las.
Segundo essa premissa, é necessário que as atividades sejam agrupadas
de forma lógica. Existem alguns critérios para esse agrupamento, que segundo
Faria (2002) são os descritos a seguir:

2.2.1 Departamentalização por função


Ocorre quando existe agrupamento, em um mesmo órgão, das atividades
que possuam objetivos e/ou propósitos similares. É certamente o critério mais
utilizado nas empresas.
Vejamos a figura a seguir:

Figura 2: Organograma

2.2.2 Departamentalização por produto


Ocorre pelo agrupamento das atividades diretamente relacionadas a um
determinado produto ou serviço. Vamos observar mais uma figura?

Figura 3: Organograma

26  2º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • UNITINS


Aula 2 • TEORIA E GESTÃO DAS ORGANIZAÇÕES

2.2.3 Departamentalização por processo


A departamentalização por processo ocorre quando reúnem-se pessoas que
utilizam uma mesma técnica e/ou equipamento. Profissionais de uma mesma espe-
cialização costumam ser agrupados sob esta perspectiva. Olhemos a figura.

Figura 4: Organograma

2.2.4 Departamentalização por clientela


Refere-se ao agrupamento de atividades com o objetivo de servir um dado grupo
de pessoas ou clientes. Segundo Faria (2002, p. 185), o interesse fundamental pelo
cliente passa a ser a razão primordial para agrupar as atividades. Vamos à figura.

Figura 5: Organograma

2.2.5 Departamentalização por localização


Ocorre, particularmente em empresa que têm atividades em locais fisica-
mente distantes. Sob essa perspectiva, é conveniente que as atividades sejam
executadas de forma agrupada, em determinada região, sob a administração
de um gestor local. Vamos ver a última figura?

Figura 6: Organograma

Nosso próximo assunto é a classificação das estruturas de uma organização.


Preparados? Vamos lá!

uNITINS • ADMINISTRAÇÃO • 2º PERÍODO  27


Aula 2 • TEORIA E GESTÃO DAS ORGANIZAÇÕES

2.3 Classificação das estruturas


Existem muitas classificações para as estruturas organizacionais. Segundo
Faria (2002), de modo geral podemos classificá-las de diversos modos.
Como no tópico anterior, ilustraremos cada uma das classificações para seu
melhor entendimento.

2.3.1 Radial
Segundo Faria (2002) é o tipo mais simples. Há o chefe, única autoridade
da organização, e os executores das tarefas, que, apesar de diretamente subor-
dinados, não possuem relações formais. É uma estrutura utilizada por organiza-
ções mais rudimentares. Vejamos a ilustração.

Figura 7: Organograma de Estrutura Radial

2.3.2 Linear
Existem duas configurações para a estrutura linear: simples (vertical) ou departa-
mental. Nas estruturas lineares simples, a autoridade é representada por uma linha
vertical, do superior ao inferior, e as ordens e/ou comunicações fluem em sentido
vertical. Modelo muito adotado por pequenas empresas. Nas estruturas lineares
departamentais, a base configura- se semelhante, mas a delegação/hierarquia é
distribuída a subordinados de mesma linha hierárquica, fluindo destes para os
elementos da escala imediatamente inferior. Vejamos as representações a seguir.

Figura 8: Organograma de Estrutura Linear Simples

28  2º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • UNITINS


Aula 2 • TEORIA E GESTÃO DAS ORGANIZAÇÕES

Figura 9: Organograma de Estrutura Linear Departamental

As estruturas acima indicadas são chamadas de lineares, pela existência de


linhas diretas de autoridade e de responsabilidade, entre o superior e os subor-
dinados. Suas características, segundo Faria (2002) são:
• autoridade única: cada subordinado se reporta exclusivamente a seu
superior e tem apenas um chefe;
• as comunicações: entre os órgãos ou cargos existentes na organização
se realizam unicamente por meio das linhas do organograma;
• centralização das decisões: o terminal de comunicação liga o órgão ou
cargo subordinado a seu superior até a cúpula da organização;
• aspecto piramidal: em decorrência da centralização da autoridade no
topo e da autoridade linear, geralmente a organização apresenta uma
conformação piramidal.
As estruturas lineares são de fácil compreensão, definindo de forma clara e
nítida as responsabilidades e autoridades dos cargos envolvidos. Uma questão
marcante nesse caso é a estabilidade. Quer saber por que isso é um ponto de
atenção? Vamos ver?
A estabilidade configura-se como uma desvantagem desse modelo de estrutura,
porque indica rigidez e inflexibilidade à organização. Outro foco para análise é
uma certa tendência à gestão autocrática, graças ao modelo de comando único.
Normalmente, esse modelo é aplicado a organizações em início de ativi-
dade (start-up), pequenas empresas ou àquelas que possuem certas rotinas com
poucas ou raras alterações.

2.3.3 Funcional
Essa estrutura caracteriza-se pela decomposição da direção em diferentes
funções. Cada função é exercida por indivíduos que possuam aptidões espe-
ciais. Segundo Faria (2002), nessa estrutura se aplica o princípio da especiali-
zação das funções de cada tarefa, e suas características são:
• autoridade dividida: baseia-se na especialização e dentro de uma auto-
ridade de conhecimento. Cada subordinado recorre a muitos superiores,
mas dentro dos assuntos da especialidade de cada um;

uNITINS • ADMINISTRAÇÃO • 2º PERÍODO  29


Aula 2 • TEORIA E GESTÃO DAS ORGANIZAÇÕES

• linhas diretas de comunicação: as comunicação internas da organização


são feitas diretamente, sem necessidade de intermediação;
• descentralização das decisões: as decisões são delegadas aos órgãos
especializados. Não é a hierarquia que promove as decisões, mas a
especialidade;
• ênfase na especialização: profunda separação das funções, de acordo
com as especialidades envolvidas. As responsabilidades são delimitadas
de acordo com as especializações.
Para melhor entendimento, vamos visualizar a figura a seguir:

Figura 10: Organograma de Estrutura Funcional

A estrutura funcional proporciona aumento da especialização da organi-


zação, mas pode diluir a autoridade do comando, o que, em determinados
casos, pode trazer complicações à organização. Segundo Faria (2002, p. 191),
a sua aplicação deve ser feita de maneira restrita aos seguintes casos: quando
a organização for pequena e tiver uma equipe bem entrosada , seguindo
a orientação de um dirigente eficaz; quando, em determinadas circunstân-
cias, durante um certo período, a organização delega autoridade funcional
a algum órgão especializado sobre os demais órgãos, a fim de implantar
alguma rotina.

2.3.4 Linha-Staff
É uma estrutura semelhante à departamental, com a inserção de um órgão
de assessoria (staff), que tem a função de aconselhar o corpo diretor da organi-
zação em suas decisões. O staff não é responsável direto por quaisquer decisões
tomadas no âmbito da organização.
Faria (2002) nos mostra que as principais funções do staff, são:
• serviços: atividades especializadas (contabilidade, pessoal, compras,
P&D, processamento de dados, propaganda, etc.);
• consultoria e assessoria: atividades especializadas (assistência jurídica,
métodos e processos, consultoria trabalhista, etc.);

30  2º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • UNITINS


Aula 2 • TEORIA E GESTÃO DAS ORGANIZAÇÕES

• monitoração: acompanhamento e avaliação de uma determinada ativi-


dade, sem intervir, ou influenciar;
• planejamento e controle: planejamento e controle orçamentário, de
produção, de controle de manutenção de máquinas e equipamentos, de
qualidade, etc.
Vejamos a figura que ilustra essa estrutura:

Figura 11: Organograma de Estrutura Linha-Staff

Ainda segundo Faria (2002), essas funções podem existir em qualquer nível
de uma organização do tipo linha-staff:
• fusão da estrutura linear com a estrutura funcional, quando ocorre o
predomínio da primeira;
• coexistência entre as linhas formais de comunicação e as linhas diretas
de comunicação, ocorrendo uma conciliação entre as linhas formais de
comunicação, entre superiores e subordinados, que representam a hierar-
quia, e as linhas diretas de comunicação entre qualquer órgão e staff;
• separação entre os órgãos executivos e os órgãos assessores;
• hierarquia versus especialização, ocorrendo a manutenção da hierar-
quia, sem abrir mão da especialização.
Esse tipo de estrutura, como qualquer outro, possui vantagens e desvanta-
gens. Como vantagens, podemos destacar a manutenção do princípio de autori-
dade única, unidade de comando e assessoria especializada, sem interferência
do staff no comando dos prestadores de serviços.
Em contrapartida, as desvantagens desse tipo de estrutura são:
• possibilidade de conflitos entre a assessoria e os órgãos;
• o profissional de staff, por muitas vezes, carece de prática profissional;
• o profissional de linha, por sua maior experiência e tempo de prática,
pode rejeitar novas idéias;
• possível enfraquecimento da linha, por pressões do staff.

uNITINS • ADMINISTRAÇÃO • 2º PERÍODO  31


Aula 2 • TEORIA E GESTÃO DAS ORGANIZAÇÕES

Após conhecermos os tipos de estrutura, precisamos de uma reflexão: qual será


o melhor modelo? Qual devo implementar em minha organização? Vamos finalizar.
Não existe um tipo de estrutura ideal, um modelo. Cada organização possui
suas especificidades, e deve pensar em uma estrutura que possa lhe fornecer
resultados satisfátórios, com economia e uma boa performance. A estrutura da
organização indica também outro aspecto importante nos processos de gestão
da organização: o grau de centralziação das decisões. Vamos em frente!

2.4 Centralização x descentralização


As decisões na sua organização são tomadas com a participação de todos?
Uma única pessoa é responsável por todas as decisões importantes da empresa?
É sobre isso que falaremos agora.

2.4.1 Centralização
A centralização é percebida quando a maior parte das decisões é tomada
pelos ocupantes de cargos situados nos esferas mais elevadas da hierarquia
organizacional. Percebe-se, assim, uma concentração de autoridade nos pontos
centrais da organização, daí o conceito de centralização.
A centralização norteia-se por ações uniformes, por princípio. Se o objetivo
é a manutenção do estado atual das coisas, uma autoridade central, obviamente
ocupando níveis superiores na organização, indica o que deve ser feito.
Segundo Faria (2002), existem determinadas decisões que, normalmente,
devem ser centralizadas:
• decisões que envolvem custos muito altos: não necessariamente custos finan-
ceiros, mas de reputação da empresa, de moral dos colaboradores, etc.;
• decisões de políticas ou diretrizes para a empresa e seu planejamento
social: a centralização de tais decisões facilita a uniformidade de ação,
proporcionando maior coerência no planejamento.
A centralização de decisões é necessária à sobrevivência da organização,
mas deve haver cuidado para que não exceda um certo limite. Segundo Faria
(2002), a falta de coragem ou a falta de confiança muitas vezes provoca em
excesso de centralização, já que os dirigentes partem do princípio de que seus
subordinados são incapazes de tomar, até mesmo, pequenas decisões.
O oposto da centralização é... descentralização, nosso próximo assunto.

2.4.2 Descentralização
Como são tomadas as decisões na sua organização? As pessoas são consul-
tadas? Existe discussão (no bom sentido) antes de qualquer escolha? É disso que
falaremos agora.

32  2º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • UNITINS


Aula 2 • TEORIA E GESTÃO DAS ORGANIZAÇÕES

A gestão de uma organização é descentralizada quando os indivíduos posi-


cionados hierarquicamente em posições de menor destaque, têm o poder de
tomar decisões. Para tanto, é imprescindível que exista um sistema de delegação
bem definido.
A descentralização não é quantificada, ou seja, não pode ser estruturada
em diferentes organizações segundo os mesmos moldes: cada organização,
cada empresa possui suas próprias características.
Segundo Faria (2002), o grau de descentralização é determinado pelo tipo
de autoridade que é delegada, pelo nível da organização em que ela é dele-
gada e pelas características de que se reveste a delegação. Nesse sentido,
ainda segundo Faria (2002), podemos definir a delegação como:
• livre: quando um chefe pode receber autoridade para decidir, sem
consultar ninguém;
• com consulta: quando o chefe pode decidir, depois de consultar seu
superior hierárquico;
• aconselhamento: quando o chefe pode decidir, depois de consultar
uma autoridade funcional e levar em conta seus conselhos, antes de
tomar a decisão.
Vejamos no quadro a seguir, sinteticamente, as vantagens e desvantagens
da descentralização:

Tabela 1: Descentralização da gestão


VANTAGENS DESVANTAGENS
1. As decisões são tomadas mais rapi- 1. Pode ocorrer falta de informação e
damente pelos próprios executores da coordenação entre os departamentos
ação. envolvidos.
2. Tomadores de decisão são os que têm 2. Maior custo pela exigência de melhor
mais informação sobre a situação. seleção e treinamento dos administrado-
res médios.
3. Maior participação no processo deci- 3. Risco da subobjetivação: os administra-
sório promove motivação e moral ele- dores podem defender mais os objetivos
vado entre os administradores médios. departamentais do que os empresariais.
4. Proporciona excelente treinamento 4. As políticas e procedimentos podem
para administradores médios. variar enormemente nos diversos
departamentos.
Vimos que as estruturas organizacionais variam, obviamente. Mas uma
pergunta precisa ser respondida: como se dá o processo de formalização das
estruturas organizacionais? Vamos ver?

2.5 Formalização das estruturas organizacionais


A formalização da estrutura organizacional é necessária, para que a organi-
zação possa representar, de forma clara e sucinta, seu funcionamento, seu modus
operandi. Às organizações modernas cabe a obrigação de delimitar sua comuni-

uNITINS • ADMINISTRAÇÃO • 2º PERÍODO  33


Aula 2 • TEORIA E GESTÃO DAS ORGANIZAÇÕES

cação e o seu processo de gestão. Segundo Faria (2002), os principais meios utili-
zados para a formalização da estrutura organizacional, e de seus processos são:
• organograma: é a apresentação gráfica da estrutura organizacional de
uma empresa, especificando as linhas formais de autoridade, os níveis
hierárquicos e a divisão das atividades;

Figura 12: Organograma

• cronograma: é a representação gráfica da previsão e da execução real


de um trabalho, pressupondo as tarefas e os respectivos prazos;
• fluxograma: representa a seqüência lógica e normal das fases, etapas
ou passos de um trabalho, caracterizando, ainda, seus executores.
Obs.: os dois exemplos acima poderão ser visualizados de forma pormeno-
rizada em nosso Ambiente Virtual de Aprendizado – AVA.

2.6 Estruturas Mecanísticas e Orgânicas


A Administração é uma ciência social aplicada e, como já estudamos até aqui,
contou com a colaboração de estudiosos de outras ciências (engenharia, psicologia,
sociologia, etc.) para se desenvolver. Vamos analisar aqui a influência dos estudos
de dois sociólogos muito importantes. Vamos ver quem são, e o que fizeram?
Burns e Stalker estudaram a relação entre as práticas administrativas e o
ambiente onde estavam inseridas. Verificaram, com os estudos, que existiam dois
tipos de estruturas: as estruturas mecanísticas e as estruturas orgânicas. Vamos
reforçar as características de cada uma delas?
Segundo Burns e Stalker, citados por Chiavenato (2001), as organizações
com estrutura mecanística apresentam as seguintes características:
• estrutura burocrática baseada em uma minuciosa divisão do trabalho;
• cargos ocupados por especialistas com atribuições claramente definidas;
• decisões centralizadas e concentradas na cúpula da empresa;
• hierarquia rígida de autoridade baseada no comando único;
• sistema rígido de controle: a informação sobe por meio de filtros e as
decisões descem por meio de uma sucessão de amplificadores;

34  2º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • UNITINS


Aula 2 • TEORIA E GESTÃO DAS ORGANIZAÇÕES

• predomínio da interação vertical entre superior e subordinado;


• amplitude de controle administrativo mais estreito;
• ênfase nas regras e procedimentos formais;
• ênfase nos princípios universais da Teoria Clássica.
Vejamos o modelo na figura seguinte:

Figura 13: Organização com estruturas mecanísticas

Em contrapartida, as organizações com estruturas orgânicas têm as seguintes


características:
• estruturas organizacionais flexíveis com pouca divisão do trabalho;
• cargos continuamente modificados e redefinidos por meio da interação
com outras pessoas que participam das tarefas;
• decisões descentralizadas e delegadas aos níveis inferiores;
• tarefas executadas por meio do conhecimento que as pessoas têm da
empresa como um todo;
• hierarquia flexível, com predomínio da interação lateral sobre a vertical;
• amplitude de controle administrativo mais ampla;
• maior confiabilidade nas comunicações internas;
• ênfase nos princípios de relacionamento humano da Teoria das Relações
Humanas.
Como fizemos anteriormente, vejamos a figura a seguir.

Figura 14: Organizações com estruturas orgânicas

uNITINS • ADMINISTRAÇÃO • 2º PERÍODO  35


Aula 2 • TEORIA E GESTÃO DAS ORGANIZAÇÕES

Síntese da aula
Nessa aula, vimos como se estruturam as organizações. Vimos a departamen-
talização, seus tipos, e a importância de uma definição clara dos papéis a serem
desempenhados. Vimos, também, a diferença entre as organizações que traba-
lham de forma centralizada ou descentralizada, suas vantagens e implicações.
Para finalizar, retomando assunto discutido na Teoria Contigencial, estudamos as
diferenças entre as organizações de estrutra orgânica e mecanística. É isso aí!

Atividades

1. Qual das assertivas abaixo não corresponde a uma vantagem da


descentralização?
a) As decisões são tomadas mais rapidamente pelos próprios executores
da ação.
b) Variação de políticas e procedimentos nos vários departamentos da
empresa.
c) Proporciona excelente treinamento para os administradores médios.
d) Maior capacidade de decisão dos executores das atividades.

2. Indique a alternativa que corresponde a uma característica das organiza-


ções com estrutura mecanística:
a) estruturas organizacionais flexíveis com pouca divisão do trabalho;
b) decisões descentralizados e delegadas aos níveis inferiores;
c) tarefas executadas por meio do conhecimento que as pessoas têm da
empresa como um todo;
d) hierarquia rígida de autoridade baseada no comando único.

Comentário das atividades


Na atividade um, você deverá responder alternativa (b), pois essa pode ser
uma desvantagem da descentralização nas organizações. Na atividade dois,
tenho certeza de que você percebeu que não existe compatibilidade de uma
organização com estrutura orgânica com rigidez hierárquica. Assim, se você
respondeu alternativa (d), acertou.

Referências
CHIAVENATO, Idalberto. Introdução à Teoria Geral da Administração. Rio de
Janeiro: Elsevier, 2003.
FARIA, José Carlos. Administração: teoria e aplicações. São Paulo: Pioneira
Thomson Learning, 2002.

36  2º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • UNITINS


Aula 2 • TEORIA E GESTÃO DAS ORGANIZAÇÕES

SILVA, Reinaldo Oliveira da. Teorias da Administração. São Paulo: Pioneira


Thomson Learning, 2001.

Na próxima aula
Na próxima aula vamos conhecer algumas teorias que embasam o processo
decisório nas organizações. Não se esqueça de que uma característica impor-
tante para você, futuro administrador, é que seja um eficaz tomador de decisões.
Está decidido, vamos começar logo!

Anotações






























uNITINS • ADMINISTRAÇÃO • 2º PERÍODO  37


Aula 2 • TEORIA E GESTÃO DAS ORGANIZAÇÕES

38  2º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • UNITINS


Aula 3 • TEORIA E GESTÃO DAS ORGANIZAÇÕES

Aula 3
Processo decisório

Objetivos
Esperamos que, ao final desta aula, você seja capaz de:
• compreender a importância do processo decisório para as organizações;
• conhecer os tipos de decisão enfrentados pelos gestores nas organiza-
ções contemporâneas.

Pré-requisitos
Para um bom entendimento deste conteúdo, é imprescindível a compreensão
das habilidades necessárias aos gestores contemporâneos. Uma das caracterís-
ticas importantes aos gestores atuais é o entendimento de seu posicionamento
enquanto decisor. Nesse prisma, é importante entender o escopo de suas deci-
sões e o ambiente no qual a organização se insere. Bom estudo!

Introdução
Qualquer que seja a organização, de um carrinho de cachorro-quente até uma
grande corporação, todas se deparam, constantemente, com a necessidade de tomar
decisões. Porém, as dimensões são diferentes, variando de acordo com a complexi-
dade e exigências de cada problema; isto não significa dizer que uma decisão em
uma grande corporação seja mais importante do que em uma pequena.

3.1 Os problemas e o processo decisório


Daft (2002) nos ensina que “tomada de decisão é formalmente definida
como o processo de identificação e solução de problemas”. É composto, basica-
mente, por duas dimensões distintas: a identificação do problema, e a solução
do problema, que será motivo de nossos estudos, a partir daqui.
Para que possamos navegar com segurança neste que pode ser um grande
diferencial de competência entre os administradores, é necessário que façamos
uma reflexão, acerca do significado da palavra decisão. O que é decisão?
Formule suas idéias, anote-as.

uNITINS • ADMINISTRAÇÃO • 2º PERÍODO  39


Aula 3 • TEORIA E GESTÃO DAS ORGANIZAÇÕES

Vamos lá! Em qualquer situação, faz-se necessário tomar uma decisão.


A manutenção do fluxo pode significar ações que produzam mudanças, que
por sua vez podem ser grandes e gerarem alto impacto, mudanças grandes e
pequeno impacto, imediatas, de curto prazo, longo prazo e várias outras combi-
nações. Como dissemos, podem ser tomadas pelo proprietário de um pequeno
negócio ou por um mega-investidor.

3.2 Decisões programadas e não-programadas


Como visto, as decisões organizacionais variam em razão da sua comple-
xidade, podendo ser classificadas como: decisões programadas e não progra-
madas. Vamos ver como são elas?
• Decisão programada: são decisões que se manifestam de maneira
rotineira e repetitiva, tendo o tomador de decisões padrões e procedi-
mentos que o orientam. Normalmente, este tipo de decisão se dá com um
grande número de informações e se estabelece dentro de um ambiente
de certeza. Para Daft (2002), “as decisões programadas incluem regras
de decisão, como o momento de se substituir uma máquina copiadora
de um escritório”.
• Decisão não-programada: este tipo de decisão está relacionado a situa-
ções específicas, próprias, criadas a partir de problemas não rotineiros,
que exigem um posicionamento. Elas são recentes e mal definidas;
portanto, não dispõem de padrões ou procedimentos definidos para
uma tomada de decisão. Este tipo de decisão, normalmente, ocorre em
situação de alto risco e incerteza, em função de sua imprecisão.
Para Daft (2002), “as decisões não programadas têm sido chamadas de
decisões perversas”, porque a mera definição do problema pode tornar-se uma
atividade maior. Os problemas perversos estão associados a conflitos gerenciais
em torno de objetivos e alternativas, mudanças rápidas das circunstâncias e
relações não claras entre os elementos da decisão.
Certo (2003) define que “as decisões programadas e não-programadas
devem ser consideradas situadas em extremos opostos do continuum de progra-
mação de decisão”, conforme ilustrado na figura abaixo, bem como propõe um
quadro de contra-ponto, entre as formas tradicionais e modernas de tomada de
decisão, demonstrando aspectos referenciais deste antagonismo.

Continuum das decisões

40  2º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • UNITINS


Aula 3 • TEORIA E GESTÃO DAS ORGANIZAÇÕES

3.3 Tomada de decisão organizacional e individual


Grande parte dos processos de tomada de decisão está relacionada à estru-
tura interna da organização e seus vários mecanismos de coordenação (ajusta-
mento mútuo, supervisão direta, padronização do trabalho, padronização dos
resultados e padronização das habilidades das pessoas), bem como à menor ou
maior instabilidade do ambiente externo.

3.4 Modelo racional de tomada de decisão


Esse modelo é fundamentado nos conceitos da administração do homem
econômico racional, em que se entende que os problemas podem ser enun-
ciados de maneira clara, a fim de orientar sua resolução, segundo uma
maneira estruturada, composta por uma seqüência de atividades que devem
ser cumpridas.
Nesse modelo, busca-se o esgotamento das variáveis, por meio do
emprego de modelos matemáticos e estatísticos que buscam reduzir a
complexidade dos problemas, a partir de um maior número de informações
sobre a situação a ser analisada. Porém, o ambiente ideal no mundo real,
que permitiria um status de perfeição a este modelo, dificilmente se torna
concreto, isso se deve à dificuldade em se esgotar as variáveis causais de
uma situação-problema. Definitivamente, não conseguimos explicação de
tudo, em 100%.
No outro extremo das ciências sociais, encontramos o homem administrador,
que, por meio da criação de estratégias e modelos, constrói um processo de
tomada de decisão, que leva em conta as limitações cognitivas e as dificuldades
computacionais, para a determinação de soluções ideais, validando, portanto,
soluções satisfatórias ou adequadas.
O modelo racional se estabelece, segundo Daft (2002), em oito etapas:
• monitoramento do ambiente da decisão: nesta etapa, o tomador de deci-
sões monitora as variáveis internas e externas que exercem influência
sobre determinadas situações, dentro do seu escopo de decisão. Isso
permite que sejam acompanhados possíveis desvios no comportamento
planejado ou aceitável. Esse monitoramento ocorre pelo do emprego de
indicadores, informações comparativas e outros mecanismos;
• definição do problema da decisão: este processo está relacionado à
especificação do problema;
• especificação dos objetivos da decisão: nesta etapa, se estabelecem os
resultados de desempenho a serem alcançados, em razão da decisão;
• diagnosticar o problema: é o momento do aprofundamento, na busca de
se caracterizarem as variáveis causais envolvidas com o problema;

uNITINS • ADMINISTRAÇÃO • 2º PERÍODO  41


Aula 3 • TEORIA E GESTÃO DAS ORGANIZAÇÕES

• desenvolver soluções alternativas: nesta etapa, são levantadas todas as


opções possíveis e disponíveis para alcançar os objetivos desejados;
• avaliar as alternativas: nesta etapa, são empregados modelos mate-
máticos e técnicas estatísticas, a fim de se estimar a probabilidade da
ocorrência do evento proposto;
• escolher a melhor alternativa: nesta etapa, são utilizados os conhe-
cimentos adquiridos nas outras etapas, para orientar a escolha da
melhor alternativa;
• implementar a alternativa escolhida: nesta etapa, são empregadas
técnicas gerenciais, para a sensibilização dos envolvidos na implemen-
tação; são estabelecidos os indicadores para o monitoramento e acom-
panhamento do processo.

As decisões são tomadas em resposta a algum problema a ser resolvido,


alguma necessidade a ser satisfeita ou a algum objetivo a ser alcançado. A
decisão envolve um processo. Esse é o chamado processo tomada de decisão.

Tabela 1: Vantagens e Desvantagens

Vantagens Desvantagens
Grande compromisso do grupo com a decisão. Maior consumo de tempo.
Inapropriada influência da dinâmica
Melhor entendimento por parte do grupo do
de grupo (dominação, inflexibilidade,
problema.
pensamento grupal).
Redução da probabilidade de uso de Tendência a ter compromisso com as
evasivas. soluções de qualidade inferior.
Consideração mais compreensiva do
problema e assuntos relacionados.

É isso aí. O importante é percebermos que a análise do ambiente, cada


vez mais dinâmico e mutante, é fundamental para que nossas decisões
possam ser as mais acertadas possíveis. A decisão a ser tomada agora é:
vamos às atividades?

Síntese da aula
Nesta aula, estudamos os aspectos importantes para a análise do gestor
em seu processo decisório. Analisamos e referenciamos algumas importantes
teorias, revisitamos alguns assuntos importantes e posicionamos a organização
em um ambiente de incerteza, que é exatamente igual ao em que atuamos hoje,
em qualquer organização. Por fim, identificamos as variáveis que compõem o
modelo racional de tomada de decisão, muito útil para a sua implemetação nas
empresas. É isso aí!

42  2º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • UNITINS


Aula 3 • TEORIA E GESTÃO DAS ORGANIZAÇÕES

Atividades

1. Com base em nossos estudos sobre as decisões, preencha as lacunas abaixo:


a) __________________ são decisões que se manifestam de maneira rotineira
e repetitiva, tendo o tomador de decisões padrões e procedimentos que o
orientam. Normalmente, este tipo de decisão se dá com um grande número
de informações e se estabelece dentro de um ambiente de certeza;
b) __________________ este tipo de decisão está relacionado a situações espe-
cíficas, próprias, criadas a partir de problemas não rotineiros, que exigem
um posicionamento. Elas são recentes e mal definidas, portanto, não dispõem
de padrões ou procedimentos definidos para uma tomada de decisão.
2. Vimos, em nosso conteúdo, o modelo racional de tomada de decisão. Ele
segue passos definidos para a consecução dos objetivos no processo. Indique,
a seguir, utilizando uma seqüência numérica simples, os passos corretos:

(  ) escolher a melhor alternativa


(  ) definição do problema da decisão
(  ) especificação dos objetivos da decisão
(  ) desenvolver soluções alternativas
(  ) diagnosticar o problema
(  ) monitoramento do ambiente da decisão
(  ) avaliar as alternativas
(  ) implementar a alternativa escolhida

Comentário das atividades


Em nossa atividade um, o objetivo é fortalecer a diferença entre as decisões
programadas e as não programadas. Se você respondeu decisão programada,
na primeira lacuna, e decisão não-programada, na segunda, acertou. A ativi-
dade dois tem por objetivo a noção de seqüenciamento dos passos, para o
desenvolvimento do modelo racional de tomada de decisão. A seqüência indica
7, 2, 3, 5, 4, 1, 6, 8. Se você assim o fez, parabéns.

Referências
CERTO, Samuel. Administração Moderna. São Paulo: Pearson Education, 2003.
DAFT, Richard. Organizações: Teorias e Projetos. São Paulo: Thomson Pioneira,
2002.
SHIMIZU, Tamio. Decisão nas Organizações. São Paulo: Atlas, 2001.

uNITINS • ADMINISTRAÇÃO • 2º PERÍODO  43


Aula 3 • TEORIA E GESTÃO DAS ORGANIZAÇÕES

Na próxima aula
Na próxima aula, estudaremos um assunto muito interessante e importante
para nossas organizações, o aprendizado. Será que todas as organizações
realmente aprendem. Será que temos, em nossas equipes, pessoas capazes de
tranformar, a partir de seus conhecimentos, a organização? Pronto para o apren-
dizado? Vamos lá!

Anotações
































44  2º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • UNITINS


Aula 4 • TEORIA E GESTÃO DAS ORGANIZAÇÕES

Aula 4
Organizações de aprendizado

Objetivos
Esperamos que, ao final desta aula, você seja capaz de:
• conhecer os conceitos relacionados às organizações de aprendizagem
(learning organizations);
• conhecer as cinco disciplinas da organizações que aprendem.

Pré-requisitos
Para a compreensão desta aula, é imprescindível que você relembre aspectos
relacionados à Teoria de Sistemas, estudada em nosso primeiro período. Vimos
que os sistemas estão sempre em processo de retroalimentação (feedback) e o
aprendizado para as organizações são os momentos em que elas aprendem e,
sobretudo, implementam as proposições que nascem no seio de suas equipes.
Como você já aprendeu, vamos adiante!

Introdução
Aprendemos a todo o momento. E o ideal seria que aplicássemos o que
aprendemos em prol de um objetivo maior, não é verdade? Quanto mais a
organização aprende, mais pode criar diferencias que a posicionem de maneira
estratégica e positiva no mercado. É por aí que vamos passear agora.

4.1 Origem da organização de aprendizado


A organização de aprendizagem foi criada por Chris Argyris (1975),
professor de Harvard. O conceito é baseado na idéia de Argyris, chamada
de double-looping learning, que é quando os erros são corrigidos pela alte-
ração das normas empresariais que o causaram. Mas foi em 1990 que Peter
Senge popularizou o conceito através do seu best-seller: A Quinta Disciplina (do
original, em inglês: The Fifth Discipline: The Art and the Pratice of a Learning
Organization), 15 anos após o início de seus estudos.

uNITINS • ADMINISTRAÇÃO • 2º PERÍODO  45


Aula 4 • TEORIA E GESTÃO DAS ORGANIZAÇÕES

Senge, o criador de A Quinta Disciplina, apostou na estruturação de uma teoria


que privilegiasse o pensamento sistêmico (que você já conhece bem) e os modelos
mentais; e que, com o passar do tempo, este modismo - ao contrário de outros,
que nascem, crescem, declinam e morrem - se tornasse duradouro e continuasse a
ter valorização em sua implementação e desenvolvimento. E, para alcançar este
objetivo, parece-nos, em suma, que sua idéia básica foi criar uma nova ­filosofia
administrativa, e não mais um modismo ou modelo de vida curta.
A teoria desenvolvida por Senge baseia-se em uma quebra de paradigma
saindo da concepção de mundo fragmentado, na qual não existe conexão entre
os fatos, e pensando nas organizações, em áreas que não se comunicam, que
não possuem conexão. As organizações de aprendizagem, por sua vez, são
organizações em que as pessoas buscam expandir sua capacidade, trabalhando
sempre em busca de melhores resultados. Assim, são estimulados novos pensa-
mentos, além da perspectiva de aprendizado coletivo.
Desaparece a figura de um único e onisciente líder - dentre tantos que apareceram
na trilha histórica da administração empresarial e que perpetuaram seus nomes; em seu
lugar, surgem a formação de equipes coesas que aprendem em conjunto e tornam-se
bem-sucedidas em seus objetivos e metas. Mas nunca param de aprender, realimen-
tando o processo e seus próprios desempenhos, em ciclos infinitos de melhoria.

4.2 Conceito
Segundo Senge (1990), as Organizações que Aprendem são organizações em
que as pessoas expandem continuamente sua capacidade de criar o futuro.
Senge (1990) assevera que as organizações que aprendem são organiza-
ções nas quais as pessoas expandem continuamente sua capacidade de criar
os resultados que realmente desejam, nos quais se estimulam padrões de pensa-
mento novos e abrangentes, a aspiração coletiva ganha liberdade e as pessoas
aprendem continuamente a aprender juntas.
As organizações que aprendem concentram suas forças em métodos de apren-
dizagem e não, apenas, em métodos de ensino. É preciso que o enfoque se desloque
dos métodos de ensino e passe a se concentrar nos métodos de aprendizagem.
Pode-se, assim, destacar uma premissa que afeta a transformação de uma
empresa numa organização de aprendizagem: nem sempre o ensino resulta em
aprendizagem. A aprendizagem ocorre de modo mais eficaz, se a pessoa está
preparada para aprender, o que resulta de uma combinação de crescimento e
experiência, e quando aquele que aprende está motivado a aprender.
As organizações, de um modo geral, não aprendem apenas quando se
dispõem a tal. Aprendem, se a informação e o conhecimento lhes despertam o
interesse e desde que atendam a suas expectativas. Aprendem com as experiên-
cias cotidianas, quando descobrem novas maneiras de fazer coisas que já prati-

46  2º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • UNITINS


Aula 4 • TEORIA E GESTÃO DAS ORGANIZAÇÕES

cavam. Quando realizam treinamento, seminários, palestras, aprendem com as


mudanças, com as crises, através da aprendizagem de seus membros. É uma
questão de predisposição ao aprendizado.

4.3 As cinco disciplinas


Senge (1990) nos revela que disciplina é um conjunto de práticas de apren-
dizagem, por meio das quais as pessoas se transformam, adquirindo novas
competências. E as organizações devem desenvolver cinco disciplinas funda-
mentais, de forma a embasar e incentivar o processo de aprendizagem
Domínio pessoal: auto-conhecimento e conseqüente consciência do que
as pessoas querem efetivamente, objetivando seus esforços. Essa disciplina se
refere à capacidade das pessoas em alcançar alto nível de domínio pessoal,
comprometendo-se com seu próprio aprendizado ao longo da vida. As orga-
nizações são conglomerados heterogêneos de pessoas e, mais ainda, que em
cada região, lugar ou país, as características educacionais e culturais intrín-
secas a estas são, às vêzes, substancialmente diferentes, o que impede, de
saída, que se intente uma padronização da disciplina ora abordada. O apren-
dizado do domínio pessoal deve ser cultuado e aperfeiçoado durante toda
nossa existência.
Modelos mentais: é o mapa de identidade, as idéias mais enraizadas e gene-
ralizadas que influenciam a forma de uma pessoa ver e se relacionar com o
mundo. Representam, sem dúvida, uma insofismável realidade. Todos nós temos
modelos mentais que vamos formando durante nossa vida, e, com certeza,
eles vão se enraizando em nossa mente, cada vez mais firmemente. É justa-
mente em decorrência deste fenômeno - e que Peter Senge, inclusive o destaca
- que nos parece bastante difícil, quando já adultos, promovermos drásticas
alterações em nossos modelos mentais. Essa reeducação mental, para que se
tornasse efetiva, teria que se iniciar igualmente em idade pré-adolescente e, a
partir daí, seguir em sistema de aprendizado constante, no sentido de ajustar
esses modelos à realidade altamente mutante no decurso de uma vida. Em uma
organização, gerentes podem discutir seus modelos mentais arraigados e, em
conjunto, tentar mudá-los para o bem do grupo, da empresa.
Visões compartilhadas: quando o objetivo é claro, conhecido e partilhado
por todos, as pessoas têm a oportunidade de se dedicar e aprender, cons-
truindo visões partilhadas. Esta disciplina deve ser levada à prática por
ser uma saudável iniciativa organizacional. Diz respeito a traduzir a visão
individual em uma visão compartilhada, um conjunto de princípios e práticas
orientadoras, direcionadas a um mesmo objetivo futuro, benéfico para o
grupo. Segundo Senge (1990), o princípio relevante que voga nesta disci-
plina é que, no grupo organizacional, estimula-se um compromisso genuíno
e um verdadeiro envolvimento, não apenas a aceitação tácita de uma orien-
tação que vem de cima.

uNITINS • ADMINISTRAÇÃO • 2º PERÍODO  47


Aula 4 • TEORIA E GESTÃO DAS ORGANIZAÇÕES

Aprendizagem em grupo: os membros do grupo elaboram uma lógica


comum, de forma que o resultado das habilidades grupais é maior e mais
significativo que a somatória das habilidades individuais de cada pessoa.
É uma complementação da disciplina anterior. Este princípio defende, em
suma, o diálogo entre os componentes das equipes que compõem a orga-
nização, privilegiando o pensamento conjunto, em sobreposição ao foco
nas idéias individualizadas, preconcebidas. Como afirma Senge (1990), “a
aprendizagem em equipe é vital, pois as equipes, e não os indivíduos, são
a unidade de aprendizagem fundamental nas organizações modernas. Esse
é um ponto crucial: se as equipes não tiverem capacidade de aprender, a
organização não a terá”.
Pensamento sistêmico: integra as outras disciplinas anteriormente descritas,
sendo, portanto, a quinta disciplina. Segundo Senge (1990), o pensamento sistê-
mico impede que as outras disciplinas sejam truques separados ou mesmo mais
um modismo da administração para promover mudanças organizacionais.
Como sabemos e estudamos em diversas disciplinas, as empresas são
sistemas compostos por diversas partes que se conectam umas às outras, por fios
invisíveis, como afirma Senge (1990). Essa conexão entre as partes impõe que
cada um e todos os empregados tenham a capacidade de ver o todo empresa-
rial não o diferenciando por setores, departamentos, divisões, etc.

4.4 Destaques da quinta disciplina


A quinta disciplina, e de forma mais abrangente, os estudos de Peter Senge
sobre a aprendizagem organizacional produziram algumas idéias e conceitos
importantes. Vejamos quais são eles.
Processo de mudança: como as mudanças são cada vez mais freqüentes,
uma das competências mais duradouras tornou-se aprender a aprender.
Organização/divisão do trabalho no Ocidente: a construção da Organização
que aprende, dada à predominância do paradigma Taylorista/Fordista de orga-
nização do trabalho no Ocidente, requer um autêntico esforço de mudança
cultural, leva tempo e implica lidar com todas as cinco disciplinas apresentadas.
Naturezas individual e coletiva da aprendizagem: as três primeiras disciplinas
- Domínio Pessoal, Modelos Mentais e Visão Compartilhada - dizem respeito à
aprendizagem em nível individual, enquanto as duas outras - Aprendizagem em
Equipe e Pensamento Sistêmico - referem-se à aprendizagem em nível coletivo.
A contribuição específica da quinta disciplina: a disciplina Pensamento
Sistêmico faz a integração das outras disciplinas e (re)lembra às Organizações
que elas estão inseridas num contexto social dinâmico, que transcende
as fronteiras organizacionais, mas também enfatiza que essas mesmas
Organizações são sujeitos ativos na definição do seu próprio destino.

48  2º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • UNITINS


Aula 4 • TEORIA E GESTÃO DAS ORGANIZAÇÕES

Níveis de domínio das disciplinas: o domínio de cada disciplina tem três níveis:
• adoção de novas práticas;
• compreensão dos princípios que regem aquelas práticas;
• essências, isto é, o estado de ser que os indivíduos ou grupos experi-
mentam enquanto avançam no domínio das disciplinas.
Etapas do processo de domínio das disciplinas: esse domínio das disciplinas
não ocorre de uma única vez, mas percorre três etapas:
• cognitiva: primeiro contato com o novo e se reflete, também, num novo
vocabulário, na tentativa de mudar o comportamento;
• novas regras: à medida que os velhos pressupostos se afrouxam devido
às novas idéias experimentadas, as pessoas começam a testar regras de
ações novas baseadas nos novos pressupostos;
• valores e pressupostos operantes: as pessoas conseguem reunir as regras
que refletem novos valores de ação e pressupostos operantes, inclusive
em situações de estresse e de ambigüidade. Nessa etapa, ocorre a
apreensão do novo pelas pessoas, tornando-o parte de si.

4.5 Como aperfeiçoar os processos de aprendizagem


O ato de explicitar os processos de aprendizado gera inúmeros benefí-
cios. A partir a partir daí, a organização pode aumentar a sua capacidade de
aprendizado.
Segundo Garvin e outros (1998), a reflexão revela oportunidades para
aperfeiçoar o ciclo aprender a agir de uma ou mais maneiras:
• tornando o ambiente externo mais saudável para o aprendizado;
• melhorando a infra-estrutura de aprendizado;
• aperfeiçoando o conhecimento e as habilidades de aprendizado das
pessoas.
Um ambiente de aprendizado saudável: ambientes de aprendizado saudá-
veis possuem algumas características comuns: menos níveis hierárquicos,
clima de trabalho adequado, sobretudo a perspectiva do trabalho em equipe
e comunicação eficaz. Nesses ambientes, as pessoas são estimuladas a
observar os acontecimentos do ambiente externo e os erros cometidos pela
própria empresa, aprendendo permanetemente com eles.
Garvin (1998) nos ensina que as organizações que aprendem estimulam os
pontos de vista diferentes, pois eles poderão trazer consigo novas idéias,
mais eficazes.
A infra-estrutura de aprendizado: a infraestrutura também configura-se em um
importante ponto de atenção, pois pode-se criar valor com sua adequação.

uNITINS • ADMINISTRAÇÃO • 2º PERÍODO  49


Aula 4 • TEORIA E GESTÃO DAS ORGANIZAÇÕES

Segundo Garvin (1998), os elementos dessa infra-estrutura podem assumir


as seguintes formas:

• bibliotecas do conhecimento, com bancos de dados eletrônicos que


armazenem o conhecimento sobre as coisas;
• mecanismos de sondagem para monitorar tecnologias, concorrentes
e clientes;
• programas integrados de ensino, treinamento e aconselhamento que arma-
zenem os conhecimentos explícitos e tácitos de como fazer as coisas;
• instalações para ensino, treinamento e aconselhamento;
• instalações e sistemas para testar novas idéias (protótipos, simulações,
conceitos de teste de mercado, etc.);
• sistemas de comunicação, como e-mail, voice mail, videoconferência e
outros tipos de comunicação sem fio;
• sistemas que facilitem o trabalho em equipe, como salas de groupware;
• sistemas que facilitem o compartilhamento do conhecimento tácito,
como transferências de pessoal, centros de excelência e equipes
multifuncionais.

4.6 O conhecimento e a capacidade de aprendizado das pessoas


Nem todas as pessoas têm a mesma capacidade de aprendizado, mas
indiscutivelmente todas as têm. Segundo Garvin (1998), no centro da capa-
cidade de aprendizado de uma organização estão seus funcionários. Para
aprender eficazmente, eles precisam, antes de qualquer coisa, estar profun-
damente engajados e comprometidos no processo de definição de metas da
organização.

Ainda segundo Garvin (1998), o que coíbe o aprendizado organizacional é


a capacidade de aprender, principalmente das pessoas e das equipes. Portanto,
um bom ponto de partida é aperfeiçoar a capacidade de aprendizado indivi-
dual e em equipe.

Espero que o apendizado tenha valido muito a pena. Até o próximo assunto.

Síntese da aula
Vimos nessa aula, a importância do conhecimento para as organizações.
O conceito de organização de aprendizagem vem alinhado com o aumento da
competitividade e de melhor gestão do conhecimento gerado dentro e fora da
organização. Com conhecimento das cinco disciplinas, ampliamos a análise
dessa nova organização, na qual conhecer tem a importância que merece.

50  2º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • UNITINS


Aula 4 • TEORIA E GESTÃO DAS ORGANIZAÇÕES

Atividades

1. Com base nos estudos de Senge, responda: podemos afirmar que todas as
organizações são efetivamente organizações de aprendizagem?

2. Relacione o texto à disciplina (cinco disciplinas).


a) ____________________ auto-conhecimento e conseqüente consciência
do que as pessoas querem efetivamente, objetivando seus esforços.
b) ____________________ é o mapa de identidade, as idéias mais enrai-
zadas e generalizadas que influenciam a forma de uma pessoa ver e se
relacionar com o mundo.
c) _____________________ diz respeito a traduzir a visão individual. O prin-
cípio relevante que voga nesta disciplina é que, no grupo organizacional,
estimula-se um compromisso genuíno e um verdadeiro envolvimento, não
apenas a aceitação tácita de uma orientação que vem de cima.
d) ____________________ os membros do grupo elaboram uma lógica comum,
de forma que o resultado das habilidades grupais é maior e mais significa-
tivo que a somatória das habilidades individuais de cada pessoa.
e) ____________________ integra teoria e prática.

Comentário das atividades


Nossa atividade um visa a proporcionar reflexão sobre o caráter de nossas
organizações. O propósito é justamente fazer você perceber que as organizações
são estruturadas como organizações de aprendizagem, mas o modelo de gestão
adotado é que garantirá efetivamente os resultados que se espera dela. Na ativi-
dade dois, você deve preencher as lacunas com as seguintes respostas: domínio
pessoal, modelos mentais, visão compartilhada, aprendizagem em equipe e
pensamento sistêmico, que é efetivamente a 5ª Disciplina. Vamos em frente!

Referências
GARVIN, David A. et al. Aprender a aprender. HSM Management. 18 jul/ago.
1998. p. 60-64.
SENGE, Peter. A quinta disciplina: arte e prática da organização que aprende.
São Paulo: Best Seller, 1990.

Na próxima aula
Na próxima aula, estudaremos um importante assunto para as organiza-
ções: a qualidade. A partir do modelo japonês de administração, identificaremos
importantes aspectos de diferenciação das organizações e também paralelos

uNITINS • ADMINISTRAÇÃO • 2º PERÍODO  51


Aula 4 • TEORIA E GESTÃO DAS ORGANIZAÇÕES

quanto à competitividade das organizações nos dias de hoje. Para que você
desenvolva o gosto pela administração, trabalharemos algumas ferramentas
importantes para a gestão. Mão na massa!

Anotações




































52  2º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • UNITINS


Aula 5 • TEORIA E GESTÃO DAS ORGANIZAÇÕES

Aula 5
O Modelo Japonês de Administração
e a Gestão da Qualidade

Objetivos
Esperamos que, ao final desta aula, você seja capaz de:
• conhecer o modelo japonês de administração e a gestão da qualidade;
• entender a metodologia PDCA e conhecer as ferramentas administra-
tivas que a compõe.

Pré-requisitos
Para um bom entendimento desta aula, é preciso que você retome alguns
conceitos aprendidos na disciplina Teoria Geral da Administração em nosso
primeiro período. Vamos revisitar Taylor, Ford e Fayol, amplando os seus conhe-
cimentos e verificando a implementação dos princípios, defendidos por eles com
maior racionalidade. Vamos em busca da qualidade?

Introdução
Será que existem diferenças entre o modelo de gestão japonês e os outros
que conhecemos? Será que o modelo japonês influenciou a industrialização e os
processos produtivos de nossas empresas, quer sejam fabricantes de produtos e/
ou prestadoras de serviços? Esse é o nosso assunto agora. Prepare-se para uma
viagem no tempo e no espaço. Vamos para o outro lado do mundo, e percebe-
remos que ele está muito perto de nós. Vamos lá!
Para começarmos, vejamos um quadro comparativo entre as idéias ociden-
tais e orientais:

Tabela 1: Modelos de gestão


IDÉIAS OCIDENTAIS IDÉIAS ORIENTAIS
Linha de montagem móvel, com trabalha-
Grupos de trabalho autogeridos.
dores especializados.
Verticalização, controle de todas as fontes
Parceria com fornecedores dedicados,
de suprimentos, administração de esto-
produção enxuta, mentalidade just in time
ques, mentalidade just in case (por via
(somente quando necessário).
das dúvidas).

uNITINS • ADMINISTRAÇÃO • 2º PERÍODO  53


Aula 5 • TEORIA E GESTÃO DAS ORGANIZAÇÕES

IDÉIAS OCIDENTAIS IDÉIAS ORIENTAIS


Tamanho é documento Guerra ao desperdício
Máquinas os equipamentos dedicados Produção Flexível
Estruturas organizacionais e divisionali-
Administração enxuta, empresa enxuta
zadas e hierárquicas
Círculos da qualidade, aprimoramento
Controle da qualidade
contínuo
Alto luxo e alto preço Alta qualidade e baixo preço
Ford, General Motors, General Eletric Toyota, Mitsubish, Nissan
Fonte: Maximiano (2004, p. 207)

5.1 Sistema Toyota de produção


Desde o início do século XX até a década de 1970, as organizações base-
avam seus modelos de gestão em conceitos e técnicas amplamente utilizadas por
organizações americanas e européias. A partir de então, o modelo japonês de
administração torna-se conhecido além das fronteiras nipônicas. Chegara a vez
de um novo modelo, uma nova forma de gestão.

Segundo Maxiamiano (2004), na transição para o século XXI, o modelo


japonês, uma versão sensivelmente melhorada das técnicas e proposições
ocidentais sobre a administração, tornou-se um modelo universal, e um dos prin-
cipais pilares que sustentam a competitividade na economia global. Vejamos o
começo dessa história.

Em 1950, Willian Edwards Demming, estatístico especialista em quali-


dade, foi ao Japão proferir palestras para líderes industriais, tendo em vista
a preocupação com a reconstrução do país, devastado ao fim da segunda
grande guerra.

A empresa que mais aproveitou os princípios de administração desen-


volvidos a partir de então no Japão, foi a Toyota, cedendo, inclusive, seu
nove para a composição de um novo paradigma da administração. Depois
do Taylorismo, tínhamos agora o Toyotismo. Segundo Maximiano (2004), a
contribuição da Toyota para a história  da moderna administração foi muito
além da simples incorporação e melhoramentos da filosofia e das técnicas
da qualidade. O sistema Toyota de produção, que vem evoluindo desde os
anos 50 do século XX, e é a semente do modelo japonês de administração,
baseia-se não apenas nos especialistas da qualidade, mas, principalmente,
nas técnicas desenvolvidas por figuras já conhecidas de vocês: Henry Ford e
Frederick Taylor.

Os dois princípios mais importantes no sistema Toyota são a eliminação de


desperdícios e a fabricação com qualidade. Vamos entendê-los melhor?

54  2º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • UNITINS


Aula 5 • TEORIA E GESTÃO DAS ORGANIZAÇÕES

5.2 A questão do desperdício


O embrião do sistema Toyota nasceu em uma visita que Eiji Toyoda e Taiichi
Ohno fizeram à Ford nos anos de 1950. Concluíram que o principal problema
do modelo idealizado por Henry Ford era o desperdício de recursos de todas as
espécies - humanos, materiais, financeiros, de tempo e de espaço. O modelo privi-
legiava fábricas enormes, estoques igualmente grandes e despendiosos. Como um
princípio seguido a risca era o da especialização dos operários, verificava-se em
suas indústrias um grande desperdício de recursos humanos. As atividades execu-
tadas eram as exclusivamente relacionas às especializações de cada indivíduo.
O modelo de Ford, que era o paradigma vigente em praticamente todas as
indústrias do mundo, trabalhava dentro de uma lógica de abundância de recursos,
para eventuais necessidades. Como vimos, essa é a filosofia just in case.
Se para as indústrias ocidentais a preocupação exagerada era necessária,
para os japoneses, ainda lutando pela reconstrução do país e lidando com grande
limitação de recursos, as palavras de ordem eram racionalização e economia.
Nesse sentido, para aumentar a eficiência e tornar-se competitiva, era preciso
promover alterações no modelo de Ford, era preciso eliminar o desperdício. Segundo
Maximiano (2004), eliminar desperdícios significa reduzir ao mínimo a atividade
que não agrega valor ao produto. Segundo os manuais da Toyota, citados ainda
por Maximiano (2004), os desperdícios classificam-se em sete tipos principais:
• tempo perdido em conserto ou refugo;
• produção além do volume necessário ou antes do momento necessário;
• operações desnecessárias no processo de manufatura;
• transporte;
• estoque;
• movimento humano;
• espera.
Se eliminarmos efetivamente os desperdícios, o que restará? Restará tão-
somente o esforço para agregar valor ao produto, objetivando produzi-lo de
forma a satisfazer as necessidades dos clientes. Segundo Maximiano (2004),
agregar valor ssignifica realizar operações de transformação de materiais e
componentes estritamente relacionadas com a elaboração do produto.
Vejamos as três idéias fundamentais para a eliminação de desperdícios
segundo o Sistema Toyota.

5.2.1 Racionalização do trabalho


A idéia utilizada no Sistema Toyota para a racionalização do trabalho
baseou-se na racionalização da utilização da mão-de-obra, por meio do agru-
pamento de trabalhadores em equipes, com forte influência do líder. Às equipes

uNITINS • ADMINISTRAÇÃO • 2º PERÍODO  55


Aula 5 • TEORIA E GESTÃO DAS ORGANIZAÇÕES

era dada uma determinada tarefa, e, de forma coletiva, a missão era realizá-la
da melhor forma possível.

5.2.2 Just in time


Em contraposição ao just in case, amplamente utilizado nas indústrias ociden-
tais, o sistema buscava trabalhar de acordo com o método just in time, que signi-
fica no momento certo, na hora certa. O objetivo principal era a diminuição
dos estoques e a conseqüente redução no tempo de fabricação dos produtos.
Segundo Maximiano (2004), o princípio é estabelecer um fluxo contínuo de
materiais, sincronizado com a programação do processo produtivo, para mini-
mizar a necessidade de estoques. Para tanto, é imprescindível que haja compro-
metimento dos fornecedores, para a manutenção adequada desse fluxo, e o
fortalecimento da cadeia de suprimentos (supply chain), assunto que veremos
mais adiante em nosso curso.

5.2.3 Produção flexível


O sistema de produção flexível consiste na produção de produtos em lotes
pequenos e dinâmicos, que possam atender as necessidades dos clientes de
maneira rápida e eficaz. Para tanto o maquinário, e sobretudo as equipes de
trabalho, deviam estar preparados para efetuar as mudanças nos moldes que
propiciassem as mudanças das peças a serem fabricadas. Essa flexibilização
garante maior eficiência nos processos, melhora a produtividade de forma quan-
titativa e qualitativa.

5.3 Fabricação com qualidade


A fabricação com qualidade tem por princípio fundamental a identificação e a
correção de defeitos, a partir da identificação de suas causas. Isso levará, também,
à diminuição do desperdício, certo? Para que isso aconteça, é preciso que três
fatores sejam trabalhados na organização. Vejamos quais são eles a seguir.

5.3.1 Fazer certo da primeira vez


A Toyota, e também a grande maioria das indústrias japonesas, sofreu forte
influência dos pensadores americanos que atuaram para ajudar a reconstrução
do país, ao fim da Segunda Guerra. Deming, já citado anteriormente, difundiu
várias idéias e princípios, mas talvez o mais marcante deles seja esse: fazer
certo da primeira vez. Quais são as conseqüências disso?
Segundo Maximiano (2004), a filosofia de fazer certo na primeira vez torna
o trabalhador responsável pela qualidade de seu trabalho. O controle da quali-
dade, normalmente feito por inspetores ao final do processo produtivo, perde
o sentido, à medida que o processo todo é garantido pelos próprios trabalha-
dores. Havia ali, portanto, mais um desperdício a ser eliminado.

56  2º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • UNITINS


Aula 5 • TEORIA E GESTÃO DAS ORGANIZAÇÕES

5.3.2 Atuar nas causas


Outra questão importante relacionada ao sistema Toyota, e muitíssimo relacio-
nada ao conceito de qualidade, é a busca de atuação das equipes nas causas dos
problemas. Não adianta propor emendas, tratando assim as conseqüências inde-
sejadas de um processo. É preciso identificar quais as causas de tal deficiência, e
nelas atuar. Nesse sentido, qualquer trabalhador deve ter o poder de parar a linha
de produção, ao verificar um problema que comprometa a qualidade do produto
final. Uma técnica bastante utilizada aqui, e que veremos adiante de forma desdo-
brada, é sistematicamente perguntar os porquês. Já estamos quase lá.

5.3.3 Círculos da qualidade


Os círculos da qualidade foram desenvolvidos por Kaoru Ishikawa (que
também colaborará conosco em nosso tópico Ferramentas), e aplicados primei-
ramente na Toyota. A idéia original consistia na criação de grupos de trabalho
voluntários que se reuniam para discutir problemas e propor soluções para a
empresa e seus departamentos.
O objetivo imediato dos círculos da qualidade é complementado por outros
objetivos - implícitos e explícitos. Segundo Maximiano (2004), estes objetivos são:
• envolver os funcionários no processo de análise e resolução de problemas,
alargando seu campo de visão, suas responsabilidades e, conseqüente-
mente, seu sentido de realização;
• melhorar a comunicação dentro do próprio grupo de trabalho, que fica preju-
dicada no sistema tradicional do trabalho isolado da linha de montagem;
• estimular um clima de criatividade, mentalidade da qualidade, autocron-
tole e prevenção de falhas.
Os círculos da qualidade prevêem a utilização de várias ferramentas que
ajudam o processo de gestão, e baseiam-se fortemente em uma metodologia
desenvolvida para a visualização e o tratamento sistemático e sistêmico dos
problemas, a metodologia PDCA. Vamos ver o que é isso?

5.4 PDCA
Um dos princípios da Qualidade é a busca pela melhoria contínua. De nada
vão adiantar informações, indicadores, gráficos e outras ferramentas, se não
houver, por parte do administrador, a percepção da necessidade de sempre
buscar melhorar todos e quaisquer processos organizacionais.
A filosofia do melhoramento contínuo pode ser representada pelo ciclo
PDCA, que também é conhecido como ciclo de Shewhart, que foi o seu ideali-
zador, mas muitos também o conhecem como ciclo de Deming – que você viu
em nosso capítulo sobre a Gestão da Qualidade – que foi efetivamente o respon-
sável por seu desenvolvimento e reconhecimento.

uNITINS • ADMINISTRAÇÃO • 2º PERÍODO  57


Aula 5 • TEORIA E GESTÃO DAS ORGANIZAÇÕES

O ciclo PDCA é um método gerencial, para a promoção da melhoria


contínua, e reflete, em suas quatro fases, a base da filosofia do melhoramento
contínuo. MARSHALL (2003, p. 82) nos revela que “praticando-as de forma
cíclica e ininterrupta, acaba-se por promover a melhoria contínua e sistemática
na organização, consolidando a padronização de práticas”.

Figura 1: Ciclo PDCA

P D
A C

Fica muito fácil a visualização das etapas de desenvolvimento do ciclo PDCA.


Primeiramente, devemos efetuar o planejamento; depois, executá-lo, verificar o seu
desempenho e corrigir eventuais falhas no processo. Não é fácil? Desmembrando o
ciclo PDCA, identificamos algumas atividades que devem ser executadas em cada
uma das etapas, e de que forma elas auxiliam a organização em buscar efetivamente
melhorar os seus processos, seus produtos e, conseqüentemente seus resultados.
Vejamos então como fica o modelo:

Figura 2: Atividades no ciclo PDCA

Fonte: Marshall Jr (2004, p. 82).

Segundo Marshall Júnior (2004), as fases do PDCA são as seguintes:


primeira fase – plan (planejamento). Deve-se estabelecer os objetivos e
metas, para que sejam desenvolvidos métodos, procedimentos e padrões
para alcançá-los. Normalmente, as metas são desdobradas do planeja-

58  2º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • UNITINS


Aula 5 • TEORIA E GESTÃO DAS ORGANIZAÇÕES

mento estratégico e representam requisitos do cliente ou parâmetros e


características de produtos, serviços ou processos. Os métodos contem-
plam os procedimentos e as orientações técnicas necessárias para se atin-
girem as metas;
segunda fase – do (execução). Essa é a fase de implementação do plane-
jamento. É preciso fornecer educação e treinamento para a execução dos
métodos desenvolvidos na fase de planejamento. Ao longo da execução,
devem-se coletar os dados que serão utilizados na fase de verificação.
Quando o pessoal envolvido na execução vem participando desde a fase
de planejamento, o treinamento, em geral, deixa de ser necessário;
terceira fase – check (verificação). É quando se verifica se o planejamento
foi consistentemente alcançado, pela comparação entre as metas desejadas
e os resultados obtidos. Normalmente, usam-se, para isso, ferramentas de
controle e acompanhamento, como cartas de controle, histogramas, folhas
de verificação, entre outras. É importante ressaltar que essa comparação
deve ser baseada em fatos e não em opiniões ou intuição;
quarta fase – act (agir corretivamente). Nessa fase, têm-se duas alternativas.
A primeira consiste em buscar as causas fundamentais, a fim de prevenir a
repetição dos efeitos indesejados, no caso de não terem sido alcançadas
as metas planejadas. A segunda, em adotar como padrão o planejado na
primeira fase, já que as metas planejadas foram alcançadas.
Executar as ações previstas no PDCA faz com que o administrador possa
obter certa previsibilidade dos processos da empresa, e isso certamente aumen-
taria a competitividade da empresa em seu mercado. Isso somente é possível
graças à severa obediência aos padrões. Observaremos na próxima figura que,
quando a melhoria é bem sucedida, a organização deve adotar o método plane-
jado, tomando-o padrão. Se essa não for a condição, voltamos ao padrão ante-
rior, executando o ciclo PDCA novamente.
Nosso próximo passo é conhecer as ferramentas que apóiam esse processo.
Prepare-se para colocar a mão na massa. Vamos em frente?

5.5 Ferramentas
É hora de colocarmos a mão na massa. Você, que a essa altura já é um
apaixonado pelas coisas da administração, vai se deliciar. Está preparado?

5.5.1 Brainstorming
O brainstorming é um processo de geração de idéias, no qual os indiví-
duos de um grupo emitem o maior número de idéias possível, buscando resolver
algum problema existente na organização. A utilização desta ferramenta é muito
importante, pois as idéias surgem de forma espontânea e rápida.

uNITINS • ADMINISTRAÇÃO • 2º PERÍODO  59


Aula 5 • TEORIA E GESTÃO DAS ORGANIZAÇÕES

Normalmente, o número de pessoas envolvidas em um brainstorming varia de


cindo a doze pessoas que, voluntariamente, se dispõem a participar do processo.
É importante lembramos que você deverá estipular regras e tempo limite, para que
sua aplicação não seja inoportuna.
O grande propósito do uso desta ferramenta é fazer com que os colaboradores,
depois de conhecerem o foco da discussão, possam opinar livremente e de forma
criativa acerca do problema apresentado. Além de sua aplicabilidade prática, o envol-
vimento e a participação das pessoas auxiliam no desenvolvimento das equipes.
Segundo Marshall Júnior (2004), o brainstorming apresenta as seguintes
características:
• capacidade de auto-expressão, livre de inibições ou preconceitos da
própria pessoa ou de qualquer outra do grupo;
• liberação da criatividade;
• capacidade de aceitar e conviver com diferenças conceituais e
multidisciplinares;
• ausência de julgamento prévio;
• registro das idéias;
• capacidade de síntese;
• delimitação de tempo;
• ausência de hierarquia durante o processo.
Segundo Rodrigues (2004), para a aplicação eficiente do brainstorming,
devemos dividi-lo em etapas, que serão descritas a seguir, para que você possa
compreender melhor:
etapa 1 – estabelecer o objetivo a ser tratado claramente;
etapa 2 – convocar a equipe;
etapa 3 – indicar um coordenador para dirigir a equipe;
etapa 4 – indicar um membro da equipe que irá registrar as idéias e adminis-
trar o tempo;
etapa 5 – definir regras de funcionamento:
• definir a metodologia, a forma de participação ou intervenção dos membros;
• todas as idéias devem ser registradas onde possam ser vistas por todos;
• nenhuma idéia pode ser criticada ou rejeitada;
• outras idéias podem e devem ser criadas a partir de idéias anteriores.

5.5.2 Cartas de controle


Carta de controle é um tipo específico de gráfico utilizado na gestão de organi-
zações, para a verificação e acompanhamento da variabilidade de um processo,
buscando identificar causas possíveis e anomalias nos processos executados coti-

60  2º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • UNITINS


Aula 5 • TEORIA E GESTÃO DAS ORGANIZAÇÕES

dianamente. É importante frisar que nas cartas de controle estão inseridas causas
comuns (intrínsecas ao processo) e causas especiais (aleatórias).
Segundo Marshall Jr. (2004), as causas comuns estão relacionadas ao funcio-
namento do próprio sistema (por exemplo, projetos e equipamentos), enquanto as
causas especiais refletem ocorrências fora dos limites de controle (falha humana,
queda de energia, matéria-prima inadequada etc). Vejamos a ilustração a seguir.

Figura 3: Carta de controle

LSE
LSC
Indicador da Qualidade

Média

LIC
LIE

Tempo
Fonte: adaptado de Marshall Jr (2004, p. 93).

Para a elaboração de uma carta de controle, é necessário que se efetuem


cálculos estatísticos para a identificação de limites - limite superior de controle
(LSC), e limite inferior de controle (LIC). Com esses dois dados, teremos a média.
Se os dados aqui observados estiverem dentro desses limites, significa que o
processo analisado está sob controle, ou seja, encontra-se estável, e que as
variações fazem parte do processo. Dados encontrados fora desses limites
indicam ocorrências indesejáveis, fato que sugere uma atenção pormenorizada
e detalhada da ocorrência.
Como pudemos perceber, existem dois outros limites - limite superior de espe-
cificação (LSE) e limite inferior de especificação (LIE). A partir de seus indica-
dores, nós administradores podemos perceber que a ocorrência fugiu ao que
está intrinsecamente ligado ao processo, sendo algo anormal. É importante
frisar que os dados utilizados como referência para os limites de especificação
baseiam-se nas expectativas do cliente.
Com a observação dessa ferramenta, o gestor terá clara noção da variabi-
lidade do processo. Não significa dizer que o produto é bom, significa que o
processo é executado com consistência, mesmo que seja consistentemente ruim.

uNITINS • ADMINISTRAÇÃO • 2º PERÍODO  61


Aula 5 • TEORIA E GESTÃO DAS ORGANIZAÇÕES

5.5.3 Diagrama de Ishikawa


O Diagrama de Ishikawa é conhecido por muitos nomes, podendo ser
chamado de diagrama de causa e efeito ou diagrama espinha de peixe. Seu
objetivo fundamental é a identificação das possíveis causas que levam a um
determinado efeito ou problema.
A partir daí, as causas são agrupadas por categorias que indiquem semelhança
e facilitem a identificação efetiva das causas. Segundo Marshall Jr (2004) em linhas
gerais, são as seguintes as etapas de elaboração do diagrama de Ishikawa:
• discussão do assunto a ser analisado pelo grupo, contemplando seu
processo, como ocorre, onde ocorre, áreas envolvidas e escopo;
• descrição do efeito (problema ou condição específica) no lado direito
do diagrama;
• levantamento das possíveis causas e seu agrupamento por categorias
no diagrama;
• análise do diagrama elaborado e coleta de dados para determinar a
freqüência de ocorrência das diferentes causas.
Vejamos a figura que exemplifica o diagrama:

Figura 4: Diagrama de Ishikawa


Materiais Máquinas

Dependência de Falta de manutenção


fornecedor único Temperatura preventiva
inadequada
Insumos de do ambiente Manuais excessivamente
baixa qualidade técnicos
Armazenamento Manuais
inadequado em inglês
dos insumos Exames
laboratoriais
Falta de padrões Desmotivação com erros
documentais
Troca de exames
Erros de digitação
Baixo nível de Nível de escolaridade ou
padronização Rotatividade formação inadequada
excessiva para as funções técnicas
de pessoas

Métodos Mão-de-obra

Fonte: adaptado de Marshall Jr (2004, p. 95).

5.5.4 Diagrama de dispersão


O diagrama de dispersão é uma ferramenta que ajuda o gestor a visualizar
qualquer alteração sofrida por uma variável, quando uma outra se modifica.

62  2º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • UNITINS


Aula 5 • TEORIA E GESTÃO DAS ORGANIZAÇÕES

Esse assunto será discutido também na disciplina Estatística. Um bom exemplo


que podemos utilizar aqui é o impacto do uso de fertilizantes na produtividade
de uma determinada área. Quanto maior a quantidade de fertilizantes, maior a
produtividade. Vejamos a ilustração:

Produtividade Figura 5: Diagrama de Dispersão

Fertilizante
Fonte: adaptado de Marshall Jr (2004, p. 96).

O diagrama de dispersão serve apenas para demonstrar a intensidade da


relação entre variáveis, não objetivando identificar se uma é causa da outra. A
relação, de acordo com a visualização gráfica pode configurar-se em positiva,
negativa ou sem relação entre variáveis.
Vamos para a próxima?

5.5.5 Gráfico de Pareto


O gráfico de Pareto é construído em formato de barras, e a sua principal
característica é a formatação, a partir de dados de freqüência acumulados. Sua
aplicação visa a ajudar o gestor a priorizar ações em problemas que ocorrem
mais freqüentemente na organização.
Essa ferramenta tem suas origens nos estudos de um economista italiano
chamado Vilfredo Pareto, que, analisando a sociedade de seus país à época, chegou
à conclusão que existia uma grande desigualdade na distribuição das riquezas da
população, e em suas conclusões indicou que 20% da população detinha 80% da
renda, enquanto o restante da população brigava pelos 20% da renda restante.
Sucintamente, podemos dizer que um pequeno número de problemas ou
causas indesejadas é responsável pela maioria de ocorrências verificadas em
uma organização. Assim, podem ser tratados os problemas que efetivamente
impactam a eficiência da organização. Vamos visualizar o gráfico?

uNITINS • ADMINISTRAÇÃO • 2º PERÍODO  63


Aula 5 • TEORIA E GESTÃO DAS ORGANIZAÇÕES

Figura 6: Gráfico de Pareto

100%
DIAGRAMA DE PARETO
110
100
90
80
70
60
50
40
30
20
10
0
A B C D E

Bola para frente. Vamos agora entender a relação entre gravidade, urgência
e tendência? Vamos à matriz GUT!

5.5.6 Matriz GUT


Como em outras ferramentas estudadas até aqui, o objetivo da matriz GUT é
estabelecer prioridade para o tratamento de problemas e a análise de riscos. As
letras G, U e T, significam, respectivamente, Gravidade, Urgência e Tendência.
Mas como isso pode ser utilizado e interpretado pelo gestor? Vamos ver?
Gravidade: considera-se a intensidade ou profundidade dos danos que o
problema estudado pode causar, se nada for feito. A escala de 1 a 5 para a
identificação configura-se assim:
1 – dano mínimo;
2 – dano leve;
3 – dano regular;
4 – dano grande;
5 – dano gravíssimo.
Urgência: considera-se o tempo para que a situação fique insustentável, que
se perca o controle. A escala também é de 1 a 5:
1 – longuíssimo prazo (dois ou mais meses);
2 – longo prazo (um mês);
3 – médio prazo (uma quinzena);

64  2º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • UNITINS


Aula 5 • TEORIA E GESTÃO DAS ORGANIZAÇÕES

4 – curto prazo (uma semana);


5 – imediatamente (está ocorrendo).
Tendência: considera-se o desenvolvimento que o problema terá na ausência
de ação. Novamente a escala vai de 1 a 5:
1 – desaparece;
2 – reduz-se ligeiramente;
3 – permanece inalterada;
4 – aumenta;
5 – piora muito.
A técnica consiste na listagem de atividades que devem ser realizadas e, a
partir de discussões em equipe (brainstorming), decide-se o que deve ser feito
prioritariamente. Vamos ver o exemplo.
G U T
Problemas GUT
Gravidade Urgência Tendência
Capacitar colabora-
dores para utilização de 5 5 4 100
equipamentos
Aquisição de novos
2 2 3 12
equipamentos
Desenvolvimento de novos
3 4 4 48
métodos de trabalho
Fonte: adaptado de Meirelles (2001, p. 54).

Note que a última coluna (GUT) refere-se à multiplicação dos três fatores, o
que indica, efetivamente, o problema que deverá ser tratado prioritariamente.
A nossa próxima ferramenta será nossa auxiliar no desenvolvimento de
planos de ação. Não se preocupe com a sopa de letrinhas - 5W2H.

5.5.7 5W2H
Não se assuste com este nome. Esta é mais uma ferramenta administrativa
que irá ajudá- lo em sua organização.
É usada quando o administrador deseja mapear e padronizar os processos
organizacionais e para a confecção e elaboração de planos de ação. É para
o uso de gerentes, e indica responsabilidades, métodos, objetivos, prazos e
recursos utilizados.
Como falamos no início, não é para você se assustar com o nome. Abaixo
relacionaremos o significado de cada um dos 5W e 2H. Eles representam as
iniciais de palavras que vão nortear o desenvolvimento do trabalho. Seguirão na
tabela a seguir, com a devida tradução:

uNITINS • ADMINISTRAÇÃO • 2º PERÍODO  65


Aula 5 • TEORIA E GESTÃO DAS ORGANIZAÇÕES

5W 2H
What - O Que? How - Como?

Who - Quem? How Much - Quanto Custa?

When - Quando?

Where - Onde?

Why - Por que?

Perceberam? Nesta ferramenta você identificará o que será feito por quem,
quando, onde e por que será feito. Complementando teremos como será feito, e
quanto custará.
Abaixo você encontrará um exemplo que certamente o ajudará na sua
compreensão:

Plano de Ação
Setor: Serviços de Apoio e Logística
Objetivo: Reduzir custos internos de geração de fotocópias em 30%
Responsável: João
Prazo: 30-6-200X
CUSTOS
O QUE QUEM QUANDO ONDE POR QUE COMO
(HOW
(WHAT) (WHO) (WHEN) (WHERE) (WHY) (HOW)
MUCH)
Há suspeitas Comparação
de as cláusulas com outros Remuneração
Reavaliação
Em nossa de desconto contratos de 100 horas
de contratos
empresa e por volume (mercado) de técnicos +
e negociação Joana Até 15-4-X
nos forne- não estarem e pesquisa R$ 2.000,00
com os
cedores compatí- junto a em despesas
fornecedores
veis com o fornecedores diversas
mercado alternativos
Há muitas
Nos Conversas
cópias
departa- com as
Estabelecimento particulares
mentos chefias e Remuneração
de maior e também
Paulo Até 10-5-X e cargos responsáveis de 150 horas
rigor nas documentos
com poder pela análise de técnicos
autorizações que poderiam
de autori- de fluxo de
circular por
zação tarefas
e-mail
Realocação Remuneração
Para facilitar das de 120 horas
Na admi-
Centralização a implemen- máquinas de técnicos +
Carlos Até 10-5-X nistração
dos serviços tação de e colabo- R$ 5.000,00
central
controles radores do em obras e
setor mudança
Fonte: Marshal Jr. (2004, p. 103).

66  2º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • UNITINS


Aula 5 • TEORIA E GESTÃO DAS ORGANIZAÇÕES

Síntese da aula
Nessa aula, pudemos conhecer alguns dos principais aspectos relacionados
ao modelo japonês de administração. Conhecemos os preceitos da gestão da
qualidade e, por fim, com gostinho de mão na massa, trabalhamos com algumas
ferramentas administrativas que vão ajudar você a melhorar a gestão das orga-
nizações. Espero que lhes sejam muito úteis, pois a nós o são.

Atividades

1. Qual das assertivas abaixo não corresponde às idéias relacionadas ao


modelo japonês de administração, sendo uma perspectiva ligada ao para-
digma ocidental?

a) Just in time b) Guerra ao desperdício;

c) Produção flexível; d) Just in case.

2. As letras que compõem a metodologia PDCA dizem respeito a ações


quedevem ser desempenhadas pelos gestores e colaboradores de uma orga-
nização. O que significam elas? Preencha as lacunas.
P ____________________
D ____________________
C ____________________
A ____________________

Comentário das atividades


Em nossa atividade um, você poderá reforçar alguns dos preceitos básicos
da gestão segundo o modelo japonês. A assertiva que não faz parte do conjunto,
é o Just in Case. A proposta agora é eliminar desperdícios, estoques, refugos
etc. Estava fácil, não é? Na atividade dois, basta responder, P – Planejamento,
D – ação, C – Verificação e A – ação corretiva.

Referências
MARSHALL Jr. et al. Gestão da Qualidade. Rio de Janeiro: FGV, 2004.
MAXIMIANO, Antônio Cesar Amaru. Teoria Geral da Administração: da revo-
lução urbana à revolução digital. São Paulo: Atlas, 2004.
MEIRELES, Manuel. Ferramentas administrativas para identificar, observar e analisar
problemas: organizações com foco no cliente. São Paulo: Arte e Ciência, 2001.
RODRIGUES, Marcus Vinícius. Ações para a Qualidade. Rio de Janeiro:
Qualitymark, 2004.

uNITINS • ADMINISTRAÇÃO • 2º PERÍODO  67


Aula 5 • TEORIA E GESTÃO DAS ORGANIZAÇÕES

Na próxima aula
Visitaremos as quatro grandes áreas da organização, começando pelas
áreas de pessoas e de marketing. Está na hora de observarmos e começarmos a
nos identificar com as áreas da empresa. Já está pronto? Sei que sim.

Anotações



































68  2º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • UNITINS


Aula 6 • TEORIA E GESTÃO DAS ORGANIZAÇÕES

Aula 6
Grandes áreas: gestão de pessoas
e marketing

Objetivos
Esperamos que, ao final desta aula, você seja capaz de:
• conhecer os processos e a estrutura da área de pessoas em uma
organização;
• conhecer os processos e a estrutura da área de marketing em uma
organização.

Pré-requisitos
É importante que você relembre os parâmetros dos sistemas abertos e também,
que tenha entendido bem todos os aspectos relacionados à estrutura das organiza-
ções, vistos até aqui. Por uma questão de respeito aos autores citados, não faremos
distição entre os termos administração de recursos humanos e gestão de pessoas.

Introdução
Chiavenato (2000) nos ensina que a administração de recursos humanos diz
respeito à administração de pessoas que participam das Organizações e que nelas
desempenham determinados papéis. Sabemos que as pessoas passam a maior
parte de seu tempo trabalhando em organizações, e essas, conseqüentemente,
causam um grande impacto sobre as vidas e qualidades de vidas dos indivíduos.
Nesse contexto, as organizações são constituídas de pessoas e dependem delas
para atingir seus objetivos; em contrapartida, as pessoas dependem das organiza-
ções, para que possam alcançar vários objetivos pessoais que, isoladamente, com
esforço individual, não seriam possíveis de se alcançar. Segundo Chiavenato (2000),
“as organizações surgem exatamente para aproveitar a sinergia dos esforços de
vários indivíduos que trabalham em conjunto”. De acordo com Kwasnicka (1995),
“a Administração de Recursos Humanos representa o esforço das organizações
em atrair, preparar, adaptar, desenvolver e incorporar de forma permanente, bons
profissionais ao esforço produtivo”. O conceito clássico que temos de Recursos
Humanos é o homem certo, no lugar certo e no momento certo.

uNITINS • ADMINISTRAÇÃO • 2º PERÍODO  69


Aula 6 • TEORIA E GESTÃO DAS ORGANIZAÇÕES

6.1 Gestão de pessoas


6.1.1 Fundamentos
Para entendermos o relacionamento entre indivíduos e organizações,
devemos abordá-lo sob o prisma de sistemas abertos em contínua interação com
seus respectivos ambientes - interno e externo
A função de Recursos Humanos (RH) se reflete na vertente externa de relações
com o ambiente onde a empresa age (mercado de trabalho), onde se concentra
o desafio de enfrentar e superar, de forma racional e eficiente, os inúmeros desa-
fios internos em termos de gestão adequada da mão-de-obra disponível.
Todas essas vertentes, externas e internas, devem contribuir, decisivamente,
na maneira como os objetivos serão atingidos em função do planejamento estra-
tégico de RH. Portanto, conseguir o tipo e número certo de pessoas exige plane-
jamento de que irá derivar os planos da organização.
O processo de planejamento ocorre em três estágios: planejamento, progra-
mação e avaliação. De acordo com Bateman e Snell (1998), primeiro os gestores
de RH precisam conhecer os planos de negócio, qual o direcionamento da
empresa, em que negócios participa e qual o crescimento esperado. Em segundo
lugar, programar as atividades específicas, tais como recrutamento, seleção, trei-
namento, demissões. E, nesse estágio, os planos devem ser implementados. Em
terceiro, as atividades de RH são avaliadas, para que se determine se elas estão
de fato produzindo os resultados esperados e se, efetivamente, contribuem com
os planos de negócios da organização.

6.1.2 Objetivos
Os principais objetivos da área de pessoas são:
• criar, manter e desenvolver um contingente de pessoas com habilidades,
motivação e satisfação para realizar os objetivos da organização;
• criar, manter e desenvolver condições organizacionais de aplicação,
desenvolvimento e satisfação plena das pessoas, e alcance dos obje-
tivos individuais;
• alcançar a eficiência e eficácia por intermédio das pessoas.

6.1.3 Dificuldades
Destacamos a seguir, algumas dificuldades encontradas:
• lidar com os meios e não os fins;
• lidar com recursos vivos;
• lidar com todas as pessoas, de diferentes departamentos e chefias;
• não controlar diretamente os eventos e condições que produzem a efici-
ência e eficácia;
• razoável poder e controle sobre os destinos da organização;

70  2º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • UNITINS


Aula 6 • TEORIA E GESTÃO DAS ORGANIZAÇÕES

• não lidar diretamente com as fontes de receitas;


• padrões de desempenho e de qualidade de RH complexos e diferenciados;
• há muitos desafios e riscos não controlados, não padronizados e
imprevisíveis.

6.1.4 Princípios
Não há um campo comum que defina claramente o que o profissional de RH
deve fazer, mas se estabeleceram dez princípios para serem usados em soluções
de problemas e tomada de decisão em sua área de atuação.
Princípio de justiça: imparcialidade, equidade, objetividade e racionalidade.
Respeito: considerar valores e crenças pessoais
Respeito ao todo organizacional: sempre considerar o impacto das decisões
sobre o sistema global.
Serviço: ações e atitudes contributivas para a vida da organização.
Advocacia: ações e atitudes legais.
Autoridade: mais em função de influência e menos de comando.
Razão: procedimentos, políticas e práticas devem sempre ser embasados
na razão.
Papel de RH: desde trabalhos burocráticos de suporte, integração, estra-
tégica, fomento ao desenvolvimento de boas relações interpessoais, até a
oferta de serviços demandados pelas regulamentações ou leis trabalhistas.
Todo versus a parte: apoiar a ligação entre serviços e programas, ressaltando a
importância de todas as áreas que são igualmente essenciais e significantes.
Mediação e não arbitragem: tratar os conflitos pela linha de mediação e não
arbitrariamente, mediação gera compromisso e reconciliação e arbitragem
impõe a decisão à força a uma das partes.
Esses princípios apenas norteiam as ações de RH e são extremamente genéricos,
pois o intuito é ter parâmetros que transcendam todos os tipos de Organização.

6.1.5 Abordagem sistêmica da gestão de pessoas


Vejamos os parâmetros do sub-sistema – gestão de pessoas:
Entradas: sabemos que o sistema é alimentado com informações, energias
ou recursos que impulsionam o processo; em RH, temos duas perspectivas
de alimentação: Políticas de RH e análise do Ambiente externo. Somente a
partir da análise ambiental, teremos subsídios para traçar um conjunto de
políticas que condicionarão as ações do processo.

uNITINS • ADMINISTRAÇÃO • 2º PERÍODO  71


Aula 6 • TEORIA E GESTÃO DAS ORGANIZAÇÕES

Na análise ambiental, devemos considerar vários aspectos: existência de


mão-de- obra necessária na comunidade; perfil do mercado de trabalho,
a imagem da empresa, competitividade, concorrência, cultura e saúde.
Quanto às políticas de RH, devemos considerar: o ambiente e objetivos
empresariais, tecnologia empregada e o mercado de mão-de-obra.
Processo da função gestão de pessoas: a figura acima retrata bem as atividades
que compõem os subsistemas. Segundo Chiavenato (2000), esses cinco subsis-
temas formam um processo global e dinâmico através do qual as pessoas são
captadas e atraídas, aplicadas em suas tarefas, mantidas na organização, desen-
volvidas e monitorizadas pela organização. Esses subsistemas não se relacionam
de uma única e específica maneira e são contingentes ou situacionais, variando
conforme a organização; dependem de fatores organizacionais, humanos, tecno-
lógicos, etc. Portanto, são extremamente variáveis, embora interdependentes.
Saídas: o resultado do processo depende das funções definidas e implemen-
tadas, ou seja, do desempenho da função de RH. Para Kwasnicka (1995), “a
qualidade das decisões e a adequação da política definida anteriormente irão
dar a medida certa do sucesso da administração de Recursos Humanos”.
Os parâmetros básicos para mensuração do desempenho de RH são:
eficácia organizacional, satisfação pessoal, melhoria da tecnologia e imagem
da empresa na comunidade. O desafio para obtenção deste sucesso é o equi-
líbrio entre os objetivos individuais e organizacionais e, para tanto, a empresa
deve buscar uma postura pró-ativa - antecipar desafios, estar sensível às tendên-
cias e cenários e uma postura humanística - tratar todos os colaboradores com
importância e dignidade. E aí vem a pergunta: qual é a cara do pessoal que
você quer na sua empresa?
Falar e entender de gente é um desafio enorme. Todo mundo quer gente
boa trabalhando na empresa. Todavia, quem administra ou manda na empresa
também deve se auto-avaliar, pois a cara do dono é a cara da empresa. Donos
estruturados têm empresas estruturadas, donos gentis têm empresas gentis, donos
grosseiros têm empresas grosseiras.
O grande diferencial para o sucesso é a capacidade de atrair e reter gente
que tenha paixão por servir e ajudar as pessoas a alcançarem o sucesso.

6.2 Marketing
Marketing: fazendo vendas ou fazendo clientes? Quando Henry Ford disse:
“você pode comprar um carro de qualquer cor, desde que seja preto”, jamais
imaginou que as coisas evoluiriam tanto em termos de marketing.
Avançamos várias fases: do marketing de massa; para o marketing de
segmento; marketing de nicho; marketing one to one e chegamos a um marke-
ting personalizado.

72  2º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • UNITINS


Aula 6 • TEORIA E GESTÃO DAS ORGANIZAÇÕES

E, nisso tudo, quais foram os fatores determinantes dessa evolução de


conceitos, jeitos e ferramentas?
O cliente passou a ser visto de uma forma diferente pelas empresas. Começou
a participar das decisões de produtos e serviços. Começou a querer coisas cada
vez mais específicas e personalizadas. Passou a exigir um design e uma estética
a seu gosto.
As empresas, forçadamente, tiveram que ouvir e atender ou não teriam mais
clientes. Muitas delas, aliás, fecharam as portas porque não prepararam o seu
pessoal para ouvir, interpretar e azeitar o processo de produção. Quebraram!
Vale aqui um dos conceitos mais interessantes que já conheci: “marketing é a
capacidade de conquistar e manter relacionamentos lucrativos” (KOTLER, 2000).

6.2.1 Marketing de massa x marketing one-to-one


Veja as diferenças entre o marketing de massa e o marketing um-a-um, apre-
sentado por Kotler (2000):
MARKETING DE MASSA MARKETING UM-A-UM
Cliente médio Cliente individual
Anonimato do cliente Perfil do cliente
Produto padrão Oferta de mercado personalizada
Produção de massa Produção personalizada
Distribuição de massa Distribuição individualizada
Publicidade de massa Mensagem individualizada
Promoção de massa Mensagens de mão dupla
Mensagem de mão única Economias de escopo
Economias de escala Participação do cliente
Participação de mercado Clientes lucrativos
Todos os clientes Retenção do cliente
Atração do cliente Marketing um-a-um
Outras considerações:
Interagir com clientes específicos para conhecer
melhor suas necessidades individuais e construir
relacionamentos mais fortes
Customizar produtos, serviços e mensagens a cada
cliente
Bancos de dados de clientes e database marketing

Se, para as empresas, há um investimento grande em conquistar clientes,


o desafio maior é mantê-los. A todo o momento, vemos empresas conquistando
clientes com a mão direita e perdendo clientes com a mão esquerda.
Como poderíamos, então, gerir o marketing para atrair e, efetivamente,
manter os clientes? Convidamos você, a partir de agora, para conhecer e
aprender a implementar o marketing nas empresas! Vamos nessa?

uNITINS • ADMINISTRAÇÃO • 2º PERÍODO  73


Aula 6 • TEORIA E GESTÃO DAS ORGANIZAÇÕES

6.2.2 Fundamentos
Para Kotler (2000), os conceitos fundamentais de marketing são:
I – definição de marketing
Marketing é um processo social e gerencial pelo qual pessoas e grupos obtêm
aquilo de que necessitam e desejam mediante a criação, oferta e troca de
produtos de valor com outros;
II – conceitos centrais de marketing
Relacionaremos a seguir os principais conceitos relacionados à Gestão
Mercadológica – Marketing:
• Mercados-alvo e segmentação – todo produto ou serviço contém caracterís-
ticas que os profissionais de marketing devem traduzir em benefícios para
o mercado-alvo. São esses benefícios que o consumidor percebe estarem
disponíveis em um produto, que terão impacto na capacidade percebida
de atender à(s) necessidade(s) e ao(s) desejo(s) do consumidor.
• Profissionais de marketing e clientes potenciais – um profissional de marke-
ting é alguém que ativamente busca uma resposta de um ou mais clientes
potenciais, para uma troca de valores. Um cliente potencial é identificado
como alguém que deseja efetuar uma troca e tem condições de fazê-lo.
• Necessidades, desejos e demandas – necessitar é estar em um estado
de privação de alguma satisfação básica. Desejos são anseios por algo
específico que venha satisfazer necessidades. Demandas são desejos por
produtos específicos, apoiados pelo poder de compra.
• Produto ou oferta – qualquer coisa oferecida para venda que satisfaça
uma necessidade ou desejo. Os produtos consistem em três componentes
primários: bens, serviços e idéias. Um produto físico proporciona a ação
ou serviço desejado.
• Valor e satisfação – valor é a estimativa do consumidor quanto à capacidade
geral do produto de satisfazer suas necessidades, esta estimativa é determinada
de acordo com o menor custo possível de aquisição, propriedade e uso.
• Troca e transações – efetuar uma troca significa obter um produto desejado,
mediante o oferecimento em retorno de alguma coisa desejável. Para que o
potencial de troca possa existir, cinco condições são essenciais (p. 34). Uma
transação é a comercialização de valores e envolve várias dimensões.
• Relacionamentos e redes – o marketing de relacionamento desenvolve relacio-
namentos ganha-ganha de longo prazo entre empresas de marketing e partes-
chave (fornecedores, clientes, distribuidores). O resultado final do marketing
de relacionamento é um patrimônio corporativo singular denominado rede de
marketing, de relacionamentos profissionais mutuamente compensadores.

74  2º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • UNITINS


Aula 6 • TEORIA E GESTÃO DAS ORGANIZAÇÕES

• Canais de marketing – alcançar o mercado-alvo é crucial. Para conseguir


isso, a empresa de marketing pode usar canais de comunicação de duas
vias (mídia eletrônica através da Internet) versus meios mais tradicionais.
A empresa deve também tomar decisões sobre os canais de distribuição,
canais comerciais e canais de vendas (para realizar as transações).
• Cadeia de suprimento – um canal mais longo, que se estende das maté-
rias- primas e componentes ao produto final/compradores. A cadeia de
suprimento representa um sistema de entrega de valor.
• Concorrência – inclui todas as ofertas e substitutos rivais reais e poten-
ciais. Uma visão mais abrangente da concorrência ajuda o profissional
de marketing a reconhecer os níveis de concorrência, com base no
grau em que os produtos são passíveis de substituição: concorrência de
marca, setorial, de forma e genérica.
• Ambiente de marketing – o ambiente de marketing inclui o ambiente de tarefa
(participantes imediatos envolvidos nos ambientes de produção, distribuição
e promocional) e o ambiente geral, mais abrangente (ambientes demográ-
fico, econômico, natural, tecnológico, político-legal e sociocultural).
• Mix de marketing – o conjunto de ferramentas de marketing que a
empresa utiliza para atingir seus objetivos de marketing no mercado-alvo.
Envolve o reconhecimento e o uso dos 4Ps (produto, preço, promoção e
praça) e dos 4Cs (cliente, custo, comunicação e conveniência) no curto
e no médio prazos.

6.2.3 A Gestão de marketing


O processo de planejamento e gestão de marketing envolve algumas etapas,
que vamos apresentar agora:

Fonte: Figura adaptada de Kotler (2000)

• PM – Pesquisa de Mercado
• SDP – Segmentação, Definição de público-alvo e Posicionamento
• MM – Mix de Marketing ou composto de marketing
• E – Execução ou implementação
• C – Controle ou monitoramento
• A – Avaliação e feedback

uNITINS • ADMINISTRAÇÃO • 2º PERÍODO  75


Aula 6 • TEORIA E GESTÃO DAS ORGANIZAÇÕES

Vamos acompanhar de forma mais detalhada estes processos?


Pesquisa de mercado: é a primeira coisa que deve ser feita. O propósito da
pesquisa é conhecer o mercado, ouvir os clientes, conhecer os concorrentes,
compreender o comportamento dos consumidores, avaliar os produtos e
serviços, a imagem e a reputação da empresa. Este assunto será abordado
em uma disciplina específica em nossos próximos semestres.
Segmentação, definição de público-alvo e posicionamento: após as informa-
ções obtidas com a pesquisa de mercado, é possível identificar as caracterís-
ticas dos consumidores. Esses consumidores podem ser agrupados por classe
social, idade, sexo, renda, escolaridade, profissão, etc. A esse agrupamento
denominamos de segmento ou segmentos de mercado. A partir dessa reali-
dade, é imprescindível que a empresa selecione quais os agrupamentos
que ela pretende atingir ou atender. Os agrupamentos ou segmentos que a
empresa escolher será o público- alvo, ou seja, o principal grupo de pessoas
a quem vamos vender e servir. Para escolher esse público, é indispensável que
sejam avaliados alguns quesitos, como a mensuralidade, a substancialidade,
a acessibilidade e a operacionalidade em atender o público escolhido.
Uma vez que o público está escolhido, então é a hora e a vez de a
empresa estabelecer sua posição no jogo. Em que posição a empresa vai
jogar? Esse é o posicionamento, ou seja, a forma com que a empresa vai
posicionar seus produtos, serviços, preços, comunicação, localização, distri-
buição mais conveniente para atender os clientes, gerando satisfação e
lucratividade. Nesse momento, a empresa também estará definindo como ela
quer que os clientes a conheçam. Então, cada vez que alguém precisar de
um determinado produto, é interessante que lembrem primeiro de quem? Da
empresa do concorrente ou da minha empresa? Não precisa nem responder,
não é? Quando lembramos de lã de aço, lembramos de quê? De sabão em
pó? De refrigerante? De chinelo de dedos? Então, por que e de que forma
você gostaria de ser lembrado pelos seus clientes? Lembre-se: quem quer ser
tudo para todos, é nada para ninguém. Por isso, é preciso se posicionar no
campo de jogo.
Mix de Marketing: o mix de marketing envolve o que chamamos de 4 Ps:
produto, preço, promoção e praça; ou os 4 Cs: conteúdo, condições, comu-
nicação e conveniência. Se fôssemos ampliar ainda mais, poderíamos então
ter os 7 Cs: comunidade, conectividade, cuidado com o cliente, comuni-
cação, conteúdo, customização e conveniência.
Se partirmos do pressuposto de que a empresa já conhece parcialmente
o mercado, definiu seu público e demarcou o seu posicionamento, agora é a
hora de posicionar seus produtos e serviços, sua política de preços, sua forma
de comunicar e sua conveniência, para que o cliente possa ter comodidade ao
comprar. O cliente dita o que quer! A empresa ouve e coloca à disposição.

76  2º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • UNITINS


Aula 6 • TEORIA E GESTÃO DAS ORGANIZAÇÕES

Quanto mais ajustada estiver essa sintonia, melhor será o relacionamento. De


que forma os clientes querem os produtos, com que design, com que estética,
sabor, embalagem, tamanhos, variações. Quanto eles estão dispostos a pagar,
percebendo as reais utilidades e as características de cada produto? Como eu
mostro tudo isso? A comunicação de todo esse esforço empolga ou desanima,
atrai ou repele, conquista ou não se importa com o cliente? E onde estou, faci-
lita a vida do cliente ou complica a proximidade? Agilizo ou não me preocupo
com a entrega? Cada vez mais os clientes esperam que as empresas dediquem
atenção em organizar melhor tais aspectos.
Execução, controle e avaliação: esse também é o desafio permanente do
gestor. Decidir como executar, controlar e avaliar são requisitos funda-
mentais para mensurar e alinhar os resultados em cada ação. Um dos
diretores da AMBEV disse, em uma oportunidade que onde pudermos
colocar números, colocamos. Quando as ações estão planejadas, é bem
mais fácil definir o perfil da equipe que vai colocar a mão na massa:
fazendo, controlando e avaliando. O monitoramento sistemático das ativi-
dades permitirá o ajuste da rota na direção do alvo, e a avaliação será
a retroalimentação necessária para que o processo de melhoria continue
avançado sempre. Lembre desta máxima: com a mão direita conquistamos
clientes e com a mão esquerda perdemos clientes!

Síntese da aula
Nessa aula, visitamos duas áreas importantíssimas da organização.
Conhecemos a estrutura e o processo da área de gestão de pessoas (recursos
humanos) e também a área de marketing, que trata do relacionamento com o
mercado, com os clientes e suas necessidades. Para reflexão deixo a seguinte
afirmação. Apenas se tivermos equipes compostas de pessoas felizes faremos
nossos clientes felizes. Gestão de pessoas para o marketing.

Atividades

1. Em relação aos processos de Gestão de Pessoas a seguir, responda: todos


eles estão corretos, e são importantes à gestão da organização?
I. Recrutamento
II. Seleção
III. Treinamento
IV. Desenvolvimento
V. Remuneração

(  ) Verdadeiro (  ) Falso

uNITINS • ADMINISTRAÇÃO • 2º PERÍODO  77


Aula 6 • TEORIA E GESTÃO DAS ORGANIZAÇÕES

2. O conjunto de ferramentas de marketing que a empresa utiliza para atingir


seus objetivos de marketing no mercado-alvo é comumente chamado de
quatro P’s. Quais são eles? E quais são os quatro C’s correspondentes?
P__________ C__________
P__________ C__________
P__________ C__________
P__________ C__________

Comentário das atividades


Na atividade um, todos os processos são relativos à gestão de pessoas, e
tenho certeza de que você matou com tranqüilidade. Na atividade dois se você
assim seqüenciou: produto (cliente), preço (custo), promoção (comunicação) e
praça (conveniência), acertou. Você terá oportunidade de rever esses assuntos
em outras disciplinas de nosso curso. Foi só um aperitivo!

Referências
BATEMAN, Thomas S.; SNELL, Scott A. Administração - construindo uma vantagem
competitiva. São Paulo: Atlas, 1998.
CARVALHO, Antonio Vieira de.; NASCIMENTO, Luiz Paulo do. Administração
de Recursos Humanos. São Paulo: Pioneira, 1997.
CHIAVENATO, Idalberto. Recursos Humanos. São Paulo: Atlas, 2000.
KOTLER, Phillip. Marketing de A a Z. Rio de Janeiro: Campus, 2000.
KWANISCKA, Eunice Lacava. Introdução à Administração. São Paulo: Atlas, 1995.

Na próxima aula
Dando continuidade às grandes áreas da empresa, vamos conversar sobre a
área de produção, onde dedicamos nossa energia (gestão de pessoas) para fabricar
produtos/serviços que atendam às necessidades dos clientes (marketing). Vamos
estudar, também, a área financeira da organização, conhecendo seus processos e
estruturação. É uma pena, mas estamos no fim. Pronto para a última? Vamos lá!

Anotações




78  2º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • UNITINS


Aula 7 • TEORIA E GESTÃO DAS ORGANIZAÇÕES

Aula 7
Grandes áreas: produção e finanças

Objetivos
Esperamos que, ao final desta aula, você seja capaz de:
• conhecer os processos e a estrutura da área de produção em uma
organização;
• conhecer os processos e a estrutura da área finaceira e suas principais
aplicações e tarefas.

Pré-requisitos
É importante que você tenha compreendido bem os princípios relativos à
Administração Científica de Taylor e as aplicações de Ford, para um melhor
entendimento dos processos de gestão da produção. Para a função financeira,
você também utilizará os princípios vistos em nossa disciplina Teoria Geral da
Administração (primeiro período), além de relembrar questões referentes à estru-
tura organizacional, vistos neste material, em nossa segunda aula.

Introdução
Todas as organizações trabalham com o objetivo de produzir algo,
sejam bens ou serviços. Para tanto uma importante questão é identificar a
necessidade de recursos financeiros necessários para que se transformem os
esforços da organização em algo que atenda às necessidades dos clientes.
Vamos começar com a área de produção e seus processos. Está preparado?
Na ­seqüência conheceremos as peculiaridades da área financeira da organi-
zação. Vamos em frente!

7.1 Produção
Kwasnicka (1995) nos ensina que as organizações, para sobreviver, devem
produzir algo de que as pessoas necessitem, ao preço que elas estão dispostas
a pagar. A função Produção é uma atividade de transformação de matéria-prima
em utilidades necessárias ao consumidor.

uNITINS • ADMINISTRAÇÃO • 2º PERÍODO  79


Aula 7 • TEORIA E GESTÃO DAS ORGANIZAÇÕES

Para Stoner (1994), o processo de transformação de insumos em produtos ou


serviços varia de organização para organização e tem representado um desafio ao
gestor, à medida que os consumidores querem produtos e serviços com altos níveis de
qualidade, flexíveis, confiáveis e com características extras. Tradicionalmente, atender
essas expectativas, gera bens caros de se produzir. Conscientizar-se das prioridades
competitivas, estabelecer padrões que possibilitem a projeção de sistemas operacio-
nais, que atendam as crescentes expectativas dos consumidores, são as formas que os
administradores têm para igualar os planos de produção aos planos estratégicos.
Para se entender a função produção e, conseqüentemente, projetar um
sistema eficiente, devemos tomar decisões sobre quais e quantos produtos e
serviços serão produzidos, como e onde eles serão produzidos e por quem.
Considerando que cada organização tem suas peculiaridades, que dependem
muito do produto oferecido ao mercado e sua capacidade de produção, um bom
início é compreender os subsistemas essenciais desta função, quais sejam: enge-
nharia do produto, o planejamento da produção e a engenharia do processo.
Observando as entradas: inputs no modelo sistêmico, consideramos quatro
elementos fundamentais e essenciais para a produção tomar forma e operar, ou
seja, entrar em pleno funcionamento.
A primeira se refere à tecnologia que será empregada e utilizada pela organi-
zação, suas características técnicas, tipo de matéria-prima, equipamentos neces-
sários, graus de automação, processos contínuos ou intermitentes. A segunda
entrada diz respeito à força de trabalho e se resume no conhecimento do perfil
da mão-de-obra disponível e necessária à tecnologia definida. Este elemento
é de suma importância, pois é imprescindível ao sucesso de sua produção e
qualidade de seus produtos, refletindo a produtividade. O terceiro elemento de
entrada é o capital financeiro de que a organização dispõe, para iniciar seus
negócios e adquirir os elementos que impulsionam a produção, como os insumos
de produção. E o não menos importante, quarto elemento, as necessidades do
mercado que se traduzem em conhecimento e certeza de se produzir algo que
as pessoas querem e necessitam consumir.
O núcleo do sistema estará, portanto, pronto para iniciar os preparativos para
começar suas atividades, ou seja, detalhar os três subsistemas mencionados.

7.1.1 Engenharia do produto


A engenharia do produto se subdivide em três etapas:
a) o planejamento e projeto de produtos e serviços – engenharia diz
respeito à decisão da empresa quanto à forma e o projeto de execução
desses produtos ou serviços. E, mesmo que esta já esteja estabelecida
há algum tempo, pode e deve adequar seu produto às demandas do
mercado e renova ou reformula seu projeto. Para Stoner (1994), esse
processo consiste em três etapas básicas:

80  2º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • UNITINS


Aula 7 • TEORIA E GESTÃO DAS ORGANIZAÇÕES

I. pesquisa: gerar as idéias dos produtos/serviços;


II. seleção: entre as idéias geradas pela pesquisa, escolher as tecnolo-
gicamente viáveis, comercializáveis e compatíveis com a estratégia
geral da organização;
III. projeto: estipular especificações estratégicas para o produto/serviço. As
especificações finais devem ser ótimas em termos de confiabilidade, flexi-
bilidade, velocidade de entrega, qualidade e custo (produtibilidade).
Os cinco objetivos estratégicos da produção consistem na confiabilidade, flexi-
bilidade, velocidade de entrega, qualidade e custo do produto ou serviço.
Em termos literais, a produtibilidade é garantida à medida que verificamos
se o produto e serviço são produzidos economicamente em níveis acei-
táveis de qualidade e confiabilidade, dentro dos sistemas de operação
existentes. Se não for, quais ajustes são necessários para produzi-los?
Esses ajustes são possíveis ou demandam a mudança radical do sistema?
Portanto, devemos continuamente analisar a produtibilidade;
b) o desenvolvimento e especificação do produto: correspondem à fase de
execução dos desenhos, com todos os detalhes bem especificados, inclusive,
se houver necessidade, criação de protótipos, os quais são submetidos a
vários testes, como meio de garantir o sucesso final do produto. Ainda nesta
fase, são necessárias as especificações e descrição do material a ser usado,
os procedimentos operacionais, tais como: padrões de desempenho, tole-
rância, dimensões, entre outros; é o detalhamento do produto final;
c) especificação do processo: sabemos que o processo operacional ou de
produção inicia-se com o fluxo de matéria-prima e termina com o produto
acabado até sua estocagem, mas de que modo o produto ou serviço
deve fluir através dele? Esta decisão é necessária em dois momentos na
empresa, quando esta está em início de operação e quando irá começar
uma nova produção referente a um novo produto.
Desenhos e gráficos de montagem, fichas de itinerários e gráficos de fluxo
ajudam a analisar e desenrolar o processo. Segundo Stoner (1994), a análise
pode levar a mudança da seqüência, a combinação ou eliminação de opera-
ções para reduzir os custos de manuseio de materiais e armazenagem. Em geral,
quanto menos armazenamento e atrasos envolvidos no processo, melhor.

7.1.2 Planejamento e controle da produção


O planejamento e controle da produção é assim dividido:
a) planejamento da produção: decidido sobre o produto ou serviço, passamos
ao planejamento das atividades necessárias a consecução destes.
O planejamento da produção envolve as decisões sobre instalações,
capacidade e seleção e edificação do prédio.

uNITINS • ADMINISTRAÇÃO • 2º PERÍODO  81


Aula 7 • TEORIA E GESTÃO DAS ORGANIZAÇÕES

Quanto às decisões sobre as instalações, essas se baseiam em vários crité-


rios qualitativos e quantitativos. Os fatores quantitativos incluem impostos
estaduais e locais, custo de vida local, custos de seguros, transportes, mão-
de-obra local, materiais, construção, energia e terrenos. Esses custos são
quantificáveis, o que facilita analisar as alternativas por meio de compa-
ração, entretanto, as questões qualitativas devem ser ponderadas na hora
da decisão. As questões qualitativas incluem: proximidade do mercado x
proximidade do fornecedor; clima, atitudes da comunidade, atendimento
médico e hospitalar e muitos outros fatores.
No quesito capacidade, as decisões devem estar focadas no quanto se
é capaz de produzir, levando-se em conta a capacidade do mercado
consumidor. Devemos nos preocupar com o equilíbrio entre a capaci-
dade de produção e a do mercado em consumir, uma vez que criar
mais capacidade de produção sem haver necessidade é dispendioso e,
mantê-la baixa, pode provocar perda de mercado.
Para a seleção e edificação da fábrica, devemos considerar facilidade
de expansão, sistema de luz e ventilação, flexibilidade na disposição do
layout e os custos de manejo dos materiais. Deve-se verificar, também,
as instalações aos empregados, refeitórios, ambulatórios, áreas de
descansos, conforme determinações legais ou a critério da empresa;
b) programação da produção: corresponde ao detalhamento dos
programas e planos de produção, embasados no planejamento estraté-
gico, para um nível mais compreensível aos escalões inferiores da orga-
nização. Segundo Kwasnicka (1995), podemos definir a programação
de produção como a atividade que procura combinar as necessidades
de produção com os recursos e equipamentos disponíveis. Cada ativi-
dade é coordenada com outras, para que o fluxo caminhe calmamente,
produzindo os resultados esperados.
Os problemas mais comuns na programação são relacionados ao estoque
frente à demanda flutuante. As alternativas são: manter a produção fixa e o
estoque alto, a um custo é elevado; variar a produção, segundo a demanda,
e manter o estoque pequeno, gerando, ainda, um custo alto ou, ainda,
manter os dois sistemas, para ter um estoque mínimo a custo mínimo.
Existem várias técnicas para se programar as atividades de produção,
ferramentas como Gráfico de Gantt, PERT, CPM, entre outros, que disci-
plinam a análise dos trabalhos a serem executados e forçam o gestor a
pensar logicamente e a programar melhor a produção. Mas uma das
melhores inovações são os softwares de administração de projetos, que
oferecem alguns relatórios padronizados e, diferentemente destas ferra-
mentas citadas, que são mais simples, os softwares permitem que os
gestores experimentem os cenários de e se para achar o modo mais
rápido e barato de executar tarefas e subtarefas relacionadas;

82  2º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • UNITINS


Aula 7 • TEORIA E GESTÃO DAS ORGANIZAÇÕES

c) controle da produção: é de extrema importância para se verificar se


as exigências do mercado estão sendo atendidas. A complexidade ou
simplicidade do controle está correlacionada ao quanto é simples ou
complexo o sistema de produção.
No controle de produção, as atividades mais importantes são:
I. assegurar a qualidade do produto acabado ou de suas partes;
II. assegurar a qualidade da matéria-prima utilizada;
III. definir padrões para a qualidade necessária ao produto;
IV. estabelecer um programa de inspeção, definindo quem, quando,
quanto e onde inspecionar.

7.1.3 Engenharia do processo


Na engenharia do processo temos:
a) Layout: é o planejamento do arranjo físico e envolve decisões sobre
como organizar espacialmente as instalações físicas. Segundo Stoner
(1994), no planejamento do arranjo físico as decisões de processo e de
equipamentos são traduzidas em arrumações físicas para produzir.
Devemos nos preocupar com espaços para instalações produtivas - postos
de trabalho e equipamentos; instalações não-produtivas – armazenagem
e locais de manutenção, e instalações de apoio – escritórios, banheiros,
refeitórios, estacionamentos e salas de espera. Na prática, a maior parte
dos sistemas de operações utiliza uma combinação de arranjos físicos
apropriados aos diversos estágios da criação do produto ou serviço;
b) desenvolvimento do processo: podemos incluir as atividades inerentes
às funções operacionais que tratam da transformação dos materiais.
O fluxo dentro do processo de produção consiste em liberar e enviar
os planos, programas e recursos ao local da operação e, após a sua
execução, inspecionar e expedir.
Esse fluxo está relacionado ao tipo de operação – contínua e intermi-
tente – e ao controle e inspeção da produção. A operação contínua
é aquela em que o produto passa pelo fluxo longo de operação, sem
sofrer interrupções bruscas; e a operação intermitente exige freqüentes
interrupções do equipamento. Quanto ao controle e inspeção, consiste
no conjunto de procedimentos que tem por objetivo coordenar os
elementos de produção a fim de obter o melhor resultado de produção,
a um baixo custo. Normalmente, faz-se o controle do processo e o
controle do produto, o primeiro é mais abrangente e serve como feed-
back ao sistema global; o segundo, mais pontual e vai definir a quali-
dade obtida na produção;

uNITINS • ADMINISTRAÇÃO • 2º PERÍODO  83


Aula 7 • TEORIA E GESTÃO DAS ORGANIZAÇÕES

c) serviços de apoio: obviamente, a produção interage com várias ativi-


dades auxiliares, pois fazem parte de um modelo sistêmico de configu-
ração, caracterizado por inúmeras interações. As atividades auxiliares
ou de apoio ao processo produtivo são: almoxarifado, manutenção,
ferramentaria, apontamento de mão de obra, armazenagem, etc.
Neste capítulo, foram apresentados os aspectos principais da Função
Produção e, como podemos observar, as atividades que, resumida-
mente, influenciam a produtibilidade (custo, qualidade, velocidade de
entrega, confiabilidade e flexibilidade), são:
I. planejar as necessidades futuras de capacidade de forma que se
possa atender à demanda de mercado;
II. planejar os níveis apropriados de estoque, garantindo o funciona-
mento suave da fábrica com o mínimo de investimento possível;
III. programar atividades de produção, de forma a não desperdiçar
esforços, ocupando os recursos com as atividades prioritárias,
visando a atender plenamente os pedidos dos clientes;
IV. indicar a situação corrente das pessoas, equipamentos, materiais,
ordens e demais recursos produtivos, de forma a manter o plane-
jado alinhado às ações de produção;
V. prover informações a respeito das atividades físicas e financeiras da
produção, de forma que todas as funções da organização atuem de
modo coerente e integrado;
VI. manter e cumprir os prazos dados aos clientes, mesmo em situações
ambientais dinâmicas e difíceis de prever.

7.2 Finanças
Os aspectos financeiros das empresas passaram por diferentes enfoques no
decorrer dos tempos, como vários processos e estruturas da administração.
No passado, a principal preocupação voltava-se à obtenção de fundos;
depois, em como utilizá-lo, e, nesta fase, houve trabalhos significativos para desen-
volver uma análise sistemática da empresa e o fluxo de fundos correspondente.
Nos dias de hoje, o principal enfoque baseia-se no processo decisório, na
busca de valor para o negócio. Quais decisões financeiras maximizam a valo-
rização da empresa? De acordo com Gropelli e Nikbakht (1998), finanças é a
aplicação de uma série de princípios econômicos para maximizar a riqueza ou
valor total de um negócio.
Para Kwasnicka (1995), o valor da empresa hoje depende do fluxo de ganho
que se espera gerar no futuro. As decisões financeiras afetam ambos: o volume
do fluxo de ganho ou lucratividade e os riscos que envolvem esses ganhos.

84  2º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • UNITINS


Aula 7 • TEORIA E GESTÃO DAS ORGANIZAÇÕES

7.2.1 Abordagem sistêmica da gestão financeira


O sistema global da função financeira está baseado nas principais áreas de
decisão financeira, das quais podemos destacar: a decisão sobre investimento,
a decisão de distribuição dos lucros e de financiamento.
Os principais objetivos da função financeira se concentram em obter o
montante adequado de capital, conservá-lo e obter lucro com o seu uso. De
acordo com Ross apud Lemes Júnior (2002), é objetivo normativo da empresa
maximizar o valor de mercado do capital dos proprietários existentes.
Administração Financeira é a arte e a ciência de administrar recursos finan-
ceiros para maximizar a riqueza dos acionistas.
Modelo sistêmico da função financeira
Analisando a função financeira sistemicamente, temos:
• entradas: são todas as informações que afetam direta ou indiretamente
o fluxo de fundos da empresa; quanto mais informações agregarmos,
principalmente as provenientes das interações ambientais externas, mais
êxito teremos em nossas ações financeiras.
Como todos os planejamentos, marketing, produção, pessoal, etc.,
envolvem algum recurso financeiro, todos, obviamente, afetam o plane-
jamento financeiro. E, neste planejamento, deve-se incluir o orçamento
financeiro, procedimentos e controles e previsões.
A preparação do Orçamento envolve todas as outras funções, corres-
ponde a uma tarefa interfuncional e compete à Função Financeira apenas
a consolidação das partes elaboradas. Isto garante o equilíbrio de receita
e despesa, evitando distorções causadas por problemas internos.
Os procedimentos e controles financeiros são feitos por meio de demons-
trativos financeiros, os quais controlam três importantes condições: liquidez
- capacidade de converter itens do ativo em caixa, financeira geral - equi-
líbrio a longo prazo entre dívidas e patrimônio líquido e sua rentabilidade
- capacidade de ter lucro com regularidade e durante um bom tempo.
O ambiente externo tem grande interação com a função financeira, devido à
política econômica, que regulamenta o mercado financeiro, principal fonte
de recursos empresariais. O mercado de capitais é um grande elemento
de entrada para o sistema financeiro da empresa. A Bolsa de Valores e o
comportamento dos juros são importantes tanto na busca quanto na apli-
cação de recursos. O regime político- econômico pode permitir ou inibir o
crescimento de determinados setores, bem como pode, ou não, incentivar
uma maior participação do capital privado na economia.
• processo: compõem-se de três partes estreitamente relacionadas com as
áreas de decisões financeiras já faladas: Fonte de Recursos, Aplicação
de Recursos e Pagamento de Dividendos.

uNITINS • ADMINISTRAÇÃO • 2º PERÍODO  85


Aula 7 • TEORIA E GESTÃO DAS ORGANIZAÇÕES

As Fontes de Recursos podem se tornar um problema complexo para a


empresa, dependendo do custo para garantir os fundos necessários. Muitas
empresas não geram fundos suficientes, provenientes de suas vendas para
crescer. Para simplificação, estamos considerando apenas duas grandes
fontes de recursos: a de terceiros e a própria. A fonte de terceiros, podemos
classificá-la em: empréstimo de capital de terceiros - proveniente de bancos,
outras empresas e agências governamentais, e emissão de debêntures (títulos
de crédito emitidos por empresa de sociedade anônima) - títulos representa-
tivos de dívida geral a longo prazo, com custo fixo de juros, prevendo uma
escala de resgate de valor corrigido. A fonte de capital próprio corresponde,
desde a constituição do capital com reservas dos proprietários, emissão de
títulos ao investidor, retenção de lucros e depreciação do ativo fixo.
Aplicação de Recursos sofre restrições, as quais podemos considerar:
restrições regulamentares, restrições competitivas e restrições impostas
pelas fontes de recursos propriamente dita. O dilema financeiro consiste
em manter a liquidez e a rentabilidade. Segundo Kwasnicka (1995), toda
empresa necessita de suficiente liquidez para manter um bom crédito na
praça e esse objetivo está relacionado com o aspecto investimento, o uso
do capital para aumentar a liquidez pode resultar na perda de lucro. Daí
a necessidade de prestar muita atenção à natureza dos investimentos.
Pagamento de dividendos é a principal razão porque os investidores
compram ações de uma empresa. Esta, por sua vez, deve manter suas
ações atrativas a investimentos, desenvolvendo boas políticas de divi-
dendos. Sua preocupação deve estar focada no fluxo de caixa, já que
o pagamento de dividendos diminui o fluxo de dinheiro.
• Saídas: os outputs do sistema financeiro estão muito ligados à imagem da
empresa, principalmente para as empresas de capital aberto. Como já
dissemos anteriormente, o objetivo da empresa é maximizar a riqueza de
seus proprietários, no momento que o valor de mercado da empresa for
aumentado, este objetivo será atingido. Para isso deve-se considerar: lucros
por ação, retornos de investimentos, política de dividendos, entre outros. As
ferramentas que possibilitam essa análise são os demonstrativos financeiros
- que incluem balanços, demonstrativos de resultados e os fluxos de caixa -
fornecendo uma fotografia instantânea da liquidez, da condição financeira
geral e da lucratividade. Além disso, existem os índices financeiros - que
comparam o desempenho financeiro da empresa numa área específica.

7.2.2 Decisões da Área Financeira


a) Decisão de financiamento
Lemes Jr. (2002) nos ensina que a estrutura financeira de uma empresa corres-
ponde à composição de seus recursos, ao seu passivo. As decisões de financiamento
devem ancorar-se na análise de uma série de questões inerentes ao passivo.

86  2º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • UNITINS


Aula 7 • TEORIA E GESTÃO DAS ORGANIZAÇÕES

Estrutura do passivo a ser analisadas.


• Qual a estrutura de capital?
• De onde vêm os recursos?
• Qual a participação de capital próprio?
• Qual a participação de capital de terceiros?
• Qual o perfil de endividamento?
• Qual o custo de capital e como reduzi-lo?
• Quais as fontes e custos de financiamentos?
• Quais delas devem ser substituídas ou eliminadas?
• Qual o risco financeiro?
• Qual o sincronismo entre os vencimentos das dívidas e a geração de
meios de pagamento?
b) Decisão de investimento
Toda aplicação de capital em algum ativo, seja ele tangível ou não, visando
a obter retorno no futuro, é um investimento. Os investimentos empresariais podem
abranger desde a aquisição de novas linhas de produção, de reposição de equipa-
mentos, substituição de mão-de-obra até a criação de uma nova empresa.
Ao contrário das decisões de financiamento em que analisávamos o
passivo, nossa preocupação agora é com as contas do ativo. Segundo Lemes
Júnior, mesmo sabendo que as estruturas das empresas variam e todas possuem
características específicas, as questões a serem analisadas no processo deci-
sório de investimento são semelhantes para qualquer uma. O que varia é a
extensão e grau de importância destas questões para atender suas caracterís-
ticas próprias.
Estrutura do ativo que deve ser analisada.
• Onde estão aplicados os recursos financeiros?
• Quantos em ativos circulantes ou permanentes?
• Qual a melhor composição dos ativos?
• Qual o risco de investimento?
• Qual o retorno do investimento?
• Quais as novas alternativas de investimentos?
• Como decidir em quais ativos investir?
• Como maximizar a rentabilidade dos investimentos existentes?
• O que deve ser descartado, reduzido ou eliminado, por não acres-
centar valor?

uNITINS • ADMINISTRAÇÃO • 2º PERÍODO  87


Aula 7 • TEORIA E GESTÃO DAS ORGANIZAÇÕES

Todas as perguntas acima são imprescindíveis, para que o gestor tenha subsí-
dios suficiente para basear suas decisões.

7.2.3 Funções da gestão financeira


As principais funções da administração financeira são agrupadas em duas
grandes áreas: Tesouraria e Controladoria.

Tabela 1: Administração financeira


Tesouraria Controladoria
Administração de Caixa Administração de custos e preços
Administração de Crédito e Cobrança Auditoria Interna
Administração de Risco Contabilidade
Câmbio Orçamento
Decisão de Financiamento Patrimônio
Decisão de Investimento Planejamento Tributário
Planejamento e Controle Financeiro Relatórios Gerenciais
Proteção dos Ativos Salários
Relação com acionistas e investidores Sistemas de Informação
Relações com os Bancos
Fonte: adaptado de Kwaniscka (1995, p. 121).

Portanto, a Administração envolve, basicamente, a gestão de recursos financeiros,


e o gestor financeiro é responsável pela saúde econômica e financeira da empresa.

Síntese da aula
Nessa aula, a nossa última, conhecemos de forma geral, as estrututuras e
funções das áreas de produção e finanças de uma organização. Vimos as princi-
pais decisões relacionas a cada uma delas, analisando de forma sistêmica e inte-
grada. Lembro também que estas duas áreas serão estudadas de modo pormenori-
zado em outas disciplinas de nosso curso, como a Gestão da Produção e Logística
e a Administração Financeira e Análsie de Investimentos. Até lá, fica o gostinho.

Atividades

1. No controle de produção, temos várias atividades importantes. Qual das


assertivas abaixo não está correta?
a) Assegurar a qualidade do produto acabado, não de suas partes.
b) Assegurar a qualidade da matéria-prima utilizada.
c) Definir padrões para a qualidade necessária ao produto.
d) Estabelecer um programa de inspeção, definindo quem, quando, quanto
e onde inspecionar.

88  2º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • UNITINS


Aula 7 • TEORIA E GESTÃO DAS ORGANIZAÇÕES

2. Identifique, na lista a seguir, o tipo de decisão: de investimento, de financia-


mento ou de distribuição de dividendos.

Ações Decisões
Gastos com automação comercial
Reforma de linhas de produção antigas
Captar recursos do mercado estrangeiro
Repassar as bonificações aos acionistas
Reinvestimento dos lucros na empresa
Adoção de novas tecnologias

Comentário das atividades


Na atividade um, a pegadinha estava na alternativa a. O controle deve ser
feito tanto no produto acabado, quanto em partes do produto. Na segunda ativi-
dade, você identificou os tipos de decisão. Vamos comentá-los em nossa lista de
discussão no Ambiente Virtual de Aprendizagem – AVA. Nos vemos lá!

Referências
BATEMAN,Thomas S.; SNELL, Scott A. Administração: construindo uma vantagem
competitiva. São Paulo: Atlas, 1998.
GROPPELLI, A. A.; NIKBAKHT, Ehsan. Administração Financeira. São Paulo:
Saraiva, 1998.
KWANISCKA, Eunice Lacava. Introdução à Administração. São Paulo: Atlas, 1995.
LEMES JÚNIOR, Antonio Barbosa et al. Administração Financeira: princípios,
fundamentos e práticas brasileiras. Rio de Janeiro: Elsiever, 2002.
STONER, James A. F.; FREEMAN, R. Edward. Administração. Tradução de Alves
Calado. Rio de Janeiro: LTC, 1994.

Anotações









uNITINS • ADMINISTRAÇÃO • 2º PERÍODO  89


Aula 7 • TEORIA E GESTÃO DAS ORGANIZAÇÕES

90  2º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • UNITINS


EQUIPE UNITINS

Organização de Conteúdos Acadêmicos


1ª versão: Marcelo Rythowem
2ª versão: Leila Amaral

Coordenação Editorial
Maria Lourdes F. G. Aires

Assessoria Editorial
Darlene Teixeira Castro

Assessoria Produção Gráfica


Katia Gomes da Silva

Revisão Didático-Pedagógica
Marilda Piccolo

Revisão Lingüístico-Textual
Ivan Cupertino Dutra

Revisão Digital
Douglas Donizeti Soares

Projeto Gráfico
Douglas Donizeti Soares
Irenides Teixeira
Katia Gomes da Silva

Ilustração
Geuvar S. de Oliveira

Capa
Igor Flávio Souza

Equipe Fael
Créditos

Coordenação Editorial
Leociléa Aparecida Vieira

Assessoria Editorial
William Marlos da Costa

Revisão
Juliana Camargo Horning
Lisiane Marcele dos Santos

Programação Visual e Diagramação


Denise Pires Pierin
Kátia Cristina Oliveira dos Santos
Rodrigo Santos
Sandro Niemicz
William Marlos da Costa
O conjunto de textos e atividades que você está recebendo é um
instrumento de aprendizagem que, mais do que um conjunto de conteúdos
e verdades, é um roteiro de estudos. Um mapa que o ajudará a compre-
ender os processos de produção e de circulação do conhecimento.
No dia-a-dia de suas atividades acadêmicas e profissionais, a leitura
deverá estar muito presente. Saber ler é fundamental. Para auxiliá-lo na
sua leitura, faça uso de um bom dicionário.
A disciplina Metodologia da Ciência e da Pesquisa o auxiliará na

Apresentação
compreensão dos procedimentos que lhe permitirão realizar seus estudos
e organizar suas produções acadêmicas de forma coesa e significativa.
Disponibilizará, também, instrumentais indispensáveis para que você seja
capaz de atingir seus objetivos nesse curso: o estudo e a pesquisa nas
áreas de conhecimento em que está inserido.
Neste caderno de conteúdos e atividades, você conhecerá os vários
tipos de conhecimento humano e suas principais diferenças. Saberá,
também, que o conhecimento científico é um tipo de conhecimento que
utiliza determinados métodos e procedimentos para alcançar seus obje-
tivos. Você entrará em contato com as diferentes modalidades de pesquisa
científica e conhecerá o instrumental de cada uma delas. Além disso,
aprenderá como registrar e comunicar trabalhos científicos, bem como as
técnicas de elaboração do projeto de pesquisa, do artigo científico e do
trabalho de conclusão de curso – TCC.
Ao preparar este material, buscamos lhe oferecer subsídios nessa
perspectiva. Portanto, o que se verá nele é resultado de nossa experiência
como professores da disciplina, tendo por base a pesquisa bibliográfica
por meio da produção e da síntese de textos. A bibliografia indicada
pode e deverá ser referência para suas consultas.
Faça bom uso do material. Ele será seu grande companheiro para
sistematizar suas atividades de produção acadêmica.
Prof.ª Leila Amaral
EMENTA
Fundamentos da teoria do conhecimento, epistemologia, ciência, ideo-
logia, crise paradigmática e pós-modernidade. Disciplinaridade, interdiscipli-
naridade e perspectivas multidisciplinares e multirreferenciais na produção e
difusão do conhecimento científico. Métodos e técnicas de estudo. Tipos de
trabalho científicos e normas de elaboração: resenha, resumo, artigo científico
Plano de Ensino

e comunicação científica.

OBJETIVOS
• Compreender os pressupostos teórico-metodológicos básicos de
iniciação à pesquisa científica.
• Refletir sobre as diferentes abordagens metodológicas utilizadas
em pesquisa.
• Discutir a contribuição das abordagens multi e interdisciplinares na
produção e na divulgação do conhecimento científico.
• Utilizar as técnicas de elaboração do trabalho acadêmico-científico.

CONTEÚDO PROGRAMÁTICO
• O processo de construção do conhecimento
• O conhecimento científico e o método
• A pós-modernidade e a crise dos paradigmas
• Múltiplos olhares do conhecimento científico
• A pesquisa científica: tipos e técnicas
• Tipos e normas de trabalhos científicos
BIBLIOGRAFIA BÁSICA
ANDRE, Marli Eliza D. A. O papel da pesquisa na formação e prática dos profes-
sores. Campinas: Papirus, 2001. (Série Prática Pedagógica)
BARROS, Aidie de Jesus Paes. LEHFELD, Neide A. de Souza. Projeto de pesquisa:
propostas metodológicas. 12. ed. rev. amp. Petrópolis: Vozes, 2001.
BRANDÃO, Carlos Rodrigues (Org.). Repensando a pesquisa participante. São
Paulo: Brasiliense, 1984.
GIL, Antonio C. Como elaborar projetos de pesquisa. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2002.
LAKATOS, Eva M.; MARCONI, Marina. Fundamentos de metodologia científica.
São Paulo: Atlas, 2003.
SEVERINO, A J. Metodologia do trabalho acadêmico. 21. ed. São Paulo:
Cortez, 2000.

BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR
CERVO, A. L., BERVIAN, P. A. Metodologia científica. São Paulo: McGrraw-
Hill, 1977.
GOLDENBERG, Miriam. A arte de pesquisar: como fazer pesquisa qualitativa
em Ciências Sociais. Rio de Janeiro: Record, 1997.
LAKATOS, Eva M; MARCONI, Marina de. A metodologia científica. 5. ed. São
Paulo: Atlas, 2000.
MÁTTAR NETO, João Augusto. Metodologia científica na era da informática. São
Paulo: Saraiva, 2003.
SALOMON, Délcio Vieira. Como fazer uma monografia. São Paulo: Martins
Fontes, 1999.
SANTOS, Antonio. R. dos. Metodologia científica: a construção do conhecimento.
Rio de Janeiro: DP & A, 2002.
SEVERINO, Antonio Joaquim. Metodologia do trabalho científico. São Paulo:
Cortez, 2004.

uNITINS • aDMINISTRAÇÃO • 2º PERÍODO  95


Aula 1 • METODOLOGIA DA ciência e da PESQUISA

Aula 1
O conhecimento e suas
principais modalidades

Objetivo
Esperamos que, ao final desta aula, você seja capaz de:
• identificar as características do senso comum, da teologia e da filosofia.

Pré-requisitos
Para esta primeira aula, na qual se inicia a construção de novos saberes que
o auxiliarão nessa caminhada na universidade, sugerimos leituras sobre o que
é conhecimento e sobre como se constituiram os vários tipos de conhecimento.
Assim, no sítio <http://www.puc-io.br/sobrepuc/depto/dad/lpd/download/
tiposdeconhecimento>, você encontrará um texto que discorre sobre os tipos de
conhecimento – senso comum, conhecimento mítico/religioso, filosófico e cientí-
fico - e, também, sobre os tipos de métodos científicos.

Introdução
O conhecimento é uma peculiaridade humana, pois o ser humano é o único
ser que, em sua vivência, é capaz de planejar a sua ação sobre o meio que
o cerca e construir um conhecimento sobre essa ação. Alguma vez você já se
perguntou se o conhecimento de um astrônomo, de um líder religioso, de um
renomado intelectual e das demais pessoas têm alguma relação? Em um primeiro
momento, parece que não, pois temos a tendência de julgar as modalidades
de conhecimento por meio de uma hierarquia, ou seja, colocando uns como
mais importantes do que outros. Atribuímos um papel de destaque ao conhe-
cimento produzido pelos estudiosos e depreciamos a experiência cotidiana da
qual todos nós participamos. Nesta aula, optamos por tratar as modalidades
do conhecimento como diferentes, sem julgá-las como inferiores ou superiores
umas das outras, pois, de certa forma, todos nós nos servimos delas em graus
diversos e valorizamos as diversas maneiras de conhecer o mundo. Assim, temos
o senso comum ou conhecimento vulgar; a teologia ou conhecimento religioso;
a filosofia ou conhecimento especulativo e a ciência ou conhecimento científico.

uNITINS • aDMINISTRAÇÃO • 2º PERÍODO  97


Aula 1 • METODOLOGIA DA ciência e da PESQUISA

Este último será tratado detalhadamente na próxima aula. Vejamos agora a defi-
nição de conhecimento e, em seguida, os principais aspectos do senso comum,
da teologia e da filosofia.

1.1 O que é conhecimento?


Vamos analisar as contribuições de alguns autores sobre o que é conheci-
mento. Para Aranha e Martins (2002, p. 21), “o conhecimento é o pensamento
que resulta da relação que se estabelece entre o sujeito que conhece e o objeto
a ser conhecido”. Pressupõe-se, então, que há um sujeito que busca conhecer e
um objeto que se dá ao conhecimento. Abbagnano (1999, p. 174) afirma que
o conhecimento é
em geral, uma técnica para a verificação de um objeto qualquer,
ou a disponibilidade ou posse de uma técnica semelhante. Por
técnica de verificação deve-se entender qualquer procedimento
que possibilite a descrição, o cálculo ou a previsão controlável
de um objeto; e por objeto deve-se entender qualquer entidade,
fato, coisa, realidade ou propriedade. Técnica, nesse sentido, é
o uso normal de um órgão do sentido tanto quanto a operação
com instrumentos complicados de cálculo: ambos os procedi-
mentos permitem verificações controláveis.

O conceito de Abbagnano complementa o anterior trazendo à discussão


a questão de que entre o sujeito cognoscente e o objeto existe uma técnica
que pode fazer uso tanto dos sentidos quanto de instrumentos sofisticados,
mas que ambos permitem verificações importantes sobre um objeto que se
deseja conhecer. Assim, tanto o conhecimento que temos sobre determinado
objeto a partir da nossa experiência cotidiana, quanto aquele que é produ-
zido em laboratório pelos cientistas são importantes. Vamos observar agora
as características do senso comum e a sua contribuição para a construção
do conhecimento.

1.2 O senso comum


No dia-a-dia, estamos habituados a conviver com o fato de que o sol nasce
a leste e se põe a oeste, sem nos preocuparmos com o fato de que, na verdade,
é a terra que gira em torno do sol. Muitas pessoas acreditam que homens e
mulheres possuem papéis sociais definidos sem se preocuparem com o fato de
que essa relação desigual é uma construção histórica. Também observamos o
universo colorido que nos rodeia como se as cores existissem em si mesmas,
sem levarmos em conta que elas só existem porque são ondas luminosas de
comprimentos diferentes obtidas pela refração e reflexão da luz branca. E assim
temos várias outras situações que são por nós vividas diariamente, das quais
nos servimos para a nossa existência sem maiores preocupações. Aranha e
Martins (2002, p. 35) nos ensinam que

98  2º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • uNITINS


Aula 1 • METODOLOGIA DA ciência e da PESQUISA

chamamos senso comum ao conhecimento adquirido por tradição,


herdado dos antepassados e ao qual acrescentamos os resultados
da experiência vivida na coletividade a que pertencemos. Trata-se
de um conjunto de idéias que nos permite interpretar a realidade,
bem como de um corpo de valores que nos ajuda a avaliar, julgar
e, portanto agir (Grifo do autor).

Portanto, o senso comum é aquele conhecimento primeiro, que nos situa frente
aos desafios do cotidiano, ao qual recorremos nas mais variadas situações e no
qual também confiamos, pois faz parte da experiência de nossos antepassados.
Entre as principais características desse conhecimento, destacamos:
• o senso comum é um tipo de conhecimento empírico baseado na
experiência vivida das pessoas, ou seja, desenvolve-se pelo acúmulo
de situações vividas. Por exemplo, uma doceira com vários anos de
experiência não saberia explicar as propriedades químicas dos ingre-
dientes que usa, nem porque seus bolos são tão deliciosos, porém é
reconhecida pelo seu trabalho;
• é um conhecimento ingênuo, isto é, não passa por nenhum tipo de
julgamento ou crítica. As situações vividas são tratadas como coisas
naturais, ou seja, desde sempre foi assim. Um exemplo que atesta esse
caráter é a maneira como as famílias definem desde cedo o papel
social do homem e da mulher. Você já reparou que os presentes que
costumamos dar às crianças diferem por aquilo que acreditamos ser
papel social masculino ou feminino? Se for um menino, provavelmente,
ganhará uma bola ou carrinho de brinquedo; se menina, uma boneca,
fogãozinho, maquiagem de brinquedo. Esses objetos não são neutros.
Nós usamos o carro para sair de casa, da mesma forma a bola pode
ser utilizada para se jogar em um campo ou quadra, ambos em sua
simbologia apontam que lugar de homem é fora de casa. Por outro
lado, a boneca é uma imitação do bebê e pode significar que a
responsabilidade pela educação das crianças é do gênero feminino.
Da mesma forma, o fogãozinho representa os afazeres domésticos
aos quais a figura feminina está vinculada. Sem perceber, reforçamos
os valores de uma cultura machista que situa as mulheres no espaço
doméstico privado e propõe ao homem o mundo fora de casa, espaço
público, onde estão concentradas as atividades políticas e no qual se
exerce o poder;
• é também um conhecimento subjetivo, pois o ponto de referência dos
julgamentos é a opinião de quem julga, ou seja, é um conhecimento que
exprime sentimentos e opiniões individuais e de grupos. Assim, é comum
observarmos que, diante de uma cultura diferente, o senso comum irá
compará-la com seu modo de viver e de ver as coisas. Por exemplo, diante

uNITINS • aDMINISTRAÇÃO • 2º PERÍODO  99


Aula 1 • METODOLOGIA DA ciência e da PESQUISA

de um estádio de futebol um vendedor de pipocas procurará vender; um


torcedor, se divertir; um atleta verá ali uma oportunidade de trabalho; um
policial irá preocupar-se com a ordem e a segurança;

• o senso comum é fragmentário, pois não percebe inter-relações onde


elas ocorrem. Assim, por exemplo, atribui-se a um problema de caráter
ou de índole a questão da violência e do crime, ou seja, as pessoas
caem no mundo do crime, de acordo com esta visão, por falta de bom
caráter ou por desonestidade. Dificilmente atribui-se como causa da
criminalidade a má distribuição de renda e a falta de acesso a uma
educação de qualidade.

Arruda e Martins (2002, p. 35) enfatizam que

[...] o primeiro estágio do conhecimento precisa ser superado em


direção a uma abordagem crítica e coerente, características estas
que não precisam ser necessariamente atributos de formas mais
requintadas de conhecer, tais como a ciência e a filosofia. Em
outras palavras, o senso comum precisa ser transformado em bom
senso, este entendido como a elaboração coerente do saber como
explicitação das intenções conscientes dos indivíduos livres.

Isso significa dizer que não devemos desmerecer o conhecimento do senso


comum, mas, partindo dele, alcançar outros estágios que nos possibilitem
compreender mais e melhor a realidade e o mundo que nos cerca.

1.3 O conhecimento teológico ou religioso


O fundamento do conhecimento religioso é a fé. Por isso, as verdades reli-
giosas são inquestionáveis, pois são a revelação sobrenatural de uma entidade
superior e fora desse mundo. Uma de suas principais características é o fato de
que essas verdades são valorativas, ou seja, propõem de antemão uma série
de valores que devem ser seguidos por todos. As verdades da fé estão regis-
tradas nos livros sagrados, na palavra dos iluminados ou profetas e também nas
doutrinas orientadoras de um determinado credo religioso.

Esse tipo de conhecimento teve um respaldo muito significativo na Idade


Média, período em que observamos uma relação muito forte entre poder político
e fé. Todo conhecimento produzido nessa época era filtrado pelos dogmas do
conhecimento religioso.

1.4 O conhecimento filosófico


O conhecimento filosófico busca dar respostas às grandes indagações da
humanidade, assim como o senso comum e o conhecimento religioso, porém
o seu fundamento é a construção lógica de argumentos e raciocínios. A filo-

100  2º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • uNITINS


Aula 1 • METODOLOGIA DA ciência e da PESQUISA

sofia é “[...] sobretudo uma atitude, um pensar permanente. É um conheci-


mento instituinte, no sentido de que questiona o saber instituído” (ARANHA;
MARTINS, 2002, p. 72). Chauí, por sua vez, afirma que a filosofia é uma
fundamentação teórica e crítica dos conhecimentos e das práticas, ou seja,
ela se interessa por aquele instante em que a realidade natural e histórica
torna-se estranha, quando o senso comum e a ciência já não sabem o que
pensar (CHAUÍ, 1995).

A atitude filosófica, portanto, é indagar. Perguntar o que, como e por que


uma coisa, valor ou idéia é: a filosofia indaga qual é a natureza e o signifi-
cado de algo, qual é sua estrutura e as relações que a constituem; qual é a sua
origem ou as suas causas.

O conhecimento filosófico é um trabalho intelectual, sistemático, pois não


se contenta em obter respostas para as questões colocadas, mas também
exige que as próprias questões sejam válidas e que suas respostas sejam
verdadeiras, relacionem-se entre si, esclareçam umas às outras, agrupem-se
em conjuntos coerentes de idéias e possam ser testadas e provadas racional-
mente (CHAUÍ, 1995).

Síntese da aula
Nesta aula, você pôde observar que, apesar de serem tratados de forma
hierarquizada, os saberes não estão em níveis diferenciados, mas procuram dar
conta da diversidade de elementos que compõem a realidade. O conhecimento
permite que nossa consciência se relacione com o mundo externo. Da mesma
forma que em uma viagem podemos escolher vários roteiros para chegar ao
nosso destino, no conhecimento, várias são as vias de acesso. Precisamos desco-
brir qual a que melhor nos conduzirá em nossa eterna busca da verdade.

Atividades

1. No quadro a seguir, trace um paralelo entre senso comum, conhecimento


teológico/religioso e conhecimento filosófico, procurando destacar como,
diariamente, você experimenta cada uma dessas formas de conhecimento.
Conhecimento Conhecimento
Senso comum
teológico filosófico

uNITINS • aDMINISTRAÇÃO • 2º PERÍODO  101


Aula 1 • METODOLOGIA DA ciência e da PESQUISA

2. Sobre as características do senso comum, do conhecimento teológico e do


conhecimento filosófico, marque a alternativa correta.
a) Olhando uma árvore, se eu sou artista, vejo a beleza da árvore; se sou
marceneiro, a qualidade da madeira; se estiver passeando sob o sol, a
sombra onde me refugiar. Essa característica é do senso comum.
b) A fé é o fundamento do conhecimento filosófico e expressa a vontade
sobrenatural de uma entidade superior.
c) O conhecimento religioso é fundamentado na construção de argumentos e
raciocínios lógicos que respondem às grandes questões da humanidade.
d) A filosofia é um tipo de conhecimento baseado na experiência vivida das
pessoas, ou seja, desenvolve-se pelo acúmulo de situações vividas.

Comentário das atividades


Agora que você já compreendeu o que é conhecimento, quais as principais
modalidades do mesmo e suas características, observe que, na atividade um,
basta delinear as diferenças de enfoque e explicação da realidade de cada um
desses conhecimentos. Compartilhe as experiências obtidas nessa construção
teórica com seus colegas e observe se há semelhanças na forma como cada um
experimenta essas formas de conhecimento.
Na atividade dois, a alternativa correta é a letra (a), pois o conhecimento do
senso comum é subjetivo e exprime os sentimentos e opiniões individuais e de
grupos. Observando as demais alternativas, você perceberá que estão incorretas,
pois o conhecimento filosófico é aquele que se fundamenta na construção de argu-
mentos e raciocínios lógicos, diferentemente do religioso, cujo fundamento é a fé.

Referências
ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia. São Paulo: Martins Fontes, 1999.
ARANHA, Maria Lúcia de Arruda; MARTINS, Maria Helena Pires. Filosofando:
introdução à filosofia. São Paulo: Moderna, 2002.
CHAUÍ, Marilena. Convite à filosofia. São Paulo: Ática, 1995.

Na próxima aula
Na próxima aula, refletiremos sobre o conhecimento científico e seus métodos e
sobre como esse conhecimento pode contribuir para o seu desenvolvimento acadê-
mico, por meio da utilização de mecanismos para realizar pesquisas e trabalhos
acadêmicos. Veremos, também, que o conhecimento científico é diferente do senso
comum, da teologia e da filosofia pelo fato de ser racional, sistemático, confiável.

102  2º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • uNITINS


Aula 2 • METODOLOGIA DA ciência e da PESQUISA

Aula 2
O conhecimento científico
e o método

Objetivos
Esperamos que, ao final desta aula, você seja capaz de:
• identificar as principais características do conhecimento científico;
• compreender as principais concepções metodológicas desde Galileu
aos dias atuais.

Pré-requisitos
Você terá mais facilidade para acompanhar essa aula se revisar a aula ante-
rior e observar as diferenças entre as outras formas de conhecimento – baseiam-
se na opinião, na fé ou na reflexão – e o conhecimento científico que se funda
na comprovação empírica. Além disso, no sítio <http://www.ecientificocultural.
com/ECC2/artigos/metcien1.htm> você encontrará artigos que versam sobre o
tema dessa aula: o que é conhecimento científico, quais suas principais caracterís-
ticas, o que é método, quais são os mais relevantes, entre outras temáticas afins.

Introdução
A ciência ou o conhecimento científico é visto pelas pessoas de maneira
antagônica: para algumas, seria o caminho de redenção da humanidade, pois
permite ao ser humano obter um conhecimento que não tem limites. Ela seria,
dessa forma, uma oportunidade de superar as limitações que nossa condição
humana nos impõe. Por outro lado, muitos a interpretam como uma forma muito
perigosa de relacionar-se com o mundo, pois abre a possibilidade de dominar
e de modificar a natureza e os seres humanos. São várias as definições sobre
o conhecimento científico. Vamos encontrar nessas definições elementos comuns
que o diferenciam de outras formas de conhecimento que produzimos, tais como
o senso comum, a filosofia, a religião, a arte.
Além disso, o método tornou-se fundamental nas ciências para que chegás-
semos aos resultados que temos hoje, pois ele é o elemento que garante o rigor
e a correção em seu desenvolvimento sistemático. Porém, é muito difícil falarmos

uNITINS • aDMINISTRAÇÃO • 2º PERÍODO  103


Aula 2 • METODOLOGIA DA ciência e da PESQUISA

de um método científico, uma vez que, com a fragmentação do saber, há uma


infinidade de ciências que possuem métodos específicos. Apresentaremos nessa
aula, também, as linhas gerais do método.

2.1 O que é o conhecimento científico?


Da mesma forma que o conhecimento filosófico, o conhecimento científico
é racional, com a diferença de que tem a pretensão de ser sistemático e revelar
aspectos da realidade, pois opera com ocorrências ou fatos. Máttar Neto (2002)
esclarece que as noções de experiência e de verificação são essenciais nas ciên-
cias, pois o conhecimento científico deve ser justificado e sempre passível de
revisão, desde que se possa provar sua inexatidão.
Lakatos e Marconi (2003, p. 23) por sua vez, apresentam a ciência como “um
conhecimento racional, objetivo, lógico e confiável”. Seu foco não é apresentar um
conjunto de verdades inquestionáveis, mas, também, admitir que seus resultados
sejam falíveis, isto é, pode ocorrer que novos fatos levem o cientista a abandonar
um conjunto de saberes articulados que, até então, apresentavam-se como confiá-
veis em favor de outros mais consistentes. Um exemplo disso pode ser constatado
recentemente a respeito da reposição hormonal para mulheres na menopausa. Esse
tratamento foi considerado adequado por muitos anos para aliviar os sintomas da
menopausa; porém, descobriu-se, mais tarde, que ele poderia provocar um aumento
no risco de câncer e deixou de ser prescrito pelos ginecologistas.
Do exemplo anterior, destacamos outro aspecto do conhecimento científico:
para ser aceito, ele precisa ser verificado por meio da experimentação para
a comprovação de suas hipóteses. Com certeza, muitos cientistas haviam aler-
tado para os riscos da prática citada, mas ela só deixou de ser consenso na
comunidade médica após estudos baseados na observação de seus efeitos e
nos estudos desses efeitos que comprovaram os riscos da reposição hormonal.
Vamos agora conhecer as características do conhecimento científico.

2.2 Os limites do conhecimento científico


O conhecimento científico foi, por muito tempo, defendido como uma forma
neutra, objetiva e isenta de pretensões metafísicas – crenças, superstições – ou
ideológicas.
Atualmente, sabe-se que essa pretensão não se confirmou. Ao determinar
como realizará uma pesquisa, o cientista necessita escolher certos procedimentos
e metodologias que não estão isentos de carregar conteúdos metafísicos ou
ideológicos.
A própria ciência se transformou em ideologia ao promover o que chamamos
de cientificismo, ou de tecnocracia. Essas ideologias defendem que apenas as
formas de conhecimento fundadas na ciência são válidas. Essa postura torna-

104  2º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • uNITINS


Aula 2 • METODOLOGIA DA ciência e da PESQUISA

se ideológica porque esconde relações de poder e ser baseada em formas de


saber. Vamos agora conhecer as características do conhecimento científico.

Saiba mais

2.3 Características do conhecimento científico


Você pode compreender melhor de que maneira o conhecimento científico
difere das demais modalidades de conhecimento, basta atentar para as seguintes
características:
• o conhecimento científico é racional e objetivo porque é constituído
por conceitos, juízos e raciocínios a partir da observação dos fatos e
não por sensações, imagens, modelos de conduta. É também analítico
porque decompõe o todo em suas partes componentes, exatamente
por serem parciais os problemas da ciência e, consequentemente, suas
soluções e procedimentos científicos de análise conduzirem à síntese;
• o conhecimento científico é factual porque parte dos fatos e sempre volta
a eles, capta ou recolhe os fatos, da mesma forma como se produzem ou
se apresentam na natureza ou na sociedade, porém é transcendente aos
fatos: diz-se que o conhecimento científico transcende aos fatos quando
os descarta ou produz novos;
• o conhecimento científico é verificável em virtude de ser aceito como
válido, quando passa pela prova da experiência ou da demonstração;

• o conhecimento científico é metódico porque é planejado, pois o cientista


não age ao acaso. Ele planeja seu trabalho e deve saber proceder para
encontrar o que almeja. Além disso, o cientista baseia-se em conheci-
mento anterior, particularmente em hipóteses já confirmadas, em leis
e princípios já estabelecidos. Obedece a um método preestabelecido
que determina, no processo de investigação, a aplicação de normas e
técnicas, em etapas;
• o conhecimento científico é falível, ou seja, não é definitivo, absoluto ou
final. O próprio progresso científico descortina novos horizontes, induz a
novas indagações, sugere novas hipóteses derivadas da própria combi-

uNITINS • aDMINISTRAÇÃO • 2º PERÍODO  105


Aula 2 • METODOLOGIA DA ciência e da PESQUISA

nação das idéias existentes. É, portanto, aberto, ou seja, não conhece


barreiras que, a priori, limitem o conhecimento;
• o conhecimento científico é geral em decorrência de situar os fatos singu-
lares em modelos gerais, os enunciados particulares em esquemas mais
amplos. Procura na variedade e na unicidade a uniformidade e a gene-
ralidade. A descoberta de leis ou princípios gerais permite ao pesqui-
sador a elaboração de modelos ou sistemas mais amplos de explicação
dos fenômenos;
• o conhecimento científico é útil em decorrência de sua objetividade, pois,
na busca da verdade, cria ferramentas de observação e experimentação
que lhe conferem um conhecimento adequado das coisas e mantém a
ciência em conexão com a tecnologia (LAKATOS; MARCONI, 2003).
Como você pode observar, o conhecimento científico se contrapõe ao senso
comum, na medida em que esse se baseia em hábitos, preconceitos, tradições
cristalizadas e é um conhecimento ametódico e assistemático. As ciências, ao
contrário, caracterizam-se pela utilização de métodos científicos. Mas afinal, o
que é método?

2.4 O que é método?


Lakatos e Marconi (2000) observam que todas as ciências precisam de um
caminho seguro para chegar a seus objetivos. Esse caminho é o método. Mas,
em contrapartida, nem todos os ramos de estudo que empregam esses métodos
são ciências. Ainda para as autoras citadas, a utilização de métodos científicos
não é da alçada exclusiva da ciência, mas não há ciência sem o emprego de
métodos científicos.

Saiba mais

Podemos ver uma classificação dos possíveis conceitos de método a seguir:


• método é o caminho pelo qual se chega a determinado resultado, ainda
que esse caminho não tenha sido fixado de antemão de modo refletido
e deliberado;
• método é uma forma de selecionar técnicas, de avaliar alternativas para
a ação científica. Assim, enquanto as técnicas utilizadas por um cien-
tista são fruto de suas decisões, a maneira pela qual tais decisões são
tomadas depende de suas regras de decisão. Métodos são regras de
escolha; técnicas são as próprias escolhas;

106  2º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • uNITINS


Aula 2 • METODOLOGIA DA ciência e da PESQUISA

• método é a forma de proceder ao longo de um caminho. Na ciência,


os métodos constituem os instrumentos básicos que ordenam, a prin-
cípio, o pensamento em sistemas, traçam de modo ordenado a forma de
proceder do cientista ao longo de um percurso para alcançar um objetivo
(LAKATOS; MARCONI, 2000).
Resumindo, diríamos que a finalidade da atividade científica é a produção
de conhecimentos demonstráveis por intermédio da comprovação das hipóteses
apresentadas. Nesse sentido, o método é o conjunto das atividades sistemáticas
e racionais que, com maior segurança e economia, permite alcançar o objetivo
– conhecimentos válidos e demonstráveis –, traçando o caminho a ser seguido,
detectando erros e auxiliando as decisões do pesquisador.
Vejamos, a seguir, algumas das principais construções teóricas a respeito do
método em seu desenvolvimento histórico.

2.5 O método de Galileu Galilei


Galileu Galilei (1564-1642) foi pioneiro em relação à abordagem do método
no que se refere ao conhecimento científico, por meio do método experimental.
O foco da investigação, em sua opinião, não deveria ser a busca das essências
ou a qualidade das relações, como queriam os antigos, mas a busca de leis
que presidem os fenômenos. O objeto da ciência são as relações quantitativas,
ou seja, aquilo que pode ser observado matematicamente. Segundo Lakatos e
Marconi (2000, p. 47), o método de Galileu “[...] pode ser descrito como indução
experimental, chegando-se a uma lei geral por intermédio da observação de
certo número de casos particulares”. Os principais passos do método de Galileu
podem ser assim delineados:
• observação dos fenômenos;
• análise dos elementos constitutivos desses fenômenos, com a finalidade
de estabelecer relações quantitativas entre eles;
• indução de certo número de hipóteses, tendo por fundamento a análise
da relação desses elementos constitutivos dos fenômenos;
• verificação das hipóteses aventadas por intermédio da experiência
(experimento);
• generalização do resultado das experiências para casos similares;
• confirmação das hipóteses, obtendo-se, a partir dela, leis gerais
(MARCONI; LAKATOS, 2000).
Aranha e Martins (2002, p. 150) afirmam que “Galileu é um dos expoentes
que marcam o surgimento de novos tempos: a ciência nascente não é resultado
de simples evolução, mas surge de uma ruptura [...] sendo, portanto, o fruto de
uma revolução científica”. Galileu formulou os pressupostos do que deveria ser
uma ciência em uma época em que predominava o conhecimento religioso como

uNITINS • aDMINISTRAÇÃO • 2º PERÍODO  107


Aula 2 • METODOLOGIA DA ciência e da PESQUISA

forma de compreender a realidade. Imaginem o que significou isso para a sua


época! Ele foi acusado de heresia e confinado em uma prisão, sendo obrigado
a negar todos os seus postulados. Porém, a semente já havia sido plantada.

2.6 O método de Francis Bacon


Bacon (1561-1626), filósofo e político inglês, elaborou uma crítica da
ciência antiga, pois, para ele, seu resultado não era útil à humanidade. A
ciência deveria, em seu entendimento, propiciar uma melhoria na qualidade de
vida das pessoas. Mas, como se daria isso? Em primeiro lugar, era necessário
eliminar os obstáculos ao conhecimento. Esses obstáculos seriam os pré-juízos,
idéias pré-concebidas que impedem o avanço do conhecimento. Bacon dá a
esses pré-juízos o nome de ídolos. Esses ídolos seriam causados pelas falhas e
insuficiência dos sentidos, pela educação e inclinações pessoais, pela tirania da
linguagem e pelo respeito exagerado para com a autoridade.
Feito isso, seria necessário usar um método adequado para o avanço do
conhecimento. Na Antiguidade e Idade Média, usava-se o método dedutivo.
Para Bacon, esse método conseguia apenas antecipações estéreis. Isto é,
tirava conclusões precipitadas que não produziam nada de novo. O método
adequado seria, então, o método indutivo, porque procura interpretar os fatos
particulares em busca de leis universais que regem a natureza.
O método proposto por Bacon seria, daí em diante, cânone, regra para
a pesquisa científica. A adoção deste método trouxe uma série de avanços, o
que influenciou de forma decisiva o mundo ocidental. Esses avanços serviram
de base para o desenvolvimento posterior do capitalismo, por meio da
pesquisa tecnológica.
O método científico proposto por Bacon traz algumas conseqüências éticas
em pelo menos dois aspectos: o ser humano, enquanto objeto de pesquisa,
pode ser manipulado, experimentado livremente? Que tipo de conseqüências
a exploração da natureza, por meio do método científico, pode acarretar para
o equilíbrio ecológico?
Sendo o conhecimento científico o único caminho seguro para a verdade
dos fatos, ele deve acompanhar os seguintes passos, conforme a abordagem de
Lakatos e Marconi (2000):
a) experimentação – nessa fase, o cientista, para poder observar e regis-
trar, de forma sistemática, todas as informações que tem possibilidade
de coletar, realiza experimentos acerca do problema;
b) formulação de hipóteses – tendo por base os experimentos e a análise
dos dados obtidos por seu intermédio, as hipóteses procuram explicitar
(e explicar) a relação casual entre os fatos;

108  2º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • uNITINS


Aula 2 • METODOLOGIA DA ciência e da PESQUISA

c) repetição – os experimentos devem ser repetidos em outros lugares por


outros cientistas, tendo por finalidade acumular dados que, por sua vez,
servirão para a formulação de hipóteses;
d) testagem das hipóteses – por intermédio da repetição dos experimentos,
testam-se as hipóteses; nessa fase, procura-se obter novos dados, assim
como evidências que confirmem as hipóteses, pois seu grau de confir-
mação depende da quantidade de evidências favoráveis;
e) formulação de generalizações e leis – o cientista, desde que tenha
percorrido todas as fases anteriores, formula a lei ou as leis que desco-
briu, fundamentado nas evidências que obteve, e generaliza suas expli-
cações para todos os fenômenos da mesma espécie. As hipóteses são
teses provisórias que procuram explicar determinado fenômeno e devem
ser demonstradas. Dessa forma, o método de Bacon consiste em testar
as hipóteses construídas a partir da experimentação para, posterior-
mente, sendo elas validadas, construir as leis de explicação para todos
os fenômenos da mesma espécie.

2.7 O método de Descartes


Considerado o pai da filosofia moderna, Renée Descartes foi contem-
porâneo de Galileu e Bacon. Ao contrário desses, desenvolveu o método
dedutivo. Sua contribuição se deu também na matemática – com certeza
você deve se lembrar do plano cartesiano. Seu método pode ser dividido em
quatro fases:
a) a da evidência – não acolher jamais como verdadeiro algo que não
se reconheça evidentemente como tal, isto é, evitar a precipitação e o
preconceito e não incluir juízos;
b) a da análise – dividir cada uma das dificuldades em tantas partes
quantas necessárias para melhor resolvê–las;
c) a da síntese – conduzir ordenadamente os pensamentos, principiando
com os objetos mais simples e mais fáceis de conhecer, para subir, em
seguida, pouco a pouco, até o conhecimento dos objetos que não se dispo-
nham, de forma natural, em seqüências de complexidade crescente;
d) a da enumeração – realizar sempre enumerações tão cuidadas e revisões
tão gerais que se possa ter certeza de nada haver omitido (HEGENBERG
citado por LAKATOS; MARCONI, 2000).
A análise compreende o processo em que determinado problema geral é
decomposto em seus elementos constitutivos, até chegar às partes mais simples.
A síntese compreende o processo de reunificação das partes em seu todo
maior, após a resolução dos problemas mais simples.

uNITINS • aDMINISTRAÇÃO • 2º PERÍODO  109


Aula 2 • METODOLOGIA DA ciência e da PESQUISA

O método cartesiano proporcionou avanços significativos para a ciência


porque permitiu que problemas de alta complexidade fossem abordados a partir
de suas partes. Nosso atual modelo de educação baseia-se no método carte-
siano, ao dividir o conhecimento em diversas disciplinas. O grande problema
apontado, hoje, é que, por causa dessa divisão, o conhecimento fragmentou-se,
provocando a multiplicação de abordagens parcelares da realidade, o que leva
à perda da visão do todo.

2.8 Concepção atual de método


Com o passar do tempo, muitas modificações foram feitas nos métodos exis-
tentes, inclusive surgiram outros novos. Atualmente, o método baseia-se na teoria
da investigação.
Já não podemos mais compreender as questões metodológicas por um
prisma unilateral. A especialização e a fragmentação do conhecimento fazem
com que, na atualidade, cada problema/investigação tenha um método especí-
fico. Assim, cada situação a ser resolvida é relativa ao método que lhe é mais
adequado. Porém, mesmo diante de tal fragmentação, podemos citar, entre os
métodos, alguns que são mais utilizados do ponto de vista da argumentação e
outros voltados para as ciências humanas e sociais.
Vejamos a seguir as principais construções metodológicas atualmente utili-
zadas do ponto de vista da argumentação. Esses métodos são formas de argu-
mentação utilizadas nas ciências naturais, humanas e exatas.

2.9 Método indutivo


Podemos caracterizar a indução como processo mental que, partindo de
dados particulares, tira conclusões gerais, que ainda não estavam presentes
nas partes examinadas. O objetivo do método indutivo é fazer com que, por
meio da observação de dados particulares, suficientemente constados, possa-se
chegar a conclusões cujo conteúdo é mais amplo do que as premissas em que
se baseiam.

Da mesma forma que o método dedutivo, o argumento indutivo fundamenta–


se em premissas. Porém, se no primeiro é possível deduzir uma verdade já implí-
cita na premissa maior, no método indutivo só é possível chegar a um conheci-
mento provável. Por exemplo,
a mangueira é um vegetal que realiza fotossíntese
a grama realiza fotossíntese
a orquídea realiza fotossíntese
logo, todos os vegetais realizam fotossíntese

110  2º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • uNITINS


Aula 2 • METODOLOGIA DA ciência e da PESQUISA

2.10 A indução se realiza por três etapas:


1. observação dos fenômenos – consiste em observar os fatos ou fenômenos
para, por meio de análise, descobrir as causas de sua manifestação;
2. descoberta da relação – o objetivo desta fase é detectar a relação cons-
tante existente entre eles, por meio da comparação;
3. generalização – nesta etapa, ocorre um salto porque, por meio da generali-
zação das relações encontradas entre os fenômenos e os fatos semelhantes,
aplica-se a hipótese levantada aos demais casos, mesmo sem observá-los.

2.11 Método dedutivo


O raciocínio dedutivo parte de uma lei, teoria ou hipótese geral que é aceita
por todos e da qual é possível tirar conclusões particulares. Diz-se, portanto, que
a dedução vai do geral para o particular. Deduzir nada mais é que comparar
uma situação particular frente a uma teoria ou verdade geral, para concluir se
aquele caso particular se encaixa na teoria geral.
Para alguns, a dedução é um raciocínio estéril, pois não acrescenta nada de
novo ao conhecimento. Apenas confirma se uma situação particular se encaixa
em princípios universais. O exemplo clássico de dedução é o silogismo aristoté-
lico. Sua forma pode ser descrita a partir do exemplo a seguir.
Todos os homens são mortais
Sócrates é homem
Logo, Sócrates é mortal
Todavia, a dedução tem sido muito utilizada para a construção de teorias
que partem de saberes prévios e que, por dedução, podem contribuir para a
produção de saberes em que não é possível elaborar, pelo menos ainda, experi-
mentos. Um exemplo disso é a teoria dos buracos negros que, por meio de uma
série de deduções, tem sido elaborada.

2.12 Método hipotético-dedutivo


Abordaremos o método hipotético-dedutivo a partir das idéias de Karl Popper
(1902-1994), que lançou as bases desse método e do critério de falseabilidade.
Por acreditar que a ciência – conhecimento absolutamente certo, demons-
trável – era um ídolo e, portanto, insustentável e inatingível, Popper propõe o
método hipotético-dedutivo que Marconi e Lakatos (2000, p. 73) chamam de
“método de tentativas e eliminação de erros”. Popper afirma que
a metodologia é como uma arma de busca, caçada aos problemas
e destruição de erros, mostrando-nos como podemos detectar e
eliminar o erro, criticando as teorias e as opiniões alheias e, ao
mesmo tempo, as nossas próprias.

uNITINS • aDMINISTRAÇÃO • 2º PERÍODO  111


Aula 2 • METODOLOGIA DA ciência e da PESQUISA

Seguindo o raciocínio do método hipotético-dedutivo, seria mais fácil


demonstrar que algo pode estar errado do que certo; é mais fácil negar, falsear
uma hipótese do que confirmá-la. Ao procurar demonstrar os erros, buscar o que
é falso, eliminam-se as concepções equivocadas, ou seja, não se tem a certeza
da posse da verdade, mas tem-se a segurança da eliminação do erro.

O método hipotético-dedutivo apresenta as seguintes etapas:

a) problema – surge a partir do momento em que determinada situação


não se enquadra em um esquema pré-estabelecido, frustrando as expec-
tativas e desencadeando a pesquisa;

b) conjecturas – são soluções propostas em forma de proposição passível de


teste, direto ou indireto, em suas conseqüências, sempre dedutivamente. A
conjectura é utilizada para explicar ou prever aquilo que despertou uma
curiosidade intelectual ou uma dificuldade de ordem prática ou teórica;

c) tentativa de falseamento – nessa etapa do método hipotético-dedutivo,


são realizados os testes cujo objetivo é a tentativa de falseamento para
eliminação de erros, tornando falsas as conseqüências derivadas ou
deduzidas da hipótese.

Assim, o valor de uma teoria não é medido por seu caráter de verdade, mas
pela possibilidade de ser falsa. A falseabilidade seria o critério de avaliação
das teorias científicas garantindo, dessa forma, o progresso científico, pois é
a mesma teoria que vai sendo corrigida por novos fatos que a falsificaram
(CHAUÍ, 1995).

Saiba mais

2.13 Método dialético


O termo dialética significa a relação entre termos opostos. A dialética tem
seu início com o pensamento de Heráclito de Éfeso (cerca de 540-470 a.C.).
Ele reconhecia que a realidade era um contínuo fluxo, tudo se move, tudo se
transforma. É célebre a sua afirmação de que é impossível banhar-se duas vezes
no mesmo rio: em primeiro lugar, porque as águas que correm no rio não são
as mesmas, e também porque nós não somos os mesmos, pois acumulamos
experiências que nos transformam a cada dia. Compreendia que o movimento

112  2º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • uNITINS


Aula 2 • METODOLOGIA DA ciência e da PESQUISA

era a passagem de uma realidade para o seu oposto. Assim, era impossível
compreender a doença sem saber o que era a saúde, compreender a escuridão
sem saber o que era a luz, o quente sem o frio.
Hegel (1770-1831) também reconhecia que a realidade era processo
contínuo. E poderia ser compreendida porque era perfeitamente racional, mas
não uma racionalidade estática, e sim dinâmica.
O método usado para compreender a realidade era a dialética, única forma
de apreender a realidade em sua totalidade, abarcando o afirmativo e o nega-
tivo, as coisas e sua contradição.
Hegel desenvolve a dialética em três momentos:
1. TESE – afirmação de uma idéia;
2. ANTÍTESE – negação da tese afirmada;
3. SÍNTESE – é o momento de união entre as partes postas pela tese e
antítese em um todo único, em que são anuladas as imperfeições e se
conserva a positividade de cada uma delas.
Como Hegel propunha a dialética no campo das idéias, Marx e Engels
propuseram a dialética materialista, isto é, não é a consciência humana que
transforma a realidade, como queria Hegel, mas é o contrário, é a realidade
material que transforma a mentalidade, a consciência humana.
Como desdobramentos posteriores da dialética materialista, teremos, então,
a construção das leis da dialética que passam a fundamentar os procedimentos
do método dialético:
• lei da passagem da quantidade à qualidade – o processo de transfor-
mação das coisas se faz por saltos. Mudanças mínimas de quantidade
vão se acrescentando e provocando, em determinado momento, uma
mudança qualitativa: o ser passa a ser outro. O exemplo clássico é o
da água esquentando; ao alcançar 100ºC, deixa o estado líquido e
passa para o gasoso. [...] Na biologia, segundo a teoria evolucionista
de Darwin, alterações acumuladas levam à formação de uma nova
espécie [...];
• lei da interpenetração dos contrários – a dialética considera a contra-
dição inerente à realidade das coisas. E justamente a contradição é a
força motriz que provoca o movimento e a transformação. A contra-
dição é o atrito, a luta que surge entre os contrários. Mas os dois pólos
contrários são também inseparáveis, e a isso chamamos de unidade dos
contrários, pois, mesmo em oposição, estão em relação recíproca. Por
estarem em luta, há a geração do novo. Por exemplo, o ovo de galinha
já tem, em germe, a sua negação; nele coexistem duas forças: que ele
permaneça ovo e que ele venha a ser ave;

uNITINS • aDMINISTRAÇÃO • 2º PERÍODO  113


Aula 2 • METODOLOGIA DA ciência e da PESQUISA

• lei da negação da negação – da interação das forças contraditórias,


em que uma nega a outra, deriva um terceiro momento: a negação da
negação, ou seja, a síntese, que é o surgimento do novo. Tese, antítese
e síntese, eis a tríade que explica o movimento do mundo e do pensa-
mento (ARANHA; MARTINS, 2002).
Como pudemos perceber, a ciência não é um conhecimento pronto e
acabado, mas está aberto às transformações que ocorrem com o ser humano e
com a sociedade.

Síntese da aula
Nesta aula, apresentamos sinteticamente as características do conhecimento
científico que é o conhecimento racional, factual, verificável, metódico, falível,
geral e útil. Assim, ficou mais fácil a você identificar as principais diferenças
entre o conhecimento científico e as demais modalidades do conhecimento
humano, bem como compreender as possibilidades e limitações da ciência.
Você teve, também, a oportunidade de compreender o conceito de método e
sua evolução ao longo da história, obedecendo à preocupação que as pessoas
da época tinham em relação à resolução de seus problemas. Percebeu que as
construções metodológicas de Galileu, Bacon e Descartes privilegiam ora a
racionalidade ora a experiência. E sobre a concepção atual de método, o que
você precisa saber?
• A indução é o processo mental que, partindo de dados particulares,
tira conclusões gerais, que ainda não estavam presentes nas partes
examinadas.
• O raciocínio dedutivo parte de uma lei, teoria ou hipótese geral que é
aceita por todos e da qual é possível tirar conclusões particulares.
• O método hipotético-dedutivo parte de uma idéia geral sob a forma
de uma hipótese que será, ou não, validada a partir da investigação
dos fenômenos.
• O método dialético apreende a realidade em sua totalidade, por meio
da análise das contradições, abarcando o afirmativo e o negativo, as
coisas em sua contradição nas fases da tese, antítese e síntese.

Atividades

1. Leia as afirmativas a seguir e marque aquela que não se refere às caracte-


rísticas do conhecimento científico:

a) é um conhecimento constituído por conceitos, juízos e raciocínios funda-


mentados na observação dos fatos;

114  2º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • uNITINS


Aula 2 • METODOLOGIA DA ciência e da PESQUISA

b) é um conhecimento que necessita de planejamento e obedece a um


método preestabelecido;

c) é um conhecimento definitivo, absoluto ou final, ou seja, traduz a verdade


sobre os fenômenos e fatos que ocorrem ao nosso redor;

d) é um conhecimento útil em decorrência de sua objetividade e mantém a


ciência em conexão com a tecnologia.

2. Releia a aula anterior e escreva um pequeno texto de aproximadamente


15 linhas comparando e discutindo as características do senso comum e do
conhecimento científico.

3. Explique as principais diferenças metodológicas entre Bacon e Descartes. Para


tanto, elabore um texto dissertativo no qual você expresse suas percepções.

4. Para Hegel, o método que deveria ser utilizado para compreender a reali-
dade era o dialético, única forma de apreender a realidade em sua totali-
dade, abarcando o afirmativo e o negativo, as coisas e sua contradição.
Este pensador desenvolveu o método dialético em três momentos. Assinale a
alternativa que corresponde aos mesmos.
a) Qualidade, negatividade e seletividade.
b) Legalidade, realidade e positividade.
c) Tese, antítese e síntese.
d) Mudança, contradição e quantidade.

Comentário das atividades


Depois que você identificou as características do conhecimento científico
e compreendeu as principais abordagens metodológicas do mesmo, observou
que, na atividade um, a afirmativa que não se refere às características do conhe-
cimento científico é a letra (c), pois esse conhecimento é falível, ou seja, não é
definitivo, absoluto, final; é um conhecimento que, em sua evolução, leva a novas
indagações, sugere novas hipóteses e não há barreiras, a priori, que o limitem.
As demais alternativas correspondem às características do conhecimento cientí-
fico, ou seja, é racional e objetivo, é metódico e é útil.
Já na atividade dois, você enriqueceu o seu conhecimento através de uma
comparação entre o senso comum e a ciência. Percebeu, por exemplo, que,
enquanto o conhecimento científico é objetivo, ou seja, é constituído por juízos
e raciocínios a partir da observação dos fatos, o senso comum é subjetivo, ou
seja, exprime sentimentos e opiniões individuais e de grupos, variando de uma
pessoa para outra e de um grupo para outro.

uNITINS • aDMINISTRAÇÃO • 2º PERÍODO  115


Aula 2 • METODOLOGIA DA ciência e da PESQUISA

Para a atividade três, você levou em conta que o método científico é uma cons-
trução histórica e que não se pode atribuir a um ou outro pensador o título de pai
desse método. As contribuições de Bacon e Descartes foram fundamentais para
a consolidação do campo das ciências e permitem a você compreender como
utilizar os raciocínios dedutivo e indutivo para estudar determinado fenômeno.
Finalmente, na atividade quatro você percebeu que a alternativa que corres-
ponde às fases do método dialético de Hegel é a letra (c). Hegel desenvolve a
dialética em três momentos:
1. tese – afirmação de uma idéia;
2. antítese – negação da tese afirmada;
3. síntese – é o momento de união entre as partes postas pela tese e antítese
em um todo único, em que são anuladas as imperfeições e se conserva
a positividade de cada um deles.

Referências
ARANHA, Maria Lúcia de Arruda; MARTINS, Maria Helena Pires. Filosofando:
introdução à filosofia. São Paulo: Moderna, 2002.
CHAUÍ, Marilena. Convite à filosofia. São Paulo: Ática, 1995.
LAKATOS, Eva M.; MARCONI, Marina de. A metodologia científica. São Paulo:
Atlas, 2000.
______. Fundamentos de metodologia científica. São Paulo: Atlas, 2003.
MÁTTAR NETO, João Augusto. Metodologia Científica na era da informática. São
Paulo: Saraiva, 2003.

Na próxima aula
Como você observou, o conhecimento não é estático. Ele muda à medida
que a sociedade e os indivíduos que a compõem também elegem novas formas
de compreender o mundo que os cerca. O pano de fundo da nossa próxima aula
é o desafio de enfrentar a complexidade dos fenômenos humanos sem reduzi-
los a apenas um enfoque disciplinar, o que empobreceria sua compreensão.
Refletiremos sobre a crise dos paradigmas científicos e sobre as novas abordagens
que daí resultam, tais como a interdisciplinaridade e a multirreferencialidade.

Anotações



116  2º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • uNITINS


Aula 3 • METODOLOGIA DA ciência e da PESQUISA

Aula 3
Pós-modernidade e conhecimento:
a interdisciplinaridade e a
multirreferencialidade
Objetivo
Esperamos que, ao final desta aula, você seja capaz de:
• reconhecer os limites e as vantagens de uma prática integradora do
conhecimento nas pesquisas.

Pré-requisitos
Você poderá aproveitar melhor esta unidade se revisar o método cartesiano,
visto na unidade dois. Busque compreender o processo de fragmentação que é
imposto ao objeto a ser investigado. Dessa forma, terá mais clareza e compre-
ensão de que, por mais especializado que seja um conhecimento, ele estará
limitado a perceber alguns dos aspectos da realidade complexa que compõem a
investigação, sobretudo em ciências humanas. Você poderá também visitar o sítio
<http://www.unb.br/ppgec/dissertacoes/proposicoes/proposicao_jairocarlos.
pdf> e encontrar uma boa discussão sobre a multidisciplinaridade, a pluridiscipli-
naridade e a interdisciplinaridade, o que favorecerá a sua compreensão sobre o
tema da aula.

Introdução
Como você pôde perceber na aula dois, o método analítico proposto por
Renée Descartes tornou-se procedimento corriqueiro nas investigações cientí-
ficas. Em função disso, todo e qualquer problema deveria ser investigado decom-
pondo-o em suas menores partes para que pudesse ser mais bem estudado. A
principal conseqüência dessa postura epistemológica foi a especialização e a
fragmentação do saber. Como você também pôde observar, são inúmeras as
especialidades dos saberes científicos. Por um lado, isso representou a possi-
bilidade de um conhecimento aprofundado; mas, por outro, causou uma sepa-
ração entre as diferentes formas do conhecimento que chega, em muitos casos,
a dificultar a percepção do todo. Um exemplo dessa tendência são as espe-
cialidades médicas. Geralmente, vai-se a um clínico geral para que ele possa
realizar um exame prévio e encaminhar o enfermo a um especialista. Esse

uNITINS • aDMINISTRAÇÃO • 2º PERÍODO  117


Aula 3 • METODOLOGIA DA ciência e da PESQUISA

especialista responde apenas por sua especialidade. Em muitos casos, para se


chegar a um bom diagnóstico, é preciso consultar vários especialistas.
O grande desafio da ciência nesse século XXI é promover a reintegração
dos saberes. E, em busca desse objetivo, postula-se hoje uma nova postura
epistemológica. Um procedimento capaz de romper com a fragmentação dos
saberes e de compreender a complexidade dos problemas humanos. A seguir,
veremos como esse processo se desenvolve na construção de um conhecimento
necessário à atualidade.

3.1 Pós-modernidade e crise dos paradigmas


Para que você possa compreender o desafio atual da ciência de reintegrar
os diversos saberes e campos do conhecimento é preciso observar o delinea-
mento de uma nova postura epistemológica. Segundo Santos (1989, p. 11)
a época em que vivemos deve ser considerada uma época
de transição entre o paradigma da ciência moderna e um
novo paradigma, de cuja emergência se vão acumulando os
sinais, e a que, à falta de melhor designação, chamo ciência
pós-moderna.

Assim, o que este autor está querendo evidenciar é que a ciência, sob os
moldes de uma racionalidade e de uma objetividade que conduzem a um conhe-
cimento demonstrável e confiável, já não mais se sustenta.
Santos (1983) nos fala também de rupturas epistemológicas: a primeira,
quando a ciência constrói-se contra o senso comum, visto aqui como um conhe-
cimento falso com o qual é preciso romper para que se torne possível o conhe-
cimento científico, racional e válido. E uma segunda ruptura: o reencontro da
ciência com o senso comum. Santos (1989, p. 41) nos mostra que
enquanto a primeira ruptura é imprescindível para constituir
a ciência, mas deixa o senso comum tal como estava antes, a
segunda ruptura transforma o senso comum com base na ciência.
Com essa dupla transformação pretende-se um senso comum
esclarecido e uma ciência prudente, ou melhor, uma nova confi-
guração do saber [...], ou seja, um saber prático que dá sentido
e orientação à existência e cria o hábito de decidir bem.

Decidir bem significa, por exemplo, poder aliar os avanços tecnológicos


produzidos pelo conhecimento científico ao conhecimento da experiência coti-
diana e do senso comum, na tentativa de resolver os problemas ecológicos, de
energia, sobre a fome, a miséria, as doenças. A pós-modernidade e a cons-
trução de uma ciência que tenha uma nova postura epistemológica implicam
uma nova forma de conhecimento pautado, por exemplo, na idéia de interdis-
ciplinaridade. Vamos entender um pouco o que significa uma postura interdis-
ciplinar frente aos fatos e fenômenos que nos cercam?

118  2º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • uNITINS


Aula 3 • METODOLOGIA DA ciência e da PESQUISA

3.2 Multidisciplinaridade
Antes de iniciarmos a discussão sobre a interdisciplinaridade é preciso
compreender a perspectiva anterior a ela: a multidisciplinaridade. Esta pode
ser compreendida como um conjunto de disciplinas atuando de forma simul-
tânea, sem que as relações entre elas apareçam. Na multidisciplinaridade, que
é a forma como nossos currículos escolares estão organizados, não há cola-
boração entre as várias áreas do conhecimento. Várias disciplinas pesquisam
sobre o mesmo assunto, mas não são capazes de provocar sinergia. Maheu
(2006) afirma que
de acordo com o conceito de multidisciplinaridade, recorre-se
a informações de várias matérias para estudar um determinado
elemento, sem a preocupação de interligar as disciplinas entre
si. Assim, cada matéria contribuiu com informações próprias
do seu campo de conhecimento, sem considerar que existe
uma integração entre elas. Essa forma de relacionamento entre
as disciplinas é considerada pouco eficaz para a transferência
de conhecimentos, já que impede uma relação entre os vários
conhecimentos.

Assim, a multidisciplinaridade reforça a idéia de fragmentação do conheci-


mento, conseqüência de uma postura epistemológica pautada no paradigma da
ciência moderna.

Saiba mais

3.3 Interdisciplinaridade e multirreferencialidade


A complexidade dos fenômenos humanos desafia a pesquisa. A transpo-
sição dos métodos das ciências naturais, por mais objetivos que sejam os seus
resultados, para a pesquisa de problemas que envolvem o ser humano não se
mostrou eficiente. Especialmente no campo da educação, percebeu-se a neces-
sidade de se construírem metodologias que não reduzissem as pessoas a meros
dados estatísticos e que fossem capazes de desenvolver a investigação sob
vários enfoques.
A perspectiva da multirreferencialidade e da interdisciplinaridade aborda
o fenômeno humano sob várias óticas. A simples redução do ser humano
ao aspecto econômico, psicológico, religioso, educacional, estético, socioló-
gico, político, biológico, entre outros, mostrou que os resultados alcançados
eram incompletos ou não satisfaziam plenamente aos objetivos propostos.

uNITINS • aDMINISTRAÇÃO • 2º PERÍODO  119


Aula 3 • METODOLOGIA DA ciência e da PESQUISA

Seria necessário que os vários campos do saber se comunicassem para que


a compreensão da complexidade do ser humano fosse adequada. Morin
(citado por MARTINS, 2004, p. 90-91) acrescenta que
a visão não complexa das ciências humanas, das ciências
sociais, implica pensar que existe uma realidade econômica, por
um lado, uma realidade psicológica por outro, uma realidade
demográfica mais além, etc. Acreditamos que estas categorias
criadas pelas universidades são realidades, mas esquecemos que
no econômico, por exemplo, estão as necessidades e os desejos
humanos. Por trás do dinheiro existe todo um mundo de paixões.
[...] A consciência da complexidade nos faz compreender que
não poderemos escapar jamais à incerteza e que jamais pode-
remos ter um saber total: “a totalidade é a não verdade”.

A abordagem da pesquisa em ciências humanas e sociais deve superar o


isolamento das diversas disciplinas e procurar estabelecer um diálogo entre elas.
É necessária a multirreferencialidade e interdisciplinaridade.
De acordo com Demo (2001), somente pode ser tomado como pesquisa
interdisciplinar aquela composta por especialistas diversificados, de preferência
oriundos de áreas “opostas”; isto é, é preciso que as várias áreas do conheci-
mento estejam presentes no grupo interdisciplinar.
O bom funcionamento de uma equipe interdisciplinar deve procurar construir
um texto único e não uma colcha de retalhos em que cada especialidade propõe
seu ponto de vista, mas não dialoga com as outras áreas. É preciso orquestrar
os esforços de modo convergente procurando estabelecer um diálogo entre as
várias competências. Caso contrário, pode ocorrer uma disputa entre os vários
ramos do conhecimento e a manutenção da fragmentação.
As dificuldades para a construção desse tecido único não são poucas. Não
é prática comum trabalhar em equipes interdisciplinares,
a arte de tecer a muitas mãos pode ser auxiliada, no início, pela
tática de exigir de cada uma o tecido próprio, para somente
depois integrá-Ias; no caso ideal, é mais integrado o que já nasce
integrado; mas, sendo um desafio por fazer, é preciso saber
começar do começo (DEMO, 2001, p. 112).

Os esforços realizados de forma conjunta e conjugada devem estar presentes


na construção final: o texto único, que deve ser a expressão de todos e de cada
um, superando a idéia de que seja responsabilidade de alguma área privile-
giada. Na prática, muito pouco se tem conseguido nesse sentido. Porém esse
consenso final deve ser buscado por todos.
Outro problema a ser superado é a heterogeneidade do grupo envolvido:
cada um possui sua história acadêmica e seus procedimentos já sedimentados,
o que provoca uma espécie de consenso muito frágil. Segundo Demo (2001),

120  2º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • uNITINS


Aula 3 • METODOLOGIA DA ciência e da PESQUISA

essa dificuldade inicial, por mais que represente um grande desafio, é válida
porque o conhecimento produzido é permeado por vários discursos, e assim é
mais democrático e corre menos risco de ser fragmentado.
O grande mal a ser evitado é a transformação da interdisciplinaridade em
um modismo. Esta prática, de transformar as novidades em moda, é comum no
Brasil. O que se vê é uma justaposição de disciplinas (multidisciplinaridade) que
de interdisciplinar só tem o nome.

Síntese da aula
Vimos, nesta aula, que:
• a especialização do conhecimento levou à fragmentação e à perda da
visão do todo;
• a construção de uma ciência pós-moderna requer uma nova postura
epistemológica que alie ciência e senso comum;
• a multidisciplinaridade é uma forma de tratar determinado assunto sob
vários enfoques, sem estabelecer conexões entre eles;
• a interdisciplinaridade busca estabelecer um diálogo entre os vários
campos do conhecimento, procurando estabelecer uma prática que
compreenda a complexidade dos fenômenos. No entanto, há ainda
certa dificuldade em exercer essa prática, pois a maioria dos pesqui-
sadores está habituada a trabalhar de forma isolada, mas esse quadro
vem se revertendo rapidamente.

Atividades

1. Pesquise em outras fontes, por exemplo, no sítio Google (<http://www.


google.com.br>), os termos: pós-modernidade, multidisciplinaridade, inter-
disciplinaridade e complexidade, e escreva um texto dissertativo, de no
máximo 15 linhas, estabelecendo um paralelo entre eles. Procure as conver-
gências e as divergências sobre a produção do conhecimento.

2. Um dos grandes desafios da ciência nesse século XXI é promover a rein-


tegração dos saberes. Em busca desse objetivo, postula-se hoje uma nova
postura epistemológica e um procedimento capaz de romper com a frag-
mentação dos saberes e de compreender a complexidade dos problemas
humanos. Marque a alternativa que apresenta um conceito mais aproximado
dessa nova postura epistemológica.

a) Multidisciplinaridade c) Interdisciplinaridade
b) Protodisciplinaridade d) Disciplinaridade

uNITINS • aDMINISTRAÇÃO • 2º PERÍODO  121


Aula 3 • METODOLOGIA DA ciência e da PESQUISA

Comentário das atividades


Ao responder à primeira atividade, você observou a maneira como as
práticas interdisciplinares e multirreferenciais abordam o conhecimento.
Percebeu, também, que elas procuram ver o processo de produção do conhe-
cimento e mesmo de organização da sociedade integrando várias áreas, de
forma a integrar os vários pontos de vista.

Na atividade dois, você percebeu que a alternativa que apresenta um


conceito mais aproximado da nova postura epistemológica da ciência é a letra
(c), pois a interdisciplinaridade permite a integração dos saberes, através da
construção de um texto único, no qual o diálogo entre os vários campos do
saber é possível. As demais alternativas estão erradas, pois a multidisciplinari-
dade refere-se a disciplinas isoladas; a disciplinaridade supõe uma clara defi-
nição dos contornos das diversas disciplinas e a protodisciplinaridade seria
uma definição anterior à disciplinaridade.

Referências
CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo: Ática, 1995.

DEMO, Pedro. Conhecimento moderno: sobre ética e intervenção do conheci-


mento. 4. ed. Petrópolis: Vozes, 2001.
MAHEU, Cristina d’Ávila. Interdisciplinaridade e mediação pedagógica.
Disponível em: <http://www.nuppead.unifacs.br/artigos/Interdisciplinaridade.
pdf>. Acesso em 9 abr. 2006.
MARTINS, João Batista. Contribuições epistemológicas da abordagem multir-
referencial para a compreensão dos fenômenos humanos. Revista Brasileira de
Educação, São Paulo, n. 26, maio/ago. 2004.
SANTOS, Boaventura de S. Introdução a uma ciência pós-moderna. Rio de
Janeiro: Graal, 1989.

Na próxima aula
Agora que você já sabe o que é conhecimento científico e, também, seus
principais métodos, bem como as discussões atuais acerca de uma nova postura
epistemológica, apresentaremos, a seguir, os diferentes níveis da pesquisa e
como a pesquisa está vinculada ao desenvolvimento econômico, cultural e social
de uma nação. Apresentaremos também os objetivos, fontes e procedimentos
da coleta de dados que fazem parte da pesquisa, bem como os diferentes tipos
de pesquisa, com o intuito de aprofundar o que iniciamos nas aulas anteriores.
Esperamos com isso contribuir para que você possa aperfeiçoar seus procedi-
mentos de pesquisa e desenvolver com eficácia suas investigações.

122  2º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • uNITINS


Aula 4 • METODOLOGIA DA ciência e da PESQUISA

Aula 4
A pesquisa científica:
conceitos e modalidades

Objetivos
Esperamos que, ao final desta aula, você seja capaz de:
• identificar o conceito de pesquisa científica e os seus principais níveis;
• descrever os diferentes tipos de pesquisa.

Pré-requisitos
Para uma compreensão mais ampla dos conteúdos dessa aula, releia o
tópico sobre o conhecimento científico e suas características na aula dois.
Procure refletir sobre a maneira como se dá o processo de desenvolvimento da
ciência. Com isso, será mais bem interpretado o sentido da pesquisa científica
e sua importância para a atividade acadêmica. Sobre os tipos de pesquisa, no
sítio <http://www.sbi_web.ifsc.usp.br/metodologia_pesquisa_cientifica.pdf>
você encontrará slides identificando os principais tipos quanto aos objetivos,
às fontes de dados e aos procedimentos de coleta. É apenas uma pequena
introdução que o familiarizará com o tema dessa aula.

Introdução
É muito comum associarmos a pesquisa com a atividade daqueles cientistas
geniais, meio doidos, às vezes trancados em seus laboratórios realizando expe-
riências mirabolantes. Na verdade, a pesquisa pode ser feita por todos aqueles
que tenham a curiosidade necessária e dominem os métodos adequados. O
pesquisador individual, hoje, é um personagem em extinção. As agências
financiadoras aprovam projetos que tenham abordagem interdisciplinar, com a
formação de grupos de pesquisadores.
A pesquisa em rede, viabilizada pela Internet, possibilita que um mesmo
problema seja investigado por vários grupos de vários países, em intercâmbio
sistemático. Problemas na área ambiental, de saúde, de educação, entre outros,
que afetam o globo, em suas várias regiões, são investigados em rede. Pesquisar,
como você verá nesta aula, é algo extremamente importante para o desenvol-

uNITINS • aDMINISTRAÇÃO • 2º PERÍODO  123


Aula 4 • METODOLOGIA DA ciência e da PESQUISA

vimento de habilidades cognitivas e para a produção de novos conhecimentos


necessários para a solução dos problemas que nossa sociedade enfrenta.
Os diferentes níveis de pesquisa apontam para a necessidade de distinção
entre os vários tipos de pesquisa quanto aos objetivos, às fontes e aos proce-
dimentos da coleta de dados. É importante destacar que, uma vez definido
o problema e a teoria que fundamenta a investigação, o pesquisador precisa
identificar se a pesquisa, quanto aos objetivos, será somente exploratória, explo-
ratória e descritiva ou exploratória e explicativa.
As pesquisas acadêmicas são, via de regra, exploratórias e descritivas, por
não buscarem explicações do problema a partir de suas raízes. Já as explica-
tivas situam-se em nível de pesquisa de ponta. As fontes utilizadas para coleta
de dados e informações, bem como os procedimentos da coleta, são, conse-
qüentemente, selecionados a partir do problema/hipóteses levantados e dos
objetivos selecionados.

4.1 O que é pesquisa?


O termo pesquisa pode ser compreendido segundo vários significados e
autores. Vejamos alguns.
a) Significado amplo: no dicionário Aurélio (1999, p. 1556), pesquisa
significa uma “indagação ou busca minuciosa para averiguação da
realidade; investigação, inquirição”. Aplica-se a levantamento de
opinião (pesquisas de mercado, eleitoral, etc.); investigação policial,
detetive, entre outros.
b) Pesquisa escolar, acadêmica: para Santos (2002), é um levantamento
de informações sistematizadas, em sua maior parte, já produzidas por
meio da investigação científica e publicadas nos livros didáticos, para
conhecer algo não devidamente esclarecido pelo professor/aluno (por
interesse pessoal ou por solicitação do professor).
c) Significado restrito, propriamente científico: entre as várias defini-
ções citamos Gil (2002), que define pesquisa como um procedimento
racional e sistemático que tem como objetivo proporcionar respostas
aos problemas que são propostos. De acordo com a concepção de
Gil, utilizamos a pesquisa quando não dispomos de informação sufi-
ciente para responder às questões relacionadas a um problema que se
quer investigar; ou então, quando a informação disponível se encontra
em tal estado de desordem que não possa ser adequadamente relacio-
nada ao problema.
Máttar Neto (2003, p. 145), por sua vez, afirma que “a pesquisa é, ao
mesmo tempo, um processo de descoberta e de invenção. Há um elemento de
criatividade, de lúdico, envolvido na atividade de investigação científica”. Assim,

124  2º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • uNITINS


Aula 4 • METODOLOGIA DA ciência e da PESQUISA

a pesquisa científica é uma busca de dados e informações, por meio de métodos


específicos de cada ciência, para investigar um problema/hipóteses com vistas
a validar as respostas encontradas que, “às vezes, a pesquisa vai confirmar suas
idéias ou opiniões, às vezes vai modificá-las, mas quase sempre vai ajudar a dar
forma a seu pensamento” (MÁTTAR NETO, 2003, p. 146).
A pesquisa científica exige rigor, paciência e seriedade no tratamento dos
dados, bem como, ética na divulgação de seus resultados.
Dessa forma, a pesquisa é sempre resultado da busca de solução para
algum problema. Os problemas podem ser de duas diferentes ordens de razão:
de ordem intelectual e de ordem prática. Ambas estão interligadas, pois inves-
tigar um problema de ordem intelectual, mesmo que em sua origem ou por curio-
sidade do pesquisador pode, de alguma forma, resultar em uma aplicação.
A partir dessa concepção, é comum classificar as pesquisas de acordo com
a sua orientação final.
Teríamos a chamada pesquisa pura, ou teórica, e a pesquisa aplicada. Na
tradição intelectual ocidental, é comum colocá-las em campos opostos, como
se fossem excludentes. O que se percebe na realidade é que ambas se comple-
mentam. Por exemplo, quando foram descobertas as propriedades radioativas
de alguns elementos químicos, logo em seguida foi possível aplicar esse conhe-
cimento em instrumentos até hoje utilizados pela medicina, como os raios X,
tão úteis nos hospitais. Como afirma Gil (2002, p. 18), “uma pesquisa sobre
problemas práticos pode conduzir a descoberta de princípios científicos. Da
mesma forma, uma pesquisa pura pode fornecer conhecimentos passíveis de
aplicação prática imediata”.

4.2 Níveis da pesquisa científica


Podemos distinguir dois níveis de pesquisa.

a) Pesquisa acadêmica: na vida acadêmica, o estudante precisa realizar


uma série de trabalhos para verificar como está o andamento de sua
aprendizagem. Os estudantes recebem orientações para iniciar as
atividades de pesquisa. Elaboram e executam projetos na área de sua
formação. Santos (2002, p. 24) afirma que
a pesquisa acadêmica é, pois, uma atividade pedagógica
que visa despertar o espírito de busca intelectual autônoma. É
necessário que se aprendam as formas de problematizar neces-
sidades, solucionar problemas, indicar respostas adequadas
[...]. A pesquisa acadêmica é, antes de tudo, exercício, prepa-
ração. O resultado mais importante não é a oferta de uma
resposta salvadora para a Humanidade, mas a aquisição do
espírito e método para a indagação intencional.

uNITINS • aDMINISTRAÇÃO • 2º PERÍODO  125


Aula 4 • METODOLOGIA DA ciência e da PESQUISA

b) Pesquisa de ponta: após a formação básica, existe a possibilidade de


ingresso em um curso de pós-graduação, mestrado, doutorado, e a pesquisa
adquire uma nova configuração. O pós-graduando adquiriu maior grau de
autonomia e é portador de uma bagagem de conhecimentos
para realizar investigações em maior nível de complexidade
e profundidade. Entretanto, não necessariamente terá condi-
ções de investigar no nível denominado pesquisa de ponta. O
tempo disponível, muitas vezes, não permite buscar as raízes do
problema. A pesquisa de ponta refere-se a buscar respostas aos
fatores fundamentais do problema levantado. Em geral, é reali-
zada pelos grupos de pesquisa constituídos por cientistas que se
dedicam exclusivamente a essa atividade. Exemplos: pesquisas
na área de biogenética, células tronco, doenças como AIDS,
entre outras. Ressaltamos, entretanto, que quem realiza pesquisa
no sentido propriamente científico não necessariamente passa
pelo ensino superior. Muitas pessoas talentosas e com espírito de
investigação aguçado para investigar problemas em busca de fatores expli-
cativos são aceitos na comunidade científica como capacitados para essa
atividade, e podem dar importantes contribuições na área investigada.
Agora que você já conhece os níveis da pesquisa, vamos compreender os
diferentes tipos de pesquisa científica.

4.3 Tipos de pesquisa científica


No campo da pesquisa, é possível adotar três critérios para identificação da
natureza metodológica dos trabalhos de pesquisa:
• por meio de seus objetivos: exploratórias, descritivas, explicativas;
• segundo as fontes utilizadas na coleta de dados: campo, laboratório,
bibliografia;
• segundo os procedimentos de coleta: experimental, ex-post-facto, levan-
tamento, estudo de caso, pesquisa-ação, bibliográfica, documental.
Esses critérios não são excludentes. Ao definir o objetivo de uma pesquisa,
seleciono as fontes que irei utilizar e os procedimentos que serão adotados.

4.4 Pesquisas segundo os objetivos


Definir o objetivo de uma pesquisa constitui a sua espinha dorsal. Trata-se de
explicitar: o que pretendo alcançar com a pesquisa que vou realizar?
Esse critério leva em conta o grau de aproximação do pesquisador com o
problema que irá estudar e o nível conceitual com que o pesquisador se coloca
diante do seu objeto de estudo. Nesse critério, as pesquisas podem ser classifi-
cadas em exploratórias, descritivas ou explicativas.

126  2º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • uNITINS


Aula 4 • METODOLOGIA DA ciência e da PESQUISA

a) Exploratórias: via de regra, toda pesquisa tem início com a exploração


do problema/fenômeno que vai ser investigado. Trata-se de responder
às perguntas: o que eu sei sobre o problema que quero investigar? O
que já está publicado a respeito? Essas são informações preliminares
que o pesquisador deverá coletar que lhe permitirão delimitar de forma
mais objetiva o problema e construir suas hipóteses. Do ponto de vista
conceitual, você deve selecionar a melhor teoria que irá fundamentar
sua pesquisa e destacar e explicitar os conceitos básicos que serão
utilizados como referências. As fontes de coleta de dados e informa-
ções, geralmente, envolvem o levantamento bibliográfico e documental,
a realização de entrevistas com pessoas que tiveram contato ou expe-
riências com o problema a ser pesquisado, análise de situações que
permitam uma maior compreensão a respeito do assunto, visita a sítios
da Internet, entre outros. A pesquisa exploratória lhe permitirá mapear o
seu objeto de estudo e, muitas vezes, você irá descobrir que o problema
(ou um de seus aspectos) que pretende investigar já foi solucionado.
Quando você respondeu à pergunta anteriormente colocada – o que pretendo
alcançar com a pesquisa que vou realizar? –, você, praticamente, já definiu se
sua pesquisa será descritiva ou explicativa. Vejamos por quê.

b) Descritivas: seu principal objetivo é descrever as características de uma


determinada população ou fenômeno por meio do estabelecimento de
relação entre variáveis. É feita na forma de levantamento de dados
sistematicamente organizados. As pesquisas descritivas podem visar
ao estudo das características de um grupo, obter a opinião de uma
determinada população ou investigar como se dá o atendimento do
sistema público de saúde em uma localidade, por exemplo. Em geral,
a pesquisa descritiva objetiva descrever um fenômeno por meio de seus
efeitos, utilizando como procedimento de coleta de dados a estatística,
com ênfase na análise quantitativa.

c) Explicativas: são consideradas as mais profundas porque buscam explicar


as razões ou fatores que determinam a ocorrência de determinado fenô-
meno. Como não se resumem a apenas descrever ou explorar um fenô-
meno, as hipóteses levantadas podem não ser validadas, e novas hipó-
teses serão elaboradas para novas investigações. Não se pode, aqui,
desmerecer as outras modalidades de pesquisa, tendo em vista que uma
pesquisa explicativa pode ser o desdobramento de uma pesquisa explora-
tória ou descritiva. Por exemplo, o resultado fornecido por uma pesquisa
descritiva sobre os efeitos no mercado de trabalho da não qualificação
da mão-de-obra necessária pode provocar indagações diversas que
levam a uma pesquisa explicativa: quais as razões da não qualificação
da mão-de-obra necessária a determinado tipo de trabalho?

uNITINS • aDMINISTRAÇÃO • 2º PERÍODO  127


Aula 4 • METODOLOGIA DA ciência e da PESQUISA

4.5 Pesquisas segundo as fontes de dados


Uma pesquisa só é possível desde que exista a disponibilidade de fontes
de dados para que se possa coletá-los e analisá-los. Em uma analogia bastante
simples, da mesma forma que um automóvel se locomove porque queima combus-
tível, a pesquisa depende de dados para que possa elaborar seus raciocínios,
pois “entende-se pesquisa como atividade intelectual, como desenvolvimento de
raciocínios, cujo combustível são dados” (Gil, 2002, p. 19). Entre as possíveis
fontes de dados, três merecem destaque por serem as mais utilizadas: a biblio-
grafia a respeito de um tema, o campo, no qual se possa observar os fenômenos
e um laboratório em que se possa recriá-los.

a) Pesquisa de campo: geralmente é realizada por meio de observação


direta do pesquisador. Os dados são colhidos no local onde são produ-
zidos, por isso os dados obtidos são mais fidedignos. Sua maior desvan-
tagem é que os resultados podem demorar mais a aparecer.

b) Laboratório: geralmente utilizada como experimento, essa fonte de dados


é uma forma de coleta usual em áreas da biologia. Por exemplo, as
pesquisas realizadas no campo da biogenética, no campo das doenças
como a AIDS, e os estudos com grandes aplicações práticas, como a
investigação criminal. Na pesquisa de laboratório, temos duas situações
distintas: a interferência artificial em um fenômeno ou a artificialização da
capacidade humana de captar os dados. No primeiro caso, o objetivo
é construir um padrão de observação que, muitas vezes, é impossível na
realidade fora do laboratório. No outro caso, os mecanismos naturais de
observação não permitem uma percepção acurada do fenômeno e, então,
é necessário artificializar o ambiente e os instrumentos de observação.

c) Bibliografia: a pesquisa bibliográfica é a mais utilizada, sobretudo


no meio acadêmico. Você já deve ter ouvido aquela expressão “não
precisamos reinventar a roda”. Pois é, grande parte das pesquisas
realizadas em laboratório e/ou de campo acaba se transformando em
livros, revistas e outras formas de divulgação bibliográfica, inclusive na
Internet. Por meio da pesquisa bibliográfica, é possível acessar o conhe-
cimento produzido e acumulado ao longo de vários anos, como fonte de
informações para a pesquisa exploratória, explicada acima.

4.6 Outras fontes de dados

a) Dados censitários
O levantamento sistemático de dados censitários a respeito de uma popu-
lação constitui a sociometria. Os países que dispõem de um banco de dados a
respeito, sistemática e periodicamente, os atualizam e editam, possibilitando aos

128  2º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • uNITINS


Aula 4 • METODOLOGIA DA ciência e da PESQUISA

pesquisadores a utilização de técnicas de amostragem sobre como analisar rela-


ções entre aspectos de uma população. No Brasil, temos o Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatísticas (IBGE). Costa (2001, p. 233) cita exemplos de pesquisas
realizadas por sociólogos, com a utilização de dados censitários. Entre esses, a
de Kingsley Davis, em 1963, que
[...] fez uma análise de dados censitários que procurava rela-
cionar aumento de renda per capita e aumento demográfico.
Tomando as taxas de países “desenvolvidos” (industrializados)
e “subdesenvolvidos” (não-industrializados), constatou que, nos
primeiros, à medida que crescia a renda per capita, diminui a
taxa de crescimento demográfico. Inversamente, nos países de
pequena renda per capita a taxa de crescimento demográfico
aumentava consideravelmente.

Comenta Costa (2001) que, em termos metodológicos, Davis descobriu que


a taxa de crescimento era a variável dependente, conseqüência da renda per
capita, variável independente.
Essa autora chama a atenção para a necessidade de que os dados censitá-
rios sejam de fonte fidedigna. Ao se realizar uma pesquisa desse tipo, é preciso
testar, em uma pequena amostra, as variáveis que se quer experimentar.

b) História de vida
É outro método de pesquisa amplamente utilizado em sociologia. A história de
vida “compõe-se de relatos, depoimentos, memórias e documentos pertencentes ao
depoente” (COSTA, 2001, p. 234). É um tipo de fonte de coleta de dados e informa-
ções que apresenta vantagens como fator importante para recuperar interpretações
“não-oficiais” sobre certos acontecimentos, e pode revelar novos aspectos desses
acontecimentos, a visão de quem viveu e testemunhou. Atualmente, tem-se valori-
zado “a análise dos valores, das tradições, da expressão de opinião” que permitem
a decifração mais apurada desses depoimentos (COSTA, 2001).

c) Levantamento histórico
Trata-se de realizar levantamentos de documentação para apreender o
processo de transformação de determinado fenômeno. Esses documentos cons-
tituem fonte preciosa de informação, tais como correspondências, diários,
contratos, relatos de viajantes, atas de instituições, entre tantos outros.
As fontes de pesquisa anteriormente citadas podem ser usadas de forma combi-
nada, dependendo do objetivo a ser alcançado e do problema a ser desvendado.

4.7 Pesquisas segundo os procedimentos de coleta de dados


Conforme Santos (2002), os procedimentos de coleta são os métodos práticos
utilizados para juntar as informações necessárias à construção dos raciocínios em
torno de um fato/fenômeno/processo. Na verdade, a coleta de dados de cada

uNITINS • aDMINISTRAÇÃO • 2º PERÍODO  129


Aula 4 • METODOLOGIA DA ciência e da PESQUISA

pesquisa terá peculiaridades adequadas àquilo que


se quer descobrir. Mas é possível apontar alguns
procedimentos-padrão, comumente utilizados, aos
quais se fazem as adaptações de espaço/tempo/
matéria necessárias às exigências de cada caso.

a) Pesquisa experimental: parte da determinação


de um objeto de estudo e da seleção de vari-
áveis que poderiam provocar algum tipo de
influência. É preciso, também, determinar a
forma pela qual serão realizados o controle
e a observação dos efeitos produzidos por
uma variável no objeto de estudo. A pesquisa experimental, geralmente, é
feita por amostragem, ou seja, escolhe-se dentro de um universo, bastante
extenso para ser esgotado, um conjunto significativo de casos que comporão
a amostra. Os resultados deverão ser aplicados a todos os casos. Esse tipo
de pesquisa necessita de um bom planejamento para que a experimen-
tação seja realizada de modo a se observarem os aspectos que interessam
ao estudo. Assim, muitas vezes, escolhe-se a variável que se quer analisar
e neutralizam-se as demais, para que se possa compreender qual a sua
influência no objeto de estudo. Esse objeto pode ser um fato, um fenômeno
ou um processo. Exemplos: pesquisa para descobrir uma vacina contra o
vírus da AIDS ou da gripe aviária.

Saiba mais

b) Ex-post-facto: literalmente, significa “a partir de depois do fato”. A pesquisa


ex-post-facto é, também, uma pesquisa experimental. A diferença funda-
mental entre esses dois tipos está no fato de que a pesquisa ex-post-facto é
anterior à pesquisa experimental, ou seja, ocorre sem o controle do pesqui-
sador. A observação se dá depois que ocorre o problema a ser investigado.
Por exemplo, compreender por que determinada campanha publicitária não
atingiu seus objetivos.

130  2º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • uNITINS


Aula 4 • METODOLOGIA DA ciência e da PESQUISA

c) Levantamento: busca obter, junto a um determinado grupo, as informações


que se deseja. A partir da coleta das informações solicitadas, é elaborada
uma análise quantitativa dos dados para que se formulem as conclusões.
Muito utilizado nas pesquisas exploratórias e descritivas, é realizado em três
etapas: seleção da amostra a ser pesquisada; aplicação dos questionários;
e análise estatística dos dados coletados. Entre as principais vantagens do
levantamento, estão o conhecimento direto da realidade, a economia, a
rapidez e a possibilidade de quantificação. Suas principais limitações se
devem ao caráter subjetivo da opinião dos entrevistados, o que colabora
para a perda de objetividade. Uma pesquisa para compreender a prefe-
rência dos consumidores masculinos de uma determinada faixa etária seria
um exemplo de levantamento.

d) Estudo de caso: quando se quer aprofundar o conhecimento sobre um


determinado objeto de pesquisa, é selecionado, entre eles, um especí-
fico e que possa representar a totalidade dos demais para que se verifi-
quem seus aspectos característicos. O estudo de caso costuma exigir do
pesquisador grande equilíbrio intelectual e capacidade de observação
porque, ao lidar com casos isolados, é preciso muito cuidado para se
inferir generalizações dos resultados. É comum a utilização do estudo de
caso quando se trata de reconhecer, em um caso específico, um padrão
científico já delineado, no qual possa ser enquadrado. Por exemplo,
observar como se comporta um consumidor em um determinado ambiente
de consumo.

e) Pesquisa-ação: está voltada para a resolução de um problema ou suprimento


de uma necessidade. É comum a participação e o envolvimento cooperativo
entre os pesquisadores e a comunidade envolvida na pesquisa. Admite que
outros procedimentos, já descritos nesta aula, possam ser utilizados como meio
de coleta. Todos os envolvidos, pesquisados e pesquisadores, podem adotar
procedimentos como experimentação, pesquisa bibliográfica, observação,
etc., para alcançar os resultados almejados. Por exemplo, uma empresa que
pretende resolver o problema do absenteísmo ao trabalho.

f) Bibliografia: sobre bibliografia, Santos (2002, p. 32) nos ensina que


é o conjunto de materiais escritos/gravados, mecânica ou eletroni-
camente, que contém informações já elaboradas e publicadas por
outros autores. São fontes bibliográficas os livros (de leitura corrente
ou de referência, tais como dicionários, enciclopédias, anuários,
etc.), as publicações periódicas (jornais, revistas, panfletos, etc.),
fitas gravadas de áudio e vídeo, páginas de web sites, relatórios
de simpósios/seminários, anais de congressos, etc. A utilização
total ou parcial de quaisquer dessas fontes caracteriza a pesquisa
como pesquisa bibliográfica.

uNITINS • aDMINISTRAÇÃO • 2º PERÍODO  131


Aula 4 • METODOLOGIA DA ciência e da PESQUISA

g) Documento: sobre documento, Santos (2002, p. 32) acrescenta que


é o nome genérico dado às fontes de informação bibliográficas
que ainda não receberam organização, tratamento analítico e
publicação. São fontes documentais: tabelas estatísticas; rela-
tórios de empresas; documentos informativos arquivados em
repartições públicas, associações, igrejas, hospitais, sindicatos;
fotografias; epitáfios; obras originais de qualquer natureza;
correspondência pessoal ou comercial, etc. A utilização de qual-
quer dessas fontes de informação caracteriza a pesquisa como
pesquisa documental.

A pesquisa documental utiliza-se de documentos que não constam em publi-


cações oficiais. O grande forte de se utilizarem documentos como planilhas,
tabelas, informativos, etc. é colaborar para a sustentação do objeto central
da pesquisa.
Os vários tipos de pesquisa apresentados nessa aula, segundo os obje-
tivos, as fontes e procedimentos de coleta, e a adequada seleção dos mesmos
para realização da investigação, poderão facilitar e simplificar seu trabalho,
que certamente contará com o acompanhamento de um professor orientador.

Síntese da aula
Nessa aula você aprendeu que a ciência é um tipo de conhecimento sistema-
tizado, ou seja, planejado e organizado metodologicamente. Logo, a pesquisa
– um procedimento racional e sistemático que tem como objetivo proporcionar
respostas aos problemas que são propostos – é uma de suas principais carac-
terísticas, na qual dois níveis fundamentais se destacam: a pesquisa acadêmica
e a de ponta. Muito do que sabemos sobre o tipo de pesquisa adequado para
analisar um fenômeno é determinado pelo próprio objeto da pesquisa. Assim
temos pesquisas segundo os objetivos, que se subdividem em exploratórias,
descritivas e explicativas; temos as pesquisas segundo as fontes: pesquisa de
campo, laboratório e bibliográfica e, por fim, as pesquisas segundo os proce-
dimentos de coleta: experimental, ex-post-facto, levantamento, estudo de caso,
pesquisa-ação, bibliografia e documento. As pesquisas científicas proporcionam
o avanço desse tipo de conhecimento e, muitos de seus resultados, podem favo-
recer a melhoria da qualidade de vida das pessoas.

Atividades

1. A pesquisa é sempre resultado da busca de solução para algum problema.


Os problemas podem ser de duas diferentes ordens de razão: intelectual e
prática. Ambas formas estão interligadas, pois investigar um problema de
ordem intelectual em sua origem pode, de alguma forma, resultar em uma
aplicação. Temos, assim, dois níveis de pesquisa: acadêmica e de ponta.

132  2º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • uNITINS


Aula 4 • METODOLOGIA DA ciência e da PESQUISA

Elabore uma reflexão, por meio de um texto dissertativo de 20 linhas,


concordando ou não com o conteúdo das assertivas a seguir.
a) A pesquisa acadêmica é, antes de tudo, exercício, preparação. O resul-
tado mais importante não é a oferta de uma resposta salvadora para a
humanidade, mas a aquisição do espírito e método para a indagação
intencional.
b) Para a realização da pesquisa, é imprescindível a formação acadêmica
em nível de pós-graduação.
c) A pesquisa de ponta refere-se a buscar respostas aos fatores fundamen-
tais do problema levantado.
d) Na pesquisa de ponta, o sujeito do conhecimento é desafiado a
responder ao problema oferecendo respostas concretas a problemas
concretos atuais ou futuros.

2. O termo pesquisa pode ser compreendido segundo vários aspectos. Há uma


diferença fundamental entre consumir pesquisa e fazer pesquisa. Poucos
indivíduos são pesquisadores profissionais, mas todos nós já realizamos
alguma investigação. No entanto, todos nós, também, somos, quer dese-
jemos ou não, consumidores de pesquisas. Observando o significado de
pesquisa, marque as alternativas corretas.

I. A pesquisa exige rigor, paciência e seriedade no tratamento dos dados


e ética na divulgação de seus resultados.

II. A pesquisa é, ao mesmo tempo, um processo de descoberta e de


invenção que exige um elemento de criatividade.

III. Para realizar uma pesquisa não são necessários conhecimentos disponí-
veis nem a utilização cuidadosa de métodos e técnicas.

IV. A aprendizagem das metodologias de pesquisa nos ajuda a ser consu-


midores esclarecidos e, até mesmo, produtores de pesquisa.

As alternativas corretas são:

a) III, IV, II c) IV, I, III


b) I, II, IV d) II, III, I

3. Elabore um pequeno texto dissertativo, de no máximo 15 linhas, descre-


vendo os tipos de pesquisa segundo os procedimentos de coleta de dados
exemplificando cada um. Para exemplificar, sugerimos que você entre no
sítio <http://www.google.com.br> e coloque o tipo de pesquisa para
encontrar os exemplos.

uNITINS • aDMINISTRAÇÃO • 2º PERÍODO  133


Aula 4 • METODOLOGIA DA ciência e da PESQUISA

4. Definir o objetivo de uma pesquisa constitui a sua espinha dorsal. Ao se adotar


esse critério, leva-se em conta o grau de aproximação do pesquisador com
o problema que irá estudar e o nível conceitual com que o pesquisador se
coloca diante do seu objeto de estudo. Nesse critério, as pesquisas podem ser
classificadas em exploratórias, descritivas ou explicativas. Analise as asser-
tivas a seguir, classificando-as em verdadeiras ou falsas.

I. Exploratórias são as pesquisas que têm início com a exploração do


problema/fenômeno que vai ser investigado. São informações prelimi-
nares que o pesquisador deverá coletar que lhe permitirão delimitar, de
forma mais objetiva, o problema e construir suas hipóteses.

II. Nas pesquisas descritivas, o principal objetivo é descrever as carac-


terísticas de uma determinada população ou fenômeno, por meio do
estabelecimento de relação entre variáveis.

III. Explicativas são consideradas as mais profundas porque buscam


explicar as razões ou fatores que determinam a ocorrência de determi-
nado fenômeno.

Assinale a alternativa que corresponde à classificação correta.


a) Somente I, II e III são falsas
b) Somente I e III são verdadeiras
c) Somente I, II e III são verdadeiras
d) Somente II e III são falsas

Comentário das atividades


Na atividade um, você observou que, para as assertivas (a) e (b), é preciso
uma releitura do tópico referente aos níveis de pesquisa. Você percebeu, também,
que a pesquisa não é um assunto tão distante de nossa vida. No dia-a-dia,
pesquisamos sobre problemas para os quais não temos uma solução ainda. A
maioria dos pesquisadores é portador de diplomas de mestrado e doutorado,
mas isso não significa que um acadêmico ou alguém que procure soluções para
seus problemas não possa ser pesquisador. Nas assertivas (c) e (d) você atentou
para o fato de que a pesquisa é o cerne da formação de um profissional quali-
ficado, colaborando com o desenvolvimento do conhecimento humano, criando
novos produtos e serviços e colaborando com o desenvolvimento de um país.
As alternativas corretas da atividade dois são (a), (b), (d), pois para se
realizar uma pesquisa é necessário a observação cuidadosa dos métodos e
técnicas bem como dos conhecimentos disponíveis. Como instrumento de inves-
tigação científica, a pesquisa é uma busca de dados e informações por meio

134  2º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • uNITINS


Aula 4 • METODOLOGIA DA ciência e da PESQUISA

de métodos específicos de cada ciência, para investigar um problema/hipótese


com vistas a validar as respostas encontradas.
Na atividade três você descreveu a pesquisa experimental, a ex-post-facto, o
levantamento, o estudo de caso, a pesquisa-ação, a bibliografia e o documento.
Além disso, encontrou uma série de exemplos das mesmas no sítio do Google.
Agora que você já conhece os tipos de pesquisa, segundo os objetivos,
observou que a alternativa correta na atividade quatro, é a letra (c). As três
assertivas são verdadeiras, pois as exploratórias buscam iniciar uma investi-
gação pela exploração simples de um problema; as descritivas, ao relatarem o
que ocorre em dada situação, procuram descobrir as inter-relações entre suas
variáveis; as explicativas não se contentam em descrever ou apenas explorar,
mas buscam uma compreensão mais profunda dos fenômenos.
Ao realizar as atividades propostas, você está apto a identificar o conceito
de pesquisa científica e os seus principais níveis e descrever os diferentes tipos
de pesquisa, que foram os objetivos propostos.

Referências
COSTA, C. Sociologia, introdução à ciência da sociedade. São Paulo: Moderna,
2001.
FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Dicionário da Língua Portuguesa. São
Paulo: Melhoramentos, 1999.
GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2002.
MÁTTAR NETO, J. A. Metodologia científica na era da informática. São Paulo:
Saraiva, 2003.
SANTOS, A. R. dos. Metodologia científica: a construção do conhecimento. Rio
de Janeiro: DP & A 2002.
SOUZA, H. M. M. R. de. Análise experimental dos níveis de ruído produzido por
peça de mão de alta rotação em consultórios odontológicos: possibilidades de
humanização do posto de trabalho do cirurgião dentista. Rio de Janeiro: Fiocruz,
1998. Disponível em: <http://portalteses.cict.fiocruz.br/transf.php?script=thes_
chap&id=00010712&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em: 13 jul. 2006.

Na próxima aula
Você já identificou o que é conhecimento científico e quais os seus principais
métodos, bem como descreveu os diferentes tipos de pesquisa científica. Agora você
precisa se familiarizar com a linguagem acadêmica, com o discurso científico e com
os mecanismos de divulgação dos mesmos. Veremos na próxima aula as várias

uNITINS • aDMINISTRAÇÃO • 2º PERÍODO  135


Aula 4 • METODOLOGIA DA ciência e da PESQUISA

ormas de registro e apresentação do trabalho acadêmico: o resumo, o fichamento e


a resenha; o seminário, o painel, a mesa redonda, a comunicação, entre outros.

Anotações





































136  2º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • uNITINS


Aula 5 • METODOLOGIA DA ciência e da PESQUISA

Aula 5
Tipos de registro e apresentação de
trabalhos acadêmicos

Objetivos
Esperamos que, ao final desta aula, você seja capaz de:
• identificar os diferentes tipos de registro e apresentação de trabalhos
acadêmicos;
• utilizar os procedimentos de elaboração e apresentação de trabalhos
acadêmicos.

Pré-requisitos
Para um melhor aproveitamento desta aula, sugerimos que você leia o capítulo
IV e V do livro Metodologia do trabalho científico, de Antônio Joaquim Severino,
que está na bibliografia do plano de ensino dessa disciplina no caderno de
conteúdos e atividades. A leitura do capítulo IV desse livro é importante, pois nele
você encontrará as diretrizes para a realização de um seminário e no capítulo V,
no item três, encontrará as formas de trabalho científico: o resumo e a resenha.
No sítio <http://www.caminhosdalingua.com/Resenha.html> você encontrará,
também, algumas dicas que o ajudarão a produzir textos acadêmicos.

Introdução
Ao adentrar o universo acadêmico, você lidará com uma série de leituras
de textos científicos. A linguagem desses textos é bem diferente daquela que
estamos habituados no nosso dia-a-dia: jornal, revista, texto literário. Muitos
trabalhos didáticos e científicos serão solicitados para as diversas disciplinas
com as quais você entrará em contato. Daí a importância de saber sintetizar
um texto, retirar as principais idéias de determinado autor, relacionar essas
idéias a outros autores ou textos. Ao familiarizar-se com as técnicas de elabo-
ração de resumos, fichamentos e resenhas, você encontrará menos dificuldade
em reconhecer um texto científico, bem como em construí-lo.
Existem, também, diferentes maneiras de apresentar trabalhos acadêmicos:
seminários, mesas redondas, painéis, palestras, comunicações, conferências,

uNITINS • aDMINISTRAÇÃO • 2º PERÍODO  137


Aula 5 • METODOLOGIA DA ciência e da PESQUISA

etc. Os seminários são a forma mais utilizada, portanto, conhecer suas técnicas
de organização é fundamental para que você compreenda como apresentar ou
divulgar um trabalho acadêmico.

5.1 A redação científica


Antes de iniciarmos as discussões sobre o registro e a comunicação de traba-
lhos acadêmicos, vamos apresentar os pontos fundamentais da redação científica
que, como você verá, é bem diferente da forma como escrevemos usualmente.
Quando pensamos em redação, quem não se lembra das sugestões de
produção textual apresentadas pelas professoras do ensino fundamental nos
primeiros anos de formação? “Minhas férias”, a “excursão”, “o passeio no
parque”, entre tantas outras. É nesse período da nossa aprendizagem que são
realizados os primeiros exercícios para o aprimoramento do vocabulário, da
ortografia, da concordância verbal e nominal, da pontuação, da colocação
pronominal e da distribuição espacial nas frases e no texto.
Na construção de textos científicos, monografias, trabalhos de conclusão
de curso, construção de relatórios, cartas e memorandos, entre outros, você
se valerá dos conceitos aprendidos em momentos anteriores de sua formação.
Porém, para essa construção, será utilizada a linguagem da redação técnica.
Para Almeida, citado por Medeiros (2000, p. 13), [...] “a redação técnica
caracteriza-se como tipo de linguagem escrita regida por princípios de objetivi-
dade e de obediência à norma gramatical”. Na construção da redação técnica,
destacam-se os relatórios, as atas, os artigos, os trabalhos acadêmicos e as
teses científicas, os documentos de cunho comercial e administrativo em geral.
Nesses textos técnicos será utilizada uma linguagem descritiva, narrativa e
dissertativa. Na busca de exemplo, ilustra-se melhor a distinção entre descrição
literária, descrição técnica e descrição científica.
a) Descrição Literária: olhavam as estrelas com cativos olhos de doçuras
para compreenderem a solidão dos longos dias passados.
b) Descrição Técnica: na construção do projeto fora utilizado televisor e
tela plana com 50 polegadas de alta resolução de imagem com peso
inferior a 35 kg.
c) Descrição Científica: dentre as principais teorias de Freud devemos destacar
a do inconsciente. Essa teoria se baseia na concepção de que todos os
desejos inaceitáveis (proibidos, punidos) da infância são afastados da
consciência. Tornam-se parte do inconsciente ativo que, embora fora da
consciência, continuam a influenciar os atos pessoais.
Observe que na descrição literária a composição textual abrange detalhes
romanescos que salientam as especificidades do cerne do texto. Já a descrição
técnica evidencia-se em uma linguagem exata denotativa e que visa definir os

138  2º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • uNITINS


Aula 5 • METODOLOGIA DA ciência e da PESQUISA

mecanismos empregados. No texto que trata da descrição técnica, o objetivo é


esclarecer as especificações do equipamento utilizado no projeto. Na descrição
científica, há ausência de figuras de linguagem e frases compostas por elementos
supérfluos. Caso haja necessidade de se adjetivar algo, o mesmo deverá ser
feito sucintamente e limitado à essência do texto.
A redação de trabalhos acadêmicos, de artigos para periódicos científicos,
de sítios de pesquisa e outras formas de publicação científica deve se revestir
de algumas características a serem obedecidas pelo autor para que a trans-
missão da informação e a sua compreensão por parte do leitor sejam eficazes.
Observam-se alguns princípios básicos para a promoção de interação entre
autor e leitor. Vejamos.
a) Clareza de expressões: tudo que tiver sido escrito deve ser perfeitamente
compreensível para o leitor. Este não deve ter nenhuma dificuldade para
entender o texto. Realizar uma cuidadosa leitura do que se escreveu,
colocando-se no lugar do leitor, colaborará para evitar dúbias interpre
tações acerca do texto. Na clareza de expressões, o autor deverá realizar
alguns questionamentos como: as sentenças estão bem construídas? As
idéias estão bem encadeadas? Há uma seqüência adequada na apre-
sentação dos seus resultados e de sua argumentação?
b) Objetividade na apresentação: será conveniente escolher criteriosamente
o material que será utilizado no texto de uma dissertação, tese ou de um
artigo. Nem toda observação durante a execução do trabalho ou texto lido,
na literatura referente ao tema, deverá ser necessariamente relatado ao
leitor. Algumas observações talvez tenham sido importantes em uma deter-
minada fase do projeto, mas, com o aprimoramento da idéia, perderam sua
relevância. Ao final do trabalho, alguns tópicos talvez tenham se revelado
apenas como tentativas de análises ou de experimentos, mas terminaram
em becos sem saída, sem a menor significância para a compreensão do
trabalho. Quando você estiver na etapa da seleção da informação, apresente
só o que for relevante. O leitor quer um relato lógico, objetivo e, se possível,
retilíneo, tanto das observações como do raciocínio feito pelo autor.
c) Precisão na linguagem: na construção de um trabalho científico, a
linguagem deverá ser, além de cunho científico, precisa e clara. Caso
seja necessário, acompanhe seu texto com figuras, gráficos, tabelas. O
uso de signos e símbolos conduzem o leitor durante a leitura. Mas as
figuras e gráficos necessitam ser decodificadas por quem lê, à medida
que este percorre o texto. Muita atenção com termos vagos ou que podem
ser mal interpretados. Para o leitor, nada deve ficar obscuro ou suben-
tendido. Palavras e figuras que entrarão no texto devem ser escolhidas
com cuidado para exprimir o que realmente o autor deseja e não apenas
para ilustrar ou ganhar espaço na construção do trabalho. Os vários
sinônimos de uma palavra têm diferenças pequenas e sutis entre si.

uNITINS • aDMINISTRAÇÃO • 2º PERÍODO  139


Aula 5 • METODOLOGIA DA ciência e da PESQUISA

d) Utilização correta das regras da língua: neste item, não é necessário


perder muito tempo e espaço com recomendações, pois escrever fora da
língua padrão pode resultar em falta de conhecimento das normas ou de
desleixo. Se for por falta de conhecimento, será aproveitável a consulta a
dicionários e a textos de gramática. Se for por desleixo, o leitor (e membro
da Banca Examinadora – quando seu trabalho é passível de avaliação)
terá todo o direito de pensar que o trabalho em si também foi feito com
desleixo. Enfim, seja qual for a razão, será um desrespeito ao leitor.
Para a construção de textos precisos, serão necessárias várias tentativas até
chegar ao esperado. Para que um texto científico venha a atender o seu objeto
final de comunicar os resultados de uma pesquisa, seu autor deve ter passado
por uma experiência de redação científica sistemática. O texto deverá respeitar
as regras gramaticais da língua e da normatização do documento. No desen-
volvimento do seu curso de graduação, acelera-se a necessidade de investir na
pesquisa e no autoconhecimento.

5.2 Como elaborar resumos


A síntese ou resumo de um texto é um tipo especial de composição que
consiste em reproduzir, em poucas palavras, o que o autor expressou ampla-
mente. De acordo com a ABNT (2003), resumo é a “[...] apresentação concisa
dos pontos relevantes de um texto, fornecendo uma visão rápida e clara do
conteúdo e das conclusões do trabalho”.
Dessa forma só devem ser aproveitadas as idéias essenciais, dispensando-se
tudo o que for secundário. Para fazer um resumo você precisa de um esquema
que o oriente. Esquematizar é colocar essas idéias essenciais em um esqueleto,
ou seja, em uma espécie de roteiro, contendo apenas palavras-chave.
Existem técnicas para ajudar você a resumir ou esquematizar um texto
conservando, de fato, as idéias do autor. Uma das mais
importantes é a técnica de sublinhar. É uma técnica indis-
pensável não só para elaborar esquemas e resumos, mas
também para ressaltar as idéias importantes de um texto,
com as finalidades de estudo, revisão ou apreensão do
assunto ou mesmo para utilizar em citações.
O requisito fundamental para aplicar a técnica de
sublinhar é a compreensão do assunto, pois este é o único
processo que possibilita a identificação das idéias princi-
pais e secundárias, permitindo fazer a seleção do que é
indispensável e do que pode ser omitido, sem prejuízo do
entendimento global do texto.
Existem certas normas que devem ser obedecidas, para
que a técnica de sublinhar produza resultados eficazes.

140  2º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • uNITINS


Aula 5 • METODOLOGIA DA ciência e da PESQUISA

Não se deve sublinhar parágrafos ou frases inteiras, mas apenas palavras-


chave, ou quando muito, um grupo de palavras. Isto porque, ao sublinhar uma
frase inteira, além de sobrecarregar a memória e o aspecto visual, corre-se o
risco de, ao resumir, reproduzir as frases do autor, sem evidenciar as idéias
principais, visto que o resumo deve ser uma condensação de idéias, não de
frases ou palavras.

Lakatos e Marconi (2003) destacam que a técnica de sublinhar pode ser


desenvolvida a partir dos seguintes procedimentos:
• leitura integral do texto;
• esclarecimento de dúvidas de vocabulário, termos técnicos e
outras;
• releitura do texto, para identificar as idéias principais;
• ler e sublinhar, em cada parágrafo, as palavras que conte-
nham a idéia-núcleo e os detalhes mais importantes;
• assinalar em uma linha vertical, à margem do texto, os tópicos
mais importantes;
• assinalar, à margem do texto, com um ponto de interrogação,
os casos de discordâncias, as passagens obscuras, os argu-
mentos discutíveis;
• ler o que foi sublinhado, para verificar se há sentido;
• reconstruir o texto, em forma de esquema ou de resumo,
tomando as palavras sublinhadas como base.

Para se obter maior funcionalidade das anotações, deve-se assinalar da


seguinte forma:

• sublinhar com dois traços as idéias principais e com um traço as idéias


secundárias;
• as anotações à margem do texto recebem um traço vertical para trechos
importantes e dois traços para trechos importantíssimos. Podem-se usar
também cores diferentes ou sinais criados pelo próprio leitor e que o
remetam imediatamente a seu significado.
Agora que você já conhece a técnica de sublinhar, está pronto para compre-
ender melhor como elaborar um resumo. Resumir um texto é reproduzir, com
poucas palavras, aquilo que o autor disse, garantindo cada uma de suas partes
essenciais, a seqüência lógica das idéias e a correlação entre elas e o texto
como um todo. Vejamos alguns tipos de resumo.

a) Resumo indicativo ou descritivo: também conhecido como abstract


(resumo, em inglês), este tipo de resumo apenas indica os pontos prin-
cipais de um texto - não dispensando a leitura do mesmo - sem detalhar
aspectos como exemplos, dados qualitativos ou quantitativos, etc. Um
bom exemplo deste tipo de resumo são as sinopses de filmes, novelas e
outros publicados em jornais e revistas. Ali você tem apenas uma idéia
do enredo de que trata o filme.

uNITINS • aDMINISTRAÇÃO • 2º PERÍODO  141


Aula 5 • METODOLOGIA DA ciência e da PESQUISA

Exemplo: No Rio Amazonas (90 minutos – Direção: Ricardo Dias)


Documentário sobre a Amazônia começa com um telejornal eloqüente que descreve a
realidade da região, com impressionantes comparações. Depois, vemos o zoólogo Paulo
Vanzolini, naturalista que há quase 50 anos faz viagens pelo Brasil, principalmente pela
Amazônia, atrás de sapos, cobras, lagartos e outros bichos. Vanzolini é uma espécie
de mestre de cerimônias do filme: ele faz comentários, ao vivo e em off, sobre aspectos
históricos, geológicos, ecológicos e humanos da região. A viagem começa por Belém do
Pará e segue o caminho dos antigos viajantes, buscando mostrar o que ainda há de belo e
fascinante na Amazônia (BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria do Audiovisual. Série
A Redescoberta do Cinema Nacional, v. 4).

b) Resumo informativo ou analítico: também conhecido em inglês como


summary, este tipo de resumo informa o leitor sobre outras características
do texto. Um resumo informativo, no caso de um relatório de pesquisa,
não diria apenas de que trata a pesquisa (como seria o caso do resumo
indicativo), mas informaria também as finalidades da pesquisa, a meto-
dologia utilizada e os resultados atingidos. Um bom exemplo disso são
os resumos de trabalhos científicos publicados nos anais de congressos
e os resumos de artigos científicos para publicação. A principal utilidade
dos resumos informativos no campo científico é auxiliar o pesquisador
em suas pesquisas bibliográficas. Imagine-se procurando textos sobre
seu tema de pesquisa. Ao ler o resumo, você poderá decidir sobre a
conveniência de continuar ou não a leitura de todo o artigo.

Exemplo: Pensamento crítico e cidadania


Em vez de fórmulas decoradas, a compreensão do que é ensinado e a possibilidade de usar
o aprendizado na vida prática. No lugar de uma escola que se limita a ensinar o aluno a
fazer provas, outra que estimule a sua vontade de aprender, o seu espírito crítico, a sua capa-
cidade de resolver problemas, enfim, que lhe indique o caminho para se tornar uma pessoa
apta a exercer sua cidadania e a participar do mundo do trabalho. Essa é a linha mestra da
reforma que o ministério da Educação e do Desporto quer ver implantada no ensino médio,
o antigo 2º grau (BRASIL. Ministério da Educação. O Novo Ensino Médio. Brasília, 2004).

c) Resumo crítico ou analítico: este é, provavelmente, o tipo de resumo que


você mais terá de fazer a pedido de seus professores ao longo do seu
curso. O resumo crítico é uma redação técnica que avalia de forma sinté-
tica a importância de uma obra científica ou literária. Antes de começar
a escrever seu resumo crítico você deve, no mínimo, ter conhecimento do
autor e da obra e ter feito uma boa leitura do texto, identificando:

142  2º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • uNITINS


Aula 5 • METODOLOGIA DA ciência e da PESQUISA

• qual o tema tratado pelo autor?


• qual o problema que ele coloca?
• qual a posição defendida pelo autor com relação a este problema?
• quais os argumentos centrais e complementares utilizados pelo autor
para defender sua posição?

Exemplo: O Mulato (Aluísio Azevedo)

Contudo, há fortes resíduos românticos. Escrito em plena efervescência da Campanha


Abolicionista, Aluísio Azevedo não manteve a postura neutra, imparcial, que carac-
teriza os autores realistas/naturalistas. Ao contrário, ele toma partido do mulato, do
homem de cor, idealizando exageradamente Raimundo, que mais parece o herói dos
romances românticos (ingênuo, bondoso, ama platonicamente Ana Rosa e ignora a sua
condição de homem de cor). Observe que Raimundo é cientificamente inverossímil (filho
de pai branco e mãe negra retinta, o filho tem “grandes olhos azuis, cabelos pretos
e lustrosos, tez morena e amulatada, mas fina”). A trama da narração é romântica e
desenvolve o velho chavão romântico da história de amor que as tradições e o precon-
ceito impedem de se realizar. Além disso, a história é verdadeiramente rocambolesca
(complicada, “enrolada”).

As principais vantagens de se elaborarem resumos estão no fato de que eles


reduzem o texto sem destruir-lhe o conteúdo essencial, além de favorecerem a
apreensão de informações essenciais, situação que possibilita a participação
ativa na aprendizagem.

uNITINS • aDMINISTRAÇÃO • 2º PERÍODO  143


Aula 5 • METODOLOGIA DA ciência e da PESQUISA

5.3 Como elaborar um fichamento


Outra forma eficiente de registro e organização das anotações feitas a partir
das leituras é o fichamento. Evidentemente, não se ficha tudo o que se lê, mas os
livros e textos mais significativos, que, provavelmente, constituir-se-ão em material
para um trabalho posterior ou até mesmo para o trabalho de conclusão de curso.
São referências que, em virtude da sua relevância, constituem-se em materiais
que merecem ser arquivados. Os arquivos manuscritos ou digitados tornam-se
mais acessíveis, práticos e funcionais quando as anotações são feitas em fichas.
A grande vantagem de se utilizar a técnica de fichamento para documen-
tação dos dados está na possibilidade de organizar-se e obter-se a informação
precisa, na hora exata que se fizer necessária, sem precisar voltar a ler toda a
obra ou perder-se em montanhas de papéis para localizar um resumo da mesma,
que ao final pode nem conter a informação que se deseja.
Tradicionalmente se utilizam fichas de papel, entretanto, hoje podemos
empregar diferentes softwares e editores de texto para arquivar os ficha-
mentos realizados.
A ficha digitalizada é uma excelente alternativa, desde que a pessoa orga-
nize uma pasta como banco de dados e nela crie um arquivo para as fichas de
cada tema. Quando retornar ao trabalho de pesquisa terá todas as informações
catalogadas e organizadas por assunto.
Cada um tem a sua maneira própria de organizar as fichas e registrar as
informações que considera importantes. Porém, alguns dados não podem faltar.
Todos os tipos de fichas devem compreender três partes principais:
a) cabeçalho: compreende o assunto e número de classificação da ficha;
b) referência: deve sempre seguir as normas da ABNT;
c) corpo ou texto: varia conforme o tipo e finalidade da ficha. Nesse item
é importante que você crie seu próprio estilo de registrar as idéias que
são relevantes. Pode ser em tópicos, por palavras-chave, com comentá-
rios, com sua interpretação, etc. Outra questão importante é registrar a
página de onde você está destacando as idéias. Isso facilitará muito a
localização quando precisar retornar ao ­material lido.

5.3.1 Tipos de fichas


Digitalizadas ou manuscritas, as fichas podem receber diferentes classifica-
ções, cada tipo com um conteúdo específico. As fichas feitas com a finalidade
de utilização posterior na produção de um artigo científico, por exemplo, podem
ser fichas de citação ou de comentário. Vejamos cada um dos tipos de fichas e
seus respectivos conteúdos:
• ficha bibliográfica: contém as informações sobre o livro, autor ou assunto
em estudo. Não aborda especificamente o conteúdo ou texto da obra.

144  2º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • uNITINS


Aula 5 • METODOLOGIA DA ciência e da PESQUISA

Usada para catalogação de livros em uma biblioteca pública ou parti-


cular e você não irá usá-la fora desse contexto;
• ficha de citações: consiste na reprodução fiel de frases ou sentenças
consideradas relevantes ao estudo em pauta. Essas citações poderão
ser utilizadas posteriormente na produção de um texto (relatório de
pesquisa, artigo científico, etc.);
• ficha de resumo ou de conteúdo: é um trabalho que consiste em apre-
sentar por escrito a compreensão do texto estudado. Deve-se apresentar
uma redação resumida, a partir das questões levantadas na fase de
leitura e compreensão do texto. Deve ter uma introdução, o desenvolvi-
mento e uma conclusão;
• ficha de esboço: tem certa semelhança com a ficha de resumo ou
conteúdo, pois se refere à apresentação das principais idéias expressas
pelo autor, ao longo da sua obra ou parte dela, porém de forma mais
detalhada e com indicação das páginas em que se encontram as infor-
mações esboçadas. Pode ser de grande valia a você no início de sua
formação e aos pesquisadores em geral. É a mais extensa e detalhada
das fichas, apesar de requerer, também, capacidade de síntese, pois
o conteúdo de uma obra, parte dela ou de um artigo mais extenso, é
expresso em uma ou algumas fichas;
• ficha de comentário ou analítica: consiste na explicitação ou interpre-
tação crítica pessoal das idéias expressas pelo autor. É um trabalho
que consiste, basicamente, em apresentar a “palavra do leitor”, a
sua posição frente às questões desenvolvidas. Isso exige estudos
aprofundados e, fundamentalmente, “olhos críticos” para o mundo.
O pressuposto desse modelo de ficha é o diálogo com o autor, o
questionamento de suas posições assumidas e a relação dessas com
outras abordagens.
Observe, a seguir, trechos do início e final de uma ficha analítica, aprovei-
tando para conferir a formatação, que é a mesma para todos os tipos de fichas.
PROFESSOR COMO SUJEITO DE TRANSFORMAÇÃO
INTRODUÇÃO
O professor anda perplexo com tudo que anda acontecendo com ele, com a escola
e com a sociedade. Nesta obra, Vasconcelos retrata esta perplexidade do professor,
destaca o seu papel, bem como o papel da escola neste contexto social contur-
bado. Discute ainda a importância da atuação consciente do professor como sujeito
capaz de transformar a prática pedagógica, por meio de sua ação individual (cada
professor) e coletiva (equipe escolar), ou seja, busca resgatar o professor como sujeito
histórico capaz de conseguir a transformação de muitos dos problemas hoje enfren-
tados pela educação.
(...)

uNITINS • aDMINISTRAÇÃO • 2º PERÍODO  145


Aula 5 • METODOLOGIA DA ciência e da PESQUISA

PROFESSOR COMO SUJEITO DE TRANSFORMAÇÃO


CRÍTICA
Nesta obra, Vasconcelos apresenta com muita propriedade tanto os entraves quanto às
propostas de mudança na prática pedagógica destacando o professor como principal
agente dessa mudança.
Em uma primeira leitura podemos supor que há uma sobrecarga para o professor, mas
conhecendo sua obra, compreendemos que neste livro seja destacada a atuação do
professor, pois em outros, destaca o papel do coordenador, da equipe diretiva, enfim,
da escola como um todo.
Sem este conhecimento poderíamos supor a referida sobrecarga, entretanto, assumir
sua tarefa como sujeito histórico de transformação não é difícil para o professor desde
que as múltiplas dimensões dos problemas sejam identificadas e trabalhadas no sentido
de superação, ou seja, não podemos resumir o processo de transformação à atuação
do professor ou a mudanças de metodologias ou técnicas de trabalho.
VASCONCELOS, Celso dos Santos. Para onde vai professor? Resgate do Professor
como sujeito de transformação. 8. ed. São Paulo: Libertad, 2001.

5.4 Como elaborar a resenha


No meio acadêmico, a resenha é de grande utilidade, pois facilita o trabalho
profissional ao trazer um breve comentário sobre uma obra e, também, sua
avaliação. A informação dada ajuda na decisão da leitura ou não do livro, de sua
utilidade para o estudo empreendido ou da adequação à abordagem pretendida.
Medeiros, citado por Oliveira (2003, p. 158-159), afirma que a resenha é
[...] um relato minucioso das propriedades de um objeto ou de
suas partes constitutivas [...]. Estruturalmente, descreve as proprie-
dades das obras (descrição física da obra), relata as credenciais
do autor, resume a obra, apresenta suas conclusões e metodo-
logia empregada, bem como expõe um quadro de referências
em que o autor se apoiou (narração) e, finalmente, apresenta uma
avaliação da obra e diz a quem se destina (dissertação).

Complementando, segundo a NBR 6028/90 da ABNT, a resenha é o


mesmo que resumo crítico ou recensão (OLIVEIRA, 2003). O procedimento para
a elaboração da resenha é, portanto, semelhante ao do resumo acrescido de
uma crítica.
O resenhista deve resumir o assunto e apontar as falhas e os erros de infor-
mação encontrados, sem se ater aos pormenores e, ao mesmo tempo, tecer
comentários aos méritos da obra, se for o caso. No entanto, mesmo que o rese-
nhista tenha competência na matéria, isso não lhe dá o direito de fazer juízo ou
deturpar o pensamento do autor.
Para fazer a resenha, além de ter sublinhado as idéias-chave do texto, é
preciso conhecê-lo com mais profundidade, pois ela pressupõe um aprofunda-
mento sobre o tema tratado pelo autor. A resenha tem, portanto, a função de
extrapolar a obra, ou seja, já se configura em uma pesquisa.

146  2º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • uNITINS


Aula 5 • METODOLOGIA DA ciência e da PESQUISA

A estrutura básica de uma resenha deve conter os seguintes elementos:


a) referência (identificação bibliográfica): autor, título da obra, número da
edição, local de publicação, editora, ano e número de páginas;
b) credenciais da autoria: breve apresentação do(a) autor(a) ou autores, em
especial quanto ao seu currículo profissional (nacionalidade, áreas de
atuação, publicações, formação acadêmica, títulos que possui, etc.);
c) resumo da obra: expor o assunto da resenha, como ele é tratado, meto-
dologia ou estruturação da obra e suas idéias básicas;
d) conclusões do autor: expor com clareza os resultados alcançados pelo
autor da obra ou texto resenhado;
e) quadro de referência do autor: se observado esse aspecto, informar
qual teoria serve de apoio às idéias do autor da obra;
f) apreciação crítica do resenhista: o estilo do autor é objetivo, conciso? As
idéias são originais, claras e coerentes? O autor é idealista? Realista?;
g) indicações da obra: informar a que público se destina a obra ou a quem
ela pode ser útil, como por exemplo, alunos de determinados cursos,
professores, pesquisadores, especialistas, técnicos ou público em geral.
Em que curso pode ser adotada? (OLIVEIRA, 2003).
Além desses tópicos, podemos acrescentar mais um: as credenciais do rese-
nhista, ou seja, informações básicas da pessoa que elaborou a resenha.
No sítio <http://www.encontros-bibli.ufsc.br/Edicao_15/montano_resenha.
pdf>, você encontrará a resenha do livro Terceiro setor e questão social: crítica
ao padrão emergente de intervenção social, de Carlos Montaño. Essa resenha foi
elaborada pelo Prof. Dr. Francisco das Chagas de Souza.
Esses passos delineados anteriormente podem divergir de autor para autor.
Alguns, por exemplo, afirmam que uma resenha pode ser puramente informa-
tiva, quando apenas expõe o conteúdo do texto, ou crítica, quando se mani-
festa sobre o valor e o alcance do texto analisado, ou ainda, crítico-infor-
mativa quando expõe o conteúdo e tece comentários sobre o texto analisado
(SEVERINO, 1996).
Cabe a você, de acordo com os objetivos que pretende alcançar, definir
o tipo de texto que deseja construir, seja um resumo ou resenha. O primeiro
passo indicado nessa aula – técnica de sublinhar – deve ser o ponto de
partida para a elaboração de qualquer um desses textos. Assim você cons-
truirá textos melhor elaborados, criando um estilo próprio de escrita e cres-
cendo intelectualmente.
Agora que você já conhece algumas formas de registro do trabalho acadê-
mico, vejamos a seguir as formas de apresentação.

uNITINS • aDMINISTRAÇÃO • 2º PERÍODO  147


Aula 5 • METODOLOGIA DA ciência e da PESQUISA

5.5 Como organizar um seminário


Conforme Lakatos e Marconi (2003), o seminário é uma técnica de estudo que
inclui diversas fases: pesquisa (incluindo leituras e registros), discussão e debate (na
apresentação final). No geral, o seminário é utilizado
em cursos de graduação e pós-graduação. Tem como
finalidade a socialização de pesquisas em suas diversas
formas. Isso implica dizer que, quando participamos de
um seminário, devemos, a priori, realizar individualmente
várias leituras e preparar, em grupo, todo um trabalho
de pesquisa e produção, a partir do tema, para depois
participar do debate sobre o mesmo com os demais
participantes. Além do desenvolvimento da capacidade
de pesquisa, de análise sistemática de fatos, do hábito
do raciocínio, da reflexão, possibilita ao estudante a
elaboração clara e objetiva de trabalhos científicos. Em
um seminário tem-se como meta a formação e não somente a informação.

5.5.1 Componentes dos grupos para o desenvolvimento de um seminário


Em um seminário, trabalha-se em grupos que variam de cinco a oito inte-
grantes e deve conter:
• coordenador – aquele que orienta as pesquisas, preside e coordena as
sessões do seminário. Ao final, deve fazer uma apreciação geral dos
resultados, complementando alguns itens, se necessário;
• relator – aquele que expõe os resultados dos estudos referentes a um
tema específico do programa de trabalhos. A exposição pode ser feita
por um elemento, indicado pelo grupo, ou por todos;
• secretário – o estudante designado para anotar as conclusões parciais e
finais do seminário, após os debates;
• comentador (caso haja) – o aluno escolhido pelo coordenador do semi-
nário. Deve estudar com antecedência o tema a ser apresentado, com
o intuito de fazer críticas adequadas à exposição, antes da discussão e
debate dos demais participantes da classe;
• demais participantes – são todos os que participam do seminário (a
turma toda). Depois da exposição, devem participar do debate.

5.5.2 Modalidades
O seminário, na sua estrutura e funcionamento, apresenta três modalidades.
Conheça-os a seguir.
a) Clássico: seminário clássico ou individual é aquele em que os estudos
e a exposição ficam a cargo apenas de um estudante. O estudo pode
abranger um determinado assunto ou parte dele.

148  2º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • uNITINS


Aula 5 • METODOLOGIA DA ciência e da PESQUISA

b) Clássico em grupo: nesse caso, os estudos são realizados por um


pequeno grupo (cinco ou seis elementos). A exposição do tema tanto
pode ser feita por um dos membros, escolhido pelo grupo, ou repartida
entre eles, ou seja, cada um apresentando uma parte. Em vez de um
comentador, pode haver um “grupo comentador”. Esse tipo de semi-
nário exige uma crítica mais estruturada.

c) Em grupo: no seminário em grupo, todos os elementos da classe devem


participar, havendo tantos grupos quantos forem os subtítulos do tema.
Primeiramente, estuda-se o tema geral, para uma visão global; depois,
cada grupo aprofunda a parte escolhida.

5.5.3 Roteiro de realização do seminário

A técnica do seminário obedece ao roteiro a seguir (LAKATOS; MARCONI,


2000). Vejamos.

a) O coordenador propõe um determinado


estudo, indica a bibliografia mínima, escolhe
o comentador e estabelece um cronograma de
atividades. Cada grupo escolhe, por sua vez, o
relator e o secretário.

b) Formado o grupo, inicia-se o trabalho de


pesquisa, de procura de informações por
meio de bibliografias, documentos, entrevistas
com especialistas, observações, etc. Depois,
o grupo se reúne para discutir o material
coletado, confrontar pontos de vista, formular
conclusões e organizar o material, sempre assessorado pelo coorde-
nador. O grupo poderá seguir os seguintes passos:

• determinação do tema central que, como um “fio condutor”, estabe-


lece a ordenação do material;

• divisão do tema central em tópicos;

• análise do material coletado, procurando subsídios para os diferentes


tópicos, sem perder de vista objetivos derivados do tema central;

• síntese das idéias dos diferentes autores analisados, resumo das


contribuições, visando à exposição, que deve conter os seguintes
tópicos: introdução: breve exposição do tema central (proposição),
dos objetivos e da bibliografia utilizada; desenvolvimento dos
tópicos em uma seqüência organizada: exposição, discussão e
demonstração; conclusão: síntese de toda a reflexão, com as contri-
buições do grupo para o tema.

uNITINS • aDMINISTRAÇÃO • 2º PERÍODO  149


Aula 5 • METODOLOGIA DA ciência e da PESQUISA

c) Concluídos os estudos, a classe se reúne, sob a orientação do


coordenador.
d) O relator, em plenária, apresenta os resultados dos estudos, obedecendo
a uma seqüência lógica e ordenada.
e) O comentador, após a exposição, intervém com objeções ou subsídios.
f) A classe, a seguir, participa das discussões e debates, solicitando escla-
recimentos, refutando afirmações ou reforçando argumentos.
g) Ao final, o coordenador do seminário faz uma síntese do trabalho
apresentado. Se achar incompleto, pode recomendar outros estudos.

5.6 Eventos para a divulgação de trabalhos científicos


Além do seminário, existem outros meios de divulgação de trabalhos acadê-
micos e pesquisas científicas como, por exemplo, os painéis, as mesas redondas,
conferências, palestras, comunicações, etc.
Os Congressos, Encontros, Semanas, Fóruns, etc. são os eventos mais comuns
para tais divulgações. Nesses eventos, os pesquisadores expõem seus trabalhos.
Normalmente, são as Instituições de Ensino Superior (IES) que promovem esses
eventos, dando o devido caráter cientifico para que os trabalhos sejam divul-
gados. Assim existem as Comissões Científicas, para a análise e seleção dos
trabalhos enviados pelos participantes, formadas por pessoas reconhecidas no
meio acadêmico/científico.
Para Magossi (2003), os formatos mais comuns de apresentação são:
a) painéis: apresentações em que geralmente um palestrante discorre
brevemente sobre determinado tema e duas ou mais pessoas apre-
sentam trabalhos referentes ao mesmo tema, abrindo posteriormente
para perguntas da platéia que
podem ser dirigidas ao pales-
trante ou a um dos relatores.
São também assim denominados
os suportes contendo a apresen-
tação de trechos de trabalhos
de pesquisa, feitos por dese-
nhos, esquemas, gráficos ou
mesmo fotos, sempre procu-
rando explicar ao público o
objeto da pesquisa;
b) palestras: apresentações
orais de trabalhos normalmente feitas pelos próprios pesqui­sadores,
para um público seleto;

150  2º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • uNITINS


Aula 5 • METODOLOGIA DA ciência e da PESQUISA

c) mesas redondas: apresentações de trabalhos, realizadas por mais de


um participante, sob a coordenação de um especialista;
d) seminários: apresentações feitas por vários especialistas, cada um
deles se ocupando de uma parte do assunto;
e) conferências: apresentações semelhantes às palestras, mas têm um
caráter mais abrangente, de modo que o conferencista pode mesmo
apresentar um ensaio;
f) comunicações: (como espaços destinados às apresentações) este é o
modelo mais usado para a divulgação de pesquisas e demais traba-
lhos concluídos ou em andamento, em Congressos ou outro evento
de vulto.
Da mesma forma que muitos autores divergem sobre as formas de registro
de trabalhos acadêmicos, também divergem acerca das maneiras como esse
trabalho será apresentado. Mais uma vez, cabe a você eleger a que melhor
atenda aos seus objetivos como estudante e pesquisador.

Síntese da aula
Nesta aula, você aprendeu que a redação científica é a forma mais usual
na construção de textos acadêmicos. Ela exige clareza de expressões, objetivi-
dade na apresentação, precisão na linguagem e utilização correta das normas
gramaticais. O importante é que você leve em conta que o texto científico será
lido e que o leitor precisa compreender o que você está querendo comunicar.
Embora seja um texto técnico, deve ter uma linguagem acessível. A elabo-
ração de seus trabalhos acadêmicos: resumos, resenhas, etc. será norteada
pelos parâmetros dessa redação. Os resumos, as resenhas e os fichamentos
fazem uso da técnica de sublinhar que consiste em ler o texto e destacar as
palavras-chave e as idéias principais do autor. Os resumos podem ser indica-
tivos, informativos e críticos, cada um com suas aplicabilidades específicas. A
resenha, apesar das divergências de diversos autores, é um texto que se apro-
xima muito do resumo crítico, porém mais bem elaborado, com informações
sobre o autor da obra, as teorias que utilizou e, por fim, uma argumentação a
favor ou contrária às idéias do mesmo. A resenha exige maturidade intelectual,
ou seja, capacidade de associar teorias e produzir uma crítica das mesmas.
Os trabalhos acadêmicos podem, também, ser apresentados em seminários,
painéis, conferências, palestras e comunicações. A organização de seminários
é a forma mais usual de apresentar as discussões sobre determinado assunto
ou tema, sobretudo no meio acadêmico. O seminário também exige a obser-
vação de alguns pontos fundamentais: seleção do tema, sua divisão em tópicos,
divisão de tarefas (coordenador, relator, secretário, comentador), síntese das
idéias, exposição do tema e discussão. O seminário é, também, uma técnica
de estudo, pois na sua elaboração, a pesquisa é fundamental.

uNITINS • aDMINISTRAÇÃO • 2º PERÍODO  151


Aula 5 • METODOLOGIA DA ciência e da PESQUISA

Atividades

1. A seguir, estão relacionados os três tipos de resumos. A partir da numeração


dada a cada tipo, enumere a segunda coluna identificando o conceito e as
aplicabilidades de cada um.
I. Indicativo ou descritivo
II. Informativo ou analítico
III. Crítico

(  ) Avalia de forma sintética a importância da obra ou texto.


(  ) Muito usado em publicações de revistas especializadas.
(  ) Informa o leitor sobre os pontos principais do texto.
(  ) Muito usado nos relatórios de pesquisa.
(  ) Muito utilizado em textos jornalísticos.
(  ) Informa o leitor, além das partes principais do texto, suas finalidades e
outras características.

2. Maria vai organizar, pela primeira vez, um seminário e está com dúvidas sobre
os procedimentos a serem adotados. Ela resolve perguntar a você os passos que
deve seguir, se precisa dividir conteúdos, etc. Marque a alternativa que repre-
senta a resposta metodologicamente adequada, ou seja, aquela que esclareça
a Maria os passos que ela deve percorrer para organizar um seminário.

a) Formado o grupo, inicia-se o trabalho de pesquisa e busca de informações,


porém não são necessárias reuniões para discutir o material coletado.
b) Concluídos os estudos, a classe se reúne, sob a orientação do coordenador,
que é o único membro responsável pela apresentação dos temas.
c) A exposição deve apresentar uma introdução, ou seja, uma breve expo-
sição do tema; desenvolver os tópicos em uma seqüência organizada e
uma conclusão, uma síntese de toda a reflexão.
d) O grupo não precisa seguir um roteiro de apresentação, pois quem
apresenta é somente o relator.

3. Elabore um resumo informativo, com mais ou menos 15 linhas, de um texto


complementar da disciplina com a qual tem mais dificuldade de compre-
ensão. Utilize a técnica de sublinhar descrita nessa aula.

4. Selecione um livro da bibliografia básica de uma das disciplinas desse


semestre para fazer a leitura, já utilizando a técnica de sublinhar. Releia as
orientações para a elaboração da resenha e elabore uma.

152  2º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • uNITINS


Aula 5 • METODOLOGIA DA ciência e da PESQUISA

Comentário das atividades


Agora que você observou que os resumos podem ser indicativos, informativos
e críticos, e que têm uma série de aplicabilidades, percebeu que a seqüência
correta de enumeração na atividade um é III, II, I, II, I e II. O resumo indicativo
informa o leitor sobre os pontos principais do texto. Já o informativo é muito
usado nas publicações de revistas especializadas, relatórios de pesquisa,
etc. Ele informa o leitor tanto sobre as partes principais do texto, quanto suas
finalidades e outras características. O resumo crítico avalia, de forma sintética,
a importância da obra ou texto e é o tipo que você mais terá que fazer como
trabalho acadêmico.
Na atividade dois, você marcou a letra (c), pois um dos passos fundamen-
tais da organização de um seminário é a exposição, na qual é preciso fazer
uma introdução, ou seja, uma breve exposição do tema, dos objetivos e da
bibliografia utilizada; logo em seguida vem o desenvolvimento dos tópicos em
seqüência organizada e, por fim, a conclusão ou a síntese de toda a reflexão.
Em um seminário é fundamental que o grupo se reúna para discutir o material
coletado e para eleger o coordenador, o relator, o secretário e, havendo,
o comentador.
Como você observou, as atividades três e quatro são de aplicação do que
foi desenvolvido nessa aula. Para a elaboração desses textos você releu a aula,
observando os passos para a elaboração da resenha e do resumo, e utilizou a
técnica de sublinhar.
Assim, as atividades lhe deram a oportunidade para identificar os diferentes
tipos de registro e apresentação de trabalhos acadêmicos e utilizar os procedi-
mentos de elaboração e apresentação de trabalhos acadêmicos.

Referências
ABNT – Disponível em: <http://www.abnt.org.br/m3.asp?cod_página>.
LAKATOS, Eva; MARCONI, Marina. A metodologia científica. São Paulo: Atlas,
2000.
_______. Fundamentos de metodologia científica. São Paulo: Atlas, 2003.
MAGOSSI, Wilson. Metodologia Científica. Disponível em: <http://geocites.
yahoo.com.br/wmagossi/texto/doc>.
MEDEIROS, João Bosco. Técnicas de Redação. São Paulo: Atlas, 2000.
O MULATO. Disponível em: http//www.algosobre.com.br/assunto/ler.asp?
conteúdo=202. Acesso em: 21 jul. 2006.
OLIVEIRA, Jorge L. Texto técnico: guia de pesquisa e de redação. Brasília:
abcBSB, 2003.

uNITINS • aDMINISTRAÇÃO • 2º PERÍODO  153


Aula 5 • METODOLOGIA DA ciência e da PESQUISA

SEVERINO, Antonio Joaquim. Metodologia do trabalho científico. São Paulo:


Cortez, 1996.

Na próxima aula
Agora que você já compreendeu a linguagem acadêmica e como elaborar
uma série de textos científicos, vai perceber que não é tão complicado realizar
uma pesquisa científica. Porém, como vimos na aula quatro, a pesquisa científica
exige rigor e planejamento e o projeto de pesquisa é o primeiro passo para a
sua realização. A seguir, veremos como elaborar um projeto de pesquisa, quais
seus principais elementos constitutivos e a sua utilidade.

Anotações




























154  2º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • uNITINS


Aula 6 • METODOLOGIA DA ciência e da PESQUISA

Aula 6
O projeto de pesquisa: normas
de elaboração

Objetivos
Esperamos que, ao final desta aula, você seja capaz de:
• identificar os elementos básicos para estruturar um projeto de pesquisa;
• elaborar um projeto de pesquisa.

Pré-requisitos
Como pré-requisito para esta aula, sugerimos que você leia o capítulo quatro,
item três do livro Metodologia do trabalho científico, de Antonio Joaquim Severino,
cuja bibliografia está relacionada no plano de ensino dessa disciplina. A leitura
desse capítulo é fundamental, pois nele você encontrará os principais elementos
que constituem um projeto de pesquisa. Reveja, também, o conceito e as modali-
dades de pesquisa abordadas na aula quatro. No sítio <http://www.univille.br/
arquivos/2340_LV_Guiaprojeto_2006digital.pdf> você também encontrará um
roteiro para construção de projetos de pesquisa.

Introdução
Como você já teve a oportunidade de aprender ao longo deste semestre, a
pesquisa é fator fundamental para a construção do conhecimento da sociedade.
Muitas descobertas foram encontradas por mero acaso. Mas, mesmo frente a
esse “acaso”, havia, por parte do observador (pesquisador), um propósito cientí-
fico. Podemos definir esse propósito como um projeto. Desde sua matrícula nesta
universidade, ao que você deseja fazer depois de formado, a delimitação de
objetivos, metas e caminhos a serem seguidos estão contidos no seu propósito de
vida. Com as atividades acadêmicas não acontece de forma diferente.

6.1 Ponto de partida


Há uma série de métodos que podem ser utilizados na pesquisa, portanto, não
há, evidentemente, regras fixas acerca da elaboração de um projeto. O desenvol-
vimento de uma pesquisa está muito ligado ao estilo pessoal de seus autores bem

uNITINS • aDMINISTRAÇÃO • 2º PERÍODO  155


Aula 6 • METODOLOGIA DA ciência e da PESQUISA

como ao tipo de problema a ser resolvido. Porém é preciso definir com clareza
quais as etapas por que passará a pesquisa, quais os recursos necessários para
atingir os resultados e como tudo isso se processará. Outro aspecto importante é
a construção de um planejamento detalhado para que se possa acompanhar o
andamento da pesquisa e assim permitir avalia-
ções parciais dentro do processo.
Ao iniciar a viagem rumo à pesquisa, será
necessária a definição de um “roteiro de viagem”,
ou seja, um projeto de pesquisa. Um projeto de
pesquisa necessitará de elementos fundamen-
tais, como: tema; revisão de literatura; problema;
seleção e delimitação do problema; hipóteses;
objetivos geral e específico; justificativa; metodo-
logia; recursos; produção escrita do planejamento;
e bibliografia.

6.2 Definição do tema


O início da pesquisa surge de uma necessidade de resposta. No emara-
nhado de dúvidas, você começa a deixar claro o que deseja alcançar. Começa
aí a definição do tema.
Segundo o professor Gil (2002), o tema ideal em uma pesquisa, isto é,
aquele cujo desenvolvimento tem maior probabilidade de alcançar bons resul-
tados, deve atender a três critérios: atende ao gosto, à aptidão e ao tempo do
pesquisador, é relevante para uma sociedade, para uma ciência ou para a
escola, sobre ele é possível obter dados.

6.3 Revisão de literatura


Escolhido o tema, devem-se buscar as fontes bibliográficas a respeito do
assunto, para uma primeira análise exploratória e para familiarizar-se com
o assunto. Essa primeira leitura permitirá esclarecer os aspectos centrais e os
secundários na delimitação do assunto a ser pesquisado.

6.4 Problematização
O problema é o núcleo em torno do qual se desenvolve uma pesquisa. Sem
problema não há pesquisa. Mas, o que é um problema? Geralmente é uma
necessidade humana, transformada em uma pergunta, que deverá ser respon-
dida pela pesquisa. Por exemplo, atualmente o mundo passa por uma epidemia
de gripe aviária. Esse é um problema real para o qual uma pesquisa deveria
responder com eficácia a perguntas que ele suscita. As dúvidas da pesquisa
seriam: como o vírus passa das aves para os seres humanos? Poderá haver

156  2º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • uNITINS


Aula 6 • METODOLOGIA DA ciência e da PESQUISA

transmissão de humanos para humanos? A formulação dessas perguntas seria o


problema a ser resolvido pela pesquisa.
Uma pesquisa pode ser problematizada também a partir de um interesse
intelectual. Por exemplo, qual a influência do conteúdo de uma música com letra
de duplo sentido na formação da personalidade de crianças e adolescentes?

6.5 Seleção e delimitação do problema


Uma pesquisa pode levar em consideração duas abordagens de um deter-
minado problema: a extensão e a profundidade. A extensão privilegia uma
abordagem ampla do problema levando em consideração seus vários aspectos;
a profundidade, por sua vez, procura investigar a fundo um dos aspectos de um
determinado problema, deixando de lado outros. Falando em termos práticos, a
seleção e delimitação irão escolher quais os aspectos relevantes de um problema
de pesquisa. Geralmente, deve-se escolher um aspecto bem específico para que
dele se extraia o máximo em uma pesquisa.

6.6 Formulação de hipóteses


A hipótese é uma solução possível para um problema. É uma construção
intelectual a priori do autor da pesquisa baseada em alguns conhecimentos a
respeito do assunto. O trabalho posterior da pesquisa será confirmar ou negar
a hipótese. Podem-se caracterizar as hipóteses como individuais e particulares,
pois se propõem a resolver os problemas levantados na delimitação.
A hipótese é formulada pela junção da pergunta delimitada com o conteúdo
da resposta em uma única frase. Por exemplo, à pergunta “o vírus da gripe
aviária é transmitido entre seres humanos”? Segue-se a resposta “há fortes indí-
cios de que isto não seja possível”. A hipótese formulada seria: “não há indícios
de que a gripe aviária seja transmitida entre seres humanos”.

6.7 Formulação do objetivo geral


Nesta etapa, deverão ser apresentadas as expectativas do pesquisador em
relação aos resultados de sua pesquisa. Por isso, essa etapa pode ser conside-
rada a espinha dorsal do projeto, porque deve apresentar claramente aquilo
que se pretende com a pesquisa. Deve delimitar quais os aspectos a serem
abordados na investigação. Esses aspectos sempre são formulados pela junção
de duas partes: uma ação a ser aplicada a um conteúdo. Deve-se sempre usar
um verbo no infinitivo.

6.8 Formulação de objetivos específicos


Para resolver o problema proposto pelo objetivo geral, é necessário subdi-
vidi-lo em objetivos específicos. Cada um dos objetivos específicos será uma

uNITINS • aDMINISTRAÇÃO • 2º PERÍODO  157


Aula 6 • METODOLOGIA DA ciência e da PESQUISA

parte componente da redação final do texto. Portanto é necessária a organi-


zação dos objetivos específicos atendendo a quatro momentos:

a) levantamento dos componentes do problema;


b) transformação de cada um dos aspectos em um objetivo;
c) verificação da suficiência dos objetivos específicos propostos;
d) escolha da melhor seqüência lógica.

Ao atender os elementos propostos anteriormente, você estará expan-


dindo o entendimento à problemática do projeto de pesquisa. A construção
dos objetivos específicos norteia a construção do texto do seu projeto de
pesquisa.

6.9 Escolha dos procedimentos de coleta de dados (metodologia)


Neste tópico é importante listar as atividades práticas que serão realizadas
para a coleta dos dados com os quais serão formulados os raciocínios. Portanto
cada procedimento deve ser planejado de acordo com sua relação com os obje-
tivos específicos.
Deve-se apontar como será feita a coleta dos dados, se pesquisa de campo,
experiência em laboratório ou pesquisa bibliográfica. É evidente que isso fica a
cargo das opções do pesquisador.
Ao longo de sua caminhada no seio universitário, você se depara com
inúmeras oportunidades de testar seus conhecimentos. O desenvolvimento de
uma pesquisa acadêmica necessita de um projeto de pesquisa, um roteiro pré-
determinado que oriente o pesquisador durante a sua trajetória. Nesse roteiro,
destacam-se: a escolha do tema, a definição do problema, a justificativa pelo
qual passa sua pesquisa, seus objetivos e as possíveis conclusões.

6.10 Previsão dos recursos


Deve-se fazer a listagem dos recursos necessários para o desenvolvi-
mento dos procedimentos de pesquisa. É importante que, ao propor uma
determinada pesquisa, levem-se em conta os recursos já disponíveis para a
sua consecução. Caso contrário, corre-se o risco de não se alcançarem os
objetivos propostos.

6.11 Produção escrita do planejamento


Todas as fases anteriores fazem parte do planejamento intelectual. É neces-
sário registrar por escrito todos os passos até aqui pensados e, de preferência,
pedir a outras pessoas que dêem um parecer à respeito para detectar possíveis
lacunas ou equívocos.

158  2º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • uNITINS


Aula 6 • METODOLOGIA DA ciência e da PESQUISA

6.12 Bibliografia
A construção e execução de um projeto de pesquisa não surgem do nada.
Pelo contrário, emanam da inquietação natural do ser em buscar respostas.
Entretanto, ao longo da pesquisa e mesmo no início, podemos nos “espelhar” em
pesquisadores que já tenham tratado do assunto. Surge aí a necessidade de citá-
los no projeto para dar sustentação científica ao que foi proposto. Considera-se
bibliografia materiais coletados em livros, revistas, Internet, leis, anuários, jornais
e uma vastidão de fontes de informação.

Síntese da aula
Como você viu nesta aula, o desenvolvimento de uma pesquisa acadêmica
necessita de um planejamento, um projeto de pesquisa, um roteiro pré-deter-
minado que o oriente, como pesquisador, durante a sua trajetória em busca
de conhecimento. Nesse roteiro, destacam-se: a escolha do tema, a definição
do problema, a justificativa pela qual passa sua pesquisa, seus objetivos e as
possíveis conclusões. Assim ao elaborar um projeto de pesquisa você estará
traçando o caminho que deseja seguir para alcançar as respostas que o levaram
a inquietar-se sobre determinado fenômeno.

Atividades

1. Faça uma pesquisa no sítio do Google (www.google.com.br) sobre projetos


de pesquisa. Selecione um que se aproxime da linha de pesquisa em que
deseja desenvolver um estudo. Escreva um texto de até 15 linhas identi-
ficando, no projeto selecionado, os seguintes aspectos: tema, problema,
hipótese, objetivo geral e metodologia.

2. Relacione a coluna da direita com a coluna da esquerda e marque a seqüê­ncia


correta.

Na construção de objetivos de um trabalho de pesquisa, o verbo indica os


diferentes graus de raciocínio, portanto:

(1) Conhecimento (  ) analisar, comparar, criticar


(2) Compreensão (  ) apontar, citar, conhecer
(3) Aplicação (  ) discutir, concluir, compreender
(4) Análise (  ) desenvolver, empregar, aplicar

A seqüência correta é

a) 1,2,3,4 c) 3,2,4,1
b) 4,3,2,1 d) 4,1,2,3

uNITINS • aDMINISTRAÇÃO • 2º PERÍODO  159


Aula 6 • METODOLOGIA DA ciência e da PESQUISA

3. Utilizando o roteiro a seguir, elabore os cinco primeiros passos de um


projeto de pesquisa, a partir de um problema de relevância para seu
interesse acadêmico: tema, problema, hipóteses, objetivo geral e obje-
tivos específicos.

4. O problema é o núcleo em torno do qual se desenvolve uma pesquisa. Sem


problema não há pesquisa. Sobre o mesmo podemos afirmar que:

a) um problema de pesquisa não precisa responder a questionamentos


específicos como: por que? qual a causa? como acontece?;

b) em uma pesquisa científica só podemos abordar um problema em sua


extensão e nunca em sua profundidade;

c) o problema geralmente é uma necessidade humana, transformada em


uma pergunta, que deverá ser respondida pela pesquisa;

d) não há como identificar um problema de pesquisa sem antes fazer uma


revisão bibliográfica.

Comentário das atividades


Você já compreendeu os elementos fundamentais de um projeto de pesquisa.
Agora, para realizar a atividade um, releia os tópicos da aula que tratam do
tema, do problema, das hipóteses, do objetivo geral e dos específicos. Nessa
atividade, conte com a colaboração do professor na interatividade, para a busca
de orientações e troca de idéias.

Na atividade dois, você percebeu que precisa retomar o texto dessa aula
e reler a forma de construção de objetivos gerais. A alternativa com a seqü-
ência correta é a letra (d), (4, 1, 2, 3), pois o verbo irá exprimir a real intenção
do pesquisador. Por exemplo, se você quer conhecer acerca de determinado
assunto, use “apontar, citar, conhecer”.

Para realizar a atividade três, com certeza escolheu um tema relevante


do ponto vista acadêmico, profissional e social. Nessa atividade, conte com
a colaboração do professor na interatividade, para a busca de orientações e
troca de idéias.

Na atividade quatro você observou que a alternativa correta sobre o


problema de pesquisa é a (c), pois o problema é fruto de uma inquietação
humana, algo que não compreendemos e queremos estudar. Dessa forma, ele
responde a questões como: por que, qual a causa, como acontece? Além disso,
podemos, em uma pesquisa, analisá-lo em sua extensão e profundidade. O
problema de pesquisa é fruto de uma atividade intelectual e não precisa, neces-
sariamente, ser encontrado a partir de uma revisão bibliográfica.

160  2º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • uNITINS


Aula 6 • METODOLOGIA DA ciência e da PESQUISA

Referências
GIL, Antonio C. Como elaborar projetos de pesquisa. São Paulo: Atlas, 2002.
MALDANER, Jair José et al. In: Caderno de conteúdos e atividades: curso seqüen-
cial em administração. UNITINS – EaD, Palmas, TO, 2005.
SEVERINO, Antonio Joaquim. Metodologia do trabalho científico. São Paulo:
Cortez, 2004.

Na próxima aula
Ao final de um curso de graduação será exigido do acadêmico um trabalho
científico para demonstrar a aprendizagem alcançada ao longo do período
de estudo. A seguir, apresentaremos a você as informações necessárias para a
elaboração de trabalhos de conclusão de curso. Será apresentado um roteiro
sistematizado para que você se norteie na época da construção do seu trabalho
de conclusão de curso. Existem várias modalidades de trabalho de conclusão
curso como papers, resumos, monografias, artigo científico, TCC, etc. Das moda-
lidades evidenciadas, abordaremos as duas últimas.

Anotações





















uNITINS • aDMINISTRAÇÃO • 2º PERÍODO  161


Aula 6 • METODOLOGIA DA ciência e da PESQUISA

162  2º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • uNITINS


Aula 7 • METODOLOGIA DA ciência e da PESQUISA

Aula 7
Artigo e TCC: normas de elaboração

Objetivos
Esperamos que, ao final desta aula, você seja capaz de:
• identificar os elementos constituintes do Trabalho de Conclusão de Curso
e do artigo científico;
• utilizar as normas da ABNT na elaboração de trabalhos acadêmicos.

Pré-requisitos
Você terá mais facilidade no acompanhamento desta aula se for capaz
de operacionalizar os aplicativos de construção de texto disponíveis em micro
computadores, como Word e Open Office. No sítio <http://www.bu.ufsc.br/
ArtigoCientifico.pdf>, você encontrará um esquema de elaboração do artigo cien-
tífico que lhe dará subsídios para melhor compreender a aula. Da mesma forma,
no sítio <http://www.unesc.net/intranet/index_camp.php?campanha=28>, o
TCC é o foco e as normas de elaboração que lá se encontram o ajudarão,
também, a ter uma compreensão antecipada dos temas desta aula.

Introdução
Ao iniciar a elaboração de trabalhos acadêmicos – artigos, monografias,
teses e dissertações – para a conclusão do curso de graduação, pós-graduação
etc., o acadêmico deverá estruturar um “projeto de pesquisa”, visto na aula seis.
Para tal, deve ter em mente um “assunto” sobre o qual deseja dissertar, assim
como um orientador que aceitará as responsabilidades e atribuições descritas
nas normas para elaboração do trabalho de conclusão de curso da Instituição
na qual o aluno está matriculado.
Não há, ainda, uma norma rígida que defina exatamente como um trabalho
deve ser formatado na Universidade. A ABNT, contudo, possui uma norma
(NBR 14724) para apresentação de trabalhos acadêmicos caracterizados como
monografia, dissertação e tese. Nota-se que as normas estão em constante
revisão. Antes de formatar o material produzido, verifique se há alterações na

uNITINS • aDMINISTRAÇÃO • 2º PERÍODO  163


Aula 7 • METODOLOGIA DA ciência e da PESQUISA

norma, bem como faça as adequações à estrutura fornecida pela instituição em


que você está estudando. Vamos, agora, observar as normas da ABNT e, em
seguida, os passos para a elaboração do TCC e do artigo científico.

7.1 O corpo do texto


Antes de apresentar os elementos do trabalho científico, é conveniente
mencionar os padrões para a formatação dos documentos. O papel a ser utili-
zado para a digitação do texto é o A4. Na construção do trabalho, recomenda-
se usar fonte de tamanho 12 para o texto e tamanho 10 para citações longas
(destacadas no texto, conforme será visto a seguir) e notas de rodapé. Usa-se
fonte 14 para os títulos de capítulos. Os títulos que aparecem na capa e folha de
rosto não devem ultrapassar o tamanho 18.
Recomenda-se o uso de fonte Arial ou Times New Roman. O importante
é que a fonte escolhida seja de fácil visualização. As margens das páginas
obedecem ao seguinte padrão: superior: 3,0 cm; inferior: 2,0 cm; esquerda: 3,0
cm; e direita: 2,0 cm. Observe a imagem:

3,0 cm

3,0 cm 2,0 cm

2,0 cm

Títulos e subtítulos de seção devem ser separados do texto precedente e do


sucedente por duas entrelinhas duplas.
Na paginação do documento, deve-se seguir uma regra simples: todas as
páginas, a partir da folha de rosto, devem ser contadas para a numeração
em algarismos arábicos, mas começa-se efetivamente a colocar a numeração
a partir da primeira página dos elementos textuais (introdução). No caso
de o trabalho ser constituído por mais de um volume, deve ser mantida uma
única seqüência numérica das folhas, do primeiro ao último volume. Havendo
apêndice e anexo, as suas folhas devem ser enumeradas de maneira contínua
e sua paginação deve dar seguimento ao texto principal. A numeração é colo-
cada no canto superior direito da folha, a dois centímetros da borda supe-
rior, ficando o último algarismo a dois centímetros da borda direita da folha
(NBR 14724, item 5.4).

164  2º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • uNITINS


Aula 7 • METODOLOGIA DA ciência e da PESQUISA

7.2 Componentes do trabalho acadêmico


Para a apresentação dos trabalhos acadêmicos, seja ele resumo, resenha,
relatório, etc., devemos observar três requisitos lógicos estruturados: Introdução,
Desenvolvimento e Conclusão. Além deles, o autor deverá preparar uma apre-
sentação (elementos pré-textuais) e um fechamento (elementos pós-textuais) de
seu trabalho. Observe a figura a seguir:

ANEXOS OU APÊNDICES
GLOSSÁRIO
REFERÊNCIAS

TEXTO
SUMÁRIO
RESUMO
EPÍGRAFE
AGRADECIMENTOS
DEDICATÓRIA
FOLHA DE AVALIAÇÃO
FOLHA DE ROSTO
CAPA

Nela você encontra os elementos pré-textuais – capa, folha de rosto, folha


de aprovação, dedicatória, agradecimento, epígrafe, resumo (em português e
em inglês) e sumário; o texto – introdução, desenvolvimento e conclusão; e,
por fim, os elementos pós-textuais – referências, glossário e anexos ou apên-
dices. Alguns desses elementos são opcionais, de acordo com as necessidades
– capa, dedicatória, agradecimento, epígrafe, glossário e anexos. Outros são
obrigatórios – folha de rosto, folha de aprovação, introdução, desenvolvimento,
conclusão e referências.

uNITINS • aDMINISTRAÇÃO • 2º PERÍODO  165


Aula 7 • METODOLOGIA DA ciência e da PESQUISA

7.3 Elementos pré-textuais

a) Capa: independentemente do nível do trabalho, a capa é obrigatória em


qualquer trabalho acadêmico, pois o identifica. Os elementos da capa são
os seguintes:
• nome da instituição em que o trabalho foi executado (opcional);
• título (e subtítulo, se houver) do trabalho;
• nome do autor;
• se houver mais de um volume, a especificação do respectivo volume;
• cidade e ano/semestre de conclusão do trabalho.

b) Folha de rosto: também conhecida como contra capa, contém informações


essenciais à identificação do trabalho e deve manter coerência de forma
com a capa. A folha de rosto deverá vir logo após a capa mostrando seu
anverso e deve conter os seguintes elementos:
• as mesmas informações contidas na capa;
• as informações essenciais da origem do trabalho;
• o nome do autor ou dos autores do trabalho.

c) Folha de aprovação: elemento obrigatório da monografia e de outros traba-


lhos a serem submetidos à aprovação. Deve vir após a folha de rosto e deve
conter os seguintes elementos:
• nome do autor;
• título (e subtítulo, se houver) do trabalho;
• natureza;
• objetivos;
• nome da instituição;
• área de concentração;
• data da aprovação;
• nome, titulação, assinatura dos componentes da banca e as instituições
de que fazem parte.

d) Dedicatória: elemento opcional, que vem após a folha de aprovação. Esse


elemento é de cunho bastante pessoal e, de certa forma, mostra um vínculo
de relação íntima ou de apreço.

e) Agradecimento: representa a revelação de gratidão àqueles que contri­


buíram na elaboração do trabalho. Também é um item dispensável, portanto
não existe um elemento básico normatizado; sua elaboração necessita de
criatividade e imaginação.

166  2º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • uNITINS


Aula 7 • METODOLOGIA DA ciência e da PESQUISA

f) Epígrafe: também opcional. É a citação de uma frase de algum autor que


expresse, de forma consistente, o conteúdo do trabalho. A localização fica
a critério da estética do autor do trabalho. Deve vir acompanhada do nome
do autor da frase. Pode estar localizada também nas folhas de abertura das
seções primárias.

g) Resumo em língua portuguesa: elemento obrigatório em monografias, teses


e artigos científicos. Consiste em uma apresentação sucinta do conteúdo do
trabalho, permitindo uma visão rápida, clara e geral desse conteúdo e das
conclusões a que o autor chegou ao realizá-lo. O resumo deve, portanto,
permitir que o leitor decida sobre a necessidade de consultar ou não o texto.
Não possui título, sendo simplesmente indicado pela palavra resumo, devi-
damente centralizada. Não é contado na numeração dos documentos.

h) Abstract ou resumo em língua estrangeira: obrigatório em artigos científicos


destinados à publicação em periódicos especializados.

i) Sumário: conforme NBR 6027, é o último elemento pré-textual de caráter


obrigatório. Consiste na numeração das principais divisões, seções e outras
partes do trabalho com a indicação das respectivas páginas. As divisões
deverão ser elaboradas em números arábicos.

7.4 Elementos textuais


Os elementos textuais consistem no corpo do trabalho propriamente dito, no
qual o autor apresenta, desenvolve e conclui as idéias que constituem o trabalho
acadêmico apresentado. A matéria do trabalho é, portanto, exposta pelo seu
autor em três partes fundamentais: introdução, desenvolvimento e conclusão.
Essas três partes estão logicamente encadeadas: na introdução, anuncia-se o
que se pretende fazer; no desenvolvimento, a idéia anunciada na introdução é
trabalhada sob a forma de capítulos. Na conclusão, resume-se o que se alcançou
e fecha-se o trabalho. Alguns autores defendem o uso do termo Considerações
Finais no lugar de conclusão. Veja, no sumário deste caderno, o que destacamos
neste parágrafo.
A introdução visa contextualizar o trabalho acadêmico (transcorre sobre
que tipo de trabalho foi realizado, sua área do conhecimento e tema abor-
dado); apresentar o problema de pesquisa, cuja investigação e solução foram
tratadas ao longo do estudo; definir seus objetivos (geral e específicos) e limi-
tações (essas são opcionais); delinear o quadro teórico no qual o trabalho
foi desenvolvido, bem como apresentar uma indicação de sua importância
ou relevância, ou seja, em linhas gerais, a introdução pode ser considerada
como uma espécie de apresentação do trabalho. Não existe nenhum padrão
em termos de número de páginas, devendo a introdução ser elaborada de
maneira equilibrada em relação ao conteúdo do trabalho (ou seja, trabalhos

uNITINS • aDMINISTRAÇÃO • 2º PERÍODO  167


Aula 7 • METODOLOGIA DA ciência e da PESQUISA

muito curtos não devem ser antecedidos por uma introdução muito longa.
Geralmente, os professores estipulam seu limite conforme a necessidade do
trabalho solicitado).
O desenvolvimento do trabalho é composto por tantos capítulos ou subtítulos
quantos se fizerem necessários para a solução do problema de pesquisa ou
trabalho. A grande maioria dos trabalhos acadêmicos exigirá a apresentação
de um referencial teórico, ou seja, uma revisão da literatura a respeito do tema
do trabalho, que pode ser dividido em tantos capítulos quantos se fizerem neces-
sários. Outro assunto a ser tratado refere-se às metodologias, nas quais o autor
classifica o trabalho de acordo com critérios previamente definidos e apresenta
os métodos e técnicas utilizadas para a coleta, análise e tratamento dos dados
da pesquisa. Mais elementos podem ser agregados de acordo com as neces-
sidades do trabalho. Em relação à apresentação dos capítulos do desenvolvi-
mento, é preciso lembrar que cada capítulo inicia uma nova página, e que os
capítulos podem ser divididos em seções. A numeração dos capítulos e seções é
progressiva e utiliza algarismos romanos ou arábicos, de acordo com o critério
estabelecido pelo autor. A numeração dos títulos deve ir até três algarismos
(1.1.1, por exemplo), não sendo aconselhável ir além disso.
A conclusão ou considerações finais consiste em um fechamento do trabalho,
em que os principais aspectos abordados são recapitulados resumidamente, e
as recomendações feitas são apresentadas sinteticamente. Aconselha-se evitar
apresentar questões que sejam polêmicas ou controversas na conclusão, expondo
somente os aspectos que possam ser considerados aceitáveis sem maiores discus-
sões. A conclusão do trabalho também pode apontar possibilidades de estudos
mais profundos ou outros problemas que possam vir a ser objeto de análise pelo
autor ou por outros pesquisadores, bem como as limitações do estudo desenvol-
vido, caso não tenham sido apresentadas na introdução.
A NBR 14724/02 considera opcionais os aspectos referentes à impor-
tância, síntese, projeção, repercussão e encaminhamentos futuros de trabalho
na conclusão. Um aspecto que não pode ser esquecido: conclusões não podem
introduzir elementos novos no trabalho. Mesmo que corram o risco de ser repeti-
tivas, as conclusões devem apenas trazer o que já foi tratado no trabalho.

7.5 Elementos pós-textuais


Os elementos pós-textuais são, na maior parte, elementos opcionais e cons-
tituem-se de todos aqueles documentos cuja apresentação é considerada, pelo
autor, como importante para a compreensão do trabalho, mas não tão funda-
mentais que exijam sua colocação ao longo do desenvolvimento do mesmo.
a) Referências: são conhecidas até a revisão de 2000 da NBR 6023 como refe-
rências bibliográficas. O título mais geral se deve ao fato de que, hoje em
dia, existem muito mais opções de obras que podem ser usadas como refe-

168  2º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • uNITINS


Aula 7 • METODOLOGIA DA ciência e da PESQUISA

rências, não somente os livros e textos impressos. As referências consistem


em uma listagem das obras consultadas e citadas ao longo do trabalho,
apresentadas de acordo com os padrões definidos pela NBR  6023/02,
permitindo ao leitor identificar e consultar as fontes originais sobre as quais
se baseou o trabalho. Veja exemplo no índice de referências bibliográficas,
no início deste caderno de textos e atividades.
b) Glossário: apresenta palavras e expressões técnicas de uso restrito ou de
sentido obscuro, seguido de suas definições. As palavras devem ser apresen-
tadas em ordem alfabética, não devendo ser enumeradas.
c) Apêndices: apresentam textos ou documentos elaborados pelo próprio autor
do trabalho e complementam a argumentação desenvolvida por ele. São
identificados pela expressão APÊNDICES, por letras maiúsculas consecu-
tivas e por um travessão separando-as do título.

d) Anexos: são documentos não elaborados pelo autor e usados para funda-
mentar, comprovar ou ilustrar a argumentação dele. Seu sistema de identifi-
cação é semelhante ao dos apêndices.

7.6 Citações em documentos: definições e regras gerais


ABNT/NBR-10520
Citação é a menção, durante a escrita do texto, de uma informação colhida
em outra fonte. Pode ser direta, indireta e citação da citação.

a) Citação direta: compreende a citação textual de conceitos de um autor


consultado. Ex.: de acordo com as conclusões de Mattar (2003, p. 169),
“o prefácio é o primeiro elemento textual discursivo do trabalho [...]”.
Dessa forma, indicamos citações breves. Quando a citação é longa,
devemos fazê-la em outra linha, com recuo de quatro centímetros da
margem, na fonte 10 e sem aspas.

Ex.: Zotti (2004, p. 149) afirma que

b) Citação indireta: compreende a transcrição livre do autor consultado. As


citações indiretas ou parafraseadas dispensam o uso das aspas duplas
e do número de páginas.

uNITINS • aDMINISTRAÇÃO • 2º PERÍODO  169


Aula 7 • METODOLOGIA DA ciência e da PESQUISA

Ex.: Os postulados ambientais mostram os princípios de que a Contabilidade necessita


atuar colocando os princípios contábeis no núcleo central da doutrina
(NEVES; VICECONTI, 2004).

c) Citação da citação: configura-se em uma citação direta ou indireta de um


texto ao qual não se teve acesso no original.

Ex.: Zotti citado por Haidar (1972, p. 126-127) afirma que “a maior parte dos alunos,
após alguns anos de estudos regulares, abandonava o colégio e buscava apresentar o
ingresso nas faculdades tentando a sorte nos exames parcelados”.

Agora que você já conhece as normas técnicas da ABNT para a formatação


do trabalho acadêmico, deve observar que essas regras variam de tempos em
tempos. É preciso estar atento a essas mudanças e também à maneira como a
sua Instituição de Ensino utiliza as normas de formatação.

7.7 O que é um Trabalho de Conclusão de Curso?


O Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) constitui-se em uma atividade
acadêmica que visa à sistematização do conhecimento sobre um objeto de
estudo ou problemas relacionados com o curso
dos acadêmicos, desenvolvido mediante
controle, orientação e avaliação
de um orientador. O TCC pode
ser de natureza prática ou teórica;
inovador, em que pese a coleta e
aplicação de dados, bem como a
sua execução ou, ainda, constitui
de ampliações de trabalhos já exis-
tentes em que a idéia central será
contestada ou aprofundada. O
TCC poderá ser apresentado da
seguinte forma:
a) por meio de um artigo sintético para ser publicado em algum periódico;
b) por meio de uma monografia com objetivos acadêmicos (monografia
de conclusão de curso), e de pós-graduação Lato Sensu, dissertação de
mestrado ou tese de doutorado;
c) na forma de um livro;
d) em apresentação oral.

170  2º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • uNITINS


Aula 7 • METODOLOGIA DA ciência e da PESQUISA

Entre os TCCs mais usais, destacam-se aqueles exigidos para obtenção de


graus universitários Stricto Sensu, a saber, dissertação de mestrado e tese de
doutorado; para a conclusão de cursos de especialização (Lato Sensu), ou ainda
para a conclusão de curso de graduação. É comum a apresentação de traba-
lhos acadêmicos também monográficos, muitas vezes chamados simplesmente
de monografias (monos = um só e graphien = escrever).
Na construção do TCC deve ser aceitável que o acadêmico apresente um
texto que verse sobre partes de uma elaboração científica plena, tais como uma
pesquisa bibliográfica, uma pesquisa empírica, um projeto de viabilidade, um
estudo de caso, ou uma proposta ou avaliação de intervenção organizacional,
entre outras possibilidades.

7.7.1 Como escolher um assunto ou tema?


Para se chegar à elaboração do TCC, pressu-
põe-se que já se tenha definido uma idéia, um tema ou
assunto, sobre o qual será centrada a investigação.
Desde o início do TCC, deve-se buscar harmonia
com o orientador da pesquisa. Para o sucesso da
pesquisa, é conveniente levar em consideração o
interesse, preferências pessoais, formação e conhe-
cimentos prévios do acadêmico, bem como origi-
nalidade e utilidade do tema. A opinião, o conhe-
cimento e a experiência do orientador do TCC
também devem ser levadas em consideração.
O assunto ou tema do TCC pode surgir de situações pessoais, sociais, ou
profissionais. O interesse do acadêmico por um tema que mereça ser desenvol-
vido na forma de monografia surge das mais diferentes maneiras, entre elas:
a) interesses pessoais, experiência, ou indagação própria;
b) em função de seu trabalho;
c) momento profissional em que se encontra (mudança de emprego, por
exemplo);
d) leitura de outras obras, tais como livros e artigos de revistas especiali-
zadas de sua área de interesse;
e) consultas a catálogos de teses, dissertações e monografias em geral,
disponibilizadas de forma convencional nas bibliotecas e via Internet;
f) troca de mensagens via Internet;
g) informações e dados obtidos em home pages/sites da Internet, sobre
livros e demais publicações disponibilizados por sites, livrarias, ou
bibliotecas acadêmicas on-line; entre outras.

uNITINS • aDMINISTRAÇÃO • 2º PERÍODO  171


Aula 7 • METODOLOGIA DA ciência e da PESQUISA

Recomenda-se que o assunto, uma vez escolhido, seja delimitado para que se
possa aprofundar e aprimorar conhecimentos, aplicáveis a um pequeno conjunto
de fatores ou variáveis que compõem o campo de estudo abordado. Ou seja, é
preferível escrever de forma detalhada e consistente sobre poucas coisas do que
falar genericamente sobre muitas coisas.

7.7.2 Escolha de um assunto ou tema

Agora que você já possui as noções básicas para construir seu Trabalho de
Conclusão de Curso, gostaríamos de sugerir um modelo de fluxograma para
facilitar sua tarefa. Este modelo foi adaptado do livro Como fazer uma mono-
grafia, escrito pelo professor Délcio Vieira Salomon:

Escolha do
assunto

Pesquisa Pesquisa Pesquisa não


empírica bibliográfica empírica

Documentação

Metodologia Crítica à Metodologia


indutiva documentação dedutiva

Resultados Construção Resultados

Redação

Apesar de o fluxograma ser auto-explicativo, será oportuno destacar que:

• pesquisa empírica: é a pesquisa dedicada à análise experimental de


dados da realidade;
• pesquisa não empírica: é o raciocínio, o processamento da
informação;
• pesquisa bibliográfica: momento de coleta de informações relevantes
ao tema do TCC em livros, CD-ROM, sites, revistas e demais meios de

172  2º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • uNITINS


Aula 7 • METODOLOGIA DA ciência e da PESQUISA

publicação. Note que toda pesquisa requer levantamento bibliográfico


para conhecer o que se pesquisou sobre o assunto;
• documentação: é a fase em que as informações coletadas na diferentes
etapas da pesquisa são registradas para balizar a construção do saber
na elaboração do TCC;
• crítica à documentação: nem todo material produzido deverá ser levado a
público na construção do saber. É a fase da crítica da documentação que
irá possibilitar a depuração da informação apreendida;
• redação e construção: é a fase de finalização de todo o trabalho de
pesquisa e levantamento de dados. Nessa fase as idéias são ordenadas
em títulos, capítulos, gráficos, figuras, etc.

7.7.3 Sobre a revisão bibliográfica


Para a construção dos trabalhos de conclusão de curso, faz-se necessária a
revisão bibliográfica, ou fundamentação teórica do problema a ser investigado.
Assim, identificada a problemática do trabalho, deve-se efetuar uma pesquisa
criteriosa sobre os diversos autores que abordaram, efetivamente, tal temática.
Essa pesquisa não se limita aos autores clássicos, devendo ser estendida às teses e
dissertações de mestrado e doutorado, bem como às revistas técnicas e científicas,
artigos de jornais e outros periódicos. A partir da identificação desses autores,
efetua-se um apanhado acerca dos limites investigados por cada um dos autores
pesquisados, apontando-se suas conclusões, críticas e observações gerais.
Para o registro da bibliografia pesquisada, a formatação espacial está norma-
tizada na NBR 6023 de agosto de 2002. O arranjo das referências deverá estar
de acordo com o sistema chamado autor-data (em ordem alfabética) ou numé-
rica (em ordem numérica, como aparece no texto). Veja alguns exemplos.
a) Quando a referência for de apenas um autor:
FREIRE, Gilberto. Casa Grande & Senzala: formação da família brasileira
sob o regime de economia patriarcal. Rio de Janeiro: J. Olympo, 1943.
b) Quando a referência for de vários autores:
COELHO, Aline Martins; REIS, Graziela; OTSUKA, José Kasuo. In:
Caderno de conteúdos e atividades: curso seqüencial em fundamentos e
práticas judiciárias. UNITINS EaD. Palmas, TO, 2005.
c) Quando a referência for de várias obras do mesmo autor citadas no
mesmo trabalho:
FREIRE, Gilberto. Casa Grande & Senzala: formação da família brasileira sob
o regime de economia patriarcal. Rio de Janeiro: J. Olympo, 1943. v. 2.
______. Sobrados e mucambos: decadência do patriarcado rural no
Brasil. São Paulo: Nacional, 1936.

uNITINS • aDMINISTRAÇÃO • 2º PERÍODO  173


Aula 7 • METODOLOGIA DA ciência e da PESQUISA

A forma como o texto do trabalho de conclusão de curso vai ser estruturado


já foi estabelecida anteriormente com relação às normas da ABNT.

7.8 O Artigo Científico


“Artigo científico é parte de uma publicação com autoria declarada, que apre-
senta e discute idéias, métodos, técnicas, processos e resultados nas diversas áreas
do conhecimento” (ABNT. NBR 6022, 2003, p. 2). A extensão de cada artigo
deverá ser de, no máximo, 20 (vinte) páginas, incluindo referências, ilustrações,
gráficos, mapas e tabelas e deve obedecer à estrutura que apresentaremos agora.

a) Identificação no alto da página incluindo:


• título do artigo – deve ser claro e objetivo, podendo ser completado
por um subtítulo;
• nome(s) do(s) autor(es) – titulação máxima, instituição à qual se
vincula, e-mail (opcional), em nota de rodapé.

b) Resumo
É a apresentação sintetizada dos pontos principais do texto, destacando
os aspectos de maior interesse e importância. O resumo deve apre-
sentar, de forma concisa, os objetivos, a metodologia e os resultados
alcançados, não ultrapassando 250 palavras. Não deve conter cita-
ções. “Deve ser constituído de uma seqüência de frases concisas e não
de uma simples numeração de tópicos. Deve-se usar o verbo na voz
ativa e na terceira pessoa do singular” (ABNT. NBR 6028, 2003, p. 2).
Deve, ainda, ser redigido em um único parágrafo.

c) Palavras-chave

São descritores que identificam o conteúdo do artigo. O número de


descritores desejado é de no mínimo três e, no máximo, cinco.
Observação: o resumo (abstract) e as palavras-chave (keywords) em
língua estrangeira moderna (inglês) devem obedecer aos mesmos
padrões de exigência em língua portuguesa.

d) Corpo do texto

O texto deve ser dividido em três partes:


• introdução: é nesse momento que serão apresentados conceitos
básicos, pontos de vista, uma breve justificativa abordando a
escolha do tema e destacando sua relevância para o que virá a
seguir no bojo do texto. É por meio da introdução que o leitor será
“seduzido” a continuar lendo o texto;

174  2º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • uNITINS


Aula 7 • METODOLOGIA DA ciência e da PESQUISA

• desenvolvimento: nele está o cerne de todo o trabalho. Será nesta etapa


que os pressupostos enunciados na introdução serão concretizados;

• considerações finais: utilizar citações somente quando forem indis-


pensáveis para embasar o estudo.

e) Referências
Devem ser organizadas e apresentadas em ordem alfabética de
acordo com o sobrenome do primeiro autor. Dessa forma, somente as
citações que figuram no texto devem ser referenciadas. Para elabo-
ração das referências, deve ser observada a norma NBR 6023 da
ABNT, 2002.

f) Anexos e/ou apêndices


Não obrigatórios no conjunto do trabalho, mas evidenciam pontos
de referências ao logo do texto, complementam pontos de vista.
Nesta etapa, opte por incluir informações que são imprescindíveis
para o entendimento dos objetivos propostos ao longo da previsão
do trabalho.
Para concluir, as formas de elaboração do projeto de pesquisa, do TCC
e do artigo científico apresentadas nessa aula são um padrão, um modelo
legitimado por diversos autores. Porém cada Instituição de Ensino Superior
(IES) pode adotar normas próprias de elaboração do trabalho acadêmico,
mantendo algumas etapas que estão presentes aqui e elegendo outras que,
porventura, podem não estar presentes. Mais uma vez você deve estar atento
ao que a instituição adotou como modelo.

Síntese da aula
Na nossa última aula, após compreender o que é conhecimento e suas
modalidades e perceber que o conhecimento científico é aquele característico
da sociedade moderna, você observou como, depois de cursar uma graduação,
precisa apresentar como pré-requisito para diplomar-se, um trabalho de
conclusão de curso, que pode ser um TCC, um artigo e, em muitas instituições,
um projeto de pesquisa. Observou, também, que esses trabalhos científicos
devem ser formatados segundo as normas da Associação Brasileira de
Normas técnicas (ABNT), bem como as disposições reguladas pela instituição
em que você estuda. Portanto, os TCCs e os artigos científicos são trabalhos
que o levam à rotina de pesquisa e aprimoramento em assuntos pontuais
inerentes ao curso em conclusão. Todo saber aprendido e apreendido durante
a carreira universitária é colocado à prova durante a elaboração do TCC e
do artigo científico.

uNITINS • aDMINISTRAÇÃO • 2º PERÍODO  175


Aula 7 • METODOLOGIA DA ciência e da PESQUISA

Atividades

1. O Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) constitui-se em uma atividade acadê-


mica que visa à sistematização do conhecimento sobre o objeto de estudo ou
problemas a serem investigados na sua área de conhecimento e deve ser
desenvolvido mediante controle, orientação e avaliação de um orientador.

Sobre o TCC, é incorreto afirmar que:


a) ele é apresentado por meio de um artigo sintético para publicação em
periódicos;
b) a monografia é considerada um TCC;
c) este trabalho é de natureza apenas teórica;
d) neste trabalho existe o relatório de pesquisa.

2. O artigo científico pode receber diferentes classificações, conforme seu


conteúdo. Ele segue uma estrutura que é composta de título, autoria, resumo,
palavras-chave, introdução, corpo do artigo ou desenvolvimento, conclusão
e referências. Observando essa estrutura, preencha corretamente as lacunas
a seguir identificando os elementos fundamentais do artigo científico.

I. Descreve, de forma lógica, rigorosa, breve e gramaticalmente correta a


essência do artigo. É o ____________________________________.
II. O _______________________ é uma descrição sumária da totalidade do
artigo, na qual se procura realçar os aspectos que serão detalhados no
desenvolvimento.
III. As _______________________________ são expressões ou termos que
indicam com maior precisão o conteúdo do artigo.
IV. A _____________________ tem a função de despertar o interesse do
leitor em ler o texto.
V. A _____________________ contém a provável resposta para o problema
proposto na introdução.
VI. O __________________________ constitui a descrição, ao longo de vários
parágrafos, de todos os pontos relevantes do trabalho realizado.

A alternativa que corresponde à seqüência correta é:


a) introdução, desenvolvimento, conclusão, resumo, título, palavras-chave;
b) título, resumo, palavras-chave, corpo do artigo, introdução, conclusão;
c) título, resumo, palavras-chave, introdução, conclusão, corpo ou desen-
volvimento do artigo;
d) título, introdução, palavras-chave, corpo do artigo, resumo, conclusão.

176  2º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • uNITINS


Aula 7 • METODOLOGIA DA ciência e da PESQUISA

3. Escolha um título e elabore, em seu caderno, com os dados da sua instituição,


uma capa, uma folha de rosto, uma dedicatória e uma introdução para o tema
escolhido. Com esta atividade, você se familiarizará com os elementos pré-
textuais e textuais apresentados nessa aula e utilizando as normas da ABNT.

4. Marque V (verdadeiro) ou F (falso) para as assertivas a seguir.


(  ) A citação indireta é a transcrição livre do autor consultado.
(  ) A resenha será o resultado da pesquisa de campo realizada ao longo
do trabalho.
(  ) A citação da citação é utilizada para indicar que o texto entre aspas
não é de autoria do pesquisador citado.
(  ) A capa de um trabalho acadêmico deverá ser igual à folha de rosto
para melhor identificar o autor do trabalho.

A opção que melhor retrata as assertivas anteriores é:

a) f, v, v, v b) v, f, v, v
c) f, f, v, v d) f, f, f, v

Comentário das atividades


Agora você já identificou os elementos constituintes do trabalho de conclusão
de curso, bem como do artigo científico e já aprendeu a utilizar as normas da
ABNT para estruturá-los. Você observou que, para concluir com êxito a reali-
zação dessas atividades, foi preciso fazer uma releitura minuciosa dos conceitos
apresentados nesta aula, bem como selecionar um tema que tenha relevância
pessoal apresentado a você durante os períodos cursados.
Na atividade um, você notou que diante das características do Trabalho de
Conclusão de Curso (TCC), vimos que o mesmo segue uma estrutura que deve
ser obedecida pelo acadêmico, vimos também que esse trabalho, além de ser
teórico, é prático.
A atividade dois remonta aos elementos constituintes do artigo científico:
título, resumo, palavras-chave, introdução, corpo ou desenvolvimento do artigo
e conclusão.
Na atividade três, você observou que precisa descrever os elementos pré-
textuais – capa, folha de rosto, dedicatória – e os textuais – introdução, desen-
volvimento e conclusão.
Na atividade quatro, a única assertiva falsa versa sobre o conceito da
resenha, já que resenha será uma descrição minuciosa de um livro, de um capí-
tulo de um livro ou de parte desse livro, de um artigo, de uma apostila ou qual-
quer outro documento. Assim a alternativa correta é a (b) (v,f,v,v).

uNITINS • aDMINISTRAÇÃO • 2º PERÍODO  177


Aula 7 • METODOLOGIA DA ciência e da PESQUISA

Referências
ABNT. Disponível em: <http://www.abnt.org.br/m3_asp?cod_pagina>.
MÁTTAR NETO, João Augusto. Metodologia científica na era da informática. São
Paulo: Saraiva, 2003.
SALOMON, Délcio Vieira. Como fazer uma monografia. São Paulo: Martins
Fontes, 1999.

Anotações
































178  2º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • uNITINS


EQUIPE UNITINS

Organização de Conteúdos Acadêmicos


1ª Versão: Elídio Luiz Martinelli
2ª Versão: Elídio Luiz Martinelli

Coordenação Editorial
Maria Lourdes F. G. Aires

Assessoria Editorial
Marinalva do Rêgo Barros Silva

Assessoria Produção Gráfica


Katia Gomes da Silva

Revisão Didático–Pedagógica
Marilda Piccolo

Revisão Lingüístico–Textual
Marinalva do Rêgo Barros Silva

Revisão Digital
Helena Carolina Costa e Lima Prestes

Projeto Gráfico
Douglas Donizeti Soares
Irenides Teixeira
Katia Gomes da Silva

Ilustração
Geuvar S. de Oliveira

Capa
Igor Flávio Souza

Equipe Fael
Créditos

Coordenação Editorial
Leociléa Aparecida Vieira

Assessoria Editorial
William Marlos da Costa

Revisão
Juliana Camargo Horning
Lisiane Marcele dos Santos

Programação Visual e Diagramação


Denise Pires Pierin
Kátia Cristina Oliveira dos Santos
Rodrigo Santos
Sandro Niemicz
William Marlos da Costa
O presente trabalho busca consolidar conceitos matemáticos pré-adqui-
ridos através de uma rápida inspeção dos conteúdos já vistos no ensino
fundamental e médio, com o objetivo de transitar com clareza nas áreas
da Administração e da Contabilidade. Na aula inicial, faremos uma breve
retomada das operações fundamentais de adição, subtração, multiplicação,
divisão, potenciação, radiciação, e parte do cálculo algébrico.
Abordaremos na segunda aula alguns temas muito importantes na mate-
mática financeira; a regra de três, porcentagem e os temas pertinentes à
função do primeiro grau, para que se possa desenvolver um raciocínio lógico

Apresentação
mais direcionado para o fim de que este trabalho se destina. Na terceira
aula, o assunto a ser tratado corresponde à função do segundo grau, função
exponencial e logarítmica, fundamentais em muitas situações da matemática
financeira e estatística e, também, em economia.
Progressões aritméticas, progressões geométricas, demanda e oferta de
mercado, na quarta aula, são os temas a serem abordados. A abordagem
das P.A. e P.G. é simples e objetiva, apenas para dar direção aos problemas
de séries de pagamentos na disciplina de matemática financeira. A demanda
e oferta de mercado são aplicações das funções de primeiro e segundo graus,
voltadas bastante para a área de economia com importância elevada à admi-
nistração e contabilidade em tomada de decisões para optar em projetos de
investimentos e em produtos novos, no processo de controle na produção.
Nas aulas cinco e seis, vamos tratar o preço de equilíbrio, receita total,
custo total e ponto de nivelamento, lucro total com importância similar à
demanda e oferta de mercado. Nas aulas seis e sete, o assunto a ser tratado
é o cálculo diferencial e integral, com os conteúdos de limites de funções,
derivadas e integrais. Esses temas serão tratados com relevância signifi-
cativa, dada à importância dos mesmos, em aplicações e otimização de
sistemas gerenciais na estrutura do curso, dentro da estrutura curricular.
Bons estudos!
EMENTA
Funções polinomiais de primeiro e segundo graus; exponenciais
e logarítmicas; seqüências numéricas; funções como modelos matemá-
ticos; limites e continuidade; derivadas e técnicas de derivação; e inte-
grais indefinidas.
Plano de Ensino

OBJETIVOS
• Solidificar conhecimentos básicos das operações fundamentais
no conjunto dos números reais.
• Resolver equações de primeiro e segundo graus.
• Apresentar as progressões aritméticas e geométricas.
• Construir, ler e interpretar gráficos.
• Reconhecer e definir as funções polinomiais básicas.
• Compreender e interpretar limites de funções algebricamente e
graficamente.
• Calcular derivadas.
• Aplicar conteúdos de máximos e mínimos às organizações.
• Resolver integrais.

CONTEÚDO PROGRAMÁTICO
• Operações fundamentais e expressões algébricas
• Equações do primeiro grau e do segundo grau
• Domínio e imagem de funções
• Função do primeiro grau e quadrática
• Demanda e oferta de mercado
• Preço de equilíbrio e receita total
• Custo total, ponto de nivelamento e lucro total
• Função exponencial e logarítmica
• Seqüências numéricas e estudo dos limites de funções
• Estudo das derivadas e dos máximos e mínimos
• Aplicações gerais envolvendo máximos e mínimos
• Noções de integrais
BIBLIOGRAFIA BÁSICA
SILVA, Sebastião Medeiros. Matemática: economia, administração, ciências
contábeis. 4. ed. São Paulo: Atlas, 1997.
WEBER, Jean E. Matemática para Economia e Administração. 2. ed. São Paulo:
Harbra, 2001.
SILVA, Sebastião Medeiros da et al. Cálculo básico para cursos superiores. São
Paulo: Atlas, 2004.

BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR
LEITHOLD, Louis. Matemática aplicada à Economia e Administração. São Paulo:
Harbra, 1988.
MUROLO, Afrânio Carlos; BONETTO, Giácomo. Matemática aplicada à
Administração, Economia e Contabilidade. São Paulo: Thonson Learning, 2004.
VERAS, Lilia Ladeira. Matemática aplicada à Economia. 3. ed. São Paulo:
Atlas, 1999.

unitins • administração • 2º PERÍODO  183


Aula 1 • matemática aplicada

Aula 1
Operações fundamentais e
cálculo algébrico

Objetivos
Esperamos que, ao final desta aula, você seja capaz de:
• compreender e operacionalizar as operações fundamentais;
• realizar cálculos algébricos básicos.

Pré–requisitos
Para que você possa atingir os objetivos propostos nessa aula, é neces-
sário que tenha um bom domínio das quatro operações e também raciocínio
lógico matemático.

Introdução
No cotidiano da vida estamos a todo momento nos deparando com os números
e as suas operações fundamentais, em diferentes situações. Deparamos-nos,
a todo o instante, com situações–problema em várias áreas do conhecimento
humano como as finanças e a administração, ciência, tecnologia e outras que
necessitam de respostas claras e objetivas.
Os números e suas operações, bem como os conceitos algébricos, são utili-
zados desde a Antigüidade. Os filósofos gregos Aristóteles e Euclides foram os
precursores na utilização de símbolos para indicar números desconhecidos e
para expressar a solução de um problema utilizando os mesmos.
Giovanni (2007) cita que, por volta de 1400/1500, Stifel (Alemanha),
Cardano e Bombelli (Itália) passaram a usar as letras para montar equações nas
soluções de problemas.
Finalmente, o advogado e matemático francês, François Viète, introduziu o
uso sistemático das letras, para representar valores e fenômenos desconhecidos
e os símbolos das operações usados até hoje.
O cálculo literal fez com que o avanço na matemática, com o passar do
tempo, fosse imenso e evoluisse até os dias de hoje.

unitins • administração • 2º PERÍODO  185


Aula 1 • matemática aplicada

Visivelmente, as necessidades são inerentes para consolidarmos esse


processo. Assim, o desenvolvimento desses fundamentos é inevitável para
um estudo mais eficiente, objetivando os conteúdos subseqüentes dentro da
disciplina.

1.1 Adição e subtração de números reais


Quando necessitamos realizar operações com números reais, devemos
observar dois casos, tanto para a adição e subtração, quanto para a multipli-
cação e divisão.

Sinais iguais
+ 5 + 7 = + 12
– 5 – 7 = – 12
Então, somamos os módulos dos números envolvidos e conservamos o sinal.

Sinais diferentes
+5–7=–2
–5+7=+2
Conserva-se o sinal do maior módulo e dele subtraímos o menor valor,
também em módulo.

1.2 Multiplicação e divisão de números reais


O processo de multiplicação e divisão de números reais ocorre com algumas
situações distintas:

com sinais diferentes


(+5)x(–7) = –35/(+14):(–7) = –2
(–5)x(+7) = – 35/(–14):(+7) = –2
A resposta ocorre, sempre, com sinal negativo;

com sinais iguais


(+5)x(+7) = 35/(+14):(+7) = +2
(–5)x(–7) = 35/(–14):(–7) = +2
A resposta ocorre, sempre, com sinal positivo.

1.3 Operações com frações


A operacionalização de frações ocorre em situações distintas, onde alguns
procedimentos devem ser observados.

186  2º PERÍODO • administração • unitins


Aula 1 • matemática aplicada

1.3.1 Adição e subtração de frações


Denominadores iguais
Para somar frações com denominadores iguais, somamos os numeradores e
conservamos o denominador.
Para subtrair frações com denominadores iguais, subtraímos os numeradores
e conservamos o denominador.
Observe os exemplos:

5 2 7 5 4 1
+ = − =
3 3 3 3 3 3

Denominadores diferentes
Para somar frações com denominadores diferentes, reduz-se as frações ao
mesmo denominador e, então, soma-se os numeradores.
1 3 4 9 13
+ = + =
3 4 12 12 12

1.3.2 Multiplicação
No cálculo desta operação, multiplicamos os numeradores entre si e os
denominadores também entre si.

3 7 21  5  15
⋅ = 3 ⋅  =
5 2 10 7 7
1.3.3 Divisão
Na divisão de frações, conservamos a primeira fração e multiplicamos (como
no item anterior) pelo inverso da segunda fração.

2 7 2 9 18
÷ = ⋅ =
5 9 5 7 35

1.3.4 Potenciação
A potenciação é um processo onde a operação de multiplicação ocorre de
forma repetida.
Potência de expoente Inteiro
Seja a um número real e m e n inteiros positivos. Então, temos as seguintes
propriedades:

1) an = a . a . a . ... a 2) a0 = 1
  
n vezes 0
Ex. : 27 = 1
Ex. : 32 = 3 ⋅ 3 = 9

unitins • administração • 2º PERÍODO  187


Aula 1 • matemática aplicada

n 1
3) a1 = a 4) a =
an
1
Ex. : 35 = 35
2
 1 1
Ex. : 52 =   =
 5 25

n
5) a ⋅ a = a m n+m
6) an ÷ am = an−m (a ≠ 0 )
2 3 2+ 3 5
Ex. : 4 ⋅ 4 = 4 = 4 35
Ex. : = 35−2 = 33
32

7) (a ) n m
= an ⋅ m
Ex. : (62 ) = 62 ⋅ 3 = 66

1.3.5 Radiciação
Dado um número real a, a raiz enésima desse número é indicada pela
expressão:
n
am

n é o índice
a é o radicando
m é o expoente

Obs. 1: quando o índice é par, apenas existe raiz de números reais positivos.
Obs. 2: quando o índice é ímpar, existe raiz de qualquer número real.

Propriedades
n
a) a m = a, com “a” ∈ R+ , n ∈ N e n > 1
2
2
Ex.: 5 = 52 = 5

n
b) am = n:p
a m : p , com p ≠ 0 e p divisor comum de m e n
Ex.: 16 x 4 = 16 ÷ 4 x 4 ÷ 4 = 4
x

m n m.n
c) a = a, com a ∈ R+ , m ∈ N, m > 1 e n > 1

Ex.: 3 a = 6 a

n n n
d) a ⋅ b= a b, com a ∈ R + , b ∈ R + , n ∈ N e n > 1
3
Ex.: 3 (a ⋅ b) = a ⋅ b
3

188  2º PERÍODO • administração • unitins


Aula 1 • matemática aplicada

n
a a
e) n
= n , com a ∈ R + , b ∈ R∗+ , n ∈ N e n > 1
b b
4
2 2
4
= 4
Ex.: 3 3

Saiba mais

1.4 Expressões algébricas


Expressões matemáticas, cuja composição ocorre por letras e números ou
apenas letras, são denominadas de expressões algébricas.
Exemplos:
3 2c
2x – 4z; x; a + 3b – c;
4 3x − 4y + z

1.5 Operações com expressões algébricas


As operações com as expressões algébricas ocorrem de forma similar às
operações convencionais. Devemos apenas acrescentar alguns conceitos das
propriedades operatórias relativos à potenciação.
• Adição

(4x – 3xy + 5y2) + (3x – 7xy) = 7x – 10xy + 5y2

• Subtração

(4x – 3xy + 5y2) – (3x – 7xy) = x + 4xy + 5y 2

• Multiplicação

3x ⋅ (4x − 5y + 2xz) = 12x 2 − 15xy + 6x 2z

• Divisão

6x 3y 4 9xz 6 3x 2 y 4 9z 5
(6x y3 4
)
− 9xz 6 ÷ (2xz ) =
2xz

2xz
=
z

2

• Potenciação

(2xy z ) 3 2 4
= 16x 4 y12z 8

unitins • administração • 2º PERÍODO  189


Aula 1 • matemática aplicada

1.6 Produtos notáveis


Os procedimentos para desenvolver os produtos notáveis seguem um compor-
tamento similar à resolução de potências. Apenas consideramos que, em geral,
as operações estão envolvidas em forma de adição ou subtração.

a) Quadrado da soma de dois termos:


(a + b)2 = a2 + 2ab + b2
(x + 2)² = x² + 4x + 4

b) Quadrado da diferença de dois termos:


(a + b)2 = a2 – 2ab + b2
(x – 2)² = x² – 4x + 4

c) Produto da soma pela diferença de dois termos:


(a + b) (a – b) = a2 – b2
(x + 1) (x – 1) = x 2 – 1

d) Cubo da soma de dois termos:


(a + b)3 = a3 + 3a2b + 3ab2 + b3
(x + 1)3 = x 3 + 3x2 +3x + 1

e) Cubo da diferença de dois termos:


(a – b)3 = a3 – 3a2b + 3ab2 – b3

1.7 Fatoração
Fatorar é transformar equações algébricas em produtos de duas ou mais
expressões, chamadas fatores.
Ex.: ax + ay = a . (x + y)
Existem vários casos de fatoração como:

a) fator comum em evidência: quando os termos apresentam fatores comuns.


ax + ay » Ambos os termos apresentam o fator a em evidência. Assim:
ax + ay = a . (x + y). Forma fatorada;

b) fatoração por agrupamento: consiste em aplicar duas vezes o caso do


fator comum em alguns polinômios especiais.
Como por exemplo:
ax + ay + bx + by.

190  2º PERÍODO • administração • unitins


Aula 1 • matemática aplicada

Os dois primeiros termos possuem em comum o fator a, os dois últimos


termos possuem em comum o fator b. Colocando esses termos em evidência:
a . (x + y) + b . (x + y)
Este novo polinômio possui o termo (x + y) em comum. Assim, colocando–o
em evidência:
(x + y) . (a + b) ou seja,
ax + ay + bx + by = (x + y).(a + b)

Síntese da aula
Nessa aula, fundamentamos os conceitos das operações de adição,
subtração, multiplicação, divisão, potenciação e radiciação, no conjunto dos
números reais e conceitos que envolvem a álgebra elementar e suas operações,
bem como a fatoração e os produtos notáveis.

Atividades

1. Resolver as potências a seguir:

(-2)
2
a) 23 = b) =

(-3)
3
c) = d) 50 =

(-0,1) (2)
3 5
e) = f) =

4 -2
g)  2   2 
 3  = h)  3  =
   
-3
 1
(1 )
3
i)   = j) =
 2
-1
 2 
k)       =
5
 

2. Calcular as raízes indicadas:

9
a) 81 = b) =
36
3
c) 3
-27 = d) (256 ) 4 =

4
(216 ) 3
-
e) =

unitins • administração • 2º PERÍODO  191


Aula 1 • matemática aplicada

3. O polinômio que representa a área da figura abaixo, onde as medidas


estão indicadas, corresponde a:

3x – y

3x – 2y

a) 9x2 + 3xy – 2y2


b) 9x2 – 3xy – 2y2
c) 9x2 + 3xy + 2y2
d) 9x2 – 3xy + 2y2

4. O valor numérico do polinômio do exercício anterior, quando x=20 e y=10,


corresponde a:

a) 4.000 b) 1.000
c) 3.000 d) 2.000

5. O valor algébrico do volume dos paralelepípedos abaixo, cujas medidas de


suas dimensões estão expressas em cada um deles, corresponde a:

x+2
2a

a x
3a + 1 x+3

a) 6a2 + 2a2 e x3 + 5x2 + 6x


b) a2 + 2a2 e x3 + 5x2 – 6x
c) 6a2 – 2a2 e x3 + 5x2 + 3xx
d) 6a3 + 2a e x3 + 5x2 + 6x

6. Resolva as seguintes operações:


a) (40x3y2 – 5x2y3) ÷ (–10xy)
b) (12a4b2 – 28a2b2 + 4ab3) ÷ (4ab)
c) (4b + 3c – 7a) + (8a – 5b – c)
d) (5a) (– 7c)
e) (4a2b) (–7ab2)

192  2º PERÍODO • administração • unitins


Aula 1 • matemática aplicada

Comentário das atividades


As atividades um e dois trataram as operações fundamentais: com o emprego
simples das propriedades da potenciação e da radiciação, se chegou à solução.
Na atividade um, as respostas corretas são:

a) 8 b) 4 c) – 27 d) 1

e) – 0,001 f) 32 g) 16/81 h) 9/4

i) 8 j) 1 k) 5/2

Na atividade dois, as respostas corretas são:

a) 9 b) 1/2 c) – 3 d) 64 e) 1/216

Na atividade três, se desejou o cálculo da área do retângulo na forma algé-


brica, sendo a resposta correta a alternativa (a).
Na atividade quatro, bastou a substituição dos valores indicados nos valores
respectivos de x e y, para chegarmos à conclusão de que a opção correta é a
alternativa (a).
Na atividade cinco, o objetivo buscado foi o cálculo do volume do parale-
lepípedo; para efetivar tal cálculo, bastou a multiplicação das três dimensões
entre si para encontrar o valor do polinômio que a representou, sendo a resposta
correta a alternativa (d).
Na atividade seis, a resolução ocorreu conforme os procedimentos descritos
para a operacionalização das expressões algébricas, nas quais você deve ter
chegado às seguintes respostas:

a) –4x2y + (xy2) / 2 b) 3a3b – 7ab + b2


c) a – b + 2c d) –35ac
e) – 28a3b3

Consolidaram-se, assim, os objetivos propostos para essa aula: compre-


ender e operacionalizar as operações fundamentais por meio das atividades
um, dois e três e realizar cálculos algébricos básicos, com as atividades
quatro, cinco e seis.

Referências
GIOVANNI, José Ruy et al. A Conquista da Matemática: a + nova. São Paulo:
FTD, 2007.
SILVA, Sebastião Medeiros. Matemática: economia, administração, ciências
contábeis. 4. ed. São Paulo: Atlas, 1997.

unitins • administração • 2º PERÍODO  193


Aula 1 • matemática aplicada

Na próxima aula
Na próxima aula, abordaremos os conteúdos de regra de três, porcentagem,
função e equação do primeiro grau, relevantes para as disciplinas subseqüentes
dentro da estrutura curricular, como certamente o é, sendo essas matemática
financeira, estatística, administração financeira e orçamentária, na área econô-
mica, administração e contabilidade.

Anotações
































194  2º PERÍODO • administração • unitins


Aula 2 • matemática aplicada

Aula 2
Regra de três, porcentagem
e função do primeiro grau

Objetivos
Esperamos que, ao final desta aula, você seja capaz de:
• recordar os conceitos básicos na resolução de problemas utilizando
regra de três e proporção;
• descrever a função do primeiro grau.

Pré–requisitos
Para que você possa atingir os objetivos propostos nessa aula, é neces-
sário que tenha um bom domínio das operações com o conjunto dos números
reais, frações, cálculo algébrico e, também, raciocínio lógico na resolução de
situações-problema.

Introdução
Ao depararmos com situações-problema que necessitam de cálculos mate-
máticos simples, ou cálculos que envolvem o conceito de funções, regra de
três e porcentagem, a ferramenta indispensável na solução dessas situações
é, muitas vezes, o uso do raciocínio lógico. Quase sempre o resultado encon-
trado está correto, mas será que, se alguém solicitar a transcrição das opera-
ções mentais para o papel, você conseguiria equacionar de maneira matema-
ticamente correta?

Para tentar responder a essas e outras perguntas, vamos relembrar, nessa


aula, alguns procedimentos matemáticos básicos na resolução de situações-
problema, baseadas em situações do cotidiano.

As aplicabilidades deste conceito, em instituições empresariais, são muito


largas e importantes para a área gerencial e contábil. Alguns exemplos como
despesas com energia, preço de um produto, preço de mercado, ponto de
nivelamento, custo de um produto no mercado, função lucro de uma empresa
e outros.

unitins • administração • 2º PERÍODO  195


Aula 2 • matemática aplicada

2.1 Proporção
Considere a seguinte situação:
Usando um molde de aço inox e oito quilos de pó de gesso, um artesão
fabrica 10 cilindros iguais a estes da figura a seguir.

De quantos quilos de pó de gesso o artesão necessita para atender uma


encomenda de 15 dessas peças?
Solução 1
Podemos calcular quantos quilos de pó seriam necessários para fazer apenas
um cilindro.
0,8 kg de pó de gesso para fazer um cilindro.
15 x 0,8 = 12, são necessário 12 quilos de pó de gesso para fazer 15
cilindros.
Essa igualdade é um exemplo de proporção, porque a razão entre os dois
primeiros números é igual a razão entre os dois últimos.
A proporção é uma igualdade entre duas razões.
Nº. de cilindros 10 e 15
Pó de gesso 8 e ? 10 15
=
Nº. de cilindros 10 e 15 8 ?
Pó de mármore 8 e 12

Observação
Os números 10, 8, 15 e 12 são chamados termos da proporção.
Os termos 10 e 12 são chamados de extremos.
Os números 8 e 15 são chamados de meios.
A leitura é assim: 10 está para oito, assim como 15 está para 12.

196  2º PERÍODO • administração • unitins


Aula 2 • matemática aplicada

Solução 2
Vamos substituir a interrogação na equação anterior por uma incógnita
(valor procurado), que pode ser uma letra qualquer, geralmente o x. Depois,
multiplicamos os extremos pelos meios e resolve-se a equação encontrada, como
mostra a resolução a seguir:

10 15
=
8 x
120
10x = 8 ⋅ 15 ⇔ x = = 12
10

2.2 Regra de três


Sempre que estamos com dificuldades de resolver uma situação problema,
recorremos a um dispositivo matemático que possa nos auxiliar na solução.
Quando estamos tentando resolver problemas que envolvam pares de gran-
dezas, que formam uma proporção em que se conhece três termos e o quarto é
procurado, usamos um dispositivo conhecido como regra de três.

• Proporção direta: duas grandezas são ditas diretamente proporcionais


quando, aumentando ou diminuindo uma delas, a outra aumenta ou
diminui na mesma razão que a outra.

• Proporção inversa: duas grandezas são ditas inversamente proporcio-


nais quando, aumentando ou diminuindo uma delas, a outra diminui ou
aumenta na mesma razão que a outra.
• Como usar a regra de três: para usar este dispositivo, devemos
separar as grandezas em colunas e indicar, com uma variável, o
valor desconhecido. Nesta metodologia, usaremos setas para indicar
se as grandezas envolvidas no problema são direta ou inversamente
proporcionais. A primeira seta pode ser colocada em qualquer
sentido, ao lado de uma das colunas da grandeza, e a outra seta
será colocada ao lado da outra coluna, com o mesmo sentido da
primeira, se as grandezas forem diretamente proporcionais e, com
o sentido oposto da primeira, se as grandezas forem inversamente
proporcionais. São montadas as proporções para a resolução, da
mesma maneira em que foi apresentada a resolução de proporções
na primeira parte dessa aula.
Exemplo:
a) Uma fábrica produz 2.000 automóveis por semana, em turnos de oito
horas diárias. Quantas semanas são necessárias para produzir 5.000
automóveis com as mesma horas diárias trabalhadas?

unitins • administração • 2º PERÍODO  197


Aula 2 • matemática aplicada

Solução:

No de automóveis Semanas
2000 1
5000 X

2000 1
= ⇒ 2000x = 5000 ⇒ x = 2,5
5000 x

Portanto, serão necessárias 2,5 semanas para produzir 5.000 unidades.

b) Uma casa é construída por 15 operários, com igual capacidade de


trabalho, em 60 dias. Quantos dias serão gastos para construir a mesma
casa, se o número de trabalhadores fosse reduzido para 10?
Solução:

No de operários Dias
15 60
10 X

15 x
= ⇒ 10x = 900 ⇒ x = 90
10 60

Portanto, serão necessários 90 dias para construir a mesma casa.

2.3 Porcentagem
O símbolo (%) aparece com bastante freqüência no nosso dia a dia Devemos
entender, com bastante segurança, o que ele realmente representa em nosso coti-
diano. Como exemplo, temos as situações a seguir: a gasolina subiu 12%; houve um
reajuste de 24% no salário; e promoção com desconto de 40% à vista; entre outros.
Podemos definir porcentagem como uma proporção direta, com uma carac-
terística particular, que é a de apresentar uma das grandezas com uma fração
de denominador igual a 100.
Todos estes termos são bastante conhecidos de todos nós. Assim, vamos ver
alguns exemplos numéricos para darmos uma noção dessa grandeza.
Exemplos:
15
a) 15% de 2000 = ⋅ 2000 = 30
100
40
b) 40% de 1600 = ⋅ 1600 = 640
100

198  2º PERÍODO • administração • unitins


Aula 2 • matemática aplicada

2.4 Função do primeiro grau


Devido à sua relevância, vamos trabalhar a função do primeiro grau de
forma bastante clara e concisa. Existem aplicações na área de economia que
estão presentes nas unidades quatro e cinco de (forma direta), e em outras áreas
do conhecimento como em estatística, matemática financeira e outras.
Equações do primeiro grau
É toda expressão da forma a x + b = 0 onde a e b são números reais.
Solução:
ax + b = 0 ⇒ x = – b/a
Exemplo:
2x – 8 = 0 / 2x = 8 / x = 8 / 2 / x = 4
S={4}
Pares ordenados
Muitas vezes, para localizar um ponto em um plano, utilizamos dois números
racionais, em uma certa ordem. Denominamos esses números de par ordenado.

Exemplos:

(3, 4) – 2, 1
2

2º elemento 2º elemento

1º elemento 1º elemento

Indicação: (x, y) é o par ordenado formado pelos elementos x (o primeiro


elemento do par) e y ( segundo elemento do par).

Observações
a) De um modo geral, sendo x e y dois números racionais quaisquer,
temos: (x, y) ¹ (y, x).

Exemplo:
(1, 4) ≠ (4, 1)
b) Dois pares ordenados (x, y) e (z, t) são iguais somente se x = z e y = t.

Representação gráfica de um par ordenado


Podemos representar um par ordenado através de um ponto em um plano.
Esse ponto é chamado de imagem do par ordenado.

unitins • administração • 2º PERÍODO  199


Aula 2 • matemática aplicada

Coordenadas cartesianas
Os números do par ordenados são denominados coordenadas cartesianas.
Exemplos:
A (3, 5) ⇒ 3 e 5 são as coordenadas do ponto A.
Denominamos de abscissa o 1º número do par ordenado e ordenada o 2º
número desse par.
Assim:

(3, 5)

2º elemento
coordenadas
1º elemento

1o elemento: eixo das abscissas.


2o elemento: eixo das ordenadas.

y
4

–4 –3 –2 –1 0 1 2 3 4 x
–1

–2

–3

–4

2.5 Plano cartesiano


Representamos um par ordenado em um plano cartesiano. Esse plano é
formado por duas retas, x e y, perpendiculares entre si. A reta horizontal é o
eixo das abscissas (eixo x). A reta vertical é o eixo das ordenadas (eixo y). O
ponto comum dessas duas retas é denominado origem, que corresponde ao par
ordenado (0, 0).

200  2º PERÍODO • administração • unitins


Aula 2 • matemática aplicada

Localização de um ponto
Para localizar um ponto em um plano cartesiano, utilizamos a seqüência
prática.
a) O 1º número do par ordenado deve ser localizado no eixo das abscissas.
b) O 2º número do par ordenado deve ser localizado no eixo das ordenadas.
c) No encontro das perpendiculares aos eixos x e y, por esses pontos,
determinamos o ponto procurado.
Exemplo:
Localize o ponto (4, 3) e o ponto (– 3, – 2) no plano cartesiano.
y
(4,3)
4

–4 –3 –2 –1 0 1 2 3 4 x
–1
(-3,-2) –2

–3

–4

Produto cartesiano
Dados dois conjuntos A e B, não-vazios, denominamos produtos cartesianos
A x B o conjunto de todos os pares ordenados (x, y) onde:
A x B = {(x, y) / x ∈ A e y ∈ B}
Exemplo:
Dados os conjuntos A = {1, 2, 3} e B = {3, 4}.
Com auxílio do diagrama de flechas, formaremos o conjunto de todos os
pares ordenados em que o primeiro elemento pertença ao conjunto A e o
segundo pertença ao conjunto B.
A B
1. .3
2.
.4
3.

unitins • administração • 2º PERÍODO  201


Aula 2 • matemática aplicada

Assim, obtemos o conjunto: { (1, 3), (1, 4), (2, 3), (2, 4), (3, 3), (3, 4)}.
Esse conjunto é denominado produto cartesiano de A por B e é indicado por:
A x B, onde x ∈ A e y ∈ B.

2.6 Funções
Seja D um subconjunto não-vazio de números reais. Definir em D uma função
f é explicar uma regra que a cada elemento x∈D faça corresponder um único
número real y.

A=D B = CD

x y

im

O conjunto D é chamado domínio da função f (conjunto de partida). O conjunto


CD é o conjunto de chegada dos elementos, independente daquele que está em
correspondência com algum elemento do domínio; y é o conjunto imagem.
Ex.: y = 2x + 4
y = 3x2 – 4

2.7 Domínio de funções polinomiais simples


O domínio dessas funções sempre será o conjunto dos números reais.
Ex.: f (x)= 3x – 4 ⇒ D=R
f (x)= 3x2 – 9 ⇒ D=R
f (x)= x3 – 4x + 6 ⇒ D=R
• Domínio da função quociente: denominador deve ser diferente de zero.
Exemplo:

1
f (x ) = Þ D=R¹0
x
3
f (x ) = Þ D=R¹ 4
x-4
• Domínio da função raiz quadrada: o radicando deve ser sempre maior
ou igual a zero.
Exemplo:

f ( x ) = x + 3 Þ D = R ³ -3

202  2º PERÍODO • administração • unitins


Aula 2 • matemática aplicada

Existem outros tipos de funções em que o domínio dessas é definido por


diferentes procedimentos; porém, aqui, o mais interessante para o curso são as
funções elementares.

2.8 Função de primeiro grau


Definição
Chama–se função polinomial do 1º grau, ou função afim, qualquer função
f de R em R, dada por uma lei da forma f(x) = ax + b, onde a e b são números
reais dados e a ≠ 0.
Na função f(x) = ax + b, o número a é chamado de coeficiente de x e o
número b é chamado termo constante. Veja alguns exemplos de funções polino-
miais do 1º grau:
f(x) = 7x –3, onde a = 7 e b = –3
f(x) = –4x –7, onde a = –4 e b = –7
f(x) = x, onde a = 1 e b = 0

2.9 Gráfico
O gráfico de uma função polinomial do 1º grau, y = a x + b, com a ≠ 0, é
sempre uma reta. Exemplo:
Vamos construir o gráfico da função y = 3x – 1:
a) Para x = 0, temos y = 3 · 0 – 1 = –1; portanto, um ponto é (0, –1).
b) Para y = 0, temos 0 = 3x – 1; portanto, x = 1/3 e então o outro ponto
é (1/3;0).

x y
0 –1
1/3 0 0 x

Já vimos que o gráfico da função afim y = a x + b é uma reta, onde a é o


coeficiente angular da reta, e b é o coeficiente linear da reta e também o ponto
onde a reta intercepta o eixo y.

unitins • administração • 2º PERÍODO  203


Aula 2 • matemática aplicada

2.10 Zero da função do primeiro grau


Chama-se zero ou raiz da função polinomial do 1º grau f (x) = ax + b, a ⇒
0, o número real x tal que f(x) = 0 como foi visto para a solução de uma equação
do primeiro grau. Temos: f (x) = 0 ⇒ ax + b = 0 ⇒ x = – b / a
Vejamos alguns exemplos:
a) Determinação do zero da função f (x) = 2x – 7:
f(x) = 0 ⇒ 2x – 7 = 0 ⇒ x = 7/2
b) Cálculo da raiz da função g(x) = 3x + 6
g(x) = 0 ⇒ 3x + 6 = 0 ⇒ x = –2
c) Cálculo da abscissa do ponto em que o gráfico de f(x) = –2x + 10 corta
o eixo das abscissas: O ponto em que o gráfico corta o eixo dos x é
aquele em que f(x) = 0; então:
f(x) = 0 ⇒ –2x + 10 = 0 ⇒ x = 5

2.11 Estudo do sinal da função do primeiro grau


Estudar o sinal de uma função qualquer y = f(x), é determinar o valor de x
para os quais y é positivo, os valores de x para os quais y é zero, e os valores
de x para os quais y é negativo.
f(x) = ax + b
y>0

–b/a

++++++++++++++

y<0

f(x) = – ax + b

y>0
–b/a

++++++++++++++

y<0

204  2º PERÍODO • administração • unitins


Aula 2 • matemática aplicada

Exemplo:
a) Estudar o sinal da função f (x) = x – 8, x – 8 = 0 / x = 8, então o sinal
da função será:

++++++++++++++

–b/a = 8

b) Resolver o sistema de equações do primeiro grau:


 x + 2y = 4 (−2) −2x − 4y = −8
 
2x − 3y = −6 2x − 3y = −6

Somando as equações termo a termo teremos:


0x − 7y = −14
−14
y=
−7
y = −2
x + 2y = 4
Substituindo y = 2 na equação acima, teremos:
x + 2 ⋅ (2) = 4
x = 4+4
x =8

c) Encontre a solução gráfica dos seguintes sistemas:


x = 4

x + y = 5

y
x=4

P (4,1)

x
4

x+y=5
S = {(4;1)}

unitins • administração • 2º PERÍODO  205


Aula 2 • matemática aplicada

2.12 Inequações de primeiro grau


Denominamos inequação toda sentença matemática aberta expressa por
uma desigualdade.
As inequações do 1º grau, com uma variável, podem ser escritas em uma
das seguintes formas:
ax + b ≥ 0, ax + b ≤ 0, ax + b > 0 e ax + b < 0
4 x 5 3
3x − 5 ≥ 0, + < 0, 5x − ≤ 0
3 3 4

Exemplo:
3x – 4 > 0 / 3x > 4 / x > 4/3
S={x ∈ R / x > 4 / 3 }

Síntese da aula
Nessa segunda aula, você aprendeu a regra de três, porcentagem e a função
do primeiro grau. Todas essas operações são fundamentais para a construção
de conceitos que envolvem a matemática financeira, estatística, economia, admi-
nistração, além da área da contabilidade.

Atividades

1. Calcule o valor de x nas proporções a seguir:


a) 3, 6, 2 e x
b) 12, 3, 4 e x

2. O valor de x em cada uma das proporções a seguir corresponde a:


32 30
I. =
21 x

a) 19,68 b) 45,71

c) 23,43 d) 35,32

II. 18 = 12
60 x

a) 40 b) 30

c) 45 d) 38

206  2º PERÍODO • administração • unitins


Aula 2 • matemática aplicada

22 30
III. =
13 x

a) 14,45 b) 19,45

c) 14,34 d) 17,72

3. Se, em uma proporção, o produto dos extremos é 30 e o dos meios é 5,


então o valor do outro meio corresponde a:

a) 8 b) 9

c) 15 d) 20

4. Se em uma proporção, o produto dos meios é 36 e um dos extremos é 9,


qual o valor do outro extremo?

a) 7 b) 4

c) 12 d) 18

5. Um poste com 2,50 metros de comprimento foi colocado verticalmente e


produz uma sombra de 75 centímetros (0,75 m). Qual é a altura de um
edifício que, no mesmo instante, projeta uma sombra de nove metros?

a) 30m b) 24m

c) 40m d) 18m

6. Três trabalhadores constroem 36 m2 de piso por dia. Se, ao invés de


três, fossem cinco trabalhadores nas mesmas condições, quantos metros
quadrados de piso eles fariam em um dia?

a) 48m2 b) 60m2

c) 25m2 d) 42m2

7. O salário de um trabalhador, em março de 2007, era de R$ 2.000,00, e


em 2008, sofreu um reajuste de 25%. O valor do novo salário será de:

a) R$ 2.500,00
b) R$ 2.250,00
c) R$ 1.500,00
d) R$ 2.800,00

unitins • administração • 2º PERÍODO  207


Aula 2 • matemática aplicada

8. Em 2006, o dólar sofreu uma valorização de 10%, passando a custar


R$  2,35. Um turista havia comprado 1.000,00 dólares para sair do país,
antes dessa valorização. Quanto ele gastou?
a) R$ 2,90
b) R$ 2,20
c) R$ 2,58
d) R$ 2,15

9. Determinar o domínio das funções a seguir:

a) f ( x ) = 3x − 20 b) f ( x ) = 3x 4 − 2x + 4

2 2
c) f ( x ) = d) f ( x ) =
2x − 6 5x − 15
2
e) f(x) = 4x − 20 f) f ( x ) =
2x + 10

4 4
g) f ( x ) = h) f ( x ) =
5x − 7 4x + 36

10. O valor da solução de cada uma das expressões abaixo corresponde a:

I. 2 x – 5 = 9

a) 6 b) 7 c) 8 d) 5

II. 4x + 5 = x – 7

a) –4 b) 4 c) 14 d) 2

III. – 3x + 4 = 7x + 4

a) –1 b) 2 c) 1 d) 0

IV. – 4 – 3 ( 3x + 2 ) = x – 4

a) 4/3 b) 1/4 c) – 3/5 d) 2/5

11. Dadas as funções a seguir, determinar o gráfico e o zero ou raiz:


a) f (x) = x + 4;
b) f (x) = – x + 4;
c) f (x) = 2x + 3;
d) f (x) = – 3x – 1;

208  2º PERÍODO • administração • unitins


Aula 2 • matemática aplicada

12. Assinalar a solução das inequações a seguir:


I. 2x − 3 ≥ 5
a) x ≥ 4 b)x > 4 c)x ≤ 4 d)x < 4

II. − 2x + 5 ≥ 3
a) x ≥ −2 b) x > 4 c) x ≤ 1 d) x < 0

III. − 5x + 2 > 3
1 3 4
a) x ≥ 8 b) x > − c) x ≤ d) x <
5 2 3

Comentário das atividades


Todas as atividades inclusas nessa aula refletem, incisivamente, os objetivos
propostos inerentes às proporções, porcentagem com as atividades de um a
oito, e no estudo das funções com as atividades de nove a doze. Os sistemas de
equações e as inequações foram abordados de forma simples e objetiva com o
intuito de aplicação de funções como em ponto de equilíbrio, curva de oferta e
demanda de mercado.
Assim, as respostas corretas são:
Atividade um: x=4 e x=1
Atividade dois: I – (a); II – (a); III – (d).
Atividade três: letra (a).
Atividade quatro: letra (b).
Atividade cinco: letra (c).
Atividade seis: letra (b).
Atividade sete: letra (a).
Atividade oito: letra (c)
Atividade nove: letra (a) D = R; letra (b) D = R; letra (c) D = R # 3; letra (d) D =R#
3; letra (e) D = R ≥ 5; letra (f) D = R > – 5; letra (g) D = R # 7/5; letra (h) D = R
# – 9.
Atividade dez: I – (b); II – (a); III – (d); IV – (c).
Atividade onze: a) x= – 4; b) x= 4; c) x= –3/2; d) –1/3
Atividade doze: I – (a); II – (c); III – (b).

Referências
WEBER, Jean E. Matemática para Economia e Administração. 2. ed. São Paulo:
Harbra, 2001.
GIOVANNI, José Ruy et al. A Conquista da Matemática: a + nova. São Paulo:
FTD, 2007.

unitins • administração • 2º PERÍODO  209


Aula 2 • matemática aplicada

Na próxima aula
Na próxima aula, você irá relembrar como se define e resolve função e
equação do segundo grau, função exponencial e logarítmica. Todos estes temas
são relevantes na solução de problemas aplicados à economia, contabilidade
e administração. Encontramos aplicações em situações na matemática finan-
ceira como o cálculo da parcela de tempo em financiamentos, com o auxílio de
propriedades dos logaritmos e soluções gráficas das curvas de demanda, oferta,
preço de equilíbrio, etc.

Anotações






























210  2º PERÍODO • administração • unitins


Aula 3 • matemática aplicada

Aula 3
Função e equação do segundo grau,
função exponencial e logarítmica

Objetivos
Esperamos que, ao final desta aula, você seja capaz de:
• definir, algebricamente e graficamente, a função do segundo grau;
• introduzir as funções exponencial, logarítmica e as propriedades
operatórias.

Pré–requisitos
Para que você possa atingir os objetivos propostos nessa aula, é necessário que
você tenha compreendido a resolução das equações de primeiro grau e também a
representação de pontos, no plano cartesiano, e as construções gráficas.

Introdução
No campo da matemática, as aplicações desse modelo de função abrangem
várias áreas do conhecimento humano. Na engenharia, por exemplo, temos a apli-
cação em cálculos de estruturas e também em cálculo de áreas. Na física, lançamento
de projéteis, no estudo da dinâmica da partícula e, na área de economia e adminis-
tração, em oferta de mercado, receita total, preço de equilíbrio, entre outras.
Nessa aula, o foco principal do nosso estudo se concentra nos conhecimentos
básicos da definição e nas propriedades fundamentais que as governam.
Evidentemente, o estudo dessa função é muito importante e, no decorrer do
nosso curso, devemos salientar a importância dessa função para que os nossos
horizontes, em nível de aplicação da função quadrática, sejam alargados com
aplicações diretas na matemática financeira e em economia.

3.1 Equação do segundo grau


É uma equação do tipo ax² + bx + c = 0, com coeficientes numéricos a, b e
c e com a ≠ 0. Exemplos:
x² + 2x + 1 = 0 5x – 2x² – 1 = 0

unitins • administração • 2º PERÍODO  211


Aula 3 • matemática aplicada

Classificação
Incompletas: Se um dos coeficientes (b ou c) for nulo, temos uma equação
do 2º grau incompleta.
1º caso: b = 0 Solução
x² = 9
Ex.: x² – 9 = 0 x = +3 e x = – 3

2º caso: c = 0 Solução
x (x – 9) = 0
Ex.: x² – 9x = 0 x=0ex=9

3º caso: b = c = 0 Solução
2x² = 0
Ex.: 2x² = 0 x=0

3.2 Resolução de equações do segundo grau completas


A resolução de equações do 2º grau incompletas foi mostrada anteriormente.
Vamos agora resolver equações do 2º grau completas, ou seja, do tipo ax² + bx
+ c = 0 com a, b e c diferentes de zero. Uma equação do 2º grau pode ter até
duas raízes reais, que podem ser determinadas pela fórmula de Bháskara.

−b ± D
x= onde D = b2 − 4 ⋅ a ⋅ c
2 ⋅ a

Exemplos resolvidos

a) 3x² – 7x + 2 = 0 Substituindo na fórmula:


a = 3, b = – 7 e c = 2 b ± D 7 ± 25 7 ± 5
x= = =
D=b –4ac
2 2a 6 6
12 2 1
D = (–7)² – 4.3.2 = 49 – 24 = 25 x′ = =2 x '' = =
6 6 3
S = { 2, 1/3}

b) – x² + 4x – 4 = 0 Substituindo na fórmula:
a = – 1, b = 4 e c = – 4 b± D 4± 0 4±0
x= = =
D = 4² – 4.( – 1).( – 4) = 16 – 16 = 0 2a −2 −2
4
x′ = x '' = = −2
−2
S = { – 2}

212  2º PERÍODO • administração • unitins


Aula 3 • matemática aplicada

c) 5x² – 6x + 5 = 0
a = 5; b = – 6; c = 5
D= ( – 6)² – 4.5.5 = 36 – 100 = – 64

Note que D < 0 e não existe raiz quadrada de um número negativo. Assim,
a equação não possui nenhuma raiz real. Logo: S = { }.

3.3 Função do segundo grau

Definição
Chama-se função quadrática, ou função polinomial do 2º grau, qualquer
função f de R em R dada por uma lei da forma f(x) = ax2 + bx + c, onde a, b e c
são números reais e a ≠ 0. Vejamos alguns exemplos de funções quadráticas:
a) f (x) = 2x2 – 5x + 1, onde a = 2, b = – 5 e c = 1;
b) f (x) = x2 – 4, onde a = 1, b = 0 e c = – 4;
c) f (x) = x2 + 3x + 5, onde a = 1, b = 3 e c = 5;
d) f (x) = – x2 + 3x, onde a = – 1, b = 3 e c = 0;
e) f (x) = – x2, onde a = – 1, b = 0 e c = 0 .

Gráfico
O gráfico de uma função polinomial do 2º grau, y = ax2 + bx + c, com
a ≠ 0, é uma curva denominada parábola. Exemplo:
Vamos construir o gráfico da função y = x2 + x.

y
8

(-3, 6) 6
(-2, 6)
x y = x2 + x
-2 2
4
-1 0
0 0
2
1 2 (-2, 2) (1, 2)
2 6
0
(–1, 0) (0, 0) x

_ 1,_1
2 4

unitins • administração • 2º PERÍODO  213


Aula 3 • matemática aplicada

Observação:
• se a > 0, a parábola tem a concavidade voltada para cima;
• se a < 0, a parábola tem a concavidade voltada para baixo.

Zeros ou raízes da equação do 2º grau


Chamam-se zeros ou raízes da função polinomial do segundo grau do tipo
f(x)=ax2+bx+c, com a≠ 0, os números reais x tais que f (x)=0. Determinação das
raízes através da fórmula de Bháskara. Exemplo:
Dada a equação f(x)=3x2–7x+2, determinar suas raízes.

−b ± b2 − 4ac
f ( x ) = 0 ⇒ ax 2 + bx + c = 0 ⇒ x =
2a

− (−7 ) ± 7 2 − 4 ⋅ 3 ⋅ 2 7 ± 25 7 ± 5
x= ⇒ x= = ⇒
2 ⋅ 3 6 6

1
2
x' = ⇒ x '' = 3
6 x' = 2

Observação: número de raízes.


• Se D > 0, positivo, há duas raízes reais e distintas.
• Se D = 0, zero, há duas raízes reais e iguais.
• Se D < 0, negativo, não existirá raiz real.

Coordenadas do vértice da parábola (V)


Quando a > 0, a parábola tem concavidade voltada para cima e um ponto de
mínimo V ou quando a < 0, a parábola tem concavidade voltada para baixo e um
ponto de máximo V. Em qualquer caso, as coordenadas de V são  − b , − D  .
 2a 4a 
Veja os gráficos: 
y y
a>0 – ∆
4a
0
– b x
2a

– b
2a
0 x
– ∆ a<0
4a

214  2º PERÍODO • administração • unitins


Aula 3 • matemática aplicada

Imagem
O conjunto–imagem Im da função y = ax2 + bx + c, a ≠ 0 é o conjunto dos
valores que y pode assumir. Há duas possibilidades:
a) quando a > 0.

Im = {
y ∈ R / y ≥ yV =
−D
4a }
Y

0 X x

b) quando a < 0.

y
0 X x

Im = {
y ∈ R / y ≤ yV =
−D
4a }

Sinal da função do segundo grau


Consideremos uma função quadrática y = f(x) = ax2 + bx + c e determinemos
os valores de x para os quais y é negativo; e os valores de x para os quais y é
positivo. Conforme o sinal do discriminante D = b2 - 4 × a × c , podem ocorrer
os seguintes casos:
I) a > 0
Nesse caso, a função quadrática admite dois zeros reais distintos (x1 ≠ x2). A
parábola intercepta o eixo Ox em dois pontos e o sinal da função é o indicado
nos gráficos a seguir:

unitins • administração • 2º PERÍODO  215


Aula 3 • matemática aplicada

a) ∆ > 0

y > 0 ⇔ (x < x1 ou x > x 2 )


y < 0 ⇔ x1 < x < x 2
y = 0 ⇔ x = x1 = x 2
y>0 y>0
0 x1 y<0 x2 x

b) ∆ = 0
a>0

y < 0 ⇔ Não existe


y > 0 ⇔ x1 < x < x 2
y>0 y>0 y = 0 ⇔ x = x1 = x 2

0 x1 = x2 x

c) ∆ < 0

y>0
0 x

216  2º PERÍODO • administração • unitins


Aula 3 • matemática aplicada

II – a < 0

a) ∆ < 0

y
x1 y>0 x2
0 x
y<0 y<0
y < 0 ⇔ (x < x1 ou x > x 2 )
y > 0 ⇔ x1 < x < x 2
y = 0 ⇔ x = x1 = x 2

b) ∆ = 0

y x1 = x2
0 x
y<0 y<0
y < 0 ⇔ ∀x ≠ x1 e x 2
y > 0 ⇔ ∃x ∈ R
y = 0 ⇔ x = x1 = x 2

c) ∆ < 0

0 y<0 x

y > 0 ⇔ ∀x ≠ x1 e x 2
y < 0 ⇔ ∃x ∈ R
y = 0 ⇔ ∃x ∈ R

unitins • administração • 2º PERÍODO  217


Aula 3 • matemática aplicada

Inequações do segundo grau


Para determinar o conjunto solução das inequações do segundo grau
descritas a seguir, devemos observar quais os valores reais que satisfazem a
condição de existência de cada uma das sentenças matemáticas abertas.

ax 2 + bx + c > 0 ax 2 + bx + c < 0

ax 2 + bx + c ³ 0 ax 2 + bx + c £ 0

Exemplo:
x2 – 5x + 6 > 0
5 ± 25 − 24
x=
2
5 ±1
x= ⇒ x ' = 3 e x '' = 2
2

Estudar o sinal da função


Obs.: duas raízes reais e distintas.

++++++++++++++ ++++++++++++++

2 4

Então a função será positiva em dois lugares:


em x < 2 e x > 4 ou 2 > x > 4 que é a solução da inequação.

3.4 Função exponencial e logarítmica


As funções exponenciais e logarítmicas são ferramentas importantes na reso-
lução de algumas variáveis, em equações da matemática financeira e em estatís-
tica, que estão presentes na estrutura curricular da administração e das ciências
contábeis.
Função exponencial
Dado um número real a (a > 0 ≠ 1), denomina–se função exponencial de
*
base a uma função f de R em R+ definida por f ( x ) = ax ou y = ax. Exemplos:
f ( x ) = 3x

f ( x ) = ( 0,5 )x
x
æ 1ö
f (x ) = ççç ÷÷÷
è 3ø

218  2º PERÍODO • administração • unitins


Aula 3 • matemática aplicada

Representação gráfica:
a) f ( x ) = 2x

y
X f(x)=2 x

–1 1/2

0 1

1 2
(0;1)
2 4
x
3 8

x
æ 1ö
b) f (x ) = ççç ÷÷÷
è 2ø

x
y
æ 1ö
X f (x ) = ççç ÷÷÷
è 2ø
–1 2

0 1

1 1/2 (0;1)

2 1/4
x
3 1/8

Considerações importantes:
• o gráfico é uma curva exponencial que passa por (0; 1);
• o domínio da função é R;
• a imagem é R*+ ;
• o gráfico não intercepta o eixo x;
• quando “a” > 1, a função é crescente;
• quando o 0 < a < 1, a função é decrescente.
Exemplo:
Chama-se montante (N) a quantia que uma pessoa deve receber após
aplicar um capital C, a juros compostos a uma taxa i durante um período n. O
montante pode ser calculado pela fórmula N = C (1+i)n. Supondo que o capital

unitins • administração • 2º PERÍODO  219


Aula 3 • matemática aplicada

aplicado é de R$ 200.000,00, a uma taxa de 12% ao ano, durante três anos,


qual o montante do final da aplicação?
Resolução:
C = 200.000,00
i = 12% ao ano ou 0,12
n = três anos
N = 200000 x (1,12)3 = 280.958,60
• Logaritmo de um número
Observe:
Se 2x = 8 Þ 2x = 23 Þ x = 3 , então podemos dizer que Log 82 = 3

Definição
Dados os números reais positivos a e b, com a ≠ 1, se b = ac, então o expo-
ente c chama–se logaritmo de b na base a. Exemplo:
32
Log 2 = x Û 2x = 32 Û 2x = 25 Û x = 5

Condição de existência de logaritmos


ìïN > 0
Log Na ïí
ïïîa > 0 e a ¹ 1

Propriedades operatórias
a) Logaritmo de um produto

Log (a )
M × N
= Log aM+ Log Na

Log (5 × 7) = Log5 + Log7

b) Logaritmo de um quociente
M
N
Log a = Log aM - Log Na

æ7ö
Log ççç ÷÷÷ = Log7 - Log3
è 3ø

c) Logaritmo de uma potência


N
Log aM = N × Log aM

Log57 = 7 × Log5

220  2º PERÍODO • administração • unitins


Aula 3 • matemática aplicada

3.5 Função logarítmica


A inversa da função exponencial de base a é a função Log ax : R*+ ® R , que
associa a cada número real positivo x o número real Log ax , chamado logaritmo
de x na base a, com a real, positivo e diferente de 1. Exemplos:
a) f (x ) = Log 2x
b) f (x ) = Log x1
2

Representação gráfica:
a) construir o Gráfico da f (x ) = Log 2x
y
x y = f(x)

1/4 -2

1/2 -1
(1;0)
1 0 x
2 1

4 2

b) construir o Gráfico da f (x ) = Log x1


2
y
x y = f(x)

1/4 2

1/2 1
(1;0)
1 0 x
2 -1

4 -2

Considerações importantes:
• o gráfico da função logarítmica passa pelo ponto (1; 0);
• o gráfico nunca toca o eixo y;
• se a > 1 a função é crescente;
• se 0 < a < 1 a função é decrescente;
• o domínio é R*+ ;
• a imagem é R.

unitins • administração • 2º PERÍODO  221


Aula 3 • matemática aplicada

Síntese da aula
Nessa aula, vimos a função quadrática e suas implicações, e definição das
funções exponencial e logarítmica, com suas conseqüências e propriedades.
Aprendemos, também, a construção gráfica dessas funções para possibilitar e
auxiliar a leitura e interpretação de dados.

Atividades

1. Identificar quais funções abaixo representam uma função do segundo grau:

a) f (x ) = x 2 + 3x – 10 b) f (x ) = - 3x 2 + 10

3
c) f (x ) = 4x 3 + x d) f (x ) = - x 4
4
1 2
e) f (x ) = x
2

2. As raízes e o vértice da função a seguir correspondem a:


f (x ) = x 2 - x - 20

a) (5; – 4) e (1/2, – 81/4)

b) (– 4, – 5) e (–1/2, – 81/4)

c) (5; 4) e (1/2 , 81/4)

c) (5; 4) e (1/2 , 81/4)

3. O gráfico da função do segundo grau corresponde a uma curva cuja forma


corresponde a:
a) uma reta;
b) uma parábola cúbica;
c) uma curva exponencial;
d) uma parábola.

4. O valor do logaritmo Log 327 equivale a:

a) 4 b) 2 c) 3 d) 5

5. O valor do logaritmo Log 125


5 corresponde a:

a) 4 b) 2 c) 3 d) 5

222  2º PERÍODO • administração • unitins


Aula 3 • matemática aplicada

8
27
6. Na resolução da expressão logarítmica Log 2 a solução é:
3

a) 4 b) 2 c) 3 d) 5

7. Utilizando as propriedades operatórias dos logaritmos, o desenvolvimento


2 × x4
da expressão S = corresponde a:
x × y

a) LogS = Log2 + 4 Log x - Log x - Log y

b) LogS = Log2 + 4 Log x - Log x + Log y

c) LogS = Log2 - 4 Log x + Log x - Log y

d) LogS = Log2x - Log x - Log y

Comentário das atividades


Na atividade um, as funções que conferem a função do segundo grau são
as alternativas (a), (b) e (e) que satisfazem a condição da variável apresentar o
expoente maior igual a dois, enquanto que, nas demais alternativas, os expo-
entes são diferentes de dois.
Na atividade dois, a opção correta é a (a), relativo às raízes e ao vértice
da função.
Na atividade três, o gráfico que representa a função do segundo grau
corresponde a uma parábola.
Nas atividades quatro, cinco e seis, as respostas corretas são exclusivamente
a alternativa (c), com valor igual a três, resultado obtido apenas com a aplicação
da definição de logaritmos.
Na atividade sete, a alternativa (a) é a que representa o desenvolvimento da
expressão, na utilização das propriedades operatórias.
No processo construtivo da resolução dos problemas apresentados, o acadê-
mico, certamente, consolidou os objetivos propostos, definiu algebricamente a
função do segundo grau e introduziu as funções exponencial, logarítmica e as
propriedades operatórias.

Referência
SILVA, Sebastião Medeiros. Matemática: economia, administração, ciências
contábeis. 4. ed. São Paulo: Atlas, 1997.

unitins • administração • 2º PERÍODO  223


Aula 3 • matemática aplicada

Na próxima aula
Progressão aritmética, progressão geométrica, demanda e oferta de mercado
são os assuntos a serem abordados na próxima aula. As seqüências são impor-
tantes em aplicações da matemática financeira, nas séries de pagamentos anteci-
pados e séries de pagamentos postecipados, que em breve estaremos estudando
na disciplina de matemática financeira. A demanda e oferta de mercado já se
enquadram em aplicações dos conteúdos já trabalhados nas primeiras duas
aulas, como as funções do primeiro e segundo graus.

Anotações































224  2º PERÍODO • administração • unitins


Aula 4 • matemática aplicada

Aula 4
Progressões aritméticas e geométricas,
demanda e oferta de mercado

Objetivos
Esperamos que, ao final desta aula, você seja capaz de:
• recordar a soma dos termos de uma seqüências numérica;
• interpretar graficamente a demanda e a oferta de mercado como aplica-
ções das funções do primeiro e segundo graus.

Pré–requisitos
Para que você possa atingir os objetivos propostos nessa aula, é muito impor-
tante que tenha compreendido o estudo das operações, equações do primeiro
grau e do segundo grau.

Introdução
Existem vários tipos de seqüências numéricas que poderíamos estudar,
mas, nessa aula, daremos uma atenção especial a apenas duas delas. Como o
próprio título desta aula sugere, iremos recordar os conceitos das progressões
aritméticas (P.A.) e geométricas (P.G.), com um objetivo muito importante e bem
definido: aplicar esses conceitos na matemática financeira.
Nessa aula, além de conceituar P.A. e P.G., vamos trabalhar com as equações da
soma dos termos finitos dessas progressões. A progressão aritmética está diretamente
ligada à definição de juros simples, e a progressão geométrica nos ajuda a definir
juros compostos, mas isso é assunto para outra disciplina: a Matemática Financeira.
As aplicações e a determinação da demanda de mercado e oferta de mercado
de bens e serviços são fatores integrantes das decisões a serem tomadas em
organizações empresariais. Tais aplicações envolvem, diretamente, conceitos já
vistos, como funções de primeiro e segundo graus nas formas algébricas, como
também em formas gráficas, visando à sua aplicação.
Neste tema, trabalharemos a aplicabilidade das funções de primeiro e
segundo graus, tanto na forma algébrica quanto na gráfica.

unitins • administração • 2º PERÍODO  225


Aula 4 • matemática aplicada

4.1 Progressão aritmética


É uma seqüência numérica, em que cada termo, a partir do segundo, é o
anterior mais uma constante. Ou seja, a diferença entre cada termo, com o ante-
rior é um valor constante, que iremos chamar de razão (r).
Podemos ver a seguir alguns exemplos de progressão aritmética:
(2, 5, 8,11, 14, 17, 20) P.A. crescente
(10, 8, 6, 4, 2, 0) P.A. decrescente
Para escrevermos a equação do termo geral da P.A, vamos, antes,
definir os termos que compõem essa equação, para continuar nosso estudo.
O primeiro termo da sequência é definido como a1 e o último termo como
an, e n é a quantidade de termos; portanto, a equação do termo geral da
P.A. será:

an = a1 + (n -1) × r

4.2 Soma dos termos de uma P.A.


A soma dos termos de uma P.A. finita é a média aritmética simples entre o
primeiro e o último termo, multiplicado pelo número de termos, então:

(a1 + an )
Sn = × n
2

Exemplos:
a) encontrar o vigésimo termo da P.A. (5, 8, 11, ...).

an = a1 + (n -1) × r
a20 = 5 + (20 -1) × 3
a20 = 5 + 57
a20 = 62

b) calcular a razão de uma P.A. de 15 termos, sendo o primeiro termo


igual a 48 e o último igual a 118.

an = a1 + (n -1) × r an - a1 = (n -1) × r

an - a1 118 - 48 70
r= r= = =5
(n -1) 15 -1 14

226  2º PERÍODO • administração • unitins


Aula 4 • matemática aplicada

c) encontrar a soma de uma P.A. que representa os 40 primeiros números


naturais pares:

(a1 + an )
an = a1 + (n -1) × r Sn = × n
2
a40 = 2 + (40 -1) × 2 (2 + 80)
S 40 = × 40
a40 = 2 + 78 2
a40 = 80 Sn = 41 × 40 = 1640

4.3 Progressão geométrica


É uma seqüência numérica, em que cada termo, a partir do segundo, é o
anterior vezes uma constante. Ou seja, o quociente entre cada termo, com o
anterior, é um valor constante, que iremos chamar de razão (q).
Podemos ver a seguir alguns exemplos de progressão geométrica:
(3, 6, 12, 24, 48) P.G. crescente
(8, 4, 2, 1, 1/2,1/4) P.G. decrescente
(1, – 3, 9, – 27, 81) P.G. oscilante
Para escrevermos a equação do termo geral da P.G., vamos utilizar os
mesmos termos definidos na P.A., com a diferença apenas da letra que designa
a razão (q); portanto, a equação do termo geral da P.G. será:

an = a1 × qn-1

4.4 Soma dos termos de uma P.G.


A soma dos termos de uma P.G. finita é definida conforme a equação
abaixo:

1- qn
Sn = a1 ×
1- q

Exemplos:
a) calcular o sexto termo da P.G. (27, 135, 675,...)

an = a1 × qn-1
a6 = 27 × 56-1
a6 = 27 × 3125
a6 = 84375

unitins • administração • 2º PERÍODO  227


Aula 4 • matemática aplicada

b) o primeiro termo de uma P.G. é 4, a sua razão também é 4, e o último


termo é 16777216. Encontrar o número de termos dessa P.G.:

an = a1 × qn -1
16777216 = 4n
16777216 = 4 × 4n- 1 log 4n = log16777216
16777216 = 41+n n × log 4 = log16777216
16777216 = 4n log16777216
n=
log 4
n = 12

c) calcular a soma de uma P.G., cujo primeiro termo é igual a 9, a razão


é igual a 5 e o número de termos é igual a 10.

1- qn
Sn = a1 ×
1- q
1- 510
S10 = 9 ×
1- 5
S10 = 21972654

4.5 Demanda de mercado


Vamos considerar U como sendo uma utilidade qualquer (bem ou serviço)
e D, a demanda ou procura de mercado por um preço P, isto é, a soma das
quantidades que o universo de todos os compradores disponíveis que estão
procurando para adquirir a um preço P, em um determinado período de tempo,
que pode variar de um dia até outro período maior a ser definido.
A equação de demanda mais simples é linear e pode ser escrita na forma

D = P0 + m P, com m < 0.

Obs. 1: quando nos referimos à demanda ou procura, estamos nos referindo ao


universo total de pessoas ou ao mercado e não a um comprador individual.
Obs. 2: a função que a todo preço P está associada à demanda ou procura
de mercado ao preço P, denominamos de função demanda ou função procura
de mercado da utilidade em um, certo período.
Obs. 3: a representação gráfica da função constitui o que chamamos de
curva de demanda ou curva de procura de bens ou serviços.
A função dada por D = 45 – 5P;
P é o preço por unidade do bem ou serviço;
D é a demanda de mercado.

228  2º PERÍODO • administração • unitins


Aula 4 • matemática aplicada

a) Cálculo do intervalo da variação de P:


D >0 então 45 – 5P > 0 ⇒ P < 9 ⇒ ] 0, 9 [

b) Variação do intervalo de D:
45 - D
isolar P na equação D = 45 – 5P aí teremos P = .
5
45 - D
Porém, o P é positivo e teremos então > 0 , isto é, D < 45
5
portanto, o D varia no intervalo ] 0, 45 [.
c) Gráfico: o gráfico é uma reta.

45 D = 45 – 5P
(Demanda)
D

P
P 9

Obs.: o gráfico é um segmento de reta que une os pontos (P, D) = (0, 45) e
(P, D) = (9, 0) não incluindo–os, evidentemente.

4.6 Oferta de mercado


Vamos, inicialmente, considerar um bem ou serviço onde S é a oferta de
mercado deste bem ou serviço, cujo preço é P, isto é, a soma das quantidades
que todos os produtores estão prontos a vender por um preço P, durante um
determinado intervalo de tempo.
Obs. 1: quando nos referimos a uma oferta, é a oferta de todos os produ-
tores do bem ou serviço.
Obs. 2: o intervalo de tempo é todo o tempo de oferta de um determinado
bem ou serviço.
A função que a todo preço P associa a oferta de mercado ao preço, P é
denominada função oferta de mercado da utilidade, no período desejado. O
gráfico dessa função representa a curva de oferta do bem ou do serviço em um
determinado intervalo de tempo.

unitins • administração • 2º PERÍODO  229


Aula 4 • matemática aplicada

1
A função determinada pela relação S = -5 + P , com 10 < P < 20, onde
2
P é o preço por unidade e S é a correspondente oferta de mercado.

S
1
S = -5 + P
2

5 10 < P < 20

S>0

10 20

–5

Obs.: podemos representar o gráfico com os eixos invertidos.

Síntese da aula
Trabalhamos e fundamentamos os conceitos básicos das progressões arit-
méticas e progressões geométricas necessárias ao desenvolvimento das séries
de pagamentos da disciplina de matemática financeira, que será trabalhada
no próximo semestre. Outros temas abordados foram a demanda e a oferta
de mercado dentro da ótica matemática; a importância destes conceitos são
necessários à economia cuja área tem importância significativa nas áreas da
administração e contábeis.

Atividades

1. A razão da seqüência em P.A. (1; 4/3; 5/3 ; 2; ...), corresponde a:

a) 2/3 b) 1/3 c) 4/3 d) –1/3

2. O valor do 20º termo da P.A. (2, 8, ...) corresponde a:

a) 88 b) 98 c) 116 d) 118

3. O número de termos da P.A. finita (– 2, 3,..., 43) é:

a) 10 b) 13 c) 8 d) 9

230  2º PERÍODO • administração • unitins


Aula 4 • matemática aplicada

4. O primeiro termo da P.A., cuja razão vale 3, sabendo que a7 = 21, corres-
ponde a:

a) 1 b) 3 c) 5 d) –4

5. O valor do 20º termo da P.A. (2x – y, 3x, ...) corresponde a:

a) x – 4y b) 21x – 18y c) 21x + 18y d) 4x – 7y

6. Em uma P.A., o quinto termo vale 30 e o vigésimo vale 50. Quanto vale o
oitavo termo dessa progressão?

7. A soma dos 50 primeiros termos da P.A. (2; 6;...) equivale a:

a) 4000 b) 13.000

c) 8000 d) 5000

8. Determine a soma dos n primeiros termos da P.A. (2n + 1; 2n + 3;...).

9. O 7º termo da P.G. (2; 4;...) corresponde a:

a) 256 b) 128 c) 32 d) 48

10. A soma dos dez primeiros termos de uma P.G., na qual o 1º termo é a1=10
e a razão é q=2, corresponde a:

a) 10.240 b) 1333 c) 833 d) 9333

11. Quantos termos devemos considerar na P.G. (3; 6; ...) para obter uma soma
igual a 765?

a) 19 b) 14 c) 8 d) 22

12. A função S = P2 – 2P – 8 com P ≤ 6, onde P é o preço por unidade e S é a


oferta de mercado correspondente. Defina, graficamente, a curva de oferta
de mercado.

13. Representar, graficamente, as ofertas de mercado das funções a seguir:

a) S = – 200 + 10 P , P ≤ 50

b) S = –10 + P / 2, para P ≤ 40

Comentário das atividades


Na atividade um, a resposta de 1/3 foi obtida estabelecendo a relação da
diferença entre um termo e o seu antecessor, para se chegar à razão da P.A.

unitins • administração • 2º PERÍODO  231


Aula 4 • matemática aplicada

Na atividade dois, a solução é 116, valor obtido com a aplicação da fórmula


do termo geral.
Na atividade três, a alternativa correta é a (c), obtida com a aplicação da
equação do termo geral.
Na atividade quatro, a opção correta é a (b). Na atividade cinco, a alterna-
tiva correta é a (c).
A atividade seis é uma questão subjetiva e foi necessário a utilização da
fórmula do termo geral para a resolução.
Nas atividades sete e oito, a resolução obtida utilizou a equação da soma
dos termos de uma P.A.
No conteúdo que envolveu P.G., na atividade nove, a solução correta é a
alternativa (b), obtida com a aplicação da equação do termo geral de uma P.G.
Nas atividades 10 e 11, houve a aplicação da equação da soma dos termos
de uma P.G., para se chegar as respostas.
Nas atividades 12 e 13, a equação utilizada é a equação do termo geral
de uma P.G.
As atividades dois, três, quatro e cinco possibilitaram o alcance do objetivo
de recordar a soma dos termos de uma seqüência numérica. Já as demais ativi-
dades lhe deram a oportunidade de interpretar graficamente a demanda e a
oferta de mercado como aplicações das funções do primeiro e segundo graus.

Referências
BELLOTTO FILHO, Antonio; GRECO, Antonio Carlos; SANTOS, Carlos Alberto et
al. Matemática para o 2º Grau. São Paulo: Ática, 1998.
GIOVANNI, José Ruy; BONJORNO, José Roberto. Matemática: uma nova abor-
dagem. São Paulo: FTD, 2000.

Na próxima aula
Na próxima aula, abordaremos o preço de equilíbrio, receita total, custos
totais e ponto de nivelamento relativo a um bem ou serviço. Tais conceitos apre-
sentam aplicações diretas nas instituições que produzem bens ou prestam serviços
a diferentes instituições.

Anotações


232  2º PERÍODO • administração • unitins


Aula 5 • matemática aplicada

Aula 5
Preço de equilíbrio, receita total,
custo total e ponto de nivelamento

Objetivos
Esperamos que, ao final desta aula, você seja capaz de:
• calcular a receita total e custo total de um bem ou serviço;
• determinar o ponto de nivelamento entre as funções receita total e a
venda de um bem ou serviço.

Pré–requisitos
As compreensões destes temas se completam diante dos conhecimentos
prévios de funções, do primeiro e segundo graus, operações fundamentais e
os conceitos de demanda e oferta de mercado, para efetivar leituras e análises
gráficas e proporcionar condições para calcular.

Introdução
A determinação do preço de equilíbrio envolve diretamente a lei de mercado,
isto é, a lei da oferta e procura.
A descrição, através do cálculo do ponto de equilíbrio entre a quantidade
demandada de um determinado produto, iguala–se à quantidade de oferta do
mesmo, em um mercado.
A informação do cálculo da receita total está atrelada à quantidade produ-
zida de um determinado produto ou bem, onde os custos para tal processo são
determinantes para a decisão da empresa.
O ponto de equilíbrio entre a quantidade demandada de um determinado
produto iguala-se à quantidade de oferta do mesmo, em um mercado.
A determinação final dos custos de produção de determinado produto
associa–se a condições favoráveis ou não, para que esse produto possa ser
disponibilizado no mercado ou não.
O cálculo do custo total da produção de um determinado bem está diretamente
envolvido com conceitos vistos anteriormente, como o estudo das funções que no
momento surgem novamente envolvidas em aplicações na área administrativa.

unitins • administração • 2º PERÍODO  233


Aula 5 • matemática aplicada

5.1 Preço de equilíbrio (PE)


Diz-se que o preço de equilíbrio de mercado ocorre em um determinado
ponto, em que a quantidade demandada de um certo produto iguala-se à quan-
tidade ofertada.
Algebricamente, a quantidade e o preço de equilíbrio são encontrados resol-
vendo-se, simultaneamente, as equações de oferta e de demanda.
Obs.: para existir um equilíbrio significativo, é importante que as curvas se
interceptem no primeiro quadrante, isto é, P e D devem ser positivos ou, no
máximo, iguais a zero.

5.2 Quantidade de equilíbrio (QE)


A quantidade correspondente ao preço de equilíbrio é denominada quanti-
dade de equilíbrio.

5.3 Receita total


Vamos considerar que um bem ou serviço com preço de venda por unidade seja
um preço fixo Po, para uma determinada quantidades entre q1 e q2 unidades.
A função definida por RT = Po . q, com q1 ≤ q ≤ q2 denomina-se receita total
ou função receita total.

5.4 Custo total


Dadas as tabelas a seguir, analisaremos o custo de produção de um deter-
minado produto.
Notações: CT – Custo total
q – quantidades
Tabela 1
Q CT
0 40
50 140
100 240
150 340
200 440
250 540
300 640
350 740
400 840
450 940
500 1040

234  2º PERÍODO • administração • unitins


Aula 5 • matemática aplicada

Tabela 2
Q CT
0 5
1 5,5
2 7,5
3 8,5
4 9,0
5 9,5
6 10
7 12,5
8 13
9 13,5
10 14

Tabela 3
Q CT
0 0
1 164
2 272
3 348
4 416
5 500
6 624
7 812
8 1088
9 1476
10 2000
Em cada uma das tabelas acima, estão indicados os custos totais de produção
(CT) em relação às quantias despendidas na produção de quantidades variáveis
de três produtos, bens ou serviços.
Observe o gráfico da tabela 1, cuja equação é CT = 40 + 2q, que é uma
equação do primeiro grau.
CF, CV, CT CT = 40 + 2q (custo total)
1040
940
840
740 Cv = 2q (custo variável)
640
540
440
340 CT = CF + CV
240
140
40 CF = 40 (custo fixo)

50 100 150 200 250 300 350 400 450 500 q

Função custo total ⇒ CT = 40 + 2 q com 0 ≤ q ≤ 500.

unitins • administração • 2º PERÍODO  235


Aula 5 • matemática aplicada

A representação gráfica, referente à tabela B, deverá ser feita conforme


modelo anterior, observando que a função custo total CT = 4,21 + 1,12 q com
0 ⇒ q ⇒ 10.
A função relativa à tabela C deverá ser expressa conforme a função CT = 4
q – 40 q2 + 200 q, com 0 ≤ q ≤10.
3

Observações
Custos unitários, onde q é a quantidade produzida, são significativos:
CF
Custo Fixo Médio ⇒ CFM =
q
CV
Custo médio variável ⇒ CVM =
q
CT
Custo Médio ⇒ CM =
q

Custo Marginal ⇒ CMg = CT (q + 1)- CT (q)

CTq indica o custo total pela produção de q unidades.

5.5 Ponto de nivelamento (break–even point)


Podemos descrever ponto de nivelamento como sendo o ponto onde a função
custo total e a função receita total se tornam iguais, ou seja, RT = CT.

Síntese da aula
Vimos nessa aula os conteúdos de preço de equilíbrio, receita total, custo
total e ponto de nivelamento. Tais conteúdos são relevantes na produção de
determinados bens ou serviços, com o propósito de verificar custos, receitas e o
equilíbrio financeiro que, em disciplinas como matemática financeira e adminis-
tração financeira e orçamentária, vamos tratar com ênfase maior.
Exemplo:
4q q
1) sejam as funções RT = e CT = + 3 para 0 ≤ q ≤ 20;
10 10
Solução:
Fazer RT = CT

4q q
= +3 4q = q + 30
10 10

3q = 30 q = 10

Portanto, o ponto de equilíbrio qe = 10 é o ponto de nivelamento ou o break-


even point.

236  2º PERÍODO • administração • unitins


Aula 5 • matemática aplicada

Atividades

1. Dadas D= 16 – P2 e S = – 3,5 + 3,5P, com P ≤ 4,então o preço de equilíbrio


e a quantidade de equilíbrio correspondem respectivamente a:

a) 3 e 7 b) 7 e 3 c) 3 e 4 d) 4 e 7

2. Determinar o preço de equilíbrio e a quantidade de equilíbrio nos casos a


seguir:
a) D = 34 – 5 P, S = – 8 + 2 P

b) D = 10 – 0,2 P , S = –11 + P / 2

3. Seja o custo total de um bem ou serviço definido por CT = 20 + 4q, para 0


≤ q ≤ 200. Para uma produção de 50 unidades, determinar:
a) o custo fixo
b) custo fixo médio
c) custo variável
d) custo médio
e) custo marginal

4. Sabemos que a função custo total é expressa por CT = CF + CV. Na expressão


abaixo CT = 60 + 3q com 0 ≤ q ≤ 500, os valores do custo fixo e do custo
variável correspondem a:

a) 60 e 3q b) 60 e 4q c) 60 e 5q d) 60 e 6q

1
5. O ponto de nivelamento no caso em que RT = 0,6q, CT = 2 + q, 0 £ q £ 30
2
equivale a:

a) 20 b) 30 c) 10 d) 21

6. Determinar o ponto de nivelamento nos casos a seguir:

a) RT = 2q, CT = 2 + q, 0 £ q £ 4

b) RT = 18q - q2 , CT = 39 + 2q, 0 £ q £ 18

Comentário das atividades


Nas duas primeiras atividades a abordagem ocorrida versou com o tema
de preço de equilíbrio e quantidade de equilíbrio; a resposta da atividade um
corresponde a alternativa (a); na atividade dois as respostas são a) 6 e 4 e b)

unitins • administração • 2º PERÍODO  237


Aula 5 • matemática aplicada

30 e 4 e foram obtidas igualando as funções de demanda e oferta de mercado


pertinentes ao primeiro objetivo da aula.
Nas atividades três e quatro o centro do conteúdo foi o custo total de um bem
ou serviço; na atividade três as respostas são a) R$ 20,00, b) R$ 0,4, c) R$ 200,00,
d) R$ 4,40 e e) R$ 4,0, enquanto que na atividade quatro utilizamos os mesmos
conceitos e definições do tópico 5.4 cuja alternativa correta é o item (a).
Finalmente, nas duas últimas atividades, foram utilizados conceitos do ponto
de nivelamento do item 5.5 e outros conceitos complementares dessa mesma
aula; a resposta relativa à atividade cinco é a alternativa (a); e da atividade seis
as respostas são a) 2 e b) 3.

Referências
SILVA, Sebastião Medeiros. Matemática: economia, administração, ciências
contábeis. 4. ed. São Paulo: Atlas, 1997.
WEBER, Jean E. Matemática para Economia e Administração. 2. ed. São Paulo:
Harbra, 2001.

Na próxima aula
Na aula a seguir, trabalharemos os conteúdos de lucro total, importante
tema para consolidar as unidades três e quatro, mais direcionadas às aplicações
da economia, administração e contábeis. Os conteúdos de limite de funções e
derivadas são ferramentas imprescindíveis para o desenvolvimento do cálculo
diferencial e integral e outras áreas como a física, química, engenharia, etc.

Anotações













238  2º PERÍODO • administração • unitins


Aula 6 • matemática aplicada

Aula 6
Lucro total, estudo dos limites de
funções e derivada

Objetivos
Esperamos que, ao final desta aula, você seja capaz de:
• definir e interpretar o cálculo do lucro total de certo bem ou utilidade;
• calcular o limite de funções;
• calcular a derivada de funções.

Pré–requisitos
Conhecimento prévio das operações elementares, funções do primeiro e
segundo graus, além de conhecimentos relativos à receita total e custo total.
Conhecimento de funções, domínio de funções e gráficos de funções.

Introdução
A função lucro está diretamente associada a organizações empresariais,
onde o mesmo é o objetivo final.
No lançamento de certo produto ou de uma determinada utilidade, o fator
preponderante refere-se ao fator lucro. Sabemos que, na maioria das empresas,
além da atividade social que desempenha, o objetivo final é o lucro.
Já o estudo dos limites de funções e derivadas está direcionado ao comportamento
das funções. Este comportamento define algumas condições relativas à avaliação de
limites das funções, e o comportamento das funções derivadas, essenciais a área da
economia, cuja relevância é fundamental às áreas de administração e contábeis.

6.1 Lucro total


Vamos considerar a produção de uma certa utilidade ou bem, onde CT é
o custo total e RT a receita total, referindo–se à venda dessa mesma utilidade
ou bem. A função lucro total (LT), associada à produção e venda da utilidade,
é dada por
LT = RT – CT

unitins • administração • 2º PERÍODO  239


Aula 6 • matemática aplicada

Exemplos:
q
a) se RT = 2 q e CT = 3 + , com 0 ≤ q ≤ 5
2
temos que LT = RT – CT
q
LT = 2 q – 3 – logo
3q 2
LT = - 3 , para 0 ≤ q ≤ 5
2
RT/CT/LT q
CT = 3 +
2
RT = 2q

10

5,5
4,5
4
CT = 3 + q/2
3
3q
LT = -3
2

q
2 5

qe = 2

–3

6.2 Limites de funções


O estudo do limite de uma função significa investigar o comportamento da
função nas proximidades ou no entorno de algum ponto do domínio da função,
isto é, em pontos próximos a valores infinitesimais deste.
Idéia intuitiva de limite
Estudaremos o comportamento de uma função f, nas proximidades de um
determinado ponto do domínio da função. Para fixar idéias, consideremos a
x 2 -1
função f : R → R definida por f (x ) = para x ≠1.
x -1
Para x diferente de 1, a função pode ser simplificada e reescrita na forma
mais simples: f(x) = x + 1 (forma fatorada conforme aula um).

240  2º PERÍODO • administração • unitins


Aula 6 • matemática aplicada

Ao analisar o comportamento desta função nas vizinhanças do ponto x=1,


ponto este que não pertence ao domínio de f, constatamos que essa função se
aproxima rapidamente do valor L=2, quando os valores de x se aproximam de
x=1, tanto por valores de x<1 (à esquerda de 1), como por valores x > 1 (à
direita de 1).
Do ponto de vista numérico, as tabelas abaixo mostram o comportamento da
função f, para valores x à esquerda e à direita de x=1.
Pela esquerda de x = 1

X 0 0,5 0,8 0,9 0,99 0,999


f (x) 1 1,5 1,8 1,9 1,99 1,999

Pela direita de x =1

X 2 1,5 1,2 1,1 1,01 1,001


f (x) 3 2,5 2,2 2,1 2,01 2,001
Neste caso, dizemos que o limite da função é L e igual a 2; que é o limite da
função f quando x se aproxima de 1, o que denotaremos por L i m (x + 1) = 2 :
x ®1
y
f(x)

x
1

6.3 Limite de uma função real


Seja f uma função real, definida sobre o intervalo ]a,c[, exceto talvez no
ponto x =b, que pertence ao intervalo ]a,c[. Então L1 e L2 são números reais e
dizemos que:
a) o limite lateral à direita de f ( x ) no ponto x = b é L1 se os valores da
função se aproximam de x = b com valores para x = b maiores que b.
Em símbolos:
L i m f (x ) = L1
x ® b+

unitins • administração • 2º PERÍODO  241


Aula 6 • matemática aplicada

b) o limite lateral à esquerda de f no ponto x = b é igual a L2, se os valores


da função se aproximam de L2, quando x = b pelo lado esquerdo, isto
é, para valores menores de x = b.
Em símbolos:
L i m f (x ) = L 2
x ® b-

c) quando o limite lateral à direita L1 é igual ao limite lateral a esquerda L2,


dizemos que o limite é finito e, portanto, existe.

L i m f (x ) = L
x®b

d) no caso em que um dos limites laterais não existe ou, no caso de ambos
existirem, porém com valores diferentes, diremos que a função não tem
limite no ponto x = b.

6.4 Continuidade de funções


A continuidade de funções significa compreender o comportamento das
funções em algum ponto do domínio. Esse comportamento é essencial em estudos
das funções em economia, estatística, física, química, engenharia e outras, onde
a análise leva à conclusão desse comportamento.
Função contínua
Seja f (x) uma função, diremos que essa função é contínua em x=b se, e
somente se
L i m f (x ) = L i m f (x ) = f (b)
x ® b+ x ® b-
Graficamente:
y
f(x)

x
b
L i m f (x ) = L i m f (x ) = f (b) = L

x ® b+ x ® b-

242  2º PERÍODO • administração • unitins


Aula 6 • matemática aplicada

Como os limites laterais são finitos, iguais e iguais também a f (b), afirmamos
que a função é contínua.

6.5 Função descontínua


Dada uma f (x), dizemos que uma função é descontínua se a condição
L i m f (x ) = L i m f (x ) = f (b)
não for verdadeira.
x ® b+ x ® b-

Graficamente:
y

L1

L2
x
b

Então:

L i m f (x ) = L1 L i m f (x ) = L 2
x ® b+ x ® b-

Como os limites laterais são diferentes, afirmamos, imediatamente, que a


função é descontínua em x = b.
Exemplo:
verificar se a f(x) = 2x + 1 é contínua no ponto x = 3.

L i m 2x + 1= 7 / L i m 2x + 1= 7
+
x®3 x ® 3-

f (3) = 2 × 3 + 1= 7

Logo a f(x) é contínua em x = 3.

6.6 Limites infinitos


1
Seja f a função definida por f (x ) = . Vamos analisar o comportamento
x2
numérico dessa função através das tabelas a seguir.

unitins • administração • 2º PERÍODO  243


Aula 6 • matemática aplicada

Comportamento de f à esquerda de x = 0

x –1 –0,1 –0,01 –0,001 –0,0001


f (x) 1 10 100 1000 10000
Quando x → 0 + , por valores menores que zero os valores da função crescem
sem limite.
Comportamento de f à direita de x = 0
Quando x → 0 +, por valores maiores que zero os valores da função crescem
sem limite.

x 1 0,1 0,01 0,001 0,0001


f(x) 1 10 100 1000 10000

-2,5 -2 -1,5 -1 -0,5 0 0,5 1 1,5 2 2,5 x

Análise gráfica:
æ 1 ö÷
a) L i m ççç 2 ÷÷ = +¥
çè x ÷ø
x ® 0+

Podemos observar que a curva, quando o x tende a zero pelo lado direito,
sobe indefinidamente, isto é, vai para o mais infinito.

æ 1 ö÷
L i m ççç 2 ÷÷ = +¥
b) çè x ÷ø
x ® 0-

Aqui de novo, quando o x tende a um valor muito próximo de zero pelo lado
esquerdo, a curva vai, de novo, para o mais infinito.
æ 1 ö÷
çç ÷÷ = 0
c) L i m ççè x 2 ÷ø
x ® +¥

244  2º PERÍODO • administração • unitins


Aula 6 • matemática aplicada

Devemos entender que o x tende para um valor muito grande (mais infinito),
e a curva vai decrescendo até quase encostar no eixo do x e, com isso, o valor
do limite tende para zero.
æ 1 ö÷
L i m ççç 2 ÷÷ = 0
d) çè x ÷ø
x ® -¥

Nesse caso, a variável x está tendendo a um valor muito pequeno (menos


infinito), enquanto isso a curva do gráfico se aproxima do eixo x e com isso
1
o valor do limite é zero. Seja f (x ) = , analisar o comportamento do gráfico
x
através de limites:

-6 -4 -2 0 2 4 6

–2

–4

a) L i m f (x ) = +¥
x ® 0+
b) L i m f (x ) = -¥
x ® 0-
c) L i m f (x ) = 0
x ® +¥

d) L i m f (x ) = 0
x ® -¥

6.7 Estudo das Derivadas


As funções derivadas se originam a partir de funções primitivas. Essas funções
derivadas carregam algumas características da primitiva e surgem outras inexis-
tentes anteriormente, de acordo com características próprias e inerentes a cada
uma delas.

unitins • administração • 2º PERÍODO  245


Aula 6 • matemática aplicada

• Derivadas: derivada de uma função y = f(x) num ponto x = x0.


Considere a figura a seguir, que representa o gráfico de uma função y=
f(x), definida em um intervalo de números reais. Observando a figura, podemos
definir o quociente a seguir, denominado razão incremental da função y = f(x),
quando x varia de, x para x+D x.
Define–se a derivada da função y=f(x) no ponto x, como sendo o limite da razão
incremental acima, quando Dx tende a zero, e é representada por f `(x) , ou seja:
A derivada de uma função y=f(x) em um ponto x, coincide numericamente
com o valor da tangente trigonométrica do ângulo formado pela tangente geomé-
trica à curva representativa de y = f(x), no ponto x.

Interpretação geométrica da derivada

t
S
y
Q f(x)
f(x + ∆x)
∆y
f(x) P θ
∆x

ε θ
0 x x + ∆x x

f (x + Dx ) - f (x )
f ' (x ) = L i m
Então: Dx
Dx ® 0

Calcule a derivada da função y = x2 pela definição no ponto x = 10. Temos


neste caso: y = f (x) = x²
2
(x + Dx ) - x 2
f ' (x ) = L i m
Dx
Dx ® 0

x 2 + 2xDx + Dx 2 - x 2
f ' (x ) = L i m
Dx
Dx ® 0

246  2º PERÍODO • administração • unitins


Aula 6 • matemática aplicada

2xDx + Dx 2
f ' (x ) = L i m
Dx
Dx ® 0

Dx (2x + Dx )
f ' (x ) = L i m
Dx
Dx ® 0

f '(x ) = L i m 2x + Dx = 2x

f '(x ) = 2 × (10) = 20
Dx ® 0

Existem fórmulas para o cálculo das derivadas das funções que serão
mostradas no decorrer deste curso, mas, por enquanto, vamos calcular a derivada
de uma função simples, usando a definição. Isto servirá como um ótimo exercício
introdutório, que auxiliará no entendimento pleno da definição acima.
Então f’(10) = 2 .10 = 20
Logo, a derivada da função f(x)=x2 é igual a 2x e no ponto x=10 a derivada
será igual a 20; o que significa que o coeficiente angular da reta tangente a
curva no ponto x=10 é igual a 20.
Regras de derivação
a) f (x ) = k Þ f '(x ) = 0 (onde k é uma constante)
b) f (x ) = x n Þ f '(x ) = nx n -1

c) f (x ) = eu Þ f '(x ) = u' × eu
d) f (x ) = ln x Þ f '(x ) = 1/ u
e) f (x ) = um Þ f '(x ) = m × um-1 × u' (para equações polinominais)
f) f (x ) = u × v Þ f '(x ) = u × v '+ v × u'
u v × u'- u × v '
g) f (x ) = Þ f ' (x ) =
v v2

Diferencial de uma função


Seja f uma função derivável em um ponto x0. Considere, então, a função df,
definida na reta e tal que:
df = f’ (x) dx
Exemplo:
calcular a diferencial de f (x) = x2 + 3x
df = (2x + 3) dx

unitins • administração • 2º PERÍODO  247


Aula 6 • matemática aplicada

Derivadas sucessivas de uma função


Seja f ’ (x) a função derivada de uma função f, em um intervalo aberto I.
Se f ‘ é derivável em I, podemos considerar a função f ‘‘ (x) derivada de f ‘(x)
em I. A esta função damos o nome de derivada segunda da função f(x) em I.
Procederemos de maneira análoga a derivadas de funções de ordem mais alta.
d2 y
Notação: f ‘‘ (x) = y ‘‘ = e assim por diante, para derivadas de ordem
dx 2
mais alta.

Síntese da aula
Vimos a função lucro total, definição de limites, cálculo de alguns limites
básicos e limites laterais, continuidade de algumas funções e o estudo das deri-
vadas, como a interpretação geométrica e o cálculo da derivada de funções.

Atividades

1. O custo variável médio por unidade de produção de certo bem é de U$


12,00, e o custo fixo associado à produção é de U$ 60,00, para quanti-
dades variáveis na faixa de zero a 1000 unidades. Se o preço de venda na
mesma faixa é de U$ 20,00 por unidade, pergunta–se:

I. a função adequado ao custo total é:


a) CT = 60 + q
b) CT = 60 – q
c) CT = 60 – 2q
d) CT = 60 + 2q

II. a função que melhor representa a receita total corresponde a:


a) RT = – 20q
b) RT = 20q
c) RT = 20q + 1
d) RT = – 20q – 1

III. a função lucro total é:


a) LT = 8q – 60
b) LT = 8q + 60
c) LT = – 8q – 60
d) LT = 8q2 – 60

248  2º PERÍODO • administração • unitins


Aula 6 • matemática aplicada

IV. e o ponto de nivelamento:


a) 7 unidades
b) 5 unidades
c) 7,5 unidades
d) 8 unidades

2. A função de custo total de uma indústria é dada por CT = q2 + q + 10 para


0 ≤ q ≤ 100. A demanda de mercado é dada por D = 500 – 4P. A equação
que melhor representa o lucro total é:
a) LT = – 5/4 q2 – 124 q – 10
b) LT = – 5/4 q2 + 124 q + 10
c) LT = 5/4 q2 + 124 q – 10
d) LT = – 5/4 q2 + 124 q – 10

3. Uma empresa aplica mensalmente U$ 120.000,00 na produção de um


determinado bem, para obter um lucro total de, pelo menos, 10% ao mês.
O preço de venda é de U$ 4,00 por unidade, e a capacidade de produção
está limitada a 4.000 unidades por mês. Então a produção mensal mínima
para que o empresário alcance o lucro pretendido, sabendo que o custo
unitário de produção é de U$2,00, equivale a:
a) q ≤ 10.000 unidades
b) q ≥ 10.000 unidades
c) q = 10.000 unidades
d) q < 10.000 unidades

4. Encontrar o valor de cada um dos limites abaixo:


I. L i m 2x3 – 5x + 4
x2
a) 15 b) 10 c) 6 d) 4

II. L i m x3 – 2x2 + 4x – 3
x–2
a) 14 b) –10 c) –24 d) – 27

III. L i m -4x 3 - 4x + 1
x ® -2

a) 3 b) 5 c) 4 d) – 25

unitins • administração • 2º PERÍODO  249


Aula 6 • matemática aplicada

x2 + 6
IV. L i m
x 2 -1
x®4

5. Resolva os seguintes limites:

a) lim (4x 3 - x 2 + x -1 )
x®0

b) lim (1- 4x 2 )
x®3

x3 - x2 +1
c) lim
1- 2x
x ®1

6. Dada a função f(x) = 4x – 3, calcule:

a) lim f (x ) b) lim f (x ) c) lim f (x ) d) lim f (x )


x®2 x®0 x®5 x ® -1

7. Determine:

2
a) lim 7 b) lim c) lim (5x 3 + x )
3
x®4 x ® -1 x®2

æ 1 ö
d) lim ççç 4x 2 - x ÷÷÷ e) lim (3x 2 + x 1)
è 2 ø
x®3
x ® -4

8. Calcule:

lim 6x 2 lim (x -1)(4 - x )


a) b)
x ®1 x®3

4x 2 x3
c) lim d) lim
x +1 x 2 -1
x®3 x®5

5x 3 - 6x 2 + 3x lim f (x )
9. Dada a função f (x ) = 3 2 , então o valor do equivale a:
x - x + 3x x ®1
a) –3/2 b) 3/2 c) 2/3 d) –2/7

250  2º PERÍODO • administração • unitins


Aula 6 • matemática aplicada

6
10. O valor do limite lim (2x -1) corresponde a:
x ®1
a) 1 b) –1

c) – 2 d) 0

1- x
11. Dada a função f (x ) = , verifique se a f (x ) é contínua nos pontos x = 0
x +1
e x = – 1 e responda a alternativa correta:

a) sim / sim b) sim / não

c) não / não d) não / sim

12. Nas funções abaixo, a derivada de primeira ordem de cada função a seguir
corresponde a:

I. f (x) = x30

a) f ’ (x) = 30x b) f ’ (x) = 30x30

c) f ’ (x) = 30x29 d) f ’ (x) = – 30x29

II. f(x) = – 5 x10

a) f ’ (x) = – 50x9 b) f ’ (x) = – 5x9

c) f ’ (x) = 50x9 d) f ’ (x) = – 50x29

III. f (x) = 4x7 – 30x4 + 3x– 10

a) f ’ (x) = 28x6 – 120x3 + x29 b) f ’ (x) = – 28x6 + 120x3 + 3

c) f ’ (x) = 28x6 + 120x3 – 3 d) f ’ (x) = 28x6 – 120x3 + 3

IV. f (x) = e4x–2

a) f ’ (x) = (4x–2).e4x–2 b) f ’ (x) = – 5x9. 4.e4x–2

c) f ’ (x) = 4.e4x–2 d) f ’ (x) = e4x–2

V. f (x) = ln (5x+1)

a) f ’ (x) = 1/(5x+1) b) f ’ (x) = 5/(5x+1)

c) f ’ (x) = 3/(5x+ 5) d) f ’ (x) = 5/(5x/+1) + 3

unitins • administração • 2º PERÍODO  251


Aula 6 • matemática aplicada

VI. f (s) = (s2+5)4

a) f’ (s) = s.(s2+5)3 b) f’ (s) = 8s.(s2+5)3.2s

c) f’ (s) = s.(s2+5)3.2s d) f’ (s) = 8s.(s2+5)3.5s

VII. f (x) = 3/x2

a) f‘ (x) = – 6/x3 b) f‘ (x) = – 2x/x4

c) f‘ (x) = 3/x4 d) f‘ (x) = –6x/5x4

13. Determinar as derivadas de terceira ordem das funções a seguir:


a) f(x) = 2x4 + 4x³ – 7x + 3
b) f(x) = 4x5 + x4 – 3x3 + 3x2 + 8x –13
c) f(x) = 2x5 – 3x4 – 4x3 – 7x2 – 4x – 1

Comentário das atividades


Nas atividades iniciais, foi necessário compreender as aplicações das
funções do primeiro e segundo graus, e conceitos relativos ao lucro total, sendo
as respostas corretas:
1) I) d II) b III) a
2) d
3) b

Nas atividades quatro, cinco, seis, sete, oito, nove e 10, bastou aplicar a
técnica de resolução de limites que consiste em substituir o valor da tendência pela
variável para se chegar às respostas desejadas. Sendo as respostas corretas:
Atividade quatro = a) 22/15; b) – 22/15; c) –22/17; d) 22.
Atividade cinco = a) –1; b) – 35; c) –1.
Atividade seis = a) 5; b) –3; c) 17; d) –7.
Atividade sete = a) 7; b) 2/3; c) 42; d) 66; e) 31.
Atividade oito = a) 6; b) 2; c) 9; d) 125 / 24.
Atividade nove = letra (c).
Atividade dez = letra (a).

Na atividade 11, a alternativa correta é a (b), bastando aplicar a relação da


continuidade através do cálculo dos limites laterais e da imagem da função no
ponto desejado e verificar a condição.

252  2º PERÍODO • administração • unitins


Aula 6 • matemática aplicada

Na atividade 12, o trabalho realizado para a resolução teve como base as


regras de derivação, sendo as respostas:
Atividade 12 = I – (c); II – (a); III – (d); IV – (c); V – (b); VI – (b); VII – (a).
A atividade 13 tratou o processo de derivação sucessiva que se utiliza das
mesmas definições e regras para a solução da atividade anterior, sendo as
respostas:
a) f ’ ’ ’ (x) = 48x + 24
b) f ’ ’ ’ (x) = 240x2 + 24x + 18
c) f ’ ’ ’ (x) = 120x2 – 72x – 24
Na finalização das atividades, a proposição inicial dos objetivos se cumprem.

Referências
SILVA, Sebastião Medeiros. Matemática: economia, administração, ciências
contábeis. 4. ed. São Paulo: Atlas, 1997.
WEBER, Jean E. Matemática para Economia e Administração. 2. ed. São Paulo:
Harbra, 2001.
LEITHOLD, Louis. Matemática aplicada à Economia e Administração. São Paulo:
Harbra, 1988.

Na próxima aula
Na aula final desta apostila, vamos abordar os máximos e mínimos de funções
e integrais, relevantes à continuidade dos assuntos voltados para a economia.

Anotações













unitins • administração • 2º PERÍODO  253


Aula 6 • matemática aplicada

254  2º PERÍODO • administração • unitins


Aula 7 • matemática aplicada

Aula 7
Máximos e mínimos de funções e
estudo das integrais

Objetivos
Esperamos que, ao final desta aula, você seja capaz de:
• determinar os possíveis pontos de máximos e mínimos das funções
elementares;
• calcular integrais impróprias básicas.

Pré–requisitos
Conhecimentos prévios das operações fundamentais, funções, limites e deri-
vadas, já trabalhadas nas aulas um, dois e seis desta apostila.

Introdução
Os máximos e mínimos de funções se apresentam de duas maneiras dife-
rentes: uma delas, como processo inverso da diferenciação, e a outra como a
área sob uma curva.
Procederemos de maneira simples e objetiva a dar, ainda que de maneira sutil, um
enfoque matemático, buscando um direcionamento maior às suas aplicabilidades.
Esses conteúdos que serão abordados nessa aula nos levam a aplicações
bastante práticas na engenharia de produção, otimização de sistemas adminis-
trativos e outros.
A utilização desses sistemas torna viável a produção de muitos produtos, emba-
lagens, lançamentos de novos produtos e aproveitamentos da matéria prima.
Nos temas anteriores, trabalhamos os conteúdos de limites de funções e
derivadas de funções, relevantes ao desenvolvimento desse conteúdo, visando
buscar aplicações que vêm de encontro às necessidades da área em questão.

7.1 Máximos e mínimos


Os máximos e mínimos de funções representam, em certos intervalos, a maior
e a menor imagem, respectivamente. Esses pontos em aplicações ­determinam

unitins • administração • 2º PERÍODO  255


Aula 7 • matemática aplicada

possibilidades de otimizar a matéria prima, por exemplo, ao máximo, dimi-


nuindo as perdas ou maximizando os lucros na empresa e outras aplicações
acerca deste tema.
Funções crescentes e decrescentes
Seja y = f(x) uma função no ponto x=a e f‘(x) a primeira derivada da função
de y em relação a x, então y ‘ é o coeficiente angular da reta tangente à curva
no ponto x=a.
Se a f‘(a) for positiva, então a f(x) é uma função crescente; se f ‘ (a) for nega-
tiva, então a f (x) é uma função decrescente em x=a.

f’(x) + DECRESCENTE

f’(x) + CRESCENTE

Máximo absoluto – maior imagem da função;


Mínimo absoluto – menor imagem da função.

7.2 Máximo local (ML)


Uma função tem um máximo local em x=a se f(a) é maior do que qualquer
valor de f(x) para qualquer x em um certo intervalo.

7.3 Mínimo local (mL)


Uma função tem um mínimo local em x=a se f(a) é menor do que qualquer
valor de f(x) para qualquer x em um certo intervalo.
y ML

mL
x

256  2º PERÍODO • administração • unitins


Aula 7 • matemática aplicada

7.4 Determinação de extremos locais


a) Critério da primeira derivada
Seja y=f(x) no ponto x=a
Se f ‘ (a) > 0 ⇒ f (x) é uma função crescente em x = a.
Se f ‘ (a) < 0 ⇒ f (x) é uma função decrescente em x = a.

ìïf (x ) é contínua em x = a e
ïï
Se ïíf '(a) = 0 ou
ïï
ïîïf '(x ) é descontínua em x = a

– f’ muda de + para – em x = a
(MÁXIMO LOCAL)
– f’ muda de – para + em x = a
então
(MÍNIMO LOCAL)
– f’ não muda de sinal em x = a
Não existe máximo e nem mínimo local.

b) Critério da segunda derivada


Seja y = f(x) uma função em um ponto qualquer do domínio x=a.
Se f ’ ’ (a) > 0 ⇒ f(x) é côncava para cima em x=a.
Se f ’ ’ (a) < 0 ⇒ f(x) é côncava para baixo em x=a.

ìïf (x ) e f '(x ) são contínuas em x = a


Se ïí
ïïe f '(a) = 0
î

ì
ïïïf ''(a) > 0 Þ mínimo relativo em x = a
então ïíf ''(a) < 0 Þ máximo relativo em x = a
ïï
ïïf ''(a) = 0 Þ o teste falha.
î

ìïf (x ) é contínua em x = a e se
Se ïí
ïïf ''(a) = 0 ou f ''(x ) é descontínua em x = a
î

ìï# f ''(x ) muda de sinal em x = a


ïï
ïï ponto de inf lexão em x = a
então ïí
ïï# f ''(x ) não muda de sinal em x = a
ïï
ïï não existe ponto de inf lexão em x = a''.
î

unitins • administração • 2º PERÍODO  257


Aula 7 • matemática aplicada

Exercícios
1) Determinar o ponto de máximo local ou de mínimo local das funções
a seguir:
a) f(x) = 2x2 – 20x + 6
1º passo: encontrar a primeira derivada da função
f‘(x) = 4x – 20
2º passo: fazer f‘(x) = 0
4x – 20 = 0
4x = 20
x=5
3º passo: encontrar a coordenada y do ponto P (5, y), substituindo
x = 5 na função original

f (5) = 2 . (5)2 – 20 . 5 + 6 = –44 então o ponto P(5, –44)

4ºpasso: verificar se é máximo ou mínimo local através do critério da


segunda derivada f ‘ ’(x) = 4.
Conclusão: como 4 é positivo, ou seja, maior que zero, o ponto P é
mínimo local.
y

mL (5,–44)

x 3 5x 2
2) Dada a função a seguir f (x ) = - + 4x + 1 determinar:
3 2
a) extremos locais;
b) determinar o ponto de inflexão;
c) estudar a concavidade da função.
1° passo: f‘(x) = x2 – 5x + 4
2° passo: aplicar a fórmula de Báskhara para determinar x´ e x´´
x´= 4 e x ´´= 1

258  2º PERÍODO • administração • unitins


Aula 7 • matemática aplicada

3° passo: achar y de cada ponto


para x = 4
f(4) = 64/3 – 40 + 16 + 1= – 5/3
P1 (4, – 5/3)
f(1) = 1/3 – 5/2 + 4 + 1 = 17/2
P2 (1, 17/2)

4° passo: f”(x) = 2x – 5
f”(4) = 2 . 4 – 5 = 3 então P1 é mL;
f”(1) = 2 . 1 – 5 = –3 então P2 é ML.
Concavidade:

1° passo: f” = 0
2x – 5 = 0
2x = 5
x = 5/2

2° passo: f” (5) = 2 . 5 – 5 = 5 > 0 então a concavidade está voltada para


cima no intervalo ] 5/2, + ∞ [

3° passo: f”(0) = 2 . 0 – 5 = –5 então a concavidade está voltada para baixo


no intervalo ] – ∞, 5/2 [

ou seja ++++++++++++++++++

CVPB 5/2 CVPC


CVPB – Concavidade Voltada Para Baixo
CVPB – Concavidade Voltada Para Cima
Como ocorre inversão do sinal em x = 5/2, significa que a curva muda a
concavidade exatamente em x = 5/2.

7.5 Estudo das integrais


A integração consiste em um processo contrário da derivação. Objetiva
alcançar a função primitiva através de procedimentos matemáticos a ser desen-
volvido a partir do conceito de integral indefinida.
Definição integral indefinida
Seja f uma função definida em um intervalo, dizemos que uma função F defi-
nida nesse intervalo é uma primitiva de f quando f´(x) = f(x) no intervalo.

unitins • administração • 2º PERÍODO  259


Aula 7 • matemática aplicada

Exemplo:
x3
Se f(x) = x2, então a sua primitiva é F (x ) = .
3
Sejam as funções dadas a seguir:
f (x) = x2 + 2; g (x) = x2 – 5 ; h(x) = x2 + 12
Podemos observar tranqüilamente que as diferenciais dessas três funções
são todas iguais:
f’(x) = 2xdx; g ´(x) = 2xdx; h ´ (x) = 2xdx
Então, as integrais dessas três funções são exatamente iguais a ∫ 2x dx = x 2 + c.
O c, que é chamada de constante de integração, não podemos defini–lo ainda,
pois não temos ferramentas básicas. Nós não saberemos se será + 2 ou – 5 ou
+ 12. Então, em todas as integrais impróprias, o c se faz presente.
Notação da integral: ò f (x) dx
2
2x
ò 2x dx = 2
+ C = x2 + C

7.6 Propriedades
a) Integral de uma soma de funções é igual a soma das integrais dessas
funções
ò [f (x) ± g (x)] dx = ò f (x) dx ± ò g(x) dx .
b) Se F é uma primitiva de f e k uma constante, então k F é uma primitiva
de k f, pois:
( k P)’ = k P´ = k f

então ò kf (x) dx = k ò f (x) dx.


7.7 Regras básicas de integração
A partir deste momento vamos descrever algumas fórmulas para a resolução
de integrais das funções básicas:
1) òk dx = kx + C

xn + 1
2) ò x n dx =
n +1
+C

dx
3) ò x
= ln x + C

U n +1
4) ò un du = + C (u é uma expressão polinômica)
n +1

òe
u
5) du = eu + C

260  2º PERÍODO • administração • unitins


Aula 7 • matemática aplicada

Existem muitas outras regras de integração, porém, para nós, neste momento,
apenas essas mais simples interessam.

Síntese da aula
Vimos, nessa aula, a definição de reta tangente, máximos e mínimos, e
definição de integrais e cálculos de integrais de funções polinomiais simples das
funções, conteúdos também abordados nessa aula.

Atividades

Dadas as funções a seguir, determinar, em cada uma delas, o que se pede:

1. Dada a f (x)= –x2 + 8x + 6, então o ponto de máximo local é:


a) (4, 11) b) (4, 22) c) (4, 8) d) (4, –22)

2. O ponto de máximo local da função f(x)= –x2 + 4x, corresponde a:


a) (4, 2) b) (2, –4) c) (2, 6) d) (2, 4)

3. Dada a função f(x) = x2 + 1, o ponto de mínimo local é:


a) (0, –1) b) (0, 1) c) (0, 2) d) (2, 0)

4. Dadas as funções a seguir, determinar, em cada caso, os extremos locais,


estudar a concavidade e determinar os pontos de inflexão, caso existam.
a) f(x) = x3/3 – 5x2 + 16x + 2
b) f(x) = x3/3 – 5x2 – 14x + 10
c) f(x) = –x3/3 + x2/2 – 10
d) f(x) = x3 – 3x2 + 1

5. Resolver as integrais a seguir:

a) ò 10 dx b) ò dx
1
3
c) ò 4
× dx d) ò x 2 dx

ò (x - 5x + 4) dx ò (x 7 ) dx
4 9
e) f) - 8x 5 + 9x

òe ò (5x - 7 )
5x 6
g) dx h) dx

ò (7x + 1)
5
i) dx

unitins • administração • 2º PERÍODO  261


Aula 7 • matemática aplicada

Comentário das atividades


Na conclusão da resolução das atividades um, dois, três e quatro, o acadê-
mico utilizou procedimentos e definições aos processos, para chegar aos pontos
de máximos e ou mínimos de funções, concavidade e ponto de inflexão, ­utilizando
sempre o critério da primeira e segunda derivadas. Indicar as respostas corretas,
conforme aulas anteriores.
Já na atividade cinco, bastou, para a resolução, a aplicação das proprie-
dades e das fórmulas das integrais propostas nos itens 7.5, 7.6, 7.7 da aula,
sendo as respostas corretas:
Atividade cinco

a) 10x + C b) x + C

c) 3 / 8 x2 + C d) 2/3 x3/2 + C

e) x5 / 5 – 5x2 / 2 + 4x + c f) x10/10 – 4x6 / 3

g) e5x / 5 + C h) (5x - 7)7


+C
35
i) (7x + 1)6
+C
42

Referências
LEITHOLD, Louis. Matemática aplicada à Economia e Administração. São Paulo:
Harbra, 1988.
SILVA, Sebastião Medeiros. Matemática: economia, administração, ciências
contábeis. 4. ed. São Paulo: Atlas, 1997.
______; et al. Cálculo básico para cursos superiores. São Paulo: Atlas, 2004.
WEBER, Jean E. Matemática para Economia e Administração. 2. ed. São Paulo:
Harbra, 2001.

Anotações








262  2º PERÍODO • administração • unitins


EQUIPE UNITINS

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1ª versão: Marcelo Liberato Souza
2ª versão: Igor Yepes
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3ª versão: Igor Yepes

Coordenação Editorial
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Assessoria Editorial
Marinalva do Rêgo Barros Silva

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Kátia Cristina Oliveira dos Santos
Rodrigo Santos
Sandro Niemicz
William Marlos da Costa
Caro estudante,
você está recebendo o material para estudo da disciplina Tecnologia da
Comunicação e da Informação, que contribuirá para o desenvolvimento de
habilidades e competências essenciais ao perfil do profissional moderno.
O objetivo desse material é mostrar a importância do uso adequado das
tecnologias computacionais. Para isso, entenderemos a importância da gestão
na tecnologia da informação e da comunicação, as dificuldades encontradas
na implantação de projetos nesta área, e apresentaremos metodologias que

Apresentação
podem contribuir para o sucesso desses projetos.
Na aula um: revisão sobre a Teoria Geral dos Sistemas, essencial para a
compreensão das demais aulas deste caderno de conteúdos e atividades.
Na aula dois: como e porque surgiram os computadores, sua evolução
até os dias atuais e como tudo isso transformou a sociedade moderna.
Na aula três: os diferentes tipos de redes de computadores e as tecnolo-
gias básicas utilizadas. Noções básicas e essenciais de segurança da infor-
mação e dos riscos inerentes ao descaso com a mesma.
Na aula quatro: a terceirização e a gestão de TIC. Aspectos importantes
para que as iniciativas de informatizacao sejam bem-sucedidas.
Na aula cinco: alguns aspectos relativos à Gestão da Inovaçao Tecnológica
e a importância do conhecimento como meio de potencializar a TIC.
Na aula seis: aspectos relevantes do downsizing, da reengenharia de
processos e os impactos na área da TIC.
Na aula sete: aspectos relevantes à estruturação e implementação de
projetos. Os paradigmas do software livre e do software proprietário.
Nosso foco é mostrar o quanto a tecnologia poderá ser bem utili-
zada, se compreendido o contexto em que ela estará: não existe tecno-
logia ruim ou boa, o que existe é a necessidade de entendimento do
ambiente em que se planeja desenvolver um projeto nessa área.
Bons estudos!
Prof. Igor Yepes
EMENTA
Tecnologia da Informação. Reengenharia de Processos. Terceirização.
Downsizing. Software e hardware. Redes de Computadores. Aplicativos.
Automação de Escritórios. Internet e Intranet. Correio eletrônico. Sistemas de
Informação. Banco de Dados.
Plano de Ensino

OBJETIVOS
• Apresentar os principais conceitos de tecnologia adotados nas orga-
nizações modernas.
• Proporcionar a compreensão do uso adequado das diversas tecnolo-
gias e suas aplicabilidades.
• Demonstrar aos alunos o potencial da internet e outros meios de
tecnolo­gia para comunicação e para os processos organizacionais.
• Apresentar experiências relacionadas ao uso dessas tecnologias em
diversos setores da economia.

CONTEÚDO PROGRAMÁTICO
• Fundamentos de sistemas e sistemas de informações
• Evolução e histórico da computação e fundamentos de computação
• Redes de comunicação e noções de segurança da informação
• Gestão do conhecimento e gestão de TI
• Relação usuário versus gestão da inovação tecnológica
• Gestão de projetos
• Software livre e software proprietário
BIBLIOGRAFIA BÁSICA
ABREU, Aline F. de; REZENDE, Denis A. Tecnologia da Informação: aplicada a
sistemas de informação empresarial. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2003.
LAURINDO, Fernando J. B. Tecnologia da Informação: eficácia nas organiza-
ções. São Paulo: Futura, 2002.
OLIVEIRA, Jayr Figueiredo. Tecnologias da Informação e da Comunicação. São
Paulo: Érica, 2003.
REZENDE, Denis A. Planejamento de Sistemas de Informação e Informática. São
Paulo: Atlas, 2003.

BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR
ALBERTIN, Alberto L. Administração de Informática: funções e fatores críticos de
Sucesso. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2004.
BIASCA, Rodolfo E. Resizing: reestruturando, replanejando e recriando a empresa
para conseguir competitividade. Rio de Janeiro: Campus, 1995.
COLANGELO FILHO, Lucio. Implantação de sistemas ERP: um enfoque de longo
prazo. São Paulo: Atlas, 2001.
PEPPERS, Don; ROGERS, Group. CRM ganha força no país. HSM MANAGEMENT
38, maio-junho 2003, p. 49-59.
DAVENPORT, Thomas H.; PRUSAK, Laurence. Conhecimento Empresarial: como
as organizações gerenciam o seu capital intelectual. Rio de Janeiro: Campus,
1998.
LIMA, Lauro de Oliveira. Mutações em educação segundo McLuhan. São Paulo:
Vozes, 1998.
SOUZA, Márcio. A comunicação na aldeia global. São Paulo: Vozes, 2005.

UNITINS • ADMINISTRAÇÃO • 2º PERÍODO  267


Aula 1 • Tecnologia da Informação e da Comunicação

Aula 1
Fundamentos de
sistemas de informação

Objetivos
Esperamos que, ao final desta aula, você seja capaz de:
• compreender a relação entre sistemas e empresas;
• apresentar os conceitos de informação e mostrar o valor da informação
empresarial.

Pré-requisitos
Noções de teoria geral de sistemas e de empresas, vistos na disciplina Introdução
à Administração, no primeiro período.

Introdução
Caro aluno, vamos iniciar a disciplina Tecnologia da Comunicação e da
Informação, revisando alguns conceitos básicos da teoria geral dos sistemas e de
empresas. Assim, poderemos ter a concepção correta da importância da tecnologia
da informação e da comunicação nas organizações.
A partir dessa aula, você poderá, também, compreender a importância dos
sistemas de informações nas organizações e como o uso da tecnologia poderá
auxiliá-lo na tomada de decisões. Para desenvolvermos este assunto, serão apre-
sentados os conceitos de informação e, ainda, determinaremos a importância dela
em qualquer organização.

1.1 Teoria Geral de Sistemas


O estudo da Teoria Geral de Sistemas (TGS) iniciou-se efetivamente, em 1950, com
o biólogo alemão Ludwig Von Bertalanffy. O foco de seus esforços era a produção de
conceitos que permitissem a integração das várias ciências naturais e sociais. Havia
a necessidade de compreender e integrar as partes que trabalhavam de maneira
isolada, mesmo tendo atividades interdependentes.
É importante compreender as premissas que levaram à realização deste conceito.

UNITINS • ADMINISTRAÇÃO • 2º PERÍODO  269


Aula 1 • Tecnologia da Informação e da Comunicação

a) Os sistemas existem dentro dos sistemas – tudo está interligado, uma


função é dependente da outra, para que tudo funcione com perfeição.
b) Os sistemas são abertos – há um intercâmbio infinito entre os ambientes,
que são os outros sistemas, e quando esse intercâmbio cessa o sistema
se desintegra.
c) As funções de uso do sistema dependem de sua estrutura – como os
sistemas são interdependentes, à medida que suas funções se contraem
ou expandem, sua estrutura se modifica.
Revisados esses conceitos, poderemos entender a relação entre sistemas e
empresas, e verificar o quanto a relação entre essas duas abordagens é estreita.

1.2 Empresa
Partindo do princípio de que a empresa é um sistema que interage com o
meio interno e externo no qual ela está envolvida, os conceitos encontrados para
empresa geralmente contemplam a relação entre as partes (os meios) que se
integram para atingir algum resultado, geralmente econômico.
Sistemas e empresas são conceitos que estão intimamente relacionados. É
importante que esteja bem claro: a informática e os recursos de tecnologia da
informação e comunicação não são partes essenciais para a construção de uma
empresa. No entanto, isso não significa dizer que o uso da tecnologia é algo
secundário; atualmente, como meio para o armazenamento e processamento de
informações, ela se faz fundamental para a empresa moderna.
É importante conceituar sistemas empresariais abertos e fechados, para que
se possa entender melhor essa abordagem.

1.2.1 Sistemas fechados


Segundo Bio (1993), Chiavenato (2004) e Oliveira (2003), os sistemas
fechados causam muitos danos às empresas, exemplos:
• gestão e administração rudimentares;
• dificuldades de mudanças;
• baixa produtividade e qualidade nos serviços e produtos;
• incapacidade de administrar diferenças ambientais, organizacionais
e comportamentais;
• complicações para sobrevivência no mercado de negócios.
E por que isso acontece?
Empresas com sistemas empresariais fechados não trocam informações com
o meio ambiente externo. Elas mesmas são insensíveis e indiferentes a qualquer
influência do ambiente, não há integração ou interação com o mundo, inviabili-
zando sua existência.

270  2º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • UNITINS


Aula 1 • Tecnologia da Informação e da Comunicação

1.2.2 Sistemas abertos


Bio (1993) nos ensina que os sistemas abertos são recomendados às
empresas que pretendem destacar-se no mercado. Nesse caso, essas empresas
não funcionam sem interagir, sem trocar informações com o meio ambiente.
Ao contrário das empresas que optam por sistemas fechados, nessas
destacam-se:
• a gestão e administração participativa;
• mudanças e adaptações internas;
• produtividade e qualidade nos serviços e produtos;
• capacidade de administrar diferenças ambientais, organizacionais e
comportamentais;
• lucro, inteligência competitiva e inteligência empresarial.
Neste modelo, encontram-se as grandes empresas de T.I. voltadas à comuni-
cação como Microsoft, Oracle e IBM. Nelas, a gestão participativa é o foco, e
os resultados são imensuráveis.

1.3 Subsistemas empresariais


Aqui não podemos generalizar os subsistemas como se fossem iguais para
todas as empresas. As empresas, mesmo pertencendo ao mesmo segmento, como
as de publicidade, as de automóveis, as de tecnologia, etc., têm objetivos e estru-
turas diferenciadas, necessitando, assim, de subsistemas diferenciados. Os vários
subsistemas têm sua essência parecida, mesmo para empresas com objetivos
distintos. Podemos citar, como exemplo, o subsistema de Recursos Humanos.
Conforme Rezende (2003), podemos classificar genericamente os subsis-
temas empresariais desta forma:
a) subsistemas primários: direcionados ao negócio principal da empresa,
como, por exemplo, prestação de serviço de informática, produção de
automóveis, venda de CDs, DVDs e livros;
b) subsistemas secundários: ligados à execução de como fazer para a
empresa atingir seus objetivos primários? Como exemplo podemos citar
os departamentos, financeiro, recursos humanos, contábil e custos;
c) subsistemas de apoio: devem estar alinhados com a dinâmica da
empresa, respeitando a sua cultura, filosofia e políticas internas e
externas. Temos como exemplo: jurídico, organização e métodos, segu-
rança e patrimônio e tecnologia da informação.
A relação entre sistemas e empresas é estreita e exige vários cuidados espe-
ciais, que vão desde a elaboração dos objetivos e os meios de alcançá-los, até o

UNITINS • ADMINISTRAÇÃO • 2º PERÍODO  271


Aula 1 • Tecnologia da Informação e da Comunicação

comportamento da empresa frente ao seu meio ambiente. Os sistemas de infor-


mações estarão associados a estes conceitos e, por isso, se fez necessária esta
abordagem.

1.4 Importância da informação


Informação, atualmente, é um dos maiores triunfos das organizações
modernas. Com certeza, você deve ter pensando que informação é tudo aquilo
que se fala, lê e escuta. E, com certeza, o conceito envolve isso. Inicialmente,
podemos dizer que informação é todo dado trabalhado, útil, tratado e com valor
agregado para alguém fazer uso. Dessa forma, dado é parte da informação, o
qual, se isolado, tem pouco significado.
Atualmente, devemos ter cuidado com o volume e o tipo de informação que
é oferecida pelos veículos de comunicação, seja ele rádio, televisão ou internet.
Com a Internet, a precaução deve ser ainda maior pela quantidade de informação
que nos é apresentada. Quando estamos dirigindo uma empresa, onde o uso da
informação é vital, devemos ter a sensibilidade para selecionar aquelas realmente
importantes para a organização: a informação deve ser útil.
Rezende (2003) nos mostra que quando a informação é trabalhada por
pessoas e pelos recursos computacionais, possibilitando a geração de cenários,
simulações de situações e oportunidades, pode ser chamada de conhecimento.
No mundo em que vivemos, conhecimento é algo de fundamental impor-
tância. Segundo Davenport e Prusack (1998), conhecimento é de difícil estrutu-
ração, trabalhosa capturação em máquinas, freqüentemente tácito ou subenten-
dido, de transferência dificultosa e complexo de gestionar.

1.4.1 Personalização da Informação


Informação personalizada merece atenção especial, principalmente para as
organizações que objetivam lucros. Atualmente, pela oferta de produtos e serviços, o
mercado consumidor tornou-se mais exigente e mais qualificado. As informações com
caráter de uso geral têm sua importância, porém têm menor valor agregado.
Em seu texto Tecnologia da Informação, Rezende (2003, p. 4) afirma que
nas empresas, as informações personalizadas são mais úteis e relevantes para
a alta administração e o corpo gestor tomarem decisões acertadas e oportunas.
Ressalta, ainda, que a personalização da informação deve levar em conside-
ração a cultura, filosofia e políticas da empresa, respeitando e, principalmente
contemplando estas questões.

1.4.2 Papel estratégico da informação


Rodrigues e Ferrante (1995) nos revelan que dentro da nova era da infor-
mação, a empresa deve se apresentar como uma estrutura em rede, que ­transcende

272  2º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • UNITINS


Aula 1 • Tecnologia da Informação e da Comunicação

os limites tradicionais do que hoje conhecemos como a empresa. Deve-se funda-


mentar na informação e no conhecimento, seu verdadeiro capital, e dar ênfase à
realização das atividades de natureza intelectual.
A tabela a seguir mostra as diferenças entre a empresa tradicional e aquela
baseada na informação:

Tabela 1 – Paralelo entre os tipos de empresas


Empresa Tradicional Empresa baseada na informação
• Burocrata • Consenso
• Padronização dos produtos e • Massificação personalizada e qualidade
serviços • Salários baseados no conhecimento agre-
• Padronização dos salários gado aos negócios
• Estrutura hierárquica • Descentralização e diluição da hierarquia
• Autoridade • Gerência participativa e diluição da
• Centralização autoridade
• Recursos descentralizados, sinergia,
trabalho em equipe
• Controle e centralização da • Compartilhamento das informações
informação • Decisões participativas, gerência por
• Processo decisório centralizado processos, gerenciamento por resultados
• Planejamento centralizado • Pensar globalmente e agir localmente
• Controle centralizado • Controle descentralizado
Fonte: Abreu e Rezende (2003).

Nesse quadro são mostradas apenas algumas diferenças entre os modelos


organizacionais. Entretanto, isso não significa dizer que o modelo tradicional
seja ineficiente, a idéia é apenas sintetizar essas diferenças.

1.4.3 Importância da informação no processo de tomada de decisão


Abreu e Rezende (2003) afirmam que podemos definir decisão como a
escolha de alternativas, obedecendo a critérios preestabelecidos, em que é indis-
cutível a importância das informações em cada fase do processo.
Segundo Cassarro (1999, p. 9), o responsável pela tomada de decisões deve
decidir, mesmo com a possibilidade de errar. O autor afirma ainda que esta tomada
de decisão envolve um ciclo de controle, decisão e execução, em que é fundamental
a existência de informações apropriadas a cada uma destas fases.
Bio (1993) cita a importância de diferenciar os tipos de informação:
a) informações operacionais: permitem que determinadas operações conti-
nuem acontecendo dentro da empresa;
b) informações gerenciais: alimentam processos de tomada de decisão.
Cada nível de gerência depende de informações diferentes.

UNITINS • ADMINISTRAÇÃO • 2º PERÍODO  273


Aula 1 • Tecnologia da Informação e da Comunicação

1.5 Sistemas de informações


Como já foram trabalhados os conceitos de sistemas e informações, a abor-
dagem de sistemas de informações torna-se mais fácil, como você poderá cons-
tatar a seguir.
Se analisarmos uma empresa, veremos a enorme quantidade de problemas que
estão ao seu redor, podemos citar como exemplo: problemas para captação de
clientes, para a manutenção de clientes, para o desenvolvimento de novos produtos/
serviços, para a manutenção da qualidade dos produtos/serviços oferecidos.
Podem-se retratar esses problemas por meio da forma de triângulo invertido:

Figura 1– Níveis de Problemas na Empresa

Problemas
Estratégicos

Problemas
Táticos

Problemas
Operacionais

Fonte: Abreu e Rezende (2003).

Os sistemas de informações podem contribuir para as soluções dos problemas


empresariais. Como futuro gestor, você deverá concentrar esforços nos problemas
estratégicos e de gestão, esses é que determinam o sucesso ou fracasso de uma
organização.

1.5.1 Objetivo dos sistemas de informações


Os sistemas de informações têm como objetivo auxiliar os processos de
tomada de decisões nas organizações. Tendo objetivo contrário, os sistemas de
informações não exercerão grande influência na empresa.

Saiba mais

Geralmente, os sistemas de informática são desenvolvidos para solucionar


algum problema na organização. Esta é a situação mais delicada do processo

274  2º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • UNITINS


Aula 1 • Tecnologia da Informação e da Comunicação

de desenvolvimento de um sistema de informática: entender os problemas. É


necessário compreender a situação que exigiu uma solução desse tipo.

1.5.2 Vantagem de se utilizar os sistemas de informações


Oliveira (2003) e Stair (2000) nos mostram que a utilização de sistemas de
informações pode ter grande impacto na estratégia corporativa e no sucesso da
empresa. Esse impacto pode beneficiar a empresa, os clientes e/ou usuários e
qualquer indivíduo ou grupo que interagir com os sistemas de informação.
Citaremos alguns benefícios, entre inúmeros que um sistema de informação
pode gerar:
• redução da carga de trabalho;
• redução dos custos;
• aumento na qualidade dos produtos/serviços oferecidos.
Os sistemas de informação podem auxiliar a empresa a obter novos dife-
renciais competitivos e trazer motivação aos colaboradores, além de gerar e
difundir conhecimento.

1.5.3 Subsistemas de informação


Em muitos casos, os subsistemas de informação serão divididos em pequenas
partes (módulos), como:
• engenharia de software;
• manutenção de equipamentos de informática;
• infra-estrutura de comunicação, etc.
No caso anterior, o departamento de informática de uma organização foi
dividido em pequenos módulos.
Em seu menor nível de detalhamento, cada subsistema de informação pode
ser decomposto em três etapas: entrada de dados, processamento de dados e
saída de informações.

Figura 2 – Sistema de Processamento de Dados – Abordagem Sistêmica

Fonte: Abreu e Rezende (2003).

UNITINS • ADMINISTRAÇÃO • 2º PERÍODO  275


Aula 1 • Tecnologia da Informação e da Comunicação

No qual temos:
a) subsistema de entrada: coleta de informações e dados;
b) subsistema de processamento: execução das informações e os dados.
Neste ponto, são elaboradas as tarefas, os cálculos, os requisitos
funcionais e outros;
c) subsistema de saída: relatórios, telas de sistemas, geração de produtos
e outros.
É importante lembrar, conforme a visão sistêmica, que toda essa decomposição
apresenta dependências com os processos de entrada, processamento e saída.

1.5.4 Sistemas integrados de informações


Em muitas empresas, é comum o desenvolvimento/aquisição de vários
softwares para serem utilizados como sistemas de informações. Na gestão de
Tecnologia da Informação, deve-se ficar atento a esses investimentos. Vamos já
explicar o porquê!
Se atualmente temos a necessidade de ter em mãos informações tratadas,
para se ter mais subsídios ao tomar uma decisão e, com isso, errar menos, não
podemos nos dar o luxo de termos sistemas de informações descentralizados. A
informação é a base de apoio para a tomada de decisão; portanto, ela pertence
à organização como todo.
Analise a figura a seguir, na qual podemos visualizar uma base central,
que contém todos os dados dos diversos setores da empresa. Dessa forma, são
geradas informações para clientes, fornecedores, funcionários e diretores.

Figura 3 – Base de Dados Centralizada

Fonte: <http://www.nautilus.ginfo.com.br>.

276  2º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • UNITINS


Aula 1 • Tecnologia da Informação e da Comunicação

1.5.5 Classificação dos sistemas de informações


A classificação dos sistemas de informações se dá pelos níveis hierárquicos
encontrados nas empresas, mas não se pode dizer que essa classificação seja
um padrão a ser seguido. A seguir, mostraremos como eles podem ser classifi-
cados conforme uma determinada hierarquia que tenha as partes operacional,
estratégica e gerencial.
a) Sistemas de Informações Operacionais (S.I.O.): contemplam o processa-
mento de operações e transações rotineiras quotidianas, por exemplo,
contas a pagar e receber, em seu detalhe (valor do título, a data de
vencimento, etc.), incluindo seus respectivos procedimentos.
b) Sistemas de Informações Gerenciais (S.I.G.) ou Sistemas de Apoio à
Gestão: segundo Abreu e Rezende (2003), contemplam os dados dos
sistemas de informações operacionais, transformando-os em informa-
ções agrupadas para gestão. Aqui as informações devem estar sinteti-
zadas, auxiliando a tomada de decisão do corpo gestor ou gerencial
das unidades departamentais, em sinergia com as demais.
c) Sistemas de Informações Estratégicas (S.I.E.): são os sistemas de suporte
à decisão estratégica. Esses sistemas contemplam os dados analíticos
dos sistemas de informações operacionais e os dados sintetizados dos
sistemas de informações gerenciais: neles esses dados são transformados
em informações estratégicas.
As três classificações podem ser representadas pelo gráfico:

Figura 4 – Sistemas de Informações Empresariais

Níveis Hierárquicos Níveis de Informação

Fonte: Abreu e Rezende (2003).

UNITINS • ADMINISTRAÇÃO • 2º PERÍODO  277


Aula 1 • Tecnologia da Informação e da Comunicação

Saiba mais

1.6 Um planejamento para a tecnologia


Se implantado um sistema integrado de informações, a unidade organiza-
cional de tecnologia da informação e comunicação (a partir de agora, identifi-
caremos como TIC), normalmente detentora dos maiores recursos de geração de
informações dentro de uma empresa, deverá avaliar criteriosamente as possíveis
estratégias e táticas que serão adotadas por si, e isso envolve basicamente:
• elaboração de planejamento estratégico de informações alinhado com
o planejamento da organização;
• utilização de metodologias adequadas ao desenvolvimento da área;
• elaboração de projetos formais, definindo objetivos, custos, benefícios e
riscos, com fases, subfases, produtos e visão sistêmica;
• envolvimento dos clientes e/ou usuários na concepção, desenvolvimento
de projetos e na absorção de conhecimentos dos negócios da empresa,
entre outros.
A TIC deve estar alinhada às necessidades da empresa, à sua cultura,
filosofia e às políticas empresariais. É comum encontrarmos empresas com
seu departamento de TIC totalmente desalinhado com as perspectivas da
organização. Dessa forma, os investimentos realizados no setor sempre
serão escassos, os resultados estarão abaixo das expectativas de clientes/
usuários, e a desconfiança de todos na organização, em relação aos projetos
do setor, aumentará.

Síntese da aula
A relação entre sistemas e empresas é estreita e exige vários cuidados espe-
ciais, que vão desde a elaboração dos objetivos e os meios de alcançá-los
até o comportamento da empresa frente ao seu meio ambiente. Os sistemas
de informações estão associados a esses conceitos e, por isso, se fez neces-
sária esta abordagem. Vimos que todos os conceitos de Sistemas, Empresas e
Informações são fundamentais para que se compreenda a importância da TIC
em uma organização. Entender que sistemas de informações e tecnologia são
conceitos distintos será o primeiro passo para que se saibam quais tecnologias
serão úteis à realidade da sua empresa.

278  2º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • UNITINS


Aula 1 • Tecnologia da Informação e da Comunicação

Atividades

1. Sobre sistemas e empresas, marque as afirmações abaixo com V para verda-


deiro e F para falso.
(  ) Os sistemas existem dentro dos sistemas. Cada sistema é constituído de
subsistemas e, ao mesmo tempo, faz parte de um sistema maior.
(  ) Os sistemas são abertos. Os sistemas existem dentro dos sistemas e
caracterizam-se por um processo infinito de intercâmbio com o ambiente.
Quando esse intercâmbio cessa, o sistema se desintegra.
(  ) As funções de um sistema independem de sua estrutura. Como os
sistemas são independentes e auto-suficientes, a sua estrutura não
influencia o meio nem os demais sistemas que nele se encontram.
(  ) Empresa é um sistema que interage com o meio interno e externo no
qual ela está envolvida, buscando a integração entre os meios, para
atingir algum resultado, geralmente econômico.
(  ) As empresas modernas atuam em constante troca de informações e energia
com o meio em que se encontram. Com a globalização, essa troca tornou-
se mais difícil devido aos meios de comunicação e sua abrangência.

a) V, V, V, V, F c) V, V, F, V, F
b) V, V, F, F, F d) V, V, F, V, V

2. O que você entende por sistemas fechados e abertos? Comente os pontos


positivos e negativos de ambos.

3. Sobre informação, é incorreto afirmar:


a) a informação deve ser analisada com sensatez. É sabido que uma
empresa que tem sua gestão baseada em informações tende a obter
maiores sucessos;
b) quando a informação é trabalhada pelas pessoas e pelos recursos
computacionais, possibilitando a geração de cenários, simulações,
situa­ções e oportunidades, pode ser chamada de conhecimento;
c) o conhecimento é de difícil estruturação, mas fácil de capturar em
sistemas computacionais, o que torna os Sistemas de Informação vitais
por sua facilidade em gestionar conhecimento;
d) a informação, quanto mais tratada, pode representar grandes ganhos
competitivos, pois uma atividade qualquer pode ser elaborada e execu-
tada com um custo menor, em tempo reduzido e com menos trabalho.

4. Cite e comente as classificações de sistemas de informações.

UNITINS • ADMINISTRAÇÃO • 2º PERÍODO  279


Aula 1 • Tecnologia da Informação e da Comunicação

Comentário das atividades


O primeiro objetivo dessa aula, compreender a relação entre sistemas e
empresas, é abordado nas atividades um e dois. Na atividade um, a resposta
certa é a letra (d) (V,V,F,V,V), pois a teoria geral dos sistemas surgiu das ciên-
cias naturais e da tentativa de integrá-las às ciências sociais. As premissas
que sustentam essa teoria são: os sistemas existem dentro dos sistemas, os
sistemas são abertos e as funções de uso do sistema dependem de sua estru-
tura. Dessa forma, a terceira afirmação é falsa, já que os sistemas são inter-
dependentes: à medida que suas funções se contraem ou expandem, sua
estrutura se modifica.
A atividade dois busca traçar um paralelo entre sistemas abertos e sistemas
fechados, sendo que os sistemas fechados não trocam informações com o meio.
Desta forma, empresas com sistemas empresariais fechados são insensíveis e
indiferentes a qualquer influência do ambiente, não há integração ou interação
com o mundo, inviabilizando sua existência. Por outro lado, nos sistemas abertos,
as empresas não funcionam sem interagir, sem trocar informações com o meio
ambiente. O foco está voltado para as pessoas, nos procedimentos e na socie-
dade. Apresentam, entre outras características, uma gestão participativa e maior
facilidade de adaptação a mudanças.
Para solucionar a atividade três, devemos recordar do texto da aula o qual
afirma que, quando a informação é trabalhada por pessoas e pelos recursos
computacionais, possibilitando a geração de cenários, simulações de situações
e oportunidades, pode ser chamada de conhecimento. Atualmente, conheci-
mento é algo de fundamental importância, sendo que o mesmo é de difícil
estruturação, trabalhosa captura em máquinas, freqüentemente tácito ou suben-
tendido, de transferência dificultosa e complexo de gestionar, o que torna incor-
reta a afirmativa (c).
A atividade quatro versa sobre a classificação dos sistemas de informações,
os quais são classificados em Sistemas de Informações Operacionais (S.I.O.),
que contemplam o processamento de operações e transações rotineiras quoti-
dianas, em Sistemas de Informações Gerenciais (S.I.G.), que contemplam os
dados dos sistemas de informações operacionais, transformando-os em informa-
ções agrupadas para gestão e em Sistemas de Informações Estratégicas (S.I.E.),
que contemplam os dados analíticos dos sistemas de informações operacionais
e os dados sintetizados dos sistemas de informações gerenciais; neles, esses
dados são transformados em informações estratégicas.

Referências
ABREU, Aline F. de; REZENDE, Denis A. Tecnologia da Informação: aplicada a
sistemas de informação empresarial. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2003.

280  2º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • UNITINS


Aula 1 • Tecnologia da Informação e da Comunicação

BIO, S. R. Sistemas de informação: um enfoque gerencial. São Paulo: Atlas, 1993.


CASSARRO, A. C. Sistema de informações para tomada de decisões. São Paulo:
Pioneira, 1999.
CHIAVENATO, Idalberto. Introdução à Teoria Geral da Administração. São
Paulo: Campus, 2004.
DAVENPORT, Thomas H.; PRUSAK, Laurence. Conhecimento Empresarial: como
as organizações gerenciam o seu capital intelectual. Rio de Janeiro: Campus,
1998.
OLIVEIRA, Jayr Figueiredo. Tecnologias da Informação e da Comunicação. São
Paulo: Érica, 2003.
REZENDE, Denis Alcides. Planejamento de sistemas de informação e informática.
São Paulo: Atlas, 2003.
RODRIGUEZ, Martius V.; FERRANTE, Agustin J. Tecnologia de informação e
mudança organizacional. Rio de Janeiro: Infobook, 1995.
STAIR, Ralph M. Princípios de Sistemas de Informação: uma Abordagem
Gerencial. São Paulo: LTC, 2000.

Na próxima aula
Na próxima aula, faremos uma pequena incursão às origens da compu-
tação e veremos as transformações sociais que ela gerou.

Anotações
















UNITINS • ADMINISTRAÇÃO • 2º PERÍODO  281


Aula 1 • Tecnologia da Informação e da Comunicação

282  2º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • UNITINS


Aula 2 • Tecnologia da Informação e da Comunicação

Aula 2
Fundamentos de computação

Objetivos
Esperamos que, ao final desta aula, você seja capaz de:
• conhecer a história e a evolução dos computadores;
• entender hardware e software.

Pré-requisitos
Conhecer um pouco de história da humanidade é importante para poder
associar certos períodos da evolução das tecnologias computacionais a determi-
nados fatos marcantes, como guerras e descobertas científicas. Tais temas você
certamente já estudou no ensino médio. É hora de relembrar!

Introdução
O surgimento do computador teve como alicerce a necessidade humana de
realizar cálculos cada vez mais complexos, de forma cada vez mais rápida. Era
vital para o avanço científico e tecnológico, o desenvolvimento de ferramentas
que propiciassem essa evolução. Vamos compreender, também, os conceitos
técnicos da computação. Para minimizar a presença dos termos técnicos, utili-
zaremos uma linguagem simples e objetiva. E como já estudamos as teorias de
gestão, oportunidade em que muitas vezes comentamos sobre algum conceito
técnico, você não encontrará dificuldades com as sopinhas de letras e as termi-
nologias usadas pela informática.

2.1 O computador
O computador nada mais é do que uma potente calculadora, uma máquina
capaz de efetuar uma seqüência de operações, mediante um programa, de
tal forma que se realize um processamento sobre um conjunto de dados de
entrada, obtendo-se, como resultado, outro conjunto de dados ou informa-
ções de saída.

UNITINS • ADMINISTRAÇÃO • 2º PERÍODO  283


Aula 2 • Tecnologia da Informação e da Comunicação

2.1.1 O início
Segundo a Wikipédia (2006), um dos primeiros equipamentos utilizados
para resolver problemas matemáticos foi o ábaco, dispositivo formado por uma
moldura com bastões ou arames paralelos, dispostos no sentido vertical. Cada
bastão contém sete bolas móveis, que podem ser movidas para cima e para
baixo. Assim, de acordo com o número de bolas na posição inferior, temos
um valor representado. Tal dispositivo remonta às antigas civilizações grega e
romana, mas, apesar de ser uma ferramenta interessante para realizar cálculos
matemáticos, não pode ser categorizada como computador, pois carece de um
elemento fundamental chamado programa.
Conforme o Museu Virtual de Informática (2008), uma das primeiras calcula-
doras mecânicas foi a Pascalina, desenvolvida pelo filósofo, físico e matemático
francês Blaise Pascal (1623 – 1662). Essa máquina representava os dados e resul-
tados, mediante diferentes posições das suas engrenagens.
O primeiro computador (ainda totalmente mecânico) foi a Máquina
Analítica criada por Charles Babbage, matemático, professor da Universidade
de Cambridge. Babbage apresentou sua proposta em 1834, ponto de partida
para os modernos computadores eletrônicos.
Em 1947, na Universidade da Pensilvânia, nos Estados Unidos, foi desen-
volvido o ENIAC – Electronic Numerical Integrator And Calculator – o primeiro
computador totalmente eletrônico. Tratava-se de uma máquina enorme, a qual
ocupava três salas com um total de setenta e dois metros quadrados, sendo
composto por aproximadamente dezoito mil válvulas eletrônicas e pesava cerca
de trinta toneladas. O ENIAC tinha capacidade de realizar cinco mil opera-
ções aritméticas por segundo, o que atualmente é facilmente superado por uma
pequena calculadora.
Em 1965 a DEC – Digital Equipment Corporation lança o primeiro minicom-
putador que obteve sucesso comercial. Era suficientemente pequeno para ser
colocado em uma bancada de laboratório e tinha um custo aproximado de U$
16.000,00.
Finalmente, em 1981, a IBM lança o IBM-PC, cuja missão era ser protago-
nista absoluto de uma nova estratégia: conquistar a fatia de mercado formada
pelos usuários domésticos. Esse novo equipamento, que já contava com uma
aparência e dimensões bem próximas dos computadores atuais, proporcionou
rápido crescimento do mercado de computadores. O MS-DOS – Microsoft Disk
Operating System foi o software básico lançado para o PC da IBM, estabele-
cendo uma longa parceria entre a IBM e a recém-nascida Microsoft.
Desde o surgimento IBM-PC, em 1981, até hoje, os computadores vêm
evoluindo em termos de recursos e velocidade de processamento, de forma extre-
mamente rápida.

284  2º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • UNITINS


Aula 2 • Tecnologia da Informação e da Comunicação

Como resultado da influência dos computadores, vemos mudanças antes


inimagináveis na forma como as pessoas trabalham e na maneira como os
negócios são dirigidos. Não se trata apenas da simplificação de determinadas
atividades, eliminando grande parte do trabalho braçal. Algumas atividades
manuais podem ser totalmente eliminadas.
Laudon (2004) nos revela que, hoje, todos admitem que conhecer sistemas
de informação é essencial para os administradores, porque a maioria das organi-
zações precisa deles para sobreviver e prosperar. Esses sistemas podem auxiliar
as empresas a estender seu alcance a locais distantes, oferecer novos produtos e
serviços, reorganizando fluxos de tarefas e trabalho e, talvez, transformar radi-
calmente o modo como conduzem os negócios.

2.2 A Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC)


Segundo Cruz (1998), entre os vários conceitos que podem ser encontrados
em bibliografias relacionadas a essa aula, há um que pode resumir o significado
de TIC. Nele, TIC pode ser todo e qualquer dispositivo que tenha a capacidade
para tratar dados e/ou informações, tanto de forma sistêmica como esporádica,
quer esteja aplicada ao produto, quer esteja aplicada ao processo.
Para entender esse conceito, podemos dizer que dispositivo é um
hardware, software, telecomunicações (rede de comutadores) e todos os seus
recursos e componentes envolvidos em cada um destes dispositivos. Apesar
deles estarem envolvidos no conceito de informática, fazem parte do conceito
de tecnologia da informação e comunicação. Talvez não houvesse possibi-
lidade de ter este conceito sem os recursos da informática, porém, segundo
Abreu e Rezende (2003), o componente fundamental é o recurso humano”.
Sem isto não há TIC.

2.2.1 Hardware – a parte física


É bastante simples entender o que seja hardware. Se pensarmos que tudo
que é concreto pode-se considerar como sendo um, por exemplo: computadores,
monitores, teclados, mouses, entre outros. Essa é uma forma bastante simples
de entender, porém vamos ao conceito técnico do que seja: segundo Laudon
(2004), são conjuntos integrados de dispositivos físicos, posicionados por meca-
nismos de processamento que utilizam eletrônica digital, usados para entrar,
processar, armazenar e sair com dados e informação.
Os dispositivos físicos são:
a) computadores – executam as funções de entrada, processamento, arma-
zenamento de dados e saída. Tornaram-se poderosos devido à sua
capacidade de processar os dados, quem é responsável por isso é a
UCP (Unidade Central de Processamento – processador);

UNITINS • ADMINISTRAÇÃO • 2º PERÍODO  285


Aula 2 • Tecnologia da Informação e da Comunicação

b) periféricos – os periféricos são os dispositivos que trabalham em conjunto


com o computador. Existem os de saída (output), que são os monitores,
impressoras, caixa de som, entre outros. Há também os dispositivos de
entrada (input) que são o teclado, mouse, capturador de imagens (scan-
ners), máquinas fotográficas, leitores de código de barra, microfone e
outros. Existem outros periféricos que exercem as duas funções, como os
modems e as placas de rede.
Ainda sobre hardwares, podemos considerar os estabilizadores de energia e
os nobreaks (aparelhos que retêm energia em caso de falta de energia elétrica),
no entanto, os aparelhos industriais podem fazer parte dessa lista como os
robôs, sensores e os caixas eletrônicos utilizados pelos bancos. A infra-estrutura
é bastante vasta; entretanto, o que vale é saber o que utilizar e de que forma
utilizar para gerar os resultados esperados. Pode parecer técnico demais, porém
é importante que o gestor conheça esses fundamentos, para que mantenha ativo
os sistemas de informações da empresa.

2.2.2 Software – A parte lógica


Para que um hardware execute as ações de maneira eficiente, eles neces-
sitam de algum programa específico para controlar essas ações. Os softwares
determinam e controlam os paramêtros passados ao meio físico, impressoras,
monitor, teclado, entre outros, para que tudo funcione como o esperado.
Existem vários tipos de softwares, tais como o básico, os aplicativos e os
utilitários. Mesmo havendo essas “divisões”, todos são considerados programas
de computador, este é o entedimento que devemos ter.
a) Softwares Básicos: essa categoria é representada essencialmente pelos
Sistemas Operacionais, que são a base de funcionamento do computador.
O sistema operacional, independente de seu fabricante, tem como objetivo
principal controlar, processar e executar os dispositivos lógicos e físicos do
computador. Ele é o administrador geral, o chefão!
Quando executamos a tarefa de impressão de um documento, acessamos
uma página na internet, ou quando simplesmente ligamos o computador,
o Sistema Operacional é o responsável por controlar os recursos compu-
tacionais como as memórias volátil e não volátil. Evidente que ele não se
limita a isso: há inúmeras tarefas que são executadas simultaneamente
que envolvem a unidade central de processamento (UCP), a placa-mãe
e outros dispositivos. Se não existissem os sistemas operacionais, todo
programa desenvolvido deveria saber se comunicar com os dispositivos
do computador. Imagine o trabalho que seria desenvolver um programa,
além do seu custo!
Cada Sistema Operacional pode ter uma linguagem de máquina
própria e distinta. Por isso, é comum que alguns programas funcionem
em uns sistemas operacionais e outros funcionem em outros. Até pouco

286  2º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • UNITINS


Aula 2 • Tecnologia da Informação e da Comunicação

tempo, o monopólio das aplicações pertencia a uma única corporação.


Com a chegada dos chamados softwares livres, todos passaram a ter
mais uma opção de escolha. Os prós e os contras de um e de outro
estudaremos adiante.
b) Softwares Aplicativos: é comum encontrarmos escritórios de contabili-
dade, advocacia, consultorios médicos, entre outros, que adquiriram
programas para gerenciar agenda de pacientes ou cadastro de clientes.
Quando pensamos em grandes organizações, onde existem vários
setores e cada um deles com objetivos distintos, muitos desses softwares
não serão eficazes pela dimensão e o contexto em que estarão inseridos.
O contexto é determinante na elaboração de um projeto, mas podemos
ir além, ele determina em que deve ser investido. Havendo uma neces-
sidade específica em que vários sistemas alimentam, com dados, um
sistema integrado de informações, os programas básicos já formatados
no mercado talvez não atendam a essas necessidades. Mas, em geral,
tanto a grande organização quanto o pequeno escritório de contabili-
dade utilizam ferramentas comuns para as tarefas do dia-a-dia.
• Editores de texto: geralmente são fáceis de usar e trazem grande
aumento de produtividade na produção de documentos, ofícios,
memorandos, cartas, etc.
• Planilhas: usadas para produção de relatórios que envolvam cálculos
e fórmulas matemáticas.
• Softwares de apresentação: programas comumente utilizados
quando se quer fazer a demonstração de algum produto, serviço ou
simplesmente expor alguma informação.
• Banco de dados: há softwares simples que podem ser utilizados
para armazenar, recuperar e manipular dados. Você pode gerar,
por exemplo, cadastros de clientes, agenda, controle de estoque,
por meio desses softwares, sendo bastante útil para pequenas
empresas. Quando falamos em sistemas integrados de informações,
as proporções são outras e, geralmente, são utilizados Sistemas
Gerenciadores de Banco de Dados (SGBD) que suportam um grande
volume de informações.
c) Softwares utilitários: esses são programas que trabalham em conjunto
com os aplicativos. Na verdade, eles os complementam. Se buscarmos
uma definição, veremos que o próprio nome indica sua funcionalidade,
eles são ditos utilitários por executarem tarefas do tipo: remover vírus,
compactar arquivos, acessar a internet, ou seja, são úteis para tarefas
específicas. Você pode se perguntar: os aplicativos não são úteis? Claro
que sim! Por isso a diferenciação, os aplicativos estão voltados para

UNITINS • ADMINISTRAÇÃO • 2º PERÍODO  287


Aula 2 • Tecnologia da Informação e da Comunicação

automação e estes para complementar a funcionalidade do sistema


operacional e, também, dos aplicativos. Ter um vírus no computador
pode causar grandes danos à integridade fisica e lógica de um equipa-
mento e, muitas vezes, esses vírus são passados por arquivos gerados
em editores de textos, planilhas e outros. O sistema operacional não tem
a capacidade de gerenciar e saber se o arquivo acessado tem ou não
vírus, pois a função dele não é essa. Caso o computador não tenha um
utilitário de antivírus, provavelmente será infectado. Daí a função desses
softwares utilitários. Além do antivírus, há também os seguintes:
• cópia ou backup – tem a função básica de salvar os dados e/ou
informações em dispositivos extras por segurança;
• compactadores – os compactadores têm a finalidade de diminuir o
tamanho dos arquivos de forma a ocupar o menor espaço possível,
onde estejam gravados;
• browsers – programas para navegação na internet, que possibilitam
visualizar, entre outras coisas: imagens, textos e videos criados para
a Web.

Síntese da aula
Vimos, de forma resumida, o surgimento e a evolução dos modernos computa-
dores, da primeira à quarta geração, bem como as transformações sócias geradas
por essa nova tecnologia. Frisamos a necessidade de conhecimentos em informática
para os gestores, para os quais as ferramentas disponibilizadas pela computação
transformaram o modo de conduzir suas atividades. Estudamos os diferentes tipos
de hardware (parte física do computador) e software (parte lógica – os programas),
conceituando e exemplificando cada um deles. Finalmente, vimos as principais
ferramentas (programas) utilizadas na automação de escritório, como os editores
de texto, as planilhas de cálculo, entre outros.

Atividades

1. Comente sobre a evolução dos computadores e a evolução da humanidade,


tentando entender o porquê de determinados avanços tecnológicos.

2. Acerca dos softwares utilitários é incorreto afirmar:


a) software de cópia: conhecidos como backup, que tem função básica de
salvar os dados e informações em dispositivos extras;
b) software antivírus: a função básica é proteger os arquivos contra vírus;
c) browser: programa responsável por bloquear o acesso indevido às infor-
mações do computador;

288  2º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • UNITINS


Aula 2 • Tecnologia da Informação e da Comunicação

d) compactadores: tem por finalidade primordial diminuir o tamanho


do arquivo. O objetivo desta ferramenta é fazer com que o arquivo
ocupe o menor espaço possível onde ele esteja gravado (disco rígido,
disquete ou cd).

3. Hardware e software, apesar de bem diferentes, exercem certa dependência


um sobre o outro. Tendo você que gerenciar uma empresa, quais os crité-
rios que seriam avaliados no momento da compra de novos computadores,
tendo em vista tal dependência?

4. As sentenças a seguir correspondem a conceito e funções dos softwares.


Assinale verdadeiro (V) ou falso (F) e marque a alternativa correta.
(  ) São conjuntos integrados de dispositivos físicos, posicionados por meca-
nismos de processamento que utilizam eletrônica digital, usados para
entrar, processar, armazenar e sair com dados e informação.
(  ) São programas que determinam e controlam os parâmetros passados
ao meio físico como as impressoras, monitores, entre outros, para que
tudo funcione como o esperado.
(  ) Pode-se afirmar que Microsoft Excel e Microsoft Word são exemplos
de software.
(  ) São equipamentos responsáveis pelo armazenamento dos dados no
computador.

a) V, F, F, F
b) F, V, V, F
c) V, V, V, F
d) V, F, F, V

Comentário das atividades


A atividade um foi desenvolvida de forma a atender ao primeiro objetivo
dessa aula. Podemos associar certos períodos da evolução das tecnologias
computacionais a determinados fatos marcantes como guerras e descobertas
científicas. O surgimento do computador teve como alicerce a necessidade
humana de realizar cálculos cada vez mais complexos de forma cada vez mais
rápida. Era vital para o avanço científico e tecnológico, o desenvolvimento de
ferramentas que propiciassem essa evolução. Podemos tomar como exemplo o
desenvolvimento do ENIAC, nos EUA, em 1947. O ENIAC foi o primeiro compu-
tador totalmente eletrônico. Foi desenvolvido durante a II Guerra Mundial e sua
função primordial era realização de cálculos para a área militar.

UNITINS • ADMINISTRAÇÃO • 2º PERÍODO  289


Aula 2 • Tecnologia da Informação e da Comunicação

Na atividade dois deve ser assinalada a alternativa (c), pois incorre em erro ao
afirmar que browser é um programa responsável por bloquear o acesso indevido
às informações do computador, quando na verdade ele é um navegador para
acesso à Internet (Ex.: internet Explorer e FireFox).
A atividade três questiona sobre a interdependência entre hardware e
software. No caso do software, devemos ter certeza de que o equipamento que
está sendo adquirido vai ser compatível com o software utilizado na empresa.
Ou seja: se o software é muito exigente em termos de processamento e de
recursos computacionais, os equipamentos devem ser mais poderosos (conse-
qüentemente de preços mais elevados). Caso contrário, se o software exige
pouco do hardware, como é o caso de sistemas mais antigos ou que não utilizam
plataformas gráficas pesadas, não há necessidade de adquirir equipamentos
topo de linha, os quais ficariam subutilizados.
Na atividade quatro, a alternativa correta é a (b). O software é a parte
lógica do computador, o responsável pelo controle dos parâmetros passados ao
meio físico, como a impressora, o monitor, etc. O hardware é o equipamento. O
conjunto dos objetos tangíveis. Assim sendo, software não pode ser classificado
como dispositivo físico ou equipamento.

Referências
CRUZ, Tadeu. Sistemas de informações gerenciais: tecnologia da informação e a
empresa do século XXI. São Paulo: Atlas, 1998.
LAUDON, Jane P.; LAUDON, Kenneth C. Sistemas de Informação Gerenciais:
administrando a empresa digital. São Paulo: Prentice Hall, 2004.
Museu Virtual de Informática. Disponível em: <http://piano.dsi.uminho.pt/
museuv/index.html>. Acesso em: 7 fev. 2008.
WIKIPÉDIA – Enciclopédia Livre. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/
wiki/Abaco>. Acesso em: 24 ago. 2006.

Na próxima aula
Na próxima aula estudaremos o teleprocessamento de informações, as
redes e a teleinformática e, com isso, poderemos compreender os sistemas de
telecomunicações e seus recursos, bem como as formas de proteção básica para
segurança da informação.

Anotações


290  2º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • UNITINS


Aula 3 • Tecnologia da Informação e da Comunicação

Aula 3
Redes e Telecomunicações

Objetivos
Esperamos que, ao final desta aula, você seja capaz de:
• entender a utilidade das soluções baseadas no ambiente de internet;
• compreender os conceitos básicos de segurança da informação.

Pré-requisitos
Os conhecimentos básicos de informática adquiridos na aula um são sufi-
cientes para a compreensão deste conteúdo.

Introdução
Os sistemas de telecomunicações tomarão conta de nossa abordagem
neste capítulo, no qual você compreenderá o teleprocessamento de informa-
ções, as redes e a teleinformática e, com isso, poderá ter uma visão geral
dos sistemas de telecomunicações e seus recursos. Nesse capítulo, veremos
que a internet revolucionou a forma de comunicação entre pessoas e orga-
nizações e deu acesso a muitas informações, muitas vezes em tempo real.
É importante entender as diferenças entre as soluções que são baseadas em
web e aquelas que utilizam um ambiente computacional tradicional, como a
plataforma cliente/servidor, para que você possa aplicar, com eficiência, todo
o potencial que ela possa oferecer. Este estudo procurará ser o mais objetivo
possível. Adotaremos uma linguagem clara e objetiva, na qual serão utilizados
termos técnicos somente naquilo em que for necessário, tornando, assim, o
estudo agradável e proveitoso. A Tecnologia da Informação e da Comunicação
desempenha um papel tão relevante, nas atividades diárias dos diversos tipos
de organizações e pessoas, que devem ser tomadas providências especiais
para proteger e garantir que os dados e informações gerados pelo uso das
TICs sejam precisos, confiáveis e seguros. Nesse capítulo, veremos as princi-
pais ameaças aos sistemas de informação computacionais e as formas básicas
de proteção à integridade dos dados digitais.

UNITINS • ADMINISTRAÇÃO • 2º PERÍODO  291


Aula 3 • Tecnologia da Informação e da Comunicação

Saiba mais

3.1 Telecomunicações
Na gestão das TICs, além de compreender os aspectos físicos e lógicos, faz-se
necessário o entendimento dos sistemas de telecomunicações. Mas, antes de ver
quais são esses sistemas, vamos entender os conceitos de comunicação e teleco-
municação. Abreu e Rezende (2003) nos apresentam os seguintes conceitos:
a) comunicação – processo pelo qual uma informação gerada em um ponto
no espaço e no tempo, chamado fonte, é transferida a outro ponto no
espaço e no tempo, chamado destino. Podemos dizer de forma bem
simples: são quaisquer sinais transmitidos, por quaisquer meios, do
emissor para o receptor;
b) telecomunicação – é a transmissão, emissão ou recepção, por fio, radioe-
letricidade, meios ópticos ou qualquer outro processo eletromagnético, de
símbolos, caracteres, imagens, sons ou informações de qualquer natureza.
Dentre os sistemas de telecomunicações, temos:
• teleprocessamento de informações – você deve estar lembrado
quando estudamos que a menor unidade computacional é o bit
e que, quando digitamos algum dado, eles logo são convertidos
para uma seqüência de zero e um. Pois bem, essa é a base do tele-
processamento de informações quando se utilizam recursos como
modems, por exemplo. Quando usamos a linha telefônica de casa
para acessar a internet, constatamos, na prática, esse sistema de
telecomunicação. Tudo acontece de forma até simples: o computador
utiliza sinais digitais, ou seja, 0 e 1, e o sinal da linha telefônica é
analógico, portanto, ambos incompatíveis. O hardware, neste caso,
o modem, converte o sinal analógico da linha telefônica em digital e
vice-versa. Por isso, conseguimos navegar na internet.
• redes e comunicação de dados – é o mais simples de todos e
será comum encontrá-las nas organizações. Portanto, uma rede
de computador consiste em dois ou mais computadores e outros
dispositivos (impressoras, fax, etc.) ligados entre si, compartilhando
dados, trocando mensagens e otimizando recursos. As redes contri-

292  2º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • UNITINS


Aula 3 • Tecnologia da Informação e da Comunicação

buem para melhor uso dos equipamentos, minimizando os investi-


mentos. Outros aspectos podem ser citados, mas vale ressaltar a
importância das redes de computadores para interligar empresas
em locais remotos, utilizar banco de dados centralizados e agilizar
a comunicação entre as pessoas.

3.1.1 Classificação das Redes


Quanto à extensão geográfica, podemos interligar, por exemplo, empresas
com sua sede em uma cidade e as filiais espalhadas por diversas outras, ou
simplesmente interligar os setores dessa empresa que estão no mesmo local
físico, para isso, temos:
• LAN – Local Área Network ou simplesmente Rede local. A área de
alcance é bem restrita; em geral, limita-se a prédios ou até mesmo locais
próximos.
• MAN – Metropolitan Área Network. Essas redes abrangem uma cidade
e o exemplo mais comum são os das TVs a Cabo.
• WAN – Wide Área Network ou simplesmente redes de longa distância.
A sua área de abrangência é bem maior do que as LANs, podendo elas
conectar duas ou mais redes em diferentes locais geográficos (conexão
entre cidades, estados ou países).
Meios de Transmissão: normalmente os cabos (coaxial, fibra óptica ou cabo
de par trançado) são os meios de transmissão mais utilizados para a troca de
dados entre as redes; no entanto, já é comum encontrarmos a utilização de redes
sem fios ou wireless para realizar a comunicação de dados.
• Redes Sem Fio (Wireless)
Uma rede wireless ou Wi-Fi significa uma rede interligada sem fios,
isto é, por canais de comunicação alternativos (como rádio-frequência,
infravermelho ou laser). Este tipo de rede, quando locais, também se
designa por WLAN, wireless LAN. O termo Wi-Fi vem da abreviação de
Wireless Fidelity (uma noção no nível abstrato que implica uma conexão
confiável a uma fonte).
Vantagens:
• mobilidade;
• investimento;
• flexibilidade.
Você, como gestor, deverá participar do projeto de elaboração e de
desenvolvimento da TIC: entender como pode funcionar cada uma
das opções é bom caminho para tomadas de decisões corretas. Não

UNITINS • ADMINISTRAÇÃO • 2º PERÍODO  293


Aula 3 • Tecnologia da Informação e da Comunicação

podemos nos esquecer de que as avaliações mais técnicas serão dos


profissionais técnicos, porém, a discussão do certo e do errado deve
estar presente em todos os níveis.

3.2 O surgimento da internet


Segundo a Abranet - Associação Brasileira dos Provedores de Acesso,
Serviços e Informações de rede Internet, durante a Guerra Fria (décadas de
60/70 e meados da década de 80), um dos maiores medos dos norte-ameri-
canos era o de perder as informações hospedadas em servidores localizados
dentro de quartéis-generais estratégicos.
O Departamento de Defesa pensou em um sistema que interligasse vários pontos,
de modo que não se centralizasse o comando. Com uma rede na qual não há um
computador central, caso a Casa Branca fosse atingida, as informações seriam
replicadas no Pentágono. E se o mesmo acontecesse no Pentágono, as informações
já estariam a salvo em outro lugar qualquer. Essa Rede era considerada à prova de
bombardeio, pois o sistema não caía, caso um dos pontos desaparecesse.
Então, o que hoje forma a internet começou em 1969 como a ARPANET,
criada pela ARPA, sigla para Advanced Research Projects Agency, ou Agência
de Projetos de Pesquisas Avançadas, uma subdivisão do Departamento de
Defesa dos Estados Unidos. Na verdade, essa rede interligava, originalmente,
vários centros de pesquisas. Após esse período, ela foi usada inicialmente pelas
universidades, onde os estudantes poderiam trocar, de forma ágil para a época,
os resultados de seus estudos e pesquisas.
Seu ápice aconteceu nos anos 90, quando, em agosto de 1991, Tim
Berners-Lee publicou seu novo projeto para a World Wide Web, dois anos
depois de começar a criar o HTML, o HTTP e as poucas primeiras páginas no
CERN, na Suíça. Em 1992, Marc Andressen, do NCSA – National Center for
Supercomputer Activity, criou o primeiro navegador para internet: o Mosaic. O
Mosaic era capaz de interpretar gráficos e realizar navegações, por meio de
links, como podemos ver atualmente na Web.
Também em 92, All Gore (vice-presidente dos EUA na época de Bill Clinton),
que era senador na época, impulsionado pelas eleições presidenciais, passou
a falar sobre a Information Highway, ou Superestrada da Informação. Nesse
momento, todo mundo começou a prestar mais atenção na internet e na web.
Logo surgiu um grande interesse comercial pela rede e foi aí então que acon-
teceu sua grande expansão.

3.2.1 Os dias de hoje


Atualmente, a internet é um conjunto de mais de 40 mil redes e, respeitando
a concepção original, não existe um ponto central, isto é, um centro de comando

294  2º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • UNITINS


Aula 3 • Tecnologia da Informação e da Comunicação

da internet. Hoje a internet é considerada por muitos teóricos da comunicação


um fenômeno tão ou mais importante para a humanidade quanto a Revolução
Industrial. O fantástico conceito de Aldeia Global, de McLuhan (1979), também
pode ser utilizado para este novo meio: a internet tornou o mundo menor.

3.2.2 Serviços via web


Para entender bem esses serviços, é importante compreender algumas dife-
renças entre os vários conceitos que são apresentados na internet. Podemos citar:
a) site ou sítio – o sítio é um conjunto de documentos na forma hipertextual,
disponibilizados na internet por meio de um endereço próprio. Pode
ter conteúdo pessoal, comercial, institucional, enfim, qualquer tipo de
conteúdo e mídia (texto, imagem, vídeo, som, etc.);
b) portal – um portal nada mais é do que um sítio “aglomerador” de links e
informações. Ou seja, é justamente o que seu próprio nome sugere: um
portal de acesso a um conjunto de sítios ou subsítios internos ou externos
ao domínio da organização;
c) intranet – podemos denominar de intranet uma rede privativa que utilize
as mesmas tecnologias da internet em termos de disponibilização de
informações e forma de navegação. Em suma, é uma internet privada,
acessada apenas dentro da rede da organização, geralmente por
pessoas cadastradas para isso;
d) extranet – uma intranet configura-se como extranet, no momento em que
a organização permite o acesso externo a determinadas informações do
seu sistema, via internet, com segurança (acesso restrito e controlado,
uso de firewall, etc.). Podemos citar, como exemplo, o acesso de um
cliente às informações do seu cadastro pessoal, ou ao extrato da sua
conta em uma instituição bancária.
Entendidos esses conceitos básicos, entenderemos como a internet pode se
tornar uma integradora de soluções, sendo ela utilizada como ferramenta para
desenvolvimento de estratégias de comunicação, relacionamento com clientes,
repositórios de arquivos entre outros.

Saiba mais

Entre os serviços que podem ser utilizados pela empresa com auxílio da
internet, podemos destacar os seguintes:

UNITINS • ADMINISTRAÇÃO • 2º PERÍODO  295


Aula 3 • Tecnologia da Informação e da Comunicação

a) soluções de CRM: ao longo deste material, estudamos a importância das


TICs nos processos decisórios de uma organização e vimos o quanto é
necessário a integração entre os setores da empresa, para que se tenha
uma tecnologia forte e que gere resultados. Mas tudo tem um foco: o
cliente! Daí surge a necessidade da gestão do relacionamento com o
cliente, os CRMs – Customer Relationship Management. Os principais
objetivos da utilização do CRM são conquistar novos clientes (prospectos)
e fidelizar os clientes atuais procurando atingir a sua satisfação total.
Em muitos casos, os gestores estão tão obcecados por resultados financeiros
a curto prazo que esquecem do principal: cuidar do relacionamento com os
seus clientes. Utilizando o CRM, a sua organização pode atuar nos mercados
de massa, sem deixar de tratar cada cliente de forma individualizada.
Segundo a IBM (2008), você tem a seguinte vantagem em utilizar um
sistema de gestão de relacionamento com clientes: maior fidelização do
cliente. Manter um cliente atual sai 80% mais barato do que conquistar
um novo cliente;
b) soluções de ERP: já abordamos a necessidade de termos sistemas inte-
grados de informações, para que possamos tratar os dados de forma
a gerar informações para a consolidação do conhecimento. Pois bem,
é a partir daí que vamos falar em ERP – Enteprise Resource Planning.
Segundo a Wikipédia (2008), os ERPs são uma plataforma de software
desenvolvida para integrar os diversos departamentos de uma empresa,
possibilitando a automatização e armazenamento de todas as informa-
ções de negócios. Entre as mudanças que um sistema de ERP propicia a
uma corporação, está a maior confiabilidade dos dados, e a diminuição
do retrabalho. As informações trafegam pelos módulos em tempo real,
ou seja, uma ordem de vendas dispara o processo de fabricação com
o envio da informação para múltiplas bases, do estoque de insumos à
logística do produto.
Ainda segundo a Enciclopédia Livre Wikipédia (2008), a tomada de
decisões dentro da organização também incorpora uma outra dinâmica
com a implantação de um sistema ERP. Imaginemos uma empresa que,
por alguma razão, precisa alterar aspectos da fabricação de um de seus
produtos. Mediante o ERP, todos os setores da organização são infor-
mados e podem então se preparar de forma integrada para a mudança,
do setor de compras ao de produção, incluindo até mesmo a área de
marketing, de forma que esta possa mudar algo nas campanhas publi-
citárias do produtos. Tudo realizado de forma integrada e em menos
tempo do que seria possível sem o sistema;
c) portais Corporativos: com a chegada da web e das evoluções no setor
de telecomunicação, os portais corporativos começaram a ser adotados

296  2º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • UNITINS


Aula 3 • Tecnologia da Informação e da Comunicação

pelas organizações. Este conceito é recente e de extrema importância,


você vai entender por quê.
Os portais corporativos agregam os conceitos de internet, intranet e
extranet, propiciando um ambiente único de trabalho. Imagine um
sistema que possa utilizar dados de um sistema de ERP e CRM já insta-
lados e disponibilizar essas informações de forma segmentada aos
usuários: esse é o benefício de um portal corporativo.
Entre os benefícios que podem ser gerados, estão:
• colaboração entre departamentos;
• aumento de produtividade;
• melhoria na comunicação;
• aumento na segurança das informações;
• redução de custos.
A partir da página da empresa na internet, o usuário se identificará,
usando seu nome e sua senha. O sistema, de forma dinâmica, identi-
ficará que tipo de usuário fez sua autenticação, encaminhando-o para
o ambiente adequado. Nesse ambiente, o usuário terá as informações
personalizadas e segmentadas, conforme seu perfil, tendo acesso a
todos os dados e informações para desempenhar com produtividade
suas tarefas diárias.

3.3 Segurança da informação


Laudon (2001) nos ensina que antes da automação gerada pelos compu-
tadores, os dados e informações de indivíduos ou organizações eram armaze-
nados e protegidos como registros em papel, dispersos por unidades de negócios
ou organizacionais separadas. Com a popularização dos computadores e com
a expansão da utilização de redes de computadores e da internet, a segurança
e privacidade das informações passaram a ser preocupações constantes tanto
para as organizações quanto para os usuários domésticos.

3.3.1 Segurança de computadores


Um computador ou um sistema de informação, para ser considerado seguro,
deve atender a tríade CID, que representa as principais propriedades que
garantem a segurança de um sistema, segundo a Cartilha de Segurança para
Internet (2008):
a) confidencialidade – os dados ou informações devem estar disponíveis
apenas às pessoas devidamente autorizadas;
b) integralidade – garantia de que as informações não estão corrompidas,
destruídas ou alteradas e de que o sistema está funcionando corretamente;

UNITINS • ADMINISTRAÇÃO • 2º PERÍODO  297


Aula 3 • Tecnologia da Informação e da Comunicação

c) disponibilidade – os serviços ou recursos computacionais devem estar


disponíveis, sempre que necessários.
Mas, um computador doméstico deve atender a todos esses requisitos
também? Claro! Os computadores domésticos muitas vezes são usados para uma
infinidade de tarefas que requerem um bom nível de segurança, como, realizar
transações bancárias e efetuar compras de produtos ou serviços via internet.
Quem gostaria de ter sua senha da conta bancária ou o número do seu cartão
de crédito roubados? E não fica por aí, certamente você não gostaria de ter
terceiros não autorizados lendo seus e-mails, acessando seus arquivos pessoais
no computador, monitorando todos os seus passos na internet, em suma, inva-
dindo sua privacidade.
Como podemos ver, os aspectos de segurança em ambientes computacio-
nais não se restringem apenas às organizações. Todo computador conectado a
uma rede está seriamente propenso a sofrer algum tipo de invasão.

3.3.2 Tribos digitais


A grande rede (internet) é um mundo à parte. A internet está cada vez mais
completa e fornecendo cada vez mais serviços e praticidade aos seus usuários,
no conforto dos seus lares ou escritórios. Hoje em dia, você pode fazer pratica-
mente tudo via internet; trabalhar, jogar, pedir uma pizza, pagar suas contas,
participar de reuniões e, até mesmo, ser assaltado!
Por todas essas características, a internet acaba se tornando um mundo
paralelo, com suas regras, sua cultura e suas comunidades – que aqui definimos
como tribos digitais – ou seja, grupos de pessoas com ideologias e interesses
comuns, que se valem da internet e seus recursos para se comunicar e comparti-
lhar conhecimento. Entre essas tribos digitais ganham destaque as que, de uma
forma ou de outra, possuem ligação com o crime digital, sendo elas:
• hackers – palavra incorretamente utilizada pela mídia para definir crimi-
nosos da internet. Surgiu na década de 50 para definir as pessoas
interessadas pela então iniciante era da informática. Hacker seria uma
pessoa que consegue alterar um sistema já pronto ou em desenvolvi-
mento, deixando-o melhor. Os hackers criaram a internet e a fazem
funcionar, desenvolveram o Linux, fizeram do sistema operacional Unix
o que ele é hoje e são os especialistas em segurança das grandes
empresas;
• crackers – termo cunhado em 1985, pelos hackers, para se defen-
derem do abuso jornalístico do termo hacker. Crackers são aqueles que
quebram a segurança de um sistema, com objetivos criminosos, como
roubar informações confidenciais, realizar transferências financeiras
ilícitas, derrubar sistemas de comunicação, e outra série de atividades
desonestas e de vandalismo;

298  2º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • UNITINS


Aula 3 • Tecnologia da Informação e da Comunicação

• phreakers – palavra utilizada para definir um especialista em telefonia.


Estas pessoas conseguem realizar qualquer tipo de ligação gratuita-
mente fazendo outro cidadão qualquer pagar a conta; clonar telefones,
programar escutas, burlar o sistema de rastreamento de telefone da
polícia, e outra série de atividades para roubo de informações, por
meio de tecnologias de telecomunicação;
• lamers ou script kiddies – nome atribuído aos crackers iniciantes.
Pes­soas que utilizam programas desenvolvidos por especialistas para
quebra de segurança de sistemas. Geralmente, não possuem conhe-
cimento de programação e estão em busca de fama ou outro tipo de
lucro pessoal;
• geeks – termo surgido recentemente associado à subculturas ligadas
à Internet e aos computadores, visando a criar uma diferenciação dos
nerds. Um geek é uma pessoa com um talento e um interesse por tecno-
logia e programação acima do normal (todo hacker é um geek, mas
nem todo geek é um hacker).

3.3.3 Senha: pessoal e intransferível


As senhas são as chaves de entrada a sistemas computacionais que exigem
algum tipo de segurança. Elas servem para validar um usuário, mediante um
processo de verificação, assegurando que ele realmente é quem diz ser. Ou
seja: se alguma outra pessoa tiver acesso a sua senha, poderá utilizá-la para
se passar por você ao executar alguma atividade dentro de um sistema de
acesso restrito.
Quais as conseqüências disso? Bem, tudo vai depender do nível de impor-
tância do sistema que foi violado. Se foi o de acesso à sua conta bancária, você
poderá ter prejuízo financeiro; se foi do seu e-mail você poderá ter sua priva-
cidade exposta ou constrangimento por envio de e-mails que, na verdade, não
foram escritos por você; se foi do sistema que você utiliza na sua organização,
o estrago vai depender do seu nível de acesso.

3.3.4 Cuidados na hora de elaborar uma senha


No momento em que você for criar uma nova senha, deve atentar para
alguns detalhes: nunca utilizar dados pessoais como datas, nomes e apelidos,
números de telefone, placas de carros, números de documentos e toda essa
espécie de informações que, com um pequeno estudo do seu perfil ou uma abor-
dagem com engenharia social, facilitariam a ação do invasor. Complementando,
jamais devem ser utilizadas palavras que façam parte de dicionários. Existem
programas que tentam descobrir senhas combinando e testando palavras em
diversos idiomas e geralmente possuem listas de palavras (dicionários) e listas
de nomes (nomes próprios, músicas, filmes, etc).

UNITINS • ADMINISTRAÇÃO • 2º PERÍODO  299


Aula 3 • Tecnologia da Informação e da Comunicação

Uma senha considerada ideal deve ter ao menos oito caracteres, ser
composta por números, letras (maiúsculas e minúsculas) e símbolos, ser
simples de digitar e fácil de lembrar. E agora você deve estar se pergun-
tando: como vou fazer para lembrar de uma senha assim? Segue uma dica
para construção de senhas:
a) tenha como hábito iniciar as suas senhas com um símbolo (*, &, #, ~,
...) ou número – ou os dois. Exemplo: %;
b) selecione uma frase que você lembre com facilidade e utilize para
a senha apenas as iniciais de cada palavra. Ex.: Quem canta seus
males espanta = Qcsme;
c) termine suas senhas novamente com um símbolo ou número. Exemplo:
3#.
Seguindo esses passos básicos, você terá uma senha como %Qcsme3#,
lembrando que os números e símbolos, você poderá utilizar como padrão
para todas suas senhas. Outros exemplos:
Cão que Ladra não Morde = %CqLnM3#
Quem não chora não mama = %Qncnm3#
Viu como é fácil? Dessa forma, você terá uma senha praticamente invio-
lável e fácil de lembrar. Logicamente, os três exemplos de senha dados neste
tópico já não são boas senhas pois já são conhecidas. Convém lembrar que
vai depender do sistema a ser utilizado para determinar as características da
senha. Alguns sistemas só aceitam números nas senhas e possuem restrições
quanto ao tamanho da mesma, enquanto outros aceitam qualquer caractere
alfanumérico e permitem senhas com muito mais que oito caracteres.
Para maior segurança, as senhas devem ser alteradas com certa freqüên­cia,
por exemplo, uma vez por mês ou a cada dois meses. Não convém utilizar
uma mesma senha eternamente, pois facilita a ação de quem possa ter um
convívio mais próximo com você e tenha por ventura visto você digitando a
senha repetidas vezes e memorizado as posições no teclado.
Finalmente, não utilize computadores de terceiros ou computadores aces-
sados por muitas pessoas (por exemplo, em LAN houses, cybercafes, stands
de eventos, etc.) para operações que requeiram utilização de suas senhas
pessoais, pois é possível que em tais computadores alguém tenha instalado
algum malware.

3.3.5 Software malicioso


Software malicioso, também conhecido como malware (Malicious
Software), é a denominação dada a todo um conjunto de programas desenvol-
vidos especificamente para executar ações maliciosas em um computador.

300  2º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • UNITINS


Aula 3 • Tecnologia da Informação e da Comunicação

Alguns exemplos de malware são:


• vírus;
• worms e bots;
• backdoors;
• cavalos de tróia;
• keyloggers e outros programas spyware;
• rootkits.

3.3.6 Vírus de computador


Segundo a Wikipédia (2006), um vírus é um software malicioso desen-
volvido por programadores que, como um vírus biológico, infecta o sistema,
faz cópias de si mesmo e tenta se espalhar para outros computadores, utili-
zando-se de diversos meios.
Atualmente, o principal fator de infecção ocorre pela ação do usuário,
executando o anexo de um e-mail, que esteja contaminado, instalando assim
o vírus em seu computador. Os principais danos que podem ser causados
pelos vírus são:
• perda de desempenho do micro;
• exclusão de arquivos;
• alteração de dados;
• acesso à informações confidenciais por pessoas não autorizadas;
• perda de desempenho da rede (local e internet);
• monitoramento de utilização (espiões);
• desconfiguração do Sistema Operacional.
Alguns cuidados básicos devem ser tomados:
• mantenha o Sistema Operacional sempre atualizado;
• instale um antivírus e mantenha-o sempre atualizado;
• atualize, sempre que o fabricante disponibilize, os principais
programas de acesso a internet (browsers, clientes de e-mails, mensa-
geiros instantâneos);
• no Windows, evite abrir arquivos anexados a e-mails com extensões .exe,
.bat, .scr, .com, .pif etc, sem antes se certificar de sua idoneidade.
Mesmo seguindo todos esses passos, não há garantia total contra vírus,
mas certamente já dificultará qualquer tipo de infecção.

UNITINS • ADMINISTRAÇÃO • 2º PERÍODO  301


Aula 3 • Tecnologia da Informação e da Comunicação

3.3.7 Engenharia social


Nada mais é do que um método de ataque, no qual alguém faz uso da
persuasão, muitas vezes abusando da ingenuidade ou confiança do usuário,
visando a obter informações para ter acesso não autorizado a computadores ou
material restrito.
Por exemplo: você recebe uma mensagem de e-mail proveniente (aparen-
temente) do departamento de suporte do seu banco. Na mensagem diz que
o serviço de Internet Banking está apresentando algum problema e que tal
problema pode ser corrigido se você executar o aplicativo que está anexado à
mensagem. A execução deste aplicativo apresenta uma tela igual àquela que
você utiliza para ter acesso à conta bancária, aguardando que você digite sua
senha. Na verdade, esse aplicativo está preparado para roubar sua senha de
acesso à conta bancária e enviá-la para o atacante.
Este é um caso de ataque típico de engenharia social, pois procura induzir o
usuário a fornecer algum dado importante para efetivar uma invasão.

Síntese da aula
As soluções baseadas na internet procuraram quebrar eventuais barreiras
que existiam antes do mundo se interligar e se tornar sem divisas. Estudamos os
conceitos básicos de telecomunicações, aprofundando um pouco nas redes de
computadores, nas quais foram vistos os conceitos de LAN, MAN e WAN , os
tipos de conexões utilizados com destaque às redes sem fio (Wireless).
Foram apresentados os conceitos básicos sobre segurança da informação,
apresentando sucintamente algumas das tribos digitais responsáveis por ações
de segurança e invasão em ambientes de redes computacionais.

Atividades

1. O CRM é um sistema para:


a) vender produtos para médicos;
b) vender produtos eletronicamente para o cliente;
c) ampliar o conhecimento dos vendedores da empresa sobre os produtos
comercializados;
d) potencializar o relacionamento com o cliente, proporcionando assim
maior fidelização.

2. Com relação às vulnerabilidades dos sistemas de informação, entre as prin-


cipais ameaças temos:

302  2º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • UNITINS


Aula 3 • Tecnologia da Informação e da Comunicação

I. falha de hardware e software

II. invasões de computadores

III. incêndio

IV. roubo de dados

V. erros de usuário

De acordo com as afirmações anteriores, assinale a alternativa correta.

a) As afirmativas IV e V estão incorretas.

b) Apenas a afirmativa III está incorreta.

c) As afirmativas I, II e IV estão corretas.

d) Todas as afirmativas estão corretas.

3. Qual a importância de uma boa política de segurança da informação na


empresa? É algo fácil de ser implementado? Por quê?

4. Comente as vantagens de implantação de um portal corporativo na organização.

Comentário das atividades


Na atividade um, a alternativa correta é a (d) uma vez que o CRM é um sistema
gerenciador de relacionamento com o cliente, por meio do qual é possível obter
informações que auxiliem a personalizar produtos e serviços de acordo com as
necessidades específicas de cada cliente ou grupo de clientes.

Na atividade dois deve ser assinalada a alternativa (d) pois todos os itens
listados representam risco à integridade dos sistemas de informações da empresa.

Sobre a implantação de uma boa política de segurança da informação


dentro da organização, deve estar contido na resposta da atividade três que
é de suma importância, principalmente se a empresa possui dados sigilosos
(ex.: informações de clientes, números de cartões de crédito, etc.). Tal política
visa à manutenção da tríade Confidencialidade, Integralidade e Disponibilidade.
Podemos acrescentar ainda que sua implementação não costuma ser fácil, pois
exige implantação de rotinas e mudança de hábitos dos usuários, de forma a
criar uma cultura de segurança.

Em resposta à atividade quatro podemos afirmar que os portais corporativos


trazem importantes benefícios para uma organização, pois agregam recursos da
internet, intranet e extranet em um único ambiente de trabalho. Essa possibilidade é
um diferencial competitivo para a organização e um grande potencial para a geração
e compartilhamento do conhecimento entre todos os níveis da organização.

UNITINS • ADMINISTRAÇÃO • 2º PERÍODO  303


Aula 3 • Tecnologia da Informação e da Comunicação

Referências
ABREU, Aline F. de; REZENDE, Denis A. Tecnologia da Informação: aplicada a
sistemas de informação empresarial. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2003.
Cartilha de Segurança para Internet. Disponível em: <http://cartilha.cert.br/
conceitos/> Acesso em: 7 fev. 2008.
IBM. Disponível em: <http://www.ibm.com/br/industries/wholesale/solution/
areas/crm/>. Acesso em: 7 fev. 2008.
LAUDON, Jane P.; LAUDON, Kenneth C. Gerenciamento de sistemas de infor-
mação. São Paulo: LTC, 2001.
MACLUHAN, M. Os meios de comunicação como extenções do homem. São
Paulo: Cultrix, 1979.
Wikipédia – Enciclopédia Livre. ERP. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/
wiki/ERP>. Acesso em: 7 fev. 2008.
Wikipédia – Enciclopédia Livre. Vírus de Computador. Disponível em: <http://
pt.wikipedia.org/wiki/Virus_de_computador>. Acesso em: 25 ago. 2006.

Na próxima aula
Agora que você já adquiriu um bom conhecimento sobre as bases da infor-
mática e alguns dos seus recursos (como, por exemplo, as redes de computa-
dores e a internet ) , vamos falar um pouco sobre terceirização, os desafios da
tecnologia da informação e comunicação junto às organizações e apresentar a
você a estratégia de gestão Balanced Scorecard.

Anotações













304  2º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • UNITINS


Aula 4 • Tecnologia da Informação e da Comunicação

Aula 4
Gestão da Tecnologia da Informação

Objetivos
Esperamos que, ao final desta aula, você seja capaz de:
• entender qual o desafio da tecnologia da informação e comunicação
junto às organizações;
• identificar a importância do Balanced Scorecard como estratégia de
gestão de TIC.

Pré-requisitos
Em relação a estes conceitos, consideramos importante que você compre-
enda os impactos da tecnologia na gestão das organizações. As disciplinas
Introdução à Administração e a Sociologia Aplicada à Administração certa-
mente lhe ofereceram o aporte teórico necessário.

Introdução
Imagine a informática sem o usuário. Certamente não haveria razão para a
sua existência. Já pensou um software sem usuário ou uma rede de comunicação
sem alguém para desfrutá-la. Eles, os usuários, são a causa da necessidade
da tecnologia e também das dores de cabeça. O relacionamento entre usuá-
rios e tecnologia tende a ser complicado; no entanto, o gestor de TIC deve ter
habilidades para identificar os problemas e minimizá-los, para que haja menos
tensões e mais efetividade no uso das ferramentas de trabalho proporcionadas
pelas tecnologias. E outra, de nada valeria falar em gestão do conhecimento se
não houver um esforço contínuo em entender o usuário.

4.1 Terceirização
O setor que mais utiliza esse recurso, sem dúvida alguma, são as empresas
de tecnologia. Esse modelo já é popular há algum tempo em fabricantes de
hardwares e softwares, como a IBM e a Oracle, mega-empresas americanas.

UNITINS • ADMINISTRAÇÃO • 2º PERÍODO  305


Aula 4 • Tecnologia da Informação e da Comunicação

Nos últimos anos, o modelo de terceirização adotado pelas empresas de TIC


evoluiu, com a mudança do foco de redução de custos e melhoria de desempenho
para inovação. A IBM e a Oracle, por exemplo, concluíram que os valores das
suas ofertas dependiam da ampla faixa de produtos e serviços complementares
(valor agregado). Outra observação feita por esses fabricantes foi a constatação
de que os usuários de seus produtos obteriam mais valor, se pudessem compará-
los com os de outros fabricantes.
Assim, os fabricantes de computador patrocinam, rotineiramente, tanto comu-
nidades de usuários como organizações de terceiros, a exemplo dos grupos de
desenvolvimento de software. Prestadores de serviços como eBay (empresa de
comércio eletrônico) também têm utilizado com sucesso as comunidades patroci-
nadas, para ajudar os usuários a obter mais valor de seus produtos.
Observe que não foi comentada em nenhum momento a relação de cliente e
fornecedor, aqui o que se vê é a utilização de parcerias para o crescimento das
empresas. A relação de cliente e fornecedor teve que evoluir, deixando de ter
contratos cheios de cláusulas de obrigações de ambas as partes, para aplicar o
conceito de parceria de forma profunda.
Essas empresas viram que, para ter os conceitos de parceria, relacionamento
e confiança, teria que haver uma mudança no uso do conceito de terceirização,
que era estabelecido por meio de contratos rígidos.

4.1.1 Parceria e terceirização


Este é um tema pertinente à administração moderna, que requer bom enten-
dimento, não só para a área de TIC, mas para implementação de uma estratégia
de crescimento a médio e longo prazo.
Antes de focarmos a terceirização na TIC, vamos entender a necessidade
que levou algumas empresas a implantar, em suas estratégias, a terceirização.
Sabe-se que as estratégias de crescimento convencional têm um custo elevado
devido à necessidade de investimentos; seja porque as empresas têm que cons-
truir algo do zero (crescimento orgânico) ou porque têm que adquirir algo já
existente no mercado. Como decorrência disto, temos a redução dos lucros. Ao
investirem, as empresas reduzem suas margens para pagar estes recursos.
Decorre dessa situação, portanto, muitas vezes, que o crescimento alavan-
cado, em que se utilizam os ativos de terceiros, venha ganhando espaço, não só
no Brasil como em outros vários países do mundo.
Citando algo como negativo do modelo tradicional, seria na aquisição desses
ativos. Sejam eles tangíveis, como máquinas e equipamentos, ou naqueles intan-
gíveis, como informação e habilidades. Isto é o que transforma as estratégias de
crescimento tradicionais arriscadas, pois tornam a margem de lucro reduzida,
pelo menos em curto prazo.

306  2º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • UNITINS


Aula 4 • Tecnologia da Informação e da Comunicação

A partir deste ponto, podemos citar a estratégia de se alcançar o cresci-


mento, utilizando-se recursos ou conhecimentos de empresas parceiras. Esse
conceito envolve menor risco para a empresa, além de propiciar um crescimento
sustentável em curto prazo. Nela, não há necessidade da empresa disponibilizar
recursos para aumentar seus ativos; é realizado apenas um contrato de parceria
entre empresas ou pessoas para o fornecimento de equipamentos ou informa-
ções e habilidades.
É simples imaginarmos o benefício desse tipo de modelo para o crescimento.
Hagel (2003, p. 23) cita um ótimo exemplo para ilustrar este modelo:
imagine que você seja um fabricante bem-sucedido de sofisticados
fogões domésticos e descobre uma oportunidade de entrar no
ramo de fornos de microondas utilizando as recentes inovações
da tecnologia microeletrônica. Tradicionalmente, para aproveitar
essa oportunidade, você teria de contratar um novo grupo de
engenheiros e projetistas capacitados ou comprar uma pequena
fábrica de fornos microondas. Se, em vez disso, você utilizasse a
estratégia de crescimento alavancado, procuraria projetistas inde-
pendentes de eletrodomésticos e os incentivaria a trabalhar com
grupos de engenheiros contratados para desenvolver projetos
inovadores de fornos. Também desenvolveria relacionamentos
com vários fabricantes especializados nos diferentes estágios do
processo de produção e os utilizaria para fabricar fornos.

Como próprio Hagel III (2003) cita, ao explorar os ativos de outras empresas,
em vez de construir ou comprar os seus, você reduz o risco financeiro, entra em
novos mercados com mais rapidez e permanece apto a reagir de imediato às
mudanças tecnológicas e mercadológicas futuras.

4.2 O desafio da TIC junto às organizações


Um dos problemas que afetam grande parte dos profissionais da área da
Tecnologia da Informação é justamente a dificuldade de relacionamento interpes-
soal. Para superar esse problema, os profissionais de TI devem estar cientes de
que, além de possuir conhecimentos técnicos, é necessário saber se relacionar.
Assim, devem procurar atender os requisitos mínimos necessários para um bom
relacionamento, conscientes de que do outro lado há uma pessoa e não, simples-
mente, um terminal de computador.
É importante levar em conta que cada usuário possui uma experiência de
vida diferente, e isso precisa ser respeitado. O profissional de TI precisa saber
identificar e traçar o perfil de cada um dos profissionais com os quais está
lidando. Os tipos característicos são: o empolgado com o trabalho, o altruísta, o
feliz com a vida e com o seu emprego e que, por isso, se auto-motiva, colabora
efusivamente; outros acreditam que a implantação de sistemas de informação
podem reduzir ou até anular o seu poder e até mesmo seu emprego; há aqueles
que acham que, se identificarem o que eles fazem no processo, vão descobrir

UNITINS • ADMINISTRAÇÃO • 2º PERÍODO  307


Aula 4 • Tecnologia da Informação e da Comunicação

que eles não fazem nada; outros, por sua vez, aproveitam o contato para fazer uma
seção de terapia. Enfim, cada pessoa tem suas peculiaridades e é necessário saber
lidar adequadamente com cada perfil profissional.

4.2.1 O que fazer para melhorar o relacionamento com o cliente-usuário?


Grande parte do sucesso ou do fracasso da implantação de sistemas de infor-
mação nas organizações está relacionada às pessoas que participam do empreen-
dimento. O gerente do projeto é um dos principais agentes: é ele que será o respon-
sável por planejar, implementar e completar o projeto. Normalmente, seu trabalho
está relacionado ao controle do escopo complexo e, conforme Vargas (2000), é
dele a responsabilidade final de:
• produzir o produto final do projeto dentro dos prazos, custos e perfor-
mance exigidos;
• atingir objetivos contratuais de lucro;
• adquirir os recursos adequados para o projeto, em quantidade e qualidade;
• contratar e motivar os integrantes do time;
• lidar com obstáculos e possibilidades de fracasso, usando precisão e energia;
• desenvolver canais de comunicação efetivos;
• desenvolver mecanismos de negociação com todos os elementos internos e
externos do projeto para garantir o cumprimento do plano do projeto.
Assim, para ser capaz de lidar com os desafios decorrentes da gerência de
projetos, é necessário que o gerente tenha habilidade de comunicação, habilidade
organizacional, habilidade de gerenciamento de equipe, habilidade de liderança e
habilidades pessoais (flexibilidade, criatividade, paciência e persistência).
O gestor de TIC ou o gerente de um projeto de implementação/implantação
de sistemas de informação necessita aceitar o fato de que o empreendimento ou
o projeto não é seu e sim do usuário (ou cliente). É o cliente quem deve se sentir o
dono, uma vez que ele o é efetivamente. Aceitar esse fato e se relacionar adequada-
mente com o usuário, são alguns pontos chave para o sucesso do trabalho. Assim,
aprender a falar a linguagem do usuário é um importante passo.
Gattoni (2000) sintetiza os desafios do profissional da área de TIC da
seguinte forma:
a) criação de mapas de conhecimento;
b) estimular as narrativas e histórias orais;
c) desenvolvimento de protótipos de soluções;
d) implementar análise de cenários e simulações;
e) processos de flutuação e caos criativo;

308  2º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • UNITINS


Aula 4 • Tecnologia da Informação e da Comunicação

f) utilizar metáforas, analogias e modelos;


g) fomentar a meritocracia das idéias;
h) alimentar os repositórios do conhecimento;
i) ser um facilitador e participante de comunidades de prática;
j) promover a transferência do conhecimento por tradição;
k) compor equipe de projetos multidisciplinares.

4.3 Balanced Scorecard


Crainer (2000) afirma que o grande problema desta estratégia sempre foi que
não existem meios óbvios e significativos de avaliar um elemento tão multifacetado
e complexo. Quando se avalia a empresa pelo foco das finanças, é possível que se
tenham bons resultados em curto prazo e isso pode iludir o gestor. Os dados finan-
ceiros são concretos e, portanto, mais fáceis de avaliar, o que acaba facilitando o
incorrer neste erro.
A organização e sua estratégia não devem ser avaliadas somente pelos
aspectos financeiros; há outros que devem também ser analisados como fidelização
de clientes ou a satisfação de funcionários. Entretanto, o maior problema é que
estes são mais abstratos, o que faz o processo de avaliação ser mais criterioso, pois
as informações podem ser geradas de diversas maneiras por diferentes fontes.
Deste ponto, surge a idéia do Balanced Scorecard, que é um sistema de
avaliação de desempenho empresarial. Seu principal diferencial, segundo Kaplan e
Norton (1997), é reconhecer que os indicadores financeiros, por si mesmos, não são
suficientes para isso, uma vez que só mostram os resultados dos investimentos e das
atividades, não contemplando os impulsionadores de rentabilidade a longo prazo.
A idéia surge exatamente deste ponto de desequilíbrio entre o tangível (finan-
ceiro) e o intangível (clientes). E foi proposta por David Norton e Robert Kaplan,
no início dos anos 90. Norton e Kaplan (1997) compararam administrar uma
empresa a pilotar um avião. O piloto que confia em um único equipamento tem
pouca probabilidade de estar seguro. Os pilotos devem utilizar todas as informa-
ções contidas em sua cabina. Segundo Kaplan e Norton (1997), a complexidade
de administrar uma organização hoje exige que os gerentes vejam o desempenho
simultaneamente em várias áreas. Além disso, segundo os autores, obrigando os
gerentes mais experientes a considerar todas as medidas operacionais importantes,
o Balanced Scorecard permite que eles identifiquem quando uma melhoria em uma
determinada área pode ser obtida em detrimento de outra área.
Kaplan e Norton sugerem o equilíbrio entre quatro elementos:
a) a perspectiva do cliente – como será que minha empresa é vista pelos
meus clientes?;
b) a perspectiva interna – em que áreas a minha empresa deve atingir a
excelência?;

UNITINS • ADMINISTRAÇÃO • 2º PERÍODO  309


Aula 4 • Tecnologia da Informação e da Comunicação

c) a perspectiva da inovação e do aprendizado – a minha empresa deve


melhorar os produtos oferecidos?;
d) como a empresa vê seus diretores ou acionistas?
Isto pode estar representado da seguinte forma:
• “Para sermos bem sucedidos financeiramente, como deveríamos ser
vistos pelos nossos acionistas?”
• “Para alcançarmos nossa visão, como deveríamos ser vistos pelos
nossos clientes?”
• “Para satisfazermos nossos acionistas e clientes, em que processos de
negócios devemos alcançar a excelência?”
• “Para alcançarmos nossa visão, como sustentaremos nossa capacidade
de mudar e melhorar?”
O conceito de Balanced Scorecard (BSC) auxilia na conversão de estratégia
em ação. A criação de um BSC começa na visão e estratégias da organização,
que servem de ponto de partida para definição dos fatores críticos de sucesso.
A definição das metas e o acompanhamento e análise dos resultados alcan-
çados em áreas críticas da execução das estratégias são possibilitados pela disponi-
bilidade dos indicadores de desempenho por parte do BSC. O Balanced Scorecard
é, então, um sistema de gestão de desempenho, originado da visão e estratégia
organizacionais, o qual reflete os aspectos mais importantes do negócio.
Ao contrário do BSC, os sistemas de gestão e controle tradicionais, cujo foco
é voltado exclusivamente para os dados financeiros e contabilísticos, tornaram-
se obsoletos rapidamente, não se encaixando às atuais necessidades de monito-
ração das organizações.
E como criar um modelo de BSC? A figura a seguir mostra as etapas de
criação de um modelo de BSC.

Figura - Etapas de Criação de um Modelo de BSC

Esclarecendo e
traduzindo a visão
e a estratégia

Comunicando e Realizando
estabelecendo BSC e alinhamentos
vínculos estratégicos

Planejando e
estabelecendo
metas
Fonte: Norton e Kaplan (1997).

310  2º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • UNITINS


Aula 4 • Tecnologia da Informação e da Comunicação

Como vimos na imagem anterior, o primeiro passo é identificar a visão


da organização. Qual o caminho pretendido para a organização? Onde ela
quer chegar?
Para alcançar os objetivos, é necessário elaborar a estratégia ou um plane-
jamento estratégico empresarial. Dessa forma, quando identificamos a estra-
tégia, saber, exatamente, como alcançar os objetivos: ela será o que permitirá o
alcance do sucesso, da meta estabelecida.
Logo em seguida, os fatores críticos de sucesso e as dimensões para o
Balanced Scorecard (BSC) devem ser estabelecidos, isso significa o que deve
ser perguntado, ou seja, qual tipo de informações se deseja para se estabelecer
bem as dimensões do BSC.
Após o planejado, é hora de executar e, como citado anteriormente,
controle e execução fazem parte das principais atividades de um administrador
e demandam mais tempo e conhecimento. Logo, é necessário perguntar como
podemos avaliar se tudo está sendo executado conforme o pretendido? Essa
etapa identifica a execução do planejamento, é hora das correções e das alte-
rações! Com base na análise dos indicadores, poderá identificar e criar planos
de ação e iniciativas. Torna-se então necessário planejar os mecanismos de rela-
tório e a operacionalização do BSC. Como podemos gerir o BSC? Que colabo-
radores deverão receber relatórios e como deverão ser estes apresentados?
Veja, a seguir, alguns benefícios que a implementação do BSC pode trazer
a uma organização, segundo Kaplan e Norton (1997):
• traduz a estratégia em objetivos e ações concretos;
• promove o alinhamento dos indicadores chave com os objetivos estraté-
gicos a todos os níveis organizacionais;
• proporciona à gestão uma visão sistematizada do desempenho
operacional;
• constitui um processo de avaliação e atualização da estratégia;
• facilita a comunicação dos objetivos estratégicos, focalizando os cola-
boradores na sua consecução;
• permite desenvolver uma cultura de aprendizagem e melhoria contínua;
• suporta a atribuição de incentivos em função do desempenho individual
e da contribuição para os resultados do negócio;
• ajuda a reduzir a quantidade de informação utilizada a um conjunto
mínimo de indicadores vitais e críticos.
Ao analisarmos os conceitos e aplicação do BSC, chegaremos à conclusão
que as medidas sugeridas não passam de bom senso. É claro que o equilíbrio
é melhor do que o desequilíbrio. Como citado por Crainer (2000), a realidade

UNITINS • ADMINISTRAÇÃO • 2º PERÍODO  311


Aula 4 • Tecnologia da Informação e da Comunicação

que se interpõe à intuição é que as empresas desequilibradas, em geral lide-


radas e dominadas por um único indivíduo, se mostram bem-sucedidas em curto
prazo”. Este é o cuidado que se deve tomar quando tem em mãos indicadores
financeiros apresentando bons resultados, na verdade, a empresa deve estar
voltada para o futuro e não só as análises de indicadores econômicos irão
conduzi-la para o sucesso a longo prazo.
A idéia do BSC é exatamente essa: trazer à tona vários indicadores antes tratados
como de segundo plano. Entretanto, não imagine que a adoção do BSC solucionará
todos os problemas para medição de resultados, as avaliações de competências
gerenciais e capital intelectual continuarão sendo um grande desafio.

Síntese da aula
A terceirização é uma estratégia amplamente usada na área de TIC. Uma das
vantagens de terceirizar é poder ampliar o foco na atividade-fim da empresa. O
sucesso do trabalho dos profissionais de TIC está condicionado à sua habilidade
de gerir e lidar com os conflitos. Assim, gerenciamento de equipe, habilidade de
liderança e habilidades pessoais (flexibilidade, criatividade, paciência e persis-
tência) são imprescindíveis para esse profissional estabelecer um bom relaciona-
mento com o seu usuário-cliente. O BSC é uma importante ferramenta para auxi-
liar na avaliação dos objetivos estratégicos organizacionais. Nele, são levados
em conta indicadores que antes não faziam parte da análise organizacional.

Atividades

1. Quais os benefícios do conceito de parceria entre empresas com relação a


investimentos?

2. Explique, de forma resumida, o que é Balanced Scorecard.

3. Quanto a Balanced Scorecard, assinale com V para verdadeiro ou F para


falso as afirmações a seguir.
(  ) Traduz a estratégia em objetivos e ações concretos.
(  ) Proporciona à gestão uma visão sistematizada do desempenho
operacional.
(  ) Facilita a comunicação dos objetivos estratégicos, focalizando os cola-
boradores na sua concepção.
(  ) Permite desenvolver uma cultura de aprendizagem e melhoria contínua.
(  ) Aumenta a quantidade de informação referente aos indicadores gene-
ralistas da empresa.

312  2º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • UNITINS


Aula 4 • Tecnologia da Informação e da Comunicação

a) V, F, V, V, V
b) F, V, V, F, F
c) V, V, V, V, F
d) V, V, F, V, V

4. São considerados desafios na gestão de TIC, exceto:


a) mensurar com precisão o retorno decorrente do seu uso;
b) a compreensão da importância estratégica por parte dos gestores de
alto escalão;
c) manter o bom relacionamento entre gestores e técnicos;
d) considerar a TIC exclusivamente como forma de redução de custos,
deixando de otimizar o seu potencial.

Comentário das atividades


Em resposta à atividade um, podemos dizer que este conceito de parceria
envolve menor risco para a empresa, além de propiciar um crescimento sustentável
a curto prazo. Nela não há necessidade da empresa disponibilizar recursos para
aumentar seus ativos; é realizado apenas um contrato de parceria entre empresas
ou pessoas para o fornecimento de equipamentos ou informações e habilidades.
A resposta da atividade dois deve incluir que o Balanced Scorecard é um
sistema de gestão de desempenho, derivado da visão e estratégia, refletindo os
aspectos mais importantes do negócio. É uma importante ferramenta para auxi-
liar na avaliação dos objetivos estratégicos organizacionais. Nele, são levados
em conta indicadores que antes não faziam parte da análise organizacional.
Na atividade três deve ser assinalada a opção (c), na qual apenas a última alter-
nativa é falsa. O Balanced Scorecard, na verdade, ajuda a reduzir a quantidade
de informação utilizada a um conjunto mínimo de indicadores vitais e críticos.
A resposta correta da atividade quatro é a letra (c), pois historicamente a
literatura registra as dificuldades entre a comunicação de técnicos e gestores.
Assim, o desafio não é a manutenção, mas sim a geração de um bom relaciona-
mento entre gestores e técnicos.

Referências
CRAINER, Stuart. Grandes Pensadores da Administração. São Paulo: Futura, 2000.
GATTONI, Roberto L. C. Gestão do conhecimento organizacional na condução de
projetos corporativos em tecnologia da informação: um caso prático. (Dissertação,
Mestrado em Informação Gerencial e Tecnológica) - Belo Horizonte: UFMG, 2000.

UNITINS • ADMINISTRAÇÃO • 2º PERÍODO  313


Aula 4 • Tecnologia da Informação e da Comunicação

HAGEL III, John. Pensando fora do Quadrado. Rio de Janeiro: Campus, 2003.
______. Uma orquestra de terceirizados. Hsm Management, n. 38, mai./jun. 2003.
KAPLAN, Robert S.; NORTON, David P. A estratégia em ação: Balanced
Scorecard. 7. ed. Rio de Janeiro: Campus, 1997. 
VARGAS, R. V. Gerenciamento de Projetos: estabelecendo diferenciais competi-
tivos. Rio de Janeiro: Brasport, 2000.

Na próxima aula
Estamos já bem avançados em nossas aulas. Chegou a hora de estudar a
questão da inovação tecnológica nas organizações e de falar um pouco sobre
Gestão de Conhecimento, temas da nossa próxima aula. A gente se vê lá!

Anotações


























314  2º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • UNITINS


Aula 5 • Tecnologia da Informação e da Comunicação

Aula 5
Gestão do conhecimento

Objetivos
Esperamos que, ao final desta aula, você seja capaz de:
• compreender o conceito de pesquisa e desenvolvimento;
• identificar as diferenças entre dado, informação e conhecimento.

Pré-requisitos
Consideramos importante que você tenha aprendido as questões técnicas da
TIC, pois perceberá que é por meio do conhecimento que todas essas tecnolo-
gias se desenvolvem e evoluem.

Introdução
A palavra tecnologia facilmente é associada à conotação de mudança histo-
ricamente determinada, evolução. Todavia, há diferenças sutis mais importantes
entre ciência aplicada, técnica e tecnologia. Para demarcar os contornos destas
atividades, apresentaremos, nessa aula, os conceitos de invenção e inovação.
Nunca se deu tanta importância ao conhecimento como nesses últimos tempos.
Esse fenômeno marca o início de nova fase histórica denominada como socie-
dade do conhecimento. Mas, o que você entende por conhecimento? Será que
é a mesma coisa que informação? A resposta é não. A confusão entre dado,
informação e conhecimento pode gerar enormes dispêndios, com iniciativas
de tecnologia que dificilmente produzem resultados satisfatórios. As empresas
investem pesadamente em soluções, antes de saber exatamente quais são seus
problemas, e o resultado acaba sendo desastroso.

5.1 Invenção e inovação


Segundo o Ministério de Ciência e Tecnologia (2001), podemos distinguir
invenção de inovação da seguinte forma: a invenção, em si mesma, não teria
dimensão econômica, referindo-se à descoberta de princípios que podem perma-
necer restritos ao campo do conhecimento, ou seja, um conhecimento puro. A

UNITINS • ADMINISTRAÇÃO • 2º PERÍODO  315


Aula 5 • Tecnologia da Informação e da Comunicação

inovação, por outro lado, tem aplicação prática e possibilita a sua aplicação
visando fins econômicos. Assim, nem todo avanço no conhecimento tem,
necessariamente, implicações na produção, circulação e consumo de merca-
dorias. É importante destacar que estes dois processos são interdependentes:
a descoberta de novos princípios cria a possibilidade de sua aplicação a
curto ou longo prazo, do mesmo modo que um novo emprego de recursos
econômicos pode conduzir à descoberta de novos conhecimentos.
Ainda com base no documento do MCT, podemos observar que os países
desenvolvidos empreendem ações governamentais que integram políticas
econômicas e de ciência e tecnologia, visando a aumentar a competitividade
internacional. Atualmente, ante a constatação de que a inovação tecnoló-
gica stricto sensu não garante competitividade e não resolve sérios problemas
sociais vinculados a processos de produção, o conceito sofre uma reava-
liação, de maneira a incluir também:
• a organização e gestão do trabalho dentro da organização;
• formas de atualização e qualificação profissional;
• desenvolvimento de novas formas de relação capital/trabalho e/ou
de organização do trabalho na organização;
• descentralização com integração (social, produtiva, administra-
tiva e política);
• formação de recursos humanos qualificados em colaboração com as
universidades, etc.

5.2 Pesquisa e desenvolvimento


Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) estão relacionados ao processo que
envolve a geração de conhecimentos e tecnologias e suas transformações em
produtos, processos e serviços, caracterizados como inovações ou inventos
diretamente incorporados ao processo produtivo.
P&D são utilizados intensivamente no setor industrial, mas sobretudo na
área da tecnologia da informação e da comunicação. No âmbito industrial, é
o conjunto de atividades que busca a geração de conhecimentos e sua trans-
formação em inovações tecnológicas de interesse econômico-social.
Pesquisa é o processo de busca e entendimento do desconhecido.
Desenvolvimento consiste na aplicação dos conhecimentos da ciência e da tecno-
logia, para a geração de produtos e/ou processos prontos para utilização.
Entretanto, os investimentos em P&D no Brasil ainda são muito reduzidos,
frente a outros países. A disputa de mercados e a exigência de competitividade
são fatores de indução a maiores investimentos, é necessário também que as polí-
ticas governamentais facilitem o financiamento privado da ciência e tecnologia.

316  2º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • UNITINS


Aula 5 • Tecnologia da Informação e da Comunicação

5.3 O que é conhecimento?


Para definirmos com clareza o que é conhecimento, vamos refrescar a
memória, revendo e aprofundando um pouco mais os conceitos vistos na aula
um sobre dados, informação e conhecimento.

5.3.1 Dados
De acordo com Davenport e Prusak (1998), dados são um conjunto
de fatos distintos e objetivos relativos a eventos. Em um contexto organi-
zacional, dados são descritos como registros estruturados de transações.
Vamos exemplificar: quando um cliente vai a um posto de gasolina e enche
o tanque de seu carro. Essa operação pode ser parcialmente descrita como
dado: quando ele fez a compra; quantos litros de combustível consumiu;
quanto pagou. Os dados não revelam por que ele procurou um posto e não
outro, e não podem prever probabilidade daquele cliente voltar ao mesmo
posto. Desta forma, para a gestão de dados, é necessário levar em conta
alguns aspectos quantitativos (custos, velocidade e capacidade) e qualita-
tivos (relevância e clareza).

5.3.2 Informação
A informação tem por objetivo mudar (ou confirmar) o modo como algo é
compreendido pelo seu receptor, exercendo alguma forma de impacto sobre
o julgamento e comportamento deste.
Ela deve informar (dar forma), modelar, de modo que a pessoa que
a recebe possa ter condições de fazer alguma estabelecer novas perspec-
tivas ou insights. Por exemplo: um e-mail profissional cheio de divagações
pode ser considerado informação por seu redator, porém para o receptor
puro ruído.
Como vimos, a informação circula pelas organizações por redes de hard
e soft, e sua gestão tende a incluir aferições de conectividade e transações
(quantitativas), informatividade e utilidade (qualitativas). Diferentemente de
dado, a informação deve ter relevância e propósito. Existem alguns métodos
de transformação de dado em informação.
• Contextualização: sabe-se qual a finalidade dos dados coletados.
• Categorização: as unidades de análise ou os componentes essen-
ciais dos dados são conhecidos.
• Cálculo: os dados podem ser analisados matemática ou estatisticamente.
• Correção: os erros são eliminados dos dados.
• Condensação: os dados podem ser resumidos para uma forma
mais concisa.

UNITINS • ADMINISTRAÇÃO • 2º PERÍODO  317


Aula 5 • Tecnologia da Informação e da Comunicação

Os computadores podem ajudar a agregar tais valores e transformar dados


em informação, porém quase nunca eles ajudam na parte de contexto. Os seres
humanos precisam agir nas partes de categorização, cálculo e condensação.

5.3.3 Conhecimento
E agora, conhecendo o conceito de dado e informação, você já tem
condições que arriscar o que significa conhecimento? Intuitivamente podemos
afirmar que conhecimento é mais amplo, mais profundo e mais rico do que
dados e informação. Quando falamos que alguém é esclarecido, com conheci-
mento sobre determinado assunto, queremos dizer que é inteligente e tem boa
bagagem cultural.
A definição de conhecimento que iremos apresentar não tem a pretensão de ser
definitiva e cabal, mas acredita-se que possa expressar as características que tornam
o conhecimento valioso e que dificulta a sua boa gestão no âmbito organizacional.
Davenport e Prusak (1998, p. 8) afirmam que
conhecimento é uma mistura fluida de experiência condensada,
valores, informação contextual e insight experimentado, a qual
proporciona uma estrutura para a avaliação e incorporação de
novas experiências e informações. Ele tem origem e é aplicado
na mente dos conhecedores. Nas organizações, ele costuma estar
embutido não só em documentos ou repositórios, mas também em
rotinas, processos, práticas e normas organizacionais.

A definição torna claro que conhecimento não é puro e nem simples: é


fluido, intuitivo, existe dentro das pessoas e faz parte da complexidade e impre-
sivibilidade humanas. O conhecimento deriva da informação da mesma forma
que a informação deriva dos dados. Para que a informação se transforme em
conhecimento, é importante levar em conta as seguintes iniciativas:
• Comparação: de que formas as informações relativas a esta situação se
comparam a outras situações conhecidas?
• Conseqüências: que implicações estas informações trazem para as deci-
sões e tomadas de ação?
• Conexões: quais as relações deste novo conhecimento com o conheci-
mento já acumulado?
• Conversação: o que as outras pessoas pensam desta informação?
Estas atividades, criadoras de conhecimento, têm lugar dentro das pessoas
e entre elas.

5.4 Gestão do conhecimento


Estamos vivendo uma época em que as empresas precisam saber o que
sabem e usar efetivamente esse conhecimento. O seu porte e a dispersão

318  2º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • UNITINS


Aula 5 • Tecnologia da Informação e da Comunicação

­ eográfica pode dificultar a localização. Os processos que envolvem a gestão do


g
conhecimento estão ligados ao seu conceito. Vejamos o esquema a seguir:

Figura 1 – Processos da Gestão do Conhecimento

Fonte: Davenport e Prusak (1998).

Assim, gestão do conhecimento está relacionada às ações organizacionais


voltadas para a identificação, aquisição, desenvolvimento, partilha, utilização e
retenção do conhecimento.
Os princípios da gestão do conhecimento, de acordo com Davenport e Prusak
(1998), são os seguintes:
a) o conhecimento tem origem e reside na cabeça das pessoas;
b) o compartilhamento do conhecimento exige confiança;
c) a tecnologia possibilita novos comportamentos ligados ao conhecimento;
d) o compartilhamento de conhecimento deve ser estimulado e recompensado;
e) suporte da direção e recursos são fatores essenciais;
f) iniciativas ligadas ao conhecimento devem começar com um programa-piloto;
g) aferições quantitativas e qualitativas são necessárias para se avaliar a
iniciativa;
h) o conhecimento é criativo e deve ser estimulado a se desenvolver de
formas inesperadas.

Síntese da aula
Nessa aula, aprendemos que há diferenças entre conceitos de invenção e
inovação. A primeira está associada ao desenvolvimento teórico; a segunda visa
à aplicabilidade econômica. Vimos, também, que a pesquisa e desenvolvimento
devem ser políticas governamentais e empresariais. Por sua vez, o conhecimento é
a chave, a vantagem competitiva sustentável. Assim, diferenciar dados, informação
e conhecimento é imprescindível para gerir o conhecimento organizacional.

UNITINS • ADMINISTRAÇÃO • 2º PERÍODO  319


Aula 5 • Tecnologia da Informação e da Comunicação

Atividades

1. Diferencie inovação de invenção.

2. Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) estão relacionados ao processo que


envolve a geração de conhecimentos e tecnologias e suas transformações em
produtos, processos e serviços, caracterizados como inovações ou inventos
diretamente incorporados ao processo produtivo. Com base no texto, assi-
nale a alternativa incorreta.
a) P&D são utilizados intensivamente no setor industrial, mas sobretudo na
área da tecnologia da informação e da comunicação.
b) No âmbito industrial, P&D são o conjunto de atividades que busca a
geração de conhecimentos e sua transformação em inovações tecnoló-
gicas de interesse econômico-social.
c) Pesquisa é o processo de busca e entendimento do conhecimento adqui-
rido pelo processo de inovação.
d) Desenvolvimento consiste na aplicação dos conhecimentos da ciência
e da tecnologia para a geração de produtos e/ou processos prontos
para utilização.

3. Diferencie informação de conhecimento.

4. Sobre empresas baseadas no conhecimento é incorreto afirmar que:


a) são organizações que ultrapassam os limites tradicionais do que hoje se
entende por empresa, pois o seu principal foco é a produção de conhe-
cimento humano;
b) a informação tem um papel fundamental devido à necessidade de
manutenção do controle dos processos e do caráter rígido e centrali-
zador das decisões;
c) nessas organizações, as decisões são tomadas de forma coletiva e parti-
cipativa e o controle dos processos é descentralizado;
d) sinergia, trabalho em equipe e comunicação são elementos indispensáveis.

Comentário das atividades


Em atenção ao primeiro objetivo dessa aula, compreender o conceito de
pesquisa e desenvolvimento, foram elaboradas as atividades um e dois. Na ativi-
dade um, deve ser ressaltado que a invenção, em si mesma, não teria dimensão
econômica, referindo-se à descoberta de princípios que podem permanecer restritos

320  2º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • UNITINS


Aula 5 • Tecnologia da Informação e da Comunicação

ao campo do conhecimento, ou seja, um conhecimento puro. A inovação, por sua


vez, tem aplicação prática e possibilita a aplicação com fins econômicos.
Na atividade dois, a alternativa incorreta é a (c), pois pesquisa é o processo
de busca e entendimento do desconhecido.
Em resposta à atividade três temos que a informação tem a finalidade de
mudar (ou ratificar) o modo como o destinatário vê algo. Exerce algum impacto
sobre o seu julgamento e comportamento. Ela deve informar de modo que a
pessoa que a recebe possa ter condições de estabelecer novas perspectivas
ou insights. Podemos afirmar que conhecimento é mais amplo, mais profundo
e mais rico do que dados e informação. É uma mistura fluida de experiência
condensada, valores, informação contextual e insight experimentado. Ele tem
origem e é aplicado na mente dos conhecedores.
Finalmente, para a atividade quatro a resposta certa é a letra (b), já que a
informação tem sim um papel fundamental, mas, quanto mais e de melhor quali-
dade for a informação, mais eficiente será o processo decisório da organização
e, conseqüentemente, maior agilidade e flexibilidade terão os processos e as
rotinas organizacionais.

Referências
MCT – Ministério da Ciência e Tecnologia. Inovação Tecnológica e Transferência
de Tecnologia. Brasília: MCT, 2001.
DAVENPORT, Thomas H.; PRUSAK, Laurence. Conhecimento Empresarial: como as
organizações gerenciam o seu capital intelectual. Rio de Janeiro: Campus, 1998.

Na próxima aula
Pois é, estamos quase chegando ao final da disciplina, mas ainda com
vários tópicos importantes para ver. Estudaremos na aula seguinte as bases do
downsizing e da reengenharia, estratégias muito usadas na área de tecnologia
da informação e comunicação para incrementar a gestão organizacional.

Anotações







UNITINS • ADMINISTRAÇÃO • 2º PERÍODO  321


Aula 5 • Tecnologia da Informação e da Comunicação

322  2º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • UNITINS


Aula 6 • Tecnologia da Informação e da Comunicação

Aula 6
Downsizing e Reengenharia

Objetivos
Esperamos que, ao final desta aula, você seja capaz de:
• definir o conceito e o contexto de implantação do downsizing;
• compreender o conceito de reengenharia e suas implicações.

Pré-requisitos
Em relação a esses conceitos, consideramos importante que você compre-
enda os impactos da Revolução Industrial na gestão das organizações. As disci-
plinas Introdução à Administração e a Sociologia Aplicada à Administração
certamente lhe ofereceram o aporte teórico necessário.

Introdução
Até agora estudamos o quanto as informações são relevantes para a gestão
das organizações e, também, como a presença da tecnologia tem influenciado
o seu funcionamento. No entanto, é inevitável relacionarmos também fenômenos
econômicos à nossa análise do contexto em que as organizações operam.
Nas últimas décadas houve, em escala mundial, crise de petróleo,
inflação, dívida externa, crise de energia, entre outros. Todos esses acon-
tecimentos, associados ao avanço tecnológico, influenciaram sobremaneira
a forma de gerir as organizações: competitividade mundial, evolução da
filosofia empresarial, redefinição das necessidades de grupos, mudanças do
processo produtivo, etc.
A cada dia, surge uma nova tendência e cabe a cada um de nós criticidade,
para identificar as melhores práticas e empregar aquela que melhor se adequar
ao contexto a ser modificado. Nessa aula, iremos conhecer um pouco mais
duas estratégias que ganharam força nas décadas de 80 e 90, motivadas pela
necessidade de aumentar a produtividade e de responder mais rapidamente à
concorrência.

UNITINS • ADMINISTRAÇÃO • 2º PERÍODO  323


Aula 6 • Tecnologia da Informação e da Comunicação

6.1 Downsizing
O termo downsizing significa, em tradução literal, redução de tamanho. Essa
redução representa um achatamento na estrutura organizacional da empresa.
Apesar de estar ligado à unidade de recursos humanos, tem seu significado na
da disciplina Tecnologia da Informação e da Comunicação por tratar da política
de demissão de funcionários.
Essa abordagem traz à tona o enxugamento no quadro de colaboradores de
uma organização, delegando maior responsabilidade a gerentes e funcionários.
É importante compreender esse conceito para sua aplicação correta.

6.1.1 Objetivos do downsizing


O downsizing tem como objetivos básicos, a minimização de custos e
o enxugamento da estrutura organizacional, buscando a otimização dos
processos. Em outras palavras: busca atingir o mesmo objetivo, utilizando menos
recursos, com o mesmo ou menor esforço (trabalho). Segundo a Enciclopédia
Livre Wikipédia, podemos relacionar os seguintes objetivos para implantação
de downsizing na organização:
• redução de custos;
• redução da burocracia, mediante a racionalização e reestruturação dos
processos;
• alcance de maior produtividade;
• agilizar a tomada de decisões;
• reduzir o ruído nas comunicações internas;
• agilizar a resposta às ações da concorrência;
• manter orientação para a ação;
• difundir, com maior velocidade, as novas idéias;
• facilitar as sinergias dentro da organização;
• gerar a alta moral na gerência geral;
• focalizar a atenção nas necessidades dos clientes;
• aumentar o nível de autoridade e responsabilidade dos gerentes com
maior contato com os clientes;
• aumentar a produtividade gerencial;
• alinhar a organização com a estratégia proposta.
Segundo Sanches (2006), as organizações possuem uma série de obje-
tivos estipulados para o downsizing, mas acabam dedicando maior atenção à
redução de pessoal. Objetivos, como a maior agilidade na tomada de decisões

324  2º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • UNITINS


Aula 6 • Tecnologia da Informação e da Comunicação

e aumento da moral do corpo gerencial, são freqüentemente apontados como


justificativas para os cortes e, logo em seguida, esquecidos. Empresas que fazem
o downsizing planejado – buscam objetivos maiores do que a eliminação de
empregos. Elas procuram construir uma organização o mais eficiente e eficaz
possível, instituindo práticas que sustentem esse tipo de organização.
Para evitar algumas das armadilhas do enxugamento de pessoal, é neces-
sário identificar o excesso de pessoal e dos níveis administrativos, em vez de
colocar todas as unidades no mesmo alvo de redução geral.
Para a organização manter-se viável, é necessário realizar alterações na
sua estrutura organizacional, nos seus sistemas de remuneração, no seu plano
de carreira, nas suas práticas de contratação e treinamento e, se necessário,
na sua estratégia global. A melhor referência para vislumbrar o resultado da
implementação do downsizing é o próprio plano estratégico da organização.
Normalmente, o plano estratégico engloba um período extenso e orienta-se no
investimento de recursos em áreas que tragam vantagens sobre a concorrência.

6.1.2 Lucro – objetivo principal?


Na função de gestor de uma organização, podemos nos deixar envolver
pelos resultados financeiros a curto prazo e, com isso, é comum supor que o corte
de funcionários melhora automaticamente esses resultados e aumenta a produ-
tividade. Isso é muito discutível, assim como é o acreditar que não haja efeitos
adversos sobre os sobreviventes e sobre a qualidade de produtos e serviços.
O efeito claro disso é o ambiente de insegurança que a adoção dessa política
pode causar. Se os gestores pensam em aumentar a produtividade, podem estar
comprometendo toda a cadeia produtiva e, conseqüentemente, a qualidade dos
serviços e produtos oferecidos. Com isso, o efeito pode ser devastador dentro da
organização, mesmo que se tenham resultados financeiros favoráveis.
Algumas pesquisas mostram que a rentabilidade não segue necessaria-
mente o downsizing. Segundo pesquisa realizada pela empresa norte ameri-
cana Society for Human Resources Management sobre demissões e segurança
no emprego em 2001 (CASSIO, 2003), os dados mostram que apenas 32%
dos entrevistados indicaram que as demissões aumentaram os lucros. Sobre a
insegurança citada, para a maioria das empresas o downsizing teve efeitos
negativos sobre o moral interno, sobre a carga de trabalho e sobre o nível de
comprometimento dos sobreviventes. Outra pesquisa realizada nos EUA mostra
que 70% dos gerentes que permaneceram em empresas que passaram por um
processo desses relataram que o moral e a confiança diminuíram.

6.1.3 Custos de um funcionário demitido


Outro aspecto que deve ser analisado é o impacto que as demissões podem
causar, quando a empresa é baseada no conhecimento e no relacionamento.

UNITINS • ADMINISTRAÇÃO • 2º PERÍODO  325


Aula 6 • Tecnologia da Informação e da Comunicação

Por exemplo: o custo mais importante é a perda de contatos e de capacidade


de inovar. Erra quem pensar que os custos de uma demissão envolvem apenas
as indenizações.
O ativo mais importante de uma empresa é o conhecimento que o funcio-
nário detém sobre o mercado, sobre a cultura da empresa, fora as habilidades
adquiridas ao longo do tempo. O downsizing pode ter efeito devastador sobre
a inovação: um processo desses pode destruir habilidades e contatos que foram
desenvolvidos ao longo de vários anos.
Empresas baseadas em conhecimento, como as de tecnologia, dependem
muito de seus funcionários – seu capital humano – para crescer e inovar. As redes
de relacionamento entre os indivíduos geram aprendizado e conhecimento. Por
esse aspecto, o downsizing é desastroso: quando se demite um funcionário,
quebra-se uma rede de relacionamentos dentro desse tipo de organização.
Tal perda é prejudicial aos processos e operações em andamento, compro-
mete os contatos atuais e podem levar à perda de oportunidades de negócio. Por
outro lado, os colaboradores devem mudar sua forma de pensar quanto à estabi-
lidade no emprego ou na função. Mesmo em empresas saudáveis, é comum ter
políticas de enxugamento, principalmente naquelas que adotam novos processos
ou estão em constante mudança, seja pelo uso da tecnologia ou não.
Aproveitando: muitos pensam que o uso da informática, ou das máquinas
robotizadas causa desemprego. Na verdade, elas podem até gerar o desemprego,
porém as empresas modernas têm seus processos baseados em conhecimento e
esse fato nenhuma máquina ainda pode ter. O conhecimento é algo do ser humano,
portanto, o que os computadores e máquinas podem fazer é auxiliar na geração
e no armazenamento de informações, algo fundamental para geração do conheci-
mento. Mais ainda: a tecnologia deve ser empregada para ser meio e não fim, ela
é uma ferramenta de apoio à execução e à tomada de decisão.

6.2 Reengenharia de processos


Outra abordagem quanto à gestão de tecnologia pode estar associada à
reengenharia de processos, tema que virou modismo na última década, decor-
rente da necessidade das empresas remodelarem seus processos, para se alinhar
às novas perspectivas econômicas. Além disso, a economia global está encami-
nhando os negócios ao encontro de diversas atividades, visando, no mínimo,
ao corte de custos. As organizações mais atentas a esse contexto adicionam
outras variáveis, tais como qualidade, tempo, flexibilidade e, principalmente, a
satisfação dos clientes (internos ou externos).
Quando falamos em tecnologia da informação e comunicação, o cenário
não é diferente. Como visto, o desafio da TIC é estar alinhada aos processos da
empresa, ela não deve e não pode estar alienada aos acontecimentos globais

326  2º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • UNITINS


Aula 6 • Tecnologia da Informação e da Comunicação

que envolvem a administração de uma organização. Para o desenvolvimento


de um software ou para sua aquisição, é necessário conhecer bem os processos
em que ele estará inserido. Muitos termos podem ser utilizados para compre-
ensão desses processos, como modelar, mapear, analisar entre outros, mas o
que importa, na verdade, é conceber uma tecnologia que esteja integrada aos
processos da empresa: esse é ponto chave da tecnologia nas organizações.
Um processo de negócio é qualquer conjunto de atividades relacionadas ao
objetivo final da empresa – entregar um produto ou um serviço ao cliente. Os
processos de negócio são tipicamente avaliados do ponto de vista do cliente.
A eficiente gestão dos processos de negócio é um fator crítico para o sucesso
da organização. Entretanto, gerir processos é mais complexo do que poderia
parecer inicialmente: não são isolados e sim interdependentes.

6.2.1 Objetivos da reengenharia de processos


A idéia da reengenharia de processos é que as organizações precisam
identificar seus principais processos e torná-los mais enxuto e eficiente possíveis.
Para Hammer e Champy (1995, p. 9), reengenharia era repensar fundamen-
talmente e redesenhar radicalmente os processos de negócio, a fim de obter
melhoras drásticas em medidas fundamentais de desempenho como custo,
qualidade, serviço e velocidade.
A mudança no cenário mundial, principalmente após a consolidação da
globalização, tornou o mercado turbulento e fez com que muitas empresas
repensassem seu modo de produção e de qualidade. O objetivo era aumentar,
de forma sensível, a produtividade e qualidade de seus serviços e produtos
para sobreviver nesse novo mercado que se formou. É nesse cenário, também,
segundo Joia (1994), que surge a Reengenharia, inovando as empresas, para
que atinjam elevados índices de competitividade.
O texto anterior pode resumir, de forma básica, os objetivos da reenge-
nharia de processos:
• melhora na qualidade dos produtos/serviços oferecidos;
• aumento da produtividade;
• melhora no atendimento ao cliente;
• produção enxuta.

6.2.2 Reengenharia e a tecnologia da informação


Hoje, o uso da Tecnologia da Informação está dominando praticamente
todos os aspectos dos negócios. A aceleração adotada por novas tecnologias
tais como a internet, a multimídia e outras, está causando mudanças nas formas
de trabalho das pessoas e seus ambientes de trabalho.

UNITINS • ADMINISTRAÇÃO • 2º PERÍODO  327


Aula 6 • Tecnologia da Informação e da Comunicação

A tecnologia da informação está se modificando profundamente. Segundo


Gonçalves (1994), na nova organização, ela terá não mais um papel ligado à
perpetuação das estruturas tradicionais, mas um papel de apoio aos objetivos estra-
tégicos. TI é:
• instrumento permanente de renovação dos processos de negócios: TIC é
o instrumento de preferência, na constante adequação dos processos ao
ambiente e a novos objetivos estratégicos;
• agente de viabilização de novos produtos e serviços: a partir de uma análise
de oportunidades, TIC é o elemento que viabiliza novos produtos, novas
maneiras de satisfazer o cliente, novas formas de fazer negócios;
• elemento de flexibilização entre ambiente, organização e pessoas: o
ambiente é dinâmico. Organizações e Pessoas têm uma velocidade de
adaptação menor do que a velocidade de mudança do ambiente. TIC
auxilia a absorver a mudança, permitindo maior estabilidade da organi-
zação e apresentando uma interface estável às pessoas.
Alguns autores vêem a TIC como o centro, a escora, o habilitador da business
process reengineering. Seguramente não é uma coincidência que Hammer e Davenport
tenham a base de conhecimentos deles na TI. Gonçalves (1994) resume, de forma
clara e abrangente, a relação profunda entre a utilização da TI e a Reengenharia:
• processos de negócios: com a TI interfere-se na própria tecnologia de
execução e de controle dos processos;
• melhorias drásticas: a TIC pode não apenas levar à otimização do processo,
mas também a processos inteiramente novos, com desempenho superior ao
dos processos atuais;
• redesenho radical: a simulação de novos processos e a exploração de
novas idéias são facilitadas pela TIC;
• reconceituação fundamental: não se fica preso a princípios e conceitos antigos;
• alguns autores vêem a TIC e a business process reengineering em uma relação
recursiva. A TIC possibilita o apoio aos processos de negócio, e estes devem
ser tratados de acordo com as capacidades que a TIC puder prover;
• o papel da TIC é influenciado por aqueles que tomam a iniciativa da
melhoria ou do redesenho do processo. Mas é certo afirmar que, dificil-
mente, pode-se falar em reengenharia sem mencionar o papel fundamental
da tecnologia da informação e da comunicação.

6.2.3 Cuidados especiais


Na administração, é comum encontrarmos modismos. A reengenharia de
processos teve sua força na década de 90, quando o livro de Hammer e Champy
(1995), A Reengenharia da empresa, entrou para a galeria dos mais vendidos. O

328  2º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • UNITINS


Aula 6 • Tecnologia da Informação e da Comunicação

resultado foi a criação de várias empresas de consultoria vendendo a idéia e


promovendo várias abordagens da reengenharia.
Como cita Crainer (2000), a revolução logo se transformou em frustração. É
fácil compreender o porquê dessa frustração: imagine uma empresa estabelecida
há mais de 20 anos, que já tenha sofrido com várias mudanças na economia,
no processo de qualidade e produtivo, ter que ignorar todos os seus processos e
sua forma de trabalhar. Estabelecida a cultura de uma organização, dificilmente
elas serão descartadas.
Outro aspecto que chama atenção, e com qual devemos ter cuidado, é o fato
de a reengenharia ter seu lado desumano, tratando pessoas como máquinas que
deveriam produzir com alta qualidade, sem se importar com as necessidades do
ser humano. O lado humano da reengenharia de processos logo passou a ser
um grande obstáculo.
A grande lição que podemos tirar da reengenharia, algo que levou seus
fundadores a publicarem um livro a respeito (Hammer – Reengenharia da
Gerência), é o fato dos gerentes não terem mudado seus hábitos de trabalho.
A reengenharia foi utilizada para aqueles processos mais convenientes para
eles, porém muitos não tiveram a capacidade de mudar suas próprias práticas.
Mantendo intactos suas funções e estilos, os gerentes podem minar a estrutura
de suas empresas reconstruídas, observou Champy (1995, p. 9), no auge da
popularidade da reengenharia de processos.

Síntese da aula
Como qualquer ferramenta, seja o downsizing, seja a reengenharia de
processos, é importante compreender a cultura e os processos da empresa. Mais
uma vez, foi citada a importância de se ter um planejamento estratégico condi-
zente com a realidade da empresa.

Atividades

1. Por qual razão a administração de uma empresa provavelmente adotaria


uma estratégia de downsizing?
a) A companhia identificou novas oportunidades de mercado que comple-
mentam as competências centrais da organização.
b) A participação no mercado caiu significativamente depois que um
concorrente lançou um novo produto.
c) A companhia tem um nicho altamente lucrativo com pequena competição.
d) Os negócios da companhia estão estáveis e inalterados e há pouca
competitividade.

UNITINS • ADMINISTRAÇÃO • 2º PERÍODO  329


Aula 6 • Tecnologia da Informação e da Comunicação

2. Com relação aos equipamentos de TIC, como seria a aplicação de


downsizing?

3. Uma equipe de reengenharia, após a realização de um diagnóstico preli-


minar, identificou um processo problemático na área de produção de uma
empresa: o excesso de controles operacionais, gerando custos relativamente
elevados, considerados os demais custos de produção. Assinale a opção
que não deverá ser incluída no relatório a ser encaminhado à diretoria
executiva, com sugestões sobre um futuro programa de reengenharia de
processos na área de produção da empresa.
a) Identificar e mapear os processos relacionados com os controles opera-
cionais na área de produção.
b) Eliminar, na medida do possível, os processos que não adicionam valor
para o cliente (análise de valor).
c) Ordenar os processos problemáticos, identificados na área de produção,
segundo o grau de disfunção apresentado.
d) Tornar os controles operacionais mais presentes no processo produtivo.

4. Por que o lado humano da reengenharia representa um grande obstáculo?

Comentário das atividades


O objetivo dessa aula é: definir o conceito e o contexto de implantação do
downsizing e da reengenharia. Vejamos se você o atingiu.
Na atividade um a alternativa a ser assinalada é a (b) pois o downsizing é
uma técnica utilizada em casos de ambientes de concorrência com alta competiti-
vidade, visando a tornar a empresa mais enxuta e ágil na tomada de decisões.
Como resposta da atividade dois, podemos concluir que o downsizing com
relação aos equipamentos ocorre pela substituição dos computadores de grande
porte por equipamentos menores, de menor custo e poder de processamento
semelhante (ou até superior). Ou seja, um enxugamento na estrutura computa-
cional mediante a implantação de novas tecnologias.
A atividade três tem como resposta a alternativa (d). Quando o assunto é
reengenharia de processos, trata-se de enxugar os processos ou procedimentos
que compõem a operação global da empresa, e com isso ser mais eficiente do
que o concorrente. Existirá uma equipe designada a analisar todos os processos
da empresa e escolher aqueles que prometem mais chances de melhoria. Um
exemplo de um processo é o fluxo de papel, ou de informação, ou instruções
através da empresa para processar o pedido de um vendedor ou de um cliente.
A reengenharia eliminaria a repetição de tarefas, assinaturas e carimbos, e

330  2º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • UNITINS


Aula 6 • Tecnologia da Informação e da Comunicação

c­ olocaria o vendedor em contato direto com o chefe de produção. Vários passos


de processamento do pedido ocorrerão paralelamente, ao invés de sucessiva-
mente, no intuito de acelerar a resposta ao cliente.
Com relação à atividade quatro, ficou evidente no texto que o processo de
reengenharia não se preocupa muito com o lado humano, tratando pessoas
como máquinas que deveriam produzir com alta qualidade sem se importar com
as necessidades do ser humano, derivando disso um grande obstáculo para sua
implantação na organização.

Referências
CASSIO, Wayne F. 13 Mitos (e os fatos) sobre o Downsizing. HMS MANAGEMENT.
São Paulo, n. 37, mar./abr. 2003.
______. Revista de administração de empresas. HSM MANAGEMENT. n. 37,
mar./abr., 2003. São Paulo: HSM do Brasil, 2003.
CRAINER, Stuart. Grandes Pensadores da Administração. São Paulo: Futura, 2000.
GONÇALVES, J.H.L. Reengenharia: guia de referência para executivos. Revista
de Administração de Empresas. São Paulo: 34, jul./ago., 1994.
HAMMER, Michael; CHAMPY, James. A reengenharia de empresa. São Paulo:
Dinalivro, 1995.
JOIA, L. A. Reengenharia e tecnologia da informação: o paradigma do cama-
leão. São Paulo: Pioneira, 1994.
SANCHES, Daniel. Downsizing: reformulando e redimensionando sua empresa
para o futuro. 2006. Disponível em: <http://www.agenegocios.com.br/new/a.
asp?a=4&c=71>. Acesso em: 17 fev. 2008.
WILKPÉDIA – Enciclopédia Livre. Downsizing. Disponível em: <http//pt.wikpedia.
org/wiki/downsizing>. Acesso em: 7 fev. 2008

Na próxima aula
Estamos chegando ao final desta apostila. Nossa última tarefa será conhecer
as metodologias de gestão de projetos em TI e, na seqüência, estudar sobre um
tema muito interessante e polêmico: softwares livres e softwares proprietários.

Anotações




UNITINS • ADMINISTRAÇÃO • 2º PERÍODO  331


Aula 6 • Tecnologia da Informação e da Comunicação

332  2º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • UNITINS


Aula 7 • Tecnologia da Informação e da Comunicação

Aula 7
Gestão de Projetos

Objetivos
Esperamos que, ao final desta aula, você seja capaz de:
• conhecer as metodologias de gestão de projetos em TI;
• compreender o conceito básico de softwares livres e softwares proprietários.

Pré-requisitos
Em relação a esses conceitos, consideramos os conhecimentos e experiências
que você adquiriu até o momento suficientes e adequados para que atinja os obje-
tivos propostos.

Introdução
Já estudamos sobre a importância da reengenharia de processos, da terceiri-
zação, do downsizing e da relação com o usuário para a TIC. Agora, entenderemos
a importância da organização moderna voltar à tecnologia da informação e da comu-
nicação para uma área de projetos. Este tema é crescente nas principais empresas
do mundo, pois conforme vimos, a TIC está presente nas principais atividades da
organização e, por isso, ela se tornou grandiosa e também de difícil gestão.
Conhecer os fundamentos e as estratégias de gerência de projetos possibilitará a
você maximizar desempenhos e o alcance de excelentes resultados. O gerenciamento
de projeto garante estrutura, foco, flexibilidade e controle na busca dos resultados.
Outro tema que tem chamado bastante atenção nos debates sobre TIC trata
do uso de softwares livres e softwares proprietários. Esse é um debate que, além
de gerar muita discussão, vem causando muita polêmica. Mas, para nós, o que
importa é entender as diferenças entre eles, para então decidir sobre a melhor
opção de investimento. Como fizemos anteriormente, abordaremos, de forma bem
objetiva, esse assunto; não é objetivo deste estudo entrar demasiadamente nos
termos técnicos que o compõe. Após compreender os conceitos básicos, você estu-
dará quais serão os principais aplicativos e os seus custos e terá mais uma infor-
mação para a tomada de decisão. Bom estudo!

UNITINS • ADMINISTRAÇÃO • 2º PERÍODO  333


Aula 7 • Tecnologia da Informação e da Comunicação

7.1 Fundamentos dos projetos


Nas últimas décadas, o mundo tem se deparado com um incrível dinamismo
em suas relações intra e inter organizacionais. A empresas, sejam elas privadas
ou públicas, precisam ser reconhecidas por sua flexibilidade, capacidade de
atender a seus clientes e por seu profissionalismo.
O gerenciamento de projetos é um conjunto de ferramentas que permite à
organização focar prioridades, monitorar desempenhos, superar dificuldades e
adaptar-se a mudanças. Por meio da gerência de projetos, o gestor poderá ter
controle e fazer uso de técnicas que ajudarão a liderar equipes para o alcance
das metas no prazo e dentro do orçamento previsto. Vargas (2000, p. 7) nos
ensina que
o gerenciamento de projetos é um conjunto de ferramentas gerenciais
que permitem que a empresa desenvolva um conjunto de habilidades,
incluindo conhecimento e capacidades individuais, destinados ao
controle de eventos não repetitivos, únicos e complexos, dentro de
um cenário de tempo, custo e qualidade pré-determinados.

Para entender melhor o conceito de gerenciamento de projetos, é preciso


termos clareza do significado de projeto. Conforme Vargas (2000), projeto é
todo empreendimento não repetitivo e baseado em uma seqüência clara e lógica
de eventos que tenham início, meio e fim. E, ainda, que se destina a alcançar
um objetivo claramente definido, e conduzido por pessoas com parâmetros pré-
estabelecidos (tempo, custo, recursos envolvidos e qualidade). Dessa forma,
podemos compreender que um projeto é único e temporário, envolve recursos,
objetivos e qualidade.
Tabela 1 – Características básicas de um projeto
Características Pontos a destacar
• Alguns projetos são repetidos várias
vezes, mas não são processos, pois têm
Início e fim definidos
pontos claros de início e fim.
Qualquer projeto tem fases claras de
• O trabalho de rotina distingue-se dos
começo e de encerramento.
projetos por ser recorrente e não ter um
fim claro de processo.
• O bom planejamento assegura que o
Plano organizado projeto fique pronto no prazo e dentro do
Uma abordagem planejada, metódica, orçamento, com os resultados esperados.
é usada para que se atinjam os obje- • Um plano eficiente oferece um modelo
tivos do projeto. que guia o projeto e detalha o trabalho
que precisa ser feito.
• Alguns projetos são feitos fora da rotina
Recursos próprios
normal e outros dentro dela, mas todos
O projeto conta com recursos especial- exigem recursos próprios.
mente alocados a ele, como tempo,
• Trabalhar com recursos com os quais se
pessoal e verba.
concorda é vital para o sucesso.

334  2º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • UNITINS


Aula 7 • Tecnologia da Informação e da Comunicação

Características Pontos a destacar


• A equipe de projeto assume a respon-
Equipe sabilidade e gosta de seu trabalho; ao
Usualmente o projeto exige uma equipe mesmo tempo, contribui para o sucesso
capaz de levar a termo o trabalho da empresa como um todo.
proposto. • Projetos oferecem novos desafios e expe-
riências para a equipe.
• Muitas vezes um projeto resulta em um
Metas estabelecidas novo modo de trabalhar ou gera algo
Os projetos trazem ­resultados em termos que anteriormente não existia.
de qualidade e/ou de desempenho. • Os objetivos devem ser identificados para
todas as pessoas envolvidas no projeto.
Fonte: Bruce e Langdon (2000).

Conforme descrito anteriormente, tempo, custo, pessoas, objetivo e quali-


dade são elementos de um projeto, mas, além desses, podemos acrescentar
outros atributos: inovação, complexidade, condições jurídicas, interdisciplinari-
dade e a divisão do trabalho, derivada das diversas funções dentro da organi-
zação ou fora dela.

7.1.1 Quando os projetos são necessários?


De modo geral, o gerenciamento de projetos pode ser aplicado em qualquer
situação que apresente um contexto que foge do que é rotineiro dentro da orga-
nização. Se o empreendimento mostra-se único e pouco familiar, a atividade de
gerenciamento de projetos pode ser adotada. A base para a decisão está na
identificação e na diferenciação do que será projetado das demais atividades
desenvolvidas dentro da organização.
O que mais dificulta a implementação de um projeto é que geralmente as
pessoas envolvidas realizam atividades rotineiras dentro da organização. Quase
sempre as atividades rotineiras e os projetos têm necessidades comuns: reuniões,
telefonemas, relatórios, análises, etc. O que irá diferenciar o envolvimento é o
objetivo constituído para o projeto. Além dos objetivos, há outros elementos igual-
mente importantes para implementação do projeto:
• decisão da direção geral;
• desenvolvimento para a implementação e para a formação;
• realização de um projeto piloto;
• avaliação dos resultados e transferência dos conhecimentos obtidos
para outros projetos.
A figura a seguir representa a idéia de que todos os projetos são esforços,
mas nem todos os esforços são projetos. Toda a equipe envolvida nos projetos
deve levar em conta esse aspecto, para que se alcancem os resultados espe-
rados do projeto.

UNITINS • ADMINISTRAÇÃO • 2º PERÍODO  335


Aula 7 • Tecnologia da Informação e da Comunicação

Figura 1 – Esforços x Projetos

Outros esforços
Projeto

Todo esforço empreendido, para a concretização de um projeto, pode não


ser suficiente, se as pressões externas forem mais fortes. De acordo com Kerzner
(2002), a competição, os padrões de qualidade, a redução nas margens de
lucro, os resultados financeiros, fatores tecnológicos, aspectos legais, aspectos
sociais, fatores políticos e pressões econômicas podem se tornar grandes inimigos
do projeto.
Assim, para identificar a determinação da necessidade de implementar o
gerenciamento de projetos, Cleland (1999) sinaliza os seguintes fatores:
• tamanho do empreendimento;
• interdependência;
• importância do empreendimento;
• reputação da organização;
• compartilhamento de recursos;
• não-familiaridade;
• mudanças de mercado.
A gerência de projeto e o projeto operam no ambiente onde está inserido o
projeto. A equipe de gerenciamento tem que compreender o contexto – geren-
ciar diariamente as atividades é necessário para seu sucesso, mas não é sufi-
ciente. É importante que sejam avaliados os seguintes tópicos, para um amplo
entendimento do contexto.

7.1.2 Fatores de sucesso e insucesso do projeto


O que pode garantir o sucesso do empreendimento? E o fracasso? É funda-
mental que se saiba quais elementos um projeto bem-sucedido precisa ter.
Ao analisar um projeto, devem-se considerar os aspectos mais amplos, mas é
imprescindível levar em conta questões comuns como: o projeto ficou abaixo do
orçamento previsto? O projeto terminou mais rápido? O projeto consumiu menos
materiais e pessoas? O cliente foi surpreendido pela qualidade do resultado do
projeto? Afinal, o que é sucesso de projetos?

336  2º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • UNITINS


Aula 7 • Tecnologia da Informação e da Comunicação

Para Kerzner (2002), um projeto é bem-sucedido quando os resultados são


obtidos no prazo, no custo e na qualidade desejados, sem deixar de atentar
para outros parâmetros por ele definidos por sucesso técnico e sucesso organi-
zacional, que descrevemos a seguir:
a) sucesso técnico – para Vargas (2000), pode-se considerar que foi alcan-
çado o sucesso técnico do projeto quando foram atendidas as seguintes
condições:
• conclusão dentro do tempo previsto;
• conclusão dentro do orçamento previsto;
• utilização dos recursos de modo eficiente, sem desperdícios;
• alcance da qualidade e performance desejadas.
Essas condições podem ser facilmente tratam quantidades calculáveis e
mensuráveis.
b) sucesso organizacional – o sucesso organizacional está condicionado
ao atendimento das seguintes condições:
• conclusão no mínimo possível de alterações em seu escopo;
• aceitação sem restrições pelo contratante ou cliente;
• preservação da cultura organizacional;
• realização sem que ocorresse interrupção ou prejuízo nas atividades
normais da organização.
Para Tidd (1997), os fatores críticos de sucesso da gerência de projetos
são os seguintes:
• missão do projeto;
• suporte gerencial;
• planejamento;
• cliente consultor;
• questões de administração de pessoal;
• tarefas técnicas;
• aceite do cliente;
• monitoramento;
• comunicações;
• gerência conciliadora.
O que é considerado como as principais causas de falhas ou do fracasso
dos projetos, que muitas vezes poderiam ser somente minimizados pelo gestor
ou evitados se o gerenciamento de riscos dos projetos fosse eficiente, são:

UNITINS • ADMINISTRAÇÃO • 2º PERÍODO  337


Aula 7 • Tecnologia da Informação e da Comunicação

• mudança na estrutura organizacional da empresa;


• riscos elevados no meio ambiente;
• mudanças na tecnologia disponível;
• evolução nos preços e prazos;
• cenário político-econômico desfavorável.

7.1.3 Ciclo de vida do projeto


Existem algumas variações quanto à definição das fases do ciclo da vida do
projeto, conforme o autor, embora não exista grande variação de conceitos. A
seguir serão apresentadas as fases definidas por Vargas (2000).
Fase de definição: fase inicial do projeto, quando uma determinada necessi-
dade é identificada e transformada em um problema estruturado a ser resolvido
por ele. Nesta fase são definidas a visão e a missão do projeto.
Fase de planejamento: responsável por identificar e selecionar as melhores estraté-
gias de abordagem, detalhando tudo aquilo que será realizado, incluindo crono-
gramas, interdependências entre atividades, alocação de recursos envolvidos,
análise de custos, etc., para que, no final dessa fase, ele esteja suficientemente
detalhado para ser executado sem dificuldades e imprevistos.
Fase de execução: é a fase que materializa tudo aquilo que foi planejado anterior-
mente. Qualquer erro cometido nas fases anteriores fica evidente durante esta fase.
Grande parte do orçamento e do esforço projeto é consumida nessa fase.
Fase de controle: é a fase que acontece paralelamente ao planejamento opera-
cional e à execução do projeto. Tem como objetivo acompanhar e controlar aquilo
que está sendo realizado pelo projeto, de modo a propor ações corretivas e preven-
tivas no menor espaço de tempo possível após a detecção da anormalidade.
Fase de finalização: é a fase quando a execução dos trabalhos é avaliada por meio
de uma auditoria interna ou externa, os livros e documentos do projeto são encer-
rados e todas as falhas ocorridas durante o projeto são discutidas e analisadas,
para que os erros similares não ocorram em novos projetos (aprendizado).

Figura 2 – Fases do Ciclo de Vida

Fonte: Vargas (2000).

338  2º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • UNITINS


Aula 7 • Tecnologia da Informação e da Comunicação

Na mesma direção, Kersner (2002) estabelece cinco fases para o desen-


volvimento do projeto. Estas fases são demonstradas na figura a seguir.

Figura 3 – Fases do Ciclo de Vida

Embrionária

Estágio de
Maturidade

da Média Gerência
Reconhecimento
da Alta Gerência
Reconhecimento

Crescimento

Maturidade
Fonte: Kersner (2002).

7.1.4 Gerenciamento de projetos em TIC


A relação das TICs com as organizações é algo bem mais complexo
do que simplesmente desenvolver um software ou comprar um equipa-
mento. Quando abordados nas aulas anteriores, sistemas, planejamento,
abordagens de avaliação e medição de resultados (BSC), reengenharia
de processos, entre outros conceitos, é exatamente para que você, como
gestor, tenha a dimensão do que representa a TIC na organização. O
desafio que ela representa é muito grande, por ela ser parte essencial dos
processos organizacionais.
É importante ter a TIC e seus projetos bem modelados, para que os resul-
tados estejam dentro do planejado pela organização e é por isso que estamos
estudando gerenciamento de projetos, algo vital na área de TIC.
Gerenciamento de projetos, como visto anteriormente, refere-se à apli-
cação de conhecimentos, habilidades, ferramentas e técnicas às atividades
do projeto, a fim de satisfazer seus requisitos.
Quando estamos realizando um projeto na área de TIC, costumamos
mapear todas as influências que podem contribuir, positiva ou negativa-
mente, para o desenvolvimento do projeto. Nesse caso, definimos os steakhol-
ders, que são pessoas, grupos de pessoas ou entidades que participam ou
influenciam no projeto e no qual, direta ou indiretamente, têm interesse em
sua evolução, ou são atingidas pelos seus resultados. Como exemplo de
steakholders, temos:

UNITINS • ADMINISTRAÇÃO • 2º PERÍODO  339


Aula 7 • Tecnologia da Informação e da Comunicação

• clientes;
• fornecedores;
• contratantes;
• gerente do projeto;
• membros da equipe do projeto;
• usuários do produto ou serviço, entre outros.
Ter alinhadas as expectativas de todos quanto ao desenvolvimento do projeto
é peça fundamental no sucesso do produto/serviço gerado após o seu encerra-
mento. Desde a fase de concepção, na qual estão sendo levantados os requi-
sitos e os objetivos do projeto, os interesses poderão ser diversos. Mesmo todos
estando envolvidos no mesmo contexto. Caso o produto ou serviço não esteja
dentro das expectativas dos envolvidos, fatalmente ele será subutilizado ou nem
chegará ser utilizado pela organização.
Tendo definido projetos e gerenciamento de projetos, estudaremos as
metodologias que são aplicadas para o desenvolvimento de projetos na área
de TIC.

7.1.5 Metodologias para gerenciamento de projetos


Este estudo tem como fim mostrar os objetivos de cada metodologia e
de que forma elas podem ser aplicadas no gerenciamento de projetos. Não
é foco desta disciplina aprofundar no estudo delas; entretanto, essa abor-
dagem se torna válida por ser um tema que tem ganhado força nas organi-
zações, e as metodologias que veremos estão entre aquelas mais utilizadas
no contexto corporativo.

7.1.6 PMBOK
Vamos iniciar comentando sobre o PMBOK. Metodologia que nasceu nos
EUA em 1996, lançada pelo Project Management Institute (PMI) – Instituto de
gerenciamento de projetos – tendo como objetivo identificar as práticas e conhe-
cimentos necessários para o gerenciamento de projetos.
Anteriormente, vimos a importância do planejamento estratégico e a
necessidade de mapear ou remodelar os processos organizacionais para
um crescimento sustentável e, ainda, como as TICs exercem papel funda-
mental na geração e armazenamento de informações, base para a tomada
de decisões.
Decorrente disso, a profissão de gerenciamento de projetos tornou-se emer-
gente, e o objetivo principal do documento PMBOK é identificar e descrever as
práticas de gerenciamento normalmente aceita.

340  2º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • UNITINS


Aula 7 • Tecnologia da Informação e da Comunicação

A metodologia do PMI não é destinada apenas aos profissionais da área


de tecnologia. Todos aqueles que estejam interessados em gerenciamento de
projetos podem adotá-la como referência.
O grande esforço do gerenciamento de projetos está voltado à integração,
segundo o PMI (2000), uma ação ou a falta de ação em uma área irá geral-
mente afetar outras áreas. Anteriormente, foi estudada a abordagem sistêmica,
que consiste em uma perspectiva interdisciplinar e holística das circunstâncias
globais e das relações complexas. Ela possibilita a modelagem destinada a
simplificar o entendimento da realidade do projeto.
Com a integração, diferentes atividades, iniciativas, interesses e resultados,
bem como sua coordenação e o controle são reunidos e harmonizados, de modo
a garantir os objetivos e o sucesso do projeto. A integração é considerada peça
chave no gerenciamento de projetos.
Para isso, o PMBOK aborda a integração dos processos. Segundo Vargas
(2007), as etapas do gerenciamento de projetos podem ser organizadas em
cinco grupos de processos, cada qual contendo um ou mais subprocessos:
• processos de iniciação: autorização do projeto;
• processos de planejamento: definição e refinamento dos objetivos e
seleção do melhor curso de ação entre várias alternativas, para que se
alcancem os objetivos para os quais o projeto foi criado;
• processos de execução: coordenação das pessoas e de outros recursos
visando à execução do plano;
• processos de controle: garantia de que os objetivos do projeto serão
alcançados por meio da monitoração e da medição regular do progresso,
visando à identificação de desvios do plano, de maneira a implementar
ações corretivas, quando necessário;
• processos de encerramento: formalização da aceitação do projeto ou
da fase, permitindo que haja um encerramento organizado.
Esses processos são interligados, e as fases são repetidas várias vezes. O
projeto deve ser gerenciado de forma cíclica. Ao final de cada fase, inicia-se
todo o processo novamente. Pode parecer, à primeira vista, algo burocrático,
mas na prática essas repetições fazem que se mantenha o foco do projeto nas
necessidades empresariais para as quais o projeto foi criado.

Principais áreas do gerenciamento de projetos


De acordo com o PMBOK (PMI, 2000), o processo de gerenciamento de
projetos é subdividido nas seguintes áreas:

UNITINS • ADMINISTRAÇÃO • 2º PERÍODO  341


Aula 7 • Tecnologia da Informação e da Comunicação

Tabela 2 – Principais áreas do gerenciamento de projetos

Áreas Processo de gerenciamento


• Desenvolvimento do plano global do projeto
Integração • Execução do plano global do projeto
• Controle global das mudanças
• Iniciação
• Planejamento do escopo
Escopo • Definição do escopo
• Verificação do escopo
• Controle de mudanças
• Definição de atividades
• Seqüenciamento de atividades
Tempo • Estimativa de durações de atividades
• Desenvolvimento da programação
• Controle da programação
• Planejamento de custos
• Estimativa de custos
Custos
• Orçamentação
• Controle de custos
• Planejamento da qualidade
Qualidade • Garantia da qualidade
• Controle da qualidade
• Planejamento organizacional
Recursos Humanos • Recrutamento de pessoal
• Desenvolvimento de equipes
• Planejamento das comunicações
• Distribuição de informações
Comunicações
• Relatórios de desempenho ou performance
• Encerramento administrativo
• Identificação dos riscos
• Quantificação dos riscos
Riscos
• Desenvolvimento de respostas aos riscos
• Controle de respostas aos riscos
• Planejamento de suprimentos
• Planejamento do processo de requisição
• Processo de requisição
Suprimentos e Contratos
• Seleção dos fornecedores
• Administração de contratos
• Encerramento do contrato
Fonte: PMI (2000).

342  2º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • UNITINS


Aula 7 • Tecnologia da Informação e da Comunicação

Notem que grande parte das atividades está relacionada a planejamento,


controle, direção, avaliação. Todas essas funções são afetas à gestão.
O PMBOK aborda a interação entre processos, sendo que, em cada grupo
de processos, eles estão interligados pelos dados necessários para seu início
e por seus produtos. Considerando essas ligações, podemos descrever cada
processo em termos de:
• dados necessários: documentos ou itens documentáveis que irão gerar
uma ação;
• ferramentas e técnicas: mecanismos aplicados aos dados necessários,
de maneira a gerar os produtos;
• produtos: documentos ou itens documentáveis que representam os resul-
tados de um processo.
Com isso, podemos constatar o quanto é complexo o gerenciamento
de projetos. O que ela vem sinalizar é a necessidade de realização de um
planejamento eficiente, que tenha de forma clara os objetivos do projeto.
Lembre-se: um projeto pode ser a aquisição de um equipamento, o desen-
volvimento de um produto ou a manutenção de um serviço. Muitas vezes,
o procedimento adotado pelas empresas, naquilo que se refere à TIC, é o
investimento de forma aleatória, que torna os resultados muitas vezes críticos,
colocando a credibilidade da tecnologia da informação em jogo. Como futuro
gestor, caberá a você gerenciar esses processos e obter melhores resultados
nos planejamentos realizados.
A burocracia que envolve o PMBOK deve ser remodelada, de acordo com
as necessidades de cada organização. Conforme abordado no início, neste guia
constam as práticas aceitáveis para o gerenciamento de projetos. O contexto é
que determinará quais processos serão efetivamente utilizados para que não
burocratize demasiadamente este gerenciamento.

7.1.7 ITIL
Outra metodologia para a gestão das TICs é o ITIL. Essa sopinha de letras
tem tido grande significado para o controle de desenvolvimento e manutenção
de sistemas de informações. Segundo o IT Service Management (2008), o Reino
Unido identificou que, apesar de muitos esforços estarem sendo direcionados
para a redução de custos e riscos, inclusive o desenvolvimento de projetos com
esse intuito, havia pouca informação disponível a respeito de como controlar os
sistemas de informação IS (Information Systems), a partir do momento em que
eles eram implementados (IT Service Management forum Brasil).
Ainda segundo o IT Service Management Forum Brasil, esses estudos
indicavam, ainda, que mais de 80% do custo dos serviços de informática
estavam relacionados ao dia-a-dia de sua operação, e apenas 20% ao

UNITINS • ADMINISTRAÇÃO • 2º PERÍODO  343


Aula 7 • Tecnologia da Informação e da Comunicação

estágio de desenvolvimento. Devido a esse fato, criou-se a Biblioteca de Infra-


estrutura de TI, a qual considera todos os softwares, hardwares e telecomu-
nicações sobre os quais a aplicação dos sistemas e serviços é desenvolvida
e distribuída.
De forma bem simples, o ITIL pode ser definido como uma série de docu-
mentos essenciais que são usadas para a implementação de um framework de
gerenciamento de serviços para as TICs. Esse customizado framework define
como esses gerenciamentos de serviços são aplicados em organização.
O ITIL é uma biblioteca formada por diversos módulos que trazem uma cole-
tânea das melhores práticas retiradas de organizações públicas e privadas. Sua
construção levou vários anos de consultoria em empresas do setor público, da
iniciativa privada e indústrias de informática, tornando-a o mais completo e
versátil guia para gerentes de serviços de TI, tornando-se um padrão para geren-
ciamento de tal categoria de serviços.
Esse padrão teve vários aspectos positivos que fizeram o ITIL se tornar um
sucesso. Um desses aspectos é o vocabulário comum compartilhado pelos profis-
sionais de tecnologia das empresas usuárias e dos fornecedores de software.
Isso reduziu controvérsias sobre significados e padrões técnicos da área e fez
aumentar o entendimento e aperfeiçoou a comunicação entre eles. O outro
aspecto que merece ser ressaltado é que a padronização da linguagem possibi-
litou o entendimento entre equipes técnicas e gerentes, que passaram a compre-
ender melhor o funcionamento dos processos de trabalho de serviços das TICs,
a partir de uma mesma fonte.
Sem as TICs, muitas empresas não funcionam e, sem qualidade em tecno-
logia da informação (o desafio), estas empresas não funcionam bem. A orien-
tação da Biblioteca de Infra-estrutura permite que as organizações tenham, no
mínimo, um bom padrão de qualidade de serviços de TI.
O ITIL é organizado em uma série de livros, na qual são divididos em duas
áreas principais: sustentação de serviço e entrega do serviço. A sustentação de
serviço é a prática daquelas disciplinas que permitem às prestadoras de serviços
fornecer seus trabalhos eficazmente. A entrega do serviço cobre à gerência
dos mesmos serviços prestados por si mesma. Os maiores resultados obtidos na
utilização da ITIL estão nas melhorias dos serviços oferecidos aos clientes e a
redução dos custos e riscos, pois tudo é dimensionado e mapeado conforme os
padrões, gerando maior qualidade nos serviços.

Implementação
Segundo entrevista de Malcon Fry (especialista em ITIL) à Galegale
Consultores & Associados Ltda, a primeira ação no plano de implementação do
ITIL é efetuar uma análise entre os processos atuais da empresa e os processos
sugeridos pelo ITIL. Quanto maior a diferença entre os processos, mais tempo

344  2º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • UNITINS


Aula 7 • Tecnologia da Informação e da Comunicação

terá para sua efetiva implementação. Não há um prazo fixado para isso, pois
cada organização possui uma realidade distinta e, não podemos esquecer, o
contexto no qual ela está envolvida poderá contribuir positiva ou negativamente
para essa implementação. Segundo Fry (2008), o ITIL pode ser aplicado a qual-
quer que seja o tamanho do departamento de tecnologia das organizações
porque é baseado em processos e não em funções. Por exemplo, não importa
quão grande ou pequena é a área de TIC, ela tem que executar mudanças. O
ITIL é ainda alinhado ao negócio, o que garante que mesmo a menor área de TI
fique alinhada aos negócios da empresa.
Entre os principais benefícios de adotar o ITIL estão:
a) melhoria da satisfação do cliente com os serviços de TIC;
b) busca a redução do risco de não atingir os requisitos de negócios para
os serviços de TIC;
c) busca da redução de custos para o desenvolvimento de procedimentos
e práticas dentro de uma organização;
d) identificar e divulgar padrões e orientações para todo o pessoal
envolvido;
e) melhorar o fluxo de comunicação e informação entre o pessoal de TIC e
os seus clientes;
f) buscar maior produtividade e melhor uso de habilidades e experiência;
g) uma nova abordagem de qualidade para os serviços de TIC.
Tanto o PMBOK quanto o ITIL vêm comprovar que há uma necessidade de
alinhar planejamento estratégico com o plano estratégico de informações. É
importante lembrar que essas são metodologias que vêm auxiliar esse processo
de integração. Para promover essa integração, além de um planejamento
estratégico afinado é necessário que o gestor tenha um perfil adequado para
conduzir o trabalho.

7.2 Software livre e software proprietário


Neste tópico vamos falar sobre dois paradigmas que vêm causando bastante
polêmica nos últimos tempos. Na verdade, é um embate entre duas ideolo-
gias distintas com fortes interesses comerciais incutidos. Ficou curioso com o
assunto? Então vamos prosseguir com este tema iniciando com a classificação
dos softwares.

7.2.1 Classificação dos softwares


Antes de falarmos especificamente sobre software livre, é importante que você
conheça as diversas classificações dos programas, segundo o tipo de comerciali-
zação que adotaram. Assim, os softwares dividem-se em quatro tipos:

UNITINS • ADMINISTRAÇÃO • 2º PERÍODO  345


Aula 7 • Tecnologia da Informação e da Comunicação

• sistemas proprietários – aqueles que são pagos e cujo código fonte não
é livremente disponibilizado (Windows);
• sistemas gratuitos – aqueles que não são pagos, mas cujo código fonte
também não é de livre acesso (BeOS).
• sistemas open source (código aberto) – aqueles cujo código fonte é
aberto (Unix);
• sistemas livres – aqueles que são Open Source, e cujo código fonte
pode ser livremente alterado (Linux, BSD).
Essa classificação se aplica a todo tipo de software, seja ele básico, aplica-
tivo ou utilitário. A seguir, veremos um pouco sobre a história do software livre e
sobre os seus princípios e ideologia.

7.2.2 História
Segundo a Enciclopédia Livre Wikipédia (2008), os desenvolvedores de
software da década de 70 costumavam compartilhar seus programas de forma
similar à apregoada pela filosofia do software livre. Posteriormente, as organiza-
ções começaram a impor restrições aos usuários, mediante contratos de licença
de software. Em 1984, Richard Stallman iniciou o projeto GNU, fundando a
Free Software Foundation (FSF). Ele inseriu os conceitos de software livre e copy-
left, especificamente desenvolvidos para dar liberdade aos usuários e restringir
as possibilidades de propriedade.
Software livre se refere à liberdade dos usuários executarem, copiarem,
distribuírem, estudarem, modificarem e aperfeiçoarem o software. Mais precisa-
mente, ele se refere a quatro tipos de liberdade, para os usuários do software:
a) a liberdade de executar o programa, para qualquer propósito (liber-
dade n.º um);
b) a liberdade de estudar como o programa funciona, e adaptá-lo para
as suas necessidades (liberdade n.º dois). Acesso ao código-fonte é um
pré-requisito para esta liberdade;
c) a liberdade de redistribuir cópias, de modo que você possa ajudar ao
seu próximo (liberdade n.º três);
d) a liberdade de aperfeiçoar o programa, e liberar os seus aperfeiçoamentos,
de modo que toda a comunidade se beneficie (liberdade n.º quatro).
Acesso ao código-fonte é um pré-requisito para esta liberdade.
A Wikipédia (2008) cita ainda que o movimento do software livre é um
movimento social, e este não considera ético aprisionar conhecimento científico,
o qual deve estar sempre disponível, permitindo, assim, a evolução da huma-
nidade. Por outro lado, o movimento pelo código aberto não é um movimento
social. Este é voltado ao mercado e prega que o software desse tipo traz diversas

346  2º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • UNITINS


Aula 7 • Tecnologia da Informação e da Comunicação

vantagens técnicas e econômicas. Na verdade, o movimento pelo código aberto


surgiu para levar as orgnizações a adotarem o modelo de desenvolvimento de
software livre.
Esses quatro direitos ficaram conhecidos como as quatro liberdades do
software livre. Baseado nelas, o Projeto GNU redigiu uma nova licença de uso
chamada GNU GPL (GNU General Public Licence). Dessa forma, todo software
distribuído com tal licença estava livre.
De acordo com a GNU GPL (GNU, 2008), a única condição para poder
usufruir desses direitos é a de passar para os outros os mesmos direitos com
os quais foi beneficiado. A GNU GPL não veta a venda do software livre,
apenas garante que as quatro liberdades mencionadas estarão asseguradas
na distribuição do software e que elas nunca poderão ser retiradas do mesmo.
Ou seja, o software nasce livre e permanecerá livre. O projeto GNU é respon-
sável pelo desenvolvimento de inúmeros softwares livres, entre eles o Linux
(primeiro sistema computacional livre), que atualmente é a principal alternativa
ao Microsoft Windows.

7.2.3 O que é o software livre?


Esse tipo de programa vem pregar a liberdade e o fim do monopólio das
empresas fornecedoras. A verdade é que esse conceito tornou uma realidade
e, hoje, várias empresas, governamentais, não-governamentais, públicas ou
privadas, vêm adotando a política de software livre para redução de investi-
mentos em TIC.
Outro aspecto que causa mal-estar sobre o assunto é quando software livre é
entendido como grátis, ou simplesmente, sem custo. A idéia é essa, porém, nada
impede que sejam vendidas licenças produzidas por um determinado fabricante
sobre a idéia principal. Segundo o site Software Livre Brasil (2004), ‘software
livre’ não significa ‘não-comercial’. Um programa livre deve estar disponível
para uso comercial, desenvolvimento comercial, e distribuição comercial. O
desenvolvimento comercial de software livre não é incomum; tais softwares livres
comerciais são muito importantes.

7.2.4 Utilização do software livre


É evidente a popularização do uso do software livre, em diversos setores da
economia, e não podemos ir contra esse movimento. Se pensarmos no seu uso
como um projeto de inclusão digital e, por que não social, cidadãos poderão
ter acesso a uma tecnologia de ponta com um custo reduzido, ou sem custos.
Além disso, os programas abertos (Open Source – código aberto) propiciarão
pesquisas que darão oportunidades a especializações técnicas e, assim, atender
seus interesses.
É você, futuro gestor, onde pode utilizar o software livre na sua organização?

UNITINS • ADMINISTRAÇÃO • 2º PERÍODO  347


Aula 7 • Tecnologia da Informação e da Comunicação

A resposta é bastante simples. Em qualquer computador, sistema de infor-


mação, banco de dados, aplicativos, etc. Entretanto, existem várias formas de
implantação. Como vimos, é necessário entender o contexto em que o software
livre estará imerso. Voltamos ao início do curso!
Mesmo que o investimento seja baixo, deve-se lembrar que nem sempre o
recurso financeiro deve ser o determinante. Planejar será preciso e, isso serve
para quaisquer filosofias, livre ou proprietária.
O que pode ir contra um projeto de software livre é a necessidade de
contar com profissionais altamente especializados para desenvolver, a partir
de um núcleo de um sistema operacional, não que investir em colaboradores
seja errado, porém temos que avaliar, sempre, o contexto. Ao contrário das
aquisições de programas de empresas como Microsoft, Oracle, Apple e outras
que oferecem um suporte, cursos de capacitação, muitos softwares livres não
possuem sequer suporte técnico.
Porém, considere uma microempresa que está no início das suas atividades
e o capital é restrito. O software livre é absolutamente útil e viável, pois requer
menor potência dos equipamentos e, o melhor, pode ser adquirido livremente
pela internet, por exemplo.
Mais uma vez, o que conta é o cenário em que a sua gestão estiver inserida!

7.2.5 Software proprietário – o vilão. Será?


Do outro lado da discussão, está o software proprietário ou, de forma bem
simples, o software pago, registrado por uma empresa de tecnologia, de forma
a proteger o produto de alterações, proibindo a distribuição ou cópia não auto-
rizada pelo desenvolvedor.
Os mais populares são os softwares oferecidos pela Microsoft, que incluem
os sistemas operacionais da família Windows, como suas versões para servi-
dores e estações de usuários, os aplicativos da família office, como word, excel,
power point e access e o utilitário Internet Explorer para navegação na Internet.
Hoje, esses pacotes e, a forma como eles são cobrados é alvo de críticas
por vários especialistas da área de TIC e de gestão de empresas. Porém, mesmo
com a popularização do software livre, a Microsoft detêm boa parte do mercado
mundial. Alguns fatores têm construído para esse sucesso.
a) Windows – Microsoft Windows é um sistema operacional muito popular,
criado pela Microsoft, empresa fundada por Bill Gates e Paul Allen. O
Windows é um produto comercial, com preços diferenciados para cada
versão, embora haja uma enorme quantidade de cópias ilegais instaladas.
Apesar do sistema ser conhecido pelas suas falhas críticas na segurança e
como plataforma de vírus, o impacto desse sistema no mundo atual é simples-
mente incalculável, devido ao enorme número de cópias instaladas.

348  2º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • UNITINS


Aula 7 • Tecnologia da Informação e da Comunicação

b) Office – Microsoft Office é uma suíte de aplicativos para escri-


tório que contém programas como processador de texto (Word),
planilha de cálculo (Excel), banco de dados (Access), apresen-
tação gráfica (PowerPoint) e gerenciador de tarefas, e-mails e
contatos (Outlook).
Esse conjunto de ferramentas fez da Microsoft líder absoluta em vendas
de softwares no mundo todo. Se compararmos as versões de sistema opera-
cional dos softwares livres, como Linux e os da família Windows, veremos que
o primeiro apresenta grande performance, estabilidade e mais segurança em
relação ao segundo. E por que a Microsoft é tão poderosa?
A dúvida é pertinente. Além de forte campanha publicitária que envolve
os produtos, a questão técnica pode ser o diferencial. Como o desenvolvi-
mento de sistemas operacionais baseados em códigos abertos, podem ter
várias versões, conforme o caso em que ele é utilizado. Isso gera uma forte
dependência técnica em relação à equipe de desenvolvimento de softwares.
Ao contrário dos softwares proprietários, que têm na forma homogênea
de distribuição o seu ponto forte, os softwares livres são desenvolvidos por
comunidades, e o custo de manutenção de uma equipe, além de ser alto,
gera uma dependência desnecessária. A opção por softwares deste tipo
pode levar à dependência da empresa a um único profissional, e isso pode
se tornar crítico ao longo do tempo. Nos softwares proprietários, a manu-
tenção e suporte são mais fáceis, além de poder ser encontrado centro de
treinamentos que capacitam profissionais para o uso adequado das ferra-
mentas. Nesse caso, a empresa não fica dependente do conhecimento de
uma equipe ou de um profissional.
As duas formas são adequadas, conforme o contexto que é apresentado
para a escolha de uma ou de outra ferramenta. Todos os aspectos devem ser
analisados criteriosamente, antes de fazer a escolha. Como gestores, não
podemos nos deixar levar apenas pelos recursos financeiros exigidos para o
investimento inicial nessa infra-estrutura, o custo de manutenção pode ser alto
demais e pode levar à inviabilização da empresa.

Síntese da aula
Nessa aula, conhecemos os elementos e condicionantes principais para
o gerenciamento bem-sucedido de projetos. A decisão de implementar a
solução de um problema ou a inovação de processos requer um projeto bem
com objetivos claros e bem definidos. As etapas precisam ser bem estruturas,
os conflitos devem ser gerenciados e o sucesso comemorado. As pessoas
envolvidas nos projetos são fundamentais do início ao fim, e o gerente do
projeto é o líder responsável por todo o processo.

UNITINS • ADMINISTRAÇÃO • 2º PERÍODO  349


Aula 7 • Tecnologia da Informação e da Comunicação

Atividades

1. Quanto às metodologias para gerenciamento de projetos é correto afirmar:


a) o PMBOK aborda a interação entre processos, sendo que em cada
grupo de processos, eles estão interligados pelos dados necessários
para seu início e por seus produtos. Assim, os processos podem ser
descritos em termos dos dados necessários, das ferramentas e técnicas
e dos produtos;
b) uma das características do PMBOK é a inexistência da divisão entre os
processos essenciais e auxiliares, em que estes são claramente indepen-
dentes de outros, de maneira que podem ser executados em qualquer
ordem, em todos os projetos;
c) o ITIL é uma tecnologia baseada em software específico para gestão de
projetos de uma organização, com o qual esta pode fazer sua gestão
tática e operacional, com o objetivo de alcançar o alinhamento estraté-
gico com os negócios;
d) o ITIL é organizado em uma série de documentos, divididos em duas
áreas principais: Definição de Produto e Lançamento de Produto. Os
maiores resultados obtidos na utilização do ITIL estão na melhoria dos
processos gerenciais básicos da empresa.

2. Marque com V para verdadeiro ou F para falso. Com relação aos softwares,
podemos afirmar:

(  ) software proprietário é um conceito criado por empresas de software


com intenção de proteger o seu produto de qualquer tipo de alte-
ração. Sua licença proíbe a distribuição ou cópia sem a autorização
do proprietário;

(  ) softwares proprietários são programas de computador com todos os


direitos reservados ao dono do copyright. O código fonte é secreto e
sua reprodução, bem como sua modificação, é proibida e considerada
crime. Para usar legalmente este tipo de software, é preciso pagar
taxas de licenciamento;

(  ) software livre representa a melhor opção de aplicação para qualquer


empresa, uma vez que há redução de custos com licenças, com equi-
pamentos e, principalmente, com pessoal de desenvolvimento e suporte
técnico especializado;

(  ) atualmente, o software livre vem ganhando mercado sobre o software


proprietário, por apresentar uma alternativa altamente viável para

350  2º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • UNITINS


Aula 7 • Tecnologia da Informação e da Comunicação

muitas situações empresariais. Temos como exemplo o próprio Governo


Federal, que vem migrando para essa plataforma gradualmente já há
algum tempo.
a) V, V, F, V
b) F, V, F, V
c) V, V, F, F
d) V, F, V, V

3. Defina projeto, evidenciando suas características básicas.

4. Leia com atenção as afirmações sobre Software Livre.


I. O termo Software Livre refere-se aos softwares que são fornecidos aos
seus usuários com a liberdade de executar, estudar, modificar e repassar
(com ou sem alterações) sem que, para isso, os usuários tenham que
pedir permissão ao autor do programa.
II. Esse tipo de programa vem pregar a liberdade e o fim do monopólio
das empresas fornecedoras. Assim, tem como principal característica a
sua não-comercialização, ou seja, todo Software Livre deve, obrigatoria-
mente, ser distribuído de forma gratuita.
III. São programas de computador com o código fonte aberto, ou seja, livre
para ser reproduzido e modificado. Usa o registro de copyleft, o que
assegura a continuidade de sua livre distribuição.
IV. A liberdade de executar o programa é restrita à utilização não-comer-
cial, permitindo utilizar o software em qualquer tipo de sistema compu-
tacional, sendo que, para a utilização comercial, é necessária a aqui-
sição da licença de uso junto ao fornecedor, a qual pode ser ou não
gratuita.
Com relação às afirmações anteriores é correto afirmar:
a) apenas as afirmações I e II estão corretas
b) apenas as afirmações I e III estão corretas
c) as afirmações II, III e IV estão incorretas
d) apenas as afirmações II e III estão corretas

Comentário das atividades


De maneira a reforçar o entendimento dos objetivos propostos no início desta
aula, foram elaboradas as atividades um e três visando uma melhor compreensão

UNITINS • ADMINISTRAÇÃO • 2º PERÍODO  351


Aula 7 • Tecnologia da Informação e da Comunicação

sobre as metodologias de gestão de projetos em TI, enquanto as atividades dois


e quatro buscam reforçar os conceitos de software livre e software proprietário.
Na atividade um, a alternativa correta é a (a). A alternativa (b) apresenta
uma total incorreção, pois uma característica do PMBOK é justamente a divisão
entre processos essenciais e auxiliares, em que esses são claramente depen-
dentes de outros, de maneira que precisam ser executados exatamente na
mesma ordem em todos os projetos. A alternativa (c) se contradiz no momento
que trata o ITIL como um software específico, quando na verdade trata-se de
uma série de documentos essenciais utilizados para implementação de um
framework de gerenciamento de serviços para as TICs. Quanto à alternativa (d),
ela mostra sua incorreção ao citar como áreas principais do ITIL a Definição de
Produto e o Lançamento de Produto, quando na verdade seriam a Sustentação
de Serviço e a Entrega de Serviço, e os maiores resultados obtidos na utilização
do ITIL estão nas melhorias dos serviços oferecidos aos clientes e à redução de
custos e riscos.
Na atividade dois, a alternativa correta é a (a). O Software Livre não neces-
sariamente representa a melhor opção de aplicação para qualquer empresa.
Pode ocorrer redução de custos com licenças e com equipamentos, mas deve
ser bem analisada a sua utilização, uma vez que pode encarecer o custo com
pessoal de desenvolvimento e suporte técnico especializado, além de gerar
dependência tecnológica.
Em resposta à atividade três, podemos afirmar que projeto é todo o empreen-
dimento não repetitivo e baseado em uma seqüência clara e lógica de eventos que
tenham início, meio e fim. Todo projeto se destina a alcançar um objetivo clara-
mente definido, é único, temporário, envolve recursos, objetivos e qualidade.
Em resposta à atividade quatro, deve ser assinalada a alternativa (b). A
alternativa II está incorreta uma vez que software livre não é necessariamente
gratuito. Ele pode ser comercializado. Já a alternativa IV apresenta incorreção
ao limitar a abrangência da licença do software livre, uma vez que ele é livre
para toda e qualquer aplicação, seja para pessoa física (uso doméstico) quanto
para pessoa jurídica (uso comercial).

Referências
BRUCE, A.; LANGDON, K. Como gerenciar projetos. São Paulo: Publifolha,
2000.
CLELAND, D. I. Gerência de projetos. Rio de Janeiro: Reichmann & Affonso, 1999.
FRY, Maicon. Galegale Consultores & Associados Ltda. Entrevista: Uma
Lição sobre ITIL Disponível em: <http://www.galegale.com.br/sis/lenoticia.
php?id=23&c=32>. Acesso em: 17 fev. 2008.

352  2º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • UNITINS


Aula 7 • Tecnologia da Informação e da Comunicação

IT Service Management Fórum Brasil. Melhores Práticas. Disponível em: <http://


www.itsmf.com.br/itsmf/site/melhoresPraticas/melhoresPraticas.asp> Acesso
em: 17 fev. 2008.
KERZNER, H. Gestão de Projetos: as melhores práticas. Bookman: 2002.
O Projeto GNU e a Fundação para o Software Livre. Disponível em: <http://
www.gnu.org/home.pt.html>. Acesso em: 17 fev. 2008.
O que é software livre. Disponível em: <http://www.softwarelivre.gov.br/
SwLivre/>. Acesso em: 12 fev. 2008.
PMI - Project Management Institute. PMBOOK. Pennsylvania: PMI, 2000.
VARGAS, R. V. Gerenciamento de Projetos: estabelecendo diferenciais competi-
tivos. Rio de Janeiro: Brasport, 2000.
______. Manual Prático do Plano de Projeto. 3. ed. Rio de Janeiro: Brasport, 2007.
SOFTWARE Livre Brasil. O que é Software Livre? Disponível em: <http://www.
softwarelivre.org/whatisit.php>. Acesso em: 07 fev. 2008. Última atualização:
13 fev. 2004.
TIDD, J.; BESSANI, J.; PAVITT, K. Managing Inovation: Integrating Tecnological,
Market, and Organizational Change. New York: Willey and Sons, 1997;
WIKIPÉDIA – Enciclopédia Livre. Software Livre. Disponível em: <http://www.
wikipedia.org/wiki/software_livre> Acesso em: 17 fev. 2008.

Anotações

















UNITINS • ADMINISTRAÇÃO • 2º PERÍODO  353


Aula 7 • Tecnologia da Informação e da Comunicação

354  2º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • UNITINS


EQUIPE UNITINS

Organização de Conteúdos Acadêmicos


1ª versão: Ana Beatriz Dupré Silva
2ª versão: Marta Azevedo dos Santos
Raquel Castilho Souza

Coordenação Editorial
Maria Lourdes F. G. Aires

Assessoria Editorial
Marinalva do Rêgo Barros Silva

Assessoria Produção Gráfica


Katia Gomes da Silva

Revisão Didático-Pedagógica
Marinalva do Rêgo Barros Silva

Revisão Lingüístico-Textual
Marinalva do Rêgo Barros Silva

Revisão Digital
Helena Carolina Costa e Lima Prestes

Projeto Gráfico
Douglas Donizeti Soares
Irenides Teixeira
Katia Gomes da Silva

Ilustração
Geuvar S. de Oliveira

Capa
Igor Flávio Souza

Equipe Fael
Créditos

Coordenação Editorial
Leociléa Aparecida Vieira

Assessoria Editorial
William Marlos da Costa

Revisão
Juliana Camargo Horning
Lisiane Marcele dos Santos

Programação Visual e Diagramação


Denise Pires Pierin
Kátia Cristina Oliveira dos Santos
Rodrigo Santos
Sandro Niemicz
William Marlos da Costa
Prezado acadêmico,
a psicologia, ciência preocupada com o comportamento humano e suas
relações, tendo como um dos campos de atuação a organização, consolida-
se entre o século XIX e XXI, objetivando melhorar a qualidade de vida da
organização, bem como das pessoas que nela interagem.
Na aula um, faremos uma breve revisão da história da psicologia e suas
diferentes teorias e abordagens teóricas. Na aula dois, estudaremos a rele-
vância da psicologia, aliada aos conhecimentos psicológicos aplicados na

Apresentação
organização.
Aprofundaremos a relação entre organização e indivíduo, elucidando o
significado do trabalho para a constituição da subjetividade humana, na aula
três. Já na aula quatro, compreenderemos o comportamento individual e orga-
nizacional interligados ao contexto empresarial. Continuaremos nossa cami-
nhada teórica na aula cinco, com os fatores que influenciam o comportamento
das pessoas na organização, tais como: motivação, atitudes e liderança.
Como nem tudo “são flores”, sabemos que as doenças fazem parte do
cotidiano humano. Por isso, trataremos, na aula seis, das doenças ocupacio-
nais que assolam o ser humano em suas relações de trabalho, e os conflitos
ocorrentes dentro da organização. Finalizaremos nosso percurso teórico, na
aula sete, falando sobre a eficiência interpessoal, habilidades e competências
essenciais no ambiente organizacional.
Estaremos juntos durante todo o semestre, buscando respostas que serão
contruídas durante nossos estudos. Você, acadêmico, não pode ficar de fora
dessa fascinante viagem. Juntos, buscaremos o conhecimento do universo
fantástico entre psicologia, trabalho, organização e pessoas, e a relação
estabelecida entre esses. Diante dessas expectativas, com dedicação,
motivação e persistência, temos convicção de que você obterá grandes
conhecimentos para a sua vida pessoal e profissional.
Sucesso a você e bons estudos!
Prof.ª Marta Azevedo dos Santos
Prof.ª Raquel Castilho Souza
EMENTA
Psicologia das organizações. Psicologia como ciência. Comportamento
humano nas organizações. Comportamento na sociedade. Motivação.

OBJETIVOS
• Compreender a história da psicologia, suas perspectivas epistemo-
Plano de Ensino

lógicas e a evolução no processo da ciência.


• Identificar o objeto de estudo da psicologia, definindo seu campo
de atuação na área organizacional.
• Relacionar o estudo da Psicologia Organizacional com as relações
de trabalho nas organizações.
• Apresentar a importância dos aspectos motivacionais, atitudinais, e
de lideranças no ambiente organizacional, relacionando-os como
fatores preventivos das doenças ocupacionais.
• Apontar a importância da eficiência interpessoal no comportamento
do colaborador no ambiente organizacional.

CONTÉUDO PROGRAMÁTICO
• História da Psicologia e seu campo de atuação
• Psicologia Organizacional e sua relação com o trabalho como
apropriação humana
• Aspectos da personalidade como motivação, atitude, liderança e
eficiência interpessoal
BIBLIOGRAFIA BÁSICA
BERGAMINI, Cecília Whitaker. Psicologia aplicada à administração de empresas:
psicologia do comportamento organizacional. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2005.
BOWDITSCH, James L. et al. Elementos do comportamento organizacional. São
Paulo: Pioneira Thomson, 2004.
FIORELLI, José Osmir. Psicologia para administradores. 5. ed. São Paulo: Atlas,
2006.
VERGARA, Sylvia Constant. Gestão de pessoas. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2006.
WAGNER III, John A. et al. Comportamento organizacional: criando vantagem
competitiva. São Paulo: Saraiva, 2003.

BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR
BOCK, Ana Mercês Bahia. A perspectiva sócio-histórica na formação em psico-
logia. Petrópolis, RJ: Vozes, 2003.
CHIAVENATO, Idalberto. Comportamento organizacional: a dinâmica do sucesso
das organizações. São Paulo: Pioneira Thompson, 2004.
HERSEY, Paul et al. Psicologia para administradores: a teoria e as técnicas da
liderança situacional. 11. reimp. São Paulo: EPU, 2005.
KANAANE, Roberto. Comportamento humano nas organizações: o homem rumo
ao século XXI. 2. ed. São Paulo: Atlas, 1999.
QUINN, Roberto E. et al. Competências Gerenciais: princípios e aplicações. Rio
de Janeiro: Elsevier, 2003.
RODRIGUES, Denize Ferreira et al. Aspectos comportamentais da gestão de
pessoas. Rio de Janeiro: FGV, 2003.
WEIL, Pierre. Relações Humanas na Família e no Trabalho. 49. ed. Petrópolis:
Vozes, 2005.
ZANELLI, José Carlos. O psicólogo nas organizações de trabalho. Porto Alegre:
Artmed, 2002.

unitins • ADMINISTRAÇÃO • 2º PERÍODO  359


Aula 1 • psicologia organizacional

Aula 1
A Psicologia e sua evolução
como ciência

Objetivos
Esperamos que, ao final desta aula, você seja capaz de:
• compreender a evolução da psicologia como ciência e suas principais
abordagens;
• identificar o objeto de estudo da psicologia e os campos de atuação dos
psicólogos.

Pré-requisitos
Para acompanhar essa aula, você precisa ter algumas leituras referentes
à psicologia geral. Para tanto, é importante que recorra ao sítio do Conselho
Federal de Psicologia - CFP (www.cfp.org.br), onde encontrará material refe-
rente a esta ciência. Esse conhecimento é importante para você compreender
o desenvolvimento histórico da psicologia como ciência e sua importância no
campo de atuação.

Introdução
Você estudará, nessa primeira aula, o contexto histórico do desenvolvimento
da psicologia, bem como seu aparecimento como ciência.
Desde a antiguidade, o homem se pergunta qual a origem do pensamento
humano. Muitas teorias foram formuladas na tentativa de responder esse ques-
tionamento. Na Grécia Antiga, os filósofos já discutiam sobre esta questão, tais
como Sócrates, Platão e Aristóteles, motivo pelo qual a psicologia surgiu no bojo
da filosofia.
Com o passar dos anos e o desenvolvimento da história da humanidade,
várias teorias passam a ser delineadas como ciência. Dentre elas, temos, no
século XIX, a solidificação da psicologia científica.
Neste tema, estudaremos como aconteceu a separação da psicologia da
Filosofia, como surgiram as cinco abordagens que constituíram a Psicologia

unitins • ADMINISTRAÇÃO • 2º PERÍODO  361


Aula 1 • psicologia organizacional

moderna e contemporânea. Enfocaremos, ainda, a definição do seu objeto de


estudo, somado à apresentação de alguns dos campos de atuação dos profissio-
nais que trabalham nesta área.

1.1 A Psicologia científica


Como preocupação humana, os temas da psicologia são discutidos há
milhares de anos; porém, é recente a Psicologia como disciplina científica.
Dentro deste panorama histórico, os autores sempre se
perguntaram: O que é Psicologia?
A palavra Psicologia vem do grego psyché,
que quer dizer alma, e de logos, que quer dizer
razão. Ou seja, psicologia, literalmente, quer
dizer estudo da alma. Alma, nesse caso, defi-
nida como a “parte imaterial do ser humano e
abarcaria o pensamento, os sentimentos de amor
e ódio, a irracionalidade, o desejo, a sensação e
a percepção” (BOCK, 1999, p.33). Para repre-
sentar a Psicologia, encontramos a letra grega Ψ
como símbolo.
A fundação da psicologia científica é
creditada ao psicólogo alemão Wilhelm
Wundt que, em 1879, fundou o primeiro
laboratório de Psicologia em Leipzig,
na Alemanha.
Até a implantação desse primeiro laboratório, os conteúdos da Psicologia
eram discutidos inicialmente por filósofos e, também, recebiam influências de
outras disciplinas, como a sociologia, biologia, antropologia e fisiologia. 

Mas por que a psicologia levou tanto tempo para se separar dessas disciplinas? O que
faltava para que se tornasse ciência?

Para respondermos essas questões devemos nos perguntar “o que é ciência”?


Não é tarefa fácil de responder. Sabemos, muitas vezes, descrever o que um
cientista faz, mas ainda assim é difícil dizer o que é ciência.
A ciência é uma forma de conhecimento de que o homem se utiliza para
descrever o mundo ao seu redor. Podemos encontrar, na história do conheci-
mento ou da epistemologia, quatro tipos de conhecimento: o místico, o lógico, o
jurídico e o científico.

362  2º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • unitins


Aula 1 • psicologia organizacional

Pensando sobre o assunto

A ciência tem como objetivo descrever, controlar e prever certos fenômenos,


fazendo com que se produza um conhecimento novo. É próprio da ciência formular
enunciados no formato de princípios ou leis. Também cabe à ciência criar novas
relações entre o mundo dos símbolos e o da realidade, ou seja, é próprio da ciência
construir escalas e procedimentos de medição.
Para que um conjunto de conhecimento possa ser chamado de científico, deve ter
certas características:

Característica do conhecimento científico


Objeto de deve delimitar o que está estudado.
estudo
o cientista deve descrever o que de fato vê e como esses fatos se rela-
Objetividade cionam, sem inferir suas opiniões ou sentimentos ou tentar dar causali-
dade às ações do organismo que está sendo observado.
Linguagem a linguagem científica utiliza a norma padrão, obedecendo ao vocabu-
lário e às regras gramaticais, contudo preocupa-se em definir termos para
específica
que não haja interpretações equivocadas para o fenômeno descrito.
é próprio da ciência criar métodos e técnicas que serão usadas na inves-
tigação do fenômeno a ser estudado, a fim de que se alcance o controle
Métodos e e previsão de tal fenômeno. Dentro desse tópico encontra- se o que mais
técnicas caracteriza a ciência: o controle experimental. Ou seja, uma forma de
estudo em que são selecionadas a Variável Independente (VI) e a Variável
Dependente (VD), e todas as variáveis são controladas.
os resultados das investigações científicas não são conhecimentos ou
Processo verdades absolutas, não são imutáveis. Eles estão em constante aprimora-
cumulativo de mento. Assim, a cada nova investigação, dados são confirmados ou descar-
conhecimento tados, sempre na busca de obter mais conhecimento sobre determinado
fenômeno, visando a resolução de problemas que aflijam a humanidade.
Fonte: Adaptado de Bock, (1999).

Pensando sobre o assunto

unitins • ADMINISTRAÇÃO • 2º PERÍODO  363


Aula 1 • psicologia organizacional

Bem, agora você que já conhece as características da ciência, podemos


voltar a pensar sobre o que atrasou a separação da psicologia da Filosofia.
É próprio da ciência, então, possuir medidas. Portanto, só foi possível à
psicologia tornar-se ciência, a partir do momento em que foi feita uma medida
de um fenômeno psicológico. E isso aconteceu em 1860, 19 anos antes da
criação do primeiro laboratório de psicologia científica.
Após este passeio no passado sobre a construção da psicologia como ciência,
adentraremos nos seus aspectos epistemológicos, representados pelas abordagens
que criaram a psicologia e as teorias psicológicas moderna e contemporânea.

1.2 Abordagens e teorias psicológicas


As idéias expostas a seguir foram desenvolvidas a partir dos conteúdos de
Schultz & Schultz (1994), Bock (1999) e Bock (2003).
Alguns autores definem a história da Psicologia com seus marcos teóricos:
Estruturalismo, Funcionalismo, Behaviorismo (ou Comportamentalismo), Gestalt
e Psicanálise.
Segundo Bock (2003), há uma revisão na forma de estruturar o saber psico-
lógico, colocando a psicologia como um processo de pensamento social, fruto
do conhecimento histórico, onde o estruturalismo, o funcionalismo e associacio-
nismo são conhecimentos elaborados para a compreensão do pensamento, mas
não se caracterizam, necessariamente, como teorias psicológicas. Estes são
compreendidos como abordagens ou projetos de conhecimento sobre a psiquê,
que constituem a base para a elaboração das teorias da Psicologia. A autora
divide as teorias em: behaviorismo, psicanálise, fenomenologia e psicologia
sócio-histórica.
A partir disto, iremos conhecer a proposta de estudo dos aspectos psicoló-
gicos de cada uma destas terminologias.

1.2.1 Abordagens da Psicologia


Como vimos anteriormente, a psicologia possui algumas abordagens que
inicialmente foram construídas, marcando o seu contexto histórico. Elas surgiram
a fim de compreender a psiquê do indivíduo. Então, vamos conhecer cada uma
deles, que contribuíram para o surgimento das teorias psicológicas.
a) Estruturalismo
A primeira abordagem da psicologia chama-se Estruturalismo e foi
fundada por Wilhelm Wundt, em 1879, médico alemão que criou o
primeiro laboratório de psicologia, na Universidade de Leipzig.
Como vimos, para uma disciplina ser chamada científica, deve possuir
certos atributos. Para Wundt, o objeto de estudo da psicologia era a cons-

364  2º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • unitins


Aula 1 • psicologia organizacional

ciência (experiência imediata), que deveria ser estudada pelo método


denominado introspecção. Como o nome da abordagem aponta, o foco
de estudo era como a consciência se estruturava.
A introspecção era considerada uma percepção interior, em que cada
experimentador, ao sofrer vários tipos de estimulações sensoriais, deveria
narrar suas experiências, de forma a produzir dados, a partir dos quais
se poderia falar algo sobre os elementos e processos conscientes.
No entanto, tais relatos diferiam de um para outro, visto que cada obser-
vador fazia narrativas muito diferentes entre si. Dessa forma, a psico-
logia não estava conseguindo avançar como disciplina científica, mas
esses estudos continuaram, já que a utilização de tal método era muito
recente. Acreditava-se que deveria ser dado tempo, para que os experi-
mentadores pudessem treinar mais e conseguir dados semelhantes, que
pudessem levar a leis gerais.
Titchener, um dos alunos mais capazes de Wundt, emigrou para os
Estados Unidos da América e fundou um laboratório de psicologia, na
Universidade de Cornell, em 1892, divulgando o trabalho de Wundt.

b) Funcionalismo
O Funcionalismo teve como foco a operação, ou seja, o funcionamento dos
processos conscientes e não a estrutura ou o conteúdo da cons-
ciência, como o Estruturalismo buscava. O Funcionalismo é
a primeira abordagem psicológica nascida nos EUA.
O principal interesse do Funcionalismo era a utilidade
ou o propósito dos processos mentais para o orga-
nismo vivo, em suas permanentes tentativas de adap-
tar-se ao seu ambiente. Tais processos mentais eram
considerados atividades que levavam a conseqüências
práticas, que direcionaram a aplicação da psicologia a
problemas do mundo real.
Em 1890, William James propõe as idéias norteadoras do
funcionalismo, mas tal termo foi inicialmente utilizado
por Titchener em 1898. Apesar de muitos consi-
derarem W. James o fundador do Funcionalismo,
ele foi mais um orientador. Quando se considera
o funcionalismo como uma escola distinta, John
Dewey costuma receber o crédito por sua fundação,
em 1896.
Apesar do foco de interesse ter sido alterado, o objeto de estudo da
psicologia, durante o Funcionalismo, continuou sendo a consciência e o
método a introspecção.

unitins • ADMINISTRAÇÃO • 2º PERÍODO  365


Aula 1 • psicologia organizacional

c) Associacionismo
Deriva de questões filosóficas, sendo muito utilizado em processo
sobre a aprendizagem que ocorrem por meio de uma associação
de idéias, partindo de uma idéia simples para mais complexa. Para
o associacionismo, o aprendizado se estabelece, inicialmente, por
meio de idéias simples. Posteriormente, a pessoa terá capacidade de
aprender algo mais complexo, no qual estariam associadas às apren-
dizagens anteriores.

1.2.2 Principais teorias da Psicologia


Diante dos questionamentos de alguns estudiosos da psicologia, perante
o desenvolvimento das abordagens estudadas anteriormente, surgiram teorias
psicológicas que contribuíram para a psicologia se firmar como ciência no
campo científico. Vamos estudar cada uma deles especificadamente.
a) Behaviorismo
Até então a psicologia não conseguia ser uma ciência objetiva nem
acumular conhecimentos, dado seu método de estudo
(a introspecção, que era subjetiva). Ou seja, a psico-
logia não estava cumprindo os requisitos exigidos pela
ciência.
Nesse contexto, surge John Watson, psicólogo ameri-
cano que apresenta uma nova proposta de trabalho.
Ele dedicou-se a fundar uma nova escola, a partir de
seu descontentamento com os rumos da psicologia de
sua época. Publica, em 1913, um manisfesto chamado A
psicologia como o behaviorista a vê. Nele, Watson propôs,
como objeto de estudo da psicologia, o
comportamento, o chamado behavio-
rismo, uma vez que pode ser visto por
todos, pode ser contado, anotado e mani-
pulado em laboratório, e seu método expe-
rimental é passível de observação direta.
Essa proposta causou um grande impacto na área, pois
ia contra tudo o que havia sido estudado, até então, pela
filosofia e psicologia.
É importante pontuar que Watson deu início a essa forma de
pensar, mas ela sofreu atualizações. Surge, então, a segunda
versão do Behaviorismo, o chamado Behaviorismo Radical de
B.F. Skinner. Para este cientista, o behaviorismo radical é a
filosofia que norteia uma ciência. A ciência chama-se análise
do comportamento.

366  2º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • unitins


Aula 1 • psicologia organizacional

Pensando sobre o assunto

Outro teórico em discordância dessa teoria constrói a chamada psicaná-


lise, também utilizada por profissionais da análise do inconsciente, que
estudaremos a seguir.
b) Psicanálise
Sigmund Freud, médico do século XIX, inicia, em 1885, seus
primeiros estudos sobre hipnose, primeiro passo para o desen-
volvimento de sua teoria psicanalítica. Assim, derivando o saber
psicológico não mais da filosofia, mas, sim, da medicina.
Sua teoria foi desenvolvida a partir de sua auto-análise e da
análise de um caso clínico conhecido como Anna O., na época
atendida por seu colega Josef Breuer.
Freud deparava-se, ocasionalmente, com certos fenômenos
clínicos que não podiam ser explicados por nenhuma causa
orgânica. Naquela época, era muito comum mulheres
com quadros clínicos de paralisias, cegueiras e outros
sintomas, os quais foram denominados de histéricos.

Saiba mais

Freud e Breuer estudaram juntos os fenômenos e a aplicação da hipnose,


a fim de formular algumas explicações sobre como o comportamento
passava por tão grandes transformações, bem como poderia ser tratado.
Dessa forma, Freud vai formulando sua teoria embasada em como se
forma a personalidade, a partir das primeiras experiências de vida,
gerando uma dinâmica de funcionamento psíquico.
Quando alguma experiência gera algum sofrimento ou tensão, essa
experiência passa para o inconsciente. A psicanálise tem como função

unitins • ADMINISTRAÇÃO • 2º PERÍODO  367


Aula 1 • psicologia organizacional

recuperar esses eventos inconscientes, para que sejam elaborados e


tratados. A técnica inicial de recuperação dessas lembranças, a hipnose,
com o tempo foi abandonada, passando para a cura falada, ou seja, o
paciente vai narrando lembranças e sonhos, fazendo associação entre
palavras, cabendo ao psicanalista interpretar essas informações junta-
mente com o paciente. No momento em que o conteúdo inconsciente
emerge, ocorre a cura.
Nessa abordagem, então, o comportamento depende de motivos cons-
cientes (as exigências do mundo) e inconscientes (que foram reprimidos
ao longo da vida).
Outra perspectiva teórica, que se contrapõe às anteriores mencionadas,
elaborada no século XX, é a fenomenologia, como estudaremos agora.

c) Fenomenologia
O próprio conceito fenomenologia já apresenta seu significado: o estudo do
fenômeno. Edmund Husserl queria descrever o fenômeno da consciência;
para tanto, utiliza-se da filosofia para a descrição da subjetividade.
A consciência, nessa perspectiva, está sempre orientada para algo, é
sempre consciência de alguma coisa, é fruto de uma intencionalidade.
Aqui há uma relação dialética entre sujeito e objeto. O sujeito constata
a realidade, modificando-a se modifica em um processo de construção
de conhecimento. Nesse conhecimento, há uma consciência de mundo
e de ser no mundo.
Para a compreensão deste mundo, é necessário trabalhar as atitudes
humanas, a partir das vivências próprias de cada um, e atribuições de
significados dessas vivências por meio da consciência.
Nesta teoria, não existe apenas subjetividade, ou consciência pura de
algo, ela é sempre em relação a alguma coisa, motivo pelo qual as
pessoas constroem a personalidade em interação, como um processo
de ir e vir, no qual cada cultura pode influenciar na forma de ser e
sentir o mundo real e imaginário de cada um. E cada um pode cons-
truir a cultura.

Saiba mais

368  2º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • unitins


Aula 1 • psicologia organizacional

d) Psicologia sócio-histórica
Essa teoria se constituiu dentro do marco dialético,
no qual o sujeito e o objeto estão em relação com
o contexto social. Difere da fenomenologia no que
tange ao saber referente aos processos básicos e
superiores do ser humano. Para Jacob Lev Vygotsky,
(1896-1934), precursor desta teoria, o pensamento
e a linguagem são os processos constitutivos e cons-
trutores da personalidade humana.
Vygotsky (1997) afirma que o que leva a ocorrência
do desenvolvimento, de qualquer processo em qualquer
espécie, é a necessidade, de forma que o desenvol-
vimento da própria personalidade ocorre devido à
necessidade.
Existe, para nós seres humanos, uma necessidade,
vinda de nosso ambiente sócio-histórico, de reestruturarmos
estes processos básicos, pois, diferentemente dos demais animais
de nosso filo, nós vivemos em um ambiente cultural que é a força motriz
para o desenvolvimento da personalidade do sujeito e é o que permite
ao sujeito desenvolver-se como ser humano.
Dessa forma, podemos compreender que o ser torna-se sujeito humano
somente na interação com sua cultura e sociedade, pois é apenas nesta
relação que os processos superiores (através da zona de desenvolvi-
mento proximal), aqueles que nos caracterizam como seres humanos,
vão se construindo. O que vem a demonstrar a importância e o impacto
de outro ser humano na formação da personalidade do sujeito.
Esta construção da personalidade partilhada com o outro ocorre desde
a concepção da criança, ou seja, desde o momento que a criança esta-
belece uma interação com o mundo humano concreto, com o outro ser
humano já imbuído da cultura e história da sua sociedade.
Como vimos até aqui, o saber psicológico se constitui a partir dos
processos mentais desenvolvidos nas teorias psicológicas. Teorias estas
que direcionam para um objeto de estudo. Mas qual é esse objeto?
Veremos a seguir.

1.3 Psicologia como estudo das Relações Humanas


Quando pensamos em definição do objeto de estudo da psicologia, imedia-
tamente nos vem ao pensamento a idéia de interação. A idéia de relação de
alguém com algo, que pode ser consigo mesmo, com os outros, com a materia-
lidade, com a realidade social ou com o contexto cultural.

unitins • ADMINISTRAÇÃO • 2º PERÍODO  369


Aula 1 • psicologia organizacional

Mas será que essa proposta de objeto de estudo, de a psicologia estudar intera-
ções, atenderia a todas as teorias psicológicas e a todos os campos de atuação?
Para tais estudiosos, cada uma das segmentações da psicologia está, na
verdade, estudando uma forma de interação. Como cada uma delas preocupa-se
apenas com aquela fração do conhecimento, acaba perdendo a informação de
que está estudando uma forma de interação. 
Assim, o que todas as psicologias estão estudando nada mais é do que formas
diferenciadas de interação, relacionando-as com seu método de trabalho.

1.4 Psicologia e profissão


Psicólogo é o profissional formado em psicologia, profissão regulamentada
em 27 de agosto de 1962, pela lei número 4.119. Esse profissional preocupa-se
com a forma como o homem e outros animais interagem com seus ambientes.
Para tanto, o psicólogo pode estar trabalhando
em vários espaços de intervenção, tais como psico-
terapias, escolas, organizações, hospitais, comu-
nidades, jurisprudências, práticas desportivas,
desenvolver pesquisas, etc. Também pode atuar
priorizando algum grande tema estudado pela
psicologia, por exemplo: desenvolvimento humano,
motivação, inteligência, aprendizagem.
A profissão de psicólogo é regulamentada
e fiscalizada pelo Conselho Federal/ Regional
de Psicologia.
Diante do exposto teórico até o momento,
podemos perceber um pouco sobre a história da
psicologia, suas abordagens e teorias que colaboraram para a construção da
psicologia como ciência e profissão. Para tanto, seguiremos aprofundando sobre
o saber psicológico, vinculado ao processo de intervenção, ou seja, compreende-
remos como a psicologia adentrou no espaço organizacional.

Síntese da aula
Nesta aula, fizemos uma retrospectiva histórica de como a psicologia se
constituiu. Sua desvinculação da filosofia e da medicina, bem como sua elabo-
ração como disciplina independente. Posteriormente, verificamos a evolução da
psicologia como ciência e seu desdobramento em abordagens e teorias psico-
lógicas, as quais Ana BocK (2004) define como Behaviorismo, Psicanálise,
Fenomenologia e psicologia sócio-histórica. Terminamos a viagem histórica na
descrição de como a psicologia se constituiu em profissão e a necessidade de
sua aplicabilidade.

370  2º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • unitins


Aula 1 • psicologia organizacional

Atividades

1. Assinale a alternativa correta:


a) a psicologia passa a ser considerada científica, a partir dos estudos de
Wilhem Wundt, em 1879, com a criação do primeiro laboratório de
Psicologia, na Universidade de Leipzig;
b) a construção do conhecimento científico, na psicologia, surgiu com a
descoberta do átomo;
c) a psicologia se torna ciência com a chegada do homem à lua, pois foi uma
forma de treinar os sujeitos para se adaptarem aos pequenos espaços.

2. Preencha o quadro a seguir, após a leitura das teorias da Psicologia:


MÉTODO PARA ACESSAR
TEORIAS OBJETO DE ESTUDO
TAL OBJETO
Behaviorismo
Psicanálise
Fenomenologia
Psicologia sócio-histórica

3. Marque a opção que indica o objeto de estudo da psicologia como ciência.


a) Exclusivamente a percepção humana.
b) Apenas os conteúdos inconscientes.
c) Formas diferenciadas de interação, de acordo com o método de trabalho
de cada teoria psicológica.
d) A forma como a consciência se estruturava era objeto de estudo para
todas as teorias psicológicas.

4. O que vem a ser, na sua concepção, uma interação humana, de acordo com
os princípios psicológicos? Logo que descrever a sua percepção quanto ao
questionamento, encaminhe-a para a web-tutora, para que possamos abrir
uma discussão a respeito da temática. Lembre-se compartilhar informações e
conhecimentos contribui para a construção de novos saberes. Aguardamos
você na interatividade.

5. Assinale as atividades que possam ser desempenhadas pelos psicólogos:


(  ) pesquisa (  ) tarô
(  ) receitar medicamentos (  ) atendimento escolar
(  ) atendimento clínico (  ) seleção de pessoal em organizações
(  ) acupuntura (  ) ensino

unitins • ADMINISTRAÇÃO • 2º PERÍODO  371


Aula 1 • psicologia organizacional

6. Acesse o sítio do conselho de psicologia na internet (www.cfp.org.br), identi-


fique os locais de atuação do psicólogo e, nestes, as formas de trabalho encon-
tradas. Logo, assim como na atividade quatro, compartilhe sua pesquisa, por
meio do ambiente virtual de aprendizagem, com a web-tutora da disciplina.

Comentários das atividades


Se você assinalou a alternativa (a), na atividade um, acertou a questão, pois
foi a partir deste fato que a psicologia passa a ser vista como ciência. A desco-
berta do átomo e a chegada do homem à lua não estabelecem nenhuma relação
com a psicologia como ciência.

Com relação à atividade dois, o objeto de estudo do behaviorismo é o próprio


comportamento, e o método para ver o comportamento é a observação do mesmo,
já que este pode ser visto, contado, anotado e manipulado por todos. Para a
psicanálise, seu objeto de estudo é a descoberta do inconsciente, e o método para
estudá-la, inicialmente foi pela hipnose, posteriormente, passa a ser a cura através
da fala, o paciente vai narrando suas lembranças e fazendo associações. Na
fenomenologia, temos como objeto de estudo a descrição do fenômeno da cons-
ciência, o método de estudo para acessar a consciência são as atitudes humanas
desenvolvidas a partir das vivências de cada um. Já na psicologia sócio-histórica,
o objeto de estudo são os processos básicos e superiores dos seres humanos. O
método para acessar tais processos é a compreensão dos sujeitos, em interação
com os demais, e o social, de forma dialética. Já na atividade três, se você marcou
a alternativa (c), compreendeu que todas as teorias psicológicas apesar da diversi-
ficação de suas metodologias tem como objeto de estudo as formas diferenciadas
de interação, o que torna as outras alternativas incorretas.

Ao refletir e responder à atividade quatro, perceberá que a interação humana


está relacionada com a idéia de relação de alguém com algo, que pode ser consigo
mesmo, com os outros, com a materialidade, com a realidade social ou com o contexto
cultural. Enquanto na atividade cinco, se você assinalou as atividades pesquisa, aten-
dimento clínico e escolar, seleção de pessoal e organizações e ensino, acertou a
questão. Receitar medicamentos, praticar tarô e acupuntura não tem relação com
a atuação profissional do psicólogo. Ao realizar a pesquisa conforme proposto na
atividade seis, perceberá que, onde tem pessoas, o psicólogo poderá atuar, cada
uma de acordo com a situação problema ou contexto identificado.

Referências
BOCK, Ana Mercês Bahia. A perspectiva sócio-histórica na formação em psico-
logia. Petrópolis, RJ: Vozes, 2003.
______. Psicologia e Compromisso Social. 2. ed. São Paulo: Cortez, 2004.

372  2º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • unitins


Aula 1 • psicologia organizacional

BOCK, Ana Mercês Bahia et al. Psicologias: uma introdução ao estudo de psico-
logia. São Paulo: Saraiva, 1999.
SCHULTZ, Duane P. et al. História da psicologia moderna. São Paulo: Cultrix,
1994.
VYGOTSKY, Jacob Lev. Obras escolhidas: fundamentos de defectologia. Moscou:
Editorial Pedagógica, 1997.

Na próxima aula
Como você acha que deve ser o trabalho do psicológo organizacional? Ele
deverá trabalhar de forma isolada ou coletiva? A quem deverá atender: aos inte-
resses da organização ou do indivíduo que nela trabalha? Veremos, na próxima
aula, como a psicologia inseriu-se no espaço da organização, auxiliando nos
processos do mundo do trabalho. Até lá!

Anotações

























unitins • ADMINISTRAÇÃO • 2º PERÍODO  373


Aula 1 • psicologia organizacional

374  2º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • unitins


Aula 2 • psicologia organizacional

Aula 2
Psicologia Aplicada às Organizações

Objetivos
Esperamos que, ao final desta aula, você seja capaz de:
• descrever em que consiste a Psicologia Organizacional;
• compreender o objeto de estudo da Psicologia Organizacional e sua
aplicabilidade.

Pré-requisitos
Para a compreensão da psicologia aplicada às organizações, inicialmente
faz-se necessário que você tenha compreendido o conceito de psicologia, sua
história e possibilidades de intervenção, apresentados na aula um. Aliado a
isso, é importante o conhecimento do processo histórico do mundo do trabalho,
ou seja, das diferentes concepções de trabalho para o homem, na história da
civilização. Para tanto, você pode acessar o sítio que fala sobre o trabalho:
<http://www.pt.wikipedia.org/wiki/Trabalho>.

Introdução
Como vimos na aula anterior, a psicologia é uma área de conhecimento que
trabalha com o homem e suas interações. Dessa forma, onde existem pessoas,
a psicologia pode atuar. Com o passar do tempo, o campo de aplicabilidade
da psicologia expandiu-se, foi quando a psicologia organizacional passou a ser
uma das áreas de atuação do psicólogo.
A Psicologia ocupou-se sempre em explorar, analisar e compreender como
interagem as múltiplas dimensões que caracterizam a vida das pessoas, dos
grupos e das organizações, construindo, a partir daí, estratégias e procedimentos
que possam promover, preservar e restabelecer a qualidade de vida e o bem-
estar das pessoas. Portanto, surgiu a necessidade de se criar uma área que viesse
a ter um olhar sobre as instituições de trabalho, para compreender integralmente
o homem, já que tal compreensão passa pela sua inserção no mundo do trabalho
e das relações que são criadas no interior das organizações em que trabalha.

unitins • ADMINISTRAÇÃO • 2º PERÍODO  375


Aula 2 • psicologia organizacional

É de extrema importância que você tenha uma visão mais ampla das orga-
nizações para que possa atuar de forma a contribuir para o desenvolvimento
e crescimento delas. Este tema trará, para você, aspectos norteadores para a
compreensão do mundo do trabalho e das organizações.

2.1 Como se deu o surgimento da Psicologia Organizacional


O aparecimento da psicologia organizacional e do Trabalho está claramente
associado à crescente industrialização, que ocorreu nos países dominantes no
cenário ocidental, no fim do século XIX e início
do século XX. Coincidindo, também, com o
próprio surgimento da psicologia no campo
geral de estudos e aplicação. Este contexto se
caracterizava pela busca crescente de seleção
de funcionários para as empresas e de mili-
tares para os exércitos, já que neste período
aconteceram as Grandes Guerras Mundiais.
O fato de se buscar selecionar os candidatos
qualificados aos cargos oferecidos mostra a
preocupação com o desempenho no trabalho e
com a eficiência organizacional, que, de certa
forma, ainda são preocupações que orientam
as atividades dos psicólogos nesta área.
O taylorismo foi uma das correntes que mais influenciou a atuação da
psicologia nas organizações em seus primórdios, uma vez que este estudo diz
respeito à orientação das práticas de trabalho para que haja aumento de produ-
tividade. Com isso, a psicologia ampliou sua atuação por meio de outras ativi-
dades, como treinamento dos empregados e a análise de fatores do ambiente
que afetam este trabalho.
Após essa era de preocupação com a produtividade e aprimoramento das
tecnologias que contribuiriam para a produtividade, podemos dizer que houve
o surgimento de uma nova visão sobre as situações de trabalho. Surgiu então
a preocupação com os fatores sociais, dirigindo-se o olhar para as relações
humanas no trabalho, ou seja, de estudos e intervenções que se ocupavam com
treinamento, luminosidade dos ambientes de trabalho, turnos de trabalho, segu-
rança e disciplina passaram-se a estudos e intervenções que se dirigiram aos
incentivos não-financeiros, como liderança e supervisão, relações interpessoais,
entrevistas e aconselhamento.
Logo após, houve um grande movimento de estudos sobre a motivação
humana, levando em consideração que o homem não se motiva com a satis-
fação apenas de suas necessidades básicas (fome, segurança, saúde, etc.); as
organizações passaram a pensar em outros tipos de necessidades, como a auto-

376  2º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • unitins


Aula 2 • psicologia organizacional

estima e a auto-realização, ampliando, assim, as possibilidades de atuação da


psicologia junto às organizações. Sobre esse assunto, você estudará de forma
mais aprofundada na aula cinco.
A psicologia organizacional, se desenvolveu buscando dar respostas a desa-
fios específicos postos pelos contextos sociais, econômicos, políticos e tecnoló-
gicos que marcaram o século XX, que também marcaram um novo rumo ao
mundo do trabalho e das relações de produção, tema que veremos a seguir.

2.2 As inovações nas práticas do Psicólogo Organizacional a partir


das modificações no mundo do trabalho
Para compreendermos a dinâmica que tem conduzido a produção de
novos conhecimentos e de novas formas de atuação na área da Psicologia
Organizacional, é importante analisarmos as transformações que estão remode-
lando o mundo do trabalho e que vêm exigindo novas formas de pensar e agir
sobre os fenômenos organizacionais, na passagem do século XX para o XXI.
As mudanças constantes no mundo contemporâneo causaram impactos nas
dimensões sociais e individuais do homem. Zanelli (2003, p. 416) nos revela
que as principais mudanças ocorridas
dizem respeito ao desenvolvimento da tecnologia eletrônica e
dos meios de comunicação, aos mecanismos de controle social
mais sutis, ao desenvolvimento da biotecnologia, à fragmentação
das grandes religiões, à ampliação do papel social da mulher,
às alterações na configuração do núcleo familiar, ao fortaleci-
mento dos movimentos de conscientização de defesa ambiental,
à retração do Estado e consolidação das corporações transacio-
nais, à difusão da hegemonia político-ideológica, ao aumento
da produtividade atrelado ao desemprego estrutural, à intensi-
ficação da economia globalizada e dos níveis de consumo, à
expansão da violência física em função direta do aumento da
pobreza e do avanço da sociedade do conhecimento.

As mudanças sociais influenciaram diretamente o mundo do trabalho. Com


isso, as organizações passaram a fazer novos arranjos institucionais mais flexí-
veis e necessários, frente ao processo de globalização. As alterações sociais
no mundo do trabalho desencadearam outras situações, como o aumento do
desemprego e do subemprego, gerando fonte de tensão psicossocial, tanto em
suas conseqüências para o indivíduo quanto para a comunidade. O investimento
na terceirização acontece de forma nunca vista antes. As inovações tecnológicas
no trabalho alteraram a relação do sujeito com a atividade laboral e passaram a
exigir novas competências e habilidades. Para fugir da ameaça do desemprego
e para atender às solicitações da organização, muitos trabalhadores acabam
adequando seus objetivos e valores aos da empresa, mudando também a relação
indivíduo-organização.

unitins • ADMINISTRAÇÃO • 2º PERÍODO  377


Aula 2 • psicologia organizacional

Até o século XX, a psicologia organizacional, como vimos no item anterior,


vinha somente respondendo as demandas, principalmente, econômicas e polí-
ticas das organizações e dos estudos vinculados a ela. Estava fadada a possuir
uma atuação limitada, preocupada apenas com dar pacotes com soluções dos
problemas, sendo o profissional considerado apenas como agente de repro-
dução do sistema.
Agora, frente ao novo cenário, a psicologia organizacional sofre uma recon-
figuração em quatro principais aspectos: em suas práticas já tradicionais, no
alargamento do cargo, nas intervenções, no segmento externo à organização.
Em relação às práticas tradicionais, todas elas sofreram importantes tran-
sições, em função do desenvolvimento científico e das transformações nos
contextos de trabalho. Como exemplo, podemos citar as atividades de recruta-
mento e de seleção, que passaram a ser fortemente terceirizadas, desencade-
ando o aumento crescente de consultorias. Outro exemplo destas mudanças nas
práticas tradicionais é em relação ao treinamento e desenvolvimento de pessoal,
que acaba demandando a cultura da educação continuada, com o propósito
de um constante aperfeiçoamento profissional. A avaliação de desempenho,
também uma prática tradicional da psicologia organizacional, sofreu algumas
alterações, as principais englobam o fato de que agora, não é somente a chefia
que avalia o funcionário; além do mais, não se restringe somente ao desem-
penho real, mas, também, ao desempenho potencial.
Em relação ao alargamento do cargo de psicólogo organizacional, podemos
dizer que as transformações no mundo do trabalho o levaram a participar de
equipes multidisciplinares nos setores de recursos humanos das empresas. 
Outra mudança na atuação do psicólogo organizacional diz respeito à
forma de suas intervenções, sendo o psicólogo um profissional que também atua
nas decisões em nível estratégico das organizações. Para acompanhar as trans-
formações à sua volta e as reações internas da comunidade organizacional, o
psicólogo passou a prestar serviços de assessoria ou consultoria integrada aos
procedimentos de mudança implementados pela organização.
Já no segmento externo das organizações, os psicólogos têm se dedicado às
conseqüências do trabalho informal e aos efeitos sobre quem se
encontra excluído ou sobre quem pretende reingressar
no circuito das atividades formais de trabalho.
Inserindo-se aqui, as atividades voltadas para a
formação profissional, escolha da profissão e
reorientação de carreiras, entre tantas outras
que focam a relação do indivíduo com o
trabalho e ocupação, não necessariamente
no interior de organizações. Cabe também
ao psicólogo ter uma compreensão ampla

378  2º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • unitins


Aula 2 • psicologia organizacional

do cenário de transformações que marcam o momento atual (no qual o desem-


prego é um subproduto importante), para que possa atuar junto à população
de desempregados e subempregados e resgatar sua capacidade de mobilizar
recursos para sua reinserção no mercado de trabalho.

Será que com tantas transformações o psicólogo tem


tido condições de acompanhar essas mudanças?

Devemos pensar que, como em qualquer profissão ou opção de exercício, a


prática profissional exige busca de ética administrativa e política, visão de mundo
calcada em rigorosidade, pesquisa, criticidade, flexibilidade, competência e
disponibilidade para interagir em equipes multiprofissionais. Neste prisma, o
psicólogo deve atualizar-se constantemente, frente às mudanças sociais, acom-
panhando as alterações nas relações de produção, bem como nas relações
cotidianas, para, assim, realizar suas atividades, atendendo as necessidades
psicológicas da comunidade organizacional.
Para tanto, o psicólogo deverá ter uma visão geral de como realizar seu
trabalho na organização, assunto que veremos a seguir.

2.3 Uma visão geral do conhecimento e do campo


de intervenções do Psicólogo Organizacional
Para a realização de seu trabalho na organização, o psicólogo organiza-
cional poderá realizar algumas tarefas que irão contribuir, de forma efetiva,
para que seus objetivos sejam alcançados. Tendo em vista que seus objetivos
estão sempre direcionados à melhora da qualidade de vida da própria orga-
nização e das pessoas que a compõem.
Esse profissional pode usar o contexto organizacional para desenvolver
pesquisa sobre o comportamento humano. Pode, ainda, participar de equipe
multiprofissional, realizando diagnóstico e proposições sobre problemas
organizacionais relativos à gestão de pessoas, no nível sistêmico (definindo
problemas, elaborando propostas de estudo/diagnóstico; equacionando
medidas de implantação).
Cabe, ainda, ao psicólogo analisar as atividades intrínsecas ao trabalho
desenvolvido na organização, para subsidiar elaboração de instrumentos neces-
sários à administração de recursos humanos e modernização administrativa. A
partir disso, também elaborar um programa de treinamento e de desenvolvimento
de pessoal, em que ele irá diagnosticar as necessidades desta intervenção, plane-
jando e aplicando as atividades de acordo com as necessidades levantadas. O
treinamento também deve ser avaliado para que haja uma constatação, ou não,

unitins • ADMINISTRAÇÃO • 2º PERÍODO  379


Aula 2 • psicologia organizacional

sobre se houve o alcance dos objetivos. A concepção de treinamento atual está


voltada mais para a questão da educação continuada, estimulando o uso do
potencial criativo que cada colaborador possui, uma vez que não se concebe
mais uma organização que se preocupe apenas pontualmente com as questões
isoladas de produtividade do seu colaborador.
A avaliação de desempenho também é uma tarefa bem específica a ser
implementada pelo psicólogo organizacional, cabendo ao profissional elaborar
projeto, preparar a organização para este processo de avaliação, acompanhar
a realização das avaliações, analisar os dados obtidos com o processo e enca-
minhar os resultados, como forma de fornecer aos gestores novas oportunidades
para trabalhar os comportamentos e os potenciais humanos.
Aliado a isto, o psicólogo organizacional pode implementar uma política
de estágios na organização, em que ele deverá selecionar os estagiários,
encaminhá-los aos seus respectivos setores e realizar o acompanhamento dos
mesmos. Caso ele tenha estagiário de psicologia cabe, também, supervisionar
o trabalho desse acadêmico, orientando-o no planejamento das atividades e
avaliando seu desempenho.
Junto à equipe multiprofissional, o psicólogo deve ajudar a desenvolver a polí-
tica de saúde ocupacional da organização, principalmente no que diz respeito à
prevenção de agravos de saúde mental relacionados com os fatores do trabalho.
Essa equipe em que o psicólogo atua também deve ficar responsável por ações
de assistência psicossocial que facilitem a integração do trabalhador na organi-
zação, intervindo em problemáticas de integração do trabalhador, elaborando e
implantando programas recreativos, sociais e culturais, bem como viabilizando
o acesso do trabalhador e seus dependentes aos benefícios.
Outro tipo de intervenção do psicólogo nas organizações é efetuar movimen-
tação interna de pessoal, analisando os motivos e as opções de permuta, bem
como formalizando a movimentação e acompanhando o processo de adaptação.
O processo seletivo é uma das intervenções, como já foi
dito, mais conhecidas e tradicionais dentro da psicologia
organizacional. Consiste em basicamente promover,
com pessoal externo, as vagas existentes na
organização, construindo primeiramente uma
análise profissiográfica (descrição e análise
de cargo), atraindo os candidatos para as
vagas (recrutamento) e organizando todo
o processo de seleção, no qual pode haver
uso de testes psicológicos, entrevistas,
técnicas de dinâmicas de grupo, provas
situacionais, provas de conhecimento espe-
cíficos e gerais para cada cargo.

380  2º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • unitins


Aula 2 • psicologia organizacional

Pode, ainda, implantar e/ou atualizar plano de cargos e salários, fazendo


análise de cargo e pesquisa salarial, elaborando instrumentos de integração do
plano de cargos e salários.
Temos, até aqui, uma amostra do que o profissional da Psicologia pode
desenvolver dentro de uma organização: se ele se compromete com seu trabalho
de forma bem efetiva, se pensa a organização de forma crítico-reflexiva; se
observa as demandas socioeconômico-políticas que podem estar ocorrendo em
relação ao seu trabalho; se usa de criatividade e bom senso para definir as
intervenções a serem realizadas e se, eticamente, se preocupa com a extensão
de seu trabalho junto aos trabalhadores, ele fará realmente um trabalho dife-
renciado junto à organização, senão continuará sendo percebido como mero
selecionador de pessoal.
Embora existam várias possibilidades de atuação do psicólogo nas organiza-
ções e a relevância que seu trabalho tem para o desenvolvimento organizacional,
ele ainda é pouco incluído no âmbito profissional das organizações e do trabalho
por grande parte das organizações. Aliado a isso, a visão que se tem desse
profissional é sua restrição às atividades de recrutamento e seleção de pessoal.
É fundamental salientar que a psicologia organizacional se apodera do
estudo das interações entre comportamento no trabalho e na organização. Seu
interesse central é entender e lidar com os processos psicossociais que carac-
terizam as organizações de trabalho, como conjuntos de pessoas cujas ações
precisam ser coordenadas, a fim de atingir metas e objetivos que definem a
missão de uma organização. Portanto, busca compreender o comportamento
das pessoas que trabalham, tanto em seus determinantes e suas conseqüências,
como nas possibilidades da construção produtiva das ações de trabalho, com
preservação máxima da natureza, da qualidade de vida e do bem-estar humano.
Por isso, temos a necessidade de compreender o significado do trabalho para o
homem, a fim de entendermos o seu comportamento no contexto organizacional.
Sobre isso, veremos na próxima aula. Até lá!

Síntese da aula
Nesta aula, vimos a importância do trabalho da Psicologia no âmbito da
organização, bem como das ações que podem ser realizadas dentro da mesma,
objetivando a atualização profissional, a melhora da qualidade de vida da
organização e das pessoas que nela atuam. Vimos, ainda, como o psicólogo
organizacional é de fundamental importância para a organização.

Atividades

1. No seu entender, qual foi a relação estabelecida entre a produtividade e


aprimoramento das tecnologias nas relações de trabalho, e a psicologia

unitins • ADMINISTRAÇÃO • 2º PERÍODO  381


Aula 2 • psicologia organizacional

organizacional? Estabeleça esse paralelo e socialize estas questões no


ambiente virtual de aprendizagem.

2. Assinale a alternativa correta:


I. A psicologia organizacional se desenvolveu para dar respostas aos
desafios econômicos do século XX.
II. A psicologia organizacional se desenvolveu para dar respostas aos
desafios políticos do século XX.
III. A psicologia organizacional se desenvolveu para dar respostas aos
desafios tecnológicos do século XX.

a) A alternativa I está correta.


b) As alternativas I e II estão corretas.
c) Todas as alternativas estão corretas.

3. Pense em alguma situação na qual você esteve em contato com os possíveis


trabalhos desenvolvidos pelo psicólogo organizacional, se você já ouviu
falar ou vivenciou um processo seletivo, se já conhece a avaliação de desem-
penho ou se já participou de algum treinamento. Ao pensar sobre essas
atividades, escreva como elas podem influenciar o desenvolvimento organi-
zacional como um todo e discuta no ambiente virtual de aprendizagem.

4. Assinale as atividades realizadas pelo psicólogo organizacional:


(  ) diagnóstico institucional;
(  ) fazer controle de qualidade;
(  ) elaborar programas de treinamento;
(  ) avaliação de desempenho;
(  ) auxiliar na supervisão dos horários dos funcionários.

Comentários das atividades


Ao responder a atividade um, você pôde perceber que, após a preo-
cupação com a produtividade e aprimoramento das tecnologias que contri-
buiriam para a produtividade, podemos dizer que houve o surgimento de
uma nova visão sobre as situações de trabalho. As relações humanas no
trabalho passam a ser o objeto de interesse das organizações. Incluindo
novos estudos sobre a motivação humana, as organizações passaram a
pensar em outros tipos de necessidades, como a de auto-estima e a de auto-
realização, ampliando, assim, as possibilidades de atuação da Psicologia
junto às organizações.

382  2º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • unitins


Aula 2 • psicologia organizacional

Na atividade dois, a alternativa que deveria ter marcado é a letra (c),


pois todas as afirmativas estão corretas. O desenvolvimento da Psicologia
Organizacional aconteceu devido à necessidade de dar respostas a desafios
específicos postos pelos contextos sociais, econômicos, políticos e tecnoló-
gicos que marcaram o século XX.
Na atividade três, você pôde observar que cabe ao psicólogo orga-
nizacional, analisar as atividades intrínsecas ao trabalho desenvolvido na
organização, elaborar instrumentos necessários à administração de recursos
humanos e modernização administrativa, elaborar um programa de treina-
mento e de desenvolvimento de pessoal, diagnosticar as necessidades de trei-
namento, planejando e aplicando esse treinamento de acordo com as neces-
sidades levantadas. A avaliação de desempenho também é uma tarefa bem
específica a ser implementada pelo psicólogo organizacional, cabendo ao
profissional elaborar projeto, preparar a organização. Dessa forma, compro-
meter-se-á com seu trabalho de forma efetiva, realizando-o diferenciado junto
à organização, atendendo as necessidade da melhora da qualidade de vida
do trabalhador em seu local de trabalho e vice-versa.
Se, na atividade quatro, você assinalou que as atividades realizadas pelo
psicólogo organizacional são diagnóstico institucional, elaborar programas
de treinamento e avaliação de desempenho, parabéns, acertou a resposta,
pois fazer controle de qualidade e auxiliar na supervisão dos horários dos
funcionários não são atividades desenvolvidas pelo profissional da psicologia
na organização.

Referências
BERGAMINI, Cecília Whitaker. Psicologia aplicada à administração de empresas:
psicologia do comportamento organizacional. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2005.
FIORELLI, José Osmir. Psicologia para administradores. 5. ed. São Paulo:
Atlas, 2006.
KANAANE, Roberto. Comportamento humano nas organizações: homem rumo
ao século XXI. São Paulo: Atlas, 1999.
ZANELLI, José Carlos. O psicólogo nas organizações de trabalho. Porto Alegre:
Artmed, 2002.

Na próxima aula
Como você vê a transformação do significado do trabalho na história da
civilização? Qual sua real função desde os primórdios da humanidade? É a
construção da subjetividade humana, como um ato de criar e recriar-se? Ou uma
atividade árdua, de castigo e obrigação? Na próxima aula você compreenderá
melhor esses questionamentos. Até lá!

unitins • ADMINISTRAÇÃO • 2º PERÍODO  383


Aula 2 • psicologia organizacional

Anotações








































384  2º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • unitins


Aula 3 • psicologia organizacional

Aula 3
O significado e re-significado do
trabalho para o Homem

Objetivos
Esperamos que, ao final desta aula, você seja capaz de:
• identificar a natureza do trabalho, bem como a sua importância para o
homem;
• compreender a transformação do conceito do trabalho na sociedade e
na vida do homem.

Pré-requisitos
Para o acompanhamento dessa aula é importante que você tenha um conhe-
cimento prévio sobre o mundo do trabalho e suas implicações. Para tanto, poderá
acessar os sítios do Sebrae e da Conaje, que falam sobre o mundo do trabalho:
<http://www.sebrae.com.br> e <http://www.conaje.com.br>. Esse conheci-
mento é importante para que possamos aprofundar o saber sobre a construção
da subjetividade humana e seu comportamento na organização.

Introdução
Desde o início da civilização, o homem é considerado um ser social, apreen-
dendo normas, valores, regras, hábitos de vida e elegendo uma forma de ser, cons-
truindo assim sua identidade. E é por meio do trabalho que o homem apropria-se da
natureza na qual está inserido, evoluindo-se enquanto indivíduo ativo e cidadão.
Neste panorama, o sujeito, apropriando-se da natureza a seu serviço por
meio do trabalho, muda também a sociedade ajudando no seu desenvolvimento,
para assim, realizar-se dentro da mesma.
Dessa forma, podemos afirmar que o trabalho compõe a vida do homem
que é construída pelas relações que surgem nesse processo de interação, princi-
palmente se este homem sente-se realizado ao exercer a função a ele atribuída.
Esta relação homem-trabalho é estabelecida de forma dialética, sendo respon-
sável pela formação da identidade humana.

unitins • ADMINISTRAÇÃO • 2º PERÍODO  385


Aula 3 • psicologia organizacional

Nessa aula, trataremos o trabalho como fator essencial na formação da


identidade do sujeito, bem como no processo de inclusão social para sua auto-
afirmação como ser produtivo.

3.1 Constituição social do trabalho


Nos seus primórdios, o trabalho sempre esteve associado a uma visão nega-
tiva, considerado como um fardo. O fato de o homem ter que trabalhar para
sobreviver, inclusive, era considerado um castigo. Na época da revolução indus-
trial, o homem era incluído no mundo do trabalho apenas
como um recurso produtivo, ao lado das matérias-primas e
das máquinas, sem qualquer consideração especial.
A história da desvalorização do trabalho é antiga, ocor-
rendo essa situação em todos os pólos do panorama inter-
nacional, não apenas no Brasil. Lacombe (2005) assevera
que sua história remonta à Idade Antiga, aos romanos e à
maioria das civilizações orientais. Dessa forma, o trabalho
foi sendo considerado como algo desumano.
A partir do século XX, o trabalho passa a ser valorizado
como parte da constituição humana. Esse processo de valo-
rização nasce do próprio conceito de trabalho e da necessi-
dade de solucionar problemas na relação de trabalho.
Começando a evoluir de forma positiva, ocorre a 
inversão de valores. O trabalho começa a ter sentido para o
indivíduo, satisfazendo suas necessidades humanas. Assim,
trabalho representa para o ser humano uma atividade de transcendência da
­consciência, aliado a uma ocupação, profissão, tarefa, sendo resultado de uma
determinada ação, orientada para a produção de uma mercadoria ou realização
de uma tarefa. A integração do homem no trabalho possibilita a tomada de cons-
ciência como um ser capaz de criação em decorrência das grandes descobertas
e aperfeiçoamento tecnológico.
Para G. Friedmann, citador por Kanaane (1999), o trabalho assume os
seguintes aspectos:
• técnico: relacionados ao lugar de trabalho e adaptação fisiológica e
sociológica;
• fisiológico: refere-se ao grau de adaptação homem-lugar de trabalho-
meio físico e ao problema de fadiga. Ele como um dado deve estar
engajado no trabalho: seus músculos, sentidos e cérebro;
• moral: em que o trabalho deve ser uma atividade social humana, consi-
derando suas aptidões, motivações, o grau de consciência, satisfações
e a relação entre atividade de trabalho e personalidade;

386  2º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • unitins


Aula 3 • psicologia organizacional

• econômico: como fator de produção de bens, riqueza, geralmente em


oposição ao capital e unido em sua função a outros fatores: organi-
zação, propriedade, terra.
Considerando esses aspectos, podemos dizer que o trabalho é uma ação
humana praticada em um contexto social, que é influenciado por diversos fatores,
o que resulta em uma interação recíproca entre o trabalhador e os meios de
produção.
Weil (2005), aponta que deve-se considerar os seguintes aspectos do fator
humano nas organizações:
• adaptação do homem ao trabalho: procurar fazer aquilo que identifica
profissionalmente para uma adaptação favorável;
• adaptação do trabalho ao homem: o ambiente físico de trabalho, maqui-
naria e as instalações devem ser adaptadas ao trabalhador;
• adaptação do homem ao homem: criar um ambiente de confiança e de
cordialidade entre os colaboradores.
Devemos sempre lembrar que o trabalho se tornou um vínculo social e
comunitário, determindo, em grande parte, o status do indivíduo e que nele
sempre existirá uma relação de poder implícito, quando trabalhamos em grupo,
em organizações.
Contudo, no decorrer da história da humanidade, o homem desempenha
vários papéis como trabalhador, conseguindo ser reconhecido pelas organiza-
ções e por si próprio como um ser indispensável. Este autoconhecimento fez com
que o indivíduo reivindicasse mudanças nas relações de trabalho, no ambiente
físico e nas relações interpessoais, constituindo, assim, uma relação de trabalho
entre seus pares de forma coletiva.
Veremos agora a importância do trabalho para a construção da subjetividade.

3.2 A importância do trabalho para a constituição da subjetividade


O conceito de trabalho tem várias nuances. Porém, é condição inerente à
própria relação entre o desenvolvimento e a realização do trabalho, a construção
de uma consciência humana do seu próprio fazer, constituindo, assim, um saber
sobre si mesmo. A isso denomina-se subjetividade, a identidade que se constrói, a
partir das relações mundandas, neste caso, a relação específica com o trabalho.
A construção da subjetividade estabelecida na realização da atividade do
trabalho, segundo Konder (1987, p. 31), é o que o diferencia de outros animais:
através do trabalho, o ser do homem se distingue do ser dos
animais e do ser das coisas: o sujeito humano passa a poder
se assumir como sujeito em contraposição ao objeto. Através
do trabalho, o homem não só se apropria da natureza como

unitins • ADMINISTRAÇÃO • 2º PERÍODO  387


Aula 3 • psicologia organizacional

se afirma e expande-se, desenvolve-se, transforma-se, cria-se


a si mesmo.

Essa relação entre o trabalho e o criar-se a si mesmo só é possível na condição


humana, pois, foi por meio do desenvolvimento do trabalho e da criação de
instrumentos para a realização do mesmo, que o homem foi se desenvolvendo
cada vez mais, a partir de suas características peculiares como homo sapiens.

Pensando sobre o assunto

A este fato, denominamos transcendência


humana na relação com o trabalho. É quando
o homem analisa seu próprio fazer, aprofun-
dando conhecimento sobre o mesmo e melho-
rando sua relação com o trabalho e consigo
mesmo. Em um processo essencial e intrínsico
ao ser humano, de apropriação de si mesmo,
da natureza, do seu trabalho e sempre melho-
rando o seu fazer e ser.
Neste processo de criar-se a si mesmo
e ao seu trabalho, o sujeito estabelece uma
relação de reciprocidade entre si e a cons-
trução de uma sociedade, na qual, através de
uma transcendência humana, estabelece uma
relação dialética entre si e atividade realizada, alterando, ao mesmo tempo, a
si e a sociedade.    
Nessa relação dialética, a transcendência humana está sempre presente,
como veremos na continuação.

3.3 O trabalho e a transcendência humana


Como vimos, o trabalho é fundamental para que o sujeito se aproprie da
natureza, aliada a um vir a ser. Por meio do trabalho, o homem vê a possibili-

388  2º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • unitins


Aula 3 • psicologia organizacional

dade de interagir com o meio, com pessoas e consigo mesmo, garantindo seu
crescimento, desenvolvimento e aperfeiçoamento como ser humano.
Sendo assim, o homem, segundo Kanaane (1999), necessita redefinir o
sentido que atribui ao trabalho, passando agora a construir sua subjetividade,
promovendo o auto-desenvolvimento e o desenvolvimento das relações humanas
que o caracterizarão como um ser social, estabelecendo vínculos e as interde-
pendências que tais relações possibilitam.
A partir dessas relações, as pessoas desenvolvem o seu autoconhecimento,
sua auto-estima, percebendo-se como um ser atuante,
com condições de poder influenciar e ser influenciado,
possibilitando melhores condições de qualidade de
vida no trabalho.
Contudo, você pode perceber, como diz o
ditado, que o trabalho dignifica o homem.
Nesse sentido, concluímos que o trabalho
e as relações humanas desenvolvidas no
próprio processo laboral, são condições
necessárias para o desenvolvimento pessoal
e profissional.
Diante dessas relações, desenvolvemos várias dimensões interpessoais, como
a habilidade de comunicar, de ouvir e compreender o que os outros nos dizem,
dar e receber feedback, como também identificar as necessidades, sentimentos
e comportamentos dos outros, bem como reconhecer, diagnosticar e lidar com
os conflitos que podem surgir. Oferecendo a nós mesmo, por meio dessas rela-
ções, a habilidade de modificar nossos comportamentos e opiniões, bem como
o comportamento do grupo diante dos objetivos que desejam alcançar.
Situação que tende a propiciar um clima positivo no ambiente de trabalho,
por meio de afeto, compreensão, cooperação e respeito. Sobre esses aspectos
estudaremos mais à frente, ao falarmos sobre os fatores que influenciam o
comportamento organizacional.
Então, ao nos referirmos ao mundo do trabalho e à constituição social do
mesmo, temos que levar em conta, sempre, que este é construtor e constitutivo do
ser humano como formador de identidade.
Só nos humanizamos frente a outros seres humanos e mediados pelas
mudanças dialéticas que a realidade cotidiana nos coloca. Inevitavelmente, para
nos criarmos e recriarmos enquanto sujeitos, o trabalho é a mediação funda-
mental para o nosso vir-a-ser como sujeitos no mundo, possibilitando, assim, a
evolução tecnológica, econômica e social. Nessa evolução tecnológica, há um
crescimento considerável nas organizações de trabalho. Diante disso, tem-se a
necessidade de compreender como as pessoas se comportam no ambiente orga-
nizacional, assunto que será abordado na próxima aula.

unitins • ADMINISTRAÇÃO • 2º PERÍODO  389


Aula 3 • psicologia organizacional

Síntese da aula
Nessa aula, vimos como o trabalho se constitui na história da humanidade.
Inicialmente, como um castigo, para, depois, estabelecer uma relação entre o mundo
e a construção da subjetividade. Compreendemos a importância do trabalho para
a constituição da realidade social, bem como a dialética estabelecida entre o meio
e a constituição da subjetividade, esta sendo formada pela relação com o trabalho.
Finalizamos o saber sobre o significado do trabalho como fator de resignificação
da própria subjetividade humana, quando nos remetermos ao trabalho como trans-
cendência humana. Para vermos se, de fato, você compreendeu os assuntos abor-
dados, vamos agora responder algumas atividades de estudos?

Atividades

1. Assinale a alternativa correta no que diz respeito à natureza do trabalho:


a) nos seus primórdios, o trabalho sempre esteve associado a uma visão
negativa, sendo considerado um fardo. O fato do homem ter que traba-
lhar para sobreviver era considerado um castigo;
b) na antiguidade, o trabalho era visto como uma forma de agrado aos
deuses. Quem não trabalhasse seria castigado;
c) na antiguidade, os nobres eram eleitos em conformidade ao número de
horas trabalhadas por dia. Quanto mais trabalhassem, mais direito a
títulos de nobreza teriam.

2. Discuta, no ambiente virtual de aprendizagem, sua compreensão sobre a


assertiva a seguir: “Assim, trabalho representa para o ser humano uma ativi-
dade de transcendência da consciência, aliado a uma ocupação, profissão,
tarefa, sendo resultado de uma determinada ação, orientada para a
produção de uma mercadoria ou realização de uma tarefa”.

3. Discuta em grupo sobre utilização de instrumentos criados pelo homem na


história da humanidade, como criação do trabalho sendo este a própria
criação da subjetividade. Aproveite o exemplo da lança e do peixe, e crie
outro exemplo para esta situação.

4. Coloque V para a sentença verdadeira e F para a falsa.


(  ) Quando falamos de construção da consciência por meio do trabalho,
nos referimos aos aspectos negativos que o mesmo determina em nossa
personalidade.
(  ) Transcender é o mesmo que paralisar, dessa forma, o trabalho exaustivo
paralisa e imobiliza o sujeito.

390  2º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • unitins


Aula 3 • psicologia organizacional

(  ) O trabalho estabelece uma relação direta entre a construção de si


mesmo e a própria sociedade, constituindo a transcendência humana.
a) V, V, F
b) V, F, V
c) F, F, V

Comentário das atividades


Com relação à atividade um, a alternativa correta é a letra (a), pois, como
vimos, o trabalho sempre esteve associado a uma visão negativa, está conside-
rado um fardo. O fato do homem ter que trabalhar para sobreviver, inclusive era
considerado um castigo. Na época da revolução industrial, o homem era incluído
no mundo do trabalho apenas como um recurso produtivo, ao lado das matérias-
primas e das máquinas, sem qualquer consideração especial.
A atividade dois está relacionada com a evolução da sociedade e a inversão
dos valores sobre o mundo do trabalho. Esta começa a fazer sentido para o
indivíduo, passando a satisfazer suas necessidades humanas enquanto atividade-
ação, não apenas como um fardo. A integração do homem no trabalho possibi-
lita a tomada de consciência como um ser capaz de criação em decorrência das
grandes descobertas e aperfeiçoamento tecnológico.
Na atividade três foi possível perceber que é na relação entre o trabalho e o
criar-se a si mesmo que o homem foi construindo sua subjetividade. Essa criação
e recriação, é possibilitada por meio da construção de instrumentos pelo próprio
homem, e pela apropriação do significado destes. Posteriormente, outras ativi-
dades vão sendo realizadas. Podemos exemplicar esta situação com a invenção
da roda. Este invento possibilitou muitas outras mudanças para a sociedade e
para o próprio homem. A partir da roda, ficou mais fácil o transporte de merca-
dorias com a invenção do barco a vapor, por exemplo.
Na atividade quatro a alternativa correta é a letra (c), visto que é no processo
de criar-se a si mesmo e a sociedade de forma dialética que se constrói a trans-
cendência humana. As alternativas anteriores são falsas porque o trabalho não é
o responsável pela construção negativa de nossa consciência, mas o que fazemos
dele. E, transcender é ir além, e não paralisar.

Referências
BERGAMINI, Cecília Whitaker. Psicologia aplicada à administração de empresas:
psicologia do comportamento organizacional. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2005.
KANAANE, Roberto. Comportamento humano nas organizações:o homem rumo
ao século XXI. 2. ed. São Paulo: Atlas, 1999.

unitins • ADMINISTRAÇÃO • 2º PERÍODO  391


Aula 3 • psicologia organizacional

LACOMBE, Francisco Jóse Masset. Recursos humanos: princípios e tendências.


São Paulo: Saraiva, 2005.
LURIA, A. R. Curso de psicologia geral. 2. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira,
1991. v. 1.
KONDER, Leandro. A derrota da dialética: a recepção das idéias de Marx no
Brasil até o começo dos anos 30. Rio de Janeiro: Campos, 1987.
WEIL, Pierre. Relações Humanas na Família e no Trabalho. 49. ed. Petrópolis:
Vozes, 2005.
<http://www.conaje.com.br>. Acesso em: 2 fev. 2008.
<http://www.sebrae.com.br>. Acesso em: 2 fev. 2008.

Na próxima aula
Como você acha que se formam as organizações? E como se estabelecem
as relações entre as pessoas no interior destas organizações? Aproveite para
pensar sobre o assunto e discuta com seus colegas, para que possamos apro-
fundar estes conhecimentos na próxima aula.

Anotações




















392  2º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • unitins


Aula 4 • psicologia organizacional

Aula 4
O comportamento organizacional e
o seu contexto

Objetivos
Esperamos que, ao final desta aula, você seja capaz de:
• reconhecer a importância do estudo do Comportamento Organizacional;
• identificar os vários contextos constituidores das organizações.

Pré-requisitos
Para atingir os objetivos propostos para essa aula, é importante que você
tenha noções dos enfoques comportamentais na administração, tratados na ciência
do comportamento. Se você não está seguro quanto a este conteúdo, recorra
ao material da disciplina Teoria Geral da Administração, e também ao material
das aulas anteriores, especialmente às aulas dois e três, nas quais foi abordada
a questão da aplicabilidade da Psicologia em uma organização, bem como a
transformação do significado do trabalho para o colaborador. Este conhecimento
é fundamental para compreender a importância do estudo do comportamento
organizacional e os vários contextos constituidores das organizações.

Introdução
O que vem à tona quando começamos a nos questionar sobre o comporta-
mento organizacional? É a organização que se comporta ou os indivíduos que
nelas estão se comportando? O nosso comportamento como colaborador provoca
algum impacto no clima psicológico da organização na qual trabalhamos?
Então, pessoal! Nessa aula iremos responder a tais questionamentos, bem
como abordar essa temática de forma mais detalhada, observando que a mesma
surgiu dentro da Administração como uma teoria interdisciplinar. Busca desen-
volver e integrar, nos colaboradores de determinada organização, o conheci-
mento sobre o que deve ser feito e, também, habilidades específicas de como
efetivamente fazer o que deve ser feito em contextos variados. Para que isso
aconteça, devem ocorrer vários níveis de análise de entraves e possíveis soluções
dentro das organizações.

unitins • ADMINISTRAÇÃO • 2º PERÍODO  393


Aula 4 • psicologia organizacional

Diante disso, veremos que o comportamento organizacional é uma interação


que acontece, especificamente, entre uma pessoa, outras pessoas e/ou em seu
ambiente, sendo que cada uma das partes afeta a outra, reciprocamente. Como
há vários tipos de organizações, não há como não falarmos um pouco sobre as
organizações e como são formadas.
Portanto, como pôde observar, temos muito o que aprender nesta aula. Então,
vamos em frente para mais uma jornada de aquisição de conhecimentos!

4.1 Comportamento organizacional e sua conceituação


Chiavenato (2004, p. 5) ensina que “o Comportamento Organizacional
(CO) refere-se ao estudo de indivíduos e grupos atuando em organizações”. É
importante notar que, apesar da terminologia, não é a organização quem se
comporta, mas, sim, os indivíduos que nela trabalham.
Estudar como esses indivíduos, cada um com sua forma original de ser, inte-
ragem com o ambiente físico da empresa, com os grupos que nela se formam,
com as regras próprias de cada organização, com os clientes (internos e externos)
e como cada um influencia o outro, reciprocamente, é o campo de estudo do
Comportamento Organizacional.
Ao estudarmos sobre o comportamento organizacional, devemos considerar
as mais diversas interfaces que ocorrem no ambiente organizacional, quando
tratamos sobre algum tipo de interação, seja ela entre indivíduos-indivíduos,
indivíduos-grupos, grupo-grupo, grupo-organização, organização-organização
e organização-meio ambiente, pois essas relações afetam tanto diretamente
quanto indiretamente o clima psicológico da organização, contribuindo ou não
para uma sinergia da equipe de trabalho, bem como a sua adaptação.

Saiba mais

Para entendermos o Comportamento Organizacional, alguns aspectos devem


ser considerados. Esses aspectos dividem-se em dois níveis: visíveis e invisíveis.
Os visíveis são aqueles que compõem a estruturação física e de comando da
organização, os objetivos que a organização pretende atingir, as políticas e os

394  2º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • unitins


Aula 4 • psicologia organizacional

procedimentos, as tecnologias utilizadas. Os aspectos invisíveis são aqueles que


influenciam no comportamento das pessoas, mas que não são totalmente claros
(pelo menos imediatamente). Eles surgem a partir da história de vida de cada um
(como a percepção, atitudes, escolha em participar de certos grupos) e da inte-
ração com os grupos existentes na organização (normas grupais, conflitos inter-
pessoais e intergrupais), assuntos esses que iremos estudar nas próximas aulas.
Como vimos até aqui, o comportamento organizacional se constitui a partir
das interações que surgem no ambiente da empresa. Mas você sabe como
podemos conceituar uma organização? Que tal vermos isso a seguir?

4.1.1 Como se formam as organizações


Chiavenato (2004, p. 20) define organização como um “conjunto de
pessoas que atuam juntas em uma criteriosa divisão de trabalho, para alcançar
um propósito comum” e sua existência influencia tanto na vida das sociedades
como na vida privada de cada um.

Mas como se formam as organizações?

Primeiro, não podemos nos esquecer de que as organizações são sistemas


abertos, que necessitam do meio ambiente externo para funcionar. É do meio
ambiente que chegam os recursos que serão transformados ou as informações sobre
as necessidades dos clientes. A mão-de-obra que compõe seu quadro de colabo-
radores também vem do ambiente externo. Os produtos e serviços finais retornam
à sociedade para serem consumidos, ou seja, retornam ao ambiente externo de
maneira transformada.
Assim, elas existem porque a sociedade precisa delas, tanto como produtora
de bens e serviços necessários ao bem estar da sociedade, quanto como emprega-
dora de seus cidadãos.
Elas se constituem de prédios, equipamentos, materiais diversos, matéria-
prima. Essa parte denomina-se infra-estrutura organizacional.
Além dos componentes físicos, como falado anteriormente, existem também
as pessoas. São elas, através de seu comportamento, que, atuando dentro da
organização, acabam moldando a própria forma de agir de uma organização.
Todos nós já dissemos, ou já ouvimos alguém dizer, por exemplo, que a empresa
X me atendeu muito bem quando fiz uma reclamação. Ora, todos nós sabemos
que quem atendeu bem foi uma pessoa, mas ações individuais acabam cons-
tituindo a ação da organização. Nesse sentido, quando estamos no nosso
ambiente de trabalho, estamos, sim, falando e agindo pela empresa na qual
temos vínculo empregatício.

unitins • ADMINISTRAÇÃO • 2º PERÍODO  395


Aula 4 • psicologia organizacional

Dessa forma, somos nós, as pessoas, que damos vida à organização.


Motivo pelo qual as novas tendências da Administração estão deixando idéias
antigas sobre administração de pessoal para substituí-las por administrar com
as pessoas. Portanto, as organizações são constituídas a partir de infra-estru-
tura, pessoas e processos.

Pensando sobre o assunto

4.1.2 Negociação e Reciprocidade


A empresa, nos dias atuais, para se manter viva no mercado em que atua,
buscando a eficácia e a eficiência na prestação de seus serviços, necessita de refletir
sobre suas atividades, ações orientadas para um resultado, para atingir o sucesso
tão almejado por todas elas, que, certamente, afeta o comportamento organiza-
cional. Para isso, deverá considerar alguns pontos que podem se tornar esteios em
toda a sua prática organizacional, como a negociação e a reciprocidade.
Como vimos anteriormente, as organizações dependem das pessoas para
sobreviver, mas, para isso, os gestores devem desenvolver processos de interação
que estejam baseados na confiança, no envolvimento, no diálogo, na responsabili-
dade, na negociação e na reciprocidade, como também em outros aspectos, sobre
os quais, possivelmente, você, ao ler esta aula, deve ter pensado ou refletido.
Mas como podemos definir a palavra negociação?
Como sabemos, desde o sistema econômico arte-
sanal, negociar é interagir, trocar. Para tanto, é impor-
tante sabermos que o ato de negociação como prática
cotidiana tornou-se uma atividade própria dos seres
humanos. Para isso, são necessárias algumas habilidades
comportamentais, tais como: ser criativo, boa capacidade
de percepção e comunicação, além de algumas estraté-
gias e técnicas específicas de negociação que você irá
estudar na disciplina negociação do oitavo período.
O ato de negociar também exige a capacidade de
nos colocarmos no lugar do outro, de sermos compre-

396  2º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • unitins


Aula 4 • psicologia organizacional

ensivos com o outro, para de sentir e compreender a sua postura, seus medos e
dificuldades. Até mesmo porque as negociações envolvem problematizações e,
neste ato, devemos resolver os problemas de forma que haja ganhos, benefícios
e vantagens para todos os envolvidos. Para isso, é fundamental a reciprocidade
no ambiente organizacional.
Assim, a reciprocidade diz respeito a trocas mútuas, que podem acontecer
entre pessoas, grupos ou entre pessoas e grupos. A reciprocidade está relacio-
nada com a capacidade de reconhecer o outro em interação. Isso faz com que
a organização torne-se um processo de reciprocidade entre as pessoas, desde
que correspondam seus compromissos com o colaborador.
Por um lado, a organização deseja certas habilidades daquelas pessoas que
contrata, a fim de atingir seu objetivos. As pessoas contratadas também possuem
seus objetivos (crescimento pessoal, melhores salários, benefícios, treinamento
especial, reconhecimento, possibilidade de ascensão funcional) e querem atingi-
los por intermédio da organização de que participam. Quando isso se concretiza,
podemos dizer que houve uma reciprocidade entre organização e colaborador.
Da mesma forma que as organizações se adaptam ao ambiente externo
que se apresenta, as pessoas também se adaptam às condições ambientais que
lhes são impostas.Quando existem pessoas, a adaptação sempre acontece,
não importa o ambiente de interação: escola, trabalho, igreja, casamento,
relações pais e filhos, etc. O que vai determinar as escolhas das pessoas (ou
adaptação) vai depender da história de vida de cada sujeito e das condições
atuais que se apresentam.
As empresas buscam, no seu dia-a-dia, analisar certos cenários para definir
como atuar no mercado. O que oferecer e como oferecer determinado produto, a
fim de se adaptar às mudanças econômicas mas nem sempre conseguem obter todas
as informações necessárias para tal. E, quando pensamos em um contexto organi-
zacional, percebemos que, muitas vezes, o colaborador comum não tem acesso às
informações necessárias para se adaptar ao ambiente. Isso pode prejudicar não
somente os colaboradores, mas a própria organização. Daí a importância de traba-
lhar a negociação e reciprocidade com a equipe no ambiente organizacional.
Mas, para isso, também é preciso conhecermos as características do compor-
tamento organizacional, assunto esse que trataremos a seguir.

4.2 Características do comportamento organizacional


O CO tem características próprias e marcantes. Apesar de fazer parte da
Administração, não se confunde com ela. A Administração preocupa-se com
processos, sistemas, gestão de conhecimento, entre outros. “O CO preocupa-se
em compreender, predizer e gerenciar o comportamento humano nas organiza-
ções” (CHIAVENATO, 2004, p. 7).

unitins • ADMINISTRAÇÃO • 2º PERÍODO  397


Aula 4 • psicologia organizacional

As principais características do CO são:

Quadro 1: Características do comportamento organizacional

Utiliza-se de conhecimento científico na prática. Tem por


É uma ciência
objetivo aumentar a satisfação dos empregados e o sucesso
aplicada
organizacional.
Adota abordagem Por meio da análise de contingências, busca as várias formas
contingencial de agir. Nesse tipo de análise, nada é definitivo.
Seu método é o do teste empírico (ver o que ocorre no mundo)
Usa métodos
sobre a dinâmica do comportamento humano nas organiza-
científicos
ções, de forma sistemática.
Ajuda a entender as É um estudo de fundamental importância aos profissionais que
atuam com pessoas, para que possam entender os que traba-
pessoas dentro de
lham na empresa e, assim, achar a melhor forma de integrar
uma organização esse corpo funcional às ações pretendidas pela organização.
Várias ciências que se preocupam em estudar o compor-
É interdisciplinar tamento humano contribuem com o CO (Antropologia,
Sociologia, Medicina, Psicologia, Economia, etc.).
Relaciona-se a
Vários campos de estudos também contribuem com o CO
vários campos de
(gestão de pessoas, teoria das organizações, etc.).
estudo
Fonte: Adaptado de Chiavenato (2004).

Pensando sobre o assunto

E, em relação aos níveis de estudo do comportamento organizacional, o que


necessitamos compreender? Sobre isso, veremos a seguir.

4.3 Níveis de estudo do comportamento organizacional


Existem alguns níveis em que se pode estudar o comportamento humano
dentro das organizações, que se resumem em três:

Quadro 2: Níveis de comportamento organizacional

NÍVEL CARACTERÍSTICAS
Engloba o comportamento organizacional como
um todo, abrangendo, como acontece, a comuni-
Nível macroorganizacional ou
cação, a liderança, o gerenciamento de conflitos
macroperspectiva
e, conseqüentemente, o estresse, negociações,
desenvolvimento e aplicação de políticas.

398  2º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • unitins


Aula 4 • psicologia organizacional

NÍVEL CARACTERÍSTICAS
Estuda o comportamento das várias equipes que
Nível mesoorganizacional ou compõem a organização. Os estudos utilizam-se
intermediário dos conhecimentos sobre empowerment, dinâ-
mica de grupos, produtividade dos grupos.
Estuda o comportamento do indivíduo quando
este trabalha sozinho. A ênfase desses estudos
Nível microorganizacional ou
encontra-se nos trabalhos sobre personalidade,
microperspectiva percepção, motivação, diferenças individuais,
aptidões, interesses.
Fonte: Adaptado de Chiavenato (2004).

O CO é uma disciplina científica, que busca compreender os processos


interativos das pessoas que trabalham em busca de um objetivo comum, consi-
derando a missão e os valores organizacionais. Assim, isso se tornou um desafio
para os gestores, pois comprender o indivíduo, o grupo e como são as implica-
ções de seus comportamentos no ambiente organizacional não é nada fácil.
Diante disso, precisamos contextualizar as variáveis que estão sendo consi-
deradas no do estudo do Comportamento Organizacional.
Em ciência falamos de variáveis independentes (VI) e variáveis dependentes
(VD), como visto na aula um.

Mas quais são as VI e VD que interessam para


o estudo do comportamento organizacional?

Dentro de uma organização, os comportamentos que preocupam e que,


historicamente, são estudados pelas várias teorias de administração são produti-
vidade, absenteísmo, rotatividade, satisfação no trabalho e cidadania organiza-
cional (ou vestir a camisa de uma organização). Esses comportamentos são as
variáveis dependentes.
Identificar quais as variáveis independentes que controlam tais variáveis depen-
dentes garante que, alterando-se as variáveis independentes, as dependentes se
ajustarão. É nesse sentido que a ciência pode prever e controlar certas respostas.

unitins • ADMINISTRAÇÃO • 2º PERÍODO  399


Aula 4 • psicologia organizacional

As variáveis independentes, no caso do comportamento organizacional, são


as que compõem os três níveis de estudo do CO: o comportamento humano
influenciado por variáveis num nível macroorganizacional, mesoorganizacional
e microorganizacional.
A forma como cada organização irá interferir nas variáveis independentes
dependerá dos levantamentos de dados relevantes referentes a  cada situação
específica e aos objetivos próprios de atuação que se propõe. Daí a necessi-
dade de se estudar sobre o comportamento organizacional.
Então, diante de todo o exposto anteriormente, podemos concluir, que o
Comportamento Organizacional estuda, predominantemente, as interações dos
colaboradores dentro de uma organização. Essas interações envolvem cada um,
com suas características próprias e a estrutura organizacional em si, além da forma
como os grupos de colaboradores se organizam (de forma espontânea) e de acordo
com a estrutura formal da organização e como todos se influenciam mutuamente.
Esse estudo acontece de forma sistemática, utilizando-se de metodologia cien-
tífica e recebendo influências de várias outras disciplinas e campos de conheci-
mento. E tem como objetivo fazer com que colaboradores e empresa consigam
estabelecer um amplo conhecimento do que cada um almeja, com a finalidade de
que cada uma das partes consiga atingir seus objetivos, ou grande parte deles.
As organizações possuem três contextos nos quais cada pessoa individual-
mente vai se adaptar, participando do corpo administrativo ou não. Esses contextos
são: as próprias pessoas que podem se apresentar individualmente ou em grupo,
a estruturação física e os processos administrativos que devem ser atendidos.
A forma como cada adaptação individual vai acontecer é impossível prever,
uma vez que o comportamento humano, em última instância, é multideterminado.
No entanto, um caminho importante a ser considerado é aquele que contempla
os objetivos que cada um determina como importantes para suas vidas.
Então, o estudo sobre a motivação, atitudes e liderança é essencial para a
compreensão do comportamento organizacional. Daí a necessidade de estudarmos
sobre essas temáticas, assuntos estes, que serão apontados na próxima aula. Até lá!

Síntese da aula
Esta aula sintetizou o que é comportamento organizacional, sua importância,
as principais influências que recebe, sua principal forma de ação e seu papel no
mundo dos negócios. Vimos que estudar o comportamento organizacional só é
possível por meio da compreensão das relações que permeiam a vida das pessoas
que compõem o grupo de colaboradores, e isso se tornou um grande desafios para
os gestores que estão à frente dos processos organizacionais, visto que tais ações e
comportamentos refletem no clima organizacional da empresa. Foram apresentados
os contextos existentes dentro das organizações e como as pessoas respondem a
eles, considerando a negociação e a reciprocidade como fatores fundamentais nas

400  2º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • unitins


Aula 4 • psicologia organizacional

relações interativas. Sabemos que, muitas vezes, o comportamento das pessoas


surpreende; por isso, o estudo do comportamento organizacional é apontado em
três diferentes níveis: o do indivíduo, o do grupo e o do processo organizacional. 

Atividades

1. Sobre o conceito de Comportamento Organizacional (CO), marque a alter-


nativa correta:
a) o estudo do CO busca compreender, essencialmente, as relações entre
grupo-organizacão, desconsiderando a história de vida de cada indi-
víduo que compõe o grupo;
b) o CO refere-se ao estudo de indivíduos e grupos atuando em
organizações;
c) o CO estuda, predominantemente, as relações que afetam indiretamente
o clima psicológico da organização, que não contribui para uma sinergia
da equipe de trabalho, bem como para a adaptação do colaborador.

2. Agora que você já consegue perceber o que é o Comportamento


Organizacional, faça um comentário sobre a importância do estudo do
comportamento organizacional para a melhoria das relações, envolvendo
colaboradores e organização. Após ter feito o comentário por escrito, enca-
minhe, via web-interatividade, suas impressões para compartilhar com os
professores da disciplina.

3. Aponte, a seguir, os vários contextos constituidores da organização.

4. Preencha o quadro abaixo, de acordo com o conteúdo apresentado e espe-


cifique os níveis de estudo do comportamento organizacional com suas
respectivas características:
Níveis Características

Comentário das atividades


Resolvendo as atividades um e dois, você atingiu um dos objetivos propostos:
reconhecer a importância do estudo do comportamento organizacional, pois a
organização é influenciada constantemente pelas pessoas que dela fazem parte.
Então, se na atividade um, marcou a alternativa (b), você respondeu adequada-
mente, visto que o CO tem como finalidade estudar o comportamento dos indívi-
duos e grupos que atuam na organização, com o propósito de compreender as
relações de interação que influenciam fortemente o processo organizacional. E

unitins • ADMINISTRAÇÃO • 2º PERÍODO  401


Aula 4 • psicologia organizacional

percebeu-se que a organização é constituida por infra-estrutura organizacional,


pessoas e processos possivelmente na atividade três, descreveu que o contexto da
organização é variado, e que onde tem pessoas se comportando tanto diretamente
quanto indiretamente, esse torna- se um contexto organizacional, onde ocorrem
interações, que interferem no ambiente da empresa. Enquanto que na atividade
quatro, você apontou os três níveis de estudo do comportamento organizacional,
que são: nível macroorganizacional ou macroperspectiva, que engloba o compor-
tamento organizacional como um todo; nível  mesoorganizacional ou intermediário
que estuda o comportamento das várias equipes que compõem a organização e
o nível microorganizacional ou microperspectiva que estuda o comportamento do
indivíduo quando este trabalha sozinho, significa que compreendeu o conteúdo.

Referências
BERGAMINI, Cecília Whitaker. Psicologia aplicada à administração de empresas:
psicologia do comportamento organizacional. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2005.
BOWDITCH, James L. et al. Elementos de comportamento organizacional. São
Paulo: Pioneira Thompson, 2004.
CHIAVENATO, Idalberto. Comportamento organizacional: a dinâmica do sucesso
das organizações. São Paulo: Pioneira Thompson, 2004.
FIORELLI, José Osmir. Psicologia para administradores. 5. ed. São Paulo: Atlas,
2006.
HERSEY, Paul et al. Psicologia para administradores: a teoria e as técnicas da
liderança situacional. 11. reimp. São Paulo: EPU, 2005.
KANAANE, Roberto. Comportamento humano nas organizações: o homem rumo
ao século XXI. 2. ed. São Paulo: Atlas, 1999.
MAXIMIANI, Antonio Cesar Amaru. Teoria Geral da Administração: da revo-
lução urbana à revolução digital. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2005.
RODRIGUES, Denize Ferreira et al. Aspectos comportamentais da gestão de
pessoas. Rio de Janeiro: FGV, 2003.
WAGNER III, John A. et al. Comportamento organizacional: criando vantagem
competitiva. São Paulo: Saraiva, 2003.

Na próxima aula
Você já sabe o que é motivação? Nossas atitudes são reflexos do nosso
estado motivacional? E nós já nascemos líderes?  Discutir esses questionamentos
é importante quando consideramos que são as pessoas que dão vida a orga-
nização. Então, na próxima aula, você verá como esses fatores influenciam no
comportamento organizacional. Até lá!

402  2º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • unitins


Aula 5 • psicologia organizacional

Aula 5
Motivação, atitudes e liderança:
fatores influenciadores do
comportamento organizacional
Objetivos
Esperamos que, ao final desta aula, você seja capaz de:
• reconhecer a importância da motivação e atitudes para o comporta-
mento humano nas organizações;
• conceituar liderança e identificar o porquê da necessidade de um
líder nas relações interpessoais, no ambiente de trabalho, em grupos e
sociedade.

Pré-requisitos
Para acompanhar esta aula, é importante você ter estudado, criteriosamente,
os princípios da Introdução à Administração, apresentados no primeiro período,
em que foram abordados alguns aspectos dessa temática que iremos trabalhar
nesta aula. Recorra ao material da disciplina Introdução à Administração (primeiro
período) e releia o conteúdo. Como também é importante ter compreendido, em
especial, as aulas três e quatro dessa disciplina, em que foram tratados a trans-
formação do significado do trabalho para o homem e o comportamento organi-
zacional, pois evoluiremos nossos estudos. Esses conhecimentos são fundamentais
para você compreender  como a motivação do indivíduo, suas atitudes, bem como
a capacidade de liderar influenciam o processo organizacional. Vale lembrar que
as motivações internas, ações externas e conhecimentos são necessários, para que
o indivíduo possa desempenhar a sua função com mais entusiasmo e dedicação.

Introdução
Olá, pessoal!
Aqui estamos para dar um grande passo teórico sobre as teorias psicoló-
gicas aplicadas às organizações. Até aqui você estudou sobre a psicologia e
sua evolução, como surgiu a psicologia nas organizações, entre outras teorias
fundamentais para o nosso estudo nesta disciplina.

unitins • ADMINISTRAÇÃO • 2º PERÍODO  403


Aula 5 • psicologia organizacional

Mas, agora, você vai estudar alguns dos aspectos que mais influem nessas
relações no ambiente de trabalho, contribuindo para que seu estabelecimento
seja positivo, e por que, algumas vezes, temos dificuldades em nos relacio-
narmos. Então, diante disso, indagamos a você:
Qual a necessidade de conhecermos os processos motivacionais? E as
atitudes? Já nascemos líderes ou adquirimos essa capacidade conforme
nosso desenvolvimento?
Diante de tantos questionamentos, é importante sabermos que a motivação, as
atitudes dos indivíduos e a capacidade de liderar são temas que atualmente vêm
sendo discutidos em todos os âmbitos organizacionais. Temas fundamentais para
compreendermos o comportamento organizacional, visto que todo comportamento
é motivado, e isso tem influência direta nas ações, atitudes dos indivíduos.
Falar em liderança é falar em grupo, em equipe. E toda organização
é composta de grupos ou, pelo menos, de agrupamentos de pessoas. Para
tanto, é de extrema necessidade que os grupos que compõem as organizações
tenham à sua frente um líder.
Percebem-se, muitas vezes, várias dificuldades de produtividade, de inte-
ração entre colaboradores, de crescimento pessoal e profissional no contexto
empresarial. Isso resulta da falta de compreensão, de reconhecimento dos inte-
resses e necessidades das equipes de colaboradores, o que afeta, diretamente,
o desempenho deles. Então, vamos em frente, aos nossos estudos!

5.1 Fatores influenciadores do comportamento organizacional


Ao nos relacionarmos com o outro, percebemos a gama de fatores que
fazem com que sejamos diferentes um dos outros, e isso interfere nas relações
e interações humanas. Você sabe o que mais diferencia um ser humano um
do outro? Por que irmãos de mesmo pai e mãe apresentam comportamentos
às vezes extremamente diferentes? Por que o colega chega bem humorado ao
trabalho em um determinado dia e, no outro, está extremamente mal humorado?
Será que essas ações e reações não são resultados das influências sociais e
ambientais, além das hereditárias, que permeiam a vida do ser humano?
Tanto a condição filogenética quanto o meio ambiente influenciam decisi-
vamente no comportamento das pessoas. O comportamento é causado por estí-
mulos internos ou externos.
Os estímulos internos são provenientes das condições fisiológicas. Outros
fatores que também nos tornam diferentes e que interferem no comportamento
humano são a questão do gênero, a idade, a maturação neurofisiológica, bem
como a capacidade intelecual-afetivo-emocional. Todos esses traços e fatores,
em contato com o ambiente externo, nos definem como ser humano individual,
com as suas particularidades específicas.

404  2º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • unitins


Aula 5 • psicologia organizacional

Segundo Bock (1999), os fatores biológicos permitem ao homem apropriar-se


da cultura e formar as capacidades e funções psíquicas, desenvolvendo aptidões
que se formariam a partir do contato com o mundo dos objetos e com fenômenos
da realidade, resultante da experiência sócio-histórica da humanidade.
Além disso, os estímulos externos que provém das influencias sociais e
ambientais também manifestam no indivíduo, ao se relacionar com as pessoas,
interferindo de forma positiva e negativa nas interações humanas. No contexto
familiar, aprendemos e adquirimos certos valores, atitudes que permeiam nossa
vida inteira. Isso faz com que surjam inúmeras formas de estruturas familiares,
assim como uma infinidade de tipos de cultura e padrões de comportamentos
que vão se produzindo, ganhando importância nos comportamentos humanos.
Essas diversidades culturais produzem diferentes tipos de comportamentos
no indivíduo para que ele consiga satisfazer suas necessidades.
Isso faz com que diversos conceitos sociais e psicológicos, que são constitu-
ídos por uma gama de significados produzem atitudes manifestadas por compor-
tamentos que nos diferenciam. Dessa forma, os diversos grupos humanos vão
vivendo, resolvendo seus conflitos ao longo da sua história de vida pessoal
e profissional, de acordo com a cultura e o meio no qual está inserido, o que
significa diferentes comportamentos de indivíduo para indivíduo, mas tudo isso
contribui para a sua adaptação em diversos contextos, em grupos variados (de
família, amigos, de trabalhos, entre outros).
Tudo isso faz com que os indivíduos sejam diferentes quanto à sua percepção,
autoconhecimento, necessidades, motivação, atitudes, comunicação, fatores que
influem diretamente no desenvolvimento das relações humanas. Sobre alguns desses
fatores estudaremos, nessa aula, de forma mais específica, como a motivação, as
atitudes e o comportamento de liderar, que têm forte influência no comportamento
de um colaborador no ambiente organizacional. Então, vamos conhecer cada um
desses fatores de forma específica. Vamos iniciar pela motivação humana.

5.1.1 Motivação humana


As pessoas são consideradas o capital intelectual da organização. Então, ulti-
mamente, com as transformações ocorridas no mundo do trabalho, vem sendo reco-
nhecidas como elementos humanos fundamentais nas organizações, como já visto
e estudado na aula três. Diante de tal premissa, devemos saber que toda conduta
humana pressupõe um estímulo, que pode nos levar a fazer algo com prazer ou
não e que o comportamento humano é produzido por alguma coisa que o motiva.
Vários autores descrevem o tema motivação, em busca de explicações para
alguns dos mais intricados mistérios da existência humana – suas próprias ações,
que influenciam no ambiente no qual estão inseridas.
Você, como profissional, que certamente já convive e que conviverá com muitas
pessoas em sua volta, no ambiente de trabalho, deve procurar entender o compor-

unitins • ADMINISTRAÇÃO • 2º PERÍODO  405


Aula 5 • psicologia organizacional

tamento dessas pessoas, até mesmo para


desenvolver a capacidade de prever, modi-
ficar e, até mesmo, controlar o comporta-
mento futuro, no dia-a-dia de trabalho. Para
isso, é preciso saber responder o seguinte
questionamento: o que é motivação?
O comportamento humano se acha espe-
cialmente orientado para a busca de prazer,
de satisfação, sem dor nem sofrimento; diri-
gido, basicamente, para a realização de
objetivos. Assim, podemos definir o termo
motivação como o impulso de uma pessoa
para agir, porque ela assim o necessita e
deseja. Se as pessoas forem obrigadas a
realizar determinada atividade, estão mera-
mente reagindo à pressão, por obrigação. Agem porque julgam que têm de fazê-lo.
Agora, caso se sintam motivadas, fazem a escolha positiva para realizar alguma
coisa, porque vêem esse ato como significante para elas, tornando-o prazeroso.
Não há como compreender o comportamento das pessoas, sem um mínimo
conhecimento da motivação desse comportamento, visto que as ações humanas
estão vinculados aos objetivos de vida. Então, motivo é tudo aquilo que impul-
siona a pessoa a agir de determinada forma ou, pelo menos, que dá origem
a uma propensão a um comportamento específico. Hersey (2005, p. 18) nos
revela que esses motivos “são os porquês do comportamento”. Esse impulso
à ação pode ser provocado por um estímulo provindo do ambiente externo e
pode, também, ser gerado internamente nos processos mentais do indivíduo,
conscientes ou subconscientes, por envolver suas necessidades e desejos.

Fonte: Adaptado de Hersey, 2005, p. 26.

Neste aspecto, a motivação está relacionada ao sistema de cognição do indi-


víduo. O comportamento motivado é determinado por uma meta que este indivíduo
quer alcançar. Para isso ele gasta energia, a fim de realizar a atividade, associada
à intensidade do desejo e/ou necessidade perante a meta estabelecida por ele.
As pessoas são diferentes no que diz respeito à motivação. Suas necessi-
dades diferem-se de indivíduo para indivíduo, produzindo  padrões de compor-
tamento diversificados: os valores, a cultura, as crenças também são diferentes.

406  2º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • unitins


Aula 5 • psicologia organizacional

Assim, as habilidades, bem como as capacidades, os recursos que o indivíduo


utiliza no seu dia-a-dia para realizar seus objetivos também são diversificados.
E estes variam no mesmo indivíduo, conforme o tempo. Daí a importância de se
conhecer as necessidades humanas como fonte de motivação do indivíduo.
Um dos teóricos que mais contribuiram para que pudéssemos compreender
a intensidade da necessidade humana, foi Abraham Maslow, com a teoria
denominada de a hierarquia das necessidades de Maslow, em que considera
a existência de cinco sistemas respon-
sáveis por grande parte do comporta-
mento dos indivíduos. Essa teoria (ou
esquema), foi por ele explicada por
uma escala de hierarquia, iniciada
pelas primeiras necessidades humanas
de sobrevivência e, no topo, as de auto-
realização. Vejamos a figura ao lado:
Assim, é possível perceber que o
indivíduo nasce com certa bagagem
de necessidades fisiológicas, que são
necessidades inatas ou hereditárias, de Fonte: Adaptado de Zanelli e outros (2002).
subsistência, segundo Hersey (2005).
De início, seu comportamento é exclusivamente voltado para a satisfação cíclica
dessas necessidades, como fome, sede, ciclo sono-atividade, sexo, etc.
Com a satisfação das necessidades fisiológicas alcançada, surgem as neces-
sidades de segurança, voltadas para a proteção contra o perigo, contra as
ameaças. As necessidades fisiológicas e as de segurança constituem as necessi-
dades primárias do indivíduo.
Uma vez que o indivíduo satisfaz suas necessidades fisiológicas e de segu-
rança, aparecem, de forma lenta e gradativa, as necessidades mais elevadas
(que são as secundárias): sociais, de estima e de auto-realização. Os níveis mais
elevados de necessidade somente surgem quando os níveis mais baixos estão
relativamente controlados e alcançados pelo indivíduo.
Assim, a necessidade de realização geralmente faz com que o indivíduo
desenvolva comportamentos específicos, conforme padrões de excelência, procu-
rando desenvolver seu potencial, sempre buscando fazer o melhor possível e com
grande desejo de sucesso, porque julga importante, visto que isso está relacionado,
segundo Hersey (2005), em especial, à necessidade de se sentir competente.
A motivação é extremamente importante para o indivíduo, por afetar direta-
mente sua auto-estima:  as pessoas que tem um auto-conceito positivo são mais
produtivas, criativas, possuem mais facilidade para estabelecer relações inter-
pessoais positivas, nos mais diversos relacionamentos que mantêm com o outro.
Como também, as pessoas que apresentam uma auto-estima elevada,
segundo Rodrigues (2003, p. 100),

unitins • ADMINISTRAÇÃO • 2º PERÍODO  407


Aula 5 • psicologia organizacional

[...] envolvem-se mais na solução de problemas, aproveitam as


oportunidades, enfrentam desafios e têm maior facilidade para
trabalhar em equipe. Assim, convém manter a auto-estima das
pessoas e procurar não ferir-lhes o amor-próprio, principalmente
na discussão de problemas [...].

A segurança psicológica contribui para que a pessoas se desenvolvam e faz


com elas se sinta mais estimadas e aceitas.
Os fatores considerados como motivadores psicológicos, como ser simpá-
tico, fazer elogios verdadeiros, entre outros, contribuem para que as necessi-
dades humanas sejam satisfeitas. O colaborador que possui capacidades para
trabalhar com esses fatores no seu de trabalho tende a ser mais requisitado pelos
colegas, tem mais possibilidade de ser promovido profissionalmente, por sua
postura de responsabilidade, humor, iniciativa e compromisso ético.
Além da motivação, existe outra variável ou fator de grande importância
para ser discutido nessa aula, que afeta, demasiadamente, as relações como a
atitude do ser humano, que veremos a seguir.

5.1.2 Atitudes
Geralmente, para que as pessoas se sintam motivadas ou despertadas por
algo que gera prazer, é necessário modificar alguma atitude comportamental
própria, em relação ao contexto ou situação, em que vive e que, por algum
motivo, lhe causa insatisfação ou desprazer.
Então, as atitudes do indivíduo em relação aos objetos do meio social estão
relacionadas com a sua experiência de vida, crenças, valores, sentimentos,
cultura, pensamentos, na medida em que vai organizando as informações adqui-
ridas. Dessa forma, segundo Bock (1999), o indivíduo vai desenvolvendo uma
predisposição para agir com forte carga afetiva, que o predispõe para uma
determinada ação, nomeadas de atitudes.
O indivíduo, ao assumir uma atitude, encontra-se diante de um conjunto de
valores que o influenciaram. Segundo Kanaane (1999), ele se agrupa conforme
as atitudes semelhantes em determinadas situações, com o objetivo de amenizar
fatores discordantes que se fazem presentes, quando se depara com pessoas
que apresentam atitudes diferentes das suas.
Kanaane (1999, p. 79) nos ensina que atitude é “uma reação avaliativa,
aprendida e consolidada no decorrer da experiência de vida do indivíduo”, que
tem componentes básicos presentes em sua formação:
• afetivo-emocional: voltados aos sentimentos ou a reações emotivas que
o indivíduo apresenta em determinadas situações;
• cognitivo: são as crenças individuais, os conhecimentos e os valores
relacionados à situação, objeto ou pessoa;

408  2º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • unitins


Aula 5 • psicologia organizacional

• comportamental: são as ações favoráveis ou desfavoráveis, em relação


à situação vivenciada;
• volitivo: constitui as motivações, desejos, expectativas e necessidades
tanto inatas como adquiridas.
As atitudes humanas são, portanto, tendências às reações; funcionam como
justificativa do comportamento o humano; refletem o como e o porquê do compor-
tamento, assim como a motivação.
As atitudes humanas podem permanecer estáveis durante um período
longo ou, ainda, durante toda a vida, pois os valores e as crenças que estão
subjacentes às atitudes tendem a se fixar. Todavia, essas mudanças vêm
sendo afloradas nas relações sociais, e em particular no contexto de trabalho,
conforme Kanaane (1999).
Nesse sentido, quando adquirimos informações novas, surgem novos senti-
mentos, afetos, comportamentos, e isso torna o indivíduo um ser imprevisível. Tudo
isso pode refletir em uma possível mudança de atitude. Por isso, não podemos
afirmar que conhecemos o outro em sua totalidade, visto que o comportamento
humano é resultante da situação vivenciada no momento em que a experiência
ocorre, o que dificulta o relacionamento humano e o reconhecimento das necessi-
dades humanas.
Para que possamos compreender isso melhor,
vai aí um exemplo para você: quando um cola-
borador percebe que estabelecer um compor-
tamento respeitoso em relação ao seu gerente
vai fazer bem para a sua relação no ambiente
de trabalho, o mesmo questiona a possibilidade
de mudar o seu comportamento para com o seu
gerente para evitar possíveis conflitos interpessoas.
Nesse caso, existiu uma tendência de mudança
de atitude em relação ao gerente que, antes, era
considerado antipático, frio, mandão, a fim de evitar conflitos. Possivelmente, esse
colaborador que não gostava do gerente, buscou descobrir características positivas
nele que favoreceriam uma aproximação e mudança de atitude, antes negativa,
passando para uma atitude positiva. Então, o colaborador, diante da experiência
vivenciada em seu trabalho com o seu gerente, muda de atitude, o que certamente
afetaria também sua motivação com relação ao trabalho.
Portanto, buscar compreender as atitudes humanas proporciona ao indivíduo
entender melhor as relações sociais das pessoas e, por extensão, o comportamento
dos colaboradores no ambiente de trabalho.  As atitudes do colaborador é reflexo
nos seus valores, expectativas e necessidades do sentido que atribui ao trabalho.
Para enterdermos melhor suas atitudes, é necessário identificar quais dos compo-
nentes (afetivo, volitivo, cognitivo) estão presentes em suas ações, como também o

unitins • ADMINISTRAÇÃO • 2º PERÍODO  409


Aula 5 • psicologia organizacional

porquê dos comportamentos apresentados por eles, para identificarmos os vínculos


que este mantém com o trabalho, que variáveis internas que o levam a agir. Essa
compreensão poderá contribuir na definição de estratégias para motivar a equipe.
Segundo Kanaane (1999), a apreensão do clima organizacional contribuirá,
em grande escala, para a implantação de programas sociais, que poderão cola-
borar com a integração do trabalhador no ambiente profissional, tornando as
relações humanas mais fraternas, cooperativas e satisfatórias.
Além disso, as atitudes motivadas geram crescimento profissional, pessoal,
afetando a auto-estima, o comprometimento do trabalhador com o seu trabalho,
adquirindo maiores responsabilidades para si, que afetarão a qualidade do seu
trabalho e da sua vida. Para isso, é necessário não só o corpo administrativo da
organização, trabalhar para esse fim, mas toda a equipe em prol de satisfazer
tanto as necessidades individuais do colaborador como as organizacionais.
E a liderança, como pode influenciar no comportamento organizacional?
Veremos isso a seguir.

5.1.3 Liderança
Existem várias pesquisas e estudos sobre liderança. Estudos que, algumas
vezes, têm divergências, por isso há uma enorme diversidade de abordagens a
respeito de liderança, demonstrando assim a relevância do assunto.
Mas você sabe o que é liderança? Você se considera um líder? É preciso que
domine esses conhecimentos, para que possa atuar melhor como profissional e
conhecer melhor as pessoas que trabalham com você. Até mesmo porque o compor-
tamento de liderar não diz respeito, por exemplo, a uma relação de gerente e cola-
borador, mas a qualquer tipo de interação entre pessoas. Então vamos em frente!
Geralmente, a liderança pode ser considerada como um processo de dirigir
o comportamento das pessoas rumo ao alcance de alguns objetivos. Dirigir,
nesse caso, significa levar as pessoas a agir em uma certa maneira ou a seguir
em um curso particular de ação. Também pode ser considerada como uma tenta-
tiva, no âmbito da esfera interpessoal, dirigida por um processo de comuni-
cação, para a consecução de alguma meta ou de algumas metas. Os elementos
que caracterizam a liderança são, portanto, quatro: a influência, a situação, o
processo de comunicação e os objetivos a alcançar.
Tudo isso reflete na habilidade de influenciar pessoas para o alcance de
objetivos de forma voluntária. Essas definições enfatizam que o líder está envol-
vido com outras pessoas para alcançar objetivos. A liderança é recíproca e
ocorre entre pessoas, sendo uma atividade focada em pessoas e não em ativi-
dades burocráticas ou que visem, exclusivamente, a resolver problemas.
Num sentido mais amplo, devemos lembrar, também, que liderança envolve
o uso do poder e política.

410  2º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • unitins


Aula 5 • psicologia organizacional

Saiba mais

Assim, o líder tem basicamente o papel de introduzir força, vigor e rumo defi-
nido nas organizações. Para que os trabalhos de várias pessoas possam atingir
determinado objetivo, em uma certa sincronia, é necessário que haja liderança.
Mas não significa, em uma relação direta, administrar, uma vez que busca inovar,
desenvolver e focalizar as pessoas e não somente os processos.
Por meio da liderança, uma pessoa influencia outras
pessoas em função dos relacionamentos
existentes. Os líderes possuem tipos de
poderes pessoais que vão influenciar em
sua forma de agir junto ao grupo, volun-
tariamente, como vimos antes.
Outro fator que precisamos ques-
tionar em relação a esse assunto é se
existe uma relação da liderança com os
traços de personalidade. O que pensa
sobre isso?
Os primeiros estudos sobre a liderança começaram com a identificação e locali-
zação de traços de personalidade típicos do líder. A inadequação teórica, a dificul-
dade na mensuração dos traços e o não-reconhecimento de diferenças nas situações
fizeram com que a teoria dos traços caísse em descrédito. Atualmente, considera-se
que certos traços de personalidade, em combinação com outros aspectos da lide-
rança, como comportamento, atitudes, assertividade, formam a base das teorias.
A ênfase atual mudou, em grande parte, dos traços para a identificação
de comportamentos de liderança. Dentro desta visão, o sucesso da liderança
depende de comportamentos apropriados, habilidades e ações e não de traços
pessoais. Isso é muito significativo, uma vez que comportamentos podem ser
aprendidos e modificados, enquanto que traços são relativamente rígidos. Os
três diferentes tipos de habilidades que os líderes utilizam são:

unitins • ADMINISTRAÇÃO • 2º PERÍODO  411


Aula 5 • psicologia organizacional

• técnica, que se refere ao conhecimento da pessoa e à habilidade em


qualquer tipo de processo ou técnica;
• humana, que é a habilidade de trabalhar efetivamente com pessoas e
desenvolver equipes de trabalho. Nenhum líder, em qualquer nível orga-
nizacional, pode escapar dos requisitos de habilidade humana eficaz;
• conceitual, que é a habilidade de pensar em termos de modelos, estru-
turas e amplas interligações, tais como os planos de longo prazo.
Assim, as habilidades conceituais lidam com idéias, enquanto que as habili-
dades humanas dizem respeito às pessoas, e a habilidade técnica envolve coisas.
Embora tais habilidades sejam interligadas na prática, podem ser conside-
radas separadamente.
Diante disso, é bom salientar que, hoje, alguns traços (mas não traços
isolados, como eram considerados anteriormente) são considerados necessários
ao líder, devido, principalmente, às atividades que irá desenvolver.
Assim, o líder deve ser assimilador, inovador, saber compartilhar, estar
atento e poder, com as outras pessoas, ser responsável, acessível e abordável,
conduzir redes, experiente em muitas áreas, ter visão global, apoiar a colabo-
ração, conhecer sobre as pessoas que estão dentro e fora da organização.

Pensando sobre o assunto

Além do citado anteriormente em Pensando sobre o assunto, é importante


ressaltarmos a você, acadêmico: ainda nas principais teorias da liderança,
encontramos estilos que os líderes possuem ao influenciar pessoas, são eles:
• liderança autocrática, em que o líder fixa diretrizes sem qualquer parti-
cipação do grupo e impõe as ordens para a execução das tarefas.
Está relacionada, de forma específica, com a liderança centrada na
produção;
• liderança liberal, em que o líder se omite totalmente e dá completa liber-
dade para as decisões individuais ou grupais;
• liderança democrática, em que o líder debate com os grupos as dire-
trizes e decisões, fazendo com que os grupos esbocem as providências e

412  2º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • unitins


Aula 5 • psicologia organizacional

técnicas para atingir os objetivos. Está voltada para a liderança centrada


no colaborador, em que o foco é para as interações humanas.
Agora, pergunto a você: qual desses estilos de liderança é o mais aplicado? 
Qual deles é o melhor na prática organizacional?
Para a teoria dos enfoques contingenciais sobre o estilo de liderança, nem
sempre o estilo de liderança positivo, participativo e considerador, é o melhor a
ser utilizado. Às vezes, existem exceções e a principal necessidade a ser aten-
dida pelo líder é identificar quando um estilo diferente deve ser utilizado.
Numerosos modelos foram desenvolvidos e explicam essas exceções: são
os chamados enfoques contingenciais. Esses enfoques afirmam que o estilo
de liderança mais apropriado depende da análise da natureza  da situação
enfrentada pelo líder. Os fatores-chave na situação necessitam ser identifi-
cados primeiro.
Nessa perspectiva, podemos destacar dois modelos de teorias. Um modelo
sugere que o estilo de liderança mais eficaz depende se a situação, como um
todo, for considerada como favorável, desfavorável ou em um estágio interme-
diário de favorabilidade para o líder. Como a situação varia, os requisitos da
liderança também variam. A eficiência de um líder é determinada pela interação
da orientação do colaborador com três variáveis adicionais que dizem respeito
aos subordinados, à atividade e à organização. Elas são, portanto, as relações
do líder como membro, a estrutura da tarefa e a posição de poder do líder. A
partir deste modelo, pode-se pensar que o líder deve sempre examinar a situação
em que estão as pessoas, as tarefas e a organização; deve ser flexível quanto
ao uso de diferentes habilidades dentro de um mesmo estilo; e deve considerar
os elementos que podem modificar os seus cargos para obter um melhor uso dos
seus estilos preferidos.
Outro modelo situacional sugere que o fator mais importante que afeta a
seleção de estilo do líder é o nível de desenvolvimento (maturidade) de um subor-
dinado. Nível de desenvolvimento é a combinação da competência e motivação
do colaborador para o desempenho de uma tarefa específica. A competência
para desenvolver uma dada tarefa e o comprometimento para fazê-la podem
variar entre os colaboradores e, assim, os níveis de desenvolvimento requerem
diferentes respostas por parte dos líderes.
Diante do exposto nessa aula, podemos perceber o quanto nosso comporta-
mento é influenciado por certos fatores. Percebemos que a motivação, as atitudes
e o comportamento de liderar fazem parte do dia-a-dia da organização, por
isso precisamos compreender cada um deles, com as suas particularidades, não
deixando de associá-los à prática profissional do indivíduo e ao ambiente orga-
nizacional. Muitas vezes, a falta de conhecimento desta temática pode provocar
situações de adoecimento no ambiente de trabalho, assunto esse que iremos
abordar na nossa próxima aula. Até lá!

unitins • ADMINISTRAÇÃO • 2º PERÍODO  413


Aula 5 • psicologia organizacional

Síntese da aula
Estudamos, no decorrer da aula, que são vários os fatores que influenciam
no comportamento organizacional, entre eles, a motivação, atitude e liderança.
A motivação torna o trabalho prazeroso, mais dinâmico e as satisfações serão
refletidas nas atitudes do colaborador, assim como na sua vida. Vimos também,
que estudos sobre a motivação humana  e atitudes para os profissionais são uma
necessidade para o sucesso de todos os envolvidos, em especial nos ambientes
organizacionais. As pessoas são diferentes no que diz respeito à motivação: as
necessidades variam de indivíduo para indivíduo. As atitudes do colaborador refli-
tirão nos valores, expectativas e necessidades que atribui ao trabalho. Assim,
podemos dizer que a motivação é a energia que promove a satisfação social e
profissional. Além disso, estudamos o que é liderança, suas características e o
que está relacionado a esse assunto. Enfatizamos, também, que existem modos
de ação num líder que podemos dizer que é a sua forma de agir, mas outras
que são desenvolvidas diante das relações que surgem na convivência com o
outro, dependendo de cada situação específica. E, nesse sentido, temos que estar
atentos a esses fatores que são de extrema importância para a compreensão do
comportamento organizacional.

Atividades

1. Leia as alternativas abaixo e marque a que expressa a importância do estudo


da motivação para o comportamento humano nas organizações.
a) Compreender os fatores motivacionais, e as necessidades dos colabora-
dores que influenciam no desempenho e no ambiente organizacional, no
intuito de desenvolver a capacidade de prever, modificar e até mesmo
controlar o comportamento futuro dos mesmos.
b) Conhecer somente os objetivos do colaborador.
c) Entender especificadamente os objetivos organizacionais.
d) Reconhecer os estímulos internos e externos que afetam cada colabo-
rador, para que a gestão possa conhecer detalhadamente a vida pessoal
do mesmo.

2. Especifique, abaixo, em que aspectos você considera importante o estudo das


atitudes humanas para as relações no ambiente organizacional? Descreva
suas impressões em cinco linhas e, posteriormente, compartilhe suas percep-
ções, no ambiente virtual de aprendizagem, pela web-interatividade, para
discussões a respeito do questionamento.

3. Sobre o conceito de liderança, é correto afirmar que:


a) é um processo de manipular as pessoas para atingir os objetivos
organizacionais;

414  2º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • unitins


Aula 5 • psicologia organizacional

b) é um processo de manipular as pessoas para atingir os objetivos pessoais


do líder;
c) é um processo de dirigir pessoas, ou seja, levá-las a agir obrigatoria-
mente de uma certa maneira para realizar uma atividade, de acordo
com os interesses organizacionais;
d) é a habilidade de influenciar pessoas para o alcance de objetivos de
forma voluntária.

4. Quando tratamos sobre a liderança, discutimos a importância do líder se


adaptar suas ações às situações que se apresentam no momento. Por isso,
não há uma melhor ou pior forma de liderança. É preciso considerar a
importância da análise da natureza da situação enfrentada pelo líder. Diante
disso, como um líder deveria agir na sua gestão, quando se encontra, por
exemplo, em uma situação de caos que, atualmente, vivem as companhias
de aviação brasileira? Pesquise, em alguma mídia, reportagens sobre esse
problema e veja se encontra alguma situação em que a liderança de uma
organização está passando por uma adaptação repentina, diante desta situ-
ação conflituosa, e faça uma reflexão, buscando compreender o porquê da
necessidade de um líder nas relações interpessoais, no ambiente de trabalho,
em grupos e sociedade.

Comentário das atividades


A partir da execução dessas atividades, você terá a oportunidade de
compreender a importância do estudo da motivação, das atitudes e da lide-
rança para as relações humanas, visto que nosso estado de ânimo influi em
nossas atitudes, como também no comportamento de liderar, e considerar isso
no contexto organizacional é de extrema importância. Assim, a alternativa
correta que correspondente à atividade um é a letra (a), visto que compreender
os fatores motivacionais, bem como as necessidades dos colaboradores, que
influenciam no desempenho e no ambiente organizacional, no intuito de desen-
volver a capacidade de prever, modificar e até mesmo controlar o comporta-
mento futuro dos mesmos, é uma das justificativas de se estudar sobre moti-
vação. As letras (b), (c), e (d) são incorretas, pois  conhecer apenas os objetivos
do colaborador ou entender especificadamente os objetivos organizacionais
ou ainda reconhecer os estímulos internos e externos que afetam cada colabo-
rador, para que a gestão possa conhecer detalhadamente a vida pessoal do
mesmo não é objeto de estudo da motivação, considerando esses fatores de
forma isolada. Devemos lembrar que, em nossas análises, precisamos consi-
derar os objetivos organizacionais, bem como os individuais. Além disso, não
é interesse conhecer detalhadamente a vida do colega por curiosidade, mas os
fatores que interferem na sua atuação profissional.

unitins • ADMINISTRAÇÃO • 2º PERÍODO  415


Aula 5 • psicologia organizacional

Na atividade dois, ao descrever as suas considerações e compartilhá-las com


os colegas pelo ambiente virtual de aprendizagem, irá perceber que as atitudes
humanas funcionam como justificativa do comportamento o humano e isso reflete
o como, o porquê do comportamento, assim como a motivação, apontado ante-
riormente. Já na atividade três e quatro ao realizá-la você conseguiu atingir um
dos objetivos propostos. Se marcou a alternativa (d) na atividade três, compre-
endeu o conceito de liderança, pois o comportamento de liderar está relacionado
diretamente com a capacidade de influenciar pessoas positivamente, para que
atinjam objetivos de forma voluntária. Assim, a ação de manipular, obrigar não
tem relação alguma com o comportamento de liderar. Isso torna as alternativas
(a), (b) e (c) incorretas.
Ao responder à atividade quatro, quanto mais informações você conseguir
sobre o problema, mais profunda será sua reflexão e possibilidade de entender a
necessidade de adaptação pela qual a empresa, sua liderança e colaboradores
deverão passar, principalmente quando se trata de uma situação problema.

Referências
BERGAMINI, Cecília Whitaker. Psicologia aplicada à administração de empresas:
psicologia do comportamento organizacional. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2005.
BOCK, Ana Mercês Bahia et al. Psicologias: uma introdução ao estudo de psico-
logia. São Paulo: Saraiva, 1999.
HERSEY, Paul et al. Psicologia para administradores: a teoria e as técnicas da
liderança situacional. 11º reimpressão. São Paulo: EPU, 2005.
KANAANE, Roberto. Comportamento humano nas organizações: o homem rumo
ao século XXI. 2. ed. São Paulo: Atlas, 1999.
RODRIGUES, Denize Ferreira et al. Aspectos comportamentais da gestão de
pessoas. Rio de Janeiro: FGV, 2003.
VERGARA, Sylvia Constant. Gestão de pessoas. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2006.
ZANELLI, José Carlos. O psicólogo nas organizações de trabalho. Porto Alegre:
Artmed, 2002.

Na próxima aula
Você sabe o que pode gerar uma situação conflituosa no ambiente organi-
zacional? Já ouviu falar sobre Estresse, Síndrome de Burnout e LER/DORT? No
dia-a-dia organizacional, temos que buscar formas, estratégias para resolver
todos os problemas de ordem emocional que possam provocar sérios conflitos
para a organização, principalmente para as pessoas que nela se encontram.
Então, na próxima aula, você irá conhecer teoricamente sobre algumas doenças
do trabalho, como também compreender a natureza desses conflitos. Até lá!

416  2º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • unitins


Aula 6 • psicologia organizacional

Aula 6
O adoecer no trabalho e os
conflitos organizacionais

Objetivos
Esperamos que, ao final desta aula, você seja capaz de:
• identificar o estresse ocupacional;
• compreender a Síndrome de Burnout e diferenciá-la de algumas doenças
ocupacionais, como a LER/DORT.

Pré-requisitos
Para acompanhar essa aula, você precisa ter algumas leituras referentes às
doenças ocupacionais, isto é, as doenças que ocorrem dentro do espaço orga-
nizacional. Doenças essas que assolam a maioria das pessoas que estão frente
ao mercado de trabalho e que, muitas vezes, apresentam sintomas diretos e não
sabem o que ocorre com seu organismo. Para tanto, você pode acessar ao sítio:
<http://www.portal.saúde.gov.br>. Esses conhecimentos são necessários, tendo
em vista as doenças provenientes da relação de trabalho.

Introdução
Nossa aula trata do adoecimento no trabalho, mas não daquele adoeci-
mento causado por agentes biológicos (bactérias, vírus), químicos (solventes) ou
físicos (má iluminação ou mobiliário inadequado). Foram escolhidos três temas
que tratam do adoecimento psicossomático.
O primeiro tema trata de estresse que não é, em si, o indicativo de adoeci-
mento. No entanto, a exposição prolongada a situações estressantes pode gerar
o desenvolvimento de várias enfermidades. Devemos lembrar, ainda, que o
estresse não é uma condição inerente ao trabalho e, sim, à vida. Contudo, como
nossa sociedade se estruturou de forma a passarmos grande parte de nossas
vidas no ambiente de trabalho, é importante considerarmos, em um tópico espe-
cial, o estresse no trabalho.
Assemelhando-se ao estresse, porém com características mais profundas,
temos a Síndrome de Burnout. Doença de cunho organizacional, refere-se àquele

unitins • ADMINISTRAÇÃO • 2º PERÍODO  417


Aula 6 • psicologia organizacional

que chegou ao seu limite por falta de energia, não tendo mais condições de
desempenho físico ou mental. Veremos suas diferentes perspectivas teóricas, bem
como sintomas e algumas orientações em como detectá-la.
Falaremos, também, nessa aula, sobre outra doença ocupacional, chamada
LER/DORT que se apresenta como uma sobrecarga músculo-esquelética e mental.
Essa doença está relacionada com fatores ergonômicos, organizacionais, psicos-
sociais e individuais. Essa síndrome deve ser vista e tratada como intervenção de
estratégia organizacional.
Essas doenças, que afetam o mundo do trabalho, mudam a forma de rela-
cionamento entre as pessoas. Cada indivíduo passará a ter uma atitude frente
aos problemas que aparecem no cotidiano laboral. Quando o portador não
possui equilíbrio necessário para a resolução dos mesmos, é comum desen-
volver conflitos com as pessoas com as quais convive na organização, devido
sua instabilidade emocional causada pela doença. Sobre isso, trataremos ao
final desta aula.

6.1 Estresse
O estresse foi descrito como alterações fisiológicas que se processam no
organismo, quando este se encontra em situação que requeira adaptação.
Repetindo, a qualquer situação que requeira adaptação. Note que não quer
dizer que necessite ser descrita como uma situação ruim. Ele também aparece
quando estamos motivados, energizados, fazendo várias coisas ao mesmo tempo.
É por isso que, às vezes, lemos notícias de pessoas narrando que desenvolveram
um câncer no período mais feliz de suas vidas. Apesar de ser um momento de
grande felicidade também, exigiu uma grande adaptação ou alto estresse.

Pensando sobre o assunto

Pesquisas recentes têm mostrado que os agentes estressores negativos da vida


têm os maiores efeitos adversos à saúde, principalmente se forem inesperados
e incontroláveis. Essas pesquisas são consideradas um marco desse campo de
estudo, tanto pela descrição da Síndrome de Adaptação Geral como por apontar
as principais ocorrências orgânicas que a exposição a estressores leva: aumento
das glândulas supra-renais, úlceras no estômago, perda de peso, alteração do
timo e das glândulas linfáticas (principais componentes do sistema imunológico).

418  2º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • unitins


Aula 6 • psicologia organizacional

Lembre-se de que sempre estamos em algum estado de estresse: agradável,


desagradável, crônico ou agudo. Sua ausência indicaria a morte.
No estudo desse tema, vamos falar sempre dos efeitos prejudiciais do estresse,
mesmo sabendo que ele pode ter um lado positivo.

6.1.1 Fontes de estresse


Todos nós já descrevemos vários fatores estressores em nossas conversas
diárias. São aquelas queixas tão comuns de nossas conversas habituais. Não
é raro ouvirmos dos amigos ou nós mesmos dizermos que estamos estudando
demais, trabalhando demais, que o trânsito está cada vez pior, que está faltando
dinheiro no fim do mês, que não conseguimos
atender às exigências do trabalho ou de um
determinado relacionamento, ou que o chefe
vive estressado e não pára de solicitar novos
relatórios.
Os estressores podem vir através de grandes
mudanças na vida, como o falecimento de uma
pessoa de grande valor para sua vida, o casa-
mento ou o divórcio, a mudança de cidade ou de
emprego, o nascimento de um filho(a). Também pode
aparecer nas coisas do cotidiano, como quando o
garçom erra o seu pedido, o cabeleireiro
estraga seu cabelo, quando você chega no
seu carro (carregando várias compras) e o
encontra com o pneu furado. Ao final de um
dia cheio de pequenas chateações, uma pessoa pode sentir-se esgotada.
As grandes mudanças podem ser comparadas a uma onda grande, que
muda tudo imediatamente, mas cujos efeitos vão se diluindo com o passar do
tempo. As pequenas chateações são cumulativas e contribuem para piorar o
estresse causado por fatores mais significativos da vida.

6.1.2 Como o corpo responde aos fatores estressores?


Primeiramente, é importante ressaltar que nosso organismo adaptou-se a
condições estressoras quando ainda vivíamos em cavernas. Apesar de todas as
mudanças em nosso estilo de vida, elas ainda não foram capazes de alterar o
nosso funcionamento biológico. Assim, nossas respostas de adaptação ainda
seguem um padrão de luta-fuga, como o de qualquer outro animal.
Ou seja, quando habitávamos as cavernas e tínhamos que caçar para nos
mantermos vivos, se nos deparássemos com um animal muito maior do que
aquele que pretendíamos, só nos restava lutar ou fugir. Tal decisão considerava
vários fatores: o tamanho do animal, nossa força física, se tínhamos em mãos

unitins • ADMINISTRAÇÃO • 2º PERÍODO  419


Aula 6 • psicologia organizacional

algum instrumento, as condições geográficas da região, entre outros. O corpo


se preparava ou para a luta física ou para uma fuga desenfreada. O corpo
deveria, então, evitar que existissem sangramentos desnecessários, que a visão
melhorasse, que a musculatura respondesse com força, alteração no batimento
cardíaco, na pressão, na respiração, na produção de vários hormônios, etc.
Os eventos causadores de estresse mudaram, mas as respostas fisiológicas
continuam as mesmas. Hoje, apesar dessas respostas aparecerem diante dos
fatores estressores, somos ensinados a responder de forma racional e social-
mente aceita. É assim que o estresse acaba por prejudicar a saúde, pois não há
resolução física para o que o corpo ofereceu (vários tipos de secreções glandu-
lares, etc). Com o passar do tempo, a exposição continuada a fatores estressores
que geram toda essa alteração orgânica, pode levar ao desenvolvimento de
várias doenças.

6.1.3 Estresse e doença


Selye descreveu os fatores estressores, as alterações fisiológicas pelas quais
o corpo passa durante tais exposições e como se dá a adaptação do organismo,
ao longo desse tempo de exposição. A esse conjunto, ele chamou de Síndrome
de Adaptação Geral (SAG). A SAG é composta de três fases:
1. Reação de alerta: é a primeira fase da exposição. Nela, o organismo
ativa o sistema nervoso simpático (todas as respostas automáticas
do corpo) e está pronto para enfrentar ou fugir do fator estressante.
Contudo, sua resistência a doenças é baixa.
2. Fase de resistência: é a segunda fase da exposição. A reação inicial de
alerta se dissipa, pois o organismo se adapta ao fator estressor. Por isso,
há um aumento da resistência às doenças acima do normal.
3. Exaustão: é a terceira e última fase e pode culminar com a morte do
organismo. A fase de resistência exige muito do organismo como um
todo e, se o fator estressante não puder ser controlado ou eliminado,
toda energia de adaptação se esgota e cai.
Caindo o sistema de adaptação, o organismo fica sem resistência imunoló-
gica, propiciando assim a invasão das doenças no organismo. Este, ao  encon-
trar-se em desequilíbrio, pode vir a desenvolver doenças que conhecemos com o
nome de “doenças psicossomáticas”.

Pensando sobre o assunto

420  2º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • unitins


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6.1.4 Estresse e ambiente de trabalho


Segundo Mello Filho (1992), o trabalho pode ser considerado como uma
organização social comum, levando ao viver e sobreviver humano, possuindo
potenciais fatores estressores bem característicos.
As organizações se constituem a partir de uma necessidade, detectada por
alguém, de oferecimento de um produto ou serviço final. Para que esse objetivo
seja atingido, as pessoas se organizam, assumindo diferentes papéis e tarefas e
utilizam vários tipos de equipamentos e saberes.
Nessa organização, algumas pessoas falarão em nome da empresa e as
outras procurarão atender às solicitações da empresa–produção, desenvol-
vimento de novos produtos, enfrentamento de adversidades do mercado, etc.
(que são feitas por intermédio de pessoas), assim como atender suas próprias
expectativas de manutenção da vida, ascenção social e crescimento profissional.
Mesmo as pessoas que representam a empresa, em última instância, também
estão procurando atender as mesmas expectativas procuradas pelas pessoas
não representantes da empresa.
O que acontece, neste contexto, é uma contínua adaptação entre as
pessoas que compõem o quadro funcional e os interesses organizacionais.
Para a empresa, não é possível atender as expectativas de todas as pessoas.
A empresa, em si, não tem vida diferente de uma pessoa: ela também tem que
se adaptar a exigências maiores, para viver e sobreviver. Como muitas das
coisas que acontecem fogem totalmente ao controle da pessoa comum, há muita
geração de fatores estressantes.
A forma como cada um vai se adaptando e enfrentando situações particu-
lares é que vai levar ou não ao adoecimento.
Chiavenato (2004) aponta as principais causas de estresse no ambiente
de trabalho:
• sobrecarga de trabalho;
• pressão de tempo e urgência;
• supervisão de baixa qualidade;
• clima político de insegurança;
• autoridade inadequada na delegação de responsabilidade;
• ambigüidade no desempenho de papéis;
• diferenças entre valores individuais e organizacionais;
• mudanças dentro da organização;
• frustração.
É importante ressaltar que algumas empresas possuem grande contingente
de pessoas doentes. Nesse caso, é necessário fazer uma reflexão do que está

unitins • ADMINISTRAÇÃO • 2º PERÍODO  421


Aula 6 • psicologia organizacional

causando esse adoecimento, já que estilos de gerenciamento e liderança influen-


ciam diretamente na forma como as pessoas necessitam se adaptar.

6.1.5 Estresse pós-traumático


A condição conhecida como estresse pós-traumático (TEPT) é aquela que
aparece em decorrência de um evento traumático, como estupro, desastre repen-
tino, guerra, etc. Pode surgir pela vivência de um evento altamente estressor ou
quando a pessoa foi espectadora desse tipo de violência. Como resultado, essa
pessoa pode desenvolver sintomas, cuja aparição pode demorar anos e perma-
necer por muito tempo: reviver as cenas mentalmente, falta de concentração,
apatia, sensação de desamparo, terror e pesadelos.

Será que esse tipo de estresse pode aparecer no ambiente de trabalho?

Muitos acidentes podem acontecer dentro de uma organização. Os chamados


acidentes de trabalho podem ser uma variável importante no desenvolvimento
do estresse, tanto para quem sofre o acidente, como para o espectador.
Um exemplo típico desta situação são os assaltos bancários, que afetam
tanto os profissionais da organização, quanto os clientes delas. As organizações
devem estar preparadas para o enfrentamento deste tipo de situação.
Quando o estresse se torna mais intenso, teremos a chamada Síndrome de
Bournot, que veremos a seguir.

6.2 Síndrome de Burnout e seu conceito


A Síndrome de Burnout é um tipo de doença ocupacional identificada e
tratada como tal, muito recentemente. Ela se assemelha muito ao estresse, porém
tem suas especificações.

Pensando sobre o assunto

Esse termo foi usado pela primeira vez, da forma que se entende até
hoje, pelo psicólogo clínico Herbert J. Freudenberger, em 1974. Ele usou o

422  2º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • unitins


Aula 6 • psicologia organizacional

termo como alerta sobre os problemas a que os profissionais da saúde estão


expostos, em função de seu trabalho. Esse autor enfatiza que as pessoas que
trabalham em funções de ajuda desenvolvem uma batalha diária em três situa­
ções, ligadas entre si:
• diante das doenças da sociedade;
• diante das necessidades dos indivíduos que procuram por eles;
• diante das necessidades de suas próprias necessidades.
Essas situações estabelecem um vínculo direto entre a síndrome e o mundo do
trabalho, isto é, o indivíduo, sentindo-se incapaz de lidar com as exigências de
sua própria profissão, já não consegue realizar as atividades pertinentes a ela.
O indivíduo deixa de investir em seu trabalho e nas relações afetivas que
dele decorrem e, aparentemente, torna-se incapaz de se envolver emocional-
mente com o mesmo. A síndrome passaria a existir, então, quando o indivíduo
passasse a se sentir incapaz de investir em seu trabalho, em conseqüência da
incapacidade de lidar com o mesmo.
Podemos abordar a Síndrome de Burnout a partir de quatro perspectivas:
clínica, sócio-psicológica, organizacional e sócio-histórica.
Na perspectiva clínica, Síndrome de Burnout é caracterizada como um conjunto
de sintomas (fadiga física e mental, falta de entusiasmo pelo trabalho e pela vida,
sentimento de impotência e inutilidade, baixa auto-estima), podendo levar o profis-
sional à depressão e até mesmo ao suicídio. Nessa perspectiva, acredita-se que as
características individuais contribuem para o surgimento da síndrome.
Já na perspectiva sócio-psicológica, além das características individuais,
considera-se que existem variáveis sócio-ambientais que se associam às outras
e que desencadeiam uma série de fatores multidimensionais da síndrome, tais
como: exaustão emocional (cessação da energia, esgotamento físico e mental,
chegar ao limite), despersonalização (o sujeito passa a ter um contato frio
e impessoal para com as pessoas com quem lida, e uma indiferença diante
dos acontecimentos), reduzida realização profissional (insatisfação com seu
trabalho, se sentindo insuficiente, apresentando baixa auto-estima, desmoti-
vação, sensação de fracasso).
A perspectiva organizacional considera o Burnout como conseqüência de
um desajuste entre as necessidades apresentadas pelo trabalhador e os inte-
resses da instituição.
E, por fim, a perspectiva sócio-histórica enfatiza o papel da sociedade, que
tem se apresentado cada vez mais individualista e competitiva, sobrepondo os
fatores pessoais e institucionais. Ou seja: existe uma incompatibilidade entre
as características de um trabalho de auxílio às pessoas e os valores que predo-
minam na sociedade atual.

unitins • ADMINISTRAÇÃO • 2º PERÍODO  423


Aula 6 • psicologia organizacional

Portanto, podemos considerar a Síndrome de Burnout como uma doença


que parte do estresse ocupacional, porém indo além dele, ocorrendo entre
profissionais que lidam com qualquer tipo de cuidado, geralmente profissões
que envolvem intenso e constante contato interpessoal. Essa experiência ocorre
dentro de um complexo de relações sociais. É bom enfatizar que Burnout é uma
situação de crise do indivíduo com seu trabalho, não necessariamente uma crise
no relacionamento com as pessoas do trabalho, sendo esta última uma das
conseqüências do adoecimento.

6.2.1 A sintomatologia da Síndrome de Burnout


Os sintomas dessa síndrome estão relacionados a quatro níveis: físico,
psíquico, comportamental e defensivo.
• Físicos: fadiga constante e progressiva, dores musculares, distúrbios do
sono, cefaléias, enxaquecas, perturbações gastrintestinais, imunodefi­
ciência, transtornos cardiovasculares, distúrbios do sistema respiratório,
disfunções sexuais e alterações menstruais nas mulheres.
• Psíquicos: falta de atenção, falta de concentração, alterações mnemô-
nicas, lentificação do pensamento, sentimento de alienação, impaciência,
sentimento de impotência, labilidade emocional, dificuldade de auto-acei-
tação, baixa auto-estima, desânimo, estados depressivos, desconfiança.
• Comportamentais: negligência ou escrúpulo excessivo, irritabilidade,
incremento da agressividade, incapacidade para relaxar, dificuldade
na aceitação de mudanças, perda de iniciativa, aumento do consumo
de substâncias, comportamento de alto risco e suicídio.
• Defensivos: tendência ao isolamento, sentimento de onipotência, perda
do interesse pelo trabalho, absenteísmo, ímpetos de abandonar o
trabalho, ironia, cinismo.
O indivíduo acometido da Síndrome
de Burnout, não necessariamente, apre-
sentará todos estes sintomas. A quan-
tidade, a intensidade e os diferentes
tipos de sintomas apresentados
dependerão da configuração de
fatores individuais, ambientais
e a etapa em que a pessoa se
encontra no processo de desenvol-
vimento do Burnout. Os sintomas
defensivos são os que mais
ajudam a diferenciar o estresse
do Burnout.

424  2º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • unitins


Aula 6 • psicologia organizacional

A partir do que você já estudou até aqui, será que consegue distinguir o estresse da
Síndrome de Burnout?

Como já foi mencionado anteriormente, o primeiro aspecto a ser mencio-


nado em relação a esta diferença é que o Burnout é a resposta a um estado
prolongado de estresse, é uma cronificação deste último, uma vez que houve
falhas nos métodos de enfrentamento que o indivíduo usa nas situações estres-
santes, ou simplesmente esses métodos não foram suficientes.
Outro aspecto é o fato da síndrome estar relacionada com um determinado
tipo de atividade de trabalho, ou seja, afetar mais constantemente os profissio-
nais que estão em contato direto e intenso com as pessoas de um modo geral.
A despersonalização (o sujeito passa a ter um contato frio e impessoal para
com as pessoas com quem lida e uma indiferença diante dos acontecimentos) é
um aspecto que ocorre, geralmente, durante a Síndrome de Burnout, não sendo
característica do estresse ocupacional.
O estresse ocupacional acarreta incapacidade temporária de trabalho,
absenteísmo, aposentadoria precoce e riscos à saúde, já o Burnout, além dessas
características, também compromete a qualidade do trabalho não só pela desa-
tenção e negligência, mas, especialmente, pela relação entre o profissional e a
pessoa a quem presta atendimento ou serviços, com o distanciamento, falta de
empatia e hostilidade evidenciados.

6.2.2 As características que podem levar à Síndrome de Burnout


Podemos destacar, aqui, algumas variáveis que os estudos de Burnout
apontam como responsáveis pelo seu desencadeamento. São quatro grandes
grupos de características que podem contribuir para o surgimento da síndrome:
características pessoais, do trabalho, organizacionais e sociais.
• Pessoais: idade, sexo, nível educacional, estado civil, filhos, personali-
dade, sentido de coerência, motivação e idealismo.
• Do trabalho: tipo de ocupação, tempo de profissão, tempo na instituição,
trabalhos por turnos ou noturnos, sobrecarga, relação profissional-
cliente, tipos de cliente, relacionamento entre os colegas de trabalho,
conflito de papel, ambigüidade de papel, suporte organizacional, satis-
fação no trabalho, controle, responsabilidade, pressão no trabalho,
possibilidade de progresso, percepção de ineqüidade, conflito com os
valores pessoais  e falta de feedback.
• Organizacionais: ambiente físico, mudanças organizacionais, normas
institucionais, clima, burocracia, comunicação, autonomia, recompensas
e segurança.

unitins • ADMINISTRAÇÃO • 2º PERÍODO  425


Aula 6 • psicologia organizacional

• Sociais: suporte social, suporte familiar, cultura e prestígio.


Diante disso, existem conseqüências físicas e pessoais, como você já
observou, muitas delas no item sobre a sintomatologia. Essas conseqüências
ocasionam prejuízos não só no âmbito pessoal, mas no âmbito do trabalho
(diminuição da qualidade, predisposição a acidentes e abandono), no social
(isolamento e problemas familiares) e no organizacional (absenteísmo, rotativi-
dade, baixa produtividade, acidentes de trabalho).

6.2.3 Avaliação individual e institucional do Burnout


A avaliação deve ser realizada por um profissional que esteja qualificado
para tal. A avaliação individual, apesar de existir um instrumento específico (que
é um tipo de questionário), embora tenha sido utilizado em algumas pesquisas
no Brasil, ainda não está sendo comercializada.
A cultura de cada país influencia muito no desenvolvimento da Síndrome, o que
pede cautela, no momento de avaliação e de comparação dos dados. No âmbito
institucional, a avaliação pode partir da avaliação individual de cada colaborador,
uma vez que não existe um instrumento de avaliação institucional do Burnout. Essa
avaliação deve ser complementada pela observação dos seguintes aspectos,
funcionando como indicativos: número de afastamentos por doença, absenteísmo,
número de acidentes de trabalho, horas extras e solicitações de transferências.
As formas de prevenção têm que priorizar a ação conjunta entre indivíduo
e instituição, uma vez que vimos que as características que podem contribuir
para o desenvolvimento da síndrome abarcam tanto o nível pessoal, quanto o
organizacional. Algumas ações são possíveis de se pensar, mas a primeira de
todas é fazer com que os colaboradores conheçam o que significa a Síndrome
de Burnout, pois, a partir, daí podem trabalhar de forma a manter uma vigilância
constante de suas reações no trabalho.
Outra intervenção, no âmbito da prevenção, é criar forma de estruturação das
funções que não privilegiem sobrecargas de trabalho e ambigüidade no desem-
penho da tarefa. Analisar e desenvolver, de forma positiva, o processo de comuni-
cação dentro da organização. Inúmeras são as estratégias que a organização pode
adotar para lidar com a prevenção desta síndrome, mas não se pode perder de
vista que o trabalho de grupo tem que ter prioridade sobre o tratamento isolado. 
Em algumas situações, as doenças ocupacionais tornam-se tão intensas organi-
camente que o próprio sistema muscular fica afetado, desenvolvendo a LER/DORT.

6.3 LER/DORT: conceito, sintomatologia e tratamento


Esta doença, LER/DORT, apresenta-se como uma sobrecarga músculo- esque-
lética e mental. Está relacionada a fatores ergonômicos, organizacionais, psicos-
sociais e individuais. 

426  2º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • unitins


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Pensando sobre o assunto

Os profissionais da saúde têm entendido a LER/ DORT como de


natureza multifatorial. Nesse sentido, justificam-se suas falhas de
tratamento. Até o presente momento, não se conseguiu determinar
as principais variáveis geradoras do quadro, mas
podemos entendê-las como bio-psico-sociais. É um
quadro fisiopatológico, que parece ligado a um
tipo de interação mal adaptada entre traba-
lhador e suas tarefas (caso contrário todos
os trabalhadores deveriam desenvolver tal
distúrbio) e social, pois envolve a organi-
zação em si e sua divisão de trabalho.
A LER é uma lesão e/ou inflamação,
que atinge, principalmente, os membros
superiores. A forma mais encontrada é a
tenossinovite (inflamação dos tendões).
É um quadro que apareceu, inicial-
mente, entre digitadores. Hoje já vem
sendo detectado em outros trabalhadores, cujas funções têm caráter repetitivo
(por exemplo, caixas de banco).
O quadro mais comum é de dor mal definida (que muitas vezes não pode
ser localizada), de intensidade variável, podendo haver ou não vermelhidão dos
membros. Com o passar do tempo, pode haver o total comprometimento funcional
dos membros atingidos. Isso equivale a dizer que a pessoa perde sua função de
preensão e pode, simplesmente, ficar incapaz de fazer tarefas simples como
pentear o cabelo, escovar os dentes, segurar o garfo ou um copo com água.
A DORT está relacionada a dores na coluna, as chamadas lombalgias ou
dorsalgias, denominadas pelo senso-comum como uma dor nas costas.
Há grande controvérsia sobre as causas e tratamentos para LER/ DORT, mas
há uma tendência de se acreditar que haja uma correlação entre a sintomato-
logia e as condições de trabalho, principalmente as que exigem movimentos
repetitivos e que dependam de força dos membros superiores.

unitins • ADMINISTRAÇÃO • 2º PERÍODO  427


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Os exames utilizados para acompanhar o quadro são os de observação clínica,


Raio-X, tomografias, etc, mas pouco acrescentam ou justificam tal sintomatologia.
As pessoas, geralmente, são submetidas a uma grande variedade de trata-
mentos, com pouco ou nenhum alívio. O tratamento pode ser um ou uma combi-
nação entre o medicamentoso, o fisioterapêutico e o psicológico.

6.3.1 Perfil Psicológico dos portadores de LER/DORT


Já houve tentativa de descrever um perfil psicológico dos portadores de LER/
DORT. Segundo França e outros (1999, p. 89), um exemplo é o desenvolvido
por Almeida (1995). Nesta tentativa, descreveu-se um portador de LER/ DORT
perfeccionista, que não admite falhas, que apresenta necessidade
de ultrapassar limites, de receber reconhecimento e de encobrir
erros do passado. Apresenta grande insatisfação pessoal, preo-
cupação intensa com produção, tanto em termos de qualidade
como de quantidade. E, além disso, apresenta grande dificuldade
em admitir seus sentimentos de impotência.

Porém, tanto em outras patologias como em trabalhadores que não possuem


qualquer sintomatologia, podem ser encontradas as características descritas
anteriormente, o que inviabiliza a descrição de um perfil psicológico do trabalho
portador de LER/ DORT.
Há grande incidência do distúrbio em todo o mundo e os custos de trata-
mento são muito altos. Há, ainda, alto índice de retirada do profissional de
sua função inicial para outra. Essa situação gera necessidades de treinamento
e adaptação do profissional a suas novas tarefas. Também leva a problemas
de relacionamento entre os trabalhadores da empresa. Por ser uma condição
que pode não ter nenhum sintoma visível, pode levar a comentários, acusa-
ções e julgamentos sobre o fato de a pessoa estar de licença sem ter nada
ou de estar tirando as funções de outras pessoas, injustamente. Esse tipo de
situação gera mais sofrimento ao portador de LER/ DORT, pois desenvolveu
uma doença sobre a qual há pouquíssima informação e forma de tratamento.
Há dor física, e pode não haver uma prova física de que haja um problema
orgânico, mas, se não for tratada, a pessoa perderá os movimentos mais
necessários e básicos da vida diária.
Se a troca de função não for possível ou o quadro agravar-se, o trabalhador
será precocemente aposentado, o que gera grandes perdas de produção.
Além das perdas econômicas, é um quadro que gera mais estresse e senti-
mentos de menos valia e incapacidade, para a vida das pessoas atingidas.
Todas as doenças vistas até então podem gerar uma situação  de desgaste
para o indivíduo e a instituição, gerando conflitos na administração dos problemas
enfrentados no mundo do trabalho, assunto que veremos no item a seguir.

428  2º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • unitins


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6.4 A natureza dos conflitos no mundo do trabalho


Uma vez que nos relacionamos, convivemos em diversos grupos, estamos
sujeitos a viver diversas situações, sob diversos contextos. Nessas relações,
podem surgir as dificuldades de relacionamentos ou os conflitos. 
É certo que as pessoas são diferentes e, quando se relacionam, trazem
consigo seus valores, suas crenças, suas necessidades, percepções e motiva-
ções. E, muitas vezes, o conflito surge pelo simples fato de não se compreender
o ponto de vista da outra pessoa.
Conflito: o que é isso?
Pode-se dizer que se criou uma situação conflituosa, quando há choques,
colisões de opiniões, entre duas ou mais pessoas.
Em diversos âmbitos, tanto sociais quanto profissionais, as pessoas e os
grupos convivem, com freqüência, com conflitos, que devem ser analisados e
tratados de forma eficiente para sua efetiva resolução. Em alguns casos, as
soluções são difíceis, levam tempo e desgastam emocionalmente os envolvidos.
Geralmente tal fato ocorre por uma má administração e reflexão da situação,
provocando outros conflitos, tornando o problema, como diz o ditado, como
uma bola de neve.
Freqüentemente, os conflitos intergrupais ocorrem durante implantações de
mudanças, e isso provoca, entre os grupos, uma diminuição da produtividade.
Segundo Hersey (2005), em um grupo em que há competição, aumenta
mais a coesão. O clima do grupo torna-se mais orientado para a tarefa, em que
a busca pelos resultados assume grande importância. O grupo torna-se mais
estruturado com liderança autocrática.
Mas, aí podemos nos questionar:

o conflito, assim como pode trazer prejuízos, pode trazer benefícios para o grupo?

Grande parte das pessoas e dos grupos acredita que os conflitos entre eles 
serão sempre prejudiciais. Muitas vezes, fazemos de tudo para evitá-los, acredi-
tando que situações conflituosas provocam sentimentos desagradáveis, criando
um clima negativo. Mas cada tipo de atrito pode acarretar conseqüências tanto
positivas quanto negativas.
O conflito pode ser considerado positivo, quando provoca uma reavaliação
no grupo, buscando as causas, na tentativa de reorganização, aumentando,
conseqüentemente, a produção grupal e, muitas vezes, motivando o grupo
para alcance de metas. Nesse sentido, o grupo aceita desafios para buscar

unitins • ADMINISTRAÇÃO • 2º PERÍODO  429


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meios de solucionar o problema, motivando os envolvidos a resolver o conflito


em conjunto. Dessa forma, o conflito pode ser transformado em benefícios. O
conflito é negativo quando ocorre o oposto, provocando efeitos contrários aos
descritos no conflito positivo. Aqui o integrante do grupo ou o colaborador
perde o impulso para agir, gerando situações que provocam um desperdício de
esforços, trazendo efeitos altamente desfavoráveis.
Dessa forma, pode-se gerar no grupo uma tensão patológica, com efeitos
psicossomáticos sobre o organismo do indivíduo. O ambiente torna-se impro-
dutivo, com distorções da realidade. O conflito negativo pode gerar perda de
status, distorções de papéis, e as decisões são tomadas de forma autoritária.
Segundo Hersey (2005), se as conseqüências negativas dos conflitos superarem
as vantagens, a administração deverá buscar meios para reduzir essa tensão.
Assim, é necessário que se reflita sob as possíveis soluções, visto que o
conflito é inevitável, analisando as condições ambientais que podem provocá-los,
buscando soluções de maneira profilática.
Uma virtude considerada fundamental diante dessas situações é a habili-
dade do grupo para administrar bem o conflito, por meio de ações concretas,
atitudes preventivas, com uma comunicação aberta entre os integrantes, o que
diminui as possibilidades de conflito e suas conseqüências negativas, e promove
relações intergrupais harmoniosas.
Algumas variáveis podem auxiliar na administração de conflitos, tais como:
planejamento, comunicação clara e objetiva, feedback, assim como uma atitude
flexível, frente a compreensão e aceitação grupal.
Contudo, as pessoas, os grupos, as organizações necessitam rever sua
práticas administrativas, a liderança, sua estrutura, os valores, os métodos para
compreender melhor seus processos, buscando meios que promovam a verdade
absoluta, traçando objetivos que satisfaçam todos os integrantes, assim como
as organizações.

6.4.1 Fontes dos conflitos


As situações conflituosas podem ser exploradas de uma forma construtiva.
Daí a importância de se compreender como elas surgem e evoluem.
Os conflitos emergem nos mais diversos níveis: grupais, organizacionais,
internos, intrapessoais, e por uma variedade de motivos, devido às diferenças
individuais que envolvem valores, crenças, necessidades, percepções. Como
também por doenças ocupacionais, vistas anteriormente. Além disso, pode
ocorrer por erros de comunicação, quando se faz uso de tomada participa-
tiva de decisões, pela diversidade cultural, decorrentes de diferentes visões de
mundo, assim pela competição.

430  2º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • unitins


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Para Quinn (2003), os conflitos independentes de como surgem, em geral


têm seus estágios. No primeiro estágio, segundo ele, a contenda permanece
latente, mas nesse momento as pessoas ou grupos já criaram o potencial para o
confronto e, quando isso é percebido por um ou mais integrante, o atrito evolui
para um 2º estágio, em que os envolvidos atingem a consciência tanto cognitiva
quanto emocional das divergências.
No 3º estágio da tomada de consciência, partem para a ação. E, nesse
momento, o atrito é explícito, em que os grupos e os indivíduos tomam medidas
para resolvê-los ou intensificá-los, tanto implicitamente como explicitamente.
Quando intensificam o problema, podem surgir comportamentos agressivos,
boicotes, indução para que as pessoas se posicionem contra a outra parte. Se
optarem por resolvê-los, assumem uma postura positiva, visando, por meio de
análises situacionais, à solução do confronto.
Já o 4º estágio é o desfecho ou resultado, que pode ser funcional ou disfun-
cional. Para Quinn (2003), os resultados funcionais incluem compreensão,
maturidade e qualidade nas decisões; criatividade, inovação à solução e reso-
lução de futuros problemas, com auto-avaliação positiva. Quando é disfun-
cional, o grupo regride em termos de compreensão, ocorrendo sentimento
de raiva, hostilidade, com comunicações cheias de barreiras, destruindo o
espírito de equipe e dando brecha para que outros conflitos surjam, de forma
mais complexa.
Com isso, você pode perceber que diante de situações conflituosas quase
sempre inevitáveis, entre as pessoas, notadamente no ambiente de trabalho,
há necessidade de uma administração gerencialmente eficiente para resolvê-
las, a fim de evitar danos maiores tanto para as pessoas envolvidas quanto
para a organização. Para isso, precisamos pensar em mudanças comportamen-
tais, visando a um processo contínuo de desenvolvimento grupal, interpessoal,
buscando soluções, métodos e estratégias aceitas por todos os envolvidos. 
Como resolvemos os conflitos?
Já ouviram algumas expressões do tipo retirada de estratégia ou colocar
panos quentes? Isso é comum em situações conflituosas, uma das técnicas mais
utilizadas para solução de conflitos. 
A retirada de estratégia é uma forma de se esquivar, evitar, fugir do problema.
É uma técnica que até pode funcionar, mas será a curto prazo, sendo conside-
rada como uma solução temporária, pois geralmente não se consegue resolver o
problema, apenas se adia a busca da solução para o mesmo.
A técnica dos “panos quentes”, considerada como uma forma de apaziguar
a problemática, em que se busca a paz, evitando situações de conflitos explícitos,
também não gera uma solução duradoura. Ao mesmo tempo que busca o acordo,
também busca o desacordo, pois a gênese do conflito não foi resolvida.

unitins • ADMINISTRAÇÃO • 2º PERÍODO  431


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Outras pessoas ou grupos buscam resolver conflito por meio de negociações,


que têm como objetivo buscar um acordo aceitável entre as partes. Mesmo que
esse acordo não seja a forma mais adequada de solucionar o problema, pode
promover um entendimento. Essas negociações são baseadas nos princípios de
troca: eu lhe dou isto se você me der aquilo.
Outra possibilidade de resolução do conflito é por meio da colaboração
ou confronto. Nesta estratégia, o conflito é resolvido de forma objetiva, em que
se encontram as causas e definem maneiras de se resolver o problema objeti-
vamente. Mas, para isso, é necessário um diálogo verdadeiro, transparente e
aberto, em que os integrantes devem ter a habilidade e competência tanto teórica
quanto administrativa, para solucionarem o problema de forma definitiva.
Muitas pessoas tentam resolver o conflito usando o poder, que, geralmente,
gasta menos tempo que o confronto ou a negociação, porém provoca efeitos
nem sempre desejáveis, por despertar no outro sentimento de menos valia,
provocando feridas afetivas.
Segundo as estratégias estudadas até então, qual delas você acha que
deveria ser a correta ou a mais utilizada?

6.4.2 Estratégias de administração de conflitos


Para Quinn (2003), a estratégia a ser escolhida para lidar com os conflitos
depende do contexto e da situação. Para ele, existem três estratégias de que os
indivíduos fazem uso:
• orientadas para soluções: que focalizam o problema e não os indiví-
duos que estão envolvidos, em que as soluções definidas são propícias 
para ambas as partes. Aqui, está presente o cooperativismo, buscando
atender as necessidades de todos os integrantes;
• não-confrontadoras: têm como objetivo evitar discussões negativas. É
utilizada quando o grupo se preocupa mais em evitar o confronto do
que a resolução do conflito;
• controle: focaliza a realização de objetivos, sem considerar a necessi-
dade do outro. Utilizam-se de regras para vencer a disputa.
Segundo Quinn (2003), as estratégias não-confrontadoras estão relacio-
nadas com as abordagens evasiva e conciliativa, as de controle, à impositiva,
enquanto que as estratégias orientadas para soluções estão associadas às
técnicas colaborativa e adaptativa.
Vamos ver a que se referem essas abordagens de acordo com a teoria de
Quinn (2003):
• abordagens evasivas: são usadas quando há o reconhecimento da exis-
tência de um atrito, porém não querem confrontar seus motivos. Aqui,

432  2º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • unitins


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se evita para não se empenhar em satisfazer as necessidades próprias,


nem as do outro;
• abordagens conciliadoras: são usadas para preservar a harmonia e
evitar distanciamento, uma parte do grupo age não tendo em vista seus
próprios interesses, mas tão-somente o atendimento dos interesses da
outra parte. Desta forma, os indivíduos podem não estar dispostos a
sacrificar suas próprias necessidades pessoais para sustentar o relacio-
namento. Essa abordagem priva o surgimento de novas idéias e solu-
ções para o problema;
• abordagens competitivas: são utilizadas com vista à consecução dos
próprios objetivos grupais, lançando mão de estruturas de autoridades e
regras formais para vencer a batalha. As atitudes são tomadas de forma 
rápida e decisiva para o bem do grupo, mas podem ter desfechos disfun-
cionais. O método impositivo restringe o surgimento de criatividade, novas
idéias e soluções para o problema como a abordagem conciliativa;
• abordagem transigente: essa abordagem é uma das primeiras entre
as estratégias para soluções. Aqui, há a preocupação com todos os
integrantes envolvidos no conflito. Essa técnica envolve negociação,
entendimento para que não haja perdedores, buscando a adaptação
de todos envolvidos no processo. Porém, pode ser considerada como
desvantajosa, por ninguém sair como vencedor e pela dificuldade que,
muitas vezes, o indivíduo tem que esquecer do que teve de abrir mão
para que o grupo conseguisse atingir seus objetivos;
• abordagem colaborativa: há o enfretamento do problema de maneira
criativa, procurando soluções em que todos sairão como vencedores. O
que predomina é a colaboração. É uma opção que traz grandes benefí-
cios, mas pode ser desvantajosa, por que consome muito tempo e pode
não funcionar quando o atrito implica diferenças de valores.
Para Quinn (2003), a escolha das estratégias depende do conforto no uso das
várias técnicas, que serão adequadas ou não, diante da situação. Pesquisas revelam
que a abordagem colaborativa geralmente produz resultados mais positivos, produ-
tividade no processo de tomar decisões e de desempenho para buscar soluções,
até mesmo porque o uso desta estratégia incentiva a aceitação de mudanças.
A comunicação é essencial em situações de conflitos, para a discussão dos
problemas, a fim de criar relacionamento positivo, menos estressante e mais produ-
tivo, estabelecendo um ambiente de aprendizagem (ao invés de defesas). Weil
(2005) ainda acrescenta a possibilidade de mudança de ambiente, lembrando
das regras de higiene mental, estimulando a equipe a buscar a motivação assim
como a ajuda de profissionais como psicólogos, médicos, assistentes sociais,
entre outros.

unitins • ADMINISTRAÇÃO • 2º PERÍODO  433


Aula 6 • psicologia organizacional

Conhecer as doenças relacionadas ao mundo do trabalho é de fundamental


importância para todos os profissionais que se dedicam ao mesmo, pois esse
conhecimento, poderá auxiliar no tratamento e prevenção das doenças: que
poderão acarretar uma série de conflitos no mundo do trabalho, situações que
também deverão ser manejadas pelos profissionais da área laboral.
Este conhecimento se faz necessário, pois o trabalho de intervenção deverá
ser realizado por meio de atividades que poderão ser desenvolvidas dentro
da organização, de forma coletiva, com todos os envolvidos no processo de
trabalho. Atividades individuais e de grupo, com o objetivo de melhorar a quali-
dade de vida dos indivíduos e da própria instituição.
Diante disso, é importante estudarmos sobre a eficiência interpessoal e
desenvolvimento profissional, pois trataremos de habilidades e competências
que podem contribuir na prevenção de doenças ocupacionais, como de conflitos
interpessoais. Até lá!

Síntese da aula
Como você pôde perceber, a relação entre a saúde e o processo de adoeci-
mento, no que diz respeito ao estresse, é um assunto muito discutido ultimamente,
levando-se em conta a importância da relação estabelecida entre trabalho, orga-
nização e bem-estar. Vimos, também, que o estresse, quando em estado mais
evoluído, chega a uma exaustão profunda, levando a chamada Síndrome de
Burnout. Esta apresentando características individuais e gerais quando se leva em
conta a própria organização. Outra doença ocupacional que vimos até então é
a LER/DORT, condição cuja detecção e atendimento estão pouco desenvolvidos.
Isso não diminui sua importância. As organizações devem estar prontas para
atender essas demandas e, também, para refletir sobre as condições de trabalho
que estão sendo oferecidas. Finalizando o assunto sobre as doenças que podem
estar relacionadas diretamente ao mundo do trabalho, temos que considerar  a
necessidade de um equilíbrio entre as características psicológicas individuais e as
características da própria organização, como o ambiente de trabalho e a capa-
cidade de adaptação dentro do mesmo. Vimos, também, como estas doenças
podem gerar em certo desequilíbrio emocional, diminuindo a capacidade de reso-
lução de conflitos. Situações estas comuns no cotidiano, quando existem pessoas
que apresentam opiniões diferentes sobre as situações.  Finalizando, elencamos
algumas estratégias de ação que podem auxiliar na resolução destes conflitos.

Atividades

1. Assinale a alternativa incorreta.


a) O estresse foi descrito como alterações fisiológicas que se processam no
organismo quando este se encontra em situação que requeira adaptação.

434  2º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • unitins


Aula 6 • psicologia organizacional

b) Ele também aparece quando estamos motivados, energizados, fazendo


várias coisas ao mesmo tempo.
c) A forma de desenvolvimento do estresse é a mesma para todos os indi-
víduos, não existem particularidades.

2. Leia a sentença abaixo e marque a alternativa que completa as lacunas.


__________, apresenta-se como uma sobrecarga músculo-esquelética
e_________. Estão relacionadas com fatores ergonômicos,____________,
psicossociais e______________.
a) LER/Dort, mental, organizacionais, individuais.
b) Estresse, ocupacional, organizacionais, grupais.
c) LER/Dort, física, estruturais, individuais.
d) Síndrome de Burnout, social, organizacionais, individuais.

3. Pesquise em livros ou na Internet mais elementos sobre o distúrbio descrito


(LER/ DORT) e discuta com seus colegas de curso, a fim de aprofundar um
pouco mais sobre o tema.

4. Assinale as alternativas das situações em que podem ocorrer os conflitos no


ambiente de trabalho:
(  ) diferenças de opiniões entre as pessoas
(  ) em uma gincana
(  ) implantações de mudanças organizacionais
(  ) um jantar de confraternização

Comentário das atividades


Na atividade um, a alternativa incorreta é a (c). A forma como o estresse é
desenvolvido depende de cada indivíduo, não existe uma natureza geral para
que seja desenvolvido o estresse. As alternativas (a) e (b) estão corretas, pois
estresse significa alterações fisiológicas que se processam no organismo quando
este se encontra em situação que requeira adaptação. Essa adaptação pode ser
em situações desagradáveis ou agradáveis.
Na atividade dois, a sentença fica completa da seguinte forma: LER/DORT,
apresenta-se como uma sobrecarga músculo- esquelética e mental. Estão relacio-
nadas com fatores ergonômicos, organizacionais, psicossociais e individuais.
Com relação à atividade três, ao ter feito a pesquisa certamente encon-
trou novidades referente a doença ocupacional LER/DORT, que atualmente está
assolando muitos trabalhadores. Um sítio interessante, que traz uma cartilha do

unitins • ADMINISTRAÇÃO • 2º PERÍODO  435


Aula 6 • psicologia organizacional

Ministério da Saúde, é <http://www.saudeemmovimento.com.br/conteudos­_


frame.asp?codnoticia­=585>.
Para ter acertado a atividade quatro você deve ter compreendido que as
situações que podem gerar conflitos no mundo do trabalho são: diferenças de
opiniões entre as pessoas e implantações de mudanças organizacionais.

Referências
ALMEIDA, C.M. As reformas sanitárias nos Anos 80: crise ou transição? Tese de
doutorado. Escola Nacional de Saúde Pública, Fundação Oswaldo Cruz: Rio de
Janeiro, 1995.
CHIAVENATO, Idalberto. Comportamento organizacional: a dinâmica do sucesso
das organizações. São Paulo: Pioneira Thompson, 2004.
FRANÇA, Ana Cristina Limongi et al. Stress e trabalho. São Paulo: Atlas, 1999.
HERSEY, Paul et al. Psicologia para administradores: a teoria e as técnicas da
liderança situacional. 11. reimp. São Paulo: EPU, 2005.
MELLO FILHO, Júlio et al. Psicossomática Hoje. Porto Alegre: Artes Médicas, 1992.
QUINN, Roberto E. et al. Competências Gerenciais: princípios e aplicações. Rio
de Janeiro: Elsevier, 2003.
VERGARA, Sylvia Constant. Gestão de pessoas. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2006.
WEIL, Pierre. Relações Humanas na família e no trabalho. 49. ed. Petrópolis:
Vozes, 2005.

Na próxima aula
A partir do exposto até aqui, vimos que as doenças no mundo do trabalho
estabelecem relação direta com características individuais dos sujeitos. Como
você estabelece a relação entre as características individuais dos sujeitos e a
eficiência no desenvolvimento profissional? Na próxima aula, veremos a consti-
tuição dessas características no ambiente da organização.

Anotações






436  2º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • unitins


Aula 7 • psicologia organizacional

Aula 7
Eficiência interpessoal no
ambiente organizacional

Objetivos
Esperamos que, ao final desta aula, você seja capaz de:
• identificar a importância da eficiência interpessoal para o comporta-
mento humano;
• relacionar a eficiência interpessoal ao desenvolvimento profissional.

Pré-requisitos
Estudamos concepções teórico-psicológicas que buscam responder como
cada sujeito chega a ser aquilo que é. A partir disso, no decorrer desta disci-
plina, tentamos mostrar, nessas concepções, os diversos caminhos teóricos
para a compreensão do comportamento organizacional e, conseqüentemente,
como o comportamento de cada indivíduo influencia o ambiente de trabalho.
Nessa aula, focaremos nossos estudos sobre eficiência interpessoal e desenvol-
vimento profissional. Então, para que você tenha êxito no alcance dos objetivos
propostos, é preciso que você esteja seguro sobre as teorias psicológicas e sobre
o comportamento organizacional já estudados até o momento, pois evoluiremos
em nossos estudos.  É importante que reveja os assuntos trabalhados anterior-
mente nas aulas deste material. Assim, verá o quanto é fundamental para você,
como acadêmico, compreender melhor e mais profundamente que cada ser
humano tem suas particularidades e que suas ações e reações, não somente na
vida pessoal mas profissional, dependem de motivações internas, ações externas
e equilíbrio emocional, entre outras habilidades, o que reflete na eficiência inter-
pessoal do ser humano.

Introdução
Olá, pessoal! Chegamos a nossa última aula. Nesta disciplina, constru-
ímos uma trajetória muito rica, com muitos conhecimentos acerca do comporta-
mento humano, sob o foco psicológico e sua influência no ambiente organiza-
cional. Agora é hora de aprofundarmos um pouco mais nossos estudos, para

unitins • ADMINISTRAÇÃO • 2º PERÍODO  437


Aula 7 • psicologia organizacional

concluirmos nossos conteúdos com chave de ouro. Tudo que foi estudado, nas
aulas anteriores, está relacionado com o contexto de trabalho, onde a maioria
de nós passamos grande parte de nossas vidas, não é mesmo?
Estudar sobre a evolução do significado do trabalho e sobre comportamento
humano é fascinante, às vezes, difícil, diante de tantas diversidades comportamen-
tais. Tivemos a oportunidade, inclusive, de reavaliar algumas das nossas atitudes
pessoais, profissionais, em relação a nós mesmos, a um amigo, colega, à família,
grupo, entre outros, ao nos depararmos com as teorias até então trabalhadas.
Mas ainda falta algo extremamente importante para finalizarmos nossos
estudos a respeito da psicologia aplicada às organizações. Apesar de termos
aprendido muitas coisas interessantes, falta conversarmos ainda efetivamente
sobre a eficiência interpessoal e desenvolvimento profissional.

Você já ouviu falar sobre essas habilidades ou como adquiri-las? Eficiência interpessoal e
desenvolvimento profissional é colocar em prática tudo que estudamos até aqui?

Então, estudaremos nessa aula, o que vem a ser a inteligência emocional, as


habilidades necessárias para desenvolver as eficiências interpessoais e o desen-
volvimento profissional. Então, vamos em frente!

7.1 Eficiência interpessoal e inteligência emocional


Falar de eficiência interpessoal é fazer uma reflexão sobre o equilíbrio
emocional do ser humano, bem como sobre os fatores ambientais e sociais que
influenciam as relações entre as equipes de trabalho, sugerindo formas, estra-
tégias comportamentais, na tentativa de amenizar conflitos, angústias que nos
perseguem, dinamizando a solidariedade entre todos os indivíduos que nos
cercam, em favor de uma relação saudável.
Por isso, a importância de abordarmos ainda nestas páginas sobre essa
temática relacionada a inteligência emocional, por ser um assunto que surgiu
das necessidades de conhecer o que as nossas emoções podem produzir no
ambiente de trabalho e em qualquer outro contexto.
Hoje, saber gerenciar nossas emoções é essencial para mantermos bons
relacionamentos, visto que as relações profissionais são amparadas por nossos
sentimentos, atitudes e emoções. 
Como podemos conceituar a palavra inteligência? Como a capacidade de
raciocinar logicamente, ou como a capacidade de resolver problemas?
Segundo alguns autores, esse conceito não pode apenas estar relacionado
com a capacidade lógica de raciocinar, mas como resultado de situações rela-

438  2º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • unitins


Aula 7 • psicologia organizacional

cionais que o observador nomeia de comportamento inteligente. Podemos dizer


que uma pessoa é inteligente apenas por responder questionamentos complexos
de matemática?
Devemos ver essa terminologia “inteligência” em um sentido mais amplo.
Quando pensamos sobre ela, logo vem à nossa consciência o quociente inte-
lectual ou quociente de inteligência – QI, que retrata a capacidade do indivíduo
apresentar raciocínio lógico, habilidades lingüísticas. Este tipo de inteligência
aprende-se no contexto escolar tradicional, como também está associado as
nossas características genéticas e estímulos. Desenvolver o que denominados
de inteligência emocional requer muitas outras habilidades como: a capaci-
dade de comunicação, de controlar as emoções, a percepção, de reconhecer
e utilizar nossos sentimentos para direcionar nossos pensamento e ações,
entre outros.
Hoje, desenvolver as habilidades interpessoais e intrapessoais é essen-
cial para termos sucesso profissional. Não basta apenas ter um QI elevado.
Não é suficiente, para o desenvolvimento profissional, apenas o conhecimento
técnico ou o domínio da área do saber, é preciso ter controle emocional, ser
capaz de relacionar-se, de saber lidar de forma eficaz com as situações confli-
tuosas que possam gerar traumas, como vimos na aula anterior. A grande
diferença atual está na forma como reagimos, diante das situações, e como
a superamos.
É comum vermos, hoje, no ambiente organizacional, tantos colaboradores
adoecidos emocionalmente, com estresse, síndrome de Burnout (entre outros),
associados, é claro, a características individuais de cada ser humano. Essas
patologias ocupacionais podem ser frutos de uma incapacidade de se reco-
nhecer como sujeito com suas emoções, sentimentos e conflitos.
Sabemos que, diariamente, experimentamos vários estados emocionais,
tais como: amor, ódio, alegria, tristeza, medo, culpa, ansiedade, entre outros.
Geralmente, esses estados, segundo Zanelli (2007), estão relacionados aos
nossos pensamentos, condições fisiólogicas, psicossomatização, aos ambientes
externos (grupos de amigos, colegas de trabalho, família).
É comum observarmos hoje pessoas com instabilidade de humor no
ambiente de trabalho, por exemplo, aquele colega de quem nunca sabemos
se podemos nos aproximar ou não, porque desconhecemos e não temos como
prever a possível estado emocional dele naquele momento. Geralmente, esse
tipo de comportamento do colega produz um clima organizacional desfa-
vorável ao grupo e à própria organização. E indivíduos com equilíbrio
emocional tem mais propensão a adaptar-se melhor aos vários contextos e
situações, a se automotivar, a superar sentimentos de frustrações, a controlar
seus impulsos, direcionando suas emoções para a realização de uma ativi-
dade direta.

unitins • ADMINISTRAÇÃO • 2º PERÍODO  439


Aula 7 • psicologia organizacional

Pensando sobre o assunto

Se, na época da Revolução Industrial, algum gestor ou outro colaborador


quisesse questionar algo sobre a inteligência emocional dos colaboradores,
certamente todos (ou a maioria) iriam estranhar, porque o que
predominava na época era a racionalidade, a produtividade.
O cenário atual mudou. Discutir sobre os afetos e emoções, no
ambiente de trabalho, é necessário para os estudos sobre o
comportamento organizacional.
Zanelli (2007, p. 208) esclarece que
o que mudou ao longo deste período foi a percepção de que os
estudos das emoções e dos afetos poderiam ajudar a compre-
ender, por exemplo, o impacto das mudanças de gestão organi-
zacional dos trabalhadores e as diversidades culturais que muitas
vezes fazem eclodir rivalidades étnicas e conflitos de papéis.

Então, para Goleman (1998), inteligência emocional é a capacidade


de definir e reconhecer os próprios sentimentos e os do outro, de se auto-
motivar e de gerenciar bem suas emoções internas, dentro de cada um e em
seus relacionamentos com o outro. E, para contextualizar melhor sua defi-
nição, considera importante apontar algumas habilidades fundamentais para
o desenvolvimento de tais capacidades. Sobre essas habilidades falaremos
no tópico seguinte.

7.1.1 Inteligência emocional e suas habilidades


Golemam (1995), ao falar sobre inteligência emocional, considera
necessário o desenvolvimento de algumas habilidades, das quais algumas
já estudamos nesse caderno de conteúdos e atividades, que são essenciais.
São elas:
• autoconhecimento emocional ou autoconsciência: é a capacidade de
conhecer os próprios sentimentos, enfrentando nossas emoções. É voltar
para o seu interior, estando aberto às emoções e refletir sobre elas.
Pessoas que possuem essa habilidade são melhores para enfrentar
conflitos internos e serão mais resolvidas na vida;
• controle emocional ou autocontrole: é a capacidade de enfrentarmos e
lidarmos com os próprios sentimentos, de acordo com cada situação,
adaptando-os. Assim, o indivíduo terá mais habilidades para superar

440  2º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • unitins


Aula 7 • psicologia organizacional

os contratempos da vida; do contrário, tornam-se inseguros. É buscar o


equilíbrio na sua conduta.
• automotivação: é a habilidade de dirigir suas emoções, em busca de
um objetivo, de uma meta para manter-se com um estado de ânimo que
lhe oriente a buscar sempre sua automotivação, desenvolvendo seu auto-
controle e, assim, tornar-se cada dia mais criativo na busca de soluções,
sendo mais persistente, otimista, produtivo, ágil e eficaz, diante de qual-
quer empreendimento que traça para si mesmo, para os seus planos,
sejam eles pessoais ou profissionais;
• reconhecimento de emoções em outras pessoas ou empatia: é a habili-
dade de se tornar empático, reconhecendo as necessidades e desejos
dos outros, tornando-se compreensivo, o que lhe permitirá desfrutar de
relacionamentos mais eficazes, harmoniosos.;
• habilidades em relacionamentos interpessoais ou sociabilidade: esta
habilidade está estritamente relacionada com a arte de se relacionar,
de gerenciar sentimentos em outros, de tratá-los bem, aceitando as diver-
sidades. Para isso, é necessário a capacidade de liderança, compre-
ensão, promovendo a sustentação das relações e a eficiência interpes-
soal, tornando-o eficaz em tudo que é baseado em interações sociais.
É importante, diante desta exposição, diferenciar o que é inteligência intra-
pessoal e interpessoal. A primeira está relacionada com o autoconhecimento e
controle emocional, enquanto que a segunda refere-se ao reconhecimento de
emoções em outras pessoas e habilidades, em relacionamentos interpessoais.
A inteligência intrapessoal é voltada para si mesma, para a auto-compre-
ensão. Enquanto a inteligência inter-pessoal é voltada para compreender o
outro, o que possibilita trabalhar cooperativamente entre eles, desenvolvendo
processos grupais voltados para a cooperação espontânea, iniciativa, trabalho
em equipe. Como também, desenvolverá mais capacidade para negociação de
conflitos, empatia inter-grupais, promovendo sintonia pessoal.
Contudo, pessoas que desenvolvem sua inteligência emocional terão auto-
consciência das suas atitudes, gerenciando melhor seus sentimentos aflitivos. Dar
atenção às nossas emoções é buscar sentir-se bem e feliz diante das situações
que enfrentamos no dia-a-dia, tendo mais auto-motivação para agirmos. É desen-
volver empatia para possibilitar vínculos positivos entre as pessoas, buscando
harmonia nas relações interpessoais.
Para isso, é preciso ter congruência moral, praticando a ética, a harmonia,
tanto nas ações quanto nas palavras, respeitando as diferenças individuais,
sendo possível se relacionar, socializar com as pessoas por meio do autocontrole
e da empatia.

unitins • ADMINISTRAÇÃO • 2º PERÍODO  441


Aula 7 • psicologia organizacional

Agora, perguntamos a você:

desenvolver a inteligência emocional favorece o desenvolvimento


profissional? Vamos até o próximo tópico para verificar a resposta!

7.2 Desenvolvimento profissional


Para nos desenvolvermos profissionalmente necessitamos nos relacionar eficaz-
mente. Certo! Então, podemos dizer que essa relação é fundamental, visto que a
inteligência emocional afeta diretamente o comportamento pessoal, social e profis-
sional, promovendo o potencial latente ao ser humano. Essa inteligência, segundo
Goleman (1995), deve ser utilizada desde o início da carreira profissional.
Então, desenvolver-se profissionalmente é desenvolver-se nos aspectos
cognitivos, afetivos e relacionais. Esse processo de desenvolvimento envolve
múltiplas etapas que incluem planejamento de carreira, trocas de experiên-
cias, leituras, reflexões, capacidade de se relacionar, de comunicar; depende,
ainda, da formação científico-cultural, do conhecimento e da identificação com
a profissão escolhida e de forma como o individuo encara o cotidiano profis-
sional, entre outros.
Esse desenvolvimento é de inteira responsabilidade do indivíduo, ele deve
investir na sua profissão continuamente, e também favorecido pelos contextos
colaborativos (instituições, órgãos vinculados a profissão, associações, etc.), nos
quais o profissional poderá interagir com outras pessoas, sentindo-se apoiado.
A busca pelo desenvolvimento profissional deve ocorrer de acordo com as
preferências e necessidades do profissional. A competência profissional só será
efetivada com a disposição para aprender sempre, renovando o aprendizado,
que requer iniciativa, autoconhecimento, flexibilidade e preocupação em manter-
se sempre informado, desenvolvendo a criatividade. É preciso cuidar para não
cair no comodismo, por falta de energia ou de direcionamento profissional e,
ainda, por falta de visão social.
O mundo do trabalho busca profissionais que estão atentos ao seu desenvol-
vimento profissional, à sua eficácia interpessoal, considerando, nesse indivíduo,
sua capacidade de tomar decisões, solucionar conflitos, principalmente levando
em consideração sua capacidade de lidar com pessoas.
Todo profissional deve atentar-se a esses fatores citados anteriormente,
tornando-se apto a conduzir a sua prática profissional. Dessa forma poderá
adaptar-se às necessidades e interesses próprios, bem como aos objetivos orga-
nizacionais, produzindo relacionamentos saudáveis entre colegas, gestores e
clientes externos. Além disso, terá a possibilidade de buscar realização pessoal

442  2º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • unitins


Aula 7 • psicologia organizacional

e profissional, visto que o contínuo desenvolvimento é hoje um aspecto marcante


na profissão de qualquer ser humano.
Nesse sentido, devemos, ao tratar de comportamento organizacional,
considerar o funcionamento psicológico dos colaboradores, sua saúde mental,
para compreendermos melhor as relações que se estabelecem no ambiente de
trabalho. E como profissionais atuantes no mercado de trabalho, segundo Zanelli
(2007), precisamos desenvolver a capacidade de:
• reconhecer os fatores do ambiente de trabalho que põem em risco o
bem-estar emocional dos trabalhadores;
• conscientizar a gestão ou direção da empresa da necessidade de
informar e trabalhar com as mudanças de forma transparente;
• capacitar líderes, gestores e colaboradores para desenvolver sua capa-
cidade de auto e heterogerenciamento das emoções, bem como sensibi-
lizar da influência dos fatores externos na interpretação das emoções, o
que pode originar conflitos interpessoais;
• inventar espaços no ambiente organizacional que possam possibilitar a
canalização de energias negativas provenientes de experiências inter-
pessoais consideradas indesejadas;
• administrar o uso do trabalho emocional, de forma que a expressão
das emoções seja verdadeira e autêntica, conforme os sentimentos de
cada um.
É importante desenvolvermos nossa inteligência emocional. Essa capaci-
dade afeta, de forma positiva, se bem desenvolvida, o ambiente organizacional.
Precisamos ir além da nossa capacidade técnica, do domínio do saber como descrito
anteriormente. É necessário termos as habilidades inter e intrapessoais desenvol-
vidas, para que possamos compreender o comportamento organizacional, que foi
o nosso foco de estudo na disciplina Psicologia Aplicada às Organizações.

Síntese da aula
Esta aula sintetizou a importância de desenvolvermos a eficiência interpes-
soal no ambiente de trabalho. Vimos que essa habilidade está relacionada com
a inteligência emocional do indivíduo, que é a capacidade de conhecer, geren-
ciar nossas emoções e sentimentos. Estudamos, também, que, para o indivíduo
possuir tais capacidades, é preciso desenvolver algumas habilidades, conforme
apresentado pelo psicólogo Goldemam, para que possa relacionar bem com
o outro. Para nos desenvolvermos profissionalmente, devemos considerar todos
esses fatores. Até mesmo porque o conhecimento técnico e o saber teórico
não são suficientes para atingirmos o sucesso tão almejado, quando estamos
atuando. Devemos nos ater como profissionais, a todos esses aspectos, para
compreendermos o comportamento organizacional.

unitins • ADMINISTRAÇÃO • 2º PERÍODO  443


Aula 7 • psicologia organizacional

Atividades
1. Como você vê a importância da eficiência interpessoal para o comporta-
mento humano? Descreva, em dez linhas suas percepções quanto ao ques-
tionamento e, depois, agrupe-se com três a quatro colegas e discuta os
apontamentos. A partir disso, estruturem em um texto único o que foi discu-
tido em plenária a conclusão do grupo e abram uma discussão com a turma.
Posteriormente a isso, comente, por meio do ambiente virtual de aprendi-
zagem, em fórum com o web-tutor, suas impressões sobre a temátiva.

2. Associe a seguir as habilidades interpessoais às suas características, de


acordo com o exposto teórico e seu entendimento.
( A ) Autoconhecimento emocional
( B ) Controle emocional
( C ) Auto-motivação
( D ) Reconhecimento de emoções em outras pessoas
( E ) Habilidades em relacionamentos interpessoais

(  ) É a habilidade de dirigir suas emoções, em busca de um objetivo, de


uma meta para manter-se em um estado de ânimo que lhe oriente a
buscar sempre sua automotivação, desenvolvendo seu autocontrole.
(  ) É a habilidade que está estritamente relacionada com a arte de se rela-
cionar, de gerenciar sentimentos em outros, de tratá-los bem, aceitando
as diversidades.
(  ) É a capacidade de conhecer os próprios sentimentos, enfrentando as
nossas emoções.
(  ) É a capacidade de enfrentarmos e lidarmos com os próprios sentimentos,
de acordo com cada situação, adaptando-os.
(  ) É a habilidade de se tornar empático, reconhecendo as necessidades
e desejos dos outros, tornando-se compreensivo, o que lhe permitirá
desfrutar de relacionamentos mais eficazes, harmoniosos.

a) A, B, C, D, E. c) D, A, C, E, B.
b) C, E, A, B, D. d) E, D, B, A, C.

3. Qual a relação entre a eficiência interpessoal e desenvolvimento profissional?

4. Analise as afirmativas a seguir sobre desenvolvimento profissional e identi-


fique-as com V (verdadeiro) e F (falso) e, em seguida, marque a alternativa
que corresponde à associação correta.

444  2º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • unitins


Aula 7 • psicologia organizacional

I. (  ) Desenvolver-se profissionalmente é dominar exclusivamente os


aspectos cognitivos.
II. (  ) O processo de desenvolvimento profissional envolve planejamento
de carreira, trocas de experiências, leituras, reflexões, capacidade
de relacionar-se, de comunicar-se, entre outros aspectos.
III. (  ) O desenvolvimento profissional é de responsabilidade exclusiva
dos gestores da empresa na qual o colaborador atua.
IV. (  ) O indivíduo, ao buscar desenvolver-se profissionalmente, deve
considerar suas preferências, interesses e necessidades.

a) F, V, F, V. b) V, V, V, V.
c) F, F, V, V. d) V, V, F, F.

Comentário das atividades


Ao responder as atividades propostas, você conseguiu atingir os objetivos
descritos no início da aula. Na atividade um, você pôde perceber que se não
desenvolvermos nossa eficiência interpessoal, o equilíbrio emocional que favo-
rece a compreensão dos nossos comportamentos como os do outro, poderemos
produzir, por meio de nossas ações, conflitos tanto internos e externos. Enquanto
que na atividade dois, se marcou a alternativa (b), conseguiu fazer a associação
correta das habilidades apresentadas pelo psicólogo Golemam, de acordo com
o exposto teórico.
Ao relacionar eficiência interpessoal com desenvolvimento profissional, na
atividade três, perceberá que, para nos desenvolvermos no ambiente de trabalho
como um profissional, precisamos nos relacionar bem, ter controle das nossas
emoções, ter capacidade de tomar decisões, solucionar conflitos. Por isso, não
dá para separar eficiência interpessoal de desenvolvimento profissional. Se
conseguiu fazer essa relação, atingiu um dos objetivos propostos na aula.
Devemos lembrar que, crescer profissionalmente é desenvolver-se nos
aspectos cognitivos, afetivos e relacionais, sendo que essa iniciativa é de inteira
responsabilidade do indivíduo, que tem interesse de investir na sua carreira
profissional. Para isso, o mesmo deve considerar as suas necessidades e inte-
resses, como também desenvolver outras competências, como a capacidade de
se planejar. Diante disso, podemos dizer que a alternativa que corresponde à
análise correta da atividade quatro é a letra (a).

Referências

BERGAMINI, Cecília Whitaker. Psicologia aplicada à administração de empresas:


psicologia do comportamento organizacional. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2005.

unitins • ADMINISTRAÇÃO • 2º PERÍODO  445


Aula 7 • psicologia organizacional

GOLEMAN, Daniel. Inteligência Emocional: a teoria revolucionária que redefine


o que é ser inteligente. 85. ed. Rio de Janeiro: Objetiva, 1995.
______. Trabalhando com a inteligência emocional. Rio de Janeiro: Objetiva,
1998.
ZANELLI, José Carlos et al. Psicologia, organizações e trabalho no Brasil. Porto
Alegre: Artmed, 2007.

Anotações
































446  2º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • unitins


EQUIPE UNITINS

Organização de Conteúdos Acadêmicos


1ª versão: Ângela Issa Haonat
2ª versão: Ângela Issa Haonat

Coordenação Editorial
Maria Lourdes F. G. Aires

Assessoria Editorial
Marinalva do Rêgo Barros Silva

Assessoria Produção Gráfica


Katia Gomes da Silva

Revisão Didático-Pedagógica
Marilda Piccolo

Revisão Lingüístico-Textual
Marinalva do Rêgo Barros Silva

Revisão Digital
Helena Carolina Costa e Lima

Projeto Gráfico
Douglas Donizeti Soares
Irenides Teixeira
Katia Gomes da Silva

Ilustração
Geuvar S. de Oliveira

Capa
Igor Flávio Souza

Equipe Fael
Créditos

Coordenação Editorial
Leociléa Aparecida Vieira

Assessoria Editorial
William Marlos da Costa

Revisão
Juliana Camargo Horning
Lisiane Marcele dos Santos

Programação Visual e Diagramação


Denise Pires Pierin
Kátia Cristina Oliveira dos Santos
Rodrigo Santos
Sandro Niemicz
William Marlos da Costa
Caro aluno,
Você está recebendo as aulas relacionadas à disciplina de Direito
Comercial e Societário, que tem o objetivo auxiliá-lo nos estudos dessa área.
Contudo, esse material será apenas um pequeno guia e não pretende e nem
poderia esgotar os assuntos aqui mencionados. Desse modo, além dos textos
abordados, você necessitará buscar apoio na legislação pertinente e na
doutrina da área.
A matéria de Direito Comercial e Societário, como você terá oportuni-

Apresentação
dade de observar, se faz presente não só em nossa vida profissional, mas
pode ser considerada uma parte integrante do nosso dia a dia. Observe que,
independentemente do ramo da atividade, o Direito Comercial sempre está
muito próximo, seja por exercermos a atividade empresarial, por utilizarmos
uma das espécies de contratos mercantis ou, ainda, por utilizarmos dos títulos
de crédito, quando fazemos compras à prazo.
Os conteúdos foram planejados de forma lógica, iniciando a aula 1 com
uma teoria geral do Direito Comercial, a fim de dar-lhe maiores subsídios
para as aulas posteriores. Na aula 2, apresentamos as espécies de sociedade
e, na aula 3, tratamos, de forma mais detalhada da Sociedade Anônima e da
Sociedade Limitada, que são as espécies mais comuns.
A teoria geral dos contratos e o tipo de contratos são estudados na aula
4. Os títulos de crédito são estudados na aula 5 e, na aula 6, estudamos a
propriedade industrial. A aula 7 fecha o nosso ciclo de estudos, abordando a
ordem econômica na Constituição Federal de 1988.
Nossos textos são apenas referências: você deverá participar ativamente de
nossas aulas e sempre consultar as leis específicas de cada assunto tratado.
Bons estudos.
Prof.ª Ângela Issa Haonat
EMENTA
Conceito. Divisão e evolução histórica do Direito Comercial. Direito
Comercial no Brasil. Tipos de sociedades. Importância dos contratos
mercantis no Brasil. Leasing. Mandado Comercial. Factoring. Contratos
Internacionais do Comércio. Direito Internacional como ramo do Direito
Público. Lacunas em Direito Internacional do Comércio. Títulos de crédito.
Plano de Ensino

OBJETIVOS
• Conhecer os conceitos e princípios regentes do Direito Comercial e
Societário e as espécies de sociedade.
• Reconhecer os títulos de crédito em espécie.
• Estudar a teoria geral dos contratos e os contratos em espécie.
• Perceber como se dá a proteção da ordem econômica na
Constituição Federal.
• Analisar as formas de proteção no direito de propriedade
industrial.

CONTEÚDO PROGRAMÁTICO
• A evolução do Direito Comercial
• A empresa e o empresário
• Das espécies de sociedade
• Da teoria geral dos contratos e dos contratos em espécie
• Dos títulos de crédito
• Da proteção da ordem econômica na Constituição Federal
• Da propriedade industrial
BIBLIOGRAFIA BÁSICA
BORBA, José E. T. Direito Societário. 9. ed. Rio de janeiro: Renovar, 2004.
FAZZIO JUNIOR, Waldo. Fundamentos do Direito Comercial. 6. ed. São Paulo:
Atlas, 2007.
TOMAZETTE, Marlon. Direito Societário. 2. ed. São Paulo: Juarez de Oliveira,
2004.

BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR
COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de Direito Comercial. 4. ed. São Paulo: Saraiva,
2003. v. 3.
ROCCO, Alfredo. Princípios de Direito Comercial. São Paulo: LZN, 2003.

unitins • administração • 2º PERÍODO  451


Aula 1 • Direito comercial e societário

Aula 1
O que é Direito Comercial?

Objetivos
Esperamos que, ao final desta aula, você seja capaz de:
• reconhecer as fases de evolução do Direito Comercial;
• conceituar empresa e empresário.

Pré-requisitos
Para compreender o nosso conteúdo, é necessário o conhecimento básico
dos ramos do Direito, que você estudou no período passado. Reveja em seu
caderno de atividades que o Direito Comercial é um ramo de Direito privado
e, como tal, rege as relações comerciais e econômicas entre particulares. Após
essa pequena revisão, você estará familiarizado o suficiente para conhecer as
Teorias que marcaram a evolução do Direito Comercial, bem como o conceito
de empresa e de empresário.

Introdução
O Direito Comercial é um dos ramos do Direito Privado, ao lado do Direito
Civil. O Direito Comercial sofreu significativa transformação com o advento
do novo Código Civil (BRASIL, 2002), que passou a regular grande parte do
conteúdo dessa disciplina, nos artigos 966 a 1.195, denominando-a como Direito
de Empresa e revogando toda a primeira parte do Código Comercial de 1850.
Apesar de estar disciplinado no Código Civil, sob a denominação de Direito
de Empresa, o Direito Comercial não perdeu sua autonomia como disciplina uma
vez que possui princípios e normas próprios. O próprio Código Civil ressalta
que em determinados assuntos, mesmo que ali tratados, aplica-se a lei especial,
como, por exemplo, as sociedades anônimas, o cheque, etc.
Consideramos que o desenvolvimento do Direito Comercial ocorreu em três
fases distintas, que passamos então a estudar com a finalidade de compreender
as modificações inerentes a cada período, passando pelo conceito da disci-
plina, das teorias que o norteiam e ainda por suas fontes, para então definirmos
empresa e empresário.

unitins • administração • 2º PERÍODO  453


Aula 1 • Direito comercial e societário

1.1 O Direito Comercial


O Direito Comercial já se fazia presente na antiguidade; talvez não com as
especificidades de hoje, mas por meio de alguns instrumentos como o emprés-
timo a juros e os contratos de sociedade, de depósito e de comissão, desde
o Código de Hamurabi, conforme nos ensina Maximiliano Cláudio Américo
Fuhrer (2005, p. 15).
Com o fortalecimento das cidades, o homem passou a levar os produtos
excedentes para as mesmas a fim de serem negociados. Em uma fase inicial
do comércio prevalecia o sistema de trocas. Posteriormente, passou a se usar a
moeda como contrapartida dos negócios efetuados.
Contudo, foi na Idade Média que a atividade comercial alcançou maior
desenvolvimento, desde o seu surgimento na antiguidade. Pode-se assim
dizer que a Baixa Idade Média foi o marco inicial de algumas atividades e
institutos de grande importância para a evolução do Direito Comercial.

1.2 Fases do Direito Comercial


O desenvolvimento do Direito Comercial foi marcado por três fases distintas.
A título de fixação, os apresentamos a seguir (FUHRER, 2005, p. 15):

Quadro 1: Fases do Direito Comercial

PERÍODO CARACTERÍSTICAS
• O Direito Comercial era considerado como um
1ª Subjetivo Corporativista direito fechado e classista.
fase • Século XII ao XVIII • A solução dos conflitos ocorria dentro da própria
classe e com base nos usos e costumes do lugar.
• Aboliu as corporações de ofício.
Período Objetivo
• Estabeleceu liberdade de trabalho e de
• Tem início com o
comércio, extensivo a todos que praticassem
2ª liberalismo e se conso-
determinados atos previstos em lei.
fase lida com o Código
• A base do direito comercial se desloca da
Comercial Francês de
figura do comerciante para a figura dos atos
1808.
de comércio.
Período Subjetivo Moderno • Direito empresarial, que regulamenta, além do
• Teoria da Empresa, comércio, qualquer atividade econômica orga-

na Itália em 1942 e nizada, para a produção ou circulação de
fase
no Brasil com o novo bens e serviços, exceto a atividade intelectual.
Código Civil (2003) (art. 966, parágrafo único do CC).
Fonte: Fuhrer (2005, p. 15).

1.3 Direito Comercial ou Direito Empresarial?


Com o advento do novo Código Civil mudou-se a concepção, até então
aceita no Direito Comercial, quanto à teoria dos Atos de Comércio e passou-se

454  2º PERÍODO • administração • unitins


Aula 1 • Direito comercial e societário

a adotar a Teoria da Empresa, que possui conotação mais ampla, abrangendo


o exercício profissional de atividade econômica, organizada para a produção
ou circulação de bens e serviços.
Ressalte-se, porém, que a própria lei determina exceções quanto à abran-
gência do exercício profissional, como é o caso do art. 966, parágrafo único do
Código Civil. Esse artigo será considerado como base tanto à compreensão da
Teoria da Empresa quanto para o desenvolvimento da disciplina como um todo.
A Teoria da Empresa teve origem na Alemanha, com o Código Comercial
de 1897, mas considera-se mesmo o seu nascimento com o Código Civil Italiano
de 1942. Entre nós, a nova teoria ganhou força com a edição do novo Código
Civil, que revogou toda a primeira parte do Código Comercial, composta de
456 artigos. Desta forma, o Código Comercial, que é de 1850, herança do
Império, continuou a disciplinar apenas a matéria atinente ao comércio marítimo,
deixando as demais aos cuidados do novo Código Civil e das leis esparsas, sob
a égide da Teoria da Empresa.
No quadro abaixo, a título de melhor elucidação, realçamos algumas dife-
renças entre a Teoria dos Atos de Comércio e a Teoria da Empresa.

Quadro 2: Teorias

TEORIA DA EMPRESA TEORIA DOS ATOS DE COMÉRCIO


• Nasceu na Itália com a promulgação do • Considerava-se o comerciante a pessoa
Código Civil Italiano, em 1942. que exercesse, de forma habitual e
profissional, alguma atividade que fosse
considerada “ato de comércio”.
• O importante é identificar o empresário, • No Brasil, as atividades consideradas
desconsiderando-se a espécie da ativi- como atos de comércio eram previstas
dade praticada. no Regulamento n. 737/1850.
• O conceito de empresa é baseado na • Ex. de atividades consideradas como
teoria de Alberto Asquini (Profili dell’ atos de comércio: compra, venda ou
impresa, Rivista del Diritto Commerciale, troca de bens móveis ou semoventes, na
v.41, I, RDM, 104/109) - que criou forma de atacado ou varejo, atividades
quatro perfis para defini-la: objetivo, de indústria, etc.
subjetivo, corporativo e funcional (sendo
esse último o adotado no Brasil).
Fonte: Proença (2005, p. 5-7).

1.4 Do conceito de Direito Comercial


Conceituar o Direito Comercial não é uma tarefa fácil. Ademais, ao passar
da Teoria dos Atos de Comércio para a Teoria da Empresa, seu objeto foi larga-
mente ampliado. Adotamos aqui alguns conceitos clássicos na doutrina, como
o conceito de Fran Martins, citado por Waldo Fazzio Junior, (2007, p. 35),
para quem o Direito Comercial é um corpo de regras jurídicas “que regulam as

unitins • administração • 2º PERÍODO  455


Aula 1 • Direito comercial e societário

atividades das empresas e dos empresários comerciais, bem como os atos consi-
derados comerciais, mesmo que esses atos não se relacionem com as atividades
das empresas”. Ao que Fazzio (2007, p. 36), conclui, dizendo que o Direito
Comercial deve ser visto como
[...] complexo normativo positivo, focaliza as relações jurídicas
derivadas do exercício da atividade empresarial. Disciplina a
solução de pendências entre empresários, bem como os institutos
conexos à atividade econômica organizada de produção e circu-
lação de bens (contratos, títulos de crédito, insolvência, etc.). Tem
por objeto a empresa, como unidade serviçal do mercado cuja
existência está amarrada ao intuito de lucro.

Com a elaboração de conceitos mais modernos pela doutrina, percebe-se


que o Direito Comercial apropriou-se do conceito econômico de empresa e, a
partir de 2002, passa a regular a empresa pela figura do empresário, uma vez
que o legislador não conceituou empresa como o fez com o empresário, no art.
966 do Código Civil, deixando essa tarefa apenas para a doutrina.
Com a transição da Teoria dos Atos de Comércio para a Teoria da Empresa,
já não é suficiente o Direito Comercial tratar apenas das operações de comércio
stricto sensu, tendo em vista que um dos setores que mais crescem hoje, no Brasil,
é o setor de prestação de serviços.

1.5 Da empresa e do empresário


Como você pode perceber, ocorreram mudanças consideráveis no foco do
objeto da disciplina para identificar o empresário, uma vez que se passou a
desconsiderar a atividade praticada, para levar em consideração se essa ativi-
dade é praticada de forma organizada ou não. Para estudarmos o conceito
de empresário, delinearemos primeiro o conceito de empresa, que foi traçado
apenas pela doutrina, bem como o conceito de estabelecimento e o de ponto
empresarial, estabelecendo as diferenças existentes entre eles.

1.5.1 Da empresa
A partir do conceito de empresa construído pela doutrina delineou-se o
conceito de empresário, tal qual disposto no art. 966 do Código Civil.
Antes de conceituar a empresa, vamos demonstrar a relação desse conceito
com a Teoria da Empresa, que é a teoria a qual nos filiamos após o advento
do Código Civil de 2002. Marcelo M. Bertoldi e Márcia Carla Pereira Ribeiro
(2006, p. 50) lecionam que
o direito brasileiro filia-se ao sistema subjetivo italiano - teoria da
empresa -, voltando à doutrina suas preocupações para a concei-
tuação jurídica da empresa como atividade econômica a gerar
direitos e obrigações, na medida em que este conceito é que
determina e delimita o conteúdo do direito comercial moderno.

456  2º PERÍODO • administração • unitins


Aula 1 • Direito comercial e societário

A partir da constatação da empresa como atividade econômica organi-


zada, os autores mencionados consideram que o aspecto econômico da empresa
influencia de forma direta na construção do seu conceito jurídico. Para Carvalho
de Mendonça, citado por Bertoldi e Ribeiro (2006, p. 50), a empresa é
a organização técnico-econômica que se propõe a produzir,
mediante a combinação dos diversos elementos, natureza,
trabalho e capital, bens ou serviços destinados à troca (venda),
com a esperança de realizar lucros, correndo os riscos por conta
do empresário, isto é, daquele que reúne, coordena e dirige esses
elementos sob sua responsabilidade.

Waldirio Bulgarelli, citado por Tomazzette (2004, p. 8-9), conceitua empresa


como “atividade econômica organizada de produção e circulação de bens e
serviços para o mercado, exercida pelo empresário, em caráter profissional,
através de um complexo de bens”. O conceito do mencionado autor, como
leciona Tomazette (2004, p. 9), tem o mérito de unir três idéias essenciais ao
conceito de empresa: (a) a empresa; (b) o empresário; (c) o estabelecimento.
Bertoldi e Ribeiro (2006, p. 50) consideram que “cada vez mais se sedi-
menta o entendimento de que a empresa nada mais é senão a atividade desen-
volvida pelo empresário, sujeito de direito”. Por isso, nossa opção de estudar a
empresa e o empresário no mesmo contexto.

1.5.2 Do empresário
Se a empresa é uma atividade econômica organizada, existe um sujeito de
direito exercendo essa atividade, que o Código Civil conceituou, no art. 966.
Tomazette (2004, p. 10) explica que
o empresário é o sujeito de direito, ele possui personalidade,
pode ele tanto ser uma pessoa física na condição de empre-
sário individual quanto uma pessoa jurídica na condição de
sociedade empresária, de modo que as sociedades empresá-
rias não são empresas, como afirmado na linguagem corrente,
mas empresários.

Coelho (2003, p. 11-15) leciona que podemos extrair algumas particulari-


dades do conceito legal de empresário, conforme segue.
a) Profissionalismo: o exercício profissional de uma atividade está ligado
a considerações de três ordens, conforme ensina Coelho (2003, p. 11),
sendo a primeira delas a habitualidade (não se considera empresário
quem realiza tarefas de modo esporádico); a segunda diz respeito à
pessoalidade, que é o traço que diferencia os empregados do empre-
sário, pois, segundo essa ordem, os empregados, quando fazem circular
bens e serviços, realizam atos em nome do empresário e não em seu
nome próprio. E, por último, destaca-se a terceira ordem que é o mono-
pólio das informações que o empresário deve deter sobre os produtos e
serviços de sua empresa.

unitins • administração • 2º PERÍODO  457


Aula 1 • Direito comercial e societário

b) Atividade: segundo Coelho (2003, p. 12), “se empresário é o exercente


profissional de uma atividade econômica organizada, então a empresa
é uma atividade. É a atividade de produção ou circulação dos bens ou
serviços”. O autor menciona que é importante destacar que a empresa
é uma atividade porque normalmente o termo é usado com significado
impróprio. Como exemplo, o autor cita as hipóteses (equivocadas) que
normalmente ouvimos, de que a empresa faliu ou a empresa importou
essas mercadorias. Ora, a empresa, como atividade, não se confunde com
o sujeito de direito - que é o empresário. Da mesma forma, lembra o autor,
não se pode confundir a empresa com o local em que a atividade é desen-
volvida. Não se pode dizer que a empresa está pegando fogo. E, por fim,
não se usa o termo empresa como sinônimo de sociedade – assim, segundo
o autor, não se diz “separam-se os bens da empresa e os dos sócios em
patrimônio distintos”, mas diz-se que “separam-se os bens sociais e os dos
sócios”. Por fim, conclui o autor que o termo empresa só é usado apropria-
damente quando o usamos como sinônimo de empreendimento.
c) Econômica: a atividade empresarial é uma atividade econômica,
porque visa a gerar lucro para quem a exerce. Coelho (2003, p. 13)
faz distinção, no entanto, quando se refere a lucro meio e lucro fim.
Para o autor, “o lucro pode ser o objetivo da produção ou circulação
de bens ou serviços, ou apenas o instrumento para alcançar outras
finalidades”. Como exemplo, ele cita as atividades dos religiosos que
prestam serviços educacionais, sem visar especificamente ao lucro,
como quando a instituição possui como objetivos a difusão de valores,
ou criação de postos de empregos, etc. Essa distinção é fundamental
para estabelecer a diferença entre as sociedades empresárias (lucro-
fim) e as associações e fundações sem fins lucrativos (lucro-meio).
d) Organizada: considera-se a empresa organizada quando a mesma
consegue articular a junção dos seguintes fatores de produção: (1) capital;
(2) mão de obra; (3) insumos e (4) tecnologia (COELHO, 2003, p. 13).
e) Produção de bens ou serviços: Coelho (2003, p. 14), ressalta a diferença
entre a produção de bens e serviços, indicando que a produção de bens
é a fabricação de produtos ou mercadorias, enquanto a produção de
serviços é a prestação dos serviços em si.

Quadro 3: Bens e serviços


EMPRESÁRIOS QUE PRODUZEM BENS EMPRESÁRIOS QUE PRODUZEM SERVIÇOS
• Donos de montadoras de veículos; • Donos de bancos;
• Donos de fábricas de eletrodomésticos; • Donos de seguradoras;
• Donos de confecções. • Donos de hospital;
• Donos de escola; estacionamento, etc.

458  2º PERÍODO • administração • unitins


Aula 1 • Direito comercial e societário

f) Circulação de bens e serviços: Coelho (2003, p. 14) considera que “a


atividade de circular bens é a atividade do comércio, em sua manifes-
tação originária: ir buscar o bem do produtor para trazê-lo ao consu-
midor”. Assim, a circulação é a atividade de intermediação na cadeia
de escoamento da mercadoria.
g) Bens ou serviços: a distinção entre bens e serviços ganhou nova cono-
tação após o advento da internet, em razão de que, antes dela, a
distinção entre bens corpóreos e serviços incorpóreos era bem definida.
Isto porque a prestação de serviços sempre foi caracterizada por uma
obrigação de fazer. Porém, com a intensificação do uso da internet,
para a realização de negócios e atos de consumo, certas atividades
resistem à classificação proposta. (COELHO, 2003, p. 14-15). Vejamos
algumas dessas situações:
• a assinatura de um jornal virtual com o mesmo conteúdo do jornal
impresso pode ser considerada um bem ou um serviço?
• os bens virtuais como os programas de computador e as músicas
baixadas da internet são bens ou serviços?
Para Coelho (2003, p. 15), mesmo com a dificuldade de se resolver a
questão da classificação de empresário, o comércio eletrônico, em todas as suas
manifestações é considerado como atividade empresarial.

1.5.3 O parágrafo único do art. 966


Vejamos a redação do art. 966 e do seu parágrafo único.
Art. 966. Considera-se empresário quem exerce profissional-
mente atividade econômica organizada para a produção ou a
circulação de bens ou de serviços.
Parágrafo único. Não se considera empresário quem exerce
profissão intelectual, de natureza científica, literária ou artís-
tica, ainda com o concurso de auxiliares ou colaboradores,
salvo se o exercício da profissão constituir elemento de empresa
(grifo nosso).

A partir da leitura do parágrafo único do art. 966, podemos compre-


ender, com Coelho (2003, p. 15), que a teoria da empresa não suprimiu a
dicotomia existente entre o regime jurídico civil e comercial. Contudo, a partir
da Teoria da Empresa, a investigação da natureza da atividade exercida
perdeu a importância da época da Teoria dos Atos de Comércio: hoje importa
saber como a atividade se encontra organizada. Lembrando que, quando
o legislador quis, ele excepcionou algumas atividades, como fez no pará-
grafo único do artigo acima referido. De acordo com o dispositivo analisado,
algumas atividades econômicas continuam excluídas do Direito Comercial por
força de lei. Contudo, se essa mesma atividade estiver organizada em forma
de empresa, ela será considerada atividade empresarial.

unitins • administração • 2º PERÍODO  459


Aula 1 • Direito comercial e societário

O que importa, realmente, nessa distinção – ser considerada atividade empre-


sária ou não – é que a falência só pode ser requerida, em face do empresário, que
é o sujeito de direito da atividade empresária, bem como a recuperação judicial
só poderá ser requerida pelo empresário. (A Falência e a Recuperação Judicial
estão disciplinadas na Lei n. 11.101/05). Coelho (2003, p. 17-18) enumera
algumas hipóteses de atividades que não são consideradas como empresárias.
a) Atividades econômicas exercidas por quem não se enquadra no conceito
legal de empresário: se alguém presta serviços, mas não se organiza
como empresa - o seu regime será o civil.
b) Profissional intelectual: o parágrafo único do art. 966 exclui do conceito
de empresário o exercente de profissão intelectual, de natureza cientí-
fica, literária, ou artística, mesmo que contrate empregados para auxiliá-
lo em seu trabalho. Entre estes, encontram-se os advogados, médicos,
dentistas, arquitetos, etc.
c) Empresário rural: disciplinado no art. 971 do Código Civil, o legislador
reservou ao empresário rural um tratamento específico, ou seja, facultou a
ele a possibilidade de requerer sua inscrição na Junta Comercial. Assim,
se ele efetuar seu registro, será considerado empresário e submeter-se-á
ao regime do Direito Comercial; caso não o requeira, será submetido
ao regime civil e não poderá ser considerado como empresário. Para
Bertoldi e Ribeiro (2006, p. 52), essa faculdade concedida ao empre-
sário rural vem sofrendo severas críticas, uma vez que ela, cada vez
mais, tem se constituído em forma de verdadeira empresa, utilizando
maquinários modernos e recursos cada vez mais sofisticados.
d) Cooperativas: o art. 982 do Código Civil determina que as cooperativas
são consideradas sociedades simples, independentemente da atividade
que elas explorem. Assim, embora as cooperativas exerçam as mesmas
atividades que os empresários, por disposição legal, elas não podem
se submeter ao regime comercial. As cooperativas encontram-se discipli-
nadas na Lei n. 5.764/71 e nos arts. 1.093 a 1.096 do Código Civil.

1.5.4 Do empresário individual


Conforme Coelho (2003, p. 19-22), “o empresário pode ser pessoa física ou
jurídica. No primeiro caso, denomina-se empresário individual; no segundo, socie-
dade empresária”. Como regra, o empresário individual não explora atividades
economicamente significativas. Normalmente sobram aos empresários individuais
os negócios de pequeno vulto, como por exemplo, a confecção de bijuterias, de
doces, etc. Já as sociedades empresárias serão estudadas em aula própria.

1.5.5 Requisitos para o exercício da atividade empresária


No primeiro semestre, você estudou, em Direito Civil, as noções básicas
sobre a capacidade das pessoas. Em que contexto essa aula tem importância

460  2º PERÍODO • administração • unitins


Aula 1 • Direito comercial e societário

para nós em direito comercial? É que as pessoas necessitam estar em pleno gozo
da capacidade civil, para realizar atos da vida civil. Isso não quer dizer que
o incapaz não possa ser dono de uma empresa, porém, para exercer atos de
gestão dessa empresa, ele necessita ser representado ou assistido, conforme o
grau de sua incapacidade.
Os casos de incapacidade absoluta e relativa estão previstos nos arts. 3º e
4º do Código Civil (sugerimos que releia este tópico em seu caderno de ativi-
dades do semestre passado). Lembrando que, não estando a pessoa no gozo de
sua capacidade total, ela deverá ser representada (absolutamente incapaz) ou
assistida (relativamente capaz), para exercer os atos da vida civil.

1.5.6 Mecanismos legais no caso do menor empresário


Como já tivemos oportunidade de estudar, o próprio Código Civil determina
um limite temporal em que se considera a pessoa como apta a exercer os atos da
vida civil por si mesmo. Contudo, é o próprio Código que possibilita ao menor de
idade, em alguns casos, a possibilidade de exercer por si mesmo esses atos da vida
civil. Esse mecanismo se dá através da emancipação, prevista no art. 5º, parágrafo
único do Código Civil. No qual estão as hipóteses de emancipação. Em caso de
incapacidade superveniente ou no caso do menor adquirir uma empresa por trans-
missão hereditária, ele terá que ser devidamente representado ou assistido.

1.5.7 Impedimentos ao exercício de atividade empresarial


O art. 972 do Código Civil (BRASIL, 2002) dispõe “podem exercer a ativi-
dade de empresário os que tiverem em pleno gozo da capacidade civil e não
forem legalmente impedidos”. Desse modo, dois requisitos legais se impõem
como essenciais ao exercício da atividade de empresa: a capacidade plena ou
de fato e, em segundo lugar, mesmo se tratando de pessoa capaz, há que se
observar se não existe qualquer impedimento legal.
Bertoldi e Ribeiro (2006, p. 62-63) apontam as pessoas proibidas de exercer
a atividade empresarial. Para facilitar, elencamos essas pessoas no quadro
abaixo. Vamos conferir.

Quadro 4: Proibitivo de exercer atividade empresarial


FUNCIONÁRIOS AUXILIARES DO
MILITARES FALIDO
PÚBLICOS EMPRESÁRIO
CONSTITUIÇÃO FORÇAS ARMADAS Leiloeiros Determinação do
FEDERAL Marinha, Exército e Corretores art. 102 da Lei
Artigos 54; 95 Aeronáutica. Despachantes 11.101/05 (Lei
parágrafo único; MILITARES Aduaneiros de Falências e
128, § 5º, II. Efetivos de cada Recuperação de
(todos considerados
ESTATUTOS Estado e DF. Empresas).
como cargos de
Federais, Estaduais interesse público).
e Municipais.

unitins • administração • 2º PERÍODO  461


Aula 1 • Direito comercial e societário

1.5.8 Os estrangeiros e o exercício da atividade de empresa


Via de regra, os estrangeiros podem desempenhar atividade de empresa,
desde que observados dois aspectos:
a) regularização de permanência em território nacional;
b) existência de restrições que recaem sobre algumas atividades.
Essas restrições à atividade empresária do estrangeiro referem-se, sobretudo,
segundo os autores, a questões que envolvem política econômica ou segurança
nacional. Como dissemos que, em regra, o estrangeiro pode exercer a atividade
empresária, elencamos, no quadro a seguir, algumas hipóteses de restrições que
permeiam o ordenamento jurídico brasileiro.

Quadro 5: Restrições
Art. 199, § 3º Art. 222, após
Art. 176 da CF
da CF a EC n.º 36
Exploração de jazidas, em É vedada a partici- A propriedade de empresa jornalís-
lavra ou não, e demais pação direta ou indi- tica e de radiofusão sonora e de sons
minerais e os potenciais de reta de empresas ou e imagens é privativa de brasileiros
energia hidráulica – somente capitais estrangeiros natos ou naturalizados há mais de 10
serão explorados mediante na assistência à anos, ou de pessoas jurídicas constitu-
concessão, por brasileiros saúde. ídas sob as leis brasileiras, desde que
ou por empresa constituída 70% do total do capital social seja de
sob as leis brasileiras. brasileiros.
Fonte: Bertoldi e Ribeiro (2006, p. 63-64).

O Código Civil (BRASIL, 2002) também se preocupou com a questão, que


se encontra disciplinada no art. 1.126, “É nacional a sociedade organizada de
conformidade com a lei brasileira e que tenha no País a sede de sua adminis-
tração”. Assim, após definir em que consiste a sociedade nacional, o Código
Civil disciplinou as regras que norteiam as sociedades estrangeiras estabele-
cidas no País nos termos dos arts. 1.134 a 1.141.
A Teoria da Empresa veio emprestar modernidade e as adequações necessárias
ao novo Direito Comercial, que hoje se encontra disciplinado em grande parte no
novo Código Civil, sem deixar, porém, de considerar a legislação esparsa aplicável,
como a Lei de Falências, a Lei das Sociedades Anônimas, entre outras. Com a nova
teoria, muda-se, também, a concepção de empresário, conforme a disposição do
art. art. 966 do Código Civil, que se amolda perfeitamente à Teoria da Empresa
(fase atual do Direito Comercial). Desse modo, o conceito de empresário foi traba-
lhado de modo a apresentar essa co-relação com a Teoria da Empresa.

Síntese da aula
Em nossa aula inicial procuramos trabalhar uma noção geral da disciplina,
tratando da sua evolução da Teoria de Atos de Comércio para a Teoria da
Empresa (nos moldes da teoria italiana), demonstrando que, atualmente, importa

462  2º PERÍODO • administração • unitins


Aula 1 • Direito comercial e societário

a forma de organização da empresa e não sua atividade. Tratamos, ainda, de


conceituar e classificar o Direito Comercial como ramo do Direito Privado. E,
por fim, tratamos do conceito de empresário, bem como dos pressupostos para
exercer a atividade empresária.

Atividades
1. O estudo do Direito Comercial implica conhecer sua origem, evolução e
conceito. Diante da evolução do Direito Comercial, que mudou substan-
cialmente o foco de seu objeto, quando passou da Teoria dos Atos de
Comércio para a Teoria da Empresa, procure construir, com suas palavras,
um conceito para a disciplina, baseado no conceito trabalhado em aula,
que melhor agasalhe essa nova teoria. Redija o conceito em um parágrafo
de, no máximo, 10 linhas. Seja objetivo e coerente.

2. Quanto à Teoria da Empresa assinale a alternativa correta:


a) Foi criada com o Código Comercial de 1850.
b) Considera a pessoa e não a forma em que a atividade é organizada.
c) São consideradas como atividades empresárias apenas a compra e venda.
d) Foi criada na Itália e adotada no Brasil, com o novo Código Civil,
levando em conta a forma em que a atividade é organizada.

3. Mencione e explique em que consiste cada um dos requisitos para o exer-


cício da atividade de empresário? Você pode responder por meio de uma
tabela, listando, de um lado, os requisitos e, do outro, a explicação.

4. São impedidos de exercer as atividades de empresário:


a) Apenas o falido e os militares.
b) Os militares e os funcionários públicos.
c) Os estrangeiros e os militares.
d) O falido, os militares, os funcionários públicos, os leiloeiros, os corre-
tores, os despachantes e os aduaneiros.

Comentário das atividades


Para responder a atividade um, você deve rever os conceitos estudados em
aula. Verificou os elementos do conceito de Waldo Fazzio Junior? Se sim, com
certeza tentou trabalhar, a partir da construção desse conceito, a diferença entre
a Teoria da Empresa e a Teoria dos Atos de Comércio.

unitins • administração • 2º PERÍODO  463


Aula 1 • Direito comercial e societário

Na atividade dois, você necessariamente considerou a mudança de concepção


que adveio com a Teoria da Empresa, que deixou de levar em conta a atividade em
si, para considerar a forma com que a mesma encontra-se organizada. Foi criada
na Itália e adotada posteriormente no Brasil, com o advento do novo Código Civil.
Portanto, a resposta correta é a letra (d), que levou em consideração todos esses fatores.
As demais (a), (b) e (c), estão incorretas, sendo que a letra (a) está de todo errada e as
demais (b) e (c) mencionam pressupostos da Teoria de Atos de Comércio.
Para responder a atividade três, você estudou os pressupostos para o exer-
cício da atividade de empresário, de acordo com o entendimento de Fábio Ulhoa
Coelho. Lembrou-se de que ele menciona: a) profissionalismo; b) atividade econô-
mica; c) atividade organizada; d) produção de bens e ou serviços; e) circulação
de bens e serviços; e, por fim f) bens e serviços.
Para responder a atividade quatro, relembrou que algumas pessoas sofrem
restrição legal para o exercício da atividade de empresa. Fizemos, em seu mate-
rial, um quadro sinóptico, para que você visualize com mais clareza. De modo que
a alternativa que contempla todos eles é a letra (d); estão incorretas as letras (a) e
(b) por estarem incompletas, e a letra (c), além de incompleta, refere-se aos estran-
geiros, que não são impedidos, apenas sofrem algumas restrições em relação a
algumas atividades econômicas.
As atividades desenvolvidas lhe deram a oportunidade de alcançar os
objetivos propostos para esta aula: reconhecer as fases de evolução do Direito
Comercial e os conceitos de empresa e de empresário. Parabéns!

Referências
BERTOLDI, M. M.; RIBEIRO, M. C. P. Curso Avançado de Direito Comercial. 3. ed.
São Paulo: Revista dos Tribunais, 2006.
BRASIL. Lei n. 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Novo Código Civil. Disponível
em: <http://www.senado.gov.br> Acesso em: 9 abr. de 2008.
COELHO, F. U. Manual de Direito Comercial. 14. ed. São Paulo: Saraiva, 2003.
FAZZIO Jr., W. Fundamentos do Direito Comercial. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2004.
FUHRER, M. C. A. Resumo de Direito Comercial. 34. ed. São Paulo: Malheiros,
2005.
PROENÇA, J. M. M. Direito Comercial I. São Paulo: Saraiva, 2005.
TOMAZETTE, M. Direito Societário. 2. ed. São Paulo: Juarez de Oliveira, 2004.

Na próxima aula
Você irá estudar e conhecer as principais espécies de sociedades comer-
ciais. Dar-se-á ênfase às sociedades anônimas e às sociedades limitadas que
são as mais utilizadas.

464  2º PERÍODO • administração • unitins


Aula 2 • Direito comercial e societário

Aula 2
Das espécies de sociedade comercial

Objetivos
Esperamos que, ao final desta aula, você seja capaz de:
• reconhecer as espécies de sociedades comerciais;
• identificar as diferenças entre os tipos societários.

Pré-requisitos
A compreensão das sociedades em espécies exigirá conhecimentos prévios
que você adquiriu na aula 1, como o conceito de empresa e de empresário.
Reveja esses conceitos.

Introdução
O Código Civil (BRASIL, 2002) revogou a primeira parte do Código
Comercial e passou a disciplinar o Direito de Empresa. Assim, algumas
sociedades que existiam no Código Comercial desapareceram do nosso
sistema, como foi o caso da sociedade de capital e indústria. Outras não
deixaram de existir, mas sofreram grandes modificações, como foi o caso
das sociedades limitadas. Nesta aula, vamos demonstrar uma classificação
que compreende as sociedades personificadas e não personificadas, estu-
dando cada uma delas, com mais ênfase às sociedades anônimas e às
sociedades limitadas.

2.1 Das sociedades disciplinadas no Código Civil


Bertoldi e Ribeiro (2006, p. 141) lembram que “no que se refere ao regime
societário, o Código Civil destacou o Título II (Da sociedade) do Livro II (Do
direito de empresa), para estabelecer as regras norteadoras das sociedades,
sejam elas empresárias ou não”. De acordo com o Código Civil, as sociedades
podem ser classificadas em personificadas e não personificadas. Vamos visua-
lizá-las no quadro a seguir.

unitins • administração • 2º PERÍODO  465


Aula 2 • Direito comercial e societário

Quadro 1: Classificação das sociedades


SOCIEDADES NÃO
PERSONIFICADAS
PERSONIFICADAS
Empresária
Em comum Simples • Em nome coletivo;
• Profissional liberal; • Em comandita simples;
• Atividade agropecuária. • Limitada;
Em conta de
• Anônima;
participação
• Em comandita por ações.
Fonte: Bertoldi e Ribeiro (2006, p. 141); Campos (2005, 177).

A despeito de mencionarmos todas as espécies de sociedades previstas no


Código Civil, dentre as sociedades empresárias apenas duas são mais utilizadas
no Brasil: a sociedade anônima e a sociedade limitada.

2.2 Das sociedades não personificadas


A macro classificação das sociedades comerciais, como você viu no quadro
anterior, dá-se em razão das mesmas serem ou não personificadas. Iniciaremos
nosso estudo pelas não personificadas.

2.2.1 Da sociedade em comum


A sociedade em comum encontra-se disciplinada nos arts. 986 a 990 do
Código Civil. Bertoldi e Ribeiro (2006, p.141) lecionam que a sociedade em
comum equivale à sociedade irregular, como era chamada antes da vigência do
novo Código Civil. Segundo os autores, essa sociedade nada mais é senão
aquela sociedade que, muito embora já esteja operando, ainda
não teve seus atos constitutivos inscritos no Registro Público de
Empresas Mercantis. Na referida sociedade, como não poderia
deixar de ser, todos os sócios respondem solidária e ilimitada-
mente pelas obrigações sociais.

A sociedade comum, também chamada de sociedade de fato, existe, aparen-


temente, em sua forma física, contudo deixou de proceder ao registro, conforme
as determinações legais. Assim, o motivo de se responsabilizar integralmente o
patrimônio dos responsáveis por essa sociedade.

2.2.2 Da sociedade em conta de participação


Bertoldi e Ribeiro (2006, p. 177) consideram que a sociedade em conta de
participação não se constitui uma sociedade propriamente dita: essa modalidade
de sociedade mais se constitui uma espécie de contrato. Dentre as características
que marcam a sociedade em conta de participação, os autores destacam as
seguintes: (I) não possui patrimônio próprio; (II) não necessita de ser constituída em
documento escrito e registrada em Registro Público de Empresas Mercantis, razão
pela qual não pode ser considerada pessoa jurídica e muito menos sociedade.

466  2º PERÍODO • administração • unitins


Aula 2 • Direito comercial e societário

Campos (2005, p. 182-183) menciona que, na sociedade em conta de


participação, como na sociedade em comandita simples, existem dois tipos
de sócios: o sócio-gerente e o sócio-oculto, que pode ser chamado de sócio-
partici­pante. De acordo com Bertoldi e Ribeiro (2006, p. 177), apenas o sócio
ostensivo se obriga para com terceiros. Já os sócios ocultos “ficam unicamente
obrigados para com o mesmo sócio por todos os resultados das transações e
obrigações sociais empreendidas nos termos precisos do contrato”.
Observam, ainda, que, como as sociedades em conta de participação
não possuem personalidade jurídica, essa sociedade não pode assumir obri-
gações em seu próprio nome, remetendo-se, assim, essa responsabilidade ao
sócio-ostensivo.

2.3 Sociedade simples e sociedade empresária


Outra distinção necessária, no âmbito da nova teoria de empresa, é a que
se faz entre sociedade simples e sociedade empresária. Antes de o Código
Civil entrar em vigor, a classificação, em matéria de organização das socie-
dades, compreendia: as sociedades comerciais e as sociedades civis. Em
razão da adoção da Teoria da Empresa, atualmente o que se leva em conside-
ração na classificação das sociedades é sua a forma, a organização, e não
o seu objeto. Assim, a partir do novo Código fala-se em sociedades simples e
sociedades empresárias.
As sociedades simples, antes da entrada em vigor do Código Civil, eram
as denominadas sociedades civis e destinam-se precipuamente à exploração da
atividade civil, especialmente à prestação de serviços, ao exercício da atividade
do profissional liberal entre outros. A sociedade empresária, como o próprio
nome já indica, de acordo com Bertoldi e Ribeiro (2006, p. 140) são
Organizações econômicas, dotadas de personalidade jurídica e
patrimônio próprio, constituídas ordinariamente por mais de uma
pessoa, que tem como objetivo a produção ou a troca de bens ou
serviços com fins lucrativos.

Vista a distinção entre as sociedades simples e as sociedades empresárias,


passamos a analisar características de cada uma delas, lembrando que as socie-
dades anônimas e as sociedades limitadas serão estudadas em separado.

2.3.1 Sociedades empresárias


As várias espécies de sociedades empresárias justificam sob a ótica de que
o seu criador poderá optar por aquela que seja mais adequada ao porte de sua
atividade. É o que nos explicam Bertoldi e Ribeiro (2006, p. 168), justificando
esta pluralidade de sociedades. Segundo eles
nosso ordenamento jurídico prevê a existência de diversas formas
de sociedades empresárias, cabendo aos seus criadores - os sócios
- a escolha, dentre todas elas, daquela que melhor se amolde às

unitins • administração • 2º PERÍODO  467


Aula 2 • Direito comercial e societário

suas necessidades. Normalmente essa escolha leva em conta o


volume de capital necessário para a sua constituição e a forma de
sua captação, a quantidade de sócios, a responsabilidade deles
diante das dívidas assumidas pela sociedade, etc.

Damos início ao estudo de cada uma em espécie, nos tópicos seguintes.


a) Sociedade em nome coletivo
A sociedade em nome coletivo está regulada nos arts. 1.039 a 1.044
do Código Civil. Para Bertoldi e Ribeiro (2006, p. 175), a sociedade
em nome coletivo tem, como principal característica, “a responsabili-
dade ilimitada e solidária dos seus sócios”. Contudo, como alertam os
próprios autores, o art. 1.043 do Código Civil prevê que, mesmo sendo
a responsabilidade dos sócios ilimitada e solidária, essa responsabili-
dade não deixa de ser subsidiária: os bens dos sócios não podem ser
executados, sem que o sejam primeiro os bens da sociedade. Aliás, é
o que se depreende da leitura do artigo mencionado. “Art. 1.043. O
credor particular de sócio não pode, antes de dissolver-se a sociedade,
pretender a liquidação da quota do devedor”.
b) Sociedade em comandita simples
A sociedade em comandita simples está regulada nos arts. 1.045 a
1.051 do Código Civil. É também muito pouco utilizada no Brasil.
Bertoldi e Ribeiro (2006, p. 176) lecionam que essa modalidade de
sociedade disseminou-se com as explorações marítimas do século XIV.
Segundo eles, naquelas sociedades havia dois tipos de sócios
aqueles que emprestavam todo o capital para a viagem, sem, no
entanto, dela participar, e aquele sócio, normalmente o próprio
capitão do navio, que se encarregava da viagem e corria os riscos
do empreendimento em nome próprio e em proveito da sociedade.

A partir da constatação dos autores, o modelo da sociedade em comandita


simples, que possuímos hoje, foi espelhado naquele do passado. Como prin-
cipais características dessa sociedade, os mencionados autores apontam: (I)
os sócios respondem ilimitadamente pelas dívidas da sociedade; (II) Existem
duas espécies de sócios, o sócio-comanditado, que é pessoa física que
responde ilimitadamente pelas dívidas da sociedade e o sócio-comandi-
tário, cuja responsabilidade é limitada ao capital investido na sociedade.
c) Sociedade em comandita por ações
A sociedade em comandita por ações está disciplinada no Código Civil
nos arts. 1.090 a 1.092. Contudo, essa sociedade também é regulada,
por disposição expressa do próprio Código Civil, tal qual a sociedade
anônima, pela Lei n.º 6.404/76. Aliás, é o que se depreende do art.
1.090, onde se lê “A sociedade em comandita por ações tem o capital

468  2º PERÍODO • administração • unitins


Aula 2 • Direito comercial e societário

dividido em ações, regendo-se pelas normas relativas à sociedade


anônima, sem prejuízo das modificações constantes deste Capítulo, e
opera sob firma ou denominação”.
Bertoldi e Ribeiro (2006, p. 176) mencionam algumas características das
sociedades em comanditas por ações, que, em muitos aspectos, asseme-
lham-se às sociedades anônimas. Entre essas características, destacam-se:
• capital dividido em ações;
• podem adotar como nome uma firma ou denominação seguida das
palavras em comandita por ações;
• a administração da sociedade só pode ser exercida por seus acio-
nistas, que respondem ilimitadamente pelos compromissos assu-
midos pela sociedade;
• a responsabilidade dos sócios em relação à sociedade é sempre
subsidiária;
• a responsabilidade entre os administradores é solidária;
• as sociedades em comandita por ações não possuem conselho de
administração (como nas sociedades anônimas);
• não podem ter capital autorizado (autorização estatutária para
aumento futuro do capital social).
Contudo, essas formas de sociedade não são muito utilizadas em nosso
sistema, que adota, principalmente, duas formas: a sociedade limitada e a socie-
dade anônima.

Síntese da aula
A aula nos apresentou as espécies de sociedades de acordo com a macro
classificação do Código Civil, lembrando que este revogou a sociedade como foi
o caso da sociedade de capital e indústria e alterou, substancialmente, as socie-
dades limitadas, inclusive revogando a Lei que a disciplinava. Apresentamos
uma visão panorâmica das demais sociedades que, mesmo sendo subutilizadas,
pertencem ao ordenamento jurídico brasileiro.

Atividades

1. Dentre as opções abaixo, assinale a espécie de sociedade que caracte-


riza, de acordo com a macro classificação do Código Civil, a sociedade
não personificada:

a) sociedade simples; c) sociedade em conta de participação;


b) sociedade em nome coletivo; d) sociedade limitada.

unitins • administração • 2º PERÍODO  469


Aula 2 • Direito comercial e societário

2. Quanto às sociedades em comandita simples, pode-se afirmar correta-


mente que:
a) todos os sócios respondem, de forma limitada, pelas dívidas da sociedade;
b) existem três espécies de sócio e todos eles respondem de forma ilimitada
pelas dívidas da sociedade;
c) o Código Civil silenciou-se a respeito das sociedades em comandita simples,
o que significa que a mesma deixou de existir;
d) existem duas espécies de sócio e apenas um deles responde de forma ilimi-
tada pelas dívidas da sociedade.

3. Com a entrada em vigor do Código Civil de 2002, as sociedades simples


substituíram as antigas sociedades civis. De acordo com a previsão das
mesmas no Código Civil, delimite sua finalidade, descrevendo as atividades
que se inserem nesse modelo. Redija a resposta em um texto descritivo de,
no máximo, 20 linhas.

4. Em que consiste a sociedade comum ou de fato? Responda em um texto disser-


tativo com introdução, desenvolvimento e conclusão. Seja claro e coerente!

Comentário das atividades


Para resolver a atividade um, você certamente releu o quadro 1, de classifi-
cação em seu caderno de conteúdos. Se o fez, pôde perceber que a alternativa
correta é a letra (c), a única hipótese ali de sociedade não personificada. As
demais alternativas (a), (b) e (d), são espécies de sociedades personificadas.
Você estudou, mesmo que superficialmente, as características das sociedades
em comandita simples e percebeu que essa sociedade possui duas espécies de
sócios (comanditado e comanditário). O primeiro responde de forma ilimitada
pelas dívidas da sociedade. Assim, a alternativa correta para a atividade dois é a
letra (d), que reúne os dois requisitos: o número de sócios e a espécie de responsa-
bilidade atribuída ao sócio comanditado, que é ilimitada. As demais alternativas,
(a), (b) e (c), prevêem hipóteses que afastam os requisitos da sociedade em coman-
dita simples, seja no número de sócios ou na espécie de responsabilidade.
As sociedades simples, objeto de grande discussão na doutrina, especial-
mente por conta da má técnica legislativa do art. 983 do Código Civil, estão
disciplinadas nos artigos 997 a 1038. Você deve ter visto esses artigos antes
de responder à atividade três, para compreender como eles devem ser interpre-
tados de forma sistemática, delimitando sua finalidade e descrevendo as ativi-
dades que se inserem nesse modelo.
Para responder a atividade quatro, sobre as sociedades de fato, você deve
ter lembrado de que apenas aparentemente elas estão regulares, pois não houve
seu registro no órgão competente.

470  2º PERÍODO • administração • unitins


Aula 2 • Direito comercial e societário

As atividades foram pensadas para torná-lo apto a reconhecer as espécies


de sociedades comerciais e identificar a diferença entre os tipos societários,
objetivos da aula.

Referências
BERTOLDI, M. M.; RIBEIRO, M. C. P. Curso avançado de Direito Comercial. 3. ed.
São Paulo: Revista dos Tribunais, 2006.
BRASIL. Lei n. 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Novo Código Civil. Disponível
em: <http://www.senado.gov.br> Acesso em: 9 abr. de 2008.
CAMPOS, N. R. P. R. de. Noções essenciais de Direito. 3. ed. São Paulo: Saraiva,
2005.

Na próxima aula
Você complementará o estudo da classificação das sociedades, analisando
as sociedades limitadas e as sociedades anônimas.

Anotações






















unitins • administração • 2º PERÍODO  471


Aula 2 • Direito comercial e societário

472  2º PERÍODO • administração • unitins


Aula 3 • Direito comercial e societário

Aula 3
Da sociedade anônima e da
sociedade limitada

Objetivos
Esperamos que, ao final desta aula, você seja capaz de:
• reconhecer como são constituídas as sociedades anônimas;
• analisar as mudanças na sociedade limitada a partir do Código Civil.

Pré-requisitos
A sociedade limitada e a sociedade anônima são sociedades personifi-
cadas, de acordo com a classificação que você estudou na aula passada. A
sociedade limitada passou a ser tratada apenas no Código Civil, que revogou a
Lei que as disciplinava, enquanto as sociedades anônimas são regidas também
pela Lei n.º 6.404/76, a qual recomendamos que você dê uma olhada prévia.
A referida lei poderá ser obtida no sítio <http://www.planalto.gov.br>.

Introdução
A Sociedade Anônima, também chamada de companhia, é uma sociedade
de estrutura bem mais complexa do que as demais espécies de sociedade. Seu
capital é dividido em ações, o que a torna uma sociedade de capitais e não
intuito personae, como as sociedades limitadas. Desse modo, nas sociedades
anônimas, cada sócio responderá apenas pelo montante das ações subscritas.
Outra característica das sociedades anônimas é que, não importa o seu objeto,
ela será sempre uma sociedade empresária. A sociedade limitada, por seu turno,
difere da sociedade anônima, pois é basicamente uma sociedade de pessoas.
Contudo, essa sociedade sofreu inúmeras mudanças com o Código Civil (BRASIL,
2002). Estudaremos, nesta aula, a sociedade limitada e as alterações sofridas
com o advento do novo Código.

3.1 Das sociedades anônimas


A sociedade anônima é regida pela Lei n. 6.404/76, que foi reformada
pela Lei n. 10.303/01, doravante chamada LSA. Assim, o próprio Código Civil

unitins • administração • 2º PERÍODO  473


Aula 3 • Direito comercial e societário

remete a disciplina das Sociedades Anônimas para a lei especial, aplicando-lhe


o Código apenas de forma subsidiária. Bertoldi e Ribeiro (2006, p. 215) traçam
algumas considerações sobre as sociedades anônimas.
O modelo de sociedade anônima foi concebido originariamente
para viabilizar os grandes empreendimentos, tratando-se de
instrumento próprio para a captação de recursos perante um
número expressivo de investidores, recursos esses que dificilmente
um restrito de pessoas conseguiria reunir.

A primeira classificação possível é dada pela própria lei e refere-se às


sociedades abertas e fechadas. É o que se depreende da leitura do art. 4º
da LSA, que determina: “Para os efeitos desta Lei, a companhia é aberta ou
fechada conforme os valores mobiliários de sua emissão estejam ou não admi-
tidos à negociação no mercado de valores mobiliários”. A principal distinção
entre elas é a possibilidade de negociar ou não ações dentro do mercado de
capitais: no caso das sociedades abertas existe a possibilidade de suas ações
serem comercializadas em mercado de valores mobiliários e, no caso das
sociedades fechadas, seus valores não estarão em negociação em mercado
aberto. Para que uma sociedade anônima possa comercializar seus valores
mobiliários na Bolsa ou mercado de balcão, conforme leciona Coelho (2003,
p. 182), ela necessitará
obter do governo federal a respectiva autorização. A companhia
somente pode ser aberta se autorizada nestes termos. O órgão
do governo federal encarregado pela lei de conceder tal autori-
zação é a Comissão de Valores Mobiliários - CMV.

COMISSÃO DE VALORES MOBILIÁRIOS – CVM


Autarquia criada pela Lei n. 6.385/76.
Exerce juntamente com o Banco Central a supervisão e o controle do mercado de capi-
tais, de acordo com as diretrizes traçadas pelo Conselho Monetário Nacional.

As principais características das sociedades anônimas de acordo com


Bertoldi e Ribeiro (2006, p. 210), são:
a) o capital social é dividido em ações;
b) ser uma sociedade de capital e não de pessoas;
c) a responsabilidade dos sócios é limitada ao preço de emissão das ações
subscritas ou adquiridas;
d) ser sempre empresarial, independentemente do seu objeto social;
e) haver a possibilidade de subscrição do capital social mediante apelo ao
público.

474  2º PERÍODO • administração • unitins


Aula 3 • Direito comercial e societário

3.2 Da constituição das sociedades anônimas


A constituição das sociedades anônimas, de acordo com Coelho (2003, p.
183-184), encontra-se fracionada em tres níveis distintos.
• Requisitos preliminares, arts. 80 e 81 da LSA.
• Modalidades de constituição, arts. 82 a 93 da LSA.
• Providências complementares, arts. 94 a 99 da LSA.
Os requisitos preliminares, conforme o art. 80, são os seguintes: (I) subs-
crição, pelo menos por duas pessoas, de todas as ações em que se divide o
capital social fixado no estatuto; (ii) realização, como entrada, de 10% (dez
por cento), no mínimo, do preço de emissão das ações subscritas em dinheiro;
(iii) depósito, no Banco do Brasil S/A., ou em outro estabelecimento bancário
autorizado pela Comissão de Valores Mobiliários, da parte do capital realizado
em dinheiro.

SUBSCRIÇÃO
O compromisso assumido pelo futuro sócio em adquirir uma certa quantidade de ações
mediante a entrada com determinada importância em dinheiro, bens ou créditos. Para que se
inicie o processo de criação da sociedade, é necessário que o total do capital seja subscrito.

Assim, para se constituir a sociedade anônima, o primeiro requisito a ser


observado é a subscrição de, no mínimo, duas pessoas. Lembrando que esse
requisito foi mitigado em relação a lei anterior que previa, no mínimo, sete subs-
critos. O segundo requisito exige a entrada de 10%, no mínimo, em dinheiro do
valor das ações. Valor que, segundo Coelho (2003, p. 184), deverá ser de 50%,
quando disser respeito a instituições financeiras, nos termos da Lei n.º 4.595/64.
O terceiro requisito, que é o depósito em dinheiro no Banco do Brasil ou estabe-
lecimento autorizado (pelo CVM), deverá ser feito, como leciona Coelho (2003,
p. 184), “pelo fundador, até cinco dias do recebimento das quantias, em nome
do subscritor e em favor da companhia em constituição”.

3.2.1 Dos valores mobiliários


Os valores mobiliários são definidos por Coelho (2003, p. 187), como
títulos de investimento que a sociedade anônima emite para a
obtenção dos recursos de que necessita. Além da ação, valor
mobiliário representativo de unidade do capital social [...] a
companhia poderá emitir os seguintes principais valores imobi-
liários: (a) debêntures (arts. 52 a 74); (b) partes beneficiárias
(arts. 46 a 51); (c) bônus de subscrição (arts. 75 a 79); (d) nota
promissória (Inst. CVM n.º 134/90) (grifo nosso).

unitins • administração • 2º PERÍODO  475


Aula 3 • Direito comercial e societário

Saiba mais

A Lei n. 10.303/2001 alterou a Lei das Sociedades Anônimas e deu nova


redação aos arts. 1º a 18, 22, 24, 26 e 28 da Lei n. 6.385/1976. O art. 1°
da mencionada lei prevê, entre outros, a regulação da emissão dos valores
mobiliários por lei, e o art. 2° estabelece as espécies de valores mobiliários,
conforme quadro a seguir.

Em nosso conteúdo, vamos estudar apenas alguns dos mencionados


valores mobiliários, mas você poderá pesquisar mais acerca da aula no sítio
indicado anteriormente.
a) Debêntures
Para Bertoldi e Ribeiro (2006, p. 261), debêntures
são valores mobiliários emitidos pela sociedade anônima, com
o principal propósito de captação de recursos destinados ao
financiamento de suas atividades. A quase totalidade da doutrina
identifica a operação de emissão de debêntures como uma moda-
lidade diferenciada de mútuo, em que a quantia total mutuada
é dividida em frações, que são distribuídas entre os credores,
chamados de debenturistas.

476  2º PERÍODO • administração • unitins


Aula 3 • Direito comercial e societário

A definição de debêntures também pode ser extraída no art. 52 da LSA:


“A companhia poderá emitir debêntures que conferirão aos seus titulares
direito de crédito contra ela, nas condições constantes da escritura de
emissão e, se houver, do certificado”. Como lecionam Bertoldi e Ribeiro
(2006, p. 261) “as debêntures conferem a seus titulares direito de crédito
contra a companhia, nas condições constantes da escritura de emissão”.

Saiba mais

b) Partes beneficiárias
Partes beneficiárias são regulamentadas pela LSA e, segundo Coelho
(2003, p. 189), podem ser definidas como “títulos negociáveis, sem
valor nominal e estranhos ao capital social, que conferem aos seus titu-
lares direito de crédito eventual, consistente na participação nos lucros
da companhia emissora”. Aliás, essa é a regra contida no art. 46 § 1º
da LSA, como se lê a seguir.
Art. 46. A companhia pode criar, a qualquer tempo, títulos nego-
ciáveis, sem valor nominal e estranhos ao capital social, denomi-
nados partes beneficiárias.
§ 1º As partes beneficiárias conferirão aos seus titulares direito de
crédito eventual contra a companhia, consistente na participação
nos lucros anuais (artigo 190).

As partes beneficiárias não possuem valor nominal e são estranhas ao


capital social, dando, porém, direito de crédito eventual, consistente na
participação dos lucros anuais, não podendo ultrapassar o limite de 10%.
Também, como as debêntures, podem ter cláusula de conversibilidade.

Saiba mais

c) Bônus de subscrição
Regulados nos arts. 75 a 79 da LSA, conforme Coelho (2003, p. 189),
os bônus de subscrição são títulos de investimento de pequena presença
no mercado brasileiro e “conferem aos seus titulares o direito de subs-
creverem ações da companhia emissora, quando de futuro aumento de
capital desta”. Bertoldi e Ribeiro (2006, p. 268) mencionam que “ao

unitins • administração • 2º PERÍODO  477


Aula 3 • Direito comercial e societário

contrário dos demais valores mobiliários, o bônus de subscrição não


outorga ao seu titular um direito de crédito propriamente dito, mas, sim,
assegura a ele a possibilidade de vir a tornar-se acionista da companhia
em futuro aumento de capital”.

Saiba mais

d) Notas promissórias ou commercial paper


As notas promissórias, disciplinadas pela Instrução n. 134/90 da CVM,
são destinadas, como ensina Coelho (2003, p. 190), à distribuição pública,
pois, “Trata-se de valor mobiliário destinado à captação de recursos para
restituição a curto prazo (30 dias no mínimo e 180 no máximo)”. Bertoldi
e Ribeiro (2006, p.272) definem o commercial paper ou Nota Promissória
ao mesmo tempo que traçam um paralelo desse com os debêntures.
Representa o commercial paper, também conhecido como nota
promissória, mais uma espécie de valor mobiliário emitido pela
sociedade anônima, com o objetivo de captar recursos no mercado
para a aplicação em sua atividade econômica. Suas caracterís-
ticas são praticamente as mesmas das debêntures, diferindo tão-
somente quanto ao prazo da dívida assumida pela companhia.
Enquanto a debênture [...] se destina ao financiamento de grandes
obras e investimentos vultosos, com prazo de resgate dilatado no
tempo (geralmente em torno de 10 anos), o commercial paper se
destina às suas necessidades imediatas de fluxo de caixa, por
exemplo, para pagamento de fornecedores [...] etc.

e) Conceito e natureza jurídica das ações


Bertoldi e Ribeiro (2006, p. 237) lecionam que
o capital social da sociedade anônima é dividido em unidades às
quais se dá o nome de ação, cujo titular é denominado acionista.
Quem detém as ações, portanto, adquire a condição de sócio,
advindo daí os direitos e deveres inerentes a essa qualidade.

As ações, como nos ensina Borba (2004, p. 207), funcionam como


unidades do capital social, tendo em vista que “cada ação é, por conse-
guinte, uma fração do capital, atributiva, a seu titular, da condição de
acionista”. A ação, por assim dizer, é o instrumento que fornece ao
proprietário a condição de sócio, estabelecendo, para este, direitos e
deveres junto à sociedade. Bertoldi e Ribeiro (2006, p. 237) chamam
atenção para o fato que as ações possuem natureza de título de crédito,
contudo, existem diferenças, inconciliáveis com os títulos de crédito. Entre
essas diferenças os autores apontam as seguintes:

478  2º PERÍODO • administração • unitins


Aula 3 • Direito comercial e societário

• as ações não possuem força executiva;


• não podem ser negociadas independentemente da existência de um
documento específico que os represente (certificado);
• não possuem a facilidade de circulação do título de crédito.
De acordo com Tomazetti (2004, p. 258), as ações “são valores
mobiliários, isto é, títulos livremente negociáveis, que asseguram a parti-
cipação nos resultados da companhia”. O autor também dá a seguinte
definição para as ações “[...] são os títulos representativos do capital
das sociedades anônimas, conferindo aos seus titulares o direito de parti-
cipar dos resultados da atividade das companhias (TOMAZETTE, 2004,
p. 253). Cinco aspectos são atribuíveis a uma ação, como leciona
Tomazette (2004, p. 253-254): o valor nominal, o valor patrimonial,
o valor de mercado, o valor econômico e o preço de emissão. Vamos
analisar cada um dos aspectos apresentados.

I. Valor nominal: Bertoldi e Ribeiro (2006, p. 238) explicam que


sendo a ação parcela representativa do capital social da compa-
nhia, para chegarmos ao seu valor bastaria, em princípio, que divi-
díssimos o montante total do capital social pelo número de ações
emitidas e teríamos, com exatidão, o valor unitário das ações.

Mas há, também, ações que não possuem valor nominal. Portanto,
o valor nominal significa que as ações não poderão ser emitidas
por preço inferior ao seu valor nominal (art. 13 da LSA). Já a ação
sem valor nominal fica liberada de qualquer valor mínimo preesta-
belecido, o que, em outras palavras, significa maior facilidade para
trazer o preço de emissão para a realidade do mercado. Borba
(2004, p. 211) explica que “se a ação não tem valor nominal,
a sua expressão, como fração do capital, ajusta-se, automatica-
mente, a cada modificação do capital”. Contudo, mais adiante
o autor menciona que essa diferenciação não tem sentido para a
amortização, o resgate, o reembolso e a liquidação, considera-se
o valor patrimonial da ação e não sua expressão em relação ao
capital social.
II. Valor patrimonial: para Bertoldi e Ribeiro (2006, p. 239), o valor
patrimonial, também chamado de valor real, “leva em conta o patri-
mônio líquido da sociedade para a sua determinação”. Para se
chegar a esse patrimônio líquido,
basta que se tomem, de um lado, todos os bens e direitos da
companhia (ativo), e de outro, as suas obrigações (passivo).
A diferença entre esses elementos resultará em seu patrimônio
líquido, que, se dividido pelo número de ações, resultará no valor
patrimonial de cada ação.

unitins • administração • 2º PERÍODO  479


Aula 3 • Direito comercial e societário

Conforme Tomazetti (2004, p. 256), o valor patrimonial da ação é


aquele que pode ser obtido “pela divisão do patrimônio líquido pelo
numero de ações”. Porém, podem ocorrer oscilações neste valor, em
casos de ser usado o valor do patrimônio apurado em balanço, prin-
cipalmente se este foi levantado há muito tempo.
III. Valor de mercado: O valor de mercado é também chamado de valor
de negociação ou valor bolsístico. Bertoldi e Ribeiro (2006, p. 239)
mencionam que
nesse caso, o valor da ação é determinado por regras de mercado,
onde prevalecem inúmeros fatores, tais como a punjança da
sociedade, os resultados do setor econômico onde ela se insere,
o momento econômico pelo qual passa o País, a qualidade de
suas demonstrações contábeis [...], etc.

Tomazetti (2004, p. 257) resume o valor de mercado como o valor


apurado no mercado de capitais. Este valor é determinado em razão
de várias condições, entre as quais se destaca a situação patrimo-
nial da sociedade, o momento econômico do país, a expectativa de
rendimento da sociedade, entre outros.
IV. Valor econômico: Tomazetti (2004, p. 257) afirma que o valor
econômico da ação “leva em conta uma perspectiva da futura
rentabilidade da sociedade”. Este valor, contudo, somente pode ser
apurado mediante cálculos periciais. Bertoldi e Ribeiro (2006, p.
239), por seu turno, consideram o valor econômico como aquele
obtido por meio da “elaboração de estudos técnicos que procuram
mensurar o valor da ação levando em conta todos os fatores de
mercado acrescidos da projeção de rentabilidade da companhia”.
V. Preço de emissão: é pelo preço de emissão, como leciona Tomazetti
(2004, p. 256), que se limita a responsabilidade dos acionistas,
pois estes só respondem até o limite do valor do investimento.
O preço de emissão é
o valor cobrado pela subscrição da ação, isto é, o valor que tem
que ser desprendido pelo acionista em troca das ações, seja na
constituição da sociedade, seja na emissão de novas ações, em
virtude do aumento do capital social.

As ações podem ser classificadas, ainda, quanto à sua natureza.

3.2.2 Classificação das ações quanto à sua natureza


Estudamos que as ações representam uma parcela do capital social das
companhias e que estas possuem valores mobiliários. As ações comportam
várias classificações, sendo uma delas a classificação quanto à sua natureza.
a) Ordinárias: segundo Fuhrer (2005, p. 47), são aquelas que “conferem
direitos comuns de sócio, sem restrições ou privilégios”. Dentre esses

480  2º PERÍODO • administração • unitins


Aula 3 • Direito comercial e societário

direitos, podemos destacar, por exemplo, o direito de voto. Para Bertoldi


e Ribeiro (2006, p. 240), as ações ordinárias podem ser denominadas
de ações comuns, pois, “são aquelas que conferem ao seu titular todos
os direitos normalmente concedidos a qualquer sócio, sem nenhuma
vantagem ou restrição específica”.
b) Preferenciais: fornecem ao seu titular alguma espécie de preferência, como
o próprio nome indica. Como exemplo, pode-se citar o direito a dividendos
mínimos ou fixados em relação às ações ordinárias. Porém, essas ações
podem ser privadas de alguns direitos, como o direito de voto.
c) Ações de fruição: são as ações utilizadas para a amortização das ações
ordinárias e das preferenciais. Ou seja, segundo Tomazetti (2004, p.
277-278), as ações de fruição “são títulos que podem ser atribuídos
aos acionistas quando suas ações são integralmente amortizadas”.

3.2.3 Classificação das ações quanto à forma


Quanto à forma, as ações podem ser classificadas em nominativas e
escriturais.
a) Ações nominativas: são aquelas que declaram o nome do seu proprie-
tário. Devem ser registradas no livro de ações nominativas. Borba (2004,
p. 230 - 231) explica que, nas ações nominativas, tal qual no caso dos
imóveis, o registro é presunção de propriedade.
b) Ações escriturais: caracterizam-se por não haver emissão de certificado,
são mantidas em conta depósito de determinada instituição financeira,
em nome dos seus titulares. Foram introduzidas na legislação brasileira
pela atual lei de sociedades anônimas.

3.3 Dos órgãos da sociedade anônima


São considerados órgãos da sociedade anônima a Assembléia Geral, a
Diretoria, o Conselho de Administração, os Administradores e o Conselho Fiscal.

3.3.1 Assembléia Geral


Constitui o máximo poder da sociedade anônima. A assembléia geral tem
poderes para resolver, de acordo com Fuhrer (2005, p. 51), “todos os negócios
relativos ao objeto de exploração da sociedade [...] respeitados os limites da
lei”. A assembléia geral poderá ser ordinária ou extraordinária.
a) Assembléia Geral Ordinária – AGO: sempre realizada nos quatro
primeiros meses do exercício seguinte. Seu principal objeto é a apro-
vação das contas relativas ao exercício anterior (art. 132 LSA).
b) Assembléia Geral Extraordinária – AGE: pode ser instalada a qual-
quer tempo, conforme a necessidade que se apresente, para tratar de
assuntos que não sejam rotineiros (art. 131 da LSA). Necessita, porém,
que haja quórum de instalação, na forma do art. 136 e 129 da LSA.

unitins • administração • 2º PERÍODO  481


Aula 3 • Direito comercial e societário

3.3.2 Diretoria
A Diretoria consiste no órgão composto por, no mínimo, dois membros,
acionistas ou não, eleitos pelo Conselho de Administração ou pela Assembléia
Geral, com o fim de representar, de forma legal, a sociedade.

3.3.3 Conselho de Administração


Órgão deliberativo composto por, no mínimo, três membros acionistas eleitos
pela Assembléia Geral. Este órgão é obrigatório nas sociedades abertas e nas
sociedades de economia mista.
• Administradores
Podem ser inseridos nesta condição os membros da Diretoria e do
Conselho Fiscal, em conformidade com os arts. 145 e 146 da LSA,
observando os requisitos de ser pessoas residentes no país e que não
sejam impedidas por lei.
• Conselho Fiscal
Composto por, no mínimo, três membros e, no máximo, cinco, sejam
ou não acionistas na forma dos arts. 161 e 162 da LSA. A função
do Conselho Fiscal é, basicamente, fiscalizar, denunciar e examinar os
documentos da administração.

3.4 Da sociedade limitada


A sociedade limitada era regida pelo Decreto n. 3.708/19, revogado pelo
Código Civil. Assim, a sociedade limitada, que era considerada uma das socie-
dades mais utilizadas pela pequena exigência em matéria de formalidades,
com a nova lei, tornou-se uma sociedade bem mais complexa. Conforme leciona
Tomazetti (2004, p. 155) até o século XIX existiam apenas as sociedades de
pessoas com responsabilidade ilimitada e as sociedades anônimas que possuíam
responsabilidade limitada, porém muito complexas. O autor explica que
no fim do século XIX, em resposta às necessidades de pequenos e
médios empresários, surge um novo tipo societário que conjuga as
vantagens das sociedades de capitais e das sociedades de pessoas,
isto é, assegura aos sócios responsabilidade limitada pelas obriga-
ções sociais, sem a complexidade da sociedade anônima.

Com a entrada em vigor do novo Código Civil, as sociedades limitadas,


dentre outras mudanças, passaram a ser regidas pelos arts. 1.052 a 1.087 do
referido Código e a ser chamadas simplesmente limitadas.

3.4.1 Da sociedade limitada no novo Código Civil


Tomazetti (2004, p. 158) leciona que
com o advento do Código Civil de 2002, a questão recebe um
novo tratamento, ao se afirmar que nas omissões do capítulo sobre

482  2º PERÍODO • administração • unitins


Aula 3 • Direito comercial e societário

as limitadas, incidem as regras sobre as sociedades simples, salvo


se no contrato social, os sócios preferirem a aplicação da lei das
sociedades anônimas.

A colocação do autor é pertinente, pois essa questão era fartamente discutida


antes da vigência do novo Código. O que não quer dizer que tenha sido uma
boa solução. O melhor seria, segundo o autor, que a sociedade limitada tivesse
uma regulamentação própria, sem buscar socorro na legislação supletiva.

3.4.2 Da constituição da sociedade limitada


A sociedade limitada mantém certo hibridismo no Código Civil, ou seja,
tanto possui características de uma sociedade de pessoas quanto características
que a aproximam mais de uma sociedade de capitais. Bertoldi e Ribeiro (2006,
p. 186) ensinam que
a sociedade limitada poderá ser constituída mediante contrato
escrito lavrado por instrumento público ou privado. O Contrato
social é o instrumento que irá regular o funcionamento da socie-
dade, impondo, em conjunto com o ordenamento jurídico, quais as
regras a que se submeterão a sociedade empresária e seus sócios.

A despeito de a sociedade limitada ser constituída por meio de um contrato


social, por vezes, estabelecer se ela possui mais características de uma socie-
dade de pessoas ou de capitais somente é possível a partir do caso concreto.
Ilustramos no quadro a seguir, algumas situações em que a sociedade limitada
ora age como sociedade de pessoas, ora como sociedade de capitais.

Quadro 2: Situações da sociedade limitada

SOCIEDADE LIMITADA
Com características de Com características de
sociedade de pessoas sociedade de capitais
Permite-se que seja regida pelas normas
Permite-se que seja regida supletivamente
das sociedades anônimas, desde que
pelas normas das sociedades simples.
haja previsão.
A cessão de quotas depende da anuência Os sócios têm a liberdade de definir se a
de todos. cessão de quotas é livre.
Só poderá ser administrador quem for Permite-se que um terceiro seja adminis-
sócio na sociedade. trador da sociedade.
Exclusão do sócio pela quebra da affectio Os sócios podem deliberar a extinção da
societatis. sociedade, em virtude do falecimento de um
sócio, ou a continuação com seus herdeiros.
Fonte: Tomazetti (2004, p. 161-162).

3.4.3 Da limitação da responsabilidade dos sócios


A sociedade limitada representou uma grande conquista em relação às socie-
dades de responsabilidade ilimitada. Pode-se considerar que essa sociedade surgiu
para dar maior garantia ao empreendedor, quanto aos seus bens pessoais.

unitins • administração • 2º PERÍODO  483


Aula 3 • Direito comercial e societário

Proença (2005, p. 78) explica que a sociedade limitada é caracterizada


por ser “o único tipo societário, de natureza contratual, no qual todos os sócios
têm responsabilidade limitada pelas dívidas sociais”, tendo em vista que
o parâmetro para tal limitação é o capital social. Ou seja,
enquanto o capital social não estiver totalmente integrali-
zado, todos os sócios poderão ser responsabilizados por sua
integralização (tendo em vista que a responsabilidade entre
eles, pela integralização, é solidária). Contudo, uma vez que
se verifique que o capital está inteiramente integralizado,
nenhuma responsabilidade subsistirá para os sócios.
Assim, a partir da integralização do capital, mesmo nos casos que haja
certa carência patrimonial, os sócios não mais responderão pelas obrigações da
sociedade, mas responderão pelas obrigações da sociedade.

3.4.4 Do contrato social


Proença (2004, p. 79) aponta que o contrato social “pode ser elaborado
por instrumento público ou particular, inclusive quando houver integralização
de capital com conferência de bens imóveis”. O contrato social deverá conter
todos os requisitos dos atos jurídicos em geral (art. 104 CC), bem como deverá
observar o art. 1.054 do CC.

3.4.5 Da administração da sociedade limitada


Conforme leciona Borba (2004, p. 107) a gestão da sociedade deverá ser
exercida pelos administradores designados no contrato ou em ato separado (art.
1.060 do Código Civil). O Código Civil aboliu a terminologia “sócio-gerente”, uma
vez que os gestores são chamados administradores. Outra novidade em relação
às sociedades limitadas, pois o instituto já prevalecia em relação às sociedades
anônimas, é a administração por pessoa estranha à sociedade. No caso das limi-
tadas, porém, para que isso ocorra, deverá haver previsão no contrato social.

3.4.6 Da denominação sociedade limitada


O art. 1.158 do Código Civil disciplina a denominação da sociedade
limitada.

484  2º PERÍODO • administração • unitins


Aula 3 • Direito comercial e societário

3.4.7 Das quotas e do capital social


Proença (2004, p. 81) diz que “o capital social das limitadas é dividido
em quotas, iguais ou desiguais, cabendo uma ou diversas a cada sócio”. O
capital social representa “o somatório dos valores e/ou dos bens que os sócios
se obrigam a transferir para a sociedade para, com ele, formar o patrimônio
societário e gerir suas atividades”.
O capital social está previsto no art. 1.055 do Código Civil.

Da leitura do art. 1.055 conclui-se que é vedada a prestação de serviços


como participação de capital, embora se permita que esse capital seja composto
por bens (móveis e imóveis).

3.4.8 Deliberação dos sócios


O Código Civil regula as deliberações sociais nos arts. 1.071 a 1.080,
sendo que isso se constitui uma das principais inovações da sociedade limi-
tada. Proença (2004, p. 85) explica que ”As deliberações societárias devem
ser tomadas em reunião ou assembléia de sócios, conforme esteja previsto no
contrato social. Serão sempre em assembléia, contudo, se o contrato social for
omisso ou o número de sócios for superior a dez”. O art. 1.070, § 3º, prevê a
dispensa da assembléia ou da reunião, quando a totalidade dos sócios se mani-
festar por escrito, sobre a pauta da reunião. O art. 1.071 do Código Civil prevê
as matérias que estão sujeitas a deliberação.

3.4.9 Conselho fiscal


O art. 1.066 do Código Civil prevê a possibilidade da constituição de um
conselho fiscal pelas sociedades limitadas. Dispõe o referido art. que “Sem
prejuízo dos poderes da assembléia dos sócios, pode o contrato instituir conselho
fiscal composto de três ou mais membros e respectivos suplentes, sócios ou não,
residentes no País, eleitos na assembléia anual prevista no art. 1.078”.

3.4.10 Da dissolução da sociedade limitada


Proença (2004, p. 91) comenta que o Código Civil não tratou especifica-
mente da dissolução da sociedade limitada, apenas remete a artigos referentes a
outras sociedades. O autor, resumidamente, coloca como causas da dissolução:

unitins • administração • 2º PERÍODO  485


Aula 3 • Direito comercial e societário

a) falência;
b) término do prazo;
c) consenso unânime dos sócios;
d) deliberação por maioria na sociedade por tempo indeterminado;
e) falta de pluralidade de sócios não recomposta em 180 dias;
f) extinção da autorização para funcionar.
Esta aula teve a finalidade de identificar as duas espécies de sociedade mais utili-
zadas em nosso sistema. Em sua primeira parte, abordamos a sociedade anônima,
que é, de longe, a mais complexa e, em seguida, abordamos a sociedade limitada,
uma vez que ela foi a que mais sofreu modificações no novo Código. A sociedade
limitada surgiu como forma de dar maiores garantias aos empreendedores, que, em
caso de contratempos em seus negócios, respondiam com o seu patrimônio pessoal.
Por esse ângulo, a sociedade limitada funcionou como uma grande conquista.

Síntese da aula
Estudamos as sociedades anônimas, que são a espécie de sociedade mais
complexa que conhecemos. Procuramos priorizar, na medida do possível, suas
características mais importantes, trazendo ainda para nosso campo de estudo
alguns conceitos importantes como o que é CVM, ações, as espécies de ações
e os órgãos da sociedade anônima. A sociedade limitada foi abordada de
forma a demonstrar que, apesar de ser uma das sociedades mais utilizadas, as
mudanças que advieram com o novo Código Civil quase a aproximaram das
sociedades anônimas em matéria de complexidade.

Atividades
1. Os valores mobiliários que não representam parcelas do capital social e
que conferem a seu titular direito de participação nos lucros da sociedade
anônima denominam-se:
a) partes beneficiárias
b) commercial papers
c) debêntures
d) bônus de subscrição

2. Assinale a alternativa correta quanto ao administrador da sociedade limitada.


a) Deverá obrigatoriamente ser sócio.
b) Adquire poderes irrevogáveis.
c) Poderá ser pessoa estranha à sociedade, uma vez que a lei nada previu.
d) Poderá ser pessoa estranha à sociedade, desde que haja previsão no
contrato social, ou ainda em ato em separado.

486  2º PERÍODO • administração • unitins


Aula 3 • Direito comercial e societário

3. Estabeleça a distinção entre as sociedades anônimas abertas e fechadas.


Responda redigindo um texto de dois parágrafos, contemplando as caracte-
rísticas de cada sociedade.

4. As ações podem ser consideradas como títulos de crédito? Justifique a sua


resposta em um parágrafo de, no máximo, 10 linhas.

Comentário das atividades


Na atividade um, todas as opções constituem formas de valor mobiliário. A
resposta correta é a alternativa (a): é a que se encaixa no pressuposto do enun-
ciado da questão. As demais, (b), (c) e (d), apesar de serem valores mobiliários,
não possuem esta característica.
Na atividade dois, você certamente optou pela alternativa (d): o gestor não-
sócio poderá exercer a função de administrador, desde que previsto no contrato
social ou em ato separado. As demais alternativas, (a), (b) e (c), estão incorretas:
impõem condições estranhas à lei.
Para estabelecer a distinção proposta na atividade três, entre as sociedades
anônimas abertas e fechadas, você deve ter se lembrado de que, por hipótese,
uma delas pode comercializar suas ações em mercado aberto e a outra não.
Para responder a atividade quatro, você deve ter lembrado: há certa
discussão na doutrina sobre se as ações podem ser consideradas como títulos
de crédito. Em nossa aula, adotamos a posição de Bertoldi e Ribeiro (2006) que
não admitem essa possibilidade e apontam alguns argumentos. Você deve ter
buscado esses argumentos para fortalecer os seus.
Ao resolver as atividades, você atingiu os objetivos propostos para a aula:
reconhecer como são constituídas as sociedades anônimas e analisar as mudanças
na sociedade limitada, a partir do Código Civil. Continue se empenhando!

Referências
BERTOLDI, M. M.; RIBEIRO, M. C. P. Curso avançado de Direito Comercial. 3. ed.
São Paulo: Revista dos Tribunais, 2006.
BORBA, J. E. T. Direito Societário. 9. ed. Rio de Janeiro: Renovar, 2004.
BRASIL. Lei n. 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Novo Código Civil. Disponível
em: <http://www.senado.gov.br> Acesso em: 9 abr. de 2008.
COELHO, F. U. Manual de Direito Comercial. 14. ed. São Paulo: Saraiva, 2003.
FUHRER, M. C. A. Resumo de Direito Comercial. 34. ed. São Paulo: Malheiros,
2005.
PROENÇA, J. M. M. Direito Comercial I. São Paulo: Saraiva, 2005.
TOMAZETTE, M. Direito Societário. 2. ed. São Paulo: Juarez de Oliveira, 2004.

unitins • administração • 2º PERÍODO  487


Aula 3 • Direito comercial e societário

Na próxima aula
Você vai estudar a Teoria Geral dos Contratos que, apesar de matéria do
âmbito do Direito Civil, servir-nos-á como base para estudar os contratos comer-
ciais em espécie que serão vistos na aula 5.

Anotações



































488  2º PERÍODO • administração • unitins


Aula 4 • Direito comercial e societário

Aula 4
Da Teoria Geral dos Contratos e dos
Contratos em Espécie

Objetivos
Esperamos que, ao final desta aula, você seja capaz de:
• analisar a Teoria dos Contratos em consonância com a doutrina e a
jurisprudência;
• conhecer os contratos em espécie.

Pré-requisitos
Você estudou Direito Civil no semestre passado e pôde perceber que, para
realizar os atos da vida civil, a pessoa necessita de estar no pleno gozo de sua
capacidade (de direito e de fato). Ao contratar, os mesmos requisitos observá-
veis aos atos jurídicos devem estar presentes e, ainda, devem-se observar os
princípios que norteiam os contratos. Você pode reler no seu caderno de ativi-
dades o que você aprendeu sobre atos jurídicos.

Introdução
Se tomarmos nota com atenção pode-se verificar que, a cada momento,
estamos contratando algo com alguém. No plano individual, contratamos com
alguém de igual para igual, como no caso de uma compra e venda simples,
o que é uma situação; ou estamos diante de outra situação, quando contra-
tamos com alguém mais forte economicamente, como é o caso dos serviços
bancários, dos seguros, dos planos de saúde, que são os chamados contratos
de adesão (você apenas adere) sem poder modificar qualquer cláusula. No
âmbito do direito comercial, os contratos chegam a ser bem mais complexos,
pois envolvem sempre quantias vultosas e grandes negócios, podendo-se até
mesmo falar em negócios internacionais (contratos internacionais), contratos
que envolvem empresas de concessão, seja de automóveis, seja de outros
produtos, como bebidas. Fala-se, ainda, em contratos de leasing, contratos de
franchising e outros, que serão apresentados na aula seguinte, após o estudo
da teoria geral dos contratos.

unitins • administração • 2º PERÍODO  489


Aula 4 • Direito comercial e societário

4.1 Teoria Geral dos Contratos


A palavra contrato deriva de contractus, que significa unir, contrair, conforme
explica Andrade (1999, p. 13). Para a autora, o contrato “é um negócio jurídico,
regulamentador de interesses privados, reconhecido pelo ordenamento jurídico,
visando criar, modificar ou extinguir obrigações”. Tece ainda, a autora, um inte-
ressante comentário, ao dar dois sentidos para o contrato: sentido amplo e sentido
estrito. “Em sentido amplo, podemos afirmar que o vocábulo contrato designa todo
o negócio jurídico que se forma pelo concurso de vontades e, em sentido restrito, o
acordo de vontades que produz efeitos obrigacionais”. Até hoje, apesar de várias
tentativas em se separar o direito contratual do direito das obrigações, os dois vêm
sendo tratados juntos desde o direito romano, embora, cada vez mais, o direito
contratual venha ampliando o seu raio de abrangência, podendo-se concluir que o
direito das obrigações é o residual e o direito dos contratos o principal.
Gonçalves (2004, p. 95) conceitua o contrato como o vínculo obrigacional
que existe entre as partes, no qual “uma deve prestação à outra, e esta, em
contrapartida, deve à primeira uma contraprestação, ou seja, o contrato é um
acordo de vontades que tem por fim criar, modificar ou extinguir direitos”. Após
conceituar o contrato é importante conhecer os pilares em que ele deve ser cons-
tituído. Gonçalves (2004, p. 96) nos aponta sete princípios, de acordo com a
ideologia contida no novo Código Civil.

4.2 Princípios que norteiam os contratos


São pilares ou princípios que norteiam os contratos: (I) a autonomia da
vontade; (II) o consensualismo; (III) a relatividade; (IV) a obrigatoriedade; (V) a
revisão; (vi) a boa-fé; (vii) a supremacia da ordem pública. A partir da análise
desses princípios, vamos analisar a teoria geral dos contratos.

4.2.1 Princípio da autonomia da vontade


De acordo com Gonçalves (2004, p. 96), a autonomia da vontade consiste
na liberdade de contratar. Essa autonomia não é absoluta, esbarra nos limites
estabelecidos pela ordem pública, uma vez que não se pode contrariar o Estado
de Direito, bem como a moral e os bons costumes.

4.2.2 Princípio do consensualismo


Gonçalves (2004, p. 96) explica que o consensualismo é o acordo de
vontade entre as partes. Assim, é o consenso formado entre elas que faz nascer
a relação jurídica. Desse modo, para haver o consensualismo não pode haver
dúvidas quanto à manifestação de vontade das partes.

4.2.3 Princípio da relatividade


Segundo Gonçalves (2004, p. 96), a relatividade “significa que o contrato produ-
zirá efeitos apenas entre as partes contratantes e, conseqüentemente, os seus sucessores,
com exceção das obrigações personalíssimas, que só vinculam o próprio contratante”.

490  2º PERÍODO • administração • unitins


Aula 4 • Direito comercial e societário

4.2.4 Princípio da obrigatoriedade


Ao evocar a obrigatoriedade do contrato, Gonçalves (2004, p. 97) o faz
com a expressão pacta sunt servanda, que significa que, implicitamente, há nos
contratos cláusulas de irretratabilidade e intangibilidade. Contudo, há que se frisar
que essa cláusula foi bastante mitigada pelo novo Código Civil, que previu instru-
mentos que possibilitam a revisão dos contratos, quando houver eventual desequi-
líbrio entre as partes contratantes (rebus sic stantibus).

Tabela 1: Revisão dos contratos


Rebus sic stantibus Irretratabilidade
Teoria da imprevisão. Impossibilidade de uma das
partes, unilateralmente, liberar-se
1. O fato imprevisto impeditivo do
dos encargos contratuais assu-
Pacta sunt servanda adimplemento exclui a respon-
midos e encerrar o contrato sem
Os pactos e contratos sabilidade negocial.
anuência da outra.
firmados devem ser 2. A álea extraordinária, pela
A intangibilidade corresponde
cumpridos. impossibilidade de previsão
a impossibilidade de uma das
e excessivo peso, deve ser
partes, unilateralmente alterar o
dividida entre os contratantes.
conteúdo das prestações assumidas
(CUNHA, 2003, p. 180 e 243).
(GONÇALVES, 2004, p. 97).

4.2.5 Princípio da revisão


Para Gonçalves (2004, p. 98), a revisão significa que as obrigações que foram
assumidas, por meio de um contrato, poderão ser revistas na hipótese de fatos poste-
riores imprevisíveis alterarem a situação econômica de uma das partes, tornando o
contrato excessivamente oneroso para uma e excessivamente vantajoso para a outra
parte. Ver também a disposição do art. 478 do Código Civil.

Da Resolução por Onerosidade Excessiva


Art. 478. Nos contratos de execução continuada ou diferida, se a prestação de uma das
partes se tornar excessivamente onerosa, com extrema vantagem para a outra, em virtude
de acontecimentos extraordinários e imprevisíveis, poderá o devedor pedir a resolução do
contrato. Os efeitos da sentença que a decretar retroagirão à data da citação.

4.2.6 Princípio da boa-fé objetiva

A boa-fé objetiva, embora já por vezes reconhecida na doutrina, ganhou reco-


nhecimento expresso no novo Código Civil.

Art. 422. Os contratantes são obrigados a guardar, assim na conclusão do contrato,


como em sua execução, os princípios de probidade e boa-fé.

unitins • administração • 2º PERÍODO  491


Aula 4 • Direito comercial e societário

4.2.7 Princípio da supremacia da ordem pública


Também como função social do contrato, previsto de forma expressa, no
Código Civil art. 421.

Art. 421. A liberdade de contratar será exercida em razão e nos limites da função social
do contrato.

Além desses princípios, com a entrada em vigor do novo Código Civil,


alguns princípios são considerados mega princípios aplicáveis ao Direito Civil e,
em especial aos contratos, que passam a observá-los.
1. Princípio da Socialidade – prevalência dos valores coletivos sobre os
individuais.
2. Princípio da Eticidade – dignidade da pessoa humana (art. 1º, III da CF).
3. Princípio da Operabilidade – é a própria efetivação do direito.

4.3 Classificação dos contratos


A doutrina não costuma ser unânime ao tratar de classificação dos contratos.
Apresentamos, assim, uma classificação adequada à nossa proposição nesse
curso, seguindo a proposta de Gonçalves (2004, p. 101).

Quadro 1: Classificação dos contratos


1. QUANTO AOS EFEITOS
Unilaterais Bilaterais Gratuitos Onerosos
Geram obrigações para Apenas uma das partes Ambas as
Geram obrigações
ambos contratantes. aufere vantagens. partes auferem
apenas para uma
Também chamado de Apesar de gratuito vantagens e têm
das partes.
sinalagmáticos. necessita de contrato. sacrifícios.
2. QUANTO À FORMAÇÃO
Contratos paritários Contratos de adesão
Apenas uma das partes adere a um contrato
Formado pelo acordo de vontade entre as partes,
previamente estabelecido pela outra parte.
que livremente estipulam as suas condições.
Encontram-se disciplinados no CDC.
3. QUANTO AO MOMENTO DE SUA EXECUÇÃO
Contratos de trato
Contratos de execução
Contratos de execução diferida sucessivo ou de
instantânea ou imediata
execução continuada
Aqueles que se exaurem em Aqueles que se exaurem em um Aqueles que se
um só ato, sendo cumpridos só ato, porém em momento futuro, cumprem por meio de
após sua celebração. diverso daquele da celebração. atos reiterados.

492  2º PERÍODO • administração • unitins


Aula 4 • Direito comercial e societário

4. QUANTO AO AGENTE
Contratos personalíssimos Contratos impessoais
Intuito personae. Firmados em razão de caracte- Aqueles em que as qualidades pessoais
rísticas especiais de um ou ambos contratantes. do contratante são indiferentes.
5. QUANTO À EXISTÊNCIA
Contratos principais Contratos acessórios
Aqueles que se encontram subordinados
Aqueles que existem por si mesmo.
à existência de um contrato principal.
6. QUANTO À FORMA
Contratos solenes Contratos não solenes
Formais. Devem obedecer uma forma pres- Aqueles de forma livre. Orais, escritos,
crita em lei para serem válidos. por instrumento público e/ou particular.
7. QUANTO AO OBJETO
Contrato preliminar Contrato definitivo
Aqueles cujo objeto é justamente a cele- Contratos finais, resultantes das negocia-
bração de um contrato definitivo. ções preliminares.
8. QUANTO À DESIGNAÇÃO
Contratos Contratos
Contratos inominados Contratos mistos
nominados coligados
Resultantes da
interligação de
Não estão discipli- Formados pela combi-
vários contratos
nados em lei, porém nação de um contrato
Possuem designação típicos,
podem ser estipu- típico com algumas
própria. constando,
lados pelas partes cláusulas criadas pelas
entretanto,
(art. 425 CC). partes.
no mesmo
documento.
Fonte: Gonçalves (2004, p. 101-104).

4.4 Dos contratos em espécie


Você estudou nos tópicos anteriores a teoria geral dos contratos. Tudo o que
você estudou, aplica-se, via de regra, aos contratos em espécie, com exceção,
aos contratos de consumo (que se regem pelo Código do Direito do Consumidor
– CDC). Muito embora, o novo Código Civil em muito tenha se aproximado, em
matéria de princípios, ao Código de Defesa do Consumidor. Assim, para deli-
mitar a área de atuação de um e de outro, basta observar a regra do CDC, ao
definir quem é fornecedor e quem é consumidor. Você também aprendeu sobre
isto, no semestre passado, quando estudou Direito do Consumidor.

4.4.1 Contratos bancários


Para falar dos contratos bancários é necessário, primeiro, conhecer um
pouco sobre as instituições financeiras, a legislação que regulamenta o setor,

unitins • administração • 2º PERÍODO  493


Aula 4 • Direito comercial e societário

para, depois, estudarmos, de forma mais detida os contratos bancários especí-


ficos, passando por discussões como as que colocam as instituições financeiras
como prestadoras de serviços e que, como tal, devem se submeter às regras do
Código de Defesa do Consumidor.
a) Das instituições financeiras
O modelo bancário trazido ao Brasil, de acordo com Fortuna (2006, p.
3), foi o Europeu, com as atividades consideradas básicas de depósitos e
empréstimos. Esse modelo austero, a partir do século XX, com a euforia do
pós-guerra, começou a ruir. A partir dos anos 1950, propagaram-se no
Brasil os bancos, porém simultaneamente a essa propagação, antevia-se a
incapacidade em sua administração. Assim, a essa época, vários bancos
encerraram suas atividades e outros acabaram por sofrer fusões e/ou trans-
formações. No quadro atual, tivemos uma Reforma Bancária em 1964 (Lei
n. 4.595/64) e a Reforma do Mercado de Capitais (Lei n. 4.728/65).
Aliás, o conceito de instituição financeira pode ser extraído da própria
lei, (Lei n. 4.595/64) que passou a regular o sistema financeiro nacional,
bem como da Lei n. 7.492/86, que cuida dos chamados crimes contra
o sistema financeiro nacional.

Quadro 2: Artigos
Art. 17 da Lei n. 4.55/64 Art. 1º da Lei n. 7.492/86
Considera-se instituição financeira,
Consideram-se instituições financeiras,
para efeito desta lei, a pessoa jurí-
para os efeitos da legislação em
dica de direito público ou privado,
vigor, as pessoas jurídicas públicas ou
que tenha como atividade principal ou
privadas, que tenham como atividade
acessória, cumulativamente ou não, a
principal ou acessória a coleta, inter-
captação, intermediação ou aplicação
mediação ou aplicação de recursos
de recursos financeiros (Vetado) de
financeiros próprios ou de terceiros,
terceiros, em moeda nacional ou estran-
em moeda nacional ou estrangeira, e
geira, ou a custódia, emissão, distri-
a custódia de valor de propriedade
buição, negociação, intermediação ou
de terceiros.
administração de valores mobiliários.

Explicando a extensão desses conceitos, Fazzio Jr. (2005, p. 571-572)


preceitua que
ao lado das sociedades de crédito, financiamento e investimentos,
das caixas econômicas (empresas bancárias voltadas para a
captação e mobilização de poupança popular) e das coopera-
tivas de crédito (sociedades civis dedicadas à mutualidade), os
estabelecimentos bancários oficiais ou privados são autorizados
e fiscalizados pelo Banco Central que é o banco emissor.

Determinados empreendimentos, como as instituições financeiras, os


grupos de consórcios e as seguradoras, necessitam de autorização do
Poder Público para atuar no mercado.

494  2º PERÍODO • administração • unitins


Aula 4 • Direito comercial e societário

Para tratar dos contratos que envolvem as instituições financeiras é


importante a menção de dois conceitos que estão ligados ao tema:
• crédito: consiste na troca de um bem atualmente disponível contra uma
promessa de restituição futura. Os Bancos são os órgãos fundamentais
do crédito, porque as operações bancárias giram em torno do crédito
(credere = acreditar ou fidúcia, de fides = confiança). A função bancária
só faz sentido por seus aspectos econômicos; daí o contrato bancário ter
interesse econômico.
• usura: para Cunha (2003, p. 253) é a “remuneração excessiva do capital”,
ou seja, “é o empréstimo de dinheiro mediante juros elevados”.

4.5 Das operações bancárias


Fazzio Jr. (2005, p. 578) chama atenção para o fato que as operações
bancárias são negócios jurídicos incertos na órbita contratual, como os demais
negócios também o são. Ou seja, ao assinar um contrato de empréstimo junto a
uma instituição financeira, tal qual outra prestação de serviços qualquer, há nessa
operação riscos para as duas partes contratantes. O autor divide as operações
bancárias em operação típica e atípica.

Quadro 3: Operações bancárias


OPERAÇÃO TÍPICA OPERAÇÃO ATÍPICA
Essenciais à atividade bancária Atividades acessórias
Ex.: cobrança de títulos e a guarda de
Ex.: abertura de crédito e conta corrente.
valores.

4.5.1 Das modalidades de contratos de operações bancárias


a) Depósito
Umas das modalidades mais comuns de contratos de operação bancária
de natureza passiva tem o depósito bancário em suas várias modalidades.
Para Fazzio Jr. (2005, p. 579), no contrato de depósito bancário
o banco é o depositário de valores monetários, obrigando-se a
guardá-los e restituí-los quando o depositante ou outrem à sua
ordem o exigirem, nas condições estipuladas. Trata-se, pois, de
contrato real por prazo indeterminado, constituído com a entrega
do numerário ao banco.

Os depósitos podem ser:


• à vista;
• com restituição subordinada a pré-aviso;
• a prazo fixo com remuneração;
• a prazo com remuneração condicionada a prazo mínimo de resgate;

unitins • administração • 2º PERÍODO  495


Aula 4 • Direito comercial e societário

• de administração de caixa;
• com aplicação financeira.
b) Conta corrente
Sérgio Covello citado por Fuhrer (2005, p. 83) define conta corrente
como
contrato em virtude do qual o banco se obriga a receber os valores
que lhe são remetidos pelo cliente (correntista) ou por terceiros, bem
como a cumprir as ordens de pagamento do cliente até o limite de
dinheiro nela depositado ou do crédito que se haja estipulado.

Deste modo, a conta corrente, enquanto não vencida e apurada, é


considerada ilíquida, ou seja, não se pode exigir qualquer saldo para
a sua apuração. Observe, por exemplo, que o fato do saldo da conta
corrente estar negativo não implica, em um primeiro momento, a quebra
do contrato. Isso só ocorre após o vencimento do contrato, no qual o
banco não tenha apurado os seus haveres.

c) Desconto
Fuhrer (2005, p. 84) baseia-se no art. 1.858 do Código Civil Italiano
para definir o que é o desconto. Assim, extraído o conceito da defi-
nição legal temos que “é o contrato pelo qual o banco, deduzida uma
taxa, antecipa ao cliente o valor de um crédito contra terceiro, ainda
não vencido, mediante a cessão desse mesmo crédito”. Ainda segundo
Fuhrer (2005, p. 84)
a operação se completa com o endosso do título ao banco e o
lançamento do crédito a favor do cliente. Se o crédito não for
pago no vencimento o banco poderá exigir a restituição da soma
antecipada, dispondo além disso dos direitos cambiais caracterís-
ticos dos títulos de crédito descontados. O redesconto, ou seja, o
novo desconto, feito pelo banco junto à outro banco, só pode ser
feito no Banco Central (art. 10, IV, da Lei 4.595/64).

d) Antecipação bancária
Fuhrer (2005, p. 84) explica que antecipação bancária é o fenômeno
consistente em
adiantamento de dinheiro, vinculado a uma garantia real. A
garantia pode ser dada em títulos de crédito, direitos, merca-
dorias ou títulos representativos de mercadorias. A anteci-
pação pode ser dada isoladamente ou dentro de um contrato
de conta corrente.

O financiamento é uma das espécies de antecipação “em que o banco


leva em consideração a finalidade da verba, fiscalizando por vezes a
sua aplicação” (FUHRER, 2005, p. 84). Existem diferenças entre a ante-
cipação e a abertura de crédito e o desconto.

496  2º PERÍODO • administração • unitins


Aula 4 • Direito comercial e societário

• Antecipação
• A garantia é a essência do negócio.
• Os títulos não passam para a propriedade do banco.
• Abertura de crédito
• A garantia é um acessório facultativo.
• Desconto
• Os títulos passam para a propriedade do banco.
e) Abertura de crédito
O exemplo mais comum de contrato de crédito é o cheque especial. No
contrato de abertura de crédito, segundo Fuhrer (2005, p. 85)
obriga-se o banco a colocar à disposição do cliente, ou de
terceiro, por prazo certo ou indeterminado, uma importância, até
o limite estipulado, facultando-se a utilização pelo todo ou parce-
ladamente. A operação pode se dar a descoberto (sem outra
segurança, além da confiança no cliente) ou acompanhada de
alguma garantia (hipoteca, penhor, fiança, etc.).

f) Cartões de crédito
Os cartões de crédito, como nos ensina Fuhrer (2005, p. 86), surgiram
nos Estados Unidos, por volta de 1949, e, a partir daí, se populari-
zaram por todo o mundo. Representam certa segurança para o usuário
e para o estabelecimento que o recebe, além de ser uma atividade
de grande rentabilidade para a instituição concedente. Fortuna (2006,
p. 214) aponta aspectos importantes tanto para o estabelecimento como
para os consumidores, pois ao serem
utilizados para a aquisição de bens ou serviços nos estabeleci-
mentos credenciados, para os quais trazem a real vantagem de
ser um indutor no crescimento das vendas e a suposta desvan-
tagem de um rebate no seu preço à vista pela demora no prazo
do repasse dos recursos proveniente das vendas.

Para o possuidor do cartão, quando os valores são pagos no venci-


mento seguinte, a compra representa a vantagem de ganhos reais
sobre a inflação, além do enquadramento de suas necessidades de
consumo às suas disponibilidades de caixa. Desse modo, o cartão de
crédito caracteriza-se por tornar a realização de transações comerciais
mais fáceis e seguras, na medida em que facilita a compra e garante
o vendedor, pois minimiza os riscos de falsificações e de emissões de
cheques sem provisão de fundos. O conjunto dessas relações jurídicas
envolve três pólos: o emissor, o titular do cartão e o fornecedor. O
emissor é a pessoa jurídica que serve de intermediário entre o titular
do cartão (comprador) e o fornecedor (vendedor). O sistema oferece
vantagens para os três pólos:

unitins • administração • 2º PERÍODO  497


Aula 4 • Direito comercial e societário

• para o usuário que poderá comprar a prazo, sem necessidade de


efetuar cadastramento e com juros já pactuados;
• para o fornecedor que terá garantia de pagamento;
• para o emissor do cartão que receberá os juros e as taxa de
concessão do cartão.
Os cartões de crédito ganharam popularidade ao longo dos tempos.
Assim, acabam por surgir várias espécies, sempre com o objetivo de atrair
um determinado público alvo. Vamos conhecer algumas espécies.
a) Cartões de crédito propriamente ditos: são os cartões de crédito
ligados a uma instituição financeira, que dão a possibilidade ao
titular de adquirir bens ou serviços nos mais variados estabeleci-
mentos, desde que sejam filiados ao sistema. De acordo com Fortuna
(2006, p. 214), existem dois tipos conforme o tipo do usuário: de
pessoa física e empresarial. Quanto à sua utilização podem ser de
uso exclusivo no mercado interno ou podem ser internacionais, sendo
que, neste caso, quando houver gastos fora do país, a conversão
em moeda nacional é feita pela taxa do dia.
b) Cartões inteligentes: Fortuna (2006, p. 214) nos fornece o conceito
desse cartão.
o nome genérico dos cartões dotados de processador e módulo
de memória. Diferem dos cartões convencionais, pois, além
de reunirem as características de todos os cartões anteriores,
possuem o chip embutido, que permite sua utilização em outras
funções, como realizar internamente as operações e suportar um
volume de dados até 200 vezes maior.

Atualmente, as instituições bancárias vêm substituindo os seus cartões


por cartões dotados de chips, o que aumenta também a segurança.
c) Cartão de afinidade: (em parceria com organizações não lucra-
tivas): esse cartão, de acordo com Fortuna (2006, p. 215-216)
é na realidade, um cartão de crédito em que grupos, organiza-
ções beneficentes, associações, clubes e afins exibem sua marca
ou logotipo. O produto tem todas as características, benefícios e
utilidades de um cartão de crédito comum, com a vantagem de
oferecer os privilégios e serviços extras que o grupo social ao
qual o cliente pertence quiser.

d) Cartão co-branded: explica Fortuna (2006, p. 216) que é


uma variação dos cartões de afinidade, emitida por uma empresa
reconhecida no mercado (TAM, GM, FIAT) em associação com
uma operadora e um banco específico. Traz vantagens espe-
cíficas para seus associados como, por exemplo, oferecer
programas de incentivo.

498  2º PERÍODO • administração • unitins


Aula 4 • Direito comercial e societário

4.6 Contrato de Alienação Fiduciária


A alienação fiduciária é uma espécie de contrato e pode ser definido como
o “negócio jurídico entre aquele que vende a coisa e aquele que recebe a sua
posse e propriedade resolúvel, ficando obrigado a pagar o preço, em presta-
ções, à instituição financeira interveniente” (CUNHA, 2003, p. 16). Inicialmente,
a alienação fiduciária em garantia de bens móveis foi introduzida no ordena-
mento jurídico brasileiro pela Lei n. 4.728/65 e, posteriormente, alterada pelo
Decreto-lei 911/69. A partir daí, a alienação fiduciária tem sido utilizada, com
freqüência, como instrumento de garantia de financiamentos bancários, princi-
palmente no financiamento de automóveis.
O Código Civil inovou a respeito da propriedade fiduciária em garantia,
em seus arts. 1.361 a 1.368. Recentemente, tivemos a inclusão do art. 1368-A,
no Código Civil, para dirimir as dúvidas provenientes da propriedade fiduciária
regulamentada pelo Código.

Saiba mais

Essa discussão toda se coloca para saber se o Código Civil revogou a Lei
n. 4.728/65, alterada pelo decreto 911/69. Isso, porém, não foi o que ocorreu.
Os dispositivos processuais relativos à alienação permanecem em vigor, até
mesmo pelo disposto no art. 2.043 do Código Civil. Segundo Fazzio (2005, p.
553), é alienação fiduciária o contrato pelo qual
uma pessoa (fiduciante) obtém financiamento para a aquisição de
bem móvel, durável, alienando referido bem ao fiduciário, como
garantia de pagamento do débito assumido. O bem fica na posse
direta e depósito daquela, enquanto a posse indireta e o domínio
resolúvel ficam com o fiduciário. É o mecanismo da alienação
fiduciária em garantia.

A alienação fiduciária é o instituto, por meio do qual, o fiduciante obtém, do


fiduciário, financiamento para a aquisição de um bem móvel durável, alienando-
o em garantia do pagamento do débito assumido. As partes contratantes no
contrato de alienação fiduciária são normalmente a instituição financeira, como
credora fiduciária e o alienante do bem, como devedor fiduciante. São requisitos
da alienação fiduciária:
• valor total da dívida ou sua estimativa;
• local e data do pagamento;
• taxa de juros e comissões cuja cobrança for permitida;

unitins • administração • 2º PERÍODO  499


Aula 4 • Direito comercial e societário

• eventualmente, a cláusula penal e a estipulação da correção monetária,


com identificação dos índices aplicáveis.

4.6.1 Alienação Fiduciária para bens imóveis

Fortuna (2006, p. 227) menciona que a alienação fiduciária nos financia-


mentos imobiliários está regulamentada desde 1997, sendo que a lei original foi
aperfeiçoada pela Lei n. 10.931/04. Assim, “ela garante ao credor a proprie-
dade do imóvel até a quitação do financiamento, permitindo ao devedor apenas
a posse direta do bem. A hipoteca, instrumento que dá a posse do imóvel ao
devedor, transforma o bem em garantia do crédito concedido”.

4.7 Leasing (Arrendamento Mercantil)


No Brasil, o contrato de leasing foi originariamente regulamentado pela Lei
n. 6.099/74 e, posteriormente, recebeu as modificações trazidas pela Lei
n. 7.132/83. Mancuso (2002, p. 18) explica que na língua inglesa, o ­sufixo
-ing forma substantivos que exprimem a ação verbal. Dessa forma, “esse
fonema, acoplado ao verbo to lease (alugar, arrendar), forma a expressão
leasing, que significa, portanto, ato ou processo de alugar ou arrendar, ou
seja: locação ou arrendamento”.

Rizzardo (2000, p. 18) define o leasing como “um contrato de natureza


econômica e financeira, pelo qual uma empresa cede em locação a outrem um
bem móvel ou imóvel, mediante o pagamento de determinado preço”. Pode-se
assim concluir que o leasing é o contrato por meio do qual uma parte contrata
com a outra para adquirir um bem, em consonância com as indicações do arren-
datário e lhe arrende este bem pelo prazo do contrato. No contrato de leasing,
cabe ao arrendatário a opção de, no fim do contrato, adquirir o bem arrendado,
mediante um preço residual previamente fixado. A par dos conceitos dados pela
doutrina, o leasing recebeu um conceito legal, previsto no art. 1º, parágrafo
único da Lei n. 7.132/83.
Parágrafo único – considera-se arrendamento mercantil, para os
efeitos desta Lei, o negócio jurídico realizado entre pessoa jurí-
dica, na qualidade de arrendadora, e pessoa física ou jurídica,
na qualidade de arrendatária, e que tenha por objeto o arrenda-
mento de bens adquiridos pela arrendadora, segundo especifica-
ções da arrendatária e para uso próprio desta.

Inicialmente, esse contrato era privativo das pessoas jurídicas, ou seja, as


pessoas físicas somente puderam usar desse instrumento com a modificação
inserida pela Lei n. 7.132/83. Assim, apenas após a vigência desta Lei houve
possibilidade de se contratar também com a pessoa física.

Entre as espécies de leasing, Rizzardo (2000, p. 38) destaca quatro: o leasing


operacional; o leasing financeiro; o lease-back e o self-lease.

500  2º PERÍODO • administração • unitins


Aula 4 • Direito comercial e societário

a) O leasing operacional

Rizzardo (2000, p. 38) explica que pode ser também chamado de


renting. Esse contrato expressa
uma locação de instrumentos ou material, com cláusula de pres-
tação de serviços, prevendo a opção de compra e a possibi-
lidade de rescisão a qualquer tempo, desde que manifestada
esta intenção com uma antecedência mínima razoável, em geral
fixada em 30 dias.

b) O leasing financeiro

Rizzardo (2000, p. 43) explica que pode ser também denominado


lease, ou, ainda, full payout lease, “que é o leasing propriamente dito,
o leasing puro que, por estar mais ligado a departamento de bancos, é
também conhecido como leasing bancário”. Essa espécie
possui como característica identificadora e mais saliente o finan-
ciamento que faz o locador. Ou seja, o fabricante ou o importador
não figuram como locadores. Há uma empresa que desempenha
este papel, a cuja finalidade ela se dedica. Ocorre a aquisição
do equipamento pela empresa de leasing, que contrata o arren-
damento com o interessado.

c) O lease-back

Rizzardo (2000, p. 46) menciona que essa espécie de contrato está


prevista no art. 9º da Lei n. 6.099, com a alteração da Lei n. 7.132,
onde se lê que
as operações de arrendamento mercantil contratadas com o
próprio vendedor do bem ou com pessoas jurídicas a ele vincu-
ladas, mediante quaisquer das relações previstas no art. 2º desta
lei, poderão também ser realizadas por instituições financeiras
expressamente autorizadas pelo Conselho Monetário Nacional,
que estabelecerá as condições para a realização das operações
previstas neste artigo.

Rizzardo (2000, p. 46) aponta como primeiro elemento identificador


desse contrato
as operações de arrendamento mercantil são contratadas
com o próprio vendedor do bem ou com pessoas jurídicas a
ele ligadas. Tem como pressuposto a alienação do bem pelo
proprietário, aumentando, assim, a sua liquidez, e, após, arren-
dando o mesmo bem, o que determina a sua transformação em
arrendatário.

Essa modalidade de contrato visa a dotar de maior aporte de capital à


empresa vendedora.

unitins • administração • 2º PERÍODO  501


Aula 4 • Direito comercial e societário

d) O self-lease
Rizzardo (2000, p. 51) leciona que esta espécie é “o leasing consigo
mesmo ou formado entre empresas integrantes do mesmo grupo finan-
ceiro. Mantêm-se no âmbito das empresas coligadas. Uma arrenda ou
loca à outra determinado bem, com opção de aquisição”.
Celso Benjó apud Rizzardo (2000, p. 52) considera que o self-lease
é uma modalidade de financial lease e pode, basicamente,
assumir duas formas: na primeira, as partes contratantes (lessee
and lessor) estão vinculadas, ou seja, possuem um elo que lhes
permite ser classificadas ora como sociedade controladora e
controlada, ou mesmo como sociedades coligadas. Na segunda,
é o próprio fabricante que assume o papel de financiador e
utiliza o leasing como método de fianciamento.

O contrato de leasing, em qualquer, das suas modalidades, possui natu-


reza jurídica bem complexa. Há que se considerar que o mesmo compreende
uma locação, uma promessa unilateral de venda e, às vezes, também um
mandato, quando é o próprio arrendatário que trata a escolha do bem com
o vendedor.

4.8 Contrato de Franchising (Franquia)


Venosa (2003, p. 593) traça um pequeno perfil histórico do contrato de
franchising, apontando que
o contrato conhecido modernamente como franchising teve
origem no espírito empreendedor do empresário norte-ameri-
cano. A experiência pioneira ocorreu com a firma Singer Sewing
Machine, em 1860. Essa empresa, para ampliar sua rede de
distribuição, sem despender recursos próprios, passou a creden-
ciar agentes em diversos pontos do país, franqueando-lhes a
marca, produtos, publicidade, técnica de vendas no varejo e
conhecimentos técnicos.

Venosa (2003, p. 598), ao falar da natureza jurídica do contrato de fran-


quia, leciona que
a franquia como visto é um contrato complexo derivado primor-
dialmente da concessão. Dele participam aspectos de relações
trabalhistas, marcas e patentes, contratos preliminares, distri-
buição etc. [...] O contrato é bilateral, pois contém obrigações
recíprocas, sendo também oneroso. É intuito personae, porque
ambas as partes têm em mira a figura do outro contratante. É
consensual, pois depende unicamente da vontade das partes. É
comutativo, pois apresenta prestações conhecidas pelas partes,
embora possa conter cláusulas de aleatoriedade.

O contrato de franquia é considerado um contrato híbrido e atípico,


compreendendo uma prestação de serviços (por parte do franqueador),

502  2º PERÍODO • administração • unitins


Aula 4 • Direito comercial e societário

distribuição e comercialização de produtos (por parte do franqueado), com


pagamento de uma taxa de filiação e uma determinada porcentagem por
parte do franqueado.

Quadro 4: Obrigações da franquia


OBRIGAÇÕES DO
OBRIGAÇÕES DO FRANQUEADOR
FRANQUEADO
Fornecer ao interessado franqueado a “Circular de Oferta
Pagamento da taxa de
de Franquia”, contendo as principais informações sobre
adesão.
seu negócio e essenciais à celebração do contrato.
Descrição detalhada da franquia, dos negócios e das Pagamento de porcen-
atividades que serão desempenhadas pelo franqueado. tagem do faturamento.
Indicação do que é realmente oferecido ao franqueado
Venda de produtos
pelo franqueador, serviços de orientação e treinamento
conforme tabela de
do franqueado e de seus funcionários, auxílio na análise
preços fornecida pelo
e escolha do ponto, layout e padrões arquitetônicos nas
franqueador.
instalações do franqueado.

4.9 Contrato de Factoring


Venosa (2003, p. 605), ao falar de factoring, menciona que
trata-se, na modalidade mais utilizada, de um negócio jurídico
de duração por meio do qual uma das partes, a empresa de
factoring (o faturizador ou factor), adquire créditos que a outra
parte (o faturizado) tem com seus respectivos clientes, adiantando
as importâncias e encarregando-se das cobranças, assumindo o
risco de possível insolvência dos respectivos devedores.

Rizzardo (2000, p. 13), por seu turno, ensina que não há dificuldades na
identificação da faturização, pois
pode-se afirmar que se está diante de uma relação jurídica entre
duas empresas, em que uma delas entrega à outra um título de
crédito, recebendo, como contraprestação, o valor constante do
título, do qual se desconta certa quantia, considerada a remune-
ração pela transação.

Ensina Fazzio Jr. (2005, p. 537) que


factoring ou faturização (fomento) é um contrato misto de compra
e venda, desconto e cessão de crédito, pelo qual a empresa vende
a outra seu faturamento a prazo, total ou parcial, sem garantir
os pagamentos dos créditos transferidos, recebendo como preço
valor menor que o daqueles, consistindo essa diferença em remu-
neração da empresa adquirente. Para o faturizado, significa a
antecipação de valores de seus créditos; para o faturizador, a
compra de ativos por valor inferior.

unitins • administração • 2º PERÍODO  503


Aula 4 • Direito comercial e societário

O contrato de factoring envolve, assim, duas partes, que são o faturizador e


o faturizado. Explica Fazzio (2005, p. 539) que
faturizador é uma empresa sob o formato de companhia. É pois
duplamente empresarial, pelo objeto e pela forma constitutiva
adotada, revestindo-se mesmo, das características das institui-
ções financeiras, já que as operações que realiza aproximam-
se mais do desconto bancário do que da compra e venda.
Faturizado é o empresário ou sociedade empresária autorizado
a emitir duplicata.

CARACTERÍSTICAS DO CONTRATO DE FACTORING


A cessão dos créditos ao faturizador
A assunção dos riscos pelo faturizador (isenção do faturizado)
O valor da remuneração devida ao faturizador
A faculdade do faturizador de escolher os créditos e faturizar
O prazo de duração do contrato
A exclusividade

4.10 Do contrato de concessão comercial, do contrato de agência e


de distribuição
Na verdade, o novo Código Civil não tratou da concessão comercial de
forma específica, como o fez no caso da Agência e da Distribuição. Porém,
não há como dizer que alguns dos dispositivos que se aplicam à Agência e
à Distribuição não se aplicam também à concessão, especialmente no que se
refere à indenização. Contudo, especificamente no que tange à concessão,
por essa estar tratada de modo específico na Lei Ferrari, é necessário que estu-
demos o instituto tanto à luz da referida Lei como à luz do Código Civil, que se
aplica subsidiariamente.
A importância do tema se dá por envolver, entre as partes contratantes,
um grande número de empresas nas mais diversas áreas da economia, além
da importância social, dos inúmeros empregos e freqüentemente ser fonte de
complexos litígios (redes de concessionárias).

4.10.1 Concessão comercial


A concessão comercial não está disciplinada de forma específica na legis-
lação brasileira. Enquanto espécie contratual, o legislador tipificou apenas a
concessão de veículo automotivo terrestre – Lei Ferrari (Lei n. 6.729/79). O
Código Civil trata dos contratos de agência e distribuição, mas não cuidou
de tratar de forma específica da concessão comercial. Assim, da previsão do
Código Civil, aproveita-se, no que tange à concessão comercial, apenas alguns
dispositivos quanto à indenização. Para evitar qualquer espécie de confusão
quanto aos conceitos de agência, distribuição e concessão, que são comumente
interpretados de forma equivocada, abre-se, aqui, um parêntese para tratar de
cada um deles em separado.

504  2º PERÍODO • administração • unitins


Aula 4 • Direito comercial e societário

Quadro 5: Conceitos
CONCESSÃO
AGÊNCIA DISTRIBUIÇÃO
COMERCIAL
Representa uma espécie de O distribuidor tem à sua
Baseada na revenda de
intermediação na realização disposição o bem a ser
mercadorias.
de negócios comerciais. negociado.
O bem é colocado à dispo- O revendedor adquire
sição do distribuidor mediante o produto e o revende
A retribuição do agente se depósito ou consignação, ou em seu nome e por
dá por comissão sobre as seja, a mercadoria não passa conta própria; a sua
vendas realizadas. para a sua propriedade, como retribuição decorre da
ocorre com o revendedor própria margem obtida
(concessionário). na revenda do produto.

Do próprio conceito de concessão, denota-se que é o instituto um negócio jurí-


dico complexo. Isto porque, muitas vezes, ao contrato de concessão, se vinculam
outros contratos, como, por exemplo, o contrato de crédito rotativo, que se coloca
como um contrato adjeto (contrato acessório ou subordinado). Uma das espécies
de contratos, que normalmente se agrupa ao contrato de concessão, é o contrato
de comodato, pois, normalmente, encontra-se vinculado ao contrato de concessão.
Também assim se classificam os contratos de participação em propaganda (contrato
de participação ou reembolso de publicidade). Dessa forma, há uma tendência
natural do contrato de concessão em se tornar um negócio complexo.
A nomenclatura desses contratos também envolve controvérsia. Distribuição
seria sinônimo de Concessão? Para alguns autores, é normal tratar concessão
como sinônimo de distribuição. Para outros autores, porém, existe diferença no
que tange ao controle, que, no caso, é maior na concessão do que na distribuição.
Entendimento que se reforça por conta do grau de subordinação econômica entre
os contratantes.
Mas para a lei Ferrari não há distinção conforme art. 2º, § 1º. Na prática comer-
cial, chama-se concessionário quando é de veículos e para os demais, distribuição.
A função econômica dos contratos de concessão encontra-se vinculada a três
fenômenos: a produção em massa, a revolução nos transportes e comunicações
e o fortalecimento das marcas, que passa a ser um atrativo para o distribuidor.
Na concessão comercial existe a compra do produto para fins de revenda e não
a mera intermediação de mercadorias. Essa hipótese, de mera intermediação,
seria o caso da representação comercial, que também é regida por lei própria.
(Lei n. 4.886/65, alterada pela Lei n. 8.420/92).
Uma grande parte do Direito Comercial é movida pelos contratos firmados
entre pessoas jurídicas com pessoas jurídicas e entre essas com pessoas físicas.
Procuramos, assim, nos ater primeiro à teoria geral dos contratos possibilitando-
lhe uma visão que, de modo geral, se aplica aos contratos em espécies, que
foram detalhados, dando prosseguimento ao estudo da disciplina.

unitins • administração • 2º PERÍODO  505


Aula 4 • Direito comercial e societário

Síntese da aula
Nesta aula, procuramos trazer uma visão geral sobre os contratos e, ao mesmo
tempo, trabalhar, em especial, alguns contratos que terão aplicabilidade prática no
seu dia-a-dia profissional, como a variada gama de contratos com as instituições
financeiras, os contratos de leasing, de franchising, de factoring e de concessão.

Atividades

1. Quais são os princípios consagrados na Teoria Geral dos Contratos?


Enumere-os e discorra sobre as características de cada um deles. Você pode
utilizar uma tabela para resolver a atividade.

2. Em que consiste o contrato de franchising? Responda com suas próprias


palavras em um texto de, no máximo, 15 linhas e, depois, cite exemplos
práticos que você conhece de contratos de franchising.

3. São obrigações típicas do franqueado:


a) o pagamento da taxa de adesão, o fornecimento da circular de oferta
de franquia e a venda de produtos, conforme a tabela do franqueador;
b) o pagamento da taxa de adesão, a venda de produtos conforme a
tabela do franqueador e a descrição detalhada da franquia;
c) o pagamento da taxa de adesão e a venda de produtos conforme a
tabela do franqueador;
d) o pagamento da taxa de adesão, a venda de produtos conforme a
tabela do franqueador e o pagamento de parte do faturamento.

4. Quanto aos efeitos, os contratos podem ser classificados em:


a) unilaterais, bilaterais, onerosos e gratuitos;
b) paritários e de adesão;
c) de execução diferida e de execução instantânea;
d) personalíssimos e impessoais.

Comentário das atividades


Para responder a atividade um, é importante você ter lembrado de que os
princípios contratuais adquiriram nova roupagem, após o advento do Código
Civil de 2002. A intenção da atividade foi que você percebesse em que sentido
se deu essa mudança. Com a análise dos princípios, você foi capaz de perceber
as mudanças que advieram, sobretudo em torno da autonomia da vontade, na
revisão contratual e na boa-fé objetiva.

506  2º PERÍODO • administração • unitins


Aula 4 • Direito comercial e societário

Com relação à atividade dois, você deve ter contemplado que os contratos
de franchising ganham espaço à olhos vistos, após realizadas as pesquisas de
mercado em torno do empreendimento, ele apresenta vantagens a ambas as
partes, uma vez que o franqueado irá iniciar um negócio com um produto já
conhecido e aceito no mercado e, para o franqueador, significa obter lucro com
o produto que ele desenvolveu. Você destacou marcas famosas que utilizam esse
sistema? Se sim, parabéns, com certeza concluiu com êxito sua resposta.
Na atividade três, a alternativa correta é a letra (d) que enumera de forma
correta os três requisitos. As demais, (a) e (b), mesclam requisitos que são obri-
gações do franqueador, e a letra (c) menciona apenas duas das obrigações do
franqueado.
Na atividade quatro, a alternativa correta é a letra (a), que enumera corre-
tamente a classificação quanto aos efeitos. As demais alternativas estão erradas
pois a letra (b) menciona a classificação quanto à formação, a letra (c) menciona
a classificação quanto ao momento da execução e a letra (d) menciona a classi-
ficação quanto ao agente.
As atividades lhe deram a oportunidade de alcançar os objetivos determi-
nados para esta aula de analisar a Teoria dos Contratos em consonância com a
doutrina e a jurisprudência e de conhecer os contratos em espécie.

Referências
ANDRADE, L. P. da S. Direito Civil: contratos. Porto Alegre: Síntese, 1999.
BERTOLDI, M. M.; RIBEIRO, M. C. P. Curso Avançado de Direito Comercial. 3.
ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2006.
CUNHA, S. S. da. Dicionário compacto de Direito. São Paulo: Saraiva, 2003.
FAZZIO JR., W. Fundamento do Direito Comercial. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2005.
FORTUNA, E. Mercado financeiro. 16. ed. Rio de Janeiro: Qualitymark, 2006.
FUHRER, M. C. A. Resumo de Direito Comercial. 34. ed. São Paulo: Malheiros,
2005.
GONÇALVES, V. E. R. Títulos de crédito e contratos mercantis. v. 22. São Paulo:
Saraiva, 2004.
MANCUSO, R. de C. Leasing. 3. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2002.
RIZZARDO, A. Factoring. 3. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2004.
______. Leasing: arrendamento mercantil no Direito Brasileiro. 4. ed. São Paulo:
Revista dos Tribunais, 2000.
VENOSA, S. de S. Direito Civil: contratos em espécie. 3. ed. São Paulo: Atlas,
2003.

unitins • administração • 2º PERÍODO  507


Aula 4 • Direito comercial e societário

Na próxima aula
Você estudará os títulos de crédito. O crédito é a mola que movimenta o
direito societário. Se hoje é fácil fazer uma operação de transferência de crédito,
isso nem sempre foi assim. Na época em que se exercia o comércio por nave-
gação e a comunicação não era tão eficiente, houve a necessidade de criar
mecanismos que funcionassem e dessem a necessária mobilidade à moeda de
um lugar para outro.

Anotações
































508  2º PERÍODO • administração • unitins


Aula 5 • Direito comercial e societário

Aula 5
Dos Títulos de Crédito

Objetivos
Esperamos que, ao final desta aula, você seja capaz de:
• conhecer as regras gerais dos títulos de crédito;
• identificar as espécies de títulos de crédito.

Pré-requisitos
Os títulos de crédito estão disciplinados no Código Civil e em leis esparsas.
O cheque, especialmente no que diz respeito ao cheque pós-datado, observa
também outra fonte que é a jurisprudência. Desse modo, é importante você fazer
uma releitura do conteúdo fontes do direito do 1º período.

Introdução
O crédito sempre foi essencial à atividade mercantil. Pode-se considerar
que os títulos de crédito surgiram da necessidade dos comerciantes de facilitar
a venda dos seus produtos, por meio da venda a prazo, bem como para ele
próprio utilizar-se de recursos alheios, como nos casos em que toma empréstimo
em instituições bancárias, a fim de aumentar o seu capital de giro.
Em nossa aula, vamos conhecer alguns títulos de crédito mais utilizados,
suas principais características, bem como a lei que os regem.

5.1 Conceito de título de crédito


Vários doutrinadores deram-se o trabalho de conceituar os títulos de crédito.
Bertoldi e Ribeiro (2006, p. 352) mencionam o clássico conceito de Vivante, que
é considerado unanimidade na definição mais completa para títulos de crédito,
com o seguinte enunciado: “Título de crédito é o documento necessário para o
exercício do direito, literal e autônomo, nele mencionado”.
O Código Civil, no art. 887, ao dar um conceito legal para os títulos de
crédito, praticamente repetiu o conceito de Vivante.

unitins • administração • 2º PERÍODO  509


Aula 5 • Direito comercial e societário

5.2 Princípios que regem os títulos de crédito


Três princípios clássicos na doutrina do Direito Comercial regem os títulos de
crédito: cartularidade, autonomia e literalidade.

5.2.1 Princípio da cartularidade


Gonçalves (2004, p. 6) explica que a cartularidade, que pode também ser
chamada incorporação, expressa “a materialização ou incorporação do direito
no título, documento, papel ou cártula”. Leciona ainda o mesmo autor que “[...]
quem detém o título tem legitimidade para exigir o cumprimento do crédito nele
incorporado. Sem ele, por conseqüência, o devedor não está obrigado, a prin-
cípio, a cumprir com a obrigação [...]”. Assim, conclui o autor que “o direito não
existe sem o documento, não se transmite sem a sua respectiva transferência e
não pode ser exigido sem a sua exibição”.

5.2.2 Princípio da literalidade


A literalidade para Gonçalves (2004, p. 6-7) é um princípio que funciona
como uma garantia tanto ao credor como ao devedor, uma vez que apenas se
leva em consideração o que está expresso no título, desconsiderando-se acordos
em apartado. Assim, para o autor, a literalidade encontra-se no fato do título de
crédito ser “um documento escrito e em sua análise somente se levará em consi-
deração aquilo que estiver nele expressamente consignado”.

5.2.3 Princípio da autonomia


A autonomia, conforme esclarece Gonçalves (2004, p. 7), é um requisito
primordial para a circulação do título, “na medida em que torna o portador da
cártula titular de um direito autônomo em relação ao direito que tinham seus
predecessores”. Portanto,
o que efetivamente circula é o título e não o direito abstrato que nele
se contém, ou seja, o possuidor exerce direito próprio que não se
vincula às relações entre os possuidores anteriores e o devedor. Isso
é, cada relação é autônoma em relação às suas antecessoras.

Pode-se concluir sobre a autonomia, que as obrigações que estão represen-


tadas pelos títulos de crédito são totalmente independentes. Gonçalves (2004,
p. 8) cita um exemplo bem ilustrativo: João compra madeira de Pedro e paga-o
com um cheque de R$ 300,00. Pedro efetua compra em um supermercado e
paga com o cheque recebido de João. João não poderá deixar de honrar o
cheque perante o supermercado, sob a alegação que a madeira estava com
defeito. Essa situação expressa exatamente a autonomia do título de crédito.

510  2º PERÍODO • administração • unitins


Aula 5 • Direito comercial e societário

5.3 Legislação dos títulos de crédito


A legislação é farta quando se trata da disciplina dos títulos de crédito. Isso
porque aplicam-se aos títulos de crédito: a Lei Uniforme de Genebra (referen-
dada pelo Brasil), os arts. 887 a 926 do Código Civil (teoria geral dos títulos de
crédito) e várias leis esparsas, que ilustramos a seguir.

Tabela 1: Legislação
Decreto n. 2.044 de 1908, alterado pelo
Letra de Câmbio e Nota Promissória
Decreto n. 57.663 de 1966 - LUG
Cheque Lei n. 7.357/1985
Duplicata (mercantil e de serviço) Lei n. 5.474/1968
Cédula Rural Pignoratícia, Nota de Crédito
Rural, Nota Promissória Rural e Duplicata Decreto-Lei 167/1967
Rural
Cédula de Produto Rural Lei n. 8.929/94
Cédula de Crédito Bancário e Certificado
Lei n. 10.931/2004
de Cédula de Crédito Bancário
Letra de Crédito Imobiliário e Cédula de
Lei n. 10.931/2004
Crédito Imobiliário
Fonte: Proença (2005, p. 145-146).

5.4 Classificação dos títulos de crédito


Os títulos de crédito comportam várias classificações. Vamos estudá-las,
conforme a classificação de Bertoldi e Ribeiro (2006, p. 357 - 359).
a) Quanto ao modo de circulação
• Ao Portador: são os títulos que não fazem constar o nome do bene-
ficiário, ou seja, a pessoa que detém sua posse é quem incorpora
os direitos e obrigações dele decorrentes.
• Nominativos: são aqueles que fazem constar o nome do credor.
Para a sua circulação, é necessário o endosso.
b) Quanto à hipótese de emissão
• Abstratos: títulos que se desvinculam totalmente da causa que lhes deu
origem. Explicam Bertoldi e Ribeiro (2006, p. 357-359 que “a relação
fundamental não tem relevância diante do terceiro de boa-fé, mas tão
somente entre credor e devedor originais”. Cita-se como exemplo de
títulos abstratos: o cheque, a nota promissória e a letra de câmbio.
• Causais: são também chamados de impróprios ou imperfeitos,
ao contrário dos abstratos, sempre se vinculam às causas que lhe
deram origem, pois como explicam os autores “somente podem ser
emitidos quando da realização de um determinado negócio jurí-
dico, nos termos determinados em lei”. Como exemplo do título de
crédito causal pode-se mencionar a duplicata.

unitins • administração • 2º PERÍODO  511


Aula 5 • Direito comercial e societário

c) Quanto à natureza do crédito que revestem


• Próprios: corporificam uma verdadeira operação de crédito, que
como dizem os autores, deve ser entendida como aquela em que
uma pessoa empresta a outra determinada quantia para pagamento
futuro. Ex. a Nota Promissória e a Letra de Câmbio.
• Impróprios: são os que não representam uma operação de crédito,
ou seja, o pagamento desse título, como explicam os autores, não se
difere no tempo. Como exemplo, cita-se o cheque, que é uma ordem
de pagamento a vista, mesmo que esteja pós-datado, poderá ser
apresentado para pagamento após a sua emissão.
d) Quanto ao modelo
• Vinculados: são aqueles cujo formato obedecem a padrões previa-
mente fixados e que as partes não podem alterar, sob pena de
nulidade do documento. Ex. cheque e duplicata.
• Livres: são aqueles em que a modificação em seu formato não
implica prejuízo de sua substância, nem lhe causa a nulidade. Ex.
nota promissória e a letra de câmbio.

5.5 Regras gerais dos títulos de crédito


Como regra, existe uma teoria geral que se aplica aos títulos de crédito. Os
dispositivos que ora apresentamos são comuns a quase todas as espécies de
títulos. Esses dispositivos são os chamados: saque, endosso, aceite e aval.

Quadro 1: Dispositivos
SAQUE ACEITE ENDOSSO AVAL
• Ato cambiário a partir • Ato cambial por meio • Ato cambial destinado • Ato cambial de garantia.
do qual um título de do qual o sacado a transferir o crédito Não deve ser confundido
crédito é emitido, concorda com o representado por deter- com a fiança (garantia
gerando, três situações: pagamento do valor minado título à ordem. acessória de uma obri-
a) o sacador, que dá mencionado na letra de • É o meio pelo qual gação principal).
a ordem de pagar; câmbio. se processa a transfe- • O aval é obrigação autô-
b) o sacado, que é o • A partir do aceite, o rência do título de um noma. Acarreta ao avalista
destinatário de uma sacado torna-se o obri- credor a outro. as mesmas obrigações do
ordem de paga- gado principal. avalizado.
mento (pessoa do • O aceite é concedido • O CC prevê (arts. 1642,
devedor principal); na própria letra, não IV e 1.647, III) que
c) o beneficiário dessa valendo em relação a nenhum dos cônjuges,
ordem de paga- terceiros a promessa salvo os casados com
mento (credor ou feita em documento separação total, poderá
tomador). separado. conceder aval sem autori-
zação do outro.
Fonte: Proença (2004, p. 148-155).

512  2º PERÍODO • administração • unitins


Aula 5 • Direito comercial e societário

5.6 Dos títulos de crédito em espécie


São títulos de crédito em espécie: letra de câmbio, nota promissória, dupli-
cata e cheque.

5.6.1 Da letra de câmbio


Conforme ensina Proença (2005, p. 146), a letra de câmbio é uma espécie
de título de crédito pouco utilizado, em razão do surgimento da duplicata.
Campos (2005, p. 196) explica que as funções da letra de câmbio, no Brasil,
são principalmente na área do
Comércio Exterior e no mercado de financiamento de compra e
venda de bens a prazo em lojas de departamentos ou concessio-
nárias de veículos, as quais, depois de receber o preço a vista da
financiadora, emitem Letra de Câmbio contra o comprador, para
que ele pague a dívida em prestações, diretamente à financia-
dora, por meio de carnês.
Para Bertoldi e Ribeiro (2006, p. 366), a letra de câmbio é “uma ordem
de pagamento que determinada pessoa passa a outra, perante a qual detém
crédito, para que pague, a um terceiro, a soma em dinheiro nela indicada”. Os
mencionados autores destacam, nessa espécie de título de crédito, a presença
de três pessoas:
a) o sacador – também chamado emitente ou subscritor, que é a pessoa
que emite, que saca a ordem de pagamento;
b) o sacado – também conhecido como aceitante ou principal obrigado,
pessoa para quem a ordem é dirigida;
c) o tomador – beneficiário ou credor, pessoa a favor de quem o título é
passado.
Além dessas características, a letra de câmbio possui alguns requisitos,
previstos no art. 1º do Anexo I do Decreto n. 57.663/66 (Lei Uniforme). São
procedimentos naturais da letra de câmbio: o vencimento e o pagamento e as
conseqüências, caso não haja esse último (o pagamento) não ocorra de forma
natural, que são: o protesto e a ação judicial.

Quadro 2: Requisitos da letra de câmbio


VENCIMENTO PAGAMENTO PROTESTO AÇÃO JUDICIAL
Para Rubens Requião apud Frustrados os caminhos amigá-
Ato cambial que Proença (2005, p. 153) “o veis resta o apelo ao judiciário
torna o crédito Ato extintivo das protesto constitui precisamente através da ação de execução,
exigível, surgindo ao obrigações assu- um ato oficial e público que uma vez que o título de crédito
aceitante a obrigação midas a partir de comprova a exigência do é título executivo extrajudicial.
de pagar o valor um título de crédito. cumprimento daquelas obriga- O prazo prescricional a ser
mencionado no título. ções cambiárias, constituindo- observado será de 3 anos a
se em prova plena”. partir do vencimento.
Fonte: Proença (2005, p. 153 -162).

unitins • administração • 2º PERÍODO  513


Aula 5 • Direito comercial e societário

5.6.2 Da nota promissória


Bertoldi e Ribeiro (2006, p. 420) definem a nota promissória como uma
“promessa pura e simples de pagamento pela qual seu emitente se obriga a
pagar ao seu beneficiário ou à sua ordem determinada quantia em dinheiro”.
Na Lei Uniforme, a nota promissória está regulamentada nos arts. 75 a 78,
contudo, vários dispositivos que se aplicam às letras de câmbio aplicam-se também
à nota promissória, tais como: o vencimento, o pagamento, a ação executiva, etc.
Alguns requisitos devem ser observados para que a nota promissória seja reco-
nhecida como tal. Bertoldi e Ribeiro (2006, p. 420) explicam que a falta desses
requisitos fazem com que “o documento deixe de ter valor cambial e passe a ser
tão-somente um documento civil representativo de dívida pecuniária”. Os requi-
sitos da nota promissória estão previstos no art. 75 da Lei Uniforme, conforme o
quadro a seguir.

Quadro 3: Requisitos

REQUISITOS DA NOTA PROMISSÓRIA


I. A denominação “nota promissória” inserta do próprio texto do título,
expressa na mesma língua do restante do título.
II. A promessa pura e simples de pagar uma quantia determinada.
III. O nome da pessoa a quem ou à ordem de quem deve ser paga.
IV. A indicação da data em que é passada.
V. A assinatura do emitente.
VI. Indicação do vencimento e do lugar em que deve ser paga (requisitos não
essenciais).

5.6.3 Da duplicata
A duplicata é um título de crédito criado pelo ordenamento jurídico brasi-
leiro. É regulada por lei específica (Lei das Duplicatas, Lei n. 5.474/68), embora
essa não tenha sido a lei que lhe deu origem (Lei n. 187/1936). Bertoldi e
Ribeiro (2006, p. 441) explicam que a nova lei veio “melhorar significativa-
mente a estrutura jurídica da duplicata”, pois na lei anterior essa espécie de
título era mais útil como instrumento fiscal. Bertoldi e Ribeiro (2006, p. 441)
definem duplicata como
Título de crédito à ordem e formal, originado necessariamente
de um contrato de compra e venda mercantil ou de prestação
de serviços. É um documento formal na medida em que, para a
sua validade como título de crédito, deverá conter determinados
requisitos (Lei da Duplicata, art. 2º, § 1º). A duplicata somente
é admitida quando decorrente de uma relação causal que a ela
dá suporte, ou seja, somente ao se verificar a existência de um
contrato de compra e venda e ou de prestação de serviços é que
é de se admitir a extração da duplicata.

514  2º PERÍODO • administração • unitins


Aula 5 • Direito comercial e societário

O conceito de duplicata decorre exatamente das exigências contidas na própria


lei em seu art. 2º: “no ato da emissão da fatura, dela poderá ser extraída uma dupli-
cata para circulação como efeito comercial, não sendo admitida qualquer outra
espécie de título de crédito para documentar o saque do vendedor pela importância
faturada ao comprador”.
a) Da fatura
Por estar substancialmente ligado o conceito de um com o outro (duplicata
e fatura), não se pode falar de duplicata sem se falar de fatura. Fatura, de
acordo com Bertoldi e Ribeiro (2006, p. 441), é “o documento descritivo
da compra e venda mercantil ou da prestação de serviços que contém a
indicação da quantidade, qualidade e preço do produto transacionado
e do serviço prestado”. O art. 1º da Lei da duplicata é bem elucidativo.
Art . 1º Em todo o contrato de compra e venda mercantil entre
partes domiciliadas no território brasileiro, com prazo não infe-
rior a 30 (trinta) dias, contado da data da entrega ou despacho
das mercadorias, o vendedor extrairá a respectiva fatura para
apresentação ao comprador.
§ 1º A fatura discriminará as mercadorias vendidas ou, quando
convier ao vendedor, indicará somente os números e valores das
notas parciais expedidas por ocasião das vendas, despachos ou
entregas das mercadorias.

Como outras espécies de título de crédito estudadas, a duplicata possui


alguns traços característicos afeitos às regras gerais dos títulos de crédito
e alguns requisitos específicos.

b) Remessa, devolução e aceite da duplicata


A remessa, devolução e aceite estão disciplinados no Capítulo II da Lei
da Duplicata, nos arts. 6º a 8º, que são auto-explicativos.

unitins • administração • 2º PERÍODO  515


Aula 5 • Direito comercial e societário

Quadro 4: Capítulo II – Lei da Duplicata


Art. 6º Art. 7º Art. 8º
A remessa de duplicata A duplicata, quando não O comprador só poderá
poderá ser feita direta- for à vista, deverá ser deixar de aceitar a dupli-
mente pelo vendedor ou devolvida pelo comprador cata por motivo de:
por seus representantes, ao apresentante dentro do
I – avaria ou não recebi-
por intermédio de institui- prazo de 10 (dez) dias,
mento das mercadorias,
ções financeiras, procura- contado da data de sua
quando não expedidas ou
dores ou correspondentes apresentação, devidamente
não entregues por sua conta
que se incumbam de apre- assinada ou acompanhada
e risco;
sentá-la ao comprador na de declaração, por escrito,
praça ou no lugar de seu contendo as razões da falta II – vícios, defeitos e
estabelecimento, podendo do aceite. diferenças na qualidade
os intermediários devolvê- ou na quantidade das
§ 1º Havendo expressa
la, depois de assinada, ou mercadorias, devidamente
concordância da instituição
conservá-la em seu poder comprovados;
financeira cobradora, o
até o momento do resgate, III – divergência nos prazos
sacado poderá reter a
segundo as instruções ou nos preços ajustados.
duplicata em seu poder
de quem lhes cometeu o
até a data do vencimento,
encargo.
desde que comunique, por
§ 1º O prazo para remessa escrito, à apresentante o
da duplicata será de 30 aceite e a retenção.
(trinta) dias, contado da
§ 2º A comunicação de
data de sua emissão.
que trata o parágrafo
§ 2º Se a remessa for anterior substituirá, quando
feita por intermédio de necessário, no ato do
representantes, instituições protesto ou na execução
financeiras, procuradores judicial, a duplicata a que
ou correspondentes estes se refere.
deverão apresentar o título,
ao comprador, dentro de
10 (dez) dias, contados da
data de seu recebimento na
praça de pagamento.

c) A duplicata em meio magnético

A internet foi a grande responsável por uma nova modalidade de negó-


cios, na medida em que permite que pessoas realizem seus negócios em
um meio virtual. Embora grande parte do comércio virtual não seja regu-
lamentado e a Lei n. 9.492/97 não trate especificamente do assunto,
pois apenas disciplinou a competência e regulamentação dos serviços
concernentes ao protesto de títulos e outros documentos de dívida, não
deixou, porém, face à realidade vivida nos Tabelionatos de Protestos,
de prever a existência, em seu art. 8º, da duplicata em meio magnético,
como também o Código Civil, no art. 889 § 3º.

516  2º PERÍODO • administração • unitins


Aula 5 • Direito comercial e societário

d) Execução e prescrição da duplicata


A duplicata prescreve, conforme o art. 18 (Lei n. 5.474/68) em três
anos, contados da data do vencimento do título. A duplicata poderá ser
cobrada dentro do prazo prescricional, por meio da ação de execução,
uma vez que se trata de título executivo extrajudicial. E, se por algum
motivo não se promover a ação de execução dentro do prazo de pres-
crição? Nesse caso, poderá ajuizar ação judicial, mas como o título não
terá força executiva, a ação a ser promovida será a ação de cobrança
ordinária ou a ação monitória.

Quadro 5: Ações judiciais


AÇÃO MONITÓRIA AÇÃO DE COBRANÇA ORDINÁRIA
Serve para quem pretender, com base em Serve a quem deseje promover ação judi-
prova escrita sem eficácia de título execu- cial fundada em título executivo extrajudi-
tivo, pagamento de soma em dinheiro, cial que tenha perdido sua eficácia.
entrega de coisa fungível ou de determi-
nado bem móvel.

5.7 Do cheque
O cheque está disciplinado no ordenamento jurídico brasileiro pela Lei n.
7.357/85. Bertoldi e Ribeiro (2006, p. 426) definem o cheque como “ordem
de pagamento à vista, sacado contra um banco ou instituição financeira asseme-
lhada, para que pague à pessoa indicada ou ao seu portador quantia previa-
mente depositada pelo emitente da ordem”. Assim, os autores destacam três
pessoas envolvidas na operação:
a) o emitente ou sacador, pessoa que detém fundos previamente deposi-
tados em uma instituição financeira e, por meio do cheque, emite ordem
de pagamento;
b) o sacado, contra quem a ordem é passada (instituição financeira);
c) o tomador ou beneficiário, o favorecido com a ordem de pagamento.
Esclarecem ainda os autores que “tratando-se o cheque de um título formal e
de modelo vinculado, além de ter de obedecer a padrões determinados quanto ao
formato em que se apresenta, deverá preencher obrigatoriamente certos requisitos”.
Esses requisitos são os constantes do art. 1º da Lei do Cheque (Lei n. 7.357/85)
Art . 1º O cheque contém:
I. a denominação ‘’cheque’’ inscrita no contexto do título e
expressa na língua em que este é redigido;
II. a ordem incondicional de pagar quantia determinada;
III. o nome do banco ou da instituição financeira que deve pagar
(sacado);
IV. a indicação do lugar de pagamento;
V. a indicação da data e do lugar de emissão;
VI. a assinatura do emitente (sacador), ou de seu mandatário com
poderes especiais.

unitins • administração • 2º PERÍODO  517


Aula 5 • Direito comercial e societário

5.7.1 Das modalidades de cheque


A doutrina faz referência a várias espécies de cheques. Destacamos 3 moda-
lidades: cheque visado, administrativo ou bancário e cruzado.

Quadro 6: Modalidades de cheque


ADMINISTRATIVO OU
VISADO CRUZADO
BANCÁRIO
Art. 7º da Lei do Cheque Art. 9º, III da Lei do Arts. 44 e 45 da Lei do Cheque
Cheque
A pedido de seu emitente É o cheque que tem em sua
ou portador, tem em seu É aquele em que o face (anverso) dois traços
verso lançada decla- emitente se confunde paralelos, que cruzam o título
ração do sacado (banco) com o sacado, ou seja, transversalmente.
indicando a existência é a própria instituição Somente será pago por meio
de provisão de fundos financeira que o emite. de um banco (que poderá ser
para a sua liquidação, o próprio sacado) que inter-
durante o prazo de sua media o portador e o sacado,
apresentação. efetuando o depósito na conta
corrente do beneficiário.

5.7.2 Prazo para apresentação e pagamento


A apresentação do cheque, conforme ensinam Bertoldi e Ribeiro (2006,
p. 430) será feita “por aquela pessoa indicada no título como seu beneficiário”.
Essa apresentação deverá se dar
no prazo de 30 dias, se for emitido no lugar onde houver de ser
pago (cheque da mesma praça), ou em 60 dias, quando o local
da agência do banco sacado não coincidir com o local em que
ele foi passado (cheque de outra praça). A inobservância desses
prazos gera a impossibilidade de o portador vir a executar os
endossantes e seus avalistas (Lei do Cheque, art. 47, II), perma-
necendo, no entanto, possível que sejam chamados a satisfazer o
pagamento o emitente e seus avalistas.

5.7.3 Cheque pós-datado (pré-datado)


De acordo com a lei, o cheque é uma ordem de pagamento à vista. Essa
é a determinação do art. 32 “O cheque é pagável à vista. Considera-se não-
estrita qualquer menção em contrário”. No entanto, não podemos esquecer
que essa lei é anterior ao Código do Consumidor. O Código em si, não faz
uma menção expressa obrigando alguém a aceitar ou deixar de aceitar o
cheque pós-datado. Contudo, dado a interpretação dos princípios ali contidos,
caso ocorra o depósito indevido, ocasionando prejuízos ao consumidor, a
jurisprudência tem sido farta em admitir a indenização em favor do prejudi-
cado. Os casos, porém, não podem ser generalizados e merecem a análise
em concreto, caso a caso.

518  2º PERÍODO • administração • unitins


Aula 5 • Direito comercial e societário

5.7.4 Cheque sem provisão de fundos


Bertoldi e Ribeiro (2006, p. 431) lecionam que
a emissão do cheque pressupõe não só a existência de uma
relação jurídica entre o emitente e o sacado, pela qual aquele
mantém neste depósito de dinheiro, mas também que o valor
constante do título esteja efetivamente coberto pelos fundos
depositados junto ao sacado; caso contrário, se o valor do
cheque for superior àquele montante mantido em depósito
junto ao sacado, não haverá provisão de fundos disponíveis
para a satisfação do pagamento, caracterizando-se, portanto,
o cheque sem provisão de fundos.

A emissão de cheque sem a devida provisão de fundos acarretará conduta


tipificada como estelionato pelo art. 171, VI do Código Penal.

5.7.5 Prescrição do cheque


Bertoldi e Ribeiro (2006, p. 433) mencionam que “a ação cambial com o
objetivo de executar o cheque prescreve em 06 meses contados da expiração
do prazo de apresentação do título”. Esse prazo está firmado no art. 59 da Lei
do Cheque, que fixa em seis meses o prazo de prescrição. Assim, a conta a ser
feita deverá obedecer ao seguinte critério:
• 30 dias + 06 meses para o cheque da mesma praça;
• 60 dias + 06 meses para o cheque emitido fora da praça.
Existe uma teoria geral referente aos títulos de crédito dando-lhes uma base
comum. Contudo, em sua maioria, eles possuem leis esparsas que os disciplinam,
como o cheque e a duplicata. A partir dessa visão, trabalhamos um panorama
geral das especificidades dos títulos de créditos mais comuns como a letra de
câmbio, a nota promissória, a duplicata e o cheque, especialmente no que diz
respeitos aos requisitos, aos prazos de prescrição e a outras particularidades.

Síntese da aula
A aula teve como finalidade apresentar os títulos de crédito, sua natureza
jurídica e suas especificidades. Para isso, iniciamos o estudo com a teoria geral
dos títulos de crédito, passando ao estudo dos títulos em espécie, como a letra de
câmbio, a nota promissória, a duplicata e o cheque. De cada título apresentamos
as principais características e particularidades, tais como os requisitos formais de
sua apresentação e outros como a prescrição, a espécie de ação cabível, etc.

Atividades

1. O princípio da literalidade dos títulos de crédito significa que:


a) não importa a forma do título;

unitins • administração • 2º PERÍODO  519


Aula 5 • Direito comercial e societário

b) não importa a cártula, mas apenas a realidade dos fatos;


c) esse princípio só se aplica à Duplicata;
d) o beneficiário do título só poderá exercer os direitos que estiverem
contidos na cártula.

2. A prescrição do direito da ação executiva do cheque se dá:


a) em seis meses, contados do fim do prazo de apresentação para paga-
mento do cheque;
b) em seis meses, contados da data de emissão do cheque;
c) em seis meses contados a partir do vencimento do cheque;
d) em seis ou sete meses da data de emissão, observados, respectivamente,
os locais da emissão (mesma praça e praça diferente).

3. Cite quais são e explique o teor de cada um dos princípios gerais dos títulos
de crédito. Você pode montar uma tabela, colocando de um lado os princípios
gerais dos títulos de crédito e, do outro lado, a explicação de cada um.

4. Após o prazo prescricional dos títulos de crédito, quais ações judiciais serão
cabíveis? Responda em um parágrafo de, no máximo, 10 linhas.

Comentário das atividades


Na atividade um, você deve ter lembrado que o princípio da literalidade aplica-
se a todos os títulos de crédito, significando que o título vale exatamente e apenas
aquilo que está contido na cártula. Assim, a alternativa correta é a letra (d). As demais
estão erradas, pois a letra (a) menciona que não importa a forma, a (b) menciona
exatamente o contrário do princípio e a (c) menciona apenas a duplicata.
Na atividade dois, você concluiu que a prescrição do cheque ocorrerá em
seis meses após o prazo de expiração da apresentação do mesmo? Se sim, a
alternativa correta é a letra (a). As demais alternativas: (b), (c) e (d) estão incor-
retas, pois não observam esta regra.
Para responder a atividade três, você deve ter retornado ao início da aula,
quando falamos de princípios dos títulos de crédito. Alguns autores preferem
chamar de características. Ao montar sua tabela você deve ter elencado:
Cartularidade – Literalidade – Autonomia dos Títulos de Crédito.
Na atividade quatro, você lembrou que os títulos de crédito são títulos
executivos extrajudiciais, mas que o credor deve observar o prazo de prescrição
dos mesmos? Assim, após o prazo prescricional dos títulos de crédito, o credor
poderá optar pela Ação de Cobrança Ordinária e pela Ação Monitória.
Se você se empenhou em realizar as atividades, você, com certeza, está
apto a conhecer as regras gerais dos títulos de crédito e a identificar as espécies
de títulos de crédito, que eram os objetivos da aula. Parabéns!

520  2º PERÍODO • administração • unitins


Aula 5 • Direito comercial e societário

Referências
BERTOLDI, M. M.; RIBEIRO, M. C. P. Curso avançado de Direito Comercial. 3. ed.
São Paulo: Revista dos Tribunais, 2006.
CAMPOS, N. R. P. R. de. Noções essenciais de Direito. 3. ed. São Paulo: Saraiva,
2005.
GONÇALVES, V. E. R. Títulos de crédito e contratos mercantis. v. 22. São Paulo:
Saraiva, 2004.
PROENÇA, J. M. M. Direito Comercial I. São Paulo: Saraiva, 2005.

Na próxima aula
Vamos estudar a propriedade industrial. A propriedade industrial é uma das
espécies de propriedade intelectual ou imaterial. No entanto, diferentemente dos
direitos autorais que são estudados no Direito Civil, a propriedade industrial é
estudada no Direito Comercial.

Anotações























unitins • administração • 2º PERÍODO  521


Aula 5 • Direito comercial e societário

522  2º PERÍODO • administração • unitins


Aula 6 • Direito comercial e societário

Aula 6
Da Propriedade Industrial

Objetivos
Esperamos que, ao final desta aula, você seja capaz de:
• compreender que a propriedade industrial é uma das espécies da
propriedade imaterial;
• reconhecer os bens protegidos pela propriedade industrial.

Pré-requisitos
O assunto que vamos estudar envolve conceitos novos, como patente e
registro. A sugestão é que você dê uma olhada na Lei n. 9.279/96, que poderá
ser acessada no sítio <http://www.planalto.gov.br>.

Introdução
A propriedade imaterial ou intelectual é o gênero do qual decorrem as espé-
cies: propriedade industrial e direito do autor. Nosso objeto de estudo recairá
principalmente sobre a propriedade industrial, que está indubitavelmente ligada
à disciplina ora em estudo. Vamos estudar a Lei n. 9.279/96 (Lei da Propriedade
Industrial) que, daqui por diante, chamaremos de LPI, bem como as particulari-
dades dos objetos de proteção da propriedade industrial.

6.1 Evolução do direito da propriedade industrial


Bertoldi e Ribeiro (2006, p. 109) lecionam que
o poder criativo do ser humano é algo que sempre o acompa-
nhou. No entanto, a preocupação a respeito do direito do criador
intelectual sobre a sua obra ou invento somente surgiu com mais
intensidade mediante a possibilidade de sua reprodução e difusão
em grande escala.

A doutrina se preocupou primeiro com os direitos literários (segunda


metade do século XV), quando surgiram os processos mecânicos de impressão.
No ano de 1330, o rei da França garantiu ao inventor do vidro (Philippe de

unitins • administração • 2º PERÍODO  523


Aula 6 • Direito comercial e societário

Cacquery) o seu fabrico. Citando outro marco importante na evolução desse


direito, Bertoldi e Ribeiro (2006) mencionam o privilégio concedido pelo feudo
de Veneza para a exploração de uma indústria gráfica e, também, o privilégio
concedido a Galileu Galilei, para a fabricação de um dispositivo hidráulico
destinado à irrigação. Bertoldi e Ribeiro (2006, p.109) explicam que, “com
a pujança do desenvolvimento industrial, notadamente a partir do século XIX,
verificou-se a necessidade de se estender e unificar a proteção da propriedade
industrial entre os países civilizados”.
Contudo, a pretendida unificação, conforme explicam Bertoldi e Ribeiro
(2006, p. 110), somente ocorreu em 1880, com a Convenção de Paris para a
Proteção da Propriedade Industrial, que entrou em vigor em 1883 com a adesão
de onze Estados: Bélgica, Brasil, Portugal, França, Guatemala, Itália, Holanda,
São Salvador, Sérvia, Espanha e Suíça. Essa Convenção conta hoje com 130
países signatários. No Brasil, nossa primeira norma legal a disciplinar o assunto,
de acordo com Bertoldi e Ribeiro (2006, p. 110), foi o Alvará expedido por
D. João VI, em 1809, que concedia aos inventores o privilégio de utilizarem
dos seus inventos, com exclusividade, por 14 anos. Hoje, o assunto encontra-se
disciplinado pela Lei n. 9.279/96, também chamada Código de Propriedade
Industrial, ou Lei de Propriedade Industrial.

6.2 Da propriedade industrial


Para falar em propriedade industrial, vamos mencionar primeiro o que é
propriedade intelectual ou imaterial, que pode ser considerada como o gênero
dessa espécie. Del Nero (2004, p. 46) define a propriedade imaterial como a
que “é atribuída à forma de propriedade cujo objeto não é de ordem material ou
corpórea: seu objeto é considerado como um bem de ordem abstrata, isto é, sem
forma material”. Assim, a propriedade imaterial é o gênero do qual decorrem
as espécies: propriedade industrial e direito de autor. Nosso objeto de estudo
recairá sobre a propriedade industrial que é estudada como parte do Direito
Comercial.

6.3 Do regime jurídico da propriedade industrial

Saiba mais

Talvez pela própria natureza do ser humano, às vezes, só consideramos


como direito de propriedade aquilo que podemos tocar. Não é o caso dos
direitos imateriais ou intelectuais que são criações do intelecto humano. Assim,
de acordo com Bertoldi e Ribeiro (2006, p. 110-111), muito se discutiu a natu-
reza jurídica desse direito. Segundo os autores

524  2º PERÍODO • administração • unitins


Aula 6 • Direito comercial e societário

de início surgiram aqueles que qualificaram os direitos de autor


e do inventor como um simples privilégio concedido pelas leis
ao criador da obra ou da invenção. Outros concebiam-no como
um verdadeiro direito de propriedade. Existiam aqueles que viam
naquele direito um direito obrigacional criando um vínculo entre a
sociedade e o autor ou inventor. Surgiu também quem defendesse
tratar-se o direito imaterial de um direito pessoal. Predomina, no
entanto, a corrente que concebe os direitos sobre as criações
imateriais como um direito de propriedade.

O entendimento desses autores é reforçado especialmente pelo nosso orde-


namento jurídico, seja em âmbito constitucional como infraconstitucional. A
Constituição Federal disciplinou o tema no seu art. 5º, XXIX:
[...] a lei assegurará aos autores de inventos industriais privilégio
temporário para sua utilização, bem como proteção às criações
industriais, à propriedade das marcas, aos nomes de empresas
e a outros signos distintivos, tendo em vista o interesse social e o
desenvolvimento tecnológico e econômico do País.

No âmbito infraconstitucional também se resguarda o direito de proprie-


dade na Lei de Propriedade Industrial, em várias passagens, especialmente,
nos artigos 6º, 94 e 126 (BERTOLDI; RIBEIRO, 2006, p. 111), garantindo-se ao
autor da invenção, do modelo de utilidade, do desenho industrial e da marca, o
direito de propriedade, desde que obedecidas as condições legais. Vamos apre-
sentar uma visão panorâmica dos assuntos abordados na Lei de Propriedade
Industrial - LPI.

6.3.1 Da Lei n. 9.279/96


A propriedade industrial está regulamentada na Lei n. 9.279/96 – Lei de
Propriedade Industrial – LPI, que dividiu o tema em oito títulos.

Quadro 1: Títulos da LPI


Título I Arts. 6º a 93 Patentes de invenção e modelo de utilidade
Título II Arts. 94 a 121 Desenhos industriais
Título III Arts. 122 a 175 Marcas
Título IV Arts. 176 a 182 Indicações geográficas
Título V Arts. 183 a 210 Crimes contra a propriedade industrial
Título VI Art. 211 Transferência de tecnologia e da franquia
Título VII Arts. 212 a 228 Disposições gerais, como recursos, prazos, prescrição
Título VIII Arts. 229 a 244 Disposições finais e transitórias

6.4 Da propriedade industrial


Leciona Proença (2005, p. 36-37) que
a propriedade industrial, assim, tem a função de proteger alguns
bens incorpóreos de titularidade do empresário, que também

unitins • administração • 2º PERÍODO  525


Aula 6 • Direito comercial e societário

compõem o seu estabelecimento, garantindo-lhe o direito exclu-


sivo à exploração econômica de tais bens.

Pensando sobre o assunto

Tabela 1: Bens protegidos pela propriedade industrial


Patente de invenção
Patente de modelo de utilidade
Registro de desenho industrial
Registro de marca

6.5 Das patentes


Muitas vezes o termo patente é usado de forma equivocada para designar a
proteção da propriedade industrial como um todo. Porém, as patentes protegem
apenas a invenção e o modelo de utilidade, que são espécies de propriedade
industrial, enquanto as marcas e o desenho industrial são protegidos pelo registro.
A doutrina, no entendimento de Coelho (2003, p. 86), considera que as patentes
“dizem respeito à invenção ou ao modelo de utilidade”. Passamos então ao
estudo individualizado de cada uma das formas de propriedade industrial.

6.5.1 Da invenção
Coelho (2003, p. 82) leciona que a invenção “é o ato original do gênio
humano”. Pode-se, assim, considerar invenção todo ato original do gênio humano
que possua aplicação na indústria. São três os critérios necessários para que
determinada coisa seja considerada como invenção (arts 8º ao 15 da LPI):
• atividade inventiva (criatividade);
• novidade (que não existe ainda no estado da técnica);
• industriabilidade (produção para o mercado).
Ou seja, o objeto da atividade inventiva deve ser considerado como novi-
dade, ser totalmente desconhecido, não estar compreendido no estado da
técnica atual (Ex. criação do primeiro aparelho de telefone).
Apesar de a doutrina definir no que consiste a invenção, a LPI preferiu, ao
invés de dar um conceito legal, trabalhar um critério de exclusão que deverá ser
observado. Assim, conforme o art. 10 da LPI, por exclusão, chega-se ao que não
poderá ser objeto de invenção.
Art. 10. Não se consideram invenção nem modelo de utilidade:
I. descobertas, teorias científicas e métodos matemáticos;
II. concepções puramente abstratas;

526  2º PERÍODO • administração • unitins


Aula 6 • Direito comercial e societário

III. esquemas, planos, princípios ou métodos comerciais, contá-


beis, financeiros, educativos, publicitários, de sorteio e de
fiscalização;
IV. as obras literárias, arquitetônicas, artísticas e científicas ou
qualquer criação estética;
V. programas de computador em si;
VI. apresentação de informações;
VII. regras de jogo;
VIII. técnicas e métodos operatórios ou cirúrgicos, bem como
métodos terapêuticos ou de diagnóstico, para aplicação no
corpo humano ou animal;
IX. o todo ou parte de seres vivos naturais e materiais biológicos
encontrados na natureza, ou ainda que dela isolados, inclu-
sive o genoma ou germoplasma de qualquer ser vivo natural
e os processos biológicos naturais.

6.5.2 Do modelo de utilidade


O modelo de utilidade não necessita tal qual a patente de invenção, do
requisito da novidade. Caracteriza-se o modelo de utilidade a inovação de
objeto já conhecido, ou seja, representa o melhoramento de objeto já conhe-
cido. A novidade no modelo de utilidade é apenas parcial. Como exemplo do
modelo de utilidade pode-se citar a título de ilustração, em relação ao exemplo
da patente de invenção, o aperfeiçoamento de um modelo de telefone, por
exemplo, o telefone sem fio.
Conforme Bertoldi e Ribeiro (2006, p. 112) “o modelo de utilidade nada mais é
do que o instrumento, utensílio ou objeto destinado ao aperfeiçoamento ou melhoria
de uma invenção preexistente”. No entender dos autores, “o modelo de utilidade
está para a invenção assim como a direção hidráulica está para o automóvel, ou a
turbina para o avião”. Apenas a título de reafirmar o objeto da patente, temos que
esse consiste na invenção e no modelo de utilidade. O art. 18 da LPI disciplina,
também por critério de exclusão, o que não pode ser patenteado.
Art. 18. Não são patenteáveis:
I. o que for contrário à moral, aos bons costumes e à segu-
rança, à ordem e à saúde públicas;
II. as substâncias, matérias, misturas, elementos ou produtos de
qualquer espécie, bem como a modificação de suas proprie-
dades físico-químicas e os respectivos processos de obtenção
ou modificação, quando resultantes de transformação do
núcleo atômico;
III. o todo ou parte dos seres vivos, exceto os microorganismos
transgênicos que atendam aos três requisitos de patenteabi-
lidade – novidade, atividade inventiva e aplicação industrial
– previstos no art. 8º e que não sejam mera descoberta.
Parágrafo único. Para os fins desta Lei, microorganismos trans-
gênicos são organismos, exceto o todo ou parte de plantas
ou de animais, que expressem, mediante intervenção humana
direta em sua composição genética, uma característica normal-
mente não alcançável pela espécie em condições naturais.

unitins • administração • 2º PERÍODO  527


Aula 6 • Direito comercial e societário

6.6 Da patenteabilidade
Verificado quais são os objetos passíveis de ser patenteados, resta-nos saber
como o fazer? Quais são os requisitos a serem preenchidos? Como esses bens
vão receber a devida proteção jurídica?

6.6.1 Da patente no INPI


Conforme Proença (2005, p. 38), para que as patentes de invenção e de
modelo de utilidade alcancem proteção jurídica, é necessário que seu autor/
criador requeira a concessão de patente junto ao INPI. O Instituto Nacional
da Propriedade Industrial - INPI é uma Autarquia Federal, criada pela Lei
n. 5.648/70, vinculada ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio
Exterior, em 1970, regulamentada pelo Decreto n. 68.104/72.

6.6.2 Dos prazos das patentes


A patente, segundo ensina Coelho (2003, p. 87), terá prazo diferido para
a invenção e para o modelo de utilidade. Esses prazos serão de “20 anos para
a invenção e 15 anos para o modelo de utilidade, contados do depósito do
pedido de patente (isto é, da data em que o pedido foi protocolado no INPI)”.
Contudo, por conta da demora nesses processos, a própria lei assegurou um
prazo mínimo de 10 anos para a invenção e de 7 anos para os modelos de
utilidade, contados a partir da expedição da patente (art. 40 LPI).

Saiba mais

6.7 Do registro industrial


A invenção e o modelo de utilidade são objetos de patente, já a marca e o
desenho industrial, para fins de concessão de direito de exploração exclusiva,
são objeto de registro no INPI. Assim, vamos analisar os requisitos necessários
ao registro do desenho industrial e da marca.

6.7.1 Do desenho industrial


O desenho industrial, para obtenção de registro, deve observar três
requisitos.
a) Novidade: não pode ser compreendido no estado da técnica (LPI, art.
96). Segundo Coelho (2003, p. 89), “a forma criada pelo desenhista

528  2º PERÍODO • administração • unitins


Aula 6 • Direito comercial e societário

deve, para merecer a proteção do direito industrial, propiciar um resul-


tado visual inédito, desconhecido dos técnicos do setor”.
b) Originalidade: deve apresentar configuração própria, não encontrada
em outros objetos, ou quando combina originalidade a elementos já
conhecidos. (art. 97, LPI). Caracteriza-se, a originalidade, por ser
um aspecto da estética, tornando, assim, diferente da novidade, que
é voltada a aspectos técnicos. Bertoldi e Ribeiro (2006, p.117) consi-
deram que é original o desenho industrial quando dele resulte
uma configuração visual distintiva, em relação a outros objetos,
mesmo que decorrente da combinação de elementos já conhe-
cidos. Não basta, portanto, seja o desenho novo – é neces-
sário seja diferenciado e resultante da criatividade daquele
que o concebeu a ponto de diferenciar o objeto de qualquer
outro conhecido.

c) Desimpedimento: as vedações ao registro estão dispostas no art. 100


da LPI, são eles: desenhos contrários à moral e aos bons costumes, ofen-
sivos à honra ou à imagem de pessoas, atentatórios à liberdade de
consciência; formas comuns, vulgares ou desnecessárias.
Coelho (2003, p. 90) menciona que o prazo de duração do registro do
desenho industrial será de 10 anos, contados do seu depósito, prorrogá-
veis por até três períodos sucessivos de 5 anos (art. 108 da LPI).

6.7.2 Marca
Bertoldi e Ribeiro (2006, p. 112) esclarecem que “os produtos ou serviços,
colocados à disposição do público consumidor, são geralmente identificados
mediante sinais distintivos, visualmente perceptíveis, sinais esses que são
chamados de marca”.
O art. 122 da LPI dispõe que “São suscetíveis de registro como marca os
sinais distintivos visualmente perceptíveis, não compreendidos nas proibições
legais”. Daí decorre a explanação de Bertoldi e Ribeiro (2006, p. 113) sobre a
própria lei delimitar que apenas pode ser objeto de registro como marca aquilo
que for perceptível pela visão, excluindo-se, assim, a possibilidade de marcas
olfativas ou sonoras, por exemplo.
A marca, tal como o desenho industrial, será objeto de registro, desde que
observados os requisitos legais, que apresentamos a seguir.
• Novidade relativa: explica Coelho (2003, p. 90) que
não se exige da marca que represente uma novidade absoluta,
isto é, a expressão lingüística ou signo utilizado não precisam ser,
necessariamente, criados pelo empresário. O que deve ser nova
é a utilização daquele signo na identificação de produtos indus-
trializados ou comercializados, ou de serviços prestados.

unitins • administração • 2º PERÍODO  529


Aula 6 • Direito comercial e societário

• Não colidência com marca notória: Coelho (2003, p. 90) menciona que
estas, “mesmo não registradas no INPI, merecem a tutela do direito
industrial, em razão da Convenção de Paris, da qual participa o Brasil”
(art. 126 LPI).
• Não impedimento: a lei impede o registro, de acordo com Coelho (2003,
p. 91), de determinados signos. Como exemplo o autor cita: as armas
oficiais do Estado ou, ainda, o nome civil sem autorização do titular,ou
seja, conforme o que dita o art. 124.
A particularidade que se destaca quanto às marcas é que a sua proteção se
restringe apenas à classe a que esta pertença. Conforme Coelho (2003, p.91),
o INPI classifica as diversas atividades econômicas como indústria, comércio e
serviços, agrupando-as pelo critério de afinidade (art. 125 da LPI). O art. 123
da LPI, classifica as marcas em 3 espécies.
Art. 123. Para os efeitos desta Lei, considera-se:
I. marca de produto ou serviço: aquela usada para distinguir
produto ou serviço de outro idêntico, semelhante ou afim, de
origem diversa;
II. marca de certificação: aquela usada para atestar a confor-
midade de um produto ou serviço com determinadas normas ou
especificações técnicas, notadamente quanto à qualidade, natu-
reza, material utilizado e metodologia empregada; e
III. marca coletiva: aquela usada para identificar produtos ou
serviços provindos de membros de uma determinada entidade.
Desse modo, a marca de certificação (atesta determinado produto ou serviço
se este atende a normas de qualidade fixadas por organismo oficial ou particular)
e a marca coletiva (informa se o fornecedor do produto ou serviço é filiado a uma
entidade, geralmente a associação dos produtores ou importadores do setor). A
própria lei menciona ainda, nos arts. 125 e 126, respectivamente, a marca de alto
renome e a marca notoriamente conhecida, que não podem ser confundidas.

Marca de alto renome


Art. 125. À marca registrada no Brasil considerada de alto renome será assegurada
proteção especial, em todos os ramos de atividade.
Marca notoriamente conhecida
Art. 126. A marca notoriamente conhecida em seu ramo de atividade nos termos do art.
6º bis (I), da Convenção da União de Paris para Proteção da Propriedade Industrial, goza
de proteção especial, independentemente de estar previamente depositada ou registrada
no Brasil.
Veja art. 158, § 2º, desta Lei.
§ 1º A proteção de que trata este artigo aplica-se também às marcas de serviço.
§ 2º O INPI poderá indeferir de ofício pedido de registro de marca que reproduza ou
imite, no todo ou em parte, marca notoriamente conhecida.

530  2º PERÍODO • administração • unitins


Aula 6 • Direito comercial e societário

Assim, como o exemplo das primeiras, que sempre precisarão de registro,


temos as marcas McDonald’s, Chevrolet, Lee, etc. Essas, após o registro, asse-
guram ao seu titular proteção em todos os ramos da atividade. Diferente, portanto,
da marca notoriamente conhecida, uma vez que essa goza de proteção especial,
independentemente de estar previamente registrada ou depositada no Brasil;
porém, restrita apenas a produtos idênticos e ou similares (BERTOLDI; RIBEIRO,
2006, p. 114). Quanto à duração, o registro da marca será de10 anos, a partir
da sua concessão (art. 133 da LPI), que, diferentemente da patente, poderá ser
prorrogado por períodos iguais e sucessivos, lembrando que a prorrogação
deverá ser pedida no último ano de vigência do registro.
Concluindo, verificou-se, nesta aula, que a propriedade industrial é uma das
espécies de propriedade imaterial. Tentou-se demonstrar a importância do uso
das terminologias adequadas para se designar, corretamente, cada um desses
institutos. Desse modo, procuramos trabalhar a diferença entre patente e registro.
O que é objeto de patente (invenção e modelo de utilidade) e o que é objeto de
registro (marca e desenho industrial), evitando, assim, que, daqui para frente,
você venha a usar terminologias equivocadas.

Síntese da aula
Apresentamos o conceito de propriedade intelectual, entendido como gênero
do qual decorrem as espécies propriedade industrial e direito do autor. Sendo a
propriedade industrial estudada no âmbito do direito comercial e o direito do autor
no Direito Civil. Você estudou que a propriedade industrial é regulada pela Lei n.
9.279/96 e, ainda, que a proteção da patente recai sobre a invenção e o modelo
de utilidade, e a proteção do registro, sobre a marca e o desenho industrial.

Atividades

1. A marca de certificação é utilizada para:


a) identificar produtos ou serviços provindos de determinada entidade;
b) distinguir os produtos semelhantes;
c) distinguir os serviços idênticos;
d) atestar a conformidade de um produto ou serviço com certas normas
técnicas.

2. Não se inclui entre os direitos conferidos ao titular da marca:


a) licenciar o seu uso;
b) impedir a divulgação por comerciantes ou distribuidores;
c) impedir o seu uso não autorizado;
d) explorá-la de forma exclusiva.

unitins • administração • 2º PERÍODO  531


Aula 6 • Direito comercial e societário

3. Quais são os bens juridicamente passíveis de proteção pela patente?


Identifique-os, a partir de suas características, em um texto de, no máximo,
20 linhas.

4. Quais são os bens juridicamente passíveis de proteção por registro?


Identifi­que-os, a partir de suas características, em um texto de, no máximo,
20 linhas.

Comentário das atividades


Na atividade um, você certamente respondeu que a marca de certificação
(art. 123, II da LPI) tem como finalidade certificar a qualidade de determinados
produtos. O que nos dá como alternativa correta a letra (d). As demais (a), (b)
e (c), estão incorretas: falam, respectivamente, em identificar produtos de certa
entidade, distinguir produtos semelhantes e/ou idênticos, o que não confere
com a previsão do artigo mencionado. Para maiores conhecimentos, pesquise,
mesmo que você já saiba a resposta do exercício proposto, o que é a ISO 9001
e a ISO 14001.

Para responder à atividade dois, você deve saber que a disciplina do uso
das marcas está contida no art. 132 da Lei de Propriedade Industrial. Você não
tem esse artigo? Vamos lá! O titular da marca não poderá impedir: (I) que os
comerciantes ou distribuidores usem os sinais distintivos que lhe são próprios
juntamente com a marca dos produtos comercializados; (II) que os fabricantes
de acessórios utilizem as marcas para indicar o produto; (III) a livre circulação
do produto no mercado interno; e por último (IV) a citação da marca em obra
científica ou literária.

Para resolver a atividade três, você deve ter recorrido ao que aprendeu no
início da aula. A patente, como você viu, protege a invenção e o modelo de
utilidade. Busque os requisitos dos mesmos, tais como a originalidade.

Na atividade quatro, o registro, como você viu, protege a invenção e o modelo


de utilidade. Busque os requisitos dos mesmos, tais como a originalidade.

Ao resolver as atividades, você alcançou os objetivos propostos para esta


aula: compreender que a propriedade industrial é uma das espécies da proprie-
dade imaterial e reconhecer os bens protegidos pela propriedade industrial.

Referências
BERTOLDI, M. M.; RIBEIRO, M. C. P. Curso avançado de Direito Comercial. 3. ed.
São Paulo: Revista dos Tribunais, 2006.
COELHO, F. U. Curso de Direito Comercial. v. 3. 4. ed. São Paulo: Saraiva,
2003.

532  2º PERÍODO • administração • unitins


Aula 6 • Direito comercial e societário

DEL NERO, P. A. Propriedade intelectual: a tutela jurídica da biotecnologia.


2. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2004.
PROENÇA, J. M. M. Direito Comercial I. São Paulo: Saraiva, 2005.

Na próxima aula
Você vai conhecer como se dá a proteção da ordem econômica na
Constituição Federal. Assim, vamos precisar que você dê pelo menos uma olhada
no conteúdo do art. 170 da Constituição Federal. Verá ainda os institutos da
fusão, da incorporação, da transformação e da cisão de empresas, bem como
a desconsideração da personalidade civil.

Anotações




























unitins • administração • 2º PERÍODO  533


Aula 6 • Direito comercial e societário

534  2º PERÍODO • administração • unitins


Aula 7 • Direito comercial e societário

Aula 7
Da atividade econômica à luz da
Constituição Federal

Objetivos
Esperamos que, ao final desta aula, você seja capaz de:
• analisar os princípios da Constituição Federal que norteiam a ordem
econômica;
• reconhecer as hipóteses de desconsideração da personalidade jurídica.

Pré-requisitos
Para acompanhar o conteúdo, recomendamos que você, inicialmente, faça a
leitura do art. 170 da Constituição Federal. Ele reúne os princípios que norteiam
a ordem econômica na Constituição. Sem observar essas regras, tudo o que
aprendemos perderia o sentido. Recomendamos, ainda, a leitura do art. 50 do
Código Civil, que trata da desconsideração da personalidade jurídica.

Introdução
O conhecimento da forma como a atividade econômica se encontra discipli-
nada na Constituição Federal é conteúdo fundamental em nosso estudo, seja pela
hierarquia da norma constitucional, seja pela interdisciplinaridade do Direito
Constitucional com o Direito Comercial. Desta forma, para analisar os pressu-
postos do regime jurídico comercial vigente no País, não poderíamos deixar de
iniciar pelas disposições constitucionais relativas a aula. Passamos então a uma
breve análise na ordem econômica, à luz da Constituição Federal, especial-
mente da análise do seu art. 170.

7.1 Da atividade econômica na Constituição Federal


Bertoldi e Ribeiro (2006, p. 129) indicam que a ordem econômica brasileira
encontra-se fundada em quatro pilares: no regime capitalista, na livre iniciativa,
nos princípios da propriedade privada e nos da livre concorrência. Isso, de
acordo com os autores, não significa a inexistência de regras que devem ser
observadas pelo empresário. Da própria leitura do art. 170 da Constituição

unitins • administração • 2º PERÍODO  535


Aula 7 • Direito comercial e societário

Federal, bem como dos princípios contidos nos seus incisos, pode-se compre-
ender a preocupação do legislador constituinte. Bertoldi e Ribeiro (2006, p.
129) extraem da leitura do art. 170 da Constituição Federal que
o regime constitucional que regula a ordem econômica não serve
somente para garantir o livre funcionamento do mercado (princípio
da auto-regulação), mas também para enunciar direitos, interesses
e garantias fundamentais aos quais este mercado deverá obedecer,
como é o caso dos direitos dos trabalhadores, dos consumidores,
de toda a coletividade por um meio ambiente saudável, etc.

Assim, a própria Constituição Federal, que dita que a ordem econômica é


fundada no capitalismo, deve se pautar na valorização do trabalho humano e
na livre iniciativa, entre outros direitos e garantias voltados à coletividade.

7.2 Da livre iniciativa


Bertoldi e Ribeiro (2006, p. 130) lecionam que
O direito à livre iniciativa se traduz na possibilidade de se
exercer uma atividade econômica privada, especialmente
mediante a liberdade de criação e gestão de sociedades
empresárias. A liberdade de criar e gerir empresas admite
restrições, as quais resultam da Constituição ou da lei, restri-
ções estas justificadas ou pela necessidade de proteção do
interesse público em geral, ou pela necessidade de proteção
dos interesses de grupos que tenham relação específica com a
atividade do empresário.

Vamos refletir sobre o que significa a livre iniciativa e quais casos necessitam
de autorização do Estado? Para responder, vamos reproduzir o que ensina Silva
(2007, p. 709).
Em primeiro lugar, quer dizer precisamente que a Constituição
consagra uma economia de mercado, de natureza capitalista,
pois a livre iniciativa, que, especialmente, significa a garantia da
iniciativa privada, é um principio básico da ordem capitalista.
Em segundo lugar, significa que, embora capitalista, a ordem
econômica dá prioridade aos valores do trabalho humano sobre
todos os demais valores da economia de mercado. Conquanto se
trate de declaração de princípio, essa prioridade tem o sentido
de orientar a intervenção do Estado na economia, a fim de fazer
valer os valores sociais do trabalho, que ao lado da livre inicia-
tiva, constitui um dos fundamentos não só da ordem econômica,
mas da própria República Federativa do Brasil.

Assim, estabelecidos os princípios que devem orientar a ordem econômica


e a livre iniciativa, cabe ao Estado fornecer condições adequadas para que
esses prevaleçam. Desse modo, também é expressa a vedação constitucional
no sentido de não tratar isonomicamente os que exercem atividade econômica,
sendo proibida a concessão de privilégios às empresas estatais que estejam

536  2º PERÍODO • administração • unitins


Aula 7 • Direito comercial e societário

explorando atividade econômica. É o que se depreende da leitura do art.


173, § 2º da Constituição Federal. Desta forma, a não ser pelas atividades
que constituem monopólio da União, (art. 177 da CF) ou ainda os casos que
impliquem relevante interesse nacional (art. 174 da CF), as atividades econô-
micas exercidas pelas empresas públicas e sociedades de economia mista não
poderão gozar de privilégios fiscais que não se apliquem à iniciativa privada.
Esta foi a forma de se aplicar o princípio da isonomia, estabelecendo igual-
dade de condições entre as empresas, seja de iniciativa privada, ou públicas
e de economia mista.

7.3 Do regime jurídico da concorrência


Bertoldi e Ribeiro (2006, p. 130) explicam que “a concorrência advém da
competição entre empresários, sendo pressuposto lógico e essencial do sistema
de economia do mercado”. Assim, conforme os autores, “a concorrência em si é
reconhecida e protegida pelo direito, que, por sua vez, reprime formas e meios
de concorrência que não se pautam pela lealdade e moralidade”. A preocu-
pação do Estado está voltada para a repressão da concorrência que ponha em
risco as regras da moralidade e lealdade concorrencial. O legislador constituinte
optou por adotar, na CF/88, um regime econômico de inspiração neoliberal e,
atento a este fato, o legislador infraconstitucional estabeleceu mecanismos de
proteção, que vedam as práticas da concorrência desleal.
A doutrina, de acordo com Bertoldi e Ribeiro (2006, p. 130), separa o
regime repressivo da concorrência ilícita em:
a) concorrência desleal – que se caracteriza pelos meios inidôneos
de que lança mão o empresário para vencer seus concorrentes na
atração da clientela;
b) infração da ordem econômica – trata-se dos meios que, por si só, não são
considerados ilícitos, mas são igualmente reprimidos pelas conseqüên­
cias que geram.

7.3.1 Da concorrência desleal


Bertoldi e Ribeiro (2006, p. 130) conceituam a concorrência desleal como
os “meios ilícitos utilizados pelo empresário com o objetivo de atrair a clien-
tela”. Pode-se considerar que a contenção à concorrência desleal é prevista
tanto no âmbito do Direito Civil como no Direito Penal. No âmbito do Direito
Penal, a Lei de Propriedade Industrial, tipifica a concorrência desleal no seu
art. 195. Na esfera do Direito Civil, a repressão à concorrência desleal é
refreada pelo dever de indenizar ocasionada pela quebra do contrato entre as
partes ou, ainda, em caso de responsabilidade extracontratual, pela quebra
dos princípios da eticidade e da boa-fé, tudo em conformidade com os arts.
186 e 927 do CC.

unitins • administração • 2º PERÍODO  537


Aula 7 • Direito comercial e societário

7.3.2 Da infração da ordem econômica


De acordo com a leitura do art. 170 da Constituição Federal, a ordem
econômica é fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa
e tem como finalidade assegurar a todos existência digna conforme os ditames
da justiça social. Ou seja, o que está em jogo quando existe ofensa à ordem
econômica é mais que o interesse individual. Como indicam Bertoldi e Ribeiro
(2006, p. 133)
o direito reprime as infrações contra a ordem econômica, enten-
dida como um bem jurídico pertencente a toda a coletividade.
O que a norma legal visa neste caso é a proteção do bem
comum, dos interesses difusos, e não simplesmente a tutela de
um direito individual.

Nesse aspecto, vale a pena mencionar a importância do Ministério Público,


que, a partir da Carta Constitucional de 1988, adquiriu o dever institucional de
zelar pelos interesses difusos e coletivos (ver artigos 127 e 129 da CF/88). A
Lei n. 8.884/94, atenta aos princípios constitucionais, disciplinou as questões
relativas às infrações da ordem econômica, estabelecendo, nos seus arts. 20
e 21, as condutas que constituem afronta a esta ordem. Coelho (2003, p. 28)
explica que “de um lado, o art. 20, que estabelece o objetivo ou efeitos possíveis
da prática empresarial ilícita; de outro, o art. 21, que elenca diversas hipóteses
em que a infração pode ocorrer”.
O art. 21 da Lei n. 8.884/94, de acordo com Bertoldi e Ribeiro (2006,
p. 133), preocupa-se em elencar, de forma exemplificativa, algumas condutas,
que, se praticadas e combinadas com as conseqüências contidas no art. 20 da
mencionada lei, mesmo que não alcançadas, configuram infração da ordem
econômica. Assim, Coelho (2003, p. 28) explica que somente configuram infra-
ções contra a ordem econômica as práticas enumeradas no art. 21, se restar
caracterizado o exercício do poder econômico, por meio de condutas que visem
a limitar, falsear ou prejudicar a livre concorrência ou livre iniciativa, dominar
mercado relevante de bens e serviços, ou aumentar arbitrariamente os lucros.
Se o agente busca prejudicar a livre concorrência ou dominar o mercado, ou
ainda aumentar arbitrariamente os preços, sua conduta será sempre infracional.
Importa ressaltar, porém, segundo Coelho (2003, p 28-29) que “Na análise da
vinculação entre a natureza da conduta e o seu objetivo ou efeito (potencial
ou realizado), deve-se levar em conta que é irrelevante a existência ou não de
culpa do empresário”.
Bertoldi e Ribeiro (2006, p. 135) mencionam que a Lei n. 8.884/94 disci-
plina ainda os órgãos de controle e fiscalização da ordem econômica. Elencando
entre esses os seguintes:
a) CADE – Conselho Administrativo de Defesa Econômica;
b) SDE – Secretaria de Desenvolvimento Econômico.

538  2º PERÍODO • administração • unitins


Aula 7 • Direito comercial e societário

Quadro 1: Órgãos de controle da ordem econômica


CADE SDE
• Criado originariamente pela Lei
n. 137/62, foi transformado com a
Lei n. 8.884/94, em autarquia vincu- • Vinculada ao Ministério da Justiça;
lada ao Ministério da Justiça, com • Dirigida por um secretário nomeado
sede e foro no Distrito Federal; pelo Ministro da Justiça;
• Composto por um presidente e seis • Devidamente instruídos pela SDE, os
conselheiros; processos serão submetidos ao plenário
• Função julgadora, contudo, seus atos do CADE para julgamento.
estão sujeitos ao controle do Poder
Judiciário.
Fonte: Bertoldi e Ribeiro (2006, p. 135).

Na apuração dos crimes contra a ordem econômica, não importa discutir


a culpa do agente, configurando-se no caso o que a doutrina nomeia de
responsabilidade objetiva. O que comprova que a infração à ordem econô-
mica é mais do que uma simples lesão a um interesse individual; o que justifica
que a lesão contra esse bem jurídico configura-se como infração de interesses
difusos e coletivos.

Quadro 2: Responsabilidades
RESPONSABILIDADE SUBJETIVA RESPONSABILIDADE OBJETIVA
Necessidade de se provar a culpa do Não há necessidade de se provar a culpa
agente do agente.

Segundo o que leciona Coelho (2003, p. 29), restando caracterizada a


infração à ordem econômica, o Conselho Administrativo de Defesa Econômica –
CADE deverá ser acionado, para fazer as averiguações preliminares e instruir
o processo administrativo junto com a SDE - Secretaria de Direito Econômico. A
lei destaca as seguintes sanções econômicas a serem impostas aos infratores da
ordem econômica: multa; publicação pela imprensa do extrato da decisão conde-
natória; proibição de contratar com o Poder Público ou com instituições financeiras
oficiais; inscrição no cadastro nacional de defesa do consumidor; recomendação
de licenciamento obrigatório de patente titularizada pelo infrator; negativa de
parcelamento de tributos ou cancelamento de benefício fiscal; determinação de
atos societários como cisão, ou transferência de controle compulsórios.
Ressalta Coelho (2003, p. 29) que as decisões administrativas, proferidas
pelo CADE, são títulos executivos extrajudiciais e comportam execução especí-
fica, quando impõem obrigação de fazer ou não fazer, podendo o juiz, inclu-
sive, decretar a intervenção na empresa. O rol das infrações contra a ordem
econômica, contido no art. 21 da Lei n. 8.884/94, não é exaustivo. Assim,
também a Lei n. 8.137/90 tipifica algumas práticas empresariais como crimes
contra a ordem econômica, nos arts. 4º a 6º.

unitins • administração • 2º PERÍODO  539


Aula 7 • Direito comercial e societário

O entendimento desse tema é fundamental para o Direito Comercial,


pois a partir da observância da forma como a ordem econômica está disci-
plinada na Constituição Federal, é que as atividades poderão desenvolver-
se de forma lícita.

7.4 Da personalidade jurídica das sociedades


No primeiro período, na disciplina Introdução ao Direito enfocou-se o estudo
das pessoas (Natural e Jurídica). A pessoa natural adquire seus direitos a partir
do nascimento com vida. A pessoa jurídica, por seu turno, adquire seus direitos
a partir do registro dos seus atos constitutivos.
Por qual motivo essa distinção está sendo tratada nessa aula? A fim de
demonstrar que a pessoa jurídica tem personalidade distinta da de seus sócios;
esse entendimento, porém, só foi adotado a partir da entrada em vigor do
Código Civil de 1916. Bertoldi e Ribeiro (2006, p. 143) apontam que o resul-
tado prático desse entendimento é justamente para “separar o patrimônio dos
sócios em relação ao patrimônio da sociedade”. A partir dessa concepção, e
com o objetivo de inibir o mau uso das sociedades pelos próprios sócios, nasce
a Teoria da Desconsideração da Personalidade Jurídica.

7.4.1 Da desconsideração da personalidade jurídica


Bertoldi e Ribeiro (2006, p. 144) lecionam que a Desconsideração da
Personalidade Jurídica originou-se nos tribunais ingleses e norte-americanos
como a doutrina da disregard of legal entity. Essa teoria permite que “os credores
invadam o patrimônio pessoal dos sócios que se utilizam maliciosamente da
sociedade com o objetivo claro de prejudicar terceiros”. Borba (2004, p. 32)
considera que não há como negar que as sociedades possuem personalidade
jurídica distinta da dos seus sócios. Contudo, há que se pensar em mecanismos
hábeis, com vistas a evitar que os sócios escondam-se atrás de uma sociedade,
usando-a com fins de prática de gestão fraudulenta.
Embora há muito tempo a doutrina já admitisse a desconsideração da perso-
nalidade jurídica, este instituto ganhou reforço com o advento do Código Civil, que
o prevê, de forma expressa, em seu art. 50, muito embora nós já tivéssemos esta
previsão quanto aos crimes econômicos e quanto aos crimes contra o consumo.
Além do Código Civil, a desconsideração da personalidade jurídica está também
prevista em outros Diplomas Legais. Entre esses Diplomas, podemos destacar o
Código de Defesa do Consumidor, a Lei n. 8.884/94, e a Lei n. 9.605/98.
Desta forma, se a sociedade estiver sendo usada de forma inadequada,
aquele que foi lesado em razão disto poderá lançar mão da teoria da descon-
sideração da personalidade jurídica, com o fim de atingir os bens dos parti-
culares, na pessoa dos sócios ou administradores responsáveis pelo desvio de

540  2º PERÍODO • administração • unitins


Aula 7 • Direito comercial e societário

finalidade ou pela confusão patrimonial em que fiquem evidentes o interesse


do sócio ou administrador, em detrimento do interesse da sociedade.

7.5 Das formas de modificações na estrutura das sociedades


Muitas sociedades acabam por sofrer modificações. Contudo, não estamos
a dizer que as modificações na estrutura das sociedades sejam sinônimos de
operações ilegais, porquanto a própria lei admite mudanças na sua estrutura e
são justamente essas formas admitidas em lei que vamos começar a estudar. De
acordo com Tomazetti (2004, p. 443), no decorrer da vida de uma sociedade,
ela poderá sofrer mudanças que alterem a sua disciplina jurídica.

7.5.1 Da transformação
Bertoldi e Ribeiro (2006, p. 331), repetindo o teor do art. 220 da Lei das
Sociedades Anônimas – LSA, mencionam que a transformação “é a operação pela
qual uma sociedade passa de uma espécie para outra, sem que isso signifique a
extinção da sociedade anterior e a criação de uma nova”. A transformação, segundo
Tomazetti (2004, p. 443) “é alteração do tipo societário de uma sociedade, inde-
pendentemente de dissolução ou liquidação”. A transformação está disciplinada nos
arts. 220 a 222 da LSA e nos arts. 1.113 a 1.115 do Código Civil.

7.5.2 Da incorporação
A incorporação está prevista no art. 227 da LSA. Está prevista, ainda, no
Código Civil, nos arts. 1116 a 1118. Consiste no ato pelo qual uma ou mais
sociedades são absorvidas por outra, que irá lhe suceder tanto nos direitos como
nos deveres. Esclarece Tomazetti (2004, p. 446) que, com a incorporação, a
sociedade que foi absorvida desaparece.

7.5.3 Da fusão
Bertoldi e Ribeiro (2006, p. 332) lecionam que a fusão “ [...] também se
apresenta como um ato de concentração de empresas, na qual duas ou mais
sociedades se unem, resultando dessa união uma nova sociedade que, diante
da extinção de todas as sociedades envolvidas, as sucederá em todos os direitos
e obrigações”. Na fusão, há uma nova pessoa jurídica e as demais deixam de
estar disciplinadas na Lei das S/A e no Código Civil.

7.5.4 Da cisão
A cisão é o ato pelo qual a sociedade transfere parcelas de seu capital para
uma ou mais sociedades, que podem ser constituídas para este fim específico ou
já existem. A cisão poderá ser total ou parcial. Se for total, a primeira sociedade
será extinta (a que deu origem à cisão) e, se for parcial, o seu capital será divi-
dido em conformidade com o art. 229 da LSA.

unitins • administração • 2º PERÍODO  541


Aula 7 • Direito comercial e societário

A aula proposta teve a finalidade de estudar a proteção da ordem econômica


na Constituição Federal. Mas não teríamos tratado adequadamente o assunto,
se, paralelamente, não tratássemos, também, da desconsideração da personali-
dade jurídica, que ganhou maior notoriedade com sua previsão expressa no art.
50 do Código Civil. Abordamos, ainda, as transformações das sociedades nas
formas permitidas pelo ordenamento jurídico.

Síntese da aula
Apresentamos a proteção constitucional da ordem econômica, a partir
da análise do art. 170 da Constituição Federal, demonstrando como algumas
práticas, como a concorrência desleal e a infração à ordem econômica contra-
riam os princípios constitucionais. Estudamos a desconsideração da personali-
dade jurídica e, ainda, as transformações das sociedades.

Atividades

1. Assinale a alternativa correta quanto à concorrência.


a) A concorrência, em qualquer das suas formas é prática vedada pela
Constituição Federal.
b) A Constituição Federal veda a competição entre empresários, pois essa
competição necessariamente acaba em concorrência desleal.
c) A Constituição Federal apenas veda a concorrência que contrarie as
regras da moralidade e da lealdade concorrencial.
d) A Constituição Federal não veda qualquer espécie de concorrência.

2. A fim de reforçar os conteúdos apresentados, pesquise, no sítio <http://


www.cade.gov.br/jurisprudencia/jurispru.asp>, alguns casos práticos,
remetidos ao CADE. Enumere pelo menos três casos que tenham chamado
sua atenção, seja pela empresa envolvida, seja pela repercussão do caso na
imprensa ou, ainda, pela matéria discutida.

3. A partir da interpretação do art. 170 da Constituição Federal, formule a sua


opinião a respeito das empresas públicas. É possível que essas empresas
(públicas) possam gozar de benefícios fiscais em relação às empresas
privadas? Justifique a sua resposta em um texto com introdução, desenvolvi-
mento e conclusão. Seja claro e coerente em suas argumentações.

4. Como já afirmado, a ordem econômica brasileira está assentada no regime


capitalista, na livre iniciativa e nos princípios da propriedade privada e livre
concorrência. Contudo, a busca do lucro observa algumas limitações, como
a valorização do trabalho humano, a livre iniciativa e a existência digna em

542  2º PERÍODO • administração • unitins


Aula 7 • Direito comercial e societário

conformidade com a justiça social. Diante dessa visão, liste os 9 princípios


contidos no art. 170 da CF, tecendo um pequeno comentário sobre cada um
deles. Você pode montar uma tabela, colocando os princípios de um lado e
seus comentários do outro lado.

Comentário das atividades


Na atividade um, você certamente assinalou como correta a alternativa (c),
pois ela traduz exatamente a vedação constitucional na forma em que o assunto
está disciplinado. As demais estão incorretas, pois a letra (a) fala em vedar
qualquer das formas (apenas a desleal é vedada); a letra (b), em outras palavras
menciona a mesma coisa e a letra (d), ao contrário, diz que não veda qualquer
espécie (a desleal é vedada).
A atividade dois, objetivou despertar sua atenção para as espécies de caso
que chegam ao CADE. Você deve ter verificado que, em muitos casos, as denún-
cias realmente procedem e, em outros, após a análise do órgão, verifica-se não
constituir qualquer infração à ordem econômica.
Ao responder a atividade três, você lembrou do princípio da isonomia (todos
são iguais perante a lei)? A isonomia entre as empresas públicas e privadas tem
status constitucional; portanto, ao expressar sua opinião, você não pode descon-
siderar esse princípio.
A atividade quatro, buscou que você compreendesse os princípios da ordem
econômica, a partir da interpretação sistemática dos mesmos, percebendo a
ligação destes com os direitos fundamentais. Você conseguiu? Parabéns!
As atividades propostas lhe deram a oportunidade de alcançar os objetivos
propostos para esta aula: analisar os princípios da Constituição Federal que
norteiam a ordem econômica e reconhecer as hipóteses de desconsideração da
personalidade jurídica.

Referências
BERTOLDI, M. M.; RIBEIRO, M. C. P. Curso avançado de Direito Comercial. 3. ed.
São Paulo: Revista dos Tribunais, 2006.

BORBA, J. E. T. Direito Societário. 9. ed. Rio de Janeiro: Renovar, 2004.

COELHO, F. U. Curso de Direito Comercial. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2003. v. 3.

SILVA, J. A. da. Curso de Direito Constitucional Positivo. 29. ed. São Paulo:
Malheiros, 2007.

TOMAZETTE, M. Direito Societário. 2. ed. São Paulo: Juarez de Oliveira, 2004.

unitins • administração • 2º PERÍODO  543


Aula 7 • Direito comercial e societário

Anotações








































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