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Pedro Ângelo da Rosa

Resenha Histórica
de Mato Grosso
(Fronteira com o Paraguai)

Edição anotada por


Hildebrando Campestrini

Outubro de 2004
Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso do Sul
Campo Grande – Mato Grosso do Sul
Revisão e diagramação:
H. Campestrini

Sem fins lucrativos.

Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso do Sul


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Nota do editor

Dentro do propósito do Instituto Histórico e Geográfico de


Mato Grosso do Sul de disponibilizar (em sua biblioteca eletrônica:
www.ihgms.com.br) para o público em geral as obras significa-
tivas da historiografia sul-mato-grossense, surge este trabalho,
sem dúvida indispensável para se conhecer melhor determinados
acontecimentos, principalmente em Ponta Porã e, por extensão,
na fronteira.
Escrito em linguagem simples, direta, quase depoimento,
o livro traz o testemunho de quem assistiu a muitas daquelas o-
corrências ou delas participou ou, ainda, teve a oportunidade de
colher as informações junto aos que foram atores, justamente de
um trato muito importante da história da fronteira, que vai do
povoamento até o Território de Ponta Porã.
O texto foi atualizado na ortografia, corrigindo-se alguns
erros tipográficos evidentes e algumas datas, por óbvio erro de
revisão ou contradição com o próprio texto.
Duas notas são do autor. Para contextualizar melhor os fatos
ou desfazer possíveis confusões, foram inseridas outras trinta e
duas, indicadas com a expressão: nota do editor.
Campo Grande, outubro de 2004.

Hildebrando Campestrini
Presidente IHG-MS

Resenha Histórica de Mato Grosso 3


Prólogo
Para a confecção deste modesto trabalho, ampliei algo do
meu opúsculo anteriormente publicado, intitulado ANAIS PONTA-
PORENSES, para cujo fim, aproveitei muito das informações que
ouvi, desde menino, de meu avô, capitão João Antônio da Trin-
dade, veterano da guerra de 1870, e um dos heróis da Retirada
da Laguna, vindo do Rio de Janeiro para Mato Grosso, ainda nos
tempos do Império (ver nota 15).
No decorrer de vários anos, procurei pessoas idôneas, ve-
lhos moradores no Estado, e que tomaram parte, muitas delas,
nos acontecimentos aqui relatados, as quais me prestaram seus
valiosos depoimentos.
Consultei também algumas obras que versam sobre a his-
tória de Mato Grosso, e particularmente desta região fronteiriça.
A partir de 1921, época em que me alistei nas fileiras do
Partido Republicano Conservador, já caído em Mato Grosso, pas-
sei a tomar parte nos acontecimentos políticos do Estado, hipo-
tecando minhas simpatias a vários movimentos que agitaram o país
e tiveram repercussão em nosso ambiente.
Porém, ao relatar os fatos, no desenrolar do agitado drama
da história política desta fronteira, procurei somente a verdade,
observando estrita imparcialidade, fazendo justiça aos seus pro-
tagonistas, sem idéias preconcebidas e sem as veleidades do fa-
voritismo.
A História é como um grande palco, onde se apresentam os
fatos e aparecem seus atores, que falam por si mesmos, conforme
os papéis que desempenharam.
Ponta Porã, 28 de julho de 1962.
Pedro Ângelo da Rosa
Índice
1. Ponta Porã, teatro de acontecimentos da guerra de 1870.
a) Epopéia de Dourados – 9.
b) A colônia militar do Iguatemi – 10.
c) Ponta Porã, zona deserta. Origem do seu nome – 11.
d) A Retirada da Laguna – 12.
e) Expedição do tenente-coronel Moura
a Iguatemi. O destino – 15.
f) Operações finais da campanha.
Lopez se dirige a Ponta Porã – 16.
g) Demarcação dos limites da fronteira – 18.
2. Descoberta dos ervais em Mato Grosso.
Tomás Laranjeira e a Empresa Mate – 19.
3. Ponta Porã. Fundação e distrito.
a) O primeiro destacamento militar
que chega a Ponta Porã – 24.
b) A fundação de Ponta Porã. João Antônio da Trindade – 26.
c) Criação do distrito de Ponta Porã – 28.
4. Começam a chegar a Mato Grosso as comitivas
do Rio Grande do Sul. As causas dessa
imigração e sua epopéia – 29.
5. Demandas sobre a posse das terras de
Ponta Porã e sul de Mato Grosso.
a) Questão com os herdeiros de D. Elisa Lynch – 33.
b) Pretensão dos herdeiros do barão de Antonina – 34.
6. Criação do município – 36.
a) Instalação – 37.
b) Ata de instalação – 37.
c) Nomeação de autoridades. A visita do
Ex.mo Sr. Presidente do Estado – 39.
7. Criação e instalação da comarca – 40.
8. Desenvolvimento cultural e esportivo – 41.
9. Movimentos revolucionários no sul do Estado.
a) Muzzi – 43.
b) Mascarenhas – 45.
c) Bento Xavier – 46.
d) A revolta do regimento em Ponta Porã – 50.
e) Antônio Gomes – 52.
10. Movimentos nacionais que repercutiram
no sul de Mato Grosso.
a) 1922 – 54.
b) 1924 – 54.
c) 1930 – 60.
d) 1932 – 62.
11. O Território Federal de Ponta Porã.
Sua criação e extinção – 64.
12. As duas correntes migratórias – 67.
1. Ponta Porã, teatro de
acontecimentos da guerra de 1870.
a) Epopéia de Dourados.
Ao irromper a guerra do Paraguai, em fins do ano de 1864,
quando a província de Mato Grosso foi invadida pelo exército de So-
lano Lopez, existia em toda a faixa fronteiriça, que não tinha ainda
sido demarcada, a Colônia Militar de Dourados1, criada no minis-
tério Caxias, a 10 de maio de 1861, sediada nas cabeceiras do rio
Dourados, a oito léguas de distância da atual cidade de Ponta Porã.
1. A Colônia Militar do Dourados (o autor prefere de Dourados)
situava-se nas proximidades da atual cidade de Antônio João,
onde se encontra um parque que lembra o episódio narrado a
seguir. Chama-se do Dourados porque está nas cabeceiras do
rio Dourados. Não confundir com a cidade de Dourados. (Nota
do editor).

O pequeno destacamento compunha-se de dezesseis ho-


mens, comandados pelo tenente Antônio João Ribeiro, e foi ata-
cado a 29 de dezembro daquele mesmo ano, por uma força com-
posta de duzentos e vinte paraguaios, sob o comando do major
Urbieta, integrante da coluna do general Resquin, que coman-
dava um exército e trazia o objetivo de invadir a província de
Mato Grosso.
O tenente Antônio João, recebendo intimação do inimigo
para render-se, apesar da inferioridade numérica de sua tropa,
não quis entregar-se e ofereceu resistência aos atacantes. Inicia-
do o combate, às primeiras descargas, caiu morto junto à bandei-
ra nacional, em companhia de seus soldados. Não quis o tenente
Antônio João evitar aquele sacrifício, retirando-se para Miranda,
pois sabia notícias da aproximação dos paraguaios, e preferiu ofe-
recer a vida em holocausto à Pátria, nos primórdios daquela longa
e penosa campanha.

Resenha Histórica de Mato Grosso 9


Ao coronel Dias da Silva, comandante do distrito militar de
Miranda, mandou ele um emissário, comunicando a aproxima-
ção das forças paraguaias, o qual foi aprisionado pelo inimigo,
encontrando-se em seu poder a nota que finalizava com os dize-
res: Sei que morro mas o meu sangue e de meus companheiros
servirá de protesto solene contra a invasão do solo de minha Pátria.
O feito de Antônio João causou admiração ao próprio chefe
das forças paraguaias, major Urbieta, que dele fez menção na sua
parte.
A Colônia Militar de Dourados ficou abandonada ainda al-
guns anos depois de terminada a guerra, até a chegada de seu
novo comandante, capitão Rogaciano Monteiro de Lima, que, de-
pois de muitos anos de residência ali, passou o comando ao capi-
tão João Manuel Gomes, que foi o último a comandar a Colônia,
até sua extinção.

b) A colônia militar do Iguatemi.


A fim de assegurar os direitos de ocupação das nossas fron-
teiras no extremo sul de Mato Grosso, que nos tempos coloniais
não estavam fixadas, existindo contestações e controvérsias en-
tre os espanhóis e portugueses, e em vista do tratado de 1750,
mandou o Morgado de Mateus2 fundar a colônia militar do Igua-
temi, em 1767, à margem do rio Iguatemi.

2. O Morgado de Mateus (Luís Antônio de Sousa), governa-


dor da capitania de São Paulo, recebera de Portugal ordens pa-
ra expandir o território português e assegurar as terras de seu
domínio. Para tanto, promoveu o reconhecimento dos sertões do
rio Tibagi (no Paraná) e a ocupação das terras do Iguatemi,
fundando, ali, em 1767, a Povoação e Praça de Armas Nossa
Senhora dos Prazeres e São Fernando de Paula. (Nota do edi-
tor).

A colônia, depois de fundada e ocupada pelos portugueses,


foi atacada e destruída por forças espanholas vindas de Assun-
ção, sob o comando do coronel D. Agostinho Fernandez de Pinedo,
no ano de 1777.

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Os vestígios daquela fundação acham-se nos fundos da
fazenda Vigente, hoje município de Amambai3, onde tivemos ocasião
de ver os fossos enormes que se projetam para as bordas do rio I-
guatemi, fechando o reduto em cuja área existe um grande laranjal e
se encontram ainda algumas telhas, restos de habitações antigas.
3. Em Mato Grosso do Sul o uso corrente consagrou a pronúncia
Amambai (com i final átono) para o nome do município. Con-
serva-se com i final tônico nos demais nomes próprios: serra de
Amambaí, rio Amambaí. (Nota do editor).

O povo que reside nos arredores daquelas ruínas deu ao


lugar a denominação de Trincheiras e supõe tenha sido ela uma
fundação jesuítica.

c) Ponta Porã, zona deserta. Origem de seu nome.


Antes da guerra do Paraguai, Ponta Porã constituía uma zona
deserta, habitada somente por índios selvagens, sobressaindo-
se as tribos caiuás e guaranis, que se alimentavam da pesca e da
caça. Os animais selvagens abundavam por toda a região. Situa-
da no espigão da serra de Amambaí4, aqui se defrontam as ca-
beceiras dos rios que correm em direções opostas, no divisor
das águas entre as bacias hidrográficas do Paraná e Paraguai, o
que foi tomado por base pelo tratado de limites entre os dois
países, Brasil e Paraguai.
4. A serra de Maracaju, de Paranhos à cabeceira do Estrela, é
conhecida também por serra de Amambaí. (Nota do editor).

A topografia do lugar oferece ao viandante o majestoso qua-


dro de intérminas campinas, onduladas de suaves coxilhas, orladas
de extensas matas e capões, que se destacam a grandes distân-
cias, no fundo azulado, como ilhas de um oceano verde.
Pela altitude do lugar, 634 metros acima do nível do mar, e
ausência de acidentes geográficos que sirvam de anteparo, as
brisas suaves do verão sopram constantemente, amenizando-lhe
o clima. Desse aspecto peculiar da natureza, adveio-lhe o nome
espanhol-guarani de Punta Porã, dado pelos paraguaios, antes da
guerra de 1870, e que literalmente significa em português: ponta

Resenha Histórica de Mato Grosso 11


bonita. O ponto de referência que deu origem ao batismo foi um
pontão de mato existente em Capivari5, na boca da picada do
Chirigüelo, termo da estrada que, partindo de Conceição, Paraguai,
dá acesso ao alto da serra.
5. Capivari fica no Paraguai, a pouco mais de duas léguas an-
tes da atual Ponta Porã. A picada do Chirigüelo, única ligação
entre a cidade de Conceição com a região fronteiriça, alcançava
o alto da serra nas imediações de Ponta Porã hoje. (Nota do
editor).

O nome, que inicialmente designava toda a zona, aportugue-


sou-se na forma de Ponta Porã, e depois de constituídas as duas
povoações xifópagas passou a designar somente a parte brasi-
leira, passando a outra a chamar-se Pedro Juan Caballero, em
homenagem a um dos próceres da independência do Paraguai.
Ponta Porã começou a formar-se em frente à picada do Chiri-
güelo, escoadouro da erva-mate que daqui era transportada para
o porto de Conceição, no Paraguai, e por onde transitavam as tro-
pas de carretas puxadas por bois, trazendo mercadorias. Naque-
les tempos a Noroeste não tinha ainda penetrado em Mato Gros-
so, e era por essa estrada, que os fazendeiros do nosso interior
iam ao Paraguai buscar sal, gêneros alimentícios e tudo o mais de
que necessitavam.
A serra que se estende do lado do Paraguai, em sentido lon-
gitudinal, paralela à fronteira, era inacessível ao trânsito, exceto
nos lugares onde foram abertas picadas carreteiras que dão aces-
so a Ponta Porã, Bela Vista, Ipeum6 e Nhuverá, formando-se ali
núcleos de povoamento.
6. Ipeum é a atual cidade de Paranhos, no sul do Estado. Nhu-
verá, a atual cidade de Coronel Sapucaia. Segundo Hélio Serejo,
Ipeum significa pássaro-preto; Nhuverá, campo brilhante. (Nota
do editor).

d) A Retirada da Laguna.
A guerra contra o Paraguai já durava dois anos e as forças
aliadas concentravam-se no ataque à fortaleza de Humaitá, quan-
do partiu do Rio de Janeiro, em abril de 1866, uma expedição

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destinada a invadir aquela república pelo norte, a fim de causar
dispersão de suas forças.
Os expedicionários desembarcaram em Santos e seguiram
a cavalo, atravessando o Estado de São Paulo, sendo a coluna or-
ganizada em Uberaba, com o efetivo de três mil homens, sob o co-
mando do coronel Manuel Pedro Drago. Depois de atravessar os
sertões de Minas e Goiás, a coluna entrou pelo norte de Mato Grosso,
passando por Coxim e acampou em Miranda. Ali a tropa foi aco-
metida de febres palustres e beribéri, que lhe causaram muitas
vítimas, agravando-se o seu estado geral, pela falta de recursos
na região, que tinha sido invadida e devastada pelos paraguaios.
Tendo o comandante da coluna, Manuel Pedro Drago, se-
guido para Cuiabá, assumiu a chefia o coronel Galvão (ver nota
10), o qual, tendo sido acometido pela epidemia, foi substituído
pelo coronel Carlos de Morais Camisão.
Prosseguindo a marcha, chegou a coluna a Nioaque, que
encontrou incendiada pelos paraguaios, que dali se haviam reti-
rado. De Nioaque, dispondo de parcos recursos, seguiu para Bela
Vista, guiada pelo sertanista José Francisco Lopes, estabelecido
na sua fazenda Jardim, e cuja esposa, D. Senhorinha, e demais
membros da família, tinham sido aprisionados pelos paraguaios e
transportados para Horqueta.
Chegando a Machorra, onde existia um estabelecimento
paraguaio, foram encontradas as casas incendiadas e recém-aban-
donadas pelo inimigo, e prosseguindo a marcha rumo à fronteira,
a coluna transpôs o Apa, entrando em território paraguaio a 21 de
abril de 1867.
Ali havia a esperança de serem aprisionadas algumas reses
para abastecimento da tropa, porém os paraguaios, ao se retira-
rem, incendiaram as casas, como já vinham fazendo em outros lu-
gares, e arrebanharam todo o gado, nada deixando ao inimigo, que
espreitavam de longe, observando todos os seus movimentos.
De Bela Vista paraguaia, marchou a tropa, estacando no Apa-
Mi, a 30 de abril, chegando à Laguna a 1° de maio, a cinco léguas
de distância. Ali travaram-se alguns encontros com o inimigo e a

Resenha Histórica de Mato Grosso 13


coluna começou a sentir a escassez de víveres, falta de munição
e também a cavalhada estava exausta, não havendo a possibili-
dade de ser trocada, sendo que o inimigo dispunha de tropa
descansada e recebia recursos de sua base em Conceição, de
onde lhe chegavam reforços.
Foi, por esses motivos, iniciada a retirada da coluna, a 7 de
maio, e a 8, foi repelido um ataque paraguaio, travando-se o com-
bate de Baendê7.
7. Baendê – do guarani. O que é você?
Nota do editor. Este combate se travou ainda em território
paraguaio, já perto do rio Apa.

A 11 a tropa brasileira transpôs o Apa, sendo que os para-


guaios já haviam tomado a dianteira, no intuito de lhe cortar o
passo. Nesse dia travou-se o combate de Nhandepá8, onde entra-
ram em ação cerca de três mil homens de ambos os lados, caindo
na ação para mais de duzentos e trinta combatentes, e sendo a
pequena tropa de gado, de que dispunha a coluna, arrebanhada
pelos paraguaios.
8. Nhandepá – jenipapo. Nome dado ao lugar pelos índios.
Nota do editor. Este combate se deu em Bela Vista, numa en-
costa, perto do atual cemitério.
Os paraguaios, comandados pelo major Urbieta, seguiram
hostilizando a coluna por todos os lados, e somente a nossa artilha-
ria conseguia mantê-los a certa distância. Começaram a incendiar a
macega, obrigando-a a duros sacrifícios a fim de combater o fogo,
que lhe causou prejuízos e algumas vítimas. Também as chuvas
começaram a cair com violência e vieram alguns temporais, agra-
vando a situação dos retirantes, e logo manifestou-se o cólera,
ceifando vidas e aumentando diariamente o número de enfermos,
que não podiam ser mais carregados, dada a falta de transportes.
A coluna foi conduzida por atalhos, pelo guia Lopes, e viu-
se na dura contingência de ter que abandonar os coléricos, que não
podiam mais ser conduzidos, e seguiu atravessando rios e banha-
dos, sempre com o inimigo à vista. Assim chegou à fazenda Jar-
dim, onde veio a falecer o guia, vitimado pelo cólera, morrendo ali
também vários oficiais, inclusive o comandante, coronel Camisão.

14 Pedro Ângelo da Rosa


Após a passagem do rio Miranda, assumiu o comando o
major José Tomás Gonçalves, e os remanescentes, em número
reduzido a menos da metade, chegaram a Nioaque a 4 de junho,
encontrando a vila totalmente destruída. Ao penetrarem na igre-
ja, que foi a única casa encontrada de pé, alguns soldados foram
vítimas de tremenda explosão, resultante de um estratagema pre-
parado pelo inimigo.
Somente ao passar Nioaque, e retomada a estrada de Aqui-
dauana, cessaram as perseguições do inimigo, e amainaram as du-
ras provas a que foi submetida aquela gente heróica e abnegada.

e) Expedição do tenente-coronel Moura


a Iguatemi. O destino.
Corria o mês de dezembro de 1869, e a guerra se aproxima-
va do fim. Lopez estava acampado em Panadero, com todo o seu
estado-maior e o resto do exército paraguaio. As tropas brasilei-
ras achavam-se em Curuguati.
Foi nessa época, como minuciosamente narrou o visconde
de Taunay, na sua obra intitulada CARTAS DA CAMPANHA, que seu
deu o episódio ocorrido no arroio Espadim, de que foi protagonis-
ta o arrojado tenente-coronel Antônio José de Moura (ver § 3° do
título 4, p. 29-30) , natural do Rio Grande do Sul.
Tinha ele uma irmã casada com um português, que residia
há tempos em Vila Rica, no Paraguai, onde faleceu seu marido,
sendo ela aprisionada, por motivo de sua nacionalidade, e força-
da a marchar para as margens longínquas e desertas do Iguatemi,
na confluência do arroio Espadim, em companhia das degreda-
das que ali se encontravam.
Moura, sabendo dessas notícias, e no intuito de salvar sua
irmã, ofereceu-se para uma diligência naquele local e seguiu com
trinta e um homens de cavalaria, sob seu comando. Viajando dia e
noite, galgou a serra, abrindo picadas por desvios da estrada se-
guida pelo inimigo, que estava atravancada de árvores derruba-
das por toda parte.

Resenha Histórica de Mato Grosso 15


Após dois dias e noites de marcha ininterrupta, conseguiu
chegar a altas horas da noite, num local onde encontrou três ran-
chos, iluminados por grandes fogueiras, rodeadas por algumas
mulheres e crianças. Dali foram duas mulheres ao acampamento
geral onde se encontravam as destinadas, levando o aviso, e que
logo depois, foram seguidas por Moura.
À uma hora da madrugada, chegaram às margens do arroio
Espadim, no lugar de sua embocadura, no Iguatemi, onde avis-
taram grande quantidade de ranchos, rodeados de enormes fo-
gueiras. A sua chegada causou um alarido enorme entre aquelas
mulheres famintas, descalças e seminuas, que o rodearam, che-
gando algumas a chorar de emoção e alegria. Os guardas, que
despertaram com o ruído e se aproximaram, foram aprisionados.
Apareceram então as duas sobrinhas de Moura, vindo ele
a saber que sua irmã havia falecido dez dias antes, vitimada pelo
último grau de inanição.
Moura, prevendo a possibilidade da chegada de reforços do
inimigo, que se achava próximo dali, seguiu sem perda de tempo,
levando mais de quatrocentas mulheres, e apresentou-se em Curu-
guati, ao comando do Exército, onde aquelas mulheres foram abri-
gadas e socorridas.
No destino, achavam-se mulheres das mais destacadas fa-
mílias de Assunção, cujos chefes haviam caído no desagrado de
Lopez, e ali se achavam condenadas à morte, pela inanição, ante
a falta absoluta de recursos.

f) Operações finais da campanha.


Lopez se dirige a Ponta Porã.
Em começo do ano de 1870, Lopez, saindo de acampamen-
to de Panadero, galga a cordilheira de Amambaí, passando por
Cerro Turim, na região das cabeceiras do rio Iguatemi, e chega ao
lugar denominado Curralito, onde existia um pequeno bosque,
margeado por um brejo, próximo da atual vila de Amambai. O
exército de Lopez saíra de Panadero em estado de penúria e vinha
queimando as carretas, carneando os bois e desfazendo-se das

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cargas que não podiam ser transportadas. Nesse lugar foi aban-
donado o piano de Mme. Lynch, fato que lhe valeu o nome de Isla
Piano, que se conserva hoje com a versão portuguesa de ilha Pia-
no. (Isla, em espanhol, tem a mesma significação portuguesa de
ilha, mas tanto indica uma porção de terra cercada de água como
também um pequeno mato isolado no meio do campo, o que cha-
mamos capão). Desse lugar marchou Lopez para fazer a travessia
do rio Amambaí, e acampou no ponto onde foi construída a ponte
do Galão, trabalhada por oficiais, sob sua direção.
Nas margens do rio Amambaí, Lopez esteve acampado
durante trinta dias e, segundo depoimento do coronel Gaona, que ou-
vimos, e que fazia parte daquela tropa, esta se compunha de cin-
co mil pessoas, entre as quais se encontravam dois mil soldados. A
tropa acampava em formato de círculo e no centro estavam colo-
cados os grandes panelões, onde se cozinhavam palmitos e outros
comestíveis rebuscados nas matas. Não havendo mais carne para
alimentação, Lopez ordenou ao general Caballero que fosse com
um piquete até a zona de Dourados ou Miranda9, para trazer gado.
9. Refere-se aqui às Colônias Militares do Dourados e do Mi-
randa. (Nota do editor).

Feita a travessia do rio Amambaí e dos rios Verde e Corren-


tes, seguiu o exército sua lenta marcha pela lombada da serra,
rumando para Ponta Porã. Viajando mais ou menos três léguas
por dia, fez acampamento em Lagoa Bonita, Emboscada, Tagi,
Rincão de Júlio e Cabeceira Vinte e Cinco, lugar que tomou esse
nome, segundo depoimentos de pessoas contemporâneas, por
terem sido fuzilados ali vinte e cinco sentenciados.
De Cabeceira Vinte e Cinco, o exército de Lopez passou por
Ponta Porã, indo acampar em Capivari, por onde penetrou na pi-
cada do Chirigüelo, dirigindo-se para Cerro Corá, seu último acam-
pamento, onde foi batido e morto, pelas forças do general Câma-
ra, às margens do rio Aquidaban-Bigui, a 1° de março de 1870. Na-
quele dia, foi encerrada a última página da mais longa e penosa
campanha, na qual foram sacrificadas milhares de vidas na mais
cruenta campanha travada no continente sul-americano.

Resenha Histórica de Mato Grosso 17


Falando acerca desse acontecimento, diz o visconde de
Taunay, no final de um capítulo da já citada obra CARTAS DA CAM-
PANHA: “A combinação gloriosa do general Câmara não podia fa-
lhar. Com efeito, fizera o coronel Bento Martins dar uma grande
curva, passando pelas colônias de Miranda e Dourados, e ir tomar
Ponta Porã, lugar em que bifurcam as estradas de Chirigüelo, que
desce para o sul até Panadero, e a de Cerro Corá. O dia 2 de março
era o marcado para essa ocupação, e, se no dia 1° Lopes tivesse
ainda podido fugir, no seguinte esbarraria com os brasileiros, por
isso que nesse tempo Bento Martins, contra toda a expectativa,
ocupava a encruzilhada.”
Ponta Porã foi, portanto, designada como ponto final das o-
perações da cordilheira de Amambaí. Naqueles tempos, não esta-
vam demarcados os limites da fronteira, mas é indiscutível que
Ponta Porã foi o último ponto do território nacional onde se realiza-
ram as operações da guerra de 1870.
Bem próximo daqui, na Colônia Militar de Dourados, soa-
ram os primeiros tiros dos invasores, componentes da coluna do
coronel Resquin, e também, já no final da guerra, por aqui passou
o marechal Lopez com os remanescentes do seu exército, para
tombar em Cerro Corá, distante cinco léguas da atual cidade de
Ponta Porã.
No solo de Ponta Porã se desenrolaram os primeiros e os úl-
timos acontecimentos da guerra de 1870. O seu solo foi pisado pe-
los invasores no início da campanha, e trilhado pelos remanescen-
tes do exército de Lopez, que, em retirada, procurava escapar-se
do inimigo que vinha em sua perseguição. Aqui tiveram lugar acon-
tecimentos marcantes no prólogo e no epílogo da guerra de 1870.

g) Demarcação dos limites da fronteira.


Terminada a guerra e firmado o tratado de limites entre o
Império do Brasil e a República do Paraguai, foi nomeada a comis-
são para demarcá-los, tomando por base o divisor das águas, que
nesta faixa parte das cabeceiras do arroio Estrela e, pelo espigão
da serra Maracaju, vai até o rio Igureí, afluente do Paraná.

18 Pedro Ângelo da Rosa


A comissão, chefiada pelo coronel-de-engenharia Rufino
Enéias Gustavo Galvão10, depois barão e visconde de Maracaju,
partiu do Rio de Janeiro a 6 de junho de 1872.
10. O coronel Rufino Enéias Gustavo da Fonseca Galvão era
irmão do tenente-coronel Antônio Enéias Gustavo Galvão (ba-
rão do Apa), que participou da retirada da Laguna (comanda-
va o 17° de Voluntários da Pátria). Ambos eram filhos do briga-
deiro José Antônio da Fonseca Galvão, comandante da Força
Expedicionária de Mato Grosso, falecido de beribéri às mar-
gens do rio Negro (MS), em 1866. (Nota do editor).

Tendo chegado a Mato Grosso a 2 de agosto do mesmo ano,


logo foram iniciados os trabalhos da demarcação, que ficaram ter-
minados a 24 de outubro de 1874. A comissão fez a demarcação
de limites em toda a extensão da faixa fronteiriça, partindo da foz
do Apa até o Paraná, nas proximidades da foz do Iguaçu. Nas prin-
cipais cabeceiras das águas contravertentes, foram construídos
grandes marcos de pedra e cal, como ainda tivemos ocasião de
ver em Estrela, Rincão de Júlio e Ipeum. Em Ponta Porã, Sanga
Puitã e outros pontos intermediários, existiam postes de madeira
de lei, que demarcavam a linha divisória.
A condução de víveres para os trabalhadores da comissão era
feita em carretas do fornecedor, do qual eram empregados Ernesto
Paiva e Tomás Laranjeira. Nessa ocasião Tomás Laranjeira desco-
briu os ervais da zona do planalto, que depois veio a explorá-los, fun-
dando a Empresa Mate Laranjeira, e fazendo para si dez posses
de grandes áreas de terras virgens, de Ponta Porã até Bela Vista.

2. Descoberta dos ervais em Mato Grosso.


Tomás Laranjeira e a Empresa Mate.
Tomás Laranjeira, filho da cidade de Bagé, província do Rio
Grande do Sul, trabalhava em companhia de Ernesto Paiva, como
caixeiros na loja de um português, em Porto Alegre, quando, ao
terminar a guerra de 1870, foi nomeada a comissão demarca-
dora dos limites da fronteira Brasil – Paraguai. Laranjeira expôs
ao patrão a sua idéia de virem, ele e seu companheiro, para Mato

Resenha Histórica de Mato Grosso 19


Grosso, a fim de trabalharem como fornecedores da comissão.
Acertaram as contas e partiram. Assim vieram em 1872 Tomás
Laranjeira e Ernesto Paiva para o sul de Mato Grosso, como em-
pregados do fornecedor da comissão de limites.
Terminados que foram os trabalhos da comissão, no ano de
1874, estavam os pagamentos em atraso, o que era natural naque-
les tempos, em lugares tão distantes e sem ligações com a corte.
Então o patrão, chamando seus dois empregados, para liquida-
ção de contas, propôs repartir entre eles o pouco dinheiro de que
dispunha na ocasião, entregando-lhes três carretas com bois e
uma casa em Porto Alegre. Ernesto Paiva, que tinha deixado sua
noiva naquela cidade, aceitou a oferta da casa e voltou à sua ter-
ra natal. Tomás Laranjeira aceitou as carretas e começou desde
então a trabalhar na elaboração da erva-mate, para o que foi ao
Rio Grande do Sul, de lá trazendo os auxiliares de que necessita-
va, para organização dos trabalhos.
De início, o sr. João Lima passou a gerenciar e organizar a
empresa; Antônio Inácio da Trindade (ver nota 15) e Francisco Xa-
vier Pedroso eram incumbidos da compra do gado e Gabriel Ma-
chado encarregado da fazenda Santa Virgínia, que foi fundada para
abastecer de gado os ranchos ervateiros, aonde começavam a che-
gar os peões trazidos de Conceição (Paraguai) por João Lima.
O depósito central e a administração da empresa ficaram
estabelecidos em Capivari, na boca da picada do Chirigüelo, no
Paraguai, e por onde era o produto conduzido em carretas para
Conceição, a fim de ser embarcado por via fluvial para a Argenti-
na. Algumas remessas entravam também pelas picadas de Nhu-
verá e Ipeum.
A fim de legalizar os seus trabalhos, Tomás Laranjeira foi à
corte e, pelo Decreto n. 8.799, de 9 de dezembro de 1882, obteve
do governo imperial o privilégio para exploração da erva-mate
nos terrenos devolutos da fronteira, entre o marco Rincão de Júlio
e a cabeceira do rio Iguatemi. Depois dessa concessão, em data
de 25 de julho de 1883, foi estabelecido um arranchamento à mar-
gem direita do rio Verde, e que oficialmente marca o início dos tra-
balhos da empresa, à qual se haviam associado já os irmãos Mur-

20 Pedro Ângelo da Rosa


tinho, mato-grossenses destacados no cenário político da corte.
Mais tarde, alentado com a prosperidade sempre crescente do ne-
gócio, o então comendador Tomás Laranjeira obteve novas conces-
sões do governo. Depois, retirou-se Laranjeira da empresa, transferin-
do os direitos aos seus sócios, doutores Joaquim, Manuel e Francis-
co Murtinho, ficando constituída a Companhia Mate Laranjeira.
Em 1892, a S.A. Banco Rio Mato Grosso comprou ao major
Boaventura da Mota a fazenda Três Barras, sita à margem do rio
Paraguai, para ali ser construído um porto destinado à explora-
ção da erva-mate, proveniente de Ponta Porã. Pela companhia, foi
doada ao Estado uma área de 3.660 hectares de terras, onde foi
erigido um povoado, que tomou o nome de Porto Murtinho, em
homenagem ao estadista mato-grossense dr. Joaquim Murtinho.
Por aquele porto era feita a exportação de todos os produtos
do sul de Mato Grosso e por ali entravam também as mercadorias
provenientes do Paraguai, Argentina e Europa, destinadas ao con-
sumo da população.
A erva mato-grossense passou, desde então, a ser exporta-
da exclusivamente para a firma Francisco Mendes & Comp., de
Buenos Aires, sociedade fundada em 1874, pelo comendador Fran-
cisco Mendes Gonçalves, e que tinha seu escritório em Assunção.
Algum tempo depois, passou o comendador Francisco Men-
des Gonçalves a fazer parte da sociedade, e foi constituída a firma
Laranjeira Mendes & Cia., sendo o arrendamento transferido a
esta firma, mediante contrato com o governo do Estado, lavrado
a 4 de fevereiro de 1904.
Quando a Companhia Mate começou a fazer exportação da
erva-mate por Porto Murtinho, foi mudada a administração para
Santo Tomás, no Brasil, em frente a Capivari. Na estrada carreteira
para Porto Murtinho, por onde viajavam as tropas, foram construí-
dos grandes armazéns e depósitos em Limeira, Margarida, Per-
dido e São Roque, que serviam como pontos de abastecimento e
recursos às referidas tropas. De São Roque a Porto Murtinho, foi
construída uma via férrea.
A erva-mate era assim transportada de Ponta Porã até as
margens do rio Paraguai, numa distância de 360 quilômetros, mais

Resenha Histórica de Mato Grosso 21


ou menos. Esse meio de transporte, no entretanto, acarretava e-
normes dispêndios para a Companhia, com a manutenção de cen-
tenares de carretas, oficinas, pessoal e imensa tropa de bois, para
as longas viagens.
Buscando a administração da Companhia outra via para a
exportação do produto, que fosse mais econômica, organizou a
administração de Nhuverá, sob a direção de Raul Mendes Gonçal-
ves, e passou a transportar a erva-mate em chatas, pelos canais
navegáveis dos rios Amambaí, Iguatemi, Dourados, Brilhante e I-
vinhema11, que deságuam no Paraná. A erva era assim levada a
Guaíra, situada em frente ao mercado da Argentina.
11. Em verdade, os rios Dourados e Brilhante são os formado-
res do Ivinhema, que deságua no Paraná. (Nota do editor).

Nessa fase da sua administração, a Companhia fez cons-


truir rodovias, amplas carreteiras nas matas, para dar acesso aos
portos; construiu pontes de madeira para travessia dos rios, re-
des telefônicas e uma ferrovia no Paraná, ligando Guaíra ao porto
Mendes, por onde era feito o transporte da erva.
Em 1918, foi inaugurada a administração de Campanário, que
passou para a gestão do sr. Raul Mendes Gonçalves, o qual dedi-
cou todos os seus esforços no sentido de nacionalizar a Companhia,
de acordo com o que exigiam as leis brasileiras. Mais tarde a Com-
panhia passou para a direção do capitão Heitor Mendes Gonçal-
ves. Em Campanário foi edificada uma vila, com habitações higiêni-
cas para todos os empregados. Foi construído o grupo escolar, hos-
pital, hotel, armazém, farmácia, jardim, campos esportivos. A vila foi
dotada de telefone, luz elétrica, enfim, de todo conforto moderno.
Os trabalhadores empregados na elaboração da erva-mate
eram na totalidade paraguaios, provenientes da zona ervateira
norte do Paraguai, e ambientados com o meio selvagem e inóspi-
to dos caatins12.
12. Caatins eram os lugares da mata onde se encontrava con-
centração de árvores de erva-mate. (Nota do editor).

Durante muitos anos teve a Companhia Mate Laranjeira


grande ascendência13 na situação política e econômica do muni-

22 Pedro Ângelo da Rosa


cípio de Ponta Porã e do Estado de Mato Grosso, para o qual con-
tribuía, nos primeiros anos da república, com um terço da sua
arrecadação.
13. José de Melo e Silva, que foi juiz de direito em Ponta Porã e
Bela Vista, escreveu dois livros de indiscutível importância para
a histogriografia sul-mato-grossense: FRONTEIRAS GUARANIS
(1937) e CANAÃ DO OESTE (1947). Principalmente no primeiro,
apresenta extenso estudo sobre a Mate Laranjeira. (Nota do
editor).

É incontestável que a Empresa Mate desbravou zonas inóspi-


tas, abriu estradas e portos para o transporte da erva-mate, e que
hoje estão entregues ao domínio público. Foi ela uma poderosa
fonte de recursos, que de muito serviu a muitos que a procuraram.
Mas a sua zona de arrendamento ultrapassava de muito a área
que devia ocupar; constituía naqueles tempos um vasto monopó-
lio, abrangendo os limites do atual município de Ponta Porã, até
as margens do rio Paraná. Sua longa ocupação muito entravou o
povoamento do sul de Mato Grosso.
Surgiram muitos conflitos e pleitos judiciários, quando co-
meçaram a chegar as levas de rio-grandenses, que vinham do sul,
e procuravam se estabelecer nas terras devolutas do Estado. Os
seus requerimentos não obtinham despacho favorável, diante dos
protestos da Empresa, que explorava toda aquela zona, delimita-
da pelos rios Dourados, Ivinhema, Amambaí e Paraná, fechando a
área com a fronteira do Paraguai.
Somente em 1916, o então presidente do Estado, general
Manuel Caetano de Faria e Albuquerque, passou a conceder aos
ocupantes das terras situadas na zona ervateira o direito de justi-
ficação de posse, como preliminar para a aquisição do título defi-
nitivo. Naquele ano, houve o conflito entre o presidente do Estado
e a Assembléia Legislativa, constituída na sua totalidade por ele-
mentos do Partido Republicano Conservador, que eram favorá-
veis à Empresa Mate, o que deu causa à revolução, que terminou
com a queda daquele partido.
Decretada a intervenção federal em Mato Grosso, realiza-
ram-se novas eleições, sendo eleito presidente do Estado o bispo

Resenha Histórica de Mato Grosso 23


D. Aquino Correia, apoiado pela corrente do Partido Republicano
Mato-Grossense, chefiada pelo coronel Pedro Celestino. Foram en-
tão despachados os primeiros títulos de terras sitas na zona erva-
teira, caindo a preliminar exigida, de acordo com os interesses da
Empresa, de que as matas não podiam ser vendidas, partindo as
confrontações pelas sombras destas.
O contrato de arrendamento dos ervais foi renovado, porém
a área ocupada foi reduzida, e novas posses foram constituídas e
legalizadas. Na defesa dos posseiros, muito trabalhou o denodado
causídico dr. João Batista de Azevedo, advogado formado pela
Faculdade de Direito de Pernambuco, que se radicou em Ponta
Porã, onde veio a ser chefe municipal do Partido Republicano
Mato-Grossense.
Contra o arrendamento dos ervais, pela Empresa Mate,
muito lutou o dr. Moura Carneiro, pela imprensa, e surgiu também
a rebelião armada, chefiada por João Ortt, em 1932, na qual per-
deram a vida algumas pessoas, inclusive ele, em conseqüência
daqueles fatos.
Finalmente, criado o Território Federal de Ponta Porã, pelo
governo do dr. Getúlio Vargas, em 1943, foram definitivamente li-
beradas aquelas terras, com a denegação de provisão ao contrato
de arrendamento dos ervais, e feitas concessões aos posseiros,
pelo governador, coronel Ramiro Noronha, o que foi continuado
pelo dr. José Alves de Albuquerque, último governador, até a ex-
tinção do Território.

3. Ponta Porã. Fundação e distrito.


a) O primeiro destacamento militar
que chega a Ponta Porã.
Procedente de Nioaque, a 1° de julho de 1880, chegava à Co-
lônia Militar de Dourados, então comandada pelo capitão Ro-
gaciano Monteiro de Lima, o alferes Feliciano Ramos Nazaré, a-
companhado de sua família, e que trazia sob suas ordens um des-
tacamento do 1° corpo de cavalaria estacionado naquele posto

24 Pedro Ângelo da Rosa


militar. O alferes Nazaré trazia a missão de ocupar o lugar deno-
minado Ponta Porã, situado na fronteira com o Paraguai.
Como a região, a partir da Colônia do Dourados para o sul,
era desabitada e desconhecidos os caminhos pelo alferes Nazaré
e seus comandados, o capitão Rogaciano mandou em sua compa-
nhia um velho paraguaio, conhecedor do terreno, desde a retirada
de Lopez, para guiá-lo até Ponta Porã.
Encetada a viagem, a 6 de julho, chegava a expedição às
margens de uma lagoa, onde acampou, ao receber a informação
do guia: Es aqui Punta Poran14. Nesse mesmo dia, o alferes Nazaré
iniciou a construção de ranchos, cobrindo-os de colmos de pal-
meiras, a fim de abrigar a tropa das intempéries do inverno.
14. Elpídio Reis (em PONTA PORÃ – POLCA, CHURRASCO E CHI-
MARRÃO, Rio, 1981, p. 56) explica: “Punta – em língua castelhana
quer dizer ponta. Porã – em linguagem guarani quer dizer bo-
nita. Ponta aí se referia à ponta de mato que se iniciava à mar-
gem do rio São João e que é, de fato, bonita.” (Nota do editor).

Passava ali a estrada carreteira que vinha de Amambaí (cor-


dilheira), e por onde viajavam as tropas de carretas da Compa-
nhia Mate Laranjeira, trazendo a erva-mate que era conduzida
para Conceição, no Paraguai, e de onde vinham os recursos ne-
cessários aos seus trabalhadores.
Por intermédio do sr. João Lima, gerente da Companhia,
obtinha o destacamento os artigos de que necessitava, tais como
roupas, calçados, sal, açúcar e outros gêneros vindos do Paraguai.
Devido à distância da capital e à falta de comunicações, os
vencimentos das praças chegavam a atrasar para mais de um a-
no, fato que obrigava o comandante do destacamento a desdobrar as
suas atividades a fim de poder suprir a si e a seus comandados,
dedicando-se intensamente aos trabalhos da lavoura, que execu-
tava pessoalmente, em companhia das praças.
Fazia já um ano que aqui chegava o destacamento, quando,
a 14 de julho de 1881, engalanara-se o lar do alferes Nazaré, com o
nascimento de um menino, que tomou o nome de Boaventura,
sendo depois registrado em Nioaque, já que, naqueles tempos,
não existia cartório em toda a extensão desta faixa fronteiriça.

Resenha Histórica de Mato Grosso 25


Boaventura Nazaré foi o primeiro filho de Ponta Porã, o pri-
mogênito da terra.
Em 1892, o destacamento retirou-se para a sua sede, em
Nioaque, e Boaventura Nazaré ali passou sua infância e juventu-
de, somente vindo a conhecer sua terra natal depois de adulto.
Seguiu ele a carreira militar, ingressando no Exército no ano de
1902. A 27 de maio de 1909, foi promovido ao posto de tenente.
Fazendo o curso superior de Intendência de Guerra, foi promovi-
do ao posto de capitão em 1921, ao de major em 1923, tenente-
coronel em 1931 e ao de coronel em 1937. Em 1939, passou para
reserva, a pedido, sendo agraciado com a medalha de ouro, pelos
serviços prestados ao Exército.

b) A fundação de Ponta Porã.


João Antônio da Trindade.
No ano de 1892, chegava a Ponta Porã, o capitão João Antô-
nio da Trindade15, natural da cidade do Rio de Janeiro, veterano
da guerra do Paraguai, e um dos heróis da Retirada da Laguna, o
qual, em companhia de sua família, aí fixou residência. Foi ele o pri-
meiro morador que definitivamente se estabeleceu no local onde
se formou a povoação que hoje constitui a próspera cidade de Ponta
Porã. Nesse tempo existia no lugar um posto fiscal sob a direção
de Emílio Calhau, o qual tinha atribuições de arrecadar os impos-
tos de exportação da erva-mate, e que algum tempo depois foi ex-
tinto. Também, nesse tempo, aí residiram os senhores Olímpio
Monteiro de Lima16 e Maranhão, que depois se mudaram, indo o pri-
meiro fixar-se nas terras onde constituiu sua fazenda, dedicando-
se aos trabalhos de criação de gado. Próximo de Ponta Porã exis-
tia também a fazenda S. Máximo, de D. Maria Joana Pereira (D. Ma-
riquinha), viúva de um veterano da guerra de 1870, de nome Nelo.
15. João Antônio da Trindade é, com freqüência, confundido
com Antônio Inácio da Trindade. João Antônio, como está regis-
trado nesta obra, chegou a Ponta Porã em 1892, natural do Rio
de Janeiro, veterano da guerra do Paraguai e um dos heróis da
Retirada da Laguna. Estabeleceu-se no local onde se formou a
povoação. Nas diversas listas de participantes da Retirada da

26 Pedro Ângelo da Rosa


Laguna não aparece o nome de João Antônio da Trindade.
Faleceu em 1920.
Por sua vez, Antônio Inácio da Trindade nasceu em Cruz Alta
(RS), em 1838 e, por volta de 1874, foi contratado por Tomás
Laranjeira para ser comprador de suprimentos para a empre-
sa. Em 1875, Antônio casou-se com Elisa Almeida Melo, da
região de Aquidauana. Estabeleceu-se na região da fronteira,
às margens do Estrela, na fazenda de mesmo nome. Partici-
pou da contra-revolução de Mato Grosso, sob as ordens de
Jango Mascarenhas, sendo seu tenente-coronel do estado-
maior. Na guerra com o Paraguai fora tenente do famoso Cor-
po de Voluntários da Pátria e que havia servido na cavalaria
gloriosa do general Osório (Astúrio Monteiro de Lima, em MATO
GROSSO DE OUTROS TEMPOS – PIONEIROS E HERÓIS, p. 167). Era co-
nhecido como Trindade Brabo. Faleceu em Campo Grande em
1915. (Ver GENEALOGIA DA FAMÍLIA TRINDADE, Campo Grande,
2000). (Nota do editor).
16. Olímpio Monteiro de Lima é pai de Astúrio Monteiro de
Lima (nascido em 1898), autor de MATO GROSSO DE OUTROS
TEMPOS – PIONEIROS E HERÓIS (citado em notas), que retrata as
primeiras décadas da fronteira. Olímpio, por sua vez, era filho
de Rogaciano Monteiro de Lima, que reconstruiu a Colônia
Militar do Dourados em 1880. (Nota do editor).

O povoamento de Ponta Porã teve início na periferia de um


vasto brejo, atoladeiro impenetrável, que hoje não existe mais,
que ia findar na orla de espessa mata virgem, situada aos fundos.
Ao norte, delimitava essa zona a cabeceira do córrego S. João e ao
sul a do córrego Estêvão. Na frente, a poucos metros de distância,
estavam os marcos de madeira de lei, indicando a linha divisória
com o Paraguai.
Em Ponta Porã passou o capitão João Antônio da Trindade o
resto da sua vida, vindo a falecer a 11 de novembro de 1920. Foi
ele, naqueles tempos remotos, o homem mais culto do lugar, ca-
bendo-lhe importante papel na formação política e social do nú-
cleo que começava a formar-se.
A fundação de Ponta Porã, como a de tantas outras cidades,
não constituiu ato premeditado de ninguém, por isso não se lhe
pode fixar uma data precisa. O lugar foi evoluindo aos poucos, e o
povo vinha fixar residência aí, de preferência, onde mais tarde se

Resenha Histórica de Mato Grosso 27


estabelecia o comércio do lado do Paraguai e depois no Brasil,
em razão da proximidade da picada do Chirigüelo, por onde vinha
de Conceição toda a mercadoria necessária ao seu consumo,
inclusive o sal para as fazendas de criação, já que naqueles
tempos não existia outra zona de abastecimento mais próxima,
em território brasileiro.
É, portanto, indiscutível que João Antônio da Trindade foi
o pioneiro da formação de Ponta Porã. Foi ele o primeiro morador
a fixar-se definitivamente no lugar, e que durante muitos anos foi
dos que mais trabalharam pelo seu progresso e desenvolvimento.
A partir do ano de 1895, Ponta Porã começou a receber mai-
or impulso no seu povoamento com a chegada contínua da gente
vinda do Rio Grande do Sul, sendo que muitos traziam suas famí-
lias e aqui fixavam residência, indo outros ocupar os campos
devolutos, onde fundavam fazendas de criação de gado.

c) Criação do distrito de Ponta Porã.


A falta de garantias nesta parte da fronteira era completa,
pela ausência de autoridades. Desde a retirada do destacamento
comandado pelo alferes Nazaré, a zona ficou entregue à sua pró-
pria sorte.
Em 1897 chegava a Ponta Porã o major do Exército Francis-
co Marcos Tury Serejo17, velho maranhense, veterano da guerra
do Paraguai, comandando um destacamento composto de vinte
praças e um sargento do 7° regimento de cavalaria, e mais algu-
mas praças da milícia do Estado, o qual passou a administrar a
agência fiscal, cobrando os impostos de exportação da erva-mate
para o Paraguai e a reprimir o contrabando.
17. Francisco Marcos Tury Serejo é pai de Hélio Serejo (1912), o
incomparável escritor do mundo ervateiro. O pai foi fazendeiro
e, depois, ervateiro. (Nota do editor).

Três anos foram passados, quando veio a Resolução n. 255,


de 10 de abril de 1900, do governo do Estado, criando a paróquia
de Ponta Porã, sendo nomeado juiz de paz o senhor João Antônio

28 Pedro Ângelo da Rosa


da Trindade, que pelo espaço de doze anos exerceu o cargo, tendo
como escrivães, sucessivamente, os cidadãos Orcírio Freire, Júlio
Alfredo Mangini e Policarpo de Ávila.
Ponta Porã, naqueles tempos, estava subordinada à jurisdi-
ção da comarca de Nioaque e mais tarde passou a constituir dis-
trito policial de Bela Vista, quando foi criado aquele município18.
18. Bela Vista foi elevada a município em 1908 e a comarca em
1910. (Nota do editor).

Em virtude da Lei (estadual) n. 294, de 11 de abril de 1901,


foi criada a primeira escola mista de Ponta Porã, e nomeado pro-
fessor o sr. Júlio Alfredo Mangini, velho português residente no
lugar, e com seus direitos já adquiridos de cidadão brasileiro, pela
grande naturalização concedida pela república de 1889.
Ponta Porã passou assim alguns anos evoluindo lentamen-
te, como sede de um simples distrito de paz e tendo uma escola,
que era então a única em toda a extensão desta faixa fronteiriça.
A sua população começou a aumentar, mais tarde, com a chegada
contínua dos filhos do Rio Grande do Sul, que aqui vinham fixar-
se, como descreveremos no tópico seguinte.

4. Começam a chegar a Mato Grosso as


comitivas do Rio Grande do Sul.
As causas dessa imigração e sua epopéia.
Terminada a guerra do Paraguai, em 1870, a zona sul de
Mato Grosso se tornara conhecida pelos componentes da coluna
do general Câmara, que operou nas cordilheiras de Amambaí e
Maracaju, na sua fase final.
Feita a desmobilização, os que regressaram à sua província
natal do Rio Grande do Sul levaram a notícia de que aqui existiam
campos devolutos, próprios para a criação de gado, e imensas
matas virgens, onde se encontrava a erva-mate nativa.
Proclamada a República do Brasil, no ano de 1889, começa-
ram as agitações no Estado do Rio Grande do Sul, entre elemen-

Resenha Histórica de Mato Grosso 29


tos do Partido Federalista e o Partido Republicano, que apoiava o
governo. Acirravam-se os ódios, com a prática contínua de atos
de vandalismo, e as vinganças recrudesciam de um e outro lado.
Culminou a situação com o assassinato do coronel Antônio José
de Moura (protagonista da expedição ao Iguatemi, em Mato Gros-
so, descrita pelo visconde de Taunay), e que pertencia às hostes
do Partido Federalista19.
19. A revolução federalista (1892-95), no Rio Grande do Sul,
fruto da passagem do regime monárquico para o republicano,
como em Mato Grosso, foi terrível: durou 31 meses e fez mais de
dez mil vítimas, sem contar os imensos prejuízos materiais
(HISTÓRIA GERAL DO RIO GRANDE DO SUL, de Artur Ferreira Filho).
Em Mato Grosso, em 1892, houve a revolução que depôs o
presidente Manuel José Murtinho. A contra-revolução, no norte,
foi comandada por Generoso Ponce (que afastou do poder os re-
volucionários) e, no sul (a partir de Nioaque), por Jango Mas-
carenhas. A respeito, sugere-se a leitura de NIOAQUE – EVO-
LUÇÃO POLÍTICA E REVOLUÇÃO DE MATO GROSSO, de Miguel A.
Palermo. (Nota do editor).

Irrompeu então a revolução de 1893, que terminou em 1895,


com a vitória dos republicanos. Foi essa luta que constituiu a cau-
sa da saída em massa de elementos daquele Estado, que busca-
vam outras paragens, levados por motivos políticos ou condições
econômicas, que os obrigavam a buscar outras paragens onde
pudessem prosperar e viver em paz e tranqüilidade.
Já desde o ano de 1890, estavam radicados no sul de Mato
Grosso vários rio-grandenses, entre os quais citaremos: Davi Medei-
ros, Constantino de Almeida20, José Leite Penteado, Antônio Falcão,
Pedro Gomes de Oliveira, Loureiro, Felipe de Brum, Adão de Bar-
ros e outros, que constituíram posses em vários pontos desta região.
20. Astúrio Monteiro de Lima (em MATO GROSSO DE OUTROS TEM-
POS – PIONEIROS E HERÓIS) relata a viagem desse gaúcho. (Nota
do editor).

Durante a revolução de 1893, teve lugar uma grande imi-


gração do Rio Grande para a República Argentina, integrada
por pessoas que não queriam ser envolvidas na luta impiedosa e
cruenta, que tanto dessangrava aquele Estado sulino.

30 Pedro Ângelo da Rosa


Ao terminar aquela revolução, teve início a saída das cara-
vanas que se dirigiam para o sul de Mato Grosso. A luta tinha
causado devastação de vulto nas fazendas, com a matança desor-
denada do gado, incêndios e saqueio, reduzindo os proprietários
à situação de completa miséria. E ainda muitos se achavam com-
prometidos perante o partido dominante.
Foi então que esses brasileiros, levados pelas notícias e por
cartas recebidas daqueles que já se achavam em Mato Grosso, sou-
beram que aqui havia lugar para todos, e tomaram a resolução de
deixar os seus pagos e buscar outro rincão da nossa grande pátria.
A partir do ano de 1895, começaram a aportar às fronteiras
de Mato Grosso as levas de rio-grandenses que vinham se radicar
neste recanto do solo brasileiro. Desde então, o sul começou a
crescer e a povoar-se, com a integração desses elementos, que
definitivamente se afixavam ao solo.
Partiam do Rio Grande do Sul as levas que se dirigiam a Ma-
to Grosso, qual novas bandeiras, que não mais voltariam aos pa-
gos, mas iam ser recolhidas no seio da mesma Pátria, preenchen-
do os claros que as esperavam nas fronteiras despovoadas do
extremo Oeste do Brasil, em Mato Grosso. Em quase todos os mu-
nicípios do Rio Grande do Sul e principalmente em São Luís Gon-
zaga e São Borja, organizavam-se as comitivas, compostas de cin-
qüenta, cem e mais pessoas, onde vinham famílias inteiras, condu-
zidas por carretas puxadas a bois, e às quais se agregavam cavalei-
ros e até gente que, desprovida de outros recursos, viajava a pé.
Aqueles que possuíam casa, terras e outros bens vendiam-
nos, invertendo tudo na compra de animais cavalares e formando
tropas de mulas, que conduziam através de longa e penosa jorna-
da, atravessando territórios da República Argentina e Paraguai,
para entrar em Mato Grosso.
Os itinerantes atravessavam o rio Uruguai, dizendo o último
adeus aos seus pagos, e entravam na Argentina, pela província
de Corrientes, seguindo pelo território de Misiones, até a capital
Posadas. Dali, transpondo o rio Paraná, entravam no Paraguai, em
Vila Encarnação. De Vila Encarnação, alguns subiam o rio Paraná
e desembarcavam no porto Adela, para entrar em Mato Grosso.

Resenha Histórica de Mato Grosso 31


A grande maioria, porém, seguia por terra, fazendo a tra-
vessia do território paraguaio, passando por Vila Rica e São Pedro,
para entrar no Brasil por Ipeum (hoje Paranhos). Outros seguiam
por Assunção e Conceição, às margens do rio Paraguai, e dali se-
guiam por terra até Horqueta, dirigindo-se pela picada do Chiri-
güelo até Ponta Porã, e ainda alguns seguiam para Bela Vista, que
foi o caminho de Bento Xavier e seus companheiros. Ao entrar em
Mato Grosso, contavam os itinerantes com os parcos recursos que
lhes sobravam daquela longa e penosa viagem e, valendo-se tam-
bém da ajuda dos que já estavam radicados na terra, estabele-
ciam residência nas margens do Amambaí, Iguatemi, em Ponta
Porã e Dourados; seguindo outros mais adiante, penetravam nas
zonas de Aquidauana, Campo Grande e Miranda.
Muitos tiveram auxílio de seus conterrâneos Felipe de Brum
e Adão de Barros, que já residiam aqui e tinham fazendas de cria-
ção de gado vacum.
Na viagem empreendida, que durava de dois a seis meses,
percorriam os itinerantes mais de 300 léguas e defrontavam-se os
seus componentes com toda a sorte de dificuldades que se possa
imaginar. Passavam por dois países estrangeiros, atravessando ser-
tões inóspitos, para chegar a Mato Grosso exaustos de todos os re-
cursos para encetar nova vida. Na passagem pela Argentina e
Paraguai, muitas comitivas se viam na contingência de fazer lon-
gas paradas, aproveitando a estação apropriada, para a derrubada
de matas e plantio de roças, onde aguardavam as colheitas para
abastecerem-se de víveres, depois do que prosseguiam a viagem.
No caminho para Mato Grosso tudo era perigo. Os sertões
da Argentina, naqueles tempos, eram infestados pelos bandos de
Gato Moro, célebre bandoleiro, que andava assaltando os viajan-
tes e roubando-lhes as tropas que traziam. As feras rondavam os
acampamentos à noite. Nas pousadas, dentro das matas deser-
tas e sombrias, era necessário fazer rondas a noite inteira, e acen-
der grandes fogueiras, a fim de afugentar o ataque do tigre famin-
to e traiçoeiro. Naquela travessia, por onde não existiam cami-
nhos, era necessário abrir picadas, que às vezes tinham que ser
abandonadas pela natureza do terreno que as tornava intransi-

32 Pedro Ângelo da Rosa


táveis, procurando-se outros que pudessem dar acesso à passa-
gem dos animais e carretas. Continuamente se perdiam animais
cavalares e bois das carretas, o que obrigava os itinerantes a
falhar muitos dias nas pousadas, a fim de procurá-los.
As enfermidades também acometiam as pessoas da comi-
tiva, que não contavam com recursos de espécie alguma para
debelar o mal, de que muitos sucumbiam. Raras vezes, podiam
ser atendidos pela homeopatia, administrada por alguém que já
lhes merecia o tratamento de doutor.
E assim vieram do Rio Grande do Sul para o sul de Mato Gros-
so famílias inteiras, milhares de pessoas de todas as classes soci-
ais e condições econômicas, muitos federalistas e também alguns
republicanos e neutros, que procuravam seu bem-estar e sua tran-
qüilidade nestas paragens longínquas do território brasileiro. Quais
novos bandeirantes do século XIX, traçaram uma epopéia nessa
longa e penosa travessia, por onde vieram reentrar na nossa grande
pátria, vieram povoar estes rincões abandonados e desertos, vieram
imbuídos pelo sonho que os alucinava, em busca dos campos azu-
líneos e recortados de suaves e onduladas coxilhas, orlados pelas
matas verdejantes do planalto da cordilheira de Amambaí, onde não
existem o diamante nem o ouro, mas onde é constante um clima
suave, amenizado pela brisa que sopra do sul. Aqui encontraram
a tranqüilidade e a fartura, com os duros esforços do seu trabalho.
Fixaram-se eles ao solo, construindo suas casas, plantando
e criando gado, quando aqui predominava ainda uma população
adventícia, gravitando em torno da órbita da Empresa Mate.

5. Demandas sobre a posse das terras de


Ponta Porã e sul de Mato Grosso.
a) Questão com os herdeiros de D. Elisa Lynch.
No mês de abril de 1900, Venâncio Solano Lopez, filho do
marechal Lopez, intentou no juízo federal de Mato Grosso, contra
a União e o Estado, uma ação ordinária, pela qual pretendia rei-
vindicar a posse das terras situadas entre os rios Ivinhema ao

Resenha Histórica de Mato Grosso 33


norte, Paraná ao leste, Iguatemi ao sul e a serra de Amambaí ao
oeste, num total de 33.175,30 km² quadrados.
O requerente alegava que aquelas terras tinham sido obti-
das por sua mãe, D. Elisa Lynch, a título de compra do governo do
Paraguai, e que, pelo tratado de limites celebrado entre o Brasil e
a República do Paraguai, promulgado pelo Decreto n. 4.911, de
27 de março de 1872, elas haviam passado para o domínio do
Brasil. Pretendia o requerente provar seu domínio privado e pedia
restituição de todo o território ocupado pelo Estado, pagamento
de sua utilização e indenização dos danos causados.
Subindo os autos à instância do Supremo Tribunal Federal,
este proferiu a sentença em dezembro de 1902, considerando que
as referidas terras eram devolutas e, como tais, fazendo parte do
patrimônio da nação e, nos termos do art. 64 da Constituição Fe-
deral, passaram a pertencer ao Estado de Mato Grosso.

b) Pretensão dos herdeiros do barão de Antonina.


Toda a região do sul de Mato Grosso, no ano de 1849, era um
vasto sertão, dominado unicamente pelos índios selvagens, so-
bressaindo-se entre eles, pela ferocidade, os guaicurus, índios
cavaleiros e inimigos de todos. Somente pela região do norte ha-
viam penetrado alguns sertanistas de São Paulo e Paraná, afixan-
do-se ao solo.
Naqueles tempos, as terras, que eram todas devolutas, per-
tenceriam ao primeiro desbravador que as descobrisse e delas
tomasse posse, arbitrando a área pretendida e delimitando-a pe-
las águas e outros acidentes naturais.
Foi nessa época que o barão de Antonina, influente político
e senador do Império, residente na sua fazenda da Faxina do Ita-
peva, situada na comarca de Curitiba, então pertencendo à provín-
cia de São Paulo, arquitetou o plano para se apossar das terras do sul
de Mato Grosso. Sabia ele que o Parlamento estava elaborando a
Lei de Terras, que foi promulgada sob o n. 601, de 18 de setembro
de 1850, e cuja finalidade era assegurar os direitos de todos que
tinham posse efetiva de qualquer área de terras no país.

34 Pedro Ângelo da Rosa


Planejou o barão de Antonina apossar-se das terras do sul
de Mato Grosso, a fim de gozar dos benefícios da lei, assim que
fosse promulgada. Para esse fim, incumbiu o sertanista Joaquim
Francisco Lopes, que já havia feito uma excursão a Mato Grosso,
que viesse percorrer esta região, arranjando escrituras feitas por
particulares em que figurassem supostas vendas e cessão de di-
reitos em nome do barão de Antonina.
Joaquim Francisco Lopes veio ao sul de Mato Grosso, acom-
panhado de uma comitiva, todos bem armados, e trazendo uten-
sílios que distribuíam com os índios mais mansos, com os quais
puderam ter contato. Por intermédio dos índios, obtiveram infor-
mação de nomes dos rios e outros informes necessários. Na comi-
tiva vinha também um estrangeiro agrimensor e cartógrafo21, a
fim de confeccionar os mapas.
21. Trata-se de João Henrique Elliott. (Nota do editor).

De posse dos dados, assim coligidos, aliás muito precários,


o preposto do barão de Antonina seguiu para Miranda, e ali man-
dou fazer as escrituras, por um tal Luís Pedroso Duarte, em virtu-
de das quais os supostos posseiros vendiam as terras, conforme
instruções que recebera.
Morto o barão de Antonina em 1875, os seus herdeiros fize-
ram venda da fazenda Sete Voltas, que era realmente a sua única
posse legítima em Mato Grosso, ficando as demais glebas aban-
donadas, que continuaram a constituir patrimônio do governo do
Estado. No ano de 1901, porém, um dos herdeiros do barão reque-
reu o registro das terras em questão, ao diretor da repartição de
terras do Estado de Mato Grosso.
Nessa altura, já era interessado no negócio o dr. João Timó-
teo Pereira da Rosa, engenheiro residindo em Cuiabá e encarre-
gado da reorganização de terras e da consolidação das leis sobre
o assunto. O pretendido registro foi feito, no governo do Estado,
coronel Alves de Barros. Logo a seguir, procedeu-se ao o inven-
tário das posses, e vendidas englobadamente ao dr. João Abbott,
o qual, por escritura posterior, lavrada a 23 de julho de 1906, se
confessou devedor do espólio.

Resenha Histórica de Mato Grosso 35


A negociata estava sendo explorada pelos herdeiros do ba-
rão de Antonina e apoiada por um poderoso sindicato de capita-
listas, que pretendiam se apossar de nove extensas glebas de ter-
ras do Estado e que abrangiam quase a totalidade dos municípios
de Ponta Porã, inclusive Dourados, Amambai, Bela Vista e Nioaque,
avaliadas na extensão de 2.500 léguas quadradas, equivalendo à
área do Estado de Santa Catarina ou Paraná. Chegaram os preten-
dentes de tão audaciosa empresa a requerer a penhora das terras,
que foi executada, tendo sido a demarcação impedida pelo povo.
Os posseiros e moradores, homens do povo e pessoas in-
fluentes do sul de Mato Grosso, lutaram abertamente contra a
consumação do latifúndio. Encabeçados pelos senhores Felisber-
to Marques, João Antônio da Trindade e outros, foram feitos abaixo-
assinados, levando o protesto ao governo do Estado e mais tarde
também o advogado dr. José Rangel Torres, pelas colunas do “O
Progresso”, muito se debateu pelos direitos do povo contra a in-
tenção dos herdeiros do barão de Antonina.
O Estado de Mato Grosso defendeu então os seus direitos,
patrocinados pelo advogado Astolfo Rezende. Feita a prova teste-
munhal, foram ouvidos todos os moradores mais antigos da re-
gião, e derrubadas perante o Supremo Tribunal Federal, de uma
vez para sempre, as pretensas reivindicações da célebre questão
das terras do barão de Antonina.

6. Criação do município.
Por efeito da lei abaixo transcrita, do Excelentíssimo Senhor
Presidente do Estado, foi criado o município de Ponta Porã:
Resolução n. 617, de 18 de julho de 1912.
O doutor Joaquim Augusto da Costa Marques, Presidente
do Estado de Mato Grosso:
Faço saber a todos os habitantes que a Assembléia Le-
gislativa decretou e eu sancionei a seguinte resolução:
Art. 1° – Fica criado o município de Ponta Porã, com sede
na povoação do mesmo nome, que será desde logo elevada
à categoria de vila.

36 Pedro Ângelo da Rosa


Parágrafo único. Os limites do novo município serão os
mesmos do atual distrito.
Art. 2° – O Poder Executivo providenciará como for devi-
do, para que se realizem, oportunamente, todos os atos ne-
cessários à instalação do novo município.
Art. 3° – Revogam-se as disposições em contrário.
Mando, portanto, a todas as autoridades a quem o conhe-
cimento e execução da referida resolução pertencer, que a
cumpram e façam cumprir fielmente.
Palácio da Presidência do Estado em Cuiabá, 18 de julho
de 1912, 24° da República. (L.S.) Joaquim A. da Costa Mar-
ques. Manoel Paes de Oliveira.

a) Instalação.
Realizadas as primeiras eleições em Ponta Porã, foi eleito
para o cargo de intendente municipal o sr. Ponciano de Matos, e
conselheiros municipais os senhores Felisberto Marques, Manuel
Moreira, Heliodoro José de Almeida, Valêncio de Brum e para o
cargo de suplente o senhor João Maria da Silva.
A 25 de março de 1913, com grande solenidade, e compareci-
mento do povo e autoridades locais e também da vizinha cidade de
Pedro Juan Caballero, Paraguai, foi instalado o município de Ponta Po-
rã. O fato foi consignado na lavratura da ata, cujo teor é o seguinte.

b) Ata de instalação.
Aos vinte e cinco dias do mês de março de mil novecentos e
trese, às 10 horas da manhã do mesmo dia, neste povoado de Ponta
Porã, comarca de Bela Vista, Estado de Mato Grosso, república dos
Estados Unidos do Brasil, em casa prèviamente alugada para nela
funcionar a Intendência Municipal, presentes S.S. o Sr. cap. Fermin
Casco, Leonardo Gupp, Victor Alfaro, Hector Franco, sucessivamente
autoridades de República visinha do Paraguay, sendo o último
industrial, e Francisco Silvino de Camargo, Romario Cabral e Antonio
Machado Salgueiro também negociante do Paraguay; S. Ex.a o Sr.

Resenha Histórica de Mato Grosso 37


Coronel Balthasar Saldanha, chefe do Partido Republicano local,
o Sr. Ponciano de Matos Pereira, eleito Intendente Municipal do
novo Município; Valencio de Brum, criador no Município; Heliodoro
José de Almeida, também criador no Município; Manoel Moreira,
criador e capitalista no Município. João Antonio da Trindade, Juiz
de Paz; Polycarpo de Ávila, escrivão do Registro de Casamentos Ci-
vis, e demais senhores localisados no logar e que firmam a presente
comigo, Ramiro Machado, secretário nomeado, ouvimos de S. Ex.a
o Sr. Balthasar Saldanha, que se efetuava a presente instalação
do Município, com autonomia propria, sujeita à comarca de Bella
Vista e obedecendo à Constituição do Estado, correlata e consci-
ente com a da Republica e que fora elevado a esta cathegoria por
ato do Govêrno legislativo do Estado e votado por S. Ex.a o Sr.
Presidente, datado de 18 de julho de 1912, sob o número 617.
Ponta Porã, 25 de março de 1913.
(Assinados) Fermin Casco, Cap. del Ej. N. del Paraguay; Leo-
nardo Gupp, cirurjano de la Guarn. del Paraguay. V. Alfaro, Juez de
Paz Sup. de la R. del P.; Hector Franco, industrial; Francisco S. Ca-
margo, comerciante no Paraguay; Romario Cabral; A. M. Salgueiro;
Balthasar Saldanha, chefe do partido local; Ponciano de Mattos Pe-
reira, Intendente eleito; Valencio de Brum, Conselheiro Municipal;
Heliodoro José de Almeida, Conselheiro Municipal; Manoel Moreira,
Conselheiro Municipal; J. A. Trindade, Juiz de Paz; Bento de Mattos,
Sub-Delegado de Policia do segundo Distrito de Dourados; Lydio
Nunes, Alferes Comte; João Maria da Silva; Henrique Carlos Guati-
mosin; José Alves da Silveira; João Gualberto Cabral; Pompilio Azza-
lini; Joaquim Silveira Dutra; Sergio Martins; Flaubiano Barros Lei-
te; Antonio Fernandes; A. J. Brandão; Alfredo de Oliveira Martins;
O. Mantilha; Aparicio Martins; José Gabriel Martins; Luiz Pinto de
Magalhães; João da Trindade; João Baptista dos Santos; João J. da
Silva; Amandio de Mattos Pereira; João Ferreira; Joaquim Silveira
dos Santos; Laucidio Paes de Barros; Franklin dos Santos; Nelson
Martins; Clodoaldo Biermen; Silvano Paula; Accyndino Sampaio;
João S. Brandão; Gervasio Godoy de Oliveira; Valeriano da Silva Brum;
Olavo Souza Vasques; José Luis Moreira; Virgilio Antonio Vieira.
Às 10 e 55 minutos da manhã, do mesmo dia, fica encerrada
a presente sessão, e, em respeito as disposições acima, assinadas

38 Pedro Ângelo da Rosa


pelas pessoas presentes. Comigo assina o Sr. Coronel Felisberto
Marques, por ter comparecido depois da abertura da sessão, com
seus companheiros.
Ponta Porã, 25 de março de 1913.
(As.) Felisberto Marques; Henrique Fernando dos Santos; João
Escobar Vasques; Constancio A. Almirão; Novembrino Niemayer;
Bento de Oliveira Moraes; Antonio H. Bello; Pedro N. Bello; Bento
Marques; Carlos Vargas; Marciliano Maciel; Saturnino H. dos San-
tos; Miguel Vasconcellos; Manoel Soares da Silva; Ramiro Macha-
do, Secretário.
Terminada a cerimônia da instalação do município, prestou
compromisso o intendente eleito, senhor Ponciano de Matos, en-
trando em exercício do cargo. No mesmo dia teve lugar a primeira
reunião do conselho municipal, sendo, por unanimidade de votos
escolhido o nome do sr. Felisberto Marques para presidente, o qual
prestou o compromisso de estilo, junto aos demais conselheiros.
Nesse período, ocuparam a secretaria da intendência suces-
sivamente, os senhores Ramiro Machado, João Antônio da Trinda-
de e Afonso de Miranda Kraemer, e no cargo de tesoureiro estive-
ram os senhores Emílio Brandão e João Maria da Silva.
O orçamento para o ano de 1914 consignou a verba de Cr$.......
15.000,00 para a receita e Cr$ 15.000,00 para a despesa.
As primeiras obras mandadas executar pelo intendente do
município foram o cemitério, matadouro e uma ponte na cabeceira do
córrego que atravessa uma rua da vila. Também começaram os
consertos nas ruas, que eram intransitáveis, em virtude dos antigos
caminhos de carretas, e por efeito da erosão das águas pluviais.

c) Nomeação de autoridades.
A visita do Ex.mo Sr. Presidente do Estado.
Logo após a criação do município, foram nomeadas as au-
toridades policiais, sendo a 19 de abril de 1913, empossados os
senhores Luís Pinto de Magalhães no cargo de delegado de polícia
e João Gualberto Cabral no cargo de suplente.

Resenha Histórica de Mato Grosso 39


A 1° de novembro desse mesmo ano, Ponta Porã recebeu a
visita honrosa de S. Excelência, o dr. Joaquim Augusto da Costa
Marques, presidente do Estado, que fazia uma excursão22 pelos
municípios do sul. Sua Excelência, acompanhado da comitiva pre-
sidencial, fazia viagem a cavalo, desde Porto Murtinho, e foi cari-
nhosamente recebido pelas autoridades e o povo de Ponta Porã,
que lhe prestaram as devidas homenagens.
22. O presidente do Estado chegou a Ponta Porã em 31-10-1912.
Lá soube que o contrabando da erva-mate (posto que reduzido)
alcançava 1.400.000 quilogramas; a povoação não tinha telé-
grafo nem linha de Correios; a correspondência, na região, era
feita pelo Correio da República vizinha; constatou que as escolas
públicas de Ponta Porã também não funcionavam, por falta de
professores, obrigando as crianças brasileiras a freqüentar aulas
no lado paraguaio, em língua castelhana. Visitou, com interesse,
as oficinas da Companhia Mate Laranjeira em Santo Tomás, a
dois quilômetros do povoado. (As citações são do relatório do
próprio presidente). (Nota do editor).

O dr. Costa Marques demonstrou todo carinho e interesse


pelo desenvolvimento do novo município, a que deu todo apoio na
gestão do seu governo. Disse ele, no seu discurso, ao ser recebido pe-
las autoridades, povo e alunos da Escola Primária do professor Fran-
cisco Faustino de Mecenas: Ponta Porã é a flor de Mato Grosso.
Por efeito da Lei n. 658, de 15 de junho de 1914, foram cria-
dos dois distritos de paz no novo município, compreendendo um
os distritos policiais de Amambai e Ipeum, com sede em Nhuverá;
e outro, abrangendo os dois distritos policiais de Dourados, com
sede no patrimônio de Dourados.
Nesse ano, a estatística feita pela prefeitura constatava a exis-
tência, em todo o município, de 2.325 casas e 17.340 habitantes.

7. Criação e instalação da comarca.


Por efeito da Lei n. 716, de 20 de setembro de 1915, sanci-
onada pelo presidente do Estado, General Caetano de Albuquerque,
ficou o Poder Executivo autorizado pela Assembléia a desapropri-
ar à firma Laranjeira Mendes & Cia., área de 3.600 hectares, para

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