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Papista!

Pe. Paulo Ricardo, Arquidiocese de Cuiabá, Várzea Grande-MT


Papista! É a alcunha com a qual nós, católicos, somos frequentemente repreendidos. Mas o
que queremos realmente dizer, quando afirmamos que cremos no Papa? Nesta aula, Pe.
Paulo Ricardo dá orientações espirituais para quem deseja viver, de forma mais consciente e
devota, a obediência e a piedade filial devidas ao Santo Padre.

Infelizmente se tem notado, na internet, certa leviandade dos católicos em relação ao


Papa. O Pontífice Romano com frequência é criticado como se fosse um qualquer, o que
mostra uma grande ignorância do que seja a instituição do papado para a Igreja.
Em linhas gerais, a doutrina católica sobre o Papa foi condensada na Constituição
DogmáticaPastor Aeternus, do Concílio Vaticano I (DH 3050-3075). As definições aí contidas
são dogmáticas. Para nós, católicos, portanto, o seu conteúdo trata de certezas inabaláveis.
Devemos dar o nosso consentimento total a algo ou por evidência ontológica (quando se diz,
por exemplo, que dois mais dois são quatro), ou pelo testemunho de uma pessoa infalível
(como é o caso de Cristo, cuja ação se manifesta também no Concílio Ecumênico). Por isso —
pela autoridade divina que revela —, a infalibilidade papal é de fé obrigatória para todos os
católicos. O teólogo suíço Hans Küng, por exemplo, quando escreveu a obra
“Unfehlbar?(Infalível?)”, perdeu a licença para lecionar teologia católica, já que tinha
questionado um dogma de fé.
O texto da Pastor Aeternus começa lembrando a fundação divina da Igreja, confiada
por Nosso Senhor aos Apóstolos. Em seu primeiro capítulo, sobre “a instituição do primado
apostólico em S. Pedro”, o documento confirma que Cristo deu pessoalmente ao Apóstolo
Pedro um poder que estava acima daquele dado aos doze. E conclui:

Se, pois, alguém disser que o bem-aventurado Pedro Apóstolo não foi constituído por Jesus
Cristo príncipe de todos os Apóstolos e chefe visível de toda a Igreja militante; ou que ele
recebeu, direta e imediatamente, do mesmo Senhor nosso Jesus Cristo, apenas um primado
de honra, não porém um primado de jurisdição verdadeira e própria: seja anátema (DH 3055).

Portanto, São Pedro não era um primus inter pares, mas possuía uma autoridade
realmente superior à dos outros apóstolos. Quando São Paulo, por exemplo, repreendeu
publicamente São Pedro (cf. Gl 2, 11-14), ele o fez como um súdito que repreendia o seu
superior, não um igual.
No segundo capítulo da Constituição, fala-se da “perpetuidade do primado de S. Pedro
nos Romanos Pontífices”. Não só Cristo confiou a São Pedro um encargo particular, como
essa função é transmitida a todos os seus sucessores, que são os bispos de Roma:
Se, portanto, alguém disser não ser por instituição do próprio Cristo, ou seja, de direito divino,
que o bem-aventurado Pedro tem perpétuos sucessores no primado sobre a Igreja universal;
ou que o Romano Pontífice não é o sucessor do bem-aventurado Pedro no mesmo primado:
seja anátema (DH 3058).
No terceiro capítulo, que fala da “natureza e o caráter do primado do Pontífice
Romano”, o Concílio Vaticano I recorda o “dever de subordinação hierárquica e de verdadeira
obediência” que todos “os pastores e os fiéis de qualquer rito e dignidade” têm para com o
Sumo Pontífice (DH 3060). Por isso, o Papa não deve ser ouvido apenas quando fala
infalivelmente, mas também em seus atos de Magistério ordinário.
Não é compreensível, por exemplo, que se afaste a necessidade de acolher os
documentos do Concílio Vaticano II, sob o pretexto de que ele não definiu nenhum dogma
infalível. Embora tenha sido pastoral, o Vaticano II é um ato magisterial autêntico, solene —
trata-se de um Concílio Ecumênico — e regido por dois papas. Ele não pode, pois, ser
criticado de modo leviano, como muitas vezes se vê acontecer em meios ditos católicos, mas
somente com respeito e depois de um estudo muito sério.
E por que ficar “cheio de dedos” com relação a isso? Para explicar, pode servir a
seguinte analogia. O quarto mandamento, honrar pai e mãe, impõe o dever de amar aqueles
que nos geraram. Esse amor faz parte de uma instituição, que é a família. Ao contrário do que
muitos erroneamente dizem, as instituições não são uma coisa “fria”. Não há coisa mais terna
do que a família e, no entanto, ela é uma instituição. O amor devido aos pais é, portanto, um
amorinstitucional. Se, porém, parece muito óbvio respeitar e tratar bem os próprios familiares,
o quarto mandamento também se encaixa no caso de pais que não são e não foram bons pais
ou que, por algum pecado ou defeito, não sejam tão amáveis. Afinal, deve-se amar os pais
não por aquilo que eles são ou deixaram de ser, mas pelo fato mesmo de serem pais.
Ora, o papado também é uma instituição. E fundada pelo próprio Deus. Por isso, todo
católico tem o dever de amar o Santo Padre. É perfeitamente possível que se ame o Papa por
alguma qualidade pessoal que ele possua, mas, antes de tudo, é preciso amá-lo pelo que é
institucionalmente. Se um dia for eleito um Pontífice pelo qual se sinta certa antipatia, não é
possível lavar as mãos e pensar que se esteja isento de amá-lo. Se ele foi eleito, é o chefe
visível da Igreja e pai de todos os católicos. E pai não se escolhe, recebe-se.
A Pastor Aeternus conclui o capítulo terceiro lembrando que o Papa tem “o pleno e
supremo poder de jurisdição sobre a Igreja universal, não só nas matérias referentes à fé e
aos costumes, mas também nas que se referem à disciplina e ao governo da Igreja espalhada
por todo o orbe” (DH 3064). Isso diz respeito principalmente ao poder pontifício de nomear e
depor os bispos ao redor do mundo. Se todos os Ordinários têm jurisdição particular e
ordinária em suas dioceses, apenas o Sumo Pontífice tem “o pleno e supremo poder de
jurisdição”. Por isso se fala que não se pode apelar acima do Santo Padre. Um Papa só pode
ser julgado por seu sucessor, quando já não o foi por uma declaração infalível de um
predecessor ou de um Concílio Ecumênico. Em todo caso, sempre é possível, diante de um
Papa que obriga os fiéis a fazerem algo que destruirá a sua fé, uma ação de “legítima defesa”,
por assim dizer: não se deve julgá-lo, mas é possível, em legítima defesa, não se fazer o que
ele manda.
Importa lembrar, no entanto, que essa atitude só pode ser tomada quando há uma
autoridade superior que manda o contrário do que diz o Papa — no caso, a autoridade de
Deus. Não se pode tomar como desculpa para desobedecer a simples discordância pessoal
de seus atos de Magistério. Eis uma ocasião oportuna para exercitar a virtude da obediência,
que funciona justamente quando se entra em desacordo com o próprio superior.
Outro cuidado deve ser tomado no que concerne às críticas públicas ao Santo Padre.
Infelizmente, alguns dentro da Igreja têm agido com certa tranquilidade para falar mal do
vigário de Cristo na Terra, quando um verdadeiro católico, se tivesse uma razão muito séria
para tal, fá-lo-ia sempre com afeto filial, e não com o sarcasmo e o prazer sádico que muitas
vezes se vê.
No que tange à doutrina da infalibilidade papal, que é o conteúdo do quarto capítulo
da Pastor Aeternus, pode ser útil uma comparação. Imagine-se que somos trabalhadores
edificando uma construção e o engenheiro, que é o mestre de obras, tem um instrumento
especial com o qual ele faz uma prospecção do terreno, a fim de saber que lugar é rocha ou
areia. Na Igreja, os Papas são como esses engenheiros. No terreno em que se edifica a
Igreja, não raras vezes a rocha está debaixo de uma camada de areia e só o Sumo Pontífice
pode, como “mestre de obras” assistido pelo Espírito Santo, dizer se aquele terreno é terra
sólida ou não.
Nas atas do Concílio Vaticano I, Vincenzo Gasser, bispo de Bressanone, explica com
muita clareza o que quer dizer a expressão “infalibilidade pessoal” com relação ao Sumo
Pontífice. Não se trata de dizer que ele é infalível enquanto pessoa privada, mas enquanto
sucessor de São Pedro, a quem Nosso Senhor confiou particularmente as chaves do Reino
dos céus (cf. Mt16, 19).
Além disso, o Santo Padre não é infalível o tempo todo, mas apenas em circunstâncias
especiais. Nessas ocasiões, ele não se declara por conta de uma “nova revelação” — afinal,
“a economia cristã, como nova e definitiva aliança, jamais passará, e já não se há de esperar
nenhuma nova revelação pública antes da gloriosa manifestação de nosso Senhor Jesus
Cristo” (Dei Verbum, 4) —, mas por assistência do Espírito Santo. Esta, a propósito, não
dispensa a consulta dos meios humanos. O Papa Pio XII, quando proclamou o dogma da
Assunção de Nossa Senhora, por exemplo, consultou o episcopado do mundo inteiro antes de
fazê-lo. E — exemplifica São Roberto Belarmino, Doutor da Igreja — o próprio São Pedro, que
poderia ter dirimido por conta própria a controvérsia judaizante, preferiu convocar o Concílio
de Jerusalém para resolver a questão (cf. At 15, 6-35).
Em tempos de crise pós-conciliar, é importante apontar o terreno sólido sobre o qual se
edifica a fé católica. Esse terreno, apontaram-no os Papas, os santos Doutores e, de modo
especial, a Constituição Pastor Aeternus, do Concílio Vaticano I, a qual vale a pena estudar e
conhecer a fundo, pois é doutrina segura sobre o Papa, ensinada ao longo dos séculos pela
Igreja.
Concílio Vaticano I
Constituição Dogmática “Pastor æternus”
sobre a Igreja de Cristo,
18 de julho de 1870,
(Denzinger-Hünermann 3050-3075).

Preâmbulo sobre a instituição e fundamento da Igreja

3050 – O eterno pastor e guardião das nossas almas [cf. 1Pd 2,25], querendo perpetuar a
salutar obra da redenção, resolveu fundar a Santa Igreja, na qual, como na casa do Deus
vivo, todos os fiéis se conservassem unidos, pelo vínculo de uma só fé e amor. Por isso,
antes de ser glorificado, rogou ao Pai não só pelos Apóstolos, mas também por aqueles que
haviam de crer nele por meio das palavras deles, para que todos fossem um, assim como
ele, o Filho, e o Pai são um [cf. Jo 17,20s]. Ora, como ele enviou os Apóstolos que tinha
escolhido do mundo [cf. Jo 15,19], como ele mesmo tinha sido enviado pelo Pai [cf. Jo
20,21], da mesma forma quis que “até a consumação dos séculos” [Mt 28,20], houvesse na
sua Igreja pastores e doutores.

3051 – Mas, para que o próprio episcopado fosse uno e indiviso e, pela coesão e união
íntima dos sacerdotes, toda a multidão dos crentes se conservasse na unidade da fé e da
comunhão, antepondo S. Pedro aos demais Apóstolos, pôs nele o princípio perpétuo e o
fundamento visível desta dupla unidade, sobre cuja solidez se construísse o templo eterno e
se levantasse, sobre a firmeza desta fé, a sublimidade da Igreja, que deve elevar-se até ao
céu1.

3052 – E como, com ódio crescente de dia para dia, para derrocar, se fosse possível, a
Igreja, as portas do inferno se insurgem por toda parte contra seu fundamento divinamente
estabelecido, Nós julgamos necessário para a guarda, a incolumidade e o aumento da grei
católica, com a aprovação do Concílio, propor à crença dos fiéis a doutrina sobre a
instituição, a perpetuidade e a natureza do santo primado apostólico, no qual reside a força e
a solidez de toda a Igreja, segundo a fé antiga e constante da Igreja universal, proscrevendo
e condenando os erros contrários, tão perniciosos à grei do Senhor.

Cap. I – A instituição do primado apostólico em S. Pedro

3053 – Ensinamos, pois, e declaramos, segundo o testemunho do Evangelho, que Jesus


Cristo prometeu e conferiu imediata e diretamente o primado de jurisdição sobre toda a
Igreja ao bem-aventurado Pedro Apóstolo. Com efeito, só a Simão, a quem antes dissera:
“Chamar-te-ás Cefas” [Jo 1,42], depois de ter ele feito a sua profissão com as palavras: “Tu
és o Cristo, o Filho de Deus vivo”, foi que o Senhor se dirigiu com estas solenes palavras:
“Bem-aventurado és, Simão, filho de Jonas, porque nem a carne nem o sangue to
revelaram, mas sim meu Pai que está nos céus. E eu te digo: Tu és Pedro, e sobre esta
pedra edificarei a minha Igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela. E dar-te-
ei as chaves do reino dos céus. E tudo o que ligares sobre a terra será ligado também nos
céus; e tudo o que desligares sobre a terra será desligado também nos céus” [Mt 16,16 ss].
E somente a Simão Pedro conferiu Jesus, após a sua ressurreição, a jurisdição de pastor e
chefe supremo de todo o seu rebanho, dizendo: “Apascenta os meus cordeiros”, “Apascenta
as minhas ovelhas” [Jo 21,15-17].

1Leão I Magno, Sermão 4º sobre seu aniversário [no aniversário de sua eleição como bispo de Roma], cap. 2 (PL 54,
150C).
3054 – A esta doutrina tão clara das sagradas Escrituras, tal como sempre foi entendida pela
Igreja católica, opõem-se abertamente as sentenças perversas daqueles que, desnaturando
a forma de governo estabelecida na Igreja pelo Cristo Senhor, negam que só Pedro foi
agraciado com o verdadeiro e próprio primado de jurisdição, de preferência aos outros
Apóstolos, quer tomados singularmente, quer em conjunto; ou que afirmam que o mesmo
primado não foi imediata e diretamente confiado ao próprio bem-aventurado Pedro, mas à
Igreja, e por meio desta a ele, como ministro da mesma Igreja.

3055 – [Cânon .] Se, pois, alguém disser que o bem-aventurado Pedro Apóstolo não foi
constituído por Jesus Cristo príncipe de todos os Apóstolos e chefe visível de toda a Igreja
militante; ou que ele recebeu, direta e imediatamente, do mesmo Senhor nosso Jesus Cristo,
apenas um primado de honra, não porém um primado de jurisdição verdadeira e própria:
seja anátema.

Cap. 2. A perpetuidade do primado de S. Pedro nos Romanos Pontífices

3056 – Ora, o que, no bem-aventurado Apóstolo Pedro, o príncipe dos pastores e o grande
pastor das ovelhas, o Senhor Jesus Cristo, instituiu para a salvação eterna e o bem perene
da Igreja, deve pela autoridade do mesmo constantemente continuar na Igreja, que, fundada
sobre o rochedo, permanecerá inabalável até ao fim dos séculos. Decerto, “ninguém duvida,
pois é um fato notório em todos os séculos, que o santo e beatíssimo Pedro, príncipe e
chefe dos Apóstolos, recebeu de nosso Senhor Jesus Cristo, Salvador e Redentor do gênero
humano, as chaves do reino; e ele, até agora e sempre, em seus sucessores”, os bispos da
santa Sé de Roma, por ele fundada e consagrada com seu sangue, “vive” e preside e
“exerce o juízo”2.

3057 – Daí se segue que todo aquele que sucede a Pedro nesta cátedra, obtém, segundo a
instituição do próprio Cristo, o primado de Pedro sobre a Igreja universal. “Permanece, pois,
o que a verdade ordena; e o bem-aventurado Pedro, perseverando na fortaleza de pedra
que recebera, não abandonou o timão da Igreja que uma vez empunhara”3. Por isso, foi
sempre “necessário que” a esta Igreja romana, “por causa de sua mais forte principalidade,
se unisse toda a Igreja, isto é, todos os fiéis que há e donde quer que sejam”4, a fim de que
nessa Sé, da qual emanam todos “os direitos da veneranda comunhão”5, unidos como os
membros à cabeça, se juntassem na articulação de um só corpo.

3058 – [Cânon.] Se, portanto, alguém disser não ser por instituição do próprio Cristo, ou
seja, de direito divino, que o bem-aventurado Pedro tem perpétuos sucessores no primado
sobre a Igreja universal; ou que o Romano Pontífice não é o sucessor do bem-aventurado
Pedro no mesmo primado: seja anátema.

Cap. 3. A natureza e o caráter do primado do Pontífice Romano

3059 – Por isso, apoiados nos testemunhos manifestos da Sagrada Escritura e seguindo os
decretos formais e evidentes tanto dos Romanos Pontífices, nossos predecessores, como
dos Concílios gerais, renovamos a definição do Concílio ecumênico de Florença, pelo qual
todos os fiéis cristãos devem crer que “a santa Sé Apostólica e o Romano Pontífice têm o

2 Discurso do legado papal Filipe na sessão 3ª do concílio de Éfeso, 11 jul. 431 (ACOe 1/I/III, 6027-33, n. 10631 /
MaC 4, 1295B-1298A / HaC 1, 1477B).
3 Leão I. Magno, Sermão 3º sobre seu aniversário, cap. 3 (PL 54, 146B).
4 Ireneu de Lião, Adversus hæreses III 3, n. 2 (SouChr 211 [1974] 3226s) = III 3, n. 1 (ed. W.W. Harvey [Cambridge

1857] 2, 9 / PG 7, 849A).
5 Ambrósio de Milão, Carta 11, 4 (PL 16, 986B).
primado sobre todo o orbe e que o mesmo Romano Pontífice é o sucessor do bem-
aventurado Pedro, príncipe dos Apóstolos e verdadeiro vigário de Cristo, e cabeça de toda a
Igreja e pai e doutor de todos os cristãos; e que a ele, na pessoa do bem-aventurado Pedro,
foi entregue por Nosso Senhor Jesus Cristo o pleno poder de apascentar, reger e governar a
Igreja universal conforme também está contido nas atas dos concílios ecumênicos e nos
sagrados cânones” [*1307].

3060 – Ensinamos, pois, e declaramos que a Igreja romana, por disposição divina, tem o
primado do poder ordinário sobre todas as outras, e que este poder de jurisdição do Romano
Pontífice, que é verdadeiramente episcopal, é imediato; e a ela estão obrigados, por dever
de subordinação hierárquica e de verdadeira obediência, os pastores e os fiéis de qualquer
rito e dignidade, tanto cada um em particular, como todos em conjunto, não só nas coisas
referentes à fé e aos costumes, mas também nas que se referem à disciplina e ao regime da
Igreja espalhada por todo o orbe; de tal forma que, guardada a unidade de comunhão e de
fé com o Romano Pontífice, a Igreja de Cristo seja um só rebanho sob um só pastor
supremo [cf. Jo 10,16]. Esta é a doutrina da verdade católica, da qual ninguém pode se
desviar, sem perda da fé e da salvação.

3061 – Este poder do Sumo Pontífice, porém, está muito longe de embargar aquele poder
ordinário e imediato de jurisdição episcopal pelo qual os bispos, que constituídos pelo
Espírito Santo [cf. At 20,28] sucederam os Apóstolos, como verdadeiros pastores
apascentam e regem os seus respectivos rebanhos; antes, é confirmado, corroborado e
vindicado pelo pastor supremo e universal, segundo o dizer de são Gregório Magno: “A
minha honra é a honra da Igreja universal. Minha honra é o sólido vigor dos meus irmãos.
Então sinto-me verdadeiramente honrado, quando não se nega a honra que é devida a cada
um”6.

3062 – Além disso, do supremo poder do Romano Pontífice de governar toda a Igreja resulta
o direito de, no exercício deste seu ministério, comunicar-se livremente com os pastores e
rebanhos de toda a Igreja, para que estes possam ser por ele instruídos e dirigidos no
caminho da salvação. Pelo que condenamos e reprovamos as sentenças daqueles que
dizem poder-se impedir licitamente esta comunicação do chefe supremo com os pastores e
rebanhos, ou a subordinam ao poder secular, a ponto de afirmarem que o que é
determinado pela Sé Apostólica em virtude da sua autoridade para o governo da Igreja, não
tem força nem valor, a não ser depois de confirmado pelo beneplácito do poder secular.

3063 – E, porque o Romano Pontífice preside a Igreja Universal em virtude do direito divino
do primado apostólico, também ensinamos e declaramos que ele é o juiz supremo dos fiéis,
podendo-se, em todas as coisas que pertençam ao foro eclesiástico, recorrer ao seu juízo
[cf. *681]; mas também que a ninguém é lícito pôr em questão o juízo desta Santa Sé, e que
ninguém pode julgar de seu juízo, visto que não há autoridade acima dela [cf. *638-642]. Por
isso, estão fora do reto caminho da verdade os que afirmam ser lícito apelar dos juízos dos
Romanos Pontífices ao concílio ecumênico, como autoridade acima do Romano Pontífice.

3064 – [Cânon .] Se, pois alguém disser que ao Romano Pontífice cabe apenas o ofício de
inspeção ou direção, mas não o pleno e supremo poder de jurisdição sobre a Igreja
universal, não só nas matérias referentes à fé e aos costumes, mas também nas que se
referem à disciplina e ao governo da Igreja espalhada por todo o orbe; ou que ele só goza da

6Gregório I Magno, Carta a Eulógio de Alexandria (D. Norberg: CpChL 140A [1982] 55264-66 [= Registrum
epistolarum VIII 29] / MGH Ep. 2, 3128-30 [= Registrum epistolarum VIII 29] / PL 77, 933C [= Registrum
epistolarum VIII 30]).
parte principal deste supremo poder e não de toda a plenitude; ou que este seu poder não é
ordinário e imediato, quer sobre todas e cada uma das Igrejas, quer sobre todos e cada um
dos pastores e fiéis: seja anátema.

Cap. 4: O Magistério infalível do Romano Pontífice

3065 – Ora, que no primado apostólico que o Romano Pontífice como sucessor de Pedro,
príncipe dos Apóstolos, tem sobre toda a Igreja, também está incluído o supremo poder do
magistério, isso, a Santa Sé sempre o sustentou, o uso constante da Igreja o comprova e o
declararam os concílios ecumênicos, em primeiro lugar aqueles em que o Oriente se reunia
com o Ocidente em união de fé e de caridade.

3066 – Assim, os Padres do IV Concílio de Constantinopla, seguindo os passos dos


antepassados, publicaram esta solene profissão da fé: “A salvação consiste antes de tudo
em guardar a regra da fé verdadeira […]. E como a palavra de nosso Senhor Jesus Cristo,
que disse: ‘Tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja’ [Mt 16,18], não pode
ser preterida, o que foi dito é comprovado pelo efeito, pois na Sé Apostólica sempre se
conservou imaculada a religião católica e foi celebrada santa a doutrina. Assim, não
desejando absolutamente separar- nos desta fé e desta doutrina […], esperamos merecer
encontrar-nos na única comunhão pregada pela Sé Apostólica, na qual está sólida e íntegra
a verdadeira religião cristã”7.

3067 – Ora, com a aprovação do II Concílio de Lião, os gregos professaram que “a santa
Igreja romana possui o supremo e pleno primado e principado sobre toda a Igreja católica,
<primado> que com verdade e humildade reconhece ter recebido, com a plenitude do poder,
do próprio Senhor, no bem-aventurado Pedro, príncipe ou cabeça dos Apóstolos, do qual o
Romano Pontífice é o sucessor; e assim como está obrigada a defender, mais que as outras,
a verdade da fé, assim também devem ser definidas por seu juízo as questões que surgirem
a respeito da fé [*861]”.

3068 – O Concílio de Florença , enfim, definiu “que o Romano Pontífice […] é verdadeiro
vigário de Cristo, cabeça de toda a Igreja, pai e o doutor de todos os cristãos; e que nosso
Senhor Jesus Cristo transmitiu a ele, na pessoa do bem-aventurado Pedro, o pleno poder de
apascentar, reger e governar a Igreja universal” [*1307].

3069 – Procurando corresponder a este múnus pastoral, os nossos predecessores sempre


dedicaram infatigável empenho à propagação da salutar doutrina de Cristo entre todos os
povos da terra, e com igual solicitude vigiaram para que, onde fosse recebida, também fosse
guardada pura e sem alteração. Pelo que os bispos de todo o orbe, ora em particular, ora
reunidos em sínodos, seguindo o longo costume das Igrejas e a forma das antigas regras,
têm referido a esta Sé Apostólica principalmente os perigos que surgiam em assuntos de fé,
a fim de que os danos da fé se ressarcissem especialmente aí, onde a fé não pode sofrer
quebra8.

Os Romanos Pontífices, conforme lhes aconselhava a condição dos tempos e das


circunstâncias, ora convocando concílios ecumênicos ou auscultando a opinião de toda a
Igreja dispersa pelo orbe, ora por sínodos particulares ou empregando outros meios que a

7 Citação abreviada do Libellus fidei do papa Hormisdas (*363-365); marcadas com […] as omissões não assinaladas
no próprio texto da constituição.
8 Bernardo de Claraval, Carta 190, ou Tractatus contra errores Abælardi, ao papa Inocêncio II, Prefácio (Opera 8, ed.

J. Leclercq – H.M. Rochais [Roma 1977] 179s / PL 182, 1053D).


divina providência lhes proporcionava, definiram que se devia sustentar aquilo que, com o
auxílio de Deus, reconheceram ser conforme às sagradas Escrituras e às tradições
apostólicas.

3070 – Pois o Espírito Santo não foi prometido aos sucessores de Pedro para que, por
revelação sua, manifestassem uma nova doutrina, mas para que, com sua assistência,
conservassem santamente e expusessem fielmente a revelação transmitida pelos Apóstolos,
ou seja, o depósito da fé. E, decerto, esta doutrina apostólica, todos os veneráveis Padres
abraçaram-na e os santos ortodoxos Doutores a veneraram e seguiram, plenissimamente
conscientes de que esta Sé de são Pedro sempre permaneceu intacta de todo erro, segundo
a divina promessa de nosso Senhor <e> Salvador feita ao chefe dos seus discípulos: “Eu
roguei por ti, para que tua fé não desfaleça; e tu, uma vez convertido, confirma teus irmãos”
[Lc 22,32].

3071 – Foi, portanto, este carisma da verdade e da fé indefectível, concedido divinamente a


Pedro e a seus sucessores nesta cátedra, a fim de que desempenhassem seu sublime
encargo para a salvação de todos, para que assim todo o rebanho de Cristo, afastado por
eles do pasto venenoso do erro, fosse nutrido com o pábulo da doutrina celeste, para que
assim, removida toda ocasião de cisma, se conservasse unida a Igreja universal e, apoiada
no seu fundamento, se mantivesse firme contra as portas do inferno.

3072 – Mas, como nestes nossos tempos, em que mais do que nunca se precisa da salutar
eficácia do ministério apostólico, se encontram não poucos a contestar sua autoridade,
julgamos absolutamente necessário afirmar solenemente esta prerrogativa que o Filho
Unigênito de Deus se dignou juntar ao supremo ofício pastoral.

3073 – Por isso, Nós, apegando-nos à tradição recebida desde o início da fé cristã, para a
glória de Deus nosso Salvador, para exaltação da religião católica e a salvação dos povos
cristãos, com a aprovação do Sagrado Concílio, ensinamos e definimos como dogma
divinamente revelado:

3074 – O Romano Pontífice, quando fala ex cathedra – isto é, quando, no desempenho do


múnus de pastor e doutor de todos os cristãos, define com sua suprema autoridade
apostólica que determinada doutrina referente à fé e à moral deve ser sustentada por toda a
Igreja –, em virtude da assistência divina prometida a ele na pessoa do bem-aventurado
Pedro, goza daquela infalibilidade com a qual o Redentor quis estivesse munida a sua Igreja
quando deve definir alguma doutrina referente à fé e aos costumes; e que, portanto, tais
declarações do Romano Pontífice são, por si mesmas, e não apenas em virtude do
consenso da Igreja, irreformáveis.

3075 – [Cânon.] Se, porém – o que Deus não permita –, alguém ousar contradizer esta
nossa definição seja anátema.

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