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Resumo
Avaliação Psicológica pode ser utilizada em situações diversas, buscando respostas
específicas. Este artigo focaliza a Avaliação Psicológica a partir de uma visão clínica e
psicodinâmica, como um processo de grande importância para a compreensão da
pessoa considerando-a em sua singularidade e em sua complexidade. Considerou-se
neste artigo várias questões importantes em um processo de avaliação psicológica,
dentre elas: a necessidade de se ter pressupostos teóricos coerentes com o trabalho
desenvolvido; a flexibilidade do avaliador; questões preponderantes levantadas no
inicio do processo; o tempo médio de uma avaliação; a importância da observação e
da entrevista; a relevância do uso dos testes psicológicos; como escolher bem um teste;
a questão da rotulação com ou sem o uso dos testes; o relato escrito dos resultados e os
conhecimentos necessários para se realizar um bom psicodiagnóstico. No texto também
se diferencia a avaliação em que são obtidos resultados de testes para uma
classificação da pessoa, de um trabalho em que se procura compreender a pessoa de
forma holística, em um processo dinâmico. Ressalta-se que para qualquer trabalho
nesta área, a escuta e a leitura do material deve ter pressupostos teóricos coerentes
com o trabalho desenvolvido.
O uso de testes psicológicos teve o seu início no final do século XIX, porém grandes
avanços foram, em sua maioria, concebidos conforme o paradigma das ciências naturais
(WERLANG, VILLEMOR AMARAL & NASCIMENTO, 2010), modelo que dava destaque
às medidas e que conferiu à psicologia um status de ciência. Os testes também se apoiavam
no método classificatório, seguindo o padrão médico (PLAZA, 1989). Esse modelo poderia
basear-se numa classificação simples do indivíduo ou numa classificação nosológica.
O grande desenvolvimento dos testes psicológicos ocorreu nas duas grandes guerras
do século XX, quando os testes foram muito necessários, o que fez alavancar as pesquisas na
área e a criação de novos instrumentos. Na época da 2ª guerra houve um avanço da psicologia
clínica e a atividade principal era a avaliação psicológica (WEINER, 1983). Os EUA fizeram
um investimento massivo nos testes psicológicos para serem usados tanto em seleção de
ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia – Edição Especial nº 008 Vol.01/2014 set/2014
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importantes: qual o objetivo desse diagnóstico, para quem estamos dirigindo nosso trabalho e
qual a melhor maneira de realizá-lo. Mas primeiro, devemos ter paradigmas e fundamentações
que orientem qualquer trabalho.
Vamos antes de iniciar este relato acentuar o que entendemos por psicodiagnóstico, ou
avaliação psicológica. Embora possa se atribuir diferentes significados tomando cada uma das
expressões (CUNHA, 2000), no presente texto utilizaremos ambos os termos como
sinônimos, dado que por nossa orientação, os preceitos aqui utilizados podem ser aplicados
em qualquer avaliação psicológica, incluindo o psicodiagnóstico, como definido por Cunha
(2000). Compreendemos o psicodiagnóstico como um processo delimitado, com início, meio
e fim, que deve responder a uma solicitação, seja de aprofundamento em um diagnóstico, seja
de orientação, seja para definição de questões de guarda familiar e outras. Este processo inclui
uma escuta fundamentada em pressupostos teóricos e deve ter procedimentos teoricamente
coerentes com esta fundamentação. Estes procedimentos podem ou não incluir o uso de testes
psicológicos, mas nosso olhar recairá sobre esta metodologia com o uso dos testes.
A observação inicial
A observação pode ser considerada um procedimento específico para o diagnóstico e,
em algumas abordagens, chega a ser considerada um método privilegiado de trabalho para
diagnosticar. No caso é um procedimento com uma proposta definida e sistemática.
Porém, na modalidade de atendimento que é o foco deste trabalho, a observação é um
modo de proceder que deve estar presente em todas as etapas da avaliação. Desde a entrevista
inicial até a devolutiva, a observação é considerada uma ferramenta aliada na escuta do
examinando. Nesta abordagem ela ocorre de maneira não sistemática.
Vários aspectos podem ser observados durante todo processo, tais como: se o
examinando apresenta-se na hora marcada; se está em condições higiênicas adequadas; se o
modo de se vestir é condizente com a situação; se ele resiste obstinadamente ou participa
como um colaborador ativo e interessado; se é simpático e receptivo; se está ansioso, agitado
ou tranquilo; se seu estado vígil está normal; se seu discurso é coerente; se ele responde
diretamente ao que é perguntado; se são claras as suas comunicações ou confusas; se é uma
pessoa ativa, que gesticula, fala bastante durante a entrevista e parece desinibido; se seu
contato é fácil ou difícil, próximo ou distante; se sua aparência é de uma pessoa sofrida; se o
seu rosto demonstra alguma alegria ou tristeza; se sua expressão indica algum traço, por
exemplo, de agressividade; se sua expressão facial é coerente com os fatos de sua vida que
relata; se sua orientação alopsíquica e autopsíquica estão perturbadas; se sua memória recente
e remota estão preservadas; se tem fluência verbal; se suas respostas são rápidas e
inteligentes; se suas histórias são improváveis e convincentes ao mesmo tempo; se ele se
coloca como vítima; se tem uma explicação para tudo; se é insensível quando fala dos outros.
Entrevistas
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Para um bom diagnóstico é necessária uma boa entrevista. Diversos motivos nos
levam a eleger a entrevista para um primeiro encontro com a pessoa. Em primeiro lugar, é
neste momento que a pessoa traz o seu pedido e nos informa o motivo de sua procura. Porém,
além desta questão óbvia e bastante objetiva - que pode até ser indicada, por exemplo, pelo
profissional que nos encaminha uma pessoa para avaliar - poderemos observar como esta lida
com o problema ou queixa que nos traz. Ao observar sua fala, conheceremos sua relação com
a queixa. Poderemos compreender o motivo latente de seu pedido. Por outro lado, a entrevista
contribui com dados objetivos que poderão nos auxiliar na compreensão total do caso.
Para desenvolver uma boa entrevista temos que estabelecer uma atmosfera agradável e
ter uma escuta, que poderíamos dizer, bem treinada. Esta escuta depende de fatores pessoais
do psicólogo que a realiza, por exemplo, sua disponibilidade para o outro, sua sensibilidade
ou sua capacidade empática, sua capacidade de diferenciar-se do outro, mas também de um
treinamento bem feito e de uma fundamentação teórica para embasamento, uma vez que é
uma escuta profissional e para tal deve ser qualificada.
Lembramos que situações específicas podem exigir procedimentos específicos. Não se
pode criar regras que nunca serão modificadas, porque estamos sempre lidando com situações
humanas. As entrevistas, sejam com familiares ou com o próprio interessado, devem sempre
iniciar com a investigação da queixa e a partir deste levantamento realizar uma ampliação,
seguindo algumas diretrizes de entrevistas não diretivas (BLEGER, 1980). Depois de uma
entrevista mais aberta poderemos, se necessário, introduzir perguntas mais diretas, como
encontramos em anamneses publicadas por editoras que produzem os testes psicológicos.
levantamento realizado por Padilha, Noronha e Fagan (2007) indicam que os mais utilizados
são em maior frequência o HTP, IFP, TAT e Raven. Este estudo realizado em Santa Catarina
evidenciou que os testes são pouco utilizados em função da deficiência no ensino na área.
Manfredini e Arginon (2010), também ressaltam as dificuldades no ensino das técnicas de
avaliação psicológica. No entanto, para um bom diagnóstico, não é apenas necessário que os
testes sejam adequados, bem escolhidos e com critérios psicométricos aprovados pela
comunidade científica da área (validade, precisão e normas apropriadas), mas também é
necessário que os psicólogos tenham bom conhecimento e treinamento para trabalhar com os
instrumentos e obter informações precisas e confiáveis.
Estes conhecimentos que são difundidos apenas verbalmente têm que ser rigorosamente
testados, justificados e publicados para que se tenha confiança nas interpretações que serão
realizadas. Um bom instrumento para avaliar determinada característica de uma pessoa deve
ter embasamento teórico e científico.
A segunda questão consiste em analisar as características psicométricas ou científicas
dos testes que pretendemos utilizar. Ou seja, temos que levar em consideração os estudos de
validade, a precisão e a existência de normas específicas e atualizadas para a região a que o
examinando pertence, ou no mínimo verificar a existência de normas do teste para a
população brasileiras. Ainda neste contexto, verificar se o manual apresenta informações
claras a respeito dos padrões de aplicação, correção e interpretação dos resultados.
A terceira questão consiste em verificar se o teste será adequado para a pessoa que
está sendo avaliada. Ou seja, considerar se a idade, o sexo, a escolaridade, o nível
socioeconômico, a presença de alguma deficiência, e se a nacionalidade do examinando está
de acordo com a população para a qual o teste foi desenvolvido (WESCHSLER, 2001). Às
vezes as normas não foram feitas para o grupo de pessoas a que pertence nosso examinando.
Por exemplo, é um teste para crianças e a pessoa que avaliamos é adolescente, ou vice-versa.
É um teste que demanda certos conhecimentos adquiridos em escola e nosso examinando mal
frequentou a escola. Ou ainda, temos um teste que demanda habilidades motoras e nosso
examinando apresenta limitações neste sentido. Outras vezes, é um teste que facilita a
utilização de estratégias defensivas ao responder e nosso examinando não está disposto a se
manifestar livremente. Devemos ainda ressaltar a questão cultural relacionada aos
instrumentos. Dana (1984, 1998) e outros autores (OKASAKI, 1998; CUÉLLAR, 1998)
também mencionaram o fato de que resultados de um teste podem apresentar viés quando
aplicado a pessoas de diferentes origens. A interpretação destes instrumentos a partir de
referenciais culturais diversos pode ocasionar a consideração de patologia onde não há, ou
vice-versa. Portanto, pode-se concluir que um teste não é sempre bom, mas ele é bom para
ser utilizado em determinada circunstância e com determinada pessoa. Para desenvolver esta
habilidade, é necessário que o psicólogo tenha experiência na atividade da avaliação
psicológica.
É importante também verificar se há necessidade de equipamentos especiais para a
aplicação do teste e se já foi adquirido esse material. Outra questão decisiva na escolha do
teste é avaliar a questão do tempo e dos recursos financeiros para se realizar uma avaliação.
Por exemplo, um teste como o Método de Rorschach pode fornecer informações preciosas a
respeito da personalidade dos candidatos. Mas por outro lado, trata-se de um teste que deve
ser aplicado individualmente, que requer um tempo médio de 80 minutos por candidato
somente para a aplicação, e um tempo semelhante para codificar e lançar os dados em um
programa que auxilia no levantamento dos dados quantitativos, e que demanda psicólogos
altamente preparados para manuseá-lo (administrar, codificar, interpretar). Dessa forma, se
tenho algumas dezenas de candidatos para serem avaliados em um processo de seleção ou
concurso, o tempo e o custo dessa avaliação podem ser proibitivos.
Atendendo a estes quesitos, teremos um instrumento que, em tempo muito abreviado,
poderá nos responder às questões propostas no início da avaliação. No entanto, para
escolhermos o instrumento mais adequado para uma pessoa, para poder optar por um que de
fato vai poder responder às questões que temos em dada situação, necessitamos de
conhecimento a respeito dos testes psicológicos. Tem momentos que é necessário responder
com testes que têm valor de predição. Em outros momentos são necessários instrumentos que
aprofundem nossa compreensão do caso. É preciso saber escolher o melhor instrumento para
a situação específica. Se bem escolhido teremos um instrumento eficaz para a nossa
necessidade.
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Incluindo a compreensão
Entendemos a avaliação psicológica como um trabalho dinâmico e integrador da
pessoa, bem como da pessoa em situação. A classificação simples trata-se do exame que
compara a amostra de comportamento do examinando com os resultados de grupos de outros
sujeitos com características sociodemográficas equivalentes. Os resultados são fornecidos em
dados quantitativos, classificados sumariamente, como em uma avaliação de nível intelectual.
Por sua vez, a classificação nosológica é a verificação das hipóteses iniciais, tomando como
referência critérios diagnósticos para a classificação dos indivíduos conforme a classificação
das doenças. Esse tipo de classificação representa as informações básicas sobre as quais se
construirão os estudos epidemiológicos, o planejamento e a organização de vários serviços de
saúde.
Porém em um processo de avaliação psicológica deve ir muito além quando se trata de
um trabalho dinâmico de psicodiagnóstico, que visa uma orientação, um processo de
compreensão e um aprofundamento em questões psicológicas. É o trabalho que podemos
chamar de clínico, entendendo aqui um procedimento que focaliza a pessoa como única.
Clínico não indica que este procedimento ocorra apenas em consultórios, sejam públicos ou
privados. Podemos entender a situação clínica como o enfoque em que cada pessoa é
considerada em sua dimensão completa e complexa, em que os aspectos parciais têm uma
configuração diversa quando inseridos no conjunto das características globais do indivíduo.
Este modo de compreensão inclui a capacidade emocional e social da pessoa e a compreensão
dinâmica de seus sintomas (PDM TASK FORCE, 2006).
O Manual de Diagnóstico Psicodinâmico (PDM, sigla em inglês) oferece um modelo
de compreensão de um indivíduo, que inclui algumas capacidades das pessoas. Podemos
seguir este modelo para uma avaliação, que abrange a compreensão de uma pessoa a partir de:
sua habilidade para perceber a si mesmo e aos outros de forma complexa, estável e precisa;
sua habilidade para manter relações satisfatórias com os outros, incluindo relações próximas;
seu modo de experienciar e manifestar seus afetos; sua capacidade para controlar os impulsos
e usar defesas de um modo adaptativo; sua competência para responder de acordo com um
código de moral maduro; sua capacidade de percepção da realidade e de se restabelecer sem
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exemplo, em um caso de criança, cuja queixa é dificuldade escolar – queixa esta muito
comum -, mesmo tendo motivos para se considerar que o motivo desta dificuldade seja de
ordem emocional, uma avaliação de aspectos cognitivos poderá contribuir para melhor
compreensão do grau das dificuldades que a criança apresenta. No sentido inverso, um mau
desempenho da criança em situação de teste de nível mental deve ser considerado à luz do
desempenho da criança em atividades lúdicas ou em suas manifestações verbais. Por vezes
temos crianças que, apesar de apresentar um pobre desempenho nos testes psicológicos,
apresentam grande desenvoltura nas sessões de observação lúdica, em seus desenhos ou em
seus relatos. Nesses casos, se o teste foi bem escolhido, adequado às características da
criança, não podemos justificar esse mau desempenho às características do teste. Tampouco
podemos utilizar este resultado para considerar como um padrão de desempenho da criança.
Cabe ao psicólogo a compreensão deste desencontro para um diagnóstico fiel, para
orientações adequadas e para colaborar para elucidação da queixa. Em muitas outras situações
ocorrem discrepâncias com relatos de entrevista.
Porém, por vezes, não há discrepância aparente com relação aos resultados dos
testes, mas pode-se supor, mesmo que seja por sinais contratransferenciais, que algo não está
coincidindo com a observação da pessoa. Nestes casos, consideramos apropriado fazer
avaliações com testes com característica diversa do que já foi utilizado. Por exemplo,
trabalhou-se com um método verbal de investigação, como um Rorschach ou um TAT.
Sugere-se então trabalhar com um instrumento não verbal, como por exemplo, um HTP ou
um Palográfico. Situações desta natureza costumam ocorrer em ocasiões em que a avaliação é
determinada por outros, como em casos de avaliações forenses ou em situações de concursos.
testes. Da parte do psicólogo, muitas vezes é um momento para dar vida aos resultados
encontrados, ampliando o que tem indicado em suas interpretações, à luz daquilo que a pessoa
avaliada acrescenta nesta entrevista (que não é necessariamente apenas uma), integrando
também às informações trazidas nas entrevistas iniciais.
Para a pessoa que foi avaliada, a entrevista final é um momento para refletir sobre os
dados levantados, junto com o psicólogo, considerando que este tenha o cuidado de não
provocar ansiedades excessivas, mas não deixar de acrescentar informações que o paciente
ainda não tenha. É o momento em que se contribui para a tomada de decisões quanto às ações
que deverão ser implementadas. Mas para que este trabalho seja efetivo, é importante que se
consiga que o sujeito ou sua família tenham insight sobre estes resultados que estão sendo
transmitidos. Para que isto aconteça, o trabalho tem que ser feito acompanhando o processo
de reflexão que a pessoa avaliada possa ir assimilando passo a passo e possivelmente fazendo
uma compreensão transversal com a queixa apresentada, ou com informações fornecidas no
início do processo. A pessoa avaliada ou sua família poderão também, a partir das reflexões
acrescentar mais dados que poderão enriquecer a compreensão final, em uma compreensão
conjunta. Resultados soltos nem sempre trazem esta possibilidade de crescimento, mas
ocorrem apenas como uma informação.
Com crianças também devemos ter a possibilidade de retornar alguns dados do que foi
avaliado durante o processo. Neste caso, deve-se ter o cuidado com a linguagem, que deve ser
acessível à sua idade. Consideramos interessante que primeiramente se converse com os pais
ou responsáveis, de tal forma que as recomendações que forem realizadas sejam, de fato,
viáveis para a família – como a mudança de escola, recomendação de psicoterapia ou
psicopedagogia, ou outros encaminhamentos. Com a criança já se vai apresentar as decisões
que foram tomadas junto com a família. É importante ter clareza que a criança tem condições
de compreender estas informações. Sua reação, no entanto, é diversa daquela dos adultos. É
importante que o psicólogo esteja atento em seu comportamento, quando a criança dará
mostras do que compreendeu. Por vezes, sua reação aparece em comportamentos manifestos,
outras vezes poderá aparecer em um desenho, ou mesmo em brincadeiras que fará em
seguida. Para que isto aconteça, é fundamental que se apresente a caixa lúdica na entrevista
devolutiva com a criança. Dependendo de sua reação, talvez seja necessária nova conversa
com os pais.
Com adolescentes, deve-se decidir o momento e o modo de se trazer a devolutiva, o
que pode, em parte, depender da idade do jovem. Em geral, uma boa tática é fazer a
devolutiva do adolescente junto com os seus pais. Porém, existem momentos em que é
necessária uma boa entrevista com estes pais, onde questões familiares levantadas no
processo de avaliação precisarão ser trabalhadas. Para tomar esta decisão, o adolescente deve
estar bem preparado, para que a confiança que ele depositou no psicólogo não seja perdida e
que em função disto ele pode não aceitar dar continuidade a um trabalho com psicólogo. Por
vezes, caso seja necessária uma intervenção um pouco mais prolongada, pode ser interessante
que outro colega faça este trabalho com a família, após uma devolutiva conjunta onde isto
será indicado.
Para que este relato escrito seja científica e eticamente adequado, é necessário que
esteja de acordo com a Resolução nº 007/2003 do Conselho Federal de Psicologia, que institui
o Manual de elaboração de documentos decorrentes de avaliação psicológica,
independentemente do contexto em que é gerado. Anache e Reppold (2010) enfatizam que as
informações produzidas pelo psicólogo devem ser sustentadas pela orientação teórica e
metodológica adotada no processo de avaliação psicológica, e não em inferências baseadas
em seus valores pessoais ou religiosos, ou em preconceitos, ou ainda em pressupostos
baseados em características físicas, mentais ou sociais do examinando, sob pena de responder
jurídica e eticamente por seus atos, por meio de regulamentação disposta no Código de
Processamento Disciplinar (Resolução CFP nº 006/2007). Concordamos com as autoras que
tanto a forma, quanto o conteúdo dos relatórios devem zelar pela qualidade técnica e científica
dos registros e utilizar linguagem “precisa, clara, inteligível e concisa, deve-se restringir
pontualmente às informações necessárias, recusando qualquer tipo de consideração que não
tenha relação com a finalidade do documento específico” (p. 75).
É importante enfatizar que se tenha como pontos de referência as perguntas iniciais e
os objetivos da avaliação psicológica. O conteúdo da comunicação é definido tanto pelas
questões específicas, formuladas no início do processo, como pela capacidade de
entendimento do examinando. A terminologia e a linguagem devem ser adequadas a sua faixa
etária, profissão, nível sociocultural e intelectual e as suas condições emocionais. Salienta-se
que mesmo crianças submetidas a exame devem ser comunicadas acerca dos resultados (bem
como são comunicadas no início do processo as razões de estarem em exame) e, do mesmo
modo, o conteúdo, a forma e a linguagem utilizados na comunicação devem ser ajustados para
serem compreendidos por estas (CUNHA, 2000). A redação do parecer pode ser mais
adequada se for feita após a discussão dos resultados com o examinando e sua família, quando
esta participa das entrevistas. Os elementos trazidos nas entrevistas devolutivas vão ampliar a
compreensão do caso, o que será incluído no relatório.
Salientamos ainda o cuidado necessário para que informações confidenciais não
constem de relatórios que serão entregues a outras pessoas. Este é o caso quando devem ser
encaminhados laudos a instituições como escolas, Polícia Federal - para fornecimento de
parecer para porte de arma, à Justiça - em casos de avaliações forenses -, a empresas que
solicitam pareceres sobre funcionários. O psicólogo avaliador deve ser absolutamente fiel aos
resultados da avaliação. Contudo, as informações que constam destes pareceres devem ater-se
ao que está sendo avaliado para aquela situação, ao que é importante para que estas
instituições tomem decisões a respeito da pessoa que está sendo avaliada. Deve-se ter o
cuidado para que outras informações que não acrescentem dados a estas decisões sejam
manifestas no parecer, de tal forma que não se exponha a pessoa tornando publica a sua
privacidade.
dê sentido ao que se avalia, que a escuta e a leitura sejam o eixo condutor da compreensão da
pessoa e de sua família (se for o caso).
Concluindo, a tarefa de fazer um psicodiagnóstico é uma atividade do psicólogo que
deve contribuir para a compreensão da pessoa, um trabalho que podemos dizer artesanal, em
que cada caso deve ser tomado em sua totalidade, mas de forma completamente individual,
onde elementos do que podemos denominar trabalho nomotético (relativo às normas) devem-
se integrar com elementos idiográficos (consideração ao individual) de uma forma clara e em
um conjunto coerente e profundo. Muitos conhecimentos são necessários a este trabalho, que
ao mesmo tempo se propõe com atividades objetivas, mas que interagem com interpretações
profundas e complexas. Não menos importante é a capacidade de entrar em relação com a
pessoa avaliada. Lembramos que os testes não substituem qualquer informação advinda da
interação entre examinando e psicólogo. Neste sentido, um preparo específico deve ser
dedicado para que o psicólogo possa exercer adequadamente sua função, quando se trata de
fazer uma avaliação psicológica.
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