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Para Luckesi (1995) tem sido diretamente ligada ao erro a ideia de culpa e
castigo. Assim, este fator começa a ser encarado como algo desonroso e proscrito.
Soares (1988, p.9) faz uma profunda reflexão sobre as causas do fracasso escolar
das camadas populares brasileiras. “A escola que existe é antes contra o povo que para o
povo.” A autora expõe pesquisas em que os dados demonstram que não há escola para
todos e que em muitos Estados brasileiros cerca da metade da população entre 7 e 14
anos está fora da escola. As altas taxas de repetência mostram que os que conseguem
entrar na escola, não conseguem aprender ou nela não conseguem ficar. A repetência, a
não-aprendizagem e a evasão constroem a chamada “pirâmide educacional brasileira”.
Esta construção se dá através da rejeição, pelas escolas, das camadas populares, ou seja, a
escola que seria para o povo é, na verdade, contra o povo.
A partir das ideias de Pessoa (2007) foi observado que no momento em que a
escola passou a atender as camadas mais populares, os índices educacionais passaram a
desvelar um caráter seletivo e excludente da escola, que antes atendia apenas a demanda
elitista, e então, passou a estigmatizar parcela significativa da população, impedindo que
estes alunos consigam permanecer no ambiente escolar. Portanto, democratizar o acesso
à escola não significa, necessariamente, democratizar o ensino. Mediante as
desigualdades educacionais que existem até hoje, percebe-se que a educação é
discriminatória, excludente, reprodutora e mantenedora de desigualdades sociais.
Pessoa (2007) afirma que dentre os aspectos específicos da escola em que se
referem a relações autoritárias e hierárquicas, tem-se a avaliação. Dessa forma, o saber
escolar é transmitido de forma desvinculada da cultura de origem dos estudantes e a
avaliação tem o objetivo de verificar o domínio desse saber. Assim, o fracasso escolar, é
atribuído a características individuais, mascarando-se as desigualdades sociais. Popham
(1977) expressa que a avaliação não objetiva apenas a mensuração, ou seja, apreciação
do status recente de um fenômeno com precisão, mas também, um julgamento, uma
determinação de valor.
Luckesi (1994) expõe o erro como fator de transformação. Assim, deixa de ser
encarado como defeito e passa a ser considerado uma virtude. Tratando-se de não
desprezar o erro, mas confrontá-lo para que o aluno chegue à compreensão.
De acordo com Freitas (1995), existem dois tipos de erro. O erro do fazer se dá na
avaliação formal, com a utilização de instrumentos explícitos de teste, cujos resultados
podem ser examinados pelo aluno à luz de um procedimento claro. Já o erro do ser se
inscreve na avaliação informal, ou seja, se dá por uma construção vinda do professor, de
juízos gerais sobre o aluno, cujo processos é assistemático.
A ênfase está muito mais no erro do ser do que no erro do fazer, de acordo com a
pesquisa realizada por Pessoa (2007), que é bem mais cruel para o aluno, pois atinge
diretamente a sua autoestima, atinge o medo de se arriscar, a certeza de que se é capaz de
aprender tendo assim o controle da postura do indivíduo, moldando-o de maneira
conveniente para a sociedade.
É preciso mudanças, mas estas não podem ser impostas. Devem ser construídas
quotidianamente de modo que a visão democrática vá impregnando as práticas, sendo
incorporada pelo senso comum, convencendo as pessoas e se constituindo como um
consenso. Essas transformações devem ser resultado do diálogo, da comparação entre
opiniões e conhecimentos diferentes. O diálogo tem que estar enlaçado com o debate
sobre a função social da escola e do conhecimento. Erros, acertos, não podem determinar
o processo de aprendizagem, bem como não podem ser parâmetros para a inclusão ou
exclusão.
O que contrapõe esta ideia é uma escola que ao receber o aluno finge ensinar,
finge avaliar, finge corrigir os erros e os aprova. Ao agir assim a escola contribui para a
manutenção das desigualdades sociais, mas por meio de uma aparência de igualdade de
chances, de oportunidades semelhantes para todos. Por fim destaca-se que uma
transformação das práticas que excluem os alunos é imprescindível. Não de uma forma
enganosa por meio de uma falsa inclusão, mas através de práticas escolares que
relacionem o saber que na vida se aprende com o conhecimento que a escola valoriza. Sem
omitir as desigualdades sociais, busque caminhos no interior da escola para a superação
do fracasso, da exclusão, da negação e omissão dos erros.
Referências
ABRAHÃO, Maria Helena Menna Barreto (Org). Avaliação e Erro construtivo Libertador:
Uma Teoria-Prática Includente em Educação. Porto Alegre: EDIPURS, 2000.
FREIRE, P. Professora sim, tia não. São Paulo. Olho d’água, 1993.
FREITAS, Luiz Carlos de. Algumas ideias sobre avaliação. Revista de Educação AEC,
Brasília, DF, nº 97, out./dez. 1995.
PINTO, Neuza Bertoni. O erro como estratégia didática: estudo do erro no ensino da
Matemática elementar. Campinas, SP: Papirus, 2000.
SOARES, Magda. Linguagem e Escola- uma Perspectiva Social. São Paulo: Ática, 1988.