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SUMÁRIO

1. Conceito de Família .................................................................................................. 4

2. Família & Famílias: configurações familiares na sociedade contemporânea. ... 6

3. Metodologias na Intervenção Profissional do Assistente Social no Trabalho com

Famílias ....................................................................................................................... 27

4. A Família e a Proteção Social Básica .................................................................. 37

5. Matricialidade Sociofamiliar - SUAS .................................................................... 43

6. Cuidados com a Família e Grupos Vulneráveis ................................................... 49

7. Trabalho Social com Famílias: elementos para sua reconstrução em bases

críticas ......................................................................................................................... 55

QUESTÕES DE PROVAS – PARTE I ......................................................................... 64

GABARITO 1................................................................................................................ 67

QUESTÕES DE PROVAS – PARTE II ........................................................................ 72

GABARITO 2................................................................................................................ 76

BIBLIOGRAFIA ............................................................................................................ 77

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1. CONCEITO DE FAMÍLIA

A família representa o espaço de socialização, de busca coletiva de estratégias


de sobrevivência, local para o exercício da cidadania, possibilidade para o
desenvolvimento individual e grupal de seus membros, independentemente dos arranjos
apresentados ou das novas estruturas que vêm se formando. Sua dinâmica é própria,
afetada tanto pelo desenvolvimento de seu ciclo vital, como pelas políticas econômicas
e sociais. Ela é um dos principais contextos de socialização dos indivíduos e, portanto,
possui um papel fundamental para a compreensão do desenvolvimento humano, que
por sua vez é um processo em constante transformação, sendo multideterminado por
fatores do próprio indivíduo e por aspectos mais amplos do contexto social no qual estão
inseridos.

Segundo Minuchin (1985, 1988), a família é um complexo sistema de


organização, com crenças, valores e práticas desenvolvidas ligadas diretamente às
transformações da sociedade, em busca da melhor adaptação possível para a
sobrevivência de seus membros e da instituição como um todo. O sistema familiar muda
à medida que a sociedade muda, e todos os seus membros podem ser afetados por
pressões interna e externa, fazendo que ela se modifique com a finalidade de assegurar
a continuidade e o crescimento psicossocial de seus membros.

Com as mudanças econômicas, políticas, sociais e culturais ocorridas ao


longo dos tempos, a sociedade está sendo obrigada a reorganizar regras básicas para
amparar a nova ordem familiar. No código de 1916, “família legítima” era definida
apenas pelo casamento oficial. Em janeiro de 2003, começou a vigorar o Novo Código
Civil, que incorporou uma série de novidades, sendo que a definição de família passou
a abranger as unidades formadas por casamento, união estável ou comunidade de
qualquer genitor e descendentes. O casamento passou a ser “comunhão plena de vida,
com base na igualdade de direitos e deveres dos cônjuges” (Cahalil, 2003, p.467); os
filhos adotados ou concebidos fora do casamento passaram a ter direitos idênticos aos
dos nascidos dentro do matrimônio; a palavra “pessoa” substituiu “homem” e o “pátrio
poder” que o pai exercia sobre os filhos passou a ser “poder familiar” e atribuído também
à mãe. A Lei do Divórcio, de 1977, atribuía a guarda dos filhos ao cônjuge que não
tivesse provocado a separação ou, não havendo acordo, à mãe. Hoje, é concedida a
“quem revelar melhores condições para exercê-la” (Cahalil, 2003, p.480).

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Com base na amplitude das modificações sociais, econômicas, políticas e
culturais, Petzold (1996) propõe um conceito de família definida como “um grupo social
especial, caracterizado por intimidade e por relações intergeracionais” (p.39), conceito
que consegue explorar inúmeras variáveis. Esse autor apresenta a definição
ecopsicológica da família, baseada no modelo bioecológico de Bronfenbrenner (1994,
1999), em que o indivíduo é compreendido dentro de um processo de inter-relações
constantes e bidirecionais com vários sistemas, incluindo a família. Nessa definição,
Petzold (1996) destaca quatro sistemas: macrossistema, exossistema, mesossistema e
microssistema, compostos de catorze variáveis como: casais casados ou não; partilha
ou separação de bens; morar juntos ou separados; dependência ou independência
financeira; com ou sem crianças; filhos biológicos ou adotivos; genitores morando juntos
ou separados; relação heterossexual ou homossexual; cultura igual ou diferente; entre
outras variáveis que, combinadas, oferecem 196 tipos diferentes de família. Isto significa
que o modelo nuclear de família composto por pai, mãe e seus filhos biológicos não é
suficiente para a compreensão da nova realidade familiar que incorpora, também, outras
pessoas ligadas pela afinidade e pela rede de relações.

Para definir o que é família, é necessário estudar o que as pessoas pensam a


esse respeito, pois os limites da família são definidos pelos laços de afetividade e
intimidade e não somente pelo parentesco por consanguinidade e pelo sistema legal
que rege as relações familiares. A concepção subjetiva que as pessoas têm de seus
próprios arranjos familiares é uma definição individual, baseada nos sentimentos,
crenças e valores de cada um e permite teorizar e aprender os eventos da vida cotidiana
a partir das informações que circulam através dela.

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2. FAMÍLIA & FAMÍLIAS: CONFIGURAÇÕES FAMILIARES

NA SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA.

Como já observamos, é possível verificar que as transformações ocorridas


com o início da industrialização, o advento da urbanização, a abolição da
escravatura e a organização da população, provocam alterações nas feições
familiares e sociais. A expansão da economia acelerou o processo de retirada da
produção de casa para o mercado e a pressão pelo consumo de bens e serviços,
características inerentes ao capitalismo, anteriormente produzidos no espaço
doméstico, passa a apertar os orçamentos familiares, e o trabalho assalariado
passa a ser um instrumento também utilizado pelas mulheres.

Apesar de todas as transformações, a nova família conjugal conserva traços


típicos da família anterior: o de controlar a sexualidade feminina e preservar as relações
de classe.

Ressaltamos que os costumes que marcaram época podem ou não estar


distantes dos nossos costumes, pois, como mencionamos anteriormente, os conceitos
evoluíram, ou, até mesmo, mudaram de denominação, mas, se estudarmos esses
conceitos atualmente, poderemos verificar que muitos deles ainda estão presentes na
sociedade, ainda que de forma oculta.

Nessa perspectiva, Lévi-Strauss (1956, p. 309) coloca que “[...] a família baseada
no casamento monogâmico era considerada instituição digna de louvor e carinho”, fato
esse que ainda permanece em nossa realidade. Podemos até afirmar que existem
diversificados e inovados arranjos familiares, novas formas de se constituírem família
dentro da sociedade, mas percebemos é que permanece ainda a forma de organização
nuclear da família, ou seja, o casamento monogâmico ainda é o que predomina
atualmente.

Ainda Lévi-Strauss (1956, p. 309) afirma que os antropólogos, contrariando o


conceito de que a família é resultante de uma evolução lenta e duradoura, se inclinam
ao oposto dessa convicção, ou seja:

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A família, consistindo de uma união mais ou menos duradoura,
socialmente aprovada, entre um homem, uma mulher e seus filhos, constitui
fenômeno universal, presente em todo e qualquer tipo de sociedade.

Nessa perspectiva, encontramos ainda opiniões diversificadas sobre as ‘formas’


de organização familiar. Apesar de adentrarmos no século XXI, ainda podemos
encontrar opressão feminina de maneiras diversificadas, ocultadas, especialmente
dentro da instituição que busca a sua modernização preservando o seu
conservadorismo – a família. Preservar as relações de classe dentro do próprio lar
significa também preservar a ordem e a relação de poder, que, por diversas maneiras,
pode ser expressa, inclusive no silêncio do próprio olhar.

Atualmente, podemos encontrar uma diversidade de modelos de famílias, sendo


que:

tornou-se impossível classificar e principalmente julgar os bons e maus ‘planos


de família’ – como poderíamos dizer de um ‘plano de carreira’. Alguns encontram
o seu equilíbrio numa relação estável e fechada, uma célula voltada sobre si
mesma que eles fortificam contra agressões e mudanças de qualquer tipo. Eles
exigem muito dos seus parentes, mas em troca se prontificam a dar muito de si
mesmos. Outros, ao contrário, nada querem sacrificar da sua aventura pessoal,
preferem uma fórmula de família ‘personalizada’, sem constrangimentos e sem
obrigações, onde os indivíduos vem basicamente recarregar as suas baterias
antes de saírem mais uma vez pelo mundo afora. (COLLANGE apud JOSÉ
FILHO, 1998, p.45, destaque do autor).

As transformações sociais construídas na segunda metade do século XX e


reconstruídas nesse início do século XXI, redefiniram também os laços familiares. A
afirmação da individualidade pode sintetizar o sentido de tais mudanças, com
implicações nas relações familiares.

Na sociedade contemporânea, a conjugalidade, muitas vezes, não é


verdadeira. O que encontramos é a busca pela estabilidade financeira, a satisfação
pessoal e a realização de um sonho: casarem-se, que acabam conduzindo um
casamento no qual os projetos individuais são esquecidos, onde um se anula em relação
ao outro.

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A dificuldade está em compatibilizar a individualidade e a reciprocidade
familiares, pois, ao abrir espaço para tal individualidade, renovam-se as concepções
das relações familiares. O impacto desses desafios influencia o cotidiano dessas
relações.

Podemos observar que existe uma radical mudança na composição familiar,


nas relações de parentesco e na representação de tais relações na família. Tal
representação tem seu fundamento direto na transformação da configuração familiar e
também nas relações sociais, ocasionando impacto profundo na construção da
identidade de cada componente no interior da família. Essa construção da identidade
irá rebater nas relações sociais ampliadas, não somente no seio familiar. Nesse contexto
encontramos a “nova família”, que se caracteriza pelas diferentes formas de
organização, relação e num cotidiano marcado pela busca do novo. Os arranjos
diferenciados podem ser propostos de diversas formas, renovando conceitos
preestabelecidos, redefinindo os papéis de cada membro do grupo familiar.

Segundo Ferrari e Kaloustian (2002, p. 14):

A família, da forma como vem se modificando e estruturando nos últimos tempos,


impossibilita identificá-la como um modelo único ou ideal. Pelo contrário, ela se
manifesta como um conjunto de trajetórias individuais que se expressam em
arranjos diversificados e em espaços e organizações domiciliares peculiares.

Tais arranjos diversificados podem variar em combinações de diversas


naturezas, seja na composição ou também nas relações familiares estabelecidas. A
composição pode variar em uniões consensuais de parceiros separados ou divorciados;
uniões de pessoas do mesmo sexo; uniões de pessoas com filhos de outros
casamentos; mães sozinhas com seus filhos, sendo cada um de um pai diferente; pais
sozinhos com seus filhos; avós com os netos; e uma infinidade de formas a serem
definidas, colocando-nos diante de uma nova família, diferenciada do clássico modelo
de família nuclear. Temos como consequências dessas mudanças as
transformações das relações de parentesco e das representações dessas relações no
interior da família. Cada vez mais são encontradas famílias cujos papéis estão confusos
e difusos se relacionados com os modelos tradicionais, cujos papéis eram rigidamente
definidos. As relações, comparadas com as estabelecidas no modelo tradicional, estão
modificadas, os próprios membros integrantes da nova família estão diferenciados, a
composição não é mais a tradicional, as pessoas também estão em processo de
transformação, no sentido da forma de pensar, nos questionamentos, na maneira de
viver nesse mundo em processo de mudança.

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Alice Granato e Juliana De Mari (1999, p. 269) comentam que:

A mudança nesse padrão tem resultado em novos e surpreendentes


quebra-cabeças familiares: filhos de pais que se separam, e voltam a se casar,
vão colecionando uma notável rede de meios irmãos, meias-irmãs, avós, tios e
pais adotivos.

Nessa afirmação podemos visualizar um novo conceito sobre as novas


configurações familiares com a terminologia ‘quebra-cabeças’ familiares, que, por
profissionais da área de psicologia é denominado também de ‘família mosaico’.

Nesse processo de mudanças o que ocorre é que temos o modelo tradicional


internalizado operando, enquanto temos as novas maneiras de ser família, revelando
novos conceitos aos preestabelecidos, ocasionando certas contradições no próprio
contexto familiar, balanceando o que há de prós e de contras nas duas formas aqui
estudadas.

É certo que há uma herança simbólica transmitida entre as gerações, que


revela tais modelos e orienta a socialização dos segmentos sociais. A tendência
atual é de que a convivência familiar se torne socializada e visualizada como um
local onde existe a mudança, evoluindo através do diálogo. O mundo familiar
mostra-se numa variedade de formas de organização, com crenças, valores e
práticas desenvolvidas na busca de soluções para os desafios que a vida vai
trazendo.

No Brasil, as novas estruturas de parentesco colocam os profissionais que


trabalham com família e os próprios membros da instituição familiar em busca de novas
denominações ou de tentar compreender socialmente tais mudanças.

Desde a legalização do divórcio, com o início de uma nova discussão referente


aos papéis sociais de cada composição familiar, têm ocorrido mudanças que levam a
questionamentos sobre o valor do casamento indissolúvel e inquestionável. Esse é um
dos indícios de que alterações mais profundas na estrutura da família brasileira estão
iniciando seu processo.

Não podemos negar o fato de que após instituído o divórcio, a lei passou a
permitir quantos divórcios e posteriores novos casamentos o homem e a mulher
desejassem, o que ocasionou transformações profundas no âmbito familiar.

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Observamos que internamente encontramos alterações importantes nos
padrões familiares. Refletindo com Bilac (1995, p. 35):

Pode-se especular sobre as implicações e significados das separações


e recasamentos e sobre as concepções de família e parentesco, pois surgem
novos status familiares, aos quais correspondem novos papéis e que ainda não
dispõem de nominação em nossa classificação de parentesco.

Nessa afirmação podemos verificar que apesar de muitas denominações


atuais sobre família, como família reestruturada, reconstituída, reorganizada,
nova família, não há um conceito novo de família, pois embutidos na família,
existem várias possibilidades de novas configurações, não ficando
exclusivamente em um único modelo. Mesmo com todos os estudos sobre
famílias existentes, ainda há a dificuldade dos autores em estarem conceituando
e denominando tais configurações familiares.

Essas novas famílias estão cada vez mais presentes e começam a ter
visibilidade, pois fazem parte do cotidiano das pessoas e não podemos negá-las. Apesar
de fazerem parte do cotidiano das pessoas, não podemos afirmar que são socialmente
aceitas, pois o embate entre a realidade e a ideologia existente não permitiu ainda sua
superação por toda a população.

Contudo, como pontua a jurista Maria Berenice Dias (SOUZA; DIAS, online,
destaque do autor):

Inexistem na Língua Portuguesa vocábulos que identifiquem os


integrantes da nova família. Que nome tem a namorada do pai? O filho mais
velho do primeiro casamento é o quê do filho da segunda união? “Madrasta”,
“meio irmão”, são palavras que vêm encharcadas de significados pejorativos,
não servindo para identificar os figurantes desses relacionamentos que vão
surgindo.

Em meio a tantas diversidades de pessoas que compõem essa nova família,


precisamos refletir sobre a maneira que tais componentes estão se sentindo diante
dessa nova situação, desse novo mundo que vivencia, dessa nova maneira de ser
família.

As temáticas sobre a família contemporânea podem nos levar por diferentes


realidades em transformações, e por questões complexas, pois geralmente temos uma
família ou um modelo familiar internalizado. Esta intimidade do conceito de família

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pode causar confusão entre as famílias com as quais pesquisamos e as nossas próprias
concepções sobre a configuração familiar.

Nesse processo, muitas pessoas podem buscar essa construção no interior do


cotidiano familiar, que é carregado de subjetividade e cujas ações são interpretadas no
próprio contexto diário.

Para compreensão dessas transformações, torna-se necessária uma


mudança na maneira de visualização da configuração da nova família, levando-se
em conta que há o reflexo da sociedade, tanto na forma de se viver em família,
quanto nas relações interpessoais.

Segundo Szymanski (2002, p.10):

[...] o ponto de partida é o olhar para esse agrupamento humano como um núcleo
em torno do qual as pessoas se unem, primordialmente, por razões afetivas
dentro de um projeto de vida em comum, em que compartilham um quotidiano,
e, no decorrer das trocas intersubjetivas, transmitem tradições, planejam seu
futuro, acolhem-se atendem aos idosos, formam crianças e adolescentes.

Conforme o autor pontua, as trocas afetivas no contexto familiar podem definir


as direções do modo de ser com os outros afetivamente e também com as ações que
cada membro realizará, configurando-se de diferentes maneiras, deixando marcas que
carregarão para a vida toda, construindo, dessa forma, a sua identidade.

É necessário, ao analisarmos a maneira pela qual as pessoas concebem a


família, considerarmos o sentido e a ideologia que levaram essas a escolher uma ou
outra forma de organização e constituição familiar, assim como a forma de
relacionamento intrafamiliar. Precisamos considerar a questão histórica, que não se
encontra dissociada das circunstâncias do cotidiano, é preciso também que
compreendamos as escolhas que definem um ou outro rumo no pensar ou no vivenciar
a maneira de ser família na sociedade contemporânea. A estrutura organizacional
familiar, porém, não significa necessariamente um determinante da forma como se dá a
relação. Podemos encontrar duas famílias com a mesma composição que apresentam
modos de relacionamento completamente diferentes. Nesse contexto, o que se pode
levar em conta são as suas histórias e as questões socioculturais.

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As mudanças societárias afetam a dinâmica familiar como um todo e
particularmente cada família, conforme sua composição, história e condições
socioeconômicas.

No mundo governado pelo consumo excessivo, herança do capitalismo


acelerado, podemos verificar que o que está realmente importando não é o ser com o
qual está se convivendo em família, mas o ter enquanto característica principal do modo
capitalista de produção.

A situação atual da família também pode ser analisada a partir da


transformação das formas da vida conjugal, dos modos de gestão da natalidade e no
modo de compartilhar os papéis na família e a maneira pela qual a mesma é visualizada
atualmente.

Dessa forma, podemos constatar que essas transformações podem se constituir


em um questionamento do casamento tal como está definido, como instituição social.
Muitas pessoas podem desejar viver em família conciliando com a liberdade individual.
É importante resguardarmos individualidades, pois estas são necessárias para a vida
em sociedade. Precisamos, porém, pensar sobre a maneira pela qual as pessoas
buscam essa liberdade individual. Pode ser que essa busca constante ocasione um
individualismo e como consequência, as pessoas ao redor passem a não ter um
significado.

As novas configurações familiares são cada vez mais presentes, não


podemos dizer que são socialmente aceitas. Há o embate entre o real vivido e o
que se idealiza.

Também na Constituição de 1988, o que podemos verificar é que houve


alargamento no conceito de família, pois as relações monoparentais passaram a
ser reconhecidas, assim como as uniões estáveis, apesar da lentidão das
regulamentações em questões jurídicas e também da sua interligação ao
conservadorismo que imperava na sociedade, que dificultava a ampliação dos direitos
já reconhecidos na Justiça.

Dentre as mudanças que afetam os laços familiares, encontramos as


famílias monoparentais, que são aquelas onde as pessoas vivem sem cônjuge, com
um ou vários filhos solteiros. Família monoparental é aquela na qual vive um único
progenitor com os filhos que não são ainda adultos.

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Instalam-se no interior das famílias, diversificadas maneiras de vivenciar a
questão de gênero. As atualizações ocorridas podem ter o lado bom e o lado difícil,
onde é necessária a compreensão dessas relações diversificadas. Segundo Souza e
Dias (online):

As famílias modernas ou contemporâneas constituem-se em um núcleo


evoluído a partir do desgastado modelo clássico, matrimonializado, patriarcal,
hierarquizado, patrimonializado e heterossexual, centralizador de prole
numerosa que conferia status ao casal. Neste seu remanescente, que opta por
prole reduzida, os papéis se sobrepõem, se alternam, se confundem ou mesmo
se invertem, com modelos também algo confusos, em que a autoridade parental
se apresenta não raro diluída ou quase ausente. Com a constante dilatação das
expectativas de vida, passa a ser multigeracional, fator que diversifica e dinamiza
as relações entre os membros.

Essa discussão nos remete ao fato de que diante dessas diversificações de


papéis e de modelos familiares, é podemos afirmar que houve avanços, evoluções e
conquistas, ao mesmo tempo em que está instaurado um grande desafio: viver em
família no mundo contemporâneo. Não importa o modelo familiar no qual estamos
inseridos, é importante pensar sobre as facilidades, como a educação liberal, os
avanços da modernidade, e, por consequência desses avanços, as dificuldades em
relação à questão das ausências paterna ou materna, das dificuldades em impor limites
aos filhos, e a confusão existente entre autoritarismo e autoridade parental, que pode
ser necessária para os filhos.

Historicamente, o homem vem passando por transformações em decorrência


dos avanços sociais, e a mulher passa a assumir papéis que anteriormente eram de
exclusividade dos homens. Conforme Dalbério (2007, p.46).

Essa nova dimensão na qual o homem deve assumir tarefas domésticas


cria em muitos deles uma situação de revisionismo de todas as ideologias que dizem
respeito ao machismo. É obvio que muitos ainda não estão entendendo essa nova
situação, vivem como se a mulher ainda devesse prestar-lhe todos os serviços e ainda
lhe ajudasse na manutenção das despesas familiares. Carregam ainda em consciência
as visões burguesas de família, cujo modelo o homem tem direitos, por manter a família.

Diante dessa realidade, ressaltamos também o papel da mulher, e as suas


conquistas, apesar de que a mesma ainda tende a carregar a ideologia machista no que
diz respeito aos afazeres domésticos. Essa carga de responsabilidade exclusiva pelas
tarefas domésticas pode ser aceita consciente e inconscientemente, buscando, na

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maioria das vezes, amenizar alguns conflitos que podem ocorrer entre mulher e homem.
Sem dúvida, a mulher assume um papel extremamente importante no que diz respeito
à postura masculina, provocando um repensar nessa mesma postura (DALBÉRIO,
2007).

O contexto social pode exercer grande influência sobre a configuração e a


organização familiar, expressando diversidades em suas relações interiores. A
família vem sendo influenciada pela manifestação da questão social, que, em
nossa sociedade, é escancarada pela imensa desigualdade social que
vivenciamos.

Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), podemos


verificar, através da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD), que no
ano de 2003, as famílias foram assim distribuídas:

➢ Família unipessoal;
➢ Casal com filhos (nuclear);
➢ Casal sem filhos;
➢ Mãe (Pai) sem cônjuge, dentre outras formas de organização

2012/VUNESP/SP. Nas últimas décadas, as famílias brasileiras vêm se


modificando e se reconfigurando, o que impossibilita pensar a família com base
em um modelo único ou ideal, como o tradicional casal com filhos. As alterações
na família fazem parte e estão relacionadas às transformações contemporâneas
da sociedade. Destacam-se como algumas características de uma nova
configuração das famílias brasileiras, que teve início nos anos 1990, a redução do
número de filhos, o predomínio das famílias nucleares, o (a):

I. aumento significativo das famílias monoparentais, com predominância das mulheres


como chefes

II. omissão da figura masculina da família na educação dos filhos

III. aumento das famílias recompostas

IV. aumento de pessoas que vivem sós

V. interferência dos meios de comunicação na formação dos filhos

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Está correto apenas o contido em:

a) I, II e V.

b) I, III e IV.

c) II, III e V.

d) III, IV e V.

e) I, II, III e IV.

Resposta Correta: Letra b) I, III e IV. I - aumento significativo das famílias


monoparentais, com predominância das mulheres como chefes; III. aumento das
famílias recompostas; IV. aumento de pessoas que vivem sós.

Na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios de 2005, esses


indicadores foram novamente identificados, sendo que a classificação continuou
sendo a da distribuição de 2003.

O documento de Puebla (CONFERÊNCIA GERAL DO EPISCOPADO


LATINOAMERICANO, 1979, online, destaque do autor) traz a seguinte afirmação:

[...] a realidade da família já não é uniforme, pois, em cada família influem


de maneira diversa – independentemente da classe social – fatores sujeitos a
mudanças, como sejam: fatores sociológicos (injustiça social, principalmente),
culturais (qualidade de vida), políticos (dominação e manipulação), econômicos
(salários, desemprego, pluriemprego), religiosos (influências secularistas) entre
tantos outros.

Devido a essas transformações, várias questões precisam ser melhor


refletidas. Apesar de todos os avanços familiares, a desvalorização do trabalho da
mulher ainda ocorre nitidamente, principalmente entre as pessoas que não possuem
acesso às políticas públicas, à escola e às condições dignas de sobrevivência, fatos
estes que propiciam à mulher a má remuneração por sua mão-de-obra.

Paralelamente à má remuneração, existe também a má formação para as tarefas


a serem realizadas, justamente pelos fatores anteriormente citados. Desvalorizada no
mercado de trabalho, ao chegar em casa, a mulher continua esse processo, a dupla ou

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a tripla jornada de trabalho pode ocasionar um desgaste à mulher, que não tem o seu
potencial de dona de casa, esposa, mãe e profissional reconhecidos.

Há ainda na sociedade contemporânea, o questionamento sobre a


capacidade da mulher em cuidar de sua família, gerando sustento, e a capacidade
do homem em administrar, com maior independência, havendo um estigma de
que famílias monoparentais femininas não possuem condições de oferecer
cuidados e proteção aos seus membros. Esse pensamento, porém, está sendo
redefinido, existem inúmeras famílias em que a mulher exerce papel central na
economia doméstica. São as famílias chefiadas por mulheres (SOARES, 2002).

Pode-se observar que a monoparentalidade masculina é significativamente


menor que a feminina. Desta forma tem tido pouca visibilidade, pois sabemos pouco
sobre estas famílias, e, não estudando sobre elas temos nosso senso crítico e senso
comum, podendo vir a reforçar a ideia de que os homens não são capazes de cuidarem
de uma família.

A monoparentalidade, de maneira geral, deve ser considerada na sequência,


em suas recomposições, permanências e podem ser consideradas protagonistas de
histórias peculiares marcadas nos novos contextos sociais. As famílias recompostas
estão também presentes nesse novo contexto. Pode ser que houve nova união após
o termino da outra união conjugal e que dessa união novos sujeitos históricos venham
a existir. A transição, em nossa vida, traz uma revisão dos valores e metas que
possuímos, e isso pode ter seu lado positivo, assim como o seu lado negativo, pois em
toda transformação existe também o processo de renúncia aos modos anteriormente
interiorizados e uma transcendência daquilo que tínhamos como algo ideal, levando-nos
a buscar a descobrir formas de melhorias de vida.

Refletindo sobre as dimensões dos diversos modelos de família, podemos


pensar também sobre os nossos próprios modelos familiares. Nesse aspecto, podemos
perceber que:

Entre todas as mudanças que estão se dando no mundo, nenhuma é mais


importante do que aquelas que acontecem em nossas vidas pessoais, na
sexualidade, nos relacionamentos, no casamento e na família. É uma revolução
que avança de uma maneira desigual em diferentes regiões e culturas,
encontrando muitas resistências. Como ocorre com outros aspectos no mundo
em descontrole, não sabemos ao certo qual virá a ser a relação entre vantagens

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e problemas. Sob certos aspectos estas são as transformações mais difíceis e
perturbadoras de todas. (GIDDENS apud VITALE, 2002, p.60).

A necessidade de discussões sobre a temática família é algo que perpassa os


caminhos da sociedade. Muito se tem afirmado, vários conceitos evoluíram, ou até
mesmo, se encontram novamente perceptíveis na nossa realidade. Todas as questões
que estão sendo refletidas, nos convidam a um olhar diferenciado e especial a esta
organização. É importante verificarmos que as diferentes maneiras de
configurações familiares são, na sua maioria, devido às circunstâncias da vida e
não por opção de vida.

Na realidade, ainda carregamos resquícios do modelo patriarcal de família,


que foi evoluindo até a constituição do modelo nuclear. Consideramos que os
‘arranjos familiares’, ou ‘as novas maneiras de ser família’ não são contrapostos
ao modelo nuclear de família. Nesse sentido, eles são apenas diferentes formas
de expressão da família.

É certo que, se partirmos da perspectiva de análise da totalidade, chegaremos


à conclusão que a estrutura familiar está intimamente ligada à conjuntura social.

Apesar dos conceitos de família terem sido aprimorados, ou ainda, inseridos


dentro da realidade concreta de cada época, atualmente ainda encontramos
determinados conceitos que se repetem com outra roupagem. Podemos
dizer que atualmente os ‘arranjos familiares’ estão muito presentes, e estes ‘arranjos’
não se iniciam com o casamento, ou mesmo, as famílias monoparentais também não
apresentam este tipo de composição, estando presentes somente a figura de um pai ou
mãe e dos filhos.

Não podemos negar que o modelo de família nuclear brasileira, que


se estabeleceu como padrão no ocidente, começou a mudar, ainda que de forma
desigual em suas diversas regiões. Embora não tenha afetado todas as partes
do mundo igualmente, de maneira geral aumentou a tendência de famílias
chefiadas por mulheres e de pessoas vivendo sozinhas. (JOSÉ FILHO, 2007, p.
139).

O que observamos, contudo, é a existência de grande parcela da população que


se separa, constitui uma nova família, com os mesmos padrões da família nuclear,
apesar de ser a segunda constituição. Geralmente, o ex-cônjuge busca constituir uma
nova união, sendo que dessa união descendem os filhos do novo casal.

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As mudanças tecnológicas e os efeitos da globalização influenciam
diferentemente a população de determinadas classes sociais e a maneira que os
‘arranjos domésticos’ são estabelecidos dependerá da maneira pela qual aquela família
sofrerá as mudanças (JOSÉ FILHO, 2007).

É certo que atualmente o modelo tradicional de família deu espaço a uma


infinidade de outros modelos familiares, que têm muitas diferenças do padrão nuclear
tradicional. Essas alterações são partes das nossas histórias, partes da nossa
sociedade, partes das nossas vidas.

A situação em que estamos vivendo demonstra as possibilidades de reflexões


acerca das ‘famílias’ na sociedade contemporânea. Famílias essas que podem ser
constituídas por um grupo de pessoas que residem juntas, pai, mãe, filhos, netos,
sobrinhos, dentre outros integrantes. Famílias que nem chegam a ter o número de
integrantes da família nuclear, sendo constituídas por casal sem filhos, ou irmãos que
residem juntos, ou uma pessoa sozinha. Enfim, a família mudou, ou as “famílias”
mudaram.

2012/VUNESP/TJ-SP. No século XX, o mundo passou por intensas e rápidas


transformações sociais, marcadas pela inovação tecnológica e por mudanças
culturais. Dentre essas mudanças, destacam-se, entre outras, o acentuado
crescimento da demanda por educação, o declínio da classe operária industrial, a
entrada das mulheres no mercado de trabalho. O Brasil também tem sido
influenciado por essas mudanças, porém as mudanças geradas pela revolução
cultural nas relações familiares estabelecidas no Brasil têm que ser vistas com
certa cautela. De acordo com Fávero (2007), o modelo familiar nuclear, embora
continue detendo a hegemonia, ditando a norma:

a) mostrou, ao longo do tempo, constituir-se como o melhor arranjo na garantia de


direitos da criança e do adolescente.

b) contraria desejos expressos claramente em posições assumidas por lideranças e


governantes em âmbito nacional.

c) vem dando espaço a outros arranjos familiares que se diferenciam desse padrão
tradicional.

18
d) permanece vigente ainda que contrarie princípios educativos previstos na legislação
pertinente à infância.

e) dispensa a ação ativa de ambos os cônjuges na provisão de bens materiais e na


educação/formação dos filhos.

Resposta Correta: Letra c) vem dando espaço a outros arranjos familiares que se
diferenciam desse padrão tradicional.

Comentário: O que observamos, contudo, é a existência de grande parcela da


população que se separa, constitui uma nova família, com os mesmos padrões da
família nuclear, apesar de ser a segunda constituição. Geralmente, o ex-cônjuge busca
constituir uma nova união, sendo que dessa união descendem os filhos do novo casal.
As mudanças tecnológicas e os efeitos da globalização influenciam diferentemente a
população de determinadas classes sociais e a maneira que os ‘arranjos domésticos’
são estabelecidos dependerá da maneira pela qual aquela família sofrerá as mudanças
(JOSÉ FILHO, 2007). É certo que atualmente o modelo tradicional de família deu
espaço a uma infinidade de outros modelos familiares, que têm muitas diferenças do
padrão nuclear tradicional. Essas alterações são partes das nossas histórias, partes da
nossa sociedade, partes das nossas vidas. A situação em que estamos vivendo
demonstra as possibilidades de reflexões acerca das ‘famílias’ na sociedade
contemporânea. Famílias essas que podem ser constituídas por um grupo de pessoas
que residem juntas, pai, mãe, filhos, netos, sobrinhos, dentre outros integrantes.
Famílias que nem chegam a ter o número de integrantes da família nuclear, sendo
constituídas por casal sem filhos, ou irmãos que residem juntos, ou uma pessoa sozinha.
Enfim, a família mudou, ou as “famílias” mudaram.

Não podemos negar a importância da família no contexto social, onde a


mesma continua sendo o cerne da sociedade, um lugar valorizado para formar
pessoas. Contudo, não podemos ficar parados em um conceito de família, mas
situarmos a estrutura familiar na conjuntura onde estamos inseridos, ou onde está
inserida a família que estamos estudando. Tais reflexões sobre família, dão início a um
exercício do pensar, com a relação de ideias que vão sendo construídas através de tais
reflexões. É necessário pensar a família, reaprender o que significa ser família, entender
que ela possui suas especificidades e suas complexidades. Para falar sobre família,
segundo José Filho (2007, p. 142).

19
É preciso levar em conta a família vivida e não a idealizada, ou seja, aquela na qual
se observam diversas formas de organização e de ligações e na qual as
estratégias relacionadas à sobrevivência muitas vezes se sobrepõem aos laços
de parentesco.

É preciso, sobretudo, considerar as experiências vividas por cada família,


sendo que um modelo específico não deve sobrepor-se a outro. Não podemos buscar
o enquadramento da família a determinado modelo familiar, ou mesmo a condenação
dos integrantes de uma configuração familiar diferenciada.

Atualmente, apesar da família continuar sendo objeto de estudo e de


idealizações, é impossível admitir o pensamento de um modelo adequado. Conforme
questiona Sarti (2007, p. 25):

Não se sabe mais, de antemão, o que é adequado ou inadequado


relativamente à família. No que se refere às relações conjugais, quem são os
parceiros? Que família criaram? Como delimitar a família se as relações entre
pais e filhos cada vez menos se resumem ao núcleo conjugal? Como se dão as
relações entre irmãos, filhos de casamentos, divórcios, recasamentos de casais
em situações tão diferenciadas? Enfim, a família contemporânea comporta uma
enorme elasticidade.

Além de todos esses fatores, adicionamos também o número reduzido de


filhos, a modificação do conceito de maternidade e o impacto dessas
transformações na sociedade. O filho e a maternidade são experiências diferenciadas
para cada membro da população.

Em meio a tantas evoluções, podemos afirmar que a difusão e a socialização


do exame de investigação de paternidade tem contribuído para diversificação das
relações sociais, sobretudo entre aquelas pessoas que realmente não possuíam
nenhum tipo de contato com o pai e, caso os tenha, com os irmãos. Neste sentido, a
família passa a estabelecer um vínculo, que tende a ser vivenciado de maneiras
diversas.

Compreendermos todas essas relações é possível, através da realidade que


estamos inseridos. Esses inúmeros modelos de configuração familiar estabelecem, na
sociedade, maneiras de se viver, maneiras de construção de identidades sociais.
Segundo Sawaia (2007, P 40):

20
Família é conceito que aparece e desaparece das teorias sociais e humanas, ora
enaltecida, ora demonizada. É acusada como gênese de todos os males,
especialmente da repressão e servidão, ou exaltada como provedora do corpo e
da alma.

Ao longo da história, especialmente em meados dos anos 1960, havia uma


crítica, com uma visão da família como sendo contrária à organização popular e aos
movimentos sociais. Relativamente à perda de suas funções de educar e cuidar, a
família foi analisada como uma espécie em extinção. Como podemos verificar, na
sociedade contemporânea, a família continua sendo espaço para a formação e
construção de identidades e de protagonistas no mundo em transformação.

Se pensarmos juntamente com Losacco (2007, p. 65), podemos verificar


que a família é “[...] construída por uma constelação de pessoas
interdependentes, e sua estrutura reproduz as dinâmicas socio-históricas
existentes”.

A aceleração do capitalismo, o advento da globalização e a pluralização


das relações afetivas, modificaram a maneira da família viver em sociedade. A família
sofre influências da sociedade, ao mesmo tempo em que exerce determinadas
influências na sociedade. Um fator presente atualmente é o individualismo, conforme
aponta Romanelli (2000, p. 87):

Conforme ocorrem tais mudanças, a vida doméstica tende a se


democratizar, criando condições para a emergência e concretização de
interesses individuais. Consequentemente, o familismo tende a ser
gradativamente deslocado e substituído pelo individualismo.

Mesmo assim, precisamos compreender a importância da família na sociedade,


independentemente da maneira que a mesma se constituiu. É a relação interior, mesmo
pautada nas influências do individualismo, que é parte principal da família.

É nesse cotidiano pautado pelas primícias do neoliberalismo que a família se


desenvolve. Heller (2004, p. 17, destaque do autor) afirma que:

A vida cotidiana é a vida de todo homem. Todos a vivem, sem nenhuma


exceção, qualquer que seja posto na divisão do trabalho individual e físico.
Ninguém consegue identificar-se com sua atividade humano-genérica a ponto
de poder desligar-se inteiramente da cotidianidade. E, ao contrário, não há

21
nenhum homem, por mais “insubstancial” que seja, que viva tão-somente na
cotidianidade, embora esta o absorva preponderantemente.

Apesar de vivenciar a cotidianidade, o homem vivencia a individualidade e seus


sentidos e capacidades funcionam plenamente. Por não possuir tempo nem
possibilidade de se absorver inteiramente em nenhum desses aspectos, não é possível
desenvolvê-los em toda sua intensidade. Posteriormente a autora afirma que “[...] a
vida cotidiana é, em grande medida, heterogênea” (p. 18). Ela se refere ao conteúdo e
a importância das diversas atividades que realizamos, como por exemplo: a organização
do trabalho e da vida privada, os lazeres e o descanso, a atividade social sistematizada,
as relações sociais. Defende também que além de heterogênea, a vida cotidiana é
hierárquica, ou seja, existem as prioridades dentro da cotidianidade.

É no grupo que existe o amadurecimento para a cotidianidade, como família,


escola, pequenas comunidades. Como pontua Heller (2004, p. 19, destaque do autor):

O homem aprende no grupo os elementos da cotidianidade (por


exemplo, que deve levantar e agir por sua conta; ou o modo de cumprimentar,
ou ainda como comportar-se em determinadas situações, etc.); mas não
ingressa nas fileiras dos adultos, nem as normas assimiladas ganham ‘valor’, a
não ser quando essas comunicam realmente ao indivíduo – saindo do grupo (por
exemplo, da família) – é capaz de se manter autonomamente no mundo das
integrações maiores, de orientar-se em situações que já não possuem a
dimensão do grupo humano comunitário, de mover-se no ambiente da sociedade
em geral e, além disso, mover por sua vez esse mesmo ambiente.

A individualidade necessária a todo homem não pode ser confundida com o


individualismo que tende a conduzir a sociedade a atitudes egoístas. Diante
dessa realidade, é necessário compreendermos o cotidiano das famílias na
sociedade contemporânea, para que possamos verificar como se
estabelecem as influências da sociedade na família, e o papel da família na
sociedade.
Um outro agravante desses novos tempos é a questão da drogadição,
do consumo excessivo de álcool, muitas vezes, em decorrência das
experiências vivenciadas durante a história de vida das pessoas. Esses
fatores podem permanecer na vida das famílias, afetando as relações entre os

22
membros e agravando a questão social manifesta no cotidiano dessas
relações.
Existe também, em decorrência de inúmeros fatores, a presença da
violência doméstica que não está dissociada da questão do alcoolismo e da
drogadição. As contradições sociais que vivenciamos trazem um mundo novo
no qual as famílias passam pela escalada da violência urbana, deixando como
consequências o crime, a morte, o tráfico, e outras manifestações que podem
aterrorizar a vida das pessoas. Muitas vezes, os pais não sabem como evitar
que seus filhos adentrem nesse mundo, e buscam a educação dos mesmos
de diversificadas maneiras, e nem sempre obtém resultados positivos. Alguns
fatores podem trazer o retrato da família na atualidade e podemos verificar
que a população, de uma maneira geral, tem envelhecido, as crianças têm sido
evitadas, com o controle de natalidade e as pessoas têm cada vez mais se
divorciado.

Nos países europeus, como podemos verificar através do Dossiêr Fides


(AGENZIA FIDES, 2008, online), a população europeia cresceu em torno de 19 milhões
de pessoas no período de 1994 a 2006, mas isso ocorreu não pelos nascimentos
naturais, pois estes diminuíram, mas pelas imigrações ocorridas durante esse período.
Quanto à população idosa, esta é a grande maioria, pois houve um crescimento no
número de pessoas idosas, em decorrência da própria qualidade de vida e uma
diminuição da população jovem. A cada 25 segundos se realiza um aborto nos países
europeus e dessa maneira a população jovem tende a diminuir.

No Brasil, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), através


da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), realizada no ano de
2006, mostrou que a tendência do envelhecimento da população, como em anos
anteriores, persistiu, e a taxa de fecundidade diminuiu para 2,0 nascimentos por
mulheres.

É certo que o número de habitantes por domicílios vem diminuindo e, com esse
formato, podemos verificar que o formato familiar também diminuiu. Vale ressaltar que
com relação aos rendimentos mensais familiares per capita no Brasil são: 27,3% de ½
a 01 salário mínimo; 23,3% de 01 a 02 salários mínimos e 16,4% de ¼ a ½ salário

23
mínimo. O Brasil possui, dessa forma, a maioria da sua população concentrada com no
máximo 01 salário mínimo per capita.

As famílias que habitam o território brasileiro são, em sua maioria, famílias que
possuem meios escassos de sobrevivência e buscam no cotidiano da vida familiar,
dividir não somente as emoções dos laços familiares, mas também as angústias que a
própria vida cotidiana lhes apresenta. Podemos recorrer também ao conceito de
Carvalho (2002, p. 93):

De fato, a família é o primeiro sujeito que referencia e totaliza a


proteção e a socialização dos indivíduos. Independentemente das
múltiplas formas e desenhos que a família contemporânea apresente,
ela se constitui num canal de iniciação e aprendizado dos afetos e das
relações sociais.

2012/VUNESP/TJ-SP. A família é o locus, o status nascendi, a matriz dos


primeiros___________sociais da criança. Quando a família não cumpre seu papel
social de_____________de sua prole, de transmissora de valores culturais,
considerando como critério seu aspecto funcional, pode-se dizer que ela
fracassou no cumprimento de suas funções. Quando ocorrem situações de
vitimização física e sexual de crianças e adolescentes na família, pode-se dizer,
conforme Ferrari (2002), que se está diante de um grave problema
de___________entre pais e filhos, que se deteriorou.

a) conflitos … cuidadora … domínio

b) domínios … articuladora … comando

c) vínculos … protetora … relações

d) bens … defensora … afeto

e) contatos … organizadora … autoridade

Resposta Correta: Letra c) vínculos … protetora … relações

Comentário: De fato, a família é o primeiro sujeito que referencia e totaliza a proteção


e a socialização dos indivíduos. Independentemente das múltiplas formas e desenhos

24
que a família contemporânea apresente, ela se constitui num canal de iniciação e
aprendizado dos afetos e das relações sociais.

Independentemente das múltiplas maneiras de se organizar, de se constituir


enquanto família, a ela possui um papel de socialização importante e primordial na vida
das pessoas. Entendê-la enquanto espaço de construção da iniciação dos afetos e de
todo aprendizado que esses afetos podem trazer aos seus componentes, é ímpar na
sociedade. Essas construções rebaterão na construção dos sujeitos históricos da
sociedade.

Pensarmos o Brasil enquanto país que também vivencia as manifestações da


questão social tão presentes em seu cotidiano, nos faz reportar ao fato de que as
famílias brasileiras precisam de melhorias nas suas condições de vida, nas suas
construções cotidianas, em seus componentes. A manifestação cotidiana da
desigualdade social presente, traz o retrato da nova família em um novo cenário, que
cada vez mais a aparta do acesso ao mínimo de sobrevivência. Diante desses efeitos
da desigualdade, a família, na sociedade contemporânea, modificada não só
internamente, mas também externamente, possui o desafio de sobreviver nessa
sociedade em tempos de mudanças e de continuar exercendo o seu papel nessa
mesma sociedade. Não se podemos negar a importância da família, onde os sujeitos
irão desenvolver suas primeiras experiências enquanto membros da sociedade. Como
bem pontuam Ferrari e Kaloustian (2002, p.11):

A família brasileira, em meio a discussões sobre a sua desagregação ou


enfraquecimento, está presente e permanece enquanto espaço privilegiado de
socialização, de prática de tolerância e divisão de responsabilidades, de busca coletiva
de estratégias de sobrevivência e lugar inicial para o exercício da cidadania sob o
parâmetro da igualdade, do respeito e dos direitos humanos. A família é o espaço
indispensável para a garantia da sobrevivência de desenvolvimento e da proteção
integral dos filhos e demais membros, independentemente do arranjo familiar ou da
forma como vem se estruturando.

É essencial para as reflexões sobre família, a desconstrução dos nossos


conceitos prontos, buscando o desprendimento dos preconceitos para podermos
entender as novas configurações familiares. Para abordarmos questões referentes ao
contexto na qual a família está inserida, assim como quais as possibilidades e os
desafios existentes na construção de um trabalho com famílias, torna-se necessária

25
uma reflexão aprofundada sobre as questões referentes às políticas de atendimentos a
essas famílias e a ação profissional do assistente social nesse espaço de atuação.

Este desafio de poder buscar reflexões sobre os conceitos de família traz para
nós uma experiência enriquecedora e, ao mesmo tempo, nos cumula de expectativas
para aprofundarmos em determinados temas que não são somente polêmicos, mas
estão presentes no nosso cotidiano.

2005/TJSP/VUNESP/Q45. O Serviço Social brasileiro, após a reconceituação,


orientou-se por uma visão transformadora e crítica da realidade, que o levou a
compreender a família:

A) como gestora da força de trabalho feminino na contemporaneidade.

B) no interior da questão mais ampla, contraditória e complexa do conflito das classes.

C) como grupo social protetivo e relacional principalmente em situação de pobreza e


exclusão.

D) numa concepção de familiaridade complexa do conflito de classes, associada às


relações interpessoais.

E) como lócus de relações de poder, propiciando a emergência e a concretização do


individualismo

Resposta Correta: Letra (B) no interior da questão mais ampla, contraditória e


complexa do conflito das classes.

26
3. METODOLOGIAS NA INTERVENÇÃO PROFISSIONAL DO
ASSISTENTE SOCIAL NO TRABALHO COM FAMÍLIAS

Serviço Social e processo de trabalho com famílias

A profissão do Assistente Social é regulamentada pela Lei n. 8.662, de 07/06/93.


Esta Lei tem o objetivo de reger os procedimentos e a natureza dos serviços
profissionais, por meio dos quais se realizam os princípios constitucionais da assistência
social; assim como da saúde, previdência social e demais atividades sociais.

Para isso institui a profissão de Assistente Social, de um lado exigindo-lhe


determinados deveres e, de outro, assegurando-lhe certas competências e atribuições
privativas em conformidade com o Código de Ética da Profissão, que reafirma os seus
valores fundantes – a liberdade e a justiça social. O projeto profissional do Serviço
Social, pensa a ética como um pressuposto teórico-político que remete para o
enfrentamento das contradições postas à profissão, a partir de uma visão crítica, e
fundamentada teoricamente, das derivações ético-políticas do agir profissional.

O reconhecimento da importância da família no contexto da vida social está


explícito no artigo 226, da Constituição Federal do Brasil, quando declara que:

“a família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado”, endossando


assim, o artigo 16, da Declaração dos Direitos Humanos, que traduz a família como
sendo o núcleo natural e fundamental da sociedade, e com direito a proteção da
sociedade e do Estado. No Brasil, tal reconhecimento se reafirma nas legislações
especificas da Assistência Social – Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA),
Estatuto do Idoso e na própria Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS), entre
outras.

Para MIOTO (1997):

“A família é uma instituição Social historicamente condicionada e dialeticamente


articulada com a sociedade na qual está inserida. Isto pressupõe compreender as

27
diferentes formas de famílias em diferentes espaços de tempo, em diferentes
lugares, além de percebê-las como diferentes dentro de um mesmo espaço social
e num mesmo espaço de tempo. Esta percepção leva a pensar as famílias sempre
numa perspectiva de mudança, dentro da qual se descarta a ideia dos modelos
cristalizados para se refletir as possibilidades em relação ao futuro”. (MIOTO,
1997, p.128).

Sabe-se que não só para o Serviço Social, mas que em todas as profissões o
tema “FAMÍLIA” não é desconhecido, intervém-se nesta dinâmica a todo instante. Porém
poucos profissionais são preparados para trabalhar as relações familiares e as
mudanças ocorridas na estrutura familiar ao longo da história.

Atualmente os processos de intervenção com as famílias são pensados


apenas no âmbito do atendimento direto. Não são vislumbradas, no universo das
ações profissionais, outras possibilidades de se trabalhar com famílias; não são
considerados especialmente os espaços da proposição, articulação e avaliação
das Políticas Sociais, nem a organização e articulação de serviços como campos
fundamentais de intervenção na área da família.

Abordar a problemática familiar constitui-se em uma tarefa difícil e


complexa, já que a família contemporânea pode ser vista como um desafio, que
envolve problemas de ordem cultural, ética, econômica, política e social.

A miséria e a falta de oportunidades de vida digna impedem as famílias de


expressarem suas opiniões próprias e faz com que elas sejam submissas e não
ocupem seus espaços de cidadãos. Gerando uma ausência de protagonismo que por
sua vez colabora para que esta situação de exclusão se perdure por toda vida. Na
maioria das vezes a cultura apreendida era apenas de proibições, cumprimento de
ordens e obediência, nunca a cidadania ou criatividade. Muitas vezes ao dizer o que se
pensava, retaliações e punições eram geradas, demonstrando a política do clientelismo,
- ainda presente nos dias atuais.

28
A organização familiar atua como ressonância, vítima e reprodutora de
todo esse sistema de cultura o que se reverte nas seguintes demandas:

O trabalho infantil deixa de ser problema e passar a ser solução uma vez que
os pais educam seus filhos com o pensamento de que “criança que não trabalha cresce
vagabundo”, não visualizando a escola de forma necessária para o enfrentamento da
vida, e a criança não é vista com o respectivo direito de estudar, e brincar. As pessoas
vêm se objetos e não sujeitos da história, das políticas, dos projetos e programas
públicos, a mentalidade já estar determinada a pensar assim o que os impede de lutar
para mudar tal situação.

Em decorrência disso, as diversas expressões da questão social colocam


limites e desafios de intervenção para o Assistente Social, exigindo um exame
atento no mundo do trabalho, particularmente, em instituições que lidam com o binômio
saúde-doença, onde as contradições e mazelas de uma sociedade com elevados níveis
de exclusão social emergem com força.

É de extrema importância que o profissional, ao trabalhar com famílias,


adote uma postura socioeducativa, de trocas, numa relação horizontal, tendo
sempre em mente que a realidade social e a dinâmica familiar requerem que o
profissional respeite a individualidade de cada família, procurando não fazer
julgamento de valor. A dimensão técnica não autoriza a tomada de decisões ou
escolha de condutas: isto cabe à família.

Os conhecimentos científicos ou os valores moralistas não podem servir


de pretexto para o julgamento das famílias, mas de base para ações socioeducativas,
cultura da tutela e as atitudes paternalistas fortalecem a exclusão das mesmas, a
democratização das informações, o saber ouvir, a divulgação dos critérios de
atendimento, o esclarecimento quanto ao papel dos familiares no processo são atitudes
necessárias e éticas.

É necessário que o profissional utilize uma linguagem clara, criando atmosfera


aberta e informal que permita aos usuários se sentirem à vontade para se colocarem,
fazer perguntas, esclarecer dúvidas. O diálogo de discussão de alternativas com as
famílias estará contribuindo para desenvolver mecanismos de reflexão e assumindo um
papel mais de ajudá-la a refletir do que pensar nela, mais de questionar do que

29
discursar. Como um mediador, é importante que o profissional se questione sempre
sobre a sua prática, de que forma ela está sendo efetivada.

O desafio está em o Assistente Social aprender a lidar com as dramáticas


respostas que as famílias vêm apresentando e assim estabelecer processos de atenção,
à família, que as auxiliem a enfrentar desafios e que proponham novas articulações
visando uma condição humana melhor.

Segundo SILVA “a prática profissional, volta-se para orientações e prestação de


serviço ou implantação de programas que beneficiem o grupo familiar” (SILVA, 1987,
p.145). A organização institucional trabalha com o modelo assistencial cuja
preocupação central está na resolução de problemas do indivíduo fragilizado (ex:
criança violentada ou portadora de necessidades especiais, etc.) e não na perspectiva
da intervenção familiar. Sabe-se que este modelo, embora tenha cada vez mais
recursos disponíveis, tem uma leitura limitada das demandas que lhe são colocadas.

Assim, muitos profissionais trabalham com as famílias no sentido de atender o


objetivo da instituição, tentando resolver o caso do usuário. Sem contar que muitas
vezes são as mesmas famílias que circulam por diferentes instituições, levando para
elas o mesmo usuário. E a trajetória se repete, a instituição se preocupa em dar um
atendimento específico não conseguindo perceber que é a família como um todo e não
apenas um membro dela que necessita de atenção.

Se o profissional tornar o usuário fragilizado como expressão de um contexto


familiar comprometido, o eixo da atenção profissional estará alterado. Esta alteração se
dará tanto no nível da compreensão do problema como no nível da ação profissional.
Desenvolve-se o sentido de ajudar a família a identificar as duas dificuldades e realizar
mudanças para que possam alterar esta situação.

“Assim torna-se prioritário que a família perceba que a mudança de sua


vida depende muito da sua participação em movimentos reivindicatórios
organizados, em busca de melhores condições de vida” (MIOTO, 1997, p.125).

30
Conforme TAKASHIMA (1994):

“A setorização das políticas sociais e a existência de canais de integração


entre elas têm gerado uma inoperância em relação às famílias. Dentro delas, a família é
sempre vista pelo retrovisor, e não como foco de atenção” (TAKASHIMA 1994).

Já para MIOTO (1997):

“A família enquanto unidade nos remete basicamente a duas ponderações sobre


as inter-relações entre políticas sociais e família. A primeira relaciona-se ao fato de que,
como estão organizadas, as políticas sociais não incluem a ideia da família como uma
totalidade: ao contrário, são implementadas em função de indivíduos. Elas não incluem
nenhuma previsão dos impactos que terão sobre as famílias e nas suas avaliações
também não são considerados indicadores de análise sobre os efeitos que as políticas
têm na vida familiar” (BARROS, 1995; MIOTO 1997).

Tendo em conta a fragmentação dentro da qual a família é retratada, é


necessário esforço no sentido de articular e integrar as políticas setoriais, para
que possam facilitar e melhorar a qualidade de vida das famílias.

A reafirmação da importância que as políticas sociais, particularmente as


públicas, têm no cotidiano da vida familiar. São elas que, num contexto de pobreza como
o brasileiro, pode garantir condições objetivas de sobrevivência. Como se sabe, as
condições externas dadas pela política econômica vigente constituem-se numa fonte
importante do estresse familiar. Por isso, a viabilização de políticas assistenciais tem de
ser priorizada.

Nessa perspectiva assinala-se a responsabilidade que os profissionais que


trabalham diretamente com as famílias têm no direcionamento das políticas
sociais. Ou seja, se o objetivo é ter políticas sociais integradas que atendam as
reais necessidades das famílias usuárias do serviço social, é necessária prática
profissional competente, não só no sentido de atender as famílias dentro de suas
especificidades, mas também no sentido de fazer da prática cotidiana uma prática
de natureza investigativa. Esta poderá subsidiar a implementação e a avaliação
de políticas e programas sociais que atendam aos ideais já propostos na
formulação de algumas políticas sociais e que sejam adequadas à realidade. Além
disso, tais estudos e análises poderão ser elementos importantes para a

31
contraposição de propostas incongruentes com as necessidades das famílias e
ou que firmam a autonomia delas.

Segundo IAMAMOTO (2007):

“Um dos maiores desafios que o assistente social vive no presente é desenvolver
sua capacidade de decifrar a realidade e construir propostas de trabalho criativas e
capazes de preservar e efetivar direitos, a partir de demandas emergentes no cotidiano.
Enfim, ser um profissional propositivo e não só executivo. (...) Requer, pois, ir além das
rotinas institucionais e buscar apreender o movimento da realidade para detectar
tendências e possibilidades nela presentes passíveis de serem impulsionadas pelo
profissional” (IAMAMOTO, 2007, p. 20-21).

A família sempre esteve inserida na área de atuação do Serviço Social,


porém na maioria dos serviços, ela vem sendo contemplada de maneira
fragmentada, ou seja, cada integrante da unidade familiar é visto de forma
individualizada, descontextualizada e portador de um problema. Em vista disso,
um dos desafios da profissão é a busca de metodologias para trabalhar a família
como um grupo com necessidades próprias e únicas.

Para IAMAMOTO (2004), a prática profissional permite a oportunidade de pensar em


si e no seu fazer profissional. Isto requer disposição para analisar e refletir, de forma
aberta e transparente, suas ações, seus dilemas e falsos dilemas, imbuídos pelo
interesse em desenvolver uma ação planejada, resultante daquela reflexão, permitindo
o enfrentamento de suas questões operativas principais. A intenção de desvelar as
práticas ocultas do cotidiano só pode efetivar-se a partir da e na ação profissional. Este
momento caracteriza-se pelo encontro com o desconhecido. Isto significa ir além do
discurso parcial, fragmentado, pela simples reprodução do já produzido, mas descobrir
algo que ainda não foi partilhado na construção do saber. Deste modo, a ultrapassagem
da totalidade parcial para totalidade mais complexa no interior da prática se faz pela
relação pensamento/realidade.

32
É na própria ação cotidiana dos profissionais que se busca resgatar as
categorias particulares, empíricas que dão movimento à sua intervenção, que antes
parecia descontínuo, dando-lhe uma dimensão histórica.

Assim, a categoria da mediação é apreendida como expressão concreta do


processo de passagem que o profissional realiza na medida em que supera a leitura do
aparente imediato para imprimir uma direção crítica ao conjunto de suas práticas
cotidianas.

Segundo GOMES (1999), a família é um grupo de pessoas com características


distintas formando um sistema social, baseado numa proposta de ligação efetiva
duradoura, estabelecendo relação de cuidado dentro de um processo histórico de vida.

O Assistente Social auxilia e estimula a família a adquirir o controle da situação,


através da busca das suas próprias demandas e desafios em cada etapa do processo.
Assim, a família pode se tornar mais bem adaptada e competente para cuidar do doente
e conseguir administrar a situação, que toda a família vivencia, com um sofrimento
menos intenso.

É importante ressaltar, que o Assistente Social, enquanto partícipe da divisão


social e técnica do trabalho, é um profissional especializado que está inserido no
mercado de trabalho para realizar a prestação de serviços sociais, principalmente,
através das políticas implementadas pelo Estado.

Trabalhar com as famílias é uma fonte de preocupação para os profissionais que


militam nesta área, dado a complexidade do tema que envolve vários aspectos, dentre
os quais estão as diferentes configurações familiares, as relações que esta estabelece
com outras esferas da sociedade, como o Estado, Sociedade Civil e Mercado, e também
os processos familiares.

Já no âmbito do Serviço Social, os processos de atenção às famílias fazem parte


da história da profissão. Os assistentes sociais são profissionais que tem a família como
objeto de intervenção durante toda sua trajetória histórica.

Ainda hoje as ações dos assistentes sociais, são movidas por lógicas arcaicas e
enraizadas culturalmente, e não pela lógica da racionalidade dada pelo arcabouço
teórico-metodológico da profissão pós-reconceituação. Por isso, o exercício profissional
com famílias ainda é pautado nos padrões de normatividade e estabilidade.

33
Como assinala MIOTO (2004):

“Na perspectiva da análise do discurso dos assistentes sociais no cotidiano profissional,


Guimarães (1996) observou a existência de quatro construções discursivas.

✓ A primeira, denominada de pré-construída, refere-se ao discurso pautado na


suposição do senso comum.
✓ A segunda, que é a linha de pensamento umbilicado, caracteriza-se pela
permanência de um pensamento pré-estabelecido do início ao final da
intervenção.
✓ A terceira, que a autora chamou de kit-discurso, considera que o assistente
social realiza a sua prática a partir dos dois procedimentos anteriores,
tornando a intervenção um ato altamente mecânico.
✓ Finalmente, a quarta construção discursiva se caracteriza pela dicotomia
entre ação e fala. Ao discursarem sobre suas respectivas práticas, os
assistentes sociais apresentam tal distância entre ação e fala que muitas
vezes se apresentam como contraditórias, sem que geralmente as
contradições sejam percebidas. Esse tipo de análise demonstra a fragilidade
do processo de intervenção. ”
Estas reflexões, fortalecem as discussões efetuadas a partir das análises sobre
a construção sócio histórica do Serviço Social na divisão sociotécnica do trabalho onde
o assistente social aparece como o profissional da coerção e do consenso.

Para MIOTO (2004):

“O desafio da superação dessa situação, considerando a urgência de


consolidação do projeto ético-político da profissão, que só poderá acontecer através de
uma prática profissional crítica e altamente qualificada em áreas de intervenção
profissional consolidadas historicamente e da expansão do mercado de trabalho para os
assistentes sociais. Além disso, não pode ser esquecido o projeto de formação
profissional que, através das diretrizes curriculares, coloca como um de seus eixos os
fundamentos do trabalho profissional”.

MIOTO (2004) ainda afirma que:

“É justamente este desafio que nos conduz a recolocar algumas questões que
acreditamos estarem contribuindo para a perpetuação do conservadorismo nas
intervenções com famílias, numa tentativa de resgatar da própria ação profissional os
elementos necessários para sua reconstrução. Como afirma GUERRA (2000), é

34
necessário resgatar a dimensão emancipatória da instrumentalidade do exercício
profissional, pois é através dela que a profissão poderá superar o seu caráter
eminentemente operativo e manipulatório dado pela condição histórica do surgimento da
profissão. ”

A transformação dos processos de intervenção com famílias implica mais


do que a crítica feita pelos profissionais sobre a realidade, mas a consciência que
a solução das demandas não está nos limites dos serviços. A contradição entre
conhecimento e ação, pode estar relacionada às formas de capacitação
profissional para intervenção com famílias.

Quando as famílias procuram projetos ou atendimentos, já tem os seus


processos relacionais comprometidos. Partindo desta demanda, os profissionais
têm que incluir ações direcionadas à formulação e implementação de políticas
sociais que ofereçam o mínimo de condições para a sobrevivência do grupo
familiar.

Conforme MIOTO (2000):

“Os serviços também desenvolvem suas ações sob a lógica da incapacidade e


da falência das famílias em seus papéis sociais, atendendo às situações limites e às
solicitações mais emergentes trazidas pelas mesmas, ao invés de atuar no sentido de
prevenir os conflitos e as crises. Essa forma de atendimento é fruto do contexto político-
econômico vigente, no qual as políticas públicas sociais são pontuais e visam,
prioritariamente, à resolução do problema aparente, e não das questões que o
motivaram” (MIOTO, 2000, p. 43).

As características desse reordenamento das políticas sociais negam os


princípios do direito à saúde, esses contrapõem com a veemência ao Projeto Ético
Político Profissional do Serviço Social, de defesa da Democracia e dos Direitos das
Políticas Sociais transmutam a lógica do direito, na “lógica do favor”, do bem de
consumo ou simplesmente na exclusão propriamente dita.

35
Como afirma IAMAMOTO (1998) e NETTO (1996):

“Diante dos desafios é imprescindível que o profissional do Serviço Social tenha


competência teórico crítica, coragem cívica e intelectual”. Tendo essa convicção os
profissionais do Serviço Social, apresentaram uma prática autêntica e plena de
cidadania, perante os usuários.

36
4. A FAMÍLIA E A PROTEÇÃO SOCIAL BÁSICA

O CRAS atua com famílias e indivíduos em seu contexto comunitário,


visando a orientação e o convívio sociofamiliar e comunitário. Neste sentido é
responsável pela oferta do Programa de Atenção Integral às Famílias. Na proteção
básica, o trabalho com família deve considerar novas referências para a
compreensão dos diferentes arranjos familiares, superando o reconhecimento de
um modelo único baseado na família nuclear, e partindo do suposto de que são
funções básicas das famílias:

* Prover a proteção e a socialização dos seus membros;


* Constituir-se como referências morais, de vínculos afetivos e sociais;
* De identidade grupal, além de ser mediadora das relações dos seus membros
com outras instituições sociais e com o Estado.

O grupo familiar pode ou não se mostrar capaz de desempenhar suas funções


básicas. O importante é notar que esta capacidade resulta não de uma forma ideal e
sim de sua relação com a sociedade, sua organização interna, seu universo de valores,
entre outros fatores, enfim, do estatuto mesmo da família como grupo cidadão. Em
consequência, qualquer forma de atenção e, ou, de intervenção no grupo familiar
precisa levar em conta sua singularidade, sua vulnerabilidade no contexto social,
além de seus recursos simbólicos e afetivos, bem como sua disponibilidade para se
transformar e dar conta de suas atribuições.

Além de ser responsável pelo desenvolvimento do Programa de Atenção


Integral às Famílias – com referência territorializada, que valorize as
heterogeneidades, as particularidades de cada grupo familiar, a diversidade de
culturas e que promova o fortalecimento dos vínculos familiares e comunitários –
, a equipe do CRAS deve prestar informação e orientação para a população de sua
área de abrangência, bem como se articular com a rede de proteção social local
no que se refere aos direitos de cidadania, mantendo ativo um serviço de

37
vigilância da exclusão social na produção, sistematização e divulgação de
indicadores da área de abrangência do CRAS, em conexão com outros territórios.

Realiza, ainda, sob orientação do gestor municipal de Assistência Social, o


mapeamento e a organização da rede socioassistencial de proteção básica e
promove a inserção das famílias nos serviços de assistência social local.

Promove também o encaminhamento da população local para as demais


políticas públicas e sociais, possibilitando o desenvolvimento de ações Inter
setoriais que visem a sustentabilidade, de forma a romper com o ciclo de
reprodução Inter geracional do processo de exclusão social, e evitar que estas
famílias e indivíduos tenham seus direitos violados, recaindo em situações de
vulnerabilidades e riscos.

São considerados serviços de proteção básica de assistência social


aqueles que potencializam a família como unidade de referência, fortalecendo
seus vínculos internos e externos de solidariedade, através do protagonismo de
seus membros e da oferta de um conjunto de serviços locais que visam à
convivência, a socialização e o acolhimento, em famílias cujos vínculos familiar e
comunitário não foram rompidos, bem como a promoção da integração ao
mercado de trabalho, tais como:

• Programa de Atenção Integral às Famílias.


• Programa de inclusão produtiva e projetos de enfrentamento da pobreza.
• Centros de Convivência para Idosos.
• Serviços para crianças de 0 a 6 anos, que visem o fortalecimento dos vínculos
familiares, o direito de brincar, ações de socialização e de sensibilização para
a defesa dos direitos das crianças.
• Serviços socioeducativos para crianças, adolescentes e jovens na faixa etária
de 6 a 24 anos, visando sua proteção, socialização e o fortalecimento dos
vínculos familiares e comunitários.
• Programas de incentivo ao protagonismo juvenil, e de fortalecimento dos
vínculos familiares e comunitários.
• Centros de informação e de educação para o trabalho, voltados para jovens e
adultos.

38
Proteção Social Especial

Além de privações e diferenciais de acesso a bens e serviços, a pobreza


associada à desigualdade social e a perversa concentração de renda, revela-se numa
dimensão mais complexa: a exclusão social. O termo exclusão social confunde-se,
comumente, com desigualdade, miséria, indigência, pobreza (relativa ou absoluta),
apartação social, dentre outras.
Naturalmente existem diferenças e semelhanças entre alguns desses conceitos,
embora não exista consenso entre os diversos autores que se dedicam ao tema.
Entretanto, diferentemente de pobreza, miséria, desigualdade e indigência, que são
situações, a exclusão social é um processo que pode levar ao acirramento da
desigualdade e da pobreza e, enquanto tal apresenta-se heterogênea no tempo e no
espaço.
A realidade brasileira nos mostra que existem famílias com as mais diversas
situações socioeconômicas que induzem à violação dos direitos de seus membros, em
especial, de suas crianças, adolescentes, jovens, idosos e pessoas com deficiência,
além da geração de outros fenômenos como, por exemplo, pessoas em situação de rua,
migrantes, idosos abandonados que estão nesta condição não pela ausência de renda,
mas por outras variáveis da exclusão social. Percebe-se que estas situações se
agravam justamente nas parcelas da população onde há maiores índices de
desemprego e de baixa renda dos adultos.

As dificuldades em cumprir com funções de proteção básica, socialização


e mediação, fragilizam, também, a identidade do grupo familiar, tornando mais
vulneráveis seus vínculos simbólicos e afetivos. A vida dessas famílias não é
regida apenas pela pressão dos fatores socioeconômicos e necessidade de
sobrevivência. Elas precisam ser compreendidas em seu contexto cultural,
inclusive ao se tratar da análise das origens e dos resultados de sua situação de
risco e de suas dificuldades de auto-organização e de participação social.
Assim, as linhas de atuação com as famílias em situação de risco devem
abranger desde o provimento de seu acesso a serviços de apoio e sobrevivência,
até sua inclusão em redes sociais de atendimento e de solidariedade.

As situações de risco demandarão intervenções em problemas específicos e,


ou, abrangentes. Nesse sentido, é preciso desencadear estratégias de atenção

39
sociofamiliar que visem à reestruturação do grupo familiar e a elaboração de
novas referências morais e afetivas, no sentido de fortalecê-lo para o exercício de
suas funções de proteção básica ao lado de sua auto-organização e conquista de
autonomia. Longe de significar um retorno à visão tradicional, e considerando a família
como uma instituição em transformação, a ética da atenção da proteção especial
pressupõe o respeito à cidadania, o reconhecimento do grupo familiar como referência
afetiva e moral e a reestruturação das redes de reciprocidade social.

A ênfase da proteção social especial deve priorizar a reestruturação dos


serviços de abrigamento dos indivíduos que, por uma série de fatores, não
contam mais com a proteção e o cuidado de suas famílias, para as novas
modalidades de atendimento. A história dos abrigos e asilos é antiga no Brasil. A
colocação de crianças, adolescentes, pessoas com deficiência e idosos em instituições
para protegê-los ou afastá-los do convívio social e familiar foi, durante muito tempo,
materializada em grandes instituições de longa permanência, ou seja, espaços que
atendiam a um grande número de pessoas, que lá permaneciam por longo período – às
vezes a vida toda. São os chamados, popularmente, como orfanatos, internatos,
educandários, asilos, entre outros.
São destinados, por exemplo, às crianças, aos adolescentes, aos jovens, aos
idosos, às pessoas com deficiência e às pessoas em situação de rua que tiverem seus
direitos violados e, ou, ameaçados e cuja convivência com a família de origem seja
considerada a sua proteção e ao seu desenvolvimento. No caso da proteção social
especial, à população em situação de rua serão priorizados os serviços que possibilitem
a organização de um novo projeto de vida, visando criar condições para adquirirem
referências na sociedade brasileira, enquanto sujeitos de direito.

A proteção social especial é a modalidade de atendimento assistencial


destinada a famílias e indivíduos que se encontram em situação de risco pessoal
e social, por ocorrência de abandono, maus tratos físicos e, ou, psíquicos, abuso
sexual, uso de substâncias psicoativas, cumprimento de medidas
socioeducativas, situação de rua, situação de trabalho infantil, entre outras.
São serviços que requerem acompanhamento individual e maior
flexibilidade nas soluções protetivas. Da mesma forma, comportam
encaminhamentos monitorados, apoios e processos que assegurem qualidade na
atenção protetiva e efetividade na reinserção almejada.

40
Os serviços de proteção especial têm estreita interface com o sistema de
garantia de direito exigindo, muitas vezes, uma gestão mais complexa e
compartilhada com o Poder Judiciário, Ministério Público e outros órgãos e ações
do Executivo.
Vale destacar programas que, pactuados e assumidos pelos três entes
federados, surtiram efeitos concretos na sociedade brasileira, como o Programa
de Erradicação do Trabalho Infantil – PETI e o Programa de Combate à Exploração
Sexual de Crianças e Adolescentes.

Proteção Social Especial de Média Complexidade

São considerados serviços de média complexidade aqueles que oferecem


atendimentos às famílias e indivíduos com seus direitos violados, mas cujos vínculos
familiar e comunitário não foram rompidos. Neste sentido, requerem maior estruturação
técnica operacional e atenção especializada e mais individualizada, e, ou, de
acompanhamento sistemático e monitorado, tais como:

• Serviço de orientação e apoio sociofamiliar.


• Plantão Social.
• Abordagem de Rua.
• Cuidado no Domicílio.
• Serviço de Habilitação e Reabilitação na comunidade das pessoas com
deficiência.
• Medidas socioeducativas em meio-aberto (Prestação de Serviços à
Comunidade-PSC e Liberdade Assistida – LA).

A proteção especial de média complexidade envolve também o Centro de


Referência Especializado da Assistência Social, visando a orientação e o convívio
sociofamiliar e comunitário. Difere-se da proteção básica por se tratar de um
atendimento dirigido às situações de violação de direitos.

41
Proteção Social Especial de Alta Complexidade

Os serviços de proteção social especial de alta complexidade são aqueles que


garantem proteção integral – moradia, alimentação, higienização e trabalho protegido
para famílias e indivíduos que se encontram sem referência e, ou, em situação de
ameaça, necessitando ser retirados de seu núcleo familiar e, ou, comunitário. Tais
como:
• Atendimento Integral Institucional.
• Casa Lar.
• República.
• Casa de Passagem.
• Albergue.
• Família Substituta.
• Família Acolhedora.
• Medidas socioeducativas restritivas e privativas de liberdade (semiliberdade,
internação provisória e sentenciada).
• Trabalho protegido.

42
5. MATRICIALIDADE SOCIOFAMILIAR - SUAS

As reconfigurações dos espaços públicos, em termos dos direitos sociais


assegurados pelo Estado Democrático de um lado e, por outro, dos
constrangimentos provenientes da crise econômica e do mundo do trabalho,
determinaram transformações fundamentais na esfera privada, resignificando as
formas de composição e o papel das famílias. Por reconhecer as fortes pressões
que os processos de exclusão sociocultural geram sobre as famílias brasileiras,
acentuando suas fragilidades e contradições, faz-se primordial sua centralidade
no âmbito das ações da política de assistência social, como espaço privilegiado
e insubstituível de proteção e socialização primárias, provedora de cuidados aos
seus membros, mas que precisa também ser cuidada e protegida. Essa correta
percepção é condizente com a tradução da família na condição de sujeito de
direitos, conforme estabelece a Constituição Federal de 1988, o Estatuto da
Criança e do Adolescente, a Lei Orgânica de Assistência Social e o Estatuto do
Idoso.

2015/FGV/TJ-BA. A Política Nacional de Assistência Social (PNAS), ao ressaltar a


centralidade da família, o faz a partir do entendimento de que a família:

a) é o espaço privilegiado e insubstituível de proteção e socialização primárias;

b) constitui-se na primeira e principal célula da sociedade capitalista;

c) possibilita às crianças o exemplo necessário para a atuação na sociedade;

d) deve ser resguardada, pois dela derivam todos os vícios e também todos os bons
exemplos;

e) necessita de proteção especial, pois sozinha não consegue cumprir sua função.

43
Resposta Correta: Letra a) é o espaço privilegiado e insubstituível de proteção e
socialização primárias.

Comentário: As reconfigurações dos espaços públicos, em termos dos direitos sociais


assegurados pelo Estado democrático de um lado e, por outro, dos constrangimentos
provenientes da crise econômica e do mundo do trabalho, determinaram
transformações fundamentais na esfera privada, resignificando as formas de
composição e o papel das famílias. Por reconhecer as fortes pressões que os processos
de exclusão sócio cultural geram sobre as famílias brasileiras, acentuando suas
fragilidades e contradições, faz-se primordial sua centralidade no âmbito das ações da
política de assistência social, como espaço privilegiado e insubstituível de proteção e
socialização primárias, provedora de cuidados aos seus membros, mas que precisa
também ser cuidada e protegida. Essa correta percepção é condizente com a tradução
da família na condição de sujeito de direitos, conforme estabelece a Constituição
Federal de 1988, o Estatuto da Criança e do Adolescente, a Lei Orgânica de Assistência
Social e o Estatuto do Idoso.

Família

A família, independentemente dos formatos ou modelos que assume, é


mediadora das relações entre os sujeitos e a coletividade, delimitando,
continuamente os deslocamentos entre o público e o privado, bem como geradora
de modalidades comunitárias de vida. Todavia, não se pode desconsiderar que
ela se caracteriza como um espaço contraditório, cuja dinâmica cotidiana de
convivência é marcada por conflitos e geralmente, também, por desigualdades,
além de que nas sociedades capitalistas a família é fundamental no âmbito da
proteção social.

Em segundo lugar, é preponderante retomar que as novas feições da família


estão intrínseca e dialeticamente condicionadas às transformações societárias
contemporâneas, ou seja, às transformações econômicas e sociais, de hábitos e
costumes e ao avanço da ciência e da tecnologia. O novo cenário tem remetido à
discussão do que seja a família, uma vez que as três dimensões clássicas de sua

44
definição (sexualidade, procriação e convivência) já não têm o mesmo grau de
imbricamento que se acreditava outrora. Nesta perspectiva, podemos dizer que
estamos diante de uma família quando encontramos um conjunto de pessoas que
se acham unidas por laços consanguíneos, afetivos e, ou, de solidariedade. Como
resultado das modificações acima mencionadas, superou-se a referência de
tempo e de lugar para a compreensão do conceito de família.
O reconhecimento da importância da família no contexto da vida social está
explícito no artigo 226, da Constituição Federal do Brasil, quando declara que a:
“família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado”, endossando, assim,
o artigo 16, da Declaração dos Direitos Humanos, que traduz a família como sendo
o núcleo natural e fundamental da sociedade, e com direito à proteção da
sociedade e do Estado. No Brasil, tal reconhecimento se reafirma nas legislações
específicas da Assistência Social – Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA,
Estatuto do Idoso e na própria Lei Orgânica da Assistência Social – LOAS, entre outras.
Embora haja o reconhecimento explícito sobre a importância da família na vida
social e, portanto, merecedora da proteção do Estado, tal proteção tem sido cada vez
mais discutida, na medida em que a realidade tem dado sinais cada vez mais evidentes
de processos de penalização e desproteção das famílias brasileiras. Nesse contexto, a
matricialidade sociofamiliar passa a ter papel de destaque no âmbito da Política
Nacional de Assistência Social – PNAS. Esta ênfase está ancorada na premissa de
que a centralidade da família e a superação da focalização, no âmbito da política de
Assistência Social, repousam no pressuposto de que para a família prevenir, proteger,
promover e incluir seus membros é necessário, em primeiro lugar, garantir condições
de sustentabilidade para tal. Nesse sentido, a formulação da política de Assistência
Social é pautada nas necessidades das famílias, seus membros e dos indivíduos.
Essa postulação se orienta pelo reconhecimento da realidade que temos hoje
através de estudos e análises das mais diferentes áreas e tendências. Pesquisas sobre
população e condições de vida nos informam que as transformações ocorridas na
sociedade contemporânea, relacionadas à ordem econômica, à organização do
trabalho, à revolução na área da reprodução humana, à mudança de valores e à
liberalização dos hábitos e dos costumes, bem como ao fortalecimento da lógica
individualista em termos societários, redundaram em mudanças radicais na
organização das famílias. Dentre essas mudanças pode-se observar um
enxugamento dos grupos familiares (famílias menores), uma variedade de
arranjos familiares (monoparentais, reconstituídas), além dos processos de

45
empobrecimento acelerado e da desterritorialização das famílias gerada pelos
movimentos migratórios.

Essas transformações, que envolvem aspectos positivos e negativos,


desencadearam um processo de fragilização dos vínculos familiares e
comunitários e tornaram as famílias mais vulneráveis. A vulnerabilidade à pobreza
está relacionada não apenas aos fatores da conjuntura econômica e das
qualificações específicas dos indivíduos, mas também às tipologias ou arranjos
familiares e aos ciclos de vida das famílias. Portanto, as condições de vida de
cada indivíduo dependem menos de sua situação específica que daquela que
caracteriza sua família. No entanto, percebe-se que na sociedade brasileira, dada
as desigualdades características de sua estrutura social, o grau de
vulnerabilidade vem aumentando e com isso aumenta a exigência das famílias
desenvolverem complexas estratégias de relações entre seus membros para
sobreviverem.

Assim, essa perspectiva de análise, reforça a importância da política de


Assistência Social no conjunto protetivo da Seguridade Social, como direito de
cidadania, articulada à lógica da universalidade. Além disso, há que considerar a
diversidade sociocultural das famílias, na medida em que estas são, muitas vezes,
movidas por hierarquias consolidadas e por uma solidariedade coativa que
redundam em desigualdades e opressões. Sendo assim, a política de Assistência
Social possui papel fundamental no processo de emancipação destas, enquanto sujeito
coletivo. Postula-se, inclusive, uma interpretação mais ampla do estabelecido na
legislação, no sentido de reconhecer que a concessão de benefícios está condicionada
à impossibilidade não só do beneficiário em prover sua manutenção, mas também de
sua família. Dentro do princípio da universalidade, portanto, objetiva-se a
manutenção e a extensão de direitos, em sintonia com as demandas e
necessidades particulares expressas pelas famílias.
Nessa ótica, a centralidade da família com vistas à superação da focalização,
tanto relacionada a situações de risco como a de segmentos, sustenta-se a partir da
perspectiva postulada. Ou seja, a centralidade da família é garantida à medida que na
Assistência Social, com base em indicadores das necessidades familiares, se
desenvolva uma política de cunho universalista, que em conjunto com as transferências
de renda em patamares aceitáveis se desenvolva, prioritariamente, em redes

46
socioassistenciais que suportem as tarefas cotidianas de cuidado e que valorizem a
convivência familiar e comunitária.
Além disso, a Assistência Social, enquanto política pública que compõe o tripé
da Seguridade Social, e considerando as características da população atendida por ela,
deve fundamentalmente inserir-se na articulação intersetorial com outras políticas
sociais, particularmente, as públicas de Saúde, Educação, Cultura, Esporte, Emprego,
Habitação, entre outras, para que as ações não sejam fragmentadas e se mantenha o
acesso e a qualidade dos serviços para todas as famílias e indivíduos.
A efetivação da política de Assistência Social, caracterizada pela
complexidade e contraditoriedade que cerca as relações intrafamiliares e as relações
da família com outras esferas da sociedade, especialmente o Estado, colocam desafios
tanto em relação a sua proposição e formulação quanto a sua execução.

Os serviços de proteção social, básica e especial, voltados para a atenção


às famílias deverão ser prestados, preferencialmente, em unidades próprias dos
Municípios, através dos Centros de Referência da Assistência Social básico e
especializado. Os serviços, programas, projetos de atenção às famílias e
indivíduos poderão ser executados em parceria com as entidades não
governamentais de assistência social, integrando a rede socioassistencial.

2012/VUNESP/SP. A qualificação da família como principal agente da socialização


primária e de locus privilegiado para o desenvolvimento da cidadania, da proteção
e do cuidado de seus membros certamente foi determinante para sua primazia na
concepção e implementação da política de Assistência Social, uma vez que, para
assumir esse papel que lhe é socialmente atribuído, faz-se necessário que ela seja
alvo de atenção pelo Estado. Todavia, para além da centralidade da família, a
Política Nacional de Assistência Social estabelece a matricialidade sociofamiliar,
colocando em foco:

a) as necessidades e peculiaridades das famílias, entendendo-as como sujeito coletivo.

b) o status quo, reconhecendo a manutenção de seu papel, conforme função


originalmente atribuída.

47
c) os costumes e hábitos socialmente instituídos, que no tempo presente evidenciam as
configurações que lhe são peculiares.

d) os processos permanentes de exclusão social, dado o capitalismo tardio que


caracteriza a sociedade brasileira.

e) as forças presentes na definição de sua composição enquanto célula mater da


sociedade.

Resposta Correta: Letra a) as necessidades e peculiaridades das famílias,


entendendo-as como sujeito coletivo.

48
6. CUIDADOS COM A FAMÍLIA E GRUPOS VULNERÁVEIS

Segundo Mioto (2000), o cuidado com famílias e grupos vulneráveis


necessita de propostas e ações interdependentes e com comunicação contínua.

Há três níveis de atuação/ação propostas:

✓ Proposição, articulação e avaliação de políticas sociais;


✓ Organização e articulação de serviços;
✓ Intervenção em situações familiares.

A proposição, articulação e avaliação das políticas sociais têm o objetivo de dar


sustentabilidade às famílias. Envolve propostas de políticas sociais, não apenas
compensatórias, para possibilitar a convivência familiar em patamares condizentes com
as expectativas que a sociedade tem em relação às famílias.

Aponta a necessidade não eleger um modelo de família, uma vez que poderá
estereotipar e provocar discriminação com outros grupos familiares (MIOTO, 2000).

A organização e a articulação de serviços são fundamentais para a


sustentabilidade das famílias e, por isso, é urgente estabelecer novas pautas de
relacionamento entre famílias e serviços. O objetivo institucional é o de estar a serviço
das famílias (MIOTO, 2000).

A intervenção em situações familiares refere-se às ações dos assistentes


sociais diretamente com as famílias, o objetivo principal é identificar as fontes de
mudanças e todos os recursos (tanto das famílias como os do meio social) que
contribuam para que as famílias consigam articularem respostas compatíveis com uma
melhor qualidade de vida (MIOTO, 2000).

O pressuposto ou fundamento do trabalho social com famílias, previsto na


legislação da assistência social, como PNAS, SUAS, e, em especial, no principal
programa desenvolvido nos Centros de Referência de Assistência Social (CRAS),
Programas de Atenção Integral à Família (PAIF) é a concepção de família.

49
Quanto ao arcabouço conceitual da PNAS e SUAS, é visível, ao lado da
modernização conceitual, no que diz respeito à concepção, composição e estruturação
das famílias, o conservadorismo nas expectativas em relação às funções da família.

A PNAS (BRASIL, 2004, p. 28), tendo como referência o PAIF, destaca a


concepção de família que o rege e à política, definindo-a do seguinte modo:

“estamos diante de uma família, quando encontramos um conjunto de pessoas


que se acham unidas por laços consanguíneos, afetivos e/ou de solidariedade”;
portanto, partem de uma visão ampliada de família. Reconhece, ainda, que “não
existe família enquanto modelo idealizado, e sim família resultante de uma
pluralidade de arranjos e rearranjos estabelecidos pelos integrantes dessa
família”.

Pode-se, então, afirmar que a política (e o Estado) assume uma posição que
contribui para enfraquecer os estigmas associados à maternidade sem casamento, às
famílias reconstituídas, às vezes, sem vínculos formais, às uniões consensuais, ao
divórcio, assumindo todos esses grupos como unidade familiar e sujeitos à proteção
social da assistência social, desde que dela necessitem.

Mas também se observa no desenho da política que a proteção oferecida exige


contrapartidas; qual seja, que a família cumpra suas clássicas funções,
sobrecarregando de responsabilizações à família e reproduzindo estereótipos acerca
dos papéis familiares.

Isso porque, apesar de a PNAS reconhecer teoricamente e assim superar o


modelo único baseado na família nuclear, ainda tem expectativas quanto às funções
básicas da família desse modelo: “prover a proteção e a socialização dos seus
membros, constituir-se como referências morais, de vínculos afetivos e sociais; de
identidade grupal, além de mediadora das relações dos seus membros com outras
instituições sociais e com o Estado” (BRASIL, 2004, p. 35).

Embora essa concepção supere o conceito de família como unidade econômica


(NOB/SUAS), mera referência de cálculo de rendimento per capita, e parta de uma visão
ampliada de família, com formato plural, historicamente situada, e inclua a ideia de que
esta deve ser apoiada, o objetivo, na verdade, é apoiar para que esta possa

50
desempenhar o seu papel de sustento, na guarda, na socialização e na educação de
suas crianças, adolescentes, no cuidado de seus idosos e portadores de deficiência.

Logo, a noção de matricialidade sociofamiliar desvela seu verdadeiro


significado, de ampliar e contar – mediante estratégias de racionalização e orientação –
com a proteção da família, reforçando a tendência familista da política social brasileira.

Assim, apesar de o reconhecimento da pluralidade de formas familiares, as


homogeneízam em suas funções, papéis e relações internas, trata-a, a priori, como os
lócus da felicidade, do refúgio da vida desumana do mercado, da proteção social.

O PAIF tem como pressuposto que a família é o núcleo básico de


afetividade, acolhida, convívio, autonomia, sustentabilidade e referência no
processo de desenvolvimento e reconhecimento do cidadão; e, de outro, que o
Estado tem o dever de prover proteção social respeitada à autonomia dos arranjos
familiares (BRASIL, 2006, p. 28).

Portanto, reconhece os diferentes arranjos familiares e o papel integrador


da família, apostando nessa capacidade das famílias para maximizar a proteção
oferecida.

É essa ambiguidade de reforço das funções protetivas da família de um lado; e,


de outro, como alvo de proteção social que denota a dimensão da parceria
público/privada na proteção social, e sua dimensão estratégica em contexto de redução
de gastos sociais, posto que se possa contar com a parceria da família para
potencializar a proteção social oferecida, mesmo quando não ocorre em quantidade
nem qualidade suficiente para suprir todas as atenções necessárias e demandadas.

Essa concepção de família direciona e tem impactos nas indicações e


recomendações do Ministério do Desenvolvimento e Combate à Fome (MDS) para o
trabalho social com famílias a ser desenvolvido na proteção social básica, sendo seus
lócus principal os CRAS.

O trabalho socioassistencial desenvolvido nos CRAS, que se relaciona a toda a


ação de provimento e de sustentação para o atendimento das famílias usuárias, é
acompanhado das ações de acolhimento, escuta qualificada e encaminhamento, e

51
também de ações socioeducativas, que, segundo Mioto (2004b, p.10), “estão
relacionadas àquelas que, através da informação, da reflexão, ou mesmo da relação,
visam provocar mudanças (valores, modo de vida)”.

Esse trabalho, denominado de “núcleos socioeducativos” com famílias ou


seus representantes, está previsto e é financiado pelo piso fixo básico, seja efetivado
no CRAS seja em outras unidades operacionais da assistência social do município, onde
também são ofertados outros serviços complementares de proteção social básica, nos
quais se trabalham com as famílias dos segmentos atendidos ou em grupos de famílias.

As normas técnicas (BRASIL, 2006, p. 42) definem os núcleos socioeducativos


como espaço de discussão, vivências e reflexões, e há indicação para a abordagem
de questões relacionadas às etapas dos ciclos de vida familiar.

Sugere-se:

• Criar situações em que as famílias possam expressar coletivamente suas dúvidas


e conflitos, construindo soluções para os problemas cotidianos, relacionados ao
cuidado de suas crianças, adolescentes, jovens, adultos, idosos e pessoas com
deficiência.
• Refletir com a família sobre as mudanças em sua dinâmica e redistribuição de
papéis, a partir do desenvolvimento de seus filhos.
• Desenvolver habilidades de cuidado, orientação e acompanhamento das
crianças. Debater aspectos relacionados ao desenvolvimento infantil, às
necessidades de estimulação nessa fase da vida, à importância de proporcionar
espaços e oportunidades voltadas e orientadas pelas necessidades infantis e
desafiadoras [...]. Debater temas relacionados ao desenvolvimento da criança, do
adolescente e do jovem, características e interesses.
• Refletir sobre a necessidade de proteção aos seus membros idosos e de
valorização do seu saber.
• Discutir as estratégias para o desenvolvimento das competências da pessoa com
deficiência, destacando o papel fundamental das famílias e da comunidade no
processo de reabilitação e inclusão das pessoas com deficiências.

Estas sugestões dão a nítida dimensão do trabalho socioeducativo; ele se volta


majoritariamente para a discussão de questões internas à família, no sentido de gerar

52
habilidades para o cuidado doméstico, para o reforço das responsabilidades familiares,
a partir dos novos conhecimentos adquiridos e da discussão e reflexão do seu cotidiano.

Portanto, tais práticas são herdeiras da educação disciplinadora e normatizadora


da família, que assumem versões modernizadoras que escamoteiam sua dimensão
normativa, em nome de processos educativos que visam aquisição, junto à família, de
novos conhecimentos, atitudes, posturas e poder de decisão, ou seja, sua “autonomia”.

Essas recomendações materializam a noção de matricialidade sociofamiliar


definidas na política e nas orientações de sua implementação e vice-versa, esta orienta
o trabalho social com famílias; ambos não poderão superar, pelas suas limitações
conceituais e práticas, as históricas tendências do modo de trabalhar com famílias,
como a perspectiva psicologizante individual.

Assim, a grande inovação do conceito de família subjacente à legislação não


encontra formas de materialização. Admite-se a pluralidade de arranjos familiares, mas
os trata como homogêneos em necessidades e em funções.

Apesar de essas recomendações incorrerem em uma dimensão conservadora


do trabalho com famílias, verifica-se a potencialidade do trabalho social nos CRAS, em
especial, com grupos, como antídoto à sua transformação em serviço cartorial, de
cadastramento, recadastramento, acesso a benefícios, mas de oferta de serviços de
suporte à família, que envolve a família e seus representantes com serviços de
orientação, informação, conscientização sobre direitos, modos de acessá-los e garanti-
los, e reflexão sobre suas dificuldades cotidianas.

Podem-se destacar também como inovadores os objetivos do trabalho social na


proteção social básica, de fortalecer os vínculos familiares antes de sua dissolução,
trabalhar de forma preventiva para evitar riscos e violação de direitos, por meio dos
benefícios, programas e trabalho socioeducativo, que visam a autonomia e o
protagonismo desses sujeitos. Esses termos – autonomia, empoderamento,
protagonismo, emancipação – são ainda trabalhados de forma muito abstrata, e
dificilmente são alcançados nos marcos de programas específicos.

É preciso superar a noção de autonomia, protagonismo social,


empoderamento e outras expressões tomadas no aspecto individual, que se
constroem pelo aconselhamento individual ou grupal, centradas na mudança da

53
subjetividade individual ou do grupo, como forma de libertá-lo da dependência
dos benefícios sociais, de ensiná-lo a “andar com as próprias pernas”, mediante
processos profissionais que fortalecem a autoestima, a capacidade produtiva,
dando-lhe condições de empregabilidade, como se a ausência de trabalho se
devesse apenas a não capacitação ou falta de vontade, de crença nas suas
potencialidades.

A noção de autonomia como a capacidade de cada sujeito dar conta de sua vida,
dos cuidados necessários para que ele caminhe sem a necessidade de benefícios
sociais, de aconselhamento e acompanhamentos pode induzi-lo a buscar saídas nele
mesmo, em suas capacidades, potencialidades, inclusive do reforço de suas
responsabilidades familiares e individuais, e não na luta pelo benefício como um direito,
inclusive, universal, como dever do Estado de prover certo padrão digno de vida a todo
cidadão, cujas condições são reflexos das desigualdades e que afetam as relações
familiares.

É preciso direcionar o trabalho socioeducativo com famílias para além


dessa dimensão liberal, individual e subjetivista de autonomia, no sentido de
articular significados e práticas; ou seja, partir da compreensão de que as
subjetividades se alteram pelas práticas sociais e não por simples conscientização. Daí
ser fundamental o acesso a condições objetivas, fornecidas pelas políticas públicas
como direitos. Nisso se incluem a apropriação e produção de novos sentidos pessoais
e a inserção da pessoa no engajamento coletivo por melhores condições de vida
(KAHHALE, 2004), de modo que é indispensável o processo de informação, reflexão,
mas também de organização dos diferentes grupos que compõem o território para que
seus direitos sejam garantidos e novas conquistas sejam inseridas nas políticas
públicas, a partir de suas demandas. Assim, a constituição de sujeitos de direitos se dá
no processo de compreensão das determinações sociais de suas condições de vida,
material e afetiva; no reconhecimento da força do coletivo; e nas possibilidades
concretas de acesso aos bens e serviços produzidos socialmente.

54
7. TRABALHO SOCIAL COM FAMÍLIAS: ELEMENTOS PARA
SUA RECONSTRUÇÃO EM BASES CRÍTICAS

Entre os novos pressupostos para o trabalho social com família, destaca-se


a concepção de família. Para a compreensão ampla do termo e que dê conta da
variedade de organizações familiares, é preciso analisá-la não como uma instituição
natural, mas social e histórica, podendo assumir configurações diversificadas em
sociedades ou no interior de uma mesma sociedade, conforme as classes e grupos
sociais heterogêneos.

Para Mioto (1997, p. 116), essa compreensão “se contrapõe ao entendimento de


que a família é um grupo natural, limitado à essência biológica do homem e à sua
continuidade através da consanguinidade e da filiação”, assim como da naturalização
da divisão sexual do trabalho, dos papéis, da identificação do grupo conjugal como
forma básica elementar de toda família, dentre outras.

O segundo passo é romper com as concepções que tratam a família como


interiormente homogênea e apreciável em qualquer contexto social e histórico
(SARACENO, 1992). Os estudos antropológicos têm apontado uma variedade de
experiências familiares ao longo da história e na contemporaneidade, modos de
organizações plurais, assim como modos diferentes de atribuir significados aos
agrupamentos familiares. Conforme destaca Saraceno (1992, p. 210), “as famílias
realmente existentes não são de modo nenhum homogêneas entre si no que diz respeito
a recursos, fase do ciclo de vida, mas também modelos culturais e organizativos”.

Também internamente, a família não é homogênea, as relações entre seus


membros são assimétricas, conservam diferenciações de gênero e de geração, e
são hierarquizadas. Não se trata de um bloco homogêneo nem necessariamente
harmonioso (SARACENO, 1992; CAMPOS, 2008).

55
O termo unitário família alude a uma forte unidade e homogeneidade, porém
oculta uma realidade marcada por interesses divergentes, modelos hierárquicos,
relações de poder e força, mas também processos de negociação, de cooperação e de
solidariedade.

Saraceno (1992, p. 14) afirma que a família também é o espaço histórico e


simbólico no qual e a partir do qual se desenvolve a divisão do trabalho, dos espaços,
das competências, dos valores, dos destinos de homens e mulheres, ainda que isso
assuma formas diversas nas várias sociedades.

Considerando essa diversidade, a família pode ser definida “como um núcleo de


pessoas que convivem em determinado lugar, durante um lapso de tempo mais ou
menos longo e que se acham unidas, ou não, por laços consanguíneos” (MIOTO, 1997,
p.120); ou ainda, como destaca a autora: “estamos diante de uma família quando
encontramos um espaço constituído de pessoas que se empenhem umas com as
outras, de modo contínuo, estável e não casual [...] quando subsiste um empenho real
entre as diversas gerações” (MIOTO, 2004a, p. 14-15).

Trata-se de uma visão ampliada e atual de família, posto que as pessoas que
convivem em uma ligação afetiva duradoura podem ser um homem e uma mulher e
seus filhos biológicos; mas também um casal do mesmo sexo, ou apenas a mulher com
seus filhos legítimos ou adotados, e outra infinidade de arranjos.

O que dá unidade a essa síntese de múltiplas determinações que permite usar


o termo família, apesar da diversidade que a comporta, da pluralidade de formas,
experiências e significados é o fato de esta ser (MIOTO, 2000, p. 1) o espaço
privilegiado da história da humanidade, no qual aprendemos a ser e a conviver; ou
seja, ela é a matriz da identidade individual e social, portanto, geradora de formas
comunitárias de vida e espaços de proteção primária aos seus membros.

Essa concepção, portanto, contrapõe-se àquelas concepções que: - tratam a


família a partir de uma determinada estrutura, tomada como ideal (casal com seus filhos)
e com papéis predefinidos; - tomam a família como a principal responsável pelo bem-
estar de seus membros, desconsiderando em grande medida as mudanças ocorridas
na sociedade (MIOTO, 2010).

A partir desse eixo alternativo, as necessidades trazidas por sujeitos singulares


não mais são compreendidas como problemas individuais/familiares, ou tratados como
casos de famílias.

56
Segundo Mioto (2004b, p.12), as “condutas, dificuldades e problemas expressos
pelas famílias são interpretados como expressão de conflitos instaurados no contexto
de uma dinâmica familiar [...] profundamente marcada pelas contradições de uma
sociedade em um determinado momento histórico”.

Nessa perspectiva, o trabalho socioeducativo com famílias ultrapassa a


indução de reflexões internas e o uso do grupo como troca de experiências e
ajuda mútua, para se transformar em instrumento de construção de um novo
conhecimento, partilhado e crítico, que os leva a sair do imediatismo de suas
necessidades, para entendê-las enquanto coletivas, enquanto necessidades
sociais de classe, que devem ser atendidas pelo poder público, como condição
fundamental para a garantia de direitos e de qualidade de vida.

O que não significa que os temas relacionados às vivências, sofrimentos,


violências, decorrentes da situação de vulnerabilidade ou risco social que compartilham
não sejam debatidos, refletidos, mas deve-se evitar o que Sawaya (2004) denomina
“ditadura da intimidade” ou “ditadura da privacidade”, que expressa o fortalecimento da
família apartheid, pois isola seus membros de outras formas de associação e grupos,
fechando temas de interesse no espaço doméstico e a cargo das famílias.

Esse fechamento da família em si mesma e nas soluções domésticas aumentaria


o sofrimento de não poder cumprir os papéis sociais exigidos por ela, como, por
exemplo, tirar os filhos da rua, da criminalidade, da delinquência, das drogas, além de
dar sustentabilidade material, afetiva, proteção e cuidados a seus membros, sem
compreender o porquê da redução de seu poder e autoridade perante as gerações mais
jovens, da redução do tempo dedicado ao lar, do endurecimento das relações afetivas
e até da violência no seio familiar.

Nessa perspectiva, o foco das ações socioassistenciais e socioeducativas


deve ser as necessidades das famílias e a garantia dos direitos de cidadania, cujas
propostas e ações perpassam o âmbito específico de uma política, para uma
perspectiva intersetorial, integrada e articulada. No âmbito específico da
assistência social, essas ações devem ser guiadas pela efetivação de direitos e
da responsabilidade pública, que deve ser o norte do trabalho social com famílias
ou grupos de famílias.

57
Os objetivos do trabalho social com famílias devem ser a autonomia e o
protagonismo, compreendidos na perspectiva de participação social e do
coletivo. Assim, é essencial superar a visão liberal de autonomia, do “ensinar a
pescar”, do “andar com suas próprias pernas” sem que seja garantido como
direito o acesso às condições materiais e subjetivas necessárias para tal.

Para superar essa dimensão individualista do conceito de autonomia, Kahhale


(2004, p. 105) sugere a sua complementação com o conceito de cidadania, que indica
acesso a direito e participação ativa nos rumos da sociedade, utilizando o conceito de
Sposati (2004, p. 04), que considera cidadania como:

O reconhecimento de acesso a um conjunto de condições básicas para que a


identidade do morador de um lugar se construa pela dignidade, solidariedade [...]. Esta
dignidade supõe não só o usufruto de um padrão básico de vida, com a condição de
presença, interferência e decisão na esfera pública da vida coletiva.

Nessa perspectiva, o trabalho socioeducativo em grupo se encaminha para


o reconhecimento das famílias e seus membros como sujeitos de direitos. A
pessoa participante do grupo de famílias é levada a ver-se como representante de uma
família, cujos problemas vivenciados são comuns a muitas outras famílias que sofrem
as mesmas determinações, e que participa de um grupo maior com situações
semelhantes. O grupo deve se enxergar enquanto tal, identificar e encaminhar
demandas e visualizar suas possíveis soluções, como ainda superar a
responsabilização individual pelo bem-estar social, para incluir a dimensão pública e
social destas, mediante articulação de serviços e políticas que promovam a proteção
social.

Acredita-se que, com essa perspectiva, se ultrapasse a noção de subjetividade


individual para a dimensão coletiva, e se promova a organização social, a participação
popular, e a passagem da necessidade ao direito, como possibilidades concretas de
construção de novos significados e práticas, inclusive a de sujeitos de direitos.

Assim, a autonomia como capacidade de decidir, optar, eleger objetivos,


metas, crenças é condição fundamental para que se alcancem objetivos de
participação social, principalmente, para o reconhecimento da força do grupo, da
organização e lutas coletivas.

58
A noção de autonomia das famílias não se deve restringir à busca de
respostas e soluções dos problemas por si mesmas, em especial, mediante recursos
internos; antes, implica o desenvolvimento da capacidade de discernir as mudanças
possíveis de serem realizadas no âmbito dos grupos familiares e de suas redes
daquelas que exigem o engajamento deles, organizados em coletivos, em processos
sociais mais amplos para que ocorram transformações mais gerais e a efetivação de
direitos. Assim, envolve capacidade de opinar, escolher, decidir e agir intencionalmente,
mediante suportes oferecidos, construídas, situações refletidas, informadas, debatidas,
devendo ser esses os objetivos da educação que visa à emancipação.

Para efetivar essas potencialidades, é preciso ainda superar o trabalho


socioeducativo em grupo como espaço terapêutico, clínico, de tratamento pela troca de
experiências comuns.

O trabalho socioeducativo com grupos de famílias, ou grupos de segmentos


atendidos, que algumas vezes envolve suas famílias, funciona como espaço de reflexão
e troca de experiências, utilizado em muitas situações como um recurso terapêutico,
cuja direção do que é discutido e refletido se encaminha, predominantemente, para
questões internas às famílias, seus conflitos, como exercer seus papéis, ou empregado
para prestar informações.

Esse reducionismo das funções socioeducativas pode fortalecer práticas


normativas e disciplinadoras que se dirigem a ensinar as famílias a gerir recursos, a
disciplinar os filhos, a exercer as funções de cuidado, proteção e educação, sem alterar
as situações que as impedem de exercê-las como há cinquenta anos.

É preciso compreender as mudanças, inclusive de valores, culturais e


sociais sobre a família, e buscar estratégias de como conviver com elas, a partir,
principalmente, do apoio do poder público, da rede social com acesso igualitário
de oportunidades e aos recursos públicos e privados.

Apesar das mudanças que o termo terapia tem passado, ainda significa
“tratamento de doença, desordem, defeito etc., por algum tipo de processo curativo ou
que remedie” (PENGUIN apud CAMPOS; REIS, 2009, p. 60); seu uso é, portanto,
inapropriado para a proteção social básica, seja individual ou coletiva.

59
Sem dúvida, o grupo é um espaço de potencialidades, em que se realizam a
escuta, a reflexão, o diálogo e a troca de experiências; um espaço de comunicação e
aprendizagem (Cf. GUIMARÃES; ALMEIDA, 2007, p. 132).

Todavia, não deve ser utilizado como instrumento de busca de enfrentamento


das situações de carência de modo individualizado nem por meio dos recursos da
família e da comunidade, eximindo o poder público da responsabilidade pelo
enfrentamento da questão social, nem responsabilizando as famílias pela busca de
soluções de problemas que extrapolam suas possibilidades de respostas, nem com fins
terapêuticos e subjetivistas.

O trabalho socioeducativo é cada vez mais necessário, visto que, na


expressão de Mioto (2004b), a cidadania não se restringe ao acesso a benefício
monetário, embora sua inclusão como beneficiário seja uma das condições para
sua realização, mas a cidadania envolve também ações em direção à informação,
à educação, à cultura, entre outras, implicando o desenvolvimento da capacidade
de refletir, de analisar, de decidir, de mobilizar-se e de participar pelo bem comum.

Contudo, para cumprir essa dimensão educativa em uma perspectiva


emancipatória, não se deve restringir a responsabilizar as famílias, ou a ensiná-las a
gerir seus conflitos, seus parcos recursos, sua vida, como se tudo dependesse de um
processo de racionalização e planejamento, de cumprimento de papéis e normas e não
de carências coletivas.

Logo, deve-se evitar essa dimensão disciplinadora e levar as famílias a refletirem


sobre sua realidade, conhecer serviços e recursos do território, mobilizar-se e incluir-se
em processos organizativos, coletivos, na busca de garantia dos seus direitos.

Os objetivos do trabalho socioeducativo devem ser:

• Fortalecimento do processo organizativo dos usuários, do coletivo;


• Desenvolvimento do sentimento comum na família, nos grupos de família,
naquele território;
• Necessidade da participação e do controle social.
• Educação que visa à emancipação social.

60
Logo, o oposto às recomendações do MDS e as dimensões da noção de
matricialidade sociofamiliar, incapazes de superar a subalternidade histórica dos
usuários da assistência social.

Os processos de escuta qualificada, de acolhimento, de acompanhamento não


devem ser compreendidos como terapêuticos nem domínios da Psicologia, mas modos
de trato do usuário como cidadão, como sujeito de direito, o direito a ter atendimento
respeitoso, atencioso, que informa, orienta, acolhe e escuta.

As alternativas metodológicas devem ser pensadas e executadas, buscando


superar a dicotomia entre assuntos interno e externo à família, sem hipertrofiar um em
detrimento do outro, mas trabalhar sua dialética, entendendo o interno não fechado nos
muros domésticos, mas decorrentes da estruturação da sociedade e de suas dinâmicas
de transformações, e a necessidade do fortalecimento do coletivo na luta pela garantia
de respostas públicas às suas necessidades.

Guimarães (2004, p. 115) salienta os passos metodológicos do trabalho


socioeducativo com famílias:

São acolhidas e consideradas as dúvidas, os problemas, as preocupações e o


sofrimento trazido pelos integrantes do grupo. Ao mesmo tempo, procura-se auxiliar o
participante e o conjunto das pessoas a situarem a questão em seu contexto social mais
amplo, informando, debatendo, orientando a discussão para a compreensão do que é
vivido e sofrido subjetivamente, articulado ao contexto mais amplo e comum aos
membros do grupo: os direitos do cidadão.

Essas estratégias metodológicas poderão contribuir para a construção de


propostas de trabalho comprometidas com a lógica do direito, da construção de
sujeitos sociais conscientes e participativos, sem negligenciar as preocupações
imediatas das famílias, inclusive seus conflitos familiares, seus sofrimentos, mas sem
cair no psicologismo dos problemas sociais.

Trabalhar dialeticamente as questões internas e externas às famílias, de forma


articulada e numa perspectiva de totalidade, como recomendação de “não dar à questão
social um tratamento de exterioridade à vida pessoal cotidiana” (SAWAYA, apud
CAMPOS, 2004, p. 33), mas sem supervalorizar as questões subjetivas ou internas às
famílias, cujo objetivo deve ser sempre o alargamento da percepção das situações
pessoais e sociais e a luta pela garantia dos direitos.

O trabalho socioeducativo com famílias ou grupos de famílias, bem como os


procedimentos individuais de acolhimento, escuta qualificada, encaminhamentos e

61
acompanhamentos devem buscar a inserção desses sujeitos no circuito do território e
da rede de segurança social e articular o individual e o familiar no contexto social,
levando-os a ultrapassar o imediatismo de suas concepções, mas tendo como princípio
que subjetividades transformadas só provocam mudanças com ações coletivas, com
acesso a serviços, benefícios, ou seja, com condições objetivas.

PONTOS COMENTADOS- PARTE I

FAMÍLIA: TRANSFORMAÇÕES E CONFIGURAÇÕES

• Destacam-se como algumas características de uma nova configuração das famílias


brasileiras, que teve início nos anos 1990, a redução do número de filhos, o predomínio
das famílias nucleares; I - o aumento significativo das famílias monoparentais, com
predominância das mulheres como chefes; III- o aumento das famílias recompostas; IV-
o aumento de pessoas que vivem sós;

• O que observamos, contudo, é a existência de grande parcela da população que se


separa, constitui uma nova família, com os mesmos padrões da família nuclear, apesar
de ser a segunda constituição. Geralmente, o ex-cônjuge busca constituir uma nova
união, sendo que dessa união descendem os filhos do novo casal. As mudanças
tecnológicas e os efeitos da globalização influenciam diferentemente a população de
determinadas classes sociais e a maneira que os ‘arranjos domésticos’ são
estabelecidos dependerá da maneira pela qual aquela família sofrerá as mudanças
(JOSÉ FILHO, 2007). É certo que atualmente o modelo tradicional de família deu espaço
a uma infinidade de outros modelos familiares, que têm muitas diferenças do padrão
nuclear tradicional. Essas alterações são partes das nossas histórias, partes da nossa
sociedade, partes das nossas vidas. A situação em que estamos vivendo demonstra as
possibilidades de reflexões acerca das ‘famílias’ na sociedade contemporânea. Famílias
essas que podem ser constituídas por um grupo de pessoas que residem juntas, pai,
mãe, filhos, netos, sobrinhos, dentre outros integrantes. Famílias que nem chegam a ter
o número de integrantes da família nuclear, sendo constituídas por casal sem filhos, ou
irmãos que residem juntos, ou uma pessoa sozinha. Enfim, a família mudou, ou as
“famílias” mudaram.

• De fato, a família é o primeiro sujeito que referencia e totaliza a proteção e a


socialização dos indivíduos. Independentemente das múltiplas formas e desenhos que

62
a família contemporânea apresente, ela se constitui num canal de iniciação e
aprendizado dos afetos e das relações sociais.

• O Serviço Social brasileiro, após a reconceituação, orientou-se por uma visão


transformadora e crítica da realidade, que o levou a compreender a família no interior
da questão mais ampla, contraditória e complexa do conflito das classes.

• As reconfigurações dos espaços públicos, em termos dos direitos sociais assegurados


pelo Estado democrático de um lado e, por outro, dos constrangimentos provenientes
da crise econômica e do mundo do trabalho, determinaram transformações
fundamentais na esfera privada, resignificando as formas de composição e o papel das
famílias. Por reconhecer as fortes pressões que os processos de exclusão sócio cultural
geram sobre as famílias brasileiras, acentuando suas fragilidades e contradições, faz-
se primordial sua centralidade no âmbito das ações da política de assistência social,
como espaço privilegiado e insubstituível de proteção e socialização primárias,
provedora de cuidados aos seus membros, mas que precisa também ser cuidada e
protegida. Essa correta percepção é condizente com a tradução da família na condição
de sujeito de direitos, conforme estabelece a Constituição Federal de 1988, o Estatuto
da Criança e do Adolescente, a Lei Orgânica de Assistência Social e o Estatuto do Idoso.

A qualificação da família como principal agente da socialização primária e de locus


privilegiado para o desenvolvimento da cidadania, da proteção e do cuidado de seus
membros certamente foi determinante para sua primazia na concepção e
implementação da política de Assistência Social, uma vez que, para assumir esse papel
que lhe é socialmente atribuído, faz-se necessário que ela seja alvo de atenção pelo
Estado. Todavia, para além da centralidade da família, a Política Nacional de
Assistência Social estabelece a matricialidade sociofamiliar, colocando em foco as
necessidades e peculiaridades das famílias, entendendo-as como sujeito coletivo.

63
QUESTÕES DE PROVAS – PARTE I

1. 2012/VUNESP/SP. Nas últimas décadas, as famílias brasileiras vêm se


modificando e se reconfigurando, o que impossibilita pensar a família com base
em um modelo único ou ideal, como o tradicional casal com filhos. As alterações
na família fazem parte e estão relacionadas às transformações contemporâneas
da sociedade. Destacam-se como algumas características de uma nova
configuração das famílias brasileiras, que teve início nos anos 1990, a redução do
número de filhos, o predomínio das famílias nucleares, o (a):

I. aumento significativo das famílias monoparentais, com predominância das mulheres


como chefes

II. omissão da figura masculina da família na educação dos filhos

III. aumento das famílias recompostas

IV. aumento de pessoas que vivem sós

V. interferência dos meios de comunicação na formação dos filhos

Está correto apenas o contido em:

a) I, II e V.

b) I, III e IV.

c) II, III e V.

d) III, IV e V.

e) I, II, III e IV.

2. 2012/VUNESP/TJ-SP. No século XX, o mundo passou por intensas e rápidas


transformações sociais, marcadas pela inovação tecnológica e por mudanças
culturais. Dentre essas mudanças, destacam-se, entre outras, o acentuado
crescimento da demanda por educação, o declínio da classe operária industrial, a
entrada das mulheres no mercado de trabalho. O Brasil também tem sido
influenciado por essas mudanças, porém as mudanças geradas pela revolução

64
cultural nas relações familiares estabelecidas no Brasil têm que ser vistas com
certa cautela. De acordo com Fávero (2007), o modelo familiar nuclear, embora
continue detendo a hegemonia, ditando a norma:

a) mostrou, ao longo do tempo, constituir-se como o melhor arranjo na garantia de


direitos da criança e do adolescente.

b) contraria desejos expressos claramente em posições assumidas por lideranças e


governantes em âmbito nacional.

c) vem dando espaço a outros arranjos familiares que se diferenciam desse padrão
tradicional.

d) permanece vigente ainda que contrarie princípios educativos previstos na legislação


pertinente à infância.

e) dispensa a ação ativa de ambos os cônjuges na provisão de bens materiais e na


educação/formação dos filhos.

3. 2012/VUNESP/TJ-SP. A família é o locus, o status nascendi, a matriz dos


primeiros___________sociais da criança. Quando a família não cumpre seu papel
social de_____________de sua prole, de transmissora de valores culturais,
considerando como critério seu aspecto funcional, pode-se dizer que ela
fracassou no cumprimento de suas funções. Quando ocorrem situações de
vitimização física e sexual de crianças e adolescentes na família, pode-se dizer,
conforme Ferrari (2002), que se está diante de um grave problema
de___________entre pais e filhos, que se deteriorou.

a) conflitos … cuidadora … domínio

b) domínios … articuladora … comando

c) vínculos … protetora … relações

d) bens … defensora … afeto

e) contatos … organizadora … autoridade

65
4. 2005/TJSP/VUNESP/Q45. O Serviço Social brasileiro, após a reconceituação,
orientou-se por uma visão transformadora e crítica da realidade, que o levou a
compreender a família:

A) como gestora da força de trabalho feminino na contemporaneidade.

B) no interior da questão mais ampla, contraditória e complexa do conflito das classes.

C) como grupo social protetivo e relacional principalmente em situação de pobreza e


exclusão.

D) numa concepção de familiaridade complexa do conflito de classes, associada às


relações interpessoais.

E) como lócus de relações de poder, propiciando a emergência e a concretização do


individualismo

5. 2015B/FGV/TJ-BA. A Política Nacional de Assistência Social (PNAS), ao


ressaltar a centralidade da família, o faz a partir do entendimento de que a família:

a) é o espaço privilegiado e insubstituível de proteção e socialização primárias

b) constitui-se na primeira e principal célula da sociedade capitalista

c) possibilita às crianças o exemplo necessário para a atuação na sociedade

d) deve ser resguardada, pois dela derivam todos os vícios e também todos os bons
exemplos

e) necessita de proteção especial, pois sozinha não consegue cumprir sua função

6. 2012/VUNESP/SP. A qualificação da família como principal agente da


socialização primária e de locus privilegiado para o desenvolvimento da
cidadania, da proteção e do cuidado de seus membros certamente foi
determinante para sua primazia na concepção e implementação da política de
Assistência Social, uma vez que, para assumir esse papel que lhe é socialmente
atribuído, faz-se necessário que ela seja alvo de atenção pelo Estado. Todavia,
para além da centralidade da família, a Política Nacional de Assistência Social
estabelece a matricialidade sociofamiliar, colocando em foco:

66
a) as necessidades e peculiaridades das famílias, entendendo-as como sujeito coletivo.

b) o status quo, reconhecendo a manutenção de seu papel, conforme função


originalmente atribuída.

c) os costumes e hábitos socialmente instituídos, que no tempo presente evidenciam as


configurações que lhe são peculiares.

d) os processos permanentes de exclusão social, dado o capitalismo tardio que


caracteriza a sociedade brasileira.

e) as forças presentes na definição de sua composição enquanto célula mater da


sociedade.

GABARITO 1
1 B

2 C

3 C

4 B

5 A

6 A

67
PONTOS COMENTADOS- PARTE II

FAMÍLIA: TRANSFORMAÇÕES E CONFIGURAÇÕES

• Segundo José Filho (2007, p.150), a família tem que ser entendida enquanto uma
unidade em movimento, sendo constituída por um grupo de pessoas que,
independentemente de seu tipo de organização e de possuir ou não laços
consanguíneos, busca atender: - às necessidades afetivo-emocionais de seus
integrantes, através do estabelecimento de vínculos afetivos, amor, afeto,
aceitação, sentimento de pertença, solidariedade, apego e outros;- às necessidades
de subsistência-alimentação, proteção (habitação, vestuário, segurança, saúde,
recreação, apoio econômico);- às necessidades de participação social, frequentar
centros recreativos, escolas, igrejas, associações, locais de trabalho,
movimento, clubes (de mães, de futebol e outros).
• No Brasil, pesquisas recentes mostram o grande número de mudanças na
organização e na dinâmica familiar. Qual das características dessas
transformações? Aumento do número de domicílios monoparentais.
• O trabalho social com famílias é uma prática profissional apoiada em saber
científico, que para ser efetiva depende: A PNAS (2004) considera o território fator
determinante para a compreensão das situações de vulnerabilidade e riscos sociais,
enfrentados por indivíduos, famílias, grupos e comunidade. Isto é, reconhece que
não há como compreender os fenômenos societários, em especial aqueles ligados
aos fatores sociais, culturais e econômicos, fora do seu contexto territorial. Destaca-
se como método importante na compreensão da realidade social o método dialético,
que a partir de um processo crítico, visa captar o movimento histórico e suas
inerentes contradições, desvelando a realidade pela constante interação entre o
todo e as partes que a compõe. A dialética possibilita, por meio de uma atitude
reflexiva, apreender a complexidade e a dinamicidade da realidade social na qual os
profissionais do SUAS têm que atuar, exigindo destes uma postura reflexiva e crítica,
bem como um processo de formação continuada. a) de consciência crítica e espírito
pesquisador por parte dos profissionais do CRAS; b) do conhecimento do território
– suas potencialidades, recursos, vulnerabilidades, relações estabelecidas, de modo
a realizar uma ação preventiva e proativa; c) da adoção de abordagens e
procedimentos metodológicos apropriados para o cumprimento dos objetivos do

68
Serviço; d) de estudo e análise permanente dos conceitos fundamentais, tais como:
família e território, nas abordagens sociológica, antropológica, econômica,
psicológica, entre outras, cuja compreensão é essencial para a implementação
qualificada do PAIF; e) do planejamento e análise das ações a serem adotadas no
desenvolvimento do trabalho social com famílias; f) da promoção da participação
dos usuários no planejamento e avaliação das ações do Serviço; g) do
desenvolvimento de uma prática interdisciplinar entre os profissionais que compõem
a equipe de referência do CRAS: assistentes sociais e psicólogos; h) do
conhecimento sobre os ciclos de vida, questões étnicas, raciais, de orientação
sexual, assim como outras questões específicas identificadas no território.
• A questão pede um caráter contraditório que deve ser considerado a respeito
da família. A família, sob a ótica do pluralismo de bem-estar social, vem sendo
considerada pelos mentores das políticas contemporâneas, como um dos recursos
privilegiados na provisão do cuidado e da proteção, contudo, ressalta-se um caráter
contraditório, que deve ser considerado como relevante nesta definição: Analisando
as alternativas, a única que possui traços de uma situação contraditória é: a) É
considerada forte por ser um lócus privilegiado de solidariedade, socialização e na
transmissão de ensinamentos e fraca pois está sujeita a despotismos, rupturas e
violência, dentro da lógica capitalista vigente.
• O trabalho social com famílias, no âmbito da assistência social, demanda sabres
técnicos especializados. O trabalho exigido na operacionalização do trabalho social
com famílias, não mais compreendido como clientelismo, assistencialismo, caridade,
mas como política pública e dever do Estado, é um trabalho especializado, realizado
por técnicos de nível superior, com formação profissional, fundamentado em
conhecimentos teórico-metodológicos, técnico- operativos e ético-políticos, dentre
outros. O trabalho social com famílias é uma prática profissional apoiada em saber
científico.
• As reconfigurações dos espaços públicos, em termos dos direitos sociais
assegurados pelo Estado democrático de um lado e, por outro, dos
constrangimentos provenientes da crise econômica e do mundo do trabalho,
determinaram transformações fundamentais na esfera privada, resignificando as
formas de composição e o papel das famílias. Por reconhecer as fortes pressões
que os processos de exclusão sócio cultural geram sobre as famílias brasileiras,
acentuando suas fragilidades e contradições, faz-se primordial sua centralidade no
âmbito das ações da política de assistência social, como espaço privilegiado e
insubstituível de proteção e socialização primárias, provedora de cuidados aos seus

69
membros, mas que precisa também ser cuidada e protegida. Essa correta
percepção é condizente com a tradução da família na condição de sujeito de direitos,
conforme estabelece a Constituição Federal de 1988, o Estatuto da Criança e do
Adolescente, a Lei Orgânica de Assistência Social e o Estatuto do Idoso.
• O Serviço de Proteção e Atendimento Integral à Família (PAIF) é um trabalho de
caráter continuado que visa a fortalecer a função de proteção das famílias,
prevenindo a ruptura de laços, promovendo o acesso e usufruto de direitos e
contribuindo para a melhoria da qualidade de vida. Dentre os objetivos do PAIF,
destacam-se o fortalecimento da função protetiva da família; a prevenção da ruptura
dos vínculos familiares e comunitários; a promoção de ganhos sociais e materiais
às famílias; a promoção do acesso a benefícios, programas de transferência de
renda e serviços socioassistenciais; e o apoio a famílias que possuem, dentre seus
membros, indivíduos que necessitam de cuidados, por meio da promoção de
espaços coletivos de escuta e troca de vivências familiares. O PAIF tem como
público famílias em situação de vulnerabilidade social. São prioritários no
atendimento os beneficiários que atendem aos critérios de participação de
programas de transferência de renda e benefícios assistenciais e pessoas com
deficiência e/ou pessoas idosas que vivenciam situações de fragilidade. Suas ações
são desenvolvidas por meio do trabalho social com famílias, apreendendo as
origens, os significados atribuídos e as possibilidades de enfrentamento das
situações de vulnerabilidade vivenciadas, contribuindo para sua proteção de forma
integral. O trabalho social do PAIF deve se utilizar também de ações nas áreas
culturais para o cumprimento de seus objetivos, de modo a ampliar o universo
informacional e proporcionar novas vivências às famílias usuárias do serviço. As
ações do PAIF não devem possuir caráter terapêutico.
• Pode-se dizer que discutir orientação e acompanhamento significa discutir o
caráter educativo dessas ações, uma vez que interferem diretamente na
formação de condutas e subjetividades de sujeitos que frequentam o cotidiano
dos diferentes espaços sócio ocupacionais do Serviço Social
(VASCONCELOS, 2000). Nesse contexto, postula-se a orientação e o
acompanhamento como ações de natureza socioeducativa que, como os próprios
nomes indicam, interferem diretamente na vida dos indivíduos, dos grupos e das
famílias. Movimentam-se no terreno contraditório “tanto do processo de reprodução
dos interesses de preservação do capital, quanto das respostas às necessidades de
sobrevivência dos que vivem do trabalho”. São determinadas pelo paradigma
teórico-metodológico e ético-político dos profissionais que as realizam de acordo

70
com determinados projetos de profissão e de sociedade. Qual o conceito de
“família” para a PNAS? A família para a PNAS - Política Nacional de Assistência
Social é o grupo de pessoas que se acham unidas por laços consanguíneos, afetivos
ou de solidariedade.

“A família, independentemente dos formatos ou modelos que assume é mediadora


das relações entre os sujeitos e a coletividade, delimitando, continuamente os
deslocamentos entre o público e o privado, bem como geradora de modalidades
comunitárias de vida. Todavia, não se pode desconsiderar que ela se caracteriza como
um espaço contraditório, cuja dinâmica cotidiana de convivência é marcada por conflitos
e geralmente, também, por desigualdades, além de que nas sociedades capitalistas a
família é fundamental no âmbito da proteção social. ”

71
QUESTÕES DE PROVAS – PARTE II

1. CESGRANRIO/2015. A família tornou-se central nos programas sociais e, por


consequência, no trabalho profissional do assistente social, a partir da década de
1990.

A concepção de família, presente nesses programas sociais, compreende a


família como:

a) unidade econômica de produção de valores de uso na sociedade capitalista.

b) unidade reprodutiva voltada para assegurar os preceitos morais e religiosos.

c) espaço de integração baseado na noção da dignidade da pessoa humana.

d) núcleo formado por laços matrimoniais e filhos nascidos dessas uniões.

e) núcleo protetivo de garantia das condições afetivas e materiais de seus membros

2. CESGRANRIO/2015. No Brasil, pesquisas recentes mostram o grande número


de mudanças na organização e na dinâmica familiar.

Qual das características abaixo reflete essas transformações?

a) Aumento da taxa de fecundidade e natalidade

b) Aumento do número de domicílios monoparentais

c) Retorno das famílias extensas e patriarcais

d) Perda da autonomia familiar para o controle estatal

e) Perda do predomínio do modelo conjugal clássico.

3. FGV/2015. De acordo com o Serviço de Proteção e Atendimento Integral à


Família, o trabalho social com famílias é uma prática profissional apoiada em
saber científico, que para ser efetiva depende:

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a) do conhecimento do território, suas potencialidades, recursos, vulnerabilidades,
relações estabelecidas, de modo a realizar uma ação preventiva e proativa.

b) do estudo dos vetores socioeconômicos das famílias atendidas, a fim de estabelecer


parâmetros para a intervenção do Serviço Social.

c) da investigação sobre as necessidades de cada família a ser assistida em


determinada localidade, com o objetivo de implementar ações comunitárias.

d) da constituição de equipes multiprofissionais para atendimento psicossocial, visando


minorar os conflitos familiares que porventura existam.

e) da formação de agentes multiplicadores comunitários, que sirvam de mediadores


entre o Serviço Social e as instituições presentes na localidade.

4. FUNRIO/UFRB/2015. A família, sob a ótica do pluralismo de bem-estar social,


vem sendo considerada pelos mentores das políticas contemporâneas, como um
dos recursos privilegiados na provisão do cuidado e da proteção, contudo,
ressalta-se um caráter contraditório, que deve ser considerado como relevante
nesta definição:

a) É considerada forte por ser um lócus privilegiado de solidariedade, socialização e na


transmissão de ensinamentos e fraca pois está sujeita a despotismos, rupturas e
violência, dentro da lógica capitalista vigente.

b) Baseia-se no sistema de proteção social liberal, que se limita a uma concepção


socialdemocrata, a perceber a família como lócus secundário e discricionário das
políticas públicas.

c) É considerada como uma instituição social isolada, que não sofre influências do
modelo de Estado liberal capitalista.

d) Tem como pilar a ótica neotomista que tem como base uma concepção de família
descolada das formas de organização da sociedade.

e) O escopo de família contemporânea, com seu novo status e configurações e


rearranjos familiares, não está sujeita a oscilações, nem a destinação de recursos
públicos.

73
5. FGV/TJ-BA/2015. No âmbito do Serviço de Proteção e Atendimento Integrado à
Família (PAIF), o trabalho social com famílias constitui-se em:

a) um acesso à empregabilidade;

b) uma exclusividade do assistente social;

c) um processo de expansão de direitos;

d) uma ocupação que demanda a reunião de várias profissões;

e) uma prática profissional apoiada em saber científico.

6. FGV/TJ-BA/2015. A Política Nacional de Assistência Social (PNAS), ao ressaltar


a centralidade da família, o faz a partir do entendimento de que a família:

a) é o espaço privilegiado e insubstituível de proteção e socialização primárias;

b) constitui-se na primeira e principal célula da sociedade capitalista;

c) possibilita às crianças o exemplo necessário para a atuação na sociedade;

d) deve ser resguardada, pois dela derivam todos os vícios e também todos os bons
exemplos;

e) necessita de proteção especial, pois sozinha não consegue cumprir sua função.

7. CETRO/IF-PR/2014. Analise as assertivas abaixo referentes ao Programa de


Atenção Integral à Família (PAIF).

I. O papel do PAIF é contribuir para desvincular as famílias dos serviços geracionais.

II. O papel do PAIF é fortalecer o protagonismo e a autonomia das famílias e


comunidades.

III. O papel do PAIF é elevar o nível de educação formal dos adultos.

É correto o que se afirma em:

a) I, apenas.

b) II, apenas.

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c) III, apenas.

d) I e II, apenas.

e) I, II e III.

8. CEPERJ/VIVA COMUNIDADE-VIVA RIO/2014. Em sua análise sobre a orientação


e acompanhamento a indivíduos, grupos e famílias Mioto (2009) ressalta que esta
atuação interfere na formação de condutas e subjetividades dos usuários.
Partindo da análise proposta pela autora, pode-se compreender que tal atuação
caracteriza-se por:

a) ações que devem respeitar as limitações dos usuários

b) ações pautadas num compromisso ético-político com o usuário, visando contribuir


para a adequação demandada pelo atual contexto de sociedade

c) ações de natureza socioeducativa que não devem se relacionar à subjetividade dos


usuários

d) prática profissional voltada à efetivação dos direitos dos usuários e à qualidade dos
serviços prestados pela instituição

e) ações de natureza socioeducativa determinadas pelo paradigma teórico-


metodológico e ético-político de acordo com determinados projetos de profissão e de
sociedade.

9. UPENET/IAUPE/2014. O Plano Nacional de Assistência Social – PNAS, em


decorrência das transformações ocorridas nos arranjos familiares, ampliou o
conceito de família passando a ser entendido como o grupo de pessoas que se
acham unidas por:

a) laços consanguíneos ou laços afetivos.

b) laços afetivos, dependendo das características assumidas.

c) laços consanguíneos, afetivos e ou de solidariedade, independente das


características assumidas.

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d) laços afetivos e ou de solidariedade, dependente do gênero envolvido.

e) laços consanguíneos e de solidariedade, dependendo das características


assumidas.

10. CESPE/TJ-SE/2014. No que se refere à elaboração de propostas de intervenção


na área social e ao trabalho com famílias, julgue o item seguinte.

O trabalho social com famílias deve embasar-se na concepção de família


estruturada e compreendida como uma unidade doméstica cuja função primordial
consista em assegurar as condições materiais para o desenvolvimento de seus
integrantes.

Certo / Errado

GABARITO 2
1 E

2 B

3 A

4 A

5 E

6 A

7 B

8 E

9 C

10 ERRADO

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BIBLIOGRAFIA

GILBRAN, Vanessa Marques; MELCHIORI, Gibran Faco Lígia Ebner. Conceito de família:
adolescentes de zonas rural e urbana. Acesse: http://bit.ly/2bi5wsB

MIOTO, Regina Célia Tamaso. Trabalho com Famílias: um desafio para os Assistentes Sociais
Revista Virtual Textos & Contextos, nº 3, dez. 2004.

OLIVEIRA, NHD. Recomeçar: família, filhos e desafios. São Paulo: Editora UNESP; São Paulo:
Cultura Acadêmica, 2009.

OLIVEIRA, Aloídes Souza. Família: um desafio para os assistentes sociais. Acesse:


http://bit.ly/2dRDoRC

OLIVEIRA, Nayara Hakime Dutra. Família contemporânea. Acesse: http://bit.ly/2nwIKDT

OLIVEIRA, Ingrid Anne Soares de Oliveira Trabalho Social com Famílias na Política de
Assistência Social: perspectivas e limites. Acesse: http://bit.ly/2nBusUj

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