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COORDENAÇÃO

PAULO LÉPORE
LEANDRO BORTOLETO

cespe | Cebraspe
4ª edição
Revista, ampliada e atualizada

2019
Direito
Constitucional

Paulo Lépore

TABELA DE INCIDÊNCIA DE QUESTÕES


NÚMERO DE
ASSUNTO PESO
QUESTÕES
1. CONSTITUIÇÃO. CONCEITO. CLASSIFICAÇÃO. APLICABILIDADE E INTERPRETAÇÃO
30 8,04%
DAS NORMAS CONSTITUCIONAIS. SUPREMACIA DA CONSTITUIÇÃO
2. PODER CONSTITUINTE. CONCEITO, FINALIDADE, TITULARIDADE E ESPÉCIES.
8 2,14%
REFORMA DA CONSTITUIÇÃO. CLÁUSULAS PÉTREAS
3. PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DA CONSTITUIÇÃO BRASILEIRA 4 1,07%
4. DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS 17 4,56%
4.1. DIREITOS E DEVERES INDIVIDUAIS E COLETIVOS 22 5,90%
4.2. AÇÕES OU REMÉDIOS CONSTITUCIONAIS 15 4,02%
4.3. DIREITOS DA NACIONALIDADE 8 2,14%
4.4. DIREITOS POLÍTICOS E SISTEMAS ELEITORAIS 20 5,36%
5. ORGANIZAÇÃO DO ESTADO 2 0,54%
5.1. ORGANIZAÇÃO POLÍTICO ADMINISTRATIVA 8 2,14%
5.2. ENTES FEDERADOS E DISTRIBUIÇÃO DE COMPETÊNCIAS 24 6,43%
5.3. ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 18 4,83%
5.4. SEPARAÇÃO DOS PODERES 103 27,61%
5.5. FUNÇÕES ESSENCIAIS À JUSTIÇA 16 4,29%
6. CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE. SISTEMAS DE CONTROLE DE CONSTITU-
15 4,02%
CIONALIDADE
6.1. CONTROLE DIFUSO 3 0,80%
6.2. CONTROLE CONCENTRADO. AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. AÇÃO DECLA-
RATÓRIA DE CONSTITUCIONALIDADE. ARGUIÇÃO DE DESCUMPRIMENTO DE PRECEITO FUNDA- 19 5,09%
MENTAL
7. DEFESA DO ESTADO E DAS INSTITUIÇÕES DEMOCRÁTICAS 11 2,95%
8. TRIBUTAÇÃO E ORÇAMENTO 10 2,68%
9. ORDEM ECONÔMICA E FINANCEIRA 6 1,61%
10. ORDEM SOCIAL 13 3,49%
11. ADCT 1 0,27%

TOTAL 373 100%


20 Paulo Lépore

Alternativa “c”: A alternativa mistura os conceitos


QUESTÕES de constituição unitextual e de constituição pluritex-
tual. Constituição unitextual, na realidade, corresponde
1. CONSTITUIÇÃO. CONCEITO. CLASSIFI- à ordem constitucional na qual não há leis de emenda
CAÇÃO. APLICABILIDADE E INTERPRETA- ou leis de valor constitucional fora da Constituição. A
ÇÃO DAS NORMAS CONSTITUCIONAIS. definição trazida na alternativa, é na realidade de cons-
tituição pluritextual, e, por isso, está incorreta.
SUPREMACIA DA CONSTITUIÇÃO
Alternativa “d”: Constituições subconstitucionais
01. (Cespe – Juiz de Direito – TJ – CE/2018) No sen- podem ser consideradas similares às analíticas. Nelas,
tido moderno, o conceito de Constituição articula fun- temas estranhos aos princípios básicos e direitos fun-
damentalmente a limitação de poder do Estado e a damentais podem ser inseridos na Constituição, mas,
garantia de direitos dos cidadãos em textos dotados de em razão de sua natureza, não terão esse status, uma
supremacia que diferenciam normas de caráter formal vez que somente assuntos constitucionais podem gozar
das de caráter material. O conceito contemporâneo de dele. Portanto, correta a alternativa.
Constituição, por sua vez, contempla aspectos diversos Alternativa “e”: A alternativa mistura os conceitos
àqueles. Com relação a esses aspectos, assinale a opção de constituição dirigente ao de constituição proces-
correta. sual. A definição trazida na alternativa é de constituição
A) Constituição compromissória é o pacto político-ju- dirigente, na qual se define um programa e estabelece
rídico celebrado pelo poder constituinte que não parâmetros para gerir a atividade estatal. Por outro lado,
incorpora limites ao poder de reforma. constituição processual seria a Constituição instrumen-
tal, ou seja, que serve de instrumento para eliminar con-
B) Constituição plástica é aquela definida pelos fato-
flitos.
res reais presentes nas disputas de poder na socie-
dade. ALTERNATIVA CORRETA: “d”.

C) Constituição unitextual consagra, em um único


documento, emendas à Constituição, embora 02. (Cespe – Juiz de Direito – TJ – CE/2018) A preocu-
admita a existência de leis com valor normativo pação com a implementação de dispositivos constitu-
igual ao da Constituição. cionais e, em particular, de suas promessas sociais, não
D) Constituição subconstitucional admite a consti- é central. As controvérsias constitucionais são decididas
tucionalização de temas excessivos e o alçamento com base nos códigos da política e conforme conflitos
de detalhes e interesses momentâneos ao patamar de interesse. Nessa luta, acabam preponderando os
constitucional. interesses dos grupos mais poderosos, dos denomina-
dos "sobrecidadãos", que conseguem utilizar a Cons-
E) Constituição processual é aquela que define um
tituição e o Estado em geral como instrumento para
programa e estabelece parâmetros para gerir a ati-
satisfazer seus interesses. A juridicidade da Constituição
vidade estatal.
fica comprometida pela corrupção da normatividade
COMENTÁRIOS
jurídica igualitária e impessoal, conforme o binômio
legal-ilegal. As controvérsias constitucionais são decidi-
Alternativa “a”: A alternativa mistura dois concei- das com base no código do poder.
tos: constituição compromissória e constituição flexível.
S. Lunardi & D. Dimoulis. Resiliência constitucional:
Constituição compromissória é a Constituição na qual
compromisso maximizador, consensualismo político e
se firma um compromisso do Estado de prestar políticas
desenvolvimento gradual. São Paulo: Direito GV, 2013,
públicas e implementar programas. Constituição flexí-
p. 15 (com adaptações).
vel, é o conceito trazido na alternativa, ou seja, a Cons-
tituição que não incorpora limites ao poder de reforma A concepção de Constituição a respeito da qual o
(também chamada constituição em branco por parte texto precedente discorre denomina-se
da doutrina). Portanto, a alternativa está incorreta por A) neoconstitucionalismo.
misturar conceitos.
B) Constituição chapa-branca.
Alternativa “b”: Constituição plástica seria a Cons-
tituição que consegue se adaptar a mudanças na reali- C) Constituição ubíqua.
dade social sem a necessidade de alteração, sendo defi- D) Constituição liberal-patrimonialista.
nidas ainda como parte da doutrina como sinônimos de
E) Constituição simbólica.
constituição flexível. No entanto, a alternativa mistura
esse conceito ao de constituição sociológica, de Ferdi- COMENTÁRIOS
nand Lassalle, que é a Constituição que resulta da soma
dos fatores reais de poder que regem a sociedade. Por- Alternativa “a”: O neoconstitucionalismo se carac-
tanto, incorreta a alternativa. teriza pela presença de princípios no texto constitucio-
Direito Constitucional • Questões 21

nal, de modo que direitos fundamentais e sociais têm norma ser efetivamente aplicada em casos concretos,
grande importância, havendo uma centralidade dos sendo adotada pela população e pelo Estado. Portanto,
princípios constitucionais. Essas características não está correto o item. Certo.
estão presentes no texto apontado, que, pelo contrário,
Decorre da noção de supremacia da Constituição o
aponta que a implementação de dispositivos constitu-
pressuposto da superioridade hierárquica constitucio-
cionais não é central. Ademais, no neoconstituciona- nal sobre as demais leis do país, ressalvados os tratados
lismo, as controvérsias constitucionais são decididas em internacionais de direitos humanos.
sede de controle de constitucionalidade, atribuindo-se
grande importância ao Poder Judiciário nesse âmbito. COMENTÁRIOS
Portanto incorreta a alternativa.
Nem todos os tratados internacionais de direitos
Alternativa “b”: Constituição chapa-branca é a humanos terão o mesmo status que a norma constitu-
constituição destinada a assegurar posições de poder a cional, o qual somente é atribuído aos aprovados em
corporações ou organismos estatais, ou seja, nessa cons- cada Casa do Congresso Nacional, em 2 turnos, por
tituição são preservados interesses do setor público. No 3/5 dos votos dos respectivos membros. Os demais
texto da questão, o interesse preponderante é dos gru- tratados, de acordo com entendimento do STF, apenas
pos mais poderosos, e não do setor público, portanto, terão status supralegal. Portanto, o item está errado por
incorreta a alternativa. generalizar os tratados internacionais de direitos huma-
Alternativa “c”: Constituição ubíqua diz respeito nos. Errado.
à constituição na qual normas e valores constitucionais
estão presentes na constituição, havendo inúmeros 04. (Cespe – Juiz de Direito – TJ – CE/2018) A interpre-
valores incorporados em seu texto. Como observado, tação conforme a Constituição
no texto, a constituição e questão deixou de lado a
A) é um tipo de situação constitucional imperfeita,
implementação de dispositivos constitucionais, de
pois somente atenua a declaração de nulidade em
modo que o que era central era a proteção de interes-
caso de inconstitucionalidade.
ses de grupos poderosos. Desse modo, está incorreta a
alternativa. B) é admitida para ajustar o sentido do texto legal com
a Constituição, ainda que o procedimento resulte
Alternativa “d”: Na Constituição liberal-patrimo-
em regra nova e distinta do objetivo do legislador.
nialista a ideia central é garantir direitos individuais em
face do Estado, de modo que se visa a mínima interven- C) é um método cabível mesmo em se tratando de
ção estatal no âmbito patrimonial. No texto da questão texto normativo inconstitucional que apresenta
a ideia central é garantir interesses de grupos podero- sentido unívoco.
sos. Por conseguinte, incorreta a alternativa. D) é incompatível com a manutenção de atos jurídicos
Alternativa “e”: Na Constituição simbólica há uma produzidos com base em lei inconstitucional.
preponderância do aspecto político sobre o jurídico, E) é fixada por decisão do STF, mas não se reveste do
sendo o texto constitucional utilizado em prol dos inte- efeito vinculante próprio das decisões declaratórias
resses políticos. Assim, conforme apontado no texto da de inconstitucionalidade.
questão “As controvérsias constitucionais são decididas
com base nos códigos da política”, de modo que está COMENTÁRIOS
correta a alternativa.
Alternativa “a”: A interpretação conforme a
ALTERNATIVA CORRETA: “e”. Constituição, ao adotar a interpretação mais favorável
à constituição, não declara sua inconstitucionalidade
03. (Cespe – Analista Ministerial – Área Processual quanto a todas as demais interpretações, sendo essa
– MPE – PI/2018) Julgue os itens seguintes, acerca da sua principal imperfeição. Seria simular a uma declara-
supremacia da Constituição e da aplicabilidade das nor- ção parcial de nulidade sem redução de texto. Portanto,
mas constitucionais. correta a alternativa.
A eficácia de uma norma constitucional pode ser Alternativa “b”: Embora seja admitida para ajustar
considerada não só do ponto de vista jurídico, mas tam- o sentido do texto legal com a Constituição, não pode
bém do social, ocorrendo essa eficácia social a partir do a interpretação conforme a Constituição resultar em
respeito à legislação pela população. regra nova e distinta do objetivo do legislador. Na rea-
lidade, apenas vai ser adotada uma das interpretações
COMENTÁRIOS possíveis da norma em detrimento das demais, para
que seja adequada ao texto Constitucional. Destarte,
Eficácia jurídica diz respeito à capacidade da norma
incorreta a alternativa.
para produzir efeitos no plano concreto, se dando, por-
tanto, em um plano abstrato de verificação. Eficácia Alternativa “c”: A interpretação conforme a Cons-
social, por sua vez, corresponde à potencialidade da tituição consiste na adoção de um dos vários sentidos
Direito Constitucional
Paulo Lépore

sociais e solidários. As disposições constantes nas


DICAS Constituições têm reafirmada sua força normativa
destacada em relação às prescrições de outras
€€ TEORIA DA CONSTITUIÇÃO E DAS fontes jurídicas (leis e atos estatais). Esse período
NORMAS CONSTITUCIONAIS é marcado pelas constituições dirigentes, que
prescrevem programas a serem implementados
1. Constitucionalismo: movimento evolutivo de cria- pelos Estados, normalmente por meio de normas
ção das Constituições. programáticas. Vale destacar que esse período aca-
2. Constitucionalismo Primitivo (aproximada- bou manchado por algumas constituições criadas
mente de 30.000 a. C. até 1.000 a. c): na anti- apenas para justificar o exercício de um Poder não
guidade clássica, os lideres das famílias ditavam e democrático, a exemplo da Carta Polaca de 1937,
resguardavam as regras supremas para o convívio que sustentou a Era Vargas no Brasil, e que faz parte
social. Segundo Karl Loewestein, o povo hebreu, do que se denomina constitucionalismo semân-
teve grande destaque no movimento constitucio- tico, uma vez que se busca extrair da Constituição
nalista desse período, notadamente por reconhe- apenas os significados que possam reconhecer a
cer que os valores garantidos pelos primeiros tex- tomada e manutenção de Poder por regimes auto-
tos bíblicos não podiam ser violados por ninguém ritários.
(Teoria de La Constitución. Barcelona: Ariel, 1986, p. 7. Neoconstitucionalismo (Séc. XX e Séc. XXI):
154-157). como um aprimoramento do Constitucionalismo
3. Constitucionalismo Antigo (aproximadamente Contemporâneo, prega a importância destacada
de 1.000 a.c. ao Séc. V d.c.): os Parlamentos e da moral e dos valores sociais, garantidos predo-
Monarcas formulavam as normas de convívio social, minantemente por meio de princípios. Não se con-
e já existia uma exortação aos direitos fundamen- forma com as normas programáticas e as consti-
tais dos indivíduos. Entretanto, o constituciona- tuições dirigentes, afirmando que as Constituições
lismo tinha pouco efetividade, pois os Monarcas devem ser dotadas de força normativa. Para confe-
não cumpriam as garantias dispostas nos direitos rir normatividade à Constituição, destaca o Poder
fundamentais. Judiciário como garantidor, colocando a atividade
legislativa em segundo plano. Em resumo: trabalha
4. Constitucionalismo Medieval (Séc. V a XVIII):
com a ideia de extração da máxima efetividade do
surgimento de documentos que limitavam os
Texto Constitucional, pois a Constituição deve ocu-
poderes dos Monarcas e garantiam liberdades
par o centro do sistema jurídico.
públicas aos cidadãos, a exemplo da Magna Charta
de 1215, no Reino Unido. Também é desta época ● Segundo Ana Paula de Barcellos (“Neoconstitucio-
o que se denomina constitucionalismo whig ou nalismo, Direitos Fundamentais e Políticas Públicas”,
termidoriano, que caracteriza a evolução lenta disponível em www.mundojuridico.adv.br), o Neo-
e gradual do movimento constitucionalista, e que constitucionalismo tem as seguintes caracterís-
se materializou com a ascensão de Guilherme de ticas:
Oranges e do partido whig no Reino Unido, no final
1. Do ponto de vista metodológico-formal:
do século XVII, também marcado pela edição da Bill
of Rights (1689). a) Normatividade da Constituição: todas as disposi-
ções constitucionais são normas jurídicas;
5. Constitucionalismo Moderno (Séc. XVIII a Séc.
XX): materialização e afirmação das Constituições b) Superioridade da Constituição sobre o restante da
Formais Liberais, que representavam garantias ordem jurídica: o que se dá por meio de constitui-
sérias de limitação dos Poderes Soberanos, e eram ções rígidas;
dotadas de legitimidade democrática popular.
c) Centralidade da Constituição nos sistemas jurídicos:
Desenvolveu-se à partir das revoluções liberais
os demais ramos do Direitos devem ser compreen-
(Revolução Francesa e Revolução das 13 Colônias
didos e interpretados a partir do que dispõe a Cons-
Estadunidenses). Representou o início do garan-
tituição.
tismo e o surgimento das primeiras Constituições
dirigentes. 2. Do ponto de vista material:
6. Constitucionalismo Contemporâneo (Séc. XX a) Incorporação explícita de valores e opções políticas
a Séc. XXI): caracteriza-se pela consolidação da nos textos constitucionais, sobretudo no que diz
existência de Constituições garantistas, calcadas respeito à promoção da dignidade humana e dos
na defesa dos direitos fundamentais igualitários, direitos fundamentais;
258 Paulo Lépore

b) Expansão de conflitos específicos e gerais entre as espaço, e não apenas pelos juristas, no bojo dos
opções normativas e filosóficas existentes dentro processos.
do próprio sistema constitucional: envolve as coli-
8.7. Constituição Pluralista (Gustavo Zagrebelsky):
sões reais e aparentes entre regras e princípios (con- não é nem um mandato nem um contrato. É aquela
flitos específicos) e o papel da Constituição (conflito dotada de princípios universais, segundo as preten-
geral). Esse conflito geral sobre o papel da constitui- sões acordadas pelas “partes”. Caracteriza-se pela
ção divide os autores em duas correntes. capacidade de oferecer respostas adequadas ao
● Correntes sobre o papel da Constituição no Neo- nosso tempo ou, mais precisamente, da capacidade
constitucionalismo, segundo Ana Paula de Bar- da ciência constitucional de buscar e encontrar
cellos: essas respostas na constituição.
a) Percepção/Visão Substancialista: cabe à Consti- 9. Supremacia Constitucional: a noção de supremacia
tuição impor ao cenário político um conjunto de da Constituição é oriunda de dois conceitos essen-
decisões valorativas que se consideram essenciais ciais: 1. a ideia de superioridade do Poder Consti-
e consensuais. tuinte sobre as instituições jurídicas vigentes; e 2.
a distinção entre Constituições Rígidas e Flexíveis.
b) Percepção/Visão Procedimentalista: cabe à Consti- Nesse sentido, a supremacia prega que as normas
tuição apenas garantir o funcionamento adequado constitucionais representam o paradigma máximo
do sistema de participação democrático, ficando de validade do ordenamento jurídico, de modo que
a cargo da maioria, em cada momento histórico, a todas as demais normas são hierarquicamente infe-
definição de seus valores e de suas políticas. riores a ela. Na pirâmide normativa de Hans Kelsen
8. Concepções de Constituição a Constituição está no ápice e as demais normas
estão abaixo dela (relação de compatibilidade ver-
8.1. Constituição Sociológica (Ferdinand Lassalle –
tical).
1862): é aquela que deve traduzir a soma dos fato-
res reais de poder que rege determinada nação, sob 10. Preâmbulo: é o texto introdutório da Constituição.
pena de se tornar mera folha de papel escrita, que Segundo posição exarada pelo STF no bojo da ADI
não corresponda à Constituição real. 2076, julgada em 2002, o Preâmbulo da Constitui-
ção da República não tem força normativa, figu-
8.2. Constituição Política (Carl Schmitt – 1928): é rando como mero vetor interpretativo. Em seu voto,
aquela que decorre de uma decisão política fun- Celso de Mello sustentou que o Preâmbulo não se
damental, e se traduz na estrutura do Estado e dos situa no âmbito do direito, mas no domínio da polí-
Poderes, e na presença de um rol de direitos funda- tica, refletindo posição ideológica do constituinte.
mentais. As normas que não traduzirem a decisão Ademais, ele conteria proclamação ou exortação
política fundamental não serão constituição pro- no sentido dos princípios inscritos na Constituição
priamente dita, mas meras leis constitucionais. Federal. Quanto à natureza jurídica do Preâmbulo,
8.3. Constituição Material: é o arcabouço de normas a posição do STF filia-se à Tese da Irrelevância Jurí-
que tratam da organização do poder, da forma de dica, afastando-se da Tese da Plena Eficácia (que
governo, da distribuição da competência, dos direi- defende ter o Preâmbulo a mesma eficácia das nor-
tos da pessoa humana, considerados os sociais e mas que consta da parte articulada da CF) e da Tese
individuais, do exercício da autoridade, ou seja, da Relevância Jurídica Indireta (para a qual o Preâm-
trata da composição e do funcionamento da ordem bulo é parte da Constituição, mas não é dotado das
política. Tem relação umbilical com a Constituição mesmas características normativas da parte articu-
Política de Carl Schimitt. lada). Por essa razão, também não serve de parâme-
tro para controle de constitucionalidade. Esse posi-
8.4. Constituição Jurídica (Hans Kelsen – 1934): é cionamento do STF serviu para definir que a invo-
aquela que se constitui em norma hipotética funda- cação à proteção de Deus, constante do Preâmbulo
mental pura, que traz fundamento transcendental da Constituição da República vigente, somente
para sua própria existência (sentido lógico-jurídico), denota inspiração do constituinte, não violando a
e que, por se constituir no conjunto de normas com liberdade religiosa que permeia o Estado brasileiro.
mais alto grau de validade, deve servir de pressu-
posto para a criação das demais normas que com- 11. Classificação das Constituições
põem o ordenamento jurídico (sentido jurídico-po- I. Quanto à Origem
sitivo).
1. Democrática, Promulgada ou Popular: elaborada
8.5. Constituição Culturalista (Michele Ainis – 1986): é por legítimos representantes do povo, normal-
aquele que representa o fato cultural, ou seja, que mente organizados em torno de uma Assembleia
disciplina as relações e direitos fundamentais perti- Constituinte.
nentes à cultura, tais como a educação, o desporto,
2. Outorgada: é aquela elaborada sem a presença de
e a cultura em sentido estrito.
legítimos representantes do povo, imposta pela
8.6. Constituição Aberta (Peter Haberle – 1975): é vontade de um poder absolutista ou totalitário, não
aquela interpretada por todo o povo em qualquer democrático.
Direito Constitucional • Dicas 259

3. Constituição Cesarista, Bonapartista, Plebiscitária 3. Rígida: aquela em que o processo para a alteração
ou Referendária: é aquela criada por um ditador ou de qualquer de suas normas é mais difícil do que o
imperador e posteriormente submetida à aprova- utilizado para criar leis.
ção popular por plebiscito ou referendo.
* Vale ressaltar que alguns autores falam em Consti-
4. Pactuada/Dualista: originada de um compromisso tuição super-rígida, como aquela em que além de
instável de duas forças políticas rivais, de modo que o seu processo de alteração ser mais difícil do que o
o equilíbrio fornecido por tal espécie de Constitui- utilizado para criar leis, dispõe ainda de uma parte
ção é precário. Esse modelo foi muito utilizado na imutável (cláusulas pétreas).
monarquia da Idade Média. A Magna Carta de 1215,
que os barões obrigaram João Sem Terra a jurar, é 4. Flexível: aquela em que o processo para sua altera-
um exemplo. ção é igual ao utilizado para criar leis.

5. Heteroconstituição (ou “Constituição Dada”): é 5. Semi-rígida ou semiflexível: é aquela dotada de


aquela criada fora do Estado em que irá vigorar. Ex: parte rígida (em que somente pode ser alterada por
Constituição do Chipre (procedente dos acordos de processo mais difícil do que o utilizado para criar
Zurique, de 1960, entre a Grã-Bretanha, a Grécia e a leis), e parte flexível (em que pode ser alterada pelo
Turquia). mesmo processo utilizado para criar leis).
II. Quanto ao Conteúdo: V. Quanto à Extensão:
1. Formal: compõe-se do que consta em documento 1. Sintética: é a Constituição que regulamenta apenas
solene que tem posição hierárquica de destaque no os princípios básicos de um Estado.
ordenamento jurídico.
2. Analítica ou prolixa: é a Constituição que vai além
2. Material: composta por regras que exteriorizam a dos princípios básicos, detalhando também outros
forma de Estado, organizações dos Poderes e direi- assuntos.
tos fundamentais. Portanto, suas normas são aque-
VI. Quanto à Finalidade:
las essencialmente constitucionais, mas que podem
ser escritas ou costumeiras, pois a forma tem impor- 1. Garantia: contém proteção especial às liberdades
tância secundária. públicas.
III. Quanto à Forma: 2. Dirigente: confere atenção especial à implementa-
1. Escrita/Instrumental: formada por um texto. ção de programas pelo Estado.

1.1. Escrita Legal (Paulo Bonavides): formada por texto VII. Quanto ao Modo de Elaboração:
oriundo de documentos esparsos ou fragmenta- 1. Dogmática: sistematizada a partir de ideias funda-
dos. mentais.
1.2. Escrita Codificada (Paulo Bonavides): formada por 2. Histórica: de elaboração lenta, pois se materializa a
texto inscrito em documento único. partir dos costumes, que se modificam ao longo do
2. Não Escrita: identificada a partir dos costumes, da tempo.
jurisprudência predominante e até mesmo por VIII. Quanto à Ideologia:
documentos escritos (por mais contraditório que
possa parecer). Como esclarece Dirley da Cunha 1. Ortodoxa: forjada sob a ótica de somente uma ide-
Júnior, “não existe Constituição inteiramente não- ologia.
-escrita ou costumeira, pois sempre haverá normas 2. Eclética: fundada em valores plurais.
escritas compondo o seu conteúdo. A Constituição
inglesa, por exemplo, compreende importantes IX. Quanto ao Valor ou Ontologia (Karl Loewes-
textos escritos, mas esparsos no tempo e no espaço, tein):
como a Magna Carta (1251), o Petition of Rights 1. Normativa: dotada de valor jurídico legítimo.
(1628), o Habeas Corpus Act (1679), o Bill of Rights
(1689), entre outros” (Direito Constitucional. 6 ed. 2. Nominal: sem valor jurídico; com papel eminente-
Salvador: Juspodivm, 2012, p. 120). mente social.

IV. Quanto à Estabilidade: 3. Semântica: tem importância jurídica, mas não valo-
ração legítima, pois é criada apenas para justificar o
1. Imutável: não prevê qualquer processo para sua exercício de um Poder não democrático. São meros
alteração. simulacros de Constituição.
2. Fixa: só pode ser alteração pelo Poder Constituinte
● Máximas quanto às Classificações das Constitui-
Originário, “circunstância que implica, não em alte-
ções
ração, mas em elaboração, propriamente, de uma
nova ordem constitucional” (CUNHA JÙNIOR, Dirley ● Toda Constituição rígida é escrita, pois não há rigi-
da. Curso de Direito Constitucional. 6 ed. Salvador: dez em uma Constituição Não Escrita ou Costu-
Juspodivm, 2012, p. 122-123) meira.
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● Toda Constituição costumeira é, ao menos concei- 12.4. Elementos de Estabilização Constitucional:


tualmente, flexível, pois seu processo de alteração asseguram a solução de conflitos institucionais
não se diferencia do que se utiliza para a alteração entre Poderes, e também protegem a integridade
de qualquer outra norma que discipline o convívio do Estado e da própria Constituição.
social. 12.5. Elementos Formais de Aplicabilidade: refe-
● Nem toda Constituição escrita é rígida, pois a Cons- rem-se às regras de interpretação e aplicação da
Constituição, a exemplo do preâmbulo, do ADCT,
tituição formada por um texto pode ser imutável,
e a aplicabilidade imediata dos direitos e garantias
fixa, rígida, flexível ou semiflexível.
fundamentais.
● Uma Constituição pode ter partes rígidas e partes 13. Bloco de Constitucionalidade
flexíveis, e nesse caso será denominada de semi-rí-
gida ou semiflexível. ● O bloco de constitucionalidade (ideia de Louis
Favoreu, mas desenvolvida por Canotilho e consa-
CLASSIFICAÇÃO DA CONSTITUIÇÃO DA REPÚ- grada nas ADIs 595 e 514, pelo Ministro Celso de
BLICA FEDERATIVA DO BRASIL DE 1988 Mello) consiste no conjunto de normas material-
mente constitucionais, que até servem de para-
1. Democrática ou Pro- Elaborada por legítimos digma para controle de constitucionalidade, mas
mulgada ou Popular representantes do povo que, não necessariamente, integram formalmente
2. Formal Documento solene a Constituição, a exemplo dos tratados internacio-
nais de direitos humanos aprovados de acordo com
3. Escrita ou Instru- Texto único o regramento do art. 5º, § 3º, da CF.
mental
14. Convenções Constitucionais: “(...) consistem em
Rígida: seu processo de acordos, implícitos ou explícitos, entre as várias
alteração é mais difícil do forças políticas, sobre o comportamento a adoptar
que o utilizado para criar para se dar execução ou actuação a determinadas
leis; Super-rígida: além de normas constitucionais, legislativas ou regimen-
4. Rígida ou Super-rí-
o seu processo de altera- tais.” Esses acordos não necessariamente criam
gida
ção ser mais difícil do que normas solenes, mas tem força material, apresen-
o utilizado para criar leis, tando-se como verdadeiras limitações aos poderes
ela tem uma parte imutá- constituídos. (Direito constitucional e teoria da Cons-
vel (cláusulas pétreas) tituição. Coimbra: Almedina, 2007).
Vai além dos princípios 15. Normas, Postulados Normativos, Princípio e
básicos, trazendo deta- Regras
5. Analítica
lhamento também de
outros assuntos ● Normas Jurídicas de Primeiro Grau (Princípios
e Regras): os Princípios são mandados de otimiza-
Confere atenção especial ção que impõem a promoção de um fim, na maior
6. Dirigente à implementação de pro- medida possível, com abstração e generalidade,
gramas pelo Estado enquanto as Regras prescrevem comportamentos
Sistematizada a partir de imediatos, de modo mais completo e preciso.
7. Dogmática
ideias fundamentais ● Normas Jurídicas de Segundo Grau/Postulados
Fundada em valores plu- Normativos (Humberto Ávila): situam-se num
8. Eclética plano distinto daquele das normas cuja aplicação
rais
estruturam. A violação deles consiste na não inter-
Tem valor jurídico legí- pretação de acordo com sua estruturação. Não
9. Normativa
timo (não apenas social) impõem a promoção de um fim, mas, em vez disso,
12. Elementos das Constituições (José Afonso da estruturam a aplicação do dever de promover um
fim. Não prescrevem imediatamente comporta-
Silva. Curso de Direito Constitucional Positivo. 6 ed.
mentos, mas modos de raciocínio e de argumen-
São Paulo: Malheiros, 1990, p. 43-44)
tação relativamente a normas que indiretamente
12.1. Elementos Orgânicos: regulam a estrutura do prescrevem comportamentos.
Estado e do Poder 16. Colisão de Direitos Fundamentais: a colisão
12.2. Elementos Limitativos: referem-se aos direitos ocorrida em âmbito constitucional não pode ser
fundamentais, que limitam a atuação do Estado, considerada na mesma perspectiva do conflito
protegendo o povo. entre leis (também chamadas de “regras”), ou seja,
como um “conflito aparente de normas” para cuja
12.3. Elementos Sócio-ideológicos: revelam o com- solução seriam utilizados os critérios cronológico,
promisso do Estado em equilibrar os ideais liberais hierárquico ou da especialidade, na forma do “tudo
e sociais ao longo do Texto Constitucional. ou nada” (“all or nothing”), em que só se aplica um
290 Paulo Lépore

● Súmula 693 do STF: Não cabe habeas corpus con-


SÚMULAS tra decisão condenatória a pena de multa, ou
● Súmula Vinculante 1: Ofende a garantia constitu- relativo a processo em curso por infração penal
cional do ato jurídico perfeito a decisão que, sem a que a pena pecuniária seja a única cominada.
ponderar as circunstâncias do caso concreto, des-
considera a validez e a eficácia de acordo constante ● Súmula 692 do STF: Não se conhece de habeas
de termo de adesão instituído pela Lei Complemen- corpus contra omissão de relator de extradição,
tar 110/2001. se fundado em fato ou direito estrangeiro cuja
prova não constava dos autos, nem foi ele provo-
● Súmula Vinculante 5: A falta de defesa técnica por
cado a respeito.
advogado no processo administrativo disciplinar
não ofende a Constituição.
● Súmula 395 do STF: Não se conhece de recurso de
habeas corpus cujo objeto seja resolver sobre o
● Súmula Vinculante 11: Só é lícito o uso de alge-
mas em casos de resistência e de fundado receio ônus das custas, por não estar mais em causa a
de fuga ou de perigo à integridade física própria liberdade de locomoção.
ou alheia, por parte do preso ou de terceiros, justi-
● Súmula 512 do STF: Não cabe condenação em
ficada a excepcionalidade por escrito, sob pena de
honorários de advogado na ação de mandado de
responsabilidade disciplinar, civil e penal do agente
ou da autoridade e de nulidade da prisão ou do ato segurança.
processual a que se refere, sem prejuízo da respon-
● Súmula 270 do STF: Não cabe mandado de segu-
sabilidade civil do Estado.
rança para impugnar enquadramento da Lei 3.780,
● Súmula vinculante 14: É direito do defensor, no in- de 12-7-1960, que envolva exame de prova ou de
teresse do representado, ter acesso amplo aos ele- situação funcional complexa.
mentos de prova que, já documentados em pro-
cedimento investigatório realizado por órgão ● Súmula 268 do STF: Não cabe mandado de segu-
com competência de polícia judiciária, digam rança contra decisão judicial com trânsito em jul-
respeito ao exercício do direito de defesa em gado.
procedimento investigatório realizado por órgão
● Súmula 267 do STF: Não cabe mandado de segu-
com competência de polícia judiciária.
rança contra ato judicial passível de recurso ou
● Súmula Vinculante 25: É ilícita a prisão civil de correição.
depositário infiel, qualquer que seja a modalidade
do depósito. ● Súmula 266 do STF: Não cabe mandado de segu-
rança contra lei em tese.
● Súmula 419 do STJ: Descabe a prisão civil do depo-
sitário judicial infiel. ● Súmula 431 do STF: É nulo julgamento de recurso
criminal, na segunda instância, sem prévia intimação
● Súmula Vinculante 28: É inconstitucional a exi- ou publicação da pauta, salvo em habeas corpus.
gência de depósito prévio como requisito de
admissibilidade de ação judicial na qual se pre- ● Súmula 632 do STF: É constitucional lei que fixa
tenda discutir a exigibilidade de crédito tributário. prazo de decadência para impetração de man-
dado de segurança.
● Súmula 654 do STF: A garantia da irretroatividade
da lei, prevista no art 5º, XXXVI, da Constituição da ● Súmula 630 do STF: A entidade de classe tem
República, não é invocável pela entidade estatal legitimação para o mandado de segurança ainda
que a tenha editado. quando a pretensão veiculada interesse apenas
a uma parte da respectiva categoria.
● Súmula 667 do STF: viola a garantia constitucional
de acesso à jurisdição a taxa judiciária calcada sem ● Súmula 629 do STF: A impetração de mandado de
limite sobre o valor da causa. segurança coletivo por entidade de classe em favor
dos associados independe da autorização destes.
● Súmula 693 do STF: Não cabe habeas corpus con-
tra decisão condenatória a pena de multa, ou rela- ● Súmula 624 do STF: Não compete ao Supremo
tivo a processo em curso por infração penal a que a Tribunal Federal conhecer originariamente de man-
pena pecuniária seja a única cominada. dado de segurança contra atos de outros Tribunais.

● Súmula 694 do STF: “Não cabe habeas corpus con- ● Súmula 625 do STF: Controvérsia sobre matéria
tra a imposição da pena de exclusão de militar ou de direito não impede concessão de mandado de
de perda de patente ou de função pública”. segurança.

● Súmula 695 do STF: Não cabe habeas corpus ● Súmula 510, do STF: Praticado o ato por autori-
quando já extinta a pena privativa de liberdade. dade, no exercício de competência delegada,
Direito Constitucional • Dicas 291

contra ela cabe o mandado de segurança ou a ● Atenção! O transporte foi expressamente reconhe-
medida judicial. cido como direito social pela recente emenda cons-
titucional 90/2015!
● Súmula 430, do STF: Pedido de reconsideração
na via administrativa não interrompe o prazo para o 3. A relevância econômica dos objetos dos direitos
mandado de segurança. sociais prestacionais (que exigem atuação estatal)
faz com que a discussão, previsão e aplicação de
● Súmula 271 do STF: Concessão de mandado de recursos públicos, atribuições estas originárias dos
segurança não produz efeitos patrimoniais em rela-
órgãos políticos, notadamente do Poder Executivo,
ção a período pretérito, os quais devem ser reclama-
legitime o Poder Judiciário, diante da inércia ou
dos administrativamente ou pela via judicial própria.
deficiência de atuação dos legitimados ordiná-
● Súmula 629 do STF: O mandado de segurança não rios, à concretização dos direitos. Aliás, esse é
é substitutivo de ação de cobrança. uma das características do que se tem chamado de
judicialização de políticas públicas, uma das facetas
● Súmula 101 do STF: O mandado de segurança não do neoconstitucionalismo.
substitui a ação popular.
4. Canotilho ensina que: “1. “Reserva do possível”
● Súmula 365 do STF: Pessoa jurídica não tem legi- significa total desvinculação jurídica do legislador
timidade para propor ação popular. quanto à dinamização dos direitos sociais constitu-
cionais consagrados. 2. Reserva do possível significa
● Súmula 2 do STJ: não cabe o habeas data (CF, art. a “tendência para o zero” da eficácia jurídica das
5º, LXXII, letra “a”) se não houve recusa de informa-
normas constitucionais consagradoras de direitos
ções por parte da autoridade administrativa.
sociais. 3. Reserva do possível significa gradualidade
● Súmula 376 do STJ: compete à turma recursal pro- com dimensão lógica e necessária da concretização
cessar e julgar o mandado de segurança contra ato dos direitos sociais, tendo sobretudo em conta os
de juizado especial. limites financeiros. 4. Reserva do possível significa
insindicabilidade jurisdicional das opções legisla-
● Súmula 333 do STJ: cabe mandado de segurança tivas quanto à densificação legislativa das normas
contra ato praticado em licitação promovida por constitucionais reconhecedoras de direitos sociais”
sociedade de economia mista ou empresa pública. (CANOTILHO, J. J. Gomes. Estudos Sobre Direitos
Fundamentais, Coimbra: Coimbra, 2004, p. 108)
● Súmula 105 do STJ: na ação de mandado de segu-
rança, não se admite condenação em honorários ● “A cláusula da reserva do possível – que não pode
advocatícios. ser invocada, pelo Poder Público, com o propó-
sito de fraudar, de frustrar e de inviabilizar a
● Súmula 481 do STJ: faz jus ao benefício da justiça
implementação de políticas públicas definidas
gratuita a pessoa jurídica com ou sem fins lucrativos
que demonstrar sua impossibilidade de arcar com na própria Constituição – encontra insuperável
os encargos processuais limitação na garantia constitucional do mínimo
existencial, que representa, no contexto de nosso
ordenamento positivo, emanação direta do postu-
€€ DIREITOS SOCIAIS lado da essencial dignidade da pessoa humana. (...)
A noção de ‘mínimo existencial’, que resulta, por
● CF, artigos 6º a 11.
implicitude, de determinados preceitos constitu-
1. Os direitos sociais, econômicos, e culturais são cionais (CF, art. 1º, III, e art. 3º, III), compreende um
direitos humanos de segunda geração, realizá- complexo de prerrogativas cuja concretização
veis por meio de políticas públicas estatais, e revela-se capaz de garantir condições adequa-
normalmente descritos em normas programáti- das de existência digna, em ordem a assegurar, à
cas, mas isso não significa que não podem ser exi- pessoa, acesso efetivo ao direito geral de liberdade
gidos juridicamente. Isso porque, todos os direitos e, também, a prestações positivas originárias do
humanos são juridicamente exigíveis, e os direi- Estado, viabilizadoras da plena fruição de direi-
tos fundamentais expressos na Constituição têm tos sociais básicos, tais como o direito à edu-
aplicabilidade imediata. cação, o direito à proteção integral da criança
2. Nos termos do art. 6º, da CF, são direitos sociais: e do adolescente, o direito à saúde, o direito à
a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a assistência social, o direito à moradia, o direito
moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a previ- à alimentação e o direito à segurança. Declara-
dência social, a proteção à maternidade e à infância, ção Universal dos Direitos da Pessoa Humana, de
além da assistência aos desamparados, na forma da 1948 (Artigo XXV).” (ARE 639.337, julgado em 2011 e
Constituição. relatado pelo Ministro Celso de Mello).
292 Paulo Lépore

● Ademais, “Embora resida, primariamente, nos 7. É direito do trabalhador urbano e rural, remune-
Poderes Legislativo e Executivo, a prerrogativa de ração do serviço extraordinário superior, no
formular e executar políticas públicas, revela-se mínimo, em cinquenta por cento (50%) à do nor-
possível, no entanto, ao Poder Judiciário, deter- mal.
minar, ainda que em bases excepcionais, espe-
8. Trabalhador doméstico
cialmente nas hipóteses de políticas públicas
definidas pela própria Constituição, sejam estas ● Os trabalhadores domésticos tiveram os seus
implementadas pelos órgãos estatais inadim- direitos ampliados pela Emenda Constitucional
plentes, cuja omissão – por importar em descum- 72 de 2 de abril de 2013. Com a alteração constitu-
primento dos encargos político-jurídicos que sobre cional, passam a existir dois grupos de direitos rela-
eles incidem em caráter mandatório – mostra-se tivos aos domésticos: a) direitos incondicionados;
apta a comprometer a eficácia e a integridade de e b) direitos condicionados. Os direitos incon-
direitos sociais e culturais impregnados de estatura dicionados são aqueles que devem ser aplicados
constitucional. A questão pertinente à ‘reserva do independentemente de qualquer determinação
possível’.” (RE 436.996, julgado em 2005 e relatado estabelecida na legislação infraconstitucional. Já os
pelo Ministro Celso de Mello). direitos condicionados são aqueles que devem ser
aplicados com atendimento às condições estabele-
5. A Constituição Federal, estabelece proibição de
cidas em legislação infraconstitucional e observân-
distinção entre trabalho manual, técnico e inte-
cia de simplificação do cumprimento das obriga-
lectual e entre os profissionais respectivos.
ções tributárias, principais e acessórias, decorrentes
6. Há proibição de qualquer trabalho a menores de da relação de trabalho e suas peculiaridades. Os
dezesseis anos, salvo na condição de aprendiz, a detalhes estão arrolados na tabela a seguir.
partir de quatorze anos.

DIREITOS CONSTITUCIONALMENTE ASSEGURADOS AO


TRABALHADOR DOMÉSTICO DEPOIS DA EC 72/13
Direitos condicionados à legislação infra-
constitucional e à observância de simplifica-
Direitos incondicionados ção do cumprimento das obrigações tributá-
rias, principais e acessórias, decorrentes da
relação de trabalho e suas peculiaridades
1. Salário mínimo
2. Irredutibilidade do salário
3. Décimo terceiro salário com base na remuneração
Os que já existiam

integral ou no valor da aposentadoria


antes da EC 72/13

4. Repouso semanal remunerado, preferencialmente


aos domingos
1. Integração à previdência social
5. Férias anuais remuneradas com, pelo menos, um
terço a mais do que o salário normal
6. Licença-gestante de 120 dias
7. Licença-paternidade de 5 dias
8. Aviso-prévio
9. Aposentadoria
10. Garantia de salário, nunca inferior ao mínimo, para 2. Relação de emprego protegida contra despe-
Os que foram estabele-

os que percebem remuneração variável dida arbitrária ou sem justa causa, nos termos
cidos pela EC 72/13

11. Proteção do salário na forma da lei, constituindo de lei complementar, que preverá indeniza-
crime sua retenção dolosa ção compensatória, dentre outros direitos;
12. Duração do trabalho normal não superior a oito 3. Seguro-desemprego, em caso de desempre-
horas diárias e quarenta e quatro semanais, facul- go involuntário;
tada a compensação de horários e a redução da 4. Fundo de garantia do tempo de serviço;
jornada, mediante acordo ou convenção coletiva 5. Remuneração do trabalho noturno superior à
de trabalho do diurno;

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