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O ANALISTA TRABALHANDO: REFLEXÕES SOBRE A TEORIA DA TÉCNICA

José Alberto Zusman1

Este ano em que comemoramos os 150 anos do nascimento de Freud cabe dizer que

sua genialidade também se expressa no fato de que a psicanálise, campo de saber por ele

inaugurado, ainda se mantém sob os limites de sues paradigmas iniciais. Contudo isto não

significa que a teoria e a técnica psicanalítica não se modificaram ao longo do tempo.

Modificam-se e muito. Tanto e de tal forma que a psicanálise moderna sob vários aspectos

é muito distinta daquela praticada à época de Freud. É natural que assim o seja tanto porque

nosso contexto sócio cultural é bastante distinto daquele do final do século dezenove e

início do século vinte, como pelo grande desenvolvimento que mais de cem anos de

pesquisas e achados trouxeram ao o nosso campo de saber. O critério de analisabilidade

talvez seja um dos grande exemplos dessa mudança. Freud entendia que a psicanálise era o

tratamento de escolha para as grandes histéricas que freqüentavam os consultórios dos

psicanalistas da época. Hoje, a velha apresentação da histeria praticamente desapareceu, e

os consultórios passaram a ser freqüentados por pacientes das mais diversas patologias

(psicose, transtorno de personalidade, usuários de drogas, etc.) que puderam em muito se

beneficiar da ampliação dos limites psicanalíticos. A psicanálise, com pouco mais de um

século de existência, é uma ciência bebê com muito para crescer, se modificar e se

desenvolver.

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Psicanalista ditada, presidente da Associação Psicanalítica Rio 3, Doutor em psicanálise pela UFRJ.
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Zimerman (1999) divide a história da psicanálise em três etapas descritas como

ortodoxa, clássica e contemporânea. Em cada uma dessas etapas o que fica marcante é a

progressiva perda de rigidez dos conceitos e, como desdobramento natural, uma

progressiva elasticidade da técnica. Em relação à técnica é verdade salientar que Freud

nunca adotou uma posição rígida e o que foi adotado como regra por seus seguidores, foi

apresentada por ele apenas como recomendação. O mesmo não é verdadeiro para

questionamentos do que Freud considerava os pilares de sua doutrina, especialmente a

importância do papel dos impulsos sexuais como um dos pilares da organização do ser

humano em todas as etapas de seu desenvolvimento, conceito fundamental de grande valia

ainda nos dias de hoje.

Depois de Freud, no período denominado por Zimerman como clássico houve a

divisão da psicanálise em varias escolas. Apesar de muito rico, a meu ver, é neste ponto que

considero termos vivido nossa maior crise institucional. O período clássico começa com

uma explosão de crescimento para todos os lados talvez ocasionado pela liberdade criativa

que a morte de Freud permitia, mas depois envereda por um período de grave adoecimento

caracterizado por um quadro de isolamento, arrogância, disputas e perseguições. Do ponto

de vista das relações com outros campos do saber, os psicanalistas acreditaram não precisar

de ninguém. Do ponto de vista da vida intra-societária, em quase todas as sociedades da

IPA, em maior ou menor grau, se viveu um clima de conflitos graves e intermináveis nos

quais os grupos representantes das diversas escolas (bioniana, kleiniana, anafreudiana, etc.)

passaram a disputar o poder dentro das instituições. Os filhos de Freud passaram a disputar

o privilégio de ocupar a lacuna que ele deixara, cada qual querendo ser a nova referência

para definir o que seria a verdadeira psicanálise (Zusman, J.A and col).
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Hoje, diferente de épocas anteriores, vivemos um período em que buscamos

estabelecer um clima mais saudável em que os diversos modelos psicanalíticos passaram a

conviver, ao menos, como recomendação a todos e como exigência da nossa formação. O

pluralismo, adotado pela grande maioria das sociedades componentes da IPA aparece como

conseqüência direta dessa nova atitude que pretende ver nas diferenças uma chance real de

enriquecimento do nosso campo de saber. Para mim, volto a dizer, a crise foi antes, e o

momento atual é de uma difícil retomada de caminho. No Rio, o trabalho integrado das

quatro Sociedade ligadas a IPA aponta muito na direção de um convívio, de uma troca

profícua e de uma construção conjunta, com grande respeito por nossa diferenças e

singularidades. Esforço que encontra neste importante encontro internacional, coordenado

pela ABP, mais um marco de nossas frutíferas realizações.

As vantagens de um campo que se amplia são inúmeras, mas é inegável que, por

outro lado, as possibilidades de caminho são tantas que por vezes fica difícil encontrar um

ponto de consenso teórico-técnico entre nossos pares.

O modelo Freudiano tem alguns postulados básicos relacionados com a técnica, dentre eles

a neutralidade, às vezes confundida com abstinência, receberá, neste trabalho um exame um

pouco mais detalhado.

O conceito de neutralidade surge como uma recomendação técnica de Freud aos

psicanalistas em uma época que havia por parte de nosso mestre original um grande receio

de que os mesmos se envolvessem sexualmente com seus pacientes. A psicanálise

esforsava-se para se firmar dentro do campo científico e Freud conhecia, já desde Breuer,

os riscos que viviam aqueles que desciam ao inferno dos impulsos mais condenáveis da

natureza humana. O analista visto dentro do modelo médico deveria ser treinado para

identificar os problemas do paciente, ajuda-lo em sua recuperação, mas manter uma


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distância segura para que de forma alguma corresse o risco de se misturar (enlouquecer)

com ele. Gabbard, em instigante artigo, nos mostra com que dificuldade, e a que preço,

Freud lidou com Jung, Ferenczi e Jones, alguns de seus mais brilhantes e fiéis seguidores

em situações de envolvimento amoroso dos mesmos com pacientes que tratavam. Segundo

Gabbard, Freud foi excepcionalmente tolerante nestas situações como que acreditasse que

seus discípulos tivessem sido vítimas das armas mortais do inimigo. Em 1911 Freud

escreveu a Jung uma carta aflita em que diz ser necessário escrever um artigo sobre

contratransferência com a maior urgência só que sem o conhecimento do grande público.

Nas palavras de Freud: “ naturalmente nós não devemos nunca publicá-lo, devemos fazer

circular cópias entre nós”.

Faltava a Freud o conhecimento da contratransferência enquanto recurso técnico. De

fato, o reconhecimento da contratransferência nunca foi fácil ou confortável para Freud e

sem ele só lhe era possível falar da comunicação inconsciente como uma via única do

paciente (emissor) para o analista (receptor). O analista receberia a transferência de seu

paciente para identificá-la, aprender a história que ela contava e corrigi-la enquanto

distorção da realidade. Ocorre aqui que, naturalmente, os exemplos usados por Freud que

passaram a significar neutralidade foram muito infelizes. Os exemplos do cirurgião que

nada sente, ou da tela em branco ou do espelho opaco foram muito mal entendidos e usados

para criar o que hoje é quase uma caricatura do analista frio, impessoal, em um setting

imutável, que desconsidera sua existência enquanto pessoa real. Nas poucas vezes que

Freud fez menção a contratransferência foi para entendê-la apenas como um risco do

analista mal analisado frente à pressão advinda do paciente.

A contratransferência surgiu como um importante conceito para prática psicanalítica

a partir dos trabalhos de Racker e Heimann. Com estes autores entendemos que
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transferência e a contratransferência fazem parte de um mesmo campo comunicativo. A

partir de então podemos deixar de pensar no psicanalista distante que só recebe as projeções

de seu paciente para falar de um par que estabelece trocas constantes. Temos em seguida os

trabalhos do Baranger e de Sullivan sobre campo psicanalítico que também em muito

ampliaram nosso conhecimento sobre os diversos níveis de troca e comunicação que ocorre

na relação analítica. Segundo os Baranger o campo produz algo que não corresponde a uma

simples soma de seus componentes, cria algo conjunto, novo e único. Em suas palavras:

“algo radicalmente distinto do que é separadamente cada um deles” (Baranger e Baranger,

1961).

Pelo exposto até agora parece que lidamos com longínquos fatos históricos e que esta

é uma questão superada dentro do saber psicanalítico. Ledo engano. Desejo exatamente

examinar um aspecto que vem já sendo discutido há muito, mas que até hoje se apresenta

como uma questão em aberto dentro da teoria e técnica psicanalítica. Apesar de simples a

discussão que proponho me parece de grande relevância tanto a teoria da técnica

psicanalítica: qual é o papel da pessoa do analista no trabalho analítico?

Esta simples questão traz a tona uma discussão que coloca de um lado o modelo das

pulsões com sua pressão para descarga e, de outro, o modelo do campo interpessoal. Mais

ainda, toca no delicado ponto da própria ambição de cientificidade da psicanálise.

Voltemos com mais profundidade a questão da neutralidade. O modelo criado por Freud é

inegavelmente orientado pela descarga pulsional segundo a qual o analista entraria como

objeto da pulsão, pulsão esta que uma vez identificada seria vista como um dado objetivo

de seu estudo.

De acordo com esse modelo da descarga instintual possivelmente não haveria uma

profunda diferença no trabalho de distintos analistas competentes, conhecedores da teoria e


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da técnica, e se houvesse, seria muito pequena ou irrelevante. Neste modelo o paciente

chega com suas demandas instintuais e ao encontrar um analista neutro como uma tela em

branco lança sobre ele, projeta, uma catexia que se acha pronta a priori. Nas palavras de

Freud: “a catexia incluirá o médico em uma das séries psíquicas que o paciente já formou

(Freud, 1912)”. Qualquer analista-receptor que dominasse a técnica da neutralidade e que

trabalhasse com a transferência advinda do paciente deveria alcançar o mesmo resultado. O

material trazido pelo paciente é considerado como dado psicanalítico. A vida inconsciente

do paciente é identificável pelo analista, mas existe independente da interferência do

mesmo. Nesse modelo a técnica fala mais alto do que a pessoa do analista.

Toda a tentativa de pesquisa quantitativa, que hoje possui grande relevância no

cenário psicanalítico, defende a existência de um fato psicanalítico objetivo, e sob este

aspecto considera que a subjetividade do analista ou traz sérios problemas, ou não participa

dos fatos estudados. Todo esforço de renomados psicanalistas por inserir a psicanálise

dentro do campo da ciência natural, assim como Freud tanto ambicionou, inclui a proposta

de que a psicanálise deveria de se submeter aos conceitos de replicação e refutabilidade.

Apesar de Freud estar muito impregnado pelo pensamento científico positivista de sua

época, não lhe escapou a ocorrência de dois fenômenos correlatos que se davam tanto no

sofrimento do paciente como em sua escolha por um par (analítico ou não) para viver a sua

história. Em seu trabalho de 1922, intitulado: Alguns Mecanismos Neuróticos no Ciúme, na

Paranóia e no Homossexualismo, ele deixa claro que os pacientes “não projetam...no vazio

onde não existe algo desta espécie. Deixam-se guiar por seu conhecimento do inconsciente

e deslocam para as mentes inconscientes dos outros a atenção que afastam de sua própria”

(Freud, 1922). Ou seja, é preciso haver um ponto de encontro entre o inconsciente do

paciente com aquele com que ele se relaciona para que uma dada comunicação ocorra.
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A física trouxe para a psicanálise algo que ajudou a mudar a perspectiva do

observador neutro. O Princípio de Heisenberg define que não pode haver observação que

não sofra influência do observador. Segundo Epstein e Feiner a essência do trabalho de

Sullivan se baseia nesta premissa. O que torna a situação analítica distinta da observação

ativa descrita por Heisenberg é que tanto o analista como o paciente são observadores

ativos e, portanto se modificam mutuamente.

A psicanálise entendida como um campo de relações em que seus membros se

influenciam mutuamente dificilmente pode se incluir dentro da exigência da ciência natural

uma vez que cada par, formado por paciente e analista, será único e que o resultado obtido

nunca será replicável. Mais ainda, o que o par paciente-analista produzir vai

necessariamente incluir aspectos do passado de ambos só que em uma disposição original.

O que se passa no campo analítico se assemelha a um quebra-cabeças de múltiplo encaixe,

no qual as mesmas peças agrupadas de uma forma original criam um cenário no qual o par

cria um caminho do passado para o futuro. O analista não se apresenta como um objeto

qualquer para descarga pulsional, mas como um parceiro único na construção de uma

viagem inédita. Este pensamente, segundo Bleichmar e Bleichmar, vai ao encontro das

idéias de Winnicott, para quem: “o analista cria processos que nunca existiram...dotando

seu paciente de estruturas ausentes” (Bleichmar e Bleichmar, 1992).

Uma vez definida a participação do analista no campo interpessoal criado pelo par

paciente-analista resta considerar outro aspecto fundamental da qualidade da participação

do mesmo no processo analítico. Aqui cabe pensar sobre como se dá essa atitude

participativa do analista. Participação nem quer dizer interferência nem simetria. Vale aqui

o conceito não de neutralidade, mas de abstinência segundo proposto por Freud. Diferente

da neutralidade que em Freud se define por uma atitude de resistência frente a sedução
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sexual da neurose dos pacientes, a abstinência corresponde a uma atitude suportar viver

uma frustração que obriga a busca por novos caminhos. O paciente deve ser sempre

responsável pelo seu desejo. Quando o analista está mais interessado no tratamento do que

seu paciente algo deu errado. Se abstendo do desejo, na concepção de Bion, o analista pode

caminhar com o paciente sem substituí-lo como protagonista da sua história. A noção de

campo psicanalítico se refere ao caminho criado conjuntamente por paciente e analista, mas

não quer dizer que ambos devem percorrê-lo da mesma maneira. O quanto um analista deve

revelar do que está experimentando deve sempre respeitar o sagrado direito do paciente de

ser paciente. O paciente precisa e tem direito de contar com um analista que possa auxiliá-

lo a percorrer um caminho inédito em sua história e não ter a sua história substituída por

outra que o analista deseja contar.

BIBLIOGRAFIA:

Baranger M.e Baranger C. (1961) – La Situación Analítica como campo dinâmico. In

Problemas del Campo Psicoanalítico.Buenos Aires:Ed. Kargieman, 1969.

Bleichmar, N. e Bleichmar, C. - A Psicanálise depois de Freud. Ed. Artmed, Porto Alegre,

1992

Epstein, L. and Feiner, A.H. – Countertransference. Ed. Jason Aronson Inc., London, 1993.

Freud, S.(1912) - Recomendações aos Médicos que Exercem Psicanálise. Rio de Janeiro:

Ed. Imago 1969

Freud, S (1922) – Alguns Mecanismos Neuróticos no Ciúme, na Paranóia e no

homossexualismo. Rio de Janeiro: Ed. Imago, 1969.


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Gabbard, G; - The Early History of Boundary Violations in Psychoanalysis. Journal of The

American Psychoanalytic association, 43:1115-1136, 1995.

Laplanche, J and Pontallis, J.B. (1967) – Vocabulário da Psicanálise. São Paulo: Ed.

Martins Fontes, 1991.

Zimerman, D.- Fundamentos Psicanalíticos.Porto Alegre:Ed. Artmed, 1999.

Zusman, J.A., Cheniaux, E., Freitas, S. – Psychoanalysis and Change: Between Curiosity

and Faith. International Journal of Psychoanalysis: accepted for publication, 2006.

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