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Este ano em que comemoramos os 150 anos do nascimento de Freud cabe dizer que
sua genialidade também se expressa no fato de que a psicanálise, campo de saber por ele
inaugurado, ainda se mantém sob os limites de sues paradigmas iniciais. Contudo isto não
Modificam-se e muito. Tanto e de tal forma que a psicanálise moderna sob vários aspectos
é muito distinta daquela praticada à época de Freud. É natural que assim o seja tanto porque
nosso contexto sócio cultural é bastante distinto daquele do final do século dezenove e
início do século vinte, como pelo grande desenvolvimento que mais de cem anos de
talvez seja um dos grande exemplos dessa mudança. Freud entendia que a psicanálise era o
os consultórios passaram a ser freqüentados por pacientes das mais diversas patologias
século de existência, é uma ciência bebê com muito para crescer, se modificar e se
desenvolver.
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Psicanalista ditada, presidente da Associação Psicanalítica Rio 3, Doutor em psicanálise pela UFRJ.
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ortodoxa, clássica e contemporânea. Em cada uma dessas etapas o que fica marcante é a
nunca adotou uma posição rígida e o que foi adotado como regra por seus seguidores, foi
apresentada por ele apenas como recomendação. O mesmo não é verdadeiro para
importância do papel dos impulsos sexuais como um dos pilares da organização do ser
divisão da psicanálise em varias escolas. Apesar de muito rico, a meu ver, é neste ponto que
considero termos vivido nossa maior crise institucional. O período clássico começa com
uma explosão de crescimento para todos os lados talvez ocasionado pela liberdade criativa
que a morte de Freud permitia, mas depois envereda por um período de grave adoecimento
de vista das relações com outros campos do saber, os psicanalistas acreditaram não precisar
IPA, em maior ou menor grau, se viveu um clima de conflitos graves e intermináveis nos
quais os grupos representantes das diversas escolas (bioniana, kleiniana, anafreudiana, etc.)
passaram a disputar o poder dentro das instituições. Os filhos de Freud passaram a disputar
o privilégio de ocupar a lacuna que ele deixara, cada qual querendo ser a nova referência
para definir o que seria a verdadeira psicanálise (Zusman, J.A and col).
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pluralismo, adotado pela grande maioria das sociedades componentes da IPA aparece como
conseqüência direta dessa nova atitude que pretende ver nas diferenças uma chance real de
enriquecimento do nosso campo de saber. Para mim, volto a dizer, a crise foi antes, e o
momento atual é de uma difícil retomada de caminho. No Rio, o trabalho integrado das
quatro Sociedade ligadas a IPA aponta muito na direção de um convívio, de uma troca
profícua e de uma construção conjunta, com grande respeito por nossa diferenças e
As vantagens de um campo que se amplia são inúmeras, mas é inegável que, por
outro lado, as possibilidades de caminho são tantas que por vezes fica difícil encontrar um
O modelo Freudiano tem alguns postulados básicos relacionados com a técnica, dentre eles
psicanalistas em uma época que havia por parte de nosso mestre original um grande receio
esforsava-se para se firmar dentro do campo científico e Freud conhecia, já desde Breuer,
os riscos que viviam aqueles que desciam ao inferno dos impulsos mais condenáveis da
natureza humana. O analista visto dentro do modelo médico deveria ser treinado para
distância segura para que de forma alguma corresse o risco de se misturar (enlouquecer)
com ele. Gabbard, em instigante artigo, nos mostra com que dificuldade, e a que preço,
Freud lidou com Jung, Ferenczi e Jones, alguns de seus mais brilhantes e fiéis seguidores
em situações de envolvimento amoroso dos mesmos com pacientes que tratavam. Segundo
Gabbard, Freud foi excepcionalmente tolerante nestas situações como que acreditasse que
seus discípulos tivessem sido vítimas das armas mortais do inimigo. Em 1911 Freud
escreveu a Jung uma carta aflita em que diz ser necessário escrever um artigo sobre
Nas palavras de Freud: “ naturalmente nós não devemos nunca publicá-lo, devemos fazer
sem ele só lhe era possível falar da comunicação inconsciente como uma via única do
paciente para identificá-la, aprender a história que ela contava e corrigi-la enquanto
distorção da realidade. Ocorre aqui que, naturalmente, os exemplos usados por Freud que
nada sente, ou da tela em branco ou do espelho opaco foram muito mal entendidos e usados
para criar o que hoje é quase uma caricatura do analista frio, impessoal, em um setting
imutável, que desconsidera sua existência enquanto pessoa real. Nas poucas vezes que
Freud fez menção a contratransferência foi para entendê-la apenas como um risco do
a partir dos trabalhos de Racker e Heimann. Com estes autores entendemos que
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partir de então podemos deixar de pensar no psicanalista distante que só recebe as projeções
de seu paciente para falar de um par que estabelece trocas constantes. Temos em seguida os
ampliaram nosso conhecimento sobre os diversos níveis de troca e comunicação que ocorre
na relação analítica. Segundo os Baranger o campo produz algo que não corresponde a uma
simples soma de seus componentes, cria algo conjunto, novo e único. Em suas palavras:
1961).
Pelo exposto até agora parece que lidamos com longínquos fatos históricos e que esta
é uma questão superada dentro do saber psicanalítico. Ledo engano. Desejo exatamente
examinar um aspecto que vem já sendo discutido há muito, mas que até hoje se apresenta
como uma questão em aberto dentro da teoria e técnica psicanalítica. Apesar de simples a
Esta simples questão traz a tona uma discussão que coloca de um lado o modelo das
pulsões com sua pressão para descarga e, de outro, o modelo do campo interpessoal. Mais
Voltemos com mais profundidade a questão da neutralidade. O modelo criado por Freud é
inegavelmente orientado pela descarga pulsional segundo a qual o analista entraria como
objeto da pulsão, pulsão esta que uma vez identificada seria vista como um dado objetivo
de seu estudo.
De acordo com esse modelo da descarga instintual possivelmente não haveria uma
chega com suas demandas instintuais e ao encontrar um analista neutro como uma tela em
branco lança sobre ele, projeta, uma catexia que se acha pronta a priori. Nas palavras de
Freud: “a catexia incluirá o médico em uma das séries psíquicas que o paciente já formou
material trazido pelo paciente é considerado como dado psicanalítico. A vida inconsciente
mesmo. Nesse modelo a técnica fala mais alto do que a pessoa do analista.
aspecto considera que a subjetividade do analista ou traz sérios problemas, ou não participa
dos fatos estudados. Todo esforço de renomados psicanalistas por inserir a psicanálise
dentro do campo da ciência natural, assim como Freud tanto ambicionou, inclui a proposta
Apesar de Freud estar muito impregnado pelo pensamento científico positivista de sua
época, não lhe escapou a ocorrência de dois fenômenos correlatos que se davam tanto no
sofrimento do paciente como em sua escolha por um par (analítico ou não) para viver a sua
Paranóia e no Homossexualismo, ele deixa claro que os pacientes “não projetam...no vazio
onde não existe algo desta espécie. Deixam-se guiar por seu conhecimento do inconsciente
e deslocam para as mentes inconscientes dos outros a atenção que afastam de sua própria”
paciente com aquele com que ele se relaciona para que uma dada comunicação ocorra.
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observador neutro. O Princípio de Heisenberg define que não pode haver observação que
Sullivan se baseia nesta premissa. O que torna a situação analítica distinta da observação
ativa descrita por Heisenberg é que tanto o analista como o paciente são observadores
uma vez que cada par, formado por paciente e analista, será único e que o resultado obtido
nunca será replicável. Mais ainda, o que o par paciente-analista produzir vai
no qual as mesmas peças agrupadas de uma forma original criam um cenário no qual o par
cria um caminho do passado para o futuro. O analista não se apresenta como um objeto
qualquer para descarga pulsional, mas como um parceiro único na construção de uma
viagem inédita. Este pensamente, segundo Bleichmar e Bleichmar, vai ao encontro das
idéias de Winnicott, para quem: “o analista cria processos que nunca existiram...dotando
Uma vez definida a participação do analista no campo interpessoal criado pelo par
do mesmo no processo analítico. Aqui cabe pensar sobre como se dá essa atitude
participativa do analista. Participação nem quer dizer interferência nem simetria. Vale aqui
o conceito não de neutralidade, mas de abstinência segundo proposto por Freud. Diferente
da neutralidade que em Freud se define por uma atitude de resistência frente a sedução
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sexual da neurose dos pacientes, a abstinência corresponde a uma atitude suportar viver
uma frustração que obriga a busca por novos caminhos. O paciente deve ser sempre
responsável pelo seu desejo. Quando o analista está mais interessado no tratamento do que
seu paciente algo deu errado. Se abstendo do desejo, na concepção de Bion, o analista pode
caminhar com o paciente sem substituí-lo como protagonista da sua história. A noção de
campo psicanalítico se refere ao caminho criado conjuntamente por paciente e analista, mas
não quer dizer que ambos devem percorrê-lo da mesma maneira. O quanto um analista deve
revelar do que está experimentando deve sempre respeitar o sagrado direito do paciente de
ser paciente. O paciente precisa e tem direito de contar com um analista que possa auxiliá-
lo a percorrer um caminho inédito em sua história e não ter a sua história substituída por
BIBLIOGRAFIA:
1992
Epstein, L. and Feiner, A.H. – Countertransference. Ed. Jason Aronson Inc., London, 1993.
Freud, S.(1912) - Recomendações aos Médicos que Exercem Psicanálise. Rio de Janeiro:
Laplanche, J and Pontallis, J.B. (1967) – Vocabulário da Psicanálise. São Paulo: Ed.
Zusman, J.A., Cheniaux, E., Freitas, S. – Psychoanalysis and Change: Between Curiosity