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PRIMEIRA CLASSE, de Jô Bilac

Mariele Moon

Aeromoça

( Vôo Milão \ Rio de Janeiro. Primeira classe. Mariele Monn, figurinha tarimbada nas altas
rodinhas sociais, sempre acompanhada de sua taça de prosecco.)

Aeromoça: (naquele tom tédio-sexy que só as aeromoças tem) ...Olá Senhores passageiros da
Primeira classe, bem vindos ao Boeing 666 da Flã Boiã Linhas aéreas Milão com destino ao Rio
De Janeiro. Esta aeronave conta com 8 saídas de emergência assim localizadas: duas portas
dianteiras, quatro janelas sobre as asas e duas portas traseiras. Em caso de despressurizaçao,
máscaras de oxigênio cairão sobre suas cadeiras, puxe o elástico e posicione a máscara sobre a
boca e o nariz respirando normalmente. Em caso do “Salve-se quem puder”, os senhores da
primeira classe contam com o privilégio de um bote exclusivo acompanhado por um lindo
colete salva vidas desenhado por Yves Saint Laurent. Ao longo do vôo será servida uma
entrada com crustáceos salpicados com ervas finas, acompanhado por baguetes francesas
gergelinadas, dando o prenúncio do prato principal batizado por nosso mestre cuca como
“Crepúsculo dourado sobre o mar de Nefertiti”. É peixe, gente. Eu sou a comissária Vanessa,
acesse o site WWW ponto Vanessa eu sei o que você quer ponto com ponto BR e adquira mais
informações. A Flã Boiã agradece pela preferência e deseja a todos uma boa viagem.

(segue para a classe econômica)

Aeromoça: Olá senhores passageiros da classe econômica. (muda o tom) O negócio é o


seguinte, cambada, não é pra levar o fone de ouvido pra casa não, hein! Eu sei quantos tem!
Acabou de ouvir a musiquinha devolve o fone pro saquinho. E se tirar onda com a minha cara,
vai ser esculachado. Se o avião cair, se liga, meu irmão, cada um por si. Ninguém é de
ninguém. Tem maisena no almoço e coca dois litros pra dividir em grupos de oito. Então,
vamos usar o bom senso, certo?Olho grande não entra na china, certo? Pra relaxar tem um
filminho. Olha que coisa boa pra distrair a fome. Geral vai poder ver. Vai passar “Corra que a
policia vem aí”. O que foi? Não gostaram do filme? É muita realidade na veia? Se não gostou
fecha o olho e dorme. Eu sou a comissária Vanessa e etc etc etc , é isso aí.

Mariele: (vinda da primeira classe, sempre acompanhada com sua taça de prosecco e seu
casaco de pele) Oi, oi...Olá, mocinha, será que posso dar uma palavrinha com a classe
econômica? Coisa rápida. Não quero atrapalhar...

Aeromoça: (educada) Imagina. Fique a vontade. A senhora quer luvas e máscara para evitar
contato direto?

Mariele: Obrigada, mon biju! Mas eu gosto desse tete a tete com o povo. Gosto de correr
riscos, essa é a minha natureza indomável, fazer o que...?

Aeromoça: Ok, só aconselho a senhora não se aproximar muito...esse povo nunca viu jóia,
sabe como é... (gesticulando sinal de roubo) Aqui é terra de mallboro. Qualquer coisa é só
gritar. Com licença. (sai)

Mariele: Olá Classe econômica, desculpa interromper o conforto da viagem dos senhores, mas
eu podia estar roubando, eu podia estar matando, sim porque sou milionária e jamais seria
presa. Mas estou aqui com vocês, com toda humildade, pedindo um pouco de atenção. Eu sou
Marielle Moon e venho cá por conta de uma angustia que fui tomada agora a pouco e domina
todo o meu ser... Estava eu, com a minha amiga Liége, amiga bárbara, sempre presente na lista
das dez mais, então , estávamos aqui na primeira classe... E entre um coquetel de frutas
vermelhas e outro, falei: “Liége, a gente precisa fazer alguma coisa pelo povo. Liége, não
adianta passar férias em Sarajevo, ou comprar um terreno no Quênia, é preciso mais! Entende
o que eu quero dizer? O povo merece mais.” Daí, Liége, apesar das suas 47 plásticas faciais,
esboçou uma reação curiosa e me perguntou: “Marielle, o que você quer realmente?” Ora.
Ora, ora. O que eu quero? Como assim cara pálida? A pergunta é: o que o povo quer! Sou do
povo e para o povo. Porque é o povo que faz e acontece, entendeu? Mas eu vou
egixir...egigir... exigir isso de Liége? Não vou, cara... Não adianta. Não vou mesmo. Entende
onde eu quero chegar? Tá acompanhando meu raciocínio? Então... O povo é um cavalo
indomável de puro sangue em busca da eterna linha de chegada. Pessoas como eu, Liége,
Paris... Enfim, mulheres como nós que vivem em um mundo paralelo, não sabe o que o povo
quer! Gente! Estamos num mesmo vôo, separados por uma cortininha de chambre! Poderia
ser tafetá/ Poderia, mas é chambre. Entende? Se essa budega cai, morre eu, morre tu, morre a
nossa Capitu e acabou-se. Dessa vida não se leva nada. Um alfinete. Um brihante, nada
gente. Então, já que os jovens ingleses subiram a favela e conheceram de perto a realidade, eu
venho aqui, na classe econômica, olhar olho no olho, de cada um de vocês e ver realmente o
que o povo quer. Me lembro agora daquela passagem bíblica, clássica, coríntios capitulo 11
versículo 5: onde Jesus diz aos seus discípulos “ a gente não quer só dinheiro, a gente quer
dinheiro, diversão, balé.” E é justamente por isso que venho aqui, sortear essas entradas para
o balé russo Mikail Kurbinova, uma coisa bárbara e efêmera, 20 bichas louquíssimas, bárbaras,
pra cima e pra baixo, concentradíssimas, coisa de primeiro mundo. To aqui, doando para quem
quiser ir ver, duas entradas, balcão nobre, papa fina. E não é porque você é pobre que não
pode ter acesso. Que isso? Pobre não tem direito? Vamos dar acesso ao povo! Sim, balé russo
sim. O cidadão é obrigado a viver na base do pagode? O cidadão é obrigado viver na base do
434 seis horas da tarde engarrafado na presidente Vargas? Na base do churros e da pipoca
vermelha dada em são Cosme e Damião? Não, gente!!! Isso não é justo!!!! É preciso lutar por
seus direitos!!! Não pode! Não pode deixar de conhecer o salão de chá em Sant Cecile na
Alemanha oriental. Não pode deixar de fazer um passeio de helicóptero pelas ilhas Malvinas.
Não pode deixar de experimentar o tão elementar, eu diria, sim porque não?, o trivial escargot
ao creme de papaia flambado no whisky 15 anos. Não pode! Gente, eu estou falando de
necessidades básicas!!! O Tati me Tati! É preciso agir! Não estou falando de subir em favelas,
como os inglesinhos fizeram, porque eu infelizmente, sofro do vício do salto alto e fica
realmente difícil subir nas comunidades e pegar amizade e tal. Mas, vamos começar a visitar a
classe econômica e isso já é um passo dos grandes! Sim! A mistura das classes começa
aqui. Por conta disso, estabelecemos, Liége e eu, a livre doação pra turma do fundão. Turma
do fundão, no caso, vocês. São doações, mimos, coisinhas. Sim, porque somos volúveis, ricas e
aplacamos nossas carências não só em noites selvagens de bebedeira e sexo, como também
em um consumo desenfreado de produtos que não nos servem pra nada. E por conta
disso, tenho aqui, os convites para o balé Russo, com o inconveniente de ser na Rússia, mas se
vocês ao invés de encher os córneos de cerveja, juntar daqui e juntar dali, acaba enchendo o
papo da galinha e compra uma passagem pra Moscou. Passa um fim de semana bárbaro e...

Aeromoça: Desculpe interrompê-la senhora...

Marielle: Imagina, querida, estava aqui com seus irmãos, distribuindo pérolas.

Aeromoça: É que a Madame Liége perguntou se a senhora não vai participar do bingo da Paris.
Marielle: Ta valendo o que? Porque se for o royce royce da Paris, nem adianta que não vou me
abalar daqui por mixaria! Detesto gente muquirana! E também esse negócio de original do
Picasso, do Monet, ih...tá brega! Não gosto desse negócio de quadro, não serve pra nada!
Prefiro ficar aqui , não é gente? Trocando essa idéia, essa energia...

Aeromoça: Madame Liége disse que o bingo vale um escravo anão.

Marielle: Um escravo anão! Que bárbaro! Será que ele fala mandarim? Eu estou tão precisada
de um escravo anão que fale mandarim...

Aeromoça: Isso realmente, só perguntando a Madame Liége.

Marielle: Hum... Ta bom. (volta aos passageiros) Ai gente, que chato, tenho que ir... Poxa...
Mas depois a gente retoma o nosso papo. Eu sinto que hoje, um grande passo foi dado na
história da humanidade. E que esse dia histórico será o inicio de uma amizade doce e sincera.
Vou deixar os convites aqui com a mocinha e ela repassa, enfim... Abaixo a cortinha de
chambre e viva o intercâmbio de classes!

Fim

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