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UNIVERSIDADE DO MINHO – INSTITUTO DE EDUCAÇÃO

Programa Doutoral em Estudos da Criança


Infância, Cultura e Sociedade
Nome: Viviane Martins de Souza – ID 8497
UOEI: Instituto de Educação – 2019-2020

Garlen, Julie C. (2018). Interrogating innocence: “Childhood” as exclusionary social practice. Childhood.
Vol. 26(1) 54–67. Consultado em: Outubro, 11, 2019, em
https://journals.sagepub.com/doi/abs/10.1177/0907568218811484

Palavras-chave: Childhood, early childhood, innocence, social practice, whiteness

Principais ideias do texto:


1. O conceito da inocência das crianças é um constructo social e, como tal, contribuiu para delimitar o
status social e, consequentemente, os espaços sociais para as crianças. A autora destaca que esta
concepção ainda permeia as relações, pois “no contexto contemporâneo dos EUA, a construção da
inocência infantil é um poderoso mito social que estrutura as relações sociais e a cultura das crianças e
informa seus direitos e status na sociedade” (p. 54).
2. Ao questionar o mito da inocência, a autora discute como este conceito contribuiu para a supremacia
branca nos EUA, tendo em vista seu caráter de prática social1 excludente em relação às crianças de outras
etnias. A agitação religiosa (desmonte da teologia tradicional), cultural (voto feminino, imigrações,
movimento abolicionista e sociais diversos) e econômica (industrialização) da época foi o contexto da
criação da inocência infantil, como instrumento de manutenção do patriarcado branco pela ocultação
das realidades sociais.
3. Diferenciação do conceito de “infância” como constructo social baseado na inocência e infância. Esta
‘performance’ de “infância” (as aspas são muito usadas pela autora para enfatizar que o conceito de
infância ideal baseado numa inocência ignorante é errôneo), é baseada pela repetição de atos (práticas
sociais protetoras) que perpetuam a exclusão de crianças e que se centram num modelo educacional e
cultural que solidifica esta exclusão, em nome da proteção da “infância”. Esta ideia é reforçada “pela
psicologia do desenvolvimento, doutrina religiosa [sobretudo cristãos conservadores] e cultura popular”
(p. 55).
4. A “inocência” infantil é defina pelo que ela não é: conhecimento “adulto” sobre desejo sexual,
consumo, violência e imoralidade. A mudança social e a cultura popular são potenciais ameaças a ela,

1
Padrões de atividade humana por meio dos quais as ideologias da infância são materializadas. (Garlen, p.56).
segundo os escritores mais conservadores. A repulsão ao conhecimento é uma das ideias presentes
neste estado idealizado de inocência.

Objetivos de estudo
O objetivo do estudo foi questionar a construção do conceito da inocência infantil, e examinar como este
conceito opera como prática social excludente. Paralelamente, ela buscou demonstrar como este mito
social ajuda a manter a supremacia branca, ferindo os direitos humanos de outras crianças.

Metodologia
A revisão de literatura buscou conceituar a expressão “prática social”, privilegiando a leitura de McMillan
(2017), que define a prática social como as atividades humanas habituais, “que modelam a vida cotidiana
dos indivíduos em grupos sociais, incluindo famílias, comunidades e instituições” (p.56), mais que
normas, ritos, costumes ou tradições, são manifestações concretas da ideologia de um grupo.
Como delimitação espaço-temporal, elaborou seu trabalho a partir da análise de Bernstein sobre a
infância nos EUA, no século XIX, desde a escravidão aos direitos civis.
A pesquisa utilizou abordagem qualitativa, baseada numa análise documental, com reflexões sobre os
conceitos de prática social e inocência infantil e os impactos deste último na atualidade, como a
perpetuação da supremacia branca e as influências na cultura e na sociedade, que tem neste conceito,
uma base sólida para operar de modo excludente com os direitos da infância. Por fim, buscou discutir
sobre a necessidade de revisão do conceito para defesa dos direitos das crianças, quanto à educação e
assistência na primeira infância, sejam quais forem suas etnias.
Não houve menção a técnicas de pesquisa em campo.

Apresentação dos resultados


Os resultados de sua revisão de literatura demonstram que uma idealização da infância a partir de uma
inocência ignorante, ao mesmo tempo que mascarou das crianças brancas as brutalidades de uma
sociedade patriarcal controlada por brancos nos EUA à época da abolição, levou as crianças de cor a
uma condição de não-crianças. Não foi elaborado no artigo quaisquer tipos de gráficos ou tabelas, mesmo
porque a investigação tratou-se de uma análise documental.

Discussão dos resultados


Na atualidade, o conceito de inocência ainda atua em muitas políticas, sobretudo educacionais, que
mantém a exclusão social das crianças não brancas e perpetuam a imagem da criança ideal brancas, de
classe média e inocente. Os riscos desta concepção estão no silenciamento da agência que todas as
crianças poderiam ter quanto a abusos de toda natureza a que possam estar sujeitas, impedindo a
efetivação dos direitos humanos para todas as crianças.

Resultados e estudos referidos pertinentes para o tema do vosso projeto


 Penso que a ideia de inocência, como mito social construído é também utilizado para tolher a
agência das crianças “privilegiadas”, pois estas ao necessitarem de “proteção”, podem ser
silenciadas sobre seus anseios e necessidades. Como é vista a “inocência” e seus
desdobramentos entre as crianças do campo e da cidade? Como pensam seus pais e professores?
E a comunidade?
 A concepção da inocência e do prolongamento da infância via experiências prazerosas (como se
a infância fosse constituída só disso), também causa resultados negativos, para as crianças,
superprotegidas, e para os pais, ansiosos em dar esta “proteção” do mundo real. “This anxiety
drives many parents to great lengths to guard their children from sadness, stress, and even mild
discomfort, which in the home and in the classroom manifests as a desire to prolong children’s
unawareness of social realities by censoring topics such as sexuality, death, violence, and poverty
that constitute forms of “difficult knowledge” (Britzman, 1998). Porque destaquei isso: como esta
ansiedade de proteger se manifesta nos pais do campo e da cidade? Quais os impactos disso
nestas crianças? Como isso impacta a Educação, no Brasil sofrendo perseguição e censura ao
tratar de temas tão pertinentes à formação social do indivíduo?
 Recorrendo a performatividade, segundo Butler (1988), quando este discute o gênero como
identidade constituída no tempo, a autora concebe a infância nesta perspectiva também, para
ela, "é uma identidade instituída por meio de atos habituais" (p.57). Desse modo, práticas
protetoras constituem hábitos, que consolidam atitudes e um conceito de infância calcado neste
estado idealizado de inocência.
 “Understanding the historical context in which the myth of innocence emerged in the United State
provides insight into the real cultural value of the adult–child distinction and the reasons why the
dismantling of traditional notions of innocence is necessary to advance conditions of social justice”
(p.60). A discussão central da autora não está em invalidar ou corroborar com a ideia de proteger
as crianças daquilo que seja considerado ofensivo a elas, mas desvendar, nas entrelinhas
históricas, como a criação da inocência colaborou com a solidificação de um pensamento
alienante quanto as questões sociais que envolvem as crianças, alicerçada no fortalecimento de
um binário adulto-criança, que “protege” umas (brancas) do conhecimento da sociedade e suas
diversidades e das desigualdades sofridas por outras (não brancas).
 As condições de vida ideais para a infância inocente só eram possíveis às brancas; além disso,
o contexto da abolição e do voto feminino eram uma ameaça ao patriarcado branco, sem
justificativa moral para escravizar e perdendo poder sobre a mulher. Era ideal um cenário de
criação da inocência e da proteção associados à mãe protetora e do lar. Além disso, “The new
modern construct of childhood sought to maintain White supremacy by refusing to “acknowledge
its role as an organizing principle in social and cultural relations” (Lipsitz, 2009, p. 1). As
Bernstein (2011) explains, “Nineteenth-century childhood’s ability to assert a state of holy
obliviousness while retaining and recapitulating cultural memory was uniquely useful to the
construction and maintenance of whiteness” (p. 7). As the doctrine of childhood innocence took
hold, the cultural work required to produce and maintain the myth was further concealed, and
the innocent White child became the embodiment of human potential, and by association, a
measure of humanness” (p.63).
 Penso se o conceito de prática social poderia representar uma categoria dentro do meu trabalho,
e por sua via, trazer o debate intergeracional para o trabalho. Pais do campo e cidade educam
da mesma forma? Quais suas visões do lugar em comparação às visões de suas crianças? Será
que os adultos da cidade percebem (ainda) o espaço do campo como local de uma “infância
segura”, dentro desta concepção criada de inocência ignorante como ideal para uma criança?

Conclusões
A ideia de prática social é apresentada de modo pragmático, ou seja, apesar de se reconhecer que há
discursos por trás das práticas, aquilo que efetivamente as pessoas fazem, de modo habitual e familiar a
todo o grupo, pode representar de modo mais claro as ideologias predominantes, mais do que o que as
pessoas dizem sobre elas. Daí a importância formativa destas práticas, pois consolidam valores e os
repassam aos novos membros do grupo, a saber, às crianças. A constituição da concepção de infância
inocente e ignorante foi, portanto, constituído por discursos e práticas que incluíam legislações sobre o
trabalho infantil e seu bem-estar, a escolaridade obrigatória, a censura na TV infantil, a remoção de
crianças nativas de suas casas para "educá-las apropriadamente" e a qualificação de mães negras e
brancas pobres como moralmente incompetentes no cuidado, tudo isso justificado pela retórica da
proteção. Por outro lado, a comercialização da infância, praticada pelas megaempresas de
entretenimento, disputam a agência das crianças como consumidoras, contrariando a ideia da proteção,
contudo, as ameaças à inocência são comumente associadas a sexualização (qualquer exposição a outra
forma de vida sexual que não seja a binária é vista como ofensiva pelos conservadores). A inocência
construída sobre as bases de uma felicidade pautada na ignorância total da realidade a vulnerabilidade
delas aos mesmos perigos tão evitados e dos quais queremos protegê-las. A conclusão da autora é a de
que o conceito de infância seja refeito, no sentido de incluir todas as crianças, assegurando-lhes agência
e dignidade, sem ocultação das injustiças sociais praticadas contra as crianças às quais é negado tanto
o direito à infância quanto a denominação de “inocentes”.

Bibliografia a consultar (quando se aplica)

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