Sei sulla pagina 1di 38

2 PP 2 o s J JS , E r a · a 5 ztts se m a mzrtª e& ts:steo12•• :te :.

MAX WEBE R

A I

CIENCIA E POLITICA
Duas V ocacões ~

Prefácio de
MANOEL T. BERLI NCK
( Professor-Adjun to de Sociologia da Escola de Administração
de Emprêsas de S. Paulo, da Fundação Getúlio Vargas)

Tradução de
L EO NlDAS H EGENBERG e ÜCTA:-.IY SILVEIRA DA M o TA

.
:;..

EDITORA CU LTRIX
SÃO PAULO
\
se encontram na situação que se descreve na bela canção de
exílio do guarda edomita, canção que foi incluída entre os orá-
culos de Isaías:
"Perguntam-me de Seir:
"Vigia, que é da noite?
"Vigia, que é da noite?"

O vigia responde:
"Vem a manhã e depois a noite.
Se quereis, interrogai,
Convertei-vos, voltai!"

O povo a que essas palavras foram ditas não cessou de fazer A POLÍTICA
a pergunta, de viver à espera há dois mil anos, e n6s lhe conhe-
cemos o destino perturbador. Aprendamos a lição! Nada se COMO VOCAÇÃO
fêz até agora com base apenas no fervor e na espera. É preciso
agir de outro modo, entregar-se ao trabalho e responder às exi-
gências de cada dia - tanto no campo da vida comum, como no
campo da vocação. ~sse trabalho será simples e fácil, se cada
qual encontrar e obedecer ao demônio que tece as teias de
sua vida.

52
EsTA CONFERÊNCIA, que os senhores me pediram para fa-
zer, decepciona rá necessàriamentc e por múltiplas razões. Numa
palestra que tem por título a vocação políúca, os senhores hão
de esperar, instintivamente, que eu torne posição quanto a pro-
blemas da atualidade. Ora, a tais problemas eu só me referirei
ao fim de m inha exposição e de maneira puramente formal,
quando vier a abordar certas questõe:s que dizem respeito à
significação da atividade política no conjunto da conduta hu-
mana. Excluamos, portanto, de nosso objetivo, quaisquer in-
dagações como: que política devemos ado tar? ou que conteú-
dos devemos emprestar a nossa atividade política? Com efeito,
indagações dessa ordem nada têm a ver com o problema geral
que me proponho examinar nesta opor tunidade, ou seja: que é
ª-YQ.Caçá.o.-po.Üt.ica e quai_o sentido c~_p_ode eia reves tir? Pas-
semos ao assun to.
Q ue entendemos por política? O conceito é extraordinà-
riamente amplo e abrange tôdas as ~spécies de atividade direti-
va autônoma. Fala-se da política de divisas de um banco, da
política de descontos do Reichsbank, da política adotada por um
sindicato durante uma greye; e é também cabível falar da políti-
ca escolar de uma comunidade urbana ou rural, da política da
diretoria que está à testa de urna associação e, até, da política
de uma espôsa hábil, que procura governar seu marido. Não
darei, evidentemente, significação tão larga ao conceito que ser-
virá de base às reflexões a que nos entregaremos esta noite.
_En~~~Hrecão do ag~
~tico hoje denominado ~srado" ou a influência que se exer-
ce em tal sentido.
Mas, que é um agrupamento " político", do ponto de vista
de um sociólogo? O que é um Estado? Sociolõgicamente, o

55
-~------------------------------------'-----------~
d cli . - 0 conservação ou trans fereoc1a • · d o poder são _ fa-
Estado não se deixa definir por seus fins. Em verdade, quase
que não existe uma tarefa de que um agrupamento político qual- s:s e
tores essen
v~~~ para que se possa esclarecer aquela questafo;Ano
. - d que aquêles mesmos atores
quer não se haja ocupado alguma vez; de outrc lado, não é uopoe-se en ten er
segundo caso, f d t' 'idade do funcionário em causa, as-
possível referir tarefas das quais se possa dizer que tenham sem- d. .onam a es era e a iv T d h
con ia 'l . o determinam a decisão. o o ornem,
pre sido atribuídas, com exclusividade, aos agrupamentos polí-
sim como, no u ,timo, ~as 'as ira ao poder - seja porque o c.on-
ticos hoje chamados Estados ou que se constituíram, historica- que se entre~a a políuca, p 'ço da consecução de outros fins,
mente; nos prncu__rsores do Estado moderno. ~logicamentt;., ·Je-e '""m" m~tn1mento a serv1
Slu l .... v .... v ~------ d ·
. , _ __ ..1 __ ,,
oder 11 pe10 puuc:J. ,
o Estado_n~o_g:_deixa_definir a nãg_seL pelo espedfico meio _g_u_e ideais ou egoístas,. seja podrque ;s_eieq~e ~le confere.
Jhe é p_ec_uli~_J.__aLcomo___f_peculiar_L.todQ_.9utro agrupamento ara gozar do sentimento e prestigio . , .
polírico,.....Q.!Lseja,_9_ UJ>.P_àa coação física . P po líúcos que histonca-
T al como todos os agrupamen.tos relação de do-
"Todo E stado se funda na fôrça", disse um dia Trotsky a Estado consiste_~
mente o prece eram, ~b d h tundada no instrume1'.to
Brest-Litovsk. :E isso é verdade. ~existi~est.rut11ras SQ.:. . - d i_lio.mem-so re- 0- amem, l
ciais de que a ~esse ausente, o conceito de Es.tado d~fil~ci'; legítima (isto é, d~ v_iolência c~;si~ibª~~n%;_ d~
teria_tamb_énu:ksap._arec!.Q_o e apenas_subsistiriLo__q~­
gítiroa). O Estado .só pode e~:~t~~ .;idade contl.nua-
.tida_próprie-àa....P-alavrl!.Je::::denomina_5tnarquia". A violência que- os homens oJ!!._IJl ru-s~ d -s:~Colocam-se em conse-
. não é, evidentemente, o único instrumento de que se vale o - · · dí d cios domina ore . •
JDente. re1v~ ca a~ . . Em que condições se subme·
, Estado - não haja a respeito qualquer dúvida - , mas é seu
~instrumento específico. _Em_nossos_dias,..-a_reJação erur~­
qüên~ia, as mdagaç~;s ~!u~~:s .justificações internas e em que
tem êles e por que . - ?
.tado e a violência_é_p_articuJarmente ín!i.ma. Em todos os tem- meios externos se apóia essa dommaçao . •
pos, os agrupamentos políticos mais diversos - a começar pela . ind io - e começaremos por aqw - tres
familia - recorreram à violência física, tendo-a como instru- Existem em pr P d · - existindo canse-
. e 1·ustificam a ommaçao, '
mento normal do poder. E m nossa época, entretanto, devemos razões rnternas qu d 1,,,,i1iJpidade Antes de mdo,
nüPntPffiellte. três fundamentos a ~t , l • - --•·•-or Mntifi.
conceber o Esiado contémporâneo como umã comun.idãde hu- 'i -· ·- 'd d , d "nac:sado eterno-" - 1sto_e, aos <.:u:.~uw._,, ........ ~
mana que, dentro dcs lirnítes de determinado território - a no- a_ autoo a e ? ~ - - .al ~lo hábito enraizado nos_ho·
ção de território_ corresponde a um dos elementos essenciais oô cado_s _pdela _v~d:~l;sme~~{1é oe" ~od~r tradi~ionãl" ' que o patri·
Estado .:__ reivindica o monopólio do uso legítimo da violência· roens, e res ~-= . 'C'~·ste,~un-
nh de terras outrora, iexerc1a. _.!..oAI .
física. É, com deito, próprio de nossa época o não reconhecer, arca ou o se or.d d e' se.lunda ~~essoais e eg_raor·
em relação a qualquer outro grupo ou aos indivíduos, o direito do lugar,_a ajlton ª
, ·os-de~u""-in·diY.íduo
e_~ - d
t car~ma) - >voçao~ -~ul .
- 0 nf ça_es-
de fazer uso da violênci:i., a não ser nos casos em que o Estado dinan --~ - -1 , e_slDº anza
essoais deRositadas em a ~em_que._Ji_
LU
· <>==-Íi
o tolere: o E stado se transforma, portanto, na única fon te do
"direito" à violência. Por política entenderemos, conseqüente- ~r~~a~~~da~es-prodigios!ls; por heroísmo ou y~r º~:: .~~~s~ 1
dades exemplares- que-dêle-fozem_o_chefe. !a e,~ P li"
mente, o conjunto de esforços feitos com vistas a participar do
poder ou a influenciar a divisão do poder, seja entre E stados,
~-
roático", exemdo pe.o
. 1 pro_etaf
º1 ·-
elo dirioente guerreiro eleito, pe o so erano es~~
no dom1mo po nco -
b. lhido através
d
seja no interior de um único Estado.
~e plebi;cito, pelo grande demagogo ou p:lo ddmgeote _e u~
Em têrmos gerais, essa definição corresponde ao uso cor- artido político. ~ey-por-fim ._a,Jlutonda e qu7_se~unp
rente do vocábulo. Quando de uma questão se diz que é "po- p - d~- "legalidade" em razão da crença na validez de um
em razao ~ • • . ,, ·· fundada em
lítica", quando se diz de um ministro ou funcionário que são "po- tuto leoal e de uma "competencia posmva~
líticos", quando se diz de uma decisão que foi determinada pela esta . "n·'---•º ..~ ....hPlPr-irl::is ou, em outros termos, a auto-
reoras racio alll.JC11L'- \.J•uv-·--·- . . - f .
"política", é preciso entender, no primeiro caso, que os interês- ridade fundada na obediência, que reconhece obngaçoes con or

56 57
. . arte a do mágico e do profeta e, de outra
essenc1a1s: de uma P othido ara dirigir a guerra, do chefe de
mes ao estatuto estabelecido. Tal é o poder, como o exerce parte, a do chefe .esc p 6 P. do Ocidente é entretanto - e
o "servidor do Estado" em nossos dias e como o exercem todos grupo, do condotttere: r p~10\ te a figura do livre "de-
os detentores do poder que dêle se aproximam sob êsse aspecto. . . t essa mais especia men -- 'd d .
1sso nos m er . f O .dente em meio às ct a es tn-
:É dispens:ível dizer que, na realidade concreta, ~hediên­ magogo". bste só triun ~ul n~as c;egiõe~; de civilização mediter-
cia dos súditos é condicionada · por motivos-ectremarnente pode-~ dependentes e, em ,~spec.1a_ ~ ··-o se ã-resenta sob o aspecto do
rasos, ditados pelo mêdo ou pela esperança - seja pelo mêdo rânea. Em nossos .aias, t:sst: Lll? ar'» c~ntinua a só ser en~ontr.a­
de urna vingança das potências mágicas ou dos detentores do "chefe de um partido parlam.enbt. 'd s Estados constitucionais.
'd que é o am ltO o
poder, seja a esperança de uma recompensa nesta terra ou em do no O ct ente, " -o" no sentido
. d h roem político por vocaça ' ,
outro mundo. A obediência pode, igualmente, ser condicionada bsse tipo e
, . do ter
º- . .
• mo ' nao consntm
de maneira alguma, em pais
por outros interêsses e muito variados. A tal assunto voltare- proprto . d empreendimento pol'1t'ico
mos dentro em pouco. Seja como fôr, cada vez que se propõe algum, a ún{ca fiâura ~tf:t~;nd~~~iv~ ireside, antes, na natureda
interrogação acêrca dos fundamentos que "legitimam" a obe- e da luta pe o po er: - homens políticos. De que mo o
diência, encontram-se, sempre e sem qualquer contestação, essas dos meios de que d1spl'~ od . ntes afirmar sua autoridade?
três formas "puras" que acabamos de indicar. conseguem as fôrç~s po ltl~as o~td~s ~s tipos de dominação e
Essas representações, bem como sua justificação interna, Essa indagação diz respeito a. do as formas de dominação po-
revestem-se de grande importância para compreender a estru- vale, conseqüentemen~e, para t? as u carismática.
. tura da dominação. r CeE_tO-é que, na ;ealidad~, ~- muito rara- lítica, seja tradi:ion~hst;, l~gah:ra :ue reclame continuidade ad-
mente_se encontram êsses_tipos puros. Hoje, contudo, não nos Tôda emp~esa e oml°dçao e a atividade dos súdidos se
será possível expor, em pormenor, as variedades, transições e ministrativa ex1g_:, de u~ d~.º•. qudevicla aos senhores que pre-
combinações extremamente complexas que êsses tipos assuroell,l; oriente em funçao da o e :tnf~a ça lepítima e exige, de outro
estudo dessa ordem entra no quadro de uma "teoria geral do tendem ser os detentores a º~. . 'contrôle dos bens mate-
Estado". lado e em virtude daquela obedienc1a~ecessários para aplicação
. . dado caso se tornem , .
No momento, voltaremos a atenção, particularmente, para riais que, e~ . , alavras a dominação orgamza-
o segundo tipo de legitimidade, ou seja, o poder brotado da sub- da fôrça física. Dito Iemd odutras p estado-maior administrativo e,
missão ao "carisma" puramer1te~ pessoal do "chefe". !sse tipo d a, necess1"ta , por um a. o,d e umio~ materiais de gestao. -
or outro lado, necessita os me . , -
nos conduz, com efeito, à fonte de vocação, onde encontramos p , . . ue representa externamen
seus traços mais característicos. Se algumas pessoas se abando- O estado-maior adm1mstrat1vo; _q l aliás qualquer
d · - 0 pollttca ta como
nam ao carisma do profeta, do chefe de tempo de guerra, do te a organização e om1~açli~
d obed~cer ao detentor do poder
. - o não se mc na a . d' .
grande demagogo que opera no seio da ecclesia ou do Parlamento, outra orgamzaça ' - d legitimidade acima iscut1-
quer isso dizer que êstes passam por estar interiormente "cha- em razão ap~~as. das c~ncepçoes eero . duas espécieis de motivo
mados" para o papel de condutores de homens e que a êle se das. A obe~1encia fu~ a-s:, antes~<:soais: retribuição material e
dá obediência não por costume ou devido a uma lei, mas por- que se relac~onam a mteresse~ p . homenagem dos vassalos, a
que nêles se deposita fé. E, se êsses homens forem mais que prestígio social.. ~e, ~ma par .:~c~mentos dos atuais servidores
presunçosos aproveitadores do momento, viverão para seu tra- preb~nda dos d1grutartos, osª 'honra do cavaleiro, os privilégios
balho e procurarão realizar uma obra. A devoção de seus discí- públicos e, de odu.tra.J:ci!e~io servidor constituem a recompe~sa
pulos, dos seguidores, dos militantes orienta-se exclusivamente das ordens e a igm . . on,.1t1nto dessas vantagens e a
para a pessoa e para as qualidades do ·chefe. A História mostra · t or de perder o e . d ·
esperada; .e. o edm lid . d d que liga o estado-maior a m1-
que chefes carismáticos surgem em todos os domínios e em tôdas razão declSlva a so arte a e
as épocas. Revestiram, entretanto, o aspecto de duas figuras 59

58
nistrativo aos detentores do poder E 0
sos de dominação carismáti . · m~mo ocorre nos ca- de" da posse de um feudo e honra social do vassalo derivavo.m
fiéis, a glória guerreira e as rei~· esta pro~roona, sos soldados do su.zerano.
. quezas conqwstadas ·
aos segwdores do demagogo os "d . " . e proporoona, Contudo, encontra-se também disseminado, mesmo entre
dos administrados graças aC: mono e~tOJOs ' 1St? é, a exploração as formações políticas mais antigas, o domínio pessoal do chefe.
nas vantagens da atividade políti po' o dos tnbutos, às peque- Busca êste transformar-se no dominado:r da administração entre·
--- ca e as recompensas da vaidade.
. Para asse,gurar estabilidade a um d . - gando-a a súditos que a êle se ligam de maneira pessoal, a es-
sc1n no, violêncin fnzc:m-se necessários t~ OlllJ.rulçao que se ba- cravos, a servos, a protegidos, a favoritos ou a pessoas a quem
d~ carater eco.nômico, certos bens :nater~~~o ™5~ª cmprêsa êle assegura vantagens cm dinheiro ou cm espécie. O chefe en-
vista, é possfvd classificar as adm· . _ · ponto de frenta as despesas administrativas lançando mão de seus próprios
A primeira obedece ao sea11inre p .lD..!~~a~oes emdduas. categorias. bens ou distríbuindo as rendas que seu patrimônio proporcione
• , • io~ nncrp10. o esta o-maio fun e cria um exército que depende exclusivamente de sua autori-
c1onar1os ou outros magistrados de cu1·a obediA . dr, osd -
d etentor do d - êl ' encra epen e o dade pessoal, pois que é equipado e suprido por suas colheitas,
trumentos depgoes~o s~~trumes enprtópr~os, os proprietários dos ins- armazéns e arsenais. No primeiro caso, no caso de um agru-
.
fin anceLtos, •
edifícios material d
os esses que podem
ser recursos pamento estruturado em "Estados", o soberano só consegue go-
cavalos etc. A se~da cate oria eoreJrra, par~c; _de veículos, vernar com o auxílio de uma aristocracia independente e, em
estado-maior é "privado" do~ m . d ece a ~nncrp10 oposto: o razão disso, com ela partilha do poder. No segundo caso, o
tido em que na , e.ios e gestao, no mesmo sen- governante busca apoio em pessoas dêle diretamente dependen-
"privados" d~s m:I'ac:=~=~~~i d empreJad..? e o proletário são
0
tes ou em plebeus, isto é, em camadas sociais desprovidas de
pitalista. É, pois sem re . s e pr~ uçao numa emprêsa ca- fortuna e de honra social própria. Conseqüentemente, êstes úl-
p oder d.mge . , . p unportante rndagar se o detentor d
e orgaruza a admini tr - d 1 o timos, do ponto de vista material, dependem inteiramente do
cutivo a servidores ligados s açao, e egando poder exe- chefe e , prinópalmente, não encontrara apoio em nenhuma ou-
.. . ' a sua pessoa a emore d rt tra espécie Je poder capaz de contrapor-se ao do soberano. To-
m1uu ou a favoritos e famili· - _: _ • .ga os que a...-
, _ _ ares que nao sao prop · , · . dos os tipos de poder patriarcal e patr'lmonial, bem como o des-
e, que nao sao possuidores de pl dir . d rietar1os, tsto
ou s:, pelo contrário, a adminis~~ºão e1t_? os n:eios de ges~ão potismo de um sultão e os Estados .de~ estrutura burocrática fi-
economicamente independentes d 0 ç desta Erras m~os de pessoas liam-se a essa última espécie - e insisto muito particularmente
tra d a por qualquer das adm; po
... ; traçoes
'-4LUUs - . diferença é ilus-
er. nh ssa
co ecrdas
no Estado burocrático por ser êle o que melhor caracteriza o de-
D . senvolvimento racional do Estado moderno.
princfpf~e:~s o~d!ºs~eaod:~;~:~~tp º!~anizado "segundo o De modo geral, o desenvolvimento do Estado moderno tem
materiais de gestão são, totar ou Poi!t1co no qual_ os meios por ponto de partida o desejo de o príncipe expropriar os podê-
estado-maior administrativo N p~rcdtad e:1te, propnedade do res "privados" independentes que, a par do seu, detêm fôrça
· a SOCle a e 1eudal po 1
o v~ssa1o pagava, com seus pró r. ' r exemp o, administrativa, isto é, todos os proprietários de meios de ges-
administração e de aplicação d P _ios. recursos, ~s ~espesas de tão, de recursos financeiros, de instrumentos militares e de
havia sido confiado e tinha a ab 1~st1~a no t~t6no que lhe quaisquer espécies de bens suscetíveis de utilização para fins
visionar-se, em caso de guerra o Engdaçao de eqwpar-se e apro- de caráter político. !sse processo se desenvolve em paralelo
o 1 a mesma forma pr,.,,.,,,d· perfeito com o desenvolvimento da emprêsa capitalista que do-
s vassa o~ que a. ele estavam subordinad
A •

Es . '::'"'- .'am
alguns efeitos no que se refere ao ex ' ~s. d sa s1tuaçao tinha mina, a pouco e pouco, os produtores independentes. E nota-se
!ano, de vez que o poder dêst r • ercrc10 o poder pelo suzc- enfim que, no Estado moderno, o poder que dispõe da totali-
pessoal de fidelidad . e tun~av~-se apenas no Juramento dade dos meios políticos de gestão tende a reunir-se sob mao
e e na crrcunstanc1a de que a "legirimida- única. Funcionário algum permanece como proprietário pes-
60
61
soa! do dinheiro que êle mani ula d ., .
máquinas de guerra que êle COP t lou oºs Eed1fic1os, reservas e
·
e tsto e, d e importância
· no 1 n roda.
P ano os conce1 tos
stado
. m od erno -
·
1 suas vidas . Uma vez mais, é só no Ocidente que eucontramos
essa categoria nova de políticos profissicmais a serviço de podê-
portanto, e de maneira integral " . ,. d" _ - consegum,
. , ' pnvar a treçao adm· . . f res outros que não o dos príncipes. Não obstante, foram êles,
va, os fu nc10n:arios e trabalhadores b , . tn1strat1- em tempos passados, o instrumento mais importante do poder
meios de gestão. Nota-se a essa al urocrat1cos. de quaisquer
processo inéditc>, que se d~se 1 tura, o surgimento de um dos príncipes e da expropriação política que, em benefício dês-
expr · d. . nro a a nossos olhos e n11P """'~M tes, se processava.
opnar o expropnador o . ü . -- '"l~~ ª'"""'r"
f
põe e o seu poder político. ~ ~tos po t1cos de que êle dis- Antes de entrar em pormenores, tentemos compreender
conseqüência da revolução ( ale~ã de a~9~n)os apare~temente, a
claramente, sem equívocos e sob todos os aspectos, a significa-
novos chefes substituíram as t ºd d ' na medida em que 1 ção do aparecimento dessa nova espécie de "homens políticos
se apossaram, por usurpação ;~ ºí1- ~ es estabelecidas, em que profissionais". São possíveis múltiplas formas de dedicação à
o conjunto administrativo e d be e1çao, d~ poder que controla política - e é o mesmo dizer que é possível, de muitas manei-
que fazem derivar - pouco· . e ens matertats e na medida em ras, exercer influência sôbte a divisão do poder entre formações
· "d importa com q d" · políticas diversas ou no interior de cada qual delas. Pode-se
t1m1 ade ~e seu poder da vontade d ue 1re1to - a legi-
tretanto, indagar se êsse pri . .. ?s governados. Cabe, en- exercitar a política de maneira "ocasional", mas é igualmente
.. , me1ro exito _ ao men possível transformar a política em profissão secundária ou em
- i:eri:nirtra que a revolução alca d , . os aparente
econom1co do capitalismo c . .n~de o omm10 do aparelho profissão principal, exatamente como oc:orre na esfera da ativi-
' u1a attv1 ade se · . dade econômica. Todos exercitamos "ocasionalmente" a políti-
mente, de conformidade com 1 - . . orienta, essenc1al-
. . ets tntetramente di d ca ao introduzirmos nosso voto em uma urna ou ao exprimir-
~eg~m a ad ministração política T d . versas as que
11m1tar-me-ei a registrai· esta . en º- em vista meu objetivo, mos nossa vontade de maneira semelhante, como, por exemplo,
conceitua!: o Estado modem c~nstataçao de ordem puramente manifestando desaprovação ou acôrdo no curso de uma reunião
que apresenta ca.ráter institu~o~ lm agrupamento de dominação "política", pronunciando um discurso "político" etc. Aliás, para
monopolizar, nos limites de a e q~e, ~rocurou {com êxito) numerosas pessoas~ o contacto com a política se reduz a êsse
, ·
1eg1t1ma um terntono ..., · ]"' · fí . gênero de manifestações. Outros fazem da atividade política a
como instrumento d d , . ' "' v10 enc1a s1ca
. . e
t ivo, reunm nas mãos dos d º . omin10 e que t d ..
. ' en o esse o Je-
b. profissão "secundária". Tal é o caso de todos aquêles que de-
-
tao. E .
qu1vale isso a dizer mgentes os
. meio · · d
s materiais e ges- sempenham o papel de homens de confiança ou de membros dos
todos os funcionários que que d Estad~ mo.derno exoropriou partidos políticos e que, via de regr'.l, só agem assim em caso de
disounham outrora por dirs~gun o, o .pr10cíp10 dos "Estados" necessidade, sem disso fazerem "vjda", nem no sentido material,
substituindo-se a tai~ func1"on ,c~to prolpr~o, de meios de gestão nem no sentido moral. Tal é também o caso dos integrantes de
Sem embargo ao lon oanos d" ' me usive no topo "' d a h"terarquia
· ' conselhos de Estado ou de outros órgãos consultivos, que só
se desenvolveu co'm êxitog _esse processo de expropriação qu~ exercem atividades quando provocados. Tal é, ainda, o caso de
~º. globo, nota~se o apareci::~~r ~u menor, em tod,o~ os países numerosíssimos. parlamentares que só exercem atividade política
líticos profissionais" Tra t . o e uma nova espec1e de "po- durante o período de sessões. ~sse tipo de homem político era
. · a-se no cas d comum outrora, na estruturação por "ordens", própria do anti-
que permite definir o segundo' ºd o,d e uma categoria nova,
-los, de início, colocarem-se a se:~~tl o ess,a :xpressão. Vemo- go regime. P9r meio da palavra "ordens", indicamos os que,
ª ambição dos chefes carismáticos ço d~s btinc1pes. Não tinham por direito pessoal, eram proprietários dos meios materiais de
-se em senhores, mas em enha e nao uscavam, t.ransformar- gestão, fôssem de caráter administrativo ou militar, ou os be-
colocarem à disposição dep va!11-~e na luta política para se neficiários de privilégios pessoais. Ora, grande parte dos mem-
· .. ·. . um prmc1pe na ,.~t- r1 •
bros dessas "ordens" estava longe de consagrar totalmente, ou
reresses polittcos encontrava nh - ' g--s.ao ~e cu;os in-
m ga a-pao e conteúdo moral para mesmo preclpuamente, a vida à política; à política só se dedi-
62 cavam ocasionalmente. Não encaravam suas prerrogativas senão

ó3
como forma de assegurar rendas ou vantagem pessoal. No in- mais profundo do têrmo, em 1'fim de sua vida", seja porque
. seus próprios agrupamentos, só desenvolviam ativida-
terior .de encontra forma de gôzo na simples posse do poder, seja porque
d~ _P~l.mca n_a~ oc~sioes em que seus suzeranos ou seus pares lnes o exerckio dessa atividade lhe permite achar equili'brio interno
dirigiam solicitaçao expressa. E o mesmo se dava com relação e exprimir valor pessoal, colocando-se a1 serviço de u ma "causa"
a uma importante fração das fôrças auxiliares que o príncipe que dá significação a sua vida. Neste sentido profundo, todo
colocava a seu serviço, para transformá-la em instrumento na luta homem sério, que vive para uma causa, vive também dela. Nossa
~ue êle. travava com o tito de constituir uma organização poií- distinção assenta-se, portanto, num aspecto extremamente impor-
~ca a êle pessoalmente devotada. O s "conselheu os privados" tante da condição do homem político, ou seja, o aspecto econô-
mtegravam-se a essa categoria, bem como a ela também se in- mico. Daquele que vê na política uma permanente fonte de
tegrava, remontando no tempo, grande pane dos conselheiros rendas, diremos que "vive da política" e diremos, no caso con-
que se assentavam nas curias ou em outros órgãos consultivos trário que "vive para a politica". Sob regime que se funde
a serviço do príncipe. Evidentemente, entretanto êsses auxi- na propriedade privada, é necessário que se reúnam certas con-
li:i.res que só ocasionalmente se dedicavam à política' ou que neia dições, que os senhores poderão considerar triviais, par.a. que,
v1am tão-sàme.nte uma atividade secundária esLJtvam longe de no sentido mencionado, um homem possa viver "para" a polí-
b_astar ao prírtcipe. Não lhe restava, por tanto, outra alterna- tica. O homem político deve, em condições normais, ser econô-
tJ.va senão a de buscar rodear-se de um corpo de colaboradores micamente independente das vantagens que a atividade política
inteira e exclusivamente dedicados à sua pessoa e que fizessem lhe possa proporcionar. Quer isso dize1r que lhe é indispensável
da atividade p·olítica sua principal ocupação. Naturalmente que possuir fortuna pessoal ou ter, no âmbito da vida privada, si-
a estrutura da organização política da dinastia nascente, assim tuação suscetível de lhe assegurar ganhos suficientes. Assim
como a fisionomia da civilização examinada, dependerá muito, deve ser, pelo menos em condições no1:mais, pois que os segui-
em todos os casos, da camada social onde o príncipe vá recrutar dores do chefe guerreiro dão tão pow:a importância às condi-
seus agentes. .E o mesmo cabe dizer, com mais force razão, dos ções de uma economia normal quanto os companheiros do agita-
agrupamentos políti1.üs que, após a aboiição compieta ou a li- dor revoiucionário. Em ambo~ os cgsos, vive-se apenas da prê-
mitação considerável de poder senhorial se constituam pollti- sa, dos roubos, dos confiscas, do curso forçado de bônus de pa-
camente em comunas "livres" - livres não no sentido de fuga gamento despidos de qualquer valor - pois que tudo isso é, no
ao domínio através de recursos à violência, mas no sentido de fundo, a mesma coisa. Tais situações são, entretanto, necessà-
ausência de um poder senhorial ligitimado pela tradição e, muito riamente excepcionais; na vida econômica de todos os dias, só
freqüentemente, consagrado pela religião e considerado como a fortuna pessoal assegura independência econômica. O homem
fonte única de qualquer autoridade. Histàricame.nte, essas co- político deve, além disso, ser "econômicamente disponível", equi-
munas só se d esenvolveram no mundo ocidental, sob a forma valendo a afirmação a dize,r que êle níio deve estar obrigado a
primitiva da cidade erigida em agrupamento poütico, tal como consagrar tôda a sua capacidade de tr~1balho e de pensamento,
a vemos surgir, pela primeira vez, no âmbito da civilização me- constante e pessoalmente, à consecução da própria subsistência.
diterrânea. Ora, em tal sentido, o mais " disponível" é o capitalista, pessoa
* que recebe rendas sem nenhum trabalho, seja porque, à seme-
lhança dos grandes senhores de outrora ou dos grandes proprie-
Há duas m~neiras de fazeuolítica Ou se vive "para" a tários e da alta nobreza de hoje, êle as aufere da exploração Ílno-
polí~ive "da" politTca_ Ne.ss..~'iÇão f não há ~ada biliária - na Antiguidade e na Idade Média, também os escra-
_de.-exclUszy,o.. Muito ao contrário, em ger se azem uma -e vos e servos representavam fontes da renda - , seja porque as
outra coisa ao mesmo tempo, tanto idealmente quanto na prá- aufere em razão de títulos ou de outras fontes análogas. Nem
tica. Quem vive "para" a política a transforma, no sentido o operário, nem muito menos - e isso deve ser particularmen-

64 65
7 d .. .
te sublinhado - o moderno homem de negócios e, sobretudo
º. grande homiem de negócios são disponíveis no sentido men~ maneira consciente ou não - o ponto cardial na orientação da
c1onado. ~ homem de ne~ócios, está ligado a sua emprêsa e, vida de um homem que já possui fortuna. O idealismo político,
por,tanto, nao se ~ncontr~ ~1spomvel e muito menos disponível que não se detém diante de nenhuma consideração e de nenhum
esta .º. que se d~dica a at~v1dades industriais do que o dedicado princípio, é praticado, se não exclusivamente, ao menos princi-
a at1v1dades agncolas, pois que êste é beneficiado pelo caráter palmente, por indivíduos que, em razão da pobreza, estão à
,. ,. ., _..,. __ , _] _ ---!-.. 1 .... . -- .,..,
1 • A' 1 m<>re>Pm
...__ &. b -""~ª rl<>c:
_ ... u f'<> m<>rl<>c:
'-••&•.&._._ .......... c:nf'Í<iÍc: int1>rPc:c:<1r~<>c:
v""'- .. "' ... .., ......._ n<>
.. ._...,.._ .... v v "'"' .... ._..., ....... m<inntPnf'<ln
.,. . . .,. .. ..,...._.. .. .,. ... _ rlP
- - f'Pr
__ ., ...
::.íl~umu u<1 agu1.:unurn. 1~a ma10na aas vezes o homem de ne-
.....,,..~

góc~o~ tem dificuldade para deixar-se substituir, ainda que tem- ta ordem econômica em sociedade determinada. É o que se
poranam.ente., O mesmo ocorre com relação ao médico, tanto nota especialmente em períodos excepcionais, revolucionários.
men.os d1spomvel quanto mais eminente e mais consultado . Por Tudo que nos interessa realçar é entretanto o seguinte: o recru-
motivos de pu:ra técnica profissional, as dificuldades já se mos- tamento não plutocrático do pessoal político, sejam chefes ou
t~am m:nores ino caso do advogado, o que explica a circunstân- seguidores, envolve, necessàriamente, a condição de a organiza-
cia de êle . ter dese~penhado , c~mo homem político profissio- ção política assegurar-lhe ganhos regulares e garantidos. Nunca
nal, papel ~comparavclmen ~e. ma10r e, com freqüência, prepon- existem, portanto, mais de duas possibilidades. Ou a ativida-
derante. , ~ao se f~z necessario, entretanto, estender ainda mais de política se exerce " honorlficarnente" e, nessa hipótese, so-
esta caswsttca; mais conveniente é deixar claras algumas conse-' mente pode ser exercida por pessoas que sejam, como se cos-
qüêncías do que se acabou de expor. tuma dizer, "independentes", isto é, por pessoas que gozam de
O fato de um E~tado ou Ade. um partido serem dirigidos por fortuna pessoal, traduzida, especialmente, em têrmos de rendi-
homens que, no sentido economtco da palavra vivam exclusiva- mentos; ou as avenidas do poder siío abertas a pessoas sem
mente para a política e não da política signific; necessàriamente fortuna, caso em que a atividade política exige remuneração.
que ,ª~ c~adas dirigentes . são recrutadas segu~do critério "plu~ O homem político profissional, que vive "da" política, pode
tocr~nco . -~ª'~endo essa asserção, não pretendemos, de manei- ser um puro "beneficiário" ou um "funcionário" remunerado.
~ • 1 , , • , - 1 ~1 , •

ra alguma, dize:r que a direção plutocrática não busque tirar van- .cm outras pa1avras, e1e receoera renaas, que sao nonorarios ou
t~gem . ~e .~ua :~jr_uação dominante, com o objetivo de também emolumentos por serviços determinados - não passando a gor-
viver da pol:.it1ca, explorando essa posição em benefício de jeta de uma forma desnatu rada, irregular e formalmente ilegal
seus interêses econômicos. Claro que isso ocorre. Não há ca- dessa espécie de renda - ou que assumem a forma de remune-
n:_adas dirigentes que não tenham sido levadas a essa explora- ração fixada em dinheiro ou espécie ou em ambos ao mesmo
çao, de uma ou de outra maneira. Nossa asserção significa sim- tempo. O político pode revestir, portanto, a figura de um "em-
p~esmente qu~ os homens políticos profissionais nem sempre se preendedor", à maneira do condnttiere, do meeiro ou do com-
veem co!11pelidos a reclamar pagamento pelos serviços que em prador de carga ou revestir o aspecto de boss norte-americano
tal condiçao prestam; ao passo que o indivíduo desprovido de que encara suas despesas como investimentos de capital, que
f~rtuna está sempre obrigado a tomar êsse aspecto em considera- êle transforma em fonte de lucro·s, mercê da exploração de sua
çao. De ~~tra parte, n~o é de nossa intenção insinuar que os ho- influência pol1tica; ou pode ocorrer que êle simplesmente rece-
mens yolit1cos desprovidos de fortuna tenham como única preo- ba uma remuneração fixa, tal como se dá com o redator ou se-
cupaçao, durante o curso da atividade política, obter, exclusiva- crétario de um partido, com o ministro ou funcionário político
:nente _ou mesmo principalmente, vantagens econômicas e que modernos. A compensação típica outrora outorgada pelos prín-
êles nao se preocupdemd. ou não considerem, em primeiro lugar, cipes, pelos conquistadores vitoriosos ou pelos chefes de par-
~ , causa a qu.e se e _1caram: Ner:lmma afirmação seria mais tido, quando triunfantes, consistia em feudos, doação de 'terras,
1 ' 1 . 1 . • 1 1 • f •

ta.Jsa que ~ teita em tal sentido. Sabe-se, por experiência, que a preoenaas ae roao npo e, com o. aesenvo1v1mento da economia
preocupaçao com a "segurança" econômica é, com efeito - de financeira, traduziu-se, mais particularmente, em gratificações.
. Em nossos dias, são empregos de tôda espécie, em partidos, em
(Í (Í
67
jornais, em cooperativas, em organizações de seguro social, em cialmente o partido do Centro que se entusiasmou com proje-
municipalidades ou na admirústração do Estado - distribuídos tos dêsse tipo e, em Baden, chegou a inscrever em seu progra·
pelos chefes de partido a seus partidários, pelos bons e leais ser- ma a aplicação do princípio de distribuição proporcional de car-
viços prestados. ~utas_partidárias não são, portanto. aQenas gos segundo as confissões religio:a.s, sem se pre~cu~ar. c?m. a
lutas ~ecução de metJ1LQQ.ietivas, mas são. a p.ar_dis.s_o, capacidade política dos futuros dingentes. Tendenc1a 1denuca
e sobretudo,J:iv@dades para controlau_distrihuição de empregos. se manifestou em todos os demais partidos, com o aumento
Na Aiemanha, tôdas as iutas entre as tendências partlcuia- crescente do número de cargos adrninistraúvos que se deu em
ristas e as tendências centralistas giram, também e principalmen- conseqüência da generalizada burocratização, mas também se
te, em tôrno dêsse ponto. Que podêres irão controlar a dis- deu po1 causa da ambição crescente de cidadãos atraídos por
1ribuiçã0-de_e1npr.egos - os~e::BerlfuLQu._ao_~ uma sinecud administrativa que, hoje em dia, se tornou espé-
Municb,_de~.rlsruhe ou de Dresd~ ? Os partidos se irritam cie de seguro específico para o futuro.. Dessa forma, aos olhos
muito mais com arriiiliões ao direito de distribuição de empre· de seus aderentes, os partidos aparec,em, cada vez mais, cor:1o
gos do que com desvios de programas. Na França, um movi- uma espécie de trampolim que lhes permitirá atingir êste obje-
mento municipal, fundado nas fôrças respectivas dos partidos tivo essencial: garantir o futuro.
políticos, semp.re foi considerado perturbação mais importante A essa ten.dênrut_Qpõe-se, entretanto, o des..envolvimento
do que uma alteração no programa governamental e, com efeito, .moderno_da..função_p..Jd.blica q.ue, em nossa época, exj~e um CQ~
suscitava agitação maior no país, dado que, geralmente, o pro- p9_çle ttabalhadores._intelectuais especializados, . alumente.-quali-
grama de govêrno tinha significação apenas verbal. Numerosos ficados e q\J.e_ s..e_preparam,_no longo de anos, para_o_çlesem~
partidos políticos, notadamente nos Estados Unidos da América n~arefa_J?.i:_ofi~siona 1, estando _anim~dos_pOI.-Ulll-seo­
do Norte, transform2ram-se, depois do desaparecimento das ve- timento mmt9_desenwv1do de:_ honr-ª corpo!!!!.v_!,_QlliÍe....s..e. acen-
lhas divergências a propósito de interpretação da Constituição, tüãõCãpítulo_da.Jn.tegridade. Se tal sentimento de honra não
em organizações que só se dedicam à caça aos empregos e que
modificam seu programa concreto em função dos votos que haja
eXistis'se entre os funcionários, estaríamos ameaçados por uma
corrupção assustadora e não escaparíamos ao domínio do~ filis-
por captar. Na Espanha, pelo menos até os últimos ànos, os teus. Estaria em grande perigo, ao mesmo tempo, o simples
dois partidos s•e sucediam no poder, segundo um princípio de rendimento técnico do aparelhamento estatal, cuja importância
alternância consentida, sob a cobertura de eleições "pré-fahrica- econômica se acentua crescentemente e não deixará de crescer,
das" pelas altas direções, com o fim de permitir que os partidá- sobretudo se consideradas as tendência1s atuais no sentido de so-
rios dessas duas orgimizações se beneficiassem, alternadamente, cialização . Mesmo nos Estados Unidos da América do Norte ,
das vantagens propiciacbs pelos postos administrativos. Nos ter- onde, em épocas passadas, se desconhecia a figura do funcioná-
ritórios das antigas colônias espanholas, as ditas "eleições'· e as rio de carreira e onde o diletantismo administrativo dos políticos
ditas "revoluções" não tiveram outro objetivo se não o de dis- deformados permitia que, em função do acaso de uma eleição
por da vasilha de manteiga de que os vencedores esperavam presidencial, fôssem substituídas várias centenas de milhares de
servir-se. Na Suíça, os partidos paclficamente repartem entre funcionários, mesmo nos Estados Unidos da América do Norte,
si os empregos, segundo o princípio da distribuição proporcio· repitamos, a antiga forma de recrutamento foi, de há muito,
nal. Aliás, mesmo na Alemanha, certos projetos de constitui- superada pela Civil Service Reform.
ção ditos "revolucionários" como, por exemplo, o primeiro pro·
jeto elaborado em Baden, propõem estender o sistema suíço à Na origem dessa evolução, encontram-se exigências imperio-
distribuição dos cargos mirústeriais e, conseqüentemente, consi- sas, de ordem técnica exclusiva. Na Europa, a função pública,
• 1 t • •~ 1 ,.. • - , • 1 _ lt - 1- - -
deram o Estado e os postos administrativos como instituições organizada segundo o pnnc1p10 aa mv1sao ao craoaino, aesen·
destinadas a simplesmente proporcionar prebendas. Foi espe- volveu-se progressivamente, ao longo de processo que se esten-

68 69
5 =xt••

de por meio milhar de anos. As cidades e condados italianos tiu sentir, de rnaneira definitiva e ur:gente, uma orientação for-
foram os primeiros a tomarem por essa via; e, no caso das mo- malmente unificada do conjunto da política, inclusive a poUtica
narquias, êsse p rimeiro lugar foi tomado pelos Estados conquis- interna, sob a égide de um só homem de Estado. Sempre hou-
tadores normandos. O passo decisivo foi dado relativamente ve, por certo, fortes personalidades que ocuparam a posição de
à gestão das finanças do príncipe. Os obstáculos surgidos quan- conselheiros ou - em verdade - a de guia do príncipe. Não
do das reformas administrativas levadas a efeito pelo Imperador obstante, a orgarilzação dos podêres públicos havia, primitivâ-
Max permitem-nos compreender quanto foi difícil para os fun- mente, seguido via diversa daquela que acabamos de assinalar
cionários, mesmo sob pressão de necessidade extrema e sob tendo ocorrido êsse fato mesmo nos Estados mais evoluídos~
ameaça turca, privar o soberano da gestão financeira, embora Nota-se, com efeito e desde logo, a constituição de um corpo
êsse campo seja, sem dúvida, o menos compatível com o dile- administrativo supremo, de caráter cdegiado. Em teoria, embo-
tantismo de um príncipe que, por aquela época , aparecia, ainda ra com freqüência cada vez menor na prática, êsses organismos
e antes de tudo, como um cavaleiro. Razão idêntica fazia com reuniam-se sob presidência pessoal do príncipe, único a tomar
que o desenvolvimento da técnica militnr impusesse a presença decisões. Através de tal sistema, que deu origem às propostas,
de um oficial de carreira e o aperfeiçoamento do processo judi- c~nrrapro~ostas e votos segundo o princípio da maioria e, a par
ciário reclamasse um jurista competente. Nesses três domínios disso, devido ao fato de qµe o soberano, além de recorrer às
- o financeiro, o do exército e o da justiça - os funcionários de supremas instâncias oficiais, apelava a homens de confiança, a
carreira triunfaram definitivamente, nos Estados evolufdos du- êle pessoalmente ligados - o "gabinete" - , por cujo inter-
rante o século XVI. Dessa maneira, paralelamente ao fo~tale­ médio tomava decisões em resposta às resoluções dos Conselhos
cimento do absolutismo do príncipe em relação às "ordens", de Estado ou de outros órgãos da mesma espécie (sem importar
ocorreu sua progressiva abdicação em favor dos funcionários que o nome que recebessem) - o príncipe, que se colocava cada
haviam, precisamente. auxiliado o príncipe a alcançar vitória sô- vez maís na posição de um diletante, julgou poder escapar à
A ' ' ' 1 (..
1~portanc1a l~~xorave.mente crescente dos .l.\.mcionátios especiã-
'
bre as "ordens•··.
, A par dessa ascensão de funcionários qualificados, era pos- lizados e qualiúcados, retendo em suas mãos a direção mais alta.
s1vel constatar -- embora com transições menos claras - uma Percebe-se, por tôda parte, essa luta latente entre os funcioná-
rios especializados e a autocracia do príncipe.
outra evolução envolvendo os "dirigentes políticos". D esde sem-
pre e em todos os países do mundo, houve, evidentemente, con- ~sse estado de coisas só se dterou com o surgir dos parla-
selheiros reais que gowram de grande autoridade. No Oriente, mentos e das aspirações políticas dos chefes dos partidos par-
a necessidade de reduzir tanto quanto possível a responsabilida- lamentares. Embora as condições dêsse nôvo desenvolvimento
de pessoal do sultão, com ô fito de assegurar o êxito de seu rei- fôssem diferentes nos diferentes países, conduziram, não obstan-
te, a um resultado aparentemente idêntico. Com alguma~ nuan-
na~o, conduziu à criação da figura típica do "grão-vizir". No
Ocidente, ao tempo de Cnrlos V - que foi também o tempo ças, é certo. Assim, em to'clos os lugares onde as dinastiàs con-
de Maquiavel -- a influência que, sôbre os círculos especializa- seguiram conservar um poder verdadeiro - na Alemanha no-
dos da diplomacia, exerceu a leitura apaixonada dos relatórios tadamen te - , os interêsses do príncipe se aliaram aos dos' fun-
de embaixadores transformou a atividade diplomática numa arte cionários', conll'a as pretensões do Parlamento e suas aspirações
de Connoisseurs. Os aficcionados dessa nova arte, formados, ª? .P.oder. Os funcionários tinham, com efeito, interêsse na pos-
sibilidade, aberta a alguns, de ascender a postos do executivo
em sua maioria, dentro dos quadros do humanismo, conside-
inclusive os de ministro, que se transformavam, dêsse modo'
ravam-se como uma categoria de especialistas, à semelhança dos
em posição superior da carreira. De sua parte o monarêã tinh~
letrados da China do baixo período, o período da divisão do
ioterêsse em poder nomear os ministros a seu bel-prazer e de es-
país em Estados múltiplos. Foi, entretanto, a evolução dos re-
colhê-los entre os funcionários a êle devotados. E havia, enfim,
gimes políticos no sentido do constitucionalismo o que permi-

70 71
• t

um interêsse comum dessas partes no assegurar unidade de di-


reção política, vendo surgirem condições de enfrentar 0 Parla-
1 A evolução, ao mesmo tempo em que transformava a po-
lítica em uma "emprêsa", ia exigindo formação especial daque-
mento sem ~is~í.o int~rna: tinham. essas partes interêsse, portan- les que participavam da lura pelo poder e que aplicavam os mé-
to, em s~bs.titu1r o s.1stema colegiado por um chefe de gabinete todos políticos, tendo em visra os princípios do partido moderno.
que expnm1sse a unidade de vistas do ministério. Acrescente- A evolução conduz, assim, a um:i divisão dos fu ncionários em
-se que, pnrn mnntcr-sc no abrigo dns rivalidndes entre partidos duas ca tegori as: de um lado, os funcionários de carreira e, de
e dos eventuais ataques dêsses partidos, o monarca tinha neces- outro, os funcion :írios "políticos". Ni1o se trarn 1 por certo 1 de
sidade de contar com um responsável único, em condições de uma distinção que faça estanques as duas categorias, mas ela é,
lhe dar cobertura, isto é, com um homem que pudesse dar ex- não obstante, suficientemente nírida. Os funcionários "políticos",
plicações aos parlamentares, opor-se aos projetos que êstes apre- no sentido próprio do rêrmo , são, regra geral, reconhecíveis ex-
sentassem ou negociar com os partidos. Todos êsses diversos ternamente pela circuoscància de que é possível deslocá-los à
interêsses agiram conjuntamente e num mesmo sentido con- vontade ou, pelo menos "colocá-los em disponibilidade", tal
duzindo à autoridade unificada de um ministro-funcioruíri~. O como ocorre com os pré/els em França ou com funcionários
proceso de desenvolvimento do poder parlamentar teve contu- do mesmo tipo em outros países. T;ll situação é radicalmen te
do, conseqüências ainda maiores no sentido de unificaçã~ quan- diversa da que têm os funcionários de carreira de magistratura,
do, como na Inglaterra, o Parlamento conseguiu sobrepor-se ao êstes " inamovíveis". Na Inglaterra, é possível incluir na cate-
monarca. Em tal caso, o "gabinete", tendo à fre nte um dirigen- goria de funcion ários poüticos todos os que, por fô rça de con-
te parlamentar único, o "líder", assumiu a forma de uma comis- venção estabelecida, abandonam seus postos, quando tem lugar
são que se apoiava e.:clusivamente em seu próprio poder, de- uma alteração da maioria parlamentar e, por conseqüência, uma
tendo, no pais, uma força real, embora ignorada nas leis, a sa- reforma do gabinete. Assim ocorre, habitual e especialmente,
ber, a fôrça do partido político que, na ocasião contava com em relação aos funcionários cuj a incumbência é a de velar pela
m~oria no . ~a~lamento. D eixaram; portanto, os ~rganismos co- "admin istração interna", que é, essencialmente, "polírica", im-
legiados ofic1a1s de ser órgão do poder político dominante - portando, antes de tudo, em manter n " ordem'' no país ê, por-
q~e havia passado aos pani?os - e, conseqüentemente, não po- tanto, em man ter o existente equil.fbr io de fôrças . Na Prússia.
diam. ~ermanec1~r como reais detentores do govêroo. Para ter após o ordenamento de Puttkamer, os fu ncionários, sob pena de
c??d1çoes ~e afirmar s.ua au.t~ridade interna e de orientar a po- serem chamados à ordem, eram obrigados a "tomar a defesa da
lítica exterior, o partido dmgente necessitava, antes de tudo política do govêrno" e, à semelhanc;a dos pré/ets em França
d~. um órgão dir.etor composto unicamente pelos verd adeiro; eram utilizados como instrumento oficial para influenciar as elei-
dmg.entes. do partido, a fi;n_ de estar em condições de manipular ções. No sistema alemão, contudo - contràriamente ao que
con~1denc1almente os negocios. !sse órgão era, precisamen te, 0 se dá em outros países - a maioria dos funcionários "políticos"
gabmete. Ço~tudo, aos olhos do público e, em especial, aos ficava submetida a um::i regra que se aplicava ao conjunto de
olhos do publico pa~la_mentar, havia um chefe único responsá- funcionários, ou seja a de que o acesso às funções administrati-
vel por tõdas as dec1soes : o chefe do gabinete. Somente nos vas está sempre ligado a d iplomas un iversitários, a exames pro-
~s tados Unidos da América e nas democracias por êles influen- fissionais e a estágio preparatório. Essa característica específica
ciadas é que se adotou sistema totalmente diverso, consistente dos funcionários modernos não tem vigência, na Alemanha, no
em colo~ar o c}-1efe do partido. vitorioso, eleito por sufrágio uni- que se refcre aos chefes da organização política, isto é, aos mi-
versal direto, a frente do coniunro de funcionários por êle no- nistros. Sob o regime antigo, já era possível, na P rússia, que
meãd~s, dependendo da autorização do Parlamento apenãs em alguém se tornasse ministro dos cultos ou da instrução, sem te r
matéria de orçamento e de legislaç'ão. jamais freqüentado um estahelecimento de ensino superior, ao
72 73 .
d' . . . a atenção para os traços par-
Convém, agora, ing1.r ~oss. tan to os que detêm posição
passo que, em ptinc1p10, a pos1çao de conselheiro especial * só l' · os proftss1on:11s, · • 1
estava aberta a quem houvc;sse obti<lo aprovação nos exames ticularcs dos po iuc 'd Aquéks traços se tem a -
de chefia, quanto scusdsegu1 ore~ ainda hoje apresentam rna-
prescritos. Um chefe de divisão administrativa ministerial ou terado com o decurso o tempo . < '
conselheiro especial estavam, portanto e naturalmente - ao
tempo em que Althoff ocupava a pasta da Educação na Prússia tizes variados. (' . · " gi
.. . " olhícos pro iss1ona1s sur -
- muito mais bem informados do que os chefes de Departamen- Como lª f tzemos notar' os P , . , .. ordens" e logo
d \ opunha o prrncipe as
to acêrca dos problemas técnicos concretos, afetos a êsse depar- ram, outrora, a u t~ qu~ . :. . Examinemos, brevemente;
tamento. E não era diferente o estado de coisas na Inglaterra. se colocaram a serv1ço do pnmt.:iro.
T al a razão por que o funcionário especializado é a mais pode- os principais tipos. rínci e buscou apoio nas
rosa personagem no que diz respeito aos trabalhos em curso. P ara lutar contr.a as orden.s, o .P eis ~ não comprometidas
Em verdade, uma situação dessas nadn tem, por si mesma, de camadas sociais pd11ucam~n::sad~s~~;~~;ia pertenciam, em prime~-
absurda. O ministro é, acima de tudo, o representante da cons- com' as mes mas ,º: cns. nas índias orientais como nas ?'l-
telação poÜtica Í.l'lstalada no poder; cabe-lhe, portanto, pôr em ro lugar, os c~engos, t:nto M ólia dos Lamas e nos pa1ses
prática o progrnma da constelação de que faz parte, julgando, dentais, na China e J,ad~ao, Hna . onpgar·1 isso uma razão técnica :
em função de tal programa, as propostas que lhe são oferecidas · - da Ida de Me ia . biam
cristaos avrn, escrever.
· 'Recor reu-se aos bra-

pelos funcionários Pspecdizados ou dando a seus subordinados tr:itava-se de pessoas que s.a aos Lamas ou aos bispos e .sa-
as diretrizes polí tic:1s conformes à linha de seu partido. manes, aos sacerdotes budistas, m pessoal administrativo
Numa emprêsa privada, tudo se passa de maneira semelhan-
·1 encontrava u
cerdotes. porque ne es se or c•scrito e suscetivel de ser
te. O verdadeiro soberano, ou seja, a assembléia de acionis tas Potencial capaz de expressarl-se p , : es ou pelo khan na luta
. d l . ador pe os pnnc1.p .
está, numa emprêsa privadn, tão desprovida de influências sô- utiliza o pe o imper ' . . . O sacerdote e muno par-
bre a gestão dos negócios quanto um "povo" dirigido por fun- que travavam contra a ansto~rac~a: colocava-se 'à margem da
cionários especializados. As pessoas que têm poder de decisão ticularm~nte o sacerioteh cel1ba~~ní~'terêsses políticos e econômi-
no que se refere à política da emprêsa, isto é, os membros do agitação provocada pe o e oqube d ·o estava tentado, como
"consei.ho de administração", dominadas pelos bancos, não fa- , . d , oca e so retu o, na .
cos propnos a ep ' . to de seu senhor e no m-
· t em detnmen
zem mais que traçar ns diretivas econômicas e designar quem o vassa i o, a conqu1s ar, d político próprio. Por sua
seja competente para dirigir a emprêsa, pois que elas próprias terêsse de seus descendentes, po e:. . ' do" dos meios de ges-
não têm aptidão para ger i-la tecnicamente. Dêsse ponto de di ão social o sacerdote estava. pm a , .
vista, é evidente que não constitui novidade alguma a estrutura ~~~. Jentro do ' sistema adminisuat1vo do pr.mc,ipe. l l rados
atual do Estado revolllcionário, que entrega a direção adminis-
trativa a verdadeiros diletantes, apenas porque êstes dispõem
A segunda categ?r~a 0 ~ ~~· ~~~~~t~~a q~:~~a::
veio
com. forn:a5ão humancl~~~:~ d~ príncipe e, em especial, de ~ísto­
aspi-

de metralhadoras, e que não vê nos foncion-:írios especializados rar a pos1çao de c?ns d" a fozer discursos em latim e
mais que simples agentes executivos. Não é, portanto, por êsse riógr.afo do prínc1p\: a_rre1~ i~~: de floração inicial das esco~a.s
lado, mas por outro que se impõe buscar as causas das dificulda-
poesias em grego. f ~ ª- p 1 s reis das cátedras de "poeu-
des enfrentadas pelo sistema atual. Não temos intenção, entre- humanísticas e da un açao, pe 0 d ' ' Teve sem dú-
tanto, de abordar êsse problema em nossa palestra de hoje. ca": época r~pidamente ultr.ap:ess~o:s~ns\:~e~oas. escolar,· mas, em
vida influência duradoura sob .. • cias significativas no campo
* verdade, não de~ luga.r a conseiue~-in~o ocorreu no Extremo-
* No original Vortrogender Rot, alto funcionário ministerial encar- da política. Coisa . d1ve\,r~a~ e;1 re ' melhor foi em sua origem,
A • (\ nnd<>rlm e lnf'S f'. ou ' 1
regado da apresentação periódica de relatórios :icêrca d:is atividades do vr1en~c. '-' ffia, ".......... ··~· - -,
órgão em que servia.
75
74
muito semelhante ao humanista da Renascença, isto é, um le-
em todos os lugares, o~a l
trado com educação humanista recebida ao contacto com monu- b de .uristas esdarecidos. Pode-se co_:is-
J embora as grandes corporaçoes
ta.tá-lo até m~s~o na . g ate:ít' combatido a difusão do direito
mentos lingüísticos do passado remoto. Quem ler o diário de
Li Houng-Tchang verificará gue êJe tinha corno orgulho maior nacionais de Juristas hajam, ' d mundo se encontra qual-
o ser autor de poesias e excelente calígrafo. Essa camada social romano. Em nenhuma outr.:1 parte ~s ensaios de pensamento
dos mandarins, nutrida pelas convenções estabelecidas segundo quer analogia com êsse fen7i:eno. ela escola hindu de Mimansa
o modêlo da antiguidade chinesa, foi a determinante de todo
jurídico racional levado~ a e :1rn~tas para promover o progres-
o destino da China. Nosso destino teria podido ser o mesmo, e os esforços dos p:ns~J:~res~~:;~,... nãn. uderam impedir a can-
se nossos humanistas tivessem tido, em sua época, a possibili-
dade de se imporem com o mesmo êxito. so do pensamento JUtlw~o ""~'ó';'d.-o- r~cional por formas teo-
- dA ensamento 1ur1 ic f .
taminaçao esse p N nh ma dessas duas correntes o1 capaz
A terceira categoria era constituída pela nobreza da côrte. lógicas de pensamento. . e u procedimento legal. Pa-
de racionalizar de manet.ra comp ,e~at fo1· necessário estabelecer
Após ter conseguido retirar da nobreza o poder político que
1 0
ela detinha enquanto ordem, os soberanos a atraíram para a b A êsse propos1 o, 1
ra levar a oro tertimo · rtspru
. d'enc1a
. dos
. romanos que, ta como·
côrte e lhe atribuíram funções políticas e diplomáticas. A trans- contacto com a an ga JU t a política absolutamente sm-
formação sofrida por nosso sis tema educacional, durante o sé- . 1 de uma estru ur . d . ,
é sabido,. resu tou d cidade-Estado à categoria e un.I?e-
culo XVII, foi, em parte, de terminada pela circunstância de que
os letrados humanistas cederam a políticos profissionais recruta-
gular, Pº'.' queAse ~ev'f~i p~imei<amente empreendida pelos J".
rio mundial.
. li · o ortando
ra .
citar a se<>uir
t> •
o Usus modernusf' os
dos na côrre a posição que ocupavam junto aos príncipes. ristas tta anos, unp . d Ít Idade Média e, por im, as
A quarta categoria é composta por uma figura tlpicamente pandectistas, .os. canomst:; el:b~r:das pelo pensamento jurídico
inglêsa: o patriciado, que compreendia a pequena nobreza e os teorias do due1to natur l . Os grandes representan-
- d · se secu arizaram. . . 1
rendeiros das aldeias, o que se designa pelo têrmo técnico de cristao, que, epo1s, . 'd' foram a podesta italiana, os e-
.
tes dêsse raciona( sm
li O JUrl lCO · j
eios legais para so apar o
gentry. De início, o soberano, para lutar contra os barões, f ue encontraram m .
havia iitraídc êsse patriciado e lhe havia confiado posições de gis tas ranceses q b f' . d poder dos re1s)' os cano-
setf-government, mas, com o correr do tempo, viu-se êle pró- poder dos senhores em enfe 1c10 mº:as teorias do direito natural
l 1--o- ~u"' nrn PS<;ara
nistas e os teo1ug ::. 'i .... rd~-- -~
. ,
prio na dependê-oda dessa camada social ascendente. O patri- os hábeis J'uízes dos prm-
cíl . · istas e cone e H 1 d
ciado conservou todos os postos da administração local, assu- nos con tos, os JUI , . do direito natural na o an a
mindo, gratuitamente, todos os encargos, tendo em vista o in-
.
cipes d o con tme
· nte , os teoricos
. . . lA da Coroa e do p ar1a•
A os Juristas rng eses fi
terêsse de seu poder social. E, assim preservou a Inglaterra da e os monarcomacod b d p irlamento de Paris e, en rn, .ºs
burocratização, que foi o destino de todos os países da Europa menta, a noblesse e ro e o ' Sem êsse racionalismo JU-
continental. advog:;dos da Revolução Francesda. surgimento do absolutis-
- d · compreen er o .
rídico, nao se po ena 1 ;- Quem percorra os registros
mo real, nem a gran~e Revo uç,1~. dos E stados Gerais franceses,
A quinta categoria, a dos juristas formados em universida-
do Parlamento ~;ns ,º~ 7c;;9 a1~~1sencontrará presente o espírito
des, constitui urn tipo ocidéntal peculiar, e peculiar, antes pe
tudo, ao continente europeu, de que determinou, de maneira do-
minan te, tôda a estrutura política. A formidável influência pós- desde. o. séculoE quemate passar em ' ' rev1'sta as profissões, dos mem- , ·
dos 1unstas. d d R alução encontrara um uruco
bros da Convenção, quan ºlh·~ ev' ndo 'a mesma lei eleitoral
tuma do di reito romano, sob a forma que havia assumido no
Estado romano burocratizado da decadência, não transparece, em
nenhuma outra parte, mais claramente do que no fato seguinte: proletário - embora esco I o s~~mero reduzidíssimo de em-
a revolução da coisa pública, entendida essa expressão em têr- aplicável a seus colegas E~ ~mosíção a isso, encontrar~ nume-
rnos de progress~ío no sentido de uma forma estatal racional foi, preendedores burg~eses. .. P - sem os quais sena abso-
rosos juristas de ,to~a~ as ~:~e"nl!~o:s,mPntalidade radical dêsses
76 lutamente imposs1ve1 <.:Omp11...\..u.u~4 .. · --

77
intelectuais ou os projetos 0 • 1
época, o advogado moderno pera e es apres_entados. Desde essa
terêsses vitais de ordem estabelecida não estão em Jogo. tle
outro lado, só no Ocidente , democracia estão ligados. Por
· e que se encontr t· d deve desempenhar sua missão sine ira et studio, "sem ressenti-
d
ga. o no seo tido específico de uma ca d a a. ig:ira o advo- mentos e sem preconceitos". Não deve, em conseqüência, fazer
e isso desde a Idade Médº d m~ ª social mdependente o que o homem político, seja o chde, sejam seguidores, está
partir do "intercessor"( F11r~~ qh~ndo eles se multiplicaram a
influência de uma racionaliz r:c d o pro~esso germânico, sob
açao e procedunenros.
compelido a fazer incessante e necessàriamente, isto é, com-
bater. Com efeito, tomar partido, lutar, apaixonar-se - ira
Nada tem de fortuito a i • · d et studio - são as características do homem político. E, antes
lítica ocidental após a a . _mportanc1a. os advogados na po- de tudo, do chefe político. A atividade dêste último está subor-
prêsa política di~igida po~ar1~~~id~os i:arttdos políticos. A em- dinada a um princípio de responsabilidade totaLnente estranho,
uma emprêsa de interêsses ~ e los onao passa, em verdade, de e mesmo oposto, ao que norteia o funcionário. A honra do fun-
ção pretende significar O fu g - veremos o que essa asser- cionário reside em sua capacidade de executar conscienciosamen-
d o consiste· ' · ra, a nçao do advogad · i·
exatamente em d f d o espec1a iza- te uma ordem, sob responsabilidade de uma autoridade superior,
o procuram. Em tal do , . e esa os in;erêsses daqueles que ainda que - desprezando a advertência - ela se obstine a
. rrurno - e tal e a c1 _
po de retirar da superioridade da c?~ ~sao que se seguir uma falsa via. O funcionário deve executar essa ordem
advogado sobrepuja qualquer "fu ~ro~a?~?da tmmrga - o como se ela correspondesse a suas próprias convicções. Sem
ma, êle pode fa:!er triunfar, is to ~c1o~dn~, . ;e~ dúv~da algu. essa disciplina moral, no mais elevado sentido do têrmo, e sem
uma causa cujos argumentos t • e' p eb gao_ ~r tecnicamente essa abnegação, tôda a organização rniria. A honra do chefe
.. • . 1ogicamente " em
consequencia, ,,, taca, ase , logrca e que e, , em político, ao contrário, consiste justamente na responsabilidade
ter condições de fazer tr1ºunfma ~ por,emd e também o único a pessoal exclusiva por tudo quanto faz, responsabilidade que êle
ar, isto e e "g h "
que se fun da em ar urnento T ' an ar uma causa não pode rejeitar, nem delegar. Ora, os funcionários que têm
em tal sentido. Ac~ntec . sf sl~ idos e que é, portanto, "bo.1•r visão moralmente elevada de sua~ funções são, necessàriamente,
. d e m e izmente e co f .. .. . ,
srn a que o fondonári" "n~" ~ ~ h- m .requenc1a dema- maus políticos: não se dispõem com efeito, a assumir respon-
''b ,, ~ ..... 'iuautu umem p·lr , . sabilidades no sentido político do têrmo e, dêsse ponto de vista,
oa causa, do ponto de vista d u o nco, raça de uma
e~ razão de erros técnicos Te os argume?.tos? u~a causa "má'', são, conseqüentemente, políticos moralmente inferiores. Infeiiz-
d1da cada vez maior a polí·t. mof s exp~nenc1a disso. Em me- rnente, êsse tipo de funcionário ocupa, na Alemanha, postos de
portanto, com a utilizaça- ' d·1ca se . az' hoJe • em pu'blº1co e se foz
0 direção. É a isso que damos o nome de "regime dos funcioná-
f a1a d a e escrita. Pois' bem esses esa
tnstrument -
. os que sao a palavra
'
rios". Não é ferir a honra da função pública alemã pôr em evi-
q~e se põe como parte rele~:i~te ~a ºa~~~~od das palavras _é algo dência o que há de pollticamentc falso no sistema, visto do ân-
nao como parte da atividade d a. e do_ advogado, mas ºgulo da eficácia política. Voltemos, porém, aos tipos de figura
~ue não é demagogo e qu; por ed ~:11. ~uncio_náno especializado política.
êle, por infelicidade tentar' d e intçao, nao o pode ser. Se
fazê-lo de maneira ~anhestra esempenhar êsse papel, só poderá
.. 1
*
Desde que existem os Estados constitucionais e mesmo des-
O verdadeiro funcionário
para julgamento de nos . - e . essa observação é · decisiva de que existem as democracias, o "demagogo" tem sido o chefe
.
lít1ca so antigo regime - d f político típico do Ocidente. O gôsto desagradável que em n6s
exatamente devid - - nao eve azer po-
de tudo, de forma n-aoº ªpasut~d ~~caçao: deve administrar, antes provoca essa palavra não nos deve levar a esquecer que foi
· r 1 arta
igua1mente aos ditos funcion, .
.t: · .
,; l' ~se .~mperat1vo aplica-se Péricles e não Cléon o primeiro que a mereceu . Não tendo
m en te e na medida
·. em anos
" _po tttcos ' ao m enos ofiicia
. I. função alguma, ou melhor: ocupando a única função eletiva
que a razao de Estado", isto e, , os m-. existente, a de estratega superior - enquanto que todos os
78 outros postos na democracia antiga eram atribuídos por .sor-

79
. - odeiam a atividade jornalística implicam
teio - , êle dirigia a eclesia soberana do demos ateniense. Cer- outras condiçoes que r h b' pu'blico a ver o jor-
.. ,, · ue & 1tuaran1 0
to é que a demagogia moderna faz uso do discurso - e numa em certas cons~que~c1ad qdé e de piedosa covardia. Não nos
proporção perturbadora, se pensarmos nos discursos eleitorais nal com um misto e es. m e seria de conveniência fazer
que o cnndidnto moderno está obrigado a pronunciar - , mas é dado examinar, ~sta noite, o qu i'nteressa no momento, é o
faz uso ainda maior da palavra impressa. Por tal motivo é que .
em t a1 circuns a
t"nc1a O que nos
· , .
'
d aos jornalistas: quais as
.
o publicista político e, muito particularmente, o jornalista são, Problema. do destino ?.ol1t1co ~eserva, .-i-:;ce-uuJP1.~ a postes de di-

ossibilida
des que a e··1es se abrem ae ·"dades ~ só lhes foram fa-
em nossa época, os mais notáveis representantes da demagogia. P , • :> A , ora as oportu01
No quadro desta conferência, não nos é possível traçar reção poliuca. te ag. 1d• mesmo dentro dessa or-
, . rti'do soem - emocrata e, . 1
nem mesmo um simples esbôço da sociologia do moderno jor- vorave1s no pa d d em geral, a s1mp es coo-
nalismo. ~sse problema constitui, de todos os pontos de vista,
. -
ganizaçao, os postos de re ator . . do em trampalim para
avaro,
. - de funcionário, não se const1tut0
um capítulo à parte. Contentar-nos-emos com algumas observa- diçao d'm. ente
· -
ções, que são importantes para o assunto de que nos ocupamos. acesso a uma posiçao de g · 'b' lid des de chegar ao po-
Nos partidos burgu~ses, ~s posdims~i. ~~am de modo geral,
O jornalista participa da condição de todos os demagogos, assim
como - ao menos no que se refere à Europa continental e em
·
der políuco atraves
1
' do 1orna ismo . .
U1Uu. 1
O' l geraçã0 anterior. Natu-
oposição ao que se passa na Inglaterra e, outrora, ocorria na se as comparamos comlí ~s qd: :~gi~:a importância tinha necess~­
Prússia - o advogado ( e o artis ta): escapa a qualquer classi- ralmente que todo po tl~o g conseqüentemente, necessi-
ficação social precisa. Pertence a uma espécie de classe de párias dade de contar com a imp~en~a e,üst'1co Era entretanto, in-
que a "sociedade" sempre julga em função de seus representan-
·
tava culu var re aço
1 -es no meio iorna · '
. a qualquer expectativa -
.
. . cional _ contranav A -
tes mais indignos sob o ponto de vista da moralidade. Daí a ra- tetramente excep ·tir do jornalismo. razao
zão por que se veiculam as idéias mais estranhas a respeito dos ver chefes políticos aflorared a pa~'não disponibilidade" que se
jornalistas e do !trabalho que executam. Não obstante, a maior dêsse fato deve ser procura a n~o jor~alismo sobretudo quan-
parte das pessoas ignora que um "trabalho" jornalístico real- faz notar f~rtem:_nt~.no _ ca~:fortuna pessoai ~. por tal circuns-
mente bom exige pelo menos tanta "inteiigência" quanto qual- do o jor::ialista nao ispo~ . d ue a profissão lhe assegura.
quer outro trabalho intelectual e, com freqüência, se esquece tância, tem o,,s ~ecu~sos lim1·~n~~a qdo desenvolvimento enorme
tratar-se de tarefa a executar de imediato e sob comando, tarefa Essa dependencia e consequ em rêsa jornalística. A necessi-
à qual impõe-se empreStar imediata eficácia, em condições de que, em vul~o e P0 ?dr, ~~~~do Jm artigo diário ou, pelo me-
criação inteiramente dh ersas das enfrentadas por outros inte-
1 dndc de gan 1ar a ~1 ~ r , íe de cadeia prêsa ao pé do jorna-
lectuais. Muito raramente se considera que a responsabilidade nos, semanal constitui espec e embora possuíssem o tempe·
do jornalista é bem maior que a do cientista, não sendo o sen- lista e conheço al~u~is d~les qu ~ont1nuamente paralisados, ma-
timento de responsabilidade de um jornalista honrado em nada ran:iento de um c e e, vir:u~-s:scensão para o poder. Certo é
inferior ao de qualquer outro intelectual - e cabe mesmo di- tenal e moraln;ente, ~rn 1 ões da imprensa com os po-
zer que seja superior, quando se têm em conta as constatações que, sob o antigo reg1me,das re aç os partidos foram prejudi-
• d · t no E sta o e com ' · . .
que foi possível fazer durante a última guerra. O descrédito deres omma~ es ' 1 do ·101·nalismo mas isso constl-
em que tombou o jornalismo explica-se pelo fato de h avermos . .
c1a1s, a~ max,
, imo para o 01ve
'
· '
la ões haviam tomado e1çao m-
f · - ·
guardado na memória os abusos de jornalistas despidos de sen- tui capitulo a parte. Ess~s r~ 5 . da Alemanha (Aliados).
so de responsabilidade e que exerceram, freqüentemente, influ- teiramente diversa rºs pa1ses inlmtg~s todos os Estados moder-
ência deplorável. Ninguém se inclina, entretanto, a admitir que Contudo, mesmo a 1 e, em gera • e . ência da seguinte re-
a discrição do jornalista seja, em geral, superior à de outras nos, pode-se constatar, ao que parede, a vdg mais influência
pessoas. O ponto é inegável. As tentações incomparàvelmente gra : ~ trabalhador da imprensa per ~· ~a a vedo tip~ de Lorde
mais fortes, que se ligam ao exercício dessa profissão, bem como política, enquanto que o magnata capita sta -
81
80
quer significação de caráter geral. Constato s.implesmente que
Northcliffe, por exemplo - vê, continuamente, aumentada essa essa prática não se revelou, até o presente, meio adequado para
influência. formar chefes verdadeiros e políticos que te°:11am senso .de r:s-
Os grandes consórcios capitalistas de imprensa que, na Ale- ponsabilidade. O futuro nos dirá, d? evoluir de t,al situaçao.
manha, se haviam apossado dos jornais que publicam "anúncios De qualquer modo, a carreira jornalística pe~manec~ra. como ~a
populares" foram, até o momento e via de regra, os típicos pro- das vias mais importantes de ativ.i dade política profiss1ona~. Nao
pagadores da indiferença política. Havia-se tomado consciência se constitui, entretanto, em caminho _aberto a todos . . N.ao está
de que, obstir1ar1do-se no seguir êsse caminho, não se tiraria aberto, sobretudo, para os caracteres tracos e, 1?en?s a10da, para
qualquer vantagem de uma política independente, não haven- os que só se podem realizar em situação social isenta de ten-
do esperança alguma de poder contar com a benevolência, co- sões. Se a vida do jovem intelectual está ex~osta ª?. aca~~·
mercialmente útil, das fôrças que se encontravam no poder. permanece, contudo, rodeada de certas convençoes s?cia1s s?ll-
O sistema dos comunicados foi algo a que o govêrno recorreu das, que a protegem contra os passos 1em falso. A vida do .Jor-
largamente, durante a última guerra, para tentar exercer influ- nalista, entretanto, está entregue, sob todos os pontos de vis~a,
ência política sôbre a imprensa e parece que há, no momento, ao puro azar e em condições que o põem à prov.a ~e mane1ra
tendência de perseverar nessa trilha. Se é de esperar que a que não encontra paralelo em nenhuma ~utra pro.fis~ao . As ex-
grande imprensa possa subtrair-se a êsse tipo de informação, o periências freqüentemente amargas da vida prohs~i~nal corr:_s-
mesmo não se dará com os pequenos jornais, cuja situação ge- pondem, talvez, ao aspecto menos penoso ~essa atividade. ASao
ral é mui to mais delicada. Seja como fô r, a carreira jornallstica exatamente os jornalistas de grande notoriedade que . se veem
não é na ocasião presente, entre nós, via normal para alcançar compelidos a enfrentar exigências pa:tic~armente ~rué1s. ~ de
a posição de chefe político (o futuro nos dirá se não o é mais mencionar, por exemplo, a circun,stancia de frequentar. os sa-
ou se não o é ainda), a despeito dos atrativos de que ela se lões dos poderosos da Terra, aparentement.~. e~ pé de igualda-
possa revestir e do campo de influência, de ação e de respon- de, vendo-se, em geral e mesmo com frequer:~ia, . adulad~, por-
sabilidade que possa abrir para os que desejem a ela dedicar-se. que temido, tendo, ª.º mesm_? ~:mpo, ~onsc;e~ci1a per~~1t.a . d=
~ difícil djzer se o abando·no do princípio do anonimato, pre- que, abandonada a sala, o an~1tnao ~enur-se-a, ta1vez, ~ongadu
conizado por muitos jornalistas - não por todos, é certo - a se justificar diante dos demais convidados por ha~er feito com-
será suscetível de alterar a situação. A experiência que foi pos- parecer êsses " lixeiros da impren~a". De mencionar também
sível fazer na imprensa alemã, durante a guerra, com relação é 0 fato de se ver obrigado a mauifestnr prontamente e, a par
a jornais que haviam confiado os postos de redator-chefe a in- disso, com convicção, pontos de vista sôbre todos os assun~os .que
telectuais de grande personalidade, que utilizavam expllcitamen- 0 "mercado" reclama e sôbre todos os problemas possiveis e
te o próprio nome, mostrou, infelizmente, que, em alguns casos tudo isso não apenas sem, cair na vu1garid~de e se~ J?erd.er a
notórios, o método não é tão bom quanto se poderia crer , para própria digojdade desnuda:ido-se,. o. que ~ena _as !11a1s impiedo-
inculcar elevado sentido de responsabilidade. Foram - sem dis- sas conseqüências. Em circunstancia.s tais! nao e d~ qualquer
tinção de partidos - as chamadas fôlhas de informação, sem modo surpreendente que numero~os iornahstas se haiam degra·
dúvida as mais compfo metidas, que se esforçaram para, afas- dado decaindo sob o ponto de vis ta humano, mas surpree_nd~n­
tando o anonimato, aumentar a' tiragem, no que se viram muito te é 'que a despeito de tôdas as dificuldades, a corporaçao in-
bem sucedidas . As pessoas envolvidas, tanto os diretores des- clua tão ~rande número de homens d·e au tê.nrico valor e mesmo
sas publicações como os jornalistas do sensacionalismo, ganha- uma proporção de jornalistas honestos mais elevada do que o
ral)l com isso uma fortuna, mas nada se ganhou no capítulo da supõem os profanos.
honra jornalística. Não quer isso dizer que se deva rejeitar o Se 0 jornalista é um tipo de homem político profissional
principio da assinatura dos ar tigos; o problema é, em verdade, que, sob certo aspecto, já t~m longo passado atrás de si, a fi-
assaz complexo e o fenômeno que mencionamos não tem qual-
83
82
gura do funcionário de um partido político, ao contrário, só apa. das comissões inter-regionais dêsse partido, a severa organização
receu no curso das últimas décadas e, em parte, no curso dos militar a que obedeciam e as vantagens que conce~iam .aos dela-
últimos anos. Para compreender o processo de desenvolvimento tores, não poderemos impedir-nos de pensar no, b~1chev1smo, em
histórico dêsse nôvo tipo de homem, faz-se necessário examinar, sua organização militar e - sobretudo 1.1ª ~uss1a - em_ sua5
preliminarmente, n viJn e n orgnni:t.nção dos partidos políticos. orgam~açõcs de inrormaçiio, na <lcsmorahzaçao e denegaçao de
direitos políticos aos :'burguesê~_", ~sto, é, e~pre~nde~ores, ~~­
* rnerciantes, clérigos, elementos Hgados a antiga drnastla e diri-
gentes da antiga polícia. A analogia se torna mais contunde?te
Em todos os lugares - it exceção dos pequenos cantões ru-
rais cm que os detentores do poder são periodicamente eleitos quando se leva e°:1 conta que a o~ga_nização mifüa_r do partido
- a emprêsa política se põe, necessàriamente como emprêsa guelfo estava apoiada em um exercito de cavaleiros no qual
de interêsses. Quer isso dizer que um número relativamente quase todos os postos de direção eram reservados para os nobres;
restrito de homens interessados pela vida política e desejosos com efeito, os soviéticos conservaram, ou, melhor, restabelece-
de participar do poder aliciam seguidores, apresentam-se como ram a figura do empreendedor amplamente remunerado, o tra-
candidato ou apresentam a candidatura de proteoidos seus reú- balh10 forçado, o sistema Taylor, a disciplina no exército e na
b '
nem os meios financeiros necessários e se põem à caça de sufrá- fábrica e chegam a lançar olhares para os capitais estrangeiros.
gios. Sem essa organização, não h:í como estruturar pràticamen- Numa palavra, para colocarem em marcha a máquina econômica
te as eleições em grupos políticos amplos. Equivalem essas pa- e estatal viram-se êles condenados a adota r tudo quanto con-
lavras a afirmar que, na prática, os cidadãos com o direito a denaram' como instituições da classe burguesa, além disso, rein-
voto dividem-s·e em elementos pollticamente ativos e em ele- tegram nas velhas funções os agentes da an~iga Ochrana ( polí-
mentos pollticamente passivos. Como essa distinção tem por cia secreta czarista), tra nsformando-os em instrumentos essen-
base a livre decisão de cada um, mio t! possfvel supimi-la, a ciais do poder político. Nesta palestra não nos poderemos, en-
despeito de tôdas as medidas de ordem geral que se possam su- tretanto 1 ocupar dessas organizações apoiadas na violência; da-
gerir, tais como o voto obriga[Ório, .1 " r:::presenrnçb cl:is pro- remos a tenção, ao contrário, aos politicos profissionais que bus-
fissões" ou qm1lquer outro meio des tinad0, for mal ou efetiva- cam ascender ao poder com o apoio da influência de um partido
mente, a fazer desaparecer a diferença e, por ~:>se meio, o do- político que disputa votos no mercado eleitoral sem jamais re-
mínio dos políticos profissionais. A ex.istêucb de ~hefes e se- correr a outros meios que não os racionais e "pacíficos".
guidores que, ~:nquanto elementos ativos, buscam tecrurnr, li- Se considerarmos, agora, os partidos políticos no sentido
vremente, militantes e, por outro lado, a existência de um cor- comum do têrmo, constataremos que, de início e por exemplo
po eleitoral passivo constituem condições indispens~ívei s ~ exis- na Inglater ra, êles não passavam , no comêço, de simples con-
tência de qualquer partido político. A estrutura mesma dos juntos de dependentes da aristocrncia. Quando, por esta ou
partidos pode, entretanto, variar. Os "partidos" das cidades aquela razão, um par do reino trocava de partido, todos os
medievais, como, por exemplo, o dos guelfos e dos gibelinos, que dêle dependiam passavam-se também para o outro campo.
compunham-se exclusivamente de seguidores pessoais. Se con- Até a época do Reform Bill (de 1831), não era o rei, porém
siderarmos o Statuto delta parte Guelfa, se nos recordarmos de as grandes fam ílias da nobreza que gozavam _das ~antage\1s pr~­
certas disposições corno a relativa ao confisco dos bens dos No- piciadas pela massa enorme dos burgos ele1tora1s. 0 3 parti-
b~li - famílias onde havia a condição de cavaleiros e que po- dos de notáveis, que se desenvolveram mais tarde graças à as-
diam, conseqüentemente, tomar-se proprietárias de um feudo censão política da burguesia, conservavam ~linda uma enrutura
- ou se lembrarmos a supressão do direito de exercer determi- muito próxima da estrutura dos partidos da nobreza. As carna·
nada função ou a privação do direito de voto que podia atingir das sociais que possuíam "fortuna e educação li, :mimados e diri-
membros dessas famílias ou, enfim, se considerarmos a estrutura gidos por intelectuais, categoria peculiar ao Ocidente, dividiram-

84 85
-se em diferentes porções, o que foi devido, em parte, a interês- em conseguir compromissos eleitorais entre circunscriçõ~s . dife-
scs de classe, em parte à tradição familiar e, em parte, a motivos rentes 0 impacto a que podia dar lugar um programa uruco e
puramente id•eológicos, passando a consti tuir partidos políticos adotado por largas camadas sociais d~ país e, de i:nodo g:ral, a
de que conservaram a di reçüo. Membros do clero, professôres, utilidade que representava para o partido uma movimentaçao ~c­
advogados, m<~dicos , farmacêuticos, fazendeiros prósperos, manu- lítica unificada. Sem embargo, mesmo depois de esta?~~da
fatores ,- e, na Inglaterra, tôda camada social que julgava per- uma rêde de seções locais do partid~ nas cidades de media .llil·
tencer a classe. dos gentlcmen - constituíram-se, de início, em portância e de instalados em todo o país " homens àe cõnha.n-
agrupamentos políticos episódicos ou, quando muito em clubes ça", que permaneciam em contacto permanente com um me~­
políticos locais; durante os períodos difíceis, via-se ~urgir, tam-· bro do grupo parlamentar, a estru tura do_ ap,ar.elhament0 parti·
bém, no palco político, a pequena burguesia a até o proletaria- dário não se modificou: manteve, em pnnc1p10, o caráter de
do chegou, certa vez, a aparecer. E fazia-se ainda necessário agrupamento de homens de projeção. . Af?~ª os empregados da
q.ue essas últimas camadas sociais encontrassem um chefe que, sede central, não existiam ainda func1onanos. remunera~~s'. de
via de regra, não brotava de seu própria seio. Na época, não vez que, por tôda parte, as as~ociaçõc~. locais e:_am dirigi.das
existiam partidos organizados regionalmente, que encontrassem pollticamente por pesso~s "cons!,deradas , em ra.~ao da estuna
ba~e . em agrupamentos permanentes do interior do país. Não de que gozavam no meio. Os homens de prol .que Ase . man-
existia outra coesão política senão a criada pelos parlamentares, tinham fora do Parlamento continuavam a exercer mfluenaa, ao
apesa r do que as pessoas de importiincia local desempenhavnm lado da categoria de homens ?e .prol assentad?s no Parl~mento.
papel marcanre na escoll1a dos candidatos. Os programas in- As manifestações dadas a publico pel~~ patttdo ~o.rnec1am, de
cluíam, a par da profissão de fé dos candidatos, as resoluções to- maneira natural e forma crescente, o ahmento espmtual de que
madas nas reuniões dos homens de p rol ou resoluções das facções se nut riam a imprensa e as reuniões locais abertas. Tornavam-se
parlamentares. Só em caráter acessório e a título exclusivamen- indispensáveis as contribuições. regula res dos me?1bros, parte
te honorífico é que um homem de projeção consagrava parte das quais se destinava a cobrir gastos do orgamsmo central.
,jp S"'Uº f'l ?P rPc ;, ,.l;ror;;O ,.l n .. ~ -1 .. L -
.._ "~~ ª ':''.'"''" u\.. u111 .1r...1uuc:.
Nà· s' ]º'-'
" ã'' 1 1
uaaaes em que Até recentemente as organizações puHücas alemãs encontravam·
: - 'a J '" '·"" ...

esse clube nao ex1stta (caso mais comum), a atividade política


' .
-se ainda nesse estágio. E, na França, conr_muam. a p;rn;ianecer,
~stnva privada de qualquer organização, mesmo no que tangia parcialmente, no primeiro estágio, o dos liames mstaveis en~e
as raras pessoas que se interessavam normalmente e de maneira os parlamentares e 0 reduzido númeró de l.1omens de prol locais.
cont~n~a pela situação do p:iís. Só o jornalista era um político Naquele pais , os programas ain.da ~ão e.laborados, em cada uma
prof1ss1onal remunerado e, além das sessões do Parlamento só das circunscrições, pelos próprios candJdato~ ou por seus pre-
a i~prensa cons.tit~ía uma o rganização política dotada de al~um ceptores, antes do início da campanha eleitoral, embo~aA c~n­
s~nt1do de contmu1dadc. Não obstante, os parlamentares e os siderando em maior ou menor extensão e segundo e.xigenc1as
diretores de partido sabiam perfei tamen te a quais chefes locais locais, as 'resoluções e os programas dos parla[llentare.s. Só par-
recorrer quando certa ação política parecia desejável. Tão-somen- cialmente se conseguiu, em nossos dias, abalar t~l sisten;ia: O
te nas g:andes cidades é que se instalavam seções permanentes número de pessoas que, até poucos anos atrás, fazia da a~v1da.de
dos partidos, com mensalidades módicas pagas pelos membros política a ocupação principal era roui tr, reduzido. Abrangia, prin-
com encontros periódicos e reuniões públicas durante as quai~ cipalmente, os deputados eleitos, o punh.ado de empregados do
o d.eputado prestava contas de seu mandato. Vida política só organismo central, os jornalistas e, além disso - na F~~nça - os
havia, entretanto e realmente, no decurso do período eleitoral. que estão "à cata de um pôsto" e . os que,. tend_o Jª ocupado
Não demorou, porém, a ser sentida a necessidade de uma um pôsto, estão à esper~ d~ co.ns~gwr uma s1tuaçao ~o~~~ -~~
coesão mais firme no interior dos partidos . Numerosos motivos geral a política se constituía, de torma preponderante, ern uwa
impuseram essa nova orientação: o interêsse dos parlamentares segu~da profissão. O número de deputados "suscetíveis de se
86 87
transformarem em ministros" era muito pequeno, assim como, ,. e de onde partem reptesentantes para parduc1par · · d edas.
d.idato.. . mbl<'ias que po em esten er-
aliás, o dos candidatos a eleições, pois que os homens de prol
conservavam o contrôle das operações. De outra parte, o núme- sembléias de _instâ?~ia sup:r~o~~s~~~léia -geral denominada " Con·
ro dos que se interessavam indiretamente pela política, sobre- -se por descaploes. Jª;,ios, ~~ verdade, o poder rep?us_a, hoje em
tudo no relativo a seu aspecto material, era grande. Tôdas as gresso o artl o . t que são responsave1s pela con·
.
dia, mãos dos permanen es, b
medidas que um ministro poderia adotar e, muito particularmen- nas . 'or da organização, ou ca e o
.:~ .. :dade do trabalho dnod mtene d ommam
r · · d" 'dual ou tºinan-
m IVl
te, todas as soiuções que poderia oferecer a assuntos de cará- Lu1u1
poder àquelas perso,oa 1 a es q~ dos mecenas ou dos chefes
ter pei>soiil tinh:im cm con1:1 a possível influêncin da dccisií?
cciramcntc n cmpn:sa,l'i\ mndei ~a terês•·e do gênero do Tamma-
sôbre o resultado das eleições seguintes. Procurava-se, com efei-
de poderosos clubes po iti~os e dccisiv;; 'reside na circunstância
to, agir de maneira que a concretização de qualquer tipo de pre-
tensão dependesse da mediação do deputado local; de bom ou ny Hall.~ O. elemento no~ ~ a "máquina", de acôrdo com
de que esse imenso, a.pare o ada nos aíses anglo-saxões -
de mau grado, via-se o ministro compelido e prestar-lhe ouvi- a expressão caractenstica empreg . P_ odem fazer fren-
dos, sobretudo se o deputado integrava a maioria - e exata- ou melhor: os responsáveis pela organ1zaçaod.P - de impor em
mente por êss e mo tivo, todo deputado procurava integrar a stão mesmo ern con tçao ,
te aos par1amentares e e
0

. d O elemento referido
maioria. O dejputndo detinha o monopólio dos empregos e, de medida considerável, a própna vontad.e. peito à escolha dos
modo geral , tôdas as espécies de monopólio relativas aos negó- . ~ . articular no que lZ res
cios de sua circunscrição. E, de sua parte, agia com muita cau- é e 11nportan~1a .!'
d .. d Só aquêle que a máquina se
membros da d1~eçao do pattt ºdetrimiento da orientação parla-
tela nas relações com os homens de prestígio local, a fim de
disponha a apoiar, mesmo em chefe Dito em outras
assegurar reeleição. ' · transformar-se em · 1
mentar, pod.era _vt~ !" d , ·nas correspondente à insta a-
A êssc estado idílico de dominação dos homens de prol e, palavras, a msutu1çao ~ss.a~ ~agu1
sobretudo, de dominação dos parlamentares opõe-se, em nossa ção da democracia plebtscttaria. . 1 funcionários e dirigentes
época e da maneira mais radical, a estrutura e a organização Os militantes e, em espec1a ' os . t·o do chefe lhes
moderna dos partidos. Ésse nôvo estado de coisas é filho da turalmente que~ o tnun
do partido espe~am, na al. osi Õcs ou vantagens outras. lm-
democracia, do Slifr:ígio uni\•crsal, da nccessidndc de recrutar traga compensaçao pesso .d p ·~ do chefe e de maneira algu-
e organizar as massas, da evolução dos partidos no sentido de portante é, q':1e o esperam a a~i:r:entares. Esperam, acima de
uma unificação cada vez mais rígida no tôpo e no sentido de roa, nem urucamente, ddos p l eleitoral a influência dema-
uma disciplina cada vez mais severa nos diversos escalões. As- d o decurso a campan 1a ' d
tu o, que, n . d d h f lhes assegure votos e man a-
sistimos, presentemente, à decadência do domínio dos homens gógica da persooalida e o c ~ e do ~;,oder de sorte que os mi-
de prol, assim como a de uma política dirigida apenas em têr- tos, garanta a ~bertura das p~r ~s o~·sibilidades de obter a es-
mos dos parlamentares. O s indivíduos que fazem da at ividade litantes contatao com as ma103es p ,demonstraram Do ponto
política a profissão principal retomam a direção da emprêsa po- perada reco~pe,n~a pela dedoçao queimportantes fô~ças motoras
lítica, mantendo-se embora afastados do P arlamento. São ou de vista ps1colog1co, uma ~d m;~ttko reside na satisfação que
"empreendedores" - à maneira do boss norte-americano ou do com que possa ~ontar o parti o lhar c~m a devoção de um cren-
elcction agcnt inglês - ou funcionários dos partidos, com posi- o homem experu:1~nta por tr::de uma personalidade e não ape-
te em fafvor dod ex1t~s~:t~:umediocridades contidas ?urr; yr?,grda-
ções fixas. Do ponto de vista formal, assistimos a uma demo-
cratização acentuada. Não é mais o grupo parlámentar que es- nas em avor as ª · d r "cansmauco o
tabelece o prog1tama e define a linha de conduta do partido, ma. É exatamente nisso que consiste: o po e
nem são mais os homens de importância local os que decidem
das candid::ituras às eleições, mas essas tarefas passam a caber chefe. d anização dos partidos impôs-se, em
Essa forma nova e org , - entretanto sem
a reuniões de militantes dos partidos, onde se escolhem os can- medida variável, na maioria dos pa1ses, nao, '
88 89
constante rivalidade latente com os h . "
~al .e com os parlamentares que 1 omens de importancia lo-
encia de que dispõem O , • ut~m para conservar a influ- lhe são famili ares . Desconfia, portanto, da ambição de um des-
. · novo estil0 ·t conhecido e só lhe dedicará fidelidade inquebrantável depois de
meua vez no seio de um 'd b _?Iam estou-se pela pri-
da América e no seio de parti o . urgues nos Estados Unidos êle haver triunfado definitivamente.
Constantes regressões m . um part!do socialista na Alemanha Busquemos, agora, examinar mais pormenorizadamente al-
h a1cara01 evide t ·
so~rerudc auando o~~ --:,, a· - - , .n, emente, guns exemplos significativos dessa luta entre as duas formas
. , '-Vu111 1ui: um parti . essa revolução, de estrutura dos partidos e, em especial, os progressos alcança-
privado de um chefe un· . ao se vi sse, no momento
, an1memente re h 'd ' dos no sentido da forma plebiscitária desai ta por Ostrogorski.
rem, quando tal chefe existe t con ec1 o. Mesmo, po-
sões de tôda espécie à vaidade' e orn~-se ~ecessário fazer conces-
de relêvo no partido. De
, .
alodinteresse pessoal dos homens
outro a o pode o . lm
*
.q ue a maquina tombe sob ) c1 f .' correr, igua ente Comecemos pela Inglaterra. Até 1868 a organização dos
1
1ncum bem regularmente doe .0m 010 dos f · , · que se' partidos tinha, em quase todo aquêle país, o aspecto de um
b lb . unc1onarios
Segundo a opinião de certo t,;a a o interno de organização puro agrupamento de homens de importância. Nas áreas rurais,
. • numero de ser d · · os Tories se apoiavam no clérigo anglicano e, além disso -
c!acia, esse partido estaria se 0 d 0 • d . ore~ a soc1al-demo-
t1zação"
• •
A par d'tsso, import·t . não presa
es esse tipo de "b urocra- com freqüência - no preceptor e nos grandes proprietários es-
11
rios se submct•~m com relativ~ E 'l'd ~ue~er que os "funcioná- tabelecidos nos diferentes condados. Os Whigs, de sua parte,
demagógi!::o, que saiba como ac11 fa e a pessoa de um chefe buscavam, mais comumente, o apoio do predicador não con-
exp. 1·ica, ao mesmo tempo p 1 causar • orte
• • i mpressao. - I sso se formista ( quando êste existia), do chefe da estação de muda
· · • e a circunstancia d . de cavalos, do ferreiro, do alfaiate, do tecelão ou, numa pala-
materiais e morais dêsses E . , . ' e que os rnterêsses
dos ao crescimento e d ~nc1ona nos .estão lntimamente lig2- 1 vra, daqueles tipos de artesão que, por terem ocasião de man-
. po eno que descia
rnt:gr~m. e explica-se também elo E m para o pa~tido que ter contacto com muitas pessoas, poderiam exercer influência
façao rnt1ma no f,,,,.. ,1., •M' 1. P ,ato de haver maior satis- política. Nas vidas, a distinção entre os partidos políticos se fa-
- """"" v ""'"'" L.1. . . _ n """f' "'" -e d 1
ao contrário, ínfinitamenteaumª ~'.·ª dl:'f.1~ amor ê um chefe. f 1 zia, em parte, por motivos de ordem e:cooôrnica, em parte, por
c1ie f e nas organizações . e u !S l tciJ alça
r-se a' coo d'içao - de motivos religiosos e, em parte, simplesmente em função de opi-
mcns de prol" exercem g~an~:·irtl{~r ?os fu_ocio~ários, os " ho- niões tradicionais recebidas das famílias. Não obstante, os ho-
tal como freqüentemen te s uenc1a no interior do partido mens de prol mantinham-se como detentores do poder no seio
• • e nota nos part"d b '
eEeito, esses homens valoriz ( . J os urgueses. Com das organizações políticas. Acima de tôda essa estrutura, pla-
modo a pequena posição deam nbo sendttdo psicanalítico) de tal navam 0 Parlamento e os partidos dirigidos pelo Gabinete e
..J_,_ , . ruem ro 0 gru d . seu líder . . ~ste era o chefe do Conselho de Ministros ou da
awJ.wustrat1va que essa os · ';' po ou a comissão
suas vidas" . A atividadep içado se tolrna " a própria razão de oposição. O lider era assistido por um político profissional que
que esenvo vem é · d
mad a peIo resen timento contra d ' vJa e regra, ani- desempenhava papel de grande relevância no interior do par-
como homo novus dada a co . o - emagogo que se apresenta tido, o " orientador" ( whip) . Detinha êle o monpólio dos
· • · que tem da' polít' d nv1cçao
nencia . da supenon · ·d ad e da expe- empregos, a êle deviam dirigir-se todos os que pretendiam uma
. tca o partido _ f .
pod e revestir-se de grande un · • . 0 que, e et1vamente posição política e era êle quem as distribuía, após haver feito
, uI ·d
crup o J eolog1co de não r , . portancia _ e em Vtrtu d e do es-'
· consulta aos deputados das diferentes circunscrições eleitorais.
organização. No· interior do ompe.rd com as velhas tradições da Notou-se, entretanto, que ascendia, em tôdas as circunscrições 1
tar, aliás, com t·odos o 1 parti o podem êsses homens con- uma categoria .nova de politicos profissionais que, de início, não
T :._ _ 1 · s e ernentos conser d -
eLenur rura1' ma·s· r·am'o,em o que p t va ores. Nao só o
,
passavam de agentes locais não-remunerados, à semelhança dos
tem os olhos voltados para os ho er e~ce a pequena burguesia "homens de confiança" alemães. A par disso, por fôrça de nova
mens unportantes cujos nomes legislação, destinada a assegurar a regularidade das eieições, de11-
90 -se o aparecimento, nas circunscrições. eleitorais, de um tipo de

91
·- -·--

, . ava inteiramente ao contrôle parlamen-


empreendedor capitalista, o election agent. Tornou-se êle uma nova maquina, que escap b te com ·1s fôrças que até o ma-
tar, l ogo t~ve qu
e manter com a
.
·
rí.nci almente, com o w tp.
h· S
em
figura indispensável, dado que a legislação nova tinha o propó-
sito de garantir o conttôle de despesas eleitorais e de contra- mento detinham o pode! eci:S er~onalidades locais, que bu:ca-
balançar o poder do dinheiro, obrigando o candidato a fazer embargo, graças ao apoio l p , uina conseguiu ver-se v1to-
declaração das somas despendidas durante o decorrer da cam- vam interêss~s própr~os, a;~f:r:aª~om;leto que o whip sentiu-
panha. Na Inglaterra, com efeito, o candidato, além de dar riosa e seu triunfo foi de t n:-su- resultou a cen-
e e a pactuar. .ui:.
curso à otatór.ia - muito mais amplamente do que, outrora, -se obrigado a sub.meter-s oder na mão de alguns homens e,
ocorria na Alemanha - gostava de dar curso a seu dinheiro. tralização da totahdade doh p se encontrava à testa do
- d , . o amem que .
Em princípio, o election agent exigia do candidato o pagamento afinal na mao o uruc 1. to de todo êsse sistema
' d d 0 desenvo v1roen -
de certa soma, conseguindo, por essa forma, vantajosa situação. partido. Em_ ver a e, 'd liberal paralelamente à asce.nsao po-
A divisão de podêres entre o líder e os homens de importância se deu no seio do parti ~ 6 . , máquina tão ràp1damente
A v1t na que a · ' d d
no partido, tanto no âmbito do Parlamento, como em tado o lítica de Gl a dstonc. d l deveu-se antes e tu o ,
país, sempre garantira ao primeiro maior possibilidade de in- conquistou sôbre os hom~ns e ?ro grand; estilo praticada
fluência, de vez que era necessário dar-lhe os meios de executar, ao ângulo fascin~nte da emaagºJ~: :ssas no conteúdo moral
com continuidade, uma boa política. Continuava sensível, en- Por Gladstone, a tenaz cren~ 1 moralismo da personagem.
de sua . poli uca · e, em espeCJa l ' aol' . c ;nglês uma espeoe ' · de
tretanto, a influência dos homens de prol e dos parlamentares. . o pa co po ltlC ' ..,. .
Tal, em linhas gerais, a maneira como se apresentavam os Foi assl.ffi que surgiu o do ditador que remava
. · , · com os traços f•
partidos, em têrmos de sua an tiga organização. Aquela maneira cesarismo p 1eb 1sc1tar10, . l O resultado não se ez es-
defina-se em parte, como conseqüência da ação dos homens de sôbre o campo de ba~alha elde1tora e.us entrou pela primeira vez,
77 stema o cau • .. .
prol e já era, em parte, produto da ação dos empregados e dos perar. Em 18 ' o s1 li - de eleiçõ,,.s gerais. A consequen-
dirigentes. A partir de 1868, desenvolveu-se, inicialmente em em ação, durante a rea ;;~ao l' teve d~ abandonar o poder no
Birmingham, durante eleições locais, o sistema de caucus. D eu- eia foi impressionante: i~rae 1 ' ·e Desde 1876, a má-
' · t mais returooam · . . ,
-füe nascimenrn um pastor não-conformista, auxiliado por J o- momento de seu ex1 º1 d 1· da no sentido cammáttco, a
quma· ·,
lª estava de ta mo o igad ' e colocou a ques t-ao da
seph Cbamberlain. O pretexto invocado foi o da democratiza-
ção do direito de voto. Com o objetivo de atrair a massa, acre- pessoa de Gladstone que, quan o d~ alto a baixo, jamais che-
ditou-se convenliente movimentar enorme conjunto de grupos Home Rule, todo o aparelhamen~, tivamente do lado de Glads-
de aparência democrática, organizar em cada bairro da cidade gou a inquirir se se _encl~:e~teº d~entou-se por. fé em sua pa~
um comitê eleitoral, manter continuidade de ação e burocrati- tone, mas pura e s1mp . . tudo que fizesse - e , as
f . d e 0 seguma em .
zar rigorosamente o conjunto: cresceu, então, consideràvelmen- lavra, a trman o qu eu cr"1ador Chamberlam.
sim, ab andonou
até mesmo s
. .
'
, ro de pessoas para seu
fun-
te, o número de empregados remunerados pelas comissões lo-
cais que, dentro em pouco, agruparam e organizaram cêrca de A máquina exigia grande º:1.me de duas mil pessoas vivem,
dez por cento dos eleitores. Os intermediários principais, es- cionamento. Ne~ e
t momento cerca
d' clítica dos partidos.
Mais . . ele-
colhidos por eleição, mas detendo, da[ por diante, o direito de na Inglaterra, d1reta1nente a p 1 aro à cata de uma situa-
participar das decisões, tornaram-se os dirigentes da política do
. d , ' ero dos que se aC1 · ,.
vado arn a e o num . razão de outros interesses,
partido. As fôrças atuantes brotavam das comissões locais, prin- ção e dos que se roostrad auvf-~· e;municipal. Por outro lado,
cipalmente nas á:reas que se interessavam pela política munici- especialmente no c~mpo ª ~o ~ ic 05 políticos envolvidos oo
pal - sendo esta, em tôdas as circunstâncias e situações, o além das expectauvas ecobn~mica~isfarões da vaidade. Podem,
psnPr~r tllID em sa mo
...l
) s mais altas amb"içoes, -
1
trampolim das oportunidades materiais mais sólidas. Foram tam- caucus pouem ~. r·"- -- 1m co
bém essas fôrças puramente locais que, em primeiro lugar, reu- com efeito, nutrir (norma ~te d a Parlamento. Tais situações
niram os meios financeiros necessários para subsistência . Essa a de transformar-se em mero ro o
93
92
aquêle que ambicione wn pôsto na organização dirigente a pos·
s~o pr~me~idas, em particular, àqueles que fazem prova de boa sibilidade de trazer sua contribuição e vai a ponto de obrigá-lo
e ucaçao, isto é! aos que são gentlemen. A honra suprema que a agir assim para triunfar. Todos os ministros importantes dos
esi;>era, ei;n particular, os ~randes mecenas é o título de par - últimos decênios formaram-se nessas comissões parlamentares,
p~1s .. ªs frnanças dos partidos provêm, na proporção de quase q\lc os hnbituor:im n um trabalho positivo e eficaz. A prática
cinqucntn por cento, de contribuições de doadores anônimos. adquirida como relator de uma comissão, bem como o hábito de
Qual o r1~sultado a que levon fio.,.,,, c:ic:tPm"'I J..t'J..U
... - _..,...,._ M,, 1· LV
.~ .::>1il.1-
~:-
W'"' •·"·"--u....&U.
crítica pública às deliberações, permite, nessa escolã, uma ver-
p1esmente, a que os p~rlamentares inglêses, com exceção de al- dadeira seleção de chefes, com eliminação do indivíduo que não
guns _mem?ros d? _Gabinete (e de alguns excêntricos) viram-se passe de um demagogo vulgar.
~:~uz1da~ a co~d1çao de bêstas de votar, perfeitamente discipli- Essa é a situação na Ingl:iterra, Entretanto, o sistema de
bºt ad
1J
ili Reichstag ale?1ão, os parlamentares deram-se ao há-
~ utd zarisuas cadeiras para cuidar da correspondência pri-
caucus, que ali reina, aparecerá como forma atenuada de maqui·
naria política, se o compararmos com a organização dos partidos
va a, an o, <essa forma, pelo menos a impresão de ue se nos Estados Unidos da América, onde ràpidamente se adotou
preocupava~ com,º. bem;estar da nação. Na Inglaterra,qentre- uma versão particularmente pura do re~gime plebiscitário. Se·
tanto, nem _esse mm1mo e exigido: o parlamentar nada mais tem gundo Washington, os Estados Unidos da América deveriam
a fazer senao votar l e não
. trair seu partido • De ve fazer ato d e ser uma comunidade dirigida por gentlemen. Naquela época, o
pr:sença quanc10. o wh!p o chama e executar aquilo ue de gentleman era, tal como na Inglaterra , um proprietário rural
acordo com as circunstancias, é ordenado pelo chefe d~ b. G ou um homem que houvesse freqüentado a Universidade. De
~ete p~o.
ou Hder d~ oposição. Sempre que dirigida por ~~ início, assim foi, efetivamente. Quando os partidos se consti-
ornem energ1co, a maquma do caucus quase que não deixa trans- tuíram, os membros da Câmara de Representantes tinham a pre-
parecer qualquer reação de âmbito local; ela, pura e simples- tensão de se tornarem chefes políticos, :à imagem dos chefes po-
mente, segue a vontade do 11der. Assim, acima do Parlamento , ltiicos inglêses da época do domínio dos homens de impoi:tân·
se colocb o ':.~e:fe _que é; em verdade, um ditador plebiscitário· eia. A organização dos partidos carecia de discipiina. E tai si-
a seu _sa or, e e onen.ta a·s massas. A seus olhos, os parlamenta~ tuação estendeu-se até o ano de 1824. Contudo, já antes da
res nado passam_ de simples detentores de prebenda que fazem década dos 20, era possível notar o aparecimento da máquina
parte e sua clientela. ' dos partidos em numerosas municipalidades, que, dessa forma,
E ~e que maneira se dá,_e_m tal sistema, a escolha dos chefes? se transformaram no ponto de partida da nova evolução. Foi,
'. ac;:1m_a ded tudo, que qualificações nêles se procura? Além das contudo, a eleição do presidente Andrew Jackson, candidato dos
ex1genc1as e uma criadores do Oeste, que verdadeiramente alterou a antiga tra·
siv ' lr vontade
, .firme que são • em to"da p ar t e, d ec1-.
vr:sd e nat,u~a nente oe primeira importância a fôrça da pala- dição. Pouco depois de 1840, os chefes parlamentares deL"<a·
é eda~gbd. A maneira de proceder alterou-se depois da vam de ser formalmente os dirigentes dos partidos, exatamente
poca e d o e·n, quando os apelos eram dirigidos ao entendi- no momento em que os grandes membros do Parlamento -
mento, e a época. de Gladstone, que era um técnico da fórmula Calhou::i, Webster - se retiravam da vida política porque o
aparentemente cheia de sentido Congresso tinha perdido quase todo o poder, face à máquina
falare " . ' um técnico do "de1xa1
. . os fatos
f .. m e, em nos_sos drns, para mover as massas, utilizam-se dos partidos. Se a "máquina" plebiscitária se desenvolveu em
r::uentement~, meios que, na maioria das vêzes, têm caráter pu~ tão boa hora naquele país foi porque nos Estados Unidos da
S l en:_e e~oaonal e são ~o gênero adotado pelo Exército de América e tão-sàmente lá o chefe do Executivo, que era ao
d~ ~~J~todm º~ ..~J~dbase, esse _es_tado de coisas pode ser chama- mesmo tempo - e êsse é o elemento importante - o senhor
~" ..a _.... a .. uuua ã na etttõfwrdaáe e na expioração das mas- da distribuição dos empregos, tinha a condição de presidente
sas de trabalho em com1ssoes,
. - . eleito por plebiscito e, além disso, por forçada "separação dos
tema. g Nao d obstante,
d o sistema. s1s-
ran emente esenvolv1do no P arlamento inglês, dá a todo 95
94
EW 'W "

podêres", gozava, no exercício de suas funções de uma inde- fiança dos Representanre:>: mais uma conseqüência do princípio
pendência quase completa em, relação ao Parlam;nto. Com efei- de " separação dos podêres''.
to, após um:a eleição presidencinl, aos partidários do candidato O spo1l system, apoiado no princípio da scp~ração de PC:
vitorioso eram oferecidas, como recompensa, prebendas e em· dêres, só foi tecnicamente possível nos Estados Umdos da Ame-
pregos. E não se deixou de tirar conseqüências dêsse spoil rica porque a juventude daquela civilização tinha condições para
system
, . que
, . Andrew Jackson elevou, sistemàticamente, ao nível suoortar uma gestão de puros diletantc~s. Em verdade, o fato
ae prmc1p10. de. que de trezentos a quatrocentos mLl militantes nã~ tives~em
Em nossos dias, que significa, para a formação dos partidos, outra qualificação para exibir, a não ser os bons e leais serviços
êsse spoil system, isto é, a atribuição de todos os postos da ad- prestados ao partido a que pertenciam , fêz surgir, a_ longo al-
~it~istra7ão federal aos partidários do candidato vitorioso? Sig- cance, grandes dificuldades e conduziu a uma corrupçao e a um
nifica, simplesmente, que os partidos, sem nenhuma base doutri- desperdício sem igual, só possíveis de serem suportados por
ná~a, reduzidos a puros instrumentos de disputa de postos, um país de possibilidades econômicas ilimitadas,
opoem-se uns aos outros e elaboram, para cada campanha elei- A figura política brotada dêsse sistema de má9~a P,l~­
toral, um programa que é função das possibilidades eleitorais. biscitária foi a do boss. Que é o boss? É um empresano polít1-
- Nos Estados Unidos da América, os programas variam numa co capitalista, que busca votos eleitorais em benefício próprio,
proporção que não tem igual em qualquer outro país, apesar de correndo os riscos e perigos inerentes a essa atividade. Nos
tôdas as analogias que se tracem. A estrutura dos partidos su- primeiros tempos, êle é advogado, proprietário de um bar ou
bor?ina-se, inteira e exclusivamente, à batalha eleitoral, que é, de um :!Stabelecimento comercial ou é um agiota, valendo isso
mwto acima de qualquer outra, a mais importante para o domí- dizer que desempenha uma atividade de onde retira meios de
nio dos empregos: o pôsto de Presidente da União e de Go- lançar as primeiras bases para lograr o c:ontrôle de certo número
vernador dos diversos Éstados. Os programas e os nomes dos de votos. Conseguido êsse resultado, êle entra em contacto
candidatos são sufragados, i;em intervenção de parlamentares. com o boss mais próximo e, graças a seu zêfo; habilidade e, aci-
<lutante as "convenções nacionais" dos partidos - ou seja, du: ma de tndo, discrição, atrai os olhares dos que se acham avan-
rante congressos dos partidos que, do ponto de vista formal, çados na carreira e, daí por diante, encontra aberto o caminho
compõem-se, muito democràticamente, de delegados das assem- para galgar os diferentes escalões. O boss veio a t:ansfor~ar-se,
bléias, aos quais o mandato é outorgado pelas primaries, ou dessa maneira , em elemento indispensável ao partido, pois que
assembléias dos militantes de base. Já nessas primaries, os de- tudo se centraliza em suas mãos. É êle quem fornece, em subs-
legados às convenções são escolhidos em função do nome dos tancial porção, os recursos financeiros. Mas, como age para
candidatos ao pôsto da magistratura suprema da União. Em ra- obtê-los? Recorre, em parte, a contribuições dos membros e
zão. disso é que se vê processar-se, no interior dos partidos, a recorre, especialmente, a uma taxa que faz incidir sôbre os ven-
mais encarniçada luta em tôrno da ,nomination, pois o presiden- cimentos dos funcionários que, graças :a êle e ao partido, obti-
te é o senhor de cêrca de trezentos a quatrocentos mil cargos veram colocação. A par disso, surgem as gratificações e as co-
que êle distribui a seu prazer, após consulta aos senadores do~ missões. Quem pretenda violar impunemente as leis dos Esta-
diferentes Estados. Isso faz, dos senadores, políticos podero- dos deve obter, antecipadamente, a conivência dos bosses, desti-
sos. A Câmara de Representantes, de outra parte, é, até certo nando-lhes certa soma de dinhei ro, sob pena de enfrentar os
p~n~o , impotente, do ponto de vista político, de vez que o do- maiores djficuJdades. ~sses diversos recursos não são, entre-
m1mo dos empregos lhe escapa totalmente e que os ministros tanto, bastante para constituir o capital necessário para opera-
~imples auxilia:res do Presidente eleito diretamente pela popu~ -
çao 1-' •
po11tica do pa1t1uo.
. .J "' 1
u ooss e, o tnomem m01spensave1
• ,. ,1
para
lação, eventualmente contra o desejo do Parlamento, podem coletar diretamente os fundos que os grandes magnatas da fi-
exercer suas funções independentemente da confiança ou descon- nança destinam à organização. tstes jamais confiariam dinheiro
96
4
97
reservado para fins eleitorais a funcionário pago pelo partido
ou ~ uma pessoa que, oficialmente, onerasse o orçamento do bem diferente da alemã, onde são sempre os antigos e notáveis
partido; o boss, contudo, em razão de sua prudência e discri- membros do partido que se apresentam corno candidatos. De-
ção em matéria de dinheiro é, de tôda evidência, um homem ·ddo a essa razão, a estrutura dêsse tipo de partido, desprovida
dos meios capitalistas que financiam eleições. O boss típico é, de base doutiinária, mas animada por detentores do poder que
geralmente, um homem que sabe o que quer. Não está à pro- são desprezados pela sociedade, contribuiu para levar à pre-
curn de honrarias; o profissional (assim o denominam) é sem sidência do país homens de vaiar que, na Aiemanha, jamais se
dú.vida, despr,ezado pe~a "alta sociedade". !le só busca o ~oder, teriam "projetado". Certo é que os bosses se lançam contra o
seia como fonte de nquezas, seja pelo próprio poder. Diver- outsider que, na hipótese de uma eleição, poderià ameaçar-lhe
samente do l íder inglês, êlc trabalha nn obscuridade. Não é as fontes de renda e de poder. Con tudo, em razão mesmo da
ouvido em público; sugere aos oradores o que convém dizer concorrência que se estabelece para ganhar o favor público, os
po.rém con:_erva silêncio. Via de regra, não aceita posições po'. bosses viram-se, algumas vêzes, obrigados a resignar-se e a acei-
lfucas, a nao ser a de senador. Como, em virtude da Consti- tar justamente os candidatos que se apresentavam como adver-
tuição, os senadores devem ser ouvidos no que concerne a em- sários da corrupção.
pregos, ~s hosses .dir.ige?:_es asentam-se, com freqüência, naquela Estamos, portanto, diante de uma · emprêsa política dotada
assei:iblé1a. A .d1stnblllçao de cargos se faz principalmente em de forte estrutura capitalista, rlgidamente organizada de alto a
fun!ªº dos serviços prestados ao partido. Acontece, porém e re· baixo e apoiada em associações extremamente poderosas, tais
petidamente, que a nomeação seja feita contra o pagamento de como o Tammany Hall. Essas associações, cujas linhas lembram
cert~ son;a de: dinheiro e :xistem preços estabelecidos para ob- as de uma ordem, não têm outro p1:opósito, senão o de tirar
tençao deste ou daquele posto. Em resumo, trata-se de um sis- proveito da dominação política, particularmente no âmbito da
tema de venda. de posiç~es , tal como praticado com freqüência administração municipal - que constitui, nos Estados Unidos
pelas monarqmas dos secuios XVII e XVIII inclusive pelos da América, a melhor porção dos despojos. Essa organização
Estãdos da Igreja. ' - dos partidos só foi possível porque os Estados Unidos da Amé-
O boss não se apega a uma doutrina política definida · não rica eram um país democrático e porque eram um "pa{s nôvo".
professa prindpios. Uma só coisa é importante a seus ~lhos : Essa conjuntura privilegiada faz, entretanto, com que, em nos-
co~o co~seguir o maior número de vo tos possível? Acontece, sos dias, êsse sistema esteja condenado a morrer lentamente.
mui.tas vezes, que se trate de pessoa sem grande preparo. To- Os Estados Unidos da América não podem 'Continuar a ser
dav1a, em geral, sua vida privada é correta e inatacável. Evi- governados exclusivamente por diletantes. Há cêrca de quinze
dentemente só .em matéria de moral política é que êle se ·adapta anos, quando se perguntava aos trabalhadores norte-americanos
aos c~stumes v1gen~es ?º setor; nesse ponto, não difere de gran- porque êles podiam deixar-se governâ:r por homens que coofes-
de numero de capitalistas que, numa época de açambarcamen- sadamente desprezavam, obtinha-se a seguinte resposta: "Pre-
to, adotam. essa forma de agir no domínio da moral econômica. ferimos ser governados por funcionários sôbre os quais pode-
Pouco lhe importa que, socialmente, o encarem como profissio- mos escarrar a ser governados por uma casta de funcionários que,
nal, como político profissional. Desde o momento em que êle tal como na Alemanha, escarra sôbre os trabalhadores". Era
não asce~d~ e não quer ascender aos altos postos do govêrno, o velho ponto de vista da "democracia" americana, mas, já por
sua mo~est1a passa a garantir-lhe certo número de vantagens: aquêle tempo,. as áreas socialistas do país tinham outra opinião.
com efe~to, não é raro ver inteligências estranhas aos quadros A situação não é mais tolerável hoje em dia. A administração
do partido, gl'andes personalidades serem apresentadas como \ dos diletantes não corresponde mais às novas condições do país
candidatos, devido ao fat?. de os bo~ses entenderem que elas po- e a Civil Service Reform vem criando, em número cada vez
dem aumentar as probabilidades eleitorais do partido. Situação
98 l maior, posições de funcionário de carreira, com o benefício da
aposentadoria. Dessa maneira, funcionários formados por uni-

99
.._.,

versidades e que serão, tanto quanto os alemães, incorruptíveis, que possuem uma doutrina política, de sorte a poderem afirmar,
poderão vir a ocupar os postos de govêrno. Cêrca de cem mil ao menos com bana fides subjetiva, que seus membros são re-
empregos já n~io mais constituem a recompensa do torneio elei- presentantes de uma "concepção do mundo". Entretanto, os
tor:il, mas diici direito a nposentndori:i, no mesmo tempo que dois mnis importnntes pnrtidos clê~~c tipo, o Ccntrum e a soci:tl-
fazem exigências de qualificação. Essa nova fórmula fará com -democracia, são, infelizmente, partidos que, de momento, se
que o spoil system regrida lenta e progressivamente. .t:m con- destinam a ser minoritários e desejam assim permanecer. Com
seqüência, não há dúvida de que a estrutura de direção dos par- efeito, no Império alemão, os meios dirigentes do Centrum ja-
tidos também se transformará, embora não seja possível ainda mais esconderam o fato de que se opunham ao parlamentarismo
prever em que sentido. porque temiam ver-se transformados no idiota da peça e por-
Na Alemanha, as condições determinantes da emprêsa polí- que teriam dificuldades maiores que as daquele momento para
tica foram, até o presente, as seguintes. Acima de tudo, a fazer pressão sôbre o govêrno quando quisessem ver nomeado,
impotência do Parlamento. Daí resulta que nenhuma personali- para uma função pública, um elemento do partido. A social-
dade dotada de temperamento de chefe lá permanece por longo -democracia é um partido minoritário por principio e se consti-
tempo. Suponhamos que um homem dessa têmpera pretenda tuiu, por êsse motivo, em obstáculo à parlamentarização, dado
ingressar no Pnrlarnento - que poderá fazer ali? Quando se que não queria macular-se ao contato de uma ordem estabeleci-
vague um cargo, êle poderá dizer ao diretor de pessoal de quem da que ela reprovava, por considerar burguesa. O fato de êsses
depende a nomeação: tenho sob minha dependência, em minha dois partidos se excluírem do sistema parlamen tar constituiu-se
circunscrição eleitoral, um homem capaz, que pode satisfazê-lo; na causa principal responsável pela impossibilidade de introduzi r
aproveite-o. E , muito comumente, as coisas se passam dessa tal sistema na Alemanha.
maneira. Mas isso é quase tudo que um parlamentar alemão Em tais condições, qual o destino dos políticos profissio-
pode conseguir para satisfazer seus instintos de poder - se é nais, na Alemanha? Jamais dispuseram de poder ou assumiram
quê ãlgurna vez os possui. responsabilidade; só podiam, portanto, desempenhar papel su-
Ao referido, junta-se um segundo fator, que condiciona o balterno. Só há pouco tem sido penetrados de preocupações
primeiro, a saber, a importância enorme que o funcionário de com o futuro, tão caracterí.sticas de outros países. Como os ho-
carreira tem na Alemanha. Neste domínio, os alemães foram, mens de prol faziam de seu pequeno mundo a finalidade da
sem dúvida, os primeiros do mundo. Resultou, porém, que os vida. era impossível que um homem diferente dêles chegasse
funcionários pretenderam ocupar não somente os postos de fun- e elevar-se. Em todos os partidos, inclusive, evidentemente, a
cionários, mas t ambém os de ministros. Não se ouviu dizer, no social-democracia. eu poderia citar numerosas carreiras políticas
ano pasado, no Landtag bávaro, quando do debate sôbre a in- que foram verdadeiras tragédias, porque os indivíduos envolvi-
trodução do parlamentarismo, que, se alguma vez fôssem dados dos possuíam qualidades de chefe e não foram. por êsse motivo,
cargos ministeriais aos parlamentares, os funcionários capazes tolerados oelos homens importantes da a!?remiar.ão. Torlos os
deixariam a carreira? É preciso, enfim, acrescentar que, na Ale- nossos partidos têm, assim, acertado o passo pelo de seus hom<-'ns
manha, a administração da função pública fugia sistemàticamen- de prol. Bebe!, exemplificativamente, era, oor temoeramento e
te ao contrôle das comissões parlamentares, diversamente do disposição, um chefe, embora de int1~ligência modesta. O fato
que se dá na Inglaterra. Por êsse motivo, o Parlamento era de que êle fôsse um mártir, de que jamais faltasse à confiança
colocado na impossibilidade - salvo raras exceções - de for- das massas (ao ver das massas, evidentemente) teve, coroo con-
mar chefes políticos em condições de realmente dirigir uma seqüência, que estas o seguissem obedientemente e imoediu que
administração. surgisse, no interior de seu partido, uma oposição séria, capaz
O terceiro fator, mui to diverso do que. atua nos Estados de fazer-lhe sombra. Todavia, tal est ado de coisas desapare-
Unidos da América, é o de que, na Alemanha, existem partidos ceu com sua morte e instalou-se o reinado dos funcionários.

100 101
':7ieram ~ ton~ os funcionários sindicais, os secretários do par- bém organizações políticas de caráter comercial. Ocorreu que
tido, os Jornalistas: o partido passou, dessa maneira, ao domínio certas pessoas se apresentaram a indivíduos em que elas vis-
dos instintos burocráticos. Apossaram-se dêle funcionários muito lumbravam qualidades de chefe , propondo-lhes que se dedicas-
honrados, talvez extremamente honrados, se os comparamos aos sem ao recrutamento de partidários •e prometendo o pagamento
de outros países, em especial aos funcionários sindiéais dos E s- de quantia determinada por nôvo eleitor conquistado. Se, neste
tados Unidos ·da América. freaüentementf' ~rf'""Í"Pic: ~ rMrn nr~.--
-~ - --- .A, ~t'')""'""•· .
momento. me fôsse pedido que lhes dissesse honestamente qual
dos dois procedimentos me parece mais seguro do ponto de ~is­
• 1 .1. --- ........ -&MO - . _ ..., ...

Apesar disso, as conseqüências da dominação dos funcionários


- conseqüência1s que acabamos de examinar - fizeram-se ma- ta da técnica política, acredito que eu daria preferência ao últi-
nifestas naquele partido. mo. Em ambos os casos, entretanto, só estamos diante de bô-
lhas de sabão que se elevaram ràpid:amente, para logo estourar.
* De modo geral, o processo constitiu em remanejamento das or-
Desde aproximadamente 1880, os partidos burgueses não ganizações já existentes, que voltaram a funcionar como outrora.
passaram de agirupamentos de homens de importância. Certo Em verdade, os dois fenômenos assinalados são apenas sintomas
é que, por vêzes, êles se viram obrigados a apelar, para fins de indicadores de que novas organizaç<5es poderiam surgir, se os
propaganda, a inteligências estranhas aos quadros do partido, o chefes surgissem. Não obstante, as particularidades técnicas do
que lhes permiti:a proclamar: "Fulano ou Beltrano está conosco". sistema impediram o desenvolvimento das organizações novas.
~ontudo, .ºª m~dida d~ possível, adotavam-se tôdas as providên- Até o momento, só pudemos ver suq~r um par de ditadores que
c1~s para impedi:r que esses nomes se apresentassem em eleições. alvoroçaram as ruas e ràpidamente desapareceram. Sem embar-
So 9uando eles se recusav;un. a prestar-se a manobra é que se go, os partidários dêsse ditadores estavam realmente organizados
anu1a em propor-lhes a c2nd1datura. No Parlamento, reinava e obedeciam a uma disciplina estrit21: daí a fôrça dessas mino-
o mesmo estado de espírito. Os grupos parlamentares alemães rias que, porém, no momento, perdem vigor.
eram círculos fechados e assim permaneceram. Tnrln" m ,.t;.,_ Suponhamos que a situação possa sofrer alteração, Far-se-
c~rsos pronuncfa~os ~m sessão ,plenária do -R~ich~;;g--sã~- ;;~­ -ía, então, necessário, após tudo quanto dei.xamos referido, to-
viamente submet idos a censura dos partidos. Constata-se o fato mar consciência do seguinte fato imp•::>rtante: quando os partidos
pelo tédio mortal que os discursos provocam. Só tem o direito são dirigidos e estimulados por chefes plebiscitários, ocorre uma
de usar a palavrn o deputado antecipadamente indicado. Não se "perda de espiritualidade" ou, mais claramente, ocorre uma pro-
~ode: conceb~ contraste maior com os costumes parlamentares letarização espiritual de seus partid:ários. O s partidários reu-
mgleses, assim como - por motivos diametralmente opostos nidos numa estrutura dêsse gênero só poderão ser úteis aos
- com os costumes parlamentares franceses . chefes se lhes derem obediência cega, isto é, se, tal como ocorre
Talvez que uma alteração esteja presentemente ocorrendo nos Estados Unidos da América, se curvarem diante de máqui-
após a agitação violenta que nos comprazemos em chamar re~ na que não é perturbada nem pela \~aidade dos homens de im-
volução . . Digo talvez porque nã~ se trata, absolutamente, de al- portância, nem pela pretensão de . or.iginalidade pessoal. Só foi
guma coisa segura. No momento, preconiza-se antes de tudo possível a eleição de Lincoln porque ~ organização do seu partido
a constituição de novos partidos. De início ~tretanto essa~ tinha esse caráter; e, tal como vimos, o mesmo fenômeno se pro-
formações novas não passam de organizações de amadore~. Fo- duziu com o caucus, em benefício de Glndstone. Eis precisa-
ram, em particul:ar, os estudantes das grandes escolas que mili- mente o preço que importa pagar pela colocação de verdadeiros
taram a favor de um objetivo dessa ordem. Iam ao encontro chefes à testa de um partido. Só 1uma escolha cabe: ou uma
de um homem em quem acreditavam ter descohertn ~-- nn<il irl,, _ democracia admite como dirigente um verdadeiro chefe e. oor
des de chefe e lhe diziam: nós lhe daremos - ;- ;;;b~~ ~I~b~~;­ conseqüência, aceita a existência da "máquina" ou renega o; ~he­
do e não lhe caberá senão executá-lo. Contudo, surgiram taro- fes e cai sob o domínio dos "políticos profissionais", sem vaca-

102 103
ção, privados das qualidades carismancas que produzem os che- atividade política entendida como "vocação", tanto ,n;iais que
fes. Nesta última hipótese, vemo-nos diante do que a oposição, não se vê meio de oferecer aos bem-dotados para a pohtica opor-
no interior de um partido, chama o reino das "facções". No tunidade de se devotarem a uma tarefa satisfatória.. Aquêle ~ue,
momento, não divisamos, no seio dos partidos alemães, outra em razão de sua situação econômica.' se vir. obrigado a vive~
coisa que não o domínio dos políticos. A perpetuação dêsse "da" política, não escapará à alternativa se8"ill;°.te: ou se vol.t ara
estado de coisas pelo menos no Estado Federal, será favorecido, para 0 jornalismo e para os encargos bur~cr~ucos nos partidos
antes de tudo, peio fato de que, sem dúvida, ressurgirá o Conse- ou tentará conseguir um pôsto numa assoaaçao que s~ e~carre­
lho Federal. Conseqüência necessária será uma limitação do poder gue da defesa de certos interêsses, ~o~o é o c~so dos st~n~catos,
da Assembléia e, ao mesmo tempo, a impossibilidade de nela das câmaras de comércio, das assoc1açoes rurais, d~s age~c1as de
ver surgirem chefes. Tal situ:ição encontrará terreno ainda mais colocação etc. ou, aind:i, buscará posição conveniente. 1unt~ a
favorável para desenvolver-se no sistema de representação pro- uma municipalidade. Nada mais se pode dizer a respeito de~se
porcional, considerados os têrmos em que êle é hoje conhecido. aspecto exterior da profí~são pol!tica, a não. ser ~ue o fun~10-
Tal sistema é, com efeito, a manifestação típica de uma demo- nário de um partido político partilha com o JOrn~hsta do odrum
craci:i sem chefes, não apenas porque facilita, em benefício dos que se levanta contra o déclassé. tles se verao sempre cha-
homens de prol, as manobras ilícitas na confecção das lista~ de mados, embora apenas pelas costas, de " escriba salariad~'' e
votação, como também porque dá aos grupos de interêsses a de "orador salariado". Quem seía incapaz de, em se~ .foro tnte-
possibilidade de~ forçarem as organizações políticas a incluírem rior enfrentar essas injúrias e dar-lhes resposta, agma melhor
nas citadas listas alguns de seus empregados, de sorte que, ao se ~ão se orientasse para aquelas c:arreiras que, além de tenta-
fim, nos vemos diante de um Parlamento apoütico, onde não ções penosas, só lhe poderão oferecer decepções contínuas.
mais encontram lugar os verdadeiros chefes. Só o Presidente Quais são, agora, as alegrias fotim:is que a carreira p~lí­
do Reich, sob condição de que sua eleição se fizesse por plebis-
tica pode proporcionar a quem a ela se entrega e que previas
cito e não pelo Parlamento, poderia transformar-se em válvula
de segurança face à carência de chefes. ! Tão será possível que condições seria preciso supor?
os chefes surjam e que a seleção entre êles se opere, se não hou-
ver meio de comprovar-lhes a capacidade, expondo-os, iniclal-
mente, ao crivo de uma gestão municipal, onde lhes seja deLxado
*
o direito de escolher os próprios auxiliares, como ocorre nos Bem. ela concede, antes de tudo, o sentimento de .ooder.
Estados Unidos da América, quàndo se projeta em cena um per- A consciência de influir sôbre outros sêres hu~an.os , o s~nttmento
feito plebiscitário, decidido a lançar-se contra a corrupção. · !sse, de participar do poder e, sobretudo, a con_sc1encia de f1gur.ar e~­
afinal, o resultado que se poderia esperar, se os partidos fôssem tre os que detêm nas mãos um elem;~to tmp~rt~nte da h1st6rta
organizados em função de eleição · dêsse tipo. Entretanto, a que se constrói podem elevar o pohttco prof1~s1onal, me.smo o
hostilidade pequeno-burguesa em relação aos chefes, hostilidade, que só ocupa modesta posição, acima d~ banalida~e da vida co-
que anima todos os partidos, inclusive e sobretudo a social-de- tidiana. Coloca-se, porém, a êsse propósito, a seguu:te pergu,nta:
mocracia, deixa imprecisa a natureza da futura organização dos quais são as qualidades que lhe permitem espe~ar situar-se ~. al-
partidos, bem como incertas as possibilidades que acabamos de tura do poder que exerce (por pequeno que sei a) e, con~equ_:n;
referir. temente, à altura da responsabilidade que êsse poder l?~ 1mpoe.
Essa indagação nos conduz à esfe ra dos problemas eticos. _É,
* com efeito, dentro dêsse plano de idéi~~ que s.e :oloca ~ questa~:
Essa s iazão por que, hoje en1 dia, não é absolutamente que homem é preciso ser para adqu:n~ ? diretto de introduzir
possível prever qual o contôrno exterior que virá a assumir a os dedos entre os raios da roda da Histona?

104 105
Pod;-~e dizer .que há três qualidades determinantes do ho- H á um inimigo vulgar, muito h umano, que o homem po-
mem polit1~0: paixão, sentimento de responsabilidade e senso lítico deve donunar a cada dia e cada hora: a muito comum
de prop~rçao .. Paixão no sentido de "propósito a realizar", isto vaidade. Ela é irum1ga mortal de qualquer devoção a uma cau-
e, dev~çao. apatxonada a uma "causa", ao deus ou ao demônio sa, inimiga do recolblmento e, no •:aso, do atastamento de si
~ue ~ tnsp1ra. .fsso nada tem . a ver com a conduta puramente mesmo.
mtenor .que ~cu p~antcado amigo George Simrnel tinha 0 costu- A vaidade é um traço comum e, talvez, não haja pessoa
me de denominar "excitação estéril", forma de agir pr6pria de algt1ma que dela esteja inteiramente isenta. Ns meios cientí-
uma ~erta casta de intelectuais, particularmente russos ( nem to- ficos e universitários, ela chega a constituir-se numa espécie de
~os, e d~ro) e que, atualmente causa furor em nossos meios moléstia protissional. Contudo, quando se manilesta no cien-
mtelectua1s obnubílados por êsse carnaval a que se concede 0 tista, por mais antipatia que provociue, mostra-se rdativamente
nom~ pomposo de "revolução' '. Tudo isso não passa de " ro- inofensiva, no sentido de que, via de regra, não lhe perturba a
mantismo do que é intelectualmente interessante" de que está atividade científica. Coisa inteiramente diversa ocor re, quando
11usent~ o sentirne?to obje.ti~o de responsabilid ad~ e que gira se trata do político. O desejo do poder é algo que o move ine-
no vazio. Com efeito, a paixao apenas, por sincera que seja não vitàvelmente. O " instinto de poder" - coroo habitualmente
basta. Quando s~ põe a serviço de uma causa, sem que 0 cor-
1
se diz - é, com efeito, uma de suas qualidades normais. O pe-
respondente .sentimento de responsabilidade se torne a estrêla cado contra o Espírito Santo de sua vocação consiste num dese-
polar determ1~ante da atividade, ela não transforma um homem jo de poder, que, sem qualquer objetivo, em vez de se colo-
em c?efe polí.tico. Fa~-se necessário, enfim o senso de proporção, car exclusivamente ao serviço de uma "causa", não consegue
que e. a qll:alidade ps1col6gica ~damental do homem político. passar de pretexto de exaltação pessoal. Em verdade e em últi-
Q uer 1s.so d1~er qu~ ele deve possuir a faculdade de permitir que cs ma análise, existem apenas duas espécies de pecado mortal em
f?tos aiam sobre s1 no recolhimento e na calma interior do espí- política: não defender causa alguma e não ter sentimento de
rito, sa?endo, p_c?r c?nseqüC:ncia, manter à distancia os homens responsabilidade - duas coisas que, repetidamente, embora não
e as coisas. A "ausenda de distânda 11 como tal· , d necessàriamente; são idênticas. A vaidade ou, em outras pa-
d · · d • , e um os pe-
ca os_ cap1ta~s o ho~em político. Se inculcássemos na jovem lavras, a necessidade de se colocar pessoalmente, da maneira a
geraçao ,de mtelectua1s o desprêzo pelo recolhímento indispen- mais clara possível, em primeiro plano, índuz freqüentemente o
sável , nos a condenaríamos à impotência política. Surge, a essa homem político à tentação de cometer urh ou outro dêsses peca-
altura, o proble:~a . s;guinte: como é possível fazer convive- dos ou os dois simultâneamente. O demagogo é obrigado a
rem, no_ mesmo md1v1duo, a paixão ardente e 0 frio senso de contar com o "o efeito que faz" -- razão por que sempre corre
proporçao? Fai:-se política usando a cabeça e não as demais o perigo de, desempenhar o papel ele um histrião ou de assumir,
~artes d? corpo. Contudo, se a devoção a uma causa política com demasiada leviandade., a responsabilidade pelas conseqüên-
e algo . d.1verso ~e um frívolo iôgo de intelectu:tl, constituindo-se cias de seus atos, pois que está prcocup:ido continuamente com
em at1v~d~de smceramente desenvolvida, essa devoção há de a impressão que pode causar sôbre os outros. De uma parte, a
ter a ~aixao como fonte ~ecessári,a e deverá nutrir-se de paixão. recusa de se colocar a serviço de uma causa o conduz a buscar
Todavia.' o poder de sub1ug'ar energicamente a alma poder que a aparência e o brilho do poder, ern vez do poder real; de outra
caracti:nza o ~omem político apaixonado e o distin~e do sim- par te, a ausência do senso de responsabilidade o leva a só gozar
ples ?~etant~ mchado de excitação estéril. s6 tem sentido sob a do poder pelo poder, sem deixar-se anima r por qualquer propÓ·
cond1ca? de ele adquirir o hábito do recolhimen to _ em todos sito positivo. Com efeito, uma vez que, ou melhor, porque
os sentidos
,. , , da,, palavra.
. . •. O que se chama "fo"rça" d e uma per- o poder é o instrumento inevitável da política, sendo o desejo
son:1 11C1ade polltlca mdlca antes de tudo que eia · essa do poder; conseqüentemente, uma de suas fôrças motrizes, a
qualidade. ' ' possui
mais ridícula caricatura <la política é o mata-mouros que se di-
106
107
- 1
e '3 nm

O que ficou exposto já nos orienta para .ª discussão d~


verte com o poder como um nôvo-rico ou como um Narciso . blema de que nos ocuparemos esta noite, o problem
vaidoso de seu poder, em suma, como adorador do poder pelo últuno pro ,, d f d Qual é
' d lítica , enquanto. "causa , . a e en · -er. e a po-'
poder. Por certo q ue o simples politiqueiro do poder, objeto, d o etr)OS a po
também entre !lÔs, de um culto cheio de fervor, pode alcançar independentemente de seus f~ns p;op~ib~ ~a~i~d~t;~a vida?
grandes efeitos, mas tudo se perde no vazio e no absurdo. Os lítica pode desempenhar na econo;n:ia g o la 'd ;> Nesse
Qual é por assim dizer, o lugar et1co em que e ~es1 e.
que criticam a "política do poder" têm, nesse ponto, inteira r a-
ponto , as mais opostas concepções do m~do c ocam-s~ ~~s
zão. A súbita derrocada moral de certos representantes típicos
- ' tras un' pondo-se escolhe; entre e.as. Ataquemo ' pf ,
dessa atitude permitiu que fôssemos testemunhas da fraqueza com as ou , • em oco
e da impotência que se dissimulam por detrás de certos gestos resolutamente, êsse problema'. qu~ rec~ntemente se pos '
cheios de arrogância, mas inteiramente inúteis. Política dessa segundo creio, de maneira infeliz. - vul A
mas, Livremo-nos, antes de tudo, de uma contrafacçao gar.
ética pode, por vêzes, desempenha:_ um pap,el extrem~men~e d:~
ordem não passa jamais de produto de um espírito embotado,
soberanam ente superficial e medíocre, incapaz de apreender qual-
quer significação da atividade humana. Nada, aliás, está m ais
sa radável. Alguns exemplos. Nao, raro e q1:1e o . orne q .
ab~ndona sua espôsa por outra muTher expen~ente a necessi-
afastado da consciência do trágico, de que se penetra tôda ação,
dade de justificar-se perante a própria consciêncta, usan~o ~ pre-
e, em especial, tôda ação política do que essa mentalidade.
texto de que ela não era digna de seu amor, de que o avia e~­
Incontestável e constituindo elemento essencial da Histó- ganado ou invocando outras r azões dê~se gênero, q1.~t nunca f~~~
ria, ao qual não fazemos justiça em nossos dias, é o fato seguin- xam de existir. Trata-se, da parte desse ? on:em, e uma -
te : o resultado final da atividade política raramente correspon- de cortesia, que, não querendo limitar-se a sunples constataçao
de à intenção 0>riginal do agente. Cabe mesmo afirmar que de ue não mais ama sua ~spôsa, pr,o~ura - no .momento e~
muito raramente corresponde e que, freqüentemente, a relação ueqela se encontra na posição de vitima . - fabricar uma de
entre o resultado final e a intenção primeira é simplesmente pa- qul ósi'to de "1"ustifica:r" a atitude tomada: arroga-
c pa com o prop · . , "
radoxal. Essa constatação não pode, contudo, servir de pretex- eira um direito que se h1se1a em 1ançar ª. esposa
-se , d essa man ' ,
1 'm d- :~t:...l .. lirlarl,.
ri ·1
P que e e se que
txa . O
to para que se fujã à dedicação ao serviço de uma causa, pois tô das as culpas a1e '1 " "' "'"' ..... ~~--~ - - • -
que, se assim ocorresse, a ação perderia tôda a coerência interna. vencedor dessa' rivalidade erótica p~ocede nesses ~e~mos: ~nten-
Quanto à natureza da causa em nome da qual o homem político de ue seu infeliz adversário deve ser o menos digno' P?ls que
procura e utiliza o poder, nada podemos adiantar: ela depende . qd t d N-ao há nenhuma diferença entre essa atitude e
f 0 1 erro a o. d b Th
das convicções pessoais de cada um. O homem politico pode a do vencedor que após triunfar no campo e ata_ a, pro-
dedicar-se ao serviço de fins nacionais ou humanitários, sociais, clama com pretensã~ despr!!zÍvel: "'Venci porqu; razad est::O~ ª.
éticos ou culturais, profanos ou religiosos. P ode também· estar '100" O mesmo ocorre com o horoern que, a vista as a
apoiado em sólida crença no "progresso' - nos diferentes sen- com o • d l em vez
cidades da guerra entra em derroca a mora e que - . "
tidos dessa palavra - ou afastar totalmente essa crença; pode de dizer siroplesm~nte "era demasiado, não pude suportar ~ais.
pretender servir uma "idéia" ou, por princípio, recusar v~or a experimenta a necessidade de justificar-se perant~ a pr?pna
quaisquer idéias, para apenas cultuar fins materiais da vida co- consciência substituindo aquêle sentimento de c.ansaç? diante
tidiana. Seja qual fôr o caso, uma crença qualquer é sempre da gue rra ~or um outro e dizendo: "Eu não podia mais supor-
necessária, pois, caso contrário - e ninguém pode negá-lo - tru: aquilo, porque me obrigavam. a co~bater po.r uma ca':sa
a inanidade da criatura eclipsará até mesmo o êxito político moralmente injusta". Coisa semelhante pode ser dita a. respeito
aparentemente mais sólido. daquele que é vencido; em vez de se comprazer na at.1tude d~
velha comadre à procura de um "responsável" - pois que
· sm- ..l ~ rN•;PrlarlP nue engendra
sempre a estrutura mt: a u " "V'--''-"'~~v '"1
OS COO·
* -

109
108
flitos - , melhor faria êle se ad .
na, dizendo ao inimigo· "P d atasse uma atitude viril e dig.
.
ram. E squeçamos o passado d'
er emos a guerra e " . f
voces trmn a· Já se acreditou que exista oposição absoluta entre as duas teses:
· - .
se unpoe retmir da nova si·t _ e 1scutamos as con .. • ·
sequenctas que seria exata uma ou a ou tra. Cabe, entretanto, indagar se exis-
. . uaçao tendo em co t . ~ te uma ética que possa impor, no que se refere ao conteúdo,
matenazs que estavam em . • ' n a os mteresses
derando a responsabilidad Jogo e - ponto essencial - consi- obrigações idênticas aplicáveis às relações sexuais, comercinis,
. 1 e perante o fu turo privadas e públicas, às relações de um homem com sua espéisa,
i;ie1ro ugar, sôbre o vencedor" T "d , que i::esa, em pri-
d~ota simpiesmente ausência de dio ~do~tra man,eua de reagir sua quitandeira, seu fill10, seu concorrente, seu amigo e seu m1-
mais cedo ou mais tarde U gi_:i a e e tera de ser paga migo. Pode-se, realmente, aa-editar que as exigências éticas
juízos materiais que Jhe. :- ~a naçao sempre perdoa os pre- permaneçam indiferentes ao fato de que tôda política utiliza
f ~ sao impostos mas - d como instrumento específico a fôrça , por trás da qual se per-
n rontn n sun honra sobretudo d , nao per oa uma
predicador, que· pre:ende t ~unn o se age il maneira de um filha n violência? Não nos é dado constatar que, exatamente
t . er razao a qualquer pr D por haverem recorrido à violência, os teóricos do bolchevismo
os novos trazidos a conheciment ' bl' d eço. ocumen-
o término de um conflito só d o pu ico ezenas de anos após e do espartaquismo chegam ao mesmo resultado a que chegam
tar clamores injustificados, ~~e;amete;cllomo resultado o desper- todos os outros ditadores militares? Em que se distingue o do-
esquecer a guerra moraLn o o, quando melhor seria mínio dos "Conselhos de trabalhac:l~ n:s e soldados" do domínio
nada. Tal atitud~ só é ent,e ao menos, depois de ela termi- de não importa que organismo Jetentor do poder no antigo re-
senso da realid!ade o se!ossivel,lhe~tretanto, quando se tem o gime imperial - senão pelo fato de que os atuais manipulado-
senso da dignidade' E es o ca~a d e1~esco e, acima de tudo o res do poder são simples dii.etantes? Em que a arenga da maio-
"é . ,, . sa atttu e impede d ' ria dos defensores da pretensa ética nova - mesmo quando
t1ca que, em verdade sem , que se a ote uma
dignidade de ambos os lados pr~ e te~e?Junho de. uma falta de êles criticam a dos adversários - difere da de um outro dema-
se preocupa com a culpab 'lid. d sta t1ma espécie de ética só gogo qualquer? Dir-se-á que pela nobreza da intenção. Muito
ponto de vista político po1r a e. no l~asslado, questão estéril do bem. Contudo, o que, no caso, se discute é o meio, pois os
• que mso uve · e nã h adversários reiveindicam exatamente da mesma forma , com a
êllpar-se com o que se constit , , / o ~ ega a preo-
político, ou seja, o futuro e u1 no tnteres~~ próprio do homem mesma e completa sinceridade subjetiva, a nobreza de suas pró-
turo. Se existem crimes li .ª responsabilidade diante do fu. prias intenções últimas. "Quem recorre à espada, morrerá peia
P.roceder. Além disso, um~º tati1'o~, um dêles ~ essa maneira de espada" e, por tôda a parte, a luta '~ a luta. E então?
ctonal de nos impedir de abt1tude tem o Inconveniente adi- A ética do Sermão da Montanha? O Sermão da Montan ha
t d é . . percc er até que po t bl - onde se traduz, segundo entendo, a ética absoluta do Evan-
o o mevttàvel':lente false d . • n o o pro ema
têsse do vencedor de tirar o a o. por mte~esses materiais: inte- gelho - é algo muito mais sério do que imaginam os que, em
alcançada - trate-se de int r;:ia1or prov~1to po_ssível da vitcSria nossos dias, citam, com leveza, seus mandamentos. A leveza não
rança do vencido de trocar ~e;se mate.ria] ou moral - , espe- cabe. O que se disse a propósito de causalidade em ciência
por certas vantagens Se h, econhdec1mento de culpabilidade aplica-se também à ética: não se trata de um veículo que se pos-
t o ,, , e, exatamente isso . Ei a no mun o alguma coisa . de " ab'Je- sa deter à vontade, para descer ou subir. A menos que ali só
utilizar a ética para te~ sems o que_ resulta, quando se pretende se enxergue um repositório de trivialidades, a ética do Evange-
e pre razao. lho é uma ética do "tudo ou nada". A parábola do jovem rico
orno se coloca en tão o bl d
ções entre a étic:a e ; polític' ;> ~ro, ema as ve1:dadeiras rela- nos diz, por exemplo: "E êle se foi de coração triste, porque
~ue não há qualquer relaçãoa~ntr era cert~, corno Já se afirmou, possuía muitos bens". O mandamento do Evangelho é incon-
rta mais acertado afirmar p 1 e es:~s uas esferas? Ou se- dicional e unívoco: dá tudo o que possuas - absolutamente
•. ,,1:d- , e o contrario que a me , . tudo, sem reservas. O político dirá que êsse mandamento não
vau " pãrã ã ação polític . ' sma et1ca é
a e para qualquer outro gênero de ação? passa de uma exigência social irrealizável e absurda, que não se
110 aplica a todos. Em conseqüência, o político proporá a supres-

111
são da propriedade por taxação, imposição, confisco - em suma, conclusão de que se impunha publicar todos os documentos,
coação e a regulamentação dirigida contra todos. O mandamen- principalmente os que humilham o p~6prio p~ís,. para pôr em
to ético não se preocupa, entretanto, com isso e essa despreo- evidência, à luz dessas testemunhas msubornave1s, o reconhe-
cupação é sua essência. ~le ordena ainda: "Ofereça a outra cimento de uma culpabilidade unilateral, incondicional e que se
face!" Imediatamente e sem indagar por que o outro se acha despreocupa das conseqüências. O político entenderá que essa
com direito de ferir. Dir-se-á que é uma ética sem dignidade. maneira de agir; a julgar pelos resultados, longe de lançar luz
Sim - exceto para o santo. É exatamente isso: é preciso ser sôbre a verdade, irá obscurecê-la, pelos abusos e pelo dese.ncã·
um san to ou, pelo menos desejar sê-lo e viver como Jesus, como deamento de paixões que provocará. Sabe o político que só a
os Apóstolos, como São Francisco de Assis e seus companheiros, elaboração metódica dos fatos, procedida imparcialmente, pode-
para que a ética adquira sentido e exprima uma dignidade. rá produzir frutos, ao passo que qual!quer outro método acarre-
Caso contrário, não a terá . Conseqüentemente, se a ética a- tará, para a nação que o empregue, conseqüências q?e, talvez,
-cósmica do amor nos diz: "Não resistas ao mal pela fôrça'', exijam anos para deixarem de manifestar-se, Para dizer a ver-
o político, ao contrário, dirá: "Deves opor-te ao mal pela fôrça dade, se existe um problema de que a ética absoluta não se
ou serás resp9nsável pelo triunfo que êle alcance." Aquêle que ocupa, êsse é o problema das conseqüências.
de_;;eja agir de acôrdo com a ética do Evangelho deve renunciar Desembocamos assim na questão decisiva. I mpõe-se que
a razer greve - a greve é uma coação - e não lhe restará so- nos dêmos clarame~te con~a do fato seguinte: tôda a atividade
lução outra que .não a de filiar-se a um sindicato amarelo *. E orientada segundo a ética pode ser subordinada a duas máxi~as
deve, acima de tudo, abster-se de falar de "revolução". Com inteiramente diversas e irredudvelmente opostas. Pode orien-
efeito, a ética do Evangelho não deseja ensinar que s6 a guerra tar-se segundo a ética da respon_sabilidade o~ . segundo a .éti~a
civil seria uma guerra legítima. O pacifista que age de éonior- da convicção. I sso. não quer dizer que a et1ca da conv1cçao
midade com as regras do Evangelho deporá as armas ou as lan- equivalha a ausência de responsabilidade e a ética ~a resp~nsabi­
çará longe em respeito ao dever ético, tal como se recomenaou lidade a ausência de convicção. Não se trata dISSo, evidente-
na Alemanha, para pôr fim não só à guerra como a tôdas as mente'. Não obstante, há oposição profunda entre a atitude de
guerras. O político, ao contrário, dirá: "O único meio se- quem se conforma às máximas da ética da convicção - diría-
guro de desacreditar a guerra para todo o futuro previsível te- mos, em linguagem religiosa, "O cristão cumpre seu dever e,
ria sido uma paz imediata, fundada sôbre o status quo. Com quanto aos resultados da ação, confia em Deus" - e a atitude
efeito, nessa hip<Stese, os povos ter-se-iam perguntado: de que de quem se orienta pela ética da responsabilidade, que diz :
nos serviu a guerra? E o absurdo da guerra ter-se-ia pôsto em "Devemos responder pelas previsívelis conseqüências de nossos
evidência - solução que já não é mais possível adotar. A guer- atos". Perderá tempo quem busque mostrar, da maneira a
ra será, com efeito, pollticamente vantajosa para os vencedores mais persuasiva possível, a um sindicalista apegado à verdade
ou, pelo menos, para uma parte dêles. A responsabilidade por da ética da convicção, que sua atitude não terá outro efeito
·tal situação cabe à atitude que nos privou de tôda a possibili- senão o de fazer aumentarem as poss ibilidades de reação, de re-
dade dessa resistência. Dentro em pouco, entretanto - quando tardar a ascensão de sua classe e de rebaixá-la ainda mais - o
ultrapassado o período de cansaço - estará desacreditada a sindicalista não acreditará. Quando as conseqüências de um
paz e não a guerra: conseqüência da ética absoluta . ato praticado por pura convicção se revelam desagradáveis, o
H á, por fim, o dever da verdade. É também êle incondi- partidário de tal ética não atribuirá responsabilidade ao agente,
cional, do ponto de vista da ética absoluta. Daí se retirou a mas ao mundo, à tolice dos homens ou à vontade de Deus, que
assim criou os homens. O part idário da ética da responsabili-
dade, ao contrário, contará com as fraquezas comuns do homem
* Sindicato desvirtuado de suas finalidades de defesa de classe. NT. (pois, como dizia muito proc~dentemente Fichte, não temos o
112
113
direito de pressupor a bondade e a perfeição do homem ) e en-
tenderá que não pode lançar a ombros alheios as conseqüências
previsíveis de sua própria ação. Dirá, portanto: "Essas con-
l acreditar que mesmo uma robusta ccinv1cçao socialista ·rejeitasse
um objetivo que requer tais meios. O problema não assume
feição diversa no caso do bolchevismo, do espartaquismo e, de
modo geral, no caso de qualquer outra espécie de socialismo re-
seqüências são imputáveis à minha própria ação". O partidário
volucionário, pois é perfeitamente ridículo, da parte dos revo-
da ética da convicção só se sentirá " responsável" pela necessi-
lucionários, condenar em nome da moral a "política de fôrça"
dade de velar em favor da chama da doutrina pura, a fim de que
praticada pelos homens do antigo regime) quando) afinal de con-
elâ nãõ se exruo.ga, àe velar, por exempio, para que se man- tas êles s~ utilizam exatamente dêsse meio - por mais justifi-
tenha a chama que anima o protesto contra a injustiça social.
cada que seja a posição que adotam quando repelem os objeti-
Seus atos, que só podem e só devem ter valor exemplar, mas
vos de seus adversários.
que, considerados do ponto de vista do objetivo essencial, apa-
recem como totalmente irracionais, visam apenas àquele fim: Parece, portanto, que é o problema da justificação dos meios
estimular perpetuamente a chama da própria convicção. pelo fim que, em geral, coloca em cheque a étic~ ?~ convicçã3.
De fato, não lhe resta, logicamente,. outra possibilidade senao
E sta análise~ não esgota, entretanto, a matéria. A nenhu- a de condenar qualquer ação que faça apêlo a meios moralmente
ma ética é dad•J ignorar o seguinte ponto: para alcançar fins
perigosos. E importa acentuar: logicamente. ·ACo.m .efeito, no
"bons", vemo-nos, com freqüência, compelidos a recorrer, de mundo das realidades, constatamos, por expenencia incessante,
uma parte, a meios desonestos ou, pelo menos, perigosos, e com- que o partidário da ética da convicção torna-se, bruscamente,
pelidos, de outra parte, a contar com a possibilidade e mesmo a um profeta milenarista e que os mesmos indivíduos que, alguns
eventualidade de: conseqüências desagradáveis. E nenhuma ética minutos antes, haviam pregado a doutrina do "amor oposto à
pode dizer-nos a que momento e em que inedida um fim moral- violência" fazem , alguns instantes depois, apêlo a essa mesma
mente bom justifica os meios e as conseqüências moralmente fôrça - à fôrça última que levar~ à destruição de tôda violên-
perigosos.
cia - , à semelhança dos chefes militares alemães que, por oca-
r\ • ..J • '
'-' mstrume:nto uewsivo ..J
uã po1itiCã
1' •
e, ã viõ1eficia.
• ' "' • n 1
roae-se siãõ de cãdã ofensivã, prndãmãvãm: é ã últimã, ã que nos con-
ter idéia de até onde estender, âo ponto de vista ético, a tensão duzirá à vitória e nos trará a paz. O partidário da ética da con-
entre meios e fim, quando se considera a bem conhecida atitude vicção não pode suportar a irracionalidadé ética do mundo. ~le
dos socialistas revolucionáí."ios da corrente Ziromerwald. Já du- é um racionalista "cosmo-ético". Aquêles que, dentre os senl-o-
rante a guerra, 1~es se haviam declarado favoráveis a um prin- res conhecem Dostoiewski poderão, a esfa altura, evocar a cena
cípio que se pode exprimir, de maneira contundente, nos têr- do' Grande Inquisidor onde êsse problem:\ é exposto de maneira
mos seguintes: "Postos a escolher entre mais alguns anos de adequada. Não é possível conciliar a ética da convicção e a
guerra seguidos de uma révolução e a paz imediata não seguida ética da responsabilidade, assim como não é possível, se jamais
de uma revoluç:fo, escolhemos a primeira alternativa: mais al- "e fizer qualquer concessão ao princípio segundo o qual o firo
guns anos de guerra! A pergunta - que pode proporcionar essa justifica os meios, decretar, em nome· da moral, qual o fim que
revolução?, todo socialistà qué raciocine cientificamente, con- justifica um meio determinado.
formando-se aos princípios de sua doutrina só pode oferecer Meu colega, F . W. Foerster, por quem tenho alta estima,
uma resposta: no momento, não se pode falar de passagem para em razão da incontestável sinceridade de suas convicções, mas
uma economia que se poderia chamar socialista, no sentido pr~ a quem recuso inteiramente a qualidade de homem político, acre-
prio do têrmo; uma economia de tipo burguês ressurgiria, ape-
dita poder contornar essa dificuldade preconizando, num dos li-
nas despida de vestígios de feudalismo e de elementos dinásti-
vros que escreveu, a tese seguinte: o bem só pode engendrar
cos. É, portant.o, para alcançar êsse modesto resultãdõ quê se o bem e o mal só pode engendrar o mal. Se assim fôsse, o pro-
aceitarLm " mais alguns anos de guerra". Seria desejável poder

114 115
blema deixaria de existir . É verdadeiramente espantoso que dessa forma o darma· de cada uma das castas, desde os ascetas
tese semelhante haja podido merecer publicidade, dois mil anos e brâmanes ~té os vis e os párias, no interior de uma hierarquia
depois dos Upanishades. O coouário nos é dito não só por que se conformava às leis imanentes, próprias de cada profissão.
tôda a História universal, mas também pelo imparcial exame Guerra e política encontraram, nesse esquema, o seu lugar. Que
da experiência CQtidiana . O desenvolvimento de tôdas as re- a guerra faça parte integrante da vida é coisa que se verifica
ligiões do mundo se fêz a partir da verdade da opinião oposta. lendo na Bhagavad Gita a conversa que mantêm Krishna e Arjuna.
O antiqüíssimo problema da teodicéia enfrenta exatamente a "APe a -
como necessário".
-- - ,
isto é o dever que
...
te é impôs
-
to pelo dar-
questão de saber como pode dar-se que um poder, apresentado, ma da casta dos guerreiros e observa as prescrições que a regem
ao mesmo tempo, como onipotente e bom, haja criado êste mun- ou, em suma, realiza a "obra" objetivamente necessária que cor-
do irracional, povoado de sofrimentos imerecidos, de injustiças responde à fi nalidade de tua casta, ou seja, guerrear. Nos têr-
não castigadas e de inconigível estupidez. Ou êsse poder é mos dess::i crença, cumprir o destino de guerreiro estava longe
onipotente e bom, ou não o é, ou nossa vida é governada por prin- de constituir ameaça para a salvação da alma, constituindo-se, ao
cípios inteiramente diversos de recompensa e de sanção, princí- contrário, em seu sustentáculo. O guerreiro hindu estava sem-
pios que só é posfvel interpretar por via metafísica, se é que pre tão certo de que, após morte heróica, alcançaria o céu do
não escapam int~!iramente à nossa capacidade de compreensão. Indra quanto o guerreiro germãnico de ser recebido no Walhal-
~sse problema, a experiência da irracionalidade do mundo, foi la · sem dúvida o guerreiro hindu desdenharia o nirvana tanto
' ,
a fôrça motriz do desenvolvimento de tôdas as religiões. A dou- quanto o guerreiro germânico desdenharia o paraíso cristão com
trina hindu do karma, a do dualismo persa, a do pecado original, seus coros de anjos. Essa especialização da ética permitiu que
a da predestinação e do Deus absconditus nasceram tôdas dessa a moral hindu fizesse da arte real da política uma atividade per-
experiência. Também os primeiros cristãos sabiam perfeitamen- feitamente conseqüente, subordinada a suas próprios leis e sem-
te que o mundo estava dominado por demônios e que o indiví- pre mais consciente de si mesma. A literatura hindu chega a
duo que se comprometesse com a política, isto é, com os insuu- oferecer-nos uma exposição clássica do " maquiavelismo" radical,
mentos do poder e da violência -estava concluindo um pacto com no sentido popular de maquiavelismo ; basta ler o Arthaçastra,
potências diabólicas; sabiam aquêles cristãos não ser ve'rdade que de Kautilya, escrito muito antes da era cristã, provàvelmente
o bem gerasse unicamente o bem, e o mal unicamente o mal: quando governava Chandragupta. Comparado a êsse documento,
constata-se, antes e com muita freqüência, o fenômeno inverso. O Príncipe de Maquiavel, é um livro inofensivo. Sabe-se que na
Quem não o veja é, poHticamente falando, uma criança. ética· do catolicismo, da qual, aliás, o professor Foerster tanto
A ética religiosa acomodou-se de diversas maneiras a êsse se aproxima, os consilia evangelica constituem uma moral espe-
fundamental estado de coisas, que nos leva a situar-nos em di- cial, reservada para aquêles que possuem o privilégio do caris-
ferentes regimes de vida, subordinados, por sua vez, a leis igual- ma da santidade. Ali se encontra, ao lado do monge, a quem é
mente diversas. O politeísmo helênico sacrificava, ao mesmo defeso derramar sangue ou buscar vantagens econômicas, o cava-
tempo a Afrodite e a H era, a Apolo e a Dioniso, sabendo que leiro e o burguês piedosos que têm o dfreito, o primeiro de der-
êsses deuses freqüentemente se combatem. O sistema hindu ramar sangue e o segundo de enriqueoer-se. Não há dúvida de
fazia de cada uma das profissões o objeto de uma lei ética par- que a diferenciação da ética e sua integração num sistema de rnl-
ticular, de um drama, estnbelecendo entre elas uma separação vação apresentam-se, aí, menos c'.:.nseqüentes do que na índia;
definitiva, por castas que, em seguida, integrava numa hierar- não obstante, em razão dos pressupostos da fé cristã, assim poJia
quia imutável. O indivíduo nascido numa casta não tinha pos- e mesmo devia ser. O doutrina da corrupção do mundo pelo
sibilidade alguma de libertar-se dela, a não ser por reencarnação, pecado original permitia, com relativa facilidade, integrar a vio-
em vida futura. Cada profissão encontrava-se, conseqüentemente, lência na ética. enquanto meio, para combater o pecado e as he-
a uma dis tância diferente da salvação suprema. Estabeleceu-se, resias que se ~rige~, precisam~o'te, em perigos p~ra a alma. Não

116 117
obstante, as exigencias a-cósmicas do Sermão da Montanha, sob de contar com seguidores, isto é, com uma organização humana.
forma de urna pura ética de convicção, e o direito na tural cris- Ora, essa organização não atua? a :n:nos que se lh~ .faça ~ntrever
tão, compreendido como exigência absoluta fundada naquela dou- indispensáveis recompensas ps1colog1cas ou matena1s, ~eia~. ter-
trina, conservaram seu poder revolucionário e vieram à tona, restres ou celestes. Acima de tudo, as .recomp~nsas ps1cologicas:
com todo o furor, em quase todos os períodos de perturbação nas modernas condições de luta de classes, .tais rec~mpensas se
social. Deram, em particular, nascimento a seitas que profes- traduzem pela satisfação dos ódios, _dos de~;io~ de vm.ganç.a, dos
sam um pacifismo radical; uma delas tentou erigir, na Pensil- ressentimentos e, principalmente, da teodencta ?.~eu?o-ética de
vânia, um Estado que se propunha a não utilizar a fôrça em suas ter razão a qualquer preço, saciando, por consequenc1~, a neces-
relações exteriores - experiência que se revelou, aliás, trágica, sidade de difamar o adversário e de acusá-lo de he~esia. Apare-
na medida em que, quando da Guerra da Independência norte- cem em seguida as recompensas de caráter material: aventura,
- americana, impediu os Quakers de intervirem, de armas na mão, vitó~ia, prêsa, p~der e vantagens. O ê~ito _do chefe d:pende,
num conflito cujo objetivo era, entretanto , a defesa de ideais por completo, do funcionamento da orgamzaçao com .q ue êle con·
idênúcos aos por êles cultivados . Em posição oposta, o protes- te. Por êsse motivo, êle depende também dos. sentimentos que
tantismo comum reconhece, em geral, o Estado como válido e, inspirem seus partidários e não apenas dos sentunentos que pe~­
conseqüentemente, o recurso à violência como uma instituição soalmente 0 inspirem. Seu futu ro dep,ende, portanto, da possi-
divina; justifica, muito particularmente, o Estado au toritário bilidade de assegurar, de maneira durável,. tô1as essas recompen-
legítimo. Lutero retirou do indivíduo a responsabilidade ética sas aos partidários de que não pode prescindir, trate-!e?ª guar-
pela guerra e a :atribuiu à autoridade política, de sorte que obe- da vermelha de espiões ou de agitadore:s. O chefe nao e senhor
decer às autoridades em matérias outras que não as de fé jamais absoluto do; resultados de sua atividade, devendo curvar-se tam-
poderia implicar culpa. O calvinismo também admitia a fôrça bém às exigências de seus partidários, e~~ê?cias que po?e.m ser
como um dos mc!ios para ..a defesa da fé e legitimava, conseqüen- moralmente baixas. ~le terá seus p:uttdanos sob domm10 e~­
temente, as guerras de religião. Sabe-se que essas guerras santas quanto fé sincera em sua pessoa _e na. c~;isa que ?~~e_nde sei.a
sempre foram d emento vital púa o islamismo. Vê-se, portsnto, depositada pelo menos por um~ ;ra!fo ?ess~s partidanos, p~is
que não foi, de modo algum, a descrença moderna, brotada do jamais ocorreu que sentimentos 1dent1cos inspirem sequer a ma10-
culto que a Ren:ascença dedicou aos heróis, que levantou o pro- ria de um grupo humano. Aquelas ccmvic:ções, mesi:io quando
subjetivamente as mais sinceras, ~ão ~e;rve ~, em realidade e na
blema da ética política. Tôdas as religiões, com maior ou menor
êxito, enfrentaram êsse problema e a exposição feita deve ter 1 1
maioria das vêzes, senão para 1ust1fncar moralmente os Ade-
bastado para mostrar que não poderia ter sido de outro modo. sejos de vingança, de poder, de lucros e de v~ntagens. . A e~te
A originalidade própria dos prÓblemas éticos no campo d~ polí- respeito, não permitiremos q~e ,n?s c.~mtem ~abulas, pois a in-
tica reside, pois, em sua relação com o instrumento específico terpretação mat.e rialista da H1stona nao é ve1cul~ em que pos-
da violência legítima, inscr-umen to de que dispõem os agrupamen- samos subir à nossa vontade e que se detenha diante dos pro-
tos humanos. motores da revolução. E importa, sobretudo, não esquecer que
Seja qual fôr o objetivo das ações que pratica, todo homem à revolução animada de entusiasmo sucederá sempre ~. rottna,
que pactua com aquêle instrumento - e o homem político o cotidiana de uma tradição e que, nesse momento, o hero1 da · fe
faz necessàriamente - se e.xpõe às conseqüências que êle acar- abdicará e a própria fé perderá em vigor ou se transformará -
reta. E isso é particularmente verdadeiro para o indivíduo que êsse o mais cruel destino que pode ter - em elemento da ~ra­
combate por suas convicções, trate-se de militante religioso ou seologia convencional dos ped~ntes e .dos técnicos ?~ política.
de militante revolucionário. Atrevidamente, tornemos como Essa evolução ocorre de maneira particularmente rapid~ qua~­
exemplo a época atual. Quem quer que, utilizando a fôrçs, de- do se trata de lutas ideológicas, simplesmente porque esse ge-
seje instaurar a justiça social sôbre a Terra sentirá a necessidade nero de lutas é, via de regra, dirigido ou inspirado por chefes

118 119
autênticos, os profetas da revolução. Nesse caso com efeito M{lquiavel alude a taf situação e põe na bôca de um dos heróis
c~mo, em geral, em tôda atividade que reclama ~ma orgaruza~ de .t<'lorença, que rende homenagem a seus concida~ãos, ~s se-
~ª? d~votada ao chefe, uma das condições para que se alcance guintes palavras : " Eles preferiram a grandeza da e1dade a sal-
exito e a despersonalização e o estabelecimento de uma rotina vação de suas almas".
em suma, a p~oletarização espiritual, no interêsse da discipli~ Se, em vez de cidade natal ou de "pátria", palavras que,
na. Essa a razao por que os partidários vitoriosos de um chefe em nossos dias, já não têm uma significação unívoca, falarmos em
n11P l11t~ l"'lnr
"1-- · - · - :-~·
•:i•ac rn,..," icçn-PA
~-··..
P t
--:> -Il.!am -
J
nP nrn1n a r10
1· ' · ,
w - w P
-, ...... - - ·--.. ...... ' ...r aniHn-
r ....... :: "futuro do socialismo" ou em "paz internacional" estaremos
mente - em processo de degeneração, transformando-se em empregando expressões que correspondem à manei.rã moderna
massa de vulgares aproveitadores. de colocar o problema. Com e.teito, todos êsses objetivos que
não é possível atingir a não ser através da atividade política
* - onde necessàriamente se faz apêlo a meios violentos e se
acolhem os caminhos da ética da responsabilidade - colocam
. Que~ deseje dedi~~r-se à p~lítica e, principalmente, quem em perigo a "salvação da alma". E caso se procure atingir êsses
dese1~ ... d~1ca~-se à poht1ca em termos de vocação deve tomar objetivos ao longo de um combate ideológico orientado por
~on~c1 enc1a desses paradoxos éticos e da responsabilidade quanto uma ética da convicção, há risco de provocar danos grandes e
aquilo em que êle próprio poderá transformar-se sob pressão descrédito, cujas repercussões se farão sentir durante gerações
d_aquel_es ?~radoxos. Repito que êle se compromete com potên- várias, porque não existe responsabilidade pelas conseqüências.
c~as d1abolicas que atuam com tôda a violência. Os grandes Nesse caso, em verdade, o agente não tem consciência dos dia-
virtuosos do amor e da bondade a-cósmica do homem venham bólicos podêres que entram em jôgo. Ora, êsses podêres são ine-
êles de Naz~ré, de Assis ou d.e reais castelos indianos não opera- xoráveis e, se o indivíduo não os percebe, será arrastado a uma
ram com o instrumento políttco da violênci2. O reino que pre- série de conseqüências e a elas, sem mercê, entregue; e as re-
gavam não era "dêste mundo" e, entretanto, êles tiveram e con- percussões se farão sentir não apenas em sua forma de atuar,
. : -.. .. r. -
!'" tl. ,...~,..·" ....
.... ..,. _ ,.. .. : .... ,.J •
LlUU CU.U C1 eAt..1\..e.l JuuUCu'-l.a ueste munuo. lis figuras de Platão mas também no fundo de sua alma. "O diabo é velho". E quan-
~~.ratajev e _do~ santos de Dostoiewski são, por certo, as mai~ do o poeta acrescenta ''envelhecei para entendê-lo", por certo
f1e1s r_econst1tu1çõ~s dêsst! gên'ero de homens. Quem deseja a que não se está referindo a idade em têrmos cronológicos. Pes-
sal_vaçao da p~ÓJPrta alm~ ?~ de almas alheias deve, portanto, soalmente, jamais admiti que, ao longo de uma discussão, se pro-
~vltar os cam1~1os ~a política que, por vocação, procura rea- curasse garantir vantagem exibindo a ce~tidão de nascimento. O
lizar r_arefas mui to diferentes, que não podem ser concretizadas simples fato de que um de meus interlocutores tem vinte anos,
sem v10!ência . O gênio, ou demônio da política vive em estado quando eu já passo dos cinqüenta, não pode, afinal de contas,
de ten~ao_ extrema com o Deus do amor e também com o Deus autorizar-me a pensar que isso constitua uma conquista diante da
dos . cnstaos, tal _como êste ~e manifesta nas instituições da qual se imponha uma respeitosa inclinação. Não importa a ida-
I~re1~- E;sa tensao pode, a qualquer tempo, explodir em con- de, mas sim a soberana competência do olhar, que sabe ver as
flito msolu~el. Is.so os homens já sabiam, mesmo ao tempo em realidades da vida, e a fôrça de alma que é capaz de suportá-las
q~e a Igre1a dommava. Repetidamente o interdito papal atin- e de elevar-se à altura delas.
gia Florença - e, naquela época pressão tal pesava muito mais Certo que a poütica se faz com o cérebro, mas indiscutível,
for:emente sôbrc os homens e muito mais lhes ameaçava a sal- também, que ela não se faz exclusivamente com o cérebro. Quan-
~~çao da alma d~ que a "fria aprovação" (como diz Fichte) do to a êsse ponto, razão cabe aos partidários da ética da convic-
Juiz~ moral kantiano - e, entretanto, os habitantes da cidade ção. Não cabe recomendar a ninguém que atue segundo a ética
~~~··~ .. a·.n- -o..
\..VUUUU va1u d UJ ver ~uerrâ aos LStados n..............
ft P ' · "C", . . . i...,.1 . . ....... r da convicção ou segundo a ética da rc!sponsabilidade, assim como
. . . rapttl.'.>. .i..J IU UI... a pa;::,-
d
Sagem e suas Hrst6nas Florentmas, se exata minha lembrança, não cabe dizer-lhe quando observar mna e quando observar outra.
120
121
Só cabe dizer-lhe uma coisa: quando, hoje em dia, num tempo siasmo despertado pela atual r evolução -- eu gostaria de saber
de excitação que, a seu ver, não é estéril - saiba entretan- em que se terão transformado interiormente. Muito agradável
. '
to, que a excitação não é sempre e nem mesmo genulnamente serir., sem dúvida, que as coisas pudessem passar-se co mo em
uma paixão autêntica - vemos subitamente surgir, de tôda par- Shakespeare, sonêto 102 :
te, homens políticos animados pelo espfrito da ética da con-
vicção e proclamando: "Não eu, mas o mundo é que é es- Nosso jovem amor atravessava a primavera
túpido e vulgar; a responsabilidade pelas conseqüências não Quando, em seu iouvor, cantos eu erguia;
cabe a mim, porém àqueles a cujo serviço estou; não obstan. Também Filomel, sendo verão , cantava
te, esperem um pouco e eu saberei destruir essa estupidez e E detinha o canto em oportuno dia.
essa vuJga~idade" - ?Jante de tal situação, confesso que, an-
tes do mais, proc:uro Informar-me acêrca do equilíbrio interior T al não é, porém, o caso. Pouco importa quais sejam os g_:upos
dêsses partidários da ética da convicção. Tenho a impressão políticos a quem a vitória tocará: não. nos espe~a a floraçao do
de que, nove vêzes em dez, estarei diante de balões cheios de estio mas antes uma noite polar, glacia.l, sombria e rude. Com
' , , . d
vent~, sem consciência das responsabilidades que assumem e efeito, quando nada existe, não somente .º ~mpera or, mas tam·
embriagados de sensações românticas. D e um ponto de vista bém o proletário tem perdidos os seus direitos. E quando ess.a
humano, isso não me interessa muito, nem me comove noite se houver lentamente dissipado, quantos, daqueles que vi-
absolutamente. Perturbo-me, ao contrário, muito profunda- veram a atual e opulenta primavera, estarão ainda vivos? Em
me~te, diante da atitude de um homem maduro - seja velho que se terão transformado no s~u f~ro ~nterior? !'Jão lhes ~es­
ou )Ovem - que se sente, de fato e com tôda a alma, responsá- tará mais que amargor e grandiloquência? Ou simples aceita-
vel pelas conseqüências de seus atos e que, praticando a ética ção resignada do mundo e da profissão? Ou ter~o .adotad~ uma
da responsabilidade, chega, em certo momento, a declarar: "Não última solução que não é a menos comu~: renuncia ro1st1~ ao
posso agir de outro modo; detenho-me aqui". T al atitude é au- mundo por todos quantos dotados para isso ou - como, mfe-
têntican:ente humana e é comovedora. Cada um de nós, que não lizmentd acontece com freqüência - por rodos quantos ã tan-
tenha amda a alma completamente mona, poderá vir a encon- to se se~tem compelidos pela moda. Em qualquer dêsses casos,
trar-se em tal situação. Vemos assim q ue a ética da convicção e a eu tirarei a seguinte conclusão: niío estavam à altura da. tarefa
ética da r7sponsabilidade não sé contrapõem, mas se completam que lhes incumbia, não tinham dimensão. para se medtt com
e, em con1unto , formam o homem autêntico isto é um homem o mundo tal como êle é e tal como ordlinànamente se apresenta;
que pode aspirar à "voéação política". ' ' em nenhum caso possuíam, nem objetiva, nem posit!":amente,
Meus caros ouvintes, dentro de dez anos 1 teremos t~lvez no sentido profundo do têrmo, a vocaçã~ para . a política .q ue,
oportunidade de voltar a falar dêste assunto. Naquela 'ocasião' entretanto, julgavam possuir. Melhor teriam feito, se cultivas-
receio que, infelizmente e por mútiplas razões, a Reação já no~ sem modestamente a fraternidade de homem para homem e,
terá, de há m~ito , dominado. É provável que pouco do que os quanto ao resto, se entregassem, com simplicidade, ao trabalho
se~hores. almeiarnm. e esperaram e do que também esperei se cotidiano.
haia realizado. Muito pouco, segundo tudo leva a acreditar - A política é um esfôrço tenaz e enérgico para atravessa.r
para não dizer que absolutamente nada. I sso não me abaterá, grossas vigas de madeira. Tal esfôrç~1 exige, a um te~po, pai-
mas confe~~o-~es qu~ pesa como um fardo íntimo sôbre quem xão e senso de proporções. É perfeitamente exato dizer - e
te~ consctencia da situação. Eu gostaria d~ saber em que se tôda a experiência hist6rica o confirma - que não se teria ja-
terao transformado, dentro de dez anos, aquêles dentre os se- mais atingido o possível, se não se houvesse tentado o impossí-
nhores que, presentemente, guardam o sentimento de serem vel. Co;tudo, Ô homem capaz de semeihante esfôrço deve ser
verdadeiros "políticos por convicção" e que participam do entu- um chefe e não apenas um chefe, ma.s um herói, no mais sim-
122
123
ples sentido da palavra. E mesmo os que não sejam uma coisa Outras obras d e interesse:
nem outra devem nrmnr-se dn fôrçn de nlmn que lhes perm iln
vencer o naufrágio de tôdas as suas esperanças. Importa, en-
tretanto, que se armem desde o presente momento, pois de ou- SOCIOLOGIA. ANTROPOLOGIA E POLlTICA
tra forma não virão a alcançnr nem mesmo o que boje é possí-
vel. Aquêle que esteja convencido de que não se abaterá nem A CONTROVERSIA ESTRUTURALLST A - R. Macksey
mesmo que o mundo, julgado de seu ponto de vista, se revele e E. Do11ato (o rgs.)
demasiado estúpido ou demasiado mesquinho para merecer o SOCIEDADE: UMA INTRODUÇAO A. SOCIOLOGIA*
que êle pretende oferecer-lhe, aquêle que permaneça capaz de - Ely Chi11oy • .
MALTHUS" - Jean-Ma rie Poursrn e (,abnel Du puy
dizer "a despeito de tudo!" , aquêle e só aquêle tem a "vocação" A SOClOLOGIA AMERlCANA - Talc-011 Parsons (o rg.)
da política. crgNCIA E POL!TICA: DUAS VOCAÇOES - Max Weber
O CONTRATO SOCIAL - Rousseau
DIALOGOS POL1TICOS - Maurice Cranston
A CRISE DA SOCIEDADE INDUSTRIAL -
Norman Birn baum
ESTRUTURALISMO E ANTROPOLOGIA - Dan Sperber
INTRODUÇAO A ANTROPOLOGIA - Ashley Montagu
GUIA PRATICO DE ANTROPOLOGIA - Dimsos Autores
A SOCIOLOGIA E A MODERNA TEORIA DOS
SISTEMAS • - Walter Buckley
PODER POL1TlCO E TEORI A SOClAL -
Barrrn gton Moore, Jr.
TRATADO DE SOCIOLOGIA DO TRABALHO ( 2 vols.} *
- Fri~dma:::: e Naville
TEMAS BASICOS DA SOCIOLOGIA '' - Horkheimer e
Adorno ( orgs.)
O DESAFIO URBANO - Daniel P Moynihan (o rg.)
NOVAS PERSPECTIVAS EM TEORI,i\ DA EDUCAÇÃO
- R. A. Hodgkin
O MITO E O HOMEM MODERNO - Raphael Pa1ai
A LóG ICA DA ANALISE DO LEVr\NTAMENTO DE
DADOS • - Morris Rosenberg
O PRINCIPE - Maquiavel
AS PERSPECTIVAS DO HOMEM - Roberl L. Heilbroner
ANTROPO-LóGICAS • - George Balandier
IMAGEM CRITICA DA SOClOLOGlA - Carlos Moya
LINGUAGEM E COMPORTAMENTO SOCIAL
W. P. Robinson
O PODER DAS NAÇOES - John G. Stominger
A UNIDADE DO HOMEM - Vol. 1. Do Primata no
homem • - Diversos A ulores
Vol. II , O Cérebro H umano e seus
Un iversais• - Diversos Autores
- - -Voi. iiI, Para Uma Antropologia Fundamental
- Diversos Autores
A ANTROPO LOG IA CONTEMPORÃNEA - jean-Marie
Auzias
O ADVENTO DA SOCIEDADE PóS-INDUSTRIAL -
124 Daniel Belf

Potrebbero piacerti anche