Sei sulla pagina 1di 15

A EXPANSÃO DO

FOTOJORNALISMO

[ ARTIGO ]
Atílio Avancini
[ RESUMO  ABSTRACT  RESUMEN ]

O artigo aborda as contradições do uso social da fotografia. Fundamentado pelos


estudos da escritora e fotógrafa Gisèle Freund e da ensaísta Susan Sontag, o texto
discute a questão da ética nos domínios da Comunicação Social, principalmente no
Fotojornalismo. Há duas práticas fotojornalísticas: a fotorreportagem e a fotografia
de imprensa. A primeira é desenvolvida pelo jornalismo narrativo (literário) e pela
fotografia de autor (humanista). A segunda é praticada pelo impacto imediato da
atualidade, em que o espetáculo de notícias superficiais (política, violência e ameni-
dades) afasta a capacidade investigativa e a reflexão. Hoje, verifica-se a expansão do
fotojornalismo para lugares híbridos, polifônicos e convergentes, trazendo ao foto-
jornalista o desafio de encontrar sustentabilidade e ética.

Palavras­‑chave: Comunicação Social. Jornalismo.Reportagem. Fotografia Humanista.


Fotojornalismo.

Based on developments by the photographer and writer Gisèle Freund as well


as on Susan Sontag works, this article aims to consider the photography social
use contradictions. The paper analyses ethic on Social Communication, mainly
on Photojournalism, which is practiced in two ways: photoreporting and press
photography. The narrating journalism (literature) and the author’s photography
(humanistic) are thriven by photoreporting. Press photography arises from the present
immediate impact when the superficial news spectacle turns away investigative
power and thought. Nowadays as expanding to hybrid, polyphonic and convergent
fields, photojournalism’s dare becomes how to find balance and ethic.

Keywords: Social Communication. Journalism. Reporting. Humanistic Photography.


Photojournalism.

Este artículo aborda las contradicciones del uso social de la fotografía. Fundamenta-
do por los estudios de la escritora y fotógrafa Gisèle Freund y de la ensayista Susan-
Sontag, se discute el problema de la ética en los dominios de la Comunicación Social,
principalmente el fotoperiodismo. Existen dos prácticas foto periodísticas: el foto
reportaje y la fotografía de prensa. La primera se desenvuelve por el periodismo na-
rrativo (literario) y por la fotografía de autor (humanista). La segunda es practicada
por el impacto inmediato de la actualidad donde el espectáculo de las noticias super-
ficiales (política, violencia y diversión) aleja la capacidad investigativa y la reflexión.
Hoy se verifica la expansión del fotoperiodismo para lugares híbridos, polifónicos y
convergentes, cuyo desafío es encontrar sustentabilidad y ética.

Palabras clave: Comunicación Social. Periodismo. Reportaje. Fotografía Humanista.


Fotoperiodismo. 
[ EXTRAPRENSA]  A expansão do fotojornalismo  243

Introdução Gisèle Freund reconhece que a ima-


gem é “visão falsa”. Mas sem deixar de con-
siderar o outro lado da fotografia – “janela
que se abre sobre o mundo” –, linguagem
Em 1936, é lançada a pesquisa de doutora- universal e documento da memória para
do de Gisèle Freund (1912-2000), cuja defe- revelar o homem ao homem. Em sua car-
sa é presenciada por Walter Benjamin, na reira de fotojornalista, tem passagens pela
revista Institutdes Sciences Sociales. Am- agência Magnum erevistas Life e Time. A
bos refugiados da Alemanha, encontram-se repórter abomina a ideia do jornalismo
frequentemente na Bibliothèque Nationale abordar certos temas de forma emocional
de Paris. O estudo de Freund, realizado na e espetacular por desrespeitar as vítimas
Université Sorbonne, busca compreender e sem “tocar o dedo na verdade” dos fatos.
qual influência a fotografia exerce sobre o “Recusarei fotografar certas coisas: a misé-
homem e como pode modificar a percepção ria, os massacres, as guerras, a morte. Para
do mundo. Sua tese – a fotografia democra- ser clara, não se trata de coragem, mas de
tiza o retrato – é ampliada para produzir o ética” (FREUND, 1991, p. 139).
livro seminal Photographie et Société(1974).
Este trabalho se une a outros produzidos Se é pelo surgimento da fotografia
por escritores que legitimam o argumento moderna que se alavanca a comunicação
do fotográfico como alavanca do desenvol- de massa, conforme Gisèle Freund, é na
vimento da comunicação de massa. Freund imprensa ilustrada que o fotojornalismo
se torna fotógrafa profissional no final da é mediado de forma plena e ganha prestí-
década de 1930, retratando escritores e ar- gio internacional. Vale destacar que Ma-
tistas, como André Gide, James Joyce, Jean rio Kaplún propõe a Comunicação Social
Cocteau, Virginia Woolf. E utiliza, de ma- fundada pelo modelo “endógeno” para ins-
neira pioneira, os primeiros filmes em co- trumentalizar a transformação social. Ele
res, que vão contribuir para traçar o perfil alerta sobre o poder da cultura massificada
jornalístico dessas pessoas célebres. (modelo “exógeno”) voltado ao conhecimen-
to não-integrado, à preocupação pelo lucro
O retrato é resultado de duas pessoas: e ao não-fortalecimento da consciência crí-
o fotografado e o fotógrafo. Quanto aos tica da comunidade (KAPLÚN, 1998).
escritores que fotografei, sempre lia suas
obras antes. Eu estava portanto capaz de Freund pertence ao grupo dos fotó-
falar sobre o que lhes mais interessava. grafos humanistas de Paris, atuante entre
Foi uma boa técnica para colocá-los em os anos de 1930 e 1960. Eles fazem de Paris,
confiança para que expressassem livre- seu epicentro criativo, e exaltam a vida – e
mente suas ideias e sentimentos esque- a paz – ao produzirem recortes dos anôni-
cendo, por consequência, o aparelho. O mos do cotidiano urbano. O fluxo do tem-
fotógrafo deve desaparecer modesta- po pontuado por fragmentos imagéticos
mente atrás da imagem. O importante advém do prazer do flâneur, espectador da
é a foto, não aquilo que se encontra por modernidade, em que a medida da cidade é
detrás da objetiva. Nesse caso, o fotógra- proporcional ao cidadão. Além de Freund,
fo não é um artista, mas um tradutor. destacam-se os fotógrafos André Kertesz,
(FREUND, 1991, p. 55) Brassai, Edouard Boubat, Germaine Krull,
[ EXTRAPRENSA]  A expansão do fotojornalismo  244

Henri Cartier-Bresson, LucienHerve, Marc reportagem, que no jornalismo contempo-


Riboud, Pierre Verger, Robert Doisneau e râneo e hegemônico praticamente inexiste.
Willy-Ronis. A fotografia humanista expri- A Comunicação Social passa a ser regida,
me o espírito do tempo-espaço pelo realis- na sociedade da informação, como valor
mo poético. de troca simbólica. Evidencia-se a diluição
da capacidade investigativa e a ausência
As imagens autorais desses fotógra- de espaço para a crítica. “Hoje o que conta
fos são mais propensas a capturar a essên- é a fotografia, é o escândalo” (HATOUM in
cia humana do que simplesmente mostrar SALLES, 2014, p. 20). A mediação é fruto
pessoas, objetos e paisagens urbanas. Ali- das demandas da sociedade. E a represen-
nhados ao jornalismo cultural, trazem o tação é a premissa da sociedade, contradi-
entusiasmo da experiência vivencial com toriamente, tomada pela desinformação,
a intensidade do fato, procuram conduzir superficialidade, pasteurização e abstração
o leitor para dentro do acontecimento e noticiosa, que se faz refletir na populariza-
desenvolvem apuração detalhada, infor- ção dos grandes jornais.
mação de credibilidade e análise crítica. As-
sim, os humanistas inauguram uma era na A prática do gênero livro-reporta-
qual as ações do dia a dia são construídas gem, surgida nos Estados Unidos da Amé-
pelo repórter (do francês reporter: colocar rica nos anos de 1930, bem se articula com
de novo o olhar). Ou seja, cobrem manifes- a postura ética da fotografia humanista. No
tações políticas, figuras pitorescas, eventos jornalismo literário, um perfil, por exemplo,
culturais, atividades esportivas, culturas poderia exigir algumas semanas de um re-
estrangeiras e retratam artistas e intelectu- pórter para ser produzido.
ais. Sabe-se que o repórter deve ser curioso
e se atualizar permanentemente. Nossa vida seria assim tão simples, con-
creta e linear como mostrada no jorna-
Os fundamentos elementares da pro- lismo convencional? Dar uma notícia
fissão de jornalista envolvem métodos de é diferente de contar uma história. A
conhecimento imediato do mundo, estru- matriz básica é a cena vivenciada den-
turados pelo discurso da reportagem. A sua tro do acontecimento. E conduzida por
prática – produção de informações e senti- texto narrativo envolvente, dinâmico,
dos – é concepção interpretativa do mundo entusiasmado. As pessoas são perso-
em constante ligação com o meio impresso nagens, seres humanos que choram e
e/ou eletrônico, as fontes e o público. Pelo riem. O repórter recupera os anônimos
ato de reportar, almeja-se diminuir a distân- da sociedade, valoriza o cotidiano, fla-
cia da interação do leitor no contato direto gra a cena para mostrar o não visto e os
com as fontes. O princípio de o repórter ir a bastidores. As matérias deveriam nas-
campo não se insere na busca da informa- cer de outros fatores, visando integrar
ção superficial do jornalismo noticioso. É a sociedade à complexidade orgânica da
necessário o estar-se afinado com os aconte- vida. (LIMA, 2011)
cimentos para a prática jornalística.
Na retórica jornalística – da primei-
O objetivo deste artigo, portanto, é ra à última página –, oferece-se um pon-
evidenciar a tradição do humanismo e da to de vista sobre o que acontece. E há um
[ EXTRAPRENSA]  A expansão do fotojornalismo  245

conjunto de procedimentos da narrativa os fotogramas do cinema; e a fotografia de


verbal e imagética. A linguagem fotográ- imprensa em fotos únicas, que evidencia a
fica deve se comunicar informativamente atualidade e gera impacto imediato. Mas,
com o leitor no sentido do conhecimento. O em razãoda grande quantidade de imagens
fotojornalismo, como portador de significa- veiculadas diariamente, a informação ima-
dos, tem condições de tornar a notícia mais gética contemporânea tem sido ancorada
humana e ampliada. A imagem, frequente- como fonte em torno do nome do jornal e/
mente mais lembrada que a mensagem ver- ou da assinatura do fotógrafo.
bal, causa impacto imediato, oferece maior
credibilidade e legitima, no sentido da com- O primeiro conjunto é determinado
plementação, o efeito da matéria escrita. pelo repórter fotográfico que, contempo-
Embora o fotojornalismo tenha sido cons- râneo das revistas ilustradas e das agên-
tantemente espetáculo, hoje esta dimensão cias fotográficas de imprensa, faz de seu
está banalizada no contexto da contami- olhar autônomo o prolongamento do apa-
nação discursiva da opinião pública. Como relho fotográfico moderno (materializado
avaliar o que é de interesse público e o que pela câmera Leica). A fotorreportagem não
responde ao fervor dos envolvidos? se explica apenas pelo aspecto da imagem
documental que se constitui em arte, mas
pela ética de transcrever o mundo com
autenticidade e independência. Ela tam-
bém colaborana estetização da informa-
Histórias contadas ção para legitimar a dimensão visual como
em série verdade parcial.

É preciso ir além de ouvir os dois lados.


O jornalismo precisa formar convicção
A imagem jornalística é fruto da prática sobre o fato e publicar a sua história, não
moderna da portabilidade da câmera e do apenas relatar o que diz um e o que diz
instantâneo, fazendo com que qualquer o outro. O respeito à isenção e à forma-
acontecimento se torne potencialmente ção do espírito crítico do público-alvo não
urgente. Como ocorre entre a linguagem e pode inibir o repórter de expor suas con-
a língua, endossando Ferdinand de Saus- vicções. (BARBEIRO, 2011, p. 2)
sure (1857-1913), há uma relação paralela
entre a fotorreportagem (dimensão indivi- A relação entre a fotografia e a tec-
dual) e a fotografia de imprensa (dimen- nologia sempre existiu. A documenta-
são coletiva). Mas nem sempre é possível ção informativa do instantâneo, captada
delimitar com exatidão os dois campos ex- ao vivo, atua numa grande gama entre o
pressivos, pois suas fronteiras estão tam- acaso e o imprevisível. No fotojornalismo
bém em relações dialógicas. autoral, não há interesse nas “grandes”
histórias, mas na visão preocupada em
Para consagrar esta distinção no foto- denunciar práticas arbitrárias ou em de-
jornalismo, o prêmio Pulitzer criou duas ca- fender a cidadania para reorientar as re-
tegorias em 1968. A fotorreportagem com presentações e ressignificar o mundo. A
imagens em série, que promove um elo com imagem constrói sentidos, sendo rápida e
[ EXTRAPRENSA]  A expansão do fotojornalismo  246

linearmente compreensível e memorizá- O italiano Vincenzo Pastore (1865-


vel. Mas a sua significação é influenciada 1918), nos anos de 1910, residiu e trabalhou
pela forma, pelo autor e pela credibilidade em estúdio fotográfico próprio na cidade de
do suporte informativo: veículo impresso São Paulo (Rua da Assembléia 12). Pastore
e/ou plataforma eletrônica. produziu fotografias de capa para as revis-
tas ilustradas paulistanas, A Vida Moder-
Quem foram os principais respon- na e A Cigarra, em troca de publicidade de
sáveis pelo início da fotorreportagem? sua atividade especializada: a carte de visite,
Destacam-se quatro fotógrafos fundado- conhecida como “retrato mimoso”. Na São
res – Lewis Hine, Vincenzo Pastore, Au- Paulo do início do século XX, com popula-
gust Sander e Aleksandr Ródtchenko –, ção de 240 mil habitantes, havia 40% de
que desenvolveram crônicas aplicadas italianos. Mas um dado chama a atenção:
em preto-e-branco, evitando o recurso da 75% dos brasileiros eram analfabetos. O teor
artificialidade. Eles se envolveram nas si- jornalístico diferenciado de Pastore sobre o
tuações documentadas pelo jornalismo de homem urbano paulistano rompeu as ver-
resistência: crítica ao negócio informativo, sões cristalizadas dos periódicos e incluiu
demanda à participação social e democra- os sem-imagens: gente abandonada e sem
tização da comunicação. Tais fotógrafos qualquer perspectiva de futuro, como os
perceberam a mediação da reportagem fo- negros (ex-escravos), mestiços, imigrantes,
tográfica como serviço à sociedade, dando meninos de rua, mulheres e trabalhadores.
menor importância ao rendimento finan- Pastore evidencia os traços patrimonialistas
ceiro de seus trabalhos. Ou seja, bastante de uma sociedade colonial e escravocrata no
pó na sola dos sapatos e muita coragem e início da industrialização brasileira.
senso de liberdade
As imagens de Pastore documenta-
Lewis Hine (1874-1940) fez de seu ram dois países: o retrato dos ricos em as-
relato fotográfico da história social dos Es- censão (fotografia de estúdio) e o retrato
tados Unidos da América o poder de dela- dos pobres em estado vegetativo (fotogra-
tar a injustiça e a miséria. Em 35 anos de fia de rua). O fotógrafo compreendeu a as-
fotografia, o professor e sociólogo produziu similação improvisada de progresso, que
entre 12 e 15 mil negativos. O trabalho foi pretendia engolir as diferenças para trans-
o resultado do corpo a corpo com seus re- formar a capital paulista em extensão tro-
tratados. Como, por exemplo, os imigrantes pical da Europa, e a discriminação, que fez
italianos desembarcados na Ellis Island, as abrir as portas da intolerância e abuso das
cenas de rua repleta de ambulantes na New aplicações da lei. Suas reportagens, regis-
York de 1910, o trabalho infantil (mina de tradas em chapas de vidro e ampliadas em
carvão, usina têxtil de algodão, fábricas retalhos de papel fotográfico pela esposa
de vidro e embalagem). Hine foi freelancer Elvira, registraram a dimensão desumana
para a organização filantrópica National- de abandono social no Brasil. Pastore docu-
Committee Labor Child, que lutou contra a mentou índios em seu estúdio e foi conde-
exploração de crianças. Em 1916, graças ao corado pelo rei Humberto I da Itália. As 137
seu testemunho imagético, foi promulgada imagens, guardadas em caixa de charuto
a lei norte-americana para interditar o tra- como retalho fotográfico, foram tornadas
balho infantil. públicas pelo seu último neto, o pianista
[ EXTRAPRENSA]  A expansão do fotojornalismo  247

Flávio Varani, que as cedeu ao Instituto Em um texto escrito para a revista


Moreira Salles em 1997. Soviétskoe Foto, “A Fotografia é uma Arte”
(1934), Ródtchenko relatou sua técnica fo-
O alemão August Sander (1876-1964), tográfica: “os pontos de vista com encurta-
no final de 1910, iniciou mapeamento ima- mentos exagerados e os momentos inéditos
gético caracterizado pelo perfil social e de movimento” (RÓDTCHENKO, 2010, p.
antropológico do povo alemão. Registrou 10). O formalismo russo trabalhou preo-
vários tipos: circenses, operários, soldados, cupado com a dimensão social das práti-
ciganos, cozinheiros, professores, políticos, cas artísticas. Mas também se articulou
agricultores, gays e desempregados. “Na como estilo geométrico, prenunciando o
fotografia social, o significado do que está design. O slogan “nosso dever é experimen-
sendo representado é mais importante do tar” sinaliza o efeito comunicativo de suas
que o cumprimento de regras estéticas de imagens. Atuante entre os anos de 1924 e
forma e de composição”(KRAMER, 1980, 1954, suas fotos manifestaram o olhar van-
p. 30). Distante da obsessão nazista, que guardista para levar a arte ao povo. Mas,
acreditava no estereótipo facial do homem a partir da criação do regime burocrático,
alemão, o estudo de Sander é classificado impermeável e intolerante instaurado pelo
como suspeito pelo sistema ditatorial. Em stalinismo, verificou-se o esvaziamento da
1934, retiraram o seu livro de circulação, O expressão plástica e o consequente declínio
Rosto da Época, e destruíram todo o arqui- de sua originalidade criadora. Ródtchenko
vo de 40 mil negativos. Por sua vez, outro foi exilado e esquecido na própria Rússia.
livro de fotografia, O Rosto do Povo Alemão,
de Erna Lendvai-Dirckson, foi endossado
pelo aparelho fascista. Erna é considerada
engajada, pois seus retratos evidenciam a
faceta idealizada da gente alemã. A fotografia única

Após a queda do czarismo, em fe-


vereiro de 1917, a sociedade russa é do-
cumentada pela arte visual de Aleksandr O segundo conjunto expressivo do fotojorna-
Ródtchenko (1891-1956). O seu trabalho lismo versa sobre a fotografia de imprensa,
fotográfico foi favorecido pelo final da I que é condicionada ao veículo jornalístico
Guerra Mundial e pela ambiência do líder (público ou privado) em que a imagem é pu-
Vladimir Lenin (1870-1924), que lançou as blicada. A prática surge, em 1842, quando
palavras de ordem “pão, paz, terra e liber- desenhistas e gravuristas (sobre madeira ou
dade” ao pressupor um estado sem classes. zinco) foram os intermediários da fotografia.
A primeira revista ilustrada, quando a xilo-
A fotografia deixou de ser secundária e gravura era a mediadora da fotografia, foi
de imitar técnicas da gravura, pintura ou a The Illustrated London News. Entre 1855 e
tapeçaria. Ao encontrar caminho pró- 1860, a tiragem da revista chegou a 300 mil
prio, ela floresce e o vento fresco traz exemplares. O jornal sueco Nordisk Boktry-
um perfume peculiar à fotografia. Novas ckeri-Tidning, em 1871, publicou a primeira
possibilidades se descortinam. (RÓDT- foto impressa graças a uma impressão em
CHENKO, 2010, p. 10) halftone com trama de linhas.
[ EXTRAPRENSA]  A expansão do fotojornalismo  248

Esta profissão agrupa pessoas realizado- planejado para transmitir a informação com
ras de imagens destinadas a ilustrar a im- eficiência e agilizar a leitura. As ilustradas se
prensa. Estou intimamente convencido tornaram uma das expressões simbólicas da
de que a imagem ilustra: no fotojornalis- construção da modernidade pelo universo
mo a imagem sem a palavra não funcio- mundano da sociedade industrial.
na. Não há particularidade, característica
ou definição para que uma imagem seja A “estetização da política”, própria à
de imprensa, ela torna-se de imprensa era das massas de que trata Walter Ben-
a partir do momento de sua publicação. jamin (RANCIÈRE, 2009, p. 16), foi ala-
Para conferir isto basta olhar a história vancada pelo espírito objetivo e eficaz da
da fotografia e o encontro da fotografia imprensa ilustrada alemã. Os princípios
com a imprensa. Tudo é uma história do jornalismo, segundo Otto Groth (1883-
de espetáculos. E, para cada sociedade, 1965), atuaram de maneira eficaz nessas
seus espetáculos. (GERVAIS in AVANCINI, revistas: “atualidade, universalidade, perio-
2005, p. 8) dicidade, difusão” (BELAU, 1966, p. 9). Ini-
cia-se a estética da mercadoria na máquina
Conhecido como candidphotography comunicacional ao convocar-se o receptor
pelas suas criações “roubadas”, Erich Salo- ao multissensorialismo na construção e de-
mon (1886-1944) iniciou o fotojornalismo, leite da vida prazerosa.
segundo Gisèle Freund, veiculando suas
imagens nas páginas das revistas ilustra- No período histórico do entreguerras,
das alemãs. Sua carreira de jornalista focou a comunicação imagética foi favorecida
o jogo na política registrando encontros e pelo surgimento da câmera Leica, revistas
reuniões, mas perdurou apenas cinco anos ilustradas, Design Bauhaus School e Neue
(1928-1933). Caçador obsessivo de imagens, Sachlichkeit (movimento artístico Nova Vi-
como ele mesmo reconhece, este advogado são). Por outro lado, foi pontuada pelo mise-
documentou conferências internacionais, enscène da imagem reprodutível impressa.
sessões plenárias do Parlamento Alemão Os regimes políticos totalitários, fazendo
(Reichstag), personalidades artísticas. Sa- uso da persuasão e do controle, perceberam
lomon atuou na revista Berliner Illustrierte que para uma ação se tornar evento signi-
Zeitung (BIZ), fundada pelos irmãos Ulls- ficativo devia-se desenvolver diante dos
tein (em 1891), que se tornou a principal olhos da imprensa. “O nazismo é provavel-
ilustrada alemã, com tiragem de 2 milhões mente uma primeira tentativa de explora-
de exemplares (em 1930). ção sistemática da fotografia de atualidade”
(MARESCA, 2009, p. 28).
O surgimento das revistas ilustradas
impulsionou o jornalismo voltado ao públi- Três anos depois da tomada do poder por
co feminino e ao consumo, iniciando a asso- Hitler, na Alemanha, aparece na Améri-
ciação das imagens com o conteúdo escrito. ca uma nova ilustrada que se tornará a
A sua linguagem, identificada com o visual mais importante de seu gênero no mun-
e o entretenimento, afastou-se do discurso do. ÉLife. O primeiro número surge em
denso do jornalismo diário. O caráter mo- 23 de novembro de 1936. Com tiragem de
derno das ilustradas se configurou pelo tra- 466.000 exemplares, passa um ano mais
ço das diagramações. O projeto gráfico foi tarde a 1 milhão para chegar a mais de 8
[ EXTRAPRENSA]  A expansão do fotojornalismo  249

milhões, em 1972. Seu sucesso foi único a cair as receitas publicitárias e as vendas
e sua fórmula imitada em todo o mundo. dos veículos impressos.
(FREUND, 2007, p. 133)
Três gêneros de imagens são bem-su-
A fotografia de imprensa não busca a cedidas comercialmente desde o surgimen-
imagem somente pelo valor intrínseco do to das revistas ilustradas: os governantes
que ela representa, “mas sobretudo pelo seu (políticos), o fato sociável (celebridades) e os
caráter excepcional” (BOURDIEU, 2010, p. conflitos (guerra e polícia). O retrato dos re-
175). As fotografias dos grandes eventos, presentantes do estado evidencia o poder.
portanto, destacam o raro, o imprevisível, o Já as imagens de celebridades e do crime
sensacional, o dramático. Constata-se que vivem focadas na vida privada e íntima do
a percepção fotográfica do acontecimento outro, ferindo o direito de imagem do re-
se torna mais importante do que o próprio tratado e fazendo gerar outro conflito mais
fato e, também, que a mídia hegemônica se complexo: o direito à privacidade versus o
preocupa comercialmente com o jogo entre direito à informação. No caso da foto-cho-
a notícia, a violência social, a visão ordiná- que policial,é o império do espetáculo que
ria transformada em extraordinária e os ataca os menos privilegiados. Esse gênero
desajustes da sociedade. também faz alterar o formato da violência
urbana:ao narrar de maneira alarmista ca-
A imagem de imprensa dialoga com o sos de roubo e latrocínio, a sensação de in-
evento numa relação de força ao impor segurança da sociedade é reforçada.
suas visões. Ela vai desenhar o evento
segundo as regras de representação, to- Vale lembrar a crítica à comunicação
mando o fato do dia a ser difundido. A fo- moderna, explorada pelo cineasta italiano
tografia de imprensa escolhe seu instante Federico Fellini (1920-1993), no filme La
do evento como se escolhe uma bela rou- Dolce Vita (1960), em que o jornalista Mar-
pa para sair à noite. Ela veste o evento cello Rubini (Marcello Mastroianni) cobre
para nos tornar legível. A fotografia, que a visita, em Roma, da atriz hollywoodiana
deveria ser uma ferramenta para difun- Sylvia Rank (Anouk Aimée), por quem fica
dir o fato, substitui o evento. (LAMBERT, afetivamente envolvido. O repórter Mar-
1986, p. 26) cello persegue notícias nas ruas da capital
italiana e flagra a vida noturna da alta so-
Apesar da concorrência da imagem ciedade. Jornalista de fofocas entre festas e
em movimento (cinema e televisão), a foto- badalações, sonha escrever sobre assuntos
grafia se mantém, ao longo do século XX, sérios, mas o que se vê é o culto à celebri-
como uma das principais ferramentas dos dade e à necessidade de inventar fatos a
veículos informativos impressos. O foto- partir do irrelevante. Fica claro, portanto, o
jornalismo se torna o critério de notícia, fato jornalístico mediado pela ideologia do-
mas é, de fato, substancialmente legenda. minante e pelo acontecimento social.
Ou seja, comprovação do texto escrito. Nos
anos de 1980, o fotojornalismo reexamina Ações de concentração monopolista dos
suas práticas e objetivos para buscar alter- meios de comunicação social, que pre-
nativas de contato com o público. Com a es- tendem impor pautas alienantes de con-
tabilidade da televisão em cores, começam sumo e uniformidade cultural, são uma
[ EXTRAPRENSA]  A expansão do fotojornalismo  250

forma de novo colonialismo ou de colo- documenta esteticamente o escândalo do


nialismo cultural. (PAPA FRANCISCO in horror, não o horror em si mesmo. “Redu-
LEAL, 2015, p. A7) zida a um estado de pura linguagem, a fo-
tografia não nos desorganiza” (BARTHES,
2010, p. 126).

Em Diante da Dor dos Outros (Regar-


Estranhamento ou alívio ding the Pain of Others), Susan Sontag de-
fende o ponto de vista de que a memória
da guerra é construída pelo fotojornalismo
dos grandes jornais. Sabe-se que a mediação
A emergência da noção de que a foto- cultural jornalística da mídia é sustentada
grafia possui carga dramática superior à comercialmente pelo negócio dos anuncian-
mensagem pictórica ganha legitimidade tes. Maso leitor não deve ser subestimado,
comercial e jornalística durante a Guerra tudo depende de sua consciência diante do
do Vietnã. O valor do imediatismo e do ato sofrimento das vítimas. A ensaísta estadu-
heróico (do soldado ou do jornalista) leva a nidense defende que a experiência não pode
mídia aos locais de conflito pelo uso da foto- ser substituída pela representação.
grafia em cores. Susan Sontag questiona se
a visão de horror estimula a paz e a ética ou O livro trata de uma realidade que as
serve de justificativa para novas batalhas. pessoas acreditam conhecer pelas fotos,
Há tratamento especial da mídia internacio- mas que não conhecem. A origem deste
nal, explorando ocorrências trágicas, quan- ensaio foram os anos que passei em Sa-
do tais fatos ocorrem em lugares menos rajevo, entre 1993 e 1995. A cidade esta-
noticiados, como Sudeste Asiático, África, va sitiada. Não havia eletricidade, água
América Latina, Leste Europeu ou Orien- corrente, telefone, televisão, muito me-
te Médio. Apesar dos efeitos negativos da nos computador. Era impossível ver as
imagem-choque, há, entretanto,a partir dos representações da guerra nos jornais ou
anos 1980, a contribuição efetiva da memó- na tv. Após Sarajevo, vi que as pessoas
ria testemunhal imagética (fotografia e cine- que acompanhavam o noticiário de perto
ma) para a história contemporânea. entendiam pouco sobre a guerra. Percebi
que não havia substituto para a experiên-
Em Sobre Fotografia (On Photogra- cia. Essa é a origem das reflexões do livro.
phy), ensaio lançado em 1977, Susan Son- (SONTAG in MOURA, 2003, p. 4)
tag (1933-2004) defende que a foto-choque
estaria neutralizada pelo excesso de ex- A foto-choque se torna hábito. A
posição. Roland Barthes concorda que a distância física do fato violento promo-
linguagem da dramaticidade da guerra se vido pela leitura da imagem traz o estra-
torna sem efeito, falsa e intencional ao es- nhamento – ou o alívio – pela impotência
colher estados intermediários entre o fato do não agir. Seria possível ver o outro? O
literal e o fato maior. A mídia, saturada de fotógrafo vive a experiência e sabe dife-
imagens capazes de causar indignação e renciar dois universos bem distintos: o
violência, faz com que o leitor perca a capa- ato fotográfico e o ato de ver fotografias.
cidade de interpretar e reagir. A fotografia Como voyeurs, temos o prazer desse olhar?
[ EXTRAPRENSA]  A expansão do fotojornalismo  251

“Estamos acostumados a ver tudo visível. uma duração não superior à necessária
Mas não estamos na cultura dos troféus, para se descarregar a arma. O tipo de
não somos caçadores, e não se viola a dig- olhar instantâneo, de “tiro-de-estalo”, de
nidade da morte” (HERZOG, 2011). snapshot, – o olhar sem verdadeiramente
ver – é um evento momentâneo. (BAU-
O fotojornalismo do tipo hard news se MAN, 2011, p. 181)
descortina como cenário de teatro grego:
a tragédia (do grego tragôidia, catastrófico)
mostrada pelas imagens representa o mun-
do em que vivemos. Clamor emocional sem
indagação ou reflexão, que não provém da Outro paradigma
análise das causas do fenômeno. Trata-se comunicativo
de grito avolumado pela cultura punitiva
divulgada pela mídia, principalmente a te-
levisiva. A imagem toca direto a emoção
sob o prisma dos efeitos, sem considerar A partir do final do século XX, a popula-
outros fatores mais complexos. rização da televisão em cores cria impacto
no jornalismo. Com isso, a fotorreportagem
Com o excesso de clichês sobre aci- começa a migrar para museus, galerias de
dentes, escândalos e celebridades, não arte e fotolivros. É nesse outro lugar de con-
sobra espaço para o desenvolvimento da templação multimídia que a dimensão indi-
consciência crítica. Daí a tendência à fa- vidual encontra expressão e ressignificação.
bricação de conflitos e emoções. De fato, Com a eclosão da mídia digital, demarca-se a
ao se publicar cenas chocantes, amplia-se o era da visualização na web, em que as redes
efeito de atos violentos e gera-se, por parte sociais servem como fator multiplicador de
da mediação jornalística, uma entrada “na imagens. Fotografias podem ser redireciona-
cadeia produtiva dessa mesma violência” das como representações duplicáveis ao infi-
(MEDEIROS, 2012, p. 204). Zygmunt Bau- nito. A diversidade de visibilidades aumenta
man relaciona o termo “instantâneo foto- – a rede segmentada de imagens Instagram
gráfico” (do inglês snapshot) com o “tiro de sugere o abandono de câmeras sofisticadas,
revólver”. A submissão ao fascínio da velo- substituindo-as por smartphones.
cidade faz a produção de conteúdos do jor-
nalismo reduzir o cotidiano a uma sucessão Embora a credibilidade seja o bem
de reações embrutecedoras e automáticas. maior do jornalista ou do veículo de comu-
nicação, a crise da mudança de paradigma
Na ideia do instantâneo, em inglês snap- na mediação jornalística determina a que-
shot, as duas partes da palavra são im- da na circulação dos grandes jornais, o tér-
portantes: o que importa é que se trata de mino de publicações, o corte de cadernos,
um tiro (shot) que acerta aonde eu dirigi as demissões em massa, a baixa formação
o cano da arma; importa que o impacto de profissionais e a pouca qualidade de tex-
recai sobre o objeto, não afetando a mim, tos e imagens publicados.
que seguro a arma; e importa que se trata
de um tiro de estalo (snap), um elo mo- A pressão do tempo é a principal causa
mentâneo entre o atirador e o alvo, com dos textos superficiais nos jornais. Se você
[ EXTRAPRENSA]  A expansão do fotojornalismo  252

considerar que um perfil para a revista jornalismo foi configurado ao refletir mar-
The New Yorker podia exigir até três me- cas de enunciação político-ideológicas.
ses de um repórter para ser escrito, fica
fácil entender a razão de se irritar com A tecnologia eletrônica faz um jogo du-
os jovens jornalistas. Hoje você tem meia plo. Primeiramente, parece se apropriar
hora para dar uma passada de olhos num de certos objetos culturais, fazendo-os
livro, preparar as perguntas e entrevistar circular num novo contexto e sobretudo
o autor. A pressão do deadline está acaban- modificando suas propriedades, depois
do com os jornais. (MCAFEE in GONÇAL- introduz objetos inéditos ou, ao menos,
VES FILHO, 2012, p. D5) diferentes. Essa dupla relação explica em
parte a familiaridade do mundo virtu-
O caráter estratégico de captação, al, mas também sua dimensão, às vezes,
processamento, circulação e difusão de alienante. O digital representa o triunfo
conteúdos digitais renova conceitos e prá- da hibridização generalizada aos objetos
ticas. Esses movimentos suscitam debates e às práticas. Mas a hibridização vela o
pela ausência de credibilidade das fontes, fato de que o objeto virtual é outra coisa:
mas possibilitam o fluxo de ideias sob no- um novo paradigma no qual a aparência
vas estruturas e estéticas. Desse modo, é só uma ficção, às vezes mesmo uma ar-
com as ferramentas oferecidas pelos pro- madilha, e onde tudo, ou quase tudo, é
cessos tecnológicos, qualquer grupo pode convertível. (DOUEIHI, 2011, p. 12)
produzir conteúdo jornalístico. E como a
modelização numérica é fruto de conver-
gência cultural, num campo de comunica-
ção relacional sem precedentes, surgem os
coletivos fotográficos, cuja cobertura des- Considerações finais
centralizada é conhecida pelo ativismo so-
ciopolítico e pelo movimento alternativo à
imprensa tradicional.
Mais do que os avanços tecnológicos do
Os jornais digitais se beneficiam de eletrônico, é a crise da sociedade capitalis-
estruturas mais leves, que permitem maior ta que busca reencontrar o equilíbrio no
fluidez e rapidez.Trata-se de uma conver- sentido da tecnologia sustentável e do hu-
gência cultural que redistribui conceitos, manismo: o amor às pessoas, o pensamen-
categorias e objetos em outra natureza to social, o respeito pela gente simples, a
e perspectiva. Se há menores discussões amizade real, a conversa sincera, a fruição
editoriais e hierarquias, há também o acú- das imagens, a realidade menos distorci-
mulo de funções para o jornalista: apurar, da, o entendimento do mundo. Neste sen-
escrever, revisar, fotografar, diagramar. A tido, o primeiro passo é compreender que
informação na internet está dispersa para a modernidade produz violência dema-
o leitor, sendo necessário filtrar e selecio- siada e que “a democracia como forma de
nar conteúdos. A possibilidade de comuni- vida política e social é o reino do excesso”
cação está ancorada no compartilhamento (RANCIÈRE, 2014, p. 17). No ritmo das re-
de ideias, o qual ocorre na arena em que o des digitais ordenado pelo fugaz, compulsi-
[ EXTRAPRENSA]  A expansão do fotojornalismo  253

vo e mutável,vale ressaltar, no contrafluxo, Verifica-se a expansão do dispositivo fo-


a perspectiva crítica e não hegemônica do tografia para lugares híbridos, polifônicos
repórter engajado. Nato contador de histó- e convergentes. Mas há vantagens para
rias e desapegado dos confortos, trabalha aproximar pessoas cada vez mais distantes,
pela construção e manutenção de vínculos facilitar o acesso, retirar os filtros de contro-
educativos, sociais e éticos. le, dar voz aos grupos minoritários e/ou ex-
cluídos. Como atualizar a linguagem visual
A subida para a Acrópole (Atenas) é lenta midiática respeitando o esforço das gerações
e difícil, mas lá estão as oliveiras para lem- passadas? O fotojornalismo continua sendo
brar que o azeite é um antigo facilitador, agenciador da vida cotidiana?
como o vinho que brota da mesma terra
árida. E depois do esforço, o vento, também Há uma distorção do ideário público
ele um facilitador. Este cronista fechou os com as demandas do mercado capitalista. O
olhos e declinou da sua ávida compulsão mundo representado por informações esti-
de possuir as coisas do mundo com o olhar lhaçadas acentua as inúmeras crises, seja
e seu instrumento de apoio: a câmera fo- do jornalismo, seja da cidadania, economia,
tográfica. Renunciou à visão para melhor ecologia ou arte. Comunicação pressupõe
ouvir o olhar do vento. (REIS, 2011) atividade política ininterrupta. Portanto,
neste contexto, é chave discutir as imagens
A modelização numérica traz o impac- únicas do fotojornalismo no diapasão entre
to do imediatismo, a porosidade, a intensida- o espetáculo e a crítica social. Ou entre a
de, a autorreferência, a desmaterialização. manipulação e a ética. 

[ Atílio Avancini ]
Atílio Avancini é fotógrafo e professor doutor em
RDIDP da ECA-USP. Pós-doutor pela Université
Sorbonne Nouvelle Paris (BPE-FAPESP). Autor de três
livros pela Edusp e Alameda.
E-mail para contato: avancini@usp.br.
[ EXTRAPRENSA]  A expansão do fotojornalismo  254

Referências

AVANCINI, Atílio. Fotojornalismo, uma história de espetáculos: Thierry Gervais. Revista


Caligrama, São Paulo, n. 1, p. 7-9, 2005.

AVANCINI, Atílio. Lavagem do Bonfim: formas de reportar. São Paulo: Alameda, 2016.

BARBEIRO, Heródoto. Ombudsman do Jornal do Campus, Jornal do Campus, p. 2, 1 a 15 de


setembro de 2011.

BARTHES, Roland. Mythologies. Paris: Éditions du Seuil, 2010.

BAUMAN, Zygmunt. Vida em fragmentos: sobre ética pós-moderna. Rio de Janeiro: Zahar,
2011.

BELAU, Angel. La ciencia periodística de Otto Groth. Pamplona: Universidad de Navarra,


p. 9, 1966.

BOURDIEU, Pierre. Un art moyen: essai sur les usages sociaux de la photographie. Paris: Les
Éditions de Minuit, 2010.

DOUEIHI, Milad. Pour un humanisme numérique. Paris: Éditions du Seuil, 2011.

FREUND, G.; JAMIS, R. Gisèle Freund, portrait. Paris: Des Femmes, 1991.

FREUND, Gisèle. La fotografía como documento social. Barcelona: Editorial Gustavo Gili,
1993.

FREUND, Gisèle. Photographie et société. Paris: Éditions du Seuil, 2007.

GONÇALVES FILHO, Antonio. A internet pressiona o jornal: AnnalenaMcafee. O Estado de


S. Paulo, São Paulo, p. D5, 27 de junho de 2012.

HERZOG, Werner. Werner Herzog: depoimento. [16 maio 2011]. São Paulo, 2011. Depoimento
concedido ao III Congresso Internacional de Jornalismo Cultural na Folha de S. Paulo.

HINE, Lewis. Exposição Lewis Hine. Paris: Fondation Henri Cartier-Bresson, 2011.

KAPLÚN, Mário. Una pedagogía de la comunicación. Madrid: La Torre, 1998.

KRAMER, Robert. Historical commentary. In: SANDER, August. August Sander, photographs
of an epoch. New York: Aperture, 1980. p. 30.
[ EXTRAPRENSA]  A expansão do fotojornalismo  255

LAMBERT, Frédéric. Mythographies: la photo de presse et ses légendes. Paris: Edilig, 1986.

LEAL, Luciana. Papa Francisco critica exclusão social e se refere ao capitalismo como ditadura
sutil. O Estado de S. Paulo, São Paulo, p. A7, 10 de julho de 2015.

LIMA, Edvaldo Pereira. Histórias que se contam: o jornalismo em grandes reportagens.


In: SEMINÃRIO, 2011, São Paulo. Resumos... São Paulo: Escola de Comunicação de Arte da
Universidade de São Paulo, 2011.

MANUEL. Manuel Reis: entrevista [set. 2009]. Entrevistador: Atílio Avancini. São Paulo,
2009. 1 arquivo mp3 (12 min.).

MARESCA, Sylvain. Pré-voirl’actualité. In: HAVER, Gianni. (Org.). Photo de presse: usages et
pratiques. Lausanne: Éditions Antipodes, 2009.

MEDEIROS, Gutemberg. Da queda do muro da vida privada e da violência no jornalismo


moderno. Revista USP, São Paulo, n. 93, p. 200-210, mar. 2012.

MOURA, Flávio. Susan Sontag vê a dor. Folha de S. Paulo, São Paulo, p. 4, 24 de agosto de
2003.

PASTORE, Vincenzo. Na rua: Vincenzo Pastore. Texto de Antonio Arnoni Prado. São Paulo:
Instituto Moreira Salles, 2009.

RANCIÈRE, Jacques. A partilha do sensível: estética e política. São Paulo: Editora 34, 2009.

RANCIÈRE, Jacques. O ódio à democracia. São Paulo: Boitempo, 2014.

RÓDTCHENKO, Aleksandr. Aleksandr Ródtchenko: revolução na fotografia. São Paulo:


Instituto Moreira Salles, 2010.

SALLES, Silvana. O Universo Crítico de um Escritor: Milton Hatoum. Jornal da USP, São
Paulo, p. 20, 17 a 23 de março de 2014.

SONTAG, Susan. Diante da dor dos outros. São Paulo: Cia. das Letras, 2003.

SONTAG, Susan. Sobre fotografia. São Paulo: Cia. das Letras, 2004.

Potrebbero piacerti anche