I. DAS DIVERSAS ESPÉCIES DE EXECUÇÃO - GENERALIDADES
II. DA EXECUÇÃO PARA A ENTREGA DE COISA III. EXECUÇÃO PARA A ENTREGA DE COISA CERTA – TÍT. EXTRAJUDICIAIS IV. EXECUÇÃO PARA A ENTREGA DE COISA CERTA – TÍT. JUDICIAIS V. EXECUÇÃO PARA A ENTREGA DE COISA INCERTA
I. Como já foi estudado a execução é uma ação e, como tal, se inicia
com uma petição inicial, com os requisitos do art. 282, a qual deve ser acompanhada do título executivo, salvo se este for sentença (art. 584), caso em que o título já se encontra nos autos da ação. Deve o credor, também, fazer prova de que ocorreu o termo ou se verificou a condição se a exigibilidade do título depender dessas circunstâncias e juntar demonstrativo do débito atualizado até a data da propositura da ação, quando se tratar de execução por quantia certa (art. 614 do CPC).
Conforme dispõe o artigo 615 do CPC: I. Se a execução puder
realizar-se de mais de um modo, pode, ainda o credor indicar a espécie de execução que pretende, devendo realizar-se pelo meio menos gravoso para o devedor se a alternatividade não causar prejuízo ao credor (art. 620 do CPC).
Se a execução é por quantia e a penhora recair sobre bens
gravados por penhor, hipoteca, anticrese ou usufruto, o credor deve providenciar a intimação do credor pignoratício, hipotecário, anticrético ou usufrutuário, a fim de que esses possam exercer a sua preferência ou o seu direito, se não se fizer a intimação, a alienação do bem onerado ou gravado será ineficaz em relação ao credor privilegiado. Para a efetividade da execução é indispensável, pois, a sua intimação (art. 615 c/c 619 do CPC).
Se houver necessidade, o credor poderá requerer medidas
cautelares a fim de assegurar a satisfação do crédito consagrado no título.
Deve finalmente o credor, ao propor a execução, provar que
adimpliu a contraprestação que lhe corresponde ou que lhe assegura o cumprimento, se o executado não for obrigado a satisfazer a sua prestação senão mediante a contraprestação do credor.
A propositura da execução interrompe a prescrição, mas a citação
do devedor deve ser feita nos prazos do art. 219 (art. 617 do CPC). Atentar para a súmula 150 do STF que dipõe: Prescreve a execução no mesmo prazo de prescrição da ação. (D. Civ.; D. Proc. Civ.)
No caso de obrigações alternativas, quando a escolha couber ao
credor, este já deve fazê-la na petição inicial; se compete ao devedor, este será citado para exercer a opção a realizar a prestação dentro em dez dias, se outro prazo não lhe foi determinado em lei, no contrato ou na sentença. Se o devedor não realizar a opção no prazo marcado, o direito devolve-se ao credor.
Ao propor a execução, é lícito ao credor cumular várias
execuções contra o mesmo devedor, ainda que fundadas em títulos diferentes, desde que, para elas todas, seja competente o juiz e idêntica a forma do processo.
É admissível no processo executivo a cumulação subjetiva desde
que o título contenha vários credores ou vários devedores, sem que, com isso, se pense em execução coletiva ou universal, que ocorre com a insolvência e que tem pressupostos específicos. Pode, pois, haver litisconsórcio ativo ou passivo se o título admitir tal previsão, sendo o crédito ou a dívida comum a mais de uma pessoa.
Se o juiz verificar que a petição inicial está em ordem, deve
despachá-la determinando a citação do devedor para que cumpra o contido no título.
Se, porém, o juiz verificar que a petição inicial está incompleta ou
não se acha acompanhada dos documentos indispensáveis à propositura, determinará que o credor a corrija, no prazo de dez dias, sob pena de indeferimento da inicial.
Ademais, dispõe o art. 618: É nula a execução:
I - se o título executivo não for líquido, certo e exigível (art.586);
II - se o devedor não for regularmente citado; III - se instaurada antes de se verificar a condição ou de ocorrido o termo, nos casos do art. 572".
Com o inc. III acontece o mesmo que com o inc. I. O caso não é de nulidade, mas de carência da execução. Com o inc. II o caso é de nulidade.
Como os defeitos do art. 618 estão expressamente cominados
como nulidades, o juiz pode reconhecê-los de ofício, independentemente de embargos do devedor. A matéria é de ordem pública, podendo ser argüida a qualquer tempo e por qualquer meio. Os embargos são a sede própria para a alegação de nulidades (art. 741), mas nas matérias do art. 618 qualquer oportunidade é válida.
A possibilidade de serem alegadas as matérias do art. 618
independentemente de embargos tem sido denominada "exceção (ou objeção) de pré-executividade".
II. Por força das alterações implementadas pela Lei 10.444/2002 o
processo de execução para entrega de coisa veio a se restringir aos títulos extrajudiciais. As sentenças que imponham o cumprimento de dever de entrega de coisa, móvel ou imóvel, submetem-se agora a regime de eficácia executiva lato sensu. Ou seja, tais sentenças serão efetivadas no próprio processo onde são proferidas, não dando ensejo a uma relação processual subseqüente. Ademais, por aplicação subsidiária do art. 461 (art. 461-A, § 3o), o juiz tem o poder de adotar, de ofício, medidas atípicas sub-rogatórias e coercitivas.
Assim sendo, as atuais sentenças de força executiva, a que a lei
atribui privilégio de execução por ordem do juiz, independem de instauração de processo de execução para que sejam cumpridas. Elas se cumprem por mandado, sem necessidade de nova citação, ficando afastada a possibilidade de embargos.
III. Na execução para a entrega de coisa certa fundada em título
executivo extrajudicial, proposta a execução, o devedor será citado para, dentro de dez dias, satisfazer a obrigação ou, seguro o juízo, apresentar embargos, podendo o juiz ao despachar a inicial fixar multa por dia de atraso no cumprimento da obrigação, ficando o respectivo valor sujeito a alteração, caso se revele insuficiente ou excessivo. O asseguramento do juízo é condicionante dos embargos e será feito na forma do art. 737, II, com o depósito da coisa. Depositada esta, o exeqüente não poderá levantá-la antes do julgamento dos embargos.
Se o devedor entregar a coisa, cumprindo a obrigação e
satisfazendo o crédito, será lavrado termo de entrega e será dada por finda a execução, salvo se esta tiver de prosseguir para pagamento de frutos ou ressarcimento de prejuízos (artigo 624 – alterou perdas e danos por prejuízos, dando maior amplitude às verbas devidas). Neste caso, a execução passa a ser por quantia, a qual, se for ilíquida, deve, primeiramente, ser liquidada pelos meios previstos nos arts. 603 e s.
Se a coisa não for entregue nem depositada, expedir-se-á, em
favor do credor, mandado de imissão na posse ou de busca e apreensão, conforme se tratar de imóvel ou móvel, respectivamente. Neste caso, realizada a diligência abre-se prazo para o executado oferecer embargos (art. 738, III do CPC), suspendendo-se a execução e, caso decorrido o prazo sem o oferecimento de embargos, a coisa será entregue ao credor, extinguindo-se a execução, salvo se esta deva prosseguir para pagamento de alguma outra verba.
Se a coisa estiver em poder de terceiro, ainda assim será
atingida pela execução, nos termos da já explicada responsabilidade patrimonial. Ao se tornar litigiosa a coisa pela citação (art. 219), esta se vincula definitivamente à ação e posterior execução ainda que alienada a terceiro. Este só será ouvido a respeito depois de depositar a coisa, mas, se tiver ou puder alegar direito sobre ela, deverá usar o instrumento processual adequado, que é a ação de embargos de terceiro.
Pode ocorrer que a coisa não seja encontrada ou tenha-se
deteriorado, valendo, aqui, a hipótese de deterioração física ou jurídica, ou seja, a perda ou diminuição do valor patrimonial decorrente de direitos que terceiros possam ter adquirido sobre a coisa. Nestes casos o credor tem direito ao valor da coisa, compensatório da impossibilidade de obtenção da coisa em espécie e, além disso, às perdas e danos decorrentes do fato.
O valor da coisa, se não estiver já fixado no processo ou no título
(inovação do artigo 627), deverá ser definido por avaliação ou arbitramento, utilizando-se este quando a estimação objetiva do valor for impossível. O procedimento para apuração do valor da coisa, bem como das perdas e danos, é o da liquidação de sentença (art. 603 e s.).
Pode ocorrer, ainda, que o devedor tenha direito a benfeitorias
indenizáveis, nos termos da lei civil, ou mesmo que o direito seja do terceiro de cujo poder a coisa deva ser retirada. Neste caso é obrigatória a liquidação prévia para a determinação do valor dessas benfeitorias, porque, se houver saldo a favor do devedor ou do terceiro, o credor, como requisito para execução, deverá depositá-lo ao requerer a entrega da coisa. Se na liquidação, computadas outras verbas que a sentença tenha atribuído ao credor e avaliadas as benfeitorias, quem ficar com saldo for o credor, este poderá executar a quantia nos autos do mesmo processo (vide ainda artigo 744 do CPC – embargos de retenção).
IV. Podemos perceber que com o advento da Lei 10444/02 o legislador
procurou incrementar os meios jurídicos e factuais visando garantir a efetividade do processo. Baseado na literatura italiana passou-se, de certa forma, a distinguir a execução por expropriação da execução específica. O que torna específica a execução para entrega e a das obrigações de fazer ou não fazer é a especialidade do objeto do direito a satisfazer. Assim sendo, os meios executivos aplicam-se direta e especificamente sobre o objeto do direito exeqüendo, isto é, especificamente sobre a coisa devida. Como menciona Ada Pellegrini o advento do artigo 461-A da referida lei aproximou muito o processo de conhecimento do processo executivo, praticamente eliminando qualquer distinção visível. Sendo assim, ajuizada demanda em que se tenha postulado a condenação do demandado a entregar coisa certa, deverá o juiz, na sentença de procedência do pedido, não só condenar o demandado a entregá-la, mas também fixar prazo dentro do qual o o comando da sentença deverá ser cumprido. Uma vez não cumprida a obrigação no prazo estabelecido, expedir-se-á em favor do credor mandado de busca e apreensão, se coisa móvel, ou de imissão na posse, tratando-se de coisa imóvel. Não obstante as disposições retro mencionadas, se aplica à ação prevista no artigo 461-A o disposto nos § 1º a 6º do art. 461 do mesmo diploma legal. Art. 461-A. Na ação que tenha por objeto a entrega de coisa, o juiz, ao conceder a tutela específica, fixará o prazo para o cumprimento da obrigação.
§ 1o Tratando-se de entrega de coisa determinada pelo gênero e
quantidade, o credor a individualizará na petição inicial, se lhe couber a escolha; cabendo ao devedor escolher, este a entregará individualizada, no prazo fixado pelo juiz.
§ 2o Não cumprida a obrigação no prazo estabelecido, expedir-se-á,
em favor do credor, mandado de busca e apreensão ou de imissão na posse, conforme se tratar de coisa móvel ou imóvel. (Acrescentado)
§ 3o Aplica-se à ação prevista neste artigo o disposto nos §§ 1o a 6o
do art. 461.
Como se vê, a sentença que condena a entregar coisa certa é
auto-executável, pois pode ser executada de ofício pelo juiz dentro do mesmo processo que foi proferida, independentemente do ajuizamento de ação executiva. Além disso, inovou a Lei 10444/02 ao tornar possível a utilização de astreintes também nesta modalidade de execução, combinando meios de sub-rogação e de coerção, o que amplia a efetividade do processo.
V. Na execução para a entrega de coisa incerta, o Código prevê um
procedimento de definição da coisa a ser entregue (a chamada concentração do direito material, cf. art. 244 do NCC), seguindo depois os trâmites da execução para entrega de coisa certa. Como é evidente, coisa incerta não pode querer dizer coisa indeterminável. Coisa incerta é aquela determinada pelo gênero e quantidade, faltando, apenas, individualizá-la.