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porta do teatro, esse lugar mágico em que, mais do que serem iniciados,
iniciaram os pais: «Eu não sabia, estava longe de imaginar que o meu filho
reagia assim!».
De algum modo, passámos a olhar para este projecto como uma espé-
cie de mecanismo de compensação social típico de uma sociedade indus-
trializada que relega a Arte para salas de concerto, estádios e outras igre-
jas, entregando a sua disseminação a peritos e sofisticados esquemas
tecnológicos. Ou seja, passamos a ver em BebéBabá uma forma de devol-
ver às famílias uma certa forma de relação com as artes, mais próxima da
tradição oral e do contacto humano, inscrevendo a música na cultura do
quotidiano. Uma espécie de «colo da sua cultura» (Rodrigues, 2003, p. 88),
que é também um mecanismo de compensação para o enfraquecimento da
rede de relações humanas a que o estilo de vida urbana conduz. Isto é,
BebéBabá constituiu para muitos dos participantes um ponto de encontro
entre pessoas que estão a aprender a ser pais e que encontram no grupo
uma certa forma de suporte emocional.
Para além de aspectos especificamente de ordem da aprendizagem
musical, uma experiência como BebéBabá pode, pois, ajudar a criar um
compromisso educativo entre pais e filhos e entre um grupo.
E, note-se, através das nossas observações pensamos poder dizer que
é importante termos os pais como participantes, pois o modo como os
bebés reagem ao seu pai ou mãe que canta é diferente do modo como rea-
gem a outro adulto que cante. É como se nesta idade as crianças olhassem
para os seus pais como um modelo, qual ganso de Konrad Lorenz: se os
seus pais cantam ou dançam isso quer dizer que cantar e dançar é bom e,
portanto, é algo a imitar. Trata-se, pois, de uma matriz de comportamento
que se inscreve na mais tenra infância da construção destas famílias, pois
os pais actuam simultaneamente como modelos e como supervisores (ou
aprovadores) do comportamento dos seus pequenos “discípulos”.
Ao aproximar músicos, artistas e pais, este projecto terá ajudado a
tecer elos de ligação essenciais entre as crianças e suas famílias, mas tam-
bém dentro do grupo e, de uma forma restrita, dentro das comunidades
onde o projecto ocorreu.
As primeiras experiências de aprendizagem são fundamentais para o
resto da vida. Pensamos que esta é uma afirmação que não diz respeito
apenas ao bebé mas também àqueles que dele cuidam. «Um bom começo
nunca tem fim», disse alguém. O compromisso com a integração do bebé
numa comunidade é algo que se aprende também. E, nesse aspecto, acre-
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«(...) a generalidade dos políticos interessa-se não pela verdade mas pelo poder
e pela manutenção desse poder (...). Estamos pois rodeados por uma vasta teia
de mentiras, de que nos alimentamos.»
HAROLD PINTER In Arte, Verdade e Política, p. 19.
CODA
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Helena Rodrigues
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