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29/12/2019 Opera Mundi: O sexo dos índios: como a colonização transformou a diversidade em desvio
disparado, dividindo seu corpo em duas partes, uma delas tendo desaparecido para
sempre. Para o frade, essa foi uma ocasião para que os nativos entendessem e
admirassem o julgamento divino.
O relato, publicado no livro de d’Evreux Voyage dans le Nord du Brésil, fait durant les
années 1613 et 1614 (Viagem ao Norte do Brasil, realizada durante os anos de 1613 e
1614), foi retomado na obra Gay Indians in Brazil: Untold Stories of the Colonization of
Indigenous Sexualities (Springer, 2017), dos antropólogos Estevão Rafael Fernandes,
professor da Universidade Federal de Rondônia, e de Barbara M. Arisi, da
Universidade Federal da Integração Latino-Americana (Unila).
A obra de Fernandes e Arisi procura entender como diversas práticas sexuais foram
classificadas como impuras, pecaminosas e “desviantes”. Os pesquisadores
associaram os estudos pós-coloniais com aspectos da teoria queer – desenvolvida em
meados dos anos 1980 que, em linhas gerais, propõe que toda sexualidade é
construída socialmente e deve ser explicada pelas relações humanas e não pela
natureza. As fontes pesquisadas revelam, segundo os autores, “um policiamento
ostensivo das sexualidades indígenas”, o que significava uma vigilância atenta por
parte dos colonizadores de tudo que fugisse do padrão heteronormativo, num
processo que não tinha apenas como fim controlar a sexualidade dos nativos. Ao
classificar as práticas “desviantes” como “degeneradas” e “involuídas”, os
colonizadores não apenas reprimiam os indígenas como também “criavam
justificativas ideológicas que foram centrais no sistema de dominação colonial”,
explica Estevão Fernandes.
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Fernandes afirma que trabalha, sim, com a ideia de índios gays ou, mais
precisamente, com a de homossexualidades indígenas, mas sem uma definição
fechada. “‘Homossexualidade’ se torna, para mim, neste livro, uma categoria guarda-
chuva que dá conta de todo esse universo que não se enquadra no modelo hétero
hegemônico”, afirma.
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Esse discurso, afirma Borges da Silva, encontra eco em falas de diversas etnias do
território brasileiro. O pesquisador contou que, durante um encontro de parteiras
guarani, em agosto, uma liderança atribuiu a homossexualidade entre os indígenas a
falhas na realização de rituais de passagem. “Essa liderança, no entanto, sabia que
aquele encontro era assistido tanto por indígenas quanto por não indígenas, e essa
fala deve ser entendida como parte da negociação entre índios e não índios”, explica.
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Moema (1866), de Victor Meirelles: personagem do poema Caramuru (1781), de Santa Rita Durão
Arisi conta que uma amiga indígena matis, de 39 anos, idade próxima à da
pesquisadora, perguntou-lhe quem a tinha “aberto”: “Para ela, era uma pergunta
comum, para saber quem tinha começado a abrir minha vagina, pois as mulheres
matis passam por uma construção do corpo; além das perfurações nasais, auriculares
da infância, elas têm a vagina também aberta bem devagar, num processo que se
desenrola ao longo de alguns anos, em que um (ou mais de um) homem com quem
ela poderia se casar no futuro usa o dedo para ajudá-la a abrir sua vagina”. A
antropóloga respondeu que não havia passado pela experiência de abertura da
vagina com o dedo antes, mas, sim, penetrada direto com um pênis. “‘Como?’ Minha
amiga matis não podia acreditar que eu não fora preparada para a penetração do
pênis. ‘E você chorou muito?’, ela perguntou. ‘Não chorei, mas doeu e sangrou’,
respondi. Ao que ela questionou: ‘Sangrou? Como sangrou?’ Dessa vez era eu quem
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estava estupefata, e rebati a pergunta: ‘Você não sangrou?’ Minha amiga Matis
respondeu que não, não sangrara na primeira vez em que um pênis a penetrara.
‘Pobre Barbara, ninguém te abriu com a mão, por isso você sangrou’”. Essas
diferenças, no entanto, não valem para qualquer sociedade indígena. Cada etnia tem
uma história e uma cultura própria.
Na época da pesquisa, entre 2008 e 2012, Tota preparava seu doutorado e estava
preocupado com temas como gênero, geração e sexualidades e suas relações com a
questão étnica. Essa predominância do rural e do pequeno município permitiu ao
pesquisador perceber como padrões normalmente identificados com a vida urbana,
como a de travestilidade, estão presentes, com algumas características específicas,
também no meio rural e nas aldeias indígenas da região.
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