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Universidade São Judas Tadeu – Butantã

Estado de São Paulo


DIR3BN-BUB – Noturno

GRUPO DE TRABALHO DA TURMA DIR3BN-BUB

– Estudantes da Universidade São Judas Tadeu/SP – Butantã –

– Larissa Dicman Ballo. RA 81713559 –


– Matheus Dutine de Melo. RA 817115281 –
– Natanael Rodolfo Piauhy De Oliveira. RA 817115773 –

PARECER: s/nº de 07 de outubro de 2019.


ASSUNTO: (In) Constitucionalidade da Lei nº xxx/19
INTERESSADO: Associação Nacional dos Produtores de Roupas

EMENTA: LEI Nº XXX/19. CRIAÇÃO. S/A. SOCIEDADE DE ECONOMIA MISTA.


ATIVIDADE ECONÔMICA EM SENTIDO ESTRITO. AFRONTA AOS
DISPOSITIVOS DA CARTA MAGNA. REGIME ESTATUTÁRIO. DISPENSA DE
LICITAÇÃO. MONOPÓLIO. ORDEM ECONÔMICA. PRECATÓRIOS JUDICIAIS.
ISENSÃO DE TRIBUTOS. INADIMISSIBILIDADE. VÍCIO FORMAL. PERTINÊNCIA
TEMÁTICA. INCONSTITUCIONALIDADE EVIDENTE DE NORMAS.

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Ilustríssimo Senhor Representante,

RELATÓRIO

Em resumo e muito sucintamente, foi sancionada a Lei nº


xxx/19, que permitiu a criação da ALIMENTOS DO BRASIL S/A (sociedade de
economia mista de capital aberto e personalidade jurídica de direito privado), que
possui como razão social produzir e vender alimentos nas regiões Norte/Nordeste
desta nação (em razão da seca que atinge tais localidades.

A referida norma estabeleceu diversos aspectos jurídicos da


citada empresa, como seu regime jurídico tributário, trabalhista (no que concerne a
contratação de pessoal), a forma como a mesma irá realizar o pagamento de suas
dívidas constituídas em ações judiciais, a possibilidade de ela monopolizar a
produção e comércio de alimentos, regime trabalhista dos funcionários e vários
outros aspectos.

Em decorrência do exposto acima, a Associação Nacional dos


Produtores de Roupas fez contato com os presentes pareceristas, com o intuito de
verificar eventuais vícios constitucionais no teor da Lei nº xxx/19 através de parecer
jurídico.

Esta, a síntese dos fatos.

FUNDAMENTAÇÃO

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De logo, e, ainda que a referência seja óbvia, impõe-se reportar


que, o direito não é uma ciência exata, e, sendo assim, como de fato o é mesmo,
pode, portanto, comportar entendimentos divergentes sobre a matéria em comento,
devendo o administrador ponderar sobre o assunto no momento da tomada de sua
decisão.

Guardada essa óbvia constatação tão filosoficamente


tormentosa quanto verdadeira, também não se pode admitir ao cientista que este se
quede de se posicionar em face das questões a si dirigidas pelos diversos
consulentes por mais problemáticas e complexas que sejam as demandas trazidas a
sua análise, e, aqui, já por se cuidar mesmo do seu mister.

Cuida-se, a presente vexata quaestio, de eventual


possibilidade do ajuizamento de Ação Direta de Inconstitucionalidade em face da Lei
nº xxx/19, por parte da Associação Nacional dos Produtores de Roupas, em
decorrência de compreenderem que a empresa Alimentos do Brasil S/A criará
embaraços que irão interferir na devida Livre Concorrência (Princípio eivado ao
status Constitucional pela Constituinte de 88).

Passemos então, agora, a discorrer sobre os principais pontos


que, a nosso ver, dão fortes indícios de que, em eventual ADIn, poderá o Supremo
Tribunal Federal vir a declarar a inconstitucionalidade da referida norma alhures
citada, em decorrência do quantum que passamos a expor:

A Lei nº xxx/19 prevê expressamente a possibilidade de a


Alimentos do Brasil S/A monopolizar a produção e comércio de alimentos nas
regiões Norte e Nordeste do país. Pois bem, há aqui claro indício de afronta do
Princípio da Livre Concorrência, previsto no parágrafo único do artigo 170 da
Constituição Federal, em conjunto com o artigo 177, in verbis:

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“Art. 170. [...]


Parágrafo único. É assegurado a todos o livre exercício de qualquer
atividade econômica, independentemente de autorização de órgãos
públicos, salvo nos casos previstos em lei. ”.
(Grifos nossos)

Destarte, os casos previstos em lei que restringem tal


dispositivo estão previstos no já citado artigo 177, que traz um rol taxativo de
hipóteses em que o Estado exercerá a Atividade Econômica em Sentido Estrito
através do Monopólio, sendo que quando determinada atividade não estiver ali
expressa, o fará por meio de Participação, atuando de forma concorrencial com
empresas privadas.

Confirmando nosso pensamento, a Ilustre Irene Nohara já se


pronunciou a respeito:

“Trata-se de exclusividade de domínio, exploração ou utilização de


determinados bens, serviços ou atividades econômicas, em detrimento de
qualquer concorrência.
No monopólio, o Estado exclui a livre iniciativa e a concorrência de
determinada atividade em benefício do interesse coletivo. Trata-se,
conforme visto, de circunstância em que ele assume integralmente
determinado setor do domínio econômico/atividade econômica sem sentido
estrito.
Como a livre iniciativa e a concorrência são respectivamente
fundamento e princípio da ordem econômica, admite-se que haja
monopólio apenas de atividade expressamente previstas na
Constituição. ”.
(NOHARA, Irene Patrícia. Direito administrativo. São Paulo: Editora
Atlas, 2011, p. 515).
(Grifos nossos)

Ademais, em complementação ao já afirmado no tocante a


matéria de monopólio, o Exmo. Ministro Eros Grau nos ensina, sabiamente, que:

“A definição da situação – como de monopólio ou de participação – na


qual atuará diretamente o Estado, na exploração de atividade
econômica em sentido estrito, há de ser informada pelo tipo de
interesse que a justifique. Na hipótese de imperativo da segurança
nacional, o monopólio, em regra, impor-se-á.
Variadas, no entanto, poderão ser as manifestações de relevante
interesse coletivo. Cuidando do tema do caráter suplementar da
atuação estatal na vigência da Emenda Constitucional n. 1/69 (§1º do
art. 170) enunciei as seguintes hipóteses: (a) atuação para suprir

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incapacidade ou falta de interesse momentâneo do setor privado; (b)


para suprir insuficiência da oferta de determinados bens ou serviços;
(c) para coibir situação de monopólio de fato; (d) para implementar a
função social da propriedade (empresa) e a promoção do pleno
emprego. A noção de relevante interesse coletivo é, todavia, bem mais
ampla do que a atinente ao ‘caráter suplementar da iniciativa privada’.
Há de ser, a primeira – repito-o –, conformada pelo conjunto de
princípios indicados no item 84.
Assim, conclusivamente, parece não entrar em testilhas com o texto
constitucional a exploração direta, em regime de monopólio, quando
isto resultar efetivamente necessário a relevante interesse coletivo,
conforme definido em lei. ”.
(GRAU, Eros Roberto. A ordem econômica na constituição de 1988. 15ª
ed. São Paulo: Malheiros editores, 2012, p. 283 e 284).

Quanto a previsão de que os funcionários se submeterão ao


regime estatutário federal, previsto na Lei nº 8.112/90, bem como a previsão de que
os mesmos serão contratados mediante livre provimento, submetendo-se a estágio
probatório para adquirirem estabilidade, cabem aqui outras ressalvas. Essas sim
hipóteses claras de eventual inconstitucionalidade maculando o ordenamento.

Os empregados, mesmo que de sociedade de economia mista,


pessoa jurídica de direito privado, ainda que exercendo atividade econômica em
sentido estrito, devem submeter-se ao concurso público para que sejam
empossados nas devidas funções, estando assim a lei em comento no caso em tela
ferindo o artigo 41, CF, visto que tal dispositivo se direciona apenas aos funcionários
estatutários. Não há, dessa forma, que se falar estabilidade para empregados de
SEM, muito menos, por lógica, a hipótese de estágio probatório para adquiri-la.
Nesse mesmo sentido, a jurisprudência já se consolidou, conforme passamos a
extrair das ementas a seguir:

“EMPREGADOS DE SOCIEDADE DE ECONOMIA MISTA. REGIME


JURÍDICO ÚNICO. INAPLICABILIDADE. Os empregados da sociedade
de economia mista, muito embora a partir da Carta Magna de 1988
devam necessariamente ser admitidos mediante concurso público, não
se sujeitam ao Regime Jurídico Único, estatutário, mas ao celetista, na
forma do § 1.º do artigo 173 da Constituição Federal. ”.
(TRT-20 76598 SE 765/98, Data de Publicação: DJ/SE de 14/10/1998)
(Grifos nossos)

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“Artigo 14, parágrafo 3º, da Lei 8429/92 e artigo 172, da Lei 8112/90.
Inaplicabilidade aos empregados de sociedade de economia mista. O
artigo 14, da lei 8429/92, em seu parágrafo 3º, faz expressa referência
aos servidores públicos federais, remetendo a matéria à Lei 8112/90,
ou seja, ao Estatuto dos Funcionários Públicos Civis da União, em
razão de o desligamento do servidor público estatutário somente ser
possível por meio do respectivo e prévio processo administrativo.
Mero empregado de sociedade de economia mista, a rescisão de seu
contrato de trabalho se mostra possível em qualquer circunstância,
independentemente de formalidades, estando a matéria já sedimentada
jurisprudencialmente por meio da Orientação Jurisprudencial 247, da
SDI - 1, do C. TST. ”.
(TRT-2 - RO: 2441200405202006 SP 02441-2004-052-02-00-6, Relator:
JANE GRANZOTO TORRES DA SILVA, Data de Julgamento: 14/06/2006,
9ª TURMA, Data de Publicação: 30/06/2006)

“CONSTITUCIONAL. EMPREGADOS DE SOCIEDADE DE ECONOMIA


MISTA. ESTABILIDADE. C.F., art. 41. I. - A norma do art. 41, C.F.,
conferidora de estabilidade, tem como destinatário o servidor público
estatutário exercente de cargo público. Inaplicabilidade aos
empregados de sociedade de economia mista. II. - Inocorrência de
ofensa ao art. 37, II, C.F. III. - Agravo não provido. ”.
(STF - RE: 242069 PE, Relator: Min. CARLOS VELLOSO, Data de
Julgamento: 22/10/2002, Segunda Turma, Data de Publicação: DJ 22-11-
2002 PP-00084 EMENT VOL-02092-03 PP-00554)
(Grifos nossos)

A Lei nº xxx/19 determinou que a empresa Alimentos do Brasil


S/A estaria dispensada de pagamento de tributos. Ora, resta aqui outra hipótese em
que há fortíssimos indícios de inconstitucionalidade da referida norma. Isso porque,
conforme podemos extrair do artigo 173, §2º, de nossa Carta Magna, que veda
expressamente o comportamento legal imposto, senão vejamos, in verbis:

“Art. 173. [...]


§2º. As empresas públicas e as sociedades de economia mista não
poderão gozar de privilégios fiscais não extensivos às do setor
privado. ”.

Em conformidade com o explanado, o Egrégio Tribunal de


Justiça de São Paulo e o STF já se pronunciaram acerca do assunto:

“ILEGITIMIDADE PASSIVA – EXCEÇÃO DE PRÉ -EXECUTIVIDADE –


IPTU do exercício de 2008 – Inocorrência – Imóvel tributado objeto de
compromisso de venda e compra não registrado no cartório imobiliário
– Ausência de eficácia erga omnes do contrato – Inoponibilidade
contra a administração tributária – Legitimidade do proprietário que
figura no registro imobiliário – Artigos 1227 e 1245, caput, e § 1º do CC

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IMUNIDADE TRIBUTÁRIA – Município de Penápolis – Ajuizamento em


face da CDHU – Admissibilidade – Imunidade recíproca inexistente na
espécie - Benefício que não alcança sociedade de economia mista –
Precedentes desta Corte – Orientação do Colendo STF no sentido de
que o serviço prestado por empresa de economia mista, para resultar
em inaplicabilidade da vedação de que trata o art. 173, § 2º, da
Constituição Federal, deve ser público, indisponível e prestado em
regime de exclusividade, o que não é o caso – Sujeição às regras de
direito privado ISENÇÃO TRIBUTÁRIA – IPTU - Município de Penápolis
- Exercícios de 2008 - Admissibilidade - Concessão da isenção, à luz
do que estatuem as Leis Municipais nº 2.155/1999, 2.217/2000 e
2.218/2000, segundo as quais enquanto os bens imóveis estiverem sob
o domínio da CDHU ficará isento de tributo municipal – Imóvel que
continua a ser de propriedade da CDHU perante o registro de imóveis –
Precedentes desta Câmara - Extinção da execução com relação à
apelada que se impõe - Sentença de extinção mantida por outro
fundamento - Recurso provido em parte, para reconhecer a
legitimidade de parte e a não incidência da imunidade tributária
recíproca.”.
(TJ-SP 05022014020098260438 SP 0502201-40.2009.8.26.0438, Relator:
Fortes Muniz, Data de Julgamento: 12/04/2018, 15ª Câmara de Direito
Público, Data de Publicação: 17/04/2018)
(Grifos nossos)

A Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos é uma empresa pública,


entidade da administração indireta da União, como tal tendo sido
criada pelo DL 509, (...) de 1969. Seu capital é detido integralmente pela
União Federal (art. 6º) e ela goza dos mesmos privilégios concedidos à
Fazenda Pública, "quer em relação a imunidade tributária, direta ou
indireta, impenhorabilidade de seus bens, rendas e serviços, quer no
concernente a foro, prazos e custas processuais". Leia-se o texto do
art. 12 do decreto-lei. No que concerne às obrigações tributárias, a ela
não se aplica o § 2º do art. 173 da CF, na afirmação de que as
empresas públicas e as sociedades de economia mista não poderão
gozar de privilégios fiscais não extensivos às do setor privado. O que
resta definidamente evidente, neste passo, como anotei em outra
ocasião, é que tanto o preceito inscrito no § 1º quanto o veiculado pelo
§ 2º do art. 173 da Constituição de 1988 apenas alcançam empresas
públicas e sociedades de economia mista que explorem atividade
econômica em sentido estrito. Não se aplicam àquelas que prestam
serviço público, não assujeitadas às obrigações tributárias às quais se
sujeitam as empresas privadas. As empresas públicas, sociedades de
economia mista e outras entidades estatais que prestem serviço
público podem gozar de privilégios fiscais, ainda que não extensivos a
empresas privadas prestadoras de serviço público em regime de
concessão ou permissão (art. 175 da CF/1988). Isso me parece
inquestionável. (...). Sendo assim, dada a impossibilidade de tributação
de bens públicos federais pelo Estado do Rio de Janeiro em razão da
garantia constitucional de imunidade recíproca e convencido de que
ela, a imunidade recíproca, assenta-se basicamente no princípio da
federação, entendo verificar-se a competência originária desta Corte
para conhecer e julgar a lide, nos termos do disposto no art. 102, I, f,

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da Constituição. O fato jurídico que deu ensejo à causa é a tributação


de bem público federal.
[ACO 765 QO, voto do rel. p/ o ac. min. Eros Grau, j. 1º-6-2005, P, DJE de
7-11-2008. ]
(Grifos nossos)

No mais, a Lei nº xxx/19 foi expressa no sentido de determinar


que toda e qualquer dívida judicial adquirida por parte da Alimentos do Brasil S/A
será paga através do regime de precatórios, regime esse previsto no Artigo 100 da
Constituição Federal e que, em breve análise, que é inaplicável a empresa em
questão, nos indicando outra inconstitucionalidade na norma objeto desse parecer,
visto que as sociedades de economia mista com razão social e atividade econômica
com os moldes da do presente caso concreto não podem valer-se de tal disposição,
conforme restou-se decidido no acórdão do Recurso Extraordinário 599.628 Distrito
Federal:

“FINANCEIRO. SOCIEDADE DE ECONOMIA MISTA. PAGAMENTO DE


VALORES POR FORÇA DE DECISÃO JUDICIAL. INAPLICABILIDADE
DO REGIME DE PRECATÓRIO. ART. 100 DA CONSTITUIÇÃO.
CONSTITUCIONAL E PROCESSUAL CIVIL. MATÉRIA
CONSTITUCIONAL CUJA REPERCUSSÃO GERAL FOI RECONHECIDA.
Os privilégios da Fazendo Pública são inextensíveis às sociedades de
economia mista que executam atividades em regime de concorrência
ou que tenham como objetivo distribuir lucros aos seus acionistas.
Portanto, a empresa Centrais Elétricas do Norte do Brasil S.A –
Eletronorte não pode se beneficiar do sistema de pagamento por
precatório de dívidas decorrentes de decisões judiciais (art. 100 da
Constituição). Recurso extraordinário ao qual se nega provimento. ”.
(Recurso Extraordinário 599.628 DF, Relator Ministro Ayres Britto)

Prosseguindo com a árdua tarefa de aqui tentarmos pinçar


todos os possíveis pontos de inconstitucionalidade, temos ainda alguns pontos a
tratar. A Lei criou uma nova modalidade de contrato administrativo exclusiva para o
uso da Alimentos do Brasil S/A. Ora, se o artigo 173, §1º, III, da Constituição
Federal, reza que no tocante a licitações e contratos relativos às sociedades de

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economia mista deverão ser observados os princípios da administração pública


(previstos no artigo 37 da Carta Magna), resta-nos claro que, levando em
consideração os princípios constitucionais da impessoalidade, da isonomia e
igualdade, é clara a precariedade deste ponto da norma atacada em comento, visto
que ao criar nova modalidade de tal contrato, o mesmo deveria valer-se para todos
os entes abarcados como legitimados para valer-se de tal pretensão, estando tal
dispositivo notadamente maculado de inconstitucionalidade.

A respeito dos referidos princípios agindo sobre o poder de


legislar, ensina Irene Nohara:

“O princípio da igualdade desdobra-se em duas dimensões: a


igualdade formal, segundo a qual todos devem ser formalmente
tratados como iguais perante a lei, e a igualdade material, pela qual os
iguais devem ser tratados de forma igual e os desiguais de forma
diferente, em função de sua situação desigual.
Assim, expõe Celso Antônio Bandeira de Mello que a isonomia não
proíbe a diferença de tratamento, que é inerente às atividades
legislativas, mas o tratamento discriminatório arbitrário, ilógico ou
irrazoável. Explana o autor que para se averiguar se houve violação ao
princípio, ‘tem-se que investigar, de um lado, aquilo que é erigido em
critério discriminatório e, de outro lado, se há justificativa racional
para, à vista do traço desigualador adotado, atribuir o específico
tratamento jurídico constituído em função da desigualdade afirmada’.
O mesmo raciocínio é desenvolvido por Maria Sylvia Zanella Di Pietro:

‘O limite à discricionariedade do legislador é representado pelo fato de


que este, ao estabelecer discriminações entre os indivíduos, tem que
levar em conta os objetivos que pretende alcançar com essas
discriminações; estas têm que ser plausíveis, aceitáveis, razoáveis,
racionais, em relação aos fins que o ordenamento jurídico impõe; em
resumo, tem que haver uma relação entre a imposição legal e o
objetivo imposto pelo ordenamento jurídico, sob pena de
inconstitucionalidade. ’.”.
(NOHARA, Irene Patrícia. Direito administrativo. São Paulo: Editora
Atlas, 2011, p. 311 e 312).
(Grifos nossos)

Ora, após a análise de tal doutrina, podemos perceber que


além do dever que o legislador tem de respeitar uma isonomia formal em relação
com aqueles que podem usufruir-se dos contratos administrativos, resta também
constatado que, pela igualdade material, não pode haver tratamento diferenciado

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quanto ao direito material da Alimentos do Brasil S/A, visto que, no caso concreto,
ela realiza Intervenção Direta em regime de Participação, não podendo essa ser
favorecida em detrimento dos particulares que também prestam tal atividade
econômica em sentido estrito.

Agora, como último ponto acerca da inconstitucionalidade da


norma, passemos a discorrer brevemente sobre a determinação de que os litígios
que envolvam a Alimentos do Brasil S/A seriam solucionados perante a Justiça
Federal. A rigor, tal previsão se faz totalmente contrária ao ordenamento jurídico
pátrio e ao entendimento já firmado pela Suprema Corte Constitucional, senão
vejamos:

- CONSTITUCIONAL. RECURSO EXTRAORDINÁRIO. SOCIEDADE DE


ECONOMIA MISTA. COMPETÊNCIA. Súmula 556 STF. C.F., art. 170, §
1º, ou art. 170, § 1º, II, EC 19/98. I. - É competente a justiça comum para
julgar as causas em que é parte sociedade de economia mista, cujo
foro é o das empresas privadas e não o foro da Fazenda Pública.
Súmula 556. STF. CF, art. 173, § 1º, ou art. 173, § 1º, II, CF, com a EC
19/98. II. - Agravo não provido.
(STF - AI: 337615 SP, Relator: Min. CARLOS VELLOSO, Data de
Julgamento: 11/12/2001, Segunda Turma, Data de Publicação: DJ 22-02-
2002 PP-00040 EMENT VOL-02058-06 PP-01279)

Ademais, cumpre-nos aqui elucidar quanto à existência de


matéria já sumulada pelo Supremo, in verbis:

“SÚMULA 556. É competente a Justiça Comum para julgar as causas


em que é parte sociedade de economia mista. ”;
“SÚMULA 501. Compete à Justiça Originária Estadual o processo e o
julgamento, em ambas as instâncias, das causas de acidente do
trabalho, ainda que promovidas contra a União, suas autarquias,
empresas públicas ou sociedades de economia mista. ”;
“Súmula 517. As sociedades de economia mista só têm foro na Justiça
Federal, quando a União intervém como assistente ou oponente. ”.

Em consonância, não é outro o entendimento doutrinário dado


por Irene Nohara, senão vejamos:

“Existe também uma diferença quanto ao processamento e julgamento


das estatais federais: enquanto a empresa pública federal, conforme
regra contida no art. 109, I, da Constituição, é processada na Justiça

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Federal, as sociedades de economia mista são processadas na Justiça


Estadual, sejam elas federais, estaduais ou municipais, conforme teor
das Súmulas:
[...]
42/STJ: ‘compete à Justiça Comum Estadual processar e julgar as
causas cíveis em que é parte sociedade de economia mista e os
crimes praticados em seu detrimento’.
As empresas públicas estaduais e municipais submetem-se, via de
regra, à Justiça Estadual. Note-se que, de acordo com a Súmula
517/STF: ‘as sociedades de economia mista só têm foro na Justiça
Federal, quando a União intervém como assistente ou oponente”.
Neste último caso, todavia, é a presença da União que desloca a
competência comum estadual para a esfera federal. ”
(NOHARA, Irene Patrícia. Direito administrativo. São Paulo: Editora
Atlas, 2011, p. 585).
(Grifos nossos)

Por fim, como advogados, temos o dever ético-moral de alertar


vossa senhoria acerca de que a Associação Nacional dos Vendedores de Roupa,
requerente do presente parecer, é parte ilegítima para a propositura de eventual
Ação Direta de Inconstitucionalidade em face da Lei nº xxx/19, que permitiu a
criação da Alimentos do Brasil S/A, devido ao fato de que para valer-se do disposto
no artigo 103, IX, da Constituição Federal, é necessária seja demonstrada
pertinência temática para com o objeto (produção e comercialização de alimentos), o
que não é o caso (roupas). Tal entendimento já se fez consolidado na Suprema
Corte, como podemos observar do seguinte trecho:

“A Constituição de 1988 ampliou consideravelmente a legitimidade


ativa para provocar o controle normativo abstrato, reforçando a
jurisdição constitucional por meio da democratização das suas vias de
acesso. No caso de entidades de classe de âmbito nacional, a
legitimidade deve observar três condicionantes procedimentais: a)
homogeneidade entre os membros integrantes da entidade (ADI 108-
QI, Rel. Min Celso de Mello, Plenário, DJ de 5/6/1992; ADI 146, Rel. Min.
Maurício Corrêa, Plenário, DJ de 19/12/2002); b) representatividade da
categoria em sua totalidade e comprovação do caráter nacional da
entidade, pela presença efetiva de associados em, pelo menos, nove
estados-membros ADI 386, Rel. Min. Sydney Sanches, Plenário, DJ de
28/6/1991; e ADI 1.486-MC, Rel. Min. Moreira Alves, Plenário, DJ de
13/12/1996; e c) pertinência temática entre os objetivos institucionais
da entidade postulante e a norma objeto da impugnação (ADI 1.873,
Rel. Min. Marco Aurélio, Plenário, DJ de 19/9/2003). Por sua vez, a
legitimidade de confederação sindical condiciona-se ao
reconhecimento da condição de confederação e à relação de

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pertinência temática entre os objetivos institucionais da confederação


postulante e a norma específica objeto de impugnação. ”.
(AG.REG. NA AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE 4.384
DISTRITO FEDERAL, Relator Ministro Luiz Fux).
(Grifos nossos).

“Caracterização da Abimaq como entidade de classe de âmbito


nacional. O novo estatuto social prevê que a associação é composta
apenas por entidades singulares de natureza empresarial, com classe
econômica bem definida, não mais restando caracterizada a
heterogeneidade de sua composição, que impedira o conhecimento da
ADI 1.804/RS. Prova, nos autos, da composição associativa ampla,
estando presente a associação em mais de nove Estados da
Federação. Cumprimento da exigência da pertinência temática, ante a
existência de correlação entre o objeto do pedido de declaração de
inconstitucionalidade e os objetivos institucionais da associação. ”.
[ADI 3.702, rel. min. Dias Toffoli, j. 1º-6-2011, P, DJE de 30-8-2011. ]
(Grifos nossos)

CONCLUSÃO

Sendo assim, considerando à colmatação documental alhures


referida, a conclusão é pela ampla inconstitucionalidade da Lei nº xxx/19, outrora
objeto do presente parecer, com, no entanto, ressalvas quanto a legitimidade do
requerente do presente para arguir a inconstitucionalidade da referida norma perante
o Supremo Tribunal Federal, dada a falta de pertinência temática que impede que
vossa senhoria tenha ilegitimidade ad causam.

É o Parecer.

A superior consideração!

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Desde já e, quanto ao mais, colocamo-nos à disposição do


excelentíssimo senhor consulente, para mais quaisquer outros esclarecimentos que
se fizerem necessários.

Com os nossos mais cordiais cumprimentos!

Município de São Paulo/SP, em 07 de outubro de 2019.

________________________
LARISSA DICMAN BALLO
OAB/SP Nº XXXXX

__________________________
MATHEUS DUTINE DE MELO
OAB/SP Nº XXXXX

________________________________________
NATANAEL RODOLFO PIAUHY DE OLIVEIRA
OAB/SP Nº XXXXX

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