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série serpente emplumada:
Martin Amis
A Viúva Grávida
Os Papéis de Rachel
O Segundo Avião
Giorgio Bassani
O Jardim dos Finzi-Contini
Os Óculos de Ouro
Raymond Carver
O Que Sabemos do Amor (Beginners)
Catedral
Christopher Isherwood
Um Homem Singular
Adeus a Berlim
Ismail Kadaré
Um Jantar a Mais
O Acidente
Patti Smith
Apenas Miúdos
Susan Sontag
O Amante do Vulcão
A Doença como Metáfora 1
A Sida e as Suas Metáforas
Renascer
Ao Mesmo Tempo
Darin Strauss
Metade da Vida
1
Abe Ravelstein - intelectual feroz, escritor famoso, confidente
de presidentes e primeiros-ministros, e que cultiva gostos que
levariam um rei à bancarrota - está a festejar o seu sucesso
em Paris. Com o amigo Chick, deambula pelas ruas da cidade
em busca de alta-costura, comidas finas e estímulos novos.
Mas Ravelstein está a morrer e pede a Chick que registe
a sua vida - pondo assim em movimento o último grande
debate entre os dois.
Uma história filosófica sobre o amor, a mortalidade, números
de vaudeville e fatos de 4500 dólares é o que acontece quando
dois velhos patifes escrutinam a sua verdadeira existência.
«Arrebatadoramente indiscreto.»
ISBN 978-972-564-968-8
111111111111111111111111111111
9 789725 6 4 9688
à
QUETZAL ave trepadora
da América Central,
que morre quando privada
de liberdade; raiz e origem
de Quetzalcoatl (serpente
emplumada com penas
de quetzal), divindade
dos Toltecas, cuja alma,
segundo reza a lenda, teria
subido ao céu sob a forma
de Estrela da Manhã.
O seu intelecto tinha -o
tornado um milionário.
Não é um detalhe sem
importância, ficarmos ricos
e famosos por dizer
exatamente aquilo que
pensamos - por dizê-lo nas
nossas próprias palavras, sem
,...,
concessoes.
Esta manhã, Ra velstein trazia
um quimono azul e br~nco.
Tinha-lhe sido oferecido no
Japão quando lá estivera
a lecionar no ano anterior.
Tinham-lhe perguntado o que
lhe agradaria particularmente
e ele disse que gostaria de ter
.
um quimono.
Ravelstein
Tradução de Rui Zink
Pré-impressão: Fotocompográfica
RAVELSTEIN
ISBN: 978-972-564-968-8
Quetzal Editores
quetzal@quetzaleditores.pt
Para Janis,
na cozinha foi bem mais longe que eles. Comprou uma má
quina de café expresso a uma companhia de fornecimento
a restaurantes. Ficou instalada na cozinha, dominando o lava
-louças, e fumegava e apitava explosivamente. Eu recusava-me
a beber o seu café porque era feito com água da torneira cheia
de cloro . A enorme máquina comercial tornava impossível
usar o lava-louças. Mas Ravelstein não precisava de lava-lou
ças para nada - apenas a máquina de café importava.
Ele e Nikki dormiam em lençóis de Pratesi e sob peles de
angorá magnificamente tratadas. Ele tinha a perfeita cons
ciência de que este luxo todo era cómico. Era invulnerável às
acusações de que era também a bsurdo . Ele não ia ter uma
vida longa. Estou inclinado a pensar que tinha ideias homé
ricas sobre ser ceifado cedo . Não estava inclinado a aceitar
algumas décadas de decadência, não com o seu apetite pela
existência e o seu excecional dom para visões globais. Não
era só o dinheiro - o seu grande golpe de asa com o best
-seller - que tornava aquilo possível; era a sua habilidade
comprovada nas guerras mentais - a posição que ocupava,
as lutas que provocava, as suas disputas com os senhores da
guerra classicistas e historiadores de Oxford. Ele estava se
guro de si mesmo, como De Gaulle dissera acerca dos j u
deus. Adorava uma boa polémica.
Rosamund e eu vivíamos naquela mesma rua num edifí
cio que nos lembrava a linha Maginot. Os nossos quartos
não eram tão esplêndidos como o apartamento monástico
-luxuoso de Ravelstein. Eram encafuados, mas eu necessitara
de asilo recentemente. Fora bombardeado - expulso após
doze anos de casamento do que tinha sido a minha casa na
parte nobre da cidade, e tivera sorte em encontrar santuário
num dos caixotes de cimento que ficavam ao pé de Ravelstein,
a cerca de cinquenta metros do seu portão estilo Midwest
RAVELSTEIN 77
- Da Alemanha ?
Assim parecia, embora ele não tivesse exatamente dito
que estava a ser enviado. Tive a impressão de que já estava
num cargueiro no meio do Atlântico. Talvez mesmo já des
carregado, enfiado num camião e a caminho daqui.
- É para o Nikki - disse. - Ele acha que devia ter algo
de especial e inteiramente seu. Consegues compreender isso,
não é, Chick ? Além disso, talvez ele tenha de desistir da es
cola na Suíça.
Não se tratava de uma pergunta. Isso podia eu ver bas
tante bem. Por um lado, se vestíssemos - como acontecia
com Nikki - Versace, Ultimo, Gucci, não quereríamos usar
transportes públicos. Mas, tendo satisfeito a minha estranha
necessidade de humor com uma tal observação, eu era agora
capaz de ver a realidade. A realidade era que Ravelstein se ti
nha safado por pouco, que ainda estava sob o que os médi
cos chamavam « suportes vitais » , que a parte de baixo do
corpo ainda estava paralisada, as pernas a não funcionarem,
e que, se e quando a paralisia fosse superada, haveria ainda
outras infeções à espera de serem apercebidas.
- Diz-me lá então, Chick, haa . . . hee . . . Que tal te pareço ?
86 SAUL BELLOW
- A cara ?
- A cara, a cabeça. Tu tens olho, Chick. E nada de eva-
sivas.
- Pareces uma meloa ressequida, aí sobre a almofada.
Ele riu. Os olhos fecharam-se e brilharam; sentia uma sa
tisfação particular com os meus esquemas mentais. Via este
tipo de observação como um sinal de faculdades superiores
em ação. Acerca do carro, disse:
- A agência estava a tentar vender-me um B M W cor de
vinho. Eu prefiro avelã. Ali em cima há um folheto com co
res - apontou e, quando lho dei, abriu-o. Barras e barras,
cada qual com a sua cor. Estudando sobriamente as amos
tras, concordei que a cor de vinho não serviria.
- Nunca te enganas em questões de gosto. O Nikki tam
bém acha o mesmo.
- Isso é simpático, mas nunca tive a impressão de que
ele se desse conta.
- As roupas que vestes podem não ser o último grito,
mas sempre tiveste as qualidades de um j anota, Chick. Em
bora numa fase anterior, e de um modo limitado. Lembro
-me do teu alfaiate de Chicago, aquele que me fez um fato.
- Tu mal o vestiste.
- Vestia-o em casa.
- E um dia desapareceu.
- O Nikki e eu morríamos de riso com o corte. Perfeito
para Las Vegas ou para um político na reunião anual da má
quina dos Democratas no Bismarck Hotel. Não fiques ma
goado, Chick.
- Não estou. Não invisto muito sentimento nos meus
fatos.
- O Nikki sempre disse que o teu gosto em camisas e
gravatas era perfeito. Kisser & Asser.
- Claro, Kisser & Asser.
RAVELSTEIN
Por isso, deixei que Vela fosse tão superior quanto qui
sesse, enquanto Ravelstein dizia que eu devia ter mais amor..,
-próprio e que era errado da minha parte ser tão mole. Mas
eu não estava inclinado a desviar-me do meu caminho para
agradar a tantos críticos. Tinha uma noção razoável da reali
dade e dos meus defeitos. Tinha permanentemente em mente
a aproximação da Morte, que nos pode surpreender a qual
quer momento.
Sej a como for, eu devia ter antecipado que Vela transfor
maria num caso enorme a « impropriedade » de Ravelstein.
Ela tinha-se preparado para ter uma conversa comigo sobre
o Abe, e a entrada intempestuosa dele no nosso quarto de
hotel dera-lhe precisamente a abertura de que estava à espera.
- Não quero voltar a vê-lo nunca mais - disse. - Peço
que te recordes também de que prometeste levar-me a Char
tres.
- Eu disse que o faria. E claro que o farei, quero dizer,
iremos lá j untos.
- E vamos convidar os Grielescus. São velhos amigos.
O professor Grielescu vai connosco. Nanette, não creio. Ela
deixou de fazer este género de passeios há muito temp o .
Não gosta d e ser vista durante o dia.
Eu próprio me tinha dado conta disso. Madame Grieles
cu tinha no seu tempo sido uma senhora magnífica, uma
dessas jeunes filies en fleur de que se ouvia falar há muito
tempo. Grielescu era um famoso erudito, não exatamente
um discípulo de Jung - mas não exatamente um não j un
guiano. Era difícil situá-lo.
Ravelstein, que não fazia acusações de ânimo leve, disse
que Grielescu era referido, por estudiosos que se especializa
vam em tais coisas, como um membro da Guarda de Ferro
conotada com o governo fascista romeno de antes da guerra.
1 22 SAUL BELLOW
Vela m e dava uma boa pontuação por ser tão delicado com
R a d u e sempre do máximo c a v a lheirismo c o m M a d a m e
Grielescu. A minha conversa de chacha com a Madame, em
francês, dava a Vela uma grande satisfação. Mas Ravelstein
estava a tecer uma observação muito séria sobre as minhas
relações com estas pessoas. Quando estava a morrer parecia
sentir necessidade de falar mais abertamente de assuntos que
nunca tínhamos sentido a necessidade de discutir.
- Eles usam-te como cobertura - disse Ravelstein. -
Tu nunca te farias amigalhaço de antissemitas . Mas estes
eram amigos de Vela, e tu deste a cara por eles, e forneceste
a Grielescu exatamente o que ele queria. Enquanto naciona
lista romeno, nos anos trinta, ele era violento para com os
j udeus. Não era um ariano; não, era um dácio. 1
E u sabia isso, bem demais. Estava também ciente d e que
Grielescu tivera uma relação próxima com C. G. Jung, que
se considerava uma espécie de Cristo ariano. Mas o que se
podia fazer com estes eruditos oriundos dos Balcãs que ti
nham uma infinita diversidade de interesses e talentos - que
eram cientistas e filósofos e também historiadores e poetas,
que estudaram sânscrito e tamil e davam aulas de mitologia
na Sorbonne; que poderiam, se intimados a isso, falar-nos de
pessoas que tinham « vagamente conhecido » na organização
paramilitar antissemítica da Guarda de Ferro ?
O facto é que eu gostava de observar Grielescu. Ele tinha
tantos tiques. Era um fumador irrequieto, sempre mexendo
no cachimbo, acendendo-o, enchendo-o de tabaco, batendo
com ele na mesa para o limpar. Era pequeno e careca, mas
usava o cabelo comprido na nuca; atrás do pescoço amon
toava-se. O escalpe, aberto como um estuário, tinha as veias
salientes; parecia congestionado. Muito diferente da calvície
de melão verde de Ravelstein. Enquanto se entretinha com
Ele pensava - não, ele via - que cada alma estava em bus
ca da que lhe era peculiar, ansiando pela sua complementar.
Não vou descrever Eros, etc., tal como ele o via . Já fiz bas
ta nte disso: mas há aqui um certo esplendor irredutível sem
0 qual não seríamos inteiramente humanos. O amor é a mais
tinha trazido para o seu leito da morte, como nunca mais fa
lou com ela, e a velha mulher voltara a Mea Sha'arim sem
o adeus da filha.
- Nehamah era pura e era inamovível - dizia Ravel
stein na sua voz de profundo respeito.
Estou a tentar transmitir o melhor que posso a relação
singular entre Ravelstein e Morris Herbst. Durante trinta ou
quarenta anos eles tinham estado em contacto diário.
- Agora que há cacau para tudo, tenho a satisfação de
conversar com o Morris sem pensar um segundo na despesa
- disse-me Ravelstein. Fosse como fosse, ele nunca abria as
contas de telefone, disse Nikki. Eram pagas através de Legg
Mason, a grande firma de investimentos na costa leste que
lhe administrava o dinheiro . O Abe disse a Nikki, que lhe
abria o correio: - Detesto os extratos eletrónicos, e era o que
faltava pôr-me a estudá-los. Não me mostres nada, não me
mostres nenhuma conta, a menos que o saldo negativo desça
dez milhões.
Aqui, a reserva oriental de Nikki caía por terra. Desman
chava-se a rir.
- Nem um tostão menos do que dez milhões - repetia.
Nikki estava à vontade comigo, porque eu nunca o pressio
nara; nunca falávamos de dinheiro. Ele ter-se-ia sentido, va
mos ver, como é que ele se teria sentido ? « Afrontado » é a
palavra adequada. Ele tinha o seu ar de suavidade principes
ca asiática, mas se o ofendêssemos era capaz de nos arrancar
a cabeça.
Morris Herbst, para voltar a ele, estava no topo da lista
de convidados de Ravelstein em todas as conferências que
organizava . Era o primeiro a ser convidado e o primeiro a
aceitar. Lia o j ornal em todos os eventos de Ravelstein. Ti
nha um ar ponderado, maduro, estável e falava deliberada
mente sem pressa ou nervosismos. Com a sua barba branca e
RAVELSTEIN
disse que era uma emergência médica. Eles disseram que te
rão uma cadeira de rodas à espera.
Uma cadeira de rodas! Eu nunca adivinharia que estava
assim tão mal. Afinal, a inexperiente Rosamund via os factos
mais claramente do que qualquer outra pesso a . Eu nunca
antecipara crises ou emergências.
Conseguiríamos arranj ar um táxi assim tão cedo ? Sim.
Por uma razão, porque a severa, elegante, expedita senhoria
de meia-idade afro-caribenha tinha tomado nota na noite
anterior da ambulância e do médico. Provavelmente, trocara
uma palavra com o consciencioso, não inteiramente honesto
j ovem francês. Mas ela não precisa do aviso dele: um olhar
nas escadas para o meu rosto engelhado, azarado, fúnebre,
teria sido mais do que suficiente.
Rosamund, agora mesmo assustada, estava aliviada por
partirmos. O seu rosto pálido-escuro estava agora já a pen
sar em Boston, com os seus milhares de médicos. Ela parecia
ter percebido a mensagem: ficarmos na ilha era morte certa.
Perguntou-me:
- Que livros e papéis podemos deitar fora ?
Esta era fácil demais.
- Vamos deixar os volumes mais pesados. E sobretudo
a Poesia Completa de Browning.
Eu tinha-me virado contra Browning. Classificava-o ago
ra na mesma categoria que a cozinha dos vizinhos franceses.
O que eu não a bandonaria era a revista do meu amigo
D urkin - a história dos cani b a i s . Estava obcecado com
a carne humana grelhada, os canibais e as cabeças decepa
das, com os olhos postos na erva manchada de sangue nas
ravinas cobertas de orquídeas. A carne humana a ser devora
da patinhou - admito-o - pela minha consciência contami
nada adentro. Era a doença que me tornava particularmente
suscetível. Eu não teria deixado aquelas páginas para trás
RAVELSTEIN 225
por nada. Podia usar a doença como cobertura. Mas elas de
sapareceram durante a viagem.
O alívio registado pela nossa dura e atraente senhoria fa
lava por si. Quão satisfeita, quão orgulhosa ela estava de se
ver livre de mim. Deixá-lo ir e morrer noutro lado qualquer
- num táxi ou num avião. Levantou-se antes do nascer do
sol para se assegurar de que partíamos . Os vizinhos france
ses também apareceram. Deviam ter sido acordados pela
ambulância na noite anterior com as sirenes e as luzes girató
rias. Com doçura e comiseração, desej aram-me as melhoras
e disseram adeus. Gente decente, afinal de contas. O adeus da
senhoria significava: « Pirem-se daqui . » No lugar dela eu era
capaz de ter concordado. À luz das cinco da manhã, acenou
-nos adeus - enfim livre !
- Que pesadelo - disse Rosamund, sobre as nossas fé-
rias frustradas. E, do táxi a toda a velocidade, disse adeus
à ilha com uma espécie de alívio selvagem. Pelo menos ia fi
car livre do motociclista mascarado que uma ou duas vezes
por semana tomava conta da rua principal. Vestido de cabe
dal até ao pescoço e com um capacete à Buck Rogers. Só os
dentes, cerrados, estavam à mostra . A polícia desaparecia
quando fazia os seus raides. As pessoas refugiavam-se quan
do ele voava na sua direção. Ele rugia para a frente e para
trás em tempestades de poeira, e decerto que mataria os pe
destres.
- O maluco local - chamava-lhe Rosamund. - Agora
já não terei de me preocupar com ele, nas minhas idas e vin
das à farmácia.
No enorme barracão verde de metal que era o aeródro
mo, cobrindo milhares de metros quadrados, Rosamund aju
dou-me, o homem doente, a sentar-me na cadeira de rodas.
Eu ainda estava capaz de andar, disse para Rosamund, e fiz
-lhe uma demonstração subindo as escadas do avião. Depois
226 SAUL BELLOW
tinham feito para eles. O meu pai estava mais ao fundo. Não
se aproximou. Os meus irmãos indicaram-me que estavam
satis feitos onde estavam . Não chamei o meu p a i . E le c o
nhecia as regras . Não vi r a z ã o p a r a l h e s fazer perguntas .
Sentindo-me a mim próprio j á meio lá, não tinha nenhuma
curiosidade urgente . Queria informação, mas as respostas
podiam esperar. Depois os meus irmãos retiraram-se, ou fo
ram retirados. Eu não me via como um moribundo. A minha
c a beça estava cheia de ilusões, alucinações, falsas causas
e efeitos. Verset é considerado extremamente nocivo para
a memória. Mas a minha memória sempre foi tenaz. Consigo
lembrar-me de ser tocado várias vezes. Alguma enfermeira
ou enfermeiro que sabia o que estava a fazer bateu-me nas
costas e ordenou-me que tossisse.
Eu visitara Ravelstein e outros amigos e familiares nas
unidades de cuidados intensivos de vários hospitais e, com
a estupidez natural de um homem saudável, tinha por vezes
considerado que algum dia poderia ser eu próprio a pessoa
amarrada à cama, ligada por tubos às máquinas de manu
tenção dos sinais vitais.
Mas agora era eu o moribundo . Os meus pulmões ti
nham-me falhado. Uma máquina respirava por mim. Incons
ciente, eu não fazia mais ideia da morte do que fazem os
próprios mortos. Mas a minha cabeça (parto do princípio de
que era a cabeça) estava repleta de visões, ilusões, alucina
ções. Isto não eram sonhos mas pesadelos. Os pesadelos têm
uma válvula de escape . . .
Acima d e tudo recordo que andava a vaguear, e passando
um bocado mal com isso. Numa das minhas visões estou nu
ma rua da cidade à procura do sítio onde devo passar a noi
te . Encontro-o por fim . Entro no que foi há muito tempo,
nos anos vinte, uma grande sala de cinema . Um palácio .
234 SAUL BELLOW
SÉRIE AMÉRICAS
SÉRIE MEDITERRÂNEO