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Coletânea de

Decálogos e
Mandamentos
do Advogado, do Magistrado
e do Ministério Público

e textos sobre valores inerentes às


profissões jurídicas, como requisito
indispensável ao exercício profissional

Eurípedes Brito Cunha Junior


(com a colaboração dos alunos)

1
A METÁFORA DO PEDREIRO: ENSINAR E APRENDER O DIREITO
Edilson Mougenot Bonfim

Existem dois momentos fundamentais na vida do acadêmico de direito; o de aprender os


conceitos básicos, e o de pensá-los, criticá-los e contestá-los. Não se pode começar pelos
últimos, mas sim dar-se os alicerces dos primeiros, sem o que tudo é em vão. Ambos são
necessários, cada qual a seu tempo. Muniz Freire, lembrado por Lyra, comparou o estudante
de Direito no Brasil ao aprendiz de pedreiro, a quem o mestre, em vez de pôr-lhe nas mãos a
colher e o martelo, e de ensinar os meios de compor a argamassa, disserta sobre estilos
arquitetônicos, a beleza das linhas dóricas ou jônicas e a graça estética da ogiva comparada à
gravidade da abóbada romana...”

Conferência na Faculdade de Direito de Marília-SP, 1993

http://www.emougenot.com/index.php/trabalhos/pensar-o-direito

O HOMO JURIDICUS
Edilson Mougenot Bonfim

O homo juridicus deve ser uma simbiose do homo theoreticus com o homo praticus. O direito
deve servir à realidade e esta é compreendida superiormente na dialética do pensar com o agir.
À perplexidade que vi brilhar nos olhos acadêmicos de todo o Brasil, respondo com minha
obra... É preciso ousar para argamassar as soluções. É o dilema shakespereano de renovar-se
ou morrer.

Capa do sítio eletrônico http://www.emougenot.com/

2
ORAÇÃO A SANTO1 IVO2

Glorioso Santo Ivo, lírio da pureza, apóstolo da caridade e defensor intrépido da justiça, vós
que, vendo nas leis humanas um reflexo da lei eterna, soubestes conjugar maravilhosamente
os postulados da justiça e o imperativo do amor cristão, assisti, iluminai, fortalecei a classe
jurídica, os nossos juízes e advogados, os cultores e intérpretes do Direito, para que nos seus
ensinamentos e decisões, jamais se afastem da eqüidade e da retidão.
Amem eles a justiça, para que consolidem a paz; exerçam a caridade, para que reine a
concórdia; defendam e amparem os fracos e desprotegidos, para que, pospostos todo
interesse subalterno e toda afeição de pessoas, façam triunfar a sabedoria da lei sobre as
forças da injustiça e do mal. Olhai também para nós, glorioso Santo Ivo, que desejamos copiar
os vossos exemplos e imitar as vossas virtudes. Exercei junto ao trono de Deus vossa missão
de advogado e protetor nosso, a fim de que nossas preces sejam favoravelmente despachadas
e sintamos os efeitos do vosso poderoso patrocínio. Amém.

1 A melhor definição de santo é a pessoa que crê que Jesus Cristo é o modelo a ser imitado. Ele é o Deus que se
revelou aos homens, aos quais também revelou quais deveriam ser suas (nossas) atitudes. Portanto, o santo é
aquele que procura se configurar a Jesus Cristo, o único homem de verdade (no sentido mais humano e fraterno)
que nós conhecemos. Santo é aquele que procura amar a Deus sobre todas as coisas e amar as pessoas como se
fosse a si mesmo. “[S]antos não 'caíram do céu'. São homens como nós, com problemas também complicados. A
santidade não consiste em nunca ter errado ou pecado, [mas na] disponibilidade para recomeçar.”
(http://www.vatican.va/holy_father/benedict_xvi/audiences/2007/documents/hf_ben-xvi_aud_20070131_po.html)

2 Ivo Hélory de Kermartin (Minihy-Tréguier, 17 de Outubro de 1253 - 19 de Maio de 1303) é o padroeiro dos
advogados[1]. Era Frade Franciscano. Filho de Helori, lorde de Kermartin, estudou Direito em Paris. Foi advogado
e juiz. Não houve, enquanto viveu, advogado de tanto renome e homem mais estimado na Bretanha. Vinham ter
com ele as pessoas simples e sem estudo, pobres e servos que os senhores oprimiam e que Ivo defendia. Santo
Ivo granjeou a estima de todos pela integridade de vida e pela imparcialidade de seus juízos. Ele próprio ia buscar
nos castelos o cavalo, o carneiro roubado dos pobres sob o pretexto de impostos não pagos. Patrono dos
advogados, Santo Ivo entregou-se à defesa dos miseráveis e oprimidos, contra os poderosos. Dizia, então: "Jura-
me que a sua causa é justa e eu a defenderei gratuitamente". Notabilizou-se, principalmente, por dedicar a sua
erudição à defesa, nos tribunais, de toda a minoria deserdada de fortuna. Os seus emolumentos, quando exerceu
as funções oficiais de Juiz de Rennes, eram oferecidos aos pobres, para que fossem usados em sua defesa.
(http://www.verbalegis.net/santoivo.htm)

3
ORAÇÃO AOS MOÇOS (trecho em que constam os Mandamentos do Advogado)
Rui Barbosa

Legalidade e liberdade são as tábuas da vocação do advogado. Nelas se encerra, para ele, a
síntese de todos os mandamentos. Não desertar a justiça, nem cortejá-la. Não lhe faltar com a
fidelidade, nem lhe recusar o conselho. Não transfugir da legalidade para a violência, nem
trocar a ordem pela anarquia. Não antepor os poderosos aos desvalidos, nem recusar
patrocínio a estes contra aqueles. Não servir sem independência à justiça, nem quebrar da
verdade ante o poder. Não colaborar em perseguições ou atentados, nem pleitear pela
iniqüidade ou imoralidade. Não se subtrair à defesa das causas impopulares, nem à das
perigosas, quando justas. Onde for apurável um grão, que seja, de verdadeiro direito, não
regatear ao atribulado o consolo do amparo judicial. Não proceder, nas consultas, senão com a
imparcialidade real do juiz nas sentenças. Não fazer da banca balcão, ou da ciência mercatura.
Não ser baixo com os grandes, nem arrogante com os miseráveis. Servir aos opulentos com
altivez e aos indigentes com caridade. Amar a pátria, estremecer o próximo, guardar fé em
Deus, na verdade e no bem.

Faculdade de Direito de São Paulo. Obras Completas de Rui Barbosa. V. 48, t. 2, 1921. p. ñpb

http://www.casaruibarbosa.gov.br/dados/DOC/artigos/rui_barbosa/FCRB_RuiBarbosa_Oracao_
aos_mocos.Pdf.

4
OS MANDAMENTOS DO ADVOGADO
Ruy Barbosa

1º - Não desertar a justiça, nem cortejá-la.


2º - Não lhe faltar com fidelidade, nem lhe recusar o conselho.
3º - Não transfigurar da legalidade para a violência, nem trocar a ordem pela anarquia.
4º - Não antepor os poderosos aos desvalidos, nem recusar patrocínio a estes contra aqueles.
5º - Não servir sem independência à justiça, nem quebrar da verdade ante o poder.
6º - Não colaborar em perseguições ou atentados, nem pleitear pela iniquidade ou imoralidade.
7º - Não se subtrair à defesa das causas impopulares, nem à dos perigosos, quando justas.
Onde for apurável um grão, que seja, de verdadeiro direito, não regatear ao atribulado o
consolo do amparo judicial.
8º - Não proceder, nas consultas, senão com imparcialidade real do juiz nas sentenças.
9º - Não fazer da banca, ou da ciência, mercatura.
10º- Não ser baixo com os grandes, nem arrogante com os miseráveis.
Servir aos opulentos com altivez e aos indigentes com caridade.
Amar a Pátria, estremecer o próximo, guardar fé em Deus, na verdade e no bem.

5
DECÁLOGO DO ADVOGADO
Santo Ivo (Yves Hélory de Kermartin), Padroeiro dos Advogados

1. O advogado deve pedir a ajuda de Deus nas suas demandas, pois Deus é o primeiro
protetor da justiça;
2. Nenhum advogado aceitará a defesa de casos injustos, porque são perniciosos à
consciência e ao decoro;
3. O advogado não deve onerar o cliente com gastos excessivos;
4. Nenhum advogado deve utilizar, no patrocínio dos casos que lhe são confiados, meios
ilícitos ou injustos;
5. O advogado deve tratar o caso de cada cliente como se fosse seu próprio;
6. O advogado não deve poupar trabalho nem tempo para obter a vitória do caso de que se
tenha encarregado;
7. Nenhum advogado deve aceitar mais causas do que o tempo disponível lhe permite;
8. O advogado deve amar a justiça e a honradez tanto como as meninas dos olhos;
9. A demora e a negligência de um advogado causam prejuízo ao cliente e, quando isso
acontece, deve ele indenizá-lo
10. Para fazer uma boa defesa, o advogado deve ser verídico, sincero e lógico.

http://www.conjur.com.br/2007-mai-19/oab_comemora_dia_padroeiro_advogados

6
DECÁLOGO DO ADVOGADO
Eduardo Couture, Uruguai

1) ESTUDA - O Direito se transforma constantemente. Se não seguires seus passos, serás a


cada dia um pouco menos advogado.

2) PENSA - O Direito se aprende estudando, mas se exerce pensando.

3) TRABALHA - A advocacia é uma árdua fadiga posta a serviço da justiça.

4) LUTA - Teu dever é lutar pelo Direito, mas no dia em que encontrares em conflito o direito e
a justiça, luta pela justiça.

5) SÊ LEAL - Leal para com o teu cliente, a quem não deves abandonar até que compreendas
que é indigno de ti. Leal para com o adversário, ainda que ele seja desleal contigo. Leal para
com o juiz, que ignora os fatos e deve confiar no que tu lhe dizes; e que quanto ao direito,
alguma outra vez, deve confiar no que tu lhe invocas.

6) TOLERA - Tolera a verdade alheia na mesma medida em que queres que seja tolerada a
tua.

7) TEM PACIÊNCIA - O tempo se vinga das coisas que se fazem sem a sua colaboração.

8) TEM FÉ - Tem fé no Direito, como o melhor instrumento para a convivência humana; na


Justiça, como destino normal do Direito; na Paz, como substituto bondoso da Justiça; e,
sobretudo, tem fé na Liberdade, sem a qual não há Direito, nem Justiça, nem Paz.

9) OLVIDA - A advocacia é uma luta de paixões. Se em cada batalha fores carregando tua
alma de rancor, sobrevirá o dia em que a vida será impossível para ti. Concluído o combate,
olvida tão prontamente tua vitória como tua derrota.

10) AMA A TUA PROFISSÃO - Trata de conceber a advocacia de tal maneira que no dia em
que teu filho te pedir conselhos sobre seu destino ou futuro, consideres um honra para ti
propor-lhe que se faça advogado.

http://www.recantodasletras.com.br/textosjuridicos/833131

7
DECÁLOGO DO ADVOGADO
Ives Gandra da Silva Martins

1. O Direito é a mais universal das aspirações humanas, pois sem ele não há organização
social. O advogado é seu primeiro intérprete. Se não considerares a tua como a mais nobre
profissão sobre a terra, abandona-a porque não és advogado.
2. O direito abstrato apenas ganha vida quando praticado. E os momentos mais dramáticos de
sua realização ocorrem no aconselhamento às dívidas, que suscita, ou no litígio dos
problemas, que provoca. O advogado é o deflagrador das soluções. Sê conciliador, sem
transigência de princípios, e batalhador, sem tréguas, nem leviandade. Qualquer questão
encerra-se apenas quando transitada em julgado e, até que isto ocorra, o constituinte espera
de seu procurador dedicação sem limites e fronteiras.
3. Nenhum país é livre sem advogados livres. Considera tua liberdade de opinião e a
independência de julgamento os maiores valores do exercício profissional, para que não te
submetas à força dos poderosos e do poder ou desprezes os fracos e insuficientes. O
advogado deve ter o espírito do legendário El Cid, capaz de humilhar reis e dar de beber a
leprosos.
4. Sem o Poder Judiciário não há Justiça. Respeita teus julgadores como desejas que teus
julgadores te respeitem. Só assim, em ambiente nobre a altaneiro, as disputas judiciais
revelam, em seu instante conflitual, a grandeza do Direito.
5. Considera sempre teu colega adversário imbuído dos mesmos ideais de que te reveste. E
trata-o com a dignidade que a profissão que exerces merece ser tratada.
6. O advogado não recebe salários, mas honorários, pois que os primeiros causídicos, que
viveram exclusivamente da profissão, eram de tal forma considerados, que o pagamento de
seus serviços representava honra admirável. Sê justo na determinação do valor de teus
serviços, justiça que poderá levar-te a nada pedires, se legítima a causa e sem recursos o
lesado. É, todavia, teu direito receberes a justa paga por teu trabalho.
7. Quando os governos violentam o Direito, não tenhas receio de denunciá-los, mesmo que
perseguições decorram de tua postura e os pusilânimes te critiquem pela acusação. A história
da humanidade lembra-se apenas dos corajosos que não tiveram medo de enfrentar os mais
fortes, se justa a causa, esquecendo ou estigmatizando os covardes e os carreiristas.
8. Não percas a esperança quando o arbítrio prevalece. Sua vitória é temporária. Enquanto,
fores advogado e lutares para recompor o Direito e a Justiça, cumprirás teu papel e a
posteridade será grata à legião de pequenos e grandes heróis, que não cederam às tentações
do desânimo.
9. O ideal da Justiça é a própria razão de ser do Direito. Não há direito formal sem Justiça, mas
apenas corrupção do Direito. Há direitos fundamentais inatos ao ser humano que não podem
ser desrespeitados sem que sofra toda a sociedade. Que o ideal de Justiça seja a bússola
permanente de tua ação, advogado. Por isto estuda sempre, todos os dias, a fim de que
possas distinguir o que é justo do que apenas aparenta ser justo.
10. Tua paixão pela advocacia deve ser tanta que nunca admitas deixar de advogar. E se o
fizeres, temporariamente, continua a aspirar o retorno à profissão. Só assim poderás, dizer, à
hora da morte: "Cumpri minha tarefa na vida. Restei fiel à minha vocação. Fui advogado".
http://www.oabsp.org.br/noticias/2008/10/15/5193/

8
DECÁLOGO DO ADVOGADO (pesquisado por Humberto da Silva Santana)
Angel Ossorio Y Gallardo, Advogado espanhol, que viveu entre 1873 e 1946.

“Em tempos conturbados, de refrega eleitoral e de profunda crise na nossa profissão, parece‐
me oportuno o Decálogo do Advogado, de Angel Ossorio Y Gallardo, Advogado espanhol, que
viveu entre 1873 e 1946.”

I. Não passes por cima da tua consciência.


II. Não finjas uma convicção que não tenhas.
III. Não te rendas diante da popularidade nem adules a tirania.
IV. Pensa sempre que és para o cliente e não cliente para ti.
V. Não procures nunca nos tribunais ser maior do que os magistrados, mas não consintas em
ser menor.
VI. Tem fé na razão, que ela geralmente prevalece.
VII. Põe a moral por cima das leis.
VIII. Aprecia o sentido comum como o melhor dos textos.
IX. Procura a paz como o maior dos triunfos.
X. Busca sempre a justiça pelo caminho da sinceridade e sem outras armas que as do teu
saber.

Pedro Costa Azevedo – IPSO JURE – Novembro de 2010

http://www.oa.pt/upl/%7B7ae843cd-1ed9-4f8b-a36c-5b44e6b70e7c%7D.pdf

9
OS MANDAMENTOS DO JUIZ
Juan Carlos Mendoza, magistrado e professor paraguaio

1. Sê honesto. O conteúdo necessário do Direito são os valores morais, donde não se pode
conceber um ordenamento jurídico que não responda a um princípio ético. Por esses valores
morais, o Direito existe, tem autoridade, aperfeiçoa-se e se impõe aos homens. Para que
possas aplicá-lo com rigor e cumprir seus pressupostos últimos, deves encarnar em ti esses
valores, dentre os quais a honestidade é o primeiro e essencial ao teu ministério.
2. Sê sóbrio: a sobriedade é uma exigência do teu cargo. Para que sejas um verdadeiro
magistrado e alcances o respeito de teus semelhantes, hás de ser necessariamente exemplar
em tua vida pública e privada e hás de condensar, em todas as tuas decisões, o equilíbrio de
tua alma.
3. Sê paciente: quem vai aos tribunais em demanda de tua justiça, leva atribulações e
ansiedades que hás de compreender. Esta é a parte mais sensível e humana de tua missão;
ela te ajudará a ter presente que o destinatário de sua sentença não é um ente abstrato ou
nominal, mas que é um homem, uma pessoa humana.
4. Sê trabalhador: deves esforçar-te para que tenha vigência o ideal de justiça rápida, se bem
que não deves sacrificar o estudo à celeridade. Trabalha no pleito mais insignificante com a
mesma dedicação que no pleito mais importante e, em todos os casos, tem presente que o que
está em jogo é a própria justiça.
5. Sê imparcial: o litigante luta pelo seu direito, tanto quanto tu lutas pelo direito. Isto não deves
esquecer nunca. Não te deves levar por tuas simpatias ou antipatias, por conveniências ou
compaixões, nem por temor ou misericórdia. A imparcialidade implica a coragem de decidir
contra os poderosos, mas também o valor muito maior de decidir contra o fraco.
6. Sê respeitoso: respeitoso da dignidade alheia e da tua própria dignidade; respeitoso nos atos
e nas palavras. Todo o Direito é dignidade; está dirigido à dignificação da pessoa humana e
não se pode conceber esvaziado dela. Deves estar consciente da imensa responsabilidade do
teu ministério e da enorme força que a lei põe em tuas mãos.
7. Sê justo: antes de mais nada, verifica, nos conflitos, onde está a Justiça. Em seguida,
fundamenta-a no Direito. Do ponto de vista técnico, hás de esforçar-te para que a verdade
formal coincida com a verdade real e para que a tua decisão seja a expressão viva de ambas.
8. Ama o Direito: se a advocacia é um nobre apostolado, que exige um profundo amor ao
Direito, a magistratura judicial é um apostolado mais nobre ainda, isento de enganos e refúgios,
que exige para o Direito uma devoção maior porque não te dará triunfos, nem riquezas.
9. Sê independente: tuas normas hão de vir unicamente das normas da lei e de tua
consciência. Não é por capricho que se quer que sejas independente e que os homens tenham
lutado e morrido pela independência, mas porque a experiência da humanidade demonstra que
esta é uma garantia essencial da Justiça, a condição da existência do poder jurisdicional, o
modo mais eficaz de proteger o indivíduo contra os abusos do poder.
10. Defende a liberdade: tem presente que o fim lógico para o qual foi criada a ordem jurídica é
a Justiça e que a Justiça é conteúdo essencial da liberdade. Na medida em que a faças
respeitar, tu, teus companheiros e tua posteridade gozarão de seus benefícios, pois nunca
foram livres os homens, nem os povos, que não souberam ser justos. Defender a liberdade não
é fazer política, senão preservar a saúde da sociedade e o destino das instituições que a
justificam. Para cumprir com o teu dever, para que esse baluarte seja uma fortaleza, sem
necessidade de canhões, nem de soldados, para que seja majestoso e imponente, é mister que
tu o levantes como nunca, por cima das paixões e cumpras, com grandeza e com suprema
energia, teu dever de magistrado,em alto apostolado jurídico; que não cedas ante a violação de
uma lei e não te embaraces no atentado contra uma única garantia.
Citado por NALINI, José Renato. O juiz e a ética no processo. In NALINI, José Renato. Uma nova
ética para o juiz. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1994, cap. 7, p. 85-106. Citação disponível em
https://revistajurisprudencia.tjmg.jus.br/volumes/jurisp_192.pdf

10
DECÁLOGO DO JUIZ,
Enrique Guijarro, jurista e magistrado argentino

I – Respeita o advogado;
II – Atenta para a particularidade de cada pleito;
III – Não te presumas um erudito;
IV – Sê claro e conciso;
V – Sê manso e reflexivo;
VI – Sê humano;
VII – Fica dentro da vida;
VIII – Não busques a popularidade;
IX – Preserva tua dignidade e independência;
X – Ao procurar a justiça, realiza a moral e o direito.

Fonte: Boletim Informativo nº 166 – ano XVI – fevereiro de 2002, TRT da 15ª Região

11
CREDO POLÍTICO
Rui Barbosa

Meu País conhece meu Credo Político, porque o meu Credo Político está na minha vida. Creio
na liberdade onipotente, criadora das nações robustas; creio na lei emanação dela, o seu órgão
capital, a primeira de suas necessidades; creio que neste regime, não há poderes soberanos, e
soberano é só o Direito interpretado pelos tribunais; creio que a própria soberania popular
necessita de limites, e que esses limites vêm a ser as suas constituições por ela mesma
criadas, nas suas horas de inspiração jurídica, em garantia contra os seus impulsos de paixão
desordenada; creio que a República decai porque se deixou estragar, confiando-se ao regímen
da força; creio que a federação perecerá, se continuar a não acatar a justiça; porque da justiça
nasce a confiança, da confiança a tranquilidade, da tranquilidade o trabalho, do trabalho a
produção, da produção o crédito, do crédito a opulência, da opulência a respeitabilidade, a
duração, o vigor; creio no governo do povo pelo povo; creio, porém, que o governo popular tem
a base de sua legitimidade na cultura da inteligência nacional pelo desenvolvimento nacional
do ensino, para o qual as maiores liberalidades do erário constituirão sempre o mais
reprodutivo emprego da riqueza pública; creio na tribuna sem fúria e na imprensa sem
restrições, porque acredito no poder da razão e da verdade; creio na moderação e na
tolerância, no progresso e na tradição, no respeito e na disciplina, na impotência fatal dos
incompetentes e no valor insuprível das capacidades. Rejeito as doutrinas de arbítrio. Abomino
as ditaduras de todo gênero, militares ou científicas, coroadas ou populares. Detesto os
estados de sítio, as suspensões de garantias, as razões de Estado, as leis de salvação pública.
Odeio as combinações hipócritas do absolutismo dissimulado sob as formas democráticas e
republicanas. Oponho-me aos governos de seita, aos governos de facção, aos governos de
ignorância. Bem o sabeis: essas são as minhas crenças, os meus ódios são esses.
http://jusvi.com/artigos/13790

12
CREDO JURÍDICO-POLÍTICO
Clóvis Beviláqua

“Creio no direito, porque é a organização da vida social, a garantia das atividades individuais.
Necessidade da coexistência, fora das suas normas não se compreende a vida em sociedade.
In eo vívimus et sumus.Creio na liberdade, porque a marcha da civilização, do ponto de vista
jurídíco-político, se exprime por sucessivas emancipações do indivíduo, das classes, dos
povos, da inteligência, o que demonstra ser ela altíssimo ideal a que somos impelidos por uma
força imanente nos agrupamentos humanos: a aspiração do melhor que a coletividade obtém
estimulando as energias psíquicas do indivíduo. Mas a liberdade há de ser disciplinada pelo
Direito para não perturbar a paz social, que por sua vez assegura a expansão da liberdade.

Creio na moral, porque é a utilidade de cada um e de todos transformada em Justiça e


Caridade, expunge a alma das inclinações inferiores, promove a perfeição dos espíritos, a
resistência do caráter, a bondade dos corações.

Creio na justiça, porque é o direito iluminado pela moral protegendo os bons e úteis contra os
maus e nocivos, para facilitar o multifário desenvolvimento da vida social.

Creio na democracia, porque é a criação mais perfeita do Direito Político, em matéria de forma
de governo. Permite à Liberdade a dilatação máxima dentro do justo e do honesto, e
corresponde ao ideal da sociedade politicamente organizada, como extrair das aspirações mais
generalizadas de um povo determinado o sistema de normas que o dirija.

Creio mais nos milagres do patriotismo, porque o patriotismo é forma social do amor e, como
tal, é força irresistível e incomensurável: aos fracos dá alento, aos dúbios decisão, aos
descrentes fé, aos fortes ilumina, a todos une num feixe indestrutível, quando é preciso agir ou
resistir; não pede inspiração ao ódio e não mede sacrifícios para alcançar o bem comum.”
http://jusvi.com/artigos/13790

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OS MANDAMENTOS DO MAGISTRADO (pesquisado por Marcio Vinicius Santos Neves)
Lafayette Vieira Carneiro, Desembargador do Tribunal de Justiça do Amazonas

1º) A petição inicial inaugura o processo. Não quer dizer, entretanto, que deveis prossegui-lo,
se virdes que ele não chegará a lugar algum. É vossa obrigação extingui-lo no nascedouro, a
bem da justiça e da sociedade, que tendes o dever de proteger com o manto da lei. Em
julgando, ponde a pureza da vossa consciência acima da vaidade, que é própria da natureza
humana. Assim, na hipótese de ser modificada a vossa decisão, não se instalarão na vossa
alma nem o remorso nem o arrependimento.
2º) Não deixeis que a poeira do tempo tome conta de qualquer processo a vosso cargo. Julgai-
o! A expectativa maltrata e fere muito mais a parte do que uma decisão desfavorável. Jamais
deserteis de um processo, por medo ou venalidade, como fez Pilatos no Julgamento de Cristo.
3º) Fundamentai qualquer decisão. Não apenas porque fazê-lo é imposição constitucional,
mas, e principalmente, porque é na fundamentação que se reflete, pura e altaneira, a vossa
imparcialidade.
4º) Todos têm a sua verdade e não se vexam de proclamá-la. A verdade jurídica, porém, nem
sempre está na lei, ou no silêncio da revelia; e, às vezes, nem nas provas oferecidas, posto
que muitas vezes são elas falsificadas ou produzidas. Somente a perseverança, a pesquisa
incessante e o estudo disciplinado, como virtudes milagrosas, são capazes de produzir o
aclaramento perfeito da realidade judicial.
5º) Sede humilde no vosso ofício! Aconselhar-se com os mais experientes não é desdouro
algum. Se alertado porque destes um despacho equivocado, não respondais jamais ao
causídico que vos alertou, nestes termos: RECORRA, SENHOR ADVOGADO! Não existe
humilhação no erro judiciário! Corrigi-lo ou repará-lo tanto é grandeza de humildade quanto
princípio de sabedoria.
6º) Sempre deveis acreditar que nem Jesus, que é Deus, conseguiu, quando de sua passagem
na Terra, contentar a todos. Numa ação, o vencedor vos exaltará; mas, geralmente, não
escapareis à censura ferina do que perde a causa. A este, mostrai as provas dos autos. Nelas
é que o julgador demonstra a verdade de sua íntima e sagrada convicção. Com essa atitude,
se não ganhardes a admiração do vencido, ganhareis certamente o respeito dele, que, em
verdade, é um sentimento mais nobre e mais almejado do que o elogio.
7º) Não sois onisciente, mas também não sois o homem comum, cuja vida é tão livre quanto a
dos pássaros alígeros, que povoam os ermos azuis dos nossos céus. Não apenas uma lei de
caráter constitucional nos dita normas de comportamento, mas também a sociedade, que se
encarrega, finalmente, de brindar-nos com a sua advertência. Jamais vireis as costas a tal
vigilância, porque ela, sob qualquer circunstância, é útil e vos aproveitará. Segui, sempre que
possível, os conselhos dos vossos pais. O lar é a Escola de Deus! A honra, a dignidade, a
lealdade, a ética, a humildade, a honestidade e a coragem devem ser a vossa religião.
Desconfiai, porém, dos que se acreditam ilibados, quando eles próprios se proclamam
professores de ética e de moral. Não sejais hipócrita, como aqueles que buscam agradar a dois
senhores. Ao final, não tereis o respeito de quaisquer deles, pela simples razão de que todos
perdoam ao que erra, mas ninguém perdoa ao juiz pusilânime: aquele que somente se curva
aos poderosos ou aos donos do poder. Não atendais à ordem de " imperium" . Ordem ilegal
não se cumpre, mesmo sendo ditada pelo vosso superior hierárquico. Lembrai-vos, enfim, de
que o povo a quem julgais é que julga a vossa justiça.
8º) Nunca temais a verdade da lei nem acrediteis que estejais acima dela, ou que seja ela o
anátema do vosso desamor. Quem se divorcia da lei não tem salvação; mas se tiverdes de
escolher entre a lei e a justiça, deveis ficar com esta, que é dádiva de Deus.
9º) Maior do que a vossa condição humana é o poder que a lei nos outorga. Tão grande, que é
necessário todo cuidado quando fordes exercê-lo. Um simples despacho produzido na pressa
de um equívoco pode arruinar um inocente, levá-lo à loucura ou mesmo à morte; ou, ainda,
escancarar presídios para dar liberdade aos presos irrecuperáveis. Cuidai, juiz, para que a
prudência, que é a virtude dos sábios, seja o lume do vosso veredicto, como um sol que

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enxugue o pranto dos órfãos e como a chuva que amenize a sede dos injustiçados! Que a
vossa decisão, enfim, ao calor da lei augusta dos equilíbrios sensíveis, tanto fulgure nos
castelos de luxo como nos casebres das mais rudes favelas. Em sendo justo, sereis bom! Sede
justo!
10º) Certos procedimentos judiciais, como vós sabeis, autorizam o julgador a conceder
LIMINARES. Nas possessórias; nos mandados de segurança; nas cautelares; nas ações
populares, entre outras. PARA CONCEDÊ-LAS, DEVEIS TER A MÁXIMA CAUTELA! O
despacho apressado ou descuidado não é mera temeridade, mas, com certeza, um possível
produtor de catástrofe ou centelha capaz de produzir um incêndio. Meritíssimo, despache logo
esta inicial. É urgente! Tenho pressa! Um perigo atender a um tal pleito do advogado. Ainda
que seja este um profissional de notório saber jurídico ou colega de infância. É mais prudente
escrever na peça exordial: "A. À Conclusão." Com tal despacho, se não salvardes o mundo,
prolongareis a sua existência. Todos acreditam que um simples atraso no pagamento de um
título é motivo triunfal e invencível para requerer a falência de um comerciante. E alguns até
usam o instituto falimentar como forma grosseira de cobrança. A quebra, pelas conseqüências
malsãs que provoca, não passa de um processo odioso. Ela causa o desemprego de milhares
de pais de família, produz a recessão e o caos. Tudo fazei, meus preclaros juízes, para evitá-la.
Sede, enfim, no sacrossanto dever do vosso ofício, sempre prudentes. Da humanidade e do
acerto das vossas decisões, sempre dependerão a felicidade dos cidadãos e, naturalmente, a
paz universal.

http://www.dantaspimentel.adv.br/site/Content.aspx?sCod_IssueToLoad=%20118

15
DECÁLOGO DO ADVOGADO (pesquisado por Karen Maria Argolo da Silva)
Antônio Arnaut, advogado e escritor português

I- Procede sempre, na vida profissional, pública e privada, por forma a justificares a honra e a
dignidade de seres advogado: que este título te baste, porque não há outro mais nobre.

II- Serve a justiça mais do que o direito e o direito mais do que a lei: ser advogado é pugnar por
uma sociedade mais justa e conveniente. A advocacia é humanitarismo.

III- Sê livre, independente e insubmisso perante todas as injustiças e arbitrariedades: que


nenhuma voz alheia à tua consciência te condicione a palavra.

IV- Sê diligente, estuda e cultiva-te: o trabalho, a ciência e a cultura é que dão força à tua voz.

V- Não advogues contra a razão, a verdade e a justiça: se tiveres duvidas consulta a tua
consciência individual e histórica, que ela te iluminará o caminho.

VI- Sê leal com os colegas, sincero com os clientes, colaborante com os magistrados,
compreensivo com o adversário, urbano com todos: a advocacia é um magistério cívico.

VII- Sê moderado nos honorários e patrocina gratuitamente os que têm razão mas não podem
pagar: a verdadeira retribuição do advogado é o sentimento do dever cumprido.

VIII- Antes de recorrer a tribunal tenta dirimir conciliatoriamente os litígios e está sempre aberto
a uma justa composição das partes: vale mais um mau acordo do que uma boa demanda,
como diz o povo.

IX- Não te deixes seduzir pela popularidade: é preferível que te respeitem do que te adulem.

Iniciação à Advocacia. Coimbra: Ed. Coimbra, 2002.

16
DECÁLOGO DO PROMOTOR DE JUSTIÇA
J.A.César Salgado, Presidente da Associação Interamericana do Ministério Público

I- AMA a Deus acima de tudo, e vê no homem, mesmo desfigurado pelo crime, uma criatura à
imagem e semelhança do Criador.
II- SÊ DIGNO de tua grave missão. Lembra-te de que falas em nome da Lei, da Justiça e da
Sociedade.
III- SÊ PROBO. Faze de tua consciência profissional em escudo invulnerável às paixões e aos
interesses.
IV- SÊ SINCERO. Procura a verdade, e confessa-a, em qualquer circunstância.
V- SÊ JUSTO. Que teu parecer dê a cada um o que é seu.
VI- Sê nobre. Não convertas a desgraça alheia em pedestal para teus êxitos e cartaz para tua
vaidade.
VII- SÊ BRAVO. Arrosta os perigos com destemor, sempre que tiveres um dever a cumprir,
venha o atentado de onde vier.
VIII- SÊ CORTÊS. Nunca te deixes transportar pela paixão. Conserva a dignidade e a
compostura, que o decoro de tuas ações exige.
IX- SÊ LEAL. Não macules tuas ações com o emprego de meios condenados pela ética dos
homens de honra.
X- SÊ INDEPENDENTE. Não te curves a nenhum poder, nem aceites outra soberania, senão a
Lei.

II Congresso Interamericano do Ministério Público


Havana - Cuba
De 20 a 26 de novembro de 1957
http://www.direitoshumanos.pro.br/curiosidades.php?id=121

17
DECÁLOGO DO PROMOTOR DO JÚRI
Edilson Mougenot Bonfim

1. QUESTIONA. Questiona o espelho de tua sinceridade se vês refletida a imagem de um


idealista. É a pergunta por tua vocação, pois sem ela não suportarás os percalços da
espinhosa missão que tens a cumprir.

2. COMPREENDE. Compreende que o júri se leciona com conceitos clássicos, pois o mesmo é
um clássico da justiça, como a vida é um clássico do universo;

3. INSTRUI. Instrui o processo, pois sem provas, é um corpo sem alma e somente com talento
não poderás sobrepujar a verdade que não se apaga;

4. ACUSA E DEFENDE, pois o libelo que sustentas contra o acusado é a absolvição da


memória da vítima;

5. ACUSA. Acusa com firmeza, lealdade e dignidade. Teu discurso é de combate ao mal,
porquanto és uma pessoa de bem!

6. SÊ CONSCIENTE. A condenação que postulas não devolve uma vida ceifada, mas ajuda a
aplacar a dor da família enlutada;

7. SÊ ALTIVO. Não se curva a alma de um tribuno, pois não se verga a honra da sociedade.
Justiça se postula em pé, com dignidade. De joelhos, poêm-se os que suplicam o perdão,
porque erraram;

8. APRIMORA. Aprimora os princípios. Lembra que teu destemor advém de tua honestidade,
conceito subjetivo da retidão que sabes possuir;

9. BUSCA. Busca a fortuna das virtudes, para que quando partires, teus filhos encontrem um
espólio de bens morais e possam saciar a sede do bem na fonte de teus exemplos;

10. NUNCA DÊS O "PERDÃO FÁCIL", tampouco pleiteies um minuto a mais da pena que
mereça o infrator. És tribuno, falas em nome da lei e da sociedade. És Promotor do Júri,
cidadão, homem ou mulher, filho de DEUS.

I Congresso Nacional dos Promotores de Júri, Campos do Jordão, Agosto/1995.

18
O DÍFÍCIL ENCARGO DO MINISTÉRIO PÚBLICO
Piero Calamandrei

Entre todos os cargos judiciários, o mais difícil, segundo me parece, é o do Ministério Público.
Este, como sustentáculo da acusação, devia ser tão parcial como um advogado; como guarda
inflexível da lei, devia ser tão imparcial como um juiz. Advogado sem paixão, juiz sem
imparcialidade, tal é o absurdo psicológico no qual o Ministério Público, se não adquirir o
sentido do equilíbrio, se arrisca, momento a momento, a perder, por amor da sinceridade, a
generosa combatividade do defensor ou, por amor da polêmica, a objetividade sem paixão do
magistrado.

Eles, os juízes, vistos por nós, os advogados. Lisboa: Livraria Clássica Editora.

19
MANDAMENTOS DO ADVOGADO (pesquisado por Leonice Araújo de Souza)
Santo Afonso Maria de Ligório (1696-1787)

I - Nunca servir a uma causa injusta: nisso se perde tanto a própria consciência quanto a
reputação.
II - Para uma causa, mesmo justa, abster-se de qualquer manobra ilegal ou injusta.
III - Não sobrecarregar seu cliente de despesas supérfluas, senão o advogado estaria obrigado
a restituí-las.
IV - Tratar dos interesses de seus clientes com todo o cuidado que se tem com os próprios
negócios.
V - Estudar os documentos a fim de tirar deles argumentos sólidos.
VI - Os atrasos e a negligência do advogado frequentemente prejudicam o cliente; há, então, o
dever de justiça de reparar.
VII - O advogado deve implorar a ajuda de Deus: Deus não é o primeiro protetor da Justiça?
VIII - Está errado aquele que se encarrega de mais negócios do que seus talentos, suas forças
ou seu tempo podem defender eficazmente.
IX - Justiça e probidade são as duas companheiras inseparáveis do advogado: cuidar disso
como das pupilas dos olhos.
X - Um advogado que perde uma causa por negligência sua incorre na obrigação de reparar
todos os prejuízos sofridos pelo cliente.
XI - Na defesa de uma causa, nada dizer que não seja verdadeiro, nada esconder tampouco,
respeitar o adversário, apoiar-se unicamente na razão.
XII - Afinal de contas, as virtudes que constituem o advogado são a ciência, a aplicação, a
verdade, a fidelidade e a justiça.
Fonte: http://www.mitranh.org.br/s2/index.php?option=com_content&view=article&id=333

DECÁLOGO DO ADVOGADO
Santo Afonso Maria de Ligório

I - Jamais é lícito aceitar causas injustas, porque são preciosas para a consciência e para a
dignidade;
II - Não se deve defender causa alguma com meios ilícitos;
III - Não se deve impor ao cliente pagamentos que não são devidos, sob pena de reembolso;
IV - Deve-se tratar a causa do cliente com o mesmo cuidado que as próprias causas;
V - É preciso entregar-se ao estudo dos processos afim de que deles se possa deduzir os
argumentos úteis à defesa das causas que são confiadas aos advogados;
VI - As demoras e negligências dos advogados são prejudiciais aos interesses dos clientes; os
prejuízos assim causados devem, pois, ser reembolsados ao cliente, senão peca-se contra a
justiça;
VII - O advogado deve implorar o auxílio de Deus nas causas que tem de defender, pois Deus
é o primeiro defensor da Justiça;
VIII - Não é louvável que um advogado aceite causas superiores ao seu talento, às suas forças,
ao tempo que, muitas vezes, lhe faltará para preparar honestamente a defesa;
IX - O advogado deve ser sempre justo e honesto, duas qualidades que deve considerar como
menina dos seus olhos;
X - Um advogado que perde uma causa por sua negligência é devedor para com o seu cliente,
e deve reembolsar os prejuízos que ocasionou.

20
DECÁLOGO DO MAGISTRADO (pesquisado por Jutaí Nunes Junior e por Larissa T. S. Couto)
Marcus Antonio de Souza Faver
Desembargador Presidente do TJ/RJ

1. Todo processo reflete um conflito, reivindica um possível direito, expressa uma aspiração
vinda do âmago de um ser humano. Trate-o, portanto, como um pedaço vivo do coração de
alguém.

2. O Processo ideal deveria ter apenas um pedido inicial, uma resposta, uma investigação
sumária e uma decisão. Seu curso, na verdade, não necessitaria mais do que uma semana, o
tempo suficiente para a criação do mundo.

3. Na direção de um processo, não peça às partes que provem o óbvio. O dia que nasce não
precisa de certidão de nascimento. O dia que morre jamais apresentou certidão de óbito.

4. Não transfira a responsabilidade que é sua. Não passe adiante um processo sem que tenha
certeza absoluta de sua impossibilidade de decidir. Não invente impedimentos nem crie
vinculações indevidas.

5. É sempre melhor uma decisão imperfeita do que a ocorrência de famigerados “embargos de


gaveta” à espera de melhor inspiração. Não deixe o sol se pôr sobre o seu processo ao fim de
um dia de trabalho.

6. Em princípio, a procedência é melhor do que a improcedência, da mesma forma que o sim é


melhor do que o não. Quando tiver que dizer não, diga-o logo, com piedade, honesta e
sinceramente. será menos virulento um não honesto e imediato, do que um sim concedido ao
cabo de interminável burocracia.

7. Não tema decidir com honestidade. Não é pecado errar. Não há, no entanto, salvação para o
Juiz covarde. O mundo jamais perdoou a suprema pusilanimidade de Pilatos.

8. Abomine os processos frios, sem alma e sem coração. Cuidado com a forma! Existem
“lindos pareceres” que agridem, “belos despachos” que ferem, “judiciosas decisões” que
aviltam sua toga.

9. Decida sempre como se de sua decisão dependesse a vida de alguém: por vezes depende.
Decida sempre e sempre como se o interessado fosse seu irmão: ele o é.

10. Creia no amor e que o espírito é vivificado. Acredite mais na intenção do que no sentido
literal da linguagem. Cuide do homem e não do papel.

Fonte: http://www.emerj.tjrj.jus.br/paginas/concursos/magistratura/prova/prova17junho.htm

21
MISSÃO DO ADVOGADO
António Arnaut
O advogado serve a justiça mais do que o direito, e o direito mais do que a lei. O seu ministério
é tão indispensável como o do juiz, e mais amplo do que o dele. O juiz apenas julga. O
advogado informa, aconselha, concilia, serve de mediador entre os cidadãos e entre estes e os
tribunais. É, por vocação, um agente da convivência cívica e da paz social. É um criador do
direito vivo, porque a diversidade dos sentimentos e interesses com que lida diariamente o faz
mergulhar na seiva vivificante das relações humanas. É a voz da razão ao serviço da verdade e
da justiça. Ser advogado é lutar contra o arbítrio e as iniquidades, pugnar por uma sociedade
mais justa e convivente. Por isso, não há outra profissão mais nobre do que a nossa.

Iniciação à Advocacia. Ed. Coimbra.

A FAMÍLIA JUDICIÁRIA
Jacques Isorni, advogado francês, defensor do Marechal Pétain

A família judiciária é como todas as famílias que têm educação: unidas diante dos estranhos.
Mas quando os magistrados entre eles dizem “os advogados”, e quando os advogados
respondem “os magistrados”, que sentimentos sinceros os animam? Que propostas fariam se
deixassem falar o coração e os seus secretos pensamentos nessas calorosas homilias que se
rendem mutuamente em inúmeras circunstâncias solenes e que poderiam limitar-se a este
breve diálogo - “Senhores, vós sois a Justiça e nós ajudamos a administrá-la. Senhores, vós
sois a Defesa e nós respeitamos os seus direitos”. Eu sei que por vezes teríamos vontade de
dizer: “vós deveríeis ser a justiça”; e nós pediríamos o impossível.

La Défense et la Justice, Flammarion, 1965.

22
DECÁLOGO DO JOVEM ADVOGADO CRIMINALISTA, Carta Forense, dezembro 2004/janeiro
de 2005 (pesquisado por Juliana Piaggio de Albuquerque).
Roberto Delmanto, advogado criminalista, autor do livro de crônicas "Causos Criminais"

1. Tenha consciência de que você escolheu a mais bela das especialidades da advocacia, pois
ela lida com dois dos maiores bens do homem: a liberdade e a honra.
2. Tenha orgulho dela e a exerça com dignidade. Não compactue jamais com a violência ou a
corrupção. Tal comportamento lhe dará forças para suplantar os obstáculos que certamente
virão.
3. Apesar das dificuldades da advocacia criminal, não perca nunca a alegria ao exercê-la.
Lembre-se sempre de que seu verdadeiro cliente e, ao mesmo tempo, sua maior causa, é a
liberdade.
4. Ao decidir se aceita patrocinar uma defesa, preocupe-se menos em saber se o cliente é
inocente do que se sua consciência de advogado e ser humano permite defendê-lo. Uma vez
aceita a causa, lute por ela com todo o empenho, tendo como limite ético intransponível não
prejudicar terceiros inocentes.
5. Ao ser procurado para requerer um inquérito policial, atuar como Assistente do Ministério
Público ou propor uma queixa-crime, busque certificar-se de que a pessoa que vai acusar é
realmente culpada. Aceita a causa, se no decorrer dela lhe surgir qualquer dúvida quanto à
culpabilidade do acusado, não hesite em renunciar por razão de foro íntimo.
6. Seja combativo e dedicado às causas que patrocinar, mas não transforme cada defesa ou
acusação em uma verdadeira guerra, onde tudo é permitido, nem a parte contrária ou seu
patrono em um inimigo.
7. Faça valer suas prerrogativas profissionais, sem desrespeitar as autoridades policiais ou
judiciárias.
8. Não se preocupe com o sucesso dos colegas, mas apenas com suas próprias causas e seus
próprios clientes, dando para eles o melhor de si. Cuide daquelas como quem cuida de um
jardim e tenha com estes sempre paciência, muita paciência.
9. Dedique-se a fundo às causas que lhe são confiadas e procure produzir a melhor prova
possível em favor de suas teses. Estude a Constituição, as leis, os regimentos dos tribunais, a
doutrina e a jurisprudência aplicáveis. Prepare-se para cada audiência de que for participar,
para as sustentações orais e, sobretudo, para atuar no Tribunal do Júri, momento maior da
advocacia criminal.
10. Escolha, entre os colegas mais velhos, um que lhe sirva de modelo e inspiração. Observe
seu modo de advogar, sua técnica e sua ética. No momento certo, você estará apto a seguir
seu próprio caminho e ser aquilo que mais deve almejar: um bom advogado criminalista.

http://www.delmanto.com/artigos/decalogo_jovem_advogado_criminalista.htm

23
Os dez mandamentos do advogado que é empreendedor, Rodrigo D’Almeida Bertozzi e Lara
Selem (pesquisado por Anne Raisa Costa Silva de Oliveira)
1. Ser perseverante. Implementar o seu sonho não é tão fácil quanto você pensa que é. Leva
anos. E muito mais se você não se manter focado, organizado e entender que você não
conseguirá crescer de verdade se não arriscar de vez em quando, enquanto mantém a cabeça
no lugar nos momentos de crise.
2. Saber valorizar o trabalho em equipe. Um pequeno escritório nunca tem internamente
todos os recursos que precisa. Portanto, é essencial ter uma equipe de pessoas que possa
pedir ajuda quando os problemas e dificuldades aparecerem. Tenha mentores para as áreas de
marketing jurídico, finanças, produção jurídica, recursos humanos, tecnologia e toda área que
você julgar necessário.
3. Manter o foco. Um escritório de advocacia só consegue prosperar quando se mantém
focado naquilo que ele sabe fazer de melhor. Não insista na clínica geral, no “fazer tudo para
todos”.
4. Manter-se constantemente informado. Todos os dias acontecem eventos que afetam os
negócios dos seus clientes. Se você quer realmente prestar um excelente serviço jurídico, você
precisa manter-se atualizado sobre as tendências do mercado, jurídico ou não, e implementá-
las antes mesmo de o seu cliente saber. O conhecimento pode diferenciar você dos seus
concorrentes.
5. Entender que comunicação é chave para o sucesso. Tenha certeza que você sempre fala
de uma maneira clara, simples e consistente. Todo e qualquer processo de comunicação
envolve documentar o que aconteceu entre você e o seu cliente para que não exista qualquer
mal-entendido no futuro. Ambos os lados devem estar sempre cientes sobre as respectivas
expectativas.
6. Entender que dinheiro é fator crítico. É sempre bom tratar as finanças do escritório com o
rigor necessário e reservar uma verba para os eventos que você não imagina que possam
acontecer. Por outro lado, não tenha medo de investir dinheiro onde você acredita que trará
retorno.
7. Ser honesto e íntegro o tempo todo.
Acima de tudo, você precisa ser verdadeiro. Desonestidade é sinal de fraqueza, sem
mencionar que é a pior estratégia de marketing que pode existir. Se os seus clientes souberem
que você será sempre verdadeiro com eles, nunca terão dúvidas sobre acreditar em você. Uma
excelente reputação jurídica leva anos para desenvolver, mas segundos para ser destruída.
8. Ser um aprendiz sempre. O mundo está em constante movimento, e para você adaptar-se
a ele e manter-se à frente dos seus concorrentes, você precisa ser um eterno aprendiz.
Aprenda sobre economia, sobre gestão, sobre negócios, sobre biotecnologia, sobre tecnologia,
sobre a Floresta Amazônica. Aprenda! Aprenda! Aprenda!
9. Trabalhar pelo sucesso dos outros. Nunca esqueça o porquê de um advogado existir:
ajudar os clientes a resolver os problemas que eles têm. E lembre-se: “faça o bem e jogue no
mar”. O que vai, volta!
10. Fazer Marketing Jurídico. Nunca pare de fazer o marketing do seu escritório. Procure
constantemente por novos negócios dentro dos atuais clientes, novos clientes e novos
mercados para servir. Inove!
Assim, em um mundo sem heróis e de conceitos deturpados sobre o bem e o mal, prevalece a
máxima socrática: conhece-te a ti mesmo. Conhecendo nosso espírito e buscando a luz do
mundo (conhecimento e repertório), seremos o que desejamos: pessoas dispostas a mudar a
ordem do tempo e das coisas. Se as coisas estão difíceis na profissão, se os contratos não
estão sendo fechados como gostaria e tudo demora tempo demais, atitudes são possíveis de
ser tomadas com planejamento, ética e ação. Inovar na advocacia é como o sangue que corre
nas veias: não pode parar sob pena de falência dos órgãos vitais. A mudança depende de nós
e de nossa alma. Isso e nada mais.
http://www.conjur.com.br/2014-jan-17/sociedades-sa-dez-mandamentos-advogado-
empreendedor

24
25
OS 10 MANDAMENTOS DO JUIZ ADMINISTRADOR (pesquisado por Leonardo S.Souza )
Vladimir Passos de Freitas

1. O juiz nas funções de administrador, como presidente de Tribunal, vice-presidente,


corregedor, coordenador de Juizados Especiais, diretor de Escola de Magistrados, diretor do
Foro ou Fórum, ou administrando a sua Vara, deve saber que a liderança moderna se exerce
com base na habilidade de conquistar as pessoas e não mais em razão do cargo, perdendo a
hierarquia seu caráter vertical para assumir uma posição mais de conquista do que de mando.
2. Ao administrar, cumpre-lhe deixar a toga de lado devendo: a) obrigação à lei e não à
jurisprudência; b) inteirar-se das técnicas modernas de administração pública e empresarial; c)
adaptar-se aos recursos tecnológicos; d) decidir de maneira ágil e direta, sem a burocracia dos
processos judiciais; d) manter o bom e corrigir o ruim; e) delegar, se tiver confiança; f) atender
a imprensa; g) lembrar que não existe unidade judiciária ruim, mas sim mal administrada.
3. No âmbito externo, deve prestigiar as atividades da comunidade jurídica e dos órgãos da
administração dos três Poderes, participando de solenidades, estabelecendo parcerias em
projetos culturais e alianças que possam diminuir os gastos públicos. No âmbito interno, deve
visitar periodicamente os setores administrativos, ouvindo os funcionários, demonstrando o seu
interesse em conhecer os serviços e atender as necessidades, quando possível.
4. Ter em mente que suas palavras e ações estão sendo observadas por todos e que elas
transmitem mensagens explícitas ou implícitas que podem melhorar ou piorar a Justiça. Por
isso, devem ser evitadas críticas públicas a outros magistrados de qualquer Justiça ou
instância, ou a autoridades de outros Poderes, atitudes estas que nada constroem e que
podem resultar em respostas públicas de igual ou maior intensidade.
5. Manter a vaidade encarcerada dentro dos limites do tolerável, evitando a busca de
homenagens, medalhas, retratos em jornais institucionais, vinganças contra os que
presumidamente não lhe deram tratamento adequado, longos discursos enaltecendo a si
próprio ou o afago dos bajuladores, ciente de que estes desaparecerão no dia seguinte ao da
posse de seu sucessor.
6. O presidente — e os demais administradores, no que compatível — deve manter um
ambiente de cordialidade com os colegas do Tribunal, ouvindo-os nas reivindicações,
explicando-lhes quando negá-las e não estimulando os conflitos. Com os juízes de primeiro
grau, lembrar que o respeito será conquistado pelo exemplo e não pelo cargo, que eles
pertencem a gerações diferentes, que devem ser estimulados na criatividade, apoiados nos
momentos difíceis e tratados sem favorecimento. Nas infrações administrativas praticadas por
magistrados, cumprir o dever de apurar, com firmeza, coragem e lealdade.
7. No relacionamento com o Ministério Público e a OAB, deve atender as reivindicações que
aprimorem a Justiça, não criar empecilhos burocráticos que dificultem as atividades desses
profissionais (p. ex. na retirada de processos) e, quando não atender a um pedido, explicar os
motivos de maneira profissional evitando torná-lo um caso pessoal.
8. No relacionamento com os sindicatos, manter um diálogo respeitoso, baseado na
transparência administrativa. Quanto aos servidores, motivá-los, promover cursos de
capacitação, divulgar as suas boas iniciativas, promover concursos sobre exemplos de vida,
envolvê-los na prática da responsabilidade social e da gestão ambiental. Com relação aos
trabalhadores indiretos (terceirizados), promover, dentro do possível, sua inclusão social.
9. Nos requerimentos administrativos, quando negar uma pretensão, seja de magistrados ou de
servidores, fazê-lo de forma clara e fundamentada, não cedendo à tentação de concedê-la para
alcançar popularidade, pois sempre haverá reflexos em relação a terceiros e novos problemas.
10. Ter presente que administrar significa assumir uma escolha e um risco e que aquele que
nada arrisca passará o tempo do seu mandato em atividades rotineiras, limitando-se ao fim ter
um retrato na galeria de fotografias, passando à história sem ter dado qualquer contribuição à
sociedade, ao Poder Judiciário e ao Brasil.
http://www.conjur.com.br/2010-ago-01/segunda-leitura-10-mandamentos-juiz-administrador-
seguir

26
JUIZ NÃO É GESTOR NEM GERENTE. ELE DEVE JULGAR. E BEM! (fichamento-citação)
Lenio Luiz Streck, procurador de Justiça no Rio Grande do Sul, doutor e pós-Doutor em Direito

Um pouco de história: [P]romulgada a nova Constituição em 1988, a composição do Supremo


Tribunal Federal continuou a mesma. Repetimos o que já havíamos feito na Constituição de
1824 […]. [N]unca tivemos grandes rupturas […]. Antes da CF 88, a não democracia […].

E chegamos à democracia: […] [E]emplacamos tudo no texto da Constituição […]. Passados 25


anos, […] [c]ontinuamos com o velho Código Penal, que tantas vítimas já fez e […] privilegia a
propriedade em detrimento da vida […]. O velho CPC, que sempre apostou no protagonismo
judicial […] Nem vou falar do Código do Consumidor, que “colocou” o call center dentro do
Poder Judiciário (palavras do ministro Luis Salomão, do STJ). […]

A ressaca teorética: […] [P]romulgada a Constituição, […] importamos, de forma equivocada


[…], a jurisprudência dos valores, a teoria da argumentação jurídica […] e o ativismo judicial
[…]. Resultado disso: uma aplicação do direito fragmentada, dando vazão aos “sentimentos
pessoais” de cada julgador. […] Súmulas vinculantes, repercussão geral, recursos repetitivos,
[...] e criação sistemática de […] “jurisprudência defensiva”, como alertado […] por José Miguel
Garcia Medina, para evitar que a malta leve seus pleitos aos Tribunais Superiores.

A crise da Justiça é questão de “gestão”? Não! Juiz não é gestor!: Esse terreno é fértil para o
surgimento de soluções no plano das neoteorias jurídicas, como por exemplo, apostar na
“indústria” das efetividades quantitativas. Tudo para que se julgue teses e não mais
causas. Tudo para que se julgue por atacado. Eis o campo para o florescimento das teorias
da “gestão”. Solução mágica […]. Tem agora até MBA. “Juiz deve ser gestor”[…]. [L]i na
Folha de S.Paulo […] que juízes devem investir em gestão para agilizar processos. […] Como
ninguém tinha pensado nisso antes? Para que estudar Teoria do Direito […], se a saída está
em saber gerenciar os processos? […] O meio se transforma em fim […]. Tudo vira estatística.
[…]. Não sou ingênuo para não reconhecer a utilidade das novas tecnologias. Mas colocar
esses instrumentos como um fim é […] deslocar a discussão da qualidade para a quantidade.

A crise do (e no) Direito decorre de falta de gestão ou falta de reflexão?: […] [E]sse discurso de
juiz gestor é para anestesiá-los, para desfocar o real problema: a concentração de recursos nas
cúpulas e o abandono, em especial, da Justiça de primeira instância. […] Otavio Luiz Rodrigues
Junior faz uma adequada crítica a uma […] “onda da empiria” […:] o Direito a partir de dados
empírico-jurisprudenciais. No fundo, trata-se de um “gerenciamento de dados” […] O que temos
de fazer é estudar. Mudar os cursos jurídicos. Parar de ensinar conceito prêt-à-porter, prêt-à-
penser, prêt-à-parler. Chega de simplificar livros. Paremos com a ficção. […]

A crise em três dimensões: […] um texto do Diogo Figueiredo Moreira Neto […] mostrava que
uma crise deve ser analisada sob três âmbitos: estrutural, funcional e individual […]: não
adianta abrir novos tribunais, contratar milhares de estagiários, novos computadores, se não
tratarmos do problema da funcionalidade do processo […] [e] bons “operadores” desse sistema.
E isso […] depende da ciência jurídica. Depende de um bom ensino jurídico. De bons
concursos. De provas do exame da Ordem sem pegadinhas. Depende, pois, da reflexão.
Depende da Teoria do Direito, da Constituição, do Processo... E não de “gestão”. […] Juiz não
é gerente. Juiz é julgador! Tem de aprender a decidir […] . Juiz tem de saber processo. Teoria.
Tem de saber o que é isto: o Direito. É isso!
http://www.conjur.com.br/2013-ago-08/senso-incomum-juiz-nao-gestor-nem-gerente-juiz-julgar-
bem

27
DECÁLOGO DO ESTUDANTE DE DIREITO, Vinício Carrilho Martinez, Professor da UFRO
(pesquisado por Joao Gomes da Rocha Neto)

Este decálogo (dez razões para um diálogo) é inspirado em muitas experiências na docência e
em textos, artigos e livros já lidos: o mais conhecido de todos é Oração aos Moços, de Rui
Barbosa. Então, a primeira lição aprendida é que Rui Barbosa, o Águia de Haia, é também o
Patrono do Direito no Brasil. Uma de suas frases ou pensamentos mais celebrados assegura
que: “A força do Direito deve superar o direito da força”. É dever do futuro bacharel refletir
acerca de qual direito e força Rui Barbosa fazia referência. Como é possível um estudante de
direito, no segundo período, não ter uma definição ou conceito de direito que tenha incorporado
ainda que parcialmente ou de modo temporário? Não dá, é como imaginar um estudante de
medicina que não conhece anatomia ou o futuro engenheiro que passava apertado em
matemática. É preciso ter consciência do que é o direito ou daquilo que não é e o afronta
diretamente: o antidireito, como se diz. Porém, como a intenção é didática, vamos item por
item:
1 –é dever acadêmico saber que direito é o culto do bom senso. Como iniciado na reflexão
lógica, deverá saber que NUNCA dirá a um(a) professor(a): “gosto muito de sua pessoa, mas
espero jamais ter aulas consigo”. O estudante deve estar motivado pelo BOM SENSO, quer
dizer um sentido mediado de autocontenção, como sabedoria herdada do popular e que
espanta o ridículo. O bom senso, de acordo com a lição dos antigos, é sinônimo de educação e
de prudência. Até porque a prudência alegada nos leva a crer que, no futuro, este deseducado
pode vir sim a receber novas lições deste(a) professor(a).
2 –O direito é um processo de inclusão. Em hipótese alguma o estudante de direito fará uso do
bullyng, nem mesmo sob a alegação do trote. Essas situações constrangedoras, na verdade,
escondem (ou revelam) preconceitos (a consciência dos lerdos), racismos, discriminações e
xenofobias. Como se sabe, essas são pragas que afloram em regimes nazi-fascistas.
3 –O direito é social. Esta é a lição mais óbvia e, ao mesmo tempo, a mais complexa para se
apreender. Uma lição complexa é “tecida em conjunto” (complexus) e o direito é uma teia que
enreda a todos e que cresce e se modifica seguindo a própria dinâmica e o tecido social: ubi
societas, ibi ius. Todo estudante deve saber disso, deve ter esta clareza, pois em seu desfavor
nunca poderá alegar a ignorância das lições de primeiro ano. Quando se estuda em instituição
pública a questão é muito mais grave, pois o direito à educação (como direito subjetivo) que lhe
é ofertado, é uma garantia constitucional assegurada pelos recursos públicos; o que implica em
dizer que as contribuições do povo é que lhe garantem a presença “sem custos” na sala de
aula. Dizendo de outro modo, sem que o povo (muitas vezes analfabeto, mas sempre
trabalhador) contribuísse, pagando seu assento, jamais alimentaria seu sonho de se tornar
bacharel em direito. No assento acadêmico, a consciência deve ser acentuada. Também é
claro, mas vale dizer que o social cria o direito para ser cumprido, não apenas uma promessa
sem futuro, e isto requer força, determinação. Enfim, para ser cumprido, além de convicção, o
direito é coerção.
4 –O direito é luta. Há uma intensa e eterna luta pelo direito. Esta máxima tanto vale para o
pensamento histórico que recobre o direito – nas lutas contra a escravidão, a tirania, pela
descolonização – , quanto vale para a vida do cidadão comum. O brocardo jurídico assegura
que “o direito não socorre a quem dorme” e isto quer dizer que se você tem um direito (ou
expectativa de direito) e não luta por ele, somente a derrota estará assegurada. O tempo da
prescrição correrá contra a alegação de justiça lançada pelo sujeito de direitos, se não lutar
pelo direito. Não é preciso dizer que milhares/milhões de pessoas morreram e outras tantas
morrerão por esta crença.
5 –Direito é poder e liberdade. O direito é liberdade para requisitar o próprio direito. Pois, sem
liberdade para pensar e agir, não há direito algum assegurado. Sem liberdade, não há nem
mesmo o direito de se julgar sujeito de direitos, uma vez que sem a liberdade o sujeito é
dominado, tutelado, estando sujeito à vontade dos outros. A liberdade é a gênese do Direito a
ter direitos – e isto não é uma tese, é a realidade histórica na origem do primeiro direito, do
direito básico, que é exatamente o direito de poder esperar pela conquista de outros direitos.

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Aliás, sem o direito, o indivíduo não se converte em sujeito de direitos porque aquele que
detém o poder irá impor sua vontade contra o direito dos demais. Toda a história da
Humanidade nos mostra como o direito precisa da liberdade para ser requisitado e de garantias
sociais e normativas para ser exercido. A liberdade do sujeito de direitos é o melhor remédio
jurídico contra o uso/abusivo do poder político. Se o direito corresponde ao poder do Estado,
então, a liberdade é a garantia de que este poder não será utilizado contra os cidadãos. A
liberdade é a garantia de que haverá autolimitação do poder público, em defesa dos cidadãos.
A liberdade é o esteio do Estado de Direito: império da lei, separação dos poderes, prevalência
dos direitos fundamentais. Como dominação, o direito precisa da liberdade para ser
equilibrado, para não ser o mero reflexo do poder dos mais fortes.
6 –O direito é uma superestrutura. Como realidade social ampliada, ainda mais atualmente em
que o mundo da vida está absolutamente globalizado, a superestrutura
jurídicadecorre/depende de uma infraestrutura necessária, determinada e independente. O
mundo da vida, o mundo do trabalho, as condições reais, objetivas, concretas de vida, do
trabalho e da produção em que as pessoas se encontram devem ser pensadas como
condicionantes da realidade jurídica. Não é o direito que determina ou que transforma a
realidade, é exatamente o contrário, uma vez que os ideais podem instigar-nos, mas será a
práxis a dar o impulso e a conferir a força necessária às mudanças mais profundas e
significativas.
7 –O direito é reto. Do latim directus, e directo no português do século XIII, o direitosegue
regras pré-determinadas ou preceitos determinadosno caminho da Justiça. Ainda que se possa
dizer que a definição de Justiça está na cabeça de cada um, que há muito subjetivismo em sua
alegação, é preciso saber que nenhum direito ou decisão em seu nome pode provocar
injustiças. As chamadas leis injustas devem ser espancadas até que tenhamos vergonha de
um dia as termos praticado. Neste caso, cabe a Desobediência Civil, como não-cumprimento
da ordem injusta.
8 –Direito não é lei. O direito engloba a lei, assim como regulamentos, normas sociais, hábitos,
portarias, costumes e práticas sociais. Além da jurisprudência, doutrinas, princípios gerais do
direito. A definição de que o direito é o conjunto, a soma das regras jurídicas não encanta nem
mesmo o mais severo ou ingênuo dos positivistas.
9 –O direito é positivo. Como processo inclusivo, reflexivo, o direito tem um efeito direto e
imediato, afirmando-se como processo civilizatório. Isto é, com o direito em curso afirmativo no
seio social, outras formas de convivência social como a violência, as tradições, o regionalismo
cedem gradativamente espaço às conquistas racionais, universais do direito. O direito é
positivo sem ser, necessariamente, positivista.
10 –Direito é razão. Este item talvez indique a mais teórica das dimensões do direito. Guiados
por este argumento muitos alegam ser o direito uma ciência e não ideologia ou “disciplina
axiológica”. Requer-se o status de ciência jurídica. Sob este prisma, poderíamos afastar as
críticas de que o direito serve tão-somente de cursor para as ideologias dominantes, sendo o
próprio direito a ideologia dos grupos ou das classes dominantes. Portanto, se o direito é razão,
implica em dizer que se trata de uma construção consciente, elaborada, pensada, lógica e não
imposta por outra força que não seja a própria razão. Afinal, não há razão sem liberdade; com
liberdade e razão para crer, o consentimento é obtido com o convencimento. A força da lógica,
do melhor argumento é a essência da razão que alimenta o direito. Com razão, o direito é
convencimento, uma resposta inteligente às formas não-razoáveis do poder. Convencimento é
vencer com, vencer junto, e isto indica que o direito é um poder que soma, pois vencemos
juntos. Com o direito, vencemos coletivamente. De acordo com os clássicos, desse modo, o
direito permite escapar da chamada “soma-zero”. Pois, se vencemos em conjunto é porque
todos ganhamos com a presença do direito. Logo, com vitórias sociais agregadas, nunca
haverá um resultado negativo. O direito, portanto, é capaz de racionalmente gerar valores,
instigar uma soma conjugada de práticas que animem positivamente um círculo virtuoso.
Mesmo que alguém perca uma demanda, todos, inclusive o perdedor, ganharam
indubitavelmente com a presença e atuação do direito. A mesma razão do bom senso nos leva
a concluir que o direito deve ser justo, e isto revela suas bases morais e éticas.

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Agora, sem a crença de que o direito pode/deve ser o guia da vida comum das pessoas, a
forma de regular o poder e a dominação exercida sobre outros homens, não há como discutir e
nem supor a existência do próprio direito. Em suma, o direito é a crença na qual acreditamos
como um meio legítimo, racional, equilibrado, justo, como o melhor meio para regular nossas
vidas. O direito é uma ficção, porque acreditamos mais no que está escrito na forma da lei do
que nas práticas sociais que constroem esta mesma base legal. Quando Rui Barbosa diz que
“a força do Direito deve superar o direito da força”, quer expressara crença no direito. Mas, um
pragmatismo jurídico preguiçoso, piegas, nos leva a acreditar na lei e não exatamente no
direito. De certo modo, acreditamos mais na promessa da lei do que no direito construído,
conquistado, porque este requer reflexão e a lei está pronta, editada e à espera de ser citada
para garantir a conquista de um suposto direito. O que, por fim, exige de todos os estudantes,
quer sejam alunos ou professores, uma aproximação sempre crítica ao direito. Estudar o direito
exige uma postura crítica, sempre criativa, pois é só assim que se constroem referências
justas. Todo estudante de direito tem até o primeiro ano de curso para ter essas informações,
se não as tem é porque ainda não é um estudante do direito.
http://www.gentedeopiniao.com.br/lerConteudo.php?news=108504

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DECÁLOGO DO ADVOGADO ESTAGIÁRIO (Estagiário de Advocacia)
Nuno Cunha Rolo, advogado e professor português (pesquisado por Thaís Sampaio Maciel
Bahia)

I - SÊ CONSCIENTE E HONESTO. Na conduta pessoal e profissional, nomeadamente para


com o patrocinado. A consciência do dever é a razão pura da verdade e a razão prática da
advocacia.
II - SÊ RESPONSÁVEL E CUMPRIDOR DO DIREITO. Deves assumir todos os teus deveres,
sempre e em qualquer altura, e prosseguir a concretização do Direito.
III - ESTUDA A MAIS, MAS PENSA DEMAIS. O direito aprende-se estudando, mas exerce-se
pensando.
IV - LUTA PELA JUSTIÇA E PELO DIREITO. Quando conflituarem opta ou resiste
respeitosamente, e em consciência, pela Justiça, como princípio geral do Direito que é.
V - OBSERVA, ESCUTA E DIALOGA COM O PATROCINADO. Uma imagem, por vezes, vale
mais que mil palavras. Uma voz dá convicção para o sucesso e humaniza a função causídica.
A comunicação é parte integrante da relação compreensiva e, a mais das vezes, solidária que
se estabelece entre o advogado-estagiário e o patrocinado.
VI - COMUNICA COM O PATRONO E ESCUTA-O CRITICAMENTE. Os conselhos devem
sempre ser respeitados e recebidos de forma activa e com análise crítica, seja ela positiva ou
negativa.
VII - SÊ PACIENTE E NÃO DESESPERES. O tempo será tanto mais um bem escasso, quanto
maior for a idade, quer do advogado-estagiário, quer de advocacia. A conduta do dia-a-dia será
sempre a semente dos frutos do êxito pessoal e profissional.
VIII - SÊ HUMILDE, MAS NÃO SUBMISSO. A inexperiência não implica necessariamente
inferioridade intelectual ou menoridade de conhecimentos. Age com a dignidade respectiva do
hábito e com a correspondente aquisição de conhecimentos que te compete.
IX - SOFRE COM JUSTIÇA. Sofrer por tal é meio caminho andado para ela se realizar.
X - AGARRA A SORTE. Não basta desejar a sorte, é preciso trabalhar o máximo para se
depender menos dela, sobretudo no Juízo Final.

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Dez mandamentos improvisados para o juiz iniciante, Luiz Fernando Cabeda, juiz aposentado
do TRT12 (pesquisado por Juma Guedes Aguiar)

Ao contrário do que costuma acontecer no mundo do bacharelismo renitente, o presente texto


foi redigido apenas para ser útil. Lê-lo corretamente é não encontrar nele nenhuma intenção
professoral. Surgiu porque alguém teve o desprendimento de pedi-lo in pectus. Quem não
goste de mandamentos, sempre pretensiosos, fica autorizado a trocar o título: guia de
sobrevivência para um juiz digno.
I. Não praticar excesso de rigorismo contra si, pela adoção de métodos drásticos de trabalho,
fonte espúria de neuroses; nem contra outrem, pois também o jurisdicionado, submetido aos
azares do processo e com seus múltipos afazeres, pode ter grande dificuldade de acompanhá-
lo. Ser demasiado impositivo — ainda que com a verdade e a vontade de servir à Justiça — é
uma forma nociva de afirmação. Não procure certezas bíblicas em autores nada inspirados.
Libertar-se de messianismos é nunca esquecer o que revela o despudor gramatical de Vinicius
de Moraes, que — jovem mau estudante e já bom poeta — assim traduziu a divisa libertas
quae sera tamen: “liberta, que serás também”.
II. Objetivar as dificuldades considerando que todos os sentimentos ambíguos poderiam ser
destacados e vistos, pelo sujeito, como se estivessem fora dele. Além de afastar tormentos
interiores, essa ilusão óptica ajudará a superar a purgação da dúvida, e ninguém fica obrigado
a ser existencialista só por isso. A ambivalência no Direito é algo com que o juiz terá de lidar
sempre.
III. Não ser escravo de protocolos, pautas, hierarquias fictícias; muito menos de grupos
corporativos e confrarias cujos interesses esotéricos são sempre nocivos para o povo. A
democracia não condiz e prescinde mesmo dos “iniciados” no ocultismo. Não ser escravo
inclusive dos seus fundados temores. Como disse o escritor Augusto Roa Bastos, “ninguém é
dono do seu medo, senão quando o tenha perdido”. Não aceite jamais a freqüente insinuação
de propostas convenientes para incorporar e reconhecer os benefícios circunstanciais que lhe
adviriam de uma “escravatura da toga”. A excessiva obediência e o temor reverencial diluem o
caráter. O passado exige que ainda haja juízes em Berlim. No presente, todos os lugares são
Berlim.
IV. O isolamento profissional dói. Mas a convivência forçada com aqueles a quem não
escolhemos pode ser opressiva. Em um meio hostil, aprenda a viver nele, sem se curvar a
nenhuma das suas restrições. Não repita ad nauseam tantos artigos, parágrafos, incisos, de
nossas milhares de leis como se fossem a única razão para julgar e para existir. Isso é o que
fazia o personagem de Graciliano Ramos, “até que viu-se livre para sempre dos tormentos da
imaginação”.
V. Enfrentar com sobriedade e moderação o sofrimento da dura lida com tantos e tantos
infindáveis problemas alheios, mormente os resultantes dos insensatos que malbaratam suas
vidas em litígios inúteis. Ao invés de colecionar piadas forenses de gosto muito duvidoso, que
em geral expõem pessoas simples e incultas ao ridículo, lembre-se de Millôr Fernandes: “não
sabia que doía tanto vencer a dor”. Superá-la é a prova de que ela não será a medida da sua
atuação. Demais disso, é preciso uma vitória definitiva sobre o ressentimento. Sinta que andou
muito além da sala dos passos perdidos.
VI. Desejar, se puder, ardentemente. Todo desejo é propulsor. Principalmente quando se lê o
que Victor Hugo escreveu a respeito. Mesmo a insegurança na escolha do ser e do objeto
desejados pode indicar um roteiro melhor do que a segurança de um horizonte próximo
demais, dependendo do quanto se pretenda expandir. Deseje julgar e, efetivamente, julgue. Foi
ainda com os romanos que morreu o direito de não julgar — sibi non liquere. O poder delegado
legítimo emana de uma fonte autêntica. Não inverta a ordem de quem o concede com a de
quem o exerce.
VII. Nosso país é uma permanente encruzilhada de aflições. Para vencê-las, mesmo quando
elas são geradas dentro de nós mesmos, das nossas insuficiências, é preciso ter
conhecimento. Assim, ampliar sempre a capacidade de perceber, sem vislumbrar limites, não é
uma meta, ou uma vaidade narcísea, mas um caminho necessário. Para ser tocado pelo

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grandioso, do pleno ciente humano, é preciso ter a humildade de reconhecê-lo, como a de
admitir que ele só nos alcança porque provém do que está no mundo fora de nós.
VIII. “Amigos são a família que escolhemos ter”, escreveu William Shakespeare. Não os
abandonemos e, sobretudo, consentindo com nosso próprio distanciamento, não os
obriguemos a que nos abandonem. Enquanto não cruzamos a linha do mergulho no mistério do
finito, conduzidos por mãos alheias, nenhum gesto pode ser mais generoso do que a
fraternidade de um amigo. Nossos companheiros de rota sempre nos mostram que é
necessário prosseguir.
IX. A mediocridade é o maior de todos os males, pois — condescendendo com ela —
aceitamos que a comiseração para conosco se instale definitivamente em nosso espírito.
Entenda que, sofrendo com o peso disseminado do medíocre, muitas vezes mostramos quanto
o estamos repelindo. Não se deixe tomar por homenagens laudatórias, não consinta, não as
promova; elas não trazem ganho, mas queda no irremediável lugar-comum. E sua vida ficará
presa.
Acredite que tem méritos por já estar no seu meio, mas acredite mais que há maiores e
menores em outros, onde quer que esteja. Por isso, nunca seja o principal reivindicador deles.
Seus rastros — quando tenham a sua autoria marcante e percepção única — poderão sempre
ficar como um valor para outros, se a tanto o seu trabalho alcançar concretamente. Isto é bem
mais do que a conquista ostentatória dos arrivistas pois, afora a pompa circunstancial, com o
tempo ela se esvai no soturno esquecimento a que os justos têm direito, mas suscitará a
ambição de ultrapassá-la no outro arrivista idólatra, que virá depois, numa espiral louca e sem
fim.
X. Nenhuma profissão realiza uma vida. Isso é bom, pois a recíproca também é verdadeira: a
vida não se confina em uma profissão. Grandes homens tiveram variados interesses. Seguido,
isso foi o que os fez grandes. O juiz, em geral, tem o privilégio de observar dados da realidade
com a luneta de Galileu. Mas, como o sábio, deve acreditar no que vê, sem idolatria ao
magnífico instrumento de observação que lhe foi dado.
http://www.conjur.com.br/2008-nov-07/dez_mandamentos_improvisados_juiz_iniciante

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Sugestões para um Código de Ética para juízes, Benício de Paiva, desembargador aposentado
(pesquisado por Jussiara Lima de Jesus)
I – Considere a judicatura como um verdadeiro sacerdócio, algo acima das forças humanas e
que se nutre de trabalho diuturno, de sacrifícios e renúncias;
II – Zele ciosamente pela sua reputação, assim na esfera da vida particular como na vida
pública, evitando tudo que a comprometa e ponha em xeque o prestígio da justiça;
III – Conduza-se, na vida, modesta, austera e ordenadamente; fora do estrépito da publicidade
e da evidência social, que consome o tempo em recreios improdutivos;
IV – Não deva nada a ninguém. Não compre nada com o dinheiro que não ganhou. Na ordem
econômico-financeira está a base da tranqüilidade do lar e da segurança do crédito;
V – Recuse dádivas e presentes valiosos, convites para visitas e excursões dispendiosas, à
custa de outrem, quase sempre dono de negócios, empresas com interesses em repercussão
na Justiça;
VI – Nunca levante a voz, não grite. Não ande armado, nem alardeie assomos de valentia;
VII – Não adiante nunca o pensamento sobre causas ou espécies que dependam do seu
conhecimento, ou que possam vir a depender;
VIII – Não se aproxime da política partidária, senão por dever de ofício, sempre com a devida
reserva;
IX – Se, em despacho ou sentença, incidiu em erro ou engano, confesse-o lisamente,
emendando-o como for de verdade e de direito;
X – A emulação entre os juízes somente é tolerável quando visa impessoalmente o maior
aperfeiçoamento da justiça.

http://ceifamagistrados.blogspot.com.br/2009/08/deontologia-da-magistratura.html

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Mandamentos do juiz, George Ranson, magistrado francês do século XIX (pesquisado por
Victor Reichenbach Requião)

1. O juramento prestado guardarás - Com retidão e estritamente.


2. A hora marcada comparecerás - À audiência, exatamente.
3. As partes bem tratarás - Como a todos, afavelmente.
4. Para os deserdados tu serás - Mais que para os outros, benevolente.
5. Da popularidade fugirás - E da publicidade, igualmente.
6. Os litigantes reconciliarás - Quando tu couber, corajosamente.
7. Teus méritos apreciarás - Com eqüidade, facilmente.
8. Sem nenhum pesar te absterás - Cada vez mais modestamente.
9. Da rotina te amedrontarás - Como da peste, seguramente.
10. Teu erro confessarás - Em todo ensejo, humildemente.
11. Em caso de dúvida absolverás - Sem hesitar, imediatamente.
12. Aos empedernidos te mostrarás - Severo, impiedosamente.
13. Sem nenhum pesar te absterás - Do gracejo, muito severamente.
14. As formas simplificarás - Sempre que puderes, impunemente.
15. Todas as peças tu lerás - Lenta e cuidadosamente.
16. A solução tu adotarás - Nem rápida, nem lentamente.
17. Os suplicantes ouvirás - Sem bocejar visivelmente.
18. Tuas sentenças redigirás - Curtas e completas, visivelmente
19. Na promoção não pensarás - Senão no domingo somente.
20. Servidor das leis te conservarás - Até a morte, simplesmente.

Fonte: http://www.nazario.adv.br/mjuiz.htm

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