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Ciências humanas EXPERIMENTAÇÃO NO ENSINO DE SOCIOLOGIA

Grupo de Estudos de Sociologia

A Sociologia nos vestibulares


Prof. Elias Feitosa

Ficha de Estudo n. 1 – Introdução à Sociologia

Origem: Auguste Comte (1798-1857)

Comte acreditava que as sociedades deveriam ser alvo de uma abordagem propriamente científica. Assim, uma nova
área do conhecimento científico, voltada para o estudo e a compreensão das leis gerais que regem o mundo social
humano, deveria ser formada com base nos princípios científicos das demais ciências da natureza. Seria por meio do
método científico que as normas e as regras gerais dos fenômenos sociais seriam entendidas, o que nos daria o poder
de intervir nos problemas sociais de forma a resolvê-los e eliminá-los de nossa convivência. Comte chamou essa nova
ciência de Sociologia.

Objeto de estudo

Com o tempo, entretanto, os estudos sociológicos mudaram, pois entendeu-se que nossa sociedade não possui regras
fixas ou leis pétreas que regem os fenômenos sociais, o que, entretanto, não invalida os esforços iniciais de Comte. É pelo
trabalho sociológico que podemos entender a complexidade de nosso mundo, ainda que não consigamos determinar
leis fundamentais. As regularidades de nosso comportamento e os aparatos sociais construídos para sustentar nossa
convivência são objetos passíveis de observação e estudo; assim, entendê-los é parte do esforço para compreendermos
a nós mesmos.

Karl Marx (1818-1883)

Em 1848, os pensadores Karl Marx e Friedrich Engels apareceram com um elaborado arcabouço teórico que visava
renovar o socialismo. Para tanto, realizaram um complexo exercício de reflexão sobre as relações humanas e as institui-
ções que regulavam as sociedades. Como resultado, obtiveram uma série de princípios que fundamentaram o marxismo,
também conhecido como socialismo científico.
Por meio do chamado materialismo histórico, compreenderam que as sociedades humanas viabilizam suas relações
a partir da forma como os bens de produção são distribuídos entre os seus integrantes. Dessa forma, as condições
socioeconômicas (infraestrutura) acabavam determinando como a cultura, o regime político, a moral e os costumes
(superestrutura) se configurariam.
Um exemplo dessa condição pode ser visto no processo revolucionário francês. Nesse evento histórico, o socialismo
científico observa que o desenvolvimento da economia capitalista impôs, aos poucos, a criação de um novo regime
político, leis e costumes que se adequavam a essa nova realidade. Nesse sentido, os arcaicos costumes feudais e seus
demais representantes foram combatidos.
Além disso, o pensamento marxista alega que o materialismo dialético seria uma das molas propulsoras fundamentais
que alimentam as transformações históricas. Dessa forma, no momento em que um sistema econômico expõe seus
problemas e suas contradições, os homens passam a refletir e lutar por novas formas de ordenação que se adaptem
às novas demandas.
Por isso, ao avaliar os mais diferenciados contextos históricos, Marx e Engels concluíram que a história das sociedades
humanas se dá por meio da luta de classes. Nessa perspectiva, o marxismo aponta que a oposição que se desenvolvia
entre nobres e camponeses na Idade Média seria uma variante da mesma relação de conflito que, no mundo contem-
porâneo, ocorre entre a burguesia e o proletariado.

CURSINHO DA POLI 1
DA PALAVRA AO EXPERIMENTO Ciências humanas

Pensando estrategicamente nas contradições do capitalismo, Marx e Engels defendiam que a superação definitiva
de tal sistema seria alcançada por uma sociedade sem classes. Contudo, para que isso fosse possível, os trabalhadores
deveriam conduzir um processo revolucionário incumbido da missão de colocar eles mesmos diante do Estado, com a
instalação de uma ditadura do proletariado.
Esse regime ditatorial teria a função de assumir os meios de produção e socializar igualmente as riquezas. Dessa
forma, seriam dados os primeiros passos em busca de uma sociedade igualitária. Na medida em que essa situação de
igualdade fosse aprimorada, o governo proletário cederia lugar para uma sociedade comunista na qual o Estado e as
propriedades seriam finalmente extintos. 

Émile Durkheim (1858-1917)

Ao final do século XIX, no período de formação da Sociologia como ciência, Émile Durkheim preocupava-se em criar
regras para o método sociológico, garantindo-lhe um status de saber científico, assim como para as demais áreas do
conhecimento, a exemplo da Biologia, da Química, entre outras. Contudo, tão importante quanto definir o método era
definir o objeto de estudo. Assim, segundo Durkheim, à Sociologia caberia estudar somente os “fatos sociais”, os quais
consistiriam em maneiras de agir, de pensar e de sentir exteriores ao indivíduo, dotadas de um poder de coerção sobre
esse mesmo indivíduo.
As respostas para nossa organização social estariam nos fatos sociais. E, para alcançá-las, seria necessário um método
para que pudéssemos compreender melhor esses fatos sociais como objeto sociológico. Assim, deveriam ser vistos
como se fossem “coisas”, como se fossem objetos passíveis de análise, assim como a Biologia se debruça sobre uma
planta. Para Durkheim, o homem naturalmente cria falsas noções do que são as coisas que o rodeiam, mas não é por
meio da criação de ideias que se chegará à realidade. Para ele, deve-se propor a investigação dos fatos em busca das
verdadeiras leis naturais que regem seu funcionamento e sua existência. Afinal, os fatos possuem existência própria e
são externos em relação às consciências individuais.
Em sua obra intitulada As regras do método sociológico, de 1895, Durkheim afirma que

[...] espera ter definido exatamente o domínio da sociologia, domínio esse que só compreende um determinado grupo de
fenômenos. Um fato social reconhece-se pelo seu poder de coação externa que exerce ou é suscetível de exercer sobre
os indivíduos; e a presença desse poder reconhece-se, por sua vez, pela existência de uma sanção determinada ou pela
resistência que o fato opõe a qualquer iniciativa individual que tenda a violentá-lo [...]. É um fato social toda a maneira de
fazer, fixada ou não, suscetível de exercer sobre o indivíduo uma coação exterior, ou ainda, que é geral no conjunto de
uma dada sociedade tendo, ao mesmo tempo, uma existência própria, independente das suas manifestações individuais.

Os fatos sociais dariam o tom da ordem social, sendo construídos pela soma das consciências individuais de todos
os homens e, ao mesmo tempo, influenciariam cada uma delas.
O importante é a realidade objetiva dos fatos sociais, os quais têm como característica a exterioridade em relação
às consciências individuais e exercem ação coercitiva sobre elas. Contudo, uma pergunta se coloca: de onde vem essa
ação coercitiva? Pensemos em nossa sociedade atual. Fomos criados por nossos pais e pela sociedade com a ideia de
que não podemos, em um restaurante, virar o prato de sopa e beber seu conteúdo de uma só vez, pois certamente as
pessoas vão rir ou talvez achar um tanto estranho, já que existem talheres para se tomar sopa. Não existem leis escritas
que impeçam quem quer que seja de virar o prato de sopa, segurando-o com as duas mãos para beber rapidamente. No
entanto, a maioria das pessoas se sentiria proibida de praticar esse ato. Da mesma forma, por que quando trabalhamos
em um escritório ou em algum lugar formal os homens estão de terno e não de pijamas? Isso é a ação coercitiva do
fato social, é o que nos impede ou nos autoriza a praticar algo, por exercer uma pressão em nossa consciência, dizendo
o que se pode ou não fazer.
Se um indivíduo experimentar opor-se a uma dessas manifestações coercitivas, os sentimentos que nega (por exemplo,
o repúdio do público por um homem de terno rosa) irão se voltar contra ele. Em outras palavras, somos vítimas daquilo
que vem do exterior. Assim, os fatos sociais são produtos da vida em sociedade, e sua manifestação é o que interessa
à Sociologia.

2 CURSINHO DA POLI
Ciências humanas EXPERIMENTAÇÃO NO ENSINO DE SOCIOLOGIA

Max Weber (1864-1920)

Na visão de Max Weber, a função do sociólogo é compreender o sentido das chamadas ações sociais, e fazê-lo en-
contrar os nexos causais que as determinam. Entende-se que ações imitativas, nas quais não se confere um sentido
para o agir, não são ditas ações sociais. No entanto, o objeto da Sociologia é uma realidade infinita e, para analisá-lo, é
preciso construir tipos ideais, que não existem de fato, mas que norteiam a referida análise.
Os tipos ideais servem como modelos e, a partir deles, a citada infinidade pode ser resumida em quatro ações fun-
damentais, a saber:
1. Ação social racional com relação a fins, na qual a ação é estritamente racional. Toma-se um fim, e este é, então,
racionalmente buscado. Há a escolha dos melhores meios para se realizar um fim.
2. Ação social racional com relação a valores, na qual não é o fim que orienta a ação, mas o valor, seja ele ético,
religioso, político ou estético.
3. Ação social afetiva, em que a conduta é movida por sentimentos, tais como orgulho, vingança, loucura, paixão,
inveja, medo etc.
4. Ação social tradicional, que tem como fonte motivadora os costumes ou hábitos arraigados. (Observe que as
duas últimas são irracionais.)
Para Weber, a ação social é aquela que é orientada ao outro. No entanto, há algumas atitudes coletivas que não podem
ser consideradas sociais. No que se refere ao método sociológico, Weber difere de Durkheim (que tem como método
a observação e a experimentação, sendo que esta se dá com base na análise comparativa, isto é, faz-se a análise das
diversas sociedades as quais devem ser comparadas entre si posteriormente). Ao tratar os fatos sociais como coisas,
Durkheim queria mostrar que o cientista precisa romper com qualquer pré-noção, ou seja, é necessário, desde o co-
meço da pesquisa sobre a sociedade, o abandono dos juízos de valores que são próprios ao sociólogo (neutralidade),
uma total separação entre o sujeito que estuda e o objeto estudado, que também pretendem as ciências naturais. No
entanto, para Weber, na medida em que a realidade é infinita, e quem a estuda faz nela apenas um recorte a fim de
explicá-la, o recorte feito é prova de uma escolha de alguém por estudar isto ou aquilo neste ou naquele momento.
Nesse sentido, não há, como queria Durkheim, uma completa objetividade. Os juízos de valor aparecem no momento
da definição do tema de estudo.
Assim foi o seu conviver com a doutrina protestante que influenciou Weber na escrita de A ética protestante e o
espírito do capitalismo. Para esse teórico, é apenas após a definição do tema, quando se vai partir rumo à pesquisa em
si, que se faz possível ser objetivo e imparcial.
Compare-se Durkheim e Weber, agora do ponto de vista do objeto de estudo sociológico. O primeiro dirá que a Socio-
logia deve estudar os fatos sociais, que precisam ser: gerais, exteriores e coercitivos, além de objetivos, para esta ser
chamada corretamente de “ciência”. Enquanto o segundo optará pelo estudo da ação social que, como já descrita, é
dividida em tipologias. Ademais, ao contrário de Durkheim, Weber não se apoia nas ciências naturais a fim de construir
seus métodos de análises, nem mesmo acredita ser possível encontrar leis gerais que expliquem a totalidade do mundo
social. O seu interesse não é, portanto, descobrir regras universais para fenômenos sociais. Contudo, quando rejeita as
pesquisas que se resumem a uma mera descrição dos fatos, ele, por seu turno, caminha em busca de leis causais, as
quais são suscetíveis de entendimento com base na racionalidade científica.

CURSINHO DA POLI 3
DA PALAVRA AO EXPERIMENTO Ciências humanas

EXERCÍCIOS

1. (UEM)

Antes de entrar em contato com a Sociologia, eu acreditava que as coisas aconteciam no mundo – e comigo – porque
fatores físicos e emocionais as causavam. Como grande parte das pessoas, eu achava que a fome ocorria por causa das
secas; a guerra, por causa da ganância territorial; o sucesso econômico, pelo trabalho árduo; o casamento, pelo amor; o
suicídio, pela depressão profunda; os estupros, pela luxúria desenfreada de determinados homens. Mas meus professo-
res de Sociologia conseguiram me mostrar, ao longo do meu curso de graduação, evidências que contradiziam minhas
respostas simplistas para essas questões. Se as secas são responsáveis pela fome, por que tantos grupos passam fome
em condições climáticas normais? Se o trabalho árduo gera prosperidade, por que tantas pessoas que trabalham duro
durante toda a vida são pobres? Se o amor é a causa do casamento, por que tantas famílias são lócus de violência contra
a mulher e a criança?
HAMLIN, Cynthia Lins.
Por que Cynthia Hamlin decidiu não estudar Sociologia – história pessoal.
In: BRYM, Robert et al. Sociologia: sua bússola para um novo mundo. São Paulo: Cengage Learning, 2009. p. 3.

Considerando a citação e seus conhecimentos sobre os fundamentos do conhecimento nas Ciências So-
ciais, assinale o que for correto.
01) Em uma de suas obras clássicas, Émile Durkheim demonstrou que o suicídio é mais do que um simples ato
individual ou de desordem psicológica. Ele é orientado por fatores sociais e influenciado por diferentes graus de
solidariedade social entre os grupos.
02) Émile Durkheim defendia que era no senso comum que o sociólogo encontrava as bases para a formulação
de seus conceitos e de suas teorias sociais. Para ele, um método de investigação subjetivista e intuitivo era capaz
de orientar a análise para uma perspectiva que conectava as experiências pessoais com as estruturas sociais.
04) A produção material da existência humana é um dos pressupostos da teoria social elaborada por Karl Marx.
Esse autor analisou o modo de produção capitalista considerando as evidências de separação entre meios de pro-
dução e força de trabalho, o que explicaria as desigualdades sociais e as condições de miséria e de submissão de
grande parte da população mundial.
08) Max Weber construiu uma abordagem compreensiva da vida social, destacando a dimensão cultural dos
fenômenos sociais, o desenvolvimento histórico de tais fenômenos e a crescente racionalização econômica do
capitalismo ocidental.
16) Não é possível afirmar que existam sociólogos brasileiros. As condições precárias de educação e de desenvol-
vimento econômico no Brasil impediram a formação de cientistas sociais em nosso país, o qual, até hoje, trabalha
com teorias provenientes dos países europeus e com cientistas estrangeiros que nos visitam regularmente.

2. (UEL) O conceito de ação social desempenha papel fundamental no conjunto teórico construído por Max
Weber.
Sobre esse conceito utilizado pelo sociólogo, considere as afirmativas a seguir.
I. A ação social foca o agente individual, pois este é o único capaz de agir e de atribuir sentido à sua ação.
II. Interpretar a reciprocidade entre as ações sociais possibilita ao cientista social a compreensão sobre as regulari-
dades nas relações sociais.
III. A imitação e as ações condicionadas pelas massas são exemplos típicos de ação social, pois são motivadas pela
consciência racional da importância de viver em sociedade.
IV. O que permite compreender o agir humano como ação social é o fato de ele possuir um sentido único e objetivo
para todos os agentes envolvidos.
Assinale a alternativa correta.
a) Somente as afirmativas I e II são corretas.
b) Somente as afirmativas II e IV são corretas.
c) Somente as afirmativas III e IV são corretas.
d) Somente as afirmativas I, II e III são corretas.
e) Somente as afirmativas I, III e IV são corretas.

4 CURSINHO DA POLI
Ciências humanas EXPERIMENTAÇÃO NO ENSINO DE SOCIOLOGIA

3. (Enem)

Na produção social que os homens realizam, eles entram em determinadas relações indispensáveis e independentes de
sua vontade; tais relações de produção correspondem a um estágio definido de desenvolvimento das suas forças materiais
de produção. A totalidade dessas relações constitui a estrutura econômica da sociedade – fundamento real, sobre o qual
se erguem as superestruturas política e jurídica, e ao qual correspondem determinadas formas de consciência social.

MARX, Karl.
Prefácio à crítica da economia política.
In: MARX, K.; ENGELS, F. Textos 3. São Paulo: Edições Sociais, 1977. (adaptado)

Para o autor, a relação entre economia e política estabelecida no sistema capitalista faz com que
a) o proletariado seja contemplado pelo processo de mais-valia.
b) o trabalho se constitua como o fundamento real da produção material.
c) a consolidação das forças produtivas seja compatível com o progresso humano.
d) a autonomia da sociedade civil seja proporcional ao desenvolvimento econômico.
e) a burguesia revolucione o processo social de formação da consciência de classe.

4. (Enem)

A África também já serviu como ponto de partida para comédias bem vulgares, mas de muito sucesso, como Um príncipe
em Nova York e Ace Ventura: um maluco na África; em ambas, a África parece um lugar cheio de tribos doidas e rituais
de desenho animado. A animação O rei Leão, da Disney, o mais bem-sucedido filme americano ambientado na África, não
chegava a contar com elenco de seres humanos.

LEIBOWITZ, E.
Filmes de Hollywood sobre África ficam no clichê.
Disponível em: <http://notícias.uol.com.br>.
(acesso em: 17 abr. 2010)

A produção cinematográfica referida no texto contribui para a constituição de uma memória sobre a África
e seus habitantes. Essa memória enfatiza e negligencia, respectivamente, os seguintes aspectos do con-
tinente africano:
a) A história e a natureza.

b) O exotismo e as culturas.
c) A sociedade e a economia.
d) O comércio e o ambiente.
e) A diversidade e a política.

CURSINHO DA POLI 5
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Prof. Elias Feitosa

Ficha de Estudo n. 2 – Homem: animal social

Para Karl Marx (1818-1883), os indivíduos devem ser analisados de acordo com o contexto de suas condições e situações
sociais, já que produzem sua existência em grupo. O homem primitivo, segundo ele, diferenciava-se dos outros animais
não apenas pelas características biológicas, mas também por aquilo que realizava no espaço e na época em que vivia.
Caçando, defendendo-se e criando instrumentos, os indivíduos construíram a própria história e existência no grupo social.
Ainda segundo Marx, a ideia de indivíduo isolado só apareceu efetivamente na sociedade de livre concorrência, ou
seja, no momento em que as condições históricas criaram os princípios da sociedade capitalista. Tomemos um exem-
plo simples dessa sociedade. Quando um operário é aceito em uma empresa, ele assina um contrato do qual consta
que deve trabalhar tantas horas por dia e por semana e que tem determinados deveres e direitos, além de um salário
mensal. Nesse exemplo, existem dois indivíduos se relacionando: o operário, que vende sua força de trabalho, e o em-
presário, que compra essa força de trabalho. Aparentemente, trata-se de um contrato de compra e venda entre iguais.
Mas só aparentemente, pois o “vendedor” não escolhe onde nem como vai trabalhar. As condições já estão impostas
pelo empresário e pelo meio social.
Essa relação entre os dois, no entanto, não é apenas entre indivíduos, mas também entre classes sociais: a operária
e a burguesa. Eles só se relacionam, nesse caso, por causa do trabalho: o empresário precisa da força de trabalho do
operário, que, consequentemente, precisa do salário oferecido pelo empresário. As condições que permitem esse rela-
cionamento são definidas pela luta que se estabelece entre as classes, com a intervenção do Estado, por meio das leis,
dos tribunais ou da polícia.
Essa luta vem se desenvolvendo há mais de duzentos anos em muitos países e nas mais diversas situações, pois
empresários e trabalhadores têm interesses opostos. O Estado aparece aí para tentar reduzir o conflito, criando leis que,
segundo Marx, são, em geral, a favor dos capitalistas.
Desse modo, o foco da teoria de Marx está nas classes sociais, embora a questão do indivíduo também esteja pre-
sente. Isso fica claro quando Marx afirma que os seres humanos constroem a própria história, mas não da maneira
que querem, pois existem situações anteriores que condicionam o modo como ocorre a construção. Para ele, existem
condicionamentos estruturais que levam o indivíduo, os grupos e as classes para determinados caminhos; mas todos
têm a capacidade de reagir a esses condicionamentos e até mesmo de transformá-los.
Marx se interessou por estudar as condições de existência de homens reais na sociedade. O ponto central da sua
análise está nas relações estabelecidas entre as classes da sociedade. Segundo Marx, só é possível entender as relações
dos indivíduos com base nos antagonismos, nas contradições e na complementaridade entra as classes sociais. Assim,
de acordo com ele, a chave para compreender a vida social contemporânea está na luta de classes, que se desenvolve
à medida que homens e mulheres procuram satisfazer suas necessidades, “oriundas do estômago ou da fantasia”.

Durkheim: o indivíduo e as instituições

Fatos sociais

O fato social, segundo Durkheim, consiste em maneiras de agir, de pensar e de sentir que exercem determinada força
sobre os indivíduos, obrigando-os a se adaptar às regras da sociedade na qual vivem. No entanto, nem tudo o que uma
pessoa faz pode ser considerado um fato social, pois, para ser identificado como tal, tem de atender a três caracterís-
ticas: generalidade, exterioridade e coercitividade.

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Coercitividade – característica relacionada com o poder, ou a força, com o(a) qual os padrões culturais de uma so-
ciedade se impõem aos indivíduos que a integram, obrigando esses indivíduos a cumpri-los.
Exterioridade – quando o indivíduo nasce, a sociedade já está organizada, com suas leis, seus padrões, seu sistema
financeiro etc.; cabe ao indivíduo aprender, por intermédio da educação, por exemplo.
Generalidade – os fatos sociais são coletivos, ou seja, eles não existem para um único indivíduo, mas para todo um
grupo, ou sociedade. 

Instituição social e anomia

A instituição social é um mecanismo de organização da sociedade, é o conjunto de regras e procedimentos padro-


nizados socialmente, reconhecidos, aceitos e sancionados pela sociedade, cuja importância estratégica é manter a
organização do grupo e satisfazer as necessidades dos indivíduos que dele participam.
As instituições são, portanto, conservadoras por essência. Seja a família, a escola, o governo, a religião, a polícia ou
outra, todas agem contra as mudanças, pela manutenção da ordem vigente. Durkheim registra, em sua obra, sua crença
de que essas instituições são valorosas, e, assim, parte em sua defesa. Esse posicionamento o deixou com certa repu-
tação de conservador, que durante muitos anos causou antipatia à sua obra.
No entanto, Durkheim não pode ser meramente tachado de conservador. Sua defesa das instituições se baseia em um
ponto fundamental: o ser humano precisa se sentir seguro, protegido e respaldado. Uma sociedade sem regras claras
(“em estado de anomia”), sem valores, sem limites, leva o ser humano ao desespero. Preocupado com esse sentimento,
Durkheim dedicou-se ao estudo da criminalidade, do suicídio e da religião.
Ao observar o contexto histórico do século XIX é possível perceber que as instituições sociais estavam enfraquecidas
à época. Havia muitos questionamentos, os valores tradicionais eram rompidos e outros surgiam, e muitas pessoas
viviam em condições miseráveis, estavam desempregadas, doentes e marginalizadas.
Ora, em uma sociedade integrada, essa gente não podia ser ignorada; de uma forma ou de outra, toda a sociedade
estava sofrendo ou sofreria as consequências. Durkheim considerou os problemas que observou como patologia social, e
chamou o estado daquela sociedade doente de “anomia”. A anomia era a grande inimiga da sociedade, algo que devia ser
vencido, e a Sociologia era o meio para isso. O papel do sociólogo seria, portanto, estudar, entender e ajudar a sociedade.
Em seus estudos, Durkheim concluiu que os fatos sociais atingem toda a sociedade, o que só é possível se admitirmos
que ela é um todo integrado. Se tudo na sociedade está interligado, qualquer alteração a afeta por inteiro, o que quer
dizer que, se algo não vai bem em algum setor, toda a sociedade sentirá o efeito. Partindo desse raciocínio, Durkheim
desenvolve dois de seus principais conceitos: instituição social e anomia.

Solidariedade social

A solidariedade segundo Durkheim é oriunda de dois tipos de consciência: a consciência coletiva (ou comum) e a
consciência individual. Cada indivíduo possui uma consciência individual que é influenciada pela consciência coletiva,
que nada mais é que a combinação das consciências individuais de todos os homens ao mesmo tempo. A consciência
coletiva seria responsável pela formação de nossos valores morais, e exerce uma pressão externa aos indivíduos no
momento de suas escolhas. A soma da consciência individual com a consciência coletiva forma o ser social.
Dentro da perspectiva sociológica durkheimiana, uma sociedade só é possível com base em determinado grau de
consenso entre seus membros constituintes: os indivíduos. Esse consenso se assenta, basicamente, no processo de
adequação da consciência individual à consciência coletiva. De acordo com o grau de consenso, temos dois tipos de
solidariedade.

Solidariedade mecânica

Em sua fase primitiva, a sociedade se organizava socialmente a partir das semelhanças psíquicas e sociais entre os
membros individuais. Nessas sociedades, os indivíduos que a integravam compartilhavam dos mesmos valores sociais,
tanto no que se refere às crenças religiosas como em relação aos interesses materiais necessários à subsistência do
grupo. Essa correspondência de valores é que assegurava a coesão social. 

CURSINHO DA POLI 7
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Solidariedade orgânica

Já nas sociedades ditas “modernas” ou “complexas”, do ponto de vista da maior diferenciação individual e social,
existe a solidariedade orgânica.
Nesse modelo, cada indivíduo tem uma função e depende dos outros para sobreviver. A solidariedade orgânica é
fruto das diferenças sociais, já que são essas diferenças que unem os indivíduos pela necessidade de troca de serviços
e pela sua interdependência.
O indivíduo é socializado porque, embora tenha sua individualidade, depende dos demais e, por isso, se sente parte
de um todo. Os membros da sociedade na qual predomina a solidariedade orgânica estão unidos pelo laço oriundo da
divisão do trabalho social.

Max Weber: o indivíduo e a ação social

O alemão Max Weber (1864 -1920), ao contrário de Durkheim, tem como preocupação central compreender o indivíduo
e suas ações. Por que essas pessoas tomam determinadas decisões? Quais são as razões para seus atos? Segundo
esse autor, a sociedade existe concretamente, mas não é algo externo e acima das pessoas, e sim o conjunto de ações
dos indivíduos relacionando-se reciprocamente. Assim, Weber, partindo do indivíduo e de suas motivações, pretende
compreender a sociedade como um todo.
O conceito básico para Weber é o de ação social, entendida como o ato de se comunicar, de se relacionar com alguma
orientação quanto às ações dos outros. “Outro”, no caso, pode significar tanto um indivíduo ou vários, indeterminados
e até desconhecidos. Como o próprio Weber exemplifica, o dinheiro é um elemento de intercâmbio que alguém aceita
no processo de troca de qualquer bem e que outro indivíduo utiliza porque sua ação está orientada pela expectativa de
que outros tantos, conhecidos ou não, estejam dispostos a também aceitá-lo como elemento de troca.
Seguindo esse raciocínio, Weber declara que a ação social não é idêntica a uma ação homogênea de muitos indivíduos.
Ele dá um exemplo: quando estão caminhando na rua e começa a chover, muitas pessoas abrem o guarda-chuva ao
mesmo tempo. A ação de cada indivíduo não está orientada pela ação dos demais, mas pela necessidade de proteger-
-se da chuva.
Weber também diz que a ação social não é idêntica a uma ação influenciada, que ocorre muito frequentemente
nos chamados fenômenos de massa. Quando há uma grande aglomeração, quando se reúnem muitos indivíduos por
alguma razão, eles agem influenciados por comportamentos grupais, isto é, fazem determinadas coisas porque todos
estão fazendo.
Max Weber, ao analisar o modo como os indivíduos agem e levando em conta a maneira como orientam suas ações,
agrupou as ações individuais em quatro grandes tipos, a saber: ação tradicional, ação efetiva, ação racional com relação
a valores e ação racional com relação a fins.
A ação tradicional tem por base um costume arraigado, a tradição familiar ou um hábito. É um tipo de ação que se
adota quase automaticamente, reagindo a estímulos habituais. Expressões como “Eu sempre fiz assim” ou “Lá em casa
sempre se faz desse jeito” exemplificam essas ações.
Ação efetiva tem por fundamento os sentimentos de qualquer ordem. O sentido da ação está nela mesmo. Age efe-
tivamente quem satisfaz suas necessidades, seus desejos, sejam eles de alegria, sejam de gozo, de vingança. O que
importa é dar vazão às paixões momentâneas. Age assim aquele indivíduo que diz “Tudo pelo prazer” ou “O principal é
viver o momento “.
Já a ação racional com relação a valores fundamenta-se em convicções, tais como o dever, a dignidade, a beleza, a
sabedoria, a piedade ou a transcendência de uma causa, qualquer que seja seu gênero, sem levar em conta as conse-
quências previsíveis. O indivíduo age baseado naquelas convicções e crê que tem certo “mandado” para fazer aquilo.
Se as consequências forem boas ou ruins, prejudiciais ou não, não importa, pois ele age de acordo com aquilo em que
acredita. Age dessa forma o indivíduo que diz: “Eu acredito que a minha missão aqui na Terra é fazer isso” ou “O funda-
mental é que nossa causa seja vitoriosa”.
A ação racional com relação a afins fundamenta-se em uma avaliação da relação entre meios e fins. Nesse tipo de
ação, o indivíduo pensa antes de agir em uma situação dada. Age dessa forma o indivíduo que programa, pesa e mede
as consequências, e afirma: “Se eu fizer isso ou aquilo, pode acontecer tal coisa; então, vamos ver qual é a melhor

8 CURSINHO DA POLI
Ciências humanas EXPERIMENTAÇÃO NO ENSINO DE SOCIOLOGIA

alternativa” ou “Creio que seja melhor conseguir tais elementos para podermos atingir aquele alvo, pois, do contrário,
não conseguiremos nada e só gastaremos energia e recursos”.
Para Weber, esses tipos de ação social não existem em estado puro, pois os indivíduos, quando agem no cotidiano,
mesclam alguns ou vários tipos de ação social. São os “tipos ideais”, construções teóricas utilizadas pelo sociólogo para
analisar a realidade.
Como é possível perceber, para Weber, ao contrário do que defende Durkheim, as normas, os costumes e as regras
sociais não são algo extremo ao indivíduo, mas estão internacionalizados, e, como base no que traz dentro de si, o
indivíduo escolhe condutas e comportamentos de acordo com as situações que se lhe apresentam. Assim, as relações
sociais consistem na probabilidade de que se aja socialmente com determinado sentido, sempre em uma perspectiva
de reciprocidade por parte dos outros.

CURSINHO DA POLI 9
DA PALAVRA AO EXPERIMENTO Ciências humanas

EXERCÍCIOS

1. (Unicentro) Assinale com V as afirmativas verdadeiras e, com F, as falsas sobre a contribuição do sociólogo
Max Weber para a Sociologia nas organizações.
( ) A teoria weberiana distingue quatro tipos de ação: a tradicional, a emocional ou afetiva, a racional com relação
a um valor e a racional com relação a um objetivo.
( ) A consciência coletiva, de acordo com Weber, é um conjunto de crenças comuns à média dos membros de
uma sociedade e que orienta a ação social.
( ) A Sociologia de Weber busca compreender o sentido que cada autor confere à própria conduta.

A alternativa que contém a sequência correta, de cima para baixo, é a


a) VFV
b) FFV
c) VVF
d) FVF
e) V V V 

2. (UEM)

O devoto, ao nascer, encontra as crenças e as práticas da vida religiosa; existindo antes dele, é porque existem fora dele.
O sistema de sinais de que me sirvo para exprimir meus pensamentos, o sistema de moedas que emprego para pagar
as dívidas, os instrumentos de crédito que utilizo nas minhas relações comerciais, as práticas seguidas na profissão etc.
funcionam independentemente do uso que delas faço.

DURKHEIM, Émile.
As regras do método.
São Paulo: Editora Nacional, 1974. p. 2.

Considerando a citação e a teoria sociológica de Durkheim, assinale o que for correto.


01) Conforme Durkheim, a Sociologia pode ser definida como uma ciência que estuda a gênese, a duração e o fun-
cionamento dos comportamentos coletivos instituídos pela sociedade.
02) Segundo Durkheim, os “fatos sociais” são fenômenos coletivos que exercem sobre o indivíduo uma coerção
exterior que influencia suas maneiras de agir, de pensar e de sentir.
04) Da perspectiva durkheimiana, os “fatos sociais” são fenômenos subjetivos ou psicológicos que dependem da
vontade e do desejo individual das pessoas para que possam aparecer na sociedade.
08) De acordo com Durkheim, as “representações coletivas” constituem uma das expressões dos fatos sociais, pois
compreendem os modos como a sociedade vê a si mesma e ao mundo que a envolve.
16) Para Durkheim, a educação escolar é um momento importante de socialização, no qual as novas gerações são
levadas a internalizar regras, valores e maneiras de ser que são exigidas pela sociedade.

3. (UEM) A noção de “classe social” tornou-se uma ferramenta conceitual importante para o desenvolvimen-
to das Ciências Sociais na medida em que permitiu a descrição e a análise de diferentes relações sociais
nas sociedades modernas. Considerando as variadas perspectivas sociológicas sobre as “classes sociais”,
assinale o que for correto.

01) O termo “classe social” é equivalente ao termo “classe de consumo”, pois a Sociologia entende que a posição
social das pessoas deve ser explicada pela sua capacidade de comprar ou de consumir bens.
02) A ideia de “classes sociais” refere-se a uma forma de classificar e de descrever as relações sociais, pois remete
às diferentes posições ou estratificações sociais que os indivíduos e os grupos ocupam em uma sociedade.
04) O conceito de “classes sociais” não sugere apenas a existência de diferenças ou de variações individuais entre
as pessoas, mas principalmente a produção de desigualdades entre as posições sociais que elas ocupam.

10 CURSINHO DA POLI
Ciências humanas EXPERIMENTAÇÃO NO ENSINO DE SOCIOLOGIA

08) O termo “luta de classes” está ligado ao reconhecimento de desigualdades e de hierarquias na formação e na
organização das sociedades que pode levar a conflitos e a disputas entre os distintos grupos que as compõem.
16) Quando o conceito de “classe social” é utilizado para descrever um grupo de indivíduos, o seu uso indica que
essas pessoas possuem algumas características em comum que podem identificá-las como parte de um grupo social.

4. (UEM) Considerando o tema das instituições sociais, assinale o que for correto sobre a família.

01) A família nuclear é aquela composta por um homem, o provedor primário, uma mulher, que trabalha em casa,
e um filho, ao menos.
02) A família extensa é aquela em que o casal e seus filhos passam a conviver com outros parentes, como avós
ou tios.
04) As famílias podem ser monoparentais, quando convive apenas um dos cônjuges com os filhos.

08) As famílias monoparentais matrifocadas são aquelas chefiadas por mulheres que, na maioria das vezes, pas-
saram por separação, por divórcio ou por viuvez.
16) Os novos arranjos familiares indicam que a família deixou de ser uma instituição social com força para efetuar
o processo de socialização dos indivíduos.

5. (UEM)

É importante que aqueles que lidam com os processos criminais tenham cuidado para não abandonarem princípios
importantes, como o da ampla defesa e da necessidade de investigação da verdade, com receio de serem tidos, publica-
mente, por omissos ou coniventes com as atividades criminosas.

BAJER, Paula.
Processo penal e cidadania.
Rio de Janeiro: Editora Zahar, 2002. p. 47. (Coleção Descobrindo o Brasil)

Considerando o texto e seus conhecimentos sobre as relações entre Estado e sociedade, assinale o que
for correto.
01) A inviolabilidade do direto à vida, à liberdade, à segurança e à propriedade é estabelecida pela Constituição
brasileira.
02) A tortura é uma prática permitida pela legislação brasileira, sendo aplicável em casos de comprovação de trans-
gressão hedionda ou de crime político.
04) Em casos extremos, o linchamento significaria, de forma legítima, uma antecipação daquilo que é estabelecido
pela lei.

08) Alguns crimes, sobretudo os praticados contra crianças, ganham grande visibilidade na mídia e causam profundo
impacto na opinião pública. Nesses casos, a exposição exagerada dos delitos e os processos de sensacionalismo
construídos em torno deles podem ferir o exposto na Constituição de que toda pessoa é considerada inocente até
decisão condenatória definitiva.
16) Os estudos sociológicos e antropológicos realizados em comunidades carentes das grandes cidades comprovam
a associação entre pobreza e criminalidade. A criminalidade é uma consequência da falta de recursos.

CURSINHO DA POLI 11
DA PALAVRA AO EXPERIMENTO Ciências humanas

Grupo de Estudos de Sociologia


A Sociologia nos vestibulares
Prof. Elias Feitosa

Ficha de Estudo n. 3 – Estrutura social e suas desigualdades

A estrutura social e as desigualdades sociais

Podemos observar os sinais das desigualdades sociais em todos os lugares, todos os dias. Basta sair às ruas para
notar as diferenças entre as condições de vida das pessoas e verificar que um pequeno número delas desfruta de
muitos privilégios. Essas diferenças se manifestam em elementos materiais, como a moradia, as roupas, os meios de
locomoção, mas também no acesso à educação e aos bens culturais. Por que existem as desigualdades sociais e quais
são as formas existentes? Como elas se constituíram e como são explicadas?

I) Estratificação social: é a maneira como os diferentes indivíduos e grupos são classificados em estratos (cama-
das) ou classes sociais.
Uma estratificação não pode estar baseada em apenas um critério (a renda ou a ocupação), pois isso não corresponde
à realidade social. Há, portanto, dois tipos de critérios de estratificação:
— quantitativos: como o nível da renda;
— qualitativos, que são de dois tipos: objetivos (posse de bens, trabalho, atividade) e avaliações subjetivas (pres-
tígio, honra, importância social).
A estratificação social é produzida historicamente e se expressa na organização da sociedade em sistemas de esta-
mentos, castas ou classes, como a seguir.
a) Estamentos: divisão em direitos e deveres, privilégios e obrigações que são aceitos como naturais e publicamente
reconhecidos. A sociedade feudal foi um exemplo típico, em que havia remotas possibilidades de mobilidade social. A
desigualdade, além de fato natural, transformava-se em direito.
b) Castas: hierarquização baseada em religião, etnia, cor, hereditariedade e ocupação. Vigora na Índia, embora seja
proibida por lei desde 1950. Trata-se de uma camada social fechada, pois não permite mobilidade social, por exemplo:
• brâmanes (sacerdotes e mestres da erudição sacra);
• párias, também chamados de intocáveis, são completamente marginalizados e estão fora da pirâmide social indiana.
Considerados impuros, inspiram repugnância e desprezo às demais castas.
c) Classes sociais: modalidade de estratificação social típica do capitalismo. Camada social aberta, pois permite
mobilidade social. Variam considerando a posição dos indivíduos e grupos no processo de produção (proprietários
de terra, burguesia industrial ou financeira, pequena burguesia ou média, trabalhadores e operários) ou a capacidade
de consumo (classe A, B, C, D ou E). As classes sociais podem ser divididas em:
• classe alta: dirigentes superiores e pessoas de situação econômica privilegiada;
• classe média: pessoas de situação econômica intermediária como profissionais liberais – médicos, advogados, pro-
fessores etc.; e
• classe baixa: pessoas de nível econômico baixo.

Observação: dentro de cada classe há diversas camadas, além de grupos intermediários entre uma classe e outra.

II) Mobilidade social: possibilidade de um indivíduo ou grupo modificar sua posição social em determinada socieda-
de. A mobilidade implica uma mudança de papel social, função social, atividade econômica, poder político e econômico.
Por exemplo, tem-se a:
a) mobilidade vertical, que implica mudança de status social, uma vez que o indivíduo pode ganhar ou perder pres-
tígio na sociedade. Em outras palavras, ele pode subir ou descer na escala de importância social.
Ocorre mobilidade social vertical ascendente (ou ascensão social) quando o indivíduo melhora sua posição no siste-
ma de estratificação social (por exemplo: empresário que inicia um pequeno negócio e consegue, ao longo dos anos,
torná-lo uma grande empresa).

12 CURSINHO DA POLI
Ciências humanas EXPERIMENTAÇÃO NO ENSINO DE SOCIOLOGIA

Já mobilidade social vertical descendente (ou queda social) ocorre quando o indivíduo piora sua posição no sistema
de estratificação social (por exemplo: grande empresário cujo negócio vai à falência).
b) a mobilidade horizontal ocorre na mesma classe, não implicando mudança de status social (por exemplo: profis-
sional que muda de emprego, mas não obtém melhoria salarial significativa).

III) Indicadores sociais: como o próprio nome sugere, indicadores são uma espécie de “sinalizadores” que buscam
expressar algum aspecto da realidade sob uma forma que se possa observar e mensurar. Os indicadores descrevem
a realidade em números e gráficos para orientar políticas públicas e investimentos nesta ou naquela área. No Brasil,
o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) é o órgão oficial responsável pela produção das estatísticas que
compõem o sistema de indicadores sociais. São exemplos de indicador social no Brasil:
a) Índice de Gini: também conhecido como Coeficiente de Gini, mede a desigualdade de renda da população. Varia
entre 0 (quando não há desigualdade) e 1 (desigualdade máxima).
b) Proporção de pobres na população: expressa a quantidade relativa de pessoas pobres em determinada população.
c) Expectativa de vida ao nascer: número médio de anos esperados para que um recém-nascido viva, em deter-
minado ano.
d) Taxa de analfabetismo: percentual de pessoas com 15 e mais anos de idade que não sabem ler e escrever pelo
menos um bilhete simples, no idioma que conhecem, na população total residente de mesma faixa etária, em determi-
nado espaço geográfico, no ano considerado.
e) Indicador de analfabetismo funcional (INAF): mede os níveis de analfabetismo funcional1 da população brasileira
adulta, oferecendo informações sobre as habilidades e práticas de leitura, escrita e matemática dos brasileiros entre
15 e 64 anos de idade.
f) Índice de Desenvolvimento Humano (IDH): envolve as médias das metas alcançadas em um país em três dimen-
sões básicas de desenvolvimento humano:
• vida longa e saudável (longevidade): expectativa de vida ao nascer;
• acesso à educação;
• rendimento: produto interno bruto (PIB) per capita em poder de paridade de compra (em dólares).
Observação: 
Muito elevado desenvolvimento humano: 0,900 a 1.
Elevado desenvolvimento humano: 0,800 a 0,900.
Médio desenvolvimento humano: 0,500 a 0,800.
Baixo desenvolvimento humano: até 0,500.

IV) Pobreza e desigualdade social


A pobreza é a expressão mais visível das desigualdades em nosso cotidiano. No período medieval, o pobre era um
personagem complementar ao rico. Não eram os critérios econômicos ou sociais que definiam a pobreza, mas a condição
de nascença, como afirmava a Igreja Católica. Havia uma visão positiva da pobreza, pois ela despertava a caridade e
a compaixão. De acordo com essa visão cristã de mundo, os ricos tinham a obrigação moral de ajudar os pobres. Outra
explicação, corrente no mesmo período, atribuía a pobreza a uma desgraça decorrente das guerras ou de adversida-
des como doenças e deformidades físicas.
A partir do século XVI, quando o indivíduo se tornou o centro das atenções, a pobreza se transformou em um peri-
go para a sociedade. Como uma ameaça social, era preciso disciplina e enquadramento. O Estado “herdou” a função de
cuidar dos pobres, antes atribuída aos ricos.
Com o crescimento da produção e do comércio, e a necessidade de mão de obra, a pobreza e a miséria foram inter-
pretadas como resultado de preguiça e indolência dos indivíduos que não queriam trabalhar, uma vez que havia muitas
oportunidades de emprego.
Na sociedade moderna, a desigualdade assume o caráter de privilégio de alguns e injustiça para com outros. A dife-
renciação, oposição e concorrência entre grupos sociais acabaram criando mecanismos de apropriação e monopólio
dos bens econômicos e sociais, gerando concentração de renda. É em meio à sociedade da abundância que a pobreza

1
Alfabetismo funcional: é considerada alfabetizada funcional a pessoa capaz de utilizar a leitura e escrita e as habilidades matemáticas diante das
demandas de seu contexto social e utilizá-las para continuar aprendendo e se desenvolvendo ao longo da vida.

CURSINHO DA POLI 13
DA PALAVRA AO EXPERIMENTO Ciências humanas

adquire um caráter contraditório e até paradoxal.


No entanto, a pobreza tem um caráter relativo e passa a existir por meio de outros processos societários. John Friedmann
e Leonie Sandercock, em Os desvalidos, identificam três formas de pobreza, além da clássica carência de bens materiais
e de recursos à sobrevivência:
• despossessão psicológica: sentimento de autodesvalorização das populações pobres em relação às ricas;
• despossessão social: impossibilidade de ter acesso aos mecanismos de êxito social, de atingir prestígio e manter
relações sociais estruturadas e permanentes;
• despossessão política: incapacidade de certos grupos ter qualquer participação efetiva na vida pública ou acesso
aos mecanismos de interferência e ação política.
Atualmente aparece mais um tipo de pobreza, a tecnológica, uma vez que pessoas não possuem “alfabetização
digital”, estão excluídas dos diferentes espaços e da comunicação globalizada.

V) Desigualdades sociais no Brasil


Analisando historicamente a questão das desigualdades no Brasil, percebe-se que, com a chegada dos portugueses,
os povos indígenas que habitavam o continente foram vistos como seres exóticos, não dotados de alma. Posteriormente,
houve a introdução do escravo negro, que teve de enfrentar condições terríveis de trabalho e vida no Brasil.
De meados do século XIX até o início do século XX, incentivou-se a vinda de imigrantes europeus, que encontraram
condições semisservis nas lavouras do café. Com a industrialização e a urbanização da sociedade brasileira, criou-se
um proletariado industrial e diversos outros trabalhadores surgiram: pequenos comerciantes, trabalhadores da construção
civil, empregados domésticos e vendedores ambulantes. Como nem toda força de trabalho foi absorvida, constitui-se,
assim, uma massa de desempregados e semiocupados que viviam à margem do sistema produtivo capitalista.
Além das desigualdades entre as classes sociais, há outras diferenças, entre homens e mulheres e entre negros e
brancos, por exemplo. As desigualdades, no Brasil, não se traduzem apenas em fome e miséria, mas também em con-
dições precárias de saúde, habitação, educação, enfim, em uma situação desumana.

14 CURSINHO DA POLI
Ciências humanas EXPERIMENTAÇÃO NO ENSINO DE SOCIOLOGIA

EXERCÍCIOS

1. (UEM) Considerando o fenômeno da estratificação social, assinale o que for correto.


01) Toda forma de estratificação social promove equidade social e, dessa forma, elimina mecanismos de hierar-
quização entre os indivíduos.
02) As castas e os estamentos são formas de estratificação social. O primeiro tem sua expressão mais acabada
na Índia; o segundo, na sociedade feudal.
04) Uma forma de estratificação típica das sociedades capitalistas é a divisão dos indivíduos em classes sociais.
08) Nas castas e nos estamentos, os fatores que garantem a imobilidade dos indivíduos de um grupo para outro
têm relação com o lugar que eles ocupam na produção e no consumo de mercadorias.
16) Nas sociedades divididas em classes, o acesso à educação e aos bens culturais pode definir o lugar que os
indivíduos ocupam na estratificação social.

2. (Enem)

Quem é pobre, pouco se apega, é um giro-o-giro no vago dos gerais, que nem os pássaros de rios e lagoas. O senhor
vê: o Zé-Zim, o melhor meeiro meu aqui, risonho e habilidoso. Pergunto: — Zé-Zim, por que é que você não cria galinhas-
-d‘angola, como todo o mundo faz? — Quero criar nada não... — me deu resposta: — Eu gosto muito de mudar... [...] Belo
um dia, ele tora. Ninguém discrepa. Eu, tantas, mesmo digo. Eu dou proteção. [...] Essa não faltou também à minha mãe,
quando eu era menino, no sertãozinho de minha terra. [...] Gente melhor do lugar eram todos dessa família Guedes, Jidião
Guedes; quando saíram de lá, nos trouxeram junto, minha mãe e eu. Ficamos existindo em território baixio da Sirga, da
outra banda, ali onde o de-Janeiro vai no São Francisco, o senhor sabe. 

ROSA, João Guimarães.


Grande Sertão: Veredas.
Rio de Janeiro: José Olympio. (fragmento) 

Na passagem citada, Riobaldo expõe uma situação decorrente de uma desigualdade social típica das áreas
rurais brasileiras marcadas pela concentração de terras e pela relação de dependência entre agregados e
fazendeiros. No texto, destaca-se essa relação porque o personagem-narrador
a) relata a seu interlocutor a história de Zé-Zim, demonstrando sua pouca disposição em ajudar seus agregados, uma
vez que superou essa condição graças à sua força de trabalho.
b) descreve o processo de transformação de um meeiro – espécie de agregado – em proprietário de terra.
c) denuncia a falta de compromisso e a desocupação dos moradores, que pouco se envolvem no trabalho da terra.
d) mostra como a condição material da vida do sertanejo é dificultada pela sua dupla condição de homem livre e, ao
mesmo tempo, dependente.
e) mantém o distanciamento narrativo condizente com sua posição social, de proprietário de terras.

3. (Unesp)

A decisão de uma prefeitura nos arredores de Paris de distribuir mochilas escolares azuis para os meninos e rosa para
meninas provocou polêmica na França. Nas bolsas distribuídas pela prefeitura de Puteaux, há também um kit para cons-
truir robôs, para os meninos, e miçangas para fazer bijuterias, para as meninas. A distinção causou polêmica no momento
em que o governo implementa na rede educacional um programa para promover a igualdade entre homens e mulheres
e lutar contra os estereótipos.
BBC on-line
Distribuição de mochilas escolares azuis e rosas causa polêmica na França.
Adaptado de: <www.bbc.co.uk> .

CURSINHO DA POLI 15
DA PALAVRA AO EXPERIMENTO Ciências humanas

A polêmica citada pela reportagem envolve pressupostos sobre a sexualidade que podem ser definidos
pela oposição entre fatores
a) comunitários e individuais.
b) metafísicos e empiristas.
c) teológicos e materiais.
d) antropocêntricos e teocêntricos.
e) biológicos e sociais.

16 CURSINHO DA POLI
Ciências humanas EXPERIMENTAÇÃO NO ENSINO DE SOCIOLOGIA

Grupo de Estudos de Sociologia

A Sociologia nos vestibulares


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Ficha de Estudo n. 4 – Sociedade e Trabalho

Trabalho no mundo pré-industrial

O sistema democrático ateniense consistia na participação política de todos os cidadãos. Como a cidadania era restrita
aos homens, maiores de idade, nascidos em Atenas e filhos de mãe e pai atenienses, apenas uma pequena parcela da
população da cidade tinha direito a ela. Mulheres, estrangeiros e escravos não eram considerados cidadãos.
Assim, para exercer sua cidadania, os atenienses precisavam de um instrumento que lhes garantisse tempo livre para
participar das decisões políticas. Esse instrumento foi a escravidão. Os escravos faziam os mais diferentes trabalhos,
favorecendo o cidadão – fosse ele um pequeno comerciante ou um rico proprietário de terras –, porque, assim, lhe era
possível dedicar seu tempo à discussão dos negócios da pólis. Desse modo, surgiu a carreira política.
Do ponto de vista econômico, Esparta vivia sobretudo da agricultura, além do pastoreio e artesanato, voltados para
o comércio interno. Esse pequeno comércio buscava suprir as necessidades da pólis e também se relacionava com
outras cidades mais próximas, o que favorecia o intercâmbio de excedentes, na medida em que as colheitas permitiam.
Com uma economia ligada à subsistência e uma intensa herança belicosa, os espartanos tinham uma sociedade rígida,
com destaque para os espartíatas (proprietários das melhores terras e detentores dos direitos políticos), os periecos
(proprietários das terras menos férteis) e os hilotas (escravos).
Em Roma, a posse de terras e de escravos implicava a obtenção de renda oriunda do trabalho alheio e configurava
um mecanismo para se ter tempo livre (ócio) a fim de dedicar-se a outras atividades, como a formação intelectual ou
a carreira política. Dessa forma, ser ocioso na Roma antiga era bem diferente de sê-lo no contexto atual, da economia
capitalista, de modo que o trabalho tinha dimensão negativa, imputando condição de inferioridade ao homem que exercia
algum tipo de ofício para sobreviver.
Como vimos, essa visão não surgiu em Roma, mas já se encontrava na Hélade. Nas palavras de Aristóteles:

A perfeição do cidadão não qualifica o homem livre, mas só aquele que é isento das tarefas necessárias, das quais se
incubem escravos, artesãos e outros não especializados; estes últimos não serão cidadãos se a constituição conceder
os cargos públicos à virtude e ao mérito, pois não se pode praticar a virtude levando-se uma vida de trabalhador braçal.

A visão de Aristóteles mostra o peso negativo do trabalho e sua incompatibilidade com o exercício do poder, pois o
trabalhador não seria dotado da virtude necessária à função pública e seria incapaz de governar competentemente.
Vemos, então, que o ócio era uma condição superior de que apenas alguns podiam usufruir, resguardando sua honra
e posição social. Nesse contexto, o comércio não era visto de outro modo, sobretudo o pequeno comércio, em que o
vendedor atrás do balcão comprava e revendia mercadorias, mas, por outro lado, quando se alcançava uma posição
honrosa, a prosperidade no comércio possibilitava o acúmulo de riquezas e a consequente aquisição de terras e escravos.
Assim, o patriciado usufruía de uma condição bem distinta da plebe, de novo excluída do exercício do poder.
Um elemento que ilustra bem essa situação é o escravismo. No século III, a crise socioeconômica promove o êxodo
urbano, deslocando das cidades para o campo significativos contingentes, os quais procuraram estabelecer uma relação
de dependência com os proprietários de terras (trabalho em troca de proteção e parte da colheita). Como vimos, esse
processo de colonato pode ser considerado o embrião da servidão e das obrigações servis do feudalismo. No mesmo
período, ocorreu a aproximação pacífica de bárbaros, os quais se estabeleceram nos limites do Império por meio do
colonato ou do ingresso no exército romano.
E os escravos? No início da Alta Idade Média, eles ainda existiam e trabalhavam junto com os servos ou deixavam de
ser escravos para se tornarem servos. Os povos germânicos, por sua vez, também tinham escravos e os mantinham nos
territórios que conquistavam, mas, com o passar do tempo e, principalmente com a conversão dos chefes germanos,

CURSINHO DA POLI 17
DA PALAVRA AO EXPERIMENTO Ciências humanas

graças à influência da Igreja, o escravismo deixou de existir, dando lugar à servidão, que se manifestou das mais dife-
rentes formas.
A Europa medieval foi marcada por um intenso processo de ruralização, motivado pelas invasões dos séculos IV e V
(povos germânicos e eslavos) e, nos séculos VIII e IX, pelos árabes ao sul, vikings ao norte e magiares a leste, fechando o
continente. A permanente insegurança gerada pelas invasões e pelas guerras consequentes fez desaparecer o comércio
em larga escala, substituindo-o por uma economia de subsistência local e praticamente sem circulação de moedas em
muitos lugares.
Quanto à divisão social, a sociedade feudal era composta por três estamentos: os oratores (aqueles que rezam), for-
mados pelo clero; os bellatores (aqueles que lutam), formados pela nobreza, e os laboratores (aqueles que trabalham),
formado pelos camponeses, artesãos e escravos remanescentes.
Sobre as relações sociais na sociedade feudal, é possível distinguir duas formas: a vertical, de dependência entre os
senhores feudais e os servos, na qual aqueles detinham o poder e as terras, enquanto estes trabalhavam em troca de
proteção e parte da colheita; e a horizontal, em que se destacam as relações de vassalagem, ou seja, as relações entre
dois nobres.

Revolução Industrial
Organização dos trabalhadores: lutas por direitos

As novas formas de produção introduzidas pelas novas tecnologias romperam com as formas mais tradicionais, como
o trabalho artesanal e a indústria doméstica – em que se beneficiavam matérias-primas caseiras, por empreitada e de
acordo com a demanda –, assim, os indivíduos passaram a se deslocar para as fábricas.
O crescimento da atividade industrial induziu o deslocamento de grandes contingentes do campo para as cidades,
implicando o inchaço das áreas urbanas e dificultando muito a vida nos bairros operários, com péssimas condições de
saneamento e higiene. Ademais, a abundância de mão de obra favorecia o achatamento dos salários e a exploração
constante, com jornadas de 14 a 16 horas diárias, sem condições mínimas de segurança e com o uso de trabalho infantil
e feminino para barateamento do custo – crianças e mulheres recebiam menos que os homens, e não havia legislação
que protegesse o trabalhador ou lhe garantisse os mínimos direitos.
Por outro lado, a industrialização também passou a ser vista por alguns como perigosa, o que acarretou o surgimento
de movimentos operários espontâneos em regiões da Inglaterra para destruição de máquinas – o conhecido ludismo,
nome derivado do líder do movimento, Ned Ludd, que os seguidores chamavam “General Ludd” ou “King Ludd”.
Dentro do processo de resistência à industrialização, o ludismo foi a reação a uma situação tida como “fora do natural
e perigosa”, pois, substituindo o trabalho humano, as máquinas causavam desemprego, fome e miséria para muitos, em
favor do enriquecimento de poucos.
A lógica de articulação mudou o rumo entre 1837 e 1842, quando um movimento popular se organizou e William
Lovett escreveu uma carta ao Parlamento reivindicando melhores condições de trabalho, redução da exploração e re-
conhecimento dos direitos dos trabalhadores, bem como a introdução do sufrágio universal masculino para os maiores
de 21 anos. Em razão dessa carta, o movimento foi chamado de cartista.
A organização dos trabalhadores se desdobrou e ramificou, tendo como exemplo desse cenário as trade unions, que
podem ser entendidas como o embrião dos sindicatos, que surgiriam mais tarde, em especial na década de 1840 na
Inglaterra e, posteriormente, em outros centros industriais.
No contexto da articulação do movimento operário emerge o movimento socialista, destacando-se a publicação do
Manifesto Comunista, em 1848, escrito pelos alemães Karl Marx e Friedrich Engels com o objetivo de semear entre os
trabalhadores a consciência de classe, que tornaria o movimento muito mais sólido e eficiente. A frase final do Manifesto
pode ser tomada como diretriz: “Proletários de todos os países, uni-vos!”.
No entanto, a organização sindical demorou muito para se consolidar como um direito, pois os capitalistas consegui-
ram apresentá-la como “subversão e crime”, visão muito comum, que esmagou o operariado no passado e que ainda
hoje é compartilhada por muitos, inclusive trabalhadores que ainda não adquiriram um espírito de luta por um mundo
mais justo e menos explorador.

18 CURSINHO DA POLI
Ciências humanas EXPERIMENTAÇÃO NO ENSINO DE SOCIOLOGIA

Enxergar inconvenientes em uma paralisação ou greve é o mesmo que observar apenas o lado do capital, que pode
sofrer transtorno e algum prejuízo. Para os trabalhadores – mesmo aqueles que insistem na exclusiva ação de sobreviver
no interior da máquina do sistema capitalista, preocupados apenas em receber sua cota de miséria, sem questionar
nada –, as greves são instrumentos legítimos de reivindicação e consolidação de direitos hoje reconhecidos por lei.

CURSINHO DA POLI 19
DA PALAVRA AO EXPERIMENTO Ciências humanas

EXERCÍCIOS

1. (Unesp)
Rodo Cotidiano

A ideia lá comia solta


Subia a manga amarrotada social
No calor alumínio nem caneta nem papel
Uma ideia fugia
Era o rodo cotidiano

O espaço é curto
Quase um curral

Na mochila amassada
Uma quentinha abafada

Meu troco é pouco,


É quase nada

Ô Ô Ô Ô Ô my brother

Não se anda por onde gosta



Mas por aqui não tem jeito,
Todo mundo se encosta
Ela some é lá no ralo de gente

Ela é linda mas não tem nome

É comum e é normal

Sou mais um no Brasil da Central



Da minhoca de metal que corta as ruas

Da minhoca de metal

É... como um concorde apressado cheio de força
Que voa, voa mais pesado que o ar

E o avião, o avião, o avião do trabalhador

Ô Ô Ô Ô Ô my brother


A letra da canção “Rodo Cotidiano”, do grupo O Rappa, oferece um olhar crítico sobre as condições de vida
a) da pequena parte dos trabalhadores urbanos que tem acesso à alta qualidade dos serviços de transporte privado.
b) da grande parte dos trabalhadores urbanos que vivenciam a baixa qualidade dos serviços de transporte público.
c) da elite econômica nacional que sofre com a baixa qualidade dos serviços de transporte público.
d) da classe dirigente nacional que usufrui de eficientes serviços de transporte privado.
e) da grande parte dos trabalhadores rurais que enfrenta a baixa qualidade dos serviços de transporte público.

2. (Enem)

Um trabalhador em tempo flexível controla o local do trabalho, mas não adquire maior controle sobre o processo em si.
A essa altura, vários estudos sugerem que a supervisão do trabalho é muitas vezes maior para os ausentes do escritório
do que para os presentes. O trabalho é fisicamente descentralizado e o poder sobre o trabalhador, mais direto.

SENNETT, Richard.
A corrosão do caráter: consequências pessoais do novo capitalismo.
Rio de Janeiro: Record, 1999. (adaptado)

20 CURSINHO DA POLI
Ciências humanas EXPERIMENTAÇÃO NO ENSINO DE SOCIOLOGIA

Comparada à organização do trabalho presente no taylorismo e no fordismo, a concepção de tempo ana-


lisada no texto pressupõe que
a) as tecnologias de informação sejam usadas para democratizar as relações laborais.
b) as estruturas burocráticas sejam transferidas da empresa para o espaço doméstico.
c) os procedimentos de terceirização sejam aprimorados pela qualificação profissional.
d) as organizações sindicais sejam fortalecidas com a valorização da especialização funcional.
e) os mecanismos de controle sejam deslocados dos processos para os resultados do trabalho.

3. (UEM) É correto afirmar que acompanham ou são consequências da atual fase de internacionalização da
economia os seguintes fenômenos:
01) a reestruturação produtiva, que se refere ao conjunto das transformações que ocorreu nas tecnologias e nas
relações de produção, causando, entre outros, o desaparecimento de algumas profissões e o desemprego estrutural.
02) o acirramento da competição tecnológica, que tem reordenado o padrão de acumulação capitalista e gerado
grandes corporações globais, por meio de fusões de empresas que operam em um determinado setor econômico.
04) a alta rotatividade da mão de obra e formas mais flexíveis e precárias de contrato entre empregadores e em-
pregados.
08) o fortalecimento das organizações sindicais, que têm assumido papel decisivo no conteúdo das mudanças em
curso no mundo do trabalho.
16) o afrouxamento das leis contra imigração, já que os países mais ricos necessitam da mão de obra originária dos
países que estão em uma posição econômica subordinada.

4. (UEM) Sobre as relações produtivas desenvolvidas por diferentes grupos sociais ao longo da História, as-
sinale o que for correto.
01) Nas sociedades tribais, o trabalho humano está relacionado apenas à satisfação das necessidades básicas do
homem, como garantir a alimentação e o abrigo. Por isso, nesses casos, os processos de trabalho não geram rela-
ções propriamente sociais.
02) Segundo muitos autores, para alcançar a sua subsistência, nem todos os grupos humanos viveram de atividades
produtivas, como ocorreu historicamente nas sociedades de pescadores, de coletores e de caçadores.
04) Alguns antropólogos afirmam que grupos indígenas, como os ianomâmis, podem ser considerados “sociedades de
abundância”, pois dedicam poucas horas diárias às atividades produtivas, mas, apesar disso, têm suas necessidades
materiais satisfeitas. Tais necessidades não são crescentes, como ocorre nas sociedades capitalistas.
08) Na sociedade feudal, a terra era o principal meio de produção, porém os direitos sobre ela pertenciam aos
senhores. Os camponeses e os servos nunca podiam decidir o que produzir, para quem e quando trocar o fruto do
seu trabalho.
16) O modo de produção escravista colonial que ocorreu no Brasil tinha as seguintes características principais: eco-
nomia voltada para o mercado externo baseada no latifúndio, troca de matérias-primas por produtos manufaturados
da metrópole e fraco controle da Colônia sobre a comercialização.

CURSINHO DA POLI 21
DA PALAVRA AO EXPERIMENTO Ciências humanas

Grupo de Estudos de Sociologia

A Sociologia nos vestibulares


Prof. Elias Feitosa

Ficha de Estudo n. 5 – Sociedade: Estado e Política

Conceito de Estado

A formação dos primeiros modelos de Estado relaciona-se com o processo de sedentarização dos grupos humanos
junto aos vales férteis. Afinal, ao se fixarem, esses grupo, gradativamente, deixavam de se organizar em comunidades
coletivistas que partilhavam a terra (regimes tribais) e o trabalho e se constituíam em sistemas desiguais.
Nesses novos sistemas, um grupo controlava a terra (fonte de riqueza e sobrevivência) e, por conseguinte, o poder
político, concentrado na figura de um líder, tanto no campo político, quanto no campo militar. O líder político, por sua
vez, era amparado pelo poder religioso e, assim, conseguia controlar a maioria para exercer sua autoridade, explorar o
trabalho coletivo e usufruir da concentração de riqueza.
Desse modo, é possível citar como exemplo desses novos modelos de Estado as monarquias da Antiguidade no
Ocidente e no Oriente.

Tipos de Estado

Teocracia: modelo de governo no qual o governante é divinizado, considerado um ser sobrenatural que governa os
homens de acordo com o desejo de um ou mais seres sobrenaturais (deuses). Hoje, existem as teocracias modernas,
como o Irã, que desde 1979, com a Revolução Islâmica, adota um sistema político que, apesar das eleições para a escolha
dos governantes, é submetido às posições do Supremo Conselho formado por clérigos (sheiks). Estes, por sua vez, se
submetem ao líder supremo, o aiatolá.
Estado moderno: formado entre os séculos XIV e XVI, pode ser caracterizado como a aliança da burguesia com
o rei. Nesse tipo de Estado, a burguesia fornece os meios financeiros para o combate ao poder regional em troca de
proteção e uniformidade do sistema de leis, impostos e moeda. O rei é, então, capaz de pagar um corpo burocrático
para governar o país e formar um exército nacional profissional e, posteriormente, uma marinha, colocando a “nação”
a serviço da burguesia.
Estado democrático: como oposição ao absolutismo vigente no Estado moderno surgiu o Liberalismo, doutrina que
pregava a igualdade civil, a defesa das liberdades e a propriedade privada contra os abusos da monarquia. Sua ascensão ao
poder foi marcada por movimentos revolucionários, como a Revolução Gloriosa, em 1689, na Inglaterra; a Independência
dos EUA, em 1776, e a Revolução Francesa, em 1789. Sua organização interna caracteriza-se pelo constante processo de
eleições, cujos representantes exercem em três esferas (municipal, estadual e nacional) os poderes Executivo, Legislativo
e Judiciário, os quais são harmônicos e independentes entre si, caracterizando o que se conhece por Estado de Direito.
Estado ditatorial: situação em que o Estado de Direito é deposto ou dissolvido à força por um golpe de Estado. Nes-
se caso, o poder é exercido por um indivíduo ou grupo, e todas as liberdades e os direitos dos cidadãos são retirados.
Além disso, esse tipo de Estado se vale da opressão e da repressão dos aparatos de segurança (oficiais e extraoficiais)
para manter-se no poder.

Regimes políticos

Monarquia: regime político no qual o chefe de Estado é um monarca (imperador, rei, príncipe, sultão, emir ou varian-
tes). A posição desse governante é sustentada pela hereditariedade e pela condição vitalícia do cargo, constituindo uma
linhagem ou dinastia. No entanto, já existiram monarquias eletivas, nas quais o soberano para o reino foi eleito entre as
famílias da nobreza. Esse monarca ocupava a função de modo vitalício e, com a sua morte, ocorria uma nova eleição, mas
sempre entre os nobres (seja a candidatura, seja a eleição), como foi o Sacro Império Romano Germânico de 962 a 1806.

22 CURSINHO DA POLI
Ciências humanas EXPERIMENTAÇÃO NO ENSINO DE SOCIOLOGIA

República: regime geralmente eletivo, mas com muitas variações desde a Antiguidade. Hoje, a República funciona
com eleições regulares, por sufrágio universal, tem caráter representativo e sua organização está amparada em uma
Carta Constitucional.

Sistemas de governo

Presidencialismo: sistema de governo no qual as funções do chefe de Estado e chefe de governo se concentram
no cargo da presidência da República, que detém as funções políticas, o comando das Forças Armadas e as funções
protocolares de representação do país no estrangeiro, bem como a incumbência de receber as autoridades estrangeiras
em visita ao país.

Parlamentarismo: sistema de governo no qual o chefe de Estado possui funções protocolares (representação diplo-
mática) e políticas (dissolução do Parlamento e convocação de novas eleições).
O parlamentarismo pode ocorrer no regime republicano, em que o chefe de Estado ocupa a presidência da República
(como em Portugal, na Itália, na Alemanha, na Irlanda e na Grécia), ou, então, no regime monárquico, em que o monarca
exerce funções protocolares (como na Espanha, na Holanda, na Grã-Bretanha e no Japão) e militares (comandante das
Forças Armadas).
No sistema parlamentarista, o governo é exercido pelo chefe de Governo, função ocupada pelo primeiro-ministro
(em alguns países chamado de chanceler ou premier), que representa o partido político ou a coligação de partidos que
obtiveram a maioria dos deputados eleita pelo voto direto da população.

Organização do Estado brasileiro


Constituição de 1988 (promulgada)
− Voto facultativo aos analfabetos
− Voto facultativo aos jovens de 16 e menores de 18 anos
− Garantia das liberdades individuais do cidadão
− Sistema presidencialista
− Eleições em dois turnos
− Incorporação da CLT, tal qual a Constituição de 1946
− Prisão para discriminação racial
− Igualdade entre homem e mulher perante o comando da família

Representação e papel dos três poderes

Executivo:
Municipal – Prefeito e secretários municipais
Estadual – Governador e secretários estaduais
Federal – Presidente e ministros de Estado

Legislativo:
Municipal – Vereadores
Estadual – Deputados estaduais
Federal – Deputados federais e senadores

Judiciário:
Municipal – primeira instância (juízes municipais)
Estadual – segunda instância (desembargadores)
Federal – terceira instância (Tribunal Federal e Supremo Tribunal Federal)

CURSINHO DA POLI 23
DA PALAVRA AO EXPERIMENTO Ciências humanas

EXERCÍCIOS

1. (UEM) Considerando a temática dos governos, das instituições e dos partidos políticos, assinale o que for
correto.

01) Os direitos políticos estão relacionados à formação do Estado democrático representativo e envolvem os direitos
eleitorais.

02) Em um Estado democrático, a participação política plena e legítima ocorre quando os cidadãos se filiam aos
partidos políticos.

04) Os direitos políticos só se efetivaram quando movimentos populares, como o das mulheres, conquistaram o
direito ao voto.

08) Práticas de compra, venda e troca de votos são, ainda hoje, toleradas pela legislação eleitoral no Brasil.

16) O direito de protestar e de participar de associações políticas, como partidos e sindicatos, é uma construção cidadã.

2. (UEM) Considerando as diferentes concepções sociológicas do que é o Estado moderno, assinale o que for
correto.

01) Para Karl Marx, o Estado moderno funciona como representante dos interesses das classes subalternas.
02) Para Émile Durkheim, o Estado exerce o papel de representante dos interesses da classe dominante.
04) Segundo Max Weber, o Estado moderno não consegue manter o monopólio do uso da força física.
08) O Estado moderno divide as ações de disciplina e de controle social dos indivíduos com instituições como a escola.

16) O Estado moderno surgiu da desintegração do mundo feudal e das relações políticas até então dominantes na
Europa.

24 CURSINHO DA POLI
Ciências humanas EXPERIMENTAÇÃO NO ENSINO DE SOCIOLOGIA

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Ficha de Estudo n. 6 – Cidadania e movimentos sociais

Conceito de cidadania

Cidadania na Antiguidade

Na Antiguidade ocidental, a cidadania era restrita a um grupo de pessoas que se enquadrava em um padrão estabe-
lecido e reconhecido pelo coletivo, obedecendo condições específicas: gênero (exclusão feminina), maioridade, lugar
de nascimento, linhagem familiar e liberdade (exclusão dos escravos). No período medieval, o termo cidadão era uma
denominação espacial, relacionado a quem vivia dentro dos muros das cidades, em oposição aos camponeses, que
viviam em zonas rurais.

Cidadania na atualidade

Atualmente, a cidadania é reconhecida para todos os indivíduos de um país, independentemente de sexo, idade
ou condição socioeconômica que, nessa dinâmica, o Estado deve amparar e reconhecer. No caso dos estrangeiros, a
aquisição da cidadania é regrada de modo distinto, e varia de país para país, de acordo com o tempo de moradia do
imigrante, se é casado com um cidadão nativo e se tem filhos nascidos no país onde se radicou.
O exercício da cidadania está condicionado à relação do indivíduo com o Estado com base nos direitos reconhecidos
pelo Estado ao cidadão, bem como nos deveres deste último para com o Estado, pautando-se na igualdade civil e na
defesa das liberdades (de expressão, de organização e de consciência).

Movimentos sociais

Como as sociedades são organismos dinâmicos e em constante transformação ao longo dos séculos, seus problemas
e consequentes soluções oscilam de transformações pacíficas a tensões bastante sérias que se desdobram em conflitos
de menor ou maior intensidade.
Consequentemente, esses embates estabeleceram acordos e leis no intuito de melhorar as condições de determi-
nada coletividade. Como exemplos, tem-se a passagem da legislação oral para a escrita na Grécia e Roma Antiga; a
Magna Carta, que restringiu o poder real na Inglaterra em 1215; a Declaração de Direitos, que implementou a monarquia
constitucional da Inglaterra em 1689, e a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão em 1789, que extinguiu a
sociedade estamental francesa.

Tensões e conflitos no Brasil

No Brasil, desde a colonização, as tensões e os conflitos sociais se manifestaram de diferentes maneiras, provocando
conflitos internos à sociedade colonial em formação contra a Coroa portuguesa, como a Inconfidência Mineira de 1789,
a Conjuração Baiana de 1798 e a Insurreição Pernambucana de 1817.
O abolicionismo representou um importante movimento social no Império, pois pressionou e influenciou o processo
de gradativa ruptura com o sistema escravista. Em 1871 foi aprovada a Lei do Ventre Livre, que declarava livre todo filho
de escravo nascido a partir desta data; em 1885 houve a aprovação da Lei do Sexagenário, libertando todos os escravos
com mais de 60 anos e, por fim, em 1888, foi assinada a Lei Áurea, que aboliu a escravidão, gerando os “republicanos
do 13 de maio”, grupo formado pelos fazendeiros do Vale do Paraíba, que usava escravos em suas lavouras e, até então,
tinha apoiado o Império.

CURSINHO DA POLI 25
DA PALAVRA AO EXPERIMENTO Ciências humanas

O movimento republicano teve seu êxito em 15 de novembro de 1889, e, mais uma vez, a mudança da ordem política
não foi acompanhada de participação popular, uma vez que a população apenas fora comunicada dessa mudança. Um
golpe de Estado foi instaurado, depondo o regime monárquico e criando um novo momento para a nação, a República
dos Estados Unidos do Brasil, tendo os militares como os principais articuladores daquele momento inicial chamado
República da Espada (1889-1894).
A mudança de regime político não evitou conflitos, seja entre monarquistas e republicanos, seja entre os próprios
republicanos, que tanto sonharam em obter o poder. No entanto, o Brasil ainda não era uma democracia.
As lutas foram intensas no início do período republicano, com a Guerra de Canudos (1896-1897), a Revolta da Vacina
em 1906, a Guerra do Contestado (1912-1916), a Greve Geral de 1917 e o movimento tenentista (1922 e 1924).
Da república militarista passamos à “República dos Bacharéis”, com o republicano histórico Prudente de Morais como
o primeiro presidente civil, de família de fazendeiros de café e formado em Direito pela Faculdade do Largo São Fran-
cisco, em São Paulo. Tivemos, portanto, um processo de articulação política conhecido como “Política Café com Leite”,
em que fazendeiros paulistas e mineiros se alternavam na presidência.
Esse “sistema” garantia também a hegemonia das oligarquias locais em seus “currais eleitorais”, as quais, quando o
presidente da República solicitasse, lhe dariam o apoio necessário, dentro da lógica conhecida como “Política dos Gover-
nadores”. Ambas as políticas só tiveram fim quando da Revolução de 1930, outro golpe de Estado ocorreu e por meio do
qual Getúlio Vargas tornou-se presidente do país. Começava, então, o período chamado posteriormente de “Era Vargas”.
Vargas governou o Brasil por um longo período (1930-1945), mas ainda era cedo para dizer que a democracia havia nas-
cido no Brasil, pois um longo governo provisório (1930-1934) fora seguido por um curto período constitucional (1934-1937),
quando se estabeleceu o direito de voto às mulheres por meio da Constituição de 1934. No entanto, em 1937, implantou-
-se uma nova ditadura, o Estado Novo, sustentada pelos militares que enxergavam em Vargas o homem forte do governo
(1937-1945). Nesse ínterim, a censura, a ausência de liberdade, as prisões e as torturas deixaram suas marcas.
O Brasil aproximou-se da organização democrática mais intensamente entre 1946 e 1964, no contexto conhecido
como “República Liberal” ou “República Populista”, marcado pelo vigor de uma nova Constituição e pelo maior respeito
às instituições políticas. Foi nesse contexto também que a nação brasileira elegeu quatro presidentes: Getúlio Vargas,
Juscelino Kubitschek, Jânio Quadros e João Goulart. Nacionalistas, demagógicos e com grande apoio popular, os quatro
presidentes estabeleceram uma política desenvolvimentista repleta de slogans e medidas transformadoras. No entanto,
as crises políticas também se manifestaram, como o escândalo que levou Vargas ao suicídio, em 1954.
A polarização ideológica que transpirava durante a Guerra Fria não deixou de influenciar a política brasileira, especial-
mente depois do sucesso da Revolução Cubana em 1959 e da crise dos mísseis em 1962. Esse novo cenário fez que os
setores conservadores da sociedade brasileira vissem a necessidade de um novo ato de força para salvar a nação do que
era visto como demoníaco: a ameaça comunista. Em 31 de março de 1964, os militares instauram mais um golpe de Estado,
depondo o presidente democraticamente eleito, João Goulart, e manifestando, assim, o Regime Militar (1964-1985).
Assim como as fardas haviam mudado pouco, o repertório não foi diferente: suspensão dos direitos políticos, civis e
constitucionais, prisões, censura, tortura e execuções daqueles que eram vistos como “terroristas”, “subversivos” ou
que ousassem desafiar o poder instituído. Seus defensores, com as mãos sujas de sangue, chamaram o momento de
“Revolução de 1964”, mas não passava de mais um golpe de Estado.
A violência foi grande, assim como a resistência, com movimentos políticos clandestinos, ações de guerrilha nos gran-
des centros e no campo, mas, ainda assim, o regime militar foi mais forte. Em contrapartida, era alardeado o “Milagre
Econômico”: o desenvolvimento da nação com obras faraônicas, crescimento econômico nunca antes visto e a tese de
que o futuro teria chegado para o Brasil. E, assim, o engodo foi sendo passado adiante.
Depois de uma abertura “lenta, gradual e segura”, a partir de 1979, com a Lei de Anistia, voltamos à democracia,
não tão rápido como desejávamos, mas os sinais de esgotamento do regime militar eram visíveis, a crise crescente, a
inflação galopante e os clamores pelo fim da ditadura cresceram progressivamente: manifestações de estudantes e as
greves de metalúrgicos do ABC paulista.
Em 1982 ocorreram as primeiras eleições diretas e democráticas, que foram acompanhadas do restabelecimento do
pluripartidarismo e intensificaram o processo de transformação que trouxe o país novamente para a democracia. Afinal,
as forças de oposição ao regime conseguiram eleger vários deputados, criando-se, assim, o ambiente para a discussão
da eleição direta para presidente, movimento conhecido com “Diretas Já”, em 1984. No entanto, os militares ainda
detinham o controle do Congresso Nacional e conseguiram derrotar a emenda constitucional “Dante de Oliveira”, fato

26 CURSINHO DA POLI
Ciências humanas EXPERIMENTAÇÃO NO ENSINO DE SOCIOLOGIA

que marcou a eleição presidencial ainda pela via indireta, em 1985.


A oposição foi representada pela chapa Aliança Democrática, formada por Tancredo Neves e José Sarney, que venceu
a eleição indireta, derrotando o candidato do regime, Paulo Maluf. No entanto, em virtude de um quadro de saúde muito
complexo, Tancredo Neves morreu antes da posse e, dessa forma, o vice-presidente José Sarney assumiu a presidência
da República, sendo o primeiro civil eleito depois de 21 anos de regime autoritário dos militares.
Em 1986, foi eleita uma Assembleia Constituinte para redigir uma nova Constituição, que foi promulgada em 3 de
outubro de 1988 e ficou conhecida como “Constituição Cidadã”.
O governo Sarney foi marcado pela tentativa de recuperação econômica do país, mas não obteve sucesso significativo,
uma vez que a “herança” deixada pelos militares era muito complicada para ser resolvida em um curto espaço de tempo.
No entanto, Sarney foi o primeiro civil desde JK a transmitir o cargo de presidente para outro civil democraticamente
eleito: Fernando Collor de Mello (PRN).
Em meio a um governo tumultuado, Collor buscou ser uma força acima das demais “forças políticas”, mas se viu
envolvido em um grande escândalo político e sofreu o processo de impeachment, fato que empossou seu vice, Itamar
Franco. Apesar das tensões, o Brasil caminhou lentamente para a maturidade das instituições democráticas e conseguiu
se consolidar como uma democracia ao longo da década de 1990, durante os governos do sociólogo Fernando Henrique
Cardoso (1995-2002) e do metalúrgico Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2010).
Nesse processo de consolidação da democracia, novos debates vieram à tona, como a questão da reforma agrária,
encabeçada pelo Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), pressionando governo e os latifundiários para que se
cumprisse o que a Constituição de 1988 estabelecera para a reforma agrária no Brasil.
A discussão política e social da redemocratização brasileira abriu espaço para sediarmos a Rio-92 e, recentemente, a
Rio +20, acionou a discussão sobre a sustentabilidade e o uso dos recursos naturais, a preservação de biomas e espécies
ameaçadas e a luta para que o desenvolvimento do país não traga problemas, constituindo uma agenda de debates e
mobilizações, envolvendo iniciativa privada, setor público e diferentes ONGs.
No âmbito da sociedade civil, a maior discussão da atualidade é sobre a igualdade civil para os homossexuais, que em
2013 conquistaram a equiparação da união civil à dos heterossexuais, no que diz respeito aos direitos e deveres para
com o Estado. No entanto, ainda sim, há uma intensa resistência da sociedade, especialmente dos segmentos conser-
vadores ligados à influência judaico-cristã e tradicionalista, que repudia a existência de um modelo de família diferente
da chamada “família tradicional”, estabelecida pelo casamento entre homem e mulher.

CURSINHO DA POLI 27
DA PALAVRA AO EXPERIMENTO Ciências humanas

EXERCÍCIO

(UEM) Considerando seus conhecimentos sobre os processos de desigualdade social, assinale o que for
correto.


01) Martin Luther King é um dos principais nomes associados aos movimentos de luta por direitos civis nos Estados
Unidos no século XX, representando as ações contra o racismo e contra a segregação naquele país.
02) O apartheid foi um sistema de leis que vigorou na África do Sul durante o século XX, estabelecendo os domínios
político, social e econômico da população branca sobre a maioria negra naquele país. Nelson Mandela, um dos líderes
do movimento contra o apartheid, foi condenado à prisão pelo governo africano na década de 1960 e libertado em
1990, após a destituição legal do regime de segregação racial.
04) Os casos de estupro coletivo ocorridos na Índia, que vêm sendo constantemente anunciados pela mídia, não
podem ser considerados fatos de violação aos direitos humanos, uma vez que obedecem a uma lógica cultural e
religiosa característica do sistema de castas indiano.
08) No Brasil, a Comissão de Direitos Humanos e Minorias, criada em 1995, é uma comissão permanente da Câmara
de Deputados e tem como uma de suas atribuições garantir a aplicação do princípio de que toda pessoa tem direitos
básicos e inalienáveis que devem ser protegidos pelo Estado.
16) No Brasil, a Lei n. 11.340, de 7 de agosto de 2006, mais conhecida como Lei Maria da Penha, cria mecanismos
para coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher e representa um importante avanço no combate à
discriminação de gênero no Brasil.

28 CURSINHO DA POLI
Ciências humanas EXPERIMENTAÇÃO NO ENSINO DE SOCIOLOGIA

Grupo de Estudos de Sociologia


A Sociologia nos vestibulares
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Ficha de Estudo n. 7 – Ideologia e Cultura

Conceito de cultura

Vamos começar estabelecendo nosso ponto de partida: cultura é uma noção ampla, dificilmente conseguiremos definir
de maneira acabada ou completa o que ela significa, ou seja, construir um conceito fixo ou estrito está fora de nossas
ambições. Nesse sentido, em razão da amplitude do termo, com frequência novos autores propõem definições diferen-
tes às já estabelecidas, outros vão discutir com autores antigos, de acordo com as perspectivas que eles usaram. No
entanto, quase todos têm como obrigação definir, nos seus estudos, publicações ou livros, de maneira clara e concisa,
o que eles querem dizer com cultura e como usarão o conceito.
Isso é muito importante porque as posições ou perspectivas adotadas pelos pesquisadores, professores e intelectuais
sobre a noção de cultura dependem em grande parte da corrente ou escola de pensamento. Por exemplo, nas Ciências
Sociais, como Sociologia, História, Geografia, ou na área da Filosofia, existem algumas escolas de pensamento muito
distantes umas das outras.
Assim, usaremos aqui uma dessas perspectivas, a posição marxista e pós-marxista, que vai nos ensinar um conceito
bem interessante, o de indústria cultural, que nos ajudará a entender por que essas posições ou correntes de pensa-
mento são tão diferentes.
Contudo, vamos começar pelo princípio: o que é cultura? Temos ouvido essa palavra desde pequenos, temos perce-
bido também que as pessoas atribuem muitas coisas, razões e tipos de ações ao grande conceito de cultura. Às vezes,
parece que todas as coisas podem ser entendidas como culturais, que qualquer diferença entre as pessoas pode ser
entendida como diferença cultural.
Mas quem compartilha a mesma cultura? Que tipo de coisas podem ser entendidas como diferenças culturais e quais
não? Se trata-se de duas pessoas ou dois grupos dentro da mesma sociedade e do mesmo país, por que eles têm di-
ferenças culturais? Não deveriam pensar ou interpretar as coisas mais ou menos da mesma forma? Qual é a diferença
entre religião e cultura? Qual é a diferença entre moral e cultura?
Estas e muitas outras perguntas vão nos orientar a uma possível resposta para o conceito de cultura. Na obra A cultura
como práxis, o sociólogo e filósofo Zygmunt Bauman se dedica à tarefa de identificar o que significa esse conceito, ou
seja, o que pode ser definido como cultura e o que não pode. Sua primeira conclusão é de que o conceito de cultura
é principalmente histórico. Em outras palavras, o que é e foi entendido como cultura tem variado no tempo; a cultura
encontra-se definida pela sua natureza histórica, ela é um processo dinâmico, que muda o tempo todo, que incorpora
coisas, experiências, linguagens, símbolos. No entanto, tudo isso vai, dentro dela também, se combinando e se conver-
tendo em coisas diferentes.

Cultura na percepção da Antropologia

Temos um aspecto central da noção de cultura. Trata-se de um conceito necessariamente variável e polimorfo. Não é
possível construir uma definição que consiga se manter no tempo, porque seu conteúdo é passível de mudança.
Uma segunda característica da história do conceito que estamos trabalhando é a conotação que ganhou ao longo
do tempo. A cultura foi uma grande caixa na qual os primeiros antropólogos, como Franz, Boas, Freizer, entre outros,
colocaram todas as diferenças que encontraram em suas viagens e pesquisas pelo mundo. Esses antropólogos eram
pessoas bastante abastadas, que procuravam conhecer diversas populações nos pontos distantes do mundo para
fundar a ciência da Antropologia, como o estudo dos homens em suas diversas maneiras de viver. Nesse sentido, para
grande parte da Antropologia, para a História, Literatura e Filosofia, a cultura é o que nos diferencia dos animais e nos
faz seres humanos.

CURSINHO DA POLI 29
DA PALAVRA AO EXPERIMENTO Ciências humanas

Em concordância com o mencionado, no início dessas ciências o pensamento era o de que a cultura se contrapunha
à natureza humana. Para nós, é comum ouvir que uma pessoa culta é uma pessoa que conhece muito, que sabe muito.
No entanto, a cultura também se refere às maneiras de se comportar, como uma pessoa deve agir de maneira “apro-
priada” aos critérios dos outros.
Gradativamente, ao longo da história e com o progresso das ciências como ciências, os cientistas começaram a
perceber que existiam maneiras de pensar, falar, agir “certas e erradas” que variavam de uma sociedade para a outra.
Assim, surgiu a consciência de que existem diferentes culturas, com seus valores, critérios e conteúdos variáveis, não
só no espaço geográfico, mas também no tempo. Muitas vezes, comportamentos considerados respeitáveis hoje são
rejeitados pela sociedade.
Uma terceira característica muito importante que devemos levar em conta é o fato de ser bem melhor falar sobre
culturas, no plural, do que sobre cultura, no singular. Afinal, não só podemos apreciar diversas culturas em relação aos
países, mas dentro de um mesmo país, ou sociedade, como é possível reconhecer diferentes culturas. Como mencio-
nado, uma característica da nossa realidade atual é que as sociedades estão conformadas por grupos sociais diversos,
estrangeiros, comunidades descendentes de imigrantes que procuram manter a identidade, e outros grupos sociais que
buscam estabelecer outra identidade diferente das “ordinárias”.
Sendo assim, não é possível estabelecer a cultura como um conceito fixo, não histórico; também não é boa ideia
pretender critérios universais de cultura ou de pessoas que tenham mais ou menos cultura. Assim, é melhor falar de
culturas no plural, já que elas variam no espaço geográfico e no tempo. Por último, embora os países tenham uma
população que compartilhe uma identidade e história comum, é possível encontrar grupos culturalmente diferentes
na mesma sociedade. Outra coisa a ser lembrada é o Estado como responsável pela resolução dos possíveis conflitos
gerados a partir de diferenças culturais em sua própria população.
Considerando essas características, uma maneira interessante de abordar o conceito de cultura é retomar o antropó-
logo Clifford Geertz e seu livro A interpretação das culturas. Depois de muitas viagens e de ter convivido e interpretado
diversos povos, Geertz discute o tema pautado em dogmas de pensamento estabelecidos pela Antropologia e Socio-
logia. Ele faz uma colocação interessante, dizendo que a cultura se refere a conjuntos de dimensões nos quais a vida
do homem se divide.
A cultura reúne maneiras de pensar, de sentir, de estabelecer um critério moral e formas de punição do certo e errado.
Refere-se também a maneiras de agir, formas de pensamento que procuram organizar o mundo, gerar um conhecimento,
mantê-lo e distribuí-lo. Geertz nos ensina que não se trata de “matrimônio”, por exemplo, mas de como diversas socie-
dades compreendem as relações entre homens e mulheres, assim como formas de fazê-las públicas e reconhecidas. Da
mesma maneira, existem culturas que acreditam que o trabalho é bom, que outorga honra às pessoas que o exercitam,
mas outras culturas consideram o trabalho uma atividade destinada a pessoas “inferiores”.

Cultura e sociedade

O processo por meio do qual aos poucos adotamos, incorporamos e assimilamos a cultura da sociedade em que
vivemos é o processo de socialização, estudado previamente. Ele não só funciona como uma maneira de assimilar
e incorporar conhecimentos, mas é a forma pela qual um ser humano vai se convertendo em indivíduo. Sem cultura
seríamos humanos sem fala, sem critérios de bem ou mal, sem costumes, sem regras. Ou seja, a nossa cultura – que
pode variar de outros grupos e sociedades – faz que nos convertamos em indivíduos capazes de nos relacionar e nos
entender, ainda que não haja comunicação entre nós. Pensemos em uma pessoa que espera para atravessar a rua; um
carro para e faz um sinal para ela atravessar – este é um exemplo de como incorporamos maneiras de interagir, de nos
comunicar, sem nos conhecer. Como este, outros exemplos podem ser mencionados.
É preciso, também, considerar que, dentro das Ciências Sociais, as perspectivas para analisar e definir temas de
pesquisa variam segundo a corrente e as escolas. Cada uma difere nos supostos pontos de partida, na maneira de
conceber as coisas, na maneira pela qual vão justificar suas concepções, e assim por diante. No caso da cultura, temos
uma perspectiva altamente crítica para analisar: o marxismo em suas origens e o pós-marxismo, ou Escola de Frankfurt.
A segunda escola é herdeira da primeira e mantém a perspectiva crítica sobre a cultura, mas se aprofunda mais nas
formulações teóricas sobre seu funcionamento.

30 CURSINHO DA POLI
Ciências humanas EXPERIMENTAÇÃO NO ENSINO DE SOCIOLOGIA

Marx e a cultura

No caso de Marx, a cultura teve um lugar bastante importante em seus escritos. Ele foi, sem dúvida, um dos grandes
críticos de seu tempo e de nosso tempo. Esse autor vai considerar a cultura primeiramente em termos de ideologia, o
que no pensamento marxista tem uma conotação negativa. Na primeira sessão do livro A ideologia alemã, Marx esta-
belece que as classes sociais mais ricas precisam manter o domínio sobre as classes sociais mais pobres, exploradas
pelas primeiras, incitando sua ganância. Ou seja, as classes sociais pobres, tanto a dos trabalhadores de fábrica, como
a dos camponeses, são aquelas que no sistema capitalista trabalham e vivem em condições ruins. Essa exploração por
parte dos capitalistas sobre os trabalhadores garante a acumulação de dinheiro e ganância.
Assim, a dominação das classes pobres pelas classes altas não pode ser simplesmente física, ou seja, não é possível
manter o sistema capitalista pela força, e aí entra o conceito de ideologia. Segundo Marx, a ideologia é a expressão
da dominação de uma classe por outra, uma expressão simbólica daquela opressão. Contudo, cultura não quer dizer
diretamente ideologia, portanto, não podemos confundir esses dois conceitos, que são bem diferentes. A ideologia de
uma sociedade capitalista é a dominação no âmbito cultural de uma classe (ou classes) sobre outras classes. Ou seja,
a cultura é um espaço de relações sociais economicamente condicionadas. Marx chama a atenção para as relações de
dominação capitalistas, uma vez que a ideologia conquista parte do espaço cultural. Desse modo, aquelas produções
culturais que deveriam ser livres da determinação econômica, para expressar sentimentos, experiências, formas de
compreender o mundo, são, por fim, definidas pelo esquema econômico.
Marx não é um autor simples, sabemos, mas é preciso fazer um esforço para compreender essa crítica e poder
avançar para a Escola de Frankfurt e sua contribuição à análise da cultura. No livro A ideologia alemã, Marx trabalhou
de maneira profunda os conceitos de ideologia e cultura. Em determinado momento, ele chega a considerar os dois
como iguais, ou seja, a ideologia igual à cultura. No entanto, devemos compreender que, para Marx, a cultura envolve a
religião, a política, a arte, a Filosofia, ou seja, todas as produções simbólicas dos homens que expressem suas maneiras
de pensar e sentir a realidade. Nessa obra, Marx acredita que a ideologia tem conquistado completamente o âmbito
cultural, e, por isso, ele faz a equivalência entre cultura e ideologia. Contudo, lembremos que ideologia é a expressão
da dominação de várias classes sociais nas mãos de outras, no âmbito cultural. Em síntese, como bem sabemos sobre
Marx, nenhuma área da vida humana consegue ficar livre da influência das relações econômicas do modo de produção.

A Escola de Frankfurt

Com as explicações anteriores é possível passar para o pensamento frankfurtiano, em que dois autores, fundadores
da Escola, fizeram uma das contribuições mais importantes sobre cultura. Eles são da corrente marxista e, como várias
outras correntes, têm tomado parte do pensamento de Marx e o interpretado de uma maneira especial. Aquelas rela-
ções de determinação por parte da realidade econômica sobre as outras dimensões da vida fazem parte de um tema
de intenso debate dos intelectuais chamados marxistas. Alguns aceitam essa relação de maneira estrita e outros têm
aceitado um grau de maior liberdade entre essas dimensões, dando força à dimensão econômica. Os autores Ador-
no e Horkheimer escreveram um livro de grande importância nesse tema, Dialética do esclarecimento, cujo capítulo
“A indústria cultural” vamos nos remeter.
O que significa indústria cultural? Esse conceito foi proposto pelos autores como uma ferramenta para tentar com-
preender como funciona a dimensão cultural das sociedades, em casos nos quais eles acreditavam e que acabariam
contribuindo para regimes de dominação. Vamos explicar melhor isso.
Adorno e Horkheimer escreveram esse livro em 1944, testemunhando o extermínio praticado pelos nazistas, e por
outros regimes autoritários da Espanha, Itália, Iugoslávia, França e Alemanha. O nível de terror que essas experiências
históricas mostraram para esses intelectuais fizeram que eles perguntassem por que as pessoas de uma população ou
de uma sociedade aceitavam esse tipo de ação por parte dos governos. Assim, começaram a pensar de maneira mais
profunda sobre as formas pelas quais a cultura entra nessa equação e funciona em favor desses regimes autoritários.
É importante lembrar que, para esses autores, não se trata somente de como a dimensão cultural foi utilizada para
trabalhar em favor das ditaduras, mas também como contribuiu com ordenamentos políticos diferentes em países
democráticos. Ambos são por excelência grandes críticos dos Estados Unidos, pois observam que as pessoas estão

CURSINHO DA POLI 31
DA PALAVRA AO EXPERIMENTO Ciências humanas

deixando de ser indivíduos – no sentido de pessoas livres para escolher, estudar, criticar, criar – para se tornar, princi-
palmente, consumidores. Eles deixaram para trás maneiras de agir e de construir a sua identidade e passaram a definir
a sua identidade simplesmente pelo consumo de bens e produtos culturais cada vez mais restritos.
Agora, estamos mais perto da ideia de indústria cultural. Adorno e Horkheimer usaram esse termo para demonstrar
como a dimensão da vida humana e a cultura se converteram em uma indústria, produzindo aquilo que é necessário,
determinado pelo produtor, na quantidade e do tipo necessário. Eles fizeram uma analogia entre a dimensão cultural e
a indústria para destacar o fato de que ela é gerenciada pelas necessidades daquele que a possui. E, segundo eles, a
indústria cultural está a serviço dos interesses dominantes nos níveis econômicos e políticos.
A cultura, como conjunção de símbolos, significados, maneiras de ser, de sentir, de compreender o mundo, de se
expressar, música, arte, Filosofia, estética etc., encontra-se dominada pelos interesses mencionados. E ela funciona
como um fator que produz legitimidade dos regimes políticos, sejam eles ditaduras ou democracias, porque tanto em
um como em outro a necessidade de legitimidade é igual.
Esses autores pensam que o momento da Segunda Guerra Mundial e o pós-guerra estão dominados pela irracionali-
dade. Eles definem o nazismo, entre outros regimes, como irracional, já que se trata de uma maneira de pensar sobre
as pessoas – no caso dos judeus, das pessoas de etnia negra, dos ciganos – como inferiores aos outros. Isso não tem
fundamento algum, ou seja, é irracional. O caso dos Estados Unidos também se encontra dominado pela irracionalidade,
já que as pessoas têm esquecido todas as outras manifestações culturais fora das promovidas pelo capitalismo.
Convertidos em simples consumidores, os cidadãos se conformam com os filmes mais conhecidos do cinema e com
os livros mais vendidos, todos procuram comprar os mesmos carros, as mesmas roupas e os mesmos sapatos. Assim,
para Adorno e Horkheimer, a indústria cultural também está em operação nos Estados Unidos, já que funciona somente
em benefício dos grandes capitalistas, quando, antes, a cultura funcionava para denunciar o mal-estar, as opressões dos
seres humanos e diferentes maneiras de pensar. Agora, tudo isso está sumindo, deixando a cultura como uma caixa de
ferramentas para construir legitimidade e acalmar as populações por meio do consumo, para que não se preocupem
com as questões políticas, sociais etc.
Embora complexo, esse pensamento tem muito a contribuir, já que abandona a ideia de que cultura deve ser respei-
tada sem ser questionada, ou seja, ela deve ser analisada e interrogada, para poder identificar diferentes interesses
escondidos. A grande contribuição de Marx e da Escola de Frankfurt é ter nos revelado que a cultura não é alheia aos
interesses econômicos e políticos. No entanto, não podemos cair em uma posição reducionista e pensar que é com-
pletamente determinada por eles. É preciso entender que grande parte da complexidade das sociedades humanas faz
que todas as dimensões da vida se permeiem.
Assim, o ganho da atitude crítica do marxismo e da Sociologia em geral é perder o olhar ingênuo sobre as coisas,
permitindo um questionamento profundo que identifique relações de dominação que funcionem em todos os âmbitos
e momentos.
Não é justificado pensar que consumimos somente aquilo que é determinado pela indústria cultural, porque é verda-
de que temos a opção de comprar coisas diferentes, de ver filmes e ler livros alternativos. Contudo, também é nossa
escolha se queremos consumir aquilo que é mais vendido e publicado. O importante é que seja produto de uma escolha
crítica e pessoal, e não determinada somente por outras pessoas ou pela influência de propagandas e publicidades.

Pierre Bourdieu: concepção relacional da sociedade

É possível afirmar que Bourdieu tem uma concepção relacional e sistêmica do social. A estrutura social é vista como um
sistema hierarquizado de poder e privilégio, determinado tanto pelas relações materiais e/ou econômicas (salário, renda)
como pelas relações simbólicas (status) e/ou culturais (escolarização) entre os indivíduos. Segundo esse ponto de vista, a
diferente localização dos grupos nessa estrutura social deriva da desigual distribuição de recursos e poderes de cada um
de nós. Por recursos ou poderes, Bourdieu entende mais especificamente o capital econômico (renda, salários, imóveis),
o capital cultural (saberes e conhecimentos reconhecidos por diplomas e títulos), o capital social (relações sociais que
podem ser revertidas em capital, relações que podem ser capitalizadas) e, por fim, mas não por ordem de importância,
o capital simbólico (o que vulgarmente chamamos prestígio e/ou honra). Assim, a posição de privilégio ou não privilégio
ocupada por um grupo ou indivíduo é definida de acordo com o volume e a composição de um ou mais capitais adqui-
ridos e/ou incorporados ao longo de suas trajetórias sociais. O conjunto desses capitais seria compreendido a partir de

32 CURSINHO DA POLI
Ciências humanas EXPERIMENTAÇÃO NO ENSINO DE SOCIOLOGIA

um sistema de disposições de cultura (nas suas dimensões material, simbólica e cultural, entre outras), denominado
por ele habitus.
A Sociologia, para Bourdieu, é uma ciência que incomoda, pois tende a interpretar os fenômenos sociais de maneira
crítica. Para os interesses desta introdução, vejamos apenas uma de suas muitas contribuições no campo da Sociologia
da Cultura, mais especificamente, a maneira pela qual Bourdieu interpreta a formação do gosto cultural de cada um
de nós, pondo em xeque um dos consensos mais difundidos de nossa história cultural, o de que gosto não se discute.

A produção do gosto

A sociologia de Bourdieu é mais que uma sociologia da reprodução das diferenças, materiais ou econômicas; é uma
sociologia interpretativa do jogo de poder das distinções econômicas e culturais de uma sociedade hierarquizada. Aqui,
chamo a atenção para um aspecto de sua obra relativo à interpretação da produção do gosto cultural. Bourdieu consi-
dera que o gosto e as práticas de cultura de cada um de nós são resultados de um feixe de condições específicas de
socialização. É na história das experiências de vida dos grupos e dos indivíduos que podemos apreender a composição
de gosto e compreender as vantagens e desvantagens materiais e simbólicas que assumem.2
Nas décadas de 1960 e 1970, Bourdieu envolve-se em uma série de pesquisas de caráter qualitativo e quantitativo
sobre a vida cultural, sobre as práticas de lazer e de consumo de cultura entre os europeus, sobretudo, entre os franceses.
Dessas experiências de investigação, Bourdieu publica, em 1976, uma grande pesquisa intitulada Anatomie du gout1.
Mais tarde, essa mesma pesquisa passa a ser objeto de publicação de sua obra-prima, lançada em 1979: o livro A dis-
tinção: crítica social do julgamento. Nas duas obras, Bourdieu e uma equipe de pesquisadores tentam explicar e discutir
a variação do gosto entre os segmentos sociais. Isto é, analisando a variedade das práticas culturais entre os grupos,
Bourdieu acaba por afirmar que o gosto cultural e os estilos de vida da burguesia, das camadas médias e do operariado,
ou seja, as maneiras de se relacionar com as práticas da cultura desses sujeitos, estão profundamente marcados pelas
trajetórias sociais vividas por cada um deles.
Mais especificamente, Bourdieu afirma que as práticas culturais são determinadas, em grande parte, pelas trajetórias
educativas e socializadoras dos agentes. Dito com outras palavras, Bourdieu afirma, causando um grande mal-estar na
época, que o gosto cultural é produto e fruto de um processo educativo, ambientado na família e na escola, e não fruto
de uma sensibilidade inata dos agentes sociais. 

“Capital cultural incorporado”

Nesse sentido, Bourdieu põe em discussão, desafiando várias autoridades, um consenso muito em voga, relativo à
crença de que gosto e estilos de vida seriam uma questão de foro íntimo. Para o autor, o gosto seria, ao contrário, o
resultado de imbricadas relações de força poderosamente alicerçadas nas instituições transmissoras de cultura da
sociedade capitalista.
Para fundamentar essa afirmação, Bourdieu argumenta que essas instituições seriam a família e a escola; seriam res-
ponsáveis pelas nossas competências culturais ou gostos culturais. De um lado, chamou a atenção para o aprendizado
precoce e insensível, efetuado desde a primeira infância, no seio da família, e prolongado por um aprendizado escolar
que o pressupõe e o completa (aprendizado mais comum entre as elites). De outro, destacou os aprendizados tardio,
metódico e acelerado, adquiridos nas instituições de ensino, fora do ambiente familiar, em tese um conhecimento
aberto para todos.
Assim, a distinção entre esses dois tipos de aprendizado, o familiar e o escolar, refere-se a duas maneiras de adquirir
bens da cultura e com eles se habituar. Ou seja, os aprendizados efetuados nos ambientes familiares seriam caracteriza-
dos pelo seu desprendimento e invisibilidade, garantindo a seu portador certo desembaraço na apreensão e apreciação
cultural; por sua vez, o aprendizado escolar sistemático seria caracterizado por ser voluntário e consciente, garantindo
a seu portador uma familiaridade tardia com a produção cultural.
Essas duas formas de aprendizado, segundo Bourdieu, seriam responsáveis pela formação do gosto  cultural dos
indivíduos. Seria, especificamente, o que chamaríamos de “capital cultural incorporado”, uma dimensão do habitus de

1
BORDIEU, Pierri; SAINT MARTIN, Monique de. In: Actes de la recherche en Sciences Sociales. v.2. n.5, out. 1976. Anatomie du gout. p. 2-81.

CURSINHO DA POLI 33
DA PALAVRA AO EXPERIMENTO Ciências humanas

cada um; uma predisposição para gostar de determinados produtos da cultura, por exemplo, filmes, livros ou música,
consagrados ou não pela  cultura  culta; uma tendência desenvolvida em cada um de nós, incorporada e que supõe
uma interiorização e identificação com certas informações e/ou saberes; um capital, enfim, em uma versão simbólica,
transvertido em disposições de cultura, portanto, fruto de um trabalho de assimilação, conquistado à custa de muito
investimento, tempo, dinheiro e desembaraço no caso dos grupos privilegiados.

Distinções do gosto

Bourdieu põe em discussão um dos maiores consensos do século, qual seja, gosto não se discute. Ao contrário, para
ele, o gosto não é uma propriedade inata dos indivíduos. O gosto é produzido e é resultado de um feixe de condições
materiais e simbólicas acumuladas no percurso de nossa trajetória educativa. Para ele, o gosto cultural se adquire; mais do
que isso, é resultado de diferenças de origem e de oportunidades sociais e, portanto, deve ser denunciado enquanto tal.
Nesse sentido, as distinções do gosto cultural revelam, sobretudo, uma ordem social injusta, em que as diferenças de
cultura de origem podem ser transubstanciadas em diferenças entre o bom e o mau gosto, numa permanente estratégia
de classificar hierarquicamente a cultura dos segmentos sociais.
Para finalizar, seria interessante fazer algumas ressalvas a esse pensamento. Pierre Bourdieu é ainda hoje respeitado
como um dos fundadores do paradigma teórico acerca das práticas de cultura. Não obstante, uma série de trabalhos vem
tentando atualizar suas contribuições, admitindo a existência de outros espaços transmissores e legitimadores de um
gosto cultural. Entre eles, podemos destacar o poder das mídias ou, no caso específico dos jovens, seus grupos de pares.
Nas sociedades modernas, portanto, uma gama complexa de referências de cultura partilharia com a escola e a família a
formação do gosto de todos os segmentos sociais.

34 CURSINHO DA POLI
Ciências humanas EXPERIMENTAÇÃO NO ENSINO DE SOCIOLOGIA

EXERCÍCIOS

1. (UEM) Considerando seus conhecimentos sobre o tema indústria cultural e consumo de massa, assinale o
que for correto.
01) O processo de urbanização na Europa, vivenciado a partir da metade do século XVIII, promove a emergência de
um moderno estilo de vida, ligado tanto às transformações na vida material quanto à expressão de novas sensibi-
lidades e subjetividades.
02) A estetização da vida cotidiana, decorrente do surgimento de um modo de vida moderno, pode ser percebida
pela significativa importância que o design e a moda ocupam no desenvolvimento capitalista.
04) Para o pensador alemão Walter Benjamin, a experiência da vida urbana e da modernidade não podia ser en-
contrada nas formas de consumo e de entretenimento modernas. Segundo sua teoria, a produção de gostos e de
estilos de vida decorria da alienação do desenvolvimento capitalista e da bestificação das massas.
08) Para os teóricos Theodor Adorno e Max Horkheimer, o surgimento de meios tecnológicos de produção da cultura
promoveu a democratização do conhecimento e o esclarecimento político das massas, potencializando os processos
de resistência à dominação presentes no mundo capitalista.
16) O esporte é uma manifestação característica dos gostos e dos estilos de vida surgidos com a modernidade. Em
seus estudos, o sociólogo Norbert Elias o considerou uma das expressões de civilidade típicas dos processos de
contenção das emoções e dos sentimentos coletivos que marcaram as formações dos estados nacionais.

2. (UEM) Considerando seus conhecimentos sobre os temas ciência, técnica e tecnologia, assinale a(s)
alternativa(s) correta(s).
01) O ciberespaço, por ser uma criação tecnológica e artificial, não pode ser considerado parte da realidade. Para
a Sociologia, apenas o espaço físico e as relações sociais construídas sem a mediação de máquinas podem ser
considerados constitutivos do mundo material.
02) As diversas revoluções industriais que ocorreram nos países ocidentais desde os séculos XV e XVI se pautaram
em formas de conhecimento científico aplicado à criação de novas tecnologias.
04) As tecnologias da informação e as biotecnologias são consideradas as grandes inovações dos recentes processos
de desenvolvimento tecnológico e capitalista mundiais.
08) A ficção científica pode ser considerada a expressão imaginária e artística assumida pelo predomínio da tecno-
logia na vida moderna. Ao inventar futuros, imaginar catástrofes ou projetar equipamentos inexistentes, ela revela
parte das expectativas e dos temores dessa sociedade.
16) Todas as sociedades humanas possuem meios para preencher suas necessidades, transformar a natureza e
construir o mundo que as rodeia, portanto, é correto dizer que todas as sociedades possuem tecnologia.

CURSINHO DA POLI 35
DA PALAVRA AO EXPERIMENTO Ciências humanas

Grupo de Estudos de Sociologia

A Sociologia nos vestibulares


Prof. Elias Feitosa

Ficha de Estudo n. 8 – Sociedade e Religiosidade

A religiosidade e a secularização

A gênese da modernidade ocidental situa-se nas transformações sociais ocorridas no século XVIII. Os marcos históri-
cos da modernidade – o Iluminismo, a Revolução Industrial e a Revolução Francesa – são essenciais para percebermos
a Nova Era que nascia sob o auspício da racionalidade e da reflexividade.
Com o advento da modernidade, surgiu a crença do declínio da religião. Esse vaticínio ocorreu não só nos diversos
campos das sociedades ocidentais, mas também, e em particular, no campo acadêmico, e veio enformar o próprio
conhecimento sociológico emergente. De fato, no século XVIII, muitas leituras da realidade implicavam uma oposição
entre a modernidade (e a multiplicidade de questões que ela constitui) e a religião, abrindo espaço para a construção
de modelos que possibilitassem o Estado laico.
A modernidade toma o indivíduo como o seu “ator principal”. O ser humano racional substitui, em grande medida,
a centralidade precedente do “cosmos sagrado”, que era gerido por instituições religiosas responsáveis, ao longo de
vários séculos, pela coesão social e cultural. A ideia de que a religião deixa de ser a única instituição a cuidar da coesão
social, assim como a noção de que ela perde o monopólio da produção de sentido, torna-se comum. A realidade já não
se ordena sob o dossel sagrado da religião. A religião autonomiza-se num campo social específico, e parece perder o seu
ascendente sobre os diferentes níveis sociais do mundo moderno, ainda que mantendo importantes níveis de influência
e de intercepção com os diversos campos sociais.
Nesse sentido, o termo “secularização” surge na teoria sociológica como conceito, teoria, ou paradigma (este é outro
debate) a partir dos anos 1960. É certo que com a modernidade surgiram as teses do declínio ou da extinção da religião,
mas o processo da secularização só se operacionalizou na teoria sociológica durante o decorrer da segunda metade
do século XX.
Thomas Luckmann introduziu o conceito de diferenciação ou segmentação institucional. O autor considera que com
a modernidade emergiram subsistemas sociais com um grau de autonomia relativo, e que, desse modo, também a
religião se autonomizou numa esfera social. Uma das consequências da segmentação institucional será a privatização
da religiosidade.
Os autores da secularização consideram que a modernidade acarreta o enfraquecimento da dimensão institucional
da religião e a sua privatização. Os ligames sociais e culturais de cariz religioso, que foram consistentes durante séculos,
desgastam-se, e as instituições religiosas perdem o seu poder. Os indivíduos sentem-se livres para encontrar, de forma
autônoma e refletida, o próprio universo de significações diante de um mundo fragmentado (um “mundo de mosaicos”).
Assim, a própria multiplicidade de movimentos religiosos na atualidade, e os trajetos individuais de pessoas de diferentes
grupos religiosos que se cruzam, são o reflexo dessa secularização. A fragmentação religiosa e seu “mercado aberto”,
herético, e sincrético, é um espelho dessa perda de influência da religião, e sinônimo do que se chama processo de
secularização.
Para Peter Berger, a secularização reflete-se enquanto processo marcado pela emancipação das representações
coletivas em relação às referências religiosas. Isso representa uma clara ruptura com a função tradicional da religião,
que era precisamente a de estabelecer um conjunto integrado de definições de realidade que pudesse servir como
um universo de significado comum aos membros de uma sociedade. A religião deixa de ser um sacred canopy (dossel
sagrado) para a sociedade.
Bryan Wilson desenvolve uma perspectiva evolucionista das mudanças estruturais operadas no campo religioso, e segue
uma perspectiva inspirada em Weber. Esse autor estabelece uma proximidade entre a secularização e a racionalização.
As tecnologias levam à racionalização da vida em sociedade, e contribuem para o “desencantamento do mundo”. A dife-
renciação e a autonomização aparecem-nos como consequências dessa racionalização e constituem os conceitos-base

36 CURSINHO DA POLI
Ciências humanas EXPERIMENTAÇÃO NO ENSINO DE SOCIOLOGIA

da secularização. Para o autor, é muito importante a noção da passagem da “comunidade” para a “sociedade”, assim
como as mudanças nas relações sociais implicadas nessa mesma passagem.
Desse modo, nas sociedades modernas, a religião tem enfraquecido e se tornado mais periférica. Mas também res-
surge, diferenciando-se e segmentando-se; moldando-se a novos quadros de valores e modos de viver o religioso; e
(sobre)vivendo à intempérie das mudanças sociais mais recentes.

As religiões de matriz afro no Brasil

A religião é um sistema cultural produzido tanto por sociedades não industriais, ditas tradicionais, quanto por socie-
dades industriais, ditas modernas. Muitos autores clássicos e modernos como Durkheim, Weber, Bourdieu, Geertz, e
tantos outros, deram grande atenção em suas obras ao fenômeno religioso.
No entanto, a importância e as características das religiões variam de sociedade para sociedade. Em algumas socie-
dades, a religião é o sistema cultural dominante, e os líderes religiosos são também líderes políticos. Em outras, atua
com sistemas culturais igualmente fortes ou até mais fortes do que ela (como é o caso da ciência, em sociedades
ocidentais modernas).
As religiões têm um corpo de sacerdotes que zelam pela sua continuidade, oficiam seus rituais e fazem a ligação
dos fiéis com o sobrenatural. Os sacerdotes, além de detentores de um saber que não é repassado inteiramente aos
fiéis, possuem autoridade e poder espiritual (via de regra são vistos como detentores de dons ou forças mágicas) e,
algumas vezes, são também investidos de poder político. Mesmo quando há a separação entre Igreja e Estado, como as
religiões e seus sacerdotes exercem grande influência sobre a população, elas estão sempre na mira dos governantes
e, de alguma forma, sob o controle de instituições governamentais. Toda religião fornece uma explicação a respeito das
realidades observadas e de realidades não observáveis (em cuja existência o povo crê) e orienta o comportamento de
seus membros, definindo o que é certo, o que é errado, a finalidade do homem etc.
Algumas religiões mais universalistas são apresentadas como as únicas verdadeiras, e seus sacerdotes costumam
exigir dos fiéis o abandono de crenças e práticas de outras religiões (como quase sempre ocorre com as religiões cristãs).
Outras, são mais voltadas para determinada população, menos dadas ao proselitismo e não exigem de seus adeptos
o afastamento de outras religiões e/ou o abandono de crenças e práticas religiosas vividas fora delas (como ocorre
geralmente com as religiões afro-brasileiras).
Na cultura africana a tradição é muito valorizada e, tanto ela como as obrigações para com as entidades espirituais,
não podem ser abandonadas. Por essa razão, no Brasil, muitos afrodescendentes que ascenderam socialmente ou se
converteram a outra religião continuam ligados à religião de matriz africana de seus antepassados, ajudando a manter
o culto a entidades espirituais afro-brasileiras (às vezes assumindo as despesas de um filho de santo que pertence à
entidade espiritual a quem foram oferecidos ou por quem foram escolhidos) ou praticando em casa, secretamente, ritos
ensinados por seus antepassados...
As religiões, embora exerçam influência sobre a sociedade, refletem a estrutura social. Algumas características das
religiões afro-brasileiras têm origem na traumática experiência da escravidão vivida por seus fundadores ou organizado-
res, na absorção forçada ou voluntária do catolicismo por eles e na experiência do “povo de santo” com outras religiões
cristãs ou não cristãs. Assim, a devoção aos santos católicos, as sessões de Mesa Branca ou de Jurema (Catimbó) en-
contradas em suas casas de culto nasceram do contato de seus fundadores, organizadores, sacerdotes (pais de santo
ou pais de terreiro) e fiéis com o catolicismo, o kardecismo, com práticas religiosas ameríndias e outras religiões. Outras
características por elas apresentadas têm a ver com mudanças ocorridas recentemente na sociedade brasileira, com o
acesso do “povo de santo” aos níveis mais altos de escolaridade e a recursos modernos de comunicação (produção de
livros e de documentários, jogos de búzios por computador, programas interativos na televisão etc.).
As características apresentadas por uma religião podem se apoiar em vários fatores. Quando se indaga, por exem-
plo, sobre o porquê do segredo nas religiões afro-brasileiras, as respostas obtidas apontam para a “mitologia” e para
diversos aspectos da cultura africana; para as estratégias de sobrevivência adotadas pelo “povo de santo” durante a
escravidão e nos períodos de maior repressão às religiões afro-brasileiras; para a centralização do poder e do saber
nos pais de santo etc.
Do mesmo modo, quando se procura compreender o matriarcado dos terreiros de Mina mais antigos do Maranhão,
geralmente se recebe a explicação de que essa prática tem a ver com o poder das mulheres no antigo reino do Daomé

CURSINHO DA POLI 37
DA PALAVRA AO EXPERIMENTO Ciências humanas

(hoje Benin), berço da tradição religiosa continuada pela Casa das Minas-Jeje (conhecida como o terreiro de Mina mais
antigo), mas que tem também a ver com a situação do negro no Brasil durante a escravidão, porque também ocorreu
em outros estados em terreiros nagô e de outras “nações” (advoga-se que antes da abolição era mais difícil para os
homens do que para as mulheres assumir o comando da religião).
A religião, de alguma forma, reflete a sociedade, reproduz a sua estrutura, se modifica quando ela sofre grandes
alterações, mas exerce também grande influência sobre a sociedade. Quando um território é habitado por populações
de origens diversas ou quando uma população entra em contato com outra de cultura diferente, as mudanças culturais
são previsíveis e atingem também a esfera religiosa. Nessas situações, costumam ocorrer “sincretismos” entre religiões
e o surgimento de novas religiões. E, se as relações entre os povos em contato são desiguais, como as ocorridas no
sistema colonial e nas sociedades escravocratas, a religião do grupo dominante tende a ser imposta aos demais ou a se
tornar hegemônica. Isso poderia explicar por que os negros brasileiros tornaram-se católicos sem deixar de cultuar seus
orixás, voduns inquices e encantados. Embora a religião tenha o costume de valorizar a tradição, como as populações
humanas nunca são completamente isoladas e suas sociedades nunca são estáticas, ela apresenta alterações ao longo
do tempo, incorporando elementos de outros sistemas culturais ou ajustando-se às mudanças sociais.
A religião reproduz e reforça a estrutura social, mas pode ser um fator de conscientização, de resistência e de mobi-
lização social. Ela pode reforçar o sentimento e a dignidade, reabastecer a esperança, estimular a luta e a resistência
de populações dominadas, mostrando-lhes o seu valor e garantindo-lhes a ajuda de seres espirituais. Como tem sido
bastante apregoado, a religião de origem africana tem se apresentado como poderoso fator de resistência à dominação
cultural e de afirmação de identidades étnicas.
Os terreiros de Mina, Candomblé, Batuque e Xangô não apenas professam uma religião trazida para o Brasil por africanos
escravizados, como também reafirmam identidades africanas – uns são jeje, outros são nagô, angola, congo, keto etc.
A religião é um fator de organização e de integração social, embora possa também separar as pessoas, gerar in-
compatibilidades entre grupos e servir de motivo para guerras e dominações. No passado, no Brasil e em vários países
americanos, africanos de diversas “nações” (jeje, nagô, angola e outras) e crioulos se organizaram em torno dela e fun-
daram terreiros, irmandades e associações diversas (algumas vezes secretas ou fechadas, como as dos Egunguns da
Bahia). Algumas dessas organizações (como as casas de culto “de nação” – terreiros de Mina, de Candomblé e de outras
denominações) se voltaram mais para as religiões trazidas da África, enquanto outras, como as irmandades católicas
de homens negros, se voltaram mais para a religião do colonizador.
Embora religiões diferentes possam coexistir sem grandes conflitos, quando as desigualdades sociais são expressi-
vas e as relações entre as populações envolvidas são marcadas pela dominação, costuma haver discriminações e, não
raramente, perseguições religiosas. No caso brasileiro, como é bastante conhecido, as religiões de matrizes africanas e
ameríndias não foram encaradas pelas camadas dominantes apenas como diferentes do catolicismo professado pelo
colonizador português. Foram consideradas primitivas, inferiores, falsas e ameaçadoras – daí o motivo de terem sido
tão reprimidas e perseguidas.
Atualmente no Brasil, embora as relações entre as religiões afro-brasileiras e o Estado sejam consideradas boas, as
religiões de matriz africana continuam a ser vistas com desconfiança por grande parte da população e consideradas
inferiores ao catolicismo, ao protestantismo, ao judaísmo, ao budismo etc. Apesar da apregoada liberdade de expressão
religiosa, no Brasil, as religiões de matriz africana estão longe de ser valorizadas e respeitadas como o catolicismo, que
já foi a religião oficial, e o protestantismo, que foi implantado aqui há muito tempo. Um atestado dessa realidade é ainda
a ausência de pais e mães de santo como sacerdotes em eventos e cultos ecumênicos promovidos pela Igreja Católica
ou por ela orientados. E alguns programas veiculados por emissoras evangélicas de tevê são exemplos de preconceito
e de agressão às religiões afro-brasileiras, daí os frequentes processos movidos na Justiça contra eles em vários esta-
dos, principalmente em São Paulo, especialmente ligados a grupos neopentecostais que satanizam a prática religiosa
africana, reiterando racismo e preconceito.
Entre os fatores apontados para esse problema enfrentado pelas religiões de matriz africana estão a sua introdução
ou organização por ex-escravos e o preconceito em relação ao negro e à cultura africana. Além disso, elas são classi-
ficadas por alguns como “bárbaras”, “primitivas” ou “atrasadas”, seus sacerdotes têm sido frequentemente apontados
como atores ou insufladores de práticas criminosas, ilegais ou repudiadas socialmente (assassinatos, práticas ilegais
de medicina etc.). Diante dessas agressões, algumas comunidades religiosas afro-brasileiras têm assumido um compor-
tamento resignado, enquanto outras têm reivindicado o respeito pelas diferenças e tratamento igual ao recebido por
outras religiões, além de assegurar na Justiça seus direitos constitucionais.

38 CURSINHO DA POLI
Ciências humanas EXPERIMENTAÇÃO NO ENSINO DE SOCIOLOGIA

EXERCÍCIOS

1. (Unesp)

“Religião sempre foi um negócio lucrativo.” Assim começa uma reportagem da revista americana Forbes sobre os
milionários bispos fundadores das maiores igrejas evangélicas do Brasil. A revista fez um ranking com os líderes mais
ricos. No topo da lista, está o bispo Edir Macedo, que tem uma fortuna estimada em R$ 2 bilhões, segundo a revista. Em
seguida, vem Valdemiro Santiago, com R$ 400 milhões; Silas Malafaia, com R$ 300 milhões; R. R. Soares, com R$ 250 mi-
lhões, e Estevan Hernandes Filho e a bispa Sônia, com R$ 120 milhões juntos. A Forbes também destaca o crescimento
dos evangélicos no Brasil – de 15,4% para 22,2% da população na última década –, em detrimento dos católicos. Hoje,
os católicos romanos somam 64,6% da população, ou 123 milhões de brasileiros. Os evangélicos, por sua vez, já somam
42 milhões, em uma população total de 191 milhões de pessoas.

Uol Notícias, 19 jan. 2013.


Forbes lista os seis líderes milionários evangélicos no Brasil,
Adaptado de: <http://noticias.uol.com.br/internacional/ultimas-noticias/2013/01/18/forbes-lista-os-seis-lideres-
milionarios-evangelicos-no-brasil.thm>. (acesso em: 18 set. 2015)

Os fatos descritos na reportagem são compatíveis filosoficamente com uma concepção


a) teológico-protestante, baseada na valorização do sacrifício pessoal e da prosperidade material.
b) kantiana, que preconiza a possibilidade de se atingir a maioridade intelectual.
c) cartesiana, que pressupõe a existência de Deus como condição essencial para o conhecimento racional.
d) dialético-materialista, baseada na necessidade de superação do trabalho alienado.
e) teológico-católica, defensora da caridade e idealizadora de virtudes associadas à pobreza.

2. (Enem)

Todo homem de bom juízo, depois que tiver realizado sua viagem, reconhecerá que é um milagre manifesto ter podido
escapar de todos os perigos que se apresentam em sua peregrinação; tanto mais que há tantos outros acidentes que
diariamente podem aí ocorrer que seria coisa pavorosa àqueles que aí navegam querer pô-los todos diante dos olhos
quando querem empreender suas viagens.

J. P. T.
Histoire de plusieurs voyages aventureux, 1600.
In: DELUMEAU, J. História do medo no Ocidente: 1300-1800. São Paulo: Companhia das Letras, 2009. (adaptado)

Esse relato, associado ao imaginário das viagens marítimas da época moderna, expressa um sentimento de
a) gosto pela aventura.
b) fascínio pelo fantástico.
c) temor do desconhecido.
d) interesse pela natureza.
e) purgação dos pecados.

CURSINHO DA POLI 39
DA PALAVRA AO EXPERIMENTO Ciências humanas
GABARITO − EXPERIMENTAÇÃO NO ENSINO DE SOCIOLOGIA

Ficha 1 Ficha 5
1. 01 + 04 + 08 1. 01 + 04 + 16
2. a 2. 08 + 16
3. b
4. b
Ficha 6
Ficha 2 1. 01 + 02 + 08 + 16

1. 01 + 04 + 08
2. 01 + 02 + 08 + 16 Ficha 7
3. 02 + 04 + 08 + 16
4. 01 + 02 + 04 + 08 1. 01 + 02 + 16
5. 01 + 08 2. 02 + 04 + 08 + 16

Ficha 3 Ficha 8

1. 02 + 04 + 16 1. a
2. d 2. c
3. a

Ficha 4

1. b
2. e

40 CURSINHO DA POLI

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