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Olá a todos!
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Objetivo da aprendizagem
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Não se pretende com essas reflexões esgotar as análises sobre o contexto
educacional na Europa e no Brasil, objetivamos contribuir com a discussão sobre
origem da escola pública, porque acreditamos que a partir do mapeamento das
principais características do contexto histórico em que essa escola foi pensada,
pode-se compreender seu caminhar na atualidade escola pública na atualidade.
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da arte de ensinar; a terceira parte foi constituída pelos princípios metodológicos
específicos de cada ciência e a quarta parte são colocados os planos de ensino.
Segundo Valdemarin (2006), Comênio em sua obra Didáctica Magna (1636)
apresentou diretrizes gerais para funcionamento da instituição escolar moderna,
essa educação deve visar à criação de seres humanos melhores, para isso ela deve
utilizar o método de ensino como ferramenta para o bom desenvolvimento humano.
Nesta obra, Comênio descreve um método de ensino evidenciando que a educação
não pode ser assumida pela família, e sim por um sistema educacional.
Dentre as diretrizes apresentadas por Comênio podemos apontar: a
construção da infância moderna já como forma de uma pedagogização dessa
infância por meio da escolaridade formal; uma aliança entre a família e a escola por
meio da qual a criança vai se soltando da influência da órbita familiar para a órbita
escolar; uma forma de organização da transmissão dos saberes baseada no
método de instrução simultânea, agrupando-se os alunos e, não menos importante,
a construção de um lugar de educador, de mestre, reservado para o adulto portador
de um saber legítimo (PEREIRA; FELIPE; FRANÇA; 2012).
Valdemarin (2006) ressalta que o sistema educacional proposto por Comênio
é composto pelo conteúdo a ser ensinado que tenha uma aplicabilidade prática, pelo
aluno do qual se conhece o processo de aprendizagem e pelo professor que é o
portador do método que garante que os conteúdos serão ensinados aos alunos.
No século XVIII, é produzida na Europa outra obra que configura o
pensamento pedagógico da modernidade Emílio de Jean Jacques Rousseau. Este é
um ensaio pedagógico sob a forma de romance e nele Rousseau procura traçar as
linhas gerais que deveriam ser seguidas com o objetivo de fazer da criança um
adulto bom. Mais exatamente trata dos princípios para evitar que a criança se torne
má, já que o pressuposto básico do autor é a crença na bondade natural do homem.
Outro pressuposto de seu pensamento consiste em atribuir à civilização a
responsabilidade pela origem do mal. Consequentemente, os objetivos da educação,
para Rousseau, comportam dois aspectos: o desenvolvimento das potencialidades
naturais da criança e seu afastamento dos males sociais.
A educação deve ser progressiva, de tal forma que cada estágio do processo
pedagógico seja adaptado às necessidades individuais do desenvolvimento. A
primeira etapa deve ser inteiramente dedicada ao aperfeiçoamento dos órgãos dos
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sentidos, pois as necessidades iniciais da criança são principalmente físicas.
Incapaz de abstrações, o educando deve ser orientado no sentido do conhecimento
do mundo através do contato com as próprias coisas.
É necessário, contudo, prepará-la para o futuro. Isso porque ela tem uma
enorme potencialidade, não aproveitada imediatamente. A tarefa do educador
consiste em reter pura e intacta essa energia até o momento propício. Nesse
sentido, é particularmente importante evitar a excitação precoce da imaginação,
porque esta pode tornar-se uma fonte de infelicidade futura. Outros cuidados devem
ser tomados com o mesmo objetivo e todos eles podem ser alcançados ensinando-
se a lição da utilidade das coisas, ou seja, desenvolvendo-se as faculdades da
criança apenas naquilo que possa depois ser-lhe útil.
A educação positiva deve iniciar-se quando a criança adquire consciência de
suas relações com os semelhantes. Passa-se, assim, do terreno da pedagogia
propriamente dita aos domínios da teoria da sociedade e da organização política.
Francis Bacon nasceu em 22 de janeiro de 1561 e faleceu em 9 de abril de
1627, desde a infância sofreu influências antagônicas devido à formação do pai, que
desempenhava uma importante função junto a nobreza, e a formação da mãe, que
era calvinista em teologia e puritana de moral. Bacon tornou-se o principal defensor
do método científico e do estudo direto da natureza, seus esforços estavam sempre
voltados favor do progresso do saber, do método indutivo e da aplicação prática da
ciência. Em sua obra Novum Organum (1620), o novo instrumento proposto era o
processo indutivo, baseado na ideia de que as observações do mundo exterior pelos
sentidos, juntamente com as experimentações, constituíam a fonte do verdadeiro
conhecimento, assim Bacon foi considerado o inventor do método experimental e
fundador da ciência moderna e do empirismo.
Wolfgang Ratke nasceu na Alemanha, em 1571 e faleceu em 1635, estudou
na Inglaterra e lá teve contato com as ideias de Bacon sobre o progresso de saber.
Desenvolveu um novo método de ensino que procurava descobrir a ordem natural
na qual a mente da criança aprende, assim foi o primeiro a dar a ideia de uma
instituição sistematizada na educação moderna. Em sua obra “Arte de ensinar” ou
didática, realizou uma coletânea sobre diversos assuntos tais como, os deveres
escolares, a organização do ensino, a didática geral e a situação do professor e do
aluno no processo de ensino.
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René Descartes nasceu na França, em 1596 e faleceu em 1650, dedicou-se à
matemática e à geometria, e tendo como base essas áreas do conhecimento
começou a construir uma nova filosofia, que estabelece um novo conjunto de regras
e princípios para que se possa alcançar o conhecimento científico. Esse filósofo
influenciou fortemente a educação, pois para ele as ideias elementares são inatas, e
o conhecimento aumenta pela dedução de suas implicações, portanto o verdadeiro
método da ciência era o dedutivo, que ensina aos alunos a raciocinar com certeza,
clareza e positividade.
uma visão de mundo que envolvia a todos. A intenção aqui era evidenciar que a
didática se origina fora da escola como uma apreensão filosófico-científico-
educacional-metodológica, tornando-se na escola uma resposta teórico-prática na
transmissão e acomodação dos conteúdos originados na vida extraescolar.
Podemos notar que, tanto em Comênio quanto em Rousseau verificamos um
intenso debate sobre os fins da educação popular e os meios para efetivá-la, entre
eles, a melhor organização pedagógica para a escola pública. Em toda parte,
difundiu-se a crença no poder da escola como fator de progresso, modernização e
mudança social. Com o desenvolvimento industrial articulou-se a ideia de uma
escola nova para a formação do homem novo.
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A leitura dessas obras realizadas pela elite ilustrada brasileira permite afirmar
que no Brasil também se difundia a concepção de um novo homem, assim como na
Europa. Podemos perceber com os signatários do Manifesto Republicano (1870)
que acreditavam que a educação poderia levar o Brasil a se tornar uma nação
desenvolvida como as nações europeias.
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Petitat (1994) nos lembra de que, na reorganização dos programas escolares,
várias disciplinas, tais como leitura, escrita, história, geografia, economia, direito,
encontravam sua substância na própria realidade nacional, que era a vinda de um
grande número de imigrantes europeus. Além disso, a introdução de novas
disciplinas nos programas do ensino primário, especialmente ciências, desenho e
educação física, articulou-se com a nova realidade brasileira que apresentava o
crescimento dos setores de prestação de serviços e o desenvolvimento da pequena
indústria, isto justifica a inclusão destes conteúdos.
Os pilares sobre os quais se alicerçaram os ideais e as políticas de inovação
educacional no final do século XIX e início do século XX foram a construção dos
Estados-nação e sua modernização social. No Brasil, concomitantemente, não foi
diferente, a escola pública foi elevada à condição de redentora da nação e de
instrumento de modernização por excelência.
Hilsdorf (2005) lembra-nos que apesar da escola pública ter como projeto a
educação da grande massa não se tratava de fornecer todo o ensino a toda
sociedade, já que esta escola era oferecida nos moldes das elites cafeicultoras da
época que visavam normatizar simplesmente os movimentos populares que
reivindicavam instrução pública.
O curso da história do ensino público primário no país se alterou com a
proposta de organização curricular e administrativa, isso se deu com a implantação
dos grupos escolares, essa modalidade escolar surgiu primeiramente na Europa e
nos Estados Unidos. No Brasil, essa concepção de escola primária foi criada
inicialmente em São Paulo, e teve como base o projeto educacional republicano que
entende que os pré-requisitos para o processo nacional é o desenvolvimento
intelectual e moral adquiridos por meio da educação.
Segundo Saviani (2006), os grupos escolares constituíram um fenômeno
urbano, já que no meio rural ainda predominou por muito tempo as escolas isoladas.
A escola eficiente para a formação e seleção das elites foi o grupo escolar, pois a
questão do ensino para as massas populares só esteve presente na reforma paulista
de 1920. Já que possuíam turmas seriadas, os grupos escolares também eram
conhecidos como escolas graduadas.
A escola graduada fundamentava-se essencialmente na classificação dos
alunos pelo nível de conhecimento em agrupamentos supostamente homogêneos,
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implicando a constituição das classes. Pressupunha, também, a adoção do ensino
simultâneo, a racionalização curricular, controle e distribuição ordenada dos
conteúdos e do tempo (graduação dos programas e estabelecimento de horários), a
introdução de um sistema de avaliação, a divisão do trabalho docente e um edifício
escolar compreendendo várias salas de aula e vários professores. O modelo
colocava em correspondência a distribuição do espaço com os elementos da
racionalização pedagógica – em cada sala de aula uma classe referente a uma
série; para cada classe, um professor (SOUZA, 2006, p. 114).
O ensino primário era ministrado em quatro anos, com um programa com
matérias que proporcionavam uma educação integral, como a educação física,
intelectual e moral. Previa a utilização do método intuitivo e exigia-se uma rígida
disciplina dos alunos com relação à assiduidade, asseio, ordem, obediência, etc.
Havia também práticas “ritualizadas” e “simbólicas”, como os exames finais, as
exposições escolares, as datas cívicas e as festas de encerramento do ano letivo. A
geração de novos dispositivos de racionalização administrativa e pedagógica,
necessários para o desenvolvimento da sociedade capitalista, principalmente nos
processos de urbanização e industrialização foi criado pela escola graduada e foi
ainda um projeto cultural a favor da nação, o qual educava mais do que instruía
(PEREIRA; FELIPE; FRANÇA, 2012).
Pode-se afirmar que, os grupos escolares surgiram como estratégia da elite
republicana paulista e constituiu um modelo escolar a ser implementado por outros
estados do país fazendo parte da política de diversos presidentes (ou governadores)
de Estados. A criação dessa nova modalidade escolar passou a apresentar um
ensino seriado que os alunos eram distribuídos homogeneamente sob a orientação
de somente um professor.
Vale ressaltar, que o nascimento da escola primária no século XIX não pode
ser analisada se não consideramos a renovação pedagógica que exerceu grande
influência no pensamento educacional. Segundo Souza (2006), dentro desse
movimento de renovação pedagógica grande sucesso obteve o método intuitivo ou
lições de coisas e o ensino concêntrico.
O método intuitivo consistiu no núcleo principal da renovação pedagógica,
fundamentada especialmente nas ideias de Pestalozzi e Froebel, pressupunha uma
abordagem indutiva pela qual o ensino deveria partir do particular para o geral. A
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fundamentação desse método era baseada em uma concepção filosófica e científica
pela qual a aquisição de conhecimentos advinha dos sentidos e da observação.
Neste momento, o método adquiriu certo fascínio e confiança devido ao fato da
racionalidade pedagógica articular-se com os princípios de racionalização da
produção e da vida social. O ensino verbalista, repetitivo e enraizado na memória
praticado nas escolas do Império somente seria abolido com esse método e este
deveria constituir-se em um princípio geral abrangendo todo o programa e não um
assunto específico.
No ensino concêntrico, segundo Souza (2006) a organização dos programas
envolvia todas as matérias simultaneamente numa mesma série e em séries
consecutivas, que eram desenvolvidas de acordo com o aumento de intensidade,
este processo era visto pelos profissionais como vantajoso porque respondia o um
processo lógico que era o mesmo pelo qual as crianças aprendiam.
Apesar da escola pública brasileira nas primeiras décadas do século XX ter
como objetivo a escolarização das camadas populares, só foram integrados aqueles
pertencentes aos setores ligados ao trabalho urbano, deste contingente ficaram fora
da instrução pública promovida pelo Estado os pobres, os miseráveis e os negros.
Estes setores por volta de 1920 começam a reivindicar o seu espaço na instituição
pública escolar, despertando na elite brasileira a preocupação com organização do
sistema capitalista, que dependia da preparação da massa para o mercado de
trabalho.
Nesse contexto, que inicia as reivindicações por uma escola nova, o
Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova foi o documento base para essas
reivindicações representado por nomes como Anísio Teixeira, Fernando de Azevedo
e Lourenço Filho, o objetivo principal do manifesto foi realizar a reconstrução social
pela reconstrução educacional, que tinha por princípio a laicidade, gratuidade,
obrigatoriedade e a unidade da escola.
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Segundo Saviani (2006) essa vertente pedagógica parte do pressuposto que
a educação é função do Estado e se dirige a todos os graus ou estágio de ensino.
Para o autor o manifesto representou mais que um ideal de defesa da escola nova,
pois contribuiu com as reflexões para defesa de uma escola pública, por isso o
manifesto para Saviani (2006) é um grande legado do século XX que, apesar dos
esforços dos educadores, não teve concretização no país.
Considerações Finais
A partir das reflexões apresentadas nesse módulo, pode-se observar que o
objetivo da escola idealizada para o povo nos princípios de igualdade não foi
alcançado, o ensino não proporcionou os princípios propostos de igualdade,
obrigatoriedade e gratuidade. A questão política da educação escolar no sentido que
conhecemos hoje, envolveu todo o Ocidente, desde a segunda metade do século
XIX, promoveu a discussão sobre a organização didático-pedagógica e
administrativa do ensino primário. Essa organização tinha por objetivo definir as
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finalidades da escola primária e os meios de sua universalização. Esse processo
implicou debates sobre a função política da escola e democratização da cultura nas
sociedades modernas. Neste sentido, a temática central das discussões foram os
conteúdos utilizados para a escolarização popular que sofreu oscilações devido a
diferentes interesses ideológicos, sociais, políticos, religiosos, econômicos e
culturais.
A partir do século XIX a organização das instituições públicas de ensino
promoveu a transmissão da ideologia da sociedade burguesa, essa ideologia pode
ser observada nos conteúdos escolares, que visavam o aprimoramento do
trabalhador. No Brasil, a organização das instituições públicas mostrou-se ligada a
cópia de métodos de países europeus sempre valorizando os pressupostos
burgueses.
Esperamos, por fim, que essas discussões tenham contribuído com objetivo
desse capítulo, que foi o resgate da origem da escola pública na Europa e as
concepções de educação e a implantação da escola pública brasileira
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UNIDADE II – EDUCAÇÃO ESCOLAR NO BRASIL: A GÊNESE DE UMA NOVA
SOCIEDADE
INTRODUÇÃO
Nessa unidade focaremos no contexto educacional brasileiro.
Independentemente do momento histórico em que vivemos, uma coisa que devemos
sempre lembrar é que a educação escolar não é neutra, ela está comprometida com
a sociedade e com homem em que ela quer formar. Na história da educação do
Brasil não é diferente com a emergência do partido Republicano (1870) - como
destaca o texto de Bresciani - referenda a ideia de que a instrução popular seria
estratégia imprescindível à marcha do progresso.
Podemos afirmar que no final do século XIX havia no Brasil a necessidade de
transformar os súditos em cidadãos. O ideário republicano já acena, pois, com a
irredutível incompatibilidade entre um sistema verdadeiramente representativo e a
ignorância popular, até então voluntariamente mantida por uma ordem social que
prescindia da "vontade geral" para agir com total onipotência sobre a "coisa pública".
Havia, nessa perspectiva dos republicanos emergentes, um antagonismo essencial
entre realeza e povo, a partir do qual a governabilidade da ordem monárquica se
tornava gradualmente instável e sujeita a perturbações.
Pereira, Felipe e França (2012) afirmam que o povo deveria ser assim,
sutilmente, educado para a vida democrática; na escola eram depositadas as
esperanças de preparar essa sociedade para o novo tempo no qual haveria efetiva
demanda do exercício dos direitos políticos. Os republicanos concebiam-se como
agentes portadores das luzes da razão, no advento de um novo modelo inspirado
em países mais adiantados.
O objetivo a atingir passa necessariamente pela "consciência" do indivíduo, e
por sua forma coletiva, a "consciência nacional". Na verdade, a ação humana junto
ao processo de desenvolvimento da "força latente" que existe em "todo homem"
representa o elemento catalisador que pode apressar ou retardar a "irresistível
colaboração do espírito com a verdade" sem, contudo, jamais conseguir interromper
ou inverter sua direção. No entanto, a fala republicana parece não deter a certeza de
que esse processo se realize sempre no sentido esperado, pois ela alerta para a
existência de duas alternativas, o amesquinhamento "até a materialidade do instinto"
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e a subida até a "claridade da razão". São os "princípios do bem" contrapondo-se às
doutrinas do mal, os dois últimos elementos opostos e latentes em tudo o que é
humano, aquilo que constitui a marca diferenciadora da humanidade em meio aos
animais.
A responsabilidade pedagógica do Estado se alia, pois, às necessidades
ditadas pelas exigências do tempo, de acordo com a marcha inexorável dos povos
rumo a um processo de progressivo aperfeiçoamento trazido, ao que se supunha,
pelas luzes da civilização. Ocorre, entretanto, que essa ideia de uma nação a ser
construída não constitui privilégio exclusivo do pensamento republicano, já que
elementos ilustrados da elite do país apontavam no Parlamento que os males a
serem erradicados do território brasileiro originar-se-iam antes nos hábitos e na
educação, para, como decorrência, fixarem-se posteriormente nas leis e nas
instituições. Assim a mística da nacionalidade vem acompanhada por um projeto
pedagógico que traduzia, enquanto tal, a suposta feição de um caráter nacional a
ser impresso no povo brasileiro.
Sem dúvida, o século XIX presencia a expansão da escola pública, universal
e gratuita nos países desenvolvidos, nos quais a eliminação do analfabetismo
significava, de certa forma, qualificação para o trabalho técnico industrial; por outro
lado, cabe lembrar, em grande parte dos países avançados, havia uma verdadeira
demanda correspondente às formulações de sólidas políticas que organizavam
redes nacionais de escolarização pública. O Brasil de então não correspondia,
evidentemente, a tal realidade economicamente avançada. Formas arcaicas de
produção, abundância de mão-de-obra e baixa densidade demográfica e de
urbanização representavam a delimitação de nossa estrutura agrário exportadora na
virada do século. Mesmo assim, já se cogitaria, no próprio sistema monárquico,
sobre a criação da educação industrial como necessidade intrínseca ao
desenvolvimento do país.
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Saiba mais sobre o assunto:
Em 1998 Analete Regina Schelbauer publicou o livro Ideias que não se realizam. O
debate sobre a educação do povo no Brasil de 1870 a 1914. Em que sistematiza o
debate produzido sobre a educação do povo, sob a direção do Estado, que mobilizou a
sociedade brasileira em fins do século XIX e início do século XX, concomitantemente à
campanha universal pela democratização do ensino, levada a efeito pelos países de
economia desenvolvida e que resultou na criação da escola básica, de ensino
obrigatório, e na organização dos Sistemas Nacionais de Educação.
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A preocupação primeira de Rui Barbosa, enquanto político interessado em
questões pedagógicas, deriva da constatação de impossibilidade de competição
entre o ensino brasileiro e o dos povos avançados, donde o desdobramento lógico
de nossa inferioridade cultural. Em um povo no qual o analfabetismo decresceria de
forma assustadoramente lenta, nada se poderia esperar além desse absoluto
despreparo no qual, segundo o autor, submergia a mocidade. Nesse sentido, ele
denuncia o peso da ausência de método e de racionalidade no ensino como
substrato primeiro de escolas cuja própria arquitetura se revelava imprópria para
abrigar as características infantis.
A propósito das escolas modelo que, em suas palavras, "ornavam alguns
pontos da cidade", Rui Barbosa classifica-as como "ostentosas e estéreis exceções",
mas em cujo interior ainda subsistiam métodos arcaicos e inadequados de instrução.
Triste realidade aquela - dizia ele - principalmente se, pelas casas escolares, fosse
possível avaliar o "sentimento de um povo". Do ensino distribuído à infância, eis o
povo que se modela: A denúncia extrapola, portanto, a vagueza de considerações
metodológicas, sempre tão caras ao discurso pedagógico corrente.
O debate, aqui, remete-se fundamentalmente à política. Aquela escola
pautada quase exclusivamente na memorização, não conduzia o estudante a uma
descoberta de suas potencialidades, de seus talentos, de suas vocações. Não
incentivando no discípulo a abertura de seus próprios caminhos, aquilo que seria
efetivamente uma ampliação permanente do território da cultura e do aprendizado, o
desejo pelo conhecimento, a curiosidade intelectual. Nada disso.
A escola brasileira do XIX parecia sequer desejar desenvolver a capacidade
de crítica pelo exercício sistemático do pensamento cuidadosamente ancorado no
recurso ao legado de uma cultura letrada, posta como universal. Pelo contrário,
aquela escola, restrita a tão poucos, carecia da lucidez para o ofício de preparar
homens para a vida social, em toda dinâmica e viço peculiares a esta. Homens sem
perspicácia, incapazes de pensar. Esse seria o produto de uma instrução opaca,
fator de descrédito do país perante o mundo. Assim julgava Rui Barbosa.
A crítica ao ensino religioso vem fundamentalmente atrelada ao contraponto
da liberdade de ensino. Não se pretende extinguir este ou aquele ramo de instrução.
O que se deseja, isso sim, é dar laicidade à escola pública; até porque, sendo nela
muitas vezes o ensino religioso ministrado por leigos, estes não teriam a qualificação
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necessária para fazê-lo. Expondo suas frontais discordâncias no que tange à
liberdade quanto à colação dos graus, o autor sugere que apenas ao Estado fosse
conferido esse direito. Remontando a exemplos estrangeiros e a reformas efetuadas
em inúmeros países, o autor se remete às obras de Comte como inspiração dos
ideais laicos em matéria de instrução e, mais do que isso, de separação entre a
Igreja e o Estado. Mesmo assim, sem mediar a contradição entre seu declarado
liberalismo e a constante recorrência a tais referências positivistas, Rui Barbosa
declara-se adepto de um ensino liberal, o único que - segundo ele - seria capaz de
superar a "anarquia reinante" nas matérias de educação.
Buscando o veio democratizante de premissas que estavam já em Condorcet,
nos debates legislativos da Revolução Francesa (1792) a pretensão, com isso, seria
a efetivação de uma verdadeira rede de escolas públicas, sustentadas e difundidas
pela ação estatal. A liberdade de ensino depara-se, nesse aspecto, com seu limite:
O pressuposto de tal convicção deriva do suposto de que seria a ignorância das
camadas dirigentes brasileiras fator propulsor dos males de que a nação se queixa.
Constituir o ensino liberal não seria, contudo, tarefa, para qualquer um; era antes o
dever urgente dos estratos esclarecidos da população, na visão do Parlamentar, os
únicos capazes de efetuar um projeto de tal responsabilidade social e política.
A lógica era, portanto, a de reconhecer o povo como um "outro", a quem
deveriam ser feitas imediatamente algumas concessões. O resultado de um
movimento como esse, empreendido - no projeto liberal de Rui Barbosa - pelas elites
políticas e econômicas no país, seria o de precaver-se contra os perigos inscritos em
uma democracia nominal, que, mal compreendida, poderia vir a desgraçar o país.
Citando Washington, Rui Barbosa proclamava a instrução como a mais sólida base
de prosperidade pública. Citando Monroe, atestava que o desenvolvimento da
inteligência nacional constituir-se-ia medida máxima de fortalecimento e preservação
da liberdade.
Dessa maneira o autor deduz que, consultada a história, percebia-se que as
"nações que melhor asseguram a sua supremacia são as que mais fazem por
derramar a instrução". A faculdade de ler e de pensar, decorreria a utilidade social
da instrução como uma diretriz inestimável no encaminhamento das mais candentes
necessidades nacionais.
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Evidentemente a escola é tida, sob tal abordagem, como instituição voltada
para as garantias da extensão progressiva, gradual, contida e vigiada da vontade
popular. O contraponto da reforma é sempre a revolução. Em um país cuja tradição
"cordial" orgulha-se das transições pelo alto, o rumo diretor deveria ser a reforma
ordenada das instituições. "Mãe da servilidade e da miséria", cabia por essa lógica,
que o Estado se antecipasse na "erradicação da ignorância" - ameaça por
excelência contra a legalidade constitucional e a liberdade da nação.
Segundo Saviani (2004), os grupos escolares constituíram um fenômeno
tipicamente urbano, já que no meio rural ainda predominou as escolas isoladas por
muito tempo. O Grupo Escolar foi uma escola eficiente para a seleção e a formação
das elites. A questão do ensino para as massas populares só esteve presente na
reforma paulista de 1920. Os grupos escolares também eram conhecidos como
escolas graduadas, já que possuíam turmas seriadas.
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principalmente nos processos de urbanização e industrialização. Foi ainda um
projeto cultural a favor da nação, o qual educava mais do que instruía.
Ela reportava a uma clara concepção de ensino; educar pressupunha um
compromisso com a formação integral da criança que ia muito além da simples
transmissão de conhecimentos úteis dados pela instrução e implicava
essencialmente a formação do caráter mediante a aprendizagem da disciplina social
– obediência, asseio, ordem, pontualidade, amor ao trabalho, honestidade, respeito
às autoridades, virtudes morais e valores cívicos – patrióticos necessários à
formação do espírito de nacionalidade.
Apesar dessa preocupação ter sido objeto de discussão nacional, não teve
aqui o mesmo peso que, por exemplo, teve nos Estados Unidos, tendo em vista o
contingente de imigrantes que para lá se dirigiam, obrigando aquela nação a
preocupar-se com a integração das diferentes etnias através de uma educação
comum, amplamente distribuída. Aqui, essa integração era uma questão local, que
poderia ser e foi resolvida por meio de uma intervenção também local reafirmando a
tese de que a educação básica, neste contexto, não tinha uma função nacional.
Aqui, ela só terá função nacional, quando aquelas condições criadas,
desenvolverem-se; quando o processo de industrialização, iniciado no final do
século XIX, ganhar expressão pós Primeira Guerra Mundial, trazendo na sua esteira
a urbanização, o assalariamento, as diferentes classes sociais e os conflitos de
interesses. Essas transformações implicarão na instauração de um projeto
nacionalista, marcado por uma prática intervencionista distinta daquela adotada pelo
Estado durante a primeira República. Os reflexos desse desenvolvimento vão se
expressar na intervenção do Estado na educação nacional, através da primeira Lei
de Diretrizes e Bases, promulgada em 1961.
A Lei de Diretrizes e Bases, promulgada em 1961 organizada em 96 artigos, a
Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) regulariza o sistema de ensino do
País. Antes de sua homologação, em dezembro de 1961, a educação brasileira era
somente citada na Constituição de 1934. LDB de 1961 representou um grande
avanço para o ensino nacional. De acordo com ele, antes disso, o ensino era
basicamente conservador e vertical: professor ensina, aluno aprende. Como
instrumento de aprendizagem, apenas quadro negro, lápis e papel. “Contra essa lei
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se levantaram todos os enciclopedistas que continuam até hoje lutando no sentido
de evitar que se parta para um ensino voltado para um modelo sistêmico”1.
Depois, durante o regime militar, em 1971, o presidente Emílio Garrastazu
Médici modificou aspectos do documento. A mudança, basicamente técnica,
representou um avanço ao falar pela primeira vez na ideia de recuperação e
dependência. “Antes, a ideia de recuperação era um verdadeiro crime. O aluno, para
os conservadores da época, não deveria ter um ensino que permitisse alternativas.
Em dezembro de 1996 que o então presidente Fernando Henrique Cardoso
sancionou o que veio a se tornar a Lei de Diretrizes e Bases da Educação da
atualidade. A modificação na lei de 1961, feita pelo relator e antropólogo Darcy
Ribeiro, foi resultado de um trabalho de seis anos
Considerações Finais
1
Conforme: <https://noticias.terra.com.br/educacao/lei-que-transformou-forma-de-ensino-no-pais-completa-50-
anos,846b1a4045cea310VgnCLD200000bbcceb0aRCRD.html> Acesso em: 10/03/2017
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cópia de métodos de países europeus sempre valorizando os pressupostos
burgueses.
Esperamos, por fim, que essas discussões tenham contribuído com um
panorama sobre a origem da escola pública na Europa e as concepções de
educação e a implantação da escola pública brasileira
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UNIDADE III: RELAÇÕES ENTRE PSICOLOGIA E EDUCAÇÃO NO BRASIL: UMA
BREVE HISTÓRIA
INTRODUÇÃO
Pensar na educação é considerá-la como prática social humanizadora,
intencional, cuja finalidade é transmitir a cultura construída historicamente pela
humanidade, por meio do processo de ensino e aprendizagem. A educação é, nesse
processo, determinada e determinante por métodos educacionais que pressupõem
processos de ensino e aprendizagem. O método intuitivo será um dos primeiros
métodos de grande expansão com o processo de ampliação da escolarização no
século XVIII.
Saviani (2006) diz que o método intuitivo, conhecido como lições de coisas,
foi concebido com o intuito de resolver o problema da ineficiência do ensino diante
de sua inadequação às exigências sociais decorrentes da revolução industrial que
se processara entre o final do século XVIII e meados do século XIX. Ao mesmo
tempo, essa mesma revolução industrial viabilizou a produção de novos materiais
didáticos como suporte físico do novo método de ensino. Esses materiais, difundidos
nas exposições universais, realizadas na segunda metade do século XIX com a
participação de diversos países, entre eles o Brasil, compreendiam peças do
mobiliário escolar; quadros negros parietais; caixas para ensino de cores e formas;
quadros do reino vegetal, gravuras, cartas de cores para instrução primária; aros,
mapas, linhas, diagramas, caixas com diferentes tipos de objetos como pedras,
metais, madeira, louças, cerâmica, vidros; equipamentos de iluminação e
aquecimento; alimentação e vestuário.
Mas o uso de todo esse variado material dependia de diretrizes
metodológicas claras, implicando a adoção de um novo método de ensino entendido
como concreto, racional e ativo. O que se buscava, portanto, era uma orientação
segura para a condução dos alunos, por parte do professor, nas salas de aula. Para
tanto foram elaborados manuais segundo uma diretriz que modificava o papel
pedagógico do livro. Este, em lugar de ser um material didático destinado à
utilização dos alunos, se converte num recurso decisivo para uso do professor,
contendo um modelo de procedimentos para a elaboração de atividades, cujo ponto
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de partida era a percepção sensível. O mais famoso desses manuais foi o do
americano Norman Allison Calkins, denominado Primeiras lições de coisas, cuja
primeira edição data de 1861, sendo reformulado e ampliado em 1870 e foi traduzido
por Rui Barbosa em 1881 e publicado no Brasil em 1886.
Antunes (2003) afirmar que foi no século XIX, ideias psicológicas articuladas
as preocupações sobre os processos de ensino e aprendizagem teve espaço na
educação, abrindo espaço para as contribuições da psicologia e seus métodos para
a educação escolar. No campo da pedagogia, escolas normais (criadas a partir da
década de 1830) foram espaços de discussão, ainda que incipientes e pouco
sistemáticos, sobre a criança e seu processo educativo, incluindo temas como
aprendizagem, desenvolvimento, ensino e outros. Em meados do século, essa
preocupação torna-se mais sistemática e frequente e, nos anos finais desse mesmo
século, é possível perceber a incorporação de conteúdos que mais tarde viriam a ser
considerados como objetos próprios da psicologia educacional, com particular
interesse por temas anteriormente estudados, como aprendizagem e
desenvolvimento, mas também por outros que já seriam considerados expressões
da psicologia do século XX, como a inteligência, por exemplo.
Deve-se destacar, no âmbito oficial, a Reforma Benjamin Constant, de 1890,
que transformou a disciplina de filosofia em psicologia e lógica, que, por
desdobramento, gerou mais tarde a disciplina pedagogia e psicologia para o ensino
normal. Data dessa época a introdução, ainda que assistemática e pontual, do
ideário escolanovista, que só mais tarde viria a se tornar hegemônico no
pensamento pedagógico e teria na psicologia seu principal fundamento cientifico.
Os anos finais do século XIX e os primeiros anos do século seguinte trazem
mudanças profundas na sociedade brasileira: fortalecimento do pensamento liberal;
busca da "modernidade"; luta contra a hegemonia do modelo agrário-exportador, em
direção ao processo de industrialização. Essas novas ideias traziam em seu bojo um
novo projeto de sociedade, que exigia uma transformação radical da estrutura e da
superestrutura social, para o qual seria necessário um novo homem, cabendo à
educação responsabilizar-se por sua formação.
Nesse contexto, o debate sobre a educação tomou vulto, com a defesa da
difusão da escolaridade para a massa da população e uma maior sistematização
das ideias pedagógicas, com crescente influência dos princípios da Escola Nova.
27
Assim, as escolas normais passaram a ser o principal centro de propagação das
novas ideias, baseadas nos princípios escolanovistas, com vistas à formação dos
novos professores, encarregando-se do ensino, da produção de obras e do início da
preocupação com a produção de conhecimentos por meio dos então inaugurados
laboratórios de psicologia, fatores estes que deram as bases para as reformas
estaduais de ensino promovidas nos anos 1920 e foram por estas potencializados
(ANTUNES, 2003).
Foi nesse quadro que ocorreu, paulatinamente, a conquista de autonomia da
psicologia como área especifica de conhecimento no Brasil, deixando de ser
produzida no interior de outras áreas do saber, sendo reconhecida como ciência
autônoma e dando as condições para que, por essa via, penetrassem os
conhecimentos da psicologia que vinham sendo produzidos na Europa e nos
Estados Unidos.
Assim, percebe-se uma interdependência entre psicologia e educação,
sobretudo pela via da pedagogia, a partir da articulação entre saberes teóricos e
prática pedagógica. O processo pelo qual a psicologia conquistou sua autonomia
como área de saber e o incremento do debate educacional e pedagógico nas
primeiras décadas do século XX estão intimamente relacionados, de tal maneira que
é possível afirmar que psicologia e educação são, historicamente, no Brasil,
mutuamente constituintes uma da outra. Esse momento foi responsável pela
consolidação da articulação entre psicologia e educação, dando as bases para a
penetração e a consolidação daquilo que nos Estados Unidos e Europa já se
desenvolvia sob a denominação de psicologia educacional.
O período seguinte, a partir da década de 1930, caracteriza-se pela
consolidação da psicologia no Brasil e tem como base a estreita relação
estabelecida entre essa área e a educação. Os campos de atuação da psicologia
que se desenvolveram a partir dessa época, tornando-se campos tradicionais da
profissão, como a atuação clínica e a intervenção sobre a organização do trabalho,
tiveram suas raízes na educação, respectivamente pela criação dos Serviços de
Orientação Infantil nas Diretorias de Educação do Rio de Janeiro e de São Paulo e
da Clínica do Instituto Sedes Sapientiae, com a finalidade de atender crianças com
dificuldades escolares, e pela Orientação Profissional, dentre outras ações
educacionais, no campo do trabalho.
28
Ao mesmo tempo, o ensino formal de psicologia em cursos superiores tinha
estreita articulação com a educação, pois as cátedras de psicologia estavam
vinculadas primordialmente aos cursos de filosofia e de pedagogia, nestes últimos
sob a denominação de psicologia educacional.
Pode-se dizer que a Educação continuou sendo a base para o
desenvolvimento da psicologia, assim como esta permaneceu como principal
fundamento para a educação, particularmente no âmbito pedagógico, como
sustentação teórica da Didática e da Metodologia de Ensino, bases para a formação
de professores. Essa tendência se expressa em experiências realizadas pela Escola
Experimental da Lapa e pelos Ginásios Vocacionais em São Paulo, dentre outras
inúmeras experiências, realizadas em todo o país. Concomitantemente, o ensino nas
Escolas Normais e nos Cursos de Pedagogia continuavam dando à Psicologia
espaço privilegiado em seus currículos.
O desenvolvimento da pesquisa também ganha impulso, tendo como
referência algumas instituições, como o Instituto de Educação do Rio de Janeiro;
Escola de Aperfeiçoamento de Professores de Belo Horizonte; Instituto de Seleção e
Orientação Profissional de Recife; Laboratório de Psicologia Educacional do Instituto
de Educação (evolução do Instituto Pedagógico de São Paulo); Núcleo de Pesquisas
Educacionais da Municipalidade do Rio de Janeiro; Instituto Nacional de Surdos-
mudos e o Centro Brasileiro de Pesquisas Educacionais - CBPE - e seus correlatos,
os Centros Regionais de Pesquisas Educacionais - CRPE; além da produção de
escolas normais e universidades.
Nesse contexto, começam a se diferenciar, ainda que de forma não
sistemática e formal, a psicologia educacional, como conjunto de saberes que
pretende explicar e subsidiar a prática pedagógica, sendo, portanto, de domínio
necessário para todos os educadores, e a psicologia escolar, como campo de
atuação de profissionais da psicologia que atuariam no âmbito da escola,
desempenhando uma função especifica, alicerçada na psicologia e que se
caracterizou inicialmente por adotar o modelo clínico de intervenção (ANTUNES,
2008).
Embora contradições possam ser apontadas, revelando produções teóricas e
práticas afinadas com a construção de uma escola comprometida com a
aprendizagem e o desenvolvimento de seus alunos, particularmente aqueles
29
oriundos das camadas populares, o papel que a psicologia desempenhou na
educação tornou-se objeto de crítica. A utilização e a interpretação indiscriminadas e
aligeiradas de teorias e técnicas psicológicas, como os testes (principalmente os de
nível mental e de prontidão); a responsabilização da criança e de sua família, em
nome de problemas ditos de "ordem emocional", para justificar o desempenho do
aluno na escola e a redução dos processos pedagógicos aos fatores de natureza
psicológica colaboraram para interpretações e práticas no mínimo equivocadas,
desprezando o processo educativo como totalidade multideterminada, relegando a
segundo plano, ou omitindo, fatores de natureza histórica, social, cultural, política,
econômica e, sobretudo, pedagógica na determinação do processo educativo.
Esse processo culmina, em 1962, com a regulamentação da profissão de
psicólogo e o estabelecimento de cursos específicos para sua formação. As ações
desenvolvidas no período anterior deram as bases para os campos tradicionais de
atuação da psicologia: educação, clínica e trabalho.
Um fato interessante a ser mencionado é que, justamente com a
regulamentação da profissão, o campo da educação, antes base principal para o
desenvolvimento da psicologia no Brasil, torna-se secundário para os profissionais
da área. Isso se revela não apenas no âmbito curricular, mas, sobretudo, na
preferência de alunos e profissionais pelos campos da clínica e da organização do
trabalho. Esse é também um dos fatores explicativos para a adoção de uma
modalidade clínico-terapêutica na ação da psicologia escolar, tendo como base o
modelo médico, questão que será discutida adiante.
Entretanto, as relações entre educação e psicologia vão se diferenciando. De
um lado, a área da psicologia educacional, foco de interesse tanto de pedagogos
como de psicólogos, e, de outro, o campo da psicologia escolar, como atributo
específico do profissional da psicologia que atua no espaço escolar. O conhecimento
psicológico estava incorporado à Pedagogia e à prática dos educadores e a atuação
do psicólogo escolar adotava um modelo cada vez mais clínico-terapêutico, agindo
fora da sala de aula, focando sua atenção na dimensão individual do educando e em
seus "problemas", atendendo, sobretudo, demandas específicas da escola, que
encaminhava as crianças que tinham, a seu ver, "problemas de aprendizagem" ou
outras manifestações consideradas como "distúrbios" inerentes ao próprio
educando.
30
Pode-se falar que esse período herdou do período anterior o que pode ser
interpretado como hipertrofia da psicologia na educação, numa tendência
reducionista, que passou, na década de 1970, a ser criticada tanto por pedagogos
como por psicólogos. Criticava-se a utilização dos testes e a interpretação de seus
resultados, que atribuía ao aluno a determinação de seus "problemas",
desconsiderando as condições pedagógicas; o encaminhamento de alunos com
deficiência que, sob a justificativa de lhes proporcionar uma "educação especial",
relegava-os a condições aligeiradas de ensino e sem solução de continuidade,
reforçando estigmas e preconceitos e produzindo social e pedagogicamente a
deficiência intelectual; as interpretações e ações supostamente fundamentadas na
psicologia, por educadores e psicólogos, calcadas em fatores como: atraso no
desenvolvimento, distúrbios de atenção, motores ou emocionais (estes em geral
relacionados estritamente às condições intrínsecas da criança ou da família). Uma
das consequências apontadas por essas críticas era a desconsideração dos
determinantes de natureza social, cultural, econômica e, sobretudo, pedagógica; daí
falar-se em reducionismo.
Alguns psicólogos escolares e pesquisadores da área começaram, nessa
época, a elaborar uma crítica radical à Psicologia Escolar e Educacional, com base
em argumentos semelhantes aos apontados por pedagogos e educadores em geral.
De um lado, criticava-se a já apontada hipertrofia da psicologia na educação e o
reducionismo dos fatores educacionais e pedagógicos às interpretações
psicologizantes.
Por outro lado, enfocando mais especificamente a prática da psicologia
escolar e aprofundando a crítica a seu modo de ação, avançavam para a
demonstração de que o enquadramento clínico-terapêutico baseava-se num modelo
médico, estranho às determinações pedagógicas, que tendia a patologizar e
individualizar o processo educativo, distanciando-se da compreensão efetiva dos
determinantes desse processo e desconsiderando ações então denominadas
preventivas, que deveriam voltar-se para as condições mais propriamente
pedagógicas, de forma a atuar mais coletivamente, com base naquilo que hoje seria
denominado de interdisciplinaridade, com os demais profissionais da educação e da
escola. Alguns dos focos possíveis de atuação eram apontados, naquela época, em
direção à formação de professores, à intervenção no âmbito das relações escola-
31
família-comunidade, ao processo grupal estabelecido na instituição escolar, dentre
outros.
Particular preocupação entre psicólogos escolares incidia sobre os índices de
reprovação na então 1ª. série do 1º. Grau, que mostravam que mais da metade dos
alunos ficava retida nessa série, muitas vezes na condição de alunos
multirrepetentes, culminando com o abandono da escola, processo este que atingia
fundamentalmente alunos oriundos das classes populares. Esse fato levou muitos
profissionais da psicologia a se interessar pela alfabetização em especial e, de
maneira mais ampla, pela articulação mais estreita entre os conhecimentos
produzidos pela psicologia e aqueles produzidos por outras áreas de saber,
principalmente a sociologia da educação, uma vez que a questão relativa à relação
entre desempenho escolar e condições socioeconômicas ganhava espaço nos
debates educacionais.
Entretanto, poucos trabalhos conseguiram efetivar esse modelo de atuação,
comprometido com o processo pedagógico, em decorrência principalmente da
expectativa da escola, cristalizada na modalidade clínica de psicologia, pautada no
encaminhamento do aluno para que ele fosse "curado" fora do espaço da sala de
aula e depois devolvido "sem problemas", tirando da escola a responsabilidade da
ação sobre a escolarização da criança. Foram, porém, esses poucos trabalhos,
muitas vezes pautados na desconstrução dessas expectativas da escola, que deram
as bases para a superação daquela psicologia escolar clínico-terapêutica, na direção
de uma psicologia que pode ser denominada efetivamente como escolar,
delimitando seu campo de atuação e criando uma modalidade de trabalho
efetivamente comprometida com o cotidiano da escola em sua função
essencialmente pedagógica.
Nesse sentido, a superação dessa situação exigia não somente a crítica à
hipertrofia da psicologia na educação, ao reducionismo, às interpretações
aligeiradas e banalizadas, às ações fundadas num modelo estranho à educação,
como o modelo médico, e à culpabilização da criança e de sua família, mas também
a restituição de seu núcleo de bom senso. Fazia-se necessário devolver à psicologia
seu lugar no processo pedagógico.
É necessário, pois, que se considere que o processo educativo ocorre no
âmbito do sujeito; assim, a dimensão psicológica não pode ser negada, mas
32
incorporada na apreensão do fenômeno em sua totalidade, condição fundamental
para a produção de conhecimento nesse campo, responsabilidade da psicologia
educacional. Esta, por sua vez, deve fundamentar, naquilo que lhe cabe, a
compreensão do fenômeno educativo e dar base para o estabelecimento de
processos efetivos de intervenção, que poderiam constituir-se na matriz de atuação
do psicólogo escolar. Dessas considerações parte-se agora para um ensaio que visa
discutir possibilidades e limites para a construção de uma Psicologia Escolar e
Educacional, sob o foco de seus compromissos e perspectivas.
33
fundamentados, articulados e sintéticos sobre o mundo. Educação democrática
significa, portanto, democratização de saberes; saberes estes que foram
historicamente privilégios - na produção e no acesso - das classes dominantes. Para
que ela se realize em cada sujeito, é necessário garantir o domínio de recursos
necessários para a apreensão do conhecimento, como o domínio da leitura e da
escrita, da matemática e de outros recursos próprios da contemporaneidade, como
informática e línguas estrangeiras.
Isso, entretanto, constitui-se tão somente o ponto de partida, pois são apenas
os meios necessários para a aquisição de outros conhecimentos, que devem ser
considerados em todas as suas expressões, da filosofia à ciência e às artes, em
permanente diálogo com a cultura própria da criança, que deve ser respeitada e
considerada no processo de ensino-aprendizagem. Disso decorre uma concepção
de prática pedagógica centrada nos processos de ensino e aprendizagem, cuja
finalidade é propiciar o desenvolvimento pleno do educando, em todos os aspectos
que o constitui como sujeito singular e, ao mesmo tempo, pertencente ao gênero
humano.
Essa concepção de educação remete ao compromisso com a concretização
de políticas públicas de educação radicalmente comprometidas com os interesses
das classes populares. Isso significa garantir pleno acesso e condições de
permanência de todos os educandos na escola, independentemente de suas
condições, cabendo à escola transformar-se para possibilitar-lhes condições efetivas
de escolarização; essa questão traduz o princípio de educação inclusiva, que
incorpora não só a educação de alunos com deficiência, mas todos aqueles que, por
diversos motivos, são alijados da escola e de seus bens. Para isso, faz-se
necessário que se construam currículos articulados às finalidades acima expostas,
superando os conhecidos "currículos mínimos", geralmente entendidos como
paliativos ou educação de segunda categoria para pessoas socialmente
consideradas também como tal, com especial atenção aos processos avaliativos,
que têm sido um dos meios mais efetivos para a materialização da exclusão de
crianças das classes populares ao direito de uma educação de boa qualidade. Esse
processo depende também da gestão democrática da escola e, sobretudo, no
investimento maciço na formação dos educadores.
34
Cabe, portanto, discutir as possibilidades e limites da Psicologia Escolar e
Educacional na construção de políticas públicas de educação comprometidas
socialmente com as classes populares; eis aqui a questão relativa às perspectivas
colocadas para essa área de conhecimento e campo de atuação. Disso resulta a
afirmação de alguns princípios que podem ser expressos a partir das assertivas que
seguem. A educação é constituída por múltiplos determinantes, dentre os quais os
fatores de ordem psicológica; portanto, a psicologia tem contribuição para a
Educação. Que seja uma psicologia capaz de compreender o processo ensino-
aprendizagem e sua articulação com o desenvolvimento, fundamentada na
concreticidade humana (determinações sócio-históricas), compreendida a partir das
categorias totalidade, contradição, mediação e superação.
Deve fornecer categorias teóricas e conceitos que permitam a compreensão
dos processos psicológicos que constituem o sujeito do processo educativo e são
necessários para a efetivação da ação pedagógica. A psicologia deve assumir seu
lugar como um dos fundamentos da educação e da prática pedagógica, contribuindo
para a compreensão dos fatores presentes no processo educativo a partir de
mediações teóricas "fortes", com garantia de estabelecimento de relação indissolúvel
entre teoria e prática pedagógica cotidiana.
Esta psicologia deve propiciar a compreensão do educando a partir da
perspectiva de classe e em suas condições concretas de vida, condição necessária
para se construir uma prática pedagógica realmente inclusiva e transformadora;
como um dos fundamentos do processo formativo do educador deve propiciar o
reconhecimento do educador/professor como sujeito do processo educativo,
traduzindo-se na necessidade de mudanças profundas das políticas de formação
inicial e continuada desse protagonista fundamental da educação.
Por sua vez, a ação do psicólogo escolar deve pautar-se no domínio do
referencial teórico da psicologia necessário à educação, mediatizado
necessariamente por conhecimentos que são próprios do campo educativo e das
áreas de conhecimento correlatas. O próprio referencial teórico que aqui
defendemos implica o trânsito por outros saberes (totalidade). Daí a necessidade de
superação das práticas tradicionais do psicólogo escolar, muitas vezes pautadas
ainda numa perspectiva, nem sempre consciente ou assumida, de ação clínico-
terapêutica.
35
Saiba mais sobre o assunto:
Considerações Finais
As questões aqui expostas constituem-se em elaborações também situadas
num dado momento histórico e numa dada perspectiva teórica e consequentemente
política, que reflete concepções de homem, sociedade, educação, psicologia e,
sobretudo, de Psicologia Escolar e Educacional circunscritas. Isso significa que esta
é uma dentre muitas posições acerca dessa área de conhecimento e campo de
práticas. É, portanto, importante que se estabeleça um amplo diálogo entre posições
e perspectivas, que permitam o avanço dessa área de saber e o aperfeiçoamento
das práticas a ela correlatas. Entretanto, há dois aspectos que devem ser
considerados nessa discussão e que remetem a aspectos cujas qualidades são
muito distintas, mas que devem fazer-se invariavelmente presentes.
A primeira questão diz respeito à possibilidade de inserção do psicólogo
escolar em seu campo. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional proíbe
deduzir dos 25% dos orçamentos públicos os salários de profissionais responsáveis
por "atendimento médico, odontológico, psicológico e fonoaudiológico". Isso parece
impedir, numa primeira leitura, a presença do psicólogo nesse campo sobre o qual
incide toda nossa discussão. É preciso, no entanto, que se analise mais
profundamente o texto da lei e os significados a ele subjacentes, cotejando-os com
as questões aqui abordadas.
É compreensível e aceitável essa prescrição legal, pois, pela maneira como
está colocado o serviço psicológico, deduz-se que a concepção que lhe dá base
carrega a noção de atendimento clínico-terapêutico, de incidência individual e
37
apartada das questões propriamente escolares. De um lado, a palavra utilizada é
"atendimento", termo este já tradicionalmente relacionado a um modelo médico; por
outro lado, e corroborando essa interpretação, o "psicológico" é acompanhado de
"médico", "odontológico" e, na esteira da própria concepção de psicologia aí
expressa, de "fonoaudiológico". Dada nossa concepção de Psicologia Escolar e
Educacional, pode-se dizer que a psicologia a que a lei se refere não é esta que
defendemos.
Essa análise demonstra que se essa atuação da psicologia não é reconhecida
pela LDB como ação própria da educação, do que não discordamos, há por outro
lado, uma atuação que pode ser considerada como de caráter eminentemente
educacional e que tem sua prática pautada na instituição escolar e nas demandas a
ela inerentes. Com base nessa consideração, impõe-se uma discussão a respeito
dessa questão, que deve subsidiar o esclarecimento aos órgãos direta e
indiretamente relacionados a essa prescrição legal, além de um encaminhamento
mais direto, com vistas à defesa da inserção de uma determinada prática que pode
contribuir com a melhoria da educação brasileira, não como reivindicação motivada
por interesses corporativistas, mas como concretização de uma luta cujo motivo
primeiro é seu compromisso radical com a educação das classes populares.
A derradeira questão é de natureza ética e, sob um determinado foco, pode
ser exemplificada pelo problema acima discutido. Devemos invariavelmente pautar
toda e qualquer discussão sobre a Psicologia em geral e sobre a Psicologia Escolar
e Educacional em especial sobre a questão ética, entendendo-a não como
prescrição de normas, nem como tema da moda, mas como ética social, que se
questiona e que se pergunta constantemente sobre o que fazemos, para quem, com
que finalidade e a que interesses servimos.
Este é o ponto a partir do qual se deve retornar ao início dessa discussão. A
história demonstra pactos entre psicologia, educação e sociedade que penderam
para interesses contraditórios e opostos, na maioria das vezes em contraposição
aos direitos das classes populares. Da compreensão desse processo, podemos nos
lançar de maneira mais efetiva à construção de uma Psicologia Escolar e
Educacional comprometida de fato com uma educação democrática, submetida aos
interesses dessas classes. Este é, por sua vez, o compromisso que define e
38
determina as perspectivas que estão postas para essa área de conhecimento e
campo de atuação do psicólogo.
39
UNIDADE IV - O PROCESSO EDUCACIONAL E AS TEORIAS DE
APRENDIZAGEM
INTRODUÇÃO
O tema que iremos tratar nessa unidade é o da aprendizagem, haja vista ser
a aprendizagem, para mim, o fenômeno mais significativo para a prática pedagógica.
Embora esse assunto conduza a uma ampla discussão, pois impõe o conhecimento
dos fundamentos da própria área de aprendizagem e da Psicologia, enquanto
ciência, e considerando que esse é apenas um momento, temos como objetivo
contextualizar as teorias da aprendizagem de forma que o estudo contribua para um
entendimento mais específico das necessidades dessa temática para a formação de
professores.
O sentido mais amplo: conjunto global de marcos, enfoques e perspectivas
teóricas que tentam oferecer explicações mais ou menos gerais dos elementos e
fatores implicados nos processos de mudança que as pessoas experimentam como
resultado de sua experiência e de sua relação com o meio. No sentido mais restrito:
designa um subconjunto específico desses marcos teóricos, que são caracterizados
porque se inspiram, de maneira mais ou menos direta, na tradição CONDUTISTA
em psicologia.
Uma “teoria de aprendizagem” oferece uma explicação sistemática, coerente
e unitária de: como se aprende; quais são os limites da aprendizagem e porque se
esquece o que foi aprendido. Teorias de aprendizagem referem-se a explicação
sistemática, coerente e unitária de: como se aprende; quais são os limites da
aprendizagem e porque se esquece o que foi aprendido. Nessa unidade
apresentaremos de forma detalhada três teorias: Behavorista, Piagetiana,
vigostkyana.
41
ocorrência de um comportamento pretendido por aquele que o promove. Skinner
ilustra assim o aspecto antipedagógico da punição.
A teoria da aprendizagem behaviorista forneceu os fundamentos dos
primeiros projetos de tecnologia instrucional baseada em computador. Aplicação à
educação a eficiência do modelo behaviorista:
Na prática educativa: habilidade, com a qual o professor planeja suas
atividades e a de seus alunos com objetivos bem definidos e os planos eficientes
para que as metas sejam alcançadas;
A aprendizagem: garantida pela sua programação cabendo ao professor
estabelecer critérios, fixando os comportamentos iniciais de seus alunos e aqueles
resultados que deverão apresentar durante e no final do processo.
O ensino: o processo por meio do qual se instauram nos alunos as condutas
descritas pelos que planejam o currículo.
Como essa abordagem focaliza comportamentos exteriorizados do indivíduo,
comportamentos esses observáveis, convencionou-se operacionalizar a
aprendizagem em relação ao cumprimento de uma tarefa realizada com êxito,
confundindo-se, assim, resposta a uma determinada ação como se ela fosse
sinônimo de aprendizagem.
Desconsidera-se, desse modo, que conhecimento aprendido não pode ser
mensurado como fato pontual. A crítica mais significativa à abordagem behaviorista
diz respeito à abstração que se faz do sujeito e da sua vida pessoal, centralizando o
estudo no comportamento exterior expresso. Muitas vezes, o trato com o fenômeno
apresenta-se de forma superficial. Deixa de abordar determinados aspectos da
aprendizagem por não serem passíveis de investigação objetiva, como, por
exemplo, angústia, alegria, tristeza, amor etc.
A ausência de manifestações exteriores não significa que não houve
aprendizagem, porque está nem sempre é visível, como se lê em vários livros. O
silêncio e a apatia são também manifestações exteriores, que podem ser
observadas pelo educador e, em si mesmas, não significam necessariamente uma
não-aprendizagem, pois podem ter outras interpretações em determinados
contextos.
Devido a diversidade das teorias condutistas, fica difícil avaliar de uma
maneira global os processos de mudanças educativas – isso contribui para limitar a
42
compreensão do entendimento dos processos de aprendizagem escolar. É uma
abordagem importante no que diz respeito a pesquisa de técnicas específicas para
possíveis intervenções educativas.
44
somos capazes de restaurá-las, fazendo voltar ao estágio original, como por
exemplo, a água que se transforma em gelo e aquecendo-se volta à forma original.
Estágio das operações concretas, mais ou menos dos 7 aos 11 anos: a
criança já possui uma organização mental integrada, os sistemas de ação reúnem-
se em todos integrados. Piaget fala em operações de pensamento ao invés de
ações. É capaz de ver a totalidade de diferentes ângulos. Conclui e consolida as
conservações do número, da substância e do peso. Apesar de ainda trabalhar com
objetos, agora representados, sua flexibilidade de pensamento permite um sem
número de aprendizagens.
Estágio das operações formais, mais ou menos dos 12 anos em diante:
ocorre o desenvolvimento das operações de raciocínio abstrato. A criança se liberta
inteiramente do objeto, inclusive o representado, operando agora com a forma (em
contraposição a conteúdo), situando o real em um conjunto de transformações. A
grande novidade do nível das operações formais é que o sujeito se torna capaz de
raciocinar corretamente sobre proposições em que não acredita, ou que ainda não
acredita, que ainda considera puras hipóteses. É capaz de inferir as consequências.
Tem início os processos de pensamento hipotético-dedutivos.
Para Piaget a aprendizagem depende do estágio de desenvolvimento do
sujeito e a educação ocorre com base nos pressupostos da equilibração constante.
As atividades principais seriam: jogos de pensamento para o corpo e sentidos, jogos
de pensamento lógico, atividades sociais para o pensamento (teatro, excursões), ler
e escrever, aritmética, ciência, arte e ofícios, música e educação física.
No plano da informática = tem contribuído para modelagens computacionais
na área de IA em educação, desenvolvimento de linguagens de programação e
outras modalidades de ensino auxiliado por computador com orientação
construtivista. No programa mais popular = LOGO caracterizado como ambiente
informático embasado no construtivismo = o indivíduo constrói, ele próprio, os
mecanismos do pensamento e os conhecimentos a partir das interações que tem
com seu ambiente psíquico e social.
A escola deve propor atividades desafiadoras que provoquem desequilíbrios e
reequilibrações sucessivas, promovendo a descoberta e a construção do
conhecimento. Conhecimento como resultado de uma interação, na qual o sujeito é
sempre um elemento ativo, que procura ativamente compreender o mundo que o
45
cerca, e que busca resolver as interrogações que esse mundo provoca de forma
autônoma. Principais objetivos da educação: formação de homens "criativos,
inventivos e descobridores", de pessoas críticas e ativas, e na busca constante da
construção da autonomia (MITSUKO, 2003, 2008).
48
Considerações Finais
50
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
SOUZA, Rosa Fátima de. Lições da escola primária. In: SAVIANI, Dermeval (et. al.).
O legado educacional do século XX no Brasil. Campinas, SP: Autores
Associados, 2004
51
SOUZA, Rosa Fátima de. Templos de civilização. A implantação da escola
primária graduada no Estado de São Paulo ( 1890-1910). São Paulo: UNESP,
1998.
52