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(IN)CONCLUSÕES

“Sobre o que não se pode dizer, deve-se calar”


Ludwig Wittgenstein, Tractatus lógico-philosophicus

... já que não há fim.


Sob as regras da Academia o cinema, o cinema de olhos, músculos, ossos, restos
humanos e devires divinos, pouco se deixa ver. Sob a monotonia empoeirada das
monografias, das dissertações, dos bons modos, enfim, esse cinema não revela sua face.
Não tanto por timidez ou revolta, mas por uma diferença de registro – porque não se pode
esperar respostas dele, não se pode esperar que ele nos acalente a alma e nos dê esperanças.
Para isso há o Entretenimento, há aquela voz kantiana murmurando no fundo de nossos
crânios, afirmando que a ordem nos garantirá a redenção, nos apaziguará o medo com a
Terra Prometida.
... já que não há como compreender.
Do Sétimo selo a Dancer in the dark, o cinema sempre se insinuou muito mais como
maldição. Maldição surda cuja única forma de comunicação continua sendo o contágio.
Acostumamo-nos às garantias de um discurso para o qual, desde sempre, ou, no mínimo, há
vinte e cinco séculos, o caminho já havia sido construído, e, portanto, bastava-lhe alojar-se
nessa trajetória tranqüila e insuspeita para que, mais uma vez, o conhecimento triunfasse.
frente a essa biologia, a essa organicidade domesticada que o Saber dos grandes pensadores
nos assegura, o registro do cinema lhe confere irredutível menoridade: não mais órgão, não
mais biologia, mas contaminação, o conhecimento incerto e suscetível de uma
epidemiologia. Precisamente daí emana a urgência da “história natural” de Deleuze. É
preciso, nos diz ela, substituir a anatomia, que só pode ser feita quando o corpo já se
esvaziou de devires, por uma epidemiologia das imagens, que se impõe como análise
estratégica, metafísica artaudiana, sanguínea, que com seus grunhidos agudos não nos
deixará dormir.
“Não é sangue, é vermelho”, ria-se Goddard diante da crítica. Porque tiraram nossas
âncoras e uma ontologia não é mais possível, a Academia expulsará o cinema da polis,
transformará o cinema em filme, em diversão, em espetáculo gratificante. Os intelectuais
comprarão seus ingressos adiantados, se engasgarão com pipoca durante a projeção e sairão
satisfeitos, porque terão sobre o que tagarelar nas altas rodas, poderão garantir, enfim, seu
digno sustento.
... já que é silencioso e esmaga os ossos.
Do outro lado, há David Lynch e toda a Legião, arrombando nossas retinas sem o
cuidado da boa etiqueta. Há os que recusam os caminhos fáceis da verdade e de sua prole –
a Psicanálise, a Semiologia, a Filosofia, os Departamentos burocráticos das Universidades,
os rebanhos contentes e bem-alimentados dos homens inteligentes. Por aí não passa o
cinema. Por aí não passa a vida. Porque há os que se recusam a caminhar em torno dos
jardins egípcios de Platão. Há os que têm escrito, no avesso da pele, a frase inconclusiva de
Clarice Lispector: “isso continua e eu estou enfeitiçada”.

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