Sei sulla pagina 1di 11

1

O PROBLEMA DO MÉTODO NOS ESTUDOS LITERÁRIOS1

Marcus Vinicius de Freitas


Professor Titular de Teoria da Literatura e Literatura Comparada
Faculdade de Letras da UFMG.

O método, como um problema dos estudos literários, acompanhou o


nascimento e a evolução da disciplina Teoria da Literatura, fosse ela
derivada da matriz formalista russa, fosse da vertente da Nova Crítica
anglo-americana. Na abertura do texto sintomaticamente intitulado A
Teoria do “Método Formal”, de 1925, Boris Eikhenbaum sintetiza assim
as relações entre método, teoria, objeto e disciplina:

O chamado “método formal” não resulta da constituição de um sistema


metodológico particular, mas dos esforços para a criação de uma ciência
autônoma e concreta. Em geral, a noção de método tomou proporções
ilimitadas, significando coisas em demasia. Para os “formalistas” o essencial
não é o problema do método nos estudos literários, mas o da literatura
enquanto objeto de estudos.
Realmente, não falamos, nem discutimos sobre nenhuma metodologia.
Falamos e podemos falar unicamente de alguns princípios teóricos que nos
foram sugeridos pelo estudo de uma matéria concreta e de suas
particularidades específicas, e não por este ou aquele sistema completo,
metodológico ou estético.2

Como se pode ver, para Eikhenbaum não se tratava da fidelidade a


um método científico que se sobrepusesse ao objeto, mas antes da

1
Palestra apresentada em 13 de abril de 2018, na disciplina Metodologia do Trabalho Científico,
ministrada pela Profa. Dra. Heliana Mello no curso de Graduação em Letras da UFMG.
2
EIKHENBAUM, Boris. A Teoria do Método Formal. In: TOLEDO, Dionísio de Oliveira (org.). Teoria
da Literatura: Formalistas Russos. Trad. Ana Maria Ribeiro Filipouski et alli. 4 ed. Porto Alegre:
Globo, 1978, p. 3-4.
2

articulação de “princípios teóricos” derivados do estudo concreto da


literatura, com vistas à conformação de uma “ciência autônoma’, ou seja,
de uma disciplina. Dizendo de outro modo, o método dependeria tanto do
objeto quanto da especificidade de uma disciplina em construção, qual seja
a dos estudos literários, cuja teoria seria menos um conjunto de axiomas do
que uma perspectiva ou um centro de interesse, para usar os termos
colocados por Roberto Acízelo de Souza em um sugestivo ensaio sobre o
método nos estudos literários. Seguindo Mario Bunge em sua proposição
da existência de duas concepções básicas de método, uma monista e uma
pluralista,3 Acízelo defende - em termos correlatos aos de Eikhenbaum -
que o método nos estudos literários, e nas ciências humanas em geral, deve
possuir um viés pluralista, ou seja, dependente do objeto e do campo, e não
um ponto de vista monista, aplicável sobretudo às ciências exatas, a partir
do qual o método científico seria único para todos os campos do
conhecimento:

O método constitui noção correlata de perspectiva ou centro de interesse,


operadores aptos a transformar dados em objetos, assim configurando um
campo especializado de conhecimento, ou seja, uma disciplina.4

Desde as considerações feitas pelos formalistas russos no âmbito da


OPOIAZ (a Sociedade Para o Estudo da Língua Poética) ou por sua
continuidade no Círculo Linguístico de Praga – os quais, não custa lembrar,
são contemporâneos e relacionados ao desenvolvimento da linguística
estrutural -, tratava-se de encontrar as especificidades do objeto - a
literariedade, aquilo que faz dele literatura -, da disciplina e da sua

3
BUNGE, Mario. La investigación científica: sua estratégia y filosofia. Trad. Manuel Sacristán.
Barcelona: Ariel, 1976.
4
SOUZA, Roberto Acízelo de. Um pouco de método: nos estudos literários em particular, com extensão
às humanidades em geral. São Paulo: É Realizações, 2016, p. 62-63.
3

sistemática de abordagem, que superassem os métodos derivados do


biografismo romântico, que via na análise da literatura apenas uma
comprovação do gênio de seu criador; do historicismo positivista, que
arrolava fatos extraliterários, sem nunca abordar diretamente o objeto; do
sociologismo, que reduzia a literatura a um epifenômeno dos contextos; e
da tomada da literatura como exemplo de considerações sobre a natureza
humana, fosse do ponto de vista ontológico e universal, e portanto
filosófico, fosse do ponto de vista particular da psicologia do indivíduo. O
método formal, portanto, buscava superar essas perspectivas extrínsecas de
abordagem por uma abordagem intrínseca, com a consideração da literatura
a partir da materialidade da língua. O conceito de “forma” implica, nesse
sentido, os conceitos de “função” e “sistema”, além do de “série”.
A série literária seria constituída pela produção de um escritor em
face da de seus contemporâneos, de sua literatura nacional e da própria
tradição literária, em círculos de abrangência cada vez maior. A seu lado,
em posição de correspondência e intercâmbio, estariam a série social, a
série histórica, etc. Nesse sentido, o conceito de “série” manteria as
relações entre literatura e suas externalidades, mas sempre articulando-as
do ponto de vista interno e dos elementos constitutivos do objeto. Cada
parte do objeto, no formalismo, é compreendido com base no todo, o qual,
por vez, constitui um sistema. Cada produto da obra de um escritor pode
ser então visto como um sistema, que se relaciona com o sistema maior de
sua obra, e com os sistemas simultâneos de seu tempo e de sua literatura,
até chegarmos à miríade de um sistema literário que englobasse todas as
produções de todos os escritores, de todos os lugares e de todos os tempos.
Ao observador atento, parece bastante óbvio que essa lógica
sistêmica é homóloga àquela que, na mesma época, se desenvolvia no
campo dos estudos linguísticos. Para Ferdinand Saussure, a língua funciona
como um sistema. Cada elocução ou fala, a parole, seria uma atualização
4

parcial das possibilidades do sistema da língua, a langue. O objeto último


do estudo das línguas como sistemas seria alcançar a lógica universal que
abarcasse todas as línguas. Na esteira de Saussure, Nikolai Troubetzkoy -
não por acaso um pesquisador do mesmo círculo de formalistas – criou a
Fonologia Estrutural, ao definir o fonema com sendo a menor unidade
distintiva na estrutura de uma língua. A fonologia foi a primeira ciência da
linguagem a atingir uma almejada universalidade de objetivo e método, e
nesse sentido constituiu a base para as outras ciências da linguagem, entre
elas a sua irmã de nascimento, o método formal de abordagem do texto
literário, que, como antes vimos, se definia por uma consideração da
literatura a partir da materialidade da língua, ou seja, por uma perspectiva
interna de análise. Essa abordagem segue progressivamente as mesmas
instâncias da língua enquanto sistema, ou seja, das menores unidades
distintivas, os fonemas, para as mais complexas, quais sejam os morfemas,
sintagmas e paradigmas.
Enquanto disciplina de observação do objeto, o método formal se
caracteriza do ponto de vista científico por uma estratégia hipotético-
indutiva, ou seja, dialética, e não axiomático-dedutiva, ou seja, lógica. A
análise literária parte sempre do objeto para, em diálogo com ele, formular
hipóteses que vão sendo testadas, corrigidas, comprovadas ou rejeitadas.
Essa foi a grande contribuição do método formal para os estudos literários.
Partindo da materialidade do objeto, tanto os formalistas quanto os Novos
Críticos anglo-americanos somente se permitiam fazer afirmações críticas
que fossem baseadas em uma leitura cerrada – em inglês, close reading -, a
qual, galgando os níveis materiais do verso ou da prosa de ficção, lograva
sedimentar a análise do objeto e colocá-lo em contraponto com os níveis
paralelos e superiores do sistema literário, para assim tirar suas conclusões.
O método indutivo, ao contrário do método lógico-dedutivo, deixa sempre
em aberto a conclusão, uma vez que ele parte de manifestações particulares
5

e concretas do objeto em estudo, e assim suas conclusões podem sempre


ser modificadas pelo aparecimento de um novo objeto particular que
modifique o caminho indutivo. É natural que assim fosse com a análise
literária, uma vez que a particularidade dos objetos concretos – um autor,
um poema, um romance -, parece mesmo irredutível. No entanto, o
caminho da linguística apontava para um horizonte mais próximo à lógica
dedutiva, e para a expectativa de alcançar a prática de uma ciência
universal, capaz de chegar a prever a ocorrência de atualizações da língua a
partir do domínio estrutural do sistema.
Voltando a Troubetzkoy, vemos que, ao criar a Fonologia
Estrutural, ele colocou naquele momento as bases do que viria a ser no
futuro o Estruturalismo. Claude Lévi-Strauss, o criador da Antropologia
Estrutural - que nos anos 1960 se tornou a ciência paradigmática para o
desenvolvimento de todas as disciplinas humanas à sua volta -, afirmava
que, para que as ciências humanas atingissem maturidade científica, três
condições deveriam ser satisfeitas: a) ter um objetivo universal, vigente em
todas as sociedades; b) ter um método homogêneo, independente da área de
aplicação; e c) possuir pressupostos e métodos que fossem consensuais
entre os praticantes da disciplina.5 Essas condições, apontava o mesmo
Lévi-Strauss, já estavam dadas pela fonologia de Troubetzkoy, e podemos
completar dizendo que foram essas mesmas condições que impulsionaram
o surgimento e a evolução da gramática gerativa-transformacional, de
Noam Chomsky, que visava o sistema universal das línguas, com o uso de
um método homogêneo, capaz de, a partir das regras sistêmicas, chegar a
prever as possibilidades de atualização da língua em cada fala. Sob esse
ponto de vista, a Linguística tornou-se, a partir dos anos 1960, através da
Antropologia, o paradigma de todas as ciências humanas.

5
Ver MERQUIOR, José Guilherme. De Praga a Paris: o surgimento, a mudança e a dissolução da ideia
estruturalista. Trad. Ana Maria de Castro Gibson. São Paulo: Nova Fronteira, 1991, p. 22 e ss.
6

No entanto, os estudos de literatura, que, como vimos, nasceram do


mesmo solo do interesse sistêmico da linguística, encontravam em seu
desenvolvimento naquela direção a barreira antes mencionada, advinda da
natureza do objeto: toda e qualquer produção literária é irredutível a uma
manifestação sistêmica. A particularidade é o que constitui o interesse
primordial da literatura, aquela marca que tensiona o sistema da língua, que
foge à norma cultural, ao contexto ou à expectativa estética. A homologia
entre o sistema da língua e a literatura como sistema é cabível e funcional,
mas possui limites, pois não há como compreender as obras individuais
como parole, como atualizações possíveis de um sistema literário
universal. Daí o entrave do método. Se tomarmos as três condições
arroladas por Lévi-Strauss para a universalização das ciências humanas,
desde sempre fundamentais para o método e o horizonte da Linguística,
veremos que: a) a literatura é sim um objeto universal, vigente em todas as
sociedades. Mas, como ela não se reduz aquém de sua particularidade, o
objetivo da análise não alcança a mesma universalidade da análise
linguística; b) Se o objeto impõe à análise literária um nível de
irredutibilidade, o método também não se faz universal e depende da área
de aplicação, ou seja dos protocolos específicos da disciplina, não
compartilhando o método geral que a Fonologia propusera e que a
Antropologia Estrutural adotara; c) como consequência, os pressupostos (a
teoria) e a metodologia não são de maneira alguma consensuais entre os
praticantes da disciplina.
Houve um momento, durante os anos 1960, quando o paradigma
linguístico-antropológico se impôs às ciências humanas, que a Teoria da
Literatura vislumbrou alcançar a mesma universalidade das duas outras
disciplinas. Títulos como o Tratado Geral de Semiótica, de Umberto Eco,
ou a Análise Estrutural da Narrativa, de Roland Barthes, dão testemunho
da intenção de alcançar uma gramática geral da obra literária, um sistema
7

completo que levaria a um método único de análise de qualquer discurso,


através do método estrutural. Mas o intento foi desde sempre falhado, pois
o horizonte de uma teoria geral dos discursos se alimentava do impossível
apagamento das particularidades do objeto literário, e esse paradoxo levou
à falência do projeto. O método marxista e o método psicanalítico
guardaram a herança dessa busca da universalidade de objetivo e de
método, mas, uma vez mais, à custa do apagamento das especificidades do
objeto: no caso da metodologia marxista, por considerar a obra literária
como uma simples representação superestrutural de problemas de classe e
de relações econômicas; no caso da abordagem psicanalítica, por tomar
todo texto apenas como sintoma de um sentido outro, latente, sempre
fugidio, sintoma manifesto de um discurso inconsciente e, em última
instância, inalcançável em sua plenitude.
Podemos observar pelo menos duas consequências advindas desse
projeto falhado. A primeira tem a ver como fato de que a constatação, por
parte dos pesquisadores, da impossibilidade de, a partir de uma
universalização do método, dar conta da grande variação do objeto levou
ao abandono do mesmo objeto, em favor de um refinamento autotélico do
próprio método, que então se fez Teoria, assim mesmo nomeada, com
inicial maiúscula e sem qualificativo. Como colocou Tzvetan Todorov, a
poética (a teoria geral da literatura), nos anos 1960, fez do método o seu
próprio objeto “... e da literatura apenas a linguagem que permitia à
poética voltar-se a si mesma”.6 Roberto Acízelo de Souza sintetiza
ironicamente a consequência dessa hipertrofia do método:

Com isso – belo resultado final – a operação do conhecimento se transformaria


numa espécie de trânsito livre por uma estrada desimpedida, que, de resto,
numa circularidade confortável, conduziria da ciência à própria ciência. No

6
TODOROV, Tzvetan, apud SOUZA, op. cit., p. 67.
8

caso específico da poética, então, é esquecer essa coisa informe e fugidia – a


literatura -, a fim de se lidar apenas com o próprio método forjado para
conhecê-la. 7

Nesse sentido, a Teoria pós-moderna deixou de lado os objetos e


bastou-se a si mesma, em redundante tautologia.8 Neste caso, os objetos
passaram a ser apenas motivos para a circunvolução da Teoria; ou para a
superinterpretação, como criticaria Umberto Eco,9 ou ainda para a deriva da
interpretação, como defenderia Derrida, através de uma oposição radical
entre semiologia e hermenêutica, com o privilégio absoluto da última, e
com verdadeiro desequilíbrio em favor do leitor nos pratos da balança
crítica.10
Essa teoria autotélica não ficou restrita ao campo da literatura,
chegando mesmo aos campos da história e da própria antropologia, que
antes se propusera a seguir o universalismo da fonologia. Comentando o
relativismo patente na antropologia pós-moderna, em especial através de
um estudo da obra de Clifford Geertz, Ernest Gellner aponta que a fuga da
descrição e da análise dos objetos levou a antropologia a um verdadeiro
beco sem saída:

Este antropólogo [pós-moderno] explica aos que o escutam que a compreensão


de uma cultura alheia é tremendamente difícil, exigindo uma capacidade
especial de análise e de sofisticação que, definitivamente, não está ao alcance
de todos. Eis uma das tentações a que a escola hermenêutica está sujeita e à

7
SOUZA, idem, p. 68.
8
Ver em especial a crítica de Roger Scruton sobre a moda teórica dos anos 1960 que chega ate nós.
SCRUTON, Roger. Confessions of a Skeptical Francophile.
9
ECO, Umberto. Os limites da interpretação. 2ª ed. São Paulo Perspectiva, 2004 (edição original de
1990).
10
DERRIDA, Jacques. A estrutura, o signo e o jogo no discurso das ciências humanas. In: A escritura e a
diferença. Trad. Maria Beatriz Nizza da Silva. 2 ed. São Paulo: Perspectiva, 2002, p. 229-249.
9

qual sucumbem, em êxtase, os praticantes do pós-modernismo, num estilo


literário terrível. O seu entusiasmo e embriaguez perante a dificuldade de
explicar o Outro são de tal modo intensos que eles acabam por nem tentar fazê-
lo, contentando-se em desenvolver a ideia da sua inacessibilidade,
consubstanciada numa espécie de iniciação a uma Nuvem do Não-
Conhecimento, uma Inacessibilidade Privilegiada... A Inacessibilidade do
Outro transforma-se numa ciência e num mistério autônomos.11

O relativismo hermenêutico da antropologia pós-moderna, assim


descrito por Ernest Gellner, ensejou o aparecimento da segunda
consequência, no campo dos estudos literários, daquela falência do projeto
de uma teoria geral da literatura que desse cabo de todos os objetos: trata-se
do abandono de qualquer metodologia e das fronteiras disciplinares, agora
praticado pelos Estudos Culturais, sob influência mesmo da antropologia
relativista. Se a Teoria abandonara o objeto, o culturalismo, ao contrário,
abandonou o método em sua relação com a disciplina, em favor de um
ecletismo relativista. Para os culturalistas, aceitar algum método seria
endossar a compartimentalização do conhecimento, “... que deveria ser
neutralizada pela adoção de perspectiva dita inter ou transdisciplinar.”12 A
prática culturalista preserva o objeto, mas, no mesmo passo, retorna ao
ecletismo crítico anterior ao momento de formação da disciplina Teoria da
Literatura.
Dessa maneira, o quadro atual revela duas atitudes ao mesmo tempo
opostas e complementares: ou o abandono do objeto em favor de uma
Teoria autotélica; ou o abandono da teorização, do método ou da disciplina
em favor de uma convivência eclética e relativista dos objetos.
Como sair dessa situação?

11
GELLNER, Ernest. Pós-modernismo, razão e religião. Trad. Susana Souza e Silva. Lisboa: Instituto
Piaget, 1994, p. 84.
12
SOUZA, op. cit., p. 69.
10

Em primeiro lugar, tomando-se consciência do atual estado


problemático do método nos estudos literários. Essa tomada de consciência
nos obriga a um retorno à enorme riqueza analítica acumulada por críticos
praticantes do close reading e do método formal, os quais, de alguma
maneira, “saíram de moda” ou ficaram à margem das bibliografias dos
estudos literários desde o final dos anos 1960, por não se enquadrarem nem
nas circunvoluções da Teoria, nem no ecletismo pós-moderno.
Em segundo lugar, com a recuperação de um horizonte de
positividade para os estudos literários, que bem pode ser buscado na prática
da sua irmã de nascimento, a linguística. Ainda há o que dizer, e cada vez
mais, sobre a literatura, a partir do método e da disciplina. A legítima
recusa de métodos fechados, ou de um essencialismo da literatura não
deveria levar ao relativismo exangue, que nada diz sobre o objeto, da
mesma maneira que deveríamos recusar uma reflexão teórica que não
saísse de si mesma. Deveríamos sim buscar a reflexão que se voltasse uma
vez mais para os seus objetos.
Em terceiro lugar, com o retorno à materialidade do objeto
literatura. Somente através do método de uma análise cerrada de sua
constituição linguística e poética tem-se a possibilidade de avançar no
campo da interpretação. Umberto Eco coloca de forma clara os limites da
hermenêutica e a importância das intenções do texto, para que se alcance
uma interpretação iluminadora, palavras com as quais encerro esta pequena
reflexão:

A leitura das obras literárias nos obriga a um exercício de fidelidade e de


respeito na liberdade da interpretação. Há uma perigosa heresia crítica, típica
de nossos dias, para a qual de uma obra literária pode-se fazer o que se queira,
nelas lendo aquilo que nossos mais incontroláveis impulsos nos sugerirem. Não
é verdade. As obras literárias nos convidam à liberdade de interpretação, pois
propõem um discurso com muitos planos de leitura e nos colocam diante das
11

ambiguidades da linguagem e da vida. Mas poder seguir neste jogo, no qual


cada geração lê as obras literárias de modo diverso, é preciso ser movido por
um profundo respeito para com aquela que eu, alhures, chamei de intenção do
texto.13

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BUNGE, Mario. La investigación científica: sua estratégia y filosofia. Trad. Manuel


Sacristán. Barcelona: Ariel, 1976.

DERRIDA, Jacques. A escritura e a diferença. Trad. Maria Beatriz Nizza da Silva. 2


ed. São Paulo: Perspectiva, 2002.

ECO, Umberto. Os limites da interpretação. 2ª ed. São Paulo Perspectiva, 2004.

Eco, Umberto. Sobre algumas funções da literatura. In: Ensaios sobre a literatura. Trad.
Eliana Aguiar. Rio de Janeiro: Record, 3003.

EIKHENBAUM, Boris. A Teoria do Método Formal. In: TOLEDO, Dionísio de


Oliveira (org.). Teoria da Literatura: Formalistas Russos. Trad. Ana Maria Ribeiro
Filipouski et alli. 4 ed. Porto Alegre: Globo, 1978, p. 3-38.

GELLNER, Ernest. Pós-modernismo, razão e religião. Trad. Susana Souza e Silva.


Lisboa: Instituto Piaget, 1994.

MERQUIOR, José Guilherme. De Praga a Paris: o surgimento, a mudança e a


dissolução da ideia estruturalista. Trad. Ana Maria de Castro Gibson. São Paulo:
Nova Fronteira, 1991.

SCRUTON, Roger. Confessions of a Skeptical Francophile. In: http://www.roger-


scruton.com/articles/1-politics-and-society/83-confessions-of-a-sceptical-
francophile.html.

SOUZA, Roberto Acízelo de. Um pouco de método: nos estudos literários em particular,
com extensão às humanidades em geral. São Paulo: É Realizações, 2016.

TODOROV, Tzvetan. Estruturalismo e poética. Trad. José Paulo Paes. São Paulo:
Cultrix, 1970.

13
Eco, Umberto. Sobre algumas funções da literatura. In: Ensaios sobre a literatura. Trad. Eliana Aguiar.
Rio de Janeiro: Record, 3003, p. 12.

Potrebbero piacerti anche