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Murakami, da arte pop à revelação

mística
O nome mais popular da pintura japonesa contemporânea exibe 35 obras em
exposição no Instituto Tomie Ohtake

Antonio Gonçalves Filho, O Estado de S. Paulo


04 de dezembro de 2019 | 07h00

A apropriação de elementos da arte pop americana pelo artista japonês Takashi


Murakami, 57, não foi exatamente motivada por uma necessidade interna de
reavaliar o legado de Andy Warhol ou Lichtenstein, mas de replicar o fenômeno
em território japonês – tanto em seu impacto artístico como financeiro.
Conseguiu. Filho de família pobre, hoje um milionário, que comanda galerias de
arte, cria produtos para Issey Miyake e Louis Vuitton, dirige filmes de animação e
tem 300 pessoas sob seu comando, Murakami não precisa mais recorrer a
modelos artísticos ocidentais. Alguma coisa mudou depois do acidente nuclear de
Fukushima, em março de 2011, quando três dos seis reatores da usina
derreteram em consequência do maremoto provocado por um tsunami.

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O artista japones Takashi Murakami posa no Instituto Tokie Ohtake Foto: DANIEL
TEIXEIRA/ESTADAO

É possível dizer que existe um Murakami antes e depois da tragédia de


Fukushima. Sua pintura, embora ainda faça citações paródicas à arte ocidental e
aos mangás (quadrinhos), volta a refletir sobre a grande tradição da pintura
mitológica japonesa de séculos atrás. Já uma das citações ao Ocidente é a
reinterpretação que fez da segunda versão (1988) do mais conhecido tríptico do
inglês Francis Bacon (Three Studies for Figures at the Base of a Cruxifixion,
1944). Só que, no lugar das três Fúrias antropomórficas da Oresteia, de Ésquilo,
pintadas por Bacon, o que se vê na versão de Murakami (feita no ano passado)
são três monstros de animação com olhos de alienígenas – ou seres
transformados pela radioatividade, o que parece mais provável.

O tríptico do pintor é uma das atrações da retrospectiva Murakami por


Murakami, que o Instituto Tomie Ohtake abre hoje ao público. A mostra, já
exibida no Astrup Fearnley Museey de Oslo, chega a São Paulo com 35 trabalhos
do artista, entre pinturas, desenhos, esculturas e um robô vestido como um
‘arhat’ (ser espiritualmente elevado) que revira os olhos e fala baixinho como
Murakami. É uma figura insólita de cabeça dividida como uma Hidra e os pés (e
unhas com fungos) que parecem os de Shrek, o ogro verde do pântano. A
exposição tem outros autorretratos paródicos, dois deles com um pet de ouro.

Talvez sejam reminiscências de sua passagem por Nova York, quando entrou em
contato com as instalações bizarras de Bob Flanagan. Ou de sua fixação em
monstros, outra obsessão dos japoneses. “Os monstros do Ocidente têm origem
no misticismo, mas os nossos nascem de acidentes nucleares, como Godzilla”,
observa Murakami, referindo-se ao monstro gigante visto pela primeira vez no
cinema em 1954. O artista japonês, que ficou famoso por seres que passam por
metamorfoses, prepara agora uma animação com seu próprio monstro, que deve
estrear em 2021.

O monstro de Murakami, claro, tem a ver com Fukushima. Ao topar com um


menino órfão depois do desastre nuclear, identificou nele o desejo de
transcender, de estar no céu com os pais. Seis anos depois, em 2017, Murakami
pintou a maior obra da exposição, Transcendente Atacando um Redemoinho,
que tem muito a ver com a tragédia da região de Tohoku e pouco com o tipo de
arte pós-pop que ele praticava na época em que criou o personagem Mr. Dob
(anos 1990), figura que evoca o Mickey Mouse de Disney. “Precisava afirmar
minha individualidade e independência do pop americano”, justifica. Hoje sua
preocupação é outra, expressa no grande painel dourado reproduzido abaixo, que
mostra o leão abençoado da mitologia que se aninha com os segredos da vida e
da morte.

A tela 'Imagem do Leão Abençoado..." , pintada em 2014, que revela a nova fase de
Murakam Foto: DANIEL TEIXEIRA/ESTADAO

O painel resgata a estética das pinturas do período Edo (1603-1868) misturando-


a com a plástica da animação do pós -guerra, cruzamento híbrido que fez nascer
o conceito de “superflat” (superplano) na obra de Murakami. Para ele, não deve
existir hierarquia entre alta cultura e cultura de massas. “Não tenho o poder que
os gravadores japoneses tiveram sobre os pintores pós-impressionistas europeus
no século 19, mas sinto que preciso estar sempre mudando, porque fico
entediado muito facilmente”, revela Murakami, que, além de trabalhar para
nomes da moda, criou para o rapper americano Kanye West (é dele a capa do seu
disco Graduation, de 2007).

Pergunto a Murakami se a citação às pinturas do período Edo nos trabalhos mais


recentes não seria uma resposta à exaustão do figurativo derivado do pop. “Veja,
a arte pop surge num cenário favorável à economia norte-americana, pois os EUA
ganharam a guerra, enquanto nós, no Japão, perdedores, invejávamos esse
sucesso”. diz. “Então, o conceito de superflat tem a ver com a afirmação de uma
cultura que teve de fazer esse cruzamento, ir além de Warhol ou Jeff Koons.” Ou
seja: voltar à arte antiga de Soga Shohaku (1730-1781) para forjar o futuro do
Japão.

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