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ISSN: 1983-8379

A moratória de Jorge Andrade

Raquel Lais Vitoriano de Lima Pires (PG-UEL)1


Ricardo Madi Abeid (PG-UEL)2

RESUMO: O presente trabalho tem como objetivo principal a análise do tempo e do espaço da peça A moratória
de Jorge Andrade. Pretende-se igualmente, num segundo momento, destacar os signos teatrais existentes na obra.
Tais aspectos (tempo, espaço e signo) conferem novidade e importância artística à peça de Jorge Andrade no
teatro brasileiro, incipiente como sistema, em meados de 1950.

Palavras-chave: Teatro moderno; Jorge Andrade; A moratória.

Aluísio Jorge Andrade Franco (1922- 1984) nasceu em Barretos, interior de São Paulo
e estudou Direito na Universidade de São Paulo. Em 1940 abandonou os estudos e retornou à
fazenda de seus pais. Ingressou onze anos depois na Escola de Arte Dramática de São Paulo,
o mais importante estabelecimento do gênero no país, fundado por Alfredo Mesquita.
Concluiu o curso em 1954 e escreveu a peça O Faqueiro de Prata, seguida de O Telescópio e
A Moratória, que acabou sendo encenada em 1955, no Teatro Maria Della Costa, de São
Paulo.
O crítico e ensaísta Anatol Rosenfeld (1970, p.599) disse o seguinte sobre o
dramaturgo e sua obra:

No seu conjunto esta obra é única na literatura teatral brasileira. Acrescenta à visão épica da
saga nordestina a voz mais dramática do mundo bandeirante. É única, esta obra, pela grandeza
de concepção e pela unidade e coerência com que as peças se subordinam ao propósito central,
mantido durante longos anos com perseverança apaixonada, de devassar e escavar as próprias
origens e as de sua gente, de procurar a própria verdade individual através do conhecimento do
grupo social de que faz parte e de que, contudo, tende a apartar-se, precisamente mercê da
própria procura de um conhecimento mais aguçado e crítico, que situa este grupo na realidade
maior da nação.

Como é sabido, a dramaturgia brasileira teve um ligeiro atraso se comparada à


européia e, levando-se em consideração também os outros gêneros mais desenvolvidos

1
Cursa mestrado e especialização em literatura brasileira na Universidade Estadual de Londrina.
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Cursa especialização em literatura brasileira na Universidade Estadual de Londrina.

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durante a Semana de Arte Moderna, a poesia e posteriormente a prosa, esse atraso é também
notável. A partir do século XX, como afirma Prado (1986), o teatro começa a ser cultivado
por aqui. Certo é que nessa época ainda a Europa era a referência. A reação, por assim dizer,
nacionalista, só veio a acontecer nas décadas de 50 e 60. Três pólos se destacaram no Brasil:
Recife, São Paulo e Rio de Janeiro. Em se tratando de A moratória o centro é o de São Paulo
e a temática está mais envolvida com as questões econômicas e/ou políticas.
A peça em foco desenvolve uma temática voltada totalmente para o social, para o
momento vivido, buscando estabelecer contato com a realidade da época. Antonio Candido
(2000, p.4) nos explica que “[...] o externo (no caso, o social) importa, não como causa, nem
como significado, mas como elemento que desempenha certo papel na constituição da
estrutura, tornando-se, portanto, interno.” Sendo assim, a história e as personagens com suas
angústias vão sendo apresentadas na medida em que um problema maior é colocado, mesmo
que não seja de forma explícita, como uma espécie de pano de fundo para evidenciar a
situação das personagens. Jorge Andrade (1959, p.65), ao falar de sua, obra deixa bem claro o
que pretende, já que, como ele mesmo afirma:

Num ambiente onde tudo está em formação, não devemos nos esquecer dos valores, ou melhor,
dos exemplos que o passado encerra. Para escolher o caminho justo, ou saber distinguir os
valores que devemos levar em conta, para a formação de um futuro que justifique tanto os
esforços como os resultados alcançados, não podemos esquecer as grandes verdades encerradas
neste passado; são elas que esclarecem o presente e o justificam. Por que esquecer o que temos,
esquecer nosso passado, nossa realidade, e pensar somente em realidades ou verdades que não
nos dizem respeito? Por que continuar, eternamente, nesta imitação barata de formas que não
nos pertencem? Nunca tive nem tenho a pretensão de inovações. Desejo apenas guiar-me,
sinceramente, pelos exemplos e lições que a realidade brasileira a cada passo nos apresenta.
Através do teatro procuro um meio de expressão e tento exprimir meu próprio meio – nada
mais. (...)

Tal pano de fundo é a crise da economia cafeeira na década de 1930, tornando-


se uma crise política e social. Jorge Andrade, ao utilizar a temática social, se aproxima muito
do que fez o romance regionalista de 30, usando a cultura canavieira do nordeste, que teve seu
momento de crise, resultado da exploração da terra em regime latifundiário, da seca que
agravava o problema, da industrialização rudimentar e da vontade de adquirir lucro fácil. O
Modernismo brasileiro acabou adotando nessa época esse tipo de problemática, chamando a
atenção da intelectualidade para a precária e dilacerada situação política do Brasil república.
Como sugere Décio de Almeida Prado (2001, p.99):

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não há peça nenhuma mais genuinamente brasileira do que a de Jorge Andrade. Brasileira, de
início, está claro, pelo quadro social. [...] Mas o seu verdadeiro brasileirismo não é exterior,
não está no cenário, na descrição superficial de certos hábitos e modismos regionais. Brasileira
parece-nos ser a própria qualidade de sua emoção. [...]

A moratória conta a história do fazendeiro de café Joaquim, afeiçoado a terra, mas que
acaba sendo levado à ruína por maus negócios em época de crise. É casado com Helena e tem
dois filhos, Marcelo e Lucília, esta acaba por se tornar elemento chave da peça. Antes de suas
terras irem à praça para saldar a dívida, era muito prestigiado e sua família não tinha
preocupações com dinheiro; com a crise são obrigados a mudar-se para a cidade e viver com
dificuldades.
A história acaba girando em torno de Joaquim e, mais ainda, da sua esperança em
retornar às suas terras. Tem setenta anos e seu único orgulho acaba sendo seu nome. A crise
da “máquina” da República Velha não permitiu a venda do café, a colheita não foi boa, a
chuva tardou e o governo não fixou um teto mínimo para o produto, restando agora só a
esperança de poder recuperar a fazenda, esperança encarnada juridicamente na palavra
“moratória” que, todos sabiam, não viria.
No final, finda a esperança de voltar, com a moratória recusada pelo governo, todos
acabam tendo que se conformar, caindo sobre Lucília toda a responsabilidade de recuperar a
dignidade da família. Após o clímax da peça, o momento em que a verdade é colocada em
pauta, vem a resignação pelo fim da “era de ouro”, do ouro verde, desfecho descrito com
simplicidade pelo autor para deixar clara a melancolia em que todos se encontram.
De forma geral, todas as personagens não têm uma mudança de caráter ou de atitude
muito significativa, a única, porém, que sofre mudança é Lucília, a qual, de moça ingênua e
simples, torna-se madura e carrega a dignidade da família quase que sozinha. Como moça
solteira, não poderia trabalhar, mas reage contra a imposição de dependência que a sociedade
patriarcal e rural tenta lhe impor e começa sustentar a família.
Assim, o mais importante não é a personagem em si, mas a coletividade que ela
representa. Ainda que cada um tenha sua individualidade, é a sua classe social (no momento,
decadente) que determina seus destinos. Como explica Décio de Almeida Prado (2001, p.
100-102):

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[...] Não se trata de julgar um certo estado de coisas mas de assistir ao sofrimento de alguns
seres humanos privados repentinamente não só de sua riqueza mas inclusive de seus padrões
sociais e morais, de sua forma de existir e de compreender a existência. Enfrentam uma época
difícil e haviam sido educados para viver com facilidade, para mandar e ser obedecido, para
receber mais do que dar, seguindo a rota dos avós e bisavós. Acostumados à liberdade do
campo, têm de se submeter à disciplina da vida urbana, de onde sairão polidos pela pobreza ou
inutilizados em definitivo.

A estrutura da peça deve ser levada em consideração já que ela interfere na


compreensão e entendimento. Sua organização é feita em dois planos: do presente (1932), em
uma casa modesta na cidade; e do passado (1929), em uma fazenda. Isso faz com que a
linearidade seja quebrada e permita que a ação seja mais dinâmica. Se assim não fosse feita, a
peça seria provavelmente algo monótona.
O contraste entre os dois planos permite ao leitor-espectador compreender a frágil
condição daqueles que, não obstante portadores de nome e tradição, viram, num átimo, a ruína
do seu mundo, o velho mundo dos latifundiários-coronéis ainda vivo no Brasil semi-feudal da
primeira República.
O que de fato surpreende é que logo no início da peça o leitor já pode prever o
desfecho. A história, por ser retrato de ruínas familiares reais, torna-se previsível, reforçando
o efeito de angústia pela inevitabilidade da desgraça, ainda que, antes do fim esperado, o
fazendeiro “Quim” sinalize um resto morituro de uma insistente esperança.
O espaço e o tempo na peça são fundamentais e devem ser analisados quase que
concomitantemente. O espaço da peça é mimético (por oposição a “diegético”, ou narrativo),
aquele em que a e mostrado sem mediação ou sem alusão, o público já consegue identificá-lo
visualmente em cena. O mais intrigante é o fato de que a peça apresenta um presente e um
passado ao mesmo tempo, e isso no que se refere ao espaço parece ser um problema,
problema bem resolvido pelo dramaturgo quando opta por colocar esses tempos num mesmo
espaço, porém dividido em dois planos, dando dinamicidade ao texto teatral.
Se assim não fosse feito o espaço teria que ser narrado, o que de fato deixaria de ser
um espaço mimético em sua essência para se tornar um diegético. Como foi dito,
essencialmente o espaço é mimético, pois ele está ali em cena e pode ser visto pelo
espectador. Mas há ainda, mesmo que em menor intensidade, o espaço diegético nos
momentos em que a personagem Marcelo sai para trabalhar no frigorífico ou ainda quando
Augusto, noivo de Lucília e advogado da família, sai para tentar resolver o problema da
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família. Esses fatos são todos narrados, o público e o leitor não têm conhecimento desses
espaços no campo da visão, só se sabe da existência deles quando são comentados,
verbalizados.
De acordo com Issacharoff, citados por Fachin (1998, p.106) “Quando eles [os
espaço] coexistem, o diegético completa, muito frequentemente, o mimético... toda peça é
mimética por definição pelo fato de ser representação concreta.”
O cenário da peça é duplo e as cenas acontecem de forma intercalada. Isso é expresso
pelo dramaturgo no início da peça, quando fala que haverá dois planos: o primeiro plano ou o
da direita, onde haverá a sala de uma casa no tempo presente, aproximadamente três anos
depois da crise, ou seja, 1932. O segundo plano ou da esquerda representa a fazenda de café
no momento da crise em 1929.
Nesse período, marcado entre 1929 e 1932, acontecem basicamente alguns fatos: a
proximidade da crise que teve como conseqüência a perda da fazenda; a pobreza da família
que deixou em evidência as crises familiares; a mudança para a cidade; a esperança de que o
governo fizesse algo pelos fazendeiros; e, por fim, a derrocada completa pela recusa da
nulidade dos processos e pela impossibilidade de declarar moratória (suspensão das dívidas
dos produtores), o que “salvaria” a família.
Como esses fatos não são mostrados exatamente como uma continuidade, mas sim
como entrelaçamentos, as trocas de plano ganham significação, cujo efeito principal é a
tensão entre o pavor de perder a fazenda e a esperança de recuperá-la. Esse entrelaçamento é
assim resumido por Magaldi (2001, p. 232-233):

[...] O passado, com a perda da fazenda, ainda não concluíra o retrato da família e era
necessário, assim, pintá-la na vida medíocre da cidade, tentando em vão recuperar as posses
antigas. As idéias e os movimentos das personagens não se adaptaram às novas condições de
existência e, para enunciar a constante psicológica, o texto joga com uma certa atemporalidade:
sugere-se um conflito no presente e ele será desenvolvido no passado, como se fosse futuro,
porque naquele mundo nada se altera de fato.

No primeiro plano, o tempo tem a duração de mais ou menos uma semana e os fatos
apresentados são conseqüência imediata dos anteriores, culminando na perda da fazenda. No
segundo plano o espaço é um pouco maior, pois os fatos vão desde a esperança de que algo
mude até o resultado final em que não se consegue a ajuda esperada. O elemento tempo é um
outro diferencial na peça, já que passado e presente aparecem juntos. Não se pode afirmar que

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este tempo seja essencialmente cronológico ou psicológico, na peça ocorre a fusão dos dois, já
que as ações não acontecem com um início, meio e fim consecutivamente, há uma alteração
na ordem temporal; ao leitor são dadas pistas para que ele próprio faça associações de maneira
que se liguem os fatos coerentemente.
Essa mudança de planos feita por Jorge Andrade, como nos adverte Magaldi (2001, p.
299-230), acaba por

[...] deixar bem marcada a queda irremediável da aristocracia rural. Há ironia e quase sadismo
na repetição do jogo de esperança e desespero, até que o pano baixe sobre um silêncio mortal.
Apenas 1929 seria o retrato da crise, da perda da fazenda com o aviltamento do preço do café.
Mas um grupo não morre de uma vez, a não ser pela revolução, e A Moratória compraz-se em
consignar os estertores, a última tentativa de sobrevivência. [...].

A mudança de planos acontece de forma natural, não há troca de roupa ou de cenário e


nem nenhum outro elemento é usado para que a mudança seja feita. O foco se volta mais para
ação do que para as personagens em questão. Além de marcar o tempo presente e passado,
esse plano duplo relaciona também a mudança do rural para o urbano, bem em foco nessa
época em que a urbanização ganha notoriedade.
Tal mudança, que também fica evidente na peça, demonstra algumas conseqüências
disso: a queda da oligarquia cafeeira e a ascensão da burguesia liberal, produtores de café
cedem lugar aos donos de indústrias. O trabalho agora não é mais autônomo, mas sim
assalariado. Como destaca Raymond Willians (1989, p.247),

uma natural tranqüilidade campestre é contrastada com uma antinatural intranqüilidade urbana.
O "mundo moderno", tanto em seu sofrimento quanto, de modo crucial, em seu protesto contra
o sofrimento, é mediado pela referência a uma situação perdida que é melhor que ambos e que
pode situar ambos: uma situação imaginada a partir de uma paisagem e de uma observação e
uma memória seletivas.

Dessa forma, as pessoas foram obrigadas a se adequar à nova forma de vida das
cidades. Helena, mãe de Marcelo comenta sobre essa industrialização:

LUCÍLIA (Primeiro Plano): O quê, mamãe? Que é que preocupa a senhora?


HELENA (Primeiro Plano): Trabalhar no frigorífico, no meio de tantas máquinas!
LUCÍLIA (Primeiro Plano): Não há perigo nenhum.
HELENA (Primeiro Plano): Antigamente, o trabalho era tão simples! Agora é preciso fazer
tudo com máquinas! (ANDRADE, 1991, p. 54)

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O que Jorge Andrade faz foi mostrar essa situação de modo a fazer com que o leitor,
seu coetâneo, reflita sobre o problema, como aponta Décio de Almeida Prado (2001, p.98):

O que ela [a peça] faz é o julgamento de uma sociedade já destruída, ou em vias de


aniquilamento. [...] Hoje já temos suficiente recuo no tempo para que possamos considerar tais
fatos sem a necessidade de nos pronunciarmos contra ou a favor, de atacá-los ou defendê-los.
Podemos encará-los objetivamente – qualidades e defeitos – com essa espécie de simpatia
alerta, de compreensão não destituída de crítica, que se chama perspectiva histórica. Foi o que
fez Jorge Andrade, com extrema honestidade, e mantendo perfeita isenção de espírito.

Além da questão tempo-espaço, outro fator muito interessante na peça se refere aos
signos teatrais encontrados no decorrer da peça e que devem ser levados em consideração. O
maior signo da peça talvez seja o próprio cenário que por si só já determina o tempo e o
espaço da narrativa. Como nos explica Tadeuz Kowzan (1977, p.73), o cenário é um dos
muitos signos teatrais existentes e sua tarefa

consiste em representar o lugar: lugar geográfico (paisagem com pagodes, mar, montanha),
lugar social (praça pública, laboratório, cozinha, café) ou dois de uma só vez (rua dominada
por arranha-céus, ação com vista parar a torre Eiffel). O cenário ou um de seus elementos pode
também significar tempo: época histórica (templo grego), estação (tetos cobertos de neve), hora
(sol poente, lua). Além de sua função semiológica de fixar a ação no espaço e no tempo.

O último trecho dessa definição se encaixa exatamente na função que o cenário


desempenha peça que é evidenciar e caracterizar o espaço e o tempo para dar mais sentido e
inovação ao texto de forma a torná-lo mais expressivo. O cenário, por assim dizer, acabou
sendo um recurso muito útil e prático nessa peça, pois conseguiu colocar juntos dois espaços e
tempos diferentes que naturalmente não poderiam estar juntos. Isso tudo ainda dá ao cenário
uma importância ampliada no processo de produção de sentido, já que além de evidenciar
duas épocas, explora a transição existente nesses espaços permitindo ao leitor a investigação
de dois momentos históricos: prosperidade e declínio dos fazendeiros. Portanto, além da
praticidade, o cenário dá a real visão de dois mundos que se chocam, evidenciando assim a
transição de um para o outro.
Com efeito, não obstante certas semelhanças entre os dois planos, como a presença de
imagens religiosas (significando a permanência, já num Brasil em vias de industrialização, do
velho misticismo católico) e de um relógio (signo de mudança, metamorfose inevitável), a
introdução de uma máquina de costura no cenário do presente (1932) pode representar, de
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duas formas - contraditórias, mas igualmente importantes - a irremediável industrialização do


Brasil, que, ao mesmo tempo em que anuncia o fim dos privilégios de nome e tradição, afirma
a possibilidade de ascensão social através do trabalho.
Há ainda o galho de jabuticabeira que Joaquim traz da fazenda e deixa pendurada
como se fosse um quadro na sala da casa quando se mudam para a cidade. Com isso as
personagens têm um pouco do passado simbolizado dentro da casa como forma de não
esquecer do que viveram na época de fortuna e também de sempre manter viva a esperança de
retornar à vida que levavam.

A moratória de Jorge Andrade encerra, principalmente, duas novidades estéticas. Uma,


de natureza estrutural, é a presença de dois planos espaço-temporais intercalados durante a
encenação-leitura, colocando em xeque a noção clássico-aristotélica de unidade de espaço e
tempo. A outra, de natureza temática, é a abordagem de problemas históricos intimamente
ligados à realidade brasileira. Ora, num momento em que o teatro brasileiro se consolidava
como sistema sério, profissional, nada mais legítimo que expor as fraquezas do sistema
subjacente, o da sociedade brasileira, tudo isso numa linguagem apta à comunicação sem
peias, pensada diretamente para o palco. A moratória é, enfim, um passo importante para a
consolidação do drama nacional sobre temas nacionais. Como afirma Sábato Magaldi (1998,
p.60),

As personagens são talhadas em traços vivos e fortes, o que, embora com prejuízos da sutileza
e da complexidade, lhes confere caracteres esculturais. Se aduzirmos que o veículo é um
diálogo excelente – objetivo, vigoroso, teatral, sem devaneios literatizantes – concluiremos que
A Moratória é uma obra feliz.

ABSTRACT: This work has as mainly purpose analyses the time and space of the play “A moratoria” by Jorge
Andrade. Intend, also, in a second moment, highlight the theater signs in the work. Such aspects (time, space and
sign) give new and artistic importance for the play by Jorge Andrade in the Brazilian theater, incipient as a
system, in mid-1950.

Key-words: Modern theater, Jorge Andrade, A moratória

REFERÊNCIAS

ANDRADE, Jorge. A moratória. 11º edição. Rio de Janeiro: Agir, 1991.

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