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Reconstruindo Sentidos na Interface de Histórias: Uma Discussão Fenomenológico-Existencial da Constituição do Sujeito Borderline

Reconstruindo Sentidos na Interface de Histórias:


Uma Discussão Fenomenológico-Existencial da
Constituição do Sujeito Borderline

Re-Constructing Senses on the Boundary of Stories a Phenomenological-Existential Discussion on


the Borderline Patient’s Constitution

La Reconstrucción de Significados en la Interfaz de Historias Una Discusión Fenomenológico-


Existencial de la Constitución del Paciente Fronterizo

A nna K arynne da Silva Melo


Georges Daniel Janja Bloc Boris
Violeta Stoltenborg

Resumo: Este artigo discute o caso de uma mulher de 40 anos com diagnóstico psiquiátrico de transtorno de personalidade bor-
derline, conforme a CID-10 (2003). O texto se propõe, por meio de uma experiência clínica concreta, a discutir as concepções da
psicopatologia fenomenológica existencial. Assim, num primeiro momento, descreve o distúrbio borderline de acordo com a fe-
nomenologia existencial. Em seguida, discute as concepções da relação entre saúde e doença de acordo com a Gestalt-Terapia e
a Daseinsanalyse, buscando compreender o modo de “estar-no-mundo” e a constituição do fenômeno psicopatológico no sujeito
borderline na perspectiva da construção de sua história de vida, que é única. Ao final, os autores destacam o grande desafio do
psicoterapeuta fenomenológico-existencial: suspender o que conhece a priori a respeito do quadro clínico do paciente e consi-
derá-lo como sujeito a partir da sua forma de se expressar no mundo, abandonando a mera classificação da doença.
Palavras-chave: Psicopatologia Fenomenológico-Existencial; Gestalt-terapia; Daseinsanálise; Paciente borderline.

Abstract: This paper discusses a clinical case of a 40 years old woman, diagnosed as a borderline personality disorder, conform-
ing to CID-10 (2003). The paper proposes, by a concrete clinical experience, to discuss the phenomenological and existential
psychopathology. At first, it describes borderline disorder according to existential phenomenology. So, the authors discuss the
conceptions about the relation between health and sickness in Gestalt-Therapy and Daseins-analysis, trying to understand the
way of ‘being-in-the-world’ and the constitution of the psychopathological phenomenon in borderline patients from the perspec-
tive of the construction of his life story, that is unique. At the end, the authors detach the great challenge of existential-phenom-
enological psychotherapist: putting the patient’s clinical picture in stand by ‘a priori’ and considering how she expresses herself
and sees the world, giving up the mere disease classification itself.
Keywords: Phenomenological and Existential Psychopathology; Gestalt-therapy; Daseins-Analysis; Borderline Patient.

Resumen: En este artículo, se describe el caso de una mujer de 40 años con el diagnóstico psiquiátrico de trastorno de la perso-
nalidad fronteriza, según el CID-10 (2003). En el texto se plantea, a través de una experiencia práctica clínica, los conceptos de
la psicopatología fenomenológica-existencial. Por lo tanto, en la primera parte, se describe el trastorno de la personalidad fron-
teriza a partir de la fenomenología existencial. A la continuación, se analizan las concepciones de la relación entre la salud y
la enfermedad para la terapia Gestalt y la daseinsanalyse. Se busca, además, comprender el modo de “ser-en-el-mundo” y el es-
tablecimiento del fenómeno psicopatológico en los pacientes fronterizos desde la perspectiva de la construcción de su historia
de vida, que es única. En el final, los autores ponen de relieve el reto que afronta el psicoterapeuta fenomenológico-existencial:
dejar en suspenso lo que conoce a prior en relacion a lo cuadro clínico del paciente y considerálo como un sujeto desde la forma
como se expresa en el mundo, abandonando la mera clasificación de la enfermedad.
Palabras-clave: Psicopatología Fenomenológico-Existencial; Terapia Gestalt; Daseinsanályse; Paciente Fronterizo.

Introdução 2006 e 2007, tendo recebido diagnóstico psiquiátrico de


transtorno de personalidade borderline (CID-10, 2003).
O presente artigo tem como objetivo discutir, sob o Este estudo de caso foi registrado pelo comitê de ética da
prisma da clínica fenomenológica existencial, o caso de Universidade de Fortaleza (VRPPG 07338). O SPA/NAMI
uma mulher de 40 anos, atendida no Serviço de Psicologia é uma instituição que tem como proposta prestar serviços
Artigo

Aplicada do Núcleo de Atenção Médica – SPA/NAMI – da de psicologia à comunidade de baixa renda de Fortaleza
Universidade de Fortaleza (UNIFOR), durante os anos de e proporcionar aos estudantes do Curso de Psicologia a

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oportunidade de realizar atividades de estágio em diver- construção, neste artigo, discutimos a fundamentação
sas áreas da psicologia. Buscamos, a partir de uma expe- da psicopatologia fenomenológica existencial, analisan-
riência clínica concreta, discutir a psicopatologia feno- do como ela compreende e trata, especialmente, o modo
menológica existencial, que adota como instrumento de borderline de estar-no-mundo a partir de uma história
compreensão do sujeito o método fenomenológico, bus- de vida concreta.
cando compreender sua existência e suas várias formas de
estar-no-mundo através de sua singularidade: “fenomeno-
lógico vem do grego phainesthai, que significa mostrar-se, O Distúrbio Borderline
ou clarear, sair do mistério, do recôndito para o aberto e,
neste, se exibir” (Boss, 1997, p. 11). A compreensão feno- Yontef (1998), discutindo a personalidade borderline,
menológica permite que o ser que se mostra seja percebido chama a atenção para o fato de que, neste modo de “estar-
a partir de si mesmo, ou seja, pela maneira própria como no-mundo”, o sujeito chega a perder, em alguns momentos
se mostra (Cardinalli, 2004). Busca assim ir diretamen- de seu desenvolvimento, as fronteiras de tempo, de espa-
te ao fenômeno tal como ele se apresenta, procurando o ço e da relação com o outro. Para o sujeito borderline, há
fenomenólogo existencial manter o pensamento aberto constante ameaça ou sentimento de abandono pelo outro.
diante dele. Sapienza (2004) argumenta que Em qualquer separação do outro, tais sentimentos se ma-
nifestam com muita intensidade. A relação psicoterapêu-
a história que se revela no decorrer de uma terapia tica, quando estabelecida, é sempre muito difícil, já que
pode ter semelhança com outras histórias, mas cada a confluência e a destruição do outro é o que sublinha e
uma tem uma peculiar combinação de significados, orienta o estabelecimento de relações para o sujeito bor-
que é só dela. E ali, na terapia, a única fenomenolo- derline. O bom contato é raro, já que “entregar-se ao ou-
gia que interessa é a dessa história particular, é da tro” conduz facilmente à confluência, da qual ele precisa
existência do paciente que está na sala. Nisto que escapar rapidamente para não ser “engolido” pelo outro.
consiste o trabalho que ali se realiza: deixar que as Então, o sujeito borderline ataca o outro e tenta destruí-lo,
coisas apareçam com seus significados, reuni-los e mas tal ação provoca sensação de fracasso e de abando-
permitir que sentidos se articulem (p. 19). no. Yontef (1998) considera que o sujeito borderline expõe
muito fácil e intensamente o seu drama existencial, o que
O ponto de partida da fenomenologia é a descrição, não significa que consiga assimilação ou bom contato com
que é antes de qualquer interpretação ou de uma constru- o que expressa, pois a intensidade ocorre com os eventos
ção de conhecimento acerca do fenômeno. Tal pressupos- imediatos e num presente vazio, ou seja, na ausência de
to é básico para a utilização deste método na compreensão uma relação com o passado e o futuro.
do caso clínico de que tratamos. O método fenomenoló- Bin (1998) discute a existência borderline a partir de
gico busca a descrição e a conseqüente compreensão do uma compreensão fenomenológica da temporalidade.
significado da psicopatologia, indo além das tradicionais Para ele, a temporalidade da experiência presente é in-
descrições psiquiátricas. Busca o significado da experiên- trafestum, isto é, ocorre dentro da festa ou no meio do
cia vivida. A postura do psicoterapeuta fenomenológico- mundo da festa, o que significa que o sujeito borderline
existencial requer a colocação entre parênteses dos seus vive o tempo da sua existência numa exacerbação do
a priori e uma resposta genuína à pessoa tratada, porém presente, mas não num processo de presentificação: o
não significa ignorar os dados descritivos conhecidos. passado e o futuro não existem para o sujeito borderline
Todavia, nos lembra Cardinalli (2004), a caracterização como algo que faça sentido para sua forma de “estar-no-
da natureza de cada psicopatologia exige o detalhamen- mundo”. Concordando com Yontef (1998), Bin afirma que
to das suas diferenças e restrições e, principalmente, da a existência borderline é demarcada pela imediaticidade e
maneira como diferentes doentes vivenciam tais redu- pelo vazio da presença, que é a busca da união imediata
ções em seus contextos específicos. com a pura presença do outro, pois a experiência da pre-
A psicopatologia fenomenológica existencial concebe sença, para o sujeito borderline, é vivida num sentimento
a doença a partir do próprio homem, ou seja, como um de infinitude, ao passo que a perda do outro é percebida
modo de existência, compreendendo-a como uma cons- como a aniquilação do ‘ser-aí’. É uma relação de conflu-
trução que o sujeito elabora para dar forma e significa- ência e de afastamento, ou, ainda, de acolhimento e de
ção às suas experiências. Tal concepção foi construída destruição do outro. Tanto Yontef quanto Bin destacam
por meio de diferentes caminhos por parte de diversos que a forma de “ser-no-mundo” do sujeito borderline tem
filósofos, psiquiatras, psicólogos e outros estudiosos, sua gênese no momento do estabelecimento do vínculo
como Heidegger (1927/1976), Merleau-Ponty (1945/1994), afetivo com a mãe. Há sempre uma história de abando-
Minkowski (2000), Binswanger (2001) e Boss (1997), que no, que o faz desejar e, ao mesmo tempo, temer a relação
buscaram uma nova perspectiva para um homem que com o outro. É nesta perspectiva da construção da his-
Artigo

era considerado, até então, somente como um organis- tória de vida que buscamos, a partir da Gestalt-Terapia
mo vivo pensante. Para compreender tal processo de e da Daseinsanalyse, compreender o modo de “estar-no-

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mundo” e a constituição do fenômeno psicopatológico no Assim, ao adoecer, o sujeito não consegue encontrar outra
que se refere ao sujeito borderline. forma de existir: ele se cristaliza e paralisa sua existên-
cia. O objetivo da perspectiva fenomenológica existencial
é compreender tal adoecimento, ou seja, apreender o que
Daseinsanalyse e Gestalt-Terapia: Doença e Saúde faz com que a existência adoecida impeça suas possibili-
no Campo da Psicopatologia dades de existência, como se organiza e se estrutura na
sua relação com o mundo.
Para Boss (1997), as doenças mentais sempre provo- Pensamos que os estudos da Daseinsanalyse podem
cam alguma restrição das possibilidades de que o homem contribuir para a compreensão do homem como existên-
consiga realizar seus modos de existência. Cardinalli cia conforme proposta pela Gestalt-terapia. A história de
(2004) acrescenta que “o que está prejudicado é a habili- vida ou biografia, apontada pela Daseinsanalyse como de
dade da pessoa doente de se engajar num levar adiante suma importância na compreensão do adoecimento, pode
essas potencialidades particulares como comportamen- ser pensada, também, numa articulação com os conceitos
to livre diante daquilo que encontra em seu mundo” (p. centrais da Gestalt-terapia. Tanto para a Daseinsanalyse
199). Heidegger (1927/1976) destaca que, na doença, o ser quanto para a Gestalt-terapia, a gênese dos processos psi-
sadio não está ausente, mas perturbado. Tanto na saúde copatológicos ocorre na construção do projeto de vida.
quanto na doença, as características existenciais da pes- Projeto de vida é a forma como a existência se des-cobre,
soa estão presentes como possibilidades; no entanto, ao se abre e existe no mundo, ou, ainda, o modo como es-
estar doente, tais características pessoais estão perturba- tabelecemos contato. Trata-se de fazer uma leitura feno-
das. Nesta perspectiva, a patologia é compreendida como menológica existencial dos sentidos da história de vida,
interrupção, cristalização ou perda da liberdade existen- isto é, da situação, dos sintomas e do fluxo de contato
cial e, portanto, como uma limitação da vida do homem numa compreensão interpretativa do modo de estar no
em sua totalidade. mundo. Tais questões fundamentais (sintoma, história
No processo psicoterápico, busca-se a ampliação da de vida e situação) que possibilitam a compreensão do
consciência do sofrimento do sujeito, procurando com- adoecimento foram conceituadas por Binswanger (2001)
preender como o sujeito se constrói, respeitando sua e Dör (1993). Eles destacam que o sintoma é uma forma
realidade fenomenológica, ressignificando sua própria de expressão visível que possibilita interpretar o que se
existência, buscando a variação e a ampliação de suas encontra em relação de coexistência com o invisível. A
experiências e referências, que, de outra maneira, não situação em que se encontra o sujeito num dado momento
seriam acessíveis, abrindo, assim, novas possibilidades existencial é um corte transversal na sua relação origi-
de existência. Desse modo, a psicoterapia trabalha com- nária com o mundo, ou seja, como ser-no-mundo e como
preendendo a capacidade do sujeito para lidar com o seu seu co-constituinte. Na situação, o sujeito é projetado na
sofrimento, intervindo nas suas potencialidades, bem relação com o outro e, ao mesmo tempo, é o sujeito do ato
como nas suas restrições no modo de existir. Pensar a de projetar: portanto, é, também, o projetor.
existência, segundo Heidegger (1927/1976), é dizer so- É o que Perls, Hefferline e Goodman (1997) entendem
bre o Dasein, que, também, diz “ser-no-mundo”, e, con- como mecanismo de projeção, a capacidade de atribui-
seqüentemente, quem diz “ser-no-mundo”, também, diz ção ao outro/mundo daquilo que se origina no próprio
“ser-com-o-outro”. Conforme Nunes (2001), sujeito. Na relação com o mundo, o sujeito se apresenta
como algo projetado e, também, exerce o ato de projetar.
no Eu se esconde o outro ou o outro se desdobra do Na situação, o que aparece ao sujeito é a dupla tarefa de
Eu... Eu não sou uma identidade sem fissuras, porque realizar e de assumir o projetado e o projetor. É o posi-
a consciência que tenho de mim mesmo está sempre cionamento do sujeito como responsável desta dupla ta-
à beira de um desdobramento e, por vezes, de borbu- refa que lhe possibilita a superação da situação. Trata-se
lhante multiplicação. (p. 51). da atualização constante da sua existência e da supera-
ção do velho pelo novo, conforme aponta Perls (2002).
Com os outros Dasein, exercemos um contínuo cui- No adoecimento, a situação é considerada patológica
dado do outro, seja num intercurso marcado pela indi- quando deixa de ser vivida como trauma. Trauma, aqui,
ferença e pelas emoções negativas (hostilidade ou aver- é entendido como a experiência que marca outro lugar e
são), seja pelas positivas (dedicação ou amor). Portanto, outro posicionamento frente a si mesmo, ou seja, o que
pode-se afirmar que o outro passa a ser o que possibilita mobiliza o sujeito para a presentificação. Quando o su-
minha existência e dá sentido à relação de meu eu com jeito vivencia o trauma como algo que se repete, pode-
o mundo. mos pensar que a sua existência está cristalizada, pois
O adoecimento, para a psicopatologia fenomenológica aquele estabelece contato com o velho, o já vivido em sua
existencial, é uma forma de existência na qual o sujeito mesma configuração.
Artigo

não consciente reduz suas possibilidades de existir e de Na Gestalt-terapia, o conceito central é o fluxo de
devir, ocorrendo uma despotencialização de sua vida. contato, ou o modo como o sujeito estabelece contato em

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sua interação no mundo. O fluxo ou ciclo de contato é o cepção da prática psicoterapêutica possibilita o diálogo
processo de formação de figura (o que sobressai) e fun- com outras perspectivas no campo psicoterápico como, a
do (o que contextualiza) na interação entre o sujeito e o Gestalt-terapia, pois esta também compreende a relação
mundo. É a experiência primeira em tal interação, sen- paciente e psicoterapeuta como um momento de recons-
do um processo dinâmico, um fluxo constante e perma- trução de histórias.
nente de experiências. Entendemos que o modo como tal Daseinsanalyse e Gestalt-terapia propõem que a rela-
processo é estabelecido constitui a existência do sujeito. ção psicoterapêutica seja experienciada no seu entrelaça-
É no modo de contatar a si mesmo e ao mundo que se mento, o que significa pensar que cliente, psicoterapeuta
configura o campo homem-mundo, que nos informa e, e mundo coexistem e é a partir dessa correlação a possi-
ao mesmo tempo, informamos o que é ser sujeito (Perls, bilidade de mudança na dinâmica de funcionamento do
2002). É nesta discussão antropológico-existencial, que sujeito, ou ainda, a mudança no estabelecimento de con-
tanto a Gestalt-terapia quanto a Daseinsanalyse apontam, tato. Nessas perspectivas, o olhar é fundamentalmente
que se mostram importantes a apreensão e a compreen- fenomenológico, no sentido de compreender o que aconte-
são das relações de sentido entre a história de vida, as ce como instante de acontecimento. Articulando as obras
situações patológicas vividas pelo sujeito e seus sinto- de Merleau-Ponty (1994) e de Binswanger (2001), Coelho
mas. Entendemos que a articulação entre Gestalt-terapia Júnior (2001) destaca que ambos superaram a dualidade
e Daseinsanalyse pode se configurar na busca de com- entre os campos interior (subjetivo) e exterior (pretensa-
preender a história de vida do sujeito que adoece a partir mente objetivo) através da experiência originária do es-
do entrelaçamento entre a sua situação, os seus sintomas paço no qual ocorre a nossa relação com o meio, o mun-
e seu fluxo de contato. do, os outros e os objetos. É neste espaço que vivencia-
mos nossas sensações e experiências, que não ocorrem
nem dentro nem fora do sujeito, mas num espaço amplo
História de Vida: Compreendendo o Sujeito no qual podemos nos perceber, abertos ou fechados, a
Borderline na Clínica Fenomenológico-Existencial tais vivências e no qual nos estruturamos. Tal espaço é
o da experiência vivida, um espaço vivenciado, no qual
Binswanger (2001), influenciado pela filosofia de não há dentro nem fora, em que pode haver expansão,
Heidegger (1927/1976), dirige sua antropologia para o es- retraimento, queda e elevação. Trata-se do entre, da ex-
tudo do Dasein ou da existência, cuja estrutura funda- periência da relação entre sujeito e mundo. O espaço é
mental é o ser-no-mundo como transcendência, ou seja, uma dimensão central da experiência, pois possibilita o
trata-se do estudo do ser humano em sua integridade nor- encontro com o outro, por meio do qual nos constituímos.
mal ou anormal, sendo, portanto, tal a tarefa da psicopa- Ter um espaço no mundo significa ocupar um lugar na
tologia fenomenológica, nomeada como Daseinsanalyse vida do outro, apropriando-se dele e compartilhando-o
ou análise existencial. Desta forma, a psicopatologia fe- para poder transformá-lo. É em tal espaço potencializa-
nomenológica deve examinar o problema “do Ser e das do de encontro que o sujeito constitui e dá continuida-
relações do fenômeno psicopatológico com a existência de ao seu devir.
daquele que o padece” (Pereira, 2001, p. 139), o que sig- Na relação psicoterapêutica, tal encontro tem como
nifica que o fenômeno psicopatológico é uma constru- ponto de delineamento a discussão do normal e patoló-
ção que ocorre a partir do modo como o sujeito lida com gico. De acordo com Moreira e Sloan (2002), o critério do
a sua condição de Ser, ou seja, a própria experiência de que é normal ou patológico em psicologia, freqüentemen-
estar-no-mundo. Assim, a psicopatologia fenomenológi- te, é fundamentado no DSM-IV (2002), instrumento ela-
ca deve se preocupar com a análise da experiência mes- borado a partir de uma classificação psiquiátrica e que
ma de ser. A concepção de psicopatologia de Binswanger muitos psicólogos utilizam. Moreira (1994) considera que
(2001) utiliza o método fenomenológico, buscando des- falta à psicologia uma compreensão psicológica do pato-
crever o mundo a partir da perspectiva do sujeito e das lógico que esteja em função da clínica e possa contribuir
suas experiências no mundo, das condições da sua exis- no processo psicoterápico. O objetivo da psicoterapia é
tência e das suas possibilidades. De acordo com Pereira a mobilização do sujeito, seja qual for o movimento, na
(2001), a psicoterapia analítico-existencial de Binswanger sua existência, superando os seus conflitos. Quando os
“constitui uma tentativa de abrir certas formas de existir, conflitos não podem ser superados, há aí a imobilidade
fechadas, repetitivas e que acarretam sofrimento inútil e de uma existência no mundo no qual ser doente é a úni-
incapacidade de auto-realização a novas possibilidades ca possibilidade de ser.
estruturais de existência” (p. 141). Na Daseinsanalyse de Moreira (1994), tomando como base Merleau-Ponty
Binswanger (2001), a história do paciente é a descrição (1994), trata de um sujeito mundano, autônomo e respon-
de seu modo de existência. Intervir na história do sujei- sável: é mundano, pois se constrói na relação que estabe-
to não é aplicar determinadas técnicas, mas reconstruir, lece com o mundo e com os outros homens, resgatando a
Artigo

na relação psicoterapêutica, uma trajetória comum en- sua historicidade; é autônomo, pois é o arquiteto de sua
tre dois seres humanos. Compreendemos que essa con- própria existência, capaz de exercer com plenitude suas

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potencialidades; também é responsável, uma vez que o uma pretensa objetividade por parte do psicoterapeuta
homem é aquilo que se faz ser, sendo sua existência cons- fenomenológico existencial.
truída por ele mesmo na sua condição de mundaneidade, Os psicoterapeutas fenomenológico-existenciais utili-
submetido às contingências de sua situação existencial. zam a redução fenomenológica como estratégia para com-
Portanto, a psicopatologia fenomenológica existencial preender tanto as suas vivências quanto as do paciente
concebe o homem que se constrói na relação com o outro. na relação psicoterapêutica. Suspendem preconceitos,
Para que ele possa alcançar a consciência de si mesmo, valores e teorias, buscando compreender o sujeito em
isto é, a experiência de reconhecimento do modo como sua alteridade, o que envolve uma atitude psicoterapêu-
se constrói, o outro deve ser seu mediador indispensável. tica de ver e de escutar plenamente, potencializando a
Entendemos que a psicoterapia fenomenológica existen- sua compreensão do inaudível e do que está além do que
cial busca a compreensão de tal constituição, compre- está posto. Trata-se de escutar a fala do outro em todas
endendo a estrutura da existência num tempo subjetivo, as suas dimensões (Amatuzzi, 1989). Nesta perspectiva,
num espaço no qual o sujeito se abre e se fecha às suas o psicoterapeuta está, seguramente, sendo ressignificado
vivências, num corpo que é afetado e que se constitui no também, o que envolve um processo de auto-análise, de
tempo e no espaço a partir do outro. Perls, Hefferline e auto-escuta e de autoconhecimento permanentes de sua
Goodman (1997) destacam que a estruturação do sujeito parte. Tal postura nos faz pensar que o psicoterapeuta
nesse movimento dinâmico e constante de abertura e de não tem o controle de tudo. Seu poder, na medida em que
fechamento constitui o ciclo de contato. detém um saber elaborado a respeito dos fenômenos vi-
Ciclo de contato é a relação de formação de figura e vidos, é posto, efetivamente, a serviço do paciente, numa
fundo ou, ainda, o reconhecimento da experiência mais relação de mão dupla que proporciona um espaço para o
intensa no instante de seu acontecimento como sujeito. encontro genuíno das experiências de ambos.
Ao se manter em contato com sua experiência, o sujeito
se aproxima mais dela, vivenciando na sua forma origi-
nal, possibilitando sua reorganização. E, ao mesmo tem- O Processo Psicoterápico: A Daseinsanalyse e a
po, retirando-se da experiência intensa no momento que Gestalt-Terapia
percebe uma atualização da sua própria condição de ser
no mundo. É através da descrição que o sujeito pode apre- Buscamos, aqui, discutir teoricamente um processo
ender o essencial das situações vividas por ele e o sujei- psicoterápico em Gestalt-terapia, desenvolvido no SPA
to pode presentificar sua própria vivência e trazê-la para com uma paciente diagnosticada com transtorno de per-
seu processo psicoterapêutico tal como foi vivida para sonalidade borderline, incluindo a contribuição de ele-
que possa ser ressignificada. O psicoterapeuta, assim, a mentos teórico-conceituais da prática clínica da dasein-
partir do próprio projeto do sujeito e de suas escolhas de sanalyse, na medida em que favorece a compreensão da
como agir e de exercer sua liberdade, contribui para levá- construção da história de vida da paciente e das impli-
lo a tomar consciência do seu projeto da forma como ele cações no seu processo psicopatológico. A paciente foi
o vem realizando e de como levá-lo adiante, sempre se atendida uma vez por semana, com duração de uma hora
baseando na sua própria realidade e na sua relação com e meia, pois ela não tinha condições financeiras de vir à
o mundo (Moreira, 1994). instituição mais vezes e compreendíamos que havia ne-
A relação entre psicoterapeuta e paciente, na abor- cessidade de maior tempo e freqüência nos seus atendi-
dagem fenomenológico-existencial, ocorre no entrela- mentos. Assim, sugerimos que as sessões pudessem ter
çamento dos seus mundos fenomenológicos. Portanto, é uma duração maior para tentar dar conta da sua deman-
necessário que o psicoterapeuta exercite uma dupla es- da. O processo psicoterápico descrito ocorreu nos anos
cuta, ou seja, ele deve escutar o paciente e, também, a si de 2006 e 2007.
mesmo. É uma relação caracterizada pela presença, por Utilizando as ferramentas metodológicas da fenome-
estar plenamente com o outro, o que envolve uma atitu- nologia existencial, o estudo de caso envolveu três fases.
de de reciprocidade e de disponibilidade para entrar em Na primeira fase, de descrição fenomenológica, foi feita
contato consigo mesmo e com o paciente. Trata-se de se a coleta de dados no prontuário em que são registradas
dispor para que o paciente se faça presente na sua ex- as sessões realizadas com a paciente, arquivado no SPA.
pressão mais radical de alteridade. Tal relação é carac- Através dos registros das sessões, buscamos compreen-
terizada por um intenso envolvimento, como na conflu- der o modo de ser-no-mundo da paciente e discutir teo-
ência saudável, entendida, aqui, como uma relação de ricamente o seu processo de psicoterapia e suas implica-
complementaridade, que ocorre na diferença, havendo ções. Após o exame dos dados contidos no prontuário,
uma identificação entre paciente e psicoterapeuta (Perls, chegamos à segunda fase do estudo de caso: a redução
Hefferline & Goodman, 1997). Devido a tal identificação, fenomenológica, que se trata de um reconhecimento dos
ou seja, por estarmos profundamente envolvidos nessa temas emergentes descritos durante o processo psicoterá-
Artigo

relação que são duas alteridades em relação mútua, en- pico, segundo modelo proposto por Moreira (2001; 2004).
tendemos que não há, portanto, nem neutralidade nem Nesta fase, buscamos reconhecer os temas abordados pela

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paciente através da sua fala ao longo da psicoterapia, tais em jornais e na televisão. Ela passou a sair pouco de casa,
como família, trabalho, relacionamento afetivo, medica- pois tinha muita vergonha. Maria teve mais dois filhos
mentos, internações, história de vida, relacionamento com o marido. Este faleceu de infarto. Nesse período, ela
com os filhos, drogas, suicídio e retomada da sua vida. desenvolveu um quadro depressivo e passou a fazer uso
Ainda nesta fase, buscamos identificar a articulação dos de bebidas alcoólicas. Suas irmãs propuseram que ela se
temas, os entrelaçamentos entre eles e seus significados, mudasse para outro Estado para que esquecesse os fatos
ou seja, o modo como são vividos e expressos pela pacien- ocorridos. A princípio, ela não quis ir, mas, depois, resol-
te, através de sua fala e das intervenções da psicoterapeu- veu se mudar conforme sugerido pela família, deixando
ta. Em cada um dos temas, buscamos apreender o que ela os filhos com os seus pais.
disse e o modo como experienciou. A fase seguinte é a Durante os atendimentos, soubemos, cada vez mais,
da interpretação fenomenológica. Nela, elaboramos uma de sua história. No início, o que a preocupava mais era
discussão teórica dos temas emergentes no processo de o medo da revelação do segredo que manteve durante 19
psicoterapia como um todo, a partir da Gestalt-terapia e anos, isto é, que sua filha mais velha era fruto de um es-
da Daseinsanalyse, suscitando uma maior compreensão tupro. Por decisão da família, a verdade nunca foi contada
e uma melhor condução fenomenológica das experiên- à filha. Maria se apresentara na clínica-escola bastante
cias vividas e expressadas pela paciente. As perguntas apreensiva com a possibilidade de revelação do seu se-
disparadoras (Moreira, 2004) que moveram nosso estudo gredo. No hospital, ficou sabendo que teve seu segredo,
de caso foram: qual a relação entre a vida de Maria e sua embora não por completo, revelado pela irmã à sua filha.
condição existencial? Quais seus significados? Como a Sua irmã, em uma discussão com sua filha, disse-lhe que
história de Maria se entrecruza com a de sua filha? Será ela não era filha de quem ela imaginava ser. Neste mo-
uma única história ou serão duas versões diferentes? mento, ela percebeu que a filha estava vivendo a mesma
Como Maria percebe sua história? situação que ela vivera devido ao desconhecimento de
suas próprias origens. Ao se deparar com sua própria
história, reproduzida na da filha, sua organização psí-
Maria1, Uma (?) História de Vida quica, já bastante afetada anteriormente, nos parecia se
desintegrar, se desmanchar.
Maria tinha 40 anos e era viúva quando foi encami- Entendemos que tal organização existencial, construí-
nhada à clínica-escola (SPA) do Curso de Psicologia pelo da até então por Maria, se sustentava unicamente na nega-
setor de psiquiatria de um hospital local. No hospital, ção da sua própria história, ou seja, na evitação de contato
ela havia ficado internada durante quarenta dias devido (Perls, Hefferline e Goodman, 1997). Para Boss (1997), a
a uma crise convulsiva após ingestão alcoólica. A quei- desintegração é o que acontece com os fenômenos esque-
xa inicial da paciente, apresentada no setor de triagem cidos. Eles podem escapar do espaço de seu velamento
do SPA foi de que estava perdendo sua sanidade mental. para a manifestação do vir a ser. É o que a Gestalt-terapia
Afirmava que estava ficando violenta e que tinha pensa- considera como o retorno da situação inacabada, ou seja, a
mentos suicidas freqüentes. situação que não foi assimilada acumula força e impulso
Maria é natural de outro Estado e morava em Fortaleza suficientes para se manifestar e tornar-se figura.
há 17 anos. Sua mãe biológica era amante de seu pai e Maria ficou transtornada e com muita raiva de sua
morreu quando ela nasceu. O pai, então, a levou para sua irmã. Sua filha mais velha ligou para o hospital, pois
casa e Maria foi criada pela mulher de seu pai, com os queria conversar com Maria e saber a verdade. Maria
outros filhos do casal. Maria apenas ficou sabendo que disse-lhe que ela havia ouvido de sua tia uma mentira.
não era filha legítima de sua “mãe” aos 20 anos, quando Novamente, pôs a filha na situação ambígua de saber e
ouviu seu pai dizer à mulher que ela a tratava diferente de não saber, uma dúvida que perpassa a sua relação con-
por não ser sua filha legítima. sigo mesma e com sua filha. No hospital não atendia as
Maria casou aos 16 anos, pois seu pai havia prometido ligações de sua filha. Em atendimento na clínica do SPA,
uma de suas filhas ao filho de um colega. Ele colocou as afirmou que não havia qualquer possibilidade de contar a
quatro filhas lado a lado e disse que o colega escolhesse verdade à sua filha. Segundo ela, seria muito difícil para
uma: ele escolheu Maria. Perguntada por que achava que a filha enfrentar e ela não a perdoaria. Compreendemos
fora escolhida, Maria contou que o marido mencionou que que Maria tanto tinha dificuldade de enfrentar sua filha
gostou dela à primeira vista. Na época, seu futuro mari- quanto de perdoar sua mãe, desenvolvendo, assim, um
do tinha 40 anos. Ele, eventualmente, trabalhava à noite. discurso projetivo. A projeção é a atribuição ao mundo
Em uma das vezes em que ele foi trabalhar fora, Maria foi daquilo que se origina em si mesmo. No confronto com
estuprada por três homens, em sua casa. Sua filha mais o mundo, o sujeito projetivo não pode reconhecer o vi-
velha é fruto deste estupro, mas o marido aceitou pron- vido como seu e, então, “flutua livre” (Perls, Hefferline
tamente a gravidez. Maria disse que o estupro foi notícia & Goodman, 1997, p. 254); como não admite que a expe-
Artigo

riência vivida emerja dele mesmo, dirige-a e a atribui


ao mundo.
Evidentemente, por motivos éticos, o nome da paciente é fictício.
1

Revista da Abordagem Gestáltica – XV(2): 133-142, jul-dez, 2009 138


Reconstruindo Sentidos na Interface de Histórias: Uma Discussão Fenomenológico-Existencial da Constituição do Sujeito Borderline

Assim, Maria não percebia outra saída a não ser a sido completada pela mãe que a criou, pois, se a pessoa
morte. Em diferentes ocasiões, já havia tido ideações e é biologicamente íntegra e tem um ambiente atencioso e
tentativas de suicídio, como quando tomou vários com- adequado nos primeiros anos de vida, ela pode evoluir,
primidos de Diazepan e veneno de rato. Noutras vezes, num processo de maturação natural (Yontef, 1998); po-
tentou jogar-se em um poço e cortar os pulsos com uma rém, conforme os depoimentos de Maria, isso parece não
“Gilette”. Em todos os episódios, foi socorrida por alguém ter acontecido.
que estava por perto. Durante os atendimentos, teve ten- Maria retoma a história do estupro. Disse que ficou
tativas de suicídio. Disse que tentou matar-se com uma bastante abalada com o estupro e quis abortar a crian-
corda de rede de dormir e que, na última vez, tomou um ça, mas seu marido não deixou, pois encarou a gravidez
vidro de Novalgina. Seu sofrimento era tão intenso e in- como se a filha fosse sua. Maria dizia que sentia ciúmes
suportável, que o suicídio se lhe tornara atraente. Maria da relação do marido com a filha, chegando a discutir
descrevia o suicídio como um alívio para o seu sofri- com ele, pois achava que ele gostava mais de sua filha
mento, porém, também questionava se realmente sentiria do que dela. Seu marido dizia que não era verdade. Na
tranqüilidade depois de morrer o que, talvez, explique história de Maria, percebemos a repetição de diversos
suas tentativas frustradas de suicídio. Entretanto, para- vínculos atravessados por sentimentos de insegurança e
doxalmente, o que parecia mantê-la viva era a esperança de pouca confiança no outro: o vínculo com seu pai foi
da morte e do fim de seu sofrimento. atravessado pela ausência da verdade sobre sua história;
Numa sessão, Maria disse que ficou com muita raiva o vínculo com o marido foi atravessado pelo estupro, pelo
de seu pai por ele nunca lhe ter contado sobre sua mãe amor dele pela filha e por sua morte; o vínculo com suas
biológica. Disse que, quando soube do fato, avançou so- irmãs foi atravessado pela falta de acolhimento na oca-
bre ele com uma faca, pois achava que, muitas vezes, fora sião do estupro e, mesmo, pela rejeição; e o vínculo com
maltratada pela “mãe” e tratada de forma diferente das sua mãe de criação foi atravessado pela traição de seu pai.
outras filhas por causa disso. Se soubesse a verdade, não Percebemos, também, a repetição da história de Maria na
teria deixado a mulher que a criara agir desse modo com história de sua filha: a mãe que não cuida da filha.
ela e teria reagido de alguma maneira. Entretanto, disse, Maria disse que as duas outras vezes em que ficou
também, que ficou com raiva por saber a verdade e que, grávida não foram experiências agradáveis, pois remetiam
talvez, preferisse nunca ter sabido. Quem sabe, tivesse ao que sentiu na primeira gravidez. Disse que nunca tra-
sido melhor que a verdade tivesse “morrido” com o pai. tou a filha mais velha como tratava os outros filhos, ou
Assim, não tendo certeza do que teria sido melhor para seja, com atenção, porém nunca lhes deu o carinho que,
ela – saber ou não saber? –, também não sabe o que seria talvez, pudesse ter dado, pois não queria que ninguém
melhor para sua filha. Depois que ficou sabendo da ver- percebesse que ela tratava sua filha mais velha de for-
dade, passou a beber, pois “não estava nem aí com nada”. ma diferente, com indiferença, tal como foi tratada pela
Disse que se sentiu culpada pela morte da mãe biológi- sua mãe de criação. Pensamos que, mais uma vez, Maria
ca. Para nascer, o outro deve morrer. Nascer e morrer são manifesta um modo projetivo de lidar com os seus sen-
considerados existencialmente próximos por ela. Depois timentos, negando-os e atribuindo-os ao mundo. Maria
de dois anos morando fora, Maria esteve em sua cidade, contou que não suportou mais a sua situação de tristeza
no caminho de volta de uma viagem. Sua “mãe” disse após a morte do marido. Passou a morar com um irmão
que acreditara que ela tinha morrido. Refletindo sobre casado. Continuou a beber e a usar drogas. Dizia que se
tal momento da vida de Maria, pensamos que ela voltou sentia muito sozinha e sem o apoio de ninguém. Depois,
ao seu tema inicial: nascer, “aparecer” e morrer. saiu da casa do irmão e foi morar com uma amiga, hoje,
Maria contou que, quando pequena, tinha um cari- sua atual cunhada. Maria dizia que sua cunhada ”a ti-
nho muito grande pela mulher que a criou: disse que era rou” das drogas. Um tempo depois, sua “mãe” pediu que
muito apegada a ela, porém sentia que a “mãe” não tinha Maria voltasse para cuidar dos filhos, mas ela, durante
por ela o mesmo carinho. Quando sua mãe saía, Maria ia dois anos, não deu notícias à família, dizendo que não
até o ponto de ônibus e, lá, ficava esperando-a voltar, pois queria saber dela, pois a mandou para outro Estado, na
tinha medo que ela não retornasse. Perguntada por que intenção de distanciá-la dos filhos. Maria contou que, em
achava que sua mãe não expressava muito carinho por certo momento, quis levar seus filhos consigo, mas seus
ela e a tratava de modo diferente das outras irmãs, afir- pais não deixaram; diziam que, se ela quisesse, poderia
mava que achava que esse era o jeito de ser de sua mãe. ficar lá, com eles. Indicavam que ela não tinha condições
Sua mãe de criação, no final de sua vida, foi à cidade em de cuidar deles.
que Maria morava para pedir-lhe perdão, confessando Maria experienciou a independência punitiva ou di-
que tinha consciência de que, muitas vezes, não havia cotomizada (Yontef, 1998), que significa não ter para onde
sido uma boa mãe para ela. Maria diz que a perdoou. ir ou motivo para retornar, sentimento bastante presente
Apesar da mãe biológica de Maria ter morrido no parto, na sua relação com a família. Para ela, era difícil reconhe-
Artigo

a importante tarefa do desenvolvimento psicológico, que cer a possibilidade de estabelecimento de vínculos com
requer construir um vínculo com o outro, poderia ter o outro. A ambigüidade de sentimentos do outro sempre

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Anna K. da S. Melo; Georges D. J. B. Boris; Violeta Stoltenborg

esteve presente na vida de Maria, já que sua família se lhe dissera que ela não mais existia, ela não deve mesmo
mostrava, ora interessada nela, ora parecia desejar se dis- viver. Maria sentia profunda culpa, afirmando que deve-
tanciar dela. Na primeira vez que foi internada no hos- ria ter gostado mais de sua filha, lhe dado carinho e sido
pital devido a uma convulsão, uma de suas irmãs veio uma boa mãe. Sua vida estava nas mãos da filha, a única
visitá-la e Maria discutiu com ela sobre sua permanência que tinha o poder de absolvê-la. Se não o fizesse, Maria
no Estado. A irmã queria que ela voltasse para sua cidade se sentia merecedora da morte. Bin (1998) afirma que a
para que pudessem cuidar dela, mas Maria disse que não morte, para o sujeito borderline, é um sintoma, conside-
voltaria para lá de jeito algum. De lá, dizia que apenas rado como um dos modos de expressão de sua condição
tinha lembranças ruins. Ir para lá seria reviver sua his- existencial, pois compreende que só com a morte poderá
tória, deparar-se constantemente com aquilo que tanto se vir realizar o seu poder ser-aí.
esforçava em negar: sua situação com o sujeito e o lugar Compreendemos que Maria foi invadida pelos acon-
que ocupava na família (Binswanger, 2001). tecimentos e pelo outro desde o início da sua vida: inva-
Maria foi internada algumas vezes devido a ideações dida pela história da mãe biológica com o pai; pela “mãe”
suicidas, à agressividade e às mudanças de medicamento, que a criou; pelo pai quando não contou a sua origem;
pois eles já não faziam o efeito necessário para a inter- pelo marido que não ficou aborrecido com a gravidez e
rupção de suas crises, principalmente as de agressivida- nutria sentimentos de amor por sua filha; e pela filha que
de. Em diversos momentos, mencionou que ouvia vozes lhe impunha a necessidade de revelar a verdade sobre
de pessoas que a xingavam e uma delas ordenava que se sua história. Todas estas invasões tornaram sua existên-
matasse. Entendemos que tal suposto outro é, na verdade, cia adoecida. Ela se percebia como “a outra”, aquela que
ela mesma na condição de juíza de seus próprios senti- vive o mundo através do outro. Seu mundo se dividia
mentos. Merleau-Ponty (1942/1975) considera que a alu- em dois: antes de tomar conhecimento da verdade sobre
cinação é um fenômeno expressivo da existência, uma sua história e depois disso, ou, ainda, entre não saber e
conduta expressiva como qualquer manifestação huma- saber. As alucinações de Maria também manifestam tal
na. Portanto, apenas pode ser explicada no seu sentido divisão: culpa e ausência de culpa por ter deixado os fi-
existencial. Assim, no contexto dos atendimentos psico- lhos; contar e não contar sua história à filha; e morrer e
terápicos em fenomenologia existencial, devem ocorrer o não morrer.
reconhecimento e o acolhimento dos atos expressivos e Para Dör (1993), a gênese do adoecimento do sujeito
de sua significação no campo constituído pelo encontro borderline encontra-se na unilateralidade, o que signifi-
existencial (Campos & Coelho, 2002). Para Boss (1997), a ca que ele encaminha o seu projeto de vida em uma di-
compreensão da alucinação não está baseada na diferen- reção ou em outra, isto é, numa exclusão das possibili-
ciação entre a percepção de algo real e de algo irreal, mas dades e na impossibilidade de seu entrelaçamento. Para
na maneira como o paciente se encontra e se relaciona Dör, tal unilateralidade acontece no momento do encon-
com o que se impõe a ele pelo mundo. A alucinação se tro primário com o mundo, ou seja, na infância. Tinha
caracteriza pela intensidade como as coisas ou as pesso- sempre presente um sentimento de culpa por ter nasci-
as se apresentam, mas, também, pela falta de liberdade do. Seu nascimento provocou a morte de sua mãe bioló-
em relação a elas. Assim, Boss esclarece que a alucinação gica e, posteriormente, o mal-estar da “mãe” que a criou,
sempre contém um sentido de aparecimento e de signifi- a nova mulher de seu pai. O acolhimento e a escolha
cado que correspondem ao entendimento possível do pa- dela por parte do pai, e, posteriormente, do marido, não
ciente em relação a si mesmo e ao que se lhe apresenta eram considerados por ela como atitudes que pudessem
do mundo, que não ocorre necessariamente na presen- redimensionar sua culpa. Desde o início, a relação que
ça concreta de um estímulo externo. Nas alucinações de estabeleceu com o mundo foi de distanciamento e de de-
Maria, pudemos perceber que elas manifestavam o sen- samor, ou seja, de unilateralidade.
timento de um mundo que a rejeitava, que não a acolhia.
Também indicavam sua auto-imagem negativa e, portan-
to, digna de morte. Considerações Finais
Nos últimos atendimentos que acompanhamos, Maria
continuava tentando contato com sua filha, que persis- Na psicoterapia fenomenológico-existencial, o psico-
tia se negando a falar com a mãe. Maria desconfiava que terapeuta busca compreender o sujeito borderline, sus-
ela já soubesse de toda a verdade. Através de outra irmã, pendendo o que conhece a priori a respeito da doença
ela confirmou o que temia: uma de suas irmãs contara e considerando o sujeito a partir da sua forma de se ex-
tudo à filha. Maria ficou bastante preocupada com a fi- pressar no mundo. As formas de expressão e os sintomas
lha e sofria, imaginando o quanto devia ser difícil para são considerados importantes na perspectiva psicopato-
a filha vivenciar a mesma situação que ela vivera anos lógica fenomenológica, o que não significa que devam
antes. Gostaria de estar perto dela para poder conversar ser determinantes e que, a partir deles, se classifique o
Artigo

e acolhê-la. Achava que sua filha devia estar se sentindo sujeito num quadro clínico. O desafio do psicoterapeu-
muito sozinha. Entretanto, argumentava que, se a filha ta fenomenológico-existencial é compreender o paciente

Revista da Abordagem Gestáltica – XV(2): 133-142, jul-dez, 2009 140


Reconstruindo Sentidos na Interface de Histórias: Uma Discussão Fenomenológico-Existencial da Constituição do Sujeito Borderline

borderline numa perspectiva antropológica, estando aten- Referências


to aos significados que ele manifesta em sua existência
no mundo e como ele se relaciona com a realidade à sua Amatuzzi, M. M. (1989). O resgate da fala autêntica. Campinas:
volta. A partir da compreensão fenomenológica existen- Papirus.
cial, o psicoterapeuta busca, na relação terapêutica com American Psychiatric Association. (2002). Manual diagnóstico
o paciente borderline, construir novos sentidos para sua e estatístico de transtornos mentais - DSM-IV-TR (Cláudia
existência (Bin, 1998). Dornelles, Trad.) (4. ed. rev.). Porto Alegre: ArtMed.
Tratamos da história de Maria como um conjunto de
experiências vividas não apenas no campo inconsciente, Bin, Kimura (1998). Fenomenologia da depressão estado-limite.
Revista Latinoamericana de Psicopatologia Fundamental,
mas, fundamentalmente, do modo como ela significava
1(3), 11-32.
as diversas situações de sua existência. Maria lidava com
a relação com a mãe, com a filha e com o pai, negando- Binswanger, L. (2001). Sobre a psicoterapia. Rev ista
os, e assim fez com qualquer outra pessoa com quem es- Latinoamericana de Psicopatologia Fundamental, 4(1),
tabelecesse vínculo afetivo. Compreendemos que esta é 143-166.
a sua forma de negar a dor por conta da sua necessidade Boss, M. (1997). Análise existencial - Daseinsanalyse. Revista
do outro. Maria não conseguia lidar com novas situações, da Associação Brasileira de Daseinsanalyse. 2, 23-35.
pois não as incorporava às situações do passado. Para
Perls (2002), cada nova situação compreende a agressão Campos, E. B. V., & Coelho Jr., N. E. (2002). O conceito de alu-
cinação em Merleau-Ponty: aspectos clínicos e patológicos.
e a destruição, pois apenas conseguimos algo novo para
Revista Latinoamericana de Psicopatologia Fundamental,
incorporar à velha estrutura quando a alteramos. Maria 2, 13-27.
não conseguia “destruir” seu antigo hábito consumado
de não estabelecimento de vínculos, ou seja, desenvol- Cardinalli, I. E. (2004). Daseinsanalyse e esquizofrenia: um es-
veu um apego a uma situação inacabada que, mesmo na tudo na obra de Médard Boss. São Paulo: EDUC.
ausência de satisfação criativa, lhe proporcionava a cer- Coelho Jr., N. E. (2001). A superação da dualidade interno/
teza de não-aniquilamento. Entendemos que o proces- externo nas teorias fenomenológicas de Binswanger e
so psicoterapêutico de Maria conseguiu estabelecer um Merleau-Ponty. Revista Latinoamericana de Psicopatologia
vínculo no qual pôde compreender um novo modo de Fundamental, 4(2), 11-17.
construir suas relações sem ser ameaçada pelo encon-
Dör, O. (1993). Psiquiat r ia ant ropológica. Sa nt iago:
tro com o outro.
Universitária.
Maria interrompeu seu processo psicoterapêutico de-
pois de um ano e meio. A estagiária que a acompanhava Heidegger (1976). Ser e tempo. Petrópolis: Vozes. (Originalmente
havia terminado o seu período de estágio, mas tentou da publicado em 1927).
maneira menos dolorosa possível, encaminhá-la a uma
Heidegger, M. (2001). Seminários de Zollikon (Medard Boss,
nova estagiária para que ela não vivesse um novo aban- Ed.). Petrópolis: Vozes.
dono. Inicialmente, Maria se mostrou resistente, porém,
depois de algumas sessões, disse estar disposta a dar Merleau-Ponty, M. (1975). A estrutura do comportamento
continuidade ao processo psicoterapêutico com outra es- (Márcia Valeria Martinez de Aguiar, Trad.). Belo Horizonte:
tagiária. No entanto, ao final do processo, Maria avisou Interlivros. (Originalmente publicado em 1942).
que não daria seqüência à psicoterapia naquele momen- Merleau-Ponty, M. (1994). Fenomenologia da percepção. São
to, pois a pessoa que a apoiava financeiramente, o pai da Paulo: Martins Fontes. (Originalmente publicado em
sua amiga, não mais podia ajudá-la, tornando difícil seu 1945).
transporte até o SPA. Num primeiro momento, pensamos
Minkowski, E. (2000). Breves Reflexões a respeito do sofrimen-
que poderia ser, mais uma vez, a sua desistência ante-
to. Revista Latinoamericana de Psicopatologia Fundamental,
cipada da relação com o outro e a evitação de se sentir 3(4), dez., 156-164.
abandonada, mas na sua última sessão, Maria mencionou
que havia conversado com uma de suas irmãs por tele- Moreira, V. (1994). Psicoterapia Fenomenológica Existencial:
fone e que decidira visitar a família no seu Estado natal, Aspectos Teóricos da Prática Clínica com Foco nas
Competências. Trabalho apresentado em VII Encontro Latino
pois sua irmã bancaria a viagem e era seu desejo retomar
Americano da Abordagem Centrada na Pessoa, Maragogi,
algumas situações que havia deixado em aberto: tentar Alagoas, Brasil.
conversar com a filha e resgatar a relação com os demais
filhos. Imaginamos que tal atitude tenha sido a forma de Moreira, V. (2001). Más allá de la persona: hacia una psicote-
Maria buscar restabelecer seu vínculo com a família e que rapia fenomenológica. Santiago: Editorial Universidad de
o processo psicoterapêutico fenomenológico-existencial Santiago de Chile.
tenha contribuído com sua decisão. Moreira, V. (2004). A fenomenologia de Merleau-Ponty como fer-
Artigo

ramenta crítica na pesquisa em psicopatologia. Psicologia:


Reflexão e Crítica. Porto Alegre, 17(3), 447-456.

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Anna Karynne da Silva Melo - Psicóloga, Mestre em Psicologia, Espe-


cialista em Filosofia e Epistemologia da Psicologia e Professora Adjunto
do Curso de Psicologia da Universidade de Fortaleza (UNIFOR). Pes-
quisadora e Co-Coordenadora do Laboratório de Psicopatologia e Psi-
coterapia Fenomenológica Crítica (APHETO). Endereço Institucional:
Universidade de Fortaleza, Diretoria do Centro de Ciências Humanas
(Psicologia). Av. Washington Soares, 1321 (Bairro Edson Queiroz). CEP
60811-341 (Fortaleza/CE). Email: karynnemelo@unifor.br

Georges Daniel Janja Bloc Boris - Psicólogo, Mestre em Educação
e Doutor em Sociologia pela Universidade Federal do Ceará (UFC).
Professor Titular do Curso de Psicologia e do Mestrado em Psicologia
da Universidade de Fortaleza (UNIFOR). Coordenador do Núcleo de
Estudos das Relações de Gênero (NUGEN) e do Núcleo de Pesquisas
e Práticas em Processos Grupais (NUPEG), associados ao Laboratório
de Psicopatologia e Psicoterapia Fenomenológica Crítica (APHETO), do
qual é um dos Coordenadores. Endereço Institucional: Universidade
de Fortaleza, Diretoria do Centro de Ciências Humanas (Psicologia).
Av. Washington Soares, 1321 (Bairro Edson Queiroz). CEP 60811-341
(Fortaleza/CE). Email: geoboris@uol.com.br

Violeta Stoltenborg - Psicóloga pela Universidade de Fortaleza (Unifor).
Email: violeta.stoltenberg@oi.com.br

Recebido em 11.05.09
Aceito em 19.09.09
Artigo

Revista da Abordagem Gestáltica – XV(2): 133-142, jul-dez, 2009 142

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