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ARTE NA ESCOLA, PRA QUÊ, MESMO?

This entry was tagged Arte arte e educação arte e política defesa da arte na educação educação e arte ensino de arte Escola

escola pública; and posted on 4 de novembro de 2019

JR. Salvador-Brasil. Disponível em: https://www.jr-art.net/projects/inside-out-project-group-actions

Ontem foi dia de luta! As ruas foram ocupadas por jovens, adultos, idosos e aqui e acolá uma ou outra
criança irrompia na paisagem com seus sorrisos infantis portadores de uma esperança que parece estar nos
escapando por entre os dedos…
Como professor me sinto impelido a participar de momentos como aquele, não podendo fugir à função social
que me foi outorgada pela sociedade através de meu diploma. É meu dever lembrar à população que é
necessário manter a esperança viva ainda que sôfrega. É importante manter vivo na memória o direito aos
espaços que garantam ao povo o direito à voz e assim manter acesa a chama da possibilidade de mudança.
Como artista que sou, me sinto vocacionado a, junto de companheiros do presente, atender ao chamado de
nossos antecessores e contribuir com o grito daqueles que querem ter “voz ativa e no nosso destino mandar”
– Salve Chico, o Buarque.
Imbuído desse sentimento é que me reuni com outros companheiros e companheiras da jornada docente e
caminhei lado a lado com estudantes que acreditam ser donos de seus destinos e portadores de vozes
próprias.
Os estudantes que me ladeavam ontem traziam no peito um certo inconformismo e a capacidade de
transformar suas dores em poesia: vi, ouvi e senti a vibração de seus corpos, capazes de converter-se em
manifestações vivas da arte.
Pois é assim que compreendo a arte: uma oportunidade de transformar-se e transformar o mundo que
habitamos através da manifestação dos nossos sentidos e sentires, direcionando-os e ofertando-os ao(s)
outro(s).
Penso, portanto, que a arte seja sempre um diálogo entre o que está posto como realidade e as infinitas
possibilidades de sua reinvenção. Compreendo que a arte seja um dos meios pelo qual os sujeitos são capazes
de garantir o seu direito a vez e voz no mundo, que é capaz de silenciar e fazer emudecer com bastante
facilidade e frequência.
Vivemos um momento no qual o silenciamento busca ser alcançado não pela impossibilidade da voz (a
internet, com suas redes sociais e proliferação de fake news, parece nos iludir com a garantia de tal voz),
mas pela sua orquestração uniforme, pela tentativa de garantir narrativas únicas e em conformidade com uma
hegemonia (já) instalada.
Nesse momento o que se pode perceber é um movimento de ataque aos discursos e corpos que não se
apresentem em consonância com a narrativa institucionalizada pelos detentores dos meios de condução da
vida pública, e mesmo privada.
Daí decorrem diversos ataques àqueles que são identificados como em não conformidade com o projeto em
marcha. Não por acaso, artistas são atacados publicamente dia após dia, seja através da depreciação de sua
produção seja pelo ataque às suas biografias; dia após dia o próprio estatuto da (sua) arte é questionado numa
espécie de tribunal inquisitório formado por “especialistas de última hora” no “Grande júri” das Redes
Sociais.
Para tais especialistas não importam as reflexões e o conhecimento acumulado ao longo de toda a história
humana, e em especial da história da arte produzida até a contemporaneidade. A estes me parece interessar
única e exclusivamente a repetição monótona e pouco colorida de tons acinzentados já consolidados pelos
seus próprios padrões estéticos.
Aliás, importante dizer, esqueceram o significado dessa palavrinha tão repetida, mas tão pouco
compreendida (ou seria mais correto dizer ainda nunca aprendida?).
A Estética, enquanto disciplina filosófica, há muito deixou de ser uma régua de medir os sentires a partir de
padrões pré-estabelecidos na busca de um ideal distante, para se transformar na instauração de um diálogo
aberto e franco entre os artistas, os objetos artísticos e os apreciadores destes objetos.
Assim sendo, já não há um exemplo único que precisa ser seguido; não há fórmulas prontas que estabeleçam
rota segura para alcançar modelos; não há garantias de que os resultados serão correspondentes às
expectativas. A arte contemporânea, por razões diversas, entregou-se à possibilidade da experimentação; ao
abandono de padrões pré-concebidos e necessidade da repetição de qualquer regra que seja afirmação de uma
verdade única, enfim assumiu-se como radicalmente humana: incompleta, incerta, em constante mutação e
acima de tudo, diversa.
Poderia então o ensino de arte fugir dessa configuração? Seria possível a um docente-artista não apresentar
aos seus alunos a possibilidade da experimentação da arte como uma alternativa de reinvenção da realidade,
assunção do espaço de disputa por sua própria voz e, portanto, como irrupção de não conformidades no
espaço escolar?
Não seria dever de um artista-docente provocar sua comunidade a refletir sobre como a arte pode ser
manifesta de formas diversas e encorajá-lo a receber as vozes que ela porta para o tal diálogo franco e
aberto? É realmente facultado ao professor de arte esvaziar a arte de suas cores, tonalidades e gestos em
nome de uma conformidade aos tons de cinza que vem tomando conta dos espaços escolares?
Por que muitas vezes parece que a escola busca silenciar aqueles que ainda mantém alguma disposição para
questionar o que estaria posto como cláusula pétrea (aliás, onde está mesmo descrita esta cláusula?) Não
deve ser a escola um lugar onde é garantido o pensamento reflexivo, a crítica científica e a experimentação
artística?
Por que incomoda tanto a possibilidade da expressão dos alunos em processo de formação? A quem interessa
o cerceamento das possibilidades expressivas dos corpos?
O que dizer quando a censura, disfarçada de denúncia, se instala entre os trâmites legais que atingem aqueles
que apenas cumprem o papel para o qual estado eles capacitou e contratou?
Hoje o dia foi de luta! A escola está, e continuará, sendo ocupada pela arte de adolescentes que com suas
vidas propagam a crença na esperança de (em meio ao silenciamento em tons de cinza) manter o colorido
estampado no piso da área de vivência (quanta ironia!) que insistirá em lembrar aos transeuntes que por ali
passaram sujeitos capazes de intervir na conformidade do espaço para deixar claro que a escola é também um
espaço para o diálogo com a não conformidade, assumida historicamente por aqueles que ousaram
transformar amores, dores, alegrias e sentires em inconformadas formas de arte.
Natal/Ceará-Mirim, 14/08/2019

Por Thulho Cezar Santos de Siqueira


(thulho.santos@ifrn.edu.br)
É Professor de Teatro no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte,
Campus Ceará-Mirim. Doutor em Educação (UFRN), Mestre em Letras (UERN) e Graduado em Educação
Artística com Habilitação em Artes Cênicas (UFRN).

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