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Doutorando em História pela Universidade Estadual de Campinas.
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do continente europeu, alguns dos quais estabeleceram sociedades comunistas,
decalcadas sobre a dos primeiros cristãos. As colônias inglesas estavam tão
distantes dos controles sociais e políticos da Inglaterra que, praticamente,
qualquer experiência era possível. Nem todas as experiências tiveram êxito,
mas o importante é que as colônias inglesas eram lugares onde elas podiam ser
tentadas. (JENSEN, 1972:39)
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“Mayflower Compact”), o seu Exodus (a Declaração da Independência), os seus Dez
Mandamentos (a Constituição, o Bill of Rights)” (CATROGA, 2005:30).
De modo diferente às nações européias, as quais buscavam sua legitimação a
partir da constituição de um passado, os Estados Unidos da América postavam-se como
nação legitimada a partir da certeza da consecução de um futuro glorioso. Em um artigo
de 1839, John Louis O’Sullivan, jornalista democrata, que propugnou o ideal do Destino
Manifesto Norte-Americano afirmava que “Yes, we are the nation of progress, of
individual freedom, of universal enfrachisement... Who, then, can doubt that our country
is destined to be the great nation of futurity?” (CATROGA, 2005:68).
Este futuro legitimador configurou-se com maior clareza com a expansão
territorial norte-americana durante o século XIX, que forjou a Teoria do “Destino
Manifesto”, a qual por sua vez legitimava o ideário de expansão. Segundo tal teoria:
Tendo a América sido escolhida por Deus, a sua história só pode ser a da
objectivação de um manifest destiny
(...)
Em termos concretos, reivindicava-se o direito de os EUA ocuparem todo o
continente, em nome da realização dos valores consignados nos seus textos
fundadores. Com isto, o conceito sintetizava as promessas do messianismo
secular, há muito semeadas pela religião civil. (CATROGA, 2005:67-68)
Tal perspectiva postava como grande mérito e valor estadunidense ser esta
nação a “oficina da liberdade” (GAY, 1972:54) e como tal configurava-se como um
exemplo aos povos do mundo, isto é, “A América do Norte era nova, não tinha modelo,
mas era um modelo para os outros” (GAY, 1972:54).
Nos Estados Unidos o Destino Manifesto embasava não apenas a perspectiva
de uma nação construída sob os auspícios divinos, mas também que tinha por dever a
propagação da graça divina aos recantos do mundo. Esta empreitada alimentou, por sua
vez, os projetos de missionarismo protestante que tomaram fôlego nas igrejas
estadunidenses, no século XIX.
Antonio Gouvêa Mendonça (MENDONÇA, 1995:63) afirma que, entre os
últimos anos do século XVIII e os primeiros vinte anos do XIX, já havia nos Estados
Unidos mais de vinte sociedades missionárias protestantes (presbiterianas, batistas,
congregacionais e metodistas) voltadas à evangelização dos povos nativo-americanos. Na
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década de 1830 surgiram os comitês de missões estrangeiras levando os olhares
protestantes estadunidenses para as outras nações.
O alargamento da “Fronteira” até o Pacífico concluiu-se em conjunto com a
efervescência dos chamados movimentos avivamentalistas (revivals) nas igrejas
protestantes, os quais exigiam de seus fiéis maior investimento e dedicação no trabalho
missionário para além das fronteiras; e tal processo reforçou-se com a conjunta
propagação do ideário do Destino Manifesto.
Tal perspectiva caminhava em uma direção em que a linha de raciocínio era
a seguinte: como detentores da “verdade” os protestantes estadunidenses deveriam estar
convencidos de seu supremo dever em compartilhar tal “verdade” às nações que ainda
não haviam tido acesso a este privilégio concedido pelo próprio Deus.
Assim, o expansionismo norte-americano oitocentista ia para além do
espectro territorial, postando-se como “desígnio agora secularizado e apresentado como
um destino simultaneamente pragmático (o expansionismo), religioso e utópico”
(CATROGA, 2005:68).
Esse ethos utópico apresenta-se, segundo Rubem Alves, na ideia de uma
“utopia social protestante”, que constituiria a melhor sociedade possível:
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na medida em que o respeito à propriedade, à família e à integridade física estariam no
cerne dessa comunidade.
Não obstante a premissa de que tais protestantismos constituíam-se a partir
de uma lógica teológica cristã na qual a escatologia não podia ser lançada, essa espécie
de utopia protestante admitia a esperança de construção de uma comunidade feliz na terra
a partir do esforço ativo dos fiéis e da adequação a uma conduta moral condizente aos
ensinamentos cristãos.
Para Alves, tal perspectiva pode ser considerada como utópica na medida em
que:
With the utopia of the future, it was different: the future cannot be observed or
checked; as the future, it cannot be captured by the experience. In the
repertoire of constructing the fiction, the utopia of the future is, therefore, a
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genuine and pure achievement of the author’s mind. Even the imagined
support of spatial controls break free. In this way, the fictional status of a
temporal utopia differentiates itself from a spatial utopia. (KOSELLECK,
2002:87)
Assim, durante o século XIX ocorre uma polifonia discursiva que elenca e,
por vezes, coaduna elementos que remontam ao progresso, a um futuro feliz, a transição
rumo a uma sociedade nova, enfim, à ucronia. Vê-se então uma miscelânea entre utopias,
projetos igualitários e esperanças milenaristas, as quais Delumeau considera como
propagadores da passagem do alhures ao futuro (DELUMEAU, 1997:267).
Neste contexto, o protestantismo proselitista das missões norte-americanas
tomaram o Brasil como um de seus alvos a partir da segunda metade do século XIX;
assim, diversos comitês de missões estrangeiras de variadas vertentes denominacionais
protestantes enviaram missionários ao Império do Brasil, os quais acabaram por fundar
várias de suas igrejas no território brasileiro.
Ao findar do século XIX grande parte dos líderes protestantes no Brasil ainda
eram naturais dos Estados Unidos, nação que trazia, sob os auspícios da doutrina do
Destino Manifesto, o baluarte da República, da democracia, da liberdade e do
protestantismo na América.
Dentre estes líderes estava o reverendo presbiteriano De Lacey Wardlaw, que
havia partido dos Estados Unidos rumo ao Brasil em 1880 e que em 1882 seria designado
para fundar uma igreja Presbiteriana na cidade de Fortaleza. Wardlaw que se utilizava de
um jornal local, o ‘Libertador’, como meio de propaganda da missão presbiteriana no
Ceará, escreveria em 1890 acerca da proclamação da república e da abolição da
escravidão no Brasil nos seguintes termos:
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empobrecendo o povo, e sobrecarregando os thesouros nacionaes com dividas
immensas – aqui se obteve em poucas horas, sem sacrifício algum!
Bem pode o povo prorromper n’um grande
VIVA A LIBERDADE !!!
As industrias desenvolvem-se!
O commercio estende-se!
A immigração augmenta-se!
Que futuro não nos espera?! (LIBERTADOR, 1890) 2
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Tal trecho foi retirado por De Lacey Wardlaw do periódico “Imprensa Evangélica” de São Paulo, e
publicado no ‘Libertador’ em 06 de dezembro de 1890.
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Texto publicado em 30 de abril de 1887.
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Bibliografia:
ALVES, Rubem. Dogmatismo & Tolerância. São Paulo: Edições Loyola, 2004.
_______. Religião e Repressão. São Paulo: Edições Loyola, 2005.
CATROGA, Fernando. Nação, Mito e Rito: Religião civil e comemoracionismo (EUA,
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DELUMEAU, Jean. Mil anos de felicidade: Uma história do Paraíso. Tradução de Paulo
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Editora Cultrix, 1972.
Jornal “Libertador”. Fortaleza, 1887-1890.
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Número 2. 2005.
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