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A COR PÚRPURA | Alice Walker

A cor púrpura é um romance epistolar que se passa nos anos 1930 e no qual lemos as cartas
que Celie, começando aos 14 anos, escreve a Deus. Com toda a dificuldade de uma rapariga
praticamente semianalfabeta, ela esforça-se para mostrar a Deus as dificuldades por que
passa, sem nunca pedir ajuda, clemência ou nada disso, mas para desabafar com o Todo-
poderoso. Vê a vida com a tristeza que realmente ela representa para si: feia, desajeitada,
constantemente violada pelo pai, que a engravida duas vezes e entrega os bebés para adoção,
protegendo a sua irmã mais nova e mais inteligente, Nettie, ela esfalfa-se para levar a sua vida
da melhor maneira possível, cuidando da mãe doente que a odeia – e todos sabem porquê.
Até que a mãe morre.

Então, um homem, identificado sempre como “o Senhor”, faz uma proposta de casamento
para Nettie, porém o pai das meninas não permite que ela se case, mas oferece Celie como
opção juntamente com um dote: uma vaca. Como precisa de alguém para cuidar dele, da casa
e dos filhos, pois sua mulher foi assassinada por um amante, o “Senhor” aceita o acordo e
leva-a. Depois de um tempo, Nettie acaba fugindo de casa e refugia-se na casa de Celie, mas
esse arranjo não dá certo por muito tempo, e Nettie vai embora, deixando Celie de coração
partido, mas sempre, sempre subjugada por todos.

O preconceito levado às últimas consequências


São poucos os brancos que figuram neste livro de Alice Walker, porém os problemas que o
preconceito racial traz são muito claros dentro do livro. Todas as relações estabelecidas têm
um filtro de séculos de opressão do povo negro, que se reflete muitas vezes no estilo de vida e
nas decisões das personagens do livro. Porém, há também um tom de rebeldia que aparece
principalmente na forma de Shug Avery, cantora que também foi amante do “Senhor” e acaba
virando uma grande aliada de Celie.

Outra personagem que não só traz um tom de rebeldia negra mas também de liberdade
feminina é Sophia, mulher de Harpo, enteado de Celie. É uma mulher grande, forte e
independente, que não se submete a homem nenhum, e por isso também sofre na mão dos
brancos por um incidente que é o resumo da opressão racial até os dias de hoje. Não há como
passar ileso por essas reflexões.

A luta pela vida: alguns excertos


A questão da luta é recorrente em A cor púrpura, seja ela física, moral ou espiritual. As brigas e
a violência contra os negros e contra as mulheres não são algo raro no romance, nem na vida
real, como bem sabemos. E as mulheres deste livro em geral são grandes lutadoras. E em
diversos excertos do livro Celie escreve sobre essa luta pela sobrevivência. E também sobre ser
mulher.

Deixo alguns excertos que destaquei do livro, que tanto me deixou aflito, mas que também
aqueceu meu coração inúmeras vezes. Uma leitura para a vida.

“Mas eu num sei como brigar. Tudo o queu sei fazer é cuntinuar viva.

Ela falou, Dona Celie, é melhor você falar baixo. Deus pode escutar você. Deixa ele escutar, eu
falei. Se ele alguma vez escutasse uma pobre mulher negra o mundo seria um lugar bem
diferente, eu posso garantir.

Toda minha vida eu tive que brigar. Eu tive que brigar com meu pai. Tive que brigar com meus
irmão. Tive que brigar com meus primo e meus tio. Uma criança mulher num tá sigura numa
família de homem. Mas eu nunca pensei que ia ter que brigar na minha própria casa.” (Cellie
transcrevendo fala de Sofia)

Celie é uma menina negra que vive com sua família, os pais adotivos e uma irmã mais nova
(Nettie), em uma área rural da Geórgia, nos Estados Unidos, no início do século XX. Ela é
violentada pelo pai, de quem tem dois filhos, um menino e uma menina. Entretanto, assim
que eles nascem, são entregues a um casal de missionários que não pode ter filhos. Aos
catorze anos, Celie é dada em casamento a um viúvo da comunidade que precisa de alguém
para cuidar de sua casa e de seus três filhos. Ela é humilhada pelo marido e por seus filhos,
como era por seu pai. O marido às vezes usa de violência física contra ela e assim, quando o
enteado (Harpo) pergunta-lhe o que deve fazer com sua esposa insolente (Sofia), Celie
responde: “Bata nela”.Na comunidade em que Celie vive, a violência marca a relação entre
homens e mulheres. Os homens acreditam que só conseguem ser respeitados pelas
mulheres se baterem nelas. Albert ensinou ao filho que “mulher é feito criança. Mostra quem
é que manda. Nada melhor que uma boa surra”. Assim, a violência física não só é tolerada,
como ensinada e estimulada como forma de controlar o comportamento das mulheres. A ela
se junta a violência psicológica praticada não apenas contra as mulheres individualmente,
mas também coletivamente. Em um acesso de raiva contra Celie, Albert verbalizou a
maneira como as mulheres são vistas na comunidade: “Você é negra, pobre, mulher, você
não é nada”.O marido deixa claro que não tem nenhum afeto por Celie, pois na realidade
pretendia casar-se com sua irmã, mas o pai recusou-se a dar-lhe sua mão e ofereceu Celie
em seu lugar. Entretanto, o maior símbolo de sua humilhação é também sua grande chance
de rendição: um dia Albert traz sua amante (Sugar), que estava doente, para morar com a
família. No início, ela também trata Celie como uma serviçal, mas elas passam a ser amigas.
Celie apaixona-se por Sugar, que ajuda-a a romper o ciclo de violência, sair da família e
recomeçar uma nova vida, fazendo “calças mágicas”, que cabem em qualquer pessoa.A
personagem principal é vítima de violência psicológica e sexual por parte do pai, violência
física e psicológica pelo marido e torna-se ela mesma defensora do uso da violência para
lidar com “mulheres insolentes”, fornecendo um exemplo da transmissão intergeracional da
violência.O filme é fiel ao livro de Alice Walker, apesar das simplificações que se fazem
necessárias na transposição de obras literárias para o cinema. Uma crítica que pode-se fazer,
tanto ao livro quanto ao filme, é que, no momento em que Celie consegue libertar-se do ciclo
da violência, começar uma vida nova e reencontrar os filhos, já adultos, ela também fica
sabendo que seu pai era, na realidade, seu padrasto. Embora este fato tenha impacto
literário, psicologicamente não tem o mesmo efeito, pois Celie foi forçada a manter relações
sexuais com o homem a quem ela atribuía a função de protegê-la, independente de ele ser
seu pai biológico ou padrasto. A gravidade da violência e as conseqüências do abuso não são
mitigadas pela inexistência de consangüinidade entre eles.

Logo nas primeiras páginas, Celie, a personagem principal, é abusada


sexualmente pelo pai, engravida e é dada em casamento para um
vizinho que a maltrata. É também um livro recheado de ternura, de amor
e de personagens que demonstram sua capacidade de reinvenção e,
sobretudo, de afeto.

A linguagem simplória, com erros de ortografia e concordância cometidos


pela narradora, que escreve cartas para a irmã desaparecida para
combater a solidão, em um primeiro momento causa estranheza. Mas
essa sensação inicial é logo substituída por uma crescente empatia pela
personagem, com a qual desenvolvemos uma relação de intimidade.

Celie é a mais velha entre vários irmãos e, na tentativa de proteger a


irmã mais nova, ela sofre constantes abusos sexuais do pai. Suas duas
gravidez não desejadas terminam com os bebês sendo retirados de seu
convívio, entregues para outras famílias. Quando sua mãe morre, o pai
decide tirá-la terminantemente de casa, na tentativa de afastá-la da irmã
mais nova, Nessie, dando-a em casamento para Albert, um fazendeiro da
região que também cortejava sua irmã, que decide fugir em busca de
uma vida diferente.

No início, Celie tem dificuldade de reagir. Entre os abusos do pai e os


maus tratos do marido, ela se afunda na depressão, concentrada em
trabalhar na roça e cuidar dos filhos do primeiro casamento de Albert.

Mas eu num sei como brigar. Tudo o queu sei fazer é cuntinuar viva.
A história só começa a mudar com a chegada de Avery Shug, a amante
de Albert. No começo, as duas se estranham. Avery diz para Celie que
ela é mesmo feia, e Celie se sente pouco à vontade em sua
insignificância perto da exuberância da mulher, que emana calor e
decisão, do alto de suas roupas bonitas e de sua confiança. Ela é tudo
que Celie não é.

A relação entre as duas se torna mais próxima. O desgastado termo


sororidade poderia ser aplicado aqui sem problemas. É Shug que vai
contribuir para a reviravolta na vida de Celie, lhe garantindo autonomia,
independência e até mesmo felicidade.

Esse caminho, claro, é tortuoso, mas a leitura fica cada vez mais
empolgante a cada passo dado por Celie em direção à liberdade.

Os demais personagens também contam boas histórias, simbolizando


embates específicos. Walker não tem receio de encarar diversos temas
em um mesmo livro. Celie, que é negra, é alvo de violência doméstica.
Em seu entorno, os negros também sofrem preconceito de raça. Aqueles
que ousam se levantar, como Sofia, a esposa de um dos filhos de Albert,
acabam tendo um destino ainda pior. Sofia, que não engoliu as
agressões gratuitas da esposa do prefeito e a agrediu, acabou atrás das
grades, em uma prisão de condições subumanas, que quase a mataram.

Um outro núcleo, que aparece mais para o fim da trama, retrata outro
drama do início do século XX, a colonização africana. O olhar que Walker
apresenta da chegada dos colonizadores ingleses a um povoado
africano, destruindo seus costumes, suas crenças, tomando suas terras,
é devastador. Entre as tentativas de resistência frustrada da aldeia, surge
um pensamento óbvio: “eles estavam aqui desde sempre”. Mas essa
verdade incontestável não estava escrita nas leis dos homens brancos,
que em pedaços de papel podiam designar a posse de terras de
propriedade de tribos milenares.
O território inteiro, incluindo a aldeia dos Olinka, agora pertencia a um
comerciante de borracha da Inglaterra. À medida que ele ia se aproximando
da costa, ele se surpreendia vendo centenas e mais centenas de nativos como
os Olinka limpando a floresta de cada lado da estrada, plantando seringueira.
As antigas, gigantescas árvores de mogno, todas as árvores, a caça, tudo na
floresta estava sendo destruído.
Um povo sem terra e sem pátria, seja na África, onde nasceram e de
onde vieram, seja nos Estados Unidos, onde eram considerados
cidadãos de segunda classe. Ao explorar o destino de uma família negra
no século XX, Walker constrói um panorama do racismo, ao mesmo
tempo em que mostra a condição de submissão das mulheres. O livro
não é um manifesto racial ou feminista, mas é um forte discurso sobre
raça e gênero, ao mostrar o poder devastador da opressão sobre a vida
de seres humanos comuns, com vontades, desejos e dramas pessoais.

A lição de amor, contudo, é o que fica. Celie aprende a amar a si mesma


e aos outros, com a ajuda de Avery Shug. E até mesmo Albert tem uma
segunda chance, quando fica sozinho e tem que aprender, aos poucos,
como se cuidar. A lição mais bonita vem de Shug, claro, a personagem
mais esclarecida sobre seu papel no mundo:

Celie, fala a verdade, você alguma vez encontrou Deus na igreja? Eu nunca. Eu
só encontrei um bando de gente esperando ele aparecer. Se alguma vez eu
senti Deus na igreja foi o Deus queu já tinha levado comigo. E eu acho que todo
o pessoal também. Eles vão pra igreja para repartir Deus, não para achar
Deus.
m 2016, o selo José Olympio republicou “A cor púrpura” de Alice Walker – um livro que
marcou época quando foi publicado originalmente, na década de 80. Ambientado no sul dos
Estados Unidos antes da Segunda Guerra (e antes do movimento pelos direitos civis), a obra
nos apresenta a vida dos negros que pareciam viver no limbo entre a escravidão e a
liberdade.

O livro é um compilado de cartas, a maioria escrita por Celie. Celie endereça as cartas, no
começo, para Deus – a única “pessoa” que ela acredita que a escutaria. É nessas cartas e em
suas próprias palavras mal escritas (já que ela é semi analfabeta) que descobrimos que a
vida de Celie, desde muito cedo, foi uma tristeza pura. Órfã de mãe, ela é estuprada pelo
pai e engravida duas vezes. As duas crianças desaparecem e ela acredita que o pai matou o
filho e deu a menina para alguém.

Sua única alegria é sua irmã mais nova, Nettie. Nettie é inteligente, aprende as coisas rápido
e entende com clareza o que acontece com a irmã. Quando um viúvo muito mais velho pede
Nettie em casamento, o pai diz que Celie tem que casar antes por ser mais velha. A oferta?
Celie tinha uma vaca. Albert, o viúvo, podia levar as duas.

A vida de Celie parece não ter trégua. Albert é um homem violento e bate nela para que ela
“o obedeça”. Isso acontece até aparecer Shug Avery – uma cantora de má reputação que
fica doente. O marido de Celie, Albert, é apaixonado por Shug e eles tiveram um caso e três
filhos antes dele ser forçado pelo pai a casar com uma “moça de família”. Ele traz Shug Avery
para casa para que possa cuidar dela.

Enquanto muitas mulheres esperariam brigas constantes pelo marido ter trazido a amante
para dentro de casa, Celie e Shug eventualmente viram amigas. Mais do que isso, Celie
parece reconhecer em Shug tudo aquilo que chamam de amor e que ela nunca esperava ter.

Aliás, as mulheres do livro formam um quadro belíssimo de sororidade e resistência. Elas


desafiam o status quo à sua própria maneira e buscam apoio umas nas outras.

A história é triste, construída com a linguagem das pessoas mais simples e usando a
realidade da época. Nas cartas de Celie, ela nunca pede nada a Deus, nem ajuda, nem
salvação. Isso faz com que a história não tenha um tom exacerbado de “auto-ajuda” ou um
viés novelesco. Quando Celie descobre coisas sobre sua família que mudam tudo em seu
passado, ela escreve a Deus: “você deve estar dormindo.” São nessas frases simples que
entendemos a extensão do que ela sente.

Mais além, a vida de Nettie como missionária na África acrescenta um pouco de “textura”
com um enredo todo baseado em como os brancos estavam destruindo uma pequena tribo
e não havia ação a ser tomada para impedir.

O feminismo intrínseco, o racismo histórico, um questionamento sobre religião e o papel


das mulheres na sociedade em “A cor púrpura” são pontos cruciais para elevar a história de
algo simples e triste a uma análise de uma época em que ninguém valia menos que uma
mulher negra.

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