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Centro de Diagnóstico Neuropsicológico

Lívia Taís Bellotto Monteiro

Abordagens no estudo da Consciência Humana

São Paulo

2018
1

Centro de Diagnóstico Neuropsicológico

Lívia Taís Bellotto Monteiro

Abordagens no estudo da Consciência Humana

Trabalho de conclusão de curso apresentado


como exigência parcial para a obtenção do título
de especialista em Neuropsicologia ao Centro
de Diagnóstico Neuropsicológico.

Orientadora: Profa. Dra. Rafaela Larsen Ribeiro

São Paulo

2018
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Resumo

O tema consciência é um dos mais desconcertantes para a ciência da mente. O


presente trabalho procurou conhecer como a questão da consciência vem sendo
tratada pela filosofia, psicologia e pela neurociência ao longo do tempo, iniciando pela
coleta dos significados do termo consciência na língua portuguesa, sua definição e
conceituação, passando pelas referências teóricas sobre a consciência e pelo estudo
dos mecanismos cerebrais que funcionam como base para os processos mentais,
funções cognitivas, conteúdo e estado geral de estar consciente. No entanto, falta
uma abordagem sistemática sobre o conceito, pois muito ainda se faz necessário
avançar do ponto de vista metodológico para que tenhamos uma verdadeira ciência
da consciência.

Palavras-chave: Consciência. Ciência. Correlatos. Neuropsicologia.

Abstract

The problem of consciousness is one of the most disconcerting for the science of the
mind. The present work sought to know how the question of consciousness has been
treated by philosophy, psychology and neuroscience over time, starting with the
collection of the meanings of the term consciousness in the Portuguese language, its
definition and conceptualization, passing through the theoretical references about
consciousness and by studying the brain mechanisms that function as the basis for
mental processes, cognitive functions, content of consciousness, and general state of
being aware. However, there is a lack of a systematic approach to the concept, the
terms related to consciousness, and it is still necessary to proceed from the
methodological point of view so that we have a true science of consciousness.

Key words: Consciousness. Awareness. Correlates. Neuropsychology.


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SUMÁRIO

Introdução ........................................................................................................ 4

Definindo “Consciência” .................................................................................. 6

Teorias da Consciência ................................................................................... 7

Consciência e Neuropsicologia ........................................................................ 8

Sobre os Correlatos Neurais da Consciência (CNC) ..................................... 10

Considerações Finais .................................................................................... 15

Referências.................................................................................................... 16
4

INTRODUÇÃO

Uma revisão da literatura a respeito do conceito de consciência (talvez seja


mais correto dizer, dos conceitos sobre consciência) e dos avanços da neurociência
para explicá-la, abrange uma série de perguntas, dentre elas:

O que se entende por consciência?

Como a consciência pode existir? Por que ela existe? De que é feita?

De onde vem a mente? Do cérebro?

Se sim, como o cérebro constrói a mente e como torna esta mente consciente?

Qual a estrutura necessária para que o cérebro ancore a mente e dê ao homem


a noção do Si Mesmo ou Autoconsciência?

Como o cérebro produz estados conscientes qualitativos e qual relação com os


processos emocionais?

Quais os correlatos neurais da consciência?

Quais os mecanismos biofísicos subjacentes à consciência?

Segundo Pereira (2009), uma ciência da consciência carece de uma unificação


dos seus fundamentos conceituais e metodológicos. O mecanismo básico da
consciência permanece sendo um enigma.

Uma questão inicial a ser discutida refere-se ao uso da palavra consciência.


Andrew Brook (2008) contou mais de 50 diferentes usos para o termo na literatura,
desde sentidos mais filosóficos a noções teórico-científicas e argumenta que, sem
uma organização e estruturação da terminologia existente é improvável que os
estudos da consciência alcancem uma sólida base científica.

Na língua portuguesa esta questão torna-se ainda mais confusa. O mesmo


termo consciência é utilizado para referir-se basicamente, ao que no inglês seria
awareness, conscience e conscienciousness. A seguir, são apresentadas de forma
bastante simplificada, como os termos em inglês podem ser diferenciados no
português.
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Awareness é a capacidade de conhecer e perceber diretamente, sentir ou estar


ciente dos eventos (https://en.wikipedia.org/wiki/Awareness). Refere-se aos
fenômenos da consciência.

Conscience refere-se a um processo cognitivo que provoca emoções e


associações racionais baseadas na filosofia moral ou sistema de valores de um
indivíduo (https://en.wikipedia.org/wiki/Conscience).

Conscienciousness refere-se ao estado ou qualidade da consciência ou de


estar ciente de um objeto externo ou algo dentro de si mesmo
(https://en.wikipedia.org/wiki/Consciousness). Refere-se à experiência consciente.

Dentro das variadas classificações do termo Conscienciousness, Graaf (2011)


distingue quatro abordagens para o termo, como sendo autoconsciência, consciência
de ordem superior, consciência médica e consciência como experiência:

Autoconsciência, seria a possibilidade de nos percebermos como um ser


corporificado dentro de um mundo, que envolve também outros seres e coisas.
Consciência de Ordem Superior, seria aquela que nos separa dos animais pela
possibilidade de refletirmos sobre aspectos de nossas mentes, sobre as coisas, tempo
e espaço, e que formam a base da linguagem ou são originados por ela. Consciência
médica, seria no sentido de estar acordado, saudável, sóbrio, em oposição a outros
estados como dormindo, comatoso ou drogado. Este estado é pré-condição para o
estado de Consciência como Experiência, ou ainda de Consciência de Conteúdo, ou
Qualia como apelidado por Chalmers 1 em 1966 (citado por Graaf, 2011). Esta
Consciência fenomenal, ou apresentada como Experiência fica disponível para o
processamento de informações através do cérebro como descrito por Dehaene e
Naccache2 em 2001 e Tononi3 em 2004 (citado por Graaf, 2011). Block (1995) vai

1 Chalmers DJ.. The conscious mind: in search of a fundamental theory (1996) apud Graaf TA, Hsieh PJ, Sack AT. The ‘correlates’ in neural correlates of

consciousness. Neuroscience & Biobehavioral Reviews, 2012; 36(1):191-197

2 Dehaene, S., Naccache, L., Cohen, L., Bihan, D.L., Mangin, J.F., Poline, J.B., Riviere, D. Cerebral mechanisms of word masking and unconscious repetition

priming.(2001) apud Graaf TA, Hsieh PJ, Sack AT. The ‘correlates’ in neural correlates of consciousness. Neuroscience & Biobehavioral Reviews, 2012;
36(1):191-197

3 Tononi, G. An information integration theory of consciousness. (2004) apud Graaf TA, Hsieh PJ, Sack AT. The ‘correlates’ in neural correlates of

consciousness. Neuroscience & Biobehavioral Reviews, 2012; 36(1):191-197


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além da consciência fenomenal e define o termo Consciência de Acesso, onde a


informação estaria disponível para uso no raciocínio, como guia no discurso e na ação.

DEFININDO “CONSCIÊNCIA ”

As definições de consciência dependem da teoria e estruturas sistêmicas


dentro das quais elas são usadas. As áreas de pesquisa da consciência ocorrem
principalmente dentro da neurociência, ciência da computação, filosofia e parte da
psicologia, nomeadamente psicologia cognitiva (Pereira, 2009).

Souza (2015), em uma análise neurofilosófica da consciência, apresenta um


breve histórico de como o problema da consciência foi investigado pela filosofia e pela
ciência, relatando as tentativas de Sigmund Freud, Wilhelm Wundt, Gustav Fechner e
William James, entre o final do século XIX e o início do século XX, cuja mudança de
rumo com o advento do behaviorismo, adiou por quase um século o estudo da
consciência no campo da ciência, restringindo-o neste período, ao âmbito da filosofia.
Durante a hegemonia do movimento behaviorista, o estudo da consciência limitou-se
aos comportamentos de “estímulo-resposta” observáveis. As tentativas de estudo dos
estados conscientes internos através de metodologia diversa foram rechaçadas e a
“consciência” ficou aprisionada na “caixa-preta” behaviorista.

Searle (2010) foi o pioneiro em reconhecer a consciência como fenômeno


biológico, estabelecendo a necessidade de uma compreensão do conceito na medida
em que esta pode influenciar nas respostas encontradas:

“são simplesmente os estados subjetivos de sensibilidade


(sentience) ou ciência (awareness) que começam quando uma
pessoa acorda de manhã, depois de um sono sem sonhos, e se
estendem por todo o dia até que vá dormir à noite, entre em
coma, morra ou de algum outro modo se torne, digamos,
“inconsciente”. Acima de tudo, a consciência é um fenômeno
biológico. Devemos concebê-la como parte de nossa história
biológica comum, junto com a digestão, o crescimento, a mitose
e a meiose”.
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Ampliando o conceito da mente consciente como fenômeno biológico, Damásio


(2010) afirma que “a dignidade dessa mente humana também não fica diminuída ao
ser associada à maravilhosa complexidade e beleza que encontramos no interior das
células e dos tecidos vivos”. Segundo ele,

“a consciência é um estado mental que ocorre quando estamos


acordados e em que dispomos de um conhecimento privado e
pessoal da nossa própria existência, numa posição relativa ao
que quer que a rodeie num dado momento. Necessariamente,
os estados mentais conscientes lidam com o conhecimento com
base em material sensorial diferente - corporal, visual, auditivo,
etc. e manifestam propriedades qualitativas”.

TEORIAS DA CONSCIÊNCIA
Em resposta às muitas perguntas a respeito da Consciência, diversos modelos
com suas respectivas teorias foram propostos. Estes modelos se diferenciam em
relação aos tipos específicos de consciência que tomam como objeto, seus objetivos
teóricos.

A Enciclopédia da filosofia de Stanford


(https://plato.stanford.edu/entries/consciousness/#TheCon) classifica as teorias da
consciência entre teorias metafísicas gerais, que abordam a natureza, realidade e
existência da consciência; e teorias específicas, que buscam explicar a natureza,
características e papel. A linha que separa estes dois conjuntos teóricos torna-se
tênue, na medida em que muitas vezes é impossível dissociar formulações mais
objetivas de questões metafísicas mais gerais.

As teorias metafísicas da consciência podem ser divididas em teorias dualistas


e teorias fisicalistas. Em geral, as teorias dualistas consideram aspectos da
consciência como não sendo redutíveis ao domínio físico, embora possam ser
instanciados por este ou mesmo estar correlacionado a causas físicas de forma
qualitativa. Já as teorias fisicalistas, embora reconheçam a realidade da consciência,
pretendem localizá-la no mundo físico com base em algumas relações psicofísicas
que não possuem uma identidade de propriedade estrita.
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Quanto às teorias específicas da consciência, a Enciclopédia da Filosofia de


Stanford agrupa em sete tipos principais, com a finalidade de oferecer uma visão geral
básica, sendo estas, teorias de ordem superior, teorias representacionais, teorias
narrativas interpretativas, teorias cognitivas, teorias neurais, teorias quânticas e
teorias não-físicas.

As teorias de ordem superior implicam uma forte correlação entre consciência


e autoconsciência. O representacionismo busca acomodar todos os fatos sobre a
consciência dentro de uma estrutura fisicalista, em termos de relações de conteúdo,
sem precisar encontrar espaço para a experiência consciente ou qualia, como
propriedades mentais aparentemente não-representacionais. As teorias
interpretativas narrativas combinam elementos do representacionalismo e da teoria
de ordem superior e fornecem uma visão mais interpretativa, negam a existência de
qualia, não distinguem estados conscientes de não-conscientes e rejeitam a noção do
Eu como observador interno. As teorias cognitivas associam à consciência uma
arquitetura cognitiva ou um padrão especial de atividade a esta estrutura. As teorias
neurais utilizam modelos que envolvem os chamados CNCs, ou correlatos neurais da
consciência (em inglês são abreviados como NCCs), cujo objetivo é explicar como a
organização e a atividade em um relevante nível neural pode estar subjacente a
determinadas características da consciência. Já as teorias quânticas vão além dos
substratos neurais e entram no espaço da mecânica quântica, no nível micro-físico
dos fenômenos quânticos. Por outro lado, as teorias não-físicas tratam a consciência
como uma característica fundamental da realidade.

A partir do exposto, é plausível dizer que uma compreensão ampla da


consciência não terá sucesso se não abranger de modo sistêmico os diversos
modelos e teorias apresentadas.

CONSCIÊNCIA E NEUROPSICOLOGIA

A Neuropsicologia pode ser considerada uma ciência de caráter


interdisciplinar, que busca relacionar o funcionamento cerebral aos processos mentais
e ao comportamento humano, tanto em condições normais quanto em condições
patológicas, incluindo o estudo do desenvolvimento neurológico e dos distúrbios
cognitivos, emocionais e de personalidade. São consideradas funções
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neuropsicológicas a atenção, memória, percepção, orientação autopsíquica, temporal


e espacial, linguagem oral e escrita, praxias, funções motoras, aprendizagem,
raciocínio, cálculos e funções executivas (Haase et al., 2012).

A Neuropsicologia estuda aquilo que somos capazes de expressar porque


temos uma consciência. Damásio afirma que as funções neuropsicológicas, além das
emoções e sentimentos como amor, amizade, sofrimentos, são decorrentes da
subjetividade da consciência humana. Estas funções, como afirma o autor, poderiam
ser encaradas como frutos da consciência e ainda como “curadoras do valor dentro
dos nossos seres tão ricos em mente, consciência e capacidade de interação social”
(Damásio, 2010).

Em ‘O livro da consciência”, Damásio adota “a noção de que o corpo é alicerce


da mente consciente” e se propõe a rediscutir os mecanismos por trás da construção
do EU, a partir das relevantes descobertas contemporâneas no estudo da mente e do
cérebro, que o levaram a alterar profundamente seus pontos de vista sobre esta
questão. Para este autor, o cérebro não começa a edificar a mente consciente ao nível
do córtex cerebral, mas sim ao nível do tronco cerebral, embora o EU e a consciência
não estejam restritos a uma só área do cérebro.

"A mente consciente resulta da articulação fluida entre vários


locais do cérebro. Entre as estruturas cerebrais principais
encarregadas da implementação dos passos funcionais
necessários estão setores específicos do tronco cerebral
superior, um conjunto de núcleos do tálamo e regiões do córtex
cerebral” (Damásio, 2010).

A consciência seria então uma grande peça sinfônica, orquestrada a partir do


tronco cerebral, graças à colaboração entre o córtex cerebral e as estruturas
subcorticais, através da atividade de circuitos neurais que se organizam em padrão
de grandes redes neurais, interrompida durante o sono sem sonhos, durante a
anestesia, por disfunções cerebrais ou pela morte (Damásio, 2010).

A noção de Consciência, segundo Chalmers (2010) abrange os fenômenos que


envolvem a capacidade de reagir a estímulos do ambiente, percebendo,
discriminando e categorizando, entre outros. Este autor divide o problema da
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consciência entre problemas fáceis e problemas difíceis. A consciência como


funcionalidade e os fenômenos associados fazem parte dos problemas fáceis. A
consciência como intencionalidade faz parte dos problemas difíceis.

Ainda para Chalmers, os problemas fáceis podem ser explicados a partir de


modelos computacionais ou neurais, ou ainda neurofilosóficos, através dos métodos
da ciência cognitiva e da neurociência. Já o problema difícil da consciência refere-se
a explicar a natureza da experiência que a constitui, considerando seus elementos
subjetivos (Canal & Moraes, 2009).

Lúria4 em 1966 (citado por Haase et al., 2012), já se questionava a respeito dos
mecanismos cerebrais que funcionariam como base para os processos mentais e
propunha um modelo de localização dinâmica das funções cognitivas, baseado em
sistemas funcionais complexos e integrados. Além disso, também considerava a
ocorrência de mudanças cognitivas a partir de alterações sociais ou comunitárias.

Através das neurociências, para além das teorias, neurocientistas buscam


compreender as manifestações das experiências subjetivas no tocante à consciência,
apoiando-se em dados neurocientíficos, clínicos e psicológicos (Kock & Greenfield,
2007)

SOBRE OS CORRELATOS NEURAIS DA CONSCIÊNCIA (CNC)


A grande pergunta é: como o processamento físico do sistema nervoso dá
origem a uma rica vida interior, com todas as nuances emocionais, tons e cores
experimentados subjetivamente? (Chalmers, 2010).

Dentre os diversos processos permeados pela Neuropsicologia, o problema da


consciência é um dos mais desafiadores, iniciando-se pela própria definição do que
seja consciência. A busca pelos correlatos neurais da consciência, definidos pelo
“conjunto mínimo de mecanismos neurais suficiente para uma específica experiência

4 Luria, A. R. Higher cortical functions in man. (1966) apud Haase VG, Salles JF, Miranda MC, Malloy-

Diniz L, Abreu N, Argollo N, Mansur L L, Parente MA, Fonseca RP, Mattos P, Fernandes JL, Caixeta LF,
Nitrini R, Caramelli P, Teixeira Junior AL, Grassi-Oliveira R, Christensen CH, Brandão L, Silva Filho HC,
Silva AG, Bueno OFA. Neuropsicologia como ciência interdisciplinar: consenso da comunidade brasileira
de pesquisadores/clínicos em Neuropsicologia. Neuropsicologia Latinoamericana, 2012; 4(4):1-8.
11

consciente” (Koch et al., 2016) tem provocado inúmeras controvérsias no meio


científico.

Graaf et al (2011) concordam que o conceito de “consciência” permanece


problemático, assim como o próprio conceito de “correlatos”. Diversas propostas
teóricas têm sido debatidas desde que a ciência se tornou capaz de olhar diretamente
o cérebro e manipular o que acontece nas diversas regiões envolvidas nos processos
conscientes e inconscientes.

Tononi (2015) reconhece os avanços das neurociências no tocante à


explicação dos mecanismos cerebrais para a realização das funções cognitivas
(neuropsicológicas) como percepção, atenção, tomada de decisão, memória,
motricidade, linguagem etc. No entanto, explicar como um conjunto de elementos
neurais dão origem à experiência, como o “sentir-se como algo”, diz respeito a um
“problema difícil”, considerando que não se pode inferir a existência da consciência a
partir dos sistemas físicos. Deste modo, a Teoria da Informação Integrada (IIT) adota
uma abordagem fenomenológica, partindo da identificação das propriedades
essenciais da experiência, denominados axiomas, postulando que tipo de
propriedades os sistemas físicos devem ter para considerar suas propriedades
essenciais. São cinco os axiomas do IIT que respondem pelas propriedades
essenciais: existência intrínseca, composição, informação, integração e exclusão
intrínsecas. Todos estes axiomas têm em comum a noção de que apontam para a
experiência em si, são evidentes, não exigindo comprovação, são essenciais e
portanto se aplicam a todas as minhas experiências, são completos dentro de sua
propriedade essencial, são consistentes, ou seja sem contradições, e independentes,
sendo que um axioma não deriva de outro. Os axiomas citados são melhor explicados
abaixo.

A existência intrínseca refere-se ao fato de que a consciência existe, que a


experiência é real e dentro da perspectiva do próprio sujeito, independentemente de
observadores externos; a composição aponta para uma consciência estruturada, onde
cada experiência é vivida a partir de múltiplas distinções do fenômeno em si, suas
características, formas, a partir das possibilidades sensoriais do indivíduo; a
informação se refere a uma consciência específica e diferenciada, uma dentre outras
experiências possíveis, existência em oposição a não existência, uma variedade de
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localizações espaciais, conceitos positivos em oposição a conceitos negativos; o


axioma da integração fala de uma consciência unificada, onde um objeto é percebido
como um todo, e não como a soma de suas partes; e por último, a exclusão aponta
para uma consciência definida, em termos de seu conteúdo e dimensão espaço-
temporal.

Os modelos neuropsicológicos mais modernos agregam os estudos em


pacientes com lesões cerebrais aos estudos de ativação cerebral em indivíduos
sadios, além de simulações de redes neurais criadas em computadores. Os substratos
neurais das atividades mentais são o alvo dos pesquisadores que buscam
compreender os correlatos neurais dos diversos processos cognitivos (Haase et al.,
2012).

Na pesquisa dos CNC, o que se considera é o que acontece no cérebro quando


experimentamos conscientemente uma coisa, em vez de outra coisa. “Não se trata
aqui de explicar como a consciência emerge, mas como eventos fisiológicos no
cérebro se traduzem no que você experimenta como consciência” (Kock & Greenfield,
2007). Metodologias mais atuais nos estudos científicos sobre a consciência
combinam execução simultânea de tarefas cognitivas, registros de atividades e relatos
de consciência em sujeitos humanos (Pereira, 2009).

Grande parte do trabalho contemporâneo sobre os CNCs tem se concentrado


nesta visão (Kock & Greenfield, 2007). Estudos citados por Graaf et al (2011), como
quando os participantes são expostos a um conjunto de experiências de rivalidade
ocular, como uma forma de paradigma multiestável, sendo que para cada olho foi
apresentada uma imagem diferente de forma constante, e o sujeito deveria pressionar
um botão quando um dos estímulos fosse percebido. As respostas relacionadas à
percepção alternada de cada um dos estímulos foram avaliadas para ver quais regiões
do cérebro eram ativadas em respostas a mudanças subjetivas da experiência. Como
a atividade cerebral está correlacionada à experiência consciente, as áreas ativadas
são comumente chamadas de CNCs ou Correlatos Neurais da Consciência. Apesar
da importância destes estudos, Graaf chama a atenção para o fato de que um conjunto
de processos ocorrem simultaneamente e em geral, são todos agrupados como
CNCs, o que pode não ser apropriado.
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Para Kock & Greenfield (2007) “grupos específicos de neurônios medeiam


experiências conscientes distintas”. Segundo este autor, cada percepção consciente
corresponde a uma coalizão específica de neurônios piramidais do córtex, que se
interrompida ou perturbada irá alterar ou suprimir esta percepção. Células de uma
coalizão se comunicam através do envio e recebimento de sinais excitatórios
diretamente para outra coalizão de neurônios. Esta coalizão específica de neurônios
é considerada por Koch como substratos dos CNCs e seriam formados por estes
neurônios piramidais no córtex cerebral, numa comunicação entre os lobos frontais
com os córtices sensoriais da parte posterior do cérebro.

Ainda segundo os mesmos autores, o conjunto de neurônios em rede


funcionando em padrões específicos e idiossincráticos refletiriam o acúmulo das
informações acumuladas ao longo da vida, incluindo as informações genéticas
representadas pelos genes. A estrutura do claustrum, localizada no córtex, também
poderia estar envolvida nos processos de percepção consciente, assim como os
circuitos de alerta do tronco encefálico e do tálamo (Kock & Greenfield, 2007).

A consciência é gerada por um aumento quantitativo no funcionamento


holístico do cérebro. A ativação de redes neurais como substratos da consciência
poderia explicar funções como a atenção ou mesmo o conteúdo da consciência, mas
não explica a consciência em si. Apenas o aumento quantitativo de atividade cerebral,
de forma holística, poderia assegurar a consciência. Disparos transitórios de uma
população de neurônios entre o tálamo e o córtex cerebral, demonstrados pelo
neurofisiologista alemão Wolf Singer, como sugerido pelo neurocientista Rodolfo
Llinas, estabeleceriam duas alças complementares entre o tálamo e o córtex cerebral,
sendo que em conjunto manteriam um sistema “específico” relacionado ao conteúdo
da consciência, e um sistema “não-específico” relacionado ao estado de alerta. A
chave para elucidar os CNCs estaria ligada às diferenças entre consciência e
inconsciência e às variações resultantes das associações neurais transitórias
adequadas à experiência consciente (Kock & Greenfield, 2007).

Outra questão que os estudos dos correlatos neurais da consciência buscam


responder é sobre a distinção entre os CNCs de outros processos neurais, ou seja,
identificar os verdadeiros CNCs de outros processos que seriam predecessores ou
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sucessores da experiência consciente, ou ainda condições de fundo como fatores que


modulariam os CNCs sem estarem diretamente envolvidos (Boly et al., 2017).

Graaf et al (2011) sugerem que os CNCs (como fenômeno) são uma somatória
de pré-requisitos neurais para a experiência consciente, consequências neurais e os
substratos neurais da experiência consciente. A função atencional, que sempre
aparece fortemente correlacionada à consciência, seria um pré-requisito para a
experiência consciente ou “qualia”, e não deveria ser entendida como a mesma coisa.
Como nos experimentos de percepção multiestável, a região fronto-parietal vem
sendo associada com alterações perceptuais, consciência e atenção, o que sugere
que qualquer processo cerebral responsável pela experiência consciente apareceria
juntamente com processos cerebrais responsáveis pela atenção.

Não apenas os pré-requisitos, mas também os substratos da experiência


consciente ocorreriam simultaneamente a uma experiência consciente em particular
assim como as consequências neurais da experiência consciência, como um evento
subsequente de ativação neural, que pode estar envolvido com questões emocionais,
lembranças, alertas em vários níveis ou ainda, simplesmente, a consciência de uma
experiência. Os substratos neurais da consciência, como uma ativação neural mínima
subjacente à uma percepção consciente específica, poderiam ser chamados de
CNCs e não seriam nem o resultado e nem uma condição prévia à experiência em si.

Como então diferenciar a real localização do que seriam os substratos neurais


da consciência, de seus pré-requisitos ou consequências? Como os substratos devem
conter conteúdos específicos, Graaf et al (2011) argumenta que as áreas
frontoparietais não parecerem ser estes substratos, embora possam fazer parte tanto
dos pré-requisitos quanto das consequências neurais da consciência.

São descritos por Boly et al. (2017) dois tipos de CNCs. Os primeiros
corresponderiam a mecanismos neurais que especificam determinados conteúdos
fenomenais dentro da consciência (como características visuais, rostos ou lugares).
Experimentalmente os CNCs de conteúdo específico são investigados através da
comparação entre a presença ou ausência deste conteúdo. Os segundos seriam os
CNCs completos, identificados quando a consciência como um todo está presente,
em relação a estar ausente, como em um sono sem sonhos.
15

Estudos de lesão, estimulação e recordação de estímulos apontam para


regiões do córtex posterior (regiões neocorticais dentro do parietal, occipital e lobos
temporais laterais) como “zonas quentes” que parecem desempenhar papel direto nos
conteúdos específicos da consciência. Já o envolvimento direto das regiões do córtex
pré-frontal está ausente ou pouco claro (Boly et al., 2017).

Block (2005) estabelece uma distinção entre conteúdos fenomenais de


experiência e conteúdos conscientes de acesso, cujas informações seriam
disponibilizadas aos sistemas “consumidores” do cérebro, que poderiam ser descritas
como as funções neuropsicológicas já descritas. A base neural da informação enviada
para um “espaço de trabalho global” poderia ser chamada de Correlato Neural de
Consciência de Acesso e desta forma, estabelece a existência de pelos menos dois
tipos deCNCs . Ele sugere que as bases neurais de acesso visuais seriam realizadas
a partir da ativação das áreas frontais e parietais pelas áreas occipital e temporal
inferior.

Estudos com estimulação magnética transcraniana são sugeridos (Graaf et al.,


2011), por permitirem alterar a atividade cerebral em regiões cerebrais relativamente
restritas, de modo não invasivo, em voluntários humanos. Desta forma permite-se
realizar uma avaliação diferencial entre pré-requisitos neurais e consequências
neurais da experiência consciente, como por exemplo, identificar áreas onde pré-
requisitos neurais estejam presentes e onde não haja percepção consciente.

Há ainda que se considerar que os processos cerebrais interajam com os


processos onde não exista variação de conteúdo e que a soma desta interação seja
o substrato neural em si. Para avançar em uma ciência da consciência, é necessário
supor-se que os substratos neurais da consciência estão no cérebro e que é possível
medí-los (Graaf et al., 2011).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A consciência, como objeto de estudo, tanto da filosofia quanto das


neurociências, carece de uma convergência por parte de seus estudiosos quanto às
definições, clareza de objetivos, sistematização de um corpo conceitual e
metodológico.
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O ponto de partida para uma teoria da consciência parece se originar de uma


abordagem fenomenológica em forma de postulados para então se apoiar em
sistemas físicos. As grandes perguntas essenciais permanecem sem respostas: pode
o processamento físico do sistema nervoso dar origem a uma consciência como
intencionalidade? E se sim, como isso acontece? Onde está a ponte que une o
desempenho de uma função cognitiva à forma como o indivíduo experimenta
qualitativamente seus resultados?

O mapeamento do cérebro e a tentativa de trazer à luz os mecanismos neurais


mínimos que em conjunto seriam suficientes para uma percepção consciente tem
realizado importantes avanços e aos poucos novas peças de um intrincado quebra-
cabeça multidimensional vão sendo encontradas e posicionadas para esclarecer as
correlações entre atividade neural, funções cognitivas, fenômenos da consciência e
estrutura da consciência de acesso.

Em busca de uma compreensão maior a respeito da consciência, dos


substratos neurais a partir dos quais é possível pensar em termos de uma consciência
amplificada, como subjetividade, de uma mente que reconhece a própria existência,
quem somos, o que somos capazes de perceber e como nos conectamos ao mundo
externo, uma Ciência da Consciência parece estar longe de apresentar um consenso
entre seus diversos estudiosos, linhas de pesquisa, definições, metodologias,
abordagens e referências.

REFERÊNCIAS

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Correlates of Consciousness in the Front or in the Back of the Cerebral Cortex? Clinical
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Chalmers D. Facing up to the problem of consciousness. Journal of Consciousness


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Graaf TA, Hsieh PJ, Sack AT. The ‘correlates’ in neural correlates of consciousness.
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Teixeira Junior AL, Grassi-Oliveira R, Christensen CH, Brandão L, Silva Filho HC,
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