• Joaquim Jeremias nos apresenta a base aramaica dos ditos de Jesus nos sinóticos, onde
as palavras de Jesus transmitidas pelos sinóticos apresentam-se na roupagem de um
grego coiné de trocas semíticas, ainda que no ambiente helenístico se deva ter conside- rado esse colorido semítico. O paralelismo antitético aparece mais de trinta vezes nas palavras de Jesus, apesar disso fica difícil a formação de um juízo sobre o emprego deste termo nas palavras de Jesus pelo fato de ainda não haver uma pesquisa abrangente. 1. É nos apresentado também as características da dicção de Jesus que não possuem nenhuma analogia na literatura da época e por isso são consideradas como ipssima vox de jesus. Encontra-se grandes números de palavras ditas por Jesus como enigmá- ticas não só para aquele tempo como também para hoje. 2. Joaquim Jeremias, todavia, nos apresenta as características da dicção de Jesus, ou seja, o modo em que uma pessoa articula e pronuncia as palavras de uma língua. 3. Joaquim Jeremias por meio dos seus estudos tenta fazer um paralelo entre a literatura intertestamentária do judaísmo antigo, os escritos dos essênios, os escritos do apóstolo Paulo e a literatura rabínica para comparar as falas e chega a concluir que a há algo de especial nas palavras de Jesus apresentada no evangelho sinóticos que é de um valor ímpar. 4. Exemplo, no apócrifo essênio do Gênesis – uma fábula, que descreve a palmeira (sara) pede que o cedro (Abraão) seja poupado. Uma suposta conversa entre as plantas. 5. Joaquim Jeremias, descreve que não há uma intenção nas palavras de Jesus de defender uma fábula, nem uma tentativa de pronunciar uma verdade por meio de uma composi- ção literária fantasiosa, mas real. 6. Exemplo, Henoque Etiope – um resumo da história de Israel na forma duma longa ale- goria de animais. 7. Joaquim Jeremias, descreve que Jesus emprega as metáforas correntes, oriundas do Antigo Testamento, e que estavam então na boca do de todos. 8. Joaquim Jeremias deixa claro que as palavras de Jesus nos evangelhos sinóticos nos conduzem ao coração pulsante da vida do dia-a-dia. 9. Os evangelhos sinóticos nos transmitem quarenta e uma parábolas de Jesus com plena originalidade real como parte integral da rocha original da tradição. 10. Os ditos enigmáticos, segundo Joaquim Jeremias são as palavras ditas por Jesus: as palavras sobre João Batista, Mt 11,11 – o maior entre os nascidos de mulher – o menor no reino do céu é maior que ele. O estranho dito sobre a violência, Mt 11,12. As palavras sobre a missão de Jesus, Mt 11,5. A justa posição de salvação e escân- dalo. Vinho novo em recipiente de couro velho, Mc 2,21. Sobre os tempos de an- gústia – Mc 14,58 destruição do templo, Lc 11,49 matarão uns e perseguirão outros – profetas e apóstolos. Mt 10,34 não vim trazer paz e sim espada. Lc 22,36 e quem não tiver espada, venda o seu manto e compre uma. Ditos sobre o destino de Jesus, Mc 9.1 – Deus vai entregar o homem aos homens – jogo de palavras. A palavra de Elias, Mc 9.11, as palavras sobre os três dias, Lc 13.32, as palavras enigmáticas como aquela das três categorias de eunucos, Mt 19.12. Com efeito, Mc 4.11 diz que a pre- gação de Jesus tem de ser enigmática para os de fora. 11. A basileia de Deus. A Soberania real de Deus encontra-se nos lábios de Jesus na se- guinte distribuição: • Em Marcos 13 • Mateus e Lucas 9 • Mateus 27 • Lucas 12 • João 2 12. Joaquim Jeremias, descreve que na literatura do judaísmo antigo só raramente se en- contra o termo reino de Deus nos livros apócrifos e pseudoepígrafos, bem como no Targum. 13. Uma única vez Josefo menciona basileia em ligação com a ideia de Deus, mas o termo reino de Deus está ausente em seus escritos. 14. Somente na literatura rabínica é que crescem os testemunhos, mas se restringem pre- dominantemente a expressões estereotipadas como tomar sobre si o reino de Deus, isto é, sujeitar-se a Deus. 15. Em toda literatura essênia, só aparece três vezes a expressão reino de Deus. 16. Para muitos autores a língua materna de Jesus é o dialeto galileu do aramaico. Mais as analogias linguísticas mais aproximadas das palavras de Jesus se acham textos popula- res aramaicos do talmud e do mishashim originais da Galileia. 17. O problema sinótico trazido pelo autor tem o intuito de demonstrar qual a visão crítica literária que o mesmo pressupõe. Marcos escreveu o grego mais primitivo e em termos de conteúdo é o que tem menos ideias preconcebidas, por isso comprova-se que é o evangelho mais antigo. O livro de Mateus é o Evangelho de Marcos reelaborado e acrescido de material novo que dá mais da metade de Marcos; para compreender Lucas é fundamental constatar a sua técnica de blocos de textos. O primeiro bloco é utiliza o material de Marcos e o um novo material se altera em dois blocos. 18. Segundo Joaquim Jeremias, nas palavras que Jesus tratam da basileia encontra-se uma multidão de expressões que não têm nenhum paralelo, nem sequer profano na maneira de falar dos contemporâneos. Mt 11.12; Mc 1.15; Mt 10.7; Lc 10.11; 21.31; Mc 9.47; 22.18; At 4.22; Lc 17.20; Mt 5.20; Lc 11.2; Mt 6.10; Mc 10.15 19. A expressão reino de Deus, não tem nenhuma correspondente no Antigo Testamento e na literatura do judaísmo antigo. A única passagem passível de comparação, Mg 4,8 (virá a antiga soberania, o reinado à filha de Jerusalém. 20. Apesar da citação do salmo 118.25 não fala do reino de Deus, mas do de Davi. 21. Joaquim Jeremias deixa claro que a natureza do termo reino de Deus não deve ser con- cebida de oligarquia, regime político em que o poder é exercido por um pequeno grupo de pessoas, pertencentes ao mesmo partido, classe ou família. Mas sim de natureza escatológica e de missão. 22. O termo basileia de Deus tende a desaparecer fora da tradição sinótica das palavras de Jesus. Nos escritos do apóstolo Paulo é raro o uso e no Ev de João encontra-se duas vezes. Cap. 3,3,5 23. Não só Jesus fez do termo o tema central de sua pregação, mas também o preencheu de novo conteúdo. 24. Fora dos evangelhos, encontra-se: em todo o corpo das epistolas paulinas, só 10 casos, em Atos 8, 1 vez em Hebreus e 1 na carta de Tiago, 2 vezes no Apocalipse. 25. Segundo Joaquim Jeremias nas palavras de Jesus dos quatros evangelhos aparece um emprego original da palavra amém, para o qual não existe paralelo em toda a literatura do judaísmo antigo nem do resto do Novo Testamento. Amém, hebraico assumido no aramaico, significa certamente. Trata-se duma fórmula solene, pela qual o israelita, já em tempos do Antigo Testamento, se insere, apropriando-se numa doxologia, num ju- ramento, numa palavra de bênção ou maldição, ou desejo. Sem exceção, trata-se sem- pre duma resposta de consentimento às palavras de outrem. Joaquim Jeremias deixa claro que a palavra amém utilizado por Jesus tem um propósito de concordância, con- firmação e firmeza em outrem. 26. ἀμὴν ἀμὴν λέγω ὑμῖν - Na verdade, na verdade vos João 6:47. Segundo Joaquim Jeremias, amem nas palavras de Jesus é seguido de légo hymîn. Com isso a fala de Jesus exprimi uma convicção de sua missão, e mas que suas palavras não eram provenientes da própria sabedoria, mas mensagem divina. 27. Mas, ao buscarmos o seu significado em hebraico vemos que “amém” é um acróstico – formas textuais onde a primeira letra de cada frase ou verso formam uma palavra ou frase – que vem da frase “El melek ne emam”, que significa “Deus meu rei é fiel”. Essa afirmação trata de fidelidade. Indo mais a fundo, temos na raiz da palavra “eman”, a palavra “emunah”, que quer dizer “confiança”, indica confirmação naquilo que está escrito, firmeza sem sombra de variação e fidelidade. 28. E mais que uma palavra de concordância, “amém” também é uma Pessoa. O Senhor Jesus é chamado de “Amém” no livro de Apocalipse, significando que Ele é a certeza plena de que Deus cumprirá fielmente Suas promessas: “Ao anjo da igreja em Laodi- céia escreve: Estas coisas diz o Amém, a testemunha fiel e verdadeira, o princípio da criação de Deus…” Apocalipse 3.14 29. Quando pronunciamos “amém” estamos associando nós mesmos ao que foi dito, vali- dando, fazendo daquelas palavras as nossas e dispostos a nos submetermos ao que foi declarado, como se fosse nossa assinatura ao final de um documento. Não é em vão que o próprio Jesus foi quem mais pronunciou a palavra na Bíblia. O termo “Em ver- dade, em verdade…”, diversas vezes citados, na versão em hebraico é “amém, amém…”. • Aliás, apesar de ser tão utilizado no dia a dia, “amém” aparece 56 vezes na Bíblia, sendo 28 no Velho e 28 no Novo Testamento, revelando assim que as pessoas daquela época sabiam da força de seu significado. 30. Segundo Joaquim Jeremias, a mais importante inovação de linguagem por parte de Je- sus é o uso da palavra abba, usado no dia-a-dia, com interpelação de Deus. 31. Nenhum estudioso sério nega a existência histórica de Jesus; a crítica hoje recorre à filosofia existencialista e à hermenêutica. Os autores católicos têm estipulado critérios para identificar as perícopes do Evangelho, discernindo entre elas ipsissima verba Christi e ipsissima vox Christi, ou seja, as próprias palavras e o próprio estilo de Jesus. Tal trabalho é criterioso e científico; por vias objetivas, põe em relevo a figura de Jesus Cristo na sua singularidade de Salvador e Messias aguardado pelos Profetas de Israel e portador de novidade inédita entre os homens.