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Palhoça, 2006
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Palhoça, 2006
2
AGRADECIMENTOS
Agradeço em especial aos meus pais Henrique e Iara pela oportunidade que me deram de
realizar um dos meus maiores sonhos. Pela dedicação, amizade e compreensão durante todo o
curso. Vocês são meus exemplos e minha força. Amo muito vocês!
A minha querida irmã Luciana, que mesmo de longe sei que sempre torceu por mim.
Meus agradecimentos a minha orientadora Professora Maria do Rosário Stotz, pelas horas de
dedicação e ensinamentos.
Ao meu mestre e amigo Professor Adriano Henrique Nuernberg, que sempre acreditou em
mim, me ajudando, auxiliando e incentivando. Abrindo portas e oportunidades ao longo desta
caminhada. Muito obrigada.
A Professora Maria Angela Giordani Machado, por compartilhar seus conhecimentos, pelas
muitas risadas nas supervisões de estágios e por sua amizade.
As minhas amigas Ana Carolina, Juliana, Gláucia e Renata, em que juntas chegamos a mais
uma conquista entre muitas que virão.
Aos queridos amigos de sempre: Nora, Lívia Cruz, Thays, Alexandre, César, Claúdia, Gerusa,
Andréia Colombo, Henrique e Mariana.
3
RESUMO
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................6
2 MARCO TEÓRICO........................................................................................................11
2.1 HISTÓRIA DO HOSPITAL.................................................................................................... 11
2.2 PSICOLOGIA DA SAÚDE E PSICOLOGIA HOSPITALAR.......................................................... 14
2.3 A DINÂMICA DO SUJEITO EM PROCESSO DE HOSPITALIZAÇÃO ......................................... 18
LISTA DE TABELAS
1 INTRODUÇÃO
1
CAMON, Valdemar A. (org.) Psicologia hospitalar: teoria e prática. São Paulo: Pioneira, 2002, p.18.
2
BAPTISTA, Makilim; DIAS, Rosana. Psicologia hospitalar: teoria, aplicações e casos clínicos. Rio de Janeiro:
Guanabara Koogan, 2003, cap. 1, p. 2.
8
A opção pelo tema deve-se também por acreditar que a Psicologia, através das
contribuições da Psicologia da Saúde e da Psicologia Hospitalar tem se renovado como ciência,
pois os profissionais da área da saúde tem competência técnica para compreender a dor de forma
mais humana e escutar a angústia, o sofrimento e as alterações psíquicas que podem ocorrer
durante o processo de hospitalização.
De acordo com Fongaro e Sebastiani, com o passar dos anos pode-se observar um maior
interesse por parte dos profissionais da área da saúde na investigação e compreensão dos aspectos
psicodinâmicos do adoecer, tornando mais familiar a estes profissionais as reações emocionais do
paciente e suas relações com o processo de adoecer. Auxiliando-os nas suas relações com o
sujeito doente, visando a qualidade de vida, o processo de hospitalização e o tratamento. 3
A relevância acadêmica e pessoal desta pesquisa é justificada pelo interesse em
compreender as alterações psíquicas, mais especificamente as alterações das funções afetividade
e o pensamento, que pode ocorrer em sujeitos internados em instituições hospitalares. Sendo que
está pesquisa foi realizada juntamente com o estágio curricular obrigatório no Hospital de
Caridade, por alunos da nona e décima fase. Desta forma, outros alunos poderão, a partir do
presente trabalho, vir a estudar e aprofundar a temática.
O objetivo geral desta pesquisa é verificar quais são os principais aspectos alterados das
funções psíquicas afetividade e pensamento, observáveis através do discurso de pacientes
internados no Hospital de Caridade, entre os meses de março a maio de 2006.
Os objetivos específicos são:
- Identificar, na teoria, o significado do processo de hospitalização na vida dos sujeitos.
- Investigar teoricamente pontos fundamentais sobre as funções psíquicas: afetividade e
pensamento.
- Articular cientificamente pontos sobre a dinâmica do sujeito em processo de internação e
as possíveis alterações das funções psíquicas afetividade e pensamento.
- Realizar coleta de dados a partir de uma entrevista semi-estruturada em pacientes
internados no Hospital de Caridade.
- Analisar e discutir os dados coletados a partir do recorte teórico.
3
FONGARO; SEBASTIANI IN CAMON, Valdemar A. (org). E a psicologia entrou no hospital. São Paulo:
Pioneira Thomson Lerning, 2003.
9
Esta pesquisa caracteriza-se como qualitativa, pois tem o ambiente natural como sua fonte
direta de dados e o pesquisador como seu principal instrumento. Preocupa-se com questões
particulares, aprofundando-se nos significados das ações e relações humanas, que não podem ser
quantificadas. A pesquisa qualitativa busca compreender o significado que as pessoas dão às
coisas e à sua vida, na tentativa de capturar a “perspectiva dos participantes” 4.
Quanto ao corte trata-se de uma pesquisa vertical, significando ser uma pesquisa que tem
tempo determinado, pois foi realizada em dois semestres.
A metodologia utilizada nessa pesquisa caracteriza-se como exploratória, pois,
[...] têm como objetivo proporcionar maior familiaridade com o problema, com vistas a
torná-lo mais explicito ou a constituir hipóteses. Pode-se dizer que estas pesquisas têm
como objetivo principal o aprimoramento de idéias ou descobertas de intuições. Seu
planejamento é, portanto, bastante flexível, de modo que possibilite a consideração dos
mais variados aspectos relativos ao fato estudado. Na maioria dos casos, essa pesquisa
envolve: levantamento bibliográfico, entrevistas com pessoas que tiveram experiência
prática com o problema pesquisado e análise de exemplos que “estimulem a
compreensão [...] 5.
4
MINAYO, Maria Cecília S. Pesquisa social: teoria, método e criatividade. Petrópolis: Vozes, 1994, p. 21.
5
GIL, Antonio C. Como elaborar projetos de pesquisa. São Paulo: Atlas, 2002, p. 45.
6
Ibid., p. 54.
10
2 MARCO TEÓRICO
O presente trabalho apresenta como base teórica alguns textos sobre psicologia da saúde,
psicologia hospitalar, aparecem também considerações sobre hospitalização e sobre as funções
psíquicas: afetividade e pensamento.
Primeiramente far-se-á uma breve exposição sobre a história do hospital e posteriormente
seguirão alguns pontos teóricos relacionados ao tema proposto.
Esta breve apresentação sobre a história do hospital tem como finalidade mostrar o
surgimento desta instituição como um instrumento terapêutico, que atua sobre a doença e o
doente de forma que possa produzir a cura. A apresentação deste item deve-se ao fato de que esta
pesquisa tem como foco a dinâmica do processo de hospitalização e as alterações psíquicas.
Sabe-se que a instituição hospitalar, assim como ela se apresenta nos dias de hoje, foi constituída
através de muitas mudanças e quebra de paradigmas. Ainda é certo que existe muito a ser
mudado e construído. Desta forma, pensou-se na importância em resgatar historicamente o
surgimento do hospital e quais as mudanças que ocorreram com o passar do tempo, com a
finalidade de aumentar a compreensão do funcionamento institucional, do processo de
acolhimento do sujeito doente e das pessoas que trabalham dentro destas instituições, para
12
7
CAMPOS, Terezinha.C. Psicologia hospitalar. São Paulo: EPU, 1995.
8
Ibid.
13
técnica que ajudasse a combater a perda de homens por motivo de doença ou epidemia. Surge
assim, segundo Campos, uma tecnologia política chamada disciplina9.
“A disciplina é uma técnica de poder que implica uma vigilância perpétua e constante
sobre os indivíduos. Não basta olhá-los às vezes ou ver se o que fizeram é conforme a regra. É
preciso vigia-los durante o tempo da atividade e submetê-los a uma perpétua pirâmide de
olhares”.10
Desta forma, o hospital se disciplina por razões econômicas, para evitar a proliferação de
doenças e com isso evitar baixas humanas. Esta disciplina acaba por afetar a medicina que sofre
alterações no saber médico, surgindo neste momento uma medicina hospitalar, dando origem ao
hospital médico.
Com toda esta transformação o sujeito passa a ser visto como ser “individual” que
necessita de cuidados, do qual o médico especializado pode cuidar. Através desta nova
perspectiva, os doentes são distribuídos em espaços que possam ser vigiados, registrados todos os
acontecimentos e controlados. Fica marcado, neste momento, o poder médico, em que este é a
principal figura responsável pela organização hospitalar.
Algumas modificações ocorridas nesta época são mantidas até os dias de hoje, como por
exemplo, o sistema de registro permanente contendo identificação do doente, com nome e
discriminação da doença. Também uma série de registros que transmitem informações de entrada
e saída, a sala que ele se encontra e os cuidados que ele recebe, todas estas informações,
atualmente, estão contidas nos Prontuários Médicos.
Esta nova prática traz como conseqüência uma rígida disciplina hospitalar, um grande
avanço técnico/científico na área da saúde e para o saber médico, modificando a qualidade dos
atendimentos disponíveis.
Segundo Riechelmann11, esta nova prática médica trouxe bons e maus frutos, bons no
sentido que geraram enormes e indispensáveis quantidades de saberes sobre os mecanismos
fisiológicos e patológicos envolvidos na saúde e na doença. E maus em relação à questão médico-
paciente, reduzindo-se a que chamou de “cientista-objeto”, sendo que esta relação sofreu um forte
9
CAMPOS, 1995.
10
Ibid., p. 106.
11
RIECHELMANN IN CAMON, Valdemar A. (org). Psicologia da saúde: um novo significado para a prática
clínica. São Paulo: Pioneira, 2002, cap. 5.
14
12
CAMON, op. cit. , cap. 1.
13
BAPTISTA; DIAS, 2003, cap. 1.
14
IÑESTA, 1990 apud BAPTISTA; DIAS, Psicologia hospitalar: teoria, aplicações e casos clínicos. Rio de Janeiro:
Guanabara Koogan, 2003, cap. 1, p. 2.
15
Pode-se dizer então que trata-se de um saber psicológico que leva em conta a
interdisciplinaridade e que tenta resgatar o ser humano em sua condição existencial e totalitária,
procurando compreender seu sofrimento psíquico, integrado com a saúde física e social.
Torna-se fundamental, então, que a psicologia tente articular a sua prática profissional
com outros níveis de saber também profissionais relacionados à área da saúde, buscando uma
nova dimensão de interdisciplinaridade.
Desta forma, verifica-se que a área de atuação do psicólogo, no que diz respeito a
psicologia da saúde é bastante ampla e que envolve vários níveis de atendimento aos sujeitos,
podendo ir desde campanhas, cursos, palestras, atendimentos ambulatoriais, até atendimentos
durante internações hospitalares.
De acordo com os autores Baptista e Dias, é de fundamental importância que, além dos
profissionais da psicologia da saúde atuarem nestas diversas instâncias, se realizem pesquisas
voltadas à área da Psicologia da Saúde, o que traz muitos benefícios, tanto para o profissional
quanto para a população em geral. Acreditam os autores que é função do psicólogo da saúde,
através de uma boa formação e pesquisas sérias, demonstrarem o que esta área tem para oferecer
e contribuir às instituições públicas e privadas, que trabalham diretamente com a saúde podendo
favorecer ganhos em nível de qualidade e custos.15
Um destas áreas de atuação do psicólogo tem sido o contexto hospitalar, que apesar de
não ser inovadora em sua concepção filosófica, ainda não estão muito claras e definidas algumas
questões sobre a prática do psicólogo neste contexto. Mas alguns profissionais da ária da saúde
vem tentando delinear uma nova especialidade na área, vêm tentando sistematizar esta prática.
Muitos destes profissionais concordam em dizer que ainda são claras as lacunas teóricas nesta
área que acabam por determinar dificuldades na tarefa profissional diária do psicólogo na
instituição hospitalar, bem como na relação com outros profissionais da saúde.16 Apesar disto,
segundo Camon “[...] as perspectivas da Psicologia Hospitalar são bastante promissoras e
alentadoras. Promissoras porque determinam a própria trajetória de suas conquistas e realizações.
Alentadoras por tratar-se de uma prática que iniciou sem um determinismo [...]”.17
O objetivo principal da Psicologia Hospitalar é a minimização do sofrimento provocado
pela hospitalização, as seqüelas e decorrências emocionais. É necessário também que se estenda à
15
BAPTISTA; DIAS, op. cit.
16
Ibid.
17
CAMON, Valdemar A. (org.) O doente, a psicologia e o hospital. São Paulo: Pioneira, 2002. p. 24.
16
18
Ibid.
19
PENNA, 1992 apud CAMON, 2002, p. 93.
20
CHIATTONE, IN CAMON, 2002.
21
DEWALD, Paul. Psicoterapia: uma abordagem dinâmica. Porto Alegre: Artes Médicas, 1989, cap. 7.
17
22
Ibid.
23
Ibid.
24
PENNA IN MELLO FILHO, Julio (org.). Psicossomática hoje. Porto Alegre: Artmed, 1992.
18
Como foi visto no marco teórico da presente pesquisa, as noções de saúde e doença foram
gradativamente sendo modificadas. Através do pequeno retrospecto, pode-se dizer que houve
uma modificação na qualidade dos atendimentos, feito pelas equipes de saúde, mas que ainda as
atenções por parte de alguns membros da equipe de profissionais da área da saúde estão voltadas
para uma atuação curativa, quando o doente é visto e tratado como peça de uma máquina que está
desajustada e necessita de reparo. Assim, algumas vezes os profissionais fazem uso de algumas
formas de atendimento que dificultam no tratamento do sujeito doente, que necessita de cuidados
e de hospitalização.
Quando o sujeito adoece e o quadro requer hospitalização, vários fatores podem levar a
sofrimentos emocionais e psíquicos. Por este motivo, neste item, falar-se-á sobre alguns destes
fatores, apresentando de forma breve comentários sobre esta temática.
19
25
CAMON, 2002. p. 16
26
CHIATTONE IN CAMON, Valdemar A. (org.). A psicologia no hospital. São Paulo: Pioneira Thomson
Learning, 2003.
20
27
CHIATTONE, 2003, p. 27 - 28.
21
28
CHIATTONE, 2003.
29
FONGARO; SEBASTIANI, 2003.
30
Ibid., p. 43.
31
KÜBLER – ROSS, Elisabeth. Sobre a morte e o morrer. São Paulo: Martins Fontes, 1998.
32
FONGARO; SEBASTIANI, 2003, p. 44.
33
KÜBLER – ROSS, 1998.
22
34
FONGARO; SEBASTIANI, 2003, p. 44.
35
Ibid., p. 45.
36
FONGARO; SEBASTIANI, loc. Cit.
37
LAPLANCHE E PONTALIS. Vocabulário da psicanálise. São Paulo: Martins Fontes, 2001.
38
Ibid., p. 46.
23
39
FONGARO; SEBASTIANI, 2003, p. 49.
40
Ibid.
41
CAMON, 2002.
24
42
AMARO, J. Dicionário médico para o público: psiquiatria. In: Hospital das Clínicas de Medicina da
Universidade de São Paulo. Disponível em: <http://www.hcnet.usp.br/dicionario/psiquiatria.htm> Acesso em: 24
mar. 2006.
25
perceptível e nas expressões verbais. Com o objetivo de verificar como está psicologicamente o
sujeito internado em relação ao adoecer e ao seu processo de hospitalização.
A conduta clínica de um psicólogo prevê já nos primeiros contatos com o paciente o
Exame do Estado Mental ou Exame Psíquico que, embora seja um dado momentâneo, revela o
funcionamento das Funções Psíquicas. Sabe-se que o psiquismo não funciona de forma
fragmentada e o sujeito deve ser avaliado em seu todo, mas, a esquematização em funções
psíquicas especificas, permite ao psicólogo identificar questões pontuais, tendo em vista que o
estudo das funções psíquicas revelam o funcionamento do aparato psíquico nas vivências
subjetivas do indivíduo relativas ao seu mundo externo e também ao seu mundo interno. As
principais funções psíquicas são: consciência, memória, afetividade, pensamento, linguagem,
atenção, sensopercepção, vontade e outras.
Segundo Fongaro e Sebastiani, em um exame psíquico, o papel do psicólogo no hospital,
primeiramente, é levantar dados sobre o que a pessoa conhece sobre sua doença, o motivo da
hospitalização e sobre o tratamento. Posteriormente, o psicólogo coleta dados sobre a história de
vida do sujeito e sua estrutura psicodinâmica. Estes dados darão subsídios para que o profissional
tenha uma visão geral de como está este sujeito e quais os aspectos psicológicos estão mais
alterados em relação a doença e a hospitalização. A partir disto o profissional pode escolher uma
determinada técnica, que é baseada num corpo teórico, com determinados objetivos, para uma
intervenção eficaz. 43
Como já foi visto, sabe-se que o sujeito deve ser avaliado em seu todo, mas, para facilitar
a compreensão e a avaliação das funções psíquicas segue a apresentação didática, de forma
separada dos elementos que compreendem este conjunto psíquico, destacando a afetividade e o
pensamento.
A consciência pode ser definida por pelo menos três aspectos diferentes.
- Definição neuropsicológica: Trata-se especificamente do nível de consciência, no
sentido de estado vigil, no estado de estar desperto, acordado, vigil, lúcido.
- Definição psicológica: é a soma total das experiências conscientes de um indivíduo em
um determinado momento.
43
FONGARO; SEBASTIANI, 2003.
26
44
DALGALARRONDO, Paulo. Psicopatologia e Semiologia dos transtornos mentais. Porto Alegre: Artes
Médicas Sul, 2000.
45
FONGARO; SEBASTIANI, 2003.
46
Ibid.
47
Ibid.
48
BASTOS, Cláudio L. Manual do exame psíquico: uma introdução prática à psicopatologia. Rio de Janeiro:
Revinter, 1997.
49
PAIM, Isaias Curso de Psicopatologia. 11. ed. revisada e ampliada. São Paulo: EPU, 1993.
27
2.4.1 Afetividade
De acordo com Paim, sentimento “[...] é um estado afetivo acentuado, estável, duradouro
e organizado com maior riqueza e complexidade do que os elementos representativos”. E
segundo Schneider, os sentimentos são considerados com “estados do eu, não podem ser
controlados pela vontade e que são provocados por nossas representações, pelos estímulos
procedentes do mundo exterior ou por alterações sobrevindas no interior do organismo”. Os
50
BASTOS, 1997.
51
FONGARO; SEBASTIANI, 2003.
52
BASTOS, 1997.
53
DALGALARRONDO, 2000, p. 100.
28
sentimentos, muitas vezes podem ser confundidos com as sensações, devido os sentimentos
sensórias encontrarem-se muito próximos a partes do corpo, como o “desânimo”. 54
A emoção “[...] é um estado afetivo intenso e complexo, proveniente de uma reação ao
mesmo tempo psíquica e orgânica, do indivíduo inteiro contra certas excitações internas e
externas”. 55
Segundo Störring, “[...] o estado afetivo fundamental de um indivíduo (alegria, bem-estar,
júbilo, felicidade, angústia, tristeza, desespero) depende inteiramente das circunstâncias pessoais
da vida, dos sujeitos, inclinações e especialmente do estado de sua vida física.” 56 E que segundo
Paim, “[...] influi consideravelmente na direção de nossa conduta e no curso do pensamento”.
A importância em avaliar a função psíquica afetividade é verificar que sentido e qual a
importância da afetividade na vida do paciente, pois de modo geral quando a afetividade está
alterada todas as outras funções psíquicas também se alteram. Pode-se dizer que a função
psíquica afetividade é aquela que, juntamente com o pensamento, conduz a vida psíquica dos
seres humanos, sendo diferente para cada tipo de sociedade e particular para cada sujeito.
Ao ser avaliada a afetividade, encontram-se algumas dificuldades técnicas, pois em
psicologia vários termos são utilizados e, dependendo da abordagem, terão o mesmo sentido com
nomes diferentes ou ainda com nomes semelhantes, com outro sentido. Pode-se citar, por
exemplo, a psicanálise. Em psicanálise o termo que se utiliza é ‘afeto’, significa “[...] a expressão
qualitativa da quantidade de energia pulsional e das suas variações”. 57 O afeto, em psicanálise, é
um dos elementos representativos da pulsão. Pulsão é um conceito,
[...] situado na fronteira entre o mental e o somático, como representante psíquico dos
estímulos que se originam dentro do organismo e alcançam a mente, como uma medida
da exigência feita à mente no sentido de trabalhar em conseqüência de sua ligação com
o corpo. 58
Assim, pode-se dizer que cada abordagem da psicologia vai ter uma qualificação
diferente, já na visão médica podemos encontrar, o que é bastante comum, o termo humor. O
humor, de acordo com Bleuler “[...] consiste na soma total dos sentimentos presentes na
consciência em dado momento”. 59
54
SCHNEIDER, 1973 apud PAIM, 1993, p. 220.
55
PAIM, 1993, 220 – 221.
56
STÖRRING, 1955 apud PAIM, 1993, p. 219.
57
LAPLANCHE E PONTALIS, 2001.
58
FREUD, Sigmund. Repressão. IN: Obras Psicológicas Completas (1914 – 1916). Rio de Janeiro: Imago, vol. XIV.
59
BLEULER, 1973 apud PAIM, 1993, p. 219.
29
60
DALGALARRONDO, 2000, p. 105.
61
PAIM, 1993, p. 223.
62
DALGALARRONDO, p. 108.
63
PAIM, 1993.
64
DAlGALARRONDO, p. 105.
65
Ibid.
30
66
DALGALARRONDO, 2000, p. 108.
67
DALGALARRONDO, loc. cit.
68
Ibid., p. 109.
69
PAIM, 1993, p. 234.
70
Ibid., p. 228.
31
71
PAIM, 1993.
72
DALGALARRONDO, 2000, p. 102.
73
PAIM, 1993, p. 203.
74
DALGALARRONDO, 2000, p. 109.
75
Ibid., p. 107.
76
FONGARO; SABASTIANI, 2003.
32
77
DALGALARRONDO, 2000. p. 107.
78
FONGARO; SABASTIANI, 2003.
79
DALGALARRONDO, 2000.
80
Ibid., p. 110.
33
2.4.2 Pensamento
O pensamento é uma das atividades mentais mais sofisticadas que o sujeito possui. Diz
respeito à capacidade de elaborar conceitos, articular juízos, constituir raciocínio e ter a
capacidade de síntese e propor uma solução adequada para um problema.
De acordo com Dalgalarrando, “[...] o pensamento se constitui a partir de elementos
sensoriais, que, embora não sejam propriamente intelectivos, podem fornecer substrato para o
processo do pensar: são imagens perceptivas e representações”. 81
Os elementos propriamente intelectivos do pensamento podem ser distinguidos por alguns
elementos constitutivos, em que autores se utilizam, sendo eles: o conceito, o juízo e o raciocínio.
Segundo Dalgalarrondo, o conceito forma-se a partir das representações, sendo
propriamente cognitivo e intelectivo, exprimindo-se apenas as características mais gerais dos
objetos e fenômenos. 82
O juízo representa “[...] o processo que conduz ao estabelecimento de relações
significativas entre os conceitos básicos” e que tem “[...] por função formular uma relação
unívoca entre um sujeito e um predicado”. 83
E o raciocínio, segundo Paim, é usado em dois sentidos: lógico e psicológico. No sentido
lógico, o raciocínio consiste em “[...] orientar os dados do conhecimento, tendo como objetivo
alcançar uma integração significativa, que possibilite uma atitude racional ante as necessidades
do momento” e no sentido psicológico tem o mesmo sentido de pensar. 84
O pensamento é uma das funções psíquicas mais importantes para avaliar em uma
primeira entrevista, pois em casos graves como a psicose é a uma das funções que estará alterada
e sua avaliação auxilia na hora de um diagnóstico diferencial. Mas é sempre importante lembrar
que um componente do aparelho psíquico não funciona isoladamente, mas, para que haja
81
DALAGALARRONDO, p. 124.
82
Ibid.
83
Ibid., p. 125.
84
PAIM, 1993, p.115.
34
85
SEBASTIANI IN CAMON, Valdemar A. (org). Psicologia Hospitalar: teoria e prática. São Paulo: Pioneira,
1995, cap. 2.
86
SEBASTIANI, 1995.
35
87
DALGALARRONDO, 2000.
88
Ibid.
89
Ibid., p. 127.
90
DALAGALARRONDO, loc. cit.
36
palavras adequadas. O paciente geralmente apresenta uma narrativa pobre, de forma lenta e com
dificuldade para passar de um assunto a outro. 91
Pensamento vago: de acordo com Dalgalarrondo, o pensamento vago apresenta-se quando
o paciente expõe um pensamento muito ambíguo, mostrando-se obscuro. Há uma imprecisão de
raciocínio, relativos às relações conceituais e a formação de juízo. 92
Pensamento prolixo: quando o sujeito apresenta dificuldade de chegar a conclusões sobre
um determinado tema, mostra uma dificuldade em construir um pensamento direto, claro e
acabado, com uma incapacidade de síntese.
Pensamento confusional: um pensamento incoerente, com dificuldades marcantes em
fazer os vínculos entre os conceitos e juízos, devido à turvação da consciência. 93
Pensamento desagregado: trata-se de um pensamento incoerente, em que o paciente ao
falar não comunica nada ao “interlocutor”, uma “salada de palavras”. 94
Pensamento obsessivo: são idéias ou representações que impõem-se à consciência do
sujeito de modo persistente e incontrolável. De acordo com Paim, “[...] o pensamento obsessivo
se acompanha de certo grau de tensão, que pode ‘cristalizar’ num estado de dúvida permanente.
O estado afetivo permanente do enfermo é de apreensão e ansiedade” 95.
Desintegração dos conceitos: segundo Paim “[...] a palavra se desprende por completo de
sua significação propriamente dita: simultaneamente podem corresponder-lhe as significações
heterogêneas; até os próprios conceitos se modificam [...] ou acontece que os conceitos se
desfazem e uma mesma palavra ter significados cada vez mais diversos”. 96
Condensação dos conceitos: o pensamento mostra-se condensado quando o sujeito está
relatando algo e duas ou mais idéias são condensadas ou se fundem em um pensamento. Bleuler
exemplifica: “Deus é uma nave do deserto”, neste caso foram condensadas idéias relacionadas
com a bíblia, com Deus, com deserto e com camelo; segundo o autor o camelo é vulgarmente
denominado ‘nave do deserto’. 97
91
PAIM, 1993.
92
DALGALARRONDO, 2000.
93
DALAGALARRONDO, 2000.
94
Ibid., p. 129.
95
PAIM, 1993. p. 133.
96
Ibid., p.79.
97
BLEULER, 1955 apud PAIM, 1993, p.79.
37
98
DALGALARRONDO, 2000. p. 129.
99
PAIM, 1993, p. 118.
100
DALGALARRONDO, 2000.
101
PAIM, 1993, p. 131.
102
DALGALARRONDO, 2000.
103
Ibid.
104
Ibid.
38
105
DALAGALARRONDO, 2000, p. 130.
106
BASTOS, 1997. p. 127.
107
DALGALARRONDO, 2000.
39
A presente pesquisa teve como instrumento, para a coleta de dados a entrevista semi-
estruturada, que permitiu ao pesquisador utilizar um “guia” de temas a serem explorados durante
o transcurso da entrevista. As questões desenvolvidas tiveram como base o “roteiro de avaliação
psicológica aplicada ao hospital geral” dos autores Fongaro e Sebastiani. 108
De acordo com Fongaro e Sebastiani,
[...] a utilização desse roteiro terá função terapêutica em muitos momentos, à medida
em que essa possibilidade ao paciente a verbalização, manifestação, reflexão e
confrontamento com diversas questões que lhe são pertinentes ao processo de vida,
doença, internação e tratamento, podendo favorecer, assim, melhor elaboração e
conseqüentemente, adaptação à condição de Ser e Estar doente [...] 109.
Segundo esses autores, o roteiro foi criado através do trabalho de muitos psicólogos
hospitalares, que já vem há algum tempo desenvolvendo um primeiro roteiro, para contribuir
como um instrumento de trabalho mais adequado e específico aos profissionais da Psicologia
Hospitalar.
Para que se pudesse realizar a coleta dos dados, foi necessário obter um termo de
aprovação do Comitê de Ética da Unisul, universidade da qual a pesquisadora é acadêmica, e uma
108
FONGARO; SEBASTIANI IN CAMON, 2003.
109
Ibid., p. 8.
40
110
MINAYO, 1994.
111
Ibid.
41
Neste subitem, apresentar-se-á os dados extraídos das entrevistas realizadas com os três
pacientes entrevistados no período do mês de maio.
Segue abaixo uma tabela com os “dados de identificação” dos sujeitos entrevistados,
ressaltando que todos os nomes dos entrevistados no decorrer do trabalho foram omitidos para
garantir o sigilo ético.
Como o objetivo desta pesquisa é verificar quais são os principais aspectos alterados das
funções psíquicas afetividade e pensamento, observáveis através do discurso de pacientes
internados no Hospital de Caridade. Inicialmente, serão expostos os dados coletados e analisados
através de duas categorias a priori, afetividade e pensamento, e uma categoria a posteriori, como
já relatado anteriormente, traçando um paralelo entre os dados obtidos e o recorte teórico
utilizado neste trabalho. E, por conseguinte, a discussão de todos os casos.
3.2.1 Caso 1
motivo pela qual se encontra com grau elevado de dependência, podendo fazer somente pequenos
movimentos.
Na categoria pensamento, podemos observar um bradipsiquismo, presente na fala:
“... nos estamos em maio, né? ... É maio? .... Dia 17 de abril”. (E9)
Isto pode ser observado pelo curso de seu pensamento, visto que durante a entrevista
falava de forma lenta e dificultosa, como na fala em que a paciente apresenta dificuldade de
articular sua idéia e seu pensamento mostra-se desorientado.
Quando a paciente relata como foi diagnosticada sua doença, aparece um bloqueio no
raciocínio, que interrompe de forma brusca o pensamento, conforme o relato:
“... Dói muito também assim no meio dos osso. Mas ainda comecei a brincar com ela...
disse isso é doença de velha mesmo né Dra. Ela disse não, não é não. Mas aí vim fiquei acho que
um ano em casa bem tudo, só com dor na coluna, na certa é bico de papagaio e não sei o que... E
depois eu peguei e começou a me doer muito...”. (E16)
Pode-se verificar ainda, idéias prevalentes, como por exemplo:
“... não tem nada que me tire da minha cabeça, nada, nada. Nada o que você me dizer vai
adiantar”. (E27)
Nesta fala a paciente demonstra uma idéia que se impõe à consciência, a de que nada vai
lhe tirar da cabeça a morte de sua filha. Um pensamento marcante relacionado aos seus afetos e
presente em seus relatos.
Em outros momentos, aparece de forma clara o pensamento mágico, em que a paciente
diz:
“... eu disse: Meu Deus, por quê eu fiquei toda quebrada em cima de uma cama, porque
foi minha filha, porque não fui eu? [...] Deus que me perdoe, mas eu fiquei... revoltei. Mas Deus
queria que ‘era ela’. Mas disse não, por favor né, fazer o quê, ninguém vai se não chegar a hora
né?” (E27)
“Para mim não mudou nada, eu já mais ou menos sabia que podia acontecer isto... eu
tinha impressão assim que ia me acontecer mais alguma coisa. Eu sempre falei lá em casa. Eu
disse: ‘olha eu não vou ficar só por esta não, vai me aparecer outra”. (E35 e E36)
O pensamento mágico, no caso da paciente 1, apresenta-se sob forma de tentar dar um
sentido para tudo o que está acontecendo, tanto no caso da perda abrupta e significativa quanto ao
retorno de sua doença.
44
3.2.2 Caso 2
não lembro de nada... eu via coisa do outro mundo... eu via coisa que eu nem posso te dizer, eu
cheguei a meter os pés na Dra., daí me amarraram.” (E9, E11, E12, E 13)
“Eu não sei lhe explicar, eu não sei, eu não estava em mim...”. (E14)
A hipotimia e a tristeza também se fazem presentes em alguns momentos da entrevista,
quando o paciente relata:
“... Quando a operação não sai boa, não é bem sucedida, é sofrimento”. (E15)
“... Só que a minha fraqueza é muito grande...”. (E21)
“... a outra eu sofri menos do que esta...”. (E35)
“... Pensamento mais, que quando a gente tem família (chora muito), quando a gente tem
família tem pensamento... (silêncio)... saudades dos filhos. (chora)”. (E36 e E37)
“... esta aqui que me ‘agüenta’ sempre, é meu filho e ela”. (E41)
Durante o decorrer do discurso, outras questões relacionadas à afetividade foram
surgindo. Questões como: ansiedade e humor triste.
A ansiedade pode ser verificada quando o paciente diz:
“Não, aí eles me trouxeram de madrugada, me deixaram dormir dois dias na cadeira. Aí
no terceiro dia, eles tiveram que me operar. Mas eu tava mais fraco do que agora. Agora eu tava
forte...” (E31)
“Embora que eu saia daqui eu não vou fazer mais nada. Muito velho... o que eu devo
esperar, além disso...”. (E48)
Na primeira fala, embora o paciente esteja contando algo que já aconteceu, nota-se com
este relato certa ansiedade com que ele está vivenciando e o que ainda irá vivenciar. Na segunda,
percebe-se uma apreensão negativa em relação ao futuro.
O humor triste aparece quando o paciente mostra-se com o afetividade baixa, com
desesperança e angústia. Na fala,
“Antes eu passeava e acabou... depois de tanto trabalho acabou... Tudo é bom, quando se
tem saúde”. (E47 e 48)
E por fim, mostra-se com uma diminuição da capacidade de sentir prazer com coisas que
fazia antes, denominado anedonia. Quando diz:
“... Uma casinha, tenho um carrinho que dá de andar, mas acabou o prazer”. (E47)
Com relação ao pensamento, o paciente 2 apresenta uma dissociação do pensamento que,
conforme visto no marco teórico, pacientes portadores de patologias graves, após passarem por
47
“... só comprimido, comprimido, que nem se fala. Tem dia que tomo mais de vinte. O que
tomo de ‘força’ de comprimido por dia...”. (E22)
“... alimentação que eu posso, eu não posso comer. Por exemplo, se eu quiser comer um
pastelzinho quente, eu não posso...”. (E24)
“É, que eles dão é tudo ‘insosso’, tudo. A comida vem e volta, vem e volta, vem e volta”.
(E25)
“... Mas eu não posso reclamar deles, não”. (E26)
Os sentimentos de frustração e impotência também aparecem na seguinte fala:
“Embora que eu saia daqui eu não vou poder fazer mais nada Muito velho, né? Setenta e
três anos, vou fazer setenta e três anos. O que devo esperar, além disso... Tudo é bom, quando se
tem saúde”. (E48)
Assim, como o sentimento de fracasso que o paciente diz:
“... depois de tanto trabalho acabou”. (E47)
O estresse psicorgânico aparece, quando relata os momentos que esteve na UTI, conforme
dito pelo paciente a seguir.
“... só que essa foi pior que a outra... (E7)... a outra eu não tive... essa eu cheguei a ficar
amarrado” (E8)
“Eu não sei lhe explicar, eu não sei, eu não estava em mim. Eles acham que era por
causa da morfina... Quando a operação não saí boa, não é bem sucedida, é sofrimento”. (E14 e
E15)
3.2.2 Caso 3
112
dos tecidos”. O paciente não possui dependência, consegue se locomover sozinho. É natural
da Serra de Santa Catarina e atualmente mora em São José-SC.
Até o dia da entrevista, o paciente encontrava-se em seu leito, com cirurgia cardíaca
marcada, a ser realizada dois dias depois.
Com relação à afetividade, durante a maior parte da entrevista, o paciente mostrou-se
calmo, tímido. Tendo apenas, em um único momento, final da entrevista, demonstrando angústia
de morte, conforme o seguinte relato:
“... o cara nasce sem nada, quando morre não leva nada. Me deu um desespero...” (E52)
Na categoria pensamento, com relação o que foi observado no discurso do paciente 3,
apresentou ordenação, coerência e velocidade normal do pensamento. Foi constatado somente,
em duas falas, o pensamento mágico, conforme relato abaixo.
“É morreu um bem aí. O desespero dele na hora, tudo. Presenciei tudo, a pessoa muda”.
(E49).
“... a pessoa muda quando vê isto”. (E51)
O pensamento mágico, nesse caso do paciente 3, pode-se verificar que é resultado de
idéias subjetivas, relacionadas às fantasias e aos temores do paciente perante ao fato ocorrido.
Cinco dias antes da entrevista, um de seus colegas de quarto, que ficava no leito ao lado, foi à
óbito, deixando o paciente 3 como expectador do acontecimento, conforme seu relato.
Quanto ao processo de hospitalização do paciente 3, percebe-se que ocorrem
manifestações inerentes ao processo de despersonalização, em que o paciente mostra-se um
pouco incomodado, mas tentando adaptar-se. Verifica-se isso, quando perguntado sobre a sua
hospitalização, através das seguintes falas:
“Sei lá, tem que ter paciência né. Ta meio ruim né, ta longe de casa... a liberdade que
tinha... de castigo aqui”. (E28, E30 e E33)
“... to meio enjoado já de comida de hospital”. (E41)
“... mais ou menos... Oh! Berra a noite toda. Multiplica por três do que ta agora. Esses
dias fui dormir era de manhã... Berrava a noite inteira” (E42 e E43)
Apresenta-se também o que Fongaro e Sebastiani (2003) chamam de Medo Real,
conforme marco teórico. Quando diz:
112
PARADISO, Catherine. Fisiopatologia. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1995, p. 26.
50
“... É morreu um bem aí. O desespero dele na hora, tudo. Presenciei tudo, a pessoa
muda... me deu um desespero...”. (E49 e E52).
Para uma melhor visualização dos resultados obtidos através da análise realizada no
tópico anterior, colocou-se duas tabelas com as categorias afetividade e pensamento, com
objetivo de mostrar os principais aspectos alterados encontrados nos casos analisados.
A partir do que foi visto nos relatos dos pacientes, analisados e apresentados nas tabelas
acima, conclui-se que, nos casos estudados os principais aspectos alterados da função psíquica
afetividade é a hipotimia, o humor triste e a angústia de morte.
51
De acordo com que foi visto na análise dos dados apresentados e na tabela acima, pode-se
perceber que todos os pacientes entrevistados apresentam algum tipo comportamentos e aspectos
52
psicológicos relacionados com a despersonalização ou hospitalismo. Mas não se pode dizer que
estes sujeitos estão com hospitalismo.
A raiva apresentada por apenas um paciente, mostra-se como conseqüência da
hospitalização, tratamento e adoecer. Assim como o comportamento fóbico, do sujeito 1,
desencadeado pela permanência prolongada no hospital.
A limitação de atividades apresentada pelo sujeito 1, está relacionada a pouca mobilidade
e por não poder realizar algumas tarefas, como por exemplo, tomar banho sozinha e ir ao
banheiro.
As outras subcategorias, frustração, impotência, fracasso e estresse psicodinâmico,
apresentado pelo sujeito 2, mostra a sua relação com a doença e o tratamento.
A partir dessas considerações feitas, pode-se constatar que, apesar de muitas mudanças
terem ocorrido desde o surgimento do hospital até os dias de hoje, ainda a hospitalização é um
fator que afeta emocionalmente e psiquicamente o sujeito internado. Um fator que não é
predominante, ou seja, que não se sobrepõe a outras questões, como a doença orgânica e a
condição da perda da saúde, mas que contribui para alterações na esfera psíquica, como muitos
autores já citados no marco teórico, que descrevem sobre isto.
Pode ser verificado também que, apesar de todo o sofrimento orgânico e psíquico vivido
por parte dos pacientes, mostram que estão sendo tratados adequadamente, como apresentadas
em algumas das falas, e que não é a conduta dos profissionais da saúde que está dentro do fator
que afeta psiquicamente, salvo algumas exceções. E sim, o próprio processo de reformulação dos
valores de cada um, por exemplo, hábitos, que são impostos ao sujeito e determinados pelas
regras gerais da instituição e tratamentos (exames, dietas e outros).
53
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este Trabalho de Conclusão de Curso teve como propósito estudar e refletir sobre o
sujeito hospitalizado e as alterações na esfera psíquica.
O tema surgiu a partir do interesse da pesquisadora, como já comentado na introdução
deste trabalho, em compreender o funcionamento das funções psíquicas e suas alterações em
pacientes internados, bem como verificar se existia alguma relação entre estas alterações e o
processo de hospitalização.
Desta forma, o objetivo geral se constituiu em verificar quais eram os principais aspectos
alterados das funções psíquicas afetividade e pensamento, apresentados por sujeitos internados no
Hospital de Caridade. Para que esse objetivo pudesse ser atingido, foram traçados objetivos
específicos.
O primeiro objetivo específico foi compreender, através da teoria, o significado da
hospitalização na vida dos sujeitos internados. Para isso buscou-se referenciais teóricos sobre a
história do hospital e trabalhos já desenvolvidos por profissionais da saúde em hospitais gerais.
O objetivo foi alcançado, visto que, a partir do estudo sobre os temas acima, foi possível
compreender que o sujeito, ao ser internado, passa por uma modificação e reformulação de
concepções que tem de si e do mundo externo, passando a ter que se adaptar às regras gerais do
hospital e a conviver com a condição de doente e hospitalizado.
Foi possível verificar que outros fatores tais como, o afastamento da família, o medo do
desconhecido, a limitação das atividades, podem acentuar a condição de paciente, de enfermo e
de hospitalizado. Fatores também como a conduta e a atuação por parte da equipe de
54
REFERÊNCIAS
AMARO, J. Dicionário médico para o público: psiquiatria. In: Hospital das Clínicas de
Medicina da Universidade de São Paulo. Disponível em:
<http://www.hcnet.usp.br/dicionario/psiquiatria.htm> Acesso em: 24 mar. 2006.
BAPTISTA, Makilim N.; DIAS, Rosana R. Psicologia hospitalar: teoria, aplicações e casos
clínicos. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2003.
BASTOS, Cláudio L. Manual do exame psíquico: uma introdução prática à psicopatologia. Rio
de Janeiro: Revinter, 1997.
CAMON, Valdemar A. (org.) A psicologia no hospital. São Paulo: Pioneira Thomson Learning,
2003.
______. E a psicologia entrou no hospital. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2003.
______. Psicologia da saúde: um novo significado para a prática clínica. São Paulo: Pioneira
Thomson Learning, 2002.
DEWALD, Paul. Psicoterapia: uma abordagem dinâmica. Porto Alegre: Artes Médicas, 1989.
FREUD, Sigmund. Repressão. IN: Obras Psicológicas Completas (1914 – 1916). Rio de Janeiro:
Imago. Vol. XIV.
GIL, Antonio C. Como elaborar projetos de pesquisa. São Paulo: Altas, 2002.
KÜBLER-ROSS, Elisabeth. Sobre a morte e o morrer. São Paulo: Martins Fontes, 1998.
MELLO FILHO, Julio (org.). Psicossomática hoje. Porto Alegre: Artmed, 1992.
MINAYO, Maria Cecília. S. Pesquisa social: teoria, método e criatividade. Petrópolis: Vozes,
1994.
PAIM, Paulo. Curso de Psicopatologia. 11. ed. revisada e ampliada. São Paulo: EPU, 1993.
ANEXOS
59
Avaliação Psicológica
Nome:........................................................... N° do Registro:....................................
Data da Internação:.............................Ala:.................................................................
Diagnóstico Médico:...................................................................................................
Data do atendimento:.........................................
Perguntas:
Anexo B – 1ª Entrevista
1ª Entrevista : Sujeito 1
Data: 03-05-2006
Horário: 14:30
Dados do Prontuário
Idade: 67 anos Sexo: Feminino Estado Civil: Casada
Religião: Católica
Ala: Nossa Senhora das Graças
Diagnóstico: CA Meta Óssea / HAS Área: Oncologia
Entrevista
Legenda:
P= pesquisadora
E= entrevistado
E7 - Sou. E achou melhor eu vir para cá, porque não dá para vir todo o dia, é muito difícil. Ele
disse para eu baixar aqui umas quatro semanas para fazer esta radioterapia, os exames
necessários, para ver se... ele me disse que quer me botar de pé.
P8 - Há quanto tempo a Senhora está aqui no Hospital?
E8 - Aqui neste?
P9 - É.
E9 - Eu vim dia 17 de.... agora nos estamos em maio, né? É maio? Dia 17 de abril.
P10 - Hoje é dia 3 de maio.
E10 - É hoje é 3 de maio... mas eu, aqui comigo está tudo bem, eu não tenho nada não tenho
reclamação nehuma.
P11 - E em relação a hospitalização como a Senhora se sente?
E11 - Tudo muito bem, muito bem tratado, muito bem, não tenho queixa nenhuma. O médico é
um exemplo de médico, os enfermeiros, todo o pessoal aí, as companheiras de quarto, todo
mundo.
P12 - Como a Senhora se sente desde que internou até o momento?
E12 - Eu me sinto melhor.
P13 - Como assim?
E13 - Eu me sinto melhor porque até agora eles tinham até medo de botar a mão em mim né.
Medo de quebrar. E agora não, dois guris me pegam botam aqui, no lençol, pegam pela perna
pelo aqui. O J. (enfermeiro da ala) mesmo sozinho me pega bota aqui... hehe. Então eu acho que
risco de quebrar ainda tem, mas o Dr. .......... disse que é difícil, mas que pode ocorrer.
P14 - Que agora está melhorando?
E14 - Tá, ta mais forte, eu fiz muito tratamento desde o começo fazendo tratamento toda a vida,
toda a vida.
P15 - E a Senhora sabe como foi diagnosticado está doença, que a Senhora acha que é
câncer?
E15 - Eu comecei com dor na coluna, porque eu já fiz tratamento para câncer em Porto Alegre,
tirei um seio.
P16 - Mais ou menos há quanto tempo?
E16 - Faz 25 anos e fazia 23 anos que eu estava lá na PUCRS e a Dra. Veio conversar comigo e
disse... A Senhora tá curada. Eu disse... é espero que sim, também 23 anos Dra. Ela disse, não lhe
deram alta?Não, mandam eu “vim” todo ano, eu venho. Daí, por nós tá liberado, tá mais eu disse
e essa minha coluna, tá me doendo muito?Dói muito também assim no meio dos ossos? Mas
ainda comecei a brincar com ela... disse isso é doença de velha mesmo né Dra.. Ela disse não, não
é não. Mas aí vim fiquei acho que um ano em casa bem tudo, só com dor na coluna, na certa é um
bico de papagaio e não sei o que. E depois eu peguei e começou a me doer muito está perna
direita, muito dor. Fiz fisioterapia lá em Sombrio, não resolveu nada e depois eu tava em casa
sentada, quebrei este braço aqui sentada no sofá (braço esquerdo). Aí vim para Araranguá e eles
mandaram eu vir outro dia para ...só imobilizar e aí deixaram.
P17 - A Senhora colocou gesso?
E17 - Não, só imobilizaram. Depois e pra mim no outro dia, que era domingo né? E eu “vim”
segunda-feira para eles “engessá” e fazer raio-x, quando eu fui subir no carro para vir para
Araranguá eu quebrei a perna, só no botar em cima do carro a perna, ela partiu, aqui em cima. E
aí já veio a ambulância para me levar para Araranguá, porque de carro não dá para vim. Fiquei
treze dias no Hospital de Araranguá, fiquei mais trinta e dois ou trinta e três no Hospital
Florianópolis, onde eu fiz a cirurgia.
62
E27 - É tristeza, desânimo. Tem dias que eu choro dia todo, a noite toda. Tem dia que eu fico que
não tenho vontade de nem conversar. Eu por mim... eu fiquei muito revoltada. Agora não, agora
eu ando mais calma porque conversando com as psicólogas e outras pessoas que vem conversar
com a gente tudo né. Mas não tem nada que me tire da minha cabeça, nada, nada. Eu disse para
Dra: Dra. a senhora desculpe a minha expressão, disse para uma psicóloga, mas nada o que você
vai me dizer vai adiantar. Porque eu me sinto assim, não tem palavras, não tem... ela disse
assim.. “eu sei que não tem, mas a Senhora tem que pensar na Senhora também, a Senhora tem
outros filhos também”. Eu adoro meus netos, meu marido é muito... bom, faz 46 anos de casada,o
já deu para ver que nós “se aturamos” né? Aí ela disse, então. Eu disse: Não, é uma falta assim
que não tem volta... (silêncio). Deixou a menina com 12 anos, marido, eu me revoltei, eu disse...
Meu Deus, por quê eu fiquei toda quebrada em cima de uma cama, porque foi minha filha,
porque não fui eu? Me revoltei mesmo, Deus que me perdoe, mas eu fiquei.... revoltei. Mas Deus
queria que “era ela”. Mas disse não, por favor né, fazer o quê, ninguém vai se não chegar a hora
né?
P28 - E quantos filhos a Senhora têm?
E28 - Eu tenho quatro filhos meu mesmo e eu criei um neto, vai fazer 23 anos agora dia 30 de
maio. Ele mora em Porto Alegre, meu neto.
P29 - A Senhora têm uma filha que mora aqui?
E29 - Tem uma que mora comigo em Sombrio.
P30 - Quem mora com a Senhora em Sombrio?
E30 - É esta que está aqui comigo.
P31 - É a mais nova, a mais velha?
E31 - É a mais velha.
P32 - Então mora a Senhora, a mais velha...
E32 - E duas meninas dela e mais o meu marido e o marido dela que trabalha em Porto Alegre,
mas final de semana ele vem. O meu neto trabalha em Porto Alegre.
P33 - Quantos netos a Senhora têm?
E33 - Sete. Cinco meninas e dois meninos. De filho homem eu tenho só um, o mais novo. E o
neto que eu criei, que pra mim é igual filho.
P34 - Então é a mais velha...
E34 - É tem mais duas, mais uma que mora em Porto Alegre e a outra que morava lá também,
que faleceu. (silêncio)
P35 - E em relação ao adoecer, o que a Senhora acha que mudou na sua vida antes e depois
do diagnóstico?
E35 - Para mim não mudou nada, eu já mais ou manos sabia que podia acontecer isto.
P36 - Como assim?
E36 - Eu tinha impressão assim que ia me acontecer mais alguma coisa. Eu sempre falei lá em
casa. Eu disse: “olha eu não vou ficar só por esta não, vai me aparecer outra”.
P37 - Por esta qual?
E37 - Da doença... sei que eu tive. Eu perguntei para o medico se era seqüela que ficou. Ele disse
que não, disse que era outra coisa, que acontece mesmo.
P38 - Quanto tempo se passou entre a cirurgia do seio e agora essa doença?
E38 - Faz agora faz 25, vai fazer 26, em agosto.
Anexo C – 2ª Entrevista
2ª Entrevista : Sujeito 2
Data: 10-05-2006
Horário: 14:00
Dados do Prontuário
Idade: 72 anos Sexo:Masculino Estado Civil: Viúvo
Religião: Católica
Ala: Nossa Senhora das Graças
Diagnóstico: aneurisma aorta abdominal e cirurgia RM coronariana
Área: Cirurgia Vascular e Cardiologia
Evolução Clínica: Revascularizado há 8 anos, aneurisma aorta abdominal 6,2 cm, cirurgia
cardíaca.
Entrevista
P8 - Esta? Porque?
E8 - Ah essa teve, não sei... o que aconteceu. A outra eu não tive... essa eu cheguei a ficar
amarrado.
P9 - Ficou amarrado. O Senhor sabe por quê?
E9 - A gente assim... não sabe dizer ao certo, nessas horas a gente está fora de si. Não guarda
nada. Só sei que eu gritava muito, metia os pés em tudo, aí eles me amarraram.
P10 - Isso foi depois da cirurgia?
E10 - Isso foi depois da cirurgia.
P11 - Quando o senhor estava no quarto?
E11 - Quando estava na UTI.
(Acompanhante): - Ele enfartou, depois da cirurgia ele teve um enfarto. Foi onde ele teve a dor, a
dor forte, ele começou a bater.
P12 - Mas tava tomando alguma medicação?
E12 - Eu não me lembro de nada, quando a gente tá na UTI, a gente ta morto né. Na UTI entrou
lá, dormindo. Só sei que na primeira operação não houve isso que houve agora. Não houve esse
“problema” de eu ficar, eu via coisa do outro mundo.
P13 - O Senhor via coisa do outro mundo?
E13 - É, na minha imaginação... eu via coisa que eu nem posso te dizer, eu cheguei a meter os pés
na Dra., daí me amarraram.
P14 - O Senhor sentia dor?
E14 - Eu não sei lhe explicar, eu não sei, eu não estava em mim. Eles acham que era por causa da
morfina. Só que eles falam pra gente, mas quando a gente ta operado tudo que vem falar, porque
demora, não sabe mais nada, a gente não guarda.
P15 - Quando? Lá?
E15 - Em qualquer lugar. Quando você não está bem, não adianta porque você troca as coisas...
você sonha, você delira, você tem tudo. Quando a operação não saí boa, não é bem sucedida, é
sofrimento.
P16 - Mas a operação do aneurisma foi boa, o que aconteceu foi o enfarto? Foi durante ou
foi depois da operação?
E16 - Não. Foi durante a operação
Acompanhante: - Foi depois do cateterismo. Eles fizeram o cateterismo na UTI.
-Exato, foi na UTI mesmo. Foi operação de urgência.
P17 - Quanto tempo faz que o Senhor veio para cá?
E17 - Foi dia 21 que eu cheguei aqui.
E aí já entrou direto para o centro cirúrgico?
- Cheguei aqui numa sexta-feira. (Acompanhante: - Foi operado no sábado de manhã) Foi. Foi
porque foi de urgência, na... Teve que operar que tava querendo sangrar. Se ela estoura eu vou...
P18 - Como foi descoberto o aneurisma?
E18 - Foi descoberto na hora que... Tinha feito um exame lá em Laguna, que eu um dia tava lá na
casa deles (filho e nora - acompanhante) e eu senti aquela dor aqui, daqui para baixo. E meu filho
já tinha esse problema de aneurisma aqui, passou muito mal de uma. Aí ele telefonou para o
..........., que já era o meu médico. Aí o Dr. ............ disse: “se o teu pai está nesta situação não
perde tempo, trás imediatamente, o mais rápido que puder”. Então só acabamos de almoçar e
viemos embora.
P19 - Então, vocês vieram de lá no mesmo dia, dia 21?
E19 - Na mesma hora. De manhã cedo já tiveram que operar.
67
bem”. E que eu não estava fazendo as fezes bem, nem urinando bem. E hoje eu não estou
urinando bem e nem fazendo as fezes bem. Não tô.
P32 - Agora não está?
E32 - Não, muito mal. O que, depois que tô aqui, eu fiz três vezes. Eu tenho cólica, vou ao
banheiro, mas não consigo fazer nada. À noite eu tenho medo e mando botar fralda e mesmo que
nada. (está com sonda)
P33 - O Senhor já conversou com o médico sobre isto?
E33 - Já, o resultado que eles estão fazendo, tudo.
P34 - Certo. E como o Senhor está se sentido hoje, em relação à hospitalização?
E34 - Acho que boa, não posso reclamar de nada, não.
P35 - E comparando a sua hospitalização de agora com a de oito anos atrás, o Senhor vê
alguma diferença?
E35 - Eu acho que a outra foi mais fácil do que está, a outra eu sofri menos do que esta. Só que
essa eu fui me restabelecer de ontem - dontem para cá. De três dias para cá eu melhorei muito.
P36 - Em que sentido?
E36 - Assim, de mais alegria (falava com pouco entusiasmo, muito lento e de cabeça baixa).
Pensamento mais, que quando a gente tem família (chora muito), quando a gente têm família tem
pensamento.....(silêncio).
P37 - Que pensamentos o senhor têm?
E37 - Saudades dos filhos. (chorando)
P38 - Quantos filhos o Senhor têm?
E38 - Eu ainda tenho uma menina com um ano e sete meses. (começa a chorar mais)
P39 - O Senhor têm uma menina de um ano e sete meses, é dela que o senhor sente mais
falta?
E39 - É.... (silêncio). Ela é muito grudada comigo.
P40 - Quantos filhos o Senhor tem mais, além dela?
E40 - Ah.. eu tenho o marido desta, que me ajuda, me leva para tudo quanto é lado e os outros
você sabe né, tudo mundo trabalha longe.
P41 - Quantos ao todo?
E41 - Ah.. eu tenho uns doze. Que dizer todo mundo tem seus problemas, trabalha tudo. Tem que
estar se locomovendo de lá para cá. Está aqui que me “agüenta” sempre, é meu filho e ela. Ela
fica dia e noite aqui.
P42 - O Senhor tem parentes aqui em Florianópolis?
E42 - Tenho, mas o problema é o seguinte: eu sou separado da minha primeira mulher quarenta e
dois anos, então são seis filhos, só tem um que não me larga, os outros não....não dão....não tem
relacionamento nenhum. Casei-me com uma moça que tem vinte e cinco anos, tenho uma filha,
hoje com 26 anos, com essa que morreu de câncer, depois eu me juntei com essa outra que tenho
a menina.
P43 - Então o Senhor está com outra esposa?
E43 - Não, eu estava junto com esta outra, tive esta menina, mas não deu certo.
P44 - E o Senhor fazia o que antes, trabalhava?
E44 - Eu era aposentado.
P45 - Há quanto tempo?
E45 - Faz quarenta....entre encostado e aposentado faz trinta e oito anos.
P46 - E o que o Senhor gostava de fazer antes?
E46 - Ah... eu trabalhava na Reunidas, eu inaugurei todos os roteiros da Reunidas. Eu era
motorista, viajava toda a noite. Só à noite, naquele tempo não tinha asfalto.
69
Anexo D – 3ª Entrevista
3ª Entrevista : Sujeito 3
Data: 10-05-2006
Horário: 15:50
Dados do Prontuário
Idade: 21anos Sexo: Masculino Estado Civil: Solteiro
Religião: Evangélica Ala: Nossa Senhora das Graças
Diagnóstico: ICC Congênito
Área: Cardiologia
Entrevista