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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANi.

::IRO
INSTITUTO DE FILOSOFIA E CIENCIAS SOCIAIS
DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA

SISTEMAS AGRÁRIOS EM PARAÍBA DO SUL (1850-1920)


- um estudo de relações não-capitalistas de produção -

João Luis Ribeiro. Fragoso

Dissertação apresentada ao Curso de


Mestrado em História da U F R J
visando à obtenção do título de Mestre

Rio de Janeiro
abril de 1983


SISTEMAS AGRÁRIOS EM PARJi_fBA DO SUL: (1850-1920)
um estudo de relacões não-caoitalistas de oroducão.
� - - .>

JOÃO LUIS RIBEIRQ FRAGOSO

TESE SUBMETIDA AO - CORPO DOCENTE DO MESTRADO EM HISTÓRIA D�.


UNIVEP�IDADE FEDERAL DO RIO DE J�.NEIRO COMO PARTE DOS REQU!
SITOS NECESSÁRIOS À OBTENÇÃO DO GRAU DE .MESTPE.

Apr�vado por:

Prof.
��-��
(Presidente da Banca)

Prof. :fok:0 :f'o� .


....................

..........
Prof. · · · · · · · · ·
���······

Rio de Janeiro, RJ-BRJi.SIL


Maio de 1983
ii

FICHA CATALOG�FTCA

FRAGOSO, João Luís Ribeiro


Sistemas l'�grãrios em Paraíba do Sul (1850-1920): um
estudo de relações não-capitalistas de produção.
Rio de Janeiro, UFRJ,HISTÔRIA., IFCS, 1983.
Dissertação: Mestre em História (História do Brasil).

1. História Pgrãria 2. Siste�as Aarários no


Vale do Pa;aíba/PJ.
\ 3. História Econômica. 4. Dissertação.
Universidade Federal do Rio de Janeiro - IFCS - His
tória.
II. Título
rn
iv.

� 1
AGRADECIMENTOS

O presente trabalho não teria sido possível sem o apoio e


a amizade de diversas pessoas. E isto é, particularmente, re­
forçado quando temos em conta as condições precárias em que fo­
ra desenvolvida a nossa dissertação.

A Vera, companheira dos primeiros momentos de pesquisa �


que nos ajudou ? fazer o primeiro levantamento das fontes carto­
riais. A D. Maria Luzia e Sr. Olavo que nos hospedaram nas pri­
meiras idas a Três Rios.
O trabalho de arrolamento das fontes teria sido mais pe-
noso sem a paciência e boa vontade dos integr_ãltes do Cartório do
19 Ofício de Pa�aíba do Sul. Entre muitos, gostaríamos de re­
gistrar o .apoio dado pelaD. Maria Quita (responsável pelo Cartó­
rio). E, particulannente,à ajuda .de Maria das Graças no recolhimen­
to dos inventários, outrossim, à sua amizade e carinho transforma
ram as nossas éstad_ias de trabaJho em Paraíba do Sul em algo me ­
nos fatigante.
'. Aos senhores Dias e Jarbas . Oliveira, que se mostraram pres
tativos, respectivamente, na reprodução mecânica-das fichas de
trabalho e dos gráficos, e no fornecimento do material indispens�
vel para a pesquisa.
Ao Prof. Hector Perez Brignoli que, em sua curta estadia
no Rio, se prontificou em fazer uma leitura crítica do nosso proj�
to� ajudando-nos posteriormente na organização dos dados �as"con�
tas de tutela". Devemos, ainda, registrar o seu apoio nos nossos
primeiros passos dentro da História Econômica.
Deixamos, aqui, também, registrado. algumas das pessoas c�
ja a amizade ficou patenteada nos momentos. mais difíceis do perío­
do de elaboração do trabalho. Sem a compreensao doJosé Maria, na
fase de redação, te�íamos demoradb muito mais em terminar a dis­
sertação. A Clara Raissa, cuja t��nura e o ombro amigo se mostra­
ram sempre presentes.
Quanto a nossa Orientadora, os agradecimentos tornam-se
particularmente difíceis. Que palavras utilizar para agradecer
urna pessoa que nos ensinou e ensina o ofício da História, e que
faz isso combinando com a sua amizade! Mesmo sabendo que e difí­
cil de ser externado tais reconhecimentos:
V

À Profa. Maria Yedda, gostaríamos de agradecer nao ap�


nas a sua segura orientação., mas também o fato de ter nos mos -
trado um novo caminho dentro da História enquanto Ciência. Sem
o seu apoio intelectual e amizade não ter.íarros ultrapassado as
dific�ldades do trabalho.

'
1 .

,l,
vi

RESl'MO

O presente trabalho tem por objetivo empreender uma pr!


meira abordagem ao sistema agrário de uma economia de exporta­
ção (café), procurando exemplificá-lo nuroa dada região (Paraíba
do Sul/RJ) no período de 1850-1920. E para tanto, neste estu­
do há a preocupação de reter alguns aspectos desta forma de pro
dução, quais sejam: certos traços de seu processo de reprodução
e de suas relações de produção. Traços esses, que no texto, a­
parecem ligados entre sí e à noção de frequência de cultivo.

Outrossim, através da caracterização destes aspectos ,


particularmente, o caráter extensivo da reprodução do sistema e
à "associação" do trabalhador direto aos meios de produção, pr�
cura-se demonstrar a lógica própria daquele sistema agrário his
toricamente definido e fundamento de uma economia de exportação.

Na parte final do trabalho (39 capítulo), tenta-se mos­


trar a persistência daquela forma de produção agrícola, na re­
gião,_pós-escravidão,o que iria conferir um caráter não-capita -
lista às relações de produção fundada no trabalho livre. E por
Último, o definhamento do sistema agrário da economia de expor­
taçã.o, na região, estaria ligado a seus próprios mecanismos de
reprodução.

J..
vii.

SUMMARY

·>�
This dissertation· to be a first approach to the study
of the agrarian system that emerged from an export economy
centered on one agricultural product. The coffee County of
Paraiba do Sul on the Paraiba Valley · (Rio de Janeiro) is taken
as a case study for the period between 1850- 1920. According
to this purpose certain aspects concerned with the productive
system have been giyen a privileged treatment such as: certain
traits of its reproduction process and its relations of
production. Along this dissertation, such traits have been
associated with th� concept of freqmncy of cultivation.
On the other. hand, through the analys.:i-!;?. of such traits,
especially the extensive character of the reproduction of the
system as a whole, as well as the "association" of.direct
producers to ,the means of production,. it is intended to
demo�strate the logic of the agrarian system historically
delimited and based on a given plant�tion economy.
Ftnally 1 it is intended to demonstrate the persistency
of that form of agriclil.t.ural production, locally,along the post
-slavery period. The fact that the agricultural regime based
on free labor has. been distinguished by its non- capitalist
character results from the persistency of the above mentioned
agrarian system as part of a defined forro of agricultural
production. The�word "decadence" has been avoided as a definition
of the period post- slavery. In fact, it is here suggested that
the weathering (definhamento) of the agrarian system of the
exportation economy, regionnally, was linked with its specific
mechanisms of reproduction.
viii

:..;

fNDICE
Pág.
Lista de Quadros ix
Lista de Gráficos xi

Introdução 1
Capítulo 1 - Sistema de Uso da Terra e Instrumentos de 12
Trabalho.
1. 1. A Agricultura de Alimentos. 15
1. 2. A Agricultura do Café. 25

Capítulo 2 - Sistema Agrário e Reprodução Extensiva 38


2. 1. A População Escrava 39
2. 2. A Fazenda de Café e a Reprodução lillual 51
2.3 . 1'. transformação de .Matas em Cafezais: o 75
segundo movimento do processo de repro­
dução.
2.4. Sobre-trabalho e Sistema Agrário 95

Capítulo 3 - O Definhamento do Sistema Agrário da Economia 109


de Exportação na Região.
3 . 1. A "Degradação". 109
3 . 2. Capoeiras, Enxadas e Colonos. 124
3 . 3 . A Invasão dos Pastos. 144

Conclusão 163

Bibliografia 170

!-;nexo I
Jlnexo II
ix

LISTI, [E CCP..CEOS
Pág.
1 - Agricultura de Alimentos no Vale do Paraíba 20
- século XIX e na Europa (Sistema Trienal
de Rotação de �erras}.
J -
2 - erigem da Fomaçao dos contingentes de Escra 42
vos em algumas fazendas de Faraíba do Sul
em 1872.
3 - Origem dos Escravos presentes nas Fazendas 43
de Paraíba do Sul: 1850-1860-1872
4 - Razão de masculinidade na Pooulacão Total e 44
Escrava de Paraíba do Sul em- 184Ó e 1872.
5 - Cistribuição da População Total �e Paraíba 45
do Sul por sexo e idade - 1872.
5. 1. - Cistribuição da População Escrava de 46
Paraíba do 8ul �or sexo e idade de
1872.
5. 2. - Cistribuição da �opulação Livre de 46
Paraíba do Sul por sexo e idade de
1872.
6 - Razão de masculinidade na população ce Pa­ 47
raíba co Sul - censo de 1872.
6. 1. - Grupos de Ilades em Paraíba do Sul 43
1872.
6. 2. - ristribuição da População de Paraíba 48
do Sul por sexo e grupos de idace
1872.
6. 3. - Grupos de idade na população masculi 49
na livre e escrava em Paraíba do Sul
1872.
7 - Rebanhos em Paraíba do Sul 1850/80 56
7. 1. - Bovinos em Paraíba do Sul - 1850/80 57
8 - Rebanhos em Fazendas com mais de 200 alquei­ 58
res ou coro mais de 100. 000 pés de café e 60
escravos(18so-8�)
9 - Profissões dos Escravos segundo a matrícula 62
especial de 1872.
10 - Contas da Fazenda Cachar.bú (1880-1882) e 66
Bom Sucesso (1282) .
10. 1. Compras de �li��ntos pela Fazenda Ca
cha�bú (1880-82) 68
X

10.2. - Receita Líquida nas Fazendas Cacham 74


bú (1880 /8 2/85) e Bom Sucesso (1882f.
11 - Valor do Cafezal segundo a sua idade. 76
12 - Transformação de matas em cafezais em duas 77
fazendas 1874/80 . Fazenda Barboza Teixeira­
Fazenda Santo Aleixo 1880 .
13 - Partic!pação da Fazenda no Monte Eór dos 85
Inventaries 1850 - 1880 .
14 - Investimentos em algumas Fazendas de Café 88
· de _20 0- a 1queires
com mais - de terras ou com
mais de 10 0 .0 0 0 pés de café e 60 escravos.
e_ A9So -So)
15 - Valor (%) dos Instruro�ntos de Trabalho (En­ 92
xadas, Foices, Cavadeiras e Machados) em di-
ferentes unidades de produção.
16 - Investimentos em dois grupos de Fazendas em 93
épocas diferentes (1850 /60 -1874/81) .
17 - Investimentos em casas de colonos e Eauioa­ 14 3 p._
mentos de Beneficiamentod.e alimentos êrn ã1-
gurnas Fazendas de Café (1890 -1915) .
18 - Fazendas de Paraíba do Sul visitadas pelo 154
Serviço de Indústria Pastoril - 1925. -
xi

LIS�A I:E CP.1' FICOS

Pág.

1 - População de Paraíba co Sul em 1840 e 1872. 41


2 - % do Valor das Terras e Cafezais nos Inven 83
tários de 1850 a 1880.
3 - Valor (%) dos Escravos, Terras e Equiparne� 87
tos ce Beneficiamento nos Inventários ·de
Paraíba do Sul - 1850-1880
4 - Variação do Preço de um Saco de Feijão co� 101
prado pela Fazenda Cacha�bú entre 1880 e
1882.
5 - 1'.rea das Matas e Pastos nas Fazendas�
(%) 110
Paraíba do Sul (1880-1895-1905-1915)
6 -,% dos Cafezais co� mais de 16 anos e mais 111
de 2 4 anos nas Fazendas de Paraíba do Sul
(1850-1880-1910).
7 - Estrangeiros em Paraíba do Sul (1872- 1890 121
1920).
8 - Presença da População Masculina e do Grupo 122
Etário de 16 a 40 anos nos censos de 1840
1872-1890-1900-1920.
9 - Preço (%) das Matas e Terras em Culturas 126
nos Inventários (1880-1895-1905) _ '1A��
10 - % do Valor dos Cafezais e Equipamentos de 130
Beneficiamento nas Fazendas de Paraíba do
Sul - 1850 a 1905.
11 - Valor (%) dos Cafezais, das �erras e Ani­ 146
mais nas Fazendas de Paraíba do Sul 1870 a
1920.
12 - Participação (%) dos Pastos na formação �o 148
Valor 6as Terras da Fazenda (l8CO a 1920).
13 - ?reço (%) das Terras em Culturas e Pastos 149
nos Inventários (1880-1915-1920)-�Abi�
1.

INTRODUCPD
o tema da dissertação surgiu, inicialmente, com a preocup�
ção de estudar a transição do trabalho escravo para o livre,
. das relações
ou mais precisamente, em analisar a formacão . -
so
ciais de produção que sucederam o trabalho escravo na agricul
tura do vale do Paraíba/PJ. Região que na segunda metace do
século XIX se assentava na produção de um bem primário (café)
voltado para o mercado internacional, tratando-se, portanto ,
de uma área inserida na econor.üa de exportação. E sendo que,
pós-escravidão, nesta região, iriam predominar formas de tra
balho não tipicamente assalariadas (colono-parceiro), onde o
trabalhador direto produzia parte de seus gênero s de subsis
tência sem a mediação do mercado.
As preocupações acima expostas nos levaram a entrar em co�
tato, mais demoradamente, com as teses levantadas por José de
Souza .Martins, em especial, no "Cativeiro da Terra" (l). P_p�
sar desse trabalho se referir a são Paulo, o autor se deté.m
na questão da transição para o trabalho livre numa agricultu­
ra exportadora de café, assunto que deste modo nos interessa­
va particularmente. Por sua vez, ao abordar tal tema, o a�
tor demonstra o caráter não-capitalista daquelas rela.ções de
produção, enunciando para isso uma forma própria de apreensao.
E é essa forma de abordagem que nos chamou mais a atenção .
Ao apreender a questão das relações de produção geradas na
crise do escravismo e que se confiquravarn no colonato, José
de Souza Martins critica as formulações que a ic.entificavam
com a feudal ou capitalista. Cescartando a ?OSsibilic.ade de
definir o colonato enquanto relação feudal ou semi-feudal, o
autor �rocura demonstrar a precariedade da tese que nele via
relações capitalistas de produção.
Para José de Souza �artins, no colonato o trabalhador dire
to (ao contrário das relações capitalistas) produzia e se a
propriava diretamente de parte de seus meios de subsistência,
sem a mediação do mercado. Apesar do colono receber tambêm
uma remuneração em dinheiro (pagamento fixo pelo trato do ca
fezal e um outro proporcional à quantidade de café colhido)
2.

o que fora escrito acima, inviabilizaria a interpretação do


colonato enquanto relações capitalistas de proàução. Isto por
que nesta Última, o trabalhador direto é trabalhador assala
riado, vendendo continuamente a sua força de trabalho, e rece
bendo em troca um salário, com o qual voltava ao mercado para
retirar a totalidade de seus meios de subsistência (2) .
Na apreensão do caráter não-capitalista daquelas relações,
José de Souza Martins considera que a transição do trabalho
escravo para o livre seria conduzida no sentido ce preservar
a economia colonial, isto é, "o padrao de realização do cap�
talismo no Brasil, que se definia pela subordinação da prod�
ção ao comércio" (J ) . E isto seria feito mediante a mudança
das relações de produção, por meio da organização de novas r�
lações sociais de produção, que garantissem a persistência d�
quele padrão de realização do capitalismo. Em outras pal�
vras., a organização das novas relações sociais de produção,en
quanto relações não-capitalistas de produção, respondia às ne
cessidades acima referidas.
Consideramos as relações de produção que são geradas na
crise do escravismo colonial, como nos informa José de Souza
Martins, enquanto relações não-capitalistas de produção; e
isso seria válido tanto para são Faulo como para o carnpo do
Rio de Janeiro. Isto por que, nestes regimes de trabalho, o
trabalhador direto, mesmo se encontrando livre juridicamente
e afastado da propriedade da terra, aparece "associado 11( 4) aos
meios de produção produzindo diretamente parte de seus meios
de subsistência. Entretanto, não nos parecia suficiente a �
bordagem feita por José de Souza Martins àquelas relações de
produção.
Este autor, ao procurar explicar o caráter não-capitalista
da forma de trabalho pós-escravidão, "como meio para prese!.
var a economia colonial (...) para preservar o padrão de re�
lização do capitalismo no Brasil, que se de finia pela subord!
nação da produção ao comércio", na verdade, explica as rel�
ções não-capitalistas de produção existentes na produção agrf
cola, privilegiando a circulação em detrimento do próprio pr�
3.

cesso de produção agrícola; por exemplo, em nenhum momento o


autor se refere ao sis tema de uso da terra, às técnicas/ins­
trumentos de trabalho vigentes na produção agrícola, à demo
grafia, elementos que, ao nosso ver são indispensáveis para
o estudo das forças produtivas e, portanto, para a comp reen
são das relações de produção.
Em outras palavras, nos parece, que a interpretação dada
p r José de Souza Marti s não é sufi iente p ra explicar(a b se
� � : : :
singular daquelas relaçoes de produçao, que e a "associaçao"
co trabalhador direto livre aos meios de produção, a produ
ção por este de parte de seus meios de subsistência sem a me
diação do mercado; característica que diferencia esta forma
social de trabalho da capitalista. E neste momento, achamos
mais adequado procurar entender estas relações de produção a
partir da historicidade do processo de produção agrícola,con
siderando que as "relações de produção correspondem a um de
terminado grau de desenvolvimento das forças produtivas mate
riais" (S).
O que foi dito acima, levou a nos preocuparmos em estudar
as mudanças das relações sociais de produção, o caráter não
-capitalista da forma de trabalho pós-escravidão, a partir
da historicidade do sistema agrário vigente na economia de
exportação; entendendo mesmo que as relações êe produção na
agricultura seriam um momento de um sistema agrário histori­
camente definido.
Estas questões nos conduziram a indagar sobre o comport�
mento do sistema agrário (em Paraíba do Sul) frente à transi
ção do trabalho escravo para o livre, na medida em que atr�
vés disto poderíamos estudar as articulações entre o nível
das forças produtivas e as mudanças do reqime de trabalho na
lavoura. A partir daí, as nossas preocupações foram redefi
nidas e passaran a se dirigir para a lógica de funciona�ento
e reprodução do sistema agrário da economia de exportação,i�
to é, além da organização social do trabalho agrícola, para
o sistema de uso ca terra, métodos/instrumentos de produção
e 2 demografia força de trabalho; elementos esses que por
sua vez combinados caracterizam a estrutura de produção do
4.

café vigente na região previamente escolhida por nós .


E 1 deste modo, considerando que Paráíba do Sul vivenciaria
o auge e a decadência da produção de um bem primário (café)
voltado para o mercado internacional, no período entre 1850
e 1920, e que na base desta produção encontrar-se-ia urna bai
xa relação trabalho-terra, na abordagem de nosso objeto de
estudo, partíamos da noção de economia de exportação ce bens
primários, apresentada por Hector Perez Brignoli: �A expansão
destas economias exportadoras de bens primários se baseou no
crescimento da população e na incorporação de áreas vazias".
Economia, que segundo este autor, se moveria mediante uma 1�
gica c.iferente do capitalismo de indústrias , onde a " expa�
são se baseia na fabricação de diferentes tipos de bens r�
6
produtíveis" ( ) · E ainda, devido mesmo à natureza de no�
sas preocupações, por privilegiarmos aos aspectos internos
da eponomia de exportação ( sua base agrária), e por optarmos
por uma a�ordagem que privilegia a relação forças produtivas
/rel�ções de produção, utilizaríamos igualmente a noção de
sistema agrário.
Por sua vez, entendemos por sistema agrário, formas de a
propriação e uso do solo, e, status jurídico e social dos
(? )
trabalhadores rurais . Ou em outras palavras, o sistema a
grário diria respeito às formas históricas de produção agr�
ria, sendo que em seu interior, as relações de produção co!
responderiam a um determinado grau de desenvolvimento das
forças produtivas materiais·
Definidos o terna, a sua forma de apreensão e a região,
formulamos então duas h ipóteses de trabalho intimamente lig�
das:
19 ) Em Paraíba do Sul o sistema agrário da economia de e!
portação perpassa a crise do trabalho escravo, persistindo
em seu definhamento. E isto seria explicado:. a) redução das
matas virgens e declínio demográfico - configurando assim
crise de um sistema agrário cuja reprodução se faz pela in
corporação de mais terras e força de trabalho; b) manutenção
do sistema de uso da terra, instrumentos e métodos de trab�
lho agrícola - o que demonstra a persistência em seu definha
5.

wento do sistema agrário; c) substituição progressiva da agr�


cultura extensiva por urna pecuária igualmente extensiva, onde
se fazem presentes elementos (uso extensivo da terra e aplica
ção reduzida de um trabalho adicional) daquele sistema.
29 ) O caráter não-capitalista das relações de produção pós
-escravidão na agricultura cafeeira, em Paraíba do Sul, deve
-se à persistência (em seu definhamento) do sistema agrário
da economia de exportação. E isto é percebido pela manuten
ção de um sistema de uso da terra que permite a combinação da
produção de çêne]:()s de subsistência com o café - o que se tra
duz numa situação em que o trabalhador direto livre aparece
"associado" aos meios de produção, produzindo parte de seus
meios de subsistência, enquanto valor de uso. Por sua vez, a
articulação dessas relações não-capitalistas de produção res
pond1a às necessidades de funcionamento daquele sistema, ao
garantir a manptenção do trabalhador direto a baixos custos
de produção.
Sendo assim, no momento da elaboração de nosso projeto de
cissertação, tínhamos duas preocupações básicas: com o sist�
ma agrário da economia de exportação e com o regime de trab�
lho pós-trabalho escravo. Pretendíamos através da caracter!
zação deste sistema e de seu comportamento no tempo, .perceber
a articulação daquel_as relações. Entretanto, na continuida­
de da pesquisa, a nossa atenção cada vez mais se dirigiria p�
ra o sistema agrário, ficando, na prática, em segundo plano
o estudo da transição para o trabalho livre. Em outras pala
vras, o estudo do sistema agrário se tornou para nós cada vez
mais importante do que propriamente à organização das formas
sociais de trabalho pós-escravidão.
A partir desse momento, procuramos através de uma dada r�
gião entender a lógica do sistema agrário da economia de e�
portação. Deste modo, o estudo da região de Paraíba do Sul
tornou-se, para nós, urna forma de dar concretude àquilo que
considerávamos como características gerais do funcionamento
daquele sistema, forma de produção, cuja existência não se
restringia aos estreitos limites de urna região, mas antes f�
ra a base de largas áreas do Brasil. Isto é, mediante a a
6.

�reensão da historicidade de uma dada região, procuramos desen


volver uma primeira abordagem dos traços de uma forma de prod�
ção historicamente definida.
Nesta medida, expressões corno "brutal rotina", frequenteme!:!_
te utilizadas por publicistas do século XIX, para definir a
não mudança dos métodos agrícolas presentes no sistema agrário
da economia de exportação, passaram para nós a ter mi outro sen
tido. Ao nosso ver, elas indicariam os mecanismos próprios de
reprodução daquele sistema, enunciando assim uma racionalidade
sue lhe era peculiar. Por sua vez, essa "brutal rotina", ou
que é o mesmo, a repetição no tempo dos mesmos padrões de com
portamente na lavoura, informava sobre a possibilidade de cons
trução de um modelo teórico para �quela forma de produção. Afi
nal, corno afirma Witold I<ula: "cada sistema foi criado por pe�
soas, com seus padrões repetidos de comportamento e reaçao.
Uma vez criado, foi, durante muito tempo, um poder deterrninan
te �rn suas vidas" (B).
Assim sendo, pretendendo apreender alguns dos traços gerais
do sistema agrário, exemplificando-os em Paraíba do Sul, nesta
fase de trabalho procuramos limitar a nossa investigação ao
sistema de uso da terra e instrumentos de trabalho, aos meca
nisrnos de reprodução e às relações de produção presentes naqu�
le sistema. Por sua vez, ternos consciência que a abordagem
desses elementos consiste apenas de uma primeira aproximação
sem ma.iores pretensões. Ao mesrro tempo, ao eleger aqueles pro
blernas, sabíamos também que estávamos restringindo a nossa pe�
quisa. Poderíamos aqui enumerar uma série de outros proble
mas que necessariamente deveriam entrar para a conformação de
um sistema, como é o caso do estudo das relações entre o ritmo
ce reprodução e as variações de mercado internacional, estrutu
ra fundiária, ele�entos institucionais, etc. Estamos cientes
que mesmo a apreensão dos traços de reprodução caquele sistema
é limitada, essa tarefa necessitaria que alérr da produção nos
detivéssemos na fase de circulação, retendo assim o ciclo coM
pleto da reprodução.
-
Outrossim, para uma melho� apreensao daquele sistema na re
gião, precisaríamos ter analisado urr. rn2.ior núrn.ero de docur.i.en
7.

tos. Além de inventários e contas de tutela, deveríamos t er


nos detido também em livros de notas que informam sobre compras
e vendas de terras, registros paroquiais (movimentos populacio­
nais), processos crime, etc. Ao mesmo tempo, seria necess2rio
uma investigação mais sistemática das contas de tutela e inven­
tários. Nesse Último, ao invés de 10 em 10 anos, deveríamos ter
feito um levantamento de 5 em·s anos ou mesmo de 2 em 2 anos.
E, finalmente, se hoje fôssemos iniciar a nossa pesquisa
a sua deliniitação seria outra. Não avançaríamos até 1920, mas
sim recuaríamos para antes de 1850, para o período (anos de
1830) em que se verifica a. montagem do sistema na região. Proc�
raríamos também trabalhar com uma outra área, possibilitando a�
sim um estudo comparativo, e com isso tornando mais segura aque
la caracterização do sistema.
Por conseguinte, estanios cientes da limitação do presente
trabalho. Talvez se tivéssemos tido mais tempo ou um apoio in�
tituc'ional mais efetivo, no tempo da pesquisa, o nosso trabalho
pudesse ter uma melhor qualidade. Entretanto, apesar de nossa
dissertação conter urn pouco de frustação, para nós ela consiste
um primeiro passo para um trabalho, que deverá ser continuado
numa fase posterior, cujo resultado pretendemos que seja a cons
trução de um modelo teórico.
na presente fase, para caracterização do sistema, parti -
mos principalmente da noção e.e frequência de cu.ltivo construída
9 - .
por Ester Boserup ( ) e de reproduçao extensiva apresentada por
Emílio Sereni ( lO) . A utilização desses conceitos, no texto,não
será feita de maneira estanque. Ao nosso ver, a aplicação do
conceito de reprodução extensiva não só seria explicada pelas li
gações do sistema com� mercado externo, mas também pela fre -
qüência de cultivo presente na base daquela forma de produção.Er.1
outras palavras, o entendiRento do caráter extensivo (não mudan­
ça técnica na lavoura) aa reprodução da(Juele sistema agrário r:e._s
saria pela presença de um sistema de uso da terra que represen­
tava urna pequena inversão de trabalho por alqueire e, onde Uina
mudança (para uni modo de cultivo "menos rudi�entar") significaria
um aumento do terr.?o de trabalho. Caí a "rotina" na lavoura.
8.

Outrossim, elaboramos alguns pontos que, ao nosso ver,6�


vem ser levados em conta na construção de um modelo explicati­
vo do sistema agrário da economia de exportação, particularmen
te, aquele fundado .no trabalho escravo:
1 - A baixa relação população - terra, configurando urna peque­
na den,-sidade demográfica, permite à conformação de um sistema
de uso da terra em que as matas substituem o emprego de um tr�
balho adicional na recuperação das terras. Trata-se de um sis
tema de uso da terra em que a inversão de trabalho por alquei-
re é reduzida, e isto traduziria na articulação de uma agricul
tura (tanto de alimentos como de exportação) desenvolvida por
métodos extensivos.
2 - Sistema agrário voltado para o mercado internacional e fun
dado na extorsão do sobre-trabalho. No interior do processo
produtivo da fazenda percebe-se a combinação entre a agricultu
ra de exportação e de alimentos.
3 - A reprodução é feita pela incorporação de mais força de
trabàlho e mais terras ( fronteira �óvel). A inversão do so­
bre - trabalho na lavoura, condicionada pelo sistema de uso da
terra, ass�B um caráter extensivo não gerando uma mudança té�
nica. As ligações com o mercado internacional imprime um rit­
mo próprio, quanto à frequência, à reprodução extensiva. A in
corporação de mais força de trabalho se )\_faz com relativa auto
nomia (tráfico de escravos) em relação à demografia local: o
que permite a manutenção do ritmo de reprodução extensiva.
4 - A baixa relação trabalho-terra faz com que a extorsão do
sobre-trabalho apareça ligada a mecanismos de controle sobre o
trabalhador direto.
5 - A presença do sistema de roça na agricultura de alimentos
na fazenda, possibilita a "associação" do trabalhador dire­
to aos meios de produção, conferindo às relações de produção�
caráter não-capitalista.
6 - Devido ao caráter extensivo da reprodução do sistema agr�
rio, há um fráqil equilíbrio entre o tempo de trabalho exceden
te e o necessário. A magnitude do sobre-trabalho aparece, em
�arte, condicionada à produção de alimentos desenvolvida no
interior da fazenda.

/
9.

7 - � "crise" do siste�a agrário da economia de exportação se


explicaria pela "degradação", isto é, gradativa diminuição da
sua capacidade reprodutiva, representado pelo fechamento da
fronteira agrícola. Em Paraíba do Sul, a redução das matas se
combinaria ao fim do tráfico de escravos, ou seja, o forneci -
mento de "mais força de trabalho".
Esses pontos serão desenvolvidos no decorrer do traba.lho.
Nos dois primerios capítulos procuramos caracterizar o sisterra,
no Último, nos detemos no seu definhamento na região.
Uma Última observação, na reconstituição do espaço de
Paraíba do Sul, nos valemos dos limites da sua organização ad­
ministrativa, isto é, da área municipal da referida cidade no
século XIX. Nesta medida o espaço de Paraíba do Sul, para e­
feito de nossa pesquisa, será constituído pelas Freguesias de
são Pedro e são Paulo, Santo �ntonio da Encruzilhada, Sant'Fna
de Cebolas e Nossa Senhora da Conceição de Beraposta. A Fregue
sia de são José do Rio Preto, aoesar
� de meados do século passa -
do fazer parte de Paraíba do Sul, não será por nós estudada,na
medida em que no final do século XIX era desligada daquele mu­
nicípio, passando a pertencer a Petrópolis.
10.

Referências

1 - José de Souza Martins, O Cativeiro da Terra ( São Paulo: Li-


vraria Editora Ciências Eumanas Ltda,· 1 9 79).
2 - Idem, Ibidem, p. 1 8 e 19.
3 - Idem, Ibidem, p. 1 3.
4 - A palavra associação aparecerá no texto entre aspas, princ!
palmen te, quando nos referimos à "associação" c1o produtor di
reto aos meios de produção no regime de trabalho pós-escra­
vidão. Isto porque, não se trata de urna associação igual a
do período da escravidão, em que o trabalhador direto não
era propriet ário de sua força de trabalho, sendo ess a e os
meios de produção propriedades do fazendeiro. No reg ime de
trabalho pós-escravidão, apesar do trabalhador direto livre,
como o escravo, produzir parcialmente os seus 0êneros de
subsistência
' -
sem a mediação do mercado, ele se encontrava fu -
plarr.e nte livre não só juridicarr,en te mas corr.o também não de-
tiriha a propriedade dos seus meios de produção. A sua "as ­
sociação" aos meios de produção na e laboração daqueles gen�
ros se dava no interior da fazenda, ou seja, com a mediação
do fazendeiro. Deste modo trata-se c:e ur.i.a "associação" que
guarda uma certa particularic.ac.e em relação à escr avidão ·.
A expressão "associação" aos meios de producão,
, no nosso ca -
so, refere-se princip almente ao fato do �rabalhador direto
não receber um salário com o qual fosse ao mercado re tirar
a totalidade de seus meios de subsistência.
5 - Karl Marx, Con �buição para a Crítica da Economia Política,
4? ed. ( Lisboa: Editorial Estampa, 1975)p. 28.
6 - Hector Perez Brignoli, Economia Política del Caf� em Costa
Fica 1850-1950, n9 5 ( San José: Centro de Investigaciones
Históricas/Universidade de Costa Fica, 19 81) �. 2 .
7 - Ciro Flamarion s. Cardoso, Agricultura, Escravidão e Capit�
lismo ( Petrópolis: Vozes, 1 979)p. 16.
8 - Witold Kula, "Da tipologia dos Sistemas Econ6micos", in :
Jacqueline Fourastie et. al. Economia, 39 ed. ( Rio de Janei­
ro: FGV, 1 9 8J) p. 121.
11.

9 - E s ter Bos erup , Las Con dic ione s de l Ce s arro ;I. lo en 1 2. 1-_g ri cul
tura ( Madrid : Edi to r i a l Te cno s , 1 9 6 7 ) .

1 0 - Emi lio S e ren i , " Lo s P rob lemas Teo rices y Me todo log i co s " in :
Emi lio Se ren i , Ag ricultura y Ces arro llo ce l C ápitali smo
(I1adri d : lclbe r to Cora zon Ed. 1 9 7 4 ) .
12.

1. SISTEMA DE USO DA TERRA E· INSTRUMENTOS DE TRABALHO

Encravada no vale do Paraíba, a meio caminho entre Minas Ge


rais e o Rio de Janeiro e cortada pelo rio que lhe dá o nome,
Paraíba do Sul tem a sua topografia marcada por um relevo de
pequenas elevações. Essas ondulações, comumente denominadas de
" mar de colinas " ou meias-laranjas " , se estendem paralelamente
ao eixo geral sudoeste-nordeste da serra do M ar e do rio Parai
ba. ( l) Van Delden Laerne, percorrendo o vale na segunda metad;
do século passado, observa que em decorrência da decomposição
causada pelo calor tropical, pela humidade e pelos ácidos de
origem vegetal, a superfície do terreno das colinas arredonda­
das da regíão tinha geralmente aspecto avermelhado. A cor do
solo, ao lado da sua altitude seria um dos critérios utilizados
pelos futuros fazendeiros de café para a apreensão da qualida­
de das terras. < 2)
Segundo a prática agrícola desenvolvida no decorrer do séc�
lo XI X , seriam estas meias-laranjas os melhores loca is para a
plantação do café. Em meados do século passado, Tschudi, afir­
mava que " assim como para as vinhas, prefere-se também para o
café os terrenos ondulados ( . . . ) a experiência feita em todo o
Brasil comprovou que o café crescido em terras onduladas e se-
cas e.. o melhor" . ( 3 ) O Barao
- de Paty de Alferes ( fazendeiro no
município vizinho de Vassouras) , em sua memória sobre a fund�
ção e custeio de uma fazenda na Província do Rio de Janeiro
( 186 0), considerava que as cabeças de morros, além de fornece­
rem " madeiras de primeira qualidade para construção, produzem
muito café e mandioca, e depois de mais safadas também dão ex­
celente feijão e milho " . ( 4 )
Quanto à fertilidade dos solos, as margas argilosas e as
gredas arenosas do vale permitiriam, nos primeiros tempos, a
produção de cafezais florescentes, contudo, a sua fertilidade
seria efêmera. ( S) Van Delden Laerne, anota q ue a mata virgem
frequentemente tinha pouca matéria orgânica, a espessura do
humus era pequena. éaracterístico dos solos porosos e areno -
sos, as terras do vale não retinham em sua superfície as subs­
tâncias orgânicas que em consequência eram dissolvidas nas
6
águas. ( )
I

13.

Em estudos recentes observou-se que aqueles solos (laterít�


cos), apesar de certa fertilidade, são "sujeitos a se esgota­
rem rapidamente pela perda de seus elementos constitutivos es­
senciais, ta�s como· a matéria orgânica" ( ? ) . Por conseguin­
te, após um certo período de cultura, as terras da região do
Rio, tornavam-se impróprias à continuidade dos trabalhos agrí ­
colas. (8 ).
No que diz respeito ao clima do vale do Paraíba, este é, a
grosso mo90, moderado o ano todo. Os meses de inverno são se-
cos com noites relativamente frias, sendo comuns as neblinas
matinais que se elevam dos cursos d ' água e se dissolvem quan­
do o sol esquenta a terra. Os meses de verão trazem chuvas pe
sadas; a queda pluviométrica varia entre 1 00 a 150 centímetros
anuais, assumindo frequentemente a forma de aguaceiros torren­
ciais; no resto do ano, as chuvas são escassas. ( 9 ) Os traba­
lhos agrícolas como a plantação de gêneros de subsistência,
queimadas, capinas e colheitas do café, que eram organizados
segundo os padrões climáticos da região, no final do século
XIX, seriam perturbados pela mudança desses últimos. A forma
pela qual eram realizados aquele s trabalhos levaria à altera­
ção das estações, da distribuição das chuvas durante o ano, e
com isso modificaria o próprio ritmo da produção agrícola.
No início do século XIX , a bacia do rio Paraíba era quase
toda constituida por florestas virgens. são frequentes as re­
ferências de viajantes e botânicos, que penetravam o interior
do Rio de Janeiro, à presença de matas virgens e à pequena den
sidade demográfica. José Saldanha da Gama, por exemplo, em
seus estudos sobre os vegetais seculares do Rio de Janeiro
descrevendo os bosques virgens de Paraíba do Sul, anota ã pre­
sença de diferentes árvores e se refere à existência de gran­
des raí zes contorcidas que se estendiam de 12 a 4 0 metros pel�
encostas. (l O ) Tschudi, ainda em 186 0, fala das dificuldades
para o botânico na identi ficação e classificação das diversas
árvores existentes na floresta do Rio de Janeiro. "Mesmo o
mais avisado dos botânicos jamais poderá obter resultados sa­
tisfatórios em excursões pela floresta ( . . . ) grande número de
vezes não é possível conseguir-se folhas ou flores das mesmas
derrubadas a tiros. Abater a árvore seria outra tentativa sen
14.

)
resu l tado, pois a densa se lva, composta de vegetais de inúme­
ras espécies ( . . . ) tornaria impos síve l a tarefa" ( l l ) .
Saint-Hi laire, percorrendo em princípios dos anos de 1820
o "caminho do comércio ou mais vulgarmente o caminho novo ou
estrada nova", via que l igava o Rio de Janeiro a Minas Gerais,
por diversas vezes se refere à frequência de natas virgens e do
terreno ondu lado corno sendo a característica da paisagem pe l a
qua l pas sava aque la e strada ( l2) . Criada no sécu l o XVII, o "c�
rninho novo" vinha substituir o "caminho ve l ho" ( parcia l mente �
rítirno e pas sando por são Paulo) na l igação entre a cidade do
Rio de Janeiro e a s lavras mineiras. Em função des sa estrada
surgiriam os primeiros núc l eos popu lacionais em Paraíba do
Su l .
Apesar de se encontrar nas bordas de urna importante via de
comunicação, em primórdios do sécu lo pas sado, o Curato de Pa­
raíba, do Su l apresentava urna fraca densidade demográfica, ade-
mais como toda a região circunvizinha. Em suas viagens a Mi­
nas G.erais, Saint-Hilaire, somente de vez por outra anota a
presença de ranchos, l ocais em que se detinham as tropas de mu
las para descansar e a l imentar tropeiros e anirnais ( l 3 ) . Luccok�
ao viajar para Minas em 1 817, escreve sobre o contraste entre
o intenso tráfego da estrada e a fragi l idade dos l ugarejos que
a margeiarn. Nenhuma igreja até o Paraíba indica a germinação
de um arraia l , nos informa o viajante inglês, mesmo o Registro
na traves sia do Paraíba, se con stitue apenas de um rancho e
{ l 4)
a l guns casebres de pa l ha .
Uma das poucas referências sobre a popu l ação da região, em
princípios do sécu lo XIX, nos é dada por Pizarro. "A jurisdi­
ção paroquia l ( Freguesia de são Pedro e são Pau l o da Paraíba)
compreende, na distância de pouco mais de 7 l éguas (5 l éguas

ao norte e 2 ao su l ) , três fazendas únicas., da Várzea, da Pa­


raíba e de Paraúna ( . . . ) . Ã proporção dos limites extensos, e
quase desertos (principa l mente as cinco l éguas que correm do
l ugar da Freguesia ao Paraúna ) onde o número de fogos não exce

dia a 6 0, e o tota l das pes soas adu l tas, que não pas sava muito
l5
de 500 ( segundo o ro l do Pároco)" ( ) . Tempos depois, Mi l l et
de Saint-Ado l phe ao se reportar à vi la da Paraíba do Sul (a
1 5.

localidade fora elevada a e s sa categoria pelo decreto de


1 5 / 1 / 18 3 3) F afirma que: " O distrito d ' esta nova Villa encerra
as freguesias de Cebolas, de são José do Rio Preto, a igreja :f!
lial da Apparecida, e a própria freguesia da Villa, em cujo
termo se acha a povoação de Matozinhos ( . . . ). A população des
te districto não corresponde à sua extensão ( . . . ) . Todos, à
excepção dos da Villa se acham derramadas, e a� grandes distân
cias uns dos outros " (16) .
I
Na época em que Pizarro es crevera, a agricultura da locali­
dade se resumia à cultura da mandioca, do milho e de alguns le
gunes " para sustento de seus habitantes, e comércio com os
viadantes da E strada Geral " . E " além do café, cuja a plant�
ção felizmente tem propagado, nada mais exportam os fazendei -
ros " . Segundo ainda Pizarro, " nenhuma fábrica de açGcar, a­
guardente, ou de louça s.e acha no districto 11 17 !
)

Mais ou menos cinquenta anos depois de Pizarro, Castelnau ,


no final da primeira metade do século XIX , es crevia o seguinte
sobre a região. A cidade de Paraíba do Sul " possui uma centena
de casa, todas de um só andar" , o que atesta o pequeno desen­
volvimento do nGcleo urbano. E i s so é confirmado pela inexis­
tência de referências à atividades artesanais que na região t�
ves se expres sao. Continuava não existindo " Fábricas de Louça "
e era " pouco importante o comércio da cidade; seria sem dGvida
nulo, se a sua posição não a torna s se ponto de descanso quase
nece s s ário às caravanas que pas sam pela est rada de Mina s " .
Entretanto s e a s atividades não agrícolas. da região s e en­
contravam em situação semelhante da época de Pizarro, o mesmo
não pode ser para a agricultura. " Há nos arredores muito be
- - - .
las plantaçoes de cafe, cana-de-açucar e de milho .. ( 18) . �
Ja
nesta época o sistema agrário da economia de exportação impri
mia uma nova fisionomia aos campos de Paraíba do Sul. As ma­
tas estavam sendo substituidas pelas fazendas de café.

1 . 1. A Agricultura de Alimentos
A baixa densidade demoqráfica,
� a disponibilidade de ma -
ta s virgens, permitiria a configuração de uma agricultura fun-
dada em um sistema de exploração do solo extensivo, em que os
t.
16.

principais fatores de produção consistiriam na mão de obra e


terra, ficando em segundo plano as técnicas e instrumentos de
traba l ho. Em outras palavras, a baixa relação homem-terra in­
fluenciaria a forma de produção agrícola desenvolvida no vale
do Paraíba.
Segundo Slicher Van Bath ( l 9 ) existe uma relação entre
a terra de traba l ho ( área) , a intensidade da uti l ização do so­
lo ( técnica agrícola ) e o volume da população; a capacidade de
produção e reprodução da vida material na agricultura depende­
ria da intensidade daque l as relações. Isto pode ser represen­
tado pe l a figura abaixo, . na qual é retratada uma agricultura
rudimentar.

FIGURA N9 1

f
tt
T

MG - Meio Geográfico
P - População
A - Ãrea do Solo Cultivado
T- Técnicas e Conhecimentos Agrícolas

Fonte: Slicher Von Bath, História Agrária de Europa Ocidental


( Barcelona: Ediciones Península, 1 9 78 ) p . 16.

Na agricu ltura européia, antes das melhorias introduzi


das nos sécu l os XVII� e XIX, a capacidade produtiva da empresa
agrícola estava condicionada pela superfície da terra de cul
tivo, número de animais neces sários para os traba l hos nos ca�
pos ( transporte e adubo) e superfície dos pastos. No perío­
do de que estamos tratando, as técnicas permaneceriam mais ou
menos constante� � 2 0 )
Desenvolvido no decorrer dos sécu l os XI e XIII , o . sis­
tema triena l de rotação de terras, sistema que dominaria a
paisagem agrária da Europa até mais ou menos os séculos XVIII
17.

e X I X, implicava em deixar um terço da terra em pousio cada


ano, tempo este que, por si só, era insuficiente para a recup�
ração da produtividade da terra. Nes sa medida, durante aquele
período, a intensidade do cultivo estava diretamente condicio­
nada à capacidade de adubação, isto é, na dependência do núme­
ro de gado presente na empresa agrícola, cujo estrume ajudava
2l
na recuperação da fertilidade do solo. ( ) . Para Duby, "a in­
terdependência entre as atividades de cultivo e pastoreio é a
chave do sistema agrícola tradicional da Europa 11 ( 22 ) .
Ne s se sistema agrícola} a vulnerabilidade da unidade �
grícola é revelada pela baixa proporção semente-colheita ( 1- 3
ou 1- 4 ) na produção de cereais (trigo e centeio ) (2 3 > . Nestas
condições, apesar da falta de adubo animal manter a tradição
do pousio ( 24 >
, o que con feria a esta agricultura um caráter e�
tensivo, não se podia descuidar da força de tiro, sem atentar
contra a produção. I sto porque a força de tiro era ao mesmo
tempo força de fertilização da terra.
Outros sim, nesta forma de agricultura, a extensão de
cultives frente à pres são demográfica e à falta de adubos, fo­
ra feita pela incorporação de mais trabalho à terra. Em ou­
tras palavras, para recuperar mais depres sa as terras, o camp�
nês europeu, com o arado puxado pelo boi ou cavalo , se dedica-
ria mais aos trabalhos de revolvimento dos solos. Duby nos
informa que a generalização do sistema trienal com a exten são
dos cultive s de cereais na Europa dos séculos X I e X I I se fize
ra "a custa da força de trabalho, do suor humano 11 ( 2S ) .
Por conseguinte, na agricultura européia pré-segunda �
volução agrícola, para o bom funcionamento das empresas agrí­
colas, devia haver urna relação qrj.m.a entre as dimensões des ­
sas, o número de seus membros e a quantidade da força de tiro.
I sto nos permite reproduzir um outro esquema de Slicher Van
Bath em que se leva em conta o contingente de gado e estrume
no e stabelecimento das dimensões da área cultivada; por sua
vez, esta área in fluia no número do gado, na medida em que
e s se dependia do excedente de produtos agrícolas ( sustento do
gado no inverno ) .
18.

FIGURA N9 2

MG

i )A/t

t�
MG - Meio Geográfico
P - População
A- Ãrea Cultivada
T - Técnicas e Conhecimentos Agrícolas
CG - Contingente de Gado
E - Estrume
Slicher Van Both, op. cit. p. 21

Segundo as descrições feitas por viajantes europeus s�


bre � agricultura de alimentos empreendida na primeira metade
do século XIX no Brasil, não nos parece que na interdependê�
eia entre a atividade de cultivo e pastoreio residia a "chave"
do sistema agrícola então dominante.
John Luccok, em 1817, no caminho para Minas Gerais, ob
serva que, com o intuito de preparar as terras para urna lavou­
ra de milho, "deitam o mato abaixo, deixando de pé apenas as
árvores grandes a que ateiam fogo ali mesmo, servindo as cin­
zas corno adubo. Escavam-se então buracos, sem qualquer prepa­
rativo de arado ou outra maneira de revolver o solo, a dezoito
polegadas de a fastamento uns dos outros, colocando-se três ·
grãos em cada qual e em seguida cobrindo-os e deixando-os ex­
postos à influência do sol e das chuvas (. . . ). A fazenda é
sempre arrumada de modo a que o mesmo talhão volte a ser cult!
vado urna vez cada sete anos, permanecendo assim seis sem la­
( 2
vra" G . )

Saint-Hilaire, ao se referir ao sistema de agricultura


brasileiro afirma que este é "baseado na destruicão das flores
> -

tas, e onde não há matas não existe lavoura. ( . . . ) Quando se


faz a escolha de um terreno, não é ele revolvido, contenta� se
em cortar, em altura conveniente, as árvores que o cobrem (. . . )
quando passa a estação das chuvas se abatem as porções de ma-
19.

tas que se desejam cultivar; dá-se aos galhos tempo para secar
27
e ateia-se fogo antes que as chuvas recomecem". ( >
"Quando já fizeram", continua o autor, "duas colheitas
em um solo outrora coberto de matas virgens, deixa-se o terre­
no repousar um pouco; brotam aí árvores muito mais delgadas q:e
as primeiras (. . . ) deixam-se estas crescerem durante cinco,
seis ou sete anos, segundo as regiões; cortam-se novamente
queimam-se em seguida, e faz-se a plantação nas cinzas. Depois
de uma única colheita, deixa-se a terra repousar novamente; no
vas árvores aí tornam a crescer, e se continua da mesma manei­
ra até que o solo fique inteiramente esgotado" ( 2B) . E quando
isto ocorre após "sete ou oito colheitas em um mesmo campo, e
às vezes menos ele* @griculto:fL o abandona, e queima outras ma
9
tas, que em breve têm a mesma sorte". ( 2 )
Pelos trechos acima, percebe-se que o proces so de pro­
dução na agricultura de alimentos (milho, feijão e mandioca)
se fundamentava num sistema de uso da terra em que a presença
e a disponibilidade das matas substituem a aplicação de um
trabalho adicional na refertilização dos solos . A frágil den­
sidade demográfica frente à extensão territorial permitia que
periodicamente a terra, que antes tinha sido utilizada na pla�
tação dos alimentos, ficas se durante um período de sete a oito
anos em pousio, tempo em que se revertia em vegetação secundá
ria, para a recuperação de sua fertilidade. E deste modo nao
se neces sitava, desde que se mantives se constante a relação d�
rnografia-terra, recorrer a outras técnicas de ·recuperação da
terra, corno a aplicação de adubos, que correspondem a um tra­
balho adicional.
Nesta forma de agricultura, o preparo da terra é feito
mediante urna pequena inversão de trabalho, que se resumia na
derrubada e queimada das matas, cabendo às cinzas o "trabalho"
de fertilização. Segundo Ester Boserup, "as cinzas deixarn,rne­
diante a cowbustão da vegetação natural, suficientes princí­
pios nutritivos na terra para garantir altas colheitas" ( 30).
Conforme dados fornecidos por Saint-Hilaire, o feijão planta­
do em terras de boa qualidade, dá quarenta por grão semeado; o
milho, em solo ingrato, não dá mais que oitenta; em terras
* As palavras entre barras ([ ] ) foram por nós incorporadas
ao texto original.
2O.

boa s , contudo, pode chegar até quatrocento s por um, sendo a


média em terreno s regulare s, de duz e ntos por � (3l) . Not a-se,
portanto, que a produtividade por he ctare ne sta forma de agri­
cultura de alimentos é superior àquela européia antes vista.

QCJ_DRO N9 1

Agr i cul tura de Al imentos no Vale do Paraíba


- século XIX e na Europa ( S i s t ema Trienal de Ro tação de Terras) -

Recuperação ! Preparação Ins trumentos Uso de ani Gêneros e r


' e f ert i l iza I do s solos de Traba lho mai s Rendimen-
ção dos so= Princ ipais tos por
los grao .

Agricultur a Pous io Que imadas , Enxadas , Mi lho 1 / 50


de Al imentos ( 7 a 8 ano s ) Derrubadas , Machado s , Transporte Fe i j ão l / 10
no Vale do C inzas de Ve Traba lho s c / Cavadeiras . * : em ter-
Paraíba - getação . enxadas . ras de
século XIX . p ior qua li_
dade .

Agri cul tura Pous io Anual Revo lvimento Trabalho


' Tri g O }l / J
de Al imentos ( 1 / 3 das ter dos solos c / Arado no s campos , ou
na Europa - ras ) o arado . Transporte ,
S i stema Trie Adubo Animal Fornec imen- Cevada 1 / 4
na l t o de Adu-
bos

Fontes :
1) Augu s t e de Saint-Hi l aire , Viagens pelas Provínc ias do Rio . de Jane iro
a Minas Gerai s , op . c i t . p . 90 .
2 ) John Luccok , No tas sobre o Rio de Jane iro em partes meri d ionai s do
Bras i l , op . c i t . p . 2 5 5 .
3 ) Inventários - Cartório do 1 9 O f í c io de No tas - Paraíba do Sul .
4 ) George s Duby , Guerreiros e Camponeses , op . c it . p . 208-2 1 0 .
5 ) S l icher Van Bath , Hi s tória Agrár ia da Europa Ocidental , op . c i t . p . 30 .
21.

Quanto ao instrumental de, trabalho este correspondia a:,


sistema de uso da terra em vigor, consistindo basicamente na
enxada, foice, machado e cavadeira ( ver quadro Anexo n9 r ). PaE
tindo do pressuposto que o instrumental agrícola está vincul�
do a um dado sistema de cultivo, Ester Boserup, demonstra que
o sistema de uso da terra, cu jas técnicas estão ligadas à der­
rubada e queimada das matas, sendo a sementeira e plantacão . rea -
lizadas diretamente nas cinzas, o emprego do arado torna-se di
fícil ( 3 2 ) . Isto é, o emprego do arado e de animais exige um
terreno permanentemente limpo de obstáculos, o que é difícil
num tipo de agricultura cuja semeadura se faz em terras de der
rubadas, enegrecidas pelo fogo, cobertas de troncos e galhos
queimados, cheia de raízes (3 3)
. Nessas condições, o instrurne�
• ( 34 )
to mais adequado era a enxada . Um rnes apos a serneadura,s�
A -

ja do milho ou feijão, executavam-se os trabalhos de remoção


das ervas daninhas empregando-se mais urna vez a cavadeira ou
(3 )
a enxada S .
Por outro lado, este modo de uso da terra, gerava urna
"separação" da agricultura da pecuária, o que contribuia para
impedir o emprego do adubo animal na primeira. Em outras pal�
vras, o baixo nível das forças produtivas presente nesta forma
de produção dá origem, de um lado, a urna agricultura extensiva
e, de outro, a urna pecuária igualmente extensiva, Na agricul­
tura extensiva o uso do solo não tendo em contrapartida rnéto -
dos de sua refertilização, após um certo período transforma a
composição orgânica da terra dando origem a um tipo de veget�
ção rasteira, a um solo imprestável para urna agricultura "pri­
mitiva", mas que pode consistir na base de urna pecuária ex-
. -
( 3 6 ) ; esta vegetaçao . . -
tensiva pode vir a ser alimentaçao do ga-
do.
Através do quadro Anexo n9 I, em que sao retratadas p�
quenas explorações agrícolas de café e alimentos, observa-se
a pequena quantidade de bovinos e equinos, sendo mais frequen­
te o suino. O que demonstra que nestas a criação de animais
consistia mais num suplemento da dieta alimentar ou como meio
de transporte do que um "instrumento" a ser utilizado direta­
mente na lavoura, seja corno força de tração nos trabalhos cul-
22 .

turais (não há a presença de arados entre os instrumento s de


trabalho) ou como fornecedor de adubo .

Do que foi dito acima depreende- se que ao contrário da


empresa agrícola européia a que fizemos referência, a capacid�
de de produção (e reprodução) da exploração agrícola ligada à
produção de alimentos do vale do Paraíba não estava condicion�
da ao número de cabeças de gado, ma s antes à exten são das ma­
tas virgens. Como nos informou Luccok, a organização da unida
de de produção em que se realizava a lavoura de alimentos era
feita de modo a permitir a rotação entre as terras em culturas
e a s matas, ou melhor, de modo a pos sibilitar o pousio das te!
ras que se encontravam antes em lavouras e a derrubada para a
plantação de nova s culturas em áreas (da mesma dimensão que a
primeira) que antes e stavam em pousio ou em matas virgens. Por
conseguinte, a extensão da empresa agrícola devia ser tal que
permitis se aquela rotação de terras, levando-se em conta o pe­
ríodo de pou sio, e com i s so garantir a reprodução do proces so
de produção �

Deste modo a relação optima a que Slicher Van Bath se


reporta para a agricultura européia, entre a área em culturas
o número de membros da empresa e quantidade do gado/capacidade
de adubação, no nosso caso, o papel do gado é em parte substi­
tuido pelas matas, sua disponibilidade (frente a densidade de­
mográfica) substitui os métodos de refertilização da terra. Por
tanto, estamos perante um sistema de uso da terra, em que as
matas não consistem em terra s incultas, mas antes fazem parte
-
como demonstra Ester Boseup (37) , do proces so de produçao, de
sua repetição no tempo. E o esquema que poderíamos construir
para tal forma de produção, seria um em que além das técnicas,
população e área cultivada, leva- se em consideração o quantum
de matas virgens.
23.

FIGURA N9 3

�t( >1 :�
T
F

Te
1�
M - Matas
A - Ãrea de empresa ( em culturas e Pousio)
T
A1, A2 , � - Ãreas em cultivo anual
p.- População
T - Técnicas

Na figura acima, há uma baixa relação entre população


e terras de modo a permitir a rotação de terras, e nestas co�
dições as técnicas se mantém constantes A área da empresa e�
tá condicionada pelo número de m emb rcs da empresa, sendo que se
deve levar em consideração o tempo de pousio. Este Último e­
lemento permite a elaboração da seguinte fór�ula: A = A1 x X
t
período de pousio ) + A ( J S ) . Em nossa figura o tempo de pou­
( 1
sio é substituido pelas áreas A1, A 2 , An ' que são periodica�e�
te cultivadas, tendo portanto a mesma dimensão, na rotação de
terras; An ' equivale ao período de pousio.

Nas condições dessa forma de produção, port anto, a


fronteira móvel, a disponibilidade de matas é um dado essen­
cial na sua reprodução. Duby, afirma que o camponês europeu éa
Idade Média, devido ao carácter extensivo de seu sistema agrá­
rio ( falta de adubos) era necessariamente um pioneiro habi
< 3 9)
tua1 . Em nosso caso, nos parece ainda mais correto est�
afirmação. Contudo, não tanto pela falta de adubos, mas an­
tes pela presença de matas. Saint-Hilaire, considera que a
destruição das matas não era a única consequência do sistema de
agricultura adotado no Brasil, a outra seria o abandono de po­
voações, "a imigração em massa para as fronteiras".
2 4.

Pelo que dissemos, podemos inferir que o sistema de


cu l tivo da agricultura de alimentos que dominou o Brasi l e
particularmente no Rio de Janeiro, durante o século XIX, está
mais próximo do indígena com a sua · agricultura itinerante de
coivara, do que propriamente do europeu. Da agricultura indí­
gena não apenas se herdaram métodos como a queimada e instru­
mentos de trabalho como a cavadeira ou bastão de plantar, mas
também os elementos da dieta alimentar, como o milho, o fei-
J. ao
- e a manaioca
· ( 40 )

Parece-nos que o entendimento da configuração daquele


sistema de uso da terra e das técnicas a ele correspondente re
ve ser procurada na baixa re l ação homem - terra ( 4l ) e, por ou:
tro lado, no fato de que este sistema permitia um pequeno di�
pêndio de tempo de traba l ho por hectare. Em outras palavras,
como afirma Ester Boserup, " é muito mais penoso cavar e remo­
ver um hectare que ac l arar superficialmente a mesma quantida­
de de terra com machado e o fogo " ( 4 2) . Trata-se de um modo
de uso da terra, em que a inversão de traba l ho por hectare
inferior a de um sistema - de uso da terra que pressupõe o uso
do arado e a ap l icação de um trabalho adiciona l na recupera­
ção da terra, como por exemplo, o emprego do adubo animal.
Não se pode esquecer que o trabalho com o arado, além de sig­
nificar em si uma tarefa árdua, deve-se cuidar dos animais u-
tilizados como força de tração e, ainda, gastar uma grande
quantidade de tempo em coletar o estrume, preparo "compost " e
43
distribuí- l o cuidadosamente pelos terrenos ( ) . Por outro 1�.
do, a eliminação do pousio e a plantação das forrageiras ( peE
mitindo urna maior unidade entre agricultura-pecuária) , carac­
terísticas do sistema de uso da terra egresso da segunda re­
vo l ução agrícola na Europa ( sécu l os XVI I I e XIX) representa -
ram, ao mesmo tempo; um aumento do dispêndio de trabalho por
hectare.
Ta l vez seja o que escrevemos acima que explique a suE
presa de Saint-Hilaire, ao constatar que apesar da agricul tu­
ra em Portugal e de outras partes da Europa, no início do sé­
culo XIX, " nunca tenha sido tão florescente ( . . • ) os homens
�uropeus e seus descendentes] nunca tiravam proveito, se-
( 44 )
quer, dos fracos conhecimentos que possuiam" . Não nos
25.

parece que estes "homens " ao atravessarem o Atlântico tenham


sido acometidos de uma am nésia permanente. O fato dos "pri­
(
meiros habitantes do Brasil ' assim corno seus atuais descenden­
tes, não sentirem a necessidade de "conservar a sua terra", a­
través da aplicação de adubos, deve-se à própria disponibilid�
de de terras, _ ã possibilidade de através de urna pequena inver­
sao de trabalho, naquele tipo de agricultura, conseguirem al­
tas colheitas.

1. 2. A Agricultura do Café
Retendo- nos agora na agricultura de exportação do café
percebe-se que a nível das forças produtivas, ou melhor, das
técnicas de produção, a lavoura de exportação é uma lavoura de
alimentos alargada ou, mais precisamente, voltada para extor­
são do sobre-trabalho. Em outras palavras, observa-se em am­
bas 'as mesmas técnicas de preparo do solo, os mesmos instru -
mentos de trabalho e um sistema de uso da terra semelhante.
45
Pelo censo de 18 4 0 ( ) , período em que o café j á come­
çava a dominar a paisagem rural da região, a densidade demo­
gráfica em Paraíba do Sul era de mais ou menos 9 habitantes
(46)
por kilôrnetro quadrado . E sta baixa relação homem-terra
permitiria a persistência dos métodos de trabalho da agricult�
ra de alimentos na lavoura do café e, de um sistema de uso da
terra em que as matas substituem a aplicação de um trabalho a­
dicional para a recuperação dos solos. Sendo que, pelo fato
do café ( ao contrário da agricultura de alimentos ) ser uma c ul
tura permanente, podendo ter uma vida produtiva de mais ou me­
nos 25 anos, a existência e disponibilidade das matas ocupavam
o lugar de um longo . período de pousio.
Considerando que, corno nos informa Waibel, a "capoeira
- - 47 -
e a melhor prova da rotaçao de terras" ( ) , i. sto e, de um si. s-
tema de uso da terra em que as matas ocupam o lugar da aduba­
ção, verificamos que no Registro de Terras de 18 56 e 18 57 rea­
liz ado em Paraíba do Sul ( naquelas declarações mais completas)
- . 48
ao lado das plantaçoes e matas aparecem as capoeiras ( ) . Co-
rno é o caso da declaração de F�tônia Joaquina de Nativida-
( 4 9 ) - - .
de , feita em Sao Pedro e Sao Paulo, cuJ as terras correspo�
2 6.

diam a 50 alqueires de planta de milho, sendo distribuidas em


plantações, matas virgens e capoeiras. Vinte e quatro anos
depois, em 1880, ano em que começamos a encontrar nos inventá
rios informações mais precisas sobre a distribuição das ter­
ras das fazendas de café, observamos a mesma distribuição de
terras acima referida, isto é, plantações, matas virgens e ca
poeiras ( ver quadro Anexo II ) . Nesta medida, percebe-se, no
tempo, a persistência do modo de cultivo antes encontrado na
lavoura de alimentos.
Por sua vez, Tschudi, por volta de 1860, ao falar so­
bre o uso da terra na cultura do café do Rio de Janeiro afir­
ma que, os fazendeiros da região consideravam que uma "capoei
ra onde já existiu um cafezal, não se usa mais para o mesmo
fim, pois a terra já não dá tão bons resultados como o terre­
no virgem" � O ) . Por outro lado, são frequentes referências c�
mo a do Barão de Rio Bonito que considerava que , "para se pr�
duzir o café com vantagem é necessário plantá-lo em terra vir -
" ( 5 1) -
; o que e o mesmo que dizer .
gem ' da nao
- existencia
. - de um
período de pousio. Podemos igualmente apreender o sistema de
cultivo do café através das críticas que a partir de meados
do século XIX começam a ser feitas contra ele,por publicis­
tas:
"A proporção que terrenos descortinados e plantados re
iam esgotando ou provando serem seccas as terras , ad­
ministradores e fazendeiros, que só miravam o rnateria
líssimo lucro do momento, iam sem dó nem consciência­
derrubando novas matas em demanda de terras novas. A
única razão que davam era: - que as terras eram de
sua propriedade, e que podiam dellas dispôr a seu pra -
zer".
E "d�scobertas das mattas primitivas ( . . . ) essas
superfícies, apresentam urna crosta endurecida ( . . . ) on
de o sapê e outros vegetaes seccos e agrestes se apra -
ze m .
Esses indícios depreciando as terras fazem morrer
nos donos a esperança de bom resultado , e ei-los em
demanda de novas paraqens para derrubar matto, queimá- -
-lo, plantá-lo".
( Luiz Correia de Azevedo - Da Cultura do Café,
1877 ) (52 )
27.

O mesmo pode ser percebido na passagem do discurso de


um conferencista ( F. Belisário) na "Exposição do Café" de 1 002
isto é, já no período de crise daquela produção no Rio de Ja­
neiro. �.ntes "de chegar à agricultura intensiva, isto é, ao
emprego dos estrumes, há ainda uma passagem intermediária, que
é o pouzio das terras, o descanso; mas em nosso paiz isto mes ­
mo já é difficil" ( S 3 ) . A não utilização do período de pousio
nos leva a pensar no que Marx escreve sobre a renda diferen­
cial I, que diz respeito à diferença de fertilidade e localiza -
- . - - . .
çao dos solos ( 5 4 ) . Nas condiçoes tecnicas deste sistema de
uso da terra, as terras virgens implicavam um maior volume de
produção por hectare do que aquelas que já tinham sido utiliza
das e onde, portanto, a plantação era feita em derrubadas de
capoeiras; a não inversão de um trabalho adicional na recuper�
ção das terras, deslocava a capacidade produtiva dessa para a
sua fertilidade natural.
Das passagens acima podemos, igualmente, deduzir a não
utilização do gado corno fornecedor de adubos para a agricultu­
ra do café. O Barão de Paty de Alferes, colocava corno um dos
defeitos dos lavradores, a "superabundãncia do gado solto" nas
fazendas. Segundo esse fazendeiro o número de gado presente
na fazenda devia ser o "indispensavelmente necessário para o
(
custeo" SS . Em outra parte da mesma Memória, "Da Boiada",não
)

há em nenhum momento referência ao uso de estrumes na recupera


ção das terras de cultivo ( 5 6 ) . A ênfase na necessidade de li:
mitar a quantidade de gado das fazendas, implica que estes ape
nas eram vistos como animal de tiro,e não como força de refer­
tilização cas terras através do estrume , Por conseguinte, ob­
serva-se que o aumento da capacidac.e produtiva das fazendas,no
que diz respeito à produção por hectare, não estava ligado ao
nú..rnero de cabeças de gado. Em um artigo escrito no "Jornal do
Agricultor" (1880) , o autor escreve que "desprezando-se os con
selhos da Sciencia, limitam-se o� lavradores a seguirem a ro­
tina, julgando inútil os estrumes que augmentariarn a quantida­
de e a qualidade dos . produtos, desenvolvendo-lhes as cultu­
(
ras" S? . )

Por outro lado, através da discriminação do tipo de ta


'°::.. 28.

refa a que estava ligado o gado ( quadro Anexo n9 II) , nota-


mos que este se encontrava vinculado principalmente ao trans­
porte, não sendo assim usado nos trabalhos do campo, o que
vem confirmar o não uso do arado ou de equipamentos semelhan­
tes. Deste modo a "associação " da agricultura com a pecuária
não passava pela adubação dos campos e nem como força de tra­
ção de instrumentos de trabalho agrícolas, mas principalmente
enquanto força de tiro e ligado à reprodução da vida material
dos membros da fazenda (suplemento à dieta alimentar) .
Quanto ao preparo das terras para o cultivo de café
nota-se, a grosso modo, os mesmos procedimentos que na agri­
cultura de alimentos. Através das informações prestadas por
diversas Cimaras Municipais, inclusive Paraíba do Sul, ao Pr�
sidente da Província em 1 856, constata-se que não é feita uma
diferenciação entre os métodos para preparar um "terreno vir­
gem " seja para o café ou para o milho e feijão. Em ambas, e�
te método consistia na derrubada, queimada, roçada e abertura
de covas. < 58 ) . No que diz respeito aos tratos culturais do
café, esses eram feitos mediante três capinas anuais, com a
ajuda principalmente da enxada.
Por sua vez, a semelhança entre as técnicas de traba­
lho adotadas na cultura de alimentos e na de café, nos indica
um mesmo instrumental de trabalho. Esses consistiam princi­
palmente na foice grande, foicinha, enxada, machado e cavade!
ra. A presença desses instrumentos de trabalho nas grandes
fazendas de café ( mais de 1 0 0 mil pés de café ) pode ser visto
em inventários. Como no de Domingos Teixeira Alves ( 185 0 ) < 5 �
proprietário da Fazenda Bom Retiro, que possuia 1 0 7 . 0 0 pés
de café e 69 escravos, sendo discriminadas 55 enxadas e 7 ma­
chados. Em outro inventário ( 1 8 7 0 ) , esse de Magdalena Maria
Pereira ( 6 0 ) , cuja fazenda ultrapassava a área de 268,5 alque!
res de terras, encontramos 7 7 enxadas, 27 foices, 1 4 machados
de derrubada e 6 machados de falquejo, isto ao lado de
225. 5 0 0 pés de café e 85 escravos. No inventário de Francis­
6l
co Gomes de Aguiar ( 1 8 8 0 ) ( ) , são apresentadas 41 peneiras ce
café, 1 8 cavadeiras, 1 0 machados e 1 2 foices; esta fazenda
possuia 75 alqueires de terras, 159. 0 0 0 pés de café e 8 1 es­
cravos.

("
29.

o Barão de Paty de Alferes, em sua Memória, liga o t�­


po de enxada, quanto as dimensões e seu mate�ial à produtivid�
de do trabalho, ou melhor, à economia do tempo nos trabalhos
de campo. Aquelas enxadas "calçadas de aço com dez pollegadas
portuguesas embaixo, oito da parte do alto (. . . ) fazem dobrado
effeito que as outras, já raspando as terras nas campinas le­
ves, já cortando as raízes nos capinzaes maiores, já nas fac­
turas de caminho". Percebe-se, portanto, que dentro dos parâ­
metros técnicos deste sistema agrário há a preocupação em di­
minuir o tempo de trabalho.
Outrossim, é na escolha dos terrenos para a planta -
ção do café que se percebe melhor o nível técnico, ou mais
precisamente, o conhecimento técnico, nesta forma de agricult�
ra. Segundo um fazendeiro do Vale. "As terras apreciam-se avi�
tando-se suas florestas ao longe, principalmente nos mezes da
primavera, em que a florescência facilita a classificação dos
vegetaes ( 62) . E entrando-se "pelas matas, à primeira vista de
olhos conhece-se pela madeira a qualidade das terras, se boa
( 3)
média ou má" G Uma outra forma de conhecer a qualidade do
solo é descrita por um liberto da cidade de Vassouras que tra­
balhou na derrubada das matas virgens: "quando o tornozelo e
a metade da barriga da perna afincam no humo, debaixo de uma
-
arvore, o solo e- bom" ( 6 4 ) . Escolhido
. o terreno e cortadas as
árvores que se prestassem para construções, "no quarto mingua�
te dos meses sem R, quando as velas se enchiam de neblina ( . . .)
antes da alvorada ( . . . ) a derrubada começava" ( GS) . A falta de
conhecimentos mais técnicos, ou melhor, os conhecimentos téc­
nicos funcados quase que exclusivamente na experiência empíri-
ca, levaria a Van Delden Laerne, em 1883, a concluir que a
forma de agricultura no Brasil é feita "sans aucun art et
basée presqu ' exclusivement sur la pratique de l ' expérience lo­
cale" ( G G ) .
Parece-nos que a explicação para a persistência do no­
do de cultivo da terra, das técnicas de trabalho da lavoura de
alimentos na agricultura de exportação do café, deve ser proc�
rada no fato destes métodos possibilitarem a execução do pro­
cesso de trabalho agrícoia mediante um pequeno dispêndio de
trabalho. Isto é, a não utilização de um trabalho adicional
30.

na recuperação das terras, as matas deslocando a aplicação de


adubos, implicava na execução do processo de produção do café
(Lavoura) mediante um pequeno tempo de trabalho. Aquele con­
junto de técnicas permitia a produção de um "sobre-trabalho em
larga escala". O que era poupado em termos de tempo de traba-
lho por alqueire se ganhava na possibilidade de se trabalhar
extensivamente "vários" alqueires. Isso, em tese, não seria
possível .caso os métodos de trabalho, o modo de cultivo da
terra, requeressem um grande dispêndio por alqueire cultivado.
Contudo, aquelas semelhanças entre a lavoura de alime�
tos e a de exportação devem ser postas dentro de certos parârn�
tros. E não se trata apenas de U111a diferença quantitativa en­
tre ambas. O fato é que a agricultura do café se assentava na
extorsão do sobre-trabalho, o mesmo não ocorrendo necessaria­
mente com a lavoura de alimentos, particularmente, com aquela
ins�alada nas redondezas do "caminho novo" voltada para a sub­
sistência e venda de excedentes para as tropas. Se afirmamos
que a lavoura de café é, no tocante as técnicas de produção,a
grosso modo, urna lavoura de alimentos voltada para a extorsão
do sobre-trabalho, está Última expressão confere, entre as
duas, uma diferença profunda em termos qualitativos, quanto a
organização da produção, das relações de produção e da socied�
de. Por outro lado, não se pode esquecer que a instalação e
o crescimento da fazenda de café, muitas vezes, se fazia as
custas da lavoura de alirnentos < 6 7)
. Ao mesmo tempo em que se
percebe a progressiva subordinação dos pequenos agricultores
voltados para a lavoura de alimentos aos grandes fazendeiros
ligados à agricultura de exportação, e isto pode ser visto r:r�
cipalmente no caso dos "agregados".
Já no primeiro quartel do sécub XIX , Saint-Hilaire peE
cebe o processo de concentração de terras e subordinação dos
pequenos agricultores. "Os pobres que não podem ter títulos,es-
tabelecem-se nos terrenos q�e sabem não ter donos. Plantam,
constróern pequenas casas, criam galinhas, e quando menos espe­
ram, aparece-lhes um homem rico, com o título que recebeu na
véspera, expulsa-os (. . . ). O único recurso que ao pobre cabe é
pedir, ao que possui léguas de terra, a permissão de arrotear
31 .

um pedaço de chão. Raramente lhe é recusada tal licença, mas


corno pode ser cassada de um momento para outro (. . . ) os que a..tl.
tivam terreno alheio e charnap-se agregados, só plantam grão cu­
ja colheità pode ser feita em poucos meses, tais corno o milho
e o feijão. Não fazem plantações que só dêem ao cabo de longo
6B )
tempo como o café 11 ( .
No Registro de Terras referente à Paróquia de são Pe­
dro e são Paulo, sede do município e que apresentava pelos ce�
sos de � 84 0 e 1872 a maior concentração de população livre e
( 59 )
escrava, podemos perceber a distribuição das terras. De
1 0 2 declarações investigadas, representando 8. 994, 75 alqueires,
16 declarações (15, 7% ) detinham 6. 0 17 alqueires (66, 9% ) , en­
quanto que 63 declarações (61, 8%) correspondiam a 1. 0 0 1, 25 al­
queires, isto é, a 11, 1% do total em alqueires ( 7 0 ) .
Através do relatório do Presidente da Província de
1 85 8, percebe-se o problema da terra em Paraíba do Sul:
" No dia 17 de março findo vários agregados do Barão
do Piabanha, por ocasião de executar-se um mandato de
prisão expedido pelo juiz municipal do termo, contra
alguns delles que haviam invadido e devastado as teE
ras do dito Barão, lançaram mão das armas e tiraram
do poder dos officiaes de justiça os indivíduos que
estes haviam prendido. ( . . . ) Deo lugar a tamanho
.
attentado uma falsa interpretacão da lei de terras,
que fez crer a alguns que lhes assistia o direito de
poder legitimar a posse dos terrenos que cultivavam
por consenso do proprietário, há mais de dez annos
( . . . ) Essa crença chegou mesmo a insurgir aggregados
de outras fazendas, que, em idênticas circunstâncias,
pleiteavam em causa commum. O delegado tratou logo
de (. . . ) prender os desordeiros amotinados" ( 7 l ) .
3 2.

NOTAS - 19 CF� !TULO

1 - Stanley Stein, Grandeza e Decadê ncia do Café no Vale do P �


raí ba - com referência especial ao Município de Vassouras
( São Paulo: Editora Brasiliense, 1961) , p. 5 .
2 - c. F. Van Delden Laerne, Le Brésil et Java Rapport sur la
Culture du Café en Amérique, Asie et Afrique ( Paris:
Martinus Nij hoff/Chellanei, 18 8 5 ) , p. 222.
3 - Joharn Jackob Von Tschudi, Viagem às Províncias do Rio de
Janeiro e s ão Paulo. (Belo Horizonte: Ed. Itatiaia ; são
Paulo: E d . da Universidade de são Paulo, 198 0 ) p. 3 9.
4 - Francisco P. de Lacerda Werneck (Barão Paty de Alferes) , Me
mória Sobre a Fundação e Custeo de uma Fazenda na Provín­
cia do Rio de Janeiro ( Rio de Janeiro: Eduardo & Henrique
• Laemmert, 1 8 7 8 ) , p. 13 .
5 - Stanley Stein, op. cit, p. 7 .
6 - c . F. Van Delden Laerne, op. cit, p. 226.
7 - Escritório Té cnico Paulo de Assis Ribeiro, Possibilidades
de Colonização do E stado do Paraná ( São Paulo, 19 4 9 ) , p . 2s,
citado por Stanley Stein, op. cit , p. 7 .
8 - Rodrigues Cunha, A Arte da Cultura, p . 6, citado p or
Stanley Stein, op. cit, p. 7 .
9 - Stanley Stein, op. cit, p. 5 .
10 - José Saldanha, Configuração e Estudo Botânico dos Vege-
taes da Província do P�o de Janeiro e Outros Pontos do
Brasil, 2� edição ( Rio de Janeiro, 18 7 2) , p. 12-13, cita­
do por Stanley Stein, op. cit, p. 3 8 .
11 - J . J . Von Tschudi, op. cit, p. 17 .
12 - Auguste de Saint-Hilaire. Segunda Viagem p elas Províncias
do Rio de Janeiro a Minas Gerais e a são Paulo (Belo Ho­
rizonte : Ed. Itatiaia ; são Paulo ; Ed. da Universidade de
são Paulo, 19 8 0� p. 18.
1 3 - Idem, Ibidem, p. 18.
33.

14 - John Luccok , Notas Sobre o Rio de Janeiro e Partes Meri­


dionais do Brasil (Belo Horizonte: Ed. Itatiaia ; são Pau
lo: Ed . da Universidade de são Paulo , 1975) , p. 250 -60 .
15 - José de Souza Azevedo Pizarro e Araúj o , Memórias Histór�
cas do Rio de Janeiro , 49 volume (Rio de Janeiro: Impre�
sa Nacional , 194 6) , p. 9 0 - 9 1.
16 - J . C. R. Millet de Saint Adolpho , Dissionario Geographi­
co - Histórico e Descriptivo do Império do Brazil. 2 to­
ª
mos (Paris: v . J-P. Aillaud , Guillard e C� , 1863 ) , p.
229-3 0 .
17 - José de Souza Azevedo Pizarro e Araúj o , op. cit , p . 92.
18 - Francis Castelnau , Expedição às Regiões Centrais da Amé-
rica do Sul , 2 Tomos , ( Rio de Janeiro: Cia Editora Na-
cional , 194 9 ) , p. 116.
19 - 'B . H . Slicher Van Bath. História Agrária di Europa Occi-
dental . (Barcelona. Editorial Península , 19 78 ) , p. 16.
20 - Idem , Ibidem , p. 29 .
21 - Idem , Ibidem , p. 3 0 .
22 - Georges Duby , Guerreiros e Camponeses - os primórdios do
crescimento econômico europeu , séc. VII - XII (Lisboa: E�
ditorial Estampa , 1978 ) , p. 3 8 .
23 - B. H . Slicher Van Bath , op. cit , p. 3 0 .
24 - Georges Duby , op . cit. p. 216.
25 - Georges Duby , op. ci� , p. 20 8 .
26 - John Luccock , op. cit , p. 255.
27 - Auguste de Saint-Hilaire , Viagem pelas Províncias do Rio
de Janeiro e Minas Gerais (Belo Horizonte: Ed . Itatiaia ;
são Paulo: Ed . da Universidade de são Paulo , 1975) , p. 90.
28 - Idem , Ibidem , p. 90 .
29 - Idem , Ibidem , p. 9 1.
3 0 - Ester Boserup. Las Condiciones del Desarrollo en la A­
gricultura ( Madrid : Editorial Tecnos , 1967) , p. 4 2.
34 .

Destruir "la vegetación originaria mediante el fuego. E�


un procedimiento fácil para el desmonte de bosques : ade­
rnás, ofrece la ventaj a de que la capa de ceniza así ob­
tenido aumenta la fertilidad del suelo". B. E. Slicher Van
Bath, op. cit. p. 1 4.
31 - Auguste de Saint-Hilaire, Viagem pelas Províncias do Pio
de Janeiro e Minas Gerais, op. cit. p. 1 06.
32 - Ester Boserup, op. cit. , p. 39- 42.
33 - Entre "nós se contempla com doce satisfação (. . . ) um cam­
po recentemente lavrado também ag rada os olhos por esse
aspecto de regularidade que, despertando as esperanças,a­
testa o trabalho do ho�em industrioso e civilizado. No
Brasil, pelo contrário, o terreno que se acaba de sem�
ar só apresenta a imagem da destruição e do caos; a terra
está coberta de cinzas e carvões, de enormes galhos espa�
. sos semi cabornizados pelas chamas, e no meio deles se e­
levam troncos enegrecidos e despoj ados da cortex". Pugus­
te de Saint-Hilaire. Viagem pelas Províncias do Fio de
Janeiro e Minas Gerais, op. cit. , p. 90.
3 4 - Stanley Stein, op. cit. p. 40
35 - Auguste de Saint-Hilaire, Viagem pelas Províncias do Pio
de Janeiro e Minas Gerais, op. cit. p. 1 06.
36 - Ester Boserup,op. cit. , p. 4 1 .
37 - Idem, Ibidem.
38 - Esta fórmula é retirada de Leo Waibel, de seu cálculo so­
bre a extensão da área de uma unidade de produção fundada
no sistema de rotação de terras. Leo Waibel, Capítulos �
Geografia Tropical e do Brasil,2� ed. ( Rio àe Janeiro : IBCE,
1979), p. 256-258.
39 - Georges Duby, op. cit. p. 216.
40 - Maria Yedda Linhares e Francisco E. T. da Silva. P.istória
da Agricultura Brasileira ( SP. Brasiliense, 19 81). p. 1 38/9 .
4 1 - A importância da fronteira móvel (disponibilidade de ter-
ras) nesta forma de proaução agrícola j á pode ser vista
numa observação feita por Saint-Pilaire, em que o viaj an-
35.

te coloca que : "após fazer sete ou oito colheitas em um


mesmo campo" o agricultor a abandona e queima novas mat�
Auguste de Saint-Hilaire, Viagem pelas Províncias do Rio
de Janeiro e Ninas Gerais, op. cit, p. 92.
42 - Ester Boserup, op. cit. p. 52.
43 - Idem, Ibidem, op. cit. p. 55.
44 - Auguste de Saint-Hilaire, Viagem pelas Províncias do Rio
de Janeiro e Minas Gerais. op. cit, p. 89.
45 - Rio de Janeiro ( Província), "Quadro Estatístico da Popul�
çao do Rio de Janeiro - segundo as condições, sexos e c�
res - de 1840", in : Relatório do Presidente da Província
do Rio de Janeiro de 1846 (Nictheroy : Typographia do
Amaral e Irmão 1853).
46 - Calculamos a densidade demográfica a partir da população
presente no censo de 1840 (11. 586 hab. ). E para a área
do município (1. 298,8 kilômetros quadrados) partimos da
. informação presente no : Rio de Janeiro ( Província)," Qua­
dro demonstrativo da distribuição nas diferentes Pregue -
zias da Província do Rio de Janeiro, com área de cada umq
número de habitantes por kilômetro quadrado, e respecti­
vos dados de estatística escolar, organizado pela Direto­
ria das Obras Públicas da mesma Província em 187 8", in :
Relatório do Presidente da Província do Rio de Janeiro a-
presentado em 8 de setembro de 187 8 (Nictheroy Typo -
graphia do Diário de N. L. Vianna, 18 7 8 ).
47 - Leo Waibel, op. cit, p. 249.
48 - Paraíba do Sul, Registro de Terras de 1854, feito em
1856 e 1857, cinco livros, Arquivo Público de Niterói.
49 - Declaração de Antônia Joaquina da Natividade, Paróquia de
são Pedro e são Paulo, livro n9 42, in : Paraíba do Sul,
Reaistro de Terras de 1854, op. cit.
50 - J. J. Von Tschudi, op. cit, p. 39.
51 - Barão do Rio Bonito, "Necessidades da Lavoura", in : Revis
ta Agrícola do Imperial Instituto Fluminense de Agricultu
ra ( Pio de Janeiro : Imperial Instituto Fluminense de Agri
-
cultura, 18 8 2), p. 210 e 211.
36.

52 - Luiz Corrãa de Azevedo, "Da Cultura do Cafã", in: Fran­


cisco P. Lacerda Herneck, Memória . . . op. cit. p. 237 e
245.
53 - F. Belisário, "A Situação Actual da Cultura do Cafã no
Brasil, in: Revista Agrícola do Imperial Instituto Flumi
nense de Agricultura, op. cit, p. 212.
54 - Karl Marx, "Primeira Forma da Renda Diferencial ( Renda I!_
ferencial I ) " in: O Capital, livro 3, volume 6, 3 � edi­
ção ( Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1 9 75 ) , pp.
7 44 -7 0 .
55 - Francisco P. de Lacerda Werneck, op. cit, p. 9.
56 - Idem, Ibidem, p. 62 e 92.
57 - Autor Anônimo, "O Mal de Nossa Agricultura" in: Jornal cb
Aaricultor ( Rio de Janeiro, 10 de julho de 1880 ) , p. 18.
58 -, Rio de Janeiro (Província ) , "Quadro Demonstrativo das I!:!_
formações de Diversas Câmaras Municipaes da Província do
Rio de Janeiro" in: Relatório do Vice- Presidente da Pro­
víncia do Rio de Janeiro de 1856 (Nictheroy: Typographia
da Patria, D. e. de Koura, 1856 ) , Appen SD n9 29.
59 - Inventário, 1850, falecido - Comingos Teixeira Alves ,
maçü · n9 26, CPS.
60 - Inventário, 1870, falecido - Magdalena Maria Pereira,
maço , n9 12, CPS.
61 - Inventário, 1880, falecido - Francisco Gomes de Aguiar,
maç? n9 19, CPS.
62 - Francisco P. de Lacerda Werneck, op. cit. p. 33-34.
63 - Idem, Ibidem, p. 11 e 12.
64 - Stanley Stein, op. cit, p. 39.
65 - Idem, Ibidem, p. 3 8.
66 - e . F. Van Delden Laerne, op. cit, p. 237.
67 - Stanley Stein, op. cit, 12 e 20.
6 8 - Auguste de Saint-Hilaire, Segunda Viagem pelas Provincias
do Rio de Janeiro a Minas Gerais e a são Paulo,op. cit,p. 23
e 24.
37.

69 - A Paróquia de são Pedro e são Paulo representava 50,5 %


( 5 . 851 hab. ) da população do município em 1840 e 38,6 %
(11. 968 hab. ) da população em 1872. A população em 1840
e 1872 era, respectivamente, 11. 586 hab. e 30. 986 hab.
Rio de Janeiro ( Província), Quadro Estatístico da Popul�
ção do Rio de Janeiro de 1840, op. cit.
Brasil, Minist�rio da Indfistria, Viação e Obras Pfiblica�
Dept. Geral de Estatística, Censo Geral de 1872 ( Rio de
Janeiro: Oficina de Estatística).
70 - Paraíba do Sul, Paróquia de são Pedro e são Paulo, Re­
gistro de Terras, op . cit.
71 - Rio de Janeiro ( Província) Relatório do Presidente da
Província do Rio de Janeiro de 185 8 (Nictheroy: Typo-
graphia da Pátria, 185 8), p. 3.
38.

2. SISTEr-".!A AGRÂRIO E REPP.OCUÇÃO EXTENSIVJI

Em um texto_ em que trata dos prob l emas teóricos e rr etodo l ó­


gicos relativos aos nexos entre Agricultura e o desenvolvimen
to do capita l ismo, Emílio Sereni ( l ) constróe a categoria de "r;
produção extensiva". Categoria esta que serviria para exp l i­
car o processo de "reprodução amp l iada" naque las formas so­
ciais de produção em que esse processo não coincide com uma mu
dança técnica. E l a nos ajudaria a entender, por exemp l o, o
grande movimento dos arrotearrai.tos ocorrido na Europa do Cen­
tro e Ocidenta l dos sécu l os XI-XIII, movimento em que, como
{2 )
nos informa Pierre Vil lar , o crescimento se assenta mais n�
ma recuperação de terras baldias, na inversão de traba l ho do
que na de capita l . Nesta medida, aque l a categoria diria re�
peito a movimentos de reprodução em que há uma repetição de um
mesmo processo de produção , sem urna modificação técnica, sendo
esse rea l izado "sobre uma área (territoria l , ou eventua l mente,
econô�ica ) mais extensa que a originária" (3).!..... E, por conse­
guinte, consistiria num tipo de "reprodução amp l iada", dife­
rente daque l e que ocorre no modo de produção capita l ista na a­
cumu l ação de capita l , isto é, na reprodução amp l iada propria­
mente dita em que, a mudança técnica é urn dado orgânico . de seu
desenro l ar. Sendo assim, para aque l as formas de produção em
que o seu crescimento é extensivo, e estático em termos das téE
nicas, a categoria de reprodução extensiva se adequa me l hor do
que propriamente a de reprodução amp l iada onde o momento dinâ­
mico é integrante e intrínseco.
Em nosso caso, estamos perante um sistema agrário, cuja re­
produção "ampliada" se faz, em sua base, pela incorporação de
mais terras e força de traba l ho e não pe l o desenvo l vimento téc
nico ou acumu lação de capita l . Inexiste neste sistema agrário
uma inversão de parte do sobre-traba l ho, anteriormente extraí­
do ( no período anterior da produção) do traba l hador direto, no
processo produtivo agríco l a se traduzindo aí em elementos ( in=
sumos e instrumentos de trabalho) que l evew- a uma mudança téc
nica na l avoura. A produção nesta forma de produção agríco l a
se faz fundamenta l mente pe l a combinação do fator terra e for-
3 9.

ça de trabalho, sem a mediação de instrumentos de produção


ou técnicas agrícolas mais apuradas. t essa a lógica interna
desse sistema agrário, e ela está presente tanto na sua repro­
dução simples como na"ampliada �' E isto é possível pela exis -
tência de um vasto espaço, ou seja da fronteira móvel e de uma
pequena população.
Por conseguinte, mantendo-se constantes aquelas condições,
a baixa relação trabalho-terra, isto é, a disponibilidade de
matas, a reprodução daquele sistema agrário, assUII1B urn caráter
extensivo, consistindo-se na repetição do mesmo processo de
produção, sem alteração fundamental de seus aspectos técnicos
( na lavoura ) .

Entretanto, se a categoria de reprodução extensiva nos per­


mite explicar as "roturações" ocorridas na Europa dos séculos
XI-XIII como o "crescimento" do sistema agrário da economia de
exp�rtação do vale do Paraíba do século XIX , por outro lado,
é igualmente certo que, como nos mostra Sereni, a reprodução
extensiva pode apresentar consoante às condições históricas d!
ferentes características quantitativas e qualitativas ( 4) . Isto
é, pelo fato da reprodução extensiva poder ocorrer em socieda­
des caracterizadas por relações de produção (portanto, nível
de desenvolvimento das forças produtivas ) diversas, ela ad­
quire diferentes formas. Nas "roturações" européias, a repro­
dução extensiva encontra-se ligada ao crescimento demográfico
no nosso caso, por se tratar de um sistema agrário que é fun­
damento de uma economia de exportação (café ) , aquela estará
ligada às relações com o mercado. E nessas condições, a re-
produção extensiva aparecerá como momento constante na vida
daquele sistema.

2. 1. A População Escrava

Pierre Villar ( S ) afirma que o crescimento medieval de­


ve ser estudado no marco da "demoarafia - roturacões - estrutu
� > -

ra feudal/senhorial", é nessas condições que é realizada a re-


produção extensiva. Em nosso caso, como dissemos acima, o pa
pel da demografia, levando à extensão do processo produtivo, é
40.

desempenhado pelas relações com o mercado. Por outro lado, a


configuração da reprodução extensiva implica não apenas o "ar�
roteamento" de mais terras, mas também, o crescimento demográ­
fico. Em outras palavras, é necessário mais homens para tra­
balhar as terras incorporadas à produção. No sistema agrário
da economia de exportação do café, a incorporação de mais for­
ça de trabalho se fará, em parte, independentemente do cresci­
mento demográfico. Será o tráfico de escravos que fornecerá
parte �esta "mais força de trabalho". E isto, além de conferir
um traço peculiar à racionalidade desta forma de produção, im­
primia um ritmo próprio à demografia local, no que diz respei­
to à sua distribuição por sexo e idade.
Através da comparação dos resultados dos censos de
1840 e 1 8 7 2, podemos perceber a instalação e a rápiaa expansão
do sistema agrário da economia de exportação em Paraíba do SuL
Isto é, neste período a população aumenta de 11. 58 6 para
30. 186, apresentando assim um incremento de 167,4% em 32 anos.
E ap�sar da população escrava apresentar um crescimento infe­
rior à. da população livre ( 208,5% ), ela aumentaria naquele p�
ríodo em 1 3 3,7 6 % (ver gráfico n9 1 ) .
Entretanto, Francis Castelnau de passagem por Paraíba
do Sul na primeira metade do século XIX nota que, na fazenda da
Serraria pertencente ao Barão do Piabanha, no número de escra­
vos sofre urna diminuição anual de 5% e que "a maioria das cri­
anças morrem de diversas wolé stias entre as idades de quatro a
dez anos". Em seguida conclui que "os nascimentos não cornpen­
são os déficits causados pelos óbitos 11 ( 6 ) . Tschudi, escreven­
do nos anos de 1 8 6 0 , observa que "um grande fazendeiro preci­
sa ter grande experiência para criar e educar filhos de es­
cravos. Há os que são tão mal sucedidos nesta empresa,que a­
penas conseguem criar uma quarta parte dos negrinhos nascidos
em sua s fazendas�. E mesmo nas fazendas onde o tratamento é
bom [::!.os escravo� a mortalidade também é elevada" ( 7 )

A confrontação destas informações (crescimento da pop�


lação com altas taxas de mortalidade) nos leva a um outro pon­
to que diz respeito à forma ce reposição e aumento da força de
trabalho escrava. Conforme o quadro n9 2 em que são retrata-
G-RÁP'I CO -:,• º 1 41.
Pop ul �ção d e Paraíba d0 Sul em 1 340 e l 8"f,�·

1 . 000
A - Popul. ação to tal

1
Hab .
B - Popul ação l ivre
C - Popul �ção es crava 3 0 . 985
30

25 -

20 .l

t
1 6 .105
'
1 5 2<1: j 1 4 • 8 81
15 e
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l . Rio de Janeiro , " Quadro Es tatis tico de Popul a ç ao do Rio d e
L" \..1 • - -' • •
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·4- , ,,..

Jan eiro de 1 840� in : Rel atório do Pres i d en­


te da Provín cia no Rio de Jan eiro de 1 846 -
op . c i t . �
2 . 3ras il , Mi�is terio . d a Indus tri a , .Viaçao e Obr�a Publ icas , De
, , ,w \ ,

p artaman to Geral de Es tatís tica , Censo �eral d e 7


1872 op . ci t .
o b s : \s in d i c a c � e s c om�l etas d o s u r e s � t es d ad o s d eno grifi c o s , c omo d a
q u el es q u e ap are c erão mais ad i an t e , s e en c ontram n a p arte fin al do trã
b�lho ( Fon t e s e �ibl i o grafi a /c- Fon t e s Demo gráf i c as ) .
42 .

d a s al gumas das in formações contidas na matrícul a espec i al de


(S)
e s c ravo s anexo nos inven tários a part i r de 18 7 2 , veri fi ca­
mo s que de 13 fazendei ros , 7 ( 5 3 , 8 % ) tinham formado o seu pl�
tel de escravo s atravé s de compras , 4 ( 3 0 , 8 % ) por heranças e
apen as 2 ( 15 , 4 % ) medi an te a procriação natural de seus pr�­
p rio s es c ravo s . Nas trê s fazendas do B arão de S an t a Justa , que
s omavam ma i s ou meno s 4 sesmari a s de terras ( mai s de 1 . 0 0 0 al ­
queires ) , dos 3 8 5 e s c ravo s , 3 0 0 ( 7 8 % ) eram comprados e 77
( 20 % ) cri a s .

�TF C PO :-9 2

Origem da Formação dos Cont ingentes de Escravos


em algumas fazendas de Paraíba do Sul , em 1 8 72 .

'
1 Inventár io Cri.as 7. Herdados % Comprado s 7o Total
1

Francisco Barbdza Teixeira 40 27 , 8 53 36 , 8 51 33 , 4 144


Franci s co Gomes de Aguiar 6 17 , 6 2 5,9 26 76 ,5 34 '
Marina Salomé de Carvalho 2 7,7 21 80 , 8 3 1 1 ,5 26
Manoe l Luís dos Santos 18
Werneck 22 , 8 28 35 , 4 33 41 ,8 79
Antonio D ias Les sa 8 22 , 2 4 11,1 24 66 , 7 36
Joana de Menezes 7 41 ,2 6 35 , 3 4 23 , 5 17
Antonia Jac into d e Menezes 3 30 4 40 3 30 10
E lodia Maria Barboza 1 5 10 50 9 45 20
Cap t . Luís Antonio da S i lva
Braga 14 36 , 9 4 1 0 ,5 20 52 , 6 38
Antonio Jac into do Couto 18 28,6 10 15,8 35 55 , 6 63
Barão de Santa Jus ta 77 20 8 2,1 300 77,9 385
(Três Fazendas ) *
Mariana Cândida de O l ive ira 41 17,3 89 37 , 6 1 07 45 , 1 237
Luiza Mari a D ' As sumpção 40 39 , 6 26 25 , 7 35 34 , 7 1O1

Fonte : Inventários - Cartório do 1 9 O f ício de Notas de Paraíba do Sul .


* Faz enda da Serr a , São Fide l i z e Santa Anna .
43.

E apesar do censo de 1840 não nos fornecer a origem


dos escravos podenos retirar dos inventários de 1850, 1 8 6 0 e
187 2, mesmo que precariamente, esta informação. Nos de 1850,
7 9,5% dos escravos eram · a fricanos e 20,5% brasileiros. Dez
anos mai s tarde e, portanto, já em vigor a proibição do tráfi­
co de esc�avos da África, 56,1 % dos escravo s continuavam ter o
rigem africana, subindo a percentagem de brasileiros para
43, 9 % . Em 18 7 2, 26, 6 % dos escravos eram a fricanos e 7 3,4% bra
sileiros (quadro n9 3 ) . Se a isto acrescentarmo s que pelo cen
so de 187 2 ( 9 ) 6 7 % da população escrava total era oriqinária d�
Rio 'de Janeiro e que, como já demonstramos, não existia (mesmo
após 1850) uma prática de prócriação no interior das fazendas
de Paraíba do Sul, podemos deduzir que o tráfico intra -provin­
cial ganha urna grande importância pós -abolição do tráfico in­
ternacional .
Qt;Al)RO N9 3

Or igem dos Escravo s presentes nas Fazendas


de Paraíba do Sul : 1 850- 1 86 0- 1 87 2 .

N9 de Inventários Ano Total de Bras i l e iros Africano s


inves t i gado s Es cravo s % %

4 1 85 0 88 18 20 , 5 70 79 , 5
13 1 860 529 232 43 , 9 297 56 , 1
9 1 87 2 1015 745 73,4 270 26 , 6

Fonte : Inventár ios - Cartório d o 1 9 • 0f í c io de Notas de


Par1.íba do Sul .

A título de ilustração, podemos observar através co in­


ventário de Francisco Gomes de Aguiar, pos suidor em 1880 de 81
e scravos, que dos 28 escravo s por ele comprados entre 18 7 3-80,
44.

20 (71,4% ) eram provenientes de cidades do Rio de Janeiro e


l O
8 ( 2 8,6 % ) de outras provincias ( ) . Outro fazendeiro, mais ou
menos na mesma época (1873-79 ) , comprava 2 3 escravos, sendo 15
( 65,2 % ) originários do Rio de Janeiro, 5 ( 2 1,7% ) das provincias

do nordeste ( Maranhão, Perna�buco e Ceará) e 3 do sul l3 � % ( Rio


Grande do Su-1 e Santa Catarina) ( ll ) . Contudo, não nos foi pos­
sível sabe.r as cidades de onde saíram esses escravos, nossa ú­
nica indicação é a praça em que foram vendidos : Vassouras, Va­
l ença e Niterói.

Outro elemento que contribuiria na conformação da de­


mografia l ocal era a preferência, na compra dos escravos, por
homens e em idade produtiva ( l 2 ) . No censo de 18 40, verifica­
mos que a razão de masculinidade (indica a relação entre o nú­
mero de homens e o de mulheres, e a quantidade homens para ca­
da 100 mulheres ) ( l3 ) é de 161,53 ; cifra que aumenta se traba -
lharJ!lOS apenas com a população escrava para 2 3 2 ,0 8 . Em 1 87 2 ,
apesar de decorridos 2 2 anos do fim do tráfico, a razão de mas
culinidade continuava alta, 134,97.

QUi\D RO N9 4

Razão de Mas c u l inidade na Popu lação To tal e E scrava de Paraíba do Sul


em 1 840 e 1 87 2

Ano População Total População Escrava

Razão de Razão de
Homens Mu lheres Mascul inidade Homens Mu lheres Mas cu l inidade
1 840 7 . 1 56 4 . 430 1 6 1 ,53 4 . 449 1 . 91 7 232 , 08
1 87 2 1 7 . 525 1 3 . 46 1 1 07 , 90 8 . 548 6 . 333 1 34 , 9 7

Font e s : 1 . Rio d e Jane iro , "Quadro E s tat í s t ico d a População d o Rio d e Ja-
neiro de 1 840" , in : Re latório do Pres idente da Provínc ia do
Rio de Jane iro , 1 84 6 . op . c i t .
2 . Bras i l , Minis tério da Indús tria , Vi ação e Obras Púb l icas , Dep t9
Geral de E s tat í s t ica , Censo Geral , 1 8 7 2 . op . c i t .
4 5.

Conforme infor�ações retiradas Ge nove inventários


dos anos de 185 0 e 1860, com o total de 1 4 2 escravos,86 (60,6 % )
eram homens e 5 6 (39,4 % ) mulheres, sendo que 86 escravos de am
bos os sexos se encontravam na faixa de 15 a 40 anos, isto é,
numa idade de " trabalho e ficiente " . No inventário do Barão de
Entre- Rios, 1 863, dos seus 402 escravos, 241 (60% ) eram homens,
161 ( 4 0% ) mulheres e 242 (60,2% ) se achavam naquela mesma fai-
xa .
Através dos Quadros de idade e sexo referente a 187 2 ,
( 5, 5. 1. e 5 . 2 ), podemos observar as relações entre a forma de
reprodução do sistema agrário e a estrutura demográfica de Pa­
raíba do Sul.

QUADP.O N9 5

D i s tr ibui ção da População Total de Paraíb a do Sul

por sexo e idade - 1 87 2

Idade - Ano s Popu lação


Homens i. Mulheres i.
O - 10' 4 . 1 39 13,3 3 . 837 1 2 ,4
11 - 20 3 . 398 11 2 . 978 9,6
21 - 30 3 . 589 1 1 ,6 2 . 68 2 8,6
31 - 40 2 . 35 4 7,6 1 . 476 4,8
41 - 50 2 . 46 0 7 ,8 1 .418 4,6
51 - 60 1 . 1 49 3,7 718 2,3
61 - 80 397 1 ,3 315 1
81 - 1 00 41 O, 1 41 O, 1
To tal Parcial 1 7 . 5 25 56 , 6 1 3 . 46 1 43 , 4
Total da população 30 . 986

Fonte : Censo de 1 87 2 .

' inc lui 1 a 1 1 mezes .


46 .

QUADRO N9 5 . 1 .

Distribuição da População Escrava de Paraíba do Sul


por sexo e idade- 1 872

Idades-Anos População Escrava


Homens % Mulheres %
t1 - 1 0 1 . 652 11 ,1 1 . 45 1 9,7
1 1 - 20 1 . 658 11,1 1 . 474 10
21 - 30 1 . 738 1 1 ,7 1 . 397 9,4
3 1 - 40 1 . 06 1 7, 1 7 83 5,3
4 1 - 50 1 . 522 10,2 775 5,2
5 1 - 60 749 5 326 2,2
61 - 80 154 1 1 04 0,7
8 1 - 1 00 13 O,1 23 0,2
Total parcial 8 . 548 57 , 3 6 . 33 3 42 , 7
-
Total da população escrava 1 4 . 88 1

Font e : Censo de 1 87 2

QUADRO N Q 5 . 2 .

Distribuição da população livre de Paraíba do Sul


_eor sexo e idade - 1 872
Idade-Anos Populaçao
Homens % Mulheres %
1 - 1O' 2 . 487 15,4 2 . 386 14,8
1 1 - 20 1 . 738 10,8 1 . 500 9,3
2 1 - 30 1 . 850 1 1 ,4 1 . 285 8
3 1 - 40 1 . 293 8 693 4,3
4 1 - 50 938 6 643 4
5 1 - 60 400 2,5 392 2,4
6 1 - 80 243 1 ,5 211 1 ,3
8 1 - 1 00 28 0,2 18 O, 1
Total Parcial 8 . 977 55,8 7. 128 44 , 2
Total da população l ivre 1 6 . 1 05

' inclui de 1 a 1 1 mezes


Fonte : Censo de 1 87 2 .
47.

P rireeiramente ve rifi camos uma desproporção entre a po­


pulação mas culina e a feminina { Quadro n9 5 ) , respectivamente
1 7 . 5 2 5 ( 5 6 , 6 % ) e 1 3 . 4 6 1 ( 4 3 , 4 % ) . Fenômeno e ste que é re fe ren­
daco quando observamos a razão da mas culinidade nas di feren­
tes faixas de idades {Quadro n9 6 ) , onde pode ser vi sto que o
re lativo equilíbrio entre homens e mulheres entre 1 a 10 anos
de s aparece por vol ta dos 11 a 2 0 anos se acentuando a part i r
d a faixa seguinte .

QUADRO N9 6
Razão de mas culinidade na populaç ão de Paraíba do Sul
- censo de 1872 -

Idades Razão de Masculinidade


Ano s
1 - 10 107 , 8
11 - 2 0 114 , 18
21 - 30 133 , 81
31 - 40 15 9 , 4 8
41 - 50 173 , 48
51 - 60 160 , 0 2
6 1 - eo 126 , 0 3
81 - 1 0 0 90,24

Fonte : Censo ae 1 8 7 2

Por outro l ado , a essa àe sproporção j unta-se uma out r a ,


o conport amento di ferente entre o s sexos quanto a sua distribu!
ção por grupos de idade s : j ovens 0 - 2 0 ano s , adultos 2 1-6 0 , ve ­
lho s 6 1 e mai s ( l 4 )
48.

QUADRO H9 6 . 1 .
Grupo s de Idade s em Paraíba do Sul
- 1872 -

Idade s ( anos ) População


Jovens O - 2 0 14 . 3 4 6 ( 4 6 , 3 % )
li.dultos 2 1 - 6 0 15 . 846 ( 5 1 , 1% )
Ve lho s 6 0 e mais 794 ( 2 ,6%)

Fonte : Censo de 1 8 7 2

Pelo quadro ( n9 6 . 1 ) se vê que a faixa ce idade corre�


pendente ao grupo adulto participa com 5 1 , 1 % enquanto o j oven
detém apenas a c i fra de 4 6 , 3 % . E isto se deve parti cul armente
ao desequi líbrio exi stente no interior d a população mas cul i ­
na , ( l5 ) em que s e observa que o grupo adulto participa com
5 4 , 5 % enquanto que o j ovem com 4 3 % ( Quadro n9 6 . 2 ) . A contrá­
rio da população feminina , onde o grupo adulto aparece com
4 6 , 8 % e o j ovem com 5 0 , 6 % .

QUADRO N9 6 . 2 .

Distribuição da População de Paraíba do Sul


por sexo e grupos de idade - 1 872

Grupos de idade População


Homens Mulheres
Abs . % da % da Abs . %da % da
pop .masc . pop . to t . pop . fem. pop . tot .
ovens O - 20 7 . 535 43 24 . 3 6. 81 1 50 . 6 22
�dultos 2 1 - 60 9 . 552 54,5 30 , 9 6 . 294 46 , 8 20 , 3
e lhos 6 1 e mais 438 2 ,5 1 ,4 356 2,6 1,1

Fonte : Censo de 1 87 2 .
49.

Comparando agor a , o s perf i s das populações mas culinas


livre e e scrava ver i f i ca-se sue , aque le de sequilíbrio é mais
acentuado na Úl tima , onde o grupo adulto a9arece com S 9 , 3 % , e�
quanto o · j ovem com 3 8 , 7 % . Para a população masculina livre , as
c i fras são respectivaEente 5 0 % e 4 7 % para o grupo adulto e j o­
vem (ve r Quadro n9 6 . 3 ) . Este comportamento da população mas­
culina e scrava , ao apresentar urna cif r a ( 5 9 , 3 % ) grupo adulto
relativamente superior ao da população total ( 5 1 , 1 % ) , indica
que é . e l a , ou melhor , o me cani smo por Gla representado , o f un­
damento do de sequil íbrio acima vi sto na di stribui ção por sexo
e idade da população local . Por sua ve z , e ste comportamento cà
populaç ão e s c rava re ferenda a tendência do quadro de idade e
sexo ( e scravo s , 5 . 1 ) de cre s cer a partir d a base .

QUAtRO NQ 6 . 3 .

Grupos de idade na população masculina l ivre e escrava


em Paraíba do Sul - 1 87 2

Grupos d e idade População Masculina


Livre E scravos
Abs . 7. da pop . 7. da Abs . 7. da pop . i. da
masc . livre pop . tot . masc . escr . pop . to t .
Jovem O - 20 4 . 225 47 13 , 6 3.310 38 , 7 10,7
Adulto 2 1 - 60 4 . 481 50 14,4 5 . 071 5 9,3 1 6,4
Velho 6 1 e mais 27 1 3 1 1 67 2 0,5

Font e : Censo de 1 872 .


50.

Por outro l ado , observamos também , confrontando os di­


fe rentes Quadros ( população total , n9 5 , l ivre n9 5 . 2 e es­
crava n 9 5 . 1 ) que a base d o comportamento desproporcional da
faixa de idade 4 1 - 5 0 anos do lado masculino , em relação as de­
mai s faixas do quadro corre spondente à população tota l , é a po
pu l ação mascul ina e s crava . Enquanto que na população total e�
ta faixa corresponde a 7 , 8% ( Quadro n9 5 ) , caindo para 6 % no
interior da população livre ( Quadro n9 5 . 2 ) , conside rando ape ­
nas os e s cravos aque l a faixa sobe para uma partic ipação de
1 0 , 2 % ( Quadro n9 5 . 1 . ) . Provavelmente e sse fenôrr.eno se j a ex­
p l icado pelo tráfico de e s cravos , ou melhor , po r sua �ueda a
partir ee 1 8 5 0 , <lata em que a�ue l as pe s soas estariam com 1 9 a
2 9 anos e , possive lmente , teriam sido incorporadas à produção /
população local , fato que não se repetiria êe forma tão acen­
tuada nos anos seguinte s .
Tal con figuração da população local de Paraíba do Sul ,
a l ém de sugerir uma forte taxa de mort alidade in fanti l , parti­
cularmente , entre os e s cravo s , reve la o comportamento ce urna
população abert a , que é perpas sada pelo tráfi co de e s cravos . Ou
me lho r , indica a presença de um movirr.ento de população que se
dá à margem do cre scimento natural da população local . Movime�
to que , corno mecani smo da reprodução extens iva do si stema agrá
rio da e conomia de exportaç ão , incorporava periodi camente ho­
mens em idade produtiva ao proce s so produtivo e através de sse
à população local . Daí o fato de na composição da população
local se encontrarem mais homens do que mulhere s , ou ainda , de
se ve rifi car um grupo adulto mais expre s s ivo que o in fantil
part i cularmente , no Quadro de e s cravos/�asculinos ( n9 5 . 1 ) .
Pelo que e screvemos , percebe -se que há uma re l ação en­
tre o s i s tema agrícola e o perfi l da demografia l ocal ( l 6 ) . Con
tudo , i sto não nos permite dizer que exista entre ambas uma re
lação me cânica , de causa e e fe ito . Pois se , por un l ado , a re
produção e xtensiva , a forr:1a pe l ê qua l e la é desenvolvida , no
que diz re speito à reposição e aumento de força de trabalho , g�
ra uma e strutura demográ fica peculiar . Por outro lado , por
ser a incorporação de mai s força de trabalho um dos movir,entos
fundamen tais do s i9:ema , a sua paral i s ação ou diminuição êe rít
51.

mo abaixo das nece s s idades de reprodução caque le , node impor


l imite s à própria exi stência do si stema .

2 . 2 . A Fazenda de Café e a Peprodução �nual

" Qua l quer que sej a a forma soci al do processo de prod�


ç ao tem e s te de ser contínuo ou de percorre r , periodicamente e
ininterruptamente , as mesmas fase s ( . . . ) . Por i s so , todo pr�
ce sso socia l da produção encarado em suas conexões cons ta�tes
e no f l uxo contínuo de sua renovaç ão , é ao mesmo tempo proce s­
so de reprodução . As condições da produção são simul taneamen-
-
te a s d a reproduça o " ( 1 7 ) . Parece-nos que o processo d e repro-
dução no s i s tema agrário que estamos e studando pode ser de sdo­
brado , no tempo , em dois movirnentos t o prime i ro diz respeito à
reprodução anual da fazenda e o se gundo , mai s longo no tempo ,
con s i s te propriamente na reproduç ão .
A reprodução anual se re fere aos traba l hos agríco l as
que envolvem a capina , colheita e venda do café , e na p l anta­
ç ão e colheita das c ul turas temporárias ( mi lho , fe i j ão , mandi�
ca e arroz ) . Neste primeiro movimento do proce sso de reprodu­
ção é pos s íve l apreender o funcionamento da fazenc.a de café .
O cafezal era limpo todos os anos três ve z e s com enxa­
da , sendo a prime ira em março ou abri l , a segunda em setembro
ou outubro e a terceira em novenbro ou de zembro . A segunda c�
pina precedia gera lmente à produção do m�lho , estando , port an ­
to , l igada a e s s e . Por outro lado , as capinas deveriam ser
próximas das co l heitas (l8)
.
{.
A época ãa colheita do café imp l i cava no aumento do v�
lume dos traba l hos da fazenda . Conforme a quantidade da fruta
um apanhador podia dar conta de 3 a 7 a l queires ( l 9 ) . Por ter
que ser feita num período relativamente curto , com o risco de
ser parte do produto , os fazendeiros costumavam a lérr de for­
çar uma maior produtividade por parte de seus e scravo s , alu­
gar e scravos de outras fazendas ou contratar trabalhadores l i ­
vre s . A fazenda Cachambu , p o r exemplo , próximo à época da co­
l heita , contratava , além de seu p l antel que era de 81 e s cravo&
(2 0
2 0 e s cravos da Barone s a de Ivahy � Ainda ne ssa mesma fazen-
*
Referirro-nos a reprodução de culturas pennanentes , tendo em conta o nodo
de cultivo em vigor naquele sistema agrário.
52 .

da , em suas conta s de 1 8 8 3 , observa-se que no mê s de j u lho ( pe ­


ríodo de co lhe i t a ) h á pagamentos em dinhei ro a e s cravos por
trabalhos nos domingos . Conforme a dimensão da fazenda e de
seus recurso s , os trabalhos de colheita e ram comp lementados p�
lo bene ficiamento do produto .
Através da presença de equipamentos ligados ao bene f i -
c i amente de gêneros d e sub s i stênci a , como mandioca e mi lho ,
pos s íve l ver i ficar indiretamente a presença de s sa s culturas
nas fazendas de café . ( ve r quadro �nexo n9 I e I I ) . A título
de i l us tração , de 6 8 inventários de fazendas inve s tigados en­
tre 1 8 5 0 e 1 8 80 , encontramos em 5 3 ( 7 8 % ) re ferências a e stes
equipamentos ( rodas de mandioca , mon j o lo , casa de farinha , en­
genho de fubá etc ) . Me smo nas unidades de produção com menos
de 15 alque i re s , corno se depreende dos inventários e dos regi�
tros de terras , e com 1 a 3 escravos , observa-se , por exemplo ,
a presença de uma roda de mandioc a .
Por outro lado , nota- se , igualmente , em inventários a
presença de plantações de alimentos mediante a discriminação ce
suas co lhe i tas . Corno é o caso da fazenda Bom Re tiro de Domin­
go s Teixe i ra Alve s , que em 1 8 5 0 apresentava 6 . 0 0 0 alque i re s de
milho , 2 0 0 a lqueires de feij ão e 2 0 0 alqueires de arroz entre
seus bens ( 2 l ) . Ou do inventário de Franci sco Gome s de
(22)
Aguiar , no qual se colocava como bem móve l de sua fazenda
2 6 0 alque ires de fe i j ão e 4 6 0 de milho , ao l ado desse s , apare­
cia urn "rnandiocal na l avoura " e r,ais árvores frutí feras na la
vour a . Outro exemplo é do Barão êo P�o do Ouro que , entre os
bens de sua fazenda "Bom Suce sso " , em 1 8 8 1 , foram encontrados
" 6 0 carros de mi lho no paio l " . ( 2 3 )
Segundo o calendário agrí cola , feito pelo "Jornal do
Agr i cul tor " para o Rio de Jane i ro ( 2 � metade do século XIX ) �ra
nos me ses de j ulho a outubro que se concentrava a sement eira
de todos os mantimentos . ( 2 4 > Sendo que a melhor época para se
p l antar o mi lho era em s etembro e outubro . Esse gênero além
de servi r para a alimentação do pe s soal da fazenda , era uti l i ­
zado para sustento do gado.
O fe i j ão possuia duas semente iras anuai s , a do " tempo "
em final de j aneiro e stendendo-se até fins de fevere iro , e ou -
53.

tra , a das " água s " durante setembro e outubro . O Barão de


Paty de Alfere s , aconselhava a plantação do fei j ão debaixo do
milho e na falta d e s se se devia plantá-lo sozinho ou entre
(2S )
as canas seme adas de novo . Entretanto , a prática local d�
saconselhava a p l antação do fei j ão miúdo em terreno em que hou
ve s se cafezal , por ser pre j udi cial a e s se último .
A mandioc a , o "pão do pobre " , devia-se plan tar prefer!.
velrnente de j unho até setembro , após a qual se seguiam três ca
p inas . A proporção que se ia nece s s i tando para o con sumo , es­
s a planta era retirada da terra ( 2 6 ) . E se a i s so associamos o
pequeno di spêndio de trabalho necessário para a sua prod�ç ão ,
abertura de covas por enxada ou cavaGe ira , i sto talve z e xpli­
que a referência à sua presença na maior ia das fazendas , cujos
inventários foram analisados .
A cultura do arroz , não era tão frequente nas fazendas
de café como o milho ou a mandioc a . E isto podemos deduzir de
urna conta de curatela datada de 1 8 7 9 , onde se afirma que as
terras de serra acima não seriam muito apropriadas para e s se
mantimento ( terras baixas , pre ferindo pantanosas ) . Assim sen­
do , os fazendeiros preferiam de s locar os seus e s cravos para o
cultivo de "outros cereais " C 2 7 ) . Entretanto , em outra conta
de tutela , observamos que no mê s de agosto de 18 8 3 , os escra -
vos venderam à fazenda 6 0 sacos de arroz ( 2 8 ) , e cons iderando q1.J'=
cada um pode ria levar 6 0 quilos i sto daria 3 6 d) kg de arroz o
que de todo não é urr.a quantidade ine xpre s s iva. Há referências
de que o arroz seria uti li zado como alimento para os escravos
doente s , a fazenda Bom Sucesso , por exemplo , em 1 8 8 2 , compra
2 9
um " saco de arroz para doente s " c ) ; o mesrr.o poce ser notado
no que e s creve o Barão de Paty de Alferes sobre a utilidade do
arroz .
Con forme a qualidade aas terras , me smo no interior de
UIPa Úni ca fazenda , as culturas de alimentos vari avam a sua pr�
dução , e isto podemos ver nas três fazendas do Barão de Entre­
0
- Rios em 1 8 6 3 ( 3 ) _ Na fazenda da Cachoe ira ( 1 se smaria) , exi�
tiam 1 6 alque ire s e uma quarta de planta de milho em diversos
lugare s , que davam 5 0 alqueires por cada um de planta , forne -
cendo as sim uma colheita de aproxirradaIBente �e 8 1 2 alqueires
54.

ou conve rtenco para litros ( 3 l ) , 3 2 . 4 8 0 litros . Ao lado de s s �


cultura , é dis criminada UI!' a outra d e fe i j ão , 1 4 alque ires ce
plant a , sendo 1 0 alquei re s por cada planta , i s to é , 1 4 0 alque�
res ou 5 . 6 0 0 l i tro s . �á na fazenda da Rua Dire ita , de seus 3
alqueire s e meio de planta de milho , cada alque ire dava 6 0 de
colhe ita , 2 1 0 no total ou 8 . 4 0 0 li tros . Por ú l timo , é na faze�
da Can tagalo em que se veri fica maior desproporção de produção
por alquei re pl antado .
Segunc.o a dis criminação de seus bens , a fazenda Canta­
galo possuia plantações de mi lho em di ferente s pontos . Em
duas plantaçõe s , 4 5 alqueires de p l anta no tota l , produziam 6 0
a lque i re s de co lheita por p l anta , totaliz ando 2 . 7 0 0 alqueire s
de colhe ita ( 1 0 8 . 0 0 0 l i tros ) . Nos 6 a lque ire s e meio de plan­
ta de mi lho loc a l i z ados perto do canavia l e do arrozal da faze�
da , dava 5 0 alque ire s por plan ta e , portanto , 3 2 5 por colheita
( 1 3 . 0 0 0 l itros ) . Já o s 1 7 alqueires de p lanta , encontrados nos
cafezais ve lho s , não davam mai s que 2 0 por p l ant a , e a s s im
uma co lhe ita de 3 4 0 alque ires ( 1 3 . 6 0 0 li tros ) . Quanto ao fei ­
j ão , nos 3 2 alqueires de p l anta exi stentes em Cantagalo , havi a
uma produção por planta supe rior à da fazenda Cachoe ira , isto
é , 4 0 de colhe ita , o que implicava em 1 . 2 8 0 alque ire�4 0 . 9 6 0 li
tros ) .
Em outra fazenda ( Penedo) pertencente a �n a Candida
( 32)
Barbo z a , com capacidace produtiva in ferior da fazenda Ca­
choeira e Cantagalo , a 1� apre sentava 1 4 5 . 0 0 0 pés de café en­
quanto as outras duas 4 1 6 . 0 0 0 e 6 3 6 . 0 0 0 respectivamente t ver
quadro Anexo I I ) , em 1 8 6 0 apresentava duas roças : mi lho e fe i ­
" j ão . A prime i ra , ocupando um e spaço de 1 0 a lque ires de planta
de mi lho , podia dar uma co lhe ita c.e 1 . 0 0 0 alque i re s ( 4 0 . 0 0 0 1�
tros ) . A se gund a , correspondia a 2 0 alque ire s de p l anta de
fe i j ão , fornecendo 4 0 0 a lque ires em colhe ita ( 1 6 . 0 0 0 litro s ) .
Contrastando e s sas inforrnacões com as da fazenda Ca-
choe ira , por exemplo , se in fere que a faz enda Penedo apre sent�
va terras de melhor qualidade que a prime i r a . Enquanto que a
faz enda da Cachoeira , por a l que ire de mi lho , fornec i a 5 0 al­
que ire s de colheita , na fazenda Penedo e s ta relação apare cia de
1 para 1 0 0 . E a mesma proporção se mantinha na lavoura de fei
55.

j ão , ou se j a , a alqueire de planta na propriedade de D . Ana


Candida Barbo z a produzia o dobro da fazenda Cachoe ira . Quanto
as outras duas fazendas do Barão de Entre-Rio s , a re lação pla�
ta-co lhe ita para o mi lho , como j á vimos , é pouco superior que
a da mesma Cachoeira ; a proporção planta-co lhe ita no fei j ão da
fazenda Can tagalo é a mesma que a da fazenda Penedo .
Z s s a di ferença de p ror utividaêe por alsuei re de p lan­
ta de milho , talvez exp lique o por que de apesar da relação e s
cravo ( 1 ) - alqueires ce p lant a naque las três fazendas j un tas
ser três ve z e s superior do que na fazenda Penedo , nesta última
à re lação e scravo ( 1 ) - a lqueires colhe ita ser quase que igual
àque l a s . Em outras palavras , cons iderando que o total de e s ­
cravos nas 3 fazendas era d e 4 0 2 e que a extens ão em p lanta de
mi lho era de 9 8 e um quarto de alqueire s , a re lação entre e s ­
ses dados para c ad a e scravo repre senta 0 , 2 4 alque ires d e pla�
ta. Superior a s s im 3 ve zes em comparação com a fazenda Penedo
onde o número de e s cravos era de 1 2 4 e , portanto , apre sentava
uma proporçao de 0 , 0 8 . Esta relação se modi fica , contudo ,qua�
do nos detemos na colheita , nas trê s fazendas é de 1 1 alque i ­
r e s por e s cravo e na de D . An a Candida Darboza de 8 . Di sto se
depreendia que numa mesma área o tempo de trabalho apli caco na
produção de gêneros era maior nas fazendas do Earão de Entre­
Pios do que na Fazenda Penedo . E , portanto , nessa úl ti�a , em
tese , o tempo ce traba lho excedente poderia ter u�a magni tude
maior , de sce que se mantive s sem as dema i s condições técnicas
con s tante s .
Entretanto , sej a como for , para e feito de nosso traba-
e.:
lho é importante reter que a capacidade �rodutiva em cere ais
das trê s fazencas de café do Barão de Entre-Rios , co�o da ou­
tra fazenda , era s igni fi cativa para a al imentação de seus res­
pe ctivos e s c ravos . Po mesmo tempo , nos detendo apenas na fa­
zenda Cantagal o , percebe -se que a área total ocupada pe la cul­
tura fe milho , 6 8 e rreio alqueires de p l an ta , era superior a
muitas das exp lorações agríco las declarad as no regi s tro de teE
ra de 1 8 5 6 -5 7 , na çual 6 9 declarações de 1 0 2 ( de Paróqui a são
Pedro e s ão Paulo ) , i s to é , 6 7 , 6 % apresen tavam u�a dimensão de
menos de 6 5 alqueires de planta de mi lho . Aque la área de mi-
56 .
&,

lho era , por exemp lo , superior à dimensão da situação P au


Grande de Thomaz d ' Aquino Ferrei ra Xavier , cuj a exten s ão era
de 35 alque i re s de planta de milho , sendo esta ocupada por
4 0 . 0 0 0 pé s de café , casa de vivenda , paio l , moinho , engenho de
cana e man dioca ( 3 3 . E se a i s o acres cen t armo s que aque 1 e s � -
. ) . t
neros eram beneficiados no próprio interior d a fazenda , em seus
moinhos ou casa de farinha , podemos deduzir que os custos com
a reprodução anual da fazenda de café e:-arn em muito reduz i dos .
Ao lado da produção àe café e de al imentos , no iríte-
rior da fazenda de café , existia� <l i feren t e s tipos de rebanho .
Atravé s do quadro n9 7 ?Ceemos ver os rebanhos presentes nas
fazendas da re gião de 1 3 5 0 a 18 8 0 . Até 1 8 6 0 o principal reba­
nho era o m uar , seguido do su1no e bovino . A part i r de 1 8 7 0
número de bestas e j umentos diminui nas fazendas , au�entando o
contingente de bovinos . E isto retrata a gradativa perda de
importânci a das tropas no transporte de café a longa distância.
Por outro l ado , o avanço dos bovinos é o aumento do contingen-
(;,
te de boi s de carro ( ver Quadro n9 7 . 1 ) uti l i z ados para o
transporte interno da fazenda e para o des locamento de caf�
de sta para a e stação da e strada de ferro .

(: uACRO r79 7

Rebanhos em Paraíba do Sul - 1 850/ 1 880


"
Muar 7. Equinos 7. Bovinos 7. Suínos % Ovinos 7. Caprinos 7. Total
Ano
1 850 83 1 7 , 2 12 2,5 45 9 , 3 34 1 7 0 , 8 1 0,2 - - 482
1 860 348 25 , 5 47 3 , 5 303 22 , 2 5 1 8 38 1 42 1 0 , 4 5 0,4 1 363
1 870 62 5 , 7 36 3 , 3 323 2 9 , 8 436 40 , 2 1 4 1 1 3 86 6 1 084
1 880 72 1 5 , 3 14 3 200 42 , 6 1 65 35 , 1 1 8 3 ,8 1 0,2 470

Fonte : Inventários - Cartório do 1 9 Ofício de Notas - Paraíba do Sul .


57.

QUA DRO 7 . 1 .

Bovinos em Paraíba do Sul - 1 850/ 1 880

Ano Bois de Carro Vacas Novilhos e Bezerros Touros Total


i. i. i. i.

1 850 13 28,9 10 22 , 2 21 46 , 7 1 2,2 45


1 860 159 52,5 57 18,8 83 27,4 4 1 ,3 303
1 87 0 1 34 41 ,5 95 29 , 4 89 27 , 6 5 1 ,5 323
1 880 1 50 75 16 8 33 16,5 1 0 ,.5 200

"' Fonte : Inventários - Cartório do 1 9 Ofício de Notas - Paraíba do Sul .

Por interwéGio do quadro n9 e pode�o s - ter u�a iêé i a


mais próxima d a organi z ação dos rebanhos n a s fazencas com rnai s
de 10 0 . 0 0 0 pés �e café e 6 0 e s cravo s . Ras 16 fazendas que corn
pÕe-' e s te quadro ob se rvamos a presença de besta e j umentos nas
1 6 fazendas , bovinos em 1 5 , equinos em 1 1 , suinos em 8 , ovídios
em 6 e caprinos em 3 . Por sua ve z , percebe -se nos inventários
e..,
que , ao l ado dos animais de maior ?Orte vem a funçao por e le
exercida na fazend a , sej a de carga , de carro , de sela et c . Is­
to nos permite_, a gro sso modo , dividir e s te s rebanhos e� dois
grande s grupos .

e.;
58.

QUADRO NC? 8

Rebanhos em Fazenda• d• Cafã com maia de 100 a lqueires ou com 11131s d• 100.000 pés de café • 60 eacrnvo•

lnvant.icio• Ano Be 1cu Cavalo• �ois de• Touro• Vnc e/ Suinos �rn•iros Escravo•
erf b
1 .de
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Jumento• e t:guu c1rro
.irg4
�roa
ºKài��� d

Domingo• Teixeira 1850 46 2 4 - 16 300 - -- 107 ·ººº 69 1


Ana Thaodorn dn Silva 1 860 15 4 2 -- - 10 - 30 300.000 107
5

Ana Cindida Barboza 1860 30 3 8 20 72 - - 1 4 5 . 000 124


l�d• Entra Rioe (Cacho 186 3 39 3 7 - -9 - 92 27 - 4 1 6 . 500 1
1. de Entre Rio• (Fa- 1863 57 13 3 33 32 181 73 4 630. 000 402 **
-
eira)

zen.t. Cantagalo)
48

BarÃo
t.uiza
de Parnhyba 1864
Maria D ' Auua,p- 1870
162
17
14
- 45
a
-- 2
1 6
1
-
- -- -- 383.000
1 13 . 000
364
101

Kacdolena Maria Perel 1870 11 20 20 3 28 37 200 225.500 85


ção

ra
84 8

l,Stf Juata(S,Fidelis
HAriona Cindida Oli-
187)
1874
11
23
- 60
43
-
2
48
17
41
10
-
212
-
57
- 3 1 4 . 000
600.000
140
240
veira
12 18
30 636.000 166
Manoel Collll!!S Vieira
Francieco Collll!!e d• A-
1880
1880 1
6 -
2 14 -1 -2 3
10
-
23
-- --
169.000 81

Antonio Jacinto
guiar

Çouto
do 1 880 4 - 12 - 3 9 - - - 228.000 88

Yranciaco Barboza Tei


xeira
1880 17 - 18 - 1 5 - - - 247 . 000 87

Manoel Luiz doe San-


toe
1880 5 2 23 - 1 1 - - - 1 13 . 500 66

Barão do Rio de Ou- 1 88 1 16 30 - 3 - 83 18 - 158.000 1 74


ro
4

Fonte: Inventário• - Cartório do 19 Ofício de Notas de Paraíba do Sul.


* a. - Barão
•• O preacnte n9 de escravos é o total inventariado. Inclui as fazendas da Cachoeira, Cantngalo • Rua Direita •

..
59.

O prime i ro seria formado pelas bestas , j llr.'entos , cava­


los e bovinos ( boi s de carro ) , �ue estarian ligados ao transpor
te , se j a no interior da fazenda ou para o deslocamento de mer­
caêorias ce uma região para outr a ; estes ani:rrais poceriam tam­
tém ser uti l i z ado s como força �otr i z no funcionamento cos e­
(34)
quipamentos de bene ficiamento , como o engenho . o sesunco
grupo , seria con stituido 2elos suino s , carneiros , cabritos e
também por bovinos , estando l igados mai s de perto à reproGução
da vida material dos membros ca fazenda , aparece.ndo a s s im corno
um co�plernento à dieta alimentar . Ã confi guração de s se s dois
grupos e o fato de por e le s passar a relação agricultura-pecu!
ria no irierior da fazenda de café e , portanto , não pe la acuba
çao ( e s trume s ) ou pelo uso de animais corno auxil iar dos ins tru
mentos de trabalho empregados na lavoura , deve ser procurada no
s i stema de uso da terra vigente n aquela fazenda .
A presença do carneiro , ape sar de ter s ido con s iderado
corno inte grante do Último bloco àe animai s , deve ser visto à
part e . Em outras palavras , é pos síve l que a exp l i cação para a
sua existência nas fazendas de café , não se res Uil'.a apenas no
g o s to dos faz endeiros por sua carne ou na uti l i dade de sua lã
?ara o acolchoamento de camas e con fecção de fazendas como nos
informa Luccok ( 3 S ) . Talve z e s s a pre sença e s te j a ta�bém l i gada
ao fato de que o carne i ro se ali�enta da vegetação n ão senco
depredador de arbustos . Por con seguinte , o c arneiro poderia
ser ta:rrbérn uti l i z ado para capinas , na mecida er que e le não p�
ria em perigo o cafezal ; con forme o quadro n9 8 e s s e aniral a­
parece em fazendas ( 6 ) com mai s de 1 5 0 . 0 0 0 pé s de café , sendo
e.; 5 com mai s de 2 0 0 . 0 0 0 . Outro s s in , caso i s so este j a correto , e�
p l i caria i gualmente a pouca presença das cabras e cabritos qu�
ao contrário dos carneiros , s ão depredadores ce arbus to s .
M.edian te o s quadros n9 8 e P..n exo I I , podemos ta:rrb érn de­
preender que a reprodução dos rebanhos se faz i a , em parte , no
próprio interior ca fazend a . E i s to é notado , particul armente ,
no caso dos bovinos . Ao lado dos boi s de carga ou de carro , a­
parecem as vacas com crias , o s novi lhos e o s touros . Em 8 f�
zendas ( 1 8 7 3 - 8 1 ) do quadro n9 8 , veri fi ca-se que os boi s de
carga e carro aparecem com 2 3 0 e as vacas , touro s , bezerros e
e.
60.

novilhos corr. 1 6 3 , sornando 3 9 3 bovino s , isto é , o s bois de car­


ro e carga corre spondem a 5 8 , 5 % e o s outros soroados 4 1 , 5 % do
total . Por sua ve z , o touro , animal l i gado à procri ação , apa -
rece naquele quaàro em 4 fazendas , tod as com mai s de 225 . 00 0
pés e 3 5 e scravo s , sendo que em 3 com mais de 6 0 0 . 0 0 0 pés ee �
fé , portanto , em f azendas de grande porte . Cons iderando a fa­
zenda da Cachoe ira dos Alpes de Mariana Candida de Oliveira , a
tí tulo de i lustração , percebe- s e que em 1 8 7 4 exi stiam 6 9 bovi­
nos , sendo 4 1 ( 5 8 � 6 % ) bois de carro , 7 ( 1 0 % ) novi lho s , 2 ( 2 , 8 % )
touro s , 1 7 ( 2 4 , 3 % ) vacas e 3 ( 4. , 3 % ) beze rros . I s to é, a fazenda em
termos ce bovino s , e s tava organi z ada em função da reprodução
dos boi s de serviço .
A i s so acrescenta-se que o sustento do gado se fazia em
parte nos pastos naturai s que a agricu l tura extensiva se encaE
re gava de criar e atravé s de parce la da produção de mi lho . A
combinação destes doi s fenômenos ( procr iação e sus tento) su�e ­
re que a reprodução do gado se fazia no próprio e spaço da fa­
4., zenda .
O que dis semos acima a respe i to da produção de a limen­
tos e co s rebanho s , nos permite a cons trução ca figura abai ­
xo , onde s e evidencia a interação de s s e s com a cultura do café
no interior do proce sso produtivo da fazend a .

rIGURA N9 4

....
;._ f\ B !\ C

A - Produção de Cafâ
B - P rodução de Alimentos
e - Rebanhos

A produção de c a fé surge como e�uivalente , em parte , ao


produto exceden te , cuj a a magnitude está rel acionada ao s trab�
lhos em A e er� B . A produção de a 1 1 mentos e , eD parte , o s re­
banhos aparecerr. co�o momentos na reprodução da força de traba-
""
61.

lho . A outra ligação entre a pecuária e o proce sso produtivo


total da f azenda se f a z i a pe los animais de tiro .
Atravé s , ainca , dos inventários podemos reconst i tuir
parcial mente o funcionamento de unia fazend a de café e:r'l Paraíba
co Sul na segunda metade do século XIX ( ve r �uadro !.,nexo n9I I ) :
36)
1 - Te rras (
a - Te rras e m culturas : plantações de café , lavoura de alimen­
tos , horta e po�ar .
b - Matas Virgen s : reprodução da fazenda ( suas p lantaçõe s ) , �
lém de fornecer made iras para as construçõe s .
c - Capoei ra s : terras sue foram uti l i z ad as pela lavoura do ca­
fé e que convertidas em vegetação se cundária pode rian ser
empregadas , depo i s de um certo terpo de pousio , para a pr�
dução das l avouras de alimentos . Por outro lado , as cap�
e i ras podem também indi car o s i s tema àe rotação de terras
(s i s tema de roç a ) na cul tura de alimento s .
" d - Pastos : vegetação rasteira , formada por gramíne as , base da
pe cuár i a e xtensiva , i sto é , do gado exi stente na fazend a .
2 - Edi fícios
a - Con struçõe s para resi�ênc i a s : casa de vivenda ( fazenfei r�,
senzalas , c a s a de errpre c;ados , casa (.1 e canaracas .
b - Cepeneênc ias da Casa ao Fazende iro : coz inha e aep6 s i tos .
c - Cons truções l i gaeas ao bene fício do café : engenhos de so
car café , terrei ros , lavador , tulhas (e stocavam também ge­
neros de sub s i stênc i a ) . Este i tem depende do nível das
"" técnicas de bene ficiamento da fazenda , pode ríamos a s s im
ainda incluir ven tiladores , despolpadores etc , dependendo
daquele níve l .
d - Con struções l igadas ao bene fício dos a limentos : o s equipa­
mentos uti l i z ados para e ste fim e ram geralmente agrupados
numa " casa de fazer farinh a " , nela encontramos , por exem­
p lo , o mon j olo e a roda de man<li o c a ; ro inho para fazer fa­
rinha ; há também outras con struçõe s corno a seva de porco s .
e - Construçõe s aces s6rias à manutenção d a faz enda : engenho de
serra , ten�a ce ferreiro , o lari a , carpintaria .
e..
f" � ("
...

QUADRO N 9 9

("
PROFISSÕES DOS ESCRAVOS SECUNDO A MATR(CULA ESPECIAL DE 1872

Total Jos
Inventário Ano Lavoura e Pecuária Acessório• Transporte Saúde Casa de Vivenda e Outras Escravos

Roca
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1 u J � l, �� � 8:! ·1 �..
1 1 107
Ana Theodoro da Silva 1850 4 2
4 402
Barão de Entre Rios 1863 4 J 3 5 2 1 1
)64
1 Barão de Parayba 1864 1 1 6 1 1 2 2
40 40 39,6 1 ) 1 1 6 6 7 7 7 5 4 1 ) 9 1 2) 2 2 , 7 25 24 , 7 101
l.u i u Maria de Assumpção 1872 39, 6
Rat �P Jc Santa Justa( ! ) 1872
7 5· 17 12,5 149
Fa,cuda Sio Fidelis 1872 1 1 13 75 ,E 1 1 1.f 76,5 1 6 1 8 5,4 2 2 1 2 1 1 1 1
f31�nd3 Sant 'Anna 1872 1 99 77 , J 77,J 2 2 1 ,6 2 1 1 1 0.8 25 19,5 �
10J
Fazenda Serra 1872 1 88 83
..,
8� 83 1 1 1 1 2 1 4 3,7 1 1 1 12 10,)

55,' 2 96 56, 7 1 7 2 1 1 1 7,3 2 2 1 ,) 1 4 1 1 2 4 1) 8 , 2 44 26 166


�anoel Co�e, Vieira 1872 94
Francisco Barboza Teixeira 1872 56 54,4 56 54,4 1 1 1 3 3 1 4 5 4,8 1 2 1 2 8 1 15 14,5 24 23,3 10 3
8,5 1 1 2,9 9 25,7 35
Francisco Comes de Aguiar 1872 20 57 , 1 1 21 60 1 1 2,9 3
8
63
Antonio Jacinto do C�uto 1872 28 44,4 1 29 46 1 1 2 3,2 J 2 5 3 1 2 4 1 1 1 1 7 ,4 1 6 25, 4
2 1 3 14,3 2 9,5 21
t:l ídia Maria Barboza 1872 16 76,2 16 76,2
Condessd do Rio Novo 18 7 2 166 69 2 1 169 69,3 6 5 11 4,5 1 1 0,4 9 1 4 14 5,7 49 20, 1 244

7l.tl di,3 -1,-s --+ � � 3 / l, B 89 8 22j 1 9 , 9 1.1 i-,


Total n� ,s 4S '1
1s

da•
O�s: ( 1 ) O Uarão de Santa Justa é o propri etário
tr�• faz�ndas 1cgu ince1. ada para e feito doa c ál cu loa efetua1o a, aó levamo& em conta os l.. seguinte s.
( 2 ) A• tr ês primeiras fazendaa não foram consider s
de Paraíba do Sul.
Fonte: Inventário• - Cartór io de 19 Ofício de Notaa •·--··---r- • •--- ---• ·- -
'

O\
1\.)
\
63.

f - Hospi tal ou Enfer�aria .


3 - Rebanhos : bovino , cavalo s , bestas de carga , suíno e ovino�
4 - Elementos l i gados ao transporte : casa ?ara carros e carre
tas de dive r so s tamanho s .
Cependendo da dimens ão e dos recursos da fazenda nem
tod as preenchiam os i tens acima expostos que se aproximam mai s
' d a fazenda com mai s d e 2 0 0 alqueires o u mais d e 1 0 0 alquei res
e 6 0 e s c ravos .
Confrontando o s quadros �.nexos �e n9 I I e n9 I que re
tratam , respectivamente , algumas fazendas de c a fé com mais de
2 0 0 alque i re s ou mai s 6 0 e s cravos e 1 0 0 . 0 0 0 pé s ce café e ex­
plorações agríco las em que , ao l ado do café , é ex�ressivo , n a
determinação d o monte d o inven tário a produção d e al imentos , v�
ri ficamos que além das d i fe renças re lativas ao número de pés
de c a fé , número de e scravo s , há aque las referentes aos animai s
e aos equiparo�ntos de bene ficiaF.�n to . !Tota-se �ue no segun<lo
' quadro há apenas equipa�entos l i gacos ao Lene fício dos al imen­
tos , não existindo os do café . Os ani�ai s , neste quadro , con­
s i s tem principalmente em suínos , sendo pequena a ?resença de
bovinos , be sta e cavalos . E i s to implica que e s tes lavraêores
teriam suas despe sas acre s cidas por aque les i tens : bene ficia­
mento e transporte . O s í tio S anta Ri ta , por exemplo , onde não
existia uma tropa sufic iente para o transporte co café , �asta­
ra em 1 3 7 6 9 9 6 $ 5 6 0 no transporte <le seu café para o engenho de
out ra fazenda onde o seu procuto seria bene fici ado , e s ta quan ­
tia repre sentando 1 1 , 6 % da venda de seu produto ( 8 : 5 9 5 $ 9 1 0 ) ( :37 ).
.. A orqan i z ação da fazenda pode ser tambérr vi sta através
das pro fi s sÕ8s dos e s cravos , ciscri�ina�as na m2trícula e spe ­
cial de 1 8 7 2 . o �uacro n9 9 mostra as pro f i s sões encontracas
em 1 G fazendas e , seguindo o esquerra sobre o funciona�ento da
fazenda , poderros d i s tribuí -las , a �ros so modo , e� 4 grandes sni
pos :

..
64.

19 Lavoura - h0ru?ava o maior contin�ente de escravos da =aze�


e.a , er.1 particular , os tra.ba lhadores ê.e roça responsáve i s p�
lo cultivo do c a fé e dos alinentos ( 3 S ) . Ao l ado de s s e s en­
contrano s , em al sur.as f azendas o falque i j ador e o forvigue�
ro : o prir._e iro e stava vinculado às derrubadas , à se leção c:.as
árvore s cuj a �aceira se pre stava para as cons truções ; o se­
gundo trabalhava na exterminação das e spécies sue assolavar.i.
às culturas . No quadro n9 9 , nota-se que em apenas 2 faze�
das de l D éle ste �rupo corre spondia a menos de 5 0 % do total
dos e s cravos . A média para o conj unto encontrada foi ce
65 ,3 % •
2 9 ltivi dade s acessórias - Con sti tuiêa de ferre iro s , carpinte i­
ros e pedre iros e s s as prof is sões li savan- se à wanutenção e
expan s ão das cons truções e instrumentos de trabalho exi s ten
tes na fazenda , ou da procução cono é o caso do tul heiro .
Por ser um trabalho nai s especi a l i z ado , o valor de um escr�
vo-carpinte iro , por exemplo , era superior a ce um roce iro .
e; i Na fazenda s ão Fide l i z e.o Barão de S anta Justa , um carpin -
teiro de 4 0 anos valia 2 : 0 0 0 $ 0 0 0 enquanto que o e s cravo de
roça ( com 1 7 anos ) de maior valor , não ultrapassava os
1 : 8 0 0 $ 0 0 0 , soma e s s a superior à méGia çue era e.e 1 : 4 0 0 $ 0 0 0 .
39 Transporte - Carreiro e Trope iro . A presença da e strada de
ferro levaria a êir::inuição e.o núr::ero de e scr�_vos-tror_:>eiro:; .
r:o c;uadro n9 9 nota-se c1ue e s se grupo ( 1 , 2 5 % total ) é infe­
rior a dos carrei ros ( 1 3 % ão tot a l ) ; esses Últi�os e s cravos
eran encarregado s de levar o café até as e stações das Estra
das de Ferro .
" 4 9 Casa de Vivenda e outras profi ssões com exceção 6e algunas
profis sõe s , e s se grupo reunia o s escravos li�ados não tan­
to à produção da fazenda , ma s antes à posição social do fa­
z ende i ro . Rá contudo , ativi dades neste grupo que ceveriam
forrr,a r um outro grupo , COI!'.O é o caso das coz inheira s , cujo
trabalho e stava vincul2..êo à manutenção do contingente c:e
e s cravos . E s se 4 9 grupo , dentro das fazendas levantad.as
cons ti tui naçuele que após os trabalr.adores l i ga{os a l avo�
ra concentra o maior número de e scravos ( 8 % ) . For Últir.-.o na
çu0 le quadro observa-se que er.1 média 1 9 , 9 % dos e s cravos não
"
65 .

;::,os suiam profis são ; e ss e grupo e forr..ado por crianças (r.:enos c1.e
1 4 anos ) .
Em outm s inventários , nota-se que a l i s tagem acima
incompleta . há ainêa pro f i s sões como enferme iro , parteira , co-
.
eheiro. e mesmo ourivere s ( 3 9 ) Contudo , aque l a lis tagerr. corr.bi -
n ada aos equipamentos presentes nas fazendas de café nos suge ­
re algumas conclusõe s , como que a fazenda da região se repro­
duz i a parci almente à narqerr. ê.o re rcado . A exis tênc ia àos �a­
�uini snos de bene fici ar.en�o de alimentos , nos incuz a acreci­
tar que a força ce trabalho tinha �arte da sub s i s tência asseg�
raca no próprio interior caque la unifaee de procução . Por ou­
tro lado , a pre sença de r.aquini smos e profissões ce e scravos �
ce ssórios à produção da lavoura , nos in for�a que na manutenção
de parte dos r:i.e ios de produção ( corr.o con struçõe s ) não se neces
- s i tava recorrer ao mercado .
For filtiMo , a reprocução anual da fazenea e , portant o ,
o seu func ionamento , tanto n o que d i z re spe ito à con fi quração
� í
do proce s so de produção agrícola a ?artir co s i stema de uso da
terra , corro as re l acões entre a lavoura e o bene ficiarnento , po­
dem ser apreendidos através d a " contabil idade " da fazend a .
O quadro nQ 1 0 , re trata a s contas de duas fazendas : " Ca
chambu" ( 1 8 8 0 - 8 2 ) e " I3or:i. Suce s so " ( 4 0 ) ( 1 8 82 ) . A prirre i ra un icla=
de possuia em 1 8 8 0 uma exten são de 1 3 0 al�ueire s ( 2 8 e� �atas
e capoeiras e o restante ero cultura) , 3 6 0 . 0 0 0 pés ce café e
8 1 e scravo s . � segunda , 6 8 , 5 al�ue ires dis tribuidos err cultu­
ras , matas virgen s , capoeiras e pasto s , 1 3 6 . 0 0 0 pés de café e

.. 3 6 e s cravos .


6 7.

'

Nas contas de ambas fazendas a primeira coisa que nos


chama a atenção é a desproporção entre os gastos com a força
de trabalho (principalmente escrava) que corresponde a mais de
50% das despesas totais e aqueles com os meios de produção. I�
so, contudo, retrata a própria forma de reprodução de uma uni­
dade de produção dentro de um sistema agrário, em cuja base a
presença do fator mão de obra é superior a dos meios de produ­
çao.
t, •
Com relação às despesas com a força de trabalho escra­
vo (acrescidas dos custos dos gêneros) verifica-se que, estas
podem ser desdobradas, a grosso modo, em custos com a venda de
gêneros por parte dos escravos à fazenda, roupas, saúde, remu­
neraçã.o por serviços (nas contas posteriores da fazenda Ca.charn
bú este item aparece), compra de gêneros no mercado.
Detendo-nos no caso da fazenda Cachambú encontramos ain
da, despesas com o pagamento de aluguel de escravos. Acresci­
do de�se Último item o total médio das despesas com os escra�s
.... » nos três anos considerados, corresponde a 41,5% (22:404$953)do
total. Sendo desses gastos um dos que pesam mais são os gêne­
ros comprados no mercado, que corresponde a 39% (8:751$798) do
total das despesas com os escravos. Entretanto, o fato do es -
cravo vender ele próprio gêneros à fazenda, nos leva a crer
que este reproduzia parcialmente a sua vida material à margem
do mercado. Isto é, estes mantimentos vendidos por ele seriam
excedentes de sua própria produção.
Por outro lado, nas contas da fazenda Cachambú nota-se
que, entre 1880-82, os alimentos de origem vegetal consistiram
& principalmente, em feijão e arroz. Apreendendo a periodicida­
de dessas compras verifica-se, conforme o quadro n9 10.1, um
desequilíbrio entre elas, isto é, no primeiro semestre de cada
ano se concentram a maior parte das compras anuais, sendo ad­
quiridos ambos os produtos, o que não ocorre no segundo semes­
tre, onde é comprado somente um produto. A maior concentração
em volume na primeira parte do ano pode ser explicada pela co­
lheita do café, o que implicava na contratação de pessoal ex­
tra. Contudo, a mesma explicação não pode ser utilizada para
o entendimento de por que no segundo semestre só se comprar um


produto.
6 8.
t- I'.,

CUADRO N9 10.1

Compras de Alimentos pela Fazenda Cachamb� (1880 - 82)

... Compras de Mercado


Mantimentos
Vendidos Val r
.J
1
Feijão Arroz pelos Escravos Toca�
... Data Sacos Valor % Data Sacos Valor % Data Valor
! 7.
18/3/80 50 451$800
10/4/80 7 56$000 15/4/80 32 192$000
h Qsem. T.S. 57 507$800 32 '192$000 699$800
20/7/80 50 450$360 ... 23/7/80 800$000
�Qsem. T.S. 50 450$360 800$000 1:250$360
h880
T.A. 107 958$160 49 32 192$000 1l) 600$000 41 1:950$160

28/1/'81 6 85$000 15/1/81 30 184$060

..
1

26/2/81 10 .145$000

9/4/8.1 20 360$000
-- - -
·:-�
..
-.
30/5/81 30 185$000-
hQsem. T.:.;. 36 590$000 60 369$060 959$060
22/8/81 43 258$000 10/10/81 776$753
hQsem. T.S. 43 258$000 776$753 1:034$753
1881 T • ,\ • 36 590$000 29,6 103 627$060 31 ,4 776$753 39 1:993$813
14/2/82 30 300$340
31/5/82 30 288$760 5/5/82 40 60$000
1 Qsem. 1'. s. 60 589$100 40 60$000 649$100
1
19/7/82 20 260$500 18/7/82 850$000
14/9/82 20 190$700

.. ·�
�Qscm.
27/11/82
T .S.
20
60
200$620
651$820 850$000 1,501$82�
882 T.A. 120 1240$920 58 40 60$000 3 850$000 39 2:150$920.

Fonte': Conta de Tutela de 1882. Menores de Maria Tavares Monteiro, Maço 199, CPS.
Obs: T.S. - Total do Semestre.
T.A. - Total Anual.

t, _i;::
69.
t,

Parece-nos que o entendimento para isso talvez esteja


no fato de que na segunda parte do ano é o período em que os
escravos vendem "mantimentos para a fazenda". Apesar das con­
tas entre 1880-82 não serem claras no que consistem esses man­
timentos, em 1883 (agosto) eles são discriminados. Neste ano
os escravos venderam 391 alqueires de milho _(15.640 litro�, 28
alqueires e 3/4 de feijão (mais ou menos 1.120 litros) e 60 sa
cos de arroz. (4l)

.. ;
Portanto, além de se constatar a"EZ'esença do milho en­
tre os produtos vendidos pelos escravos, gênero que não apare­
ce nas compras da fazenda no mercado, observa-se que conside-
rando apenas o arroz, o volume vendido pelos escravos é supe­
rior ao volume comprado fora da fazenda em 1880 e é mais do
que a metade do adquirido no mercado em 1881.
Por sua vez, considerando em conjunto os produtos de o
rigem vegetal (excluído o açPcar) adquiridos no mercado e aque
les ,vendidos pelos escravos, observamos que (quadro n9 10.1
esses últimos correspondem a mais ou menos 40% das despesas a:m
4,.; ·�
aqueles produtos. Em outras palavras, utilizando como crité­
rio o preço dos gêneros (o que não é o melhor critério para o
caso dos escravos, na medida em que não "negociavam" propria -
mente em um "mercado"), percebe-se que os mantimentos vendidos
pelos escravos respondiam por mais ou menos 40% das necessida­
des da fazenda em produtos vegetais, e isso excluido o que es
tes consumiam ou seja, o que não era vendido.
Do que dissemos depreende-se que apesar do dispêndio da
fazenda ser grande na aquisição de alimentos no mercado, parte

.. do fornecimento destes é feito no seu próprio interior. Por


outro lado, este tipo de despesa seria bem maior caso fosse�
putado como compra de mercadorias o que os escravos produzem
mas não vendem, mas sim consomem. Isto é, caso não existisse
aquela produção de alimentos feita pelos escravos e, portanto,
a fazenda fosse obrigada a comprar o seu equivalente no merca­
do.
Quanto à fazenda Bom Sucesso, se observa que as desp�
sas com a força de trabalho correspondem a 24,5% que acresci -
das dos gêneros equivalem a 47,2%. Na análise da compra des­
ses gêneros devemos levar em consideração que a fazenda, segun
li.
70 •


do o seu administrador, "também cultiva cereais para o consu­
mo". Essa informação talvez esclareça a não presença do milho
e da mandioca, alimentos fundamentais da dieta da época, e
também explique o fato de que o arroz e o feijão entrem
com uma participação conjunta, na formação das despesas deste
item, em 34, 5% (302$ 500} . Por sua �;ez estas a:r.p:r:as se concentraram em
uma parte do ano (janeiro a março) , sendo pouco expressivo o
seu volume.

No interior das despesas com a força de trabalho, ao�
do daquelas ligadas ao escravo há as dispendidas com o pessoal
livre, seja com os feitores ou com a contratação temporária à:>.5
serviços como de carpinteiros, trabalhadores para derrubadas etc
Em ambas as fazendas, observa-se que no caso dos empregados fEE
manentes, como feitores de roça, os pagamentos dos salários nro
são efetuados mensalmente mas sim de tempos em tempos, podendo
esse período ultrapassar mais de um ano, tempo em que era est�
belecido uma conta própria (dever-haver) entre o fazendeiro e
.. o empregado.
Geraldo Luiz Ferreira, foi feitor de roça da fazenda
Cachambú de 31 de outubro de 1881 até 26 de abril de 1882, se�
do o total de sua remuneração anual estabelecido em 600$000.Du
rante os cinco meses e 26 dias que trabalhou, "pediu" dinheiro
ao fazendeiro em janeiro (45$000) e em 24 de abril (24$000).
Descontadas aquelas somas, esse empregado recebeu, em 26/4/88Z
228$316, dia em que também foi despedido. Outro caso é do fe�
tor da fazenda Penedo, que após 14 mese·s e 15 dias recebia a
metade de seu salário.
• Durante este período de "não pagamento monetário", as
despesas pessoais do empregado são computadas como "deve" ao
fazendeiro. Entre essas despesas encontramos, compras de ro�
pas, alimentos, e há ainda os pedidos de dinheiro. Do lado do
Haver, além do "salário" do empregado, são computados os servi
ços extras que esse realiza na fazenda. <42) Nesta medida, no=
ta-se que o tipo de relação estabelecida entre o fazendeiro e
os empregados não consiste propriamente em relação assalaria­
da em strito - sensu e, por outro lado, observa-se a fragilid�
de do mercado e da circulação monetária presente na região nes
te período (anos de 1880) .

71.

Outro tópico presente nas despesas das duas fazendas
diz respeito aos custos na compra de animais utilizados no
transporte, a exemplo de bois para carro, e daqueles para cri­
ação, corno po�cos. No tratamento deste item devemos levar em
consideração que ambas as fazendas possuem um pequerPcontinge�
te de animais.

A fazenda Cachambú, apesar de ter bestas, mulas, bovi­


nos, carneiros e porcos, o seu número, que não é discriminado,
parece ser pequeno caso comparemos a percentagem de sua parti­
cipação no valor total da fazenda (animais - 600$000 e da
fazenda 146:537$426) com a percentagem de outras fazendas da
mesma época e cujo monte e dimensões lhe são próximos. Esco­
lhemos três fazendas que aparecem no quadro n9 8 e Anexo n9 II
são elas: a de Antônio Jacinto do Couto (animais-1:765$000 e
valor total 180:648$000); Francisco Gomes de Aguiar (2:413$000
- 2i1:804$500); Francisco Barboza Teixeira (3:460$000
241:988$ 000). A percentagem da participação dos animais no v�
.. li ;')
ler total destas fazendas é respectivamente, 0,98%, 1,14% e
1,43%, cifras que são superiores àquela encontrada na Fazenda
Cachambú que foi de 0,41%. Confrontando esses resultados com
a listagem dos animais presentes naquelas três fazendas (qua -
dro n9 8), observamos que o valor de 600$000 não corresponde a
um grande número de animais por tipo de rebanho. Talvez isto
explique o porquê da compra expressiva de bois de carro ou de
carneiros entre 1880-82.

Por sua vez, a fazenda Bom Sucesso, cujo rebanho se


compoe de 6 bois de carro, 1 novilho e 1 cavalo, compra aquilo
• IP que não possui: porcos.
Quanto à relação lavoura-beneficiamento nota-se que,taE
to na fazenda Cachambú (com exceção para 1880) corno na " Bom
Sucesso" os gastos são maiores para a manutenção dos maquinis­
mos de beneficia�ento do que na reposição dos instrumentos de
trabalho e "insumos" na lavoura. Na primeira fazenda, o custo
médio com a lavoura é de 3,6% e com o beneficiamento de16% do
total das despesas; nesse último item, consideramos as des
pesas que a fazenda realiza na compra e importação da máquina
de beneficiamento Ligerwood, cont udo esses gastos são
72.

"extras" , fugindo deste modo à reprodução anual. Enquanto que
na segunda fazenda, as despesas médias foram respectivamente
2% e 20,5%.

Neste momento percebe-se as implicações do sistema de


uso da terra, em vigor nestas fazendas, nos custos da reprodu­
ção anual do processo de produção agrícola. Por um lado, os
instrumentos de trabalho ligados àquele modo de cultivo da ter
•. 1 I') ra consistem em enxadas, foices, cavadeiras etc, isto é, em
instrumentos que devido à sua ':simplicidade" têm um valor re­
duzido; no interior das contas de ambas unidades esse item não
ultrapassa 1,5% do total. Por outro lado, num sistema de cul­
tivo em que as matas substituem a aplicação de adubos na refe!
tilização da terra, não há necessidade de se comprar fertili -
zantes, sendo o item "insumos" na falta de um nome melhor, co!!!
posto apenas de formicidas. Em outras palavras, a lavoura, no
que concerne.à reposição de seus instrumentos e "insumos", ti­
nha um custo inferior daquele setor que,dentro da fazenda
• l.)
beneficiava seus produtos.
No item receitas devemos, no caso da fazenda Cacharnbú,
antes de mais nada, dizer que no período 1880-82 parte dos pa­
gamentos (7: 469$842) dos dois primeiros anos foram deslocados
para 1882; ano em que, se comparado com 1880, mais que duplica
o seu rendimento em quantidade (108,9%) valor (153%) . Isso
poderia ser explicado pelo fato de que, em 1882, 60.000 pes de
café (16,7% do total) estariam com 9 anos e, portanto, entran­
do na faixa de idade mais produtiva, que segundo Van Delden
(43)
Laerne é de 8 a 16 anos , enquanto que outros 40. 000 ( 11,1%
V l 'O do total) com 7 anos estariam prestes a entrar naquela faixa.
Outrossim, isto não só indica que o fazendeiro organizava os
seus pagamentos conforme a previsão dos rendimentos de seus c�
fezais, mas também, que não pagava as suas contas imediatamen­
te o que implicava no aumento dessas, na medida em que eram�
sivelmente acrescidas de juros. Em vista disto, o cálculo a­
proximado do lucro nesta fazenda, para o referido período, se­
rá feito considerando os três anos em conjunto.
O cálculo da receita líquida, descontadas as despesas,
deve ser feito considerando a amortização do preço escravo. Ao
-
7 3.

1,

afirmarmos isso, partimos do pressuposto de que o escravo nã:>


deve ser visto corno um meio de produção e integrante do capital
fixo, mas antes, corno afirma Jacob Gorender (44 > , enquanto " a­
gente subjetivo do processo de trabalho". Por outro lado, a in
versão inicial na compra do escravo não pode ser entendida en­
quanto "capital variável" (salário), e deste modo incluido no
capital circulante. Se assim o fizéssemos estaríamos vendo re
lações capitalistas de produção numa relação de produção em
que o produtor direto não vende a sua força de trabalho mas
sim é vendido; e caso considerássemos estas relações corno "ca­
pitalistas" , a identificação da inversão inicial gasta na com­
pra do escravo com o capital variável estaria igualmente erra­
da pois, essa categona estaria mais próxima à reprodução da vi
da material do escravo. Segundo Gorender, o capital-dinheiro
empatado na aquisição do escravo, na verdade, não funcionaria
corno capital, seria não capital. E em vista disso, esta inver
são só poderia ser recuperada pelo fazendeiro "às custas do so
bre-trabalho do escravo"(45 >. Será esse o nosso procedimento.

Para efeito de nosso trabalho, partimos do pressuposto
que a vida produtiva do escravo na lavoura é de 15 anos (4 6),P�
ríodo em que deveria ser amortizado o seu preço de compra. E
pelo fato de não termos tido acesso a informações mais detalha
das, calculamos esta amortização tornando por base aqueles es­
cravos cujo valor, nos inventários das duas fazendas acima, s�
peravam a quantia de 1:000$000. Em outras palavras, considera
mos estes escravos corno aqueles que em idade produtiva seriam
responsáveis por grande parte da produção.
O número de escravos nestas condições no inventário de
1,,,.' 'O
Maria Tavares ( Cacharnbú) somava 21 (25,9%) do total sendo o
seu valor de 23:700$000, o que corresponde aproximadamente a
45, 4% do valor total dos escravos. Em 15 anos, portanto, a a­
mortização anual seria de 1:580$000. O mesmo procedimento foi
empregado para a fazenda Bom Sucesso sendo que o número de es­
cravos considerados foi de 14 (38,9%)do total) cujo valor cor­
respondia a 15:300$000, isto é, 53, 2% do total que é de
28:780$000; a amortização anual fica em torno de 1:020$000. Do
que dissemos acima depreende-se que os resultados apresentados

,.J:
no quadro a seguir possuem um caráter meramente ilustrativo,não
tendo assim nenhuma pretensão maior.
74.
v

QUADRO N9 10. 2.

Receita Líquida nas Fazendas Cach.imbú (1880/82-85) e Bom Sucesso (1882)

Amortiza
çao dÕ Lucro
Fazenda Ano Despesas Receitas Lucro % preço dos com Alnorti 7.
Escr;wos z:.ic.io
em 1 5 anos
Cachnmbu 1 880/82 5):?72$577 70: 150$660 16: 1 78$08) 29,97 4:740$000 11:438$08) 19,48
Cachambú 188) 1 7:810$116 31: 140$970 13:)30$854 74,84 1:580$000 11:750$854 65,97
Cachambú 1884 11:019$075 1 7:476.$100 6:457$025 58,59 1:580$000 4:877$025 44,25
)
C.ichambü 1 885 15: 1 56.$598 26:896$100 11 :7)9$502 77 ,45 1:580$000 10: 159$502 67,0)
Bom Sucesso 1 882 J:855$764 6: 199$7 10 2:)4)$946 60, 79 1 :020$000 1 : J23$946 27 ,15

Fonte: 1. Inventário, 1880, Falecido - Maria Tavares l-bntciro ,Maço 199, CPS.
COnta de Tutela, 1882, M:nores de Maria Tavares 1'tlnte.iro, M.lco 199,CPS.
11 ,16Sl 1'
l({Cunha) ,Maço 125.CPS.
2. Conta de Tutela 1883 Menor do Barão do Rio do Ouro (Lia Pereirilda.

!J

No quadro n9 10.2. além do período 1880-82, nos utiliz�


mos para a fazenda Cachambú também dos anos de 1883-85, período
em que apesar de ser impossível detalhar as despesas, o seu to­
tal combinado com as receitas nos permitiu apreender a receita
líquida. Verifica-se outrossim, que durante o período conside­
rado, as duas fazendas, apesar da amortização do preço dos es-

�;-)
75.

cravos, funcionam com lucro,chegando em certos anos a mais deSO%.

Em resumo, o estudo das contas das suas fazendas de


café do sistema agrário da economia de exportação nos indica:
- Urna maior concentração dos custos na reprodução .da
força de trabalho do que com a reposição dos meios de produção.
Custos estes que estão condicionados à magnitude da produção
de alimentos no interior da fazenda que, por sua vez depende da
L, disponibilidade de espaços que permita o emprego do sistema d:
roça.
- O sistema de uso da terra ligado ao caráter extensi-
vo do sistema agrário (não mudança técnica), se traduz no pe-
queno custo na reprodução da lavoura, no que diz respeito
reposição dos meios de produção {instrumentos de trabalho e
"insumos"). O beneficiamento dos produtos custa mais caro que
a produção desses mesmos produtos.
- Naquelas fazendas que apresentam rebanhos expressi\05
1 seja em número e tipo, onde a reprodução desses Últimos se faz
no interior daquela, os custos com estes são mais reduzidos.

2.3. A Transformação de Matas em Cafezais: o segundo movimen


to do processo de reprodução.

O segundo movimento do processo de reprodução do siste­


ma agrário, mais longo no tempo, consiste propriamente na repr�
dução, seja simples, seja "ampliada", da fazenda. Ele se mani­
festa pela transformação das matas virgens em cafezais. Em o�
u. -o tras palavras, deve-se incorporar um quantum de terras virgens
que permita a substituição do cafezal em declínio produtivo, e
com isso garantir, pelo menos, a reprodução simples da fazenda,
ou melhor, a manutenção do volume do café mercantilizado.
No entendimento desse movimento deve-se ter em mente o
sistema de uso da terra em que a disponibilidade das matas sub�
titui a existência de um trabalho adicional na refertilizaçãoà:B
solos ou de um longo período de pousio. Deste modo, mesmo aqui
lo que poderíamos chamar de reprodução simples é feita, também,
pela incorporação de mais terras. Sendo que a diferença entre
,i:, essa e a reprodução "ampliada" seria dada pelo fato de que aqu�
76.

la incorporação de mais terras se faria além das necessidades


de manutenção do volume de produção, e isto seria acompanhado
por urna incorporação de um contingente de força de trabalho a­
dicional.
Em alguns inventários é possível verificar este movi -
mente de transformação de matas virgens em cafezal, através da
idade dos cafezais. No quadro nQ 12, a título de ilustração
reproduzimos informações de dois inventários cujo cafezal mais
velho possuía em 1880 a idade de 30 anos. Partindo do pressu­
posto que na região do Rio a idade em que o cafezal apresenta­
va um acentuado declínio rodutivo era de 25anos, como nos in-
7
forma Van Delden Laerne (4) (ver quadro nQ 11) , recuamos no
tempo 6 anos, para 1874, ano em que aquele cafezal teria 24
anos e os mais velhos (que em 1880 já não aparecem mais) uma
idade superior a 25 anos. A partir daí começamos a reconstitu
ir a vida dos cafezais durante um período de 6 anos, apreende�
do a transformação de matas em cafezais, período de formaçãocb
.., cafezal etc.

QUADRO NQ 11
Valor do cafezal segundo a sua idade
Idade Valor Altura
(em anos) (em mil reis) (em centímetros)
1 $060 14
2 a 3 $100 24
3 a 5 $160 38
5 a 8 $200 48
8 a 16 $280 68
16 a 20 $180 44
20 a 25 $160 30
..... 9
125 $060 14

Fonte: Informações retiradas das Fazendas dos Viscon­


des de s. Clemente e de Nova Friburgo citado
por Van Delden Laerne, op. cit. , p.260.

,.,-,
iI
��
QUADRO N9 12
Tr:msformac;:io Je �atas em Cafe::ais em duas f:ut>nda:.-187.',/SO
Francisco Barboza Teixeira-Fazenda Santo Ale1xo-1880

18,4 1875 187b 1877 1878 1879 1880


J
1
1

1
ldad 1 �·9 Idad N9 Idad N9 Idad N9 IJad '19 tdad N9 l 1ct..1ct2 j �19 1
1

PP* JS 1 JS 2 35 J JS PP 20 1 20 1 1 20
2 25 J 25 4 25 s zs .:+ JS 5 35 6 JS
dO 80 7 80 8 80 25 7 25 8 25

1�:
5 b 6 1

17 17 8 17 17 80 80 l 11
1

7 9 9 10 1 ao 1

70 10 1 17 11 17 1 12 1 17
1

Ano 1874 1875 l 1876 187711878 1879 1880


N9 Total de Pés de Café 227 157 157 157 177 177 177
1

Em Idade Produtiva 167 97 122 122 157 157 15 7


(4 a 24 anos)
Idade + Prod. (8a16) - - 17 97 97 97 122
Cafezal em Formação 25 60 JS 35 - 20 20
Sem Produção (+24 anos) - 70 - - - - -
Transformação Matas/Cafezal 35 - - - 20 - -
1 hanoel Luis dos Santos Werneck - 1880

1874 1875 1876 1877 1878 1879 1880

Idad. N9 Idad. N9 Idad IN9 Idad. N9 Idad. N9 Idad. N9 Idad. N9


4 13 PP 12 1 12 2 12 J 12 4 12 s 12
5 2,5 5 13 6 13 7 1J 8 13 9 13 10 13
12 20 6 2,5 7 2,5 8 2,5 9 2,5 10 2,5 11 2,51
18 6 13 20 14 20 15 20 16 20 17 20 18 20
zo 40 19 6 20 6 21 6 22 6 23 6 24 6
::1 s 21 40 22 40 23 40 24 40
24 1,5 22 5 23 5 24 5

'J
Ano 1874 1875 1876 1877 1878 1879 1880
N9 Total de Pés de Café 88 98,5 98,5,98,5 93,S 53,S 54,5
Em Idade Produtiva 88 86,S 86,S 86,S 81 ,s 53,S 53,5
(4 - 24 anos)
Idadt •_Pfgd��� j 20 20 20 22,5 35,5 15 ,s 15,5
8 X
Cafezal em Formação - - 12 12 12 - -
Sem Produção(+ 24 anos) - 1 .s - - 5 - 40
Transformação �tas/Cafezal - 12 - - - - -
Fonte: Inventário, 1880, falecido - Francisco Barboza Teixeira,
maço s/n9, CPS.
Inventário, 1880, falecido - Major Manoel Luís dos Santos
Werneck, maço n9 97,CPS.
*PP- plantado a pouco
** nO - em 1000 péa de café
78.

Pelo quadro nQ 12, percebe-se que a transformação de


matas em cafezais se dá na fazenda Sto. Aleixo em 1874 e 187&
portanto, num intervalo de 4 anos. Já na outra fazenda essa
transformação só ocorre uma vez.
Por outro lado, na fazenda Sto. Aleixo observa-se, ai�
da, que entre 1874 e 1875 há uma queda dos cafezais em ida­
de produtiva, o que no ano seguinte é ligeiramente compensado
pela entrada de novos pés na faixa de idade produtiva e, em
1
1878, aquela diferença para 1874 diminui novamente. Outro ele
mento que deve ser levado em conta, diz respeito à faixa de i
dade mais produtiva de 8 a 16 anos, que em ambas fazendas a-
presenta um perfil ascendente, o que, por sua vez, pode ter
compensado a perda da capacidade produtiva dos :afezais em
termos de idade produtiva. Para efeito de nosso trabalho, é
importante reter que na manutenção da capacidade produtiva da
fazenda, deve existir um certo equilíbrio entre o declínio pr�
dutivo dos cafezais, a derrubada das matas e a formação de no­
'-' 1 ')
vos cafezais. � necessário que exista na fazenda ou que a ela
seja incorporado, um quantum de matas que permita a substitui­
ção dos antigos cafezais, e isto deve ser feito considerando -
se que o tempo de formação do cafezal é de 4 anos.
Por conseguinte, a partir do segundo movimento do pro­
cesso de reprodução, percebe-se que as matas virgens, corno
já dissemos antes, não são "terras incultas" mas sim um mo­
mento .na renovação do processo produtivo. E isto pode ser
percebido na conta de tutela (1854) dos menores de D. Maria
Joana da Silva Ribeiro, em que a tutora ao se referir ao esta­
i., "",)
do da fazenda de seus tutelados, liga a capacidade de reprodu­
ção desta à disponibilidade de terras. "D'aqui a quatro anos
quase que nada valerá a fazenda" isto por que estará "acabada
a velha plantação de café (. . . ) de nada vale a fazenda que
não tem terras onde faça nova plartação, bem se sabe que na fa­
zenda ( . . . ) deve fazer plantação de café que é para ir recup�
rando aquelles que vão ficando velhos, agora esta que não tem
nem mesmo um pão em pé não tem mesmo onde plantar um pé de ca­
fé d'aqui a alguns anos não terá mesmo onde se plantar um só
48) ·
pé de mesmo feijão, arroz ou rnandioca. 11(
79.

Outrossim, verifica-se neste sistema agrário que as m�


tas valem mais que as terras cultivadas (ver mais adiante_grã­
fico n9 9 ), o que é perfeitamente compreensível dentro da ló­
gica de um modo de cultivo em que as matas substituem a inver­
são de um trabalho adicional na recuperação dos solos e em que
o cultivo da terra se faz por métodos extenuantes para esta�or
sua vez, isto nos indica urna racionalidade própria daquela fo�
ma de produção frente ao capitalismo, onde "sendo a mesma qua­
lidade natural, a terra cultivada vale mais que a inculta". ( 49)
1

A partir desta forma de reprodução do sistema agrário


podemos também depreender que as "terr�" presentes na fazenda
adquirem um novo significado dado pela lógica daquele sistem a:
matas virgens, o seu quantum comparado com o cafezal existente
nos indicam o grau e as possibilidades de reprodução da fazen­
da; o cafezal refere-se à capacidade produtiva atual da fazen­
da: capinzal e capoeiras nos informam sobre o passado da fa­
zenda ( os números de reproduções já ocorridas) e a sua rela­
"'' � ção quantitativa, com as matas nos indicam o avanço do fim da
fazenda de café.
Por sua vez, essa incorporação de mais terras, em tes�
não deve compreender apenas a extensão dos cafezais; ela deve
igualmente incluir ( no caso da reprodução "ampliada") o aumen­
to das lavouras de alimentos. Quando isto não ocorre, o cres­
cimento da fazenda se faz às custas do espaço da produção de
alimentos, prejudicando assim a sua própria capacidade reprod�
tiva, na medida em que a fazenda terá que recorrer com mais
frequência ao mercado para satisfazer as suas necessidades em
"' o gêneros de subsistência e com isso levará, em tese, a urna dimi
nuição do sobre-trabalho extorquido do escravo.
Ao lado da incorporação de mais terras, há a renova -
ção ou ampliação do contingente de escravos ligados à lavoura,
processo este que, como já demonstramos, é feito parcialmenteã
margem do crescimento natural da população local. No cálculo
dessa reposição devem ser, em tese, levados em conta o cresciffi:!:1
to natural da população escrava da fazenda, a taxa de mort.alid�
de ( antes da idade produtiva limite - 40anos) e o envelhecimen
to dos escravos.
'
80 .

A título de ilustração, observa-se que na fazenda de


Francisco Gomes de Aguiar em 1872, existiam 31 escravos e apro­
ximadamente 96. 000 pés de café; oito anos mais tarde existiriam
81 escravos e 189. 000 pés de café. Durante este período morre­
ram 9 escravos, nasceram 16, 9 foram herdados e 28 comprados ,
isto é, o número de escravos aumentou em 44 (118,9% ). Conside­
rando apenas os escravos comprados, na medida em que eles nos
dão urna idéia mais aproximada da renovação do conjunto de traba
l
lhadores, esses correspondem a um crescimento de 7 5 ,7% em rela
ção ao número de escravos em 1872, e, descontados os mortos, e�
sa cifra fica em torno de 37,8% de aumento. Quanto ao cresci -
mento do cafezal, verifica-se que entre 1872 e 1880 foram plan­
tados 93. 000 pés, ou seja, 49,2% dos existentes em 1880� 50)
Comparando esses números com as duas fazendas antes ci­
tadas nota-se que, naquele mesmo período, na fazenda Sto. Alei­
xo o número de escravos diminui de 103 para 87 (crescimento ne­
gativo de 1 5 , 5%) e a do Major Manoel Luís dos Santos Werneck de
., !
79 para 66 (crescimento negativo de 16,5%) 51 ) No que diz res­
peito aos cafezais, na primeira foram plantados no período de
oito anos, 80. 000 pés o que corresponde a 32,4% do total em
188 0. F na segunda, 12. 000 pés, isto é, 10,7% do total. Por
conseguinte, ambas fazendas experimentam no período considerado
um ritmo de vida inferior a daquela da fazenda de Francisco Go­
mes de Aguiar. Contudo nos três casos se nota a relação íntima
entre o contingente de trabalhadores e o .ritmo de incorporação
de matas.
Por outro lado, nos detendo mais de perto na transform�
� çao das matas em cafezais e no período de formação desses perc�
be-se que, o trabalho materializado pelos escravos nestes pro­
cessos, assim corno o trabalho do pessoal livre na derrubada, só
terá urna concretude monetária para a fazenda após 4 ou 5 anos
quando o cafezal se torna produtivo. Sendo assim, durante este
período as despesas não têm em contrapartida receitas; na faze�
da Sto. Aleixo em 1877, por exemplo, os cafezais em formação re
presentavam 14,2% do total.
Essa situação nos leva a tirar duas conclusões quanto ao
segundo movimento do processo de reprodução: 19 ela se dá " por
81.


debaixo" da reprodução anual da fazenda, que é feita com os
antigos cafezais, é a reprodução anual que " sustenta" aquilo
que chamamos de segundo movimento; a realização do segundo
quando este é ampliado, implicando assim numa série de despe­
sas, em tese, ele deve ser precedido de um certo número de re­
produções anuais. Em outras palavras, percebe-se, por conse -
guinte, urna relação íntima entre aquilo que chamamos de 19 e
29 movimento processo de reprodução. Ao mesmo tempo em que o
1
29, ao transformar matas em cafezais e ao repor ou ampliar o
contingente de trabalhadores, permite a continuidade da repro­
dução anual da fazenda, por sua vez, aquele 29 movimento é sus
tentado pela reprodução.anual.

Detivemo-nos até agora na reprodução extensiva de fa­


zendas isoladas. Entretanto, esse processo não se restringe a
urna ou outra fazenda. Ele diz respeito à reprodução de urna for
ma de produção historicamente definida numa dada região. E a­
preendida dessa maneira a reprodução extensiva adquire um novo
1 significado, isto é, aparece corno um movimento de transforma -
ções acumulativas que se traduzem na dimensão da população tra
balhadora (seu aumento no decorrer do tempo) e na paisagem ru­
ral da região.
A nível da região, a transformação das matas em cafe­
zais pode ser percebida, nos inventários, através da variação
do valor (%) da terra em relação ao do cafezal. Considerando
que a mata virgem é o "tipo" de terra mais valorizada, a dimi­
nuição do valor relativo da terra, no interior da fazenda, se­
ria indicativo do desaparecimento das matas. Em outras pala -
� vras, eSa diminuição de valor mostraria o aumento da extensão
das terras em culturas (que são de menor valor) e, assim sen
do, dos cafezais. Deste modo, a transfor�ação das matas, ou
que é o mesmo, a reprodução da lavoura, é revelada pela redu­
ção (%) do valor das terras e aumento (%) dos cafezais.
Através do gráfico n92 podemos observar a ocorrência
desse movimento entre 1850 e 1880 e, com isso, o ritmo da re­
produção extensiva na região. Em 1850, as matas respondiam p::>r
51,5% da soma de seu valor com o dos cafezais. Trinta anos
mais tarde, essa relação se modificaria em favor dos cafezais
82.

que passariam a corresponder a 63% daquela soma. o distanciéUf!:!:


to desses valores, no tempo, progressivamente passaria a indi­
car não apenas a realização do segundo movimento mas também a
redução de suas possibilic.ades de se concretizar, até o momen­
to em que as terras voltariam a ter um valor superior ao dos
cafezais, só que agora não mais devido à presença das matas.

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83.
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7
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, GRÍl?IOO N2 2

/., Valor das-Terras e Ca:fezais nos Invent!Írios de 1850 a 1880.


� terras• cafezais� 100 �
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. 1 A - Terras
B - Cafezais

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1850 1860 1870 1880

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7
'"r.E� Inv::int�rios - ca.rtÓrio do 10 Oficio da Notas - Pl3.raÍba do �
84.

Tendo em conta esta variação relativa de valores , no


tempo, podemos ilustrar a reprodução extensiva na região. E, p�
ra tanto, formamos dois grupos de fazendas, com áreas mais ou
menos iguais, .em dois períodos diferentes < ) , 1850/60
52
e
1874/84, considerando estes grupos corno representativos da re
gião naqueles períodos.
Para 1850/60, escolhemos três fazendas cuja extensão&>
mava 7 21 alqueires. Nesse grupo as terras correspondiam a
68% da soma de seu valor com o dos cafezais (32% ) . E isso in-
dicaria a presença das matas, ou melhor, que os cafezais nao
ocupavam a maior parte da área das fazendas. O número de pés
de café era de 217. 000 e o de escravos 138.
Mais ou menos vinte anos mais tarde, a situação apresen
tada pelo segundo grupo de fazendas é um pouco diferente. FoE
mada por 713 alqueires, a área ocupada pelos cafezais é sig­
nificativamente superior daquela acima. Isto é, o valor das
terras sofre uma diminuição, passando para 24%, enquanto que
"4J
o dos cafezais aumenta para 76% da sorna dos valores de ambos.
Ao lado disto, a transformação pretérita das matas em cafezais
é demonstrada pela existência de 1.317.000 pés de café; desses
218.000 (16, 6% ) eram velhos. Acompanhando essa maior presença
das terras em culturas aparecem 583 escravos. Portanto, o se­
gundo período apresenta um número de pés de café e um contin­
gente de escravos, respectivamente , 507% e 322% maiores do
que do primeiro período. Em outras palavras, em épocas dife­
rentes uma área de dimensão mais ou menos semelhante, apresen­
ta uma conformação inteiramente diferente em termos quantitat�
')
vos: em número de pés de café e de escravos.
Por sua vez, essas diferenças quantitativas no tempo,
e a forma corno estamos conduzindo o segundo movimento do pro­
cesso de reprodução do sistema agrário, nos levam a uma segun­
da questão que é a relação entre o sobre-trabalho extraído do
escravo com a reprodução da lavoura. Ao utilizarmos o conceib
de reprodução extensiva, para explicar a reprodução da formaée
produção de que estamos tratando, implica não apenas em afirrna:­
que esse processo se fazia em termos quantitativos, pela incoE
poração do fator .terra e mão de obra, mas também que ele con-
85.

sistia na repetição de um mesmo processo de produção, só que


agora " largado" . Isto quer dizer que, o sobre-trabalho extraf
do de trabalhador não era invertido na lavoura no sentido de
uma mudança técnica.
Inicialmente, podemos ter uma idéia aproximada da uti­
lização do sobre-trabalho pelo fazendeiro, ou melhor, da rela­
ção entre sobre-trabalho e a agricultura através da contrasta­
ção entre os " investimentos" que são feitos na fazenda com
aqueles que são feitos fora dela. Consideramos aqui como "i�
vestimentas" na fazenda a sorna dos valores das terras, cultu­
ras, edificações, equipamentos, animais e escravos. E através
do quadro n9 13 podemos ver que de 1850 a 1880, os " investirnen
tos" fora da fazenda não ultrapassam a mais de 30% do monte
dos inventários. O que demonstra que o sobre-trabalho extraí­
do do escravo era dirigid��ipalmente para as fazendas,se�
do pouco significativo� " inversões" em " casas na cidade" (Rio
de Janeiro ou Paraíba do Sul) ou em bens móveis; "inversões"
que, a grosso modo, poderíamos chamar de improdutivas.

QUADRO N9 13

,Participação da F azenda no Monte-Mór dos Inventários


1850-1880 ú.J.:t�
Fazenda: Terras,bafeeei� ,Escravos Egoipamentos,
EdificacõesrE e
a Ani
..W.iliilaH,Hà...:> •

N9 de
Ano Fazenda % Monte Mór Inventários
-l

1850
1860
262:399$100
l)...
)_'. J.. 4 o. +-6 '.5 4 C{
'3: 075. 2'.H· r3-7-5-
92 283:339$156
73 3:075:237$375
12
14
1870 1:676:271$000 84 1:979:986$558 9
1880 1:825:542$000 94 1:939:813$864 22

Fonte: Inventários - C artório de 19 Ofício de Pa ra íba


do Sul.
86.

Detendo-nos agora nos investimentos na fazenda, em r�


lação aos meios de produção, podemos ter uma primeira impres­
são dessas inversões através da participação do valor dos e-
quipamentos. O gráfico n9 3 retrata a participação do valor
dos escravos, das terras e dos equipamentos nas unidades de
produção de 1850 a 1880, sejam eles representativos de grandes
fazendas de café (mais de 220 alqueires ou com mais de
100. 000 pés de café e 60 escravos) ou de pequenas explorações
agrícolas (menos de 6 escravos e 15 alqueires) onde ao lado do
café a produção de alimentos aparece como fundamental na de­
terminação da sorna dos investimentos. Nesta medida, por esse
gráfico nos é possível ter uma idéia aproximada, através do
contraste ( % ) daqueles elementos, do nível técnico presente na
região naquele período. E por ele verificamos que a particip�
ção dos equipamentos não chegou em nenhum momento a correspon­
der a 5% daquela sorna.
Complementando essa informação, no quadro n9 14 sao r�
1 tratados os investimentos em algumas fazendas (com mais de 200
alqueires ou mais de 100.000 pés de café e 60 escravos) naque­
le mesmo período. Nele se observa que os investimentos que a�
sumiram a forma de equipamentos não ultrapassaram 10% do valor
total da fazenda. Essas informações nos indicam, por conseg.ú.�
te, o baixo nível técnico presente na região como um todo e na
fazenda de café em particular.
Outrossim, tanto no g ráfico n9 3 como no quadro das fa
zendas, nota-se que o valor relativo daqueles equipamentos te�
de a aumentar na medida e� que se aproxima o fim da escravidã�
:> No gráfico, a participação deste item passa de 3� % em 18 70 pa­
ra 4)% em 1880, superando assim a participação relativa c!as"_!:eE
ras� e escravos que apresentam comportamento descendente . Quanto
ao quadro n 9 14, antes de 1873, 5 fazendas em 6 o valor da ca­
sa de vivenda (moradia do fazendeiro) era superior a dos meios
de produção ligados ao beneficiamento ; isso alteraria nas fa­
zendas (no quadro n9 14) a partir de 1873. Tal fato sugere
uma mudança técnica no decorrer do tempo.
Entretanto, se nos detivermos naquela fazenda (Francis
co Gomes de Aguiar - 1880)(53) do mesmo quadro n9 14 onde o;
87.

.
GRÍFIOO N e 3
VALOR (�) dos Escravos , Terras e Equipamentos de Beneficiamento .
· · nos Inventários de Paraíba do Sul - 1850 - 1 880
� .
escravos � terras + equipamentos • cultura� + edificaçÕe!!., = 100 <
...-t "l,TI iM'li�

B 1c. Terras
A. <fo Es cravos ,.._

e 1( Equipamentos
l
l ( 60,.2 )

A ·,,,�
60 t �

55 !
50 ( 49 , 6 ) .,

45 �---.:_
( 47 ) { 44 )
-----.:..:..,
, 40

35

30

25

20 (1 8 , 8 ) B
(1 7 , 6 ) (16 , 5 )

15
'.)

10 1
( 4, 3 )
51
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( 3 ·, 3 ) e . C 3 ,3 ) -
· --------e l----
º! i ·--· -· · · · ·---- -·.-- ·----
1850
-
1 ,1
....:;
...;._
1860
····---------------
1870 1 880
,
FONT.1: Inven tarios cartório do 1 2 Oficio de Notas - Paraíba do Sul

- ----. .. ... --- -··- ------·-..-------··--- .. ----·-- -- ----- ... .


4i

·,

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Fazenda, de Café com a.,l1 de 200 Alsue ir•• de Terra, ou com mai1 de 100.000 Pée dd Café e 60 Escravo,
Terras + Cafeza i 1 • Equipamencos + Edificações* + Animai, + Escravos• 100
lO
Cl
Equ1paiaen- 1Ed1fica- Casa de
lnvencido Ano Terras :r Cafezais z [0$ z cõcs % Vivenda z Animais z Escravos % Tocal �
Domingo, Teixeir� Alve1 . 1 850 9:610$000 1 2 ,6 1 9 : 920$000 26,2 2 :000$000 2 ,6 1 :970$000 2 ,6 2 :400$000 3,2 1 : 353$600 1 , 8 38: 736$0ú0 5 1 7 5 : 989$600 �
Cuilherwic Francisco Rodrigue1 1860 53:000$000 35,8 1 4 :080$000 9 , 5 4 : 100$000 2 ,8 5 : 700$000 3 , 9 4 :000$000 2 , 1 1 : 900$000 1 , 3 65: 144$00C 44 147: 924$000
Ana Lima Machado 1860 18:000$000 16 I ) ; 600$000 1 2 , I 1 : 300$000 1 ,2 10: 160$000 9 3 :000$000 2 , 7 Sl5$000 K> . 5 65: 765$000 58,5
z
-O
1 12 : 360$000
Baroneza da Parahyba 1864 75:000$000 15,8 58:912$000 1 2 , 4 1 1 : 350$000 2 ,4 7 : 2 70$000 1 ,6 1 2 :000$000 2 , 5 7 :000$000 1 , 5 302 :225$000 63,8 4 7 3 : 75 7 $000 1-'
Luiz• Maria d 1 A11u""'cio ll\70 25: 984$000 19, I 1 4 : 520$000 10,7 5:620$000 4 , I 3:560$000 2 ,6 7 :000$000 5 , 2
1 :090$000 0 ,8 77 :930$000 57,4 135: 704$000 """
HagdJlena Maria Pereira 1870 53: 356$000 23 47: 150$000 20 , 3 5:540$000 2 , lo 13: 505$000 5,8 10:000$000 4 , 3 8: 1 30$000 3,5 94 : 336$000 40, 7 232:01 7$000
Barão de s. Ju1ca(Fa z . S . F{11 � 1873 30:000$000 6 , 6 4 2 : 200$000 9,2 1 8 : 770$000 4 , I 9,330$000 2 1 2 : 000$000 2 , 6 4 , 805$000 1 , 1 340: 7 54 $000 74,4 457: 859$000
Mariana Cândida Oliveira 1874 321 950$000 8 , 2 133: 440$000 33, I 24,990$000 6,2 1 1 : 8 )0$000 2 , 9 2 1 1 325$000 5 , 8 9:077$500 2 , 3 166: 865 $000, 4 1 ,5 402 :477 $500
1
Franci,co Co...,, de A1ul1r 1880 37: 550$000 2 1 4 2 : 360$000 23,6 1 5 : 4 36$000 8,6 10: 560$000 5 , 9 1 : 600$000 f(l , 9 2 : 4 13$000 1 ,3 69, 300$000, 38,7 119: 2 1 9iooo
Franc isco Barbota Teixeira 1880 30:310$000 1 4 , 2 64, 550$000 30,3 3 : 180$000 1 ,5 6; )95$000 3 3 :000$000 1 ,4 3,460$000 1 ,6 102: 350$000 48 2 1 3: 245$000
Hanoi!l Cocnea Vieira 1880 53:7S0$000 15 5 209 : 2 10$000 38 7 24: 890$000 4 6 10: 400$000 1 9 8:000$000 1,5 3 : 19 1 $000 O 6 200: 900$ood 37,2 540 : ) 4 1 $000

Fonce : lnvencirio1 - Cartório 19 Ofício da Notai de Paraíba do Sul

* Inclui Caia de Vivenda.

00
co
89.

equipamentos de beneficiamento possuem o seu mais alto percen


tual de valor (8,6%), verificamos que nesta mesma fazenda o
instrumental de trabalho aplicado na lavoura (ver quadro n9 1�
consistia em machados, foices, cavadeiras e enxadas, cujo va­
lor era de 57$000, não chegando a significar 0,03% do valor t�
tal da fazenda. Esse baixo valor do instrumental não só indi-·
ca pequenos custos de produção na lavoura, mas também mostra a
persistência do sistema de uso da terra, ou ainda, sugere um
baixo nível técnico na lavoura.
Tal nível técnico está presente em unidades de produ­
ção agrícolas de dimensões e épocas diferentes (1850-80), como
podemos ver pelo quadro nQ 1 5, onde se observa que a parcelacb
valor da fazenda correspondente aos instrumentos de trabalho �
grícola não ultrapassa meio por cento (0,5%). E isso se faz
presente em unidades como a de Manoel Pereira de Oliveira <54)

(1860) , onde a produção de cana de açúcar é de alimentos tiPha

., uma participação superior(57,8%) a dos cafezais (42,2%) .


em pequenas explorações agrícolas de café como a de Maxiano An
Ou

tônio da Silva Braga que, <55> em 1860, possuia 10.000 pés d;


café e dezenove escravos, da mesma forma que em fazendas de
mais de 200.000 pés de café e 80 escravos e que se estendem!_Xlr
mais de 200 alqueires. Nesta medida, o nível técnico retrata­
do pelo baixo custo dos instrumentos de trabalho e representa­
do pela "enxada", perpassa diferentes tipos de unidades .de pr�
dução e diz respeito a uma forma historicamente definida de
lavoura.
Um outro exemplo, além do já exposto, sobre a disso�
� eia entre lavoura e beneficiamento é demonstrada pelas contas
da fazenda Cacharnbú ( � 6 ) Em 1882, essa fazenda importou da In­
glaterra, ao preço total de 5:39 5 $720, uma máquina Ligerwood,0
que sem dúvida significava um avanço nas técnicas de benefici�
mento tendo em vista os velhos métodos representados pelo "pe­
sado engenho de pilÕes 11 < > . Contudo, nessa mesma fazenda,nos
57

dois anos precedentes encontramos um outro tipo de despesas,e�


sas ligadas diretamente à lavoura. Isto é, são contratados�
balhadores livres para fazerew derrubadas de matas, ao mesmo
tempo em que se gasta (em dois anos) 293$ 500 na aquisição de
90.

8 machados, 6 foices, 3 cavadeiras e 130 enxadas (quadro n910)


A combinação dessas duas despesas é reveladora do sistema r-de
uso da terra mediante o qual era realizada a produção agríco­
la que depois seria beneficiada pela "Ligerwood".Não nos pa­
rece,portanto, que o sistema de uso da terra tenha se modifi
cado, acompanhando a "Ligerwood".
A reprodução extensiva do sistema agrário, a não mu­
dança técnica, pode ser percebida, ainda mais de perto, atra­
vés da fazenda de D. Magdalena Maria Pereira (5B) . Em 1870, e�
sa fazenda possuia 225.500 pés de café, sendo 30.000 ( 13%) com
25 anos, 176.000 (78%) entre 5 a 12 anos e 19.500 (8%) em fo�
mação. Dessas informações não só podemos deduzir que a fazen­
da nos últimos anos incorporou terras além das necessidades de
manutenção de sua capacidade produtiva (renovação dos 30.000
com 25 anos), mais ainda, que a fazenda possuia no mínimo 25
anos de existência, informação que nos é dada pelo cafezal mais
velho. A isso, associamos o tipo de instrumentos de trabalho
')
encontrados na fazenda, enxadas, foices, machados de derrubad�
machados de falquejo, e ao fato de que as suas terras se dis­
tribuiarn em culturas, matas virgens, capoeiras e pastos. A
conjugação destes dados nos leva a crer que durante pelo me­
nos 25 anos, não há mudança técnica na lavoura, o que se veri­
fica é a manutenção do sistema de uso da terra e, portanto, a
reprodução "ampliada" sendo feita pela expansão quantitativa éb
processo de produção agrícola.
Por conseguinte, o conjunto destes exemplos dá uma
certa concretude ao que expusemos sobre a reprodução extensiva.
Ao mesmo tempo, eles nos mostram a persistência, em escala a�

pliada, dos mesmos instrumentos, de um mesmo conjunto de téc­
nicas de produção agrícola já descritas mais meio século an­
tes (início do século XIX), por Luccok e Saint-Hilaire para
a agricultura de alimentos. Técnicas que, portanto, continua­
riam (com as suas variações) no café, numa lavoura para expor­
tação e fundada na extorsão do sobre-trabalho.
Outrossim, aqueles exemplos ao retratarem um mesmo ní­
vel técnico, perpassando diferentes fazendas e explorações a­
grícolas em distintas épocas, indicam um certo nível das for-
91.

ças produtivas presentes no sistema agrário. E isso é parti­


cularmente verificado quando se observa que pequenas explora­
ções como a de José Maria Neves ( 59) , em 1860, possuia 10 al­
queires de terras em cafezais ( 5.000 pés), concentrava os seus
"investimentos" principalmente em terras ( 11,7%) e escravos
(67,7%) e menos instrumentos de trabalho ( 0,05%) e equipamen­
tos. Assim como em fazendas de café com mais de 100.000 pés
de café e 60 escravos, como é o caso de Magdalena Maria Perei­
ra (ver quadro n9 1 5 e �nexo II) .
Em outras palavras, retomando o gráfico n9 3 e o qua­
dro n9 1 4 se eles nos demonstram a pequena participação dos
"investimentos" em equipamentos no valor da fazenda, por outro
lado, eles também nos informam que os "investimentos" e, Pº.!:.
tanto, que o sobre-trabalho extraído dos escravos se convertia
principalmente em terras e em força de trabalho, cujo o valor
relativo em conjunto representava nunca menos que 50% do total
da fazenda. E se a issso combinamos à persistência, no tempo,
dos instrumentos de trabalho agrícolas (quadro n9 1 5) e do si!
tema de uso da terra ( quadro Anexo n9 II), isto é, do baixo
nível técnico por eles representados, infere-se que o sobre­
trabalho invertido na lavoura assumia aspectos quantitativos
não gerando uma mudança técnica, mas antes a "repetição de um
mesmo processo de produção", o que caracteriza a reprodução
desse sistema agrário como extensiva.
E por outro lado, se aqueles dois grupos de fazendas
inicialmente expostas apresentam diferenças quantitativas no
tempo, por sua vez, elas apresentam semelhanças qualitativas
�J entre si; semelhanças que atravessam o tempo. Em ambas se ve­
rifica que a inversão do sobre-trabalho se faz principalmente
na fazenda, que o valor das terras e dos escravos corresponde
a mais de 50% do valor da fazenda (quadro n9 16). Deste modo
estas fazendas seriam representativas de diferentes fases do
sistema agrário na região. O primeiro grupo retrata um perí�
co em que essa forma de produção vivencia as possibilidades de
realização da reprodução extensiva, de "alargamento" do prece!
so de produção, em Paraíba do Sul. O segundo grupo com maior
presença de escravos e de cafezais sugere a realização, na re-
"

,,,
Valor (X) doe Inatrumento1 de Trabalho (Enxadaa, foice,, Cavadeira• a Machado,) ea difarente1 Uoidade1 da Produção 'i

0
Terras+ Cultura•+EdiflcaçÕe1 +Equi pamento•+ Instrumento• de Trabalho+Ani ..i1 + E1cravoa•IOO

1
Inventário Ano Terras % Culturas X Editicaçõea X Equipamento• %
Instr. X Aniuil X Eacravo1 X 1 Total 1 1�
Trab.
Anlonio Ãlvarea de Queiroz 1850 2:700$000 27,2 2:070$000 20,9 600$000 6, I - - l1$800 O,l 123$000 1,2 4:)90$000 44,3 9:914$800 �
Joaquina Ro•� de Je5u1 1850 l:936$000 27,418 120$000 0,8Ju l:f.10$000 25,146 120$000 0,8)6 1$320 o· °" � )18$000 2,215 6:250$000 43,538 14: 355$ )2()
Domingos TeiKeira Alve1 1850 9:610$000 12,64 19:920$000 26,20 4:l70$COO 5, 75 2:000$000 2,6) )4$600 0,04 11 )57$600 1,79 )8: 736$000 50,95 76:028$200 •O
�lant,el Pedro de Olivei.ra 1856 8:4)2$000 11,5 5:732$000 7,8 4:460$000 6, I 2:950$000 4 110$000 0,2 11727$000 2,4 4j:730$000 68 73: 14 ISOOO .__.
lJ1
J�sê ��ria Ncvca 1860 1:500$000 12,04 1:000$000 8,0) 1:250$000 10,0) - - 6$920 0,06 - - 8:700$000 69,84 12:456$!1�0
ilaxiano t.ntonio da Silva 1860 )8:400$000 55,72 2: !00$000 ),05 2:050$000 2,98 1;400$000 2,0) 14$000 0,02 800$000 l, 16 24: 1�6$000 35 .o� 68:910$000
Quinlilhiana Maria de Juu1 1870 4:421$000 29,38 5:175'000 )4,)9 1:245$000 8,27 625'000 4,15 11$2�0 0,07 �73$000 ),81 1,oooiooo 19,9) 15:0501150
Magdalena Ha.ria Pereira 1870 5):)56$000 22,98 H:150$000 20,ll 2): 505$000 10, 1l 5:590$000 2,41 88$)91 0,04 8: 130$000 ),5 94:))6;000 40,6) 232:145$391
�Wn��l francisco Ribeiro 1880 2:778$000 7,4 8:)80$000 22,3 410$000 1,1 500$000 0,1 l8$b00 0, I 123$000 0,9 25:52J$000 68, 1 37: 502$600
francisco Com<!s de ARuiar 1880 )7:550$000 20 95 �2:)60$000 �l.6� 12:180$000 6 79 15:�)6$000 8 61 57$000 O 03 2:413$000 1 )4 69:lOOfOOO )8,65 179: 27t>$00C

fM.a.; .r���- wJA-"-'� � 1JJ 0J�� d..t /V�� cb. �� � �t

\D
N
93.

qião, de reproduções extensivas pretéritas, de incorporação de


mais força de trabalho e de transformação de matas em cafezais.

QUADRO N9 16

Investimentos em doía grupos _de Fazendas em épocas diferl'ntcs (1850/60 - 1874/81)


':ALOR

H9 de rn- Áree N9 de H9 de de % d• f•-


Terr:o• C•!nai• Edifica- Equip.imen- Animeis Escravo• �·azenda
ventârio1 Escra- Pêa de zencJa no
ÇÕH toa
voe Café Honce-MÕr

19 Grupo
1850/60 3 721 ll8 217.000 81 :000$000 38:836$000 27:426$000 7:095$000 ):865$000 ll9: 997 $000 298:219$000 91,4
27 ,ll 13% 9,2% 2,4% 1,3% 46,9% 100%

29 Grupo
1874/81
L,t 713 583 1317.000 84:8� 0!�º 26 7: �º!�ºº 67 :1� $000 s 1: 9 0 00 15: 0 ��'ºº
� 418, Hº'�ºº 904:��,!,!5ºº 90
� ; �� �

Fonte: Invencârioa - Cartório do 19 Ofício de Paraíba do Sul,

j
94.

Parece-nos que no entendimento daquele fenômeno, util�


zação do sobre-trabalho em relação à lavoura, devemos ter em
mente o sistema de uso da terra vigente na base do sistema a­
grário. Isto é, trata-se de um sistema de uso em que a inver­
são de trabalho por alqueire é reduzido, e considerando corre­
ta a tese de Ester Boserup de que a mudança técnica leva a um
aumento de tempo de trabalho dispendido na agricultura! isso
explicaria aquela utilização do sobre-trabalho em re lação à la
voura, isto é, não gerando urna mudança técnica.
Por sua vez, esta reprodução extensiva (na agricultura)
possui os seus limites. Em outras palavras, o modo de uso da
terra adotado, ao mesmo tempo, em que implica na redução do
tempo de trabalho agrícola, por outro lado, gera no tempo a­
quilo que Witold Kul a denomina, para os sistemas de economia �
grária extensiva (na qual o incremento das forças produtivas
se faz principalmente através do aumento da superfície cultiv�
da), de "degradação", isto é, diminuição da capacidade de re-
· . (60)
produçao
- que a unidade de produçao
- representa em potencia l.

Em nosso caso esta "degradação" se traduzia na diminuição das


matas e no esgotamento das terras (Gl) . E isso é observado por
F. Belisário em seu pronunciamento à Exposição do Café de
1882:
"Nós observamos no Brasil sempre este processo: abre­
se urna fazenda que tem um valor dado, este valor pro
gride à medida que se fazem obras, que se plantam ca
fezaes e se funda a lavoura, mas para em um momento�
vai decrescendo, decrescendo, até desaparecer; as
terras vão-se esgotando e o próprio estabelecimento,
os edirícios, os machinismos, as quédas de água, et�
ficam completamente depreciadas, por que as terras es
gotaram-se" (62 )

o conceito de degradação, por outro lado, nos permite?!:


ter a relação entre sistema agrário e região. Tendo em conta a
inexistência de um período de pousio e que a lógica deste sis­
tema agrário liga-se à presença da fronteira móvel, a reprodu -
ção simples ca fazenda é ao mesmo tempo a redução das suas pos­
sibilidades e existência. Feita pela incorporação de mais ter­
ras, a fazenda de café neste sistema agrário tem o seu período
de vida vinculado à presença das matas virgens. E o mesmo po­
de ser dito para uma região historicamente definida. Com isso
* Referino-nos a tnna mudança técnica que ircplicasse na adubação e no prepa
ro nais sistemático das terras substituindo as derrubadas, queimadas das
matas e uso das cinzas etc. Ester Boserup, op.cit. p.51 a 54.
95.

pretendemos dizer que há no tempo urna "disjunção" entre a re­


gião e o seu sistema agrário, enquanto a primeira tem sua vi­
da lirni tada a uma área circunscrita e o segundo tem a ·sua exi�
tência ligada à fronteira, podendo assim, ultrapassar os lÍrni
tes daquela, indo em direção a outras regiões.
Isto é, entendendo esse sistema agrário corno urna for­
ma de produção ligada à fronteira móvel, o seu movimento ul­
trapassa os próprios limites de urna região enquanto área geo­
graficamente restrita. E, nessa medida, se a "degradação" nu­
ma dada região implica na redução das suas possibilidades de
reprodução consoante os mecanismos daquele sistema, isto não
quer dizer necesariarnente o desaparecim�nto desse último, des
de que exista a fronteira aberta.

2.4. Sobre-trabalho e Sistema Agrário


Ao que tdissemos nas páginas precedentes sobre siste­
ma de uso da terra e técnicas de produção, para efeito do sis­
tema agrário que estamos estudando, devemos acrescentar que p�
ra se extrair o sobre-trabalho do trabalhador direto e, porta�
to, para se tornar viável aquele sistema, é necessário que a
classe dominante agrária implemente mecanismos que lhe permi­
tam o controle sobre a terra ou sobre o trabalhador direto. E
isto é explicado, ainda, pela baixa relação população-terra,ou
seja, em condições de pequena concentração populacional o pro
dutor direto pode sobreviver, devido à extensão territorial,rn�
diante um sistema de uso da terra que lhe demande um pequeno
G3
tempo de trabalho ( ) . Por conseguinte, para que este prod�
j tor trabalhe além do tempo de trabalho necessário para a repr�
dução de sua vida material e para que este trabalho excedente
se converta em trabalho extorquido, é necessário a existência
de um daqueles mecanismos acima referidos. Ou melhor, a clas­
se dominante deve imprimir mecanismos de controle sobre o tr�
balhador, sejam eles diretos (escravidão) ou mediatizados pela
terra. Até 1888, esta situação se traduzia na escravidão: ou
melhor, num tipo de relação de produção em que o trabalhador di
reto era propriedade do fazendeiro.
Entretanto, por outro lado, essa necessidade de contr�
* Cem isto nao pretendercos afinnar que a escravidão decorra siroplesrrente de
"um jogo entre o fator terra e· o fator força de traballlo". (Ciro Flamarion
cardoso e Héctor Perez Brignoli, op. cit.p.199). A nossa preocupação foi
sanente de apontar, dentro das condições acima expostas, para a necessida-
96.

le sobre a força de trabalho ou sobre a terra, não explica por


si só um outro traço das relações de produção presente neste
sistema agririo, que é a "associação" do trabalhador direto �s
meios de produção, reproduzindo parcialmente a sua vida mate-
rial à margem do mercado. Afinal, em tese, o produtor direto
pode ser escravo e, ao mesmo tempo, ter a sua existência ma­
terial reproduzida mediante à comprada meios de subsistência
retirados (totalmente) do mercado.
O que dissemos é apreendido,particularmente,numa conta
de tutela d: 18 7 9 em que o Curador Geral da Comarca de Paraíba d:>
Sul retira do Tutor (curador) a gerência da fazenda do menor,
por que esta estaria sendo mã administrada. A "mã e ruinosa a�
ministração do curador, se verifica pelo avultado de forneci­
mento de gêneros alimentícios, que é excepção da regra, as fa­
zendas bem administradas não importam, porque consistem em ar­
(64) .
roz, feijão e milho que nas fazendas se plantam" Em outras
palavras, a :boa fazenda",portanto a que não foge à regra
neste sistema agrãrio, é aquela em que o trabalhador direto a­
parece "associado" aos meios de produção reproduzindo a sua
vida material parcialmente à margem do mercado, é aquela cujo
tempo de trabalho do trabalhador direto se desdobra em mercado
rias e gêneros de subsistência. A nosso ver, o conceito de
"boa fazenda" emitida pelo Curador Geral é construida a partir
da lógica daquele sistema agrãrio.
Em outras contas de tutela, da mesma forma, encontramos
referências à produção de alimentos por parte dos escravos no
interior da fazenda de café. Além das duas contas citadas an­
teriormente (fazenda Cachambú e Bom Sucesso), na fazenda dos m�
nores de Maria Joana da Silva Ribeiro em 1854, hã·indicação des
sa produção através da venda pelos seus escravos de gêneros a
(6 )
fazenda. S A isto poderíamos acrescentar a presença de equip�
mentes de beneficiamento de alimentos nas fazendas, como jã vi­
mos, ou ainda, passagens de viajantes como Francis Castelnau s�
bre a fazenda da Serraria. Esse último, referindo-se especifi­
camente aos casais de escravos, afirma que "cada casal recebia
- . , (66)
em dote uma porçao de terreno que cultivava a sua vontade".
Em síntese, o trabalhador direto deste sistema agrãrio,
reproduzia sua vida material mediante a produção e apropriação
de existencia de "rnecanisrros" que impeçam o acesso do trabalhador, en­
quanto "proprietário", aos meios de produção (particulannente à terra).
97.

direta, sem a mediação do mercado, da maior parte de seus gen�


ros de subsistência. E esses consistiam basicamente em milho,
feijão e mandioca, eram esses os principais elementos da dieta
dos escravos� 67 )
Esses alimentos eram produzidos por meio de um sistema
de uso da terra, aquele presente na agricultura de alimentos ,
G
que por demandar um pequeno tempo de trabalho ( S) , permitia ao
trabalhador direto dedicar a maior parte de seu tempo de trab�
lho à materialização de trabalho excedente ( que é produção pa­
ra exportação),ou que é o mesmo, ao sobre-trabalho extorquido�
6 9)
los proprietários dos meios de produção! Era este sistema ex
tensivo ( rotação de terras), cuja tradução é um pequeno tempo
de trabalho/baixos custos de produção que possibilitava a con­
figuração de relações sociais de produção onde o trabalhadordi
reto aparece "associado" a seus meios de produção, produzindo
e se apropriando diretamente de seus meios de subsistência.
Em outras palavras, por um lado, frente a possibilid�
de ( dada pela baixa relação trabalho-terra) de desenvolvimento
de urna agricultura extensiva de alimentos como base da vida a�
tônoma do produtor direto, a classe dominante agrária cria me­
canismos de controle sobre a força ae trabalho. Por outro la­
do, esta mesma forma de agricultura de alimentos, é levada pa­
ra dentro da fazenda, transformando-se aí em um elemento na
extorsão do sobre-trabalho.
O Barão de Paty de Alferes, em sua Memória, coloca que
o milho poderia ser plantado em três diferentes espaços da fa­
zenda: em derrubadas de matas virqens, entre os cafezais no­
'l (?O)
vos e em capoeiras . Entre os-cafezais, esta cultura pode­
ria ser desenvolvida pelo menos durante os quatro anos de for­
mação do cafezal. Assim plantado o milho, as capinas e colhe!
tas do cafezal eram organizadas não somente em função das exi­
gências do café, mas como também daquela plantação. Isto é,�
lizadas geralmente entre maio e setewbro, as colheitas do caf�
zal começavam antes e terminavam depois desse tempo, isso por­
que a colheita do milho se dava no início do ano e a sua plan­
tação em outubro. A combinação da plantação do milho com a do
café representava uma diminuição a mais no tempo de trabalho na
98.

produção do primeiro.
Outro espaço ocupado pela produção de mantimentos era
7l
o das capoeiras. Tschudi ( ) faz referência ao fato de que os
fazendeiros na região do Rio consideravam que as terras em ca­
poeiras, onde já existiu um cafezal, não se prestavam mais pa­
ra o mesmo fim sendo, contudo,_utilizadas após um certo perío-·
do de pousio para outras culturas. A mesma indicacão encontra
> -

mos em passagens da conferência de F. Belisário na "Exposição


de Caf�": "Até hoje o lavrador derruba matas para plantar ca­
fezaes e sapeca todas as suas capoeira, todas as suas outras
terras, para plantar os cereais 11( 72) .
Quanto aos custos de produção dessas plantações de al!
mentes, podemos ter uma referência a partir de seu valor. Na
fazenda Penedo, o valor dos 1.000 alqueires de colheita de mi­
lho(que forneciam os 10 alqueires àe planta) era de 1:000$000 ,
valor igual era dos 400 alqueires de colheita de feijão retira
dos do 20 alqueires de planta. A sorna desses valores
(2: 000$000) correspondia a 0,77 do valor total da fazenda

(260:429 $200). Os 4.542 alqueires de colheita de milho somaJ.os


aos 1.420 alqueires de colheita de feijão nas três fazendas do
Barão de Entre Rios correspondiam a 3: 1 15$ 750, isto é, aproxi­
madamente a 0,2% do monte-rnór do inventário que era de
l: 569: 303 $468 (73) . No que diz respeito ao tempo de trabalho,�
gundo Van Del den Laerne, esses alimentos demandavam mais ou me
nos duas horas de trabalho diários (74 ) , isto é, esse tempo d;
trabalho era suficiente para que o produto direto produzisse
parte de sua vida material (alimentos).
Por outro lado, deve-se ter claro ta�bém que aquela"a�
sociação" do trabalhador direto aos meios de produção aparece
corno condição para a extorsão do sobre-trabalho. Estamos tra
tando de um sistema agrário que, ao mesmo tempo, ero que se e�
contra ligado ao mercado externo, sendo uma forma histórica de
extorsão do sobre-trabalho, a sua reprodução adquire um cará-
ter extensivo. A sua característica principal, ao lado da in
corporação de mais terras e força de trabalho, reside na nao
mudança técnica, isto é, na repetição de um mesmo processo de
produção. Nesta medida, o aumento do sobre-trabalho ou que
99.

é o mesrno,do trabalho excedente não pode ser feito, em tese,


através de urna mudança técnica que levasse à diminuição do tra
balho necessário na produção dos gêneros de subsistência.
Por sua vez, é necessário lembrar, ainda, que se os
preços dos meios de produção podem ser transferidos para o
preço final do produto da fazenda podendo assim, para efeito do
cálculo do sobre-trabalho apropriado pelo fazendeiro, ser con­
siderado igual a zero, o mesmo não se dá com os custos refere�
tes à força de trabalho. Os custos com esta última se tradu­
zem no tempo de trabalho necessário, isto é, naquela parcela da
jornada de trabalho necessária para a manutenção do trabalhador
direto, e nesta medida o seu aumento implica numa redução do
trabalho excedente, ou que é o mesmo, na redução do sobre-tra­
balho apropriado pelo fazendeiro. Ora no sistema agrário que
estamos tratando, o nível das forças produtivas nele presente,
o caráter extensivo de sua reprodução, estabelece um frágil e­
quilíbrio entre o trabalho necessário e o excedente, e isto se
dá em circunstâncias de contínua incorporação de mais força de
trabalho o que, em tese, podia elevar os custos de sua reprod�
ção, caso essa se desse mediante a retirada integral dos man­
timentos do mercado.
Na fazenda Cacharnbú, por exemplo, as despesas com os
alimentos comprados no mercado r�presentararn de 1880-82 uma
participação de 39% no custo total com a força de trabalho es­
crava e considerando apenas um produto (feijão) observamos que
o seu preço médio (por saco) em 1880 era de 8$955 e que passa­
ria no ano seguinte para 16$389, isto é, subiria 83% de um ano
para outro (gráfico n9 4 ). E isso se dava em condições em que
a produtividade do trabalhador direto na lavoura de café se
mantinha constante, como já pudemos ver no estudo desta fazen­
da. Por conseguinte, em tese, nas condições técnicas deste�
tema agrário, aquela subida de preços de gêneros representava
urna diminuição do sobre-trabalho. Em vista disso, o trabalha­
dor direto ao reproduzir a sua vida material, parcialmente, a­
través de urna produção de alimentos no interior da fazenda, m�
diante um sistema de cultivo que representa um pequeno tempo ce
trabalho, e isto feito à margem do rnercaco, de suas variações,
100.

garante a manutenção daquele equilíbrio e com isso a manute�


ção da taxa de sobre- trabalho. E deste modo, garante a repro­
dução do sistema agrário como repetição de um mesmo processo de
produção. (Ver gráfico n9 4).
Assim sendo, entendemos que na apreensão da " associa­
ção" do trabalhador direto aos meios de produção devem ser con
siderados três pontos: 19 a baixa relação população-terra faz
com que a extorsão do sobre-trabalho esteja ligado à existên -
eia de Mecanismos de controle sobre a força de trabalho; 29 a
produção de alimentos no interior da fazenda de café é viável
por estar assentada em um sistema de uso da terra que represe�
ta uma pequena inversão de trabalho por alqueire, significando
assim um pequeno tempo de trabalho, o que por sua vez permite
que o trabalhador dirac dedique a maior parte de sua jornada ce
trabalho à materialização do trabalho excedente; 39 o nível
das forças produtivas presente neste sistema agrário historie�
mente definido,o caráter extensivo de sua reprodução, estabele
ce um frágil equilíbrio entre o tempo de trabalho excedente e
o necessário, nestas condições, à produção de alimentos pelo
trabalhador direto e, portanto, a sua reprodução feita parcial
mente à margem do mercado permite a manutenção da taxa de so­
bre-trabalho.
Outrossim, considerando que a fazenda de café se assen
tava numa forma de produção voltada para a extorsão do sobre
- trabalho e se partimos desse pressuposto, desvanece a separa­
ção (o dualismo) entre lavoura de alimentos e de exportação no
interior da fazenda. A interpenetração de ambas não se deve a
penas ao fato de serem ambas cortadas pelo mesmo nível técnico,
esta interpenetração deve ser procurada na própria produção do
sobre- trabalho.
Pelo que dissemos acima, percebe-se que no interior de
uma fazenda de café há uma combinação das variações do sistema
de uso da terra a que nos referimos no primeiro capítulo: rot�
ção de terras na agricultura de alimentos e matas/sero pousio da
terra na lavoura do café. Esta combinação possibilita que os
custos e o trabalho incorporado na reprodução da lavoura sejam
reduzidos e, por outro lado, permite a existência de relações
não-capitalistas de produção.
-� 101.


GÚl'ICO NO 4

Variação do preço de um s.�co e.o feijão compra.do pel '3 Fazenda /


Oacb·1mbÚ entre 1880 a 1882
Índice 100 - 11.449 (média do periodo considerado)
...
Mes Ano Pre20 - índice

• •arço
Abril
1880
1880
93036
asooo
79
70
�osto 1880 93007 79
Janeiro 1881 14$167 124
Fevereiro 1881 15$500 135
Abril 1881 18$000 157
P0vereiro 188� 10$014 87
M,iio 188� -· _ 9$625 84
Agosto 1882 131025 114
Outubro 1882 98535 83
Novembro 188� 10$031 88


i ..
157
....

,10! '

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1 124
' 114
I

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88
79 87 84 83
· 79
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6()°

• ·? o
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o .....-...
t
_....._ _......_...... _... �-......,_...._.
• JPM1MJJlSUN DJP��MJJASONDJ�MlMJJ\SOND
1880 1881 1882
• � ·• -'º
·.�..1T}: Conta de Tutela, 1882, Menores de Maria Tavares Mont::!iro, maço
102.

NOTAS - 29 CAP!TULO
1 - Emilio Sereni, "Los Problemas Teóricos y r=etodologicos",in:
Emilio Sereni et. al. , Aqricultura y Desarrollo del Capita
lismo (Madrid: Alberto Corazon Editer, 1974) , pp. 43-111-
2 - Pierre Vilar, "Crecimiento Económico y Análisis Histórico,
in: Crecimiento y Desarrollo - Economia e História, Refle­
xiones sobre el Caso Espanol, 29 ed. (Barcelona: Editorial
Ariel s.A., 1974) , p. 19.

3 - Emilio Sereni, op. cit, p. 50.


4 - Idem, Ibidem, p. 51.

5 - Pierre Vilar, op. cit., p. 19

6 - Francis Castelnau, Expedição às Regiões Centrais da Améri­


ca do Sul. 2 tomos (Rio de Janeiro: Cia Editora Nacional ,
1949) , p.119.
7 - J. J. Von Tschdui, Viagem à Províncias de Rio de Janeiro e
são Paulo (Belo Horizonte: Ed. Itatiaja; são Paulo: Ed. da
"" Universidade de são Paulo, 1980) , p. 60.
Sobre a mortalidade infantil entre os escravos ver tam
bém Stanley Stein, Grandeza e Decadência do Café no Vale cb
Paraíba - com referência especial ao Município de Vassou -
ras (São Paulo: Editora Brasiliense, 1961) , p. 5.

8 - A matrícula especial de escravos, autorizada pela Lei do


Ventre Livre ( 1872) , foi feita entre primeiro de abril de
1872 e 30 de setembro de 1873. Nesse período a lei obrig�
va ao senhor responder duas vias, e entregar as autorida -
des, um formulário irnpresse, que continha: o nome, cor, i­
dade, estado civil, naturalidade, filiação, aptidão para o
trabalho e profissão de cada escravo. Robert w. Slenes,"O
que Rui Barboza não queimou: Novas Fontes para o estudo da
escravidão no século XIX� mirneo, s/data, p.5.
Verificamos em Paraíba do Sul que os inventários de
1880 forneciam esta matrícula acrescida de informações qmn
to a forma que fora adquirida o escravo, se por "cria, he­
rança ou compra".
103.

9 - Segundo o censo de 1872, a população escrava total do mu­


nicípio era 14. 902 sendo: 9. 982 (67%) originária do Rio de
Janeiro, 1. 680 ( 11,3%) de outras Províncias e 3. 240 (21,�
africanos. As cifras retiradas dos inventários (Matrícula
Especial de 1872), não estão Muito longe desses números
63,8% eram originários do Rio de Janeiro, 9,6% de outras
Províncias e 26,6% africanos.
10 - Inventário, 1880, Falecido - Francisco Gomes de Aguiar,m�
ço n9 199, CPS.
11 - Inventário, 1880, Falecido - Antônio Jacinto do Couto, ma
ço s/n9, CPS.
12 - o estabelecimento da faixa etária de 15 a 40 anos como o
período produtivo do escravo para os trabalhos da lavoura
se fa z conforme a observação de Stanley Stein, op. cit,p.
9 3.
13 - Louis Eenry, Técnicas de Análise em Demografia Histórica
(Curitiba: Universidade Federal do Paraná, 1977), p. 23.
14 - Devido a forroa como fora organi z ado o censo de 1872, não
nos foi possível utili z ar as faixas de idades convencia -
nais: 0-19 anos (jovens), 20-59 anos (adultos) e 60 e
mais (velhos). Em vista disso recorremos a um outro tipo
de classificação, presente no texto.
15 - As presentes cifras correspondem a participação dos gru­
pos de idades nas populações em questão (masculina/livre
masculina/escrava etc).
16 - Todo "modo histórico de produção tem suas leis próprias de
população, válidas dentro de liroites históricos."
I<arl Marx, O Capital, livro 1,29 volume, 39 ed. , (Rio de
Janeiro: Civili z ação brasileira, 1975), p. 733.
17 - Idem, Ibidem, p. 659.
18 - Francisco P. de Lacerda Werneck (Barão Paty de Alferes)
Memória sobre a Funda ção e Custeo de uma Fa. z enda na Provín
eia do Rio de Janeiro (Fio de Janeiro: Eduardo & Eenrique
Laermmet, 1978), p. 37.
19 - Idem, Ibidem, p. 37.
104.

20 - Conta de Tutela, 1887, dos Menores de Maria Tavares Mon­


teiro, maço n9 125, CPS.
21 - Inventário, 1850, Falecido Domingos Teixeira Alves, maço
n9 26, CPS.
22 - Inventário, 1880, Falecido - Francisco Gomes de Aguiar, m�
ço n9 199, CPS.
23 - Inventário, 1881, Falecido - Barão do Rio do Ouro, maço
s/n9, CPS.
24 - Jornal da Agricultor (Rio de Janeiro, 1882).
25 - Francisco P. de Lacerda Werneck, op. cit, p.63.
26 - Idem, Ibidem, p. 67.
27 - Conta de Tutela, 1879, Tutor-Laurentino Caetano do Vale
maço n9 73, CPS.
28 - Conta de Tutela, 1887, dos Menores de Maria Tavares Montei
ro, maço n9 125, CPS.
29 - Conta de Tutela, 1882, da Menor de Barão do Rio do Ouro
(Lia Pereira da Cunha), maço n9 125, CPS.
30 - Inventário, 1863, Falecido - Barão de Entre Rios, maço
s/n9, CPS.
31 - Consideramos que 1 alqueire corresponde a 4 0 litros. Au­
guste de Saint-Hilaire, Viagem pelas Províncias do Rio
de Janeiro a Minas Gerais (Eelo Horizonte: Ed. Itatiaia ;
são Paulo: Ed. da Universidade de são Paulo, 1975), p. 172.
32 - Inventários, 1860, Falecida - Ana Candida Barbosa, maço
s/n9, CPS.
33 - Declaração de Thomas Ferreira Xavier, Paróquia de são Pe­
dro e são Paulo, Livro n9 42, in: Paraíba do Sul, Fecris -
tro de Terras em 1854 realizado em 1856-57, 5 Livros. Ar
quivo Público de Niterói.
34 - Francisco P. de Lacerda Werneck, op. cit., p. 51.
35 - John Luccok, Notas sobre o Rio de Janeiro e Partes MeridÊ'
nais do Brasil (Belo Horizonte: Ed. Itatiaia; são Paulo :
Ed. da Universidade de são Paulo, 1975), p. 295.
105.

36 - O presente quadro baseia-se, parcialmente, em Ciro F. s.


Cardoso e Héctor Pérez Brignoli, Eistória Económica de A­
mérica Latina, 19 tomo - Sistemas Agrários e História co­
lonial (�arcelona: Editorial Critica, 1979), p. 195. E
mais em Inventários - Cartório do 19 Ofício de Notas - Pa
raiba do Sul.
37 - Conta de Tutela, 1873, Tutor Laurentino Caetano do Vale,
maço n9 73, CPS.
38 - C.F. Van Delden Laerne, Le Brésil et Java Rapport sur la
Culture du Café en Amérique, Asie et Afrique (Paris: Mar
tinus Ni jhoff/Chellanei, 1885), p. 254.
39 - Inventário, 1863, Falecido - Barão de Entre Rios, ma-
ço s/n9, CPS.
Inventários, 1864, Falecido - Baroneza da Parahyba, ma­
ço s/n9, CPS.
4 0 - Inventário, 1880, Falecida - Maria Tavares Monteiro, ma­
ço n9 199, CPS.
Conta de Tutela, 1882, dos r�enores de Maria Tavares Mon­
teiro, maço n9 199, CPS.
Conta de Tutela, 1883, da Menor do Barão do Rio do Ouro
(Lia Pereira da Cunha), maço n9 125, CPS.
4 1 - Conta de Tutela, 1887, dos Menores de Maria Tavares Mon-
teiro, maço n9 125, CPS.
42 - Idem, Ibidem.
43 - C.F. Van Delden Laerne, op. cit., p.260.
44 - Jacob Gorender, O Escravismo Colonial, 29 ed. (São Paulo:
Editora Ãtica, 1978) p. 188-89.
4 5 - Idem, Ibidem, p. 188-89.
46 - Stanley Stein, op. cit. p. 220.
47 - e. F. Van Delden Laerne, op. cit. p. 59.
As melhores colheitas provém de plantações de 7 a 18 anos
de idade, começando aí o declínio, pois plantações de 24
a 26 anos não produzew nem a metade em relação aos anos
anteriores".
J. J. Von Tschudi, op. cit, p. 40.
106 .

4 8 - Conta de �ute la , 1 8 5 4 , dos Menores de Joana da S i lva Pi­


beiro , maço s/n9 , CPS .
4 9 - Karl Marx , O Capital , Livro 3 , 6 volume , op . ci t . p. 7 1 1 .
5 0 - Inventário , 1 3 8 0 , Falecido - Franci sco Gome s de Agui ar , m�
ç o n9 199 , CPS .
5 1 - Inventãrio , 1 8 8 0 , F alecido - Francisco Barbo z a Teixeir a , ma
ço s /n9 .
Inventário , 1 8 8 0 , Falecido- Maj or Manue l Lui s Werne ck , ma­
ço n9 9 7 , CPS .
5 2 - Inventários : 1 85 0 , Anse lmo Pereira Rei s , maço n9 2 6 .
1 86 0 , Gui lherme Francisco Rodrigue s ,maço n9
26.
18 6 0 , J.'.n a Lima Machado , maço n9 2 6 .
1 8 7 4 , Mariana Cândida de Oliveira , maco n9179.
>

1 8 8 0 , · Francis co Gome s de Agui ar ,maço n9 1 9 9 .


1 8 8 0 , Antonio Jacinto do Couto , maço s /n 9 .
1 8 8 1 , Barão do P�o d o Ouro , maço s/n 9 .
Cartório d o 1 9 ofício de No tas de Paraíba do Sul .
5 3 - Inven tário , 1 8 8 0 , Fale cido - Francisco Gomes de Aguiar ,ma_
ço n9 199 , CP S .
5 4 - Inventário , 186 0 , Falecido - Manuel Pedro de Oliveira , ma
ço n9 3 5 , CPS .
5 5 - Inventário , 1 86 0 , Falecido - Maxiano Antônio da S i lva Bra­
ga , maço n9 3 5 , CPS .
5 6 - Con ta de Tute la , 1 8 82 , Menores de Maria Tavares Monte iro ,
maço n9 199 , CPS .
� 5 7 - S tanley S tein , op. cit. p. 2 82 .
5 8 - Inventário , 1 8 7 0 , Falecida - Magdelena Maria Pere ira , ma­
ço n9 12 , CPS .
5 9 - Inventário , 1 8 6 0 , Falecido - José Maria Neve s , maço n9 2 6 ,
CPS .
6 0 - Witold Kula , Teoria Econômica do S i s tema Feudal ( Li sboa: Edi
torial Presenç a , 197 9 ) p. 32 e 6 5 .
6 1 - Por e s go tamento da terra , entendemos uma situação em que ,
mantidas constante s as técnicas , in s trumentos de trabalho
e s i s tema de uso da terra , o contínuo uso da te rra re-
.,,.
107.

sulta na diminuição da produtividade da terra. For con­


seguinte, não se trata de um esgotamento em si da terra,
caso se mude as .técnicas/instrumentos de trabalho e siste
ma, de uso da terra, se inverta trabalho adicional ao s�
lo, a terra poderá vir a recuperar a sua antiga fertilida
de.
62 - F . Belisário, "A Situação Actual da Cultura do Café no no
Brasil" in : Revista Agrícola do Imperial Instituto Flumi
nense de Agricultura (Rio de Janeiro: Imperial Instituto
Fluminense de Agricultura, 1 8 82). p. 212.
63 - E ster Boserup, Las Condicione s del Desarrollo en la Agri-
cultura (madrid: Editorial Tecnos,
. 1967) p
. . 123 e 124
Ensey D. Domar "The Causes of Slavery and Serldom: A
Eypothe sis" in: The Journal History, march, 1 977, pp. 1 8
a 32.
64 - Conta de Tutela, 1879, Tutor - Laurentino Caetano do Valle
maço n9 73, CPS.
65 - Conta de Tutela, 1854, Menores de naria Joana da Silva Ri
beiro maço s/n9, CPS.
66 - Francis Castelnau,op. cit , p. 119 .
67 - J. J. Von Tschudi, op . cit , p. 5 8; Luis Conty, "L ' Alimen­
tation au Brésil et dans le s Pays Voisins ", in: Revue
d ' Hygiene et de Police Saniteire, III (março de 18 81 ) , ci
tado por Stanley Stein, op. cit,p. 208.
6 8 - E ster Boserup, op. cit, p. 123.
6 9 - "Donde el cultivo con barbecho largo e s una ocupaci6n sub
sidiaria resulta evidente que se neces sita pequena canti­
dad de trabaj o para producir el alimento de una familia
con e se método. En América y parte de Africa los pasto -
re s de ganado y los trabaj adores en las plantacione s y
granja reciben una parcela con el prop6sito de que prod�
zam por si me smos el alimento que han de consumir, empl�
ándose para elle generalmente un sistema de barbeche lar
go. Esta gente produce así el alimento, para ellos mis
mos para su familia, con muy poco trabajo. De e sta for­
ma pueden dedicar casi todo su tiempo de trabajo a sus p�
.... trone s " · E ster Boserup, op. cit, p. 81 ; Leo Waibel, se re
108.

fe re a un sistema de rotação de te r r as, presente desde a


colonia (he rdados dos indios), mediante o qual seriam P r o
<luzidos os cer eais (milho, fei j ão e mandioca). E segundo
o autor "este sistema é o emp regado em tod a s as g randes fa
zendas b r asileiras pa ra a p r odução de ce r eais". Leo
Waibel, Capítulos de Geog rafia T ropical e do B r asil, 29ed.
(Rio de Janei r o: IBGE, 1979), p. 245 e 319; Cir o Flama ri-
on, conside r a que uma das pa rticula r idades do escravismo
colonial seria que "una buena parte de los esclavos tenía
una pa r ce la, de un pedazo de tier ra". Cir o F la�ar ion Car ­
doso, "El Modo de P roducción Esclavista Colonial en Amé r i
ca", in: Ca r los Sempat Assadou r ian et. al. , .Modos de
P roducción en América Latina , (Có rdoba: Cadernos de Pas�
do y P r esente, 1975), p. 224 ; Ver também Ci ro Flamarion S.
Car d.:>so, "A b recha camponesa no sistema escravista", in:
Agricultur a, Escravidão e Capitalismo (Pet r ópolis: Vozes,
1979) , pp. 133 -5 4.
70 - F rancisco P. de Lace rda Werneck, op. cit, p. 63.
71 - J. J. Von Tschudi, op. cit, p. 38 e 39.
72 - F. Belisár io, op. cit, p. 212.
73 - Inventá rio, 1863, Falecido - Bar ão de Entr e Rios, maço
s/n9, CPS.
Inventá rio, 1860, Falecida - �.na Candida Barboza, s/n9,CPS.
74 - C. F. Van Delden Laerne, op. cit, p. 307.
1 0 9.

3 . O DEFU7EAMENTO DO S I S TEMA AGR)\_RIO DA E CONOMIA DE EXPORT.ACÃO


NA REGIÃO .
3.1. A "Deoradacão"
A repetição no tewpo da reprodução extensiva do siste­
ma agrário criaria progressivamente, na região de Paraíba do
Sul, uma disjunção entre os dois movimentos que a formam. A
esta situacão chamaremos de definhamento do sistema aarário. Em
outras pal�vras, gradativamente a fazenda de café vir�a a sua
capacidade de realização do segundo movimento do processo de
reprodução exaurida, até chegar ao ponto de vivenciar apenas,
devido à longevidade do café, uma reprodução anual que, no te�
po, já possuia os seus limites. Por conseguinte, a própria �
ma de reprodução extensiva, a repetição em larga escala do si�
tema de uso da terra e das técnicas a ele correspondentes, le­
varia à ruína da agricultura do café na região.
Através do gráfico n9 5 verificamos de 1880 a 1915 a
progressiva eliminação das matas e o avanço das pastagens, is­
to é, de uma "terra" exaurida pela agricultura extensiva e que
portanto, retrata reproduções ulteriores do sistema agrário na
região. Em 1880, as matas representavam mais ou menos 25% das
terras enquanto que os pastos 11,5%; trinta e cinco anos mais
tarde, as matas passariam a corresponder a 3% e os pastos 82 � %
das terras das fazendas. E a este gráfico associamos um ou­
tro (n9 6) , este de 1850 a 1910, que demonstra o envelhecime�
to dos cafezais no interior da fazenda traduzindo, portanto, a
incapacidade da fazenda, no decorrer do tempo, de plantar no­
vos cafezais que venham substituir àqueles. Em 1850, 27% dos
cafezais tinham a idade superior a 16 anos e 0,3% mais de 24
anos, sessenta anos depois (1910), 97% dos cafezais encontra -
dos nas fazendas inventariadas tinham a idade superior a 24 a­
nos . A co�binação dessas informações nos permite inferir a
diminuição da capacidade de reprodução da fazenda de café da
região, dentro dos parã�etros daquele sistema agririo.
Por outro lado, essa situação de"crise", em 1881, pode
ser retratada pelos nú�eros de hipotecas de Paraíba do Sul no
Banco do Brasil em 1881. Nesse ano, das 341 hipotecas rurais
do Rio de Janeiro, 32 (10,19%) eram de Paraíba do Sul. Essas
110.

GRÍ.PI 00 NQ 5

.(REI\ ( % ) das :Matas e Pastos nas Pazendas de Pa.ra{ba do SU1 (1880 -


1895 - 1905 e l.91 5 )
matas + pastos � terras em cUl turas + capoeiras � 100 �
t.

'I,
100
A � de Matas
B � de Pastos
90
( 82 ,1 )

/
,•
8 1
0
70 ( 68 , 1)/
1
60 !
50 .l
1
':!

40 J

30 1 .. J

20 ( 2 5.f"�-

10 7/"
(11 , 5 ) --,. - (6) (3 )
(7,5 ) -�
o i - --� ----.------
1 880 1895 l.905 191 5

PONfE: Inventários - Cartório do 1 2 OfÍeio de Notas - Paraíba do SUl


111.

G.RÍFICO N2 6
� dos Cafezais com mais de 16 anos e mais de 24 anos nas Fazendas
de Par�Íba do Sul { 1850 - 1880 - 1910 )

ar, A 1 Cafezais com mais de 1 6 anos


100 :a � Cafezais com m.ais de 24 anos
97

A
90

80

70

60

50
42,9
B
40

30 28 , 3

l
27
l
1A
20
1 B
1
j

10

o1 A
� !. --··

0 ,10 1
ó ;j . -···
1 850 1910
1 880
' )B8: &n 1910 97% doa cafezais com idade sup erior a 24 anos e, consequen-
teman te , com mais de 16 anos

PONTR: Inventários - Cartório do lR Ofício de Notas - Paraíba do Sul


-:;
112.

hipotecas correspondiam a 34 fazendas, 10% do total, e a urna


soma de empréstimos de 1: 763 : 315$ 8 80, isto é, 9,15% do total
dos empréstimos concedidos. Paraíba do Sul, neste momento, a­
parecia como a quinta cidade (de 27 ) da Província em volume de
financiamentos rurais concedidos pelo Banco do Brasil.(l)
Já em 1878, Manuel Ribeiro do Val, um dos representan­
tes do município no Congresso Agrícola, realizado nesse ano no
Rio de Janeiro, colocava que era um erro imenso supor que a d�
ficiência da produção agr!cola, então vivenciada na Província,
se devia única e exclusivamente à falta de braços e de capitais.
Na sua opin ião, só quem não examinava atentamente o "systema �
explorar o terreno sem arte e sciencia, e a marcha que a lavo�
ra tem seguido (. . . ) e as mudanças climatéricas por que �em
passado o Brasil neste último quarto de século que poderia ter
semelhante proposição". Portanto, para este fazendeiro o gr�
dativo extenuamento da agricultura de exportação ceveria ser
procurada na própria forma pela qual ela era desenvolvida. < 2)
O sistema de cultivo, em que as matas ocupavam o lugar
da aplicação de um trabalho adicional na recuperação das ter­
ras, não apenas implicava na redução do espaço futuro da repro
dução do sistema agrário, mas corno também tinha consequências
para as terras, assim corno para os padrões climáticos da re­
gião . A primeira consequência diz respeito ao fato de que a
falta de adubação conjugada à longa duração do café, implicava
no esgotamento dos solos, tornando-os imprestáveis durante um
período para a agricultura. Entretanto, con forme a lógica da­
quele sistema, era mais fácil derrubar novas matas do que re­
cuperar aquelas terras antes utilizadas e agora vistas como se
cas(3).
Outrossim, a derrubada das matas produzia a irregular�
dade das estações e que, por sua vez, agia negativamente sobre
a produção agrícola. Essas irreqularidades se davan numa agri
cultura em que os fazendeiros, como escrevia um publicista em
1877, confiavam "aos movimentos atmosféricos o desenvolvimento
e a fructi f icação do cafeeiro", abandonando-os assiD "a .sua
própria evoluçio" (4) .
Referindo-se à mudança dos padrões climáticos e suas

l.i
113.

consequências pa ra a lavou ra, Manuel Ribei ro do Val afi r ma que �


"Quando nos bons terrpos tínhamos chuvas abundantes de p r incipio
de agosto até fins de �aio do anno seguinte, inter caladas ape
nas de um curto ver anico que nunca excedia de 15 dias, colh ía­
mos abundantes roças e boas saf ras, po r que as chuvas, p r inci -
pal elemento da p r odução e b r otação da seiva em um paiz t r opi­
cal corro o nosso, conco r riam pode rosamente durante nove mezes
alimentando o s cafeei ros com uma seiva abundante, dando tempo
e habilitando-os a se r efazerem de novas hastes e novos r eben­
tos e po r conseguinte de novos f ructos ; ao passo que hoje sofrercos ·
quase senpre de uma secca de 8 a 9 rrezes, can 3 a 4 rreses apenas je
chuvas intercaladas de um ve ranico prolongado, verdadei ro ter
r o r do lavr ado r , que vem corno que de p r opósito mi r r ar a planta
r egada pelo suor neg r o da esc ravidão" . (5)

Contudo, náo era apenas a falta de chuvas, ou rrelh o r , o


desequilíb rio de sua distribuição du rante o ano que afetava a
agr icultu r a . As chuvas to r r enciais combinadas às técnicas de
cultivo em vigo r iqualrr�nte levavaro a urna depaupe rização dos
r solo s . Mais ou menos dez anos antes de Manuel Ribei ro do Val,
-
em 1 9 6 7, Richa rd Bur ton de passaqem po r Ent re-Rios ( então luaa --
rejo de Pa raíba do Sul) observava que : "As chuvas to r r enciais,
seguindo-se às queimadas, a r r astaram o humo car bonífero dos
mo r r os pa ra as dep ressões est r eitas, e pantanosas, que são fr�
as demais pa ra o cultivo ; cada có r r ego é um escoadou ro do ad�
bo líquido que se dirige pa ra o Atlântico, e o solo supe r fici­
al é . de ..oura a r crila"
� . (6)
A repetição das técnicas da p r odução ag rícola levando
à queb ra do ecossistema da região, não é só vista pela mudança
da fisionomia da vegetação, mas também pelas pr agas que afeta­
vam a agricultu r a . Ao lado das fo rmigas, apa rece riam os gafa­
nhotos, a p raga da fe r r ugem, dos passa rinhos et c . (7) E se as
fazendas não investiam na recuperação da fe rtilidade das te r­
r as, o faziam na tentativa de acabar com estas p ragas, at r avés
do emp r ego de formicidas . Em três contas de fazendas (Curate­
la e Inventá r ios) encont r amos, pa ra os anos de 1 8 80, a indica­
ção de despesas com a comp r a de fo r micidas .

Na fazenda CachaFbÚ, de 1 8 8 0 - 1 8 83, a pa r ticipação da


114.

quelas compras nas despesas com a lavoura (instrumentos ce


trabalho e insumos) correspondem a 80% do total. Na fazenda ce
Francisco Gomes de Aguiar, 1 880, entre as despesas (479$820
feitas de maio a outubro daquele ano, a compra de formicida eh:
gava a 420$660, isto é, 52% do total. Somente na fazenda B om
Sucesso (1882-83) é que a compra de formicida tinha uma expre�
são menor dos custos com a lavoura ela correspondia a 19,5% do
(
total (ver quadro n9 10). S)
A conjugação daqueles fenômenos levaria à diminução dé5
colheitas de café na região. Numa conta de tutela de 1874, o
tutor dos menores se queixa da redução do rendi�ento dos cafe­
eiros. "Neste município, de 1860 para cá depois do mal dos
cafezais, as colheitas são exíguas ( . . . ) �ntes dessa epocha mil
pés de café de 12 anos a 2 e 25 davam wna media em um qui�
qÜénio 50 arrobas por ano, mas dali em diante até hoje sobre
essa base não se pode esperar mais de trinta a _trinta e tan­
tas arrobas e isto em bons terrenos e com bom trato do cafeei­
ro" ( 9) •
Entretanto, nao nos parece que aqueles fenômenos pos­
sam ser considerados como mudanças oscilatórias, como poderia
nos levar a� ou diminuição das colheitas numa série de
"anos ruins". O processo de erosão, da terra, a quebra dos
padrões climáticos, decorrências do próprio sistema de uso da
terra viqente, indicam antes rr.udanças acumulativas e direcio­
nais, ( l O ) cuja tradução imediata podiam ser as "más" colheitas
mas que no terr.po levariam à própria degradação da forma de a­
gricultura de exportação na região. Por out ro la<lo, essas mu­
danças, cujo principal elemento era o desaparecimento das ma­
tas, se iniciaram com o próprio sistema agrário em suas ori­
gens, e se identificam com o seu processo de reprodução.
Ao lado do contínuo desaparecimento das matas, o sis­
tema agrário da economia de export ação seria atingido no seu
mecanismo de reposição e aumento de sua força de trabalho. A
abolição do tráfico internacional de escravos, nesmo que aten�
ado pelo inter e intra-provincial, iria prejudicar aqueÊ forne
ciwento que, corno dissemos, se dava parc.lalrr.ente à margem do
crescimento natural da população local. E isso pode ser visto
1 15.

através dos inventários pelo envelhecimento da mão de obra es­


crava masculina. E� 1 850 os escravos com mais de 40 anos cor­
respondiam a 1315% do total em 1 872 esta cifra iria .para 23,3%.
Estas dificuldades com a mão de obra levariam a urna
tentativa de readequação das demais variáveis do sistema. Is­
to é, à falta de mão de obra, os grandes fazendeiros procura­
riam contrabalançar com um certo aperfeiçoamento das técnicas
de beneficiamento e com isto transferir desse setor, para a
( ll)
lavoura, parte do contingente de escravos.
Nos anos de 1 830 na Província do Rio de Janeiro, corno
l2
nos informa Emília Viotti da Costa ( ) , existiam três _ proce�
sos de beneficiamento do café : no pilão, no monjolo ou batido
a vara. Alguns anos depois, ao lado daqueles métodos, surgiri
am novas máquinas : despolpadores, ventiladores e separadores.
Esses dois últimos equipaMentos representavam urna grande econo
mia de mão de obra. Quando movidos a mão eram capazes de sep�
rar 550 arrobas em 12 horas; o número de .arrobas cuplicava
quando eram movidos por força hidráulica. Com os despolpado -
res, foram também introduzidos terreiros de tijolo, pedra ou
rnacadame, que vinham assim substituir os antigos de terra bat�
da. (l J ) Entretanto, essa melhoria nas técnicas de beneficia -
mento não foram acompanhadas por um aperfeiçoa�ento nas técni­
cas da lavoura, corno nos indica o quadro Anexo n9 II pela pre­
sença das capoeiras.
Essa persistência das té cnicas da lavoura ao lado das
novas máquinas de beneficiamento pode ser vista em inventários
como o de Manoel Gomes Vieira da Cruz. Em 1 8 80, a sua fazenda
possuía uma máquina americana de beneficiamento de café, vent�
ladores com roda de ferro, despolpadores e terreiros de pecra.
Atravé s dessa fazenda, percebe-se igualmente que a mod erniza­
ção dos equipamentos não se limitou apenas aos de preparo de
café; essa melhoria abrangeria tarrb érn aqueles ligados à trans­
formação de alimentos. Isto é, ao lado do antiqo moinho de
fubá, com o valor de 100$000, aparece o moinho de fuzis, 500 %
(500$000} mais caro que o primeiro. E isso permitiria a redu-
ção do tempo de trabalho no preparo dos alimentos e, portanto,
urna certa recução do teMpo de trabalho necessário para a repr�
116.

dução do trabalhador direto.


Contudo, junto à esses maquinismos, nesta fazenda, apa
reciam 187,5 alqueires geométricos, sendo 100 (53, 3%) em cu!
turas, 30 (16%) em matas, 50 (2 6, 7%) em capoeiras e 7, 5 (4%}
em pastos ; o que revela a permanência do nível técnico, tanto
na agricultura de café como na agricultura de alimentos. Sen
do que, em termos de idade dos cafezais, 300.000 de 636 .000,
se encontravam numa idade acima de 16 anos, isto é, 4 7, 2% dos
cafezais já estavam saindo da idade mais produtivÁ 1 4 �
Mesmo após a abolição da escravidão, se percebe um
certo desenvolvimento nas técnicas de beneficiamento, através
da presença de debulhadores a�ericanos, máquinas de benefici�
mento movidas a vapor, beneficiadores lidgerwood, etc., nos
inventários das fazendas de café. E is so, portanto, não nos
permite dizer que esta forma de produção era inco�patível com
o desenvolvimento técnico. Entretanto, se contrastamos este
avanço com a permanência das capoeiras nestas mesmas fazendas,
revelando assim a persistência do sistema de uso da terra e
das técnicas na lavoura, isso nos leva a repensar aquele avan
ço técnico. Em outras palavras, o avanço nas técnicas de bene
ficiamento deve ser entendido a partir da própria lógica de
reprodução do sistema agrário. Ao possibilitar a economia de
rnão-de-obra, a melhoria do beneficiamento permite a manutenção,
a não mudança das técnicas da lavoura, garantindo as sim a re
produção do sistema agrário, que se via ameaçado pela carência
de mão-de-obra, por mais algum tempo. Deste modo, aquele d�
senvolvimento técnico deve ser visto como indicaGor da elasti
ciaaae de uma forma de produção cujo fundamento era uma agri­
cultura extensiva.
Partindo ainda da racionalidade desse sistema agrário,
deve- se perceber que se a �uaança nas técnicas de beneficia -
mento repre sentava UP.'a diminuição do tempo de trabalho, o mes
mo não ocorreria com a mudança das técnicas na lavoura, na m�
dida em que essa Última representaria a incorporação de mais
trabalho à terra e, portanto, um aurrento do tempo de trabalho.
Por sua vez, a compra daqueles maquinismos represent�
va a mobilização de uma considerável sorna de recursos. No e
1 17.

xemplo acima citado, o fazendeiro só no despolpador de café


gastou a so�a de 3 : 000$000, quantia razoável para época, se
considerarmos que o seu escravo (homem, com a idade de 18
anos) mais caro fora avaliado no inventário em 2 : 400$000.Qu�
to à máquina a�ericana e os ventiladores, juntos, custaram a
soma de 10:000$000, quantia que correspondia mais ou menos a
4 escravos daquele valor, e isto numa época em que o preço do
escravo era alf� S �
Em outra fazenda, "São Fideliz " pertecente ao B arão
de Santa Justa, os maquinismos de café foram avaliados, no
ano de 1873, em 12 : 000$000, quantia equivalente a 8 escravos
de roça (homens com a idade de 18 anos) com o valor unitário
ce 1:500$000 que, por sua vez, era , cada um, mais caro que
cinco lances de casas (1:000$000 no total) ou 104. 000 pés de
café (1:400$000) da fazenJl ).
6

Segundo Stanley Stein, a adoção daquelas �áquinas, na


medida em que acarretavam a mobilização de uma grande soma de
dinheiro, era restrita a um pequeno número de fazendeiros. Fa
ra aqueles que "ainda dispunham (nas décadas de 70 e 80) de
garantias suficientes, sob a forma ee natas virgens, cafezais
em plena produção, e bom plantel de escravos"( l 7 � Cs crité -
rios acima arrolados indicariam a capacidade produtiva da fa
zenda e com isso demonstrariam a capacidade destes de arcar
ou não com as despesas acarretadas na compra dos novos rnaqu�
nismos. A presença das matas entre estes critérios nos mostra,
por sua vez, que somente aquelas fazendas que tives sem condi
ções de se reproduzirem, segundo o sistema de uso da terra vi
gente, é que teriam condições de melhorar as suas técnicas de
beneficiamento. Em outras palavras, a possibilidade de se re
petirem as técnicas agrícolas aparece como garantia para a mu
dança das técnicas de beneficiamento.
Ao lado da melhoria das técnicas de beneficiamento,no
decorrer da segunda metade do século XIX, seria introduzica ,
no vale do Paraíba, a estrada ae ferro, o que permitiria da
mesma forma o deslocamento aa parte dos escravos, antes cedi­
cados ao tran sporte, para a lavoura.
O tran sporte do café do Vale para o Rio de Janeiro, a
llC ,

té a entrada da estrada de ferro, se fazia por meio de tropas


de mulas. E isto alé� de significar o desloca�ento de 20% da
força de trabalho masculin? da fazenda, ou seja, 7 de cada 35
. implicava em um alto cust� � Em 1 8 5 4 e co
escravos de roca
18
-
meços de 185 5, na assewbléia da Província , era relatado que o
custo com o transporte correspondia a mais de 1/3 do valor do
café despachado de Serra aciJ! ) .
9

Nestas condições, a estrada de ferro, além de signif!


car uma economia na mão de obra, representava uma Qiminuição
das despesas com o transporte. Os escravos tropeiros, antes
necessários para o transporte, podiam ser agora transferidos
para a lavoura. Um carro de boi, que transportava o café da
fazenda até a estação, levava em média 100 arrobas sob a dire
ção de um único escravo mestre-carreiro. Ao mesmo tempo, es
ses carros representavam apenas uma fração do capital antes
requisitado para a manutenção das tropas e do pessoal necessá
rio para conduzí-la� 20).
r,1anuel Ribeiro do Val, referindo-se à "facilidade" do
fazendeiro em levantar recursos financeiros e à melhoria dos
transportes, afirma que: "hoje com facilidade se levantam c!
pitais no B anco do B rasil a 6% a juros e amortizações facéis;
os meios de transporte são muito mais rápidos e econômicos, e
o café que até 1 8 50 se vendia a 3$ 500, hoje rende e sustenta
-se a 1 0$000, vantagens todas estas em favor do lavrador, �ue
no entanto não tem procurado melhorar sua lavoura na parte
produtiva que é a essencial, emprecrando unicamente seus esfor
ços na parte mecânica que diz resp;ito ao preparo do café 11 ( 2� �-
Em outro trecho, o representante de Paraíba do Sul no
Congresso Agrícola de 1 8 7 8 retoma este problema, esclarecendo
que o fornecimento de mão de obra e de capitais só adiaria a
ruína da grande lavoura, caso se mantivessem os métodos de
cultivo. " Dada a hypothese que o Governo forneça capitaes e
braços à grande lavoura, é fácil de prever-se que ella com es
ses recursos tratará unicamente, como até agora, le exp lorar
o resto de suas mattas, e não de melhorar sua produção, que
é o essencial, adiando por mais alguns annos a sua quéda, �as
não evitando que ella se realize, e então mais desastradamen
11 9 .

te" (22) .
Pelas linhas acima, percebe-se que entendemos que a
crise da agricultura extensiva deve ser procurada nos pr�
prios mecanismos de reprodução do sistema agrário que lhe da
va vida, nas mudanças direcionais e acUinulativas qeradas por
esses mecanismos. Deste modo, compreendemos que a crise por
que passa o Vale do Paraíba (em particular, Paraíba do Sul,no
final do século XIX) não pode ser interpretada como uma decor
rência de uma crise do " produto" café e nem como uroa _ conse
quência em si da crise do trabalho escravo. Entendemos que a
crise de Paraíba do Sul é resultante do definhamento, na re
crião, do sistema agrário, mediante o qual era realizada a pro
J
-

dução do café. Em outras palavras, no mesmo momento em que


se percebe a ruína do café no Vale do Paraíba, se constata o
avanço deste produto em são Paulo, avanço que é feito pela i�
corporação de espaços vazios (fronteira aberta) e mais mão de
obrà( 2 3).
Essa forma de expansao do café em são Paulo demonstra,
ao mesmo tempo, que a crise do trabalho escravo, em si, nao
impõe necessariamente os limites para a reprodução do sistema
agrário da economia de exportação. Em Paraíba do Sul, o esqo
tarr.ento das matas irá aguçar a carência de mão de obra, isto
é, o tráfico de escravos (na região) não seria substituido
por fluxos imigratórios, e ainda aquele esgotamento ocasiona
ria a saída de parte dos fazendeiros e trabalhacores loc2is
para outras áreas.
A inexistência de um fluxo imigratório err Paraíba do
Sul, é percebida pela presença dos estranqeiros nos censos de
1872, 1 8 9 0 e 1920 (ver g5�fiço n9 7). Em 1 8 72, existiam 1.6 26
estrangeiros (não africanos) o que correspondia à 5,2% da po
pulação total. Essa cifra cairia para 611 (2,2%) em 18 9 0 , i�
to é, existiam nesse r.oMento menos estrangeiros e� Paraíba do
Sul do que italianos no centro urbano de Rio Claro (São Pau
lo), em 1888, cujo número era de 650; o total ce italianos
nesse rounicípio paulista era de 1.30ô ! "t-:'o ar.o de 1920,
24
a
presenca de estrangeiros em Paraíba do 8ul, apesar de ter au
> -

ilientado em relação a 18 9 0, continua inferior a 1872. Essa


1 2 0.

presença era de 1. 6 20 ou de 3% de população total, número i�


ferior à quantidade de estrangeiros presentes somente nas fa
25
zendas do Rio Claro (3.8 98) em 19 0 � ) . Nesta medida, ao co�
trário do que ocorre nos municípios para onde a fronteira �
grícola se deslocara na segunda metade do século passado e em
que se verifica um crescimento da entrada de imigrantes a pa�
tir dos anos de 1870, em Paraíba do Sul, a partir desse ano a
sua presença relativa na população total começa a cair. Em
vez de estarem entrando, os estrangeiros estão saindo da re
gião.
Por sua vez, no município vizinho de Valença, a Câma­
ra Municipal responc�endo ao inquérito agrícola de 189 8, na
parte referente à população, coloca que; " depois do último re
censeamento, presumo ter diminuida a população do município
devido à emigração de alguns agricultores para outros Estados
e também dos colonos italianos que aqui foram introduzidos e
que procuraram o Estado de são Paulo, onde a cultura do café,
(
além de não ser tão trabalhosa, é mais lucrativa''. ( 2 6 )

A queda do númBro de habitantes em Paraíba do Sul no


final do século passado pode ser vista se confrontarmos os
censos realizados entre 184 0 e 1920 (gráfi�a n9 8). Em
1 S72, a população era de 30.9 86, dezoito anos mais tarde esta
cifra cairia para 27.351, representando assim um crescimento
negativo de 11, 7%. Por outro lado, se compararmos o cresci
mento demográfico de 184 0 à 1872, com o de 1872 à 1920, veri­
ficaremos que no primeiro período o incremento é de 1 6 7, 4 % e
que no segundo se restringirá à 69, 3%. Isto é, o primeiro p�
ríodo, que é de 3 2 anos, representativo do funcionamento em
escala ampliada do sistema acrrário ( inclusive dos seus
• J
meca -

nismos de reposição da força de trabalho) na região, aprese�


ta um increrrento demográfico em muito superior ao segundo p�
ríodo (fase de definhaQento daquele sistema agrário na re­
gião) , apesar cesse último conpreender quarenta e oito anos,
dezesseis anos a nais do que o prireiro.

Detendo-nos no corportarr.ento aa população �asculina ,


GfüÍFI 00 N O 7 121.
1 . 000 ,
Estrangeiros em Pa.raiba do Su1 (1872 - 1890 - 1920 )
Hab .

' l
-5 1 A - População total
B - População estrangeira ..

52. 474
',i.
50

45

40

35

30. 986
30
r---i
' 1
27. 3 51
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[
25 ! 1

.... 20

15

10

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i
l l · 626 611 l . 620
1 5 , 2ir!. de A 3-t de A
o A r B l A l
2 , � de A
==t A -....,

1 872 1890 1920
FONTE: Censo de 1872
Ccmso de 1 890
crenso de 1 9 �0
� �'
RÁ?.roO N8 8 \ .
nos oensos de 1840 - 1872 � 189ô - 1900 - 1920
1. 000 Hab . Presença da pop.Üação masoulina e do grupo 8/btrio de 16 'a 40 anos
:;5 r .... '
A - Poi;ulação total .. 52 .474
.
\ ,
' t I'
B - Pcrpulação masculina . r·-
5 0, 1 C - Popilação de 16 a 40 anos
í'' . 1

45 i

40 L

35 1
30.986 32.276
·---l
--r
30
27 . 351 26.674
25 . 5 -;
1%
..

de 20. 769 .§
20 A l'
17 .463 . .-
ój
16. 9 39
A .
4da
15 5�_14 .498 ,14. 5� f
, - - ·1335 • de 1
11. 586 de 1 47% i
A i ll:_-_;42 A
10 .l J l
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1 1
A
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1840 1872 1890 1900 1920
FONTE : ... f-J,.
Ceaso de 1840 Censo de 1920 ;N
Qenso de 1872 4 População de 15 a 39 anos �
.f# ••
lenso da 1890
Qenso de 1900
.. "�
123 •
..,
observa�os que segunco o �ráfico n9 8 , a participação desse con­
tinqente na população total de 1 840 a 1 9 2 0 diminui significati­
vamente. Em 1840 ele corresponce a 62% da população total , em
1 8 90 cairia para 52% e trinta anos depois para 5 1%. Verifica­
se assim que apesar da população masculina de 1 8 90 para 1 920
ter aumentado a sua presença relativa diminui. Por outro lado ,
a diminuição do contingente masculino de 1 8 4 0 a 1920 , e canse -
quentemente o aumento do feminino , demonstra a quebra de uma a-
gricultura cuj a reposição e aumento de trabalhadores se fazia
parcialmente ã margem do crescimento natural da população loca],
o que levava a uma desproporção significativa entre os sexos em
favor ào masculino.
Quanto a população na faixa de 16 a 40 anos , faixa es­
sa que no período da escravidão era considerada como a mais pr�
dutiva , de 1872 para 1 920 , vê a sua participação relativa na
população total cair de 47% para 40%.
Outrossim , nos relatórios da Secretaria de Obras Públi­
cas e Agricultura , do final do século , há referências ao declí­
nio demográfico presenciado no Vale do Paraíba , sendo este fenô
meno associado ao definhamento da economia de exportação.
O Ciretor da Estação Agronômica do Rio de Janeiro , loca
lizada em Paraíba do Sul , em seu relatório de 1 8 94 , coloca que
a produção do café "virá a desaparecer do Estado do Rio , se se­
guir o syste�a de lavoura até hoj e empregado" isto porque 11
as
mattas estão quasi exterminadas". t1ais adiante se referindo a
evolução da lavoura do café na Serra-Acima: " Foram os fazendei­
ros emigrando para Serra !.cima , once o café enriquecia o fazen­
deiro , e onde o machado , fouce e o fogo transformaram mattas
virgens em explendidas fazendas (.. � ) Vemos hoj e municípios de
riqueza extraordinária , COITO Vassouras , Valença , Farahyba do
Sul etc , reduzidos a imensos terrenos em pastos (...) Os fazen­
deiros , donos desses palácios , têm em parte ido em busca de no­
vos mattas e das férteis terras ce s. Paulo (...) Cuide o lavr�
dor de sua terra , empregue adubos chímicos , cultura intensiva e
apparelhos modernos , e verá , que não necessitará de emigrar em
procura e.e mattas para derrubar". (27)
No ano seguinte , 1 8 9 5 , o secretário de obras públicas ,
124.

em seu relatrio, escreve: "P. aaricultura no nosso Estado neces­


sita de uma revolução corrpleta, pois, ainda perrranece em pleno
domínio dos processos primitivos (... ) �s mattas virgens de­
sappareceram, o ubérrimo Valle do Parahyba se cobre de campos
de criação e o café é perseguido pelo esgotamento da terra e
pelas moléstias". E conclui, "em vez de fornecer ao solo, o
que elle necessita, preparando-o mecanicamen te e estrureando-o,o
fazendeiro foge para as terras virgens de s. Paulo e de Mi­
nas. (28 )

Esses trechos nos sugerem que acompanhando o movimento


do sistema agrário da economia de exportação, que em sua repro­
dução extensiva tinha ultrapassado, naquela altura <lo século,os
limites da região do Vale do Paraíba, há um rnovirren to miara-
tório de fazendeiros. Esses fazendeiros ao se deslocarem na di
reçao da fronteira rr.óvel, acornpanharian o ritmo daquele siste­
ma agrário , sendo assim parte dele integrante. E se associamos
a isto urna provável saída de trabalhadores, poderíamos explicar
o comportamento da demografia de Paraíba do Sul no final do sé­
culo.
Este últino tipo de e migração é ap ontado por Paes Leme
no final do século, em seu estudo sobre a organização agrícola
do Estado do Rio, onde coloca que: "� um facto incon testável o
êxodo de trabalhadores ruraes do Estado c.o Pio de Janeiro 11 ( 29) .
E na Mensagem do Presidente do Estado em 1916, escreve-se que
u:r:i.a geração no passado deixou o Fio de Janeiro "para abrir fa-
- .. -
zendas do Oeste de Sao Paulo". ( 3 0 ) Isto e, urna geraçao acompa -
nhou o sistema aqrãrio da economia de exportação em sua repro6u
ção extensiva.

3.2. Caooeiras, Enxadas e Colonos


Na parte precedente insinua.nos que, apesar do processo
de esgotamen to das matas e da crise da Dão de obra, o sistema e.e
uso da terra e as técnicas a ele correspondente continuariam a
do�inar a paisagem açrária da resião. Isto é, apesar de dimi -
nuidas a sua capacidade de reprodu�ão o sistema agrário perpas­
sa a crise do trabalho escravo, persistindo em seu definhamento.
E isso pode ser verificado pelo fato de que, no interior das
fazendas, até pelo menos 1 905 (crãfico
- n9 9 ) , as ratas continua -
riam valendo �ais que as terras incorporadas de trübalho (terras
125.

em culturas). Considerando a soma dos valores relativos das


terras em matas e em culturas igual a 100, nota-se pelo grá­
fico n9 9 que em 1880 as matas valiam 69% daquela sona e que as
terras em culturas 31 %, vinte e cinco anos mais tarde essa re­
lação passaria respectivamente para 75% e 25%; o que denota a
subida do preço relativo das matas em relação às terras em cul
turas. Essa situação não é só reveladora do esgotamento das
matas, mas também indica o sistema de uso da terra pelo qual
se continuava a realizar o processo de produção a�rícola. Em
outras palavras, revela um modo de cultivo em que as matas 3.lbs
tituem a aplicação de UI'!1 trabalho adicional na refertilização
das terras.
Essa persistência das técnicas agrícolas, em circuns�
cias de definharr.ento do sistema agrário, pode ser apreendida
mais de perto em passagens de escrituras de arr endamento, as­
sim como em outros processos judiciais,dos anos de 1390, onde
se vã a preocupação com as matas e capoeirões. Na escritura �
arrendamento da Fazenda Santo Antônio (10/11/90)(3l) , percebe­
se entre as clâusulas do contrato, um item próprio sobre a con
servaçao das matas.
Esse contrato teria a curação ce seis anos, período em
que os outorgados se compro metia� a colher todo o café e ce-
reais ca fazenda. Senco sue a colheita de café seria dividida
entre o proprietário e os arrendatários (em número de dois) , e�
suanto que a de cereais pertenceria exclusivamente a esses úl-
timos. Os arrendatários se compro�etiarn tarcbém a conservar as
benfeitorias da fazenca, replantar os cafezais mortos nas der­
rubadas novas, matar as formigas e dar cuas capinas anuais em
toda a lavoura. E na cláusula n9 5 do cortrato era estipulado
que : " º 9 .outorgados obrigam-se a não cerrubar matas virgens pa­
ra fazer novas plantações podendo outrossin tirarem lenha das
rnatlas se por ventura não houver em outros lugares, podendo tam
bém tirar das mattas a wadeira para a conservação das obras".
Por este contrato é revelado um tipo de arrendamento en
que o arrendatário continua com o tipo de atividade precedente
e a sua ação sobre a terra é limitaàa, sendo assim um ?Ouco di
ferente daquele arrendatário-capitalista estudado por l1arx ; a­
lém disso as terras erar trabalhadas por colonos e não por tra
GRlFICO N� 9 126.
PREÇO (d. ) das Matas e Terras em Cul turas nos Inventários (1880 -
1 89 5 - 1 905 )
� Preço das matas � terras em cul turas � 1004.
100
A � Valor das matas (,1 A 14�� )
B '1. Valor das terras em oul turas( 7 A, 11 � A(. )

- 7 5�
74 , 5� ,--­
691. ·
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º'- --- ·--1ªªº I l-
1 89 5 1905
, , ,
FONTE, Inventarios - Oartorio do 1 2 Ofic io de Notas - Para {ba do Sul
127.

balhadores assalariados ( 32 ) . Por outro lado, neste contrato �


de - se apreender a :;:2reocu!)ação do proprietário em conservar e con
trolar a capacidade produtiva da fazenda, ou melhor, as suas
possibilidades de reprodução no tempo. Aos arrendatários cab�
ria apenas cuidar dos cafe zais das derrubadas novas (transfor­
mação anterior das matas em cafezais) e não à realização de n�
vas derrubadas, essa última decisão cabe somente ao proprietá­
rio.
Em outra escritura de arrendamento se verifica a mes­
ma preocupação. �:o arrendamento da fazenda Silva (cafezais, r�
ça de milho e de feijão e benfeitorias) ao capitão Tresciliano
�.iguel Costa, em 1893, esse só poderia tirar cas matas "as ma­
deiras que forem precisas para consertos das obras, casas de
colonos e lenha para consumo" e não poderia "derrubar capoei -
-
rao algum sem o consentimento dos outorgantes". ( 3 3 ) Deste modo
se vê que, da mesma forna que na escritura precedente, apenas
o proprietário podia determinar sobre a realização de derruba­
das. O arrendatário mesmo pagando anualmente o seu direito de
explorar a fazenda, tinha os seus direitos restringidos pelo
sistema de uso da terra, que ligava a existência ca fazenda a
presença das matas. C'eve-se ter em mente o processo de exte­
nuar.ente das matas e� curso nesta época.
Por últino, em 1 8 9 8, Enydio Pispoll, que possuia a hi­
poteca da fazenda de Joaquim José de Carvalho Lima, movia um
processo judicial contra esse último por ter "eerrubado matt�,
o que diminuia o valor dos bens hipoteca�os". (34)
A manutenção do sisteMa de uso da terra, cas técnicas
agrícolas, é ainda vista nos inquéritos agrícolas. Entre as
respostas da Câmara Municipal de Paraíba do Sul ao inc;:uérito êe
1898, realizada pela Secretaria de Obras Públicas e Indústrias
do Estado, podemos encontrar algumas informações sobre o esta­
do da agricultura no município. Segundo essa investigação, na
quela data a produção agrícola do município era "e xclusivame:::i­
te de café, seneo insignificante a de cereais e nulla a pasto­
ril". P.. produção de café montava em "4 : 2 0 0: 0 0 o ::; o o o anualP.1e nte,
havendo tendência para diminuir". Mais adiante se escreve que
as terras do município eram "exploracas pela cultura extensiva
12 8.

em grandes e pequenas propriedades" e o alqueire de terreno ru


ral em mata virgem valia 700$000 enquanto que o de cultura
300$000, o primeiro valia IT'ais de 1 00% que o segundo . Por úl­
timo, a Câmara responde negativamente sobre a existência de e�
saios de novas culturas na região. Essas informações são reve
ladoras do nodo de cultivo do município, demonstrando a perma-
- . dos antigos
nencia ' , -
paaroes -- 1as. (35)
agrico
En outro inquêrito agrícola, este de 1913, podemos t�
bém retirar algumas informações sobre o sistema ce cultivo do
município. Os instrumentos de trabalho agrícolas, nesta époc�
consistiam principalmente na enxada, machado, foice e cavadei­
ra. As semeaduras eram feitas à mão, em covas de enxadas. Es
ses processos de cultives, revelados pelos instrumentos de tra
balho, eram tanbém empregados pelos poucos agricultores estran
geiros existentes no município. O café ainda aparece como urna
cultura importante na região, contuco, em decadência. Quanto
à vegetação, esta era " representada por poucas mattas virqens
e carrascaes, muitos campos e capoeiras", sendo a maior parte
dos campos na realidade pastos. "Não há campos hervados" . A
· - (36 )
- .
pecuaria, . ' 1men te, bovina
principa · avança na regiao.
Por último, no recenseamento de 1920, na parte refere�
re aos instrumentos de trabalho agr ícolas, de 711 estabeleci -
rr.e ntos recenseados ; 173 (24,3%) possuia:r arac.os, 62 ( 8,7%) gr�
des, 12 (l,7%) semeadeiras, 13 (1,8%) cultivadores, 3 (0,4%)�
fadores e 1 (0,1%) trator. Sendo que, 538 dos 71 1 estabeleci­
mentos, não utilizavam nenhu� destes instrurrentos aqrícolas, o
que representava 75,7% do total. < 37)
Por outro lado, a presenca , do arado nesse último inqué -
ri to, além de ser pequena, não implica necessariamente que n�
c;:ueles estabelecirrentos haja ur.,a rr.udançêl para um sistema de
-
uso da terra er.i que se err.pre0ue acubos e rotacão
. de culturas.
Segunc.o �'7aibel, caso associássemos o uso do arado com a rota -
c� ão de culturas e ac.ubos, :: icaríar.,os "com urna idéia in teiramen
-
te ::alsa cos sistemas agrícolas da América Tropical e de suas
instituições sociais e econôr.iicas" . ::ais aê'.ian te o r.es:r.lo au­
tor escreve " em �uitos lugares do sul do Brasil, podem-se ver
campos arados alternanêo com capoeiras" < 33) E o r..esno pode ser
12 9 .

visto nos poucos inventários em que encontramos o arado. Como


é o caso da fazenda Boa Vista de Joaquim José Medeiros , em
1 8 97 que apresentava dois arados americarr:s ( ambos em mal estado
ao lado de matas , capoeiras e pastos em capim; as capoeiras ( 4
( 39
alquei res) ocupavam 13,3% dos 30 alqueires da propriedade. >
Os inquéritos acima apresentados e mais o recenseamen­
to de 1 92 0 , nos indicam o mesmo sistema de uso da terra que v�
gorava na época da escravidão ; os terrenos continuavam a ser
40
" preparados pe la roçada , derrubada , queima e encoivamento 11 ( )
E isso pode ser observado , ainda no re latório da Secretaria de
Obras Públicas e Agricultura de 1 92 5 , mais de um século após a
descrição da agricultura brasi leira feita por Saint-Hilaire , on
de se escreve que : " f; opportuno friz ar pontos de deficiência
nas fazendas do Estado e que são má�imos entraves para o
auggmento e desenvolvimento da cultura cafee ira em seu territ§.
rio . Certo é que a mudança radical dos antigos méthodos cul tu­
raes , actualmente em uso no Estado , por outros mais modernos
e racionaes não é fácil tarefa. Mas deixando de parte tal e�
prehendimento ressalta ainda um ponto fraco , de grande impor -
tância para o decréscimo da produção. Este ponto é a absoluta
ausênci a da �ubação . E este facto é o grande responsáve l pelo
desbravamento crescente das mattas , para substituir , com terre
nos virgens , as terras j á empobrecidas por continuas e esgotan
-
( 4 l)
tes lavouras " .
Ainda neste ponto , é importante re tomarmos , por alguns
instantes a re lação entre a lavoura e o beneficiamento , ou me
lhor , entre as me lhorias das técnicas de beneficiamento e a ca
pacidade de reprodução do sistema agrário da economia de expoE
tação. No c apítulo precedente apresentamos um gráfico (n9 3 )
onde era demonstrada a tendência de crescimento dos investimen
tos no setor de beneficiamento da f azenda. Essa tendência e
referendada por um outro gráfico (n9 1 0 ) em que são considera­
dos os valores re lativos dos cafezais e equipamentos em rel a -
ção aos valores das terras , animais e edificações presentes nos
inventários de 1 8 5 0 a 1 90 5 .

Por esse último gráfico , observamos que entre 1 8 6 0 e


1 8 8 0 , tanto o valor relativo dos cafezais como dos equipamentos
130 .

GRÁPICO Ni 10
� do valor dos Cafezais e »zuipamentos de Beneficiamento nas /
P�zendas de Paraíba do Sul - 1 850 - 1905
oafezais + equipamentos + edificações . terras + animais � 100 (

A. � dos Cafezais
B 1 dos tl}uipamentos de Beneficiamentos

55·
{ 50 , 8 )
� 0,3 )
50

45 1'45 , 6 )

.,.,. ,.,,. �. 2 )
40 A

15 ( 37 , 3 )
30 ( 30 , 5 ,\..
..
25 ...
.......
20
(18 , 7 )
15
( 10 , 4 )
(9 ,4 >---fít.2) � , .. .. .
LO
.. .
5
"i ---
( 4 ,1 )
, - , 'T /
(6,8)

1 850 1860 1870 1880 1890 1895 1 900 1905


PONT3: Inventários :. cartório do 1 º Oficio de Notas - Paraíba do Sul

'
,
131.
e

aumenta . N o caso de sses últimos, a sua participação aumenta


de 1870 a 1880 (6,4% para 9,4%) , mantendo urna tendência ascen­
dente até 1895, apesar de ver o seu ritmo de crescimento dirni­
nuido de 1890 a 1895 (10,2 % para 10,4%) . O mesmo, contudo, não
ocorre com os cafez ais que já no período de 1880-1890 sofrem
urna ligeira queda (50,8% para 50,3%) , acentuada cinco anos de­
pois, 1895, quando a sua participação chega a 30,5% . Por con­
seguinte, e ste gráfico n ão só nos mostra o de finhamento de urna
região de café, mas também nos demon stra que e s te proce sso não
é interrompido pelo incremento das técnicas de bene ficiamento,
repre sentado pelo aumento relativo dos investimentos neste itan.
De ste modo a introdução de melhore s equipamentos não impediu,
no tempo, a diminuição da capacidade de reprodução do sisterna3
grãrio da economia de e xportação. Tal melhoria não retrata urna
mudança mais profunda na forma de produção. E isso é visto
quando observamos que em 1905 os cafezais detêm apenas o valor
relativo de 18 1 7 % e acompanhando e s se proce sso os equipamentos
vêem a sua participação re lativa cair para 4,9 % . Afinal de que
servem meios de produção de beneficiamento de café sem o café?

Em outras palavras, aque le gráfico nos indica, mais uma


ve z, que o desenvolvimento das técnicas de beneficiamento nao
foi acompanhado por uma mudança das técnicas na lavoura. E is
so pode ser melhor apreendido através de algumas fazendas que
introduziram aque les me lhoramentos.
Na fazenda Santa There za da Cachoeira de João Jacinto
do Couto, em 1890, os equipamentos representavam 13,2 % do va­
lor dos cinco iten s acima re feridos . E stes meios de produção
se compunham de máquinas de descascar café, ventiladore s, cat�
dore s, debulhador americano e complementados por um terreiro
de café e uma máquina a vapor . Em outra fazenda, de sse mesmo
Joãó Jacinto, encon tramos, além da ve lha prensa para fazer fa­
rinha e do moinho de moer fubá, um moinho americano para fa­
zer fubã, o que provave lmente, repre sentava um certo aperfei­
çoamento nos métodos de bene ficiamento dos alimentos; o valor
do Último moinho (200$000) era 3 3 % mais caro que a sorna dos
dois primeiros (150$000) . Ao lado des sa máquina encontramo s co

• mo instrumentos de trabalho agr.ícolas a enxada •


132.

Formada por 50 alqueires, as terras da fazenda Santa


Thereza se compunham de cafezais, capoeiras e pastos. Sendo
que um alqueire de terra dos 35, ocupados pelos cafezais valia
80$000, e ·os quinze formados pelas capoeiras e pastos tinham o
valor unitário (a média do �alor de cada um) de 100$000. Des­
sas informações podemos deduzir dois pontos: 19 a presença da
capoeira e o fato dela ter mais valor que as terras em cultu -
ras indicam a manutenção do modo de cultivo pretérito; 29 ten­
do em vista esse modo de cul tivo e a não presença de matas na
fazenda, pode-se deduzir que, dentro dos parâmetros das técni­
cas de produção agrícolas vigentes, a fazenda tinha poucas po�
sibilidades de realizar o segundo movimen to do processo de re
-
produçao.(42)
- - 43
A fazenda Santo Andre- do Barao de Sao Carlos,( ) em
18 94, possuia ventiladores, descascadores, um lavador de café
quatro terreiros mecaniz ados e "outros maquinismos de preparar
café ". O valor relativo desses meios de produç ão equivalia a
15,3 % do conjunto daqueles itens. As terras dessa fazenda e­
ram distribuídas em 8 3 alqueires ocupados com capoeiras, pas­
tos e lavouras, sendo o seu valor unitário de 100$000. Além
dessas terras existiam 10 alqueires em matas e capoeirões, com
o valor por.-alqueire de 500$000. O valor das matas e a sua pe­
quena presença (menos de 12% ) nos sugere conclusões semelhan -
tes ao e xemplo anterior.
Essas fazendas como representativas da relação lavoura
-beneficiamento no interior de um sistema agrário historicame�
te definido, nos permite entender o porque do comportamento do
gráfico n9 10 a partir de 1895.
Passando agora para a estruturação interna da fazen-
da pós-escravidão Verificamos a permanência da presença dos
maquinismos para o preparo de alimentos, o que nos sugere a e­
xistência de uma agricul tura de alimentos no interior da fa­
zenda. De 6 8 inventários (1890- 1920) que retratam somente un!
dades de produção agrícolas, 53 (7 8 %) apresentavam aqueles ma­
quinismos (roda de mandioca, moinho de fubá etc) . Essa infor­
maç ão retirada dos inventários é complementada pelo censo de
1920 em que, de 7 11 estabelecimentos, 346 (48,7 % ) possuiam p l�
133.

tações de café e is s o combinado aos 5 5 5 ( 7 8, 1 % ) que cul tivavam


milho, podemos inferir que nestes primeiros existia urna agric�
tura de alimentos ; pelo menos em 190 ( 5 5 % ) dos es tabel ecimentos
44)
que cul tivavam café . <
A pres ença da agricultura de alimentos no interior das
fazendas de café, em particular, pode ser detectada, ainda no
quadro construido pela Sec retaria de Obras Públicas e Agricul­
tura em 192 5 , quando de uma inspeção às fazendas nas zonas li­
mí trofes do Es tado com s ão Paulo e Minas Gerais. Das 1 8 fazen­
das que s e localizavam em Par aíba do Sul, 1 4 ( 7 7 , 8 % ) apres enta
-
varn produções de milho e feijão. < 4 5 )

Por ú l timo, a combinação da agricultura de � alimentos


c om a do café nos trabalhos agrícolas pode ser vis ta nwre ação
ordinária já citada · onde s ão descritos as épo­
cas de capina de café " dentro da zona em que se acha a fazen­
da arrendada, ou an tes em todo o terrí tório dos districtos da
antiga frequezia da Parahyba do Sul 11 •
" Es s as capinas deviam ser feitas nas quadras do ano
próprias ou de estylo, tendo- s e em vis ta ( em rela -
ção à uma das capinas ) as leis da vegetação e re­
gras co-rel atas de pl antação de milho entre os cafe
zais ; e em rel ação as outras as exigências da co=
lheita de café . Tendo-se em vista o desenvolvirnen­
tp . dos _ fruçtos . do� . cafez aea e consequente . te�po pró
prio de uma colheita - e s ó sendo conveniente adi=
antar parte desta Última capina nos pontos que pos­
s am s er esc olhidos par a o plantio de feijão - s ervi
ço que s e faz dentro do período de 15 de janeir o ã
15 de fevereiro e que nem s empre tem lugar dentro
dos cafezaes, pois que para isto s e � scol�1 terra
nova e desbas tadas de outras pl antaçoes " . 6 )

Por essa pass agem depreende-s e não apenas que o ernpi-


rismo continuava a dirigir os trabalhos agrícolas mas, tam­
bém, que es ses eram organizados não somente em função das ne­
cessidades do c afé. Nesta descrição os trabalhos com os cafe­
zais e culturas de alimentos aparecem corno momentos de um mes­
mo processo de produção.
Daquilo que já escrevemos s e infere que se o sis tema a­
grário da economia de exportação persiste o faz no interior de
um processo de disjunção entre o primeiro e o s egundo movimento
de s eu cic l o de reprodução. A progressiva incapacidade da fazen
134.

da de café em realizar o segundo movimento e , por conseguinte ,


vivenciando cada vez mais apenas a reprodução anual , pode ser
e xempli ficada atravé s de alguns inventários da Última década
do século passado.
A . fazenda de Luiz Vieira Machado , em 1890 , possuía 98
alque.ires , dos quais 82 (8 3 , 7·% ) em culturas e pasto e os res
tantes 16 alqueires (16 , 3 %) em matas. Considerando que essa
unidade de produção tinha 1 7 8. 7 7 0 pés de café e que 4.000 pés
47)
correspondiam aproximadamente a 1 alqueire <
;:
, fazendo assim
o total de 45 , 7 alqueires , essa fazenda com o tempo se viria h
capaz de substituir os seus antigos cafezais por novos. < 48 )

Na fazenda de café da Baroneza Ribeiro de Sá ( 1896 ) de


seus 9 4 alqueires , 92 (9 7 ,9% ) eram ocupados por culturas , ca­
poeiras e capoeirÕes , sendo os dois alqueires (2 , 1%) restantes
-
por matas. ( 4 9 ) Numa exploraçao agricola de menor dimensao a
4' • -

si tuação não era melhor , como podemos ver no caso da fazenda A


pare =ida. Nessa exploração ( 1897 )� de seus 18 alqueires , 9
(50% ) estavam em culturas , 3 (16 , 7 % ) em capoeiras , 4 , 5 (25% ) em
pastos e 1 , 5 (8 , 3 % ) em matas. E de seus 19 . 000 pé s de café , o
mais novo tinha 15 anos. < 5 o )

Quanto ao envelhecimento dos cafezais , o que indica a


pequena presença de matas para a renovação desses , o . exemplo
. (51)
� . - -
das fazendas e sities do Barao de Sao ca.rlos e- representativo.
As sete explorações agrícolas inventariadas em 189 4 apresenta­
vam um total de 30 7 . 100 pé s de café. Desses , 99. 100 (32 , 3 % )
pos suiam uma idade entre 4 e 16 anos e os 208. 000 pés restan -
tes tinham idade superior a 24 ano s . Situação essa bem dife -
rente de uma outra fazenda , esta de 1860 , que pos suia 67. 000
pé s de café , sendo 40.000 (59 , 7 % ) em formação (menos de 4 ano�
7 . 000 (10 , 4 %) de 4 a 16 anos e 20. 000 (29 ,9% ) com mai s de 16
< 52)
anos , contudo , menos de 24 anos.
t nas circunstâncias de persistência/definhamento do
sistema agrário da economia de exportação que se dá a constru­
ção das relações de produção na agricultura da região pós-escr�
vidão. Em outras palavras , o entendimento da forma que as­
sume e s sa s relações de produção deve ser procurada na manute�
ção das técnicas agrícolas , isto é , no sistema de uso da terra
135 .

que continua a do minar a paisagem agrária da região . E ainda ,


na diminuição da capacidade de reprodução do sistema agrário
representada p ela gradativa extinção das matas ( dificuldades ce
realiz ação do segundo movimento daquele processo) e na caren­
cia de mão-de-obr a .
Entretanto , nao apenas as capoeiras e a s enxadas atra­
vessam a crise do trabalho escravo , da mesma forma a estrutura
fundiária , ou melhor , o seu pano de fundo que é a suj eição do
trabalhador direto atravessaria aquela crise. Através da lei
de terras de 1 8 5 0 , proibindo a aquisição de terras públicas a­
través de qualquer outro meio que não fosse a compra e termi -
nando deste modo com a antiga forma de aquisiç ão através da
ocupação , era referendada a subordinação do trabalhador direto
à classe dominante agrária . o acesso à terra teria que ser
mediatizado p elo faz endeiro . Este mecanismo ao tornar cativa
a terra , transformava a terra em um cativeiro para o trabalha­
dor . , ( 53 >
A lei de terras , por conseguinte , informa sobre a con­
tinuidade de um sistema agrário onde a possibilidade de .ex­
torsão do sobre trabalho e com ela a exist ência da classe do­
minante agrária , esta ligada ao controle sobre o trabalhador di
reto . Em outras palavras, frente a baixa relação população
terra e , portanto , a possibilidade de configuração de uma agr�
cultura de alimentos como base da vida autônoma do trabalha
dor direto , a classe dominante assegurou o controle sobre a
terra e através dessa sobre o trabalhado r .
E m P araíba do S u l , esse controle sobre a terra como m�
canismo de suj eição da classe subalterna à classe dominante , p�
de ser visto na experiência dª "Colônia Nossa Senhora da Pied�
de" . A Condessa do Rio Novo , em seu testamento , libertava os
seus escravos e deixava instruções para que a sua fazenda Can­
tagalo se transformasse em uma colônia a ser explorada , po r
esses , sendo que a direção desta ficaria nas mãos da Casa de
Caridade de Paraíba do Sul. Assim sendo , 32 1 alqueires de teE
ras da fazenda seriam par�lhados entre os lib erto s adultos ( me
nos de 2 0 0 pessoas) , podendo esses cultivarem gêneros de sub­
sistência e café : essa última colheita seria dividida entre os
1 3 6.

54)
colonos e a Casa de Caridade !

Por conseguinte, não apenas os escravos dei xavam de


ser escravos, mas corno também adquiriam direitos sobre as ter­
ras. Por sua vez, segundo o testamento, a f azenda dei x ava de
ser urna "empresa " voltada para a extorsão do sobre-trabalho p�
ra se transformar em urna " colôni a agrícola".
Mais ou menos um ano após o estabelecimento da colôni a
por volta de 1883-8 4 , Van Delden Laerne entra em contato com
esta e xperiência e conclui que " l ' aven ir de cette colonie pa­
rait peu doute x " , o que lhe era confirmado pela direção da
mesma. Mais adiante o viaj ante holandês esclarece que tal prs
nóstico não era contudo e xplicado pelo abandono da colôni a por
parte dos libertos e muito menos por esses terem dei xado de
trabalhar : " les e x-esclaves ont fourni la preuve qu ' ils veuJent
55
travaille " < ) .
A direção, percebendo a colôni a ainda enquanto urna f�
zenda, considerava que aquela teria um futuro duvidoso princi­
palmente pela razão de que os ex-escravos se dedicavam mais a::s
trabalhos n as plan tações de alimentos { mi lho e mandioca ) do
56 )
que propriamente à produção de café. < E nesta medida, os l!
bertos na condição de possuidores da terra tinham, aos olhos <!i
que la, subvertido a " ordem do trabalho ": a "ordem" f i x ada pela
lógica do sistema agrário vigente. Em outras palavras, os ex­
escravos,através de sua prática, inverteram a relação entre t:ra
balho necessário { plantação de alimentos ) e trabalho excedente
{ cafezais ) e xistente no interior de urna " fazenda " .
Deste modo o futuro incerto da colônia estava ligado
ao fato dos libertos terem ousado agir corno possuidores da teE
ra, se dedicando mais .a urna plantação cuja colheita seria por
eles apropriada, do que a urna outra que consisti a em parte em
trabalho não-remunerado apropriado pela " P i a " Casa de Caridade.
Por conseguinte, o " avenir" da colôni a deve ser procurado n a 1�
gica do sistema agrário cuj a existência se prendia à extorsão do
sobre-trabalho, o que só era possível, em condições de trabalho
livre, através do controle total sobre a terra.
Em 1887, a Casa de Caridade pede à j ustiça local a ex-
/"

137 .


pulsão dos libertos " desordeiros " , ou seja, dos possuidQ:r ': S da
terra. Tempos mais tarde as terras daquilo que deveria ser
(57 )
uma colôni a agrícola eram arrendadas. E xpulsos das terras
de que detinham o direito de posse, os libertos, para reprodu­
zirem a sua vida material, teri am que se transformar em traba­
lhadores diretos das fazendas da região sem nenhum direito
sobre a terra e assim se submeterem a "ordem do trabalho " pre­
sente n aquele sistema agrário .
Em 1898, não e xistiam terras devolutas em Paraíba do
( 58
Sul. > A classe dominante local " empobrece " com o seu siste­
ma agrário, contudo, permanece dominante, dificultando o desen
volvimento de outros grupos sociais.
Estudando a organização do trabalro agrícola pós-escra­
vidão da cidade de Vassouras, Stein escreve que : " Após os me­
ses de agi tação que se segue à abolição e à improvisação de
turmas de trabalhadores com camaradas, colonos-camaradas, tur­
mas dirigidas por empreiteiros, a organização do trabalho nas
fazendas cristalizou-se sob a forma de parceria, suplementada
-
pelo emprego de camaradas� ( 5 9 ) Nao nos parece que esta situa-
ção tenha sido muito di ferente em Paraíba do Sul. No inquéri­
to agrícola de 1898, a Câmara Municipal dest a oid�de coloca que
a agricultura era explorada pelo sistema de parceria e pelo sa
lário. (60) Quinze anos depois, segundo o inquérito de 19 13,o
sistema de trabalho do pessoal agrícola na região se resumia na
meiação, salário e contrato. (6l ) E no estudo feito em 1922 s�
bre a organização do trabalho agrícola do Est ado, feito pelo
Ministério da Agricultura, conclui-se que : "na cultura do café
é commum a meiação,cabendo porém ao colono a plantação, por o-
. .- (62 )
casião de cultivar o milho e o f e1.J ao.
A nível das fontes locais podemos ter uma idéia das re
lações de produção na agricultura do café pós-escravidão atra
vés de contratos de trabalho registrados em cartório.
Em 1888, Amélia de Azevedo Silva Abrahão, como tutora
de seu filho pede ao Juiz de Õrfãos licença para con tratar co­
.
lonos. "Em virtude da nova lei de libertacão dos escravos é
indispensável providenciar no sentido de serem as terras cult!
vadas por homens livres. Na qualidade de tutora não pode a
/

138.

suppte por si só resolver sobre o contracto a fazer com os li­


bertos, e é por isso que vem p erante a vossa Exrna. impetrar .l�
cença para contractar o serviço e cultura das terras nas se­
guintes condi ções:
19 Os libertos terão, durante 5 anos, o direito de
plantar milho, fei jão e outros cereaes e legumes em
terreno onde haja cafeeiros, cujas colheitas lhes
pertencerão, fi cando excluido d ' entre os legumes o
feijão miúdo e as favas, por prejudi carem o cafeei­
ro, os quais só poderão ser p lantados onde não exis
tam cafeeiros. -
2 9 Terão a metade do rendimento líquido do . . café, o
qual será vendi do no Rio de Janeiro, pela suppte .
39 Obri�am-se os libertos a darem capinas nos cafe­
eiros, a tirarem toda a herva de passarinho e ou­
tras p arasi tas daninhas.
4 9 Obri gam-se os libertos a colherem todo o café,sac
cá-lo nos terreiros da fazenda, no Bairro Alto, p a=
ra �nde conduzirá a proporção que for sendo colhido
lava-lo e levá-l o às tulhas, e conduzir o café pa­
ra os terreiros ( • • . )
5 9 Fi cam, aos libertos, prohibido vender a menor
quanti dade do café por sua conta e a ter . animais
quadrúpedes nos terrenos, dando-se-lhes permis� pa
ra os ter no p asto da fazenda no Bairro Alto ( . . • ) -
6 9 � sge que os libertos dei xem de cumprir alguma élcs
condiçoes fica a suppte o di reito de expulsál-os ,
perdendo os mesmos tudo quanto que tenham feito -ro
ças de cereaes ou legumes, a parte correspondente -
ao café p endente e ao que estiver colhido; o mesmo
acontecerá no caso de roubo ou desordem promovi da
dentro dos terrenos pelos di tos l ibertos ( . . . )
89 No caso de não querer a suppte e os demais pro
pri etári os dos terrenos fazer cumprir este contrac=
to ob rigam-se a consentir que os libertos terem a
parte que lhes tocar por este contracto e mais quan
tia de 1 : 0 0 0 $ 00 0 que será dividida entre os mesmos
libertos" ( 6 3)
Consistindo, via de regra, no antigo escravo e seus de�
cendentes, o " colono-parceiro" devi a cuidar das capinas anuais,
realizar a col heita do produto, tendo em contrapartida a " per­
missão" de plan tar cul turas de alimentos na fazenda e receben­
do ainda uma p arte de sua remuneração em dinheiro, conforme o
( 64) -
contrato - com o fazendeiro • Desse modo, nessa rel açao de
p rodução o trab alhador produzia e se apropriava de parte de
seus meios de subsistência, sem a medi ação do mercado, não co�
sistindo assim p ropri amente em relações capitali stas de produ-
1 39.

ção. Ao contrário dessas últimas, o colono aparecia "associado"


aos meios de produção ( do fazendeiro ) , ele não vendia contínua
e sistematicamente a sua força de trabalho recebendo em troca
um salário com o qual fosse retirar todos os seus meios de sub­
6S
sistência, enquanto mercadori as, da circulação ( ) . Nesta medi­
da estamos perante às relações não-capitalistas de produção.
A configuração dessas relações não capitalistas de pro-
dução se dá em condições de carência de mão de obra, o que é
exempli ficado pela diminuição da população e pela ine xistência
- ( 6 6) . - - -
de um fluxo imigratorio. Essa situaçao, nao e apenas notada
nas análises presentes nos relatórios estaduais do final do sé­
culo, mas também pode ser .apreendida em contas de tutela dessa
mesma época. Em 18 93, o tutor dos menores de Domicini aIJ. o Gomes
de Assumpção, ao prestar contas ao Curador Geral dos rendimentCB
dos anos anteriores, coloca que: "Não figura na receita o prod�
to da colheita de café de 189 2 por não ter sido possível, atte�
ta a carência de trabalhadores de lavoura, beneficial-a a tem�
67
po 11 < ) • E mesmo em 19 13 a " maior queixa dos fazendeiros conti
nuaria sendo a falta de braços " .
Do quadro acima exposto depreende-se que, caso a mão de
obra fosse assalariada strito sensu isso acarretaria o encareci
mento de seu custo. Em 1891, por exemplo, um fazendeiro de Pa­
raíba do Sul se que i xava de ter que pagar altos "salários" (diá
-
( 6 8)
rias) devido " a notória escassez de pessoal".

Nestas condições a "associação " do trabalhador direto


aos meios de produção, assumindo à forma de relações de produ­
ção personi ficadas no colono-parceiro, vem permitir uma certa
estabilidade do tempo de trabalho necessário . E isto na medida
em que parte do tempo de trabalho dedicado pelo trabalhador
reprodução de sua vida material adquiria a forma imediata de g�
neros de subsistência, sem a mediação do mercado, por serem es­
tes produzidos diretamente por aquele.

Em outras palavras, caso o trabalhador direto, pós-es -


cravidão, se transformasse em assalariado, vendendo a sua força

eia do mercado, devido à falta de mão de obra, teria o seu "te�


de trabalho e retirando a totalidade de seus meios de subsistên

po de trabalho necessário" aumentado. E isto se daria em cir-


140.

cunstâncias em que não se verifica um desenvolvimento das for -


ças produtivas tal que permitisse o aumento da produtividade do
trabalho agrícola. As técnicas de produção agrícolas perpassa­
ram a abolição da escravidão, e com elas o nível técnico presen
te n aquela forma de produção agrícola. Isso significa, em tese,
que a produtividade do t�abalho agrícola e a relação trabalho n�
cessário e trabalho excedente se mantiveram constantes. Nestas
condições a adoção do trabalho assalariado implicaria em um a�
mento do tempo de trabalho necessário às custas do sobre-traba-
lho. Daí a "associação " do trabalhador direto aos meios de pro
dução contribuindo assim, para a persistência do sistema agrá -
rio. Ou melhor, extenuada progressivamente a capacidade de
transformação de matas em cafezais , a fazenda passa cada ve z
mais a vivenciar apenas o primeiro movimento do processo de re­
produção . A "associação " do trabalhador direto aos meios de
produção ao permitir a redução dos custos de m anutenç ão, garan­
tindo a e xtorsão do sobre-trabalho,contribui para que a f azenda
... vivencie essa reprodução anual •
E se por um lado a carência de braços combinada à per­
sistência das técnicas de produção, aj uda-nos a entender o por
quê do não trabalho assalariado. Por sua vez, a "associação "
do trabalhador direto aos meios de produção é viável pela con­
tinuação de um sistema de uso da terra, no caso representad:> �
la agricultura de alimentos, que permite um pequeno dispêndio
de trabalho n a produção agrícola. Deste modo, a con figuração
das relações de produção pós-escravidão na agricultura de exp�
tação de Paraíba do Sul, o seu caráter não capitalista, deve -
se ao nível das forças produtivas presentes na região. Essas
re lações de produção correspondem ao nível das forças produti­
vas presentes naquele sistema agrário que perpassa, mesmo que
em seu definhamento, a crise do trabalho escravo. O colono,na
região , aparece ligado à enxada e à capoeira, ou melhor, ao
que esses dois elementos representam .

Em alguns inventários de fazendas encontramos a refe -


rência a " casas de colonos " . Considerando que esta exp t"essão é
represenativa das relações de produção que vigoravam no seu
interior, podemos veri ficar algumas de nossas hipóteses, isto
141.

é , apreender sobre que sistema de uso da terra se construiam a


quelas relações.

Pela fazenda de Manoel Gomes Vieira podemos ver a peE


sistência do modo de cultivo da terra e ainda detectar o tipo
de relações de produção que substituiriam o trabalho escravo.A
abertura desse inventário é em 1880 , mas só foi encerrado dez
anos mais tarde. No momento da morte de seu proprietário , as
terras da fazenda eram compostas por 187 , 5 al queires geornétri-
cos , sendo 100 em culturas , 30 em matas , 50 em capoeiras e 7 , 5
e m pastos. Nesse momento o valor das terras em culturas e em
matas eram respectivamente , 300$000 e 800$000 , isso nos indic�
portanto , o modo de cultivo existente naquela propriedade . Dez
anos mais tarde , as terras continuavam a ter a mesma cornposi
ção (culturas , capoeiras e tc) , sendo que e m vez de escravos e-
. . . (69 )
x1st1am meeiros.
E m 1890 , a fazenda do Capitão Lúcio Correia de Castro
tinha 129 alqueires geométricos de terras : 75 em cafe zais ,44 , 5
e m matas e capoeirões , e 10 alqueires e m pastos . O fato das �
tas e capoeirões terem um valor unitário médio de 300$000 , su­
perior em 50% da terra em culturas (200$000) nos informa sobre
um sistema de uso da terra , em que a terra em matas valia mais
que as terras trabalhadas. Coexistindo com esse modo de cult!
vo , no setor de beneficiamento , existiam equipamentos corno de­
bulhadores , ventiladores , despolpadores , sendo alguns desses
maquinismos movidos à máquina a vapor. Partindo do sistema de
uso da terra e considerando que não existiam matas (essas em
conjunto com os capoeirões correspondiam a 34 , 4% da área tota]
suficientes para renovar durante muito tempo os cafe zais (60 %
da área total) , essa fazenda , apesar da máquina a vapor , tinha
a sua eçpacidade de reprodução (29 movimento) diminuída• Ao 1�
do destes existiam "20 casas para colonos em diferentes pontos
( 70)
da lavoura".
Parece-nos que essa fazenda é represen tativa da persi�
tência do sjs:erna agrário pós escravidão , ou seja , nela se perc�
bem a manutenção do modo de cultivo da terra , a redução das
possibilidades de realização do segundo movimento do processo
de reprodução , máquinas de beneficiamento mode rnas coe xistindo
142.

com aquele modo de cultivo rudimentar e por último a presença


de relações de produção em que o trabalhador direto aparece" as
saciado " aos meios de produção.
Neste mesmo ano, a fazenda Santa Juliana pagava aos
" colonos-libertos" a quantia de 3 : 600$500 pela compra de parte
de sua produção de milho (85 carros) e feijão (200 alqueires).
Essa fazenda possuía 16 lances de casas para colonos e "6 ca­
sas cobertas de telhas para colonos ". O fato dos seus 98 al­
queires de terras se distribuírem em culturas, matas, capeei -
ras e pastos nos indica não apenas a forma pela qual era produ
zido o café mas também o mtlho e feijão. (7l) Trata-se de um
modo de cultivo da terra em que a produção de alimentos é fei­
ta por um pequeno tempo de trabalho, o que garante a estabili­
dade do tempo de tral:rl.ho necessário para a reprodução da vida
material do trabalhador direto.
No inventário (1895) de Eloisa Felisberta Della Cella,
das 600 arrobas encontradas nas tul.has da Fazenda Independência
somente 300 foram inventariadas, as demais faziam a parte da
meação dos colonos que se disseminavam pela "colônia " da faze!!_
da. < 72) Em 1900, na fazenda Palmyra, ao lado dos 35 alqueires
geométricos (34,6%), 2 (2%) em matas, 15 (15%) em capoeirões e
49 (48,4%) em pastos existiam "26 casas coberlas de telhas em
estado regular, em diversos pontos das lavouras, para habita -
-
çao de colonos " . ( 73)
A fazenda Matto Alegre em 1915 apresentava 200 alquei­
res de terras, em cafezais, lavoura de cereais, matas, capoei­
rões grosso e pastos. No momento de seu inventário os herdei­
ros retiveram 1 . 200 arrobas das 2 . 400 de café. O restante fo­
ra distribuido entre os colonos da fazenda que se distribuiam
pelas 25 casas da colônia. < 74)
Esses exemplos, por sua vez, nos levam a um outro ponto
que e a reprodução anual da fazenda em circunstâncias de defi­
nhamento do s�ema agrário da economia de exportação. Nas fa­
zendas acima pode-se perceber que a capacidade de realização cb
segundo movimento progressivamente se extenua. Na fazenda Pa!
myra, por exemplo, somente 2% das terras eram compostas por m�
tas e isso frente a 103. 000 (apenas 25% "novos ") pés de café
143.

que mais cedo ou mais tarde teriam que ser substituidos por
outros. Entretanto, deve-se ter em mente a longevidade do c a­
fezal o que podia permitir a sobrevivência, a reprodução anual,
das fazendas por um certo tempo . E ainda que, devido ao seu
modo de cul tivo, tinham os seus custos de produção reduz idos.
I sto é, não invertiam um trabal ho adic ional na recuperação dos
so los o que diminui os gastos com os " insumos", e possuiam uma
despesa pequena com os instrumentos de trabalho .
Quanto à mão de obra, podemos ter uma idéia aproximada
do nível de vida do s colonos no interior da faz enda e, ainda ,
dos custos com a força de trabal ho através do V?lor rel ativo d:s
casas de colonos e equipamento s para o preparo dos al imentos zu;
investimentos da faz enda. As c asas de colonos, geralmente de
pau a pique e co m cobertura de sapê, aparecem no quadro n9 17
co m u m valor rel ativo nunca superior a 7 % , e a soma desse va­
lor com aquele dos equipamentos corresponde a um valor rel ati­
vo que não ultr apassa 1 0 % do total do s investimentos. No ca­
so da fazenda Boa Esperança ( 1 8 94 ), onde a participação daque­
la soma ( 3 : 950 $ 0 0 0 ) é a maior que nas demais faz endas, ele fica
abaixo do valor da casa de vivenda que é de 4 : 10 0 $ 0 0 0 ( 7 ,3% )
Isso vem confirmar os baixos custos da fazenda com a mão de
o br a.
Por outro l ado, o caráter não capitalista das rel ações
de produção permitia, por exemplo, que as fazendas Independên­
cia e do Matto Alegre se apropriassem a título de meiação, re�
pectivamente, de 30 0 ( 2 : 4 0 0 $ 0 0 0 ) e 1 . 2 00 ( 4 : 2 0 0 $ 0 0 0 ) arrobas
de café com poucos custos com mão de obra. Isto porque aque­
les colonos reproduziam parcial mente a sua vida material à mar
gero do mercado, e em vista disso es.sas arrobas de café surgem
para as faz endas como a expressão do so br e-trabal ho extorquido .
A vivência da repro dução anual da fazenda de café pode
ser vista no caso da faz enda Santa Thereza da Cachoeira, que
mesmo incapacitada de renovar os seus 331 . 5 0 0 pés de café com
a pl antação de novos pés, na medida em que não po ssuia mais um
alqueire em mata virgem, nos anos de 1891 e 1 8 92 fecha o seu
balanço com lucro . Nos dois anos as despesas so ma:am 4 0 : 7 15 $000
e as receitas 53: 2 90 $ 0 0 0 , o que representava um lucro de

j
J

QUADRO N9 1 7


NVl:STIHEl<TOS EII CASAS DE COLONOS E EQUIPAKENTOS DE BENEFIClAKENTO DE ALiHENTOS EH ALCIJMAS FAZENDAS DE CAF{�. ; VALORES DAS TEIUlAS,CAJ'EZAlS,EDIFICAÇÔtS E [OUJPAIIENTOS-1001
Equipa - Sub-Total do• Tot al doo

d• COI
Terr•• Cua d• Colono•

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Café
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1 Paz.enda

1, • • • • ,. • ,. • ,. .. •
o de >.7 qui pa.aeoto•

166 ano• de
1

75:4891600
li.entoa

98 9501000
1890 Luh Vieir a Machado Santa Julia" 1 :6501000 2,2
- 14:812000 187. 700 CHI e 6 e� 7001000 0,9
1890 Capitão Lúcio Corrda da Cutro ( 1 ) - 75 2001000 45,5 3001000 - - 10 1501000 129,S 15:0001000 )99.000 20 CUH 4: 0001000 ) , l 4001000 4 , 4001000 l,6 120: 1151000
-
- -
1
1890 H.arh Cindida de Caapello Couto (2) Canelh 57 801000 - - - - - - - - 70 5: 8601000 82.000 colonia - - 801000 - 22;7901000

11894 Vicente rern-.odu de Carva lho (J) Boa Eapenoça 15,5 2501000 - 15,5 1501000 51 8 :8701000 104.000 19 CHU l: 1501000 6 6001000 l: 9501000 7,1 55:9101000

- -
- - - - -
1895 Eloi1a Faliaberto Delh Cella (4) lndepeodiocia 40 55:4451000
....
3001000 6 7001000 8801QOO 1,6

••• ...ator
1001000

)
46 7801000 1 , 4

4
16: 2001000 101.000 colonia
- - - -
1897 Joaquia Joaé Kedairo1 (S) 2301000 2301000 0,9 24: 7501000
Boa Viau 15 2001000 3001000 2001000 8 2001000 30 6:3001000 46. 500 12 caa aa -
90: 1601000
- -
1 :8201000 2
1900 Clotilde da Cru& Outra (6) - 20:8001000 150.000 26 caua
-
Palayra
-
)5 2001000 2 600$000 15 150$000
-
49 1501000 101
8801000 l,2 27: )751000
-
8: 5SOIOOO 22.000 9 casas 3201000 1,2 5601000
1905 Joio Carlos Pe reira Jrfunu Fo rtaleza 5 901000 12 1201000
- 90 801000 107
1905 D. Anna Penir a de Oliveira Ca.apoe 1701000 0,6 1001000 2701000 1 2 7 : 54Sl000
Sincorã 18 1001000 5 4001000 45 801000 68 7: 4001000 )).OOC 4 casa•

1915 Capitão Frenei aco de ca,! ilho hrbo�a(7) 1 : 236� 1,4 2so1000 l : '861000 1.7 88:4231000
Katto Aha.re 61 801000 - - 40 1201000 - - 97 601000 200 t8:0601000 169 . 00C 25 CHII

. AJ - A.ru e• lqueire• i 8 - Valor de l alqueire ; C - Valor Tota l .


A
( 1 ) Ãrea ca alqueíru geométdcoa. Ãrea d a Terra • • Katea e CapoeirÕ•• dada • • conjunto i o valor
é a .édia d o valor doa doh.
(2) Ã�u da T!rra •• culturH a pHtoa dado, •• conjunt o ; o v alo i- é a aédia do, doi.a, Não ã di acriaíned
_ o o o9 de cHH e• seu lugar
, aparece a e.apru-
'ªº colon1a.
(l) Area da Terra ee culturu a aatH dadoa •• conjunto; o valor é a .êdia do1 dois .
(4) Ãrea da Terra ea culturas e paatoa d adoa e• conjunto; o val or ê a ai:dia doa do í a .
(S) Ana da Terra •• utu e pedreiru dadoa •• conjunto ; o valor é a .êdia doa doia. Na avaliação du
cuaa de coloooa uu, ,io coodderadaa H• va­
lo r e •• ui ca tado .
(6) A:rea da Terra ea c apodrH (no cuo "fínaa") • paacoa dadoa •• conjunto; o val or é • llltci;h doa doia
alqueiru aeoaêtri coa . Eua fazenda pouubJ
Moinho e Fu&ia para Fub.i. aoinho de rodí&io para Fub.i, delu,lhador de a.ilho. prenu para fadnha de aandi
oca . O valor do au equipa�toa foraa da­
do, •• conjunto coa 01 de café.
(7) Arca da Tetra •• culturu e aataa dadoa •• conjunto. O v alor é a aédh doa doia.

Fonte: lnvent.irioa - Car tôrio do 19 Ofíc io de No taa de Paraíba do Sul.

-��---------------� --------------- ..-..-- ----���·�


w
>
144 .

de 12 : 4 5 2 $ 0 0 0 , isto é, de 30 , 6 % sobre as despesas. Nas contas


des s a fazenda percebe-s e, ainda, a presença de diaristas ( cam�
radas) contratados p:r serv iços de temporadas e que recebiam a
sua remuneração parte em dinh eiro e parte em alimentação. ( 75 )
Um outro exemplo é da faz enda Boa Vista, cuj o s traba -
lhos eram realizados por 12 co lonos e mais trabalhadores tempo
rários . Em 1897 es sa fazenda apresentava um lucro de 6 4 , 5 % (d:s
pesas 1 7 : 7 0 5 $ 4 93 e receitas - 2 9 : 138 $ 5 6 4 ) ( 7 G ). Cons iderando �
contudo, que menos de 3 alqueires eram ocupados po r matas vir­
gens frent e a 15 alqueires de culturas, ess e rendimento não
continuaria por muito tempo .

3. 3. A Invasão dos Pa stos


Assim co mo a reprodução extensiva transformou as ma­
tas em cafezais , o uso extens ivo da terra co mbin ado à inexis ­
tência de prát icas de adubação transformaria as terras em cul­
turas em pastos. Através do gráfico n9 1 1 que reproduz os in­
vestimentos em todas as unidades de produção de 1 8 7 0 a 1 9 2 0 ( le
vantamento de 10 em 1 0 anos), podemos apreender a modificaç ão
que s e dá na região, ou melhor, a mudança da paisagem agrária
empreendida pe lo ritmo do s istema agrário em Paraíba do S ul.
No período de 1 8 7 0 ( excluidos os investimentos em escravos) a
1 90 0 , nota- se que o café co rresponde a mais ou meno s 5 0 % do va
lo r das fazendas e is so, portanto, caracteriza a região co mo
sendo tipicamente de café. S it uação essa, contudo, que se mo­
difica a partir de 1 9 0 0 , quando a participação do s cafezais se
vê diminuida, chegando em 1 92 0 a corresponder apenas a 4 , 4 %
De s t e modo a região não pode ser mais cons iderad3. co mo cafeei-
ra.
A área cultivada presente no s 7 1 1 estabelecimentos 1�
vantados pelo recenseamento de 1920 t inha uma extensão total de
1 6 . 2 0 2 hectares . Sendo 12. 032 hectares ocupados por 9. 6 2 5 . 5 5 0
pés de café, o que equivalia a 74,3% daquela área, o restante
era ocupado pela agricultura de alimentos ( 23, 4 % ) e po r plan­
tas industriais ( 2 , 3% ). Entretanto, ess es números s e modifi -
cam quando cons ideramos não apenas a área cultivada, mas a á -
rea total dos estabelecimentos. E s s a ú ltima área era de
145 .

78.432 hectares, e nesta medida a extensão cultivada não che­


gava a 21%, ficando en torno de 20,6%. E se o café continua
sendo a principal cultura plantada nos estabelecimentos, o me�
mo não se pode dizer quanto ao espaço por ela ocupado :r:estes; e�
te espaço era de 15,3% ( 77 ) . Área reduzida, se temos em mente
que se trata de uma região com um passado recente marcado por
essa procução. Em 1860, por exemplo, urna fazenda como a de
"Ribeirão" que possuia 268 alqueires, destes 165 ou 61,6% eram
ocupados por cafezais. < 7 8) ( Gráfico n9 11)
Por conseguinte, o comportamento do valor do cafezal ro
gráfico n9 1 1 é explicado pela gradativa transformação que o­
corre nas antigas fazendas de café, seja pelo desaparecimento
do cafezal em seu interior , devido ao esgotamento das matas e
consequentemente à impossibilidade de se plantarem novos ca­
fezais para substituirem os velhos, seja pelo envelhecimento do
cafezal e com isso a diminuição de seu valor. Para os anos de
1905 e 1910 recolhemos, no total, inventários que retratavam 34
unidades de produção, dessas 9 ( 26,5%) não possuiam mais um pé
de café, sendo as suas terras compostas por pastos. E para os
anos de 1915 e 1920, foram levantados 25, sendo que 16 (64 %)no
lugar das terras em cafezais encontramos terras em capim. Por
sua vez, naquelas fazendas onde o café ainda se achava presente,
o seu valor não era mais expressivo. Das fazendas de café in­
vestigadas em 1920, por exemplo, o cafezal correspondia a ap�
nas 24,4% da soma desse item com os valores das terras, equipa­
mentos, edificações e animais.
o que dissemos pode ser exemplificado na fazenda Forta­
leza, que em 1905 ocupava uma ârea de 107 alqueires. Esses al­
queires se distribuiam em 5 ( 4,6%) de culturas, 9 (8,4%) em ca­
poeirões, 3 ( 3%) de capoeirões grossos e finalmente 90 em pas­
-
tos, ou seja, 84% das terras já não mais serviam para a aaricul -
tura ( dentro do sistema de uso vigente na região); não existiam
matas virgens. As terras em culturas, eram formadas pelas plan­
tações de cereais e 22.000 pés de café que se encontravam em
79)
·�ão estado" . < A dist;ncia dessa situação com aquela ante-
rior a 1870 pode ser vista através da comparação com a fazenda
de Ana Lima Machado que, em 1860 , tendo urna extensão próxima da
fazenda Fortaleza,100 alqueires,possuia 300.000 pés de café e
em bom estado. ( 80)
146.

GRÍFICO N 2 11

VALOR {� ) dos cafezais , das Terras e Animais nas Fazendas de


.. . PARA.fBA 00 SUL - 1870 - 1920
os.fe zais ..,. tarra.s 1- edificações .,. eq_uip,!3.mentos ... anima.is .::. 100 cf..

% � A % dos Oafe zais


B ,t. das Terras

___
55 O' % dos Animais
50
( 50 , 3 ) ( 49 , 9 )
/ .�----,._
/50 , 8 )
45 A / -

40
( 4"5 , 6 )

(35 )
35 B

30
( 33 , 21'���9 , 7 >
(30,
25.

20
\

-�9)--c2{ \
\1 8 , 3 )
15 '·

10
a (4,4 ) 6 ,1 )
5 ! � 4
(2,�) ---
(2,7) ( 4,3 ) ( ,1 )
--·-- ---- --
( 2 ,7 ) - -�
1 ·- .,.
'-----
1 870 1 880 1 890 1 900 1910 1920

FONTE: Inventários - Cartório do 1 11 Of'{cio de Notas -Paraib3 do Sul

/
147

....

As unidades de produção de menor dimensão não se encon


travam em situação muito melhor do que a Fazenda Fortaleza
quanto à percentagem de terras em culturas. Tal é o caso da
exploração agrícola de Luis Pinto de Amaral que, em 1915, com
2 2 alqueires tinha 2 alqueires em culturas (9%) , 20 (91%) em
pasto e nenhuma mata virgem. (Sl )
Ou do sítio Vista Alegre que,
no mesmo ano de 1915, possuia 2 2 alqueires de terras, 3,5 (16%)
em cafezais, 4,5(2 1%) em capoeiras e 14 alqueires (63%) em ca­
pim e cafezais velhos ( 8 2 ) . Outras fazendas, como a da " Inde­
pendência" em 1910, que era formada por 78 alqueires, tinha a
percentagem em pastos de 100%. (83 )
Com a contínua diminuição do cafezal nas fazendas, as
terras passam a corresponder, percentualmente, à maior parcela
do valor destas. Isso implica em dizer que os pastos pass�
riam a participar decisivamente na conformação do valor das
fazendas e que essas deixaram de ser de café. O avanço dos
pastos, ou melhor, a mudança na fisionomia de Paraíba do Sul,
é vista no gráfico n9 12, onde se observa a formação do valor
das terras presentes nas fazendas de 1 8 8 0 a 19 2 0. Consideran­
do que um alqueire em capim é o tipo de terra menos valoriza­
do, cuj o valor é inferior inclusive ao das terras em culturas
(ver gráfico n9 13) ,nota-se pelo gráfico n9 12 o aumento da
- 1
extensao das terras em pastos nas fazendas as custas das ter-
ras em culturas. Em 1 8 8 0, as pastagens respondiam por 4,4% do
valor das terras, 15 anos mais tarde essa cifra passa para 50%
e em 19 2 0 atinge 77,6%.
E isso ao demonstrar o extenuamento das matas, capoei­
ras e terras em culturas implica na diminuição do espaço ocup�
,. do pela agricultura extensiva retratando desse modo urna modifi
cação na paisagem da região. Tal modificação não se restringe
à decadência da agricultura do café; antes ela diz respeito à
diminuição do espaço de urna forma de agricultura extensiva. No
recenseamen to de 19 2 0, não só se percebe a redução do espaço re
café mas também da agricultura ; a produção de milho, principal
cultura da agricultura de alimentos, neste recenseamento apare
-
ce ocupando apenas 5% da área total dos estabelecimentos. ( 84 )
0utrossim, o passado cafeeiro da região pode ser nota-
14 8 .

GRÍFICO NO 1 2
PARTI CIPAÇÃO ( � ) dos Pastos n a formação d o Valor das Terras da Pazen­
da ( 1 880 - 1920 )
terras em cul turas - matas • capoeiras - p as tos � 100 �

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Torras em cul turas • matas + capoeiras
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, , I'. • ,, .
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GRÁFICO N'2 13 PREÇO % das Terras em culturas e Pastos nos Inventários (1880 - 1895 - 1905 - 1915 - 1920)
Terras em cultura• + Pastos . 100 %
%
65 A - Terra.a em lultura.s '1 A � ��
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B - Pastos ,i .A e-<j ........Q.)-'U._:
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1880 1895
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1920
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FONTE : Inventários - Cart6rio do 1ª Ofício de Notas - Paraíba do Sul
150.
,..
do, na presença, nos inventários de passagens como "cafezais
muito velhos e em completa decadência'1 ( !
85
Ou ainda, nas re�!
rências aos maquinismos de preparo do café. Como é o caso ea
fazenda Bella Vista que, em 1910, não possuia nenhum pé de ca­
fé, mas ainda detinha um burmidor, um descascador, três vent!
ladores "tudo em mão estado" e mais adiante se vê que "estes
mecanismos serviam para preparar café ". Nessa última fazenda,
junto a plantação de um alqueire de planta de milho, encontra­
mos 6 juntas de bois, 6 vacas com crias, 3 sem crias, 8 garro­
tes, 1 novilho, 15 capados, 2 2 porcos, 1 égua, 1 cavalo de se
la, 2 burros novos e 1 poldro ; o valor desses animais corresp:n
-
dia a 32% da soma dos investimentos na fazenda. (86)

Em outra fazenda, " Areal", ao lado do engenho de pi­


lÕes, dos ventilaeores, burmidores não encontramos nem mesmo un
pé de café. Achamos,contudo, 8 capados, 5 porcos, 28 leitões
e 80 cabeças de aves domésticas e mais a expressão "venda do
gado" , comJ indicador da atividade econômica dessa unidade. (87)

Com a perda de importância da cafeicultura, a criação


de gado deixa de ser uma simples atividade acessória à agricul­
tura, para se tornar cada vez mais na atividade fundamental da
unidade de produção. E isso, por sua vez, leva a urna mudança na
composição do gado. Vimos na segunda parte do segundo capítulo
que mais ou menos 50% do gado bovino presente nas fazendas de
café era constituido por bois de carro. Essa distribuição, com
a queda da agricultura, deixa de ter sentido.
Na fazenda Sertão de 1915, por exemplo, das 35 cabeças
de gado bovino nela presentes, apenas 4 (11%) eram bois de car­
ro, sendo 18 (51%) formadas por vacas. (88) Ã semelhança dessa
unidade, a fazenda Fortaleza, com 89 cabeças de gado bovino, 97
carneiros, 3 1 porcos de campo, 12 capados e outros animais, po�
suia poucos bois de carro. Esses Últimos eram em número de 19
(2 1,3%) enquanto que as vacas 39 (44%) do total dos bovinos .
Segundo o recenseamento de 19 2 0, o principal rebanho
presente em Paraíba do Sul era o bovino composto por 37. 385 c�
beças de gado, seguido pelos suinos com 12. 126 cabeças, equinos
com 4. 338, ovinos com 1. 529 caprinos com 1. 136 e assuinos e
151.

muar com 988. O gado bovino do município era o terceiro maior


do Estado, só perdendo para o de Campos (1 0 4. 616 cabeças) e o
de Valença (41. 831 cabeças). Daqueles bovinos, 34. 637 (92,6% ) se
encontravam presentes nos estabelecimentos recenseados e a sua
distribuição confirma o que dissemos há pouco : 18. 576 (53,6% )
eram vacas e novilhos, 8 . 4 0 2 (24,3%) bois e 7. 659 (22,1%) garro
-
tes e bezerros. (89)
Entretanto, a perda da importância da cafeicultura, a
presença do gado nas fazendas citadas anteriormente, não impl�
ca que Paraíba do Sul tenha se transformado imediatamente numa
região pecuarista. No gráfico n9 11 observamos não apenas
que de 1 90 0 a 1920 o valor relativo dos cafezais na região cai
mas também o avanço dos rebanhos na formação do valor da fazen
da é lento. Neste período nem todas as unidades tinham uma
composição de valor semelhante a da fazenda Fortaleza
(27:375$000) em que os animais detinham 30% (8: 120$ 0 0 0 ) desse
valor só sendo superado pelas terras, 8:55 0 $ 0 0 0 (31%).
Através do levantamento realizado, em 1925-26, pelo �
viço de Estatística da Diretoria de Agricultura do Estado, das
propriedades rurais com valor igual ou superior a 20:00 0$ 0 0 ô 90 �
podemos ter uma idéia da distribuição das unidades de produção
entre agricultura e pecuária. Foram arrolados 178 imóveis, f�
zendo uma área total de 17. 023 alqueires ou 82. 391,3 hectares,
o que corresponde a 85,5% da área do município (96.40 0 hecta -
res) (9l t A área média desses imóveis era de 95,6 alqueires. �
tudo, a idéia q ue pode ad vir dessa cifra se modifica quando
consideramos os imóveis com mais e menos de 100 alqueires. E­
xistiam 59 propriedades (33,1%) acima de 100 alqueires, ocup�
do uma extensão de 1 0 . 876 alqueires, isto é, 63,9% da área to­
tal. Enquanto que 119 unidades (66,9%) ocupavam 6. 147 alquei­
res, ou seja, menos de 36,1% das terras.
Quanto à natureza da propriedade, 142 proprietários
(79,8%) responderam que eram lavradores e 36 criadores (2 0 ,2%).
Deve-se ter em mente, contudo, o fato dos lavradores tarnbém man
terem rebanhos em suas propriedades. Por sua vez, a á a cor­
.......a-�
respondente aos lavradores era equivalente a 13 . � � ( 9,3%) ·

alqueires, enquanto a dos criadores era 3. 519,5 (20,7%). A
15 2.

concentração de terras era mais acentuada no grupo dos criado­


res, onde 13 p o riedades (36, 1% do grupo e 7,3% do total)de-
� � �
tinharn2. 228, S . (70%) da .area representada por este gru-
po e 14, 4% da área total • . Enquanto que 46 lavradores ( 38, 6 %
do grupo e 26% do total) ocupavam 8 . 427, S alqueires, o que si�
nificava 62, 4% da área representa pelos lavradores ou 49, 5%da
extensão total. Essas inforrnações�alérn de nos sugerirem a con
centração de terras em Paraíba do Sul, nos indicam que, ape -
sar das terras em capim, nem todas as propriedades rurais se
dedicavam principalmente à pecuária.
A formação da pecuária na região não se dá abruptamen­
te. As terras em pastos são antes de mais nada urna decorrência
do processo de reprodução extensiva, no tempo, do sistema agr�
rio da economia de export ação, ou seja, o pasto é urna transfoE
mação empreendida pela agricultura extensiva na paisagem rural
e não urna consequência da introdução da pecuária na região. As
terras em capim precedem a pecuária. Por outro lado, corno vi­
mos, o definhamento do sistema agrário da exportação contr ibui
para a emigração de parte da população local para outras re­
giões. E se isso reduz ainda mais as possibilidades da exis -
tência de urna agricultura cujo funcionamento se liga à mobili­
zação de grandes contingentes de trabalhadores, o mesmo não o­
corre com a pecuária que não precisa de um grande número de
trabalhadores .para a sua existência. Nesta medida a pecuária
em Paraíba do Sul, se desenvolve sobre aquilo que "sobrou" do
sistema agrario da economia de exportação. E isso não só
nos informa que não houve urna modificação nos métodos agríco -
las de tal forma que permitisse a recuperação dos solos para a
agricultura, mas corno também nos indica o tipo de pecuária de­
senvolvida.
Quanto aos métodos utilizados nessa atividade, em 1902
na Mensagem do Presidente do Estado era assim vista a penetração
da pecuária nas antigas áreas de café: "Por longos annos fornos
um Estado exclusivamente agrícola e com excepção do gado des­
tinado ao serviço dos transportes e de algumas vacas utiliza -
das para a produção de leite, nunca os nossos lavradores se e�
tregaram à criação nem souberam tirar proveito desse auxiliar
poderoso para o próprio melhoramento das suas culturas, utili

J
153.

zando em benefício dellas o abono ferilizante que o mesmo gado


lhes fornecia ".
"A indfistria pastoril ( ... ) é a mesma dos tempos prim�
tivos, não se ensaiaram novas raças nem se aperfeiçoaram as e­
xistentes (. . . ) O gado nasce e cresce segundo as leis da natu­
reza solto pelos campos sem o menor benefício que os preser­
ve da peste e das calamidades que dizimam a criação pela falta
de ajudas permanentes ( • • • ) Não dependente, pois, da extensão
territorial o valor da indústria de criação (. • • ) Nesta como na
indústria agrícola o que vale e que assegura a prosperidade de
um povo é a adopção dos melhores méthodos da criação, é a esc�
lha das raç as e a seleção dos seus productos, é, em fim, a .a-
- -
daptaçao do solo .
pelo cultivo -
das boas forragens .(92)
11

Vinte e dois anos mais tarde, em um levantamento real!


zado pela secretaria de Obras Públicas e Agricultura do Estado
em 32 fazendas de Paraíba do Sul, sobre as pastagens e as prá­
ticas de vacinação do gado, os resultados são os seguintes :
16 (50%) fazendas não costumavam vacinar, 9 (28,1%) iriam ini­
ciar a vacinação e somente 7 (21,9%) costumavam vacinar ; as
pastagens, nas 32 fazendas, eram constituidas pelo capim gordu -
(9 3)
ra .
Em 1925, as fazendas de Paraíba do Sul, onde existia a
presença do gado, voltariam a ser visitadas (quadro n9 18) . Ne�
te ano o número de fazendas inspecionadas foi de 85, e além da
preocupação para com o estado das pastagens há o intuito de se
determinar o tipo de doenças presentes nos animais e verificar
a existência ou não de banheiros carrapaticidas. (Quadro n9 18)
Conforme o quadro n9 18 podemos ver que das 85 fazendas
apenas em 2 (2,4%) não se verificavam a presença de doenças in­
fecto-contagiosas, em 1(1,2%) essas doenças eram declaradas co­
mo casos raros, em 7 (8,2%) costumavam aparecer e em 75 (88,2�
se constatava a sua presença. Dessas 75, só em 18 (24%) não
havia mais de um tipo de doença infecto-contagiosa. Entre es­
sas a mais registrada (observada nas fazendas ou costumava a a­
parecer) foi a febre aftosa. Presente em 61 fazendas (71,8%),
essa febre é altamente contagiosa e ocasiona a perda do peso do
animal, a incapacidade temporária para o trabalho e quando ata-

J
3anheiro
�;9 S:l� Ca 7a:.e:ida Doenç�s Infecto-Contagiosas Ooentas Par4S4târias Outra• Doenças Ectoparasitas Pastagens
r 5ernas
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l São !ento Cost.A;,. \1)Aftosa e Manguei ra Cos t . Ap. Sarn·as Não Verificadas 1 �ª �ª5gfiáaâe I Não Exi�te C . (3) Gordura Roxo
2 Cõrreso lo Tenente Cost.Ap.Aftosa, Xa ngueira,Batedeira
e Pneu:,o-enterite.

3 Ca-;,o Al e gre Cost. A;,. Aftosa


4 C.:scatinha ?neu�o-enterite , Mangueira,Aftosa Verificadas
5 N.io Vo?ri 'êcadas C.Jara guá
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6 ?assa
C . Gordura Roxo
Tcc;,o Cos t . Ap. Aftosa, Mangueira, Bate­ Raros Casos de Sarna s

7
deira.
São José Aftosa �unca foram observadas QUADRO N9 1 8
8
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- Obs . (2) Pneumo-ente rite,Carbunculo
e Aftosa.
Sarnas Carrapatos e Bernas
em pequena quantida
- �aaendas d e Paraíba do
9 i..age
de.
C . Gordu::a e klgol t . .
Cost. Ap. Aftosa, l'.angueira, Carbun - Verificados u 1 v i s i t ad as pelo ser-
culo.
10 Cor.ceição Cose. Ap. Aftosa, Mangueira e Car­ Já existiram casos de Sarnas Já existi r ac Pretende cons- � .Gordura Roxo
bunculo. truir. fÍço de Indústria Pasto
11 Sar.ta Thereza Raros Casos de Pneumo-enterite,Aft.!!_ I Vár ios Endopa ra sitores Nio Verificadai Não Existe c . Gordurà �i l 1 9 25 .
sa.
12 Sa::ta Thereza Raiva , }!angueira e Pneuco-enter it e Não forao Verificadas Pretende cons- !loas
truir.
13 P.osa
Boa s
Santa Mangueira, Pneu::io-e nt erite e Batede� Sarnas
ra .
Aftosa, Pneumo-enterite ,Mangueira Muito poucos carr�­ Boas
1 4 1 Capuaba Não Ve rificadas

15
patos e be rnas.
- Boas

16 Laie Ver ificadas Boas

17 Carioca Aftosa e Mangueira Não Verificadas Não Existe Boas


Aftosa Nunca Existira?!\ Não Existe C . Gord.Roxo
19 e
1 Õ 1 õarão le Angra
Aftosa e Mangueira Sarnas Não V,!rificadas Poucos carrapatos
I Sítio do Engenho bernas.
3oa Vista Aftosa e Batedeira Não Verificada s
21
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22 Glória Aftosa
23 Conce icão do l'.orro Azul Aftosa e Batedeira C. Gordura Roxo

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25 S . José do, Bairro Alto Aftosa e Mangueira Muitos carrapatos
1
26 �:tosinhos Poucos carrapatos
e bernas.
77 Poucos carrapatos
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28 j Cta�ara las Ros a s Y.an&ueira, Pneumo-enterite,Aftosa Poucas bernas lc. Gordura Roxo
29 Gloria d o Mundo Mangueira e Aftosa Poucas bernas e car
rapatos.
30 ?ros;,eridade Aftosa Sarnas Muitas bernas
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bcrna s .
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34 s . ;oão da Bella Vista
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1 Poucos carrapatos.
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39 Ccn�eição da Aparecida "-.ão Ve:::ific adas Carrapatos e bernas
40 Ribeirão �tosa, Mangueira, Pneumo-entérite - , Verificad as Poucos carrapatos e
bernas.
C-. Gordura e Jaraguá
1
4 1 , :-1.o:-ro Grande �ftosa e Mangueira Sarna Não Verifieadas
42 �arra !Aftos a Não Verificadas C. Gordura Roxo
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43 Rio Preto Aftosa e Mangueira
44 C . 3 • . de E. Electrica !Aftosa C. Gordura
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(Alberto Torres)
45 ! 5. A..'ltO!\io ' Carbunculo
e. Gordura Roxo
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47 Si:o José �!tosa, Y.angueira e ?neumo-enterite Verificadas .
48 Ca=Po c!a Paz "rbunculo e Aftos a Não Verifica-:las Muitos cartapatos e C. GorduraBranco 1·.

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bernas
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1
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em grad. quantidade
58 Paloeira �nguei ra , Pneumo-enterite e Batedei Poucos carrapatos e
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53 Santa C�ara ,Xangue ira,C- ,rbuncu lo ,Batedeira, e ..
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1
São José �.2.ngueira Carrapatos
1
61 Chacrinha iMangueira e Aftosa Poucos carrapatos e Muito secas
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62 Engenho de Cana !'1.angueira Sarnas Poucas bernas C. Gordura Roxo
63 Retiro Xangueira e Pneumo-enterite -r
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1 ?aiol raguá
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65 :-'..:ingueira e Aftosa Não Verificadas Carrapatos e bernas Capins (vários)
66 1 �ão Bento !'1.angueira,Aftosa.Carbunculo e Pneum2_
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67 1 Retiro Mangueira e Pneu:no-enterite Sarnas Verificadas Poucos carrapatos e Não existe C . Gordura Roxo ri
�'! ! S:2.:-'.a da �.agdalena !1:lngueira, Pneumo-enterite e Aftosa Não Verificadas bernas.
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77 !oa Esperança Não Verificadas Carrapatos e bernas Não existe
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em pequena quantidade
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Batedeira. patos.
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79 Sossa Senhora do Can,,o
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PneutlO-enterite e Y.angueira
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81 Liberdade Sarnas
" e. Gordura Roxo e
Pneumo-enterite, Mangucira,Aftosa
" "
Jaraguá.
82 - Não Verificadas !Não Verificadas e . Gordura Roxo
"
i:ão verificadas
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83 �wngueira e Pneumo-enteite Poucos cariapatos e " "
Sitio elo Salino
" "
54 1
bcrnas. "
,- ! Mangueira e Batedeira
"
" " "
i
"
85 Boa Es2erança 1 �n5ueira " Poucos carrapatos " r
Fon:e: Rio ele Ja:1eiro. ReJ.atôrio ele Obras Públicas e Agricult'-*'ª• Anexo n9 1 2 , 1923.
.

Obs: 1 . Cost.Ap.-Costuma� Aparecer

2 . Obs. - Observadas

3. C - Capic.

V,

C")

.
155.

cada em vacas l eva à diminiição da quantidade de leite; uma das


formas de seu contágio se faz através das pastaqens.
No que diz respeito às doenças parasitárias a situação
é um pouco melhor. Em 62 (72,9%) fazendas não foram observadas
a sua existência . O mesmo não ocorria com os ectoparasitas ; e�
ses só não existiam em duas fazendas (2, 4 %) em 14 (17%) das 83
restantes se achavam em quantidade. Quanto à eliminação des­
ses ectoparasitas, em 82 (96, 5%) não existiam banheiros carra
pacticidas e apenas 6 (7,3%) desse número pretendiam construí­
los.
Por sua vez, as pastagens em todas as fazendas investi
gadas eram naturais, na forma de capim gordura.
A combinação dessas informações nos sugere que de 1902
a 1925 a pecuária não teria sofrido uma grande evolução quanto
aos seus métodos. Em outras palavras, trata-se de uma pecuá -
ria que, à semelhança da agricultura que a precedeu, se funda­
menta mais na incorporação extensiva de fatores, no caso, de
terras (pastagens) e de animais, de que propriamente na inver­
são de trabalho no sentido de melhorar as práticas de produção
seja no trato dos solos ou dos animais . A paisagem rural de
Paraíba do Sul e as técnicas nela presentes continuariam a re-
tratar o sistema agrário preté rio e o baixo nível das forças
produtivas permaneceria na forma de uma pecuária extensiva.
156 .

NOTAS - 39 CAP!TULO

1 - Brasil, Relatório do Banco do Brasil 1880-81 ( Rio de Janei


ro, 188 1 ) , p. 14.
2 - Manuel Ribeiro do Val, Congresso Agrícola de 1878, Colle -
ção de Documentos, IHGB, p. 163.
3 - Luís Corrêa de Azevedo, "Da Cultura do Café", in: Francis­
co P. de Lacerda Werneck (Barão Paty de Alferes) , Memória
sobre a Fundação e Custeo de urna Fazenda na Província do
Rio de Janeiro ( Rio de Janeiro: Eduardo & Henrique Laemure:t,
1878), p. 2 36.
4 - Idem, Ibidem, p. 236.
5 - Manuel Ribeiro do Val, op. cit, p. 164.
6 - Richard, Viaaem do Rio de Janeiro a Morro Velho ( Belo Hori-
J -

zonte ; Ed. Itatiaia; são Paulo. Ed: da Universidade de são


Paulo, 1975), p. 57.
7 - Stanley Stein, Grandeza e Decadência do Café no Vale do P�
raíba - co referência especial ao Município de Vassouras
( São Paulo : Editora Brasiliense, 1 9 6 1 ) , p. 2 60.
Manuel Ribeiro do Val, op. cit, p. 164.
8 - Conta de Tutela, 1882, dos Menores de Maria Tavares Montei­
ro, maço n9 199, CPS.
Conta de Tutela, 1883, da Menor do Barão do Rio do Ouro ( Lia
Pereira da Cunha), maço n9 125, CPS.
Inventário, 1880, Falecido - Francisco Gomes de Aguiar, ma
ço n9 199, CPS.
9 - Conta de Tutela, 1874, Tutor João Gomes de Aguiar , maço
n9 56, CPS.
10 - Witold Kula verifica a existência de dois tipos de mudanças
nos sistemas econômicos: mudanças oscilatórias, irregulares
seriam aquelas observadas na curta duração, a exemplo das
más colheitas ; mudanças cumulativas e direcionais, somente
poderiam ser observadas na longa duração e afetariam mais
diretamente as estruturas. Witold Kula, "Da Tipologia dos
Sistemas Econômicos", in: Jacqueline Fourastié, Economia, 39
ed. (Rio de Janeiro: Editora da FGV, 198 1 ) , p. 1 14.
15 7 .

1 1 - S tan ley S te in , op. cit, p. 2 7 9.


12 - Emí l ia Viotti da Costa, Da Senzala à Colônia, 29e d. ( s ão
Paulo: L ivraria Editora Ciências Humanas Ltda, 1 98 2 ) , p. 161
13 - Stan le y S te in, op. cit , p. 2 8 0 .
1 4 - Invent ário, 1 8 8 0 , Falecido - Manue l Gome s Vieira da Cruz
maço n9 2 2 9, CPS .
15 - I de m, I bide m.
1 6 - Inven tário, 1 8 73, Falec ido - Barão de s. Justa, maço s/nQ .
CPS.
17 - Stanley S te in . no . � it, p. 2 7 9 e 2 8 0 .
1 8 - I de m, I bide m, p. 1 0 9 .
1 9 - Rio de J ane iro, Re l atório do Presidente da Província do
Rio de Jane iro, 1 8 5 5 , citado por Stanley Stein , op. c it, p.
109.
2 0 - Stanley S te in , op. cit . p . 130 .
2 1 - Manuel Ribe iro do Val, op. c it, p. 1 6 4 .
2 2 - I de m, I bide m, p. 1 6 4 .
2 3 - Che ywa R. Spindel, Homen s e Máquin as na Transição de uma �
conomia Cafe e ira ( São Paulo: Paz e Te rra, 1 98 0 ) , p. 4 0 e 6 7 .
Warren Dean, Rio Cl aro - Um S istema Brasile iro de Grande
Lavoura. 182 0 ( S ão Paulo; Paz e Te rra, 1 97 7 ) .
José de Souza Martin s , " A Formação da Fazenda de Café. Con
ve rsão da Ren da-em-Trabalho e m Capital", in: O Cative iro
da Terra ( São Paulo: Livraria Ed:itora Ciências Human as, 1979)
pp. 5 9- 7 5 .
2 4 - Warren Dean, op. cit , p. 1 5 4 .
2 5 - I de m, I bidem, p. 1 6 6 .
2 6 . - Rio de J ane iro, "Question ário Con stante da Circular nQ3 de
jane iro de 1 8 98 e respost a dada pe las Câmaras Mun icipae s
in: Re l atório de Obras Públicas e Indústrias ao Pre sidente
do Estado 1898, vol. I (Nitheroy, 1 8 98 i , p. 2 4 5 .
158.

2 7 - Rio de Janeiro, "Relatório da Estação Agrônoma do Estado


do Rio de Janeiro" in: Relatório da Secretaria de Obras
Públicas e Indústrias de 1894 (Nitheroy; Tipogra-
phia Guimarães, 1894) p. 8 e 9.
28 - Fio de Janeiro, Relatório da Secretaria de Obras Públicas
e Indfistrias 1895 (Nitheroy Tipographia Jeronymo Silva e
Comp. 1895) p. 12.
29 - Pedro Gordilho Dias Paes Leme e outros. "Organização Agrí
cola: Parecer sobre a Organização Agrícola do Estado do
Rio de Janeiro", in: Revista Agrícola do Instituto Flumi­
nense de Agricultura XXII (Rio de Janeiro: Instituto Flu­
minense de Agricultura, 1891), p. 12.
30 - Rio de Janeiro, Mensagem Apresentada à Assembléia Legisla
tiva pelo Presidente do Estado em 1916 (Rio de Janeiro Typ.
do Jornal do Commercio de Rodrigues & Co. 1916)p.7.
31 "Escritura de Arrendamento da Fazenda Santo Antônio" in:
Ação Ordinária - 1891 - Capt. �ntonio Barboza Pereira(A)e
Almeida Ruas (Réo), maço n9 50, CPS;
32 - Karl Marx, O Capital, :r-L.ivro, 6 ! volume (Rio de Janeiro
Civilização Brasileira, 1975), p. 705 e 706.
33 - "Escritura de .Arrendamento da Fazenda Santa Thereza", in:
Ação Ordinária - 1893 - Dr. João Baptista de Castro (A) e
José Antonio de Tré� maço n9 50. CPS.
34 - Executiva Hypothecaria, 1898, Enydio Fispoll e Joaquim Jo
sé de Carvalho Lima, maço n9 99. CPS.
35 - Pio de Janeiro, Questionário Constante da Circular n93...
op. cit. p. 61 e 62.
36 - Brasil Ministério da Agricultura, Indústria e Comércio.SeE
viço de Inspeção e Defesa Agrícolas, Questionários sobre as
Condições de Agricultura dos .Municípios do Rio de Janeiro­
Inspectoria Agrícola do 139 Districto, Inspeccionado de
25 de junho de 1910 a 29 de abril de 1913. (Rio de Janeiro:
Typ. do Serviço de Estatística, 1913), pp. 81-84.
159 .

37 - Brasil, Ministério da Agricultura, Indústria e Comércio,


J:.ept. Geral de Estatística, Recenseamento do Brasil real�
zado em 19 de setembro de 1920, 39 parte Rio de Janeiro:
Typ. da Estatística, 1923) p . 80 3 140 .
38 - Léo Waibel, Capítulos de Geografia Tropical e do Brasil ,
29 ed. (Rio de Janeiro : IBGE, 1979) p. 249.
39 - Inventário, Falecido - Joaquim José Medeiros, maço n9 97,
CPS.

40 - Brasil, Ministério da Agricultura Indústria e Comércio, D�


reteria do Serviço de Inspeção e Fomento Agrícola, Aspec­
tos da Economia Rural Brasileira (Rio de Janeiro: Of.
Graphica Vil las Boas, 1922), p. 533.
41 - P�o de Janeiro, Relatório de Obras Públicas e Agricultura,
1925 (Niteroy: Typ. do Jornal do Commercio, de Rodrigues,
(1926)p. 33
42 - Inventário, 1890, Falecido - João Jacinto do Couto, maço
n9 204 , CPS.
43 - Inventário, 1894, Falecido - Barão de são Carlos, maço
s/n9, CPS.
44 - Brasil, Ministério da Aqricultura, Indústria e Comércio, �
censearnento Geral de 1920, vol. III, 29 Parte, op.cit. p.
80 - 81.
45 - Rio de Janeiro, Relatório da Secretaria de Obras Públicas e
Agricultura 1925, op. cit. anexo n9 10.
46 - Ação Ordinária, 1891. op. cit.
47 - Essa in formação foi retirada do Inventário da Condessa do
Fio Novo, 1882, maço s/n9, CPS.
48 - Inventário, 1890, Falecido - Luiz Vieira Machado, maço n916,
CPS.
49 - Inventário, 1896, Falecido - Baroneza Ribeiro de Sá, maço
s/n9 CPS.
5 0 - Inventário, 1897, Falecida - �na Ignacia de Assumpção Medei
ros, rr.aço s/n9, CPS.
160.

5 1 - Inventário, 1 894, Falecido - Barão de são Carlos, maço


s/n9, CPS.
52 - Inventário, 1 860, Falecido - Ana Lima Machado, maço s/n9
CPS.
53 - Emília Viotti da Costa, Da Monarquia à República: Momentos
Decisivos, 19 ed. ( São Paulo: Editorial Grijalbo, 1977
p. 12 8.
José de Souza Martins, op. cit, p. 59.
54 - Inventário, 1 8 82, Falecida - Condessa do Rio Novo, maço
s/n9, CPS.
Casa de Caridade de Paraíba do Sul, Testamento da Condes­
sa do Rio Novo ( Juiz de Fora: Cia Dias Cardoso SA, 1955),
p. 6.
55 - C. F. Delden Laerne, Le Brésil et Java Papport sur la Cu!
ture du Café en Amérique, Asie et Afrique (Paris: Martmus
Mijhoff/Chellanei, 1 8 85)p. 306.
56 - Idem, Ibidem, p. 307.
57 - Ação Ordinária, 18 87, Irmandade de Nossa Senho ra da Pied�
de, maço n9 8 8, CPS ; Casa de Caridade de Paraíba do Sul,
Relatórios de 1 890-1 892, Rio de Janeiro. Typ. Lenzinger ,
1 894. Estes relatórios se encontram na seção de periódi­
cos da Biblioteca Nacional sob a seguinte indicação: I
426, 3, 3 n. 14.
5 8 - Rio de Janeiro, "Questionário Constante da Circular n9 3
op. cit. p. 63.
59 - Stanley Stein, op. cit. p. 325.
60 - Rio de Janeiro, Questionário Constante da Circular n9 3. • .
op. cit. p. 163.
6 1 - Brasil, Ministério da Agricultura, Indústria e Comércio
Serviço de Inspeção e Fomento Agrícola, Questionário so-
bre as Condições • • • op. cit. p. 83.
62 - Brasil, Ministério da Agricultura, Indústria e Comércio
Serviço êe Inspeção e Fomento Agrícola. Aspectos da Econo­
mia Rural . . . op. cit, p. 560.
161.

63 - Licença para Contractar Colonos, 1888, Amélia Azevedo e


Silva Abrahão, como tutora de seu filho, maço n9 188,CPS.
64 - Silvio Ferreira Rangel, O Café (Rio de Janeiro: Sociedade
Nacional de Agricultura, 1908) p. 46.
Rio de Janeiro, Relatório de Obras Públicas e Indústrias
de 1896 (Nitheroy: Typ. Guimarães, 1896), p. 12.
65 - Sobre o tema ver José de Souza Martins, op. cit. p. 19.
66 - Este tema já foi desenvolvido na parte precedente.
67 - Conta de Tutela, 1893, Menores de Domiciniano Gomes de
Assumpção maço n9 60, CPS.
68 - Ação Ordinária, 1891, op . cit.
69 - Inventário, 1880, Falecido - Manoel Gomes Vieira, maço
n9 229, CPS .
70 - Inventário, 1890, Falecido - Lucio Correia de Castro, ma­
ço n9 17, CPS.
71 - Inventário, 1890, Falecido - Luiz Vieira Machado, maço
n9 16, CPS.
72 - Inventário, 1895, Falecido - Eloisa Felisberta Della CelJa,
maço n9 44, CPS.
73 - Inventário, 1900, Falecida - Clotilde da Cruz Dutra, ma
ço de 1900, CPS.
74 - Inventário, 1915, Falecido - Francisco de Castilh.o Barbo­
za maço de 1915, CPS.
75 - Inventário, 1890, Falecido - João Jacinto do Couto, maço
n9 204, CPS.
76 - Inventário, 1897, Falecido - Joaquim José Medeiros, maço
n9 97, CPS.
77 - B rasil, Ministério da Acrricultura,
� -
Indústria e Comércio,Ee
censeamento Geral de 1920, vol. III, 29 Parte, op. cit.p.
306 e 307.
78 - Inventário, 1860, Falecido - Guilherme Francisco Rodrigues
Franco, maço s/n9, CPS.
79 - Inventário, 1905, Falecico - João Carlos Pereira Nunes, ma
ço de 1905, CPS.
162.

� O - Inventário, 1860, Falecida - l'n a Lima Machado, rnaço n9 26


CPS .
81 - Inventário, 1915, Fa�ecido - Luis Pinto do Amaral, maço
de 1915, CPS .
82 - Inventário, 1915, Falecido - Maria do Carmo Dias, maço de
1915 , CPS .
83 - Inventário, 1910, Falecido - Pntonio Gomes Guacury, �aço
de 1910, CPS .
84 - B rasil, Ministério de Agricultura, Indústria e Comércio ,
Recenseamento Geral de 1920, vol. III, 29 Parte, op. cit.
p . 306 e 307.
85 - Inventário, 1915, Falecido - João José Mahler, maço de
1915, CPS .
86 - Inventário, 1910, Falecida Anna Vieira de Mello, maço de
1910, CPS.
87 - Inventário 1920, Falecida - Maria Catharina Wiecher maço
de 1920, CPS .
88 - Inventário 1915, Falecido - Manoel �.mérico Amorim, maco
de 1915 , CP S.
89 - B rasil, Ministério da Agricultura, Indústria e Comrnercio,
Fecenseamento C-eral de 1920, vol. III, 19 parte, op . cit .
p . 48 .
90 - Rio de Janeiro, Diretoria de Agricultura - Serviço de E�
tatística Propriedades Agrícola - vol. I, Propriedades de
Valor igual ou superior a 2:000$000, 1925 - 26 (Rio de Ja
neiro: Pap. e Typ . Marques Araújo & c. , 1927) .
91 - B rasil, Ministério da Agricultura, Indústria e Comércio ,
Recenseamento Geral de 1920, vol. III, 19 parte op . cit . ,
p . 109 .
92 - Rio de J aneiro, Mensagem apresentada à P.ssembléia Legisl�
tiva pelo Presedente do Estado 1902, Rio de Janeiro, Typ .
do Jorn al do Comércio de Rodrigues & Co. 1902, p . 9 8-101.
93 - Rio de J an eiro, �elatório do Secretário de Obras Públicas
e Agricultura, 1924, op . cit . p. 98 a 112.
..
-S -� -Q -S -D -� -J -N -O -J
• E 91
164 .

1. A primeira conclusão diria respeito ao fato de que tendo por


base uma baixa relação população- terra e traços de um siste­
ma de uso da terra que é anterior à própria colonização eu­
ropéia, se ergue um sistema agrário _historicamente definido_
ligado ao mercado externo . Forma de produção essa cuja re­
produção, no tempo , enuncia uma racionalidade que lhe é pe­
culiar, distinta daquela presente no capitalismo (reproduçã:>
ampliada)e mesmo de outras formas de produção cuja reprodu -
ção também adquiria um caráter extensivo. E é corresponden­
do ao nível das forças produtivas presente no interior da­
quele sistema agrário, que são articuladas as relações de
produção.
Relações de produção em que, a baixa relação trabalho
-terra faz com que a extorsão do sobre-trabalho apareça lig�
do a mecanismos de sujeição do trabalhador direto. Esses m�
canismos, impedindo que o trabalhador tivesse acesso direto
à terra, se traduziam na separação deste das suas condições
de produção. Por sua vez, o nível das forças produtivas pr�
sente, naquele sistema agr�rio, " (re) associava" o trabalh�
dor aos meios de produção só que agora com a mediação do
fazendeiro.
2. Corno colocamos na introdução, este trabalho tinha por objet�
vo empreender uma primeira abordagem ao sistema agrário da
economia de exportação, entendo-o corno urna forma de produção
historicamente definiàa. E para tanto, �esmo sabendo dos l!
mites decorrentes êessa opção, nos restringimos a urna dada
região: Paraíba do Sul. E isto, contudo, fora feito com o
intuito ce tentar exemplificar, ou melhor, dar urna maior co�
cretuQ� àquilo que achávamos que seriam alguns dos traços da
quele sistema agrário.
Outrossim, a presença dos métodos de cultivo daquela re
gião em outras áreas ou e� outros produtos (além do café) po
de ser percebido em passagens de " Memórias" ou de publicis -
tas do século passado. Como é o caso Thomas Davatz para
são Paulo.

Ao se referir aos métodos de cultivo vigentes em são


165.

são Paulo dos anos de 1350, Davatz coloca que estes consistiam
em devastar parte cas matas com o emprego do machado e foices,
e passadas duas ou três semanas, quando as ervas ficavam compl�
tamente secas, iniciava-se a queimada. "E consurnado o incêndio
pouco mais restará a fazer, na plantação em perspectiva, do
que amontar aqui e ali os destroç os de mais fácil transporte " .
Mais adiante, in forma-nos que , quando os terrenos não eram uti
lizados para a plantação e.o café ; " as terras cansam em cinco,
seis, oito anos de uso e deixam e.e produzir. são então abando
nadas e o brasileiro trata de desbravar as suas vastas flores­
tas de acordo com o método acima descrito". ( 1)
Quanto à combinação da agricultura de alimentos com a
de café, Van Delden Laerne, esclarece que a prática de se pro­
duzir mantimentos (milho, feijão e mandioca) nas fazendas de
café era comum tanto na região do Rio como em são Paulo. (2)

José de Souza Gaioso escrevendo, em princípios do sé


culo XIX , sobre a reprodução da lavoura do algodão no Maranhão
coloca que um dos seus traços seria a incorporação de matas vir
gens. Nas palavras deste lavrador: Para a cultura do algodão
"são 9recizas terras não cansadas. Estas a que chanarn rnattas
virgens". Isto por que aos "terrenos já cansados (. ..) neces
sitam muito �aior benefício para fazê-los produtivos, e maior
número de braços". ( 3)
Nesta mec.ida, o autor está se referindo a un modo de
. de um trabalho a
cultivo em que as �atas substituem a aplicação -
dicional na recuperação das terras. E onde os "destroços" ad-
vindos dos "incêndios e destruição das rnattas" formam " o fini­
ce estrume das terras". (4) Por sua vez, desta passagem pode -
se, também, in ferir à separação da ·agricultura da pecuária.
Luiz dos Santos Vilhena, se detendo no Recônca vo Ba hiano,
recomenda aos lavradores de ca�a do final do século XVIII, a a
.
docão de un novo sistema de cultivo. Um sistema em oue
- , a se
melhança daquele desenvolvido no P.lentejo, as terras fossem a-
dubadas. Em outras palavras, tratava de se substituir o modo
de uso ca terra então vigente nos engenhos, cujo um dos aspe�
tos era a separação entre a a 0ricultura e a pec uária, 9o r um
166.

outro em que existia uma rotação entre terras em culturas e


pastos, o que permitiria a refertilização daquelas pri�eiras r:e
-
( 5)
lo adubo anir.i.al.
Um outro traço apontado (particularmente por publicistas
da segunda �etade do século passado) nos trabalhos agrícolas �
queles produtos é a rotina: como j á pudemos ver com o caté. E
isto pode ser observado em passagens de dois artigos publicaébs
na revista_ do Imperial Instituto Fluminense de Agricultura em
1880: o primeiro artigo se refere a agricultura maranhense ; o
segundo é um estudo realizado pelo Imperial Instituto de Agri­
cultura da Bahia (1870) e trata, entre outros temas da planta­
çao da cana de açúcar.
19 "Os nossos lavradores não se atrevem a desembolsar
dinheiro, destocar o terreno, adoptar melhores metho­
dos de cultura, e, abraçados com a rotina tradicional
esperam que de outra parte lhes venha o exemplo. Cau
sa dó observar os processos grosseiros e outros pro=
duetos agrícolas. O escravo roça com a fouce os ar­
bustos, corta com o machado e lanca por terra as árvo
res seculares, e o fogo n ' um instante as reduz a cin
za. Depois, coivara-se, planta-se, capina-se, colhe=
se o arroz espiga, e apanha-se o algodão. t:ão há sys
tema que pareça mais simples e que ao mesmo tempo se=
ja mais prejudicial. Não há trabalho em preparar o es
trume - a cinza das árvores o substitue (. . . ) Semelhm
te systerna inutiliza as ricas madeiras sue pociam ser
vir para construcção de casas e navios, e com a rari=
dade das mattas virgens modifica-se o clima, desencon
tram-se as estações, apparecem terríveis seccas, po =
bríssimas c9lheitas 11 • (6)
29 "O que facilitava a produção e desenvolvia a rique
za deterninou a decadência precoce - a uberdade do
terreno e a barateza excepcional da mão de obra.Assim
devia de ser, por que era trataaa co� o descuido da
abundância que não vê os limites do seu tesouro, ou­
tra explorada avidarrente com sacrifício da dignidade
humana" (7)
"Não há methodo certo, nem tradicão nos trabalhos
Cada um faz a seu modo achando sempre razões para ccr
roborar a opinião própria. � um verdadeiro cahos, ha
vendo porém entre todos a convicção de que nem e
preciso preparar o terreno, nem estrumal-o (...) �
terra é fértil e inesgotável, dizem elles, bastando o
alqueive para recuperar o perdido, o estrume uma des­
peza improficua porque desnecessária (. .. ) e as prepa
rações do terreno pelo arado e seus acessórios, luxos
de jardineiros �ue não viza ao resultado, mas a bele­
za do campo que explora. 11 ( 8)
167.

Apesar de ambos artigos terem sido publicados nuna época


em que tanto a lavoura de cana como a do algodão (naquelas r�
giÕes) apresentarem urna menor intensidade em sua vinculacão CX)rn
o mercado inernacional , eles são sugestivos por retratarem a
permanência , no tempo , de métodos da época de Gaioso e Vilhe­
na. E isto nos permite inferir que o mesmo processo de traba­
lho agrícola era repetido no tempo .
A p �esença , nos trechos acima , de passagens em que se li
ga a forrr.a de agricultura com a "terra inesgotável" ou com as
"vastas florestas" , nos in formam sobre um rnesr:io sistema de uso
da terra existente em diferentes regiões. Ou nelhor , nos in­
dicam um modo de cultivo que se fundamenta numa baixa relação
trabalho-terra , o que , por sua vez permite a coformação de uma
forma de agricultura em que o tempo de trabalho aplicado por
alqueire era reduzido. Sugerindo assim , um tipo de sistema a­
grícola cujo "crescimento" se fazia pela incorporação de mais
terras e força de trabalho adicional , sem a mediação de um de­
senvolvimento técnico na lavoura. E , ainda ,nos insinua um si�
terna agrícola , onde a "rotina" era um traco. de sua racionalida-
de , e cuja capacidade de reprodução aparecia ligada à frontei-
ra agrícola.
Deste modo , considerando que aquelas regiões (particula_E
mente são Paulo) encontrar-se-iam ligacas co� maior ou menor in
tensidade ao mercado externo , nos parece que algumas coisas que
escrevemos sobre o sistena agrário vigente em Paraíba do Sul( o
o seu nível técnico , mecanismos de reprodução e relações êe
produção) , não se restringeriam aos estreitos limites daquele �
nicípio fluminense. Parece que aquele sistema agrário era tam­
bém a base da vida material de outras áreas e , por outro lado ,
n ão estava vinculado a apenas um produto (café) mas antes era
uma forma de produção.
Por conseguinte , o emprego co método conparativo surge c�
mo pertinente na apreensão das formas agrárias presentes naque­
las regiões (no período da escravidão). E isto por sua vez , pe�
mitiria a construção de um modelo teórico que de fato desse con
ta do sistema agrário da economia de exportação. tlodelo esse
168.

que não poderia se restringir ao processo de trabalho agrícola,


na medida em �ue esse não se esgota em si mesmo, e que, porta�
to, compreenderia ta�bém os nexos entre produção e circulação ,
os aspectos demográficos, da estrutura social e ainda dos ele­
mentos institucionais # Ao nosso ver só assim avançaríamos . no
sentido de uma História como ciência. E ainda poderíamos per­
ceber os passados que continuam presentes na sociedade brasilei
ra.
16 9.

Referências

1 - Thomas Davatz, r�emórias de um Colono (São Paulo: Livraria


Martins Edi tora/Editora ca Uni versi c'.ade de são Paulo, 1972)
p. 10 e 11.
2 - C.F. Van Delden Laerne, Le Brésil et Java, Papport sur la
Culture du Café en Arnérique, Asie et Afrique (Paris : Mart�
nus Ni j hoff/Chellanei, 1 885) p.256 ; Ver tarnbér.. Harren C'ean,
P�o Claro - Cm Sistema Brasilei ro de Crande Lavoura 1820 -
1 920 (P�o de Janeiro : Paz e Terra, 19 7 7 ) p.14 e 15.
3 - Paimundo José de Souza Gaioso, Compêndio Eistórico - Polí-
tico dos Princípios da Lavoura do Maranhão, Coleção 8ão
Luís - I (Rio de Janei ro : SUDEr·!ll.,19 70) p.228 e 229 .
4 - Idem, Ibi dem, p. 211.
5 - Luiz e.os Santos Vilhena, Recopi lação de Notícias Soteropo­
li tanas e Brasíli cas contidas em X X Cartas, Anotadas pelo
Prof. Braz do Amaral (Salvador : Imp. Official do Estado da
Bahia, 1 922) p. 1 7 4 .
6 - Autor Anônimo, "Me chanica P.grícola" in : Revista do Imperi ­
al Insti tuto Fluminense de P.gri cultura (Ri o de Janei ro : I�
perial Instituto Fluminense de Agri cultura, março de 1 8 80 } .
p.1 7 1.
7 - Inperi al Instituto de Agri cultura da I3ahi a, "A Si tuação l'­
grícola �a Província da Bahia em 1870" in : Pevista Jaríco­
la do Imoerial Insti tuto Fluminense de P.�ricultura (Rio ce
Janei ro : Imperial Instituto Fluminense de Agricultura, mar
ço de 1 8 80 ) p. 10.
8 - Idem, Ibi dem, p. 14 e 15.
170 .

FONTES E B IB LIOGRJI..FIA

A) Fontes Ca r to r iais (manuscr itas) - Ca r tó r io do 19 Ofício de


Notas de Par aíba do Sul (Tabelião Ma ria Quita Dut r a Mattos )
- CPS
1- Ação O rdin á r ia. Maços nQ 50-80.
2- Contas de �utela. Maços nQs 56, 60, 125 e 199.
3- Executiva Hipotecá ria. Maço nQ 99.
4 - Inventários.
a- 1850 a 1895. Maços n9s: 12, 14, 15, 16, 17, 26, 27,35
39, 90, 97, 131, 144, 159, 169, 175, 199, 200, 204 e
239.
b- 1900 a 1920. Maços nQs: 1900, 1905, 1910, 1915 e 1920.
5- Licença pa r a con t r a ta r colonos. Maçc nQ 188.
B ) Fontes refe rentes a est rutu r as ag r á rias
1- Pegist ro de te r r a de Par aíba do Sul, 1854 (manusc rito ) .
4 Livros. Pxquivo Público de Niter ói.
2- Inqué r itos Ag r ícolas.
a- BRASIL. Ministér io da P g r icultur a, Indúst r ia e Comé!
cio. Se rviço de Inspecção e Defesa Ag r icola, Questi�
. -
nário sob r e as Condicões da P_cr r icultur a dos Municí -
pios do Rio de Janei ro - Inspeccionados de 25 de J�
nho de 1910 a 29 d e ab ril de 1913 (Rio de Janeir o:Typ.
do Serviço de Estatística, 1913 ) . Bib. Nacional.
b- --------------- ----- Direct oria do Se r viço de Insp�
ção e Fomento Ag r ícola. Aspectos da Economia P.u r al
B r asilei r a - Estado do Rio de Janeiro ( Fio de Janei
ro: Of. C r aphica Villa Boas & Cia, 1922 ) .
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info r rrações e.e diversas Câma r as r.�unicipais d a P r ovi !!_
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à l'_ssembléia Leaislativa Pro.vincial do Fio de Janei ro
na la. Sessão da 119 Lecrislatu r a oelo Vice-Presicente
da Província o Conselhei ro Pn tônio Nicoláo Colen tino
em 1856 (Nictheroy: Typ. ca Pát r ia, 1856 ) . Bib. Fúbl!
ca de Niterói.
d- ------------ - ------- (Estado) . "Question á r io Constan
171.

te da Circular n9 3 de 20 Qe Janeiro do corrente anno


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tri as apresentado pelo Dr. Eerwogeni o Pereira da Si l
va ao Dr. �lberto de Sei xas (Presidente do Estado) en
1898 (P�o de Janei ro: Papelaria Jeronymo Si lva,18 98 ) .
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Assembléia Legislativa Provincial em 8 de setembro de
1878 (Nitheroy: Typ. do Diário de N.L. Vianna,1878 .
- -------------------- (Estado) Mensagem à P.ssembléia L�
gislativa pelo Presidente do Estado em 1902 (Rio de J�
neiro: Typ. do Jornal do Commércio de Rodrigues & Co.)
- -------------------- Mensagem à Assembléia Legislativa
pelo Presiden te do Estado em 1916 ( Ri o de Janeiro: Typ.
do Jornal do Commércio de Rodrigues & Co . )
-------------------- Relatório da Secretaria de Obras PÚ
blicas e Indústrias do Estado, Apresentado em 15 de J�
lho de 1894 ao Sr. José de Porciúncula (Presidente do Es
tado) pelo Secretário Miguel Joaquim Ribeiro de Carvalho
em 1894 (Rio de Janeiro: Typ. Guimarães, 1894).
-------------------- Relatório da Secretaria de Obras PÚ
blicas e Indústrias do Estado, apresentado ao Sr. Jo�
quim Maurício de Abreu (Presidente do Estado) pelo Secr�
tário Augusto de P�reu Lacerda em 1895 (Rio de Janeiro :
Typ. Jeronymo Silva e Comp. 1895).
- -------------------- Relatório da Secretaria de Obras PÚ
blicas e Agricultura de 1924, apresen tado pelo Cr. Pio
Borges de Castro ao Dr. Feliciano Pires de Abreu Sodré -
Presidente do Estado ( Rio de Janeiro: Typ. do Jornal do
Commércio de Podrigues & Co . , 1925).
- -------------------- Relatório da Secretaria de Obras PÚ
blicas e Agricultura de 1925, apresentado pelo Dr. Pio
Borges de Castro ao Dr. Feliciano Pires de Abreu Sodré -
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- WAIBEL, Leo, Capítulos de Geografia Tropical e do Brasil
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/ic.
..
I O X '.3: N V
)} ç

QUADRO 119 I

ALGUMAS EXPLORAÇÕES AGR!COLAS LIGADAS Ã PRODUÇÃO DE ALIMENTOS E CAF( COM MENOS DE


10.000 PES DE CAFE E 1, ESCRAVOS
Agricultura de A- N9 de Equipac1entos pa- Instrumepto de Tra Animais
Ano Inventariado Ãrea limentos Pés de ra o Beneficia- balho Agrícola. - Escravos
Roças Café mento de Alimen- Trabalho NI Criação NQ
tos .
Tipo N9 H M I Total
1840 Francisco Antonio Men- - Milho 6 . 000 d• de M,mdio- xada 7 5 2 7 Cavalos 2 Porcos 3
des
�:
1 2 Leitões 4
r
Feijão . Enxada Ordinári1 J::gua 1
Mandioca oices 6
'
achados 3
Cavadeiras 4
11

1850 Luciano Vieira Affonso 1 Data de Terras Milho 4 . 000 "Fábrica de Fari - 2 2 4 Besta 1 Porco 1
com 1 05 Braços de Tes Feijão nha" com Forno-
tado e 667 braços de Arroz de torrar Fari-
fundo. nha, Pilão, Roda
de Serra de Man-
'
dioca.
1850 Antonio Alvez de Quei- 180 Braços Milho 3 . 300 - Enxada 6 6 2 8 Cavalo 1 Porcos 10
roz. Feijão Machados 3
Mandioca Cavad!!iras 4
Pequeno Canavial Foices 5
Bananeiras
1 860 Pedro Gomes de Evange- 1 Sorte de Terras com Milho 6 . 000 - - 8 3 11 - - -
lho. 233 Braços de Testado Arroz
500 de Fundos . Pequeno Canavial

1860 Luiz Correa de Mattos - Pequeno Canavial - - - 1 1 2 Besta 1 Porco s 2


Milho
1860 Theodora Maria do Nas- 20 Al�ueires Milho 5 . 000 - - 5 5 10 Cavalo 1 Porco s 6
cimento Mandioca de Sela
1870 Carolina Augusta Fer- - Canavial 1 . 500 - - 2 2 4 Boi de
1
reira Carro 1 Porco s 16
Peq.Pomar - - - Cavalo.$ 2
Milho
1870 João Paschoal de Fa- - Mandioca - "Casa de Fari- Enxada 4 3 3 Porco s 5
ria nha.
Arroz Monjolo Foice Boa 1 - - - Capado 1
Feijão Foice Or- 4 - - - Leitões 3
dinária.
Machado de 1
Falqueij ador
acnag o de
�erru 1
ad a 1 1
Machados 2 '
Peneira de Ar ·,
..
roz
Peneira de Fei
- 3
j ão
..

Fonte: Inventários - Cartório do 29 Ofício de Paraíba do Sul .


'
I I o x a N V
(
]
. .
j.
. . Equipamentos Animai s
D.istri'b ui-
· NQ d e Equ1pame
· n tos e Ed 1-
· Equ1pamentos e Sdi-e - E s cravos
Ed i' f i' açoe . _
Ano Inventariado Área cão de Ter Pé s de ficacões l i gados ao ficacõe s ligad&s à\cessori . �os e s Trabalho NQ Cri a cao NQ
ras , - Café, Café. Reprodução da l'orça Jutros . H M Total
de Trabalho .
- 107 .000 Engenho de PilÕes Moinho para Fubá - 45 24 69 Best as 46 �ovilhos 8
Tulhas 9 lance� de senza Cavalo s 2 Bezerros 4
1850 Domingos Teixeira Al- 95 braços de
ves terras de tes-
t ado com 1680 las. ��c a �
/
braços de Fun- te�t�8� ��a
dos. 1 ,, _____ ,nn
ngen 15 4 l9 B� stas 1 8 Va�as c/ 3
� ho de
1850 Ansellll<l Pe re ira Reis 68. 800 2 Engenhos de Pilões Roda de Mandioca
200 Alqueires - ana Boi s de 6 cri as
1 Ventilador .
Monjolo Carro
=
Moinho de Fubá
l--+----------+--------1------1----1-------- -
. _ - -+ =. '-"·..;:.;c....c..=c:_-- Engenho de 19 32 51 Bestas de 1 Vacª 1
. . - 67 .000 Engenho de P1 loe s Moinho de Fuba Cana
1860 Ana de Lima Machado 203 Alqueires S e1
Ventiladores Máquina de Mand io- � as de 5 Touro
Bes ª· 1
ca. · Carga Novilho s 3
1 1 lance s de sen-
zalas.
. • t:ngenho de 47 21 68 Bestas 23 Porcos 2
. . . 82.000 Engenho de sacas Mo inho de fuba •
1860 Guilherme Rodrigues 268 Alqueires - Cana 8oi· s de 20 Leitoes 6
Franco de caf é . 3 1 l ances d e sen- Carro Vacas 2
zalas . Novilho 1 >
Bezerro 1 ..,....e
a.
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(X) Q. e:,
. _ . • Engenhoca Bestas de 1 9 Carneiro 27 -V, °'"' " e:>
• . . - 4 1 6 . 500 Engenho de Piloe s Moinho de fuba �e Cana
1863 Barao de Entre-Rios(2 1 Sesmaria de Tropa
1
C asa de farin
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Q.
Ventila
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Terra. Be s ta s de 3 Porco& 84
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Fazenda da Ca- Lavad�r de Cafe 25 l ances de s,an Sela de crias
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Bois de 7 Porcos d• 8 ...."''.. ...
C arro Serra . n
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I Sesmaria de - 7 0 . 000
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Fazenda Rua Direita !Moinho de fubá 1
Terra .
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1 Engenho de
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630.000 Engenho de Filões Moinho de fubá 241 1 6 1 402 Bestas 48 Vacas c/ 1 1
Fazenda Catangal o 1 Sesmaria de
'1'
,; Lavador d e Café Casa de farinha Cana crias .... "
Terra
..."' .,
Alambique Jumentos 9 " _;;
Q.
Terreiro Monjol o
- Engenho de Bois de 48 Vacas si 22 o
40 l ances de sen o
zalas. Serra Carro. rias
e
o
Enfermaria €guas c/ 13 ... o
cr'.:i.as
"' o

· Olaria Novilhos 17
Tenda d e Fer
reiro Bezerros 13
Touro s 3
Carneiro 73
I Cabras c 4
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crias.
Porcos 181
. • Engenho de 364 Be s tas de 152 Novilhos 6
1864 Baroneza de Parahyba Mais de 4 se_s - 382.000 Enge
_ nho de Pi+
Moinho de fub. a Açúcar Tropas
, . loe s . ( 2 )
Roda de mandioca Engenho de
marias de te.!.
n
Bestas de 10 Vacas 7
2 2 lance s de s e -
Ventiladores Serra
ras . Sela
zalas. Tulhas Boi· s de 48
::..::J
Hosoital carro
1--�---��-----+-------1------+-----11--------- ---!f-"- '"'-'==------��
1870 Luiza Ma.D 'Aasumpção 580 braços de - 1 1 3 .000 Engenho de Pi- Moinho de fubâ Engenho de . 50 39 89 Best as de 16 Vac� c/ 1
te stado com lÕes. 7 lanc,es de sen- Cana Carros cria
934 braços de C asas p/Café zalas. Engenho de Bcs ta de 1 Bezerro 1
fundo • :,erra
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Se 1 a
638 braços de Te nda de .
Bois de 8 Vaca . 1
testado com Ferreiro Carro
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900 de fundo .
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Edi!icacõc, u..
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117D lrerru •• h2s.soo �ns•nho d• Pilõu !:Soinho Engenho de S0 3S as Bettu s �tlvi lh., 3'1
ra que:1re, jculturaa .ca Besta de 1 2Õ 1
3 lanc:11 dt H:::1- cana
V�C.1S
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Fatf'nda S.io Fidclic


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Fau·nda da Serra 12•0. 00 .nccnb" de socar ca- 1 Moin ho de, Cuba.

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veira. c,cia de terras �ent i lador C,ua de !a:inha reiro. P.iulh•s f :? -Zo..iro, 2
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rT"e rrr i ros de Pedras 24 h1 nce1 de u� "lna.<.: nto de de cava-
1ulha1 i..iihs ,, serra l o• 1 8cnrro1, l
1 Olaria Bc1tas ;,) C.a:-n"!' lrca Hl

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Fonte: lnventãdos - Cartório do 29 Ofício de Paraíba do Sul.


Dbs:
1. Para o períodol8)0-b0 o critério util iuJo foi a área, fa:'enda1 com aalt de 200 alqueires.
2 .. N�ro de e,cr.avos ê a sou do1contin,enu1 daa 3 fazendas.
). A área i para •• duae fazendas.
4. E:ttt.ene�o e� alqueirei.

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