Documenti di Didattica
Documenti di Professioni
Documenti di Cultura
1 INTRODUÇÃO
(*)
Doutorando em Função Social do Direito pela Faculdade Autônoma de Direito de São Paulo.
Mestre em Direito Agroambiental pela Universidade Federal de Mato Grosso. Juiz do Trabalho.
Membro do Comitê Executivo do Fórum de Assuntos Fundiários do Conselho Nacional de Justiça
de 2013 a 2014. Coordenador Acadêmico da Pós-graduação em Direito e Processo do Trabalho
da Escola Superior da Magistratura Trabalhista de Mato Grosso nos biênios 2011 a 2013 e 2013
a 2015. Professor das disciplinas Teoria Geral do Processo, Direito Processual do Trabalho e
Direito Ambiental do Trabalho. Tem atuado ultimamente como professor convidado na Escola
Nacional de Formação e Aperfeiçoamento de Magistrados do Trabalho (ENAMAT) e nas Escolas
Judiciais dos TRTs da 5ª, 6ª, 7ª, 9ª, 11ª, 14ª, 15ª, 16ª e 18ª Regiões. Endereços eletrônicos:
www.facebook.com/prof.joaohumbertocesario, www.facebook.com/prof.joaohumbertocesarioII,
@joaohumbertocesario (instagram).
1
Percebe-se da interpretação do preceito antes mencionado, que a
produção antecipada de provas ocorrerá tanto com o intuito de o seu produto
final ser utilizado em uma relação processual contenciosa futura (quando houver
o periculum in mora da sua dissipação), como também para prevenir a ocorrência
de litígios (viabilizando a autocomposição ou outro meio de solução de conflito).
Os seus objetivos, de tal arte, são nobres e absolutamente compatíveis com o
Processo do Trabalho, de modo que os artigos 381 e seguintes do CPC/2015,
com as necessárias adequações, podem ser perfeitamente invocados
supletivamente no campo da processualística laboral.
Vale frisar, fechando essa parte introdutória, que o CPC/1973 possuía um
livro inteiro dedicado à normatização da tutela cautelar, razão pela qual a
produção antecipada de provas era regida àquele tempo pelos artigos 846 a 851
do CPC/1973.
Já o CPC/2015 preferiu abolir o livro cautelar, tratando tanto as tutelas
antecipadas satisfativas quanto as propriamente cautelares sob a denominação
genérica de tutelas provisórias de urgência ou de evidência (vide os artigos 294
e seguintes do CPC/2015).
Em decorrência, o CPC/2015 optou metodologicamente por tratar da
produção antecipada de provas no próprio capítulo probatório, mais
especificamente nos seus artigos 381 a 383, o que não quer dizer que não
possamos nos valer dos artigos 846 a 851 do CPC/1973 como subsídio histórico,
em que pese a revogação, para bem compreendermos o instituto em estudo.
2 CABIMENTO
Repisando o que foi visto pouco atrás, o artigo 381, incisos I, II e III do
CPC/2015, esclarece que a produção antecipada da prova será admitida nos
casos em que: a) haja fundado receio de que venha a tornar-se impossível ou
muito difícil a verificação de certos fatos na pendência da ação; b) a prova a ser
produzida seja suscetível de viabilizar a autocomposição ou outro meio
adequado de solução de conflito; b) o prévio conhecimento dos fatos possa
justificar ou evitar o ajuizamento de ação.
Um bom exemplo da sua utilização no Processo do Trabalho pode ser
enxergado na hipótese de um sindicato, em antevendo que determinado
2
estabelecimento empresarial será fechado, requerer com baldrame no artigo
381, I, do CPC/2015 a produção antecipada de prova para apuração da
ocorrência ou não de insalubridade e/ou periculosidade no meio ambiente de
trabalho, a fim de que os trabalhadores da categoria representada possam
utilizar o laudo futuramente como prova emprestada nas suas ações individuais
(sobre a prova emprestada e as suas possibilidades e limites de utilização no
Processo do Trabalho trataremos no momento adequado).
Acreditamos, aliás, que sindicato e empregador, na hipótese de legítima
controvérsia acerca da existência ou não de periculosidade e/ou insalubridade,
poderão até mesmo requerer conjuntamente a produção de prova antecipada
em juízo, visando encontrar um caminho para a autocomposição que evite o
ajuizamento de uma série de ações individuais no futuro. No caso,
evidentemente, o procedimento a ser adotado em juízo ganharia os contornos
da jurisdição voluntária (artigos 719 a 725 do CPC/2015).
É certo que nesse último exemplo o debate resvalaria no campo do
interesse processual (artigo 17 do CPC/2015), na medida em que as empresas
e os sindicatos podem fazer a perícia por contra própria ou mesmo requerê-la
administrativamente ao Ministério do Trabalho com fulcro artigo 195, § 1º da
CLT. Ainda assim, pensamos que a produção judicial de prova antecipada não
deva ser descartada de plano nesta situação, já que ela permitiria ao Juiz do
Trabalho atuar conjuntamente com as partes em uma perspectiva cooperativa
(artigo 6º do CPC/2015) para evitar a sobrecarga de ações futuras na Justiça do
Trabalho.
3
de prova pode consistir em interrogatório da parte, inquirição de testemunhas e
exame pericial.
A primeira questão a se notar quando lido o antedito preceito, é que não
há menção à prova documental. Tal se dá por motivos razoavelmente evidentes,
já que por ser pré-constituída, a prova dessa natureza não necessita ser
produzida antecipadamente. O que no máximo se pode cogitar relativamente a
ela é a possibilidade da sua ‘exibição’ antecipada, mas não da sua ‘produção’
prévia em juízo.
Por outro lado, naturalmente, o interrogatório dos sujeitos que
potencialmente poderão ser partes em processo futuro, bem como a oitiva de
potenciais testemunhas, se justificará principalmente no contexto em que elas
possam vir a se ausentar do local da prova (caso de mudança do país, por
exemplo), ou no qual por motivo de idade ou de moléstia grave haja justo receio
de que ao tempo da prova já não existam ou estejam impossibilitadas de depor
(artigo 847, I e II do CPC/1973).
Parece palmar, por outro prisma, que no caso da oitiva de partes
potenciais, haverá problemas incontornáveis para que elas sejam tidas, em
procedimento ainda preparatório, por confessas em relação à matéria fática, seja
ficta ou realmente. Ocorre que se assim o concluísse, tomando a “parte” por
confessa, o juiz estaria a valorar a prova antes do momento processual
adequado.
Tratando deste último tema, os professores Marinoni e Arenhart
esclarecem que a antecipação de prova, tecnicamente falando, não se destina
propriamente à ‘produção’ da prova, mas sim à ‘asseguração do meio
probatório’, razão pela qual seria só na valoração da prova, por ocasião do
processo principal propriamente dito, é que teria cabimento se “pensar em
caracterizar confissão efetiva, em vista das declarações da parte, ou ficta, por
conta da omissão em prestar declarações ou em razão das evasivas
empregadas na resposta”1.
Sobreleva dizer, finalmente, que além das provas orais e periciais, a
produção antecipada de prova poderá se debruçar sobre a inspeção judicial,
embora a ela não haja menção explícita no artigo 846 do CPC/1973.
1MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio Cruz. Processo cautelar. São Paulo: Revista
dos Tribunais, 2008, p. 260 e 261.
4
4 COMPETÊNCIA
5
Somente depois desse contraditório mínimo é que será lícito ao
magistrado deliberar sobre a pertinência ou não de realização da prova
antecipada requerida2.
2 Vale reprodução, acerca do tema, a lição de THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de direito
processual civil. Vol. II. 16 ed. Rio de Janeiro: Forense, 1996, p. 496: “A antecipação de prova
geralmente se faz com prévia citação da parte contrária. Mas casos urgentes, como o risco de
vida da testemunha, e a necessidade de citação por precatória em vistoria, poderão ensejar
deferimento liminar da medida (...). Feita, porém, a inquirição, ou a vistoria, seguir-se-á a citação
do promovido que, na medida do possível, poderá requerer diligências complementares, como
nova inquirição, se ainda possível, ou formulação de quesitos complementares e indicação de
assistente técnico.”
6
do CPC/1939), desnudando com isso todo o seu anacronismo, principalmente
quando atentamos para a realidade que emerge da adoção do processo judicial
eletrônico.
Os “autos” do processo, contemporaneamente, além de serem
constituídos por bits e não por átomos, estão potencialmente à disposição de
todos permanentemente na rede, não havendo possibilidade prática de serem
‘entregues’ a alguém diante da notória imaterialidade de que são revestidos.
Tal prática, entre outras, talvez esteja a revelar que CPC/2015 não passa
de um “museu de grandes novidades” (impossível não recordar Cazuza), na
medida em que em várias das suas passagens (enfatizamos, por todas, a
convenção de procedimento inserta no artigo 190) volta a tratar o direito
processual como simples negócio privado das partes, ou seja, como a
antiquíssima litiscontestatio do direito romano (contrato entre os litigantes para
aceitarem a decisão processual), retirando-o, assim, da zona do interesse
público.
7 CONCLUSÕES