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TRADUÇÃO: JESS VIEIRA

REVISÃO INCIAL: JESS VIEIRA


REVISÃO FINAL: MAH QUEEN
LEITURA FINAL: MAH QUEEN
CONFERECIA: NANDA QUEEN
FORMATAÇÃO: MEL DUSK
—O amor não parece com os olhos, mas com a mente.
E, portanto, é o Cupido alado pintado cego —.
- William Shakespeare, um sonho de uma noite de verão
Para Vanessa Serrano, Vanessa Villegas e para (virtual), abraços e gratidão
(real)
Promíscuos - Nelly Furtado and Timbaland.

How Soon Is Now? - The Smiths

Le Chemin – Kyo, Sita

Makes Me Wonder - Maroon 5

Anybody Seen My Baby - The Rolling Stones

Bloodstream - Stateless

Hey Jude – The Beatles

Down - Jason Walker

Moi Lolita - Alizée


Eu poderia tê-lo impressionado, se não fosse pela
inesquecível noite do mês passado.
O deixei com mais do que orgasmos e uma lembrança
agradável, ou seja, a carteira dele.
Agora, ele está me encarando como se eu fosse a
sujeira sob seus mocassins italianos, e eu devo
aceitar.
Mas a coisa sobre ser Judith – Jude – Humphry, é que
eu não tenho nada a perder.

Garota do Brooklyn.
Infamemente peculiar.
Herdeira de uma pilha de contas médicas e um sofá
esfarrapado.

Quando ele olha para mim do outro lado da sala, vejo


o brilho nos olhos dele, e isso nos faz rivais.
Ele sabe disso.
Eu também.
Todos os dias na redação é uma batalha.
Toda noite em sua cama, uma guerra.
MAS MEU CORAÇÃO ESTÁ EM JOGO E TEMO QUE
LEVANTAREI A BANDEIRA BRANCA.
Em seu leito de morte, minha mãe disse que o
coração é um caçador solitário.

—Órgãos Jude, são como pessoas. Eles precisam


de companhia, um backup para confiar. É por isso que
temos pulmões, amígdalas, mãos, pernas, dedos das
mãos e pés, olhos, narinas, dentes e lábios. Apenas o
coração trabalha sozinho. Como o Atlas, ele carrega o
peso da nossa existência em seus ombros
silenciosamente, apenas se rebelando quando é
perturbado pelo amor.
Ela disse que um coração solitário, como o meu
coração solitário, nunca se apaixonaria. Até agora ela
estava certa.

Talvez seja por isso, que hoje à noite aconteceu.


Talvez seja por isso, que eu parei de tentar.

Afastando os lençóis macios, que estavam


emaranhados ao redor das minhas pernas como
raízes, eu saía da cama de king size, do quarto de
hotel chique que eu estava ocupando nas últimas
horas.

Eu me levantei do colchão macio, de costas para


o estranho que conheci esta tarde.

Se eu olhasse para ele, minha consciência iria me


chutar e eu não conseguiria seguir através dela.

Eu estava escolhendo o seu dinheiro, em


detrimento da minha integridade. Dinheiro que eu
precisava muito. Dinheiro que ia pagar minha conta
de eletricidade e comprar as prescrições médicas
desde mês para meu pai.
Eu andei na ponta dos pés pela sala, até a calça
dele no chão, me sentindo oca em todos os lugares
que ele tinha preenchido nas horas anteriores. Esta foi
a primeira vez que eu roubei qualquer coisa e a
finalidade da situação, me fez querer vomitar. Eu não
era uma ladra. No entanto, eu estava prestes a roubar
este estranho perfeito. E eu nem ia tocar a questão da
nossa noite, por medo de que minha cabeça fosse
explodir por todo o exuberante tapete. Eu
normalmente não fazia o estilo de uma noite só, mas
eu não era eu mesma hoje à noite.

Eu acordei esta manhã ao som da minha caixa de


correio desabando, com o peso das cartas e das
contas se abarrotando. Então eu falhei
miseravelmente em uma entrevista de emprego, eles
cortaram a reunião para assistir a um jogo dos
Yankees. Quando eu apontei que não havia um jogo
passando –porque sim, eu estava muito desesperada–
eles explicaram que era uma reprise.

Derrotada, eu tropecei pelas ruas cruéis de


Manhattan, a chuva do início da primavera era alta e
punitiva. Eu imaginei que o melhor curso de ação,
seria entrar no apartamento do meu namorado Milton,
para me secar. Eu tinha a chave e ele provavelmente
estava no trabalho, polindo seu artigo sobre cuidados
de imigração. Ele trabalha para The Thinking Man,
uma das mais prestigiadas revistas de Nova York.
Dizer que eu estava orgulhosa, seria o eufemismo do
século.

O resto da tarde se desenrolou como um filme


ruim, cheio de clichês e cheirando a má sorte. Eu
empurrei a porta de Milton, sacudindo as gotas de
chuva da minha jaqueta e do meu cabelo. Gemidos
baixos e guturais penetraram nos meus ouvidos,
seguindos imediatamente depois pela visão
inconfundível da editora de Milton, Elise, que eu tinha
visto apenas uma vez quando paramos para algumas
bebidas. Ela estava curvada ao lado do sofá que nós
escolhemos juntos, no meu mercado de pulgas
favorito, enquanto ele empurrava implacavelmente
nela.

Impulso.
Impulso.

Impulso.

Impulso!

—O coração é um caçador solitário e cruel.—

Senti como se eu estivesse atirando uma flecha


de veneno, direto para no peito de Milton, em
seguida, ouvi um crack, ameaçando me dividir em
dois.

Nós estivemos juntos por cinco anos. O conheci


na Universidade de Columbia, ele era o filho de uma
âncora da NBC aposentada. Eu tinha uma bolsa
integral, e a única razão pela qual nós não estávamos
morando juntos, era porque meu papai estava doente
e eu não queria sair do lado dele. Mas isso não
impediu Milton e eu de planejarmos nosso futuro nas
mesmas cores e padrões, entrelaçando nossas vidas,
um sonho de cada vez.

Visitar à África.

Ser designado para o Oriente Médio.


Assistir ao pôr do sol em Key West.

Comer massa em Paris.

Nossa lista de desejos foi gravada em um


caderno que eu chamei de Kipling, e

estava queimando um buraco na minha bolsa


agora.

Eu não pretendia vomitar na porta de Milton, mas


foi inevitável, considerando o que eu tinha acabado de
ver.

O bastardo escorregou no meu café da manhã,


enquanto ele me perseguia pelo corredor. Eu empurrei
a porta da escada de emergência e desci as escadas
de dois em dois. Milton estava nu, com um
preservativo ainda pendurado em seu pau de meio
mastro, e em algum momento ele decidiu interromper
sua corrida pela rua, deve ter visto que não era um
bom plano. Eu corri até meus pulmões queimarem e
meus All Stars estarem molhados e enlameados.
Esbarrei em vendedores de rua e nos ombros de
pessoas com guarda-chuvas, que se protegiam das
pancadas de chuva, eu estava com raiva, desesperada
e chocada, mas não fiquei arrasada. Meu coração
estava rachado, mas não quebrado.

—O coração é um caçador solitário, Jude.—

Eu precisava esquecer... Esquecer Milton, as


pilhas de contas e minha infeliz falta de emprego nos
últimos meses. Eu precisava me afogar em álcool e
em uma pele quente.

O estranho na suíte me deu exatamente isso, e


agora ele estava prestes a me dar algo que nunca
concordamos.

A julgar por este lugar, ele não terá dificuldade


em pagar pelo táxi para o

aeroporto.

Uma escada curva de ferro forjado que levava a


uma jacuzzi do tamanho do meu quarto, e que com
certeza, custava mais do que todo o meu
apartamento, olhou de volta para mim. Um sofá
vermelho de veludo me provocava. Janelas do chão
ao teto me desafiaram a beber a vista do alto de
Manhattan, com meus pobres olhos. E o lustre de
lágrimas, parecia estranhamente semelhante a um
pequeno espermatozoide.

E para poder passar a próxima semana Judith


Penelope Humphry, você vai parar de pensar, e seguir
em frente com o seu plano.

Eu alcancei o bolso de trás de sua calça de Tom


Ford, onde ele tinha enfiado

sua carteira, logo depois de deslizar para fora


uma cadeia de preservativos, e examino apertando
em minhas mãos. Uma criação de couro Bottega
Veneta, preta e sem rugas. Minha garganta balançou,
mas eu ainda não conseguia engolir meus nervos.

Abri a carteira e tirei a pilha de dinheiro. Acabou.


O estranho Júnior não era a única coisa grossa aqui.
Eu contei apressadamente, meus olhos brilhando
enquanto eles viam a quantidade de dinheiro. Cem...
dois... três... seis... oito... mil e quinhentos. Obrigado
Jesus.

Eu praticamente podia ouvir Jesus me


repreendendo.

—Não me agradeça. Tenho certeza que não


roubar, estava lá em cima na minha lista de coisas
que não se deve fazer.—

Tirando meu celular da minha mochila, e procurei


a marca da carteira na minha mão. Acontece que
custava um pouco menos de setecentos dólares. Muito
útil, embora o coração acelerou, quando eu comecei a
jogar fora cartões de credito dando uma segunda
olhada. A carteira era vendável por fora, assim como
minha moral.

Meu intestino deu um nó de vergonha e senti


meu rosto ficar quente. Ele iria acordar e me odiar,
lamentando o minuto em que ele se aproximou de
mim no bar. Eu não
deveria me importar. Ele vai embora de Nova
York pela manhã, e eu nunca mais o verei.

Uma vez que sua carteira estava vazia, e todas as


seus cartões e documentos arrumados em sua mesa
de cabeceira, eu escorreguei de volta em meu
vestido, coloquei meu All Star rosa choque, embora
incrustado em lama, e dei uma última olhada para
ele.

Ele estava completamente nu, sua virilha coberta


ao acaso pelo lençol, a cada respiração que ele
tomava, seu pacote de seis apertava. Mesmo no sono
ele não parecia vulnerável, como um deus grego ele
se eleva acima da suscetibilidade. Homens vaidosos
como ele, não aceitavam bem serem passados para
trás. Eu estava feliz que haveria um oceano entre nós
em breve.

Eu abri a porta e abracei a moldura.

— Eu sinto muito—, eu sussurrei beijando as


pontas dos meus dedos e escovando-os

sobre o ar entre nós.


Esperei até estar fora do hotel antes de deixar a
primeira lágrima cair.

Cinco horas antes.

Eu tropecei em um bar, soluçando um pedido de


uísque para o barman e sacudindo a chuva do meu
longo cabelo loiro sujo.

Eu puxei a gola do meu vestido preto e agradeci


pela bebida que ele deslizou pelo bar para mim. Meu
All Star, -eu tinha optado por um rosa de cano baixo
hoje de manhã, já que eu ainda estava
insensatamente otimista quando saí de casa-
suspensos no ar, enquanto eu me sentava no banco
alto. Meus fones de ouvido estavam firmemente
enfiados em meus ouvidos, mas eu não queria
manchar minha lista de músicas perfeitas, com o meu
humor de merda hoje. Se eu escutasse uma música
que eu gostasse agora, eu sempre a associaria ao dia
em que descobri que Milton gostava do estilo
cachorrinho, mas não apenas comigo.

Eu tentei me dar uma conversa interna, enquanto


eu engolia o uísque que eu não podia pagar como se
fosse água.

Minha entrevista de emprego tinha sido


horrivelmente ruim, mas de qualquer maneira, meu
coração também não estava preparado, para trabalhar
para uma revista cristã sem glúten.

Milton me traiu, mas eu sempre tive minhas


dúvidas sobre ele. Seu sorriso sempre caía, logo
depois que saíamos com meu pai ou encontrávamos
alguém na rua. Sua sobrancelha direita sempre
arqueava, quando alguém não estava de acordo com
ele.

Quanto às contas médicas crescentes, eu


encontraria uma maneira de lidar com elas. Papai e eu
possuímos nosso apartamento no Brooklyn, na pior
das hipóteses, nós venderíamos ou alugaríamos. Além
disso, eu não precisava dos dois rins.

Eu estava choramingando na minha bebida


quando o cheiro de cedro, sálvia e um pecado
iminente entrou nas minhas narinas. Eu não me
preocupei em levantar a cabeça, mesmo quando ele
disse. — Semi-bêbada e convencionalmente bonita. O
sonho molhado de um predador.

Ele tinha um forte sotaque francês, suave e


rouco. Mas meus olhos estavam trancados no líquido
âmbar que girava no meu copo, eu não estava com
vontade de conversa fiada. Normalmente, eu era a
pessoa que poderia fazer amizade com um tijolo, mas
agora, eu poderia esfaquear alguém com bolas,
simplesmente por respirar na minha direção ou
qualquer outra direção, na verdade.
—Ou o pior pesadelo de um homem com tesão—,
respondi. —Consequentemente, não estou
interessada.

—Isso é uma mentira e eu não falo com


mentirosos.— Ele rolou um gole do coquetel entre os
lábios, atirando-me um sorriso de lobo. —Mas para
você, vou abrir uma exceção.

—Arrogante e cheio de si mesmo?— Eu


internamente bati no meu rosto, até mesmo por
respondê-lo. Eu ainda estava com meus fones de
ouvido. Por que ele falou comigo em primeiro lugar?
Esse era o sinal internacional para porra-me-deixe-
sozinha. Não importa o fato de que eu não estava
realmente ouvindo nada, só queria afastar potenciais
conversadores. —Ainda bem que você não disse que
se chama relógio, e que quer que eu tire o seu atraso.

—Acho que você foi cantada por homens


extremamente pouco sofisticados. Quão difícil foi o
seu dia, exatamente?
Ele diminuiu o resto da distância entre nós, e
agora eu podia sentir o calor de seu corpo irradiando
de debaixo de seu terno sob medida.

Eu tinha a sensação de que se eu me virasse e


olhasse para ele, realmente olhasse para ele, ele
roubaria a respiração dos meus pulmões. Meu coração
irritado e ferido de hoje cedo, acelerou em meu peito.
Nós não queremos intrusos, Jude.

O francês alto e bonito, entregou uma nota de


cem dólares ao barman à minha frente. Seus olhos
acariciaram o lado do meu rosto quando ele
perguntou. —Quantas bebidas ela tomou?

—Este é o segundo dela, senhor.

O barman ofereceu um breve aceno de cabeça,


limpando a superfície de madeira à sua frente com um
pano úmido.

—Pegue um sanduíche para ela.


—Eu não quero um sanduíche—. Puxei meu fone
da orelha e os joguei no bar, finalmente olhando para
cima e girando na minha banqueta para olhar de volta
para ele.

Um erro colossal, se eu tivesse cometido um. Nos


primeiros segundos, não consegui nem decifrar o que
estava vendo. Ele tinha um nível de beleza, que a
maioria das pessoas não estava programada para
processar. Estou falando de Chris Pine ‘perfeito’, Chris
Hemsworth ‘viril’ e Chris Pratt ‘charmoso’. Ele era uma
ameaça de triplo C, e eu fui Impactada.

—Você terá que comer um.— Ele não se


incomodou em me dar uma olhada, jogando seu
telefone no bar. Estava acendendo como um louco,
com dezenas de e-mails chegando a cada minuto.

—Por quê?
—Porque eu não sou do tipo de foder uma garota
bêbada, e eu gostaria muito de te foder hoje à noite—
, ele disse calmamente, salpicando sua declaração
casual com um sorriso covarde e sedutor, que
transformou minhas entranhas em gosma quente.

Eu tentei afastar meu choque, ainda olhando,


catalogando seu rosto. Olhos azuis profundos,
inclinados como um tigre e escuros, escuros como o
fundo do oceano, cabelo castanho amarelado e
despenteado, um queixo que poderia lhe dar um corte
se você tocasse, e lábios feitos para dizer coisas sujas
de uma maneira sexy. Ele era um espécime que eu
ainda não tinha encontrado. Eu vivi em Nova York
minha vida toda, homens estrangeiros não eram um
conceito estrangeiro para mim. No entanto, ele
parecia um cruzamento improvável entre um modelo
masculino e um CEO.

Seu terno azul marinho o fazia parecer severo. As


curvas e bordas de seu rosto eram implacáveis,
preenchendo entre as maçãs do rosto de maneira
cruel, queixo quadrado, boca carnuda e um nariz reto.
Eu desviei meu olhar para seus dedos, para checar se
havia uma aliança de casamento. A pele parecia clara.

—Com licença?— Eu endireitei minha espinha. Só


porque ele parecia um deus, não significava que ele
tinha o direito de agir como um. O barman deslizou
um prato quente com um sanduíche de rosbife,
maionese, tomate e queijo cheddar em um brioche na
minha frente.

Eu queria tanto permanecer desafiadora e dura,


mas infelizmente, eu também não queria vomitar
uísque puro em cerca de uma hora.

O estrangeiro quente encostou-se no bar, ainda


de pé – 1,85m? 1,90m? - e inclinou a cabeça para o
lado.

—Coma.
—É um país livre—, eu brinquei.

—No entanto, você parece acorrentada à ideia de


que foder um estranho, está de alguma forma errado.

—Sinto muito, eu não peguei seu nome, Sr. Não


Recebendo a Dica.— Eu bocejei.

—Força de Vontade. Prazer em conhecê-la. Olha,


obviamente você está tendo um dia ruim, e eu tenho
uma noite para queimar. Eu estou voando de volta
para casa amanhã de manhã, mas até então...

Ele puxou seu braço, permitindo que a manga de


seu terno deslizasse para cima enquanto ele olhava
para seu Rolex vintage. —Vou me certificar de que o
que quer que esteja em sua mente, seja esquecido
durante a noite. Senhorita…?

Ele era o tipo de gostoso que eu duvidava muito


que eu pudesse encontrar de novo na minha vida.

Eu poderia colocar a culpa em Milton.


Nas contas médicas.

Ou no uísque.

Inferno, eu poderia culpar todo o estado de Nova


York depois do dia que eu tive.

—Spears—. Eu estreitei meus olhos e dei uma


mordida no sanduíche. Maldito. Folheei o guardanapo
que veio com o sanduíche, para verificar o nome do
bar. Le Coq Tail. Eu fiz uma anotação mental de
retornar em cerca de vinte anos, depois que eu
finalmente tenha pago as contas médicas do meu pai,
e parado de viver de macarrão.

—Como Britney Spears?— Ele arqueou uma


sobrancelha incrédula.

—Correto. E você é?

—Sr. Timberlake.
Eu dei outra mordida no sanduíche, quase
gemendo. Quando foi a última vez que eu comi?
Provavelmente esta manhã, antes de sair de casa
para a minha entrevista de emprego.

—Você está me dando nos nervos, Sr.


Timberlake. E eu pensei que fosse 'Força de Vontade'?

—Chore-me um rio, baby [Analogia a música Cry


me a River, de Justin Timberlake].

—Eu sou Célian.— Ele me ofereceu sua mão.

Sua postura me enervou e me fascinou ao mesmo


tempo. Ele foi esculpido como um deus, mas parecia
vivo e quente ao toque como um mortal. Nublou meu
julgamento, mexeu com meus sentidos, e fez meu
estômago sentir como se línguas quentes de luxúria o
lambesse por dentro.

—Judith, mas todo mundo me chama de Jude.

—Eu entendo que você é um fã dos Beatles.

—Presunçoso. Sua lista de traços negativos é


interminável.

—Não é a única coisa longa sobre mim. Coma,


Judith.

—Jude
—Eu não sou todo mundo.— Ele lançou um
sorriso impaciente na minha direção, parecendo que
ele estava cansado da nossa conversa. Bastardo
mandão. Eu dei outra mordida.

—Isso não significa nada.— Eu tinha certeza que


estava mentindo, mas eu estava emocionalmente
exausta para me negar as coisas esta noite.

Ele se inclinou para mim, entrando no meu


espaço pessoal como Napoleão brilhou em Moscou,
com o orgulho e a discrição de um guerreiro pagão.
Ele passou o polegar ao longo da coluna da minha
garganta. Um simples toque e meu corpo inteiro
explodiu em violentos arrepios. Era a combinação de
sua feroz masculinidade, seu sotaque e seu todo
afiado terno, perfume e feições.

Eu estava desamparada.

Eu queria ficar desamparada.


—O coração é um caçador solitário.—

Mas meu corpo precisava de companhia esta


noite.

Ele se inclinou para frente, seus lábios perto do


meu ouvido e sussurrou. —Oh, mas isso vai
acontecer.

—Você não faz meu tipo.— Eu sorri para o resto


do uísque que eu bebi.

—Eu faço o tipo de todos.—, ele disse com


naturalidade. —E eu vou fazer isso ser bom para você.

—Você não sabe o que eu gosto—, eu respondi.


Pingue-pongue com ele era divertido. Ele era rude,
afiado e genuíno, mas estranhamente, não o achei
grosseiro.
—Aposto todo o dinheiro que tenho comigo que
eu sei.

Isto é interessante.

—E se eu fingir toda vez que tiver um orgasmo,


agindo como se não tivesse tido?

Eu enfiei meu iPod e meus fones de ouvido na


minha bolsa. Essa conversa não poderia ser mais
estranha. Ele sorriu, um sorriso que eu nunca tinha
visto em um rosto humano antes, tão predatório, que
meu interior apertou e minha calcinha umedeceu
entre as minhas coxas.
—Claramente você nunca teve um orgasmo real.
Quando eu fizer você gozar, você terá sorte de
impedir que suas fodidas patelas se quebrem.

—Auto-egocên...

—Poupe-me da grosseria, Spears.

Dez minutos depois, estávamos atravessando a


rua a caminho do hotel. Eu tentei arduamente não
perder a calma, quando entramos na recepção
chamativa. O Laurent Towers Hotel ficava em frente
ao arranha-céu da LBC, lar de um dos maiores canais
de notícias do mundo. O lugar estava cheio de gente,
mas nós éramos os únicos à espera do elevador. Nós
dois olhamos para ele silenciosamente enquanto meu
coração gritava, quase explodindo do meu peito. Meus
joelhos tremiam sob o meu vestido preto barato. Eu
estava fazendo isso, eu estava realmente tendo um
caso de uma noite só. Com certeza, eu tinha vinte e
três anos, era solteira de novo e recém-vingativa. Eu
sabia que não havia nada de imoral em dormir com
ele, mas eu também sabia, que isso era uma coisa
que eu provavelmente iria rir, daqui a alguns anos.

—Eu normalmente não faço isso.— eu disse,


quando as portas do elevador se abriram e nós
entramos.

Célian não respondeu. Quando as portas se


fecharam, ele se aproximou de mim, com os olhos
frios, desapegados e a boca franzida. Ele encurralou-
me contra a parede, cada passo mais voraz que o
anterior. Meu pulso lutou dentro da minha garganta.
Ele me considerou com aqueles olhos arrogantes, e eu
levantei meu queixo, sentindo minhas narinas
dilatadas.

Célian levantou minha saia e eu choraminguei,


meu corpo arqueando contra a parede atrás de mim.
Seu polegar encontrou meu clitóris e cavou seu
caminho através do tecido, pressionando duro e
massageando-o em círculos preguiçosos.

—Não tente me convencer de que você é uma


boa menina—, ele sussurrou, sua respiração - hortelã
e grãos de café frescos - patinando ao longo da minha
garganta. —Eu não dou a mínima.

—Seu inglês é muito bom para um turista—,


observei. Seu sotaque era grosso, mas ele usava as
palavras como uma arma, estratégico, espaçado.
Cada sílaba um tiro certeiro.

Ele deu um passo para trás, me observando


através de uma cortina de indiferença.

—Eu sou muito bom em muitas coisas, como


você está prestes a descobrir.— O elevador apitou e
ele se afastou de mim.
As portas se abriram e um casal de idosos sorriu
para nós, esperando que saíssemos do elevador.
Célian passou o braço no meu como se fôssemos um
casal e largou-o casualmente no minuto em que
estávamos fora de vista.

A caminhada até sua suíte foi silenciosa, mas eu


quase me afoguei no barulho dentro da minha cabeça.
Eu me convenci de que essa era a coisa certa, uma
noite de prazer sem compromisso, com um turista
desumanamente belo, tiraria a dor. Eu segui atrás
dele, observando suas costas largas e sua figura
magra. Parecia que ele trabalhava para ganhar a vida,
mas se vestia como se não tivesse tempo de ir a
academia. Sua profissão, no entanto, permaneceria
um mistério não resolvido. Ele estava voando de volta
para a França amanhã, e se ele fosse um advogado
ou um assassino, não faria diferença para mim.

Uma vez que estávamos em sua suíte, ele me


entregou uma garrafa de água.
—Beba.

—Pare de me dar ordens.

—Então pare de olhar para mim de olhos


esbugalhados, esperando por instruções.

Ele tirou o terno e os sapatos. A suíte era


elegante e arrumada - demais para um quarto
ocupado. Era enorme, mas não consegui detectar
malas, carregadores de celular, camisas deixadas no
chão ou qualquer outro objeto revelador.

Por um lado, parecia suspeito. Por outro lado, ele


parecia exatamente o tipo de psicopata que não
deixava rastros. E eu estava no quarto dele.
Fantástico.
Nota para si: Depois de suas ações hoje, tente
basear todas as suas decisões futuras no conselho do
biscoito da sorte. Você pode fazer melhor.

Eu bebi a água que ele me entregou sem


perceber que eu fiz isso, então deixei cair a garrafa no
lixo como se estivesse pegando fogo, minha alma
rebelde morrendo um pouco.

Não é tarde demais para sair. Diga a ele que você


não está se sentindo bem e vá embora.

—Eu acho que deveria...— Eu comecei, mas


nunca cheguei a completar a frase.

Ele me bateu contra a parede, seus lábios se


fundindo aos meus me calando. Meus olhos rolaram
devido ao prazer repentino, e estrelas explodiram
atrás das minhas pálpebras. Agarrei o colarinho de
sua camisa, enquanto ele me ergueu em seus braços
e enfiou os dedos na minha bunda. Minhas pernas
envolveram sua cintura em algum momento. Ele girou
contra mim, acendendo a luxúria em minha barriga, e
quando gemi, ele beliscou o lado da minha coxa com
tanta força, que tentei lutar contra, apenas para
descobrir como afundar minhas garras em sua pele,
sentindo como se estivesse me afogando em um beijo
eterno. Seus lábios estavam esmagados nos meus,
como um veludo quente. Seu corpo de mármore era
como pedra, duro em todos os lugares.

Célian deslizou a língua na minha boca e eu


deixei.

Ele revirou os quadris, seu pau duro, muito duro,


pressionando contra a minha fenda, e novamente eu
deixei.

Ele mordeu meu lábio inferior com mais força e


rosnou, depois sugou a dor. E eu chorei por mais.

Ele deslizou a mão entre nós, empurrou minha


calcinha para o lado e mergulhou dois dedos em mim.

Eu estava embaraçosamente encharcada.


O estranho sexy rasgou sua boca da minha, me
encarando.

—Hora de terminar sua frase, senhorita Spears.

—Eu... eu...— Eu pisquei, nervosa. Ele começou a


empurrar seus dedos para dentro e para fora de mim,
devagar, tão dolorosamente lento, com seu rosto
ainda sério.

Quem era esse cara? Ele parecia não afetado,


mesmo quando um gemido involuntário escapou dos
meus lábios, toda vez que ele cavava mais e mais
fundo em mim, com os seus dedos enrolando e
batendo no meu ponto G. Sua outra mão viajou até
meus seios, torcendo meu mamilo rudemente.
— Você estava dizendo que deveria fazer alguma
coisa. — Sua mão deixou meu sexo
momentaneamente, para pintar meus lábios com o
meu desejo por ele, antes de retornar ao seu novo
lugar favorito entre as minhas pernas, ele me provou
nos meus lábios. —O que foi, Judith?

Judith. O jeito que ele rolou o J entre os dentes,


me fez querer morrer em seus braços. Sua língua
quente estava no meu pescoço, queixo, lábios e
depois entre eles novamente. Nós estávamos
emaranhados juntos, como se precisássemos um do
outro para sobreviver. Eu sabia que era apenas uma
noite, mas parecia muito mais.

—Eu... eh... nada—, eu disse, procurando o zíper


entre nós. Ele pressionou uma das mãos sobre a
minha, empurrando minha palma contra sua enorme
ereção. Agora eu tinha um motivo completamente
diferente para o pânico. Essa coisa poderia caber na
minha bolsa de ginástica. Não na minha vagina.

—Eu defino o ritmo—, disse ele.

Balancei a cabeça. Ele não era o meu chefe. Ele


colocou mais dois dedos em mim - a maior parte de
sua mão - e eu estava tão cheia, que pensei que ia
arder. Um grunhido escapou da minha boca, e ele
engoliu em nosso beijo imundo, gozei em seus dedos
em um instante.

O prazer era tão intenso que me voltei para a


parede, deslizando como espaguete. Célian me elevou
de volta, cavando seus dedos em minhas bochechas,
segurando meu queixo no lugar e olhando para mim.

— É melhor que você seja tão gostosa quanto


parece.
Ele caiu de joelhos em um movimento rápido,
levantou meu vestido e jogou uma das minhas pernas
por cima do ombro. Sua língua entrou em mim com a
minha calcinha ainda empurrada para o lado, e ao
invés de lamber e chupar, ele começou a me foder
com a língua. Passei meus dedos pelo cabelo dele,
notando que era mais suave que o meu, e rolei minha
cabeça contra a parede, enquanto ele me dava o tipo
de sexo oral que eu nunca pensei ser possível.

Milton era um amante generoso, embora


robótico. Esse homem era um orgasmo ambulante e
falante. Eu tinha certeza que gozaria, se ele
espirrasse na minha direção. Um desejo intenso de
apertar minhas coxas ao redor de seu rosto e mantê-
lo lá para sempre bateu em mim. Meu segundo clímax
subiu dos meus pés para a minha cabeça como um
choque elétrico, me mandando para o céu, e quando
ele fechou os lábios sobre o meu clitóris inchado e
chupou com força, eu tinha certeza que todos os
anjos na minha vizinhança bateram suas asas. No
momento em que ele se levantou, livrou-se de suas
calças, camisa e rasgou uma embalagem de
camisinha com os dentes, eu sabia que podendo
acomodá-lo ou não, eu ia tentar e estava disposta a
acabar no pronto-socorro para isso.

Célian dirigiu-se para mim de uma vez, me


jogando contra o armário atrás de nós, entrelaçando
nossos dedos e essencialmente me algemando à
superfície. O prazer era tão penetrante, que eu me
contorcia entre seus braços, lutando contra suas mãos
para que eu pudesse agarrar, tocar e rasgar para
combinar com ele, impulso por impulso.

—Foda-se —, ele sussurrou. —Judith.

—Célian.— Foi a última coisa que eu disse a ele


por um tempo, antes de nós dois nos afogarmos em
um sexo quente.
No chão, como dois selvagens.

Estilo cachorrinho na cama, enquanto ele estava


de frente para a TV - assistindo a CNN.

Então, quando eu disse a ele que ele era tão


cavalheiro quanto um saco de pedras (ele soltou uma
maldição suave, quando Anderson Cooper apresentou
um item exclusivo sobre a fraude eleitoral, que até
mesmo eu estava meio tentada a ouvir), nós
entramos no chuveiro e ele me comeu de novo, desta
vez, dando atenção extra ao meu clitóris.

Então nós fomos novamente contra a pia.

Finalmente, quando desabei na cama, ele me deu


outra garrafa de água e disse —Estou saindo às seis.
O check-out é às dez horas e eles não gostam de
atrasos no Laurent Towers.
Eu queria dizer a ele A) Para dar uma caminhada
e B) Que era uma brilhante péssima ideia, eu passar a
noite. Mas eu não tinha certeza se poderia enfrentar
meu pai doente depois de todo o sexo que tive, e não
com meu novo ex-namorado. Eu não precisava olhar
no espelho para saber que eu parecia completamente
fodida, com lábios rachados e inchados, marcas de
dedos cobrindo cada centímetro da minha pele
vermelha, e três marcas de mordidas no meu pescoço
- para não mencionar meus olhos delirantemente
bêbados, e não do uísque que consumi horas atrás.

Relutantemente, mandei uma mensagem para o


meu pai, dizendo que dormiria no Milton e deitei na
cama de Célian, fechando os olhos. Eu me senti uma
órfã no mundo. Ninguém sabia onde eu estava e, a
única pessoa que se importava, meu pai, não poderia
particularmente me ajudar, já que ele mal saía de
casa.

Foi quando eu decidi, que não contaria a Robert


Humphry sobre o meu rompimento com Milton Hayes.
Papai colocou todas as fichas de esperança no meu
namorado, contando que ele cuidaria de mim depois
que ele fosse embora. Todo mundo precisava de
alguém e além do papai, eu não tinha ninguém.

Célian deslizou para a cama atrás de mim, seu


pênis inchado pressionando entre as costas das
minhas coxas. Ele traçou um dedo áspero sobre o lado
da minha caixa torácica, ao longo da tatuagem que eu
tinha feito no dia em que fiz dezoito anos.

Se pareço um pouco estranho, é porque eu sou.

—Então você não gosta dos Beatles, mas gosta


dos The Smiths.— Sua respiração acariciou minha
costas.

Eu cresci com um pai solteiro, que era


funcionário da construção civil em Nova York. O
dinheiro estava apertado, e sentar no chão ouvindo
seus discos de vinil, tinha sido nosso passatempo
favorito. Nós lemos livros sobre Johnny Rotten e
inventamos deliberadamente enganosos jogos de
trivia para passar o tempo.

— Cuidado, você pode se apegar se você me


conhecer—, eu disse baixinho, olhando para a janela
do chão ao teto, com vista para Nova York.

Ele começou a entrar em mim por trás, em


silêncio. — Eu vou pegar a porra das minhas chances.

A posição me lembrou do assento na primeira


fila que eu tivera, para o desempenho adúltero de
Milton e Elise. Meus sentimentos se emaranharam e
amarraram. Meu corpo estava exultante, mas as
lágrimas se juntaram no canto dos meus olhos. Fiquei
contente que meu caso de uma noite não podia ver,
embora fossem definitivamente uma mistura de
alegria por todos os orgasmos, e tristeza, com a
perspectiva de voltar para casa amanhã de manhã
para encarar a realidade.

Sem namorado.

Sem emprego.

Um pai morrendo e uma pilha de contas que eu


não sabia como pagar.

Depois que nós dois terminamos, ele beijou a


parte de trás do meu pescoço, virou e foi dormir. E
eu? Eu tinha uma visão direta de suas calças e o
contorno de sua carteira gorda, que parecia olhar para
mim.

Meu coração era um caçador solitário.

Hoje à noite, eu deixaria ele festejar.


Três semanas depois.

— O que eu pareço?

— Nervosa. Ansiosa. Doce. Bonita. Um desses


deveria ser a resposta certa, certo?— Papai riu,
esfregando meus braços.
Eu coloquei um vestido tubinho branco e meu All
Star preto. Elegante e discreto. Além disso, eu estava
indo para parecer seria e profissional hoje. Meu cabelo
loiro escuro estava em um coque solto, e eu passei
um dramático delineador nos meus olhos castanhos.
Este não era meu traje habitual de camisa de flanela,
jeans skinny e jaqueta de couro sintético. Então
novamente, era o meu primeiro dia no meu novo
emprego, por isso, não parecer com uma desistente
do Hotel Tokio era uma prioridade.

Acariciei a cabeça careca do meu pai, pedaços de


cabelos brancos abandonados, espalhados em volta
dela como dentes de leão tristes, beijei sua bochecha,
onde suas veias se destacavam através da pele pálida
e azulada.

— Você pode me ligar a qualquer momento—, eu


lembrei a ele.
— Ai sim. Minha música favorita do Blondie.— Ele
sorriu. Revirei os olhos para o seu comentário idiota.
—Estou me sentindo bem, Jude. Você vem para casa
depois do trabalho ou vai ficar no Milton?— Ele
bagunçou meu cabelo como se eu fosse uma criança,
e eu acho que para ele eu era.

Ele se lançou em outro ataque de tosse no meio


da frase. É por isso que me sentia um pouco culpada
pela mentira. Ele achava que Milton e eu ainda
estávamos juntos.

Meu pai tinha câncer estágio três em seus


gânglios linfáticos. Ele oficialmente parou de ir às
sessões de quimioterapia há duas semanas. O tempo
estava se esvaindo por nossos dedos como areia.
Seus médicos imploraram para que ele continuasse os
tratamentos, mas ele disse que estava cansado
demais.

Nota: nós estávamos quebrados. Era refinanciar


nossa casa ou desistir do tratamento, e papai não
queria me deixar sem nada, não importa o quanto eu
tivesse lutado contra essa decisão. Agora eu estava
me sentindo culpada, andando com o meu coração
solitário e cheio de preocupações, carregando-o como
um baú cheio de ouro, com tantas coisas preciosas,
pesadas e inúteis dentro.

Minha voz estava rouca de gritar com ele para


apenas vender o maldito apartamento. Eu finalmente
parei, quando percebi que estava apenas colocando-o
em agonia e estresse desnecessários.

— Venho para casa.— Beijei sua têmpora e


caminhei até a cozinha, tirando as refeições que eu
fizera para o dia.

—Você não tem passado muito tempo com ele


ultimamente. Tudo certo?

Eu balancei a cabeça, apontando para o


Tupperware na minha frente.
—Café da manhã, almoço, jantar e lanches. Há
cobertores limpos em sua cama para o caso de
esfriar. Eu mencionei que você sempre pode me ligar?
Sim. Sim eu disse.

— Pare de se preocupar com o seu velho.— Ele


bagunçou meu cabelo cuidadosamente feito
novamente quando saí da cozinha, caminhando para a
porta. —E quebre uma perna.

—Com a minha sorte, não duvido.— Eu peguei


minha bolsa de ombro, observando enquanto ele
gemia enquanto se acomodou em sua poltrona, na
frente da TV.

Ele estava usando os mesmos pijamas, que eu


sabia que o encontraria vestindo quando voltasse do
trabalho, Deus sabe a quando tempo. A maioria das
pessoas não teria investido na Netflix quando estavam
endividadas até o pescoço, mas meu pai mal saía de
casa. Até muito recentemente, ele sempre sofria de
náusea e se sentia extremamente fraco. A
quimioterapia matou não só as células cancerígenas,
mas também o seu apetite. A única coisa que ele
tinha, eram as séries como Black Mirror, House of
Cards e Luke Cage. De jeito nenhum eu iria privá-lo
de seu único entretenimento, mesmo que eu tivesse
que pegar outro emprego em cima deste.

E esta é a parte que eles não dizem sobre perder


um ente querido para o câncer. Eles não são as únicas
pessoas que são comidas vivas. Quando eles
entendem, você entende. O câncer mastiga o seu
tempo com eles, banqueteando-se com os momentos
felizes, alimentando-se com cada segundo de
felicidade. Ele devora seu salário e poupança.
Alimenta-se da sua miséria e se multiplica no seu
peito, mesmo que não seja você que o tenha.

Eu perdi minha mãe para o câncer de mama há


dez anos.

Agora, meu pai seria o próximo, e não havia nada


que eu pudesse fazer para pará-lo.
A viagem do Brooklyn para Manhattan foi longa e
eu não tinha meu iPod comigo. Isso é o que você
ganha por ser uma idiota e roubar um estranho. Eu
deixei meus fones de ouvido e minha moral na suíte
do hotel. Não importa. O dinheiro pagou duas contas
de eletricidade vencidas e cobriu nossas compras
semanais de supermercado. E agora eu tinha tempo
de ler todo o material que imprimi com antecedência
sobre a Laurent Broadcasting Company. A LBC estava
sediada em um gigantesco edifício alto na Madison
Avenue. Eles foram um dos quatro principais canais
de notícias do mundo, ao lado da MSNBC, da CNN e
da FOX. Eu aceitei um trabalho como repórter júnior
em sua divisão de blogs on-line de beleza e estilo de
vida, que não era exatamente minha vida. Então
novamente, não me afogar em contas vencidas estava
muito alto na minha lista de afazeres.

Eu era grata pela oportunidade e quase caí


quando recebi o telefonema de aceitação. Minha
chance na redação viria. Eu só precisava trabalhar o
meu caminho.

Por enquanto, eu tinha que ter certeza de que


manteria esse trabalho de 75 mil ao ano. Não foi
apenas uma ótima maneira de colocar meu pé na
porta, isso também poderia me ajudar a convencer
meu pai a tomar outra injeção de quimio.

O blog de estilo de vida - apropriadamente


chamado Couture - estava localizado no quinto andar
do prédio, no mesmo andar da contabilidade.

— Eles não nos tratam como verdadeiros


jornalistas—, eu tinha sido avisada por Grayson, AKA
Grey, o cara tagarela que havia me contratado. —Os
assentos de toalete neste lugar, recebem mais
respeito do que o blog de beleza e entretenimento.
Eles também ficam com as melhores bundas, tenho
certeza. Não há literalmente nenhuma pessoa quente
aqui na contabilidade.
Eu vim no dia anterior para pegar minha etiqueta,
cartão eletrônico e preencher a papelada. O emprego
oferecia um seguro de saúde e uma academia
gratuita. Resumindo: se eu pudesse me casar com
esse trabalho, eu me certificaria de que fosse feliz e
lhe daria uma massagem nos pés todas as noites.

Eu cheguei mais de meia hora mais cedo, então


fiz uma parada pra comprar donuts, e comprei
bastante açúcar para o andar inteiro. A recepcionista,
uma garota de cabelos ruivos da minha idade
chamada Kyla, já estava atrás de sua mesa digitando
quando eu entrei. Ofereci-lhe um donut e seus olhos
tímidos me examinaram, como se eu estivesse
tentando lhe vender uma arma não registrada.

— Eles são bons. Eu prometo. Minha mãe e eu


costumávamos ir do Brooklyn a Manhattan todos os
sábados só para tê-los.— Eu sorri.
— As pessoas não são legais aqui na LBC, no
entanto.— Ela bateu na mesa nervosamente.

—Bem, eu sou. Então...— Eu encolhi os ombros.

Ela arrancou um donut com cobertura de


chocolate e me mostrou meu escritório. Não era um
escritório de verdade, mas um cubículo em um espaço
aberto, bege e branco clinicamente deprimente, com
seus divisores de plástico uniforme e cadeiras de
escritório rangentes. Cada cubículo tinha quatro
mesas. Eu compartilharia a minha com a equipe de
Couture. Seríamos três pessoas no total.

— Gray deve estar aqui a qualquer minuto—,


disse Kyla entre gemidos de prazer.

Larguei minha mochila sob uma cadeira, que


dava para uma das mesas sem fotos ou bugigangas,
e olhei pela janela. Eu tinha uma visão direta do Hotel
Laurent Towers, onde passei a noite com Célian. Três
semanas depois e ainda parecia surreal que um
homem que eu não conhecia, tivesse dentro de mim
várias vezes. Ainda mais estranho, era a dor aguda de
arrependimento que perfurava meu peito, toda vez
que eu pensava sobre o dinheiro que eu tinha roubado
dele. Eu jurei nunca mais fazer isso, e tentei dizer a
mim mesma, que a noite inteira tinha sido fora do
personagem para mim.

Grayson chegou vinte minutos depois. Ele parecia


a figura nascida do amor entre Kurt Hummel de Glee
com o irmão gostoso de seu melhor amigo, e ele se
vestia como Willy Wonka. O terno de veludo marrom
profundo que ele usava hoje, pareceria uma cena de
crime em qualquer outra pessoa. Ele acenou com a
mão de maneira teatral enquanto entrava, seus olhos
ainda cortados por seus enormes tons de Prada. Ele
tomou um gole de seu Starbucks enquanto me
mostrava ao redor, que estava começando a se
encher de pessoas. Os contadores e secretários
acenaram para mim severamente quando passamos
por eles.

—Sinta-se livre para apagar cada pessoa e rosto


que eu lhe apresentei da sua memória, e use esse
espaço para lembrar o ritual de beleza de Dua Lipa,
porque nenhum deles fala conosco ou reconhece
nossa existência. Fomos ilegalmente e brutalmente
deportados do sexto andar - AKA, a redação - depois
do incidente que não será nomeado no ano passado.
Ele caiu em sua cadeira executiva e passou os dedos
pelos cabelos negros. —Isso tornou Couture
extremamente difícil de trabalhar, mas ainda
conseguimos.

— O que aconteceu? — Eu apoiei meus cotovelos


nos meus joelhos.

— Os grandes chefes perderam alguém


importante.
— O que isso tem a ver com você?

—Esse alguém era nosso chefe e toda vez que


olham para nós, eles a veem. É por isso que eles
nunca olham para nós.

Eu estendi a mão e apertei a mão de Gray, assim


que meu segundo e único colega em Couture entrou.

— Ah, meus companheiros leprosos e parceiros


de crime. — Ela me ofereceu a mão, as unhas
pintadas de azul e verde. — Eu sou Ava.

Eu apertei a mão dela. Ela parecia estar em seus


vinte e tantos anos, como Gray, e gotejando estilo da
cabeça aos pés. Com pele bronzeada, grandes cachos
e olhos de gato - além de um mini vestido de couro
vermelho e botas amarelas vintage - ela poderia dar
uma chance a qualquer princesa pop por seu dinheiro.

— Este vestido é para um dia de enfermeira


bipolar? — Ela fez uma careta para o meu vestido
branco. Eu abri minha boca para explicar que eu
estava tão na moda quanto seu teclado, quando ela
abriu um sorriso e Grayson riu de sua mesa,
balançando a cabeça. — Vestido e All stars? Sério?—
Ela enxugou as lágrimas do canto dos olhos.

—Qual parte é mais perturbadora para você, o


vestido de loja de artigos de segunda mão ou os All
Stars?— Eu cutuquei meu lábio inferior.

— Tenho certeza de que você parece uma criança


no alto da Jamba Juice, que invadiu o armário da Sra.
Clinton. Você tem um nome? — Ava passou o olhar
pelo meu corpo.
—Judith. Mas as pessoas me chamam de Jude.

— Ei, Jude.— Ela piscou.

— Claro que ela nunca ouviu isso antes, Ava —


Grayson girou a cadeira para a tela da Apple, clicando
duas vezes no ícone do envelope.

As crianças do meu bairro, haviam decidido que


eu era muito moleca para ter um nome tão feminino
quando eu tinha uns sete anos, e foi assim que Jude
nasceu. Judith teve uma morte lenta, tossindo sinais
de vitalidade toda vez que eu precisava preencher um
documento oficial.

—Jude pode tocar a ponta do nariz com a língua e


fazer barulhos de peido com as axilas.—
—Jude pode nos ensinar a andar de skate.—

—Jude sabe como fazer bombas de água.—

— Falando em coisas perturbadoras, o Sr.


Laurent fará um anúncio hoje às três, então talvez,
seja uma coisa boa que a pequena Miss Reese
Witherspoon esteja encoberta em um vestido tão feio
que deveria ser ilegal. — Eu atirei um olhar a Ava e,
ela estalou seu chiclete na minha cara. —Ele gosta
das senhoras, mas não se preocupe, seu filho o
mantém na coleira.

As horas passavam aspirando os minutos, e nos


sugando para um dia inteiro privado de sol. Passei o
dia pesquisando as muitas maneiras perturbadoras de
congelar, derreter e eliminar a celulite até a morte.
Quando o relógio bateu três, o elevador apitou. Mas
essa era a única coisa interessante sobre a ocasião. O
tempo parou. O mesmo aconteceu com os cliques dos
teclados e as estações de rádio soando no chão junto
com o bate-papo geral. Pela maneira como o ar
pendia e balançava como uma espada acima do meu
pescoço, imaginei que o Sr. Laurent, dono da Couture
e da LBC, havia chegado.

Grayson empurrou a mesa e fez sinal para que


Ava e eu saíssemos do nosso cubículo. Eu limpei o
suor frio nas palmas das mãos sobre o meu vestido.

—A atração principal está aqui. Vamos torcer para


que Laurent Sênior não apalpe ninguém e Laurent
Junior não nos dispense, porque ele está
menstruado.— Ele caminhou até o saguão principal do
andar, balançando os quadris. Eu ri.

Assim, a infame realeza de Nova York, os


Laurents, eram uma dor na bunda. Dificilmente faria
alguma diferença para mim. Eu duvidava muito que
eles trabalhassem neste andar ou que eu os visse
muito. Eu conhecia Mathias Laurent, o magnata
francês. Ele soava importante demais para nós, meros
mortais do quinto andar, que analisamos números ou
experimentamos novos perfumes sem glúten.

No minuto em que entramos na área de recepção


já cheia, minha mandíbula afrouxa, minha boca caiu
no chão e minha língua rola como um tapete
vermelho, estilo desenho animado.

Jesus Cristo.

Eu praticamente podia ouvir Jesus na minha


cabeça, acenando com o punho.

—Pare de usar o meu nome em vão, toda vez


que você lembrar de um pecado que você cometeu.—

Ele tinha um ponto válido. Nesse ritmo, eu


precisava dizer muitas Ave Marias, e não seria
suficiente até meu trigésimo aniversário.
De pé na minha, frente estava o turista francês
quente, que tinha feito coisas impuras ao meu corpo
há três semanas, parecendo não menos divino do que
naquela noite, com uma exceção, agora ele parecia
muito mais assustador.

Célian usava calças cinza de tom claro, que


pareciam ter sido costuradas diretamente em seu
corpo, uma camisa branca de alfaiataria e uma
formidável carranca. Ele parecia pronto para decapitar
Kyla e alimentar com os seus membros, a multidão de
pessoas que se reuniram em torno dele. Ao lado dele,
estava um homem de cabelos brancos, uma polegada
mais baixa do que ele.

Mathias Laurent tinha olhos vagos, pequenos e


negros, o oposto dos índigos profundos de seu filho.
Mas eles tinham a mesma carranca de desaprovação,
que fazia você se sentir como a sujeira sob seus
sapatos Bolvaint. E provavelmente, a mesma
quantidade de autoridade para disparar sua
sinceridade.
— Vamos direto ao assunto. Tecnicamente, isso é
um problema para a contabilidade, mas decidimos
lançar Couture na mistura, já que vocês são o poço de
dinheiro mais profundo que as minas Kidd—, Célian
começou, os pingentes de gelo que ele chamava de
íris ainda estavam focados na tela do telefone.

Meus olhos rolaram dentro de suas órbitas,


enquanto meus joelhos ameaçavam se dobrar. Ele
tinha um sotaque americano, não francês. Americano.
Suave. Familiar. Comum. Ele disparou sentenças na
velocidade da luz. Eu o ouvi, mas não consegui ouvir.
Choque agarrou meu corpo, enquanto as peças do
quebra-cabeça se encaixavam. Meu sujo sexo casual
era meu chefe. Meu mentiroso, chefe americano. E
agora, eu tinha que lidar com isso, esperançosamente
por muito tempo, porque eu precisava
desesperadamente desse trabalho.

Alguém estalou os dedos, e meu olhar disparou


do rosto de Célian para Grayson.

Sua testa tinha se encolhido em uma carranca.


—Você parece estar se esforçando para não
chorar, ou prestes a ter um orgasmo intenso. Eu
espero que seja o último e em algum tipo de condição
fantástica. Você está bem?

Eu balancei a cabeça, arranhando um sorriso.

— Desculpa. Zero orgasmos acontecendo debaixo


deste vestido. Eu acabei de viajar por um segundo.

Mentira. Eu estava prestes a ter um orgasmo,


apenas lembrando o quão bom me sentia com Célian
separando minhas coxas com suas grandes e
calorosas mãos, mergulhando a língua na minha
fenda.

Então, as palavras pararam de fluir na cabeça de


todo mundo como um banho escaldante, e percebi
que de fato, havia algo pior do que ouvir Célian falar
em seu perfeito inglês americano. E isso seria não o
ouvir falar. Porque agora, os pingentes de gelo
estavam apontados para mim, como uma arma
engatilhada.
Eu olhei para cima para encontrar seu olhar. Ele
me encarou por exatamente um segundo, antes que
seu foco se voltasse para Grayson.

— Eu fui claro, Gregory? — ele perguntou.

Gregory?

— Cristalino, senhor —, Grayson curvou-se, sua


voz tremendo nas bordas.

Célian apontou o queixo para mim.

— Seu material de garota da capa, está indo


morro abaixo.

Deus. Droga. Desgraçado.

Ele me reconheceu e eu sabia disso. Seus olhos


se acenderam, derretendo o gelo e escurecendo no
minuto em que nossos olhares se misturaram. Ele se
lembrou, e talvez tenha matado a ele que eu estava
aqui, da mesma forma que me enterrou.

Eu quero meu iPod de volta, meu olhar disse a


ele. Eu tinha mais de três mil músicas, e elas eram
boas demais para serem desperdiçadas com aquele
idiota.

— Essa é Jude Humphry, repórter júnior. É o


primeiro dia dela—, Grayson destacou, quase
implorando. Ele mudou em minha direção, como se
ele precisasse me proteger fisicamente do monstro de
língua afiada.

Eu suprimi um sorriso quando percebi que tinha


dito a Célian, que o meu sobrenome era Spears. Bem,
certamente o sobrenome dele não era Timberlake. Ele
era um Laurent, um monarca americano, um
bilionário, uma força poderosa e a julgar pelo nosso
único encontro, um playboy furioso.

Este homem esteve dentro de você, eu gritei


internamente. E não apenas uma vez. Seu pau esteve
enterrado tão profundamente em você, que você
gritou. Você ainda pode saborear o sabor salgado e
terroso da sua porra. Você sabe que ele tem uma
sarda na parte inferior das costas. Você sabe que som
ele faz quando se esvazia dentro de uma mulher.

Eu internamente agradeci minha mente por


arruinar minha calcinha em público, e balancei a
cabeça.

— Prazer em conhecê-lo, senhor. — Eu ofereci a


ele minha mão, meu rosto corando de vergonha com
a minha escolha de palavras.

Todos olhavam para nós e havia pelo menos


cinquenta pessoas na sala. Célian - se era esse o
nome dele - ignorou minha mão, em vez disso, ele
virou o rosto para o homem ao lado dele. —Mathias,
alguma outra palavra de sabedoria?
Mathias? Ele não era o seu pai? Quão frio estava
o homem com os olhos azuis gelados?

—Eu acho que você tocou em tudo —, disse o


chefão - e ele tinha um forte sotaque francês, então
pelo menos a mentira tinha uma semente. Mathias me
encarou placidamente, como se pudesse ler o segredo
que seu filho e eu compartilhamos no meu rosto.

Célian virou-se para mim, soltando as


abotoaduras e enrolando as mangas nos antebraços.

—Contabilidade pode voltar para sua infeliz linha


de trabalho. Couture está dispensado desta reunião -
embora não está perdoado pelo seu horrível blog.
Senhorita Humphry?— Ele estalou os dedos com
impaciência.

Ele já estava andando pelo corredor estreito,


sabendo que eu iria persegui-lo como um cachorrinho,
e sem dúvida sentir prazer nisso.

— Eu tenho que ter uma conversinha com você.


Conversinha... Rapidinha? mesma coisa, certo?

Eu atirei em Grayson um olhar de por favor, salve


minha bunda. Seus olhos disseram que eu salvaria,
mas ainda tenho uma vida para viver.

Eu segui Célian até o final do corredor, meu All


Star batendo no chão com pressa. Ele cortou a
multidão de contadores, depois parou em um
escritório de esquina, abriu a porta, gritou — Fora! —
para o homem dentro, e inclinou a cabeça para eu
entrar. Eu fiz. Ele fechou a porta e éramos apenas nós
dois.

Dois pés de espaço vazio entre nós.

Seus olhos queriam guerra. O que não era um


bom sinal para mim, já que ele tinha bombas, e eu
mal tinha paus.

— Onde seu sotaque desapareceu? — Eu


perguntei através de um sorriso pintado.
— Onde meu maldito dinheiro desapareceu? —
Ele respondeu no mesmo tom claro, mas o sorriso
dele era diferente. Simulado.

Eu senti minha expressão cair. Eu estava tão


desorientada por vê-lo aqui, que tinha esquecido que
isso acontecera também.

— Eu peguei.— Eu engoli em seco.

— Bem, eu fingi.— Ele quis dizer o sotaque.

— Coincidentemente, eu também. — Eu não quis


dizer o sotaque.

Acabei de me lembrar da aposta que tivemos no


Le Coq Tail. Se ele não me fizesse gozar, eu podia
levar todo o dinheiro dele. Na verdade, eu nunca tinha
gozado tão duro na minha vida, mas não ia admitir
isso. Não depois de ele ter me feito de boba pela
segunda vez naquele dia, fingindo um estúpido
sotaque francês para me manter em suas costas, para
o caso de eu querer trocar números.
— Senhorita Humphry. — Ele falou com pena,
como se eu fosse adorável e exasperante ao mesmo
tempo, um cachorrinho mijando em seus mocassins
de dois mil. —Vai demorar muito até que você pare de
pensar no meu pau, toda vez que você se masturbar
no final de um longo dia de trabalho sob suas
cobertas baratas.

Eu ia matá-lo.

Eu sabia disso ali mesmo.

Talvez não hoje e talvez nem amanhã, mas ia


acontecer.

Eu soltei o ar e cruzei os braços sobre o peito.

—Me desculpe, por pegar o seu dinheiro. — Doía


pedir desculpas a ele, mas eu tinha que fazer isso
pela minha consciência, sem mencionar meu status de
emprego.
Ele olhou através de mim, como se eu não tivesse
dito nada.

— Eu espero que você mantenha seus lábios


fechados sobre o nosso pequeno...— Ele correu os
olhos pelo meu corpo, mas não como se ele me
quisesse. Mais como se ele quisesse se livrar de mim.

Eu bati meus cílios. —O gato comeu sua língua,


senhor?

— Não, mas chegou perto.

Ele encostou o ombro contra a porta, fazendo a


porta parecer pálida, em comparação com o quão
sexy ele parecia.

—Sua boceta pegou minha língua, várias vezes,


na verdade, mas ela também pegou o meu pau,
dedos e, francamente, todo o resto da suíte que eu
poderia encaixar em você. Vou poupar-lhe os detalhes
sórdidos, porque A) você estava lá e B) vamos mantê-
lo estritamente profissional a partir de agora.
Entendido?

Jesus Jesus Jesus. A boca desse cara.

—Senhora, se você não parar de usar o meu


nome em vão, vou levar minha queixa a um nível
mais alto—, Jesus grunhiu na minha cabeça.

— Você não vai se desculpar também? — Eu


coloquei minhas mãos na minha cintura.

— Pelo que? — Ele parecia genuinamente


interessado.

Quantos anos ele tinha? Trinta? Trinta e dois? Ele


não parecia mais tão jovem, agora que eu estava
sóbria e observando-o através de uma cortina de
raiva vermelha e puro constrangimento.
— Por mentir para mim—, eu levantei a minha
voz, à beira de pisotear meu pé. —Por fingir um
sotaque e me dizer que você tinha um vôo de volta
para casa. Por...

—Não que seja da sua conta.— Ele levantou uma


mão, cortando meu fluxo de palavras. —E eu jamais
forneço informações pessoais, já que você agora é
oficialmente uma empregada e uma novata—, ele me
lembrou friamente. —Mas eu realmente voei para ver
minha mãe na Flórida. Minha Casa não é aqui. Mas
não é na França também.

—E o sotaque?— Eu gostaria de poder bater na


cabeça dele com um grampeador e ainda manter o
meu trabalho. Infelizmente, eu tinha certeza de que o
RH iria desaprovar isso.

Ele puxou sua gola, seu sorriso cruel. —Eu gosto


de sexo simples e sem sentido.

—Não. Você se certificou de que eu não pediria


seu número ou tentaria lhe daria o meu.— Eu tinha
controle zero sobre a minha voz neste momento, e
acho que ele sabia que eu estava a um passo de socá-
lo no rosto.

Ele olhou para mim sem rodeios.

—Loucura não fica bem em você, Spears. —Bem,


considere-se com sorte, porque não tenho intenção de
trocar nada com você, seja números, fluidos ou
amabilidades.

Eu me virei, pronta para sair pela porta. Eu dei os


primeiros passos, mas Célian agarrou meu pulso e me
girou no lugar. Seu toque enviou um choque de
eletricidade direto para minha virilha, o que só provou
que minha mente era esperta, e meu coração estava
solitário, mas meu corpo era um idiota.

—Fique quieta—, ele avisou.

Eu revirei meus olhos. Como se deixar meu chefe


foder o inferno fora de mim, fosse algo que eu
quisesse enviar um comunicado de imprensa.
—Sim, senhor.—Eu balancei seu toque para
longe. —Mais alguma coisa, senhor ?

—Mude sua atitude.

—Se não?

—Vou tornar sua vida muito miserável. E vou


aproveitar isso também. Não porque dormimos
juntos, mas porque você roubou meu dinheiro, minha
carteira e meus preservativos.

Para ser justa, os preservativos estavam dentro


de sua carteira, e eu simplesmente esqueci de
descartá-los. O que deu a coisa toda uma camada
extra de vergonha. Eu sabia que estava patinando em
gelo fino, e não queria me arrastar até o fundo do
oceano do desemprego. Eu decidi mudar de assunto.

—Eu esqueci meu iPod na suíte. Por acaso você


encontrou?

—Não.
Droga. —Pode me dar licença?

Ele deu um passo para trás.

—Espero ver muito pouco de você, senhorita


Spears.

—Devidamente anotado, Sr. Timberlake.

Eu bati na minha testa todo o caminho de volta


para o meu cubículo, pensando que as coisas não
poderiam piorar. O futuro proprietário da LBC parecia
vingativo, regiamente irritado e majestosamente
explosivo, por minha causa. Eu sabia que ele iria me
evitar a todo custo, e me envergonhei por estar triste
com isso, porque seu cheiro, sua voz e as palavras
insanamente inadequadas que deixavam sua boca me
fascinavam tanto quanto me enfureciam.

Quando voltei ao meu cubículo, meu primeiro


instinto foi me afogar em amostras de perfume. Mas
assim que entrei, percebi que tinha algumas
explicações para fazer. Grayson e Ava sentaram-se
cada um de um um lado, de pernas cruzadas, olhando
para mim como se eu fosse um especial da National
Geographic. Tudo o que precisavam era de pipoca.

Grayson apontou o polegar na direção do


elevador. —Explique.

—Não há nada...

Ava se intrometeu. —Sr. Laurent Jr., AKA, o


afiado diretor e produtor executivo do programa de
notícias do horário nobre e Lord Cuzão, nunca oferece
contato visual com as pessoas, quanto mais fala com
elas.

Ele não fala? Chocada!

—É melhor você começar a cantar como se fosse


uma American Idol e eu fosse Simon Cowell, garota.—
Grayson estalou os dedos, balançando a bunda no
banco. —Eu quero saber como, quando, onde e por
quanto tempo. Especialmente a parte longa, com
polegadas e tudo.

Eu acho que eu merecia isso. Célian não deveria


ter me chamado para ter uma conversa privada, justo
no meu primeiro dia. Além disso, eles estavam se
tornando os únicos rostos amigáveis em todos os
sessenta andares.

Eu olhei para baixo, meus dedos se contorcendo


nos meus sapatos.

—Vocês estão fazendo um grande negócio por


nada. Nós nos conhecemos antes. Resumidamente.
Em uma... função social.

O que é mais social do que um chupar as partes


privadas do outro?

—Acho que ficamos surpresos em nos rever, isso


é tudo.

A maneira como a mentira deslizou sem esforço


dos meus lábios me assustou. Primeiro roubando sua
carteira e agora isso. Célian Laurent com certeza
trouxe o pior de mim.

—Então você está dizendo que vocês não se


conhecem.— Ava inclinou o queixo para baixo,
inspecionando-me como se eu fosse um espião russo.

—Eu nem tenho certeza de qual é o primeiro


nome dele.— Isso era realmente verdade.

—É Célian. Agora, pergunta. Você ouviu alguma


coisa que ele disse naquela reunião?— Grayson
levantou uma sobrancelha.

—Eu...— procurei as palavras. Normalmente, eu


era muito mais eloquente. Debate tinha sido meu
assunto favorito na faculdade. Eu tinha ficado cara a
cara com meus colegas de classe articulados,
abertamente opinativos e aspirantes a políticos em
Columbia - filhos de advogados e filhas de juízes. Mas
assim como qualquer mulher determinada a ser
levada a sério, eu tinha um calcanhar de Aquiles. Ser
pega ficando louca com o chefe e salivando em cima
dele, faria minha carreira cair como uma estrela
cadente.

—Deixe-me te ajudar com isso.— Grayson acenou


com a mão. —Sr. Laurent disse que está cortando o
orçamento da Couture em pelo menos dez por cento,
o que pode não parecer muito, mas nosso blog está
virtualmente funcionando como fumaça do jeito que
está. Eu pensei que isso era a extensão disso. Eu
estava errado.

—Eu não tenho certeza se estou entendendo.—


Eu fiz uma careta.

Grayson se inclinou para frente, capturando meu


olhar.

—Eu vou perguntar de novo. Como você


conheceu os Laurents?

—Por quê?— Eu senti meu coração batendo no


meu peito. Agora nós estávamos conversando no
plural?
—Acabei de receber este e-mail.— Ele virou o
monitor para que nós três pudéssemos nos aproximar
e dar uma olhada.

De: Mathias Laurent, Presidente, LBC

Para: Grayson Covey, editor da revista


Couture Online

Caro Sr. Covey

De acordo com nossa discussão anterior e de


acordo com os recentes cortes feitos na Couture,
precisaremos de mais assistência no
departamento de notícias.

Nós estaremos transferindo um de seus


funcionários para a redação, a partir de amanhã
às nove da manhã. Visto que você e a Srta.
Jones trabalharam juntos nos últimos dois anos,
a pessoa que se reportará à redação será a Srta.
Humphry.

Saudações,

M. Laurent

Presidente, LBC

—O que está acontecendo?

Eu girei a cadeira de Grayson, agarrando seus


ombros. Eu estava levemente exultante e muito
assustada. Trabalhar em uma redação era o meu
sonho desde que me lembro, mas trabalhar com
Célian, com certeza seria um pesadelo. Meus
sentimentos estavam em guerra, lutando e puxando
entre alegria e horror.

—Eu não faço ideia. O Sr. Laurent Senior nunca


se dirigiu a mim pessoalmente. Eu nem sabia se ele
sabia meu nome.
Grayson esfregou a testa, parecendo
desorientado.

—Você acha que tem algo a ver com Célian?—


Ava perguntou.

Célian era tão legível quanto uma folha em


branco. Ele era um mistério envolto em um enigma.
Ele parecia chateado comigo óbvio, e ele foi claro,
dizendo que não queria me ver novamente.

—Duvido. Como eu disse antes, não nos


conhecemos —, tagarelei eu mesma.

Grayson correu para esfregar minhas costas.

—Está bem. Você vai ficar bem. Célian fez um


nome para si mesmo como o homem mais cruel do
ramo, e é por isso que na verdade, estamos deixando
a CNN e a Fox News comendo poeira pelos últimos
dois anos. Mas no final do dia, haverá pessoas ao
redor. Ele não pode mutilar você. Um ping soou no
computador de Grayson e nossos olhos voltaram para
a tela.
De: Célian Laurent, Diretor de Notícias, LBC

Para: Grayson Covey, editor da revista


Couture Online

Gary,

Era esperado que você nos enviasse a peça


do casamento real sueco duas horas atrás. A
menos que você goste das longas filas dos
desempregados e seja rebaixado para um
apartamento no Bronx com eletricidade não
confiável, eu aconselho a não testar meu limite
quando se trata de pontualidade.

Eles são chamados de prazos por um motivo.


Se você não entregar a peça no prazo...

Célian.
Grayson clicou duas vezes no pequeno X no canto
direito do monitor, fechando o programa de e-mail.

—Sobre ele mutilar você...— Ele limpou a


garganta, olhando para o céu e balançando a cabeça.
—Use um capacete amanhã de manhã, apenas no
caso.
— Bom dia, Sr. Laurent! Aqui está seu café
grande americano, agenda diária e os boletins das
notícias de hoje. Você tem uma reunião às dez horas
com seu pai em seu escritório e um almoço ao meio-
dia, com James Townley e seu agente, a respeito de
renovar seu contrato. Sua lavanderia deixou uma
mensagem, dizendo que não mandaram o seu casaco
azul-marinho da Gucci. Eles enviaram suas desculpas
e ofereceram um desconto de 20% na sua próxima
visita. O que você gostaria que eu fizesse com essa
informação, senhor?
Junte, Monte um processo, faça uma bola e a
enfie em sua garganta.

No geral, minha assistente, Brianna Shaw, era


uma garota legal. Ela era graduada na faculdade de
direito, e eu tinha certeza que ela ainda pensava que
Pro Bono se referia a uma fã do U2, ainda assim ela
faz um esforço, algo que não posso dizer sobre os
montes de, Millennials malvados auto-intitulado, que
iriam entrar e sair deste lugar tentando (e falhando)
em me ajudar. Brianna ofegava como se estivesse no
meio de uma orgia enquanto conversava comigo, o
que ela fez parecer uma luta. Talvez tenha algo a ver
com o fato, de que ela teve que me perseguir pelo
corredor. Ela era baixa e corpulenta, eu era alto e
corria 11 quilômetros por dia.

Eu marquei a ideia de contratar uma assistente


alta, atlética e casada, no minuto em que Brianna
jogasse a toalha. Que, a julgar pelo meu histórico,
deveria ser a qualquer semana a contar de agora.
Minhas assistentes geralmente desistem, na marca de
dois a três meses. Bem na época, em que qualquer
uma dessas graves realizações os atingem:

Eu era um idiota insuportável.

Eu não transaria com elas.

Brianna agora pairava perto do limite de quatro


meses, um soldado se eu a visse como um, ou uma
lunática masoquista.

—Dispense eles—, eu bati. —Eu não trabalho com


ladrões.

A menos que eles tenham uma bunda digna de


cada música de rap que eu já ouvi. Judith Humphry
invadiu minha mente. Então eu deixaria eles
manterem o emprego.

Embora isso fosse besteira, e eu sabia disso. A


senhorita Humphry não trabalha para mim. As
chances eram que eu não a veria por meses a fio. Ela
trabalhava em um andar diferente, em um
departamento diferente. De qualquer forma, eu nunca
pegava a mesma mulher duas vezes e nunca tocava
em um empregado. Ela era oficialmente tão tóxica
quanto a hera venenosa e, depois de me roubar,
quase tentadora.

Brianna lambeu os lábios, empurrando seus


cachos maçantes e castanhos atrás das orelhas
enquanto se aconchegava ao meu lado. Eu estava
correndo da redação para o meu escritório.

—Senhor, isso seria um desafio, visto que de


acordo com esta planilha...— Ela passou a tela do iPad
em sua mão. —Você colocou oficialmente na lista
negra, todos os limpadores a seco em Manhattan.

Eu tirei o dispositivo de seus dedos, meus olhos


percorrendo as linhas de lojas em vermelho.
Inacreditável. A natureza humana foi projetada para
pegar o que quisesse, as consequências seriam
condenadas.
Mais uma vez, pensei na pequena senhorita
Humphry. Ela não tinha nenhum negócio invadindo
meus pensamentos. Eu geralmente esquecia minha
aventuras de uma noite, antes de o esperma no meu
pau secar. Então, novamente, ela havia me roubado.

E eu peguei algo dela.

The Smiths, The Strokes e The Shins. Coisas


bonitas e sujas? A garota conhecia uma loja de discos.

— Dispense eles —, eu repeti.

—Mas, senhor...— Brianna engasgou, uma


resposta bastante dramática para a ocasião.

Eu parei na frente da porta do meu escritório. Ela


fez o mesmo. Seu rosto estava tão vermelho que eu
pensei que ela iria entrar em combustão espontânea.
Eu esperava que ela não fosse. Eu tinha uma nova
camisa Brioni e, aparentemente, nenhuma lavanderia
a seco honesta dentro dos limites da cidade.
—Você não tem outra opção, a não ser que queira
voltar para uma das lavanderias que já colocou na
lista negra—, explicou ela.

—Errado. Há uma terceira opção.

—Há?— Ela bateu os cílios.

Não foram muitas de minhas funcionárias que


tiveram coragem de fazer isso. Primeiro, porque eu
era o filho do presidente, segundo, porque eu era
apenas um pouco mais intimidante do que o próprio
Lúcifer e terceiro, porque eu estava, como minha
produtora associada Kate me rotulou uma vez,
devastadoramente indisponível. O que essencialmente
significava, que eu não ficava distraído por um
conjunto alegre de peitos.

—Você pode estar lá para monitorá-los, enquanto


eles trabalham nos meus itens.

—Mas…

—Você está certa. Pode é uma palavra casual. É o


que vai acontecer.
—Senhor…

—O relógio começa a contar agora. Melhor correr,


eles ficam ocupados ao meio-dia.— Eu bati no meu
Rolex, invadindo meu escritório e fechando a porta
com um baque.

Uma hora depois, minha péssima desculpa para


um pai, entrou no meu escritório como um turista em
uma loja de presentes, imaginando o que diabos ele
gostaria de quebrar. Tecnicamente, eu deveria
encontrá-lo em seu escritório. Mas, se estivéssemos
falando de tecnicalidade, ele deveria agir como um pai
e não como um idiota alpinista social de saia, então
eu mesmo digo que estamos empatados. Ele apoiou o
ombro no batente da porta, as mãos enfiadas nos
bolsos.

— Je n’aime pas que l’on me fasse attendre.— Eu


não gosto de ficar esperando.

Difícil de acreditar que esse idiota era o


presidente de um canal de notícias americano. Ele
ainda insistia em falar francês para quem quisesse
ouvir. Minha mãe havia deixado de ser uma dessas
pessoas há um ano, quando minha irmã morreu. Ela
prontamente se divorciou dele, mudou-se para a
Flórida e encontrou um novo garoto brinquedo para
brincar com ela. Eu a visitava a cada poucos fins de
semana para fugir da solidão e de toda besteira.
Pontos de bônus: As bucetas da Flórida eram mais
bronzeadas e não eram tão tensas, quanto a maioria
das nova-iorquinas. E era muito mais fácil fazer o
lance do turista, sem que as pessoas percebessem
que eu era um Laurent. Os Laurents, a família de
mamãe - Mathias tomou seu sobrenome como parte
de um pré-nupcial draconiano - eram da realeza na
classe alta de Manhattan. Mantivemos nossa merda
reservada e de boca fechada, e éramos quase tão
escrutinados quanto as pessoas que colocávamos nas
notícias.

—As chances são de que você viva—, eu disse em


inglês, ainda digitando no meu laptop. Infelizmente.
—Olhe para mim quando eu estou falando com
você—, ele latiu.

Eu fiz.

Eu poderia dizer que minha complacência o


assustou, porque o grande Mathias Laurent pigarreou,
caminhou até o assento em frente ao meu e desabou
como se tivesse prendido a respiração no último ano.
Que foi praticamente o que todos nós fizemos, desde
que Camille morreu.

—Estamos tendo um problema de identidade, que


faz com que o espaço publicitário seja atingido—. Ele
deu um tapa na mesa cromada entre nós.

—Vamos concordar em discordar. Eu sei


exatamente quem eu sou: um jornalista que
arrecadou as maiores avaliações da rede de notícias
todas as noites nos últimos dois anos e, o filho de um
idiota namorador. Se você sofre de perda de
memória, eu sugeriria ginkgo biloba, vitaminas B-12 e
ácidos graxos —. Eu mantive meus olhos na tela.
—Ouça, filho... Ele cruzou as pernas e eu fiz o
meu melhor para não rir. Mesmo? Filho? Isso foi rico.

—Seu trabalho aqui é apreciado, mas é hora de


ser legal com novos anunciantes e colher novas
receitas.

—Você quer dizer que agora é a hora de deixar a


propaganda das festas, e cada idiota com uma garrafa
de álcool ou uma marca de cigarro vender tempo no
ar?— Eu sentei e coloquei meus dedos juntos. —
Porque nós já temos comerciais saindo de nossas
bundas. Nós simplesmente não administramos as
vagas que trazem muito dinheiro, porque as pessoas
tendem a perder sua confiança em um canal de
notícias, que lhes diz que eles deveriam comprar um
pacote de preservativos e lubrificantes para usar com
sua bebida.

Ele revirou os olhos como um adolescente.

— Il n’est pire sourd que celui qui ne veut pas


entendre!— Ninguém é tão surdo quanto aquele que
se recusa a ouvir. —Talvez alguns endossos simples
no ar sirvam. Estou te encontrando no meio do
caminho, Célian.

—Eu prefiro te encontrar no tribunal, quando eu


processar sua bunda por cagar sobre a minha futura
rede.— Eu parei ele no meio da fala. —Este canal de
notícias reportará as notícias. Nada mais. Nada
menos. É o trabalho do departamento de vendas para
encontrar negócios lucrativos.

— Precisamente! Eles simplesmente não podem.


Você fez desta rede as melhores duas coisas da TV.
Nós nunca somos tendenciosos, nunca somos errados
e nunca somos lucrativos. E isso é um problema.

—Não me dê a besteira lucrativa. Eu assisto os


números de perto. Estou prestes a herdar este
lugar.— Estávamos fazendo lucros limpos, não apenas
grandes receitas como poderíamos se vendêssemos
nossa alma ao diabo. Eu preferia minha alma intacta.
Já era ruim o suficiente eu não ter coração.
—Continue nesta linha de comportamento e você
não herdará nada.— Meu pai ficou vermelho, com o
rosto inchado de sangue e raiva.

Eu sorri impaciente.

—Isso não cabe a você, e você sabe disso. Minha


mãe lhe deu as chaves deste passeio, e você deve
devolvê-las quando não estiver mais apto para o
trabalho. A diferença entre nós, é que eu sou um
jornalista, e você é só um bastardo sortudo.

—Observe seu tom comigo.— Ele socou sua coxa,


seu rosto tão vermelho que estava começando a ficar
roxo.

Eu sabia que deveria me acalmar, antes que ele


sofresse outro ataque cardíaco. Eu odiava meu pai
com uma paixão ardente, mas não queria sua morte
em minha consciência. Eu amarrei meus dedos juntos,
inclinando-me para frente e encontrando seu olhar. A
natureza deve ter sabido o que eu descobri quando eu
não tinha nem dez anos, nós não seríamos próximos.
Tenho certeza de que é por isso que eu parecia muito
com minha mãe. Olhos claros, cabelos escuros. As
únicas coisas que eu herdei de Mathias, eram sua
altura e capacidade de fazer as pessoas quererem
cometer assassinato.

—Eu me orgulho de trazer para a mesa,


informação imparcial, factual e à prova de balas. Em
ter um histórico comprovado de notícias limpas todas
as noites. O que nossos espectadores fazem com
essas informações depende deles. Você não vai injetar
nenhuma propaganda pró-republicana, pró-democrata
ou pró-besteirol no meu programa de notícias. Você
não vai exibir anúncios de cassinos, álcool ou
preservativos. Você não vai arruinar esse negócio
para mim.

—Precisamos nos manter lucrativos, Célian.—


Meu pai ajustou sua gravata vermelha de seda. —E
quando se trata de pensar por si mesmo, pelo menos,
tenha a decência de soar um pouco menos inflexível.
Seu histórico, não provou exatamente que você faz
como você prega.
Eu sabia exatamente a que ele estava se
referindo, e queria grampear seu rosto na minha
maldita porta pela hipocrisia. Ele cavou o buraco que
eu estava sentado com seu próprio pau, e agora ele
estava cavando lama para me enterrar dentro dele.

—Se você não quer que eu toque no seu show,


vou ter que cortar sua equipe. Farei os arranjos
necessários para liberar os estagiários e repórteres de
reserva.

Fudido. Mas é melhor que se afogar em anúncios


de cassinos e drogas experimentais.

—Você faz o que você tem que fazer—, eu


assobiei. —Mais palavras de sabedoria de um homem
que não sabe onde o nosso estúdio realmente está?

—Devemos nos livrar de James Townley, se ele


fizer mais exigências salariais.— Meu pai achatou a
mão sobre a minha mesa.

Por um motivo além do meu alcance, meu pai


odiava nosso âncora dos últimos trinta e cinco anos.
James Townley tinha vindo a esta estação quando
tinha vinte e quatro anos de idade, e ao longo dos
anos, ele milagrosamente recebeu tudo o que ele
pediu, incluindo mas não limitado a, conseguir para
seu filho Phoenix, um trabalho aqui. O dito filho
provocou tantos problemas neste andar, que meu pai
teve que estrategicamente removê-lo para o outro
lado do mundo. Ele estava agora na fronteira sírio-
israelense, informando sobre todas as coisas do
Oriente Médio. Foi minha suposição educada de que o
ISIS patrocinaria a próxima parada do orgulho em
Damasco, antes de tentar sequestrar Phoenix
Townley. No entanto, James ainda estava irritado com
Mathias colocando a vida de seu filho em perigo.

Townley era um idiota adorável, e ele era bem


falado, respeitado e bem recebido. Ele também se
parecia com o irmão gêmeo de Harrison Ford,
bronzeado e de cabelos brancos, que não exatamente
prejudicava nossas classificações. Se ele e meu pai
pudessem se matar sem consequências legais, eu
teria duas dores de cabeça a menos para me
preocupar.
—Você terminou?— Sentei-me e rolei uma caneta
entre meus dedos. Eu ia ter uma dose dupla desse
absurdo em cerca de duas horas, quando encontrasse
James e seu agente para o almoço.

—Quase. Eu adicionei algo especial para a sua


equipe, eu acredito que você vai apreciar. — Meu pai
levantou a mão para a parede de vidro e meus olhos
seguiram a direção para o aquário da redação.

Judith Humphry.

Ela ficou ali, escultural e segurando uma caixa de


papelão no peito, recusando-se a parecer petrificada.
Com seu cabelo beijado pelo sol e um pouco de
sardas cobrindo seu nariz de botão, ela era o tipo de
linda que de repente se aproxima de você. Quanto
mais você olhava para ela, mais percebia como ela
era impressionante. Ela parecia que pertencia a uma
praia, correndo descalça. Mesmo em seu vestido
tamanho grande de saco de batata, ela parecia com a
liberdade e tinha gosto de um pedaço do céu. Eu
queria agarrá-la e jogá-la sobre a mesa, fodendo-a de
três maneiras diferentes até domingo, na frente de
toda a minha equipe de reportagem.

O problema era que Judith também tinha uma


boca. E respondia de volta. Sempre. Isso me irritou e
me encantou em igual medida. Parte de mim queria
transar com ela, e a outra parte matá-la. Esses dois
extremos não necessariamente se contradizem. Mas
eu não era o tipo de babaca para dormir com uma
empregada.

Meu pai, no entanto, não parecia compartilhar


dos meus padrões morais - ou qualquer moral, para
esse assunto.

—Nós vamos fazer sem ela—, eu bati. —Mesmo


depois do corte interno.

—Ela vai ser uma decoração bonita na redação.—


Ele me ignorou, sentando-se e olhando para ela.

Meu pai tinha um escritório a mais de cinquenta


andares pra cima, no sexagésimo andar. No entanto,
ele estava muito por aqui, e ele não podia exatamente
demitir sua própria secretária e substituí-la por Judith.
Principalmente porque ele já tinha uma reputação.

—Ela não é um vaso.— Recusei-me a poupar-lhe


outro olhar.

Meu pai deu de ombros.

—Ambos têm buracos.

Minha pálpebra tremeu. Seu rosto também pode


ter um, se você não calar a boca.

Juntei a papelada para o resumo da manhã e me


levantei.

—Por curiosidade, você a está deixando aqui


porque quer transar com ela ou porque acha que eu
vou transar?

Ele obviamente preencheu as lacunas ontem,


quando fizemos o anúncio do Couture. Mathias jogou
as mãos para o lado com um sorriso.

—Por que não ambos? Isso poderia ir em tantas


direções interessantes.
—Não. Não vai. Você não vai tocá-la e nem eu
vou.

—Porque…?

Meu pai ainda não tinha recebido o memorando


de que estava com mais de sessenta anos, e que a
única razão pela qual as jovens não o deixavam
inconsciente, era porque ele tinha mais dinheiro do
que poderia gastar em seis vidas e um nome que era
sinônimo de poder.

—Porque ela é uma funcionária. Ele ergueu uma


sobrancelha, lembrando-me silenciosamente que
quando ele olhava para uma mulher, gostava dela
pequena, dependente e muito desempregada. Se
dependesse dele, ele iria até Judith agora e a levaria
para a mesma suíte que tínhamos compartilhado no
Hotel Laurent Towers, ao lado. Se ela provasse ser
boa de cama, o que ela faria, eu sabia disso, porque
eu tinha ido fundo com ela nem mesmo a um mês
atrás, ele a trancaria em uma gaiola de ouro e lhe
daria uma vida luxuosa de aprisionamento. Um
apartamento, um motorista particular, um cartão de
crédito com um limite escandaloso, tudo para mantê-
la feliz e disponível, até que ele se entediasse dela.

Eu apontei a pilha de documentos em seu rosto.

—Mova sua bunda de volta para o quinto andar


antes do final do dia.

Ele sorriu. —Posso lembrar a você quem é o chefe


por aqui?

Eu empurrei minha porta aberta, lançando-lhe um


olhar encharcado de repulsa.

—O chefe é o idiota que faz seu show valer


alguma coisa, pai. Você é só a porra da bolsa de
dinheiro.

Acabei ignorando Judith pelo resto do dia.


Não foi intencional, mas satisfatório mesmo
assim. Eu nem sequer me incomodei em mostrá-la à
sua mesa. Eu não tinha certeza do que meu pai queria
que ela fizesse aqui, mas eu sabia que depois do
confronto desta manhã seria melhor mantê-la, ou ele
encontraria outra maneira de sabotar meu programa.

Ela provavelmente era uma aspirante a


fashionista, que achava que trabalhar na Couture era
uma honra como receber o Prêmio Nobel. Eu
precisava ser criativo ao dar a ela uma tarefa que ela
poderia executar bem, e que ainda colocaria alguma
distância entre nós.

Depois de almoçar com James e seu agente, tive


que fazer um resumo final antes do show. James
estava tendo um colapso dois andares abaixo, porque
o maquiador não tinha o seu tom de base e ele tinha
medo de parecer um Oompa Loompa, e um
entrevistado estava envolvido em um acidente de
carro a caminho do show.

Como Judith não tinha uma escrivaninha, um


computador nem ninguém para conversar, ela se
sentou em uma cadeira perto da porta e escreveu
furiosamente em um caderno grosso. Imaginei seu
diário preenchido com seus últimos pensamentos
sobre Shawn Mendes e o clareamento anal.

No momento em que eu tive um minuto de folga,


eram sete e meia. Todos já haviam saído para o dia.
Peguei uma cadeira e sentei ao lado dela, cruzando os
braços sobre o peito. Ela levantou os olhos do
caderno, descruzando as pernas e enfiando os pés
com seu All Star sob a cadeira. Ela parecia uma
jornalista tanto quanto eu parecia um maldito
palhaço. O mero reconhecimento de sua existência
aqui foi cuspido no rosto do meu precioso tempo.

—Isso não foi idéia minha—, eu esclareci,


esfregando meu rosto cansadamente.

Ela abriu um sorriso, não foi falso, não foi


calculado e também não construtivo para o meu pau
se contorcendo.

—Bom show.

—Eu sei.
—Mas eu pensei que sua entrevista com o CEO da
Faceworld poderia ter sido diferente.

—Da próxima vez, vou me certificar de que ele


use Hermés quando ele falar sobre as ameaças dos
hackers russos.

—Ou talvez da próxima vez, tenha certeza de que


ele não está soprando fumaça na bunda da sua
âncora, desculpe meu francês. —Se nada mais, sua
escavação foi meio engraçada. —Vendo como sua
principal competição publicou uma história hoje à
noite sobre como o CEO agora é acusado de ser um
ávido usuário do Cotton Way, um site darknet onde
você pode comprar heroína e armas por preços
competitivos—. Ela me entregou o telefone.

Era o item principal em seu site agora. Foda-se.

—Este lugar parece com o TMZ para você?— Eu


gesticulei ao redor da sala com o meu dedo.

—Não há nada de desprezível nesse item e você


sabe disso. Eu vim aqui para dar a notícia. Manter as
massas informadas e servir ao meu país.
Ela me surpreendeu, seus olhos atirando punhais
nos meus. Por que as palavras dela me
surpreenderam? Porque ela era linda e jovem, e
fodivel sem culpa. Mas isso não me fazia o bastardo
misógino e crítico que meu pai era?

—Sua estação.— Levantei-me e limpei a


garganta, caminhando para o meio da sala. Eu
deliberadamente a coloquei em algum lugar que eu
não a podia ver claramente do meu escritório. Eu
conhecia meu pau melhor do que confiava em Miss All
Stars.

—Viu isso?— Ela deslizou na cadeira em frente ao


seu monitor. —Reuters.

Nós temos um gênio em nossas mãos.

—Seu trabalho é olhar para essa tela o dia todo e


classificar os itens de notícias relevantes neste site.
Itens amarelos vão para Steve, nosso repórter novato
- bem, um pouco menos novato que você. Itens
laranja vão para Jessica, nossa repórter interna, e
itens vermelhos vão direto para Kate, minha
produtora associada.— Eu rabisquei seus e-mails em
um post-it e coloquei no monitor dela.

—E o que acontece quando vejo um amarelo com


potencial para se tornar um vermelho?

Seu cabelo amarelo ficaria bem em minhas coxas,


enquanto você me chupa e eu faço sua bunda
vermelha com a surra que você merece.

—Sem chance.— Eu me endireitei para não sentir


o cheiro de baunilha e o aroma quente de gengibre.
Meu pau não precisava desse tipo de negatividade em
sua vida.

—Poderia, no entanto.

Eu me virei de frente para ela novamente.

—E quais são suas credenciais para fazer tais


suposições?

Ela olhou para mim levianamente.


—Bacharel da Columbia Journalism School.

Foda-se quente.

Entusiasta do The Smiths.

Bem educada.

E uma ladra mentirosa.

Eu precisava ficar longe dela, ver sua bunda


embalada e transferida para nossa filial em Chicago.
Por enquanto porém, eu estava principalmente
interessado em saber por que uma pessoa formada na
Columbia, havia roubado minha maldita carteira e
preservativos.

—Antes de perguntar, bolsa integral. Não tenho


dinheiro.

Ela era uma leitora de mentes também.

Eu acariciei meu queixo.


—Não perguntei; não se importe. Você também
será assistente da minha assistente. —Sua assistente
tem uma assistente?— Ela girou em sua cadeira,
arregalando os olhos.

—Ela tem agora.— Eu sorri.

—Você me enoja—, disse ela.

—Você tem uma maneira estranha de mostrar


isso.

—Não foi você quem me deu uma palestra de


vinte minutos sobre nunca mais mencionar aquela
noite?

Ela encarou e ficou de pé, as mãos fechadas em


punhos. Eu teria pena dela se não me lembrasse
como me senti quando percebi que minha carteira
estava faltando. Ela realmente pensou que nós
estávamos jogando pelas mesmas regras. Nós
estávamos de igual para igual agora, e mesmo que o
escritório estivesse vazio, exceto por ela e por mim,
eu podia sentir isso queimando com a nossa raiva. Eu
gostava dela quente e incomodada, mas isso não
significava que eu ia mergulhar meu pau nela
novamente. Eu não quebrei minhas regras para
ninguém.

Não faria com um funcionário.

Isso não interferiu no fato de que minhas bolas se


apertaram, no entanto. Meus músculos ficaram tensos
também, com a frustração de não ser capaz de
lembrá-la de que ela poderia me odiar do lado de fora
da cama, mas dentro, ela estava ronronando como
um gatinho.

—Judith—. Eu apertei seu queixo entre meus


dedos, angulando seu rosto para encontrar o meu
olhar.

— Jude —, ela corrigiu.

Ela queria que eu fosse como todo mundo. Aquela


nave tinha partido no minuto em que a vi no bar, e
tudo que pude ver foram seus pés com um All Star
cor de rosa, ao redor dos meus ombros, enquanto eu
empurrava nela.
—Deixe-me ser claro sobre uma coisa. Meu título
pode ser diretor de notícias, mas em algum momento
nos próximos cinco anos, eu serei o presidente desta
empresa. Melhor ainda, eu serei o dono de todos os
andares neste prédio de 60 andares, de cima a baixo,
grampeadores e máquinas de café incluídos. As regras
não se aplicam a mim. Você tem leis, mas eu opero
na minha pequena ditadura. Desde que seja legal e
não cruze a relação empregador-empregado, posso
dizer o que quer que eu queira para você. Como tenho
uma rica base legal, escola de direito de Harvard,
caso você esteja se perguntando, sei onde a linha
está traçada e pretendo andar como uma corda
bamba se você me atravessar.

Sua respiração ficou presa em sua garganta, um


animal enjaulado e indefeso, e meus olhos se
concentraram em suas grandes avelãs avermelhadas,
sabendo que, se deslizassem para baixo, para seu
decote, eu poderia arrancar suas roupas e fodê-la
contra a mesa.
—Ambição—, ela sussurrou, passando a mão ao
longo da minha camisa.

O que?

—Eu uso All Stars preto, porque o preto


representa a ambição. Motivação. Eu quero trabalhar
aqui. Eu quero provar a mim mesma. Eu tenho muito
a oferecer, dentro e fora da redação.

O que diabos ela estava fazendo? Me tocando no


escritório? Ela não estava exatamente tentando me
seduzir, mas também não estava não tentando.
Acabou que dois poderiam andar nessa corda bamba.

—Você está brincando com fogo—, eu avisei.

Sua mão se arrastou para cima, tocando minha


boca, seu polegar pairando sobre o meu lábio inferior,
traçando as costuras, lembrando-me de três semanas
atrás.

—Talvez eu queira me queimar.


Agarrei seu pulso e abaixei a mão, tão
gentilmente quanto pude, sem pressioná-la contra o
meu furioso tesão.

—Eu não cago onde eu como.

—Dê a si mesmo algum crédito—. Ela lambeu os


lábios cor de rosa. —Você não foi tão ruim assim.

Eu ri, balançando a cabeça. Diga o que quiser


sobre essa garota, ela tinha bolas do tamanho de
melancias.

—Você pode se juntar ao meu navio.— Peguei


minha carteira nova e telefone, colocando-os no bolso
de trás. —Desde que você perceba que eu sou seu
capitão, e que não haverá mais porra nenhuma, literal
ou figurativamente.

Em vez de dar-lhe o prazer de formular uma


resposta, virei-me e fui embora, resmungando
baixinho. —Só não espere que eu te ajude quando
você se afogar.
As coisas pioraram progressivamente e
metodicamente na semana seguinte ao meu
movimento como Grayson diz: —deportação!—, de
Couture para a redação.

O lugar era um zoológico feito de carteiras de


cromo prata coladas em um padrão de onda,
circulando enormes monitores que transmitem
diferentes canais de notícias de todo o mundo.

A redação era redonda, com paredes de vidro.


Perto dali havia outra sala de conferências, também
de vidro, onde bolos e frutas frescas estavam em
cestos elegantes, e garrafas de água em vidro
elegantes estavam perfeitamente alinhadas. Havia
centenas de monitores, telefones de painel de
controle, teclados e cabos correndo de um lado para o
outro. Havia uma escada para o sétimo andar que
levava a uma porta com uma placa estampada nela :
A Mágica Acontece Aqui

Isso se refere ao estúdio real, onde o noticiário do


horário nobre era gravado.

Mas eu não podia sentir a poeira de fada na


minha pele, porque eu estava muito ocupada
tentando sobreviver à minha vida como eu sabia.

Milton foi o primeiro a matar o meu interesse.

Meu ex traidor havia decidido que o fato de ele


estar devastando sua editora não era, na verdade,
motivo para um rompimento. Primeiro vieram as
flores e mensagens de texto. Quando esses eram
ignorados ou dados a vizinha solitária e atraente do
andar de cima (as flores, é claro). A viúva de
quarenta e poucos anos, a Sra. Hawthorne, não
precisou ler as desculpas do idiota traidor, por ter
mergulhado sua linguiça em um ketchup diferente,
depois de voltar de um cansativo turno como
enfermeira. Milton começou a pedir aos nossos
amigos em comum para serem mediadores. Os ditos
amigos, queam os únicos a beijar sua bunda para
conseguir um emprego em sua revista de prestígio,
disseram que tínhamos algo especial acontecendo,
que ele era único, e seria insano jogá-lo fora por
causa de um erro.

—Ele ia ajudá-la a pagar sua dívida—,


acrescentou um dos nossos amigos, Joe. —Considere
isso também.

Eu disse a Joe e aos outros, que se eles iam


defender o caso de um trapaceiro que decidiu jogar
nossos cinco anos pelo ralo, eles poderiam também
apagar meu número. Eu estava em um espaço cheio
de ansiedade, consistindo de um pai doente, um novo
emprego e uma pilha de contas que permaneciam
impressionantes mesmo no meu estado de
empregada. Agir diplomaticamente não estava no
topo da minha lista de prioridades.

Então houve o trabalho.

Célian Laurent era o maior idiota que já andou no


planeta Terra, e ele carregava esse título como um
distintivo de honra. O único forro de prata, era que eu
agora sabia que não era pessoal. Ele era apenas um
pau, um pau idiota que fazia um trabalho fenomenal
de fazer notícias e superava todos os talentosos
jornalistas que eu já conheci, mas um idiota mesmo
assim. E falando em pau, ao contrário da minha
impressão do nosso último encontro, ele manteve-o
firmemente dentro da calça durante toda a semana.
Não que tivéssemos alguma chance de trabalhar cara-
a-cara em uma redação movimentada, mas quando
ele reconheceu minha existência (embora com
relutância), ele permaneceu frio, distante e
profissional.

E eu? Tentei esquecer o momento de fraqueza


durante o qual eu o toquei.
Eu não sabia por que estava procurando uma
conexão com ele. Talvez eu tenha reconhecido como
éramos parecidos. Ele era amargo e eu estava com
raiva. Ele queria casual e eu... eu não achava que
poderia pegar qualquer outra coisa com tudo o que
acontecia na minha vida. Mas eu não conseguia
esquecer como me senti quando ele me tocou.

Quando a boca dele estava na minha.

Quando suas mãos me prenderam na parede.

Quando ele me fez esquecer do meu pai doente,


do acumulo de contas e desemprego.

Fiel à sua palavra, Célian me colocou no comando


da Reuters. A única qualificação que eu precisava para
o trabalho, era a capacidade de distinguir entre
amarelo, laranja e vermelho. A maioria dos
repórteres, até mesmo juniores como eu, tinham
muitas tarefas. Eu tinha apenas uma, apodrecer na
frente do monitor.

Ah, e ajudar sua assistente, Brianna Shaw.


A assistente de Célian era a definição de doce.
Infelizmente, ela também era uma bomba-relógio.
Célian era tão tirano, que ela passava a maior parte
do dia correndo atrás dele, recebendo ordens ou
soluçando baixinho no banheiro. Hoje foi a terceira
vez que a encontrei fazendo isso, em uma sexta-feira,
de todos os dias, um segundo antes de todos em
Nova York entrarem em bares chiques e pubs para
celebrar a liberdade do fim de semana, e eu
silenciosamente deslizo uma caixa de lenços e uma
mini-garrafa de uísque em sua cabine.

Ela estava com muito medo de pedir minha


ajuda, e eu não sabia como abordar o assunto sem
fazê-la se sentir fraca. Mas aquela terceira vez no
banheiro me quebrou. Para o inferno com meu chefe e
seus profundos olhos azuis, seus lábios carnudos,
boca suja e corpo de Zac Efron.

—Ei.— Eu me agachei, minha bunda pairando


sobre o chão. Meus All Stars era cinza hoje.
Temperamental e deprimido.
—Você precisa de uma pausa… e uma bebida.
Deixe-me te ajudar. Eu tenho muito tempo livre.

E eu tenho. Meu trabalho era tão desafiador


quanto amarrar os meus sapatos. Brianna soluçou do
outro lado da baia, desenroscando a garrafa e
tomando um gole.

—Eu...— ela começou. —Ele...— Eu forcei meus


ouvidos para ouvir. —Ele precisa ter seus ternos
limpos.

— Vou deixá-los em meia hora. Apenas me dê o


endereço deles, — eu disse.

—N-não. Ele exige que você fique na lavanderia e


os veja limpando suas roupas.

O que?

—Você quer dizer, ter certeza de levar o recibo?—


Talvez ele tivesse uma pessoa favorita limpando suas
roupas. Como uma diva. As pessoas ricas tinham
caprichos ridículos. No caso de Célian, ele era
esquisito sobre quem limpava seus ternos, mas
estava perfeitamente contente em comer a bunda de
uma estranha.

Brianna soluçou novamente.

—Não, eu quero dizer que ele me faz sentar lá e


olhar para eles, vendo como eles fazem. —Por quê?—
Eu suspirei.

—Porque eles às vezes roubam suas roupas. —


Por que você ainda está trabalhando aqui?

Eu o teria esfaqueado no rosto pelo poder da


telepatia, se ele tivesse feito isso comigo.

—Porque ele é esperto, paga bem, e... quero


dizer...— Ela bebeu toda a bebida. Eu a ouvi engolir.
—Ele é seriamente bonito. Mas claro, sei que ele
nunca olharia para mim. Ele disse uma vez, que
minhas pernas são muito curtas, por isso eu preciso
correr para acompanhar seu ritmo. Ele provavelmente
acha que eu pareço com o Pillsbury Doughboy.

Eu tive o suficiente.

Chega dele tratando Brianna como uma peste.


O suficiente dele permitindo que todos os outros
na redação me negligenciassem. (Eu não tinha sido
apresentada a uma pessoa. A produtora associada,
Kate, me perguntou uma vez onde meus pais
estavam.

Chega de me esgueirar até o quinto andar a cada


almoço, para passar um tempo com Grayson e Ava,
porque Célian convidava todos na redação para a sala
de conferências para almoçar todos os dias. Cada.
Um. Menos. Eu.

Eu sai correndo do banheiro. Meus olhos o


encontraram como se eles fossem treinados para
fazer. Ele estava em seu escritório, a porta aberta,
digitando e ignorando a agitação no corredor. Bati em
sua porta em voz alta, minha raiva subindo pela
minha garganta e me fazendo gritar. Eu entrei sem
permissão.

—Sim?— ele disse sem olhar para cima.


—Eu preciso falar com você.— Fiquei surpresa
com o quão quente e cruzada minha voz soou, como
lava líquida deslizando entre meus lábios.

—Eu imploro pra caralho pra diferir. Você está se


reportando a Steve, Jessica e Kate. Nessa ordem.
Pense neste lugar como uma igreja, Judith. Quando
você faz uma confissão, você vai a um padre. Você
não tem uma linha direta com Deus.

Ele apenas…? Certamente, ele não…

—Você acabou de se comparar a Deus?— Eu


tentei envolver minha cabeça em torno disso.

Mas claro que ele fez. Ele tinha sua assistente


monitorando seus produtos de limpeza a seco. O cara
era obviamente mais banana do que uma ilha tropical.

E ele ainda estava digitando e olhando para a


tela. Eu bati a porta atrás de mim para chamar sua
atenção. Finalmente, ele olhou para cima. Eu engoli a
saliva acumulada na minha boca. Sua camisa branca
crespa enrolada em seus cotovelos, seus antebraços
bronzeados e musculosos com as veias serpenteando
em suas grandes mãos, e a expressão severa e
esculpida em seu rosto, tão afiada, que poderia me
perfurar e sangrar até a morte só com um olhar.

—Você está fazendo Brianna sentar em sua


lavanderia por horas a fio os vendo limpar suas
roupas?— Eu fervi.

Um sorriso tóxico se espalhou por seu rosto.

—Eu estou supondo por sua reação, que você


herdou a tarefa vexatória.

—Uma tarefa que não farei.

—Uma tarefa que você fará, a menos que queira


ser demitida, cinza ou não.

—Hã?— Eu fervi.

Seus olhos caíram para os meus All Stars.

Ele percebeu.

—Só porque você está com um humor de merda,


não significa que você tem que mandar em seu chefe.
Aprenda seu lugar, All Star.
— All Stars?

Seus olhos viajaram até meus pés, e ele levantou


uma sobrancelha solitária.

Tanto faz. Eu pisei meu pé, fervendo. —Você está


sendo irracional! Você precisa parar de andar tão
rápido também. Brianna está correndo atrás de você e
seus pés estão todos arrebentados.

—Senhorita Humphry, o inferno vai congelar


antes de você ditar meus movimentos, dentro ou fora
da minha redação. Eu joguei minhas mãos para cima.

—Desisto. Por favor, me transfira de volta para


Couture. Criar notícias era a ambição da minha vida,
mas a auto-realização não vale a pena trabalhar com
você.

O que eu estava dizendo? Por que eu estava


dizendo isso? Eu não queria voltar para Couture. Eu
amava Ava e Gray, mas queria ficar aqui e fazer
notícia. Eu só queria que ele não me tratasse como se
eu não existisse e abrisse uma folga para Brianna.

—Você gosta da notícia? Aqui está um noticiário


para você. Você nem sempre consegue o que quer.
Nós terminamos aqui?

Não. Nós definitivamente não terminamos. Mas


eu não podia arriscar meu trabalho, então me virei e
estava prestes a ir direto para o escritório de Grayson
quando colidi com algo duro. Eu olhei para cima. Era
Mathias Laurent, e ele estava sorrindo de volta para
mim como um gato astuto que acabara de comer um
canário, algumas penas amarelas ainda saindo de sua
boca.

—Olá—, disse ele no mesmo sotaque francês que


Célian tinha fingido no outro dia.

O desconforto percorreu minha espinha.

—Senhor.— Eu balancei a cabeça, abrindo


caminho para ele entrar no escritório do filho. Na
minha periférica, eu peguei Célian se animando,
bebendo de nós dois.

—Mathias Laurent. Por favor, me chame de Matt.

Ele ofereceu sua mão. Eu cumprimentei. Bem,


pelo menos Laurent Sênior não era um idiota. Dei-lhe
o meu nome e ele deu um passo em minha direção,
ainda no limiar.

—Nós não conseguimos nos reunir corretamente


na semana passada, senhorita Humphry, mas eu
sempre tento o meu melhor para conhecer todos na
família LBC, não importa a posição.

—Poderia ter jurado que horizontal é a sua


posição favorita—, Célian estalou, levantando-se e
pegando o paletó na parte de trás da cadeira.

Mathias continuou, ignorando-o.

—Eu adoraria que você viesse ao meu escritório


para discutir o que está vendo e sentindo em minha
redação. Segunda-feira às dez?
Eu sorri, abrindo minha boca para aceitar o
convite, quando a mão de Célian trancou meu pulso e
me arrastou para fora de seu escritório e pelo
corredor. Eu tropecei nos meus próprios pés. Qual
diabos era o problema dele? Eu devo ter proferido a
pergunta em voz alta, porque ele soltou um grunhido
frustrado, mas adequado para os felinos em estado
selvagem. Ele abriu uma porta que levava a um
quarto vazio que eu nunca tinha estado antes e bateu
atrás de nós.

A sala de energia.

Eu grunhi quando minhas costas atingiram botões


ásperos do metal frio. Célian estava pressionado tão
perto, que eu podia sentir sua presença masculina
quente espremendo a luxúria fora de mim, o que fez
um gemido muito diferente escapar dos meus lábios.
Ele deu um passo para trás, como se meu toque fosse
letal.

—Fique longe dele.— Sua voz era tão baixa e


ameaçadora que senti no meu estômago.
—Humm...— Eu sorri, passando a língua no meu
lábio inferior e olhando para ele através dos olhos
encapuzados. —Acho que acabei de falar com o Deus
real por aqui, e Jesus ficou chateado.

Internamente, pude ouvir Jesus ressoando:

—Sim. Ela está me jogando debaixo do ônibus


novamente.— Fiz uma anotação mental para visitar
minha igreja local no domingo.

—Eu não estou no negócio de me repetir—, ele


fervia, ignorando o meu pergunta, e se eu sabia de
uma coisa sobre Célian, era que ele nunca perdia uma
oportunidade de te enganar, uma vez que você de um
soco nele.

—Eu não quero você perto dele. Suas intenções


não são puras.

—E as suas são?— Eu bufei. —Olha, eu não posso


e não vou ignorar meu chefe. Meu verdadeiro patrão.
O homem que paga meu salário.
Ele se abaixou para morder meu ouvido. —Eu sou
o homem que fodeu você sem sentido e você não
consegue parar de pensar. Eu sou o idiota que você se
masturba pensando. Eu sou o cara que vai destruir a
minha concorrência, especialmente quando se trata
de Mathias Laurent. Então, faça um favor a si mesma
e mantenha sua buceta, minha boceta, o mais longe
possível dele. Compreendeu?

Seu peito apertado e duro contra o meu corpo


macio. Sua figura alta e dominante, envolvendo meu
pequeno em submissão. Ele estava me tocando sem
realmente me tocar, e eu queria que ele me engolisse
inteira, como uma armadilha de Vênus, aperte sua
mandíbula e absorva cada centímetro de mim.

Toque me.

Me preencha.

Me afogue em seus beijos venenosos.


Deixa-me morrer do teu veneno, enterrada sob a
tua pele pecaminosa.

—Eu te odeio.

—Você gostaria de testar essa teoria?

Ele riu baixo, sempre controlado, mesmo quando


parecia um trovão entre nós no quarto escuro.

Eu deveria ter dito não, mas algo mais deslizou


da minha boca sem fôlego.

—Sim. A verificação de fatos é o seu ofício, não


é?

Sem olhar para trás, ele chegou atrás dele, nos


trancando. Meu coração bateu em submissão, não
mais solitário e ressentido. Célian agarrou meu queixo
e bateu os lábios em um beijo animalesco, que de
alguma forma começou do meio, com as línguas
lutando, os dedos desabotoando as roupas e as mãos
vagando, procurando, apertando e torcendo cada
centímetro de carne e tecido. Eu estava sem fôlego
antes do meu vestido bater no chão e sai da minha
mente no minuto em que seu pênis pressionou contra
o meu estômago.

—Ainda não tive a oportunidade de ler o manual


de funcionários da LBC. Esta é uma parte oficial de
nossas reuniões individuais?

Eu ri, meu coração ameaçando irromper da minha


pele e cair em seus pés italianos.

—Estou fazendo alguma coisa que você não quer


que eu faça?

—Você está fazendo menos do que eu quero que


você faça—, eu admiti.

—Então não fale, Humphry. Eu gosto mais de


você desse jeito.

—Ainda te odeio—, eu murmurei em sua boca,


arranhando sua camisa. Ele estava vestido, muito
vestido, e eu nunca quis ninguém mais nu na minha
vida.

—Ainda não me importo—, ele sussurrou e me


levantou contra a porta, batendo sua virilha na minha.
—Camisinha—, eu pedi.

Não importa o quão sexy Célian era, ele ainda me


dava a vibe de alguém que estava circulando no
quarteirão, e isso era Manhattan, então havia muitos
quarteirões duvidosos para escolher.

— Foda-se.— Ele mordeu meu lábio, punindo-me,


afastando-se de mim, encostando sua testa na minha
e rolando-a de um lado para o outro. —Estou limpo.

—Eu não me importo.

—Certamente você está tomando pílula.— Seu


pau cavou entre as minhas pernas, e foi difícil negar-
lhe qualquer coisa, me decapitando incluído.

—Não estamos em um ponto em nosso


relacionamento, em que estamos tendo essa
conversa. Eu quero que você me tire do ar, não me
engravide. Eu preciso esquecer.

Esquecer que minha vida é uma bagunça, que


meu pai está morrendo, que estou me afogando em
contas.
Mas claro, ele não perguntou. Não se importou.

Ele olhou para mim. Por um segundo, algo passou


entre nós. Apesar de seu exterior perpétuamente frio,
ele parecia entender a perda e o desapontamento, de
uma maneira fundamental, que manchava toda a sua
percepção da vida.

Ele me virou e bateu meus joelhos nus como um


diretor de repreensão. Não foi a queimadura, mas o
choque que me fez cair de quatro. Eu estava piscando
a surpresa, quando senti ele abaixar até os joelhos
atrás de mim.

Sua boca encontrou meu centro quente por trás,


e ele me lambeu lentamente, fazendo minhas coxas
tremerem de prazer. As lambidas doces e quase
sedutoras, se tornaram golpes. Ele separou minhas
nádegas com suas mãos fortes, mergulhando a língua
entre minhas dobras, batendo contra as minhas
paredes. Meus gemidos estavam ficando cada vez
mais altos e ele jogou um pedaço de tecido para mim.
—Morda. Eu afundei meus dentes no pano,
enquanto seus dedos afundavam minhas coxas
vermelho e azul.

O orgasmo rasgado através de mim era como um


balde de água quente. Ele lavou meu corpo, repentino
e violento. Eu mordi com tanta força o tecido que
pensei que iria rasgá-lo. Eu desmoronei no chão, mas
Célian não me deu tempo para me recuperar. Ele me
virou habilmente e subiu em cima de mim, nu da
cintura para baixo, mas ainda vestindo sua camisa. Eu
não sabia quando isso aconteceu, mas eu estava
começando a aceitar o fato de que eu agia muito
bêbada e muito estúpida toda vez que ele e sua boca
entravam na minha vizinhança geral.

Eu pensei que ele iria cutucar seu pênis


ingurgitado entre as minhas pernas e estava prestes a
protestar, mas ele me surpreendeu, cavando mais
longe até que sua bunda estivesse alinhada com o
meu peito. Ele arrancou o tecido da minha boca e
jogou no chão, guiando seu pau na minha boca com a
palma da mão.
—Ainda vou te foder hoje, só não é o buraco que
eu estava apontando para agora.

—Espere—, eu serpenteei a minha mão entre nós,


apertando sua cintura. Mesmo que ele fosse um
maníaco por controle, suas pálpebras se fecharam e
ele me deixou acariciá-lo para frente e para trás. —Se
você quer que eu chupe você, você precisa largar toda
a coisa da limpeza a seco. Seja responsável pela sua
própria limpeza a seco. Dê-lhes as roupas e, enquanto
estiver fazendo isso, faça uma reclamação oficial.
Dessa forma, eles vão pensar duas vezes antes de
roubar, porque o terno tem um rosto. De acordo?

Ele jogou a cabeça para trás e riu. — Discordo.


Foda-se isso.

—Aparentemente sim, porque então não sou eu


que você vai foder.

Isso o deixou sério rapidamente. Eu me mexi


debaixo dele, fingindo me afastar, e ele afundou mais
peso contra mim, pressionando uma palma
brincalhona na base do meu pescoço.
—Você está me chantageando, senhorita
Humphry?

Eu agarrei seu pênis mais duro, pressionando


meu polegar contra a pérola de pré-gozo se reunindo
em sua ponta, trazendo-o aos meus lábios e
saboreando-o com um sorriso doce. Se ele estava
esperando uma resposta real com palavras, ele me
subestimou. Ações falavam mais alto, e agora, eu
tinha ele pelas bolas. Quase literalmente.

Suas narinas se alargaram e sua boca franziu em


uma carranca. —É melhor que seja um inferno de um
boquete.

Com isso, ele agarrou a parte de trás da minha


cabeça e empurrou-se todo o caminho até a minha
boca, até que eu senti sua ponta na parte de trás da
minha garganta. Eu queria amordaçar, mas isso
envolvia mostrar a ele vulnerabilidade, e eu tinha
conseguido ir sem isso até agora. Então peguei tudo e
até soltei um suspiro de prazer. Suas bolas apertaram
contra o meu queixo, e eu me senti pingando no chão,
minhas coxas se espalhando involuntariamente. Ele
começou a empurrar em minha boca, e eu chupava
avidamente, amando seu gosto. Minha mão
serpenteou atrás dele, e eu comecei a brincar comigo
mesma enquanto eu o chupava. Ele segurou meu
cabelo, elevou sua bunda para um ângulo melhor, e
empurrou mais forte, batendo minha mão para longe.

—Minha vez.

Mas eu não pude evitar. A necessidade de gozar


arrepiou entre as minhas pernas. Além disso, eu
estava certa de que iria me arrepender a cada
momento, então eu poderia muito bem deixar este
cômodo completamente orgásmico. Eu arqueei
minhas costas, tentando moer contra o ar e
choramingando em frustração em torno de seu pênis.

—Gozando—, ele anunciou, nem mesmo


perguntando se estava tudo bem para fazer o que ele
estava prestes a fazer. Um líquido quente e grosso
nadou na minha boca um segundo depois. Eu o engoli
antes que ele conseguisse atingir minhas papilas
gustativas, prendendo a respiração, como costumava
fazer toda vez que eu dava sexo oral a Milton. Célian
me empurrou para suas canelas, ainda segurando
meu cabelo em seu punho. Ele parecia tão chateado
como ele estava quando entrou neste lugar, nem
mesmo suavemente afetado pelo que acabamos de
fazer.

Eu segurei minha boca, percebendo que um fino


rio de porra estava deslizando do canto dos meus
lábios.

—O que eu fiz?— Eu sussurrei.

A realidade veio colidir comigo. Eu fiz isso de


novo. Só que desta vez, foi mil vezes pior. Porque
agora, eu sabia que ele era meu superior. Ele não era
um turista confiante e assertivo, ele era na verdade,
um idiota americano furioso.

—Fodeu o seu chefe, ao que parece—, disse ele


com sua assinatura, o tom cansado, levantando-se e
afivelando sua calça. Ele fechou meu vestido e jogou
em meus braços. Estava molhado e enrugado até a
morte. —Realmente não pode foder seu chefe e seu
pai, pode? Acho que tomei a decisão por você.
Por que diabos ele pensou que eu dormiria com
Mathias?

—Além disso, eu aconselharia que não saísse


daqui na próxima hora. Você realmente fez um
estrago em seu vestido, —ele sorriu e se desculpou,
saindo e fechando a porta atrás dele.

Eu joguei um braço no meu rosto e gemi.


Desgraçado.

Naquela noite, papai não estava lá quando


cheguei em casa do trabalho.

O pânico agarrou minha garganta, apertando com


força. Papai nunca saiu do apartamento sem me
avisar. Sua ausência deixava sóbria a minha névoa
induzida por Célian rapidamente. Vasculhei a casa
como se ele estivesse escondido nos armários, então
peguei minhas chaves e andei pela rua, gritando o
nome dele na garoa do final da primavera. Ele não
poderia ter ido longe. Nós não tínhamos mais um
carro e ele odiava o metrô. A percepção de que eu
deveria ligar para alguém - qualquer um - havia se
estabelecido, mas com isso veio o reconhecimento de
que não tinha ninguém a quem recorrer.

Normalmente, nesse momento, eu ligaria para


Milton.

Mas Milton e eu não estávamos mais juntos.

Nossos amigos em comum estavam ocupados


demais me dizendo que eu era ingênua e julgadora,
por não lhe dar uma segunda chance. Grayson e Ava
eram ótimos, mas eu não os conhecia bem o
suficiente para despejar meus problemas pessoais
neles. E Célian... uma risada amarga escapou dos
meus lábios. Preferiria morrer antes de confiar a ele
que precisava de ajuda.

Quarenta minutos depois, decidi voltar para casa


para recalcular meus movimentos. Entrei em nosso
prédio e encontrei meu pai dormindo na escada, com
cheiro de madeira envelhecida. Sua cabeça careca
estava empoleirada no corrimão, a baba escorrendo
do canto da boca. Ele parecia sereno e frágil, como
uma obra de arte antiga.

Eu o sacudi acordado.

—Onde você esteve?— Eu estava gritando e


tremendo, e nem me importei que o assustei.

Seus olhos se abriram e ele piscou, assustado.


Lágrimas de alívio começaram a inundar minhas
bochechas e pescoço, e eu sabia que não havia
sentido em limpá-las apenas para dar espaço para
mais. Segurei-o como uma âncora - nós dois
afundando em uma escada solitária e manchada de
carpete - e enterrei minha cabeça em seu pescoço. A
noção esmagadora de que em algum momento no
futuro próximo eu não seria capaz de fazer isso,
apertou ainda mais a minha garganta, me sufocou e
eu vomitei.

Meu pai ia morrer.


Eu ia ficar sozinha neste mundo.

—Estou bem, Jojo. Estou bem. Viu? Veja.— Ele


balançou as sobrancelhas sem pelos, batendo no peito
como se fosse uma TV antiga que emitia um sinal
ruim.

—Eu fui visitar a Sra. Hawthorne. Ela estava com


a impressão de que eu mandei flores para ela. Você
acredita nisso?

Eu acreditava. Porque fui eu que as deixei na


porta dela. A Sra. Hawthorne era relativamente nova
no nosso prédio. Ela havia se mudado de sua imensa
residência em Rochester quando o marido morreu, já
que seus filhos se casaram e saíram de casa.

—De qualquer forma—, ele riu. —Devo ter ficado


cansado no meu caminho e caí. Eu sinto muito. Eu
não queria te preocupar.

Eu estava dividida entre me deixar desabar


completamente na frente dele e, me manter composta
para ele. Eu agarrei suas bochechas frias e inclinei a
cabeça, então nos entreolhamos. Meu pai era um cara
grande. Ele trabalhou como carpinteiro no Brooklyn
toda a sua vida, antes do câncer invadir nossa porta.
Mas de alguma forma ao longo de sua jornada com a
doença, ele se tornou magro. Tão frágil na verdade,
que sempre que ele me acompanhava até o
supermercado, eu era quem o apoiava, o homem que
me carregou nos ombros até a primeira série.

—Com licença, garotinha, você me seguiu?— Ele


sempre dizia quando me colocava no chão.

Eu sempre ri.

—Você me carregou, bobo!—

—Huh...— Ele acariciou seu queixo

—O que você sabe? Você é leve como uma


pluma.—.

Eu ajudei meu pai em nosso apartamento. Não


importava o tempo lá fora, ainda era sub zero, de
alguma forma. Eu estava jogando com o termostato,
tentando andar na linha entre uma conta de
eletricidade sensível e não congelar até a morte nesta
primavera particularmente fria. É como se Nova York
tivesse decidido tornar a vida ainda mais difícil para
nós. Fiquei imaginando como estaria Célian, que
provavelmente tinha piso aquecido no banheiro e
nunca teve nenhum desconforto.

Pensei em como seria o apartamento do meu


chefe, enquanto fazia sopa de galinha para papai, sem
o frango. Nós acabamos assistindo uma reprise de
SNL, debaixo de cobertores na sala de estar. Alguns
podem dizer que é um triste estado das coisas, para
uma mulher de vinte e poucos anos, estar curtindo
com o pai em uma noite de sexta-feira, mas não
havia nada em que eu pudesse pensar que seria
melhor. Embora estivéssemos ambos em silêncio, eu
relaxei em sua presença, tão agudamente consciente
do elefante na sala.

—Milton tem procurado por você—, disse ele


quando me levantei e me estiquei depois que o show
acabou.
Meu coração perdeu uma batida. Inúmeras vezes,
eu me perguntava se deveria dar um aviso a Milton
sobre meu pai não saber sobre o nosso rompimento.
Mas desde que ele estava me procurando tão
ativamente, eu pensei que falar com ele, não importa
a capacidade, apenas encorajaria sua bunda traidora.

—Oh?

Eu esperava que soasse como, Oh, ele tem? e


não Oh, eu esqueci de te contar. Nós terminamos há
um mês, porque ele estava transando com sua chefe
enquanto eu cuidava do meu pai doente. Mas ei!
Agora estou transando com o meu também. O círculo
da vida, alguém mais?

—Ele ligou no meu celular. Perguntou se eu


poderia lhe dizer para voltar para ele. Tenho certeza
que você já fez, mas eu pensei que você deveria
saber. Nós estaremos vendo ele neste fim de semana?

Papai passou o dedo na tigela vazia de sopa e


chupou as sobras. Ele gostava de Milton. Toda vez
que eu perguntava por que, ele dizia: —Porque ele é
esperto o suficiente para amar minha filha.—

—Difícil dizer pai. Estamos ambos muito ocupados


com o trabalho.

Isso estava me destruindo. Eu odiava não ser


honesta com meu pai, mas eu odiava a ideia de que a
verdade iria machucá-lo ainda mais.

No minuto em que minha cabeça bateu no meu


travesseiro, comecei a soluçar. Não apenas chorando,
mas completamente arrependida, desculpe-me por
chorar e chorar. A coisa toda.

Eu não era uma chorona. Eu chorei no dia em que


minha mãe morreu e em algumas ocasiões depois
disso, como o dia em que eu tive meu período sem ela
lá para me acalmar e depois que eu roubei aquela
carteira. Mas esta noite, parecia que o peso do mundo
descansava em meus ombros, e eu queria jogá-lo fora
ou deixar que ele me enterrasse no chão.

A coisa sobre chorar por horas é que você sempre


acaba dormindo como morto depois. Aconteceu
comigo na noite depois da morte da minha mãe. (A
noite que ela fez, eu não pude dormir uma piscada -
estava com muito medo de que o mundo entraria em
colapso se eu deixasse meus olhos se fecharem.) A
miséria tem um jeito de te derrubar e te afogar nela.
É doce e sufocante, como uma canção de ninar,
acalmando-a para dormir.

Naquela noite, dormi como um bebê.


Viver sozinho foi uma escolha que eu fiz bastante
feliz.

A alternativa era viver uma mentira, e eu não


fazia mentiras nem roubo - não porque as duas coisas
explodiriam na minha cara de maneira espetacular.
Mesmo que eu tivesse um carro, eu pegava o metrô
para o trabalho todas as manhãs. E como todos da
minha família nas últimas três gerações tinham
motoristas pessoais, eu era visto como a ovelha negra
da tribo. Felizmente, a tribo tinha diminuído e era
quase inexistente, então não é como se eu tivesse
alguém para impressionar.
Além disso, gostava do cheiro de mijo e da
miséria geral da vida na cidade. Isso me lembrou que
eu era um sortudo filho da puta, mesmo nos dias em
que eu me sentia como Deus - se ele existisse - tinha
feito questão de mijar em todos os meus planos.

No meu caminho para o trabalho, pensei no que


me levara a levar Judith à sala de energia na sexta-
feira e foder sua boca no que poderia ter sido uma
queda de energia em massa, em um dos maiores
arranha-céus de Nova York. Meu gozo definitivamente
não deveria ter sido em qualquer lugar perto de todos
os interruptores elétricos.

Eu estava definitivamente tentando irritar todo o


meu território, mas no processo, eu também mijava
na minha regra de não repetir, assim como no meu
relacionamento profissional com ela. Atualmente, eu
estava tentando decidir se eu deveria voltar ao normal
e agir como se ela não existisse até que ela desistisse
e o problema cuidasse de si mesmo, ou imaginasse
que o dano já tinha sido feito e fizesse dela minha
foda certa, para quando eu estivesse cansado demais
para ir à caça.

Prós: a cena de solteiros de Manhattan estava


começando a irritar meus nervos. Eu estava
começando a ver os mesmos rostos nos mesmos
clubes. Cada conexão e perfil Tinder se misturavam
na minha cabeça. Pelo menos com Judith, eu tinha
química sexual.

Contras: colocando sua vagina de lado, ela tinha


uma atitude irritante, do tipo mais santa do que tu,
para não mencionar, ela era falastrona, e eu
realmente não podia suportá-la.

Quando cheguei ao prédio, tive que atender um


telefonema. Lily. Eu normalmente a mandava direto
para o correio de voz, mas essa era a terceira vez que
ela ligava desde que eu saí do metrô, então eu queria
ter certeza de que Madelyn, sua avó, estava bem.

—Alguém morto?— Estas foram minhas palavras


exatas quando atendi a ligação.
Eu não entrei no prédio, sabendo que as coisas
poderiam ficar muito ruins rapidamente quando se
tratava de Lily e eu. Eu raramente levantava a voz,
mas para ela, sempre ficava feliz em fazer uma
exceção.

—O que?— Sua voz padrão estava


choramingando. O tipo que soa como um garfo
raspando contra um prato. —Não. Vovó está indo
muito bem. Eu só estava me perguntando se...

—Não precisa se perguntar. A resposta é não.

— Célian, espere! EU-—

Mas eu já tinha desligado. Virei-me para


atravessar as portas duplas de vidro e vi Judith
sentada na escada superior lendo, mergulhando nos
primeiros raios de sol como uma flor sedenta. Ela
usava um de seus ternos pretos amarrotados e
adultos e abraçava sua mochila.

Seu All Star era vermelho hoje. Oh garoto.


Ela enxugou os olhos rapidamente, mas eu não
tinha certeza se ela estava chorando ou prestes a
chorar. Ela estava falando ao telefone, e qualquer
outro bastardo teria se virado, saído e prometido
parar de dificultar sua vida.

Mas eu fui programado diferentemente, esculpido


em pedra como as pessoas que me criaram.

Eu contornei sua pequena figura loira, meio que


ouvindo sua conversa.

—Ok, Milton. Apenas... por favor, não conte a ele.

Milton parecia muito masculino e muito parecido


com um babaca. Este último não se baseava apenas
em sua afiliação com Judith, mas também em seu
nome. Agora eu estava totalmente investido na
conversa.

—Eu realmente não estou interessada em ouvir o


que você tem a dizer.

Pausa.
—Por favor, não torne isso mais difícil do que já
é. Prometa-me que não vai contar a ele. É tudo o que
peço.

Pausa.

—Sim, bem, eu tenho um trabalho para ir. Tchau.

Ela levantou. Eu fingi que não a vi, abrindo a


porta e valsando para o elevador aberto. Ela estava a
poucos metros atrás de mim, então quando eu me
virei, nossos olhos se encontraram. Ela correu para
pegar meu elevador, é claro que eu não apertei o
botão de espera, e ela entrou furtivamente no último
segundo. Havia mais duas pessoas lá dentro. Dois
idiotas que foram para o segundo andar. RH.

—Oi—, ela respirou, virando-se para me dar as


costas e bunda. Não é um mau negócio.

Eu balancei a cabeça solenemente.

Silêncio. Silêncio. Silêncio. Ela não agiu tímida ou


desajeitada. Algo sobre esta manhã me disse que ela
tinha problemas mais prementes para lidar do que
chupar o pau de seu chefe, e eu decidi por um
capricho, que eu precisava saber o que estava em sua
mente.

Naturalmente, falar com ela estava fora de


questão. Ela abusou demais e sempre me incomodou
sobre o meu comportamento. Não. Enviei uma rápida
mensagem de texto para um de meus repórteres,
Dan, com o nome e endereço dela enquanto o
elevador se dirigia ao sexto andar em tempo recorde,
e não de uma forma positiva.

Célian: Judith Humphry. Seu arquivo está


com o RH. Eu quero saber tudo o que há para
saber sobre ela, da sua educação à sua cor
favorita. Quem ela fode, com quem ela mora,
com quem ela conversa.

Eu toquei meu queixo, observando minha


mensagem e disparando outra imediatamente.
Célian: E quantos pares de All Stars ela tem.

Estritamente falando, não era da minha conta.


Mas Judith estava se preparando para ser um
desastre - roubar seu chefe, depois transar com ele,
depois evitá-lo, depois chupá-lo, depois brigar com as
pessoas ao telefone do lado de fora do prédio - eu
queria ter certeza de que ela estava no espectro da
sanidade.

Quando chegamos ao nosso andar, entramos


direto na redação. A primeira reunião decadente seria
em dez minutos. Ela caminhou até sua mesa com
aquele maldito caderno apertado contra o peito.

—Humphry, junte-se a nós na sala de


conferência—, eu me ouvi dizer.

Ela se animou, abaixou um sorriso, depois abriu o


caderno e rabiscou algo nele. Rápido
Deus. Ela estava com muita sede pelo trabalho.
Deixei Brianna colocar o iPad na minha mão e joguei
pra ela. —Você vai tomar notas, Judith, não fazer
sugestões—, eu disse.

Tive o cuidado de tratá-la exatamente como faria


com qualquer outro repórter em sua posição. Eu já
era um idiota insuportável, então eu não era
particularmente horrível com ela. Mas eu também era
justo, e depois de uma semana, ela ganhou o direito
de sentar, ouvir e absorver.

Ela manteve os olhos no caderno.

—Uma garota pode sonhar.

—Fico feliz por realizar suas outras fantasias.—


Ainda bem que Brianna começou a trabalhar em seu
cardio e já estava do outro lado. Nós estávamos
quase sozinhos, era cedo, filhos da puta ansiosos que
éramos.
—Eu realmente tenho um que você poderia me
ajudar.

—A menos que isso envolva eu amarrando você


em uma cama, eu não estou realmente interessado
em ouvir sobre isso—, eu disse, colocando fogo em
toda a conversa que tivemos na semana passada
sobre a minha dança em uma linha vermelha. Eu corri
através daquele filho da puta até a linha de chegada
do assédio sexual. Não que eu estivesse assediando
Jude, como evidenciado pelo entusiasmo com o qual
ela chupou meu pau, mas se ela queria ter munição
em mim, eu estupidamente dei a ela isso.

—Isso realmente envolvia eu amarrando você em


uma cama.— Ela bateu os cílios, e por uma razão
desconhecida, ela não parecia irritante fazendo.

Normalmente, eu gostava de ser o único a fazer o


empate, mas para Humphry, eu poderia fazer uma
exceção. Ela andou em minha direção, sua língua
varrendo o lábio inferior.
—Então eu vou amarrar uma mordaça de bola na
sua boca... Eu arqueei uma sobrancelha, passando os
olhos lentamente por seu corpo e despindo item por
item. Ela estava chapada se achava que eu colocaria
qualquer coisa na minha boca que não fizesse parte
do seu corpo. No momento em que ela estava na
minha frente, ela estava completamente nua na
minha cabeça, sua voz pingando mel e sexo em toda
a minha merda de mocassim.

—Então—, ela sussurrou, seus lábios travessos se


movendo contra o meu ouvido. —Eu vou colocar fogo
em toda a maldita cama, com você nela.

Eu sorri. Judith Humphry era uma grande dor no


rabo. Ela não apenas era loira natural, gostosa e dona
do melhor par de lábios na área dos três estados (os
dois lábios, se formos honestos), mas também era
afiada como uma navalha - o oposto da minha sabor
fácil habitual da noite.

—Se você já tiver o prazer de ir para a cama


comigo de novo...— Eu estreitei meus olhos frios nos
dela.—Você seria a única a pegar fogo, e nós dois
sabemos disso.

Com isso, eu enrolei meu dedo, fazendo-a entrar


na sala de conferências. As pessoas tinham começado
a entrar com as xícaras de café e os olhos sonolentos.
Judith obedeceu, sua calosa calça felina me dizendo
que sabia que eu estava olhando.

James Townley abriu a porta para nós antes de


entrar.

—Filho.— Ele bateu as minhas costas.

—Me chame assim de novo se você quiser um


bilhete de ida para a aposentadoria antecipada—, eu
murmurei.

—Júnior.— Ele piscou para Judith.

—Sr. Números.— Ela saudou.

Eles compartilharam um sorriso conhecedor. Eu


lhe dei um soco no rosto. Internamente, claro. Meus
limites eram poucos e distantes entre si, mas eles
estavam lá. Além disso, James tinha acabado de se
casar com a última garota do tempo da manhã - que
tinha trinta anos, tanto em idade e pontos de QI - em
uma cerimônia nos Hamptons que fez o casamento
real de Harry e Meghan parecer uma noite de
karaokê, com uma festa de despedida em Jersey
Shore. Essa coisa teve mais cobertura de notícias do
que a ameaça da Coréia do Norte. Eu atirei em James
uma careta não-foda-me só para ter certeza que ele
sabia que eu sabia que ele tinha verificado a bunda de
Judith quando ela entrou e ele fingiu não me notar.

Daquele momento em diante, foi o mesmo velho,


mesmo velho. Minha equipe me apresentou suas
ideias para o show de hoje a noite, começando com
Kate ao meu lado - minha mão direita - e então se
movendo para a pessoa ao lado dela e assim por
diante.

Kate (quarenta e poucos anos, bem casada e


abertamente gay) sugeriu que começássemos com o
desastre vulcânico em Maui. Jessica (de vinte e
poucos anos, solteira e pegajosa como bailes flácidos)
apareceu com novos detalhes sobre a crise da União
Europeia, e Steve, o novato que estava se preparando
para ser um pouco menos útil do que uma bolsa de
bebidas não lavadas, sugeriu que falássemos sobre a
crise do queijo na Bélgica. Eu apoiei minhas mãos nas
costas da cadeira que eu estava atrás, então eu
acidentalmente não lhe dei um soco do outro lado da
mesa.

— Junior?— Francamente, eu fiz isso porque eu


não queria que James e ela tivessem algo único entre
eles- um nome de animal de estimação, uma
conexão.

—Eu?— Ela apontou para si mesma, olhando para


cima de seu caderno maltratado.

Atirei-lhe um olhar condescendente e pontuei-o


com uma sobrancelha levantada.

Ela colocou o cabelo atrás das orelhas e limpou a


garganta.

—Sim. OK. Ainda bem que tenho Kipling.

Kipling? Quem diabos é Kipling?


—Então, há um blogueiro do YouTube...

—Próximo—, eu lati.

Isso não era Couture. Eu duvidava que nossos


espectadores quisessem ouvir sobre uma garota
mostrando às pessoas como aplicar o delineador
durante vinte minutos, a menos que ela estivesse
morta e cortada em pedacinhos, espalhada pelos
cinco oceanos.

—Espere—, ela mordeu, seus dentes rangendo


juntos. —Há um blogueiro do YouTube com mais de
dois milhões de espectadores. Ele acabou de postar
um vídeo dizendo às pessoas que ele escondeu uma
parte do corpo de alguém próximo a ele, que faleceu
na floresta perto de sua casa. Quem encontrar,
receberá dez mil em dinheiro.

—O que?— Kate quase cuspiu seu café por toda a


mesa. —Como não ouvimos sobre isso até agora?

—Primeiro de tudo, somos a notícia.— Judith


sorriu desculpando-se e minha mandíbula ficou tonta,
lutando contra um sorriso.
—E isso aconteceu literalmente a dez minutos
atrás.— Ela girou para Kate, seu peito subindo e
descendo.

—Honestamente, duvido que isso justifique muita


reação no começo. A maioria de seus espectadores
são menores, seguindo sua jornada como um skatista
profissional. Mas isso é definitivamente algo que
devemos nos alarmar. Eu posso?

Ela apontou para o iPad de Steve. Steve arrastou


os olhos para mim, um ponto de interrogação e tédio
brilhando através deles.

—Dê a ela o iPad, Pateta.

Eu balancei a cabeça.

Cinco segundos depois, estávamos olhando para


Cody McHotson - seu nome verdadeiro não era o meu
palpite - usando um capacete Viking, uma camiseta
regata sem mangas da Billabong e um sorriso
presunçoso que mostrava dentes descoloridos. Ele
parecia a razão pela qual eles inventaram armas, mas
ele estava realmente fazendo isso - enviando menores
para procurar por uma parte do corpo.

—Não é nojento nem nada.— Ele enfiou uma


mecha de seu cabelo loiro de volta no chapéu. —Não
espere encontrar algo super estranho. Mas está lá e
ei, se você quiser ganhar dinheiro, deve ir em
frente.— O drogado riu para dentro da câmera,
enviando uma nuvem de fumaça para a lente.

—Ele é menor de idade?— Eu me virei para


Judith.

Ela balançou a cabeça. —Vinte e um.

Era oficial. Esta geração era muito burra para


repovoar. Difícil acreditar que eu seria dependente de
seus gostos daqui a cinquenta anos.

—Bom começo, Humphry. —Jessica, siga isso.

—Eu estou nessa.— Jessica cumprimentou,


digitando em seu telefone.

—Ei, e eu?— Steve jogou os braços para o ar.


—Você me deu uma pista sobre um queijo belga.
Seja feliz que meu sapato não está na sua bunda.

—Ugh—, ele chorou, pegando uma massa da


cesta e colocando-a na boca.

Ele era como Phoenix Townley - um garoto rico


que entrara na minha redação por meio de conexões.
Meu pai abrira o caminho para pessoas incapazes de
consumir um café com leite sem se queimar no
processo, quanto mais fazer um, mas simplesmente
tinha o sobrenome certo. Claro, o mesmo poderia ser
dito sobre mim. Com duas diferenças: eu não pedi
este emprego, e eu meramente ganhei isso.

As pessoas estavam saindo da sala de


conferências quando eu empurrei meu queixo na
direção de Judith.

—Uma palavra em particular.

—Aqui?

—Sim, Einstein.
A sala tinha paredes de vidro do chão ao teto,
exatamente o que eu precisava para manter minhas
mãos longe dela. Uma vez que estávamos sozinhos,
fechei a porta e sentei no meu lugar, unindo meus
dedos. Ela se endireitou, seu queixo alto, me
observando de perto.

—Isso não pode mais acontecer.— Eu fiz um sinal


entre nós.

Eu queria ter certeza de que ela não iria explodir


nossos fodidos jogos sujos fora de proporção. A última
coisa que eu precisava era que ela pensasse que
estávamos em um relacionamento. Eu precisava
manter minha área de trabalho eficiente e
profissional.

Ela clicou a caneta, assentindo. —Concordo.

— Você precisa de ajuda?— Eu gesticulei no


andar de baixo com o meu dedo, mas eu podia ver
por suas avelãs queimando brilhantes que não era
assim que ela interpretava.
—Eu vi você chorando do lado de fora esta
manhã.— Meus lábios se achataram. —Este não foi
um convite para um passeio no meu pau.— Suas
bochechas coraram.

—Eu não consigo ver como isso é da sua conta.

—Meus funcionários são da minha conta—,


respondi secamente.

—O desempenho deles é sim. Você não precisa se


preocupar com isso. Eu te asseguro.

Judith não tinha as ferramentas e meios para


lutar comigo. Mas fora isso, ela fez um ótimo trabalho
de se levantar contra mim.

Eu estava ficando cansado de bater em torno do


arbusto, então eu apenas perguntei a ela diretamente.

— Era um telefonema sobre nós?

Ela inclinou a cabeça para trás, rindo.

—Não. Não era sobre nós.


—Muito bem. Bom trabalho com o YouTuber. —
Levantei-me, passando minha camisa com a palma da
mão. Essa foi boa. Eu poderia voltar a ignorá-la a
partir de agora. Eu estava prestes a fazer exatamente
isso, marchando para a porta, quando vi o rosto por
trás dele e congelei.

Lily Davis estava do outro lado, seus lábios


encovados sorrindo para mim.

Lily Davis, como a mulher que eu deveria estar


fodendo.

Lily Davis, como a mulher de quem Humphry não


sabia nada.

Lily Davis, como a minha noiva.


Algumas garotas pareciam ter o mundo com os
pés cobertos de Louboutin, e a morena de pernas
longas que atravessava a porta de vidro com um
sorriso de megawatt era uma delas. Seu perfume
florido fez meus olhos lacrimejarem, mas talvez eu
estivesse prestes a chorar por causa da minha troca
com meu chefe. Ela segurou a gola de Célian -
mostrando um anel de noivado do tamanho de uma
loja inteira da Tiffany - e deu um beijo molhado nos
lábios carrancudos dele. Ele segurou os ombros dela e
deu um passo para trás, dando a ela um olhar glacial
uma vez, como se estivesse avaliando o dano em um
carro destruído, recentemente comprado.

—Lily.

—Noivo.

O que?
Não deveria ter me surpreendido. Célian era
lindo, bem sucedido e um bilionário de trinta e poucos
anos. Por que ele não teria uma noiva que se
parecesse com sexo nos saltos? Mas a ironia não
estava perdida pra mim. Ele conseguiu me colocar
firmemente no lugar de Elise, a editora. A outra
mulher. A destruidora de lar. A garota sem moral. A
única diferença, era que Elise sabia que Milton tinha
uma namorada. Eu, por outro lado, não tinha ideia.

Eu fiquei com as pernas trêmulas, esperando por


Célian para nos apresentar. Ele não fez tal coisa.

Jogando Lily com um olhar frio, ele disse: —Isso


é uma surpresa.

E não uma boa, seus olhos disseram.

—Eu tinha um ajuste ao redor do quarteirão, e


mamãe queria comprar macarrons para vovó, então
pensei em aparecer e dizer oi. Você sabe como eu fico
esfaqueada quando há carboidratos desde que
comecei a fazer cetose.
Seus cílios grossos se agitaram contra suas
bochechas enquanto ela se agarrava a ele, como se
estivesse preocupada que ele pudesse escorregar de
suas mãos como manteiga.

Além de ser uma versão morena de Blake Lively,


com um vestido de verão e sandálias amarelas
brilhantes, ela parecia loucamente apaixonada.
Inegavelmente sim.

Mas eu não ia fazer isso comigo mesma, sentir


inveja dela. A coitada tinha um babaca de um traidor
como noivo e mesmo agora, parecia tão arrependido
quanto um lenço de papel usado.

—E você é…?— Ela circulou seu dedo bem


cuidado ao redor do meu rosto.

A idiota que seu parceiro te traiu.

Eu queria cair de joelhos e me limpar. Diga a ela


que eu não fazia ideia de que ele era noivo, que ele
estava mentindo, que ele era um idiota. Claro, eu não
tive um desejo de morte.
Então me acomodei para um leve sorriso.

—Jude Humphry.

—Jude. Meu Deus. Amo seu nome. Tão chique. Eu


sou Lily Davis. Mas você sabe, não por muito
tempo.— Ela passou uma mão possessiva sobre o
braço musculoso de Célian.

Uma agulha de culpa perfurou meu coração,


minha agonia jorrando.

—Uau. Parabéns.

Olhe para Célian como se ele fosse um


alienígena, um perfeito estranho que tinha entrado
em sua vida sem aviso prévio. O suor cobria meu
lábio superior.

—Oh, essa coisinha?— Ela balançou os dedos,


mostrando uma pedra que fez Dwayne Johnson
parecer uma miniatura. —Estamos noivos desde que
me lembro. Finalmente comecei a planejar o
casamento. —Ela revirou os olhos, rindo. —É tão
exaustivo.
Coincidentemente, estava segurando meu sorriso
intacto enquanto ela me contava sobre seu
relacionamento com meu chefe. Eu decidi me
desculpar antes de fazer algo que me garantiria uma
noite na cadeia - como bater em Célian através do
rosto várias vezes.

—Tenho certeza que você vai superar o desafio


aparentemente impossível.— Eu fiquei vermelha,
observando o trapaceiro sorrir. —Bem, eu tenho muito
trabalho para fazer. Então...

Eu inclinei a cabeça para a porta e encontrei o


meu caminho. Célian ficou ao lado de Lily, afinal, eles
eram uma frente unida, olhando para mim com um
interesse silencioso.

Noivo. Ele está noivo. Eu estava tão aturdida, tão


cega de fúria que nem sabia como continuaria meu
dia sem fazer algo estúpido e irracional, como
derrubar todo o seu escritório.

Eu tropecei em minha estação, mantendo meus


olhos nos meus All Stars. Uma mão serpenteou atrás
de mim, apertando meu cotovelo e girando-me no
lugar. Eu bati instintivamente, pensando que era
Célian.

Era Steve, sentado em sua mesa, seus olhos sem


brilho se voltando para os meus.

—Feliz com você mesma, Junior ?

O que diabos ele queria de mim, e ele percebeu o


quão extremamente mal cronometrado era sua
pergunta? Eu não poderia estar menos feliz comigo
mesma agora.

—Defina feliz e, por favor, não me toque de novo.

Eu empurrei meu braço para trás. Ele levantou-


se. Steve era um pouco gorducho e não muito alto,
mas era bonito na maneira como homens que tinham
muito dinheiro e tempo no mundo podiam ser. Pronto
para um discussão.
—Você me fez parecer um idiota lá atrás, e nós
dois sabemos disso—, ele apontou para a sala de
conferências, sussurrando.

Confusa, inclinei a cabeça, pensando que ele


deveria estar me dando algum tipo de elogio indireto.
Quando seu rosto permaneceu estrondoso, o meu
seguiu o exemplo.

—Eu não estou entendendo.

—Você veio com aquela ideia estúpida do


YouTuber que ninguém conhecia. Por que você falou
mesmo? Você é a menor pessoa do totem. Acho que é
tudo o que acontece nos dias de hoje. Saiba como dar
um bom boquete, e ponha o pé na porta.

Meus olhos brilharam. Não que a acusação


estivesse longe da verdade. Mas enquanto Célian
Laurent poderia ser culpado por muitas coisas - todas
elas marcando pontos de brownie no concurso O
Idiota do Ano - me dar vantagens para o que quer
que tenhamos feito ou não feito, não foi uma delas.
Quando se tratava de integridade, nós dois tínhamos
isso.

Além disso, não havia como Steve saber sobre o


incidente da sala de energia. Ele queria me irritar.

Missão cumprida.

—Steve, você está fazendo uma acusação muito


séria aqui, então, a menos que você esteja apoiado
em fatos, eu gentilmente pediria para você nunca
mais falar comigo de uma maneira não profissional.

Eu cruzei meus braços no meu peito.

Eu não sabia porque o universo tinha decidido


chover calamidades em mim hoje. Eu só sabia que o
dia precisava terminar, antes de eu esfaquear alguém
com minha caneta mecânica.

—Eu estou de olho em você.— Steve apontou


para seus olhos com dois dedos e cutucou meu braço.

Novamente.
Eu fiz a única coisa que pude sem realmente
colocar essa caneta mecânica em uso. Eu bati meus
punhos um contra o outro duas vezes, dando-lhe o
dedo estilo Friends.

—Você acabou de…?— Kate empurrou a mesa, a


cadeira girando para trás. Ela segurou seu Sharpie
como um cigarro em sua boca.

—Eu fiz.— Eu limpei minha garganta. —Por favor,


não me julgue. Viver com o fato de eu ter feito isso
em público é punição suficiente.

Ela balançou a cabeça, seu peito vibrando de


tanto rir.

—Isso foi totalmente épico, de um jeito estranho


e nerd. Bom trabalho na parte do YouTube, a
propósito. Eu sou a Kate.— Ela me ofereceu sua mão.

—Jude— Minha expressão apertada finalmente se


derreteu em um sorriso.

—Steve, vamos para o escritório de Célian.—


Kate sacudiu a cabeça em direção ao corredor, e o
bastardo realmente teve a audácia de pisar sob a
mesa. Quantos anos tinha esse cara?

Voltei para a minha mesa e olhei para os


relatórios da Reuters, mordendo meu lábio inferior e
tentando não pensar na noiva de Célian. Eu sabia que
estava sendo irracional, mas eu ainda entrei no
aplicativo de mensagens do software LBC e enviei um
email para Grayson e Ava. Na semana passada, eu
estava passando meus intervalos do almoço
exclusivamente com eles. Não surpreendentemente,
eles tinham seus narizes no negócio de todos.

Judith: Você sabia que Célian Laurent está


noivo?

Grayson: O que é isso para você, senhorita


eu-não-sei-quem-é-ele e ei-olha-um-esquilo?

Judith: Foi uma surpresa, é tudo.

Ava: Eles são namorados de infância.


Grayson: Sem a parte doce. Eu os vi juntos o
suficiente para saber que o homem a ama tanto
quanto eu amo ter minha virilha depilada. (Os
resultados são muito mais esteticamente
agradáveis do que raspar, se você estiver se
perguntando.)

Ava: Nós não estávamos, mas obrigado pela


imagem mental.

Judith: Célian não parece o tipo de cara que


faz algo que ele não quer fazer.

Grayson: Vamos apenas dizer que é um


casamento arranjado. Célian está fazendo isso
pela mesma razão que faz tudo - progredir no
jogo.

Ava: Seu pai é dono da Newsflash Corp. Eles


distribuem oitenta por cento das revistas no
mercado dos EUA, além de sua família ter 10%
de participação na LBC. Não se preocupe com
Célian. Nenhuma chance dele levantar um dedo
sem calcular as consequências e riscos.
—Ela está certa—, uma voz rouca cresceu acima
da minha cabeça, e eu levantei meu olhar para cima,
meu sangue congelando em minhas veias.

Minha reação instintiva foi me desculpar


profundamente, mas depois me lembrei do que havia
trazido essa conversa. Meus olhos marrons
encontraram os seus azuis. Eu inclinei meu queixo
para cima.

—Eu faço o que quer que eu queira, e com quem


quer que eu queira, e meu dedo favorito é o do meio.
Serve tanto para críticas muito infelizes. Quanto para
casos de uma noite.

Como esse cara não foi assassinado ainda? Ele


era uma ofensa pessoal que anda e fala.

Eu mantive minha boca fechada. Nós estávamos


em uma sala cheia de colegas. De jeito nenhum eu
poderia dizer a ele o que eu pensava dele e terminar o
dia ainda empregado com lucro.
—Vamos ter esta conversa em algum lugar à
prova de som—, ele ordenou.

—Passo.

Reuni alguns relatórios que imprimi antes e


comecei a destacar as manchetes que eu achava que
seriam de interesse de Jessica. Não concordamos que
nossa aventura acabou? Não era da minha conta que
ele era um traidor. Mesmo que isso me fizesse querer
grampear meu punho em seu rosto, por cair sob o seu
charme. Duas vezes.

—Quanto mais cedo você perceber que eu não


uso pontos de interrogação, mais fácil você vai se
adaptar aqui. Levante!

Ele se virou, indo em direção ao seu escritório. Eu


o segui porque precisava. Entramos, assim que Kate e
Steve estavam saindo. Ele fechou a porta atrás deles
e se encostou nela, com as mãos nos bolsos.

—Você está noivo.— Eu estreitei meus olhos em


fendas, dando um duro empurrão nos peitorais dele.
Ele não se moveu de sua posição contra a porta.
Apenas me encarou com sua indiferença assustadora.
—Malditamente noivo, Célian !

—Sinto muito, você estava esperando um anel


depois da nossa uma noite juntos?

Eu te odeio. Eu te odeio. Eu te odeio.

—Não, mas eu não esperava que você fosse noivo


de outra mulher. Se eu soubesse, nunca teria tocado
em você. Só porque você não tem qualquer moral não
significa que eu também não tenha.

—Por favor, me diga mais sobre sua moral, Miss


ainda-me-deve-mil-pratas—, seus olhos viajaram ao
longo do meu corpo com o tédio.

Mil e quinhentos na verdade, mas isso não era


algo que eu estava ansiosa para corrigi-lo.

Eu acenei uma mão para ele.

—Apenas diga o que você quer dizer e deixe-me


continuar com o meu dia.
Eu me virei, olhando para a parede e me recusei
a mostrar-lhe a minha dor, que ele parecia gostar.

A postura dele se descontrolou e ele enfiou a mão


nos cachos despenteado..

—Dito isto, não é o que parece.

—Humm… Minha frase traidora favorita - logo


depois de, 'eu posso explicar'—. Eu estalei minha
língua, ainda olhando para a parede atrás dele.

—Você vai ouvir?— Seus lábios se afinaram em


aborrecimento.

—Não se eu puder evitar.— Dei de ombros.

—Então eu acho que você não pode. Lily está


bem ciente do fato de que estou vendo outras
mulheres. Nós não compartilhamos uma cama, uma
casa ou até mesmo uma academia em conjunto.
Como seus amigos apontaram de forma bastante
franca, meu noivado é de conveniência.
Ele arrastou seus longos dedos sobre sua
mandíbula. Eu escolhi minhas próximas palavras com
cuidado.

—Você disse que sua vida não é da minha conta.


Eu costumo concordar com esse sentimento,
especialmente agora que estamos oficialmente
terminados um com o outro. Então, enquanto eu
aprecio você se explicando, —eu cuspi
sarcasticamente,— Eu realmente acho que essa
conversa acabou.

Eu fiz um movimento em direção à porta que ele


estava bloqueando. Ele me parou, descansando a mão
no meu pulso. Nossos olhos se encontraram e eu
encontrei o seu sangrando de dor. Mas sua
mandíbula, maçãs do rosto salientes e testa lisa e
majestosa contavam a história de um homem
formidável. Meu coração solitário acreditava em seus
olhos. O resto do meu corpo sabia que não fazia
diferença.
—All Stars.

Pare de me chamar assim. Pare de me dar


apelidos e orgasmos e esperança, eu gritei
internamente.

—Você disse que era legalista. Agora é um bom


momento para retirar essa sua mão,—eu sussurrei.

Ele retirou. Eu pensei que ele ia me mandar


seguir meu caminho com raiva, mas ele não fez.

—Steve estava lhe dando problemas?— Sua voz


não parecia mais de aço, embora não fosse nem de
perto suave.

—Não— Eu balancei a cabeça. —Não finja que


você se importa. Nem tente ser o bom rapaz. Você é
tão ruim quanto eles vêem, e agora que você já
veio...— Sua boca se contorceu com um sorriso. —…É
hora de seguir em frente. Parabéns pelo seu noivado.
Ela vai ser uma linda noiva.
Grayson: Jude? Você ainda está aí?

Ava: Talvez ele tenha demitido ela :-/

Grayson: Talvez ele tenha sequestrado ela :-


O

Ava: Muita fantasia Estocolmo?

Grayson: O cara se parece com o irmão


machucado / jogador / macho de Theo James.
Tirando que ele não sabe o meu nome, eu
deixaria ele me mostrar um bom tempo, mesmo
que eu acabasse no baú do carro dele no final da
noite.

Ava: Você precisa de ajuda profissional,


Gray. Eu não estou preparada para lidar com o
seu tipo de maluco.

Grayson: Seria um baú espaçoso também,


aposto.
Célian: Se vocês dois lessem algo mais
substancial do que o National Enquirer, como o
boletim informativo de nossa empresa de três
meses atrás, vocês saberiam que os chats de
mensagem em nosso software da Web estão
publicamente disponíveis para serem
visualizados por qualquer usuário da empresa.

<Grayson saiu da sala de chat>

<Ava saiu da sala de chat>

<Judith enviou um gif de Ross de Friends


batendo os punhos juntos>
Se havia uma coisa que eu aprendi com a
produção de notícias por mais de uma década, era
que as guerras não são medidas em palavras, em
declarações ou em suposições. Elas são definidas por
resultados, o número de vítimas e terras
conquistadas. Quanto mais frios eles são, mais eles
duram.

Eu fiz o meu caminho de volta, para pegar minha


própria limpeza a seco mais uma vez em uma tarde
de primavera, porque a Srta. Humphry, assistente da
minha assistente - que me chantageara na tarefa com
um boquete mais de uma semana atrás - foi inflexível
em não fazê-lo. Eu não mereço sua ajuda. Ela ganhou
a primeira batalha.

Atualmente, Judith estava me evitando. Eu


estava evitando Lily, e meu pai estava vagando pela
minha redação, enviando olhares a Jude, que faziam
minha pele se arrepiar tão violentamente, que fiquei
tentado a arrancá-la completamente e jogá-la no chão
do meu escritório. Eu pensei que as coisas não
poderiam ficar piores, mas eu obviamente subestimei
a foda chamada minha vida, porque com certeza, Dan
- o repórter encarregado de obter informações sobre
Jude - estava no limiar do meu escritório quando
voltei.

—Você está pronto para isso?

Fiquei um pouco surpreso ao saber que ele


passou a última semana realmente trabalhando nisso,
e não bebendo seu peso corporal com o adiantamento
que eu transferi para sua conta.

Acenei para ele fechar a porta e me sentei.


—Largue o maneirismo do game show. Eu não
sou uma dona de casa dos anos 60.

—Então, Judith Humphry está no fundo da merda


e atualmente tenta nadar até o córrego. Mãe morreu
quando ela tinha treze anos. Pai foi diagnosticado com
câncer há um ano.— Ele esfregou os dedos nos lábios,
entregando as notícias secamente, enquanto se
sentava na cadeira oposta à minha.

—Quando sua garota descobriu sobre seu pai, ela


deixou seu estágio não remunerado mas de prestígio,
e aceitou dois empregos temporários para ajudar nas
contas. Mas, obviamente, sua renda ainda não
conseguia cobrir uma hipoteca na Nova fodida York,
sem mencionar as despesas diárias da vida cotidiana
de um proprietário no Brooklyn. Seu pai recentemente
parou de ir à quimioterapia porque eles não podem
pagar. As contas não estão pagas, a geladeira está
quase vazia e moram em Bed Stuy.

Se eu tivesse um coração, ele teria diminuído,


quase parando. Mas acontece que eu não tinha, então
tudo que eu conseguia era desprezá-la um pouco
menos pelo lance da carteira. Meu rosto permaneceu
calmo, então Dan tomou como uma sugestão para
continuar.

—Ela tinha um namorado, mas ele parece estar


fora de cena. O dia em que vocês dois desapareceram
no Laurent Towers Hotel juntos - e não me dê
detalhes, porque eu com certeza não quero saber - foi
a última vez que ela foi vista no prédio dele, de
acordo com as imagens da CCTV. Sua garota não tem
consciência do fato de que o dito namorado, Milton,
comprou um anel de noivado que ele ainda guarda na
gaveta do criado mudo. Mas com base no ghosting
ativo que ela está fazendo toda vez que ele liga, é
seguro dizer que um retorno não está em seus planos.
A propósito, usei o termo ghosting corretamente?

Senti minhas narinas dilatadas, e não tinha


certeza do que me irritava mais - o fato de que Dan
estava tentando ter menos de 85 anos, ou que Jude
poderia ter fodido seu namorado na mesma noite em
que eu tive o meu pau dentro dela.

—Continue.
—No que diz respeito aos seus hobbies, Judith
gosta de ler thrillers enquanto está sentada em sua
varanda nas manhãs de sábado, e prefere Costa ao
invés do Starbucks e bagels ao invés de tacos. Aos
domingos, ela vai à Biblioteca Pública de Nova York e
lê tudo, desde a Newsweek até o The New York
Times. Ela pula o Post toda vez, nunca toca nas
colunas de fofoca e mexe no Sour Patch Kids quando
ninguém está assistindo. Ela estremece quando se
fala de livros de cachorro e sempre para pra ouvir os
artistas de rua. Às vezes, ela joga dinheiro em seus
estoques de instrumentos. Ela prepara um sanduíche
extra todas as manhãs e dá para o sem-teto que
mora fora da estação de trem perto de sua casa.— Ele
fez uma pausa, soltando um arroto. —De maneira
simples, Jude Humphry é quase inexistente neste
momento, no sentido do dinheiro. Mesmo assim, ela
parece estar de bom humor, por isso, se estiver
preocupado com o fato de ela roubar seu local de
trabalho ou se tornar uma agente dupla para outra
empresa de radiodifusão, eu diria que é muito
improvável.
Eu não estava nem um pouco preocupado com a
lealdade de Jude, mas eu não podia dizer a Dan o
porquê dele ter checado ela, porque meu pau e eu
compartilhamos uma obsessão doentia pela garota.

—Quanto meu pai está te pagando aqui, Dan?—


Eu acariciei meu queixo, mudando de assunto.

Seu olhar disparou de seu telefone. —Cento e


vinte mil. Por quê?

—Eu vou pagar cento e cinquenta para trabalhar


exclusivamente para mim.

—OK.— O homem de pele de cinquenta e poucos


anos sorriu para isso.

Dan ficava bêbado três vezes por semana, e não


podíamos confiar nele para perseguir notícias em
Nova York sem fazer uma parada em todos os bares.
Mas ele com certeza, era bom o suficiente para
desenterrar a sujeira.
—Eu quero que você fique de olho neste garoto
Milton - o namorado.

—Entendido.— Ele escreveu algo em seu bloco de


notas. Dan era severamente velho, com sua mochila
esfarrapada, gravador, cabelos finos e ódio por tudo
com uma tela plana.

—Além disso, descubra quem é Kipling. Mas, mais


importante, preciso que você siga meu pai. Eu não
perdi uma batida, observando a trepadeira através da
parede de vidro enquanto ele se aproximava de
Judith. Ela olhou para cima e se afastou da mesa, de
pé. Seus olhos confusos o estudaram atentamente,
mas por outro lado, sua boca estava curvada em um
sorriso educado. Meu pai fez sinal para o andar de
cima, provavelmente para o escritório dele. Meu
punho cerrou e minha mandíbula ficou tensa com
tanta força que pensei que meus dentes iriam virar
pó.

Dan levantou a cabeça.

—O que estamos tentando encontrar?


—Tudo e qualquer coisa que puder derrubá-lo.

Antes que Dan assentisse, alisei minha gravata e


apertei o botão da central que me ligava a Brianna.

—Consiga-me uma reunião discreta com o Sr.


Humphry.

—Senhor, como o pai de Judith Humphry?

—Não, como em Humphrey Bogart. Ele morreu


em algum momento nos anos cinquenta. Tenho
certeza de que ele não é um homem difícil de
acompanhar.

Silêncio do outro lado.

—Sim, Brianna, o pai de Judith Humphry. E


certifique-se de que ela não saiba sobre isso de
qualquer maneira.

—Sim senhor.

Mais silêncio. Então, —Senhor?

—O que?
—Obrigada por fazer sua própria limpeza a seco.
Eu realmente aprecio isso.

Ela precisava agradecer a Judith, mas é claro que


eu nunca admitiria isso. Parecia acenar uma bandeira
branca, e tudo que eu podia ver era vermelho, tudo
que eu podia sentir era a história se repetindo - com
meu pai tentando seduzir Judith e seu vestido
terminando em uma poça, como água no chão do
armário elétrico -Catastrófico.

Eu coloquei o fone no gancho, acenando para Dan


como se ele fosse um garçom que estragou meu
pedido. O queixo dele balançou, junto com o
estômago em uma risada.

—Quando você menos espera, eh?

Eu teria perguntado o que ele queria dizer, se eu


tivesse me importado.

—Fora—, eu disse no lugar.

—Dezesseis, a propósito.— Ele se levantou,


gemendo.
—Hã?

—Você me perguntou quantos pares de All Stars


ela tem. Eu contei. Pelo menos dezesseis pares.

Isso é muito humor para uma coisinha tão


pequena.

Pouco depois de enviar Dan em seu caminho, saí


do meu escritório e fui para a redação. Cozinhar Jude
sobre meu pai era tentador, mas eu não era hipócrita
e ela não me devia nada.

Além disso, era provável que ela já se sentisse


mais salgada depois do que tinha acontecido com Lily,
e ela tinha o suficiente em seu prato sem ter minha
roupa suja para examinar. Eu ia falar com Kate sobre
um item que eu queria desfazer do show hoje a noite
quando Steve bloqueou meu caminho para sua mesa,
jogando seu corpo entre nós como uma mãe histérica
na frente de um carro em alta velocidade.

Grande. Fodido. Erro, Cara.

—Posso ajudar?— Eu levantei uma sobrancelha.

—Eu tenho algo que você realmente quer ver,


Célian.

—Por favor, me chame de Sr. Laurent. Apenas


meus amigos me chamam de Célian. É provável que
eu me espete no olho com um garfo, antes de iniciar
uma conversa com você sobre problemas não
profissionais. Comece a falar.

Eu o segui até a mesa dele, e ele apontou para a


tela, seu sorriso vazando estupidez de um jeito que eu
não sabia que era fisicamente possível.

—Veja.

Para mim, parecia uma foto de uma garota de


meia-idade tentando se sentar em um pepino.
—Você está compartilhando sua pornografia
comigo, Steve? Porque A) meu gosto é um pouco
mais conservador, e B) é estritamente proibido
acessar sites eróticos neste prédio.

—Ela é vice-presidente da Together Forever, uma


organização sem fins lucrativos para pessoas com
TDAH. Foi pega fazendo esse ato lascivo em sua festa
de despedida de solteira.— Steve gargalhou, seu
sorriso arrogante gritando como um grande prêmio.

—Aqui está a parte em que você me diz por que


eu deveria me importar.— Comecei a classificar
através de e-mails no meu telefone, perdendo a
paciência.

—Porque... porque... olha o que ela está


fazendo!— Ele gritou, apontando para a tela.

—Ela está legalmente tentando encaixar um


pepino em sua vagina.

Eu me virei e fui embora. Este não era um item.


Não seria nem um item se ela fosse uma celebridade
legítima. Essa era a jurisdição de Gary e Ava. Mas
destacou o fato de que, no momento, Steve estava
usando muito espaço, recursos e oxigênio que
deveriam ter sido oferecidos a alguém mais capaz do
que ele. Kate já estava em pé quando me aproximei,
seu cabelo vermelho como uma chama mais nítido
que o normal.

—Ele é impossível.— Ela fingiu soprar sua caneta.


Desde que ela parou de fumar, ela fez isso com tudo,
desde Sharpies a talos de espargos.

—Meu cachorro pode fazer um trabalho melhor do


que ele.— Eu apoiei minhas mãos sobre a mesa dela.
—E eu nem tenho um. Uma palavra?

—Ah não. Cheira como um item enlatado na


fabricação.

Kate e eu fomos até a sala de conferências e eu


dei uma olhada em Judith para ver se ela havia nos
seguido com os olhos do jeito que eu a seguia, em
todos os lugares que ela ia no escritório. Ela estava
digitando, olhando para o monitor. Kate pegou meu
olhar e sorriu. Eu raramente poupava a meus
empregados de olhar. Seus olhos se juntaram aos
meus em Jude.

Eu estraguei tudo por não dar a Jude um aviso


sobre a minha situação? Sim. Mas eu achava que meu
caso de uma única noite iria acabar sendo minha
funcionária? De jeito nenhum.

—Ela é bonita.— Kate inclinou a cabeça por cima


do meu ombro. Dei de ombros.

—Argumentar com isso implicaria que eu sou


cego, o que eu não sou.

—Ela também é gentil, inteligente e engraçada.


Uma natural na redação.

—Chegue ao ponto em algum momento deste


ano, por favor.

—Você tem uma queda por ela, Célian.

Kate passou a mão pela minha camisa, e eu tive


que limpar a minha garganta, porque isso estava
errado em tantos níveis, que eu não podia nem
começar a contá-los. Meu trabalho era expor um
comportamento antiético e trazer notícias factuais
para a mesa. Eu não ia mijar por uma garota com
olhos felinos e cabelos como folhas amarelas de
outono. Para não mencionar, para a maioria das
pessoas no mundo, eu era um homem comprometido.
Mas não para Kate. Ela sabia da minha história, tudo
isso. Foi por isso que ela se recusou a falar com meu
pai sob quaisquer circunstâncias.

—Não posso fazer nada sobre isso.— Eu bati na


mesa contra a qual me inclinei.

—Você pode se for consensual. As pessoas se


apaixonam em seu local de trabalho o tempo todo.
Não é contra a lei.

—Eu sou o chefe dela. Também o filho malvado


do dono.

—Um dono que está ativamente tentando entrar


em suas calças.— Kate levantou um dedo, apontando
para fora.

—Precisamente. Além disso... —Eu esfreguei meu


rosto. —Lily.
—Termine com ela. Cancele o noivado. E não me
dê a besteira da Newsflash Corp. Já está na hora.

—Como diabos eu vou. Meu pai teria um maldito


dia de trabalho se eu desistisse da única vantagem
que tenho nele.

Desde que minha irmãzinha morreu, eu me tornei


ainda mais impulsionado pela carreira. Meus olhos
estavam no prêmio e nunca mudaram - até que Judith
entrou nesse prédio. Lily Davis tinha um pai influente
e seus irmãos haviam desistido de seus negócios
familiares. Lily herdaria a Newsflash Corp, e sua
família era acionista da LBC, com até dez por cento.
Então, juntar-me à família significava que eu poderia
derrubar todas as decisões que meu pai tomasse, se
eu combinasse as ações deles, com as de minha mãe.
A fusão entre a LBC e a Newsflash Corp faria de mim
um dos maiores magnatas do mundo, quando meu pai
deixasse o cargo.

Foi por isso que ele fez o que fez e arruinou a


pequena promessa que eu tinha deixado em minha
vida.
—Irrelevante. Seu pai é um idiota e seus
sentimentos em relação ao que você faz, ou a falta
dele, não devem determinar suas escolhas.

Eu odiava que Kate fosse a voz da razão. Eu


também odiava que ela era praticamente a única
amiga que eu tinha, que eu tinha certeza de que não
me apunhalaria pelas costas no minuto em que eu me
virasse. Eu não tinha amigos, já que não confiava em
ninguém, inclusive na minha máquina de café.

—Quanto às suas aspirações de dominação


mundial...— Ela levantou a mão para acariciar minha
bochecha, estalando a língua. —Cresça, Célian. Qual é
o sentido de ser poderoso se você é infeliz?

Eu mudei de assunto, porque nada disso


importava. Eu não estava jogando fora meus planos,
nem minha noiva idiota. Judith foi... Judith. Sem
dúvida linda, não do jeito que as mulheres de revistas
eram, mas de um jeito que faz você querer marcá-la
com seus dentes, língua e mijo, se necessário.
Trabalhadora e inteligente. Havia uma chance -
embora pequena - de que se eu terminasse as coisas
com a Lily e contasse a Judith toda a história, ela
ainda estaria disposta a dar uma chance aos inimigos
com benefícios. E Kate estava certa. Um caso
consensual no local de trabalho não era inédito.

Mas nós não seríamos amantes.

Seríamos duas pessoas transando uma com a


outra até a submissão, e uma merda - não importa
quão boa - não valia todo o meu futuro.

Eu caí no meu lugar, percebendo que Steve


estava jogando um ataque e gritando com Jessica no
meio da redação. Jude correu até eles, pegou a mão
de Jessica e a levou embora.

—Estamos enlatando o item de celular


inflamável—, eu disse a Kate distraidamente.

Ela socou a mesa entre nós, então gritou


silenciosamente com a dor. —Eu sabia que você faria
isso.

—Coloque todos na sala de conferências. Agora.


Cinco minutos depois, todos estavam lá dentro,
incluindo uma solene Jessica e uma desafiante Judith.
Kate estava do lado de fora, num rápido telefonema.

—Precisamos de um novo item para fechar o


show. Neste ponto, vou pegar qualquer coisa. Um
brigão. Um noivado. Uma notícia sobre qualquer coisa
que não seja completamente estúpida. Façam uma
chuva de ideias.— Eu bati meu dedo sobre a mesa de
conferência cromada.

Todos olhavam para seus dispositivos digitais,


digitando mensagens de texto para suas fontes e
geralmente sendo produtivos. Steve, no entanto,
sentou-se com os braços cruzados e amuou como
uma criança no meio de uma birra.

—Consegui! Uma estrela pop com um passaporte


americano foi assassinada em um clube de strip-tease
na Coréia. — Kate abriu a porta e entrou na sala de
reuniões do aquário, ainda olhando para o celular.

—Steve, eu sei que você gosta de uma boa


fofoca. Você pode seguir isso?
Kate já estava mandando mensagens para sua
fonte.

—Certo. Norte ou Sul?— Ele coçou a cabeça com


a ponta da caneta.

O silêncio que seguiu sua pergunta quase fez


meus ouvidos sangrarem. Ele achava que havia clubes
de strip-tease na Coreia do Norte?

Era isso.

Eu estava feito.

—Fora da minha redação. Agora.

—Mas...

—Outra palavra, e você não estará trabalhando


em qualquer lugar nesta rua para o resto de sua vida.

—Eu só...

—Manhattan.

—Sr. Laurent! EU...


—Você acabou de ser colocado na lista negra em
toda a cidade de Nova York.

—Por favor!

—Correção: estado.

—Eu não...

Steve se levantou de sua cadeira com os braços


estendidos, olhando para a esquerda e para a direita
em busca de apoio. Infelizmente para ele, ele
conseguiu irritar toda a minha equipe nos dois meses
em que esteve aqui.

—Steve, você está à beira da deportação


metafórica. O que não conseguiu entender? Dê o fora.
Humphry, você está substituindo ele como um
repórter um pouco menos júnior a dois minutos atrás.
E como Jessica é forte no item de Wall Street, você
está assumindo a cobertura da pop star.

A única coisa que eu tinha em mente era


conseguir que alguém com um cérebro funcional me
escrevesse a notícia, e rápido, porque todos os meus
repórteres estavam se afogando no trabalho, e Steve
obviamente não podia coçar a própria cabeça sem
cortá-la. Eu não a favoreci de forma alguma porque
queria entrar em suas calças. Eu também sabia que
ela morreria antes de chegar à frente no jogo,
entrando de cabeça.

Steve rosnou, jogando as mãos no ar e saindo da


sala de conferências. Ele recolheu sua porcaria de sua
estação e jogou seu cartão de empregado na lata de
lixo ao lado da porta, o que era tecnicamente contra
as regras da empresa, mas não estragou o fato de eu
finalmente ter me livrado dele.

—Eu?— Jude olhou para cima, suas íris verdes-


marrons-douradas se dilatando. Foi emocionante, eu
acho, e isso me deixou tão fodidamente duro, que
fiquei surpreso por não ter inclinado meu lado da
mesa.

—Jessica irá ajudá-la com o que você precisar.

Jessica assentiu, apertando a mão de Judith.

—Claro. Estou aqui por você, JoJo.


JoJo se levantou da cadeira.

—Eu não vou deixar você para baixo, senhor.

Eu sei, e inferno se isso não me deixa mais duro


do que um carvalho.

Eu estava tão acostumado com as pessoas


fodendo tudo, que ter alguém constantemente
intensificando seu jogo era uma decepção em si. Ela
era o tipo de bem que eu só tinha visto uma pessoa
exibir com orgulho. Essa pessoa era Camille.

Foda-se. De onde veio isso ?

—De volta ao trabalho, todo mundo.

Recolhi minhas coisas e abri a porta de vidro,


pedindo que as pessoas saíssem. Eu esperava que
Judith fizesse o que todos faziam quando os promovi.
Pare e me agradeça. Derreta em uma poça aos meus
pés. Infelizmente, a senhorita Humphry apenas
passou por mim de volta a seu posto, sem me dar
mais que uma olhada.
Num momento de loucura, decidi seguir o
caminho estúpido e a toquei de volta brevemente. Ela
se virou, levantando uma sobrancelha.

—Amanhã. Almoço.

A sala estava vazia, então por que parecia que eu


estava sugerindo que eu a assolasse na mesa de
James Townley durante o horário nobre, tingindo sua
bunda de vermelho com a palma da mão aberta?

—Eu vou estar ocupada—, disse ela


categoricamente.

—Esta será uma reunião profissional sobre sua


nova posição.— Provavelmente deveria ter começado
com isso. Idiota.

—E ainda assim, estarei ocupada. O que você


precisar de mim, fico feliz em falar sobre isso aqui
mesmo, no escritório. Agora eu tenho uma tarefa para
fazer. Isso era tudo, senhor?
Deixei-a ir embora, imaginando brevemente
quando as mesas haviam se virado. Ela começou
como uma foda suja sem nome, e de alguma forma
conseguiu sair dessa posição comprometedora. A
garota que tinha me roubado, agora estava recebendo
uma promoção, fazendo com que eu fizesse minha
própria limpeza a seco, e voltando atrás.

É, acho que não.

Jude pegou o telefone e começou a discar, já


ligando o gravador e conectando-o ao celular.

—Olá, meu nome é Jude Humphry e sou repórter


no Daily Newsnight da LBC. Estou ligando sobre a
infeliz e prematura morte de Sung Min Chae...

Eu olhei para baixo e ainda estava duro.

Acho que mudei de idéia sobre a All Stars, afinal.

Ela merecia mais algumas fodas, antes que eu


parasse de pensar sobre ela.
—Vá baixinha! É a sua matéria. Nós vamos
festejar como se fosse seu item e você sabe que não
damos a mínima, se na verdade foi um item da Kate...

Grayson estava mexendo em seu banquinho


perto do bar, bebendo seu Bacardi e geralmente
agindo como uma líder de torcida em um filme de
terror, apenas alguns segundos antes de ela ser
cortada em espetinhos de cordeiro.
Ava repeliu seu terceiro martini, afofando seus
cachos negros e grossos e me encarando por trás da
borda de seu copo vazio.

Ambos estavam celebrando minha primeira


realização jornalística real. Mesmo quando eu disse
que alguém havia morrido e talvez devêssemos adiar
as comemorações, eles não estavam convencidos.

—Essa estrela pop tentou estuprar uma garota—,


apontou Gray. —Estamos autorizados a celebrar.

—Claro que você não quer nada para comer?—


Ava arqueou uma sobrancelha. —Você parece um
pouco pálido.

Nós estávamos no Le Coq Tail do outro lado da


rua do escritório. Eu estava morrendo por aquele
sanduíche de rosbife. Na verdade, eu estava bebendo
um copo de água da torneira e fingindo uma dor de
cabeça, porque eu não podia pagar mais nada, e
talvez fosse o meu orgulho de garota pobre, mas eu
não conseguia tomar nada do que Ava e Gray
pagariam, mesmo sabendo que ficariam felizes em me
mimar, depois de eu ter cumprido minha primeira
missão com sucesso.

Vendo que eu tinha mantido segredo sobre a


minha situação com meu pai e minha dívida, ambos
compraram minha desculpa para enxaquecas.
Observá-los embriagar-se e falar sobre seus planos
para o fim de semana - todos envolvendo dinheiro
para gastar - enviou ciúmes mordiscando aos cantos
do meu intestino.

—Eu quero que Grayson pare de cantar 50 Cent.


Você pode fazer isso acontecer?— Tomei um pequeno
gole da minha água.

—Infelizmente não.— Ava sacudiu a cabeça. —


Mas eu posso dizer que ele está com uma bebida de
desmaiar, então o canto vai acabar logo. Você vem
conosco para o Met amanhã? Nós vamos conferir o
restaurante indonésio que eles escreveram em
Timeout depois.
Eu gostaria de poder, mas provavelmente vou
ajudar meu pai a entrar no chuveiro, depois discutir
com os provedores de serviço no telefone para tentar
fazer com que eles me deem mais tempo para pagar.

—Tenho planos com meu pai. Talvez na próxima


vez.

Jesus provavelmente manteve boa a palavra para


manter Deus atualizado sobre todos os meus pecados,
porque, de todas as músicas do mundo,
‘Promiscuous’, de Nelly Furtado e Timbaland, explodiu
pela sala. O lugar estava agitado, e o cheiro de
cerveja velha, fritura e aquele cheiro urbano se
agarrava às nossas roupas.

Grayson estava soluçando e falando ao mesmo


tempo, e eu o desliguei para observar as pessoas, até
que ele disse: —Oops, Jude, seupatrzaquir. —

—O quê?— Eu gritei sobre a música.

—Seu. Patrão. Está. Aqui!— Ele gritou no meu


ouvido. —E ele parece cinquenta tons de maravilhoso.
Grayson, eu descobri, tinha a tendência de ser
mais brega que uma enchilada Taco Bell quando
estava bêbado.

—Onde?— Ava olhou em volta.

—Três bancos para baixo.

Eu estiquei meu pescoço, meu rosto aquecendo


antes mesmo de ver suas costas largas, ainda vestida
com a jaqueta de Yves Saint Laurent de lã texturizada
preta, que ele tinha no escritório. Não havia nada de
santo sobre o que este Laurent estava fazendo, no
entanto. Mesmo de costas para mim, pude ver
claramente a mulher com quem ele estava falando.
Ela passou um dedo cor de rosa pálido pela bochecha,
rindo como uma colegial, e ronronou em algo que ele
havia dito. Célian deveria estar no alto do seu jogo,
porque o que saiu de sua boca, fez com que ela
precisasse se agarrar aos ombros dele, de tanto que
ela ria. Eles compartilharam um abraço rápido e
íntimo, e eu era uma bruxa, queimando na fogueira
por dentro, querendo me libertar de qualquer feitiço
que ele colocou sobre mim, que me fizesse sentir tão
completamente e incrivelmente infeliz.

Bonita. Ela era linda, com o cabelo mais escuro


do que o dele, olhos azul-safira e um bronzeado.
Célian obviamente tinha um tipo, e não era uma loira
suja, mulher de olhos castanhos que se vestia como
uma diretora em um filme britânico dos anos
cinquenta, exceto pelos All Stars. Roxo hoje, a
propósito. Dignidade e orgulho. Mas tive a sensação
de que estava prestes a perder os dois.

—Terra para Jude?— Grayson arrastou, me


acotovelando no peito.

Ouch. Eu atirei-lhe um olhar sujo.

—Sim?

—Sou só eu, ou parece que ele está flertando


com outra mulher?

—Eu não me importo.— Eu projetei meu queixo


para fora.
—Sim, nós não pensamos que você faria. Mas a
noiva dele pode.— Ava piscou, olhando para mim
como se eu fosse algo esquisito.

O que eu era. É claro que eles se referiam a Lily e


não a mim. De repente, me senti muito cansada e
com muita fome - como se o ar estivesse cheio de
miséria, encharcado de toxinas. Cada respiração era
letal. Agarrei o Bacardi de Gray e tomei em um gole,
em seguida, bati contra o bar.

—Minha dor de cabeça está ficando fora de


controle. Eu vou ao banheiro lavar meu rosto e tomar
alguns Advils. Volto logo.

Eu desviei meu caminho para o banheiro


feminino, que me levou a passar por Célian e pela
morena misteriosa. Uma vez que eu estava perto o
suficiente deles, diminuí meu ritmo, ouvindo-os falar
em francês. As palavras saíram de suas línguas, e
meu coração vingativo quase explodiu em chamas. Ali
estava ele, puxando o mesmo truque que ele usou em
mim enquanto sua noiva estava sentada em casa,
fazendo planos, sonhando com seu futuro. Falso ou
não, ele ainda estava em um relacionamento. Desfilar
com mulheres em bares era de mau gosto.

Desde que eu realmente não precisava fazer xixi,


eu comecei a andar no banheiro, estufando em minha
própria raiva.

Eu preciso do meu trabalho?

Sim.

Eu estava animada para trabalhar em uma


redação?

Mais do que qualquer outra coisa no mundo.

Eu ainda não tinha dito aos meus amigos da


faculdade, mas eu sabia que eles iriam ficar loucos
quando ouvissem do trabalho que eu tinha conseguido
na LBC.

Nada disso importava agora, e talvez fosse o


Bacardi que eu engoli em um estômago vazio, mas
confrontá-lo parecia uma ideia terrivelmente boa.

Ênfase na palavra terrivelmente.


Eu sai do banheiro e empurrei a multidão. Assim
que cheguei a Célian, bati em seu ombro. Ele se virou
em câmera lenta, seu sorriso presunçoso não se
deteve, mesmo quando ele viu meu rosto,
carbonizado com agonia. A mulher ao lado dele me
lançou um olhar interessado, mas não disse uma
palavra, embalando seu copo de vinho branco.

—Humphry—, disse ele.

—Laurent—, eu brinquei, me sentindo corajosa.

—Ela sabe?

—Sabe o quê?

Seus lábios se alargaram em um sorriso ainda


maior, mas isso não significava nada. Célian sempre
foi indiferente. Um meteoro poderia estar se
aproximando da Terra na velocidade da luz, batendo e
matando todos nós em exatamente duas horas, e ele
ainda não iria pular as preliminares quando levasse a
garota para sua suíte presidencial para a sua
sexcapada.
—Qualquer uma das seguintes coisas, realmente.
Um...—Eu levantei meu polegar.

—Essa é a sua coisa. Você finge ser um turista


francês e leva mulheres para uma suíte de hotel
durante a noite, mesmo que você seja americano,
nascido e criado. Dois...— Eu apontei meu dedo para
ele. —Que você tem uma noiva esperando em casa e
Três... — Dei-lhe o dedo médio, estreitando meus
olhos enquanto eu tentava chegar a algo... Havia um
três. Eu tinha certeza disso. Infelizmente, eu esqueci
o que era.

Ele olhou para mim, esperado, seu sorriso


ameaçando cortar seu rosto ao meio. Eu nunca
percebi que ele era tão devastadoramente arrojado e
infantil. Seu sorriso parecia um beijo profundo e
preguiçoso sob um por do sol perfeito.

—Três não importa agora—, eu acrescentei. —Ela


conhece essas outras coisas?

Ele se virou para sua acompanhante e acariciou


seu queixo, parecendo pensativo.
—Você sabe todas essas coisas, porquê?

Porque?

Ela me ofereceu a mão e eu abri a boca


boquiaberta.

—Oi. Sou Emilie, prima de Célian. Eu estudo


moda aqui em Nova York. Primeiro ano. Célian está
me ajudando... ah, qual é a palavra?— ela disse em
seu sotaque ridiculamente encantador. —Estabelecer.

Ela apertou seu antebraço e eu vi o modo como


eles se olhavam. Família. Comecei a procurar por uma
rocha sob a qual eu pudesse me esconder pela
próxima década.

Fingi considerar seriamente essa nova informação


enquanto acariciava meu queixo.
—Hmm, sim. Célian é definitivamente bom em se
estabelecer.— Alguém me cale. Alguém. Por favor.
Bartender?

Eu estava rasgando seu relacionamento e


jogando roleta russa com o meu trabalho.

—Você é muito gentil.— Ele correu uma mão


aparentemente amigável ao longo da parte de trás do
meu braço, sua palma áspera enviando ondas de
luxúria para minha barriga inferior, umedecendo
minha calcinha. —Humphry, em contraste, se destaca
em saques—. Sua língua percorreu os dentes
superiores, como o lobo mau que ele era. —
Praticamente roubando todas as manchetes sujas de
nossos concorrentes.

Eu dei um passo cauteloso para trás. Por que eu


tenho que ser tão impulsiva? Por que eu assumi o
papel de guardiã de sua noiva? Eu tinha um pai
doente para cuidar em casa. Por sorte, Célian não
parecia nem um pouco ofendido por minhas
travessuras. Eu me perguntei se era porque eu havia
arrasado na missão do pop star sul-coreano. Sua
atitude em relação às pessoas parecia resultar
diretamente de seu desempenho em sua redação.

—Eu acho que vou indo.— Engoli.

—Bom pensamento. Você deveria fazer isso com


mais frequência.— Ele pegou o uísque casualmente.
—Aproveite a sua noite, All Stars.

—Você também, Sr.... Laurent. Chefe. Senhor.

Eu gostaria de não ter ficado de pé. Empurrar um


deles na minha boca parecia uma ótima maneira de
colocar uma tampa nessa conversa.

Eu fiz meu caminho de volta para Ava e Grayson.


Por sorte, eles não haviam notado o desastre com
Célian. Eles estavam ocupados demais discutindo
sobre os méritos dos pirulitos de açafrão como
método de perda de peso. Eles estavam tão absortos
no assunto que nem notaram quando o garçom me
serviu um sanduíche de rosbife, uma garrafa de
uísque e três copos.

Ele se inclinou.
—Do cavalheiro três assentos à sua esquerda. Ele
disse para lhe dizer que você deveria comer sua
carne.

Meu coração disparou, terminando com um arco


olímpico.

Está bem. Eu não posso me apaixonar. Mamãe


disse isso sozinha. O que estou sentindo agora é uma
mistura de náusea, mágoa de Milton e culpa pelo que
aconteceu com um homem que está noivo. O Bacardi
certamente também não ajudou.

Eu não sabia se deveria ficar brava, lisonjeada ou


esmagada pelo gesto dele. Mas eu estava morrendo
de fome, desesperada por uma bebida, e tonta de
açúcar no sangue. Eu também estava estranhamente
aliviada ao saber que Célian estava indo sozinho para
casa hoje à noite. Eu não queria ser um caso de
caridade. Mas Célian não estava a par de como as
coisas estavam ruins em minha casa. Ele não tinha
como saber o quão terrível a situação na minha conta
bancária era. Minha decisão foi tomada quando o
cheiro de rosbife grelhado invadiu minhas narinas. Eu
rasguei como um animal selvagem. Ava e Grayson
pararam a conversa e olharam para mim.

— Você acabou de pedir uma garrafa de uísque


que custa duzentos dólares?— Grayson arrastou-se,
iniciando um ataque de risada histérica. Ava estava
ocupada abrindo tudo e servindo um copo generoso
para cada um de nós.

—Eu... ah, eu estou comemorando superar a


minha enxaqueca—, eu murmurei em torno de um
pedaço quente de carne assada e a alface na minha
boca. —Não a morte prematura de uma estrela pop.

—Deus abençoe Advil, certo? E chefes bonitos.—


Ava passou os olhos pelo meu peito, como se pudesse
ver a coisa por dentro tropeçando em todo o lugar,
bêbada como ela estava. O jeito que seus lábios se
curvaram conscientemente me fez pensar se ela tinha
pegado um pouco do meu intercâmbio com Célian.

—Estou feliz que a dor de cabeça tenha


desaparecido.— Eu enchi minha boca com mais
comida. Falar não estava me fazendo muito bem
neste momento.

—Seu chefe está prestes a ir embora.— Ela bebeu


minha reação, e eu dei a ela, minha curiosidade
levando a melhor sobre mim. Eu inclinei a cabeça para
o lado, pegando Célian ajudando Emilie em sua
jaqueta enquanto eles faziam o caminho até a porta.

—Parece que sim.— Eu peguei um tomate cereja


do meu prato e coloquei na minha boca. Eu dei uma
última olhada para ele, mesmo que estivesse errado.
Mesmo que ele não fosse meu para olhar.

Célian conduziu sua prima para um Uber, beijou


sua testa e bateu no telhado em tchau. Então, como
se meu olhar fosse um convite, como se ele pudesse
senti-lo em suas costas, ele se virou e olhou
diretamente para mim da janela do bar. Nossos olhos
se encontraram e tudo parou.

Eu não estou a disposição, meus olhos disseram.

Isso é para eu decidir, ele assobiou.


—Você ainda quer nos dizer que não há nada
acontecendo entre você e Chefão?— Grayson zombou,
sua voz rastejando em mim, chacoalhando algo que
eu estava tentando manter dormente.

Eu abri minha boca, pronta para me defender,


mas a mentira não saiu.

Os domingos eram dias de biblioteca.

Dias de silêncio ecoado, tinta velha e papel


amarelo. De mastigar doces e roubar olhares para
jovens estudantes ansiosos, lendo e escrevendo seu
futuro, uma palavra de cada vez.

Hoje, papai praticamente me empurrou para fora


da porta. Ele me deu uma desculpa sobre tomar
vitamina D, mas não estava tão ensolarado assim. No
entanto, achei que ele queria um tempo sozinho.

O apartamento era pequeno, além disso,


conseguir algum tempo para pensar não era a pior
ideia que eu tivera. Eu também precisava ler mais
sobre a crise sudanesa.

Eu me senti um pouco despreparada e


desinformada esta semana, quando discutimos em
uma de nossas reuniões decadentes. Célian atirou em
fatos de sua manga a uma velocidade que eu mal
conseguia registrar. Não só ele tinha o conhecimento
geral do Google, mas ele o entregou com o carisma e
delicadeza de Winston Churchill. Eu queria me enrolar
como um gatinho em sua mesa naquele momento e
ouvi-lo falar o dia todo.

Isso soava degradante, mesmo na minha cabeça,


mas não era menos verdade. Inferno, à noite, quando
apaguei a luz e olhei pela janela, imaginei-me
chupando-o enquanto ele escrevia o último noticiário.
A mente do homem era ainda mais sexy do que sua
aparência. Ele era uma visão incrível de se ver, dentro
e fora da redação.

‘Vai demorar muito até que você pare de pensar


no meu pau, toda vez que você se masturbar no final
de um longo dia de trabalho sob suas cobertas
baratas.’

Deus, eu odiava ele.

E ele era de três quilates comprometido.

Eu me acomodei em uma cadeira e mastiguei


uma mistura retrô de bala de verão doce e em
formato de banana, folheando as páginas. Duas horas
se passaram antes que minha cabeça finalmente se
levantasse da revista que eu estava lendo. Eu poderia
ter ficado assim para sempre, mas uma sombra havia
escurecido as páginas brilhantes. Eu fechei a revista e
olhei para o rosto de um estranho.

—Olá.— Seu sorriso estava desequilibrado.


Preguiçoso mas gentil.
—Uh... Olá. Ele parecia familiar, mas de alguma
forma eu sabia que nunca o conheci antes. Se eu
tivesse, eu me lembraria. Alto. Atraente. Com cachos
loiros, olhos azuis profundos e um bronzeado que só
poderia ser o resultado de dias intermináveis ao sol.
Ele parecia ser um pouco mais velho do que eu, talvez
com vinte e tantos anos, e muito doce, com rugas
ganhas em torno de sua boca e olhos. Quando ele
sorriu, ele o fez com todo o seu rosto, e eu também
me vi sorrindo.

—Desculpe interromper, mas... você roubou a


última cópia do The Times.

Seu sorriso tinha uma covinha, como eu sabia


que teria.

Eu gaguejei um pedido de desculpas e entreguei-


lhe o papel, que eu já havia lido.

—Desculpa.

—Nunca se desculpe, a menos que esteja certa


disso. Além do que, parece que estamos
compartilhando os mesmos interesses.— Ele olhou
para a minha mesa.

—O meu é trabalho.— Senti a necessidade de


explicar, como se meus passatempos habituais
consistissem em estar suspensos no ar apenas por
grampos de mamilo e nadar com tubarões.

—O meu também—, ele sorriu. —Onde é o


trabalho?

—LBC.

—As coincidências continuam.— Ele mexeu as


sobrancelhas.

Ei, Jesus? Você me enviou alguém para superar


minha obsessão por Célian Laurent? —Garota, eu nem
estou falando com você depois das últimas semanas.

—Mesmo?— Eu limpei minha garganta,


endireitando no meu lugar.

Quero dizer, ele poderia estar trabalhando para o


site três andares acima. Mas ele parecia o tipo de cara
que não tinha um emprego no escritório. Ele sentou-
se na minha frente, inclinando-se para a frente e
folheando a revista que acabara de largar.

—Sim. Acabei de voltar de uma temporada na


Síria ontem. Estou recuperando as coisas agora. E
claro, comer o peso do meu corpo no cheesesteak do
Katz.

Eu ri.

—Isso é bom?

—Você nunca comeu isso antes?— Suas


sobrancelhas dispararam em sua testa. —Precisamos
corrigir isso o mais rápido possível, antes de você
suspender seu cartão de Nova Iorquina.

—Eu sou Jude.— Eu ofereci minha mão a ele. Ele


pegou e beijou o interior da minha palma - que era
dez vezes mais íntimo do que fazê-lo da maneira certa
- e as borboletas que eu pensava que só podiam
flutuar para o meu chefe se agitaram no meu peito,
esticando as asas, ainda que preguiçosamente.

—Phoenix Townley.
—Assim como James Townl...— Comecei, antes
de puxar minha cabeça para examiná-lo
completamente. Então é por isso que ele parecia tão
familiar. Seu pai era o âncora, ou o Sr. Números,
pelos altos índices que ele pontuava todas as noites.
Agora eu era a pessoa radiante, e parecia estranho,
mas bom. Como se alguém tivesse aberto um novo
cenário para o meu rosto. —Posso ver a semelhança.
Eu gosto muito do seu pai.

—Idem. Bem, na maior parte do tempo.— Ele


pegou minha sacola de doces sem perguntar e
mordeu uma banana de gelatina ao meio.

—Outra hora de boa leitura e depois uma viagem


pela cidade para aquele sanduiche de queijo?

Era assustador, a maneira como aceitei o convite


com pouco ou nenhum pensamento adicional. Jude
Humphry era uma garota calculada. Ela tinha sido
moldada e re-moldada através da mágoa de saber
como a vida poderia ser imprevisível. Eu não estava
planejando namorar ninguém em breve,
especialmente depois de todo o fiasco de Milton. Parte
de mim nem sabia se eu deveria. Se eu não fosse me
apaixonar, realmente havia sentido em tentar?

Mas Phoenix foi legal, e ele parecia ser


descontraído e divertido. Ele seria um bom amigo. E
não só eu era solteira, mas o homem que eu ansiava
depois estava noivo, pronto para se casar com outra
pessoa. Para não mencionar, que ele estava em um
relacionamento aberto e descomprometido, e eu
queria mais. Eu precisava de mais. Talvez Phoenix
Townley fosse exatamente o que o médico receitou.
Talvez ele se levantasse das cinzas da minha vida
amorosa e desafiasse a maldição de minha mãe.

Nós lemos juntos, depois deixamos a biblioteca


com os braços balançando. E mesmo que não
parecesse que ele pudesse alcançar meu peito,
agarrar meu coração e tirá-lo do meu corpo como um
certo diretor de notícias poderia, eu ainda gostei de
meu tempo com Phoenix.

—Posso te fazer uma pergunta?— Parei quando


chegamos à delicatessen.
Ele fingiu pesar isso por um segundo.

—Okay, vá em frente.

—Por que você voltou?

Ele olhou para baixo e puxou a manga longa de


sua camisa, e uma tatuagem de uma garota que eu
não reconheci sorriu para mim de seu antebraço
interno.

—O tempo é muito precioso para não ser gasto


com as pessoas que você mais ama. Eu aprendi isso
da pior maneira. Por causa dela.
Entrar no apartamento de All Stars não era a
coisa mais construtiva a fazer, considerando a
pequena fixação que eu estava desenvolvendo.

Eu podia cheirar sua pele, o tom de seu aroma de


baunilha, seu xampu de gengibre e jasmim em cada
peça de mobília em seu minúsculo apartamento. O
lugar gritou Judith. Sua personalidade saltou de todos
os cantos do lugar.

Eu a vi nas velas com cheiro de cidra


perfeitamente alinhadas no suporte da lareira como
soldados e nas fotos emolduradas de sua formatura -
ela abraçando o pai com um sorriso enorme no rosto
e beijando alguém que eu assumi ser Milton, o idiota
sem cérebro. Ela estava nas cortinas que estavam
abertas, convidando o sol a entrar no cômodo, e na
pequena pilha organizada de jornais e livros sobre a
mesa de café, bem como a mancha do anel de uma
caneca ao lado deles, que me dizia Passatempo
favorito. E na improvável imagem pendurada acima
da TV, de uma garota alcançando um balão em forma
de coração, observando-o subir para o céu e para
longe dela.

Saia dessa. Ela é uma bunda gostosa. O mundo


não está ficando sem bocetas. Você tem um plano.
Cumpra-o.

—A mãe dela comprou aquele quadro—, seu pai


me disse. —Não combina com nada em casa, mas
nenhum de nós tem coragem de derrubá-lo.

Ele parou na foto, olhando para ela. Eu fiz uma


careta, sabendo como era manter tudo, enquanto
você esperava que seu ente querido morto,
milagrosamente re-aparecesse. O pesar era patético.
É por isso que não me permito pensar nisso.

—Não sei se sua filha não tem corajosa o


suficiente para fazer qualquer coisa—, eu disse com
desdém.

Seu pai considerou isso por um momento.

—Talvez coragem não fosse a palavra certa. Jude


é muito boa em lembrar. E amar.

Robert Humphry era um homem impressionante.


Forte, silencioso e educado. Do tipo sem besteira. Eu
ficaria com ciúmes de Judith se não fosse totalmente
fodido. Seu pai era um cara pé no chão, e eu me
perguntava que tipo de pessoa eu seria se tivesse
alguém para admirar.

Rob conhecia sua filha melhor do que eu, então


ele concordou que manter nosso acordo em segredo
era do interesse de todos. Mentir para ela não era
ideal, mas nós dois sabíamos que, se Judith
descobrisse que eu estava ajudando, pagando o
caminho de seu pai para um programa de tratamento
experimental para pessoas com câncer avançado, ela
daria um jeito é aceitaria a oferta, e então deixaria
pesar na consciência dela.

Eu fiz Dan encontrar o programa experimental,


porque eu não queria que Brianna soubesse qualquer
coisa sobre Jude que ela não tivesse fornecido. Como
Robert não estava muito mal para alguém com câncer
de estágio três, ele foi aceito facilmente no processo -
depois de uma grande doação para a clínica.

Conseguir ajuda minha, ia bagunçar o senso de


integridade de Jude. Ela era ferozmente
independente, e eu não queria que esse gesto tivesse
o sabor de fodas rápidas e putarias no escritório. Além
disso, não era apenas sobre Judith. Eu não era um
canalha sem coração. Ajudar Robert foi a minha
maneira de reparar o que havia acontecido com
Camille.

Eu tirei uma vida, qual era o mal em tentar salvar


outra?
Robert não me perguntou muitas coisas que não
estavam relacionadas ao tratamento que ele
receberia. Ele não me perguntou, por exemplo,
minhas motivações para ajudar sua filha em primeiro
lugar. E então eu poupei-lhe a história do nosso
primeiro encontro, no qual uma hora depois de eu ter
comprado suas bebidas, minha língua já estava
escancarando-a enquanto meus dedos mergulhavam
em sua boceta molhada e encharcada. Eu
normalmente não comia bunda, mas a dela era muito
doce para passar. De qualquer forma, não considero
um elogio digno de menção ao pai doente.

Combinamos que um táxi iria buscá-lo duas vezes


por semana para o tratamento, todas as despesas
pagas por mim. No que dizia respeito a Jude, essa era
uma experiência oferecida pela companhia de seguros
da qual eles agora eram clientes, por meio de seu
emprego na LBC, de graça. Não era improvável, e
desta forma ela não teria que se preocupar em me
pagar de volta ou pensar que eu estava esperando
algo em troca.
Isso não era sobre ter meu pau chupado, embora
verdade seja dita, com base na maneira como ela
olhou para mim na noite que eu saí com Emilie na
semana passada, dificilmente ela se importaria em
pagar naquela moeda duvidosa.

Depois que conversamos sobre o tratamento, Rob


e eu acabamos conversando por mais uma hora. Não
era como se eu tivesse uma tonelada de coisas para
fazer em um domingo quando eu não estava na
Flórida visitando Maman. Acontece que tínhamos
muito em comum. Nós dois achamos que o Shake
Shack era superestimado, que a Árvore de Natal
Rockefeller deveria ser ilegal (ou, alternativamente,
que os turistas deveriam ser ilegais.) Mas um ou outro
tinha que ir pelo bem da sanidade dos cidadãos da
cidade, e que os Yankees eram a melhor coisa que
acontecia em nossa cidade de Nova York.

No metrô, voltando para Manhattan, eu arrumei


minha caixa de entrada no meu celular. Um e-mail
veio do meu pai, e todo mundo no escritório estava
adicionado.
Foi um lembrete para um convite para uma festa
de gala no Laurent Towers Hotel no próximo final de
semana. Os convites originais foram enviados há
semanas. De todas as coisas, estávamos celebrando o
movimento #MeToo, arrecadando dinheiro para ser
doado a vários abrigos de mulheres em todo o país.

A LBC colocou os holofotes no #MeToo,


perseguindo implacavelmente histórias sobre agressão
sexual e discriminação de gênero desde que o
movimento explodiu. Meu pai se orgulhava de tomar
uma posição, enquanto ao mesmo tempo aproveitava
sua posição para persuadir as mulheres a irem para a
cama. A lista de funcionárias antigas e atuais com
quem ele dormira era mais longa que War and Peace,
e igualmente perturbadora.

Seu movimento colocando Judith para o nosso


andar, foi uma maneira brusca de tentar ter suas
mãos nos dois, em seu vestido e sob a minha pele.

Eu explodiria seu disfarce em um segundo se não


fosse pelo fato de que neste momento, ele estava se
recuperando de seu quarto ataque cardíaco, recém-
divorciado, e muito cansado para revidar. Eu gostei da
minha feira de guerras e não precisava de outra
morte na minha consciência. Eu estava esperando que
ele descesse da posição dele para que eu pudesse
assumir e cortar meus laços com ele
permanentemente.

Respondi ao evento estúpido e balancei o pé,


procurando por uma distração. A mulher na minha
frente - com vinte e tantos anos, com boa aparência
de um jeito de laranjas de empresa, meio loura
champanhe - sorriu para mim por trás de seu livro de
capa dura Oprah's Book Club. Eu não sorri de volta.
Eu não estava procurando por uma transa só por
causa da transa. Eu não era um jogador - não
importava o que isso significasse - e, ao contrário de
alguns, eu não tratava a foda como um esporte
nacional.

Minha única noite com Judith fora uma das


poucas. Eu costumo separá-los a cada dois meses - o
suficiente para manter meu apetite sexual e libido
satisfeitos sem ter que me preocupar com o meu pau
caindo de uma doença desconhecida. De qualquer
forma, eu fodi Jude não muito tempo atrás, e estaria
indo para a segunda rodada em breve, se fosse por
mim.

A mulher enfiou o livro na bolsa, levantou-se e


caminhou em direção às portas, esperando que
abrissem. Ela me lançou outro olhar, desta vez
melancólico.

—Casado?— ela murmurou.

Eu assenti.

—Todos os bons estão.— Ela saiu.

Eu deveria ter pensado em Lily quando confirmei


meu status. Afinal, ela andava por aí com um anel
que custava consideravelmente mais do que o
apartamento de Judith - uma herança de família que
deveria ter sido dada a Camille.

Mas tudo que eu conseguia pensar era na garota


que tinha gritado comigo na semana passada no bar,
então me seguiu com seus olhos castanho-
esverdeados e não iria deixar meus malditos
pensamentos, muito tempo depois que eu voltasse
para o meu apartamento..

E no meu chuveiro, onde eu masturbei meu pau e


imaginei sua boca inteligente enrolada em torno dele,
enquanto eu gozava nos meus azulejos louros sujos.

As hashtags #CharityGala e #MeToo me


encararam do banner de cremes quando entrei no
evento, celebrado no enorme terraço do Laurent
Towers Hotel. Tapetes cor-de-rosa e cor de pêssego,
rosas saindo de esculturas como rios e mesas
compridas cobertas com toalhas de mesa de veludo
preto - não importando quanto dinheiro meu pai
levantaria aqui, isso não cobriria metade do que esta
noite custou.
Eu usava um smoking e uma carranca, Lily
arrastando ao meu lado em seu vestido de chiffon de
ouro que conseguiu ter muito tecido e ainda expor a
melhor metade de seus seios. Não que eu me
importasse. Eu sabia que a Lily também estava
transando por aí. Eu não era hipócrita, e eu era tão
possessivo com ela quanto era com um pedaço de
excremento humano, que quase pisei saindo do trem
quando ia para o trabalho ontem de manhã. Eu não
queria trazê-la, mas até reconheci que precisávamos
mostrar algum tipo de frente unida. Além disso, foi
uma boa oportunidade para dar uma olhada em sua
família, a maioria dos quais eu realmente gostava
bastante.

—Seus pais estão bem?— Nossos braços estavam


trancados juntos, mas olhei para frente.

—Eles sentem sua falta.— Ela não conseguia nem


responder uma simples pergunta com um sim ou não.

—Suas irmãs?— Eu ignorei seu tom suplicante. Eu


sentia falta deles também. Mas passar tempo com
eles como se nada tivesse acontecido, era impossível.
—Sim, Scarlett e Grace estão bem.

—E Madelyn?— Havia muito estrogênio em sua


família. Seu pai estava cercado por três filhas, uma
mãe e uma esposa.

—Minha avó é aveludada. Ela realmente quer que


você a visite. Disse que vai até fazer sua torta
favorita.

—Eu vou—, eu murmurei, querendo dizer isso.


Madelyn Davis era uma estrela do rock.

No minuto em que Lily e eu entramos no salão,


comecei a procurar por Judith com meus olhos, como
um jovem de treze anos que acabou de descobrir seu
pênis. Não foi intencional, mas primordial, no entanto.
Eu queria ver o que ela estava vestindo, como ela
tinha feito a maquiagem e com quem ela estava. Meu
palpite seria com Gary e Ava. Ela parecia estar
passando muito tempo com eles, apesar de ter
formado fortes relacionamentos com Kate, Jessica e
Brianna também.
Lily fez a coisa irritante que costumava fazer nas
raras ocasiões em que saímos em público, e puxou
minha manga para se certificar de que eu não estava
a mais de três centímetros de distância dela.
Estávamos trocando gentilezas com um monte de
convidados regulares no programa - um promotor,
dois juízes e um ex-produtor de uma rede
concorrente. Meu pai se aproximou de nós, armado
com um encontro que parecia recém-saída da escola,
seu riso enviando desconfortáveis calafrios pela minha
espinha. Ela usava um vestido Oscar De La Renta e
sorria como se ele tivesse acabado de pegar as
estrelas do céu e as descansasse na palma da mão.

—Célian, Lily, um casal tão bonito.—Ele bateu nas


minhas costas de maneira paternal e começou a
abraçar Lily e beijar suas bochechas. Ela estremeceu
em seus braços, lutando por uma respiração firme, e
deu um passo para trás.

—Sr. Laurent.
—Por favor, me chame de Matt—, ele riu,
espalhando seu sorriso falso em volta de todo mundo
como um peido de gambá.

—Sim. Afinal, você o conhece muito bem —. Eu


olhei para o meu Rolex, em seguida, retomei meus
esforços procurando por Jude. Eu tinha certeza que a
Lily percebeu, mas não consegui encontrar nada em
mim para me importar. Sua garganta balançou, e ela
ficou carmesim ao meu lado.

—Esta é Chardonnay.— Papai nos apresentou a


acompanhante dele.

Eu sorri friamente.

—Olá. Como está as férias de primavera ,


Chardonnay?

—Célian!— Lily e Mathias fizeram uma careta em


uníssono.

—Sinto muito, isso foi falta de educação de minha


parte. As férias de primavera acabaram, certo? As
finais provavelmente estão matando você. Deixe-me
adivinhar, você está animada? Ama Harry Styles?
Pensa que 13 Reasons Why é uma adaptação da
Bíblia?

Havia mais mau humor e reclamações, mas tudo


foi silenciado no fundo no minuto em que a vi entre o
mar de vestidos pretos e brancos e grandes
penteados. Vestindo um vestido azul-claro na altura
do joelho e aquela expressão discreta que parecia
falar a linguagem secreta do meu pau, ela parecia
Cinderela depois de uma boa foda, o cabelo caramelo
enrolado com madeixas desgarradas pelo pescoço e
bochechas.

Minha boca tinha se curvado com um sorriso


satisfeito em como ela era bonita e elegante, mas tão
despretensiosa, sua beleza humilde e limpa, quando
meus olhos viajaram para a pessoa com quem ela
estava falando.

Phoenix Townley.

Eu sabia que ele estava de volta aos Estados


Unidos. Seu tempo na Síria e em Israel o tornara mais
bronzeado, aparentemente mais alto, mais magro e
musculoso. Ele carregou-se com ainda mais confiança
do que antes. Ele disse que voltaria para passar
algum tempo com sua família, mas, no que me dizia
respeito, era uma ótima desculpa para ele aceitar um
emprego de meio período na LBC e passar o resto do
tempo me lembrando que eu tinha Um buraco no meu
coração do tamanho do seu punho. Phoenix usava um
smoking azul, e o que quer que ele tenha dito a
Judith, ela achou engraçado, porque ela empurrou seu
peito de brincadeira, como se ele estivesse se
comportando mal.

Lily estava me dizendo algo no fundo, mas a


menos que estivesse me avisando que o lugar estava
pegando fogo, eu não poderia ter me importado
menos. Eu sabia que não tinha o direito de invadir a
conversa de Jude e Phoenix e fazer uma cena.
Mostrar-me com a minha noiva e reivindicar o tempo
de outra pessoa, seria um movimento especialmente
louco, mesmo pelos meus padrões muito baixos.
—Champanhe?— Um dos servidores deslizou uma
bandeja em nossa direção. Lily pegou duas e me
entregou uma, colando o lado dela no meu braço.

—Eu acho que eles fazem um belo casal.— Ela


seguiu minha linha de visão.

Eu a ignorei, virando o champanhe na boca como


um shot, e caminhei até Kate, colocando o copo em
uma mesa no meu caminho. Lily me seguiu, como um
cheiro de mijo quente na estação da Times Square.

Kate, que estava de costas para mim, virou-se


com um sorriso. Eu abracei ela e sua esposa, Delilah.
O cabelo ruivo de Kate era espetado, e o vestido dela
parecia extra preto, de alguma forma. Ela ofereceu a
Lily um olhar gelado, que ela não se incomodou em
devolver.

—Eu também, hein?— Ela revirou os olhos.

Kate era de longe uma das feministas mais


sinceras que eu conhecia. Toda essa noite foi um
grande foda-se do meu pai para todos ao seu redor.
Eu curvei uma sobrancelha.

—Eu não faço as regras. Eu apenas as sigo. Por


agora. Nós passamos dez minutos conversando sobre
o trabalho, com Lily agarrada ao meu braço como se o
chão pudesse engolir tudo, quando Kate soprou um
palito de aipo e disse:

—E onde está Mathias, Célian?

—Por que eu iria me importar onde a minha


fam...— eu comecei, meus olhos já correndo para o
local onde tinham visto Jude pela última vez, e o
encontrei falando com ela, sua mão na parte inferior
das costas dela.

Nas.

Fodidas.

Costas.

Dela.

Você foi avisado, papai. E você falhou.


Uma rocha pesada se agitou dentro do meu
estômago. Meus punhos enrolaram ao lado do meu
corpo enquanto eu cortava a multidão, galopando em
direção a eles, sem sequer distinguir o que estava
acontecendo ao meu redor. Eu não estava pensando
direito, e eu estava prestes a arrancá-lo da parte de
trás de sua gola e plantar um soco no rosto dele.

A única coisa que me impediu quando cheguei lá


foi perceber que era exatamente o que ele queria - eu
perdendo o controle sobre uma mulher que não era
Lily, para criar uma cena. Então eu me juntei a eles,
meu sorriso tão educado quando peguei o charuto que
meu pai estava baforando em todo o rosto dela, e
despreocupadamente o deixei cair em uma taça cheia
de champanhe.

—Se importa se eu participar?

—Eu faço, na verdade—, Mathias disse, seus


olhos passando por Lily, que finalmente ficou a poucos
metros de distância, sabendo que não deveria se
juntar a nós. Ela ficava longe do meu pai sempre que
possível depois do que aconteceu. Ela sabia que
reconhecer sua existência, era jogar com o tipo de
fogo que poderia incendiar florestas e incinerar nosso
compromisso de prestígio.

—Bem, a vida é dura. Melhor se acostumar com


isso. Como você está esta noite, Humphry?

—Ótima.

Ela me deu um olhar de pânico, o que diabos


você está fazendo, embalando seu champanhe.

Mathias me encarou como se estivesse prestes a


fazer algo que ele iria se arrepender, então eu entrei
em seu espaço pessoal com dois passos fluidos,
sussurrando em seu ouvido:

—Eu poderia explodir toda a sua festa dizendo


que você empurrou seu pau na boca da minha noiva,
enquanto ela estava em uma posição muito
comprometedora, trabalhando como sua secretária
temporária, porque você teve que demitir sua antiga,
que tinha fodido você o suficiente para esperar mais
do que o salário médio de Nova York. Mas eu não vou
ter que fazer isso hoje à noite, eu vou, pai? Você vai
dar um passo atrás e se afastar de Judith Humphry
como eu pedi. Porque da próxima vez que eu lembrar
você de ficar longe, eu não serei legal, e ela não ficará
aborrecida. Ela vai ficar com medo. Por sua vida.

Eu dei um passo para trás e observei a cor sumir


de seu rosto. Por um segundo, pensei que ele teria
outro ataque cardíaco. Então ele inclinou a cabeça
para se despedir de Judith e saiu correndo, parecendo
um fantasma de si mesmo. Nós dois assistimos ele se
juntar a sua convidada. Eu sabia que, se eu
demorasse, Lily se aproximaria de nós, agora que
Mathias tinha ido embora.

—Ele está tentando foder você—, eu disse a Jude,


muito chateado para olhar nos olhos dela sem estalar
ainda mais.

—Isso é problema dele, não seu—, ela disse


uniformemente, colocando sua delicada taça de
champanhe em uma mesa atrás dela.

O ar da primavera estava fresco e frio, e todo o


corpo dela se arrepiou sob aquele vestido.
—Pare de brincar com ele.

—Não, você pare de se meter em meus


relacionamentos com outras pessoas, Célian. Você
não tem esse direito.

Acho que não era um bom momento para dizer a


ela que Phoenix Townley - que tinha saído no terraço
há poucos minutos, provavelmente para cheirar uma
carreira - era um idiota que foi mandado embora para
o Oriente Médio depois que foi pego usando heroína
com um ckackudo no seu apartamento em Chelsea.

A última e única outra vez que estivemos juntos


neste hotel, All Stars e eu estávamos em termos
muito mais amigáveis.

Francamente, eu estava farto de toda essa


situação de merda onde tudo o que fazíamos era
lutar. Nós estávamos na mesma página. Ambas as
nossas vidas eram uma bagunça quente. E nós
poderíamos nos fazer esquecer. Eu escovei meu braço
contra seu ombro enquanto nós assistimos os
convidados extravagantes, nossos colegas rindo,
dançando e bebendo sua longa semana de trabalho.

—Contato físico inadequado? Eu também...— ela


provocou, mas o sorriso em seus lábios era pura
travessura.

—Senhorita Humphry, por favor, pronuncie a


frase inteira - eu não quero que você me toque, então
eu realmente vou ter um incentivo para não fazer as
coisas que eu quero fazer com você.

Ela não disse nada, tocando o colar de ouro fino


encostado em suas clavículas.

Então ela sussurrou:

—Me tocar como?

Não pode parar com isso, né? Nem eu posso.

Eu sorri.

—Você não é muito boa em seguir instruções, é?


Eu me recuso a ser queimado em água quente,
mesmo para uma boa transa.
—Água quente com a sua empresa ou com a sua
noiva?— Ela retrucou.

—Meu encontro é falso, mas meu compromisso


com minha empresa é real.

Ela considerou, mastigando o lábio. —Isso não vai


te colocar em apuros.

—Isso não é seguro no tribunal. Diga isso


explicitamente. Use suas palavras. Eu. Quero. Isto.

—Eu não sei o que isso significa.

Eu balancei a cabeça, dando um passo para longe


dela.

Ela pesou a situação, ainda brincando com seu


colar. Eu tive um vislumbre de Kate conversando com
Lily, e sabia que ela nunca iniciaria uma conversa com
Lily em um milhão de anos. Ela fez isso por mim.

Uma lésbica de quarenta e seis anos que achava


que os homens brancos de classe alta eram Satanás,
era meu backup. Eu acho que queria isso na minha
maldita lápide.
Jude engoliu em seco.

—Eu quero que você faça isso comigo… não


importa o que isso signifique. Então, o que você quer
fazer comigo?

—Bem, Humphry, eu realmente quero tocar sua


bunda—, eu disse em tom de conversa, sorrindo para
um colega quando ele saudou o meu caminho e aceno
para ele, enquanto eu alisava minha camisa passada.
—Enquanto como sua buceta até que cada gota do
seu gozo esteja na minha língua.

Eu podia ver sua garganta balançando na minha


visão periférica, e maldição se isso não fizesse meu
pau se contorcer. Eu precisava sair daqui antes que
ficasse aparente que eu estava falando sujo com
minha empregada, enquanto ostentava uma ereção
que poderia muito bem rasgar minha cueca e
smoking, e nesse ritmo, talvez até mesmo dobrasse
aço sólido.

—Você tem uma noiva—, ela murmurou.


—Uma noiva falsa. Não finja que você não sabe
disso. Nosso relacionamento é uma piada, e nós só
nos preocupamos em esconder isso.

Jude e eu ainda estávamos fingindo conversar


informalmente, quando eu deslizei minha mão para
tocar a dela na mesa que ela havia se apoiado. A
ponta do meu dedinho se encolheu contra o dela. Eu
tinha me esquecido de como ela se sentia bem, e isso
me enfurecia, porque poucas coisas me faziam sentir
bem hoje em dia.

—Eu não sei—, disse ela.

—O que você quer que eu faça? Beije você na


frente de todas essas pessoas? Eu vou. Concedido,
nós dois ficaremos em apuros, mas eu vou.

—Você não iria...

Eu me virei para ela e apertei a mão contra a


parte inferior de suas costas, puxando-a para perto.
Ela quase pulou fora de sua pele.

—Não—, ela disse, sua voz alta.


Enfiei a mão no bolso, retirando um dos dois
cartões que sempre tinha comigo quando estava no
Laurent Towers Hotel.

—Décimo quinto andar—, eu disse. —Passe na


tela do elevador ou a porta não abrirá. Dez minutos.
Não precisamos estar aqui enquanto meu pai fala
sobre confraternização no local de trabalho.

Eu escorreguei na multidão e desapareci antes


que Lily pudesse me encontrar.

E antes que eu perdesse minha mente.


Por todo o desdém que tentei mostrar a Célian,
não consegui impedir que minhas pernas me
carregassem para o décimo quinto andar.

Ansiosa demais, imprudente e com grande


necessidade de intervenção. Isso é o que eu era.

Além disso, ele disse dez minutos. Eu corri direto


para o elevador, nem mesmo dando um segundo
pensamento. Phoenix - que me dera uma carona para
a festa de gala, mas cortou sua estadia porque ele era
um alcoólatra em recuperação e não gostava de estar
por perto - foi legal, mas ele não fez meu coração
apertar e gaguejar como um cachorro apaixonado. Ele
era engraçado e charmoso, mas tudo sobre nós
parecia casual e familiar. Sua voz parecia penas na
minha pele. Quando Célian falou, foi como se ele
apertasse a parte de trás do meu pescoço, como um
predador. E, por mais que eu odiasse que Célian
estivesse colocando sua reinvindicação em mim,
Mathias era de fato, um nível de arrepio mais
adequado atrás das grades do que atrás da mesa de
um presidente de rede.

Ele comentou sobre o quão bonita eu estava esta


noite, o que foi bom, mas depois começou a me falar
sobre a suíte de champanhe do hotel, que não estava
bem. É claro que eu me abstive de deixá-lo saber que
seu filho já havia me mostrado isso, conseguindo me
contaminar em seis pontos diferentes dentro da suíte.

O décimo quinto andar era um andar privado. No


índice de elevadores, foi descrito como o Art Room.
Quando cheguei ao elevador, passei o cartão contra a
tela digital e vi uma luz verde piscar de volta para
mim. A porta se abriu. Eu subi para o quarto, meus
saltos batendo no chão de mármore. A respiração
bateu no meu peito.

A vasta sala aberta estava repleta de réplicas de


esculturas famosas - modelos em tamanho natural de
O Pensador, de Auguste Rodin, O Lançador de Discos
e Vênus de Milo, de Alexander Antioch, e os Elgin
Marbles. Então, no centro, o David de Michelangelo
permaneceu me encarando, imperial e quase
paternalista, com mais de um metro e oitenta de pura
masculinidade - muito menor que o original, mas
igualmente impressionante.

Minhas pernas tremiam diante da beleza e da


violência hipnotizantes que escorriam das esculturas.
Uma coisa que todos eles tinham em comum -
estavam completamente nus, sem apelo erótico.

O cômodo não tinha cadeiras. Sem sofás.


Nenhum lugar para fazer nada além de ficar de pé e
admirar a beleza à sua frente. Eu brevemente me
perguntei de quem era essa sala, mas não precisei
pensar sobre isso. Na verdade não. Eu já sabia.
O homem que era tão bonito quanto uma pintura,
tão implacável quanto a arte, tão duro quanto
mármore.

Eu passei pelo cômodo, minha mão roçando os


amplos baús esculpidos e as bocas abertas de prazer.
O quarto cheirava a limpo, frio e de pedra lascada.
Estava mal iluminado e na maior parte azul escuro.

Pensei em papai, sobre o tratamento


experimental que nossa nova companhia de seguros
lhe ofereceu esta semana, sobre a esperança em seus
olhos quando ele deu a notícia para mim e a fé em
meu coração, sua semente florescendo em algo que
eu temia crescer além do meu controle. Tudo estava
se movendo muito rápido e ainda não rápido o
suficiente desde que me juntei à LBC.

—Eu estou assustada.— Eu me agachei e olhei


para uma mulher de mármore sentada em um banho,
se tocando. Ela não iria derramar meu segredo nos
ouvidos de ninguém. Ela iria ouvir. Talvez ela até
entendesse. Seu rosto era desafiador. Destemido. Ela
não tinha vergonha do que estava fazendo.
—Minha vida está em frangalhos e meu pai está
morrendo. Todas as coisas que eu quero parecem
inatingíveis, tão distantes. Seu coração é solitário
também?— Eu sussurrei, acariciando sua bochecha.

Eu não posso me apaixonar. Isso é luxúria e


confusão. Isto é o que acontece quando você está
prestes a perder um pai e ganhar um amante
duvidoso.

Eu viera para esta sala para estar com Célian,


mas Célian não era meu para estar com ele. Se eu
dissesse a Jude de três meses atrás o que eu estava
prestes a fazer, ela me socaria no peito, porque um
noivado era um noivado. A definição da palavra
significava que ele estava comprometido com outra
pessoa.

Então me lembrei do jeito que ele olhou para ela


na festa de gala, como se ela tivesse matado seus
sonhos.

E o jeito que ela se agarrava a ele, como se ela


soubesse e não se importasse.
—Sim—, uma voz sombria masculina sussurrou
atrás de mim, e eu girei para olhá-lo. Célian estava na
porta do elevador, um ombro encostado na moldura,
brincando com o cartão eletrônico entre os dedos.

—É por isso que fazemos o que fazemos. Porque


não podemos parar isso.

Ele deu passos confiantes no quarto, cada um


deles fazendo meu coração inchar um pouco mais, até
que havia um monstro no meu peito, faminto por seu
toque. O olhar em seu rosto sozinho engoliu meu
clitóris. Eu apertei minhas coxas juntas, minha
calcinha úmida entre elas.

—De quem foi essa ideia?

—Minha.

—Por quê?

—Porque eu gosto de coisas bonitas e sem vida.—


Seu dedo pairou sobre o meu rosto, fazendo contato
mínimo com uma mecha do meu cabelo e movendo-a
atrás da minha orelha. —Eles não podem falar de
volta. Eles não podem te ferrar. Eles não podem foder
seu futuro.

—É aqui que você trás todos os seus casos de


uma noites?

Seu leve sorriso fez meu peito doer.

—Se você fosse o caso de uma noite, você não


estaria aqui de pé. E não, eu não tenho o hábito de
foder mulheres contra essas réplicas. Elas valem mais
de 300 mil cada, e são difíceis de encontrar. Escolha
um favorito— ele ordenou, não perguntou, apontando
para a vasta sala.

Eu retomei meu passeio entre as estátuas de


mármore, sentindo seus olhos queimando um buraco
nas minhas costas, vendo através do meu vestido,
pele e ossos, me devorando por dentro. Eu estudei
cada escultura com cuidado, como se houvesse uma
resposta errada e certa, antes de finalmente fazer um
gesto para David.

Eu me virei para encarar Célian.


Ele estalou, passando os dedos calejados sobre o
queixo.

—Você pode fazer melhor.

—O que é mais bonito do que o David de


Michelangelo?—Eu desafiei.

—Não muitas coisas. O que o torna muito clichê.


A primeira estátua nua feita na Renascença e a
escultura que todos conhecem. Os Beatles não são
sua banda favorita, certo, Jude?

—Não—, eu zombei. —Muito tocada na


verdade...— Eu lambi meus lábios, soltando uma
risada. Era uma coisa ridícula de dizer, mas não me
importei de mostrar a Célian minha estranheza. Por
todas as coisas ruins que ele era, ele nunca me
julgou.

—Eu sempre achei que o pênis de David era


desproporcionalmente pequeno. E, hum... suave. Sim.
Isso acabou de sair da minha boca.
—O original está ligado a uma escultura de
dezessete metros de altura. Tenho certeza que você
ainda não conseguiria encaixar na sua boca esperta.
Pense mais, Humphry.

Eu retomei meu passeio ao redor do quarto. Ele


estava certo. Eu precisava me esforçar mais, prestar
atenção e não apenas ir com o fluxo. Não era isso que
um bom jornalista fazia? Parei em uma estátua de um
homem sentado em um trono feito de uma besta de
pé de quatro. Ele estava nu, embainhado por uma
toga sobre suas partes íntimas, olhando para o céu.
Ele parecia um gladiador ferido, tenso e musculoso.
Eu não conhecia essa peça, mas ela falou comigo.

Ele estava obviamente com dor, mas seu rosto


era feroz com desafio.

Ele era completamente desconhecido para mim,


mas sua batalha era tão familiar.

— O guerreiro.— Célian falou no meu ouvido e eu


estremeci de prazer. Senti seu corpo perto do meu,
mas ele não me tocou. —Por um artista anônimo.
Expedição especial da Itália. Um impulso de momento
na compra, mas gostei da dor em seus olhos. Tão
íntimo, você não acha?

Claro que sim. Felicidade era algo que você


estava ansioso para compartilhar. Era uma dor que
você queria manter em segredo.

—Por que eu tenho que escolher?— Eu perguntei,


ainda olhando para a estátua.

—Há uma câmera no canto direito da sala, bem


atrás das minhas costas. Eu poderia levá-la para a
suíte presidencial e fodê-la até o espaço e de volta,
mas eu prefiro fazê-lo em algum lugar que eu possa
mandar a mensagem de volta para Mathias.

—E a mensagem é?— Eu me virei para encará-lo.

—Que você é minha.

—Sua Eu não sou.— Isso era uma mentira que eu


queria poder acreditar, sobre um homem que gostaria
de poder esquecer. Meu corpo respondeu a ele de
uma maneira que eu nunca havia experimentado
antes.

Eu pertencia a ele e ele pertencia a outra pessoa.


O que isso me fazia?

As circunstâncias eram pura semântica. Pecados


embrulhados em açúcar para que eu pudesse engoli-
los mais facilmente.

Célian segurou meu rosto.

—Sim—, ele sussurrou.— Você é. Você já foi tão


longe, que nem consegue me ver compartilhando uma
bebida com minha prima sem perder sua merda.

—Você é de outra pessoa—, eu disse.

Ele balançou sua cabeça. —Não sou.

—E Lily...?

—Não a toquei em mais de um ano.

Suas palavras cortaram a corda de ansiedade ao


redor da minha garganta, e eu senti como se pudesse
respirar novamente.
—E nem vou também. Eu não tenho planos de
foder mais ninguém além de você, mas eu ficaria
longe de Lily, mesmo que ela fosse a última dona de
uma buceta no planeta Terra. Eu não fodo traidores e
ela é uma.

—Oh?

—Com meu pai.— Ele fez uma pausa, estudando


minha reação, e eu tentei não vomitar na minha boca.

—Pouco depois...— Sua mandíbula se fechou


como se ele estivesse engolindo náuseas. —Deixa pra
lá. O ponto é, isso não é para você se preocupar. Ela
também sabe disso.— Explicou ele, sua calma e
equilíbrio voltando.

Eu lambi meus lábios, encarando os dele. Alguns


meses atrás, a garota que estivera com Milton teria
dito a ele que queria tudo. Que ela também merecia
isso e foda-se o império que ele estava tentando
construir em mentiras e vingança. Mas agora mesmo,
de pé na frente dele, tentando sobreviver neste
mundo cruel e real, caçando dívidas e cuidando de
meu pai, algo era melhor que nada - especialmente
algo que vinha dele.

Nós dois estávamos nos afogando, e quando


estávamos juntos, parecia que eu estava procurando
por ar.

—E ela sabe que você não é fiel?— Eu enfatizei.

—Não há nada para ser fiel. Não é um


relacionamento. Nós vivemos separados. Nós
dormimos separados. Nós vivemos nossas vidas
separadas.

—Eu não sou uma exibicionista.— Meus olhos


viajaram para a câmera pontilhada vermelha acima de
nossas cabeças.

Ele avançou em minha direção, segurando minha


bochecha e roçando seus lábios contra os meus
eroticamente. Meu estômago torceu e caiu, como se
eu estivesse caindo.
—Nem eu.— Ele puxou meu lábio inferior entre os
dentes retos, puxando com força antes de liberá-lo
lentamente, prolongando a doce e deliciosa dor. —Mas
estou disposto a abrir uma exceção, para garantir que
a mensagem chegue em casa. Envolva seus braços ao
redor do pescoço do Guerreiro.

Eu pisquei para ele, desorientada, mas fiz o que


me disse, primeiro me abaixando para sentar no colo
do Guerreiro. Senti o peito de pedra da estátua atrás
de mim enquanto eu cuidadosamente apertava meus
braços ao redor de seu pescoço. A partir desta
posição, parecia que ele estava olhando para uma
prateleira.

Célian se ajoelhou e bebeu meu gemido de


excitação com outro beijo, desta vez lambendo minha
boca, abrindo caminho através das paredes, e
reclamando cada grunhido e gemido que estava lá
adormecido, esperando que ele soltasse..

—Eu vou arruinar você—, ele sussurrou,


empurrando a palma da mão em meu decote e
colocando um dos meus seios. Ele tirou o mamilo e
chupou selvagemente antes de se afastar e soprar ar
frio sobre ele. Eu arqueei contra o Guerreiro, sentindo
sua toga de mármore frio cavando na minha bunda.
Era mais quente que o pecado, mas Jesus, era
estranho.

Jesus:…

A mão de Célian encontrou o zíper atrás das


minhas costas e começou a rolar para baixo, com os
olhos duros nos meus. Eu choraminguei com o quanto
ele parecia estar mandando quando ele fazia isso.
Porque o meu vestido era sem alças, no minuto em
que arqueei minhas costas, ele deslizou para baixo e
juntou-se aos meus pés como um lago de inverno
pálido, com pouco ou nenhum esforço dele.

Eu estava completamente nua, exceto pela minha


calcinha branca de algodão encharcada e meus All
Stars. Ele se abaixou para os meus mamilos e
começou a beijá-los e mordê-los, mantendo-me
imprensada entre ele e a estátua e tomando sua
atenção com sede. Toda vez que eu tentava tocá-lo,
ele colocava minhas mãos de volta na estátua. Fui
colocada em um pedestal, para ser vista e admirada
por seu pai.

Para ser devorada por Célian.

Só ele.

Apenas ele... sempre.

Eu tentei me esfregar contra ele, mas isso


resultou em ele se afastando. Ele continuou com
língua, todo o caminho até o meu estômago,
enroscando a língua no meu umbigo e gemendo, seu
nariz abrindo caminho até a minha calcinha. Ele usou
os dentes para baixar minha calcinha até meus
joelhos e me encarou por alguns segundos,
enterrando o nariz na minha fenda e respirando
fundo.

Me Respirando.

Eu quase explodi da minha pele, cada nervo do


meu corpo dançando ao ritmo de seu batimento
cardíaco.
—Esta buceta é minha não menos do que é sua.—
Ele beijou a fenda, passando a língua sobre ela e
provocando meu clitóris. —Se espalhe largamente, All
Stars.

All Stars.

Ele não teve que pedir duas vezes. Eu joguei


uma perna sobre cada uma das coxas da estátua,
espalhando-me tão abertamente que minhas coxas
queimaram. Célian me lambeu antes de mergulhar
mais fundo. De vez em quando, ele escovava o
polegar ou o indicador contra o meu centro e
pressionava-o entre as bochechas da minha bunda,
molhando a área. Eu nunca fiz isso com mais
ninguém, mas havia algo sobre Célian que me fez
querer ser um pouco submissa. Na redação,
estávamos em guerra, mas em particular, nossa
principal batalha era tentar manter nossas roupas.

Ele provocou meu traseiro com os dedos,


brincando, cutucando, flertando ao me comer, e eu
explodi de dentro como fogos de artifício, gemendo
seu nome tão alto que meus ouvidos zumbiram. Eu
solto o pescoço do Guerreiro, deslizando para o chão,
minhas coxas ainda tremendo do clímax que rasga
através de mim. Célian me escarranchou nos pés da
escultura, ainda completamente vestido, e abriu o
zíper das calças.

—Eu vou perguntar de novo—, ele rosnou. —Você


está tomando pílula?

—Eu estou—, eu choraminguei, arranhando seu


terno como uma desculpa para tocá-lo e abrir minhas
pernas o mais longe que pude com ele me prendendo
no chão.

—Bom, porque eu quero foder sua buceta e


depois entrar em sua boca. E desta vez, você não
estará engolindo. Você estará saboreando e
aproveitando cada segundo até que eu tenha o
suficiente. Entendido?

Eu assenti. Sua primeira estocada em mim fez


meus olhos rolarem em suas órbitas. Ele era tão duro,
seu pênis tão aveludado e quente, eu pensei que ia
morrer de prazer intenso. Eu pingava contra seu pênis
e no chão de granito, e quanto mais eu gemia, mais
intensos seus movimentos se tornavam. Mais rápido.
Como se ele estivesse me punindo por querer tanto
me foder.

Acho que ambos ficamos alarmados com a força


de nossa atração um pelo outro. Eu queria manter
meu emprego a todo custo, e ele não precisava da
complicação de ninguém descobrir, para não
mencionar a ligação a um caso enquanto ele estava
noivo.

Era isso que tínhamos agora? Um caso? Eu sabia


que se eu começasse a rotulá-lo, eu cairia da nuvem
orgástica que eu estava me dirigindo.

Ele pulsou dentro de mim, batendo no meu ponto


G de novo e de novo e de novo, sua mão
serpenteando em direção a minha bunda e agora
totalmente brincando com ela. Dentro. Fora. Dentro.
Fora.
—Abrindo você devagar para a próxima vez.— Ele
beijou o lado do meu rosto, quase romanticamente, e
eu quase ri.

—Como você sabe que eu não fiz isso antes?

Ele de alguma forma conseguiu me lançar um


olhar paternalista, até mesmo do meio do sexo,
empurrando em mim com tanta punição agora que eu
roçava sua bunda com minhas unhas, lágrimas de
prazer acumulando nos cantos dos meus olhos.

Mais alguns mergulhos, e o orgasmo subiu dos


meus pés para o resto do meu corpo como um
terremoto. Eu gritei, desta vez desfrutando de uma
sensação lenta e sensacional de mel quente cobrindo
meu corpo inteiro enquanto o clímax tomava conta de
mim.

— Tô Perto—, ele ofegou, pegando sua


velocidade. Um minuto depois, ele saiu de dentro de
mim e enfiou o pau na minha boca, fazendo-me sentir
o gosto de uma forma que nunca tive antes. Eu era
doce e almiscarada - nada mal... mas muito familiar.
Seu gozo quente e espesso veio em jorros dentro da
minha boca, e meus olhos se fecharam de prazer
novamente.

—Prove-me desta vez—, ele ordenou. Eu fiz. Eu


deixei seu esperma sentar na minha língua, provando
seu sabor salgado. Eu sorri, minha boca cheia dele.
Ele sorriu de volta, e ele estava tão dolorosamente
lindo, por um curto momento, me ocorreu que eu
nunca poderia me recuperar desse cara, não importa
o que minha mãe tivesse me dito.

—Agora engula.—, eu fiz.

—Abra a boca—, ele ordenou.

Eu também fiz isso, me sentindo estranhamente


confortável em ser mandada.

—Boa garota.

Colocamos nossas roupas em silêncio. Uma parte


de mim ainda estava delirando com o que tínhamos
feito juntos, e outra parte queria me estrangular por
deixá-lo fazer isso comigo quando ele tinha uma noiva
no andar debaixo. E… a gravação... Deus. Eu
realmente permiti que ele registrasse tudo? Quão
idiota eu era?

Muito estúpida quando envolvia seu pênis,


aparentemente.

—Célian?— Eu perguntei quando coloquei meus


All Stars. Cisne branco desta vez.

Ele se virou e me imobilizou com seu olhar.

—Ninguém pode saber sobre isso.— Eu apontei


para a câmera.

Ele assentiu.

—Vamos descer para o segundo andar e destruí-


la para que você possa dormir esta noite.

Confusão deve ter colorido meu rosto, porque ele


pressionou os dedos contra os lábios, sufocando um
dos sorrisos deslumbrantes que ele se recusou a
compartilhar com o mundo.
—Você geralmente não é agradável—, eu
observei enquanto caminhávamos em direção ao
elevador, nossos passos e vozes ecoando em torno do
quarto quase vazio.

—Nem você é. É por isso que eu queria ver até


onde você iria. Acontece...— Ele agarrou minha
cintura e me puxou sob a dobra de seu braço. —Você
iria muito longe para ser fodida por mim. Eu vou dizer
ao meu pai que se ele mexer com você de novo, ele
estará no inferno na Terra. Mas eu nunca deixaria
ninguém ver seus seios e sua boceta.

—Isso vai acabar mal—, eu murmurei, nem


mesmo sabendo se ele poderia me ouvir.

Nós entramos no elevador, e ele apertou o botão


do segundo andar, sorrindo.

—Mas nós vamos ter um inferno de um passeio.


Eu nunca acreditei em milagres.

Minha experiência com a vida, me mostrou que


ela era pragmática, incontrolável e imprevisível, com
uma introdução real, quando peguei meu pai com a
boca da empregada enrolada em torno de seu pênis,
quando eu tinha apenas cinco anos de idade.

Ele me disse que eles estavam jogando, e eu


acreditei nele. Além disso, parecia um jogo muito
divertido também, eu adorava tocar meu pênis,
adorava ser agradado, e combinar os dois, parecia o
tipo de ideia de lhe dar um Prêmio Nobel, então é
claro que eu contei para Maman. É desnecessário
dizer, que mamãe não ficou impressionada com a
maneira como meu pai conduzia suas brincadeiras
espontâneas com a empregada.
A empregada foi demitida, meus pais tiveram
uma briga enorme, e desse ponto em diante, não me
lembro de uma época em que éramos uma família
feliz.

Ou apenas feliz.

Ou apenas uma família.

Por toda a merda que ambos tinham passado


juntos, por todos os assuntos e infidelidades, lutando
com advogados e se rebaixando tanto, que me
fizeram pensar o quão ruim exatamente humanos
poderiam ser, eles não tinham conseguido um divórcio
até o ano passado.

Meu pai, no entanto, nunca me amou. Seu


desdém estava fundamentalmente presente na
maneira como ele olhava para mim, na maneira como
ele zombava, e na forma como ele deliberadamente
evitava qualquer coisa que eu gostasse ou que
importasse para mim. Ele pensou, de uma maneira
fodida, que eu era responsável pelo colapso lento e
incontrolável de seu casamento. Que só foi bom para
mostrar, como pouca responsabilidade ele tomava
quando se tratava de seus problemas.

É por isso que eu tinha muito pouca fé nessa


coisa chamada vida. Se algo desse certo, era
provavelmente porque estava dando uma guinada em
seu caminho, para dar seriamente errado. Dê tempo e
isso aconteceria. A vida era sobre apagar incêndios
ou, se você trabalhava em uma redação, sobre iniciá-
los.

O que funcionou bem para mim. Minha


experiência pessoal com as pessoas foi medíocre.
Então, eu não me importei de foder com eles se eles
fizessem algo ruim, algo que merecia ser discutido
publicamente.

De qualquer forma, como eu disse, nunca


acreditei em milagres, e foi por isso que eu sabia que
havia uma razão para Lily ter saído da festa, antes
que Jude e eu voltássemos para o terraço.
Infelizmente para todas as partes envolvidas, eu não
tinha isso em mim para me importar o suficiente para
checar. Lily fazia parte do meu plano claro, mas meu
plano já estava em movimento. Eu lidaria com a sua
pequena birra mais tarde, lembrando-a do castelo dos
meus pais em Nice, aquele em que ela queria
reformar e viver durante os verões. Eu a compraria
outra passagem para as Maldivas, para que ela possa
passar as férias com as amigas, acalmá-la do jeito
que ela costumava ser acalmada, com coisas bonitas
e atenção negativa.

—Oh meu Deus !Célian!

Afinal de contas, não muito tempo atrás que eu


peguei minha noiva de quatro, chupando o pau do
meu pai em sua boca em seu escritório, enquanto ele
acariciava seu traseiro nu e bronzeado, muito
parecido com a empregada de todos aqueles anos
atrás.

Não era coincidência, e eu sabia disso. Meu pai


era um idiota doentio, e ele imaginou que eu me
lembraria do dia em que enterrou sua família a dois
metros de altura, não só por trair minha mãe, mas
também por decidir que era minha culpa por delatá-
lo. Ele me fez sentir como se eu fosse
fundamentalmente defeituoso. Então, eu me tornei o
que ele me criou para ser, um idiota de classe
mundial.

—Por que eu não estaria aqui? Eu trabalho


aqui.— Eu estalei minha língua, ignorando a cena
inteira tocando diante de mim com pura indiferença,
como se meu pai estivesse sentado em sua mesa e
Lily estivesse digitando em seu desktop, como parte
daquele estágio de merda que ela queria levar pela
metade, para me impressionar e provar que ela era
digna de herdar a Newsflash Corp.

Eu entrei em seu escritório com um propósito, ele


me convidou para ir até lá, então ele sabia que eu o
pegaria, e é claro, eu não podia dar a ele o prazer de
me ver ferido, então me servi de um copo de escocês.
Sentei-me do outro lado da sala em um sofá de couro
marrom e tomei um gole em silêncio, observando a
vista de sua janela.

Lily finalmente teve a audácia de colocar a camisa


na saia, enfiar a última nas coxas nuas e limpar os
lábios, correndo como uma galinha sem cabeça do
outro lado da sala. Ela estendeu a mão, prestes a se
atirar em mim.

—Chegue perto de mim, e sua vida, reputação e


círculo social, como você os conhece, deixarão de
existir.— Eu bebi minha bebida, cruzando minhas
pernas.

Ela parou no lugar, desabando no chão


acarpetado. Meu pai riu, tomando seu tempo para se
fechar. Lembrei-me de que nenhum filho deveria ver o
pênis de seu pai naquela idade, a não ser que
precisasse dar-lhe um banho porque estava doente
demais para fazer isso sozinho.

—Filho—, ele finalmente cumprimentou.

Eu sorri, pensando, não mais. E talvez nunca.

—Cela aurait détre to sous ce bus et non ta


soeur— ele disse. Deveria ter sido você debaixo
daquele ônibus, não sua irmã.
Mas seu tom tinha sido gentil, apologético - como
se ele estivesse implorando em favor de Lily.
Desgraçado.

Eu respondi em francês.

— Sabe papai, também gostaria disso todos os


dias. E eu sei porque você sabe. Porque no minuto
que eu tiver a chance, vou arruinar você.
Completamente.

Depois que Jude e eu chegamos ao segundo


andar e destruímos o vídeo, voltamos para o terraço
compartilhando outra bebida com nossos colegas,
alegremente ignorando um ao outro, outra coisa sobre
ela que fez meu pau feliz. Ela não era grudenta ou
necessitada, nem mesmo particularmente interessada
em reivindicar minha atenção. Ela fazia sua própria
coisa. Como eu, ela simplesmente tinha necessidades
que precisavam ser atendidas. Me chame de santo,
mas ficarei feliz em receber mais um (ou seis) pelo
time.
Quando chegou a hora de ir para casa, a maioria
das pessoas compartilharam um Uber, outras
optavam por caminhar, e muitas simplesmente o
taxavam e guardavam os recibos para fins de
despesas. Eu não queria que Jude pegasse o metrô de
volta para casa tão tarde, mas eu não queria oferecer
uma carona para ela também. Não valia a pena o
resultado de fofocas intermináveis e possíveis falsas
suposições no final. Eu mal olhava para a minha
equipe, muito menos lhes oferecia uma carona. Isso
me levou a pedir um favor bastante patético a Kate,
que por uma razão desconhecida, decidira chegar aqui
em um carro.

—Primeiro de tudo, obrigada pelo bafo de


buceta.— Ela tomou um gole de cerveja e deu um
passo para longe de mim.

—Achei que você apreciaria—, eu brinquei, sem


piscar. —Você precisa dar uma carona a Judith.

—Nós moramos no NoHo. Ela mora no Brooklyn—


declarou ela com naturalidade, como se a lógica
tivesse algum lugar na minha decisão.
Eu não poderia me importar menos se ela vivesse
na lua, e a maneira que eu tirei os seus dedos de sua
bebida, abaixei e a descartei no lixo, comunicava
perfeitamente a ela. Kate sacudiu a cabeça,
cutucando meu peito.

—Tudo bem. Mas você deveria mesmo se livrar


do pirulito com peruca.

—O pirulito com peruca, tem pedigree e uma


participação de dez por cento da minha empresa.—
Além disso, Lily não era um fator. Mesmo se eu fosse
oficialmente solteiro, ainda não cortejaria
abertamente um funcionário. Não que eu quisesse
cortejar Judith.

—Engraçado, eu não te considerei um homem


que permitiria que alguém o tivesse pelas bolas.

—Eu não permitiria que Lily as chupasse, muito


menos as segurasse—, eu brinquei. —Minha tolerância
é estritamente profissional.

—Então você é um péssimo homem de negócios,


porque ela tem influência sobre você.
Empurrando Kate para longe com um aceno,
voltei para entreter meus investidores e colegas, mas
não antes de pedir que ela nunca mencionasse seu
favor para mim a Jude. Ser pequena e mal-humorada,
nunca mostrando sua fraqueza ou vulnerabilidade, fez
com que ela fosse muito mais divertida na cama.

Alguns minutos depois, os observei indo até a


saída e joguei a cabeça para trás, tomando outra
bebida. Percebi que não havia pensado em Camille a
noite inteira.

Uma dor aguda cortou meu intestino, e eu deixei


sangrar, porque eu merecia isso.

Porque eu era um bastardo e todo mundo sabia


disso.

Camille.

Mamam.

Mathias.

Lily.
Jude.

Kate.

E quem já trabalhou comigo.

O guerreiro sabia disso, nossos sucos ainda


manchavam sua bota de gladiador.

Até as paredes silenciosas da sala de arte sabiam,


e o vídeo de vigilância que pisoteamos e escondemos
no fundo do lixo da sala de segurança.
Eu estava pulando na ponta dos pés, olhando
para a porta trancada do escritório de Célian.

A felicidade tinha um gosto estranho na minha


boca, não era desagradável, mas surpreendente
mesmo assim. Eu estava tão acostumada a me
preocupar, eu tinha esquecido como era simplesmente
ser. Mas esta manhã tinha começado com o pai
correndo para o tratamento experimental, pegando a
sacola com o almoço e os lanches que eu fizera para
ele (‘Sempre preocupada, extamente como sua mãe’,
ele disse enquanto beijava o topo da minha cabeça) a
caminho do táxi esperando por ele no andar de baixo.
Eu perguntei a ele mil vezes se ele tinha certeza de
que eles pagavam pelo transporte, e ele disse que
sim.

Não fazia sentido, mas deixei escapar. Isso


encheu meu coração de esperança, antes mesmo de
eu receber a mensagem de texto de Phoenix.

Meu novo melhor amigo hétero do sexo


masculino, disse que não poderia seguir a pista que
ele mencionou para mim, porque ele estava tendo um
retiro de pai e filho com seu pai. Eu pensei que
deveria ser estranho ter James Townley como seu pai,
mas isso era tudo que Phoenix conhecia. Ele me
mandou os detalhes que recebeu e pediu-me para
correr atrás, e então deixá-lo saber como foi.

Célian chegou ao seu escritório às nove horas em


ponto, usando um terno de lã azul-marinho de duas
peças e a expressão usual de me tirar o fôlego. Eu
tinha começado a me acostumar com o cheiro dele.
Ouso dizer, fez as minhas partes de senhora
formigarem e baterem umas nas outras.
Eu gritei internamente quando ele chegou. Ele
enfiou a mão no bolso e tirou a chave, abrindo a
porta.

—Posso ajudar?— ele perguntou secamente.

—Eu estive esperando por você.— Eu bati a


palma das minhas mãos juntas.

A primeira reunião resumida para o show, era


geralmente às dez horas. Eu não podia esperar uma
hora inteira para contar a ele sobre a ligação que
acabei de confirmar no telefone, e Kate e Jessica
ainda estavam fora do escritório.

Ele empurrou a porta aberta, o rosto vazio. Eu o


segui, sentando no banco na frente dele. Eu abri o
Kipling, meu caderno.

—Eu não posso te foder aqui—, disse ele, jogando


o telefone em sua mesa e tirando o paletó do terno.

Minha cabeça se levantou e minha boca afrouxou.

Ele jogou duas gomas de hortelã em sua boca e


tomou um gole de café, passando pela rotina matinal.
—Mas se você quer ser fodida hoje à noite, você
pode vir depois do trabalho. Separadamente, claro.

Eu balancei a cabeça, fingindo considerar isso. Eu


queria fazer sexo com Célian novamente. Nós éramos
tão bons no quarto como nós éramos ruins um para o
outro fora dele. Mas ele assumir que essa é a razão
pela qual eu estava lá, era absolutamente ridículo.

— Vamos fazer assim, vou te contar por que


estou realmente aqui, você vai se desculpar por ser
um idiota e nós dois podemos seguir em frente com
nossas vidas. Combinado?

Ele sentou.

—Ok, pequeno gafanhoto, vamos ver o que você


tem.

Revirei os olhos e empurrei meu bloco de notas


para ele, falando rápido.

—Phoenix me mandou uma mensagem esta


manhã. Ele tem uma enorme pista, mas não tem
tempo para persegui-la. É sobre...
—Pare de sair com Phoenix.— Ele cortou minhas
palavras.

Eu apertei minha boca, franzindo a testa.

O quê?

—Com licença?

—Você está liberada, porque você não sabia que


tipo de idiota ele é. Mas agora que você está
totalmente informada, deixe-o seguir. Ele é uma má
notícia.

—E você é uma boa notícia?— Eu bufei.

—Eu sou o caralho da melhor notícia, tenho sido


por dois anos consecutivos, e eu tenho os números
para fazer o meu backup.

OK. Bem. Eu meio que entrei nessa.

Eu balancei a cabeça.

—Você não pode me dizer o que fazer, e você


está perdendo tempo agora falando sobre Phoenix,
quando temos uma grande manchete para perseguir—
, eu fervi, estalando meus dedos na frente do seu
rosto bastante divertido.

Ele franziu os lábios em um sorriso implacável.

—Continue.

—O presidente do Trust State, Arnie Hammond,


vai anunciar que ele está saindo de sua posição esta
noite.— Eu peguei Kipling de volta dele, folheando-o
com urgência enquanto falava. A Trust State era uma
das maiores seguradoras do país. —Muitas pessoas
ainda não sabem, e é apenas uma especulação. No
entanto, isso está acontecendo, e a razão é bastante
escandalosa. Lembre-se de como o Trust State entrou
com um enorme processo contra a Alemanha há trinta
anos?

—Eles representavam sobreviventes do


holocausto que não eram elegíveis para compensação.
E suas famílias.—Célian assentiu, enfocando
finalmente o que importava. —Foi um grande negócio.
Ganhei muita publicidade e novos clientes depois
disso.
—Bem, aparentemente, Hammond embolsou
muito desse dinheiro, e uma investigação interna
apenas explodiu esse caso para o céu.— Lambi meus
lábios, sentindo cada célula do meu corpo dançando
de excitação. —Entrei em contato com a fonte que
Phoenix me deu. Ele está no topo da cadeia alimentar
do Estado de Confiança. Vou encontrá-lo esta tarde.

—Ele vai deixar ser gravado?— As sobrancelhas


de Célian saltaram para o couro cabeludo.

—Uh, sim, mas ele quer permanecer anônimo.


Célian franziu a testa.

—Foda-se isso. Uma fonte sem rosto é como uma


prostituta sem boceta.

—Obrigado pela analogia. E isso não vai


acontecer. Ele vai perder o emprego.

—Não necessariamente. Estou indo com você —


disse Célian.

—Não, obrigada.
—Não foi uma oferta, Judith. Você é boa, mas
ainda está aprendendo. Eu sou um veterano. E isso
não é sobre acariciar seu precioso pequeno ego, trata-
se de pontuar a melhor história que podemos obter e
dar aos nossos espectadores antes de todos os
outros. Não tem EU em equipe.

—Há tem... tanto E quanto U—, eu resmunguei,


embora soubesse que ele estava certo.

Ele sorriu.

—Irritantemente adorável. Estou quase tentado a


deixar você chupar meu pau aqui mesmo no
escritório. Revirei os olhos, me levantei, juntei
minhas coisas e saí.—E deliciosa—, ele disse nas
minhas costas.

Não me virei, mas parei na porta e sorri para


mim mesma, pensando com muita tristeza, e tô
fodida.
Minha fonte, Finn Samson, estava atrasada.

Nós estávamos sentados em uma lanchonete


kosher em uma estrada lateral que corta a Canal
Street. O cheiro de bolas de traça e pão dormido
flutuou ao redor da sala. Célian pediu um café e uma
bala, porque não suportava o mau cheiro. Ele só
conseguiu um de seus dois pedidos. A coisa boa sobre
o lugar era que estava morto, mas ainda era um
território amigável. Esta reunião era muito delicada
para um Starbucks.

Eu bati meus dedos sobre a mesa, mastigando


meu lábio inferior e olhando em volta. Célian me
encarava sem rodeios, e em vez de me sentir
desconfortável, absorvi tudo, bebendo da sua atenção
como um bom vinho.

Uma parte de mim estava envergonhada por


Samson ainda não ter chegado. Eu sabia que Célian
estava impaciente. Isso me fez querer distraí-lo. Eu
bati no meu lado da mesa mil vezes.
Ele olhou debaixo da nossa mesa no meu All
Stars Laranja.

—Estimulação, sensação e calor—, ele comentou.


—Até eles sabem que eu vou transar com você hoje à
noite. Eu revirei meus olhos.

—Posso te perguntar uma coisa?

—Você claramente acabou de fazer. Se isso fosse


jogo de perguntas, você já teria uma desvantagem.

Fingi examinar minhas unhas enquanto lhe dava


o dedo. Isso o fez rir, e sua voz dançou na boca do
meu estômago.

Você tem certeza sobre o amor, mamãe? Porque


se nós calculamos mal isso, estou em profunda e
profunda dificuldade.

—Vá em frente, Humphry.

—O que aconteceu há um ano? Grayson disse que


algo aconteceu, que fez vocês exilarem Couture para
um andar diferente. Eu sei que foi mais ou menos na
mesma época que você e sua noiva...
Ele endureceu em seu assento por um segundo,
depois relaxou, jogando um braço sobre as costas de
sua cadeira. —Minha irmã morreu.

Meus olhos encontraram os dele através da mesa.


Eu queria pegar a mão dele e consolá-lo, mas ele não
parecia precisar de qualquer consolo. Ele disse isso
metodicamente, como se estivesse recitando a
história de outra pessoa.

—Ela era editora chefe da Couture. Estava a


cargo de Gary e Ava.

—Grayson—, eu corrigi.

—Tanto faz. Depois do que aconteceu, Mathias e


eu não conseguimos olhar para eles sem lembrar...

—Dela—, eu terminei por ele.

Ele assentiu, tomando um gole de café e olhando


para fora, para a rua tranquila. Uma mulher asiática
mais velha se agachou para acariciar um cachorro
ainda mais velho. Sua dona sorriu para ele
petulantemente, mas continuou mandando
mensagens com a mão que não segurava a coleira. O
mundo parecia tão frio de repente, e abraçar Célian
tornou-se uma necessidade física - uma necessidade,
em vez de um ato de afeto.

—Foi minha culpa.— Ele limpou a garganta,


sacudindo o pulso para verificar seu Rolex.

Eu nunca tinha visto ele assim antes, aberto


enquanto estava desligado completamente. Seus
olhos estavam em qualquer lugar menos em mim,
mas o resto de seu rosto estava tenso e forte.

Ele não queria quebrar.

Mas algo me dizia, que a versão dele que eu


conhecia já estava além de rachada.

—Como?— Eu sussurrei, tentando convencê-lo


com meus olhos, que ele nem conseguia encarar.

—É por isso que tudo é completamente fodido,


Judith. Foi minha culpa. Basta dizer que eu a matei,
assim como matei o relacionamento dos meus pais. E
então levou a tudo isso, porque meu pai finalmente
decidiu que ele tinha tido o suficiente e retaliou,
enfiando seu pau na boca da minha noiva, três dias
depois do funeral. Aparentemente, tudo que o custou
para dormir com minha noiva, foi um fim de semana
parisiense e um noivo quebrado que não queria
transar com ela, porque estava deprimido demais
para se levantar da cama naquele fim de semana.

Eu mordi a maldição que ameaçou escapar da


minha boca.

—De início eu terminei o noivado. Até então, Lily


e eu éramos um casal de verdade. Mas então eu
imaginei, que parte do porque Mathias tinha feito isso,
era porque ele estava ficando mais fraco. Ele teve
vários ataques cardíacos, e ele sabia que ia passar o
lugar de presidente para mim. Ele não conseguia
tolerar a ideia de eu fazer um trabalho melhor do que
ele, ganhando mais dinheiro. Ao mesmo tempo, meu
pai nunca foi um jornalista. Ele é apenas um homem
de negócios que teve muita sorte. Ele sabia que a
fusão entre a LBC e a Newsflash Corp me tornaria
uma força incontrolável, então matar meu noivado e
cagar em todos os meus planos de carreira, para ele
era o cenário perfeito de dois coelhos com uma
cajadada só. Só por essa razão, aceitei Lily de volta,
mas de uma maneira muito diferente. Em agosto, nos
casaremos e herdarei a maior parte dos negócios da
família dela. Primeiro tecnicamente, e depois quando
seu pai se demitir de seus deveres, também
oficialmente. Ela não terá nada além de um personal
trainer para foder e uma existência vazia para
manter, com uma coisa miserável para ela, ela vai se
casar com o idiota, que todas as suas amigas colegiais
de Manhattan queriam, quando estávamos crescendo.

Lágrimas brilhavam nos meus olhos e eu não


queria piscar, sabendo que elas cairiam no minuto em
que eu as deixasse. Então era por isso que ele ia se
casar com Lily. Por rancor ao pai. Por rancor a ele
mesmo. Para levar o que ele achava que merecia de
uma situação horrível.

Meus anos cruciais da adolescência vieram e se


foram sem uma mãe. Eu quase me ressenti com ela,
de um jeito egoísta e esquisito, como se ela tivesse
tido uma escolha em não estar mais viva, como se ela
pudesse ter lutado um pouco mais contra sua doença.
Mas eu nunca soube como seria a sensação de não
ser desejada por meus pais. Eles sempre me amaram
duramente. Eles não eram ricos, ou poderosos ou
mesmo mistificados da maneira como os Laurents
eram. Mas eles me fizeram sentir tão importante.
Sempre pareceu que éramos nós contra o mundo.
Mesmo agora, com papai passando mal, tínhamos um
vínculo que desafiava a morte, o tipo em que me
sentia estimada, mesmo por aqueles que não estavam
vivos.

Eu agarrei a mão de Célian e trouxe para o meu


rosto, beijando sua palma como Phoenix tinha feito
para mim. Intimamente. Devastadoramente.
Calorosamente. Nós estávamos em público, a céu
aberto, e era francamente ultrajante, mas ele não se
afastou. Ele olhou para mim, um pouco confuso, sua
boca se separando. Um pouco da ameaça deixando
seu rosto, e por isso, valia a pena o constrangimento
de fazer algo que eu não deveria ter feito.
—O que aconteceu com sua irmã? Como ela...?

—Judith Humphry?— Um homem rechonchudo


em um terno enrugado cor de lama, apareceu em
frente à nossa mesa. Célian retirou a mão da minha e
se endireitou, em pé para apresentar nós dois.

Todos nos sentamos, e eu limpei meus olhos


rapidamente. Nos quarenta e cinco minutos seguintes,
observei Célian enquanto ele interrogava o cara como
se ele não fosse aquele que nos fazia um grande
favor, mas vice-versa. Eu também fiz muitas
perguntas, mas no final, foi Célian quem o persuadiu
a falar no ar. Ele era implacável, charmoso e
extremamente convincente. Finn Samson estava
preocupado com seu trabalho - e com razão -, mas
Célian falou ao seu coração, lembrando-o de sua
moral e de todos os pensionistas sobreviventes do
holocausto que haviam perdido tanto dinheiro.

—Falar não vai te fazer ser demitido. Se qualquer


coisa, você receberá uma grande promoção. Se
qualquer um tocar na sua posição, nós vamos fazer
um show de merda, toda a nação vai apoiar você.
Toda rede em Nova York vai se reunir para você, e
isso é um fato e uma promessa.— Célian entregou-
lhe o cartão de visitas.

Essa era a coisa mais assustadora sobre o meu


chefe. Ele poderia convencer você a doar seus órgãos
para a ciência enquanto você ainda estava muito vivo.
Ele tinha a incrível habilidade de fazer você querer
agradá-lo, mesmo que ele não fizesse nada para
ganhar tal devoção.

Quando saímos da delicatessen, eu ainda estava


desorientada pela deslumbrante demonstração de
autoridade de Célian. E eu mantive minha boca
fechada, não querendo balançar o barco. Eu não
esperava que ele abrisse o caminho que ele tinha
antes de Samson aparecer, e eu não queria forçá-lo
para mais. Célian Laurent era como uma flor. Para
desfrutar de sua plena floração, eu precisava esperar
seu tempo. Eu também estava envergonhada por
pegar a mão dele e chorar, um segundo antes de
termos conhecido nosso entrevistado. Tanto esforço
para manter tudo relaxado e profissional.
A corrida de táxi foi completamente silenciosa, e
quando estávamos a cerca de dois quarteirões da
LBC, o trânsito ficou tão ruim que Célian ordenou ao
motorista que estacionasse no meio-fio e nos deixasse
andar o resto do caminho.

—Você tem certeza?

—Eu pareço uma pessoa que não tem certeza das


coisa que eu faço?

—Ok, cara, tudo bem.

Acho que estaríamos andando pelo resto do


caminho. Os olhos de Célian estavam mortos na rua à
nossa frente, e seu rosto estava assassino quando ele
disse:

—Ela estava chateada e correu direto para o


tráfego. Foi atropelada por um ônibus na frente dos
meus próprios olhos.
Eu tossi em um pedaço amargo de agonia,
sufocando um soluço que não ousei libertar. Meu
Deus, a irmã dele, Camille.

Ele parou.

Eu também.

As pessoas passaram por nós, murmurando


palavrões, as luzes e os rostos se transformando em
nada. Tudo que eu podia ver era ele.

—Nós tivemos uma briga.

—Sobre o que vocês estavam brigando?— Cada


palavra que eu pronunciei estava armada e pronta
para criar uma explosão. Eu normalmente não era
assim com Célian, mas não tinha medo dele. Eu
estava apavorada por ele. Eu não sabia que ele nutria
tanta dor.

Retomamos nossa caminhada até o próximo


semáforo. Ele olhou para as mãos enormes.

—Camille era minha irmãzinha, talentosa como o


inferno e sério, linda pra caralho, por dentro e por
fora. Você me lembra dela, pelo jeito que você é
apaixonada por uma história. Só que ela tinha o
mesmo sentimento pela moda.

Isso curvou minha boca em um sorriso. Eu


acreditei nele. Célian parecia um deus entre os
homens. Não havia razão para pensar que Camille
seria nada menos que impressionante, para não
mencionar ambiciosa e altamente inteligente.

—Camille só tinha um problema, e esse era o


namorado dela.

—O que? Por quê?— Eu perguntei.

A luz ficou verde e ele parecia com pressa para


chegar ao escritório. Eu tive que praticamente correr
para acompanhar o ritmo dele.

—Porque o nome do bastardo era Phoenix


Townley.

Eu respirei fundo. Phoenix representava uma


tragédia maior do que ele poderia suportar.
—Camille e Phoenix tiveram um pouco de um
caso ilícito no trabalho. Eu particularmente não gostei.
Então, novamente, eu mal dava a mínima para quem
ela estava transando enquanto ela estivesse segura.
Meu pai, por outro lado, perdeu sua merda. Cam e
Phoenix eram jovens e voláteis, sem mencionar que
uma vez fizeram coisas pouco profissionais contra a
porta de seu escritório que eu nunca conseguirei
apagar da memória e acredite, tentei esquecer esses
sons.— Ele se encolheu visivelmente.

—Se há uma coisa que meu pai e eu estivemos


de acordo, e não é difícil quando digo que era
literalmente apenas uma coisa, era que Camille e
Phoenix não eram um bom par. Phoenix era
imprudente como o inferno, e ela era uma boa maçã
que ele queria dar uma mordida e jogar no lixo. Ele
era um bom repórter, apesar do fato de que o pai dele
conseguiu o seu cargo, mas ele também gostava de
crack e prostitutas, duas coisas que não combinavam
bem com o fato de ele estar namorando minha
irmãzinha.
Jesus Cristo. Phoenix tinha crescido muito
durante o tempo que ele esteve fora. Eu sabia disso,
porque não havia como o homem que eu conhecia
hoje, ser um viciado em drogas.

—Eu nem sei por que diabos estou te dizendo


isso.— Célian passou a mão pelo cabelo, balançando a
cabeça, exasperado. —Mas já estou na metade, então
é melhor terminar. Meu pai decidiu enviar Phoenix
para o Oriente Médio. Você nunca pode ficar sem ação
lá. Tentei convencê-lo a não brincar de Deus, porque
essa merda é perigosa, não importa qual seja a
causa. Camille ficou lívida, mesmo depois que Phoenix
se foi e meu pai contou a ela sobre o crack e as
prostitutas, tentando convencê-la a esquecê-lo. Como
ele disse, Phoenix tinha claramente escolhido seu
trabalho sobre ela, então não havia nada a lamentar.
Mas ela estava apaixonada, ou talvez ela estivesse
apenas doente, mas amava Phoenix, e Mathias não
respeitava isso.

Nós agora estávamos na frente do prédio da LBC,


nenhum de nós fez um movimento para entrar. Havia
uma finalidade em voltar para o reino do escritório,
onde teríamos que permanecer profissionais, que não
parecíamos querer enfrentar.

Meu lábio inferior tremeu e senti minhas narinas


umedecidas. Eu queria chorar tanto, mas me mantive
forte por ele.

—O que você disse a ela?— Eu perguntei. —O que


a fez correr para a rua?

—Depois de alguns meses, ela decidiu ir visitá-lo.


Eles estavam secretamente conversando e iam se
encontrar em Istambul. Ela vendeu para Mathias
como uma viagem de negócios. Ela escreveria um
artigo sobre a próspera indústria da moda na Turquia.
Ela me disse que queria se casar com Phoenix, que
não podia dormir, comer ou cagar sem pensar nele.
Ela perdeu muito peso. Ela disse que ele já estava
limpo há um tempo, que eles iam se dar outra
chance, que Mathias e eu não sabíamos toda a
história. Naquele momento, me senti tão imundo com
o que meu pai fizera que decidi contar a verdade. Eu
disse a ela que Phoenix nunca teve dúvidas sobre ela,
mas que Mathias o expulsou de sua vida, mandou-o
embora, e eu não tinha tentado o suficiente para
impedi-lo, provavelmente nenhum de nós poderia
detê-lo.

—Mas você não teve uma escolha—, eu disse


suavemente.

Ele encolheu um ombro.

—Eu não consegui parar Mathias. Seu ódio pelos


Townleys não conhece limites. Se você acha que eu
sou um filho da puta odioso, você não viu nada ainda.

—Por que isso?

—Porque Townley é realmente amado e


respeitado? Porque o filho dele não arruinou o
casamento dele? Porra eu deveria saber? Para mim,
eles são apenas mais uma família de champanhe e
caviar que a LBC precisa alimentar.

Célian inclinou a cabeça. Seu rosto estava


estóico, mas seus olhos sangravam de dor. Ele
parecia o Guerreiro, rasgado em fitas e duro como
aço.

—No momento em que confessei, ela fugiu. A


mágoa e a raiva que eu vi em seus olhos... Eu corri
atrás dela quando a vi debaixo das rodas do ônibus.
Arrastei-a para fora. No começo eu pensei que ela
estava bem. Não havia sangue nem nada. Ela morreu
oito horas depois de hemorragia interna. Meu pai não
pode mais me olhar no rosto porque eu disse a ela a
verdade, e não o culpo exatamente. Se não fosse pela
outra merda entre nós, eu realmente entenderia.

O silêncio pairou no ar. Eu queria abraçá-lo, mas


sabia que não deveria tentar. Então eu fiz a próxima
melhor coisa, a coisa que minha mãe costumava fazer
sempre que eu chorava, o que não era tão frequente.
Ela beijava as pontas dos dedos e pressionava contra
o meu coração.

Ele franziu o cenho.

—O que porra você está fazendo, garota do


Brooklyn?
—Beijando pra fora a sua dor—, eu sussurrei,
sem pensar nem por um segundo, como ele sabia
onde eu morava, —Príncipe de Manhattan.

Ele se virou e foi para o prédio em silêncio, e eu


segui o exemplo. Enquanto o elevador subia as
escalas, pensei em Phoenix. Sobre como deve ser
para Célian vê-lo depois do que aconteceu. Sobre a
tatuagem no antebraço de Phoenix, da garota
sorridente. Sobre Camille. E como ele também ainda
estava lidando com as conseqüências de sua morte.
Sobre como deve ser a sensação de Célian passar um
tempo com seu pai aqui todos os dias, ou até mesmo
olhar para o rosto de sua noiva. Agosto, minha mente
cambaleou. Ele disse que eles se casariam em agosto.
Menos de três meses de distância.

O elevador apitou e nós dois corremos para fora.


Eu não ousei olhar para o rosto dele depois de tudo
que ele compartilhou, depois de como ele se abriu
para mim. Então me ocorreu que meu chefe não sabia
nada sobre minha vida pessoal, nem sobre meu pai,
nem sobre minha mãe, e certamente não sobre
Milton. Cheguei à minha mesa, sentei-me e olhei para
o nada por meia hora.

Uma mensagem de Grayson na sala de bate-papo


de nossa empresa me tirou do meu devaneio.

Grayson: Te lembrando de ligar para o seu


seguro como você me pediu.

Grayson: Outro lembrete amigável: eu não


sou seu assistente.

Grayson: Sr. Laurent, eu sei que você


provavelmente está lendo isso, então deixe-me
apenas dizer que eu admiro o terno que você
está hoje. Não que eu esteja te verificando. E
não que você normalmente não entregue no
sentido da moda. Como você desfaz uma
mensagem? Deus, se você não pode me enviar
um modelo da Abercrombie and Fitch como
namorado, pelo menos me envie filtros.
Ah sim. Eu disse a Grayson que eu tinha um
problema no seguro que poderia não esquecer. Eu
menti.

Eu peguei meu telefone e liguei para a agência de


cobrança para falar sobre diferentes planos de
pagamento. Agora que eu tinha um emprego de
verdade, precisava começar a trabalhar com a nossa
dívida.

Eu dei ao representante do outro lado da linha o


meu nome e detalhes, então perguntei se ela
precisava do meu número de cartão de crédito. Ia
doer ver o dinheiro finalmente entrar na minha conta
bancária, apenas evaporando de volta.

Ela estalou o chiclete no meu ouvido, sua voz


letárgica.

—Não precisa, senhora. Diz aqui que a conta foi


liquidada. Eu pisquei, olhando para todos os amarelos,
laranjas e vermelhos na minha tela, sem realmente
decifrar suas palavras.

—Como assim?
Ela suspirou.

—Diz aqui que um pagamento foi feito. Você não


nos deve mais nada, minha senhora. Há mais alguma
coisa com a qual você precise de ajuda hoje?

Levantei a cabeça e olhei para a sala de


conferências, onde Célian estava com Mathias e um
bando de rapazes de terno a quem ele se referia como
figurões. Eles provavelmente estavam discutindo
questões de dinheiro e classificações. Essas foram as
reuniões para as quais a equipe não era convidada.
Uma vez ouvi Mathias gritando com Célian que ele
estava nos protegendo das coisas ruins, e Célian riu e
retrucou:

— Como seu filho, deixe-me lhe assegurar, você


tem muito a aprender sobre proteger o que é seu.
Sente-se, velho.— Célian estava conversando com um
dos homens de terno animadamente, então ele sorriu
seu sorriso paternalista e acariciou as costas de sua
mão, como se ele fosse o idiota mais adorável que ele
já teve o desprazer de conhecer.
Ele poderia?

Ele...

Mathias olhou para ele com um desdém que


gelou meus ossos. Todos os outros homens e
mulheres na sala olhavam para ele atentamente,
ouvindo cada palavra que ele dizia.

Não.

Célian era muito brutal, muito insensível para


fazer algo assim.

Além disso, como ele saberia?

Então, como se sentisse meu olhar, seu rosto


voltou para o meu e ele me lançou um olhar que não
consegui decodificar. Raiva? Aborrecimento? Desejo?
Todos três?

—Senhora? Senhora, há mais alguma coisa que


eu possa fazer por você hoje?

Eu balancei a cabeça e voltei para a mulher ao


telefone.
—Não, tudo está perfeitamente claro. Muito
obrigada.
Jude nunca deu seguimento ao convite de sexo
desta manhã.

Depois de derramar minhas entranhas em todo


seu All Stars laranja no início da tarde, observando
seus olhos nadarem com emoções que ameaçaram
me afogar em desespero, eu decidi que era do
interesse de todos, se nós tirássemos a noite para
reavaliar o aglomerado conhecido como nosso baile de
escritório.

Dizer que eu não era do tipo de


compartilhamento excessivo, seria o eufemismo do
milênio. No entanto, de alguma forma, naquela
delicatessen kosher que cheirava a morte e parecia
depressão clínica, eu falei sobre Camille de uma
maneira que nunca falei antes, não com minha mãe e
nem com Kate, e certamente não com minha desculpa
para uma noiva ou pai caloteiro.

Peguei meu casaco e saí do meu escritório depois


que terminamos o show. Judith ainda estava digitando
em seu computador, pagando suas dívidas como
repórter júnior. Ela realmente teve a audácia de
parecer irritada novamente, por um motivo além do
meu alcance ou cuidado. A maioria das mulheres
estava contente em simplesmente passar tempo
comigo, de qualquer forma. No entanto, Jude gosta de
ser fodida, ter encontros para o almoço e me fazer
pagar pela porra da sua vida, sem o conhecimento
dela, e ela ainda agia como se eu fosse o inimigo
público número um.

Depois de uma reunião exaustiva com os figurões


mais cedo hoje, eu levei meu pai para o lado e
expliquei a ele novamente, que se ele tocasse em
Jude, eu iria soltar sua roupa suja, uma calcinha
manchada de cada vez, e matar o nome imaculado de
Laurent, que ele tinha percorrido todo o caminho até
o banco.

De qualquer forma, vendo que a buceta não


estava nas cartas para mim esta noite, decidi me
contentar em ficar cara a cara com um idiota.

Eu pagaria a Phoenix porra Townley uma visita.

Phoenix morava no SoHo, o que dificilmente me


surpreendeu. Era um ótimo lugar para encontrar
qualquer um dos seus vícios, de crack e drogas a
prostitutas mortas. Eu localizei seu novo endereço em
seu arquivo de RH e peguei um Uber direto para sua
casa.

Ele abriu a porta na terceira batida, vestindo


apenas cuecas brancas. Seus cachos loiros caíram em
sua testa, seu rosto corou com a umidade que bateu
Nova York em seu traseiro pálido a beira de todo
verão. Ele não mais parecia uma criança, e me
incomodava que ele continuasse envelhecendo,
enquanto Camille permanecia congelada, e que Judith
poderia ver àquela luz, como homem, e não de
aparência ruim.

—Cel.— Ele me cumprimentou sem um tom


particular em sua voz, como se minha presença em
sua porta fosse comum.

Ele deixou a porta aberta, virando-se e voltando


para o sofá em um convite silencioso. O apartamento
era pequeno, novo e moderno. E sim, eu morri um
pouco usando a palavra moderno, mesmo que apenas
na minha mente. Caminhei diretamente para a
cozinha moderna de tijolos vermelhos, com a intenção
de preparar uma bebida. Mas os armários estavam
cheios de macarrão de ramen. Abri a geladeira e não
encontrei nada além de cerveja zero álcool, limonada
rosa e comida de gato molhada. Nem uma gota de
álcool à vista.

—Só porque você é uma boceta, não significa que


você precisa comer como uma.— Eu bati sua geladeira
fechada, gemendo.
—Há uma gata no meu prédio que eu alimento.
As almas perdidas se conectam umas com as outras
de uma maneira tranquila. Se você está procurando
por bebida, odeio dizer a você, mas eu parei.— Ele se
sentou livremente no sofá com um baque surdo e
girando os canais na TV. Ele estava esperando uma
medalha? Um adesivo brilhante? Ou talvez só para eu
não dar um soco na cara dele.

Phoenix se estabeleceu na BBC America. Eu


odiava que ele não fosse estúpido. Isso fez odiá-lo
mais difícil.

—Enxaguante bucal?— Eu perguntei.

—Não.

—Maconha?— Todo mundo tinha porra de


maconha, até mesmo minha governanta da Europa
Oriental, de 57 anos, que também tinha um crucifixo
do tamanho do meu banheiro pendurado no pescoço
carnudo.

—Parei com tudo—, disse ele. —O álcool, as


drogas...
—As prostitutas?— Eu cortei, girando e abrindo
uma lata de cerveja. Tomei um gole, decidi que tinha
gosto de ânus podre e despejei-a na pia.

A última vez que tivemos uma conversa real, foi


quando ele tentou me convencer a falar com meu pai
sobre mandá-lo para o Oriente Médio. Eu disse que
tentaria, e eu meio que o fizera, mas com toda a
sinceridade, não estava convencido de que ele
merecesse minha irmã. Além disso, eu não tinha
poder sobre meu pai, especialmente quando se
tratava de Cam. Ele mal me deixava sair com minha
própria irmã quando éramos crianças, me julgando o
encrenqueiro e ela sua princesa.

A vez que nos vimos antes disso, Phoenix e eu


não tínhamos falado muito. Vi Camille chateada
depois de todo o incidente com a prostituta e decidi
reorganizar os atributos de seu rosto. Um nariz
quebrado e três cortes nas sobrancelhas depois,
Phoenix tinha uma ideia bastante clara dos meus
sentimentos em relação a ele.
Consequentemente, ele sabia que isso não era
uma visita social.

Ele balançou a cabeça, olhando para o teto, com


as mãos debaixo da cabeça.

—Eu nunca toquei na prostituta. Marcamos


algumas drogas juntos? Sim, mas ela estava seminua
porque era uma idiota e tentou me seduzir. Eu nunca
traí sua irmã. Eu era um namorado fodido claro, mas
eu nunca a enganei.

—Estou sentindo que de alguma forma deveria


ficar impressionado com essa revelação.— Abri a
geladeira novamente, dessa vez experimentando a
limonada orgânica sem açúcar.

Cuspi fora!

Talvez a vida sóbria seja castigo suficiente para


Townley Jr.

—Nem tudo é uma batalha de palavras e poder,


Cel.
Ele era a única pessoa a me chamar assim, e eu
nunca entendi o porquê. Nós não éramos próximos,
antes ou depois que ele namorou Camille.

—Você sabe, eu tentei ligar para você várias


vezes depois que ela morreu—, ele me disse. —Eu
não conseguia parar de pensar sobre a última coisa
que eu disse a ela, e a última coisa que ela disse para
mim, quando estávamos prestes a nos encontrar na
Turquia.

Eu esfreguei meu queixo, movendo-o de um lado


para o outro. Eu vim aqui para avisá-lo para ficar
longe de Judith, a ordem para Mathias se estendia a
ele. Mas de alguma forma, estávamos agora falando
sobre Camille. Foi a segunda vez hoje onde tive que
compartilhar sua memória com outra pessoa.

Não era uma merda, mas eu realmente sentia


falta da minha irmã a cada minuto. Ela era a única
coisa que se assemelhava a normal na minha família.
Com Cam, as coisas eram simples.

Eu a amava e ela me amava.


Eu cuidava dela e ela de mim.

Mathias tinha fodido e eu falhei com ela, e então


eu escolhi contar a verdade quando ela estava parada
na porra da rua, como um idiota.

—Diga—, eu cuspi.

Eu também queria ter aquele pedaço de Cam,


uma nova peça que a faria se sentir viva, mesmo que
apenas por um segundo.

Phoenix sentou-se no sofá, os cotovelos apoiados


nos joelhos. Ele apertou a cabeça, olhando para o
chão.

—Eu disse a ela que estava limpo, que tinha


mudado e que era louco por sua bunda. Ela acreditou
em mim. Nós conversamos sobre Istambul, e ela disse
que ia me esperar até eu voltar do Oriente Médio, não
importando quando fosse. Sabe o que eu disse a ela
depois disso?

Ele olhou para mim, seus olhos brilhando. Eu


balancei a cabeça. Eu entendia o amor como um
conceito, mas toda vez que as pessoas começavam a
falar como Phoenix, eu assumia automaticamente,
que elas estavam recitando um filme da Sarah Jessica
Parker. Não parecia real.

—Eu disse a ela que nunca quis desistir dela, que


o que tínhamos não era simples, mas era real. Que eu
precisava dela. Que eu não sabia se poderíamos
resolver isso, mas eu iria muito bem tentar o meu
melhor.— Ele olhou para mim. —Eu sabia que seu pai
tinha uma recompensa pela minha cabeça, mas eu
não me importei.

Eu preenchi o resto na minha cabeça. E então


Camille conversou comigo e descobriu por que
Phoenix realmente partiu, que eles eram como Romeu
e Julieta. Só que eles não tiveram chance, porque
suas famílias - minha família - nunca os deixariam
ficar juntos.

Ele estendeu a mão para mim e eu congelei. Se


abraçar era sua maneira de superar sua rivalidade, ele
obviamente ainda estava usando drogas. Então olhei
para baixo e notei a tatuagem. Camille rindo de volta
para mim, um sorriso familiar com dentes demais e,
as rugas nos olhos que a chateavam toda vez que ela
olhava para um espelho de aumento, mas eu achava
que só a deixavam mais bonita.

—Por que você veio aqui, Cel? Não posso trazê-la


de volta e você não quer consertar as coisas entre
nós.—Ele limpou o nariz em seu bíceps nu.

—Eu não vim aqui por Camille. Eu vim aqui


porque, se eu encontrar você indo para qualquer lugar
perto de Judith Humphry, vou bater a sua cabeça
contra a primeira superfície disponível e me livrar da
evidência de uma forma que tornaria impossível
encontrar você.

Eu sabia que o que eu tinha acabado de dizer


poderia me morder com tanta força no rabo, que eu
não teria deixado nada para fazer merda. Ainda
assim, não pude evitar.

Phoenix se levantou, caminhou até a cozinha


aberta e serviu-se da desagradável limonada.

—Isso é para Jude decidir.


Ela contou a ele sobre o pai dela? Sobre a dívida
dela? Sobre a vida dela? Eu o inspecionei com uma
careta, quando ele girou para me encarar e continuou.

—Jude está construindo uma rede de amigos no


trabalho. Fico feliz em ser um deles. Você, um
Laurent, tem tanto poder, que às vezes esquece que
não é um verdadeiro monarca. Que as pessoas, os
seus funcionários, não são seus servos. Veja o que
aconteceu com seu pai. Ele fez tudo o que pôde para
tentar me controlar, e sua equipe, e até mesmo você.
Onde ele está agora? Depois de vários ataques
cardíacos, ele é profissionalmente irrelevante. Você é
quem está dando as cartas na LBC, e sua mãe, de
quem ele se divorciou, é quem controla a diretoria.
Ele não tem mais nada. Para manter o poder, você
tem que distribuí-lo também. Eu não deixarei os
Laurents ditarem meu relacionamento com as pessoas
novamente —, ele adicionou depois de um momento.
—Basta olhar para o estado da sua família. Você mal
sabe o que está fazendo.
Ele não estava errado. Independentemente de
Lily, eu sabia muito bem que não tinha nada para
oferecer a Jude. Eu não fazia amor. Eu era um fodido
em relacionamentos, e mais fodido ainda em
sentimentos. Ela merecia muito mais do que eu, algo
que eu nunca admitiria em voz alta, mas sabia muito
bem no fundo. Um homem decente daria um passo
atrás e lhe daria a chance de conhecer alguém que
pudesse estar lá para ela.

Eu não era um homem decente, no entanto.

Não para Judith e definitivamente não para


Phoenix.

Em um movimento eu o encurralei contra sua


geladeira, apertando minha mão sobre seu pescoço e
apertando até meus nós dos dedos ficarem brancos.
Meu rosto estava relaxado, o pulso firme, mas do jeito
que os olhos de Phoenix se arregalaram, me disseram
que eu estava do jeito que me sentia, letal e além do
reparo. Eu nunca usei violência física para conseguir
lugares. Na verdade, a última vez que eu coloquei
minhas mãos em alguém, foi nele, por causa de Cam.
Mas Phoenix realmente precisava saber que Jude
estava fora dos limites.

— Vou dizer isso de novo Townley, e desta vez


preste muita atenção, porque eu não me importaria
de jogar você e o traseiro do seu pai na rua. Você
estragou as coisas com a minha irmã e não tem uma
segunda chance como o meu empregado. Você quer
se sentar na zona de amigos com Judith? Você é bem-
vindo a apodrecer lá. Mas se você tocar em uma de
suas mechas loiras, passar a mão sobre a sua pele, o
jogo acaba para você. E eu não sou o rei.

Eu soltei seu pescoço e ele engasgou, agachando-


se e segurando sua garganta. —Eu sou o maldito
Deus neste lugar. Aviso justo, você já provou ser um
pecador, e nenhuma quantidade de Ave-Marias vai
limpar a dívida que você tem comigo.

Eu corri para fora do seu apartamento, pensando


que esta noite não poderia ficar muito pior.

Mas claro, eu estava errado.


Porque Lily estava esperando por mim no meu
prédio, pronta para provar isso.

Lily perdeu seu privilégio as chaves do meu


apartamento, no dia em que eu a peguei com o pau
do meu pai na boca. Não é uma reação exagerada da
minha parte, acho que todos concordariam.

Esse também foi o dia em que eu acabei com o


noivado, e mesmo quando ela veio rastejando de
volta, balançando a Newsflash Corp na minha cara, eu
nunca me preocupei em devolver a chave
sobressalente. Desde que meu prédio empregou
segurança e recepcionistas suficientes para abrir um
shopping, Lily não pôde entrar e esperar na minha
porta. A equipe conhecia pessoas que vinham me
visitar regularmente, Maman, Kate e Elijah, um
produtor e colega fã do Yankees do trabalho. Para
Lily, minhas instruções eram claras e simples, se eu
não estivesse por perto, ela deveria esperar no
saguão.

Foi por isso que a encontrei enrolada em volta de


uma taça de champanhe, envolvida em um mini-
vestido de cetim preto e folheando uma revista no bar
de mármore dourado do saguão do meu prédio.

No minuto em que atravessei a porta giratória do


arranha-céu, ela se levantou e se atirou pra cima de
mim. Vendo que não nos falamos desde que ela
deixou a festa sem mim no último fim de semana,
fiquei levemente surpreso ao ver que ainda
estávamos em condições amigáveis. Minha surpresa
não foi garantida, quando Lily parou a poucos
centímetros de mim e levantou a mão para me dar
um tapa no rosto. Eu a parei, agarrando seu pulso e
abaixando seu braço.

—Lily—, eu disse com os dentes cerrados.


— Noivo. —Ela cuspiu a palavra. —Nós
precisamos conversar.

—Conversar não exige que você me toque. Estou


surpreso que você não tenha percebido isso. Você
passa a maior parte de seus dias fofocando com seus
amigos como se fosse um esporte olímpico.

Ela fez beicinho em derrota, depois limpou os fios


de cabelo do rosto.

Fui para o elevador, não dando a mínima se ela


seguisse. Ela fez. No elevador, ela se virou e tentou
esfregar sua virilha contra a minha coxa. Eu dei um
passo para trás, grunhindo.

—Você perdeu seus direitos ao pau há muito


tempo.

—Foda-se, Célian.

—Nos seus sonhos. E mesmo lá, só por trás, para


não ter que olhar para o seu rosto.—Eu sorri
educadamente, verificando meu Rolex. Não havia
nenhum lugar em particular que eu precisasse estar,
mas decidi dar a ela exatamente dez minutos para me
dizer o que diabos ela estava fazendo aqui. O que
posso dizer? Eu estava me sentindo generoso.

Quando chegamos ao meu apartamento,


finalmente consegui aquela bebida tão esperada,
enquanto Lily andava de um lado para o outro na
minha sala de estar. Tudo era feito de granito preto e
painéis de carvalho, com móveis brancos minimalistas
e de aparência estéril. A designer de interiores
japonesa que tinha vindo aqui, perguntou o que eu
queria transmitir quando me mudei. Eu disse a ela —
nada—. Ela pensou que eu estava sendo literal.

Agora meu apartamento parece exatamente com


meu coração. Oco.

Eu morava aqui há três anos e só tinha fodido


uma mulher nesse lugar. E era Lily, e fazia mais de
um ano desde que isso aconteceu. Fora isso, eu
principalmente usei meu apartamento para dormir.
—Fale—, eu mandei e no minuto que fiz, a boca
de Lily se abriu e as palavras voaram como se ela
estivesse esperando minha permissão por anos.

—Olha, eu entendi, ok? Eu estraguei tudo, Célian.


Você acha que eu não sei disso? Você acha que eu
não entendo a gravidade do meu erro? De mexer com
seu pai enquanto você estava sofrendo pela sua irmã?

Camille e Lily tinham a mesma idade, três anos


mais jovem do que eu, que lhes dava vinte e nove
anos, elas freqüentaram as mesmas escolas
particulares de Manhattan. Elas não eram amigas.
Apenas conhecidas. Minha irmã escrevia diários, ia a
noites de poesia e era obcecada por autobiografias
sobre designers de moda de alta qualidade, enquanto
Lily se concentrava em festas, garotos e dietas. Elas
não tinham nada em comum, e mesmo que Camille
nunca tivesse dito isso em tantas palavras, eu sabia
que antes de Lily entrar em cena, ela estava a
assediando para nos juntar, isso quando ela não
estava fazendo um mini bullying dela nos corredores
do colegial, pelas suas boas maneiras.
Então, quando Lily mencionou minha irmã,
azedou meu humor já irritado.

—Mas confie em mim quando digo que isso não


saiu do nada, Célian. Mesmo quando éramos um casal
funcional, você olhava para mim, mas nunca
realmente me viu. Você apenas me deixou entrar na
sua cama e compareceu às minhas funções familiares,
para que você pudesse avançar com seu plano de
fusão. Eu queria chamar sua atenção a qualquer
custo. Foi estúpido eu sei, e me arrependo disso, mas
isso foi longe demais agora. Eu quero que você volte.
Eu nos quero de volta.

—Eu quero uma Ferrari e um mês de férias no


Caribe.— E a boca de Judith ao redor do meu pau.

Lily jogou os braços para o ar.

—Você poderia ter todas essas coisas! Então, por


que eu não consigo te ter? Eu serei boa e fiel.
Estamos juntos há tantos anos, Célian. Não deixe isso
nos arruinar.

—Não.
—Eu vou deixar você manter suas escapadas
laterais. Eu sei que elas não são nada além de sexo.
Eu não me importo. Estou disposta a compartilhar...

—Ainda é um não.

Coloquei o meu copo no mini-bar metálico e,


quando me virei, a encontrei se despindo, como se o
seu vestido de cetim estivesse queimando. A pilha de
tecido caiu no chão, e ela tentou envolver a perna em
volta da minha cintura, perdendo o equilíbrio quando
dei um passo para trás. Ela chegou a agarrar a minha
mão por equilíbrio e caiu de bunda no chão. Eu olhei
para ela, percebendo que ela não usava sutiã ou
calcinha debaixo do vestido. Peguei suas roupas e
joguei para ela.

—Saia.

—Eu quero engravidar!

—Há muitos homens que estarão dispostos a


transar com você. Eu posso chamar o Uber para o bar
mais próximo. Tente não pegar uma DST enquanto
estiver nisso. É bem rápido quando você não usa
proteção.

—Você é meu futuro marido. Eu quero que você


me engravide.

Ela ainda estava sentada no chão, suas coxas


abertas, sua boceta me encarando, e eu estava
entediado com esse ato. Lily fazia isso a cada poucos
meses, desde que anunciamos que nosso noivado
estava de volta. Normalmente eu a ignorava. Mas esta
noite, depois de uma reunião desastrosa com os
figurões, um encontro estranho com Jude, e
conversando com Phoenix Fodido Townley, eu queria
minimizar o meu contato com sua bunda louca.

—Coloque suas roupas—, repeti verbalmente,


girando para pegar outra bebida. Minhas costas
estavam voltadas para ela enquanto eu despejava
uísque em um copo de cristal e olhava para o líquido.

Braços finos se envolveram no meu tronco, e o


corpo de Lily fez uma segunda aparição, envolvendo-
se em mim como um polvo. Quantos membros essa
mulher tem? Eu a sacudi novamente.

—Você perdeu a cabeça?— Eu me virei,


empurrando-a para longe. Eu fui sincero com ela
desde o começo, quando aceitei levá-la de volta. As
chances de sermos íntimos novamente, não eram
muito melhores do que eu me juntando
espontaneamente ao circo.

Se ela queria filhos, ela era bem vinda para tê-los


com outra pessoa.

Se ela queria sexo, ela era bem vinda para foder.

Se ela quisesse as duas coisas, poderia levar um


de seus casos de uma noite, para a casa reformada de
três andares, que seu pai havia comprado para nós
antes do casamento. Porque eu, com certeza, não
seria encontrado em nenhum lugar perto disso.

—Não finja que você é imune a sexo, Célian. Isso


é o que fazemos. Somos uma bagunça, mas somos
uma bagunça quente.— Ela caiu de joelhos e começou
a mexer no meu zíper. Eu olhei para ela, incrédulo,
golpeando a mão dela como se ela fosse uma mosca
irritante. Alguém aqui era uma bagunça quente, mas
certo como o inferno, não era eu.

—Você está bêbada?— Eu perguntei, em branco.

—Bêbada o suficiente para que você não possa


me expulsar daqui—, ela zombou, lambendo os lábios
de gloss vermelho.

Ela subestimou minha antipatia por ela. Porque


vinte minutos depois, ela já estava dentro de um táxi,
eu sentado ao lado dela e olhando pela janela.

—Você não pode me levar para o meu


apartamento. Não há como dizer o que vou fazer
comigo mesma. Estou deprimida. Meu noivo não quer
me tocar!— Ela gemeu, fungando e jogando o cabelo
no espelho retrovisor.

Nosso motorista, um jovem indiano com camisa


do Manchester United, esfregou o rosto com a mão,
sacudindo a cabeça. Ele tinha uma foto de uma
mulher, sua esposa presumi, e dois meninos
pequenos pendurados em um chaveiro no espelho
retrovisor. Eles estavam todos sorrindo, usando
equipamento de críquete.

Eu me perguntei se ele queria o meu Rolex e meu


traje de três peças, como eu queria sua normalidade e
vida familiar, e se essa merda era importasse. Em
absoluto.

—Eu não vou te levar para o seu apartamento.


Estou levando você para os seus pais.

Eu não acreditei nem por um segundo que a Lily


se machucaria, essa garota mataria um filhote de
cachorro a sangue frio, antes de deixar alguém, que
não fosse um profissional cortar sua franja, mas eu
não era uma pessoa de arriscar, também. Se ela
estivesse se sentindo suicida, seus pais poderiam
cuidar disso. Eu tinha sido um namorado muito
amoroso enquanto ela passava por suas fases
dramáticas, antes do momento em que ela decidiu dar
a cabeça para o homem que me criou.

Lily chutou os pés contra o banco do motorista.


Ele estremeceu.
—Ugh! Eu não quero ir para lá, —ela soluçou,
bêbada pra caralho. —É deprimente. Minha mãe chora
o tempo todo e minha avó parece uma bagunça. Além
disso, minhas irmãs são vadias.

Suas irmãs, Scarlett e Grace, eram uma


enfermeira e uma fisioterapeuta, ambas mulheres
decentes que tinham optado por sair da vida na mídia.
Infelizmente para Lily, elas desaprovaram o estilo de
vida que ela liderava, na qual sua única contribuição
para a sociedade, era ter uma boa bunda e dar
gorjetas aos provedores de serviço. Ela era a única
pessoa da família que não tinha emprego. Lily alegou
que não havia necessidade. Ela estava ocupada
planejando um casamento, uma festa de despedida de
solteira e uma lua de mel. Eu não tinha certeza de
quem ela ia levar a lua de mel, mas nós dois
sabíamos que eu embarcaria em uma nave espacial
com um bilhete só de ida para o sol, antes de
embarcar em um avião com ela. Pelo menos eu
esperava que fizéssemos.
—Suas irmãs não moram em casa, e o que você
quer dizer com sua mãe chorando? Madelyn está
bem?

Lily abaixou o queixo e brincou com os dedos. Ela


parecia culpada, e isso me preocupou, porque essa
garota tinha a bússola moral de um cafetão de tráfico
humano.

—Lily?

Minha noiva atirou no motorista um olhar sujo


pelo espelho retrovisor, pedindo-lhe para não julgá-la
sem perceber que estava com dez minutos de atraso.

—Scar e Gracie se mudaram pra lá há duas


semanas, porque vovó não está se sentindo muito
bem.

Eu soltei meu braço para o meu lado.

—O que você quer dizer com não se sentir bem?

A única coisa que eu sempre amei em Lily, era a


família dela. Inferno, eu comecei a namorá-la apenas
pelo fato de que sua avó estava sempre lá, com uma
torta caseira e histórias malucas sobre a era dos
garotos e bonecas de Nova York.

Todo o meu último ano tinha sido gasto enchendo


meu rosto com a torta de cereja de Madelyn e
ouvindo fofocas da Broadway dos anos cinquenta,
depois enchendo meu rosto com a boceta de Lily e
ouvindo-a gemer meu nome como uma oração.

Até um ano atrás, eu levava Madelyn para a


Broadway a cada dois meses. Assistíamos a um show,
íamos a um pequeno restaurante italiano e
conversávamos sobre as novidades. Seu falecido
marido havia incorporado o Newsflash Corp.

Me fez um babaca de primeira classe que eu


encurtei a tradição, quando a Lily e eu terminamos.
Mesmo depois de estarmos de volta com nosso novo
arranjo, não pude enfrentar Madelyn, sabendo que
vivia uma mentira, uma em que fodia com a família
dela e com o que o marido dela havia trabalhado
sozinho para conseguir. Eu não ofereci o amor a neta
dela. Eu simplesmente ofereci a ela um
relacionamento semi-tolerável.
Lily desviou o olhar para a janela, afastando as
lágrimas.

—Ela está... entrando e saindo da consciência. Ela


é muito velha, baby. Noventa e alguma coisa, ou seja
o que for. Ela teve uma boa vida. Ela viveu conosco o
tempo todo depois que meu avô morreu.

—Alguma razão particular para eu estar


descobrindo sobre isso apenas agora?— Eu sempre
perguntei a Lily sobre Madelyn e seus pais. Sempre.
Seis meses atrás, quando Madelyn foi internada no
hospital com dor no peito, eu corri e fiquei ao seu lado
a noite toda, porque os pais de Lily estavam no
exterior e suas irmãs moravam nos arredores e não
conseguiam ir até lá. Claro que Lily estava muito
ocupada com as festas.

—Eu pensei que se você soubesse, que a única


coisa que o mantém comigo, além da Newsflash Corp,
estivesse indo embora, você...— Lily enxugou as
lágrimas rapidamente, antes que arruinassem seu
rímel. —Ela era sua favorita. Eu não sabia como você
reagiria e também não queria saber.
— Ela É. Ela ainda está viva.

—Não por muito tempo, baby. Sinto muito, mas


não há como ela conseguir segurar até o nosso
casamento.

O táxi parou em frente ao prédio da Park Avenue


de seus pais. Enfiei a mão no bolso, pegando minha
carteira e tirando um bolo de notas. Eu coloquei o
dinheiro na mão do motorista e disse-lhe para esperar
debaixo do prédio. Lily olhou para mim, um sorriso
lento se espalhando em seu rosto.

—Se eu soubesse que isso era o que eu precisava


para você entrar na minha casa... —Cala a boca, Lily.
Eu preciso dizer adeus a Madelyn. Isso não é sobre
você.

Meia hora depois, eu estava de volta ao táxi, meu


humor atingindo o ponto mais baixo de todos os
tempos. Madelyn não estava acordada. Os pais de
Lily, embora felizes em me ver, também estavam se
perguntando onde diabos eu estava nos últimos
meses. As coisas estavam tensas e desajeitadas. Eles
não se pareciam mais como a família que eu nunca
tive, e por que eles iriam? Eu não me preocupei em
atender as suas chamadas em meses.

Casando-me com Lily, insistindo com meu pai e


finalizando a fusão, eu não estava apenas arruinando
minha própria vida, estava arruinando a deles
também. E isso era algo que eu ainda deveria
considerar.

Dei ao motorista um endereço no Brooklyn que


não tinha razão pra eu visitar, e pedi que ele abrisse
as janelas para que eu pudesse respirar o ar não
reciclado.

Um pouco depois, paramos em frente ao prédio


de Judith. Sua janela da sala estava aberta, como eu
sabia que estaria. Toda a personalidade de Jude era
convidativa. Sua generosidade e gentileza diziam
entre, e eu queria pisar em seu território e conquistar
cada centímetro de sua vida. Sentei-me no táxi e
olhei para a janela dela, percebendo que estava
agindo como um idiota e não dando a mínima para
isso. A lâmpada amarela barata de sua entrada
tremeu e, como ela morava no andar térreo, pude ver
que havia uma pequena mesa posta para o jantar,
com uma saladeira, massa e pão de alho. Básico, mas
eu sabia que teria um sabor melhor do que o sushi de
atum que eu teria no jantar.

—Senhor?— O motorista limpou a garganta.

Eu coloquei mais algum dinheiro em sua mão sem


notar o quanto era.

—Mais alguns minutos.

Eu passei de estranho e obcecado, e trilhei o


território da ordem de restrição.

—Claro.

Você provavelmente deveria pegar o telefone e


reportar isso, cara.

Eu iria. Num piscar de olhos.

Cinco minutos depois, Robert entrou na sala de


jantar, acomodando-se lentamente em sua cadeira.
Ele ainda parecia frágil e mais velho que seus anos,
mas ele tinha um sorriso no rosto. Menos de um
minuto depois, Judith apareceu vestindo um casaco
azul e branco dos Yankees e minúsculos shorts de
cintura alta. Suas pernas eram bronzeadas,
musculosas e gloriosas. Ela estava rindo e
amontoando macarrão no prato de seu pai. Ele tossiu
e ela parou de rir, aproximou-se do assento e
esfregou as costas.

Ele pegou a mão dela na sua, olhou para cima.


Eles compartilharam um sorriso.

Seus lábios se moveram. — Eu estou bem, JoJo.


Mesmo. Estou bem.

Ela abriu duas cervejas e as despejou em copos


altos, seus lábios se movendo, sorrindo. Ela estava
cantando.

Eu desviei o olhar, porque não esperava sentir o


que sentia, como se eu a quisesse, a invejasse e
tivesse pena.

Queria ela, porque ela era feita sob medida para


mim.
A invejava, porque ela tinha uma família real, ou
o que restou dela.

E senti pena, porque não conseguia me deixá-la ir


e não eu não sentia amor.

Apenas sentia ódio, raiva e vingança.

Uma coisa era certa, Judith Humphry e Lily Davis


não eram cortadas do mesmo tecido, e eu queria usar
apenas uma delas.

Uma garota me desarmou, a outra me fodeu e


acabou.

Uma garota era leal, a outra superficial e vazia.

Uma reinvindicava que ela era minha, mas era a


outra que eu queria possuir.
—Precisamos conversar.—Entrei no escritório de
Célian, quando o relógio bateu às nove da manhã.

Brianna, que estava esperando em uma linha


invisível perto de sua porta para vê-lo, agarrou seu
iPad ao peito e me encarou com um alarme absoluto,
quando me viu avançar em direção ao seu escritório e
entrar sem bater. Célian já estava atrás de sua mesa,
tomando um dos três cafés da manhã, mastigando o
chiclete de menta e folheando os jornais diários, sem
me dar uma olhada. Ele usava sua indiferença como
armadura lascada, um cavaleiro branco com uma
alma muito escura.
—Discordo, mas você já está aqui, então você
pode muito bem falar.

—Primeiro de tudo, você sabia que Brianna está


esperando por você lá fora?— Eu joguei um polegar
por trás do meu ombro, levantando uma sobrancelha.

—Eu sei, e ela pode bater.

—Ela está com medo de você.

—Você seria sábia em fazer o mesmo—, ele


chicoteou, ainda não olhando para cima para
encontrar o meu olhar. —Você está aqui para falar
sobre Brianna, senhorita Humphry?

Maldito seja ele. Ele soava como Harvey Spectre


na velocidade, apenas mais cruel e dez vezes mais
bonito. Se Célian encontrasse o cavalheirismo em um
beco escuro, ele o espancaria até a morte, depois
encontraria sua irmã generosidade e a mataria
também.

—Eu vim aqui para te dizer que descobri e estou


chateada.
—Explique e me salve a ambiguidade.

—Você é precioso demais para contato visual?


Isso agora é salvo para os momentos em que estou
me contorcendo em baixo de você, e você quer me
ver vulnerável?

Eu não pude acreditar que as palavras saíram da


minha boca tremula. Eu olhei para trás. Brianna não
estava mais no corredor. Ufa.

Célian arrastou o olhar para cima lentamente,


seus olhos azul-cobalto ainda mais gelados naquele
dia quente.

—Fazer. O quê?— Ele destacou cada palavra.

—Eu sei que você pagou a conta médica do meu


pai. Tudo isso. Você não é meu cafetão, Célian. Eu
aprecio suas boas intenções, mas não preciso de
ajuda. Eu não sou uma donzela em perigo. Eu não
preciso de ninguém para me salvar.
Eu não quero que você tenha pena de mim. Eu
não quero que você olhe para mim como algo menos
que um igual. E eu não quero que você seja noivo. Na
verdade, eu particularmente não quero que você seja
noivo e pague pelas minhas coisas. Isso me faz sentir
como a outra mulher.

Essas eram todas as coisas que eu queria dizer,


mas sabia que nunca faria. Não era culpa de ninguém
a não ser minha, que eu concordei em ser colocada
nessa posição, ou que eu ainda o ansiava como uma
drogada, mesmo que ele fosse uma droga que
pudesse me matar.

Ele se recostou em seu assento, seus dedos


indicadores tocando.

—Você tem alguma maneira de provar que fui


eu?— ele perguntou.

Ele estava brincando comigo? Não havia outros


suspeitos. O dinheiro não tinha simplesmente caído de
uma árvore, diretamente no largo buraco negro
chamado minhas dívidas!.

—Você realmente vai jogar essa cartada?— Eu


cruzei meus braços sobre o peito.

Ele encolheu os ombros.

—Não há muitas cartas que eu possa jogar. Eu


vou pegar o que puder conseguir.

Eu ri, apesar de ainda estar furiosa. Ele era bobo


e charmoso quando queria ser. Infelizmente, na
maioria das vezes ele estava contente em ser um
idiota.

—Agora eu sinto que devo a você, e eu odeio


isso.

—Não. Eu não paguei sua dívida médica e


estudantil porque estou fodendo você. Eu paguei para
não foder você.

—Você pagou meu empréstimo estudantil


também?— Meus olhos estavam prontos para sair de
suas órbitas e rolar no chão. Eu ainda estava ao lado
de sua porta aberta, tentando não ter um colapso
mental. Era lisonjeiro, mas também irritante, supondo
que eu precisasse dele para salvar o dia, que ele tinha
o poder de fazer com que meus problemas
desaparecessem como um fada padrinho pervertido.

Ele olhou para baixo, virando outra página do


jornal na frente dele.

—Você estava em uma bolsa integral e morando


em casa. Não foi uma quantia substancial.

—Para você—, eu cerrei. —Não é uma quantia


substancial para você.

—Coloque seu orgulho de volta, querida. Você


está se saindo um pouco ingrata e não é lisonjeiro.

—Foda-se, Célian.

—Por favor, me diga que é um convite.

—Eu te odeio!— Eu gritei na cara dele, batendo o


pé –batendo o pé de verdade– eu, uma mulher
adulta.
Ele olhou para cima e passou os olhos pelo meu
corpo em silêncio. Nossos olhares pararam nos meus
All Stars vermelho. Raiva, paixão, e guerra.

—Você odeia Agora?

Ele não tinha nenhum direito de se intrometer em


minha vida mais do que eu permiti, mais do que eu
tinha compartilhado de bom grado com ele. Eu não
compartilhei isso com ninguém. Havia uma razão pela
qual eu nunca lhe contara sobre minha dívida ou
minha vida familiar. Nem mesmo sobre papai.

Papai.

Meu sangue congelou em minhas veias. Não. Não


havia jeito. Ainda assim, eu precisava perguntar, só
para ter certeza.

—Você… você sabe sobre a situação do meu pai?

Ele se levantou da cadeira, pegou o casaco e


deslizou para dentro dele.

—Eu preciso de outra xícara de café para essa


conversa. Ande comigo, All Stars.
Eu segui atrás dele. Seus ombros largos eram
grandes o suficiente para carregar o mundo inteiro.
Ele gesticulou para eu entrar no elevador antes dele,
e no minuto em que as portas se fecharam atrás de
nós, eu me virei para ele.

—Você sabe sobre o meu pai, não sabe?

Eu não sabia por que isso me incomodava tanto.


Claro, Célian era rico, bem sucedido e predominante,
mas aos meus olhos, ainda estávamos no mesmo
nível, tão louco quanto parecia.

Ele agora me oferecia sua simpatia, mas eu o


rejeitei, querendo jogá-la de volta em seu rosto. Eu
não tinha vergonha da doença do meu pai. Eu só
queria que coubesse a mim decidir quando e onde eu
contaria às pessoas sobre isso, se eu contaria a elas
sobre isso.

—Eu sei—, ele disse sem emoção.

—Por favor, não me diga...— Eu cobri minha boca


em concha.
Não que isso fizesse alguma diferença. Meu pai ia
continuar com o tratamento experimental, mesmo
que eu tivesse que doar um pulmão em
funcionamento para que isso acontecesse. Mas eu não
queria que fosse verdade. Não queria saber que é isso
que nós éramos, Célian e eu. Uma repórter novata do
Brooklyn com um bom par de mamas e um chefe
papaizinho, que estava prestes a se casar com outra
pessoa, e por minha culpa, comprou seu caminho
para o afeto dela.

Eu era oficialmente a amante, silenciada por


coisas bonitas e brilhantes, por dinheiro, por um
programa de saúde e um bom emprego fixo. Um
papel que nunca aceitei.

O desequilíbrio de poder era agora pessoal,


degradante e real. Eu estava em dívida com um
homem com quem eu estava dormindo, não importa
como tentássemos girá-lo.

Um homem que estava tomando mais e mais


espaço em minha vida, conquistando terras em meu
coração sem reivindicá-las. Sem povoá-las. Sem
alimentá-las.

O elevador se abriu e eu saí primeiro. Eu estava


desesperada para colocar uma certa distância entre
nós, para que ele não visse como eu estava frustrada,
como o meu rosto corava de vergonha, como eu
sentia todo o meu corpo ficando rosa.

Eu o ouvi gemendo atrás de mim. Eu olhei para


baixo e percebi que estava usando um vestido de
bainha cor de pérola conservador, que estava justo
em volta da minha cintura e, provavelmente,
destacava minha bunda.

—Gosta do que vê?— Eu cerrei sarcasticamente.

—Ficaria melhor com minhas marcas de mão por


cima. Você vai parar de correr?

—Você vai se explicar?

Eu abri a porta do prédio, e estávamos na calçada


movimentada, de frente um para o outro, bloqueando
o trânsito humano do centro, parados ali como duas
estátuas.

Ele passou a grande palma da mão sobre o rosto


e, pela primeira vez desde que o conheci, parecia um
pouco afetado. Eu não deveria ter me sentido tão
triunfante por ser aquela que colocou a agitação lá,
mas eu estava.

—Não é desse jeito.

—Então me diga como é.

—Eu não paguei porque te queria feliz, contente


ou de joelhos.

—Mesmo? Você sabia que a mãe de Jessica tem


Alzheimer? Você ajudou ela? E quanto a Brianna, sua
assistente? Você pagou sua dívida de empréstimo
estudantil? Ah, deixe-me adivinhar. Elijah, com quem
você fala com muita frequência, também não recebeu
um grande bônus este ano, então ele poderia ajudar
seus pais com a reforma da sua casa.
—Como você sabe todas essas coisas?— Ele
franziu a testa.

—Eles são meus colegas, meus novos amigos e


eu falo com eles.— Eu joguei meus braços no ar. —
Talvez você devesse fazer isso algum dia. Realmente
faça um esforço. Seja legal.

Sua mandíbula ficou tensa e trancada de raiva, e


eu percebi que tinha duas opções.

Sair de lá ou dar um tapa na cara dele, um


tratamento que ele mereceria de forma justa e
honesta. Eu escolhi a opção que não me aterraria em
água quente com o RH. Eu me virei e atravessei a rua
em direção ao Duane Reade do outro lado.

A luz estava verde, mas os motoristas de Nova


York estavam sendo... bem, motoristas de Nova York.
Um táxi roxo parou, guinchando a três centímetros de
mim e cuspindo uma nuvem de fumaça negra. O
cheiro de borracha queimada encheu minhas narinas,
e antes que eu soubesse o que estava acontecendo,
eu estava no chão.
Protegida pelo corpo de Célian.

Tudo dele.

Em cima de mim.

Na faixa de pedestres quente e pedregosa.

Eu me contorci contra seu corpo duro, balançando


meus punhos e batendo em seu peito por instinto. Eu
estava com raiva. Tão brava. Além da razão, crença e
lógica.

Outra garota pode se sentir feliz por ser salva -


tanto pelo dinheiro de um homem quanto por seu
próprio corpo. Mas não era apenas minha dívida, ou
papai e Célian mentindo para mim. Foi o fato de eu
ter começado a realmente querer cuidar dele,
sabendo que nunca poderia tê-lo. Não de verdade.

—O coração é um caçador solitário, Jude.—

Não, não, não é mãe. É a presa e Célian está


cavando suas garras profundamente.

—Saia de cima de mim—, eu fervi.


Suas narinas se dilataram, mas ele fez o que eu
disse, me oferecendo a mão depois de deslizar de
volta para seus pés. Eu peguei, ainda desorientada de
ser sido jogada no chão por ele. As pessoas se
reuniram em torno de nós na calçada, observando.
Célian deu um soco no capô do táxi, amassando em
forma de punho.

Eu gritei. Deste ângulo, parecia que ele poderia


ter quebrado todos os ossos da mão, mas se doía, ele
não demonstrou. Seu rosto voltou a ser
assustadoramente vazio e sem emoção.

—Ei cara! Que diabos!— O taxista enfiou a cabeça


para fora da janela, acenando com a mão em punho
em nossa direção.

—Inferno é o que estou prestes a soltar em sua


bunda. Você tinha um sinal vermelho e quase
atropelou minha funcionária, então eu marquei seu
carro. Se você tiver algum problema com isso, você é
bem-vindo para conversar com a equipe de
advogados que ocupam um andar inteiro no meu
prédio.
O motorista não disse nada, colocando a cabeça
no táxi e xingando baixinho.

Célian parecia prestes a explodir, e eu tive que


puxá-lo para um beco entre dois prédios e jogá-lo
contra a parede, apertando seus ombros. Sua
respiração era dura e lenta, como o se o simples ato o
machucasse.

—Você está bem?— Eu perguntei.

Ele inalou profundamente pelo nariz e balançou a


cabeça.

—Você está?

—Sim. Ele não me acertou, Célian.

O táxi não teria me atropelado mesmo sem a


ajuda dele. Eu sabia que Célian tinha acabado de ter
uma reação automática, após o que ele tinha passado
com Camille, e me senti horrível por minha falta de
sensibilidade. A luz estava verde, então eu estava
acabada.
—Faça um favor a si mesma e olhe para a
esquerda e direita antes de atravessar a porra da
rua—, ele sussurrou em aborrecimento, de repente
parecendo envergonhado e perturbado.

Sua armadura caiu no chão, e eu o vi pelo que


ele era, cru e incrivelmente atormentado com o que
tinha acontecido com sua irmã, quebrado por seu
relacionamento com seu pai e noiva, perdido em um
mar de pessoas que admiravam e olhavam para ele,
mas sempre estava com muito medo de mostrar-lhes
amor verdadeiro.

—Você queria salvar minha vida.— Eu segurei sua


bochecha, sem saber se deveria, mas não me
importando muito também.

Ele colocou a mão sobre a minha e examinou-me


sob os cílios grossos, sua garganta balançando
enquanto ele engolia. Seu pulso desacelerou sob o
seu terno sob medida, e agora estávamos respirando
em sincronia. Era imprudente tocá-lo em qualquer
lugar, exceto a portas fechadas, mas não pude evitar.
Seus olhos eram gelo esmagado, bonito, azul e
manchado.

Ele apertou meu queixo entre os dedos e trouxe


minha boca para a dele.

—Não se ache tanto, querida.

Ele segurou meu peito sobre o tecido do meu


vestido e apertou, me lambendo implacavelmente
sem aviso. Minha boca se abriu e aceitou a invasão.
Eu passei meus braços em volta do seu pescoço, me
esfregando contra ele e sabendo que isso não era
suficiente, nem perto disso. Eu queria me livrar de
nossas roupas, nossas roupas íntimas, nossas
inibições. Eu queria me despir até o último item do
meu corpo, depois contar todos os meus segredos a
cada estocada, beijo e mordida.

E eu queria fazer essas coisas não porque ele me


salvou duas vezes, mas pelo contrário, porque pela
primeira vez desde que o conheci, reconheci que ele
precisava ser salvo.

De si mesmo.
Ele se desconectou de mim, segurando minha
mandíbula entre os dedos e me encarando com seu ar
habitual de privilégio, grosso e pesado, nublado pela
luxúria.

—Oito horas. Um táxi estará esperando lá


embaixo. Você vai usar o mesmo vestido sem sutiã ou
calcinha. Você será minha esta noite. Você não vai me
responder, apenas me deixe te foder do jeito que eu
quero, não porque eu paguei por sua merda, mas
porque nós dois precisamos de uma distração. Para
cada resposta atrevida que você me der, eu vou dar
um tapa na sua buceta. Para cada não que eu ouvir,
vou negar-lhe um orgasmo. Fui claro?

Eu balancei a cabeça, deixando cair meus olhos


para os meus sapatos. Eu amei essa parte. Sendo
dele de uma forma privada, doente e torturada.

—Bom. Agora vai me conseguir uma porra de


uma matéria.
Ela Conseguiu!

Ela me deu a mãe de todas as matérias.

—O vice-presidente, Brendan Creston, fez o quê


?— Kate borrifou o café por todo o iPad na sala de
conferências.

Judith Humphry era uma ambiciosa pequena All


Stars. Ela administrava a carga de trabalho de duas
pessoas. Sempre que alguém tinha um contato ou
uma dica que não queria perseguir, porque eles eram
muito preguiçosos, muito ocupados, ou simplesmente
não tinham certeza se isso resultaria em um beco sem
saída, eles jogavam em sua direção.

—Brendan Creston vazou esses e-mails


comprometedores—. Jude assentiu, digitando em seu
laptop. —Agora as pessoas estão dizendo que o
presidente sabia, e que eles deveriam ser vazados. Se
for verdade, é uma mudança de jogo.

—Como descobrimos?— Elijah coçou a cabeça.

—Grill o porta-voz.— Os olhos de Jude brilharam.

Eu vi o jeito que Elijah olhava para ela, e eu não


gostava disso. Era da mesma forma que eu olhava,
como uma bolada que ele estava ansioso para
acertar, quente, inteligente, ambiciosa e compassiva.

—Jude, você é natural.— Kate bateu na mesa.

Jessica gritou ao lado de Phoenix, e outro


repórter do sexo masculino ao lado de Jude abaixou a
mão dela. Todo mundo estava torcendo para a nova
garota.
E eu fui o único a foder com ela, inclusive na sua
buceta.

—Tudo bem, não vamos engraxar nossas calças,


porque Judith pode ler mensagens de texto e seguir
pistas simples.— Acenei todos de volta ao trabalho.

Quatro horas depois, encerramos um dos


noticiários mais ultrajantes que já havíamos
produzido, com o nome de James Townley explodindo
no Twitter, como se ele tivesse uma fita de sexo com
três estrelas da NFL e um palhaço de circo.

Todo mundo falava sobre o #LeakGate.

Coincidentemente, o último andar da LBC nunca


foi mais silencioso.

Eu sabia que Mathias tinha levado Jude à minha


redação para mexer na merda, e em uma reviravolta
do destino, não só ela ficou imune ao seu novo
charme de rico, mas também deixou notícias de dar
água na boca à porta do meu escritório todos os dias,
uma felina leal.
Certo que conhecendo meu pai, eu sabia que com
certeza, ele tinha mais truques na manga para tentar
cagar todo o meu progresso na LBC.

Quando voltei para casa, marquei um táxi para


Judith. Normalmente, eu não falava com as pessoas,
mas não podia exatamente pedir a minha assistente
que enviasse minha repórter de volta ao meu prédio.
Eu ainda tinha tempo para queimar, então fui até a
academia do prédio, esmurrei o saco, sentei na sauna
e depois tomei um banho. Coloquei um par de jeans
escuros e uma camisa branca com decote em V e
decidi que não queria que Jude estivesse com fome,
irritada ou distraída quando eu profanava seu rosto e
sua bunda, então imaginei que seria do meu interesse
alimentar ela antes que eu fizesse meu caminho nela.

Essa era a minha linha de pensamento, enquanto


eu entrava na minha rua bem iluminada.

Chinês? Não estava afim de bafo de algas em


todo o meu pau e lençóis.

Indiano? Alergias a nozes em potencial.


Grego? Você nunca poderia errar com comida
mediterrânea, mas Lily costumava reclamar que o
lugar levava um maldito ano para ser entregue. Eu
brevemente entretive a ideia de enviar mensagens de
texto para Jude e perguntar, mas descartei isso
imediatamente. A última coisa que eu precisava era
que ela pensasse que era um encontro.

Em vez disso, andei os dez minutos extras até o


restaurante italiano mais próximo e pedi cada prato
de massa no cardápio. Eu a vi comendo na noite
passada, no que certamente não foi um dos meus
melhores momentos, então ela não deve ser uma
daquelas garotas sem glúten, sem farinha, sem
carboidratos, sem alegria. Não importa que eu
estivesse a par desta informação porque
aparentemente, eu poderia adicionar perseguição à
minha lista de atributos.

Aliás, pegar comida para Lily era como fazer uma


cirurgia cardíaca em uma água-viva.

Quando cheguei à minha rua carregando as


sacolas de comida, Judith já estava de pé na entrada
do prédio, batendo o pé e acenando para o que quer
que estivesse ouvindo em seu telefone.

O que você está ouvindo, All Stars?

Eu mexi meu pulso e olhei para o meu Rolex.


Trinta minutos. Levou trinta minutos para conseguir
comida, durante os quais ela estava esperando do
lado de fora da porta do prédio. Eu não tenho que me
perguntar por que ela não ligou. Meu telefone estava
em silêncio. Os jornalistas verificam seus telefones
uma vez por minuto, então tolerar o ping adicionado
de todas as mensagens e e-mails era puro
masoquismo.

No minuto em que Judith me viu, ela balançou a


cabeça e virou na outra direção, afastando-se de mim.

—Você é um porco.

Então eu espero que você goste de bacon, porque


eu estou no menu hoje à noite, All Stars.

Eu não me incomodei em me defender. Eu era


muitas coisas, mas não mentiroso. Além disso, ela era
ainda mais linda quando estava brava - com os lábios
rosados e os cílios louros escuros e tudo compacto.
Ela estava no meio do meu quarteirão quando ela se
virou e voltou para mim, como se tivesse lembrado de
algo. Sua careta se transformou em uma expressão
de espanto.

Eu parei na frente dela, minhas palmas voltadas


para fora, as sacolas plásticas brancas penduradas
nos meus dedos pingando azeite.

—O que há nas caixas?— Ela projetou o queixo


para a comida.

—Partes de um corpo.

—Sempre um encantador.

—Você pode perguntar isso de novo, mas


dramaticamente, à la Brad Pitt em Seven ?

Eu esperava que ela revirasse os olhos para mim


como a Lily fazia, toda vez que eu a provocava por ser
excessivamente dramática.
Em vez disso, Jude se virou, me dando as costas,
depois girou teatralmente.

—O que há nas caixas!— Ela fingiu apontar uma


arma para mim e, pela primeira vez em anos, sim
anos, eu realmente ri. Porra rachei em gargalhadas.
Parecia estranho no meu rosto, no meu peito, nos
meus pulmões.

—Italiano.

—Bléh. Decepcionante.— Mas o sorriso dela não


vacilou.

Ela realmente queria uns tapas na buceta com


toda essa gracinha.

Larguei uma das sacolas para digitar o código de


segurança. Ela pegou como se fosse a coisa mais
natural do mundo. Lily teria morrido nas mãos de
sádicos, antes de me ajudar a levar comida para
viagem.

Falando em Lily, enquanto caminhávamos em


direção aos elevadores, considerei que minha ex
poderia estar aqui, passando por outra visita
indesejada. Ela sabia que eu estava vendo outras
pessoas, mas eu nunca fui tão longe quanto trazer
alguém para o meu apartamento.

Judith no entanto, não era apenas uma foda. Ela


era a foda. Eu poderia mantê-la por anos, se não
fosse pelo fato de que garotas como Jude nunca
aceitariam isso. Este era um lapso no seu julgamento.
Ela gozaria no meu pau, e então ao redor, e então
perceberia que ela merecia algo muito melhor.

No andar de cima, rasgamos as sacolas e


comemos macarrão e pizza diante das notícias,
trocando pensamentos e opiniões. Depois que ela
comeu seu peso em carboidratos, Jude perguntou
onde era o banheiro. Eu apontei para o final do
corredor, em seguida, juntei todos os recipientes
vazios e sacos, jogando-os no lixo. Eu encarei minhas
mãos. Ainda estavam tremendo com o incidente do
táxi naquela manhã.
Eu tomei uma dose de vodka, seguida de um
Advil. Então percebi que o chuveiro no banheiro
principal havia sido ligado.

Que porra é essa?

Eu segui descalço pelo corredor, batendo na


porta.

—Tudo bem?

—Sim!— ela gritou. —Bem. Ótimo. Esplêndido.


Vou pensar em mais sinônimos em um segundo.

—Você está tomando banho?— Era fora do


personagem de Jude fazer qualquer coisa sem
permissão. Ela era direta como um governante, e foi
por isso que curvá-la era meu passatempo favorito.

—Na realidade…

—Vou me juntar a você.— Tinha havido muita


comida e conversa, e eu ainda não havia fodido esta
noite, e acho que ela tinha tido sua cota de comida e
bebida.
Eu estava fantasiando sobre empurrar meu pau
entre as suas pernas a cada minuto durante o nosso
dia de trabalho. Esperar mais tempo era inútil.

—Eu prefiro que você não faça.— Ela limpou a


garganta.

Um sorriso lento se espalhou no meu rosto.

—All Stars, você está...?

—Não!— Ela gritou, derrubando alguma coisa.


Um shampoo, talvez. —Claro que não. Jesus Cristo.
Eu nunca…

—Daria uma cagada? Sim, você daria. Caso


contrário, você morreria de constipação. Diga-me por
que você não pode abrir a porta ou eu vou derrubá-la.
Ela desligou a água e a ouvi arrastando-se pelo
banheiro antes de abrir a porta. Seu vestido estava
amontoado em volta da cintura e ela estava
gloriosamente sem calcinha. Ela olhou para mim com
o rosto vermelho-morango, os seus lábios de arco de
Cupido pressionados em uma carranca que eu não
deveria ter achado tão adorável.
—Precisa da sua fralda trocada?— Eu inclinei um
ombro contra o batente da porta. Ela era um pouco
mais nova que eu, mas não o suficiente para eu dar a
mínima.

Seus dedos se juntaram e ela olhou para eles.

—Eu só queria ter certeza que eu tinha me


refrescado lá em baixo... antes de você...

Foi a segunda vez que ri hoje, e isso deve ter sido


algum tipo de recorde. Meu corpo estava rejeitando o
riso, eu juro, porque eu realmente tossi.

—Continue. Termine a sentença.

—Bem, caso você queira… não sei, fazer oral. Foi


um longo dia. Eu não queria cheirar mal.

Eu dei um passo para dentro e segurei as duas


bochechas dela, inclinando o seu rosto para cima para
olhar para mim. Seus olhos eram um tom selvagem
de avelã, verde e de repente, cinza esterlina. Como se
o universo tivesse se envolvido em torno de suas
pupilas - como lagartos, na verdade. Ela mordeu o
lábio inferior e olhou para a minha boca.

—Eu te chamei aqui, porque eu quero comer sua


boceta e foder seu cérebro. E quero que sua boceta
cheire e tenha gosto de boceta, não de sabão.

Sua língua passou sobre o lábio inferior, cor de


rosa, perseguindo cada vez mais sua pele enquanto
seu rubor se aprofundava.

—Você fala sujo.

—Eu fodo ainda mais sujo, criança. Agora, se


você quiser tomar um banho, você é bem-vinda. Mas
primeiro preciso da minha sobremesa.— Eu segurei
sua boceta nua, minha palma pressionada contra seu
monte, meus dedos já tocando sua entrada. Minha
outra mão envolveu sua cintura e puxou-a para o meu
pau duro. Ela estremeceu contra o meu corpo
enquanto as almofadas ásperas dos meus dedos
arrastavam ao longo de sua fenda, pingando como
mel.
—Encharcada—, eu assobiei em sua boca,
beliscando seu clitóris, em seguida, mergulhando três
dedos dentro dela e enrolando-os para bater em seu
ponto G. —E deliciosa.

—Jesu...— ela começou, então fechou a boca.

Eu levantei uma sobrancelha em questão. Ela riu,


mordendo o lábio novamente.

Um dia eu vou morde-los por você, All Stars.

—Eu prometi a Jesus que eu pararia de usar o


nome dele em vão, quando você e eu estivermos
juntos.

—Você é uma garota estranha, Judith Humphry.

—Mas uma boa cristã.— Ela piscou.

Ela não ia ficar comigo por muito tempo, e eu


sabia disso. Algum idiota que estivesse disponível,
bonito, e não fodidamente noivo, ia levá-la embora. E
eu não seria capaz de dizer nada sobre isso, porque
eu era prometido para outra. Eu mergulhei meus
dedos em sua boceta novamente e trouxe-os aos
meus lábios, provando-a.

—No chuveiro—, eu rosnei.

Ela subiu os elegantes degraus de pedra cinza até


a porta do box de vidro e abriu-a. O chão era feito de
pedras reais, e ela balançou os dedos dos pés com a
textura estranha, uma risadinha escapando de seus
lábios. Eu morava em um apartamento de três
quartos, na parte mais cara da cidade, enquanto ela
lutava para pagar as contas, que estavam numa caixa
de sapatos de merda, em um bairro promissor. No
entanto, esta foi a primeira vez que ela reagiu a
qualquer uma das merdas extravagantes no meu
apartamento.

Ela olhou para mim com expectativa, imaginando


se eu iria me juntar a ela. Eu enfiei uma mão no meu
jeans e me encostei na pia.

—Tire seu vestido.

Ela fez. Ela usava um sutiã de algodão simples


por baixo. Seu primeiro erro.
Eu apertei meu pau através da minha cueca
preguiçosamente.

—Eu disse sem sutiã. Essa será sua primeira


bofetada na boceta. Ligue o chuveiro.

Ela fez, com os dedos trêmulos. Ela desligou o


pulverizador e apertou-o contra os seios e o
estômago, fechando os olhos e apreciando as
correntes quentes de água.

—Mais baixo—, ordenei.

Ela baixou o pulverizador para o umbigo.

—Eu não me testaria, All Stars.

Ela gemeu, deslizando-o para baixo e apertando-


o contra sua boceta doce e apertada, que era na
maior parte raspada, apenas uma faixa de
aterrissagem de pêlo loiro e baixo, que levava ao meu
destino final.

Meu pau latejava, doendo com necessidade


primal, e agora eu estava completamente acariciando
a mim mesmo, fascinado por quão diferente ela era
no escritório, do que quando nós transamos.

—Dentro.

O pulverizador era menor do que um iPod, porque


eu tinha oito deles neste chuveiro, apontando de
diferentes direções. Ela poderia facilmente encaixá-lo
em sua boceta e até mesmo tomar alguns dos meus
dedos também.

Ela olhou para mim desafiadoramente, seus


mamilos se franzindo em pedrinhas.

—Não—, ela gemeu.

—Essa será sua segunda bofetada na boceta.

Jude sorriu. Eu sabia que ela iria gostar, mas eu


esperava que ela ficasse mais envergonhada com
isso. De qualquer forma, essa garota criadora-de-
playlists-e-manchetes-sujas iria ser fodida extra duro
hoje à noite.

—Coloque-o agora, ou você vai ter mais


surpresas que eu não tenho certeza se você já está
pronta para ter—, eu disse, apertando meu pau até
que ele empurrou de volta na minha mão
involuntariamente, implorando por liberação.

Estou trabalhando nisso, Júnior.

Jude colocou o pulverizador em sua boceta e


estremeceu com a invasão.

—Agora se foda com isso, e me implore para ser


o único a fazer isso pra você.

Ela moveu o pulverizador para dentro e para fora,


tremendo com o prazer do fluxo rápido que cobria
suas paredes, e eu estava prestes a morrer aqui
contra a pia e deixá-la herdar toda a minha merda. A
menina era uma leoa no trabalho e um cordeiro na
cama, a combinação perfeita para um predador como
eu. Eu queria lutar com ela quando estávamos no
escritório e transar com ela quando estávamos em
qualquer outro lugar. Mas era a parte intermediária
que me preocupava. Porque eu queria monopolizar
cada segundo de sua vida, mesmo quando não
estávamos juntos.
—Oh, Deus—, ela gemeu.

— Célian —, eu corrigi. —Chame pelo meu nome.


Diga-me o que você quer que eu faça. —Eu quero que
você me foda.— Ela choramingou em seu próprio
ombro, apertando os olhos, o orgasmo se formando,
fazendo as pernas tremerem. Eu gostaria de não ser
um bastardo nesse momento.

—Pare.— Mas eu era.

—O-o quê?— Ela gaguejou, ainda se masturbando


com o pulverizador.

Eu estava tão duro agora, que mal conseguia


pensar com clareza. Todo o meu sangue tinha corrido
para o meu pau, e se você tivesse me perguntado
pelo meu próprio nome eu teria tido problemas para
responder.

—Pare agora.— Um grunhido rouco deslizou entre


meus lábios.

Ela abriu os olhos, confusa, mas lentamente


removeu o pulverizador de sua vagina.
—Desligue e vá para o meu quarto. Não se
seque.— Eu me virei e fui embora.

Eu me sentei na beira da minha cama,


empurrando minhas mangas e batendo na minha
coxa. Ela apareceu na minha porta segundos depois,
pingando água por todo o chão, o cabelo molhado e
os olhos arregalados, enquanto examinava meu
quarto preto e cinza com detalhes acinzentados e, o
edredom de seda dourada. Maman o trouxera de sua
última viagem a Paris. Sua amiga Isabelle tinha me
mandado de presente, e minha mãe estava prestes a
desmaiar de tão orgulhosa de seu filho maravilhoso,
que deixou uma impressão tão grande em sua amiga
todos aqueles anos atrás, quando nos visitou em
Nantucket

Eu poupei da minha mãe o fato de que Isabelle


gostava tanto de mim, porque ela bateu minha cereja
quando eu tinha quatorze anos, enquanto elas
estavam bêbadas e mamãe tropeçava para ter certeza
de que Mathias não estava mais fodendo com as
empregadas. Essa era a minha vida. Uma grande
bagunça colossal.

—No meu colo.— Eu bati na minha coxa dura.

Ela começou a andar até mim, mas eu balancei a


cabeça gravemente antes que ela fosse longe demais.
—Rasteje.

Ela parou, hesitou, e me lançou um olhar feroz


que eu nunca tinha visto em seu rosto antes. Era de
alguma forma rebelde e submisso. Ela sabia que
deveria dizer não, mas seu corpo estava mais do que
pronto para obedecer.

—Isso não significará nada fora deste quarto. Eu


ainda sou seu igual, Célian.

—Eu nunca disse que você não era.

—Eu quero ter certeza de que você não acha isso


também. Só porque gosto de ser mandada na cama...

—Por mim—, eu a parei. —Você gosta de ser


mandada por mim. Não por qualquer filho da puta na
rua. De joelhos, Judith.
E lá estava, a mais bela vista conhecida pelo
homem, uma mulher letalmente atraente,
insanamente inteligente, implorando para ser fodida.
Ela se abaixou, avançando em minha direção de
joelhos, seus peitos pendurados entre os braços. Ela
parou, seu rosto nivelado com meu pau. Eu acariciei
minha coxa novamente.

—Acima. Com sua boca enrolada no meu pau e


sua bunda no ar.

Eu abaixei minha calça jeans e cueca, e observei


enquanto seus lábios se envolviam em torno do meu
pau, mal dando a minha circunferência. Eu bati na sua
bunda sem aviso prévio. Era brincalhão, mas ainda
fazia o truque. Algumas gotas de porra escaparam,
apenas pelo intenso prazer de tê-la lá, atendendo a
todos os meus caprichos, querendo tudo o que eu lhe
dava, incluindo a merda dolorosa que eu nunca
compartilharia com mais ninguém, muito menos com
um caso de uma noite.

— Hmmph —, ela choramingou baixinho, com a


boca cheia da minha ereção.
Só para ter certeza que ela gostou, eu deslizei
meus dedos em sua boceta e encontrei-a pingando
por toda a sua parte interna das coxas.

Sim. Bofetadas na Boceta e Jude eram a


combinação feita no céu do meu cérebro bizarro.

—Quando eu disser pra você se livrar do seu sutiã


antes de chegar aqui, você se livra do seu sutiã.

A próxima bofetada não era mais tão divertida,


mas ainda assim não se aproximava da merda
hardcore. Ela estava apenas se acostumando a mover
os lábios ao longo do meu eixo e segurando a base.
Ela gemeu no meu pau, e novamente eu desci minha
mão e peguei emprestado um pouco da umidade que
pingava ao longo de suas coxas e sobre o edredom
dourado, esfregando-a sobre sua bochecha da bunda
para aliviar a dor.

—E isso é por dizer a palavra não durante as


preliminares. O quê mais? Tenho certeza de que
podemos encontrar mais razões para puni-la se
tentarmos.
Ela tirou a boca do meu pau e olhou para cima,
sorrindo para mim com a boca tão inchada e vermelha
que eu não pude deixar de me esgueirar em um beijo
sujo.

—Um dia, quando você fez Brianna chorar, eu


escondi seu laptop na sala de conferências.

Tinha sido ela? Eu procurei por aquela coisa por


três horas.

Minha palma aberta pousou em sua bunda


novamente. Ela choramingou, seus joelhos tremendo
de luxúria, e o cheiro do sexo era tão pesado no ar
que ambos nos embriagamos.

Ela olhou de volta. Eu roubei outro beijo, meu


pau latejando entre as mamas dela.

—Às vezes, quando me masturbo sozinha, penso


em Noah do TI.

Eu não tinha ideia de quem era Noah do TI. Eu só


sabia que ele estava recém desempregado. Eu bati na
sua bunda novamente, e desta vez mordi o lóbulo da
sua orelha, não gentilmente, por um bom motivo.

—Dê-me seu nome completo—, eu rosnei.

Ela riu, jogando a cabeça para trás. —Não há


Noah no TI. Quero dizer, talvez haja. Mas eu não o
conheço.

—Me diga mais.— Comecei a reunir a umidade


em sua boceta e brincar com seu rabo. Desta vez,
acrescentei alguma pressão extra e deslizei meu dedo
indicador para dentro e para fora de vez em quando,
mantendo-a ocupada o tempo todo.

—Eu dei a um cara meu número no outro dia. Em


uma lanchonete, quando fui buscar café para Gray e
Ava.

Meu queixo se contraiu e eu bati na sua bunda


novamente.

—Não é engraçado.

—Não deveria ser.


Eu sabia que não havia nada que eu pudesse
fazer sobre essa informação, a não ser que estivesse
disposto a fazer algumas mudanças importantes em
minha vida. Eu coloquei dois dedos em seu traseiro e
ela ficou tensa ao redor deles. Eu já podia sentir o
quão perfeita ela seria quando meu pau grosso
estivesse enterrado no traseiro dela.

—Você está perdendo seu tempo. Ninguém pode


vencer isso e você sabe.

—Estou disposta a tentar—, ela gemeu,


empurrando sua bunda em direção a minha mão,
implorando por mais. Mais dedos. Mais pressão. Mais
nós.

Levantei-me e deixei-a cair na minha cama, de


cabeça. Eu bati na lateral da sua bunda e empurrei
meu joelho entre os tendões dela, sinalizando para ela
levantar no ar. Ela obedeceu, mordendo meus lençóis,
seus olhos apertados. Eu empurrei meu pau entre as
bochechas de sua bunda e amarrei suas longas e
onduladas mechas ao redor do meu punho, puxando
sua cabeça para que eu pudesse sussurrar em seu
ouvido.

—Você vai mudar o seu número quando


terminarmos aqui.

Ela riu eroticamente, o pescoço estendido, longo


e delicado. Eu soltei o cabelo dela para apertar só um
pouco, tocando seu ânus novamente para ter certeza
de que estava lubrificado o suficiente com seus sucos.

—Eu acho que vou dar uma chance a ele, na


verdade. Ele parece ser um cara legal. Disponível
também.

Eu empurrei para ela de uma vez, sabendo que


estava errado. Sabendo que era uma punição, não
uma recompensa, uma mistura de prazer, agonia e
culpa fazendo meu abdômen contrair contra o monte
de sua bunda. Ela era Minha. Com um M maiúsculo.

Não foi um pedido, um apelo ou a esperança,


mas um fato simples. Seus olhos confirmaram, seu
corpo cantou, e se ela pensou que eu estava no
negócio de compartilhar, ela obviamente precisava de
um lembrete dolorido que eu não estava.

Ela saiu do meu impulso, ficando de quatro, e


ronronou quando eu bati em seu rabo apertado, tão
incrivelmente confortável que eu podia sentir ele
ordenhando o orgasmo de mim com um aperto
parecido a de uma hera. Eu deslizei minha mão pelo
seu estômago para encontrar seu clitóris inchado. Ela
estremeceu debaixo do meu braço.

—Porra.— Eu mordi a ponta da orelha dela. —


Porra Judith, caralho. Ela gemeu, sua bunda
encontrando meus quadris de novo e de novo,
desafiando-me estocada para estocada, toque por
toque. Apenas mais um dia na redação. Eu me
empurrando. Ela puxando. Nós dois perseguindo o
sentimento que só o outro poderia dar.

Foda-se o cara que pegou o telefone dela. Foda-


se ele e todos os outros homens em Nova York.

—Eu preciso terminar com você—, ela murmurou


para si mesma.
Eu preciso ter você.

O corpo dela convulsionou embaixo de mim,


subindo e descendo cada vez mais no esquecimento,
e eu não pude evitar, eu tive que fazer isso, eu mordi
a parte de trás do pescoço dela como um animal -um
selvagem, um delinquente- envolvi a palma da mão
em torno da sua garganta, trazendo-a para cima,
então estávamos ambos de joelhos quando atirei
minha carga dentro de sua bunda perfeita, branca
como leite. Ela soltou um grito que ecoou dentro do
meu quarto quase vazio, quando nós dois atingimos o
clímax.

Alguns segundos depois, ela desabou na minha


cama, sem fôlego e completamente fodida. Eu caí ao
lado dela, de frente para a parede oposta. Minha
estratégia padrão pra evitar a conversar pós sexo e o
contato visual. Não era pessoal. Eu também fazia isso
para a Lily quando estávamos juntos.

Eu congelei, apenas virando para olhar para o


rosto dela, quando as palavras deixaram sua boca.
—Eu devo ir.

—Eu vou chamar um táxi.— Meu ego estava me


fodendo mais do que eu tinha fodido ela, e isso dizia
muito sobre a sua resistência.

—Está bem. Eu…

—Eu vou levar você.— Eu mudei de ideia.

Ela odiava que eu gastasse dinheiro com ela, mas


dar-lhe uma carona não custava nada. Claro, isso me
obrigou a mover meu carro da garagem pela primeira
vez em uma maldita década.

Ela assentiu com a cabeça solene. Eu nunca


realmente tive a ideia de ter uma mulher passando a
noite. A única vez que eu tinha dormido com uma
mulher no ano passado foi estranhamente, com Jude,
na suíte do hotel. Aquele dia foi diferente, porque eu
sabia que ela não queria voltar para onde ela deveria
estar e não levaria para o lado pessoal.

Além disso, mal tínhamos nos abraçado ou


sussurrado palavras doces no ouvido um do outro. Eu
tinha acabado de dormir, e quando acordei com uma
furiosa ereção e uma missão em mente para foder ela
ao coma, ela já tinha ido embora.

—Você sabe, eu peguei meu namorado me


traindo também.

Isso me fez sentir como se o mundo estivesse


acabando. Eu agarrei uma mecha de seu cabelo e
toquei. Ouro puro. Eu passei pela mesma merda,
talvez até dez vezes pior, já que o cara que estava
transando com minha garota era muito familiar para
mim.

—Foi?

Ela riu. —Eu ainda estou aqui, não estou?

—Não significa necessariamente merda nenhuma.


Você já falou com ele desde então?

—Não. Não desde aquela ligação. Eu tenho


tolerância zero para traidores. Ao contrário de
algumas pessoas que conheço.

Eu mereci isso.
—Você pode passar a noite.— Eu ignorei a fala
dela. —A viagem diária ao Brooklyn é besteira. Eu
posso te dar a chave reserva.

Eu estou fodidamente chapado?

O que tinha naquele macarrão?

Eu só tomei uma dose.

Ainda assim, eu não conseguia encontrar em mim


mesmo qualquer uma dessas palavras de volta.

Judith enfiou o cabelo amarelo atrás das orelhas e


passou os dentes brancos perolados pelo lábio
inferior. Ela parecia considerar isso.

Foi um alívio não se fechar imediatamente, já que


a sugestão em si era ridícula.

—Isso não é uma boa idéia.— Ela parou, ligou o


celular e checou a hora. Já passava das onze.

—Vou aceitar a carona de volta para casa, se


ainda estiver na mesa.

—Ainda está.
—Deixe-me pegar meu vestido e lavar meu
rosto.— Ela pulou da cama, toda negócios, como se
estivéssemos de volta ao trabalho.

Eu assisti sua bunda branca alegre balançando no


meu corredor.

Eu fechei meus olhos. Uma rajada de ar com o


cheiro de seu xampu e loção corporal acariciou meu
nariz, e eu respirei fundo, ganancioso.

Não é bom. Não é bom. Não é bom.

O telefone dela estava entre os lençóis, apitando


com novas mensagens de texto.

Brianna: Obrigado por me ajudar com a


apresentação hoje! Xoxo

Grayson: Se eu fosse um modelo da


Victoria's Secret, qual deles eu seria?
Ava: Vou fazer meu piercing no mamilo
neste final de semana. Me deseje sorte. Aquele
cara gatinho não ligou para você ainda?

Agarrei-o, peguei o cartão SIM e o dividi ao meio


antes de inseri-lo de volta no celular e esmagar a
coisa toda contra o chão.

Se esse cara quisesse Judith, ele teria que


procurá-la à moda antiga, entre os oito milhões de
habitantes de Nova York.

Boa sorte com isso, amigo.


Um dia, percebi que o rosto de papai não era
mais do mesmo tom pálido que a parede do banheiro.

Ele estava passando por algo chamado terapia de


transferência de células adotivas. Os tratamentos
eram invasivos e desconfortáveis, mas toda vez que
ele voltava para casa, sorria mais do que da última
vez. Ele ainda estava fraco. Ele ainda estava cinza.
Mas ele não falava mais como se estivesse pronto
para morrer, mas também envergonhado de deixar a
vida porque sabia o quanto eu precisava dele, e isso
fez meu coração disparar.
Passamos mais e mais tempo fora de casa,
pequenas viagens ao redor do quarteirão de braços
dados, admirando o festival de cores enquanto Nova
York explodia em pleno verão. Folhas verdes
sussurravam acima de nossas cabeças e crianças
descalças corriam pelo bairro, apontando mangueiras
umas para as outras e espalhando risadas selvagens
como confetes. Flores se desenrolavam de suas
camas sonolentas nas bordas das calçadas do nosso
bairro.

Eu ainda não contara ao papai que eu sabia sobre


Célian e pretendia continuar assim. Embora
estivéssemos cautelosamente otimistas, havia uma
boa chance de o tratamento não funcionar. Nesse
caso, eu sempre me culparia por confrontá-lo sobre
mentir para mim e tentar salvar a nós dois, quando
na verdade, eu deveria estar apreciando cada
momento com ele. Então eu escolhi fazer isso em vez
de começar uma briga.

—Você vai para a biblioteca hoje?— Papai


perguntou.
—Sim, eu preciso pegar algum material de leitura
para o trabalho. Por quê?

—Oh, recebemos um convite da Sra. Hawthorne


para assistir ao novo filme de Jack Nicholson. Ela está
fazendo ensopado irlandês. Mas é claro que você não
precisa vir.

—Eu vou passar. Eu acho que você vai se divertir,


de qualquer maneira.— Eu bati meu ombro contra o
dele, sorrindo brilhantemente.

—Não é o que você pensa.

—Você não sabe o que eu estou pensando.

Papai nunca namorou depois que mamãe morreu,


e não por minha falta de tentar juntá-lo com outras
pessoas.

Eu passei a maior parte da minha faculdade


tentando convencê-lo a se inscrever em sites de
namoro, antes que ele adoecesse. Eu estava
desesperada que ele fosse feliz, e nunca quis que ele
pensasse que ele não deveria ser por minha culpa.
—É realmente apenas um filme e jantar.

—Jantar? Eu pensei que era uma coisa de almoço.

Paramos na mercearia na esquina da nossa rua e


ele corou. Na verdade corou. Eu estava quase tonta
de excitação. Essa reação humana natural, mas em
sua pele pálida e doente, parecia um nascer do sol
glorioso.

—Não se preocupe, eu tenho outros planos para a


tarde. Como está o Milton?— Ele coçou a cabeça.

Certo. Milton. Fazia várias semanas desde que eu


tinha mencionado ele para o papai.

Então novamente, ele raramente arrastava sua


bunda para o Brooklyn, mesmo quando estávamos
namorando. Papai não era muito desconfiado, porque
eu trabalhava em horas loucas, ainda parecia que eu
mal estava em casa para passar um tempo com ele.
Eu não queria explicitamente mentir para ele, mas
essa mentira tinha ficado tão grande que parecia
quase criminoso ficar limpa neste momento.
Especialmente neste belo dia ensolarado, quando
estávamos felizes e sorrindo.

—Ele está bem, papai.— Eu o puxei para um


abraço. —Tomando nomes e chutando o The Thinking
Man.— Não é tecnicamente uma mentira. Nossos
amigos em comum, ficaram felizes em dar a notícia
de que Milton havia sido recentemente promovido a
editor júnior. Para eles, era mais um motivo para eu
descer da árvore do ego que subi e aceitá-lo de volta.
Para mim, isso era mais uma prova do fato de que ele
ainda estava dormindo com sua editora chefe.

Claro, eu não era suficientemente hipócrita para


apontar isso.

—Meu celular está quebrado no momento, então


vou ligar para você quando chegar à biblioteca pelo
telefone público. Vou tentar aqui e na casa da Sra.
Hawthorne, então, por favor, esteja disponível.
Duas horas depois, eu estava caminhando para o
metrô a caminho da biblioteca. Eu me vesti,
abraçando o fato de que não era um dia de trabalho.
Eu me sentia juvenil e imprudente em All Stars com
tema de caveira. O mundo parecia mais leve quando
você usava camisas de flanela, jeans rasgados e uma
bolsa mensageiro. Eu ajustei a alça sobre o meu
ombro, prestes a entrar na estação quando alguém
buzinou atrás de mim.

Revirando os olhos, continuei.

—Judith.— O tom de comando encontrou o


caminho direto para o meu núcleo, fazendo meu
estômago revirar com um calor delicioso.

Jesus Cristo, o que ele estava fazendo aqui?


Jesus: —Você não disse alguma coisa há algum
tempo sobre aparecer na missa dominical em algum
momento da próxima década? Talvez você possa levar
seu chefe boca suja e noivo com você.—

Eu me virei devagar, fingindo aborrecimento,


porque a alternativa estava mostrando a ele o quanto
eu me importava, o quanto me afetava vê-lo aqui. No
Brooklyn. Em um domingo. Tome essa, Milton.

Célian estava sentado em seu Mercedes-Benz


prata com uma camisa esportiva de mangas curtas
azul marinho, e seus Ray-Bans abaixados para me
examinar.

—O que você está fazendo aqui?— Eu estreitei


meus olhos. Eu não tinha falado com ele desde o
incidente do telefone. Nós tínhamos conversado sobre
negócios no escritório, mas toda vez que ele tentava
fingir que aquela noite não tinha acontecido, como se
ele não tivesse quebrado meu telefone só porque eu
tinha trocado números com algum cara aleatório em
uma lanchonete, ele se virava e ia embora.
—Você não pode continuar me ignorando.

—Tenho certeza que posso. Exemplo A: Esta


conversa.

—Eu sou seu chefe.

—Extamente, e você cruzou muitas linhas.

—Você poderia ter sido uma ótima advogada.

—Não está satisfeito com meu desempenho como


repórter?

—Pelo contrário. Como amiga de foda no entanto,


você faz um péssimo trabalho.

—Boa. Considere isso minha renúncia oficial.

Ele levantou a mão, acenando um novo celular.


Era o novo modelo que acabara de ser lançado e já
estava esgotado.
—Com doze capinhas em cores diferentes para se
adequar ao seu humor.— Ele me lançou seu sorriso
devastadoramente encantador. —Trégua?

—Nunca. Mas eu preciso de um telefone.

Este era um presente que eu estava disposta a


aceitar unicamente porque ele era responsável pela
morte prematura do meu telefone anterior. Foram
alguns dias difíceis sem um, mas eu não estava
exatamente nadando em dinheiro para comprar um
substituto. Eu tinha que chegar ao trabalho ainda
mais cedo e sair um pouco mais tarde para ter certeza
de que eu não era necessária, e em casa, eu checava
meu e-mail a cada meia hora.

Ele agarrou o novo dispositivo ao peito e o


apertou em resposta.

—Venha e entre aqui, All Stars.

Ele estava bloqueando o tráfego e alguém


buzinou atrás dele. Três, longas buzinadas.
—Você quer pegar o número dela, estacione
como um maldito homem e nos deixe passar!—
alguém gritou atrás dele.

Célian ignorou o cara completamente,


implacavelmente e estóico como sempre.

—Não, obrigada—, retomei minha caminhada até


o metrô.

Ele começou a dirigir devagar ao meu lado. Não


muito diferente de um esquisito. Revirei os olhos, mas
não pude deixar de sentir um pouco de satisfação com
a maneira como ele estava me perseguindo nos
últimos dias. Ele até desceu ao quinto andar para me
buscar do almoço com Ava e Grayson, murmurando
uma desculpa sobre uma reunião urgente, quando na
verdade, tudo o que ele queria era perguntar se
poderíamos nos ver naquela noite.

A resposta a propósito, tinha sido um grande e


gordo não.

—Eu quero te mostrar algo.— Seu carro estava


bloqueando uma longa fila de veículos agora.
—Você já me mostrou muita coisa—, eu
murmurei, secretamente gostando que as pessoas
ainda estavam buzinando para ele, e que pela
primeira vez em nosso relacionamento, ele era o
único fora de série.

—Tire sua mente da sarjeta. Eu quero dizer


geograficamente.

—Você gostaria de me deslumbrar com a sua


casa de menino-rico nos Hamptons? Mostrar-me outro
hotel chamativo que você possui?

Fiz gestos grandiosos com minhas mãos enquanto


caminhava.

Quatro anos. Você está agindo como uma criança


de quatro anos.

Isso não foi Jesus falando. Apenas eu.

—Na porra do carro, All Stars.

—Diga a palavra mágica.

—Meu pau.
Eu fiz um som de engasgo.

—Concordo. É anormalmente grande, mas não


ouvi nenhuma reclamação.

—A palavra mágica—, repeti.

— Por favor.— A palavra rolou de sua língua


como se estivesse em uma língua estrangeira.

—Opss! Ainda não.

Meu passo determinado diminuiu quando a sua


perseguição parou. Ele tinha desistido de mim? Eu dei
mais alguns passos antes de uma mão agarrar meu
pulso. Eu olhei para cima. Ele estava sorrindo
sombriamente, as sobrancelhas grossas juntas.

—Grayson estava certo. Isso é sequestro... —eu


disse, quando Célian me puxou para o seu carro.

Ele estacionou no meio da rua, bloqueando


aproximadamente treze carros agora, todos eles
buzinando. Alguns tentaram reverter e sair da
estrada. Dizer que Célian não dava a mínima, não
seria exagero.
Entrei no carro dele e coloquei o cinto de
segurança, principalmente porque não queria que
alguém colocasse uma bala na cabeça dele, por causa
do seu comportamento maluco. Ele começou a dirigir
e prender o cinto simultaneamente, sem perder
tempo.

—Onde estamos indo?— Eu perguntei.

—Você verá.

—Você nunca se desculpou pelo telefone.

—Eu me desculpo. Eu faço isso. Não foi o meu


melhor momento. Eu diria que eu não quis fazer isso,
mas mentir sobre quebrar sua merda seria realmente
rude. Você não deveria ter trocado números com
outro homem. Eu tenho sido obedientemente fiel a
você desde o momento em que minha língua tocou
sua boceta.

Eu joguei minhas mãos no ar. —Você está noivo,


seu psicopata!

—Não é real.
—É para mim.

—Besteira. Você não tocaria em um homem, e


nós dois sabemos disso. Nós não somos traidores.

—Isso significa que estamos em algum tipo de


relacionamento na sua mente esquisita?

—Não um relacionamento, mas um arranjo. Sim.


Você acha que pode lidar com isso?

Eu ri amargamente.

—Eu não posso me apaixonar, Célian. Estou


quebrada.

—Bom. Vamos ser quebrados juntos, então.

Ele jogou o telefone em minhas mãos. Estava


totalmente carregado e pronto para ser usado. Isso
deveria ter me feito feliz, mas isso não aconteceu. Eu
gostava de fazer sexo com ele e bater de frente com
ele na redação, mas qual era o sentido de tudo isso?
O amor pode não estar nas cartas para mim, mas eu
estava ficando mais apegada, me preparando para me
machucar mais do que eu já estive.
—Abra o porta-luvas—, disse ele, ainda olhando
para a movimentada estrada à frente.

E mais uma vez, tive a sensação de que ele sabia


exatamente o que eu estava pensando. Eu abri o
porta-luvas.

—O que estou procurando?

—The Smiths.

Eu dei um tapinha no espaço quase vazio, minha


mão descansando na forma familiar do meu iPod. Eu
arranquei e chorei. Meu precioso iPod, com as
milhares de músicas que colecionei ao longo dos anos,
estava de volta na minha mão e me senti gloriosa.

—Alguém achou ele no hotel?— Eu me virei para


ele.

—Sim. Eu achei. Na noite em que você me


roubou.

Eu fiz uma careta. —Por que você nunca


devolveu?
Ele me lançou um olhar que eu não consegui
identificar, talvez perplexo, quase aborrecido.

—Você roubou algo de mim, então eu roubei algo


de você.

Hã. Eu encostei no banco, considerando isso. Ele


esfregou o queixo.

—Quem é Kipling?

Kipling era meu caderno. Mas é claro que não


perdi a oportunidade de mexer com ele.

—Um amigo.

—Um bom amigo?

Eu assenti. —Muito.

—Há quanto tempo você o conhece?

Eu sorri para isso. Eu não sabia se Célian sabia


que ele estava com ciúmes, mas eu vi do lado de fora.

—Tempo suficiente.
Nós dirigimos para Manhattan e estacionamos em
seu prédio. Ele contornou o carro, tirou uma mochila
do porta-malas, fomos até o térreo e saímos para a
rua.

—Onde estamos indo?— Eu perguntei, quando ele


jogou a mochila por cima do ombro, parecendo
ricamente chateado e completamente perturbado com
o que estávamos fazendo.

—Num encontro.— Ele suspirou, como se eu


estivesse forçando-o a sair comigo com uma arma.

—Hã?— Eu ri.

Eu o ignorei por pouco mais de quatro dias, e ele


estava me levando para um encontro agora? Imagine
o que aconteceria se eu realmente fizesse o que meu
cérebro me dizia que eu deveria fazer diariamente, e
cortasse as coisas com ele completamente.

—Eu estou levando você a um encontro. O que há


para não entender?
—O que há com a mochila? Isso é para o caso de
você ser ruim em romance e ter que me matar antes
que eu conte a alguém?

Viramos a esquina para o Central Park West e


seguimos direto para o gramado.

Ele zombou. —Eu posso encantar a calcinha de


uma freira.

—Encantar seu caminho para roupas íntimas e


corações são duas habilidades diferentes.

—Eu sou bom em multitarefa.

—Sem mencionar que não concordei em um


encontro com você. Você nunca perguntou,— eu
apontei.

—Eu pensei que era um fato.

—Por quê?

—Você me deu acesso à sua porta dos fundos,


uma versão feminina de jóias caras.
—Alguém já te disse que você é um obra de arte
trastornada?

Ele sorriu.

—Essa é uma questão real? Posso contar em uma


mão o número de pessoas que conheço que não me
chamaram assim.

—Só porque eu gosto quando você manda em


mim na cama, não significa que eu quero estar com
você.— Corei, lutando contra o desejo de olhar para
baixo e quebrar o contato visual.

Ele parou no memorial de John Lennon, onde a


palavra Imagine olharava de volta para nós.

Imagine se mamãe estivesse errada. Que sou


capaz de me apaixonar. Que estou indo diretamente
para uma colisão de sentimentos. Aquela luxúria e
mágoa vão colidir em breve, e a tragédia explodirá.

Ele entrelaçou seus dedos nos meus, virou-me


para encará-lo e bateu no meu nariz, seus lábios se
inclinaram para cima arrogantemente.
—Você tem crânios em seus sapatos.

—Você tem crânios em seus olhos.

—Estamos nos sentindo mórbidos hoje, All Stars?

—Não. Apenas mortal.

O parque estava cheio de gente. Grupos de


turistas, casais, ciclistas, pais e filhos. Mesmo que
Célian não estivesse vestido em seu traje caro de
sempre, nós ainda parecíamos tão diferentes. Por um
lado, ele era uns vinte e cinco centímetros mais alto,
dez anos mais velho, e fedia a um ar privilegiado que
me faltava em todos os sentidos. Eu me vestia como
uma adolescente. Ele se vestia como um milionário. E
o jeito como ele estava, alto e orgulhoso, fez as
pessoas pararem e olharem.

Ele colocou a boca na minha e me beijou na


frente de todos, suave, lento e sedutor. Beijou-me
como se ninguém estivesse por perto, como se
estivéssemos sozinhos nesta cidade, neste parque,
neste planeta. Ele apertou uma mão possessiva sobre
as minhas costas e me puxou para seu corpo.
Então ele acariciou minha bochecha. Seus lábios
arrastaram-se dos meus lábios para o meu ouvido e
ele sussurrou.

— Aqui é o lugar para onde eu vinha toda vez que


meus pais brigavam, toda vez que Mathias me
culpava por ser o pequeno dedo-duro que matou seu
casamento. Este é o lugar para onde eu vim, quando
começamos a lutar fisicamente. Era para onde eu
vinha, quando sabia que ele teria sua equipe dirigindo
por aí procurando por mim. Eles nunca entravam no
Central Park. Este era o meu lugar.

Meu coração acelerou dentro da minha caixa


torácica e vi Célian, não apenas como o homem que
ele queria que as pessoas vissem, mas também como
a pessoa que ele realmente era. Não completamente
quebrado, mas definitivamente rachado o suficiente
para que a dor se espalhe pelas fissuras.

Desembalamos a mochila sob uma enorme


árvore. Célian foi surpreendentemente organizado
para o nosso piquenique. Abrimos um cobertor e ele
tirou uvas, queijo, biscoitos, vinho e chocolate chique.
Eu disse a ele que não havia como ele próprio ter
feito isso, e ele admitiu que tinha dado maconha pra
sua governanta em troca dessas guloseimas. Eu ri e
ele jogou uma uva no meu rosto. Isso me fez rir mais.

O sol estava glorioso, e eu deitei no cobertor e


olhei de volta para o céu, mastigando o chocolate de
amêndoa que derretia entre meus dedos. Ele sentou
ao meu lado, olhando para mim intensamente, como
se esperasse que eu levantasse e fugisse a qualquer
segundo, como se eu pudesse evaporar no ar, como
se compartilhar esse lugar comigo significasse algo
para ele.

—Como era seu relacionamento com Camille?—


Eu perguntei.

Eu sempre quis um irmão. Infelizmente, minha


mãe adoeceu logo depois de eu nascer. Ela ganhou a
primeira rodada contra o câncer de mama. A segunda
também. Na terceira, o corpo dela estava exausto
demais para lutar, mas eu sabia que meus pais
sempre quiseram mais filhos.
Ele sorriu para o céu azul, como se as nuvens
tivessem se dispersado especialmente para nós.

—Nós éramos uma equipe. Talvez porque Maman


estivesse ocupada correndo por aí com seus amantes,
e Mathias fazia questão de enfiar seu pau em todas
que tinham um pulso, descobrimos desde cedo, que
precisávamos ter as costas um do outro para
sobreviver.

Eu assenti.

—Você deve sentir muita falta dela.

—Perder alguém próximo te define. Eu acredito


que você sabe disso agora. Sinto muito pela sua mãe
—, ele disse.

E ele quis dizer isso. Eu apreciei ele não estender


suas condolências ao meu pai. Algumas pessoas
faziam isso quando ouviam sobre o câncer dele.

Eu olhei para baixo e olhei para um cubo de


chocolate derretendo lentamente na minha mão,
colando meu dedo indicador e polegar juntos.
—Eu acho que queria casar com Milton, só para
ter alguém para me pegar caso eu caísse. Você
entende?

Ele enfiou a mão no meu cabelo e se inclinou para


beijar minha testa.

—Eu entendo. Mas cair nas mãos erradas é tão


ruim quanto cair no nada.

Seu telefone, colocado entre nós zumbiu e eu


olhei para baixo. O nome Lily Davis brilhou, fazendo
meu coração afundar. Ele bateu ignorar e jogou o
telefone para o outro lado do cobertor.

—Você pode responder se precisar.

Não chore.

—Eu não preciso.

—Eu nunca vou entender o seu relacionamento


com ela.

—Isso faz dois de nós.

Então acabe com isso! Eu queria gritar.


Seu telefone começou a vibrar no cobertor
novamente. Eu me levantei nos antebraços, enquanto
ele enviava a ligação para o correio de voz mais uma
vez.

—Eu quero ir para casa.

—All Stars...

Seu telefone começou a vibrar pela terceira vez.


Célian resmungou, —Jesus Cristo — e o enfiou na
sacola, fechando-a e jogando-a contra a árvore.

Ele chupou o lábio inferior em sua boca.

—Ei, ei…

Eu levantei e comecei a limpar tudo. Ele não disse


mais nada até chegarmos ao seu prédio. Eu continuei
em direção à estação do metrô, e ele gemeu,
facilmente alcançando meus passos.

—Deixe-me levar sua bunda para casa.

—Deixe-me em paz, Célian.— Eu parei. Raiva


quente borbulhava e chiava atrás das minhas
costelas. —Hã? Que tal isso? Que tal parar de fazer
essa coisa, quando você me trata como se eu
significasse algo, apenas para casar com outra
pessoa? Porque não importa que você não a ame ou a
toque. Se vale de alguma coisa, isso é muito, muito
pior. Você não está desistindo de nós, - seja lá o que
seja nós -, por algum grande amor. Você está
desistindo por alguma necessidade doentia de se
voltar contra ao seu pai. E sim, cair nos braços de
Milton teria sido errado, mas envolver seus braços em
torno de Lily, não é nada menos do que desastroso.
Então não se atreva a me dar um sermão.

—O babaca fodeu minha noi...

—Sim. Eu ouvi. Muitas e muitas vezes. Então, e


se ele fez?— Eu o cortei, apertando minhas mãos em
punhos. —Ele fazendo algo errado não lhe dá o direito
de fazer algo ainda pior.— Eu empurrei seu peito.

Jesus Cristo o que eu estava fazendo?


Jesus, lixando as unhas: —Usando o meu nome
para se desculpar de seu mau comportamento, como
sempre.—

— Foi ele quem enviou Phoenix para a Síria. Foi


ele quem insistiu em esconder isso dela para mantê-
los separados. Mas de alguma forma a morte dela é
minha culpa?— Ele gritou na minha cara, como se eu
fosse a única o acusando.

—Foda-se. Isso.

—Pare o jogo da culpa, Célian. Todo


relacionamento que você toca murcha. Toda conexão
que você faz queima. Eu não quero queimar. Eu quero
florescer. Eu mereço florescer.

Eu me virei de novo, indo para a estação. Desta


vez ele agarrou meu pulso com tanta força que pensei
que ele fosse arrancar meu braço. Acho que ele
percebeu isso também, pela forma como ele retirou a
mão rapidamente e me puxou para um abraço, um
abraço que eu queria rejeitar, mas escolhi me afogar,
um abraço que eu sabia que me pegaria da maneira
certa se eu caísse, de um homem que não fez
promessas de estar lá quando eu precisasse dele.

Eu passei meus braços ao redor de seu corpo, ele


enterrou o rosto no meu cabelo, e por alguns longos
segundos, nós não dissemos nada. Cada sentimento
ruim foi esmagado entre nossos peitos pressionados.

—Não foi você quem disse que não poderia se


apaixonar?— Ele zombou depois de algumas batidas,
inclinando a cabeça para o lado. —O que aconteceu
com aquilo?

—Não significa que eu não me importo.

—Eu me importo.—Ele deu um passo para trás,


batendo com o punho no peito. —Eu deveria estar
passando um tempo com seu pai hoje. Em vez disso,
eu levei você em um maldito encontro, —ele cuspiu a
palavra como se fosse venenosa.

Eu não conseguia nem lidar com a ideia dele sair


com meu pai regularmente. Quando isso começou a
acontecer?
—Sabe quando foi última vez que eu levei alguém
em um encontro? Quando eu tinha dezesseis anos.
Tenho certeza que fiz isso por uma punheta. Desde
então, não precisei tentar. Eu nunca tentei.

Eu bufei, ciente do fato de que uma audiência se


reuniu em torno de nós. —Devo me sentir especial
agora?

Sua mandíbula travou e seus olhos escureceram,


como se lembrasse de quem ele era. Quem eu era.

—Pelo menos tenha a decência de ser honesta


consigo mesmo, All Stars. Você não quer que eu me
importe. Você me quer, ponto final.

Eu me virei e dei a ele a única coisa que ele não


levou ainda.

Minhas costas.
—Tudo o que estou dizendo, é que ele é como um
facelift com metade do preço em uma clínica não
registrada na Europa Oriental. Eu ainda faria, mesmo
sabendo que é mortal —. Grayson jogou um pedaço
de alface em sua boca e mastigou em voz alta.

Estávamos sentados no Le Coq Tail no nosso


horário de almoço eu, ele, Ava e Phoenix. Fazia alguns
dias desde o meu encontro fracassado, ou seja lá o
que fosse com Célian, e num momento de fraqueza,
decidi confiar em meus amigos íntimos sobre o caso.
Embora, digamos, eles já tivessem uma boa ideia.

—Confie em mim menina, todos nós podemos ver


o apelo de Célian.— Ava chupou com força o canudo
nadando em seu copo de Diet Coke. —Mas considere
isso sua intervenção oficial. Depois que tivemos um
assento na primeira fila para essa merda chamada
‘seu relacionamento’, posso dizer honestamente que
você precisa colocar uma tampa naquela coisa antes
que sua louça comece a ferver.
Eu bati meus punhos juntos duas vezes, estilo
Friends. —Eu não sou louca.

Eu estava com setenta por cento de certeza dessa


afirmação.

Ava estalou a língua. —Nem Lily estava. Eu acho


que é algo sobre o pau de Laurent. Ele torna suas
mulheres desequilibradas. Ouvi dizer que a mãe de
Célian também não é a mais sadia.

—Somos casuais—. Eu tentei outra tática.

Gray fez beicinho e revirou os olhos. —É por isso


que ele casualmente reivindicou sua bunda à la Khal
Drogo, salvando sua princesa de um exército de
selvagens quando você almoçou no nosso andar na
semana passada? Admita. Você tem seu chefe sob um
feitiço-boceta.

—Isso não é uma palavra—, Phoenix, apontou


seu sanduíche para Grayson. —Mas deveria ser.

—O que você acha?— Eu me virei para Phoenix.


Eu sabia que Célian tinha lhe feito uma visita
outro dia, e eu sabia que ele ordenou que ele ficasse
longe de mim, além de platonicamente. Uma parte de
mim estava furiosa com Célian, e outra esperava o
que eu não podia admitir para mim mesma, que eu
não era a única pessoa caindo por aqui, e ele também
não tinha um pára-quedas para salvá-lo do mergulho.

É só sexo.

É apenas uma distração.

Você não pode se apaixonar.

Você nunca se apaixonou.

Phoenix mordeu o interior de sua bochecha.

—Você está chapada?— Ava perguntou. —Phoenix


e Célian se odeiam.
Mas Phoenix olhou para cima e me disse
seriamente. —Eu acho que você é sua indenização.
Ele quer te salvar, mas você é quem precisa salvá-lo.

Eu lhe dei uma segunda olhada, colocando meu


sanduíche de carne assada no prato.

Ele parecia sério.

—Conheço Célian há alguns anos, desde antes de


começar a trabalhar na LBC. Eu vi ele e Lily juntos,
mesmo quando eles estavam realmente juntos.— Ele
ergueu o queixo, sua voz falhando. —Célian olha para
você do jeito que eu olhava para Camille, como se ele
fosse queimar o mundo por você. Só porque ele não
quer reconhecer, não é menos verdade. Se os
rumores em torno dele e sua família estão corretos...
—Ele desviou o olhar para Ava e Gray, e foi quando
eu soube que ele sabia sobre o pai de Lily e Célian,
provavelmente através de James Townley, que tinha
suas mãos e orelhas em todos os lugares no prédio da
LBC. —Então a confiança de Célian nas pessoas é
inexistente, e com razão. Ele é calejado, desconfiado
e endurecido, mas também está fodido e sabe disso.
—Ele nunca vai deixar Lily, não é?— Eu esfreguei
minha testa, sentindo uma dor de cabeça iminente
empurrando a parte de trás do meu nariz.

—Ele pode.— Não.— Sim.— Os três falaram em


uníssono.

E foi aí que escolhi rir, em vez de chorar.

Naquele dia, assegurei-me de evitar Célian na


redação. Ele estava trabalhando como sempre,
levando Elijah e alguns outros homens para almoçar e
depois desaparecendo dentro e fora do sexagésimo
andar para reuniões o dia todo. Quando voltei para
casa, joguei alguns nuggets de frango no forno e tirei
uma caixa de macarrão com queijo do armário. Eu
não estava com vontade de cozinhar algo novo. Papai,
no entanto, estava comendo muito mais saudável
desde o início do programa experimental. Eles lhe
enviaram refeições especiais para complementar seu
tratamento. Eu desamarrei meu casaco de chuva e
joguei no sofá depois que eu coloquei a água quente
no fogão, chutando meus tênis no corredor.

—Papai?— Eu chamei.

Eu chequei a sala de estar, o banheiro e depois o


quarto dele. Ele não estava lá. Gemendo de
frustração, mandei uma mensagem para ele.

Onde você está? Quando você aprenderá a


falar com uma garota quando estiver fora? Estou
preocupada.

E egoísta, eu interiormente me mordi. Ter papai


por perto era conveniente. Eu poderia convencê-lo de
tudo que eu gostava, essencialmente esquecendo
sobre Célian e seu casamento iminente. Meu telefone
brilhou com uma mensagem de texto imediatamente.
Pai: Desculpa! Na casa da Sra. Hawthorne.
Por favor, sinta-se livre para subir. Ela fez uma
torta de cereja.

Eu balancei a cabeça, rindo para mim mesma.


Poderia meu pai estar se apaixonando ao mesmo
tempo em que eu estava desmoronando?

Seu corpo doente poderia sentir algo que minha


pessoa saudável não poderia sentir?

Divirta-se e envie-lhe meu amor.

Pai: Vou fazer, querida. Talvez ela possa


fazer mais torta neste fim de semana e podemos
convidar Milton?
Eu decidi que havia bastante desgosto para ir ao
redor entre todos nós, então eu mantive a mentira
viva, embora me matasse.

Eu gostaria disso, papai. Muito.


Tanto quanto eu estava preocupado, loucura
tinha um cheiro. Era uma loção corporal florida e
Chanel nº 5. E diminuiu meu apetite no minuto em
que rastejou em minhas narinas pela porta aberta do
meu escritório.

O dia tinha sido uma merda para começar. Judith


estava trabalhando duro para me dar as malditas
melhores dicas que já pousaram na minha mesa
desde o ano passado, e ao mesmo tempo, me
evitando.
Eu queria casar com Lily um pouco menos do que
eu queria foder um cacto na televisão ao vivo. Eu
sabia que traria muita alegria para meu pai saber que
eu tinha desistido da dominação do mundo e da
Newsflash Corp, e que Maman ficaria terrivelmente
desapontada, não porque ela queria netos, mas
porque ela teria amado que eu me tornasse o próximo
Richard Branson. Independentemente disso, eu
merecia o trono magnata da mídia. Mas até eu tinha
limites. E eles estavam sendo testados no momento.
O aroma insuportavelmente doce foi seguido por um
baque alto.

—Onde está elaaaa?— Um guincho maníaco


perfurou o silêncio de todo o lugar.

Eu olhei para cima do meu laptop e encontrei


minha noiva de pé, em cima de uma mesa na
redação, vestida em um de seus mini-vestidos
horrendamente caros e saltos Louboutin. Sempre
vermelho. Sempre preto. Lily não tem humor, ela
tinha obsessões em parecer rica.
Ela pegou um monitor e bateu no chão, enviando
Jessica e Elijah para trás com um grito agudo. Kate se
levantou da cadeira e galopou na direção de Lily. Eu
levantei e fiz meu caminho até a redação, procurando
por Jude. Ela não estava em lugar nenhum para ser
vista. Bom. Lily não estava acima de começar uma
briga de gatos, mas se eu tivesse que colocar meu
dinheiro em um vencedor, seria Judith.

—Lily,— Kate disse com calma autoridade, —se


você quiser deixar este lugar sem uma escolta de
segurança e algemas, eu sugiro fortemente que você
se retire da mesa e pare de quebrar as coisas.

—Cale a boca, cadela. Pelo que sei, é com você


que ele está tendo um caso.— Lily fungou, apontando
sua longa unha falsa para Kate.

Eu marchei para a sala e parei na mesa em que


ela estava. O resto da minha redação olhou para Lily
como se ela fosse Moisés entregando os Dez
Mandamentos, mas ela não pareceu me notar, talvez
porque estivesse mais ocupada em ter um colapso
público.
—Então você acha que Célian está tendo um
caso?— Kate bateu os lábios, refletindo.

—Eu sei que ele esta! Alguém tem ido ao seu


prédio. Eu tenho olhos e ouvidos em todos os lugares.

—Oh, Deus—, Kate chiou.

Coincidentemente ou não, a mesa em que Lily


estava pertencia a Judith. Eu não sabia como Jude iria
reagir se ela descobrisse que seu monitor tinha sido
esmagado por essa garota, mas eu ia adivinhar que
Lily não seria a única a gritar nesta sala.

—Lily, você está se envergonhando, mas mais


importante, você é uma vergonha para mim. Desça
imediatamente — ordenei, estalando meus dedos para
ela.

Mas assim que eu disse, percebi que não era


verdade. Lily não me envergonhou. Na verdade, ela
parou de provocar qualquer tipo de emoção em mim,
e a dominação do mundo não era suficiente para
aturar sua presença, mesmo que apenas no papel.
Nós éramos o par perfeito no paraíso da realeza
de Manhattan, mas no final, nós nos poríamos no
inferno. E neste exato momento, eu estava farto. Se
isso significasse que eu seria um pouco menos rico e
um pouco menos cruel, eu estava disposto a fazer
esse sacrifício para me livrar dessa praga.

Porque até mesmo a querida família de Lily não


era mais suficiente.

Eles não eram meus. Eles nunca seriam meus.

—Quem é ela, Célian?—Ela bateu o pé no caderno


de Judith, amassando as páginas e criando um buraco
bem no meio.

Meus dentes bateram juntos, travando meu


queixo para que uma maldição não saísse.

—Você a ama?Ama?— ela choramingou.

Eu tirei meu telefone, estava feito com seus


jogos.

—Você chamaria segurança para a sua noiva?—


Ela levantou os braços maravilhada e mostrou sua
falta de calcinha. Ela estava nua debaixo do vestido,
sem dúvida para mim.

—Até para a porra do papa, se ele interferisse no


trabalho da minha equipe. Última chance antes de
passar as próximas horas na cadeia— eu disse
secamente.

As pessoas atrás de mim davam risadinhas e


sussurraram. Eu odiava que nós fossemos um
espetáculo, mas eu gostava que ela tivesse se jogado
no ato direto nas minhas mãos. Ela só me deu uma
oportunidade de ouro para despejar sua bunda, com
pouca ou nenhuma consequência social, e Judith não
pensaria que era sobre ela.

Porque não era.

Judith era apenas uma foda.

Uma foda brilhante, mas ainda assim descartável.

Lily se abaixou com um gemido, deslizando a


bunda para a mesa e se abaixando. Ela caiu em seus
calcanhares com um gemido e correu em minha
direção, jogando os braços sobre o meu pescoço e
chorando na minha camisa.

—Por que, Célian? Eu pensei que estávamos


melhorando, e agora eu tenho que ouvir que meu
noivo está circulando com uma nova garota? Que ela
visita o prédio dele?

Eu deveria ter ficado perturbado com a


quantidade de informação que a Lily estava a par,
mas afinal, toda a sua vida consistia em ficar sentada
em cafés e fofocar. Por tudo que eu sabia, ela tinha
amigos socialites morando no meu prédio.

Peguei o caderno de anotações de Jude e guardei


no bolso.

—Peça desculpas a Kate e entre no meu


escritório.

Kate ficou de pé atrás de Lily e balançou a


cabeça, dizendo que eu não deveria deixá-la ir
embora.
—Mas ela me odeia.— Lily bateu os pés,
choramingando.

—Não posso negar isso.— Kate levantou as mãos


em sinal de rendição e todos riram.

Eu olhei ao redor do círculo humano que havia se


formado ao nosso redor e percebi que todos olhavam
para Kate com amor e Lily com puro desgosto.

Tanto quanto eles estavam preocupados, ela era


uma putinha mimada. E no que dizia respeito a eles,
endossei esse tipo de comportamento. Eu repreendia
alguém por dias por ter cometido um erro gramatical
em uma reportagem, mas eu estava escolhendo casar
com alguém que achava que yeah era uma palavra?

—Dentro do meu escritório, agora—, eu murmurei


com os dentes cerrados.

Viramos e seguimos para o corredor, e foi aí que


vi Judith parada na entrada da redação, ainda
segurando o celular no ouvido. Ela estava em uma
ligação, provavelmente algo relacionado à Síria.
Estávamos fazendo um especial no prime time neste
fim de semana, e ela estava trabalhando muito para
conseguir todos os números e estatísticas.

Seus olhos pularam entre mim e Lily por cerca de


dez segundos, antes que ela desse um passo para o
lado e nos deixasse passar.

Lily franziu o cenho para ela e depois gritou.

—Que diabos você está olhando? Você é a


principal suspeita, vadia.

—Hã?— As sobrancelhas de Judith se ergueram.


Ela terminou sua ligação e enfiou o celular no bolso.
—Sobre o que ela está falando?

—Eu estou falando sobre a mulher, que tem


mantido o meu noivo acordado a noi...

Mas ela nunca chegou a terminar a frase, porque


eu a puxei para um abraço como se ela fosse um
animal em cativeiro, batendo minha mão sobre sua
boca e arrastando-a para o meu escritório.

Judith virou um belo tom de tomate vermelho,


arregalando os olhos em alarme.
—De volta ao trabalho, Humphry—, eu lati.

—Sim, senhor—, ela disse, mas sua voz ficou


rouca, entregando a notícia de que eu estava em uma
merda ainda mais profunda do que eu pensava
anteriormente.

No meu escritório, Lily jogou seu corpo sobre o


sofá e começou a soluçar.

—É a garota loira, não é? Ela parece uma


destruidora de lares. Toda doce e bonita com sua
roupa barata, estilo por-favor-salve-me. E Converse.
Quem usa a porra de um Converse com vestido?

Judith Humphry faz, e isso me deixa tão duro que


tenho certeza que o resto do meu corpo fica anêmico.

—Cale a boca—, eu ordenei, apoiando-me contra


a minha mesa e olhando para ela.

Eu juro que a versão adolescente dela que eu


tinha saído há uma década, tinha sido mais sensata.
Rasa, mas sã. Então, novamente, quando você é
adolescente, você não está procurando por um grande
adversário intelectual. Sua bunda e natureza
agradável tinham sido suficientes para me manter
saciado pela primeira década de nosso
relacionamento.

—Você sabe que eu posso descobrir com pouco


ou nenhum esforço, certo?— Ela se arrumou no sofá
de couro preto, chorando novamente. Seu rímel
escorria pelas bochechas dela em grossas estrias, e
isso a fazia parecer Alice Cooper, sem mencionar que
o vestido dela era mais apropriado para um clube de
striptease de Vegas do que uma redação. Ela
desembrulhou o vestido, me mostrando suas tetas e
sua boceta rosada.

—Isso não será necessário, e nem o strip-tease,—


eu brinquei.

Seus olhos se iluminaram. —Isso significa que


você está se livrando dela?

—Não dela. De você—eu disse simplesmente.

Nós nos encaramos por alguns segundos,


enquanto ela digeria essa informação, seu rosto
transformando-se de agoniado em divertido. Ela não
entendia inglês? Por que ela estava tão presunçosa?

—Você não pode terminar comigo. E a Newsflash


Corp?

—Eu vou viver sem isso. Me livrar de você é


prioridade máxima. Coloque suas roupas.

Ela se levantou e empurrou meu peito, sem me


mover um centímetro, em parte porque eu estava
apoiado contra a mesa, mas também porque eu tinha
literalmente o dobro do tamanho dela. Eu me
perguntei se ela percebeu que a parede do lado direito
do meu escritório era feita de vidro, então lembrei
que ela dava muito pouca merda sobre quem a via
nua.

—Você é um bastardo. Nós crescemos juntos.


Somos namorados de infância.

—Se essa é sua única defesa, ela está quebrada.


Porque eu posso esmagá-la em pedaços, trazendo
algo que você fez um pouco mais de um ano atrás—.
Eu ri sombriamente. —Mantenha o anel, cancele todo
o resto. Não haverá casamento em agosto, Lily.
Acabou.

E enquanto eu dizia isso, percebi que não havia


nem um pingo de mim que estivesse arrependido,
nem mesmo por deixá-la ficar com o anel da minha
família (estava estragado assim que ela passou a
usar) ou pela oportunidade perdida pela assim
chamada ‘Dominação mundial’ como Kate sempre
estava me provocando.

—Eu vou fazer da sua vida um inferno, Célian.—


Lily mexeu o dedo no meu rosto. Peguei o dedo dela e
abaixei, envolvendo o vestido em volta da cintura dela
para ela.

—Eu te desafio, querida. Já faz muito tempo


desde que eu mostrei a você quem eu realmente sou.
Não posso esperar que você se reencontre com a
versão idiota que todos os outros estiveram a par no
último ano, em parte por sua causa.
Eu não poderia jogar toda a culpa em Lily, no
entanto. Meu pai levará o troféu do Pior Pai do Século,
deixando os outros comerem poeira.

—Você está Insano!— ela gritou na minha cara.

—Isso é ouro, vindo de uma mulher seminua, que


acabou de quebrar um monitor e acusou uma mulher
gay de meia-idade de ter um caso com seu falso
noivo.

—Você é estranho. E um espertinho. Eu nem


gosto mais de você.— Ela foi até a porta, deu meia-
volta, olhou para mim impotente e balançou a cabeça.
—Diga-me como acertar e eu vou.— Sua voz falhou
em torno de seu apelo.

—Saia.

A porta bateu na minha cara e meus olhos


imediatamente viajaram para a redação, através das
paredes de vidro. Judith estava me encarando, como
se quisesse que meus olhos sangrassem a verdade do
que havia acontecido em meu escritório. Mas eu não
podia convidá-la a entrar. Não logo depois de chutar
Lily. Isso seria transparente, e francamente arriscado.

Disquei a extensão de Brianna e pedi a ela que


convocasse Judith para uma reunião particular em
três horas. Pedi-lhe que fizesse o mesmo com Kate,
Elijah e James. Eu não tinha nada a dizer para os
últimos três. Eu só não queria que parecesse suspeito.

Eu caí no meu lugar e fechei meus olhos. Uma


mensagem de texto tocou no meu celular, e eu virei
para ver quem era.

Dan: Seu pai está em uma reunião agora,


vendendo espaço publicitário para uma empresa
de marketing sediada em Las Vegas,
especializada em preservativos, tabaco,
equipamentos de jogos e brinquedos sexuais.
Estou sentado no mesmo restaurante. Eles estão
falando de sete dígitos.
Este negócio seria suicídio para a marca LBC, e
meu pai sabia disso. Este era um excelente exemplo,
de quão longe ele iria para sabotar as coisas para
mim.

Grave tudo por favor, eu mandei.

Era hora de levar este assunto para o conselho e


enterrar o que sobrou do meu relacionamento com o
homem que me odiava um pouco menos do que eu o
odiava.
Três conversas sem sentido mais tarde... (Kate
estava feliz em saber que eu tinha terminado o
compromisso com Lily; Elijah e eu conversamos sobre
beisebol; e James tentou me dar algum conselho
paternal sobre mulheres e relacionamentos, apenas
para ser expulso com o rabo entre as pernas), Judith
entrou no meu escritório.

No minuto em que ela entrou, a vontade de


empurrá-la contra a porta, abrir as pernas e foder
implacavelmente queimou em minhas veias, mas me
acomodei para um sorriso fácil.

—Humphry

—Senhor.

Eu estava sentado atrás da minha mesa, -algo


pela qual minha ereção escondida, era muito grata- fiz
sinal para ela se sentar na minha frente. Ela fez isso
obedientemente, com as costas retas. Eu entreguei a
ela o caderno que consegui recuperar da Lily. Estava
enrugado pra caralho. Jude pegou nas mãos trêmulas.

—Obrigada—, ela disse calmamente.


—Eu vou comprar outro pra você.

—Eu não quero outro. Eu gosto deste.

Foda-se. Por que isso me deixou ainda mais


duro?

Ela balançou a cabeça, suspirando. —Você queria


me ver?

—Há alguns assuntos que precisamos discutir,


como o resultado do inesperado aparecimento da
Srta. Davis na redação.— Eu soltei minha gravata.

Jude sorriu, seu sorriso doce e inocente. —Essa é


uma ótima maneira de descrever uma mulher maluca,
que quebrou um monitor e arruinou meu caderno de
anotações, se eu algum dia já ouvi falar de um.

Eu sorri. Recostei atando os meus dedos juntos.

—Mandei Brianna para o terceiro andar para que


um dos estilistas de James colocasse Kipling de volta
em forma.
Seus olhos se arregalaram, seu lábio inferior
saindo. —Como você…?

—Descobri isso.— Eu acenei para ela.

Não é bem assim. O mistério ocupou minha


mente por muitas noites. Tanto que reuni todos os
encontros em que ela mencionou Kipling. Ela tinha o
notebook na palma da mão em todos eles.

Jude parecia tocada, e eu precisava que ela não


estivesse, então continuei.

—De qualquer forma, a Srta. Davis não estará


mais em posição de prejudicar ainda mais a
propriedade ou assediar os funcionários da LBC,
especialmente agora que eu terminei nosso noivado.

O que foi realmente uma maneira legal de dizer,


que poderíamos voltar a transar em paz sem que
Judith me desse um sermão, simplesmente não em
tantas palavras.
—É por isso que estou aqui?— ela perguntou,
projetando o queixo para fora. —Porque você acha
que eu vou pular de volta para sua cama?

—E sofá. E a porta do escritório. E a porra do


banheiro público, se eu disser isso.—Dei de ombros,
sentando de volta e sorrindo para ela.

—Você está errado, Célian. Quando eu te disse


que não sou do tipo amor, eu quis dizer isso. Mas eu
não sou do tipo casual também. Eu preciso que isso
signifique algo. Eu estava com o Milton porque sou
capaz de ter um relacionamento. Eu sou capaz de dar.

Eu realmente não queria ouvir sobre esse idiota,


Milton. Ao mesmo tempo, minha crescente
necessidade de foder Judith, poderia muito bem fazer
minhas bolas explodirem. Decidi comprometer minha
verdade, se não dobrar só um pouquinho para
acomodar suas necessidades.

—Eu posso fazer um arranjo discreto.

—Eu não quero um arranjo. Eu quero um


relacionamento.
—O que você quiser chamar, All Stars. Contanto
que você perceba que não há nada no fim daquele
túnel, -nenhum casamento, nenhuma criança e
nenhuma noite aconchegante assistindo a Jeopardy
com seu pai-. Agora faça uma mala. Nós estamos indo
para Miami, para o fim de semana.

Eu pensei sobre tudo o que eu disse e decidi


alterar uma coisa.

—Na verdade, talvez Jeopardy esteja bem às


vezes. Sua boceta vai precisar de um descanso
ocasional.

—Miami?

Seus olhos se arregalaram como se eu tivesse


sugerido o Afeganistão. Ela se recuperou
rapidamente, limpando a garganta e acrescentando.
—Nós não terminamos de trabalhar na peça da Síria.

Certo. Porra. É claro que ainda precisávamos


encerrá-lo.

—Vamos trabalhar nisso à noite.


—Eu prometi ao papai que iria assistir ao jogo dos
Yankees com ele.— Ela ficou vermelha.

Eu odiava que eu gostasse disso sobre ela, sua


feroz lealdade à sua família. Não importava o quão
tarde ela ficava no trabalho, ela de alguma forma
sempre tinha tempo para seu pai.

Mas talvez Jude não fosse nada de especial.


Talvez eu não tivesse ideia de como uma família
normal funcionava e dava crédito extra a ela.

—Você pode ter a noite de folga—, eu disse


secamente. —Vou mandar um táxi para levá-la ao
aeroporto. Algo mais?

Ela olhou para mim por alguns segundos, ainda


piscando sem acreditar. Eu acho que eu esperava que
ela ficasse mais feliz com as notícias, mas eu não a
entreguei exatamente com flores e promessas
açucaradas.

—Você está solteiro?— ela confirmou.

Eu passei meus olhos por ela. —Parece assim.


—Você terminou com ela?— Ela esfregou a testa,
olhando ao redor da sala.

Por quê? Ela estava esperando que isso fosse


uma grande brincadeira? Claramente, ela pensava
muito pouco de mim no departamento de moral.

—Você precisa disso por escrito, Humphry?

—Isso seria ótimo, na verdade.

Eu sorri.

—Tire sua bunda espertinha do meu escritório


antes que eu bata nela.

—Você é horrível—, disse ela, levantando-se do


seu lugar e andando de volta para a porta.

Eu assisti todos os seus movimentos, me


perguntando por que a achava tão fascinante, e
interiormente me perguntando o que diabos eu estava
fazendo, levando essa garota aleatória para ver minha
mãe - Maman - que ainda era ignorantemente feliz
sobre o colapso do meu noivado.
—Você gosta de horrível—, eu repliquei.

Ela parou na porta, inclinou a cabeça e sacudiu,


rindo. Quando ela saiu, o cheiro de esperança rastejou
em minhas narinas, o cheiro de seu xampu de
baunilha e gengibre, perfume picante.

E eu tive que admitir, eu gostei e isso era muito


melhor.
Apenas sorria e aja normalmente.

Papai estava sentado ao meu lado, vestindo uma


camisa de S. Carter, um boné de beisebol dos
Yankees e bebendo refrigerante, que definitivamente
não estava em seu cardápio atual. Deixei rolar,
porque ele parecia completamente encantado com o
jogo. Eu mesma usava um enorme chapéu de
bandeira americana e uma camisa de Frank Sinatra.
Perto o suficiente, se você me perguntar.

Abordei o assunto quando voltei de reabastecer


nossa tigela de pipoca na cozinha, outra coisa que
papai não deveria estar comendo, mas um pouco não
poderia doer.
—Você se importaria se eu saísse neste fim de
semana?— Eu tentei soar casual através do pedaço de
culpa se formando na minha garganta.

Minhas mãos estavam tão suadas que a tigela de


pipoca quase escorregou entre elas. Eu ia mentir para
meu pai mais uma vez e para quê?

Por que mantive a verdade do meu pai? A pessoa


mais próxima de mim? Eu não estava fazendo nada
de errado. Então novamente, ele ainda era tão frágil e
só agora estava se recuperando, literal e
figurativamente. Ele estava se sentindo fisicamente
melhor, e entre passar o tempo com a Sra. Hawthorne
e me ver prosperar no meu novo emprego, também
estava emocionalmente melhor. Mas eu ainda não
queria que ele soubesse que eu terminei com o Milton.
Isso poderia colocar meu pai pra baixo, e se a sua
saúde desse errado, eu nunca me perdoaria.

—Querida.— Ele deu um tapinha no meu joelho


quando me sentei, sua mão imediatamente deslizando
para a tigela de pipoca.
—Eu penso que é uma grande ideia. Você
merece algum tempo fora. Mil está levando você a
qualquer lugar chique?— Ele sorriu.

—Você vai para o inferno por isso—, disse Jesus


dentro da minha cabeça.

—E se você acha que eu vou reivindicar sua


bunda quando chegar lá, você obviamente não estava
prestando atenção na aula bíblica.—

Eu decidi que, de fato, diria ao meu pai que tinha


terminado com o Milton depois que voltasse da
Flórida. Eu até poderia contar a ele sobre Célian, já
que os dois pareciam estar em contato. Eu não tinha
certeza do quanto eles tinham em comum, mas parte
da razão pela qual eu não desprezava Célian - embora
fosse tentador - era porque eu sabia que ele tinha um
lado bom. Eu tinha visto quando ele ajudou meu pai.
Eu vi quando ele tentou me salvar.

—Eu não sei...— Eu me esquivei da pergunta. —


Veremos. Você sabe que eu estarei disponível no meu
celular, certo?
—Sim.— Ele riu, levando mais pipoca para a
boca. —Você mencionou isso, uma, duas ou um
milhão de vezes antes. Além disso, se eu precisar de
alguma coisa, a Sra. Hawthorne está no andar de
cima.

Eu olhei para ele com curiosidade, sorrindo.

—Quando eu finalmente a conhecerei na


qualidade de filha do namorado dela?

Meu pai olhou para baixo e mexeu os dedos dos


pés dentro de seus chinelos.

Foi a primeira vez que notei que ele estava


usando um novo par. Na verdade, todo o seu conjunto
era novo, ainda a mesma calça de moletom cinza e
camiseta branca, mas eles estavam passados e
pareciam bem para ele. Ele também raspou o que
sobrou de seu cabelo para criar uma aparência mais
unificada. Eu não sabia por que achava tão
dolorosamente alegre vê-lo feliz com outra mulher.
Talvez eu não devesse. Mas ele parecia bem, como
um Bruce Willis sem sobrancelhas.
—Ele faz seu coração cantar, JoJo?

—O quê?— Eu fingi rir. E falhei. Oh Deus.

—Milton faz seu coração cantar? A música é uma


parte tão importante da sua vida, e quando você está
feliz, eu posso ver isso. Seus passos têm um ritmo.
Quando você fala, você balança. Você está
apaixonada por ele? Porque se você não está, não
vale a pena.

Eu olhei para o outro lado, fingindo limpar o fiapo


invisível de um travesseiro decorativo no sofá.

—Eu não posso me apaixonar, pai. Eu tentei.

—Isso é uma montanha de besteira.

—É verdade. Mamãe me disse isso. Ela disse que


meu coração era um caçador solitário, que nunca
encontraria outra pessoa para bater ao lado. E ela
estava certa. Não aconteceu.

Eu não contei a ele toda a verdade, que eu


acreditava nela, que eu guardava meu coração como
se não fosse para ser tomado. Que eu provavelmente
poderia ter ido morar com Milton se quisesse, mas
nunca quis. Eu não queria dizer ao papai que essa
simples frase havia mudado meu mundo mais do que
eu estava disposta a aceitar, e que eu estava com
medo que meu coração estivesse perdendo suas
garras, suas armas, sua fome de sangue, na batalha
contra Célian.

Os olhos de papai enrugaram, e eu estava tão


focada na confusão e admiração neles, que nem
registrei que ele estava rindo. Não apenas rindo,
gargalhando. Segurando seu estômago e tudo mais.

—Não, JoJo, não. Ela não quis dizer que seu


coração é um caçador solitário. Ela quis dizer o livro,
O coração é um caçador solitário por Carson
McCullers. Era o favorito dela. A autora tinha vinte e
três anos quando ele escreveu. Sua idade.— Ele olhou
para mim incisivamente, assim também acrescentou
significado. —Mick Kelly era a heroína favorita de sua
mãe. Ela era uma moleca que gostava muito de
música. Você deveria ler isto. Nós temos em algum
lugar aqui. Ele levantou-se com um gemido e foi para
o seu quarto. Fiquei estupefata, sentindo-me
irracionalmente furiosa com ele e minha mãe por
permitir que eu olhasse para a vida através da lente
grossa e suja de uma pessoa que nunca acreditou que
pudesse sentir amor.

O jogo ainda estava passando, com os Yankees


dominando os Astros, e foi assim que eu soube que
meu pai realmente estava falando sério sobre eu ler
este livro. Ele voltou, soprando a poeira da capa e me
entregou.

—Se você viajar de qualquer maneira, certifique-


se de lê-lo a caminho destas pequenas férias. Sua
mãe acreditava no amor. Muito mesmo. Ela acreditava
no destino também. É por isso que você cresceu para
ser a heroína que ela sempre admirou.

Eu sorri e agradeci, e não esperei por amanhã.

Eu devorei a coisa toda em uma noite.

Cada página de A a Z.
Então eu li pedaços dele novamente enquanto eu
arrumava minhas roupas de verão e arrastava minha
mala pela nossa escada estreita de manhã, esperando
pelo táxi.

Meu coração não estava solitário.

Estava desesperado e batendo e vivo.

Isso me assustou e me encantou ao mesmo


tempo, sabendo que eu poderia, gostaria e eu deveria
me apaixonar, fosse pelo meu chefe ou não.

E quando o alarme começou a cantar, deslizei


para o lado direito com meu All Stars e mexi os dedos
dos pés dentro deles, sabendo que ele ia notar.

Eles eram amarelos.

Esperança.
Eu só tinha estado em um avião duas vezes antes
da minha viagem para a Flórida com Célian.

Uma delas nos levou para a Califórnia quando eu


tinha seis anos, a irmã de minha mãe se casou, mas
desde então ela decidiu se divorciar, depois migrou
para a Austrália. Ela enviou um cartão postal quando
a minha mãe morreu, mas não se incomodou em
manter contato. A segunda vez foi para férias
espontâneas em New Orleans. Isso aconteceu quando
eu tinha quatorze anos. Papai estava tentando o seu
melhor para agir como se tudo estivesse bem, depois
que mamãe morreu. Ele tingiu o cabelo em casa para
esquecer que tinha fios brancos, fez aulas de culinária
e decidiu que deveríamos viver o momento. New
Orleans foi ótimo. Depois nós vivemos de macarrão
com queijo por dois meses consecutivos, porque
gastamos muito.

Eu acho que provavelmente iria embarcar em um


avião em breve. Eu imaginava que Milton planejaria
algo legal para a nossa lua de mel, se nos
casássemos.
A classe executiva, no entanto, era algo que eu
nunca imaginara.

Ainda assim aqui estava eu, segurando meu


exemplar esfarrapado de O Coração é um Caçador
Solitário com uma taça de champanhe ao meu lado,
imaginando onde estaria Célian. Nós tínhamos mais
cinco minutos, antes do avião decolar.

Ele tropeçou pela porta pouco antes dela trancar,


vestindo as mesmas roupas de ontem e tomando uma
xícara de café do Starbucks. Sua mochila de couro
Armani pendia preguiçosamente da ponta dos dedos,
e no minuto em que ele me viu, seu rosto cansado
rachou em um sorriso perigoso. Eu lambi meus lábios,
olhando para baixo e pressionando minhas coxas
juntas.

O que diabos estava errado comigo? Desde que


eu aprendi a verdade sobre o que mamãe me contou,
pensar em Célian era estranho.

Parecia que já não éramos rivais, como se ele


tivesse uma cartada melhor. O que era ridículo,
porque ele sempre teve. Eu simplesmente me recusei
a aceitar.

Célian enfiou a mochila no bagageiro e agradeceu


a aeromoça por se oferecer histericamente para fazê-
la sozinha. Ele então deslizou para o assento ao meu
lado. Ele cheirava a álcool, café e esperança.

Eu mexi meus dedos dentro dos meus All Stars


amarelos.

—Veio direto do trabalho?

Em vez de responder a minha pergunta, ele


segurou a parte de trás do meu pescoço e apagou a
distância entre nós, selando minha boca com um beijo
quente e exigente. Eu gemi contra seus lábios.
Quando nos desconectamos, seus olhos estavam meio
fechados e bêbados, e presumi que os meus também
estavam.

—Isso é... muito relacionamento—, eu murmurei,


olhando para seus lábios. —Eu recebi toda a
informação certa?
Célian tirou um marcador vermelho do livro no
meu colo, destampou e escreveu A + nas costas da
minha mão. Então ele beijou o interior dela, como
Phoenix tinha feito comigo, e como eu tinha feito com
ele. Eu desmaiei por dentro.

—Aqui à muitas outras revelações, e à salvar o


mundo, um item de cada vez.— Ele pegou minha taça
da minha mesa lateral, bebeu em uma virada e em
seguida, esmagou seus lábios nos meus novamente,
desta vez me deixando provar o álcool em sua boca.

O avião começou a decolar quando ele olhou mais


de perto o livro no meu colo. Ele agarrou-o,
examinando de todos os ângulos.

—Isso é bom?— ele perguntou.

—O melhor—, eu disse, descansando minha mão


na capa.

Ele colocou a mão na minha.

Meu coração sorriu com isso.


E tudo que eu conseguia pensar era, por favor,
não nos machuque.
Logo após a decolagem, enviei a Maman um
aviso do que estava por vir. Diplomacia não era
questão, mas se ela estava procurando direto e
honesto, ela certamente recebeu, e em espadas.

Célian: Pulando em um avião para discutir


sobre Mathias com você, que a propósito, fodeu
minha noiva há um ano. Consequentemente, eu
não tenho mais uma noiva. Mas estou trazendo
uma mulher, então mantenha suas garras
escondidas.
PS: Brianna reservou uma teleconferência
com toda a diretoria ainda esta tarde, e isso
inclui seu ex-marido promiscuo. Enviei-lhe
algumas gravações que você precisa ouvir,
então por favor, faça isso entre audições de
novos meninos brinquedo.

PPS: Eu falei sério sobre as garras. Estou


planejando manter esta por um tempo.

Depois que pousamos, se Judith ficou surpresa ao


descobrir que estávamos dividindo uma suíte do
Mandarin Hotel, ela não deixou transparecer. Ela
mergulhou de cabeça na enorme cama, fazendo um
anjo de neve nos lençóis. Eu não sabia por que isso
me fez querer fodê-la com tanta força, que eu a
pregaria no colchão. Eu só sabia que arranhá-la seria
uma merda, então optei por pular no chuveiro, já que
eu estava trabalhando por trinta e seis horas seguidas
para que pudéssemos fazer essa viagem, e
provavelmente cheirava como se algo tivesse morrido
dentro de mim, o que não estava longe.
Nós ainda não tínhamos discutido o término do
meu noivado corretamente. Eu não achei que valesse
a pena mencionar. Nós dois estávamos disponíveis
agora. Eu poderia foder Judith contra tela verde de
James Townley, com zero conseqüências, além de ter
que substituir a tela, que era algo que já estávamos
planejando.

Todo mundo no trabalho já estava a par do fato


de que Lily tinha conseguido a bota na bunda, depois
de sua pequena performance. Incluindo por definição,
Ava e Gary-Graham-Grant. Qualquer que fosse seu
nome.

Quando saí do banheiro, Jude estava na varanda,


os cotovelos no corrimão branco com vista para o
oceano. Sua bunda, vestida naqueles jeans pretos
rasgados, balançava de um lado para o outro quando
ela estava em pé. Eu ainda estava enrolado em uma
toalha quando me aproximei dela, apertando sua
barriga por trás e moendo minha ereção em sua
bunda.
—Passei algumas horas extras para cobrir o seu
rabo.— Mordi o lóbulo de sua orelha, sentindo seu
corpo se arrepiar por causa do meu toque.

—Parece que você ainda está cobrindo a minha


bunda—, ela disse, balançando a bunda redonda sobre
o meu pau que agora estava entre as bochechas dela,
através de seu jeans e minha toalha. Minhas mãos
deslizaram para baixo, desfazendo o botão da calça
jeans e deslizando o zíper para baixo.

— Curve-se e segure o corrimão, All Stars. Vai


ser um pouco duro.— Lambi meus lábios, deslizando a
calça jeans e calcinha de uma só vez e deixando cair a
toalha.

Eu não era muito exibicionista, por isso também


aluguei os quartos de ambos os lados. Mas é claro que
eu não ia deixá-la ficar a par do meu nível de loucura.
O que posso dizer? Ter a opção de foder Judith
Humphry em todos os lugares da sala e fora dela
tinha prioridade, e eu não era muito hedonista, mas
reservar um andar inteiro era um luxo que eu escolhi
fazer neste fim de semana.
Eu abri as bochechas da sua bunda e dei um tapa
na sua coxa externa preguiçosamente, enquanto
guiava meu pau em sua vagina já molhada. Eu queria
ir devagar e contínuo dessa vez. A última coisa que eu
precisava era que ela caísse da borda. Literalmente,
não figurativamente.

—Oh, Célian...— Meu nome em seus lábios era


como uma oração.

—Sim?— Eu perguntei, empurrando um pouco


mais forte, curvando-a para baixo para que a parte
superior do corpo estivesse nivelada com o meu pau e
colocando uma mão sobre a parte inferior das costas.

—Eu senti falta disso—, ela choramingou.

Eu também senti sua falta.

Mas é claro, ela não podia ordenar essas palavras


fora de mim, nem se a minha vida dependesse disso.
Eu bati em sua bunda em vez disso.
— Não imaginava você ser uma garota safada, All
Stars. No entanto, aqui está você, sendo fodida na
frente dele.

—Na frente de quem?— Um traço de pânico tocou


sua voz e eu ri, segurando sua cabeça e fodendo-a
um pouco mais.

—Kipling—, eu assobiei, olhando para seu


notebook deitado na cama atrás de nós, ao lado de
seu livro.

Ontem, depois que Lily a deixou louca em minha


redação, eu peguei Jude escrevendo em torno do
buraco profundo que minha ex tinha criado em seu
caderno, e eu suprimi a vontade de sair correndo e
morder seu lábio inferior na frente de todos. A
lealdade de Jude, até mesmo aos objetos, me
hipnotizou.

—Jesus—, ela gemeu quando eu empurrei mais


fundo nela. —Você é um idiota.

—Então, já me disseram isso um milhão de


vezes. Metade delas foi você.
Eu mergulhei minha mão entre as pernas dela e
esfreguei sua fenda, lambendo seu pescoço,
mandíbula e o interior de sua orelha. Eu não queria
admitir que foder com Judith era diferente, que eu
estava fazendo coisas com ela que eu normalmente
não fazia com minhas escapadas de uma noite. Eu
não era um amante atencioso. Eu não era
necessariamente contra comer buceta se ela
parecesse deliciosa, mas eu colocar minha boca em
uma rachadura significava que eu era realmente
estava louco por uma garota. E lambendo e chupando
cada parte do seu corpo enquanto a fodia? Essa era a
primeira vez. Eu nem me lembro de pegar Lily assim.

Senti Judith apertar e seus espasmos ao meu


redor, e então ela gozou por todo o meu pau, sua
bunda estremecendo contra a minha virilha. Eu queria
gozar tão forte quanto ela, então agarrei-a pelos
cabelos e virei-a, colocando-a contra o vidro da porta
da sacada.

—Segurança em primeiro lugar—, eu gemi


quando eu dirigi impiedosamente para ela. Minhas
bolas imediatamente apertaram e eu puxei para fora,
ordenhando meu esperma por toda a parte inferior
das suas costas. Isso foi mais parecido com uma foda,
não fazer amor. Eu dei a bunda dela um último tapa e
entrei no quarto, deixando a toalha no chão.

—Estou pedindo serviço de quarto. Limpe se e


deixe-me saber o que você quer, porque sua buceta
está prestes a ser o meu começo.

Nós nunca comemos a lagosta que pedi.

Jude disse que comer um almoço servido no


quarto era clínico e triste, que as refeições de férias
se igualavam a comida de rua suspeita de caminhões
questionáveis, e barras de chocolate 7-11 que você
nem sabia que existiam.

Ela estava implorando por intoxicação alimentar,


mas eu não podia negar. E esse era um problema que
eu estava começando a reconhecer. Havia algo de
livre e desequilibrado no modo como ela via a vida.
Sua falta de ganância materialista tanto me fascinou
quanto me corroeu.

Assim nós demos um passeio na praia, comemos


sanduíches cubanos e bebemos chá gelado na orla. A
comida era mais gordurosa do que o cabelo de Elijah,
ainda que estranhamente satisfatória.

Judith então perguntou se eu sabia como pular


pedras na água. Eu disse a ela que não havia muitas
coisas que eu não poderia fazer, e quis dizer isso. Eu
não mencionei que nosso empregado tinha me
ensinado como fazer isso durante as férias de verão
no nosso chateau em St-Jean-Cap-De-Ferrat. Eu
normalmente não tinha vergonha da minha formação
de elite, mas por razões desconhecidas, decidi
guardar isso para mim.
Ela me pediu para ensiná-la. Eu fiz.

—Pedras planas e redondas são as melhores. E


você tem quer jogar rápido.— Eu envolvi seus dedos
em torno de uma pequena pedra que encontrei.

Ela segurou na mão com um sorriso, parecido


com o que a Lily tinha me mostrado quando eu lhe dei
o anel de noivado. Ambas eram pedras. Apenas uma
valia mais que uma frota de Bentleys. No entanto,
Jude só se importava com as coisas importantes, o
que me lembrou de olhar para os pés dela.

—Amarelo?— Eu perguntei.

Ela sorriu maliciosamente. —Descubra essa.

Nós fomos dar uma volta, e eu não segurei a mão


dela, não a beijei e porra não respirei, porque não
confiava em mim mesmo para não fazer nenhuma
dessas coisas se sequer olhasse na direção dela.

Eu estava dividido entre gostar de como era


passar um tempo com ela e odiar como ela me fazia
querer coisas com as quais nunca me importei.
—Como está o seu relacionamento com sua
mãe?— ela perguntou.

Estamos oficialmente em território familiar.


Fodidamente fantástico.

—Tudo bem. Por quê?

—Às vezes me pergunto como é a sensação. De


ter uma mãe.

Eu levantei uma sobrancelha. Eu amava Maman,


mas não podia me comprometer em dizer que
tínhamos um ótimo relacionamento. Por um lado,
éramos parceiros de negócios e eu sabia que ela me
atropelaria pelo preço certo. Ainda assim, ela era
melhor que meu pai, não que isso dissesse muita
coisa.

—Depende da mãe. Eu tenho um pressentimento


de que seu pai é melhor do que ambos os meus pais
juntos, então eu não me preocuparia. —eu murmurei.

—Meu pai doente —, acrescentou.


—Não por muito tempo. Os crescimentos
secundários estão diminuindo e ele está respondendo
muito bem aos tratamentos.

—E como você sabe disso?— Ela parou de andar,


seu corpo inteiro apontando para mim, como uma
flecha.

Dei de ombros.

—Eu o visito todos os domingos quando você vai


à biblioteca.

Não era um grande negócio. Nós dois éramos fãs


do Yankee, e não era como se eu tivesse mais alguma
coisa para fazer. Minha carreira era minha vida, o que
significava que aos domingos eu não tinha vida. Meu
ponto fraco por Robert não tinha nada a ver com
Judith, e eu certamente não queria que ela pensasse
que eu estava esperando algo em troca. Além disso,
eu não queria que ela entendesse errado sobre nosso
relacionamento. Rob ainda estava certo de que ela
estava com Milton, então minha aposta era que ela
não contava que o nosso status de parceiros de foda,
fosse durar além desta temporada.

—Eu não posso acreditar que você não me


contou.— Ela sorriu, mas não pareceu surpresa.

Eu sempre chegava alguns minutos mais cedo. Eu


tentei dizer a mim mesmo que era porque eu não
queria que Jude esbarrasse em mim a caminho do
trem, mas na prática, eu gostava de parar na
delicatessen polonesa e observá-la pela janela,
enquanto ela caminhava para a estação com seus
fones de ouvido fundo em seus ouvidos. Eu sempre
me perguntei o que ela estava ouvindo.

—Sim. Bem.— Eu retomei nossa caminhada.

Ela seguiu, correndo atrás de mim.

—Você não pode simplesmente se afastar dessa


conversa. Você esteve visitando meu pai e cuidando
dele e você nem me contou, —ela ofegou.
Eu gostei das pequenas calças dela. Eu as queria
contra a palma da minha mão quando a pegasse em
algum lugar público, onde ninguém pudesse ouvir.

—Veja-me fazer exatamente isso. Me afastar


desta conversa.

—Célian, por quê?

—Por que estou andando? Porque eu posso.


Porque tenho pernas. Por que estou me afastando
dessa conversa? Porque é inútil, e isso não significa o
que você acha que significa.

Parei de novo, desta vez em frente a uma antiga


loja de discos com placas em espanhol cobrindo a
vitrine. Eu nem tinha certeza se estava aberto, mas
eu queria que parássemos de falar, porque eu não
estava pronto.

Chamar de relacionamento era uma coisa.

Agindo como se fôssemos um casal era outra.

Eu empurrei a porta. Eu entrei e ela entrou atrás


de mim. O lugar estava escuro, com apenas discos de
vinil à vista. Um homem que se parecia com Meatloaf
(o cantor, não o prato), estava roncando atrás do
balcão, driblando em uma cópia do NME. Judith
imediatamente calou a boca e começou a revistar.

Salvo pelo gongo, idiota.

Colocá-la em uma loja de discos era como dar a


um bebê uma chupeta. Apenas mais quente, porque
eu ainda lembrava da lista de reprodução dela e tinha
imaginado fodê-la inúmeras vezes enquanto
estávamos perto de nos matar no escritório.

—Você sabia que Barry Manilow não escreveu sua


música 'I Write the Songs'?— Ela tirou o disco do
cantor de um lote, sorrindo para mim.

Eu não sabia disso. Eu gostei que não sabia disso.


Meu nível de conhecimentos gerais era superior a
todos os outros na minha vizinhança, veio com o
território de fazer notícias e ter que saber tudo sobre
qualquer coisa. Mas Jude estava tão faminta por
informações quanto eu, o que a tornava ainda mais
atraente. Para não mencionar letal.
—Você sabia que 'Jingle Bells' foi originalmente
escrito para o Dia de Ação de Graças?— Eu rebatei.

—Impossível.— Ela fez uma cara de chocada, sua


mandíbula afrouxando.

Eu ri. Ela me cutucou com a ponta do disco que


ela segurava.

—A Marinha Britânica usa as músicas de Britney


Spears para assustar os piratas somalis. Eu tô falando
sério.

Nós estávamos jogando assim agora?

—O piano que Freddie Mercury toca em


'Bohemian Rhapsody' é o mesmo que Paul McCartney
toca em 'Hey, Jude'—, respondi, inclinando-me para o
rosto dela e sacudindo o pequeno nariz. — Ei, Jude.

Eu estava flertando? Eu estava. Mas por que? Não


fazia o menor sentido. Ela já era minha em todos os
aspectos que importavam. Ela estava na minha cama.
Eu enfiei meus dedos em cada buraco do corpo dela.
Por que eu estava fazendo isso?
Ela atravessou o corredor, seu ombro escovou
meu braço e soltou o disco no lugar, pegando outro
em seu lugar. Eu não vi o que era e decidi que não
me importava.

—Queen e Jimi Hendrix nunca ganharam um


Grammy. Justin Bieber sim,— ela sussurrou, seu
sorriso sinalizando que ela tinha vencido a batalha.

—Eu não devolvi o seu iPod porque queria manter


um pedaço de você comigo—, eu admiti.

E ganhou.

E perdeu.

E que porra é essa?

—O quê?— Seu sorriso foi apagado tão


rapidamente que você acharia que eu disse a ela que
estava dando drogas para o pai dela nas últimas
semanas.

Peguei o registro que ela estava segurando e fui


até o caixa para pagar.
Judith Humphry não queria que eu comprasse
coisas legais para ela. Mas isso não me impediu de
querer. Porque a verdade era que nunca aprendi a
demonstrar afeição. Eu fui ensinado como comprá-la.

O vendedor nem acordou quando eu coloquei um


bilhete em seu balcão, peguei uma sacola plástica e
coloquei o disco dentro.

Pet Sounds pelos Beach Boys.

Subestimado Romântico. Diferente.

Jude.

Eu nunca tinha apresentado uma mulher para


meus pais.
Lily Davis frequentou o mesmo clube de campo,
as mesmas escolas, e tinha uma casa de verão ao
lado da nossa em Nantucket. Eles a conheciam desde
que ela era um bebê. A melhor amiga de Maman era
sua madrinha, e ambos éramos esperados por nossas
famílias para que fizessemos dar certo, já que eles
podiam ver a receita potencial de tal união.

Foda-se os pais de helicóptero. Mathias e Iris


Laurent eram pais de jatos particulares. Eles queriam
que eu me casasse com a princesa da Newsflash Lily
Davis, antes de eu descobrir que meu pau era bom
para mais do que mijar.

Eu não estava nervoso. Não havia nada para ficar


nervoso. No que diz respeito a Judith, ela não seria
avaliada ou julgada. Eu disse a ela que minha mãe
estava com a impressão de que ela viria aqui para me
ajudar em meus deveres profissionais.

Minha mãe morava em uma cobertura, é claro. As


pessoas ricas adoravam colocar distância entre si e
pessoas no chão.
Mármore dourado e cheio de palmeiras, o
arranha-céu não fez nada para chamar a atenção de
Judith, que estava ocupada tirando uma foto de um
réptil colorido com seu novo telefone.

Fomos conduzidos por uma comitiva de


funcionários no minuto em que chegamos ao saguão.
Judith usava um modesto vestido preto e All Stars
pretos simples, com o cabelo amarrado para trás. Eu
estava de calça e camisa casual.

Mamãe preferiria me ver com uma mordaça de


bola do que com roupas casuais. O que,
naturalmente, acrescentou uma pitada de prazer
sádico ao meu estado de indiferença.

No elevador, - por que tudo acontece na porra do


elevador? - Jude se virou para mim e disse.

—Se ela começar a falar com você sobre Lily, eu


vou sair da sala.

—Odeio interromper sua festinha de culpa, mas


você não foi a razão pela qual terminei meu noivado.
—Eu sei. Mas ainda assim sairei.

Ainda assim, você tem mais moral em seu


mindinho do que a Lily em seu corpo inteiro.

Mamãe estava sentada em seu trono, - um sofá


estofado de David Michael, ainda adornado com a
etiqueta de preço pendente de 10 mil dólares - em
cima de seu tapete persa. A tag persistente foi um
erro horrendo eu presumi, mas não um que eu queria
corrigir, já que ela merecia o constrangimento de ter
seus amigos a julgando em silêncio.

Minha mãe era linda de uma maneira superficial.


Da mesma maneira que eu imaginei que Lily estaria
em cerca de vinte anos. Tudo estava muito preparado
e muito apertado, pele de couro em cabelos recém-
descoloridos.

Eu não poderia culpá-la por querer parecer mais


jovem. Meu pai tratava suas mulheres como se ele
fosse dono de uma concessionária de carros. Um
modelo mais novo e brilhante surgia a cada poucos
anos. O cabelo de Maman estava seco com perfeição e
ela usava um vestido de cetim prateado.

—Meu lindo filho—, ela ronronou, sem se


preocupar em se levantar do sofá.

Eu me aproximei dela, colocando um beijo em


cada uma de suas bochechas. Jude ficou atrás de mim
e ofereceu um pequeno aceno.

Eu gesticulei para minha companheira. —Esta é


Judith Humphry.

Não havia sentido em chamá-la de minha


funcionária, porque ela era muito mais do que isso, ou
minha namorada, porque eu não tinha certeza se ela
era.

Os lábios de Maman se curvaram em um sorriso


secreto, e ela fechou o dedo no ar, apontando para
Jude se aproximar.

—Eu não mordo, minha querida.

—Mas seu filho sim...— Eu ouvi Judith


murmurando baixinho enquanto ela passava por mim.
Ela apertou a mão da minha mãe. Poucos
minutos depois, a governanta nos presenteou com
cookies de pistache e café, e todos nos sentamos.

Em vez de esperar, decidi abordar o assunto para


o qual eu tinha vindo aqui.

— Você ouviu as gravações, mamãe?

—Eu ouvi. Como você conseguiu?

—Irrelevante. A questão é que Mathias está


tentando matar a LBC vendendo espaço publicitário
para partes questionáveis e cortando meu orçamento,
mesmo que estejamos fazendo lucros limpos. Em
outras palavras, ele está tentando enfraquecer nosso
produto ao injetar conteúdo comercial prejudicial no
canal.

—Soa como algo que meu ex-marido faria.

Iris Laurent era a única herdeira da LBC News


Channel. Nascida nos EUA e com raízes francesas, ela
se apaixonou por meu pai nas margens do St-Jean-
Cap-De-Ferrat, na França, sob as árvores e a
influência do champanhe caro. Ele era um ninguém
tentando ser alguém, um punk francês com um forte
sotaque e nada além de um saco de sonhos e muito
charme. Um ano depois, eles já estavam casados e
grávidos de mim. Mathias sabia uma coisa ou duas
sobre escalada social, mas minha mãe ainda detinha a
maior parte do poder na LBC, não o suficiente para
derrubá-lo, mas o suficiente para mantê-lo na ponta
dos pés.

Eu liguei meu laptop, conectando-o à enorme tela


plana à nossa frente.

—Me dê o resumo sobre as coisas.— Maman


alternou entre fumar um cigarro e chupar um cookie
sem comê-lo. Deus me livre.

—Os pontos ainda são fortes para o nosso show


principal, mas estamos nos debatendo em outros
horários. O programa matutino é um desastre de
trem, e o talk show político está perdendo força a
cada nanossegundo, devido ao fato de que Mathias
contratou alguém que não pode juntar duas sentenças
sem ofender nações inteiras.
—Seu pai tem mais cinco anos nele, se tiver
sorte.— A voz de Maman era doce de satisfação. —
Você não pode esperar?

—Nesse ritmo, a rede estará morta em cinco


meses.

—Bem, é muito lamentável então, que você tenha


interrompido o seu relacionamento com a Lily. A
família Davis detém dez por cento das ações da LBC,
e eles e eu teríamos a maioria. É por isso que eu te
empurrei para namorá-la quando você era criança. Eu
previ que isso aconteceria com seu pai.

— E eu teria apreciado o seu apoio à garota


Davis, se ela não abrisse as pernas para o seu ex-
marido. Agora, vamos nos concentrar em pegar o
tabuleiro para ver o quão perigoso é o jogo de
Mathias.— Eu apertei o botão de chamada de
conferência.

Jude se sentou ao nosso lado, longe da webcam,


e nos encarou curiosamente, Kipling no colo.
Minha mãe fez uma careta, colocando o biscoito
bem sugado de volta em seu prato.

A teleconferência foi minha idéia de inferno.

Meu pai parecia presunçoso em uma camisa


havaiana, sentado em um iate, esperançosamente em
algum lugar com piratas sudaneses, seu cabelo
encaracolado no peito espreitando para fora do
colarinho, um charuto entre os dentes e uma mulher
rindo no colo. Maman manteve a boca franzida
enquanto ele tossia os detalhes da série de acordos
que ele queria assinar, contando todos os milhões que
a rede iria fazer em receita.

O resto do conselho mordeu a isca no minuto em


que ouviram a palavra mágica receita.

—A LBC é uma empresa como qualquer outra.


Não é uma organização sem fins lucrativos.— Figurão
1.

—E o fato de o show principal estar se saindo tão


bem apesar do corte na equipe, significa que os
funcionários extras não eram necessários.— Figurão
2.

—Não, isso significa que meus funcionários


restantes estão quebrando as costas para manter o
nível de precisão e qualidade que nossos
telespectadores estão acostumados, para que então
você pode tratar suas terceiras esposas com um novo
conjunto de mamas—, eu disse com naturalidade,
empurrando minhas mãos nos bolsos para não
perfurar a tela.

—Meu filho é muito romântico—, meu pai bufou


em torno de seu charuto. —Ele é um bom jornalista e
um péssimo homem de negócios. Basta olhar para as
suas escolhas recentes. Vocês sabiam que ele
recentemente rompeu seu noivado com a bela Lily
Davis, herdeira da Newsflash Corp, porque ele se
apaixonou por uma repórter júnior? Do Brooklyn, não
menos.

Agora eu perfurei o tecido dos meus bolsos e


rasguei minhas calças. Foda-se, se eu soubesse como
ele ganhou essa informação, mas meu palpite era que
ela tinha vindo da própria Lily. Eu não sabia onde ela
tinha conseguido essa informação, mas eu tinha
certeza de que tínhamos um espião, porque as
chances de Judith abrir a boca e falar sobre nós para
alguém que não fosse Ava e Gary eram inexistentes.

Uma rápida olhada no rosto dela confirmou que


ela não era a #TeamMathias. Ela empalideceu como a
lua, levantando-se e se retirando da sala.

Minha mãe voltou a atenção para a tela.

—Você está sendo um absurdo, Mathias.— Sua


boca com batom vermelho franziu.

—Eu sou minha querida Iris? Eu me casei com


você e tirei metade do que você tem.—Ele riu
maldosamente. —Claramente absurdo não é a palavra
que você está procurando. Posso sugerir áspero?

—Se as sugestões fossem seu ponto forte, você


não seria segurado pelas bolas pelo seu filho.— Eu
arregacei as mangas, me cansando de sua pequena
farsa.
Maman ficou vermelha ao meu lado.

—A última coisa que você quer é que eu


realmente vá atrás de você, papai querido. Quanto
aos acordos, eles vão arruinar nossa reputação e
destruir todo o trabalho duro que fizemos. Podemos
também endossar publicamente crianças bebendo e
adolescentes pegando doenças sexualmente
transmissíveis. No momento em que a LBC morrer,
você não estará mais no comando, e eu serei
esperado para fornecer as respostas.

Mathias esfregou um cavanhaque invisível,


fingindo pensar na minha última declaração.

—O que vocês dizem pessoal? Vocês são os


figurões. Meu filho, além de romântico, também odeia
dinheiro. Deveríamos ou não aceitar os acordos?

Minha mãe acenou com a mão bem cuidada.

—Acho que devemos passar os acordos e


adicionar mais estagiários à redação para manter as
classificações atuais.
—Eu estou com Mathias neste aqui, Iris. Minhas
desculpas. —Figurão 1

—Eu também.— Figurão 2

—Eu três.— Figurão 3

Eu bati o laptop antes que minha mãe pudesse


responder, então o joguei do outro lado da sala. Bateu
contra a parede, caiu no chão e partiu ao meio.

Minha mãe sentou-se em seu sofá almofadado.


Seu queixo se enrugou, como se estivesse prestes a
chorar.

—Não diga nada—, eu avisei.

—Se você quer consertar isso, você precisa falar


com a Lily.

Foda-se Maman.

Ela pegou outro cigarro, soprando a fumaça para


o lado. Levantei-me e andei, passando meus dedos
pelo meu cabelo.
—Engula seu orgulho. Tome ela de volta. Judith é
uma garota legal, mas haverá muitas Judiths
entrando e saindo de sua vida. Há apenas uma Lily
que pode te salvar. Proteja a rede da sua mãe.

— A rede da minha mãe ?—Eu cuspi, rindo


incrédulo. — Onde diabos você esteve na última
década, Maman? Mesmo antes de você se mudar para
a Flórida, não dava a mínima para a LBC. Você só
compareceu às reuniões do conselho, e mesmo assim
foi sem entusiasmo e apenas pela chance de foder o
Papai de alguma forma. Você poderia ter administrado
você mesma, mas você escolheu dar para algum
idiota incompetente porque o trabalho não é sua vibe.
Eu gasto dez horas por dia na redação. Eu vivo isso.
Eu respiro isso. Eu como isso. Mas quando eu tomo
uma decisão que não tem nada a ver com isso, de
repente é um problema. Esta rede não é mais sua do
que minha. Só porque a Lily nasceu na família certa,
não significa que ela é certa para mim. E essa merda
de casar com alguém sem enfrentar a porra da cara
dela? Eu tive um lugar na primeira fila para esse
cenário em casa, e tenho certeza de que não estou te
dando spoiler quando digo que acabou mal. Uma
última coisa, Judith de fato, não é descartável,—
observei. —Mas eu conheço algumas pessoas que são.

Agora foi a vez de minha mãe se levantar e jogar


as mãos no ar.

—Tudo o que sempre desejamos é que você e


sua irmã fossem felizes. Não me dê essa atitude de
sou-mais-santo. Se me lembro, você também não é
inocente.

Chutei a preciosa moldura do seu sofá. O preço


caiu, e eu tive um prazer doentio em como isso era
simbólico.

—Sim, você nos fez felizes pra caralho.


Especialmente a parte em que papai mandou o
namorado de Camille para a maldita zona de guerra
para mantê-lo longe dela, porque o sangue dele não
era azul o suficiente, então começou a foder minha
noiva. Tudo isso enquanto você estava de pé, fazendo
exatamente o que? Encontrando o jovem com a
bunda mais quente da minha idade? Realmente, vocês
dois deveriam organizar um talk show sobre como
criar crianças. Ou você sabe, como matá-los.

Ela piscou para mim, segurando sua boca com a


mão que segurava o cigarro.

—Eu pensei que você tinha sido o único a mandar


Phoenix embora.

Eu me virei, olhando para ela. — Huh?

Ela esfregou o lado da testa, procurando uma


pessoa imaginária para explicar tudo a ela. Lágrimas
se juntaram nos cantos dos seus olhos. Perdida. Ela
parecia perdida.

—Quando perguntei a Mathias o que aconteceu,


ele disse que você mandou Phoenix para a Síria, e que
ele nunca se perdoaria por deixar você sair impune. —
Eu estava brava, Célian, tão brava. Eu me divorciei
dele apenas por não ficar firme, mas não consegui me
divorciar de você. Você é meu bebê. Eu tentei muito
não segurar isso contra você. Eu te amo muito. Eu
sempre vou, mas eu não sabia por que você precisava
interferir na vida de Camille assim. Você e Camille...
você era diferente. Eu te chamei de Célian porque
você era como a lua para mim. Você era uma luz
brilhante no momento mais sombrio da minha vida.
Eu dei a Camille o nome dela porque ela era pura,
sem mácula. Ela sempre foi tão diferente de nós. Um
espírito livre. Ela amava quem amava e não se
importava com as consequências. Isso era o que a
fazia diferente.

Não, eu queria corrigir. Isso era o que a fazia


boa.

Camille tinha sido mais feliz que o resto de nós.


Seu sorriso era contagiante. Eu costumava puxar suas
tranças e chamá-la de sol, porque seu rosto era
redondo, com bochechas cheias e sempre brilhante.
Porque eu era a lua.

Eu balancei a cabeça.

—Ele mentiu. Ele sempre mentiu. Por que você


acreditaria nele? A única razão que o deixei fazer isso,
foi porque imaginei que se eu pudesse brincar de
casinha com Lily Davis, ela poderia encontrar outro
garoto fodido para irritar o papai. Quando percebi que
ela estava infeliz e contei a verdade, ela correu para a
rua.

—Eu pensei que ela estava brava com você.

—Não. Ela estava com raiva de Mathias.

—Então por que você sempre achou que foi sua


culpa?— Ela se jogou no sofá, segurando a cabeça
entre as mãos.

—Porque eu deveria ter dito a ela em outro lugar.


Porque eu deveria ter lutado com Mathias. Porque eu
falhei com ela.

Havia uma mesa de café e um oceano entre nós,


e percebi que não dera a Jude toda a verdade quando
ela perguntou sobre o meu relacionamento com
minha mãe. Com toda honestidade, eu não tinha
nenhum relacionamento para falar com nenhum dos
meus pais. A verdade, era que eu não tinha mais uma
irmã ou uma noiva. Eu não estava menos solitário do
que ela.
—Você nunca amou Lily—, a voz de minha mãe
se suavizou, e seus olhos seguiram o exemplo.

Eu balancei a cabeça. Um ano atrás eu cuidava


dela, - de uma maneira fodida. Mas dizer que não a
amava agora era como dizer que eu não gostava de
comer pedras de merda - Uma verdadeira declaração
de merda.

Maman assentiu.

—Você pode salvar a LBC?

—Não se o preço for ser infeliz para o resto da


minha vida.

Eu inclinei meu queixo para cima. Todos os


fodidos maneirismos de um idiota sem coração,
tinham sido apanhados em casa de qualquer maneira,
então ela dificilmente poderia me culpar por eles.

Ataques cardíacos aos cinquenta.

Garotas sem nome de biquíni todo fim de


semana.
Uma ex-mulher que adoraria me ver em um
caixão.

Yeah, não obrigado.

Eu não queria a vida do meu pai. Eu pegaria


macarrão de merda e um jogo dos Yankees em um
apartamento de dois quartos no Brooklyn todos os
dias da semana, a uma cobertura isolada de dezesseis
milhões de dólares.

No entanto, assistir aos negócios da minha família


morrer, estaria me fazendo infeliz. Eu estava indo
direto para a miséria, não importava qual caminho eu
escolhesse.

Mamãe levantou-se, andou cautelosamente em


minha direção, ficou na ponta dos pés e beijou minha
bochecha, seus lábios parando no meu ouvido.

—Você não é nada como Mathias—, ela


sussurrou, —eu prometo a você.

Nenhuma merda.
Eu arrastei minha mala pelas escadas até o meu
apartamento, deixando escapar um gemido feroz. Por
que eu embalei meu quarto inteiro antes de ir para a
Flórida? Ah, isso mesmo. Porque eu queria deslumbrar
meu chefe emocionalmente irritado, exibindo meu
guarda-roupa sedutor, consistindo em vestidos
conservadores de bibliotecária de oitenta anos e uma
quantidade insalubre de All Stars.

Célian se ofereceu para me ajudar com a mala,


mas eu recusei educadamente, e acho que ele ficou
aliviado.
Ele sabia que papai ainda achava que eu estava
com Milton. Por mais que meu pai gostasse dele, ele
socava nós dois em nossos órgãos reprodutivos, se
ele pensasse que eu estava traindo o meu namorado
de longa data.

Nosso refúgio na Flórida tomou um rumo azedo


depois que saímos da casa de sua mãe. O pular de
pedra e as compras de discos, foram substituídos pela
fodida aura escura habitual em que estávamos,
perdidos em um tornado de sentimentos e dormência.
Nós andamos pela rua principal em um pesado
silêncio antes de Célian me arrastar para um clube de
dança cubano. Nós vimos outras pessoas dançarem e
se misturarem, enquanto bebíamos tequila.

—Seu pai parece pensar que você se apaixonou


por mim.— Eu tentei rir disso.

Ele pressionou o polegar no meu lábio inferior e o


empurrou para baixo, lambendo o interior dele.
—Meu pai acha que as mulheres devem ficar na
cozinha e o aquecimento global é uma farsa. Vamos
tentar não levá-lo muito a sério.

—Célian...

—Eu não te odeio, Judith—, ele disse. —E isso é


mais do que posso dizer sobre o resto do mundo
agora. Nós tropeçamos de volta para a nossa suíte de
hotel e fizemos sexo suficiente para repovoar um
continente inteiro, se fosse assim que o sexo
funcionasse.

Foi com raiva e triste e íntimo. Sentíamos como


se tivéssemos subindo juntos no ar e evaporado em
algum lugar mais seguro, melhor.

Mas no fundo da minha mente, ainda me


lembrava que eu era um obstáculo para Célian.

Que todos os seus problemas profissionais


poderiam desaparecer se eu saísse de cena.

Ele poderia se casar com Lily. Ou pelo menos


ficar noivo para sempre.
Ele poderia salvar a LBC.

Ele poderia ter tudo para o que ele trabalhou, por


muitos, muitos anos, e ainda ser o bastardo
desprendido que pegava estranhas em bares para
satisfazer seus desejos físicos.

Descomplicado. Direto. Simples. Apenas do jeito


que ele gosta.

Naquela tarde de domingo, eu abri a porta do


meu apartamento e congelei na soleira, meu coração
caindo na boca do meu estômago. Minha mala caiu no
chão com um baque. Não.

Meu pai estava sentado à mesa de jantar, tendo o


que parecia ser uma conversa agradável com Milton
sobre meus donuts e xícaras de café favoritas em
Manhattan. Meu ex-namorado riu de todo o coração e
empurrou algo sobre a mesa, e foi quando notei que
eles estavam jogando Scrabble.

Fan-fodido-tástico..
—Ah, aí está você!— Milton bateu palmas e girou
seu corpo para mim em sua cadeira, seu rosto
brilhando com um sorriso genuíno.

Ele parecia bonito em uma camisa polo e novo


corte de cabelo, mas de uma maneira genérica. Ele
não só não chegava aos pés de Célian, como ele nem
sequer poderia chegar a um dedo mínimo. Não que a
beleza tivesse alguma coisa a ver com o fato de que o
café da manhã do serviço de quarto estava
ameaçando subir na minha garganta para outro festa
de vômito. Outra coisa que Milton comia poeira pra
Célian, era em ser fiel, mesmo quando não estávamos
tecnicamente juntos.

—Olá.— Joguei minhas chaves na tigela feia que


a Sra. Hawthorne tinha nos dado pela porta da frente,
olhando entre eles.

Papai colocou as cartas na mesa e se virou no


banco.

—JoJo! Milton me contou tudo sobre o seu fim de


semana nos Hamptons. Você não deveria ter ido
direto para o escritório quando retornasse. Você
poderia ter pelo menos voltado para cá e deixado a
mala.

Milton sorriu sadicamente, arrumando as pecas


no quadro à sua frente. E-n-g-a-n-a-d-o-r

—Enganador, —ele soletrou a palavra em voz


alta. Espinhos correram pelos meus braços, fazendo
os pequenos cabelos ficarem em pé.

—Essa é boa.— Meu pai bateu palmas. —


Inteligente como um chicote, filho.

—Obrigado, senhor. Baby, posso te oferecer um


coração com um buraco?— Ele pegou um donut em
forma de coração da caixa branca aberta sobre a
mesa, fazendo sinal para eu pegá-lo. Ele se referia a
mim como baby, embora eu tivesse passado o fim de
semana fazendo coisas muito adultas com outra
pessoa, e ele sabia disso. Milton também sabia
quando veio até aqui, o que desencadeou os alarmes
em todos os meus sistemas internos. Minha boca
secou.
Isto é ruim.

—Estou bem. Eu realmente enchi minha boca


enquanto estava de férias.

O sorriso nos meus lábios parecia barro. Eu não


estava planejando contar a papai sobre Célian quando
voltei, mas após a conferência desastrosa, eu senti
como se estivesse andando em uma corda bamba,
prestes a cair da graça e nos braços do coração
partido.

Eu sabia o que deixaria meu amante livre das


garras de seu pai. Mas doía como o inferno, o conceito
de deixá-lo ir para que ele pudesse salvar a única
coisa que ele amava.

Mas não era essa a essência de cuidar de outra


pessoa? Se machucar para que eles não precisassem?

—Então que tal uma caminhada?— Milton


animou-se como uma avó apaixonada. —O tempo
está bom. Nós não damos uma volta no seu bairro há
algum tempo.
Isso porque você decidiu transar com sua chefe,
enquanto eu estava ocupada correndo por Manhattan
procurando emprego.

Tanto faz. Tirá-lo daqui não foi uma má ideia.

Eu levantei um ombro. —Certo. Deixe-me me


refrescar.

Depois de uma rápida parada no banheiro,


durante a qual olhei para o espelho e prometi a mim
mesma que não ia de fato estrangular meu ex-
namorado, saí e dei um beijo de despedida em meu
pai.

—Volto em alguns minutos—, assegurei a ele.

Eu. Não nós. O diabo estava nos detalhes, e eu


esperava que meu próprio mini Satã o ouvisse
enquanto ele se despedia do meu pai.

Milton e eu saímos do prédio e viramos à direita


na direção da estrada principal, como havíamos feito
muitas vezes antes. Esperei que ele falasse, porque
não tinha certeza da extensão de seu conhecimento
sobre minha vida amorosa.

—De nada aliás por te salvar nisso.— Ele


apontou o polegar para trás do ombro.

Eu fingi limpar minha testa.

—Obrigada, Capitão Salve-a-Vadia. Você gostaria


que eu te costurasse uma fantasia? Qual é o seu
superpoder, alavancar na empresa usando seu pau?

Ele bateu o ombro contra o meu, sorrindo.

—Isso é ouro, vindo de uma menina que estava


prestes a perder sua casa há cinco minutos, e
milagrosamente encontrou um homem para pagar sua
dívida, em troca de favores sexuais.

Como diabos ele sabia? Eu engasguei com a


minha saliva, tossindo enquanto ele continuava a
passear ao meu lado.

— O Coração é um Caçador Solitário —, disse ele,


arrancando um pedaço de folhas das árvores que se
curvavam sobre nós.
Eu me encolhi. Eu odiei quando ele fez isso. Era
um grande foda-se a natureza.

—Seu pai me contou tudo sobre o livro. Faz


sentido agora Jude, que você pensou que era o seu
destino, que você não me deixou entrar. Você foi a
namorada mais doce e mais calorosa que eu já tive,
mas sempre faltava algo sobre nós. Eu sempre
ansiava por você um pouco mais do que você me
queria. E isso sempre me deixou louco. Elise era...
Elise. Ela me fez sentir como se eu fosse um grande
negócio, sabe? Inteligente, engraçado, jovem. Todas
as coisas que não te impressionavam exatamente. De
repente, fiquei ressentido por você não ser a pessoa
que me dizia todas essas coisas.

—Sinto muito que você tenha se sentido assim,


mas isso soa muito como uma desculpa, e trair não é
algo que você recorra. É algo que você decide fazer.—
Eu chutei uma pequena pedra na calçada. Milton não
olhou para baixo para verificar a cor dos meus All
Stars. Ele não se importou.
—E é por isso que estou aqui—, continuou ele. —
Para dizer a você que eu entendi. Eu cometi um erro e
sinto muito, Jude. Sinto muito mesmo. Mas é hora de
seguir em frente. Olha, eu sei como ter um caso com
Célian Laurent deve fazer você se sentir invencível. Eu
estive lá com Elise também. É poderoso, certo? Faz
você pensar que está no alto do seu jogo. Você é
desejado por uma força da natureza, uma autoridade,
e obtém toda a afirmação de que precisa. Mas não é
real, baby. O que você e eu temos, isso é real.
Costuramos nossa aveia e agora é hora de voltar.
Para nós.

Eu parei no meu caminho. Ele parou ao meu lado,


inclinando a cabeça para o lado, meio sorrindo, meio
semicerrando os olhos para o sol.

—Espere. Quem te disse isso?— Minha voz era


uma xícara de café muito cheia, segurada por uma
mão frágil, derramando nas bordas.

—JoJo, não é importante.


—Você perdeu o direito de considerar o que é
importante para mim, no dia em que você enfiou seu
pau em outra pessoa.

Ele franziu a testa e deu um passo para trás, e


quando ele piscou, sua expressão mudou. Foi como se
ele tivesse visto pela primeira vez quem eu realmente
era, e ele não gostou da vista.

—Você está brincando comigo aqui? É nisso que


você está se concentrando? Depois que você voltou de
um final de semana fodendo com seu chefe, -ninguém
menos que o diretor de notícias da LBC-, não apenas
estou disposto a te aceitar de volta, mas eu também
salvei sua bunda e joguei Scrabble com seu maldito
pai.

—Primeiro de tudo — Eu levantei meu dedo


indicador. — Ele não é meu maldito pai. Apenas meu
pai. Meu pai doce e carinhoso, e jogar Scrabble com
ele, dificilmente é um fardo. Em segundo lugar,— eu
apontei o mesmo dedo para ele. —Ninguém pediu
para você cobrir para mim. Eu não cometi um crime.
Eu só queria poupar meu pai da preocupação de saber
que terminei com você. E em terceiro lugar— eu
empurrei seu peito, e ele tropeçou para trás, seus
olhos se arregalando em descrença. —Esta conversa
acabou, a menos que você me diga como você sabe
sobre o meu suposto relacionamento com meu chefe.

—Entre fazer manchetes sujas, talvez o Sr.


Laurent deva ensinar a você que revelar fontes é um
grande não, em nossa indústria.— Milton se
recuperou, sorrindo diabolicamente.

—Nós não fazemos manchetes sujas.— Eu fiz


uma careta.

—Você está prestes a fazer isso.

As orelhas de Milton coraram, como quando a


adrenalina corre através dele.

Ele estava me ameaçando?

Ele esfregou a mandíbula, virou-se e deu um soco


no muro de tijolos vermelhos atrás dele.

—Filho da puta! Você perdeu a cabeça, Jude?


Célian Laurent não é seu namorado. Ele nem é seu
amigo. Ele é seu chefe endinheirado e você, baby... —
Ele balançou a cabeça, rindo. —Você está calçando All
Stars. Ele se casará com a garota Davis, como toda a
sociedade e elite de Nova York espera que ele faça.
Estou te oferecendo segurança. Eu posso fazer de
você uma mulher honesta. Eu traí. Você traiu.
Vamosecer e seguir em frente.

Eu trapaceei?

Eu trapaceei?

Mordi minha língua com tanta força que o gosto


metálico do sangue rolou dentro da minha boca.

—Posso te pedir uma coisa, Milton?

Ele se encostou na cerca, sua expressão tensa


desenrolando-se em um sorriso de perdão.

—Baby, é claro.

—Fique longe de mim. E eu quero dizer pra


sempre. Mesmo se você não tivesse me traído, -o que
você fez, várias vezes-, eu ainda não aceitaria você de
volta. Meu relacionamento com Célian Laurent, -se é
que ele existe-, não é da sua conta, nunca será. Mas
só para constar, tudo o que eu fiz ou o que não fiz
com as outras pessoas, foi bem depois que eu peguei
você dando a sua chefe, um item que estava acima
das suas obrigações contratuais. E antes mesmo de
pensar em me ameaçar dizer a verdade ao meu pai,
não se preocupe, eu mesma vou contar a ele. -Agora,
na verdade-. Quanto ao resto do mundo, eu não me
importo. Isso não é até logo. Isso é um maldito
adeus. O tipo de adeus que termina em uma nota
amarga, com nós dois cortando os laços
completamente.

Eu me virei e fui para casa, sem me incomodar


em olhar para trás e ver sua reação. Entrei na porta e
papai estava no chuveiro. O fato de que ele estava se
sentindo bem o suficiente para ter um banho por
conta própria, sem precisar de mim em casa, fez
borboletas esticar suas asas dentro do meu peito.
Marchei até o Scrabble na mesa, eles estavam no
meio do jogo quando partimos, mudei as pedras de
enganador para desafiador e sorri.
Isso é mais parecido.

A vida é cheia de surpresas.

Houve boas surpresas, como descobrir que a


boceta de Jude tinha gosto de melado e era mais forte
que meu punho. Havia também surpresas ruins, como
encontrar minha ex em pé, dentro do meu
apartamento, minhas chaves sobressalentes
penduradas em seus dedos em triunfo,
completamente nua.

Novamente.
Larguei minha mala e estalei meu pescoço,
caminhando direto para o bar. Felizmente, nós
havíamos terminado as coisas antes que eu tivesse a
chance de me tornar um alcoólatra completo. Lily
certamente pareceria melhor por trás da névoa do
licor.

—Você é oficialmente nudista? Eu não vejo você


usando roupa por um tempo, —eu ponderei,
desabotoando os dois primeiros botões da minha
camisa.

—Você é engraçado—, ela sussurrou, no que eu


assumi ser uma forma de ser sedutora.

—E você está nua. Para uma garota rica, você


poderia usar um novo guarda-roupa. Como você
conseguiu minhas chaves?

Parte de mim queria saber, e a outra temia matar


a pessoa que tinha dado a ela, não que houvesse uma
longa lista para escolher. Mas se fosse alguém da
administração, eles poderiam se despedir do trabalho.
—Seu pai me deixou entrar no apartamento da
sua irmã. Ela tinha uma chave sobressalente e,
quando o porteiro me viu com ela, eu disse a ele que
voltamos a estar juntos.

Algo caiu em algum lugar da sala, mas porra, se


eu soubesse o que era. Talvez meu coração. Eu ouvi o
baque de encontro com o chão.

Camille era a única pessoa que eu deixava entrar


em meu apartamento livremente, e o seu ainda
estava vazio, porque nenhum de nós tinha coragem
de tocá-lo. Lily esteve dentro dele. Movendo coisas.
Levando as coisas. Respirando o mesmo ar que
Camille tinha. Raiva borbulhou sob a minha pele, e eu
agarrei o copo com tanta força que ouvi estalar
suavemente.

Eu olhei para baixo quando pequenos rios de


sangue começaram a abrir caminho dentro da minha
palma.

—O que você quer?


— Eu contei ao seu pai sobre o seu caso com a
putinha loira. Ele está muito feliz por você.

—Aposto que ele está, e ela não é uma putinha.


Se você precisa de um ponto de referência sobre
quem é, basta olhar no espelho. Vou perguntar de
novo, antes de ligar para a segurança para te tirar
daqui, nua. Por quê. Você. Está. Aqui?

—Eu quero que voltemos —, disse ela depois de


uma pausa de silêncio.

Eu nem sequer tenho nada em mim para rir. O


que quer que ela estivesse fumando, essa merda era
feita apenas de veneno de rato, sabão em pó e
laxantes.

—Não. Algo mais?

—Eu tenho uma ideia—, disse ela. —Me ouça.

Eu me virei para encará-la. O primeiro


gotejamento de sangue da palma da minha mão
bateu no meu chão. Eu ignorei isso.
—Uma ideia? Você sabe como soletrar uma
palavra?

Ela deu um passo em minha direção. Engraçado,


apesar de toda a sua nudez, Lily nunca se esqueceu
de manter seus saltos de solado vermelho. Eu levantei
a mão, deixando-a saber que havia uma linha invisível
entre nós, e isso não deveria ser cruzado. Ela inclinou
um quadril contra a minha mesa de TV, não se
incomodando com a minha mão ensanguentada.

—Eu tive uma longa conversa com o seu velho.—


Ela lambeu o lábio superior.

Interessante escolha de palavras de uma mulher


que o deixava dar-lhe boca-a-boca com seu pau. Eu
levantei uma sobrancelha.

—Ele estava fora neste fim de semana, mas ele


enviou alguém para abrir o apartamento de Camille
para mim. Acabamos tendo uma longa conversa, na
qual ele fez alguns pontos interessantes. O primeiro é
que você está explorando sua empregada dormindo
com ela. E antes de dizer que é consensual, por favor,
tente pensar em como seria nos olhos de cada rede
concorrente, que a pessoa que empurrou o
movimento #MeToo - que seria você, Célian-, não
está apenas dormindo com sua repórter, mas na
verdade...— Ela engasgou teatralmente, batendo a
mão na boca. —Pagou todas as suas dívidas. E sim,
eu passei por seu lixo para encontrar seus extratos
bancários, para um homem que defende salvar o meio
ambiente, você deveria realmente ficar sem papel, e
valeu totalmente a pena.

Um sorriso satisfeito agraciou seus lábios. —


Então o que temos aqui? Um chefe dormindo com sua
pobre empregada e pagando para livrá-la de seus
problemas. Para piorar a situação, ela foi promovida
do blog de beleza de merda para a redação, e depois
promovida como repórter. Você realmente demitiu
alguém para dar lugar a ela. -Oopsie Oopsi- Steve é o
filho da melhor amiga da minha mãe. Ele me contou
tudo sobre como você olhava para ela quando tinham
suas reuniões.
Deveria saber que Steve tinha mais alguns
trunfos fodidos em sua bolsa antes de deixar minha
redação. Ele tinha um rosto implorando para ser
socado, e eu deixei ele ir embora com o nariz intacto.
Eu não tinha ninguém para culpar além de mim
mesmo. Eu corri meus dedos manchados de vermelho
sobre o meu queixo.

—Tenho certeza de que é assim que as pessoas


vão ver isso.— Ela estalou a língua, alongando-se e
estava nua, muito nua. Eu queria cobri-la com alguma
coisa. Um caixão, talvez. Lily ficaria muito bem nisso.

—Eu não me importo em como as pessoas vão


ver isso. Eu empreguei Judith Humphry porque ela é
uma repórter talentosa e trabalhadora, e eu a fodo
porque ela é uma excelente transa. Esses dois não
têm nada a ver um com o outro.

Eu estava minimizando todo o meu acordo com


Jude, mas eu não queria que Lily colocasse esse
rompimento na minha funcionária. Não era justo para
Judith e estava longe de ser verdade.
—Ela vale tudo pelo que você trabalhou?— Ela
beliscou o lábio inferior entre os dedos nervosamente.

Sim. Sim ela vale.

O pensamento me atingiu como um raio. Judith


era digna, e eu odiava que seu valor continuasse
subindo, enquanto as pessoas ao meu redor só me
deixavam mais para baixo. Ela era trabalhadora,
engraçada, peculiar e sexy em seus All Stars. Ela
manteve-se com a minha língua afiada e me devolveu
na mesma moeda. Ela trouxe donuts para o trabalho,
quando ela sabia que seus colegas estavam
enfrentando um dia longo e desafiador e roubou as
mini garrafas de Jack Daniels para Brianna em alguns
momentos onde eu era particularmente uma merda.
Quando Jessica precisava de ajuda com sua carga de
trabalho, Jude sempre se oferecia, mas nunca fez um
alarde sobre isso ou se certificou de que eu soubesse.
Ela era tão graciosa e despretensiosa, e eu sabia que,
mesmo que eu perdesse a LBC amanhã, fosse expulso
do meu apartamento, fosse retirado da minha herança
e processado em cada centavo que ganhei, ainda
assim, eu não perderia o valor aos seus olhos. E isso
era inestimável.

—Saia—, eu bati, pegando o vestido da Lily do


meu chão, deliberadamente usando a minha mão
sangrenta para manchar seu precioso Prada.

—E desta vez, só para estarmos na mesma


página, se você voltar aqui, vou me certificar de
colocar uma ordem de restrição em sua bunda. Não
será bonito, já que você terá que se mudar de
Manhattan, e você dificilmente encontrará seu
caminho na porra da Bloomingdales. Fui claro?

—Vou levar essa história para toda a imprensa.


Muitas pessoas já sabem.

Ela se jogou em mim, seus punhos batendo no


meu peito. Eu a empurrei para longe com a palma da
mão pingando, na esperança de que seu tipo de
loucura não fosse contagiosa.

—Vá fazer isso, Lily. Mas coloque algumas roupas


primeiro. Você sabe, para impressionar.
—Por que você está lutando contra nós?

—Por que você está lutando para nos salvar? Nós


deixamos de existir há muito tempo atrás. Você está
andando em círculos. Não estamos juntos há mais de
um ano. Seus olhos dispararam para baixo.

—Eu pensei que isso ia mudar. Pensei que você


se acalmaria e perceberia que ainda éramos
compatíveis depois do casamento.

Cristo. Esse foi o processo de pensamento dela?


Pensar que quase me casei com um gênio.

—Você pensou errado.

Dois minutos depois, eu bati a porta na cara dela


(depois que ela colocou algumas roupas, obrigado,
porra) e peguei meu celular do meu bolso para
mandar uma mensagem para Judith.

Célian: Lily sabe.


Jude: Milton também. Ele estava aqui
quando cheguei em casa. Estou dizendo ao meu
pai a verdade sobre terminar com ele esta noite.
Precisamos de um plano de jogo.

Célian: George Michael.

Jude: ?

Célian: George Michael é o nosso plano. Nós


estamos saindo do armário.

Jude: Você acabou de fazer uma piada do


Grayson?

Célian: Esse é o nome verdadeiro do Gary?

Jude: <enviou um GIF de Ross de Friends


batendo os punhos>

Célian: De qualquer forma, Lily está


ameaçando me chantagear afirmando que eu
estou assediando você. Estou te fodendo contra
a sua vontade, senhorita Humphry?
Jude: Não. Mas eu não quero o estigma de
ser —aquela garota— no trabalho.

Célian: Que estigma é esse? Nós não vamos


nos casar. Estamos transando um com o outro
casualmente e consensualmente. Ninguém está
sendo promovido tão cedo.

Jude: Certo.

Eu queria diminuir o peso que ela tinha no meu


mundo, sabendo que poderia muito bem me esmagar
se eu não fosse cuidadoso.

Eu odiava como a idéia de sair às claras, e dizer a


todos que estávamos em segredo juntos me atraía,
embora estivesse prestes a matar minha reputação e
tornar a vida de Judith vinte vezes mais difícil no
trabalho.

Acima de tudo, eu odiava que eu fosse machucá-


la.
Não porque ela merecia, mas porque eu não
sabia como não fazer.
A culpa mordiscou meu intestino quando papai
exclamou como estava feliz por mim.

Por nós.

É claro que eu havia adoçado a situação a ponto


de parecer um churros.

Em vez de dizer a ele que agora eu estava muito


feliz solteira e transando com meu chefe sem coração,
eu pintei uma foto em rosa suave e azul bebê vívido,
no qual Célian e eu nos apaixonamos
desesperadamente e decidimos ficar juntos.
Ele engoliu a coisa inteira e pediu por um
segundos, esclareceu sobre o tratamento
experimental e disse que amava Célian como um
filho.

Amava. Como. Um. Filho.

Papai me implorou para convidar Célian para o


jantar na qualidade de um casal normal, e eu cedi,
principalmente porque eu sabia que Célian não nos
recusaria.

Desde que ele optou por não voltar com Lily,


qualquer frente única que iríamos oferecer certamente
ajudaria em nosso caso. Além disso, quem diabos
sabia o que éramos?

Às vezes parecia um relacionamento.

Muitas vezes, como um segredo sujo.

Às vezes ele era frio.

Muitas vezes ele queimava.


Na segunda-feira de manhã, todos entraram na
primeira reunião de resumo, parecendo sombrios e
sobrecarregados. Coloquei Kipling na mesa e deslizei
para o meu lugar de sempre, abrindo uma grande
caixa branca de donuts.

—Esse hábito vai te quebrar, menina.— Kate


pegou um de chocolate, me cumprimentando batendo
ombro contra o ombro.

—É como ameaçar uma freira com um crucifixo.


Eu já estou.— Eu lambi o açúcar em pó de uma
massa, enquanto Jessica passava um café para mim e
para Kate.

—Como foi o seu final de semana?— As duas


perguntaram em uníssono, mas Kate apareceu com
um sorriso malicioso.

Ela e Célian eram próximos, mas ele ainda era


um cofre, então optei pela imprecisão.

—Relaxante?— Oh, caramba. Eu coloquei um


ponto de interrogação lá? Isso não foi suspeito.
—Isso é uma coisa que eu não acredito.

A sala inteira levantou uma sobrancelha coletiva


enquanto Célian passava pela porta. Ele parecia tanto
chateado e perfeito em um terno cinza pálido, sua
carranca era tão profunda que eu mal conseguia
distinguir seus olhos. Brianna seguiu seus passos,
deslizando seu Starbucks e iPad na frente de seu
assento.

—Eu perguntaria como foi o fim de semana de


todo mundo, mas isso implicaria que eu dou a
mínima. E eu não dou, porque nós temos peixes
maiores para fritar. Estou falando de criaturas do
oceano do tamanho de uma baleia. Esta é a primeira
e última vez que vou abordar este assunto, então
sintam-se à vontade para nunca mais me perguntar
sobre isso novamente.

Ele largou o telefone e alguns documentos na


escrivaninha, enxotando sua assistente.

—A LBC acaba de assinar um acordo de um


anúncio com uma empresa de marketing especializada
em álcool, preservativos e jogos de azar. Você vai
ouvir sobre isso na mídia e em seus bares locais e no
maldito Twitter. Não se envolva. No que nos diz
respeito, estamos fazendo notícias imparciais por um
período. Entendido?

Todos assentiram solenemente. Elijah levantou a


mão para perguntar alguma coisa. Célian caiu em sua
cadeira com um suspiro. —É sobre o acordo?

—Sim.

—Não quero ouvir isso. Vamos para os negócio.

James Townley levantou os olhos de um jornal


que estava segurando. —Qualquer outra coisa que
você gostaria de abordar?

Célian lançou-lhe um olhar.

—Você está se referindo ao seu problema de


bronzeamento artificial? Porque eu posso realizar uma
intervenção, mas provavelmente não até a próxima
semana. Horário ocupado e tudo.

—Eu estou falando sobre o elefante na sala.


James franziu a testa, preocupação gravando seu
rosto. Ele deu um tapa no jornal com as costas da
mão antes de virar em direção ao seu diretor. Célian
pegou, franziu a testa para o pequeno artigo circulado
com um marcador amarelo, e deslizou
silenciosamente em meu caminho. Eu peguei, meu
coração batendo nos meus ouvidos. Não havia
imagem. Apenas texto.

QUEM É A MENINA: O magnata da mídia de


Nova York, Célian Laurent, é abandonado por
sua noiva, a senhorita Lily Davis, depois que ela
o pegou no ato, traindo-a com uma funcionária.
O caso sórdido já acontece a pelo menos
algumas semanas. Ambas as partes não estavam
disponíveis para comentar.

Célian recostou-se, entrelaçando os dedos. —


Bem.
As sobrancelhas de Elijah saltaram para a testa.
—Você precisará elaborar.

—É verdade.

Não, não é!

Eu queria pular e gritar, quando suspiros


surgiram por toda a sala. Ele não traiu Lily, e ela não
nos pegou no ato. Eu olhei para ele, perplexa,
sentindo meu pulso martelar contra minhas pálpebras.
Ele inclinou o queixo para cima, sua expressão
cheirando a desafio, ignorando-me completamente.

—A maioria, de qualquer maneira. Eu estou em


um relacionamento com Judith Humphry. No entanto,
não é sórdido, dificilmente um segredo, e nunca
fomos apanhados em nenhum ato. Judith não sabia
sobre o meu relacionamento com Lily quando
começamos a namorar e portanto, não tem culpa. No
entanto, sua posição aqui não tem nada a ver com o
nosso relacionamento, que se desenvolveu depois que
ela foi nomeada como repórter.
Ele estava calmo, frio e suave. Todos os olhos
saltavam entre nós e minha pele estava em chamas.
Eu me senti humilhada e desamparada. E acima de
tudo, me senti furiosa com a confissão aleatória dele.
Quando concordamos em contar ao mundo, pensei
que seria depois de discutir uma estratégia. Juntos.

—Eu acho que todos nós podemos concordar que


a senhorita Humphry ganhou seu lugar nesta redação
e não precisou dormir seu caminho até a escala
corporativa.— Célian passou a mão pela camiseta.

—De acordo.— Kate estendeu a mão, apertando


minha. Eu estava muito atordoada para reagir.

—Eu concordo.— Elijah ergueu as mãos em sinal


de rendição.

—Ela é a melhor.— Jessica me olhou com uma


carranca, provavelmente por manter segredo sobre
enlouquecer com o chefe.
Eu entendi porque muitas pessoas se sentiram
enganadas.

—Júnior.— James me lançou um sorriso cheio de


dentes. —Você é uma verdadeira repórter. Todos nós
sabemos disso.

Mas eles sabiam? Havia pelo menos mais oito


pessoas na sala, e seu silêncio falava mais do que mil
palavras. Eu sabia, sem sombra de dúvida, que
ninguém mais me via da mesma forma. Até que ponto
me diminuíram, era a verdadeira questão.

—Obrigada...— Eu consegui dizer, recusando-me


a olhar para Célian, que me olhava atentamente
agora, tentando ler entre as linhas da minha carranca
profunda.

Eu não dei nada a ele.

—Com isso fora do caminho...— Célian passou a


mão sobre sua mandíbula quadrada. —Me dêem algo
bom.
—Evidentemente, Jude já deu...— alguém tossiu
na minha direção, mas eu não consegui girar minha
cabeça rápido o suficiente para ver quem era.

Eu não acho que Célian ouviu isso. Ele não


perderia a oportunidade de repreender um funcionário
insolente.

Kate começou a falar sobre o fracasso da


campanha antidrogas, e Elijah entrou com um teto de
dívida. Célian parecia entediado, recostando-se na
cadeira e olhando para o ar, as pernas cruzadas sobre
a mesa.

—Humphry?—

Pelo menos ele ainda me chamava assim, como


se eu fosse uma funcionária sem gênero, como se
nada tivesse mudado. Porque nada mudou. Eu ainda
era uma mulher de carreira.

Eu era apenas uma mulher de carreira que


dormia com seu chefe porque nós éramos ambos do
mesmo tipo de bagunça.
Folheei as páginas de Kipling, minha língua
saindo do canto da minha boca.

—Eu estava conversando com esse cara na noite


passada...— Eu comecei.

—Célian sabe? Ele sempre pareceu o tipo


possessivo para mim —, brincou Elijah, jogando a
cabeça para trás e engolindo uma garrafa de água
com uma risada.

— Fora da minha redação, Elijah — gritou Célian,


olhando de volta para mim. —Continue, Judith.

Eu olhei entre eles sem fazer barulho. Elijah


franziu as sobrancelhas, pegou suas coisas e balançou
a cabeça.

—Foi uma piada—, ele sussurrou.

—Comedy Central está no fim do quarteirão. Nós


fazemos notícias aqui.— Célian ainda estava olhando
para mim, mas com uma expectativa cansada, nem
um pingo de simpatia ou afeição em seus olhos azuis
gelados.
Uma tensão insuportável apertou a sala a partir
do momento em que Elijah percebeu que ele tinha
feito uma bagunça, até o segundo em que a porta se
fechou atrás dele.

—De qualquer forma...— Meu rosto aqueceu, e eu


mantive meus olhos em Kipling.

—Ele é um jornalista sírio que vive na Alemanha.


Seu nome é Saiid. Encontrei sua conta no Twitter
ontem à noite.

—Ou Tinder…— Bryce, um dos produtores na


sala, sussurrou baixinho.

Sentada à cabeceira da mesa, Célian não


conseguiu ouvir. Mas eu sim. E eu queria morrer. Eu
mereci isso. Até eu pude ver porque isso deixaria
meus colegas amargos. Enquanto eles estavam
perseguindo dicas, eu estava perseguindo orgasmos
com o futuro presidente da rede. O futuro presidente
noivo da rede.
Eu respirei fundo, pegando emprestado o iPad de
Kate silenciosamente e digitando um endereço da
web.

—Ele enviou este vídeo, documentando


refugiados sírios tentando contrabandear o caminho
de volta para a Síria...

— De volta à Síria?— Jessica levantou uma


sobrancelha.

Eu assenti.

—Eles acham difícil se adaptar e sentem falta de


suas famílias. Centenas de refugiados voltam à Síria
toda semana, principalmente na Grécia. Eles entram
ilegalmente no próprio país a pé, traçando o caminho
que usaram para fugir.

Eu cliquei no vídeo e dei a volta para que todos


pudessem ver. Acima de tudo, fiquei aliviada ao
descobrir que as pessoas não mais me olhavam como
se eu fosse a raiz de todo mal. Agora eles viam
crianças chorando nas mãos de suas mães, suas vidas
em grande risco.
—Cobertura?— Célian olhou para mim depois que
o vídeo terminou.

Balançando a cabeça, apontei para a tela. —Este


vídeo foi assistido apenas quinhentas vezes, mas
acredito que mais pessoas o verão com o passar do
tempo. Isso pode ser uma ótima pista para o especial
que vai ao ar na próxima semana.

—Bom trabalho.

Talvez suas palavras fossem mais convincentes


se eu não tivesse sentido como se granizo atingisse
minha pele. Eu estava ficando cansada dele ser tão
insensível. É como se seu coração estivesse envolto
em uma espessa camada de pele morta, do tipo que
você tem na sola do seu pé. Uma agulha poderia
perfurá-lo e você não sentiria nada.

Inclinei a cabeça, não me atrevendo a olhar para


a reação que seu elogio havia criado.

As pessoas começaram a sair da sala, e Célian


também. Ele provavelmente sabia que eu estava
prestes a estrangulá-lo e não queria uma gritaria. Eu
fiquei do lado de dentro, observando Kate fingir pegar
suas coisas no ritmo de um caracol.

Ela olhou para baixo enquanto falava comigo.

— Célian fez a única coisa que pôde para garantir


que os traseiros de vocês dois estivessem cobertos.
Ele fez isso em seu próprio jeito de fode-se-muito-
obrigado, mas ele quis fazer o certo. Você está
prestes a receber muito fogo por isso, mas lembre-se,
melhor abordá-lo aqui do que deixar o The Daily
Gossip dar às pessoas a versão da sua história.

Olhei para cima, através da parede de vidro, e


assisti a notícia se espalhar como fogo, pessoas se
curvando e sussurrando nos ouvidos dos colegas,
secretárias marchando com seus maços de cigarros
para que pudessem fofocar lá embaixo, repórteres
passando o jornal que James trouxera entre eles.

—Eu acho que ele acabou de matar minha


carreira.— Minha cabeça caiu em meus braços sobre a
mesa.
—Matou? Não.— Kate jogou as coisas na bolsa e
se levantou. —Mas ele só tornou muito mais difícil
para vocês dois. Então é melhor você sair e começar a
provar para as pessoas o que eu já sei, que você
nasceu para ser jornalista.

Os próximos dias foram um borrão. As coisas de


alguma forma ficaram melhores e piores.

Melhor, porque as pessoas tinham muito pouco


tempo para abaixar a cabeça e sussurrar sobre nós.
Célian estava correndo pelo escritório, gritando em
seus pulmões para eles. Estávamos com falta de
pessoal, e todas as calamidades do mundo decidiram
pousar aos nossos pés.

Pior, porque desde que os novos anúncios


começaram a ser lançados, Célian entrava e saía das
reuniões no sexagésimo andar, e toda vez que ele
voltava, ele dava um murro na parede com sua morte
prematura.

Estávamos caindo no buraco, com nossas


classificações escorregando a cada segundo e nossos
concorrentes discutindo abertamente nossa situação
atual como uma rede que está morrendo de forma
lenta, dolorosa e pública.

Célian não estava brincando.

Mathias queria matar LBC antes de partir, e agora


que Célian não estava mais envolvido com Lily e não
estava em posição de derrubar essas decisões, ele
teve que vê-lo desmoronar, com os olhos bem
abertos, estilo Laranja Mecânica.

Célian não foi o único a tentar ligar a LBC a uma


máquina de suporte à vida.

James Townley entrou em uma discussão aos


gritos com Mathias no meio da redação, no dia
seguinte ao início dos comerciais e ameaçou sair.
—Você está arruinando este negócio e seu filho.—
Ele jogou um lote de documentos no rosto de Mathias.

—Se você está infeliz James, você sabe


exatamente onde a porta está.— Mathias apontou
para dar ênfase.

—Sim, Matt. Você me mostrou muito. Mas eu


nunca vou sair daqui, e nós dois sabemos o porquê.

Célian arrastou o âncora para a sala de


conferências e teve uma conversa acalorada com ele.
Eles saíram parecendo gastos, bem a tempo de ver
Mathias piscar perversamente pelas portas fechadas
do elevador.

Sem nada mais, Célian tinha encontrado um


aliado em James, uma pessoa para cortar sua lista de
merda digna de registros do Guinness.

A outra desvantagem da morte da LBC era que


Célian e eu não tivemos tempo de conversar um com
o outro, desde que a notícia foi divulgada de que
estávamos juntos.
Eu ainda estava brava com ele, mas era difícil
confrontá-lo corretamente quando ele estava vivendo
de café e energéticos, tentando desesperadamente
salvar sua rede moribunda. Era meu palpite educado
que ele não tinha dormido mais de dez horas
combinadas esta semana.

Então, quando a noite de sexta-feira chegou,


fiquei surpresa ao vê-lo ir até minha escrivaninha, na
frente de todos, e inclinar o quadril contra o meu
arquivo, com as mãos nos bolsos e um sorriso
diabólico completo em exibição.

—All Stars.

Eu olhei para cima. Ele tinha círculos escuros ao


redor dos olhos e uma barba de três dias. Eu queria
desesperadamente dar-lhe um pedaço da minha
mente, mas não havia sentido em chutá-lo enquanto
ele estava caído.

—Idiota.
Ele arqueou uma sobrancelha e eu encolhi os
ombros. —Eu pensei que nós apelidávamos um ao
outro das coisas que nos representam.

Ele se inclinou e colocou um beijo casto na minha


têmpora. Todos pararam o que estavam fazendo e
ficaram olhando para nós, e eu me senti ficando
vermelha. O ar ficou parado na sala. Ele era gasolina.
Eu era o fósforo.

—Jantar e um pedido de desculpas—, afirmou ele,


não ofereceu, na frente de todos, tão arrogante e
certo de que eu iria pular em seus braços.

—Você provavelmente deve começar com o


último, para obter o primeiro.

Eu sentei de volta e olhei para ele sem expressão.

Ele abaixou a cabeça e sacudiu, rindo. —Peço


desculpas por nos expôr de maneira pouco
diplomática. Mas não por garantir que todos saibam
que você é fodidamente minha.— Ele se inclinou para
baixo, seus lábios roçando minha orelha. —Agarre-se
a essa raiva, All Stars. Eu ficarei feliz em trabalhar
sua bunda louca na cama e foder todas as dúvidas e
queixas de sua boceta apertada.

Se eu fosse um emoji, estaria babando uma


pequena poça sob meus pés.

—Eu acho que você poderia me comprar o


jantar.— Eu mantive minha expressão em branco, e
ele puxou minha jaqueta sobre as costas do meu
assento, me ajudando a vestir.

—Adivinhar é um jogo de azar. Eu


definitivamente estou comprando o jantar hoje à
noite.

—Nós vamos ter uma longa conversa—, eu disse,


sentindo Jessica e Kate nos observando com horror e
fascinação. Eu não acho que elas já viram alguém
falar assim com o chefe delas.

—E um ainda mais longo sexo de reconciliação.—


Ele sorriu.

Trinta minutos depois, estávamos em um


restaurante chinês na Broadway. Célian estava
bebendo cerveja engarrafada, enquanto eu pedia cada
coisa no cardápio.

—Desculpa.— Entreguei ao nosso garçom o


cardápio de veludo vermelho. —Eu não consigo comer
quando estou estressada, e esta é a primeira vez que
nos falamos desde segunda-feira, então estou
compensando o tempo perdido.

Célian desdobrou o guardanapo, franzindo a testa


como se o tivesse acusado de alguma coisa,
considerando minhas palavras.

—Estamos nos afogando—, eu disse a ele. —Seu


pai está em uma missão suicida e tomou todos nós
como reféns. A única maneira de detê-lo é derrubar
sua decisão, o que você pode fazer ao se unir à
família Davis. Você pode pelo menos perguntar ao pai
da Lily? Ir diretamente até ele?

Cada palavra parecia uma espada cortando minha


boca. Eu estava mandando-o para o último lugar que
eu queria que ele estivesse. Com a ex.

Ele tocou a borda da garrafa.


—Eles têm sua própria merda para lidar e, a
última coisa que eles precisam é o filho da puta que
traiu sua filha aparecendo pedindo sólidos favores.

—Entretanto você não traiu Lily.— Eu esfreguei


meu nariz em frustração. —Por que você concordou
com essa afirmação?

Se um olhar pudesse dar um tapa na sua bunda,


acho que a expressão dele acabou de fazer.

—Eu aprecio a família dela—, ele disse


secamente.

—E?—

—E eu odiaria dizer a eles que sua filha é uma


vagabunda.

—Mas por que?

—Eles me trataram como um filho quando eu não


tinha pais para conversar, e o mesmo com Camille.

—Então você está contente em ser o cara mau?—


Eu pisquei, minha boca relaxada.
—Estamos vivendo no mesmo planeta do caralho?
Eu sou o cara mau.

Ele tinha razão, e eu entendi de onde ele estava


vindo, mesmo que me incomodasse que ele tivesse
protegido Lily.

—E a LBC?

Ele apertou a cerveja com tanta força que achei


que ia quebrar, ignorando os pratos fumegantes que o
garçom deslizou para a nossa mesa. Eu não estava
me sentindo tão com fome mais.

—Estou ouvindo ofertas de outras redes.

—O quê?— Eu sussurrei-gritando. —LBC é sua.

—Não. É do meu pai, até um futuro previsível. Ao


contrário de noventa e nove por cento da população
em geral, sou bom no meu trabalho e adoro isso. Eu
não vou arriscar minha reputação. Eu preferiro
trabalhar em outro lugar.

—E quanto a sua equipe!


Foi uma acusação mais do que uma pergunta.
Não importa o quanto as pessoas temessem Célian,
elas o respeitavam e eram leais a ele também. Ele
não podia simplesmente se levantar e sair. Não em
teoria, de qualquer maneira. Na prática, eu sabia
melhor do que ninguém, como ele podia ser taciturno
e desapegado.

—Se chegar a esse ponto, farei um pacote para


levar Kate e Elijah comigo. Ele se espreguiçou e eu
observei os músculos de seus braços envolvendo seus
ossos como a hera, cada curva incrivelmente
masculina. Então pensei no músculo dentro do peito
dele. O que batia, mas não obteve o exercício
recomendado.

Seu pai estava matando-o lentamente e curtindo


isso. Sua mãe era indiferente em relação a tudo ao
seu redor. Célian não tinha chance, além da família
Davis, e nós dois sabíamos disso.

—E quanto a nós?— Eu perguntei baixinho. Seus


olhos estavam frios, mas sua boca estava vermelha e
quente, viva.
—E nós?— Seu tenor gelado deslizou como um
cubo de gelo ao longo da minha espinha. Ele acenou
com a garrafa de cerveja vazia para o garçom,
sinalizando para o outro.

—Você vai explicar o seu pequeno discurso na


redação quando James nos mostrou a notícia?

—Provavelmente não. Nós concordamos que o


melhor a fazer era sair às claras. Então eu fiz.

—Sem me consultar.

—Falso. Eu te consultei na noite anterior. Eu


tenho as mensagens de texto para provar isso.

—Nós concordamos com isso, mas não falamos


de estratégia.— Recusei-me a recuar.

—Estratégia?— Ele zombou.—Nós não estamos


concorrendo pelo escritório, Judith. Apenas transando
nele.

Ele jogou nosso caso na cara de todos, e agora


ele estava agindo como um idiota, porque ele não
sabia como agir diferente. Mas eu acabei engolindo
tudo isso, toda vez que ele jogava migalhas de
atenção na minha direção.

Eu sabia que tinha que ficar de pé e sair antes de


chorar.

Nós fizemos tudo de trás pra frente.

Primeiro o sexo, depois os sentimentos.


Desafiamos nosso local de trabalho, nossos colegas e
nossos códigos de ética. Nós arruinamos um
compromisso perfeitamente disfuncional que
mantinha sua empresa viva. Mas acima de tudo, nós
também nos arruinamos.

Minhas pernas estavam de pé antes que eu


percebesse, me levando até a saída. Sem explicação.
Nenhuma desculpa. Senti seus passos graves batendo
no meu peito oco, enquanto ele me seguia para fora.
Estava chovendo lá fora, o tipo de chuva suja e
úmida para quebrar os pulsos do calor no verão. Isso
me lembrou do dia em que nos conhecemos, do
desespero carnal que me devorava naquela época, do
fato de que eu ainda estava sozinha.
Senti a mão dele no meu ombro quando ele me
girou bruscamente. Ele me puxou em seus braços.

Eu não queria que ele fosse embora.

Eu não queria que ele me mantivesse lá também.

—Eu desejava de nunca ter te conhecido.— Meus


punhos bateram em seu peito e ele aguentou. Talvez
porque ele soubesse que merecia isso. Sua boca
pressionada contra o meu rosto parecia uma lâmina
enferrujada e quente. O mundo parecia estar
acabando, mesmo sabendo que não poderia
acontecer.

O sopro de sua respiração cortou meu ouvido.

—Eu também desejo isso.

Naquela noite, o sexo foi diferente.


Lento, intenso e zangado. Cada estocada era um
castigo, cada arranhão das minhas unhas contra a sua
pele um lembrete de que eu também poderia
machucá-lo. Nós não falamos sobre isso. Nem mesmo
quando as lágrimas rolaram pelas minhas bochechas e
ele as beijou, depois as lambeu, depois bebeu-as com
sede, pois eram dele.

Naquela noite, terminamos as coisas de maneira


diferente também.

Ele estava dormindo quando peguei os poucos


pertences que tinha e liguei para um táxi. Ia custar
um bom dinheiro, mas eu não queria estar lá quando
ele acordasse. Estávamos a milhas de distância da
Flórida, literal e figurativamente. E isso também me
lembrou da noite chuvosa que nos conhecemos.

Mais tarde naquela noite, tive uma estranha e


sombria epifania.

Milton estava certo. Eu era uma mortal brincando


com uma divindade, e agora eu estava me
machucando, enquanto ele permanecia intacto. Não
havia nada de errado com meu coração. Não era
solitário e definitivamente não era um caçador. Foi
caçado. Havia apenas um problema com o fato de que
meu coração estava tão terrivelmente
inesperadamente normal.

Em algum lugar ao longo do caminho, ele deixou


de ser meu.
Não havia nada melhor do que uma xícara de
café de manhã e fazer o ex-namorado de All Stars ser
demitido de seu emprego.

Eu entreguei a Brianna meu planejador. —Queime


a página de hoje. Eu tenho alguma merda para
fazer.— Era uma ordem exata, embora não
profissional.

Especificamente, essa merda estava indo para


todos os figurões que negaram meu pedido para
cancelar a nova campanha publicitária e mostrar a
eles o gráfico de classificações em queda livre que eu
imprimi como uma última tentativa de salvar este
navio afundando.

Eu poderia ter sido um pouco dramático na última


sexta à noite quando falei com Judith.

Sair da LBC não estava nas cartas para mim em


breve, com ou sem os novos anúncios, mas também
não queria mentir para ela. E eu estava ouvindo
outras ofertas, principalmente para que os chefões
ficassem obcecados com seus olheiros, e percebessem
que eu estava decidido a ir embora se não
recebêssemos nossos patos em fila.

Obter a demissão de Milton após ter conversando


com minha velha amiga Elise, e contando que o filho
da puta tentou ganhar a minha namorada de volta
não era necessário, mas foi definitivamente um bônus
legal.

Elise, que era formada em Harvard, não ficou


impressionada com as palhaçadas de seu novo
namorado. Além disso, Robert, pai de Judith,
aparentemente estava no meu time, porque ele
escolheu compartilhar essa informação comigo em
primeiro lugar.

Quanto a Judith, eu precisava tirar minha cabeça


da minha bunda, levá-la para almoçar e pedir
desculpas por ser um bastardo. De novo. Ela pegou
um táxi de volta no meio da noite, depois que
deixamos as coisas, -embora não os orgasmos-,
inacabadas.

—Sim senhor. Ah, senhor, a senhorita Davis está


aqui.— Brianna anotou minhas ordens pela manhã.

Tomei um gole do meu café e juntei as


estatísticas desta semana em um arquivo grande e
gordo.

— Lily Davis?— Eu arqueei uma sobrancelha.

—Não senhor, Geena Davis. Ela estava se


perguntando se você poderia ser a Louise para sua
Thelma.

Eu olhei para cima e peguei ela mordiscando o


lábio inferior, segurando um sorriso enorme.
Eu sorri. Touché Ela estava começando a lutar,
algo que nunca teria feito se não fosse por Judith.

Quanto ao assunto em questão, Lily deveria estar


bastante bêbada, porque não havia nenhuma maneira
no inferno e nas seções vizinhas que ela tivesse a
coragem de vir aqui. Merda. Eram nove da manhã.

—Impossível. Ela sabe que está a um passo de


uma ordem de restrição.

Além disso, duvido muito que a Lily se levantasse


antes do meio dia. Se o hedonismo fosse um trabalho,
a cadela seria Mark Zuckerberg.

—Bem, ela está e está em lágrimas.

—Estou mais interessado em saber se ela está


vestindo roupas.— Eu coloquei o arquivo na minha
pasta de couro.

Brianna piscou para mim, inclinando a cabeça


para o lado.

—Sim, senhor, ela está vestida.


Eu estalei meus dedos em direção à porta. —
Mande-a entrar.

Um minuto depois, Lily estava no meu escritório,


ainda de camisola e jaqueta. Ela fungou, suas
lágrimas descendo como uma torneira quebrada. Ela
limpou as bochechas e o nariz com a manga da
jaqueta e parecia um inferno, mas não de uma
maneira que me preocupasse.

—O que está acontecendo?

—Vovó morreu.— Ela engasgou com um soluço.

Eu parei, me apressando até ela. Por toda a


merda que ela me fez passar, eu odiava ver alguém
perdendo uma pessoa importante para eles. Eu me
importava profundamente com Madelyn e não tinha
conseguido me despedir dela. Ela nem sabia que eu
estava lá.

Eu desapareci de toda a família Davis porque eu


odiava a filha deles e estava muito ocupado lambendo
minhas feridas.
Eu puxei Lily em um abraço, e ela enterrou o
rosto no meu peito e uivou, o tipo de grito que abriu
seu peito.

Eu segurei a parte de trás de sua cabeça. Ela


balançou de um lado para o outro em meus braços.

—Merda, sinto muito—, eu sussurrei. Eu sentia. E


isso me fez sentir estranhamente humano.

—Eu não sei o que fazer—, ela chorou, raios da


velha Lily, -a que eu realmente gostei,- vazando
através das rachaduras de seu exterior de Botox.

—Você virá ao funeral?

—Claro. Sua coxa estava aninhada entre as


minhas e eu odiava, mas eu não conseguia parar e eu
odiava isso ainda mais. Porque se não fosse
intencional, eu nunca me perdoaria por afastá-la.

—Tudo o que sua família precisar, eu estou aqui.

—Venha hoje? Fale com o papai? Ele está


realmente fora de si. Mamãe também. Nós sentimos
como se você fosse uma parte de nós. Porque há
muito tempo você foi. Vovó amava você tanto...

—Não é uma boa ideia, considerando tudo. Ela


olhou para cima e piscou para mim.

—O item no jornal—, eu recortei.

Que você vazou, eu me abstive de adicionar. Se


eu falasse sobre isso, teria que contar a ela o que eu
achava da versão dela de nossa história, e agora não
era o lugar, e certamente não era a hora.

—Oh, eu falei com eles. Eles estão dispostos a


perdoar você.— Ela se desconectou de mim para
enxugar as lágrimas rapidamente.

E a cadela do Botox retorna.

—Como eles são gentis.— Meu sarcasmo estava


praticamente pingando no chão.

Eu olhei para o meu relógio atrás das costas dela.


Eu precisava tirar esses relatórios. Ao mesmo tempo,
eu não podia continuar o meu dia, como de costume.
Talvez porque eu tenha tentado fazer isso quando
a Camille morreu. Voltei para o escritório depois do
final de semana de seu funeral.

Enterrei-me no trabalho.

Não falei sobre isso com ninguém.

Construí um muro mais alto, mais forte e mais


grosso entre mim e o mundo, certificando-me de que
ninguém pudesse passar por ele.

Camille não merecia isso. Inferno, Madelyn


também não. Afinal, ela era a mulher que me dera o
melhor conselho que eu nunca me incomodaria em
dar. Foi depois que saímos do Fantasma da Ópera, de
braços dados. Nós entramos em nosso restaurante
italiano favorito. Ela me perguntou se eu achava que
ia casar com a neta dela.

—Provavelmente. É o que esperam de mim.

—Mas para o que você quer?


—Para fazer Lily feliz.— E meu pai, que pode
finalmente me aceitar por tomar a decisão certa. E
minha mãe, que normalmente não se importava.

—E você mesmo? Você quer se fazer feliz?

—Eu não acho que posso ser.— Eu não achava.


Não antes, e não agora.

O rosto de Madelyn caiu e ela apertou meu bíceps


entre os dedos frágeis.

—Então você precisa continuar procurando,


porque minha neta não é a escolhida.

—Eu vou—, eu disse a Lily, dando um passo para


trás.

Foda-se os figurões e foda-se a rede.

Eu precisava prestar homenagem à mulher que


colocara minha felicidade a frente da família dela.

As garras vermelhas de Lily afundaram na minha


pele e ela me puxou para um abraço de polvo.

—Obrigada.
No caminho para o trabalho, Leonard Cohen
disse-me nos meus fones de ouvido que estamos
gastando o tesouro que o amor não pode pagar, e
assenti, não apenas no ritmo, mas no sentimento.
Meu All Stars eram vermelho sangue, e eu passei a
viagem de trem morrendo com o cadarço preto.

Eu entrei no escritório sem saber o que esperar.


O lado profissional seria evidentemente deprimente
demais. Mas ontem à noite, Célian e eu mostramos
nossos corações como se estivessem em uma vitrine
quando nos tocamos, rastejamos na boca um do outro
e penetramos na alma um do outro. Então eu saí, sem
uma mensagem ou telefonema. Não era meu
momento mais maduro, mas tinha certeza de que ele
precisava de tempo para pensar também.

Eu andei pelo corredor, ignorando os olhares


judiciosos e as sobrancelhas levantadas que as
pessoas tentavam me prender. Jessica passou por
mim e estremeceu. Ela não disse nada, mas uma
olhada em seu rosto me disse que eu era uma
surpresa desagradável.

Uh-huh

Meu telefone tocou duas vezes antes de eu


chegar à minha estação, e eu joguei minha mochila
debaixo do meu assento, passando a tela sensível ao
toque.

Grayson: Garota. Nós te amamos. Estamos


aqui por você. E lembre-se - ele pode tirar sua
alegria (temporariamente), mas ele nunca pode
tirar seu cabelo bom.
Ava: Eu ouvi que seu pau era muito grande,
de qualquer maneira. Brincadeiras à parte, essas
coisas só ficam bem no pornô.

O que diabos está acontecendo?

Eu decidi falar com Célian, que era claramente a


raiz desse comportamento estranho em relação a
mim. Saí da redação e parei quando cheguei à porta
aberta dele. Ele estava de costas para mim e estava
abraçando Lily, que espiava por trás do braço dele.
Ela sorriu para mim, triunfo brilhando em seus olhos,
segurando o tecido de sua camisa e acariciando seu
nariz contra o braço dele.

Ele pegou o rosto dela com ambas as mãos e se


inclinou, perguntando-lhe algo intimamente.

Ela assentiu, cheirou e enterrou a cabeça no peito


dele.

Suas mãos nela.

Suas mãos nele.


Vermelho. Meus All Stars estavam vermelhos.
Meu coração estava negro. Minha mente era branca e
espessa.

Eu fui uma tola. Uma idiota. Eu era a outra


mulher, que acabara de ser dispensada publicamente
e, como sempre, sem aviso prévio.

Eu pude ouvi-los claramente pela porta aberta.

—Podemos ir agora? Eu não quero esperar mais


um minuto,— ela choramingou, alisando a camisa
dele com as palmas das mãos. O ato parecia tão
natural neles. Como se tivessem feito mil vezes antes.

Eles provavelmente fizeram, Jude.

—Sim—, disse ele. —Claro.

Eu entrei na sala ao lado de seu escritório antes


que ele pudesse me ver. A última coisa que eu queria
era um confronto público com um lado de luta digno
de um drama coreano. LBC já estava em apuros, e
todos olhavam para mim como se eu tivesse me
metido na família real de Laurent. Nenhuma razão
para dar-lhes ainda mais munição contra mim. Além
disso, talvez não fosse tão ruim quanto parecia. Eu
levantei meu telefone e atirei-lhe uma mensagem
rápida.

Jude: Tudo bem?

Fui até minha mesa e liguei meu monitor,


ignorando a náusea que me atingiu do nada. A sala,
que estava girando nos cantos da minha visão,
também estava estranhamente silenciosa, e eu sabia
por quê. Se Célian estava certo sobre uma coisa, era
o fato de que ele nunca me forçou a fazer nada. Eu de
bom grado dormi com ele. Na minha desesperada e
triste neblina, eu até iniciara esse caso. Eu tinha feito
minha cama, e o fato de que agora engatinhava com
criaturas viscosas, comendo minha reputação e
sentimentos, era minha culpa e minha culpa apenas.

Ele respondeu ao meio-dia, muito depois de sair


do escritório.
Célian: Algo surgiu.

Jude: Elabore?

Célian: Família.

Claro. Lily era da família.

E, claro, eu fui o erro que ele deixou para trás.

Célian não veio trabalhar no dia seguinte, ou no


seguinte.

A fábrica de rumores estava em pleno


andamento, com Mathias colocando a cabeça fora do
sexagésimo andar, e circulando na redação como se
fosse sua segunda casa. Ele bateu no ombro de Kate
e fez sugestões, caminhou até Elijah e atirou-lhe
ordens, e tentou persuadir Jessica a almoçar com ele.

Estava claro que ele estava tentando nos foder


tanto quanto podia antes de Célian voltar, o que me
fez acreditar que ele sabia de algo que não sabíamos,
talvez que seu filho tivesse voltado com sua ex-noiva.

Era um desastre se formando e eu tinha


ingressos VIP. Por outro lado, ele me ignorou o
melhor que pôde, e eu tentei desaparecer no meu
monitor e não levantar a cabeça do teclado até a hora
de ir para casa.

Quando tive um segundo para respirar, corri para


o quinto andar até a mesa de Ava ou Grayson.
Phoenix, que era freelancer, não tinha que aparecer
no trabalho todos os dias, mas ele veio porque eu
estava desabando.

—Você não sabe o que está acontecendo ainda—,


ele tentou argumentar comigo.

—O que há para saber? Os Laurents fazem o que


querem fazer.
—Exatamente. E ele não quer fazer a com Lily. Já
não quer tem um tempo agora.

—Ele quer sua rede, e é isso que ele vai


conseguir. Eu vou ser um pontinho em sua história.
Nada além de uma mancha.

—Mancha!— Grayson bufou, batendo em sua


mesa. —Espero que você tenha manchado toda a sua
vida.

De acordo com Gray, Célian fora visto entrando e


saindo do prédio de apartamentos de Lily duas vezes
nas últimas quarenta e oito horas. Nesse ponto, parei
de tentar me comunicar com ele e tive uma ideia
geral. A mensagem finalmente chegou em casa.

Eu era descartável. Talvez não fosse do tipo uma


noite só, mas definitivamente uma de curto prazo. Eu
tinha passado do meu prazo de validade, deixada de
lado para Lily assumir. Ele estava remendando as
coisas com a família dela e passando tempo com ela.

Phoenix, de todas as pessoas, permaneceu


imparcial.
—Célian Laurent é uma coisa ruim sob o sol, mas
ele não é uma boceta. Se ele quisesse voltar com Lily,
ele teria dito a você diretamente.

Grayson ajeitou as unhas, revirando os olhos. —


Então eu acho que ele deu a versão gay a ela, quando
ele manteve segredo sobre seu noivado na noite em
que se conheceram.

—Ele não achou que a veria novamente—, Ava


apontou.

—Mas então ele descobriu que eles estavam


trabalhando juntos,— Gray enfatizou, não querendo
dar nenhuma folga para Célian.

Eu não podia culpá-lo. Ele trabalhava aqui há


quatro anos e Célian ainda não sabia seu nome.

—Muito tempo para esclarecer as coisas.

—Não fez diferença alguma. Eles não estavam


juntos, e ele estava tentando estabelecer limites com
um funcionário, já que seu pai é um babaca de
primeira classe com linhas borradas, quando se trata
de colegas de trabalho femininas, —Phoenix disparou
de volta, escolhendo sua comida com um conjunto de
pauzinhos seriamente curtos.

—Por que você está defendendo ele?— Eu


pisquei. —Ele tem sido nada, mas que horrível para
você. Phoenix encolheu os ombros. —Porque ele está
arrependido.

—Sobre o que?— Ava perguntou.

—Sobre tudo. Sobre o que aconteceu com


Camille. Sobre nos manter separados. A culpa deriva
praticamente do seu rosto quando ele passa por mim
no corredor. Ele sabe que ele errou, e ele nem era o
único a causar o dano real. Eu não gosto dele, nem
mesmo perto, mas então de novo...— Ele deixou cair
sua caixa de comida na lata de lixo, embora ainda
estivesse meio cheia. Ele balançou a cabeça,
amarrando os dedos atrás do pescoço em um suspiro.
—Camille amava ele. Ele a protegeu ferozmente. Ele
deu a ela o amor e a orientação que seus pais não
deram. E eu me recuso a acreditar que é o mesmo
homem que puxa essa merda assim.
—Eu não tenho notícias dele em quase três
dias.— Limpei a garganta, olhando para a caixa de
comida no meu colo. Que diabos eu tinha pedido,
afinal? Eu pensei que era frango e macarrão laranja,
mas agora que eu olhei, era marisco frito e arroz. Eu
tinha comido um quarto disso sem sequer prová-lo.
Quão estragada eu estava?

Meu coração não é um caçador solitário.

Meu coração sente. Isso bate. Adora. Quebra.

Quebra. Oh Deus. Está quebrando agora, em


pedaços, e não há nada que eu possa fazer para
consertá-lo novamente.

Estou desmoronando junto com ele.

Meu telefone tocou. Recusei-me a olhar para


baixo e a chance de todos verem como meu rosto se
contorcia em agonia e decepção quando descobrisse
mais uma vez que não era Célian. Tomei um gole da
minha água.

Outro ping.
Então outro.

Então outro.

O telefone de Phoenix começou a tocar também,


mas ele não era um covarde. Ele tirou do bolso e
franziu a testa.

—Jude?

—Sim?

—É a Kate. Há um derramamento de óleo no


Golfo do México. A NOAA está pirando e há uma
declaração oficial chegando em meio segundo.
Precisamos subir agora mesmo.

Nós dois disparamos de nossos assentos ao


mesmo tempo. A adrenalina bombeava nas minhas
veias. Phoenix pegou minha mão e me puxou para o
elevador. Ele não soltou, mesmo quando estávamos
dentro. Quando nossos olhos se encontraram, ele
apertou minha palma.

—Quer a verdade?— ele perguntou.


Eu fiz uma careta.

—Cansada das mentiras, quero com certeza.

—Naquele dia, quando te conheci na biblioteca,


eu queria ficar com você. Eu pensei, pela primeira vez
desde Camille, que tinha encontrado algo bom.

Meus cílios tremularam, minha respiração se


contraindo.

—Oh?

—Então no dia seguinte, vi você em sua mesa.


Célian se aproximou de você. Ele olhou para baixo.
Você olhou para cima. Seus olhos se encontraram. Ele
lutou com um sorriso. Eu tive um momento de déjà
vu. Porque a última vez que seu rosto se iluminou
assim foi quando Camille estourou suas bolas por uma
coisa ou outra. Ninguém mais o fazia sorrir. Então eu
não podia fazer isso com ele. Ou com você. Ou
comigo.
Ele soltou minha mão quando chegamos à
redação. Kate estava conduzindo as pessoas para a
sala de conferências para uma reunião de emergência.

Célian não estava lá.

Mathias sim.
Metade dos meus colegas de trabalho acabou
passando a noite na sala de imprensa para cobrir o
derramamento de óleo. Todas as noites, as pessoas
correram perguntando onde Célian estava, mas
ninguém tinha uma resposta. Ouvi histórias das
mesmas pessoas que gentilmente fizeram avaliações
falsas sobre meus motivos e personalidade, quando
meu chefe anunciou que estávamos namorando.

Eles disseram que ele nunca tinha perdido um


item importante em sua vida, de uma vez ele
apareceu para trabalhar com febre e infecção
pulmonar para cobrir o caso de Michael Flynn com os
russos, que ele provavelmente estava realmente
ansioso para voltar com sua linda, embora louca,
noiva.

Kate me mandou para casa quando o relógio


bateu vinte e três horas. Ela provavelmente tinha
piedade de mim desde que eu não morava no
quarteirão. Ela também sabia sobre o papai, e eu
queria que ela não soubesse, porque eu não queria
ser o caso simbólico de caridade.

—Jude, pegue suas coisas. Vejo você amanhã de


manhã.

—Eu posso ficar—, eu disse, e eu quis dizer isso.


Não me importava de passar a noite toda. Eu não
tinha dormido muito durante o meu primeiro ano de
faculdade, entre trabalhar em dois empregos e
manter minhas notas.

Kate momentaneamente arrancou o olhar do


monitor que ela olhava.

—Não. Você já reuniu todas as informações de


que preciso. Eu quero que você vá para casa.
Argumentar com ela iria apenas consumir seu
precioso tempo e, além disso, ela não estava errada.
Eu precisava checar o papai. Peguei minha bolsa e
caminhei em direção ao elevador, uma pontada de
culpa cortando minha consciência enquanto observava
todos os outros ainda trabalhando duro.

Eu chamei o elevador quando uma mão segurou


meu ombro, girando em torno de mim. Era a Kate.

Suas bochechas normalmente brancas como


neve, estavam vermelhas, e ela parecia confusa e fora
de si.

—Se eu soubesse onde ele estava, eu diria a


você—, ela disse, sua respiração pesada de correr.

—Eu sei.— Eu sorri suavemente. —Mas eu não


esperaria que você soubesse. O que quer que Célian
faça com sua vida não é da minha conta, e isso não
afetará meu desempenho aqui.

Kate encostou a testa na parede fria ao nosso


lado, apertando os olhos com força. Ela parecia
cansada. Entendi. Ela estava sem Célian e com falta
de pessoal.

—Ele vai ter algumas explicações sérias para


fazer quando ele finalmente voltar para cá.

O elevador se abriu e eu entrei, dando-lhe um


sinal de positivo. Pela primeira vez eu pensei, uma
explicação ele até poderia dar, mas eu não vou mais
ouvir.

Eu estava prestes a virar a esquina e entrar na


minha rua quando uma limusine parou no meio-fio e a
porta do passageiro se abriu. Meus olhos se
arregalaram e parei por um instante.

Meu pai não era Liam Neeson e, se eu fosse ser


sequestrada, duvidava muito que pudesse ser salva.
Eu me virei para olhar para a pessoa saindo do
veículo. Era Lily, vestida para impressionar no que
parecia ser um vestido de cocktail. Ela parecia estar
sozinha.

—Posso te ajudar?— Eu inclinei minha cabeça. Eu


queria ser forte, mas estava cansada, com fome e
irritada. E chateada comigo mesma. Tão chateada que
eu me deixei levar por um homem como Célian
Laurent. Eu costumo fazer escolhas inteligentes. Eu
era uma garota de saladas e ele era um bolo frito.

—A mim? Não, embora eu tenha certeza que você


vai fazer isso em algum momento, uma vez que você
seja demitida e tenha que se tornar uma garçonete
para apoiar suas manias de vadia.

Ela caminhou em minha direção em seus saltos


altos. O motorista da limusine olhou para o outro
lado, como se ele não pudesse assistir a cena. Sua
sentença não fazia sentido. Eu cruzei meus braços no
meu peito.

—Por quê você está aqui?

—Para dizer-lhe para recuar.


—Se Célian não me quiser, ele é bem-vindo para
me dizer pessoalmente.

Eu não concordei com nenhuma parte dessa


frase. Eu não tinha mais certeza se o queria de
qualquer maneira, e de qualquer forma, não estava
totalmente claro se estávamos juntos. Mas eu seria
amaldiçoada se eu deixasse ela me mandar desse
jeito.

Lily continuou chegando até que ela estava peito


a peito comigo. Ela era muito mais alta e mais magra.
Acima de tudo, ela era mais malvada.

—Você está arruinando a vida dele, Jade.

—Jude—, eu corrigi.

Ela parecia amar meu nome original antes que ela


soubesse que seu noivo falso estava dormindo
comigo.

Ela revirou os olhos, como se eu fosse uma idiota


por sequer apontar isso.
—Tanto faz. Você se intrometendo em sua vida
significa que ele está perdendo tudo o que ele gosta.
Ele não tem família própria. Nós éramos sua família,
para não mencionar a rede. Você é tóxica para ele, e
ele está tentando não ferir seus sentimentos, mas
sempre que eu ligo para ele, ele volta.

Meu rosto se aqueceu, mas eu não disse nada. Eu


não acreditei nela, não completamente, de qualquer
maneira. No entanto, suas palavras chegaram até
mim. Eu comecei a andar em direção a minha casa,
ignorando-a na calçada. Eu a senti virando-se atrás de
mim.

—Ele vai estar de volta em meus braços até o


final desta semana.

—Boa sorte—, eu gritei de volta, sem me virar


para encará-la.

—Você sempre foi uma aventura! Uma noite sem


sentido, que se estendeu em mais por causa das
circunstâncias.

Eu sorri amargamente. Sim. Nisso eu acredito.


Em casa, preparei para o pai sua sopa de
legumes para o dia seguinte, seguindo a receita que
me deram em seu programa. Eu estava cortando uma
cenoura em pedaços depressivos quando meu pai
gritou da sala de estar.

—Você olharia para aquilo? Seu namorado é


famoso.

A primeira coisa que me veio à mente foi que


Milton havia sido preso por matar uma prostituta. Ele
era tão limpo e mórbido classe média, parecia algo
que ele seria capaz de fazer. Eu cortei meu dedo
mindinho quando o pensamento de Célian surgiu em
minha mente.

Ele estava em apuros? Mais importante, eu


deveria me importar tanto assim?
—Como assim, pai?— Eu tentei manter minha voz
leve.

—Ele parece bem em um smoking, eu vou dar


isso a ele. Claro, se eu fosse tão alto quanto LeBron
James, eu iria agitar um terno de grife como ninguém.
Você tem que ver isso, JoJo.

Coloquei a faca na tábua de cortar e limpei as


mãos no meu jeans, caminhando até a sala de estar.
Fiquei de pé atrás do sofá, para que papai não
pudesse me ver.

Boa ideia, considerando o horror que eu sabia


que tinha se espalhado no meu rosto inocente,
quando percebi o que eu estava olhando.

Era um programa de fofocas feito novamente no


começo do dia. Alguma socialite nova-iorquina
celebrava seu aniversário e alugou metade da ala
esquerda de algum hotel chamativo. Ela encomendou
um bolo do tamanho de uma casa, literalmente, uma
casa de verdade, e alguém do Guinness Book of World
Records chegou para medi-lo. Enquanto a câmera
girava em torno da horrenda desculpa para um bolo
de esponja (—Levou mais de quinhentos sacos de
açúcar e seiscentos quilos de farinha para fazer o
bolo…—), alguns dos convidados foram recebidos na
festa. E havia o meu próprio Waldo, que estava
‘desaparecido em missão’ nos últimos três dias.

O braço de Lily estava em volta de Célian.

Ele sorriu.

Ela bateu palmas.

Eles pareciam felizes.

Felizes como lojas de discos, pulos de pedra e


iPods roubados nunca poderiam fazê-lo.

Feliz como sua noiva acabara de ajudá-lo a salvar


seu canal de notícias.

—Quem é a garota?— Papai coçou a cabeça


careca.

—Sua noiva.

Pedras. A admissão parecia como engolir pedras.


Papai torceu a cabeça, franzindo a testa.

—JoJo?

Eu balancei a cabeça, apertando os olhos para


que ele não visse a dor girando dentro deles. Eu
queria correr para o cemitério no quarteirão onde
minha mãe estava enterrada e me jogar em sua
lápide e dizer a ela que eu queria que ela realmente
me amaldiçoasse, então meu coração seria solitário e
faminto, então não estaria ligado via uma corda
invisível, como um balão, para um homem que era
bom demais para sugar o ar dele.

—Eu pensei que vocês dois estavam juntos.—


Papai passou os dedos pelo meu braço.

—Eu também pensava assim, papai. Ele decidiu


voltar com ela no início desta semana.

—Idiota.

Eu sabia que ele queria dizer Célian, mas o


mesmo poderia ser dito sobre mim.
O mundo inteiro me alertou sobre ele, e eu
escolhi enfiar meus fones de ouvido e ignorá-los.

—Bem, eu estou cagando. Vou terminar sua sopa


amanhã de manhã antes de ir trabalhar.— Eu deixei
cair um beijo em sua cabeça, escapando para o meu
quarto.

Eu verifiquei as mensagens no meu celular. Não


havia nenhuma.

Liguei meu despertador para as seis da manhã e


me enterrei debaixo das cobertas.

Lily passou a noite com ele, em seguida, me fez


uma visita para me avisar que ela iria roubá-lo de
volta.

Ela poderia mantê-lo.


Eu entrei no meu escritório com uma xícara de
café e outro terno novo que custou foda-se-lá-quanto,
então Brianna não teria que mover sua bunda
preciosa uma polegada. Kate estava sentada atrás da
minha mesa no meu escritório, mas eu não tinha isso
em mim para chutá-la todo o caminho de volta para a
redação com o meu Oxford ainda preso entre as
bochechas da bunda dela.

Ela não levantou os olhos do laptop quando me


aproximei.

—A casa do cachorro é toda para baixo, à sua


esquerda, na loja Petco mais próxima.

Ela esfregou os olhos, fazendo com que uma linha


de delineador preto escorresse por suas bochechas.
Parecia que ela estava chupando o pau por vinte anos
seguidos sem fazer uma pausa, abatida, cabelos
enrolados, com manchas vermelhas cobrindo a maior
parte de sua pele. Sua camisa cinza tinha pelo menos
três conjuntos diferentes de manchas não
identificáveis.

—Você está deslumbrante, a propósito.— Eu


deslizei minha xícara de café.

—Bem, você parece com o idiota que está prestes


a ser despejado e demitido no mesmo dia, então eu
não sairia por aí oferecendo elogios sarcásticos.— Ela
fechou o laptop, enfiou-o debaixo do braço e se
levantou.

Eu a segui com meus olhos enquanto ela


caminhava para a porta. Se ela achava que estava
indo embora sem explicar seu comportamento, estava
gravemente enganada.

—Pare—, eu ordenei. Ela ficou de costas para


mim. —Do que diabos você está falando?— Eu me
inclinei contra a minha mesa.

Ela não se virou.

—Eu fiquei aqui a noite toda.


—Por quê?

—Você não verificou as notícias nas últimas


quinze horas?

Um alarme apitou no meu sistema. Se o prefeito


tivesse decidido entrar em parada cardíaca no
primeiro dia em que resolvi desligar, eu seria
conduzido a uma sala ao lado dele.

—Chegue ao ponto—, eu disse.

—Verificou seu telefone?— Ela girou lentamente


nos calcanhares, arqueando uma sobrancelha
paternalista.

Eu balancei a cabeça, olhando para ela através


dos olhos encapuzados.

—Este jogo seu pode custar-lhe o seu trabalho,


então eu com certeza espero que você esteja
gostando.

—Oh, eu não estou. Confie em mim. Agora vamos


ver.— Ela fez uma demonstração de se virar para mim
completamente, batendo o lábio. —Tudo começou,
com o fato de que toda a redação viu você saindo
abraçado com sua ex-noiva, um segundo depois de
declarar que Jude era sua namorada, o que a colocava
diretamente na posição de ser a piada oficial do
escritório, a sobra do prédio que foi despejada pelo
patrão. Alerta de spoiler: ela não gostou disso. Então,
em algum momento ontem à noite, foi revelado que
há um derramamento de óleo ameaçando matar
milhares de mamíferos e pássaros. As pessoas
passaram a noite. Jude não, porque ela teve que
cuidar de seu pai depois de trabalhar horas extras.
Então não se preocupe, tenho certeza que ela pegou a
reprise do Canal de Fofoca de você saindo com a Lily.
Puxa... —Ela bateu a mão sobre o peito. —O que é um
multitarefa. Fodendo sua ex e sua vida
simultaneamente.

Eu apaguei o espaço entre nós, levantando meu


queixo para olhar para ela. Ela não tinha me dito nada
que eu já não soubesse, bem, ok, exceto o
derramamento de óleo, e eu não era idiota, então,
obviamente, eu tinha uma boa ideia de como tudo
isso parecia. Manter Jude imaginando era o plano.
Empurrá-la para longe, o objetivo.

Mas eu não gostei do que Kate insinuou.

—Eu não fodi Lily. Sua avó morreu.

Isso não era algo que eu pudesse gritar


exatamente dos telhados. A família Davis era privada.
Suas irmãs eram inflexíveis em trabalhar em
empregos regulares.

—Jude sabe?

—Ela vai saber.

Eu estava brincando com fogo, mas a profecia


auto-criada não foi desnecessária. Eu realmente não
tinha namoradas, e a merda com All Stars estava
chegando a ser um pouco demais.

—Você não está escutando, Célian. Ela não vai


ouvir suas besteiras. Como você vai explicar estar
circulando pelo prédio de apartamentos da Lily?
Participar de uma festa de aniversário com ela?
Desaparecendo para todos nós?
Passei esbarrando por ela e ela engasgou, dando
um passo evasivo. A iminente calamidade que eu
tinha me inserido com os olhos bem abertos, ia
chover em mim. Não estava derramando, mas já
estávamos em um fluxo constante. Merda.

Eu estava na merda.

—Eu participei de todas essas funções para a


família dela—, eu disse a Kate, ainda incapaz de
alcançar a porta do meu escritório. —Isso incluiu a
festa de aniversário estúpida da prima de Lily. Fui ao
apartamento dela duas vezes, sem ela, porque
precisava pegar suas roupas limpas e as coisas de
higiene dela. Nós nunca estávamos na mesma
vizinhança sem nossas roupas. Ela tentou segurar
minha mão por meio segundo na festa, e eu mordi
sua cabeça por isso. Acabamos, mas isso não significa
que eu precise ser um idiota para ela. Eu queria estar
lá para os Davis, porque quando minha vida estava
desmoronando e Camille morreu, eles estavam lá para
mim.
Lily tinha sido um não comparecimento durante
aqueles dias terríveis, mas eu ainda lembrava das
flores e do bolo que a família tinha mandado todas as
manhãs, a mãe dela me checando, sua avó me
ligando três vezes por dia para ter certeza de que eu
comia e tomava banho. De que eu estava respirando.

Kate se virou, pegando a maçaneta da porta. Eu


mantive meu rosto blasé.

—Boa sorte explicando a todos, Célian. Porque


deixe-me dizer uma coisa, no momento em que Jude
entrou na sala, ela mudou você. Não foi profundo. Foi
até gradual, mas estava lá. A maneira como você
começou a sorrir, a maneira como se suavizou com
seus empregados, só um pouquinho, e começou a
fazer a coisa certa sozinho e com Lily. Mas de pé
aqui?— Ela balançou a cabeça. —Eu acho que aquele
homem acabou de nos deixar, e isso me entristece,
porque eu estava ansiosa para trabalhar e fazer
amizade com o novo Célian.

Ela fechou a porta atrás de si e eu olhei para a


parede de vidro, pegando Jude desembalando o
almoço e jogando a bolsa na cadeira. Ela olhou para
cima para encontrar o meu olhar como eu sabia que
ela faria. Nós podíamos sentir um ao outro a
quilômetros de distância. Eu arqueei uma sobrancelha
virada para cima. Seu rosto permaneceu inalterado,
como se ela não tivesse me visto, e começou a
enrolar seus fones de ouvido ao redor do iPod, ligando
o computador.

Fique calmo.

Fique aí.

Pense sobre isso.

Isso era o que você queria.

Foda-se. Eu não precisei pensar.

Eu me afastei da minha mesa, brilhando na


redação. Todo mundo estava com o nariz no trabalho,
porque, evidentemente, estávamos à beira de um
desastre ambiental e ninguém tinha tempo de ficar
impressionado por eu ter, de fato, tirado minha
cabeça da minha bunda.
Eu sabia agora que nos últimos três dias, eu
tentei negar meus sentimentos em relação a Jude e
fazê-los irem embora.

Fui diretamente para a mesa dela e coloquei uma


mão sobre Kipling, que estava aberto em cima do seu
teclado.

Ela olhou para cima.

—Senhor?— Não havia nada nessa voz. Nada no


rosto dela. Nenhum fogo crepitando no ar entre nós.
Era como se ela tivesse sido desligada.

—Preciso de você por um minuto. —Eu estou bem


aqui.

—Andar de baixo.

—Não está acontecendo—, ela disse calmamente,


com todo mundo olhando agora, porque essa era a
essência de Judith Humphry, uma maldita garota
durona com All Stars coloridos e um terno estranho,
muito adulto.
—Se você precisar de algo de mim
profissionalmente, por favor diga agora, porque estou
prestes a entrar na sala de conferência para uma
ligação urgente com o oficial de relações públicas da
NOAA.

A única razão pela qual eu não apertei meu


queixo, foi porque eu sabia que essa merda iria
estalar e quebrar com a força. Se ela fosse qualquer
outra funcionária, eu teria jogado sua bunda para fora
do prédio com o cabo de telefone e o fone de ouvido
ainda apertados em seu punho. Mas não Judith. Não
depois de tudo que passamos.

A verdade era que eu não poderia verbalmente


rasgar seu membro, mesmo quando ela me
depreciava em público, porque eu não queria.

Porque eu me importava com ela.

Eu estava apaixonado por ela.

Jesus fodido Cristo.


Eu estava, não estava? Primeiro ela entrou na
minha cama, depois debaixo da minha pele, depois no
meu coração. Não havia tecidos mais profundos do
que isso, então ela ficou lá, tomando mais e mais
espaço, até que não havia mais espaço dentro de
mim. Se ela me cortasse, eu a sangraria.

Ela ergueu a cabeça para trás, como se eu fosse


morder seu rosto.

—Isso vai ser tudo, Sr. Laurent?

—Sim. Entre nessa ligação da NOAA e reporte-


se.— Eu dei um passo para longe, minha cabeça ainda
girando da eterna revelação.

Eu amava Jude.

Eu empurrei Jude para longe.

Eu poderia ter dito a ela o que estava


acontecendo a qualquer momento durante aqueles
três dias, mas não contei.

Eu não queria que ela soubesse.


Eu queria que ela assumisse o pior e desistisse de
mim, como todo mundo tinha feito. Minha mãe era
indiferente. Meu pai me odiava ativamente. E minha
ex-noiva me queria da mesma maneira que você
queria uma bolsa Hermés de edição limitada, porque
eu ficaria muito bem e cara em seu braço.

—Claro, senhor.

—Pare de me chamar de senhor—, eu retruquei.

Minha língua esteve dentro da sua bunda, pelo


amor de Deus.

—Sim, senhor—, ela sussurrou, estreitando os


olhos para mim.

Você gozou em todo meu rosto com meu pau


dentro da sua boca.

—Agradeço, All Stars.


Apaixonado.Foda-me

Por Judith Penelope Humphry do Brooklyn.

Que eu conheci em um dia chuvoso de merda,


depois de outra briga com meu pai.

Que roubou minha carteira, meu dinheiro, minhas


camisinhas e meu coração.

Que tinha se infiltrado em cada fibra da minha


pele, uma camada de cada vez, com sua música,
risadas contagiantes, humores diários e All Stars
sujos.

Eu estava apaixonado, apesar de não querer


concordar em estar.

Então eu a empurrei para longe. Se eu


desaparecesse, não teria que tomar uma decisão. Isso
seria feito para mim.

Uma decisão de arriscar alguém.


Uma decisão de viver novamente.

Uma decisão de desistir da LBC e de tudo pelo


que trabalhei, porque o poder não era suficiente.
Especialmente se você não tem ninguém para
compartilhar.

Foi assim que me vi fazendo toda a rotina de


flores e chocolate, quando cheguei a casa dela
naquela noite. As pessoas ainda faziam isso? Toda
ideia romântica que eu tinha, -e com certeza, não
eram muitas-, foram tiradas de estúpidas peças que
Camille me fez assistir quando eu era adolescente.
Lily nunca se incomodou. Ela sabia que me sentar na
frente de um filme de Kate Hudson era uma tarefa
semelhante a me fazer foder um moedor de carne.

Talvez chocolate e flores fossem coisa dos anos


90. Judith era jovem. Talvez, até certo ponto isso
tenha feito as pessoas se sentirem desconfortáveis.
Me pergunte se eu dei a mínima.

Célian, você dá a mínima?


Nem mesmo a metade. Nem mesmo um quarto.
Nem mesmo três negativos, e ainda contando.

Eu toquei a campainha várias vezes, andando de


um lado para o outro. A porta permaneceu sem
resposta, muito parecida com as minhas mensagens
de texto. Eu tentei mantê-las curtas e saudáveis, mas
aqueles eram dois traços com os quais eu me
separara nas últimas horas, enquanto lidava com um
derramamento de óleo, uma rede agonizante e um
coração partido. Eu decidi atirar nela uma última
mensagem antes de sair.

Célian: Precisamos conversar.

Célian: Em poucas palavras, eu não coloquei


meu pau dentro da minha ex-noiva.

Célian: E ela ainda é muito ex.

Célian: Sua avó morreu. Nós éramos


próximos. Eu não queria colocar toda a merda
em uma mensagem de texto. Que é fodidamente
irônico, porque PEGUE A PORRA DO TELEFONE.

Célian: Além disso, se você viu a festa, essa


era sua prima. A família foi obrigada a ir. Eu saí
cedo.

Célian: E sozinho.

Célian: Por que estou me explicando na sua


caixa de mensagens? Vamos tornar isso
estranho para nós dois. Estou chegando.

Célian: Abra a porta.

Célian: Eu vou chutar.

Célian: É um bairro perigoso, All Stars. Ficar


sem portas por uma noite não é o ideal, mas
você pediu por isso.

Eu ouvi o clique da porta abrindo um segundo


depois do último texto. Eu olhei para cima. All Stars
usava um moletom com capuz Sonic Youth e shorts
curtos. Ela me encarou através de uma rachadura
mais estreita que o ânus de uma formiga.

—Aqui—, eu disse, empurrando as flores, elas


pareciam tão murchas quanto eu, e a caixa de
chocolate vermelho com o celofane rosa em sua
direção.

—Por sua bunda teimosa, que eu gostaria muito


de comer de novo no futuro próximo.

—Isso é uma piada?— Ela piscou devagar.

Eu olhei em volta de mim. Era uma piada? Porque


me pareceu sério em um nível existencial.

—Sobre a bunda ou o pedido de desculpas? Deixa


pra lá. Não, nos dois casos.

—Bem, eu não aceito seu pedido de desculpas, e


eu não vou agraciar o comentário da bunda com uma
resposta. Algo mais?— ela perguntou, mas ela já
estava empurrando a porta fechada.
Eu vi o pai dela se arrastando atrás dela. Ele
balançou a cabeça quando ele me viu através da
fenda na porta.

— Célian —, ele repreendeu. —Você tem sorte de


eu estar muito doente para chutar o seu traseiro.
Espere. Eu nunca estaria tão doente para chutar sua
bunda.

—Senhor, estou tentando explicar.

Ele foi para o sofá, sem me dar outro olhar. Voltei


a olhar para a minha namorada. Ex-namorada. O que
quer que ela fosse. Porra.

—Há uma explicação perfeitamente boa para tudo


o que aconteceu nos últimos três dias.— Eu tentei
uma tática diferente.

Para o registro, meu Bacharelado estava em pré-


lei e meu mestrado estava em relações internacionais.
Eu deveria ser bom com as palavras. Na verdade, eu
sabia que era. Isso não me impediu de cagar todo
esse encontro.

—Ainda não há maneira de explicar por que você


estava desaparecido, e me ignorando quando o
mundo inteiro sabia que você estava com a sua ex—,
ela respondeu. —Você sabe, Célian, Milton estava
errado sobre muitas coisas. Numa coisa que ele
estava certo, no entanto, realeza e plebeus não se
misturam. É provavelmente muito bom estar sentado
no trono, como você faz.

Parecia que eu estava tendo um bom tempo? O


que deu a entender isso, o fato de que eu me senti
como no inferno, ou eu cheirava como ele? Meus
dentes moem juntos.

Ela abriu a porta todo o caminho, estacionando a


mão no quadril.

—Na verdade tenho algo a dizer, então ouça


atentamente. Quando minha mãe morreu, ela disse
que o coração era um caçador solitário. Eu pensei que
ela queria dizer que eu era incapaz de me apaixonar.
Porque eu nunca fiz. Eu gostava muito de Milton, e
alguns caras do ensino médio também... — ela parou.

Eu estava esperando que ela chegasse ao ponto


antes de eu ter que matar metade de Nova York.
Especialmente Milton. Aquele cara estava tão alto na
minha lista de merda que eu duvidava que fosse
seguro estarmos no mesmo estado.

—Mas então, descobri que não era isso que ela


queria dizer. Foi logo antes de partirmos para a
Flórida. Naquele dia, meu pai me disse que ela estava
se referindo a um livro. Veja, eu nunca disse a ele o
que mamãe disse. Eu não queria manchar o quão
perfeita ela era em seus olhos. Porque eu o amo e
quando você ama alguém, você quer protegê-lo, não
importa o custo. E não posso me dar ao luxo de estar
com você, Célian, porque eu te amo. Mas para
aprender a amar, primeiro você precisa aprender a
viver, e odiar seus pais, sair correndo com sua ex-
noiva e jogar jogos de poder não é o caminho. Eu
mereço mais.
Eu diria a ela que a amava agora, se achasse que
ela acreditaria em mim. Mas por que ela iria? Eu agi
como um idiota por meses. Porra, eu não acreditaria
em mim também.

—Me dê uma chance.

Ela balançou a cabeça. —Não posso fazer isso.

—Judith...

—Não faça isso.— Seus olhos imploraram. Eu não


disse nada para isso. —Você só vai provar o que
acabei de dizer, que é tudo sobre você. Se você se
importa comigo, me deixe ir.

Porra.

Porra.

Porra.

Esperando que não fosse algum teste que eu


estava fracassando, corri a mão pelo cabelo, depois
bati o chocolate e as flores contra a parede do
corredor. Cerejas brilhantes picadas e chocolate
espalhados na lateral de sua porta.

E eles dizem que os franceses são românticos.

—Tudo bem—, eu disse. —Tudo bem.

Eu achei o hábito de me repetir pouco atraente.


Mas isso foi porque eu nunca estive tão perdido e sem
palavras antes. Eu estava agora, e não gostei nem um
pouco.

—Devemos revisitar esse assunto na próxima


semana? Próximo mês? Próximo ano?— Eu iria
mesmo sobreviver a esse tipo de tempo?

—Não, Célian. Eu não acho que deveríamos.

A porta se fechou na minha cara. Suave, mas


com firmeza, como tudo o mais que ela fazia.

Eu abaixei minha cabeça e balancei, olhando para


o chão.

Ela tinha um capacho de Game of Thrones 'Hold


the Door'.
E eu deixei ela ir.

Porque ela merecia mais.


O coração é um caçador solitário.

Meu coração era um caçador solitário.

Tudo doía.

Eu sempre pensei que estava condenada por não


poder me apaixonar, mas uma vez que caí, desejei
não ter me apaixonado. Agora doía quando eu
respirava, quando eu caminhava pelos corredores no
trabalho, e cada vez no meio, quando eu via a pessoa
com um terno afiado e uma língua ainda mais afiada
passando por mim, dando ordens para Brianna ou
brincando com Elijah e Kate..
Oito semanas se passaram. Quatro semanas
depois de ele aparecer na minha porta com flores e
chocolate, Célian convidou todo mundo para a sala de
conferências e anunciou que tinha tomado uma
posição em uma rede concorrente em Los Angeles e
só ficaria por mais um mês.

Depois que ele fez esse anúncio, ele me lançou


um olhar, procurando meu rosto. O que quer que ele
tenha encontrado lá, fez com que ele me pedisse para
ficar depois que a reunião terminasse, para que
pudéssemos conversar sobre isso.

Eu queria muito, mas sabia que nada havia


mudado.

Eu não ia me mudar para Los Angeles, e nem


conseguíamos fazer funcionar quando morávamos na
mesma cidade. Então não havia como nós
conseguirmos se ele vivesse do outro lado do país.

Além disso, eu ainda o amava mais do que ele


era capaz de me amar de novo, e um relacionamento
desequilibrado era condenado.
—Senhor, eu tenho muito trabalho. Eu realmente
acho melhor não.— Meus dedos se contorceram sob a
mesa.

Seus olhos azuis do fundo do iceberg tinham


corrido pelo meu corpo para ver meus sapatos. Eu
usava sapatilha preta comum. Eu não consegui
mostrar a ele como me sentia todos os dias. Parecia
íntimo demais, agora que ele sabia o que cada cor
significava.

Eu também me recusei a desdobrar as pequenas


notas Post-it que ele começou a enfiar na gaveta da
minha escrivaninha cerca de um mês depois que tudo
explodiu. Não era todo dia, mas sempre que eu
encontrava uma, meu humor piorava.

Mesmo assim, eu sabia que ele não estava mais


vendo Lily, e isso era oficial. O local do casamento
havia sido cancelado, Ava e Gray haviam me relatado
animadamente um dia, e depois de perder sua amada
avó e seu noivo no mesmo mês, Lily decidiu entrar
em um centro de reabilitação em Utah para tratar seu
vício em álcool.
Ava e Grayson estavam obcecados com minha
vida pós-Célian. Eles pareciam saber cada detalhe que
eu não estava a par de como Milton tinha sido
demitido do The Thinking Man e agora estava
trabalhando como pesquisador em algum jornal local
que ninguém tinha ouvido falar. Ou como Célian
estava arrumando suas coisas e se preparando para ir
embora. Eu não suportava a ideia de não ver Célian
todos os dias, mas também sabia que não aguentaria
ser machucada por ele novamente.

No entanto hoje, uma sexta-feira, quando ele


serviu seu último dia na LBC e todos estavam na fila
para apertar sua mão e agradecer-lhe pelo que muitos
consideravam um serviço nacional, eu também fiz.

Ele apertou minha mão.

—Judith.

—Sen...— Eu comecei a chamá-lo de senhor,


sabendo que ele odiava isso, antes de nos poupar de
mais dor de cabeça.
—Célian.— Eu balancei a cabeça, oferecendo-lhe
um sorriso tímido. —Obrigada por tudo.

—Não precisa me agradecer. Era uma fração do


que eu planejava dar a você, de qualquer maneira—
ele disse secamente, mas seus olhos eram dois poços
de miséria. Parecia que eu estava me afogando em
suas profundezas, incapaz de sair em busca de ar.

Eu embaralhei um pouco para o lado, abrindo


espaço para Jessica atrás de mim. Ele apertou minha
mão com mais força.

—Leia as notas, Judith.

—Tenha uma viagem segura.— Abaixei a cabeça


e fui direto para o banheiro.

Brianna esperou por mim lá com duas mini


garrafas abertas de Jack Daniels.

A queimadura do álcool mal tocou minha


garganta. Ele deslizou direto para o meu peito. Parada
ali, no banheiro feminino insalubre, me fez perceber
que era ter bons amigos. E eu estava feliz por ter feito
uma boa amiga como Brianna.

No final, foi em uma tarde de domingo quando


tudo mudou, quando eu mudei. Eu percebi que
realmente não importava como Célian me tratou,
porque o amor não era um jogo de xadrez. Era
Twister. Você se envolveu e tropeça nos seus próprios
pés, mas isso fazia parte do seu charme.

Eu havia me escondido na biblioteca, como de


costume. Eu sabia que Célian passava um tempo com
meu pai todos os domingos religiosamente, e como
isso era importante para os dois. Papai tinha a Sra.
Hawthorne e eu todos os dias da semana, mas sentia
falta dos amigos que tivera no trabalho, e Célian era
sua dose de testosterona. Eu tentei não ser amarga
sobre a facilidade e rapidez com que ele perdoou
Célian, mas a triste verdade, era que nem eu poderia
odiá-lo. Na verdade não. Não de maneira nenhuma.
Não do jeito que eu tão desesperadamente queria
odiar o homem que ironicamente, me fez perceber
que eu poderia amar.

Phoenix me encontrou na biblioteca. Ele foi o


único a nos esgueirar alguns doces desta vez. Ele
parecia alegre e travesso hoje e melhor do que nas
últimas semanas.

Ele parecia o cara que eu conheci na primeira


vez, quando ele se aproximou de mim nessa mesma
biblioteca.

—Que há com você? Você parece diferente.— Eu


roubei um punhado de Sour Patch Kids da sua bolsa.

Ele mastigou seu doce quando começou a folhear


as páginas do The Times.

—Diferente como?

—Hmm...— Eu olhei para a esquerda e direita,


sentindo-me desconfortável.
—Feliz?

— Estou feliz.— ele riu.—Não é um conceito


estrangeiro. Você deveria tentar isso também.

—Talvez seja contagioso e eu vou pegar de


você—, eu meditei.

Mas isso era uma ilusão, e eu sabia disso. Eu


estava operando no piloto automático, passando pelos
movimentos, quando na verdade, tudo que eu
conseguia pensar era no fato de que Célian
provavelmente estava no meu apartamento agora, e
possivelmente pela última vez, deixando seu cheiro,
testosterona e ar sexy por todo o lado lugar. Ugh.

—Na verdade, também estou muito feliz porque


tenho uma dica para dar a você.— Phoenix fechou o
jornal, seus olhos se voltaram para os meus. Fechei
meu exemplar do The New Yorker e arqueei uma
sobrancelha. Ele se inclinou sobre a mesa entre nós e
apertou minha mão.
—Eu acho que você vai apreciar esta.

—Então por que você está dando para mim?

Eu estava aqui para Phoenix desde que ele voltou


da Síria. Eu me recusei a ficar do lado de Célian e
escolher entre eles, embora muitas mulheres
provavelmente tivessem. Mas isso ainda não garante
toda a ajuda que ele me deu. Eu sabia que ele era um
freelancer, e ele particularmente não precisava do
dinheiro, mas eu estava começando a me sentir
desconfortável com o quanto eu lhe devia em dicas e
fontes. Parte da razão pela qual eu me tornei
apreciada e adorada na redação, foi porque ele me
entregou muitas pistas que deveriam ter sido dele.

—Este aqui tem o seu nome em tudo—, ele


insistiu.

—Por quê?— Eu perguntei.

Não importa o que Célian dissesse, Phoenix era


um bom jornalista. Ele tinha amigos em todos os
lugares. Ele era encantador e acessível. Desde que
voltara a Nova York, ele passara todas as noites
batendo nos badalados bares de Manhattan, onde os
jornalistas se apinhavam e faziam mais contatos,
embora não bebesse uma gota de álcool. Ele conhecia
tudo e todos, o filho de seu pai por completo. E James
Townley? Eu tinha certeza de que ele tinha uma linha
direta com o próprio Jesus.

Jesus: —Eu queria saber quando você ia me dar


um retorno.—

—Porque—, disse Phoenix, quebrando uma bala


roxa azedinha no meio entre os dentes e piscando-me
um sorriso, —literalmente tem o seu nome nele.
Agora, você promete que não vai enlouquecer quando
eu lhe mostrar o que meu pai encontrou?

—Seu pai?— Meus olhos se arregalaram. —James


Townley fez algum trabalho jornalístico real?

Eu não queria ser rude ou qualquer coisa, mas eu


percebi que ele não precisava, visto que ele era um
deus da notícia.

Phoenix balançou as sobrancelhas. —Vamos


apenas dizer que ele tinha algum negócio aberto com
a pessoa em questão, então quando ele ouviu essa
fofoca quente, ele estava ansioso para cavar o osso
no final daquele buraco. Acabou que o osso era
carnudo.

—OK.— Meus dentes afundaram no meu lábio


inferior. —Conte-me.

Ele fez.

Tudo.

Então ele deslizou um arquivo pela mesa.

Eu enfiei na minha mochila e corri para a estação


de trem.

Eu tinha que mostrar para Célian.

E eu sabia exatamente onde encontrá-lo.


… Ou talvez eu não sabia.

Nosso apartamento estava vazio quando cheguei


a ele. Subi até a casa da sra. Hawthorne, mas ela
disse que Célian e meu pai haviam saído de táxi
algumas horas antes. Ela perguntou se eu queria ir
tomar chá. Eu disse a ela que sim, mas não agora, e
pude ver a decepção em seu rosto. Eu puxei a manga
de seu vestido e a abracei em seu limiar sem aviso
prévio. Ela gritou com o gesto repentino, mas aliviou
no abraço depois de um segundo. Ela deu um tapinha
nas minhas costas.

—Eu gostaria de te conhecer melhor, Jude. Eu


vejo o quão bem você cuida do seu pai, e eu admiro
isso. Muito.

—Nós vamos—, eu prometi, e eu quis dizer isso,


mesmo que minha mente estivesse em outro lugar,
com as notícias quentes que eu queria entregar.

—Eu prometo. Eu não levo tudo que você faz para


o pai por garantido também. Nós vamos passar algum
tempo juntos. Eu sei que vamos.
Depois, subi três degraus de cada vez, batendo o
botão de chamada freneticamente. O celular de Célian
foi direto para o correio de voz. Eu teria pensado o
pior se não soubesse que ele estava com meu pai.

Papai.

Deus meu pai.

Eu joguei minha mochila no chão e comecei a


ligar para o meu pai. Ele parecia bem antes de eu sair
de casa. Ele parecia bem no geral. Eles disseram que
o tumor estava encolhendo, mas quão promissor era?
Tratava-se de um tratamento experimental e ele
ainda estava fraco. Ele nunca saiu do prédio. Nunca.
Agora ele estava fora com Célian, Deus sabe onde e
eu deveria fazer... o que, exatamente? Sentar e
esperar pelo seu retorno seguro?

Comecei a enviar mensagens para ele e para


Célian simultaneamente. Para o papai, foi o de
costume, me ligar de volta / eu estou preocupada /
você deveria ter deixado uma nota / quando você está
voltando.
Com Célian, no entanto, eu me permiti ser mais
criativa. Talvez tenha sido a raiva reprimida que
abriguei nas últimas oito semanas.

Jude: Onde está meu pai?

Jude: Eu vou matar você, Célian.

Jude: (Não literalmente, no caso desta


mensagem chegar às autoridades)

Jude: Estou tão preocupada. Por favor, me


ligue.

Jude: Onde você o levou? Por quê? Você


sabe que ele nunca sai de casa.

Eu andei de um lado para o outro do


apartamento. Eu não sabia o que fazer comigo e isso
me assustou até a morte. Voltei para a minha mochila
e peguei os documentos que Phoenix havia me dado,
examinando-os com as mãos trêmulas.
Kipling escorregou da minha bolsa e se abriu,
cuspindo cartões de visita e os post-its dobrados que
Célian me deixou, como confete. Eu os tirei da gaveta
antes de sair do escritório na sexta-feira, porque eles
estavam transbordando e eu não tinha espaço para
minhas próprias coisas.

Por que eu não os reciclei apenas? Por que ele os


mandou?

Eu me fiz essa pergunta um milhão de vezes. Por


que Célian tentou me alcançar com postou its? Ele era
a pessoa mais verbal que eu conhecia, e ele parecia
ter um poder magnético sobre mim, toda vez que
estávamos juntos. Mas talvez fosse isso.

Ele não queria ter um poder magnético sobre


mim.

Ele queria que falássemos.

Ou apenas para me dizer como ele se sentia.

Agora, enquanto esperava que ele ou meu pai me


respondessem, não tive escolha senão tentar me
distrair, descobrindo o que as anotações diziam. Eu
caí no chão, minhas costas arrastando ao longo da
parede, e desdobrei a primeira nota amarela.

A palavra —música— vem das Musas, deusas das


artes na mitologia grega.

Eu nunca disse isso antes, porque eu pensei que


era brega, mas você é minha deusa (especialmente
sua bunda). - Célian

John Lennon começou sua carreira musical como


um menino de coro.

Eu nunca disse isso antes, porque me


aterrorizava admitir isso, mas você é minha igreja
(embora eu planeje estar dentro de você muito mais
do que apenas aos domingos). - Célian
Seu coração imita a batida da música que você
está ouvindo.

Eu não sabia que eu tinha um antes de você


aparecer, e agora eu tenho, e dói como um filho da
puta (obrigado por isso). - Célian

Eu roubei o seu iPod antes de você roubar minha


carteira. Foi enfiado dentro do meu casaco, antes
mesmo de eu tirar sua calcinha. Eu queria saber o que
você estava ouvindo. (E eu fiquei muito desapontado
por não ter nenhuma música de Britney Spears e
Justin Timberlake à vista, porque isso tornou muito
mais difícil não me apaixonar por você). - Célian

Eu tentei dizer a mim mesmo que eu terminei


com a Lily porque eu era melhor que o meu pai.
Besteira. Eu terminei com ela porque eu não poderia
não estar com você (e eu passei uma quantidade
respeitável de tempo negando essa merda para
mim).— Célian

No dia em que fui até os Davis, queria que você


descobrisse. Eu queria que você me mostrasse o seu
lado feio. Eu queria que você fosse feia, pelo menos
uma vez na sua vida, então eu poderia me livrar de
você. (Você não foi feia naquele dia. Eu fui.) - Célian

O último, que na verdade era um monte de notas


post-it grudadas, tinha sido enfiado dentro da minha
gaveta na sexta-feira, e dizia:

Estou apaixonado por você, e talvez não seja


capaz de lhe dizer pessoalmente, porque você
claramente não quer ouvir, e porque eu vou embora
em breve. Mas eu sou, e eu odeio isso. Não pense por
um minuto que eu queria me apaixonar por você,
Jude. Mas isso faz meu amor por você muito mais
forte. Então, da próxima vez que você erroneamente
assumir que você é a única pessoa que está sofrendo
com isso, lembre-se da primeira regra do jornalismo.
Existem dois lados em cada história. (E se você está
aberta para ouvir o meu, esta é provavelmente a
minha última chance.) - Célian

A fechadura sacudiu na porta do apartamento. Eu


rapidamente limpei as lágrimas do meu rosto, mas
não fazia muito sentido em fazer isso, percebi. Minhas
roupas estavam encharcadas com elas. Assim como
as notas de post-it. Eu engoli em seco e me virei.
Papai entrou vestindo um boné dos Yankees e
acenando uma bola de beisebol na mão.

—Adivinha o que seu velho homem pegou?— Seu


sorriso desmoronou no minuto em que ele me viu
sentada no chão, cercada por um mar de papéis
amarelos. Ele correu para o meu lado.

—Está tudo bem, JoJo?—

Eu me levantei, não querendo desperdiçar mais


um minuto.

—Onde você estava?

—O jogo dos Yankees. Célian achou que seria um


bom jeito de se despedir. Então fomos para
cachorros-quentes. Eu imaginei que estaria em casa
antes de você voltar.

—Eu diminuí meu tempo de biblioteca. Onde está


Célian?—Eu pergunto.

—Você está bem?— Ele perguntou de novo,


esfregando minhas costas.

Eu estava? Uma parte de mim sim uma parte de


mim estava mais do que bem, sabendo que eu estava
prestes a ajudar um homem que merecia minha ajuda
mais do que qualquer um que eu conhecia, depois de
tudo o que ele tinha dado a mim e a meu pai. Outra
parte de mim foi destruída e dilacerada, entre lhe dar
uma chance e arriscar a completa demolição do meu
coração ou tentar seguir em frente?

—Estou bem, pai. Onde está Célian?

—Ele disse que tinha que pegar algo no


escritório...

Claro.

Eu estava fora da porta antes de ter a chance de


ouvir o que era.
As caixas de papelão ficaram intocadas e vazias
no canto do meu escritório. Tudo o que eu realmente
precisava pegar era meu laptop.

Eu raramente me apeguei a pessoas, muito


menos posses.

Eu não tinha fotos da minha família e nada de


besteiras engraçadas na minha mesa. Todos os
prêmios que recebi, foram jogados no lixo na noite em
que foram entregues a mim, não dava a notícia para
ganhar um tapinha nas costas. Fiz a notícia, porque
queria mudar a vida, a perspectiva e o mundo, e
provar que merecia tudo o que recebera. A única coisa
que eu tinha me apegado a este andar gostaria de me
ver castrado por um açougueiro, então realmente não
havia necessidade de prolongar minha partida. Eu
insisti em não ter uma festa de despedida, explicando
que não havia nada de feliz com a minha saída. Eu
não estava me movendo para coisas maiores e
melhores depois de um entendimento mútuo com a
gerência. Eu estava pulando de um navio afundando,
deixando minha equipe se afogar.

Foi como planejar meu próprio funeral.

Fechei meu laptop e o coloquei no lixo com o


salto do meu Oxford, decidindo que não queria levar
nada comigo deste lugar. Foda-se.

O CSP, um canal concorrente, estava construindo


uma divisão de notícias em Los Angeles, e parecia
uma boa ideia colocar alguns milhares de quilômetros
entre mim e Mathias. Mas não foi por isso que eu
larguei meu emprego.
Eu não queria ver o rosto de Judith todos os dias,
sabendo que eu tinha colocado a carranca lá.

Então eu abri caminho para ela, porque eu nunca


a demitiria, e porque, na verdade, ela ganhou seu
lugar na minha redação, talvez até mais do que eu.

Não houve um grande colapso para elogiar meu


desgosto. Estava quieto, mas de alguma forma mil
vezes pior do que eu já tinha experimentado. Todos
os dias, quando ela saía do escritório, ela levava
alguma coisa com ela.

Outro pedaço do meu maldito coração.

Outra música em sua playlist que eu nunca seria


capaz de ouvir sem pensar nela.

Eu tive meu telefone desligado o dia todo, eu


queria fazer isso sem interrupção, e eu finalmente o
liguei e coloquei no meu bolso. Eu agarrei minha
jaqueta, dando uma última olhada no lugar que um
dia fora meu reino, o lugar que eu achava que teria
minha fodida festa de aposentadoria, e balancei a
cabeça.
Eu me virei, fechei a porta e esbarrei em algo
pequeno e quente.

Judith

Ela empurrou um arquivo no meu peito,


apontando para mim.

—Primeiro, na próxima vez que você levar meu


pai para fora de casa, você me avisa por mensagem
de texto ou por telefone. De acordo?

Eu pisquei rapidamente. Eu estava imaginando


coisas agora? Porque esse tipo de merda precisava ser
verificado e medicado. Eu arqueei uma sobrancelha.

—Você percebe que Los Angeles não está por


perto, certo? Eu não vou ver muito dele em breve.

Ainda um idiota.

Mas inferno se ela não gostou.

—Há um lugar especial no inferno para você.—


Ela empurrou o dedo delicado no meu rosto.
Seria demais se eu mordesse a ponta?
Provavelmente.

Eu sorri.

—Não estou surpreso. Eu tenho um excelente


corretor de imóveis. O que você está fazendo aqui em
um domingo, All Stars?

—Salvando sua bunda.— Ela soltou o arquivo no


meu peito e caminhou até sua estação na redação.

Eu segui. Sua bunda parecia fantástica, como


sempre, mas não foi isso que me fez sorrir até eu
quase cortar meu rosto ao meio.

Ela colocou todos os documentos em sua mesa,


mas não me deixou espiar no arquivo. Eu olhei para
ela com curiosidade, sem saber qual era o seu
negócio, mas intrigado, no entanto. Mais do que tudo,
eu gostava que ela estava falando comigo de novo, e
não estava planejando foder isso.

—Prepare-se para ter sua mente explodida—,


disse ela.
—Isso é um convite para uma transa? Porque
acho difícil acreditar que qualquer coisa, além da sua
boceta, possa evocar essa ou qualquer emoção em
mim.

Deixei as coisas românticas para as anotações


que eu havia escrito para ela. Eu ainda não consegui
dizer nada em voz alta, mas eu queria. Muito.

Ela balançou a cabeça e sorriu, deslizando fotos


da Polaroid na minha direção. Do meu pai jantando
em um restaurante com figurões do canal.

Eu levantei uma sobrancelha. —Como você


conseguiu isso?

—James Townley.

—E como ele conseguiu isso?

—Ele contratou Dan, que trabalha aqui, para


conduzir uma investigação sobre Mathias.

—Eu também—, eu respondi.—E?

Ela encolheu os ombros.


—Townley pagou o dobro.

—Aquele filho da puta do Dan.— Eu respirei


fundo.

Jude colocou a mão na minha e apertou. —De


modo nenhum. Ele é brilhante, ele levou vocês dois
como clientes porque vocês tinham o mesmo objetivo,
derrubar Mathias. Eu inclinei meu quadril contra sua
mesa e passei pelas imagens. Havia mais em seu
arquivo, mas isso não se encaixava. —Isso é tudo de
bom e elegante, mas que porra estou olhando? Meu
pai almoçando com os investidores sem mim? Eu
posso usá-las para nada, além de talvez pesquisar
para fazer bonecos de vodu.

Jude deslizou um monte de documentos do


arquivo para mim.

—Leia as áreas destacadas. Há muito coisa


suave, profana e também de promiscuidade a
maconha, mas no final, você achará a conversa
bastante interessante. Especialmente as revelações
nesta transcrição da gravação original.
—Isso está tudo gravado?— Eu peguei os papéis,
olhando para ela.

Ela assentiu. —Sim.

—Eu ainda não vou poder usá-lo no tribunal.

Eu a estava testando, pisando cuidadosamente


em meu próprio segredo, um segredo que não queria
esclarecer ainda, para que Judith não se sentisse
pressionada a fazer nada. Meu coração bateu tão
rápido que pensei que ia queimar um buraco no meu
peito.

Ela acenou com a mão na direção dos


documentos.

—Apenas leia, Célian.

Comecei a percorrer o texto, batendo nas partes


destacadas:

ML: —… ridiculamente fácil. Eu sabia que ele


estava lá, então eu tirei a filmagem da CCTV e
encontrei a garota, Judith alguma coisa. Certifiquei-
me de que os arranjos certos haviam sido feitos e,
com certeza, a garota Judith foi chamada para uma
entrevista de emprego na LBC, embora houvesse uma
confusão e ela de alguma forma acabasse em outro
departamento. Eu corrigi a situação imediatamente.

ML: —… foi um tiro no escuro, mas meu filho não


é tão calculista quanto eu. Eu percebi que valia a pena
tentar. E funcionou. Ele se apegou com tanta
facilidade e descartou completamente sua noiva.
Agora, precisamos decidir o que estamos fazendo com
a LBC…

ML: —… Estou puxando os anúncios lentamente,


embora precisaremos pensar em maneiras de
terminar o contrato completamente. Meus advogados
estão trabalhando para encontrar uma lacuna legal —.

Eu coloquei os papéis para baixo, sentado na


beira da mesa dela e entrelaçando meus dedos com
indiferença. Então Mathias havia planejado tudo isso.
Meu encontro com Jude, minha paixão por ela, desistir
da família Davis, todas as coisas. E eu fui direto para
a armadilha dele.
Bem, quase.

Eu não cometi o erro de perguntar a Jude se ela


sabia disso. Claro que ela não sabia. Em vez disso, me
concentrei em como lidar com essa merda.

—Nós dois fomos enganados—, eu disse.

Ela colocou a mão no meu ombro, e eu resisti ao


impulso de puxá-la para dentro de mim e enterrar
meu rosto em seu cabelo. Judith tinha esse toque que
fazia a merda desaparecer.

Merda.

Ela deve ter sabido que eu pensei, talvez eu até


tenha dito isso em voz alta, porque ela deu alguns
passos para trás e engoliu em seco. Foi o tipo de
engolir que dizia que havia algo mais, e eu não
necessariamente iria gostar disso.

—Eu li as notas de Post-it—, disse ela.

—Eu pensei que você tinha lido há muito tempo.


Foi bom saber que ela não tinha lido. Saber que
ela não tinha escolhido me ignorar.

Ela balançou a cabeça. —Doeu muito.

—E agora?

—Ainda dói, mas um pouco menos. Também


estou mais preocupada com o seu bem-estar do que
com o meu agora. James quer falar com você.

Eu imediatamente quis dizer que não estava


interessado, mas sabia que não deveria acabar com
tudo. Ela estava falando comigo, afinal. Eu precisava
jogar bem se eu quisesse uma boa namorada.

Foda-se. Sim.

Isso é o que era. Eu queria que Jude fosse minha


namorada, não falsa e nem temporária.

—Estou na pressão do tempo aqui—, eu disse em


vez disso, me perguntando se ainda era verdade,
agora que ela e eu estávamos falando novamente. —
Mas eu acho que eu poderia apertá-lo esta noite se
você vier comigo.
—Esta é a sua família e negócios pessoais. Eu não
acho que pertenço a isso.

—Eu não acho que eu dou a mínima. Espere,


apenas em... —Eu fingi ouvir algo em um fone de
ouvido invisível.

—É isso, eu não dou a mínima. Pegue sua merda,


All Stars.

—Isso não significa nada—, disse ela enquanto eu


puxava sua mão.

Como o inferno que não significava. Ela queria


me ajudar, e ela correu todo o caminho até aqui, em
uma tarde de domingo, para me dar algo que ela
achava que seria útil. Significava tudo e mais um
pouco, e eu estava indo extrair o inferno disso.

Fiz uma parada no meu escritório e tirei o laptop


da lata de lixo, colocando-o de volta na mesa. Jude
nunca perguntou o que estava fazendo lá em primeiro
lugar.

Ela sabia.
Eu nunca estive na casa de James Townley, e
fiquei contente em pensar que nunca iria. Ele morava
em outra cobertura, em outro arranha-céu de Nova
York, e era incrível como uma das cidades
arquitetônicas mais deslumbrantes do mundo tinha
conseguido abrigar tantas coberturas idênticas,
clínicas e impessoais.

James abriu a porta com um roupão e disse que


estava feliz em me ver. Quando ele viu Jude ao meu
lado, ele fez uma careta como se eu estivesse cuspido
em sua bebida.

—Lide com isso—, eu respondi ao seu


aborrecimento não verbal, andando em sua sala de
estar.

Sua esposa de doze anos de idade, que era 85%


feita de plástico, se levantou do sofá, seus saltos
clicaram para o corredor, e então eu adivinhei o
quarto deles. James foi até a cozinha para pegar
algumas bebidas. Eu não conseguia descobrir por que
sua esposa usava salto em casa. Eu dei uma
cotovelada em Judith levemente quando nos
sentamos no mesmo sofá que o apresentador
matutino de segunda-feira tinha desocupado um
segundo atrás.

—Você usa sapatos dentro de casa?

Os olhos de Jude se voltaram para mim, e ela


franziu a testa imediatamente.

—Eu nem uso calcinha e sutiã em casa. Papai


tem sorte se minhas roupas cobrirem minhas partes
íntimas. Eu sou um espírito livre.

—Eu fodidamente te amo—, eu soltei, e eu quase


engasguei no ar dentro dos meus pulmões.

Não que ela não soubesse agora, mas ainda


assim.

Ela sorriu
—Eu acho que estou começando a acreditar em
você.

—Deixo registrado aqui, que eu tomei outro


trabalho apenas para que você pudesse manter o seu
na LBC,— eu disse a ela antes de minha garganta
fechar. —Estar longe de você seria como viver sem
membros. E eu gosto muito dos meus membros.

O olhar no rosto dela era inestimável. Era como


cada presente de Natal fantástico um segundo depois
de você desembrulhá-lo. Eu estava prestes a
mergulhar e ir para o beijo, selando essa merda para
sempre, quando James entrou de novo com uma
bandeja e algo alcoólico sobre ela.

Idiota.

Eu não podia fingir que não o vi, então me


endireitei no sofá e tentei pensar em coisas tristes,
como o aquecimento global e a Teoria do Big Bang,
para cuidar do meu pau já muito duro.

James arrastou um sofá e sentou-se diretamente


na minha frente, inclinando-se para mim. A bandeja
de prata com as bebidas estava entre nós na mesa de
café, mas ninguém a tocou.

—Você tem certeza que gostaria que a Junior


esteja aqui? O que estou prestes a contar é muito
pessoal.

—Pare de chamar ela de Junior, e sim, ela pode


estar aqui. Minha vida é a vida dela.

Ambos se aquietaram em seus assentos, mas eu


não perdi uma batida do coração. Eu tenho um vôo de
NY para LA em cinco horas, e eu não vou estar nele.
Isso me fez sentir estranhamente calmo e feliz. Judith
estava aqui. Estava tudo bem.

—Bem...— James balançou a cabeça, passando a


mão pelos cabelos.

Ele era tão vaidoso que eu me perguntei se ele


raspava completamente as bolas ou as descoloria para
combinar com a cor de seu cabelo falso.

—Não há maneira certa de dizer isso. Deixe-me


dizer apenas, para o registro, que eu tenho vontade
de contar a você já tem um tempo, mas Iris sempre
me parou. Porém nunca o Mathias, filho. Não tenho
medo dele.

—Pare de me chamar de filh...— eu comecei, mas


ele me cortou.

—Mas você é—, disse ele, limpando a garganta e


piscando rapidamente. —Você é meu filho, Célian, e
não há nada nem ninguém que possa mudar isso.
Trinta e três anos atrás, eu entrei no bar em frente à
LBC depois de uma entrevista de emprego ruim...

Não.

Não.

Apenas não.

Eu não conseguia ouvir essa porcaria. Eu


definitivamente não suportaria ouvir como era
semelhante à minha história com Judith até agora. Eu
balancei minha cabeça, mesmo sem querer, e me
senti ficando em pé, com as pernas no piloto
automático. Eu odiava meu pai, mas me recusei a
acreditar que fui idiota por trinta e dois anos. Uma
mão pequena e quente, um pouco suada, mas de um
jeito bom, me puxou de volta para baixo.

—Por favor—, ela sussurrou. —Sei que é difícil.

Eu me encontrei sentado de novo, mesmo que


cada osso do meu corpo gritasse para eu fazer algo
diferente. Isso não foi por esse idiota. Foi por Judith.

—Continue—, eu assobiei.

James olhou para mim com os olhos cheios de


pena e arrependimento, dois sentimentos que eu
desprezava, especialmente de um homem que eu
conhecia como meu empregado nos últimos anos, não
importa quanto poder ele tivesse em minha redação.

—Eu queria me tornar um ator—, disse ele. —Na


verdade, foi uma audição, em vez de uma entrevista
de emprego, e eu falhei. Três bebidas depois, sua
mãe e eu estávamos na cama. Eu não sabia que ela
era recém-casada. Mas essa não é a única coisa que
ela escolheu omitir da equação. Eu aprenderia
semanas depois que aquele tinha sido o dia em que
ela descobriu que seu pai estava traindo ela, e por
isso, ela não tinha nenhum anel. Ela achou que nunca
mais voltaria a colocá-lo.

Porra. Minha. Vida.

As semelhanças eram infinitas. Surpreendentes. E


no entanto, não pude deixar de orar a Deus para que
o resultado de nossos relacionamentos, fosse muito
diferente. Porque até onde ia meu conhecimento,
minha mãe e James se falavam uma vez por ano,
durante a festa de Natal anual da rede, e nada mais.
A mão de Jude alcançou a minha, não
provisoriamente, desta vez ela era dona, dando um
aperto.

—Você era casado também—, eu cuspi.

Phoenix era apenas três anos mais novo que eu.

James sacudiu a cabeça. —Não. Eu conheci minha


ex-esposa no outono seguinte.

Phoenix e eu éramos meio-irmão.


Eu queria vomitar. Minha namorada esfregava
minha coxa agora, tentando me acalmar. James
correu para nos servir uma bebida, acho que só para
fazer algo com as mãos. O ar se envolveu em torno
de nós de uma maneira esquisita, e talvez seja assim
que se pareça ter um ataque cardíaco.

—Após a noite casual, eu disse a ela sobre o meu


teste. Ela disse que havia uma vaga na LBC. Eles
precisavam de alguém para seu show matinal, para
ser âncora em uma brecha diária de dez minutos com
as notícias. Nada de horário nobre, mas eu sabia que
poderia pagar as contas e...

—Deixe-me adivinhar—, eu o interrompi. —Você


precisava do dinheiro porque um dos membros de sua
família estava doente.

O rosto de James se contorceu em choque, toda a


sua expressão se abrindo, abrindo como um cofre.

—Minha mãe precisava de uma cirurgia no


quadril. Como você sabia?

Judith e eu trocamos olhares.


Reparação. Eu era dela e ela era minha.

Ela pensou que nunca poderia amar.

Eu achava que não merecia o amor, e mesmo se


o fizesse, nunca encontraria alguém meio tolerável
para provocar esse sentimento em mim.

—Apenas um palpite.— Eu esfreguei minha mão


no meu rosto.

Judith mordeu o lábio inferior e meu pau agitou


por atenção novamente.

Sério? Agora mesmo?

James olhou entre nós dois.

—Eu fui no dia seguinte e consegui o emprego.


Eu não pude acreditar na minha sorte. Descobri não
muito tempo depois, que sua mãe era casada, e ela
agiu como se eu nem existisse mais, o que em
retrospecto, não é exatamente culpa dela. Ela estava
em um estado muito vulnerável... Eu não era filho de
Mathias.
Todo esse tempo, eu pensei que eu era
inerentemente um idiota por causa dele, mas na
verdade, eu era mais um idiota sociopata, como
Maman.

As semelhanças eram estranhas, para meu


espanto.

—Quando você descobriu sobre mim?— Eu cortei


sua conversa fofa.

Eu não tinha vindo aqui para ouvir sobre sua


jornada como âncora júnior na LBC.

James pegou sua bebida e engoliu de uma só vez,


sacudindo a cabeça e batendo o copo contra a
bandeja de prata. Ele limpou a boca com a manga do
roupão.

—Sua mãe veio até mim cerca de dez semanas


depois. Ela sabia que era meu, porque ela e Mathias
não eram...— Ele balançou a cabeça. —Ele a traiu. Ela
não queria estar com ele.
Eu o apreciei ele não ter falando explicitamente
sobre alguém fodendo a Maman. Essa era uma
imagem mental que eu estava feliz em manter fora do
meu cérebro.

—Eu disse a ela que adoraria fazer parte de sua


vida. Eu quero que você saiba que não ter você nunca
foi uma opção para qualquer um de nós. Mas, ao
mesmo tempo, sua mãe decidiu dar outra chance a
seu relacionamento com Mathias, e ela sabia que
nunca poderiam explicar tal acordo à imprensa... —
Então Mathias sabe?— Eu quase ri, embora não
houvesse nada engraçado sobre a minha situação. Eu
estava sentado na frente do meu pai biológico, um
homem que eu conhecia toda a minha vida e odiei por
uma década, enquanto trabalhava lado a lado com ele
durante a maior parte da minha idade adulta. Ele
sempre me chamava de filho, e eu sempre o
repreendi por isso. Ele tentou se aproximar de mim,
mas eu repetidamente o fechei. Ele tentou falar
comigo, mas eu continuei mandando-o embora.

James inclinou a cabeça.


—Ele sabe. Nós fomos francos com ele desde o
começo. Ele estava lívido, claro, tentou me demitir.
Mas então, ganhei algum impulso, e a LBC ainda
estava subindo. Eles precisavam de mim e eu
precisava deles. Mas sim, Mathias sabia sobre você. É
por isso que ele nunca conseguiu aguentar sua
presença.

Eu sorri amargamente, embora houvesse algo


libertador em saber que não era pessoal. Não foi
especificamente algo que eu fiz. Eu cresci pensando
que estava tão podre que me tornei podre. Isso
mudou tudo. Principalmente mudou como eu me
olhava no espelho.

Judith se aconchegou ao meu lado, esfregando


meu braço.

—A abordagem de Mathias com você, sempre foi


o centro da minha briga com ele. Todo Natal, em
nossa festa de rede, eu implorava para sua mãe lhe
contar sobre mim. E todo Natal, a camada de
segurança e os amigos falsos a enchendo e
bloqueando meu caminho ficavam mais grossos. Eu
não poderia te dizer isso por minha própria conta. Mas
eu assisti você crescer de longe, e toda noite quando
eu colocava Phoenix na cama, eu rezava para que um
dia eu pudesse compensar isso com você.

Eu não consegui realmente articular uma resposta


para isso. Eu entendi porque James não tinha sido
capaz de me dizer que ele era meu pai. Ao mesmo
tempo, achei que ele provavelmente estava
exagerando o nível de remorso que sentira. Ele ainda
era recém-casado com uma mulher com metade da
sua idade e havia abandonado sua esposa anterior
porque queria participar de uma aventura do tipo Big
Brother. Ainda assim. James era orgulhoso e
egocêntrico, mas ele não era um bastardo filho da
puta como Mathias.

Eu pisquei para ele, verificando o meu relógio.

—É seguro dizer que é tarde demais para você


me colocar na cama. Você percebe que vou direto
para minha mãe com isso, correto?
Minha lealdade não era com ninguém além de
Judith e eu mesmo neste momento. E não me
escapou que eu acabei de colocar o nome de Jude
antes do meu.

James esfregou o rosto.

—Ela não pode me machucar mais do que a


verdade oculta já fez.

Foda touché...

Eu empurrei meu queixo em direção a ele.

—Você contratou o Dan. Conte-me tudo sobre


como isso aconteceu.

James não poupou um detalhe.

Ele disse que tinha a sensação de que Mathias


estava começando a cagar em nossa qualidade em
uma tentativa de danificar a rede, um segundo antes
que ele desaparecesse do radar. Ele precisava cuidar
de sua saúde, e ele parecia saber que não tinha muito
mais tempo no trono de presidente. Esperando
neutralizar isso, James teve o mesmo sentimento que
eu, que Dan era motivado por dinheiro e poderia ser
um bom agente livre. James também confessou que
com Phoenix de volta à cidade e meu noivado
desmoronando, ele queria ter certeza de que eu
estava protegido contra Mathias.

—Justamente—, eu disse. —Mas toda a merda


que Dan descobriu, ainda não cobre minha bunda
contra Mathias. Você não me deu nada além de
especulação.

Os olhos de James escureceram, e ele de repente


parecia muito mais velho que seus dias.

—Podemos deixar que os outros façam o trabalho


por nós. Basta enviá-lo para as diferentes redes —,
sugeriu ele. —Deixe o problema se corrigir. Ele terá
que renunciar.

Eu gostei, dele tentando me ajudar. Mas não


havia necessidade.

Eu balancei a cabeça.
—A LBC teria um impacto ainda maior se o
fizéssemos.

—Mas não podemos simplesmente deixar Mathias


se safar.— Jude apertou minha mão. Um doce gesto
do meu maior pecado.

Eu me virei para ela, um sorriso manobrando pelo


meu rosto.

—Nós não vamos.


Então me tornei um sem teto.

Eu encerrei meu contrato de aluguel em pleno


domingo, o dia em que eu deveria viajar para Los
Angeles. Só que tecnicamente era segunda-feira de
manhã e eu não estava nem perto da costa oeste.
Isso significava que eu tinha que passar a noite em
algum lugar e felizmente, aquele lugar era o
apartamento de Judith no Brooklyn.

Para a decepção do meu pau, eu dormi no sofá.


Mas ainda era melhor do que dormir em um hotel de
um milhão de estrelas ou no Laurent Towers, que eu
nem conseguia ver depois de descobrir o que eu tinha
sobre, Mathias não ser meu pai.

Eu não era o que havia traído ele.

No entanto, fui eu quem ficou com a maior parte


de sua ira.

De manhã, Judith preparou um shake para o seu


pai com o que parecia ser água de esgoto, vômito e
miséria, e deslizou uma tigela de cereal em minha
direção. Não tinha nem uma marca. Foi despejado de
uma caixa industrial de dois kilos com um logo da
Costco.

—Cavidades e diabetes. Café da manhã dos


campeões— murmurei na tigela enquanto comia uma
colherada.

—Me desculpe. Nosso serviço de quarto não


funciona às segundas-feiras.— Jude sentou-se ao lado
de seu pai e deu um tapinha na mão dele.
Eu amava essa garota. O que lhe faltava em
fundos, ela compensava com amor.

—Isso é bom.— Eu acenei para ela. —Eu posso


estar no comando do café da manhã, quando nos
mudarmos juntos.

Utensílios batiam em pratos, e os olhos de Rob


saltavam entre nós dois. Havia muita diversão neles.

Jude me estudou, tentando avaliar se eu estava


brincando ou não.

Eu não estava.

—Eu não sou uma pessoa de café da manhã—,


disse ela. —E sim, eu sei que é a refeição mais
importante do dia.

Meus olhos deslizaram pelo seu umbigo e


pararam onde a mesa a cobria. Eu sorri. —Não, não é.

—Você é péssimo.— Ela escondeu o sorriso atrás


da caneca de café.
—E você vai me deixar escolher o seu All Stars
hoje—, retruquei.

Robert riu.

—Você consegue ouvir isso?

—Ouvir o quê?

Suas bochechas estavam fazendo essa coisa de


hamster, onde ela sufocava uma risada e parecia
muito fofa fazendo isso.

Era irritante, realmente, como eu me sentia sobre


ela. Eu usaria a palavra embaraçosa se eu não
estivesse tão a favor dessa merda.

—Seus peitos estão zunindo. Vocês estão felizes,


crianças.— Rob tomou um gole de seu shake, fazendo
uma careta. —O mais feliz que você já esteve.

Um pouco depois, pegamos o trem para o


trabalho, ambos olhando fixamente para seu All Stars
branco.

Minha escolha.
Eu queria um piso limpo. Um novo começo.

—Você sabe, você ainda pode aceitar o trabalho


em Los Angeles.— Ela virou Kipling distraidamente,
olhando para ele enquanto falava. —A LBC está
desmoronando, e eu não espero que essas revelações
mudem seu comprometimento com seu novo
emprego.

—Meu único compromisso é com a empresa que


eu preciso herdar, e com a única garota que é capaz
de me chamar de volta na minha besteira. Não nessa
ordem.

Ela olhou para cima.

—E quem seria essa?

Eu torci a gola da blusa dela em uma bola e a


puxei para mim em um beijo, não dando a mínima
para todo mundo que estava assistindo. Ou que
estávamos de pé, apertados entre dezenas de pessoas
suadas e exasperadas que começavam na segunda-
feira. Não me importando com nada além dela.
Nossos lábios se tocaram e meu pau estava a um
segundo de gritar Aleluia. Sua boca era macia, quente
e minha, e seu corpo se derretia contra o meu de
uma maneira que só podia significar uma coisa.

Estávamos de volta. E desta vez, eu não ia deixar


ela ir.

—Célian?— Blu, também conhecido como meu


substituto como diretor de notícias, coçou o cabelo
encaracolado e coberto de caspa.

Ele estava em pé no meu escritório, arrastando


caixas cheias de um lado para o outro. Eu entrei
direto, carregando meu Starbucks e jogando dois
pedaços de chiclete de menta na minha boca.

Com o devido respeito, - e vamos admitir isso, eu


não tinha muito disso para ele,- o cara era um ex-
produtor associado em um canal de notícias a cabo
em Nebraska, eu não lhe devia mais do que uma
breve explicação.

—Afiado na manhã de segunda-feira. Eu gosto


disso, Blu. Agora dê o fora do meu escritório.— Eu
joguei minha pasta de couro debaixo da minha mesa
e liguei meu laptop.

Brianna veio correndo do corredor, ofegando meu


nome.

—Senhor! Célian! Senhor! O que você está


fazendo aqui?

Coitada, achou que tinha se livrado de mim. Eu


estalei. Decidi pegar leve com ela, já que eu teria que
ser um pouco mais tolerável pelo bem de Jude,
especialmente depois do meu chamado despejo dela
tão publicamente.

—Brianna. Bom Dia. Sinta-se à vontade para


deixar meus itens na lavanderia de sempre. Você
pode usar o tempo de espera para relaxar.
Eu odiava essa palavra, mas precisava ser dito.
Eu também ainda odiava fazer minha própria limpeza
a seco, e eu realmente achava que Brianna poderia
usar um pouco de tempo de folga. —Mas você não
pode mais beber no intervalo, a menos que você
queira que sua bunda seja levada para a reabilitação.

—Reabilitação?— ela ofegou.

Fiz um gesto com a mão, bebendo de uma


pequena garrafa de licor invisível. Ela assentiu e
inclinou a cabeça.

—Sim senhor.

Blu e eu fomos deixados sozinhos no escritório


novamente. Eu cruzei meus tornozelos em cima da
mesa, me inclinando para trás.

—Bem Blu, há boas e más notícias. Qual você


gostaria que eu lhe desse primeiro?

O homem barrigudo de meia-idade diante de mim


olhou para os sapatos, o peito tremendo com uma
respiração irregular.
—Más notícias.

—A má notícia é que você não tomará a minha


posição, -não nos próximos meses, de qualquer
forma-, e a boa notícia, é que você ainda tem um
emprego, se quiser. E você sabe qual é a grande
notícia?

Ele olhou para cima e diabos, o sorriso no rosto


dele me disse que ele estava a bordo. Que finalmente,
as coisas estavam se encaixando para mim.

—Qual?— ele perguntou.

—A notícia que vou fazer nesta redação hoje.

Eu esperava que Mathias queimasse o chão e


fizesse um espetáculo da situação. O fato de que ele
permaneceu em silêncio sugeriu que ele estava
elaborando estratégias, sobre como lidar com a ruína
de sua existência, AKA Ele de verdade.
Eu dei a ele seu tempo porque eu realmente tinha
trabalho a fazer.

O povo de Los Angeles ficou arrasado ao saber


que eu não estava me juntando a eles, mas convidei-
os a enviar sua equipe para Nova York e prometi
treinar seus novos funcionários.

Judith corria de um lugar para outro em volta da


redação, as bochechas coradas. Kate, Jessica e Elijah
pareciam contentes por eu não ter saído, e Brianna
sorria culpada e acenava com a mão toda vez que eu
movia meus olhos para ter certeza de que ela não
estava abrindo sua gaveta para tirar uma mini
garrafa.

Cinco horas depois de chegarmos ao nosso dia de


trabalho, enquanto eu estava em algo na redação, eu
recebi um telefonema do sexagésimo andar.

—É o seu pai.— Brianna chegou o mais perto que


pôde, segurando o telefone com fio em sua mão.

Não, não é, e porra obrigado por isso.


Ele nem ligou para o meu celular. Em vez disso,
ele estava fazendo um show inteiro sobre isso, como
eu sabia que ele faria.

—Ele quer falar com você—, disse ela.

—Ele sabe onde me encontrar.

—Ele está perguntando se você pode ir até o


escritório dele.

—Eu não posso. Mas ele pode descer. Ou não.


Não dou uma merda, não está na minha agenda hoje.

—Ele disse que vai ligar para a segurança.— O


rosto de Brianna estava tão vermelho, por um
momento eu me preocupei que ela pudesse explodir.

—Diga a ele que é uma boa ideia. Eu estive


pensando em me livrar de sua bunda por um longo
tempo agora.— O escritório ficou quieto, todo mundo
olhando para mim. Eu balancei meu queixo para o
telefone.
—Diga a ele isso, Brianna. Você está apenas
seguindo minhas ordens. Palavra por palavra, por
favor.

Ela repetiu minha mensagem para meu pai,


estremecendo o tempo todo.

Jude apareceu ao meu lado, apertando meu


bíceps e olhando para mim com um sorriso. Eu a
puxei para um abraço e beijei sua testa. Eu tinha
muito controle de danos quando se tratava do modo
como as pessoas nos viam como um casal neste
lugar.

Quando Brianna terminou a ligação, houve uma


pausa, depois da qual toda a redação entrou em
erupção com uma longa ovação de pé. Ela riu. Eu
sorri.

Quando me virei para voltar ao meu escritório,


Mathias estava de pé à porta, esperando por mim. Ao
lado dele estava minha mãe, recém-saída de seu
avião particular, a julgar por suas roupas casuais.

Seus olhos estavam horrorizados.


Eu sabia que o meu estava morto.

Hora do show.

—Posso oferecer-lhe alguma coisa? Bourbon?


Uísque? Agua? Talvez um detector de mentiras?

Fiz sinal para o mini-bar no meu escritório, meu


sorriso casual e encantador, o modo como me
ensinaram na escola de verão suíça, para onde meus
pais haviam me dispensado todos os anos.

Minha mãe se sentou no sofá em frente à minha


mesa, olhando para as mãos no colo, e Mathias andou
de um lado para o outro, puxando sua orelha em um
tique nervoso. Eu era a única pessoa na sala cujo
coração não parecia estar batendo uma milha por
minuto, e isso porque eu sabia de algo que eles não
sabiam.
—Eu estou tão bravo com James por lhe dizer—,
minha mãe murmurou. —Eu só estava tentando
proteger você, Célian. Pense na maneira como isso
teria sido percebido em nosso círculo. Em qualquer
círculo, na verdade. Você teria sido um bastardo. Seu
sangue é azul. Você é um Laurent.

—Meu sangue é vermelho, e ser um bastardo é


melhor do que ser filho dele.— Fui até a frente da
minha mesa e me inclinei contra ela.

—Ouça, Célian—, Mathias levantou a mão.

—Nem mesmo uma palavra, Mathias—, eu avisei,


arqueando uma sobrancelha. —Nem. Mesmo. Uma.

—Eu não sei o que você acha que tem contra


mim...

—Oh, eu acho que você sabe. É por isso que você


está se cagando nas calças enquanto falamos.

—Você não pode usá-lo no tribunal. Dan não


deveria gravar essas conversas particulares—
enfatizou Mathias, com o olho esquerdo tremendo.
Ele tinha um ponto. Depois que eu deixei o
apartamento de James na noite passada, ele mandou
para Iris e Mathias um arquivo com a gravação, junto
com uma breve nota sobre como ele tinha sido claro
comigo.

Ignorando suas palavras, lancei um olhar


aguçado para Mathias.

—Você vai desistir dos anúncios, encerrar os


contratos duvidosos e contratar de volta todas as
pessoas que você demitiu da minha equipe até o final
do dia. E se algum deles não estiver disponível, você
vai me encontrar um substituto de alto nível. Se eu
fosse você, começaria a trabalhar agora. O trabalho é
um conceito estrangeiro, então você terá tempo para
entender a essência dele.

Mathias riu.

—O que faz você pensar que eu farei qualquer


coisa por você? Nada mudou, além do fato de que
você agora sabe por que eu não suportava seu rosto
desde o primeiro dia. Você não era meu. Sua mãe
estragou tudo. As únicas coisas boas sobre o meu
casamento com ela foram LBC e Camille. E você
também a tirou de mim.

Minha mãe se levantou do sofá, foi até ele e deu


um tapa forte no rosto dele.

Eu os assisti, sem emoção. Que porra de


bagunça. Certamente eu poderia me livrar da
responsabilidade de ser um idiota sem coração sobre
o fato de que esses dois palhaços tinham me criado.

Mathias olhou para ela perplexo, e esfregou a


bochecha vermelha. Ele estreitou os olhos. Ele estava
prestes a levantar a mão para ela, mas pensou
melhor uma vez que eu entrei entre eles e balancei a
cabeça.

—Eu vou foder seu rosto com tanta força, que


você terá seis novos furos para espirrar—, eu disse
secamente.

Ele deu um passo para trás, limpando a garganta


e fixando o olhar de volta nela. —Você sempre o
amou mais do que Camille.
—Você sempre o tratou como se ele fosse lixo—,
ela respondeu. —E o que aconteceu com Camille foi
sua culpa, não dele. Você mentiu para mim porque
queria isolá-lo de sua família.

—E você era a pequena coisa ignorante, que


estava muito ocupada perseguindo personal trainers
para ir até seu filho e perguntar você mesma a ele.

Mathias sorriu, inclinando a cabeça com um brilho


diabólico em seus olhos.

Ele estava certo e ela sabia disso. Eu tinha


visitado minha mãe muitas vezes depois do que
aconteceu com Camille, mas nunca tínhamos
compartilhado uma refeição real, muito menos uma
conversa. Eu tentei, e todos os domingos à noite,
enquanto eu fazia o meu caminho de volta do JFK
para o meu apartamento, eu me perguntava por que
eu tinha feito isso comigo mesmo em primeiro lugar.

—Agora ele está enterrado com uma garota do


Brooklyn, e vai ter que esperar até eu cair morto
antes que ele assuma.— Mathias acenou com a mão
em minha direção.

—Obrigado por trazê-la aqui, a propósito—, eu


interrompi, batendo minha língua em aprovação. —Ela
foi a resposta e a solução.

—Hã?— Ele girou nos calcanhares, me encarando.

Tive o prazer de derramar lentamente em um


copo algo que eu nunca ia beber, assobiando e
pensando em All Stars brancos, de todas as merdas
do mundo, e como eles ficariam muito bons com um
vestido de noiva branco, ou melhor ainda, só eles e
mais porra nenhuma..

—Tudo acabou sendo melhor—, expliquei. —Eu


conheci Judith, e nós encontramos algo que vocês
dois idiotas miseráveis nunca terão.

Eu girei o líquido no meu copo, olhando para cima


e saudando meus pais. Minha mãe parecia à beira de
desmaiar e, apesar de tudo, eu ainda tinha simpatia
por ela.
—E eu consigo manter a LBC—, acrescentei.

—Como assim?

Mathias colocou as mãos na cintura, franzindo o


cenho. Uma veia no pescoço começou a pulsar
visivelmente. Eu tracei meu dedo sobre a borda do
vidro, olhando fixamente para ele enquanto eu
respondia a ele. Eu estava preocupado que eu ia ficar
de pau duro simplesmente vendo ele desmoronar se
eu olhasse para cima.

—A vida funciona de maneiras misteriosas.


Quando a Lily veio aqui há dois meses atrás, e me
disse que Madelyn havia morrido, eu fiquei arrasado.
Corri para a casa dos Davis e passei algum tempo
com eles. Você provavelmente não sabia, mas eu
tinha um relacionamento muito próximo com Madelyn.
Eu ansiava por contato humano, algo que eu não
tinha em casa.— Eu esfreguei meu queixo. —Então,
imagine minha surpresa quando me ligaram algumas
semanas depois de sua morte, para confirmar que ela
havia deixado suas netas com milhões e milhões de
dólares e a propriedade, e além disso, ela havia me
presenteado com seus dez por cento da LBC.

Eu não lhes contei sobre a carta que Madelyn


também me deixou. Foi mais uma nota, realmente.
Mas trouxe minha situação com Judith em um alívio
acentuado.

Com os negócios fora do caminho, é hora de


ouvir seu coração.

Não prenda minha neta em um casamento sem


amor.

Não prenda meu garoto favorito em um deles


também.

É um lugar miserável para se estar. Eu estive lá


com o avô da Lily, e nunca quero que os meus entes
queridos façam uma visita a este lugar.

Me deixe orgulhosa.

Amor,
Madelyn

Eu assisti quando seus olhos se arregalaram e a


realidade se instalou.

Minha mãe ficou tomada de culpa e ao meu lado


com cinquenta e cinco por cento das ações da LBC. Eu
tinha dez adicionais. Agora eu poderia jogar qualquer
decisão que Mathias tivesse feito facilmente.

—Não—, disse Mathias, tropeçando para trás e


caindo no sofá.

—Simm—, eu confirmei, prolongando o M para


extender a sentença.

—Você conseguiu tudo o que sempre quis, ao


andar por cima de pessoas e fazer uma bagunça,
Mathias, enquanto eu consegui salvar minha empresa,
formando um relacionamento genuíno com uma
mulher idosa e um tanto solitária, que só precisava de
alguém para estar lá por ela. Karma é uma vadia, e
eu acredito que ela apenas justificou sua reputação,
empurrando um poste de três metros na sua bunda.

Minha mãe galopou em minha direção, jogando


os braços em volta do meu pescoço. Eu deixei ela.
Não porque eu não estivesse bravo com ela. Não
porque eu não estivesse lívido, e não porque eu
achasse que o comportamento dela era remotamente
aceitável.

Não. Eu deixei, porque se minha pequena All


Stars pôde me perdoar por ser um bastardo inglório,
talvez eu pudesse perdoar Maman por mentir para
mim, a fim de me proteger, mesmo que fosse a
verdade que acabou me libertando.

Talvez eu pudesse quebrar o ciclo do ódio.

Talvez eu não tivesse mais mal-entendidos que


resultassem na morte desnecessária de pessoas que
eu amava e me importava.

Talvez eu pudesse viver. Com Judith ao meu lado.

Com boa música e ex ruins.


E com tanto sexo, que ela não poderia ver direito.

Fazendo manchetes sujas entre os lençóis.

—Eu preciso de você para transformar meu talvez


em um definitivamente.— Célian se arrastou para a
minha cama no final daquela segunda-feira cansativa
no escritório.

Eu não o expulsei, mesmo que uma pequena


parte vingativa de mim quisesse. A vida era muito
curta para privar-se de passar tempo com aqueles
que você ama, algo que aprendi da maneira mais
difícil.
Seu corpo parecia se moldar no meu pequeno
colchão. De alguma forma, ele se encaixou. Se houve
uma coisa que eu percebi este ano, é que às vezes
nós pertencemos ao último lugar em que pensamos.

—Como eu posso fazer isso?— Eu coloquei meu


thriller no colo, e deixei que ele circulasse o braço
dele em volta da minha cintura, me arrastando para a
curva do seu ombro. Seus lábios tremularam ao longo
do meu pescoço.

—Fique na LBC, não importa como essa merda


acabe. Eu não posso fazer isso sem você.

—Fazer o que?— Eu ri. —Notícia?

Ele soava como bêbado, mas parecia sério, quase


sombrio. Meus braços o envolveram
involuntariamente. Nós afundamos num abraço e não
levantamos por ar durante longos minutos.

—Sentido—, disse ele depois de um tempo, um


minuto ou três, ou talvez mais. —Muito pouco faz
sentido quando All Stars não está por perto. Essa é a
parte em que devo dizer algo romântico e profundo, -
que você é meu começo, meio e fim. Mas eu nem sei
o que essa merda significa.- Tudo o que sei, é que a
ideia de mudar para o outro lado do país, foi o
suficiente para me fazer querer sequestrar sua bunda,
e não do jeito doce e brincalhão. Você é corajosa,
sexy e bonita, e não há uma mulher neste planeta
que possa apertar meus botões como você.

—Por favor, diga que você está me oferecendo o


controle remoto para fazer isso super brega.— Eu
mordi meu sorriso.

Ele revirou os olhos, empurrando sua virilha no


meu estômago.

—Só se você concordar em mudar de canal.


Então, o que você acha de tornar isso oficial?

—Isso soa muito como uma proposta—, eu bufei.

—Isto é.

—Então não—, eu respondi seriamente.

—Não?— Ele piscou, como se eu claramente não


entendesse o significado da palavra.
—Jesus, claro que não. Quero você em um joelho,
humilhado e com um anel.

Jesus: —Primeira vez que você está me


chamando para as coisas boas, e você vai recusar sua
proposta?—

Ele rolou para fora da cama, caminhou até sua


mochila e jogou algo em minhas mãos. Uma nova
caixa de iPod. Eu ri, abrindo. Mas, em vez de
encontrar um iPod, encontrei um anel, um anel de
pedras multicoloridas com amarelo e azul, rosa e
prata, vermelho e roxo. Parecia uma coroa e nada
como um anel de noivado.

Célian se ajoelhou ao lado da cama, inclinando a


cabeça.

—Me faça um bastardo feliz, Judith. Você é a


única que pode.

Não uma pergunta, mas uma ordem.


E assim, pela primeira vez desde que nos
conhecemos, não foi difícil ser obediente.
Seis meses depois…

—Você está deliciosa.

Jude e eu acabamos de nos casar na sala de arte


do Hotel Laurent Towers, em uma cerimônia que
levou aproximadamente quatro dias para ser
organizada.

Depois da proposta privada no quarto de Jude,


caí de joelhos na frente de todos na redação, no dia
em que Mathias deixou o cargo de presidente da LBC,
e dei a ela o anel verdadeiro, aquele que custava o
suficiente para comprar dois apartamentos como o
que ela viveu.

Isso foi vinte e quatro horas após o confronto


com meus pais no meu escritório. A razão pela qual
não nos incomodamos em planejar um casamento até
essa semana, foi porque não nos importamos.

Estamos juntos.

Fora ao ar livre.

O mundo pode se foder e gozar todo o meu novo


terno. Eu não dou a mínima.

—Você também não me parece mal—, Judith


rebateu.

Minha noiva está com meus All Stars brancos


preferidos, sob seu vestido acessível, foda-sabe-se-lá-
onde-ela-conseguiu.

Nas últimas duas horas, o DJ tocou The Smiths,


The Strokes e The Shins, e quase ninguém dançou,
além de Grayson, Ava, Phoenix, Kate, Delilah, Elijah,
Jessica, Brianna e nós.

Quando Phoenix disse que estava feliz por mim


hoje cedo, eu realmente acreditei nele. Todas as suas
características faciais ainda estão intocadas, de modo
que diz tudo que você precisa saber sobre o nosso
relacionamento nos dias de hoje.

E no início desta semana, quando Elijah, Phoenix


e James (sim, de jeito nenhum eu vou chamá-lo de a
palavra com P, a menos que eu esteja me referindo à
coisa dentro da minha calça) insistiram que eu fizesse
uma despedida de solteiro, eu quase não fiz uma
carranca por todo o caminho.

Judith disse que estava orgulhosa de mim, por


fazer um esforço e ser um bom esportista. Eu disse a
ela que precisava trabalhar no meu cardio hoje à
noite, então é melhor que ela seja um membro da
equipe.

—Você acha que eu não pareço mal?— Eu levanto


uma sobrancelha para ela.
—Definitivamente lindo. Mas você pode parecer
ainda melhor.

Eu inclinei minha cabeça para o lado, sabendo


onde isso estava indo.

—Me Diga.

Ela acena com a cabeça.

—Nu. Com a cabeça entre minhas coxas.

Nós não assinamos um pré-nupcial. Minha mãe e


Mathias fizeram e olha como acabaram. Há algo
profundamente revelador sobre se comprometer com
alguém, mas cobrir sua bunda no caso de a merda
falhar. Jude Humphry é a única pessoa que eu quero
ver todas as manhãs e dar um beijo de boa noite
antes de ir dormir, e admitir a derrota quando se trata
de nosso casamento antes de começar, não está nas
cartas para mim.

O convidado de honra, nosso filhote de cachorro


labrador, Charles —All Stars— Humphry-Laurent, está
correndo entre os pés de todos, latindo e puxando
vestidos.

O Guerreiro nos observou mais cedo quando


trocamos votos, e agora vamos cortar o bolo. Nosso
bolo de casamento é um caderno vermelho gigante,
como Kipling, adornado com as palavras Parabéns ao
Sr. Timberlake e à Sra. Spears.

A ideia foi de Grayson, naturalmente.

Eu alimento minha noiva com uma fatia de bolo,


do tamanho de todo o seu rosto, e ela ri na cobertura.
Aproveito a oportunidade para me inclinar e
sussurrar, —Garganta profunda, baby—, para que só
ela possa ouvir, e seu rosto fique vermelho, mesmo
sob as camadas de maquiagem profissional.

Minha mãe vem por trás de nós e nos abraça em


um abraço de três vias. Dificilmente a hora certa, já
que estou ostentando uma séria tóra por trás desse
bolo gigante Sour Patch com sabor de crianças, mas-
que-porra-sempre.
—Obrigado por me convidar—, Maman jorra.
Seus olhos de água gelada, brilham em diferentes
tons de azul.

Antes de sabermos, Rob timidamente se junta a


nós na frente do bolo, esfregando o braço de sua
filha, seu sorriso tão deslumbrantemente feliz que ele
parece um sonho. A Sra. Hawthorne fica atrás dele,
olhando para baixo e preocupação em seus lábios.

Jude se vira e pede que ela se aproxime. —Anne,


pegue seu traseiro aqui e junte-se ao abraço.

Eu quero casar com All Stars de novo, por esse


enorme coração dela. Solitário, minha bunda. Ela
deixa todos entrarem.

—É claro que nós convidamos você, Maman—, eu


finalmente respondo.—Você é da família.

E eu acho que, quando tudo se resume ao que


importa, ela é.

Após a revelação de que James Townley é meu


pai, Maman me surpreendeu ao anunciar que ela
estava voltando para Nova York por um imprevisível
futuro, para tentar salvar o que sobrou de sua família.
Ou seja, o filho dela. Ela cortou os laços com o seu
amigo de foda regular na Flórida e se concentrou em
reconstruir o conselho da LBC.

Fizemos alguns dos investidores que estavam


ansiosos para beijar a bunda de Mathias desistirem de
suas ações, ameaçando sair com todas as besteiras
que eles fizeram ao longo do caminho, e eu
finalmente consegui minha equipe de volta.

Nos dias de hoje, você pode encontrar anúncios


de programas de assistência médica e gadgets na
LBC. Não é um preservativo ou cassino à vista.

Nos últimos seis meses, Jude e eu temos feito


todo o lance de jantar em família com Maman, Robert,
a Sra. Hawthorne, James Townley, sua esposa de
plástico, Phoenix e Ava, -que a propósito, começou a
namorar Phoenix- e Grayson.

Nós nos revezamos, a la Come Dine with Me. Até


agora, concordamos que nenhum de nós sabe
cozinhar, e quando se trata de falar sobre as
habilidades culinárias das pessoas, eu pego o bolo. E
como ele.

Dizer que é estranho fazer parte de uma família,


seria o eufemismo do século, mas estamos tentando
fazer isso funcionar.

Especialmente agora, quando Robert está indo


tão bem. Seu tumor tem apenas alguns centímetros
de comprimento e os médicos estão prevendo uma
recuperação completa. Ele mudou-se recentemente
com a Sra. Hawthorne no andar de cima, então Jude e
eu assumimos o apartamento dele.

Estamos reformando, um colapso de cada vez.

No próximo mês, vamos à Síria por algumas


semanas. Jude quer ajudar a cobrir o que está
acontecendo lá. E eu quero estar com a Jude.

Se você tivesse me dito há um ano, que eu


moraria no Brooklyn, eu teria rido.
Mas se você tivesse me dito há um ano que eu
estaria desesperadamente apaixonado, a beira da
loucura, eu teria admitido você no hospital de saúde
mental mais próximo e jogado a chave no oceano.

No entanto, ambas as coisas aconteceram e


estranhamente, elas não arruinaram a minha vida.
Elas salvaram.

James aparece atrás de mim e bate a mão sobre


o meu ombro, sussurrando em meu ouvido:

—Orgulhoso de você, filho. Júnior é um inferno de


um achado.

Eu sorrio, meus olhos ainda focados em minha


noiva, que está usando o vestido de casamento mais
ridículo. A bainha do vestido é pintada de amarelo
pálido, o que faz parecer que foi mergulhado no mijo
de All Stars. Jude diz que lembra as minhas notas de
Post-it - as que eu continuo escrevendo para ela
agora, para que ela nunca esqueça como eu me sinto
sobre ela, mesmo quando eu sou péssimo em dizer as
palavras em voz alta.
—Me chame de seu filho mais uma vez...— Eu
assobio para James, como sempre faço. —E vou
enviá-lo para o departamento de marketing e pedir
que você ligue para as pequenas empresas, para
convencê-las a colocar anúncios de encanamento na
LBC.

Ele ri.

—Ligue para nós da lua de mel.

—Só se você prometer não atender—, eu brinco.

Ele aperta meu ombro.

Por que o gesto parece mais real do que em


qualquer momento que compartilhei com Mathias?

Eu olho através da sala zumbindo, procurando


algo para diminuir o momento. Eu continuo esperando
vê-lo, mesmo que ele não tenha sido convidado. Mas
Mathias não está nos Estados Unidos há mais de
quatro meses, se os rumores são verdadeiros. Eu
nunca me incomodei em verificar. Dando a mínima e
não me preocupando com pessoas que são mal-
intencionadas, que roubam seu poder e propósito, se
não fosse o caso, eles não iriam querer prejudicá-lo.

Isso está claro.

Eu pego minha noiva e a levo para o elevador, no


estilo de lua de mel, essencialmente, pulando todos os
outros. Seus braços estão em volta do meu pescoço e
ela ronrona quando diz:

—Ouvi dizer que há câmeras de vigilância em


todos os cantos deste lugar, então não faça nada
estúpido.

Eu levanto a minha mão e dou a uma câmera o


dedo do meio, ainda segurando-a, então a beijo tão
profundamente e sombriamente que ela não sai em
busca de ar até a manhã seguinte.

No sul da França.

Na minha cama.

—Eu acredito que você acabou de trazer sexy de


volta, Sr. Timberlake.
Um ano depois…

— All Stars rosa?— Célian sorri enquanto enrola


seu braço no meu e nós caminhamos em direção aos
elevadores. Ele está no sexagésimo andar, o novo
presidente da LBC, e eu estou no sexto, uma
produtora associada ao lado de Blu. Kate é a diretora
de notícias agora, um papel que ela conquistou da
maneira mais difícil e merecida.

Toda noite, meu marido me pega na redação,


sela minha boca sorridente com um beijo quente para
todo mundo ver e me leva até os elevadores, onde
compartilhamos todos os nossos pensamentos e
segredos, porque desde o primeiro dia, o elevador é
onde tudo acontece entre nós.

Por que quebrar o hábito agora?


As portas se abrem e nós entramos. Assim que
elas se fecham, mexo os dedos dos pés dentro dos
meus All Stars.

—Vamos fazer uma parada no Le Coq Tail antes


de irmos para casa—, sugere Célian, já avançando em
direção a mim através do pequeno espaço.

—Claro, eu poderia comer um sanduíche de


rosbife—, eu digo enquanto ele me encosta contra a
parede e me levanta na minha bunda, envolvendo
minhas pernas sobre sua cintura.

—E uma bebida para acompanhar seu longo


dia.— Ele morde meu lábio inferior e puxa dentro de
sua boca.

Eu gemo em nosso beijo, moendo contra ele


descaradamente. Eu tenho sido carente ultimamente.

—Eu vou ficar só com a comida.

—Boa ideia. Eu gosto de você sóbria quando eu te


fodo.

—E quando estou grávida—, acrescento.


—E quando você...— Ele continua a frase,
mergulhando a mão entre as minhas pernas e
empurrando minha calcinha para o lado debaixo da
minha saia.

Ele para e franze a testa.

—Volte novamente?

—All Stars rosa.

Eu mordo um sorriso, meus olhos viajando para o


meu estômago.

Ele faz o mesmo. Eles acendem um pouco, e


então ele aperta minha bunda, aparentemente para
afirmar que ele ainda está respirando.

Boa. Nós só conversamos sobre crianças uma


vez, apenas alguns dias depois que ele propôs para
mim.

— Eu não acho que eu seja uma figura paterna,


mas se você quer filhos, nós vamos ter filhos —, ele
me disse.— Inferno, se você quiser raiva, nós vamos
pegá-la juntos. Faça um dia disso.
Eu queria esperar um pouco mais antes de nos
tornarmos pais e tomava minha pílula todos os dias.
Mas então, eu cometi um erro básico no inverno
passado e tomei antibióticos para tratar uma infecção
sem usar proteção extra. Eu estava tão ocupada com
o trabalho, com Célian e papai que nem percebi que
havia atrasado três ciclos.

Quando finalmente comprei o teste, Ava se


certificou de me acertar na cabeça com ele antes de
abri-lo no banheiro do quinto andar, ele voltou
positivo. Fui ao ginecologista no mesmo dia. Esse dia
foi ontem.

Meu marido está olhando para mim agora, com


um olhar que eu nunca vi em seu rosto. Um olhar de
redenção, reverência e esperança. O fato de eu
colocá-lo lá me faz querer dançar, cantar a plenos
pulmões, mesmo que ninguém neste código postal
mereça tal punição.

—Eu estou tendo uma filha?— Ele pisca.


—Tecnicamente, eu estou tendo. Mas eu posso
me contentar com nós. Como você se sentiria em a
nomear de Camille?

Ele joga a cabeça para trás e ri, e é a coisa mais


linda que eu já vi. Seus olhos azuis estão cintilando
como estrelas no escuro, e ele me abaixa, envolve
seus braços em volta de mim e ri em meu ouvido,
enviando ar quente e doce para ele e me fazendo
tremer de prazer.

Eu posso me acostumar com isso.

Eu acho que acabei de fazer.

—Eu amo você, Judith Penelope Humphry, ladra


de carteira, fã do The Smiths.

—Eu também amo você, Célian James Laurent,


transa de uma noite, bastardo de coração frio.

Caso você esteja se perguntando, já cortamos


todos os itens da lista de desejos que eu fiz com
Milton.

Visitar a África.
Ser designado para o Oriente Médio.

Assistir ao pôr do sol em Key West.

Comer um perfeito macarón em Paris.

Meu coração não é solitário.

Está cheio, feliz e inteiro.

Acima de tudo, é do Célian.

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