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De religiões à povos: a luta pelo

reconhecimento dos direitos dos


povos de terreiro
De Nailah Neves Veleci
Objetivo da pesquisa:
- Relação dos povos de terreiro com o Estado brasileiro.

- Como o reconhecimento tardio dos direitos destes povos impacta, na


atualidade, em novas estratégias de sobrevivência dos povos e comunidades
tradicionais de terreiro.
Regulação jurídica das religiões afro-brasileiras
Do Brasil colônia à constituição de 1988

Brasil Colônia -1603 República - 1890 Constituição 34


Em seu Livro V, as Ordenações o art. 17, inciso III que previa uma colaboração recíproca
Código Penal de 1890 que criminalizava
criminalizavam: a heresia, punindo-a com com qualquer culto em prol do interesse coletivo, o Código
mendicância (art. 391-395), vadiagem (art. Penal de 1940 excluiu o crime de espiritismo, mas até hoje
penas corporais (Título I); a negação ou
399), capoeiragem (art. 402), curandeirismo são vigentes o crime de curandeirismo (art. 284); art. 208
blasfêmia de Deus ou dos Santos (Título II); pune quem impedir ou perturbar cerimônia ou prática de
(art. 156) e espiritismo (art. 157).
e a feitiçaria, punindo o feiticeiro com pena culto religioso ou desvalorizar publicamente ato ou objeto de
capital, morte (Título III). culto religioso.

Constituição de 88
Brasil Império A Constituição de 1988 ratificou a aceitação das
Multas e demolições a celebração de cultos religiosos religiões afro-brasileiras como religiões e ainda
em áreas externas ao domicílio que não fossem da contemplou em parte as exigências do movimento
religião oficial (art. 276); com prisão e multa a zombaria negro sobre o respeito à alteridade das tradições
contra o culto estabelecido pelo Império por meio de negras em seus artigos 215 e 216.
papeis impressos ou discursos (art. 277) e com prisão e
multas a manifestação de ideias contrárias à existência
de Deus por meio de papeis impressos ou discursos
(art. 278).
Da colônia aos dias de hoje
O padrão de poder mundial que temos em curso hoje, a globalização, começou
com a constituição da América e do capitalismo colonial/moderno e eurocentrado.

Dois processos históricos foram fundamentais para esta constituição:

- a criação da ideia de raças que foi usada para justificar o tratamento de


inferioridade das demais raças não brancas;

- a articulação de todas as formas históricas de controle do trabalho, de seus


recursos e de seus produtos, em torno do capital e do mercado mundial.
Terreiros no Brasil Império
- No Brasil Império, o catolicismo permaneceu como religião oficial, mas foi
inserida uma previsão formal de liberdade religiosa privada, sem forma
externa de templo, na Constituição Imperial de 1824.

- Diversamente dos templos católicos que pertenciam a uma pessoa jurídica,


os terreiros eram ligados a pessoas físicas, o que contribuiu para que a
organização das religiões afro-brasileiras tenha permanecido descentralizada
e fragmentária, pois cada local de culto é autônomo.
O nascimento da república e a abolição da
escravatura
- Separação do Estado e da Igreja na primeira Constituição da República
(1891)

- Nos discursos científicos e nas práticas governamentais, havia a


preocupação com a influência negra na formação da sociedade brasileira:

"(...)a ideologia do branqueamento e suas políticas de eugenia da população, onde os discursos


jurídicos e da medicina se entrelaçam como fundamento da necessidade de reprimir as
manifestações religiosas e culturais do negro, entendidas como primitivas e fetichistas. (ARAÚJO,
2007, p. 22)"

- Criminalização - código penal de 1890 (ver linha do tempo)


O nascimento da república - racismo institucional
e o fascismo sociorracial
- Boaventura de Souza Santos:

"(...) é um fascismo pluralista, produzido pela sociedade e não pelo Estado.


(...) segregação social dos excluídos mediante a divisão das cidades em
zonas selvagens e zonas civilizadas (...)’. No caso da religiosidade no Brasil, a
zona civilizada era representada pela matriz cristã-ocidental, e a zona
selvagem pela cosmovisão africana."
Resistência das religiões afro-brasileiras
- Candomblé não era reconhecido como religião;

- aceitação do sincretismo religioso com a igreja católica, a criação de redes


de solidariedade entre o povo de santo:

[...] simbolizada na proteção mutua das comunidades-terreiros o que


possibilitou a consolidação de um sentimento de identidade e colaboração
entre as diversas nações Jeje, Angola e Ketu.
Década de 30
- Substituição das teorias evolucionistas pela vertente culturalista;

- Gilberto Freyre é um dos teóricos que contribuem com essa nova ideologia,
onde era pregada a democracia racial no país;

- substituíu a noção de raça por cultura. Agora era a cultura do negro que era
primitiva e inferior, sendo a mestiçagem e o sincretismo a salvação;

- enquadrou as religiões afro-brasileiras como folclores, negando o seu caráter


religioso, sendo este só admitido no suposto sincretismo
com o catolicismo.
Enaltecia a sociedade
miscigenada, produto da
Culturalismo fusão entre as três raças
fundadoras (branca, indígena
e africana).
A organização foi à primeira experiência do
movimento negro no Brasil que questionou a
inclusão da população negra, chegando a se
constituir como um partido;

renegou as manifestações culturais e


religiosas do povo negro;

Frente Negra responsabilizou as práticas religiosas pela


estigmatização do negro, propondo, assim,
que a política de integração passasse
também pela sua incorporação aos modelos
universalistas de cidadania e de identidade
nacional.
Década de 30/40

- A partir da década de 1930, em São Paulo e Rio de Janeiro, crescia o


“processo de embranquecimento” da Umbanda. A religião, ao abrir mão do
conteúdo étnico, teria se tornado na época, mais adequada para as camadas
da classe média e baixa de grandes cidades que buscavam uma mobilidade
social ascendente na sociedade brasileira, permeada pelo preconceito racial;

- Desagregação de memória coletiva negra.


Década de 30/40
- No âmbito social, essa negação da cosmovisão africana pode ser
interpretada como negação social aos próprios adeptos destas religiões. Não
só por eles serem negros, mas por serem e aceitarem os homossexuais,
prostitutas, mães solteiras etc.
Propunha uma afirmação da herança africana,
sugerindo, assim, que a inclusão
socioeconômica da população negra fosse

Teatro inseparável do reconhecimento do valor


civilizatório das manifestações culturais e
religiosas da diáspora no Brasil.
experimental
No cenário político, o Teatro foi acusado, tanto
do Negro por conservadores como pela esquerda
marxista, de estar alimentando um
comportamento racializado inaceitável em uma
sociedade caracterizada pela harmonia racial.
Década de 50
- Na década de 1950, mesmo com o apoio do movimento negro, o racismo
institucional contra as religiões afro-brasileiras, de acordo com Araújo (2007)
passou da repressão policial para uma intervenção normalizadora onde as
práticas religiosas, agora eram obrigadas a requerer licença junto às
delegacias de jogos e costumes para realização dos cultos.
Década de 60/70 - Golpe de 64
- Com o Golpe de 1964, a ideologia da democracia racial tomou mais força no
país, principalmente porque as lideranças negras tiveram que deixar o Brasil e
a mobilização acabou sendo desarticulada

- O Movimento negro só retomará sua militância na década de 70


Voltado para uma reflexão crítica das relações
raciais, arrticulando sua luta política na
afirmação da negritude e no combate ao
Movimento racismo.

Negro Unificado Suas políticas seguem a lógica de que a


superação da hierarquia racial deve passar pelo
contra o Racismo reconhecimento das tradições africanas, sendo
esta a nova etapa de resistência negra no Brasil.
e Discriminação
Para a construção de uma identidade étnica
Racial (MNU) - negra propõe que a nova geração de ativistas
assuma as religiões de matriz africana,
1970 particularmente o candomblé, tomado como
principal guardião da fé ancestral.
A perspectiva trazida pelo novo movimento

Decreto negro inseriu no cenário político o debate sobre


o caráter multicultural da sociedade brasileira

25.095 de A luta dos afro- religiosos passou de resistência


para uma política de reconhecimento de direitos.

1976 - Estado Decreto de 15 de janeiro de 1976 do governo da

da Bahia Bahia, desobriga as comunidades religiosas de


requererem permissão à delegacia de jogos e
costumes para a realização dos cultos
afro-brasileiros.
Década de 80 - Constituição de 1988
- A Constituição de 1988 ratificou a aceitação das religiões afro-brasileiras
como religiões e ainda contemplou em parte as exigências do movimento
negro sobre o respeito à alteridade das tradições negras em seus artigos 215
e 216.
A perspectiva da colonialidade do poder
- A forma como foi construído o pensamento dos grupos dominantes sobre
quais são os valores, costumes e saberes aceitos pela sociedade brasileira.

- Tem o eurocentrismo como um dos carros chefes dessa dominação : o


eurocentrismo consiste numa distorção favorável aos ideais do europeu
branco sobre o modo de produzir sentido, explicações e conhecimentos.

- Nossas instituições, principalmente as políticas, jurídicas, midiáticas e


educacionais são impregnadas por esse ideal eurocêntrico que estipula
como os melhores modelos de educação, de sistemas políticos e judiciários,
e padrão de vida aqueles advindos da Europa.
Posicionamentos da Igreja Católica
- 1o - Ilusão da catequese;
- 2o - Combate aos costumes africanos;
- 3o - Demonização das religiões afro-brasileiras (Década de 1950);
- 4o - Cooperação e diálogo – reconhecimento dos erros cometidos pela Igreja
com a evangelização for- çada dos negros;
- 5o - Diversificação de posições (atualidade): rejeição e combate, aceitação e
purificação de erros doutrinários e aceitação e e diálogo inter-religioso
Posicionamento neopentecostal
- Perseguição contra as religiões afro-brasileiras.

- Disputa o mesmo mercado religioso que as religiões de matriz africana,


populações de baixo nível socioeconômico que buscam experiência vivida no
próprio corpo.

- Ao contrário dos católicos, estes reconhecem a existência das divindades


afro-brasileiras, mas os classificam como demônio e portanto pregam que os
povos de terreiro precisam ser salvos e convertidos ao neopentecostalismo.
Possuem também um grande poder de mídia para essa
pregação, além de poder institucional nos três poderes.
Criação da SEPPIR - 2003
- A SEPPIR - Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial
era um órgão que possuía status de Ministério da Presidência da República.

- Em razão da laicidade do Estado, que permite a defesa das liberdades de


culto e religião, mas que impede interferência estatal, contribuição ou
interferência em qualquer religião ou manutenção com elas ou suas
representantes relações de dependência ou aliança (art.19, inciso I), a
Secretaria pode construir uma política pública direcionada para as religiões
afro-descendentes.

- Em razão do reconhecimento tardio e racismo institucional dos aplicadores


das leis, os povos de santo começaram a lutar por direitos culturais, para
além da luta dos direitos religiosos.
Tombamento do terreiro Ile Iyá Nassô Oká
- Em 1984 é conquistado o primeiro tombamento de um monumento negro no
Brasil, o do terreiro Ile Iyá Nassô Oká, conhecido como Casa Branca do
Engenho Velho, no estado da Bahia.

- Houve uma grande controvérsia dentro do Conselho Consultivo da Secretaria


do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (SPHAN) devido ao não
reconhecimento da arquitetura do terreiro por parte dos conselheiros, que
consideravam que não havia riqueza arquitetônica e artística que justificasse
tal proteção - até então, tal valoração de riqueza era atribuída exclusivamente
à cultura luso-brasileira.

- Até 2015 nenhum terreiro fora do nordeste foi tombado.


Estratégia de adição cultural
- Perante o conhecimento das vantagens dos direitos culturais
os movimentos afro-religiosos com/e dentro do movimento negro,
articularam a estratégia de identificar as religiões afro-brasileiras como povos
tradicionais e comunidades tradicionais de matriz africana.

- A discriminação em relação a esses povos ultrapassa a dimensão


estritamente religiosa, pois a herança sociocultural brasileira que discriminou
e perseguiu (e, ainda, persegue) tais povos, tem como leitmotiv o fato de
suas práticas estarem ligadas aos valores africanos, à ‘raça’ negra.
Estratégia de adição cultural
- A estratégia de adição conceitual consiste em transferir a luta por direitos
para o eixo da cultura, ganhando proteção constitucional do art. 215 e
consequentemente dando a abertura à possibilidade de implementação de
políticas públicas diferenciadas para os terreiros.

- 7 de fevereiro de 2007, foi instituído o Decreto no 6.040 que definia os


princípios, objetivos e os instrumentos de implementação da Política
Nacional de Desenvolvimento Sustentável dos Povos e Comunidades
Tradicionais pelo Decreto no 6.040. Em seu art. 3o, inciso I, é dada a defi-
nição de povos e comunidades tradicionais como:
" [...] grupos culturalmente diferenciados e
que se reconhecem como tais, que
possuem formas próprias de organização
Decreto 3.040 social, que ocupam e usam territórios e
recursos naturais como condição para sua
de 2007 reprodução cultural, social, religiosa,
ancestral e econômica, utilizando
conhecimentos, inovações e práticas
gerados e transmitidos pela tradição. "
I Plano Nacional de Desenvolvimento Sustentável
dos Povos e Comunidades Tradicionais de Matriz
Africana
- Aproveitando-se dessa abertura conceitual de povos tradicionais, os movi-
mentos afro-religiosos e a SEPPIR trabalharam conjuntamente e em janeiro
de 2013 lançaram o I Plano Nacional de Desenvolvimento Sustentável dos
Povos e Comunidades Tradicionais de Matriz Africana (2013-2015)

- Enfrentar o racismo institucional e trabalhar para a valorização da identidade


destes povos, com políticas públicas específicas tanto para a valorização das
suas práticas tradicionais, como formas de fortalecimento institucional destas
comunidades, quanto para que possam ser respeitados na sociedade
brasileira, vistos como povos dignos de igual respeito.
-
Considerações finais
Como exposto, essa adição conceitual ao reconhecimento das identidades
das religiões afro-brasileiras trouxe mais garantias de direitos, mas estes
podem ser revogados com uma mudança do governo - a conquista desses
direitos veio de uma política de governo e não de uma política de Estado.

O Deputado Federal baiano Luiz Alberto (PT-BA) tentou transformar o


Decreto no 6040/07 em política de Estado apresentando o Projeto de Lei
(PL) no 7.447/10, que estabelece as diretrizes e objetivos para políticas
públicas de desenvolvimento sustentável dos povos e comunidades
tradicionais, mas o projeto acabou sendo arquivado devido o fim da
legislatura na qual foi apresentado.

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