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ANTECENDENTES: A EXPANSÃO COMERCIAL

A Expansão constitui uma das principais etapas sustentam os Tempos Modernos. A conquista
de Ceuta em 1415 é tomada como o primeiro passo do movimento
expansionista português e da própria Europa. No entanto é também o culminar de um longo
processo anterior onde se reuniram as condições económicas, sociais e políticas e até mentais
que permitiram a conquista.
É com a resolução da crise de 1383-85, a favor dos novos interesses económicos e de novos
estratos sociais, que se traça o espírito da Nação e novos rumos de afirmação. Alguns dos
fatores que permitiram a expansão atlântica, foram:
§ Política - separação definitiva de Castela e primórdios da construção do
Estado Moderno;
§ Economia – mercantilização do Estado baseada na conquista e navegação;
§ Sociedade - afirmação da burguesia, de estratos populares ativos e
reciclagem da nobreza.
Durante esse período (até 1383/85-1415), Portugal realizou uma expansão pela afirmação e
conquista de posições comerciais junto dos polos económicos e mercantis mais ativos, ou
seja, a expansão de Quatrocentos centraliza-se exclusivamente no desejo mercantil da época
medieval, embora com uma diferença – a partir de 1385-1415 é o Estado que coordena toda
a ação e atividade.
Portugal conseguiu reunir, ao longo dos tempos, um conjunto de condições que capitalizou
em seu proveito e que lhe permitiram assumir a iniciativa expansionista, nos finais do séc. XIV
e inícios do séc. XV.
Na consolidação destas condições agiram fatores de natureza geográfica, naturalmente, e
outros de natureza humana. Os de natureza humana surgem agrupados nas componentes da
proteção e intervenção régias e na afirmação espontânea, mas interventora dos grupos
mercantis.

Conjuntura histórico-geográfica. Dos fatores geográficos às intervenções


humanas
Geograficamente, existe particularidades que vocacionaram na Península a faixa ocidental
para as atividades marítimas e a existência das bacias hidrográficas contribuíram também
para que a vida sócio-económica convergisse para a orla marítima. Por esse motivo as
atividades agrícolas, eram consideradas como atividades subsidiárias, pois forneciam
produtos ao comércio local e de exportação.
A atividade marítima era, portanto, a de maior relevo: pesca, salga, sal e construção naval, o
que veio a acentuar-se com o final da Reconquista e a integração de importantes núcleos
comerciais e centros marítimos no novo reino.
O triângulo Lisboa-Santarém-Alcácer do Sal constitui um núcleo populacional e económico de
primeira grandeza. Lisboa e Alcácer são grandes centros marítimos de comércio e de
construção naval. A partir de 1250, toda umas redes de cidades marítimas algarvias passam
para o reino.

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Começa então a desenhar-se uma rede comercial apontada no sentido do Mediterrâneo. Em
que se desenvolveram, desde Afonso I (e até D. Fernando) várias medidas de proteção e de
fomento das atividades marítimas, visando o reforço das atividades económicas e o fomento
de núcleos comerciais.
No final da I dinastia já os monarcas andam eles próprios envolvidos no grande comércio
marítimo com as suas embarcações. Destes condicionalismos e ações humanas concertadas
resultou uma notável atividade comercial e marítima que levou os comerciantes portugueses
aos centros de comércio mais ativos da Europa de então.

A expansão medieval. Áreas de irradiação (Mediterrâneo, Mares do Norte, Península)


O Mediterrâneo
Devido às dificuldades de penetração por causa dos catalães e muçulmanos, a presença
portuguesa saldou-se pela movimentação de agentes individuais que percorreram os centros
económicos mais ativos. À presença portuguesa em centros de comércio em Espanha, segue-
se a contrapartidas da instalação em Portugal de colónias de catalães, de corsins e de
aragoneses.
Os portugueses também acediam aos centros ocidentais da península itálica, existindo
também “companhias” de italianos estabelecidas desde D. Dinis, que obtinham grandes
privilégios régios. A sul do Mediterrâneo a frequência portuguesa fazia-se sentir nos
mercados marroquinos e nos interpostos da costa marítima dominados pelos muçulmanos.
Está referenciado um comércio ativo das cidades muçulmanas com Coimbra, com a indicação
da proveniência de produtos da terra dos sarracenos.
Desse intercâmbio terá resultado a moeda muçulmana: o morabitino de ouro foi a moeda
corrente até Sancho I, pelo menos e era o instrumento de troca utilizado. Principalmente na
faixa algarvia, zona que continuava a ser a mais entrosada com esse eixo. De proveniência
árabe eram as especiarias, fruta, artigos de luxo, panos finos para o culto divino.
Foi este intercâmbio feito pelos mercadores que foi dando a conhecer as principais rotas do
Magrebe durante o séc. XVI. E antes de meados do século, alguns desses caminhos já
figuravam em mapas e cartas.
Outras fontes são também importantes para este conhecimento, como os tratados de
comércio italianos (os italianos iam já até à rica região de Safim) e as informações orais
religiosas. No decurso do séc. XIV, os portugueses têm conhecimento da região do Golfo da
Guiné e da terra dos Negros.

Os Mares do Norte
Aqui a presença portuguesa é mais marcante, constituindo-se o grande eixo da expansão
mercantil portuguesa. Aqui estabeleceram-se as primeiras feitorias portuguesas.
Os mercadores portugueses frequentam desde o séc. XII grandes feiras como Lille e Bruges,
Gand seria também conhecida e frequentada. Na Foz do Douro as embarcações procedentes
de França pagavam dízima ao monarca o que faz pressupor uma grande normalidade de
contactos, na sequência de laços familiares estabelecidos entre as cortes portuguesa e
flamenga.

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Os portugueses são os primeiros a estabelecer aí uma feitoria (1197-1200) transformando-a
no centro de difusão dos seus negócios.
Os mercadores portugueses aproveitam-se das políticas favoráveis aos mercadores em geral,
dos reis de França e de Inglaterra, bem como dos senhores poderosos da Flandres e da
Borgonha. A partir da Flandres (Bruges-Gand) estabelecem relações com todos os postos
costeiros do interior e também com a Hansa. Também aqui as relações familiares das casas
reinantes contribuíram para esse relacionamento. O circuito mercantil dos mares da
Dinamarca não era desconhecido dos portugueses.
As áreas de influência da Hansa abriram portas aos mercadores confirmando-se os contactos
com a Zelândia e Midelburgo e, também, Dantzig e Lubeck (Báltico).
A presença na Inglaterra também é precoce, devido não só a afinidades de origem política,
mas também ao entrosamento económico que já antes se verificara e que viria a culminar no
casamento entre o mestre de Aviz e Filipa de Lencastre, no Porto. De Portugal seguiam
principalmente vinhos e pescados e de Inglaterra recebíamos tecidos e lãs.
Estabelece-se um tratado formal de comércio entre Inglaterra (Eduardo III) e Portugal (Afonso
IV), no qual se incluíam garantias de segurança e a liberdade de pesca nas águas da Inglaterra
e da Bretanha.
 Fica patente (em meados do séc. XIV) a pujança das comunidades marítimas,
com destaque para Lisboa e Porto, bem como a extensão geográfica dos seus
interesses marítimos.
 A prática da pesca em áreas afastadas da costa e em mares adversos denota
aperfeiçoamentos técnicos introduzidos nas oficinas de construção naval.
 Os relacionamentos e contactos vão aumentar durante o séc. XV à medida que
o comércio ultramarino português ganha vulto com os novos produtos
africanos.

Irradiação na Península
 A facilidade dos contactos terrestres facilitaram a presença portuguesa em centros de
comércio hispânico.
 Os contactos políticos mais assíduos também se fizeram com os estados peninsulares.
 Daí havia de resultar até pela proximidade geográfica uma afinidade comercial de vulto.
 As rotas marítimas continuam a marcar a primazia sobre as terrestres.
 No Atlântico, havia contactos com dois pólos: o Cantábrico (biscaios e guipuscuanos) e o
Andaluz (Sevilha era o centro de irradiação mais importante para os portugueses naquelas
paragens).
 Ao findar o séc. XIII é segura a referência a carreiras ou viagens esporádicas para a costa
marroquina e levante espanhol.
 Os mercadores portugueses têm uma presença importante nos corredores marítimos mais
frequentados e uma posição por vezes bem sólida junto dos interpostos comerciais mais
importantes, estabelecendo a partir deles (caso da Flandres) ligações com áreas e
clientelas mais longínquas.

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Medidas de fomento. Das intervenções régias à ação coletiva das populações.
 Este surto comercial e conquista de posições decorreu da convergência de ações
humanas que se completaram:
 Ação direta dos monarcas:
o Concessão de privilégios;
o Fomento da instalação de povoados ribeirinhos (promoção da agricultura, atração
da população para o litoral);
o Recrutamento de técnicos;
o Atrair mercadores estrangeiros (Mediterrâneo e Norte) que traziam consigo
aperfeiçoamentos técnicos, informações geográficas, cientificas e capitais);
 Bolsa de Socorros (D. Dinis): proteção da atividade aquando de eventuais infortúnios.
 Arrendamento das baleações do reino (Afonso IV) como medida de apoio à pesca e
atividade mercantil e fomento da atividade pesqueira em toda a linha da costa. Funda
dois centros piscatórios (Peniche e Lisboa) e assegura a sua manutenção;
 Leis de proteção às atividades marítimas: corte de madeiras nas matas reais sem
encargos; isenção de taxas e impostos sobre os géneros; redução para metade da dízima
nos direitos de entrada de panos e mercadorias; isenção de serviços e encargos militares
e também das talhas e sisas dos bens.

 Companhia das Naus (8 Dezembro 1380 – D. Fernando):


o Sedeada no Porto e em Lisboa;
o Objetivo: fazer face aos infortúnios do mar;
o Renovação e alargamento de privilégios;
o Inscrição e registo de embarcações com 50 tonéis de arqueação;
o 2% do lucro de fretes e ganhos a favor do Fundo Comum;
o Instituição do seguro obrigatório;
o Inspeção de segurança às embarcações;

Medidas/Obra coletiva das Comunidades Marítimas:


 Condução e regulamentação dos seus interesses nos contactos exteriores;
 Criação de estruturas administrativas e institucionais de apoio:
 Fundo Comum: todos os mareantes que movimentasses embarcações de comércio
teriam de pagar um certo montante, para fazer face às dificuldades do comércio.
 Comuna dos Mareantes: destino do dinheiro daqueles que se opusessem a pagar
(primeiras bases dos seguros marítimos)

Confrarias e Irmandades dos Homens do Mar;


 Estas iniciativas e medidas conjuntas dos mercadores e dos monarcas contribuíram para
o reforço da marinha mercante portuguesa.
 Esta Bolsa e Companhia de Socorros Marítimos era um bom apoio a toda a atividade
marítima e comercial numa altura em que se alargavam os horizontes comerciais.
 desenvolvimento espontâneo e o seu rápido enquadramento orgânico pela ação régia
traduziu-se na pujança das atividades marítimas e comerciais e de outras subsidiárias.
 Desde D. Afonso I que se verifica por parte dos monarcas uma ação de apoio e de
incentivo às comunidades costeiras, povoamento e atividades marítimas.

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 As póvoas marítimas fazem parte dessa política de povoamento e de proteção às
atividades: pesca, sal, construção naval e comércio. D. Dinis teve aqui uma ação notável.
 Destas ações resultou o fortalecimento de:
 Uma frota de pesca e comércio;
 Uma frota militar;

Consequências:
 Aparecimento de uma marinhagem
 Aparecimento de um corpo de mestres de naus e oficias de comando
 Medidas de proteção, concessão de privilégios e isenções por parte dos monarcas (desde
D. Afonso I, com ênfase durante o reinado de D. Dinis e que distinguirão em particular o
século XIV).

As taracenas e a armada real


Desde cedo que os monarcas se empenham nas atividades de construção naval e na criação
de uma armada real voltada para o comércio, e a atividades de corso e defesa. Existem
referências às taracenas (oficinas de construção naval) desde D. Sancho I (1237) que se
avolumam no decurso do séc. XIV.
§ Antes de 1250, existem também referências à existência de um corpo de galés régias de
comércio e de guerra ao serviço dos monarcas, que se avolumam no reinado de D. Dinis, e
durante o séc. XIV, mesmo já às armadas régias.
§ Simultaneamente surge a criação de um corpo de marinhagem ou oficiais de embarcações
(com isenções, privilégios e favores régios) e a existência de um corpo de oficiais
administrativos ligados à marinha:
§ 1314: Nuno Fernandes Cogominho, Almirante-mor e El-Rei;
§ 1317: Manuel Pessanha (e os seus genoveses), Almirante-mor das galés de El-
Rei (para dotar a marinha de guerra de melhores condições para os mares e confrontos
mediterrânicos);
§ Reinado de D. Fernando: Gonçalo Tenreiro, Capitão-mor da frota real;
§ 1380: D. João Afonso Telo, Almirante;
§ 1385: Lopo Afonso, Almirante (domínio dos mares europeus e rotas de comércio da P.I.)
§ Aquando da abertura das hostilidades com Castela (1369) o conjunto da frota marítima é já
de grande vulto.

A burguesia mercantil
§ Tudo isto criou um grupo social forte e homogéneo – burguesia mercantil – que está em
franca expansão.
§ Em meados do séc. XIV disputa o poder económico e projeção social às classes
nobiliárquicas.
§ Este crescimento atrai a Portugal comerciantes e mercadores, que se estabelecem no nosso
país obtendo privilégios dos monarcas.
§ Os mais importantes são os italianos, que com os seus banqueiros se estabelecem em
Lisboa.
§ D. João I criou um vantajosa posição de neutralidade criando no seu reino (com Ordenações)
uma área de paz e convívio para as relações comerciais.

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§ A classe mercantil está perfeitamente entrosada nos principais pólos económicos da Europa
nórdica e mediterrânica (com descidas para além da costa marroquina).
§ O Mediterrâneo constitui o grande eixo económico e com Pessanha (1317) ensaia-se o
domínio do estreito de Gibraltar procurando a segurança da costa algarvia.
§ Segundo Fernão Lopes esta classe abriu uma nova idade: a Sétima Idade, na qual se levantou
um outro mundo novo e nova geração de gentes: foram feitos cavaleiros.

A conjuntura europeia
§ A Europa desta altura está a braços com inúmeras dificuldades provocadas pela Peste
Negra e pela Guerra dos Cem Anos. O comércio e a agricultura encontram-se afetados.
§ Assiste-se ao despovoamento de muitas áreas e à deslocação das populações.
§ As explorações mineiras decaem drasticamente o que faz diminuir as trocas com os
produtos orientais. As regiões do ouro, eram nesta altura, os “impérios da orla mediterrânica”
que traziam esse metal precisos pelas rotas e pelas mãos dos muçulmanos, cristãos e judeus.
§ A falta de metais preciosos cria profundas sequelas sociais traduzidas em revoltas nos
campos e nas cidades.
§ Crescem as dificuldades de abastecimento e as carências de cereal.
§ Os centros portugueses encontram-se ligados a esta problemática económica de forma
indireta o que se traduz nos condicionalismos a nível interno, criando desta forma uma
amálgama de motivações e interesses de vária ordem:
§ De ordem ideológico-proselitística;
§ De ordem social, política e económica;
§ De ordem militar e estratégica

Ceuta
§ A concretização de todos estes objetivos concretizar-se-á na conquista e posse de Ceuta –
o primeiro passo da expansão marítima.

Porquê Ceuta?
§ Desde cedo que se sabia o que Ceuta significava e o que representavam os territórios
vizinhos. Fontes de cronistas e de pilotos e viajantes sustentam também esta afirmação.
§ Os mercadores marroquinos conhecem e têm acesso aos mercados auríferos afro-
sudaneses com os quais têm já relações organizadas.
§ Por volta de 1325 existe uma considerável rede de centros de captação de ouro, divulgados
na Carta de Dulcert (1339) e a indicação de caminhos de penetração como sucede no Atlas
Catalão (1375-80) ou no de Viladestes (1413)
§ Existiam duas rotas que atingiam Ceuta, trazendo ouro e especiarias.
§ Existiam outras também vindas do Oriente pela costa norte africana e uma série de vias
marítimas que convergiam em Ceuta, como porta do estreito de Gibraltar.
§ Ceuta era também uma região agrícola rica: cereais, plantas têxteis e industriais, açúcar,
gado e derivados, especiarias, pescados.
§ De juntar ainda o domínio das rotas comerciais e controle dos ninhos de pirataria e do corso.
§ A posse de domínios e novas fontes de rendimento para o exercício das armas, para além
da afirmação social e política acabou por se tornar vital para os interesses da nobreza em
primeiro lugar e, clero depois. A posse desta praça era vista como a satisfação para as suas
necessidades condizentes com o seu estatuto de modo de vida tradicionais. Ceuta era, pois,
a solução para graves problemas de ordem social, económica e até política.

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§ Militarmente, há muito que Castela reclamava direitos morais e históricos sobre a costa
marroquina, patentes com a conquista de Algeciras. Sevilha protagonizou esses interesses.
§ Do ponto de vista da estratégia político-militar, Ceuta era um objetivo a possuir
rapidamente.
§ O monarca conta com o apoio a nível interno dinamizado pela burguesia e também externo
– dos centros mercantis onde a burguesia nacional tinha criado a sua teia de relações e
interesses (Galiza, Biscaia, Inglaterra, Flandres e Alemanha) – criando um largo conjunto
homogéneo em torno do monarca e abrindo portas à expansão. Criando também, uma nova
era, uma Nova Idade.

OS PORTUGUESES EM MARROCOS NOS SÉCULOS XV E XVI


1. Introdução
1.1 A empresa marroquina: sua inserção na expansão
§ A presença portuguesa em Marrocos é parte integrante da expansão. A articulação deste
processo expansionista bem como o estabelecimento de relações comerciais com a Guiné
passa por Marrocos.
§ Marrocos e a África Negra eram duas regiões que constituíam para os portugueses uma
unidade económica.
§ A Marrocos iam buscar bens essenciais como trigo, cavalos e panos para, na África Negra,
captarem os escravos (para a exploração açucareira da ilha da Madeira) e o ouro (para custear
as armadas das descobertas e comprar especiarias).
§ Por Marrocos passa também o processo de expansão na Índia, durante o séc. XIV,
funcionando como uma escola de treino militar dos membros da nobreza que depois
marchavam para a Índia.
§ Os reflexos da empresa marroquina aparecem na produção literária da época e atestam a
importância que se dava a este espaço ultramarino (“os cavaleiros são vistos como heróis e
têm direito ao paraíso”)
§ Marrocos foi, também, o único espaço ultramarino em que os monarcas participaram na
conquista, talvez porque as ações sobre as terras além-mar, consideradas “lugaresfronteira”,
eram tidas como um prolongamento da Reconquista Cristã.

Os antecedentes
Seja por alegadas razões históricas seja por estratégia militar (ir atacar o inimigo no seu
próprio campo) o projeto expansionista no Norte de África esboça-se nos reinos peninsulares
de Aragão, Castela e Portugal – aqueles que mais diretamente se confrontavam com a
ofensiva muçulmana.
 As derradeiras expedições merinidas contra a P.I. terminam com a célebre batalha do
Salado (1340), com a derrota muçulmana.
 Na sequência desta vitória, D. Afonso IV pede uma bula cruzada à Santa Sé. O papa
Bento XII concede-a (Gaudemus et exultamus), podendo a mesma ser utilizada com
objetivos defensivos ou ofensivos na luta contra os infiéis.
 É portanto na Reconquista Cristã que, por sua vez, se insere no processo de dilatação
da Baixa Idade Média que se encontram os antecedentes da expansão portuguesa em
Marrocos.
 Economicamente, Marrocos tinha uma grande produção agrícola, abundância de
peixe, extensas zonas de criação de gado, produção de mel e cera, de objetos em

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couro e em metal, de panos e roupas e de outros objetos para a captação do ouro.
Mas, o comércio trans-saariano dinamizava sobretudo a economia do país.
 O início da expansão portuguesa coincide com a decadência da dinastia merinida
iniciada por Abou Youssef Yacoub.
 Do ponto de vista socio-político, o poder dos merinidas ficou reduzido ao reino de Fez.
Mas o governo central fez com que este reino se desmembrasse em feudos
Senhoreados pelas famílias dominantes.

Das razões de Ceuta à explicação da Expansão Portuguesa no Norte de África


Segundo o cronista Gomes Eanes de Zurara a opção da conquista de Ceuta, deveu-se:
§ A paz com Castela foi feita em 1411 e D. João I oferece-se para a ajudar a combater o reino
muçulmano de Granada, com o objetivo de servir a Deus, obter honra pelo feito e de tornar
cavaleiros os seus filhos, bem como o de dar ocupação a uma nobreza inativa desde a paz
com o reino castelhano. A oferta de ajuda é recusada e João Afonso, Vedor da fazenda, sugere
que se conquiste Ceuta, para que os filhos de D. João I possam ser armados cavaleiros em
ação guerreira.
§ Segundo Oliveira Martins e seus seguidores:
 A conquista de Ceuta integrava-se num plano muito mais vasto que abarcava a fé, na
luta contra os infiéis, pela conquista da Índia (por mar) e pela conquista de Marrocos
(por terra), e abarcava também o lucro, futura religião dos europeus. Ceuta teve como
força impulsionadora a burguesia comercial ansioso de se lançar no comércio
ultramarino.
§ Segundo Jaime Cortesão:
 Ceuta era porto de confluência das rotas caravaneiras do Oriente e do Sudão, onde
se cruzavam as rotas marítimas que ligavam o Mediterrâneo ao Atlântico e a África à
Europa.
§ Segundo David Lopes:
 Era também a base do corso muçulmano que era necessário neutralizar dado que
prejudicava o comércio marítimo. Para além dos motivos específicos de
determinados grupos sociais (burguesia e nobreza), foram também determinantes
as razões de ordem político-militar:
 Interessava a ocupação das bases no estreito de Gibraltar para garantir a segurança
nos mares das rotas comerciais;

O movimento da Expansão. Ritmos e sentidos. Estratégias políticas de ocupação.


Logo após a conquista de Ceuta D. João I defendia a opção da conservação dessa conquista e
pouco antes da sua morte, 1433, a alternativa que se colocava era a de fazer guerra aos
mouros em Granada (haveria benefícios para o reino português e seus vassalos) ou em África.
Alguns dos nobres mais importantes vão pressionar D. Duarte no sentido de se continuar a
empresa marroquina, devido às dificuldades financeiras que afetava a classe.
Estes empreendimentos guerreiros interessavam à nobreza e originaria proveitos a nível
nacional. Ceuta só havia dado prejuízos e não tinha vantagens estratégicas.
D. Henrique e o irmão D. Fernando são os impulsionadores deste empreendimento (D. João
e D. Pedro eram contra) que resulta num fracasso devido ao insuficiente número de efetivos
face aos reforços militares mobilizados pelo poderoso vizir Abou Zekker.

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Chegaram a um acordo, para não serem dizimados, comprometendo-se a devolver Ceuta,
deixando D. Fernando como garantia. Este acabou por morrer em cativeiro devido à oposição
da nobreza em entregar Ceuta. Durante a regência de D. Pedro assiste-se a um interregno da
expansão marroquina.
Com D. Afonso V dão-se importantes passos na ocupação territorial guerreira: Alcácer Ceguer
é conquistada em 1458 e Arzila em 1471. Tânger é tomada logo após. Os habitantes dos
aglomerados populacionais costeiros solicitam a proteção do monarca português face aos
ataques do corso castelhano (como Safim e Azamor).

A vida nas praças marroquinas. População. Estruturas administrativas. O abastecimento


§ A população era constituída por mouros, cristãos e judeus.
§ Na população cristã destacavam-se os moradores (periferia do castelo; dedicavam-se às
atividades que asseguravam o quotidiano) e os militares que recebiam uma tença em
mantimento e em dinheiro.
§ Salientam-se também os estrangeiros europeus – castelhanos e genoveses que se
dedicavam à atividade mercantil e que devido à guerra se deslocaram para outros portos e
mercados.
§ Os mouros viviam sob a dependência portuguesa, fixaram-se em quarteirões e quando se
converteram passaram a ser denominados mouriscos.
§ Os portugueses conseguiram estabelecer protetorados em certas praças constituídos por
mouros dos campos que aceitam a suserania portuguesa - «mouros de pazes» (berberes e
árabes). Estes comprometiam-se a pagar tributos (cereais e gado) e a integrar os exércitos
quando necessário, em troca da proteção portuguesa.
§ Estes «mouros de pazes» estavam sob a alçada de um alcaide (também ele muçulmano)
que aplicava a justiça segundo os seus costumes, recolhia o tributo e comandava as tropas.
§ Os judeus tinham um quarteirão á parte e serviam de intérpretes entre os mouros e os
portugueses.

O capitão era o mais alto funcionário de cada praça (autoridade e jurisdição nas atividades
económicas, judiciais ou militares) que em caso de impedimento era substituído pelo
contador. À feitoria cabiam funções de carácter económico (recolha de produtos, direitos e
impostos).
Abaixo do capitão estava o adail (chefia das operações militares) e o alcaide (responsável do
castelo). Um dos constantes problemas das praças era o abastecimento, vivendo
constantemente de atalaia (praticava-se uma guerra de surpresa e de ciladas) era de fora que
lhes chegava tudo.

Do fim da política expansionista em Marrocos ao abandono de algumas praças


O mundo estava a mudar em 1517 e cresciam os impérios otomano e o de Carlos V,
verificando-se a escalada do corso turco a que se lhe juntava o francês, atraído pelo tráfico
do Atlântico e pela riqueza agrícola e comercial de Marrocos.

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A atividade comercial portuguesa em África era afetada pela infiltração de mercadores
italiano, franceses e castelhanos que se dedicavam ao contrabando de armas, ao que se lhes
juntava o poder crescente dos Xerifes do Suz desejosos de pegar em armas contra o invasor
estrangeiro e fazer a «guerra santa» contra os portugueses.
No final do reinado de D. Manuel I assiste-se a uma estratégia defensiva na região
sudmarroquina (daí a fortificação de Aguz).
É neste contexto que se deve entender a política ultramarina de D. João III que pretendia
cercear a presença portuguesa em Marrocos limitando-se à praças com alguma importância
estratégica – Tânger e Ceuta.
Esta política é sugerida por D. Jaime o qual, apoiando-se na opinião de Vasco da Gama,
entende que se deve limitar o império pelo Oriente com exceção de Goa e Cochim e de
Azamor e Safim.
· D. João III faz uma consulta às individualidades do reino:
· Deve-se abandonar Safim e Azamor ou só uma delas?
· Em vez de abandoná-las, transformá-las em «fortalezas roqueiras»?
· Deve-se fazer guerra em África por Fez ou por Marrocos?
· Em 1532 pede oficialmente ao papa que autorize o abandono de Safim, Azamor e
Alcácer Ceguer.
A resposta do papa tarda e a nobreza opõe-se. Santa Cruz é conquistada (1541), Azamor,
Safim, Arzila e Alcácer Ceguer são despejadas pelo monarca. Só persiste Mazagão.
Alcácer Quibir viria a ser a última manifestação do expansionismo português em Marrocos
(1578 – D. Sebastião)

Conclusão
A expansão portuguesa no noroeste africano foi um malogro em termos de:
· Ocupação territorial e de aproveitamento económico da região, já que os portugueses
tiveram que lidar com a resposta muçulmana. No entanto, Marrocos funcionou como peça
estrutural e organizacional do espaço ultramarino português como:
· Mercado fornecedor de mercadorias de troca;
· Defesa e segurança do tráfico marítimo.
Esta ocupação coincidiu com a época áurea do monopólio do comércio real com o Oriente. O
seu abandono coincide com o declínio do segundo.

Etapas da exploração do Atlântico

Primeira etapa de integração (1415-1440)


§ Inicia-se com a conquista de Ceuta. Internamente verifica-se uma instabilidade política que
origina as duas correntes e as duas políticas quanto à sequência a dar à ação militar de 1415.
O que mais caracteriza este momento é o dilema em que se debate a política global
expansionista.

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Sub-etapa (1415-1434)
§ A vertente mais marcante é a manutenção da praça e a exploração geográfica
(principalmente entre as Canárias e o Cabo Não – o Cabo Bojador é ultrapassado em 1434) e
mercantil.
§ Estas sucessivas viagens implicam também afastamentos consideráveis da costa que vieram
a resultar na redescoberta da Madeira (1419) e dos Açores (1427) que passam a integrar este
quadro geo-estratégico (fonte de recursos e de apoio) que inclui também as Canárias e outras
ilhas a sul e a oeste.
§ A dobragem do Cabo Bojador permite o acesso aos mares do Sul, mas aspetos de política
interna e de ordem técnica obrigam a uma travagem das explorações.

2.1.1 Problemas políticos


§ A burguesia está mais interessada na integração económica de novas e importantes áreas
do Atlântico - as ilhas tinham sido objeto de uma colonização intensa.

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