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A Expansão constitui uma das principais etapas sustentam os Tempos Modernos. A conquista
de Ceuta em 1415 é tomada como o primeiro passo do movimento
expansionista português e da própria Europa. No entanto é também o culminar de um longo
processo anterior onde se reuniram as condições económicas, sociais e políticas e até mentais
que permitiram a conquista.
É com a resolução da crise de 1383-85, a favor dos novos interesses económicos e de novos
estratos sociais, que se traça o espírito da Nação e novos rumos de afirmação. Alguns dos
fatores que permitiram a expansão atlântica, foram:
§ Política - separação definitiva de Castela e primórdios da construção do
Estado Moderno;
§ Economia – mercantilização do Estado baseada na conquista e navegação;
§ Sociedade - afirmação da burguesia, de estratos populares ativos e
reciclagem da nobreza.
Durante esse período (até 1383/85-1415), Portugal realizou uma expansão pela afirmação e
conquista de posições comerciais junto dos polos económicos e mercantis mais ativos, ou
seja, a expansão de Quatrocentos centraliza-se exclusivamente no desejo mercantil da época
medieval, embora com uma diferença – a partir de 1385-1415 é o Estado que coordena toda
a ação e atividade.
Portugal conseguiu reunir, ao longo dos tempos, um conjunto de condições que capitalizou
em seu proveito e que lhe permitiram assumir a iniciativa expansionista, nos finais do séc. XIV
e inícios do séc. XV.
Na consolidação destas condições agiram fatores de natureza geográfica, naturalmente, e
outros de natureza humana. Os de natureza humana surgem agrupados nas componentes da
proteção e intervenção régias e na afirmação espontânea, mas interventora dos grupos
mercantis.
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Começa então a desenhar-se uma rede comercial apontada no sentido do Mediterrâneo. Em
que se desenvolveram, desde Afonso I (e até D. Fernando) várias medidas de proteção e de
fomento das atividades marítimas, visando o reforço das atividades económicas e o fomento
de núcleos comerciais.
No final da I dinastia já os monarcas andam eles próprios envolvidos no grande comércio
marítimo com as suas embarcações. Destes condicionalismos e ações humanas concertadas
resultou uma notável atividade comercial e marítima que levou os comerciantes portugueses
aos centros de comércio mais ativos da Europa de então.
Os Mares do Norte
Aqui a presença portuguesa é mais marcante, constituindo-se o grande eixo da expansão
mercantil portuguesa. Aqui estabeleceram-se as primeiras feitorias portuguesas.
Os mercadores portugueses frequentam desde o séc. XII grandes feiras como Lille e Bruges,
Gand seria também conhecida e frequentada. Na Foz do Douro as embarcações procedentes
de França pagavam dízima ao monarca o que faz pressupor uma grande normalidade de
contactos, na sequência de laços familiares estabelecidos entre as cortes portuguesa e
flamenga.
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Os portugueses são os primeiros a estabelecer aí uma feitoria (1197-1200) transformando-a
no centro de difusão dos seus negócios.
Os mercadores portugueses aproveitam-se das políticas favoráveis aos mercadores em geral,
dos reis de França e de Inglaterra, bem como dos senhores poderosos da Flandres e da
Borgonha. A partir da Flandres (Bruges-Gand) estabelecem relações com todos os postos
costeiros do interior e também com a Hansa. Também aqui as relações familiares das casas
reinantes contribuíram para esse relacionamento. O circuito mercantil dos mares da
Dinamarca não era desconhecido dos portugueses.
As áreas de influência da Hansa abriram portas aos mercadores confirmando-se os contactos
com a Zelândia e Midelburgo e, também, Dantzig e Lubeck (Báltico).
A presença na Inglaterra também é precoce, devido não só a afinidades de origem política,
mas também ao entrosamento económico que já antes se verificara e que viria a culminar no
casamento entre o mestre de Aviz e Filipa de Lencastre, no Porto. De Portugal seguiam
principalmente vinhos e pescados e de Inglaterra recebíamos tecidos e lãs.
Estabelece-se um tratado formal de comércio entre Inglaterra (Eduardo III) e Portugal (Afonso
IV), no qual se incluíam garantias de segurança e a liberdade de pesca nas águas da Inglaterra
e da Bretanha.
Fica patente (em meados do séc. XIV) a pujança das comunidades marítimas,
com destaque para Lisboa e Porto, bem como a extensão geográfica dos seus
interesses marítimos.
A prática da pesca em áreas afastadas da costa e em mares adversos denota
aperfeiçoamentos técnicos introduzidos nas oficinas de construção naval.
Os relacionamentos e contactos vão aumentar durante o séc. XV à medida que
o comércio ultramarino português ganha vulto com os novos produtos
africanos.
Irradiação na Península
A facilidade dos contactos terrestres facilitaram a presença portuguesa em centros de
comércio hispânico.
Os contactos políticos mais assíduos também se fizeram com os estados peninsulares.
Daí havia de resultar até pela proximidade geográfica uma afinidade comercial de vulto.
As rotas marítimas continuam a marcar a primazia sobre as terrestres.
No Atlântico, havia contactos com dois pólos: o Cantábrico (biscaios e guipuscuanos) e o
Andaluz (Sevilha era o centro de irradiação mais importante para os portugueses naquelas
paragens).
Ao findar o séc. XIII é segura a referência a carreiras ou viagens esporádicas para a costa
marroquina e levante espanhol.
Os mercadores portugueses têm uma presença importante nos corredores marítimos mais
frequentados e uma posição por vezes bem sólida junto dos interpostos comerciais mais
importantes, estabelecendo a partir deles (caso da Flandres) ligações com áreas e
clientelas mais longínquas.
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Medidas de fomento. Das intervenções régias à ação coletiva das populações.
Este surto comercial e conquista de posições decorreu da convergência de ações
humanas que se completaram:
Ação direta dos monarcas:
o Concessão de privilégios;
o Fomento da instalação de povoados ribeirinhos (promoção da agricultura, atração
da população para o litoral);
o Recrutamento de técnicos;
o Atrair mercadores estrangeiros (Mediterrâneo e Norte) que traziam consigo
aperfeiçoamentos técnicos, informações geográficas, cientificas e capitais);
Bolsa de Socorros (D. Dinis): proteção da atividade aquando de eventuais infortúnios.
Arrendamento das baleações do reino (Afonso IV) como medida de apoio à pesca e
atividade mercantil e fomento da atividade pesqueira em toda a linha da costa. Funda
dois centros piscatórios (Peniche e Lisboa) e assegura a sua manutenção;
Leis de proteção às atividades marítimas: corte de madeiras nas matas reais sem
encargos; isenção de taxas e impostos sobre os géneros; redução para metade da dízima
nos direitos de entrada de panos e mercadorias; isenção de serviços e encargos militares
e também das talhas e sisas dos bens.
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As póvoas marítimas fazem parte dessa política de povoamento e de proteção às
atividades: pesca, sal, construção naval e comércio. D. Dinis teve aqui uma ação notável.
Destas ações resultou o fortalecimento de:
Uma frota de pesca e comércio;
Uma frota militar;
Consequências:
Aparecimento de uma marinhagem
Aparecimento de um corpo de mestres de naus e oficias de comando
Medidas de proteção, concessão de privilégios e isenções por parte dos monarcas (desde
D. Afonso I, com ênfase durante o reinado de D. Dinis e que distinguirão em particular o
século XIV).
A burguesia mercantil
§ Tudo isto criou um grupo social forte e homogéneo – burguesia mercantil – que está em
franca expansão.
§ Em meados do séc. XIV disputa o poder económico e projeção social às classes
nobiliárquicas.
§ Este crescimento atrai a Portugal comerciantes e mercadores, que se estabelecem no nosso
país obtendo privilégios dos monarcas.
§ Os mais importantes são os italianos, que com os seus banqueiros se estabelecem em
Lisboa.
§ D. João I criou um vantajosa posição de neutralidade criando no seu reino (com Ordenações)
uma área de paz e convívio para as relações comerciais.
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§ A classe mercantil está perfeitamente entrosada nos principais pólos económicos da Europa
nórdica e mediterrânica (com descidas para além da costa marroquina).
§ O Mediterrâneo constitui o grande eixo económico e com Pessanha (1317) ensaia-se o
domínio do estreito de Gibraltar procurando a segurança da costa algarvia.
§ Segundo Fernão Lopes esta classe abriu uma nova idade: a Sétima Idade, na qual se levantou
um outro mundo novo e nova geração de gentes: foram feitos cavaleiros.
A conjuntura europeia
§ A Europa desta altura está a braços com inúmeras dificuldades provocadas pela Peste
Negra e pela Guerra dos Cem Anos. O comércio e a agricultura encontram-se afetados.
§ Assiste-se ao despovoamento de muitas áreas e à deslocação das populações.
§ As explorações mineiras decaem drasticamente o que faz diminuir as trocas com os
produtos orientais. As regiões do ouro, eram nesta altura, os “impérios da orla mediterrânica”
que traziam esse metal precisos pelas rotas e pelas mãos dos muçulmanos, cristãos e judeus.
§ A falta de metais preciosos cria profundas sequelas sociais traduzidas em revoltas nos
campos e nas cidades.
§ Crescem as dificuldades de abastecimento e as carências de cereal.
§ Os centros portugueses encontram-se ligados a esta problemática económica de forma
indireta o que se traduz nos condicionalismos a nível interno, criando desta forma uma
amálgama de motivações e interesses de vária ordem:
§ De ordem ideológico-proselitística;
§ De ordem social, política e económica;
§ De ordem militar e estratégica
Ceuta
§ A concretização de todos estes objetivos concretizar-se-á na conquista e posse de Ceuta –
o primeiro passo da expansão marítima.
Porquê Ceuta?
§ Desde cedo que se sabia o que Ceuta significava e o que representavam os territórios
vizinhos. Fontes de cronistas e de pilotos e viajantes sustentam também esta afirmação.
§ Os mercadores marroquinos conhecem e têm acesso aos mercados auríferos afro-
sudaneses com os quais têm já relações organizadas.
§ Por volta de 1325 existe uma considerável rede de centros de captação de ouro, divulgados
na Carta de Dulcert (1339) e a indicação de caminhos de penetração como sucede no Atlas
Catalão (1375-80) ou no de Viladestes (1413)
§ Existiam duas rotas que atingiam Ceuta, trazendo ouro e especiarias.
§ Existiam outras também vindas do Oriente pela costa norte africana e uma série de vias
marítimas que convergiam em Ceuta, como porta do estreito de Gibraltar.
§ Ceuta era também uma região agrícola rica: cereais, plantas têxteis e industriais, açúcar,
gado e derivados, especiarias, pescados.
§ De juntar ainda o domínio das rotas comerciais e controle dos ninhos de pirataria e do corso.
§ A posse de domínios e novas fontes de rendimento para o exercício das armas, para além
da afirmação social e política acabou por se tornar vital para os interesses da nobreza em
primeiro lugar e, clero depois. A posse desta praça era vista como a satisfação para as suas
necessidades condizentes com o seu estatuto de modo de vida tradicionais. Ceuta era, pois,
a solução para graves problemas de ordem social, económica e até política.
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§ Militarmente, há muito que Castela reclamava direitos morais e históricos sobre a costa
marroquina, patentes com a conquista de Algeciras. Sevilha protagonizou esses interesses.
§ Do ponto de vista da estratégia político-militar, Ceuta era um objetivo a possuir
rapidamente.
§ O monarca conta com o apoio a nível interno dinamizado pela burguesia e também externo
– dos centros mercantis onde a burguesia nacional tinha criado a sua teia de relações e
interesses (Galiza, Biscaia, Inglaterra, Flandres e Alemanha) – criando um largo conjunto
homogéneo em torno do monarca e abrindo portas à expansão. Criando também, uma nova
era, uma Nova Idade.
Os antecedentes
Seja por alegadas razões históricas seja por estratégia militar (ir atacar o inimigo no seu
próprio campo) o projeto expansionista no Norte de África esboça-se nos reinos peninsulares
de Aragão, Castela e Portugal – aqueles que mais diretamente se confrontavam com a
ofensiva muçulmana.
As derradeiras expedições merinidas contra a P.I. terminam com a célebre batalha do
Salado (1340), com a derrota muçulmana.
Na sequência desta vitória, D. Afonso IV pede uma bula cruzada à Santa Sé. O papa
Bento XII concede-a (Gaudemus et exultamus), podendo a mesma ser utilizada com
objetivos defensivos ou ofensivos na luta contra os infiéis.
É portanto na Reconquista Cristã que, por sua vez, se insere no processo de dilatação
da Baixa Idade Média que se encontram os antecedentes da expansão portuguesa em
Marrocos.
Economicamente, Marrocos tinha uma grande produção agrícola, abundância de
peixe, extensas zonas de criação de gado, produção de mel e cera, de objetos em
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couro e em metal, de panos e roupas e de outros objetos para a captação do ouro.
Mas, o comércio trans-saariano dinamizava sobretudo a economia do país.
O início da expansão portuguesa coincide com a decadência da dinastia merinida
iniciada por Abou Youssef Yacoub.
Do ponto de vista socio-político, o poder dos merinidas ficou reduzido ao reino de Fez.
Mas o governo central fez com que este reino se desmembrasse em feudos
Senhoreados pelas famílias dominantes.
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Chegaram a um acordo, para não serem dizimados, comprometendo-se a devolver Ceuta,
deixando D. Fernando como garantia. Este acabou por morrer em cativeiro devido à oposição
da nobreza em entregar Ceuta. Durante a regência de D. Pedro assiste-se a um interregno da
expansão marroquina.
Com D. Afonso V dão-se importantes passos na ocupação territorial guerreira: Alcácer Ceguer
é conquistada em 1458 e Arzila em 1471. Tânger é tomada logo após. Os habitantes dos
aglomerados populacionais costeiros solicitam a proteção do monarca português face aos
ataques do corso castelhano (como Safim e Azamor).
O capitão era o mais alto funcionário de cada praça (autoridade e jurisdição nas atividades
económicas, judiciais ou militares) que em caso de impedimento era substituído pelo
contador. À feitoria cabiam funções de carácter económico (recolha de produtos, direitos e
impostos).
Abaixo do capitão estava o adail (chefia das operações militares) e o alcaide (responsável do
castelo). Um dos constantes problemas das praças era o abastecimento, vivendo
constantemente de atalaia (praticava-se uma guerra de surpresa e de ciladas) era de fora que
lhes chegava tudo.
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A atividade comercial portuguesa em África era afetada pela infiltração de mercadores
italiano, franceses e castelhanos que se dedicavam ao contrabando de armas, ao que se lhes
juntava o poder crescente dos Xerifes do Suz desejosos de pegar em armas contra o invasor
estrangeiro e fazer a «guerra santa» contra os portugueses.
No final do reinado de D. Manuel I assiste-se a uma estratégia defensiva na região
sudmarroquina (daí a fortificação de Aguz).
É neste contexto que se deve entender a política ultramarina de D. João III que pretendia
cercear a presença portuguesa em Marrocos limitando-se à praças com alguma importância
estratégica – Tânger e Ceuta.
Esta política é sugerida por D. Jaime o qual, apoiando-se na opinião de Vasco da Gama,
entende que se deve limitar o império pelo Oriente com exceção de Goa e Cochim e de
Azamor e Safim.
· D. João III faz uma consulta às individualidades do reino:
· Deve-se abandonar Safim e Azamor ou só uma delas?
· Em vez de abandoná-las, transformá-las em «fortalezas roqueiras»?
· Deve-se fazer guerra em África por Fez ou por Marrocos?
· Em 1532 pede oficialmente ao papa que autorize o abandono de Safim, Azamor e
Alcácer Ceguer.
A resposta do papa tarda e a nobreza opõe-se. Santa Cruz é conquistada (1541), Azamor,
Safim, Arzila e Alcácer Ceguer são despejadas pelo monarca. Só persiste Mazagão.
Alcácer Quibir viria a ser a última manifestação do expansionismo português em Marrocos
(1578 – D. Sebastião)
Conclusão
A expansão portuguesa no noroeste africano foi um malogro em termos de:
· Ocupação territorial e de aproveitamento económico da região, já que os portugueses
tiveram que lidar com a resposta muçulmana. No entanto, Marrocos funcionou como peça
estrutural e organizacional do espaço ultramarino português como:
· Mercado fornecedor de mercadorias de troca;
· Defesa e segurança do tráfico marítimo.
Esta ocupação coincidiu com a época áurea do monopólio do comércio real com o Oriente. O
seu abandono coincide com o declínio do segundo.
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Sub-etapa (1415-1434)
§ A vertente mais marcante é a manutenção da praça e a exploração geográfica
(principalmente entre as Canárias e o Cabo Não – o Cabo Bojador é ultrapassado em 1434) e
mercantil.
§ Estas sucessivas viagens implicam também afastamentos consideráveis da costa que vieram
a resultar na redescoberta da Madeira (1419) e dos Açores (1427) que passam a integrar este
quadro geo-estratégico (fonte de recursos e de apoio) que inclui também as Canárias e outras
ilhas a sul e a oeste.
§ A dobragem do Cabo Bojador permite o acesso aos mares do Sul, mas aspetos de política
interna e de ordem técnica obrigam a uma travagem das explorações.
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