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INTEGRAÇÃO
Área de integração
TEMA PROBLEMA 6.3 – AS ORGANIZAÇÕES DO TRABALHO
De facto, não.
Até à Revolução Industrial nem sequer existia o trabalho assalariado regulado por contrato, tal como o
conhecemos hoje.
Antes disso, trabalhar era considerada uma atividade desprezível, inferior e indigna, sendo
desempenhada apenas por quem estava nos estratos sociais inferiores – os escravos ou os servos. A
escravatura mais não é do que a apropriação gratuita do trabalho dos escravos por parte dos
esclavagistas. Muitas pessoas caiam na situação humilhante de escravatura principalmente por duas vias
– ou devido a aprisionamento em guerra ou por dívidas. A servidão é pouco melhor mas nesse caso não
há um direito de propriedade sobre o servo como acontece com o escravo.
A escravatura é uma constante na história da humanidade, existindo desde as primeiras civilizações,
chegando em algumas a ser mesmo a principal base da produção.
Vejamos o exemplo da civilização grega. Na
Grécia Antiga, por exemplo, no início do
florescimento desta civilização, (aproximadamente
séc. VI a.C.) o trabalho ainda era visto como fonte
de virtudes e a ociosidade ainda era punida por lei.
Porém, um pouco mais tarde, nomeadamente após o
séc. V a.C. a escravatura já era uma necessidade
vital da sociedade grega e a ociosidade era
considerada a “irmã da liberdade”, como afirmou
Aristóteles, pois só o ócio permitia ao Homem
dedicar-se à atividade suprema do ser humano – a
Filosofia. Aos escravos não eram reconhecidos
quaisquer direitos civis, políticos ou de qualquer
outra espécie, eram considerados uma propriedade Escravos no tempo do Império Romano
do respetivo dono que os podai vender ou trocar. As condições de vida eram muitas vezes miseráveis, o
tratamento dispensado aos escravos era desumano e humilhante pelo que não surpreende que as
revoltas de escravos ocorressem com alguma frequência. Na civilização romana a situação era idêntica
e o próprio direito romano não concedia aos escravos personalidade jurídica.
Imaginemo-nos numa situação de escravatura. Como encararíamos o nosso trabalho? Seríamos
trabalhadores interessados, motivados e produtivos?
Muito dificilmente por será muito difícil a um escravo gostar,
interessar-se ou motivar-se pelo trabalho pelo que, apesar
da gratuitidade do trabalho escravo, este revelava-se muito
pouco produtivo. Perante as exigências de uma produção
cada vez maior, foi sentida a necessidade de alterar a base
humana da produção, desta feita através de trabalhadores
mais interessados e motivados e a situação dos que
trabalhavam melhorou mas continuava muito longe de ser a
ideal.
Do outro lado, uma posição muito forte, a da entidade patronal que, para além do poder
económico, tem ainda a possibilidade de, com facilidade, trocar os seus trabalhadores, se
os que tiver se tornarem muito reivindicativos.
Mas, inspirados pelas teorias de Marx e Engels, os trabalhadores começam a organizar-se dando
origem a movimentos e partidos operários, bem como aos sindicatos que lutaram por um trabalho
reconhecido, justo e digno, ou seja, que reconheça e respeite os direitos humanos e permita conciliar o
trabalho com a vida familiar.
Os princípios em que se baseia o trabalho reconhecido, digno e justo são os seguintes, conforme
estabelece, grosso modo, a Constituição da República Portuguesa:
Ao trabalho deve corresponder um salário justo que permita levar uma vida digna em
família e em sociedade;
Mas, atualmente, achas que a escravatura está definitivamente abolida? E, não estando, quem são, na
tua opinião, as principais vítimas de escravatura?
De facto, se olharmos com um pouco mais de atenção para o mundo,
vemos que a escravatura ainda é, muito infelizmente, uma realidade.
Mas, servindo também para reforçar a proibição da escravatura, no
artigo 5º proíbem-se os tratamentos cruéis, desumanos ou degradantes
(que muitas vezes acompanham a escravatura).
Assim, e dada a sua condição humana, os trabalhadores estão
naturalmente abrangidos por esta norma, pelo que no seu trabalho,
todo o trabalhador tem direito a um tratamento condigno e que não
ofenda ou humilhe a sua condição humana.
Mais à frente, na DUDH, o artigo 20º permite a todos os seres humanos
a liberdade de reunião e associação pacíficas. Este artigo é muito
importante para os trabalhadores porque, deste modo, ninguém pode ser proibido de constituir um
sindicato ou qualquer outro tipo de organização de defesa dos trabalhadores (comissões de
trabalhadores por exemplo).
Também muito importantes para os trabalhadores são os artigos 23º e 24º
Artigo 23.º
1. Toda a pessoa tem direito ao trabalho, à livre escolha do trabalho, a condições
equitativas e satisfatórias de trabalho e à proteção contra o desemprego.
2. Todos têm direito, sem discriminação alguma, a salário igual por trabalho igual.
3. Quem trabalha tem direito a uma remuneração equitativa e satisfatória, que lhe permita
e à sua família uma existência conforme com a dignidade humana, e completada, se
possível, por todos os outros meios de proteção social.
4. Toda a pessoa tem o direito de fundar com outras pessoas sindicatos e de se filiar em
sindicatos para defesa dos seus interesses.
Artigo 24.º
Toda a pessoa tem direito ao repouso e aos lazeres e, especialmente, a uma limitação
razoável da duração do trabalho e a férias periódicas pagas.
Os atropelos constantes aos direitos dos trabalhadores que se verificaram nos séculos XIX e XX
impeliram a Igreja a intervir no sentido da melhoria das condições de vida e de trabalho dos operários.
A situação social era difícil e a Igreja achou que devia intervir.
Esta intervenção foi muito importante pois na altura a Igreja tinha muita força (e ainda hoje tem alguma)
na sociedade, formando, informando e influenciando a opinião pública. Aquilo que a Igreja diz, por
exemplo, sobre o trabalho e as condições dos trabalhadores influencia, e muito, a legislação laboral.
De facto, a ideia de uma sociedade justa defendida pela Igreja Católica tinha que passar,
necessariamente, por criar condições justas para os trabalhadores que ainda hoje constituem a larga
maioria da sociedade.
O absoluto respeito pela vida e pela dignidade da pessoa humana pois o Homem foi
feito por e à imagem de Deus;
A) As origens da OIT
Após a assinatura do tratado de paz que pôs fim à I Guerra Mundial (1914-1918), os países
vencedores decidiram criar, em 1919, um organismo internacional, a Sociedade das Nações, cuja
principal missão seria assegurar a paz.
No seio desta organização foram criados diversos organismos sectoriais especializados, com
responsabilidades em áreas bem delimitadas. Tal foi o caso da Organização Internacional do Trabalho,
em 1919, pois acreditava-se (e bem) que a paz no mundo só seria possível se houver justiça social. E só
há justiça social se o trabalho for reconhecido, justo e digno.
Contudo, o espoletar da II Guerra
Mundial em 1939 veio provar que a
Sociedade das Nações era um projeto
votado ao fracasso, acabando mesmo por
ser extinto em 1942, bem como todos os
organismos que lhe estavam afetos.
Sucedeu-lhe a Organização das Nações
A Organização das Nações Unidas e a sua sede, em Nova Iorque
Unidas (ONU) que, um pouco à imagem
do que já havia acontecido com a Sociedade das Nações criou uma série de organismos sectoriais
especializados como a UNICEF, a UNESCO, só para dar dois exemplos.
A ONU praticamente nada herdou da Sociedade das
Nações. De facto, o único organismo desta sociedade que
sobreviveu a esta mudança radical foi a Organização
Internacional do Trabalho (OIT, ou, em inglês, ILO -
International Labour Organization), o que dá uma ideia,
não apenas do seu sucesso, mas também da importância do
sector do trabalho para a paz mundial pois a exploração
dos trabalhadores poderia levar a revoltas sociais. Foi
através da Declaração de Filadélfia que a ONU reconhece
a OIT como agência especializada para as questões do
trabalho.
O objetivo da OIT desde o seu início era a proteção legal
dos trabalhadores. Esta necessidade teria que ser
coordenada a nível internacional para que nenhum país
ficasse numa posição competitiva vantajosa à custa dos direitos dos trabalhadores. Este ponto é tão
importante que, de certeza, te lembrarás de países que retirem vantagens competitivas à custa dos
direitos dos trabalhadores…
A justificação da criação da OIT e a importância dada à proteção legal dos trabalhadores tem também
muito a ver com o facto de os exércitos serem compostos na sua grande maioria por trabalhadores
recrutados.
A OIT é a única a nível mundial pois a sua organização é tripartida. Isto equivale a dizer que se
caracteriza por nela não terem assento apenas os Estados. Na realidade, as organizações dos
trabalhadores e das entidades patronais também a compõem (em pé de igualdade com os
trabalhadores), principalmente nos seus órgãos principais que são:
A Conferência Geral – composta por cerca de 180 países. Cada país tem uma
representação tripartida, ou seja, um representante do Estado, um representante dos
trabalhadores e um representante das entidades patronais. Este órgão constitui um fórum
para o debate a nível internacional sobre questões laborais, problemas sociais e decide
sobre a aprovação das normas internacionais do trabalho, definindo ainda as políticas
gerais da OIT;
Para além destes, ainda existem órgãos subsidiários que são basicamente departamentos, programas
ou gabinetes com funções técnico-científicas e que preenchem áreas de conhecimento em outros órgãos
da OIT.
Atualmente, a ação da OIT tem diversas vertentes:
Vertente promotora da aplicação das leis do trabalho – muitas vezes, as leis do trabalho
são aprovadas pelos Estados como consequência da ratificação por estes das convenções
internacionais do trabalho. Através desta vertente, a OIT tenta que são sejam, não apenas
aprovadas, mas também que essas leis sejam efetivamente aplicadas;
Relações externas.
Sendo o trabalho uma parte tão importante da vida dos portugueses é natural (nem podia ser de outra
forma) que a Constituição da República Portuguesa (o mais importante normativo da legislação
portuguesa) dê uma atenção especial aos direitos dos trabalhadores e às condições de trabalho.
E são vários os artigos da Constituição que estabelecem direitos, liberdades, garantias e condições para
um trabalho digno, reconhecido e justo. A título de exemplo, destacam-se os seguintes artigos:
Vimos nas unidades anteriores que existem uma série de organizações e documentos legais que visam o
reconhecimento do trabalho digno e justo.
Porém, antes de mais, interessa distinguir trabalho digno de trabalho justo pois são coisas diferentes.
O trabalho justo está mais relacionado com as condições jurídicas e legais em que o trabalho é
exercido. Ou, como a própria expressão diz, com a justiça da relação laboral.
Por seu turno, o trabalho digno está ligado às condições em que o trabalho é exercido, às
infraestruturas físicas do local de trabalho.
Chegamos, assim, à conclusão que o Direito do Trabalho procura, acima de tudo, assegurar que o
trabalho seja justo.
Por seu lado, cabe à Segurança e Saúde no Trabalho (SST) assegurar que o trabalho seja digno.
Assim:
Até à década de 80 do século XX, as atenções no mundo do trabalho iam quase exclusivamente para o
trabalho justo (condições salariais, de horários, férias, segurança social, etc…).
Só a partir dos anos 90 do mesmo século é que as organizações ligadas ao mundo do trabalho
começaram a dar mais atenção ao trabalho digno devido aos altos níveis de sinistralidade laboral. De
facto, verificavam-se à altura (e ainda hoje se verificam) muitos acidentes de trabalho dos quais, muitos
dos quais com vítimas mortais. Por exemplo, segundo a Autoridade para as Condições do Trabalho,
durante o ano de 2014 morreram 135 trabalhadores em consequência de acidentes de trabalho e no
ano de 2015 (até ao dia 23 de novembro) já tinham morrido 121. Em toda a união Europeia,
ocorreram, durante o ano de 2013, 3.674 acidentes de trabalho mortais. Ou seja, na União Europeia
há, em média, 10 acidentes de trabalho mortais por dia.
Alguns dos indicadores de que as preocupações com o trabalho digno estavam a aumentar foram:
A criação pelas próprias empresas de planos de SST que visavam reduzir o absentismo e
os custos com seguros de saúde e indemnizações, para além de melhorar a produtividade;
Com todas estas medidas pretendeu-se sensibilizar as sociedades portuguesa, europeias e mundiais
para as questões ligadas à SST, nomeadamente melhorando as condições físicas de trabalho.
1De notar, neste ponto que a saúde não é apenas a ausência de doença – é, segundo a Organização Mundial de Saúde, um bem-
estar físico, emocional e psicológico.
Contudo, as palavras saúde e segurança têm significados diferentes. Assim, também os seus objetivos
são diferentes:
E já que se diz que um dos objetivos da segurança no trabalho é evitar os acidentes de trabalho, pode-
se perguntar o que é um acidente de trabalho:
Utilizar matérias-primas e produtos que não apresentem riscos para a saúde e segurança
dos trabalhadores;
Ao trabalhador compete:
Comunicar à entidade patronal todas as avarias e deficiências que possam pôr em causa
a segurança, higiene e saúde no trabalho.