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FACULDADE DE AFONSO CLAUDIO -

FAAC
CENTRO DE ESTUDOS AVANÇADOS E EM PÓS-
GRADUAÇÃO E PESQUISA –
CESAP
Pós-graduação em Artes e Educação

AXEL BERGSTEDT

O COSTUME DE TOMAR BANHO


COMO EXPRESSÃO CULTURAL E
CORPORAL NA HISTÓRIA DA
CRISTANDADE

Cariacica
2013
AXEL BERGSTEDT

O COSTUME DE TOMAR BANHO COMO


EXPRESSÃO CULTURAL E CORPORAL NA
HISTÓRIA DA CRISTANDADE

Monografia apresentada ao
Centro de Estudos Avançados e
em Pós-Graduação e Pesquisa -
CESAP, como requisito parcial
para a conclusão do curso de
Pós-Graduação em Artes e
Educação orientado pela
professora MsC. Grece Teles
Tonini.

Cariacica
2013
RESUMO

A monografia teve como objetivo pesquisar sobre os


costumes do ser humano de tomar ou não tomar
banho. Objeto de consideração são os últimos dois
milênios, então desde o nascimento de Jesus e o
começo e auge do império romano até hoje. O enfoque
principal é o desenvolvimento da cultura europeia,
sobretudo da do chamado Mundo Ocidente, em
relação aos costumes, à higiene, à limpeza, à roupa, à
moda, às artes e os correntes de pensamento e
costumes que se referem a esse tema. Foram obtidas
informações, principalmente de livros, das áreas mais
variadas como a história geral, história da cultura,
história dos costumes, natação, teologia, arquitetura,
moda, artes, poesia e música, entre outros.
A pesquisa foi completada por uma visão breve nas
artes, não somente porque elas informam de sua
maneira mais livre sobre os costumes, mas
influenciam também a opinião e os conceitos da
sociedade.
No resultado se discerne claramente, que a história e o
desenvolvimento nessa área não são retos ou
constantes, mas percorrem uma curva que leva aos
extremos.

Palavras-chave: Banho, banheiro, limpeza corporal.


SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO 4
2 A CULTURA DO BANHO HUMANO NO INÍCIO DO PRIMEIRO MILÊNIO 6
2.1. A CULTURA DO BANHO NO IMPÉRIO ROMANO 6
2.2. A CULTURA DO BANHO FORA DO IMPÉRIO ROMANO 9
2.3. A CULTURA DO BANHO NAS ARTES DA ÉPOCA ROMANA 11
2.4. RESUMO 11
3 O BANHO NA ÉPOCA MEDIEVAL 13
3.1. O BANHO NA ARTE MEDIEVAL 15
3.2. O BANHO NA CASA MEDIEVAL 16
3.3. O BANHO NO ORIENTE SOB INFLUÊNCIA DO ISLÃ 18
3.4. A CASA DE BANHO PÚBLICO MEDIEVAL 20
3.5. A SITUAÇÃO NO FINAL DA ÉPOCA MEDIEVAL 23
4 A DECADÊNCIA DO BANHO DO SER HUMANO NO SÉCULO XVI 26
4.1. O BANHO NAS ARTES NOS SÉCULOS XVI E XVII 30
5 A RECUPERAÇÃO DIFÍCIL E LENTA DO COSTUME D TOMAR BANHO 32
5.1 A QUESTÃO DA ROUPA DE BANHO 36
5.2. BANHISTAS NAS ARTES A PARTIR DO ROCOCÓ 40
5.3. O BANHO E A HIGIENE PESSOAL NO SÉCULO XX 42
5.4. A VOLTA DO BANHO EM CASA 44
6 CONCLUSÃO 46
REFERENCIAS 49
1 INTRODUÇÃO

No século XIII hordas de tribos asiáticas assaltaram a


Europa. Depois de conquistas incríveis na Ásia
venceram os russos e conquistaram a Rússia,
submetendo a população a torturas, matanças e
estupros perversos em massa. Eram os mongóis, das
estepes vastos no norte da China, que com seus
cavalos pequenos e ágeis e uma tática cheia de
embustes venceram por cima de exércitos bem
maiores. Pouco depois invadiram a Polônia, e
finalmente venceram um exército de 140 mil cavaleiros
alemães e poloneses.

O terror e o medo deles causaram desespero, e as


meninas e mulheres violentadas foram angustiadas
pela brutalidade e a aparência diferentes, mas também
pelo cheiro terrível. Porque os mongóis, ao contrário
de suas vítimas, não tinham o costume de se lavarem.
Uma tortura adicional muito grande para as europeias,
acostumadas à limpeza e banhos.
Trezentos anos mais tarde os europeus descobriram a
América, e os conquistadores europeus assustaram as
moças indígenas da mesma maneira, com um fedor
rançoso e insuportável, porque ao contrário de suas
vítimas indígenas eles não tiveram o costume de se
lavarem. Como se explicam esses dois fatos históricos,
que se contradizem aparentemente? Será que os
costumes mudaram tão radicalmente em somente
trezentos anos? Quais foram as razões? Qual era
realmente a situação da limpeza e da higiene pessoais
na Europa?

Nessa monografia se mostra o desenvolvimento da


cultura do banho humano desde o ano zero até os dias
de hoje, com o enfoque principal à Europa. Essa
delimitação foi escolhida para se concentrar no
desenvolvimento constante de uma só cultura, a da
época cristã na Europa. Investigam-se as razões pelas
mudanças e suas reflexões na moda, arte e outras
áreas da cultura e sociedade humana. É objetivo
entender, que o desenvolvimento da cultura e da
sociedade humana não acontece em linha reta, mas
está cheia de recaídas, viravoltas e retrocessos.
Já que o assunto “banho” não é um setor próprio em
bibliotecas e também não possui muita literatura
específica, a pesquisa devia ser interdisciplinar.
Procurei, sobretudo nos setores natação, moda,
história geral, história de cultura, história de costumes,
psicologia e sociologia da Biblioteca Pública Central de
Hamburgo, Alemanha, e também em outras bibliotecas
públicas e particulares.

Foram pesquisadas palavras chaves “banho”,


“banheira”, “cultura de banho”, “termas” e outras,
também pelas palavras correspondentes em outras
línguas, principalmente no alemão, inglês, sueco,
francês, espanhol, italiano, russo e dinamarquês. A
língua alemã é rica em palavras compostas na área do
banho como Bader (o homem que dá o banho),
Bademagd (menina que dá o banho ou ajuda nisso),
Badehaus (casa do banho), Badeanzug (roupa de
banho), Badedirne (prostituta que serve dentro do
banheiro), Badeprostitution (prostituição em banheiros
e termas) e Badeverordnung (leis ou regras a respeito
do banho), entre outras, que possibilitam uma busca
específica.
Sendo a língua alemã uma língua com muitos artigos
científicos de boa qualidade*, uma pesquisa por essas
palavras-chaves traz bons resultados. Através de
dicionários, tradutores e comparação crítica com os
outros idiomas de um verbete português na Wikipédia
se acham às vezes também palavras específicas
correspondentes a essas palavras compostas em
outras línguas, principalmente em inglês e russo.
Muitas vezes, porém, as palavras correspondentes
oferecidas por tradutores ou pela Wikipédia são mais
gerais ou são substituídas por descrições de várias
palavras, o que não permite uma busca exata. Por isso
bons conhecimentos do alemão foram de grande ajuda
na pesquisa.
2 A CULTURA DO BANHO HUMANO NO INÍCIO DO
PRIMEIRO MILÊNIO

2.1. A CULTURA DO BANHO NO IMPÉRIO ROMANO

Quando Jesus nasceu por volta do ano zero e fundou


uma nova religião que iria mudar para sempre a
história, principalmente da Europa e dos países no Mar
Mediterrâneo, seu país, Israel, era somente uma
província do império romano, que abrangeu todos os
países ao redor do Mar Mediterrâneo, além de partes
da Alemanha, da Inglaterra e de regiões ao redor do
Mar Negro. A civilização era desenvolvida, e a vida
diária foi repleta de requintes finos e cada vez mais
aperfeiçoados. Entre eles o banho, a higiene e os
cuidados com o corpo humano tiveram um lugar
destacado, ao lado do esporte e do exercício do
espírito através das disciplinas da escola, a filosofia,
política, poesia e outras artes.

A cultura romana era influenciada em primeiro lugar


pelos gregos. A antiguidade helenista é conhecida
pelos grandes esforços para levar corpo e espírito à
sublimidade através de treinamento, ensinamento e
exercícios. O esporte era muito bem desenvolvido, e
os jovens masculinos se encontravam nos ginásios
para se compararem nas disciplinas do esporte,
incluindo lutas. Para agradar aos deuses com seus
corpos bonitos, os esportistas eram nus, e muitas
estátuas e imagens de artistas dessa época relatam a
grande valorização que os gregos tiveram à beleza do
corpo humano nu. Claro que tudo isso só é agradável,
se também a higiene e limpeza do corpo estão em
alta, porque o contato direto entre os esportistas exigia
tal cuidado. Σῶµα ἐστιν ἡµιν σῆµα (o corpo é o nosso
monumento memorial) era o lema da Antiguidade
grega, formulado pelo filósofo Platão (ARS Graeca,
1974, p.18). Desde a época minóica e do escritor
Homer se conhecem banheiras (BROCKHAUS, 1996,
p. 486s).

Uma cena-chave se encontra na Odisseia de Homer


(3, 465–467), quando Telêmaco, filho do herói Ulisses,
visita o grande rei Nestor. Conforme os costumes o rei
oferece um banho ao visitante, e para honrá-lo como
filho de um amigo e herói, ele não escala uma serva
ou escrava para atender ao jovem no banho, mas a
própria filha Policaste. Entre os deveres estavam lavar
e vestir o rapaz. Nessa intimidade a jovem se
apaixonou pelo visitante. Mais tarde nasceu-lhes um
filho chamado Perseptóle, e os cientistas discutem até
hoje, se ele era um fruto do banho ou se os pais se
casaram depois.

Pelos costumes dos povos antigos não surpreende,


que também muitas casas romanas tinham banheiros
(em latim: lavatrinas), muitas vezes com água quente e
fria. Mas com o crescimento da cidade a grande
maioria dos romanos não vivia mais em casas, mas
em apartamentos em prédios maiores, de vários
andares, sem banheiros. Para eles se construíram a
partir de cerca de 100 anos a.C. banheiros públicos ou
balneas, em latim balneae1, que cobravam ingressos e
tinham proprietários particulares. Já no ano 33 a.C. o
número deles na cidade Roma chegou a 170, e na
1
Balneae é uma forma feminina plural que, em nossa opinião,
deve ter surgida na língua informal, sendo a forma formal
balineum ou balneum, do grego βαλανεῖον (balaneion) por
„banheiro“, uma palavra neutra e não feminina, que teria o plural
balinea ou balnea. O povo usou a palavra no plural como se fosse
um singular, assim como se usa no português “calças”, e assim
parecia pelo sufixo “-a” uma palavra feminina singular. Por isso,
ao que parece, começaram a tratá-la como feminina, o que leva
segundo a declinação do feminino no latim ao plural “balneae”.
época dos imperadores alcançou o número incrível de
900 (DIE ZEIT, 2006, Vol.V, p. 227).

O abastecimento da cidade com água era uma das


obras famosas dos romanos. Desde cedo foi um ponto
muito importante, mas também vulnerável, das
cidades. O primeiro aqueduto, a Aqua Appia, foi
construída no ano 312 a.C. pelo censor Appius
Claudius Caecus e passou por grande parte por
arcadas, e por uns 20 km também subterrâneo. Na
época imperial eram 13 aquedutos com em tudo 500
km, e a fonte mais longe em Subiaco teve uma
distância de 100 km. Eles abasteciam a cidade com
700 mil litros de água por dia, mais ou menos 500 litros
por habitante e dia. Essa quantidade enorme que
lembra o que se gasta em cidades modernas, garantiu
também o funcionamento de termas e banhos
públicos. Em Pompeia e em parte também na Roma
os aquedutos constituíam-se de três tubos paralelas,
um em cima do outro. O mais alto abasteceu as casas,
que tinham um banheiro privado, a média as termas e
banhos públicos, e a terceira as bacias e fontes
públicos. Em tempos de escassez esgotava
primeiramente a água das poucas casas com
banheiros particulares, depois o abastecimento dos
banheiros e termas, e assim a água para as fontes e
bacias ficou garantida por mais tempo (DIE ZEIT,
Vol.V, p. 223s).

Banheiros ou até piscinas particulares eram raras, já


que existiam poucas casas e a grande maioria da
população vivia em apartamentos em prédios maiores.
Os imperadores e outros ricos e poderosos, porém,
possuíam banheiros e piscinas com todo o luxo.
Conhecido é o “Lago de luxúria” do imperador Tibério,
onde ele banhou e foi atendido por meninos nus, que
nadavam na piscina e foram chamados de “meus
peixinhos” pelo imperador. O caso entrou na história
para mostrar a decadência do imperador, mas se
aprende dele também, que era muito natural para um
imperador e para meninos tomarem banhos e nadarem
como “peixinhos” (FRISCHAUER, 1968, Vol.2, p.14,
também p.52).

As termas públicas cobravam um ingresso muito


barato, uma moeda pequena de cobre, assim que
também os mais pobres conseguiam o pagamento.
Muitas vezes o preço incluía o uso de óleos e outros
produtos para cuidar do corpo. Escravos, porém, eram
normalmente excluídos do uso das termas, mas são
conhecidos casos de ricos, que frequentavam as
termas acompanhados por escravos.2 Uma
documentação sobre as termas de Caracala (Termae
Antonianae) destaca, que elas estavam abertas
também para escravos (SOMMERFELD). Regras e leis
a respeito do banho dos escravos, das mulheres, de
banhos mistos etc. mudaram muito durante os séculos,
mas a vontade de frequentar as termas e balneas
continuava.

Os políticos descobriram as balneas como meio de


ganhar prestígio, assim como com outros edifícios
públicos, e no ano 33 d.C. Agrippa, companheiro fiel
do imperador Augustus, edificou o primeiro banho
público gratuito dos romanos, no Campo do Marte.
Tendo também água quente as balneas receberam o
nome termas, do grego θερµός (thermos) por “quente”,
que assumiu em latim a forma feminina plural
“thermae”. Elas viraram muito populares, e os
imperadores Nero, Tito, Trajano, Cómodo, Septímio

2
FRISCHAUER, 1968, Vol.2, p.54s. Veja também Abbott, 1911,
p.107ss.
Severo, Caracalla e Diocleciano construíram grandes
termas para a população (DIE ZEIT, p.228).

As balneas, termas, banhos públicos ou banheiros


públicos não eram somente um lugar para cuidar da
limpeza e higiene do corpo, mas muitas vezes também
da saúde, da ginástica, do esporte, da leitura, da
conversa e mais. Eram um lugar onde os vizinhos,
amigos ou determinadas camadas da sociedade se
encontravam. Por isso podiam conter vários cômodos
como apodyterium (vestiário), tepidarium (banhos
tépidosou mornos), praefurnium (local das fornalhas
que aqueciam a água e o ar), caldarium (banhos de
água quente), frigidarium (banhos de água fria),
sudatorium (lugar para suar, espécie de sauna),
biblioteca, auditório para palestras, salas para
repouso, leitura, massagens, ginástica, esporte e
prostituição (LEXIKON des Mittelalters, Vol.1, p.1331).

Cenas de banhos são frequentemente documentadas


na arte romana, sobretudo se acham mosaicos na
cidade Pompeia. Como se vê nos mosaicos os
banhistas romanos não eram nus como os gregos,
mas pelo menos as mulheres usaram uma espécie de
biquini. Um exemplo é o famoso mosaico de meninas
de biquini ("bikini girls" mosaic) de uma casa romana
perto de Piazza Armerina em Sicília. Ao outro lado
existem também relatos sobre mulheres, que tomavam
banhos nuas, a partir do fim do primeiro século
também juntas com os homens (FRISCHAUER, p.14,
também p.55).

2.2. A CULTURA DO BANHO FORA DO IMPÉRIO


ROMANO

Também os outros povos do mundo antigo eram


limpos quanto ao banho do corpo, embora que eles
não dispunham do esmero dos romanos. O escritor
romano Tácito admirou a educação das tribos
germânicas, que tomavam banhos nus nos rios, sem
separação dos sexos, mas decentes e sem excessos
sexuais como os romanos fariam, vendo pessoas
nuas. Também César relata que “os dois sexos tomam
banho juntos nos rios”.3

Já no Egito não era tão simples, porque o único rio, o


Nilo, não servia para tomar banho por motivos
religiosos e também pela presença de crocodilos. Mas,
como se sabe de inúmeras pinturas, os egípcios,
sobretudo os simples, vestiam poucas roupas, e as
escravas do faraó aparecem nos desenhos
completamente nuas, um costume que em outras
cortes africanas continuou até o século XIX. Imagina-
se, que outros ricos e poderosos copiavam esse
costume, que geralmente corresponde ao gosto do
patrão e de visitantes e amigos, e economiza muito
dinheiro. Mas o costume exige uma higiene apurada,
porque as escravas mexem com comidas, além de
servirem também com seus corpos ao dono ou aos
seus amigos. Por isso já convinha ao interesse dos

3
“Intra annum vero vicesimum feminae notitiam habuisse in
turpissimis habent rebus; cuius rei nulla est occultatio, quod et
promiscue in fluminibus perluuntur et pellibus aut parvis renonum
tegimentis utuntur magna corporis nuda.” (CAESAR. De Bello
gallico, VI, 21. (p.109)
Tradução nossa: "Ter conhecimento de uma mulher antes dos
vinte anos eles consideram entre os atos mais vergonhosos; nisso
não há ocultação, porque banham promiscuamente nos rios e
usam peles ou pequenos cortes de peles de veado que deixam
grande parte do corpo nu."
ricos e poderosos, que todos tomassem banhos e
cuidassem da higiene pessoal. Apesar da falta das
oportunidades muitos autores de livros de natação
destacam que muitos egípcios sabiam nadar (LEWIN,
p.8, entre outros).

Quanto ao povo de Israel, os judeus, consta da própria


Bíblia, que eles tomavam banhos, porque o banho é
obrigatório por lei do Antigo Testamento em várias
ocasiões, como por exemplo, Levítico 15.5ss.
Conhecidas são também as histórias do general sírio
Naamã em 2 Reis 5 que tomou banhos no rio Jordão
para se sarar de uma doença, da mulher formosa
Bate-Seba, que tomou banho e é observada pelo rei
Davi, que se assim apaixona por ela (2 Samuel 11) e
da mulher Susana que foi assaltada quando tomou um
banho no jardim, segundo os apócrifos do livro Daniel
na Bíblia (Daniel 13).

Por isso as pessoas, na época de Jesus, fizeram fila


com a maior naturalidade para receber o batismo no
rio Jordão por João Batista, como relata Lucas 3. Já
em Mateus 14.30 o pescador e apóstolo Pedro
ameaça sufocar na água depois da tentativa
fracassada de andar igual Jesus nas águas. Não se
sabe se ele realmente não sabia nadar, ou se teve
apenas medo de sufocar por causa das ondas altas
relatadas para esse dia.

2.3. A CULTURA DO BANHO NAS ARTES DA


ÉPOCA ROMANA

Nas artes acham-se muitas cenas que mostram que as


pessoas tinham intimidade com a água. Frequente são
cenas com deuses, ninfas e outros seres tomando
banhos. Encontram-se também desenhos e pinturas
mostrando nadadores em quase todas as culturas
antigas, o que mostra, que as pessoas, pelo menos
em parte, estavam habituadas com água. Também nas
lendas gregas e romanas os heróis sabem nadar.
Famoso é o naufrágio de Ulisses na Odisseia perto da
ilha dos feácios chamada Esqueria, onde ele
conseguiu salvar-se nadando apesar das ondas, da
tempestade e das fragas.
2.4. RESUMO

Em soma consta que a higiene pessoal e a limpeza


através de banhos regulares nos primeiros séculos
depois de Cristo eram muito grandes. As pessoas
cuidavam de seu corpo com esmero, como se cuida de
um cavalo bom ou de uma louça preciosa, sem
preconceitos, inibição ou tabus. Eles não tinham medo
do elemento água nem se assustaram com a própria
nudez. Os romanos, porém, vestiam, pelo menos em
parte, roupas nos banheiros públicos, sobretudo
quando mulheres e homens tomaram banho
misturados.

Essa situação continuou por quatro séculos. No século


V a população de Roma diminuiu e a população em
todo o império sofreu por causa de guerras difíceis e
prolongadas, inflação e outras revezes, e muitas
termas e balneas fecharam e começaram a
desmoronar aos poucos. De vez em quando, também
havia líderes cristãos, que incentivavam a tomar
poucos banhos ou banho nenhum em sinal de ascese.
Muitos anacoretas cristãos, eremitas que viviam a
partir do século III principalmente no leste do Império
Romano, proclamavam a abstinência total do banho
como parte da ascese. Os desejos do corpo deviam
ser suprimidos a favor dos do espírito. O grande pai da
igreja antiga Agostinho de Hipona, conhecido como
Santo Agostinho, em latim Augustinus, recomendou
para pessoas normais um banho por mês, para
doentes mais banhos seguindo a respectiva
recomendação do médico (LEXIKON des Mittelalters,
p.1331).
3 O BANHO NA ÉPOCA MEDIEVAL

Com a caída do império romano a alta cultura do


banho acabou ou sofreu uma diminuição considerável.
Só no leste, no império bizantino, continuaram os
costumes sofisticados. Os banhos antigos foram
conservados ou foram construídos novos. Mais tarde
também os reinos muçulmanos herdaram dos
bizantinos uma parte dos costumes a respeito do
banho. Onde era possível, as tribos germânicas
aproveitavam os banheiros assim como muitas outras
conquistas da civilização dos romanos. Os vândalos
conquistaram partes da África com a metrópole
Cartago e aprenderam segundo uma reportagem da
“2ª TV da Alemanha” a tomarem muitos banhos
quentes por dia.4

Os atores novos no palco da história e cultura europeia


eram, sobretudo, as tribos germânicas como os
francos, godos, alemães e mais. Eles tomavam já na

4
STURM über Europa - Folge 03 - Kampf um Rom.
Documentação do ZDF (“2ª televisora alemã”).
época dos romanos banhos nus nos rios. Da época
medieval existem relatos sobre sudatórios (uma
espécie de sauna) e da “stuba”. Embora que a palavra
“stuba” sobreviveu até hoje, por exemplo, no alemão
“Stube” (sala de estar) ou no dinamarquês “stue” com
o mesmo significado, a maioria dos cientistas acredita
que a “stuba” dos antigos germânicos era um cômodo
separado da casa para tomar banho. Realmente existe
também no alemão a palavra “Badestube” (“stuba” de
banho) para tais construções. Segundo BROCKHAUS
(p. 486) é um cômodo que pode ser aquecido ou um
banheiro.

Uma história famosa incluindo um banho é o assassino


da Amalasunta, filha e sucessora do Rei Teoderico, o
Grande, dos Ostrogodos, que regeu o reino deles na
Itália. Ela foi morta dentro do banheiro tomando um
banho, na primavera do ano 535. Entre outros a morte
dela entrou no romance histórico “Ein Kampf um Rom”
de Felix Dahn (p.230) e no filme “Kampf um Rom”.5
Essa rainha germânica foi influenciada pelos romanos,

5
DAHN, Felix. Ein Kampf um Rom. O título inglês é “Struggle for
Rome” ou “A Fight for Rome”, em italiano “Una battaglia per
Roma” e em português “A Luta por Roma”.
vivendo na Itália e conhecendo banheiros romanos
sofisticados, embora que a decadência da cultura de
banho nos romanos se acelerou, quando os
ostrogodos durante o assédio de Roma em 537
destruíram o sistema de aquedutos, que não foi
recuperado.

Mas também Carlos Magno (742 – 814), o primeiro


imperador germânico, era conhecido por tomar muitos
banhos e por ser um bom nadador. Ele condenou o
luxo dos bizantinos e muçulmanos e tomou os banhos
em banheiras de tanoaria, preferidamente do tamanho
de uma banheira moderna para ele pudesse tomar o
banho junto com uma mulher.6 O imperador Otto II
salvou a sua vida nadando de um navio no mar até a
praia, e de Frederico I Barbarossa se sabe, que
morreu de enfarte tomando um banho em um rio do
império bizantino (FISCHER-FABIAN, 1976, p. 52 e
106. Veja também ZAPPERT, 1858, p.3).

Também nas biografias de outros imperadores e reis


se lê muitas vezes, que eles tomavam banhos, assim
em banheiros como também em rios e lagos. Os
6
FRISCHAUER, 1968, Vol.2, pag.182s. Veja também Zappert,
1858, p.3
costumes viraram mais sofisticados com a chegada da
princesa Teofânia de Bizâncio, em 972, que virou
imperatriz do império romano-germânico, que fora
acostumada aos banheiros romanos, que sobreviviam
no império bizantino. Aos visitantes bizantinos a
Alemanha e outros países no norte pareciam sujos,
mas muitas vezes a impressão se reportava também
ao fato que as roupas do povo simples não tinham
cores, mas eram de uma cor natural entre cinzenta e
castanha, as ruas estavam cheias de lama, e as
mulheres quase não conheciam cosméticas
(FISCHER-FABIAN, 1976, p. 46).

Mais tarde, no século XIII, o imperador Frederico II von


Hohenstaufen escreveu um livro sobre a falcoaria, no
qual ele destaca a necessidade do falcoeiro de nadar,
e ele publica algumas dicas a respeito, que escreveu
com base em sua larga experiência com a falcoaria e
com ajuda de especialistas de vários países.7 A

7
FREDERICO II, 1194 – 1250, De arte venandi cum avibus
(Sobre a arte de caçar com aves). Séc. XIII. Algumas pâginas e
uma descrição se acham em FISCHER-FABIAN, S. Die
Deutschen Cäsaren. München: Droemer-Knaur, 1976, p. 120,
122, e 254 – 259. Uma versão inglesa com várias pâginas
originais é disponível em <http://www.amazon.com/Falconry-
Venandi-Avibus-Frederick-
Hohenstaufen/dp/0804703744¹²³£¢¬§₢1234567890>
natação pertencia normalmente às habilidades, que
um futuro cavaleiro tinha que aprender (ZAPPERT,
1858, p.6).

3.1. O BANHO NA ARTE MEDIEVAL

Na arte medieval antiga não se encontram muitas


cenas de banhos. A maioria dos artefatos foi feita para
igrejas. Existem, porém, algumas poucas miniaturas
em livros. Além do livro já citado de FREDERICO II¹
deve ser mencionado o “Codex Manesse” do século
XIV, que mostra o cavaleiro e menestrel Jacob von
Wart (ou Warte) tomando um banho em uma banheira
de tanoaria. Ele senta nu na água e estende a mão
para receber uma copa enorme de bebida, mas as
quatro mulheres e meninas, que atendem a ele, são
bem vestidas. Uma oferece o cálice, outra massageia
o braço do cavaleiro, outra joga flores nele e a quarta
executa o fole para o fogo esquentar uma panela
enorme com água (FRISCHAUER, 1968 p. 212s).
Essa constelação de uma ou mais moças dando o
banho para um cavaleiro ou visitante honrado se
encontra em várias lendas, como quando Isolde dá
banho ao Tristão.

Também uma moça nobre podia ser atendida por


rapazes. O cavaleiro Hans von Schweinichen conta,
que entre os serviços dele na adolescência como
pajem e escudeiro em um castelo estava o dever de
atender às virgens nobres, o que lhe causou
constrangimento, pelo menos nas primeiras vezes
(FRISCHAUER, 1968 p. 212s. Veja também
ZAPPERT, 1858, p.76)

Na literatura da península ibérica acha se a lenda da


Florinda la Cava, uma moça nobre que tomou banho
nua com suas donzelas, e foi nisso observada pelo rei
Rodrigo. Por vingança ela e seu pai chamaram os
muçulmanos e ajudaram-lhes conquistarem o reino
dos visigodos.8

8
Romance de Florinda da Cava. Uma versão dos conquistadores árabes é
disponível em
<http://paginasarabes.files.wordpress.com/2012/01/romance_de_florinda
_la_cava_a_a.gif?w=593>. Além da versão em que o rei somente
observa a moça existem outras, em que ele a engravida.
3.2. O BANHO NA CASA MEDIEVAL

Os teólogos cristãos continuavam, em parte, falando


contra o banho, principalmente por causa da nudez e
da mistura de homens e mulheres nos banhos.
Realmente, Tácito elogiara os germânicos, mas aos
poucos os costumes do banho viraram mais lascivos, e
principalmente por isso a igreja fazia críticas. O grande
missionário dos germânicos Bonifácio proibiu em 745 o
banho promiscuo para os cristãos.9 Mesmo assim um
dos primeiros banheiros grandes bem documentados
da época medieval é de um mosteiro: a Abadia de São
Galo (em alemão: Fürstabtei St. Gallen), que ficou na
área da tribo germânica dos alamanos, onde hoje fica
a Suiça. O plano detalhado do mosteiro, um
documento antigo raro e precioso é datado por volta
de 820 e mostra várias salas para o banho: Cômodos
com banheiras, banheiros para monges, para alunos,
para doentes e para servos do abade (LEXIKON des

9
O sínodo sob presidência dele definiu: “Ut viri cum mulieribus
balneum non celebrent.” Citado segundo Zappert, 1858, p.82.
Tradução nossa: Que homens não celebrem banhos com
mulheres.
Mittelalters, Vol. 1, 1999, p.1331 e BROCKHAUS,
1996, Vol. 2, p. 486)

Também o castelo Wartburg, Alemanha, conhecido


pelo reformador Martinho Lutero e outros eventos
históricos, possuía um banho representativo. Até hoje
os visitantes acham aí o “Ritterbad” (banheiro dos
cavaleiros), mas não se trata do original, mas de uma
imitação do século XIX. Existem vários outros relatos
sobre mosteiros com banheiros, e a frequência dos
banhos variava dependendo da ordem, região e
mosteiro entre duas vezes por semana e duas vezes
por ano. Também existia o costume de abster-se do
banho durante o jejum e a proibição do banho como
forma de castigo por pecados, em conjunto com jejum,
castidade e outras renúncias que deviam levar o
crente a uma reflexão mais profunda (ZAPPERT,
1858, p. 12 – 13)

A Lex Baiuvariorum do século VIII menciona o


„balnearius“ como cômodo separado da casa, assim
como pistoria e coquina (panificação e cozinha). Seria
recomendável tomar banhos no sábado, antes de
feriados e dias festivos, antes de tomar a eucaristia
(santa ceia) e antes da ordenação do cavaleiro
(BROCKHAUS, 1996, Vol. 2, p. 486).

Ao que parece a frequência dos banhos diminuiu, em


função das dificuldades maiores de tomar banhos. Não
existiam tantos banheiros como nos primeiros séculos,
e o costume antigo de tomar banhos nos rios, que
Tácito e César relataram das tribos germânicas, não
podia ser praticado pelo ano inteiro, devido ao frio. Na
maioria dos países europeus, no inverno, gelo cobre a
superfície dos lagos e rios e dificulta ou impede os
banhos. Talvez os germanos antigos, vivendo mais no
ar livre, estivessem mais acostumados com o frio e
tomassem banhos nos rios e lagos também nos meses
frios do ano. Porém, quanto mais os seres humanos se
acostumavam a viver em casas melhores, tanto maior
virou a aversão contra a ideia de tirar as roupas em um
dia frio e tomar um banho em águas geladas.

Por isso tentavam resolver a higiene dentro das casas,


construindo as “stubas”, mas certamente não todos
dispunham desse pequeno luxo, e o preparo do banho
não era fácil. Era necessário tirar a água com um
balde do poço, levá-la para o banheiro, fazer lenha,
acender um fogo no banheiro ou em outro lugar para
esquentar a água, e depois do banho tirar a água. Em
lugar da banheira servia uma bacia de madeira em
tanoaria, que não teve conforto, mas servia bem para
se limpar. A pessoa sentou com as pernas totalmente
encolhidas para caber. Assim se precisava de menos
água. Em lugar do sabão usavam-se cinzas. Todo o
trabalho do preparo do banho caía por cima da família,
porque não existia um exército de escravos e outros
funcionários para facilitar a vida, como na antiga
Roma. Já por isso era impensável tomar banho todos
os dias. Mais fácil era tomar um “banho” de sudatório,
como na sauna. O corpo suava e se limpava assim da
sujeira sem gastar muita água, e um banho frio no final
tirava o suor.

Já que era tão difícil esquentar grandes quantidades


de água, muitas vezes cada membro da família
recebeu só uma bacia com água quente, uma prática
que continua até hoje em muitos países. Viajantes que
frequentam hotéis simples na África ou outros lugares
recebem muitas vezes na manhã somente uma bacia
com água quente e tem que se virar com ela. Se o
abastecimento com água é fácil, pode, porém, receber
água fria em maiores quantidades. Nas famílias
simples, que geralmente não possuem água de
torneira em casa, várias pessoas usam a mesma
baciada de água. Se cada criança recebesse a sua
própria baciada, esquentada em fogo de lenha,
demoraria muito. Provavelmente os costumes nas
regiões rurais, onde vivia a grande maioria da
população medieval, não era muito diferente, mas as
fontes não falam sobre o dia-a-dia das pessoas
simples.

Já na cidade aos poucos começaram a construir


novamente casas de banho comunitárias. A cultura de
banho levou embalo pelos contatos com os
muçulmanos, que por sua vez copiavam e herdavam
os costumes do império bizantino, que eles
conquistavam aos poucos.

3.3. O BANHO NO ORIENTE SOB INFLUÊNCIA DO


ISLÃ
O profeta e fundador do Islã Maomé fez o seu primeiro
ataque militar em 623, e a partir dessa data os seus
adeptos expandiram em nome da religião e da guerra
santa sem parar, e já cem anos depois o Islã abrangeu
um território, que incluiu o antigo império persa, e
vastos territórios antes bizantinos.

Egito e muitas outras regiões desenvolvidas na época


do Bizâncio caíram nas mãos deles no século VIII, e
de lá eles conquistavam todo o norte da África, e
chegaram à península ibérica e à Sicília, influenciando
a cultura profundamente. O contato da Europa com o
Islã intensificou-se na época das cruzadas, quando os
cavaleiros, aventureiros e peregrinos europeus na
volta contavam das maravilhas dos países
muçulmanos, cuja cultura era em tudo mais
desenvolvida do que a na Europa ocidental e
setentrional.

Assim como a BÍBLIA e outros livros religiosos também


o Alcorão contém dicas sobre a limpeza e a higiene.
Na segunda sura do Alcorão, chamada “Al Baqarah”
ou “Al-Baqara”, na aya 222, se encontra a frase:
"Verdadeiramente, Deus ama aqueles que se voltam
para Ele em arrependimento e ama aqueles que se
purificam.” (ALCORÃO, Al Baqarah 2:222).

Além de se lavarem antes das cinco orações diárias, o


que é normalmente uma lavagem rápida e quase
cerimonial das partes mais acessíveis como os
antebraços, o muçulmano deve tomar banhos. Mas no
Islã a água parada não tem uma fama boa e é
considerada uma fonte de doenças. Por isso eles
mudaram os banheiros bizantinos e deram preferência
ao sudatório, um banho a vapor. Como outrora as
termas romanas os banheiros muçulmanos servem
também como encontro de amigos e vizinhos. O
“hamam” ou “amã”, também conhecido como “banho
turco”, é geralmente menor do que as termas romanas,
mas constitui-se também de vários cômodos para
água fria, morna e quente, massagem, repouso e
mais. O sistema antigo de calefação “hipocausto”
aquece o chão e os bancos. Mulheres e homens
tomam banho separados, e o banhista recebe uma
tanga, uma toalha ou outro pano para cobrir as partes
íntimas.
O banho turco inspirou sempre a fantasia de artistas, e
o maior pintor de odaliscas e mulheres tomando banho
no hamam é Jean-Auguste Dominique Ingres (1780 –
1867). O grande defensor do estilo neoclassicista
povoa o quadro famoso “Le bain turc” (“O banho
turco”) e outras pinturas semelhantes com muitas
mulheres nuas (WENTINCK, sem ano, p.186). Claro
que não se sabe sempre dos costumes de odaliscas,
que tomam banho dentro de um harém, mas quanto
aos banheiros públicos tem relatos de viajantes e
visitantes. O pregador Salomon Schweigger (1551-
1622) da Suébia, Alemanha, conta de uma visita no
hamam em seu itinerário do ano 1608 (p.118s), o
marechal-de-campo e chefe do exército prussiano, o
conde Helmuth Karl Bernhard von Moltke (p.14s) relata
em uma carta em 1835 sobre sua visita em um tal
banheiro público, e esposas de diplomatas europeus
escrevem ainda no início do século XX sobre suas
visitas em banhos turcos (FAROQHI, 1995, p.123), e
todos concordam, que as pessoas cobrem sua
intimidade diante as outras pessoas. Moltke, no
entanto, detalha como ele é lavado com um velo de
cabra por um funcionário do banho, e recebe também
uma massagem. Ele elogia “que nunca antes se
sentira tão limpo”.

3.4. A CASA DE BANHO PÚBLICO MEDIEVAL

As casas de banho nas cidades medievais viraram


populares a partir do século XII, sobretudo depois dos
relatos dos cavaleiros, que voltavam do oriente, onde
conheciam os banhos turcos. A maioria dos banhos na
Alemanha, Inglaterra, França e outros países era bem
mais simples e de madeira, mas também existem
exemplos de arquitetura mais significante. Existe uma
pintura de um banho medieval bem usada em muitos
livros, que tem sua origem no Factorum Dictorumque
Memorabilium de Valerius Maximus (Bibliothèque
nationale da França, Paris). Umas quinze pessoas
nuas sentam em uma banheira grande, e mais cinco
pessoas nuas andam fora dela. A banheira é dividida
por uma prancha longa, e nela se encontram comida e
bebidas. Quase todas as pessoas flertam, namoram e
formam pares, e alguns pares estão a se retirarem
para namorarem melhor. Em um caso a menina puxa o
rapaz para um cantinho fora do quadro, e em dois
casos o homem leva a mulher.10

Bem possível, que essa libertinagem não era sempre


tão grande, mas com certeza acontecia muito nas
casas de banho além da limpeza e da conversa social,
porque as reclamações da igreja e de outros
moralistas eram muito frequentes. A igreja exigia que
homens e mulheres tomassem banhos separados ou
que usassem roupas também durante o banho. Em
alguns casos conseguiram, que a prefeitura ou o
conde ou outro príncipe responsável prescreveu, que
as pessoas tivessem que entrar na água com uma
roupa leve, que só podia ser tirada dentro da banheira.
Essa regra, porém, não mudou muito os hábitos, e
muitas mulheres engravidavam depois do banho, em
que certos médicos viram uma prova pela influência
boa do banho à saúde.

10
Veja a imagem também em Paul FRISCHAUER: Knaurs
Sittengeschichte der Welt, 1968, Vol.2 “Von Rom bis zum
Rokoko”. Droemersche Verlagsanstalt, Zürich, pag. 221. Outra
pintura em pergaminho ao mesmo tema se acha na pâg. 227. No
internet se acha a pintura em
<http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Bathhouse-
Valerius_Maximus.gif>, acessado em 26. set. 2013.
Os médicos nessa época eram muitas vezes os donos
ou concessionários das casas do banho, chamados
em alemão de “Bader”, o que seria em português
“banhador”. Eles ajudavam na maneira já descrita dos
colegas dos banhos turcos ou romanos aos clientes na
limpeza. Mais tarde assumiram também outras tarefas
como pequenas cirurgias e o corte dos cabelos e
foram chamados barbeiros-cirurgiões. Em algumas
regiões eles eram organizados em guildas como os
pedreiros, marceneiros, ourives e todos os outros
artesões, mas em outras regiões não era assim porque
a profissão do “Bader” era considerado pouco
honesta.11 Muitas vezes o “Bader” recebeu o seu cargo
como um feudo do conde ou outro regente local como
seu suserano (BROCKHAUS, Vol.2, p. 486), e exerceu
a função do “Bader” junto com a do barbeiro como
barbeiro-cirurgião (ZAPPERT 109ss).

11
A avaliação da honestidade variava muito. Também as
prostitutas eram em certas regiões e épocas consideradas
honestas e organizadas em guildas, e em certas outras épocas a
prostituição nem era considerada profissão e as prostitutas eram
desprezadas e sem direito de formarem uma guilda. Em outras
ocasiões os tecelões ou outros artesões foram considerados
deshonestos.
Nesses casos eles estavam muitas vezes organizados
na guilda dos barbeiros. Como as outras guildas
tinham também deveres na defesa da cidade e mais, e
geralmente era o dever dos barbeiros com casa de
banho combater incêndios como bombeiros, já que
eles dispunham sempre de água. Segundo a ordem da
guilda um dono de casa de banho podia ter oficiantes
e aprendizes. Com o tempo as casas de banho
viravam maiores e o “Bader” precisava de ajudantes e
contratava pessoas, preferidamente meninas,
chamadas “Bademägde” (meninas de banho ou servas
de banho). Elas trabalhavam como o “Bader” com
pouca roupa, geralmente usavam um avental fino, mas
de trás estavam nuas. Era, porém, proibido contratar
prostitutas como meninas de banho (LEXIKON des
Mittelalters, 1999, Vol.1, p.1339). Sobretudo na
Inglaterra viraram verdadeiros prostíbulos, e por isso
os reis Henrique VI (1422 – 1471) e finalmente
Henrique VIII em 1546 fecharam as casas.

Na Alemanha a única peca de vestuário das meninas


de banho (“Bademägde), um pequeno avental,
chamou-se “badehre” (honra balneária) e foi usada
também, às vezes, pelos funcionários masculinos e
pelas meninas e mulheres que frequentavam os
banhos. Sobre os prazeres nas banheiras públicas e
casas de banho escreveu o secretário do papa Gian-
Francesco Poggio Bracciolino em uma carta
detalhada:

...Nichts aber kann reizender zu


sehen oder zu hören sein, als
wenn eben mannbare oder schon
in voller Blüte stehende
Jungfrauen, mit dem schönsten,
offensten Gesicht, an Gestalt und
Benehmen Göttinnen gleich, in
diese Instrumente singen, ihr
leichtes Gewand auf dem Wasser
schwimmt und jede eine andere
Venus ist. Dazu noch die naive
Gewohnheit, dieses Röckchen
hochzuheben und im Spiel
zugeworfene Gegenstände zu
fangen, so dass nicht selten auch
die geheimsten Schönheiten
enthüllt werden.12

E o medico Hippolytum Guarinonium escreveu ainda


no início do século XVII:

...Mägdelein von 10, 12, 14, 16


und 18 Jahren gantz entblößt,
unnd allein mit kurtzen leinen offt
schleußigen und zerrißnen
Badmantel, oder wie mans hier
zu Land nennt, mit einer Badehr
allein vornen bedeckt, unnd

12
TIMM, Werner, 2000, Vom Badehemd zum Bikini, Husum, p.7
Tradução nossa: “Nada pode ser mais encantador para ver ou
ouvir, do que se meninas púberes (literalmente: meninas recem-
casadoras) ou virgens já plenamente desenvolvidas, com um
rosto todo aberto e bonito, com feições e conduta igual a deusas,
cantam com os instrumentos; sua vestimenta leve boia na
superfície da água e cada uma é uma Venus. Ainda por cima o
costume ingênuo de levantar essa saínha para apanhar objetos
que são jogados para brincar. Assim não raras vezes se revelam
as belezas mais secretas.”
hinden umb den Rucken, Dieher
und Füßen offen, und die Hand
mit Gebühr in den Hintern
haltend, von ihrem Hauß auß,
uber die lang Gassen, bey miiten
tag, biß zum Bad laufen.13

Poder-se-ia ver uma analogia entre o costume de


meninas irem quase sem roupa para o banho com os

13
GUARINONIUM, Hippolytum. Art et Med. Doctorem, deß Königl.
Stiffts Hall im Ynthal: Die Grewel der Verwüstung menschlichen
Geschlechts…, Ingolstadt, 1610, citado segundo TIMM, 2000,
p.7s
A língua do texto é um alemão antigo, e a tradução do título é: Os
horrores da devastação do genero (ou sexo) humano
A tradução nossa do texto é: “Meninas de 10, 12, 14, 16 e 18
anos, todamente nuas, e apenas com linho curto (e) muitas vezes
roupão batido e rasgado, ou com uma “honra balneária”, como
falam nessa região, cobertas somente na frente, e atrás abertas
nas costas, na bunda e nos pés, e segurando a mão com
decência na frente das nâdegas, elas correm de sua casa pela
rua comprida, em plena luz do dia, até o banho.” O título e o texto
são em alemão antigo. O título significa: As abominações da
devastação do gênero humano. Em vez de “gênero” poder-se-ia
traduzir também com “sexo”, porque “Geschlecht” tem esses dois
principais significados.
Zappert (1858, p. 75) presume que uma das razões para as
pessoas virem quase sem roupa da casa para o banho é que
muitas vezes roupas guardadas dos banhistas foram furtadas.
costumes atuais de muitas moças no Rio de Janeiro e
em outros lugares, de saírem de casas e hotéis de
biquíni minúsculo, andando para a praia, às vezes
camuflando as partes traseiras com um pano leve,
mais ou menos transparente.

3.5. A SITUAÇÃO NO FINAL DA ÉPOCA MEDIEVAL

Das críticas frequentes pode-se concluir que as


pessoas tomavam banhos e que os banhos eram um
divertimento muitas vezes libidinoso. Pelo fato que
elas aparecem assiduamente, se conclui também, que
as críticas não conseguiam mudar os hábitos e por
isso se repetiam.

A ideia oriunda do islã sobre os perigos da água


parada para o corpo humano também não podia ser
propagada pela igreja cristã, porque nessa época em
muitas regiões prevalecia ainda o batismos por
imersão. No leste da Europa, onde depois do cisma da
igreja no ano 1054 os bispados separados se
organizavam como Igreja Ortodoxa, a imersão era e é
a prática comum, enquanto no ocidente a forma mais
corriqueira era o derramamento de água por cima da
cabeça da pessoa, sobretudo depois da bula
“Exsultate Deo” em 1439, que deixou claro que a água
não é o elemento decisivo e único no batismo. Na
reforma protestante a partir de 1517 o reformador
Martinho Lutero, porém, escreveu que a imersão deve
ser a forma preferida por causa de seu simbolismo
(LUTERO, Vol.2, p.383). Observa-se, no entanto, que
as igrejas luteranas atuais quase nunca praticam o
batismo por imersão, porque o hábito se perdeu em
muitas regiões logo depois da reforma por causa do
desenvolvimento geral da cultura do banho e da
utilização da água.

Quando o reformador Martinho Lutero colocou as


famosas 95 teses na porta da igreja do castelo de
Wittenberg, o imperador era Maximiliano I, chamado o
“último cavaleiro”, um apreciador do banho em
banheiras. Segundo uma lenda de Viena ele já
conseguiu ficar em pé na banheira no dia em que ele
nasceu. Ele viajava muito pelo império todo, também
em função das campanhas militares e se sabe dos
costumes balneários do soberano por causa do
cuidado especial dos anfitriões com seu hóspede
ilustre. Assim como 2500 anos antes praticou o velho
rei Nestor com Telêmaco, o filho de Ulisses, assim
fizeram os condes, barões, prefeitos e outros que
foram honrados com uma visita do imperador. Eles
escolheram uma moça bonita para ajudar ao
imperador no banho, preferidamente uma filha ou outra
parenta. Ao que se sabe, o imperador gerou mais de
60 filhos em banheiras com as moças que lhe
ajudavam na limpeza e higiene pessoal (PETZOLDT,
1993 p.40).

Pode se dizer que no início do século XVI, no início,


então, da reforma protestante e da chamada idade
moderna, o banho pessoal era ainda um costume
comum. Além de muitos banhos públicos cada vez
mais pessoas adquiriam o luxo de ter um banho em
casa, que pelo desgosto dos donos dos banhos
públicos foi muitas vezes também usado por amigos,
vizinhos e parentes (ZAPPERT, 1858, p.44ss). Não se
sabe muito bem da frequência, e provavelmente
dependia das circunstâncias como da facilidade de
poder realizar um banho e do frio ou calor da época do
ano, entre outras.

Mas de qualquer forma o banho era praticado, com


exceção de alguns monges que praticavam a regra de
tomar banho somente antes da Páscoa e do Natal, e
dos mongóis, que conquistaram no século XIII e XIV
vários países. Para eles era proibido, sob ameaça de
pena da morte, de tomar banhos nos lagos e rios para
não molestar os espíritos da água. Os cientistas de
hoje falam, que teria sido possível para eles levar água
para as barracas, em que viviam como nômades, e se
limpar com ela. Talvez, então, a abstinência dos
guerreiros mongois à água não era total, mas evidente
logo depois das batalhas, quando eles matavam
muitas vezes milhares de civilistas e arrebanhavam
centenas de moças para serem estupradas na festa da
vitória, o fedor de suor deles era insuportável e se
gravou na memória das vítimas sobreviventes. Outro
povo abstinente ao banho são os esquimós. Mas fora
essas exceções a regra geral era tomar banho, pelo
menos de vez em quando.
4 A DECADÊNCIA DO BANHO DO SER HUMANO A
PARTIR DO SÉCULO XVI

No final do século XV navios portugueses e espanhóis


“descobriram” a América e começaram com a
colonização. Poucos anos depois surgiu a doença
venérea sífilis, sobretudo nas regiões portuárias. Por
isso existe até hoje a teoria que os conquistadores
europeus herdaram a doença das índias que eles
estupraram (Veja, por exemplo, DTV-LEXIKON, 1995,
Vol.18, p.53). Contra essa teoria foram desenvolvidas
outras teorias, entre outras, que a sífilis já existia antes
e foi propagado em grande escala pelas tropas do rei
francês Carlos VIII na tentativa de conquistar partes da
Itália em 1494 e 1495. Por isso a doença recebeu o
apelido “maladie française“ (doença francesa, em
alemão: Franzosenkrankheit).

Com o surgimento desse mal novo, desconhecido e


fatal, a luta contra a libertinagem e a libido sexual em
geral levou novo embalo e dentro de um século ou
menos a opinião pública mudou radicalmente. A sífilis
foi interpretada como castigo de Deus pelo povo
pecaminoso, uma ilação que também algumas
pessoas tentaram no início da epidemia de AIDS, só
que as circunstâncias no final do século XX não eram
favoráveis para tal argumentação. No século XVI, no
entanto, a situação incerta e difícil facilitou o sucesso
de teorias, que dão respostas simplificadas e colocam
uma culpa geral ou desconhecida em um “bode
expiatório”. Como se observa em movimentos,
correntes políticos e modas, o povo tende sempre aos
extremos e ultrapassa de longe as ideias e críticas dos
que desenvolvem as teorias no início. Por isso os
mesmos povos, que antes tomavam banhos com tanto
prazer, divertimento, liberdade e libertinagem, vinham
considerando tudo que teve a ver com sexualidade e
nudez como mal e até obra do diabo.

O corpo feminino, antes endeusado, virou algo


diabólico, e as prefeituras fecharam em larga escala os
banhos públicos. Outro efeito, mais indireto, dessa
onda extrema eram as perseguições das bruxas, que
psicologicamente eram uma consequência da
supressão da sexualidade e da demonização das
mulheres. A teoria muçulmana, de que água parada
seria prejudicial para o corpo humano, se alastrou na
Europa e chegou ao extremo de considerar o contato
com água em geral perigoso. Temia-se que água e ar
passassem pelos poros da pele e prejudicassem os
órgãos (PRASCHL-BICHLER, 1995, p.75).

As pessoas não sabiam, se as doenças como sífilis,


peste e outras, que grassavam, fossem transmissíveis
pela água, mas pela dúvida evitavam em primeiro
lugar as casas de banho e os banhos junto com outras
pessoas. Mas já que nunca se sabia da qualidade da
água, iam evitando qualquer banho na água. Grandes
mudanças e os horrores de guerras e da peste
terrorizavam a população, culminando na guerra de 30
anos (1618 até 1648). Por trinta anos exércitos de um
ou outro lado e dos aliados percorreram o Sacro
Império Germânico-Romano, matando, torturando,
estuprando, queimando e saqueando, até que mais da
metade dos habitantes estava morta, muito mais do
que em guerras do século XX ou XXI, por mais cruéis
que elas fossem. De qualquer forma tivesse diminuído
um luxo como o dos banhos prazerosos, semelhante
ao recuo da cultura de banho no fim do império
romano, mas essa calamidade tão grande nutriu
também ideias muito mais esquisitas e substituiu a
sabedoria, as ciências e o raciocínio por crendices e
teorias inventadas. Fala-se que o nazismo cresceu na
Alemanha por causa dos problemas econômicos e
psicológicos depois da derrota na Primeira Guerra
Mundial; quanto mais então um sofrimento tanto maior
deve ter favorecido o surgimento de ideias sectárias e
absurdas.

Assim a luta contra o libido passou do controle da


igreja. Muitos teólogos, durante a história, tentavam
inibir e delimitar os desejos sexuais, a nudez e a
fornicação descontrolada. Teve também sempre
teólogos que viram a causa dessa libertinagem no
corpo da mulher. Mas no cristianismo até o século XVI
quase não obtiveram reações. Mas o que aconteceu
no decorrer dos séculos XVI e XVII foi uma
demonização do corpo feminino que causou uma
revolução. Toda nudez, sobretudo a feminina, foi
banida. O corpo da mulher e a mulher em si foram
considerados fracos na fé, dados a lascívia e fonte do
pecado em geral. A campanha levou ao fechamento
total das casas de banho em poucas décadas,14 e deu

14
Erasmo de Roterdão fala de vinte anos, e em Francoforte ao
Meno já em 1541 8 homens foram condenados a quatro semanas
início a uma perseguição em forma da caça às bruxas,
em quais também desejos reprimidos esvaziavam em
forma de perversões do lado dos caçadores,
torturadores e funcionários da justiça. Nesse clima de
terror, agravado pelas guerras cruéis e doenças como
a peste e a sífilis a aversão à nudez e a ideia de que
toda nudez, e principalmente a nudez feminina, são ou
levam ao pecado se enraizaram profundamente nas
mentes da população.

Outros fatos que favoreceram o relaxamento na


higiene pessoal eram escassez de madeira para
esquentar as banheiras enormes dos banhos públicos
(LEXIKON des Mittelalters, 1999, Vol.1, p.1331. Veja
também ZAPPERT, 1858, p.153) e a Pequena Idade
do Gelo de mais ou menos 1400 até 1800. Alguns
cientistas datam seu início com o século XVI. De
qualquer forma, o século XVI era o mais frio, o que
repercutiu de várias formas na história e na cultura. É
fácil imaginar como o frio acaba com a vontade de
tomar banho, ainda em combinação com o fato que a
população empobreceu e muitos perderam as suas

prisão por banharem nus no rio Reno. A seguir muitas cidades


proibiam os banhos oficialmente (ZAPPERT, 1858, p.4 e 5).
casas e o conforto de antes. Os índios do Brasil, por
exemplo, que tomam tantos banhos por dia, mudam
esses hábitos logo, quando eles são levados para
países frios, o que aconteceu já muitas vezes.

Uma razão é que o corpo no clima frio sua muito


menos e não precisa tanto dos banhos. Também o
mau cheiro não se desenvolve tão fácil. Outra razão é
que um banho em temperaturas frias, mesmo com
água quente, não era agradável por causa do frio do
ambiente, e as pessoas tinham que superar sua
própria aversão. Hoje em dia as casas nos países frios
possuem uma calefação que esquenta o ar na casa
nos meses frios. Mas antigamente os fornos eram
raros, e por isso a pessoa sofria pelo ar frio antes e
depois de entrar nua na banheira. Se não dispõe de
uma banheira e só tira água de uma bacia para jogar
por cima de si com uma concha ou com um pano,
sofre do frio o tempo todo.

Esse fato sozinho, porém, não é suficiente para


explicar o fenômeno, porque existiam países, que
sofriam o mesmo ou até mais frio e não abandonavam
seus costumes de tomarem banhos. Entre eles estão a
Escandinávia, Estônia, Letônia, Lituânia, Rússia e
outros países eslavos, que ficam mais na periferia da
Europa, e quase todos os países frios fora da Europa.
Viajantes na Rússia dessa época notam que até
fazendeiros simples possuíam “stubas” em forma de
banheiros separados da casa.15 Na literatura o
romance histórico “Xogum” (CLAVELL, 1975, p.10ss,
entre outras) tematiza as diferenças extremas a
respeito da higiene pessoal inspirado pela história de
europeus que chegavam por volta de 1600 com toda a
sua aversão contra banhos a um país extremamente
higiênico com banhos sofisticados como o Japão.

Os mesmos extremos se encontravam, quando


aventureiros, conquistadores, padres, monges e outros
europeus sem costume de limparem o corpo com água
entravam em contato com os índios da América, que
tomavam muitos banhos, sobretudo os que viviam em
regiões tropicais. Ainda por cima andavam nus,
enquanto os brancos vieram com roupas inadequadas
para o clima quente e úmido, o que fazia as pessoas
desacostumadas suarem muito, e suor preso em baixo

15
PRASCHL-BICHLER, 1995, p.76. O livro destaca que na
mesma época na Europa central e sul só se lavavam o rosto e as
mãos, e raras vezes também os pés.
de roupas pesadas começa a desenvolver um cheiro
forte. As roupas podem até apodrecer no próprio
corpo.

Também em relação aos povos muçulmanos, que


continuavam com seus banhos prescritos pelo Alcorão
e com a cultura de banho herdada em parte pelos
bizantinos, os europeus ocidentais se destacavam
nessa época claramente pela falta de limpeza corporal.

O banho foi substituído pela limpeza seca, em que o


corpo foi somente esfregado com panos secos.
Pessoas ricas e nobres usavam depois perfumes para
combater o cheiro do corpo. Talvez a abstinência da
água no campo não fosse tão rigorosa como nas
cidades e entre pessoas “cultas”, que “aprenderam”
mais sobre as novidades da medicina e os perigos da
água e estavam mais dentro das modas e costumes
atuais. Por isso se achavam no século XVI ainda
pessoas nas regiões rurais, que tomavam banhos em
rios ou lagoas. Pela mesma razão a abstinência total
do banho, que nas cidades e entre os nobres
aconteceu nos séculos XVII e XVIII prolongava se para
os campestres (PRASCHL-BICHLER, 1995, p.76 Veja
tb. ZEDLER, 1732 -56, Vol.3, p. 98s).

Muitos dos castelos e palácios nobres da época, que


até hoje muitas vezes impressionam seus visitantes,
têm de tudo. Nem sempre os visitantes se dão conta
que falta na maioria das vezes uma coisa outrora
importante: o banheiro. Os habitantes tiveram um
vestiário onde, ajudados por criados, amas,
camareiras ou aias, trocavam as roupas, esfregavam,
se muito, o corpo com panos secos, colocavam pós e
derramavam em si perfumes. Mas não tinham banheiro
com banheira ou lavatórios grandes. Vários palácios
antigos são hoje abertos ao público, e os visitantes
não acham banheiros antigos. Se muito se encontram
bacias pequenas nos vestiários. Os poucos banheiros
dessa época eram banhos no estilo esplêndido das
termas antigas, mas eles serviam mais para enfeitar e
muitas vezes tinham torneiras preciosas, mas faltava o
encanamento, assim que nem água saía.

Não todas as casas de banho fecharam. Sobretudo na


Inglaterra algumas casas continuavam com seu nome
“bagnio”, que é banho em italiano, mas não se
tomavam mais banhos. A única coisa que sobreviveu
além do nome era a prostituição, que foi antes só um
fato colateral e só presente em uma parte dos banhos,
balneas ou termas. Por isso certos prostíbulos têm até
hoje um nome, que lembra da antiga cultura do banho,
como no Brasil as Termas do Rio de Janeiro, a maior
zona de prostituição da cidade.

4.1. O BANHO NAS ARTES DOS SÉCULOS XVI E


XVII

Nas pinturas não se acham mais pessoas tomando


banho, a não serem entes mitológicos como ninfas, a
deusa Venus e pessoas de outras épocas. Do ano
1485 é a famosa “La nascita di Venere” (O nascimento
da Venus) de Sandro Botticelli, da galeria de Uffizi,
Itália, e François Clouet (1505/10 – 1572) criou “Le
bain de Diane” (Diana no banho), que se encontra no
Musée des Beaux Arts, Rouen.
No século XVI até o início do século XVII o tema da
Susana no banho virou muito popular nas artes. A
mulher bonita Susana foi assaltada em tentativa de
estupro por dois juízes velhos, quando tomou um
banho no jardim, segundo os apócrifos do livro Daniel
na Bíblia (Daniel 13). A história interessante e muito
discutida por teólogos e juristas comoveu também os
artistas, porque assim como acontece ainda hoje com
mulheres estupradas em países muçulmanos, Susana
é acusada de fornicação pelos dois infratores, que
testemunham contra ela. O profeta Daniel descobre as
mentiras deles e em lugar da Susana os dois juízes
são mortos, um caso raro e exemplar de justiça para
mulheres estupradas em países do oriente. O motivo
Susana no banho foi pintado por Lorenzo Lotto, em
1517, Albrecht Altdorfer (Susanna und die beiden
Alten, em português: Susana e os dois velhos), 1526,
Tintoretto (Jacopo Robusti), em 1560 (Museu da
história das artes, Viena), Jacopo da Ponte, 1571,
Alessandro Allori (1535 – 1607) (Susana e os velhos),
Paolo Veronese, por volta de 1580, Artemisia
Gentileschi, (Susana e os velhos), 1610, Anthonis van
Dyck, 1626, Rembrandt Harmensz van Rijn, cerca
de1634 e 1647, entre muitos outros.
Na música e poesia a ideia de que seres humanos
poderiam entrar em águas e até nadar neles,
continuava em pé, como mostra a canção “Es waren
zwei Königskinder”, que reporta a uma balada alemã,
popular nos séculos XV até XIX, em que um príncipe
tenta nadar por um lago ou rio. O tema da balada se
acha também no mito de Hero e Leandro e em suas
versões de Vergil, Ovid e outros escritores romanos.16

16
LINDNER, sem ano, p.157. O conteúdo do livro é também
disponível em partes em
<http://imslp.org/wiki/Deutsche_Weisen_(Various)> . Nele a
canção aparece com o título “Die Königskinder” e com o número
222.
O texto da canção é também disponível em
<http://de.wikipedia.org/wiki/Es_waren_zwei_K%C3%B6nigskinde
r>
5 A RECUPERAÇÃO DIFÍCIL E LENTA DO
COSTUME DE TOMAR BANHO

A reviravolta na história da cultura do banho tem sua


origem na época do Iluminismo na Inglaterra, por volta
de 1750, quando Richard Russell e outros médicos
ingleses descobriram o efeito benéfico da água e da
maresia do mar para doenças da pele e do pulmão
(RUSSELL, 1755, p.220ss, entre outras). Em muitos
países a cura de pessoas poderosas acelerou o
processo. Na Inglaterra foi o caso do príncipe da
Valisa, o posterior rei George IV, que visitou em 1782
o balneário Brighton, que fora fundado por Richard
Russell. Claro que ele e outros que tentaram o novo
método de cura eram céticos, mas eles seguiram o
exemplo bíblico do general Naamã, que por falta de
alternativas acabou aceitando os banhos receitados
pelo profeta Eliseu (2 Reis 5). Depois da cura dele o
povo perdeu o medo da água. Os balneários cresciam
e novos balneários foram fundados, entre eles
Hastings, Scarborough, Margate, Ramsgate e Bath.
O mesmo esquema se repetiu em outros países. Na
Alemanha foi o caso do Duque Friedrich-Franz I de
Mecklenburg-Schwerin, quem foi curado pelo seu
médico Samuel Gottlieb Vogel em 1793 na pequena
aldeia Bad Doberan no norte do estado Mecklenburg,
no Mar Báltico. Para realizar a cura o duque construiu
um casarão na beira da praia, e em pouco tempo Bad
Doberan virou um balneário chique, procurado pelos
nobres e a seguir também por turistas comuns
(BAEDEKER, 1998/III, p.648).

No Brasil não era diferente. Os imigrantes europeus


acreditavam que o contato com água seria prejudicial,
embora que ouviram ou até viram os índios tomarem
muitos banhos. A mudança começou somente com
uma doença do rei D.João VI do Portugal, que no
início do século XIX residiu no Rio do Janeiro por
causa da ocupação de Portugal por Napoleão. Para
curar de uma infecção causada supostamente por
mordida de pulga, a conselho médico, procurou as
águas do Caju, onde construiu um solar de nove
cômodos, que existe até hoje como "Casa de Banhos
de D.João VI".
Como o monarca era avesso ao contato com água, só
aceitou tomar o banho curativo da Praia do Caju se
fosse pendurado em uma espécie de tina ou banco,
que permitia que apenas suas pernas se molhassem.

A família real continuou propagadora da ideia com D.


Pedro I, que já até mandou construir um pavilhão para
atender aos banhistas em Botafogo, e a partir de 1850
os banhos de mar tornaram-se populares. Os locais
mais procurados eram as praias centrais do Rio, sendo
a do Boqueirão, de Santa Luzia, em frente ao Passeio
Público, a mais famosa. Para frequentarem a praia,
porém, os banhistas tinham um certo ritual a seguir. Os
cavalheiros eram obrigados pelo regulamento da
polícia a vestirem-se decentemente. O horário de
maior movimento era antes mesmo do amanhecer do
dia, pois às sete horas, com o sol já alto, as pessoas
de respeito não se atreviam a ficar expostas na areia e
só iam à praia com fins terapêuticos. Ao outro lado
achamos relatos sobre o príncipe Dom Pedro I
realizando banhos nus.17

17
“Andava o príncipe com roupas de algodão e chapéu de palha,
tomava banho nu na praia do Flamengo, ria, debochava e
zombava de quem quer que fosse. Comia com as mãos, e,
temendo ser considerada esnobe Leopoldina abandonou os
talheres que usava na Europa. Incomodada pela falta de limpeza
Com o tempo o banho virou também um divertimento
sem fins curativos. Já em 1787 o alemão Johann
Wilhelm von Archenholz escreveu em um itinerário
sobre a Inglaterra:

Das Seebaden ist jetzt in England


sehr Mode geworden, daher man
viele an der See gelegene Orte
dazu einrichtet und mit großen
Bequemlichkeiten versehen hat.
Es sind sogar im Meere, in
einiger Entfernung vom Ufer,
Häuschen auferbaut worden, die
bloß zum Baden dienen. Seit
wenigen Jahren werden diese
Plätze von der feinen Welt
erstaunlich gesucht. Die

geral no palácio, inclusive dos ·banheiros·, recebeu uma aula do


marido para cumprir suas necessidades · ao ar livre, no mato.
·Pedro não se incomoda com a sujeira, com o mau cheiro, com a
estreiteza de pensamento. Ele nem se percebe de que vive num
estábulo”, escreveu à irmã Maria Luísa. (KAISER, 1998 p.69).
vornehmsten derselben sind:
Brightelmstone, Margate,
Weymouth und Scarborough.18

Na Europa construíram-se balneários também nos rios


de água doce, embora o efeito curativo do sal neles
não conste. Mas toda a ideia do perigo da água para a
saúde humana se referia sempre mais à água parada.
Água em movimento foi até aceita pelos médicos. Por
isso os banhos em rios nunca terminaram
completamente na Europa, pelo contrário, já no século
XVII, quando a aversão ao banho já chegou ao auge,
fundaram-se balneários fluviais. Em 1761 teve no rio
Sena na França o primeiro navio balneário, à iniciativa
de Jean-Jacques Poitevin, funcionário oficial do rei da
França para banhos desse tipo. Foi constituído por
duas casas-barcos ou casas flotantes com em soma
18
PRIGNITZ, Horst: Wasserkur und Badelust. Koehler & Amelang,
1986, S. 107 Tradução nossa: „O banho no mar virou moda na
Inglaterra. Por isso se preparou muitos lugares situados no mar
para esse fim com muitas conveniências. Construíram até dentro
do mar, em certa distância da praia, casinhas que servem
exclusivamente para o banho. Há poucos anos esses lugares são
muito procurados por gente fina. Os mais nobres são
Brightelmstone, Margate, Weymouth e Scarborough.“
33 departamentos para tomar banho com água fria ou
quente, tomar ducha ou nadar entre os navios. Em
seguida fundaram-se outros balneários parecidos nos
rios europeus.

Outros lugares em que os banhos eram possíveis


foram os as estâncias hidrominerais, balneários com
fins curativos. Uma das principais razões para ficar por
umas semanas em tal balneário era a esterilidade de
uma mulher. Já que a vida nos balneários incluía
divertimentos e festas na noite, a paqueração estava
em alta, e muitas vezes mulheres, que durante de
muitos anos de casamento eram estéreis,
engravidaram nessas semanas, e o sucesso foi
atribuído ao efeito curativo do banho.19

19
Por isso o ditado popular alemão: Das Bad und die Kur war
allen gesund, denn schwanger ward Mutter und Tochter, Magd
und Hund. (O banho e a cura termal foram saudáveis para todos,
pois grávidas voltaram mãe e filha, empregada e cachorra.) Outro
provérbio do povo diz: “Für unfruchtbare Frauen ist das Bad das
Beste. Was das Wasser nicht tut, das tun die Gäste.“ (Para
mulheres estéris o banho é ótimo. O que a água não consegue
conseguem os visitantes.) (FRISCHAUER, 1968, Vol.2, p.261s)
Em alguns palácios dessa época encontram-se
banheiros de luxo. Já em 1570 ou poucos anos depois
os banqueiros poderosos da família Fugger
construíram no seu palácio em Augsburgo um
banheiro esplêndido que foi restaurado e reaberto em
2013.20

Em 1718 até 1722 foi construída o “Badenburg”


(Castelo balneário) em Nymphenburg no oeste de
Munique, Alemanha, que foi há séculos o primeiro
prédio europeu dedicado unicamente ao banho de
seres humanos, seguido pelo banheiro de mármore
em Kassel, Alemanha (BAEDEKER, p.552s).

Muitos desses banheiros de luxo eram, porém, pouco


usados. O principal objetivo era o agrado ao olho além
do divertimento e do recreio. Esses banheiros de luxo
foram construídos em uma época, em que o costume
de se lavar era quase erradicado. Alguns dos
banheiros luxuosos nem funcionavam, e das torneiras
douradas não saiu água. E a grande maioria dos
palácios nem possuíam banheiros.

20
Muitas fotos do banheiro se encontram no livro “Die
„Badstuben“ im Fuggerhaus zu Augsburg” (HAGEN, BERNT VON;
PURSCHE, JÜRGEN; WENDLER, EBERHARD, 2013).
Quando se tomava banho, a finalidade era sempre a
cura ou a medicina preventiva, ou então o
divertimento, e não a limpeza e higiene. Nesse
aspecto continuou a crendice de que a água parada
como em banheiras ou bacias de lavar seria prejudicial
para o corpo.

Outro impulso os povos europeus, sobretudo os


alemães e poloneses, receberam dos russos em forma
do banho russo, um sudatório (sauna) a vapor.
Quando Napoleão foi derrotado na Rússia e as tropas
russas perseguiam-no pela Polônia e Alemanha, que
eram nesta época estados satélites dele, os soldados
russos surpreenderam os anfitriões. Não achando
lugar para tomarem banhos construíam em pouco
tempo sudatórios improvisados. Já que os russos eram
saudáveis e fortes, o povo viu, que o banho não era
nocivo, e alguns começaram a imitar o costume. O
primeiro banho russo público em Berlim foi inaugurado
três anos depois, em 1818 (AALAND, 1998). Os
russos suavam nus, assim como é costume até hoje
em todos os países que tem uma tradição em banhos
sudatórios, como em todo o norte da Europa.
5.1 A QUESTÃO DA ROUPA DE BANHO

Desde o recomeço de banhos no mar e em rios, os


médicos alegavam que os banhistas devem tirar as
roupas e tomar um banho nu, para garantir o melhor
efeito para a saúde. Isso aconteceu também, inclusive
porque as pessoas não dispunham de roupas
adequadas. Cuecas, calcinhas e outras roupas de
baixo só foram usados a partir do início do século XIX.
Existem predecessores dessas roupas como as que a
rainha francesa Catarina de Médici trouxe da sua
cidade de origem Florença, mas foram pouco
conhecidos e usados. Por isso era necessário dividir a
praia. Um muro de madeira separou a seção
masculina da seção feminina, e em caricaturas dessa
época se acham pessoas, que olham por buracos e
fendas para o outro lado. A vedação continuou para o
mar adentro, mas mais longe da praia os nadadores
podiam se ver ou reunir sem problemas.
O Quaker Benjamin Beale21 inventou a carruagem de
banho, em inglês “bathing machine” (máquina de
banho), em alemão “Badekarre” ou “Badewagen”. Ele
é como um trailer primitivo, mas puxado por cavalos.
Na praia, na ausência deles, é movimentado pelos
banhistas para dentro do mar, preferidamente em
praias rasas e sem ondas grandes. As pessoas tiram
as roupas dentro da carruagem e deslizam nuas na
água, deixando a carruagem entre si e a praia para
não serem vistas quando ficarem nuas fora da água.
Também sobre tais cenas existem caricaturas, entre
outros de Thomas Rowlandson (do ano 1819) que
mostram pessoas armadas com lunetas em pontos
estratégicos (TIMM, 2000, p.16-18).

Assim virou logo moda, entrar com roupa na água.


Sobretudo as mulheres, que usavam nessa época
sempre vestidos longos, tiveram muitas dificuldades na
água com elas, e assim se escolhiam tecidos leves.
Logo descobriram uma vantagem do banho com
roupa. Depois do banho a roupa colava no corpo e
virou ás vezes até um pouco transparente, revelando

21
Segundo TIMM, 2000, p.16. Algumas outras fontes, sobretudo
no internet, citam outros nomes como inventores.
assim a beleza e as formas do corpo. A época no
início do século XIX não era mais hostil ao corpo
feminino; peste, guerras exterminadoras e a caça às
bruxas eram passado, e já o estilo dos nobres no
rococó destacou com exagero a cintura fina e os peitos
seminus das mulheres, e mostrou toda a forma do
busto, coberto só com tecido apertado. Assim as
mulheres podiam se mostrar melhor, deitar com
vestido fino e molhado da cadeira da praia, e algumas
apareciam ainda no jantar com vestidos úmidos.22

Parecia que a antiga naturalidade a respeito do corpo


nu e a lascívia voltariam logo. Mas as forças
reacionárias recebiam uma grande aliada na Rainha
Vitória da Inglaterra, ao lado do imperador alemão
Guilherme I, imperador José I da Áustria e outros

22
“Young women sported white muslin shifts to bathe in, which
became fetching transparent, when wet. This fashion was so
popular, that many kept their muslins wet for evening
entertainment, to the delight, no doubt, of their male companions.”
Tradução nossa: "As mulheres jovens ostentavam camadas de
musselina branca para se banharem, que se tornaram
atraentemente transparentes quando molhadas. Esta moda era
tão popular, que muitos mantiveram suas musselinas molhadas
para o entretenimento à noite, pelo deleite, sem dúvida, de seus
companheiros do sexo masculino.” (KENNEDY, Sarah. The
swimsuit. London: Cameron house, 2007, p.18.)
soberanos. Muitos, como Napoleão III da França, eram
conhecidos pela safadeza até virarem soberano e
fazerem leis coibidoras (FRISCHAUER, 1968, Vol.3,
p.149 – 158).23

Assim novamente o desenvolvimento, partindo da


Europa central e ocidental, levou um rumo contra toda
nudez, nem parcial, o que retardou o desenvolvimento
dos banhos em praias e protelou a volta da higiene e
do banho em casa como forma da limpeza do corpo.

A primeira medida era usar tecidos pretos no banho,


sobretudo para as mulheres. Eles não viram
transparentes e têm a sensação de revelarem menos a
escultura feminina. Mas o efeito não era o desejado, já
que a água fez os tecidos dos vestidos de banho
soltos boiarem na superfície, deixando todo o corpo
nu. Apesar de que o corpo fosse coberto da água não
era impossível para espectadores fora e dentro da
água verem muitos detalhes do corpo nu. Um jornal de
1856 escreveu em um artigo sobre Ramsgate na
Inglaterra:

23
Também as roupas viraram novamente mais fechadas, e bacia
e pernas da mulher foram trancadas em uma gaiola: a armação
estável que segurava as saias chamada crinolina.
Das Wasser war Schwarz von
Badenden, …Die Damen, die bei
relativ hoher See rücklings auf die
herankommenden Wogen
warteten, gerieten in ihrem
Badekostüm in einen sehr
„dégagée style“, wenn die Wogen
über die Badenden brachen und
dabei ihr Gewand bis hoch zum
Nacken hoben, so dass sie wie
ohne Badebekleidung wirkten -
und das in Gegenwart von
24
Tausenden von Zuschauern.

24
Tradução nossa: A água era preta por banhistas,... As damas,
que com o mar um tal movimentado esperavam pelas ondas nas
costas, deslizavam com seus costumes (fantasias) de banho em
um “estilo aberto”, quando as ondas arrebentavam por cima das
banhistas, levantando seus vestidos até o pescoço. Assim
pareciam sem roupa, e isso na presença de milhares de
espectadores.
Citado segundo Timm (2000, p.18).
O próximo passo era guarnecer o debrum dos vestidos
com chumbo pesado, que puxou os tecidos para baixo
(TIMM, 2000, p.19). A pressão pelos governos era tão
grande, que essas roupas pesadas e desconfortáveis
viraram uso geral, apesar de que os médicos não
cansavam de alertar sobre os perigos das roupas no
banho, que diminuiriam o efeito saudável do banho
(TIMM, 2000, p.42) e levavam não raramente à morte
por sufoco.25

Exceções eram muito raras. Um exemplo de oposição


à tendência geral era o balneário de nudismo em
Warnemünde, Alemanha, do ano 1833 (TIMM, 2000,
p.43).

Já que o peso do chumbo nas roupas era grande, os


costureiros e desenhistas de roupas lançavam a ideia
de prender a roupa no corpo e fechar as mangas e
calças rigidamente nos punhos e tornozelos, mais
tarde também nos joelhos. Mas para poderem vestir tal
25
“The modesty and decency laws of the day cost them dear and
women were known to drown in the simple act of trying to take a
swim.” (KENNEDY, Sarah. The swimsuit. London: Cameron
house, 2007, p.15). Tradução nossa: As leis de modéstia e
decência desses dias custou caro e se sabe de mulheres
sufocadas por causa do mero ato de nadar.
roupa, as mulheres tinham que passar por um tabu e
vestir uma calça, se bem que larga, em lugar da saia.
Mesmo assim a moda teve sucesso, e de longe as
mulheres pareciam grandes bebês desajeitados e com
fraldas grandes, porque o tecido se drapejou grosso ao
redor do meio do corpo, o que era também o efeito
desejado para esconder a parte mais íntima em baixo
de muitas camadas de roupa.

No início as mulheres tiveram a usar as calças


desajeitadas, sem forma e engordantes (em alemão
Pluderhose, inglês Knickerbockers) em baixo dos
vestidos de flanela. A saia caiu com o tempo, e as
roupas desajeitadas recebiam enfeites, mas
continuavam em todo o século XIX grossos e
impedindo muito no esporte e na natação (BURRI,
2012, p.249. Veja também BERGER, 2004, p.20s)
Durante o século XIX também a roupa de baixo virou
comum e foi agora bem vista pelos governos para
proteger e esconder ainda mais as partes das
mulheres. Não eram calcinhas curtas, mas calçolas
meio longas, mas nem de longe uma menina corajosa
podia pensar em usar tal roupa para tomar um banho.
Antes os homens usavam com o tempo roupa mais
apertada que lhes permitiu nadarem na água e deixou
os homens também na praia mais a vontade. Ideias
como fazer esporte, que surgiram na época, levavam
os homens a jogarem na praia e gostarem ainda mais
de roupas mais leves. Na segunda parte do século
eram de lã e colaram no corpo. Mulheres, que se
serviam dessas roupas masculinas para poderem
nadar ou fazer esporte, foram presas (BURRI, 2012,
p.251).

Somente nos Estados Unidos, outrora um berço do


puritanismo e da pudicícia, a roupa de banho feminina
podia ser uma pouca mais adequada, porque os EUA
estavam longe da influência dos soberanos europeus
com sua nova onda de restrições em relação à nudez,
banhos e outros costumes. Elas eram mais apertadas
e acompanhavam a forma do corpo. Para não revelar
mais do que isso os tecidos voltaram a serem pretos.
Balneários existiam em toda a costa atlântica de
Flórida até New Jersey.26

26
KENNEDY, 2007, p.14. Sobre as roupas de banho femininas
em Brighton do ano 1850 ela escreveu: “They were similar to
underwear, but beeing dark in colour prevented too many
anatomical details being revealed when wet.” Tradução nossa:
Elas eram parecidas com roupa de baixo, mas sendo escuras na
5.2. BANHISTAS NAS ARTES A PARTIR DO
ROCOCÓ

A fantasia dos pintores do rococó, neoclassicismo,


romantismo, impressionismo, expressionismo e outras
correntes dessas épocas mostra uma realidade bem
diferente. As paisagens lindas são povoadas por
banhistas nus, sobretudo meninas jovens e bem
brancas. O francês Jean-Honoré Fragonard (1732 –
1806) pinta “Les Baigneuses” (Os Banhistas) em 1756
(Louvre, Paris). A pintura mostra um grupo de jovens
despreocupados que banham em uma piscina de água
cercada por verde. O pretexto para a nudez comum
também em outras obras de Fragonard é propagar e
criticar a vida devassa da aristocracia francesa, uma
vida de lazer e entretenimento.

Outro pintor do início do século XIX é Jean-Auguste-


Dominique Ingres (1780 – 1867), conhecido pelas

cor preveniram que mais detalhes anatômicos do que devido


fossem reveladas no estado úmido.
muitas pinturas mostrando a vida no banho turco
feminina, instigadas por relatos da vida das odaliscas
muçulmanas, que pintou em 1808 a pintura “La
Grande baigneuse” (A banhista grande), mostrando
uma mulher nua de costas sentada em uma cama, e
por isso nem revela qual tipo de banho ele quer tomar
ou tomou. Pelo estilo se vê a influência de pintores
antigos como Ticiano, Holbein e Rafael Sanzio
(PLATTE, 1967, p.13ss).

Outra pintura famosa é “Las grandes bañistas” (As


grandes banhistas) de Auguste Renoir, pintada entre
1884 e 1887. Conserva-se no Museu de Arte de
Filadelfia (Estados Unidos).

Um grande pintor de tais cenas era também Paul


Cézanne. Entre as mais famosas com títulos como
“Baigneuses” ou “Les Grandes Baigneuses” (As
grandes banhistas). (DÜCHING, 1999, p. 138ss).

Também Cézanne pintou certamente não cenas


verdadeiras. Por isso a crítica de artes russa Evgenia
Georgievskaya escreveu a respeito de “Étude de
Baigneurs” (Museu Pushkin de arte fina, Moscóvia)
que mostra homens nus tomando um banho na
natureza: “He saw this motif as the most suitable for
realizing his dream of a monumental composition that
would convey his conception of the world.”27 Ele não
copiou a realidade, mas a sua concepção do mundo.

Várias cenas de banho com moças bem brancas e


nuas encontram-se na obra de Gustave Courbet (1819
- 1877), Felix Valloton pintou em 1892 “Das Bad an
einem Sommerabend” (O banho em uma noite de
verão), e Pierre-Auguste Renoir pintou em 1887 “Lês
grandes baigneuses” (Philadelphia Museum of Art,
Philadelphia, EUA).

As meninas de Taiti de Paul Gauguin (1848 – 1903)


são inspiradas pelas odaliscas de Ingres, mas ele se
entusiasmou pela vida e sexualidade livre no Taiti e
outras ilhas na Oceania e pinta as meninas marrons de
lá (WENTINCK, sem ano, p.213).

27
IMPRESSIONISTS and Post-Impressionists in Soviet Museums.
Leningrado: Aurora Art Publishers, 1986, p.198 e tabula (plate)
61. Tradução nossa: "Ele viu esse tema como o mais adequado
para a realização de seu sonho de uma composição monumental
que iria transmitir a sua concepção do mundo."
Max Liebermann (1847 – 1935) pintou “Badende
Knaben am Strand” (Três rapazes banhistas na praia),
1904, Basileia, Coleção Pública (“Öffentliche
Kunstsammlung”), “Knaben am Strand” 1898, Nova
Pinacoteca, Munique, e outras pinturas, rascunhos e
desenhos com rapazes nus e vestidos em praias.
Segundo ele foram estudos feitos nas Montanhas
Negras (Schwarzwald) e no balneário Kösen na
Alemanha, mas possivelmente os rapazes não
estavam nus na realidade (BRAUNER, 1986, Capítulo
(“tábula”) 17).

Henri Matisse pintou três banhistas nuas com barcos à


vela no fundo em 1907, provavelmente também uma
cena que existia somente na fantasia do artista, assim
como décadas mais tarde os homens nus tomando
banho em praias alemães em pinturas de Edvard
Munch ou o “Gläserner Tag” (Dia de vidro) de Erich
Heckel.

Mesmo sendo longe da realidade europeia, os pintores


mantinham a ideia de banhos nus em meio da
natureza e de uma sexualidade saudável nas obras
deles, e assim ela também não desaparece da
imaginação das pessoas, que contemplam a arte.
Assim eles contribuíram para que a sociedade
desenvolvesse o desejo de largar as roupas grossas e
leis, que impediram a liberdade e as atividades mais
esportivas e saudáveis.

Já na ópera um compositor famoso e reconhecido


como Richard Wagner conseguiu nos anos 70 do
século XIX, em pleno auge do puritanismo, que as
Filhas do Rio Reno (“Donzelas do Reno”, em alemão
“Rheintöchter”) na ópera Rheingold nadassem e
brincassem nuas nas ondas fluviais, assim como
verdadeiras ninfas e sereias.28

5.3. O BANHO E A HIGIENE PESSOAL NO SÉCULO


XX

A rainha Vitória morreu em 1901, e com a vinda do


século XX a moda muda aos poucos. Os movimentos

28
WAGNER, Richard. Das Rheingold. Klavierauszug. Leipzig,
Breitkopf & Härtel, sem ano. Cena 1, p.9 – 70
“Wandervogel” na Alemanha e o escotismo na
Inglaterra e outros grupos chamaram pela volta à
natureza (BURRI, p.249). Luz, ar e sol foram os lemas
para os balneários, sobretudo depois da Primeira
Guerra Mundial. Mulheres reclamaram pelos seus
direitos depois de terem substituído os homens na
produção, quando eles serviam como soldados nos
anos da guerra, e alcançaram o sufrágio.
Primeiramente na França e depois em outros países
começou também a mudança da roupa de banho; a
partir de 1920 apareceu a roupa de banho em uma
peça, um tipo de maiô.29

A partir desse momento o desenvolvimento era fácil e


reto, embora que nunca faltavam críticas
conservadoras contra a arte de “apresentar-se com
roupas como nu(a)” (SCHIDROWITZ, 1926, p.218,
citado segundo JUNKER e STILLE, 1988, p.290). No

29
“The 1920s craze for the beach was more about sun-worship
and display than health,…resulted in bathing suits that were more
streamlined, lighter and revealed more flesh.”
Tradução: “A mania de 1920 para a praia era mais pela adoração
do sol e exibição do que pela saúde, ... resultou em trajes de
banho que eram mais ágeis, mais leves e revalaram mais carne.”
STEVENSON, N.J. the chronology of fashion. London: A&C Black,
2011 p.93.
Veja também KENNEDY, 2007, p.15.
início os maiôs e sungas de banho acompanharam
ainda as coxas, mas passo a passo viraram mais
curtos. Já nos anos 30 aparecem proibições contra o
uso da “sunga triangular”, em alemão chamado
“Dreikantbadehose”, que corresponde à forma
moderna e mais tarde foi liberada (BURRI, p.255). O
desenvolvimento da roupa de banho masculina chegou
com essa forma ao fim. Já as mulheres passavam por
mais uma revolução, a reinvenção do biquíni por Louis
Réard, que virou moda nos anos 1950 em St. Tropez
na Costa Azul, França.30

O banho no mar recebeu o aval real na Inglaterra,


quando a própria rainha Elisabeth II nos primeiros
anos de seu reinado entrou no mar. Ela, porém, não
mostrou pele real, mas foi completamente vestida e
circundada por cortesãs (KENNEDY, 2007, p.16).

Demorou três décadas para o biquini conquistar o


mundo. Nesse meio tempo as entradas das pernas e
dos braços do maiô viraram já cada vez mais cavadas,

30
“It was here that in 1947 the bikini was unveiled, named after the
atoll, where the first nuclear testing took place.” (STEVENSON,
2011, p.162).
Tradução nossa: "Foi aqui, em 1947, que o biquíni foi revelado,
em homenagem ao atol, onde o primeiro teste nuclear ocorreu."
e finalmente desapareceram no biquíni os lados,
substituídos só por fios. A modelo francesa Brigitte
Bardot fez o biquíni popular em Búzios, perto do Rio
de Janeiro, e de lá conquistou aos poucos também o
Brasil. No Brasil e certos outros países, sobretudo do
Caribe, diminuiu ou desapareceu também a parte de
trás, e já em 1974 meninas cariocas inventaram o fio
dental, que é chamado em alemão e muitas outras
línguas pela origem brasileira de “tanga” e em inglês
também “G-String” (TIMM, 2000, p.122).

Com essa diminuição do biquíni o desenvolvimento


chegou a um fim. Sobretudo em países como o Brasil,
que dispõe de biquínis muito pequenos, nunca se
pensou em tirar o sutiã como em muitos lugares da
Europa nos anos 80 e 90. Também ninguém se
desveste na América na praia para trocar as roupas,
como é comum em muitas partes da Europa, embora
que a América ao outro lado opta por biquínis maiores.
No norte da Europa o nudismo virou também muito
popular nos anos 70 e 80, e se misturou nas praias
vastas do norte naturalmente, tendo banhistas nus ao
lado de banhistas vestidos. Esse fenômeno, ao seu
auge, alastrou-se às metrópoles e fotos mostrando
pessoas nuas deitadas em gramados de parques
municipais apareciam em jornais do mundo inteiro.

Pela globalização e a adaptação aos costumes


americanos propalados em filmes esse
desenvolvimento diminui a partir dos anos 90. Outra
razão é a maior sensibilidade pelos perigos da
pornografia infantil e dos sites de pornografia na
internet, já que muitas fotos de menores e de outros
nudistas aparecem na rede mundial, evidentemente
sem permissão e muitas vezes sem conhecimento das
pessoas. Ao outro lado se encontra em alguns países
na América o fenômeno que as moças andam com
seus biquínis minúsculos, que as deixam quase nuas,
nas ruas dos bairros perto das praias, surtindo
lembranças da época medieval (compare p.24). Nos
anos 80 o biquíni fio dental e as nádegas nuas das
moças viraram um símbolo forte da propaganda em
alguns países como o Brasil, para aliciar turistas e
investidores, e nunca faltavam nas revistas e
informativos das agências de viagens para o Brasil.

5.4. A VOLTA DO BANHO EM CASA


Com o fim do puritanismo e do pudor exagerado, o
acesso mais natural ao corpo e o costume de tomar
banhos em rios, lagos e mares, era natural que voltou
também aos poucos o desejo de lavar e limpar o corpo
em casa por água. Os muitos operários da nova
industrialização moravam em prédios sem banheiros,
com vasos higiênicos nos corredores, comuns para
várias famílias, mas eles voltavam sujos do trabalho
duro. Já que as banheiras antigas não existiam mais,
as pessoas lavavam o corpo com bacia de água com
ajuda de um pano. Até a segunda guerra mundial era
ainda comum, lavar somente a face e os braços ou a
nuca, mas poupar justamente as partes íntimas. Uma
razão era que os apartamentos eram pequenos e as
famílias grandes, e se o pai ou a mãe se lavava na
cozinha ou no quarto, outras pessoas estavam
presentes e assim eles ficavam com vergonha.

Em primeiro momento os governos municipais


resolveram abrir novamente banhos públicos.
Liverpool, na Inglaterra, recebeu seu primeiro banho
público em 1842, Hamburgo e Berlim, na Alemanha,
em 1850 (BROCKHAUS, 1996, Vol. 2, p. 487). Aos
poucos se venderam também banheiras ou bacias
grandes, agora muitas vezes de zinco, para tomar pelo
menos um banho no sábado. Depois da Segunda
Guerra muitas casas foram construídas com torneiras
para água quente, e assim ficou muito mais fácil
encher a banheira. Uma banheira cheia de água custa
caro, e por isso servia muitas vezes para todos os
familiares tomarem banho, um depois do outro, ou as
crianças menores juntas.

O banho ficou mais fácil ainda com as duchas. A


ducha (do italiano doccia ou do frances douche) já
existia desde sempre, porque existem duchas naturais,
onde água cai de rochas, e podem também ser
improvisadas sem muito trabalho. A novidade era o
uso delas em casas. Um passo intermediário era a
introdução da ducha para a limpeza em massa em
quartéis e prisões no fim do século XIX. De lá eles se
espalharam em escolas, albergues e nos anos 70 as
duchas conquistaram as casas particulares. Com a
crise do petróleo a partir de 1973 o preço dele subiu
pela escassez, e a banheira, que gasta muita água
quente, foi substituída mais e mais pela ducha.
A geração, que cresceu com a banheira, continuou
ainda por muito tempo com o costume de se lavar no
lavatório ou numa pia simples e tomar o banho inteiro
só uma ou algumas vezes por semana. Mas a
conscientização melhor contribuiu para que muitos
lavassem seu corpo inteiro. Na intimidade dos
banheiros das casas modernas, que muitas vezes
possuem dois ou mais banheiros, ficavam mais a
vontade. Além da banheira, ducha e lavatório algumas
casas, sobretudo na França, dispõem de um bidê para
a lavagem das partes inferiores, sobretudo das partes
íntimas das mulheres. As gerações, no entanto, que
crescem com duchas, se acostumam a tomar ducha no
mínimo uma vez por dia, sendo a ducha mais prática e
rápida do que outras maneiras de limpeza.
6 CONCLUSÃO

No mundo atual muitas pessoas têm a percepção de


que o desenvolvimento da raça humana é constante e
direcionado para frente, para o melhor e para o mais
perfeito. Essa concepção resulta principalmente do
fato de que a maioria das pessoas não conhece a
história inteira e tira conclusões da visão limitada aos
últimos séculos ou às vezes só décadas, e contempla
principalmente o desenvolvimento técnico como o dos
celulares, computadores, carros, armas etc. Também
nesses setores existem viravoltas, como, por exemplo,
na construção civil, onde no último século foram
construídos muitas vezes prédios de péssima
qualidade, que nem ficam 50 anos em pé, enquanto
catedrais de mil anos idade se erigem até hoje, às
vezes sem necessidade nem de reformas, mas as
pessoas desconhecem ou reprimem esses fatos que
contrariam a expectativa geral. Em muitas áreas, como
nas ciências, o desenvolvimento leva para sempre
mais descobertas. Assim um livro botânico atual deve
ser mais exato e correto do que um livro antigo, porque
o cientista atual dispõe do conhecimento dos livros
antigos e ajunta novas descobertas. Mas quanto ao
desenvolvimento individual das pessoas consta que o
conhecimento das matérias hoje em dia muitas vezes
é bem inferior ao de certas outras épocas, mas isso
também não está na consciência das pessoas. Antes
são vulgares os recordes no esporte, onde nas
competições internacionais os atletas alcançam cada
vez marcas mais avançadas.

A história da higiene e do banho, nos dois milênios


cristãos no “Christliche Abendland”, o Mundo Ocidental
Cristão, é um exemplo contrário. Desde o primeiro
século antes do Cristo os romanos começaram a
resolver o problema, começando com nada a não
serem os rios e lagos naturais. Desenvolveram um
sistema sofisticado e quase perfeito para o banho e a
higiene corporal. Depois de muitos abalos o sistema,
em forma mais primitiva, sobreviveu no Sacro Império
Romano-germânico, na França, Inglaterra e em muitos
outros países, mas ele sucumbiu completamente nos
séculos XVI até XVIII, quando a situação era pior do
que na Roma antes de Cristo e da invenção das
balneas e termas. Aos poucos se recuperou, e
novamente a ideia de ter higiene e limpeza pessoal
através de banhos voltou. Demorou até os dias atuais.
Quem nasce hoje em dia, pode dizer que finalmente
goza do mesmo nível de higiene corporal como os
antigos romanos na época imperial, mas existem ainda
muitas pessoas velhas, que na infância ainda se
acostumaram a uma higiene mais superficial e até hoje
não mudaram completamente seus hábitos. Ao outro
lado existem também pessoas, que chegam ao limite
lavando seu corpo com tanta frequência e com sabões
modernos e fortes, que os médicos começam a alertar
sobre o excesso de banhos e sabão e seus perigos
para a pele.

Quase a mesma curva, que passa pelos extremos,


acompanha a história dos costumes e da sexualidade,
que reflete fortemente na história do banho.

A história do banho é um bom exemplo para ensinar


modéstia aos contemporâneos de hoje, sabendo que
muito do conforto, realizações e conquistas de hoje já
existiam em formas parecidas, mas de jeito nenhum
não menos sofisticadas, em outras épocas.
A história do banho ensina também como ideias
oriundas de uma ciência como a teologia podem ser
ensinadas por séculos sem causarem efeitos, mas sob
certas circunstâncias são de repente aceitas e
defendidas pelo povo, e isso com muito fervor. Assim
eles desenvolvem uma dinâmica própria, levam a
exageros e podem criar situações constrangidas e até
de violência e perseguição pela vontade e pressão do
povo.

Em toda essa monografia os relatos sobre os


costumes de nobres e até de reis e imperadores levam
o assunto para frente, sendo as vidas deles de longe
melhor documentadas do que a vida do povo simples.
Por isso não podemos excluir, que a história dos
comuns não chegou sempre aos mesmos extremos.
Não teria sido possível, que um fazendeiro em uma
vila ou aldeia longe das cidades ou na solidão dos
seus campos tomou um banho em um córrego ou lago,
apesar das proibições pelas leis municipais? Talvez
nem todas as pinturas cheias de pessoas nuas
tomando banho na natureza durante os séculos XVI
até XIX fossem mera fantasia dos artistas. Não se
sabe, mas mesmo o conhecimento de tais exceções
não mudaria o andamento da corrente principal da
história, que sempre leva em conta mais os centros de
pensamento e cultura como as cidades e antigamente
também as cortes.
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Schöningh, sem ano.

CLAVELL, James. Xogum. São Paulo: Nova Cultural,


1986.

31
Algumas referências da monografia se referem a partes que
foram adicionadas à Bíblia mais tarde. Nas Bíblias evangélicas
elas faltam geralmente ou encontram-se no apêndice como livros
apócrifos (“escondidos”), e também os judeus não os
reconhecem. Nas Bíblias católicas e ortodoxas se encontram
incluídos na sequência, mas são considerados deuterocanônicos.
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& Härtel e Verlag Tradition Wilhelm Kolk, Berlim, sem
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Anotação: O escritor aparece dessa forma no livro e
em TIMM, 2000, que o cita. O nome oficial, no
nominativo do latim, é Guarinonius, Hippolytus. Na
internet o livro aparece com este nome de autor,
disponível em
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