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Do conhecimento sociológico à teoria

das representações sociais*


ERLANDO DA SILVA RÊSES**

Resumo: Este artigo apresenta uma discussão em torno do conceito de representação ou


representações na teoria sociológica clássica e contemporânea e, em seguida, apresenta as
bases epistemológicas da teoria das representações sociais. O objetivo é destacar as diferentes
concepções nas duas áreas do conhecimento – sociologia e psicologia social – e ressaltar
que o conceito de representações sociais de Serge Moscovici teve suas origens no conceito
de representações coletivas de Durkheim.
Palavras-chave: epistemologia; representações coletivas; representações sociais.

As representações na teoria sociológica integrada a várias tendências da Sociologia


clássica e contemporânea (Moscovici apud Jodelet, 2001).
Num sentido diferente, Weber faz das
O psicólogo social Serge Moscovici, ao representações um quadro de referências e um
tentar recuperar historicamente o conceito de vetor da ação dos indivíduos, ou seja, a repre-
representações sociais, afirma que este passou sentação seria um saber comum, que tem o poder
por diferentes fases, sendo que os estudiosos de antecipar e de prescrever o comportamento
da primeira fase estavam mais preocupados com dos indivíduos e de programá-lo (Moscovici apud
o caráter coletivo das representações do que Jodelet, 2001).
propriamente com seu conteúdo ou sua dinâ- Para Weber, a vida social – que consiste
mica. Na primeira fase destacam-se: Simmel, na conduta cotidiana dos indivíduos – é carre-
Weber e Durkheim. gada de significação cultural. Essa significação
Simmel percebe que as idéias ou represen- cultural é dada tanto pela base material como
tações são uma espécie de operador que permite pelas idéias, dentro de uma relação adequada,
ações recíprocas entre os indivíduos para formar em que ambas se condicionam mutuamente.
a unidade superior, que é a instituição (partido Segundo ele, as idéias são juízos de valor que os
político, Igreja etc.). Portanto, elas objetivam indivíduos dotados de vontade possuem. Na obra
passar de um nível molecular para um molar. A ética protestante e o espírito do capita-
Esta concepção das representações postas no lismo, ele analisa a história do avanço do capi-
centro do comportamento e das instituições está talismo no mundo ocidental e demonstra que as
idéias de trabalho como virtude máxima e voca-
* Este artigo é parte da dissertação de mestrado do autor –
ção do homem, prosperidade como bênção
E com a palavra os alunos: estudo das representações divina, lucro como fator legítimo das relações
sociais dos alunos da rede pública do Distrito Federal econômicas contribuíram para fazer avançar o
sobre a sociologia no ensino médio (Brasília: Universidade
de Brasília, 2004). capitalismo, tanto quanto ou mais do que a
** Mestre e doutorando em Sociologia pela Universidade de “acumulação primitiva”. Na conclusão dessa
Brasília. obra Weber (1985, p.132) afirma:

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Aqui se tratou do fato e da direção em apenas a manifestação da consciência se faz por meio
um, se bem que importante ponto de seus da linguagem e realiza um paralelo entre as duas
motivos. Seria importante investigar mais e entre as representações e o real invertido,
adiante a maneira pela qual a ascese protestante mostrando como as idéias estão comprometidas
foi por sua vez influenciada em seu desenvol- com as condições de classe (Minayo apud
vimento e caráter pela totalidade das condições
Guareschi e Jovchelovith, 1995).
sociais, especialmente pelas econômicas. Isto
porque, se bem que o homem moderno seja
Na obra A ideologia alemã, Marx desen-
incapaz de avaliar o significado de quanto as volve a teoria da consciência definindo-a como
idéias religiosas influenciaram a cultura e os o ser consciente. Em sua concepção, a cons-
caracteres nacionais, não se pode pensar em ciência não é separável do ser humano que a
substituir uma interpretação materialista desenvolve, e este não é um indivíduo isolado,
unilateral por uma igualmente bitolada interpre- mas um ser social. Por conseguinte, as repre-
tação causal da cultura e da história. sentações que os indivíduos elaboram são
representações sobre suas relações com os
Weber chama a atenção para a importância outros indivíduos ou com o meio ambiente. Ele
de se pesquisar as idéias como parte da realidade expressa essa idéia da seguinte forma:
social e para a necessidade de se compreender
a que instâncias do social determinado fato deve As representações que estes indivíduos
sua maior dependência. Porém, a base de seu elaboram são representações a respeito de sua
raciocínio é de que, em qualquer caso, a ação relação com a natureza, ou sobre suas mútuas
humana é significativa, e assim deve ser relações, ou a respeito de sua própria natureza.
investigada, e que cada sociedade para se manter É evidente que, em todos estes casos, estas
necessita ter “concepções de mundo” abrangen- representações são a expressão consciente –
tes e unitárias (o modo de encarar o tempo, o real ou ilusória – de suas verdadeiras relações
e atividades, de sua produção, de seu inter-
trabalho, a divisão do trabalho, a riqueza, o sexo,
câmbio, de sua organização política e social. A
os papéis sociais etc.) que, em geral, são elabo-
suposição oposta é apenas possível quando
radas pelos grupos dominantes (Minayo apud
se pressupõe fora do espírito de indivíduos
Guareschi e Jovchelovith, 1995). reais, materialmente condicionados, um outro
Já Durkheim partia do princípio de que a espírito à parte. Se a expressão consciente das
ciência, para estudar as representações, tinha relações reais deste indivíduo é ilusória, se em
de reconhecer a diferença entre o individual e o suas representações põem a realidade de cabe-
coletivo. Isso porque, para ele, o substrato da ça para baixo, isto é conseqüência de seu modo
representação individual era a consciência de atividade material limitado e das suas rela-
própria de cada um, sendo, portanto, subjetiva, ções sociais limitadas que daí resultaram. (Marx
flutuante e perigosa à ordem social. Por outro e Engels, 1991, p 36)
lado, o substrato da representação coletiva era
a sociedade em sua totalidade e, por isso, seria No método dialético, Marx distingue a
impessoal e ao mesmo tempo permanente, representação do objeto do seu conceito. A
garantindo, assim, a ligação necessária entre os representação situa-se no nível do senso comum,
indivíduos e, conseqüentemente, a harmonia da do mito, das formas ideologizadas do pensa-
sociedade. mento. O nível do conceito situa-se num nível
Para Marx, as representações estão vin- mais elevado de abstração: a ciência, a filosofia
culadas à prática social. Junto com Durkheim, etc. Contudo, representação e conceito são
ele mostra a anterioridade da vida social em momentos interdependentes no conhecimento
relação às representações. Mas, enquanto para dialético, pois este vai do imediato ao mediato,
Durkheim a sociedade é a “síntese das cons- da aparência à essência do objeto.
ciências”, para Marx a consciência emana das A diferença do pensamento de Marx para
relações sociais contraditórias entre as classes o de Weber é que aquele faz o recorte de classe
e pode ser captada empiricamente como produto em contraposição ao termo geral e inespecífico
da base material, nos “indivíduos determinados, de “sociedade” usado por Weber. Marx se
sob condições determinadas”. Ele sustenta que aproxima dele quando diz que:

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A nova classe dominante é obrigada, para como formas sociais de expressão, reconhe-
alcançar os fins a que se propõe, a apresentar cimento e explicação do mundo. As represen-
seus interesses como sendo obrigada a empres- tações coletivas afiguram-se, portanto, como
tar a suas idéias a forma de universalidade e fatos sociais,1 não sendo falsas ou verdadeiras,
apresentá-las como sendo as únicas racionais, corretas ou incorretas. Elas são a forma como
as únicas universalmente válidas. (Minayo
a coletividade humana, em cada tempo e em
apud Guareschi e Jovchelovith, 1995, p. 74)
cada lugar, entende o mundo em que vive e
expressa esse entendimento.
Para os autores, clássicos da sociologia, é
no plano individual que as representações se As representações coletivas são o produto de
expressam. Marx fala na obra Ideologia alemã uma imensa cooperação que se estende não
de sujeitos históricos, ou de “indivíduos deter- apenas no espaço, mas no tempo; para produzi-
minados”, como portadores de uma forma las, uma multidão de espíritos diversos asso-
determinada de relações sociais, políticas e ciaram, misturaram, combinaram suas idéias e
econômicas. Durkheim chama a atenção para seus sentimentos; longas séries de gerações
o fato de que as representações coletivas tendem acumularam aí a sua experiência e o seu saber.
Uma intelectualidade muito particular, infini-
a se individualizar nos sujeitos. E Weber nos diz
tamente mais rica e mais complexa que a do
que o indivíduo, enquanto portador de cultura e indivíduo aí está como que concentrada.
de valores socialmente dados, é a “constelação (Durkheim, 1989, p. 11)
singular”, que informa sobre a ação social de
seu grupo, tendo-se em conta que o limite de A concepção dele, além de indicar uma
suas informações são seus valores, da mesma diferença da sociedade em relação aos indiví-
forma que os limites do conhecimento científico duos isolados, também orienta a própria com-
do pesquisador são seus próprios valores preensão do processo representativo como fato
(Minayo apud Guareschi e Jovchelovith, 1995). social – de natureza distinta dos fenômenos
Durkheim (1989), reafirmando a impor- individuais –, cujas causas e origem não podem
tância das representações, diz que o pensamento ser encontradas senão na própria sociedade que
coletivo deve ser estudado tanto na sua forma o produziu.
como no seu conteúdo, por si e em si mesmo, Por meio do conceito de representações
na sua especificidade, pois uma representação coletivas, Durkheim procura explicar a origem
social, por ser coletiva, já apresenta condições das chamadas “categorias do intelecto” – as
de objetividade. Portanto, as produções sociais noções essenciais que dominam a vida intelec-
não são realizações de indivíduos isolados, a tual, formando um amplo arcabouço abstrato e
partir de suas experiências sensíveis imediatas, impessoal, compartilhado por todos os membros
como acredita a premissa empirista. O autor de uma mesma civilização, cuja função é
busca a origem dos conceitos, sustentando que permitir a compreensão das propriedades mais
estes formam a base do pensamento lógico para universais das coisas e, desse modo, explicar
constituir a ferramenta para a comunicação das sua existência. Essas “categorias do intelecto”
inteligências humanas. são, na verdade, os conceitos que utilizamos para
O conceito de representações coletivas definir e caracterizar todas as coisas com as
compõe o quadro teórico analisado por Durkheim quais convivemos. Esse sistema de conceitos é
na relação indivíduo–sociedade. Ele foi o expresso pelo vocabulário da nossa língua
verdadeiro criador do conceito, na medida em materna, sendo que “cada palavra traduz um
que fixa os contornos e lhe reconhece o direito conceito” (Durkheim, 1975).
de explicar os fenômenos mais variados. Em Partindo da premissa racionalista de que o
suas conclusões, as representações coletivas são “mundo tem um aspecto lógico expresso de
produções sociais, que, além de se distinguirem
1. “É fato social toda maneira de agir fixa ou não, suscetí-
de qualquer sensação ou consciência particular vel de exercer sobre o indivíduo uma coerção exterior; ou
e não dependerem dos sujeitos individuais para então, ainda, que é geral na extensão de uma sociedade dada,
apresentando uma existência própria, independente das ma-
se produzirem e reproduzirem, ainda se impõem nifestações individuais que possa ter” (Durkheim, 1974,
aos sujeitos de maneira coercitiva e genérica, p. 11).

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forma eminente pela razão” e negando a premis- na sociedade: o direito, a ciência, a moral, a arte
sa empirista de que os indivíduos isolados e a recreação. E os homens não somente lhe
produzem, a partir de suas experiências sensíveis deveram, numa proporção notável, a matéria de
imediatas, as formas de conhecimento e expli- seus conhecimentos, senão também a forma
cação do mundo compartilhadas pela coletivida- segundo a qual esses conhecimentos são
de, o autor busca as origens dos conceitos, que elaborados. Se isto se dá é porque “a idéia de
formam a base do pensamento lógico, constituin- sociedade é a alma da religião”, e nesta se
do-se na ferramenta para a comunicação das originaram quase todas as grandes instituições
inteligências humanas (Durkheim, 1989, p. 43). sociais. A religião é uma expressão resumida
Por serem mais estáveis do que as represen- da vida coletiva (Durkheim, 1989).
tações individuais, as representações coletivas Como é possível explicar as formas indivi-
são a base de onde se originam os conceitos, dualizadas de expressão e manifestação das
traduzidos nas palavras do vocabulário de uma representações coletivas, uma vez que elas são
comunidade, de um grupo ou de uma nação. fatos sociais? O próprio Durkheim responde
O estudo da religião ocupa um espaço afirmando que, a despeito de serem produzidas
importante na obra durkheimiana. Partindo do de forma extrínseca aos indivíduos, as repre-
postulado sociológico de que uma instituição sentações coletivas interiorizam-se nas consciên-
humana tão duradoura e geral à humanidade não cias particulares e, por essa interiorização, indivi-
pode assentar-se no erro e na mentira, Durkheim dualizam-se, podendo adquirir formas e conteú-
busca conhecer, por meio do estudo das religiões dos diferenciados de sujeito para sujeito. Quanto
primitivas, qual realidade humana elas expressam maior for a diferenciação individual dentro de
sob seus símbolos, tomando a religião como o uma dada sociedade, mais elaboradas e com
mais primitivo fenômeno social. As religiões das maior espaço na vida social tenderão a ser as
comunidades mais simples – onde é menor o formas particularizadas de expressão das
desenvolvimento das individualidades e das representações coletivas (Durkheim, 1989).
diferenças e “o fato religioso ainda traz visível o Durkheim procura mostrar que a menta-
sinal de suas origens” – mostram mais facil- lidade do grupo não é a mesma que a dos
mente elementos comuns a todas as sociedades indivíduos; que os estados de consciência
(Durkheim, 1975). coletiva são distintos dos estados de consciência
O interesse que o fez voltar-se às religiões individual, e que “um pensamento encontrado
era principalmente o de compreender as cate- em todas as consciências particulares ou um
gorias fundamentais do entendimento humano, movimento que todos repetem não são por isso
noções essenciais como tempo, espaço, número, fatos sociais”, mas suas encarnações individuais.
causa, substância, personalidade. Essas são Os fenômenos que constituem a sociedade têm
relações que existem entre as coisas e que, sua sede na coletividade e não em cada um dos
produzidas inicialmente no interior do pensa- seus membros. É nela que se devem buscar as
mento religioso, são expressas por meio de explicações para os fatos sociais e não nas
conceitos e símbolos. unidades que a compõem.
Durkheim questiona as duas teses que até Os fatos sociais são formados pelas repre-
então procuraram explicar a questão do sentações coletivas, isto é, “como a sociedade
conhecimento e de sua racionalidade – o empi- vê a si mesma e ao mundo que a rodeia”, por
rismo e o apriorismo – e propõe que seja reco- meio de suas lendas, mitos, concepções religio-
nhecida a origem social das categorias, as quais sas, crenças morais etc. Segundo Durkheim
traduziriam estados de coletividade, sendo, pois, (1974, p. 6),
produtos da cooperação. Enquanto os conhe-
a sociedade ideal não está fora da sociedade
cimentos empíricos são suscitados pela ação do
real, é parte dela, porque uma sociedade não
objeto sobre os espíritos dos indivíduos, as está simplesmente constituída pela massa de
categorias seriam representações essencial- indivíduos que a compõem, pelo solo que
mente coletivas, são obras da sociedade. São ocupam, pelas coisas que utilizam, pelos
expressas inicialmente por meio da religião, na movimentos que efetuam, mas, antes de tudo,
qual foi engendrado tudo o que há de essencial pela idéia que ela faz de si mesma.

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Para Durkheim, existe um conjunto de no meio social em que vivemos” (Durkheim,


fenômenos que não são orgânicos, visto que 1955, p. 47). Com o tempo as crianças vão
consistem em representações e ações; como adquirindo os hábitos que lhe são ensinados e,
também não são psíquicos, pois não existem deixando de sentir-lhes a coação, aprendem
somente na consciência individual. São fatos que comportamentos e modos de sentir dos parti-
apresentam características muitos especiais. cipantes do grupo onde vivem. Por isso a
Consistem em maneiras de agir, de pensar e de educação “cria no homem um ser novo”, torna-
sentir, exteriores ao indivíduo, e que são dotadas o um membro da sociedade, leva-o a compar-
de um poder de coerção em virtude do qual tilhar com outros uma certa escala de valores,
esses fatos se impõem. Tais fatos constituem o sentimentos e comportamentos. As maneiras de
objeto da sociologia e a distinguem da psicologia agir e sentir próprias de uma sociedade precisam
e da biologia. ser transmitidas por meio da aprendizagem
Certos fatos sociais estão menos conso- porque são externas ao indivíduo.
lidados: são as chamadas maneiras de agir. É o Outros cientistas sociais também utilizaram
caso das correntes sociais, dos movimentos o conceito de representações para suas ela-
coletivos, das correntes de opinião “que nos borações teóricas, como é o caso de Pierre
impelem com intensidade desigual, segundo as Bourdieu.
épocas e os países, ao casamento, por exemplo, Numa versão mais contemporânea, Bour-
ao suicídio ou a uma natalidade mais ou menos dieu refere-se ao campo das representações
forte etc.” (Durkheim, 1974) e que se expres- sociais por meio da valorização da fala, como
sam nas estatísticas. Outros fatos têm uma expressão das condições da existência. Para ele,
forma já cristalizada, que constituem as maneiras a palavra é o símbolo da comunicação por
de ser sociais, como as regras jurídicas, morais, excelência porque ela representa o pensamento.
dogmas religiosos, sistemas financeiros, o A fala, por isso mesmo, revela condições
sentido das vias de comunicação, nossa lingua- estruturais, sistemas de valores, normas e
gem escrita etc. Elas são os leitos estabelecidos símbolos e tem a magia de transmitir, mediante
de circulação de pessoas e de mercadorias, os um porta-voz, as representações de grupos
modos pelos quais muitas gerações se acostu- determinados, em condições históricas socioeco-
maram a comunicar-se, a vestir-se, a edificar nômicas e culturais específicas (Bourdieu,
suas moradias, a negociar etc. As maneiras de 1972).
ser coletivas são de ordem anatômica ou Bourdieu, ao teorizar sobre a prática da
morfológica; já os modos de agir são de ordem pesquisa de campo, afirma que as condutas
fisiológica, mas são igualmente imperativos, pois ordinárias da vida prestam-se a uma decifração,
coagem a que se adotem determinadas condutas ainda que pareçam automáticas e impessoais.
e formas de sentir. Além disso, encontram-se Elas são significantes, mesmo sem intenção de
fora dos indivíduos, são uma realidade objetiva
significar, e exprimem uma realidade objetiva
e externa a eles, portanto são fatos sociais. Logo,
que exige apenas a reativação da intenção vivida
ambos possuem ascendência sobre o indivíduo,
daqueles que as cumprem. Insiste Bourdieu
arrastando-o e influenciando-o.
(1972, p. 182) sobre a objetividade das repre-
Para tentar comprovar o caráter externo
sentações:
desses modos de agir ou de sentir, Durkheim
argumenta que eles têm de ser internalizados Cada agente, ainda que não saiba ou que não
por meio de um processo educativo. Desde muito queira, é produtor e reprodutor do sentido
pequenas, lembra, as crianças são constrangidas objetivo, porque suas ações são o produto de
(ou educadas) a seguir horários, a desenvolver um modo de agir do qual ele não é o produtor
certos comportamentos e maneiras de ser e, imediato, nem tem o domínio completo.
mais tarde, a trabalhar. Elas passam por uma
socialização metódica e é “uma ilusão pensar Essa percepção do autor se vincula ao seu
que educamos nossos filhos como queremos. conceito de habitus. Este é determinado como
Somos forçados a seguir regras estabelecidas uma espécie de lei “imanente” depositada em

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cada ator social, desde a primeira infância, a das comunicações interindividuais. Elas são o
partir do seu lugar na estrutura social. São equivalente, na nossa sociedade, dos mitos e
marcas das posições e situações de classe. sistemas de crenças das sociedades tradicio-
Nessa perspectiva, as relações interpessoais não nais; elas podem também ser vistas como a
são apenas relações de indivíduos. É a posição versão contemporânea do senso comum.
presente e passada na estrutura social, que os
indivíduos trazem consigo em forma de habitus Moscovici avalia que o conceito de repre-
em todo tempo e lugar, que marca a relação sentação coletiva ao incorporar uma diversidade
(Minayo apud Guareschi e Jovchelovith, 1995). de classes de conhecimento, tais como mitos,
religião, ciência e categoria de tempo e espaço,
dificulta a utilização do próprio conceito. Assim,
Bases epistemológicas da teoria das
o autor constrói seu conceito fazendo duas
representações sociais
modificações no conceito durkheimiano: as
A concepção de representações sociais representações podem ser uma forma particular
desenvolvida por Serge Moscovici tem proxi- de construir conhecimento, como também uma
midade com o conceito de representações forma de transmitir entre indivíduos conheci-
coletivas desenvolvido por Durkheim. O próprio mentos adquiridos. Em outras palavras, as
Moscovici reconhece ser esta a sua fonte de representações constituem modos de vida e
inspiração. Porém, apesar da proximidade, não formas de comunicação entre as pessoas; por
são a mesma coisa. isso, elas são representações sociais.
Moscovici, consciente de que o modelo de Enfim, a partir dessas elaborações acerca
sociedade pensado por Durkheim era estático e da relação indivíduo e sociedade, o autor se
tradicional, preferiu substituir o conceito de propõe a compreender o que seria uma socie-
“coletivo” por “social”. Esse termo seria mais dade pensante. Conforme Sá (1993, p. 28), na
apropriado às sociedades complexas contem- perspectiva psicossociológica de Moscovici,
porâneas por serem dinâmicas e fluidas. O numa sociedade pensante,
conceito de “coletivo” era mais apropriado
àquele tipo de sociedade de dimensões cristali- os indivíduos não são apenas processadores
zadas e estruturadas, de conotação mais estática de informações, nem meros portadores de
e positivista (Moscovici, 1981). Ele atribuiu, no ideologias ou crenças coletivas, mas pensa-
caso das representações, não exatamente à dores ativos que, mediante inumeráveis
sociedade como um ente invisível e indivisível, episódios cotidianos, produzem e comunicam
como fez Durkheim, mas sim aos grupos aos representações e soluções específicas para as
questões que se colocam a si mesmos.
quais os indivíduos associam-se no decorrer de
suas vidas. Grupos diferentes podem e tendem
a produzir representações diferenciadas sobre Segundo Sawaia (1995), Moscovici elabo-
um mesmo objeto. rou o conceito de representações sociais para
A teoria das representações sociais se colocar ênfase no sujeito que produz a repre-
dirige à formação das explicações produzidas sentação, percebido como um ser criativo e
pelo senso comum, em sociedades complexas e ativo, contrapondo-o à concepção cognitivista
não exatamente às formas de saber mais que o posicionava como um ser passivo.
elaboradas ou estruturadas, como o mito, a Celso Sá (1998) assegura que, quando
religião, a linguagem, ou mesmo a ciência, que decidimos realizar um estudo de representações
são melhor tratadas por meio do conceito sociais, o que queremos pesquisar é algum
durkheimiano de representações coletivas. fenômeno de representação social. Podemos
Nessa perspectiva abrangente, Moscovici (1981, dizer que a construção do objeto de pesquisa é
p. 181) define representações sociais como um processo pelo qual o fenômeno de represen-
tação social é simplificado e tornado com-
o conjunto de conceitos, proposições e preensível pela teoria, para a finalidade da
explicações originado na vida diária no curso pesquisa.

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Os fenômenos de representação social não são classificadas nem denominadas são


estão “espalhados por aí”: na cultura, nas estranhas, não existentes e ao mesmo tempo
instituições, nas práticas sociais, nas comuni- ameaçadoras”. Para ele, é possível, por meio
cações interpessoais e de massa e nos pensa- das representações sociais, conservar as identi-
mentos individuais. Eles são, por natureza, dades sociais e orientar as condutas num mundo
difusos, fugidios, multifacetados, em constante marcado por incessantes e rápidas transfor-
movimento e presentes em inúmeras instâncias mações no modo de produzir e transmitir
da interação social (Sá, 1998). conhecimento (Sá, 1998). Ancorar também
Os fenômenos de representação social são significa denominar. A denominação permite
caracteristicamente construídos no que o psicó- descrever as características das pessoas ou
logo social e responsável pela “grande teoria” coisas, torna-as distintas e as torna objeto de
das representações sociais, Serge Moscovici, convenção.
chamou de universos consensuais de pensa- A ancoragem seria o processo de incor-
mento. Os objetos de pesquisa que deles se porar o aspecto não familiar dentro de uma rede
derivam são tipicamente uma elaboração do de categorias que permita que ele seja compa-
universo reificado da ciência. Os universos rado com elementos típicos dessas categorias.
consensuais de pensamento são regidos pela Ancorar significa classificar. Conforme Sá
lógica natural ou senso comum, nos quais a (1993, p. 39), a classificação ocorre por meio
participação é livre. Já os universos reificados da escolha de paradigmas existentes com os
são regidos pela lógica científica, nos quais a quais se compara o objeto em processo de
participação é condicionada pelo nível de representação. Ele, porém, adverte:
qualificação.
Para Moscovici vivemos numa sociedade não se trata, observe-se, de uma operação
na qual os conhecimentos provenientes dos lógica de análise da proporção de caracterís-
universos reificados da ciência e da tecnologia ticas que o novo objeto tenha em comum com
desencadeiam novos fatos, acontecimentos e os objetos da classe. O que se põe em jogo é
uma comparação generalizadora ou particu-
situações que expõem os limites dos conheci-
larizadora, pelas quais se decreta que o objeto
mentos derivados dos universos consensuais do se inclui ou se afasta da categoria com base na
senso comum e com isso geram a sensação de coincidência/divergência em relação a um único
estranhamento e de não-familiarização nos ou poucos aspectos salientes que definem o
grupos sociais envolvidos com as mudanças. protótipo. A lógica natural em uso nos univer-
A hipótese central proposta pelo autor é de sos consensuais preside o processo.
que as representações sociais se desenvolvem
justamente com o propósito de transformar algo O que Moscovici quer expressar com a
não familiar em familiar, por meio de dois proposição – “transformar algo não familiar em
processos: objetivação e ancoragem. familiar” – é que, nas sociedades modernas, o
A função de duplicar um sentido por uma novo é comumente gerado ou trazido à luz por
figura, dar materialidade a um objeto abstrato, meio dos universos reificados da ciência, da
“naturalizá-lo”, foi chamada de “objetivar”. tecnologia ou das profissões especializadas. São
Segundo Moscovici (apud Sá, 1993, p. 40), novas descobertas ou teorias, invenções e
“objetivar é descobrir a qualidade icônica de desenvolvimentos técnicos, produções de fatos
uma idéia ou ser impreciso, reproduzir um políticos e econômicos, inovações classificatórias
conceito em uma imagem”. A objetivação seria e analíticas, e assim por diante. A exposição a
o processo que torna concreto, por intermédio esse novo é que introduz a não-familiaridade ou
de uma figura, a idéia de um objeto. a estranheza na sociedade mais ampla.
A função de duplicar uma figura por um Se o estranho não se apresentasse tão
sentido, fornecer um contexto inteligível ao freqüente e imprevisivelmente, o pensamento
objeto, interpretá-lo, foi chamada de “ancorar”. social humano teria a estabilidade que Durkheim
Segundo Moscovici (apud Sá, 1993, p. 38), atribuíra às representações coletivas. Uma
ancorar é classificar e denominar: “coisas que realidade social, como a entende a teoria das

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representações sociais, é criada apenas quando Para Moscovici, não existe um indivíduo
o novo ou não-familiar vem a ser incorporado abstrato, portador de esquemas mentais e lógicos
aos universos consensuais. Aí operam os universais aplicáveis a qualquer situação, mas
processos pelos quais ele passa a ser familiar, sim indivíduos localizados em diferentes grupos
perde a novidade, torna-se socialmente conhe- sociais concretos, nos quais compartilham,
cido e real. Segundo Moscovici (apud Sá, 1993, constroem e reafirmam representações sociais.
p. 37), Denise Jodelet (2001) privilegia um enfoque
histórico e cultural para a compreensão do
o estranho atrai, intriga e perturba as pessoas simbólico. Ela parte da noção básica de que uma
e as comunidades, provocando nelas o medo
representação social é uma forma de saber
da perda de referenciais habituais, do senso de
continuidade e de compreensão mútua. Mas, prático que liga um sujeito a um objeto. Três
ao tornar o estranho familiar, ele é tornado ao questões podem ser feitas acerca desse saber:
mesmo tempo menos extraordinário e mais 1) “Quem sabe e de onde sabe?”, cujas
interessante. (Apud Sá, 1993, p. 37)
respostas apontam para o estudo das condições
de produção e circulação das representações
Jodelet, seguidora da perspectiva mosco-
sociais. Pesquisam-se as relações que a emer-
viciana e propositora de uma abordagem
gência e a difusão das representações sociais
culturalista das representações sociais, sugere
guardam com fatores, tais como: valores, mode-
a seguinte definição sintética, sobre a qual
los e invariantes culturais; comunicação interindi-
parece existir hoje um amplo acordo dentro da
comunidade de seus estudiosos: representações vidual, institucional e de massa; contexto ideoló-
sociais são “uma forma de conhecimento, gico e histórico; inserção social dos sujeitos, em
socialmente elaborada e partilhada, tendo uma termos de sua posição e filiação grupal; dinâmica
visão prática e concorrendo para a construção das instituições e dos grupos pertinentes.
de uma realidade comum a um conjunto social”. 2) “O que e como se sabe?”, que corres-
Igualmente designada como saber de senso ponde à pesquisa dos processos e estados das
comum ou ainda saber ingênuo, natural, essa representações sociais. A pesquisa se ocupa dos
forma de conhecimento é diferenciada, entre suportes da representação (o discurso ou o
outras, do conhecimento científico. Entretanto, comportamento dos sujeitos, documentos,
é tida como um objeto de estudo tão legítimo práticas etc.), para daí inferir seu conteúdo e
quanto este, pela sua importância na vida social sua estrutura, assim como da análise dos
e pela elucidação possibilitadora dos processos processos de sua formação, de sua lógica própria
cognitivos e das interações sociais (Sá, 1993). e de sua eventual transformação.
Tanto Moscovici como Jodelet enfatizam a
ligação necessária do objeto de representação 3) “Sobre o que se sabe e com que efeito?”,
a um determinado sujeito. Ele propõe a fórmula: o que leva a uma ocupação com o estatuto
“toda representação é uma representação de epistemológico das representações sociais.
alguém (o sujeito) e de alguma coisa (o objeto)” Focalizam-se as relações que as representações
(Jodelet, 2001, p. 27). guardam com a ciência e com o real, remetendo
A representação social tem com seu objeto para a pesquisa das relações entre o pensamento
uma relação de simbolização (substituindo-o) e natural e o pensamento científico, da difusão dos
de interpretação (conferindo-lhe significações). conhecimentos e da transformação de um tipo
Trata-se de significações que são uma constru- de saber em outro, bem como das decolagens
ção e uma expressão do sujeito – são, então, entre a representação e o objeto representado,
consideradas de um ponto de vista epistêmico e em termos de distorções, supressões e suple-
psicológico. Mas a particularidade do estudo das mentações.
representações sociais é o fato de integrar na Celso Sá (1998) defende que, pelos padrões
análise desses processos a pertença e a parti- ideais, a simples descrição do conteúdo cognitivo
cipação, sociais ou culturais do sujeito (Jodelet, de uma representação, sem relacioná-lo às
2001). condições socioculturais que favoreceram sua

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SOCIEDADE E CULTURA, V. 6 N. 2, JUL./DEZ. 2003, P. 189-199

emergência e/ou sem uma discussão de sua esquemas organizam as tomadas de posição
natureza epistêmica em confronto com o saber simbólicas ligadas a inserções específicas
erudito, não configura uma pesquisa realmente nessas relações. E as representações sociais
completa. são os princípios organizadores dessas
relações simbólicas entre atores sociais. Trata-
Jodelet (2001) afirma que as represen-
se de princípios relacionais que estruturam as
tações sociais, enquanto fenômenos complexos,
relações simbólicas entre indivíduos ou
apresentam diversos elementos: informativos, grupos, constituindo ao mesmo tempo um
cognitivos, ideológicos, normativos, crenças, campo de troca simbólica e uma representação
valores, atitudes, opiniões, imagens etc. E foi desse campo.
Durkheim o primeiro a identificar tais elementos
como produções mentais sociais. Moscovici Enfatizamos a importância dos dois uni-
renovou a análise, apresentando a especificidade versos de pensamento para a teoria das
dos fenômenos representativos nas sociedades representações sociais. Nos universos consen-
contemporâneas, que são caracterizadas por: suais, o indivíduo, com base no senso comum, é
intensidade e fluidez das trocas e comunicações; livre para manifestar opiniões, propor teorias e
desenvolvimento da ciência; pluralidade e respostas para os problemas. E nos universos
mobilidade sociais. reificados, regidos pela lógica científica, o
As representações sociais, portanto, orien- indivíduo tem sua participação condicionada pelo
tam e organizam as condutas e as comunicações domínio reconhecido de um saber específico
sociais, assim como intervêm na difusão e na (Moscovici, 1981). Quais as modificações
assimilação de conhecimentos, no desen- sofridas pelo conhecimento científico quando ele
volvimento individual e coletivo, na definição das
passa do domínio especializado para o domínio
identidades pessoais e sociais, na expressão dos
popular?
grupos e nas transformações sociais.
Para Moscovici, essa é a indagação central
A “grande teoria” das representações
da teoria e é nesse processo que surgem as
sociais – como chamam as proposições originais
representações sociais, como verdadeiras teorias
básicas de Moscovici – desdobra-se em três
do senso comum. Ele fez um estudo da psica-
correntes teóricas complementares: uma fiel à
nálise na França nos anos 50 e observou a
teoria original, com um caráter histórico e
incorporação dela por diferentes grupos sociais:
cultural, liderada por Denise Jodelet, em Paris;
os operários souberam dela através dos meios
uma que procura articulá-la com uma perspec-
de comunicação de massas (70%) e da
tiva mais sociológica, liderada por Willem Doise,
conversação (40%) e não tiveram contato com
em Genebra; e uma terceira que enfatiza a
ela via estudos (0%). Ao passo que estudantes
dimensão cognitivo-estrutural das represen-
tações por Jean-Claude Abric, em Provence. e profissionais liberais obtiveram seu conhe-
Não se trata de abordagens incompatíveis, cimento por meio de estudos (40% e 45%
na medida em que provêm todas de uma mesma respectivamente). A psicanálise torna-se,
matriz básica, conforme salienta Sá (1998). É, portanto, objeto do senso comum (Moscovici,
por exemplo, de Doise a consideração da 1977).
perspectiva de Moscovici como uma “grande Desenvolvemos a nossa pesquisa de
teoria”, do que se depreende que as suas próprias mestrado partindo dessas proposições teóricas.
proposições configurariam uma teoria comple- Começamos indagando como o aluno incorpora
mentar. os conhecimentos de sociologia, transmitidos por
Doise (apud Jodelet, 2001, p. 193), recor- um profissional especializado (o professor ou a
rendo a Bourdieu, enfatiza que, mais que professora), em sua vida? Qual o significado
opiniões consensuais, as representações sociais desses conhecimentos para a sua formação?
são tomadas de posição simbólicas: Finalizamos apresentando um quadro
conceitual, síntese das concepções sobre
de um modo geral, pode-se dizer que, em cada representações na perspectiva da sociologia
conjunto de relações sociais, princípios ou clássica e contemporânea e da psicologia social.

197
RÊSES, ERLANDO DA SILVA. Do conhecimento sociológico à teoria...

Q UADRO C O N C EI TUAL DAS REP RES EN TAÇ Õ ES


A ut o r C o nc e i t o
As id é ia s o u r e p r e s e nt a ç õ e s s ã o uma e s p é c ie d e o p e r a d o r q ue p e r mit e a ç õ e s
r e c íp r o c a s e nt r e o s ind ivíd uo s p a r a fo r ma r a unid a d e s up e r io r, q ue é a ins t it uiç ã o
S I M M EL
( p a r t id o p o lít ic o , I gr e j a e t c . ) . P e r mit e a p a s s a ge m d e um níve l mo le c ula r p a r a um
mo la r.
Re p r e s e nt a ç ã o é um s a b e r c o mum q ue t e m o p o d e r d e a nt e c ip a r e d e p r e s c r e ve r o
W EB ER c o mp o r t a me nt o d o s ind ivíd uo s e d e p r o gr a má - lo . Ela c o ns t it ui um q ua d r o d e
r e fe r ê nc ia s e um ve t o r d a a ç ã o d o s ind ivíd uo s .
As r e p r e s e nt a ç õ e s e s t ã o vinc ula d a s à p r á t ic a s o c ia l. A ma nife s t a ç ã o d a c o ns c iê nc ia s e
fa z p o r me io d a lingua ge m e r e a liza um p a r a le lo e nt r e a s d ua s e e nt r e a s r e p r e s e nt a ç õ e s
M A RX e o r e a l inve r t id o , mo s t r a nd o c o mo a s id é ia s e s t ã o c o mp r o me t id a s c o m a s c o nd iç õ e s
d e c la s s e . A r e p r e s e nt a ç ã o s it ua - s e no níve l d o s e ns o c o mum, d o mit o , d a s fo r ma s
id e o lo giza d a s d o p e ns a me nt o .
Es t a b e le c e u a d ife r e nç a e nt r e r e p r e s e nt a ç ã o ind ivid ua l e r e p r e s e nt a ç õ e s c o le t iva s . Es t a s
s ã o p r o d uç õ e s s o c ia is , q ue a lé m d e s e d is t inguir e m d e q ua lq ue r s e ns a ç ã o o u
c o ns c iê nc ia p a r t ic ula r e nã o d e p e nd e r e m d o s s uj e it o s ind ivid ua is p a r a s e p r o d uzir e m e
D U R K H EI M
r e p r o d uzir e m, a ind a imp õ e m- s e a o s s uj e it o s d e ma ne ir a c o e r c it iva e ge né r ic a , c o mo
fo r ma s s o c ia is d e e xp r e s s ã o , r e c o nhe c ime nt o e e xp lic a ç ã o d o mund o . As
r e p r e s e nt a ç õ e s c o le t iva s a figur a m- s e , p o r t a nt o , c o mo fa t o s s o c ia is .
Re fe r e - s e a o c a mp o d a s r e p r e s e nt a ç õ e s s o c ia is me d ia nt e a va lo r iza ç ã o d a fa la , c o mo
e xp r e s s ã o d a s c o nd iç õ e s d a e xis t ê nc ia . P a r a e le , a p a la vr a é o s ímb o lo d a c o munic a ç ã o
p o r e xc e lê nc ia p o r q ue e la r e p r e s e nt a o p e ns a me nt o . A fa la , p o r is s o me s mo , r e ve la
B O U R D I EU
c o nd iç õ e s e s t r ut ur a is , s is t e ma s d e va lo r e s , no r ma s e s ímb o lo s e t e m a ma gia d e
t r a ns mit ir, p o r me io d e um p o r t a - vo z, a s r e p r e s e nt a ç õ e s d e gr up o s d e t e r mina d o s , e m
c o nd iç õ e s his t ó r ic a s , s o c io e c o nô mic a s e c ult ur a is e s p e c ífic a s .
Dife r e nc io u r e p r e s e nt a ç õ e s c o le t iva s d e r e p r e s e nt a ç õ e s s o c ia is . Es t a s últ ima s
e xp r e s s a m o c o nj unt o d e c o nc e it o s , p r o p o s iç õ e s e e xp lic a ç õ e s o r igina d o na vid a d iá r ia
no c ur s o d a s c o munic a ç õ e s int e r ind ivid ua is . Ela s s ã o o e q uiva le nt e , na no s s a
s o c ie d a d e , d o s mit o s e s is t e ma s d e c r e nç a s d a s s o c ie d a d e s t r a d ic io na is . Ela s p o d e m
M O S C O VI C I t a mb é m s e r vis t a s c o mo a ve r s ã o c o nt e mp o r â ne a d o s e ns o c o mum. N a p e r s p e c t iva
p s ic o s s o c io ló gic a d o a ut o r, o s ind ivíd uo s nã o s ã o a p e na s p r o c e s s a d o r e s d e
info r ma ç õ e s , ne m me r o s p o r t a d o r e s d e id e o lo gia s o u c r e nç a s c o le t iva s , ma s p e ns a d o r e s
a t ivo s q ue , me d ia nt e inume r á ve is e p is ó d io s c o t id ia no s , p r o d uze m e c o munic a m
r e p r e s e nt a ç õ e s e s o luç õ e s e s p e c ífic a s p a r a a s q ue s t õ e s q ue s e c o lo c a m a s i me s mo s .

DURKHEIM, Émile. Educação e sociologia. São


Abstract: This article presents a discussion about the Paulo: Melhoramentos, 1955.
concept of representations in both classic and
contemporary theory of sociology. Besides that, still _____. As regras do método sociológico. São Paulo:
shows the epistemological basis of the social repre- Abril, 1974. (Coleção Os Pensadores)
sentations’ theory. The aim is to detach the different _____. A ciência social e a ação. Tradução de Inês
conceptions in both areas of knowledge – Sociology and D. Ferreira. São Paulo: Difel, 1975.
Social Psychology – and to stand out that concept of
Serge Moscovici’s social representations came from the _____. As formas elementares da vida religiosa.
concept of Durkheim’s collective representations. São Paulo: Edições Paulinas, 1989.
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