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PENSAMENTO CONTEMPORÂNEO
Paulo César Medeiros
Pós-graduação em Educação
Diretores
Diretoria Executiva Luiz Borges da Silveira Filho
Diretoria Operacional Marcelo Antonio Aguilar
Diretoria Acadêmica Francisco Carlos Sardo
Editora
Coordenação Editorial Raquel Andrade Lorenz
Projeto Gráfico Evelyn Caroline dos Santos Betim
Arte-Final Evelyn Caroline dos Santos Betim
Capa Vitor Bernardo Backes Lopes
O principal representante dessa linha de pensamento também importantes os estudos de Galileu Galilei
foi São Tomás de Aquino (1225-1274). (1564-1642), que desenvolveu instrumentos ópticos,
além de construir telescópios para aprimorar o estudo
O Teocentrismo definiu celeste. Galileu defendeu a ideia de que a Terra girava
as formas de sentir, ver em torno do Sol e, por isso, teve de enfrentar a inqui-
sição da Igreja Católica.
e também de pensar da
população durante a Idade 3 EMPIRISMO: A EXPERIÊNCIA
E O CONHECIMENTO
Média.
3.1 Concepções e métodos empíricos
2.3 Renascimento e
Os empiristas procuravam argumentos nas ciên-
conhecimento científico cias experimentais, na evolução do pensamento e do
A partir do século XIV um grande movimento conhecimento humanos para justificar suas posições
no pensamento humano passou a operar na Europa, diante do que buscavam conhecer. Para eles, o conhe-
o Renascimento ou Renascença. Nesse período, os cimento resultava da observação dos fatos, na qual
impérios europeus ampliaram o comércio e a diversi- a experiência desempenha um papel fundamental.
ficação dos produtos de consumo que eram vendidos Por isso privilegiavam a experiência em detrimento
para a Ásia. O aumento do comércio gerou acumula- da razão humana. Esses estudiosos afirmavam que o
ção de riquezas nas mãos da burguesia mercantil. Isso “sujeito cognoscente” é uma espécie de “tábula rasa”,
gerou condições de se investir na produção artística na qual são gravadas as impressões decorrentes da
e intelectual. “experiência” com o mundo exterior.
Com a proteção e o apoio financeiro dos gover- Por isso essa corrente desconsidera o Inatismo
nantes e do clero na forma de mecenato, os intelectu- (doutrina que se entrelaça com o Racionalismo), que
ais, artistas e pensadores tiveram condições para pro- admite a existência de um sujeito cognoscente (a mente,
duzir novos conhecimentos e por consequência uma o espírito) dotado de ideias inatas, isentas de qualquer
grande transformação no conhecimento. Exemplos dado da experiência. Ainda que o termo “empirismo”
desse período são encontrados na Península itálica, tenha sido atribuído a um grande número de posições
região em que o comércio mais se desenvolveu nesse filosóficas, a tradição prefere aceitar como “empiristas”
período e gerou uma grande quantidade de locais de aqueles pensadores que afirmam ser o conhecimento
produção artística, como Veneza, Florença e Gênova. derivado exclusivamente da experiência dos sentidos,
da sensação ou da emperia.
Nesse processo de revitalização do conhecimento,
Admitamos que, na origem, a
houve grande valorização da cultura greco-romana alma é como que uma tábula rasa,
clássica, pois acreditava-se que esta possuía uma visão sem quaisquer caracteres, vazia de
completa e humana da natureza, ao contrário dos ideia alguma: como adquire ideias?
homens medievais; a inteligência, o conhecimento e o Por que meio recebe essa imensa
quantidade que a imaginação do
dom artístico passaram a ser as qualidades mais valo-
homem, sempre activa e ilimitada,
rizadas no ser humano; o homem passou a ser consi- lhe apresenta com uma variedade
derado o principal personagem (Antropocentrismo), quase infinita? Onde vai ela bus-
em lugar de Deus (Teocentrismo). Nesse período tam- car todos esses materiais que fun-
bém a razão e a natureza passam a ser valorizadas com damentam os seus raciocínios e
os seus conhecimentos? Respondo
grande intensidade, e os métodos experimentais e de
com uma palavra: à experiência.
observação da natureza e universo ganharam destaque. É essa a base de todos os nossos
Entre os pensadores preocupados com o desenvol- conhecimentos e é nela que assenta
a sua origem. As observações que
vimento científico, pode-se citar Nicolau Copérnico fazemos no que se refere a objec-
(1473-1543) e seus estudos astronômicos sobre o Sis- tos exteriores e sensíveis ou as que
tema Solar e os movimentos das constelações. Foram dizem respeito às operações interio-
Os estoicos acreditavam que a mente humana era O filósofo inglês Thomas Hobbes (1558-1603),
uma tábula rasa que seria marcada pelas ideias advin- aplicou o método nos estudos da sociedade e da polí-
das da experiência sensível. Os epicuristas tiveram tica. Segundo ele, a verdade resulta de raciocínios cor-
uma visão empirista mais forte, afirmando que a ver- retos, fundamentados pelas sensações. Hobbes criou
dade provinha apenas da sensação. Para eles, as coisas um método rigoroso de controle das deduções lógicas
são conhecidas por meio de imagens em miniatura, provenientes da experiência, representada pelos acon-
os chamados fantasmas, que se desprendem do ser e tecimentos passados na história e da situação política
chegam até aos sujeitos indo diretamente à alma ou, do momento.
indiretamente, por meio dos sentidos. O ceticismo O método empírico de Francis Bacon e de Tho-
teve como maior representante o filósofo Sexto, que mas Hobbes influenciou toda uma geração de filóso-
ficou conhecido como O Empírico. Segundo ele, as fos britânicos, com destaque para John Locke (1632-
verdades sobre o universo seriam inacessíveis ao ser os 1704) que, em seu livro Ensaio sobre o entendimento
sentidos eram a base do conhecimento, mas possuíam humano, descreve a mente humana como uma tábula
limitações que distorciam a imagem do mundo real, rasa (literalmente, uma “ardósia em branco”), na
criando as ilusões. qual, por meio da experiência, são gravadas as ideias.
A Idade Média europeia foi dominada pelo pen- A partir dessa análise empirista da Epistemologia, ele
samento cristão que subordinava os demais pensa- diferencia dois tipos de ideias: as ideias simples, sobre
mentos à religião. Assim, a experiência sensível ou as as quais não se poderia estabelecer distinções, como
ideias humanas não poderiam ser comprovadas e ou a de amarelo, duro etc., e as ideias complexas, que
seriam associações de ideias simples (por exemplo o esse Empirismo radical, esse pensador criou a corrente
ouro – que é uma substância dura e de cor amare- conhecida como idealismo subjetivo.
lada). Com isso, seria formado um conceito abstrato O escocês David Hume (1711-1776), seguindo
da substância material. a linha de Berkeley, identificou dois tipos de conhe-
Os estoicos acreditavam que a cimento: matérias de fato e relação de ideias. O
primeiro está relacionado com a percepção imediata
mente humana era uma tábula e seria a única forma verdadeira de conhecimento. As
relações de ideias se referem a coisas que não podem
rasa que seria marcada pelas ser percebidas, que não têm correspondência na reali-
dade e seriam pura imaginação. Dessa forma, os pró-
ideias advindas da experiência prios conceitos abstratos utilizados pela ciência para
sensível. analisar os dados dos sentidos não seriam verdadeiros.
Do ponto de vista político e filosófico, os Baseado nisso, Hume refutou a própria causali-
pensadores ingleses lançaram as raízes das ideias que, dade, a noção de causa e efeito, fundamental para a
talvez, mais profundamente influenciaram a transfor- ciência. Para ele, o simples fato de um fenômeno ser
mação da sociedade europeia. O Empirismo que se sempre seguido de outro faz com que eles se relacio-
desenvolveu na Inglaterra adquiriu características pró- nem entre si de tal forma que um é encarado como
prias, dos fatos e fenômenos do século XVI ao XVIII. causa do outro. Causa e efeito, como impressões sen-
Os pensadores apresentaram uma preocupação menor síveis, não seriam mais do que um evento seguido de
pelas questões rigorosamente metafísicas, voltando-se outro. A noção de causalidade seria, portanto, uma
bem mais para os problemas do conhecimento (que “criação” humana, uma acumulação de hábitos desen-
não deixam de incluir uma metafísica). volvidos em resposta às sensações.
mundo centralizada na autoridade e no poder da reli- 22 Jamais acolher coisa alguma como verdadeira
gião e passar para a certeza do conhecimento, dando, que não conheça evidentemente como tal;
assim, origem ao chamado Racionalismo. Assume, de isto é, evitar cuidadosamente a precipitação
certa forma, o espírito iluminista de sua época, cen- e a prevenção. E de nada incluir nos juízos
tra- lizando na capacidade racional humana da busca que não se apresente tão clara e tão distinta-
do conhecimento. Descartes preocupou-se fundamen- mente a meu espírito que não tenha ocasião
tal- mente em construir um modo para que se pudesse de pô-lo em dúvida.
chegar a um conhecimento que fosse seguro. “[...] 22 Dividir cada uma das dificuldades para que
criei um método que, parece-me, proporcionou-me se examine em tantas parcelas quantas possí-
os meios para o gradativo aumento de meu conheci- veis forem para melhor resolvê-las.
mento, e a levá-lo, gradualmente, ao máximo de grau
que a mediocridade de meu espírito e a breve duração 22 Conduzir por ordem os pensamentos, come-
de minha vida lhe permitirem atingir.” (DESCAR- çando pelos objetos mais simples e mais fáceis
TES, 2000, p. 15) de conhecer, para subir, pouco a pouco, como
por degraus, até o conhecimento dos mais
Ele distingue o universo das ideias duvidosas do compostos e supondo mesmo uma ordem
universo das ideias claras e distintas. As ideias claras entre os que não se precedem naturalmente
e distintas são as ideias inatas, verdadeiras, não sujei- uns aos outros.
tas ao erro, pois não vêm de fora, mas do próprio
sujeito pensante. Em sua mais conhecida, O discurso 22 Fazer em toda parte enumerações tão com-
do método, Descartes enumera quatro regras básicas pletas e revisões tão gerais que se tenha a cer-
capazes de conduzir o espírito na busca da verdade: teza de nada omitir.
22 Regras de evidência – só aceitar algo como O Cartesianismo também pode ser definido em
verdadeiro desde que seja evidente (ideias uma perspectiva de senso comum como a primeira
claras e distintas) – ideias inatas. filosofia moderna, tendo estabelecido as bases da ciên-
cia moderna e contemporânea. O fundamento princi-
22 Regras de análise – dividir as dificuldades em pal da filosofia cartesiana consiste na pesquisa da ver-
quantas partes forem necessárias à resolução dade, com relação à existência dos “objetos” dentro de
do problema. um universo de coisas reais.
22 Regras de síntese – ordenar o raciocínio (pro-
blemas mais simples aos mais complexos).
O Cartesianismo também
22 Regras de enumeração – realizar verificações pode ser definido em uma
completas e gerais para garantir que nenhum
aspecto do problema foi omitido. perspectiva de senso comum
Descartes via o mundo como uma máquina, como a primeira filosofia
como um relógio. A natureza, segundo essa visão, é
um conjunto de peças que deve estar em perfeito fun- moderna, tendo estabelecido
ciona- mento. Com essa obra, ele pretendia partilhar
com o leitor o método que encontrou para si, a fim
as bases da ciência moderna e
de alcançar uma ciência universal que pudesse elevar a contemporânea.
nossa natureza ao seu mais alto grau de perfeição. Seu
O objetivo de Descartes é a pesquisa de um
método é o da dúvida.
método adaptado para a conquista do saber, descobre
Para a razão adquirir seu pleno funcionamento, é esse método que tem como objetivo a clareza e a dis-
necessário limpar o terreno da mente de todo precon- tinção, ou seja, com isso quer ser mais objetivo pos-
ceito; é preciso, em um primeiro momento, duvidar sível, imparcial, quer fundamentar o seu pensamento
de tudo, principalmente do que já se tem estabelecido em verdades claras e distintas. Para isso, de acordo
como verdade absoluta, como dogma. Ele resume e com o seu método, devem ser eliminadas quaisquer
enumera apenas quatro regras, quatro passos a serem influências de ideias que muitas vezes não são verda-
dados no caminho de seu método: deiras, mas que são tidas como mitológicas, e por fim
nos que se apresentam à percepção. Em oposição ao para um determinado objeto. Por sua vez, todo objeto
Positivismo, a Fenomenologia busca a volta às coisas somente existe enquanto apropriado por uma consci-
mesmas, isto é, aos fenômenos, àquilo que aparece à ência. Sujeito e objeto constituem, para essa concep-
consciência, que se dá como objeto intencional. Seu ção, dois polos de uma mesma realidade.
objetivo é chegar à intuição das essências, isto é, ao
conteúdo inteligível e ideal dos fenômenos, captado
de maneira imediata. No século XX, vários filósofos 6 CONFLITO DE PARADIGMAS E
desenvolveram o método fenomenológico, entre eles: ABORDAGENS CONTEMPORÂNEAS
Edmund Husserl, Martin Heidegger, Jean-Paul Sartre
e Maurice Merleau-Ponty.
6.1 Cartesianismo: crise humana e ambiental
O método fenomenológico consiste em mos-
O físico Fritjof Capra, no seu livro O ponto de
trar o que é apresentado e esclarecer esse fenômeno.
mutação, busca identificar os dois grandes paradig-
O objeto é como o sujeito o percebe, e tudo tem de
mas que se confrontam no fim do século XX: o meca-
ser estudado tal como é para ele, sem interferência de
nicista e o sistêmico. Segundo ele, o paradigma meca-
qualquer regra de observação. Um objeto, uma sensa-
nicista agrupa todos os paradigmas que aceitaram a
ção, uma recordação, enfim, tudo deve ser estudado
visão de mundo de René Descartes, segundo a qual
tal como é para o espectador. Toda consciência é cons-
ciência de alguma coisa. Assim sendo, a consciência o mundo natural é uma máquina carente de espiri-
não é uma substância, mas uma atividade constituída tualidade e, portanto, deve ser dominada pela inte-
por atos (percepção, imaginação, especulação, volição, ligência humana e ser colocada a seu serviço. Nessa
paixão etc.) com os quais visa algo. visão, o mundo opera a partir de leis matemáticas,
igual a qualquer máquina, o que permitiria que, ao
Segundo Kant, o fenômeno deve caracterizar-se serem estabelecidas rigorosamente, o homem teria
no tempo e no espaço por meio da aplicação das cate- uma cópia fiel do mundo. Essa visão agrupa o Posi-
gorias do entendimento a priori (uma dedução lógica tivismo, o Neopositivismo e a Dialética Materialista.
da coisa) e em seguida a posteriori (o que pode ser iden- Em suma, agrupam-se aqui as escolas de pensamento
tificado “positivamente” quanto a esse objeto). Com monista e algumas dualistas.
a coisa inserida em um contexto temporal e espacial,
está apta a receber todos os componentes da ciência A Fenomenologia busca a
afim de estudá-la. E, para a aplicação dos diversos juí-
zos da ciência (sintético/a priori; analítico/a posteriori), volta às coisas mesmas, isto
deve existir o ser que transcenda a ciência, o objeto e a
terra. Segundo ele, a fenomenologia estuda a matéria
é, aos fenômenos, àquilo que
como objeto possível da experiência. aparece à consciência, que se
Para Charles Sanders Peirce (1839-1914), filó-
sofo, cientista e matemático americano, a Fenome-
dá como objeto intencional.
nologia constitui parte da filosofia e compreende o Capra (1995) descreve como o Mecanicismo
estudo do fenômeno que se apresenta de qualquer Cartesiano foi incorporado por todas as ciências tradi-
modo à mente, independentemente de qualquer cor- cionais, levando à crise individual, social e ambiental
respondência com a realidade. Essa escola de pensa- de caráter global que se vive hoje. A visão mecanicista
mento, contudo, ganhou um novo e rigoroso dire- adota a ideia de que o mundo natural é regido deter-
cionamento no pensamento de Edmund Husserl, de ministicamente por leis matemáticas em contraposi-
maneira tal que o sentido atualmente vigente desse ção ao mundo humano, no qual há o livre-arbítrio.
termo liga-se, por princípio, ao significado que lhe O paradigma mecanicista privilegia a individuali-
outorgou esse autor. dade, a luta e a competição. Ele transformou o mundo
A Fenomenologia, segundo Edmund Husserl medieval no mundo moderno de hoje. A tecnologia
(1859-1938), é um método que visa encontrar as leis aplicada a todos os campos da vida cotidiana, indus-
puras da consciência intencional. A intencionalidade trial e científica é fundamentada nas descobertas da
é o modo próprio de ser da consciência, uma vez que ciência mecanicista, positivista, e as sociedades, ins-
não há consciência que não esteja em ato, dirigida tituições, bem como a individualidade e a subjetivi-
cia, isso é a autorregulação em que o todo assume as de modo incessante. Esses são sistemas autopoiéticos
tarefas da parte que falhou. por definição, porque sempre recompõem seus com-
Os parâmetros que compõem qualquer sistema ponentes desgastados. Assim, um sistema autopoiético
são: é ao mesmo tempo produtor e produto.
22 entrada (input), sendo os impulsos recebidos De um modo geral, as principais ideias de Matu-
de fora na forma de matéria e/ou energia; rana e sua contribuição ao Pensamento Sistêmico
podem ser assim resumidas:
22 saídas (output), resultados ou produtos do
sistema na forma de matéria e energia; a) enquanto não entendermos o caráter
sistêmico da célula não conseguiremos com-
22 processamento, transformação ou operação; preender os organismos;
22 retroação (feedback) em forma de retroali- b) a autopoiese define com clareza os fenôme-
mentação; nos biológicos;
22 ambiente, sendo o meio que envolve o sis- c) os fenômenos sociais podem ser considera-
tema. dos biológicos, porque a sociedade é formada
Entre as várias vertentes que deram origem ao por seres vivos;
atual pensamento sistêmico, inclui-se a cibernética ou d) a noção de que os sistemas são determi-
ciência dos sistemas de controle. A cibernética surgiu nados por sua estrutura é de fundamental
nos EUA e se consolidou durante uma série de confe- importância para muitas áreas da atividade
rências patrocinadas pela Fundação Josiah Macy Jr. A humana.
partir de 1942, pesquisadores de várias procedências
Para Maturana, o termo “autopoiese” traduz o
e diferentes áreas de interesse começaram a se reunir
centro da dinâmica constitutiva dos seres vivos. Para
com regularidade. Entre eles, o biólogo chileno Hum-
exercê-la, esses seres precisam de recursos do ambiente.
berto Maturana tem se apresentado como grande crí-
Portanto, são sistemas ao mesmo tempo autônomos e
tico do Realismo Matemático. Ele é o criador da Teo-
dependentes. Maturana e Varela utilizaram uma metá-
ria da Autopoiese e da Biologia do Conhecer, e junto
fora didática para falar dos sistemas autopoiéticos.
de Francisco Varela, faz parte dos propositores do Pen-
Para eles, tais sistemas são máquinas que produzem
samento Sistêmico e do Construtivismo Radical.
a si próprias. Nenhuma outra espécie de máquina é
Dizem que nós, seres humanos,
capaz de fazer isso, pois todas elas produzem sempre
somos animais racionais. Nossa
crença nessa afirmação nos leva a algo diferente de si mesmas.
menosprezar as emoções e a enal-
tecer a racionalidade, a ponto de
querermos atribuir pensamento 6.3 A teoria da complexidade
racional a animais não humanos,
Segundo uma importante dimensão ou pres-
sempre que observamos neles com-
portamentos complexos. Nesse suposto epistemológico emergente na ciência é o da
processo, fizemos com que a noção complexidade. Esse tema não é novo, ele surge de
de realidade objetiva, se tornasse maneira mais efetiva nos anos 1980. Sabe-se que as
referência a algo que supomos ser ciências biológicas e sociais há muito se defrontam
universal e independente do que
com a dificuldade de adotar o paradigma tradicional
fazemos, e que usamos como argu-
mento visando a convencer alguém, de ciência, enquanto as ciências físicas, por obterem
quando não queremos usar a força sucesso em sua forma de trabalhar com esse para-
bruta (MATURANA, 1997). digma, eram vistas como modelo de cientificidade
A abordagem sistêmica de Maturana deriva de (VASCONCELLOS, 2002).
seu conceito fundamental: a autopoiese. Poiesis é um Segundo Morin (1990), a palavra “complexi-
termo grego que significa “produção”. Autopoiese quer dade” tem origem no latim complexus, que significa
dizer autoprodução. A palavra surgiu pela primeira o que está tecido em conjunto. Refere-se a um con-
vez na literatura internacional em 1974, em um artigo junto cujos constituintes heterogêneos estão insepa-
publicado por Varela, Maturana e uribe para definir os ravelmente associados e integrados, sendo ao mesmo
seres vivos como sistemas que produzem a si mesmos tempo uno e múltiplo. Para que se possa perceber o
diversas ciências. Nas ciências humanas deu-se início determinante no desenvolvimento do caráter e da per-
uma visão mais integradora para o conhecimento do sonalidade, enquanto nas ciências sociais em geral ele
seu objeto de estudo, o ser humano, e assim a busca de se traduz no destaque do papel da cultura na organiza-
uma ciência que pudesse atender a demanda da crise ção das condutas e dos fenômenos coletivos.
socioambiental. Para se ter uma melhor percepção do Entre os conceitos mais importantes que ganha-
que se concebe no âmbito do pensamento científico ram força no Culturalismo está o de identidade, que
como complexidade, é preciso conhecer suas bases se remete para o sentido de pertença, influenciando o
epistemológicas. comporta- mento dos indivíduos em modalidade de
categorização na distinção eu-você e nós-eles. Desse
6.4 Abordagem cultural e conhecimento conceito deriva a identidade social, na qual a coleti-
vidade pode perfeita- mente funcionar admitindo no
O termo “cultura” em latim significa os cuidados seu interior certa pluralidade cultural. O que cria a
prestados aos campos e ao gado. No século XVI, essa separação, a fronteira, é a vontade de diferenciação e a
palavra definia a ação de cultivar a terra; e no fim do utilização de certos traços culturais como marcadores
século XVII passou a ser usado no sentido de uma da sua identidade específica.
faculdade ou o trabalho para desenvolver uma facul-
dade. Mas foi no século XVIII que a palavra assumiu No campo da psicologia, o
seu sentido figurado, como nas expressões “cultura das
artes”, “cultura das letras”, “cultura das ciências”. O Culturalismo atribui à cultura
termo “cultura” também se associa às expressões “for-
mação”, “educação do espírito”. É associada à ideia de
o papel determinante no
progresso, educação (uma pessoa “culta”). desenvolvimento do caráter e
Pierre Bourdieu (1930-2002) foi um sociólogo
francês que analisou diferenças culturais entre grupos
da personalidade.
sociais e desenvolveu o conceito de habitus: sistemas
de disposições duradouras e transponíveis, estruturas 7 A COMPLEXIDADE HUMANA:
adquiridas por meio de conhecimentos próprios de LIMITES E DESAFIOS EDUCACIONAIS
modos de vida particulares. Ele caracteriza uma classe
ou um grupo social por comparação com outros que
não partilham das mesmas condições sociais. O habi- 7.1 Novos paradigmas e
tus funciona como a materialização ou a incorporação conhecimento científico
da memória coletiva.
Na primeira década deste século, as preocupa-
Franz Boas (1858-1942) mostra que a aplicação ções com os sistemas naturais e humanos adquiriram
desse método recusa as determinações do meio físico e suprema importância. Veio à tona com toda uma série
as determinações raciais como responsáveis pela diver- de problemas globais que estão danificando a biosfera
sidade dos modos de vida humanos. É na cultura e no e a vida humana de uma maneira alarmante, em um
particularismo histórico que ele vai buscar as fontes cenário de degradação próximo de ser irreversível.
dessa diversidade. Boas, ao criticar o evolucionismo, Existe ampla documentação científica a respeito da
lançou as bases do Culturalismo, cujo objeto de refle- extensão e da importância desses problemas. Quanto
xão eram as sociedades ditas primitivas, espalhadas mais se conhece os principais problemas da atualidade,
sobre o globo terrestre, consideradas na sua especifici- mais percebe-se que eles não podem ser entendidos
dade, na sua originalidade. isoladamente. São problemas sistêmicos, o que signi-
Segundo Consorte (1997), o Culturalismo fica que estão interligados e são interdependentes.
emerge como esforço de compreensão da diversidade Em última análise, esses problemas precisam ser
humana, “constitui-se no processo de crítica ao evolu- vistos, exatamente, como diferentes facetas de uma
cionismo, caracterizando-se, fundamentalmente, por única crise, que é, em grande medida, uma crise de
duas rupturas uma com o Determinismo Geográfico percepção. Ela deriva do fato de que a maioria das
e outra com o Determinismo Biológico”. No campo pessoas, e em especial grandes instituições sociais,
da psicologia, o Culturalismo atribui à cultura o papel concordam com os conceitos de uma visão de mundo
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A obra alerta os pesquisadores para a existência de um conjunto de fenômenos que conforma uma falsa
ideia de linearidade da evolução de seu respectivo campo especializado, que funcionaria como um fundo
não dialetizado do saber daquele domínio, dando-lhe certeza do perfil do conhecimento mais correto.
Essa deformação epistemológica forma a crença nesse saber que, sendo seguido como verdadeiro, levará
imediatamente a uma resistência a mudanças. Outro paradigma é instalado quando tais certezas se emba-
ralham e as explicações para os fenômenos começam a ser contraditadas ou quando outras explicações são
apresentadas em eventos científicos com tendência à aceitação e quando as práticas de laboratório seguem
principalmente teorias mais recentes e adotam outros procedimentos metodológicos, produzindo resulta-
dos científicos mais facilmente aceitos.
Quando a comunidade científica repudia um antigo paradigma, simultaneamente renuncia à maioria dos
livros e artigos que o corporifica, deixando de considerá-los como objeto adequado ao escrutínio cientí-
fico. Isso não quer dizer, naturalmente, que a ruptura se dá de imediato. Assim, para Kuhn, um paradigma
é “aquilo que os membros de uma comunidade partilham e, inversamente, uma comunidade científica
consiste em homens que partilham um paradigma”.
TEMAS EMERGENTES
Os temas emergentes indicam temas atuais que enriquecem os conhecimentos da disciplina, pois permitem
identificar conceitos e fatos em evidência na sociedade.
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LEITURAS COMPLEMENTARES
Os textos a seguir selecionados para leitura e desenvolvimento acadêmico retratam as produções de pesqui-
sadores da área. A leitura e a análise desses textos contribuem para o seu conhecimento, além de subsidiarem a
realização das avaliações, já que as questões são elaboradas também a partir deles.
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BITTAR, M.; FERREIRA JR., A. A educação na perspectiva marxista: uma abordagem baseada em Marx e
Gramsci. Interface – Comunic., Saúde, Educ.; v. 12, n. 26, p. 635-646, jul./set. 2008. Disponível em: <http://
www.scielo.br/pdf/icse/v12n26/a14.pdf>. Acesso em: 19 out. 2017.