Documenti di Didattica
Documenti di Professioni
Documenti di Cultura
/Editoria/
Economia/A-utopia-neoliberal-o-capitalismo-contra-a-democracia/7/33450
Depois de três décadas caraterizadas por uma Grande Depressão e duas Guerras
Mundiais, o capitalismo global passou por duas transformações estruturais que
pareciam conciliar crescimento econômico e democracia, criando o que já foi
chamado de “capitalismo organizado”. Primeiro, uma pressão democrática que
parecia irresistível, oriunda de povos e grupos sociais prejudicados pela mão invisível
dos mercados e pela missão civilizatória do imperialismo do Ocidente. A reação
popular assumiu a forma das lutas de emancipação nacional e de expansão da
cidadania para incorporar direitos sociais, lideradas muitas vezes por movimentos
anticapitalistas que, quando não levaram à revolução socialista, forçaram o
capitalismo a reformar-se. Para além da confiança cega no livre mercado e sob
intensa pressão popular, os Estados foram levados à política econômica orientada
para a geração de empregos e salários reais crescentes, com estratégias de
industrialização nos países subdesenvolvidos e compromisso com o bem estar social
nos países desenvolvidos.
1) Os impostos sobre lucros, dividendos e renda dos mais ricos devem ser reduzidos
pois isso vai aumentar a poupança e, portanto, o investimento, de modo que a riqueza
vai gotejar para trabalhadores (via emprego) e para o próprio Estado (via
arrecadação).
4) Contra o lucro fácil de empresas protegidas pelo Estado e contra a proteção social
universal que acomodaria cidadãos indolentes, um projeto disciplinar: aumentar o
esforço e a eficiência de empresas e trabalhadores através da generalização da
concorrência. No mercado de bens e serviços, trata-se de quebrar a reserva do
mercado nacional contra a concorrência externa, assim como outras formas de
coordenação e limitação da concorrência. A política social, por sua vez, deve
abandonar o projeto de universalizar a oferta de bens e serviços sociais em razão do
custo fiscal sobre os empresários e do efeito indolente e anti-disciplinar sobre os
trabalhadores. Ao contrário da universalização, deveria focar apenas no grupo social
mais desfavorecido, presumidamente constituído por indivíduos sem sorte e,
principalmente, mérito.
É inegável que o neoliberalismo venceu a disputa política e ideológica, em parte pela
dificuldade da esquerda em transformar demandas corporativas em projetos
hegemônicos, mas principalmente porque os EUA elevaram taxas de juros em 1979 e
provocaram uma recessão mundial que, por cerca de quatro anos, elevou o
desemprego, quebrou a resistência dos sindicatos, provocou fuga de capitais, crises
fiscais e cambiais que desnortearam os partidos socialdemocratas europeus e
empurraram as novas democracia da América Latina na direção proposta pela direita
local. A chamada Política do Dólar Forte controlou a inflação, resolveu o conflito
distributivo contra os trabalhadores e faliu as estratégias de industrialização com
endividamento externo dos países subdesenvolvidos, inclusive no campo socialista.
Isso vale, hoje, tanto para as periferias do capitalismo quanto para a Europa: os
mercados financeiros não votam, mas vetam. Seu poder de veto é tanto maior quanto
mais profunda a reforma das instituições ditas necessárias para assegurar a
credibilidade dos investidores. De fato, para conferir “racionalidade” à política
econômica, os ideólogos neoliberais propuseram a criação de instituições e regimes
que estivessem além de pressões democráticas irracionais ou, nas periferias, do dito
populismo macroeconômico: o Banco Central Independente e um regime de metas
fiscais rígidas que implicam rotinas de corte de gastos.
Depois que a austeridade foi desmoralizada na Europa a partir de 2010, até o FMI foi
obrigado a reavaliar a experiência histórica comprovando que, de expansionista, a
austeridade nunca teve nada. Mais recentemente, pesquisas do FMI chegaram à
conclusão que sempre foi defendida por keynesianos: programas de investimento
público em infraestrutura têm efeito positivo sobre a renda agregada e sobre a
arrecadação futura de impostos que pagam os programas com tempo, impedindo o
crescimento da relação dívida pública/PIB e sustentando o emprego.